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Sarradismo em Arquitetura: a proposição de um manifesto

desconstrutivista como estratégia de design a partir de estudos de


obras de Lygia Clark nas aulas de Elementos de Composição
Tridimensional

Dr. Clarissa Ribeiro


Universidade de Fortaleza, Departamento de Arquitetura e Urbanismo
MSc. Diego Paim
Universidade de Fortaleza, Mestrado em Ciências da Cidade
MFA Elizabeth Lessner
Universidade de Fortaleza, artista residente com bolsa da Fulbright
Guilherme Ximenes
Universidade de Fortaleza, Departamento de Arquitetura e Urbanismo

RESUMO
O presente artigo apresenta e discute um exercício proposto para a disciplina ECT –
Elementos de Composição Tridimensional N428 ministrada pela Profa. Dra. Clarissa
Ribeiro, oferecida para alunos do segundo semestre do curso de Bacharelado em
Arquitetura e UNIFOR cuja primeira versão (setembro a outubro de 2017) foi estruturada,
proposta e adaptada em processo de diálogo com o grupo de alunos com o suporte de
uma estratégia didática e metodologia em que a sala de aula (alunos e professor) é
considerada com um organismo, ou seja, um sistema complexo com capacidade de
adaptação e evolução no tempo a partir do fluxo de informações entre seus elementos e
entre estes e o ambiente. O exercício implica trabalhar estratégias de composição e
modelagem desconstrutivistas tendo como direcionadores do processo criativo e de
design a utilização das esculturas com caixas de fósforo da artista brasileira Lygia Clark
utilizando estudos de movimento e estrutura do corpo humano em passos de danças de
estilos populares no brasil numa referência à estratégia empregada por Wassily
Kandinsky no trabalho com a bailarina Gret Palucca.

Palavras-chave: Neoconcretismo. Desconstrutivismo. Lygia Clark. Wassily Kandinsky.


Gret Palucca. Fezinho Patatyy. Manifesto Saradista. Sarradismo.

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XI Encontro de Práticas Docentes
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ISSN 2179-4332
INTRODUÇÃO: O MANIFESTO SARRADISTA
O exercício proposto para a disciplina ECT – Elementos de Composição
Tridimensional N428 oferecida para alunos do segundo semestre do curso de
Bacharelado em Arquitetura e UNIFOR, foi realizado em sua primeira versão no segundo
semestre letivo de 2017 e a proposta foi estruturada e adaptada em processo de diálogo
com o grupo de alunos matriculados. As dinâmicas, os aspectos práticos e teóricos do
exercício de modelaram se entrelaçam e são sustentados, por uma estratégia didática em
que a sala de aula (alunos e professor) é considerada com um organismo, ou seja, um
sistema complexo com capacidade de adaptação e evolução no tempo a partir do fluxo de
informações entre seus elementos e destes com o ambiente.
O exercício inclui adotar estratégias de composição e modelagem
desconstrutivistas tendo como direcionadores do processo criativo e de design a
utilização das esculturas com caixas de fósforo da artista brasileira Lygia Clark utilizando
estudos de movimento e estrutura do corpo humano em passos de danças de estilos
populares no brasil numa referência à estratégia empregada por Wassily Kandinsky no
trabalho com a bailarina Gret Palucca. Resultando inclusive na proposição de um
manifesto – O Manifesto Sarradista. Derivando considerações sobre a possível influência
na emergência de um estilo arquitetônico genuinamente brasileiro – o Sarradismo em
Arquitetura; Arquitetura Sarradista –, o exercício integrou o programa da disciplina em
versões posteriores no primeiro e segundo semestres de 2018 e no primeiro semestre de
2019. No primeiro semestre de 2019 a professora contou com a colaboração do
mestrando em estágio de docência Diego Paim, seu orientando no Mestrado em CIÊncias
da Cidade da UNIFOR, e com a participação em uma das aulas da pesquisadora
residente com bolsa da Fulbright Elizabeth Lessner, também sua orientanda, que, com a
contribuição do aluno integrante do coletivo CrossLab Guilherme Ximenes, falou sobre as
estratégias de criação da artista Lygia Clark que é seu objeto de estudo durante o éríodo
de residência no Brasil.
A estratégia da professora se apoia na consideração de que um professor que visa
estimular os alunos a trabalhar e produzir em contextos interdisciplinares, na
convergência entre artes visuais, cultura popular e de suas diversas manifestações e
estratégias experimentais de projetos em arquitetura, tem que considerar a
descontinuidade e o indeterminismo como elementos principais que direcionam a
dinâmica das aulas e as interferências e interações do professor como parte do que pode
ser considerado ou definido como um “organismo-sala de aula”. Esse organismo, sistema
composto por elementos em interação, evolui agregando, acumulando informações e
processando essas informações.
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Podemos dizer que a oportunidade de estruturar com os alunos o que seria o
Manifesto Sarradista contribuiu para a criação de um vínculo de afinidade ou proximidade
para com o exercício nas novas turmas em que foi proposto considerando ser algo que
traduzia e incorporava elementos do universo cotidiano de referências da cultura popular
de suas gerações. Incluímos aqui o manifesto como redigido pelo grupo de alunos em
diálogo com a Profa. Clarissa Ribeiro no segundo semestre de 2017:

Manifesto Sarradista
Entre os meses de setembro e outubro de 2017, foram realizados pelos alunos do
segundo semestre do Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo da Universidade de
Fortaleza, debates, pesquisas e práticas com vistas à criação de um projeto de residência
unifamiliar desenvolvido utilizando estratégias desconstrutivistas. Para isso, a turma de
Elementos Composição Tridimensional, orientada pela professora Clarissa Ribeiro,
realizou inicialmente um debate, em que a docente propôs discutir estratégias de
desconstrução inéditas e incentivou que explorássemos conceitos como luxo,
empoderamento e autenticidade, envolvendo movimentos do corpo e trabalhando com
alterações a partir dos projetos de composições com caixas de fósforo de Lygia Clark.
Considerando movimentos corporais ou de dança que pudessem direcionar a estudos de
modelagem em maquete física de uma casa desconstrutivista, a turma pensou em trazer
movimentos fortes e radicais ligados à cultura popular massificada das periferias
marginalizadas das grandes cidades no Brasil – assim nasceu a ideia de utilizar a
“sarrada” como estratégia de corte e elaboração estético-formal dos objetos
arquitetônicos.
A “sarrada” é um passo de funk proveniente do “passinho do romano”. Segundo
dados obtidos em pesquisas online, os movimentos característicos do estilo foram criados
em uma periferia da Zona Leste de São Paulo, mais especificamente, no Jardim Romano.
O precursor do movimento de “sarrada” e do “passinho do romano” é conhecido por
Magrão, que criou um estilo próprio de dança incorporando e remixando movimentos de
diversos estilos que incluem “passos de robô”. Seu estilo só foi difundido e passou a ser
conhecido depois de seu falecimento, quando seus amigos criaram e divulgaram um
vídeo (videoclipe) na plataforma youtube apresentando o que seria o ‘passinho do
romano” e a “sarrada”. Os movimentos da “sarrada” incluem mexer braços, mãos, pernas
e quadris de maneira desgovernada, se utilizando de princípios do break dance, hip hop,
dupstep e do próprio funk. O movimento mais característico é o ato de trazer as mãos em
direçāo ao quadril ou à virilha e impulsionar o quadril para frente, sendo ainda a “sarrada”
definida como o ato de roçar, esfregar, esfregação. Posteriormente, surgiu a “sarrada no
ar”, que seria o movimento de sarrar durante um salto. Este movimento é utilizado por
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diversão, "zoação" e como uma maneira de expressão de poder e agilidade corporal.
No processo de incorporação da referência em uma estratégia desconstrutivistade
design em arquitetura, utilizamos referências históricas da utilização de estudos sobre
movimentos corporais como partido para estudos formais e estéticos como os realizados
por Wassily Kandinsky em seu projeto com a dançarina “Gret Palucca” e criamos
diagramas de corte a partir de estudos de vídeos do “Fezinho Patatyy”.
Definimos a partir dos estudos realizados e do exercício experimental de projeto
que uma obra do estilo “sarradista” deve utilizar como estratégias para definição de linhas
de corte e descontrução leituras e traduções dos movimentos corporais do estilo de dança
“sarrada”, derivando objetos com sobreposição de elementos geométricos bi e
tridimensionais, extravagância e exagero formal, assimetria, irregularidade.
Como um manifesto estético frente ao conservadorismo da sociedade Brasileira
contemporânea, a estratégia estrutura-se a partir da incorporação de referências no
processo projetual em arquitetura originais de uma cultura brasileira marginalizada,
considerada inferior por muitos que menosprezam formas de expressão emergentes nas
grandes periferias das metrópoles brasileiras. O manifesto quebrar padrões, mostra que o
ato de “sarrar” pode ter valor estético, traz a possibilidade de uma arquitetura como forma
de empoderamento, expressão da extravagância e da liberdade do corpo.
Assinam o manifesto em sua versão original de 09 de Dezembro 2017, a
Professora Dra. Clarissa Ribeiro e os alunos Ana Stela Brasil Ribeiro, Bianca Alcântara
César, Bruna Ferreira Sales, Ciro Férrer Herbster Albuquerque, Emily Alencar de Lima,
Francisco Alexandre Carvalho Saraiva, Gabriela Grossi Cavalcante Bezerra, Gabrielly
Angelo Oliveira, Guilherme Paulino Ximenes, Guilherme Queiroz Almeida, Janine Almeida
Fontenele, João Carlos Costa Freire, Lara Gomes dos Santos, Lara Maia Freire, Levir
Bezerra Colares Cavalcante, Lucas Formiga Mayer Dantas, Maria Clara Figueiredo Freire,
Monaliza Nobre Freitas, Nara Idalina Bizerra de Almeida, Pedro Sampaio Nunes
Cavalcante, Raimundo Lima Lemos Neto, Sara Parente de Freitas, Victoria Beatriz
Jeronimo Romão.

METODOLOGIA E DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA

“Vai descendo até o o chão deixa os braço a desgoverna. / Faz


o passinho do Romano/ Fa fa faz o Passinho do Romano.”
(PATATYY, 2014, transcrição nossa)

Considerando as especificidades da metodologia desenvolvida pela professora, o


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professor e eventuais monitores, não devem ser considerados como um elemento que
externos ao sistema. Esta perspectiva implica que o processo de construção do
conhecimento deva ser cíclico, espontâneo, recursivo e se dar em diálogo entre os alunos
e o professor considerando que este está aprendendo como os alunos estão; está se
transformando à medida que o sistema está se transformando.
Dessa forma, a metodologia que estrutura a proposta didática inclui a proposição
de uma estratégia para orientar o processo de ensino-aprendizagem a partir de uma
perspectiva comportamental e transdisciplinar, potencialmente dando ao time alunos-
professores a oportunidade de tomarem consciência do caráter auto organizacional e
emergente desse organismo-sala de aula do qual fazem parte. A professora combina duas
referências principais na concepção dessa estrutura – as observações relativas ao "Ritual
comportamental" em Artes, do Professor Roy Ascott (ASCOTT, 2003) como listado em seu
"Seis Aspectos da Tendência Comportamental nas Artes Modernas" e que inclui “ação,
acaso, escolha e evento com direcionadores do processo criativo, combinados aos
"Quatro Pilares da Aprendizagem", do Relatório de Jacques Delors à UNESCO: "aprender
a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser” (DELORS, 2010).
O objetivo central do exercício é desenvolver um projeto residencial com estratégia
experimental e exploratória no que se refere a questões relativas à produção do espaço e
as relações espaciais e a construção de composições geométricas irregulares. Para
direcionar o processo, parte-se de uma discussão sobre as intenções estéticas e
filosóficas da artista Lygia Clark sobretudo vinculadas aos objetos da série ‘esculturas
com caixas de fósforo” (1964). A proposta implica a desconstrução geométrica e espacial
dos objetos que são tomados como ponto de partida a partir da construção de cópias de
propostas de Clark. São empregadas e adaptadas, na sequência, estratégias propostas
por Wassily Kandinsky em seu "Dance Curves: On the Dances of Palucca" de 1926
(KANDINSKY, 1926).

Figura 1. Estudos por Wassily Kandinsky em seu "Dance Curves: On the Dances of Palucca" de 1926
(KANDINSKY, 1926)
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As Esculturas com Caixas de Fósforo de Lygia Clark, composições com caixas de
fósforo, são explorações em pequena escala de várias estratégias relacionadas à relação
entre o interior e o exterior. As Caixas são manifestações físicas de conceitos que ela
expande e itera em trabalhos mais tarde focados no corpo, como Objetos Relacionais e
Estruturação do Self. Eles apontam para um minimalismo material que ela deveria buscar
com grande efeito em seus Objetos Relacionais. Pode-se considerar (Clark, 2014) que o
fato de serem feitos de materiais do dia a dia e gestam e gesticulam para que ela se volte
para os materiais da vida como material da escultura. As Caixas também são
manifestações físicas de conceitos paradoxais que ela expressou nas frases 'o dentro e o
fora' e 'o vazio/cheio'. Eles usam suas formas para transformar a fronteira em uma zona
relacional.
Nas composições com caixas de fósforo, há uma troca entre o espaço
interior e o exterior, onde o interior das caixas cria as caixas delimitadoras de novos
espaços, o seu vazio interior é também o cheio de outras formas. Eles ainda exploram
essa relação através de uma metodologia de desconstrução. Clark usou uma
desconstrução de elementos formais como estratégia pela qual ela poderia abordar a
zona relacional. As desconstruções geométricas formais de Clark evoluiriam em seu
trabalho mais tarde com os Objetos Relacionais. Nestes trabalhos, uma experiência da
fronteira como zona relacional é abordada por um foco de sensação em diferentes partes
do corpo, apontando para a versatilidade desse método como estratégia para expressar
as relações entre o interior e o exterior.
No exercício proposto para a disciplina Elementos de Composição Tridimensional,
em lugar de um estudo dos movimentos de uma bailarina pertencente a um contexto
erudito como propõe Kandinsky, seguindo a proposta da professora de utilizar
movimentos de estilos de dança emergente da cultura popular brasileira contemporânea,
os alunos propõe, temendo o exagero ou inconveniência da proposta, utilizar os
movimentos da ‘sarrada’ ou ‘sarrada no ar’ e apresentam o vídeo disponível no canal
Youtube em que Fezinho Patatyyy realiza uma performance em que apresenta o
‘passinho do romano’.
O vídeo é utilizado em sala, pausado em frames selecionados pelos alunos em
grupo, para que um conjunto de linhas que represente de forma sintéticas como nas
propostas de Kandinsky, possa servir de base para orientar a modelagem da escultura-
casa com as caixas de fósforo. Em sua versão mais recente com a colaboração do
mestrando em estágio de docência Diego Paim e com a participação da artista e
pesquisadora Elizabeth Lessner e do aluno Guilherme Paulino em uma das aulas, o
exercício se desenvolveu nas seguintes etapas:

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1º. Introdução e discussão a partir das obras dos referidos artistas plásticos e arquitetos
em aula expositiva e dialogada onde foram abordadas as concepções, estímulos e
propósitos conceituais das obras e o propósito da realização do exercício;
2º. Assistir o vídeo disponível em cana no Youtube “MC Dadinho – Lança o Passinho do
Romano (Fezinho Patatyy)” disponível no Youtube, primeiramente de forma contínua e
ininterrupta;
3º. Assistir novamente o referido vídeo clipe, pausando o vídeo com intervalos de 15
(quinze) segundos para que, a cada pausa, os alunos desenhassem as linhas de forças
do movimento paralisado na tela. Essa atividade foi repetida até os alunos desenvolverem
um total de 11 desenhos;
3º. Cada aluno elegeu a composição de linha de forças de sua preferência para em
seguida descontruir uma composição utilizando caixas de fósforos (5,0 x 3,5 x 1,5cm)
considerando a desconstrução de uma escultura de caixas de fósforo de Lygia Clark com
o objetivo de derivar ou considerar a funcionalidade como um espaço doméstico, uma
casa.

Figuras 2, 3 e 4. Estudos e resultado final do exercício.

4º. Iniciou-se o processo de estudo de composições com o uso das caixas de fósforos,
usando quantas caixas de fósforos fossem necessárias, para composição formal;
5º. A partir da composição concluída, o objeto construído foi pintado com tinta guache com
cor definida pelo aluno;
6º. Professora e monitor realizaram sequencial e periodicamente sessões críticas para a
análise e avaliação das composições resultantes e da sua adequação à função de abrigo.
7º. Procedeu-se a definição de um programa exclusivo para cada projeto considerando o
perfil de possíveis moradores definindo espaços para ambientes como cozinha, sala de

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estar e jantar, dormitórios e banheiros e realizando estudos de circulação com a definição
de rampas, escadas, elevadores;
7º. Foram elaboradas plantas baixas e cortes de cada nível definido na composição com
caixas de fósforos considerando e avaliando a representação utilizando normas de
desenho técnico arquitetônico em uma tentativa de integração com conteúdos
pertencentes à disciplina de Desenho Arquitetônico que integra a grade do semestre em
questão.
8º. Os projetos foram apresentados pelos alunos em uma sessão crítica final que ajudou a
compor a nota.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Considerando o objetivo central do exercício de desenvolver um projeto residencial
com estratégia experimental e exploratória no que se refere a questões relativas à
produção do espaço e as relações espaciais e a construção de composições geométricas
irregulares, os projetos resultantes, em todos os semestre nos quais a proposta foi
implementada nas aulas da disciplina de Elementos de Composição Tridimensional
ministradas pela professora Clarissa Ribeiro, exibem uma ampla variedade de
explorações com complexidade e irregularidade geométrica incorporando na
espacialidade produzida relações entre elementos (linhas, pontos, planos) derivadas dos
movimentos de dança estudados. No entanto, em muitos dos modelos, a complexidade e
sofisticação da subversão presente nas propostas originais de Lygia Clark é perdida,
posto que a arquitetura é fixa, não móvel. Não há pavimentos móveis como há gavetas
móveis nas caixas de Clark. O fato abre espaço ou, pode ser uma oportunidade, para a
proposição de variações futuras da proposta em que se trabalhe a perspectiva da
interatividade e reatividade em arquitetura utilizando computação física.

Podemos considerar ainda que, o que para muitos alunos parece um desafio
dificilmente transponível, considerando as referências que traz em sua bagagem de
ingressante no curso de Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo, passa gradativamente,
pela adição de referência extraída da cultura de massas do Brasil, a ser visto como um
exercício lúdico e intrigante apesar da sofisticação das referências em artes visuais e
arquitetura.

Percebe-se uma ampliação na capacidade de discutir e observar as relações entre


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espaço e função. Essa mudança de percepção, por sua vez, foi entendida e avaliada pela
professora e colaborador, na última versão realizada no primeiro semestre de 2019, como
um processo que integra a evolução do sistema-sala-de-aula no tempo.

CONCLUSÃO
Considerando a perspectiva de reformulação da grade do curso de Bacharelado
em Arquitetura e Urbanismo da UNIFOR, aprovada em setembro de 2019, o exercício
serve como exemplo de atividade de projeto arquitetônico com grande potencial
integrador. Se considerarmos a grade atual do segundo semestre do curso, disciplinas
como Desenho Arquitetônico e Urbanístico N429, Ergonomia N431, História e Teorias
Urbanismo N435 e Teorias da Arte e Arquitetura N427 podem contribuir na representação
técnica das propostas, discussões sobre a ergonomia dos espaços projetados (Ergonomia
N431) e para um aprofundamento das reflexões sobre a obra da artista Lygia Clark
(Teorias da Arte e Arquitetura N427) e sobre as estratégias de desconstrução e o
Desconstrutivismo em Arquitetura (História e Teorias Urbanismo N435).

REFERÊNCIAS

ASCOTT, Roy. Telematic Embrace: Visionary Theories of Art, Technology, and


Consciousness. Edited and with an essay by Edward A. Shanken. Berkeley and Los
Angeles: University of California Press, 2003.

CLARK, Lygia. Writings by Lygia Clark 1956-Mid-1980s. In: Lygia Clark The
Abandonment of Art, 1948-1988. Ed. David Frankel with Kyle Bentley, Sarah McFadden,
and Evelyn Rosenthal. New York: The Museum of Modern Art, New York. 2014.

DELORS, Jacques. Educação: um tesouro a descobrir, relatório para a UNESCO


da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI, 2010. Disponível em:
<https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000109590_por >. Acesso em: 11 de set.
2019.

FUNKENSTEIN, S. L. Engendering Abstraction: Wassily Kandinsky, Gret Palucca,


and “Dance Curves.” Modernism/modernity, 14(3), 2007, 389–406. Disponível em:
<https://muse.jhu.edu/article/222301>. Acesso em: 11 set. 2019.

PATATYY, Fezinho. MC CRASH - SARRADA NO AR - PASSINHO DO ROMANO (


Fezinho Patatyy ) ( DJ Maligno ) ♪ ♫. Disponível no Canal Fezinho Patatyyno Youtube,
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publicado em 27 mai. 2014. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=z1Ka-
xrihJI>. Acesso em: 11 set. 2019.

PATATYY, Fezinho. MC Dadinho - Lança o Passinho do Romano (Fezinho Patatyy)


(DJ Dn de Caxias). Disponível no Canal Fezinho Patatyyno Youtube, publicado em 11 mai.
2014. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=kpJApAfODSE>. Acesso em: 11
set. 2019.

PATATYY, Fezinho. MC Dadinho - Lança o Passinho do Romano Part.2 ( Fezinho


Patatyy ) - (DJ DN de Caxias). Disponível no Canal Fezinho Patatyyno Youtube, publicado
em 27 abr. 2015. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=PcVSJ5xz-Gs>.
Acesso em: 11 set. 2019.

PASSINHO DO ROMANO. In: WIKIPÉDIA: a enciclopédia livre. Artigo. Página


editada pela última vez às 05h57min de 16 de agosto de 2019. Disponível em: <
https://pt.wikipedia.org/wiki/Passinho_do_Romano>. Acesso em: 11 set. 2019.

SARRANDO. Significado de Sarrando, Gerúndio do verbo sarrar. Por Dicionário


inFormal (SP) em 17-09-2013. Disponível em: < h
https://www.dicionarioinformal.com.br/sarrando/>. Acesso em: 11 set. 2019.

KANDINSKY, Wassily. Tanzkurven: Zu den Tänzen der Palucca. Das Kunstblatt,


Potsdam, vol. 10, no. 3, 1926, pp. 117-21

AGRADECIMENTOS
OS autores agradecem a todos os alunos que nos quatro semestres de realização do
exercício aqui apresentado contribuíram para sua construção e transformação no tempo.

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