Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Teoria da
02 Lei Penal
1) Materiais ou de Produção:
A única fonte de produção do Direito Penal é o Estado. Determina a Constituição Federal que
compete privativamente à União legislar sobre direito penal.
2) Formais ou de Conhecimento:
Dividem-se estas ainda em:
imediatas ou diretas: única fonte direta é a lei;
mediatas ou indiretas: são os costumes, os princípios gerais do direito, a doutrina e a
jurisprudência.
4) Aplica-se somente a fatos futuros, não alcançando os pretéritos, a não ser quando aplicada em
benefício do agente criminoso.
Não há no Brasil leis especiais de Direito Penal, embora não esteja proibida constitucionalmente a
sua elaboração.
Existem quatro princípios para tentar resolver as dúvidas sobre o conflito de normas:
1) Especialidade:
Consiste na derrogação da lei geral pela especial.
Afasta-se, desta forma, o “bis in idem”, pois o comportamento do sujeito só é enquadrado na norma
incriminadora especial, embora também descrito pela geral.
3) Consunção:
Também chamado de absorção. Consiste na anulação da norma que já está contida em outra, mais
gravemente apenada.
Ex.: O delito de violação de domicílio é consumido pelo de furto, ou o de roubo que inclui o furto e
ameaça ou lesão corporais.
Pode ocorrer absorção no crime complexo, no crime progressivo e na progressão criminosa.
4) Alternatividade:
O agente só será punido por uma das modalidades inscritas nos chamados crimes de ação múltipla,
embora possa praticar duas ou mais condutas do mesmo tipo penal.
Ex.: Se instigar alguém ao suicídio e, em seguida, auxiliar a vítima na prática do ato, o agente
somente responderá por instigação ou auxílio, e não pelas duas condutas.
Noções Gerais
Interpretação e Hermenêutica:
Interpretação é o processo lógico que procura estabelecer a vontade contida na norma jurídica.
Hermenêutica é a ciência ou método que se preocupa com a interpretação da lei.
Espécies de Interpretação:
Não se confunde a interpretação extensiva com a interpretação analógica, pois esta última é busca
da vontade da norma através da semelhança com fórmulas usadas pelo legislador, com a analogia,
que é forma de auto-integração da lei com a aplicação a um fato não regulado por esta de uma
norma que disciplina ocorrência semelhante.
Elementos de Interpretação
1) Elemento Sistemático:
Quando se procura a interpretação para harmonizar o texto interpretado com o contexto da lei,
elaborada, ao menos em tese, em um sistema lógico. O parágrafo de um dispositivo, por exemplo,
deve ser sempre analisado tendo-se em vista o “caput” do artigo e este de acordo com o apítulo a que
pertence.
2) A Rubrica:
É a denominação jurídica do dispositivo e, no caso da lei penal, muitas vezes o “nomen juris” do
delito, é fator que pode levar a um esclarescimento maior sobre o texto interpretado.
3) Legislação Comparada:
É o confronto da lei pátria com a lei de outros países.
4) Elementos Extrajurídicos:
São esclarescimentos técnicos, científicos, filosóficos e políticos úteis à descoberta da vontade exata
da norma.
5) O Histórico da Lei:
Inclui o seu anteprojeto, projeto original, modificações das comissões revisoras, debates legislativos
e mesmo as notícias referidas na exposição de motivos, também auxilia a interpretação.
Analogia
Diante do princípio da legalidade do crime e da pena é inadmissível o emprego da analogia para criar
ilícitos penais ou estabelecer sanções criminais. Nada impede, entretanto, a aplicação da analogia às
Ex.: A exclusão da pena nos casos de aborto que se pratica em mulher vítima de atentado violento ao
pudor, que engravidou pela prática do ato delituoso, diante do que dispõe o art. 128, inciso II, do CP,
que se refere apenas ao crime de estupro.
Princípio da Legalidade
CÓDIGO Art. 1º- Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal.
PENAL
Pelo princípio da legalidade alguém só pode ser punido se, anteriormente ao fato por ele praticado,
existir uma lei que o considere como crime. Ainda que o fato seja imoral, anti-social ou danoso, não
haverá possibilidade de punir o autor, sendo irrelevante a circunstância de entrar em vigor,
posteriormente, uma lei que o preveja como crime. É a conquista máxima do Direito Penal Liberal.
Primeiro tem que haver a previsão normativa e depois o crime. Por esse raciocínio o simples “furtus
usus” (roubar para usar e devolver intacto) não é crime, como disciplinado pela legislação atual.
Em razão do princípio da legalidade é vedado o uso da analogia para punir alguém por um fato não
previsto em lei, por ser este semelhante a outro por ela definido.
Princípio da Anterioridade
CÓDIGO Art. 1º- Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal.
PENAL
O postulado básico inclui também o princípio da anterioridade da lei penal no relativo ao crime e à
pena. Somente poderá ser aplicada ao criminoso pena que esteja prevista anteriormente na lei como
aplicável ao autor do crime praticado.
Nullum Crimen Sine Praevia Lege / Nulla Poena Sine Praevia Lege
Encerra-se a vigência da lei com a revogação, que pode ser expressa (quando declarada na lei
revogadora) ou tácita (quando a lei posterior regulamenta a matéria disciplinada pela antiga). A
revogação pode ser parcial, caso em que é denominada derrogação, ou total, quando é chamada de
ab-rogação. Existe a auto-revogação quando cessa a situação de emergência na lei excepcional ou se
esgota o prazo da lei temporária.
Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos
anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado.
Entretanto, apesar do princípio exposto, por disposição expressa da lei, é possível a ocorrência da
retroatividade e da ultratividade da lei.
Retroatividade da lei fenômeno no qual uma norma jurídica é aplicada a um fato ocorrido
antes do início de sua vigência.
Ultratividade da lei fenômeno no qual uma norma jurídica é aplicada a um fato após a sua
revogação.
Em havendo conflito de leis penais com o surgimento de novos preceitos jurídicos após a prática do
fato delituoso, será aplicada sempre a lei mais favorável. São as seguintes hipóteses de conflitos de
leis penais no tempo:
O Código Penal Espanhol diz que quando houver dúvida sobre qual a pena mais benéfica o juiz
deve perguntar ao réu (ex.: pena de 6 anos em regime semi-aberto em detrimento da nova lei que
impõe 4 anos em regime fechado).
3) Abolitio Criminis:
Ocorre a chamada “abolitio criminis” quando a lei nova já não incrimina fato que anteriormente era
considerado como ilícito penal.
Trata-se nesse dispositivo da aplicação do princípio da retroatividade da lei mais benigna. Pela
“abolitio criminis” se fazem desaparecer o delito e todos os reflexos penais, permanecendo apenas os
civis.
A circunstância de ter sido o fato praticado durante o prazo fixado pelo legislador (temporária) ou
durante a situação de emergência (excepcional) é elemento temporal do próprio fato típico.
Temporária:
É a norma cuja vigência é predeterminada pelo legislador, terminado o prazo de vigência ela deixa de
existir, sem a necessidade de uma nova lei ab-rogatória.
Tempo do Crime
CÓDIGO Art. 4º- Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o
PENAL momento do resultado.
Faz-se coincidir o tempo do delito com a conduta, ativa (ação) ou negativa (omissão). Realmente, é
esse o momento em que o agente age ou deixa de agir, em que se põe contra o direito e quando pode
e deve sentir o poder intimidatório da pena. Faça-se pois abstração do evento, que não raro, sobrevém
muito tempo depois da conduta terminada.
Observe-se que, nos crimes plurissubsistentes, em que a conduta se compõe de vários atos, deverá ser
levado em consideração o derradeiro ato.
3) Pelo princípio de proteção, aplica-se a lei do país ao fato que atinge bem jurídico nacional, sem
qualquer consideração a respeito do local onde foi praticado o crime ou da nacionalidade do agente.
4) Pelo princípio da competência universal, o criminoso deve ser julgado e punido onde for detido,
segundo as leis desse país, não se levando em conta o lugar do crime, a nacionalidade do autor ou o
bem jurídico lesado.
Não há, todavia, qualquer legislação que adote integral e exclusivamente apenas um desses
princípios. Prevêem as leis a adoção de um sistema em que a base fundamental é um dos princípios
citados (normalmente o da territorialidade), complementado por disposições fundadas nos demais.
Territorialidade
CÓDIGO Art. 5º- Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito
PENAL internacional, ao crime cometido no território nacional.
A nossa legislação consagra, como base para a aplicação da lei penal no espaço, o princípio da
territorialidade. Não se trata da adoção absoluta do princípio, uma vez que se ressalva a não aplicação
da lei penal brasileira ao crime cometido no território nacional em decorrência das convenções,
tratados e regras internacionais. Além disso, a regra da territorialidade é complementada por outras
disposições fundadas em diversos dos sistemas já enunciados, ocorrendo a chamada
extraterritorialidade.
Território:
É todo o espaço, estritamente geográfico ou ampliado mercê de ficção jurídica, sujeito à soberania e a
jurisdição do Estado.
Lugar do Crime
CÓDIGO Art. 6º- Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou
PENAL em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.
Delitos à distância:
Ação em um local e o resultado em outro.
Delitos Plurilocais:
São delitos que ocorrem dentro do território, mas em vários locais diferentes. Para dirimir a
competência é aplicado o art. 70 do Código de Processo Penal (teoria do resultado).
Parte da doutrina levou em conta o momento executivo do delito, relegando a um plano secundário a
consumação. Parte entendeu que o crime teria lugar onde se tivesse realizado a parte fundamental da
conduta delituosa (teoria da ação ampliada). Não faltou quem sustentasse que o local do crime é
aquele onde se verificou o evento.
Finalmente a maioria da doutrina seguiu uma teoria mista (teoria abraçada pelo Código Penal de
1940), dita de ubiqüidade que tanto leva em consideração o momento executivo do crime quanto o
seu momento consumativo.
Quando conduta e evento se verificam em território nacional, não surgem questões a serem
deslindadas.
Quando, todavia, há um destaque espacial entre conduta e evento, realizando-se aquela no território
nacional e este no estrangeiro, algumas dúvidas poderão apresentar-se. (ex.: envio de um pacote com
bombons envenenados; tráfico de entorpecentes, que extravasa em muito os limites territoriais).
Questões teóricas:
• Se o agente tivesse praticado atos meramente preparatórios no Brasil, para executar o delito no
estrangeiro, não seria de nenhum modo atingido pela lei pátria, que só pune os atos executórios.
Se, contudo, tivesse preparado o delito em território nacional, incumbindo terceiro de executá-lo
no exterior, ficaria sujeito à lei pátria.
• Naquilo que diz respeito à tentativa, considera-se como local do crime tanto aquele onde se
desenvolveu a atividade executiva (perfeita ou imperfeita) como aquele outro onde deveria ser
realizado o evento.
• Nos crimes continuados ou permanentes, onde as condutas esparsas compõem uma unidade
jurídica, considera-se o crime praticado onde se tenha realizado qualquer um dos elementos
integrantes ao fato unitário.
• Lugar do crime, no que concerne ao evento, é aquele em que este iria realizar-0se, não fosse a
interferência de circunstâncias alheias à vontade do agente. Jamais o lugar em que o agente
tencionava fosse ele aperfeiçoado.
Extraterritoriedade
CÓDIGO Art. 7º- Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro:
PENAL
I - os crimes:
a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República;
b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de
Município, de empresa pública, de sociedade de economia mista, autarquia ou fundação
instituída pelo Poder Público;
c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço;
d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil;
II - os crimes:
a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir;
b) praticados por brasileiro;
c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada,
quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados.
§ 1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou
condenado no estrangeiro.
§ 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das seguintes
§ 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora
do Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo anterior:
a) não foi pedida ou foi negada a extradição;
b) houve requisição do Ministro da Justiça.
Extradição:
Vai para outro país para ser julgado ou para cumprir pena já imposta.
Princípio da não extradição dos nacionais (art. 5º, LI da CF).
Princípio da exclusão de crimes não comuns (art. 5º, LII da CF).
Não haverá extradição se não houver tratado internacional de extradição. A extradição não será
realizada a países que aplicarem pena de morte ou prisão perpétua.
Deportação:
Art. 57 do Estatuto do Estrangeiro - situação irregular.
Expulsão:
Prática de ato inconveniente a sua permanência.
Noções Gerais
A lei penal se aplica a qualquer pessoa, porém há exceções no que concerne ao:
Direito Internacional Público: imunidades diplomáticas;
Direito Público Interno: imunidades parlamentares.
Em ambos os casos, os privilégios da imunidade não se referem à pessoa do criminoso, mas têm em
vista a função exercida pelo autor do crime, com o que não se viola o preceito constitucional da
igualdade dos cidadãos perante a lei.
Imunidade Diplomática
Fundamentalmente, a questão das imunidades está prevista na Convenção de Viena, assinada a 18 de
abril de 1961, aprovada pelo Decreto-Legislativo n.° 103, de 1964, e ratificado em 23.02.65.
1) Agentes Diplomáticos:
Têm imunidade em relação a qualquer crime.
São os embaixadores, funcionários de embaixada, funcionários de organizações internacionais,
chefes de estado em visita e suas comitivas.
O próprio titular não pode renunciar sua imunidade, somente o Estado a qual ele pertença pode
fazê-lo.
2) Agentes Consulares:
Imunidade aos atos praticados no exercício das funções consulares e quanto a prisão preventiva.
Cônsules, agentes administrativos que representem interesses em Estado estrangeiro.
Sede Diplomática:
Já não são mais consideradas extensão de território estrangeiro, embora sejam invioláveis como
garantia aos seus representantes. Na Convenção de Viena determina-se que “os locais das missões
diplomáticas são invioláveis, não podendo ser objeto de busca, requisição, embargo ou medida de
execução”. Os delitos cometidos nas representações diplomáticas serão alcançados pela lei brasileira
se praticados por pessoas que não gozem de imunidade.
Contagem de Prazo
CÓDIGO Art. 10 - O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam-se os dias os meses e os anos
PENAL pelo calendário comum.
Legislação Especial
CÓDIGO Art. 12 - As regras gerais deste Código aplicam-se a fatos incriminados por lei especial, se esta
PENAL não dispuser de modo diverso.
Lei penal comum é o Código Penal e lei penal especial é toda lei que não o Código Penal.
06 - (Magistratura/SP - 175) A propósito do lugar do crime, a lei penal brasileira adotou a teoria
( ) a) da atividade.
( ) b) do resultado.
( ) c) da irretroatividade.
( ) d) mista ou da ubiqüidade.
01.C 02.C 03.E 04.D 05.A 06.D 07.B 08.C 09.D 10.B
Bibliografia
Direito Penal
02 – Teoria da Lei Penal
Atualizada em 10.10.2008
▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬
Todos os direitos reservados à
CMP EDITORA E LIVRARIA LTDA.