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sileira é um dos aspectos de~sa, n!i.!.1g11ªg~J1l, em sua sobretudo as de ordem social-econômicas, precisam sica rococó.

precisam sica rococó. Sua extraordinária musicalidade chegou Este fenômeno de uma cultura musical de massa
ramificação para-ãS'-'Affiéricas, no período Barroco, ser levadas em conta se formos considerar sua obra a impressionar vivamente um discípulo de Haydn só seria possível neste século com o aparecimento, é
quando ela se manifestou pela primeira vez entre boa ou má. que visitou o Brasil, Sigismund Neukomm. Também óbvio, dos meios de comunicação de massas. É sin-
nós, principalmente em Minas Gerais. Uma segunda verificação a ser feita é da medida mulato, José Maurício manipulou com uma desen- tomático que partam das Américas suas primeiras
Primeiramente ela é barroca, depois diremos que "em que a ramificação brasilei~_~Jinguªgª-_m1!" voltura já querendo ser brasileira os desenhos nm- contribuições, O que há em comum entre os mú-
é brasileira. Da mesma forma, quando ouvimos Vi- sieal do Ocidente ãcompanhou a evoluç!fl--",ª~J!!;,m.ª,-s sicais da época, como certas passagens cromáticas sicos das Américas, segundo o poeta quase um mú-
valdi, falamos em música barroca, não em música fãmi!iÉ~.çi?~s, Formou-se com elasüm tronco-mestre nas vozes internas, a melodramaticidade à italiana sico Augusto de Campos,
italiana. O que não nega o fato de que ela é música oú' esteve a reboque dessa evolução. Vale dizer, num de suas melodias.
barroca italiana, como a nossa é música barroca dado momento, utilizou-se O sistema de sinais sono- Na segunda metade do século XIX a música bra- r é precisamente essa capacidade de romper com os câ·
brasileira, na maneira como seus compositores uti- ros realmente significativos da música desse mo- ; nones tradicionais, esse pendor para. o imprevisto e a
sileira começa a refletir a multiplicidade de cami-
lizaram um mesmo conjunto de estruturas signifi-
cantes; e sobretudo pelas contribuições pessoais de-
mento.
Por exemplo, a música brasileira do periodo bar-
nhos aberta pelo Romantismo. Brasílio Itiberê intro-
duz o tema popular dentro do esquema formal clás-
i
r experimentação, traços que distinguem o compositor ame-
ricano do europeu ou mesmo do asiático, este muito
; mais apegado à tradição.
les, na elaboração de signos novos qne vieram enri- roco foi barroca, com o inevitável retardo provocado sico-romântico, a exemplo das escolas nacionalistas
quecer esse conjunto estrutural. §§!!ªs.f21'1!~ibuições, pelas dificuldades de comunicação da época. Essas russas, do Centr{) e Norte da Europa. É o Kitsch apa- Um pragmatismo antropofágico de artistas nativos
esses acréscÍlllqsJ que. tornam a música recõillieciOa dificuldades no entanto contam a seu favor, pois, recendo pela primeira vez em nossa música. Carlos que,
comQ,_s.l<.Il.c!o desteu,ou' dâquelepovo;' e;'- num -dádo apesar delas e em terras longínquas de um país co- Gomes segue os padrões da ópera italiana. ~s~
momento, devido ãÜma éontribuição maior, um país lonizado, soube utilizar as estruturas significantes do NazartillJ, .._çpl1tinuando~uma ..p,esquisa de Alexanifrc
passa a liderar, a comandar o desenvolvimento desse código musical de seu tempo. Naturalmente nossos Lev)Çisola eiementos estruturais afrocespanhóis e sin- ',civilizado, ao mesmo tempo impõem a sua visão desa-
mercado comum de significados musicais. compositores barrocos não puderam ir além de co- "'.l·literalmente
. taviada e sem deglutindo,
compromissos.e não mimetizando o europeu
Para 'aceitar a diferenciação entre música nacio- Iéiiza' acéiula --;:itmicll:,}iqmaxixe, dando um pri-
pistas, com uma ou outra tentativa eventual de mes- meírõexem1ilo"oe .invenção. na música popular, re-
nal e universal, eu diria que quanto mais inventiva, tre. Não havia condições para serem mestres, muito Seria inconcebível uma música popular do tipo
sem ligações com qualquer tradição, mais nacional menos inventores. petiêfo~I)1119~s:.~ ~é!!~~. ·l'0!:. ..b.ntonio Carlos Jobim, americano surgir na Europa, Somente a Inglaterra,
TÕãÕ-G.lberto, G.r e C'aetano. Nazareth ainda utili-
é a música. Ao contrário da argumentação dos de- Quase todos mulatos, é extraordinário que conse- zOtlprocedimenios' 'composicionais aprendidos em por vi ver U111tanto à parte, menos presa às tradi-
fensores da arte nacionalista, que medem o caráter guissem, em tão grande númcro, compor a obra que ções continentais, e talvez por uma influência rece-
Chopin ,e Schumann, conforme viria a fazer Gersh- bida das colônias, da índia, sobretudo, pôde desen-
nacional de uma obra musical pelo grau de sua liga- nos deixaram, o que vai por conta da fabulosa mu- win com relação à harmonia raveliana e debussysta.
ção com o que eles consideram as fontes da nacio- sicalidade que herdaram do negro. É sabido que o volver uma música como a dos Beatles, dos Rol-
De um modo geral podemos dizer que até o início ling Stones. Assim mesmo, importando-a dos Esta-
nalidade; esquecendo-se de que estas fontes são os público mais sério, atento e sensível à música de deste século a música brasileira foi bem, até onde
reflexos mais longínquos da mesma linguagem mu- câmara trazida da Europa e feita nas fazendas das dos Unidos.
sical do Ocidente. B o caso do modalismo nordes- podia, nas condições em que pôde se manifestar. 'Pelo O aspecto novo, portanto, a ser levado muito em
imediações de Vila Rica ou Goiás Velho, era for·
menos tão bem quanto a música dos outros países
tino, por exemplo, reflcxo do mais rcmoto canto mado ;pelos escravos. Naturalmente dessa raça ex- conta n.a Jing,:!!!genLmusieal-modcmíL~ ..e.sgu;l\ª_.r..ê.!t·
das Américas, inclusive os Estados Unidos.
gregoriano medieval europeu. Quanto mais na van- ~) cepcionalmente musical, educada assim "de ouvido" 1!B!~IiQ-,em-:JIpi~.l)j'y'ÇjL.q!!_f:_~~'<:Cl.IlU>!s;!W, u~~:
por esse tipo de música sairIam os nossos primeiros Mas seria nas três primeiras décadas deste século guindo de pertQ.--ª-.9J!!md •.mb.a~._troc.ª!l.d.Q...tl]2êniW-
guarda da produção de signos .ríõVoS,·"íiiâis:·peF.s.Ôiíl. f
~ciO@)lêrá3,,~arf!l '.' ..'" ".' , , compositores eruditos, fatalmente barrocos e roco- que ela explodiria como música americana, de um ~OJáízfõrneceu estilemas a Stravinsky, Ravel,
Para 'Situarmos a música brasileira no Modernismo novo mundo, juntamente com os Estados Unidos, Milhaud, Bartok. Em muitas de suas obras há pas-
cós. Fácil explicar nas gerações segnintes os Lobo
ou em qualquer outro momento de uma história de Mesquita, Marcos Coelho Netto, Inácio Parrei- México, Argentina, Cuba e outros países de nosso sagens que incorporaram as invenções jazzísticas e
que é realmente da música ocidental, temos de ve- ras Neves, Francisco Gomes da Rocha. Os consi- continente. Surgem então seus primeiros inventores e, não simplesmente desenvolveram seus temas, con-
riÜç~ ...!llcQ<!LC()1.1l0 .. seus. compositores. utilizaram derados mestres do barroco mineiro e outros, do mais do que isso, sua maior invenção: a música forme é feito com a música folclórica.
o sistema de sinllisso.QorQs realmente "significantes" barroco baiano, paulista, goiano, que estão para ser popular urbana, o jazz, o tango, a rumba, o samba, :fi preciso ser surdo para não ouvir como um pro-
de cada um.dessesmomentos. Vêrificar se eles foràm descobertos. erimeiras manife~ões n~.E~tQr.i.!Lcl.ª-.mÍ!si.C,lLde cesso novo ou como o primeiro exemplo conhecido
"inventores", isto é, criaram matérias ou formas no- Não podemos julgar, de fato, esses compositores, uma cultura de 11;H!.$2§.Estamos agora em plena de um processo - como diria Ezra Pound - a sin-
vas que ampliaram esse sistema; ou se foram "mes- uma vez que os dados são poucos e as obras res- linguã'gemnmslcã! moderna, que não pode colocar tetização da célula rítmica do maxixe (Levy-Naza-
tres" no uso do sistema, isto é, tão bons ou melhores tauradas por musicólogos. De qualquer maneira dá de lado a música popular urbana, uma vez que ela reth), da "batida" da bossa nova (João Gilberto),
- nesse sentido - do que os próprios inventores; é o desenvolvimento ao nível de massa (sem nada o som das bandas New Orleans, dos velhos conjun-
para desconfiar que eles alcançaram um respeitável
ou, fínalmente, se foram simples copistas dos mo- domínio técnico dentro das condições em que com- ter a ver com a música folclórica, que é fossilizada tos que tocaram as músicas de Noel Rosa, Lamar-
delos fornecidos pelo sistema. puseram. no tempo. feita por comunidades marginalizadas) de tine Babo, o som de um Pixinguinha, Autêntica in-
Esta classificação "poundiana" não pode ser apli- Entrando no século XIX, sempre com aquele ine- um mesmo processo musical. Em outro nível, aberto venção formal da maior originalidade, a formação
cada esquematicamente para fins avaliativos. Tem vitável atraso, a música brasileira continua em dia à criação livre, esse mesmo processo continua a ex· desses pequenos conjuntos instrumentais, equivalente
de ser aprofundada se quisermos discutir se um au- com a corrente européia e vamos encontrar um com- perimentar a elaboração de signos novos, a constru- à invenção da orquestra de câmara barroca. E o som
tor estava certo ou errado em ser mero copista. Teria positor quase um mestre: o Padre José Maurício ção da "máquina-ferramenta", sem visar a seu con- que seus instrumentistas cultivaram, deliberadamente
ele condições para ser um mestre? Estas condições, Nunes Garcia, nosso grande representante da mú- sumo imediato pela massa :!.-ª-_1TIQ.§lçil._ç1,e.:Y~l1gu~IC.la. sujo, Uma busca qe som que, levada às suas últimas
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falava Debussy, "um princípio de ornamento que país do manifesto Jdanov, coincidindo com o lan-
movente em seu gênero, poderia ter sido escrita em é a base de todos os modos de arte". A prova disso çamento de uma carta aberta de Camargo Guarnieri
rece que Villa e Mário de Andrade chegaram mesmo contra o dodecafonismo, na mais pura linguagem
a se desentender e Mário passou a depositar suas fins do século passado. Tem a mesma construção
que encontramos em Grieg, em Fauré. E nada dc jdanovista:
esperanças mais em Mignone e Guarnieri. teresse quando se tornam mais "folcloristas" do que
Faltaram, talvez, na época, melhores perspectivas brasileira (matéria estrutural e forma novas aqui ine- 1 está
"inventores"
em que . tanto Bartok como Villa perdem o in-
xistem), pois a harmonia é puramente fraucesa, a É preciso que se diga a esseS jovens compositores que
que permitissem uma visão estrutural correta para Vemos assim que não há nada contra o aprovei- o dodecafonismo, em Música, COlTespondc ao Abstra-
compreender que a forma, na música de Viii a-Lobos, forma é a da canção clássica-romântica. Já Villa- tamento do material nativo para. se fazer música. cionismo, em Pintura, ao Hermetismo, em Literatura) ao
é uma conseqüência do desdobramento do material -Lobos, em 1918, numa peça igualmente para piano O problema está em como utilizá-Io. Do estudo que Existencialismo, em Filosofia, ao charlatanismo, em Ciên-
sonoro que ele preliminarmente pesquisava e depois - o conhecido "Polichinello" - apresenta de cara efetuou do folclore do interior da Rússia, Kandinsky cia ... É uma expressão característica de uma política
multiplicava num jorro de acontecimentos musicais um bitonalismo (dó-roi-sol em trêmulo contra roi partiu para a invenção do Abstracionismo, ou seja, de degenerescência cultural, um ramo adventício da fi-
bemol, si bemol e ré bemol) comparável ao de "Pe- o mais radical não-figurativismo. Aqui está a maior gueira-brava do Cosmopolitismo.
lição, a chave de como aproveitar o elemento na-
mínio da forma musical.
uma antecipação da músicaMuito pelo em
mont!!da contrário,
blocos, é em.
já :.no Brasil eram compostas peças como "Canção Ser- cional em arte. A efervescência político-social do momento, 'so-
momentos de som, como viria a ser hoje em dia com It taneja",
truchka", nesse
de Stravinsky.
mesmo ano,Voltando a 1928,Schoenberg
na Europa, enquanto Um erro' de visão fez com que as gerações se- mada a esses dois manifestos, mais a outra coinci-
Stockhausen, por exemplo. Um magma sonoro em lapresenta suas "Variações para Orquestra op. 31", dência entre os pontos de vista de Jdanov e de Má-
sempre novos.transfiguração.
Não vai nisto nenhuma falta de dO" guintes passassem a desenvolver não o resultado, mas
permanente rio de Andrade, em seu Ensaio sobre MlÍsica Brasi-
aquilo que na obra de ViJla era um componente
tizara. Por este confronto podemos avaliar o retro- desse resultado: a melodia folclórica, seu ritmo, etc. leira, deram extraordinária força à corrente naciona-
A procura de um som amazônico, 11 preocupação
timbrística levou-o a determinada forma musical.
l·.com base na técnica dodecafônica que ele sistema-
; cesso havido, o enorme desligamento de nossa mú- lista. Fenômeno que só ocorreu no Brasil, pois a Ar-
Desenvolveram um elemento que tanto faria fosse
Uma forma que é a conseqüência da experimentação i; sica do tronco-mestre da linguagem musical do Oci- brasileiro, nórdico, russo. E deixaram de lado a in- gentina e outros países americanos não tiveram este
das possibilidades cómbinatórias do novo som in- : dente, naquele momento em franca dissolução de formação nova. O mesmo que foi feito com Debllssy, tipo de problema. Até hoje essa nefasta identidade
ventado. Sem nada ter a ver com esquemas formais : suas formas musicais geradas pelo sistema tona1. En- de quem as correntes nacionalistas de todo o mundo de pensamentos é ainda a força oculta que procura
com base em desenvolvimento melódico. O elemento ;.quanto nós enveredávamos pelo campo das suítes somente desenvolveram a perfumaria harmônica a barrar todas as novas tentativas de pesquisa, expe-
folclórico - melodias, ritmos, modos, etc. - entra 1: nordestinas, valsas de esquina, ponteios ainda em serviço, sempre, de esquemas clássico-românticos. rimentação, de avanço musical. .
em sua música como um dado entre outros na com, i: pleno parâmetro das alturas musicais e seu relacio- ViIla-Lobos, vanguarda de outros tempos, incom-
.Porque não compreenderam que tanto Debussy, co-
preendido, tomon-se a bandeira nacionalista contra
posição do som pretendido; não é um motivo a ser
desenvolvido. Tal como aconteceu com Stravinsky, Idecorrente.
namento tonal, com toda a prioridade melódica daí
Os próprios títulos e indicações expressivas à mo-
mo Villa-Lobos, Ives e outros, cada um a seu modo,
ajudaram a destruição do sistema tonal e conseqüen- a vanguarda de nosso tempos. Indiscutíveis se tor-
naram as palavras de Mário de Andrade em seu
que tamôém foi criticado por não saber desenvolver temente da predominância das melodias, dando ori-
temas. Nenhum dos dois pretendeu esse desenvol- da brasileira ("dolentemente", "requebrando", "sau- gem à música desta segunda metade do século, feita Ensaio, tornado sagrado, escrito uns 25 anos. antes
doso"), que em Villa-Lobos eram uma novidade, a à base do ruído, do som eletroacústico, microtonal, do manifesto de Jdanov, o que lhe dava uma auto-
vimento:õ1ãs- sim ..)Ustãpor,ll!::õnteCÍ!nento!lsonprQs.
já antevisavillri' a colagem musical de nossos di!!s. expressão do sentimento de um mundo novo (como não-discursiva, feita de momentos. ridade profética:
--O"qÚe "nÚíis iInpotta para n6s'é qUI; a música de em Ives, conforme compara Copland), nas obras Com o aparecimento de um outro nível igual-
Villa, Ives, Stravinsky, Debussy, Schoenberg apontou de seus pretensos continuadores adquirem um ranço .. , a obra não é brasileira como é antinacional (es-
mente inventivo, via comunicação de massas, em que creveu a respeito de determinada música). E social-
para o futuro, para a nova música desta segunda acadêmico, regionalista, pra trás, caipira mesmo. E a linguagem musical também passou a se desenvol- mente o autor dela deixa de nos interessar. Digo mais:
metade do século. Aqui está a razão de sua grau- as características síncopas brasileiras se tornam ba- ver, a inventividade puramente melódica encontra
nais, centralizam o interesse sem trazer nenhuma por valinsa que a obra seja, devemos repudiá-Ia, que
deza. Particularmente no caso de ViIla-Lobos, ele nela talvez seu último refúgio, e não há nada mais nem faz a Rússia com Stravinsky e Kandin~ky.
contribuiu com um dado a mais 'para ·a elevação do informação nova, o que não acontece com elas em a dizer em termos de melodia e ritmo ao nível da
ruído à categoria de som musical, ocorrida com o seu contexto natural, popular, onde foram inven- obra aberta. Em outro ponto Mário sintetiza sua visão defor-
advento da música eletroacústica. Alguns complexos tadas.
Logo após o término da Segunda Guerra Mun- mada:
sonoros orquestrais de ViIla e Stravinsky já são quase Analisemos a estrutura rítmica de um "Rudepoe- dial houve a primeira tentativa de uma nova música
estatísticos, estão no limiar do processo vibratório ma". A famosa síncopa está ali presente, mas enrus- brasileira, partindo de um grupo de compositores O critério hist6rico atual de Música Brasileira éo da
não-periódico, isto é, do ruído. :a o que nos interessa lida em tal transa sonora que ela desaparece como dentre os quais se destacavam Cláudio Santoro, Guer- sua manifestação musical que sendo feita por brasileiro
em ViIla. E que também interessou a Messiaen. folclore, não centraliza o interesse como um dado ra Peixe e Eunice Catunda, reunidos em tomo do ou indivíduo nacionalizado, reflete as característicás mu-
A música de ViIla-Lobos, Debussy e Stravinsky conhecido. Torna-se um dado entre muitos para a Prof. Koellreutter. Era a hora exata de a música bra- sicais da raça. Onde que estas estão? Na músioa' 'po-
exerceu grande influência sobre a música brasileira, construção de um todo que é a informação nova. sileira recuperar o tempo perdido e não mais perder pular. _-'..

porem, com igual inoperância. Nossos compositores O interesse é centralizado naquela reformulação de a posição entre a vanguarda mundial, a exemplo do
de tendência nacionalista não souberam encontrar a dados musicais nacionais. Curioso que ninguém per- que fez a Argentina, que hoje conta com nomes co- Em primeiro lugar, para refutá-Io, a música po-
solução da problemática de VilIa, que é a mesma cebe que tanto faria a síncopa ser brasileira ou aque- mo o de Maurício KageJ, Juan Carlo Paz, Alcides pular tem origem totalmente estrangeira. Em segun-
de Debussy e Stravinsky, ou seja, da música da pri- la quase igual, húngaro-romena, utilizada por Bar- Lanza e outros. do, os elementos constitutivos de uma música po-
meira metade do século. tok. O que interessa em Bartok e ViIla-Lobos é o Mas deu azar, novamente, e essa tentativa foi dra- pular são fundamentalmente a melodia e o .ritmo.
Uma peça como "Canção Sertaneja", de Camargo resultado da pesquisa deles, a sua composição, a maticamente sufocada pela repercussão em nosso Como pretender uma músic~ nacional erudita' à base
Guarnieri, composta em 1928, apesar de bela eco- trama elaborada, aquele arabesco musical de que A MÚSICA 133

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Os programadores dos mass media tornam a vanguarda tinham revelado seu talento para o teatro musicai. com o regente se transformando em juiz de jogo de
Kitsch ao tirarem partido apenas do que ela tem de O "Cantus n.O O", última obra de Rodolfo Coelho futebol, distribuindo cartões amarelos e vermelhos,
efeito, de sup:erfície. de Souza, são estudos existenciais baseados na obra eKpulsando jogadores (digo, músicos) e apitando um
Da Experiência do Pensar, de Heidegger; uma mú- pênalti, quando deverá descer uma rede diante da
Aqui está toda a problemática com que se de- sica sem notação musical, somente um teKto escrito, qual alguns músicos jogam bola entre eles e o pró.
fronta a moderna mrlsica brasileira. Problemas rie na linha místico-intuitiva de Stockhausen. prio público.
uma música finalmente nova, o que já é muita coisa. Em Santos, dois jovens integrantes do Madrigal Dentre as mais recentes obras de WiIly Corrêa de
Aind'a há quem relute em passar definitivamente a Ars Viva, dessa cidade, com base simplesmente na Oliveira devemos destacar o madrigal "LIFE", com·
linha do dodeeafonismo, como um Edino Krieger; eKperiência de cantar música de vanguarda, dão dois posto com base num poema concreto de Décio Pig-
ou mesmo do nacionalismo musical, como Oswaldo eKemplos surpreendentes de como se pode manipular natari, uma verdadeira refleKão metalingüística sobre
Lacerda, Sérgio de Vasconcellos Corrêa. Mas a ge- a linguagem musical contemporânea sem necessidade o fazer a música madrigalesca, remontando a Gesll-
ração mais nova, que firmou seu nome principal- de uma formação musical tradicional: compõem suas aldo. "Impromptu para Marta" (piano), "Phantfl-
mente nos Festivais de Música Erudita do Rio de siestück I" (viola, trompa e trombone - uma re·
primeiras obras diretamente através da linguagem
Janeiro - dois deles, Marlos Nobre e José Antônio mais atual, que assimilaram na prática, como se f1eKão sobre Brahms), "Phantasiestück lI" (seKteto de
Almeida Prado, já com carreira internacional - pa- aprende a falar, sem passar por nenhuma espécie de sopros - uma reflexão sobre Mahler), "Phantasies-
rece não sentir mais aquela obrigação com o nosso estudo clássico. As obras foram postas a prova e tück lU" (violino, viola, ceio, piano, trompa e trom-
folclore, embora ainda procure uma solução inter~ soaram muito bem, já cantadas em diversos concer- bone - uma refleKão sobre Schumann), já são obras
mediária que aproveite seu temário através dos mé- tos, como o "Gravitando" e "Dois Poemas de E. E. que retomam a est~tica do Romantismo, buscando.
todos da vanguarda. Esse sincretismo sempre tem o Cummings", de Gil Nuno Vaz; e "Rosa Tumultua- me parece, um elo entre a sintaxe e O repertório eKis-
seu perigo, se o compositor não souber se colocür da", "Alfa Mysticum Omega", de Roberto Martins. tencial. Uma reaproximação entre a vida e a arte?
na perspectiva certa de um Kandinsky. É o risco que Sem dúvida uma volta decidida ao humanismo. A
pode correr a chamada Escola Baiana, da qual se Ao regente Klaus-Dieter Wolff*, especializado em
música nova e antiga, devemos as primeiras audições volta necessária, indispensável. Daí a qualidade ex-
destacam Lindembergue Cardoso, Jamary Oliveira,
Fcrnando Cerque ira e Emst Widmer. no Brasil de toda obra coral eKperimental composta cepcional da obra de WiI1y Corrêa de Oliveira, nesse
por mim, WiIly Corrê a de Oliveira, de obras anti- sentido talvez única no panorama musical atual de-
De qualquer maneira é sintomático que todos es- gas de Marlos Nobre, Almeida Prado, e agora desses cadentista, superficial e improvisado, no mundo in-
ses compositores façam questão de se apresentar co- teiro. A obra mais importante no momento feita no
novos compositores, como Delamar Alvarenga, Ro-
mo compositores de vanguarda. E sua preocupação dolfo Coelho de Souza e os dois santistas revelados Brasil -- também pelo extremo rigor formal de sua
não seja mais com o folclore e sim com a elaboração pesquisa, pela teoria realmente nova, "de vanguarda"
por seu próprio conjunto vocal, Madrigal Ars Viva, E
de estruturas novas, ainda que se valendo do fol- que ela traz, eKatamente por aprender e apreender
já estão em fase de ensaio, enviados da Europa pelos
clore. E alguns deles dentro de uma meta já intei- do passado como fazer a música do futuro - que
ramente experimental, como Jorge Antunes, Jace- próprios autores, para estréia no Brasil, "Cremofor-
nética" de Jorge Antunes, e "Missa Cordis", de AI- só encontra Um paralelo na coerência, na consciência
guay Lins e Reginaldo de Carvalho com seus tra- de artista de Um Boulez, de um Luigi Nono, de um
meida Prado.
balhos no campo da música eletroacústica. Lutoslawski.
Uma geração novíssima, em S. Paulo, beirando os Uma de minhas últimas eKperiências musicais foi
No seu "Adágio" para grande orquestra, Wi1Iy
feita para orquestra sinfônica, 3 fitas magnetofônicas
vinte anos, surge com um grande senso de respon- continua envolvido na problemática Schumann-Mah-
sabilidade e muita perplexidade, - se considerar- gravadas com irradiação de jogos de futebol e par- ler e faz uma reflexão sobre o tempo interior na obra
mos a idade deles - frente aos rumos da música ticipação direta do público ouvinte. Nesta obra, musical, trazendo ainda uma proposta morfológica
"Santos Football Music", um "divertimento" à Mo-
de hoje, já disposta a tomar posições à Rogério cubista em sua estrutura geral.
Duprat, se for necessário. Esses jovens compositores zart, o público participa à maneira de uma torcida E assim vai seguindo seu curso a música brasi-
apresentaram recentemente seus últimos trabalhos esportiva, conduzido no que deve fazer por cartazes
leira, hoje como no passado sempre garantida por
num concerto a cargo do "Studio Música Nova", eKplicativos, Antes da execução da obra há um pe- aquela sua capacidade tipicamente americana de
um grupo de instrumentistas integrante do Centro queno ensaio dessa sua participação. O conteKto or-
romper com os cânones tradicionais, o que lhe per-
Experimental de Música da Juventude Musical de questral é formado por blocos de sons em perma-
mite ora ganhar tempo, ora recuperar um tempo per-
S. Paulo. Foram ouvidas as obras "Algum tempo nente transformação, sobre os quais flutuam poli- dido; e com aquela vantagem, apontada por lohn
fonicamente 3 tapes de irradiação de jogos de fute- ./i,
ANTES DEPOIS a morte", de Jamil Maluf, "Sin- Cage, de viver longe dos centros da tradição repre-
fonia para fita magnética n,O 1", de Delamar Alva- bol, como cantos gregorianos cantados simultanea-
sentados pela velha Europa. Da qual, no entanto,
renga, e "Diagramas", de Rodolfo Coelho de Souza. mente, mas com aquela rapidez característica dos
não se pode separar, porque faz parte dela.
Em obras anteriores, JamU Maluf, com sua "Se- locutores esportivos. Um happe/li/lg finaliza a obra,
qüência Estéril" (ou "a monotonia dos palcos"). e
Delamar Alvarenga, com seu "Poético n.O 1", já
(.) Este ensaio foi redigido nntes do falecimento do regente I'
(1974). (N. da E.)
138 ! A MOSICA 137.

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