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Eu sou o Bogho e estou aqui pra te dar as ferramentas necessárias para navegar

no universo cripto. Meu objetivo é explicar o Bitcoin e as criptomoedas, de uma forma


completa e ao mesmo tempo concisa, cobrindo os principais conceitos que você
precisa saber antes de tomar uma decisão de investimento nessa classe de ativos.
Não vou dar calls1 de investimento, mas vou empoderar vocês com os conceitos
necessários para fazer suas próprias análises e tomar suas próprias decisões.

Este livro será dividido em duas partes, sendo a primeira sobre a origem do
Bitcoin, no qual será explorado as tecnologias, os motivos da sua criação.
Abordaremos também o surgimento das altcoins2, como o Ethereum e modelos de
ICOs3, bem como será apresentado o Defi4 e outras aplicações da tecnologia. Na
segunda, falaremos sobre o bitcoin e criptoativos como investimentos, ou seja,
apresentar o que seriam os primeiros passos para quem quer investir, melhores
práticas, teses de investimento mais comuns e como são usados para composição
de portfólios e as métricas que são utilizadas para avaliá-los.

Criptoativo é um tema multidisciplinar, complexo e com uma infinidade de


informações. Minha ideia é que vocês embarquem comigo nessa jornada e que
consigam adquirir entendimentos mais claros sobre essa temática que pode vir a ser
uma ferramenta importante nas suas análises como investidor.

Mesmo que o seu interesse seja apenas investir, não deixe de entender a parte
conceitual que está na primeira parte deste livro. Sem a compreensão do tema, você
não conseguirá montar suas teses de investimento, e por vezes não conseguirá
separar um bom investimento de um mau investimento.

Os investimentos em que perdi dinheiro ao longo da minha carreira foram em


razão de não entender a tese de investimento e ainda assim querer seguir a
“tendência”. Por isso, não cometam o mesmo erro que eu. Entender bem o ativo e ter
um bom entendimento da sua proposta de valor vai evitar que você caia no famoso

1 Call de investimento: termo em inglês para recomendação de compra de um determinado ativo.


2 Altcoins: “alternative coins”, se refere a moedas digitais que não são o bitcoin.
3 ICO: Inicial Coin Offering, trata-se de uma “oferta pública” de um projeto em criptoativos para
captação de fundos e recursos para lançamento e desenvolvimento do projeto.
4 Defi: Descentralized Finance, trata-se de um novo modelo ainda em fase experimental de finanças
descentralizadas, no qual não depende de intermediários financeiros funcionando a partir de smart-
contracts.
FUD (fear, uncertainty and doubt) e se deixe influenciar pelo preço de tela. Isso vale
para qualquer classe de ativo, mas principalmente para o bitcoin.

Conhecer bem o tema vai te ajudar também a evitar cair em golpes. Do tempo
que comecei a estudar o tema até hoje, já vi todos os tipos de golpes, de empresas
que “garantiam” lucro de 5% ao mês com arbitragem ou mineração (vamos entender
melhor o que é isso no livro), até empresas de fachada que vendiam consultoria em
investimentos em bitcoin. Quanto maior o desconhecimento, maior a possibilidade
para estes estelionatários. Foi esse tipo de desinformação que me motivou a escrever
este e-book, e se eu puder ajudar você a tomar boas decisões, me darei por satisfeito.
Afinal, o que é o Bitcoin? Uma commodity? Uma moeda? Ouro digital? Dinheiro da
internet? Internet do dinheiro? Vou propor três definições diferentes desse mesmo
protocolo. Apenas para contextualizar, permita-me fazer uma rápida distinção quando
eu usar Bitcoin (com a letra maiúscula) e bitcoin (com a letra minúscula) ou BTC. Ao
usar a letra maiúscula estarei me referindo ao sistema criado, ou seja, a própria rede.
Já, ao usar a letra minúscula ou a abreviação BTC será para descrever a unidade da
moeda.

a) Uma rede distribuída de computadores rodando um programa com


código open-source

Fonte: Bitnodes

No mapa acima, podemos ver um mapa de calor das regiões que possuem
“nós” rodando o programa do Bitcoin. Nós ou nodes, em inglês, são entidades, com
seus respectivos computadores, rodando o Bitcoin Client, o “programa do Bitcoin”.
Qualquer um pode usar e participar da rede. As instruções você encontra aqui:
https://bitcoin.org/en/posts/how-to-run-a-full-node
Cada nó possui uma cópia de toda a cadeia de blocos (blockchain) do Bitcoin.
À medida que são feitas novas transações, essas transações entram nos novos
blocos que vão sendo criados a cada dez minutos aproximadamente. Ou seja, os
blocos são a lista de todas as transações na rede do Bitcoin.

Os blocos são minerados e propagados por essa rede de computadores.


Minerar um bloco, se refere a máquinas executando contas matemáticas para
desvendar a solução de um código criptográfico, conhecido como Hash. O Hash é
um algoritmo determinístico (não aleatório) unidirecional (fácil de criar, dificílimo de
desconstruir – como um cadeado) que transforma grandes quantidades de dados em
uma função de tamanho fixo.

Essas máquinas testam milhões de combinações diferentes a uma velocidade


muito rápida. À medida que o minerador chega a uma solução válida, será propagada
a solução pela rede que vemos acima. Os nós vão verificar a solução do minerador,
caso seja válida, será confirmada e aceita na cadeia de blocos. Lembrando que
ocorrem inúmeras transações o tempo todo e no mundo inteiro, ou seja,
simultaneamente ocorrem diversas soluções dos mineradores, que devem passar
pela validação dos nós para serem concluídas e as transações de fato ocorrerem.
Esse processo é automático.

Logo, irá notar que a validação da transação precisa ter um “aceite” da rede
por um todo, o que significa dizer que não existe um computador que tem mais poder
que os demais. Não existe um órgão regulador, um ponto central dessa rede que
determina a validade das transações. A rede é distribuída e descentralizada, com
todos os nós colaborando em prol da sua segurança.

Isto é, sua segurança é garantida porque todos os nós possuem o mesmo


registro de todas as operações e estão sincronizados de tal forma que qualquer
mudança dentro da rede ocorra simultaneamente em todos os nós. Ou seja, existe
uma alta demanda por energia para que sejam mantidos esses registros das
informações de forma sequencial e imutável e em todos os pontos da rede. Assim,
supondo que um criminoso roube uma máquina que está rodando um nó da rede, ou
que a máquina por algum motivo quebre, ou fique off-line; o resultado disso será
irrelevante pois haverá outros milhares de computadores executando os mesmos
processos e mantendo o funcionamento da rede e a confiança em seu protocolo.

Ainda que um determinado país proíba operações em BTC, a rede continuará


operante, pois não existe um “endereço centralizador” que possa desligar o sistema,
isto é, as operações continuariam acontecendo, pois, a rede é universal. Por isso, é
comum ouvir que “o Bitcoin não é o dinheiro da internet, mas sim a internet do
dinheiro.” (frase famosa do professor Andreas Antonopoulos). É uma rede
descentralizada onde seus participantes estão transacionando 24/7
diariamente!!!
https://www.youtube.com/watch?v=rc744Z9IjhY&t=7s
b) Um sistema de contabilidade perfeito - Livro razão gigante de transações
criptografadas gravadas em uma cadeia de blocos descentralizada

Uma outra maneira de enxergar o Bitcoin é como um livro razão, replicado em


milhares de computadores. Quem conhece contabilidade já viu um livro razão. É um
enorme livro com registros de todas as entradas e saídas (créditos e débitos) do
patrimônio da empresa.

Os blocos contêm justamente a mesma coisa, transações de entrada e saída


de bitcoin. E é primordial que esses blocos sejam organizados de forma sequencial,
pois existe uma cronologia nos saldos de cada endereço. Há que se garantir que os
endereços que estão enviando bitcoin de fato tenham a posse, o direito de
transacionar aquelas moedas. Por esse motivo, cada bloco é conectado com o
anterior, e não é possível verificar novos blocos sem o anterior. E é por isso também
que chama “blockchain” ou cadeia de blocos.

Na data em que foi escrito este e-book, estamos no bloco 660k


aproximadamente. Provavelmente, quando você estiver lendo, já vai ter aumentando
e muito esse número.

Outro ponto importante é que é possível acompanhar todo o funcionamento


dessa rede. A criação de novos blocos, as informações que contêm cada novo bloco,
os valores correspondentes e em determinadas transações é possível ainda verificar
os endereços. Por isso, falamos que o Bitcoin além de ser um sistema de
contabilidade perfeita, é o sistema mais transparente que existe. A diferença é que
ao invés de expor o nome das entidades que estão transacionando, aparecem
endereços públicos criptografados dessas entidades. Ou seja, não é possível
associar um CPF ou CNPJ a um determinado endereço, a não ser que você detenha
a titularidade ou tenha informado para terceiros o seu endereço, caso contrário , não
conseguimos ver nome e sobrenome de quem está transacionando.

Blocos novos são emitidos a cada 10 minutos e eles têm aproximadamente 1-


2MB. Os blocos contêm transações de um endereço para outro. Aproximadamente 2
mil transações por bloco.
Para acompanhar os blocos, basta acessar o blockchain explorer, veja:
https://www.blockchain.com/explorer

“O blockchain é público, transparente, e permite verificação, auditoria e


análise”

Fonte: Blockchain.com
i. Os principais componentes do bloco são:

● Height (altura)– o número do bloco


● Header (cabeçalho)– Contém os dados principais do bloco e um hash
do bloco anterior
● Timestamp – um carimbo que registra o momento que o bloco foi
minerado
● Minerador - quem minerou o bloco
● Quantas transações contidas no bloco
● Dificuldade e quanto foi premiado para os mineradores
● Tamanho do bloco
● Todas as transações que ocorreram naquele bloco

ii. Criptografia e Hashing

Apesar de ser comum escutar que a tecnologia blockchain é a tecnologia do


Bitcoin, essa frase não está inteiramente correta. O blockchain na verdade é UMA
das tecnologias do Bitcoin que, juntamente com outras importantes tecnologias, todas
elas já existentes quando foi projetado o Bitcoin, tornam o Bitcoin revolucionário. As
tecnologias de criptografia e hashing são tão importantes quanto.

Vamos falar brevemente dos algoritmos criptográficos que existem no Bitcoin.

O mais conhecido é a criptografia de chave dupla, ou dual key cryptography,


que é também conhecida como public-key cryptography. É um esquema
relativamente simples que se utiliza de pares de chaves para encriptar dados, uma
chave pública amplamente disseminada, e uma chave privada, secreta, que é
controlada apenas pelo proprietário daquela informação. Somente com a chave
privada é possível ter acesso a informação que está criptografada.

No Bitcoin, os endereços possuem chaves públicas que são propagadas pela


rede, nos blocos. Quando alguém deseja receber bitcoins, ele ou ela passam o seu
endereço público para quem está enviando as moedas. Realizado o envio, o dono do
endereço pode então utilizar sua chave privada para “abrir” o endereço e ter acesso
aos bitcoins recebidos.
Há também o algoritmo de hashing, que mencionamos acima. O SHA-256
como é conhecido, é abreviação de Secure Hash Algorythm de 256 bits. É um
algoritmo desenvolvido pelo governo americano, na NSA (National Security Agency),
e é o mecanismo utilizado para proteger os blocos.

O SHA-256 gera um código alfanumérico de tamanho fixo e determinístico.


Isso significa que se passarmos uma determinada informação pelo algoritmo, ele irá
retornar um código, mas se pegarmos a mesma informação e mudarmos uma vírgula
e passarmos novamente o algoritmo, o resultado será completamente diferente. Você
pode testar nesse link aqui, experimente digitar um texto e em seguida alterar
incluindo uma vírgula, por exemplo, repare a mudança no hash gerado :
https://passwordsgenerator.net/sha256-hash-generator/

Essa é uma das sistemáticas que garante a confiança e a segurança do


Bitcoin. Isto é, tornam as transações únicas e imutáveis, uma vez validada pela rede
e incluída em um bloco, a operação não pode ser alterada ou desfeita. Supondo que
um fraudador tente alterar alguma informação do bloco anterior, nessa situação a
hash anteriormente validada será alterada, porém para que ela possa produzir efeitos
em toda a rede, é necessário que seja feito de forma mais rápida e com mais poder
computacional do que toda a rede que segue minerando a cadeira de blocos originais,
ou seja, computacionalmente é praticamente impossível. Isso fará com que a rede
com os blocos originais siga operando, enquanto esse bloco “alterado” seja encarado
como gasto duplo e será descartado pela rede, virando um “bloco-órfão”, no qual não
se produzirá nenhuma sequência de blocos a partir dele.

c) Uma plataforma de confiança, um sistema em equilíbrio, regido por


consenso e com política monetária pré-definida

Validar blocos envolve um consumo alto de energia e realização de muito


trabalho. Esse trabalho é realizado pelos circuitos ASICs (Application Specific
Integrated Circuit), isto é, máquinas com alta capacidade de trabalho paralelo
desenhadas para exercer uma função específica, no caso achar combinações de bits
que desvendem o hash dos blocos. O primeiro que consegue solucionar o bloco
ganha uma recompensa, que no momento é de 6.25 bitcoins. A solução é propagada
na rede e os nós vão confirmando (a partir de 5 confirmações, diz-se que já é seguro,
mas um bloco antigo possui mais de 1000 confirmações). Este é o chamado
mecanismo de consenso, que no Bitcoin é a prova de trabalho.

i. Prova de trabalho, consenso e o problema do General Bizantino

Através do seu mecanismo de consenso, o Bitcoin resolveu um problema


importante que é estudado com frequência na teoria dos jogos, Problema do General
Bizantino (Lamport, Shostak, Pease) 1982.
De forma resumida, o problema do general bizantino tenta solucionar o
seguinte problema: como garantir que múltiplos jogadores (rede descentralizada),
distantes uns dos outros, estejam em total acordo/consenso antes que uma ação seja
tomada?
Por exemplo: suponha que você é um general de um batalhão do exército
bizantino interessado em atacar uma cidade com 4 muros. Seu batalhão está em um
dos muros da cidade e cada um dos outros muros possui um outro batalhão
comandado por seu respectivo general. Os muros são distantes e não é possível ver
o que o outro general/batalhão está fazendo. Um ataque coordenado de todos os
generais seria um sucesso e o exército tomaria a cidade, mas se um batalhão
atacasse sem a sincronicidade dos demais batalhões, resultaria na derrota.
Você decide atacar na manhã seguinte e precisa garantir que os demais
batalhões ataquem juntos. Como fazer isso sem criar o alerta ao adversário?
Obviamente na época não existiam celulares ou rádios. Isto é, será necessário enviar
mensagens para os demais generais, contudo como garantir que os mensageiros não
se vendam ou sejam capturados pelo inimigo? Como garantir que os demais generais
não façam um conluio com o adversário e você seja traído? E os generais ao
receberem as mensagens, como eles poderão confiar de que a mensagem não foi
adulterada e que você não vai traí-los?
Esse problema se aplica perfeitamente ao dinheiro digital dentro de uma rede
descentralizada, um sistema onde você está transacionando com partes que não
conhece e não confia, mas precisa se certificar que o dinheiro usado nos pagamentos
seja legítimo.
Transpondo o problema dos Generais Bizantinos para a sistemática do Bitcoin,
temos que no lugar de batalhões querendo atacar uma cidade, temos os
computadores interligados em uma rede de transações que precisam se certificar qual
transação é a correta evitando que haja o gasto duplo de bitcoin. Esses computadores
estão rodando um programa de forma simultânea que grava transações em uma
espécie de livro razão no exato momento que elas ocorrem. Para validação dessas
transações, é investido um grande esforço enérgico, de modo que não é de o melhor
interesse trapacear. Ao serem validadas, são propagadas simultaneamente por toda
a rede.
Isso faz com que o sistema seja distribuído, no qual todos têm o controle dos
mesmos saldos e estão em consenso sobre os mesmos. Tudo está visível para todos
na cadeia de blocos que vimos anteriormente. Isso significa que indivíduos que
participam dessa rede ainda que em cantos diferentes do mundo podem transacionar
sem conhecer a outra parte sem precisar confiá-lo. Não se faz necessário um banco
para atestar que as partes têm saldo para transacionar, o próprio sistema garante.

ii. O sistema atuando em equilíbrio

Colocando tudo em perspectiva, temos uma rede de computadores interligada


em que todos os computadores estão rodando uma cópia da mesma cadeia de
blocos. A cada 10 minutos, blocos novos repletos de transações são criados. Estes
novos blocos devem ser solucionados através de um sistema de mineradores que
desempenham cálculos matemáticos trabalhosos e que competem entre si pelo
prêmio de minerar um novo bloco. Aquele que obter a solução correta mais
rapidamente propaga para toda a rede. A rede de computadores verifica a solução do
minerador, observando se bate com o histórico da cadeia de blocos. Os
computadores, ou nós da rede, vão cumulativamente verificando e, portanto,
confirmando as transações. Se a solução daquele bloco estiver correta e o bloco for
válido, o minerador recebe uma recompensa. Se por outro lado a solução for inválida,
o minerador não recebe nada. Ora, se um minerador investiu dinheiro em máquinas
e energia para desempenhar trabalho, será do seu interesse que a solução esteja
correta. Tentativas de trapacear não são racionais, pois o sistema do Bitcoin não há
incentivos para isso, ou seja, criar blocos errados na rede significa desperdício de
tempo e dinheiro. Assim, temos uma plataforma de confiança estabelecida no
protocolo.

À medida que novos mineradores vão entrando na rede, o sistema vai fazendo
ajustes automáticos na dificuldade de validar blocos com a manutenção da taxa de
emissão de novos blocos a cada 10 minutos. Ou seja, quanto maior o hashrate (poder
de mineração dos mineradores), mais complexas as soluções criptográficas que eles
têm que resolver e vice-versa. Isso obriga a rede a se manter constantemente
atualizada e mais potente, reforçando a sua segurança. Ao mesmo tempo, a política
monetária de emissão de novos blocos, e, portanto, novos bitcoins se mantém
constante.

À título visual, no gráfico abaixo mostra em preto a dificuldade e em rosa o


poder de computação mensurado em hashrate por segundo.

Fonte: Glassnode.
A partir da apresentação sobre o que é Bitcoin e bitcoin, trataremos sobre algumas
características que o tornam revolucionário.

a) Duplo Gasto, descentralização e resistência à censura

Duplo Gasto
Por se tratar de um ativo digital, como é possível garantir que não haja gasto
duplo, isto é, assim como nos arquivos de .mp3 em que você envia diversas cópias
para diversas pessoas de um mesmo arquivo e fica com o original, como evitar que
isso também ocorra com o bitcoin, ou seja, você envia o mesmo bitcoin para diversas
pessoas e não gasta efetivamente? Na economia tradicional, quem garante que o seu
dinheiro (que hoje é digital também, pois mais de 90% do Real não existe fisicamente)
não tenha gasto duplo são as instituições financeiras e os Bancos Centrais. No Bitcoin
é a rede descentralizada.

Descentralização

Na economia tradicional, os terceiros de confiança são os responsáveis por


controlar o fluxo de capital, determinando quem são os elegíveis a participarem do
sistema, bem como determinando qual moeda pode ou não ser aceita (às vezes de
forma arbitrária). Já no Bitcoin não há esses terceiros de confiança, isto é, todos
podem participar do sistema e nele há incentivos desenhados para que estejam no
melhor interesse de cada um dos participantes a fim de evitar desvios, trapaças ou
fraudes.

Após toda a polêmica envolvendo o Twitter e o Facebook censurando o ex-


presidente americano, Donald Trump, no dia seguinte ao episódio de invasão no
Capitólio, ficaram evidentes os benefícios da descentralização. As pessoas
perceberam o quão perigoso e arbitrário pode ser um magnata de Silicon Valley
decidindo quem pode ou não falar, o que você pode ou não ouvir. O próprio Jack
Dorsey, CEO e fundador do Twitter, declarou: "O motivo pelo qual eu tenho tanta
paixão pelo Bitcoin é por conta do modelo que ele demonstra: uma tecnologia
fundacional de internet que não é controlada nem influenciada por nenhum indivíduo
ou entidade sozinha. Isso é o que a internet quer ser, e ao longo do tempo, será mais
e mais “.
Resistência à censura

A descentralização do Bitcoin, a ausência de um CEO ou mesmo o fato de que


o seu fundador seja desconhecido torna o Bitcoin “Censorship Resistant”, isto é, não
há uma resistência de dono, todos são igualmente participantes e colaboradores da
rede. É improvável que governos consigam banir uma rede com essas características,
a exemplo de não terem conseguido banir o Bittorrent. Além disso, o BTC não precisa
de um órgão para resolver questões como política monetária, isso já está programado
no sistema e qualquer alteração é extremamente burocrático e requer consenso.

b) Hard Money – Ouro Digital

“I don’t believe we shall ever have a good money again before we take the thing
out of the hands of government, that is, we can’t take it violently out of the hands of
government, all we can do is by some sly roundabout way introduce something they
can’t stop” Friedrich Hayek 1984

“Não dá para negar que visões acerca do dinheiro são tão difíceis de
descrever quanto nuvens em movimento.” (Schumpeter 1994)

Estamos acostumados a usar um dinheiro que é avalizado pelos governos.


Para muitos essa convenção garante o lastro das moedas fiduciárias. Utiliza-se esse
argumento para dizer que o bitcoin não possui lastro e, portanto, não tem valor. Antes
de aceitar esse argumento, é necessário olhar para a história do dinheiro na
sociedade para entender de onde advém seu valor, e se de fato, a garantia dos
governos é suficiente para garantir o lastro e a preservação de valor das moedas
nacionais.

Algumas das primeiras formas de dinheiro utilizadas pela humanidade foram


grãos como trigo e cevada em sociedades agrárias cerca 3000 AC e em um momento
posterior moedas, feitas a partir de commodities metálicas (ouro, prata e cobre) cerca
700 AC5. Apesar de haver indícios de atividade bancária privada e emissão de notas
promissórias na Idade Média, somente no final do século XVII, na Suécia, que surgiu
o primeiro Banco Central da história e em seguida nasceu o Banco da Inglaterra,
conhecido como o primeiro Banco Central a emitir notas bancárias modernas.

Em 1844, o parlamento do Reino Unido emitiu o “Bank Charter Act” dando


início oficialmente ao padrão ouro. O ato, além de dar a soberania na emissão de
notas bancárias ao Banco da Inglaterra, estabeleceu que, para garantir o lastro das
suas notas, o banco deveria ter em tesouraria a quantidade de ouro equivalente a sua
emissão de papel moeda. Esse era o início do padrão ouro que existiu em toda a
Europa do século XIX até as grandes guerras mundiais.

5 Fonte Geoffrey Ingham: The Nature of Money


Os Bancos Centrais não podiam simplesmente emitir mais moeda na
economia sem que houvesse lastro, ou seja, havia um componente de escassez que
impedia a multiplicação indiscriminada da oferta de moeda. Sendo assim, o ouro se
encaixa na definição de “hard currency”.

A partir de 1944, ao final da Segunda Guerra Mundial, veio o tratado de Bretton


Woods que determinou que os Bancos Centrais mundiais deveriam seguir o padrão
dólar, ou seja, ter suas moedas lastreadas no dólar, enquanto o dólar deveria ser
lastreado no ouro. Ainda que de forma indireta, o padrão ouro continuou vigente até
a década de 70.

Em 1971, o tratado de Bretton Woods foi oficialmente abandonado por Richard


Nixon, oportunidade na qual, passamos a chamar as moedas de moedas fiduciárias
ou moedas fiat, pois elas deixaram de possuir lastro no ouro (ou algum outro metal
escasso) e os governos passam a ser garantidores do seu valor6. O governo garante
que será possível para o cidadão pagar os seus impostos com aquele papel moeda
e, para isso, existe um exército enforcando essa cobrança. São as chamadas lei de
curso forçado.

Alguns consideram isso um lastro, outros não. De qualquer forma, apesar do


governo garantir a validade do papel moeda, ela deixa de ser escassa e o indivíduo
que a detém pode perder poder de compra com o aumento indiscriminado na sua
oferta. Já vimos este efeito em diversos choques inflacionários em países como
Brasil, Argentina, Venezuela entre outros, e também de forma mais sutil em países
de primeiro mundo, incluindo os EUA.

6 Fidúcia: palavra que vem do latim que significa confiança, em que se acredita boa-fé ou seja,
confiança de que o fiduciante deposita no fiduciário determinado valor. Assim, os Governos passam
a ser os fiduciários de valor das moedas.
Essa história pode ser contada também olhando as notas de dólares. Perceba
abaixo como muda o texto na parte inferior da nota de dez dólares. Inicialmente temos
a escrita “dez dólares em moedas de ouro pagável ao portador”:

Fonte: Documenting BTC.

Em seguida temos o texto: “dez dólares pagáveis ao portador”.

Fonte: Documenting BTC.

Finalmente temos apenas “dez dólares”.


Fonte: Documenting BTC.

Mas o ponto principal aqui é observar a diferença entre um ativo escasso e


uma moeda que pode ser impressa com facilidade, que não possui qualquer limite de
oferta. No gráfico a seguir, você pode ver o poder de compra do dólar americano em
relação ao ouro.

Por que isso tudo é importante? Porque o bitcoin nasceu pra ser escasso, um
“Hard Money”, assim como o ouro. Veja abaixo como o banco central americano
expandiu a oferta monetária de dólares, e como isso se compara com a perda de
poder de compra do dólar.
E não estamos falando somente do dólar, observe todas as principais moedas
do mundo no século XX em relação ao ouro. Perceba o quanto 1971, a data de saída
do acordo de Bretton Woods, foi relevante.
“O dinheiro fácil de produzir não é dinheiro, e o dinheiro fácil não enriquece a
sociedade; pelo contrário, torna-a mais pobre ao colocar toda a sua riqueza
arduamente ganha à venda em troca de algo fácil de produzir.” Saifedean
Ammous, The Bitcoin Standard: The Decentralized Alternative to Central Banking

De fato, no primeiro bloco, o gênesis block, do Bitcoin, Satoshi Nakamoto


colocou uma imagem da capa do jornal inglês The Times de janeiro de 2009
anunciando o segundo bailout7 dos bancos.

Fonte: Documenting BTC.

Satoshi Nakamoto definiu uma política monetária pré-determinada para o


bitcoin, com inflação decrescente tornando os bitcoins cada vez mais escassos. Isto
é, o sistema foi feito para que haja uma emissão de no máximo 21 milhões de BTC
com uma taxa de emissão que diminui pela metade a cada 4 anos. Atualmente,
estamos com a taxa de emissão de 6.25 Bitcoins a cada bloco. Este valor é o que
serve como remuneração para os mineradores por cada bloco minerado.

No gráfico abaixo, extraído do artigo “The Bullish Case for Bitcoin” de Vijay
Boyapati, podemos entender como funciona a inflação do Bitcoin. Costumamos dizer
que o Bitcoin é desinflacionário, pois, com o passar do tempo, a emissão vai
diminuindo. Isso é diferente de dizer que ele é “deflacionário” que é um erro conceitual
frequentemente cometido por Bitcoiners, pois o Bitcoin não produz deflação8.

7 Bailout aos bancos: significa uma ajuda financeira, isto é, uma injeção de liquidez dada geralmente
pelo Governo às entidades financeiras pré falidas ou falidas para cumprimento dos seus
compromissos.
8 https://medium.com/the-bitcoin-times/stop-calling-bitcoin-deflationary-84462cb90345
Fonte: Vijay Boyapati.

Para quem lembra das aulas de microeconomia, um bem com oferta inelástica
e escassa, com uma demanda elástica e crescente, só pode resultar em aumentos
de preços ao longo do tempo.
Fonte: Pantera Capital.

Por tudo isso, o BTC tem uma conotação libertária muito grande principalmente
para os seus “early adopters”. Uma possibilidade de liberdade do sistema financeiro
dos bancos centrais que tanto privilegia uma minoria.

Por isso também, o Bitcoin é chamado de ouro digital. Alguns acreditam que o
BTC possa ser até melhor como ouro por ter propriedades como:

● divisibilidade (1 bitcoin pode ser dividido em 8 casas decimais, até 1


Satoshi. Cada BTC equivale a 100 milhões de Satoshis),
● portabilidade: diferente do ouro, o BTC pode ser facilmente transportado
● fácil transferência: pode ser rapidamente transferido
● fungibilidade: 1 bitcoin é idêntico ao outro

c) Tecnologia testada, antifrágil e a prova de violação

O Bitcoin vem sendo testado há 12 anos e ninguém nunca conseguiu hackeá-lo.


Tiveram diversos ataques em endereços particulares, em exchanges, computadores
privados (single point of attack), mas a rede do Bitcoin segue intacta. Isto porque,
quando um endereço passa a “centralizar” uma quantidade muito grande de bitcoins,
naturalmente passa a ser alvo de ataques, o que é muito diferente de ataques em
pontos de falha da rede/sistema. Quanto mais o tempo passa, mais seguro ele fica
pois:

i. Cada vez mais mineradores vão sendo plugados à rede e, com isso, a
dificuldade de hackear fica mais difícil.
ii. Cada vez mais blocos vão sendo minerados e, com isso, a cadeia vai ficando
mais e mais robusta.
iii. Lindy effect9 (Efeito Lindy)– quanto mais tempo uma tecnologia existe, maior
a sua expectativa futura de vida. Isto é, podemos ver abaixo as semelhanças entre
as curvas de adoção do Bitcoin com a adoção da internet.

Fonte: Wikipédia.

E não existe evidência mais importante do sucesso de um protocolo que a sua


adoção ao longo do tempo. Perceba no gráfico a seguir que a adoção do Bitcoin se
assemelha com a adoção da internet. De acordo com a estimativa do Deutsche Bank,
o ano 2021 para o Bitcoin equivale ao ano 2000 para a internet, aproximadamente.

9 Conceito trazido por Nassim Taleb em Antifrágil


d) Capacidade de atuar como um sistema internacional de compensação

Um outro caso de uso do Bitcoin que tem se tornado cada vez mais comum e
é mais tangível aos olhos do observador, é o uso do itcoin para remessas de dinheiro.
Atualmente, consegue-se enviar bilhões de dólares para o outro lado do mundo em
menos de uma hora pagando dezenas de dólares. A tecnologia é tão superior ao
sistema de remessas e compensações utilizado atualmente entre bancos, o SWIFT,
que este caso de uso do Bitcoin foi um dos mais rápidos a se desenvolver.

Não é incomum vermos posts de bots que acompanham a atividade na cadeia


de blocos a respeito de transações bilionárias ocorrendo na rede. Essa aqui foi uma
das maiores até hoje:
Fonte: Twitter - Whale Alert.

Em 2018, um estudo realizado por Nic Carter, demonstrou que a quantidade


transacionada na rede Bitcoin já ultrapassava todo o mercado de remessas globais.

Fonte: Nic Carter.

A gestora Ark Investments aprofundou os estudos e determinou o seguinte


total transacionado na rede:
Fonte: Ark Investments

Ainda de acordo com a gestora Ark, o Bitcoin deveria atingir uma capitalização
de mercado acima de U$ 1 Trilhão caso se torne a principal rede de compensação
mundial.

Fonte: Ark Investments


Essa moeda custa menos de 5 reais e pode se tornar
uma das moedas mais importantes da década.

A criptomoeda
do futuro.

Jorge Souto Paulo Boghosian

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