1. O documento discute a necessidade de reformar a governança global para tornar a globalização mais justa e benéfica.
2. Atualmente, a governança global é caótica e não democrática, refletindo principalmente os interesses dos países desenvolvidos.
3. O autor propõe a criação de mecanismos globais independentes para gerenciar melhor a globalização e garantir que os interesses dos países em desenvolvimento sejam considerados.
1. O documento discute a necessidade de reformar a governança global para tornar a globalização mais justa e benéfica.
2. Atualmente, a governança global é caótica e não democrática, refletindo principalmente os interesses dos países desenvolvidos.
3. O autor propõe a criação de mecanismos globais independentes para gerenciar melhor a globalização e garantir que os interesses dos países em desenvolvimento sejam considerados.
1. O documento discute a necessidade de reformar a governança global para tornar a globalização mais justa e benéfica.
2. Atualmente, a governança global é caótica e não democrática, refletindo principalmente os interesses dos países desenvolvidos.
3. O autor propõe a criação de mecanismos globais independentes para gerenciar melhor a globalização e garantir que os interesses dos países em desenvolvimento sejam considerados.
M Making Globalization Work, o Prê- nia dos países em desenvolvimento, en-
E mio Nobel Joseph Stigliz procura com- fraqueceram seus regimes democráticos pletar o trabalho que iniciou em A glo- pela imposição – de fora para dentro – de balização e seus malefícios (2002), quan- medidas1 e valores inapropriados, e, no do analisou o impacto das políticas libe- fim, têm criado um grande número de ralizantes do Consenso de Washington, perdedores tanto nos países ricos como e em Os exuberantes anos 90 (2003), no nos pobres, pelo desemprego que criam. qual contrapõe a lógica liberalizante à Segundo o autor, esse é o resultado de política dos Estados Unidos e ao en- um modelo imposto pelos países avan- fraquecimento dos Estados Nacionais çados por meio de instituições como ante o mercado financeiro e os interes- FMI, Banco Mundial, OMC e Tesouro ses das grandes corporações. Com esse Norte-Americano de forma não-demo- novo livro, o objetivo é propor reformas crática, refletindo os interesses dos países no modo como é gerida a globalização, desenvolvidos e de suas grandes corpo- para torná-la mais justa, minimizando rações. “Sem um governo e instituições seus malefícios e fortalecendo seus bene- globais, nós temos um sistema de gover- fícios. Apesar de ser um livro mais pro- nança global caótico, sem coordenação” positivo do que analítico, é recheado de (p.21). fatos e histórias extremamente interes- Lança à discussão um conjunto de santes que servem para melhor justificar propostas para administrar melhor a glo- suas propostas. balização. O autor acredita que é pos- Torna-se um livro obrigatório não sível criar mecanismos para gerenciar a apenas pela riqueza e volume de propos- globalização a fim de promover o de- tas em si, mas pela análise das questões senvolvimento mundial, garantindo que que dão corpo a elas. Além disso, porque os interesses dos menos poderosos e dos nos coloca o seguinte desafio: é possível países em desenvolvimento sejam de fato administrar a globalização? Em outras pa- contemplados. Procura recuperar assim lavras, talvez pudéssemos dizer: é possível a famosa afirmação de Keynes (1978, controlar o movimento do capital global p.126): “De minha parte, acho que, sa- materializado na ação das grandes potên- biamente administrado, o capitalismo cias e suas corporações multinacionais? provavelmente pode se tornar mais efi- Em parte, o livro propõe repensar ciente para atingir objetivos econômicos as reformas liberalizantes tipo “market- que qualquer outro sistema alternativo friendly” aplicadas em diversos países, conhecido [...]”.2 Para Stiglitz, pelos re- incluindo o Brasil, a partir do Consenso sultados já constatados, é possível afirmar de Washington. Demonstra como essas que “Hoje, a defesa do ‘fundamentalis- estratégias geraram instabilidade e não mo de mercado’ desapareceu em larga desenvolvimento, diminuíram a sobera- medida [...] Sem regulação e intervenção
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apropriada do governo, o mercado não As políticas liberalizantes e a privatiza- conduz à eficiência econômica [...] O ção6 desmantelaram e enfraqueceram os desenvolvimento requer pensamento de Estados nacionais e a estrutura produtiva longo prazo e planejamento” (p.XIV). de países. O caso limítrofe foi a Rússia. Crítica à ortodoxia A liberalização dos mercados É importante destacar o esforço de Segundo o autor, nunca houve livre- Stiglitz em recuperar a tradição keyne- comércio no sentido que os economis- siana – após de quinze ou vinte anos de tas7 defendem. neoliberalismo – contra a ortodoxia fun- O mundo de Adam Smith e do mer- damentalista de mercado, segundo a qual cado livre que advoga que sob ele to- o mercado é regido pelas mesmas leis da dos ficarão em melhor situação não é natureza. Para a teoria econômica, talvez apenas um mundo mítico dos merca- isso seja o mais fundamental no livro:3 a dos funcionando perfeitamente, sem retomada dessas idéias a fim de gerenciar desemprego; é também um mundo o capitalismo; a constatação de que sem no qual riscos não têm importância gerenciamento o sistema cria pobreza e podem ser evitados, a competição é sempre perfeita, sem Microsofts ou e desigualdade; a constatação de que o Intels dominando as áreas. (p.68) mercado só pode funcionar se adminis- trado. O autor sabe que não é uma lógica Além de considerar que o livre-mer- nova, mas que é mais atual e consistente cado é uma ficção, Stiglitz conclui que a do que a lógica do Consenso de Washing- liberalização comercial mundial se efeti- ton. Além disso, já tirou o capitalismo de va de forma injusta e assimétrica, “abrin- uma grande crise pelo menos uma vez. do mercados nos países em desenvolvi- Indo um pouco mais além, constata mento para bens dos países industriais também que não existe uma única forma avançados sem reciprocidade” (p.62). de pensar o desenvolvimento econômico A assimetria a que se refere é resultado que sirva a diferentes países com caracte- não apenas das diferenças de desenvolvi- rísticas diversas, ainda mais aquela que se mento industrial e tecnológico entre os diz baseada na economia norte-america- países, mas também de poder de nego- na de “livre-mercado” que, na verdade, ciação, poder esse que está relacionado nunca foi livre e nem desvinculada de ao poder econômico. Para Stiglitz, rara- um Estado forte e atuante.4 Para o au- mente países em desenvolvimento con- tor, países asiáticos como China, Japão, seguem de forma isolada um acordo que Cingapura são exemplos disso e soube- seja justo. Por isso, defende que os acor- ram desenhar estratégias próprias dosan- dos bilaterais devam ser desencorajados. do Estado e mercado.5 A América Latina Uma constatação relevante é que a fez tudo diferente da Ásia, e seu fracasso efetivação do livre-comércio beneficia “junto com o sucesso da Ásia do Les- apenas as corporações multinacionais,8 te provê o mais forte argumentos con- uma vez que resulta em desemprego e tra o Consenso de Washington” (p.35). elevação da pobreza tanto nos países po- O fundamentalismo de mercado gerou bres, pela destruição de capitais produ- muito mais problemas que soluções para tivos locais, como nos países ricos, pelo o desenvolvimento mundial. “Chávez na deslocamento das empresas para outros Venezuela é o resultado [...]” (p.144). países. A perda de empregos ocorre em
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velocidade e volume mais elevado do novas tecnologias, ao contrário, freia-o que o ganho pelo desenvolvimento de ao estabelecer monopólio10 sobre co- novas atividades. Eleva, portanto, a po- nhecimentos muitas vezes adquiridos ao breza tanto nos países pobres como nos longo do tempo por diversas pesquisas de indústria avançada. financiadas com dinheiro público. Não Além disso, para Stiglitz, a discussão tornar público determinado conheci- sobre a liberalização comercial não está mento leva à ineficiência produtiva, uma correta. Não é o livre-mercado que resul- vez que impede a difusão da inovação. ta em mais desenvolvimento dos países. Impede também o desenvolvimento tec- A história tem demonstrado que é a ele- nológico dos países em desenvolvimen- vação das exportações dos países pobres to por transferência, bem como a dimi- e não a remoção de barreiras à impor- nuição da distância entre países ricos e tação que tem promovido seu desenvol- pobres. Além disso, contraria a lógica da vimento. Da mesma forma, demonstra concorrência. Os países ricos criam mo- não ser verdade que é a política de libe- nopólio sobre a mercadoria que têm para ralização de importações é que atrai in- vender, ao mesmo tempo que defendem vestimentos estrangeiros, mas uma série a liberalização em outras áreas. de outros fatores. “O sucesso da China A questão dos países ricos demonstra isso”, afirma o autor (p.66). em recursos naturais Por isso, defende a total abertura dos Preocupado com os conflitos latentes mercados dos países desenvolvidos aos no mundo envolvendo países detentores subdesenvolvidos até que estes últimos de recursos naturais, principalmente pe- possam competir. tróleo, Stiglitz se pergunta qual a razão À parte os inúmeros exemplos e análi- de os países que detêm essa riqueza se- ses de casos sobre o papel das instituições rem pobres, possuírem grande disparida- internacionais na forma desigual como o de entre ricos e pobres e terem sido (ou comércio mundial tem sido gerido em serem) dominados por ditaduras. Apesar favor dos países mais ricos, Stigliz defen- de não relacionar a ditadura a interesses de a modificação dessas instituições ou econômicos de grupos nacionais e inter- a criação de novas, independentes, para nacionais, diretamente, aponta para o que os acordos sejam mais justos e pro- papel ativo nessa realidade das empresas movam de fato o desenvolvimento glo- multinacionais e das políticas de priva- bal, permitindo aos países mais pobres tização desses recursos. Em ambos os alcançarem os mais ricos. casos, o fato é que têm sido garantidos Outra questão importante é sua crítica os interesses tanto de grandes empresas aos acordos relativos aos direitos de pro- como de consumidores globais e das priedade (Trip).9 Para ele, esses acordos elites locais que se beneficiam da explo- apenas “refletem o triunfo dos interesses ração ou venda dos recursos (privatiza- corporativos dos EUA e União Euro- ção), deixando a população desses países péia” (p.105) no comércio internacional. à margem. Corrupção tanto nos países Aponta que a garantia da propriedade como por parte das grandes empresas intelectual não tem sido boa nem para os tem sido corriqueira. Isso é o que ocorre países desenvolvidos. Não é um instru- e ocorreu em países como a Venezuela. mento eficaz para o desenvolvimento de Lembra, assim, que a eleição de Chávez
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é uma resposta a esse histórico. “A ha- acesso a eles exclusivamente àqueles que bilidade de Chávez em negociar antigos têm renda mais elevada, os mais ricos. contratos para melhorar seus termos para Propõe, assim, a criação de “alguma for- seu país, simplesmente, reforça a crença ma de gestão pública dos recursos natu- de que, no passado, os venezuelanos fo- rais e a criação de um conjunto de regras ram enganados” (p.144). globais sobre o uso e as externalidades Para Stiglitz, os países ricos em re- negativas que esse uso gera” (p.165). cursos naturais devem assumir a maior Propõe ainda formas de punição econô- responsabilidade por seu uso. A criação mica pela cobrança pelo uso, apesar de de instituições que zelem por normas in- essa forma resultar em problemas seme- ternacionais para o uso desses recursos lhantes aos da privatização. De qualquer pode reduzir a corrupção tanto interna maneira, aponta que essas ações têm pou- como externa e garantir seu bom uso. ca chance de resultado se países como os De qualquer forma, o autor sabe que Estados Unidos e a China não apoiarem. mexer com esse assunto é tratar com Mas propõe um sistema de sanções que, interesses antagônicos dos países desen- apesar de contrariar interesses, poderia volvidos e suas corporações, que têm por talvez funcionar. objetivo controlar os recursos naturais O papel das grandes corporações no mundo, mas acredita que instituições Apesar de não apenas neste livro, mas internacionais independentes podem nos anteriores aqui citados, o autor ter minimizar o problema. destacado o papel das grandes corpora- O agravamento ções na lógica do poder que tem feito da questão ambiental a globalização funcionar de forma que A forma como a globalização tem seu malefícios se sobressaiam em relação funcionado, também, está contribuindo aos benefícios, pouco toca nesse assunto para uma acelerada piora nas condições quando se refere a elas diretamente. A do meio ambiente e no aquecimento despeito do que havia dito antes, agora global. O problema é que a poluição é reduz o mal que causam quase que exclu- gerada localmente, mas afeta o planeta sivamente a problemas éticos (destruição como um todo. É uma questão típica da concorrência, corrupção, uso indevido de como ações micro criam externalida- de recursos naturais, poluição) e não ao des negativas, em escala macro, no caso, conjunto de determinações sociais, polí- planetária. Portanto, a solução só pode ticas e econômicas que decorrem de sua ser encontrada nesse âmbito e deve ser lógica de atuação e que põem em marcha regulamentada de forma global e inde- o processo que denomina de globaliza- pendente dos interesses de países ou de ção, sobre o qual realiza a sua crítica. empresas específicas, na verdade, muitas Assim, para ele, resolvendo-se esses vezes contrariando esses interesses. problemas éticos relacionados a valores Recursos naturais são bens públicos. sociais por meio de uma contabilização A gestão privada desses recursos pode pública – numa espécie de balanço social resultar em algum controle e preserva- – para que a empresa seja julgada social- ção, segundo o autor, mas implica, sem- mente, bem como pela criação de alguns pre, uma distribuição menos igualitária sistemas de punição a essas “externalida- dos recursos, muitas vezes permitindo o des”, restariam, para o autor, apenas os
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benefícios que resultam da ação dessas Stiglitz, dado que o sistema financeiro corporações multinacionais, tais como a internacional pensa, principalmente, no melhoria das condições de vida das pes- lucro e retorna quando o país começa a soas pela criação de empregos, a transfe- crescer. Uma outra solução é não adotar rência de tecnologia e conhecimento aos as políticas do FMI13 – “opostas ao que países menos desenvolvidos, e a promo- Keynes proporia” – focadas sempre no ção do crescimento econômico. déficit fiscal, na elevação de impostos, no A questão das dívidas externas corte de despesas públicas. O caráter re- cessivo dessas políticas agrava o quadro. O autor põe ainda em questão a for- Além disso, muitas vezes as solicitações ma de financiamento dos países menos do Fundo vão além, forçando os países a desenvolvidos, recorrente fonte de cri- adotarem a liberalização de capitais para ses financeiras e falências desses países, atrair capitais externos, piorando ainda às vezes com potencial de desestabilizar mais as coisas pela elevação da instabili- todo o sistema. Para ele, trata-se de um dade desses países. problema de gestão: os países menos de- senvolvidos tomam empréstimos além A criação da moeda global da sua capacidade de pagamento – por Para o autor, o sistema de reservas glo- pressão ou não do sistema financeiro bais atual tem sido perverso e tem criado internacional –, e os credores não têm uma instabilidade crescente nas finanças o devido cuidado, no momento de em- mundiais. Pensando nisso, de todas as prestar, dado o baixo risco que decor- propostas, talvez a mais interessante e re da garantia dada pelo FMI.11 Ambos, polêmica seja a de criação de uma moeda credores e devedores, subestimam riscos global na direção do que havia proposto de desvalorização cambial nos países to- Keynes no pós-guerra. Stiglitz compre- madores ou de uma elevação dos juros ende que o sistema de reservas mundiais, internacionais. Ora, se é um problema tendo o dólar como centro, beneficia de gerenciamento,12 o autor propõe a apenas os Estados Unidos ao disponi- formulação de contratos capazes de in- bilizar-lhe recursos de baixo custo para cluir os riscos, bem como a criação de financiar seu desequilíbrio comercial.14 um sistema de provisão para calamida- Isso seria fonte de uma enorme instabi- des macroeconômicas (desvalorização lidade financeira internacional. Qualquer ou elevação das taxas de juros interna- desconfiança no dólar pode fazer que pa- cionais) e a criação de controles sobre íses passem a manter suas reservas em ou- capitais especulativos. Uma estrutura tra moeda, o que poderia provocar uma de leis internacionais regulamentaria crise de financiamento (se não uma cor- essas relações e estabeleceria a punição rida contra o dólar) dos Estados Unidos. dos responsáveis, quando da ocorrência O sistema atual de reservas em dólar de crises de endividamento, evitando-se cria uma situação inusitada, na qual os que o peso caia, exclusivamente, sobre países menos desenvolvidos acabam por os devedores como é hoje. financiar os Estados Unidos. “O que os Uma vez, porém, deflagrada uma Estados Unidos recebem dos países em crise de endividamento externo, dentre desenvolvimento pelo sistema de reser- as soluções propostas está a moratória, vas é mais do que eles fornecem a esses o que não é um ponto negativo para países como ajuda” (p.250).
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Assim, para solucionar esses proble- la global, imaginando, talvez, a criação mas, Stiglitz propõe a criação de uma de um governo global desvinculado das moeda internacional denominada “gre- grandes potências e das grandes corpo- enbacks”, na qual todos os países conver- rações multinacionais. teriam suas reservas. Isso, segundo ele, O centro de sua discussão e de suas teria enormes benefícios, tal como dimi- propostas está na revisão da relação en- nuir a instabilidade potencial do sistema tre Estado e mercado, na necessidade financeiro internacional e, ainda, criar de intervenção pública de forma con- fundos para administrar crises e promo- tundente, exatamente onde o mercado ver o crescimento e o desenvolvimento falha, no sentido de torná-lo mais pró- de países subdesenvolvidos. Outro bene- ximo ao “perfeito”, que pelo visto não fício seria a redução do poder de algu- são intervenções pequenas ou marginais. mas moedas especularem contra outras, A questão é, portanto, como criar me- dado que a taxa de câmbio seria definida canismos e instituições capazes de zelar pela instituição administradora. por essa governança global e promover Claro, o autor reconhece que isso tra- o desenvolvimento de todos os países, ria problemas para os Estados Unidos, ricos e pobres. Para ele, isso depende da que teriam, então, que financiar seu dé- capacidade de o mundo criar ou modifi- ficit tomando empréstimos no mercado car instituições, fortalecendo as bases da internacional, como qualquer outro país. democracia. Não toca em questões mais complica- O que Stiglitz propõe no livro é bas- das, como a diminuição do poder norte- tante ousado e merece reflexão e consi- americano que resultaria dessa medida, deração. Pode-se dizer que defende que problema que nem Keynes conseguiu se retire das mãos das grandes potências superar em um momento que esse país e de suas corporações multinacionais o ainda se iniciava no papel de potência controle que possuem sobre a globali- hegemônica mundial. zação, responsável por grande parte dos A democratização da globalização malefícios que se abatem sobre o mundo O que Stiglitz defende neste livro, de atual. Resta pensar se isso é de fato possí- fato, são mudanças na forma como é ge- vel, ou discutir o que suas propostas têm renciado o sistema global atual. Acredita de real viabilidade e quais delas devem, que essas mudanças possam ocorrer pela mesmo que aparentemente inviáveis, ser democratização das decisões e das ins- um objetivo a perseguir. De qualquer tituições internacionais, pela criação de forma, permanecerá a dúvida: será que é um sistema de governança global, fazen- algo que poderia ocorrer, considerado o do que os países menos favorecidos ou potencial de conflitos que envolve? Em mais fracos consigam ter voz e possam, síntese, será que mudar a forma como assim, se beneficiar da globalização, o a globalização funciona não é mudar a que, até agora, pela lógica exclusiva do forma como o capitalismo funciona? mercado, não ocorreu. De certa forma, O autor responde: “Este livro reflete no mesmo caminho das propostas de minha fé na democracia; que cidadãos Keynes para administrar o capitalismo bem informados estão mais predispos- no âmbito dos países nos anos 1930, Sti- tos a realizar algum controle contra os glitz faz suas propostas, agora, em esca- abusos das grandes empresas e de inte-
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resses financeiros que têm dominado a mundo real, mas no que deveria ser mo- globalização” (p.XIII). Vale lembrar que dificado para se alcançar aquele mundo o trabalho que lhe deu o Prêmio Nobel ideal. dizia respeito às conseqüências para os 8 E apenas no curto prazo, dado que não agentes econômicos do fato de as infor- é sustentável no longo prazo por seus mações serem sempre imperfeitas e limi- resultados. tadas. 9 Tratados relacionados a direitos de pro- priedade intelectual. Notas 10 Narra exemplos histórico extremamente curiosos. 1 Segundo Stiglitz, o próprio FMI dá pouca importância à democracia dos 11 O chamado “risco moral”. países, uma vez que determina políticas 12 Não relaciona esse problema, por exem- econômicas de ajuste e a independência plo, ao esquema de financiamento às do Banco Central à revelia das decisões próprias corporações multinacionais, às do próprio país. Utiliza como método vezes amarrado à importação compul- deixar essas políticas a “técnicos” que sória de equipamentos. tomam decisões independentes da po- 13 Segue teorias econômicas que têm sido lítica (p.56). “devastadoras para milhões de pessoas 2 Diga-se de passagem que o outro “sis- que vivem nesses países [devedores que tema conhecido” à época era o sistema adotam as políticas]” (p.235). soviético. 14 Não toca no ponto sobre o poder de 3 Esse aspecto parece estar ainda mais cla- Banco Central mundial que o Federal ro em seus dois livros anteriores, mas Reserve tem de, ao fazer a política mo- principalmente no segundo citado. netária internacional, promover cresci- 4 Demonstra isso claramente em Os exu- mento ou crises em outros países. berantes anos 90. 5 Poderia também relembrar as propostas da Cepal originais, mas não o faz. Referências bibliográficas 6 Stiglitz, referindo-se inclusive ao caso KEYNES, J. M. O fim do laissez-faire. In: do Brasil: “O argumento para a priva- SZMRECSÁNYI, T. Keynes, John May- tização é que o setor privado é mais efi- nard: economia. São Paulo: Ática, 1978. ciente do que o público. Esta opinião deve-se muito mais à ideologia do que a alguma análise bem feita [...] A ine- STIGLITZ, J. E. Making Globalization ficiência de algumas empresas estatais Work. New York: WW Norton, 2006. deve-se à falta de investimentos causada pela insistência do FMI em tratar as dí- vidas dessas empresas como dívida pú- Rubens R. Sawaya é doutor em Ciência blica [...] as empresas estatais dos países Política, mestre em Economia Política, em desenvolvimento são efetivamente professor do Departamento de Economia proibidas de fazer isso” (p.142). da PUC-SP e autor do livro Subordinação 7 Poderíamos acrescentar que muitos eco- consentida: capital multinacional no pro- nomistas trabalham com a hipótese de cesso de acumulação da América Latina e um mundo por eles idealizado, e for- Brasil (Annablume, 2006). mulam suas políticas não como base no @ – rsawaya@uol.com.br