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LEDA CATUNDA

Leda Catunda (São Paulo, 1961) formou-se em Artes


Plásticas em 1984 na Fundação Armando Alvares
Penteado (FAAP), São Paulo. Desde então, mantém
estreita relação com a Academia, lecionando pintura e
desenho na FAAP, na Faculdade Santa Marcelina e em
seu próprio ateliê. Em 2003, defendeu tese de doutorado
pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de
São Paulo (ECA/USP), com o trabalho Poética da
maciez: pinturas e objetos. Nele discorre sobre sua
pesquisa que, iniciada nos anos 1980, explora os limites
entre pintura e objeto através de obras volumosas e de
superfície macia.
Anos 80
• Outros tempos, não mais ditadura

• A ideia de liberdade

• Questões de gênero, sexualidade e


raça (60,70,80) – movimentos nas
academias, estudos socioculturais

• HIV

• Tropicalismo ???
Geração 80
• Questionamento do modernismo

• Hibridização

• Pintura como reversão de valores na tradição histórica - nodal


(gênero mais tradicional) – pop e a retomada da figuração

• Pós-capitalismo, consumo de massa, tecnologia eletrônica e o


mercado

• Artistas contra regimes, estilos ou programas, tal como ocorrera na


era moderna

• “Os artistas dos anos 80 desconcertaram os parâmetros da crítica


modernista e a legitimação de valores que se pretendiam
universalmente válidos, o que mexeu profundamente com a
“política” da própria arte, de forma anárquica e desconcertante.”
Como vai você, geração 80?

"Como vai você, Geração 80?". A pergunta, em tom casual, dá título a


uma grande exposição realizada na Escola de Artes Visuais do
Parque Lage (EAV/Parque Lage) Jardim Botânico, Rio de Janeiro,
aberta em 14 de julho de 1984. Os curadores da mostra, Marcus de
Lontra Costa (1954), Paulo Roberto Leal (1946 - 1991) e Sandra
Magger, afirmam o caráter de sondagem do empreendimento, que visa
trazer à tona a produção variada que tem lugar na década de 1980.
Não se trata de lançar manifestos, determinar modelos e/ou posturas
unívocas, mas de aferir algumas tendências artísticas que se
manifestam no momento. "Está tudo aí", afirmam Lontra e Leal, "todas
as cores, todas as formas, quadrados, transparências, matéria,
massa pintada, massa humana, suor, aviãozinho, geração serrote,
radicais e liberais, transvanguarda, punks, panquecas, pós-
modernos, neo-expressionistas (...)." Espécie de balanço realizado
no calor da hora, a exposição reúne 123 artistas de idades e formações
distintas como Alex Vallauri (1949 - 1987), Nuno Ramos (1960), Beatriz
Milhazes (1960), Cristina Canale (1961), Daniel Senise (1955), Leda
Catunda (1961), Adriana Varejão (1964) e Leonilson (1957).
Ainda que o título da exposição faça menção a
uma "geração 80" genérica, o fato é que dela
participam majoritariamente artistas do Rio
de Janeiro e de São Paulo. Tal evidência leva a
que alguns perguntem se essa seria mesmo
uma mostra representativa da nova geração, já
que se trata de uma exposição "carioca com
apêndice paulista".

Sem desconsiderar as diferenças entre as obras


e artistas - talvez o aspecto mais interessante da
coletiva -, é possível localizar alguns traços
distintivos na produção dos jovens artistas em
atividade na década de 1980. Parte considerável
dos integrantes da mostra do Parque Lage parece
compartilhar a produção dos ateliês coletivos
que se sucedem na época - Casa 7 e o Ateliê da
Lapa, por exemplo -, o compromisso forte com a
retomada da pintura.
Daniel Senise e Luiz Pizarro (1958) estão diretamente envolvidos com o registro de
paisagens, objetos e formas volumosas que ocupam a quase totalidade das telas.

As obras de Beatriz Milhazes, por sua vez, chamam a atenção pelo apreço à
ornamentação e à art deco.

Leonilson explora a figuração desde os desenhos e pinturas da primeira fase de sua


obra. O humor, a crítica social e o interesse pelo poder narrativo das imagens são
marcas fortes de seu trabalho. A recuperação da ideia de artesanato, da costura e da
tecelagem - que as obras de Leonilson empreendem - se faz presente, de outro
modo, nas telas de Leda Catunda. E chama a atenção a multiplicidade de materiais
empregados - toalhas, couros, plásticos, peças de vestuário, pelúcia etc. -, que se
transfiguram quando colocados lado a lado.

As repercussões da coletiva de julho de 1984 podem ser aferidas pela consagração e


reconhecimento alcançados por boa parte dos artistas participantes. De grande
impacto no momento, a mostra entra para a história das artes plásticas brasileiras
contemporâneas como marco significativo da nova pintura. É o que atesta sua reedição
modificada, realizada de julho a setembro de 2004, no Centro Cultural Banco do Brasil
(CCBB), no Rio de Janeiro.
• A pintura sem chassi

• Confronto com as formas


clássicas da pintura

• Ironia
Leda utiliza de inúmeros
materiais da indústria
como tapetes, colchão e
acolchoados, plásticos.
Menos literal na relação
com a imagem, Leda tem
procurado explorar nos
materiais e objetos
“standardizados” de seu
trabalho um meio de
experimentar sobretudo as
texturas, ao mesmo tempo
em que alguns trabalhos já
apontam para uma direção
diversa daquela “narração”
anterior.
A desagradável memória de uma
experiência erótica do horror tátil.

Essa experiência tátil repulsiva fica


também como memória do gesto
físico de posse das coisas, na
compulsão ao consumo das
pequenas misérias do mundo das
coisas.
Suas obras continuam
ligadas a um tipo de
história ou figura,
como é o caso das
formas exibidas em
1996, que se intitulam
Gotas, Línguas,
Insetos. Mas elas
estão gradativamente
se apurando em
direção à
composição, às
sobreposições, às
camadas, às
seriações.
“Na verdade, Leda desenvolveu essa poética porque soube sintetizar – ainda
nos anos 80 –, duas grandes influências aparentemente antagônicas e
excludentes: por um lado, todo o legado de uma crítica à pintura moderna,
herdado de seus professores; por outro, a avalanche de informações sobre o
fenômeno internacional da “volta à pintura”, que marcou enormemente a sua
geração.

Sintetizando esses dois influxos, a artista questionou de fato a pintura moderna,


realizando trabalhos onde os limites do plano pictórico sempre foram
problematizados, quer pelo uso de materiais inusitados (veludos, plásticos,
pelúcias, etc), quer pelas superfícies volumosas e/ou vazadas das suas
pinturas. E foi devido, justamente, a esse intenso questionamento, empreendido
nos últimos vinte anos, que Leda Catunda foi constituindo uma das produções
mais instigantes da cena artística brasileira contemporânea.”

Tadeu Chiarelli - Os planos de Leda Catunda

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