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Itinerário Turístico no Porto


UFCD 9798 - Itinerários Turísticos Nacionais e Internacionais

Formadora: Marta Estrócio

Realizado por: Jorge Moreira | Vânia Gonçalves | Cristina Lopes | Delfim


Vieira da Silva

10 Setembro 2020

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INDÍCE

Introdução (pág. 3)

Tipologia e Caracterização do Itinerário (pág. 4)

 A Capela de Ferro (pág. 5)


 São Bento “A última Freira de São bento” (pág. 9)
 Capela da Nossa Senhora da Silva (pág. 14)
 Torres dos Clérigos “A Morte Miserável de Nasoni” (pág. 19)

Conclusão (pág. 24)

Bibliografia/Webgrafia (pág. 25)

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INTRODUÇÃO

Este trabalho, proposto na UFCD 9798 – Itinerários Turísticos Nacionais e Internacionais,


consiste no exercício da elaboração de um itinerário turístico que integra os
conhecimentos absorvidos no decorrer das aulas.

Orientado para a zona histórica do Porto, que possui uma malha turística bastante rica e
atrativa, o itinerário demonstrado revela 4 pontos de interesses escolhido pelos envolvidos
neste trabalho.

A complexidade deste exercício leva-nos a pensar nos detalhes mais minuciosos e a


observar com mais profundidade os pontos de atração que esta fabulosa cidade tem para
oferecer, desde a sua famosa Ribeirinha até ao polo mais alto da cidade.

Ao longo deste trabalho poderá ler sobre a tipologia e a caracterização do itinerário em


causa, conhecer as particularidades, histórias e lendas associadas aos pontos de
interesse do itinerário e, o fundamental, conhecer um pouco mais aquilo que o Porto tem
para oferecer em matéria de Turismo.

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TIPOLOGIA E CARACTERIZAÇÃO DO ITINERÁRIO

O itinerário, realizado pelo grupo que constitui este trabalho, consiste numa visita por 4
locais, cuja história e simbolismo que caracteriza os monumentos/estruturas esteja
alinhada com uma expressão mais sombria ou misteriosa, de forma apresentar um
itinerário mais alternativo e pouco comum em comparação com os itinerários já existente
e que se podem experimentar na zona histórica do Porto.

Mais do que enfatizarmos o monumento em si, queremos tocar com mais profundidade
nos detalhes mais caprichosos das histórias que os envolve.

O itinerário elaborado para este efeito tem o seu início na INOVINTER – Centro de
Formação e de Inovação Tecnológica e que prosseguirá para os locais escolhidos, sendo
estes a base fundamental deste itinerário. Onde também terminará, considerando-se um
itinerário de ida e volta ao mesmo ponto.

O itinerário consiste na passagem por quatro pontos principais, na seguinte ordem: a


Capela de Ferro (Oratório de São sebastião) apresentado pelo Jorge; São Bento (A última
freira de São Bento) apresentado pela Cristina; Nossa Senhora da Silva apresentado pelo
Delfim; e, por fim, a Torre dos Clérigos (A morte miserável de Nasoni) apresentado pela
Vânia.

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Traçado do Itinerário

1. Jorge - Inovinter» Capela de Ferro (Oratório de São sebastião)

A CAPELA DE FERRO (Oratório de São Sebastião)

Desde os finais da Idade Média e até 1928 existiu na Rua Escura uma pequena capela,
de invocação a Nossa Senhora do Ferro, à qual andavam associadas curiosas tradições e
lendas. Uma delas referia mesmo que, na sequência de um privilégio supostamente
concedido por um dos primeiros reis de Portugal, os condenados à morte poderiam
encontrar nela uma forma da sua execução ser anulada.

Demolida em 1928, a capela da Nossa Senhora do Ferro – então conhecida por Capela
de S. Sebastião – localizada na Rua Escura (que devido à presença deste templo foi
também, durante algum tempo, Rua da Nossa Senhora do Ferro) possuía epigrafada na
sua fachada a data de 1681. Tal, no entanto, não corresponderia à data da sua
construção, mas muito presumivelmente, a uma qualquer remodelação já que a capela
era seguramente muito mais antiga, datando provavelmente dos finais da Idade Média ou

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dos inícios da Idade Moderna. Esta sua suposta antiguidade parece ser reforçada pela
tradição descrita nos parágrafos anteriores e que indicava que os condenados à morte
que, a caminho da sua execução, conseguissem tocar no ferro cravado junto à padieira
ficariam libertos da pena capital, com base num suposto privilégio concedido por um dos
primeiros monarcas portugueses.

Certo é que esta crença lendária era muito antiga. Disso mesmo nos dá conta, já no início
do século XVIII, Frei Agostinho de Santa Maria que na sua obra “Santuário Mariano”
(1707 – 1723) indicava que, quando transportavam os condenados e passavam no local,
os homens da justiça iam todos encostados à parte oposta da capela, para que o
padecente que por ali passasse não pudesse deitar a mão ao ferro da capela.

A esta tradição não será alheia, de resto, a circunstância da capela da Nossa Senhora do
Ferro se localizar junto ao percurso que, durante séculos, foi o percorrido na cidade do
Porto pelos condenados à Morte. Com efeito, e até que em 1714 a Câmara Municipal
deliberou transferi-la para a Ribeira, a forca situava-se em Campo de Mijavelhas (actual
24 de Agosto).

Ora, situando-se esta capela junto à saída da cidade e à “estrada” que seguia para
nascente e passava junto ao local dos suplícios, não é de estranhar esta sua relação com
os condenados à forca. Além do mais, nas suas imediações e durante séculos,
concentraram-se diversas prisões. Para já não falar do próprio edifício do Paço do
Concelho na medieval Rua da Sapataria (designada, a partir do século XVI e até hoje por
rua S. Sebastião), que presumivelmente terá servido, ainda que de um modo pontual,
para interrogar e encarcerar alguns criminosos, poderíamos referir também o cárcere da
Inquisição, que, criado em 1541 por ordem do Rei D. João III, foi instalado sensivelmente
em frente da capela. Em 1542 tinha já 40 encarcerados. Aqui surgiria também, dois
séculos depois, em 1749 o aljube eclesiástico.

Certo, portanto, é que muitos condenados à morte passaram à porta da capela de Nossa
Senhora do Ferro e que terão olhado para aquela peça metálica como a sua última
hipótese de sobrevivência. Conta a lenda que nunca nenhum dos prisioneiros conseguiu
tocar no ferro…

A Lenda por João Cleto

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No Porto, finais da Idade Média, o aprisionado, a minutos de morrer, lembrava, entre os


impropérios, a mole de gente que enxameava o percurso que, penosamente, ia fazendo a
carroça que o transportava até ao lugar do enforcamento.

Seguindo cabisbaixo, dentro da gaiola metálica que o aprisionava e cujas grades não
eram suficientes para o colocarem a salvo de todo o tipo de porcarias e de pedras que lhe
iam arremessando desde que saíra do cárcere, localizado no piso térreo do edifício dos
paços municipais.

Chegando o momento de ser concretizada a sentença que o condenara à morte, tinha


consciência do seu crime hediondo e compreendia a fúria da população. Rodeado por
vários soldados e pelos homens da Justiça, a carroça descia a Rua da Sapataria, os
gritos e o imenso barulho que os acompanhavam, não o impediam de continuar a rezar
pela salvação da sua alma, esperando que a sinceridade do seu arrependimento fosse
escutada pela Virgem e que esta intercedesse por ele junto do seu Filho.

No campo de Mijavelhas, iria morrer pela forca, mantendo uma ténue expectativa de
continuar a viver. Tudo dependeria do que estava prestes acontecer. Esperançado alçava
os olhos do chão e mirava o caminho que, entre a gente ruidosa, se abria à sua frente. E
foi então, no desembocar da Rua da Sapataria e Rua Escura, que a viu. A sua última
esperança: a Capela da Nossa Senhora de Ferro. Contemplava avidamente a porta
daquele pequeno espaço sagrado constatando que ali se encontrava, cravado e
atravessado entre as pedras que definiam a sua entrada, o velho ferro que dera o nome à
capela.

Mas, não era só ele que contemplava a pequena ermida. O intenso barulho de gritos e
impropérios, à mistura com algumas raras rezas, atenuava-se e toda a multidão, centrava
a sua atenção na fachada do modesto edifício religioso.

Reinando um silêncio absoluto e expectante só cortado pelos passos compassados dos


soldados e pelo chiar das rodas da carroça que, inevitavelmente e porque não há outro
caminho, se vai aproximando da capela. No interior da gaiola, o condenado benze-se e
ensaia colocar de fora, por entre as grades, um dos seus braços.

A respiração das gentes suspende-se, os olhos esbugalham-se, as bocas vão se abrindo,


não sabendo ainda se de espanto ou para continuarem os gritos e insultos. O silêncio é
tal que se houve até o arfar do criminoso no seu esforço, lá no alto da carriola, o ferro
atravessado junto à padieira da porta da capela.

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Misericordioso, os soldados e os responsáveis pela condução do condenado fazem


mesmo uma paragem. Nada os obriga a tal pausa. Mas esta é já uma tradição da cidade
e, uma vez mais, deverá ser cumprida.

Mais perto é impossível e, por isso, chega o momento que o prisioneiro aguardava: a sua
última esperança. Reina a mais absoluta quietude e, olhando para o céu, o prisioneiro
pede mais uma vez a proteção da Nossa Senhora. Benze-se uma outra vez e, decidido,
lança então o seu braço em direção ao ferro. Como tantos outros depois, tem a
esperança de conseguir tocá-lo.

Se o conseguir fazer, e com base num velho privilégio concedido por um dos primeiros
reis de Portugal, não será executado.

Com toda a força e esticando o membro com um esforço sobre-humano, compreendendo


de que desse sacrifício depende a sua própria sobrevivência, o encarcerado procura tocar
com a ponta dos seus dedos, trémulos, no ferro libertador. A rua estreita dá-lhe um ânimo
suplementar e o vazio de mais de um metro que medeia entre o objeto metálico e a mão
vai-se encurtando rapidamente.

A tensão é evidente no rosto de todos. Apenas mais um esforço e o homem,


sinceramente arrependido do seu crime, era libertado. O seu ombro, dilacerado pelas
grades contra as quais se esmaga na ânsia de ganhar os poucos centímetros que falta
para assegurar a libertação, jorra sangue no pavimento.

Desesperado, no entanto, o condenado percebe que nem com a unha consegue raspar
levemente no ferro. A sua última esperança está perdida!

A carroça reinicia a marcha e, com ela, os gritos da multidão. Agora ainda mais furiosos,
cientes de que nem os céus entenderam haver lugar a qualquer tipo de clemência para
com o criminoso. Este cai no chão da jaula e chora compulsivamente, pois sabe que a
forca espera por ele.

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2. Cristina - Capela de Ferro (Oratório de São Sebastião)» São Bento (A última


Freira de São Bento)

SÃO BENTO (A última Freira de São Bento)

Inaugurado a 5 de outubro de 1916, assinalando desse modo o sexto aniversário da


Implantação da República, o edifício da estação de S. Bento possui, no entanto, uma
longa e prévia história.

Desde 1856, quando circulou pela primeira vez um comboio em Portugal, que o Porto e
os seus dinâmicos homens de negócios sonharam com a chegada do caminho de ferro à
cidade. E a verdade é que pouco anos depois, em 1864, a linha do Norte estabelece a
ligação entre Lisboa e a estação das Devezes em Gaia. Havia ainda que ultrapassar um

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obstáculo difícil: o escarpado Douro. Só em 1877, graças ao génio do engenheiro francês


Gustavo Eiffel e à construção da “sua” ponte Maria Pia, é que o comboio vindo da capital
chega ao Porto.

Todavia há já dois anos que a cidade a cidade via chegar o fumegante transporte a duas
estações que, entretanto, haviam sido construídas: a linha da Póvoa que terminava na
“Estação de Porto”, na rotunda da Boavista e a linha do Minho que tinha um dos seus
extremos na Estação de Campanhã.

Edificada no local onde desde os inícios do seculo XVI existira o mosteiro feminino de S.
Bento de Avé Maria – um dos mais importantes do Norte de Portugal – a gare da estação
ferroviária de S. Bento, localizada no coração do Porto.

Mas há quem garanta que, um século depois e para lá da sua designação, subsistem
ainda no local outras marcas e memórias que evocam o antigo mosteiro e as suas
residentes. Será o caso do fantasma da última freira…

A Lenda por João Cleto

Porto, Estação ferroviária de S. Bento. Madrugada de um qualquer destes dias. Que


estranha sensação, esta. Olhando discretamente por cima do ombro certificou-se uma
vez mais que estava sozinha no amplo átrio do edifício. E, no entanto, quase poderia jurar
que, desde que entrara na estação, alguém a seguia muito perto. Quase sentindo a sua
respiração próxima do pescoço… Uma corrente de ar, certamente. Alguma brisa que, a
estas tardias horas da noite, havia penetrado no interior da estação e esbarrara no seu
corpo.

Mesmo assim sentia-se algo incomodado face à sensação de que alguém o mirava de um
modo insistente. Mas quem? A verdade é que não vislumbrava vivalma. A esta hora o
átrio da estação estava deserto… Bem diferente do que ocorreria dentro de poucas horas
quando os comboios regulares começassem, manhã cedo, a regurgitar as multidões que,
vindas da periferia ou de outros destinos mais longínquos, começassem a desembarcar
nesta que é a mais central das estações ferroviárias do Porto. Ou quando durante todo o
resto do dia, moles imensas de turistas viessem contemplar e maravilhar-se com os
fabulosos painéis de azulejos, concebidos por Jorge Colaço, que cobrem, com exceção
do teto, todas as superfícies deste monumental átrio. Mas agora, a esta hora, o espaço
estava deserto. Totalmente vazio. E, porque faltavam ainda longos minutos para a partida

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do comboio que aqui viera tomar, aproveitou para mirar com o tempo e sem encontrões
as diversas cenas que Colaço aqui representara socorrendo-se de cerca de vinte mil
azulejos que ocupam uma área total de mais de 550 metros quadrados. De uma enorme
beleza e repletos de força e dinamismo estes azulejos foram, de resto, um dos principais
motivos para que a estação, projetada na transição do século XIX para o XX pelo famoso
arquiteto portuense Marques da Silva, tenha sido considerada em 2011 pela conceituada
revista “Travel and Leisure” como uma das dez mais belas do mundo. E embora o azul e
branco sejam as cores dominantes destas produções de Jorge Colaço, a sua atenção
começou por se prender de um modo especial no friso policromático que o artista
concebeu para o topo dos painéis e que, rodeando todo o perímetro do átrio, nos narra a
cores a história dos transportes, numa viagem que começa com a liteira romana e só
termina com a chegada do comboio. E estava tão concentrado a acompanhar tal narrativa
pictórica que, de início, nem se apercebeu muito bem do que os seus ouvidos estavam a
captar. Mas, pouco depois, o som era inconfundível e inquietante: um choro baixo e
persistente, de uma criança. Ou seria de uma mulher? E, uma vez mais, pareceu-lhe que
a sua proveniência se encontrava mesmo ao lado ou atras de si. Rapidamente rodopiou
sobre os seus pés e… nada… continuava sozinho, bem no centro do magnífico espaço
azulado. O choro calou-se instantaneamente, mas ficou também com a impressão de que
um vulto esvoaçara e se perdera no canto do olho. É verdade que, antes de chegar à
estação, se demorara e bebera um pouco mais do que era habitual pelos bares da
Galeria de Paris e da rua Cândido do Reis, mas tinha também a consciência que estava
perfeitamente sóbrio. Mas, à estupefação, seguiu-se de imediato um sorriso que se lhe
abriu no rosto quando, focando o seu olhar num pequeno parapeito da estação, se
apercebeu de um pequeno conjunto de pombas que aquela hora ali se encontravam a a
dormir. O vulto lacrimoso que julgara ter visto a esfumar-se pelos ares do átrio seria
afinal, muito provavelmente, uma pomba esvoaçante e noctívaga, como ele.

Embora estes painéis da estação de S. Bento sejam a sua obra-prima e a mais conhecida
de todas, Jorge Colaço concebeu outras relevantes produções em azulejo. No Porto são
também de sua autoria, entre outros, os das fachadas das vizinhas igrejas dos
”Congregados” e de Santo Ildefonso ou, já na rua de Sá da Bandeira, os do interior da
capela de Fradelos. São igualmente seus muitos dos magníficos azulejos do Palácio do
Buçaco, bem assim como, em Lisboa, os dos Pavilhões dos Desporto, os da pastelaria “A
Merendinha”, ou os dos Palácios da Bemposta (Academia Militar), dos Condes de Óbidos
(Cruz Vermelha Portuguesa) e de Alverca (Casa do Alentejo). Pelo resto do país

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encontramos também produções suas em conhecidos imoveis como a Casa Baeta em


Olhão, a estação ferroviária de Beja ou na Torre de S. Paulo nas muralhas de Ponte de
Lima.

Ora, nestes e noutros painéis, um dos motivos habituai nas temáticas de Colaço são as
tradições dos portugueses. E é exatamente isso que contemplava agora na vasta parede
onde se abrem as amplas portas na vasta parede onde se abrem as amplas portas que
ligam o átrio da estação às plataformas ferroviárias. Cenas típicas do Norte de Portugal,
como as vindimas, os trabalhos agrícolas, o transporte do vinho do Porto nos barcos
rabelos, a associação do sacro e do profano nas romarias com o pagamento de
promessas, mas também nas exuberantes danças e cantares… Mas não foram essas
melodias tradicionais que escutou enquanto contemplava os azulejos. Foi de novo o
choro baixo, contido, mas lancinante, que, vindo das suas costas, o sobressaltou. Agora
não ficara com dúvidas: tratava-se mesmo de uma mulher. Desta feita optou por se voltar
demoradamente por forma a não assustar a fugidia presença feminina. Mas, uma vez
mais, deparou-se com o átrio deserto e de novo mergulhado no silêncio.

A mestria de Jorge Colaço, como pintor e exímio produtor de azulejos, numa parceria
especialmente relevante com a Fábrica de Cerâmica de Sacavém, viriam a contribuir para
a internacionalização das suas produções. Por encomenda de particulares ou do próprio
estado Português, o artista produziu painéis, entre muitos outros, para o Palácio de
Monreal, em cuba; para o hospital Modelo da Maternidade de Buenos Aires, na Argentina,
para o Liceu Literário Português no Rio de Janeiro, cidade brasileira para a qual produziu
também azulejos na entrada social do estádio do “Vasco da Gama” ou no mirante Granja
Guarani em Teresópolis. Tal como em Portugal, Colaço concebeu também muitos painéis
de azulejos para residências particulares no Brasil, Uruguai e cuba. Mas a sua
internacionalização não se ficou pelas américas. Também na Europa se pode constatar a
mestria do nosso artista no aristocrático Palácio de Windsor em Inglaterra ou no Centre
William Rappard, edifício-sede da Organização Internacional do Trabalho na cidade de
Genebra. E, em muitos destas suas produções, foi uma outra temática que lhe era muito
cara que o artista desenvolveu: a historicista, com particular enfoque nos episódios
guerreiro-medievais e no das Descobertas marítimas dos portugueses. Temas que, de
resto, foram por ele exuberantemente trabalhados nos painéis da estação de S. Bento, de
que são exemplo o do casamento no Porto de D. João I com Dona Filipa de Lencastre,
em 1387, ou o que ilustra a Tomada de Ceuta pelos portugueses em 1415, dando
particular relevo à figura do mais famoso portuense de todos os tempos: o Infante D.

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Henrique. Mas, se no topo sul do átrio Colaço desenvolveu os temas históricas


relacionados com o arranque da Expansão e o papel que a cidade do Porto nele tomou,
no topo oposto o artista remete-nos para as origens do reino do Portugal e para o
protagonismo que o norte teve nessa génese. Algo que retratou através do primeiro
confronto entre Afonso Henriques e o seu primo Afonso VII de Castela, em 1140 em
Arcos de Valdevez. Bem assim como numa representação do episódio, que hoje saber
ser muito provavelmente lendário, da deslocação do suposto aio do nosso primeiro
monarca, Egas Moniz, e da sua família, à corte de Afonso VII em Toledo por volta de
1128 para pagar com a vida a falta à palavra de honra com que meses antes havia
garantido ao rei leones a obediência de Afonso Henriques à autoridade daquele.

E foi quando reparava nos pormenores desse painel – nomeadamente na particularidade


de Egas Moniz, a sua mulher e filhos se apresentarem diante do monarca como
condenados à morte, e por isso descalços, envergando trajes pobres e com a corda da
forca à volta dos seus pescoços – foi nesse instante que, incrédulo, definitivamente se
apercebeu do que lhe vinha acontecendo nos últimos minutos. À sua frente, levitando
ligeiramente acima do solo, passou o espectro de uma freira. Esfregou os olhos
rapidamente concluir que não se tratava de uma visão. Era mesmo um fantasma da
última freira que habitava no mosteiro que aqui existira antes da edificação da estação,
desconcertado, ficou ainda com uma dúvida, afinal a freira estava a chorar, a rezar, ou…
a rir?

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3. Delfim - São Bento (A última Freira de São Bento)» Capela Nossa Senhora da
Silva

CAPELA NOSSA SENHORA DA SILVA

As mais antigas e mais cultuadas imagens marianas do Porto integram-se num quadro e
esquema mental e imaginário onde, à semelhança de outras regiões peninsulares e
europeias, as imagens mais veneradas são aquelas que apareceram “miraculosamente”,
depois de terem estado ocultas e “escondidas” (no nosso caso, dos mouros) durante
muito tempo. São por isso imagens que possuem também uma dimensão e um valor
como “relíquia”. Atributos que contribuíram para que o imaginário das comunidades, ao
longo dos séculos, acabassem por lhes atribuir uma origem muito mais remota do que

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aquela que verdadeiramente possuem. É o que se passa, por exemplo, com as imagens
de Nossa Senhora da Vandoma, Nossa Senhora de Campanhã, Senhora da Batalha ou a
da… Senhora da Silva.

Com efeito, e apesar da narrativa tradicional da sua origem estar bastante enraizada entre
a comunidade, a verdade é que os episódios acima descritos não passam de uma lenda.
Desde logo, e não negando o papel importante que Afonso Henriques poderá ter tido na
edificação da sé do Porto, a verdade é que a construção românica desta igreja arrancara
num tempo anterior ao do reinado do nosso primeiro monarca e, seguramente, anterior à
chegada a Portugal de Mafalda de Saboia.

Por outro lado, é completamente inverosímil que a imagem da “Senhora da Silva” possua
a antiguidade que a lenda lhe atribui porque, ao tempo da invasão árabe e nas épocas
seguintes, o cristianismo ainda não aceitava a escultura. De um modo muito tímido,
pontual e assumido como “relíquia”, esta só começará a surgir a partir dos finais do século
X. Logo, esta imagem não poderia ser anterior à ocupação muçulmana deste território.

De resto, e como já foi sublinhado por diversos historiadores de arte, estamos no caso da
“Senhora da Silva” perante uma escultura que, na sua tipologia e aspeto artístico, não
recuará a uma época anterior ao século XV. Algo que, aliás, reforça uma outra questão
importante na génese destes cultos que vem sendo sublinhada por alguns investigadores,
com particular destaque para Carlos Alberto Ferreira da Almeida: a proliferação e
divulgação do culto mariano através deste tipo de imagens só se alicerça de um modo
significativo a partir daquele século. É este mesmo investigador que atribui, à decoração
do vestuário que a imagem da “Senhora da Silva” apresenta, uma datação não anterior a
meados do século XVI, defendendo também que a sua lenda “dificilmente pode ser
anterior ao limiar” desse século. Uma época em que, sublinha o mesmo historiador, “se
principiam a valorizar, grandemente, as origens nacionais com novos túmulos para os
nossos primeiros reis, em Santa Cruz de Coimbra, e se começam a forjar lendas que
cobrem de divino a conquista do território nacional aos mouros com a proteção miraculosa
de Nossa Senhora e de Cristo aos seus agentes”. É neste contexto, portanto, que terá
surgido esta lenda. Uma lenda que, contudo, se consolidará muito rapidamente e de um
modo muito popular. Como nos comprova o facto de, nos inícios do século seguinte, em
1623, o Bispo do Porto D. Rodrigo da Cunha nos descrever à Imagem de Nossa Senhora
da Silva…

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Alicerçava-se, assim, mais uma devoção mariana na cidade. Que persiste até aos nossos
dias, já que esta imagem continua, num dos altares do Porto, a suscitar interesse e
devoção. E a lenda continua…

A Lenda por João Cleto

Uma rainha. A esposa do primeiro rei de Portugal. A construção de uma grande catedral
românica. A do porto. Um passeio, descuidado ou temerário, entre a vegetação. O
achamento de uma antiga escultura feminina. Milagrosa. Eis a génese daquela que foi,
durante séculos, uma das mais vivas manifestações do culto mariano na cidade. E que,
nos nossos dias, permanece num local privilegiado no interior da sé do Porto. Esta é a
história da imagem de Nossa Senhora da Silva. Envolta em lenda e realidade

Porto, algures em meados do século XII. Necessariamente entre 1146 e 1158, os


escassos doze anos que mediaram entre a chegada a Portugal de Mafalda de Saboia
para se casar com Afonso Henriques, e a data da sua morte, provavelmente na
sequência de um parto. Doze anos durante os quais a primeira rainha de Portugal terá
dado à luz sete filhos. E a história que se passa a narrar teve de ocorrer nesse período
porque Mafalda de Saboia é, afinal, personagem central nesta narrativa.

Não se encontrando grávida ou porque uma nova gravidez estava ainda nos primeiros
meses, não a impedindo de viajar, Mafalda acompanhara o seu esposo nesta sua visita à
cidade do Porto. É certo que a corte era nessa época, como a generalidade das do seu
tempo, itinerante. Mas também não deixava de ser verdade que a residência principal dos
monarcas se situava em Coimbra e que a rainha permanecia grande parte do seu tempo
nesse paço real. Desta vez, contudo, viajara na companhia de Afonso Henriques que
queria assistir pessoalmente ao início da construção da catedral que mandara edificar
neste estratégico povoado junto ao estuário do Douro. A cidade cujo nome se encontrava
na origem da designação do condado dos seus pais e do qual ele agora se intitulava rei.

Bem no alto do morro de Penaventosa o monarca, com Mafalda junto de si, perscruta
agora o terreno que lhe indicam com sendo o mais apropriado para a edificação do
templo. É verdade que este não é o ponto mais alto da elevação. Mas ao contrário do seu
pico rochoso e acidentado, localizado a poucas dezenas de metros de distância, o local
que agora lhe apontam é indiscutivelmente mais apetecível. Debruçado sobre o Douro,
desenvolve-se ali uma plataforma aplanada, bem como convidativa para a implementação

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de uma grande construção. E, de facto, é numa monumental catedral que o rei pensa.
Uma igreja seguindo as linhas arquitetónicas que Roma vem procurando impor nas
últimas décadas, numa política de centralização do seu poder e de unificação dos ritos e
estética da Igreja que tinham andado até aí muito pouco uniformes por entre a
cristandade. Essa arte de construir as igrejas, que muito mais tarde designaremos por
românico, e cuja introdução no comando se havia registado com o seu pai, é também
para Afonso Henriques um importante instrumento na afirmação da sua política
autonómica e independentista. É óbvio que não podemos isolar o homem do seu tempo,
e o monarca é certamente um devoto e profundo católico. Mas, para lá da sua bravura e
estoicidade guerreiras, Afonso Henriques é também um sagaz político que sabe bem que,
apesar do Tratado de Zamora assinado em 1143 com o seu primo Afonso VII de Leão e
Castela, a verdadeira independência de Portugal só seria credível aos olhos dos
restantes reinos quando a suprema autoridade do Papa assim o reconhecer. E também
por isso esta sua vontade na construção destas novas e imponentes catedrais à imagem
do que Roma deseja. Demonstrando que o seu “novo” reino está em perfeita sintonia com
os desígnios do Bispo de Roma. Foi assim com a reforma da catedral de Braga, com a
edificação da sé de Coimbra… Assim será com a catedral de Lisboa. E, agora, assim é
com Porto. É também por isso que aqui se encontra. Para escolher o local a certificar-se
do risco pelo qual se guiará a obra.

E ali está o monarca, bem no topo do morro da Penaventosa, discutindo com os seus, o
bispo e os da cidade, o futuro dessa construção que acabará por alterar, nos séculos
seguintes, a designação desta elevação. Sé. Tão só. Assim passará a ser conhecida esta
área privilegiada e central do burgo.

Mas por agora a sé ainda lá não está. Mas o rei sim. Concentrado. Em animada conversa
com os que o rodeiam. Todos olhando para o terreno, de onde emergem algumas
antiquíssimas ruínas e uma densa vegetação. A conversa dos homens é acalorada, até
porque alguns não estão ainda convencidos de ser este o melhor local para a
implementação do templo, e Mafalda vai-se afastando sem que o rei repare na sua
ausência. Algo de mágico parece atrair a rainha para o matagal. Talvez a altura a que se
encontram, o enorme domínio visual que daqui se abarca sobre o profundo vale cavado
pelo Douro, e aquela intricada vegetação, lhe estejam a trazer memórias da sua Saboia
natal, território montanhoso e verdejante, próximo dos Alpes, que se desenvolve em
média acima dos mil e quinhentos metros de altitude…

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Perdida nos seus pensamentos e recordações Mafalda avança agora entre o silvado que
miraculosamente não a arranha nem lhe prende o vestido. Os seus passos são seguros
e, sem qualquer hesitação, embrenham-se por caminhos inexistentes e por locais que há
muito ninguém trilha.

A estupefação vai, no entanto, tomando conta de todos os que assistem ao inusitado


passeio da rainha. Há quem a tente alcáçar procurando evitar que algo de perigoso lhe
aconteça. Quem sabe não existem cobras ou outras criaturas entre aquelas silvas?....
Mas tudo se passa muito rapidamente. As aias e pajens, travados pela vegetação, não a
conseguem alcáçar e, em contrapartida, Mafalda parece não sofrer qualquer tipo de
impedimento nas suas passadas. O próprio rei e os que lhe são próximos pararam já a
sua conversa e de olhos esbugalhados presenciam também esta estranha ocorrência.
Afonso Henriques dirige-se decidido para a sua esposa enquanto esta parece vacilar pela
primeira vez. Mas não é nenhuma hesitação. Mafalda abaixa-se e, para surpresa de
todos, recolhe entre as silvas uma escultura representando uma figura feminina: …Nossa
Senhora! Uma imagem que há muito aí se encontrava escondida. Desde o tempo em que
os mouros haviam ocupado a povoação. Mas este achado era também um sinal divino da
sacralidade do lugar. De ser este o sítio ideal para alicerçar a catedral…

Uma catedral cuja construção arrancou de imediato e em cujo interior passaria a ter lugar
de destaque a imagem recolhida pela rainha entre o silvado… Nossa Senhora da Silva!
Uma imagem que aqui fará, a partir de então, acorrer muitos devotos e romeiros. E, entre
os primeiros, contar-se-á a própria Mafalda que, até ao final da sua vida, desenvolverá
com ela uma forte ligação.

Entretanto, e ao longo destes nove séculos, a sé do Porto sempre salvaguardou em lugar


de destaque esta representação da Virgem, convertida numa das expressões maiores da
devoção mariana de um povoado que, igualmente desde épocas remotas, se designa
como “civitatis virginis” – a cidade da Virgem.

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4. Vânia - Capela Nossa Senhora da Silva» Torre dos Clérigos (A Morte


Miserável de Nasoni)

TORRE DOS CLÉRIGOS (A Morte Miserável de Nasoni)

Aproveitando os trabalhos de renovação e reconversão de um dos mais prestigiados


edifícios da cidade do Porto, apoiados num projeto que cedo resolveu os
constrangimentos de acessibilidade do complexo, foi instalado um posto de perceção
multissensorial que simula a experiência de subida à Torre do Clérigos, acessível e

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disponível a todos os visitantes. Presente ainda no edifício da Torre dos Clérigos,


encontra algum do Acervo da Irmandade e a magnifica Coleção dos Christus, onde pode
fazer uma viagem pelo tempo e pelo espaço, onde a arte e a religião se complementam.

A torre, se bem que mais considerada pelos habitantes do Porto, foi a última construção
do conjunto dos Clérigos, dos quais fazem parte a igreja e uma enfermaria. Foi iniciada
em 1754, tendo em conta o aproveito do terreno que sobrara para a instalação da
enfermaria dos Clérigos. O projeto inicial de Nasoni previa a construção de duas torres, e
não apenas de uma. A torre é decorada segundo o gosto barroco, com esculturas de
santos, fogaréus, cornijas bem acentuadas e balaustradas.

Tem seis andares e 75 metros de altura, que se sobem por uma escada em espiral com
225 degraus. Era, na altura da sua construção, o edifício mais alto de Portugal. No
primeiro andar apresenta uma porta encimada pela imagem de São Paulo, tendo por
debaixo, inserido num medalhão, um texto de São Paulo, na Carta aos Romanos. A
espessura das paredes do primeiro andar, em granito, chega a atingir os dois metros.
Destacam-se as janelas abalaustradas do último andar, mais comprimido e decorado, e
os quatro mostradores de relógio.

Os materiais utilizados na construção da Torre dos Clérigos foram, principalmente, o


granito e o mármore.

A vista panorâmica sobre a cidade e o rio Douro, que se alcança do alto da Torre, vale
bem o esforço de subir a escadaria com cerca de 240 degraus.

Na subida à torre, encontraremos 49 sinos que formam um grande carrilhão de concerto


que provavelmente nos dará um belo susto se tocar quando passarmos. Quando
estivermos em cima, todo esforço terá valido a pena, porque poderemos deslumbrar uma
vista magnífica da cidade do Porto.

Ao longo das últimas décadas alguns dos estudiosos da vida e obra de Nicolau Nasoni
têm defendido, com base em referências documentais da época, que o famoso arquiteto,
autor entre outras obras da igreja e Torre dos Clérigos, morreu na miséria. Apontada
como uma mera hipótese, por outros, tal possibilidade converteu-se, por isso, numa lenda
erudita.

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O anonimato que caracterizou de igual modo a sua inumação, não se sabendo com
exatidão o local do seu enterramento no interior da igreja, parece conferir também alguma
credibilidade a esta hipótese reforçar esta teoria. Sabe-se, com efeito, que Nasoni,
aplicando as suas economias resultantes das encomendas e trabalhos que realizou se
dedicou a negócios comerciais e bancários. Existem, de resto, registos que comprovam
que emprestava dinheiro com juros que rondavam ao 4,5%. Sabemos também que
confiava a gestão dos seus bens a outras pessoas da sua confiança. Assim foi
caracterizada, por alguns registos daquele tempo encontrados, a vida do ilustre arquiteto
Nicolau Nasoni.

A Lenda por João Cleto

No Porto, 31 de agosto de 1773, está uma daquelas manhas tórridas, típicas do auge do
estio. O sol já vai alto e o calor parecer querer penetrar em todos os espaços, não
poupando o mais recôndito e fresco dos recantos. Mesmo no interior dos templos. Que o
digam os coveiros que dentro da igreja dos Clérigos estão a fazer descer à sepultura o
corpo de um velho ancião que, com 82 anos morreu ontem.

O suor invade-lhes a testa e vai pingando no solo sagrado que se prepara para acolher
esta nova inumação. Mas não são apenas estes homens que mostram dificuldade face á
abafada atmosfera que se abateu sobre a cidade. Com este intenso calor todo o porto
esta tomado por um entorpecimento, por um torpor que faz prolongar de um modo assaz
desmesurado a mais simples das atividades. E talvez por isso o sino da mais alta das
torres sineiras da cidade vai badalando agora de um modo ainda mais compassado do
que é habitual. A toada lenta, sincopada, que emana do cimo dos 240 degraus e 75
metros de altura da mais alta construção do Reino- a Torre dos Clérigos. Inaugurada não
há muitos anos, em 1763- tem, no entanto, uma razão de ser: é um toque triste, lôbrego…
um toque de final dos que ecoa sobre a cidade avisando-a de mais um funeral e
convocando os seus habitantes para uma oração pela salvação da alma do defunto.

Não são muitas, no entanto as pessoas que se encontram no interior do templo


acompanhar a cerimónia. Além de um punhado de curiosos e dos irmãos da Irmandade
dos Clérigos nota-se a presença, chorosa, apenas de meia dúzia de familiares e amigos
do falecido. É de resto um funeral modesto de alguém que morreu na miséria, apesar de
uma vida longa e durante a qual não raras vezes possuiu bens muito consideráveis. É,

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aliás, isso mesmo que comentam algumas das poucas pessoas que, enfrentando o calor
impiedoso, e que se deslocaram até á igreja para presenciarem este ato fúnebre. E,
enquanto o corpo vai descendo para a sua sepultura, anónima e pobre, no inteiro do
templo, há com o estado de absoluta pobreza a que o defunto chegara no final da sua
vida, tendo em conta que já fora alguém possuidor de valores muito consideráveis. Mas
há também quem, de imediato, lembre que foram exatamente essas suas acumuladas
riquezas que o lançaram na miséria. O que constava é que o velho investira todo o seu
dinheiro em negócios que se haviam revelado como muito mal-sucedidos e, por tal
motivo, perdera tudo…

Certo é que agora, chegada a hora da sua morte, o seu ofício fúnebre era em tudo
idêntico aos que eram aplicados aos restantes miseráveis da cidade, descendo à
sepultura como um mero e mísero pobre. Uma sepultura modesta, anónima e perdida na
imensidão da igreja dos Clérigos. Uma igreja que havia sido concebida, desenhada e
construída, entre 1731 e 1763, por um dos maiores génios artísticos que alguma vez
trabalhou no Porto. Alguém responsável pela conceção e edificação de uma obra
verdadeiramente notável, incluindo igrejas, palácios, capelas, jardins, casas, quintas,
fontes… alguém que , através da riqueza e profusão dos motivos decorativos que
idealizou para os seus imóveis, pelo trabalho e desenho exímio no granito, pela
idealização e implantação cénica das suas obras, se transformou num dos pioneiros da
linguagem tardo-barroca no Norte de Portugal e numa referência absoluta do barroco
português… alguém que dominou então a cena artística da região e cuja notoriedade fez
com que fosse procurado pelos mais influentes e poderosos senhores, civis e religiosos,
que dominavam este território… alguém cuja herança e marcas da sua ação se
materializaram, cerca de duzentos e cinquenta anos depois, nalguns dos mais icónicos
monumentos da cidade e que fizeram com que ficasse conhecido como “ O Arquiteto do
Porto”… alguém fez questão de sepultar numa das suas obras mais emblemáticas…
alguém que foi sepultado pobre… Sim!... Nesse dia de Agosto de 1773 era sepultado na
Igreja dos Clérigos, como um miserável, aquele que havia sido o seu arquiteto… o italiano
Nicolau Nasoni.

Faleceu da vida presente com todos os Sacramentos, o nosso irmão D. Nicolau Nasoni…
e foi sepultado nesta Igreja sendo assistido pela irmandade como pobre e se lhe fizeram
os três ofícios como também o da sepultara, assim foi lavrado o auto do falecimento de
Nasoni, que ocorreu no dia 30 de agosto de 1773, tendo sido “assistido” pelos irmãos da
Irmandade dos Clérigos. E foi com base neste documento, e muito particularmente na

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expressão 2 e foi sepultado como pobre, que vários estudiosos afirmam que o arquiteto
teria morrido num estado de absoluta pobreza devido, a provavelmente, a um
investimento mal aplicado.

5. Torre dos Clérigos (A Morte Miserável de Nasoni)» Inovinter

Fim do Itinerário com chegada da Inovinter.

Este percurso, na sua extensão, tem um total de 2,5Kms com alguns zonas a subir
acentuadamente e outras partes a descer acentuadamente, pois a zona histórica do Porto
possui muitos declives tendo em conta a sua topografia observada.

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Sem qualquer tipo de paragens, a duração da passagem pelos 4 pontos de interesse


neste itinerário a iniciar na Escola Inovinter é de cerca de 30 minutos.

Portanto, sendo este itinerário uma viagem de ida e volta, na totalidade tem a duração de
cerca de 1 hora.

Deduzimos também que cada pessoa, no seu local respetivo, necessita no mínimo de 10
minutos a um máximo de 15 minutos, o que acrescentaria ao tempo necessário deste
percurso um mínimo de 40 minutos a um máximo de 60 minutos.

O que na totalidade do percurso a contar com estas variáveis e a procedermos às


apresentações dos vários locais, teria um tempo aproximado de 2 horas até à chegada à
Escola Inovinter.

CONCLUSÃO

Como resultado final, após o esforço dedicado a este trabalho que tentámos expor com
qualidade e coerência, percebe-se que a elaboração de um itinerário assemelha-se a um
fio de condutor que proporciona uma certa harmonia entre os pontos de interesse
integrados, como se fossem os ingredientes apropriados para conjurar uma identidade a
este evento.

O nosso raciocínio e vontade levou-nos a tentar demonstrar mistérios e um lado mais


sombrio/oculto das famosas ruas e estruturas portuenses. Sendo uma cidade bastante
movimentada e o berço de alguns, por vezes esta atmosfera e riqueza passa
despercebida na azáfama do dia-a-dia. Mas, é com o intuito deste trabalho que
pretendemos usar este “itinerário” como meio de concentrar as atenções sob os locais
que guardam um certo potencial turístico.

Percebemos que um itinerário não se baseia apenas na escolha de pontos de interesse,


mas sim, de uma multiplicidade de fatores que contribuem para uma caracterização
particular de um evento como este. Desde os “timings” da visita e da demonstração dos
vários pontos de interesse, da escolha harmoniosa dos locais assim como dos elementos
caracterizadores que pretendemos aprofundar, da informação a disponibilizar, mas

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fundamentalmente da necessidade de garantirmos diversão, entretenimento e animação


através deste evento.

BIBLIOGRAFIA/WEBGRAFIA

Lendas do Porto por João Cleto

Google Maps

Wikipédia
Tripadvisor

 https://turistaprofissional.com/o-que-fazer-no-porto-pontos-turisticos/
 https://gotoportugal.eu/pt/sitios-a-visitar-no-porto/
 https://visitporto.travel/pt-PT/home#/
 https://www.feriasemportugal.com/porto
 http://www.turismodeportugal.pt/pt/Turismo_Portugal/Estrategia/Estrategias_Region
ais/Paginas/porto-norte-portugal.aspx
 https://pt.wikihow.com/Criar-um-Itiner%C3%A1rio-de-Viagem

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