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PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA

SECRETARIA-GERAL
SECRETARIA ESPECIAL DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
DEPARTAMENTO DE PESQUISA DE OPINIÃO PUBLICA

Pesquisa de Opinião Pública

teoria, técnicas e
procedimento
Departamento de Pesquisa de Opinião Pública – SECOM/PR

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ...................................................................................................................... 4
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................... 6
PARTE I: PESQUISAS DE OPINIÃO PÚBLICA ................................................................ 10
1. Definições Gerais ........................................................................................................... 11
1.1. A opinião pública ......................................................................................................... 11
1.2. A pesquisa de opinião pública ..................................................................................... 14
1.3. A pesquisa governamental de opinião pública ............................................................ 17
2. O Departamento de Pesquisa de Opinião Pública (DEPES) ..................................... 21
PARTE II – METODOLOGIAS E USOS .............................................................................. 24
3. Pesquisa qualitativa....................................................................................................... 25
3.1. Tipos de pesquisa ......................................................................................................... 32
3.1.1. Grupo Focal ...................................................................................................... 32
3.1.2. Entrevista em Profundidade .............................................................................. 36
3.1.3. Vantagens e limitações da entrevista qualitativa ............................................... 36
3.2. Metodologia ................................................................................................................. 38
3.2.1. Amostragem ....................................................................................................... 38
3.2.2. Dos cuidados metodológicos ............................................................................. 41
3.3. Instrumentos de pesquisa ............................................................................................. 46
3.3.1. Ficha de recrutamento ...................................................................................... 46
3.3.2. Roteiro ............................................................................................................... 47
3.4. Coleta de dados ............................................................................................................ 48
3.5. Análises........................................................................................................................ 49
3.5.1. Teoria fundamentada e codificação teórica: codificação e categorização ....... 51
3.5.2. Análise qualitativa de conteúdo e codificação .................................................. 53
3.5.3. Estudos comparativos e codificação temática................................................... 54
3.5.4. Softwares e técnicas de análise ......................................................................... 55
3.6. Exposição dos dados .................................................................................................... 58
4. Pesquisa quantitativa .................................................................................................... 60
4.1. Tipos de pesquisa ......................................................................................................... 61
4.1.1. Pesquisa quantitativa face a face ...................................................................... 61
4.1.2. Pesquisa quantitativa telefônica........................................................................ 62
4.2. Metodologia ................................................................................................................. 63

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4.2.1. Amostragem ....................................................................................................... 64


4.2.1.1. Amostragem probabilística ......................................................................... 65
4.2.1.1.1. Amostragem aleatória simples (AAS)....................................................... 66
4.2.1.1.2. Amostragem sistemática simples .............................................................. 66
4.2.1.1.3. Amostragem estratificada......................................................................... 67
4.2.1.1.4. Amostragem por conglomerados.............................................................. 67
4.2.1.1.5. Amostragem com probabilidades desiguais ............................................. 70
4.2.1.1.6. Combinação de procedimentos amostrais................................................ 71
4.2.1.2. Amostragem não probabilística .................................................................. 71
4.2.2. Amostragem probabilística versus amostragem não probabilística ................. 72
4.2.3. Planos amostrais probabilísticos para pesquisas de opinião pública .............. 72
4.2.4. Estimação dos parâmetros e intervalos de confiança ....................................... 73
4.3. Instrumentos de Pesquisa ............................................................................................. 74
4.3.1. Questionário ...................................................................................................... 74
4.3.2. Pré-teste do questionário .................................................................................. 77
4.4. Coletas de Dados ......................................................................................................... 77
4.5. Análises........................................................................................................................ 79
4.5.1. Inferência para dados provenientes de amostras .............................................. 81
4.6. Exposição dos dados .................................................................................................... 82
5. Princípios éticos da pesquisa de opinião pública ........................................................ 85
PARTE III - TRÂMITES DA PESQUISA DE OPINIÃO PÚBLICA NA SECOM ........... 89
6. Procedimentos e ações de pesquisa .............................................................................. 90
6.1. Da elaboração da Demanda ......................................................................................... 90
6.1.1. Da Construção do Briefing ............................................................................... 90
6.1.2. Elaboração, análise e aprovação da ordem de serviço .................................... 90
6.2. Do Planejamento .......................................................................................................... 91
6.2.1. Pesquisas Qualitativas: ..................................................................................... 92
6.2.2. Pesquisas Quantitativas Face a Face: .............................................................. 92
6.2.3. Pesquisas Quantitativas Telefônica: ................................................................. 93
6.3. Da coleta dos dados ..................................................................................................... 93
6.4. Dos produtos a serem entregues pela empresa que coleta os dados ............................ 94
6.5. Dos procedimentos de análise...................................................................................... 94
6.6. Da Apresentação das respostas .................................................................................... 94
6.7. Da Avaliação do serviço - IMR ................................................................................... 95
6.8. Da Liquidação da despesa............................................................................................ 95

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6.9. Do Pagamento .............................................................................................................. 96


6.10. Da publicitação........................................................................................................ 98
6.11. Do encerramento do processo administrativo ......................................................... 98
7. Referências Legais ....................................................................................................... 100
Referências Bibliográficas ...................................................................................................... 101
ANEXOS .................................................................................................................................. 107
Anexo I - Instrumento de Medição de Resultados – IMR ............................................... 107

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APRESENTAÇÃO

Este documento é produto da Secretaria Especial de Comunicação Social da


Presidência da República (SECOM), que está vinculada à Secretária-geral da Presidência
da República. Mais especificamente, o Manual foi elaborado pelo Departamento de
Pesquisa de opinião pública (DEPES), subordinado à Subsecretaria de Articulação e
Pesquisa de Opinião pública da Presidência da República/SECOM.

A atuação do DEPES é pautada pelo intuito de fornecer ao Poder Executivo


Federal instrumentos para conhecer a avaliação da sociedade sobre a eficiência de suas
ações (CF, art. 37, caput). Possibilitando o monitoramento das demandas da sociedade
por políticas e serviços públicos e a avaliação que a sociedade faz da oferta de políticas
e serviços públicos. Assim, o DEPES é o órgão competente para assistir, direta e
imediatamente, o Presidente da República na organização e desenvolvimento de sistema
de informação e pesquisa de opinião pública, conforme art. 23 do Decreto nº 9.038/2017.

As pesquisas constituem importante instrumento de gestão e maximização de


recursos, pois, permitem construir parâmetros para campanhas de comunicação
institucional e de utilidade pública. Também proporciona a realização de resultados mais
tangíveis e maior efetividade em relação aos objetivos propostos na política pública de
comunicação. Auxiliando no cumprimento dos objetivos específicos da comunicação do
Poder Executivo Federal, indicados pelo Decreto nº 6.555/2008.

Este Manual tem como intuito auxiliar os pesquisadores nas melhores práticas em
pesquisa de opinião pública. O manual tem o objetivo de estabelecer uma série de
diretrizes para que as pesquisas de opinião pública sejam capazes de responder de forma
cientificamente as demandas da Presidência da República.
A construção de um manual de pesquisa é relevante por uma série de fatores.
Primeiro por apresentar o debate teórico que embasa a utilização de pesquisas de opinião
pública, com a revisão da literatura sobre opinião pública, pesquisas de opinião pública e
a utilização destas pesquisas no âmbito governamental. Também, se destaca por
disponibilizar de forma concisa e fácil as discussões sobre as mais utilizadas
metodologias de pesquisa em opinião pública, possibilitando o acesso tanto por
integrantes do governo, tanto pela sociedade em geral. E, por fortalecer a transparência
do Governo Federal, apresentando como é o processo de funcionamento do setor.

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Com a uniformização dos conceitos teóricos, metodológicos e práticos de como


as pesquisas de opinião pública são realizadas no âmbito da Presidência da República,
torna-se mais transparente a atuação e possibilidade de accountability da atuação de todas
as pesquisas. O DEPES realiza pesquisas quantitativas face a face e telefônica com
representatividade nacional, assim como pesquisas qualitativas para o atendimento das
diferentes demandas oriundas da Presidência da República, de órgãos da administração
direta do Governo Federal e/ou da própria SECOM.

Acreditamos que a construção deste documento irá contribuir tanto com os


servidores do DEPES/SECOM, assim como com pesquisadores e estudantes que visam
usar pesquisas de opinião pública em seus estudos.

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INTRODUÇÃO

O manual está estruturado em três partes: (i) uma breve definição teórica dos
conceitos de opinião pública, pesquisas de opinião pública e a sua relevância para o setor
governamental; posteriormente, (ii) discutimos os aspectos teóricos e práticos dos
enfoques metodológicos utilizados pelo DEPES; e finalmente, (iii) apresentamos os
procedimentos técnicos e burocráticos para a execução das pesquisas de opinião de
pública no âmbito do departamento.

A primeira parte do documento define um conceito-chave para o Manual: opinião


pública. O conceito é utilizado por várias áreas do conhecimento como: Comunicação,
Ciência Política e Sociologia, Administração Pública e Psicologia Social. Ele é
considerado polissêmico. Opta-se por apresentar o pensamento de alguns autores que
colaboram para evidenciar parte da trajetória do conceito, que mais interessa a pesquisa
governamental.

A teoria crítica de J. Habermas articula o conceito ao contexto de surgimento do


Estado Moderno e da ideia de sociedade civil. A partir da noção deste contexto Habermas
elabora o conceito de Esfera Pública Política. Para ele, a opinião pública importa à esfera
pública pois colabora para controlar o poder político. Já H. Lasswell, pertencente a Escola
de Chicago, discute o conceito a partir do prisma da comunicação em massa e o articula
a estratégia de comunicação governamental. G. Sartori, delineia a opinião pública, a partir
de uma perspectiva subjetiva e compreensiva.

O conceito de opinião mostra-se mais prático a partir de influências de áreas como


a psicologia social e administração pública. A pesquisa passa a ser utilizada para
colaborar no processo de tomada de decisão governamental. Apresenta-se um histórico
de utilização de pesquisa de opinião pública, quantitativa e qualitativa, no âmbito político,
especialmente realizada por Hebert (1993) e Duailibe (2012). Para Dahl (1992) e
Gramacho (2014) esse tipo de pesquisa é importante no que se refere à representatividade,
legitimidade, accountability, e comunicação para governos democráticos.

A primeira parte do Manual é finalizada com a apresentação do o Departamento


de Pesquisa de Opinião Pública (DEPES), bem como seu histórico, estrutura institucional
e atribuições legais.

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A segunda parte é composta pela parte mais técnica do Manual. Nela são
apresentadas e discutidas, de forma breve, ferramentas metodológicas e analíticas para
pesquisas quantitativas e qualitativas, com ênfase nos enfoques e técnicas mais utilizadas
pelo DEPES/SECOM.

A observância aos métodos em uma pesquisa de opinião é essencial para que o


conhecimento gerado seja o mais preciso possível. Como estamos lidando com percepção
das pessoas sobre determinado assunto, esse pode ser volátil. Por isso ao obedecer esse
corpo de regras, temos uma maior confiança nos resultados gerados.

Cada tipo de pesquisa possui características metodológicas que devem ser


adotadas. Contudo, a ética e o rigor cientifico são comuns a todas. Todo pesquisador deve
sempre ter em mente que deve prezar pelos preceitos éticos na execução de suas
pesquisas, como a certeza que apenas com o uso de práticas científicas ele alcançará
respostas mais confiáveis para os seus questionamentos.

Tem de se destacar também, que não existe uma abordagem metodológica


melhor do que a outra. O que existe é a melhor abordagem para responder à pergunta que
é feita pelo pesquisador. A construção da pergunta da pesquisa dialoga com a teoria, o
ambiente, a sociedade a ser pesquisada e o interesse do pesquisador. Ao selecionar qual
metodologia será adotada, o pesquisador deve ter em mente as vantagens e desvantagens
de cada método, por isso a descrição e detalhamento a seguir possibilitará a melhor
escolha do método.

A construção de um instrumento de pesquisa é uma das partes cruciais para uma


pesquisa de opinião pública. O instrumento de pesquisa é em suma o formulário que será
preenchido com as opiniões, percepções e sentimentos do entrevistado. Para a construção
deste é de grande relevância que o pesquisador tenha conhecimento robusto sobre a
temática que será pesquisada, tendo bem claro em sua mente qual pergunta esse
instrumento vai responder.

A revisão da teoria que embasa a construção da pergunta tem de ser realizada da


maneira mais extensa e completa possível. Some-se a isso a observância dos parâmetros
metodológicos e em muitos casos a consulta de instrumentos feitos por outros
pesquisadores e instituições. O levantamento deste material teórico, metodológico e

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prático é essencial que se tenha uma coleta de dados com maior qualidade, possibilitando
assim a construção do conhecimento.

O pesquisador tem de levar em consideração também, que em muitos casos não


será ele o responsável pela coleta dos dados em campo. Por isso, a construção deste
instrumento tem de ser clara e compreensível pelo futuro aplicador. As técnicas que
apresentaremos a seguir, possibilitam que sejam construídos melhores instrumentos de
pesquisa, com rigor cientifico e clareza que possibilitem a construção do conhecimento.

A ida a sociedade para coletar as informações pode colocar em prejuízo todos os


passos realizados até aqui na pesquisa. A construção de uma boa resposta da pergunta
colocada no estudo passa por uma colheita de respostas dos entrevistados de forma precisa
e ética. Um mal aplicador do instrumento de pesquisa coloca em risco todo o
conhecimento que será produzido depois. Deve-se se buscar um entrevistador bem
treinado, com empatia com os entrevistados e que não busquem interferir nas respostas
que serão dadas.

Outro aspecto importante é que sejam criados procedimentos que permitam


avaliar o controle de qualidade da coleta de dados. Ao se contratar empresas para realizar
pesquisas quantitativas deve-se exigir que estas façam uma checagem de um percentual
de entrevistas realizadas por cada entrevistador e de um percentual do total de entrevistas
realizadas. Os resultados destas checagens devem ser disponibilizados de maneira
transparente para a contratante, sendo indicadas as entrevistas que sofreram checagens e,
quando for o caso, as correções efetuadas. Adicionalmente, a contratante deve construir
ferramentas que permitam ela própria realizar auditorias nas entrevistas realizadas pela
contratada. Estes procedimentos permitem um maior controle sobre o trabalho da
contratada, com o objetivo principal de garantir que os dados coletados de fato reflitam a
opinião dos entrevistados e que possibilitem generalizações para a população em estudo.

A construção do conhecimento não se dá apenas na execução da pesquisa. Após


todo o trabalho em estruturar uma pesquisa, realizar a construção do instrumento da
pesquisa, a coleta dos dados e a análise das informações, não expor estes dados de forma
clara e objetiva é um demérito a todo trabalho realizado. Apresentar o conhecimento
construído em uma investigação fecha todo o esforço empreendido, valorizando e
possibilitando o acesso ao seu conteúdo. Temos como pressuposto, que um bom

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conhecimento só será completo de ser compartilhado e colocando-se passível para críticas


e elogios.

A análise é a etapa do estudo em que o pesquisador articula os dados coletados com


a teoria, com o objetivo de dar resposta ao problema de pesquisa. Essa etapa é marcada
também pela tarefa do pesquisador de ter que, antes de mais nada, organizar as suas
próprias reflexões, assumindo escolhas analíticas que vão estruturar o seu trabalho.
O processo analítico é quando se elabora a resposta às perguntas elencadas no
início do trabalho. O respeito ao rigor cientifico, a teoria que embasa o estudo e os
procedimentos éticos possibilitarão que tenhamos a construção de um conhecimento mais
preciso e robusto. Os apontamentos sobre a percepção dos entrevistados pautam decisões
estratégicas de governos, empresas e de outros cidadãos, por isso se ressalta a importância
da realização deste procedimento com bastante precisão e cuidado.

Ao final desta segunda parte há um item que aborda questões éticas em pesquisa.
Nela são apontados pontos da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS)
e contribuições do Código International Chamber of Commerce (ICC), elaborado em
cooperação com a Sociedade Europeia para Pesquisa de Opinião e Mercado (ESOMAR).

A terceira e última parte do Manual é mais prática e apresenta e descreve de forma


direta e simples: os trâmites e os procedimentos de solicitação, desenvolvimento de
proposta, autorização, execução, prestação de contas, liquidação de despesa, pagamento
dos serviços, a publicitação dos dados e o encerramento do serviço.

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PARTE I: PESQUISAS DE OPINIÃO PÚBLICA

Pesquisas de opinião pública são reconhecidas nos meios acadêmicos de estudo


do comportamento da opinião pública como a forma de mensurar a expressão dos
interesses, a percepção e as preferências dos cidadãos sobre as mais diferentes temáticas.
Por esse motivo, é uma das formas mais representativas e usuais para que governos
pautem e discutam suas agendas, uma vez que, possibilitam a mensuração das
expectativas dos cidadãos.

Pesquisar a opinião da população do país é uma das melhores práticas para a


promoção da participação popular (WEST, 2004). As pesquisas realizadas oferecem um
canal adicional de manifestação cidadã, pois dão à população a oportunidade de
expressar-se sobre o desempenho do Poder Executivo e sobre suas demandas mais
prementes, o que confere uma aplicação alternativa da noção de prestação de contas
política (accountability), essencial ao funcionamento da democracia.
Nesta seção do documento, iremos realizar a construção de um breve marco
teórico sobre opinião pública e pesquisas de opinião pública. Este levantamento é
importante para balizar todas as discussões metodológicas apresentada na segunda
seção. A seguir, dissertamos sobre a relevância e da utilização das pesquisas de opinião
pública por Governos. Fechando a Parte I, iremos apresentar o Departamento de
Pesquisa de Opinião Pública da Secretaria Especial de Comunicação Social –
DEPES/SECOM.

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1. Definições Gerais

1.1.A opinião pública

O conceito de opinião púbica é um dos mais polissêmicos e debatidos pela área


da Comunicação, Ciência Política e Sociologia, com definições diversas e, até mesmo,
divergentes entre si. Por isso, para fins deste manual, opta-se por uma conceituação mais
prática do termo e que esteja relacionado diretamente com as pesquisas de opinião
pública.

Partindo dessa lógica, salta-se no tempo dos clássicos da filosofia política para a
análise da política moderna através da figura de Jürgen Habermas (1984). Para o pensador
alemão, a emergência do termo se relaciona com a própria fundação do Estado moderno
e a formação da sociedade civil, no que ele vai denominar de esfera pública política.

O surgimento da esfera pública é datado, segundo Habermas (1984), a partir do


século XVIII, quando se produziu um espaço para as demandas de emancipação e
legitimação da classe dominante da época, a burguesia, face ao poder estatal, com a
cristalização dos princípios que deram forma à opinião pública. Essa esfera, por estar
assentada no exercício do uso público da razão de pessoas privadas, visava influenciar o
parlamento e o governo, levantando publicamente questões referentes à esfera pública. E,
portanto, a opinião pública nasce sob o princípio da publicidade (publicness), que, mais
do que ser um instrumento crítico de regulação do debate público, serviria como fonte
privilegiada de legitimidade social das decisões políticas.

Durante o processo de formação da esfera pública, e da opinião pública, a


imprensa teve papel fundamental. Afinal, para que a opinião pública fosse utilizada
estrategicamente como recurso para governar, era preciso a existência de um público
informado e instruído, capaz de formular reflexões e externalizá-las. Aos poucos, a
imprensa deixa de ter esse caráter político-opinativa, “como instituição do público
debatedor, basicamente preocupada em afirmar a função crítica dele”
(HABERMAS,1984, p. 216) para um tipo mais comercial, voltada, já no início do século
XIX, para o mercado, com o objetivo de lucrar, “torna-se instituição de determinados
membros do público enquanto pessoas privadas – ou seja, pórtico de entrada de
privilegiados interesses privados na esfera pública. (HABERMAS, 1984, p. 218).

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A partir desse momento haverá a expansão da opinião pública, sobretudo com o


“avolumamento” dos tipos e instituições de meio de comunicação, que darão forma a
grande comunicação em massa. Não é por acaso que as pesquisas de opinião pública, que
surgiram na Alemanha e na Escola de Chicago, tiveram como um dos objetos centrais de
investigação os meios de comunicação. Aqui, vale destacar os estudos de Harold Lasswell
sobre a relação entre a comunicação em massa e a opinião pública, sobretudo a partir do
início da Segunda Guerra Mundial, entre 1938 e 1939. De acordo Varão (2012), que
estudou profundamente a vida e obra de Lasswell, o conceito de opinião pública passa a
ser utilizado pelo cientista da Escola de Chicago como necessidade científica da Divisão
Experimental da Comunicação em Tempos de Guerra.

Nesse sentido, a opinião pública já se tornava uma estratégia governamental, pois


em época dominada pelos meios de comunicação em massa, essa “massa teria condições
de informar o governo sobre as repercussões de seus atos, num processo contínuo de
feedback". (AUGRAS, 1970, p.15). E ela só vai ocorrer com a própria ascensão da classe
média e o desenvolvimento das instituições democráticas, a crescente taxa de
alfabetização e o desenvolvimento das formas de comunicação, em especial as mídias em
massa, que vão ganhando centralidade na vida moderna e urbana.

A partir do momento em que houve a centralidade analítica dos meios de


comunicação na formação da opinião pública, houve também um processo contínuo de
transformação nas formas de comunicar e de se informar, que hoje ganha novos ares com
a expansão da internet e o uso das redes sociais. Essas mudanças fizeram com que o
conceito de opinião pública ganhasse novos significados, que não está mais relacionada
apenas como fonte de legitimidade social das decisões políticas e nem como instrumento
para governar, mas também como um instrumento de avaliação, seja de governo,
mercado, bens de consumo, programas e comportamentos.

Por isso, nessa nova conceituação sobre a opinião pública, há que levar em
consideração, de acordo Sartori (2001), vários sentidos. Entre eles, destaca-se a
compreensão da opinião pública como um conjunto de sujeitos que declara a sua opinião,
é o sentido subjetivo do termo. Em segundo, refere-se a aquilo que é público, é o sentido
objetivo da opinião pública. Há também o sentido quando se utiliza da opinião pública
para designar aquilo que é visível ou transparente, ou seja, aberto a todos. Fazendo uma
leitura desses três sentidos, Sá (2012) resume da seguinte forma:

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[...] a opinião pode ser compreendida não somente como a opinião de um


público determinado (opinião pública = público opinante), como a opinião
daquilo que é público (opinião pública = opinião política sobre assuntos gerais
de conhecimento de todos), mas, ainda, como opinião sobre o que é visível,
sobre o que não é segredo. Interessante notar que aqui, não estamos diante de
um novo sentido de opinião pública, mas ante a condição para a sua existência,
tanto se a consideramos sob o aspecto subjetivo quanto o objetivo. Seja a
opinião pública vista como a opinião de um público ou do público, ou, ainda,
como a opinião sobre a coisa pública, esta deverá ser configurada sempre de
forma clara, sem mistérios ou segredos, ou melhor, publicamente (SÁ, 2012,
p.186).

Por isso, para os fins deste manual, opta-se por uma conceituação que sintetiza de
modo prático a opinião pública, como o conjunto de opiniões em relação a assuntos
universais ou sobre questões políticas. Isto é, não se adota o sentido clássico da opinião
pública como parte de um processo deliberativo, em que toda a sociedade, através de seus
cidadãos, participaria ativamente da vida democrática via esfera pública, no sentido
habermasiano do termo.

Este conceito prático de opinião pública, segundo Silveirinha (1998), tem uma
forte importância na vida cotidiana contemporânea. Do ponto de vista político, a opinião
pública é apontada como a voz do povo, isto é, tem a função de ser a ponte entre
governantes e governados, servindo, assim, como fonte da legitimação política dessa
relação. Do ponto de vista social, a opinião pública diz das sociabilidades, sobre aquilo
que as pessoas pensam por meio das relações sociais que constroem ao longo da vida, e
por isso tem esse caráter mais coletivo e de pertencimento ao grupo. Em referência ao
ponto de vista pessoal, a opinião pública relaciona-se com a dimensão cognitiva do
sujeito, isto é, dizem das implicações sociopsicologicas no comportamento do indivíduo
e a sua forma de valorar o mundo.

Por isso, essas três dimensões – política, social e pessoal – relacionam-se


diretamente com o conceito de opinião pública, já que impactam diretamente no
posicionamento e na conduta do indivíduo, da sociedade e das instituições sociais, em um
processo contínuo de interação que da forma à esfera pública e aos processos decisórios.

Por assumir essa roupagem contextualizada ao mundo moderno, isto é, como um


instrumento prático para a tomada de decisões, que vai além de política, como, por
exemplo, as decisões de mercado, haverá uma redefinição operacional do conceito de
opinião pública, que agora passa a receber cada vez mais a influência da psicologia social
e da administração pública. É a partir desse momento que tanto Governos quanto o

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mercado vão analisar, mediante o uso das pesquisas de opinião, o comportamento dos
indivíduos, dos grupos sociais e da sociedade. Isto é, se tornou um instrumento bastante
comum na tomada de decisões institucionais e governamentais.

A opinião pública, através do uso de pesquisa, se tornou um artefato político, a


fim de produzir um efeito consenso na tomada de decisões. A sondagem de opinião é um
instrumento de ação política, e sua função mais importante é demonstrar que há uma
opinião pública que pode se dar por meio do somatório de opiniões individuais, a fim de
se chegar ao consenso entre opiniões diversas, se tornando um instrumento rico e
poderoso e uma estratégia sofisticada da gestão pública.

1.2.A pesquisa de opinião pública

A origem das pesquisas de opinião pública, seguindo os escritos de Herbst (1993),


remontam às straw polls, que eram as enquetes realizadas na sociedade estadunidense a
partir de 1820, sem os preceitos, as regras e o rigor estatístico, por jornalistas, partidos,
estudantes e trabalhadores sobre intenção de votos ou sobre determinados temas políticos.
Este tipo de pesquisa era comumente utilizado pelos veículos de impressa da época, como
uma prática aceitável e válida, que durou até meados da década de 1930.

A transição para um modelo com o uso de amostra estatística se deu nas eleições
presidenciais de 1936, quando o pesquisador George Gallup utilizou das técnicas
estatísticas de amostragem, aproximando dos resultados da eleição e, com isso,
configurando o começo da ruptura metodológica das pesquisas de opinião, especialmente
as que faziam referência às corridas eleitorais.

Duailibe (2012) descreve que, mesmo com as resistências das mídias daquele
período, que acreditavam deter o saber sobre a opinião pública, houve um crescente uso
de pesquisas de opinião por parte do governo, parlamentos e grupos de interesses que
utilizavam dessas técnicas científicas estatísticas. Já na década de 1970, as grandes
emissoras de televisão dos Estados Unidos eram as principais consumidoras deste tipo de
estudo, que popularmente era chamadas de sondagens. Hebert (1993), diz que a
consolidação deste tipo de pesquisa foi alimentada pelo contexto estadunidense de
hipervalorizarão da quantificação da sociedade e pelo processo de racionalização da
política, da administração pública e de outras esferas da vida social.

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As práticas de quantificação e mensuração da vida social dada pelo saber


científico, com os seus discursos de neutralidade e objetividade, se tornaram hegemônicas
no ocidente. Na década de 1940 as pesquisas de opinião pública que se utilizavam de
métodos estatísticos já estavam presentes em mais de 10 países, uma tecnologia e
instrumento analítico que se espalhou pelos regimes democráticos ao redor do mundo
(Zetterberg, 2008)

As pesquisas de opinião “científicas” se inserem em um contexto maior e mais


difuso de busca de mecanismos de conhecimento como forma de exercer
controle social por parte das instituições. Com os meios tecnológicos à
disposição, a quantificação do eleitorado, das massas e das audiências se
consolida como um modo eficiente e eficaz de procurar dar forma, simplificar
e, assim, contornar a complexidade da sempre nebulosa e fluida disposição das
opiniões nas sociedades contemporâneas (DUAILIBE, 2012, p. 43)

Seguindo ainda nessa linha argumentativa, Duailibe (2012) descreve que o uso
dessas pesquisas é associado a importância de uma opinião no espaço público à
quantidade de adesões que recebe, isto é, de caráter massivamente quantitativo. Isso
implica, por sua vez, nos debates públicos e nas tomadas de decisão, uma vez que as
opiniões majoritárias se destacam e ganham maior visibilidade nos processos decisórios.
Assim, as pesquisas qualitativas de opinião pública, que abordaremos mais à frente, terão
o papel tanto de entender quanto de aprofundar essas diversas opiniões, majoritárias ou
não.

Champagne (2005) descreve que a pesquisa de opinião é um dos instrumentos


mais importantes para o funcionamento de uma democracia, por ser a expressão do povo,
mais ou menos direta, sobre o jogo político. E complementa dizendo que as bases
científicas que as sustentam como espelho da sociedade não podem ser confrontadas
abertamente por simples questão política, já que a validade do saber passa por rigor
metodológico e por critérios de confiabilidade.

O fato é que, independentemente de haver forças sociais que continuam a


invocar uma opinião pública que escapa à mensuração das opiniões
individuais, não se pode minimizar a necessidade de compreender o que tal
espelhamento implica para a noção e para aspectos centrais do exercício
democrático, como o processo de formação da opinião, da participação, da
construção do debate público e dos procedimentos disponíveis de avaliação
dos eleitos. Afinal, o tipo de opinião que a técnica, na prática, constrói, é aceita
como manifestação adequada das reais preferências do entrevistado e como
uma modalidade de participação compatível, e mesmo convergente, com
modelos hoje hegemônicos de democracia (DUAILIBE, 2012, p. 46)

Duailibe (2012) aponta ainda que a pesquisa de opinião pública é uma ferramenta
de soberania popular, por ser um instrumento avaliativo constante que ultrapassa o

15
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período eleitoral, já que pode ser utilizada a qualquer momento para sondar a atuação do
governo ou de questões públicas, e, por isso, vista como uma intervenção positiva sobre
o debate público que antecede as tomadas de decisão. A eficiência e eficácia da pesquisa
de opinião foram levadas a outras áreas que não públicas, sendo hoje um instrumento de
tomada de decisões de instituições privadas e análise de mercado, como posicionamento
de empresas, marcas, produtos, etc.

Além dessa abertura, no campo político, as pesquisas de opinião foram


enriquecidas com o uso de novas técnicas estatísticas, de métodos comparativos e o
estudo de séries, ampliando, assim, a análise para além de uma decisão momentânea, com
a possibilidade projeções e estudos históricos do comportamento social e a avaliação de
temas e políticas públicas.

Nesse sentido, para este manual opta-se por uma definição precisa sobre a
pesquisa de opinião pública, que a situa como a consulta realizada por metodologia
específica, que objetiva captar, medir e analisar atitudes, valores, avaliações,
comportamentos e as opiniões de pessoas sobre temas de interesse público a fim de
produzir conhecimento. Entende-se que elas são classificadas, de modo geral, em dois
tipos de abordagens: a quantitativa e a qualitativa.

A pesquisa de opinião pública quantitativa tem por objetivo identificar, descrever


e explicar os fenômenos através da coleta de dados, utilizando desenho amostral, em
busca de quantificar e mensurar atitudes, valores, avaliações, comportamentos e as
opiniões de pessoas sobre temas de interesse público. Deve ser utilizada para fazer
inferências sobre a população-alvo para responder o problema da pesquisa. A pesquisa de
opinião pública qualitativa, por sua vez, tem por objetivo identificar, descrever e
compreender os fenômenos através da coleta de dados discursivos, em busca de capturar
atitudes, valores, avaliações, comportamentos e as opiniões de pessoas sobre temas de
interesse público. Deve ser utilizada para compreender o problema da pesquisa. Essas
diferentes abordagens da pesquisa de opinião pública não são excludentes e podem ser
utilizadas conjuntamente através de técnicas mistas de pesquisa.

É fundamental, independente da abordagem escolhida, que a pesquisa de opinião


pública se preocupe com o rigor metodológico, com a transparência durante todo processo
do estudo e sempre buscar pelo padrão de alta qualidade, justamente para que elas tenham
um nível de confiabilidade aceitável e cientificamente válido. As pesquisas de opinião
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pública, sobretudo aquelas realizadas pelas instituições públicas e governamentais,


devem sempre prezar pela transparência e a ética do fazer científico, e adotar critérios
rigorosos para que o estudo sirva como uma ferramenta ótima da gestão governamental,
a fim de qualificar o debate público e capacitar, com eficiência e eficácia, as ações e
estratégias de governo em prol do bem público.

1.3.A pesquisa governamental de opinião pública

O uso de pesquisas de opinião pública pelas áreas governamentais é uma estratégia


rica por oferecer à administração pública a chance de ter um retorno rápido de suas ações
através do julgamento populacional e isso, por sua vez, aprimora as ferramentas de
accountability dos sistemas democráticos. Soma-se, diante da crise da representatividade
nas democracias modernas, que a pesquisa de opinião é um mecanismo que busca
melhorar a comunicação e o diálogo entre governante e governados, visando identificar,
mensurar e compreender as atitudes e opiniões dos cidadãos sobre o governo, suas ações
e auxiliar nas tomadas de decisões.

Como é um instrumento continuo, que ocorre durante todo período da gestão


governamental eleita, a pesquisa de opinião amplia a participação popular para além do
voto. É certo afirmar que se limita aos respondentes do plano amostral, mas, por outro
lado, é uma ferramenta que corrobora para que o governo entenda sobre os caminhos
escolhidos e quais decisões deve tomar, como forma de perseguir os anseios
populacionais e preservar, de certo modo, a representatividade política dada pelos
cidadãos.

A pesquisa governamental de opinião pública deve obedecer, segundo Gramacho


(2014), 5 (cinco) princípios:

1. Ter representatividade amostral;


2. Descrever os juízos dos cidadãos sobre as políticas e serviços públicos em curso;
3. Prospectar necessidades de novas políticas e serviços públicos;
4. Identificar a necessidade de ações e campanhas de comunicação;
5. Repetir-se de forma periódica e frequente.
Em relação ao primeiro princípio, da representatividade amostral, pontua, no caso
dos estudos de caráter quantitativo, que seja probabilístico, isto é, que no processo de
seleção cada cidadão tenha a mesma chance de ser entrevistado e, com isso, expressar a
sua opinião sobre as questões públicas levantadas pelo estudo. Quando adotada pesquisa

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por cotas, deve-se observar a representatividade de critérios sociais – tanto nos estudos
quantitativos quanto qualitativos, a partir do gênero, idade, renda, nível de escolaridade,
ocupação, situação familiar e localização geográfica – por ser estratos importantes para
definir beneficiários de políticas e serviços públicos.

Sobre a necessidade de descrever os juízos dos cidadãos sobre as políticas e


serviços públicos em curso, o segundo princípio, Gramacho (2014) situa que a pesquisa
de opinião é esta ferramenta que auxilia a gestão governamental a compreender a sua
atuação em vários âmbitos: social, econômico e político-moral. Dentro desses três eixos,
ele diz sobre a promoção da saúde, educação, segurança, o controle da inflação, redução
de desemprego, crescimento econômico, atuação internacional, combate à corrupção,
promoção de novos direitos, entre outros.

Ao descrever sobre o terceiro princípio, sobre a necessidades de apresentar novas


políticas e serviços públicos, cita que as pesquisas de opinião podem “produzir
indicadores mais sensíveis à mudança da conjuntura social do que outros medidos pelas
estatísticas oficiais” (GRAMACHO, 2014, p. 54). E isso, por sua vez, nos leva ao quarto
princípio, o de permitir identificar a necessidade de ações e campanhas de comunicação,
em busca de atender às demandas levantadas ou presentes nos resultados das pesquisas
de opinião.

Tanto para fazer prospecções quanto para identificar questões que devem ser
trabalhadas em campanhas, é preciso que as pesquisas sejam realizadas periodicamente e
com regularidade, o quinto princípio, a fim de compreender a avaliação das políticas e
ações governamentais em diferentes momentos e contextos. Essa regularidade permite
também o aprimoramento da capacidade dos governos em dar resposta a questões
problemáticas que podem emergir durante a gestão, desde mudanças e ajustes sobre as
ações e as políticas públicas adotadas quanto um instrumento de leitura que servirá de
base para o governo se posicionar publicamente perante a uma situação crítica e urgente,
em busca de se alinhar com o pensamento e a demanda da população.

A articulação entre esses cinco princípios é importante na gestão governamental


porque:

[...] incrementa as condições para que os governos reorganizem suas


prioridades e respondam com maior agilidade às demandas sociais. Além
disso, a aprovação geral de um mandato em pesquisas de opinião pública, ao

18
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estar associada a um juízo de tipo majoritariamente retrospectivo, produz uma


mensagem menos dúbia do que o voto. (GRAMACHO, 2014, p. 55).

Dito isso, parte-se para a discussão acerca da importância da pesquisa de opinião


pública na área governamental. Um dos principais, e possivelmente o mais importante
monitoramento, relaciona-se com a popularidade do governo, que indica a aprovação ou
não da gestão governamental em curso. Esse tipo de avaliação, de acordo Holanda (2003),
pode ser entendido como um levantamento sistemático de dados que serve para avaliar a
eficácia (fins alcançados) e a eficiência (economicidade dos meios) da atuação do
governo. Os resultados, que são os índices de popularidade de um governo, indicam a
aceitação ou a rejeição do modelo de gestão e, consequentemente, mede a sua
legitimidade ou não entre os cidadãos.

A relação entre a pesquisa de opinião e a democracia é um tema importante dentro


da área da gestão pública, já que é um exercício que demonstra a adesão populacional aos
processos democráticos (SARTORI, 2002). Afinal, para Dahl (1992), Linz (1994) e
Alcántara Sáez (1995), a pesquisa de opinião é uma fonte que dá ao sistema democrático
e aos governos a legitimidade social, no sentido de consentimento por parte dos cidadãos
sobre as escolhas daqueles que governam, aprovando ou rejeitando as suas ações e, logo,
influenciando nos processos de decisão política, na estabilidade institucional e na gestão
governamental em sistemas democráticos.

Além do aspecto democrático, a pesquisa de opinião pública é uma ferramenta


que produz informações qualificadas sobre o mundo social e, por isso, um recurso
estratégico para uma boa gestão governamental. A informação produzida pela pesquisa
de opinião, devido ao rigor científico, sobressaí a outros produtos e contribui
objetivamente com o aperfeiçoamento da administração pública, propiciando o
conhecimento preciso e necessário à tomada de decisão e à execução de ações. Caso
contrário, quando não há uma boa informação ou dados científicos qualificados, corre-se
o risco de a gestão pública sofrer com consequências desastrosas e isso, por sua vez, tomar
decisões equivocadas e afetar negativamente a sua avaliação pelo público.

A pesquisa de opinião pública, portanto, preenche a necessidade que o governo


deve ter de conhecimento sobre diversas questões sociais e relacionados à sua gestão,
com respostas precisas sobre as tomadas de decisão. E isto, é um dos valores mais
importantes para qualquer governo, pois, como uma ferramenta ótima da organização

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pública, a pesquisa de opinião reduz a incerteza ao prover as informações que irão facilitar
a tomada de decisão, colabora na construção de estratégias de governo e dá um feedback
célere das ações de governo, das políticas públicas e de avaliações institucionais.

Por outro lado, a única limitação da pesquisa governamental de opinião pública,


em comparação às pesquisas acadêmicas, não se refere às possibilidades em dar respostas
às questões sociais e políticas, mas pelo seu caráter de submissão às demandas do governo
vigente, já que elas devem “priorizar os objetivos operacionais capazes de otimizar a
alocação de recursos públicos em resposta a demandas sociais e à implementação de seu
programa de governo, aprovado nas urnas” (GRAMACHO, 2014, p.58).

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2. O Departamento de Pesquisa de Opinião Pública (DEPES)

O Departamento de Pesquisa de Opinião Pública (DEPES), ligado à Secretária


Especial de Comunicação Social da Secretária-Geral da Presidência da República
(SECOM/SG/PR), surge no ano de 2012 como uma das etapas do plano de governo cujo
um dos objetivos era a formação de uma nova área dedicada a realizar estudos de opinião
sobre temas de interesse público. Assim, em setembro daquele ano, foi formado uma
equipe de especialistas na área de pesquisa e de concorrência pública no intuito de
arquitetar a contratação de institutos de pesquisa e de acompanhar todo o processo
científico, do planejamento da pesquisa à apresentação dos resultados.

De acordo a Lei nº 10.683 de 2003, que dita sobre a organização e as funções da


Presidência e de seus ministérios, a Secretária Especial de Comunicação Social
(SECOM), da Secretária-Geral da Presidência da República, é o órgão responsável por
“assistir, direta e imediatamente, o Presidente da República na organização e
desenvolvimento de sistema de informação e pesquisa de opinião pública” (art. 2ºB,
inciso III). Desse modo, cabe a esta secretaria a realização e o acompanhamento de
estudos de opinião pública como forma de produzir informações científicas sobre temas
relevantes para o conhecimento do executivo federal.

O DEPES tem, entre as suas atribuições, a de garantir que “a Presidência esteja


informada sobre as demandas representativas da sociedade brasileira, de modo a atender
aos comandos constitucionais de ‘promover o bem de todos’ e de implementar ações
eficientes” (GRAMACHO, 2014, p. 60). Assim, de modo mais amplo, entende-se que o
departamento visa promover estudos científicos de opinião pública a fim de monitorar as
demandas da sociedade tanto por políticas quanto por serviços públicos, assim como,
levantamentos avaliativos que a população brasileira faz sobre o governo federal e suas
ações.

O Decreto Nº 8.889, de 26 de outubro de 2016, reafirma as atividades de pesquisa


de opinião pública no âmbito do Governo Federal, em que a SECOM tem, entre suas
missões institucionais, a atribuição de organizar e desenvolver um sistema de informação
e pesquisa de opinião pública (Anexo, artigo 16, inciso X), cujos principais objetivos são
monitorar as demandas da sociedade por políticas públicas e a avaliação que a sociedade
faz da oferta de políticas e serviços públicos. No artigo 23 do mesmo Decreto, que expõe

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acerca das competências do Departamento de Pesquisa de Opinião Pública, estão postas


as seguintes atribuições:

I. Coordenar a execução de pesquisas de opinião pública para subsidiar o


desempenho das atribuições da Secretaria Especial de Comunicação
Social;
II. Avaliar a percepção da população brasileira sobre a atuação do Poder
Executivo Federal;
III. Supervisionar a realização de pesquisas sobre o impacto e a percepção da
sociedade em relação às políticas, aos programas e às ações do Poder
Executivo Federal;
IV. Acompanhar os resultados de pesquisas externas de interesse do Poder
Executivo Federal; e
V. Exercer outras atribuições que lhe forem cometidas pelo Secretário de
Publicidade e Promoção.
A criação, existência e conservação do DEPES é de grande valor quando há o
entendimento de que a pesquisa de opinião pública é um recurso sofisticado e primoroso
para o bom funcionamento dos sistemas democráticos, isto é, um instrumento ótimo para
a gestão e maximização de recursos, pois, ao aplicarem métodos e técnicas
cientificamente válidas e atuais, permitem a construção de parâmetros para campanhas
de comunicação institucional e de utilidade pública com foco e meios mais precisos
proporcionando, assim, a realização de resultados mais tangíveis e maior efetividade em
relação aos objetivos propostos na política pública de comunicação.

Além disso, as pesquisas realizadas pela SECOM oferecem um canal adicional de


manifestação cidadã, pois dão à população a oportunidade de expressar-se sobre o
desempenho do Poder Executivo e sobre suas demandas mais prementes, o que confere
uma aplicação alternativa da noção de prestação de contas política (accountability),
essencial ao funcionamento da democracia.

Visando as melhores práticas em pesquisa de opinião pública realizadas ou


contratadas pelo DEPES, seguimos os Código de Ética Internacional ICC/ESOMAR
(International Chamber of Comerce/Sociedade Europeia para Pesquisas de Opinião e
Mercado) e a Resolução Nº 510, de 7 de Abril de 2016, do Conselho Nacional de Saúde,
o órgão brasileiro responsável pelas diretrizes éticas do fazer científico com humanos no
país, para todos os estudos.

Nos pautando sempre pelos princípios científicos estabelecidos pela literatura e


normas técnicas. A realização das pesquisas devem ser transparente, objetiva, legal e

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precisa. Deve-se, também, atenção para o cunho de pesquisas de opinião pública durante
o período eleitoral, zelando pelo respeito à Lei Nº 9.504, de 30 de setembro de 1997, e
demais instruções normativas do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Como iremos
apresentar na terceira parte deste manual, seguimos uma série de procedimentos que
garantem as melhores práticas de pesquisa de opinião pública.

O DEPES realizou na sua história uma série de pesquisas que possibilitou a


construção de conhecimento sobre várias temáticas que pautaram a agenda
governamental nos últimos anos. Obedecendo a sua missão de auxiliar o governo em suas
tomadas de decisão, fornecendo informações sobre a percepção da sociedade sobre a
atuação e os desafios enfrentados, o departamento realizou levantamentos, quantitativos
e qualitativos, sobre:

o Consumo de mídia;
o Avaliação de Governo;
o Percepção sobre a economia;
o A Copa do Mundo;
o Olimpíadas;
o Greves;
o Protestos;
o Reformas;
o Intervenção na Segurança pública.
Para isso são realizadas pesquisas de forma contínua e sob solicitação em
momentos específicos, possibilitando assim que a Presidência da República seja atendida
com as informações para as suas tomadas de decisão. A posteriori, todas as nossas
pesquisas são disponibilizadas no site da SECOM, possibilitando que toda a sociedade
tenha acesso aos dados levantados.

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PARTE II – METODOLOGIAS E USOS

Como o intuito do manual é a uniformização e a defesa das melhores práticas para


pesquisas de opinião pública, apresentamos nesta seção uma breve revisão das
ferramentas metodológicas, analíticas e de exposição dos dados. Como apresentado na
primeira parte deste manual, as pesquisas de opinião lidam com a percepção do
entrevistado sobre as temáticas definidas, por isso o uso de parâmetros rígidos para a
apuração do arbítrio é essencial.

Dado que, metodologia é um corpo de regras e diligencias estabelecidas que


possibilitam a construção de uma pesquisa. O uso de normas que possibilitam a replicação
e a checagem de todos os procedimentos, visa garantir que a informação gerada pela
pesquisa seja digna de fé e com o maior grau de precisão possível.

Por isso, iremos apresentar com detalhes as condutas preferíveis, quando


realizamos pesquisas de opinião pública para a Presidência da República, com foco nos
principais enfoques metodológicos adotados pelo DEPES/SECOM. Todavia, os
procedimentos aqui expostos, devem ser pensados na construção de outras formas de
realizar investigações sociais.

Como destacado anteriormente, o DEPES/SECOM realiza pesquisas com


enfoques qualitativos e quantitativos de opinião pública. Estes enfoques são
destrinchados em outros quatro tipos de metodologia, a saber: (i) pesquisa qualitativa com
entrevista em profundidade; (ii) entrevista qualitativa com grupos focais; (iii) entrevistas
quantitativas com abordagem face-a-face; e, (iv) pesquisa quantitativa com abordagem
telefônica via CATI. A seguir iremos apresentar a discussão com maior detalhamento das
quatro interpelações.

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3. Pesquisa qualitativa

A abordagem qualitativa na pesquisa social, que nasceu em oposição ao


pressuposto positivista que defendia um modelo único de pesquisa para todas as ciências,
influenciado pelo modelo das ciências da natureza, recusa o uso de dados apenas
quantificáveis que buscavam produzir leis e explicações gerais sobre o comportamento
social. A argumentação é de que as Ciências Sociais possuem as suas especificidades, e,
por isso, pressupõe uma metodologia própria. No entendimento de tais pesquisadores há
a defesa de que o campo científico deve preocupar com a compreensão de casos
particulares, e não apenas com as generalizações, justamente para dar respostas às
questões de pesquisa de problemas sociais concretos.
No centro deste debate está a discussão de que o pesquisador em Ciências Sociais,
por estudar outros indivíduos e os comportamentos sociais, é ele sujeito e objeto de sua
própria pesquisa. Portanto, com a crítica que possuem sobre o positivismo, ao se oporem
ao pensamento de que as pesquisas sociais deveriam ter a mesma objetividade que nas
ciências naturais, questiona-se a separação radical que essa visão faz entre sujeito e objeto
e, assim, o interesse de pesquisa deveria recair sobre a valorização que os indivíduos
fazem sobre a vida social. Nesse sentido, a pesquisa qualitativa buscaria compreender os
valores, crenças, motivações e sentimentos humanos, que só podem ser analisados quando
colocados dentro de um contexto de significados. A discussão filosófica sobre qual deve
ser o método de análise das Ciências Sociais é que vai contextualizar e contribuir com o
desenvolvimento da abordagem qualitativa e das diferentes técnicas e ferramentas na
pesquisa social (GOLDENBERG, 2004).
O emprego mais recorrente da abordagem e das técnicas qualitativas nas ciências
sociais deu-se no final do século XIX através de antropólogos que se dedicaram a estudar
as sociedades tradicionais, como, o americano, Lewis Henry Morgan (1818-1881); o
alemão, Franz Boas (1858-1942); o polonês, Bronislaw Malinowski (1884-1942); e a
sociologia compreensiva alemã de Max Weber (1864-1920). Contudo, foi a partir de
1910, especialmente com a criação do departamento de Sociologia e Antropologia, na
Universidade de Chicago, que essas técnicas foram aprofundadas e enriquecidas, com a
produção de conhecimentos úteis para a solução de problemas sociais concretos,
especialmente em decorrência da crescente urbanização, como os problemas advindos da
imigração, delinquência, criminalidade, conflitos étnicos, entre outros. Este
reconhecimento se deveu ao aprofundamento da preocupação empírica e metodológica

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da Escola de Chicago na produção do conhecimento científico. Além do uso de


abordagens quantitativas, a Escola se destacou pela atuação e desenvolvimento de
técnicas qualitativas de pesquisa social, utilizando e explorando diferentes métodos de
coleta de dados para compreender a vida urbana e os fenômenos da cidade, com a
utilização científica de documentos pessoais, como cartas e diários íntimos, a exploração
de diversas fontes documentais e o desenvolvimento do trabalho de campo sistemático na
cidade, com o uso de observação e de entrevistas. (BONI; QUARESMA, 2005;
GOLDENBERG, 2004).
A Escola de Chicago abriu caminhos para o enriquecimento das técnicas
qualitativas, que, além de influenciar diferentes correntes teóricas-metodológicas, como
a fenomenologia e a etnometodologia, foi fundamental na formação e expansão de
pesquisas que tinha por foco levantar informações subjetivas sobre questões sociais, isto
é, de produção de dados qualitativos para compreender aspectos da vida social, entre eles
o da opinião pública.
Lazarsfeld, Berelson e Gaudet (1944) colocam que as pesquisas qualitativas
fornecem uma compreensão profunda de certos fenômenos sociais, e estão amparados
nos aspectos subjetivos das práticas sociais, com ênfase nas especificidades de tais
fenômenos, como as origens e a sua razão de ser. Dito em outras palavras, a pesquisa
qualitativa responde a questões muito particulares, em que o nível de realidade não pode
ser somente quantificado, por isso opera no universo dos significados, motivos,
aspirações, crenças, valores e atitudes.
De acordo com Minayo (2004), isso não significa que a pesquisa qualitativa seja
o lugar da “intuição”, da “exploração” e do “subjetivismo”, enquanto as pesquisas
quantitativas representariam o espaço científico, porque podem ser traduzidas pelo
“objetivismo” ou, ainda, em “dados matemáticos”. O que ela coloca é que essa diferença
entre pesquisas qualitativas e quantitativas é de natureza. Por isso, destaca que cientistas
sociais que trabalham com abordagem quantitativa “apreendem dos fenômenos apenas a
região ‘visível, ecológica, morfológica e concreta’”, enquanto aqueles que priorizam a
abordagem qualitativa “aprofunda-se no mundo dos significados das ações e relações
humanas, um lado não perceptível e não captável em equações, médias e estatísticas”
(MINAYO, 2004, p.22)
Mesmo que a abordagem qualitativa tenha surgido como contestação aos métodos
positivistas de mensurar a visa social, não significa que ela seja opositora à abordagem e

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às técnicas quantitativas. Ao contrário, as duas abordagens podem ser utilizadas de forma


complementar e, por isso, jamais devem ser tomadas como dicotômicas ou opositoras
metodologicamente, vide o aumento de estudos na área de pesquisa social e opinião
pública que utilizam as duas abordagens para ter uma compreensão mais consistente sobre
o problema de pesquisa.
A abordagem qualitativa propõe a subjetividade como o fundamento do sentido
da vida social, defendendo-a como constitutiva da vida social e inerente à construção da
objetividade na pesquisa social. No caso do uso de entrevista, que é técnica mais utilizada
na realização de pesquisas de opinião pública de caráter qualitativa, o campo de
investigação recai sobre as vivências e experiências cotidianas, cuja tarefa do pesquisador
é compreender a realidade humana vivida socialmente, em que conceito central da
investigação social é o de compreender os significados que atribuímos a ela. (MINAYO,
2004)
Por isso, a abordagem qualitativa interessa-se mais pelos processos do que pelos
produtos (BOGDAN e BIKLEN, 1994; LUDKE e ANDRÉ, 2013) e preocupam-se mais
com a compreensão e a interpretação sobre como os fatos e os fenômenos se manifestam
do que em determinar causas para os mesmos (SERRANO, 2004). Assim, os dados
qualitativos obtidos, de acordo Goldenberg (2004), consistem em descrições detalhadas
de situações com o objetivo de compreender os indivíduos em seus próprios termos.
São muitas as técnicas qualitativas desenvolvidas que podem ser utilizadas na
coleta dessas informações subjetivas e dos significados que os indivíduos atribuem à vida
social, vale destacar a etnografia, a observação, as análises documentais e imagéticas, e,
nas pesquisas de opinião pública, utilizam-se, sobretudo, algumas técnicas de entrevistas.
Portanto, para este manual, aprofundaremos na discussão sobre as técnicas de entrevistas
utilizadas nas pesquisas de opinião pública realizadas pelo Departamento de Pesquisa de
Opinião Pública da Secretária Especial de Comunicação Social da Secretária-geral da
Presidência da República.
Antes de descrever sobre as definições e características das entrevistas
qualitativas, é preciso assinalar que no processo de coleta de dados através das técnicas
de entrevista estabelece-se, antes de mais nada, o que denominamos de conversação. A
conversação, conforme pontua Rey (2010), é uma ruptura epistemológica que coloca no
centro da pesquisa os sistemas conversacionais, isto é, quando há o deslocamento do
pesquisador do centro das perguntas para integrar-se há uma dinâmica de conversação. É

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através dessa dinâmica, que se articula e ganha forma durante a própria entrevista, que
ocorre a produção do “tecido de informações”, fornecendo a base de dados para o estudo.
A conversação promove a corresponsabilidade dos participantes, já que não são tidos
como simples informantes, mas são vistos como sujeitos ativos do processo, o que facilita
a expressão de cada um através de sua visão de mundo e de seus interesses:
Nesse processo, tanto os sujeitos pesquisados como o pesquisador integram
suas experiências, suas dúvidas e suas tensões, em um processo que facilita o
emergir de sentidos subjetivos no curso das conversações. A conversação vai
tomando formas distintas, nas quais a riqueza da informação se define por meio
de argumentações, emoções fortes e expressões extraverbais, numa infinita
quantidade de formas diferentes, que vão se organizando em representações
teóricas pelo pesquisador (REY, 2010, p.46).

Esse tipo de conversação que se estabelece nas técnicas de entrevista funciona


como um indutor que coloca o outro diante da necessidade de construir sua experiência,
de falar sobre si, sobre momentos de sua vida, dos valores, crenças, motivações,
sentimentos e opiniões. Por isso, quando a conversação encontra dificuldades para se
realizar, é fundamental, já que é um processo ativo de relacionamento, que o pesquisador
desenvolva criativamente recursos para fazer com que o entrevistado se envolva na
conversação e, consequentemente, no desenvolvimento da pesquisa. Concluindo sobre a
ideia da conversação, podemos defini-la de modo mais sistemático como um “sistema no
qual os participantes se orientam em seu próprio curso e em que os aspectos significativos
aparecem na medida em que as pessoas envolvidas avançam em suas relações” (REY,
2010, p.48).
Nas pesquisas qualitativas de opinião pública, as conversações ocorrem por meio
das técnicas de entrevistas. Haguette (1997) define a entrevista como uma conversação
em que ocorre um processo de interação social entre duas ou mais pessoas, na qual uma
delas, no caso o entrevistador ou moderador, tem por objetivo obter as informações por
parte deste outro ou outros, que são os sujeitos entrevistados. As informações são obtidas
através de um roteiro de entrevista composto por uma lista de perguntas, pontos ou tópicos
previamente estabelecidos de acordo com a necessidade de responder ao problema de
pesquisa. Essas informações coletadas são denominadas de dados, que, no caso dos
estudos qualitativos, resultam também da interpretação e reconstrução feita pelo
pesquisador, que deve estar capacitado para manter uma boa relação e conversação com
os entrevistados e a habilidade para destrinchar o roteiro e obter as informações
necessárias para o estudo.

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Pedro Demo (2001), coloca que através da técnica de entrevista o pesquisador


pode:
o Explorar um assunto e aprofundá-lo;
o Descrever processos e fluxos;
o Compreender o passado;
o Analisar, discutir e fazer prospectivas;
o Identificar problemas, microinterações e padrões comportamentais;
o Obter juízos de valor, opinião e intepretações sobre questões concretas;
o Caracterizar a riqueza de um tema;
o Explicar fenômenos de abrangência limitada.

Já Selltiz (1967), mais alinhado com as pesquisas de opinião pública, diz que a
técnica da entrevista é bastante adequada para obter informações sobre o que as pessoas
sabem, creem, esperam, sentem ou desejam, pretendem fazer, fazem ou fizeram, bem
como acerca de seus pensamentos, valorações e opiniões a respeito de questões pessoais
e públicas. Nesta mesma linha, Haguette (1997) pontua que o pesquisador, ao lidar com
a natureza subjetiva, precisa levar em conta todo comportamento do entrevistado, tanto
aquilo que é emitido objetivamente de modo discursivo quanto os gestos e expressões,
que não são verbalizados. Todos esses elementos, ditos e não ditos, fazem parte da
entrevista qualitativa.
Sobre as características propriamente ditas das entrevistas em pesquisas sociais,
Gonçalves (2004) as descreve como decorrentes de uma situação social de interação face
a face, revestidas de formas e conteúdo, como: o tipo de entrevista (profundidade ou
focal) e o grau de liberdade (estruturada, semiestruturada ou aberta). Portanto, é a partir
dessa perspectiva que este manual busca aprofundar as técnicas de entrevista, suas
características, assim como, os procedimentos que devem ser utilizados para uma boa
prática do fazer científico em estudos qualitativos de pesquisa de opinião pública.
As entrevistas, de modo geral, podem ser classificadas de acordo com a variação
do grau de liberdade, que são três: estruturada, semiestruturada e aberta. Nas entrevistas
qualitativas, a variação do grau de liberdade pode consistir em entrevistas abertas ou
semiestruturadas, por se caracterizarem pela flexibilidade e por explorarem ao máximo
um ou múltiplos temas. Por outro lado, as entrevistas estruturadas, que são utilizadas no
formato questionário, e não roteiro, tem por objetivo quantificar e mensurar as respostas,
por isso é uma técnica de coleta de dados comumente utilizada nas pesquisas de
abordagem quantitativa. Uma das principais diferenças entre o grau de liberdade das
entrevistas qualitativas (aberta e semiestruturada) e quantitativas (estruturada) é descrita
por Guber (2001), que avalia que as entrevistas estruturadas, ou fechadas, implicam a
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participação do informante nos termos do pesquisador, enquanto as abertas ou


semiestruturadas pressupõem a participação do pesquisador nos termos do informante, no
contexto da conversação.
Nesta parte do manual, ao tratar mais especificamente sobre a abordagem
qualitativa, busca-se apenas pincelar sobre as entrevistas com grau de liberdade
estruturada, devido ao seu caráter quantitativista, e examinar mais cuidadosamente as
variações semiestruturada e aberta. Antes de entrar nessas diferenciações, cabe ressaltar
que, em muitas ocasiões, é possível reunir, em uma mesma pesquisa ou até na mesma
entrevista, questões de natureza qualitativa e quantitativa. Isto é, essa separação é mais
didática, pois no campo da investigação dependerá das estratégias e caminhos escolhidos
pelo pesquisador em busca de responder ao seu problema de pesquisa.
As entrevistas estruturadas são elaboradas mediante o uso de um questionário com
questões totalmente, ou majoritariamente, fechadas, em que as perguntas são previamente
formuladas e há o cuidado metodológico de segui-las à risco. Este rigor na estrutura e no
formato deve-se à possibilidade de comparação com os conjuntos de perguntas e, com
isso, descrever diferenças e semelhanças de posicionamento e opinião entre os
respondentes (LAKATOS; MARCONI, 2007). Já Duarte (2005), indica que, pelo fato
das perguntas serem iguais para todos os entrevistados, é possível estabelecer
uniformidade e comparação entre as respostas, já que permite esse caráter de
quantificação e mensuração dos resultados. E, ao seguir o rigor estatístico da amostra, os
resultados podem ser utilizados pelo pesquisador para fazer projeções e generalizações
sobre a população amostrada.
As entrevistas semiestruturadas, por sua vez, são as que mesclam e combinam
perguntas abertas e perguntas fechadas, em que o entrevistado tem a possibilidade de
discorrer sobre o tema proposto. O pesquisador deve seguir o roteiro com questões
previamente definidas, mas, ao mesmo tempo, ele mantém uma relação de conversação
de aparência informal. Essa técnica "parte de certos questionamentos básicos, apoiados
em teorias e hipóteses que interessam à pesquisa, e que, em seguida, oferecem amplo
campo de interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão surgindo à medida que se
recebem as respostas do informante" (TRIVIÑOS, 1990, p.146). Por isso que em
entrevistas com esse grau de liberdade, o pesquisador deve estar atento para direcionar,
quando achar cabível, a discussão para o assunto que o interessa, fazendo perguntas
adicionais para explanar questões que ficaram ininteligíveis e confusas e, até mesmo, para

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auxiliar a recompor o contexto da entrevista, principalmente quando o entrevistado “foge”


do tema ou tenha alguma dificuldade em entende-lo ou desenvolvê-lo. Esse grau de
liberdade do roteiro de entrevista é bastante utilizado quando se busca restringir o volume
das informações, obtendo, assim, um direcionamento maior sobre o tema ou tópicos
abordados (BONI, QUARESMA, 2005).
Para Duarte (2005), a entrevista semiestruturada conjuga a flexibilidade da
questão por meio de um roteiro de controle, que serve como o fio condutor da
investigação. Assim, coloca que as questões, sua ordem, a profundidade, como devem ser
apresentadas, o tempo gasto com cada tema, entre outros, dependem do entrevistador. Ao
mesmo tempo, alerta o autor, isso vai depender bastante da qualidade de relação que o
pesquisador conseguirá construir e manter na pesquisa, pois ela só ganha formato a partir
do conhecimento e disposição do entrevistado, da qualidade das respostas e das
circunstâncias da entrevista. Além dessas pontuações, o autor defende também que a
entrevista semiestruturada deve ter algo entre quatro a sete questões, tratadas
individualmente como perguntas abertas, e complementa:

O pesquisador faz a primeira pergunta e explora ao máximo cada resposta até


esgotar a questão. Somente então passa para a segunda pergunta. Cada questão
é aprofundada a partir da resposta do entrevistado, como um funil, no qual
perguntas gerais vão dando origem a específicas. O roteiro exige poucas
questões, mas suficientemente amplas para serem discutidas em profundidade
sem que haja interferências entre elas ou redundâncias. A entrevista é
conduzida, em grande medida, pelo entrevistado, valorizando seu
conhecimento, mas ajustada ao roteiro do pesquisador. (DUARTE, 2005, p.
03)

O terceiro e último grau de liberdade em entrevistas é a de variação aberta. A


entrevista neste formato atende principalmente a finalidade de ser exploratória, quando
se busca o detalhamento de questões e de formulações relacionadas diretamente sobre os
conceitos trabalhados no estudo. Boni e Quaresma (2005) apontam que a organização
deste tipo de entrevista é caracterizada pelo fato do pesquisador introduzir o tema e o
entrevistado ter a liberdade para discorrer encima do assunto dado, explorando mais
abertamente a questão, com poucos mecanismos de controle ou de direcionamento ao
longo da entrevista. Dito em outros termos, a interferência do entrevistador deve ser
mínima, somente quando muito necessária, já que ele deve assumir o posicionamento de
ouvinte na maior parte do tempo. Isso é justificado pelo próprio uso desta técnica de
entrevista, que é realizada quando o pesquisador “deseja obter o maior número possível

31
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de informações sobre determinado tema, segundo a visão do entrevistado, e também para


obter um maior detalhamento do assunto em questão” (BONI; QUARESMA, 2005, 74).
Para Duarte (2005), a entrevista aberta, além de exploratória, é caracterizada por
sua flexibilidade, já que não há sequências predeterminadas de perguntas e nem um
padrão ou parâmetro de respostas. Além disso, aponta que:
Tem como ponto de partida um tema ou questão ampla e flui livremente, sendo
aprofundada em determinado rumo de acordo com aspectos significativos
identificados pelo entrevistador enquanto o entrevistado define a resposta
segundo seus próprios termos, utilizando como referência seu conhecimento,
percepção, linguagem, realidade, experiência. Desta maneira, a resposta a uma
questão origina a pergunta seguinte e uma entrevista ajuda a direcionar a
subsequente. A capacidade de aprofundar as questões a partir das respostas
torna este tipo de entrevista muito rico em descobertas. (DUARTE, 2005, p.
03)

Mesmo assim, há certas dificuldades, que mais uma vez diz mais sobre a qualidade
do investigador do que o campo em si, pois este deve ter a capacidade de manter o foco
e garantir a naturalidade e fluidez da entrevista. Cabe também ao entrevistador ter a
habilidade para que a conversação se mantenha durante toda entrevista, com a formação
de um tecido de informações que seja produtivo para o estudo. Vale ressaltar que a
entrevista aberta é utilizada, muitas vezes, para levantar informações que servirão como
base para a elaboração de roteiros semiestruturados ou de questionários de pesquisas
quantitativas.

3.1.Tipos de pesquisa

3.1.1. Grupo Focal

O grupo focal é uma metodologia qualitativa, em que sua base de análise é


compreensiva e hermenêutica. Trata-se de uma técnica de pesquisa que objetiva abordar
um tópico específico e pré-determinado para o debate. A seleção dos participantes
também se dá de acordo com os interesses da pesquisa. Nele a interação do grupo é
privilegiada tanto na coleta de dados como na análise de pesquisa. O contexto
sociocultural e a linguagem são considerados para compreender a construção das
percepções, atitudes e representações sociais (Cf. MORGAN, 1997).

É preciso ponderar a capacidade que esse tipo de método de coleta de dados possui
no que se refere a generalização dos resultados. Isso porque a unidade de análise é o grupo
focal, ou seja, a análise das interações sociais que ocorrem com os componentes do grupo.

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A análise geral da pesquisa pode permitir maiores inferências qualitativas, porém a partir
desse entendimento.

Os grupos focais têm como vantagem propiciar um ambiente de participação e


debate aberto de todos os entrevistados, segundo Gaskell (2002) eles se assemelham a
uma esfera pública ideal, no sentido de habermasiano. Em consonância, Morgan (1997)
vê como benefício da técnica a reformulação de posições diante da apresentação de
opiniões e da problematização no grupo dos pontos em questão e ainda permitem fugir
de respostas padrão/prontas das em entrevistas individuais. Somado a isso, esse tipo de
coleta de dados propicia forma de identificar consensos admitidos e construídos e
divergências expostas e elaborados.

Em contraposição, dependendo do conteúdo do tópico a ser abordado as


entrevistas individuais são mais aconselhadas. Nelas o entrevistado se sente mais
confortável e seguro para expor sua individualidade e questões de ordem mais pessoal.

Em geral, os grupos focais acontecem em locais específicos, essa característica


pode ser vista como um empecilho, já que os entrevistados precisam se deslocar até o
local da realização da entrevista, em contraposição as entrevistas individuais, em que o
entrevistador pode ir ao encontro do entrevistado. Por isso, é oferecido aos entrevistados
uma ajuda de custo, em geral financeira, para colaborar no processo de deslocamento e
incentivar a participação dos mesmos.

O local de realização da entrevista deve ser de fácil acesso para os participantes,


privilegia-se ambientes apropriados a interação do grupo e a manifestação de opiniões. O
local deve ser protegido de interrupções externas. Comumente os grupos focais são
realizados em uma sala e os participantes se acomodam sentados e com suporte de uma
mesa oval ou retangular. É usual, além da sala de entrevista, haver uma sala de espelho
ocupada por observadores da entrevista que podem visualizar a entrevista por meio de
espelho unidirecional (Cf. TRAD, 2009).

A entrevista é conduzida por um moderador, previamente cabe ao moderador ter


conhecimento sobre o tópico a ser abordado para melhor direcionar a entrevista, este deve
dominar o material de auxílio e de estímulo e as técnicas a serem utilizadas no grupo
focal. É interessante que o moderador, com auxílio da coordenação de recrutamento,
selecione entre os recrutados presentes quem irá de fato participar da entrevista. Como os

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candidatos apresentam características homogêneas, é bom que seja analisada a melhor


combinação e maior diversificação dentre os perfis, seja quanto a idade ou o perfil
ocupacional e ponderando sobre os objetivos da pesquisa.

No início do grupo o moderador deve apresentar a dinâmica e os objetivos da


pesquisa, o papel do moderador, bem como as questões éticas envolvidas. Os
participantes devem ser informados que estão sendo observados e gravados e quais
recursos tecnológicos estão sendo usados (sala de espelho, microfone, gravador de áudio
e vídeo). Deve ser informado e resguardado o direito de privacidade dos participantes e o
direito de retirarem dúvidas sobre o processo e também deve ser garantido o direito de
participar ou não da entrevista, bem como retirar-se quando achar conveniente.

O moderador e os participantes devem realizar uma breve apresentação de si.


Recomenda-se placa de identificação nominal dos participantes para contribuir na melhor
fomentação da discussão. É importante que o moderador fale sobre a importância das
opiniões, independente da valorização sobre essas, que a intenção é promover um debate
saudável diante dos pontos a serem abordados.

Gondim (2002) apresenta outros princípios para orientar a realização de grupos


focais, ele indica que uma pessoa deve falar de cada vez, para que todos possam ouvir e
sinalizada que as discussões paralelas atrapalham a dinâmica. Para Scrimshaw e Hurtado
(1987), para mediar a dinâmica é preciso:

o Introduzir a discussão e a manter acesa;


o Enfatizar para o grupo que não há respostas certas ou erradas;
o Observar participantes, encorajando a palavra de cada um;
o Buscar as “deixas” de comunidade da própria discussão e fala dos participantes;
o Construir relações com os informantes para aprofundar, individualmente, respostas e
comentários considerados relevantes pelo grupo ou pelo pesquisador;
o Observar as comunicações não-verbais e o ritmo próprio dos participantes, dentro do
tempo previsto para o debate” (p.12).

Ao moderador também cabe a necessidade de manter um clima confortável para


a livre manifestação dos participantes, ele deve cuidar para que uns membros não
dominem a discussão ou que apresentem suas opiniões de forma contendente e afrontosa
em relação aos outros. O moderador deve preconizar pela manutenção da temática de
interesse da pesquisa, sem que assim negue ou coíba o direito de expressão. Além disso,
deve cuidar para não enviesar a opinião do grupo com suas opiniões. Também deve
atentar-se para os participantes que se apresentem de forma mais tímida, tacanha ou

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mesmo silenciosa, devendo tentar incentivá-los a participar (Cf. GASKELL, 2002;


MINAYO, 2004).

O moderador não deve ter uma postura diretiva em relação às questões de pesquisa
e ao roteiro de entrevista. Em grupos focais ele assume uma postura de mediador ou
facilitador da discussão, por isso suas intervenções devem ser limitadas e pertinentes.
Com o intuito de averiguar seus insights o moderador pode formular análises,
colaborando com reorientações e interpretações de dados e teóricas (Cf. GONDIM,
2003).

Gaskell (2002) afirma que acontecem dois processos ao longo do campo, a análise
do grupo e a análise cumulativa dos grupos, em que é possível perceber padrões,
tendências e formular novas questões. Ou seja, durante a coleta de dados podem haver
insgihts que podem ser averiguados em tom exploratório na coleta de dados. Há a
possibilidade de haver um segundo moderador, que auxilie ou supervisione o moderador
em sua atividade, em geral este fica na sala de espelho.

Os recursos eletrônicos comumente usados na entrevista são: gravador de voz e


câmara de vídeo. A entrevista é registrada tanto em áudio e vídeo, porque ambos os tipos
de informações são analisados. Microfones também podem ser utilizados para melhorar
a qualidade do áudio e colaborar para melhor transcrição da entrevista e análise de dados.
Outros recursos auxiliares a entrevistas que podem ser utilizados são notebooks,
datashows, projetor, flipboard, perception analyzer, entre outros equipamentos. Também
é oferecido aos participantes ao longo da entrevista um lanche rápido e de fácil acesso,
que não atrapalhe a entrevista.

O procedimento de transcrição dos grupos focais é importante para as pesquisas,


é uma maneira rápida de acessar os dados. Não se trata especificamente dos dados, mas
da sua representação gráfica. Quanto mais literal a fala dos participantes melhor é a
transcrição. A seleção do que é transcrito deve considerar os objetivos da pesquisa. As
expressões não verbais e subjetivas devem ser valorizadas e estarem presentes, como
risos, silêncios, mudança de entonação de voz, ironia. É importante haver supervisão do
trabalho.

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3.1.2. Entrevista em Profundidade

A entrevista em profundidade é um recurso metodológico que busca, com base


em teorias e pressupostos definidos pelo entrevistador, recolher respostas a partir da
experiência subjetiva de uma fonte, mas não obrigatoriamente, selecionada por dispor de
informações importantes e desejáveis para um determinado estudo. A entrevista em
profundidade permite a identificação, através das respostas espontâneas dos
entrevistados, de diferentes maneiras de perceber e descrever os fenômenos e aspectos da
vida social. Para Duarte (2005), representa uma “técnica qualitativa que explora um
assunto a partir da busca de informações, percepções e experiências de informantes para
analisá-las e apresentá-las de forma estruturada” (Duarte, 2005, p. 62).

Neste tipo de técnica, não é somente as respostas proferidas que devem ser
consideradas como resultado da pesquisa. De acordo com Duarte (2005), é preciso que o
pesquisador observe o ambiente da entrevista, a relação construída nesse ambiente, o
comportamento do entrevistado, seus movimentos e gestos, entre outros. Na mesma linha
argumentativa, Pereira (2012) destaca que um dos pontos essenciais para a boa qualidade
da entrevista, conforme aprofundaremos mais adiante, está no preparo extra do
entrevistador, que, segundo o autor, precisa considerar diferentes aspectos da interação
com o entrevistado e considerar durante o processo de interpretação dos dados a sua
própria atuação no processo de construção da narrativa.

A conversação estabelecida entre pesquisado e pesquisador constitui um espaço


relacional privilegiado ao produzir um tecido de informações sobre um ou múltiplos
temas, de modo mais verticalizado e menos superficial. Neste espaço, criado e
manipulado pelo investigador, o entrevistado expressará espontaneamente suas
motivações, aspirações, emoções, crenças, valores, atitudes e opiniões que constituem a
sua experiência de vida e, por outro lado, o pesquisador é quem deverá fazer esse controle
do roteiro e do fluxo da entrevista, a fim de garantir que o conteúdo obtido seja capaz de
dar respostas ao problema de pesquisa.

3.1.3. Vantagens e limitações da entrevista qualitativa

Entre vantagens, destacam-se:

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o A interação entre o entrevistador e o entrevistado propicia as respostas


espontâneas e facilita uma maior abertura e proximidade entre eles, o que
permite uma troca mais amistosa entre as duas partes.
o É uma técnica eficiente para a obtenção de informações verticalizadas
acerca de um ou mais temas sobre o comportamento humano e a vida
social;
o Na entrevista em profundidade, possibilita abordar assuntos de natureza
estritamente pessoal e íntima;
o Facilita debater questões de natureza complexa e de escolhas claramente
individuais;
o Permite captar imediatamente as informações desejadas, com qualquer
tipo de informante e sobre os mais variados tópicos;
o Coleta informações dos aspectos afetivos e valorativos dos informantes,
aqueles que determinam os significados pessoais de suas atitudes e
comportamentos.
o Permite o aprofundamento de pontos levantados por outras técnicas de
coleta de alcance mais superficial e objetivo, como o questionário;
o Possibilita a participação de pessoas com pouca instrução formal;
o Permite correções, esclarecimentos e adaptações que a tornam
sobremaneira eficaz na obtenção das informações desejadas;
o Não utiliza um instrumento de coleta de dados fechado, pois a entrevista,
mesmo as semiestruturada, só ganha corpo no decorrer de sua realização;
o Produz uma melhor amostra da população de interesse;
o Tem elasticidade quanto à duração, permitindo uma cobertura mais
profunda sobre determinados assuntos.
o As respostas espontâneas dos entrevistados e a maior liberdade que estes
têm podem fazer surgir questões inesperadas ao entrevistador, que poderão
ser de grande utilidade em sua pesquisa.
o Possibilita a obtenção de dados referentes aos mais diversos aspectos da
vida social;
o Possibilita captar a expressão corporal do entrevistado, bem como a
tonalidade de voz e ênfase nas respostas;
o Pode-se utilizar de recursos visuais, como cartões, fotografias, vídeos, etc.
o que pode deixar o entrevistado mais à vontade, fazê-lo lembrar de fatos
e facilitar na exposição de sua opinião;

Já em relação às limitações da entrevista qualitativa, aponta-se os seguintes itens:

 O entrevistador, se não estiver bem preparado e qualificado, pode ser a


maior limitação da técnica de entrevista;
 O entrevistador pode afetar e influenciar o comportamento e a fala do
entrevistado;
 Exige mais tempo, atenção e disponibilidade do pesquisador, já que a
relação é construída durante cada entrevista, que é uma por vez;

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 Pode-se perder a objetividade se não houver a construção de uma relação


adequada;
 Pode haver o constrangimento do entrevistado o fato de ter suas
informações gravadas, filmadas ou anotadas pelo pesquisador;
 Pode ocorrer falta de motivação do entrevistado para responder as
perguntas que lhe são feitas;
 Pode existir uma inadequada compreensão do significado das perguntas;
 A pesquisa depende da qualidade das respostas do entrevistado: pode
haver o fornecimento de respostas parcializadas e falsas, determinadas por
razões conscientes ou inconscientes;
 O pesquisador deve elaborar um roteiro de questões claras, simples e
diretas, para não se perder em temas que não interessam ao seu objetivo;
 É mais difícil comparar as respostas, principalmente quando o roteiro é
com temas abertos.

Todas essas limitações, de algum modo, interferem no resultado final das


entrevistas. No entanto, por conta da própria flexibilidade da entrevista, a maior parte das
dificuldades podem ser contornadas. Para tanto, conforme já foi abordado, é bastante
necessário que se invista no processo de seleção e de treinamento dos pesquisadores, já
que o melhor resultado desta técnica dependerá fundamentalmente da qualidade da
conversação entre entrevistador e entrevistado.

3.2.Metodologia

3.2.1. Amostragem

Em pesquisas quantitativas a amostra é composta por respondentes escolhidos ao


acaso, de modo que seja representativa da população estudada. Isso significa que ela é,
por questão estatística, ao respeitar os critérios amostrais probabilísticos, um modelo
reduzido da população alvo, pois os diferentes grupos sociais se encontram com os pesos
coerentes à população investigada. Em relação à pesquisa qualitativa, apenas um pequeno
número de pessoas participa da pesquisa, e elas são selecionadas diante de critérios que
não são probabilísticos e, por isso, não é representativa estatisticamente. Por outro lado,
é representativa individualmente, quando em pesquisa em profundidade, ou
coletivamente, em grupos focais, pelo fato do participante ser ele mesmo o representante
das informações que ele detém sobre a cultura na qual está inserida, com sua valoração,
emoções, opiniões, etc. Assim, neste tipo de abordagem, o pesquisador busca apreender
este sistema de valoração subjetivas, que estão presentes de um modo ou de outro em

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todos os indivíduos selecionados pela amostra, com o registro dessas experiências


singulares sobre a vida social.
A amostra qualitativa, segundo Thiollent (1982), deve ser selecionada a partir de
critérios de diversificação em função das variáveis que, por hipótese, são “estratégicas
para obter exemplos da maior diversidade possível das atitudes a respeito de um tema em
estudo” (Thiollent, 1982, 199.). Além disso, continua o autor, essas variáveis estratégicas
são aquelas que, de acordo com as reflexões teóricas e de outros estudos anteriores, dão
maior capacidade para entender o problema estudado. No mesmo caminho
argumentativo, Duarte (2005) pontua que uma boa pesquisa é aquela em que as fontes
sejam capazes de ajudar a responder o problema proposto pelo estudo. Por isso, na
construção da amostra de pesquisas qualitativas, os participantes devem ter envolvimento
com o assunto abordado, disponibilidade e disposição em discutir.
Outro quadro fundamental diz da qualidade da seleção amostral, pelo fato de que
boa parte da validade de pesquisa está associada a esta etapa do estudo. Segundo Duarte
(2005), este número de participantes em pesquisa qualitativa, por ser reduzido, precisa
ser adequadamente selecionado, com um relato bem consistente sobre os temas e assuntos
definidos pela pesquisa. Assim continua:
Relevante, neste caso, é que as fontes sejam consideradas não apenas válidas,
mas também suficientes para responder à questão de pesquisa, o que torna
normais, durante a pesquisa de campo, novas indicações de pessoas que
possam contribuir com o trabalho e, portanto, ser acrescentadas à lista de
entrevistados. É importante obter informações que possam dar visões e relatos
diversificados sobre os mesmos fatos. Pessoas em papéis sociais diferentes,
recém-chegadas ou que tenham deixado a função recentemente, podem dar
perspectivas e informações bastante úteis [...]. Deste modo, a correta seleção
das fontes para entrevistas em profundidade e a interpretação ponderada das
respostas permite limitar a influência das fontes politicamente mais relevantes.
Isso ocorre porque descrições e análises mais consistentes e imparciais são
frequentemente obtidas por técnicos e pessoas envolvidas no processo, sem
interesses outros que não o de colaborar com o entrevistador. A descrição dos
achados é, assim, definida pelas informações obtidas e não pelo poder político
da fonte. A seleção dos entrevistados em estudos qualitativos tende a ser não
probabilística, ou seja, sua definição depende do julgamento do pesquisador e
não de sorteio a partir do universo (DUARTE, 2005, p. 05)

Além dessas ponderações, pode-se definir que o processo de seleção da amostra


em pesquisas qualitativas pode ser realizado de duas maneiras:

 Amostra por conveniência ou acidental: é aquela seleção baseada na viabilidade


do estudo. É o desenho amostral feito pela proximidade ou disponibilidade dos
participantes.
 Amostra por intencionalidade: é aquela seleção baseada pelo juízo particular do
pesquisador. É o desenho amostral que se dá motivado pela representatividade

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subjetiva ou pelo conhecimento dos participantes sobre determinado tema ou


assuntos.

Já em relação ao tamanho da amostra, o estudo realizado por Mark Mason (2010),


ao analisar 560 teses que utilizaram da técnica de entrevista, diagnosticou que o tamanho
médio da amostra destes trabalhos foi de 31 casos. A justificativa deste número se deu
pelo conceito de saturação, isto é, quando as opiniões começam a se repetir e nenhuma
informação nova aparece nas entrevistas, e, por isso, a amostra teria então atingido o
ponto de saturação. Entretanto, para O’Reilly e Parker (2013), a saturação é um conceito
problemático para definir a amostra, pois, para eles, é apenas um marcador de adequação
da amostragem, sem uma indicação bem definida e nem explicativa do porquê desse
número.
Nas entrevistas em profundidade o desenho amostral vai depender dos objetivos do
estudo. Normalmente, em pesquisas que utilizam dessa técnica há a seleção de pessoas
de acordo com o conhecimento que têm sobre determinado tema ou assunto. Assim, a
amostra é construída de acordo com o conteúdo que vai ser debatido, mas, também,
quando se pretende aprofundar sobre a história de vida do entrevistado e, por isso, vai
depender quais tipos de resposta o estudo quer ofertar. Nesse tipo de técnica, que
verticaliza e aprofunda sobre a opinião e a experiência de um único indivíduo por vez, há
uma priorização da singularidade, e, por isso, quase sempre é realizada com pessoas
especialistas em um determinado tema ou conteúdo.
Já para a amostra para grupos focais, que também deve ser definida segundo os
objetivos da pesquisa preciso atentar-se para alguns pontos. O público-alvo deve ser
estabelecido de acordo com informantes que tenham maior potencial em contribuir com
o tópico estabelecido para discussão. É necessário definir o universo amostral
considerando certa homogeneidade no perfil dos entrevistados, os participantes devem
ter características etárias, socioeconômicas e culturais semelhantes para que se sintam
contextualmente à vontade para emitir opiniões e discutir. Se o público-alvo considerar
pessoas de ambos os sexos, recomenda-se que haja equidade e distribuição espacial de
gênero entre os entrevistados. Dependendo do tipo de uso de recursos tecnológicos
durante a entrevista o perfil dos informantes também deve ser ponderado. Outro critério
a ser pontuado é que os entrevistados não devem ter vínculos e estes devem ser
desconhecidos entre si, para que o conhecimento prévio dos interlocutores não influencie
nas opiniões emitidas. Neste sentido, a amostragem para grupos focais é do tipo
intencional em que são elaborados critérios/filtros e crivos que servem como pré-

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requisitos para selecionar participantes dos grupos focais, visando assim obter maiores
insights (Cf. GLASER e STRAUSS, 1967; FLICK, 2004, p.79). Os critérios/filtros e
crivos devem constar no questionário de recrutamento.
Os grupos focais podem ser compostos por cerca de 6 a 15 entrevistados, é mais
comum que grupos focais possuam entre 8 a 12 pessoas. A quantidade de pessoas ideal
por grupo vai depender da capacidade de participação de todos nos temas abordados e da
capacidade de manutenção da temática de interesse da pesquisa (Cf. TRAD, 2009).
A quantidade de grupos a ser realizada por pesquisa depende de alguns fatores, além
dos objetivos da pesquisa, o orçamento e o tempo disponível. É comum que a coleta de
dados pare quando é alcançada a saturação dos dados, ou seja, durante a coleta e
concomitante análise continuada dos dados. A saturação é alcançada quando elementos
novos tornam-se cada vez mais escassos quanto aos objetivos da pesquisa e é possível
notar certa repetição, previsibilidade e semelhança nos discursos e interações (Cf.
FLICK, 2004). Destaca-se que a quantidade de grupos comumente é definida
previamente enquanto a saturação ocorre a posteriori.

3.2.2. Dos cuidados metodológicos

Na realização das entrevistas há alguns cuidados metodológicos que devem ser


pontuados. O primeiro deles, conforme já foi apresentado, diz da qualidade do plano
amostral de seleção dos participantes, que se relaciona diretamente com a validade da
pesquisa. Fora este ponto, há uma série de questões éticas e comportamentais na relação
entre o pesquisador e os indivíduos entrevistados. Lüdke e Andre (2013) vão dizer da
estima que o investigador deve ter com os participantes do estudo, com respeito ao horário
e local marcado e das garantias que as normatizações éticas e jurídicas tratam em
pesquisas científicas.
Ao pesquisador cabe a maior parte dos cuidados metodológicos da realização dos
estudos qualitativos. Em relação ao posicionamento dele em campo, pode-se exemplificar
pelo respeito que este deve ter pela cultura e pelos valores do entrevistado, com a
capacidade de ouvir atentamente e estimular o fluxo natural da entrevista em busca de
construir um tecido de informações e dados necessários para o estudo em questão. Para
isso, é preciso que se estabeleça no processo de conversação da entrevista um clima de
confiança, de modo que o participante do estudo se sinta à vontade para se expressar
espontaneamente e abertamente. Por outro lado, o pesquisador deve ter o cuidado e a
habilidade para que a estimulação produzida na conversação não force o rumo das
respostas para determinada direção, provocando o enviesamento dos resultados.

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Indo mais à fundo sobre o papel de ouvinte do pesquisador, Bourdieu (1999) cita
que muitos entrevistados, sobretudo os de perfil mais carente, utilizam o momento da
entrevista para se fazer ouvir, com os seus pontos de vista sobre si e o mundo. Como são
muitas as possibilidades de caminho e as adversidades durante a entrevista, o pesquisador
deve ter a consciência de que está lidando com sentimentos, afetos pessoais, fragilidades,
medos e inseguranças por parte dos participantes.
Por vezes esses discursos são densos, intensos e dolorosos e dão um certo alívio
ao pesquisado quando expostos. Alívio por falar e ao mesmo tempo refletir sobre um
assunto que talvez os reprimam. Por tal questão que o pesquisador não pode ficar
indiferente ao que o entrevistado tem para dizer, respeitando a sua trajetória de vida e
singularidade. Este respeito, de acordo com Boni e Quaresma (2005), vai além da própria
entrevista, pois é dever do pesquisador, especialmente na produção do relatório final do
estudo, situar o leitor de que lugar o entrevistado fala, a sua origem, o espaço social que
se situa e qual a sua condição de vida. Tem que ser explicitado claramente qual a tomada
de posição do entrevistado e o seu lugar no mundo.
Goldenberg (2004) afirma que boa parte do sucesso da entrevista deve-se às
qualidades essenciais que um pesquisador deve possuir. Entre elas, destaca:

[...] interesse real e respeito pelos seus pesquisados, flexibilidade e criatividade


para explorar novos problemas em sua pesquisa, capacidade de demonstrar
compreensão e simpatia por eles, sensibilidade para saber o momento de
encerrar uma entrevista ou "sair de cena" e [...] disposição para ficar calado e
ouvir [...] quem não consegue parar de falar nem resistir à tentação de discordar
do informante e de impor suas próprias ideias, irá obter informações que são
inúteis ou enganosas (GOLDENBERG, 2004, 57).

Além das qualidades, o pesquisador deve estar devidamente preparado para


situações inusitadas de campo, inclusive aqueles que extrapolam os limites da pesquisa,
como convites inapropriados, pedido de telefone, dinheiro e favores, entre outros. Por
isso, ao mesmo tempo em que tem que construir o laço de confiança e cordialidade, deve
manter certo distanciamento para lidar com a imprevisibilidade, seja ela contextual ou
não à pesquisa em si. E como não há uma regra específica, já que este tipo de técnica se
constrói ao longo da pesquisa, é necessário que o pesquisador utilize do bom senso e da
criatividade para lidar com as situações adversas e, com isso, solucionar as devidas
tormentas do trabalho de campo. É por essa razão que a experiência e a maturidade do
pesquisador são recursos importantes, quando não determinantes, para o bom
empreendimento do estudo.

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O pesquisador deve ter como característica também a boa capacidade de


comunicação verbal e a flexibilidade para dialogar com um público diverso, com as mais
diferentes origens, acessos e posicionamentos. Por esta razão que Goldenberg (2004)
aponta para a isenção que o pesquisador deve ter durante a entrevista, como forma de
buscar a objetividade científica que o estudo exige, caso contrário, pode interferir nas
respostas do entrevistado e, consequentemente, enviesar o estudo. Portanto, a melhor
forma de contornar essa questão é de o pesquisador ter a consciência de “como sua
presença afeta o grupo e até que ponto este fato pode ser minimizado ou, inclusive,
analisado como dado da pesquisa” (GOLDENBERG, 2004, 55).
Strauss e Corbin (2008) apontam que alguns atributos são interessantes ao
pesquisador qualitativo: “adequação, autenticidade, credibilidade, intuição,
receptividade, reciprocidade e sensibilidade” (p. 19).
Sobre o mesmo assunto, Gonçalves (2004) diz que a forma como o pesquisador
se apresenta no início da conversação é de grande importância, pois as primeiras
impressões são cruciais na construção do relacionamento e, logo, na disposição do
entrevistado em manter o interesse em participar. Todos os elementos são importantes
neste processo, por isso deve o pesquisador ter a habilidade para se adequar conforme o
contexto do estudo e ao perfil dos participantes, desde a forma de comunicação, postura
e, até mesmo, de vestimenta. Este conjunto de estratégias é de suma importância para que
o pesquisador consiga acessar e estabelecer certa confiança do entrevistado e,
consequentemente, obter o tecido de informações necessárias para a pesquisa.
Caso não tenha essa habilidade de adaptar-se aos diferentes contextos e perfis de
entrevistados, o pesquisador corre o risco de ter que lidar com um dos obstáculos mais
comumente relatados nas análises metodológicas sobre entrevistas, que é a dificuldade de
manter uma comunicação aberta e fluída por ter gerado um distanciamento social entre
as partes. Esse tipo de distanciamento pode desdobrar em uma relação assimétrica de
poder de difícil reversão, afetando diretamente a qualidade da entrevista. Por isso, há a
defesa de que entrevistas sejam realizadas em locais que favoreçam o entrevistado,
sempre no sentido de deixa-lo mais à vontade e livre para falar e se posicionar.
Os cuidados que o pesquisador deve ter durante a realização da entrevista é
denominado por Thiollent (1982) de “atenção flutuante”. Para ele, o pesquisador deve
estar atento não somente às questões técnicas de campo, como seguir o roteiro e
aprofundar sobre os temas preestabelecidos, e de conteúdo verbalizado pelos

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participantes, através daquilo que é dito, gravado e transcrito, mas deve estar alerta
também para toda uma “gama de gestos, expressões, entonações, sinais não-verbais,
hesitações, alterações de ritmo, enfim, toda uma comunicação não verbal cuja captação é
muito importante para a compreensão e a validação do que foi efetivamente dito”
(LUDKE, ANDRE; 1986; 36). Na entrevista não é apenas o discurso verbalizado pelo
entrevistado que deve ser analisado, mas a postura dele e toda sua linguagem corporal,
que servirá como complemento ou contradição daquilo que ele disse.
Já em relação aos cuidados com os instrumentos de coleta e de registro dos dados,
há o debate entre a gravação direta (áudio nas entrevistas em profundidade e vídeo nos
grupos focais) e a anotação durante a entrevista. Em relação à gravação, Ludke e Andre
(1986) situam:
A gravação tem a vantagem de registrar todas as expressões orais,
imediatamente, deixando o entrevistador livre para prestar toda a sua atenção
ao entrevistado. Por outro lado, ela só registra as expressões orais, deixando
de lado as expressões faciais, os gestos, as mudanças de postura e pode
representar para alguns entrevistados um fator constrangedor. Nem todos se
mantêm inteiramente à vontade e naturais ao ter sua fala gravada (LUDKE;
ANDRE, 1986, 37).

Para além dessa limitação, entende-se que o registro em gravação é fundamental


para uma análise mais completa da entrevista, com todo o conteúdo transcrito para o
papel. Apesar da transcrição ser uma tarefa trabalhosa, consumindo maior tempo nesta
etapa, é de fundamental importância na hora da análise, com a possibilidade de produzir
categorização e comparações entre diferentes entrevistas e falas. E neste registro é
fundamental conservar a identidade total do participante, reproduzindo integralmente e
literalmente o discurso do entrevistado para o texto escrito, respeitando plenamente a sua
maneira e hábito de falar.
A gravação, além de permitir o registro literal e integral, não afeta, de acordo com
Duarte (2005), o resultado e oferece maior segurança à fonte. Além da questão ética do
fazer científico, é importante dizer, desde a apresentação, de que haverá a gravação da
entrevista, justamente para que o pesquisador possa receber e compreender a reação do
entrevistado, se ele sentirá ou não desconfortável. Caso haja esse desconforto, quase
sempre é apenas nos momentos iniciais, logo o respondente, dependendo da habilidade
do pesquisador, começa a agir com naturalidade e a conversação flui. Além disso, vale
destacar a importância de que a gravação tem a grande vantagem de “evitar perdas de
informação, minimizar distorções, facilitar a condução da entrevista, permitindo fazer
anotações sobre aspectos não verbalizados” (DUARTE, 2005, p. 10).

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Ao tratar sobre as anotações durante a entrevista, sugere-se que não seja o foco
principal, pois corre-se o risco de deixar de cobrir e dar atenção para as coisas ditas pelo
entrevistado, já que exige um tempo razoável para a escrita. Por outro lado, as notas
durante a entrevista representam um trabalho inicial de interpretação, que poderá servir
como base da análise dos dados. Por isso, dependendo da habilidade e experiência do
pesquisador, o que deve ser feito é priorizar a fala do entrevistado e intercalar com as
anotações, desde que o entrevistado esteja ciente de todo o processo.
O entrevistador já vai percebendo o que é suficientemente importante para ser
tomado nota e vai assinalando de alguma forma o que vem acompanhado com
ênfases, seja do lado positivo ou do negativo. Aqui se percebe bem a
importância da prática, da habilidade desenvolvida pelo entrevistador para
conseguir ao mesmo tempo manter um clima de atenção e interesse pela fala
do entrevistado, enquanto arranja uma maneira de ir anotando o que é
importante. Essa maneira é específica de cada um, mas não representa nada de
mágico ou misterioso, podendo perfeitamente ser encontrada a partir de um
acordo com o próprio entrevistado. É muito importante que o entrevistado
esteja bem informado sobre os objetivos da entrevista e de que as informações
fornecidas serão utilizadas exclusivamente para fins de pesquisa, respeitando-
se sempre o sigilo em relação aos informantes. É preciso que ele concorde, d
partir dessa confiança, em responder às questões, sabendo, portanto, que
algumas notas têm que ser tomadas e até aceitando um ritmo com pausas
destinadas a isso. (LUDKE; ANDRE, 1986, p. 37)

Para que a entrevista seja mais fluída e natural, o pesquisador deve saber dosar as
anotações. Também cabe ao pesquisador dispor de tempo, logo depois de finalizada a
entrevista, para aprofundar as anotações que fez durante a gravação, pela eficiência das
lembranças do que foi dito e visto pouco antes. Esse relato mais profundo, pela
preservação da memória recente, vai permitir que o entrevistar registre também o
ambiente da pesquisa, o comportamento do entrevistado, os gestos, expressões,
entonações, sinais não-verbais, hesitações, alterações de ritmo, entre outros pontos.
A entrevista, em profundidade ou grupo focal, não tem o seu resultado
generalizado e não visa comprovar uma verdade, mas, devido ao seu caráter particular,
destina-se em compreender os aspectos subjetivos sobre questões objetivas da vida social.
Independente disso, é de grande importância que se construa procedimentos
metodológicos e de validade e confiabilidade dos resultados de modo criterioso, pois elas
“dizem respeito à capacidade de os instrumentos e a utilização adequada fornecerem os
resultados que o pesquisador se propôs obter” (DUARTE, 2005, p. 04).
Para a validade dos dados e resultados alguns procedimentos podem ser utilizados
durante a construção metodológica do trabalho científico, como apresentar os critérios de
seleção do entrevistado, as fichas de recrutamento, a catalogação adequada das
entrevistas, checagem dos áudios e transcrições, acompanhamento das entrevistas –
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especialmente no grupo focal, através da sala espelhada –, entre outros componentes de


validação da pesquisa.
Já em relação à confiabilidade dos dados, que diz respeito ao rigor metodológico
da investigação, é preciso produzir procedimentos na pesquisa que assegure, caso refaça
o campo, que os resultados sejam os mesmos, isto é, gere confiança dos resultados
obtidos.
A confiabilidade diz respeito ao rigor metodológico que garante que, repetidos
os procedimentos, os resultados serão os mesmos. Isto exige tanto a
confirmação das informações obtidas na pesquisa de campo, quanto a
articulação adequada destas informações na descrição, a coerência da análise
com o quadro de reflexão proposto e conclusões consistentes com os passos
anteriores. A obtenção de confiabilidade é baseada na descrição
pormenorizada dos procedimentos de operacionalização das entrevistas e uso
fundamentado e consistente das respostas obtidas (DUARTE, 2005, p 04)

A confiabilidade e validade dos resultados obtidos com a técnica de entrevista se


dão através de três procedimentos, que podem ou não conter vários itens de avaliação. Os
três procedimentos, ainda de acordo Duarte (2005), são:

o A seleção de informantes capazes de responder à questão de pesquisa;


o O uso de procedimentos que garantam a obtenção de respostas confiáveis;
o E a descrição dos resultados que articule consistentemente as informações obtidas
com o conhecimento teórico disponível.
3.3.Instrumentos de pesquisa

A pesquisa qualitativa demanda uma maior interação entre o pesquisador e o


pesquisado. O contato do respondente com o investigador, possibilita que o instrumento
de pesquisa seja mais flexível. Durante a aplicação do instrumento de pesquisa, pode-se
descobrir novos enfoques e caminhos que possibilitam a resposta da pergunta que guia o
estudo.

3.3.1. Ficha de recrutamento

O questionário de recrutamento deve ser objetivo e deve garantir que o candidato


a ser entrevistado seja selecionado de acordo com o perfil socioeconômico, cultural e
ocupacional desejado e dentro do crivo aspirado. As informações pessoais do entrevistado
devem ser resguardados e devem ser utilizados unicamente para fins ligados a pesquisa.
Como controle de qualidade é indicado que uma fração dos recrutados seja consultada
como método de verificação, crítica e validação da seleção adequada do público
almejado. Do ponto de vista ético, recomenda-se que caso o recrutado possa ser
novamente procurado este deve ser previamente informado.
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3.3.2. Roteiro

A preparação do roteiro vai depender tanto do tipo de entrevista (em profundidade


ou grupo focal) quanto dos objetivos da pesquisa. Dependerá também se o estudo for de
caráter mais exploratório ou se busca aprofundar em determinados temas a fim de
responder certas hipóteses de investigação. A diferença, que já foi abordada
anteriormente, se dará, sobretudo, no formato do roteiro, se aberto ou semiestruturado. E
a decisão por um determinado formato de roteiro está relacionada diretamente com os
clivos antes mencionados: tipo de entrevista; objetivos do estudo e o caráter da
investigação.
Algumas questões devem estar bem delineadas dentro do roteiro de entrevista,
como as instruções que guiarão o pesquisador e as perguntas ou tópicos a serem
explorados, que, obrigatoriamente, devem estar bem elaboradas e com clareza. De acordo
com Gil (2008), as questões ou tópicos do roteiro devem ter essa qualidade e lucidez
justamente para que a leitura realizada pelo pesquisador seja entendida pelo entrevistado
sem maiores dificuldades. Diferentemente do questionário das pesquisas quantitativas,
em que o pesquisador deve seguir à risca os enunciados, nas entrevistas qualitativas o
pesquisador pode intervir de modo que auxilie e facilite o entendimento do participante,
sem que essa intervenção implique no caminho argumentativo do entrevistado.
O roteiro deve ser construído de modo que favoreça, já nos diálogos iniciais, o
engajamento do participante, assim como a manutenção de seu interesse durante toda
entrevista. Para isso, o instrumento deve possibilitar que o informante fique à vontade
para desenvolver a sua argumentação, com estímulos que o possibilite explorar sobre o
que lhe foi perguntado ou abordado, de modo livre e, se possível, sem interrupções.
O roteiro de entrevista deve ter como base a delimitação do tópico a ser abordado
e os propósito da sessão e da pesquisa. O roteiro deve ser composto por itens a serem
analisados. A quantidade de itens abordados e o tempo estimado para cada item deve ser
adequada ao tempo disponível para a entrevista e de acordo com a possibilidade de
atenção e participação dos entrevistados.

O roteiro deve partir de questões mais simples e ir para as questões mais gerais e
complexas. Assim, a lógica do roteiro deve ser progressiva, permitido o afunilamento e
aprofundamento das questões de interesse da pesquisa. Para esse tipo de coleta de dados,
questões objetivas não são interessantes, pois não incentivam debates e dificultam o
acesso aos aspectos simbólicos das falas (Cf. FLICK, 2004).
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As perguntas e temas presentes no roteiro devem ser abordadas individualmente


e separadamente, sem prolongamento ou complexidade, para evitar, assim, que haja
desentendimento e/ou confusão por parte dos participantes. Caso isso ocorra, pode-se
obter exemplos e fatos que ajudem a iluminar o entendimento do entrevistado, mas com
o cuidado para que essa intervenção não influencie em sua resposta.
Enquanto nas entrevistas estruturadas a formulação segue esse caráter metódico,
nas entrevistas abertas e semiestruturadas o desenvolvimento das perguntas depende do
contexto e ritmo da conversação. Mesmo com esse grau de liberdade maior, espera-se que
nas entrevistas qualitativas tenha um mínimo de padronização das perguntas, como forma
de que as informações coletadas sejam possíveis de comparação entre si. Duarte (2005),
ao falar sobre elementos que podem auxiliar tanto na entrevista quanto no
desenvolvimento do roteiro, situa que, dependendo dos objetivos do estudo, há a
possibilidade de utilizar alguns recursos como forma de se obter respostas mais
confiáveis, já que estimulará a lembrança do entrevistado, como, por exemplo, livros,
fotos, vídeos, documentos, entre outros.
Tendo a compreensão do grau de liberdade neste tipo de técnica, é preciso cuidado
com o tamanho do roteiro e prezar pelo rigor com o tempo da entrevista, para que todas
as perguntas contidas no instrumento sejam devidamente exploradas e esgotadas. Da
mesma forma, recomenda-se que tenha o cuidado ao ordenar as perguntas dentro do
roteiro, que deve ser iniciado pelas questões “quebra gelo”, isto é, aquelas perguntas que
são capazes de produzir uma relação amistosa e de empatia entre o pesquisador e
pesquisados. Como a entrevista aberta e semiestruturada tende a ter uma extensão de
tempo razoável, é preciso que as perguntas sejam estimulantes e, ao mesmo tempo, que o
pesquisador possua a habilidade de manter a conversação interessante, mas sem fugir do
foco. Recomenda-se também que, dependendo do tema de pesquisa, as perguntas mais
sensíveis ou complexas fiquem para o final, tanto por conta da afinidade que deve ser
construída ao longo da conversação quanto pelo fato de evadir-se do risco de que o
entrevistado hesite ou canse, desviando, assim, de que a entrevista seja interrompida de
forma prematura.

3.4.Coleta de dados

A fase de coleta de dados é uma das etapas mais importantes da pesquisa. Selttiz
(1974) descreve sobre a potencialidade da coleta de dados que se utiliza das técnicas de
entrevista, seja de formato aberta ou semiestruturada, por permitir que o pesquisador faça

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inferências durante a própria entrevista, além de ter a possibilidade de analisar em campo


o dito e o não dito, em razão da relação continua que se estabelece no processo de
conversação ao longo de toda entrevista.

A associação brasileira de empresas de pesquisa (ABEP) recomenda como padrão


de qualidade que seja consultado, conferida a identidade do entrevistado e em seguida
registrado os entrevistados no Sistema Controle de Qualidade de Recrutamento (CRQ)
para evitar entrevistados constantes nesse tipo de coleta de dados.

3.5.Análises

Sugere-se que ele inicie esse processo analítico logo após cada entrevista,
justamente para não deixar acumular as informações, o que tornaria mais difícil devido
ao montante de conteúdo e o tempo que há para a análise. Nessa linha, Berger (1998)
alerta que "pode ser muito difícil lidar com a enorme quantidade de material que as
entrevistas em profundidade geram" (BERGER, 1998, p.57). Isso vale também para os
grupos focais. E o bom empreendimento analítico começa justamente quando o
pesquisador antecede esse processo, quando há informações mínimas para fazê-lo, o que
o permitiria ganhar tempo e maior prazo para as reflexões sobre os resultados e, até
mesmo, para obter informações preciosas para a continuidade do campo, ajudando o
pesquisador a fazer adaptações e correções durante a pesquisa.
Esse tempo servirá também para que o pesquisador possa amadurecer as suas
ferramentas analíticas
O pesquisador, sem perder de vista os objetivos do trabalho, classifica as
informações a partir de determinado critério, estabelecendo e organizando
grupos de temas comuns, como que as agrupando em "caixas" separadas para
se dedicar individual e profundamente a cada uma. Esta estrutura geral assume
a forma de esquema de análise e cada conjunto (caixa) é chamado categoria,
uma unidade de análise completa e única em si mesma (DUARTE, 2005, p.
11)

As categorias são as ferramentas analíticas construídas pelo pesquisador logo após


o início do processo de leitura, organização e reunião do conjunto de informações obtido
com cada entrevista ou a soma de parte ou de todas elas, por meio da classificação de
temas autônomos ou inter-relacionados. Em cada categoria, seguindo os princípios de
Duarte (2005), o pesquisador deve abordar “determinado conjunto de respostas dos
entrevistados, descrevendo, analisando, referindo à teoria, citando frases colhidas durante

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as entrevistas e a tornando um conjunto ao mesmo tempo autônomo e articulado”


(DUARTE, 2005. P. 11).
É preciso que cada categoria tenha uma coerência com os objetivos do estudo,
mas elas, as categorias, não podem se tornar refém dos objetivos, como uma camisa-de-
força analítica. É preciso que as informações sejam trabalhadas no sentido de dar
visibilidade aos dados obtidos em campo, com a sistematização e articulação coerente
entre eles e a teoria. Ao reunir algumas informações sobre o processo de categorização,
Richardson (1999) pontua que o conjunto de categorias produzidas pelo pesquisador
deve:

o Ser exaustivas, permitindo a inclusão de todos os elementos de determinado tema;


o Ser exclusivas, pois nenhum elemento pode ser classificado em mais de uma categoria;
o Ter concretude, na medida em que evitam a complexidade de classificar termos abstratos;
o Ser homogêneas, com categorias sendo construídas a partir do mesmo princípio de
classificação;
o Serem objetivas e fiéis, com a definição de variáveis e indicadores que determinam a
classificação em cada categoria.

Em relação ao uso de categorias na construção do relatório, Duarte (2005) sinaliza


que é útil fazer uma introdução de cada uma delas, com as suas definições, explicações e
sobre o que tratam. Adotar esses mecanismos ajudariam na construção da redação do
texto. Um relatório com boas categorias analíticas, bem amarrado com a teoria e com a
escrita cuidadosa fluirá com facilidade entre os leitores.
As categorias vão sendo construídas no próprio decorrer das entrevistas e da
análise delas. É preciso avaliar comparativamente as diferentes falas e respostas, ir
separando e aproximando as narrativas, e assim formatando as categorias, que podem ser
revistas de acordo com o andamento da pesquisa ou das entrevistas. Depois dessa
separação analítica, entra a discussão teórica que servirá como base da análise do material
coletado, dando corpo e fundamento ao texto.
Entende-se que o relatório tem por objetivo permitir a comunicação da pesquisa
para um público ampliado, mostrando as etapas da investigação, mas, principalmente, o
conjunto dos resultados. Neste espaço é preciso descrever as informações necessárias e
precisas sobre a pesquisa, como: a apresentação do problema; as razões porque o
problema mereceu ser estudado; a discussão bibliográfica sobre o tema; as hipóteses,
quando necessárias; os processos de pesquisa, como o planejamento, a técnica de coleta
de dados, as ferramentas utilizadas para a coleta; o público alvo; o método de análise
empregado, com as suas categorias analíticas e as escolhas teóricas; e os resultados gerais,
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com ênfase aos destaques do estudo. Duarte (2005), considera que o pesquisador deve
apresentar também no relatório tanto os aspectos positivos quanto as limitações e
dificuldades do estudo, assim ajudaria o leitor na compreensão dos dados e na própria
validade e confiabilidade dos resultados do estudo.

O processo de análise deve contemplar dois momentos complementares: análise


específica de cada grupo e análise cumulativa e comparativa do conjunto de grupos
realizados. Em síntese, o objetivo deste processo é identificar tendências e padrões de
respostas associadas com o tema de estudo (MORGAN, 1997; GASKELL, 2002 apud
TRAD, 2009 p. 789).

3.5.1. Teoria fundamentada e codificação teórica: codificação e categorização

Em pesquisas qualitativas de opinião pública é mais comum o uso da teoria


fundamentada para analisar os dados. Pesquisadores ligados à teoria fundamentada são
inconformados com teorias estabelecidas, pretendem repensá-las e reconstruí-las a luz da
pesquisa qualitativa por meio da análise de dados empíricos. Em outros termos, a teoria
é construída a partir de dados, não é testada. Nesta teoria a linguagem e seus significados
são extremamente relevantes, assim como os atores sociais, as interações e a relação
existente entre pesquisador e pesquisados. A relação do pesquisador com os dados
também é ponderada por meio da reflexividade. Nela apresenta-se a negociação entre os
envolvidos ao longo do processo de pesquisa, até mesmo a teoria construída está posta de
modo aberto para debate, para ser validada ou repensada. Assim algumas características
são apontadas por Strauss e Corbin (2008) ao teórico fundamentado:
o Capacidade de retrocede e analisar criticamente as situações.
o Capacidade de reconhecer a tendência em direção aos bias.
o Capacidade de pensar abstratamente.
o Capacidade de ser flexível e aberto a críticas construtivistas.
o Sensibilidade às palavras e às ações dos informantes.
o Um sentido de absorção e devoção ao processo de trabalho (p. 21).

Strauss e Corbin (2008) definem codificação como “os processos analíticos por
meios dos quais os dados são divididos, conceitualizados e integrados para formar a teoria
(p. 17). Este tipo de codificação tem como base a teoria fundamentada, que pretende
reconstruir teorias a partir da interpretação de dados empíricos, seus conteúdos e
significados. A interpretação dos dados é realizada por meios metodológicos controlados,
segundo essa perspectiva Flick (2004) define:

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Os conceitos ou os códigos estão vinculados ao mesmo material empírico, e


são formulados, a princípio, com a maior proximidade possível do texto, sendo
que, mais tarde, tornam-se cada vez mais abstratos (p.277).
A categorização, nesse procedimento, refere-se ao resumo desses conceitos em
conceitos genéricos e ao aperfeiçoamento das relações entre conceitos e
conceitos genéricos, ou categorias e conceitos superiores (p.277).
Para pensar a codificação Flick (2004) aponta algumas questões para ponderar
durante a codificação dos dados, são elas:
O quê?  Qual é a questão aqui? Que fenômeno é mencionado?
Quem?  Que pessoas, atores estão envolvidos? Que papéis eles
desempenham? Como eles interagem?
Como?  Quais aspectos do fenômeno são mencionados (ou não são
mencionados)?
Quando? Por quanto tempo? Onde? Tempo, curso e localização.
Quanto? Com que força?  Aspectos relacionados a intensidade.
Por quê?  Quais os motivos que foram apresentados ou podem ser
reconstruídos?
Para quê?  Com que intenção, com que objetivo?
Por meio de quê?  Meios, táticas e estratégias para atingir-se ao objetivo.
Flick (2004) também contribui nesse sentido ao adaptar Famílias de Codificação,
definidas como códigos básicos por Strauss (1978). As famílias de códigos colaboram na
orientação do processo de codificação, a seguir:

Família de códigos Conceitos Exemplos


Os seis Cs Causas, contextos, contingências, consequências, De sofrimento resultante da dor
covariâncias, condições
Processo Estágios, fases, períodos, transições, trechos, Trajetória de um paciente que sofre
trajetórias, séries, sequências de dor crônica
A família da intensidade Extensão, nível, intensidade, âmbito, quantidade, Extensão do sofrimento por dor
média, estatística, desvio padrão
A família do tipo Tipos, classes, gêneros, protótipos, estilos, espécies Tipos da dor (aguda, cortante,
latejante, penetrante, lacinante)
A família da estratégia Estratégias, táticas, técnicas, mecanismos, condutas Enfrentamento da dor
Família da Interação, efeitos mútuos, interdependência, Interação da experiência e
interatividade reciprocidade, assimetrias, rituais enfrentamento da dor
Família da Identidade, autoimagem, autoidentidade, Autoidentidade dos pacientes que
autoidentidade autoavaliação, autotransformações sofrem da dor
Família do ponto de Limite, ponto de corte, momento/ponto crítico, níveis Início da cronificação na trajetória
corte de tolerância, ponto sem retorno médica do paciente que sofre dor
Família da cultura Normas sociais, valores sociais, crenças sociais Normas sociais quanto à tolerância da
dor, "regras de sensibilidade"
Família do consenso Contratos, acordos, definições de situações, Complacência
uniformidade, conformidade, conflito
Fonte: Flick, 2004, p. 283.

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Flick (2004) aponta três procedimentos de codificação teórica: aberta, axial e


seletiva. Esses métodos podem oscilar entre si e podem ser combinados. Não devem ser
entendidos com etapas do processo de codificação. Na codificação aberta a ideia é
segmentar os dados em conceitos. Em seguida:

A categorização desses códigos, agrupando-os em torno de fenômenos


descobertos nos dados que sejam particularmente relevantes para a questão de
pesquisa. As categorias resultantes são novamente associadas à códigos, agora
mais abstratos do que aqueles utilizados na primeira etapa. Nessa fase, os
códigos devem representar o conteúdo de uma categoria de uma forma
acentuada e, acima de tudo, devem oferecer auxílio para a lembrança da
referência da categoria (p. 279).

A codificação axial pode ser entendida como um aprimoramento da codificação


aberta, remete a diferenciação de categorias criadas. Nela são selecionadas categorias que
podem trazer maiores insights para o projeto, estas devem ser trabalhadas para criar um
modelo para a pesquisa, em que são estabelecidas relações entre os fenômenos e as
categorias. As relações devem considerar questões que também são usadas na codificação
aberta (o quê, quem, como, quando, onde, quanto, por quê, para quê, entre outras). A
codificação axial assume lógica de pensamento indutivo e dedutivo: inicialmente
desenvolvendo categorias e as articulando a subcategorias e então os testando a partir do
material empírico. A ideia do modelo de pesquisa é estruturar os resultados e evidenciar
a(s) categoria(s) axial(is), ou seja aquela(s) que compõem o eixo da análise de dados.
Já na codificação seletiva há um aprimoramento na abstração, via integração da
codificação por meio de comparação de grupos e identificação de padrões. A codificação
termina quando atinge saturação teórica, ou seja, quando não mais é alcançado
aprimoramentos a teoria a partir dos dados. Flick (2004) sugere definir um intervalo para
pensar ou discutir os dados, estabelecendo prioridades.

3.5.2. Análise qualitativa de conteúdo e codificação

Na análise de conteúdo as categorias são aplicadas aos dados empíricos e estas


não são produzidas a luz do material coletado, as categorias são adotadas a priori ao
campo, são instrumentos teóricos. A ideia da análise de conteúdo é “reduzir o material”
(Cf. FLICK, 2004, p. 291). Flick cita os procedimentos adotados por Mayring (1983):
inicialmente os dados de análise são selecionados; a situação da coleta de dados é
avaliada; o meio do material usado é caracterizado e ponderado (gravação, transcrição,
dentre outros); a direção da análise é definida a partir dos pontos e questões que

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interessam a pesquisa; os pontos e questões de pesquisa são elaborados e diferenciados


com apoio do aparte teórico. (FLICK, 2004, apud MAYRING, 1983). A próxima etapa
apontada por Mayring (1983) é definir as unidades analíticas, três elementos são
considerados:
Unidade de codificação: define qual é o menor elemento de material que pode
ser analisado, a parte mínima do texto que pode ser enquadrada em uma
categoria.
Unidade contextual: define qual é o maior elemento no texto que pode ser
enquadrado em uma categoria.
Unidade analítica: define quais trechos são analisados um após o outro.
(FLICK, 2004, apud MAYRING, 1983, p. 292).

Mayring (1983) usa três técnicas: 1) síntese da análise de conteúdo: nela o material
mais relevante é condensado, resumido e parafraseado, com o intuito de sintetizar e
generalizar o material analisado; 2) análise explicativa do conteúdo: essa etapa parte para
explicar trechos “difusos, ambíguos ou contraditórios” (p. 292), nela são usados
dicionários, a gramática e o contexto para tanto e; 3) análise estruturadora e conteúdo:
visa tipificar ou estruturar o conteúdo.
Análise qualitativa de conteúdo tem vantagens devido a redução do material
utilizado e a facilidade para comparar materiais devido a estruturação das categorias. Em
contraposição aos métodos mais indutivos a análise de conteúdo segue lógica mais
esquemática e quantitativa, tendendo mais explicar o texto do que interpretá-lo. A
utilização de teorias para pode tornar o entendimento do texto mais difícil e ainda
deixando de fora aspectos mais profundos do texto. Outra crítica que pode ser feita é
quanto à utilização de paráfrases ao invés do texto exato.

3.5.3. Estudos comparativos e codificação temática

A codificação temática parte de estudos com a intenção de comparar diferentes


grupos e compreender suas visões sobre algum tema específico. Os grupos são
previamente estabelecidos e estão diretamente ligados às questões da pesquisa. Neste
caso, a amostra não é definida concomitantemente a realização do campo como acontece
na amostragem teórica (Cf. FLICK, 2004).
Inicialmente na codificação temática é realizado um estudo aprofundado do caso
e do texto, orienta-se realizar uma descrição geral do caso, apresentando seus elementos:
enunciado, mote, descrição do(s) participante(s), tópicos centrais abordados. Aqui são
criadas categorias e relações ligadas ao caso. Verifica-se a relação entre categorias e
temas nos casos. A estrutura de categorias e temas dá base para análise comparada dos

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casos. Assim, ocorre a análise de casos e então a comparação de grupos. A generalização


dos dados é baseada nas comparações dos casos e grupos, assim a interpretação é
ampliada a partir da realização de comparações (Cf. FLICK, 2004).

3.5.4. Softwares e técnicas de análise

O uso de computadores para pesquisa qualitativa tem se tornado cada vez mais
comum. Diferentemente, de softwares de análise quantitativa, que usam dados numéricos
e estruturados, como o SPSS, os softwares de análise qualitativa requerem o trabalho de
pesquisadores, ou seja, eles não atuam de modo automático (Cf. FLICK, 2004).
Os softwares de análise qualitativa ajudam no processo de organização,
codificação e análise de dados. A partir de levantamento bibliográfico sobre o tema Flick
(2004) destaca algumas vantagens em relação ao uso desses softwares, destaca-se:
ajuntamento e manutenção de todos os documentos da pesquisa, o ganho de tempo;
coerência e rigor nos procedimentos analíticos, aumento na transparência e validação no
processo da pesquisa, maior viabilidade para trabalhar em equipe, dentre outras.
Os aplicativos colaboram para encontrar tanto padrões como especificidades dos
dados. Além do aporte qualitativo, os softwares também utilizam técnicas quantitativas:
de contagem, proximidade e relação de palavras.
Neste manual, abordaremos o uso do NVIVO, trata-se de um pacote de software
para computador de análise de dados qualitativos produzido pela QSR Internacional, O
NVIVO é o aplicativo utilizado pelo Departamento de Pesquisa em Opinião
Pública/SECOM/PR.
A seguir conceitos-chave relativos ao aplicativo segundo o Manual NVIVO 10 for
Windows:
Fontes: são seus materiais de pesquisa, incluindo documentos, PDFs, conjunto
de dados, áudio, vídeo, imagens, memos e matrizes estruturais.
Codificação: é o processo de reunir materiais por tópico, tema ou caso. Por
exemplo: selecionar um parágrafo sobre a qualidade da água e codifica-lo no
nó “qualidade da água”.
Nós: são recipientes para sua codificação. Eles permitem que você reúna
materiais relacionados em um lugar para que possa procurar padrões e ideias
emergentes.
Classificações: de fonte permitem que você registe informações sobre suas
fontes. Por exemplo, dados bibliográficos.
Classificações de nó: permitem que você registre informações sobre pessoas,
lugares ou outros casos, por exemplo, dados demográficos ou pessoais (p.7).

Basicamente o uso de softwares de análise seguem um padrão processual.


Inicialmente é necessário criar um projeto e importar as fontes de pesquisa (dados

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externos) para o software. As fontes remetem aos dados empíricos, sejam brutos ou já
tratados. Após classificar as fontes e nós, codificar os dados, em seguida, é possível fazer
consultas e extrair tabelas, extratos, relatórios, gráficos e cluster.
Destaca-se que é possível classificar fontes e nós em propriedades e atributos
definidos como valores pelos pesquisadores do projeto. Inicialmente é preciso classificar
as fontes para então indexar propriedades e atributos das mesmas. Os atributos podem ser
numéricos, textuais, booleanos ou de data e hora. Assim, ao assumir valores os dados
tornam-se estruturados permitindo buscas específicas e extração de tabela de contingência
com toda a classificação, seja das fontes ou dos nós. A tabela pode ser visualizada e
organizada por filtros.
Conjuntos de dados podem ser criados, os conjuntos consistem em agrupar
elementos comuns (fontes, nós, atributos), permitindo visualizar dados de outras formas.
Uma análise de conteúdo prévia ao processo de codificação pode ser feita para
colaborar neste processo, a partir de um relatório de árvore de palavras, nela a frequência
e a proximidade das palavras utilizadas podem ser visualizadas. A frequência de palavras
específicas pode ser buscada em seu sentido literal, mas também por meio de sinônimos
ou com palavras similares de um mesmo radical.
Outra vantagem a ser avaliada remete a codificação automática dos dados, este
artifício tende a servir mais para fontes estruturadas. Também existe a possibilidade de
codificação temática, realizada a partir dos padrões de codificação realizados pelos
pesquisadores. O software utiliza algoritmos de aprendizagem para dar continuidade ao
trabalho de codificação. Após usar o recurso é possível refinar a codificação realizada
pelo aplicativo.
O processo de codificação acontece com a criação de nós, que servem para
armazenar a codificação. Os nós são códigos de referência indexados ao material
empírico. A codificação “consiste em localizar passagens no material empírico e a elas
atribuir os significados correspondentes aos nós com os quais estamos trabalhando”
(TEIXEIRA, 2015, p.6). Desta forma, ao encontrar trechos que correspondam ao aporte
significativo do nó marque-os e o armazene neste. Os nós criados podem ser descritos e
explicados em memos do projeto.
Os nós podem assumir estrutura hierárquica. Assim, os nós podem comportar
subnós, estes estão agregados ao nó criador, assim quantitativamente são contabilizados
em ambos, pois o subnó faz parte do nó. Por exemplo:

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o Nó: Economia
o Subnó: Economia Criativa
o Subnó: Economia Sustentável
o Subnó: Economia de Mercado.
Os nós podem ser criados a priori considerando o material empírico coletado e/ou
durante o processo de codificação. O processo de codificação pode variar, iniciando de
um processo mais geral e aberto, para conhecer dados e organizar tópicos e então detalhar
códigos. Este início está ancorado no referencial teórico metodológico do projeto. O
Manual NVIVO 10 for Windows apresenta três tipos de codificação:
Codificação de tópicos: Qual o tópico em discussão? Por exemplo, qualidade
da água, desenvolvimento imobiliário, turismo e assim por diante.
Codificação analítica: Do que se trata exatamente o conteúdo? Porque ele é
interessante? Considere o significado em contexto e expresse ideias novas
sobre os dados. Por exemplo: o ideal versus o real, tensão entre
desenvolvedores e residentes.
Codificação descritiva ou “de caso”: Quem está falando? Que lugar,
organização ou outra entidade está sendo observada? (p.24)

A codificação pode ser acompanhada a partir do recurso de faixas de codificação,


assim é possível acompanhar as faixas, diferenciadas em cores, segundo o nó
correspondente e ainda visualizar sobreposições de nós em um mesmo trecho.
Após a codificação de algumas fontes é interessante realizar um relatório de nós
para verificar a frequência de uso dos mesmos e verificar relações. Este processo de
acompanhamento permite identificar com mais facilidade o nível de saturação da
codificação, na medida em que novos nós ou ideias deixam de surgir.

Outro artifício apontado pelo Manual NVIVO 10 for Windows, pode ser utilizado
para aumentar a transparência e a confiabilidade do processo de pesquisa é a criação de
memos. Memos são anotações, lembretes e comentários realizados ao longo do processo
analítico. É um recurso de memória do projeto, em que é possível rastrear parte do processo
analítico e permite verificar a evolução do projeto. Os memos podem estar articulados a
partes do projeto: o projeto propriamente, a fontes específicas, a nós, a consultas e ligados
a processos metodológicos e analíticos (p. 31).
Com os dados codificados pode-se gerar consultas, extratos e relatórios dos dados
em arquivos de texto, planilha, tabelas e gráficos, assim o conteúdo codificado pode ser
recuperado. As consultas ao projeto de pesquisa podem ser feitas de: codificação; matriz
de codificação (estabelecendo relações entre nós, classificações, grupos); comparação de
codificação (de diferentes pesquisadores); composta (de textos e codificações) e; de grupo.

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É possível extrair: nuvem de palavras, esta remete à frequência de palavras; árvore


de palavras, esta remete à relação de uma palavra ou expressão com seu contexto, onde e
perto de quais outras palavras ou expressões e; mapa de árvores, que permite comparar os
nós pela quantidade de referências que estes contêm. A análise de cluster também pode ser
feita para agrupar fontes, nós, classificações e verificar similaridades.
Outra ferramenta que o NVIVO dispõe é a criação de modelos. Com os modelos
pretende-se visualizar o projeto em termos de hipóteses, ideias, conexões, tendências e
expectativas. Teixeira (2015) aponta que o modelo colabora no processo de registro de
elementos de sentidos e relacionados, seja descritivo ou analítico do projeto.
O NVIVO permite trabalhar em equipe, inclusive simultaneamente, basta que o
projeto esteja salvo no Servidor NVIVO. O Manual NVIVO 10 for Windows apresenta
dicas para trabalhar em equipe, são elas:

o Apontar um líder da equipe que manterá o grupo na linha e tomará as decisões finais
de codificação.
o Reunir-se regularmente com a equipe para discutir interpretações, resolver problemas
e atribuir tarefas. Registrar os resultados da reunião em uma nota.
o Fazer com que cada membro da equipe mantenha um memo para registrar seu
progresso, incluindo palpites, sugestões ou perguntas. Você também pode fazer isto
em um único “diário de trabalho em equipe”.
o Logo no início, fazer com que vários membros da equipe codifiquem a mesma coleção
de fontes e, então, comparar os registros (usando Faixas de Codificação ou uma
consulta de comparação de codificações). Isto pode ajudar a garantir uma abordagem
consistente.
o Para começar, faça uma hierarquia de nó para cada membro da equipe. Depois da
discussão em grupo, você pode refinar, mesclar e reorganizar.
o Tenha como objetivo uma estrutura clara de nó e use descrições (em propriedades do
nó) para tomar propósito de um nó claro para todos os membros da equipe).

3.6.Exposição dos dados

Os dados científicos produzidos pela pesquisa são expostos tanto no relatório final
de pesquisa quanto no documento de apresentação dos resultados. Se tratando da pesquisa
qualitativa, o relatório final tem por objetivo expor todas as etapas da investigação, de
modo que fique claro ao leitor o percurso teórico-metodológico da investigação assim
como os principais achados do estudo. Para isso, o relatório final de pesquisas qualitativas
deve estar dividido com a presença dos seguintes pontos:

o Apresentação: contém a base legal da pesquisa realizada pela Secretaria


Especial de Comunicação Social (SECOM), o número do contrato da
pesquisa e a ordem de serviço;

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o Escopo da pesquisa: contém o contexto do estudo, o indicador de


referência, o objetivo geral, os objetivos específicos e o público alvo do
estudo;
o Métodos e Técnicas de Pesquisa: contém as técnicas de pesquisa
utilizada no estudo, o plano amostral e o local de realização do estudo;
o Detalhamento do Roteiro de Pesquisa: contém informações sobre a
elaboração do roteiro de pesquisa, o conteúdo e testes;
o Detalhamento do Plano de Recrutamento: contém informações sobre o
processo de recrutamento de participantes para o estudo, com a explicação
da técnica utilizada durante essa etapa e a definição do perfil dos
participantes;
o Detalhamento dos Procedimentos nos trabalhos de Campo: contém
informações sobre a estrutura de campo, equipe técnica e as conclusões do
trabalho de campo;
o Análise dos Resultados da Pesquisa: contém a exposição dos resultados
do estudo de modo categorizado, em que se mescla a análise dos dados, a
discussão teórica e o uso técnico de trechos de entrevistas;
o Conclusões/Considerações Finais: contém um resumo sobre os
principais achados do estudo;
o Recomendações: contém um parecer técnico-analítico objetivo dirigido
ao Governo Federal;
o Anexos: contém os anexos da pesquisa, como roteiro de entrevista e o
perfil da população recrutada para o estudo.

A apresentação dos resultados é uma síntese do percurso metodológico da


pesquisa e dos principais achados do estudo. Da mesma forma que o relatório, a
apresentação estará dividida em blocos de modo que facilite a leitura das informações
metodológicas e da exposição dos resultados finais. Dessa forma, a apresentação se divide
da seguinte forma: 1) Introdução do estudo, com a apresentação do cenário legal e os
objetivos da investigação; 2) Metodologia e amostra, com o tipo de abordagem, roteiro e
técnica, o público alvo, a localização, as datas de realização do estudo e a distribuição da
amostra; 3) Resultados da pesquisa, que devem estar separados em blocos a partir das
categorias analíticas construídas e com os principais achados e a exposição de depoimentos
coletados nas entrevistas e; 4) Conclusões e recomendações, espaço destinado a fazer um
resumo geral dos principais achados investigativos e as recomendações de ações dirigidas
ao Governo Federa a partir de tais resultados.

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4. Pesquisa quantitativa

A pesquisa quantitativa visa coletar informações comparáveis de um conjunto de


unidades observáveis, usando conceitos, métodos e procedimentos bem definidos. Estas
unidades podem ser pessoas, famílias, empresas, entre outras, e são definidas pelo
problema de pesquisa que se deseja investigar, sendo crucial que tais unidades sejam
comparáveis entre si (CEBRAP, 2016).

Existem dois tipos de investigação quando se trata de pesquisa quantitativa:


experimentação e pesquisas de levantamento de dados (survey, em inglês). Na
experimentação, se deseja saber a resposta de unidades submetidas a algum tratamento
em comparação a unidades que não receberam o tratamento. Neste caso, há interferência
do pesquisador, uma vez que este exerce controle sobre quem recebe ou não o tratamento.
Já nas pesquisas por levantamento de dados, são observadas características das unidades
de uma determinada população, utilizando questionários ou entrevistas. Tais observações
são feitas sem a interferência do pesquisador nos resultados. As pesquisas quantitativas
por experimentação não serão objeto deste manual.

As pesquisas de levantamento de dados podem coletar informações de todas as


unidades que compõem uma população (censo) ou de apenas um subconjunto de unidades
desta população (amostra). Fazer um censo é recomendado quando a população é pequena
ou seu custo é relativamente baixo. Já a amostragem é indicada quando a população é
muito grande ou o custo (em dinheiro ou tempo) para obter as informações é muito
elevado (Bolfarine; Bussab, 2005).

Quando falamos em pesquisa quantitativa por amostragem estamos nos remetendo


a um tipo de investigação que se fundamenta em dados estatísticos, pretendendo gerar
medidas com determinada precisão e confiança e que permitam uma análise aprofundada
e científica. A realização da pesquisa se dá por meio da coleta de informações sobre
características de interesse de uma população utilizando conceitos, métodos e
procedimentos bem definidos.

As pesquisas quantitativas de opinião pública são um tipo de pesquisa por


levantamento de dados, onde pessoas formam a população de interesse. A investigação
da opinião se dá através da percepção da população em relação a um determinado tema
ou assunto, utilizando entrevistas ou questionários autoaplicáveis.

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Departamento de Pesquisa de Opinião Pública – SECOM/PR

As perguntas realizadas na aplicação do questionário ou entrevista com o público


definido, posteriormente são codificadas em variáveis e armazenadas em um banco de
dados. Através de técnicas estatísticas apropriadas são calculadas, para as pesquisas por
amostragem, as estimativas dos parâmetros populacionais, que é parte central dessa
metodologia.

As duas técnicas de pesquisa mais utilizadas para a coleta de dados em pesquisas


quantitativas de opinião pública são as entrevistas face a face e as entrevistas telefônicas,
ambas discutidas a seguir. Em ambas as técnicas, pode-se resumir as principais etapas da
pesquisa nos seguintes itens:

1. Definição dos objetivos;


2. Definição da metodologia a ser utilizada;
3. Elaboração do instrumento de coleta;
4. Pré-teste do instrumento de coleta;
5. Coleta e checagem dos dados;
6. Análise e interpretação dos resultados;
7. Apresentação dos resultados.

4.1.Tipos de pesquisa

4.1.1. Pesquisa quantitativa face a face

Na pesquisa face a face podemos identificar como principal característica a


utilização de questionário estruturado como ferramenta de estudo, além disso, esse tipo
de pesquisa realiza entrevista presencial junto ao entrevistado. Outra característica é a
determinação do público e local de realização da coleta de dados que irá depender de
definições metodológicas previstas no planejamento da pesquisa.

Realizada de forma presencial, a pesquisa face a face possui uma alta taxa de
resposta, porém em contrapartida exige entrevistadores com preparo de excelência.
Apesar da entrevista quantitativa ser pautada por um questionário estruturado e mais
rígido, do que as pesquisas qualitativas, a interação entre aplicadores e entrevistados é
parte essencial da coleta dos dados. A atuação do entrevistador deve ser imparcial, mas

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acolhedora ao mesmo tempo, dado que ele precisa que o respondente forneça as suas
opiniões mais sinceras e fidedignas.

Caso os entrevistadores não sejam bem treinados e não exerçam a clareza e


imparcialidade, podem interferir nas respostas dos entrevistados e dessa forma alterar os
resultados da pesquisa, o que inviabiliza e descaracteriza seu objetivo.

Outro limitante para esse tipo de pesquisa é o “tempo” já que depende da


disponibilidade dos entrevistados para receber o entrevistador em sua residência, o que
pode tornar a pesquisa demorada e assim inviabilizar a entrega de resultados com maior
agilidade e urgência.

4.1.2. Pesquisa quantitativa telefônica

A pesquisa telefônica é uma técnica de pesquisa em que a coleta de dados é


realizada através de entrevistas telefônicas. Assim como a pesquisa com entrevistas face
a face, esse tipo de técnica utiliza como ferramenta questionários estruturados, com o
objetivo de ouvir e captar a opinião das pessoas.

Quando falamos das vantagens da pesquisa quantitativa telefônica, podemos


destacar a rapidez na obtenção das respostas e a possibilidade de alcançar uma amostra
mais espalhada geograficamente a um custo mais baixo, quando comparada à pesquisa
quantitativa face a face.

Em relação às limitações, temos como principais desvantagens o fato de nem todos


possuírem telefone, a impossibilidade de usar recursos visuais e a limitação de coletar
informações mais detalhadas. Segundo dados da PNAD Contínua do IBGE, em 5,4% dos
domicílios particulares permanentes do Brasil não havia qualquer tipo de telefone no
quarto trimestre de 2016.

A entrevista telefônica é feita com base na comunicação verbal ao invés da visual.


Caso ocorram situações tais como palavras mal pronunciadas ou dificuldade na audição,
os resultados da pesquisa poderão ser prejudicados, já que os entrevistados respondem de
acordo com os estímulos auditivos. Adicionalmente, o uso de recursos visuais pode ser
útil em pesquisas de opinião, tais como o uso de cartelas onde as possíveis respostas para
uma determinada pergunta estão dispostas em formato de disco, eliminando o risco de
que uma ordenação nas respostas possa causar algum viés. Uma medida que pode

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minimizar este problema é adotar um rodízio na ordem em que as categorias de respostas


são lidas para os entrevistados.

Também não se pode deixar de considerar que no momento que atendem ao telefone
as pessoas podem estar envolvidas em outras atividades, como por exemplo, assistindo
televisão ou preparando refeições, o que pode significar não dar muita atenção às
entrevistas. Portanto, é recomendável que os questionários tenham curta duração e sejam
bem objetivos.

4.2.Metodologia

As pesquisas quantitativas de opinião pública são feitas por meio de amostragem,


uma vez que seus resultados só farão sentido caso obtidos de maneira ágil, já que muitas
vezes o interesse é avaliar a percepção sobre temas atuais e voláteis. Por esse motivo,
também não é possível utilizar dados secundários (aqueles que já foram coletados por
outras instituições e disponibilizados para consulta) para aferir a opinião pública.

Como destacamos anteriormente, a utilização de censos é em muitas vezes


impossibilitada pelos altos custos (monetários e de tempo) de se ter acesso a toda a
população envolvida, principalmente em grandes populações. A definição se a pesquisa
será realizada por amostragem ou censo, se dá na construção do planejamento da
pesquisa, pois assim teremos a possibilidade de se detalhar o objetivo, tempo, orçamento
e da população a ser investigada.

Ao se optar por pesquisas por amostragem, algumas considerações devem ser


observadas para que os resultados da pesquisa atendam às expectativas iniciais. A
primeira delas é que os objetivos da pesquisa devem ser claros e bem especificados. O
mesmo vale para o instrumento de coleta. Os procedimentos operacionais para o trabalho
de campo, treinamento dos entrevistadores e o controle de qualidade dos dados também
são etapas fundamentais. Mais adiante serão discutidos cuidados que devem ser tomados
na preparação de questionários e controle de qualidade dos dados levantados.

Outro ponto crucial para se atingir os objetivos da pesquisa diz respeito à seleção
de uma amostra que represente bem a população a ser estudada. Alguns conceitos sobre
amostragem e os principais métodos para seleção de amostras utilizados em pesquisas de
opinião pública são discutidos a seguir.

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4.2.1. Amostragem

O uso de amostragem é bastante comum no nosso dia a dia. Como exemplos


podemos citar a investigação das condições de saúde de um paciente através da coleta de
uma amostra de sangue, ou ainda experimentar se a temperatura de uma sopa está boa
provando uma pequena quantidade. Tais procedimentos têm a finalidade de inferir
características sobre o todo com base em resultados de uma amostra (Bolfarine; Bussab,
2005).

Entretanto, as conclusões sobre as características do todo poderão variar de acordo


com os procedimentos adotados para a seleção da amostra. No exemplo da sopa, é preciso
que ela seja bem mexida antes de experimentá-la, de modo que a amostra reflita a
temperatura correta. Para que uma amostra seja adequada para fazer inferências
confiáveis sobre o todo é preciso que métodos e procedimentos sejam corretamente
adotados. Para tanto, faz-se necessário a definição de alguns conceitos básicos
apresentados a seguir:

I. Unidade elementar: se refere ao objeto ou entidade portadora da


informação a ser coletada.
II. Unidade amostral: é aquela selecionada em algum estágio da amostra. Será
visto mais adiante que planos amostrais com múltiplos estágios usam
diferentes unidades amostrais.
III. Unidade de resposta ou unidade informante: é quem fornece às respostas
na pesquisa. Difere da unidade elementar em alguns casos, por exemplo,
quando um chefe de domicílio dá informações sobre os demais integrantes
da família. Neste caso a unidade de resposta é o chefe do domicílio e as
unidades elementares todos os moradores do domicílio.
IV. População: conjunto de todas as unidades elementares.
V. População alvo: conjunto de todas as unidades elementares da população
para a qual se gostaria de obter informação. Por exemplo, em pesquisas
eleitorais a população alvo é aquela que pode votar, ou seja, com 16 anos
ou mais de idade.
VI. Sistema de referências: fontes que descrevem o universo a ser investigado,
ou boa parte dele, e fornecem meios de acesso à população a ser

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pesquisada. Pode ser um cadastro com todas as unidades elementares,


mapas, listas, censos, etc.
VII. População de pesquisa: população a ser realmente coberta pela pesquisa e
que pode ser alcançada usando o sistema de referências.
VIII. Estimação: processo de generalizar a informação da amostra para a
população da qual foi selecionada.
IX. Estimador: expressão matemática do processo de cálculo das estimativas.
X. Estimativa: valor de um estimador calculado com a amostra observada
para estimar o parâmetro de interesse.
XI. Parâmetro: quantidade populacional de interesse.

A especificação do plano amostral adotado na pesquisa deve ser documentada e


disponibilizada juntamente com os resultados. O plano amostral deve especificar: a
população alvo; a população de pesquisa e os cadastros utilizados; a(s) unidade(s) de
amostragem; as unidades informantes; o método para seleção da amostra; o tamanho da
amostra.

A definição da metodologia para o plano amostral é um requisito para a execução


das pesquisas obtidas por meio de levantamento de dados por amostragem. As
metodologias podem ser classificadas em dois tipos: probabilísticas ou não
probabilísticas. Para o primeiro tipo as probabilidades de as unidades serem selecionadas
para a amostra são conhecidas, enquanto que para o segundo tipo não. Em seguida
apresentamos os dois tipos de amostragem e diferentes métodos de seleção das unidades
para cada um deles.

4.2.1.1.Amostragem probabilística

Uma amostra representativa deve permitir a generalização dos resultados para o


conjunto da população. Entretanto, a definição para o conceito de representatividade não
é trivial. Segundo Bolfarine e Bussab (2005, p. 14):

Diante da dificuldade em definir amostra representativa, os estatísticos


preferem trabalhar com o conceito de amostra probabilística, que são os
procedimentos onde cada possível amostra tem uma probabilidade conhecida,
a priori, de ocorrer. Desse modo, tem-se toda a teoria de probabilidade e
inferência estatística para dar suporte as conclusões. (Bolfarine; Bussab, 2005,
p. 14).

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Em amostragem probabilística, toda unidade da população tem que ter uma


probabilidade maior que zero de ser selecionada, além de que as probabilidades de seleção
têm que ser conhecidas e calculáveis. Outra característica importante é que a seleção das
unidades seja feita de forma aleatória. Amostras que não satisfazem estes critérios podem
não permitir a generalização de inferências para a população.

A seguir serão apresentados os principais métodos para seleção de amostras


considerando a amostragem probabilística.

4.2.1.1.1. Amostragem aleatória simples (AAS)

Esse método de seleção é caracterizado por cada unidade elementar ter a mesma
probabilidade de ser selecionada para a amostra. Segundo Cochran (1977), a amostragem
aleatória simples é o processo de selecionar n unidades, das N que compõem a população,
de modo que cada uma de todas as possíveis amostras de tamanho n tenha a mesma
probabilidade de ser selecionada.

O processo de seleção pode ser feito com reposição ou sem reposição das unidades
já selecionadas. Em um processo de seleção com reposição as unidades já selecionadas
podem ser repetidas na amostra. Já para um processo de seleção sem reposição, as
unidades que já foram selecionadas não são repetidas na amostra.

Este plano amostral é o mais simples e é utilizado em planos amostrais mais


complexos. Entretanto, para sua utilização é necessário que o cadastro contenha a relação
de todas as unidades elementares.

4.2.1.1.2. Amostragem sistemática simples

Esse método oferece uma alternativa à amostragem aleatória simples para


selecionar unidades com equiprobabilidade. O processo de seleção é feito através do
seguinte procedimento: seleção de uma unidade, por meio de AAS, entre as k primeiras
unidades do cadastro; as unidades seguintes que farão parte da amostra são obtidas a partir
da primeira unidade selecionada em intervalos de comprimento k; as unidades são
selecionadas sem reposição, e têm a mesma chance (1/k) de serem selecionadas.

A facilidade de execução operacional da amostragem sistemática é sua maior


vantagem. Entretanto, caso exista alguma estrutura implícita na listagem, um viés pode

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ser introduzido na amostra selecionada. Um exemplo desse tipo de situação foi


apresentado em CEBRAP (2016, p. 38):

[...] uma empresa é contratada para realizar uma pesquisa junto a jogadores
profissionais de futebol, recebe dos clubes uma listagem de seus 11 jogadores
na qual eles estão ordenados por posição (primeiro o goleiro, depois os
zagueiros, meios-campos e atacantes) e decide realizar uma amostra
sistemática com intervalos de 11 elementos (o 1º, depois o 12º, depois o 23º e
assim por diante), o elemento selecionado será sempre da mesma posição, o
goleiro.

Para a utilização deste método também é necessário que se tenha um cadastro com
todas as unidades elementares.

4.2.1.1.3. Amostragem estratificada

A amostragem estratificada é um processo de seleção amostral em que a


população é dividida em grupos disjuntos e exaustivos, geralmente mais homogêneos,
chamados de estratos. Alguns exemplos de estratos são regiões geográficas, sexo, faixa
de renda, etc. Uma vez que os estratos estejam definidos, seleciona-se uma amostra dentro
de cada um dos estratos, independentemente. Os parâmetros de interesse são estimados
para cada estrato e a agregação das estimativas nos estratos formam a estimativa para o
conjunto da população.

Dentre as principais vantagens deste método, destacam-se um espalhamento


maior da amostra sobre a população, o que pode fazer a amostra mais “representativa” e
a diminuição da variância amostral, tornando as estimativas mais precisas. Outras
vantagens são a possibilidade de obter estimativas para subgrupos da população e poder
tornar o processo operacionalmente mais conveniente, por exemplo, quando os estratos
são formados por regiões geográficas. Por outro lado, a principal desvantagem é a
necessidade de conhecer as variáveis de estratificação antes da amostragem.

4.2.1.1.4. Amostragem por conglomerados

Os métodos de amostragem descritos até aqui precisam utilizar um cadastro com


a relação de todas as unidades elementares para selecionar os elementos da amostra.
Entretanto, na maioria das situações estes cadastros não existem, não estão disponíveis
ou estão desatualizados. Como exemplo, podemos citar a não disponibilidade do cadastro
de eleitores, que é feito pela Justiça Eleitoral, mas seus dados são sigilosos e não podem

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ser divulgados. Também podemos citar a inexistência de um cadastro das famílias


brasileiras, ou mesmo da população brasileira.

Uma alternativa para lidar com esse problema é o uso de sistemas de referência
auxiliares. Podem ser usados cadastros de grupos ou conglomerados de unidades
elementares quando conhecidos. Como exemplo, caso tenhamos interesse em medir o
conhecimento de alunos em matemática da rede de ensino pública de um determinado
estado. De posse de uma relação das escolas públicas do estado, poderíamos selecionar
uma amostra de escolas públicas (conglomerados) e aplicar uma prova de matemática
para todos os alunos das escolas selecionadas. Nestes casos, quando todas as unidades
elementares dos conglomerados são selecionadas para compor a amostra, o processo é
conhecido como Amostragem por Conglomerados em 1 estágio.

Para muitas situações é razoável supor que as unidades dentro de um determinado


conglomerado são relativamente homogêneas. Nestes casos não há necessidade de
selecionar todas as unidades do conglomerado para responder a pesquisa, ou fazer a prova
de matemática do exemplo acima. Assim, é possível realizar um outro processo de seleção
de unidades dentro dos conglomerados já selecionados, acarretando em uma Amostragem
por Conglomerados em 2 estágios. Os conglomerados selecionados no primeiro estágio
são denominados Unidades Primárias de Amostragem (UPAs), enquanto que as unidades
selecionadas no segundo estágio são as Unidades Secundárias de Amostragem (USAs).
É possível utilizar desenhos amostrais com várias etapas, caracterizando um método de
Amostragem Conglomerada em múltiplos estágios. Ainda no exemplo do desempenho de
alunos em matemática, um desenho amostral mais elaborado poderia ter municípios como
UPAs, escolas como USAs, turmas como Unidades Terciárias de Amostragem (UTAs) e
todos os alunos da turma fazendo a prova de matemática.

Para o caso de pesquisas de opinião pública, o interesse é obter informações de


indivíduos. Geralmente, as populações humanas são organizadas segundo uma hierarquia
definida por regiões, estados, municípios, bairros, domicílios, famílias e pessoas.
Portanto, é possível chegar até os indivíduos através de pesquisas domiciliares.

Uma divisão territorial bastante utilizada em pesquisas domiciliares por


amostragem é a base de setores censitários do IBGE. Um município é dividido em setores
censitários que reunidos formam a área total do município. Cada setor censitário é uma
unidade territorial que contém em média 300 domicílios na área urbana e 200 domicílios
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na área rural. Os setores censitários são atualizados a cada10 anos, quando da realização
do Censo Demográfico. A definição de setor censitário segundo IBGE (2016, p. 284) é:

O setor censitário é a unidade de controle cadastral formada por área contínua,


integralmente contida em área urbana ou rural, cuja dimensão, número de
domicílios e de estabelecimentos permitem ao Recenseador cumprir suas
atividades em um prazo determinado, respeitando o cronograma de atividades.
O setor censitário é a área de trabalho do Recenseador.

Os setores censitários constituem a menor unidade territorial, sendo utilizada não


somente no Censo Demográfico, mas também em outras pesquisas domiciliares por
amostragem do IBGE. O cadastro de setores censitários e a relação dos endereços dos
domicílios de cada setor censitário são disponibilizados pelo instituto e podem ser
utilizados em outras pesquisas. Entretanto, como sua atualização só é feita nos anos em
que ocorrem os Censos Demográficos (de 10 em 10 anos), o cadastro se torna
desatualizado à medida em que vai se afastando da última atualização, devido
principalmente a novas construções. O IBGE faz uma nova operação de listagem dos
domicílios nos setores censitários selecionados para as demais pesquisas domiciliares que
ocorrem em anos diferentes do Censo Demográfico, tais como a Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios (PNAD) e a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF).

Para garantir que todos os domicílios tenham uma probabilidade de serem


selecionados na amostra e que esta probabilidade seja conhecida, é necessário que se
realize uma operação de listagem dos domicílios nos setores censitários antes de realizar
a pesquisa. Em situações onde são realizadas várias pesquisas em um ano não é
economicamente viável realizar uma operação de listagem dos domicílios para cada uma
das pesquisas. Neste caso é razoável realizar uma única atualização do cadastro, nos
municípios e setores censitários que foram selecionados probabilisticamente, antes de
fazer a primeira pesquisa do ano. De posse desta listagem atualizada, poderiam ser
selecionados probabilisticamente os domicílios a serem visitados em cada edição da
pesquisa durante o ano. Para o ano seguinte é recomendável uma nova amostra de
municípios e setores censitários, assim como fazer a operação de listagem dos domicílios
para estes setores censitários selecionados.

Além de possibilitar a implementação de pesquisas por amostragem quando não


temos um cadastro de unidades elementares da população disponível, a amostragem por
conglomerados possui outra grande vantagem: a redução de custos e tempo. Quando a
população é muito dispersa no território, uma amostra aleatória simples também será

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dispersa. Ao selecionar áreas específicas onde a pesquisa será realizada, os custos e o


tempo de deslocamento de uma unidade para outra são reduzidos consideravelmente.
Além disto, proporciona uma melhor supervisão e maior controle do trabalho de campo.

Entretanto, a amostragem por conglomerados também traz desvantagens. Existe


perda de precisão neste método devido à homogeneidade dentro dos conglomerados, ou
seja, há uma tendência de unidades vizinhas se parecerem. Quanto mais homogêneos
forem os conglomerados, menor será a eficiência em relação à amostragem aleatória
simples.

4.2.1.1.5. Amostragem com probabilidades desiguais

Até aqui foram apresentadas diferentes estratégias para seleção de amostras, mas
considerando que todas as unidades têm a mesma chance de entrar na amostra, ou seja,
com as mesmas probabilidades de seleção. Entretanto, as unidades de amostragem
comumente possuem tamanhos desiguais e ignorar essa variação de tamanho pode
resultar em desenhos amostrais ineficientes.

Quando existe informação auxiliar precisa sobre o tamanho das unidades


amostrais, esta informação deve ser utilizada na seleção das unidades para compor a
amostra. Este procedimento é denominado de Amostragem com Probabilidades
Proporcionais ao Tamanho, ou simplesmente PPT. Este método é bastante utilizado em
pesquisas domiciliares em múltiplos estágios, quando os municípios e/ou setores
censitários são selecionados com PPT, considerando a população ou o número de
domicílios como tamanho. Assim, municípios ou setores censitários maiores (neste caso
com mais população ou número de domicílios) têm maior probabilidade de serem
selecionados do que os menores.

Este método é recomendado quando existe grande variabilidade no tamanho das


unidades amostrais e quando há uma forte correlação entre o tamanho das unidades e as
variáveis de interesse. Para o caso de pesquisas de opinião pública é razoável supor que
a opinião média de quem mora em cidades grandes pode diferir da opinião média de quem
mora em cidades menores, por exemplo, em questões mais controversas é possível que
os moradores de cidades menores sejam mais conservadores.

70
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4.2.1.1.6. Combinação de procedimentos amostrais

Vimos até agora procedimentos de amostragem isoladamente, mas é comum que


planos amostrais usem mais de um método para a seleção da amostra. Segundo Bianchini
e Albieri (2002), a maioria das pesquisas domiciliares do IBGE utiliza desenhos amostrais
com amostragem de conglomerados em dois ou três estágios e estratificação das unidades
primárias de amostragem (UPAs). As UPAs, geralmente municípios ou setores
censitários, são selecionadas com probabilidade proporcional ao tamanho – PPT, com a
medida de tamanho sendo o número de domicílios de acordo com os dados do último
Censo Demográfico disponível. Dentro de cada setor censitário, a seleção dos domicílios
é feita por amostragem aleatória simples sem reposição ou por amostragem sistemática
simples.

4.2.1.2.Amostragem não probabilística

Amostras não probabilísticas são todas aquelas em que as probabilidades de


seleção das unidades não são conhecidas antes do processo de seleção. Podemos citar
como exemplos de amostras não probabilísticas a amostragem intencional e a
amostragem por cotas. Na amostragem intencional, também conhecida por julgamento, a
seleção é feita com base em conhecimentos prévios sobre os elementos da população.
Com base nesses conhecimentos o pesquisador julga quais elementos têm as
características que lhe interessa para selecioná-lo ou não para a amostra.

A amostragem por cotas é utilizada para tentar selecionar uma miniatura da


população alvo, na maioria das vezes em termos sociodemográficos. Desta forma, as
pessoas selecionadas corresponderiam proporcionalmente à composição da população
considerando sexo, faixa etária, escolaridade e classe social, por exemplo. Uma vez
definido o número de pessoas em cada uma das cotas, o entrevistador aborda a pessoa
com as características indicadas e aplica o questionário, repetindo o procedimento até que
a quantidade de questionários que lhe foi atribuída seja concluída. As entrevistas podem
ser feitas em pontos de grande fluxo de pessoas ou em domicílios. Neste método não se
conhece a probabilidade de um indivíduo da população fazer parte da amostra.

Outra limitação da amostragem por cotas é a dificuldade de reproduzir uma


amostra que seja uma verdadeira “miniatura da população”. Segundo Gilbert et al (1977)
“A ideia de microcosmo raramente funcionará em problemas sociais complexos porque

71
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sempre existem variáveis adicionais que podem ter consequências importantes para a
resposta” (apud Langer, 2015). Adicionalmente, segundo Langer (2015), um viés pode
ser introduzido através da seleção feita pelos entrevistadores dentro de cada grupo de
cotas que lhe foi atribuído.

4.2.2. Amostragem probabilística versus amostragem não probabilística

A amostragem por cotas ainda é bastante utilizada por institutos de pesquisa de


opinião pública, principalmente devido aos custos mais baixos e uma maior agilidade
comparada à amostragem probabilística. Entretanto, é preciso ter cuidado em optar pela
economia em tempo e recursos, tendo em vista as consequências relativas à precisão das
informações obtidas (Ferraz, 1996).

Segundo Langer (2015) “pesquisadores concluíram que a amostragem


probabilística é um método cientificamente rigoroso para selecionar amostras
representativas da população de forma eficiente e econômica”, pois nesta técnica as
probabilidades de seleção são conhecidas e diferentes de zero, obedecendo o que diz a
teoria de inferência estatística. Ferraz (1996, p. 22) resume da seguinte forma:

Através da teoria da amostragem, é possível se ter ideia da precisão das


estimativas amostrais, justificadas pela existência de uma distribuição de
probabilidade associada à amostra [...]. Assim, não há sentido algum no uso de
fórmulas de amostras probabilísticas para estimação da variabilidade de dados
provenientes de levantamentos por cotas [...] ou de qualquer outro plano
amostral de caráter não probabilístico. Por fim, não é demais ressaltar: o
argumento estatístico para a validade de inferências repousa, então, no
processo de aleatorização associado à técnica de amostragem.

Diante do exposto, é fortemente recomendável que as pesquisas de opinião pública


sejam realizadas observando o critério científico da inferência estatística, uma vez que
esta permite a estimação da variabilidade dos dados, tornando possível a definição de
grau de confiança da pesquisa e de margens de erro associadas às estimativas de interesse.

4.2.3. Planos amostrais probabilísticos para pesquisas de opinião pública

Para pesquisas de opinião pública com entrevistas face a face, um plano amostral
probabilístico possível pode ser obtido por um desenho similar ao das pesquisas
domiciliares por amostragem do IBGE. O plano amostral pode ser em múltiplos estágios,
com estratificação das UPAs e utilizando PPT na seleção das UPAs. Podem ser usadas as
informações dos setores censitários, procedendo com uma operação de atualização dos
domicílios para os setores selecionados. De posse do cadastro atualizado seleciona-se por

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um método probabilístico os domicílios que farão parte da amostra. Finalmente, como


moradores de um mesmo domicílio podem ter opiniões distintas, faz-se necessário uma
outra etapa de seleção, a de uma pessoa dentre os moradores dos domicílios selecionados.

Para as pesquisas de opinião pública com entrevistas telefônicas há a possibilidade


de utilizar o cadastro da Anatel para a seleção de números telefônicos. Este cadastro é
disponibilizado e tem atualizações periódicas. Há um cadastro para o Serviço Telefônico
Fixo Comutado (STFC) com telefones fixos e o cadastro para o Serviço Móvel Pessoal
(SMP) com telefones móveis. Ambos são compostos por números telefônicos que estão
habilitados e números telefônicos disponíveis para habilitação. Infelizmente os cadastros
não possuem informações adicionais para uma melhor definição do plano amostral.
Entretanto, é possível utilizar o código de Discagem Direta à Distância (DDD) para
realizar uma estratificação das áreas pesquisadas. Com algumas exceções, é possível
relacionar o DDD com o estado onde o número de telefone foi habilitado. Assim, a
estratificação poderia ser feita por estados e tipo de telefone, fixo ou móvel. Em cada
estrato pode ser selecionada uma amostra aleatória simples de números telefônicos.

4.2.4. Estimação dos parâmetros e intervalos de confiança

Quando tivermos os dados da amostra obtidos de acordo com o plano amostral da


pesquisa, o próximo passo é estimar os parâmetros de interesse. A distância entre o
verdadeiro valor do parâmetro populacional e o valor de sua estimativa é o erro que
cometemos no processo de estimação. Este erro pode ser decomposto pela soma do erro
amostral mais o erro não-amostral. Os erros amostrais são aqueles provenientes do
processo de amostragem e podem ser mensurados se forem utilizados métodos
probabilísticos na seleção da amostra. Já os erros não-amostrais ocorrem por fatores
independentes do plano amostral, podendo serem provenientes da coleta de dados
incorreta ou em qualquer outra etapa da pesquisa. Para minimizar os erros não-amostrais
é necessário ter um controle rígido sobre todas as etapas da pesquisa, enquanto que o erro
amostral é inerente a todos os levantamentos por amostragem, mas tende a diminuir
quando o tamanho da amostra aumenta.

Como sempre existe um erro associado a uma estimativa, é importante ressaltar


nas análises que cada estimativa tem um intervalo de confiança, que fornece a amplitude
de valores plausíveis baseada nas observações de apenas uma amostra. Todo intervalo de

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confiança possui um nível de confiança, que traduz a probabilidade do intervalo conter o


parâmetro populacional desconhecido.

No capítulo deste manual sobre análise dos dados será apresentada uma relação
com softwares capazes de calcular as estimativas de parâmetros e seus respectivos
intervalos de confiança com dados obtidos por meio de amostras probabilísticas.

4.3.Instrumentos de Pesquisa

Após a especificação dos objetivos a serem investigados e da definição da


metodologia a ser utilizada, a próxima etapa da pesquisa consiste em elaborar um
instrumento que permita que os dados sejam coletados. Os instrumentos mais usuais
utilizados para a coleta de dados são os questionários, que podem ser respondidos pelo
próprio pesquisado ou podem ser preenchidos por entrevistadores. Neste capítulo do
manual, vamos trabalhar apenas com questionários respondidos por meio de entrevistas
face a face ou telefônicas.

4.3.1. Questionário

Um questionário é em suma a tradução dos objetivos da pesquisa em perguntas


claras e objetivas, por isso a sua construção é um ponto essencial para toda a pesquisa.
Durante a sua construção, o pesquisador deve ter em mente a pergunta que o seu estudo
pretende responder. Ressaltando que em sua grande maioria as entrevistas das pesquisas
quantitativas não são realizadas pelos pesquisadores, o que ressalta a importância do
respeito ao conjunto de regras, assim como considerar a experiência e conhecimento dos
pesquisadores sobre o assunto para que o questionário consiga alcançar os objetivos da
pesquisa.

A priori, devemos destacar a distinção entre o tipo de questões mais presentes em


questionários de pesquisa quantitativas. A mais comum são as perguntas fechadas,
seguidas das abertas e das semiestruturadas. As perguntas fechadas são as que as respostas
estão pré-estabelecidas pelo pesquisador, cabendo ao entrevistado escolher entre uma das
opções. Este tipo de pergunta, cerceia a liberdade do entrevistado em responder o
questionamento, mas facilita o trabalho posterior do pesquisador. Possibilitando a
elaboração de respostas mais rápidas. Por isso, ao construir respostas, o pesquisador deve
ter claro a abrangência e a efetividade da resposta. As respostas devem ser mutuamente

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excludentes e abarcar todas as possibilidades de respostas. Também existem as perguntas


fechadas em que o entrevistado pode indicar mais de uma alternativa de resposta.

O segundo tipo mais comum de perguntas, são as abertas. Nestas o entrevistado


pode responder livremente aos questionamentos, imprimindo a sua linguagem e
raciocínio. Contudo, esse tipo de pergunta demanda um trabalho posterior do pesquisador,
pois ele terá de codificar antes de tabular a resposta, como buscar uma forma de agregar
as diferentes respostas de cada entrevistado. Apesar de ser, em muitas vezes uma resposta
mais rica conceitualmente, a sua análise é mais complexa, cansativa e demorada.

Já as perguntas semiestruturadas, são perguntas fechadas, mas que apresentam já


uma rama de possíveis respostas, mas abrindo a possibilidade para que o entrevistado
fornece uma resposta diferente das previamente decididas. Este tipo de pergunta
possibilita que sejam realizadas a exploração livre da opinião do entrevistado, mas ao
mesmo tempo por possuir uma pré-tabulação das respostas, o que proporciona respostas
mais ágeis ao problema investigado.

A adoção de um formato de pergunta tem de ser planejada na construção de toda


a investigação. Cada uma possui vantagens e desvantagens, como apresentamos acima,
por isso qual deve ser escolhida depende de cada investigação a ser empreendida. Não
obstante, devido as características de cada abordagem, como detalhamos no capítulo
anterior, perguntas abertas são mais desaconselháveis em pesquisas telefônicas.

A seguir, listamos uma serie de pontos que devem ser levados em conta durante a
construção de um questionário. A lista apresentada não pretende ser definitiva ou
completa, alguns itens são citados em Marconi e Lakatos (2003), Gil (2002) e Babbie
(1999), outros são provenientes de nossa experiência e prática. As seguintes
recomendações se aplicam tanto para os questionários de pesquisas com entrevista face a
face quanto a questionários de pesquisas telefônicas:

I. O questionário deve conter instruções. Algumas instruções serão lidas para os


entrevistados e outras são apenas para os entrevistadores. É necessário que seus
formatos sejam diferentes para evitar confusão por parte do entrevistador. As
instruções para o entrevistador devem conter os textos que o entrevistador deve
ler, exatamente como escritos, para a introdução, conclusão e mudanças de temas
no questionário.

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II. O tempo de aplicação do questionário não deve ser muito longo, pois a fadiga do
entrevistado pode fazer com que suas respostas não traduzam o que realmente
pensa ou, até mesmo, fazer com que desista de responder a pesquisa antes do fim.
III. O questionário deve ser organizado em blocos de assuntos para que as perguntas
sejam agrupadas de forma a manter uma sequência lógica.
IV. Deve-se priorizar as questões fechadas com alternativas de respostas exaustivas.
Este tipo de pergunta facilita a tabulação dos dados e análise dos resultados.
V. As questões devem ser formuladas de forma clara e específica.
VI. Deve se levar em conta o nível de informação exigido dos entrevistados para a
elaboração das questões. Os respondentes devem ser capazes de compreender as
perguntas.
VII. As perguntas devem ter relevância para os entrevistados. Caso contrário os
entrevistados podem expressar opiniões sem nunca sequer terem pensado no
assunto.
VIII. As perguntas devem ser curtas, de forma a facilitar o entendimento do respondente
e não o cansar.
IX. Evitar perguntas negativas. É possível que alguns respondentes não se atentem
para a palavra “não” e respondam o oposto do que pensam.
X. As perguntas devem possibilitar apenas uma interpretação.
XI. Cada pergunta deve se referir a uma única ideia por vez. Evite perguntas duplas.
XII. De forma geral, o questionário deve ser iniciado com perguntas mais simples,
deixando as mais complexas mais para o final.
XIII. Evitar perguntas com palavras estereotipadas.
XIV. Evitar perguntas com nomes de personalidades que possam influenciar as
respostas de maneira positiva ou negativa.
XV. Perguntas que são repetidas em várias pesquisas não devem ter modificações de
uma pesquisa para outra. O uso da mesma pergunta em diferentes pesquisas ao
longo do tempo é uma boa maneira de construir uma referência e medir as
mudanças nas atitudes dos respondentes.
XVI. É preciso ter atenção com a ordem em que as perguntas são dispostas no
questionário. A ordem na qual são feitas as perguntas pode afetar a resposta.

Nas pesquisas telefônicas os questionários devem ser objetivos e não muito


extensos devido à possibilidade de o pesquisado desligar o telefone ou até mesmo a
possibilidade de queda da ligação antes da conclusão da pesquisa. Já para a pesquisa face
a face, as taxas de resposta às entrevistas são maiores do que para as telefônicas, o que
permite que sejam utilizados questionários mais extensos, mas sempre usando o bom
senso para não cansar os pesquisados.

Para finalizar, ressaltamos que em pesquisas face-a-face temos a oportunidade de


usar materiais visuais (como cartões, listagens, escalas), para ajudar na lembrança do

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entrevistado, o que não é possível em pesquisas telefônicas. A construção do instrumento


de pesquisa deve ter isso em mente, pois temos de contar com a realização da explicação
destes por via oral. Assim, como fazer o entrevistado lembrar de muitas opções, sejam
estas de respostas ou de itens, é mais difícil via telefone.

4.3.2. Pré-teste do questionário

Após a elaboração do questionário, é preciso testar sua qualidade antes de iniciar


a pesquisa, aplicando-o a um pequeno grupo de pessoas da população que se pretende
estudar. O pré-teste visa garantir que a técnica de pesquisa não será alterada mesmo que
os entrevistadores sejam diferentes, que as perguntas estejam sendo compreendidas pelos
entrevistados e se estão sendo coletadas as informações esperadas.

Os resultados do pré-teste podem evidenciar possíveis falhas no questionário, tais


como: “inconsistência ou complexidade das questões; ambiguidade ou linguagem
inacessível; perguntas supérfluas ou que causam embaraço ao informante; se as questões
obedecem a determinada ordem ou se são muito numerosas etc.” (Marconi; Lakatos,
2003, p. 203). Nesse momento ainda é possível realizar alterações que corrijam as falhas
apresentadas no questionário que possam impactar os resultados da pesquisa.

Caso necessário, o pré-teste pode ser aplicado mais de uma vez, até que não sejam
mais detectados problemas no instrumento de pesquisa. Os entrevistados no pré-teste não
devem fazer parte da amostra da pesquisa, de onde provém os dados que serão analisados
para verificar os objetivos finais da pesquisa.

4.4.Coletas de Dados

A etapa de coleta de dados é de fundamental importância para a pesquisa, não


recebendo nem mais nem menos destaque se o tipo de pesquisa é qualitativa ou
quantitativa. Levantamentos que são feitos para avaliar a opinião das pessoas, exigem um
bom planejamento para a coleta dos dados. Quando negligenciada, os resultados da
pesquisa podem se tornar inválidos, tanto no propósito de generalização dos resultados
para a população, quanto para o entendimento do problema de pesquisa delimitado
inicialmente.
A coleta de dados, ou trabalho de campo, consiste na etapa em que os instrumentos
de pesquisa são aplicados na amostra selecionada para o levantamento das informações
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desejadas. Para as pesquisas de opinião quantitativas, face a face ou telefônicas,


geralmente a coleta se dá por meio de entrevistadores que preenchem questionários com
as respostas dos entrevistados. Outra forma de coleta de dados, menos utilizada, se dá
quando os próprios pesquisados preenchem as respostas do questionário, enviando as
respostas por correio ou pela internet.
A técnica de coleta de dados que utiliza entrevistadores tem vantagens e
desvantagens em relação ao uso de questionários auto administrados. As taxas de resposta
costumam ser maiores em levantamentos que contam com entrevistadores. Por outro lado,
a presença do entrevistador, dependendo de sua postura, pode acabar exercendo
influência nas respostas do pesquisado. Para minimizar a influência dos entrevistadores
durante a coleta, assim como outros fatores que possam interferir nos resultados da
pesquisa, é preciso seguir rigorosamente um conjunto de procedimentos para controlar a
aplicação dos questionários.
Para que os resultados da pesquisa feita por amostragem probabilística possam ser
generalizados para a população alvo, é necessário que os entrevistados sejam aqueles
definidos pelo plano amostral. Quando houver recusa do entrevistado em responder a
pesquisa, deve-se entrevistar outros indivíduos de acordo com o critério de reposição
amostral definido pelo estatístico responsável.
O entrevistador também exerce um papel fundamental para que o êxito da
pesquisa, devendo ser treinados antes do trabalho de campo e supervisionados durante a
coleta de dados. É necessário que o entrevistador mantenha uma postura neutra e não
interfira nas respostas do pesquisado. O treinamento deve incluir instruções de abordagem
ao entrevistado, de comportamento durante as entrevistas, instruções gerais sobre a
pesquisa e instruções específicas sobre o questionário.
A supervisão do trabalho dos entrevistadores é necessária para garantir a que os
entrevistadores estão seguindo o que lhes foi ensinado no treinamento. Deve-se ter uma
rotina de acompanhamento do trabalho dos entrevistadores com a finalidade de corrigir
eventuais problemas, como por exemplo dificuldades na realização de entrevistas e até
mesmo fraudes. Adicionalmente, é necessário fazer uma checagem das entrevistas
realizadas, fazendo contato com uma amostra1 dos entrevistados ou ouvir a gravação das
entrevistas para validar as informações prestadas.

1
Usualmente 20% das entrevistas de cada entrevistador.

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Atualmente a coleta de dados, tanto para pesquisas face a face como para
pesquisas telefônicas, pode ser feita com o auxílio de computadores. O uso da tecnologia
permite que os questionários já estejam armazenados em meio digital e os entrevistadores
vão fazendo a marcação das respostas diretamente no computador, que pode ser de mesa
para as pesquisas telefônicas ou portáteis para as pesquisas face a face. Desta forma, o
trabalho de codificação para as perguntas fechadas é feito na programação do questionário
no sistema antes do início da coleta de dados. Para as perguntas abertas a codificação das
respostas deve ser feita posteriormente à coleta, onde o pesquisador procederá com a
codificação através de análise criteriosa das respostas.
Além da vantagem óbvia de não precisar de um processo de digitação posterior à
coleta dos questionários respondidos, é possível já realizar um procedimento de crítica
dos questionários durante a entrevista de modo que inconsistências entre respostas já
sejam corrigidas durante a própria coleta de dados.
O avanço das tecnologias de comunicação permite que os dados dos questionários
sejam diretamente transmitidos para um sistema central de processamento, onde o
pesquisador tem acesso em tempo real aos dados, à medida que forem sendo digitados ou
ao fim de cada entrevista. Para as pesquisas face a face, os dispositivos de coleta de dados
mais modernos permitem a gravação das coordenadas de georrefenciamento, marcando o
local onde cada entrevista foi realizada. Esta informação pode ser utilizada para fins de
auditoria.
4.5.Análises

Terminada a coleta e crítica dos dados, a próxima etapa da pesquisa é a de análise


e interpretação dos resultados, onde o material bruto adquirido na pesquisa de campo é
transformando em conhecimento.

Os dados coletados e criticados são armazenados em um banco de dados,


geralmente disposto em forma de tabela(s), onde os indivíduos são dispostos nas linhas e
as respostas para cada pergunta dispostas nas colunas. As colunas de um banco de dados
também são chamadas de variáveis, segundo Barbetta (2008) as variáveis são as
características que podem ser observadas em cada elemento de uma população ou
amostra.

As variáveis podem ser de dois tipos: qualitativas e quantitativas. As qualitativas


são as que tem como resultado uma qualidade (ou atributo) do indivíduo pesquisado, tais

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como sexo, estado civil e classe social. As variáveis quantitativas são resultados de
números de uma contagem ou mensuração, como número de filhos, salário e idade. As
variáveis qualitativas podem ser classificadas em dois tipos: nominais e ordinais. Quando
não existe nenhuma ordenação dos resultados, são chamadas de variáveis qualitativas
nominais, por exemplo, sexo e estado civil. As variáveis qualitativas ordinais são as que
apresentam uma ordem nos resultados, por exemplo, classe social e nível de escolaridade.
As variáveis quantitativas também podem ser de dois tipos: discretas, quando resultam de
uma contagem, como por exemplo número de filhos e contínuas, quando resultam de uma
mensuração, por exemplo peso e altura (Bussab e Morettin, 2003).

As técnicas utilizadas para resumir e analisar os dados dependem de cada tipo de


variável. Em análises univariadas, ou seja, considerando apenas uma variável por vez,
para variáveis qualitativas, tanto nominais quanto ordinais, a apresentação mais indicada
na literatura consiste em tabelas de frequências com os percentuais de cada categoria de
resposta, assim teremos ideia do comportamento da variável em questão. As
representações gráficas recomendadas para este tipo de variável são os gráficos em barras
e os gráficos de setores, onde os percentuais de cada categoria são apresentados.

Para variáveis quantitativas, ainda considerando o caso univariado, também é


indicado o uso de tabelas de frequência. Entretanto, para variáveis contínuas é necessário
construir faixas ou intervalos e apresentar a frequência e percentual para cada faixa. Para
definição dos intervalos, Bussab e Morettin (2003, p. 13) sugerem:

A escolha dos intervalos é arbitrária e a familiaridade do pesquisador com os


dados é que lhe indicará quantas e quais classes (intervalos) devem ser usadas.
[...] Normalmente, sugere-se o uso de 5 a 15 classes com a mesma amplitude.

Os gráficos indicados para representar variáveis quantitativas discretas também


são os de barras e os de setores. Já para as variáveis quantitativas contínuas a
representação gráfica indicada na literatura é o histograma. Segundo Bussab e Morettin
(2003, p. 18) “histograma é um gráfico de barras contíguas, com as bases proporcionais
aos intervalos das classes e a área de cada retângulo proporcional à respectiva
frequência.”.

Outra maneira de resumir dados de variáveis quantitativas é através de medidas-


resumo. As mais usuais são as de medidas de posição central (média, mediana e moda) e
as medidas de dispersão (variância e desvio padrão). A média é a medida mais usada,

80
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porém é bastante influenciada por valores extremos ou outliers e nestas situações não é a
mais indicada para indicar o centro da distribuição. A mediana é a medida que ocupa a
posição central da série de observações quando os dados estão ordenado. Esta medida não
sofre influência de valores extremos. A moda indica o valor mais frequente do conjunto
de dados, sendo que em alguns casos pode haver mais de uma moda.

Apenas a utilização de medidas de posição não traz informações sobre a dispersão


dos dados. A variância e o desvio padrão medem a dispersão dos dados em torno de sua
média. Segundo Bussab e Morettin (2003), o desvio padrão indica em média o “erro”
(desvio) cometido ao tentar substituir cada observação pela média dos dados. Valores
mais altos do desvio padrão indicam que a variabilidade em torno da média é mais alta.

A análise bivariada consiste em avaliar se existe associação ou correlação entre


duas variáveis, ou seja, a mudança de um nível ou unidade de uma variável provoca uma
variação em outra variável. Por exemplo, se a aprovação do Governo variar de acordo
com o nível de instrução em média, caracterizaria uma associação entre as duas variáveis.
Uma tabela de contingência, que mostra o número de observações (ou seus percentuais)
em classes definidas conjuntamente por duas variáveis categóricas, pode ajudar a
encontrar relações entre as variáveis. Quando as duas variáveis são quantitativas, é
recomendável o uso de diagramas de dispersão e o cálculo do coeficiente de correlação.
Quando uma variável é quantitativa e a outra qualitativa, recomenda-se calcular as
medidas descritivas da variável quantitativa para todos os níveis (ou classes) da variável
qualitativa para verificar se existe algum diferencial.

Para o caso em que se queira verificar as relações existentes entre mais de duas
variáveis, existem técnicas estatísticas que podem ser utilizadas a depender dos tipos das
variáveis em questão. Análise de regressão, análise de variância, modelos log-lineares,
análise fatorial, são exemplos de técnicas que podem ser empregadas para estudos com
mais de duas variáveis.

4.5.1. Inferência para dados provenientes de amostras

Todas as técnicas citadas neste capítulo serviram para fazer uma análise descritiva
dos dados da amostra ou, no caso das técnicas multivariadas, para descrever relações para
dados de uma determinada população. Entretanto, os dados de pesquisas quantitativas que
são objeto deste manual são provenientes de amostras e requerem cuidados especiais para

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generalizar a análise para a população alvo. Adicionalmente, é preciso ter em mente que
as medidas calculadas são estimativas e há sempre uma margem de erro a elas associadas.

O tipo de tratamento dispensado a dados de amostras é diferenciado de acordo


com o desenho amostral. Quando o esquema de seleção for do tipo aleatório simples com
reposição, o modelo na amostra é o mesmo que o da população e, neste caso, o plano
amostral é dito ignorável. Entretanto, este tipo de esquema não é muito utilizado em
pesquisas por razões de eficiência e de custo, preferindo-se esquemas amostrais
complexos que incluam estratificação, conglomeração, probabilidades de seleção
desiguais, etc. Para estes desenhos, os modelos na amostra e na população podem ser
muito diferentes (plano amostral não-ignorável) (Pessoa e Silva, 1998). Segundo Skinner
et al. (1989), ignorar nestes casos as informações do plano amostral na análise pode
acarretar vícios na inferência.

Para que os resultados da amostra sejam corretamente generalizados para a


população é preciso considerar nas estimativas dos parâmetros as informações do plano
amostral que foi utilizado na pesquisa. Desta forma, o banco de dados deve conter, além
das respostas dos indivíduos dadas nos questionários, as variáveis do desenho amostral
da pesquisa, tais como: estratos, Unidades Primárias de Amostragem (UPAs), Unidades
Secundárias de Amostragem (USAs) e os pesos amostrais2.

Atualmente os principais softwares de análises estatísticas possuem ferramentas


para calcular as estimativas dos parâmetros de interesse, seus intervalos de confiança e
até mesmo análises estatísticas mais sofisticadas utilizando as informações de planos
amostrais complexos. Como exemplos podemos citar os softwares: SPSS, SAS, Stata e
R. O software R possui a vantagem de ser uma ferramenta gratuita e estar sendo sempre
atualizado por uma comunidade de usuários ativos. Por outro lado, não é uma ferramenta
de fácil aprendizado como as demais soluções proprietárias.

4.6.Exposição dos dados

A preparação e análise do relatório é a última etapa no processo de atividades que


envolvem uma pesquisa de opinião. Nessa etapa, podemos utilizar o mesmo formato de

2
Os pesos amostrais podem ser definidos como o número de unidades da população que cada unidade
amostral representa. O peso amostral básico é dado pelo inverso da probabilidade de incluir a unidade na
amostra, mas podem sofrer ajustes, por exemplo, para não-resposta e ajustes para considerar informações
auxiliares.

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relatório final e de documento de apresentação dos resultados, tanto nas pesquisas face a
face, quanto nas telefônicas.

O relatório final deve consolidar de maneira clara e objetiva todas as informações


adquiridas durante a pesquisa, desde o planejamento até as conclusões. Analogamente às
pesquisas qualitativas, o relatório final das pesquisas quantitativas deve conter os
seguintes pontos:

o Apresentação: contém a base legal da pesquisa realizada pela Secretaria


Especial de Comunicação Social (SECOM), o número do contrato da
pesquisa e a ordem de serviço;
o Escopo da pesquisa: contém o contexto do estudo, o indicador de
referência (quando houver), o objetivo geral, os objetivos específicos e a
população alvo da pesquisa;
o Métodos e Técnicas de Pesquisa: contém as técnicas de pesquisa
utilizadas no estudo, considerações gerais sobre o plano amostral e datas
da realização da pesquisa;
o Detalhamento dos Instrumentos de Pesquisa: contém o responsável
pela elaboração do questionário de pesquisa e informações sobre o
conteúdo;
o Detalhamento do Plano Amostral: Descreve em detalhes todos os
procedimentos para a seleção da amostra, devendo conter: população alvo,
sistemas de referências, unidades amostrais, tamanho da amostra, plano de
seleção, sistema de ponderação, nível de confiança;
o Detalhamento dos Procedimentos Adotados nos Trabalhos de Campo:
contém informações sobre a estrutura de campo, equipe técnica e as
conclusões do trabalho de campo;
o Procedimentos Utilizados na Estruturação do Banco de Dados:
contém a codificação das variáveis, procedimentos de consistência das
informações e software utilizado;
o Análise dos Resultados da Pesquisa: contém as estimativas para os
parâmetros de interesse da pesquisa apresentados em forma de tabelas e
demais resultados provenientes do uso de técnicas estatísticas;
o Conclusões/Considerações Finais: contém um resumo sobre os
principais achados do estudo;
o Recomendações: contém um parecer técnico-analítico objetivo dirigido
ao Governo Federal;
o Anexos: contém os anexos da pesquisa, como questionário, relação dos
municípios pesquisados (para pesquisas face a face) e o perfil da amostra.

O documento de apresentação dos resultados deve conter gráficos do perfil da


amostra e dos resultados generalizados para a população. Adicionalmente, deve
apresentar destaques de perguntas com diferenciais entre as categorias de perfil
socioeconômico ou demográfico, de acordo com testes estatísticos de significância. A
apresentação deve ter os seguintes pontos:

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Departamento de Pesquisa de Opinião Pública – SECOM/PR

1. Introdução do estudo, com a apresentação do cenário legal e os objetivos


da investigação;
2. Especificações técnicas da pesquisa, contendo: técnicas de pesquisa
utilizadas, abrangência geográfica, período de campo, tamanho da amostra
e critérios de seleção da amostra;
3. Resultados da pesquisa, que deve conter os gráficos de perfil da amostra e
das respostas dos questionários, assim como os destaques de diferenciais
pelas variáveis de perfil;
4. Conclusões e recomendações, espaço destinado a fazer um resumo geral
dos principais achados investigados e as recomendações de ações dirigidas
ao Governo Federal a partir de tais resultados.

Quando a pesquisa estiver concluída, é recomendável disponibilizar o banco de


dados, de modo que outros pesquisadores que tenham interesse no tema possam realizar
suas próprias análises. O banco de dados deve ser divulgado sem a identificação,
endereços ou contatos dos entrevistados. Por outro lado, deve conter as variáveis de perfil,
as variáveis com as respostas das perguntas e as variáveis do desenho amostral. O
dicionário de variáveis deve ser disponibilizado juntamente com o banco de dados.

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5. Princípios éticos da pesquisa de opinião pública

Neste item abordaremos as questões éticas que devem pautar as pesquisas


científicas, em especial as pesquisas de opinião pública da qual esse Manual trata. Quando
falamos em ética, do ponto de vista filosófico, estamos abordando os princípios
orientadores para o agir humano, incluindo o agir humano na produção de conhecimento
científico. Essa concepção parte da premissa de que deve haver o equilíbrio das ações
humanas no fazer científico, cujo resultado deve ser bom para cada indivíduo ou cada
parte envolvida no estudo, de forma equânime e sem causar prejuízos.

Do ponto de vista legal, destacam-se neste capítulo as indicações normativas


descritas na Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS)3, do Ministério da
Saúde, e o Código International Chamber of Commerce (ICC), elaborado em cooperação
com a Sociedade Europeia para Pesquisa de Opinião e Mercado (ESOMAR).

A primeira, a Resolução do CNS, descreve as diretrizes e normas


regulamentadoras de pesquisas envolvendo humanos no Brasil. A resolução está
fundamentada nos principais documentos internacionais sobre o tema, como o Código de
Nuremberg, de 1947, a Declaração dos Direitos Humanos, de 1948, a Declaração
Universal sobre Bioética e Direitos Humanos, de 2005, e outros documentos afins. Além
disso, cumpre as disposições da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988
e da legislação brasileira correlata. Nesta Resolução incorpora, sob a ótica do indivíduo
e das coletividades, quatro referências básicas no agir da pesquisa: autonomia, não-
maleficência, beneficência e justiça. Assim, visa assegurar os direitos e deveres que dizem
respeito à comunidade científica, aos sujeitos da pesquisa e ao Estado.

Além dessas questões, a Resolução delineia sobre diversos aspectos relacionados


com a integridade da pesquisa e com a postura ética. Entre tais aspectos, destacam-se a

3
A Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) está diretamente ligada ao Conselho Nacional de
Saúde (CNS). É a comissão nacional responsável pela ética em pesquisa. Ela foi criada pela Resolução do
CNS 466/12 como uma instância colegiada, de natureza consultiva, educativa e formuladora de diretrizes
e estratégias no âmbito do Conselho. Além disso, é independente de influências corporativas e
institucionais. Uma das suas características é a composição multi e transdisciplinar, contando com um
representante dos usuários. A CONEP tem como principal atribuição o exame dos aspectos éticos das
pesquisas que envolvem seres humanos. Como missão, elabora e atualiza as diretrizes e normas para a
proteção dos sujeitos de pesquisa e coordena a rede de Comitês de Ética em Pesquisa das instituições. Cabe
a CONEP avaliar e acompanhar os protocolos de pesquisa em áreas temáticas especiais como: genética e
reprodução humana; novos equipamentos; dispositivos para a saúde; novos procedimentos; população
indígena; projetos ligados à biossegurança e como participação estrangeira. A CONEP também se constitui
em instância de recursos para qualquer das áreas envolvidas.

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Departamento de Pesquisa de Opinião Pública – SECOM/PR

definição do tipo de investigação para adaptar-se aos objetivos não declarados; o mau uso
deliberado de estatísticas, a falsificação de dados, a alteração de resultados, a
interpretação errônea de resultados com o objetivo de apoiar um ponto de vista pessoal,
a retenção de informações, entre outros. Em relação às pesquisas de opinião pública, a
Resolução 196/96 do CNS pauta que a instituição, pública ou privada, tem a
responsabilidade de divulgar de modo completo e preciso os resultados da pesquisa, e
utilizá-las de maneira ética.

O segundo documento, o Código Internacional ICC/ESOMAR4, é uma normativa


que pauta sobre a regulamentação de práticas em pesquisa de mercado e pesquisas de
opinião pública. De acordo com o texto do documento, destina-se principalmente a servir
como uma estrutura para auto-regulamentação, a fim de atingir 5 objetivos: 1) estabelecer
as regras de ética que pesquisadores de mercado deverão seguir; 2) aumentar a confiança
do público em pesquisas de mercado, enfatizando os direitos e proteções que lhes são
conferidos sob este código; 3) enfatizar a necessidade de responsabilidades especiais ao
se pesquisar as opiniões de crianças e jovens/menores de idade; 4) proteger a liberdade
de pesquisadores de mercado de buscarem, receberem e compartilharem informações
(conforme disposto no artigo 19 do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos
adotado pela Organização das Nações Unidas); 5) Minimizar a necessidade de legislações
ou regulamentações governamentais e/ou intergovernamentais.

Além dos dois documentos já mencionados, justifica-se que as pesquisas de


opinião pública devem seguir os princípios científicos estabelecidos pela literatura da
área, obedecendo aos princípios éticos e de qualidade. Assim posto, baseado nas duas
normativas éticas, evidenciamos que as pesquisas de opinião pública devem seguir: 1)
Transparência: prezar pela transparência em todas etapas do agir científico, a fim de
demonstrar a honestidade da produção do conhecimento; 2) Objetividade: prezar pela
qualidade daquilo que é objetivo, valendo dos dados, informações e evidências que
podem ser verificadas por qualquer pessoa; 3) Legalidade: preza pelo conhecimento e

4
A Sociedade Europeia para Pesquisa de Opinião e Mercado (ESOMAR) publicou o primeiro Código da
Prática de Pesquisa de Mercado e Social em 1948. Em anos posteriores, diversos órgãos nacionais,
incluindo a Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP) publicaram seus próprios códigos. Em
1976, a ESOMAR e a ICC – que já possuíam seu código internacional associado, derivado de seu Código
de Conduta Global em Marketing e Propaganda – concordaram que seria preferível ter um único código
internacional. Um código conjunto ICC/ESOMAR foi publicado no ano seguinte. Este código de 1977 foi
revisado e atualizado em 1986, 1994 e, mais recentemente, em 2007. Mais de 60 associações em mais de
50 países o adotaram ou endossaram, inclusive a ABEP no Brasil em 1991.

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Departamento de Pesquisa de Opinião Pública – SECOM/PR

obediência às legislações e normas das áreas que envolvem a pesquisa de opinião pública
e; 4) Precisão: preza pela obrigação e concisão em seguir os procedimentos padrões das
pesquisas científicas, respeitando todas as etapas estipuladas pelo planejamento e
execução da pesquisa.

Os participantes de pesquisa deverão ser informados e estarem cientes: dos


propósitos da pesquisa, das técnicas de observação e coleta de dados, dos benefícios e
riscos da participação e de seus direitos e deveres como participante. Deverá ser
assegurado ao entrevistado segurança e medidas tomadas para que estes não sejam
afetados negativamente devido a sua participação na pesquisa.

Os esclarecimentos deverão ser feitos de forma clara e acessível e de acordo com


o perfil socioeconômico do pesquisado. Os participantes de pesquisa deverão assentir
voluntariamente pela sua participação no estudo. A recusa a participação deve ser
garantida ao participante a qualquer tempo. As informações fornecidas dadas pelos
participantes não devem ser induzidas. Assim, a liberdade e a autonomia dos participantes
são tidas como princípios e deverão ser reconhecidas e garantidas.

A privacidade é outro direito do participante, cabendo a este escolher sobre o uso


de informações pessoais e de imagem. A identidade pessoal do entrevistado poderá ser
fornecida quando houver anuência prévia. A identidade dos entrevistados deve ser
resguardada e a confidencialidade das informações coletadas deverão ser garantidas.
Ambos só poderão ser utilizados para fins próprios à pesquisa. Medidas de segurança
deverão ser tomadas para garantir a inviolabilidade das bases de dados e a identidade e
privacidade dos entrevistados.

O incentivo a participação da pesquisa qualitativas poderá ser realizado segundo


seu perfil socioeconômico, o tempo de duração da entrevista, o deslocamento até o local
da pesquisa, o número de entrevistas, o agendamento prévio e estar acordadas a segundo
a complexidade da pesquisa. A lógica do incentivo está atrelada ao agradecimento pela
participação e a indenização do participante.

As especificidades éticas e responsabilidades especiais quanto à participação de


vulneráveis em pesquisas devem ser pontuadas de acordo com a Resolução N. 510, de 7
de Abril de 2016/CNS.

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A vulnerabilidade está associada a capacidade de tomar decisões ou de apresentar


resistência durante a pesquisa. A vulnerabilidade também está associada a potencialidade
quanto aos danos que podem ser causados pela pesquisa e pela capacidade dos
participantes em proteger seus interesses. Povos tradicionais, menores de idade,
deficientes, doentes e até mesmo pessoas pobres ou com pouca escolaridade são exemplos
de participantes vulneráveis.

No caso de menores de idade, a anuência prévia por meio de assinatura do Termo


Consentimento Livre e Esclarecido pelos responsáveis legais do menor é necessária. Já
em comunidades tradicionais, em que o coletivo se sobrepõe ao indivíduo, requer-se a
anuência prévia da liderança reconhecida pela comunidade. Sugere-se que a participação
dos vulneráveis seja justifica no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Em termos éticos, as pesquisas de opinião pública devem seguir o princípio da


Administração Pública da publicidade e atentar-se para a Lei de Acesso a informação
(LAI) Nº 12.527 de 18 de novembro de 2011. A LAI dispõe-se para assegurar o direito
ao acesso à informação. Além da LAI, cabe atenção ao Decreto 8.777 de 11 de maio de
2015, que institui a Política de Dados Abertos do Poder Executivo Federal. As pesquisas
realizadas pelo Governo Federal são consideradas informações de interesse público, que
podem ser usadas para a produção, transmissão de conhecimento e controle social.
Diante da Lei Eleitoral, Nº 9.504, de 30 de setembro de 1997, e de outras
normativas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), requer-se a cautela para quanto a
realização de pesquisas de opinião pública durante o período eleitoral do poder executivo
federal. Apesar de não existir nenhuma normativa que vete a realização de pesquisas de
opinião pública durante este período, recomendamos precaução e atenção para as
legislações e normas eleitorais vigentes, assim como, para os temas e tópicos a serem
abordados nos estudos. Objetiva-se, com isso, assegurar, durante o período eleitoral, que
não haja condutas tendentes que possam afetar a igualdade de oportunidades entre
candidatos nos pleitos eleitorais.

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PARTE III - TRÂMITES DA PESQUISA DE OPINIÃO PÚBLICA


NA SECOM

A terceira parte deste manual descreve quais são os processos para a solicitação e
execução das pesquisas de opinião pública no âmbito da Secretaria de Comunicação
Social da Presidência da República (SECOM), os procedimentos de solicitação,
desenvolvimento de proposta, autorização, execução, prestação de contas, liquidação de
despesa, pagamento dos serviços, a publicitação dos dados e o encerramento do serviço.

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Departamento de Pesquisa de Opinião Pública – SECOM/PR

6. Procedimentos e ações de pesquisa

Como apresentado na introdução deste manual, o serviço realizado pelo


Departamento de Pesquisa de Opinião Pública tem o objetivo de fornecer ao Poder
Executivo Federal instrumentos para conhecer a avaliação da sociedade sobre a eficiência
de suas ações. Por isso se exige o cumprimento de uma série de procedimentos que
garantirão a melhor qualidade da informação gerada. Nesta seção apresentamos todos os
passos que realizamos no âmbito do DEPES/SECOM para a realização de uma pesquisa
de opinião pública.

6.1.Da elaboração da Demanda

A elaboração e construção de uma boa demanda é parte crucial para a construção


de um bom instrumento de pesquisa, para realização da coleta dos dados e posteriormente
a elaboração de um relatório que responda as perguntas feitas pelo demandante.

6.1.1. Da Construção do Briefing

A elaboração de uma questão é essencial para que seja realizada de forma estruturada
e científica uma resposta sobre o posicionamento dos cidadãos sobre temas relevantes da
agenda nacional, sejam estas, demandas por políticas e serviços públicos ou a avaliação
que a sociedade faz das ofertas de políticas, serviços públicos ou atuação do governo.

Por isso faz-se necessário descrever o problema da pesquisa de forma clara, objetiva
e detalhada. Indicando os objetivos gerais e específicos da pesquisa. Possibilitando que
seja escolhida a melhor abordagem metodológica, para a elaboração da resposta da
demanda.

Uma boa construção do briefing também garante a utilização de recursos públicos


de maneira eficiente, eficaz e efetiva.

6.1.2. Elaboração, análise e aprovação da ordem de serviço

A Ordem de Serviço é o documento interno por meio do qual a SECOM dá início à


autorização à Contratada para executar cada pesquisa.

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Departamento de Pesquisa de Opinião Pública – SECOM/PR

o Os trabalhos relativos às pesquisas de opinião têm início com o preenchimento do


formulário OS no sistema SEI e no SEC/SECOM que constitui a etapa de
solicitação dos serviços.
o A OS identificará a solicitação de serviço por meio de numeração sequencial no
ano civil e denominação da pesquisa.
o A OS será emitida em 2 (duas vias), uma destinada ao processo e outra à
Contratada.
o Da OS constarão:
o Descrição da pesquisa solicitada;
o Objetivos; e
o Justificativas.
o A OS será assinada pelo Gestor do Contrato ou seu substituto e encaminhada à
CGAD para autuação do processo, conforme subitem 3.2.
o Para aferição dos serviços prestados serão emitidos pela Contratada documentos
relativos aos produtos gerados:
o Planejamento de Pesquisa – PP;
o Produtos da Pesquisa – PPes:
 Trabalho de Campo;
 Entrega dos itens da coleta de dados previsto no contrato;
o Após a autuação do processo, uma via da OS será encaminhada pelo Gestor do
Contrato à Contratada para elaboração da proposta de Planejamento de Pesquisa.

6.2.Do Planejamento

O planejamento de pesquisa é desenvolvido, com base no briefing, pela empresa


contratada para a coleta de dados, e posteriormente submetido para aprovação da área
técnica da SECOM. Este documento que deve constar as hipóteses de trabalho, técnicas
de abordagem e públicos a serem pesquisados, tamanho da amostra, processo de
amostragem, grau de precisão estatística aplicada (quando couber), fontes de dados
secundários a serem utilizados em consonância com o planejamento proposto, métodos
para o controle de qualidade do campo e cronograma de execução das etapas da pesquisa.
Bem como, o valor dos serviços a serem prestados conforme os termos do contrato.
Destaque-se também que para cada tipo de pesquisa contratadas pela SECOM,
existem particularidades que devem constar no planejamento, a saber:

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Departamento de Pesquisa de Opinião Pública – SECOM/PR

6.2.1. Pesquisas Qualitativas:

o O Planejamento de Pesquisa deve estabelecer os procedimentos de


seleção/recrutamento dos participantes, incluindo os critérios utilizados na
elaboração da ficha de recrutamento; a metodologia de pesquisa; os
procedimentos de controle e qualidade; os equipamentos e tecnologias a
serem utilizados; a equipe de profissionais envolvida; informações de
local e período de realização das entrevistas em profundidade ou dos
grupos focais; referenciais teórico-metodológicos de análise de dados;
recursos/softwares de apoio na análise; as formas de compartilhamento,
transmissão e armazenagem das entrevistas em profundidade e/ou grupos
focais, assim como as fichas de recrutamento; o roteiro a ser utilizado na
pesquisa; a precificação; cronograma detalhado, com as fases do trabalho
e datas de apresentação dos produtos da pesquisa

6.2.2. Pesquisas Quantitativas Face a Face:

o O Planejamento de Pesquisa deverá descrever as hipóteses de trabalho; o


público alvo; os objetivos da pesquisa; o plano amostral; a amostra da
pesquisa; a metodologia; o instrumento de coleta (questionário); os
procedimentos de aplicação, os procedimentos de controle de qualidade;
os equipamentos e tecnologias a serem utilizados; a equipe de
profissionais envolvida; as informações de local e período de realização
das entrevistas; os referenciais teórico-metodológicos de análise de dados;
os recursos/softwares utilizados na análise; a precificação; e o cronograma
detalhado por atividades diárias, com as fases do trabalho e datas de
apresentação dos produtos da pesquisa.
 Tendo em vista, que para definição da amostra exige-se
amostragem aleatória em várias etapas garantindo, no mínimo, as
seguintes propriedades: garantir a participação de moradores do
Distrito Federal e de todos os 26 estados brasileiros; garantir a
participação de moradores de todas as capitais dos estados; garantir
a participação de moradores de quaisquer municípios, no mínimo
140, além das capitais, selecionados de forma aleatória,
distribuídos por todos os estados e o Distrito Federal, abrangendo,

92
Departamento de Pesquisa de Opinião Pública – SECOM/PR

portanto, as cinco regiões geográficas e todas as Unidades da


Federação

6.2.3. Pesquisas Quantitativas Telefônica:

o O Planejamento de Pesquisa deverá descrever as hipóteses de trabalho; o


público alvo; os objetivos da pesquisa; o plano amostral; a amostra da
pesquisa; a metodologia; o instrumento de coleta (questionário); os
procedimentos de aplicação, procedimentos de controle de qualidade; os
equipamentos e tecnologias a serem utilizados; a equipe de profissionais
envolvida; as informações de local e período de realização das entrevistas;
os referenciais teórico-metodológicos de análise de dados; os
recursos/softwares utilizados na análise; a precificação; e o cronograma
detalhado, com as fases do trabalho e datas de apresentação dos produtos
da pesquisa.
 A amostra será selecionada aleatoriamente, observando o seguinte
delineamento: amostragem aleatória estratificada em duas vias
(two-way sampling) com alocação proporcional, tendo como
estratos as 27 Unidades da Federação e as parcelas da população
com acesso a telefonia fixa e telefonia móvel.

6.3.Da coleta dos dados

Para a realização das coletas dos dados, a SECOM/PR dispõe de empresas


contratadas para esta finalidade. Para que a coleta dos dados seja realizada da melhor
forma, garantido a confiabilidade das informações, o contrato com as empresas
prestadoras do serviço, assim como o Termo de Referência que embasa este contrato, foi
construído com parâmetros bastantes rígidos. Soma-se a isso a necessidade de serem
observados os procedimentos detalhados na elaboração da demanda.

o Recomenda-se que a execução da pesquisa siga os padrões de qualidade


da ICC/ESOMAR (International Chamber of Comerce/Sociedade
Europeia para Pesquisas de Opinião e Mercado).
o Recomenda-se também a consulta ao banco de questões do DEPES, para
sabermos quais perguntas com esta temática que já foram realizadas.

93
Departamento de Pesquisa de Opinião Pública – SECOM/PR

6.4. Dos produtos a serem entregues pela empresa que coleta os dados

Para cada tipo de pesquisa, a empresa contratada para a coleta de dados, deverá
entregar os seguintes produtos:

o Para as pesquisas qualitativas: destaques, transcrições, material do trabalho de


campo e apresentação da pesquisa em formato ppt.

o Para as pesquisas quantitativas face a face e telefônicas (CATI): base de dados,


dicionário de variáveis, planilha de testes estatísticos; relatório de tabelas e
apresentação (formato ppt) com gráficos e destaques dos resultados obtidos.

6.5.Dos procedimentos de análise

Como destacado no capítulo 7 deste manual, para cada metodologia de pesquisa


utilizada pelo DEPES/SECOM existem procedimentos específicos para a realização da
análise dos dados. Partindo do pressuposto de que o trabalho empreendido deve responder
aos anseios do órgão demandante da pesquisa, a análise que deve seguir os preceitos
científicos, visa a elaboração do conhecimento necessário para atender as necessidades
de informações elencadas quando da construção do briefing.

o Os dados são recebidos da empresa responsável pela execução da coleta dos


dados;
o São checadas a consistência dos dados. Se estas obedeceram aos itens descritos
no planejamento da pesquisa (amostra, questionário, data da aplicação);
o Realiza-se a análise seguindo os protocolos descritos no capítulo 7 deste manual,
com as especificidades de cada uma das metodologias;
o Os resultados da análise são compilados a embasarem a apresentação e o relatório
da pesquisa.

6.6.Da Apresentação das respostas

Como o DEPES/SECOM é uma área meio do Governo Federal, os achados e


conhecimentos desenvolvidos por ele devem ser repassados aos órgãos demandantes das

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Departamento de Pesquisa de Opinião Pública – SECOM/PR

pesquisas. Para a realização deste informe são construídos dois instrumentos de exposição
dos dados, a saber:

o Apresentação: A apresentação é composta dos principais destaques, dos


parâmetros metodológicos utilizados na coleta dos dados e nas principais
conclusões que respondam à pergunta demandada. A apresentação é feita em
formato ppt e entregue e apresentada ao órgão demandante.
o Relatório de Pesquisa: Construído de uma maneira mais ampla. O documento é
composto pela descrição e análise completa dos resultados obtidos na pesquisa,
incluindo todas as etapas da pesquisa, apresentado em meio papel e em arquivo
eletrônico (Word ou similar)

6.7.Da Avaliação do serviço - IMR

A execução dos serviços será avaliada através de aplicação do Instrumento de


Medição de Resultados – IMR (Anexo I).

o O pagamento dos serviços efetivamente prestados estará vinculado aos resultados


alcançados pela empresa responsável pela coleta dos dados, após a aplicação do
IMR pelo DEPES/SECOM.
o As adequações de pagamento dos serviços prestados, originadas do Instrumento
de Medição de Resultados - IMR, não se confundem e não prejudicam a aplicação
das sanções administrativas.

6.8.Da Liquidação da despesa

A liquidação da despesa consiste na verificação do direito adquirido pela


Contratada, com base em documentos comprobatórios do respectivo crédito.

o A liquidação das despesas será feita em conformidade com o contrato, a saber:


o 100% (cem por cento) do valor total previsto para a pesquisa, mediante a
entrega dos documentos de cobrança (Nota Fiscal/Fatura) e dos Produtos
da Pesquisa – PPes.
o O gestor, quando da aprovação da documentação apresentada para efeito de
recebimento definitivo dos serviços prestados, comunicará a empresa contratada
para a coleta dos dados, para que emita a Nota Fiscal ou Fatura com o valor exato

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dimensionado pela fiscalização com base no Instrumento de Medição de


Resultados (IMR).

o A Nota Fiscal ou Fatura será emitida com o valor exato dimensionado pela
fiscalização com base no Instrumento de Medição de Resultados (IMR).

o Efetuar os pagamentos nas condições e preços pactuados e ajustados pelo IMR.

o Após o recebimento de cada etapa de serviço relativa à pesquisa solicitada, o


Gestor do Contrato encaminhará o processo ao DECON com toda a documentação
comprobatória da execução e a Nota Fiscal/Fatura referente a cada etapa (PP,
PFP), para análise de regularidade e parecer sobre a liquidação da despesa.
o Caso se constate irregularidade ou circunstância que impeça a liquidação da
despesa, os documentos serão encaminhados ao Gestor do Contrato para devolvê-
los à Contratada, para as devidas correções, ou aceitá-los, com a glosa da parte
considerada indevida.
o O DECON, após exame dos documentos apresentados para cada etapa, se de
acordo, atestará sua regularidade e os encaminhará ao Gestor do Contrato para a
liquidação da despesa.
o A atestação da liquidação pelo Gestor do Contrato é formalizada pela aposição de
carimbo padrão e assinatura na primeira via da Nota Fiscal/Fatura.
o O Gestor do Contrato, depois de verificada a regularidade dos procedimentos de
liquidação de cada etapa da pesquisa, encaminhará memorando ao Ordenador de
Despesa com os documentos das despesas liquidadas (Nota Fiscal/Fatura original
e cópia da manifestação do DECON) da respectiva OS.
o Nos autos principais da OS, o Gestor do Contrato manterá cópias da Nota
Fiscal/Fatura e original da manifestação do DECON.
o O memorando correspondente ao pagamento da primeira etapa da OS, com seus
anexos, iniciará processo específico de pagamento, a ser autuado pela CGAD, que
será utilizado para encaminhamento do pagamento das demais etapas do serviço
correspondentes àquela OS.

6.9.Do Pagamento

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Departamento de Pesquisa de Opinião Pública – SECOM/PR

O pagamento consiste na quitação do valor devido à Contratada pelos serviços


prestados.
o Os pagamentos referentes a cada pesquisa serão efetuados considerando o ajuste
de valores resultante da aferição da qualidade do serviço baseada na aplicação do
IMR (Instrumento de Medição de Resultados) pela área técnica da SECOM.
o Os pagamentos serão feitos mediante ordem bancária, para crédito em nome da
Contratada, em conta corrente por ela indicada.
o Recebido o processo com a documentação comprobatória da liquidação da
despesa, o Ordenador de Despesa fará seu encaminhamento ao Gestor Financeiro
para as providências relativas ao pagamento.
o O Gestor Financeiro lançará as informações relativas aos créditos da empresa no
Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (SIAFI),
procederá ao cálculo da retenção de tributos e contribuições, prevista na Instrução
Normativa RFB nº 1234/12, e, apurado o valor líquido a ser pago, emitirá a
correspondente Nota de Lançamento de Sistema.
o Apurado o crédito, o Gestor Financeiro fará a verificação da regularidade fiscal
da empresa credora mediante consulta on-line ao Sistema de Cadastramento
Unificado de Fornecedores (SICAF) e comprovação de inexistência de débitos
inadimplidos perante a Justiça do Trabalho, conforme consulta on-line no site do
TST, ou exigirá a apresentação das certidões comprobatórias de regularidade, nos
termos contratuais.
o Verificada a regularidade fiscal do credor, serão extraídos do SIAFI os
documentos relativos ao pagamento e a Relação das Ordens Bancárias Externas
(RE).
o Serão juntados aos autos os documentos relativos ao pagamento, e o processo será
encaminhado juntamente com a RE ao servidor responsável pela análise e
validação da Conformidade de Registro de Gestão.
o Na prática dos atos referentes à Conformidade de Registro de Gestão, o servidor
responsável deverá observar o disposto nos arts. 6º a 11 da Instrução Normativa
STN nº 6/07.
o Uma vez registrada sem restrição a conformidade dos atos e fatos de gestão, o
processo será encaminhado ao Gestor Financeiro e ao Ordenador de Despesa para
assinatura da RE, com a manifestação do servidor responsável pelo registro.

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o A RE assinada será enviada ao banco responsável, autorizando o crédito em conta


bancária da Contratada.
o Efetuado o pagamento de cada etapa, o processo será devolvido ao Gestor do
Contrato para os procedimentos relativos ao pagamento das etapas seguintes.
o Paga a despesa relativa à terceira etapa da OS, o respectivo processo de pagamento
ficará sob a guarda do Gestor Financeiro.

6.10. Da publicitação

No esforço de aumentar a transparência e divulgação de suas ações, desde 2009 o


governo brasileiro vem realizando ações para o desenvolvimento de uma política de
disseminação de dados e informações governamentais para o livre uso pela sociedade.
Estas ações estão alinhadas com um crescente movimento global para democratização do
acesso à dados e informações no paradigma de dados abertos. As pesquisas realizadas do
Governo Federal são consideradas informações de interesse público, que podem ser
usadas para produção, transmissão de conhecimento e controle social.

o Os dados de todas as pesquisas devem ser disponibilizados para atentar os


princípios da Lei de Acesso a Informação (LAI), Nº 12.527 de 18 de novembro
de 2011.
o Assim como, deverão estar acordadas aos princípios da Instrução Normativa Nº 4
de abril de 2012 do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG),
do Plano de Dados Abertos (PDA-MPOG) e do Decreto 8.777 de 11 de maio de
2015, que institui a Política de Dados Abertos do Poder Executivo federal.
o A publicitação se dá no Site da SECOM
(http://www.secom.gov.br/atuacao/pesquisa) e no site dos Dados Abertos da
Presidência (http://dadosabertos.presidencia.gov.br).

6.11. Do encerramento do processo administrativo

Efetuados os pagamentos referentes a todos os serviços relativos à OS, será encaminhado,


por despacho do Gestor do Contrato, à Assessoria da Secretaria de Gestão, Controle e
Normas para análise de conformidade dos atos processuais disciplinados neste Manual.

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o Concluída a análise, a Assessoria emitirá parecer sobre a regularidade do processo


administrativo ou indicará a inconsistência que necessite de esclarecimento.
o A inconsistência observada será objeto de pedido de esclarecimento endereçado à
área responsável pelo ato praticado ou pela juntada do documento em questão.
o Após a manifestação da área responsável, a Assessoria emitirá ao Secretário de
Gestão, Controle e Normas parecer conclusivo sobre o processo.
o O Secretário de Gestão, Controle e Normas encaminhará o processo ao Gestor do
Contrato para arquivamento, ou determinará outras providências se necessárias.
o Os autos do processo administrativo de OS que tenha sua execução cancelada
serão encaminhados à Coordenação-Geral de Administração e Documentação,
com despacho de arquivamento exarado pelo Gestor do Contrato.

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7. Referências Legais

o Lei no 10.683, de 28 de maio de 2003, que dispõe sobre a organização da


Presidência da República e dos Ministérios.
o Lei no 4.320, de 17 de março de 1964, que estatui Normas Gerais de Direito
Financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos
Estados, dos Municípios e do Distrito Federal.
o Lei 12.527, de 17 de março de 2011, que dispõe sobre os procedimentos a serem
observados pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios, com o fim de
garantir o acesso a informações.
o Lei nº 10.683 de 2003, que dita sobre a organização e as funções da Presidência e
de seus ministérios, a Secretária Especial de Comunicação Social (SECOM).
o Decreto n° 6.377, de 19 de fevereiro de 2008, que aprova a Estrutura Regimental
da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República.
o Decreto n° 6.555, de 08 de agosto de 2008, que disciplina as ações de
comunicação do Poder Executivo Federal.
o Decreto nº 7.724, de 16 de maio de 2012, que regulamenta, no âmbito do Poder
Executivo federal, os procedimentos para a garantia do acesso à informação.
o Decreto n° 8.777, de 11 de maio de 2015, que institui a Política de Dados Abertos
do Poder Executivo Federal.
o Decreto Nº 8.889, de 26 de outubro de 2016, que regulamenta, Estrutura
Regimental e o Quadro Demonstrativo dos Cargos em Comissão e das Funções
de Confiança da Casa Civil da Presidência da República.
o Portaria Normativa no 05, de 19 de dezembro de 2002, do Ministério do
Planejamento, Orçamento e Gestão, que dispõe sobre procedimentos gerais para
utilização dos serviços de protocolo.
o Instrução Normativa RFB no 1234, de 11 de janeiro de 2012, que dispõe sobre
retenção de tributos e contribuições nos pagamentos efetuados a pessoas jurídicas
pelo fornecimento de bens e serviços.
o Instrução Normativa STN no 06, de 31 de outubro de 2007, que dispõe sobre a
Conformidade de Registro e Gestão.
o Instrução Normativa Nº 4 de abril de 2012 do Ministério do Planejamento,
Orçamento e Gestão (MPOG), que dispões sobre o Plano de Dados Abertos
(PDA-MPOG).

100
Departamento de Pesquisa de Opinião Pública – SECOM/PR

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106
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ANEXOS

Anexo I - Instrumento de Medição de Resultados – IMR

1. QUALITATIVA
1.1 FINALIDADE
1.1.1 Este documento apresenta critérios de avaliação do serviço através de
indicadores de qualidade com aplicação de mecanismos de cálculo para
adequações de valores de pagamento.
1.1.2 O Instrumento de Medição de Resultado formaliza a avaliação do serviço
com registro de ocorrências identificadas na execução e nos produtos
entregues.
1.1.3 O Instrumento de Medição de Resultados considera as demandas e
exigências expostas no item 4 e 5 do Termo de Referência.
1.1.4 A periodicidade da aplicação do Instrumento de Medição de Resultado é
para toda pesquisa executada.
1.2 INDICADORES, PONTUAÇÃO E MECANISMOS DE CÁLCULO
1.2.1 Os serviços da CONTRATADA serão avaliados por meio de 9 (nove)
indicadores: Planejamento de Pesquisa, Recrutamento/Seleção,
Condução da Entrevista, Recursos, Destaques, Apresentação, Material de
Campo, Transcrições e Atendimento.
1.2.2 Para cada item do indicador será atribuída pontuação conforme escala
seguinte: 2 (dois) pontos para Satisfatório; 1 (um) ponto para
Parcialmente Satisfatório; e 0 (zero) pontos para Insatisfatório.
1.2.3 Para cada item de avaliação marcado como Parcialmente Satisfatório ou
Insatisfatório é necessário descrever a ocorrência que justifica a
atribuição da nota.
1.2.4 A pontuação final de qualidade dos serviços resultará num valor entre 0
(zero) e 18 (dezoito) pontos, correspondente à avaliação do serviço
executado.
1.2.5 A tabela abaixo contém os indicadores a serem pontuados, a meta a
cumprir e o mecanismo de cálculo da pontuação.

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PESQUISA QUALITATIVA
Avaliação
Ocorrência
Indicadores 2. Satisfatório
Em caso de valor 0 (zero)
1. Parcialmente
e 1 (um), descreva a
Satisfatório
ocorrência
0. Insatisfatório
Planejamento de
Pesquisa

Recrutamento/Seleção

Condução da
Entrevista

Recursos

Destaques

Apresentação

Material de Campo

Transcrições

Atendimento

PONTUAÇÃO
FINAL
Mecanismo Soma dos pontos dos Indicadores
de cálculo
Meta a 18 Pontos
cumprir

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1.3 FAIXAS DE PAGAMENTO


1.3.1 As pontuações de qualidade devem ser aplicadas em cada Ordem de
Serviço executada, para fins de verificação e adequação quanto ao
cumprimento dos critérios de execução dos serviços e dos valores a serem
pagos.
1.3.2 A aplicação dos critérios de verificação da qualidade resultará em uma
pontuação final no intervalo de 0 (zero) a 18 (dezoito) pontos,
correspondente à soma das pontuações obtidas para cada indicador,
conforme fórmula abaixo:
Pontuação total = Soma dos Pontos atribuídos em cada um dos indicadores

1.3.3 Os pagamentos devidos, relativos a cada Ordem de Serviço (OS), devem


ser ajustados pela pontuação total do serviço, conforme tabela e fórmula
apresentadas abaixo:

Faixas de pontuação de
Pagamento devido Fator de ajuste de nível de serviço
qualidade da OS

De 16 a 18 pontos 100 % do valor previsto 1

De 13 a 15 pontos 80 % do valor previsto 0,8

De 10 a 12 pontos 60 % do valor previsto 0,6

De 7 a 9 pontos 40 % do valor previsto 0,4

De 4 a 6 pontos 20 % do valor previsto 0,2

Igual ou baixo de 3 pontos 0 % do valor previsto 0

Valor a pagar da OS = valor da ordem de serviço X fator de ajuste de nível de serviço

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2 QUANTITATIVA FACE A FACE


2.1 FINALIDADE
2.1.1 Este documento apresenta critérios de avaliação do serviço através de
indicadores de qualidade com aplicação de mecanismos de cálculo
para adequações de valores de pagamento.
2.1.2 O Instrumento de Medição de Resultado formaliza a avaliação do
serviço com registro de ocorrências identificadas na execução e nos
produtos entregues.
2.1.3 O Instrumento de Medição de Resultados considera as demandas e
exigências expostas no item 4 e item 5 do Termo de Referência.
2.1.4 A periodicidade da aplicação do Instrumento de Medição de
Resultado é para toda pesquisa executada.
2.2 INDICADORES, PONTUAÇÃO, MECANISMOS DE CÁLCULO

2.2.1 Os serviços da CONTRATADA serão avaliados por meio de 10 (dez)


indicadores: Planejamento de Pesquisa, Plano Amostral, Questionário,
Pré-Teste, Coleta de dados, Base de Dados, Relatórios de Tabelas,
Apresentação, Atendimento e Recursos Tecnológicos.

2.2.2 Para cada item do indicador será atribuída pontuação conforme escala
seguinte: 2 (dois) pontos para Satisfatório; 1 (um) ponto para
Parcialmente Satisfatório; e 0 (zero) pontos para Insatisfatório.

2.2.3 Para cada item de avaliação marcado como Parcialmente Satisfatório


ou Insatisfatório é necessário descrever a ocorrência que justifica a
atribuição da nota.

2.2.4 A pontuação final de qualidade dos serviços resultará num valor entre
0 (zero) e 20 (vinte) pontos, correspondente à avaliação do serviço
executado.

2.2.5 A tabela abaixo contém os indicadores a serem pontuados, a meta a


cumprir e o mecanismo de cálculo da pontuação.

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PESQUISA QUANTITATIVA FACE A FACE


Avaliação Ocorrência
Indicadores 2. Satisfatório Em caso de valor 0 (zero) e
1. Parcialmente 1 (um), descreva a
Satisfatório ocorrência
0. Insatisfatório
Planejamento de
Pesquisa

Plano Amostral

Questionário

Pré-teste

Coleta de dados

Base de dados

Relatório de
Tabelas

Apresentação

Atendimento

Recursos
tecnológicos

PONTUAÇÃO
FINAL
Mecanismo de Soma dos pontos dos Indicadores
cálculo
Meta a 20 Pontos
cumprir

111
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2.3 FAIXAS DE PAGAMENTO

2.3.1 As pontuações de qualidade devem ser aplicadas em cada Ordem de


Serviço executada, para fins de verificação e adequação quanto ao
cumprimento dos critérios de execução dos serviços e dos valores a
serem pagos.

2.3.2 A aplicação dos critérios de verificação da qualidade resultará em


uma pontuação final no intervalo de 0 (zero) a 20 (vinte) pontos,
correspondente à soma das pontuações obtidas para cada indicador,
conforme fórmula abaixo:
Pontuação total = Soma dos pontos atribuídos em cada um dos 12 (doze) indicadores

2.3.3 Os pagamentos devidos, relativos a cada Ordem de Serviço (OS),


devem ser ajustados pela pontuação total do serviço, conforme tabela
e fórmula apresentadas abaixo:

Fator de ajuste de nível de


Faixas de pontuação de qualidade da OS Pagamento devido
serviço

De 18 a 20 pontos 100 % do valor previsto 1

De 14 a 17 pontos 80 % do valor previsto 0,8

De 11 a 13 pontos 60 % do valor previsto 0,6

De 7 a 10 pontos 40 % do valor previsto 0,4

De 4 a 6 pontos 20 % do valor previsto 0,2

Igual ou baixo de 3 pontos 0 % do valor previsto 0

Valor a pagar da OS = valor da ordem de serviço X fator de ajuste de serviço

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3 QUANTITATIVA TELEFÔNICA (CATI)


3.1 FINALIDADE
3.1.1 Este documento apresenta critérios de avaliação do serviço através de
indicadores de qualidade com aplicação de mecanismos de cálculo
para adequações de valores de pagamento.
3.1.2 O Instrumento de Medição de Resultado formaliza a avaliação do
serviço com registro de ocorrências identificadas na execução e nos
produtos entregues.
3.1.3 O Instrumento de Medição de Resultados considera as demandas e
exigências expostas no Termo de Referência.
3.1.4 A periodicidade da aplicação do Instrumento de Medição de
Resultado é para toda pesquisa executada.
3.2 INDICADORES, PONTUAÇÃO, MECANISMOS DE CÁLCULO

2.2.1 Os serviços da CONTRATADA serão avaliados por meio de 10 (dez)


indicadores: Planejamento de Pesquisa, Plano Amostral, Questionário,
Pré-Teste, Coleta de dados, Base de Dados, Relatórios de Tabelas,
Apresentação, Atendimento e Recursos Tecnológicos.

2.2.2 Para cada item do indicador será atribuída pontuação conforme escala
seguinte: 2 (dois) pontos para Satisfatório; 1 (um) ponto para
Parcialmente Satisfatório; e 0 (zero) pontos para Insatisfatório.

2.2.3 Para cada item de avaliação marcado como Parcialmente Satisfatório


ou Insatisfatório é necessário descrever a ocorrência que justifica a
atribuição da nota.

2.2.4 A pontuação final de qualidade dos serviços resultará num valor entre
0 (zero) e 20 (vinte) pontos, correspondente à avaliação do serviço
executado.

2.2.5 A tabela abaixo contém os indicadores a serem pontuados, a meta a


cumprir e o mecanismo de cálculo da pontuação.

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PESQUISA QUANTITATIVA TELEFÔNICA (CATI)


Avaliação Ocorrência
Indicadores 2. Satisfatório Em caso de valor 0 (zero) e
1. Parcialmente 1 (um), descreva a
Satisfatório ocorrência
0. Insatisfatório
Planejamento de
Pesquisa

Plano Amostral

Questionário

Pré-teste

Coleta de dados

Base de dados

Relatório de
Tabelas

Apresentação

Atendimento

Recursos
tecnológicos

PONTUAÇÃO
FINAL
Mecanismo de Soma dos pontos dos Indicadores
cálculo
Meta a 20 Pontos
cumprir

114
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2.3 FAIXAS DE PAGAMENTO

2.3.1 As pontuações de qualidade devem ser aplicadas em cada Ordem de


Serviço executada, para fins de verificação e adequação quanto ao
cumprimento dos critérios de execução dos serviços e dos valores a
serem pagos.

2.3.4 A aplicação dos critérios de verificação da qualidade resultará em


uma pontuação final no intervalo de 0 (zero) a 20 (vinte) pontos,
correspondente à soma das pontuações obtidas para cada indicador,
conforme fórmula abaixo:
Pontuação total = Soma dos pontos atribuídos em cada um dos 12 (doze) indicadores

2.3.5 Os pagamentos devidos, relativos a cada Ordem de Serviço (OS),


devem ser ajustados pela pontuação total do serviço, conforme tabela
e fórmula apresentadas abaixo:

Fator de ajuste de nível de


Faixas de pontuação de qualidade da OS Pagamento devido
serviço

De 18 a 20 pontos 100 % do valor previsto 1

De 14 a 17 pontos 80 % do valor previsto 0,8

De 11 a 13 pontos 60 % do valor previsto 0,6

De 7 a 10 pontos 40 % do valor previsto 0,4

De 4 a 6 pontos 20 % do valor previsto 0,2

Igual ou baixo de 3 pontos 0 % do valor previsto 0

Valor a pagar da OS = valor da ordem de serviço X fator de ajuste de serviço

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