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Sete Lagoas
2021
Sidney Stefani Ramos Souza
Sete Lagoas
2021
Todos tropeçamos de muitas maneiras.
Se alguém não tropeça no falar, tal
homem é perfeito, sendo também
capaz de dominar todo o seu corpo.
E disse Deus: Haja luz; e houve luz. E viu Deus que a luz era boa
a luz; e fez Deus separação entre a luz e as trevas. E Deus
chamou à luz Dia; e às trevas chamou Noite. E foi a tarde e a
manhã, o primeiro dia.
Genesis 1:3-5
O significante espada faz muito sentido pois foi esse texto foi escrito por
Salomão, filho do rei Davi em um periodo e cultura monárquico. Palavras que
ferem poderia hipoteticamente trazer registro de sangue derramado, domínio de
terrítorio, vitorias ou derrotas. Não é possível dizer ao certo o que cada sujeito
interpretava, porém, são algumas possíveis referências aos significantes. Usando
o significante “ferir” podemos pensar em como a teologia já advertia quanto ao
cuidado na transmissão das ideias e do perigo acerca de como alguém poderá ter
um futuro com traumas a partir do que é transmitido. Ao mesmo tempo, as
palavras podem trazer cura. Falaremos sobre esse ponto no decorrer do trabalho.
Salomão deixou registrado em Provérbios 18:21ª que "A morte e a vida
estão no poder da lingua". As palavras tem poder de vida e morte. Quando é
transmitido de pais para os filhos significantes do tipo você não vale nada, você é
um perdido, você é um miserável, não sei pra que você nasceu, você não é
desejado, você é feio, não queria um menino (a), você deveria ter morrido, você é
burro, você não faz nada direito... são exemplos de uma construção, segundo a
bíblia, de morte. Segundo Couto (2011), em seu trabalho intitulado “O FRACASSO
ESCOLAR E A FAMÍLIA: O que a clínica ensina?” Alguns casos clínicos de fracasso
escolar têm como ponto de partida o relacionamento entre pais e filhos. No caso
clínico de Roberta, como exemplo, ela cita:
Somente após um trabalho de reconstrução dos laços paternos que foi possível
reestabelecer os passos para um rendimento escolar. A mãe depreciava o pai para a
filha e essa situação trouxe grandes problemas para Roberta ao mesmo tempo que a
comparava com o pai. Poderíamos citar diversos casos clínicos em que o manejo com
as palavras gravou significantes que perpetuam inconsciente na vida dos sujeitos.
CASTANET (2019), em Para Compreender Lacan, cita o artigo de Lacan
denominado “Função e campo da palavra em psicanálise” descrevendo que: “Que ela
se ponha por agente de tratamento, de formação ou de sondagem, a psicanálise tem
apenas um médium: a fala do paciente”. Na página 31, ele irá dizer que “é necessário
que a fala seja ouvida por alguém no lugar onde ela não podia sequer ser lida por
ninguém”. Essa fala do paciente através da livre associação deverá ser ouvida com
atenção flutuante.
Miller, em O osso de uma análise ira falar acerca de paciente/analisando chega
na análise perguntando por onde ele começa: nessa livre associação ele começa a
contar alguns pontos fixos, pois por mais que ele queira, não tem como dizer tudo.
Porém existe uma repetição no que o sujeito está trazendo em suas repetições. A
repetição são eventos diferentes que obedecem a mesma estrutura. A aplicação da
formula da redução é usada como forma de retirar da amplificação os pontos mais
importantes para análise. A relação com o Outro tem que ser avaliada nesse ponto da
livre associação. Qual o redizer desse paciente. Tenho relação com análise a mesma
relação que tinha com os pais, com o parceiro, com o trabalho. Os eventos repetidos
obedecem uma mesma estrutura.
São diferentes exemplos e é muito importante marcar o que está pulsando na
fala desse sujeito. Segundo Miller, a redução é a essência da análise.
Miller (1998), no mesmo livro irá falar acerca da operação de redução chamada
convergência. E esse é o ponto de ligação com a primeira parte desse trabalho onde
hipótese da palavra de vida e de morte retorna como marcas nos sujeitos. O que Miller
irá trazer nesse ponto tem relação com anotações importantes durante a entrevista
preliminar e demais sessões. Mesmo que o analista não lembre de todas as palavras
do paciente tem que estar marcado os significantes mestres de destino. Como
exemplo, a mãe falava de tal jeito, o pai falava de tal jeito. Termos como: jogado,
traído, largado, abandonado. Até mesmo em alguma mentira que depois foi retornada
na análise. Esse segundo mecanismo, após a repetição, foi denominado convergência
(p.48):
“A cura faz, com efeito, parecer que os enunciados do sujeito
convergem para um enunciado essencial. Falar em enunciado é
uma simplificação, pois pode haver vários enunciados essenciais
em uma análise. Pode acontecer que este enunciado essencial
se destaque, na própria análise, e o sujeito mencione alguma
coisa que lhe foi dita e que jamais esqueceu, que se inscreveu
para todo sempre e que, em relação a isso, ele se determinou em
todos os desvios e percalços de sua existência. Foi uma coisa
dita que, para ele, pode ter tomado o valor de um oráculo, seja
porque dedicou toda existência a verifica-la, para torna-la
verdadeira, seja porque o precipitou por desmenti-la”.
Couto, Margareth Pires – O fracasso escolar e a família – O que a Clinica ensina? Pag.
132 - https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUOS-
8M3FXD/1/o_fracasso_escolar_e_a_famila_o_que_ensina_a_clinicarevisada.pdf - Acesso em
03/10/2021
Castanet, Hervé – Para comprender Lacan. Editora Puc Minas 1ª Edição (1 jan 2019).
Miller, Jacques Alain – O osso de uma análise – Editora Brasileira de Psicanálise – Bahia
(1988) pag. 46 – 48