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i- »• doíias-dc-casa dc Sao Paulo

21 de novembro de 1877 - n» 128 - Or$ 18.88


^srssssu!^^
A quem serve
o Estado? \

Segundo alguns, devido à estatização, o Brasil estaria às portas


e de suas
do socialismo. Outros acham que sem a ajuda do Estado, de seus organismos
empresas, o capitalismo náo conseguiria sobreviver. Existe no Brasil um capitalismo de Esta do?
Entrevistas com Carlos Estevam Martins, Florestan Fernandes e Sérgio Silva
Entrevista!» a José Tadeu Arantes

P - Então, estaria havendo uma


opõem entre si as pessoas que partici-
Carlos Estevam pam do debate.
evolução automática para o socialis-

P - Você não acha que há um certo mo?

exagero em dizer que o capitalismo es- R - Não, justamente porque eu ponho

0 capitalismo teja mudando para outra coisa? Nio


seria mais adequado
mudanças dentro do próprio capitalis-
dizer que sáo
em dúvida o pressuposto teórico da per-
gunta, que é o de que o capitalismo
seja
a última sociedade de classes e que o
mo? Você se referiu, por exemplo, à só ser o socialis-
pós-capitalismo possa

biônico sociedade
Estado
por ações,
na economia
mos bem, esses são fenômenos bastan-
à intervenção
etc. Se lembrar-
do mo. quando, na
que o capitalismo seja sucedido por
uma sociedade de classes,
realidade, nada impede
mais
deco'rentes
Após tantas modificações.. te antigos, anteriores mesmo ao ad- da própria inviabilidade crescente do ca-

será que pudemos classificar o atuai sistema vento do capitalismo livre- pitalismo.
concorrencial, que foram muito in-
e -
como capitalista? PQuais seriam as características
tensifícados com o surgimento do ca-
dessa nova sociedade de classes?
pitalismo monopolista.
R Prefiro não responder á pergunta
como sendo os traços esssenciais do capi- R - Essa objeção já indica que você es-
P- que medida se pode falar na
Em
infelizmente, o debate sobre es-
talismo. depois então, ta operando dentro de um marco teórico porque,
existência de um capitalismo de Esta- para,
sas questões não vem sendo travado com
no Brasil? contrastando-os com os dados da realida- e náo está disposto a considerar a neces-
do
o nível de científica e política
seriedade
de. verificar se eles ou sidade de reelaborar esse marco em fun-
R- E uma questão difícil de responder, permanecem
substituídos históricas
adequados gravidade do assunto, ra-
a
em primeiro lugar e acima de
tudo, não, se foram ou náo por ção das transformações que
zão pela qual quem se aventura a sugerir
ela supõe qüe já exista um marco outros. vêm ocorrendo ao longo do desenvolvi-
poraue novos enfoques, novas perspectivas de
teórico, um corpo de teoria formado e es- Pode-se imaginar, por exemplo, que a mento do capitalismo. Posso concordar
analise, corre o risco de se ver mal inter-
tabelei ido que nos permita olhar para a vigência da lei do valor seja um traço fun- que tudo o que está ocorrendo são trans-
os seus dados, tirar damental do capitalismo. Então, tratar- formações dentro do próprio capitalis- pretado e de ser objeto de um jogo de in-
realidade e. com
trigas. Por exemplo, recentemente, fui
uma conclusão a respeito. Mas, o que se-ia de verificar se, no modo como opera mo. mas, tenho a impressão que, se eu
a economia brasileira, a lei do valor está nessa náo estarei
atacado por um indivíduo que, embora
acontece é que o debate que vem sendo me trancar posição,
vivendo no exterior, se auto-intitula
no Brasil está imensamente tendo vigência em sua plenitude, ou se sendo fiel ao espírito desse mesmo marco
travado pre- no
transformada. Outro tra- porta-voz da classe operária e se julga
judiçado pelo fato que náo existe essa ela está sendo teórico, já que ele parte do suposto me-
direito de policiar o trabalho de seus co-
teoria que nos dê condições para avaliar ço que poderíamos apontar seria a con- todologico de que nào só a realidade é
legas. Esse ataque se deu na base da
0 fenômeno de forma verdadeiramente corrência. Ora, se se nota que a concor- histórica, se transforma, como, também,
deixando de existir, que a pura opinião pessoal, sem qualquer ten-
cientifica. Assim, a impressão que eu te- rencia está que ela não pode ser apreendida de uma
de tativa de se fazer uma critica honesta e
debate vem se dando economia não é mais uma economia vez todas por nenhuma teoria es-
nho é que esse por sistemática das idéias que eu tenho pro-
mais a partir de do que
opiniões mercado, mas. sim, uma economia de
muito pecífica.
posto.
de pronunciamentos fundamentados grandes concentrações econômicas, que P - Mas, que vem
a intervenção
P - Os empresários têm se pronun-
numa analise cientifica. Km termos de ha um teor muito grande de planeja- ocorrendo do Estado na economia, por
ciado muito sobre a chamada estatiza-
opinião pessoal, a que eu posso dizer
e mento econômico, que há todo um jogo exemplo, não estaria a serviço, em úl-
de capitalismo monopolista etc, entáo. tima instância, da empresa ção da economia. Mas, ao que parece,
que existe o capitalismo de Estado no privada
náo há entre eles um consenso. En-
Agora, difícil e fundamentar os dados básicos de uma economia con- capitalista?
Brasil. o
quanto alguns apoiam esse aspecto da
isso teoricamente. correncial não estão presentes, o que nos R Seria que nào fosse as-
impossível
há um momento em que a política econômica do governo, outros
P- Como você chegou a essa opinião levaria a acreditar na mudança do capi- sim. Mas,
vêem nele uma grande ameaça aos
talismo. Poderíamos dizer ainda, que a quantidade se transforma em qualidade.
pessoal? seus interesses. A que devem ser atri-
seja um traço fun- Por exemplo, se um indivíduo perde um
R- Basicamente, partir da constata
a propriedade privada
essas divergências?
buídas
fenômenos que, usando o damental do capitalismo, e a proprieda- rim e o substitui por um rim artificial,
ção de vários E necessário distinguir três situa-
R
meu marco teórico, indicariam que nos <le privada, no sentido clássico, e a pro- pode dizer tranqüilamente que
o seu rim
surgem seus demais . ções diferentes. A primeira e a do empre
não estamos vivendo, nesse pais. assim pnedade do indivíduo. Entáo.se artificial esta a serviço dos
sario que fala contra ou a favor da estati-
corno de um modo geral no mundo todo. outros tipos de propriedade, como a pro- órgãos naturais Mas, se, além dos rins,
se pode dizer é e esto- /.ação. tendo em vista exclusivamente os
uma situação que se poderia classificai pnedade por ações, o que ele passa a ter pulmões, coração
interesses imediatos da sua empresa.
como tipicamente capitalista 0 capita o capitalismo esta mudando, está se mago artificiais, será que ele ainda pode
que
Esses são aqueles que ja tiveram suas
lismo seiransformou comoeradese espe transformando em outra coisa. dizer que todos esses aparelhos estào a
per»pectiva> de lucros atingidas, positi-
rar a o que temos hoje não é um siste A questão maior, portanto, é um acer- serviço de seus intestinos naturais, ou
va ou negativamente, pelas intervenções
náo a situação se
ma que possa ser reduzido as dimensõe* io teórico de contas, porque pode- teria queele que admitir
o caso Maksoud.
uni estatais E de Henrv
o capitalismo teve no seu momento mos mais continuar discutindo inverteu0 Em outras palavras, o capita-
que
dessa envergadura sem a ex- "biônico"
a ser por exemplo. Outra situação e a do em
(le a|x»geu clássico. problema lismo pode continuar
nresar.o que toma posição, contra ou a
das divergências teóricas classificado como capitalismo0
P - Nesse sentido, você acredita que plicitação que
"tecno-burocracia" favor, tendo em vista o novo horizonte
a burocracia ou
'_L__f_k _¦ ¦ * ' "**"* ^ que se abriria para os seus negócios, no
como vem sendo chamada, tenha se \ ^B ^_fl __Hfl__l__i__^__l__^_M>*" longo prazo, em função da
média ou
transformado numa nova classe so-
maior presença do Katnrftr Esse e o caso,
ciai?
por exemplo, da Associação dos Agricul
R -
existe hoje no pais
Não
o deve
Dizer que
necessariamente.
ser chama
*J m tores de Minas (ierais. que defendeu a
que
do de capitalismo de Kstado não implica i_P^*** exploração
E. finalmente,
estatal
dos que
de
existe
jazidas
a situação
de fosfato

em atribuir característica de classe so-


"'tecno-burocracia". M pronunciam por ideologia ou por uma
ciai a burocracia ou
questão de princípios. Esse pode ser o
A questão chave consiste em saber o que
casa de um Júlk) Mesquita, por exem
e o capitalismo. Na medida que se res verdade que a intervenção do
pio. Se e
a essa questão - e
ponda adequadamente
eu creio que as pessoas que tem partiti r-~—»-^ __¦__________» m / II
Eatado serve ao setor privado em geral,
não se pode dizer que ela atenda aos in
não o estão fazendo
pado do debate teresses particulares de cada uma dai
admitir que o capitalismo
podtfamos unidades individuais de capital. Porem,
seus traços essenciais e
perdeu alguns de
que esse traços foram
outros.
substituídos por Z^WBsss-*
mS*+**a\\\\\W^^aam%.
J^ _L _i—— ____^
VI mais
tante.
importante
mi-lusive.
que
que
isso,
saber
mais
se esta
impor
exis-

P-Que traços seriam esses? f^y^ , _^__________B_____P^^' m


lindo ou
da economia
não uni processo de estatização
brasileira e legitimar o di-
R- Não estou dizendo que tenha per reito e institucionalizar o dever que os
dido ou O que e preciso
não. e que, por
intelectuais e os homens políticos têm de
razões facilmente compreensíveis, os ime- enfrentar esse assunto sem parti pris
lectuats que tem participado do debate ideológicos e preconceitos políticos...
vem se recusando a fazer e justamente ~t ' ".raT-t""^—~*"**~*—~~ *» Hào Pmuio Pubh,iou •¦¦<¦•«¦"¦' ul"r"
x: n_
centrar a discussão em torno desse ponto i ,.... ,' ¦ ,i,. Unindo r M»*--l»i IViliCun m. Bf»»it
local, ou seja. o que se deve entender

21/11/77
,.-,
MOVIMENTO
"burguesia
da em- na. a nossa burocrática" vê-
As tecnoestruturas fazem parte cada vez
"Estado industrial , daa orga- se compelida a enredar-se,
Florestan Fernandes presa, do
nizações mundiais e náo nasceram para
mais, á vinculação do Eatado comaex-

pansão do lucro capitalista.


operar o desmoronamento do capitalis-
mo. E possível que, a largo prazo, produ- brasileiro
Ao que parece, o Governo
zam esse feito. A curto e médio prazos, tem se empenhado tão fundamente na
elas são requisitos do novo modelo de rede das funções de acumulação volta-
desenvolvimento inerente ao capitalis- das para a proteção dos interesses priva-
mo monopolista. Esse processo se repete tistas em detrimento das funções de legi-
"países
na periferia e, em viáveis para timaçáo. que poderiam atender ás ne-
a industrialização maciça e a conversão cessidades materiais, educacionais, sa-
em pura plataforma econômica, adquire nitárias. hospitalares ou ás garantias ci-
uma intensidade própria. Em nada, po- vis e políticas da massa da população
rém, nos afastamos das funções normais brasileira, que ele não contou com espa-
e a tecnocratizaçáo mais suas
a tecnocracia ço politico para ampliar ainda
evem possuir para consolidarem o novo
3ue benesses á iniciativa privada nacional e
e, através estrangeira. Na verdade, mesmo vários
padrão de Estado capitalista
dele, acentuarem o divórcio entre a so- setores sociais que apoiam o regime en-
P - Existe um capitalismo de Eatado lado, também ae pressiona no sentido de
e o controle dos processos várias funções de acumulação
socializar náo so' as perdas, mas os riscos eiedade global caram
no Brasil? a fragmen-
potenciais da produção
e da exportação. políticos instrumentais para exercidas pelo Governo como equivalen-
"capitalismo tação da oposição ou para a taxa de ex- tes das funções de legitimação, o que se
R - O conceito de de Es- Sob esse aspecto, nenhum país pagou
"modernizar-se"
um preço tão alto para capitalista inerente ao capita- compreende, pois, para eles, ambas as
tado" é muito ambíguo. Ele tem recebi- ploração
"industrializar-se" como o Brasil. Os lismo monopolista. funções se confundem e são desfrutadas
do várias aplicações tão discordantes e
um conceito empresários nacionais e estrangeiros co- "burguesia simultaneamente. Ao que parece, te-
que acabou se tornando Isso não impede que tal de
mem especialmente as conseqüências
amorfo. Uma coisa, porém, é clara. Na nhecem essa realidade. Todavia, eles es-
Estado" venha a mudar suas atitudes e "recuo
do Governo" (visivelmen-
forma assumida pelo capitalismo monopo- tão em seus papéis ao atuarem como um de um
levaram o orientações de comportamento. Não es- te um maior controle externo da econo-
lista depois da segunda guerra mundial, grupo de pressão. Primeiro, tá na lógica da situação, porém, que ela
existe uma ampla e profunda rede de Estado a assumir várias funções econô- mia brasileira e uma maior ingerência
"funções" se contraponha ao capitalismo. E conhe- estrangeira em certas funções estratégi-
do Estado que é instrumental micas, transferindo para a Nação (e es- "burguesia
cida a tradição elitista da "contratos
trabalhado- cas). Todo jogo dos de risco'
para a iniciativa privada,
a proteção dos pecialmente para as classes
de Estado", herdada de um passado é muito ilustrativo a esse respeito. Por-
lucros capitalistas e a consolidação do ras e destituídas) os encargos do proces-
mais ou menos distante e formada sob a desse assalto
sistema mundial de poder capitalista. so. Em seguida, exigem do Estado o tanto, o que salvou o Brasil
da incor-
"restabelecimento da normalidade" (o pressão recente das exigências tem mais que ver com os limites da
Trata-se, indiscutivelmente, de um in- venha a
nenhuma dúvida, a poraçào. Por isso, qualquer que omissão do Estado, que com a ativida-
tervencionismo estatal na economia e em que levaria, sem ser a direção das transformações em cur- "burguesia
vários níveis da econômica. sobrecarregar de novo a Nação como um de da burocrática" (ou o que
política so, náo se pode esperar daí maior lealda- Esta foi e é instrumental
Contudo, ele não se volta contra a pro- todo e. em particular, as classes traba- quer que seja).
de para com um autêntico nacionalismo e a ativação
priedade privada. Ao contrário,
ele visa lhadoras e destituídas, com os custos para a absorção, a invenção
e o súbito aparecimento de ura verda-
a acumulação capitalista inten- dessa normalização). Um círculo vicioso de estruturas que colocam o Estado bra-
garantir deiro entusiasmo pela democracia.
termi- sileiro na condição de atender aos inte-
sificá-íá e proteger de vários modos uma perfeito, que, se começou, poderá
com as espectativ as dos resses privados, ainda que de um modo
maior lucratividade ou segurança do ca- nar de acordo Estruturalmente vinculada ao
tripé
em que é No fundo, pretendem inter- sui generis
pitai. Chegamos a um ponto setores privados. Estado-multinacionais-burguesia
inconcebível o funcionamento e a conti- utilizar o Estado como um instrumento
nuidade de uma economia capitalista de acumulação originária de capital- Já
sem o concurso de várias funções diretas se fez isso no passado, sob o mercantilis-
e indiretas do Estado
- e se estas fun- mo e sob diferentes políticas coloniais. Sérgio Silva
ções desaparecessem, o capitalismo
en- Náo há razáo para que não se repita o
írentaria uma crise fatal. Não se trata de em
processo, em condições modernas,
um quadro válido só para as nações ca- contam com viabilidade para
países que
débeis e subdesenvolvidas. a industrialização maciça e a condição
"potência
ssa é a
Êitalistas realidade das economias capita- de intermediária". Essa è a
listas avançadas e hegemônicas, bem condição brasileira - o que nos força,
como de sua superpotência. Não é de tais pres-
queiramos ou não. a combater
espantar-se que tal quadro se repita na soes, ainda que nos oponhamos ao regi-
exacerba-
periferia e que ele apresente me existente.
ções curiosas quando o Estado precisa,
P - O que impede o Estado braailei- As empresas estatui* sâo capitalistas e visam o
além do mais, criar uma infra-estrutura
ro de ceder a tais pressões? Seria por htem; seus grandes funcionários constituem
para a operação das grandes corporações ventura, a existência de uma tecnocra-
e para a expansão da industrialização uma burguesia de Estado
cia que opera como burguesia de Ea-
maciça, gerar estabilidade política para
tado?
a incorporação das economias capitalis-
R - De novo, a questão é complexa de- P - Como você situaria o debate
com base no trabalho assalariado. Mas
tas periféricas no espaço sócio-econò-
mais para uma entrevista. Ficando em sobre a estatização?
o processo de produçáo do qual faz
mico das nações capitalistas centrais. To-
um plano geral, poder-se-ia dizer que a parte a empresa socialista nào pode sim-
mando-se esse contexto como pano de é R - Eu começaria por negar a exis- assegurar a reprodução dessa
"capi- tecnocratizaçáo do Estado capitalista plesmente
fundo, pode-se usar o conceito de téncia de uma oposição radical entre a
um fenômeno comum ao centro e á peri- base material. Ao contrário, ele deve ser
talismo de Estado". Recomendaria, en- empresa privada e a empresa estatal.
feria do mundo capitalista Por isso, se- o processo da sua progressiva destruição,
tretanto, que se entendesse a noção em Trata-se de uma discussão muito anti-
ria um exagero que qualquer
' - ao meu modo istoé, destruição do processo de produ-
um sentido próprio: a de um Estado que pretender
"burguesia
de Estado se ga, na qual a razáo está e
coisa chamada çào enquanto produçáo de mercadorias
assume funções diretas e indiretas na de ver - com aqueles que vêem a empresa assalariado. E só
voltasse contra o capitalismo privado. eliminação do trabalho
expansão do
proteção, fortalecimento e estatal como uma forma de empresa pri-
"pri- nesse caso que não há acumulação de
"empresa"
capitalismo privado, acabando, por isso, vada. De certo modo, e
do socialismo;
capital, mas construção
gerindo um amplo setor da economia vado" querem dizer a mesma coisa. A
"público", só aí a empresa estatal é socialista.
como se fosse mas mantendo empresa é a forma jurídica geral das
estatal
todos os critérios da propriedade privada unidades de produçáo privadas. Empre- P - Como situar a empresa
e preocupando-se em transferir para o sa particular, sociedade anônima e em- em um país capitalista?
setor privado as vantagens estratégicas
presa estatal sáo formas particulares.
A R - Em um país capitalista, uma uni-
de sua participação econômica.
produçáo é privada porque é produçáo dade de produçáo que produz mercado-
de mercadorias. A forma mercadoria rias com base no trabalho assalariado é
P - Nesse caso, porque oa empresa- uma empresa capitalista, seja ela de
levan- explica-se pelo caráter privado da pro-
rios nacionais e estrangeiros
contra o duçáo. Além disso, a empresa - inclusive propriedade particular
ou do Estado.
tam uma celeuma tão forte sinto-
"capitalismo de Estado"? a empresa estatal - é não só uma unida- Sobre esae ponto, destaque-se como
"^M ILia de de produçáo de mercadorais, mas mática a chamada empresa mista, que
V ^^^^ e privado (na-
R - Na verdade, essa é uma questão ainda uma unidade de produçáo de reúne capital do Estado
mercadorias baseada no trabalho assa- cional ou estrangeiro). Trata-se de um
demasiado complexa para uma entrevia-
lariado. Em conseqüência, é uma uni- tipo de empresa cada vez mai* frequen-
ta. Salta aos olhos que os empresários
nacionais e estrangeiros atuam como
um dade de produção basicamente capita- te no Brasil.
Para eles, a interven- lista, uma unidade de produçáo adapta- P - Se ambas sio empresas capita-
grupo de pressão.
no nivel econômico da á produçáo de lucro. listas, onde eatá a diferença que noa
çào direta do Estado
deveria terminar com a criação de condi- P - Então toda eippresa estatal ae- permite íalar em dois tipos de empre-
"normais"
ções de implantação de cer- ria uma empreaa capitalista? Inclusi- sa capitalista?
tas empresas. Uma compreensão errada ve no socialismo? R - Enquanto empresas produtivas
"modelo empre-
do japonês" leva esses R - Não. Se o país é realmente um capitalistas, ambas são produtoras de
sérios a pretenderem o melhor dos dois é uma empresa
país socialista.a empresa lucros. A diferença náo está aí, mas no
distintos. En-
mundos em momentos socialista. O caráter socialista da empre- fato de serem dois tipos diferentes de
atividades eram muito ar-
quanto certas "es sa não se explica pela propriedade esta propriedade capitalista. A diferença
cabia ao Estado saturar o
riscadas, FltMUi Ttrmmém * milhai f» W*tm tal e sim pelo caráter do Estado. Náo há deve ser buscada na apropriação do lu-
ao se drátko _U VmirmtMt»* g****** tm*
vazio". Posteriormente, dúvida de que a expressão empresa so-
paço cro. Para chegar lá, creio que devemos
atingir um patamar lucrativo compensa- rior, ui âtSlttSSãttâ ét C*litmU*. Yate • Toroala
cialista indica uma contradição. Ela in- distinguir dois casos de empresas esta-
e Eatra mu* «ai* ét » Um* *****»» tmtmetm-m A
dor. eles exigem a transferência pura R*voliKfc> Burmjaaa no BiW. ¦ Intafraçèo do Nmto na dica que a base material da produção tais. Primeiro: a empresa inteiramente
simples das grandes empresas "conglo- estatais Sociadada d* Cltmm. CapiUliamo Dapandant* t Claaaa»
Sociaia na Amínca Latina. A 1'nivmidad* Bra»il*ira R«
ainda não é a base material do socialis- submetida ao estado. Essa empresa náo
(através de
para o setor privado forma ou Ravolucfe" Atualmrat*. Wviona aa Pontifícia mo; a base material da produçáo ainda é
merados", em que se associariam capi- (.'niverridad* Cawllca d* Séo Paula. mercadorias
outro
capitalista: produção de
tais nacionais e estrangeiros). De

IS
Leve um, pague dois e uns trocados
Agora o consumidor poderá saber se a compra à prestação é um bom
negócio para ele ou para a loja

é originária de um projeto apresentado do Mappin: máquina de Mesbla de São Paulo - que estão entre
manhã da quarta-feira da se- ções (anúncio -
deputado Herbert Levy (Arena- lavar Brastemp, por Cr| 5777.00 ou por as maiores que operam com crediário
mana passada, Lucila, 21 anos,
P), e deverá entrar em vigor tão logo 491 mensais); os juros chegam a quase 5% ao més, o
Nt comerciaria, moradora no bairro gelo
Casa Verde, na cidade de São Paulo, ad- seja publicada no Diário Oficial. 2) fornecem o número e o valor das que pode ser considerado uma taxa ex-
á vista (a- torsiva diante do risco da operação. O
quiriu no grande magazine Mappin um A lei, se corrige alguns aspectos da prestações, mas não o preço
dei- Tv Philco. em 24 Mappin, por exemplo, anuncia uma má-
secador de cabelos Pandoro, em 24 pres- publicidade das vendas è prestação, núncio do Mappin:
tações mensais de Cr$ 160,80. Como ex- xou de adotar a providência mais sim- prestações mensais de
595,00); quina de costura Singer, por Cr$ 3990,00
o valor da presta- á vista, ou em prestações de 331,20. Indo
plicou a Movimento, ela fora atraída pies de todas: obrigar que a loja declare 3) fornecem apenas
lo- o preço á vista e o preço total da merca- do Mappin: fogão Brás- á loja, fica-se sabendo que são 24 presta-
pela baixa prestação anunciada pela ção (anúncio
à doria vendida à prazo. Isso permitira ao temp por 719,60 mensais). ções de 331,20, o que dá um preço total
ja, pois não poderia comprar o secador de Cr| 7.948,80, que é o dobro do preço á
visto, já que ganha apenas 2.700 men- consumidor uma comparação imediata e A técnica de não colocar nos anúncios
maiores detalhes que permitam ao con- vista. Supondo-se que este acréscimo
sais. Mas, talvez refletindo o comporta- direta entre o preço á visto e o preço to-
sumidor calcular qual é o aumento de corresponde aos juros cobrados que vão
mento de maioria dos que compram a tal a prazo, permitindo-lhe calcular com
vendida á presto- embutidos nas prestações, o consumidor
prazo. Lucila nio soube
dizer qual o va- facilidade o aumento provocado pelo pa- preço da mercadoria
lor total que ela acabaria pagando pelo gamento a prazo, freqüentemente dissi- ção se justifica nt medida em que se que faça a compra da máquina de costu-
"pequenas ra nestas condições estará pagando mais
secador e qual a diferença entre esse va- mulado nas e suaves" presto- comprova que esse aumento é enorme.
lor e o preço à visto anunciado pelo lojas. Apesar des- Ou seja, na venda á prestação, os gran- de 4*7 de juros ao més à loja ou à sua fi-
ções anunciados pelas
des lojas ganham duplamente: ganham nanceira. Da mesma forma, uma gela-
Mappin. Ou seja, ela não sabia quanto o sa falha, o consumidor agora poderá cal-
"quanto deira GE foi anunciada pela Mesbla por
Mappin estava lhe cobrando de juros e cular, com algum esforço, eus- na venda da mercadoria, pela diferença
do que pagam ao fornecedor e do que Crf 4.690,00 à visto ou em 24 prestações
comissões pela venda á prestação: o ta" a prestação, pois as lojas deverão de-
"de- tradicional de 398,65 cruzeiros, o que dá um preço
anúncio da loja não explicava esse clarar além do preço á visto, o valor da cobram ao consumidor (a
exercida pelo comércio), total de Cr| 9.567,60, mais que o dobro
talhe" e nem ela se lembrou de pergun- prestação e o número de prestações. intermediação
Estes dados nunca sáo fornecidos con- operação financeira que do preço à vista. Aceitando o negócio, a
tar ao vendedor. Na realidade, o secador e ganham pela
e comissões nas consumidor vai pagar o preço da merca-
acabará saindo para Lucila por Cr$ juntamente nos anúncios das mercado- fazem, ao cobrar juros
rias feitos pelas grandes lojas, de modo vendas á prestação (freqüentemente, as doria e mais Cr| 4.877,60, só de juros.
3.852,20, mais que o dobro do preço à
têm suas pró- Ou seja, vai pagar por duas geladeiras e
vista. que nunca é possível ao consumidor
uma grandes cadeias de lojas
intervém na opera- mais uns trocados.
Foi talvez para ajudar os consumido- comparação entre o preço à vista e o pre- prias financeiras que
é
res a terem condições de avaliar o nego- ço total a prazo. Os anúncios estampa- ção, sem que o comprador perceba:
dos nos últimos domingos, no jornal O esta financeira que empresta o dinheiro Talvez a nova lei que regula a publi ci-
cio que estão aceitando quando fazem
uma compra á prestação, que o governo Estado de S. Paulo são um bom exem- ao comprador, cobrando-lhe juros extor- dade das vendas à prestação ajude as
sancionou recentemente uma lei que tor- pio. Sempre sonegando informações
ao sivos, para que ele possa realizar a com- pessoas, como Lucila, a não ver o nego-
na obrigatória a declaração do preço de consumidor, eles podem ser classificados cio somente pelo valor aparentemente
pra). u
venda à vista e do número e do valor das em três tipos: A quanto montam hoje os juros cobra- baixo da prestação. Com um certo esfor-
escri- 1) fornecem o preço á vista,o valor da dos nas prestações'7 De acordo com le- ço. será possível verificar se a loja é que
prestações mensais na publicidade
ta e falada de qualquer mercadoria. A lei prestação, mas não o número de presta- vantamentos feitos nas lojas Mappin e esta fazendo um bom negócio.

- que medida a sua análise


Em
se apropria diretamente do lucro neces- nomia real, a situação se complica por tudo isso era secundário, que ele cuidava P
traba-
sário a sua reprodução, nem dispõe de li- que a própria burguesia de estado se mesmo era do capital ou que. se ele cui permitiria pensar a posição doe
transforma em uma fração rejativamen- dava de tudo isso, era so para cuidar de lhadores diante da controvérsia: esto-
herdade para aplicá-lo de acordo com
critérios próprios. Mas, veja bem, isto te autônoma da burguesia e, como tal, capital? Hoje, náo, está tudo muito mais tização ou privatização?
nào quer dizer que a empresa não pro- passa a concorrer também na luto pelo claro.
duza lucros, nem mesmo que ela não se controle do Estado. Essa luta é um dos R - Acho praticamente impossível jus-
P - E a burguesia de Estado?
aproprie de lucros. Se ela se reproduz, aspectos cruciais da concorrência inter- ti ficar a defesa da privatização por parte
ela expele e ingere, constantemente, lu- capitalista. Náo seria a burguesia de es- R - A partir dai, entendemos a bur
dos trabalhadores. Mas acho também
cros. Só que , nesse caso, os lucros de que tado quem iria desconhecer esse fato. guesia de Estado como os funcionários do e empresas
que empresas particulares
falamos náo aparecem sob a forma de lu- capital das empresas do Estado Se o Es estatais sáo variações da empresa
P - Na medida em que a controverti- priva-
cros no sentido usual do termo, mas tado possui empresas e se o Estadoe ca- da Entretanto, em determinadas situa-
da noção de burguesia de Estado ocu-
como subsídios, por exemplo. Segundo na sua expli- pitatista. essas empresas *ão capitalista.- ções históricas, os trabalhadores po-
pa um lugar importante e o seu capital define (quer dizer.implica
caso: empresa estatal relativamente au- não seria possível explica-la dem defender as empresas estatais, sem
cação, nor definição) uma burguesia deEstad-
tónoma. Os preços pelos quais ela vende que isso signifique simplesmente, nem
melhor? Se essas empresas possuem uma autono-
as mercadorias permitem a apro-
suas mesmo principalmente, a defesa de uma
R -Seria. Sobre isso, acho que o mia relativa, isto e, se a burguesia de Es
priação direta do lucro necessário à sua torma de empresa capitalista. Quer di-
reprodução; ela dispõe de liberdade para problema maior esta na própria noção tado deve concorrer ativamente para as zer. i>s trabalhadores podem defender as
de burguesia. Ima compreensão correta segurar a reprodução ampliada 00 capi
aplicar esses lucros em função dos inte- empresas estatais, mas nunca pelos
resses da sua reprodução ampliada. Es- do que e burguesia ja é meio caminho tal. a burguesia de estado constitui uma mesmos motivos da burguesia ou qual-
diferenças se manifestam concreta andado. Afinal, o que e a burguesia? O fração da burguesia
sas quer de suas frações, inclusive a burgue-
essencial t-montra-se naconhecida ima-
mente ad nível da fixação dos preços, sia de Estado.
dus incentivos, dos créditos, na questão gem: ¦ burguesia e a classe dos funciona-
rios do capital. 0 que faz o funcionário
relativa a poder ou não poder participar Assim - aconteceu no Brasil
do capital0 Ele cuida da produção'.' Não. penso
do mercado de capitais, lançar, vender a defesa das empresas estatais
Ele cuida da comercialização, da propa- quando
ou comprar ações, aplicar no mercado
se incluía numa luta mais ampla, cujo
aberto etc. ganda' Nào. Ele vai a recepções, partici-
relato- objetivo era exatamente a transforma-
pt de muitas reuniões, lé alguns
P - Como passar daí para as rela- rios (geralmente resumindo outros rela- vão do Estado. Quando esse objetivo pas
miu para o segundo plano, a luta perdeu
ções entre empresas estatais e parti- torios). discute com intelectuais e artis-
*EmL2**\ o seu verdadeiro sentido e a defesa das
culares ou privadas? tas, visita deputados e ministros. Ele cui- \ 7.3tw MmmT*\ *\7*^**
empresas estatais deixou de correspon-
da do capital. Ele faz uma série de coisas
R Através da analise da concorrén- der toa interesses dos trabalhadores. Em
cia intercapitalista. Nenhum dos dois que o levam, muitas vezes, exausto para "erro"
resumo, o consiste em colocar a
casos examinados elimina a concorrén- ¦ cama e. muitas vezes, até mesmo ti-
Lm3 li J .questão em termos gerais, sem que fique
tia. Bati concorrência é a concorrência ram o seu sono. Ele so pão faz coisas que
costuma iden- claramente definido o objetivo dos tra
apropriação do lucro e, por menor o comum dos mortais
pela balhadores. Essa questão, só pode ser
empresa esta- iificar com trabalho. A não ser que ele
que seja a autonomia da corretamente colocada se claramente su-
seja um medio ou mesmo um pequeno
tal. ela exige lucros para viver. Entre- b,>rdinada a objetivos políticos, os quais,
tanto, no primeiro caso, a parcela de lu- capitalista. Nesse caso, pode ser até que
ele realize algum trabalho produtivo, por mío iez. so pode ter como estratégia
CTO apropriado pela empresa estatal, as- i !ran*f:>rmaçãt> do Estado Para termi-
mas não e esse trabalho que faz dele um
sim como o modo de sua aplicação, são nar. eu f)«>SM>acrescentar que ao meu
decididos ao nível do estado, isto é, lun- capitalista. Ele e capitalista pelo que ele
modo de ver - a questão politica central
faz alem desse trabalho, quando se libe-
damentalmente pelo conjunto dos capi- do momento presente, o objetivo politi-
ra desse trabalho para... cuidar do capi-
t alistas. Enquanto que. no segundo caso, i a dos trabalhadores atualmente, e a de-
tal. Qualquer pessoa experiente sabe
essa parcela é conquistada no mercado "quem moerteia. Evidentemente, privatizar
e a aplicação que trabalha nào tem tempo
pela burguesia de estado, nãoé democratizar, é luta pela apropria-
dos lucros e realizada de modo a maxi- para ganhar dinheiro".
ção de lucros, concorrência intercapita-
niizar a força da empresa, tendo em vis- Ha quem diga que o desenvolvimento lista Mas os trabalhadores também náo
ta justamente essa concorrência. E ver- do capitalismo nos últimos cem anos S«t«io Sil». * profraaor A* toooomt*
****» tíabalko.

voltado* par* • am*\la* A* <!•••• vol »im#»w *o


}>«>dem limitar-se a escolher o tipo de pa-
dade que essas empresas, por serem es- tornou difícil entender o que é a burgue- r.i.o
r.t-lrt ***.. i-alacam a*
*, «•> irão 0 problema consiste em se chegara
uapitaliamo nu Rraaàl
tatais. permanecem sujeitas ao estndo e, sia. Eu penso o contrário: difícil foi re gomo* ,aírr,r* t a,
.,t,ttn. Aa ,ml\i»tna no Bra».I \«t-.
uni programa democrático dos trabalha-
l t*****.Xo »•-
cultura t raptlalumo no Hra»ii tr»>i*«*
por conseguinte, as decisões do conjunto conhecer o burguês naquele personagem dores, de modo a deixar claro que eles re
vrmbro l»7fi) * Forma» At acumulaváo t ************
dos capitalistas. As suas asas podem ser corrtplicado do século passado, que cui- ,),. MpitaÜMM no campo laa ,*s*t**.im*a or«aaua4a por
trabalho n. Hunti», presenteai l principal força democrática
dava de produção, comercialização, de .laim* Pinakv Capital
cortadas. Entretanto, na medida em que itni. no Brasil.
as empresas estatais ganham uma auto- um todo. ("orno foi que descobriram que

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MOVIMENTO 21/11/77

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