Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
JEE5artn 010202
JEE5artn 010202
R ESUMO
Escrita a mais de 50 anos atrás, Mecanismos da Mediunidade é uma obra que ainda desafia o estudioso espírita.
Nela, André Luiz propõe uma forma de entender os mecanismos da mediunidade, utilizando-se de comparações
entre determinados efeitos e fenômenos da Física e da Psicologia e alguns efeitos da ação dos pensamentos sobre
os fluidos espirituais. O objetivo desta série de estudos (esta é a parte II) é esclarecer as razões e o valor relativo
dessas comparações em termos doutrinários. Na parte I [Jornal de Estudos Espíritas 4, art. n. 010201 (2016)],
esclarecemos porque André Luiz comparou a emanação fluídica de seres espirituais elevados com a emissão de
raios γ dos núcleos de elementos radioativos da matéria. Aqui, apresentamos um estudo sobre a analogia que ele faz
entre circuitos elétricos e a mediunidade. Descrevemos os elementos mínimos que compõem um circuito elétrico
simples e esclarecemos a relação entre o valor relativo de cada elemento do circuito para o seu funcionamento, com
as condições necessárias para o fenômeno da mediunidade, segundo a proposta de André Luiz. Veremos que André
Luiz corrobora exatamente algumas lições contidas nas Obras Básicas da Codificação, com uma ênfase especial na
importância do médium desenvolver sua concentração, o controle sobre si mesmo e sobre a entidade comunicante,
para que o fenômeno mediúnico seja benéfico para todos: encarnados e desencarnados.
Palavras-Chave: Mecanismos da Mediunidade; fluidos espirituais; circuito mediúnico; vontade; controle da me-
diunidade; concentração.
DOI: 10.22568/jee.v5.artn.010202
desses conceitos da Física são relevantes para explicar ou comunicante e médium, ambas relacionadas com o pen-
valorizar os conceitos espíritas descritos por André. samento e a vontade que são as “alavancas” do Espírito
Como a Doutrina Espírita é nossa referência a res- (ver cap. XIV de A Gênese (GE) [5]). O Espiritismo não
peito dos fenômenos espíritas, é válido aqui reproduzir entra no mérito dos mecanismos físicos envolvendo a in-
um resumo de como o Espiritismo descreve os mecanis- teração entre os fluidos e a matéria. Infelizmente, nossa
mos da mediunidade. A partir de conceitos presentes em Ciência ainda não reconhece a existência dos fluidos espi-
O Livro dos Médiuns (LM) [3] e O Livro dos Espíritos rituais2 . Como comentamos acima, embora André Luiz
(LE) [4], os mecanismos da mediunidade segundo o Es- construa suas explicações para os mecanismos da mediu-
piritismo podem ser entendidos em 5 itens a seguir: nidade em termos de conceitos da Física e da Psicolo-
gia, essa tentativa não constitui uma teoria científica dos
1. O perispírito é o agente das sensações exteriores fluidos ou sua interação com a matéria. É ele próprio
(item 257 do LE. “Durante a vida, o corpo recebe quem esclarece isso no Cap. 7 de MM, intitulado “Ana-
impressões exteriores e as transmite ao Espírito logias de circuitos”:
por intermédio do perispírito.” (Kardec, item 257
Cabe considerar que as analogias de circuitos apre-
do LE, grifos meus). A percepção dos Espíritos se
sentadas aqui são confrontos portadores de jus-
dá através de todo o seu ser quando está desencar-
tas limitações, porquanto, na realidade, nada existe
nado ou emancipado do corpo, e não através órgãos na circulação da água que corresponda ao efeito mag-
como quando está encarnado (item 249a do LE); nético da corrente elétrica, como nada existe na
corrente elétrica que possa equivaler ao efeito
2. O perispírito e o fluido universal servem de meio espiritual do circuito mediúnico [1, Cap. 7, grifos
de transmissão ao pensamento, como o fio elétrico meus].
(item 455 do LE e itens 51 e 58 do LM). “O Espí-
rito precisa, pois, de matéria, para atuar so- Por isso, e por razões que discutimos antes (ver parte
bre a matéria. Tem por instrumento direto I deste estudo [2]), o pensamento ou os fluidos espirituais
de sua ação o perispírito, como o homem tem não são ondas eletromagnéticas, nem as partículas que os
o corpo. Depois, serve-lhe também de agente in- constituem são exatamente do mesmo tipo, propriedades
termediário o fluido universal, espécie de veículo e funções das partículas que compõem os átomos da ma-
sobre o qual ele atua, ...” (Kardec, item 58 do téria.
LM, grifos meus); Na primeira parte deste estudo [2], esclarecemos a
comparação feita por André Luiz, contida na obra MM,
3. É preciso que haja uma ligação entre desencarnado entre a emissão de raios γ (diz-se “gama”) por núcleos
e médium para haver a comunicação espírita. O de elementos radioativos da matéria com a emissão de
fluido do médium se combina com o fluido univer- fluidos por Espíritos muito elevados. Assim como a emis-
sal que o Espírito carrega consigo. É necessária a são de raios gama decorre de reações e transformações
união desses dois fluidos para haver o fenômeno da profundas no âmago dos núcleos atômicos da matéria, a
mediunidade, seja de efeitos físicos (item 74 do LM) emissão de uma vibração muito elevada decorre de trans-
seja de efeitos inteligentes (item 223 do LM). formações, emoções e sentimentos muito profundos na
intimidade do ser. Sentimentos bons mas menos pro-
4. Os Espíritos se comunicam com os encarnados (mé- fundos, como aqueles que sentimos quando estamos em
diuns) da mesma forma como os Espíritos se comu- preces, são capazes de fazer-nos gerar luzes espirituais de
nicam entre si, isto é, tão somente pela irradiação frequência menor que as vibrações comparadas por An-
do pensamento (item 225 do LM). dré Luiz aos raios gama, mas de frequência maior que as
5. Os Espíritos tem mais facilidade para responder vibrações e pensamentos comuns do dia-a-dia. Ele faz
questões quando há afinidade entre o perispírito analogia dessas vibrações boas da prece com aquelas que
do desencarnado e o do médium que serve de in- os elétrons emitem quando ganham bastante energia den-
térprete. “Quando seja um terceiro quem nos haja tro de seus átomos e liberam-na na forma de fótons de
de interrogar, é bom e conveniente que a série de frequência um pouco maior. Na Física, a energia de um
perguntas seja comunicada de antemão ao médium, fóton é proporcional a sua frequência. Quanto maior a
para que este se identifique com o Espírito frequência, maior a energia do fóton, e sua capacidade em
do evocador e dele, por assim dizer, se impregne, transformar a matéria ao seu redor. Por isso que são os
porque, então, nós outros teremos mais facili- raios ultravioletas e raios X, e não os raios de luz visível,
dade para responder, por efeito da afinidade que são capazes de causar câncer, pois eles tem frequência
existente entre o nosso perispírito e o do e, portanto, energia suficientes para causar reações quí-
médium que nos serve de intérprete.” (Erasto micas nos núcleos das células, podendo levar ao cancer.
e Timóteo, item 225 do LM, grifos meus). No Espiritismo, a frequência da luz espiritual condiz com
a qualidade elevada do sentimento íntimo que um Espí-
Os mecanismos da mediunidade segundo o Espiri- rito vivencia, que tem poder transformador para o bem.
tismo, portanto, decorrem das propriedades e funções do Cumpre destacar, porém, que a analogia não é perfeita
perispírito e questões de afinidade fluídica entre Espírito porque a luz emitida por um corpo material sempre atua
2O termo “fluido espiritual” não é rigorosamente exato, mas isso foi discutido por Kardec no item 5 do Cap. XIV da GE [5].
mecanicamente na transformação de outros corpos ma- um aparelho eletrodoméstico, ou qualquer outro aparelho
teriais (raios ultravioletas sempre causarão mutações nos elétrico que realiza algum tipo de trabalho. No esquema,
seres suscetíveis a isso), porém com o Espírito a dinâ- o elemento ativo é representado por uma resistência elé-
mica não é mesma porque o Espírito sempre tem o livre- trica que define o valor máximo de corrente e potência
arbítrio para regular sua sintonia em vibrações maiores elétrica que serão consumidos.
ou menores. Em outras palavras, as boas vibrações de André Luiz dá um destaque ao conceito de gerador
um bom Espírito podem até ajudar outros Espíritos, mas elétrico. Nas usinas hidro ou termoelétricas, por exem-
nunca transformá-los moralmente de modo mecânico ou plo, o gerador é composto pelo dínamo que é um apa-
automático. A fé raciocinada exige de nós que façamos relho que converte energia mecânica em energia elétrica.
essa distinção e identificação desse limite de validade das Quando as turbinas do gerador são impulsionadas seja
analogias entre os efeitos de ondas e luzes materiais e pela água acumulada em uma represa (numa usina hi-
efeitos de luzes espirituais. droelétrica) ou pelo vapor d’água em alta pressão (ge-
Aqui, apresentamos a parte II desse estudo de escla- rado numa usina termoelétrica), espiras elétricas giram
recimento sobre a obra MM, que consiste de explicar as dentro de um ambiente contendo campo magnético, con-
analogias que André Luiz faz entre os elementos que com- forme ilustrado na figura 2. O movimento de um circuito
põem um circuito elétrico, que vão desde o gerador, pas- elétrico dentro de um campo magnético faz gerar movi-
sando pelos fios, até o elemento ativo (um motor ou uma mento de cargas elétricas através da produção de uma
lâmpada por exemplo), com o conceito de “circuito me- força eletromotriz. Esse é um fenômeno conhecido como
diúnico”, onde os fluidos do desencarnado e do médium se Lei de Faraday3 . O resultado, portanto, da ação do ge-
ligam e combinam para a realização do fenômeno mediú- rador é o acúmulo de cargas elétricas de sinais contrários
nico. Mostraremos o importante papel que a vontade do nos terminais a e b do gerador (figura 2).
médium tem no processo mediúnico, conceito este que
consideramos uma das mais importantes contribuições
doutrinárias de André Luiz na obra MM.
O artigo está organizado da seguinte maneira: na se-
ção II, analisamos conceitos científicos relacionados aos
elementos de um circuito elétrico. Na seção III, apre-
sentamos a descrição de André Luiz para o “circuito me-
diúnico” e a comparação que faz com os elementos que
formam um circuito elétrico. Um resumo das principais
conclusões é apresentado na seção IV.
II C IRCUITO ELÉTRICO
Figura 2: Ilustração de um dínamo. Uma espira é colocada
De modo a entender as analogias que André Luiz faz entre os pólos Norte e Sul de um imã, de modo que possa girar
na obra MM, vamos descrever as características de um em torno de um eixo que cruza o espaço conforme a figura.
circuito elétrico simples e seus componentes. A figura Se o eixo da espira é feito girar, uma diferença de potencial
a seguir ilustra um esquema e um exemplo de circuito elétrico surgirá entre os terminais a e b. Um circuito ligado
elétrico. aos terminais a e b fará com que surja uma corrente elétrica
entre eles. “B” é a letra usada para representar o vetor campo
magnético.
Há outros tipos de geradores como, por exemplo, a pi- forma como a matéria produz luz, magnetismo e corren-
lha ou bateria. Dentro da pilha, há compostos químicos tes elétricas. Destacamos a palavra *analogia* porque
que ao reagirem permitem formar um acúmulo de cargas André Luiz deixou bem claro isso no Cap. 7 de MM, já
positivas e negativas entre seus terminais. Pilhas ou ba- comentados na Introdução. Cumpre-nos, também, escla-
terias transformam energia química em energia elétrica. recer o entendimento doutrinário do assunto. Por forças
Independente do tipo de gerador, para haver corrente mento-eletromagnéticas André Luiz se refere ao Fluido
elétrica é necessário que um circuito elétrico ligue os dois Universal (FU) modificado pela ação do pensamento e
terminais através de fios que conduzam eletricidade. Essa vontade do Espírito [5, Ver cap. XIV de GE] que, então,
ligação é, em geral, representada pela chave elétrica que se propaga em direção e de acordo com a qualidade do
permite fazer ou desfazer os contatos entre os fios de pensamento. Isso é importante pois o espírita não pode
acordo com a vontade do operador. Embora passivo, o nunca perder de vista a referência doutrinária das obras
papel dos fios é também destacado por André Luiz em de Kardec, na explicação dos fenômenos espíritas.
suas comparações. A vontade do operador é um item im-
portante nas analogias que André Luiz faz. A figura 3 III.2 Gerador mediúnico
ilustra o resultado de ter a chave aberta ou fechada.
Logo em seguida, ainda no Cap. 5 de MM, André
Luiz define o conceito de gerador mediúnico. Para isso,
ele faz algumas definições, isto é, ele considera primeiro o
conceito de cargas positivas e cargas negativas da seguinte
maneira:
Idealizemos o fluxo de energias mento-eletromagné-
ticas, ou fulcro de ondas da entidade comunicante
e do médium, como dois campos distintos, associ-
ando valores positivos e negativos, respectiva-
mente, com uma diferença de potencial que, em
Figura 3: Circuito aberto (esquerda) e fechado (direita). nosso caso, constitui certa capacidade de junção
específica [1, Cap. 5, item “Gerador mediúnico”,
grifos meus].
III C IRCUITO MEDIÚNICO
Agora, vamos analisar algumas analogias que André Primeiro, lembramos que por energias mento-eletro-
Luiz faz envolvendo esses conceitos de circuitos elétricos magnéticas André Luiz se refere ao FU modificado pela
e seus elementos com o fenômeno mediúnico na seguinte ação do pensamento e vontade. No caso da citação
sequência: conceito de dínamo, de gerador mediúnico e acima, André Luiz afirma que devemos considerar o FU
analogia com o gerador “shunt”. modificado pelos Espíritos do desencarnado comunicante
e encarnado médium como representando duas polarida-
des, de modo *análogo* à polaridade elétrica devido ao
III.1 Dínamo espiritual
acúmulo de cargas positivas e negativas. Isso faz sentido,
André Luiz define o conceito de dínamo espiritual da porque se encarnado e desencarnado não pensarem em
seguinte maneira: nada e não quiserem se comunicar, não haverá fenômeno
mediúnico. Vemos, portanto, que André Luiz não afirma
O Espírito, encarnado ou desencarnado, na essência, que a corrente mediúnica será composta de cargas “elé-
pode ser comparado a um dínamo complexo ... Para tricas” do mundo espiritual, mas de FU modificados pelo
que nos façamos mais simplesmente compreendidos, desencarnado e encarnado. Isso está em pleno acordo
imaginemo-lo como sendo um dínamo gerador, indu-
com as obras de Kardec (veja, por exemplo, o item 2 do
tor, transformador e coletor, ao mesmo tempo, com
capacidade de assimilar correntes contínuas de força
resumo apresentado na Introdução).
e exteriorizá-las simultaneamente [1, Cap. 5, item Em Física, potencial elétrico é definido como a energia
“Dínamo espiritual”]. potencial eletrostática, por unidade de carga elétrica, ca-
paz de fazer cargas elétricas se moverem sob ação de for-
Na definição simples de dínamo, vimos na Seção an- ças eletrostáticas que se formam devido a um acúmulo de
terior que ele nada mais é que um conversor de energia cargas. Por diferença de potencial, entende-se dois pon-
mecânica para energia elétrica, baseado na Lei de Fara- tos no espaço entre os quais existe um valor não nulo de
day. Entretanto, na definição de André Luiz, transcrita potencial elétrico de um ponto em relação ao outro, isto
acima, mais funções foram atribuídas ao conceito de dí- é, que faz com que cargas elétricas acumuladas em um
namo espiritual. Ele diz ser o Espírito um dínamo com- dos pontos possam se mover em direção ao outro ponto,
plexo, capaz de não somente de gerar correntes de forças caso haja um condutor que os conecte.
e exteriorizá-las, mas também induzir, transformar e co- André Luiz não se refere a acúmulo ou capacidade de
letar esse tipo de força. gerar movimento de cargas quando define o conceito de
André Luiz chama essas forças de mento-eletro- diferença de potencial no fenômeno mediúnico. Primeiro,
magnéticas. A intenção de André Luiz é associar essas ele associa a ideia de diferença de potencial com o que
forças ao que a mente produz e fazer analogia com a ele chamou de valores positivos e negativos que, por sua
vez, dizem respeito aos pensamentos do Espírito desen- e façamos uma análise doutrinária a respeito:
carnado e médium. De fato, sem que hajam pensamentos
distintos, não é possível haver fluxo (ou troca) de pensa- C1. O pensamento de aceitação ou adesão do mé-
mentos. E, por valores positivos e negativos, ele não quer dium é condição necessária para o fenômeno mediúnico.
dizer que sejam positivos e negativos no sentido moral,
mas que representam apenas pensamentos de seres dis- As palavras aceitação e adesão revelam uma ação da
tintos: de um desencarnado e de um encarnado. vontade do médium com relação ao Espírito que deseja se
Mas, André Luiz também associou o conceito de di- comunicar. Aceitar ou aderir significam concordar com
ferença de potencial no fenômeno mediúnico ao que ele ou conceder ao Espírito, mesmo que momentaneamente,
chamou de uma certa capacidade de junção específica. a oportunidade de se comunicar. Entretanto, essas pala-
O que seria essa capacidade de junção específica? Va- vras não significam afinidade que significa semelhança de
mos primeiro interpretar as palavras que compõem esse sentimentos, preferências e pensamentos de outrem. Esse
conceito. A palavra “capacidade” diz respeito à possibi- detalhe é importante pois muitos confundem a mediuni-
lidade que uma coisa ou pessoa tem de realizar determi- dade com um fenômeno de ressonância. Ressonância é
nada atividade. A palavra “junção” se refere ao conceito um fenômeno de intensificação na troca de energia en-
de união, ou contato, ou ainda combinação que é a pa- tre dois ou mais sistemas físicos, quando estes oscilam
lavra usada por Kardec para determinar uma das condi- ou vibram em uma dada frequência natural e comum a
ções necessárias ao fenômeno da mediunidade (ver item 3 eles. Esse conceito de ressonância é bom para entender
do resumo). Por fim, a palavra “específica” diz respeito as influências que sentimos dos Espíritos que se afinizam
a algo particular, relacionado apenas aos envolvidos no conosco e com nossos gostos, e explica o item 5 do resumo
fenômeno que, no caso, é a tentativa de formar-se uma dos mecanismos da mediunidade segundo o Espiritismo,
comunicação mediúnica entre desencarnado e encarnado. que apresentamos na Introdução. Isto é, os Espíritos te-
Portanto, por certa capacidade de junção específica, in- rão mais facilidade em expor seus pensamentos através da
terpretamos que André Luiz se refere à capacidade de se mediunidade, na medida que encontram médiuns cujos
formar uma combinação entre os fluidos do desencarnado pensamentos são afins aos deles. Mas isso não significa
e os do médium. Quanto maior essa capacidade, maior e que seja impossível uma comunicação mediúnica através
mais firme será a diferença de potencial necessária para de médiuns que pensam de modo diferente pois que basta
formar e manter a corrente mediúnica. que o médium exerça o pensamento de aceitação ou
Perante essas analogias, como entender o papel do adesão para a comunicação ocorrer.
médium e do Espírito no processo mediúnico? Para res- Se isso não fosse verdade, jamais pessoas boas como,
ponder essa questão, vejamos como André Luiz prossegue por exemplo, Chico Xavier, poderiam dar comunicações
nas explicações ainda no referido capítulo de MM: a Espíritos malévolos, obsessores, extremamente desequi-
Estabelecido um fio condutor de um para o ou-
librados. Nesses casos, o problema não é de afinidade no
tro que, em nosso problema, representa o pen- sentido moral, mas sim no sentido de que por estarmos
samento de aceitação ou adesão do médium, a encarnados, estamos naturalmente vibrando o nosso pen-
corrente mental desse ou daquele teor se improvisa samento de acordo com a matéria, e esses Espíritos, por
em regime de ação e reação ... Se quisermos sus- terem ainda muito apego à matéria e aos sentimentos
tentar o continuísmo de semelhante conjugação, é mundanos menos dignos, naturalmente se afinizam com
imprescindível conservar entre os dois um ge- os encarnados. Logo, a condição apresentada por André
rador de força, que, na questão em análise, é Luiz é bastante sensata, isto é, para que uma comunica-
o pensamento constante de aceitação ou ade- ção mediúnica ocorra entre um Espírito ainda inferior e
são da personalidade mediúnica, através do qual nós, é necessário o nosso pensamento firme de aceitação
se evidencie, incessante, o fluxo de energias conjuga-
ou adesão. Veremos adiante, que essa condição é indis-
das entre um e outro,... [1, Cap. 5, item “Gerador
mediúnico”, grifos meus].
pensável para um bom trabalho mediúnico de amparo e
socorro aos Espíritos sofredores.
As afirmativas acima esclarecem um papel importante Pelo menos, a contribuição C1 é válida em termos do
do médium na comunicação mediúnica. O fio condutor fenômeno mediúnico de efeitos inteligentes, pois alguns
que, no caso do circuito elétrico, permite haver a con- fenômenos de efeitos físicos podem ocorrer mau grado a
dução das cargas elétricas formando a corrente elétrica, vontade ou mesmo consciência do médium, conforme es-
representa segundo André Luiz, o pensamento de acei- clarece São Luís nas questões XV e XVIII do item 74 do
tação ou adesão do médium. Isto é, o fio condutor LM, e o cap. V da segunda parte dessa obra.
está para um circuito elétrico como o pensamento de André Luiz prossegue na analogia entre a mediuni-
aceitação ou adesão do médium está para o fenômeno dade e o circuito elétrico dizendo que para sustentar o
mediúnico! Sem fio condutor, não há corrente elétrica e continuismo da corrente mediúnica, assim como no caso
o circuito elétrico não funciona. Sem o pensamento do circuito elétrico é necessário que o gerador mantenha
de aceitação ou adesão do médium, não há corrente a diferença de potencial mantendo o acúmulo de cargas
fluídica de pensamentos e a mediunidade não ocorre. As- elétricas entre os terminais do mesmo, é imprescindível
sim, enumeramos a primeira contribuição, chamemo-la de conservar entre os dois [médium e desencarnado] um ge-
C1, de André Luiz para o entendimento da mediunidade rador de força que, na questão em análise, é o pensa-
mento *constante* de aceitação ou adesão da per- A partir das palavras acima, percebe-se que o fenô-
sonalidade mediúnica (destaque entre ** meu). Isso meno mediúnico, de acordo com a proposta de André
destaca a segunda contribuição, C2, de André Luiz que Luiz, depende da vontade de ambas as partes que com-
consiste da primeira contribuição adicionada da palavra põem o fenômeno: Espírito desencarnado e médium.
constante: Destaque foi dado para a expressão concordância do mé-
dium, pois além de ser fator necessário para o fenômeno
C2. O pensamento constante de aceitação ou ade- mediúnico ocorrer, implica na responsabilidade do mé-
são do médium é condição necessária para manter o dium pelo que o Espírito fizer durante o transe mediú-
fenômeno mediúnico. nico.
Novamente, a afirmativa faz sentido e está de acordo III.3 O gerador “shunt” e a importância da
com a Doutrina Espírita. A palavra constante, entre- concentração
tanto, adiciona um conceito muito importante para a
aplicação da atividade mediúnica na ajuda a Espíritos Na figura 3, a imagem da lâmpada acesa pode ser
desencarnados sofredores. Essa palavra significa manter comparada à “luz” de uma mensagem que é recebida pela
a concordância ou aceitação do fenômeno mediúnico de via mediúnica, ou o esclarecimento ou alívio que se faz
acordo com a vontade do médium. A importância disso na mente de um Espírito atordoado e infeliz. No circuito
está no fato de que basta o médium não querer, que uma elétrico, a lâmpada acesa depende da chave elétrica per-
comunicação deixa de ocorrer. Se o Espírito comunicante manecer fechada. Embora a contribuição C2, acima ana-
desejar, através do médium, externar um ato ou palavra lisada, destaque a importância do pensamento de aceita-
incondizente com a nobreza e elevação de uma reunião ção do médium permanecer constante, ela não explicita
mediúnica, basta o médium não-querer para sustar o im- possíveis fatores que atrapalham o fenômeno mediúnico.
pulso menos digno do Espírito. Sobre a responsabilidade Um desses fatores é o que André Luiz chama, simples-
de médiuns e grupos espíritas com relação ao conteúdo mente, de desatenção [1, Cap. 6, item “Circuito aberto
das comunicações mediúnicas vejam-se as seguintes refe- e circuito fechado”]. Mas, a desatenção é melhor anali-
rências: item 299 do LM, e mensagens XII, XIII, XIV, sada adiante no Cap. 9 de MM. Neste capítulo, André
XV, XVI e XXIV do cap. XXXI do LM. Luiz inicia uma outra analogia com o chamado gerador
As analogias entre o fenômeno mediúnico e circuitos “shunt” (para abreviar, GS), cujo exemplo de esquema
elétricos ainda não terminaram. André Luiz, no Cap. 6 está ilustrado na figura 4.
de MM, analisa o conceito de circuito mediúnico dizendo
assim:
a intensidade do campo magnético, maior o acúmulo de fluxo até que a força aludida atinja o seu valor má-
ximo, de acordo com a resistência do campo a que
cargas elétricas nos terminais ou a corrente elétrica.
nos referimos. [1, Cap. 9, item “Corrente do pensa-
Sabendo que correntes elétricas, por sua vez, podem
mento”, grifos meus]
gerar campos magnéticos (fenômeno esse descrito pela
Lei de Ampère4 ), engenheiros e cientistas desenvolveram Podemos indicar, agora, a terceira contribuição, C3,
um gerador cujo campo magnético se auto-alimenta po- de André Luiz para o entendimento dos mecanismos
sitivamente. Esse gerador foi chamado “shunt” (GS). da mediunidade, a partir dessa analogia entre gerador
Ele funciona assim: na figura 4 vemos o dínamo re- “shunt” e a concentração do médium:
presentado pelo círculo contendo os terminais “+” e “−”.
Ea representa a força eletromotriz gerada no dínamo. No
C3. A importância da concentração.
GS, o campo magnético presente no dínamo é *bem pe-
queno* e é chamado de campo magnético residual. Por
A falta de concentração dispersa a mente que
isso, quando o gerador é acionado por uma força me-
dificilmente consegue formar uma boa ligação com um
cânica, uma força eletromotriz, Ea, *bem pequena* é
Espírito comunicante. Isso está de acordo com a Dou-
gerada, mas que faz movimentar algumas poucas cargas
trina Espírita. A concentração é um fator importante,
elétricas através do circuito indicado pelas linhas de cor
como se pode ver nos comentários de Kardec nos itens
vermelha na figura. Essas linhas definem um circuito elé-
148 e 331 do LM, e através do estímulo à prece, à calma
trico desenhado à esquerda na figura 4 e que contém o
e ao recolhimento (ver itens 177, 204, 207, 217, 222, 332,
desenho de uma espiral representada pela letra Nf. Essa
335 e 341 do LM e mensagens XIII, XVI e XXIII do Cap.
espiral representa uma bobina que, pela Lei de Ampère,
XXXI também do LM) para que uma reunião mediúnica
tem o papel de gerar um campo magnético quando uma
tenha o apoio de bons Espíritos.
corrente elétrica passa através dela. A *pequena* cor-
rente elétrica gerada pelo dínamo, ao atravessar a espiral Ainda no Cap. 9 de MM, André Luiz apresenta pos-
Nf, gera um campo magnético que, pela figura, vemos síveis razões para ausência de magnetismo residual nessa
estar localizado *ao lado* do dínamo. Por estar *perto* comparação com a mediunidade. Ele considera que seres
do dínamo, e se o circuito orienta o sentido da corrente na ainda muito primitivos, nos primeiros estágios evoluti-
direção certa, o campo magnético gerado pela bobina vai vos, que ainda não conseguem concentrar suas mentes;
*se somar* ao campo magnético residual do dínamo, aqueles que sofrem forte influência obsessiva; e irmãos
intensificando o campo magnético total e *fazendo au- com aparelhagem orgânica cerebral deficiente, natural-
mentar* a força eletromotriz gerada, Ea. *Aumentando* mente não conseguem manter ou sustentar a devida con-
Ea, *aumenta-se* a corrente através da bobina ou espi- centração mental para a realização de uma comunicação
ral que, por sua vez, *gerará mais campo magnético* e mediúnica.
que, também por sua vez, *aumentará* a força eletromo-
triz gerada, Ea, num processo cumulativo de alimenta- IV C ONCLUSÕES
ção positiva que atinge um valor máximo de equilíbrio de
acordo com as resistências do circuito. Nesse momento, A segunda parte de nossos estudos sobre a obra MM
o gerador atinge sua condição máxima de trabalho. consistiu de explicar as comparações que André Luiz fez
André Luiz, no Cap. 9 de MM nos lembra que um GS entre circuitos elétricos e circuito mediúnico. Esclarece-
pode não funcionar se houver: i. ausência de magnetismo mos os itens mínimos que compõem um circuito elétrico,
residual que impede a formação de corrente elétrica ini- sua importância e papel relativos, e analisamos como An-
cial; ii. ligações invertidas na parte “shunt” do circuito dré Luiz se utiliza desses conceitos para apresentar im-
do gerador (linhas vermelhas na figura 4), que fazem com portantes afirmativas a respeito das condições necessárias
que o campo da bobina não intensifique o campo residual; para o fenômeno da mediunidade. Nisso, destacamos três
e iii. muita resistência que impede o aumento da corrente contribuições especiais resumidas a seguir:
elétrica.
De posse desses conhecimentos, vejamos, agora, a C1. O pensamento de aceitação ou adesão do
analogia que André Luiz faz com o GS: médium. André Luiz deixa claro que o pensamento de
aceitação ou adesão do médium tem papel tão impor-
À feição do gerador “shunt”, se a mente jaz de- tante quanto o do fio condutor em um circuito elétrico.
satenciosa, como que mantendo o cérebro em Por mais simples que seja o papel dos fios condutores,
circuito aberto, forma-se, no mundo intracraniano, sem eles nenhum circuito ou aparelho elétrico funciona.
reduzida força mentocriativa que não determina
Com essa analogia, André Luiz deixa claro que é condi-
qualquer corrente circulante no campo individual:
mas, se a mente está concentrada, fazendo con-
ção necessária que o médium se disponha ao intercâmbio
vergir sobre si mesma as próprias oscilações, a força mediúnico. Mostramos que essa ideia está em perfeito
mentocriativa gerada produz uma corrente no campo acordo com o conteúdo das Obras Básicas de Kardec.
da personalidade que, a seu turno, provoca a forma-
ção de energia mental de sentido análogo àquele em C2. O pensamento *constante* de aceitação ou
que se exprime o magnetismo de resíduo, dilatando o adesão do médium. Segundo André Luiz, a constância
4 Ver, por exemplo, o link do Wikipedia sobre Lei de Ampère.
Abstract: Mecanismos da Mediunidade was written more than 50 years ago, and still challenges the spiritist reader. In this
book, André Luiz proposes a way to understand the mechanisms of mediumship based on concepts of Physics and Psycology.
We started a series os studies of this book in order to clarify the meaning of the comparisons and analogies used by André
Luiz within the book. In part I of this series, we clarified the André Luiz’s explanations about the comparison between the
emission of gamma radiation by nuclei and elevated fluids from good spirits [Jornal de Estudos Espíritas 4, art. n. 010201
(2016)]. Here, in part II, we explain and analyse the comparisons between elements of an electric circuit and what André Luiz
called “mediumistic circuit”. We show that André Luiz assertions corroborate exactly what the Spiritist Doctrine says about
the mediumship. In particular, he emphasizes the importance for the medium to develop concentration, control of the spiritual
entity and self-control, in order to obtain a useful mediumistic communication.
Keywords: Mechanisms of mediumship; spiritual fluids; will; control of the mediumship; mediumistic circuit; concentration.