Você está na página 1de 11

A Mecânica no Século XX

Ao longo dos anos, enquanto a teoria da mecânica clássica acumulava


sucessos, chegou-se a pensar que ela descreveria com precisão absoluta o
movimento de todos os corpos. Isso mudou, no entanto, a partir do início deste
século XX.

Com a evolução das técnicas de observação do universo físico foi possível


conhecer novos fenômenos. Ao lado disso, a procura de uma consistência nas
bases das duas teorias físicas até então bem estabelecidas, a mecânica
clássica que descreve os movimentos e a eletrodinâmica clássica que trata dos
fenômenos associados às cargas, levou à necessidade de se investigar
algumas idéias bem aceitas na Física. Estes dois tipos de movimento na Física,
o avanço experimental e a busca de uma consistência teórica, acabaram por
levar a uma revolução no entendimento do universo físico. Na mecânica, esta
revolução ocorreu através da teoria da relatividade e da física quântica.

Em particular, três fenômenos observados no final do século XXIX intrigavam a


comunidade dos físicos por não serem explicados pelas teorias vigentes: o

chamado efeito fotoelétrico , que trata da emissão


de elétron por um metal que recebe radiação luminosa; a radiação emitida por
átomos de hidrogênio, conhecida como radiação espectral do hidrogênio que
continha algumas poucas freqüências bem definidas, e a distribuição da
quantidade de radiação de diferentes freqüências emitida por um corpo em
equilíbrio térmico, chamada de radiação de corpo negro.

Por outro lado, o aprofundamento no desenvolvimento das bases da mecânica


estabeleceu como um dos seus princípios básicos o chamado princípio da

relatividade de Galileu , que diz que as leis físicas valem


na mesma forma para quaisquer referenciais com velocidade relativa
constante, chamados de referenciais inerciais. Isto significa que, por exemplo,
se o maquinista do trem com velocidade constante em relação a uma
plataforma e uma pessoa em repouso na plataforma observam o movimento de
um pássaro, ambos usarão as mesmas leis de Newton para descrevê-lo. Além
disso, estava bem estabelecida na mecânica a maneira de relacionar o espaço
e o tempo desses dois referenciais, conhecida como transformação de Galileu
(esta transformação foi estabelecida bem depois da época de Galileu, mas
recebeu este nome em homenagem ao grande físico da Renascença).

Entretanto, as leis de MAXWELL ( - ) , estabelecidas em


1865, que são as leis básicas para descrever o comportamento de sistemas
com cargas, ou seja, as leis que estão para o eletromagnetismo assim como as
leis de Newton estão para a mecânica não poderiam ser as mesmas para dois
referenciais inerciais, se adotada a mesma transformação de espaço e tempo

usada na mecânica.

Os fatos acima mencionados inicialmente pareciam detalhes de menor


importância, que poderiam vir a ser resolvidos com pequenos ajustes nas duas
teorias muito bem assentadas do ponto de vista teórico, e com enorme
comprovação experimental desde o final do século XIX, que são a mecânica
clássica e o eletromagnetismo clássico. Conta-se que, numa reunião científica
que congregava os mais ilustres físicos na passagem do século, chegou-se à
conclusão de que, resolvidos os "pequenos detalhes" acima citados, nada mais
haveria para ser feito na área de Física. Ironicamente, a procura da descrição
destes fenômenos acabou gerando uma revolução no entendimento do
universo físico neste século, abrindo todo um novo horizonte do universo físico.

As mudanças a que nos referimos são apresentadas a seguir.

A mecânica relativística

A primeira grande mudança veio nos trabalhos de


EINSTEIN (1879 - 1955) na chamada Teoria da

Relatividade . Ela foi motivada na


já citada inconsistência teórica nas bases da mecânica
clássica e na eletrodinâmica, e utilizou conhecimentos
de Lorentz sobre a necessidade de novas regras de
transformação do espaço e do tempo. Lorentz havia
descoberto que tipo de transformação deveria haver
entre o espaço e o tempo de dois referenciais com
velocidade relativa constante, que tornava a
eletrodinâmica uma teoria válida para quaisquer
referenciais inerciais. Essas transformações ficaram
conhecidas como transformações de Lorentz, que são
diferentes das transformações de Galileu, válidas na
mecânica clássica.

Se ambas as teorias, mecânica e eletromagnetismo, descrevem aspectos do


mesmo universo físico, só uma das transformações deveria ser correta, já que
descrevem o mesmo espaço e tempo e, portanto, uma das teorias estaria
incorreta.

Quem resolve esta questão é a Teoria da Relatividade Restrita, proposta por


Einstein em 1905. Essa teoria se baseia em dois princípios:

1. Os eventos físicos são os mesmos para quaisquer referenciais com


velocidade relativa constante (referenciais inerciais); portanto, as leis físicas
que os descrevem são as mesmas nestes referenciais.
2. A velocidade da luz é a mesma para qualquer referencial inercial.

O primeiro princípio já foi mencionado antes como o princípio da relatividade,


válido também para a mecânica newtoniana. O segundo princípio, porém,
contraria o que se esperaria da mecânica clássica. Voltando ao exemplo da
pessoa na plataforma e o maquinista do trem: se a luz tem velocidade c para
alguém na plataforma, e esta luz tem velocidade na mesma direção e sentido
que o trem, a velocidade da luz para o maquinista deveria ser c-u, onde u é a
velocidade do trem, ou seja, jamais poderia ser a mesma para os observadores
com velocidade relativa diferente de zero.

Esses princípios implicam, porém, uma nova concepção para o espaço e o


tempo. Nela, o espaço e o tempo não são absolutos e há uma inter-relação
entre a posição de um evento e o instante em que ele ocorre, refletidos
matematicamente na chamada transformação de Lorentz para o espaço tempo,
acima mencionada.

Vários comportamentos impossíveis pela visão clássica da mecânica decorrem


desta nova concepção do espaço e do tempo. Um deles é que dois eventos
simultâneos para um observador não o são para um outro com velocidade
relativa constante, bem como suas medidas de intervalo de tempo e de
comprimento são diferentes.

Em particular, se um observador em repouso observa uma dada geometria, ou


seja, altura, largura e profundidade, alguém em movimento observaria um
comprimento menor na dimensão que está a direção do movimento relativo.
Assim, se dois cidadãos têm velocidade relativa constante, cada um veria o
outro mais magro do que o próprio cidadão se vê (figura I.11). Este efeito é
chamado de contração espacial.

Por outro lado, o intervalo de tempo para ocorrer um dado evento é menor para
quem observa o evento em repouso ou para quem o observa em movimento
relativo de velocidade constante. Este fenômeno é conhecido como dilatação
temporal. Ainda em relação à plataforma e o maquinista do trem, se a pessoa
da plataforma acende o pavio de uma bomba, o tempo que levará para ela
estourar, medido em seu relógio, é menor que o tempo medido pelo maquinista
do trem. Esta realidade deu margem ao chamado paradoxo dos gêmeos, que
discute se alguém que permanece na Terra envelheceria mais que o irmão
gêmeo que faz uma viagem com velocidade constante em relação à Terra.
(Este tipo de coisa motivou muito enredo de ficção científica).

Outra conseqüência que decorre dos princípios de Einstein é que a velocidade


da luz é uma velocidade limite, no sentido de que nada no universo físico pode
atingir esta velocidade, com exceção da luz e outras ondas eletromagnéticas. A
teoria da mecânica clássica é incompatível com a existência de uma velocidade
limite.

A incorporação dos princípios da relatividade de Einstein ao estudo do


movimento acarreta a necessidade de introduzir modificações na mecânica
clássica. A nova mecânica que dela decorre é a mecânica relativística.

Uma das importantes mudanças introduzidas pela mecânica relativística está


no conceito de massa. A massa passa a depender da velocidade. O que nós
usualmente denominamos de massa é, na mecânica relativística, a massa de
repouso, isto é, o valor da massa (entendida com uma medida da inércia de um
corpo) quando o corpo está em repouso. A variação da massa com a
velocidade, entretanto, só é significativa quando a velocidade está próxima da
velocidade limite.

Também na teoria da relatividade a massa e a energia são facetas da mesma


entidade física, isto é, existe um equivalente em energia na massa de um
objeto. A equação que retrata esta realidade acabou tornando-se bastante
conhecida: E=mc2.

Com esta colocação, o leitor pode concluir que estaria incorreta a mecânica
newtoniana. Não é esse o caso, entretanto. Pode-se constatar, tanto
experimentalmente quanto teoricamente, que a mecânica clássica de Newton
descreve os fenômenos do movimento muito bem desde que a velocidade do
movimento seja muito pequena quando comparada com a velocidade da luz,
cujo valor é de 300.000.000 metros por segundo (3x10 8m/s). Este é o caso de
quase todos os movimentos corriqueiros do nosso dia-a-dia. A conclusão é
que, dentro de uma aproximação muita boa, vale a mecânica Newtoniana.

No mundo físico, apenas partículas muito leves conseguem atingir velocidades


suficientemente altas fazendo com que a descrição provida pela mecânica
clássica seja inválida, isto é, onde os efeitos relativísticos são perceptíveis.
Estamos aqui falando das partículas elementares. Esses efeitos são muito
comuns e observados nos fenômenos que envolvem esses constituintes da
matéria.

A mecânica relativística, portanto, não invalida a mecânica clássica, mas


restringe sua descrição a movimentos com velocidades bem menores que a
velocidade da luz. Ou seja, todos os novos efeitos previstos pela relatividade
especial são desprezíveis quando o sistema tem baixas velocidades.

A teoria de Einstein ou Física Relativística muda de uma maneira drástica


várias concepções da mecânica clássica, em particular, a concepção de
espaço, de tempo, de massa e de energia.

As quantizações na Física: os fótons das ondas eletromagnéticas e a


mecânica quântica.

Cabe aqui mencionar que, no mesmo ano de 1905, Einstein apresentou um


trabalho que explicava o já citado efeito fotoelétrico.
Segundo Einstein, as ondas eletromagnéticas que arrancam os elétrons dos
metais, causando o chamado efeito fotoelétrico, o fazem na forma observada
experimentalmente porque elas têm um comportamento como se fossem
partículas de massa de repouso nula. Essas partículas são conhecidas com o
nome de fótons, viajam com a velocidade da luz e obedecem a mecânica
relativística. É como se as ondas eletromagnéticas fossem compostas de
inúmeros "pequenos pacotes de energia", cada um com energia dada pelo
produto h u , onde u é a freqüência da onda e h, uma constante. A energia da
onda seria a soma da energia destes "pacotes", os fótons de massa de
repouso nula, uma vez que estão sempre em movimento com velocidade da
luz.

No efeito fotoelétrico, segundo a proposta de Einstein, vários fótons


podem transferir toda a energia que têm para um elétron do metal,
livrando-o da sua ligação com ele. Esses elétrons compõem a
chamada corrente fotoelétrica com estas características
experimentalmente observadas. Com esta proposta Einstein
"quantizou" a onda eletromagnética, de uma forma mais geral do
que já havia sido feito por Planck, em 1902, quando de sua
explicação da radiação do corpo negro. A constante h que aparece
na energia do fóton acima escrita é chamada de constante de
Planck por ter sido por ele introduzida.

Essa quantização da onda eletromagnética abriu o caminho, quase vinte anos


depois, para uma nova transformação na visão do mundo físico, a mecânica
quântica, como veremos a seguir.

No final do século passado, como já mencionado, alguns fenômenos não


podiam ser entendidos dentro da física clássica. Esses fenômenos estavam,
sem exceção, no domínio atômico e subatômico, ou seja, eram fenômenos de
"sistemas pequenos". Este fato indicava que, mesmo a baixas velocidades, a
mecânica de Newton que se mostrava excelente para descrever fenômenos no
cotidiano das pessoas, parecia inadequada para os fenômenos de "sistemas
pequenos", isto é, que envolvem movimentos de "distâncias curtas". Os
átomos têm raio de aproximadamente 1x10-10m = 1Angstron = 1 , e esta
dimensão estabelece o valor que define um "sistema pequeno". Estamos aqui
falando de sistemas de dimensões atômicas ou de dimensões moleculares.

Aqui parei

Para descrever os sistemas de dimensões atômico-moleculares ou menores foi


construída uma nova mecânica, chamada de mecânica quântica. A razão para
este nome é a seguinte. Fenômenos do mundo atômico, como o caso do citado
espectro do átomo de hidrogênio, indicavam que algumas grandezas físicas,
como por exemplo a energia e o momento angular, não assumiam valores
arbitrários quaisquer, como acontece na mecânica clássica, mas apenas
alguns valores discretos, ou seja "quantizados". Essa "restrição" aos valores de
energia e momento angular no movimento do elétron atômico não se torna
perceptivel nos fenômenos corriqueiros, isto é, no mundo de dimensões
maiores, mundo com o qual entramos em contato quotidianamente.
A teoria que incorpora esse aspecto discreto ou quantizado das grandezas
fisicas é a MECÂNICA QUÂNTICA. A formulaçao mais precisa e geral foi
proposta de forma independente por ERWIN SCHRÖDINGER

e por HEISENBERG em 1925.

A teoria de Schrödinger ficou também conhecida como mecânica


ondulatória, porque se baseou numa proposta do físico francês
LOUIS de BROGLIE apresentada em seu trabalho de tese em 1924.
De Broglie defendia a idéia de que as partículas teriam um
comportamento típico de ondas, que só é percebido em fenômenos
que ocorrem em "dimensões pequenas". A razão de sua proposta
vinha do seu entendimento de que a natureza deve ter
comportamento simétrico, ou seja, se as ondas eletromagnéticas às  
vezes se comportam como partículas, como proposto por Einstein, as
partículas, em certas circunstâncias, deveriam mostrar sua
característica ondulatória. Esta proposta de de Broglie é conhecida
como o caráter dual (onda e partícula) de tudo que compõe o universo
físico (matéria e radiação). Na época de de Broglie já era bem aceita
pela comunidade científica a quantização da onda eletromagnética
que explicava o efeito fotoelétrico.

Hoje se entende que a estrutura quantizada das grandezas físicas (a estrutura


discreta das mesmas) é uma conseqüência da natureza dualística da matéria.
Toda matéria (o elétron, por exemplo) exibe uma dualidade: às vezes se
comporta como ondas e às vezes como partículas. De novo, os grandes
aglomerados de pequenas partículas, como um corpo composto de muitos
átomos, acabam exibindo a natureza da matéria pela mecânica clássica. No
entanto, o átomo e as partículas subatômicas, individualmente, são tais que a
compreensão da sua estrutura e interação só é possível se for levada em conta
a natureza ondulatória da matéria.

Uma das conseqüências do comportamento ondulatório da partícula é que seu


movimento não é mais regido pela lei de Newton. A lei básica do movimento na
Mecânica Ondulatória de Schrödinger é uma equação de onda conhecida como
equação de Schrödinger. A solução da equação fundamental na Mecânica
Ondulatória leva às funções de onda que descrevem um dado sistema
quântico.

Uma outra conseqüência do comportamento ondulatório é que ele impõe


restrições à possibilidade de serem medidos com absoluta precisão pares de
grandezas físicas. Isto é, existe uma incerteza inerente que se reflete no
processo de medida de certos pares de grandezas físicas. Esta é uma
incerteza que é independente do tipo do aparato experimental. Por exemplo, a
incerteza na medida da coordenada x de uma partícula ( x) está ligada à
incerteza na medida da componente da quantidade de movimento na direção x
(px) na seguinte forma:

x px > /2 onde = h/2


onde px é a incerteza na medida de px e é a já citada constante de Planck.
Esta constante fundamental aparece em todos os tipos de quantização em
física.

Existe, portanto, um limite para a precisão com que se pode determinar certas
grandezas físicas simultaneamente. A determinação da posição de uma
partícula com absoluta precisão implica a absoluta ignorância a respeito do seu
momento.

Relações como a anterior são conhecidas como relações de incerteza de


Heisenberg. Poderíamos dizer que a formulação da teoria quântica devida à
Heisenberg foi construída com base nessas relações de incerteza.

Em qualquer dos formalismos, de Schrödinger ou Heisenberg, tem-se uma


descrição equivalente para cada fenômeno físico.

Uma das mudanças básicas introduzidas pela mecânica quântica em relação à


mecânica newtoniana está na quebra do determinismo. Na mecânica de
Newton, conhecendo a força que atua numa dada partícula e a chamada
condição inicial sobre o seu movimento, ou seja, os valores da posição e
velocidade num dado instante, é possível prever-se com precisão infinita o
movimento em instantes posteriores. Esta previsibilidade do futuro de um
sistema a partir de certas condições inicias, se conhecida a maneira como ele
interage, é o chamado determinismo da Física.

Na mecânica quântica a validade do princípio de incerteza que proíbe que se


conheça com precisão infinita uma coordenada da posição da partícula e a sua
variação com o tempo (componente da velocidade naquela direção), de partida
impede que sejam conhecidas as chamadas condições iniciais, ou seja, a
posição e velocidade num dado instante.

A interpretação que se tem para esta onda-partícula é que não se pode


determinar com precisão infinita o seu movimento no sentido clássico, ou seja,
não se pode saber sua posição e velocidade em qualquer instante, mesmo
conhecida a interação da partícula. Determinar o movimento da partícula-onda
equivale a, na mecânica quântica, conhecer a probabilidade de ela estar numa
dada posição num dado instante, quando sujeita a uma certa interação. E esta
probabilidade está relacionada com o quadrado do módulo da função de onda.
Poderíamos dizer que se pode ter uma previsão de probabilidades do
comportamento futuro de um sistema quântico, mas não se pode determinar
este futuro, que é o indeterminismo quântico.

Como aconteceu com a mecânica relativística, a mecânica quântica não


apenas limita as condições de validade da mecânica clássica para partículas
com dimensões maiores que as atômico-moleculares mas muda drasticamente
a concepção do universo físico como, por exemplo, o determinismo no
movimento.

Um fato histórico curioso é que Einstein, um inovador da Física no início do


século com a mecânica relativística e a quantização da onda eletromagnética,
não foi convencido da validade da mecânica quântica, dada a mudança que
trazia conceitos físicos até então bem aceitos.

Mecânica quântica relativística

A necessidade de compatibilizar as bases teóricas da física quântica com a


teoria da relatividade passou a ser um dos principais desafios da dinâmica que
envolve as partículas subatômicas. Das primeiras tentativas surgiu uma nova
teoria, a mecânica quântica relativística. No caso do elétron, a equação
resultante é conhecida como equação de Dirac, em homenagem ao físico

inglês P.A.M. Dirac , o primeiro a escrever uma equação


para as ondas relativísticas associadas ao elétron.

No caso da teoria da Gravitação, tornar compatíveis as teorias da relatividade


com a teoria quântica continua sendo um desafio para a Física Teórica ainda
hoje.

A evolução da mecânica clássica no século XX.

Muitas áreas da Física desenvolvidas no século XX, e que têm grande


interesse na pesquisa em Física até hoje, são diretamente associadas à
mecânica clássica.

Um exemplo é o renovado desenvolvimento na hidrodinâmica, que estuda o


movimento dos fluidos. O conhecimento desta área é indispensável para o
entendimento do deslocamento de grandes massas de ar na superfície
terrestre, necessário para as previsões sobre o clima. Esse conhecimento
evoluiu muito nas últimas décadas e seu interesse vai muito além do
puramente científico, sendo de fato fortemente motivado por razões
socioeconômicas e até geopolíticas.

Mencionamos que a mecânica clássica favorecia uma visão determinística do


universo. De tal forma que, no início do século XIX, o matemático francês
Pierre Simon Laplace defendeu a idéia de que, se fosse possível conhecer num
dado instante a velocidade e a posição de todas as partículas do universo, se
poderia conhecer inteiramente o futuro do universo.

A previsibilidade do futuro de um sistema físico, a partir das condições iniciais


do sistema, acontece porque as equações da mecânica clássica que regem a
dinâmica dos sistemas são equações chamadas de lineares.
A partir da década de 70 deste século, pesquisadores de diferentes áreas
puderam comprovar que, em algumas circunstâncias, conhecer as leis da
natureza e o estado de um sistema num dado instante não é suficiente para
definir seu futuro. Esses fenômenos estão associados ao que se chamou de
caos determinístico. Não se trata de um efeito de acaso, sem relação do
passado com o presente ou o futuro, como é o caso da probabilidade de dar
uma certa face num jogo de dados. Mas derruba a visão determinística mesmo
no universo de dimensões maiores que as atômico-moleculares.

Os fenômenos de caos aparecem em sistemas com grande sensibilidade às


condições de um dado instante. Pequeninas flutuações no estado do sistema
num dado instante permitem uma evolução completamente diferente da
evolução que ocorreria na condição anterior levemente diversa.

O mais conhecido e fascinante efeito caótico é o dos fractais.

Estes fenômenos caóticos foram, entretanto, observados


em sistemas tão diversos quanto batimentos cardíacos, movimentos de
planetas no sistema solar, circuitos elétricos, epidemias, comportamento do
clima, movimento de elétrons nos átomos, população de insetos, de pássaros e
de outros animais, entre muitos outros.

Do ponto de vista da descrição matemática, esses fenômenos estão


relacionados com termos não-lineares nas equações que descrevem o sistema,
embora nem todos os termos não-lineares de equações estejam associados a
fenômenos de caos determinístico.

Muitos atribuem a Henri Poincaré a primeira identificação de um fenômeno


caótico em seus estudos de mecânica celeste, no final do século XIX. O grande
impulso no estudo de fenômenos caóticos, nas últimas décadas, foi possível
graças ao desenvolvimento de computadores, que permitem os cálculos
numéricos necessários.

A história do desenvolvimento científico do homem, particularmente o do último


século, permite que se conclua que é inimaginável que conhecimentos estão
reservados aos homens do futuro.

Uma das primeiras ciências exatas estabelecida como tal, a mecânica  tem um
vastíssimo campo de aplicação: serve tanto para prever, com milhares de anos de
antecedência, o movimento dos corpos celestes -- estrelas, planetas e satélites -- como
também para descrever o comportamento das partículas atômicas.

Mecânica é o ramo da física que estuda a ação das forças sobre os corpos e o
comportamento dos sistemas materiais imersos nos campos de atuação dessas forças.

História da Mecânica
As primeiras questões sobre fenômenos mecânicos surgiram nas civilizações antigas,
em virtude da necessidade que esses povos tinham de máquinas que os liberassem de
certos esforços e que aumentassem a potência dos recursos de que dispunham.

Na cultura grega, Heráclito e Aristóteles tentaram sem sucesso  encontrar explicações


filosóficas para os fenômenos do movimento. Foi Arquimedes quem enunciou os
primeiros princípios realmente científicos dessa disciplina. O principal continuador da
doutrina de Arquimedes foi o físico grego Heron de Alexandria, da florescente escola
alexandrina dos primeiros séculos da era cristã. Embora seu livro Mecânica contivesse
algumas afirmações errôneas (em conseqüência, principalmente, da fragilidade de suas
formulações matemáticas), ele ali transmitia um profundo conhecimento dos sistemas
de roldanas e demais máquinas simples.

Após a queda do Império Romano, só no Renascimento os cientistas voltaram a


interessar-se pela mecânica. No final do século XVI, o matemático e inventor holandês
Simon Stevin ampliou os trabalhos de Arquimedes e solucionou o problema dos planos
inclinados. Poucos anos depois surgiu o primeiro grande nome da mecânica, Galileu
Galilei, que descobriu as leis do pêndulo e da queda livre e esboçou o princípio da
inércia, um dos três pilares fundamentais da mecânica. Galileu solucionou também
problemas de estatística, a partir de trabalhos de Stevin, e de descrição da trajetória de
projéteis.

No século XVII, uma revolução científica iniciada por Nicolau Copérnico e continuada
por Galileu questionou o geocentrismo e afirmou o Sol como o centro do universo. No
mesmo período, o holandês Christian Huyghens deu importante contribuição à
dinâmica, com estudos sobre o movimento oscilatório dos pêndulos. Em 1642, ano da
morte de Galileu, nasceu, na Inglaterra, Isaac Newton, que viria a estabelecer os
princípios da mecânica clássica. Integrado a uma sociedade científica avançada, na qual
sobressaíram personalidades como Edmond Halley e Robert Hooke, Newton escreveu
uma obra capital para a evolução da física: Philosophiae naturalis principia mathematica
(1687; Princípios matemáticos da filosofia natural), na qual enunciou os três axiomas
básicos da mecânica e resolveu o problema do equilíbrio dinâmico do universo por meio
da teoria da gravitação universal.

O prestígio conquistado por Newton, alicerçado no êxito teórico e experimental de seus


trabalhos, estendeu-se aos séculos seguintes. A partir de seus postulados e do método
sistemático por ele elaborado, os irmãos Johann e Jakob Bernoulli solucionaram uma
série de questões físicas, Leonard Euler aperfeiçoou a aplicação do cálculo infinitesimal
às teorias mecânicas e d'Alembert reduziu as questões dinâmicas a problemas de
equilíbrio.

Apoiado nas idéias de Newton e d'Alembert, o matemático francês Joseph-Louis


Lagrange, em Mécanique analytique (1788; Mecânica analítica), lançou as bases de uma
concepção matemática e abstrata da mecânica clássica que, num estágio mais avançado,
viria a ser utilizada pela física quântica, um século e meio depois.

As contribuições do século XIX à mecânica não conduziram a alterações substanciais na


teoria, mas permitiram obter importantes inovações tecnológicas com base em estudos
anteriores. A aplicação do eletromagnetismo à mecânica deu origem às inovadoras
hipóteses atômico-quânticas. A concepção relativista enunciada por Albert Einstein no
início do século XX representou um duro golpe para a mecânica newtoniana, que ficou
reduzida à particularização de um mundo físico muito mais complexo. Para a solução de
problemas mecânicos simples, que não envolvam grandes velocidades nem altas
temperaturas, no entanto, as doutrinas de Newton mantiveram vigência e aplicabilidade.

Você também pode gostar