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Neuropsicopedagogia

Desenvolvimento Humano

O estudo desta disciplina objetiva esclarecer o amplo conceito de


desenvolvimento humano e apresentar de que forma ele ocorre nos indivíduos.

Entendemos por desenvolvimento humano o processo de transformação do


indivíduo no qual ele sai do estágio mais raso de existência para vivenciar suas
amplas potencialidades.

Os seres humanos, diferentemente dos outros animais, possuem naturalmente


uma predisposição a constantes e infinitas formas de aprendizagem, sendo
assim, estão aptos a evoluir em diferentes áreas tais como; social, cognitiva,
emocional, psicológica etc. Se faz necessário ressaltar aqui, que, a citada
evolução se refere ao processo que ocorre por meio de aprendizagem humana
e não através de um processo evolutivo darwiniano, que ocorre ao longo de
mutações genéticas com o passar dos anos.

Conceito de maturação, biológica ou psicológica, que não necessariamente


significa desenvolver as competências inerentes ao ser humano, ainda que
haja progresso e desenvolvimento de características humanas.

São estabelecidas 8 etapas do desenvolvimento humano, segundo o


especialista na área, Eric Erickson, psicanalista e teórico sobre a Psicologia do
Desenvolvimento. Ele acredita que o ambiente e as circunstâncias constituem a
base que permite o indivíduo transcender, crescer e tornar-se consciente de si
mesmo.

O autor descreve então uma série de estágios psicossomáticos os quais o


indivíduo percorre de acordo com suas necessidades e aprendizagens, sendo
eles:

1. Confiança básica x desconfiança:


O bebê é extremamente dependente, principalmente de mãe. Se suas
necessidades básicas forem prontamente atendidas ele reconhecerá o
ambiente como familiar e relação de confiança será estabelecida se não
desenvolverá a desconfiança.

2. Autonomia x vergonha e dúvida:


Nesta fase, a criança adquire autonomia para se deslocar de um lugar
para o outro. Seu ambiente já não corresponde às suas necessidades
mas sobre a dúvida sobre si mesmo e o medo de tomar iniciativa.
A vergonha é manifestada como uma necessidade de não ser vista:
escondendo o rosto, nos momentos de raiva, choro, etc. O controle dos
pais deve ser firme, mas também tranquilizador para desenvolver a sua
autonomia.

3. Iniciativa x culpa:
Se há alguma coisa que distingue a criança nessa fase é a iniciativa.
Especialmente durante as brincadeiras, ela descobre o papel mais
significativo para si e o representa. A criança precisa identificar e
projetar o seu papel no mundo.

A rivalidade e os ciúmes também aparecem nessa fase. A criança quer


ser tratada como alguém especial e rejeita qualquer deferência da mãe
pelos irmãos ou outras pessoas. Se não receber um tratamento
relativamente privilegiado, desenvolve a culpa e a ansiedade.

4. Proatividade x Inferioridade:
Na fase da vida escolar a criança experimenta o reconhecimento pelo
que faz neste ambiente. Se não houver reconhecimento suficiente, pode
surgir uma sensação de inadequação que levará a um sentimento de
inferioridade.

5. Identidade x confusão de papel:


Nessa fase há dúvidas acerca de tudo o que se acreditava
anteriormente, isso ocorre por causa das mudanças biológicas do corpo
e as crises de personalidade que isso gera. Os adolescentes ficam
confusos quanto a sua identidade, são idealistas e muito influenciáveis.
Se tiverem tranquilidade nesta fase, atingirão uma identidade própria. Se
não, passarão a fingir o que não são.

6. Intimidade x isolamento:
Este fase se caracteriza pelos compromissos e sacrifícios do dia a dia. É
o início da maturidade e se por medo, o indivíduo não conseguir
estabelecer essas ligações com o mundo, pode buscar o isolamento.

7. Generatividade x Estagnação:
Esta fase ocorre através do desejo na idade madura de ser produtivo e
orientar as novas gerações. Se isso não ocorrer, haverá uma
estagnação pessoal relacionada ao sentimento de não transcender e
não ter interferência sobre o futuro.
.

8. Integridade do ego x desespero:


Esta fase irá depender de como foram vividas as fases anteriores. A
integridade será alcançada se estabelecer relação entre a reflexão e a
experiência vivida. Quando há conflitos mal resolvidos ou etapas que
não superadas, geralmente ocorre medo do sofrimento e da morte.

Diante do exposto, identifica-se uma valiosa ferramenta para o processo de


desenvolvimento humano; o ambiente. Ele é determinante para a
transformação das potencialidades natas de uma pessoa ou, por outro lado,
para a sua estagnação.

Ocorre que um ambiente hostil provoca um instintivo sentimento defensivo,


causando medo, insegurança e outras emoções que deixam o indivíduo em
modo de alerta e pronto-ataque. Essa relação causa-efeito provém dos nossos
instintos pré-históricos, pois diante de perigo iminente, ficamos limitados a
sobreviver e reagir. Logo, ambientes violentos, escassos e duras realidades
não permitem o desenvolvimento de novas capacidades/potencialidades nas
pessoas.

Em contrapartida, um ambiente tranquilo proporciona relaxamento e inspiração,


ao passo que possibilita o indivíduo transcender aos seus instintos de
sobrevivência e competitivos, para vivenciar estágios de integração com o meio
e com os outros, aflorando a capacidade coletiva e colaborativa,
desenvolvendo competências como força de caráter e altruísmo, por exemplo.

Percebe-se então que a necessidade de estímulos adequados é fundamental


para o indivíduo alcançar ao máximo suas potencialidades. Há necessidade de
reduzir o medo, violência e escassez nos ambientes na mesma proporção que
se deve aumentar os incentivos às experiências mais coletivas, criativas e
colaborativas.

O conjunto de estímulos oferecidos pelo ambiente denomina-se potencial


cultural e se constitui através da sociedade, que hoje ainda visa uma cultura
competitiva e enxerga a potencialidade coletiva como algo utópico.

Há uma ideia geral na sociedade que o ser humano é limitado, em sua


formação, inteligência e ou capacidade, mas esta é totalmente incoerente, pois
todos nascemos próximos aos seres irracionais e ao longo da vida vamos
aprendendo inúmeras habilidades que na realidade, são desenvolvidas e não
adquiridas, portanto, são inerentes aos seres humanos.

Infelizmente existem algumas crenças culturais que acabam tornando as


experiências nos ambientes sociais mais rudes do que amenas. Seguem-se
algumas delas:

Nas instituições de ensino tradicionalmente se apresenta a educação através


da memorização e avaliações classificatórias/eliminatórias, que geram uma
atmosfera de competição e sentimento de insuficiência nas crianças e jovens.
Quando deveria, em oposto, se estabelecer como um ambiente reflexivo e
colaborativo, proporcionando experiências de desenvolvimento e integração.

Nos ambientes de trabalho, geralmente o foco se dá através de metas e


resultados, sendo extremamente competitivo e inseguro. Ainda em empresa
que pregam pelo bem estar do capital humano, ainda se vê uma deficiência de
práticas mais cooperativas, por exemplo, algumas organizações realizam
treinamentos e desenvolvimentos das capacidades técnicas dos funcionários e
deixam de compreender que o ser humano é composto de um todo, que
poderia ser desenvolvido em amplas capacidades nestes ambientes; sociais,
coletivas, senso de equipe etc.

Ainda sobre a temática profissional, há também uma crença na sociedade que


se todos forem amplamente desenvolvidos, não haverá mão-de-obra para
serviços menos nobres, desta forma, acredita-se que não há necessidade de
desenvolver os indivíduos em todas as camadas sociais e econômicas,
contudo, eles se encontram em estágios diferentes e haverá uma distribuição
mais igualitária de recursos, mas a principal consequência virá no sentido da
coletividade e não violência, com menos índices de criminalidade e conflitos
sociais.

A família corrobora também, neste contexto cultural, pois os próprios indivíduos


possuem como referencial de sucesso e realização, a valorização material
acima da humana. Esta mentalidade, de prioridade financeira, tem gerado
indivíduos com ambições altas e caráter duvidoso. Isto porque não se percebe
o indivíduo como um ser holístico, em que o foco no desenvolvimento humano
ocasionará um crescimento amplo e completo, o capacitando a ter melhores
resultados econômicos como consequência de sua transformação e não como
objetivo de vida.

Conclui-se que, há necessidade de proporcionar um ambiente com estímulos


que favoreçam o desenvolvimento humano na perspectiva da sensibilidade e
cooperação nos diversos espaços sociais; trabalho, escola, família etc. para
que, o conceito cultural de sucesso deixe de ser a ascensão social (econômica,
status, carreira etc.) e se transforme em desenvolvimento humano. Desta
forma, os indivíduos sairão do estágio egocêntrico causado pelo ambiente onde
vivem na luta do alcance de seus objetivos materiais e percorrerão caminhos
de conquistas de realizações mais amplas e duradouras (aprendizagens
individuais e coletivas) que terão como consequência o alcance de evoluções
em todas as esferas, tanto sociais, quanto emocionais e, inclusive, materiais.

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