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“‘Ilha das Flores’, ficção ou realidade”

A realidade no curta metragem “Ilha das Flores” não se faz menos real, somente por
ter sido representada por pessoas ou lugares que são diferentes dos existentes. Muito pelo
contrário, o que é interpretado no curta é realidade de muitos, não só os que habitam na Ilha.

O Capitalismo, desde de sua criação com o fim do Feudalismo por volta do século XV,
tem como duas de suas principais características o fato de que tudo é um produto, e que todos
esses produtos têm o seu devido valor. Na Ilha das Flores não é diferente. Os porcos que vivem
nesta comunidade são alimentados primeiro que os seres humanos. Isso por terem um valor
“estimado” por seus donos superior ao das pessoas, pois os porcos tem como gerar lucros, já
as mulheres e crianças não lhe apresentam grande serventia, fazendo com que sejam
considerados de menor valor, e por isso tratadas também como produto de valor inferior.

Alguns diriam ser desumano tal tratamento. Outros defendem que os porcos por
serem seres vivos, tais como os humanos, não deveriam ser tratados como pedaços,
quadrúpedes, de carne para que nos alimentemos. Tal defesa é baseada na ideia de que os
alimentos deveriam ser divididos conforme a necessidade do ser de que dele se alimenta.
Restos ou lixo podem causar doenças nos seres humanos que não se proliferariam nos porcos,
consequentemente, tais alimentos deveriam ser direcionados a eles. Em contra partida,
alimentos que não deveriam ser consumidos por humanos, não deveriam ser prontamente
postos aos porcos, porque esses também devem comer alimentos que não lhe tragam
malefícios.

Assim sendo, a realidade da Ilha das Flores é vista de diversas formas, com causas,
motivos e consequências determinados por cada um. O que se sabe realmente é que essa é
uma verdade vivida por muitos, onde o que traz mais lucro é tratado melhor. Sendo ele porco
ou ser humano.
“Ilha das Flores’, herói ou vilão”?

Dúbio(a) - Adjetivo. 1 - duvidoso, incerto; ambíguo. 2 - Difícil de definir ou


explicar. Esse, com certeza, é um dos adjetivos que podem ser aplicados a intenção do autor
Jorge Furtado com a produção do curta metragem Ilha das Flores. E a árdua tarefa de fazê-lo
trouxe diversas consequências aos moradores da ilha.

A realidade de que os moradores recebiam doações de alimentos próprios para o


consumo não ser apresentada no curta, e sim, a de que os moradores se alimentavam do resto
dos porcos, fez com que esses moradores, ao saírem da ilha fossem tratados como comedores
de lixo, sujos e imundos. Fazendo com que fossem excluídos, marginalizados e rebaixados
pelos moradores da cidade de Porto Alegre.

Ao ser questionado sobre a influência do filme no comportamento para com os


moradores da ilha, o autor diz que a ideia foi um curta de ficção e ainda usa uma frase que foi
colocada no início do filme, “Deus não existe” para confirmar sua afirmação, e por isso não se
sente culpado pelas consequências. Mesmo com as palavras do autor, o fato de que a ficção
apresentada no filme é muito próxima a realidade do local faz com que ele tenha sido, no
mínimo, descuidado com os impactos da filmagem. É indiferente quando a ideia de arte, se
torna maior que a realidade por ela representada, e as consequências, tais como exclusão,
preconceito e discriminação se fazem fins que não justificam os meios, mesmo com o sucesso
do curta. Além de que o filme não ter sido passado aos moradores, coloca ainda mais em
dúvida a intenção do autor.

Portanto, ainda que a intenção do autor tenha sido a de um curta de ficção, esse trouxe muito
mais malefícios a realidade dos cidadãos da Ilha dos Marinheiros. Mesmo que essa ficção
ainda seja a realidade de muitos.

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