Título: Cotidiano e atuação policial em Fortaleza: entre o dever e a prática nas
primeiras décadas do século XX Autor: Francisco Linhares Fonteles Neto Tema: O presente texto nos mostrará como eram as práticas da policia na cidade de Fortaleza no começo do século XX, como se formaram, os principais serviços que eram submetidos a cumprir e suas ações perante a população mais pobre da capital. Perspectiva Teórica: História social Fontes Utilizadas: Fonte escrita: Jornal O CEARÁ: edição de 1928. Jornal O POVO: edição de 1928. Livro S/n – Livro de Registro das Partes Diárias da delegacia de Fortaleza, 1924 – 1925. Arquivo Público do Estado do Ceará. Relatórios de Inspetoria de Higiene Pública do Ceará. Relatório que o Exmº. Sr. Chefe de policia do Estado do Ceará Dr. José Eduardo Torres Câmara. Revista Verdes Mares – Colégio Cearense do Sagrado Coração: edição de 1929.
Bibliografia:
BARBOSA, Carlos Jacinto. A força do hábito: condutas transgressoras na Fortaleza
remodelada 1900-1930. Dissertação de Mestrado em Ciências Sociais/UFC, 1997. FENELON, Déa Ribeiro. Cultura e história social: historiografia e pesquisa. In: projeto História. PUC/SP. 1993. LINHARES, Francisco. Vigilância, Impunidade e Transgressão: faces da atividade policial na capital cearense 1916-1930. Universidade Federal do Ceará, 2005. RODRIGUES, Abelardo. Resumo Histórico da Policia Militar do Ceará 1935-1955. Fortaleza: IOCE, 1956. VICTOR, Hugo. Chefes de Policia no Ceará. Fortaleza: Tipografia Minerva. 1945. RESUMO Para analisarmos a história da policia em Fortaleza, sobretudo no começo do século XX, devemos analisar não apenas um, mas dois pontos de vistas, o primeiro ponto de vista se trata da versão “oficial” da História dessa corporação, escrita pelos pertencentes da mesma, essa parte da história contada é carregada de ideologias, onde quase não há críticas à polícia atuante em Fortaleza no começo do século passado, sendo ela extremamente elogiada pelos seus feitos, onde atuam sempre com bastante afinco para manter a ordem na cidade e garantir a segurança de todos. Por outro lado temos a história vista “de baixo”, ou seja, uma história contada sob a ótica de uma minoria, levando em consideração diversos aspectos da história social, onde diferentemente da outra versão citada acima, agora a policia passa a um papel de coadjuvante, onde serão analisados seus erros, seus atos indecentes, discriminatórios e sua truculência contra a pessoas marginalizadas pelo estado, tudo isso sendo apoiada por uma elite local. Há quem pense que o único papel da polícia antigamente era apenas prender pessoas que viviam e faziam atos fora da lei, mas a policia fortalezense tinha diversas outras funções e obrigações, como recolher pessoas em situação de rua, bêbados, loucos, pessoas que vinham de outras regiões do estado vítimas da seca, também exerciam o papel de fiscais da lei, não permitindo aglomerações em determinados horários da noite, em bares, festas e em lugares onde se haviam praticas de jogo ilegais. Atuando de forma urbana, a maioria dos policiais eram pertencentes a policia militar e a guarda cívica de Fortaleza, onde somente para resolver casos graves que era necessitado a presença de uma policia mais especializada. Mesmo contando com baixos investimentos na instituição, tendo muitas dificuldades nas condições de trabalho, e em patrulhar a cidade inteira por conta da falta de delegacias e homens à disposição, a polícia da cidade ainda fazia uma busca seletiva por homens para atuar nas ruas da capital, onde eram exigidos homens jovens, com boas condutas, uma moral exemplar, um bom porte físico, entre tantos outros dotes para um homem da lei, porém isso ficaria apenas no campo teórico, na prática a polícia possuía diversos homens incapacitados para o serviço, que não possuíam uma educação necessária para estar nesse cargo tão importante para o funcionamento de uma cidade, fazendo com que a policia ficasse marcada como uma instituição possuidora de diversos homens despreparados, analfabetos e indisciplinados, tanto que era necessário colocar alguns destes policiais em ambientes escolares, para que eles sejam apresentados a conteúdos e ensinamentos que ajudassem eles a se portarem de maneira mais adequada perante a população de Fortaleza. Um outro inimigo que a polícia de Fortaleza teria que enfrentar quase diariamente, e que lhe rendia muitas dores de cabeça, era a imprensa local, onde apoiadas por diversos relatos da população a respeito da truculência da polícia, faziam inúmeras publicações em forma de noticia e muitas vezes em forma de sátira, explanando as coisas erradas que os membros da policia faziam quando realizavam suas obrigações, dentre as principais estavam o combate a: prostituição, ao álcool e os jogos de azar. O primeiro a ser citado, a prostituição, era um problema bastante recorrente para a polícia, onde apesar de não configurar como crime, a prostituição era marcada com preconceito por parte de diversas pessoas, tanto na questão moral, onde várias denuncias foram registradas por indivíduos defensores dos bons costumes e do bom funcionamento da sociedade, acusando-as de atentar contra o pudor, frequentando as ruas da capital de forma banal e se distanciando quase que completamente do estilo de vida que uma mulher deveria ter perante a igreja e o estado; a outra maneira de discriminação era na questão da saúde, onde dizia-se que tanto essas mulheres quanto os locais onde habitavam eram carregados de doenças, fato esse que preocupava diariamente as autoridades de Fortaleza. Um outro mal que assolava a cidade era o álcool, sobretudo o uso da cachaça, e por conta de uma onda higienização da cidade pregada pela elite local e apoiada por autoridades da segurança e medicina, havia um ardo combate não só contra a bebida em si, mas ao que ela proporcionava, as aglomerações, as brigas, as concentrações de moradores de rua e as doenças de longo prazo, como atrofia muscular, loucuras entre outras. Várias medidas. Os fatores mais interessantes que podemos analisar desta leitura é que tanto no caso da prostituição, dos jogos de azar, do uso desenfreado do álcool entre outros casos, era a polícia o responsável por combate-las, sendo que na maior parte das vezes os homens dessa instituição não possuíam preparação e treinamento para lidar com essas situações, e acabavam agindo de maneira errada, com preconceito, truculência e violência exacerbada, mas vale lembrar que essas atitudes da polícia são feitas dessa maneira pelo fato de serem apoiadas tanto pelo estado quando por uma elite, que baseando-se em modelos de outros países, tentam empurrar a força um jeito de se comportar que não condiz com a realidade maioria da população da nossa cidade, a maioria dos próprios policiais sofrem com aquilo que combatem.