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No final do Renascimento ,os estados nacionais ,vendo o potencial

crítico dos intelectuais os controlou de diversas

maneiras.Igualmente dominaram os cientistas que produziam

riquezas.

O intelectual moderno,como Eco,é produto deste controle,tão bem

descrito como fenômeno de “racionalização”por Max

Weber.Aquela liberdade do Renascimento acabara.Se

analisarmos,porém,a história subsequente,o outsider,o que não

teve escola e não foi devidamente controlado,sempre surge para

inovar.

Na própria revolução industrial,que é base sociológica da

racionalização weberiana,vemos figuras como James Watt ou

Faraday,provindos de fora da escola,mas produzindo inovações e

sendo recebidos por ela e pelas sociedades científicas.

Por incrivel que pareça ,em todo este movimento, havia

sensibilidade para reconhecer que este pesquisador solitário ,se

trouxesse algo novo,poderia e deveria ser acolhido.

Nos países anglo-saxônicos,por causas históricas,que já tratei em


outro lugar,a mobilidade social ascendente permitiu e permite tal

mobilidade.Nós vemos que a renomada Universidade de

Oxford,no tempo de Rutherford e Russell,achou um simples

matemático indiano,Ramanujan,pobre e esquecido numa

aldeiazinha e o trouxe para dialogar,diretamente, com os

supracitados medalhões.Passou por um processo de prova e

exigência,mas com lisura e lá se estabeleceu como professor e

pesquisador.

Nos países euro-continentais e seus colonizados,como o Brasil, a

racionalização se imbrica com o engessamento da sociedade civil

pelo estado,cujo objetivo histórico foi fundado,entre outras

razões,na necessidade de controle da mobilidade social

ascendente,mantendo-a nas mãos da classe hegemônica.Se ainda

se vê fraturas neste projeto hegemônico em alguns lugares ,em

outros,o panorama adquire contornos dramáticos de pura exclusão

do outsider,de todos, e favorecendo escracahdamente as classes

altas e seus filhos.

Atualmente o quadro continua o mesmo,mas há que reconhecer


que ,embora ainda se encontrem fenômenos de liberdade

criativa,as barreiras são maiores.

Do meu ponto de vista os espaços para outsiders como eu devem c

ser buscados.Muita gente critica os exemplos que eu ofereço do

surgimento da cibernética moderna,a fundação da microsoft,mas

eu mantenho a minha interpretação de que o microcomputador foi

inventado numa garagem.

Dependendo do grau de comprometimento com este controle e de

suas disposições pessoais,o intelectual pende para a liberdade ou

para o controle;para o debate democrático com o outsider ou com

a sua repressão;pende para uma convivência tranquila ou sofre

com a inveja e com o desejo de supressão do outro.Não é preciso

pensar muito para saber para onde vai Eco(e seus sicários).

A democracia não são só eleições.O estado democrático não são

só os organismos de produção de conhecimento reconhecidos por

ele:é a oportunidade permamente dada a todos de produzir.Nem

todos chegam à escola e mesmo que cheguem ,o condicionamento

da liberdade de produção a um diploma fere a democracia.


Foucault afirma que se hoje não há repressão física sobre a

sociedade,há outras ,inclusive o anátema dos intelectuais,da

autoridade intelectual,que assusta a muitas crianças(menos a

mim).

E este constrangimento não se restringe à direita não,mas à

esquerda,que é ,não raro,mais violenta.

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