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São Paulo, v. 18, n. 2, maio/ago.

, 2018
Cadernos de Pós-Graduação em Letras
doi:10.5935/cadernosletras.v.18n2p276-285
ISSN 1809-4163 (on-line)

Quando a literatura
encontra o cinema:
um estudo sobre a
intermidialidade

Eliane Aparecida Machado* 1

Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), Programa de Pós-Graduação em Letras (PPGL), São


Paulo, SP, Brasil.

Recebido em: 2 mar. 2018. Aprovado em: 23 abr. 2018.

Como citar este artigo: MACHADO, E. A. Quando a literatura encontra o cinema: um estudo sobre a
intermidialidade. Cadernos de Pós-Graduação em Letras, v. 18, n. 2, p. 277-286, 2018. doi:10.5935/
cadernosletras.v18n2p277-286

Resumo
Uma investigação que se apropria do conceito de “literatura comparada” como
um estudo com foco em diferentes áreas do conhecimento, por meio de estraté­
gias intertextuais e, portanto, de natureza dialógica, porque propõe um diálogo
entre diferentes esferas da expressão humana, em verdade, está sugerindo um
provável diálogo entre textos de naturezas diversas, mas também com intencio­
nalidades diversas. Neste artigo, propõe-se um estudo sobre o elemento verbo­
-visual presente em diferentes mídias: um conto e sua adaptação no formato em

* E-mail: machado.eliane@gmail.com
https://orcid.org/0000-0002-4355-6071
Quando a literatura encontra o cinema: um estudo
sobre a intermidialidade

curta-metragem de animação, para observar seus efeitos e intencionalidades,


assim como avaliar o impacto do meio de veiculação de tais textos em sua
recepção, o momento em que a literatura e o cinema se encontram num entre­
cruzar de mídias.

Palavras-chave
Literatura comparada. Mídia. Intermidialidade.

Estudos intermidiáticos por meio de estratégias


comparativistas

Em geral, quando uma obra é adaptada ou transposta de uma mídia


para outra, como a literatura para o teatro, ou para o cinema, ou para a
música, há um consenso ou uma tentação por parte da recepção, do público
leitor ou do espectador, de compará-la a partir de um juízo de valor muito
subjetivo e, em geral, tais recepções vêm invariavelmente acompanhadas de
expressões como “Mas o filme é melhor que o romance”, ou “O musical é
muito mais divertido que o romance”, ou ainda o oposto. Não importa, tais
valorações são aqui mencionadas apenas para ilustrar como algumas obras
que sofrem adaptações ou transposições de uma mídia para outra são acolhi­
das pela recepção. Os estudos intermidiáticos, no entanto, vêm justamente
oferecer uma metodologia, um respaldo científico, analítico e crítico para as
ocorrências intermidiáticas.
Parte-se do pressuposto de que todo fenômeno intermidiático respalda-se
a partir de uma perspectiva ou de um exercício comparativo: compara-se a
obra “xis” à sua adaptação para um determinado meio de veiculação diferente
daquele em que originalmente a mencionada obra foi veiculada, o que justifi­
caria o estudo intermidiático estar relacionado ou submetido aos princípios da
área das literaturas comparadas, pois, para Claus Clüver (2006) “[...] a Litera­
tura Comparada tem tradicionalmente a tarefa de se ocupar, sobretudo, das
relações textuais”.
Em verdade, a perspectiva dos estudos comparativos permitiu um modo
de refletir muito peculiar, porque lançou luz na relação intrínseca entre a pala­
vra e a imagem, questão já evidenciada desde as primeiras experimentações
poéticas, no exercício de empregar a palavra de forma a produzir imagens, ou

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Eliane Aparecida Machado

seja, tanto a imagem quanto a palavra, ao se materializarem em arte visual ou


poesia, respectivamente, propiciam, ao observador, a retenção no espaço e no
tempo de uma experiência de ilusão e imaginação. Consiste, muito provavel­
mente, no prazer de recriar um mundo a partir das palavras e das imagens que
estas podem sugerir, ou a proximidade entre palavra e plasticidade, o fascínio
dos homens em relação às artes literárias.
Assim, este artigo considera os estudos da literatura comparada como um
exercício de comparação e método de aproximação entre o signo linguístico e
o signo imagético – aplicado a textos veiculados em diferentes mídias, mais
precisamente um estudo comparativo sobre a linguagem verbo-visual presente
no conto A maior flor do mundo (SARAMAGO, 2001), e a obra homônima,
adaptada para a linguagem cinético-verbo-visual, a produção cinematográfica
em formato de curta de animação, A maior flor do mundo (ETCHEVERRY,
2007), como um fenômeno da esfera dos estudos intermidiáticos e, assim, dis­
cutir os conceitos que sistematizam essa ocorrência a partir de uma perspectiva
empírica, a transposição de um conto para a linguagem do cinema. Ou ainda,
para empregar a terminologia de Gérard Genette (2010), uma transtextualida­
de, em que se identifica o conto como o hipotexto que dá origem a um hiper­
texto, o curta de animação cinematográfica.
Independentemente da terminologia, a qual necessariamente se vincula a
um estudioso e a uma linha de pesquisa das ocorrências intermidiáticas, neste
artigo, apenas com o propósito de organização, nomeia-se como texto-fonte
o conto, enquanto a animação configura-se como um texto-alvo, porque se
pressupõe a ocorrência de uma adaptação do conto para a linguagem cinema­
tográfica do cinema, com base no conceito de adaptação proposto por Claus
Clüver (2006):

O conceito de transformação midiática aplica-se claramente ao processo que


chamamos de adaptação, normalmente para uma mídia plurimidiática (romance
para o cinema, peça teatral para a ópera, conto de fadas para o balé etc.), onde
o novo texto retém elementos do texto-fonte (trechos do diálogo, personagens,
enredo, situações, ponto de vista etc.).

O Quadro 1 propõe, simultaneamente, uma definição, uma organização e


uma visão histórico-panorâmica sobre as ocorrências dos objetos de estudo de
que se ocupa este artigo, o conto e o curta de animação de títulos homônimos,
A maior flor do mundo.

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histórico-panorâmica sobre simultaneamente,
O Quadro 1 propõe, as ocorrências uma
dos definição,
objetos deumaestudo de que
organização se ocupa
e uma visão este
histórico-panorâmica sobre as ocorrências dos objetos de estudo de que se ocupa este
histórico-panorâmica sobre as ocorrências doshomônimos,
objetos de estudo de que do
se mundo.
ocupa este
artigo, ohistórico-panorâmica
conto e o curta de animação
sobre de títulos
as ocorrências A maior
dos objetos de estudo de flor
que se ocupa este
Quando a literatura encontra o cinema: um estudo
conto ee oo curta
artigo, o conto curta de
de animação
animaçãode
detítulos
títuloshomônimos,
homônimos,AAmaior
maiorflor
flordo
domundo.
sobre a intermidialidade mundo.
uadro 1 –artigo,
Panorama histórico
o conto das
e o curta deocorrências
animação dedos objetos
títulos sob investigação
homônimos, A maior flor do mundo.
uadro 1 – Panorama
Panorama histórico
histórico das
dasocorrências
ocorrênciasdos
dosobjetos
objetossob
sobinvestigação
investigação
uadro 1 – Panorama histórico das ocorrências dos objetos sob investigação
Quadro 1 – Panorama histórico das ocorrências dos objetos sob investigação

1) Conto: A maior flor do 2) Conto: A maior flor do 3) Conto: A maior flor do 4) Curta de animação:
mundo, José Saramago, mundo, José mundo, José Saramago, A maior flor do
ilustração João Saramago, ilustração ilustração André Letria mundo, dir. Juan
Caetano (Ed. Porto, João Caetano (Ed. (Ed. Porto, dez., 2016.) Pablo Etcheverry,
dez., 2001. 1. ed.) Caminho, dez., 2002. Prod. Continental
1. ed.) Animación (Espanha)

1a edição, Ed. Porto 1a edição, Ed. Caminho Reedição 2016, Ed. Porto Produção 2007

Objetos 1, 2 e 3 – Gênero Conto: Objeto 4 – Gênero Animação:


Linguagem Linguagem cinematográfica – ao propor uma
Objetos 1,verbo-visual – relação
2 e 3 – Gênero Conto:intrínseca Objeto 4 – Gênero Animação:
Objetos 1, 22 ee 33linguístico
–– Gênero Conto: mistura
Objetode4gêneros, pertence à esfera do
entre o
Objetos 1,signo
Linguagem Gênero(verbal,
verbo-visual Conto: escrito) e o Objeto
– relação intrínseca intramidiático,4––Gênero
Linguagem Gênero Animação:
Animação:
cinematográfica – ao como propor uma
signo imagético presente na ilustração, aqui mas porque se configura
Linguagem
Linguagem verbo-visual
verbo-visual –– relação
relação intrínseca
intrínseca Linguagem
Linguagem cinematográfica
cinematográfica –– aoao propor
propor umauma
Objetos considerado
1, 2 e 3 – Gênero
entre o signocomo umConto:
linguístico (verbal,
paratexto, como escrito) e o Objeto 4 – Gênero Animação:
uma proposta
mistura dede diálogo
gêneros,com o conto
pertence éàtambém
esfera do
entre o signo
implicações
entresigno
o signo linguístico
típicas do (verbal,
processo
linguístico de
(verbal, escrito)
produção/ e o
escrito) eaquio mistura
evidência
misturadede
de masgêneros,
transmidialidade,
gêneros, pertence
porque
porque pertence à
resulta esfera
de
à como umadodo
esfera
Fonte:
Linguagem imagético
verbo-visual presente
Elaborada –pelarelação na ilustração,
autora. intrínseca intramidiático,
umLinguagem se configura
fenômeno de cinematográfica – ao propor uma
transposição intersemiótica.
recepção, um fenômeno intramidiático entre a
Fonte:
signo imagético
Elaborada presente
pela na
na ilustração,
autora. aqui intramidiático, mas porque
comseseoconfigura
contonoé como uma
entre Fonte:
signo imagético presente ilustração,
gráfica daeaqui intramidiático, mas porque configura como uma
signoElaborada epela autora.
considerado
verbalcomo um paratexto, como Linkproposta de de
para o curta diálogo
animação disponível também
o linguagemlinguístico a linguagem
(verbal, escrito) o mistura de gêneros, pertence à esfera do
considerado
implicaçõescomo
considerado
ilustração. como um paratexto,
um do
típicas processocomo
paratexto, como
de proposta
canal
proposta de
YouTube: diálogo com
de transmidialidade,
evidência de o
diálogo com porque conto
o conto é também
é de
resulta também
um
Fonte:
signo implicações
imagético
Elaborada presente
produção/recepção,
implicações
na ilustração,
pela autora.
típicas
típicas um do processo
fenômeno
do
aquide
intramidiático
processo de
intramidiático, mas porque se configura como uma
https://www.youtube.com/watch?v=YUJ7cDSuS1U
evidência
fenômenode
evidência detransmidialidade,
de transmidialidade, porque
porqueresulta
transposição intersemiótica. Linkde
resulta deum
paraum
considerado acomo
produção/recepção,
entreElaborada
linguagemum
pelaum verbalparatexto,
fenômeno
e a linguagemcomo
intramidiático
gráfica proposta
fenômeno
o curta de de
de diálogo
transposição
animação com o conto
intersemiótica.
disponível no canal Linké
YouTube: também
para
produção/recepção, um fenômeno intramidiático
Fonte: autora. fenômeno de transposição intersemiótica. Link para
implicações
entre típicas verbal
entredaaailustração.
linguagem
linguagem do ee aa linguagem
verbal processo de
linguagem gráfica
gráfica oevidência
curta
curtade de transmidialidade,
deanimação
animação disponível
disponívelno porque
nocanal resulta de um
canalYouTube:
ohttps://www.youtube.com/watch?v=YUJ7cDSuS1U
YouTube:
da
da ilustração.
Em relação
produção/recepção,
ilustração. ao conto,
um fenômeno identificado
intramidiático https://www.youtube.com/watch?v=YUJ7cDSuS1U
como objetos
fenômeno 1, 2 e 3, é relevante
de transposição paraLink para
intersemiótica.
https://www.youtube.com/watch?v=YUJ7cDSuS1U
entre a este estudoverbal
linguagem a primeira edição publicada
e a linguagem gráfica pela Editora
o curta Porto em
de animação 2001 eno
disponível ilustrada
canal YouTube:
pelo artista plástico moçambicano João Caetano,
da ilustração. aqui nomeada como objeto
https://www.youtube.com/watch?v=YUJ7cDSuS1U
1, justamente porque esta obra recebeu o Prêmio Nacional de Ilustração 2001
em Portugal. Essa edição torna-se particularmente importante para este artigo
porque as ilustrações – aqui identificadas como componentes imagéticos e que
no conjunto da obra configuram-se como um paratexto em relação ao texto

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ecebeu o Prêmio Nacional de
particularmente Ilustraçãopara
importante 2001 esteem Portugal.
artigo porqueEssa edição torna-se
as ilustrações – aqui identificadas
co moçambicano João Caetano, aqui nomeada como objeto 1, justamente porque esta
particularmente importante para este artigo porque as ilustrações – aqui identificadas
ularmente importante
componentespara este artigo porque as ilustraçõesda – aqui identificadas como
recebeu o Prêmio Nacional imagéticos
de Eliane
Ilustração e2001
Aparecida que no
Machadoem conjunto
Portugal. Essaobra configuram-se
edição torna-se como um parate
componentes imagéticos e que no conjunto da obra configuram-se como um paratex
nentes imagéticos
cularmente relaçãoe para
importante que no conjunto
ao texto
este principal
artigo da–,obra
porque asem configuram-se
linguagem
ilustrações – aqui comorefletem
verbal, um paratexto
identificadas como em
a proximidade, o diálo
relação ao texto principal –, em linguagem verbal, refletem a proximidade, o diálog
oonentes
ao texto principal
imagéticos
relação –,intrínseca
e que em linguagem
no linguagem
conjunto verbal,
daverbal,
entre obra refletem
configuram-se
o signo a como
linguísticoproximidade,
um
e oparatextoo diálogo
em ea
principal –, em refletem a proximidade, osigno
diálogo imagético,
e a relação o movimen
relação intrínseca entre o signo linguístico e o signo imagético, o movimen
oão intrínseca entre –,o em
ao texto principal
intrínseca
convergência signo
entre linguístico
linguagem
o signo
entre verbal, erefletem
linguístico
a palavra e aoeimagem
signo
o signo imagético,
a proximidade,
imagético,
para ooodiálogo
movimento
movimento
se reconfigurarem e a numade de
con­terceira lingu
convergência entre a palavra e a imagem para se reconfigurarem numa terceira lingu
ão entrevergência
intrínseca
gência aentre
de palavra entre
o signo
natureza
alinguístico
palavra
e a sincrética
imagem e ease
para
e da
imagem
signo para
o reconfigurarem
qual se
se reconfigurarem
imagético,
torna
o movimento
numa terceira
impossível uma
numa
de terceira
linguagem,
operação dissociativa
linguagem,
depalavra
naturezade natureza
sincrética sincrética
e da e da se
qual qual se torna
torna impossível
impossível uma uma operaçãodissociativa,
operação
ergência entre
ureza sincrética a e a
e da qual imagem para se reconfigurarem numa terceira linguagem,
amalgamento
dissociativa, o se
tal entre torna
amalgamento impossível
os elementos entre osuma
constitutivos operação
elementos do dissociativa,
texto-fonte,
constitutivos tal o e a imagem.
doa texto-fon­
palavra
atureza sincrética amalgamento
e da qual entre
se os impossível
torna elementos uma constitutivos
operação do texto-fonte,
dissociativa, tal aopalavra e a imagem.
amento entrete,osaelementos
palavra e aconstitutivos
imagem. do texto-fonte, a palavra e a imagem.
gamento entre os elementos constitutivos do texto-fonte, a palavra e a imagem.

Nesta relação entre a palavra e a imagem, a intermidialidade surge a par­


Nesta relação entre a palavra e a imagem, a intermidialidade surge a partir de um
tir de umNesta
fenômeno de entre
intertextualidade
Nesta relação
relação entre palavra ee e,
aa palavra portanto, adeintermidialidade
aa imagem,
imagem, natureza dialógica,
a intermidialidade surge aa partir
surge partird
Nesta
meno de relação entreaoa sobrepor
intertextualidade
porque palavra eum
a de
e, portanto, imagem,
natureza
texto, a dialógica,
intermidialidade
o verbal, sobreporque surge
ao
o outro, a partir
sobrepor um de
o imagético, umno
tanto
,eno
o verbal,
fenômeno
fenômeno
sobre o de
outro,
de
o de
intertextualidade
intertextualidade
imagético, tanto
e, portanto, natureza
dequanto
natureza dialógica,
dialógica, porque ao
porque ao sobrepo
sobrep
eixo produção
de intertextualidade quanto
e, portanto, deno
de eixo de promove
recepção,
natureza produção
dialógica,um de ao
diálogo,
porque recepção,
este evidenciado
sobrepor um
texto,
pela oevidenciado
overbal,
produção
texto, verbal,desobre
pela o o outro,
significados,
sobre odeimagético,
outro,mas tanto
mas no
que está sujeito eixo
ao eixo de produção
repertório
de produção quantode
de leitura
quanto derece
rec
oove um diálogo,
verbal, sobre este
o outro, o imagético, produção
tanto no significados,
eixo de produção que está sujeito
quanto de recepção,
tanto de quem produz quanto de quem lê, e que desvela um componente inter­
promovetantoum
promove
pertório de leitura de diálogo,
um diálogo,
quem produz este
este evidenciado
evidenciado
quanto de quem pelalê,produção
produção de significados,
de
e que desvela significados,
um masque
mas queestá
estás
ve um diálogo, esteTal
midial. evidenciado
afirmação pode pela produção
ser observadade significados, mas que
mediante a análise está sujeito
de algumas cenas
onente intermidial.
ao Tal tanto
afirmação
ao repertório
repertório
presentes de pode
leiturasertanto
detexto-fonte
leitura observada
tanto mediante
denoquem a análise
produz de algumas
quanto
quanto denoquem
de quem lê, ee que
lê, que desvel
desve
ertório de leitura tanto denoquem produzcomo
quanto texto-alvo,
de quem explicitadas
lê, e que desvela Quadro
um 2.
presentes tanto no texto-fonte
componente
componente como no texto-alvo,
intermidial.
intermidial. Tal explicitadas
Tal afirmação
afirmação podenoser
Quadro 2.
observada
observada mediante aa análise
mediante análisededealg
al
nente intermidial. Tal afirmação pode ser observada mediante a análise de algumas
cenaspresentes
cenas presentes tanto no
no texto-fonte como no texto-alvo, explicitadas no
noQuadro
Quadro2.2.
presentes tanto no texto-fontetanto
como notexto-fonte texto-alvo,
texto-alvo, explicitadas explicitadas
no Quadro 2.

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dro 2 – Cenas presentes no texto-fonte e no texto-alvo
 
  Quando a literatura encontra o cinema: um estudo
Quadro 2 – Cenas presentes no texto-fonte e no texto-alvo
sobre a intermidialidade

Quadro 2QuadroQuadro
– Cenas 2no
2presentes
– Cenas – Cenas
presentes presentes
no
texto-fonte noetexto-fonte
texto-fonte
e no texto-alvoe
no texto-alvo no texto-alvo

Imagem 1: Texto-fonte, ilustração de


João Imagem
fonte, ilustração
José João
de 1: Texto-fonte,
Caetano, representando ilustração de
o autor,
Imagem 1: Texto-fonte, ilustração deo autor,
Caetano, representando
Saramago, transformado em
resentandopersonagem-autor.
o José
autor,
Imagem 1: Texto-fonte, ilustraçãoem
Saramago, transformado de
João Caetano, representando o autor,
transformadopersonagem-autor.
José
em
João Caetano,transformado
Saramago, representando
em o autor,
José Saramago,
personagem-autor. transformado em
personagem-autor. Imagens 2 e 3: Texto-alvo, a mesma cena, mas na
perspectiva do diretor do curta de animação Juan Pablo
Etcheverry,
Imagens Imagens
também 2 e 3:a Texto-alvo,
representando
2 e 3: Texto-alvo, o autor,
mesma aJosé
cena, mas mesma cena, m
Saramago, transformado
perspectiva
na perspectiva em personagem-autor.
dodo
do diretor diretor do animação
curta de curta de animação Juan
Imagens 2 e 3: Texto-alvo, a mesma
Etcheverry,
Imagens
Juan Pablo 2 etambém
Etcheverry,
cena,
também
mas anamesmao cena,
representando
3: Texto-alvo,
representando autor,
ma
perspectiva do diretor do curta deSaramago,
Saramago, animação
perspectivatransformado
do diretor Juan
em Pablo
personagem-autor.
o autor,
Tais cenas José
demonstram jogodointrínseco
curta
o transformado de animação Juan
em
Etcheverry, também representando
Etcheverry, tambémopersonagem-autor.
autor, José
representando o autor,
Saramago, transformado em personagem-autor.
Saramago, transformado
entre a palavra e a imagem e que promove a em personagem-autor.
Tais cenas demonstram o jogo intrín
linguagem sincrética, presente tanto no texto-
entre a Tais
Tais cenas demonstram ocenas
palavra e demonstram
jogo imagem eoque
a intrínseco jogopromo
intrín
fonte quanto no texto-alvo.
entre a palavra
linguagem e a imagem
presenteae tanto
que promov
Fonte: Elaborada pela autora. entre a palavra e a imagem esincrética,
que promove no te
linguagem
fonte quantosincrética, presente tanto no te
no texto-alvo.
linguagem sincrética, presente tanto no texto-
fonte quanto no texto-alvo.
Fotografia do escritor José Saramago. Disponível em: <http://roinesxxi.blogs.sapo.pt/memoria-de-jose-saramago-
Fonte:Acesso
1030947>. Elaborada pela
em: 3 nov. autora.
2017.

fonte quanto no texto-alvo.


Fonte: Elaborada pela autora.
Fonte: Elaborada pela autora.

ela autora.

Fotografia do escritor José Saramago. Disponível em: ,


281
<http://roinesxxi.blogs.sapo.pt/memoria-de-jose-saramago-
1030947>.
São Paulo, v. 18, n. 2, p. 276-285, maio/ago. 2018
Acesso em: 3 nov. 2017.
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Eliane Aparecida Machado

Tais cenas demonstram o jogo intrínseco entre a palavra e a imagem e que


promove a linguagem sincrética, presente tanto no texto-fonte quanto no tex­
to-alvo.
Nas cenas apresentadas no Quadro 2, observa-se a relação dialógica que
permeia tanto as imagens propostas pelo ilustrador João Caetano quanto pelo
diretor Juan Pablo Etcheverrry, em relação à imagem de referência, a fotografia
de José Saramago. Observa-se, ainda, uma nova relação intermidiática entre
tais objetos textuais. Primeiro, no texto-fonte, a ilustração de João Caetano,
que se configura como um paratexto em relação ao texto verbal, a intertex­
tualidade entre a imagem ilustrada e a imagem fotográfica é mais sutil e, por­
tanto, revela-se mais dependente do repertório de leitura ou nível cultural do
eixo produtor/receptor reconhecer a imagem no texto-fonte como uma estili­
zação gráfica do autor-personagem em relação à fotografia do escritor José
Saramago. Por sua vez, no texto-alvo, a imagem gráfica estilizada do autor­
-personagem aproxima-se muito mais da imagem fotográfica do escritor, pro­
duzindo um efeito de real mais incisivo se comparada às imagens do paratexto
presentes no texto-fonte.
Ademais, o texto-alvo sofre um acréscimo em relação ao texto-fonte: a
voz do escritor José Saramago é emprestada ao personagem-autor, identificado
como José Saramago. Tal empréstimo configura-se como um estatuto de ver­
dade para o texto-alvo muito mais eficiente se comparado à mesma referência
feita ao escritor no texto-fonte. O acréscimo da voz do escritor José Saramago,
juntamente com a estilização gráfica mais próxima de sua imagem real, cria
um efeito de realidade no texto-alvo mais incisivo que o texto-fonte, porque
presentifica, simultaneamente, voz e imagem, enquanto no texto-fonte a ima­
gem do escritor, que se configura como um paratexto, é apenas uma sugestão,
e esta ainda depende muito da relação produtor-leitor. É possível que muitos
leitores não reconheçam na imagem estilizada do ilustrador João Caetano a
referência ao escritor português, fato que pode comprometer os níveis discur­
sivos propostos pela narrativa, como se pode observar a seguir, por meio da
análise pontual do nível discursivo presente no texto-fonte e no texto-alvo.
Em A maior flor do mundo, transformando-se em personagem, o autor,
José Saramago, narra que certa vez teve uma ideia para um livro infantil –
inventou uma história sobre um menino que faz nascer a maior flor do mundo.
Em um tom intimista e reflexivo, este personagem-autor confessa que não se
julgava capaz de escrever para crianças, mas chegou a imaginar que, se tivesse
as qualidades necessárias para colocar o projeto em prática, resultaria em uma

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Quando a literatura encontra o cinema: um estudo
sobre a intermidialidade

história extraordinária. No campo hipotético, “seria a mais linda de todas as


que se escreveram desde o tempo dos contos de fadas e princesas encanta­
das…” (SARAMAGO, 2001).
Assim, toda a narrativa desenvolve-se a partir de um jogo narrativo, apro­
priando-se da estratégia de mise en abyme – a narrativa que se desenvolve
diante do leitor/espectador não é a história verdadeira, mas apenas um esboço
do que viria a ser a história do narrador-autor caso ele realmente viesse a escre­
ver um livro para crianças. Assim, no primeiro plano, por meio de um jogo
especular, inscreve-se uma micronarrativa noutra mais englobante, uma histó­
ria cujo tema volta-se para a relação do homem com a natureza, mais precisa­
mente na relação do menino com a flor. Essa narrativa está duplicada em outra
mais ampla, cuja enunciação volta-se para um enunciatário adulto, e com ele
discute questões mais complexas do âmbito do confronto dos níveis narrati­
vos, propondo uma reflexão sobre o universo literário do adulto e do infantil,
questionando a relação enunciado/enunciador/enunciatário. Observa-se que,
no conto, o texto-fonte, essa dimensão reflexiva do discurso é mais sutil, ou
quase imperceptível, ao passo que na animação, o texto-alvo, a técnica do mis
em abyme, revela-se mais eficiente e produtiva.
A hipótese que justificaria tais produtividade e eficiência presentes no
texto-alvo apoia-se em dois fatores: a estilização gráfica do personagem-autor,
mais próxima da imagem real de José Saramago, assim como o acréscimo da
própria voz do escritor ao personagem-autor, consolidando definitivamente a
identidade que se propõe apresentar ao leitor tanto no texto-fonte quanto no
texto-alvo.
Em termos de recepção, é compreensível e aceitável a percepção do leitor
ou espectador quando este tece comentários sobre a valoração de textos sub­
metidos a fenômenos intermidiáticos, ao julgar o texto-fonte como superior
em relação ao texto-alvo ou vice-versa. No entanto, os estudos intermidiáticos
permitem uma análise mais precisa sobre as ocorrências textuais, sempre par­
tindo de uma perspectiva comparativista, que permite investigar de forma mais
precisa as relações intertextuais. Os objetos investigados evidenciam tal afir­
mação por meio do reconhecimento da própria recepção, seja ela especializada
ou não, pois o paratexto do texto-fonte foi premiado como melhor ilustração
de livro infantil, galardeado com o Prêmio Nacional de Ilustração 2001, em
Portugal, ao passo que o texto-alvo foi contemplado em 2008 com o Prêmio
Fnac, na Espanha, como o melhor curta-metragem de animação de 2007, por
votação do público infantil (FUNDAÇÃO JOSÉ SARAMAGO, 2009).

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São Paulo, v. 18, n. 2, p. 276-285, maio/ago. 2018 Cadernos de Pós-Graduação em Letras


doi:10.5935/cadernosletras.v18n2p276-285 ISSN 1809-4163 (on-line)
Eliane Aparecida Machado

When literature meets cinema: a study about


intermediality

Abstract
An investigation that appropriates the concept of “Comparative Literature” as
a study focusing in on different areas of knowledge, through intertextual
strategies and, therefore, of dialogical nature, since it proposes a dialogue
between different spheres of human expressions, in fact, is suggesting a probable
dialogue between texts of different natures, but also with diverse intentions. In
this article, a study is proposed on the verb-visual element present in different
media: a short story and its adaptation in the format in animation short film, to
observe its effects and intentionalities, as well as to evaluate the impact of the
medium of transmission of such texts in their reception, the moment in which
literature and cinema meet in criss-crossing of media.

Keywords
Comparative literature. Adaptation. Media. Intermediality.

REFERÊNCIAS

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Animación, 2007. Filme de animação (10 minutos), color.
CLÜVER, C. Inter textus/Inter Artes/Inter Media. Aletria: Revista de Estudos de Lite-
ratura, v. 14, p. 11-41, jul./dez. 2006. Disponível em: <http://www.periodicos.letras.
ufmg.br/index.php/aletria/article/view/1357/1454>. Acesso em: 28 jun. 2018.
CLÜVER, C. Intermidialidade. Pós: Revista do Programa de Pós-Graduação em Artes,
Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 8-23, Nov. 2011. Disponível em: <https://www.eba.ufmg.
br/revistapos/index.php/pos/article/view/16/16>. Acesso em: 28 jun. 2018.
FUNDAÇÃO JOSÉ SARAMAGO. Curta-metragem “A maior flor do mundo” premia-
da. 18 nov. 2009. Disponível em: <https://www.josesaramago.org/curta-metragem-a-
maior-flor-do-mundo-premiada/>. Acesso em: 3 nov. 2017.
GENETTE, G. Palimpsestos: a literatura de segunda mão. Belo Horizonte: Edições
Viva Voz, 2010. p. 11-23.
RAJEWSKY, I. O. Intermidialidade, intertextualidade e “remediação”: uma perspecti­
va literária sobre a intermidialidade. Tradução Thaïs F. N. Diniz e Eliana Lourenço de
Lima Reis. In: DINIZ, T. F. N.; REIS, E. L. de L. (Org.). Intermidialidade e estudos
interartes: desafios da arte contemporânea. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2012.

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doi:10.5935/cadernosletras.v18n2p276-285 ISSN 1809-4163 (on-line)
Quando a literatura encontra o cinema: um estudo
sobre a intermidialidade

SARAMAGO, J. A maior flor do mundo. Ilustração José Caetano. Alfragide: Editorial


Caminho, 2001.
SARAMAGO, J. A maior flor do mundo. Ilustração José Caetano. Porto: Porto Editora,
2001.
SARAMAGO, J. A maior flor do mundo. Ilustração André Letria. Porto: Porto Editora,
2016.

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doi:10.5935/cadernosletras.v18n2p276-285 ISSN 1809-4163 (on-line)

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