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PC-MG
Escrivão de Polícia
NV-003OT-21
Cód.: 7908428801106
Obra
Autores
LEI ORGÂNICA DA POLÍCIA CIVIL DE MINAS GERAIS • Olivia Gomes e Fernando Paternostro Zantedeschi
NOÇÕES DE DIREITO – DIREITO CONSTITUCIONAL • Samara Kich, Giovana Marques e Ana Philippini
NOÇÕES DE DIREITO – DIREITO PENAL • Renato Philippini, Rodrigo Gonçalves e Jonatas Albino
Edição:
Outubro/2021
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LÍNGUA PORTUGUESA....................................................................................................13
INTERPRETAÇÃO E COMPREENSÃO DE TEXTOS........................................................................... 13
Intertextualidade............................................................................................................................................... 23
TIPOS DE DISCURSO.........................................................................................................................................23
VOZES DISCURSIVAS........................................................................................................................................24
Citação............................................................................................................................................................... 24
Paródia............................................................................................................................................................... 24
Alusão................................................................................................................................................................ 24
Paráfrase........................................................................................................................................................... 24
Epígrafe.............................................................................................................................................................. 25
SEMÂNTICA......................................................................................................................................... 24
FIGURAS DE LINGUAGEM.................................................................................................................. 27
SINTAXE............................................................................................................................................... 33
TRANSGRESSÕES DISCIPLINARES.................................................................................................................58
Classificação..................................................................................................................................................... 59
Causas e Circunstâncias que Influem no Julgamento................................................................................... 59
Penalidades....................................................................................................................................................... 60
Competência para Imposição de Penalidades............................................................................................... 61
Prisão Administrativa e Suspensão Preventiva.............................................................................................. 61
Procedimento Administrativo.......................................................................................................................... 61
Instauração do Processo................................................................................................................................. 61
Sindicância........................................................................................................................................................ 62
Comissões Processantes Permanentes......................................................................................................... 62
DISPOSIÇÕES GERAIS.......................................................................................................................................66
Disposições Preliminares................................................................................................................................. 66
DA COMPETÊNCIA............................................................................................................................................68
DA ORGANIZAÇÃO............................................................................................................................................69
Da Estrutura Orgânica....................................................................................................................................... 69
DA ADMINISTRAÇÃO........................................................................................................................................72
Das Prerrogativas............................................................................................................................................. 76
Dos Direitos....................................................................................................................................................... 78
Dos Direitos dos Policiais Civis........................................................................................................................ 78
Das Indenizações e das Gratificações............................................................................................................ 79
DA REMOÇÃO.....................................................................................................................................................79
Das Licenças..................................................................................................................................................... 81
Dos Afastamentos e das Disponibilidades..................................................................................................... 82
Disposições Gerais........................................................................................................................................... 84
Do Ingresso....................................................................................................................................................... 86
Do Estágio Probatório....................................................................................................................................... 87
Do Desenvolvimento na Carreira...................................................................................................................... 88
Do Adicional de Desempenho.......................................................................................................................... 89
DISPOSIÇÕES FINAIS........................................................................................................................................90
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA..............................................................................................................................93
Conceito ............................................................................................................................................................ 93
Princípios........................................................................................................................................................... 93
Administração Pública Direta .......................................................................................................................... 96
Administração Pública Indireta........................................................................................................................ 96
AGENTES PÚBLICOS........................................................................................................................101
CONCEITO........................................................................................................................................................101
CLASSIFICAÇÃO (ESPÉCIE)............................................................................................................................101
DIREITOS .........................................................................................................................................................102
DEVERES..........................................................................................................................................................104
RESPONSABILIDADE ADMINISTRATIVA, CIVIL E PENAL............................................................................106
PODER HIERÁRQUICO.....................................................................................................................................114
PODER DISCIPLINAR.......................................................................................................................................115
PODER REGULAMENTAR................................................................................................................................116
PODER DE POLÍCIA..........................................................................................................................................116
CONCEITO........................................................................................................................................................117
CLASSIFICAÇÃO..............................................................................................................................................120
REVOGAÇÃO E ANULAÇÃO............................................................................................................................121
SERVIÇOS PÚBLICOS.......................................................................................................................122
CONCEITO........................................................................................................................................................122
PRINCÍPIOS......................................................................................................................................................123
DA PERSONALIDADE E DA CAPACIDADE......................................................................................................131
DA PESSOA JURÍDICA......................................................................................................................145
RESPONSABILIDADE JURÍDICA......................................................................................................148
FATO JURÍDICO.................................................................................................................................151
NEGÓCIOS JURÍDICOS.....................................................................................................................152
CONCEITO........................................................................................................................................................152
VÍCIOS..............................................................................................................................................................155
CULPA...............................................................................................................................................................157
RELAÇÕES DE PARENTESCO...........................................................................................................158
CONCEITO........................................................................................................................................................163
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS..........................................................................................................165
DIREITOS INDIVIDUAIS...................................................................................................................................169
DIREITOS COLETIVOS.....................................................................................................................................183
DIREITOS SOCIAIS...........................................................................................................................................184
O ESTADO...........................................................................................................................................190
ORGANIZAÇÃO DO ESTADO............................................................................................................190
CONTAGEM DE PRAZO.....................................................................................................................230
CONCURSO DE PESSOAS.................................................................................................................242
AUTORIA..........................................................................................................................................................243
PARTICIPAÇÃO................................................................................................................................................246
AÇÃO PENAL.....................................................................................................................................247
CLASSIFICAÇÃO..............................................................................................................................................247
CONDIÇÕES......................................................................................................................................................248
AÇÃO PENAL.....................................................................................................................................349
PRISÃO CAUTELAR...........................................................................................................................356
PRISÃO EM FLAGRANTE.................................................................................................................................356
CADEIA DE CUSTÓDIA.....................................................................................................................................359
MULHERES.......................................................................................................................................................386
IDOSOS.............................................................................................................................................................388
CRIANÇAS E ADOLESCENTES........................................................................................................................388
LGBTQIA+.........................................................................................................................................................390
REFUGIADOS....................................................................................................................................................391
LÍNGUA PORTUGUESA
ticar seus conhecimentos realizando os exercícios de
cada tópico, bem como, a seleção de exercícios finais,
selecionados especialmente para que este material
cumpra o propósito de alcançar sua aprovação.
Sabendo disso, é importante separarmos os con- da chefe do enunciador bebia (expressão comprovada
teúdos que tenham mais apelo interpretativo ou pela expressão “parou de beber”). Note que há pistas
compreensivo. Neste material, você encontrará um contextuais do próprio texto que induzem o leitor a
forte conteúdo que relaciona semântica e interpreta- interpretar essas informações.
ção, contendo questões sobre os assuntos: inferência; Tratando-se de interpretação textual, os processos
figuras de linguagem; vícios de linguagem; e intertex- de inferência, sejam por dedução ou por indução, par-
tualidade. No que se refere aos estudos que focam na tem de uma certeza prévia para a concepção de uma
compreensão e semântica, os principais tópicos são: interpretação, construída pelas pistas oferecidas no
semântica dos sentidos e suas relações; coerência e texto junto da articulação com as informações acessa-
coesão; gêneros textuais (mais abordados em provas das pelo leitor do texto.
de concursos); tipos textuais e, ainda, as variações lin- A seguir, apresentamos um fluxograma que repre-
guísticas e suas consequências para o sentido. senta como ocorre a relação desses processos: 13
DEDUÇÃO → CERTEZA → INTERPRETAR Os conectivos (conjunções,
preposições, pronomes)
INFERÊNCIA ATENÇÃO AOS
são marcadores claros de
CONECTIVOS
INDUÇÃO → INTERPRETAR → CERTEZA opiniões, espaços físicos e
localizadores textuais
A partir dessa imagem, podemos identificar que a orientação gramatical mantida pelas frases apresenta mar-
cas linguísticas, assinalando o tipo textual predominante que o texto deve manter, organizado pelas marcas do
gênero textual ao qual o texto pertence.
TIPO TEXTUAL
Classifica-se conforme as marcas linguísticas apresentadas no texto. Também é chamado de sequência textual
GÊNERO TEXTUAL
Classifica-se conforme a função do texto, atribuída socialmente
Uma última informação muito importante sobre tipos textuais que devemos considerar é que nenhum texto é
composto apenas por um tipo textual; o que ocorre é a existência de predominância de algumas sequências em
detrimento de outras, de acordo com o texto.
A seguir, aprenderemos a diferenciar cada classe de tipos textuais, reconhecendo suas principais característi-
cas e marcas linguísticas.
CLASSIFICAÇÃO DOS TIPOS TEXTUAIS E SUAS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS
Narrativo
Os textos compostos predominantemente por sequências narrativas cumprem o objetivo de contar uma his-
tória, narrar um fato. Por isso, precisam manter a atenção do leitor/ouvinte e, para tal, lançam mão de algumas
estratégias, como a organização dos fatos a partir de marcadores temporais e espaciais, a inclusão de um momen-
to de tensão (chamado de clímax) e um desfecho que poderá ou não apresentar uma moral.
Conforme Cavalcante (2013), o tipo textual narrativo pode ser caracterizado por sete aspectos. São eles:
z Situação inicial: Envolve a “quebra” de um equilíbrio, o que demanda uma situação conflituosa;
z Complicação: Desenvolvimento da tensão apresentada inicialmente;
z Ações (para o clímax): Acontecimentos que ampliam a tensão;
z Resolução: Momento de solução da tensão;
z Situação final: Retorno da situação equilibrada;
z Avaliação: Apresentação de uma “opinião” sobre a resolução;
z Moral: Apresentação de valores morais que a história possa ter apresentado.
Esses sete passos podem ser encontrados no seguinte exemplo, a canção “Era um garoto que como eu...” Vamos
lê-la e identificar essas características, bem como aprender a identificar outros pontos do tipo textual narrativo.
16
Cabelos longos não usa mais
Não toca a sua guitarra e sim
Um instrumento que sempre dá
A mesma nota,
ra-tá-tá-tá Situação final /
Não tem amigos, não vê garotas Avaliação
Só gente morta caindo ao chão
Ao seu país não voltará
Pois está morto no Vietnã
[...]
No peito, um coração não há
Moral
Mas duas medalhas sim
Essas sete marcas que definem o tipo textual narrativo podem ser resumidas em marcas de organização lin-
guística que são caracterizadas por:
Importante!
Os gêneros textuais que são predominantemente narrativos apresentam outras tipologias textuais em sua com-
posição, tendo em vista que nenhum texto é composto exclusivamente por uma sequência textual. Por isso,
devemos sempre identificar as marcas linguísticas que são predominantes em um texto, a fim de classificá-lo.
Para sua compreensão, também é necessário saber o que são marcadores temporais e espaciais. São formas
linguísticas como advérbios, pronomes, locuções etc. utilizados para demarcar um espaço físico ou temporal em
textos. Nos tipos textuais narrativos, esses elementos são essenciais para marcar o equilíbrio e a tensão da histó-
ria, além de garantirem a coesão do texto. Exemplos de marcadores temporais e espaciais: Atualmente, naquele
dia, nesse momento, aqui, ali, então...
Outro indicador do texto narrativo é a presença do narrador da história. Por isso, é importante aprendermos
a identificar os principais tipos de narrador de um texto:
Narrador: Também conhecido como foco narrativo, é o responsável por contar os fatos que compõem o texto
Narrador personagem: Verbos flexionados em 1ª pessoa. O narrador participa dos fatos
Narrador observador: Verbos flexionados em 3ª pessoa. O narrador tem propriedade dos fatos contados, porém, não
participa das ações
Narrador onisciente: Os fatos podem ser contados na 3ª ou 1ª pessoa verbal. O narrador conhece os fatos e não parti-
cipa das ações, porém, o fluxo de consciência do narrador pode ser exposto, levando o texto para a 1ª pessoa
Alguns gêneros conhecidos por suas marcas predominantemente narrativas são notícia, diário, conto, fábula,
entre outros. É importante reafirmar que o fato de esses gêneros serem essencialmente narrativos não significa
que não possam apresentar outras sequências em sua composição.
Para diferenciar os tipos textuais e proceder na classificação correta, é sempre essencial atentar-se às marcas
que predominam no texto.
Após demarcarmos as principais características do tipo textual narrativo, vamos agora conhecer as marcas
mais importantes da sequência textual classificada como descritiva.
Descritivo
LÍNGUA PORTUGUESA
O tipo textual descritivo é marcado pelas formas nominais que dominam o texto. Os gêneros que utilizam esse tipo
textual geralmente utilizam a sequência descritiva como suporte para um propósito maior. São exemplos de textos
cujo tipo textual predominante é a descrição: relato de viagem, currículo, anúncio, classificados, lista de compras.
Veja um trecho da Carta de Pero Vaz de Caminha, que relata, no ano de 1500, suas impressões a respeito de
alguns aspectos do território que viria a ser chamado de Brasil.
Ali veríeis galantes, pintados de preto e vermelho, e quartejados, assim pelos corpos como pelas pernas, que, certo,
assim pareciam bem. Também andavam entre eles quatro ou cinco mulheres, novas, que assim nuas, não pareciam
mal. Entre elas andava uma, com uma coxa, do joelho até o quadril e a nádega, toda tingida daquela tintura preta;
e todo o resto da sua cor natural. Outra trazia ambos os joelhos com as curvas assim tintas, e também os colos dos
pés; e suas vergonhas tão nuas, e com tanta inocência assim descobertas, que não havia nisso desvergonha nenhuma.
Note que há a presença de muitos adjetivos, locuções, substantivos, que buscam levar o leitor a imaginar o
objeto descrito. O gênero mostrado apresenta a descrição das refeições (pão, croissant, feijão, carne etc.) com uso
de adjetivos ou locuções adjetivas (de queijo, doce, salgado, com calabresa, moída etc.). Ele está organizado de
forma esquematizada em seções (salgados, lanches, caldos e panquecas) de maneira a facilitar a leitura (o pedido,
no caso) do cliente.
Dissertativo
O tipo textual dissertativo é sem dúvidas o mais complexo e, por vezes, pode apresentar maior dificuldade na
identificação, bem como em sua análise.
O texto dissertativo tem por objetivo a defesa de um ponto de vista, portanto, envolve a defesa de uma tese
e a apresentação de argumentos que visam sustentar essa tese. Alguns exemplos de textos argumentativos são
18 artigos, monografias, ensaios científicos e filosóficos, dentre outros.
Outro aspecto importante dos textos argumentati- Essa metáfora nos leva a comparar um texto com um
vos é que eles são compostos por estruturas linguís- prédio, tal qual uma boa construção precisa de um bom
ticas conhecidas como operadores argumentativos, alicerce para manter-se em pé; um texto bem construí-
que organizam as orações subordinadas, estruturas do depende da organização das nossas ideias, da forma
mais comuns nesse tipo textual. como elas estão dispostas no texto. Isso significa que pre-
A seguir, apresentamos um quadro sintético com cisamos utilizar adequadamente os processos coesivos,
algumas estruturas linguísticas que funcionam como a fim de defendermos nossas ideias.
operadores argumentativos e que facilitam a escrita e Por isso, neste capítulo, iremos apresentar as prin-
a leitura de textos argumentativos: cipais formas de marcação, de processos que buscam
organizar as ideias em um texto, principalmente, os
OPERADORES ARGUMENTATIVOS processos de coesão que, como dissemos, apresentam
É incontestável que... um apelo mais forte às formas linguísticas que os pro-
Tal atitude é louvável / repudiável / notável... cessos envolvendo a coerência.
É mister / é fundamental / é essencial... No entanto, faz-se necessário mostrar algumas
características da coerência em um texto e como esse
processo liga-se não apenas às formas gramaticais,
Observe o exemplo a seguir:
mas, sobretudo, ao forte teor cognitivo. Tendo em
vista que a coerência é construída, tal qual o sentido,
O governo gasta, todos os anos, bilhões de reais no
tratamento das mais diversas doenças relacionadas
coletivamente, não por acaso, o grande linguista e
ao tabagismo; os ganhos com os impostos nem de estudioso da língua portuguesa, Luis Antonio Marcus-
longe compensam o dinheiro gasto com essas doen- chi (2007) afirmou que a coerência é “algo dinâmico
ças. Além disso, as empresas têm grandes prejuízos que se encontra mais na mente que no texto”.
por causa de afastamentos de trabalhadores devido Dito isso, usamos as palavras de Cavalcante (2013)
aos males causados pelo fumo. Portanto, é mis- para esclarecer ainda mais o conceito de coerência e
ter que sejam proibidas quaisquer propagandas de passarmos ao estudo detalhado dos processos de coe-
cigarros em todos os meios de comunicação. são. A autora afirma que a coerência:
Disponível em: http://educacao.globo.com/portugues/assunto/
texto-argumentativo/argumentacao.html. Acesso em: 30 ago. 2021.
Adaptado.
[...] Não está no texto em si; não nos é possível apon-
tá-la, destacá-la ou sublinha-la. Ela se constrói [...]
numa dada situação comunicativa, na qual o leitor,
Essas estruturas, quando utilizadas adequadamen-
com base em seus conhecimentos sociocognitivos e
te no texto argumentativo, expõem a opinião do autor, interacionais e na materialidade linguística, confe-
ajudando na defesa de seu ponto de vista e construin- re sentido ao que lê (CAVALCANTE, 2013, p. 31).
do a estrutura argumentativa desse tipo textual.
A seguir iremos nos deter aos processos de coesão
CRITÉRIOS DE TEXTUALIDADE: COERÊNCIA E importantes para uma boa compreensão e elaboração
COESÃO E RECURSOS DE CONSTRUÇÃO TEXTUAL:
textual. É importante destacar que esses processos de
FONOLÓGICOS, MORFOLÓGICOS, SINTÁTICOS E
coesão não podem ser dissociados da construção de sen-
SEMÂNTICOS
tidos implícita no processo de organização da coerência.
Ao elaborarmos um texto, devemos buscar organi-
COESÃO REFERENCIAL
zar as ideias apresentadas de modo a torná-lo coeso e
coerente. Porém, como fazer para que essa organiza-
ção mantenha esse padrão? Para descobrir, primeiro A coesão é marcada por processos referenciais que
é preciso esclarecer o que é coesão e o que é coerência relacionam termos e ideias a partir de mecanismos
e por que buscar esse padrão é importante. que inserem ou retomam uma porção textual. Os pro-
Os textos não são somente um aglomerado de pala- cessos marcados pela referenciação caracterizam-se
vras e frases escritas. Suas partes devem ser articula- pela construção de referentes em um texto, os quais
das e organizadas harmoniosamente de maneira que se relacionam com as ideias defendidas no texto. Esse
o texto faça sentido como um todo. A ligação, a rela- processo é marcado por vocábulos gramaticais e pode
ção, os nexos entre essas partes estabelecem o que se ser reconhecido pelo uso de algumas classes de pala-
chama de coesão textual. Os articuladores responsá- vras, das quais falaremos a seguir.
veis por essa “costura” do tecido (tessitura) do texto Antes, é necessário reconhecer processos referen-
são conhecidos como recursos coesivos que devem ser ciais que envolvam o uso de expressões anafóricas e
articulados de forma que garanta uma relação lógica catafóricas. Conforme Cavalcante (2013), “as expres-
entre as ideias, fazendo com que o texto seja inteli- sões que retomam referentes já apresentados no tex-
gível e faça sentido em determinado contexto. A res- to por outras expressões são chamadas de anáforas”.
peito disso, temos a coerência textual, que está ligada Vejamos o exemplo a seguir:
LÍNGUA PORTUGUESA
Vou ao restaurante esta Ele disse que iria ao res- Uma das caraterísticas da paródia é o tom irônico e
noite taurante naquela noite humorístico que pode variar, dependendo da sua fina-
Eu perdi a hora Ele falou que havia perdi- lidade textual.
do a hora
Alusão
Eu não conseguiria Ele mencionou que não
dormir conseguiria dormir A alusão é um intertexto que faz referência a uma
obra de arte, a um fato histórico, a textos de conheci-
mento comum. A alusão pode ocorrer de forma explí-
VOZES DISCURSIVAS: CITAÇÃO, PARÓDIA, ALUSÃO, cita ou implícita.
PARÁFRASE, EPÍGRAFE Ex.: Ganhei um jogo de aniversário que foi um ver-
dadeiro presente de grego.
Citação A expressão “presente de grego” faz alusão aos
fatos da Guerra de Tróia, em que os gregos fingiram
A citação também é um tipo de intertextualidade presentear os troianos com um cavalo de madeira
explícita e diz respeito às formas de citação de uma que fazia parte da estratégia grega para conseguirem
obra. Em um trabalho acadêmico, por exemplo, quan- invadir a cidade de Tróia e destruí-la por dentro.
do utilizamos as palavras de outros autores, devemos
mencioná-los direta ou indiretamente. A transcrição Paráfrase
fiel das palavras do autor do texto-fonte é chamada
A paráfrase é uma estratégia intertextual que con-
de citação direta. Quando nos baseamos na ideia do siste em recuperar aspectos do tema do texto-fonte, o
autor e escrevemos de outra forma suas palavras, a qual baseia a paráfrase. Dessa forma, é considerada
citação passa a ser indireta. um tipo de intertextualidade temática.
Independente da maneira como citamos em um Um bom exemplo desse tipo de intertextualidade é
texto, é imprescindível dar os créditos aos autores a música Monte Castelo, do grupo Legião Urbana, que
das obras citadas, por isso, devemos mencioná-los nas versa sobre o mesmo tema que a passagem bíblica “I
citações que também seguem o padrão estabelecido carta de São Paulo aos Coríntios” e também dos versos
24 pela ABNT. de Luís Vaz de Camões.
Monte Castelo — Legião Urbana z Sinonímia
Ainda que eu falasse a língua dos homens São palavras ou expressões que, empregadas em
E falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada um determinado contexto, têm significados seme-
seria. É só o amor, é só o amor
lhantes. É importante entender que a identidade dos
Que conhece o que é verdade
sinônimos é ocasional, ou seja, em alguns contextos
O amor é bom, não quer o mal
Não sente inveja ou se envaidece [...] uma palavra pode ser empregada no lugar de outra,
o que pode não acontecer em outras situações. O
I carta de São Paulo aos Coríntios uso das palavras “chamar”, “clamar” e “bradar”, por
exemplo, pode ocorrer de maneira equivocada se uti-
1 Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos lizadas como sinônimos, uma vez que a intensidade
anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que de suas significações é diferente.
soa ou como o sino que tine. 2 E ainda que tivesse O emprego dos sinônimos é um importante recurso
o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios para a coesão textual, uma vez que essa estratégia reve-
e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de la, além do domínio do vocabulário do falante, a capa-
maneira tal que transportasse os montes, e não
cidade que ele tem de realizar retomadas coesivas, o
tivesse amor, nada seria [...]
que contribuiu para melhor fluidez na leitura do texto.
11 Soneto – Luis Vaz de Camões
z Antonímia
Amor é um fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente; São palavras ou expressões que, empregadas em
é um contentamento descontente, um determinado contexto, têm significados opostos.
é dor que desatina sem doer. As relações de antonímia podem ser estabelecidas em
gradações (grande/pequeno; velho/jovem); reciproci-
É um não querer mais que bem querer; dade (comprar/vender) ou complementaridade (ele é
é um andar solitário entre a gente; casado/ele é solteiro). Vejamos o exemplo a seguir:
é nunca contentar se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.
Epígrafe
nimos importantes:
influencia e permite o estabelecimento de diferentes
relações de sentido. Essas relações podem se dar por
acender (colocar fogo) ascender (subir)
meio de: sinonímia, antonímia, homonímia, paroní-
mia, polissemia, hiponímia e hiperonímia. acento (sinal gráfico) assento (local onde se senta)
acerto (ato de acertar) asserto (afirmação)
apreçar (ajustar o preço) apressar (tornar rápido)
Importante! bucheiro (tripeiro) buxeiro (pequeno arbusto)
bucho (estômago) buxo (arbusto)
Léxico: Conjunto de todas as palavras e expres-
sões de um idioma. caçar (perseguir animais) cassar (tornar sem efeito)
Vocabulário: Conjunto de palavras e expressões cegar (deixar cego) segar (cortar, ceifar)
que cada falante seleciona do léxico para se sela (forma do verbo selar;
cela (pequeno quarto)
comunicar. arreio) 25
censo (recenseamento) senso (entendimento, juízo) z Cumprimento/comprimento
céptico (descrente) séptico (que causa infecção) O comprimento do tecido que eu comprei é de
cerração (nevoeiro) serração (ato de serrar) 3,50 metros. (tamanho, grandeza)
cerrar (fechar) serrar (cortar) Dê meus cumprimentos a seu avô. (saudação)
cervo (veado) servo (criado)
chá (bebida) xá (antigo soberano do Irã)
z Delatar/dilatar
cheque (ordem de xeque (lance no jogo de Um dos alunos da turma delatou o colega que
pagamento) xadrez) chutou a porta e partiu o vidro. (denunciar)
círio (vela) sírio (natural da Síria) Comendo tanto assim, você vai acabar dilatan-
cito (forma do verbo citar) sito (situado) do seu estômago. (alargar, estender)
concertar (ajustar, combinar) consertar (reparar, corrigir)
concerto (sessão musical) conserto (reparo) z Dirigente/diligente
coser (costurar) cozer (cozinhar) O dirigente da empresa não quis prestar decla-
exotérico (que se expõe em rações sobre o funcionamento da mesma. (pes-
esotérico (secreto)
público) soa que dirige, gere)
espectador (aquele que expectador (aquele que tem Minha funcionária é diligente na realização de
assiste) esperança, que espera) suas funções. (expedito, aplicado)
esperto (perspicaz) experto (experiente, perito)
espiar (observar) expiar (pagar pena) z Discriminar/descriminar
espirar (soprar, exalar) expirar (terminar)
Ela se sentiu discriminada por não poder
estático (imóvel) extático (admirado) entrar naquele clube. (diferenciar, segregar)
esterno (osso do peito) externo (exterior) Em muitos países se discute sobre descrimi-
extrato (o que se extrai de nar o uso de algumas drogas. (descriminalizar,
estrato (camada)
algo) inocentar)
estremar (demarcar) extremar (exaltar, sublimar)
Fonte: https://www.normaculta.com.br/palavras-paronimas/. Acesso
incerto (não certo, impreciso) inserto (inserido, introduzido) em: 5 out. 2021.
incipiente (principiante) insipiente (ignorante)
laço (nó) lasso (frouxo) Polissemia (Plurissignificação)
ruço (pardacento, grisalho) russo (natural da Rússia)
Multiplicidade de sentidos encontradas em algu-
tacha (prego pequeno) taxa (imposto, tributo) mas palavras, dependendo do contexto. As palavras
tachar (atribuir defeito a) taxar (fixar taxa) polissêmicas guardam uma relação de sentido entre
si, diferenciando-as das palavras homônimas. A polis-
Fonte: https://www.soportugues.com.br/secoes/seman/seman6.php. semia é encontrada no exemplo a seguir:
Acesso em: 5 out 2021.
Parônimos
z Absorver/absolver DENOTAÇÃO
Tentaremos absorver toda esta água com O sentido denotativo da linguagem compreende
esponjas. (sorver) o significado literal da palavra independente do seu
contexto de uso. Preocupa-se com o significado mais
Após confissão, o padre absolveu todos os fiéis
objetivo e literal associado ao significado que aparece
de seus pecados. (inocentar) nos dicionários. A denotação tem como finalidade dar
ênfase à informação que se quer passar para o recep-
z Aferir/auferir tor de forma mais objetiva, imparcial e prática. Por
isso, é muito utilizada em textos informativos, como
Realizaremos uma prova para aferir seus notícias, reportagens, jornais, artigos, manuais didá-
conhecimentos. (avaliar, cotejar) ticos, entre outros.
O empresário consegue sempre auferir lucros Ex.: O fogo se alastrou por todo o prédio. (fogo:
em seus investimentos. (obter) chamas)
O coração é um músculo que bombeia sangue para
o corpo. (coração: parte do corpo)
z Cavaleiro/cavalheiro
CONOTAÇÃO
Todos os cavaleiros que integravam a cava-
laria do rei participaram na batalha. (homem
O sentido conotativo compreende o significado
que anda de cavalo) figurado e depende do contexto em que está inserido. A
Meu marido é um verdadeiro cavalheiro, abre conotação põe em evidência os recursos estilísticos dos
sempre as portas para eu passar. (homem edu- quais a língua dispõe para expressar diferentes senti-
26 cado e cortês) dos ao texto de maneira subjetiva, afetiva e poética.
A conotação tem como finalidade dar ênfase à “Mãe gentil, mas cruel, mas traiçoeira.” (Alberto
expressividade da mensagem de maneira que ela Oliveira)
possa provocar sentimentos ou diferentes sensações
no leitor. Por esse motivo, é muito utilizada em poe- Assíndeto
sias, conversas cotidianas, letras de músicas, anúncios
publicitários e outros. É a figura que consiste na omissão reiterada de
Ex.: “Amor é fogo que arde sem se ver”. conjunções. Geralmente a conjunção omitida é a coor-
Você mora no meu coração. denativa. Essa estratégia torna a leitura do texto mais
clara e dinâmica.
Ex.: “Pense, fale, compre, beba, leia, vote, não se
esqueça.” (Pitty)
“Vim, vi, venci.” (Júlio César)
FIGURAS DE LINGUAGEM
Anáfora
FIGURAS DE SINTAXE
Consiste na repetição de palavra ou expressões no
Consistem em modificações da estrutura da oração início da oração. Esse tipo de recurso é muito comum
(ou parte dela) por meio da omissão, inversão ou repe- em textos estruturados em versos consecutivos (poe-
tição de termos. Nesse caso, essas alterações ocorrem
mas, músicas, entre outros). O propósito é valorizar a
para conferir mais expressividade ao enunciado.
mensagem por meio da ênfase ao elemento repetido.
Elipse Ex.: “É o pau, é a pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
Utilizada para omitir termos numa oração que não É um caco de vidro, é a vida, é o sol
foram mencionados anteriormente, mas que podem É a noite, é a morte, é um laço, é o anzol.” (Tom
ser facilmente identificados pelo interlocutor. Essa Jobim)
omissão pode ser percebida por indícios gramaticais “Quando não tinha nada eu quis
ou dentro do próprio contexto. Quando tudo era ausência, esperei
Ex.: Ana Rita arrumou-se para o trabalho. Estava Quando tive frio, tremi
atrasada. (“elipse sujeito — ela”) Quando tive coragem, liguei”. (Daniela Mercury)
Os alunos e as alunas, mãos erguidas contra os
políticos, caminhavam pelas ruas. (elipse da preposi- Aliteração
ção — “de mãos erguidas”)
Recurso sonoro que consiste na repetição de sons
Zeugma consonantais para intensificar a rima e o ritmo.
Ex.: “Chove chuva choverando” (Oswald de Andrade)
Considerado um caso particular de elipse, o zeug-
“Se desmorono ou se edifico,
ma consiste omissão em orações seguintes de palavras
se permaneço ou me desfaço,
expressas na oração anterior.
Ex.: Eu sou professora; minha amiga, advogada. — não sei, não sei. Não sei se fico
Desembrulhe essa caixa enquanto eu desembru- ou passo.” (Cecília Meireles)
lho a outra.
Assonância
Pleonasmo
Figura de linguagem que aborda o uso de som em
Consiste na repetição de termos ou ideias com o harmonia. Caracterizada pela repetição de vogais.
objetivo de realçá-las, tornando-as mais expressivas. Ex.: “A pálida lágrima de Flávia” — repetição da
Ex.: “É rir meu riso e derramar meu pranto”. (Viní- vogal a.
cius de Moraes) “Amo muito tudo isso” — repetição do som da vogal
“Só Capitu, amparando a viúva, parecia vencer-se u.
a si mesma.” (Machado de Assis).
Onomatopeia
Dica
Recurso sonoro que procura representar os sons
Existe o pleonasmo literário, que é um recurso específicos de objetos, animais ou pessoas a partir de
estilístico aceitável e muito explorado na litera- uma percepção aproximada da realidade.
tura e na música. O problema é quando o pleo- Ex.: “O tic tac do relógio me deixava mais angus-
nasmo se torna vicioso. Expressões como “fatos tiado na prova”.
LÍNGUA PORTUGUESA
reais”, “subir para cima”, “ganhar de graça”, “cego “Psiiiiiu! — Falou o professor no momento da
dos olhos” e outras constituem um vício de lin- reunião”.
guagem. A repetição da ideia torna-se, portanto,
desnecessária, pois não traz nenhum reforço à Hipérbato ou Inversão
ideia apresentada.
Caracteriza-se pela inversão proposital da ordem
direta dos termos da oração. Essa inversão confere
Polissíndeto
maior efeito estilístico na construção do enunciado.
Figura que consiste no uso excessivo e repetitivo Ex.: “Os bons vi sempre passar / no mundo graves
de conjunções. tormentos” (Luiz Vaz de Camões)
Ex.: “Suspira, e chora, e geme, e sofre, e sua...” (Ola- Na ordem direta seria: Eu sempre vi passar os
vo Bilac) bons no mundo de graves tormentos. 27
Anástrofe Seu sorriso é tal qual um raio de sol numa manhã
nublada.
Diferentemente do hipérbato, a anástrofe consiste
na inversão mais sutil dos termos da oração, não pre- Metáfora
judicando o entendimento do enunciado.
Ex.: Consiste em usar uma palavra ou expressão em lu-
“Sabes também quanto é passageira essa desavença gar da outra em razão de algumas semelhanças (ana-
Não destrates o amor”. (Jacob do Bandolim) logia) conceituais. É recurso que está associado ao em-
Utilizando a figura de linguagem teríamos: “Sabes prego da palavra fora do seu sentido normal.
também quanto essa desavença é passageira”. Ex.: O tempo é uma cadeira ao sol, e nada mais.
(Carlos Drummond de Andrade)
Silepse Meu pensamento é um rio subterrâneo. (Fernan-
do Pessoa)
Consiste na concordância com o termo que está Observe:
subtendido na oração e não com o termo expresso na Metáfora: relação de semelhança não explícita.
oração. (Concordância ideológica). Existem três tipos
de silepse:
O que foi isso, Foi um candidato
z Silepse de Gênero: Há uma discordância entre homem? “ficha suja” que
os gêneros dos artigos, substantivos, pronomes e me abraçou...
adjetivos. Notamos na oração a presença do con-
traste entre os gêneros masculino e feminino.
Ex.: Vossa Excelência é falso. O pronome de trata-
mento certamente se refere a alguma autoridade do
sexo masculino (deputado, prefeito, vereador etc.)
Anacoluto
Consiste no recurso que engloba um conjunto de Ex.: “Amor da minha vida, daqui até a eternidade
percepções e sensações interligadas aos processos Nossos destinos foram traçados na maternidade”.
sensoriais provenientes de diferentes sentidos (visão, (Cazuza)
audição, olfato, paladar e tato). Na sinestesia, a per- “Vou caçar mais um milhão de vagalumes por aí”.
cepção ou sensação de um sentido é atribuída a outro. (Pollo) 29
Ironia Ex.: Ela completou quinze primaveras, ou seja, 15
anos.
Consiste em expressar ideias, pensamentos e julga-
� Para separar datas e nomes de lugar.
mentos com o sentido contrário do que se diz. A ironia
Ex.: Belo Horizonte, 15 de abril de 1985.
tem como objetivo satirizar uma situação desagradá-
vel ou depreciar alguém pelo seu comportamento. � Para separar as conjunções coordenativas, exceto
Ex.: “Marcela amou-me durante quinze meses e e, nem, ou.
onze contos de réis...” (Machado de Assis) Ex.: Treinou muito, portanto se saiu bem.
“Parece um anjinho, briga com todos”.
A vírgula é facultativa quando a expressão de
Gradação tempo, modo ou lugar não for uma expressão, mas
uma palavra só. Exemplos:
Consiste na apresentação de ideias sinônimas (ou Antes vamos conversar. / Antes, vamos conversar.
não) em uma escala progressiva de maior ou menor Geralmente almoço em casa. / Geralmente, almoço
intensidade à expressão. Os termos da oração são fru- em casa.
tos de uma hierarquia e podem ser de ordem crescen- Ontem choveu o esperado para o mês todo. /
te ou decrescente. Ontem, choveu o esperado para o mês todo.
Ex.: “Mais dez, mais cem, mais mil e mais um bi- Ela acordou muito cedo. Por isso ficou com sono
lião, uns cingidos de luz, outros ensanguentados.” durante a aula. / Ela acordou muito cedo. Por isso,
(Machado de Assis) ficou com sono durante a aula.
“Eu era pobre. Era subalterno. Era nada.” (Montei- Irei à praia amanhã se não chover. / Irei à praia
ro Lobato) amanhã, se não chover.
Elíptico
� O termo sobre o qual o restante da oração diz algo; 33
Assim, “de cabelo” seria um complemento verbal,
Com verbos flexionados na 3ª e não um sujeito da oração. Nesse caso, o sujeito é
pessoa do plural indeterminado, marcado pelo índice de indetermina-
INDETERMINADO Com verbos acompanhados do ção “-se”.
se (índice de indeterminação do
sujeito) z Voz passiva analítica (sujeito paciente)
Ex.: A minha saia azul está rasgada.
Usado para fenômenos da O sujeito está sofrendo uma ação, e não há presen-
INEXISTENTE natureza ou com verbos ça da partícula -se.
impessoais
PREDICADO
z Determinado: quando se identifica a pessoa, o
lugar ou o objeto na oração. Classifica-se em: É o termo que contém o verbo e informa algo sobre
o sujeito. Apesar de o sujeito e o predicado serem ter-
Simples: quando há apenas um núcleo. mos essenciais na oração, há casos em que a oração
Ex.: O [aluguel] da casa é caro. não possui sujeito. Mas, se a oração é estruturada em
Núcleo: aluguel torno de um verbo e ele está contido no predicado, é
Sujeito simples: O aluguel da casa impossível existir uma oração sem sujeito.
O predicado pode ser:
Composto: quando há dois núcleos ou mais.
Ex.: Os [sons] e as [cores] ficaram perfeitos.
z Aquilo que se declara a respeito do sujeito.
Núcleos: sons, cores.
Ex.: “A esposa e o amigo seguem sua marcha.”
Sujeito composto: Os sons e as cores
(José de Alencar)
Elíptico, oculto ou desinencial: quando não Predicado: seguem sua marcha
aparece na oração, mas é possível de ser identifi- z Uma declaração que não se refere a nenhum sujei-
cado devido à flexão do verbo ao qual se refere. to (oração sem sujeito):
Ex.: Vi o noticiário hoje de manhã. Sujeito: (Eu) Ex.: Chove pouco nesta época do ano.
Predicado: Chove pouco nesta época do ano.
z Indeterminado: quando não é possível identificar
o sujeito na oração, mas ainda sim está presente. Para determinar o predicado, basta separar o
Encontra-se na 3ª pessoa do plural ou representa- sujeito. Ocorrendo uma oração sem sujeito, o predica-
do por um índice de indeterminação do sujeito, a do abrangerá toda a declaração. A presença do verbo
partícula “se”. é obrigatória, seja de forma explícita ou implícita:
Ex.: “Nossos bosques têm mais vidas.” (Gonçalves
Colocando-se o verbo na 3ª pessoa do plural, Dias)
não se referindo a nenhuma palavra determi- Sujeito: Nossos bosques. Predicado: têm mais vida.
nada no contexto. Ex.: “Nossa vida mais amores”. (Gonçalves Dias)
Ex.: Passaram cedo por aqui, hoje. Sujeito: Nossa vida. Predicado: mais amores.
Entende-se que alguém passou cedo.
Classificação do Predicado
Colocando-se verbos sem complemento direto
(intransitivos, transitivos diretos ou de ligação) A classificação do predicado depende do significa-
na 3ª pessoa do singular acompanhados do pro- do e do tipo de verbo que apresenta.
nome se, que atua como índice de indetermina-
ção do sujeito.
z Predicado nominal: ocorre quando o núcleo sig-
Ex.: Não se vê com a neblina.
nificativo se concentra em um nome (corresponde
Entende-se que ninguém consegue ver nessa
a um predicativo do sujeito).
condição.
O verbo deste tipo de oração é sempre de ligação.
O predicado nominal tem por núcleo um nome
Classificação do Sujeito Quanto à Voz (substantivo, adjetivo ou pronome).
Ex.: “Nossas flores são mais bonitas.” (Murilo
z Voz ativa (sujeito agente) Mendes)
Ex.: Cláudia corta cabelos de terça a sábado. Predicado: são mais bonitas.
Nesse caso, o termo “Cláudia” é a pessoa que exer- Ex.: “As estrelas estão cheias de calafrios.” (Olavo
ce a ação na frase. Bilac)
Predicado: estão cheias de calafrios.
z Voz passiva sintética (sujeito paciente)
Ex.: Corta-se cabelo. É importante não confundir:
Pode-se ler “Cabelo é cortado”, ou seja, o sujeito
“cabelo” sofre uma ação, diferente do exemplo do z Verbo de ligação: quando não exprime uma ação,
item anterior. O “-se” é a partícula apassivadora da mas um estado momentâneo ou permanente que
oração. relaciona o sujeito ao restante do predicado, que é
o predicativo do sujeito.
Importante notar que não há preposição entre z Predicativo do sujeito; função exercida por subs-
o verbo e o substantivo. Se houvesse, por exemplo, tantivo, adjetivo, pronomes e locuções que atri-
“de” no meio da frase, o termo “cabelo” não seria mais buem uma condição ou qualidade ao sujeito.
sujeito, seria objeto indireto, um complemento verbal. Ex.: O garoto está bastante feliz.
34 Precisa-se de cabelo. Verbo de ligação: está.
Predicativo do sujeito: bastante feliz. Repare que no primeiro exemplo o termo “atento”
Ex.: Seu batom é muito forte. está caracterizando o sujeito “O homem” e, por isso, é
Verbo de ligação: é. considerado predicativo do sujeito.
Predicativo do sujeito: muito forte.
Ex.: “Fabiano marchou desorientado.” (Olavo Bilac)
Predicado Verbal Verbo intransitivo: marchou
Predicativo do sujeito: desorientado
Ocorre quando há dois núcleos significativos: um
verbo (transitivo ou intransitivo) e um nome (predi- No segundo exemplo, o termo “desorientado” indi-
cativo do sujeito ou, em caso transitivo, predicativo do ca um estado do termo “Fabiano”, que também é sujei-
objeto). Da natureza desse verbo é que decorrem os to. Temos mais um caso de predicativo do sujeito.
demais termos do predicado.
O verbo do predicado pode ser classificado em Ex.: “Ptolomeu achou o raciocínio exato.” (Macha-
transitivo direto, transitivo indireto, verbo transi- do de Assis)
tivo direto e indireto ou verbo intransitivo. Verbo transitivo direto: achou
Objeto direto: o raciocínio
z Verbo transitivo direto (VTD): é o verbo que exi- Predicativo do objeto: exato
ge um complemento não preposicionado, o objeto
direto. No terceiro exemplo, o termo “exato” caracteriza um
Ex.: “Fazer sambas lá na vila é um brinquedo.” julgamento relacionado ao termo “o raciocínio”, que é o
Noel Rosa objeto direto dessa oração. Com isso, podemos concluir
Verbo Transitivo Direto: Fazer. que temos um caso de predicativo do objeto, visto que
Ex.: Ele trouxe os livros ontem. “exato” não se liga a “Ptolomeu”, que é o sujeito.
Verbo Transitivo Direto: trouxe.
z Verbo Transitivo Indireto (VTI): o verbo transi- O que é o predicativo do objeto?
tivo indireto tem como necessidade o complemen-
to acompanhado de uma preposição para fazer É o termo que confere uma característica, uma
sentido. qualidade, ao que se refere.
Ex.: Nós acreditamos em você. A formação do predicativo do objeto se dá por um
Verbo transitivo indireto: acreditamos adjetivo ou por um substantivo.
Preposição: em
Ex.: Frida obedeceu aos seus pais. Ex.: Consideramos o filme proveitoso.
Verbo transitivo indireto: obedeceu Predicativo do objeto: proveitoso
Preposição: a (a + os) Ex.: Chamavam-lhe vitoriosa, pelas conquistas.
Ex.: Os professores concordaram com isso. Predicativo do objeto: vitoriosa
Verbo transitivo indireto: concordaram
Preposição: com Para facilitar a identificação do predicativo do
z Verbo Transitivo Direto e Indireto (VTDI): é o objeto, o recomendável é desdobrar a oração, acres-
verbo de sentido incompleto que exige dois com- centando-lhe um verbo de ligação, cuja função especí-
plementos: objeto direto (sem preposição) e objeto fica é relacionar o predicativo ao nome.
indireto (com preposição).
Ex.: “Ela contava-lhe anedotas, e pedia-lhe ou- O filme foi proveitoso.
tras.” (Machado de Assis) Ela era vitoriosa.
Verbo transitivo direto e indireto 1: contava
Objeto direto 1: anedotas Nessas duas últimas formas, os termos seriam pre-
Objeto indireto 1: lhe dicativos do sujeito, pois são precedidos de verbos de
Verbo transitivo direto e indireto 2: pedia ligação (foi e era, respectivamente).
Objeto direto 2: outras
Objeto indireto 2: lhe. TERMOS INTEGRANTES DA ORAÇÃO
z Verbo Intransitivo (VI): É aquele capaz de cons-
truir sozinho o predicado, que não precisa de com- São vocábulos que se agregam a determinadas
plementos verbais, sem prejudicar o sentido da estruturas para torná-las completas. De acordo com
oração. a gramática da língua portuguesa, esses termos são
Ex.: Escrevia tanto que os dedos adormeciam. divididos em:
LÍNGUA PORTUGUESA
Mesmo que o verbo transitivo direto não exija Ex.: Mostre-lhe onde fica o banheiro, por favor.
preposição no seu complemento, algumas palavras
requerem o uso da preposição para não perder o sen- Todos os pronomes oblíquos tônicos (me, mim,
tido de “alvo” do sujeito. comigo, te, ti, contigo) podem funcionar como objeto
Além disso, há alguns casos obrigatórios e outros indireto, já que sempre ocorrem com preposição.
facultativos.
Exemplos com ocorrência obrigatória de
Ex.: Você escreveu esta carta para mim?
preposição:
Não entendo nem a ele nem a ti.
z Objeto indireto pleonástico: Ocorrência repetida
Respeitava-se aos mais antigos.
dessa função sintática com o objetivo de enfatizar
Ali estava o artista a quem nosso amigo idolatrava.
uma mensagem.
Amavam-se um ao outro.
Ex.: A ele, sem reservas, supliquei-lhe ajuda.
“Olho Gabriela como a uma criança, e não mulher
feita.” (Ciro dos Anjos)
COMPLEMENTO NOMINAL
Exemplos com ocorrência facultativa de
preposição: Completa o sentido de substantivos, adjetivos e
Eles amam a Deus, assim diziam as pessoas daque- advérbios. É uma função sintática regida de preposi-
le templo. ção e com objetivo de completar o sentido de nomes. A
A escultura atrai a todos os visitantes. presença de um complemento nominal nos contextos
Não admito que coloquem a Sua Excelência num de uso é fundamental para o esclarecimento do senti-
pedestal. do do nome.
Ao povo ninguém engana.
Eu detesto mais a estes filmes do que àqueles. Ex.: Tenho certeza de que tu serás aprovado.
No caso “Você bebeu dessa água?”, a forma “des- Estou longe de casa e tão perto do paraíso.
sa” (preposição de + pronome essa) precisa estar pre-
sente para indicar parte de um todo, quando assim Para melhor identificar um complemento nomi-
for o contexto de uso. Logo, a pergunta é se a pessoa nal, siga a instrução:
bebeu uma porção da água, e não ela toda.
Nome + preposição + quem ou quê
z Objeto direto pleonástico: É a dupla ocorrência
dessa função sintática na mesma oração, a fim de Como diferenciar complemento nominal de com-
enfatizar um único significado. plemento verbal?
Ex.: “Eu não te engano a ti”. (Carlos Drummond de Ex.: Naquela época, só obedecia ao meu coração.
Andrade) (complemento verbal, pois “ao meu coração” liga-
-se diretamente ao verbo “obedecia”)
z Objeto direto interno: Representado por palavra Naquela época, a obediência ao meu coração pre-
que tem o mesmo radical do verbo ou apresenta valecia. (complemento nominal, pois “ao meu cora-
36 mesmo significado. ção” liga-se diretamente ao nome “obediência”).
Agente da Passiva Adjunto Adverbial
É o complemento de um verbo na voz passiva ana- Termo representado por advérbios, locuções
lítica. Sempre é precedido da preposição por, e, mais adverbiais ou adjetivos com valor adverbial. Relacio-
raramente, da preposição de. na-se ao verbo ou a toda oração para indicar variadas
Forma-se essencialmente pelos verbos auxiliares circunstâncias.
ser, estar, viver, andar, ficar.
z Tempo: Quero que ele venha logo;
Termos Acessórios da Oração z Lugar: A dança alegre se espalhou na avenida;
z Modo: O dia começou alegremente;
Há termos que, apesar de dispensáveis na estrutu- z Intensidade: Almoçou pouco;
ra básica da oração, são importantes para compreen-
z Causa: Ela tremia de frio;
são do enunciado porque trazem informações novas.
Esses termos são chamados acessórios da oração. z Companhia: Venha jantar comigo;
z Instrumento: Com a máquina, conseguiu lavar as
Adjunto Adnominal roupas;
z Dúvida: Talvez ele chegue mais cedo;
São termos que acompanham o substantivo, z Finalidade: Vivia para o trabalho;
núcleo de outra função, para qualificar, quantificar,
z Meio: Viajou de avião devido à rapidez;
especificar o elemento representado pelo substantivo.
z Assunto: Falávamos sobre o aluguel;
Categorias morfológicas que podem funcionar
como adjunto adnominal: z Negação: Não permitirei que permaneça aqui;
z Afirmação: Sairia sim naquela manhã;
z Artigos; z Origem: Descendia de nobres.
z Adjetivos;
z Numerais; Não confunda!
z Pronomes;
z Locuções adjetivas. Para conseguir distinguir adjunto adverbial de
adjunto adnominal, basta saber se o termo relacio-
Ex.: Aqueles dois antigos soldadinhos de chumbo nado ao adjunto é um verbo ou um nome, mesmo que
ficaram esquecidos no quarto. o sentido seja parecido.
Iam cheios de si. Ex.: Descendência de nobres. (O “de nobres” aqui
Estava conquistando o respeito dos seus. é um adjunto adnominal)
O novo regulamento originou a revolta dos Descendia de nobres. (O “de nobres” aqui é um
adjunto adverbial)
funcionários.
O doutor possuía mil lembranças de suas viagens.
Aposto
z Pronomes oblíquos átonos e a função de ajunto
Estruturas relacionadas a substantivos, pronomes
adnominal: os pronomes me, te, lhe, nos, vos, lhes ou orações. O aposto tem como propósito explicar,
exercem essa função sintática quando assumem identificar, esclarecer, especificar, comentar ou apon-
valor de pronomes possessivos. tar algo, alguém ou um fato.
Ex.: Puxaram-me o cabelo (Puxam meu cabelo). Ex.: Renata, filha de D. Raimunda, comprou uma
bicicleta.
z Como diferenciar adjunto adnominal de com- Aposto: filha de D. Raimunda
plemento nominal? Ex.: O escritor Machado de Assis escreveu gran-
des obras.
Quando o adjunto adnominal for representado por Aposto: Machado de Assis.
uma locução adjetiva, ele pode ser confundido com
complemento nominal. Para diferenciá-los, siga a dica: Classifica-se nas seguintes categorias:
Será adjunto adnominal: se o substantivo ao z Explicativo: usado para explicar o termo anterior.
qual se liga for concreto. Separa-se do substantivo a que se refere por uma
LÍNGUA PORTUGUESA
Ex.: A casa da idosa desapareceu. pausa, marcada na escrita por vírgulas, travessões
ou dois-pontos.
Se indicar posse ou o agente daquilo que
Ex.: As filhas gêmeas de Ana, que aniversariaram
expressa o substantivo abstrato.
ontem, acabaram de voltar de férias.
Ex.: A preferência do grupo não foi respeitada.
Jéssica, uma ótima pessoa, conseguiu apoio de todos.
Será complemento nominal: se indicar o alvo � Enumerativo: usado para desenvolver ideias que
daquilo que expressa o substantivo. foram resumidas ou abreviadas em um termo ante-
Ex.: A preferência pelos novos alojamentos não rior. Mostra os elementos contidos em um só termo.
foi respeitada. Ex.: Víamos somente isto: vales, montanhas e
Notava-se o amor pelo seu trabalho. riachos.
Se vier ligado a um adjetivo ou a um advérbio: Apenas três coisas me tiravam do sério, a saber,
Ex.: Manteve-se firme em seus objetivos. preconceito, antipatia e arrogância. 37
z Recapitulativo ou resumidor: É o termo usado Homem desesperado, João sempre perde o con-
para resumir termos anteriores. É expresso, nor- trole.
malmente, por um pronome indefinido. (aposto; núcleo: homem – substantivo)
Ex.: Os professores, coordenadores, alunos, todos
estavam empolgados com a feira. Vocativo
Irei a Moçambique, Cabo Verde, Angola e Guiné-
-Bissau, países africanos onde se fala português. O vocativo é um termo que não mantém relação
� Comparativo: Estabelece uma comparação implícita. sintática com outro termo dentro da oração. Não per-
Ex.: Meu coração, uma nau ao vento, está sem tence nem ao sujeito, nem ao predicado. É usado para
rumo. chamar ou interpelar a pessoa que o enunciador dese-
� Circunstancial: Exprime uma característica
ja se comunicar. É um termo independente, pois
circunstancial.
não faz parte da estrutura da oração.
Ex.: No inverno, busquemos sair com roupas
Ex.: Recepcionista, por favor, agende minha
apropriadas.
� Especificativo: É o aposto que aparece junto a um consulta.
substantivo de sentido genérico, sem pausa, para Ela te diz isso desde ontem, Fábio.
especificá-lo ou individualizá-lo. É constituído por
substantivos próprios. z Para distinguir vocativo de aposto: o vocati-
Exs.: O mês de abril. vo não se relaciona sintaticamente com nenhum
O rio Amazonas. outro termo da oração.
Meu primo José. Ex.: Lufe, faz um almoço gostoso para as crianças.
O aposto se relaciona sintaticamente com outro
z Aposto da oração: É um comentário sobre o termo da oração.
fato expresso pela oração, ou uma palavra que
A cozinha de Lufe, cozinheiro da família, é impecável.
condensa.
Sujeito: a cozinha de lufe.
Ex.: Após a notícia, ficou calado, sinal de sua
Aposto: cozinheiro da família (relaciona-se ao
preocupação.
sujeito).
O noticiário disse que amanhã fará muito calor —
ideia que não me agrada.
ARTICULAÇÃO DAS ORAÇÕES: COORDENAÇÃO E
� Distributivo: Dispõe os elementos equitativamente. SUBORDINAÇÃO
Ex.: Separe duas folhas: uma para o texto e outra
para as perguntas. Observe os exemplos a seguir:
Sua presença era inesperada, o que causou
surpresa. A apostila de Português está completa.
Um verbo: Uma oração = período simples
Dica Português e Matemática são disciplinas essen-
� O aposto pode aparecer antes do termo a que ciais para ser aprovado em concursos.
se refere, normalmente antes do sujeito. Dois verbos: duas orações = período composto
Ex.: Maior piloto de todos os tempos, Ayrton Sen-
na marcou uma geração. O período composto é formado por duas ou mais
� Segundo o gramático Cegalla, quando o apos- orações. Em um parágrafo, podem aparecer mistura-
to se refere a um termo preposicionado, pode ele do períodos simples e período compostos.
vir igualmente preposicionado.
Ex.: De cobras, (de) morcegos, (de) bichos, de PERÍODO SIMPLES PERÍODO COMPOSTO
tudo ele tinha medo.
� O aposto pode ter núcleo adjetivo ou adverbial. O povo levantou-se cedo
Era dia de eleição
Ex.: Tuas pestanas eram assim: frias e curvas para evitar aglomeração
(adjetivos, apostos do predicativo do sujeito).
Falou comigo deste modo: calma e maliciosa- Para não esquecer:
mente (advérbios, aposto do adjunto adverbial
de modo). Período simples é aquele formado por uma só
oração.
z Diferença de aposto especificativo e adjunto Período composto é aquele formado por duas ou
adnominal: Normalmente, é possível retirar a mais orações.
preposição que precede o aposto. Caso seja um
adjunto, se for retirada a preposição, a estrutura Classifica-se nas seguintes categorias:
fica prejudicada.
Ex.: A cidade Fortaleza é quente. z Por coordenação: orações coordenadas assindéticas;
(aposto especificativo / Fortaleza é uma cidade)
O clima de Fortaleza é quente. Orações coordenadas sindéticas: aditivas, adver-
(adjunto adnominal / Fortaleza é um clima?) sativas, alternativas, conclusivas, explicativas.
z Diferença de aposto e predicativo do sujeito: O
aposto não pode ser um adjetivo nem ter núcleo z Por subordinação:
adjetivo.
Ex.: Muito desesperado, João perdeu o controle. Orações subordinadas substantivas: subjeti-
(predicativo do sujeito; núcleo: desesperado – ad- vas, objetivas diretas, objetivas indiretas, com-
38 jetivo) pletivas nominais, predicativas, apositivas;
Orações subordinadas adjetivas: restritivas, Ex.: Estou recuperada, portanto viajarei próxima
explicativas; semana.
Orações subordinadas adverbiais: causais, “Era domingo; eu nada tinha, pois, a fazer.” (Paulo
comparativas, concessivas, condicionais, con- Mendes Campos)
formativas, consecutivas, finais, proporcionais,
z Explicativas: justificam uma opinião ou ordem
temporais.
expressa. Conjunções constitutivas: que, porque,
porquanto, pois.
z Por coordenação e subordinação: orações for-
Ex.: Vamos dormir, que é tarde. (o “que” equivale
madas por períodos mistos; a “pois”)
z Orações reduzidas: de gerúndio e de infinitivo. Vamos almoçar de novo porque ainda estamos
com fome.
Período Composto por Coordenação
PERÍODO COMPOSTO POR SUBORDINAÇÃO
As orações são sintaticamente independentes. Isso
significa que uma não possui relação sintática com Formado por orações sintaticamente dependentes,
verbos, nomes ou pronomes das demais orações no considerando a função sintática em relação a um ver-
período. bo, nome ou pronome de outra oração.
Tipos de orações subordinadas:
Ex.: “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.”
(Fernando Pessoa) z Substantivas;
Oração coordenada 1: Deus quer z Adjetivas;
Oração coordenada 2: o homem sonha z Adverbiais.
Oração coordenada 3: a obra nasce.
Ex.: “Subi devagarinho, colei o ouvido à porta da Orações Subordinadas Substantivas
sala de Damasceno, mas nada ouvi.” (M. de Assis)
Oração coordenada assindética: Subi devagarinho São classificadas nas seguintes categorias:
Oração coordenada assindética: colei o ouvido à
porta da sala de Damasceno z Orações subordinadas substantivas conectivas:
Oração coordenada sindética: mas nada ouvi são introduzidas pelas conjunções subordinativas
Conjunção adversativa: mas nada integrantes que e se.
Ex.: Dizem que haverá novos aumentos de
Orações Coordenadas Sindéticas impostos.
Não sei se poderei sair hoje à noite.
As orações coordenadas podem aparecer ligadas
às outras através de um conectivo (elo), ou seja, atra- z Orações subordinadas substantivas justapos-
vés de um síndeto, de uma conjunção, por isso o nome tas: introduzidas por advérbios ou pronomes
sindética. Veremos agora cada uma delas: interrogativos (onde, como, quando, quanto,
quem etc.)
z Aditivas: exprimem ideia de sucessibilidade ou Ex.: Ignora-se onde eles esconderam as joias
simultaneidade. roubadas.
Conjunções constitutivas: e, nem, mas, mas tam- Não sei quem lhe disse tamanha mentira.
bém, mas ainda, bem como, como também, se- z Orações subordinadas substantivas reduzidas:
não também, que (= e). não são introduzidas por conectivo, e o verbo fica
Ex.: Pedro casou-se e teve quatro filhos. no infinitivo.
Os convidados não compareceram nem explica- Ex.: Ele afirmou desconhecer estas regras.
ram o motivo.
z Orações subordinadas substantivas subjetivas:
z Adversativas: exprimem ideia de oposição, con- exercem a função de sujeito. O verbo da oração
traste ou ressalva em relação ao fato anterior. principal deve vir na voz ativa, passiva analítica
Conjunções constitutivas: mas, porém, todavia, ou sintética. Em 3ª pessoa do singular, sem se refe-
contudo, entretanto, no entanto, senão, não obs- rir a nenhum termo na oração.
tante, ao passo que, apesar disso, em todo caso. Ex.: Foi importante o seu regresso. (sujeito)
Ex.: Ele é rico, mas não paga as dívidas. Foi importante que você regressasse. (sujeito ora-
“A morte é dura, porém longe da pátria é dupla a cional) (or. sub. subst. subje.)
morte.” (Laurindo Rabelo)
z Orações subordinadas substantivas objetivas
LÍNGUA PORTUGUESA
z Alternativas: exprimem fatos que se alternam ou diretas: exercem a função de objeto direto de um
se excluem. verbo transitivo direto ou transitivo direto e indi-
Conjunções constitutivas: (ou), (ou ... ou), (ora ... reto da oração principal.
ora), (que ... quer), (seja ... seja), (já ... já), (talvez Ex.: Desejo o seu regresso. (OD)
... talvez). Desejo que você regresse. (OD oracional) (or. sub.
Ex.: Ora responde, ora fica calado. subst. obj. dir.)
Você quer suco de laranja ou refrigerante?
z Orações subordinadas substantivas completi-
z Conclusivas: exprimem uma conclusão lógica vas nominais: exercem a função de complemento
sobre um raciocínio. nominal de um substantivo, adjetivo ou advérbio
Conjunções constitutivas: logo, portanto, por con- da oração principal.
seguinte, pois isso, pois (o “pois” sem ser no início Ex.: Tenho necessidade de seu apoio. (comple-
de frase). mento nominal) 39
Tenho necessidade de que você me apoie. (com- � Orações subordinadas adverbiais comparati-
plemento nominal oracional) (or. sub. subst. com- vas: são introduzidas por: como, assim como, tal
pl. nom.) qual, como, mais etc.
Ex.: A cerveja nacional é menos concentrada (do)
z Orações subordinadas substantivas predicati-
que a importada.
vas: funcionam como predicativos do sujeito da
oração principal. Sempre figuram após o verbo de � Orações subordinadas adverbiais concessivas:
ligação ser. indica certo obstáculo em relação ao fato expres-
Ex.: Meu desejo é a sua felicidade. (predicativo do so na outra oração, sem, contudo, impedi-lo. São
sujeito) introduzidas por: embora, ainda que, mesmo que,
Meu desejo é que você seja feliz. (predicativo do por mais que, se bem que etc.
sujeito oracional) (or. sub. subst. predic.) Ex.: Mesmo que chova, iremos à praia amanhã.
z Orações subordinadas substantivas apositivas: � Orações subordinadas adverbiais condicionais:
funcionam como aposto. Geralmente vêm depois são introduzidas por: se, caso, desde que, salvo se,
de dois-pontos ou entre vírgulas. contanto que, a menos que etc.
Ex.: Só quero uma coisa: a sua volta imediata. (aposto) Ex.: Você terá sucesso desde que se esforce para tal.
Só quero uma coisa: que você volte imediata-
� Orações subordinadas adverbiais conformati-
mente. (aposto oracional) (or. sub. aposi.)
vas: são introduzidas por: como, conforme, segun-
z Orações subordinadas adjetivas: desempenham do, consoante.
função de adjetivo (adjunto adnominal ou, mais Ex.: Ele deverá agir conforme combinamos.
raramente, aposto explicativo). São introduzidas
� Orações subordinadas adverbiais consecutivas:
por pronomes relativos (que, o qual, a qual, os
são introduzidas por: que (precedido na oração
quais, as quais, cujo, cuja, cujos, cujas etc.) As
anterior de termos intensivos como tão, tanto,
orações subordinadas adjetivas classificam-se em:
tamanho etc.) de sorte que, de modo que, de forma
explicativas e restritivas.
que, sem que.
z Orações subordinadas adjetivas explicativas: Ex.: A garota rio tanto, que se engasgou.
não limitam o termo antecedente, e sim acrescen- “Achei as rosas mais belas do que nunca, e tão per-
tam uma explicação sobre o termo antecedente. fumadas que me estontearam.” (Cecília Meireles)
São consideradas termo acessório no período,
� Orações subordinadas adverbiais finais: indicam
podendo ser suprimidas. Sempre aparecem isola-
um objetivo a ser alcançado. São introduzidas por:
das por vírgulas.
para que, a fim de que, porque e que (= para que).
Ex.: Minha mãe, que é apaixonada por bichos,
Ex.: O pai sempre trabalhou para que os filhos
cria trinta gatos.
tivessem bom estudo.
z Orações subordinadas adjetivas restritivas:
� Orações subordinadas adverbiais proporcio-
especificam ou limitam a significação do termo
nais: são introduzidas por: à medida que, à pro-
antecedente, acrescentando-lhe um elemento indis-
porção que, quanto mais, quanto menos etc.
pensável ao sentido. Não são isoladas por vírgulas.
Ex.: A doença que surgiu recentemente ainda é Ex.: Quanto mais ouço essa música, mas a
incurável. aprecio.
� Orações subordinadas adverbiais temporais:
Dica são introduzidas por: quando, enquanto, logo que,
depois que, assim que, sempre que, cada vez que,
Como diferenciar as orações subordinadas adje- agora que etc.
tivas restritivas das orações subordinadas adjeti- Ex.: Assim que você sair, feche a porta, por favor.
vas explicativas?
Ele visitará o irmão que mora em Recife. Para separar as orações de um período composto, é
(restritiva, pois ele tem mais de um irmão e vai necessário atentar-se para dois elementos fundamen-
visitar apenas o que mora em Recife). tais: os verbos (ou locuções verbais) e os conectivos
Ele visitará o irmão, que mora em Recife. (conjunções ou pronomes relativos). Após assinalar
(explicativa, pois ele tem apenas um irmão que esses elementos, deve-se contar quantas orações ele
mora em Recife). representa, a partir da quantidade de verbos ou locu-
ções verbais. Exs.:
� Orações subordinadas adverbiais: exprimem
[“A recordação de uns simples olhos basta] — 1ª ora-
uma circunstância relativa a um fato expresso em
ção
outra oração. Têm função de adjunto adverbial.
[para fixar outros] — 2ª oração
São introduzidas por conjunções subordinativas
[que os rodeiam] — 3ª oração
(exceto as integrantes) e se enquadram nos seguin-
[e se deleitem com a imaginação deles]. — 4ª ora-
tes grupos:
ção (M. de Assis)
� Orações subordinadas adverbiais causais: são
introduzidas por: como, já que, uma vez que, por- Nesse período, a 2ª oração subordina-se ao verbo
que, visto que etc. basta, pertencente à 1ª (oração principal).
Ex.: Caminhamos o restante do caminho a pé por- A 3ª e a 4ª são orações coordenadas entre si, porém
40 que ficamos sem gasolina. ambas dependentes do pronome outros, da 2ª oração.
CONCORDÂNCIA VERBAL E NOMINAL z Quando o sujeito é um pronome interrogativo,
demonstrativo ou indefinido no plural + de nós /
Na elaboração da frase, as palavras relacionam-se de vós, o verbo pode concordar com o pronome no
umas com as outras. Ao se relacionarem, elas obede- plural ou com nós / vós. Ex.: Alguns de nós resol-
cem a alguns princípios: um deles é a concordância. viam essa questão. / Alguns de nós resolvíamos
Observe o exemplo: essa questão.
z Quando o sujeito é formado por palavras plurali-
A pequena garota andava sozinha pela cidade. zadas, normalmente topônimos (Amazonas, férias,
A: Artigo, feminino, singular; Minas Gerais, Estados Unidos, óculos etc.), se hou-
Pequena: Adjetivo, feminino, singular; ver artigo definido antes de uma palavra plura-
Garota: Substantivo, feminino, singular. lizada, o verbo fica no plural. Caso não haja esse
artigo, o verbo fica no singular. Ex.: Os Estados
Tanto o artigo quanto o adjetivo (ambos adjuntos Unidos continuam uma potência.
adnominais) concordam com o gênero (feminino) e o Estados Unidos continua uma potência.
número (singular) do substantivo. Santos fica em São Paulo. (Corresponde a: “A cida-
Na língua portuguesa, há dois tipos de concordân- de de Santos fica em São Paulo.”)
cia: verbal e nominal.
� Agradar: transitivo direto; transitivo indireto � Custar: transitivo indireto; transitivo direto e indi-
Ex.: A menina agradava o gatinho. (transitivo dire- reto; intransitivo.
to com sentido de “acariciar”) Ex.: Custa-lhe crer na sua honestidade. (transitivo
A notícia agradou aos alunos. (transitivo indireto indireto com sentido de “ser difícil”)
no sentido de “ser agradável a”) A imprudência custou lágrimas ao rapaz. (transiti-
vo direto e indireto: sentido de “acarretar”)
� Agradecer: transitivo direto; transitivo indireto; Este vinho custou trinta reais. (intransitivo)
transitivo direto e indireto
Ex.: Agradeceu a joia. (transitivo direto: objeto não � Esquecer: admite três possibilidades.
personificado) Ex.: Esqueci os acontecimentos.
Agradeceu ao noivo. (transitivo indireto: objeto Esqueci-me dos acontecimentos.
personificado) Esqueceram-me os acontecimentos.
Agradeceu a joia ao noivo. (transitivo direto e indi- � Implicar: transitivo direto; transitivo indireto;
reto: refere-se a coisas e pessoas) transitivo direto e indireto.
� Ajudar: transitivo direto; transitivo indireto. Ex.: A resolução do exercício implica nova teoria.
Ex.: Seguido de infinitivo intransitivo precedido da (transitivo direto com sentido de “acarretar”)
Mamãe sempre implicou com meus hábitos. (transiti-
preposição a, rege indiferentemente objeto direto
vo indireto com sentido de “mostrar má disposição”)
e objeto indireto.
Ele implicou-se em negócios ilícitos. (transitivo
Ajudou o filho a fazer as atividades. (transitivo direto)
direto e indireto com sentido de envolver-se”)
Ajudou ao filho a fazer as atividades. (transitivo
indireto) � Informar: transitivo direto e indireto.
Se o infinitivo preposicionado for intransitivo, Ex.: Referente à pessoa: objeto direto; referente à
rege apenas objeto direto: coisa: objeto indireto, com as preposições de ou
46 Ajudaram o ladrão a fugir. sobre
Informaram o réu de sua condenação. inclusão, inserção em
Informaram o réu sobre sua condenação. inerente em/a
Referente à pessoa: objeto direto; referente à coi- descrente de/em
sa: objeto indireto, com a preposição a desiludido de/com
Informaram a condenação ao réu. desesperançado de
desapego de/a
� Interessar-se: verbo pronominal transitivo indi-
convívio com
reto, com as preposições em e por.
convivência com
Ex.: Ela interessou-se por minha companhia.
demissão, demitido de
� Namorar: intransitivo; transitivo indireto; transi- encerrado em
tivo direto e indireto. enfiado em
Ex.: Eles começaram a namorar faz tempo. (intran- imersão, imergido, imerso em
sitivo com sentido de “cortejar”) instalação, instalado em
Ele vivia namorando a vitrine de doces. (transitivo interessado, interesse em
indireto com sentido de “desejar muito”) intercalação, intercalado entre
“Namorou-se dela extremamente.” (A. Gar- supremacia sobre
ret) (transitivo direto e indireto com sentido de
“encantar-se”)
� Obedecer/desobedecer: transitivos indiretos.
Ex.: Obedeçam à sinalização de trânsito. HORA DE PRATICAR!
Não desobedeçam à sinalização de trânsito.
1. (FUMARC – 2014) Sobre o emprego dos Pronomes de
� Pagar: transitivo direto; transitivo indireto; transi- Tratamento, a construção incorreta é:
tivo direto e indireto.
Ex.: Você já pagou a conta de luz? (transitivo direto) a) Vossa Eminência dirigiu-se ao altar da Capela.
Você pagou ao dono do armazém? (transitivo b) Vossa Excelência encaminhará seu parecer pela
indireto) manhã.
Vou pagar o aluguel ao dono da pensão. (transitivo c) Vossa Magnificência proferiu seu discurso no auditó-
direto e indireto) rio principal.
� Perdoar: transitivo direto; transitivo indireto; d) Vossa Senhoria estais indignado com o desrespeito
transitivo direto e indireto demonstrado pelos requerentes.
Ex.: Perdoarei as suas ofensas. (transitivo direto)
A mãe perdoou à filha. (transitivo indireto) 2. (FUMARC – 2014) O Pronome de Tratamento adequa-
Ela perdoou os erros ao filho. (transitivo direto e do às comunicações encaminhadas a Juiz de Direito é:
indireto)
a) Ilustríssimo Senhor.
� Suceder: intransitivo; transitivo direto b) Meritíssimo Juiz.
Ex.: O caso sucedeu rapidamente. (intransitivo no
c) Vossa Excelência.
sentido de “ocorrer”)
d) Vossa Senhoria.
A noite sucede ao dia. (transitivo direto no sentido
de “vir depois”)
3. (FUMARC – 2013) Instrução: A questão está baseada
no texto a seguir. Leia-o com atenção.
Regência Nominal
“Leis penais e instituições são sempre propostas,
discutidas, legisladas e operadas por meio de códi-
Alguns nomes (substantivos, adjetivos e advér-
gos culturais definidos(a). Elas são estruturadas em
bios) exigem complementos preposicionados, exceto
linguagens, discursos e num sistema de signos(b)
quando vêm em forma de pronome oblíquo átono.
que corporificam significados culturais específicos,
distinções e sentimentos que devem ser interpreta-
Advérbios Terminados em “mente”
dos e entendidos quando se quer tornar inteligível o
sentido social(c) e aquilo que motiva a punição. Dessa
Os advérbios derivados de adjetivos seguem a forma, mesmo que alguém queira discutir que interes-
regência dos adjetivos: ses econômicos e políticos formam a base determi-
nante das políticas penais, esses ‘interesses’ devem,
análoga / analogicamente a necessariamente, operar por meio das leis, linguagens
contrária / contrariamente a institucionais e categorias penais(d) que estruturam e
compatível / compativelmente com
LÍNGUA PORTUGUESA
Assalto não tem graça nenhuma, mas alguns, conta- Todas as vezes que ocorre um crime a provocar gran-
dos depois, até que são engraçados. de comoção nacional, parte da sociedade brasileira
É igual a certos incidentes de viagem, que, quando — capitaneada por um discurso minimalista e conser-
acontecem, deixam a gente aborrecidíssimo, mas, vador, com repercussão imediata na grande mídia —
depois, narrados aos amigos num jantar, passam a ter clama por leis draconianas como lenitivo para diminuir
sabor de anedota. a criminalidade violenta. Foi assim com a “criação” da
Uma vez me contaram de um cidadão que foi assalta- lei de crimes hediondos, por exemplo. O resultado des-
do em sua casa. Até aí, nada demais. Tem gente que se tipo de medida repressiva e pontual — objetivando o
é assaltada na rua, no ônibus, no escritório, até dentro adensamento do estado penal — não apresenta resul-
de igrejas e hospitais, mas muitos o são na própria tado efetivo em termos de diminuição dos crimes.
casa. O que não diminui o desconforto da situação. É admissível e compreensível que, diante de um crime
Pois lá estava o dito cujo em sua casa, mas vestido em bárbaro, os parentes da vítima desejem vingança. Sob
roupa de trabalho, pois resolvera dar uma pintura na o ponto de vista privado, essa é uma prerrogativa do
garagem e na cozinha. As crianças haviam saído com indivíduo; dos que sofrem a violência desproporcional
a mulher para fazer compras e o marido se entregava de qualquer forma e estão sob o impacto dela. Porém,
a essa terapêutica atividade, quando, da garagem, vê o Estado não tem essa prerrogativa. Considerando-se
adentrar pelo jardim dois indivíduos suspeitos. que o indivíduo pode, intimamente, desejar vingança
Mal teve tempo de tomar uma atitude e já ouvia: (haja vista nossa cultura judaico-cristã, que valoriza os
— É um assalto, fica quieto senão leva chumbo. atos sacrificiais), o Estado — mantenedor das conquis-
tas do processo civilizatório, cuja base está na garan-
Ele já se preparava para toda sorte de tragédias quan-
tia dos direitos humanos — não pode ser vingativo e
do um dos ladrões pergunta:
passional em seus atos.
— Cadê o patrão?
A mesma indignação que move muitas pessoas a
Num rasgo de criatividade, respondeu:
desejarem o recrudescimento penal (desde que seja
— Saiu, foi com a família ao mercado, mas já volta.
sempre direcionado para o outro) em momentos de
— Então vamos lá dentro, mostre tudo.
comoção não é mobilizadora frente à violência e car-
Fingindo-se, então, de empregado de si mesmo, e ao
nificina generalizadas que atingem, cotidianamente,
mesmo tempo para livrar sua cara, começou a dizer:
milhares de pessoas. Segundo o Ministério da Saúde,
— Se quiserem levar, podem levar tudo, estou me lixan-
do total de 1.103.088 mortes notificadas em 2009,
do, não gosto desse patrão.
138.697 (12,5%) foram decorrentes de causas exter-
— Paga mal, é um pão-duro. Por que não levam aquele nas (que poderiam ser evitáveis), representando a ter-
rádio ali? Olha, se eu fosse vocês levava aquele som ceira causa mais frequente de morte no Brasil.
também. Na cozinha tem uma batedeira ótima da A resposta simplista, da sociedade e do Estado, para
patroa. Não querem uns discos? Dinheiro não tem, enfrentar a criminalidade violenta é o encarceramento.
pois ouvi dizer que botam tudo no banco, mas ali den- Nos últimos 20 anos, nosso sistema prisional teve um
tro do armário tem uma porção de caixas de bombons, crescimento de 450%. Hoje, são mais de 550 mil pre-
que o patrão é tarado por bombom. sos (cerca de 60% cometeram crimes contra o patri-
Os ladrões recolheram tudo o que o falso empregado mônio; 30%, crimes relacionados a drogas e menos
indicou e saíram apressados. Daí a pouco chegavam a de 10% crimes contra a vida). Superlotado, o sistema
mulher e os filhos. prisional tem um déficit de cerca de 250 mil vagas. Em
Sentado na sala, o marido ria, ria, tanto nervoso, quan- condições degradantes e subumanas, quase 80% dos
to aliviado do próprio assalto que ajudara a fazer con- egressos prisionais voltam a praticar crimes. É neste
tra si mesmo. sistema que desejamos trancafiar adolescentes auto-
res de atos infracionais?
Disponível em: http://gazetaonline.globo.com/_conteudo/2010/04/ Paradoxalmente, nesse período de brutal encarcera-
blogs/628982assaltos-insolitos.html Acesso em: 19 ago. 2016
mento, as taxas de crimes violentos mantiveram-se
em patamares elevadíssimos. A Organização Mundial
Vocabulário: de Saúde informa que taxas de homicídio acima de
Insólito – incomum. 10 mortes por 100 mil habitantes são epidêmicas. A
média brasileira, nesse quesito, é de 29 por 100 mil,
A palavra destacada não está corretamente interpreta- sendo que na maioria das capitais essa cifra supera
da entre parênteses em: 30 homicídios por 100 mil, chegando, por exemplo,
em Maceió, à estrondosa cifra de 86 por 100 mil, ou
a) “[...] mas, depois, narrados aos amigos num jantar, seja, oito vezes mais do que o aceitável. Segundo
passam a ter sabor de anedota.” (piada) relatório recente da ONG mexicana Conselho Cidadão
b) “[...] vê adentrar pelo jardim dois indivíduos suspeitos.” para Segurança Pública e Justiça Penal, dentre as 34
(arrastar) nações mais violentas, o Brasil encontra- se em 13º
c) “É igual a certos incidentes de viagem, que, quando lugar. No ranking das 50 cidades mais violentas do
acontecem, deixam a gente aborrecidíssimo [...].” mundo, 15 são do Brasil. Por que assistimos a esse
(imprevistos) massacre com tanta passividade? [...]
d) “O que não diminui o desconforto da situação.” (Excerto do Artigo publicado no Jornal Estado de Minas, de
48 (incômodo) 25/05/2013, Caderno “Pensar e Agir”).
A alternativa que contém período composto por subor- Não se discute — e já vem tarde, a necessidade de lei
dinação é: que permita o aperfeiçoamento do processo democrá-
tico, afastando das urnas os condenados por crimes
a) Porém, o Estado não tem essa prerrogativa. e outras irregularidades graves contra direitos funda-
b) No ranking das 50 cidades mais violentas do mundo, mentais e princípios republicanos. O povo respira ali-
15 são do Brasil. viado. É o desejo, e não já da cidade, senão de toda a
c) A resposta simplista, da sociedade e do Estado, para população.
enfrentar a criminalidade violenta é o encarceramento. Mas algumas reflexões se impõem para esclarecer e
d) Paradoxalmente, nesse período de brutal encarcera- equacionar com serenidade e equilíbrio alguns postu-
mento, as taxas de crimes violentos mantiveram-se lados que devem nortear o aprimoramento da socie-
em patamares elevadíssimos. dade, permitindo-nos legar às gerações futuras um
cenário melhor, pois a nação que briga por seus direi-
6. (FUMARC – 2016) tos progride.
(http://jus.com.br/revista/texto/21281/lei-da-ficha-limpa-opiniao –
Americano passou 2007 sem jogar nada fora Texto adaptado)
O ano de 2007 foi um lixo para o empresário ameri- Leia o trecho transcrito:
cano Ari Derfel, de 35 anos, dono de um bufê. Ele
guardou todos os detritos industriais que produziu ao “O povo respira aliviado.”
longo do ano. Juntou tralha suficiente para lotar um
quarto de dormir. O objetivo: avaliar seus próprios A predicação do verbo negritado na frase acima se
hábitos de consumo e, com isso, denunciar o mun- repete em
do ambientalmente sujo em que vivemos, informa o
diário San Francisco Chronicle, dos Estados Unidos. a) Mesmo com os meus conselhos, ele continua ansioso.
“Quando jogamos uma coisa fora, o que ‘fora’ signifi- b) O presidente nomeou Catarina primeira secretária.
ca?”, indaga Derfel. c) Só ficarão acesas as lâmpadas da sala e do corredor.
O apartamento não fede, porque Derfel lava todas as d) O filho dependia da mãe para as atividades diárias.
embalagens antes de guardá-las. Como se não bas-
tasse ter atravessado 12 meses acumulando detritos, 8. (FUMARC – 2013) Assinale a resposta correta.
ele decidiu estender a aventura para 2008. Quer tentar A primeira explicitação das normas ortográficas da
diminuir o volume acumulado. Mas quais são, enfim, língua portuguesa, que está próximo de completar 500
as lições apreendidas? Boa parte do lixo domésti- anos, apenas sofreu alterações a partir do início do
co é resultado de comida embalada. “São alimentos século passado. É admirável haver numerosas gramá-
menos nutritivos, em sua maioria, do que os produtos ticas dos séculos XVI a XIX que atestam a evolução
frescos”, diz Derfel, citado por El País. “São também estrutural da língua, enquanto se continua a usar o
mais caros.” mesmo conjunto de regras ortográficas por quase 400
Conclusão: “Produzindo menos lixo ficarei mais sau- anos.
dável e mais rico”, resume. Induzido a dizer se está Com efeito, data de 1536 a célebre Grammatica da
louco, o americano é categórico: “Não”. Mas admite lingoagem portuguesa, título em cujos cinquenta capí-
não ter tido relacionamento amoroso nenhum durante tulos Fernão de Oliveira descreve, entre vários outros
o período de coleta, o que parece óbvio. aspectos da língua de sua época, a articulação dos
sons e as formas gráficas que se prestariam a sua
Revista da Semana – ago. 2007. representação. É interessante observar que, antes da
publicação dessa obra exordial, a língua portuguesa
O sujeito do verbo destacado não está corretamente era escrita segundo ortografias de orientação espe-
identificado em: cialmente latinizante, a exemplo do que também se
praticava em quase todos os demais vernáculos que
a) “Mas admite não ter tido relacionamento amoro- já se haviam diferenciado no mundo neolatino. A exce-
so nenhum durante o período de coleta [...]”. (ele, o ção ao conjunto é o espanhol, que, em 1517, recebeu
americano) o primeiro conjunto de regras ortográficas, também
b) “Boa parte do lixo doméstico é resultado de comida baseadas em diretrizes sonoras e etimológicas.
embalada”. (Boa parte do lixo doméstico) Por outro lado, o trabalho de Oliveira não fez, natural-
c) “Produzindo menos lixo ficarei mais saudável e mais mente, que se eliminasse de imediato toda oscilação
rico”. (Produzindo menos lixo) ortográfica dos textos portugueses. As edições d’Os
d) “O ano de 2007 foi um lixo para o empresário america- Lusíadas publicadas em 1572, por exemplo, coligem
no Ari Derfel, de 35 anos, dono de um bufê”. (O ano de
LÍNGUA PORTUGUESA
“Todo texto é plural, assim como os sentidos e os sig- a) A lei onde era fixada a pena foi revogada.
nificados desse texto.” b) Diamantina é a cidade onde moro.
A articulação das orações do período expressa uma c) Onde houver ódio, que eu leve o amor.
ideia de d) Por onde eu passar, estarei atenta às ofertas.
num dos casos aqui mencionados saiu ‘com’, no outro, e cumplicidade e a sobrinha anônima do seu destino.
saiu ‘de’”. Desculpe.
É exemplo desse tipo de oração:
Fonte: VERÍSSIMO, Luis Fernando; FONSECA, Joaquim da. Traçando
a) Estou com os livros que você mais gosta. Porto Alegre. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 1995, p. 87-88.
b) Eu duvidava que houvesse engano.
c) O candidato com o qual simpatizo é grande amigo Sobre o texto, não é correto afirmar que
meu.
d) O mundo espera que todos lutem contra a miséria. a) Sugere medidas para tirar os menores da rua.
b) Há uma reflexão histórica, social e econômica.
18. (FUMARC – 2013) Instrução: Leia com atenção o texto c) Retrata uma triste situação do cotidiano urbano.
para responder à questão. d) Critica a sociedade indiferente ao terror da miséria. 53
19. (FUMARC – 2013) As vantagens em se aceitar o envelhecimento são,
exceto
Envelhecer bem é possível
a) Sorrir diante das perdas.
Anna Veronica Mautner b) Esquecer o agora e lembrar o mais antigo.
c) Acompanhar o desenvolvimento dos mais novos.
A criança passa por dramáticas transformações d) Confortar os que estão começando com a sabedoria
(andar, falar, conhecer o mundo etc.), mas não tem adquirida.
consciência delas porque lhe falta linguagem para
descrevê-las. 20. (FUMARC – 2012) Leia, atentamente, os textos I e II
Depois da adolescência, as mudanças continuam, para responder à questão.
mas com dramaticidade menor.
Tão marcante em transformações quanto a infância Texto I
é o envelhecimento. Nessa fase da vida, temos cons-
ciência de tudo o que ocorre: perdas físicas e mentais. Cidadezinha qualquer
Comecemos falando da reação aos imprevistos. Por Casas entre bananeiras
que velho tropeça e cai tanto? Porque a reação ao sus- Mulheres entre laranjeiras
to e o reflexo para evitar o perigo são mais lentos. Pomar amor cantar.
Falemos agora da memória, essa capacidade madras- Um homem vai devagar.
ta cuja falta castiga o idoso. Demoramos para lembrar Um cachorro vai devagar.
seja lá o que for e a conversa fica entrecortada de Um burro vai devagar.
silêncios, quase soluços. Devagar... as janelas olham.
O conteúdo que, em primeiro lugar, mergulha nas Eta vida besta, meu Deus.
sombras do esquecimento são os nomes próprios; (ANDRADE, Carlos Drummond de. Antologia poética. 2. ed. São
mais uns anos e substantivos comuns também se Paulo: Abril, 1982, p. 37.)
embaralham.
O curioso é que os adjetivos não somem. Aparecendo Texto II
o nome, sua qualidade ou quantidade vem junto, dos
fundos da memória. O nome está em algum lugar, em Cidadezinha Qualquer versus Nadópolis
algum tempo, de algum jeito. Se o substantivo emerge,
traz consigo as associações. Cidadezinha Qualquer, os leitores fiquem sabendo
Os verbos não somem, mas as ações deixam de ser logo, é uma cidade comum localizada em uma região
desempenhadas. Se o verbo desaparecer, a incomu- distante de um longínquo país. O que os leitores não
nicabilidade irá se instaurar. Envelhecer é perder: seja sabiam ainda, pois eu ainda não lhes contei, e agora
clareza, seja acuidade auditiva ou visual, velocidade conto, é que existe uma cidade chamada Nadópolis,
de resposta física ou de linguagem, memória. sede de um município fronteiriço com Cidadezinha
Aí vem aquela história: velho esquece o agora e lembra Qualquer. (...) Nadópolis era uma cidade meio anti-
o mais antigo. Não há nenhum mistério nisso. É que o pática mesmo. Não, não era birra dos cidadãos cida-
antigo já se transformou em imagem e a imagem rea- dequalquerianos: Nadópolis tinha um ar arrogante
viva as sensações. Quase nada é inconsciente, pois e antipático! A começar pelo nome pomposo. Esse
envelhecer é viver as mudanças diárias. “polis” grego e sofisticado no final do nome, essa pose
Sentimos a presença das mudanças. Se causam forçada que destoa do ambiente natural da região,
amargura, é pela não aceitação. E, se não aceitarmos renega a história... Isso para não falar da mania que
que já não somos o que éramos, o nosso contato com tinham os nadopolenses de apregoar as vantagens de
o mundo aqui e agora fica prejudicado. viver em um município como o seu. Era comum ouvi-
Assim como é natural o ser humano se transformar -los dizer:
ininterruptamente, em boa velocidade, do nascimento — “Nadópolis é a cidade mais porreta da região; lá
à puberdade, é natural envelhecer, com lentas perdas todo mundo veve bem e nóis não tem os pobrema qui
no início e mais rápidas depois. as outra cidade de perto tudo tem...”
Aceitando que viver é assim, permanente transforma- Para que os leitores não julguem o autor muito parcial
ção, podemos sorrir diante de perdas e transmitir (até é bom que se diga: realmente Nadópolis era mais prós-
com humor) a quem nos rodeia que estamos presen- pera do que Cidadezinha Qualquer. Graças ao incre-
tes, acompanhando o processo. mento de sua agricultura e à grande soma de recursos
Nada de dizer que a terceira idade é maravilhosa. Nada e trabalho que isto envolve, Nadópolis, àquela época,
disso. Perder não é bom. Mas alguns conseguem ir vivia o seu período de esplendor. Grandes e suntuosas
perdendo sem muita amargura, porque acompanham construções erguiam-se por toda parte, o comércio
as transformações dos que ainda estão ganhando. local atraía compradores de toda a proximidade, a vida
É a alegria do avô diante do neto. Há na atitude de noturna era agitadíssima. Grupos de visitantes eram
acompanhar o que já tivemos no passado doses de levados para pontos estratégicos para serem orienta-
aceitação e generosidade. Podemos ajudar. Nossa dos por um agente turístico sobre as maravilhas da
sabedoria funciona como conforto para quem está só cidade. Como não podia deixar de ser, a arrecadação
começando. da Prefeitura local também era das melhores.
O olhar bondoso do idoso diante do tatibitate do nenê
é sabedoria. O velho vislumbra o caminho que o bebê (COTRIM, Fabiano. http://www.faroldacidade.com.br. Postado em
irá seguir. Não é um reviver nem um renascer: é uma 01/04/2008. – Texto adaptado)
memória.
Folha de São Paulo, 05 mar. 2013. No texto I, constitui um ingrediente discursivo utilizado
pelo poeta
54
a) O uso também da linguagem coloquial, que se desvia
do padrão culto da língua.
b) A exposição argumentativa de ideias, que se efetiva
pela ausência de linguagem figurada.
c) A linguagem verbal articulada com situações imagéti-
cas, para dar mais veracidade aos fatos.
d) Os recursos de natureza narrativa que visam a estabe-
lecer um constante diálogo com o leitor.
9 GABARITO
1 D
2 C
3 A
4 B
5 C
6 C
7 B
8 D
9 B
10 B
11 A
12 C
13 C
14 A
15 B
16 C
17 A
18 A
19 B
20 A
ANOTAÇÕES
LÍNGUA PORTUGUESA
55
ANOTAÇÕES
56
LEI ORGÂNICA DA POLÍCIA CIVIL DE MINAS GERAIS
O regime disciplinar da Polícia Civil do Estado de Minas Gerais está disposto no Título XVII, do Livro V (Estatuto do
Servidor Policial Civil), da Lei Estadual nº 5.406, de 1969. Nesse Título, encontramos os deveres e proibições dos servido-
res, as penalidades a que estão sujeitos, as responsabilidades, entre outras regras.
O Regime Disciplinar consiste, basicamente, nos deveres, proibições, esferas de responsabilidades, meios de
apuração de ilícitos administrativos e sanções disciplinares. Neste sentido, o Regime Disciplinar da Polícia Civil do
Estado de Minas Gerais, que é regulamentado pela Lei Estadual nº 5.406, de 1969, aplica-se a todos os servidores no
exercício de funções de natureza policial.
Art. 142 As disposições constantes deste título aplicam-se a todos os servidores no exercício de funções de natureza policial.
DA DISCIPLINA POLICIAL
Para que possamos estudar o regime disciplinar, é imprescindível compreender o que é a disciplina policial, pois é a
base de toda atividade policial.
A disciplina policial contém rigorosa observância e o acatamento integral das leis, regulamentos, normas e disposi-
ções, traduzindo-se pelo perfeito cumprimento do dever por parte de todos e de cada um dos servidores no exercício de
funções de natureza policial.
O art. 143 determina que a disciplina da Polícia Civil do Estado de Minas Gerais fundamenta-se na subordinação hie-
rárquica e funcional, que nada mais é do que o policial civil estar sujeito às ordens de superiores para o cumprimento das
leis, regulamentos e normas de serviços.
Art. 143 A disciplina policial fundamenta-se na subordinação hierárquica e funcional, no cumprimento das leis, regulamen-
tos e normas de serviços.
Os princípios que fundamentam a disciplina policial estão dispostos no art. 144. Vejamos:
Art. 144 Além de outros a serem enumerados em regulamentação, são princípios básicos da disciplina policial:
I - subordinação hierárquica;
II - obediência aos superiores;
III - respeito às leis vigentes e às normas éticas;
IV - cooperação e respeito às autoridades de corporações policiais diversas e de outros poderes ou Secretarias de Estado;
V - apuração ou comunicação à autoridade competente, pela via hierárquica respectiva, da prática de transgressão disciplinar;
VI - observância das condições e normas necessárias para a boa execução das atividades policiais;
VII - espírito de camaradagem e de cooperação, mesmo quando de folga o servidor policial;
VIII - atendimento ao público em geral dentro das normas de urbanidade e sem preferência.
Observando-se a escala
Ocupantes das demais Chefias Policiais
descendente de níveis
de vencimentos
z Circunstâncias Agravantes: são causas que aumen- Será aplicada na forma e nos casos expressa-
tam a penalidade a ser aplicada, desde que elas cons- mente previstos em lei ou regulamentos.
tituam ou qualifiquem outra transgressão disciplinar.
z Demissão
Repreensão e Suspensão os demais Delegados de Assim como as demais Polícias Civis do país, a
por até 5 dias Polícia de Carreira Polícia Civil do Estado de Minas Gerais também pos-
sui procedimento administrativo para apuração das
transgressões disciplinares dos servidores da Polícia
Como é possível observar no quadro acima, a úni- Civil, compreendendo os seguintes feitos:
ca autoridade competente para aplicar as penalidades
LEI ORGÂNICA
O processo administrativo disciplinar, também conhecido pela sigla PAD, é um instrumento pelo qual a Polícia
Civil do Estado de Minas Gerais apura responsabilidade do policial civil por infração praticada no exercício de
suas atribuições, ou que tenha relação com as atribuições do cargo em que se encontre investido. Será obrigatório
o processo administrativo quando a falta disciplinar, por sua natureza, possa determinar a pena de demissão.
As autoridades competentes para determinar a instauração do processo administrativo são:
O prazo de duração do processo administrativo é de 60 (sessenta) dias, a contar da citação do acusado. Esse
prazo poderá ser prorrogado pela autoridade que determinou a instauração do processo, por mais 60 dias. Por
fim, o Secretário de Estado da Segurança Pública, em casos especiais e mediante representação do Presidente da
Comissão, poderá autorizar nova e última prorrogação do prazo de até 60 dias.
Para melhor compreensão acerca do processo administrativo, observe o fluxograma a seguir:
determinado a sua instauração, para que seja que determinou a instauração do processo administrativo
proferido julgamento, no prazo de 30 dias, deverá propô-las, justificadamente, dentro do prazo
prorrogáveis por igual período marcado para julgamento, à autoridade competente
Art. 178 O processo administrativo terá a forma prevista neste capítulo, iniciando-se no prazo de oito dias, contados
da data do ato que determinou sua instauração.
Art. 179 É assegurado ao funcionário o direito de ampla defesa, podendo, pessoalmente ou por procurador, acompa-
nhar todos os atos processuais, indicar e inquirir testemunhas, requerer juntada de documentos, vista dos autos em 63
mãos da Comissão, e o mais que julgar necessário, Parágrafo único. Terá o acusado o prazo de dez dias
observadas as normas processuais estabelecidas para apresentação da defesa a que se refere este arti-
nesta lei. go. Neste prazo lhe será dada vista dos autos em pre-
§ 1º Entende-se por direito de ampla defesa a opor- sença do secretário ou de qualquer dos membros da
tunidade que se confere ao acusado de praticar Comissão, no lugar do processo.
todos os atos previstos no artigo anterior, na fase Art. 186 No caso de revelia do acusado ou ainda de
instrutória do processo. perda de prazo para apresentação de defesa, o Pre-
§ 2º A autoridade processante não será obrigada a sidente nomeará um funcionário, sempre que possí-
suprir “ex-officio” a omissão do acusado na fase de vel bacharel em Direito, para produzi-la, na forma do
que trata o parágrafo anterior. artigo 185 e seu parágrafo único.
Art. 180 Na portaria que der início ao processo, o Pre- § 1º Neste relatório, a Comissão apreciará, em relação
sidente da Comissão ordenará a citação do acusado a cada acusado, separadamente, as faltas administra-
para se ver processar, até julgamento final, e nomea- tivas e irregularidades que lhe forem atribuídas, as
rá um dos membros da Comissão para secretariar os provas colhidas no processo, e as razões da defesa,
trabalhos. propondo, então, a absolvição ou a punição, indican-
§ 1º A citação do acusado será feita em mandado pró- do, neste caso, a pena que couber.
prio e será instruída com a cópia da portaria inicial. § 2º Deverá também a Comissão, em seu relatório,
§ 2º Se for desconhecido o paradeiro do acusado ou sugerir quaisquer outras providências que lhe pare-
este se ocultar para evitar a citação, esta será feita cerem de interesse do serviço público.
com o prazo de dez dias, mediante edital publicado Art. 187 Findo o prazo para a defesa e juntadas aos
por cinco vezes seguidas no órgão oficial, findo o qual autos as peças que a contiverem, a Comissão, no pra-
prosseguir-se-á no processo à sua revelia. zo de dez dias, apreciará a prova e a defesa produzi-
§ 3º Será considerado revel o funcionário que, citado das, representando o seu relatório.
ou intimado para os atos processuais, deixar de com- Art. 188 O processo administrativo deverá ser con-
parecer ou de se fazer representar. cluído no prazo de sessenta dias, a contar da citação
Art. 181 Feita a citação, terá prosseguimento o pro- do acusado.
cesso, em sua fase de instrução, designando o Presi- § 1º Poderá a autoridade que determinou a instau-
dente dia e hora para o interrogatório do acusado e a ração do processo prorrogar-lhe o prazo até mais
sessenta dias, por despacho, em representação cir-
inquirição de testemunhas, devendo este ser notifica-
cunstanciada que lhe fizer o Presidente da Comissão.
do a apresentar, caso queira, rol de testemunhas até o
§ 2º O Secretário de Estado da Segurança Pública, em
máximo de dez, no prazo de cinco dias.
casos especiais e mediante representação do Presi-
Parágrafo único. Poderá o acusado, respeitado o limi-
dente da Comissão, poderá autorizar nova e última
te previsto neste artigo, durante a fase instrutória,
prorrogação do prazo, por tempo não excedente ao
substituir as testemunhas ou indicar outras no lugar
do parágrafo anterior.
das que não comparecerem.
Art. 189 Ultimado o processo e, recebendo os autos
Art. 182 Proceder-se-á à tomada de depoimentos das
conclusos, a autoridade que houver determinado a
testemunhas arroladas pela Comissão e, a seguir, os
sua instauração deverá proferir julgamento no prazo
das testemunhas indicadas pelo acusado.
de trinta dias, prorrogáveis por igual período.
§ 1º Na audiência das testemunhas será dada a pala-
Parágrafo único. Se o processo não for julgado no
vra ao defensor do acusado ou a este, para repergun-
prazo indicado neste artigo, o acusado, caso esteja
tar às testemunhas. suspenso preventivamente, reassumirá automatica-
§ 2º Se o acusado ou seu defensor não comparecer, mente o cargo ou função e aguardará em exercício o
será designado o fato no respectivo termo. julgamento, salvo nos casos de prisão administrativa
§ 3º O Presidente poderá indeferir as perguntas que que ainda perdure e abandono de cargo ou função.
não tiverem conexão com a falta, consignando-se no Art. 190 Quando escaparem à sua alçada as penali-
termo as que forem indeferidas. dades e providências que lhe parecerem cabíveis, a
§ 4º Ocorrendo a necessidade do testemunho de ser- autoridade que determinou a instauração do proces-
vidores públicos ou militares, as respectivas solicita- so administrativo deverá propô-las, justificadamente,
ções deverão ser feitas a seus chefes ou comandantes dentro do prazo marcado para julgamento, à autori-
imediatos. dade competente.
Art. 183 Durante a fase instrutória de processo, pode- Art. 191 As decisões serão sempre publicadas no
rá o Presidente da Comissão ordenar toda e qualquer órgão oficial, dentro do prazo de oito dias.
diligência que se lhe afigure conveniente, facultando- Art. 192 O processo administrativo não poderá ser
-se ao acusado, nos termos do artigo 182, requerer o sobrestado para o fim de aguardar a decisão de ação
que for necessário à sua defesa, desde que não cons- penal ou civil.
titua recurso protelatório, prejudicial ao andamento Art. 193 Não será declarada a nulidade de nenhum
normal dos trabalhos ou de nenhum interesse para o ato processual que não houver influído na apuração
esclarecimento dos fatos em apuração. de verdade substancial ou, diretamente, na decisão do
Parágrafo único. O Presidente, entendendo descabida processo ou da sindicância, e os atos que forem decla-
a pretensão do acusado, recusará a diligência em des- rados nulos não afetarão o processo em seu todo, mas
pacho fundamentado. tão somente a diligência que contenham.
Art. 184 É permitido à Comissão tomar conhecimen-
to, na fase instrutória, de argüições novas que surgi- Processo por Abandono de Cargo ou Função
rem contra o acusado, caso em que este terá o direito
de produzir contra elas as provas que tiver. Art. 194 No caso de abandono de cargo ou função,
Art. 185 Encerrada a fase instrutória, em que serão instaurado o processo e feita a citação, na forma
praticados os atos concernentes à prova, o acusado dos artigos 168 e 180, comparecendo o acusado e
não mais poderá requerer diligências no processo e, tomadas as suas declarações, terá ele o prazo de
dentro de quarenta e oito horas, deverá ser citado cinco dias para oferecer defesa ou requerer a pro-
para apresentar, por escrito, as razões finais de sua dução da prova que tiver, que só pode versar sobre
64 defesa. força maior ou coação ilegal.
§ 1º Observar-se-á, então, no que couber, o disposto nos artigos 182 e seguintes.
§ 2º No caso de revelia, será designado pelo Presidente um funcionário para servir de defensor, observando-se o
disposto na parte final deste artigo e, no que couber, o disposto nos artigos 182 e seguintes.
O processo administrativo findo poderá ser revisado mediante interposição de recurso pelo punido, dirigido à
autoridade que aplicou a pena ou que a tiver confirmado em grau de recurso, nos seguintes casos:
O recurso, requerendo a revisão do processo administrativo, deverá ser devidamente fundamentado nessas
hipóteses, bem como instruídos com as provas. Caso contrário, ele será indeferido.
Na decisão da revisão, a pena anteriormente aplicada não poderá ser agravada.
Por Comissão Processante Permanente ou por Comissão Especial, a juízo do Secretário de Estado da Segu-
rança Pública.
Instrução
Diminuição da pena
Art. 195 Dar-se-á revisão dos processos findos, mediante recurso do punido, quando:
I - a decisão for contrária a textos expressos de lei ou à evidência dos autos;
II - a decisão se fundar em depoimento, exames ou documentos comprovadamente falsos ou errados; e
LEI ORGÂNICA
III - após a decisão, se descobrirem novas provas da inocência do punido ou de circunstâncias que autorizem pena
mais branda.
§ 1º Os pedidos que não se fundarem nos casos enumerados no artigo e que não vierem documentados de provas,
serão indeferidos “in limine”.
§ 2º O pedido será sempre dirigido à autoridade que aplicou a pena ou que a tiver confirmado em grau de recurso.
§ 3º Não será admissível a reiteração do pedido, salvo se fundado em novas provas.
Art. 196 A revisão, que poderá verificar-se a qualquer tempo, não autoriza a agravação da pena.
Art. 197 A revisão poderá ser pedida pelo próprio punido, ou procurador legalmente habilitado, ou, no caso de mor-
te do punido, pelo cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.
Art. 198 Não constitui fundamento para revisão a simples alegação de injustiça da penalidade. 65
Art. 199 A revisão será processada por Comissão Disposições Preliminares
Processante Permanente, ou, a juízo do Secretá-
rio de Estado da Segurança Pública, por Comissão Art. 1º Esta Lei Complementar organiza a Polícia
Especial. Civil do Estado de Minas Gerais - PCMG -, define sua
§ 1º Será impedido de funcionar na revisão quem hou- competência e dispõe sobre o regime jurídico dos
ver integrado a comissão de processo administrativo. integrantes das carreiras policiais civis.
§ 2º O Presidente designará um funcionário para
secretariar a Comissão. Preliminarmente, o art. 2º dispõe sobre o que é,
Art. 200 Ao processo de revisão será apensado o exatamente, a Polícia Civil do Estado de Minas Gerais.
processo administrativo ou sua cópia, marcando o Vejamos:
Presidente o prazo de cinco dias para que o reque- Art. 2º A PCMG, órgão autônomo, essencial à
rente junte as provas que tiver, ou indique as que segurança pública, à realização da justiça e à
pretenda produzir. defesa das instituições democráticas, fundada na
Art. 201 Concluída a instrução do processo, será promoção da cidadania, da dignidade humana e dos
aberta vista ao requerente, perante o secretário da direitos e garantias fundamentais, tem por objeti-
comissão, pelo prazo de dez dias, para apresenta- vo, no território do Estado, em conformidade com o
ção de alegações. art. 136 da Constituição do Estado, dentre outros, o
Art. 202 Decorrido esse prazo, ainda que sem exercício das funções de:
alegações, será o processo encaminhado, com o I - proteção da incolumidade das pessoas e do
relatório fundamentado da Comissão e dentro do patrimônio;
prazo de quinze dias, à autoridade competente II - preservação da ordem e da segurança públicas;
para julgamento. III - preservação das instituições políticas e jurídicas;
Art. 203 Será de trinta dias o prazo para esse julga- IV - apuração das infrações penais e dos atos infra-
mento, sem prejuízo das diligências que a autorida- cionais, exercício da polícia judiciária e cooperação
com as autoridades judiciárias, civis e militares, em
de entenda necessárias ao melhor esclarecimento
assuntos de segurança interna.
do processo.
Art. 204 Julgada procedente a revisão, a Adminis- Já o art. 3º apresenta as atribuições básicas da
tração determinará a redução ou cancelamento da PCMG. Daremos destaque para somente algumas des-
pena. sas atribuições, principalmente as que são mais carac-
Art. 205 Ao processo de revisão aplicam-se as terísticas da Polícia Civil.
regras cominadas no art. 178 e seguintes, no que
couber. Art. 3º A PCMG reger-se-á pelos princípios consti-
tucionais da legalidade, impessoalidade, moralida-
de, publicidade e eficiência e deve ainda observar,
na sua atuação:
I - a promoção dos direitos humanos;
LEI COMPLEMENTAR ESTADUAL N.º II - a participação e interação comunitária;
129, DE 08 DE NOVEMBRO DE 2013 III - a mediação de conflitos;
IV - o uso proporcional da força;
DISPOSIÇÕES GERAIS V - o atendimento ao público com presteza, probi-
dade, urbanidade, atenção, interesse, respeito, dis-
É verdade que os policiais civis são uma espécie crição, moderação e objetividade;
de funcionário público, mas eles também apresentam VI - a hierarquia e a disciplina;
uma Lei Orgânica especial, que disciplina em maiores VII - a transparência e a sujeição a mecanismos de
controle interno e externo, na forma da lei;
detalhes o seu regime jurídico. Por isso, é importante
VIII - a integração com órgãos de segurança públi-
conhecer essa legislação especial. ca do Sistema de Defesa Social.
Passaremos a analisar o conteúdo da Lei Comple-
mentar nº 129, de 8 de novembro de 2013, conhecida A promoção dos direitos humanos constitui-se em
como a Lei Orgânica dos Policiais Civis do Estado de uma garantia de que são impostos diversos limites à ação
Minas Gerais, que dispõe sobre a organização e sobre policial. Esses limites dizem respeito aos direitos e liber-
o regime jurídico de seu pessoal. dades garantidos a todos os cidadãos brasileiros. A ação
Considerando que os policiais civis são uma forma policial, dessa forma, deve restringir-se a praticar ape-
especial de servidor público, faremos menções à Cons- nas os atos estritamente necessários para a promoção da
tituição Federal, bem como à legislação federal (Lei nº segurança pública dentro do Estado, evitando a prática de
8.112, de 1990), quando for absolutamente necessário. atos abusivos que possam ferir esses direitos e garantias.
Dada a multiplicidade de leis, em âmbitos diferen- É por isso, também, que o inciso IV dispõe sobre o uso
proporcional da força: ela não pode utilizar a força físi-
tes da Federação, é comum ao candidato questionar
ca como bem entender, há regras restritivas para o seu
qual lei ele deve utilizar para responder questões de
uso.
provas. É importante ressaltar que lei federal não se
A Polícia Civil tem por fundamentos a hierarquia e a
sobrepõe a lei estadual e vice-versa. Durante a prova o disciplina, que constam do inciso VI. Para a carreira de
candidato deve se ater ao que a pergunta diz. A gran- policial, a hierarquia e a disciplina são mais presentes do
de maioria das questões de provas delineia a legisla- que nas demais carreiras de servidores públicos civis; o
ção que deve ser utilizada para responder à pergunta. seu desrespeito é considerado uma infração para essas
Procure por expressões como “nos termos da Cons- pessoas.
tituição Federal”, “segundo a Lei nº 8.112, de 1990”, Apesar de ambas possuírem a mesma finalidade, é
“com base no Estatuto dos Servidores estaduais”, importante conhecer bem os conceitos de cada uma, para
66 entre outras. não haver confusão na hora da prova.
A hierarquia é a ordenação da autoridade em níveis O que difere a polícia judiciária das demais fun-
diferentes dentro da estrutura da Polícia Civil. O respeito ções de polícia presentes na Administração Pública
à hierarquia é consubstanciado no espírito de acatamen- é o fato de que esta possui natureza investigativa, o
to à sequência de autoridade. que significa que ela somente começa a atuar após a
A disciplina, por sua vez, é a rigorosa observância ocorrência de um delito (nesse caso, será um crime
e o acatamento integral de leis, regulamentos, normas ou uma contravenção penal). A polícia judiciária auxi-
e disposições que fundamentam o organismo policial e lia o Estado (Poder Judiciário) no exercício da função
coordenam seu funcionamento regular e harmônico, tra- jurisdicional penal.
duzindo-se pelo perfeito cumprimento do dever por parte O art. 10 complementa o assunto, elencando tam-
de todos e de cada um dos componentes desse organismo bém como características essenciais da polícia
O art. 4º complementa o conteúdo do art. 3º, indi- judiciária:
cando outras atribuições que, apesar de não serem fun-
damentais da PCMG, são igualmente indispensáveis no Art. 10 A função de polícia judiciária compreende:
exercício de sua ação no plano estadual. I - o exame preliminar a respeito da tipicidade
penal, ilicitude, culpabilidade, punibilidade e demais
Art. 4º Além dos princípios referidos no art. 3º, circunstâncias relacionadas à infração penal;
orientam a investigação criminal e o exercício das II - as diligências para a apuração de infrações
funções de polícia judiciária, a indisponibilidade penais e atos infracionais;
do interesse público, a finalidade pública, a III - a instauração e formalização de inquérito
proporcionalidade, a obrigatoriedade de atua- policial, de termo circunstanciado de ocorrência
ção, a autoridade, a oficialidade, o sigilo e a e de procedimento para apuração de ato infracional;
imparcialidade, observando-se ainda: IV - a definição sobre a autuação da prisão em fla-
I - a investidura em cargo de carreira policial civil; grante e a concessão de fiança;
II - a inevitabilidade da atuação policial civil; V - a requisição da apresentação de presos do sistema
III - a inafastabilidade da prestação do serviço poli- prisional em órgão ou unidade da PCMG, para fins de
cial civil; investigação criminal;
IV - a indeclinabilidade do dever de apurar infra- VI - a representação judicial para a decretação
ções criminais; de prisão provisória, de busca e apreensão, de
V - a indelegabilidade da atribuição funcional do interceptação de dados e de comunicações, em
policial civil; sistemas de informática e telemática, e demais
VI - a indivisibilidade da investigação criminal; medidas processuais previstas na legislação;
VII - a interdisciplinaridade da investigação VII - a presença em local de ocorrência de infração
criminal; penal, na forma prevista na legislação processual
VIII - a uniformidade de procedimentos policiais; penal;
IX - a busca da eficiência na investigação crimi- VIII - a elaboração de registros, termos, certidões,
nal e a repressão das infrações penais e dos atos atestados e demais atos previstos no Código de Pro-
infracionais. cesso Penal ou em leis específicas.
O art. 5º, por sua vez, dispõe sobre a autonomia FUNÇÃO DE INVESTIGAÇÃO CRIMINAL
administrativa e financeira da PCMG. Isso significa,
de modo geral, que a Polícia Civil é competente para Os arts. 6º a 8º dispõem sobre a função de investi-
realizar ações sem a necessidade de intervenção de gação criminal. A investigação criminal diz respeito à
outros órgãos de Segurança Pública. Vejamos: “apuração preliminar” da tipicidade penal, possuindo
caráter técnico-jurídico-científico e capaz de produzir
Art. 5º À PCMG é assegurada autonomia adminis- conhecimentos e indicadores sociopolíticos, econômi-
trativa e financeira, cabendo-lhe, especialmente: cos e culturais que se revelam no fenômeno criminal.
I - elaborar a sua programação financeira anual e
acompanhar e avaliar sua implantação, segundo as Art. 6º A investigação criminal tem caráter técni-
dotações consignadas no orçamento do Estado; co-jurídico-científico e produz, em articulação com
II - executar contabilidade própria; o sistema de defesa social, conhecimentos e indica-
III - adquirir materiais, viaturas e equipamentos dores sociopolíticos, econômicos e culturais que se
específicos. revelam no fenômeno criminal.
Parágrafo único. As atividades de planejamento e Art. 7º O exercício da investigação criminal tem iní-
orçamento e de administração financeira e conta- cio com o conhecimento de ato ou fato passível de
bilidade subordinam-se administrativamente ao caracterizar infração penal e se encerra com a apu-
Chefe da PCMG e tecnicamente às Secretarias de ração da infração penal ou ato infracional ou com
Estado de Planejamento e Gestão e de Fazenda, o exaurimento das possibilidades investigativas,
respectivamente. compreendendo:
I - a pesquisa técnico-científica a respeito de autoria,
FUNÇÕES DE POLÍCIA JUDICIÁRIA de materialidade, de motivos e de circunstâncias da
infração penal;
As funções de polícia judiciária envolvem não II - a articulação ordenada dos atos notariais do
somente a etapa de investigação criminal, como tam- inquérito policial e demais procedimentos de forma-
LEI ORGÂNICA
bém atos de prestação de auxílio ao sistema de justiça lização da produção probatória da prática de infra-
criminal para a aplicação da lei penal e processual, ção penal;
assim como os registros e a fiscalização de natureza III - a minimização dos efeitos do delito e o gerencia-
regulamentar, conforme dispõe o art. 9º. mento da crise dele decorrente.
Art. 8º A investigação criminal se destina à apura-
Art. 9º A função de polícia judiciária consiste, pre- ção de infrações penais e de atos infracionais, para
cipuamente, no auxílio ao sistema de justiça cri- subsidiar a realização da função jurisdicional do
minal para a aplicação da lei penal e processual, Estado, e à adoção de políticas públicas para a pro-
bem como nos registros e fiscalização de natureza teção de pessoas e bens para a boa qualidade de vida
regulamentar. social. 67
Seguindo o que dispõe a legislação, a direção da III - representar ao Poder Judiciário, por meio do
polícia judiciária cabe, em todo o Estado, aos Delegados Delegado de Polícia, pela decretação de medidas
de Polícia de carreira, nos limites de suas circunscri- cautelares pessoais e reais, como prisão preventiva
ções, e seus atos serão fiscalizados direta ou indireta- e temporária, busca e apreensão, quebra de sigilo
mente pelo Corregedor-Geral de Polícia Civil. Vejamos: e interceptação de dados e de telecomunicações,
além de outras inerentes à investigação criminal
Art. 11. A direção da polícia judiciária cabe, em todo e ao exercício da polícia judiciária, destinadas a
o Estado, aos Delegados de Polícia de carreira, nos colher e a resguardar provas da prática de infra-
limites de suas circunscrições. ções penais e de atos infracionais;
Parágrafo único. Os atos de polícia judiciária serão IV - organizar, cumprir e fazer cumprir os manda-
dos judiciais de prisão e de busca domiciliar;
fiscalizados direta ou indiretamente pelo Correge-
dor-Geral de Polícia Civil.
A Polícia Civil é um órgão responsável pela promo-
Por fim, o art. 12 aponta os símbolos institucionais ção da segurança pública dentro do Estado de Minas
Gerais. Não basta apenas que seus agentes exerçam
da PCMG. São os símbolos que identificam os agentes
funções investigativas, isto é, de apuração da ocorrên-
integrantes da Polícia Civil, e somente eles podem uti-
cia de crimes. A Polícia Civil deve, também, punir os
lizar de alguns desses símbolos. São ao todo cinco: o
infratores de forma adequada, resguardando os direi-
hino, o brasão, a logomarca, a bandeira e o distintivo.
tos das vítimas desses crimes. Por isso, os incisos II e III
Art. 12 São símbolos institucionais da PCMG o hino, expõem atividades voltadas à investigação/apuração
o brasão, a logomarca, a bandeira e o distintivo de ilícitos penais. A finalidade dessas competências
é, justamente, a proteção dos valores anteriormente
DA COMPETÊNCIA citados: a vida, a liberdade e a propriedade dos indiví-
duos enquanto cidadãos membros da sociedade.
Sobre a sua competência, o art. 14 apresenta, bem Justamente a proteção desses valores (que, vale
resumidamente, o conteúdo referente ao exercício da lembrar, são valores garantidos pela própria Consti-
polícia judiciária, isto é, a apuração no território do tuição Federal) é o que fundamenta a Polícia Civil a
Estado das infrações penais e dos atos infracionais de adotar medidas cautelares de finalidade de preserva-
natureza civil, exceto os militares. É, sem dúvidas, a ção do local da infração penal.
competência mais importante da Polícia Civil. A exce-
V - cumprir as requisições do Poder Judiciário e do
ção prevista no final do texto do dispositivo existe, pois
Ministério Público;
quem apura as infrações criminais de natureza militar VI - realizar correições e inspeções, em caráter
são os próprios órgãos da Polícia Militar. permanente ou extraordinário, em atividades e em
repartições em que atue, bem como responsabilizar-
Art. 14 À PCMG, órgão permanente do poder públi-
-se pelos procedimentos disciplinares destinados a
co, dirigido por Delegado de Polícia de carreira e apurar eventual prática de infrações atribuídas a
organizado de acordo com os princípios da hierar- seus servidores;
quia e da disciplina, incumbem, ressalvada a com- VII - formalizar o inquérito policial, o termo cir-
petência da União, as funções de polícia judiciária cunstanciado de ocorrência e o procedimento para
e a apuração, no território do Estado, das infrações apuração de ato infracional;
penais e dos atos infracionais, exceto os militares.
Parágrafo único. São atividades privativas da PCMG O inquérito policial é o documento que dá início à
a polícia técnico-científica, o processamento e arqui-
fase investigativa durante o exercício das atividades
vo de identificação civil e criminal, bem como o
típicas da polícia judiciária. É o conteúdo dentro do
registro e licenciamento de veículo automotor e a
inquérito que será utilizado como base para a even-
habilitação de condutor.
tual denúncia do crime, feita pelo Ministério Público,
É importante, também, destacar o conteúdo do art. ou pela própria vítima, quando cabível.
15, que aponta que a PCMG é subordinada diretamente
ao Governador do Estado. Vejamos: VIII - exercer o controle e a fiscalização de suas
armas e munições, de explosivos, fogos de artifício
Art. 15 A PCMG subordina-se diretamente ao Gover- e demais produtos controlados, observada a legis-
nador do Estado e integra, para fins operacionais, o lação federal específica;
Sistema de Defesa Social.
É a Polícia Civil o órgão responsável pelo controle
O art. 16, por sua vez, apresenta um rol com outras das armas de fogo, seja as do seu próprio estabeleci-
competências igualmente importantes. Faremos alguns mento, seja também as dos particulares. Esse controle
comentários sobre alguns desses incisos, mas recomen- se estende para todo material explosivo que circula
damos a memorização de todos: pelo Estado. É a Polícia Civil quem fiscaliza, por exem-
plo, a venda ilegal de fogos de artifício. Ninguém
Art. 16 À PCMG compete: adquire fogos de artifício com a intenção de ferir
I - planejar, coordenar, dirigir e executar, ressalva- outras pessoas, de fato, mas justamente por ser mate-
da a competência da União, as funções de polícia rial perigoso, a venda desse tipo de explosivo deve ser
judiciária e a apuração, no território do Estado, das fiscalizada.
infrações penais, exceto as militares;
II - preservar locais de crime com cenários e bens, IX - exercer o registro de controle policial, espe-
apreender objetos, colher provas, intimar, ouvir e cialmente no que tange a estabelecimentos de hos-
acarear pessoas, requisitar e realizar exames peri- pedagem, diversões públicas, comercialização de
ciais, proceder ao reconhecimento de pessoas e coi- produtos controlados e o prévio aviso relativo à
sas e praticar os demais atos necessários à adequada realização de reuniões e eventos sociais e políticos
apuração das infrações penais e dos atos infracio- em ambientes públicos, nos termos do inciso XVI do
68 nais, na forma da legislação processual penal; art. 5º da Constituição da República;
X - desenvolver atividades de ensino, extensão e pes- z Chefe da PCMG
quisa, em caráter permanente, objetivando o apri-
moramento de suas competências institucionais; A Chefia da PCMG é exercida pelo ocupante do
cargo de Chefe da Polícia Civil. O Chefe da PCMG será
A Polícia Civil incentiva o estudo, a pesquisa e o ensi- nomeado pelo Governador do Estado dentre os
no de seus agentes. Há todo um regramento especial integrantes, em atividade, do nível final da carreira
para os casos de afastamento do policial para frequentar de Delegado de Polícia que possuam, no mínimo, vinte
esses técnicos e profissionalizantes, que veremos mais
anos de efetivo serviço policial, vedada a nomeação
adiante.
daqueles inelegíveis em razão de atos ilícitos, nos ter-
XI - organizar e executar as atividades de registro, mos da legislação federal (parágrafo único, art. 18).
controle e licenciamento de veículos automotores, a É o art. 17 que trata da estrutura organizacional
formação e habilitação de condutores, o serviço de da Polícia Civil. A Lei Orgânica também apresenta as
estatística, a educação de trânsito e o julgamento de principais características e atribuições de cada um
recursos administrativos; desses órgãos expostos. Porém, acreditamos que nem
todos devem ser objeto de questão de prova, motivo
A Polícia Civil tem, como um de seus principais
pelo qual apenas veremos os órgãos considerados
órgãos, o Departamento de Trânsito (ou Detran-MG).
É esse órgão que cuida das competências dispostas no principais da Polícia Civil: os órgãos de administração
inciso XI. Veremos mais sobre esse importante órgão superior e os órgãos de administração.
posteriormente. O art. 22 traz em seus incisos um rol das competên-
cias do Chefe da PCMG, dentre as quais destacamos:
XII - cooperar com os órgãos municipais, estaduais e
federais de segurança pública, em assuntos relaciona- Art. 22 Ao Chefe da PCMG compete:
dos com as atividades de sua competência; I - exercer a direção superior, o planejamento estra-
XIII - promover interações para uso dos bancos de tégico e a administração geral da PCMG, por meio
dados disponíveis com os órgãos públicos municipais, da coordenação, do controle e da fiscalização das
estaduais e federais, bem como para uso de bancos de funções policiais civis e da observância do disposto
dados disponíveis com a iniciativa privada, observa- nesta Lei Complementar;
do o disposto nos incisos X e XII do art. 5º da Consti- II - presidir o Conselho Superior da PCMG e inte-
tuição da República; grar o Conselho de Defesa Social;
XIV - organizar e executar os serviços de identificação III - propor ao Governador do Estado o aumento
civil e criminal, bem como gerir o acervo e o banco de do efetivo e prover, mediante delegação, os cargos
dados correspondentes, inclusive para as atividades dos quadros de pessoal da PCMG, bem como deferir
de perícia criminal;
o compromisso de posse aos servidores da PCMG;
Os serviços que utilizam os bancos de dados para IV - promover a movimentação de servidores, pro-
identificar atos civis e criminais também são de atribui- porcionando equilíbrio entre os órgãos e unidades
ção exclusiva da Polícia Civil. Todas as atividades que da PCMG, observado o quadro de distribuição de
auxiliam a investigação criminal, que é outra compe- pessoal, nos termos de regulamento;
tência muito importante para a Polícia Civil, devem ser V - autorizar servidores da PCMG a afastar-se, em
exercidas por ela mesma. serviço, do Estado, sem sair do País, observado o
disposto no art. 68;
XV - promover o recrutamento, seleção, formação, VI - determinar a instauração de processo adminis-
aperfeiçoamento e o desenvolvimento profissional e trativo disciplinar e aplicar sanções disciplinares;
cultural de seus servidores; VII - decidir, em último grau de recurso, sobre a ins-
XVI - organizar e realizar ações de inteligência, bem tauração de inquérito policial e de outros procedi-
como participar de sistemas integrados de informa- mentos formais; [...]
ções de órgãos públicos municipais, estaduais, fede-
rais e de entidades privadas; DA ADMINISTRAÇÃO SUPERIOR — DA CHEFIA DA
XVII - organizar estatísticas criminais e realizar aná- PCMG
lise criminal;
XVIII - promover outras políticas de segurança públi- Dos Órgãos de Administração Superior
ca e defesa social, nos limites de sua competência.
A Chefia da PCMG é exercida pelo ocupante do
Desses últimos incisos, o mais importante é o inciso cargo de Chefe da Polícia Civil. O Chefe da PCMG será
XV, que apresenta o que se denomina autonomia admi- nomeado pelo Governador do Estado dentre os
nistrativa da Polícia Civil. Autonomia administrativa integrantes, em atividade, do nível final da carreira
significa que a PCMG é competente para organizar o seu
de Delegado de Polícia que possuam, no mínimo, vinte
pessoal da forma que preferir, sendo competente para
anos de efetivo serviço policial, vedada a nomeação
criar os cargos e realizar o processo de recrutamento,
daqueles inelegíveis em razão de atos ilícitos, nos ter-
desenvolvimento e aperfeiçoamento de seus agentes.
mos da legislação federal (parágrafo único, art. 18).
DA ORGANIZAÇÃO
LEI ORGÂNICA
lação em vigor;
VIII - prêmio de produtividade, nos termos da legis- declaração de união estável, se servidor público, ou,
lação específica; ainda, no interesse do serviço policial, comprovada a
IX - décimo terceiro salário, correspondente a um necessidade, mediante ato motivado e fundamentado
doze avos da remuneração a que fizer jus no mês de (incisos II e IV, art. 52).
dezembro por mês de exercício no respectivo ano; A remoção também pode se dar por motivo de
X - adicional de férias regulamentares correspon- saúde do policial civil, de seus filhos, cônjuge, compa-
dente a um terço da remuneração do servidor; nheiro, pais ou irmãos com comprovada dependência
XI - gratificação por risco de contágio, com a ampli- financeira, com a devida comprovação de necessida-
tude e condições estabelecidas em lei específica; de clínica em atestado médico (inciso III, art. 52). 79
Ademais, veja os outros dispositivos que tratam da II - pelo dever de imediata atuação, sempre que
remoção: presenciar a prática de infração penal, independen-
temente da carga horária semanal de trabalho, do
Art. 53 A remoção ou transferência de lotação de repouso semanal e férias, respeitadas as normas téc-
Delegado de Polícia por conveniência da discipli- nicas de segurança;
na somente ocorrerá após a abertura da sindicân- III - pela realização de diligências policiais em qual-
cia ou processo administrativo que observarão a quer região do Estado ou fora dele.
ampla defesa, cabendo seu processamento à Corre- § 1º Na hipótese do inciso II do caput, diante da
gedoria-Geral de Polícia Civil, e depois de aprova- impossibilidade de atuação decorrente de condições
da a proposta de remoção por maioria simples dos adversas, por exposição a risco desproporcional à
membros do Órgão Especial do Conselho Superior incolumidade do policial civil ou de terceiros, deverá
da PCMG, observado o interesse da administração. aquele acionar apoio para o atendimento do evento.
Art. 54 É assegurado ao policial civil, quando com-
provar não ter sido o autor da infração disciplinar, Os incisos do caput do art. 58 apresentam as três
o direito de revisão do ato de remoção ou transfe- principais características do regime de trabalho policial
rência, com a consequente percepção dos auxílios civil. O inciso I dispõe sobre a prestação de serviços
correspondentes, nos termos desta Lei Complemen- em condições adversas de segurança. É o caso, por
tar, caso requeira, formalmente, a lotação na uni- exemplo, do policial civil que é chamado para negociar
dade de origem. e impedir o sequestro de civis dentro de um estabele-
Art. 55 A remoção de Delegado de Polícia, ex officio, cimento. A possibilidade de haver negociações com os
no interesse do serviço policial, depende da existên- criminosos ou, ainda, uma “troca de tiros”, não é algo
cia de vaga no quadro de distribuição de pessoal da certo e determinado: a qualquer momento o policial
PCMG e somente ocorrerá depois de fundamenta- civil pode entrar em uma situação de risco.
das as razões e de aprovada a proposta de remoção O inciso II trata da imediata atuação. Mesmo que o
por maioria simples dos membros do Órgão Espe- policial não esteja em serviço, se ele presenciar a prá-
cial do Conselho Superior da PCMG. tica de infração penal (leia-se crime), ele deve agir de
Art. 56 A remoção ex officio de policial civil duran- modo a ajudar a vítima e deter o infrator. É o caso, por
te o gozo de férias regulamentares, férias-prêmio exemplo, do policial que está à paisana (não está em
ou licença para tratamento de saúde somente pro- serviço, não está utilizando o seu uniforme de policial
duzirá efeitos após o término do afastamento. civil) e acaba reagindo a um assalto, prendendo o cri-
§ 1º A licença para tratamento de saúde não impe- minoso ou até mesmo matando-o, se as circunstâncias
dirá a remoção ex officio, desde que já iniciado o
o levarem a essa última medida.
processo disciplinar.
O inciso III trata da realização de diligências poli-
§ 2º O policial civil poderá ser removido para a uni-
ciais em qualquer região do Estado de Minas Gerais
dade de recursos humanos da PCMG em casos de
ou fora dele. Mesmo que, por exemplo, o policial civil
licença, afastamento ou disponibilidade que invia-
esteja passando férias com a sua família em Fernando
bilizem o exercício pleno das atividades por perío-
do superior a cento e oitenta dias.
de Noronha (Pernambuco), ele deve estar alerta para a
Art. 57 A distribuição de policial civil no âmbito ocorrência de qualquer infração penal.
interno de atuação da unidade policial, no mesmo Como pode-se depreender da leitura dos incisos, o
município em que se encontra em exercício, pode ser regime de trabalho policial civil pode tornar-se bastan-
determinada pelo seu titular e não implica remo- te estressante para os seus agentes, motivo pelo qual o
ção, desde que formalizada por ato fundamentado. seu repouso e as suas férias devem ser concedidos sem-
pre que preenchidos os requisitos para sua aquisição.
Do Regime de Trabalho do Policial Civil
Art. 58 [...]
O regime do trabalho do policial civil é, com cer- § 2º A prestação de serviço em regime de plantão
teza, um dos mais perigosos do país. Considerando a implica:
sua atuação para não apenas investigar a ocorrência I - no efetivo exercício das funções do cargo ocupa-
de crimes, mas também a prevenção da ocorrência do pelo policial civil em atividades de competência
desses crimes, o policial civil é um dos raros profis- da PCMG;
sionais que está constantemente colocando em risco II - no prévio aviso a respeito da escala de plantão
que deve ser cumprida pelo policial civil;
a sua vida, bem como a vida de outras pessoas, como
III - no descanso, imediato e subsequente, pelo
terceiros civis que estão próximos, ou até mesmo a de
período mínimo de doze horas;
seus familiares. IV - no cumprimento de carga horária semanal de
Com isso, a Lei Orgânica procura caracterizar trabalho de quarenta horas;
o regime do trabalho policial civil em seu art. 58, V - compensação financeira ou em dias de folga,
detalhando o regime normal de trabalho e também nos termos de lei específica a ser encaminhada à
o regime de plantão. Observe o texto do dispositivo Assembleia Legislativa.
legal, primeiro: § 3º O período em trânsito para a realização de dili-
gências policiais em localidade diversa da lotação
Art. 58 Os ocupantes de cargos das carreiras poli- do policial civil, em qualquer região do Estado ou
ciais civis sujeitam-se ao regime do trabalho policial fora dele, considera-se como tempo efetivamente
civil, que se caracteriza: trabalhado.
I - pela prestação de serviço em condições adversas
de segurança, cumprimento de jornadas normais e O regime de plantão é caracterizado por uma jorna-
excepcionais, sujeito a plantões noturnos e a con- da de trabalho bastante extensa, respeitado o limite da
vocações a qualquer hora e dia, inclusive durante o carga de 40 horas por semana. O regime de plantão é
repouso semanal e férias, garantidas, em caso de se sempre elaborado em escalas, havendo o prévio aviso
exceder a carga horária prevista em lei, as compen- de cada escala para os distintos grupos de policiais que
80 sações devidas; devem exercer o referido regime.
Assim, pode o policial civil, por exemplo, trabalhar Art. 60 A licença para tratamento de saúde será
em um regime de segunda a terça-feira, por 30 horas concedida a pedido do policial civil ou ex officio,
sem intervalos entre a jornada de um dia e outro. sem prejuízo dos vencimentos e demais vantagens,
Imediatamente após o regime de plantão, ao policial sendo indispensável a avaliação médica.
civil é garantido um período de descanso de, no mínimo, Art. 61 O policial civil licenciado para tratamento
doze horas. de saúde não poderá dedicar-se a qualquer ativida-
de remunerada.
Se o policial civil tiver de trabalhar em dias de repou-
so ou feriados, a ele será assegurada uma compensação A licença para tratamento de saúde depende de ins-
financeira pela prestação de serviços na sua “folga”. peção por junta médica oficial, disciplinada pelo art. 62:
LICENÇAS, AFASTAMENTOS E DISPONIBILIDADES Art. 62 A licença para tratamento de saúde depende
de inspeção por junta médica oficial, até para o caso
Das Licenças de prorrogação.
§ 1º A licença concedida dentro do prazo de sessenta
As licenças estão dispostas no art. 59, da Lei Orgâ- dias do término da anterior é considerada prorrogação.
nica, sendo, ao todo, cinco. Vejamos: § 2º O policial civil que, no curso de doze meses imedia-
tamente anteriores ao requerimento de nova licença,
Art. 59 Conceder-se-á licença: houver se licenciado por período contínuo ou descon-
I - para tratamento de saúde; tínuo de três meses deverá submeter-se à verificação
II - por motivo de doença em pessoa da família; de invalidez.
III - por motivo de maternidade ou paternidade, guar- § 3º Declarada a incapacidade definitiva para o serviço,
da ou adoção, nos termos da lei; o policial civil será afastado de suas funções e aposen-
IV - por acidente em serviço; tado, ou, se considerado apto, reassumirá o exercício
V - para exercer mandato eletivo em diretoria de enti- das funções imediatamente ou ao término da licença.
dade sindical representativa de carreiras policiais
civis, constituída na forma da Constituição do Estado, Todavia, se o policial for acometido por doença
pelo período do mandato, sendo considerada como de grave, ele será compulsoriamente licenciado, com
efetivo exercício das funções e sem prejuízo da per- vencimento ou remuneração integral e demais vanta-
cepção da remuneração integral do cargo. gens. É isso o que dispõe o art. 63:
Antes de adentrar nas licenças especificamente, Art. 63 O policial civil acometido de doença
cumpre ressaltar que algumas bancas vêm abordan- grave definida em portaria ministerial ou legisla-
do as diferenças entre as licenças e os afastamentos. ção específica será compulsoriamente licencia-
Não existe um critério que seja totalmente infalível, do, com vencimento ou remuneração integral
mas, por ora, é importante memorizar que as licen- e demais vantagens.
ças são concedidas a interesse exclusivo do próprio Parágrafo único. Para verificação da doença refe-
servidor, ao contrário dos afastamentos em geral, que rida no caput, a inspeção médica será feita obriga-
são concedidos em interesse comum tanto do servidor toriamente por uma junta médica oficial, composta
de três membros.
como da própria Administração Pública. Além disso,
os prazos das licenças são, geralmente, mais curtos, de Observe que, no caso de o policial contrair doença
dias, semanas ou meses. Já as autorizações costumam grave, que o impossibilite de executar suas atividades
ter prazos mais longos, em anos. rotineiras, ele será licenciado independentemente da
Para compreender melhor a diferença entre licen- sua vontade (licença compulsória).
ças e afastamentos, segue uma tabela explicativa. Caso a doença (seja ela mais simples ou mais gra-
ve) torne o policial inválido, com a possibilidade ine-
LICENÇA AFASTAMENTO xistente de retorno ao serviço, ele será aposentado
compulsoriamente. Veja:
Finalidade de interes- Finalidade de interesse do
se exclusivo do agente agente e da Administração Art. 64 A licença será convertida em aposentado-
público Pública ria, antes do prazo estabelecido de dois anos inin-
terruptos, quando assim opinar a junta médica, por
Ex.: Doença de cônju- Ex.: Realização de espe- considerar definitiva para o serviço público a inva-
ge/membro da família; cialização; realização de lidez do policial civil.
exercer atividade políti- missão no exterior; servir a
ca; tratar de interesses outro órgão/entidade A licença por motivo de doença em pessoa da
particulares família será concedida, com vencimentos integrais,
pelo prazo máximo de 90 dias, sendo admitida a pror-
Possui prazos mais cur- Possui prazos mais longos rogação, sem remuneração, por até 120 dias. Vejamos
tos (dias, semanas) (meses, anos)
a íntegra do art. 65:
LEI ORGÂNICA
O afastamento para tratar de interesses particulares tem prazo máximo de 2 anos (inciso IV, art. 70). É a única
hipótese que não pode ser concedida quando o policial estiver submetido a processo administrativo disciplinar,
ou estiver em estágio probatório, ou, ainda, se o policial já reuniu todas as condições previstas para aposentadoria.
Como forma de facilitar os seus estudos, trouxemos uma tabela destacando as principais diferenças entre os
diversos tipos de licenças ou afastamentos, com as seguintes características em destaque:
TRATAR DE
TRATAMENTO DE ACIDENTE EM DOENÇA MEM- APRIMORAÇÃO EXERCER MANDA-
INTERESSES
SAÚDE SERVIÇO BRO DA FAMÍLIA PROFISSIONAL TO ELETIVO
PARTICULARES
Policial adoeceu por Policial sofreu aci- Policial possui Policial tem interes- Policial foi convoca- Policial possui um
qualquer moléstia dente em serviço pessoa da família se em frequentar do para concorrer / problema particular
doente cursos ou participar exercer cargo eletivo
de congressos e se-
minários relaciona-
dos com o cargo
Depende de inspeção Depende de inspe- Depende de inspe- - - -
médica ção médica ção médica
Até o fim da doença/ Até o fim da inca- 90 dias, prorrogá- Por 3 meses para os Enquanto durar o Até 2 anos
moléstia pacidade laboral vel mais 120 dias cursos, ou pelo prazo mandato Sem vencimentos
Com vencimentos Com vencimentos Com vencimentos estabelecido no ato Sem vencimentos,
que autorizar o con- exceto para exercer
gresso ou seminário mandato de Prefeito
Com vencimentos ou Vereador (direito
de escolha)
Servidor público não é empregado. Por isso, não se aplica a ele o Regime Geral de Previdência, conhecido
também como RGPS. Os servidores possuem um regime próprio denominado Regime Próprio de Previdência dos
Servidores (ou RPPS). O mesmo vale para o servidor integrante da Polícia Civil.
Acerca do Regime Previdenciário dos policiais civis, faremos algumas ponderações sobre a aposentadoria, os
proventos e a pensão especial.
A aposentadoria possui previsão também na Constituição Federal. O Regime Próprio de Previdência dos Ser-
vidores (RPPS) também sofreu alterações na chamada “reforma da previdência”, promulgada pela Emenda Cons-
titucional nº 103, de 2019.
À luz da Constituição Federal (art. 40), o servidor será aposentado:
LEI ORGÂNICA
z Por incapacidade permanente para o trabalho, no cargo em que estiver investido, quando insuscetível de
readaptação. O Texto Constitucional explicita que será obrigatória a realização de avaliações periódicas para
verificação da continuidade das condições que ensejaram a concessão da aposentadoria, na forma de lei do
respectivo ente federativo;
z Compulsoriamente, com proventos proporcionais ao tempo de contribuição, aos 70 (setenta) anos de idade, ou
aos 75 (setenta e cinco) anos de idade, na forma da Lei Complementar nº 152, de 2015. Essa Lei Complementar
dispõe sobre a aposentadoria compulsória com proventos proporcionais, sendo aplicável aos servidores ocupan-
tes de cargos públicos da União, Estados, Municípios, Distrito Federal e suas autarquias e fundações; aos mem-
bros do Poder Judiciário; aos membros do Ministério Público e aos membros da Defensoria Pública; 83
z Voluntariamente, no âmbito da União, aos 62 (ses- II - proporcional, à razão de tantas quotas de 1/30 (um
senta e dois) anos de idade, se mulher, e aos 65 (ses- trinta avos) do vencimento básico quantos forem os
senta e cinco) anos de idade, se homem, e, no âmbito anos de serviço, nos demais casos.
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, § 1º Ao policial civil aposentado em razão de invalidez
na idade mínima estabelecida mediante emenda às permanente, considerado incapaz para o exercício de
respectivas Constituições e Leis Orgânicas, observa- serviço de natureza policial civil, em consequência de
dos o tempo de contribuição e os demais requisitos acidente no desempenho de suas funções ou de ato por
estabelecidos em lei complementar do respectivo ele praticado no cumprimento do dever profissional, é
ente federativo. assegurado o pagamento mensal de auxílio-invalidez,
de valor igual à remuneração de igual nível, incorpora-
À luz da Lei Orgânica dos Policiais Civis de Minas do ao seu provento para todos os fins.
Gerais (Lei Complementar nº 129, de 2013), os arts. § 2º O provento integral a que se refere o inciso I do
71 e 72 dispõem que o policial poderá ser aposentado caput corresponderá à totalidade da remuneração do
compulsoriamente, voluntariamente ou por invalidez. cargo efetivo em que se deu a aposentadoria e será
Observe atentamente o texto dos referidos dispositivos reajustado, na mesma data e em idêntico percentual,
sempre que se modificar, a qualquer título, a remune-
legais:
ração dos policiais civis em atividade, sendo estendido
Art. 71 O policial civil será aposentado: ao policial civil aposentado todo benefício ou vanta-
I - compulsoriamente; gem posteriormente atribuídos ao cargo ou função em
II - voluntariamente; que se deu a aposentadoria, inclusive os decorrentes de
III - por invalidez. transformação ou reclassificação do cargo ou função
§ 1º A aposentadoria compulsória do policial civil em que se deu a aposentadoria, nos termos da Consti-
ocorre aos setenta anos de idade, nos termos da tuição da República.
Constituição da República.
§ 2º É adotado regime especial de aposentadoria, Por fim, o art. 74 trata da pensão especial de um
nos termos dos incisos II e III do § 4º do art. 40 da modo bem singelo, afirmando apenas que é um bene-
Constituição da República, para o policial civil, cujo fício concedido à família do policial civil que falecer
exercício é considerado atividade de risco. em consequência de acidente no desempenho de suas
§ 3º A aposentadoria por invalidez será sempre pre- funções ou de ato por ele praticado no estrito cum-
cedida de licença por período não excedente a dois primento do dever. Essa pensão especial não poderá
anos, salvo quando o laudo médico concluir, ante- ser inferior ao vencimento e às demais vantagens que
riormente àquele prazo, pela incapacidade definitiva percebia à época do evento.
para o serviço.
Art. 72 O policial civil será aposentado voluntaria- Art. 74 À família do policial civil que falecer em
mente, independentemente da idade: consequência de acidente no desempenho de suas
I - se homem, após trinta anos de contribuição, desde funções ou de ato por ele praticado no estrito cum-
que conte, pelo menos, vinte anos de efetivo exercício primento do dever é assegurada pensão especial,
nos cargos das carreiras a que se refere o art. 76; que não poderá ser inferior ao vencimento e demais
II - se mulher: vantagens que percebia à época do evento.
a) após trinta anos de contribuição, desde que conte, Parágrafo único. A pensão especial de que trata o
pelo menos, vinte anos de efetivo exercício nos car- caput será reajustada nas mesmas bases do reajus-
gos das carreiras a que se refere o art. 76; tamento que for concedido à remuneração do cargo
b) após vinte e cinco anos de contribuição e de efeti- equivalente.
vo exercício nos cargos das carreiras a que se refere
o art. 76. DAS CARREIRAS POLICIAIS CIVIS
fundada suspeita de prática de infração penal ou da Constituição do Estado, ressalvado aquele exercido
de cumprimento de mandados, bem como efetuar pelos titulares de unidades na esfera da Superintendên-
prisões; cia de Polícia Técnico-Científica, do Instituto Médico-
II - exercer atividades relativas à gestão cien- -Legal, do Instituto de Criminalística e do Hospital da
tífica de dados, de inteligência, de informa- Polícia Civil.
ções e de conhecimentos pertinentes à atividade § 1º A hierarquia e a disciplina são valores de inte-
investigativa; gração e otimização das atribuições dos cargos
III - desenvolver conteúdo pedagógico e dissemi- e competências organizacionais pertinentes às
nar conhecimentos em cursos realizados pela atividades da PCMG e objetivam assegurar a uni-
Academia de Polícia Civil; dade técnico-científica da investigação criminal. 85
§ 2º A hierarquia constitui instrumento de contro- O ingresso do candidato para um cargo público da
le e eficácia dos atos operacionais, com a finalida- Polícia Civil é o assunto tratado pelos arts. 83 e seguintes
de de sustentar a disciplina e a ética e de desenvolver da Lei Orgânica. De modo geral, as etapas que o candi-
o espírito de mútua cooperação em ambiente de dato deve percorrer para ocupar o correspondente cargo
estima, harmonia, confiança e respeito.
são bastante similares às etapas para ocupar um cargo
§ 3º A disciplina norteia o exercício efetivo das atri-
buições funcionais em face das disposições legais público na Administração Pública Estadual.
e das determinações fundamentadas e emanadas Por serem cargos de provimento efetivo, o ingresso
da autoridade competente, estimulando a coopera- nessas carreiras depende de prévia aprovação em con-
ção, o planejamento sistêmico, a troca de informações, curso público de provas e títulos, e será feito sempre no
o compartilhamento de experiências e a desburocrati- primeiro grau do nível inicial da carreira (art. 83). É abso-
zação das atividades policiais civis. lutamente vedado ingressar em cargo de carreira em um
§ 4º O regime hierárquico não autoriza imposições nível/grau superior ao inicial.
sobre o convencimento do policial civil, desde que devi-
damente fundamentado, ficando garantida sua auto-
Incumbe à Academia de Polícia a realização do refe-
nomia nas respostas às requisições. rido concurso público, sendo admitida a terceirização no
§ 5º Para fins de elaboração da política de remunera- todo ou em parte, sob supervisão da Academia da Polícia
ção das carreiras a que se refere o art. 76, o princípio Civil. Incumbe à Academia, também, a realização do cur-
da hierarquia será gradativamente aplicado. so de formação técnico-profissional.
§ 6º Não há subordinação hierárquica entre o Escrivão O art. 84 trata das etapas existentes do concurso
de Polícia, o Investigador de Polícia, o Médico-Legista público:
e o Perito Criminal.
Art. 84 O concurso público para ingresso em cargo
O art. 81 apresenta uma matéria que já vimos ante- das carreiras policiais civis é constituído das seguintes
riormente, mas com um enfoque na estrutura dos cargos etapas:
em carreira. Independentemente do tipo de cargo que I - provas e títulos;
o agente policial ocupa, ele continua subordinado hie- II - exame psicotécnico para avaliar os aspectos de
rarquicamente aos seus superiores, devendo obedecer cognição, aptidões específicas e características de
a todos os seus comandos e ordens, quando legais. Caso personalidade adequadas para o exercício do cargo
contrário, esse agente será punido mediante apuração de pretendido;
sua conduta irregular por processo disciplinar. III - exames biomédicos para aferir a higidez física e
Os parágrafos 2º e 3º apresentam conceitos próprios mental;
de hierarquia e disciplina, cuja memorização é absoluta- IV - exames biofísicos, por testes físicos específicos,
mente imprescindível. para apurar as condições para o exercício profissional
e a existência de deficiência física que o incapacite para
Da Carga Horária o exercício da função;
V - investigação social para verificar a idoneidade do
Art. 82 A carga horária semanal de trabalho dos poli-
ciais civis é de quarenta horas, vedado o cumprimento candidato, sob os aspectos moral, social e criminal.
de jornada diária superior a oito horas e em regime de § 1º As etapas previstas nos incisos II a V do caput, de
plantão superior a doze horas ininterruptas, salvo, em caráter eliminatório, serão realizadas para os aprova-
caráter excepcional, para a conclusão de determinada dos na etapa prevista no inciso I.
atividade policial civil. § 2º A etapa a que se refere o inciso I do caput, de cará-
§ 1º O Chefe da PCMG, mediante aprovação do Con- ter eliminatório e classificatório, poderá ser constituí-
selho Superior da PCMG poderá estabelecer regras da de prova objetiva de múltipla escolha, prova escrita
complementares para cumprimento da jornada de tra- discursiva e títulos para todos os cargos, além de pro-
balho dos policiais civis. va oral para o cargo de Delegado de Polícia e de digi-
§ 2º O funcionamento do plantão de Delegacias de Polí- tação para Escrivão de Polícia, devendo ser satisfeitos
cia Civil ocorrerá no período noturno, finais de semana os demais requisitos e exigências estabelecidos em
e feriados, nos termos de instrução do Conselho Supe- regulamento e no edital do concurso.
rior da PCMG. § 3º As regras do concurso serão publicadas em edi-
§ 3º Aplica-se o disposto neste artigo aos servidores da
tal, que deverá conter:
PCMG que, na data da publicação desta Lei Comple-
I - o número de vagas existentes;
mentar, forem detentores de função pública.
II - as matérias sobre as quais versarão as provas e
Do Ingresso os respectivos programas;
III - o desempenho mínimo exigido para aprovação
Art. 83 O ingresso nas carreiras a que refere o art. 76 nas provas;
depende de aprovação em concurso público de provas IV - os critérios de avaliação dos títulos;
e títulos, e dar-se-á no primeiro grau do nível inicial da V - o caráter eliminatório e classificatório de cada eta-
carreira. pa do concurso;
§ 1º Caberá privativamente à Academia de Polícia Civil VI - os requisitos para a inscrição, com exigência míni-
a realização: ma de comprovação pelo candidato:
I - na forma do edital, do concurso público a que se a) da escolaridade exigida para a nomeação;
refere o caput, admitida a terceirização, no todo ou em
b) de estar no gozo dos direitos políticos;
parte, sob supervisão da Academia da Polícia Civil;
c) de estar em dia com as obrigações militares, se do
II - nas condições estabelecidas em regulamento, do
sexo masculino.
curso de formação técnico-profissional.
§ 2º O candidato aprovado nas etapas a que se refere § 4º O concurso para ingresso na carreira de Delegado
o caput do art. 84 será, depois da nomeação e posse, de Polícia far-se-á, nas provas de conhecimento, com a
matriculado automaticamente no curso de formação participação da Ordem dos Advogados do Brasil.
técnico-profissional, fazendo jus à percepção do valor
correspondente à remuneração atribuída ao primeiro A etapa do inciso I, isto é, provas e títulos, é a etapa
grau do nível inicial da carreira para a qual tenha se para a qual você está estudando neste exato momento. É
86 candidatado. uma etapa de caráter classificatório e eliminatório.
Os exames contidos nos incisos II a V são etapas de Parágrafo único. Na avaliação a que se refere o
caráter apenas eliminatório, sendo aplicáveis aos candi- caput, serão observados, entre outros critérios
datos que foram aprovados na etapa do inciso I (§§ 1º e estabelecidos em regulamento:
2º, art. 84). I - idoneidade moral;
As informações essenciais e úteis sobre o concurso de II - conduta compatível com as atribuições do cargo;
provas e títulos, como o número de vagas existentes, as III - dedicação no cumprimento dos deveres e das
matérias exigidas na prova, os critérios de avaliação de atribuições do cargo;
títulos, os requisitos de escolaridade mínimos para a ins- IV - eficiência, pontualidade, assiduidade e compro-
crição etc., todos esses dados devem estar presentes no metimento no desempenho de suas atribuições;
edital do concurso público. V - presteza e segurança na atuação profissional;
O ingresso para cargo das carreiras policiais também VI - referências em razão da atuação funcional;
depende da comprovação de habilitação mínima em VII - publicação de livros, teses, estudos e arti-
nível superior. Vejamos: gos, premiação, concessões de comendas, títulos e
condecorações;
Art. 85 O ingresso em cargo das carreiras a que se refe- VIII - contribuição para a melhoria dos serviços da
re o art. 76, a realizar-se conforme o disposto no art. instituição;
83, depende da comprovação de habilitação mínima IX - integração comunitária no que estiver afeto às
em nível superior: atribuições do cargo;
I - correspondente a graduação em direito, para ingres- X - frequência e a avaliação em cursos promovidos
so na carreira de Delegado de Polícia; pela PCMG.
II - correspondente a graduação em medicina, para
ingresso na carreira de Médico-Legista;
A aprovação na avaliação de estágio probatório é
III - conforme definido no edital do concurso público,
para ingresso nas carreiras de Escrivão de Polícia, de condição essencial para a aquisição de estabilidade.
Investigador de Polícia e de Perito Criminal. É também importante ressaltar que o agente policial
Parágrafo único. Para fins do disposto nesta Lei Com- em período de estágio probatório não pode ter acesso
plementar, considera-se nível superior a formação a alguns benefícios, como licença/afastamento para
em educação superior, que compreende curso ou pro- tratar de interesses particulares.
grama de graduação, na forma da Lei de Diretrizes e Vejamos os outros dispositivos que versam sobre o
Bases da Educação. estágio probatório:
Uma vez encerrados os diversos exames do concur-
Art. 88 O policial civil, no período do estágio pro-
so, o candidato já aprovado deve tomar posse e entrar
batório, será avaliado por comissão de acompa-
em efetivo exercício. A posse é um ato formal em que o
nhamento e avaliação especial de desempenho
agente policial promete assumir o compromisso de exer-
composta por policiais civis estáveis, instituída por
cer todas as atribuições que lhe foram conferidas, e de
ato do Chefe da PCMG.
exercê-las bem. Entrar em efetivo exercício significa, de § 1º A comissão a que se refere o caput será composta:
modo geral, que o agente policial deve “sentar na cadei- I - para a carreira a que se refere o inciso I do art.
ra” e começar a exercer de fato as atribuições do cargo 76, por um Delegado de Polícia da Corregedoria-Ge-
que ocupa. ral de Polícia Civil, por um Delegado de Polícia da
Ademais, veja os motivos que podem levar à exclusão Superintendência de Investigação e Polícia Judiciá-
do candidato, nos termos do art. 86: ria e por um Delegado de Polícia da Academia de
Polícia Civil;
Art. 86 Constitui motivo para a exclusão do candi-
dato, durante o concurso, a verificação das seguintes II - para as carreiras a que se referem os incisos II
ocorrências, mediante investigação social, assegurada a V do art. 76, por um Delegado de Polícia da Cor-
ampla defesa: regedoria-Geral de Polícia Civil, por um Delegado
I - a constatação de incapacidade moral, física ou inap- de Polícia da Superintendência de Investigação e
tidão para o cargo almejado; Polícia Judiciária, por um Delegado de Polícia da
II - o envolvimento em fato que o comprometa moral Academia de Polícia Civil e por um ocupante da car-
ou profissionalmente; reira do policial civil, de nível da carreira superior
III - o registro de antecedentes criminais, a demis- àquele em que estiver posicionado o servidor avaliado.
são de outra instituição policial, bem como a omis- § 2º A permanência na carreira e a estabilidade do poli-
são desses dados na ficha de informações destinada cial civil serão deliberadas pelo Conselho Superior da
à investigação social. PCMG.
Art. 89 O Corregedor-Geral de Polícia Civil poderá, a
Do Estágio Probatório qualquer tempo do estágio probatório, ex officio ou
mediante provocação, impugnar, fundamentadamen-
O art. 87 trata do estágio probatório. O agente te, a permanência do policial civil no cargo efetivo de
policial será submetido a um período em que será carreira para o qual foi nomeado.
constantemente avaliado, verificando-se se o mesmo Parágrafo único. Fica suspenso, até o definitivo julga-
LEI ORGÂNICA
atende aos requisitos necessários a sua confirmação mento da impugnação a que se refere o caput, o perío-
no cargo, em virtude de aprovação prévia em concur- do de estágio probatório do policial civil.
so público. O prazo desse período de estágio probató- Art. 90 O Corregedor-Geral de Polícia Civil, em até
rio é de 3 (três) anos, a partir do ato da posse. noventa dias antes do término do estágio probatório,
apresentará ao Conselho Superior da PCMG parecer
Art. 87 O policial civil submeter-se-á a estágio pro- sobre a homologação de estágio probatório de policial
batório, pelo prazo de três anos, a partir do ato da civil.
posse, durante o qual será avaliada, em caráter § 1º A proposta de homologação de estágio probatório
permanente, sua aptidão para fins de declaração de implica a expedição da declaração de estabilidade do
estabilidade na carreira. policial civil. 87
§ 2º Quando o Conselho Superior da PCMG decidir, em Art. 94 Promoção é a passagem do policial civil do
caráter definitivo, pela maioria simples de seus mem- nível em que se encontra para o nível subsequente,
bros, pela não homologação do estágio probatório do na carreira a que pertence.
policial civil no cargo efetivo para o qual foi nomeado, § 1º A promoção dar-se-á:
o Chefe da PCMG proporá a sua exoneração, mediante I - por antiguidade, conforme os seguintes critérios:
conclusão de processo administrativo próprio, assegu- a) especial;
rados o contraditório e a ampla defesa. b) aposentadoria;
Art. 91 Ao Chefe da PCMG compete o ato declaratório II - por merecimento, conforme os seguintes
de estabilidade, no qual constará a nova condição do critérios:
policial civil para o desenvolvimento na carreira. a) mérito profissional;
b) por ato de bravura;
Do Desenvolvimento na Carreira III - por invalidez;
IV - post mortem.
Art. 92 O desenvolvimento do policial civil nas car-
A promoção ocorre, por exemplo, com o policial
reiras a que se refere o art. 76 dar-se-á mediante
que sobe de Escrivão para Papiloscopista. Altera-se o
progressão ou promoção.
nome do cargo, mas ele ainda permanece na mesma
Parágrafo único. Decreto disporá sobre as regras
de desenvolvimento do policial civil nas carreiras
estrutura de carreira.
a que se refere o art. 76, observados os requisitos Esquematicamente, podemos diferenciar a pro-
estabelecidos nesta Lei Complementar. gressão da promoção da seguinte forma:
Art. 93 Progressão é a passagem do policial civil A promoção por antiguidade far-se-á mediante a
do grau em que se encontra para o grau subsequen- contagem de tempo de serviço na classe, levando-se
te, no mesmo nível da carreira a que pertence. em conta os seguintes critérios: a promoção especial e
§ 1º A progressão do policial civil posicionado até o a promoção convertida em aposentadoria.
penúltimo nível hierárquico da carreira está condi- A promoção por merecimento será feita mediante
cionada ao preenchimento dos seguintes requisitos: contagem de pontos de avaliação constantes no Bole-
I - encontrar-se em efetivo exercício; tim de Merecimento estabelecido em regulamento.
II - ter cumprido o interstício mínimo de um ano de Os critérios de análise da promoção por merecimen-
efetivo exercício no mesmo grau; to são os seguintes: o mérito profissional e os atos de
III - ter recebido avaliação periódica de desempe- bravura praticados pelo policial. A promoção pelos
nho individual satisfatória durante o período aqui-
critérios alternados de antiguidade e merecimento
sitivo, nos termos do § 3º do art. 31 da Constituição
ocorrerá, anualmente, nos meses de junho e dezem-
do Estado.
bro, na forma de regulamento (§ 2º, art. 94).
§ 2º A progressão do policial civil do grau “A” do
Para que o policial tenha direito à promoção, seja
último nível hierárquico da carreira para o grau
por antiguidade ou por merecimento, deve preencher
subsequente está condicionada ao preenchimento
os requisitos previstos no § 5º, do referido art. 94:
dos seguintes requisitos:
I - ter cumprido os requisitos para a aposentadoria
Art. 94 [...]
especial, a que se refere o § 2º do art. 71;
§ 5º Fará jus à promoção por merecimento e por anti-
II - ter cumprido um ano de efetivo exercício no últi-
guidade o policial civil que atender às exigências esta-
mo nível hierárquico da carreira a que pertence;
belecidas em regulamento e preencher os seguintes
III - ter recebido avaliação periódica de desempe-
requisitos:
nho individual satisfatória no último nível hierár- I - encontrar-se em efetivo exercício;
quico da carreira a que pertence; II - ter cumprido o interstício mínimo de dois anos de
IV - ter requerido a aposentadoria, em caráter irre- efetivo exercício no mesmo nível;
tratável, e ter se beneficiado da faculdade prevista III - ter recebido no mínimo duas avaliações periódicas
no § 24 do art. 36 da Constituição do Estado. de desempenho individual satisfatórias desde a sua
promoção anterior, nos termos das normas legais per-
A promoção, por sua vez, é disciplinada pelo art. tinentes e do § 3º do art. 31 da Constituição do Estado;
94. É uma forma de progressão de níveis, podendo IV - comprovar participação e aprovação em ativida-
ocorrer de quatro formas distintas: por antiguida- des de aperfeiçoamento;
de; por merecimento; por invalidez; post mortem. V - comprovar a escolaridade mínima exigida para o
88 Vejamos: nível ao qual pretende ser promovido.
As promoções por bravura e post mortem são hipó- Art. 103 O Adicional de Desempenho - ADE - constitui
teses excepcionais de promoção, pois, ao contrário das vantagem remuneratória concedida mensalmente ao
demais, elas não necessitam que haja um cargo vago em policial civil que tenha ingressado no serviço público
grau ou nível superior. Isso porque tais promoções ocor- após a publicação da Emenda à Constituição nº 57, de
rem quando o agente policial ou falece ou não pode mais 15 de julho de 2003, ou que tenha feito a opção previs-
ta no art. 115 do Ato das Disposições Constitucionais
continuar exercendo suas funções como antes, devido a
Transitórias da Constituição do Estado e que cumprir
um incidente que o levou a praticar um ato de bravura,
os requisitos estabelecidos nesta Lei Complementar.
pondo em risco a sua vida para salvar a vida de outra pes- § 1º O valor do ADE será determinado a cada ano,
soa, como um civil ou até mesmo um colega de profissão. levando-se em conta o número de avaliações de desem-
O art. 99 aponta as hipóteses em que o policial civil penho individual - ADIs - e de avaliações especiais de
perderá o direito à progressão e à promoção. Vejamos: desempenho - AEDs - satisfatórias obtidas pelo policial
civil.
Art. 99 Perderá o direito à progressão e à promoção o § 2º A ADI e a AED serão realizadas em conformidade
policial civil que, no período aquisitivo: com instrução do Conselho Superior da PCMG.
I - sofrer punição disciplinar em que seja suspenso por § 3º O policial civil da ativa que fizer a opção a que se
trinta dias ou mais; refere o caput fará jus ao ADE a partir do exercício
II - afastar-se das funções específicas de seu cargo, subsequente, desde que obtenha resultado satisfatório
excetuados os casos previstos como de efetivo exercí- na ADI realizada no ano em que manifestar a referida
cio nas normas estatutárias vigentes e em legislação opção.
específica. § 4º A partir da data da opção pelo ADE, não serão
§ 1º É assegurado ao policial civil absolvido em proces- concedidas novas vantagens por tempo de serviço ao
so administrativo ou reabilitado o direito de computar policial civil, asseguradas aquelas já concedidas.
o tempo de suspensão a que se refere o inciso I do caput § 5º O somatório de percentuais de ADE e de adicionais
como período aquisitivo para fins de progressão e de por tempo de serviço, na forma de quinquênio ou trin-
promoção. tenário, não poderá exceder a 90% (noventa por cento)
§ 2º Na hipótese prevista no inciso II do caput, o afas- do vencimento básico do policial civil.
tamento ensejará a suspensão do período aquisitivo § 6º O policial civil poderá utilizar, para fins de aquisi-
para fins de promoção e progressão, contando-se, para ção do ADE, o período anterior à sua opção por esse
tais fins, o período anterior ao afastamento, desde que adicional, que será considerado de resultado satisfa-
tenha sido concluída a respectiva avaliação periódica tório, salvo o período já computado para obtenção de
de desempenho individual. adicional por tempo de serviço na forma de quinquênio.
O art. 101 apresenta um conteúdo muito importante: Pela leitura dos parágrafos do dispositivo legal, per-
os critérios de desempate utilizados no julgamento das cebemos que o adicional poderá ser concedido a cada
promoções por antiguidade e merecimento devem seguir quinquênio (5 anos), ou a cada trintenário (30 anos)
a seguinte ordem, devendo ser apurados sucessivamente: de efetivo exercício, observado o limite de até 90%
(noventa por cento) do valor do vencimento base do poli-
Art. 101 Para desempate no processo de promoção, cial civil.
serão apurados, sucessivamente: Os requisitos para a concessão do adicional estão
I - a maior média de resultados obtidos nas avaliações previstos no art. 104. São apenas dois: a conclusão do
de desempenho no respectivo período aquisitivo; estágio probatório e a obtenção de resultado satisfatório
II - o maior tempo de serviço no nível; (acima de 70%) na avaliação de desempenho individual
III - o maior tempo de serviço na carreira; ou especial. Observe o texto legal:
IV - o maior tempo no serviço público estadual;
V - o maior tempo em serviço público; Art. 104 São requisitos para a obtenção do ADE:
VI - o policial civil de maior idade. I - a conclusão do estágio probatório pelo policial civil;
II - ter obtido resultado satisfatório na ADI ou na AED.
É interessante notar que a idade do agente policial, § 1º Para fins do disposto no inciso II do caput, con-
que é o característico da promoção por antiguidade, sidera-se satisfatório o resultado igual ou superior
somente será utilizada como critério de desempate por a 70% (setenta por cento).
último. § 2º O período anual considerado para a AED terá iní-
cio no dia e no mês do ingresso do policial na PCMG.
Do Adicional de Desempenho § 3º Na ADI e na AED, será considerado fator de avalia-
ção, para concessão do ADE, o aproveitamento em cur-
Como forma de ajustar a remuneração dos agentes so profissional realizado pela Academia de Polícia Civil.
policiais civis que ingressaram na carreira a partir da § 4º A regulamentação da ADI e da AED, no que se refe-
data da publicação da Emenda Constitucional nº 57, de re ao disposto no § 3º, será efetivada por instrução do
2003, a Lei Orgânica também prevê uma vantagem pecu- Conselho Superior da PCMG.
niária remuneratória relacionada ao desempenho do
próprio policial civil. Por fim, o caput do art. 105 apresenta os valores a ser
LEI ORGÂNICA
Esse é o adicional de desempenho (ADE), benefício percebidos a título de ADE, para o policial civil que obti-
cuja concessão tem por base as avaliações de desempe- ver um determinado número de avaliações com resulta-
nho individuais (ou avaliações periódicas de desempe- dos satisfatórios:
nho) e também as avaliações especiais de desempenho, Art. 105 Os valores máximos do ADE correspondem a
todas elas aplicadas ao policial civil. um percentual do vencimento básico do policial civil,
A ideia desse adicional é oferecer um bônus na remu- estabelecido conforme o número de AEDs e ADIs com
neração do policial civil que apresenta notas mais satis- resultado satisfatório por ele obtido, assim definidos:
fatórias nas suas avaliações de desempenho do que os I - para três AEDs e ADIs com resultado satisfatório:
demais. É isso o que disciplina o art. 103: 6% (seis por cento); 89
II - para cinco AEDs e ADIs com resultado satisfatório: III - para vinte e oito ADIs e AEDs com resultado satis-
10% (dez por cento); fatório: até 62% (sessenta e dois por cento);
III - para dez AEDs e ADIs com resultado satisfatório: IV - para vinte e sete ADIs e AEDs com resultado satis-
20% (vinte por cento); fatório: até 58% (cinquenta e oito por cento);
IV - para quinze AEDs e ADIs com resultado satisfató- V - para vinte e seis ADIs e AEDs com resultado satisfa-
rio: 30% (trinta por cento); tório: até 54% (cinquenta e quatro por cento).
V - para vinte AEDs e ADIs com resultado satisfatório: § 1º O valor do ADE a ser incorporado aos proventos
40% (quarenta por cento); do policial civil será calculado por meio da multiplica-
VI - para vinte e cinco AEDs e ADIs com resultado satis- ção do percentual definido nos incisos I a V do caput
fatório: 50% (cinquenta por cento); pela centésima parte do resultado da média aritmética
VII - para trinta AEDs e ADIs com resultado satisfató- simples dos resultados satisfatórios obtidos nas ADIs e
rio: 60% (sessenta por cento). AEDs durante a carreira.
§ 1º O policial civil que fizer jus à percepção do ADE
§ 2º Para fins de incorporação aos proventos do poli-
continuará percebendo o adicional no percentual
cial civil que não alcançar o número de resultados
adquirido até atingir o número necessário de AEDs e
satisfatórios definido nos incisos do caput, o valor do
ADIs com resultado satisfatório para alcançar o nível
ADE será calculado pela média aritmética das últimas
subsequente definido nos incisos do caput.
sessenta parcelas do ADE percebidas anteriormente à
§ 2º O valor do ADE não será cumulativo, devendo o
percentual apurado a cada nível substituir o percen- sua aposentadoria ou à instituição da pensão.
tual anteriormente percebido pelo policial civil.
§ 3º O policial civil que não for avaliado, por estar Pela leitura dos textos dos parágrafos do referido arti-
totalmente afastado de suas atividades por mais de go, percebemos que mesmo que o policial civil aposenta-
cento e vinte dias, devido a problemas de saúde, terá o do não tenha obtido o mínimo de vinte e seis avaliações
resultado de sua AED ou ADI fixado em 70% (setenta com resultados satisfatórios, ainda assim ele terá direito
por cento), enquanto perdurar essa situação. ao ADE, cuja base de cálculo será a média aritmética das
§ 4º Se o afastamento previsto no § 3º for decorrente de últimas sessenta parcelas do Adicional de Desempenho
acidente de serviço ou de doença profissional, o poli- recebido enquanto ele estava trabalhando, em período
cial civil estável permanecerá com o resultado da sua
anterior a sua aposentadoria/pensão.
última AED ou ADI, se este for superior a 70% (setenta
por cento).
§ 5º Ao policial civil submetido a readaptação de fun- DISPOSIÇÕES FINAIS
ção, a outras restrições decorrentes de problemas
de saúde, ou que tenha sofrido acidente no exercício A Lei Orgânica encerra-se apresentado algumas dis-
de suas atividades, serão asseguradas, pelo Chefe da posições especiais. Por ser um conteúdo mais simples e
PCMG, condições especiais para a realização da AED e autoexplicativo, veremos o conteúdo desses dispositivos
da ADI, observadas suas limitações. na íntegra, separados por pertinência para seu concurso.
§ 6º O policial civil afastado do exercício de suas fun- O art. 107 dispõe sobre a hipótese de o policial civil
ções por mais de cento e vinte dias, contínuos ou não, ter sido designado para a função de Delegado Especial de
durante o período considerado para a AED e para a Polícia, sendo também bacharel em Direito. Vejamos:
ADI não será avaliado, quando o afastamento for devi-
do a:
Art. 107 O policial civil que tiver sido designado para
I - licença para tratar de interesse particular, sem
vencimento; a função de Delegado Especial de Polícia, atendida,
II - ausência, conforme a legislação civil; então, a condição de bacharel em direito, e que, na
III - privação ou suspensão de exercício de cargo ou data de publicação desta Lei Complementar, fizer jus à
função, nos casos previstos em lei; percepção de vantagem pessoal equivalente à diferen-
IV - cumprimento de sentença penal ou de prisão judi- ça entre o vencimento básico do cargo de Delegado de
cial, sem o exercício das funções; Polícia Substituto e o vencimento básico do cargo efe-
V - exercício temporário de cargo público de outra tivo por ele ocupado, acrescido dos adicionais por
esfera de governo. tempo de serviço, terá esse valor incorporado aos
proventos.
É importante ressaltar que esses valores não são § 1º Estende-se ao policial civil aposentado o direi-
cumulativos: uma vez que o policial civil cumprir com to de incorporação de que trata o caput, desde que
mais avaliações com resultados satisfatórios, os valores tenha percebido a vantagem pessoal durante a ati-
percentuais serão substituídos pelo valor maior, e não vidade, na condição descrita.
adicionados um ao outro. § 2º Para fins do disposto neste artigo, o policial
Da mesma forma, haverá também incorporação do civil da ativa ou aposentado será identificado em
referido Adicional nos proventos da aposentadoria do decreto.
policial civil quando este obteve determinado número
de avaliações com resultados satisfatórios, nos termos do O art. 109 salienta que os cargos de provimento
caput do art. 106: em comissão e as funções de confiança são privativos
de policiais civis que não tenham excedido em cinco
Art. 106 O ADE será incorporado aos proventos do anos o tempo exigido para a aposentadoria voluntária,
policial civil quando de sua aposentadoria, em valor com exceção dos cargos de Chefe e de Chefe Adjunto
correspondente a um percentual de seu vencimento da PCMG. Observe:
básico, estabelecido conforme o número de avaliações
de desempenho com resultado satisfatório por ele obti- Art. 109 Os cargos de provimento em comissão e as
do, respeitados os seguintes percentuais máximos: funções de confiança da estrutura da PCMG, ressal-
I - para trinta ADIs e AEDs com resultado satisfatório: vados os cargos de Chefe da PCMG e Chefe Adjunto
até 70% (setenta por cento); da PCMG, são privativos de policiais civis que não
II - para vinte e nove ADIs e AEDs com resultado satis- tenham excedido em cinco anos o tempo exigido
90 fatório: até 66% (sessenta e seis por cento); para a aposentadoria voluntária.
§ 1º Os cargos cujos titulares compõem o Conselho
Superior da PCMG a que se refere o art. 25 somente
poderão ser ocupados por um mesmo servidor pelo
período máximo de sete anos, ininterruptos ou não,
observado o disposto no § 2º.
§ 2º Não se aplica o disposto no § 1º aos titulares
dos cargos de Chefe da PCMG e Chefe Adjunto da
PCMG.
§ 3º Os cargos de Chefe de Departamento de Polí-
cia Civil, de Delegado Regional de Polícia Civil e de
Chefe de Divisão Especializada somente poderão
ser ocupados por um mesmo servidor, na mesma
unidade, pelo período máximo de cinco anos, inin-
terruptos ou não.
§ 4º Os períodos a que se referem os §§ 1º e 3º serão
contados a partir da data de publicação desta Lei
Complementar.
ANOTAÇÕES
LEI ORGÂNICA
91
92
z Hierárquico: prevalece a de maior hierarquia. Ex.:
CF, de 1988, sobre qualquer norma interna;
z Cronológico: prevalecerá a lei mais nova sobre o
tema;
z Especialidade: prevalecerá a lei mais específica
NOÇÕES DE DIREITO sobre o tema.
Segundo José Afonso da Silva (2017), adminis- Art. 37 A administração pública direta e indireta
tração pública é o conjunto de meios institucionais, de qualquer dos Poderes da União, dos Estados,
financeiros e humanos destinados à execução das do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá
aos princípios de legalidade, impessoalidade,
decisões políticas1. moralidade, publicidade e eficiência e, também,
A Constituição Federal de 1988 estabeleceu regras ao seguinte:
gerais e preceitos específicos no Capítulo VII do Título
III. São normas que tratam da organização, diretrizes, Veja que a aplicabilidade do caput é bastante am-
remuneração e atuação dos servidores, acesso aos pla: todos os poderes, todas as esferas, administração
direta e indireta.
cargos públicos etc.
Você deve decorar esses princípios, fazendo uso do
famoso LIMPE, que traz a inicial de cada um dos prin-
Princípios cípios constantes do caput.
z Interpretação e validação de regras. mitido tudo que a lei autorizar ou mandar. Ou seja, a
relação é oposta. Não é um mandamento permissivo,
Vejamos agora sobre as regras. Elas serão menos mas restritivo.
genéricas e abstratas. Ainda que aplicáveis eventual-
mente a várias situações correlatas, elas já procuram Impessoalidade
se aproximar da realidade dos fatos, apresentando
O princípio da impessoalidade, também conheci-
comandos mais claros e concretos. do como princípio da finalidade, tem como objetivo
No Brasil temos alguns critérios que podem ser uti- maximizar os resultados da Administração Pública
lizados para a solução do conflito entre regras: para a sociedade como um todo.
1 SILVA, op. cit, p. 665. 93
Ele irá impedir, por meio de cada uma de suas Há, por outro lado, atos que devem ser publicados
facetas, o direcionamento da atuação do Estado tanto para que gerem efeitos, pois como poderiam ser os
para o interesse de um particular ou um grupo especí- particulares cobrados a respeito de determinado ato
fico de particulares, como para o próprio interesse do ou norma do qual não tiveram a devida ciência?
agente público tomador de decisão. Nesse raciocínio, temos três tipos de atos conforme
A partir disso temos algumas leituras possíveis a necessidade ou não da sua publicidade.
para o princípio. Uma delas é a aplicação do princípio
da impessoalidade por meio da ausência de qualquer z Atos sigilosos: não podem ser publicados;
tipo de promoção pessoal do agente público cometen- z Atos internos: não precisam ser publicados, pois
te, buscando apenas o interesse público. não causam impacto nos administrados;
Outra leitura possível passará pelo tratamento iso- z Atos externos: precisam ser publicados para ciên-
nômico dos administrados. A isonomia permite o tra- cia dos interessados.
tamento diferenciado de acordo com diferenças entre
os administrados. É o que você na reserva de vagas Há ainda a possibilidade de obtenção de informa-
para idosos, por exemplo. ções por parte dos administrados, trazida no art. 5º da
Portanto, temos dois tipos de isonomia, a saber: CF, de 1988.
Os serviços públicos garantem serviços essenciais Por esse princípio entende-se que o Poder Público
à população, por isso não podem, como regra, serem não é dono do interesse público, ele deve manuseá-lo
interrompidos, mas fornecidos permanentemente. segundo o que a norma lhe impõe. É por isso que ele
Tal importância traz impacto inclusive no direito não pode se desfazer de patrimônio público, contratar
de greve de servidores públicos. quem ele quiser, realizar gastos sem prestar contas a
seu superior, etc. Tais atos configuram em desvio de
Art. 37 [...] finalidade, uma vez que o objetivo principal deles não
VII - o direito de greve será exercido nos termos e é de interesse público, mas apenas do próprio agente,
nos limites definidos em lei específica; ou de algum terceiro beneficiário. 95
Administração Pública Direta Nestes moldes, o Estado é pessoa jurídica de direi-
to público interno. Mas há características peculariares
A Administração Direta é o conjunto de órgãos que distintivas que fazem com que afirmá-lo apenas como
integram as pessoas políticas ou federativas (União, pessoa jurídica de direito público interno seja correto,
Estados, Distrito Federal e Municípios), aos quais foi mas não suficiente. Pela peculiaridade da função que
atribuída a competência para o exercício das ativida- desempenha, o Estado é verdadeira pessoa adminis-
des administrativas do Estado de forma centralizada. trativa, eis que concentra para si o exercício das ativi-
Trata-se, portanto, dos serviços prestados direta- dades da administração pública.
mente pelas entidades políticas, utilizando-se, para
tanto, de seus órgãos internos, que são centros de
Administração Pública Indireta
competências despersonalizados.
Conquanto a função administrativa seja exercida
A Administração Pública Indireta é composta pelas
com predominância pelo Poder Executivo, devemos
saber que existem órgãos da Administração Direta em entidades administrativas. Estas, por sua vez, pos-
todos os Poderes e em todas as esferas da federação. suem personalidade jurídica própria e são responsá-
É possível extrair este entendimento diretamente do veis por executar atividades administrativas de forma
art. 37, caput, da Constituição Federal, que dispõe: “A descentralizada. São elas: as autarquias, as fundações
administração pública direta e indireta de qualquer públicas e as empresas estatais (empresas públicas e
dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal sociedades de economia mista).
e dos Municípios obedecerá aos princípios de legali- As entidades da Administração Indireta não pos-
dade, impessoalidade, moralidade, publicidade e efi- suem autonomia política e estão vinculadas à Admi-
ciência [...]”. nistração Direta. A vinculação não é subordinação,
Assim, é possível afirmar que existem órgãos da mas apenas uma forma de controle finalístico para
Administração Direta atuando na administração fede- fins de enquadramento da instituição no programa
ral, estadual, distrital e municipal, nos Poderes Execu- geral do Governo e para garantir que sejam atingidas
tivo, Legislativo e Judiciário. as finalidades da entidade controlada.
No entanto, o que nos interessa é estudar o Poder
Executivo, uma vez que quase todos os órgãos da DOS ENTES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Administração Direta encontram-se subordinados a
INDIRETA: AUTARQUIAS, FUNDAÇÕES,
este Poder.
EMPRESAS PÚBLICAS E SOCIEDADES DE
O art. 4º do Decreto-Lei nº 200, de 1967, definiu a
ECONOMIA MISTA
administração direta e indireta em âmbito federal,
vejamos:
As entidades da Administração Indireta podem ter
Art. 4° A Administração Federal compreende: personalidade jurídica de Direito Público ou de Direi-
I - A Administração Direta, que se constitui dos to Privado. Tal diferença é bastante relevante no que
serviços integrados na estrutura administrativa da diz respeito ao procedimento de criação dessas enti-
Presidência da República e dos Ministérios. dades autônomas.
II - A Administração Indireta, que compreende As pessoas jurídicas de direito público são criadas
as seguintes categorias de entidades, dotadas de por lei (inciso XIX, do art. 37, da CF, de 1988) e a sua
personalidade jurídica própria: personalidade jurídica advém no momento em que
a) Autarquias;
tal legislação entra em vigor no âmbito jurídico, não
b) Empresas Públicas;
c) Sociedades de Economia Mista. havendo necessidade de registro em cartório. As pes-
d) fundações públicas. soas jurídicas de direito privado, todavia, são autori-
Parágrafo único. As entidades compreendidas na zadas pela lei (inciso XX, do art. 37, da CF, de 1988),
Administração Indireta vinculam-se ao Ministério ou seja, a legislação deve permitir que ela exista, para
em cuja área de competência estiver enquadrada que o Poder Executivo regulamente suas funções
sua principal atividade. mediante a expedição de decretos. Sua personalidade
jurídica, dessa forma, está condicionada ao seu regis-
Por fim, é importante ressaltarmos uma pequena tro em cartório.
desatualização do dispositivo acima, que não traz o São pessoas jurídicas de Direito Público, membros
consórcio público de direito público (também conhe- da Administração Indireta: as autarquias, as funda-
cidas por associações públicas), também entidade
ções públicas, agências reguladoras e associações
integrante da administração indireta, conforme cons-
públicas. São pessoas jurídicas de Direito Privado: as
ta no Código Civil.
empresas públicas, as sociedades de economia mista,
Art. 41 São pessoas jurídicas de direito público in-
as fundações governamentais com estrutura de pes-
terno: soa jurídica de Direito Privado, as subsidiárias e os
I - a União; consórcios públicos de Direito Privado.
II - os Estados, o Distrito Federal e os Territórios;
III - os Municípios; z Autarquias
IV - as autarquias, inclusive as associações públi-
cas; As autarquias são pessoas jurídicas de Direito
V - as demais entidades de caráter público criadas
Público interno, criadas por legislação própria, que
por lei.
tem por escopo exercer as funções típicas da Adminis-
Parágrafo único. Salvo disposição em contrário, as
pessoas jurídicas de direito público, a que se tenha tração Pública. As autarquias possuem um conceito
dado estrutura de direito privado, regem-se, no que definido em lei, mais especificamente no inciso I, do
couber, quanto ao seu funcionamento, pelas nor- art. 5º, do Dec-Lei nº 200, de 1967: para os fins desta
96 mas deste Código. lei, considera-se:
I - Autarquia - o serviço autônomo, criado por lei, Especiais stricto sensu (Banco Central);
com personalidade jurídica, patrimônio e receita Agências reguladoras (Anatel, Anvisa).
próprios, para executar atividades típicas da Admi-
nistração Pública, que requeiram, para seu melhor z Corporativas: são as corporações profissionais,
funcionamento, gestão administrativa e financeira que promovem o controle e a fiscalização de cate-
descentralizada. gorias profissionais. Exemplos: CREA, CRO, CRM;
z Fundacionais: são as fundações públicas, enti-
Podemos fazer alguns comentários sobre o concei- dades que arrecadam patrimônio para o cumpri-
to apresentado. Ao dizer que as autarquias são criadas mento de um objetivo específico. Exemplos: Funai,
“para executar atividades típicas da Administração Procon, Funasa;
Pública”, o texto legal faz referência àquelas ativida- z Territoriais: são as autarquias de controle da
des características do Poder Público, e que só podem União, também denominadas territórios federais
ser executadas pelo mesmo, em regra. São atividades (art. 33 da CF, de 1988). A atual Constituição aboliu
em que deve haver a prevalência do interesse públi- os territórios federais remanescentes;
co sobre o privado e, por isso mesmo, as autarquias z Associativas: são as autarquias criadas pelo
resultado de uma celebração de consórcio públi-
gozam de diversas prerrogativas para executar tais
co, também denominadas associações públicas.
tarefas. É por isso que as autarquias são pessoas jurí-
Se o contrato de consórcio público envolver múl-
dicas de direito público. Com isso, tais entidades são
tiplos entes da Federação, tais autarquias podem
proibidas de exercer qualquer atividade econômica, ser transfederativas. Exemplo: associação criada
o que lhes proporciona uma grande vantagem: não entre União, Estados e Municípios para a constru-
pode ser decretada sua falência e também goza de ção de um teatro.
imunidade tributária.
A sua criação depende de lei específica. Isso signi-
fica que a sua existência é condicionada apenas pelo Importante!
trabalho realizado pelo legislador, não há outros atos
subsequentes que condicionam sua existência, como Curioso é o caso da Ordem dos Advogados do
Brasil. A OAB sempre foi considerada uma autar-
acontece com as pessoas jurídicas de direito privado. quia de regime comum. Todavia, durante o julga-
O regime de pessoal das autarquias é o estatu-
mento da ADI nº 3.026, o STF decidiu mudar seu
tário. Significa que a autarquia não pode contratar
entendimento, ao decidir que a OAB é um serviço
quem ela quiser, como se fosse um empregador: seus
independente e de natureza especial e que, por
funcionários devem ser servidores públicos, pre-
isso mesmo, não pode sofrer controle específico
viamente aprovados em prova de concurso público.
das autarquias. Assim, a OAB seria considerada
Assim, todas as questões referentes ao regime laboral
uma entidade própria sui generis, e não é mais
desses servidores devem ser resolvidas, tendo como
uma autarquia.
base a Lei nº 8.112, de 1990, conhecido também como
Estatuto dos Servidores Públicos Civis da União.
O patrimônio das autarquias consiste em bens z Fundações Públicas
públicos, que gozam da garantia de serem inalie-
náveis e impenhoráveis. Se o patrimônio é público, As fundações públicas são consideradas espécies
significa que ele é utilizado, de forma a atender uma de autarquias, possuindo diversas características
finalidade pública. Logo, não pode a autarquia abrir similares. Fundação pública é, nos termos do inciso
mão desses bens, e nem dá-los em garantia. IV, do art. 5º, do Dec-Lei nº 200, de 1967:
As autarquias somente podem celebrar contratos
públicos, isso é, são contratos típicos da Administra- [...] a entidade dotada de personalidade jurídica de
ção Pública, que a colocam em posição mais vantajosa direito privado, sem fins lucrativos, criada em vir-
em relação ao particular interessado. tude de autorização legislativa, para o desenvolvi-
mento de atividades que não exijam execução por
Pode-se afirmar que vigora o princípio da espe-
órgãos ou entidades de direito público, com auto-
cialidade no regime das autarquias. Isso significa que nomia administrativa, patrimônio próprio gerido
cada entidade é criada para atender a uma finalidade pelos respectivos órgãos de direção, e funciona-
individual e específica. Exemplificando: para tratar mento custeado por recursos da União e de outras
de questões do regime de previdência social, temos o fontes.
INSS, que é a única autarquia responsável pela con-
cessão de benefícios previdenciários. É o próprio INSS A Funai (Fundação Nacional do Índio), Funasa
que responde em juízo, havendo uma ação previden- (Fundação nacional de Saúde) e o IBGE (Instituto Bra-
ciária pleiteada por particular, e não a União/Estado. sileiro de Geografia e Estatística), são alguns exemplos
Devido à multiplicidade de assuntos temos, con- de fundações públicas.
NOÇÕES DE DIREITO
mia mista: Petrobrás, Banco do Brasil, Eletrobrás. composição dos membros de sua diretoria etc;
Percebemos algumas diferenças entre as empre- Haver aprovação, quanto à conveniência e opor-
sas públicas e as sociedades de economia mista. A pri- tunidade de sua qualificação como organização
meira diz respeito ao capital constitutivo: enquanto social, do Ministro ou titular de órgão supervi-
que nas empresas públicas, todo o seu capital deve sor ou regulador da área de atividade corres-
ser público (o Dec-Lei nº 200, de 1967, dispõe que seu pondente ao seu objeto social e do Ministro de
capital deve advir totalmente “da União”, mas admite- Estado da Administração Federal e Reforma do
-se também o capital de origem estadual e municipal), Estado. Importante ressaltar que a concessão de
as sociedades de economia mista admitem a presença tal qualificação é ato discricionário, ficando a
do capital de origem privada, mas pelo menos 50% cargo do agente responsável (Ministro de Esta-
mais uma de suas ações com direito a voto devem per- do), considerando critérios de conveniência e
tencer ao Estado. oportunidade, conceder ou não tal qualificação. 99
O instrumento de formalização da parceria entre a Administração e a organização social é o contrato de
gestão, cuja aprovação deve ser submetida ao Ministro de Estado ou outra autoridade supervisora da área de
atuação da entidade.
As organizações sociais representam uma espécie de parceria entre a Administração e a iniciativa privada,
exercendo atividades que, antes da Emenda 19, de 1998, eram desempenhadas por entidades públicas. Por isso,
seu surgimento no Direito Brasileiro está relacionado com um processo de privatização lato sensu realizado por
meio da abertura de atividades públicas à iniciativa privada.
As Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIPs) são também pessoas jurídicas de direito pri-
vado, sem fins lucrativos, instituídas por iniciativa dos particulares e qualificadas pelo Estado, para desempenhar
serviços não exclusivos do Estado, com fiscalização pelo Poder Público, formalizando a parceria com a Adminis-
tração Pública por meio de termo de parceria.
A lei que disciplina as OSCIPs é a Lei nº 9.790, de 1999, sendo regulamentada pelo Decreto nº 3.100, de 1999. Seu
art. 3º dá uma noção mais ampla e geral sobre as entidades que podem ser qualificadas como OSCIPs, in verbis:
Art. 3º A qualificação instituída por esta Lei, observado em qualquer caso, o princípio da universalização dos ser-
viços, no respectivo âmbito de atuação das Organizações, somente será conferida às pessoas jurídicas de direito
privado, sem fins lucrativos, cujos objetivos sociais tenham pelo menos uma das seguintes finalidades:
I - promoção da assistência social;
II - promoção da cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico;
III - promoção gratuita da educação, observando-se a forma complementar de participação das organizações de que
trata esta Lei;
IV - promoção gratuita da saúde, observando-se a forma complementar de participação das organizações de que
trata esta Lei;
V - promoção da segurança alimentar e nutricional;
VI - defesa, preservação e conservação do meio ambiente e promoção do desenvolvimento sustentável;
VII - promoção do voluntariado;
VIII - promoção do desenvolvimento econômico e social e combate à pobreza;
IX - experimentação, não lucrativa, de novos modelos sócio-produtivos e de sistemas alternativos de produção,
comércio, emprego e crédito;
X - promoção de direitos estabelecidos, construção de novos direitos e assessoria jurídica gratuita de interesse
suplementar;
XI - promoção da ética, da paz, da cidadania, dos direitos humanos, da democracia e de outros valores universais;
XII - estudos e pesquisas, desenvolvimento de tecnologias alternativas, produção e divulgação de informações e
conhecimentos técnicos e científicos que digam respeito às atividades mencionadas neste artigo.
XIII - estudos e pesquisas para o desenvolvimento, a disponibilização e a implementação de tecnologias voltadas à
mobilidade de pessoas, por qualquer meio de transporte.
Como já mencionamos, o instrumento que regula essa relação do Poder Público com a OSCIP é o termo de par-
ceria, que discriminará direitos, responsabilidades e obrigações das partes signatárias, prevendo especialmente
metas a serem alcançadas, prazo de duração, direitos e obrigações das partes e formas de fiscalização. Além disso,
outra diferença marcante entre a OSCIP da OS é que sua concessão é ato vinculado (§ 2º , do art. 1º, da Lei nº 9.790,
de 1999), podendo-se falar em um “direito adquirido” da empresa privada em obter a qualificação de OSCIP. O
requerimento deve ser encaminhado ao Ministro da Justiça, na forma do art. 5º da referida Lei.
Esquematicamente, podemos estabelecer as principais diferenças entre a OS e a OSCIP:
100
O regime dos cargos públicos é disciplinado pela
AGENTES PÚBLICOS Lei Federal n° 8.112, de 1990, também conhecida como
Estatuto do Servidor Público.
CONCEITO Frente a isso, um ponto relevante a ser ressalta-
do desse regime é o alcance da estabilidade mediante
Nas lições de Celso Antônio Bandeira de Mello o fim do período de estágio probatório. Tal alcance
são agentes públicos as pessoas que exercem uma permite que o servidor não seja desligado de suas
função pública, ainda que em caráter temporário ou funções, salvo pelas hipóteses previstas em lei, como
sem remuneração. Trata-se de uma expressão ampla a sentença judicial transitada em julgado, processo
e genérica, uma vez que engloba todos aqueles que, administrativo disciplinar, ou a não aprovação em
dentro da organização da Administração Pública, avaliação periódica de desempenho (§ 1°, art. 41, da
exercem determinada função pública. CF, de 1988).
Assim, podemos dizer que agente público é gênero, Dentre os cargos públicos, ainda, há aqueles que
o qual comporta diversas espécies, como os agentes são vitalícios, que se apresentam de forma mais van-
políticos, os agentes militares, os servidores públi- tajosa, uma vez que o estágio probatório possui um
cos estatutários, os empregados públicos, os agentes tempo menor (2 anos, sendo de 3 anos para os car-
honoríficos, entre outros. Por isso, vamos especificar gos não-vitalícios), bem como o desligamento ocorrer
cada um deles com maiores detalhes. apenas mediante sentença condenatória transitada
em julgado. São vitalícios os cargos de: Magistratura,
CLASSIFICAÇÃO (ESPÉCIE) do Tribunal de Contas, e os cargos dos membros do
Ministério Público.
Além da estabilidade, é também assegurado aos
Agentes Políticos
servidores estatutários alguns direitos trabalhistas,
vejamos aqui os mais importantes:
Os agentes políticos possuem como característica
principal o fato de exercerem uma função pública de
Art. 39 [...]
alta direção do Estado. Seu ingresso é feito median- § 3° CF/1988: a) salário mínimo, b) remuneração
te eleições, e atuam em mandatos fixos, os quais têm de trabalho noturno superior ao diurno, c) repou-
o condão de extinguir a relação destes com o Estado so semanal remunerado, d) férias remuneradas, e)
de modo automático pelo simples decurso do tempo. licença à gestante etc.
Percebe-se, dessa forma, que a sua vinculação com o
Estado não é profissional, mas estatutária ou institu- Empregado Público
cional. São agentes políticos os parlamentares, o Pre-
sidente da República, os prefeitos, os governadores, De modo diferente da contratação dos servidores,
bem como seus respectivos vices, ministros de Estado os empregados públicos são contratados mediante
e secretários. regime celetista, isso é, com aplicação das regras pre-
vistas na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
Agentes Militares Trata-se de uma vinculação contratual. A contratação
de empregados públicos se dá, em regra, pelas pessoas
Os agentes militares constituem uma categoria a jurídicas de direito privado integrantes da Adminis-
parte dos demais agentes políticos, uma vez que as tração Indireta (empresas públicas, sociedades de eco-
instituições militares possuem fortes bases funda- nomia mista, consórcios etc.) Além disso, o ingresso de
mentadas na hierarquia e na disciplina. Apesar de tais pessoas também depende da sua aprovação em
também apresentarem vinculação estatutária, seu concurso público.
regime jurídico é disciplinado por legislação especial, O regime dos empregados públicos é menos prote-
e não aquela aplicável aos servidores civis. São agen- tivo do que o regime estatutário. Isso se deve ao fato de
tes militares os membros das Polícias Militares e dos que os empregados públicos não gozam da estabilida-
Corpos de Bombeiros militares dos Estados, Distrito de que os servidores possuem. Ao serem empossados,
Federal e Territórios, bem como os demais militares os empregados passam por um período de experiên-
ligados ao Exército, Marinha e Aeronáutica. Algumas cia de 90 dias. Todavia, mesmo após esse período, os
características que merecem destaque são: a proibi- empregados públicos podem ser dispensados.
ção de sindicalização dos militares, a proibição do A diferença dos empregados públicos para com
direito de greve, e a proibição à filiação partidária. os demais consiste no fato de que a sua demissão
será sempre motivada, após regular processo admi-
Servidores Públicos nistrativo, mediante contraditório e a ampla defesa.
Importante lembrar que, para a Administração Públi-
De modo geral, podemos dizer que a Constituição ca, a motivação de seus atos, bem como o tratamento
Federal de 1988 apresenta dois tipos de regimes para impessoal e a finalidade pública, são princípios nor-
NOÇÕES DE DIREITO
os agentes estatais: o regime estatutário ou de cargos teadores de sua atuação. Uma demissão imotivada de
públicos, e o regime celetista ou de empregos públicos. um empregado público seria absolutamente inadmis-
Os servidores públicos são contratados pelo regi- sível nessas condições.
me estatutário, enquanto os empregados públicos são
contratados pelo regime celetista, que muito se asse- CARGO PÚBLICO, EMPREGO PÚBLICO E FUNÇÃO
melha às regras contidas na CLT. PÚBLICA
Atente-se a esse conceito: Servidor público é o
agente contratado pela Administração Pública, direta Cargo público é o lugar dentro da organização fun-
ou indireta, sob o regime estatutário, sendo selecio- cional da Administração Direta e de suas autarquias e
nado mediante concurso público, para ocupar cargos fundações públicas que, ocupado por servidor públi-
públicos, possuindo vinculação com o Estado de natu- co, tem funções específicas e remuneração fixadas em
reza estatutária e não-contratual. lei ou diploma a ela equivalente. 101
O art. 3° da Lei no 8.112, de 1990 (Estatuto dos Ser- z Dois cargos ou empregos privativos de profissio-
vidores da União) define o cargo público como sendo nais na área da saúde (alínea c, inciso XVI, art. 37);
o conjunto de atribuições e responsabilidades previs- z Um cargo de vereador com outro cargo, emprego
tas na estrutura organizacional que devem ser come- ou função pública (inciso III, art. 38);
tidas a um servidor. z Um cargo de magistrado e outro de magistério
A função pública é a tividade em si mesma, ou seja, (inciso I, par. único, art. 95);
função é sinônimo de atribuição e corresponde às inú- z Um cargo de membro do Ministério Público e outro
meras tarefas que cosntituem o objeto dos serviços de magistério (alínea d, inciso II, § 5°, art. 128).
prestados pelos servidores públicos. Nesse sentido,
fala se em função de apoio, função de direção, função DIREITOS
técnica.
No sistema funcional, determinadas funções são Direitos e Prerrogativas
suscetíveis de remuneração. Em geral, emprega-se
a expressão função gratificada, ou seja, uma função
Prerrogativa é qualquer situação de vantagem
especial, fora da rotina administrativa e normalmente
obtida pela natureza de um cargo ou de uma função.
de caráter técnico, cujo exercício depende de confian-
No caso dos agentes públicos, existem algumas prer-
ça em autoridade superior.
rogativas que são comuns para todo e qualquer car-
Todo cargo tem função, porque não se pode admi-
tir um lugar na Administração que não tenha a prede- go público, e existem algumas prerrogativas que são
terminação das tarefas do servidor. Mas nem toda a mais restritas, exclusivas apenas para alguns cargos.
função pressupõe e existência de cargo. Geralmente essas prerrogativas mais exclusivas são
O cargo, ao ser criado, já pressupõe as funções que aplicáveis para os cargos militares e para os cargos de
lhe são atribuídas. Não pode ser instituído cargo com natureza política.
funções aleatórias ou indefinidas: é a prévia indica- No momento, é importante focar nas prerrogativas
ção das funções que confere garantia ao servidor e ao que se aplicam para todos os servidores públicos, que
Poder Público. Por tal motivo, é ilegítimo o denomi- ocupam cargos públicos em geral. A primeira grande
naoo desvio de função , que consiste no exercício, pelo prerrogativa diz respeito à estabilidade.
servidor, de funções relativas a outro cargo, que não o A estabilidade é a condição que o servidor público
que ocupa efetivamente. atinge após completar alguns requisitos. O seu princi-
A expressão emprego público é utilizada para pal efeito é que, uma vez estável no cargo, o servidor
identificar a relação funcional trabalhista, assim com público não pode ser demitido por razões de conve-
se tem usado a expressão empregado público como niência ou oportunidade pela Administração. Ela não
sinônima de servidor público trabalhista. Para bem pode demitir o servidor estável “porque não quer
diferenciar tais situações, é importante lembrar que o mais” trabalhar com ele.
servidor trabalhista tem função (no sentido de tarefa, Segundo o art. 21 do Estatuto dos Servidores
atividade), mas não ocupa cargo. O servidor estatutá- Públicos Civis da União, uma vez que o servidor seja
rio tem o cargo que ocupa e exerce as funções atribuí- habilitado em concurso público e empossado em cargo
das ao cargo.2 de provimento efetivo adquirirá estabilidade no ser-
viço público ao completar 2 (dois) anos de efetivo
Acumulação de Cargo, Emprego, e Função Pública exercício.
Interessante observar que a Constituição Federal
Sobre a acumulação de cargos, emprego e funções de 1988 também prevê a prerrogativa de estabilida-
públicas, deve-se salientar que o ordenamento jurídi- de em seu art. 41. Todavia, os requisitos são distintos:
co brasileiro, em regra, proíbe a acumulação de car- para o Texto Constitucional, o servidor público só
gos e empregos públicos. Tal proibição se estende, adquire estabilidade após completar 3 (três) anos de
inclusive, para as entidades da Administração Indire-
efetivo exercício.
ta. O caput do art. 118 da Lei n° 8.112, de 1990, dispõe
Isso não significa que, uma vez o servidor estando
no mesmo sentido: Ressalvados os casos previstos na
estável no seu cargo, ele pode fazer o que quiser e não
Constituição, é vedada a acumulação remunerada de
sofrerá nenhuma punição. A estabilidade não lhe dá
cargos públicos. Apesar do referido texto legal dispor
“carta branca” para agir como bem entender. Por isso
sobre agentes públicos no âmbito federal, entendemos
que também possa ser aplicado aos agentes públicos o conteúdo do art. 22 da Lei n° 8.112, de 1990: O servi-
dos Estados, Municípios, e Distrito Federal. dor estável só perderá o cargo em virtude de sentença
Pela leitura do dispositivo, vemos que a própria judicial transitada em julgado ou de processo adminis-
Constituição Federal dispõe de um rol de casos excep- trativo disciplinar no qual lhe seja assegurada ampla
cionais em que é permitida a acumulação dessas fun- defesa.
ções. Há entendimento praticamente unânime de que O Texto Constitucional vai um pouco além: ele pre-
se trata de um rol taxativo, ou seja, são válidas apenas vê ao todo, quatro modalidades de demissão de servi-
aquelas hipóteses de acumulação de cargos. dor estável. São elas:
Assim, as hipóteses de acumulação de cargos cons-
titucionalmente autorizadas são: z Por sentença judicial transitada em julgado: é
a forma mais demorada para se demitir um servi-
z Dois cargos de professor (alínea a, inciso XVI, art. dor, considerando todo o aspecto burocrático exis-
37); tente no processo judicial. O trânsito em julgado da
z Um cargo de professor com outro técnico ou cientí- sentença somente ocorre quando esgotados todos
fico (alínea b, inciso XVI, art. 37); os recursos cabíveis;
2 Carvalho Filho, José dos Santos. Manual de direito administrativo / José dos Santos Carvalho Filho. – 34. ed. – São Paulo: Atlas,
102 2020.p.1126 e 1127.
z Mediante processo administrativo em que lhe O art. 39 da Constituição Federal apresenta algu-
seja assegurada ampla defesa. As regras referentes mas regras gerais sobre o regime dos servidores públi-
ao Processo Administrativo Disciplinar (ou PAD) cos. Dentre as regras constitucionais, o § 1° do referido
serão vistas mais adiante; dispositivo prevê que a fixação dos padrões de ven-
z Mediante procedimento de avaliação periódica cimento e dos demais componentes do sistema
de desempenho, na forma de lei complementar, remuneratório observará três aspectos: a natureza,
assegurada ampla defesa: quem não for aprova- o grau de responsabilidade e a complexidade dos car-
do na avaliação periódica de desempenho, pode gos componentes de cada carreira; os requisitos para
ser exonerado de seu cargo público, independen- a investidura; e também as peculiaridades dos cargos.
temente de ter completado o período de efetivo
exercício;
z Regime de subsídios: trata-se de uma forma espe-
z Por excesso de gasto com pessoal: as hipóteses 1
cial de remuneração, feita em uma única parcela.
a 3 estão previstas nos incisos do art. 41. Todavia,
O regime de subsídios, previsto no § 4°, art. 39, da
essa última hipótese encontra-se disposta no inciso
II, § 3°, art. 169, da CF, de 1988. Sob o aspecto orça- CF, de 1988, foi introduzido com a finalidade de
mentário e financeiro, não pode a Administração coibir os “supersalários” comumente existentes no
Pública realizar gastos superiores àqueles previs- regime de servidores públicos brasileiros. Impor-
tos em seu orçamento anual. Com isso, havendo a tante ressaltar que recebem por subsídios somen-
necessidade, é possível, sim, que um servidor está- te os Chefes do Poder Executivo, parlamentares,
vel seja exonerado de seu cargo, apenas por moti- magistrados, ministros de Estado, secretários esta-
vos de “balancear” as contas públicas. duais, membros do Ministério Público e da Advo-
cacia Pública, entre outros;
Outra prerrogativa que merece maior destaque é z Indenizações: as indenizações são valores pagos
a vitaliciedade. É um instituto bastante parecido com aos servidores, mas que não integram seus ven-
a estabilidade, mas não pode ser confundida com a cimentos. O Estatuto prevê algumas hipóteses de
mesma. A vitaliciedade não é adquirida por qualquer recebimento de indenizações:
servidor: ela é somente concedida para alguns cargos
públicos especiais. Ajuda de custo por mudança, devida como
São considerados cargos vitalícios, segundo a forma de compensar as despesas de instalação
própria Constituição Federal: os cargos de Magistra- de servidor que tiver exercício em nova sede,
tura (inciso I, art. 95), os membros do Ministério Públi- ocorrendo mudança de seu domicílio;
co (alínea a, § 5°, art. 128), e os cargos ocupados pelos Ajuda de custo por falecimento: devido à
membros do Tribunal de Contas da União ou TCU (§ família do servidor que vier a falecer na nova
3°, art. 73).
sede, sendo devido para custear o transporte
A vitaliciedade é um instituto ainda mais forte do
para a localidade de origem;
que a estabilidade. Uma vez que a pessoa ocupe um
Diárias por deslocamento: devida ao servidor
desses cargos vitalícios, ela somente pode ser exone-
que se afastar, por motivos de serviço, da sede
rada mediante sentença judicial transitada em julga-
do. Essa é a única hipótese de exoneração, motivo pelo em caráter transitório, para outro local den-
qual ela garante uma prerrogativa maior do que ape- tro ou fora do país, receberá tal indenização
nas a estabilidade. como forma de ajuda no custeio do processo de
Das hipóteses de exoneração, apesar de ser um mudança;
aspecto relativo ao Regime de Previdência, é tam- Auxílio-moradia: trata-se de ressarcimento
bém considerada como uma forma de exoneração das despesas comprovadamente realizadas
a aposentadoria compulsória, isso é, a concessão do pelo servidor com aluguel de moradia ou com
referido benefício previdenciário quando o servidor hospedagem realizado por algum hotel, depen-
estável ou vitalício completar 75 (setenta e cinco) anos dendo do preenchimento de alguns requisitos,
de idade. A diferença é que, no caso da aposentadoria como não ter um imóvel funcional disponível
compulsória, o servidor para de trabalhar, mas con- para uso, seu cônjuge não ser ocupante de
tinua recebendo uma “remuneração”, chamada de imóvel funcional, ou que nenhuma outra pes-
provento. soa que resida com o servidor receba a mesma
A Lei n° 8.112, de 1990, em seus arts. 40 e 41, elen- indenização etc.
ca diversos direitos e gratificações aos servidores Gratificações, Adicionais e Retribuições:
públicos, os quais são de grande importância conhe- O art. 61 do Estatuto dos Servidores Públicos
cer. Vejamos os principais direitos: também prevê o pagamento das seguintes
gratificações:
NOÇÕES DE DIREITO
com entidades sem fins lucrativos, ou dispensá-los nas provas, porém devemos lembrar que uma das for-
indevidamente; mas de cobrança desse ponto é a concessão de vanta-
IX - ordenar ou permitir a realização de despesas gens tributárias para a implementação de empresas.
não autorizadas em lei ou regulamento; Exemplo: dois municípios desejam atrair um polo de
X - agir negligentemente na arrecadação de tributo tecnologia e, para isso, começam uma guerra fiscal
ou renda, bem como no que diz respeito à conserva-
e acabam oferecendo vantagens indevidas para as
ção do patrimônio público;
XI - liberar verba pública sem a estrita observância
empresas que comporiam esse conglomerado.
das normas pertinentes ou influir de qualquer for- Dito isso, passamos a tratar dos atos de improbi-
ma para a sua aplicação irregular; dade administrativa decorrentes de concessão ou
XII - permitir, facilitar ou concorrer para que tercei- aplicação indevida de benefício financeiro ou
ro se enriqueça ilicitamente; tributário; 109
z Benefício financeiro: desembolsos efetivos. Art. 11 [...]
Exemplo: subvenções sociais (uma ajuda para a I - praticar ato visando fim proibido em lei ou regu-
manutenção de instituições públicas ou privadas, lamento ou diverso daquele previsto, na regra de
normalmente ligadas à arte, cultura ou assistência competência;
– sem fins lucrativos); II - retardar ou deixar de praticar, indevidamente,
z Benefício tributário: são vantagens tributárias. ato de ofício;
Por exemplo, diminuição das alíquotas de ISSQN. III - revelar fato ou circunstância de que tem ciência
em razão das atribuições e que deva permanecer
Art. 10-A Constitui ato de improbidade adminis- em segredo;
trativa qualquer ação ou omissão para conceder, IV - negar publicidade aos atos oficiais;
aplicar ou manter benefício financeiro ou tributá- V - frustrar a licitude de concurso público;
rio contrário ao que dispõem o caput e o § 1º do art. VI - deixar de prestar contas quando esteja obriga-
8º-A da Lei Complementar nº 116, de 31 de julho do a fazê-lo;
de 2003. VII - revelar ou permitir que chegue ao conheci-
mento de terceiro, antes da respectiva divulgação
oficial, teor de medida política ou econômica capaz
É necessário saber que, em se tratando de ato dolo-
de afetar o preço de mercadoria, bem ou serviço.
so de improbidade administrativa, o STF estabelece
VIII - descumprir as normas relativas à celebração,
que o ressarcimento ao erário é imprescritível. fiscalização e aprovação de contas de parcerias fir-
madas pela administração pública com entidades
Atos de Improbidade Administrativa que Atentam privadas.
Contra os Princípios da Administração Pública (Art. IX - deixar de cumprir a exigência de requisitos de
11, da Lei nº 8.429/92) acessibilidade previstos na legislação.
X - transferir recurso a entidade privada, em razão
A Administração Pública precisa defender seus da prestação de serviços na área de saúde sem a
princípios e valores, por esse motivo estabeleceu san- prévia celebração de contrato, convênio ou instru-
ções para aqueles que realizem atos que atentem con- mento congênere, nos termos do parágrafo único
tra tais princípios. do art. 24 da Lei nº 8.080, de 19 de setembro de
Qualquer ação ou omissão que viole os deveres de 1990.
honestidade, imparcialidade, legalidade e lealdade
às instituições consiste em violação aos princípios da Atualmente o STJ tem aceitado a imposição de cau-
Administração Pública. telares de indisponibilidade de bens, não só para os
atos de enriquecimento ilícito ou de prejuízo ao erá-
Art. 11 Constitui ato de improbidade administrati- rio, mas também para os atos que atentem contra os
va que atenta contra os princípios da administra- princípios da Administração Pública.
ção pública qualquer ação ou omissão que viole os Importante ressaltar ainda a diferença entre frus-
deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, trar a licitude de procedimento licitatório ou de
e lealdade às instituições, e notadamente: [...] processo seletivo para celebração de parcerias com
entidades sem fins lucrativos, ou dispensá-los indevi-
O art. 37, caput, da Constituição Federal prevê que
damente e frustrar a licitude de concurso público.
Art. 37 A administração pública direta e indireta de Aquela conduta causa lesão ao erário, enquanto esta
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Dis- é um ato que atenta contra os princípios da Adminis-
trito Federal e dos Municípios obedecerá aos prin- tração Pública.
cípios de legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: [...] Frustrar a
licitude de
procedimento
Portanto, o texto constitucional prevê como prin-
licitatório ou de
cípios da Administração Pública a legalidade, processo seletivo Lesão ao erário
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência ou dispensá-los
memorize-os, por meio do famoso mnemônico LIM- indevidamente
CONDUTAS
PE: legalidade, impessoalidade, moralidade, publici- Frustrar a licitu-
Atenta contra
os princípios da
dade e eficiência. de de concurso Administração
Entretanto, você deve se atentar ao que a literali- público Pública
dade da questão cobra, uma vez que, em caso de esta
exigir os princípios expressos na Lei de Improbida-
DAS PENAS
de Administrativa, o aluno deve ter em mente que
são os seguintes: honestidade, imparcialidade, lega-
O art. 12 estabelece as sanções aplicadas no caso de
lidade e lealdade às instituições.
cometimento de ato de improbidade administrativa.
Honestidade As espécies de sanções são as mesmas, mas serão gra-
duadas de acordo com a modalidade de ato praticado.
PRINCI- Imparcialidade A Constituição prevê no § 4º, do art. 37, que:
PIOS DA
LIA Legalidade Art. 37 (CF/88) [...]
Lealdade às Instituições § 4º Os atos de improbidade administrativa impor-
tarão a suspensão dos direitos políticos, a per-
da da função pública, a indisponibilidade dos
Nos incisos do art. 11, estão previstas as condutas bens e o ressarcimento ao erário, na forma e
que atentam contra os princípios da Administração gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação
110 Pública. Vejamos: penal cabível.
Dica Em primeiro lugar, importa atentar para o fato de
que há independência entre as sanções penais, civis e
Sanções – Constituição Federal administrativas.
“Improbidade Administrativa: vai a PARIS:” Diante de atos que importam enriquecimento ilí-
Perda da função pública cito, serão aplicadas as seguintes sanções:
Ação penal (sem prejuízo da ação penal cabível)
Ressarcimento ao erário z Perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente
Indisponibilidade de bens ao patrimônio;
Suspensão dos direitos políticos z Ressarcimento integral do dano quando houver;
Atenção! Algumas bancas examinadoras procu- z Perda da função pública;
ram confundir o candidato, trocando a palavra z Suspensão dos direitos políticos de 8 (oito) a 10
suspensão por cassação dos direitos políticos. (dez) anos;
z Pagamento de multa civil de até 3 (três) vezes o
A LIA (Lei de Improbidade Administrativa) acres- valor do acréscimo patrimonial;
centou, ainda, dois tipos sanções: a) pagamento de z Proibição de contratar com o Poder Público ou
multa civil e (b) proibição de contratar com o Poder receber benefícios ou incentivos fiscais ou cre-
Público ou de receber benefícios ou incentivos fis-
ditícios, direta ou indiretamente, ainda que por
cais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda
intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio
que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja
majoritário pelo prazo de dez anos.
sócio majoritário.
jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo benefício financeiro ou tributário), o agente estará
de três anos. sujeito à:
IV - na hipótese prevista no art. 10-A, perda da fun-
ção pública, suspensão dos direitos políticos de 5 z Perda da função pública;
(cinco) a 8 (oito) anos e multa civil de até 3 (três)
z Suspensão dos direitos políticos de 5 (cinco) a 8
vezes o valor do benefício financeiro ou tributário
(oito) anos;
concedido. (Incluído pela Lei Complementar nº
157, de 2016) z Multa civil de até 3 (três) vezes o valor do benefício
Parágrafo único. Na fixação das penas previstas financeiro ou tributário concedido.
nesta lei o juiz levará em conta a extensão do dano
causado, assim como o proveito patrimonial obtido Essas informações foram resumidas no quadro a
pelo agente. seguir. Vejamos: 111
SUSPENSÃO DOS DIREITOS PROIBIÇÃO DE
MODALIDADES MULTA
POLÍTICOS CONTRATAR
Enriquecimento ilícito 8 a 10 anos Até 3x o valor do dano 10 anos
Prejuízo ao erário 5 a 8 anos Até 2x o valor do dano 5 anos
Atentar contra os princípios
3a5 Até 100x a remuneração 3 anos
da Administração Pública.
Concessão de benefício
5a8 Até 3x o valor do dano
indevido
Importante!
Na fixação das penas previstas na Lei de Improbidade Administrativa, o juiz levará em conta a extensão do
dano causado, assim como o proveito patrimonial obtido pelo agente.
DECLARAÇÃO DE BENS
De acordo com o art. 13 desta Lei, sempre a posse e o exercício de agente público ficam condicionados à apre-
sentação de declaração dos bens e valores que compõem o seu patrimônio privado, a fim de ser arquivada no
serviço de pessoal competente. Isso servirá para analisar a evolução patrimonial do agente público. Essa decla-
ração compreenderá imóveis, móveis, semoventes (animais como bovinos ou equinos), dinheiro, títulos, ações e
qualquer outra espécie de bens e valores patrimoniais localizados no País ou no exterior e, quando for o caso,
abrangerá os bens e valores patrimoniais do cônjuge ou companheiro, dos filhos e de outras pessoas que vivam
sob a dependência econômica do declarante, excluídos apenas os objetos e utensílios de uso doméstico.
Muitas instituições, sobretudo federais, aceitam que seja utilizada cópia do imposto de renda do servidor.
Desta maneira, alcança-se o acompanhamento do desenvolvimento patrimonial do servidor de forma simples.
De acordo com o § 1° do art. 13, a declaração de bens será anualmente atualizada (e analisada) na data em
que o agente público deixar o exercício do mandato, cargo, emprego ou função.
Art. 13 [...]
§ 3° Será punido com a pena de demissão, a bem do serviço público, sem prejuízo de outras sanções cabíveis,
o agente público que se recusar a prestar declaração dos bens, dentro do prazo determinado, ou que a
prestar falsa.
§ 4° O declarante, a seu critério, poderá entregar cópia da declaração anual de bens apresentada à Delegacia da
Receita Federal na conformidade da legislação do Imposto sobre a Renda e proventos de qualquer natureza, com as
necessárias atualizações, para suprir a exigência contida no caput e no § 2° deste artigo.
O art. 14 estabelece que qualquer pessoa pode representar a autoridade administrativa competente, para que
seja instaurada investigação destinada a apurar a prática de ato de improbidade.
A representação escrita ou reduzida a termo e assinada conterá os dados de qualificação do representante,
as informações sobre o fato e sua autoria e apontará as provas de que tenha conhecimento, de acordo com o
§ 1° do art. 14.
Tendo em vista o disposto no § 2°, a autoridade administrativa poderá rejeitar a representação, em despacho
fundamentado, se a representação não apresentar os requisitos mínimos elencados pela lei.
A rejeição da representação não impede que esta seja realizada pelo Ministério Público (§ 2°).
Realizada a representação e atendidos os seus requisitos, a autoridade determinará a imediata apuração dos
fatos, vide § 3° do art. 14.
No caso de servidores federais, será processada na forma da Lei nº 8.112, de 1990 e, tratando-se de servidor
militar, de acordo com os respectivos regulamentos disciplinares, consoante dispõe o § 3° do art. 14.
Por conseguinte, uma vez estabelecida a comissão processante, essa dará conhecimento ao Ministério Público
e ao Tribunal ou Conselho de Contas da existência de procedimento administrativo, para apurar a prática de ato
de improbidade. Vejamos:
Art. 15 A comissão processante dará conhecimento ao Ministério Público e ao Tribunal ou Conselho de Contas da
existência de procedimento administrativo para apurar a prática de ato de improbidade.
Parágrafo único. O Ministério Público ou Tribunal ou Conselho de Contas poderá, a requerimento, designar
representante para acompanhar o procedimento administrativo.
De acordo com o art. 16, havendo fundados indícios de responsabilidade, a comissão representará ao MP ou à
procuradoria do órgão para que requeira ao juízo competente a decretação do sequestro dos bens do agente ou
de terceiro que tenha enriquecido ilicitamente ou causado danos ao patrimônio público.
112
Indícios fundados
de
PROPOSITURA DA AÇÃO
responsabilidade
PROPOSITURA DA AÇÃO
Representação intervir no processo como justificação que fundamentadas da
MP ou parte, atuará, obrigatoriamente, contenham indícios impossibilidade de
Procuradoria como fiscal da lei, sob pena de suficientes da exis- apresentação de
nulidade (§ 4° do art. 17). tência do ato de qualquer dessas
improbidade. provas
Pedido de
sequestro dos
bens – de forma
cautelar
ressarcimento ao erário (§ 2°). A propositura da ação materiais, morais ou à imagem que houver provocado.
enseja a prevenção da jurisdição do juízo para as
ações posteriormente promovidas desde que possuam
a mesma causa de pedir ou o mesmo objeto (§ 5°).
Importante!
A perda da função pública e a suspensão dos
§ 6° A ação deve ser instruída com documentos ou direitos políticos só se efetivarão com a decisão
justificações que contenham indícios suficientes da final irrecorrível – trânsito em julgado – da sen-
existência do ato de improbidade ou com razões tença condenatória.
fundamentadas da impossibilidade de apresenta- Não esqueça de que jamais os direitos polí-
ção de qualquer dessas provas, observada a legis- ticos serão perdidos, podendo, somente, ser
lação vigente [...]. suspensos. 113
Art. 20 A perda da função pública e a suspensão PODER HIERÁRQUICO
dos direitos políticos só se efetivam com o trânsito
em julgado da sentença condenatória. Poder hierárquico é o poder que dispõe o Execu-
Parágrafo único. A autoridade judicial ou admi- tivo para organizar e distribuir as funções de seus
nistrativa competente poderá determinar o afas- órgãos, bem como ordenar e rever a atuação de seus
tamento do agente público do exercício do cargo, agentes, estabelecendo uma relação de subordinação
emprego ou função, sem prejuízo da remuneração, entre os servidores do seu quadro de pessoas. As rela-
quando a medida se fizer necessária à instrução ções de hierarquia são características únicas, existem
processual. somente no âmbito do Poder Executivo, isso é, não
existe hierarquia entre órgãos do Poder Legislativo e
Art. 21 A aplicação das sanções previstas nesta lei
do Judiciário. Além disso, importante frisar que não
independe:
existe poder hierárquico entre membros da Adminis-
I - Da efetiva ocorrência de dano ao patrimônio
tração Indireta, pois estes são entidades autônomas,
público, salvo quanto à pena de ressarcimento; que não se subordinam aos entes que o criaram. Pela
II - Da aprovação ou rejeição das contas pelo órgão hierarquia, há a imposição ao subalterno da estrita
de controle interno ou pelo Tribunal ou Conselho obediência às ordens e instruções legais superiores,
de Contas. além de definir a responsabilidade de cada um de
seus agentes e órgãos públicos.
De acordo com o art. 22, para apurar qualquer ilí- Quanto as suas características, diz-se que o poder
cito previsto na lei de improbidade administrativa, o hierárquico é interno e permanente. Interno é o
MP, de ofício ou a requerimento de autoridade admi- poder que atinge apenas os próprios membros da
nistrativa ou, ainda, mediante representação, poderá Administração e não tem o condão de atingir as rela-
ções dos particulares. É também um poder perma-
requisitar a instauração de inquérito policial ou
nente porque não é exercido de modo esporádico e
procedimento administrativo. episódico, como acontece no poder disciplinar.
Do poder hierárquico são decorrentes certas facul-
PRESCRIÇÃO dades implícitas ao superior, tais como dar ordens e
fiscalizar o seu cumprimento, delegar e avocar atri-
O art. 23, que dispõe sobre a prescrição, estabe- buições, bem como rever atos de seus inferiores.
lece que as ações destinadas a levar a efeitos as san- A delegação é a transferência temporária de com-
ções previstas na Lei de Improbidade Administrativa petência administrativa de seu titular, a outro órgão
podem ser propostas de acordo com o estabelecido no ou agente público. A delegação poderá ser vertical
quando a matéria for outorgada a um outro órgão ou
fluxograma seguinte:
agente público subordinado à autoridade outorgante,
permanecendo na mesma linha hierárquica. Mas a
05 anos – Término do mandato, cargo em comis- delegação também poderá ser feita para outro órgão
são ou função de confiança ou agente que esteja fora da sua linha hierárquica,
hipótese que denominamos de delegação horizontal.
PRESCRIÇÃO
Objeto
REQUISITOS DO ATO ADMINISTRATIVO
Objeto é o conteúdo do ato, ou o resultado que
Os requisitos ou elementos dos atos administrati- pretende ser almejado pela prática do ato administra-
vos são assuntos com imensa divergência doutrinária. tivo. Todo ato administrativo tem por objeto a cria-
A maioria dos concursos públicos ainda adota a con- ção, modificação, ou comprovação de situações
cepção mais clássica dos requisitos dos atos adminis- jurídicas concernentes a pessoas, bens, ou atividades
trativos e, por isso, daremos maior destaque a ela. sujeitas ao exercício do Poder Público. É por meio dele
De modo geral, a corrente clássica, defendida por que a Administração exerce seu poder, concede um
autores, como Hely Lopes Meirelles, tende a dispor benefício, aplica uma sanção, declara sua vontade,
cinco requisitos dos atos administrativos para a sua estabelece um direito do administrado etc.
formação, utilizando, como inspiração, o preceito O objeto pode não estar previsto expressamente
legal disposto no art. 2º da Lei nº 4.717, de 1965. São na legislação, cabendo ao agente competente a opção
eles: que seja mais oportuna e conveniente ao interesse
público. A definição de objeto do ato administrativo
a) competência; trata-se, por isso, de ato discricionário.
b) objeto;
c) forma; Forma
d) motivo;
e) finalidade. A forma é o modo por meio do qual se exterioriza
o ato administrativo, é seu revestimento. O desrespeito
Competência à forma do ato acarreta na sua nulidade. Trata-se de
ato vinculado, quando exigida por Lei, e discricionário
Competência diz respeito à capacidade do agente quando a sua escolha couber ao próprio agente público.
público para o exercício dos atos administrativos. É Em regra, os atos administrativos são sempre exte-
requisito de validade, haja vista que, no Direito Admi- riorizados por escrito, mas podem também ser orais,
nistrativo, a lei é quem estabelece as competências gestuais, ou até mesmo expedidos por máquinas. O art.
atribuídas a seus agentes para o desempenho de suas 22 da Lei nº 9.784, de 1999, determina que “os atos do
funções. Quando o agente atua fora dos limites da lei, processo administrativo não dependem de forma deter-
diz-se que cometeu ato nulo por excesso de poder. É, minada senão quando a lei expressamente a exigir”.
por isso, sempre um ato vinculado.
A competência possui certas características pró- Motivo
prias, a saber: obrigatória, intransferível, irrenun-
ciável, imodificável, imprescritível e improrrogá- O motivo é a circunstância de fato ou de direito que
vel. Veremos de modo mais específico cada uma delas determina ou autoriza a prática do ato, isso é, a situa-
a seguir: ção fática que justifica a realização do ato. Situação
de fato é o conjunto de circunstâncias que motivam
z Obrigatória, porque representa um dever do agen- a realização do ato; questões de direito é a previsão
te público; legal que leva à realização do ato.
z Intransferível significa que, de modo geral, a com- O motivo pode ser tanto requisito vinculado como
petência é um quesito personalíssimo, não pode discricionário, dependendo do comando legal impos-
ser transferido para terceiros; to aos agentes. Assim, o motivo será vinculado quando
z Irrenunciável, porque o agente público não pode a lei expressamente obrigar o agente a agir de um cer-
abrir mão de sua competência; to modo, como na hipótese de lançamento tributário
z Imodificável significa que a competência, uma vez (o fiscal da Receita não tem direito de escolha, se deve
118 estabelecida, não pode sofrer alterações posteriores; ou não fazer o lançamento).
Situação diversa é a do pedido de demissão de ser- Veremos cada um desses atributos de modo mais
vidor público no caso de incontinência pública (inciso específico a seguir:
V, do art. 132, da Lei nº 8.112, de 1990), hipótese em Presunção de legitimidade e veracidade.
que a autoridade competente tem maior liberdade Também pode ser denominado presunção de
para avaliar se a demissão é realmente ato necessário legalidade. Significa que todo ato administrativo
ou não, dependendo do caso concreto. é considerado válido no âmbito jurídico até surgir
Não se confunde motivo com motivação, essa é prova em contrário. Se, pelo princípio da legalidade,
ao Administrador só cabe fazer o que a lei permite,
a justificativa para a realização de determinado ato.
então, presume-se que o fez respeitando a lei.
O motivo ocorre em momento anterior à prática do
Nosso Direito admite duas formas de presunção:
ato, enquanto que a motivação, por ser uma série de
explicações que justificam a expedição do ato, ocorre
z Presunção juris et de jure que significa “de direito e
sempre em momento posterior. Assim, todo o ato tem por direito”, é presunção absoluta, que não admite
seu motivo (Teoria dos Motivos Determinantes), mas prova em contrário;
nem sempre é expedido adjunto com a motivação, z Presunção juris tantum, resultante do próprio
que nada mais é do que a exteriorização dos motivos. direito e, embora por ele estabelecida como verda-
deira, admite prova em contrário.
Finalidade
A presunção dos atos administrativos é juris tan-
Finalidade é o objetivo a ser almejado pela prática tum. Trata-se, então, de presunção relativa. Cabe ao
daquele ato administrativo. Em muitos casos, o obje- particular que alegou a ilegalidade do ato administra-
tivo almejado é a proteção do interesse público. Sem- tivo provar a carência de legitimidade do mesmo.
pre que o ato for praticado, tendo em vista o interesse A presunção atinge todos os atos, inclusive aque-
alheio, será nulo por desvio de finalidade. les praticados pela Administração com base no direi-
Por exemplo: o trancamento de um estabelecimen- to privado. Qualquer que seja o ato, se praticado pela
to, após constatação de falta de cuidados higiênicos Administração Pública, será presumidamente legíti-
mo e verdadeiro.
com os alimentos, visa a proteção da vida e da saúde
dos cidadãos que frequentam aquele local. Pode-se
Imperatividade
afirmar, de modo geral, que a finalidade de um ato
administrativo sempre será a proteção dos direitos e
Compreendida também como coercibilidade, os
garantias fundamentais da pessoa humana.
atos administrativos se impõem aos destinatários,
Além dessa concepção clássica, há também uma independentemente de sua concordância, outorgan-
classificação mais moderna dos requisitos dos atos do-lhes deveres e obrigações. A imperatividade garan-
administrativos, elaborada por autores como Celso te ao Poder Público a capacidade de produzir atos
Antônio Bandeira de Mello. Por ser pouco utilizada que geram consequências perante terceiros. O Estado
em concursos públicos, observaremos apenas os pon- somente consegue alcançar seus objetivos de forma
tos essenciais e didáticos da referida classificação. eficiente se ele se encontrar em posição superior aos
Para essa concepção moderna, são requisitos dos seus governados.
atos administrativos: A justificativa da criação unilateral, ainda que
contra a vontade dos administrados, dos atos admi-
a) sujeito; nistrativos é o Poder coercitivo do Estado, também
b) motivo; denominado Poder Extroverso ou Poder de Império.
c) requisitos procedimentais; Esse não é um atributo comum a todos os atos, mas
d) finalidade; tão somente aos que impõem obrigações aos adminis-
e) causa; trados. Assim, não têm essa característica os atos que
f) formalização. outorgam direitos (autorização, permissão, licença),
bem como aqueles meramente administrativos (cer-
Sujeito, requisitos procedimentais e causa são os tidão, parecer).
requisitos vinculados, enquanto que o motivo, a fina-
lidade e a formalização são requisitos discricionários. Exigibilidade
caz é aquele que já está produzindo efeitos concre- z Extinção por renúncia: ocorre quando o próprio
tos. São considerados eficazes porque sobre eles beneficiário abre mão da situação proporcionada
não recai nenhum prazo ou condição suspensiva. pelo ato administrativo. É o caso da exoneração de
Já os atos ineficazes são aqueles que não podem cargo público a pedido do seu ocupante;
produzir seus efeitos, seja por motivos de perfei- z Retirada do ato: é a forma mais importante de
ção, seja pela ausência de um outro ato adminis- extinção dos atos administrativos, para os concur-
trativo que o homologue. É o caso, por exemplo, sos públicos. É a extinção que se dá pela expedi-
da investidura de candidato em um cargo públi- ção de um segundo ato, elaborado para extinguir
co. Tal ato por si só é ineficaz, se o candidato não ato administrativo anterior a ele. Comporta cinco
tiver, além de ser aprovado em concurso público, modalidades, que serão vistas com maiores deta-
realizado outro ato que é a assinatura do termo de lhes: revogação, anulação, cassação, caducidade e
posse. contraposição. 121
Revogação O direito da Administração de anular os atos admi-
nistrativos de que decorram efeitos favoráveis para
Revogação é a extinção de ato administrativo que os destinatários decai em cinco anos, contados da
se encontra perfeito e apto a produzir seus efeitos, data em que foram praticados, salvo comprovada
praticado pela própria Administração Pública. Essa má-fé. O prazo decadencial de cinco anos é atributo
remoção é fundada em razões de conveniência e opor- exclusivo da anulação.
tunidade, sempre almejando a proteção do interesse
público. Nessa hipótese, ocorre uma causa superve- Por fim, em relação a seus efeitos, é importante fri-
niente, que altera o juízo de conveniência e oportu- sar que o ato nulo (aquele que carece de legalidade)
nidade sobre a permanência de ato discricionário, tem o seu defeito constatado desde a sua concepção.
obrigando a Administração a expedir um segundo ato Por isso, a anulação deve desconstituir os efeitos des-
capaz de revogar esse ato anterior. de a data da prática daquele ato. Podemos afirmar,
O conceito de revogação tem previsão no art. 53 da então, que a anulação possui efeito retroativo, ou ex
Lei nº 9.784, de 1999: tunc. Em regra, não gera ao particular direito à inde-
nização pela anulação de ato ilegal, salvo se compro-
A Administração deve anular seus próprios atos, var ter sofrido dano anormal para ocorrência, do qual
quando eivados de vício de legalidade, e pode revo- não tenha participado.
gá-los por motivo de conveniência ou oportunida-
de, respeitados os direitos adquiridos.
privado. O Estado carece de recursos para cuidar de ao longo do tempo. A instauração de serviço públi-
tantos setores, simultaneamente. co mediante certo regime jurídico não gera um
Por isso, houve a necessidade de delegar tais servi-
“direito adquirido” ao mesmo, o que significa que
ços, mediante concessão ou permissão, como também
o Poder Público pode alterar um estatuto ou con-
a criação de pessoas jurídicas próprias para controlar
tais atividades. Há assim, uma mitigação dos elemen- trato administrativo para promover maior ade-
tos identificadores do serviço público. Atualmente, quação na prestação do referido serviço;
admite-se que a execução dos serviços públicos seja z Princípio da isonomia dos usuários: trata-se
realizada por particulares (elemento subjetivo). Há de uma decorrência direta do princípio constitu-
uma delegação da execução do serviço, o qual poderá cional da impessoalidade. O serviço público deve
ocorrer mediante concessão ou permissão do serviço atender a todos, geralmente de forma individuali-
público, nos termos da Lei nº 8.987, de 1995. zada, sem discriminações e privilégios; 123
z Princípio da modicidade das tarifas: As tarifas No caso apresentado, o Estado acabou se tornando
não devem ser exorbitantes, pois o serviço deve o ente responsável por reparar a família pela morte da
ser aproveitado pelo maior número de usuários menina. Ocorre que a grande inovação se deu quan-
possível, independentemente de sua classe eco- do a corte julgadora decidiu que a responsabilidade
nômica. O valor a ser exigido dos usuários deve do Estado não poderia ter o seu fundamento retirado
ser o menor possível para, também, remunerar o do Direito Civil. Assim, a responsabilidade estatal tem
prestador do serviço, com uma pequena margem seu fundamento ligado às noções de responsabilidade
de lucro. Com o objetivo de reduzir ao máximo mais amplas do que o âmbito de Direito Civil, o que sig-
o valor da tarifa cobrada, a legislação brasileira nifica que, para o Estado ser considerado responsável,
prevê alguns mecanismos especiais, que se apre- deve haver a comprovação de que este agiu com culpa
sentam como fontes alternativas de remunera- lato sensu, abrangendo as hipóteses de dolo (intenção
ção do prestador do serviço público. É o caso, por de lesar), bem como as de negligência, imprudência e
exemplo, de espaços publicitários utilizados nos imperícia (culpa stricto sensu). Essa era a grande difi-
arredores de uma rodovia. A menor tarifa é tam- culdade dessa teoria: pelo fato da relação entre a Admi-
bém critério essencial para avaliação de proposta nistração Pública e o particular ser desigual, a vítima
numa licitação do tipo concorrência pública. muitas vezes não possuía meios suficientes para com-
provar a conduta dolosa ou culposa do Estado. No Bra-
sil, adotamos a teoria subjetiva no Direito Público,
excepcionalmente, nos casos de omissão da Admi-
nistração, ou na possibilidade de ação regressiva
RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO desta perante seus agentes.
A terceira teoria, denominada Teoria da Res-
Nos dias atuais, temos a total compreensão da ideia ponsabilidade Objetiva, surge nos meados de 1946.
de responsabilidade civil e extracontratual do Estado. Consiste no afastamento da necessidade de compro-
Significa dizer que ao Estado é imputado o dever de vação de dolo ou culpa do agente público, tendo por
ressarcir particulares pelos prejuízos praticados na fundamento do dever de indenizar a concepção de
conduta de seus agentes, independentemente de qual- risco administrativo. Quem presta um serviço públi-
quer acordo ou pacto estabelecido. co, assume o risco dos prejuízos que eventualmente
Todavia, essa concepção que temos atualmen- causar a outrem. Não cabe, dessa forma, a discussão
te não “brotou da terra”: ela foi o resultado de uma sobre aspectos subjetivos da responsabilidade estatal,
longa evolução histórica sobre a forma de atuação do exceto nas hipóteses de ação regressiva.
Poder Público na esfera privada. Por isso, é importan-
te analisar a evolução histórica da responsabilidade RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO NO
estatal, tendo como foco os países ocidentais, sobre- DIREITO BRASILEIRO: RESPONSABILIDADE POR
tudo o Brasil. AÇÃO E POR OMISSÃO
Ainda sobre a omissão, há uma discussão dou- em que o dano decorre de ato humano, ou da pró-
trinária a respeito da responsabilidade omissiva ser pria Administração, como o desabamento de uma
objetiva ou subjetiva. A primeira corrente, defendida estrada. O caso fortuito enseja o dever de respon-
por juristas como Hely Lopes Meirelles, defende que sabilidade somente se tal evento for causado pelo
se a Constituição Federal não distinguiu a responsabi- agente público;
lidade por ação e omissão, então não deve o intérprete z Culpa de terceiro: é a hipótese em que o prejuí-
fazê-lo também. zo é atribuído a pessoa estranha aos quadros da
Porém, a corrente majoritária defendida por Administração Pública. Dessa forma, não há como
juristas como Celso Antônio Bandeira de Mello diz o Estado ser imputado responsável por atos pra-
que a responsabilidade civil por omissão é sempre ticados por pessoas que não fazem parte de sua
subjetiva. composição. 125
Curioso é o caso dos danos causados pelas enchen- 1. A responsabilidade civil estatal, segundo a Cons-
tes, sobretudo em cidades onde o escoamento das tituição Federal de 1988, em seu art. 37, § 6º, subsu-
águas é precário, como ocorre em algumas regiões da me-se à teoria do risco administrativo, tanto para as
cidade de São Paulo. Como regra geral, o Estado não se condutas estatais comissivas quanto paras as omissi-
responsabiliza por prejuízos causados pelas enchen- vas, posto rejeitada a teoria do risco integral.
tes. A 3º Câmara de Direito Público do TJ/SP negou 2. A omissão do Estado reclama nexo de causalida-
provimento à AC nº 0170440220058260602 interposta de em relação ao dano sofrido pela vítima nos casos
por três proprietários de imóveis afetados pelas for- em que o Poder Público ostenta o dever legal e a efe-
tes chuvas do início do ano de 2012, que pleiteavam tiva possibilidade de agir para impedir o resultado
pedido de indenização pelos danos causados pelas
danoso.
chuvas, pois as galerias pluviais de seu bairro não
3. É dever do Estado e direito subjetivo do preso
eram suficientes para escoar toda a água, caracteri-
que a execução da pena se dê de forma humanizada,
zando-se em falta no serviço público. Segundo voto do
garantindo-se os direitos fundamentais do detento, e
relator, porém, não havia qualquer prova que defina
o de ter preservada a sua incolumidade física e moral
a ocorrência de qualquer falta de serviço que possa
ser atribuída ao Município e que tenha sido causa (art. 5º, inciso XLIX, da Constituição Federal).
concorrente para o evento. 4. O dever constitucional de proteção ao deten-
Todo aquele que se sentir prejudicado por con- to somente se considera violado quando possível a
duta comissiva ou omissiva de agente público pode atuação estatal no sentido de garantir os seus direitos
pleitear, pela via administrativa ou judicial, a devi- fundamentais, pressuposto inafastável para a confi-
da reparação pelos danos causados. Na via adminis- guração da responsabilidade civil objetiva estatal, na
trativa, basta que o prejudicado formule o pedido forma do art. 37, § 6º, da Constituição Federal.
a autoridade competente, que instaurará processo 5. Ad impossibilia nemo tenetur, por isso que nos
administrativo para apurar a responsabilidade e o casos em que não é possível ao Estado agir para evitar
pagamento de indenização. a morte do detento (que ocorreria mesmo que o pre-
Porém, é preferível que a vítima utilize a via judi- so estivesse em liberdade), rompe-se o nexo de cau-
cial, hipótese mais comum haja vista o direito de peti- salidade, afastando-se a responsabilidade do Poder
ção, que se caracteriza no dever do Poder Judiciário Público, sob pena de adotar-se contra legem e a opinio
de atender todas as demandas feitas pelos cidadãos. doctorum a teoria do risco integral, ao arrepio do tex-
O direito à indenização da vítima se instrumentaliza to constitucional.
pela ação indenizatória. A ação indenizatória, dessa 6. A morte do detento pode ocorrer por várias
forma, é aquela proposta pela vítima contra a pes- causas, como, v. g., homicídio, suicídio, acidente ou
soa jurídica que o agente público causador do dano morte natural, sendo que nem sempre será possível
pertence. Conforme dispõe o inciso V, § 3º, art. 206 do ao Estado evitá-la, por mais que adote as precauções
Código Civil, o prazo prescricional para a propositura
exigíveis.
de ação indenizatória é de três anos, contados da ocor-
7. A responsabilidade civil estatal resta conjurada
rência do evento danoso.
nas hipóteses em que o Poder Público comprova causa
Lembrando também que sempre há a possibilida-
impeditiva da sua atuação protetiva do detento, rom-
de de direito de regresso, por parte do ente público,
contra o agente que, de fato, praticou a conduta dano- pendo o nexo de causalidade da sua omissão com o
sa. Óbvio, quando a culpa recair totalmente sobre um resultado danoso.
agente ou um pequeno grupo de agentes públicos, o 8. Repercussão geral constitucional que assenta a
Estado não pode ser o único a arcar com os prejuí- tese de que: em caso de inobservância do seu dever
zos da reparação, ele possui direito de regresso. Ain- específico de proteção previsto no art. 5º, inciso XLIX,
da que os agentes não indenizem a vítima, sobre eles da Constituição Federal, o Estado é responsável pela
podem recair a ação regressiva com essa finalidade morte do detento.
específica. Significa dizer que os agentes públicos só 9. In casu, o tribunal a quo assentou que inocor-
podem responder de forma subjetiva, devendo inde- reu a comprovação do suicídio do detento, nem outra
nizar o Poder Público pela prática de seus atos. causa capaz de romper o nexo de causalidade da sua
omissão com o óbito ocorrido, restando escorreita a
RESPONSABILIDADE DO ESTADO SEGUNDO decisão impositiva de responsabilidade civil estatal.
REITERADAS DECISÕES DO SUPREMO TRIBUNAL 10. Recurso extraordinário DESPROVIDO.
FEDERAL (STF)
(RE 841526, Relator(a): LUIZ FUX, Tribunal Pleno, julgado em
É bem comum que algumas questões exijam do 30/03/2016, ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL -
candidato conhecimentos sobre a jurisprudência de MÉRITO DJe-159 DIVULGAÇÃO 29-07-2016 PUBLICAÇÃO 01-08-
2016)
determinada matéria. De fato, a teoria da responsa-
bilidade extracontratual do Estado abrange diversas
casuísticas que podem gerar algumas dúvidas, sobre Um tema que costuma cair bastante em questões
as quais a doutrina faz pouca menção. de prova diz respeito à morte do preso. Segundo enten-
Observe as seguintes ementas relacionadas com a dimento do STF, o Estado tem o dever de garantir que
referida matéria, todas extraídas do STF: a pessoa do detento cumpra sua pena com dignidade,
respeitados os seus direitos humanos fundamentais.
EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPER- Assim, quando um detento morre dentro da prisão,
CUSSÃO GERAL. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ES- demonstra-se uma omissão do Estado de atuar em
TADO POR MORTE DE DETENTO. ARTIGOS 5º, XLIX, garantir seus direitos. Até mesmo em casos de suicí-
126 E 37, § 6º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. dio é possível a responsabilização civil do Estado.
EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM I - A responsabilidade civil das pessoas jurídicas de
REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA. DIREITO direito privado prestadoras de serviço público é obje-
CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. RESPONSABI- tiva relativamente a terceiros usuários e não-usuários
LIDADE CIVIL DO ESTADO POR OMISSÃO. ART. 37, § do serviço, segundo decorre do art. 37, § 6º, da Consti-
6º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. FISCALIZAÇÃO DO tuição Federal.
COMÉRCIO DE FOGOS DE ARTIFÍCIO. TEORIA DO
II - A inequívoca presença do nexo de causalidade
RISCO ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE OBJE-
TIVA. NECESSIDADE DE VIOLAÇÃO DO DEVER JURÍDI- entre o ato administrativo e o dano causado ao ter-
CO ESPECÍFICO DE AGIR. ceiro não-usuário do serviço público, é condição sufi-
1. A Constituição Federal, no art. 37, § 6º, consagra ciente para estabelecer a responsabilidade objetiva da
a responsabilidade civil objetiva das pessoas jurídicas pessoa jurídica de direito privado.
de direito público e das pessoas de direito privado III - Recurso extraordinário desprovido.
prestadoras de serviços públicos. Aplicação da teoria
do risco administrativo. Precedentes da CORTE. (RE 591874, Relator(a): RICARDO LEWANDOWSKI, Tribunal
2. Para a caracterização da responsabilidade civil Pleno, julgado em 26/08/2009, REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO
estatal, há a necessidade da observância de requisitos DJe-237 DIVULG 17-12-2009 PUBLIC 18-12-2009 EMENT VOL-
mínimos para aplicação da responsabilidade objetiva, 02387-10 PP-01820 RTJ VOL-00222-01 PP-00500)
quais sejam:
a) existência de um dano; Outro caso que é bastante comum e costuma cair
b) ação ou omissão administrativa; em questões de prova diz respeito ao serviço públi-
c) ocorrência de nexo causal entre o dano e a ação co de transporte coletivo. Indaga-se como recairia a
ou omissão administrativa; e responsabilidade do Estado quando, por exemplo, um
d) ausência de causa excludente da responsabili- motorista de ônibus atropela um civil andando na
dade estatal.
rua, que é considerado um terceiro não-usuário do
3. Na hipótese, o Tribunal de Justiça do Estado de
São Paulo concluiu, pautado na doutrina da teoria do serviço. Segundo o entendimento do STF, as pessoas
risco administrativo e com base na legislação local, jurídicas concessionários do serviço de transporte
que não poderia ser atribuída ao Município de São possuem responsabilidade civil objetiva quando
Paulo a responsabilidade civil pela explosão ocorri- o dano for causado contra terceiros, sejam eles
da em loja de fogos de artifício. Entendeu-se que não usuários do serviço ou não. A presença do nexo de
houve omissão estatal na fiscalização da atividade, casualidade é bastante evidente.
uma vez que os proprietários do comércio desenvol-
viam a atividade de forma clandestina, pois ausente a
autorização estatal para comercialização de fogos de
artifício.
4. Fixada a seguinte tese de Repercussão Geral: REGIME JURÍDICO ADMINISTRATIVO
“Para que fique caracterizada a responsabilidade civil
do Estado por danos decorrentes do comércio de fogos O regime jurídico pode ser definido como conjunto
de artifício, é necessário que exista a violação de um de normas que irá orientar uma determinada relação
dever jurídico específico de agir, que ocorrerá quan- jurídica. Vejamos dois exemplos para, desde já, seja
do for concedida a licença para funcionamento sem possível ter em mente que esse conjunto de normas
as cautelas legais ou quando for de conhecimento do poderá variar de acordo com a situação.
poder público eventuais irregularidades praticadas
O primeiro deles seria um desentendimento seu
pelo particular”.
5. Recurso extraordinário desprovido. com seu vizinho em uma eventual construção irregu-
lar, que extrapola o direito de um e invade o direito
(RE 136861, Relator(a): EDSON FACHIN, Relator(a) p/ Acórdão: do outro.
ALEXANDRE DE MORAES, Tribunal Pleno, julgado em Num segundo momento, imagine que você foi fla-
11/03/2020, ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL -
MÉRITO DJe-201 DIVULG 12-08-2020 PUBLIC 13-08-2020)
grado por uma viatura policial ao avançar um sinal
vermelho em alta velocidade.
Fogos de artifício são produtos altamente perigosos Veja que, em que pese caber discussões de defesa
e que podem causar danos a diversas vítimas, seja ela de direitos em ambos os exemplos, as normas apli-
o adquirente do produto, ou ainda terceiros. Observe cáveis aos casos não são as mesmas. No primeiro
que, no caso mencionado, a vítima adquiriu fogos de exemplo há uma clara igualdade, o que não ocorre no
artifícios de forma clandestina dos proprietários do segundo momento.
comércio. Não houve, assim, a aquisição de licença Para começar a entender o regime jurídico-ad-
para a venda desses produtos. Sendo assim, firmou- ministrativo, ou seja, o regime jurídico ao qual se
-se entendimento de que só caberá responsabilida-
submete a Administração Pública quando da sua
de civil do Estado quando restar comprovado que
NOÇÕES DE DIREITO
I. A polícia administrativa atua por meio de agentes cre- a) Celebrar contrato ou outro instrumento que tenha por
denciados por diversos órgãos públicos, procurando objeto a prestação de serviços públicos por meio da
impedir a prática de atos lesivos por infração a regras gestão associada sem observar as formalidades pre-
do Direito Administrativo. vistas na lei.
II. A polícia judiciária tem por finalidade exclusiva a cola- b) Celebrar parcerias da administração pública com enti-
boração com outros órgãos, realizando sua missão dades privadas sem a observância das formalidades
independentemente dos desdobramentos futuros. legais ou regulamentares aplicáveis à espécie.
III. A polícia administrativa funciona como suporte ao c) Permitir que se utilizem, em obra ou serviço particu-
poder judiciário e sua atividade deve ser entendida lar, veículos, máquinas, equipamentos ou material de
como meio subsidiário ao aparelhamento judicial com qualquer natureza, de propriedade ou à disposição de
a finalidade de repressão ao crime. qualquer das entidades mencionadas no art. 1° dessa
IV. A polícia judiciária tem por finalidade zelar pela boa lei, bem como o trabalho de servidor público, emprega-
dos ou terceiros contratados por essas entidades.
conduta dos indivíduos em face das leis, ocupando-se,
d) Revelar fato ou circunstância de que tem ciência em
portanto, do comportamento anti-social dos mesmos.
razão das atribuições e que deva permanecer em
segredo.
Diante do que foi exposto, marque a alternativa correta.
14. (FUMARC — 2016) São atos de improbidade adminis-
a) está correta apenas a afirmativa I.
trativa que causam lesão ao erário, EXCETO:
b) está correta apenas a afirmativa IV.
c) estão corretas apenas as afirmativas II e IV.
a) Permitir ou facilitar a aquisição, a permuta ou a
d) estão corretas apenas as afirmativas I e III.
locação de bem ou serviço por preço superior ao de
mercado.
10. (FUMARC — 2014) Serviço público é toda atividade
b) Perceber vantagem econômica para intermediar a
que a administração pública executa, direta ou indire-
liberação ou aplicação de verba pública de qualquer
tamente, sob regime jurídico predominantemente natureza.
c) Doar à pessoa física ou jurídica, bem como ao ente
a) público. despersonalizado, ainda que de fins educativos ou
b) subjetivo. assistenciais, bens, rendas, verbas ou valores do patri-
c) administrativo. mônio de qualquer das entidades mencionadas no art.
d) público privado. 1º dessa lei, sem observância das formalidades legais
e regulamentares aplicáveis à espécie.
11. (FUMARC — 2011) O serviço público é uma ativida- d) Conceder benefício administrativo ou fiscal sem a
de oferecida à coletividade, realizada pelo Estado, no observância das formalidades legais ou regulamenta-
exercício da função pública regular. Nesse sentido, res aplicáveis à espécie.
analise as afirmativas atinentes às características do
serviço público: 15. (FUMARC — 2012) Riobaldo Diadorim, agente público
efetivo da Câmara Municipal de Sertão Grande, preten-
I. É um dever inescusável do Estado, como razão de sua dia desviar parte do estoque de papel A4 da Câmara,
própria existência; mas seu plano foi frustrado antes de se consumar gra-
NOÇÕES DE DIREITO
II. Todas as autoridades competentes para regular são ças à investigação do Ministério Público. De acordo
competentes para a execução; com a Lei nº 8.429/92, nesse caso, Riobaldo Diadorim
III. Tem sua adequação como direito fundamental, de poderá
acordo com princípios da própria Constituição.
I. Perder a função pública e ter seus direitos políticos
Assinale a alternativa correta cassados.
II. Ter de ressarcir o dano ao erário.
a) As afirmativas I, II e III estão incorretas. III. Ficar inelegível.
b) As afirmativas I, II e III estão corretas.
c) Apenas a afirmativa II está incorreta. Assinale a alternativa que indica qual(is) dos itens
d) Apenas a afirmativa III está incorreta. é(são) correto(s). 129
a) apenas item II.
b) Apenas o item III.
c) Apenas os itens I e III.
d) Os itens I, II e III.
9 GABARITO
1 D
2 D
3 C
4 C
5 C
6 B
7 B
8 D
9 A
10 A
11 B
12 A
13 D
14 B
15 B
ANOTAÇÕES
130
O nascimento com vida é confirmado a partir da
constatação do batimento cardíaco e da respiração —
comprovados pelo exame de Docimacia Hidrostática
de Galeano (guarde o nome deste exame para a pro-
2 CONSELHO DA JUSTIÇA FEDERAL. Jornadas de Direito Civil I, III, IV e V: enunciados aprovados. Coordenador científico: Ministro Ruy Rosado
132 de Aguiar Júnior. Brasília: Conselho da Justiça Federal, Centro de Estudos Judiciários, 2012).
Em seguida vamos analisar melhor cada uma Depreende-se desse preceito que, na defesa do
delas: direito personalíssimo, apenas o titular pode, em um
primeiro momento, proteger os seus direitos da per-
z Intransmissível: os direitos da personalidade não sonalidade. Neste sentido, a tutela do direito poderá, a
podem ser transmitidos a terceiros (seja por causa depender do que visa, ser:
mortis, seja por ato intervivos). Exceções: alguns
direitos podem ser transferidos temporariamente, z Tutela inibitória: contra as ameaças, para evitar
como a cessão do uso de imagem para comerciais, o dano. Exemplo: quando uma pessoa descobre
propagandas etc.; que um jornal pretende veicular sua imagem a
z Irrenunciável: os direitos da personalidade não uma reportagem. Pode-se buscar, por vias judi-
podem ser renunciados. O titular não pode abrir ciais, impedir a exposição da imagem;
mão deles de forma definitiva. Observação: dife- z Tutela repressiva: para cessar o dano. Exemplo:
rente da característica anterior em que se transmi- a imagem da pessoa é veiculada a uma reporta-
te a alguém, a renúncia seria abrir mão do direito,
gem. Podem-se buscar as vias judiciais para retirar
sem destiná-lo a outrem. Exemplo: não se pode
a imagem de circulação;
renunciar ao direito de ter um nome. Exceções:
z Perdas e danos: é o direito de pleitear indeniza-
alguns direitos podem ser renunciados tempora-
ção ante a uma lesão.
riamente, como em reality shows – os participan-
tes abrem mão, temporariamente, da privacidade;
z Autolimitação: o legislador não permite que, por Vale ressaltar que existem direitos da personalida-
vontade própria, o titular renuncie ou transmita de post mortem. Com a morte, alguns direitos da per-
seus direitos da personalidade. Trata-se de tute- sonalidade se mantêm, como os direitos ao corpo, à
la excessiva e sem justificativa. Porém, segundo imagem, ao nome. É o que assegura o parágrafo único,
o Enunciado nº 4, da I Jornada de Direito Civil, o art. 12, do Código Civil:
exercício dos direitos da personalidade pode sofrer
limitação voluntária, desde que não seja permanen- Art. 12 Parágrafo único. Em se tratando de morto,
te, nem geral. O titular pode dispor do exercício terá legitimação para requerer a medida prevista
dos seus direitos (a utilização deles), mas não do neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer
direito em si. parente em linha reta, ou colateral até o quarto
grau.
É importante saber que, embora os direitos da
personalidade sejam intransmissíveis, seus efeitos Conforme o Enunciado 400, do CJF — V Jornada de
patrimoniais podem ser transmitidos e, inclusive, Direito Civil —, o parágrafo único, do art. 12, e o pará-
constituir objeto de negociação. grafo único, do art. 20, asseguram legitimidade, por
Além das características expressas no Código, direito próprio aos parentes, cônjuge ou companhei-
Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona (2019, p. 97-98) ro, para a tutela contra lesão perpetrada post mortem3.
acrescentam outras: Logo, as indenizações cabíveis serão pagas para os
herdeiros e, não, para o morto. Um exemplo é o caso
z Absolutos: no sentido de serem oponíveis erga Garrincha: em 1995, Ruy Castro publicou a obra Estre-
omnes, isto é, todos terão o dever de respeitá-los; la Solitária — um brasileiro chamado Garrincha, sem
z Gerais ou necessários: no sentido de todas as pes- prévia autorização dos familiares do astro. Suas filhas,
soas serem titulares; em defesa da honra, imagem e privacidade, deman-
z Extrapatrimoniais: não são medidos financeira- daram contra a editora, pleiteando danos morais. O
mente; estão na esfera da proteção existencial do STJ (REsp 521697/RJ) conferiu os danos às filhas (dano
indivíduo; indireto ou dano em ricochete).
z Indisponíveis: a titularidade desses direitos não
pode ser alterada, o que, segundo os autores, abar- Espécies de Direito da Personalidade
ca as características mencionadas da irrenunciabi-
lidade e da intransmissibilidade; Primeiramente, vale lembrar que, assim como
z Imprescritíveis: não se perdem pelo não uso; a Constituição, de 1988, previu vários direitos fun-
z Impenhoráveis: não podem ser penhorados;
damentais em rol exemplificativo, como à vida, à
z Vitalícios: os direitos personalíssimos acompa-
liberdade, à honra, à intimidade, dentre outros,
nham a pessoa por toda a sua vida (alguns, até
assim também o Código Civil prevê direitos perso-
mesmo, após a morte, como é o caso da proteção
nalíssimos. Porém, de forma não exaustiva (apenas
do cadáver do falecido, de sua honra e de sua
exemplificativa).
imagem).
NOÇÕES DE DIREITO
Outra característica interessante dos direitos de Do Direito à Vida e à Integridade Física vs.
personalidade é acerca de sua tutela. Vejamos o que Intervenções Médicas e Cirúrgicas
dispõe o art. 12:
A Constituição Federal, de 1988, trata todos os direi-
Art. 12 Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a tos fundamentais no mesmo patamar, isto é, embora
lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas sejam os direitos mais importantes ao ser humano,
e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas nem mesmo o direito à vida é supremo e superior aos
em lei. demais. Vejamos:
3 Conselho da Justiça Federal. Jornadas de direito civil I, III, IV e V: enunciados aprovados. Coordenador científico: Ministro Ruy Rosado de
Aguiar Júnior. Brasília: Conselho da Justiça Federal, Centro de Estudos Judiciários, 2012. 133
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem dis- Pelo entendimento do enunciado, a recusa ao
tinção de qualquer natureza, garantindo-se aos tratamento é individual, não podendo ser oferecida
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País e substituída pela manifestação de outros (como de
a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à um representante legal no caso de incapazes), mas
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos somente pela própria pessoa que será submetida ao
seguintes:[...]
tratamento. Ainda, esta deve ser plenamente capaz e
não pode estar sendo objeto de coação ou de qualquer
Neste sentido, o Código Civil prevê ao paciente
constrangimento.
de tratamento médico ou de intervenção cirúrgica a
Nesse contexto, é interessante conhecer o nome de
opção entre fazer o procedimento ou não nos casos
procedimentos médicos possíveis com pacientes em
em que sua morte seja provável em decorrência do
leito de morte:
ato médico. Vejamos:
Art. 15 Ninguém pode ser constrangido a subme- z Eutanásia: É tratada como homicídio na sua for-
ter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou a ma comissiva (envolvem atos médicos no sentido
intervenção cirúrgica. de retirar a vida);
z Distanásia: É o prolongamento artificial da vida
O risco de vida será verificado quando há grande do paciente que não possui chances de cura ou de
probabilidade de morte. Podemos citar, como exem- recuperação;
plo, o tratamento para retirada de um tumor, o pro- z Ortotanásia: É a aceitação natural da morte, sem
cedimento delicado que pode levar o paciente a óbito. apressá-la (eutanásia) ou retardá-la (distanásia).
Por outro lado, quando há ausência de risco de vida É tratada como homicídio na sua forma passiva
o paciente será obrigado a submeter-se ao procedi- (ausência de atuação, quando poderiam ter sido
mento ou à intervenção cirúrgica, como na hipótese evitados certos efeitos);
de amputação de uma perna (não existe risco de vida z Suicídio assistido: Quando terceiro colabora com
no procedimento, mas, se não amputá-la, o paciente o suicídio, prestando informações ou colocando à
poderá morrer pelo alastramento do tecido morto). disposição do paciente meios necessários para a
Caberá ao médico, portanto, recolher o consen- prática.
timento informado de seu paciente. Isso significa
que o médico, seguindo a ética, deverá informar, de O Direito ao Corpo
modo mais amplo, ao paciente acerca de todos os
riscos da sua intervenção, para que este possa exer- Em continuidade, os arts. 13 e 14, do Código, dis-
cer seu direito de decisão quanto a realizar ou não o põem acerca do direito ao próprio corpo, estando ele
procedimento. vivo ou não. Vejamos:
Nesta temática, considerando o disposto no Códi-
go Civil, a resposta imediata a uma discussão que tem Art. 13 Salvo por exigência médica, é defeso o ato
sido levantada ao longo dos anos quanto à negativa de disposição do próprio corpo, quando importar
de realização de transfusão de sangue pelos seguido- diminuição permanente da integridade física, ou
res da religião “testemunhas de Jeová” seria: ante a contrariar os bons costumes.
manifestação expressa da vontade, a recusa à trans-
fusão de sangue deverá ser levada em consideração A regra é que não se pode dispor do próprio corpo
pelo médico.
(retirar parte do corpo ou alterá-lo) de forma perma-
Contudo a Resolução nº 1.021, de 1980, do Conse-
nente (importando diminuição permanente — são as
lho Federal de Medicina (CFM) contraria a autonomia
partes não regeneráveis. São exemplos de partes rege-
e o direito exposto no Código ao prever: “se houver
neráveis: cabelo, pele e unhas). Assim, poderá haver
iminente perigo de vida, o médico praticará a transfu-
disposição transitória, se não contrariar os bons cos-
são de sangue, independentemente de consentimento
do paciente ou de seus responsáveis”. tumes. Exceção: se houver exigência médica, poderá
Cumpre destacar que a Resolução não merece apli- haver disposição permanente ou transitória do corpo.
cação irrestrita, por contrariar a CF (direito à liberdade Outros pontos importantes é que não se poderão
religiosa) e, diante disso, o Conselho da Justiça Federal, contrariar os bons costumes, ou seja, tudo aquilo que
em 2011, editou o Enunciado 403, segundo o qual: desvirtua os padrões habituais de comportamento.
Trata-se de cláusula geral, a ser preenchida conforme
Enunciado 403 CJF - O Direito à inviolabilidade de análise da cultura e do caso exposto.
consciência e de crença, previsto no art. 5º, VI, da Exemplos curiosos são os casos de Voronoff e do
Constituição Federal, aplica-se também à pessoa homem-lagarto, Erik Sprague. O primeiro era um
que se nega a tratamento médico, inclusive trans- cirurgião russo que, entre os anos 1920 e 1930, reali-
fusão de sangue, com ou sem risco de morte, em zava diversas operações de rejuvenescimento mascu-
razão do tratamento ou da falta dele, desde que lino, retirando os testículos humanos e implantando,
observados os seguintes critérios: a - capacidade em seu lugar, testículos de macaco. Havia livre mani-
civil plena, excluído o suprimento pelo represen-
festação de vontade dos pacientes. Porém, podemos
tante ou assistente; b - manifestação de vontade
concluir que tal procedimento, em nosso ordena-
livre, consciente e informada; e c - oposição que
diga respeito exclusivamente à própria pessoa do mento, seria vedado, não somente por ir contra os
declarante. (Conselho da Justiça Federal. Jornadas costumes sociais, como também por alterar, de forma
de direito civil I, III, IV e V: enunciados aprovados. permanente, partes do corpo. O segundo exemplo, tra-
Coordenador científico: Ministro Ruy Rosado de ta do Body modification, o homem-lagarto, Erik Spra-
Aguiar Júnior. Brasília: Conselho da Justiça Fede- gue, o qual realizou intervenções para se assemelhar
134 ral, Centro de Estudos Judiciários, 2012). a um lagarto. Sua intenção era promover a arte.
Finalmente, havendo exigência médica, poder-se-á Art. 13 Parágrafo único. O ato previsto neste artigo
haver a disposição permanente do corpo nos casos em será admitido para fins de transplante, na forma
que há laudo médico que autorize. Exemplo: amputa- estabelecida em lei especial
ção de perna, para evitar a necrose; retirada de parte
de um órgão como tratamento de câncer etc. Conforme o art. 9º, da Lei 9.434, de 1997, será pos-
É importante ressaltar que o art. 13 não protege as sível a doação de órgãos do corpo vivo:
partes temporárias, nem as invasões que não causem
diminuição, a não ser que afronte os bons costumes. Art. 9º É permitida à pessoa juridicamente capaz
dispor gratuitamente de tecidos, órgãos e partes do
Como consequências, pode-se fazer a barba, cortar o
próprio corpo vivo, para fins terapêuticos (trata-
cabelo, depilar.
mento médico) ou para transplantes em cônjuge ou
parentes consanguíneos até o quarto grau, inclusi-
z O caso dos transexuais ve, na forma do § 4o deste artigo, ou em qualquer
outra pessoa, mediante autorização judicial, dis-
Neste posto, é importante analisarmos o caso do pensada esta em relação à medula óssea.
transexual.
Logo, poderá ser doador em vida qualquer sujeito
É o indivíduo que possui a convicção inalterável capaz (art. 9º, da Lei 9.434/97). O incapaz poderá doar
de pertencer ao sexo oposto ao constante em seu desde que (§ 6º, do art. 9º):
Registro de Nascimento, reprovando veementemen-
te seus órgãos sexuais externos, dos quais deseja se z Apenas medula óssea;
livrar por meio de cirurgia4. z Mediante representação dos pais ou tutor;
z Ausência de risco para sua saúde.
Em 1997, o Conselho Federal de Medicina, por
meio da Resolução 1.482, de 1997, autorizou as cirur- Ainda, poderá ser destinatário da doação de órgãos,
gias de transgenitalização, em caráter experimental. segundo as alterações da Lei 10.211, de 2001, apenas o
Em interpretação do art. 13, no Enunciado 6, do cônjuge ou parentes consanguíneos até o quarto grau
CJF/IJDC, o Conselho da Justiça Federal expressou: (pais, irmãos, filhos, avós, tios e primos). Porém, essa
restrição poderá ser excetuada por autorização judi-
Art. 13 a expressão “exigência médica”, contida no cial, a fim de ser feita doação a quem não é parente.
art.13, refere-se tanto ao bem-estar físico quanto ao Para doação de medula óssea, não será preciso
bem-estar psíquico do disponente. de autorização judicial. No caso da doação em vida
poderão ser doados: o rim, por ser órgão duplo, parte
Logo, por ser enquadrado como doença, um laudo do fígado ou do pulmão e a medula óssea. Contudo, a
médico poderá suprir o requisito da “exigência médi- doação pode ser revogada a qualquer momento, até o
ca” apontado pelo art. 13. Porém, existem condições momento da concretização.
para a realização da cirurgia (Resolução 1.955/2010): Nos casos de doação de órgãos após a morte, primei-
ramente, haverá necessidade do diagnóstico da morte
Avaliação de equipe multidisciplinar: médicos, cerebral, mediante utilização de critérios clínicos.
psicólogos, assistentes sociais, pelo período de O art. 4º, da Lei 9.434, de 1997, adotou o sistema
dois anos; do consentimento presumido, tomando a premissa
de que todos são doadores de órgãos e tecidos, salvo
Ser maior de 21 anos;
manifestação em contrário. Caso o doador não tenha
Cirurgias realizadas apenas em hospitais uni-
deixado expresso a sua vontade, o referido dispositi-
versitários ou hospitais públicos adequados à
vo, pela Lei 10.211, de 2001, adotou a orientação de
pesquisa.
que os parentes ou o cônjuge decidirão sobre o trans-
plante de órgãos do falecido.
Finalmente, a portaria 1.707 de 2008 (Ministério No caso em que o falecido deixou, em vida, a ins-
da Saúde) incluiu o Processo Transexualizador no trução para doar órgãos, mas, quando da sua morte,
âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). os parentes não concordam, aplica-se o art. 14, do
Código Civil: valerá a vontade manifestada do falecido
z A doação de órgãos antes da morte. Logo, aplica-se o art. 4º, da Lei 9.434,
de 1997, apenas nos casos em que o paciente não
Embora seja regra a impossibilidade de disposição manifestar vontade.
do próprio corpo, o art. 14, do Código Civil, permite a Ressalta-se que, se o doador especificar, em tes-
disposição do próprio corpo, para fins altruísticos ou tamento, a quem ele pretende beneficiar, como no
científicos, para depois da morte. caso de necessidade na família, esse documento será
NOÇÕES DE DIREITO
Art. 56 O interessado, no primeiro ano após ter A proteção ao nome alcança também a limitação
atingido a maioridade civil, poderá, pessoalmente
do uso do nome por terceiros, havendo proibição,
ou por procurador bastante, alterar o nome, desde
que não prejudique os apelidos de família, averban- pelo Código Civil, de seu uso em publicações que expo-
do-se a alteração que será publicada pela imprensa. nham à pessoa ao desprezo público, situação em que
a violação do nome também afeta a honra da pessoa.
Logo, a possibilidade de modificar o nome ocorre- Veja:
rá dentro dos limites seguintes:
Art. 17 O nome da pessoa não pode ser empregado
z Após completar 18 anos, no prazo máximo de por outrem em publicações ou representações que a
1(um) ano. Inclusive, não será necessário advoga- exponham ao desprezo público, ainda quando não
do. O interessado solicitará no cartório de registro haja intenção difamatória.
civil e este enviará o pedido diretamente ao juiz.
Contudo, existem cartórios que só alteram o nome
É certo que as pessoas públicas, em razão do direi-
do sujeito no primeiro ano da maioridade, se hou-
ver, primeiro, uma sentença judicial, porque a Lei to à informação, acabam sendo alvo das publicações
6.015, em seu art. 109, diz que só haverá mudança vexatórias. Porém, mesmo em relação a elas, há limite
de nome com determinação judicial; para o uso do nome: apenas quanto ao pertinente ao
z Nome que exponha a pessoa ao ridículo (pará- interesse social, sem violar a intimidade da pessoa.
grafo único, do art. 55). Como exemplo, pode-se Exemplo: crime cometido por um político.
citar alguém que possua nomes vexatórios como: Ademais, também é vedado pelo Código o uso do
Sum Tim Am, Madeinusa, Primeira Delícia do nome de uma pessoa para fins publicitários sem sua
Casal Oliveira, Aides, Abrilina Décima Nona Caça-
permissão. É necessário o consentimento do sujeito,
pava Piratininga de Almeida, Agrícola Beterraba
Almeida, Antonio Manso Pacífico de Oliveira Sos- para que seu nome seja veiculado em propaganda
segado, Bispo de Paris, Caius Marcius Africanus, comercial:
Deus é Infinitamente Misericordioso, João Pensa
Bem, Maria Privada de Jesus. Nessa hipótese tam- Art. 18 Sem autorização, não se pode usar o nome
136 bém os transexuais, inclusive antes da cirurgia; alheio em propaganda comercial.
Exemplo disso foi a vinculação do nome do apre- Art. 20 Salvo se autorizadas, ou se necessárias
sentador de televisão Luciano Huck a uma publicida- à administração da justiça ou à manutenção da
de de lançamento imobiliário de alto luxo. A empresa ordem pública, a divulgação de escritos, a trans-
responsável citou o nome do apresentador como um missão da palavra, ou a publicação, a exposição
dos moradores da rua. Em razão disso, houve conde- ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão
ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da
nação da construtora ao pagamento de indenização
indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a
pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), em razão boa fama ou a respeitabilidade, ou se destinarem a
do uso indevido do nome e confirmação da condena- fins comerciais.
ção pelo STJ. (STJ — REsp: 1645614 SP 2015/0325698- Parágrafo único. Em se tratando de morto ou
0, Relator: Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, de ausente, são partes legítimas para requerer
Data de Julgamento: 26/06/2018, T3 – TERCEIRA TUR- essa proteção o cônjuge, os ascendentes ou os
MA, Data de Publicação: DJe 29/06/2018). descendentes.
Ainda, deve-se estender a proteção ao uso do nome
de uma pessoa para situações além da propaganda Igualmente trata-se de direito fundamental previs-
comercial, de forma a buscar a autorização do titular. to constitucionalmente no art. 5º:
Exemplo: atribuir a alguém a filiação de um partido
político ou a uma religião. Tanto é que a proteção se Art. 5º [...]
estende, também, ao pseudônimo — criação intelec- X - são invioláveis a intimidade, a vida privada,
tual usada pelo sujeito para o seu reconhecimento a honra e a imagem das pessoas, assegurado o
direito a indenização pelo dano material ou moral
social. São exemplos: Agenor de Miranda (Cazuza),
decorrente de sua violação;
Paulo César Batista (Paulinho da Viola).
Aplica-se, pois, a mesma proteção dada aos nomes
A proteção da imagem, segundo o Código Civil,
aos pseudônimos já estabelecidos no meio social, a
ocorre nas seguintes situações:
fim de coibir sua usurpação. Em caso de homônimos,
protege-se aquele que está mais fortemente estabele- z Se o uso da imagem atingir a honra, a boa fama ou
cido no meio social. a respeitabilidade: há preocupação com a reper-
Observe como o Código dispõe a respeito: cussão social da imagem. Contudo, a Constituição,
de 1988, traz uma proteção mais ampla que a civi-
Art. 19 O pseudônimo adotado para atividades líci- lista, sem condicionar a imagem a uma repercus-
tas goza da proteção que se dá ao nome. são social;
z Se houver uso da imagem destinado a fins comer-
Algumas observações acerca da proteção do nome ciais. Todavia, é criticável só existir proteção quan-
ainda devem ser consideradas: do a imagem estiver vinculada a fins comerciais.
Deixa-se de fora a tutela de uso da imagem em
z Qualquer outro motivo para se alterar o nome qualquer outro contexto.
poderá ser levado ao Judiciário que fará a devida
apreciação. Exemplo: inserir outros sobrenomes, Noutro giro, não haverá proteção da imagem
alterar nome não vexatório etc.; quando:
z Quanto aos transexuais, poderão fazer a alteração
do nome e do gênero mesmo antes da cirurgia de z Houver autorização do titular para seu uso;
correção do sexo, conforme atual entendimento z Resguardar a ordem pública e a administração da
dos tribunais. Chegou-se a cogitar na criação de justiça;
um terceiro gênero a ser atribuído aos transexuais,
mas tal ideia não foi recepcionada, por se tratar de Tais exceções estão ligadas ao direito à informa-
meio discriminatório. ção, também previsto constitucionalmente, como é o
caso da divulgação do nome de foragidos da polícia,
O Direito à Imagem de nomes de políticos envolvidos em escândalos etc.
Ademais, segundo entendimento do STJ, a ofensa
A imagem corresponde a qualquer representação ao direito à imagem materializa-se com a mera uti-
audiovisual ou tátil da pessoa humana alcançada por lização da imagem sem autorização, ainda que não
instrumentos técnicos de captação, como filmes, tele- tenha caráter vexatório ou que não viole a honra ou
jornais, computadores, bem como pela ação artística a intimidade da pessoa, desde que o conteúdo exibido
da criatividade humana nas telas da pintura, escultu- seja capaz de individualizar o ofendido:
ra ou qualquer tipo de artesanato. Logo, são espécies
A obrigação de reparação decorre do próprio uso
de imagem:
NOÇÕES DE DIREITO
No entanto, um ponto falho no Habeas Data é que Direito ao Conhecimento da Origem Biológica
ele não serve para a proteção de dados inseridos em
entidades particulares, ou seja, ele não serve para Finalmente, é fundamental apresentar o direito
criar mecanismos para a retirada de dados dos ban- ao conhecimento da origem biológica. Mesmo no caso
cos, estabelecendo o que se conhece por direito ao de anonimato do doador do sêmen para os casos de
esquecimento. inseminação artificial poderá ser exercido o direito ao
Em relação ao direito ao esquecimento, este é o conhecimento da origem biológica versus privacidade.
direito de impedir que todas as pegadas deixadas na Em 2010, no julgamento do RESP 807.849/RJ, o STJ
vida venham a seguir seu autor implacavelmente, em entendeu que é um direito da personalidade ter o
cada momento de sua existência. Neste caso, a pessoa conhecimento de seus antepassados. Porém, nos casos
pode requerer, como exemplo, a retirada de alguma de origem biológica decorrente de doação de sêmen,
informação indesejada sobre ela que circule na rede as consequências da quebra do anonimato serão:
mundial de computadores. Foi o caso de uma garota
acusada de ter colado em um concurso. Ela solicitou a z Permite-se apenas o conhecimento de quem é o
retirada de seu nome veiculado a esse fato das buscas dono do sêmen doado;
do Google através de ação judicial no TJRJ. z Não cria relação de parentesco entre o filho e o
doador;
Quanto às pessoas públicas, ressalta-se: estas
z Não gera para o doador de sêmen a obrigação de
merecem ter protegida a privacidade, especialmente
pagar alimentos;
quanto aos fatos que não dizem respeito ao interes-
z Não há direito de herança do filho em relação ao
se social. Igualmente, os fatos que ocorrem em local
doador de sêmen.
público não afastam a proteção da privacidade, pois
esta não se configura apenas em recintos fechados ou
No caso de recusa da realização do DNA, o direi-
privados. to ao conhecimento genético prepondera diante do
direito à privacidade. O Código Civil prevê que:
Biografias Não Autorizadas
Art. 231 Aquele que se nega a submeter-se a exame
Ao longo dos anos, tem sido objeto de debates e médico necessário não poderá aproveitar-se de sua
de julgamentos o conflito entre o direito de liberda- recusa.
de de expressão e o direito à intimidade, em especial Art. 232 A recusa à perícia médica ordenada pelo
nas biografias não autorizadas. Muito se discute se juiz poderá suprir a prova que se pretendia obter
haveria censura na limitação destas obras ou have- com o exame.
ria primazia da proteção à privacidade. O limite da
biografia, porém, seria a utilidade das informações à CAPACIDADE
sociedade.
Em 2016, o STF decidiu que a autorização prévia Para fins didáticos, no início do estudo do Código
do biografado ou de pessoas mencionadas na biogra- Civil, antes de prosseguirmos no estudo dos atributos
fia seria dispensada, porque essa prévia autorização da pessoa natural, pulamos alguns artigos, para apro-
configuraria uma forma de censura, afrontando a fundarmos na análise dos direitos da personalidade.
liberdade de expressão prevista na Constituição Fede- Agora, retornaremos ao art. 1º, do Código Civil, o qual
ral. As exatas palavras do STF foram as seguintes: afirma que “Toda pessoa é capaz [...]”. Isso significa
que a pessoa, ao nascer com vida, possui não somente
o direito à personalidade, como também a capacida-
É inexigível o consentimento de pessoa biografa-
de – “[...] de exercer direitos e deveres na ordem civil”.
da relativamente a obras biográficas literárias ou
Porém, assim como ocorre com a personalidade e os
audiovisuais, sendo por igual desnecessária a auto-
rização de pessoas retratadas como coadjuvantes
inúmeros direitos expostos decorrentes destas, a pes-
ou de familiares, em caso de pessoas falecidas ou
soa ao nascer sofrerá algumas limitações no exercício
ausentes. (STF. Plenário. ADI 4815/DF, Rel. Min. de sua capacidade até mesmo porque o recém-nasci-
Cármen Lúcia, julgado em 10/6/2015 (Info 789). do não consegue exercer pessoalmente seus direitos e
deveres na ordem civil.
Assim, temos que a capacidade é a medida da per-
Porém, isso não afasta o direito do biografado ou
sonalidade, isto é, ela define até onde uma pessoa
de qualquer retratado de pedir eventual indenização
pode exercer sua personalidade. As espécies de capa-
posterior, se ficar demonstrado o abuso na forma de
cidade, portanto, podem ser subdividas em:
divulgação dos fatos. Outras formas de reparação tam-
bém podem ser cogitadas, como a publicação de uma
z Capacidade de direito (capacidade jurídica ou
ressalva, uma nova edição com correção e o direito de de gozo): que é a aptidão com a qual todos nas-
resposta. cem para adquirir direitos e contrair obrigações.
Ressalta-se como parâmetros a serem anali- Porém, ela não é plena, pois seu titular apresen-
sados para ponderação do interesse público e da ta limitações de forma que não pode exercer seus
privacidade: direitos pessoalmente. Exemplo: Pessoa que nasce
e, logo depois, morre — houve capacidade jurídica,
z A repercussão emocional do fato sobre o com aquisição de direitos (ex.: herança, doação);
biografado; menor de idade, o qual depende de acompanha-
z A importância dos fatos para a construção da his- mento dos pais na vida civil para realizar negócios
140 tória do biografado; jurídicos, como um contrato;
z Capacidade de fato (capacidade de exercício ou de Art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos
agir): é a aptidão adquirida pela pessoa que já pode ou à maneira de os exercer:
exercer os direitos e cumprir as obrigações pes- I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito
soalmente, sem a ajuda, representação ou assistên- anos;
cia legal de terceiros. Exemplo: A pessoa maior de II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico;
idade e sem impedimentos legais ao contratar. III - aqueles que, por causa transitória ou perma-
nente, não puderem exprimir sua vontade;
IV - os pródigos
Por sua vez, quem não possui capacidade plena é
Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será
denominado incapaz, sendo todos os casos de incapa-
regulada por legislação especial.
cidade taxativamente previstos em lei. A regra, por-
tanto, é a de todas as pessoas serem capazes, havendo
Os maiores de 16 e menores de 18 anos serão assis-
exceções previstas no Código Civil, as quais serão ana-
tidos pelos pais, ou na ausência deles, por um tutor. O
lisadas a seguir. A incapacidade poderá ser:
menor manifestará a vontade e esta deverá ser confir-
mada pelo assistente. Quando houver conflito entre a
z Incapacidade relativa: não impede a pessoa vontade do assistente e do menor, poderá o juiz dar o
de realizar os atos da vida civil, mas estes ficam consentimento, se entender que a recusa do assistente
dependendo da confirmação do chamado assis- é injustificada (ex.: art. 1517 c/c art. 1519).
tente (estes incapazes são assistidos). É o caso dos Porém, alguns atos podem ser realizados pelo
maiores de 16 anos e menores de 18 anos; maior de 16 anos sem assistência:
z Incapacidade absoluta: impede que a pessoa
exerça qualquer de seus direitos pessoalmente, z Pode ser testemunha (inciso I, do art. 228);
sendo necessário um representante legal (estes z Mandatário – representante com procuração (art.
incapazes são representados). É o caso dos meno- 666);
res de 16 anos. z Pode redigir testamento (§ único, do art. 1860);
z Podem votar (alínea "c", inciso II, art. 14, da CF).
Os Absolutamente Incapazes
O caso dos ébrios habituais (alcoólatras) e dos
De acordo com o Código Civil, somente os menores viciados em tóxicos afeta apenas aqueles que possuem
de 16 anos são absolutamente incapazes: o vício incontrolável a ponto de gerar transtornos
mentais. Para se tornarem relativamente incapazes,
Art. 3° São absolutamente incapazes de exercer porém, deverão ser submetidos a um processo judi-
pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16 cial de curatela (inciso III, do art. 1.767) cuja sentença
(dezesseis) anos. determinará um curador. Somente com a interdição
os viciados dependerão de assistência de um curador
Nesta faixa etária, encontram-se crianças e ado- para praticar determinados atos da vida civil.
lescentes, pois o Estatuto da Criança e do Adolescente Também serão considerados relativamente inca-
(ECA) considera criança até os 12 anos e adolescente pazes aqueles que, por causa transitória ou perma-
até os 18 (art. 2º). Desta forma, os absolutamente inca- nente, não puderem exprimir sua vontade. Trata-se
pazes, isto é, os menores de 16 anos, apesar de terem de comprometimento das faculdades mentais, sendo
a capacidade de direito, não possuem a capacidade que a pessoa não possui uma correta percepção da
de fato, de forma que não poderão exercer seus direi- realidade. Quem definirá a ausência do discernimen-
tos de forma pessoal, necessitando de representação to será o juiz, através do procedimento da curatela
legal. Do contrário, atos praticados por eles pessoal- (inciso I, do art. 1.767).
mente serão nulos. É interessante observar que, com o Estatuto da Pes-
Segundo o inciso VII, do art. 1634, do Código Civil, soa com Deficiência, houve mudança no tratamento
cabe aos pais (ou tutor) a representação dos filhos até dado às pessoas com enfermidade ou doença mental e
os 16 anos — primeiramente aos pais e, na ausência àquelas que por causa transitória ou permanente não
destes, ao tutor (art. 1728, do Código Civil). possam exprimir sua vontade, pois antes todos estes
Todavia, embora não possa exercer pessoalmente eram considerados absolutamente incapazes. Porém
os atos da vida civil, a criança tem direito de escolha a Lei 13.146, de 2015, revogou os incisos I e II, do art.
ou ao menos de influenciar as decisões que digam res- 3º, do Código Civil. Ademais, até mesmo a constatação
peito a sua própria vida. Isso porque o art. 16, do ECA de incapacidade relativa destas pessoas deverá ser
(Lei 8.069/90), prediz que a criança e o adolescente têm constatada pelo procedimento de curatela, não sendo
direito à opinião, expressão, liberdade de crença e cul- uma condição verificada automaticamente pela exis-
to, participação da vida familiar. Ademais, os § 2°, do tência de alguma deficiência.
art. 45, e o § 2°, do art. 28, do ECA, preveem, inclusive, Finalmente, a última hipótese prevista de incapa-
o consentimento do adotado (criança ou adolescente).
NOÇÕES DE DIREITO
O parágrafo único, do art. 4º, do Código Civil, deter- Como o menor emancipado pratica seus atos sem
mina que os índios (ou silvícolas) terão sua capacida- representação ou assistência, a princípio, o mais lógi-
de regulada pela legislação especial — a Lei 6.001, de co seria que não houvesse responsabilidade dos pais
1973. A FUNAI (Fundação Nacional dos Índios) é o por seus atos. Porém, o STJ tem o entendimento que
ente que promove a plena proteção do índio. em se tratando de emancipação voluntária (analisada
O índio não integrado à sociedade deverá ser sem- a seguir) a emancipação por outorga dos pais não
pre representado pela FUNAI. O índio não integrado afasta a responsabilidade pelos atos do menor, isto
é aquele que não fala o português, nem tem contato é, os pais responderão de forma solidária pelos atos
com a sociedade urbana. Portanto, ante a ausência de do menor: “A emancipação voluntária, diversamente
representação do índio não integrado (art. 8º, da Lei da operada por força de lei, não exclui a responsabili-
6.001) o ato será nulo. dade civil dos pais pelos atos praticados por seus filhos
Os índios integrados submetem-se às regras do menores”. (STJ — AgRg no Ag: 1239557 RJ 2009/0195859
Código Civil (parágrafo único, art. 8º, da Lei 6.001) e — 0, Relator: Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, Data
praticam pessoalmente os atos da vida civil, sendo de Julgamento: 09/10/2012, T4, QUARTA TURMA, Data
142 plenamente capazes. de publicação: DJe 17/10/2012).
Todavia, o parágrafo único, do art. 5º, também pre- Quanto à emancipação legal por casamento, tem-
vê situações nas quais a incapacidade cessará antes -se que a idade núbil, isto é, a idade em que se pode
mesmo de atingida a maioridade: casar é a partir dos 16 anos. Porém, o casamento antes
dos 16 anos era praticado apenas para evitar imposi-
Art. 5º [...] ção de pena criminal ou em caso de gravidez. A pri-
Parágrafo único. Cessará, para os menores, a meira hipótese restou prejudicada após a Lei 11.106,
incapacidade:
I - pela concessão dos pais, ou de um deles na fal- de 2011, que, por sua vez, revogou os incisos VII e VIII,
ta do outro, mediante instrumento público, inde- do art. 107, do CP que previa a extinção de punibili-
pendentemente de homologação judicial, ou por dade pelo casamento da vítima com o culpado. Agora,
sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver com a Lei 13.811, de 2019, ficou vedado em qualquer
dezesseis anos completos; caso o casamento de quem não atingiu a idade núbil.
II - pelo casamento; Atenção! Por tratar-se de uma alteração recen-
III - pelo exercício de emprego público efetivo; te, redobre sua atenção, pois pode ser objeto de sua
IV - pela colação de grau em curso de ensino
superior; prova!
V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela Algumas breves considerações devem ser feitas,
existência de relação de emprego, desde que, em ainda, quanto às hipóteses de emancipação legal. Pri-
função deles, o menor com dezesseis anos comple- meiramente, o divórcio não devolve a incapacidade
tos tenha economia própria. ao menor. Segundo a hipótese de emancipação pelo
exercício de emprego público efetivo parece inviável,
A cessação da incapacidade antes mesmo de atingida a pois depende de lei que expressamente autorize o
maioridade é denominada emancipação. Este é o ato pelo menor ser investido em cargo público. No entanto, a
qual o menor adquire capacidade plena, podendo realizar Lei federal dos servidores públicos (inciso V, art. 5º, da
pessoalmente seus atos, sem representação ou assistência. Lei 8112/1990 — Geral) estabelece a idade mínima de
Como consequência, o emancipado poderá realizar todos 18 anos como requisito para a investidura.
os atos da vida civil sem representação ou assistência, não
É importante notar que a lei trata como espécie de
se submeterá ao poder familiar, responderá (em regra)
pessoalmente por seus atos (as mesmas consequências da emancipação legal o exercício no cargo público e não
maioridade), mas o sujeito continua sendo menor, isto é, apenas a posse (aceitação expressa do cargo). Isso sig-
ainda se sujeita ao ECA e continua sendo inimputável — nifica que a emancipação só ocorre quando o incapaz
não responderá penalmente pelos crimes cometidos. Ade- inicia suas atividades na Administração Pública.
mais, a emancipação, em regra, é definitiva e irrevogável. Em relação à colação de grau em curso de ensi-
no superior, mesmo sendo difícil em razão da longa
duração dos cursos de ensino fundamental e médio, a
Importante! Lei de Diretrizes Básicas da Educação Brasileira - LDB
(Lei nº 9.394/1996) admite a abreviação da duração de
O tema “capacidade” é recorrente nas provas de
cursos dos alunos extraordinários e não existe idade
escrivão.
mínima prevista para esta conclusão abreviada.
Finalmente quanto à última hipótese, entende-se
Conforme o parágrafo único, do art. 5º, são espé- por economia própria aquela que atende a subsis-
cies de emancipação: tência do sujeito e de seus dependentes. Segundo o
art. 974, o menor incapaz poderá exercer atividade
z Emancipação voluntária: ocorre pela concessão de empresa (estabelecimento próprio) apenas sendo
dos pais, ou de um deles na falta do outro (enten- representado. Assim, a ideia de estabelecimento civil
de-se por morto ou não registrado), mediante ins- ou comercial deve ser compreendida nas hipóteses
trumento público. Esse tipo de emancipação possui em que o menor age como profissional liberal (ex.:
como requisitos, portanto: o menor possuir 16 eletricista, professor, cantor etc.). A relação de empre-
anos completos e o ato ser realizado por meio de go poderá existir a partir dos 16 anos quando se pode
instrumento público (lavrado em cartório); estabelecer contrato regular (art. 403, da CLT).
z Emancipação judicial: ocorre por sentença judicial,
após ser ouvido o tutor. Será realizada esta modali-
A MORTE DA PESSOA NATURAL
dade de emancipação, através de processo judicial,
caso de um menor tutelado (veja o Quadro compara-
tivo Poder Familiar vs. Tutela vs. Curatela) e em caso De acordo com o Código Civil, a extinção da pes-
de recusa injustificável dos pais (ou de um deles) soa natural e da personalidade civil ocorrerá com a
em conceder a emancipação (parágrafo único, do morte:
art. 1.690). No caso de o menor ser tutelado deverá
ocorrer a oitiva do tutor (quer-se evitar que o tutor Art. 6° A existência da pessoa natural termina com
se desonere do múnus por capricho). A emancipação a morte; presume-se esta, quanto aos ausentes, nos
será registrada no cartório de pessoas naturais (inci- casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão
NOÇÕES DE DIREITO
so II, art. 9º, e inciso IV, art. 29, da Lei 6.015/1973); definitiva.
z Emancipação legal: se dá em razão de um deter-
minado acontecimento somado ao de ter 16 anos A morte ocorrerá com o fim da atividade cerebral
completos. Também deverá ser registrada no car- (art. 3º, da Lei 9434/1997), sendo necessário o laudo
tório de pessoas naturais (parágrafo único, art. 91,
médico para confecção do atestado de óbito. Confor-
da Lei 6.015/1973). São estes acontecimentos: o
casamento, o exercício de emprego público efetivo, me o art. 77, da Lei 6.015, de 1973 (LRP), exige-se o
pela colação de grau em curso de ensino superior, atestado de óbito para a realização do sepultamento.
pela existência de estabelecimento civil ou comer- A morte terá como consequências:
cial, ou pela existência de relação de emprego, des-
de que, em função deles, o menor com dezesseis z Põe fim a alguns direitos da personalidade do
anos completos tenha economia própria. morto; 143
z A extinção das relações obrigacionais; O procedimento de decretação da morte presumi-
z A extinção da sociedade conjugal; da com decretação de ausência ocorrerá em três fases:
z Saisine iuris: a transmissão automática dos bens
aos herdeiros. z 1ª fase: arrecadação de bens. Será necessária sen-
tença judicial que nomeie um curador e declara
A morte pode também ser subdividida em espé- a ausência (art. 24). Será legítimo curador: o côn-
cies, quais sejam: juge do ausente, desde que não separado de fato
há mais de dois anos (caput do art. 25). Na falta
do cônjuge (§ 1º): a curadoria caberá aos pais ou
z Morte real: aquela constatada com a presença de
descendentes (os mais próximos precedem os mais
um cadáver; remotos — § 2º). Na falta de parentes (§ 3º), compe-
z Morte presumida: aquela em que não há consta- te ao juiz a escolha do curador;
tação de cadáver, não há um corpo, podendo ser z 2ª fase: sucessão provisória. A sucessão é a trans-
com ou sem decretação de ausência; missão de bens a terceiro. Após um ano da arreca-
dação dos bens, poderá ser dado início à abertura
Vejamos como o Código aborda o assunto: provisória da sucessão. Vejamos:
Art. 7° Pode ser declarada a morte presumida, sem Art. 2º Decorrido um ano da arrecadação dos bens
decretação de ausência: do ausente, ou, se ele deixou representante ou pro-
curador, em se passando três anos, poderão os inte-
ressados requerer que se declare a ausência e se
A morte presumida é a situação, portanto, em que
abra provisoriamente a sucessão.
o sujeito desaparece, deixando indícios de que está
morto. Os incisos do art. 7º trazem as hipóteses em
Porém, o prazo citado será de três anos, se o ausente
que haverá esta presunção. Veja as situações: houver deixado representante (tutor, curador) ou pro-
curador. O prazo será contado a partir do desapareci-
Art. 7º [...] mento. Poderão requerer a declaração de ausência:
I - se for extremamente provável a morte de quem
estava em perigo de vida; Art. 27º são considerados interessados para reque-
II - se alguém, desaparecido em campanha (guer- rer a declaração de ausência: (I) o cônjuge; (II) os
ra) ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois herdeiros; (III) os credores.
anos após o término da guerra. Art. 28º o juiz irá abrir a sucessão por sentença e,
Parágrafo único. A declaração da morte presumida, 180 dias após todos os recursos, deverá ser instau-
nesses casos, somente poderá ser requerida depois rado o inventário e a partilha.
de esgotadas as buscas e averiguações, devendo a
sentença fixar a data provável do falecimento. A partir da abertura da sucessão provisória já
poderá ocorrer a venda dos imóveis do ausente (art.
O inciso I refere-se aos casos que envolvem nau- 31) desde que com autorização do juiz, para evitar a
frágio, inundação, incêndio, terremoto ou qualquer ruína. Igualmente, bens móveis poderão ser alienados
outra catástrofe e o II aos desaparecidos em campa- e se estiverem sujeitos à deterioração, o juiz poderá
nha de guerra ou feito de prisioneiros, como o caso convertê-los em bens imóveis (art. 29).
de jornalistas que ficam anos desaparecidos ao serem Ressalta-se que, quanto aos efeitos (art. 33), os her-
deiros, nessa fase, são apenas possuidores e não proprie-
presos por terroristas.
tários dos bens do ausente. Logo, serão dos sucessores
Ademais, a declaração de morte só será possível
provisórios todos os frutos e rendimentos que a coisa
depois de esgotados todos os meios de busca e será produzir, como, por exemplo, o aluguel, os animais nas-
necessária sentença judicial que decrete a morte. Esta cidos de um rebanho, as frutas de uma árvore etc.
morte presumida, como dito, poderá ocorrer com ou Caso haja o reaparecimento do ausente ou se for dado
sem decretação de ausência. por existente (art. 36): extingue-se a posse provisória, não
A ausência é o desaparecimento da pessoa natural, podendo mais os sucessores colher seus rendimentos.
sem dela se ter notícias. Veja o que prevê o Código:
z 3ª fase: sucessão definitiva: Finalmente, com a
Art. 22 Desaparecendo uma pessoa do seu domi- sucessão definitiva e se declara a morte presumi-
cílio sem dela haver notícia, se não houver dei- da (art. 6º). Após dez anos da sentença que conce-
xado representante ou procurador a quem caiba de a sucessão provisória, poderão os interessados
administrar-lhe os bens, o juiz, a requerimento pedir a sucessão definitiva (art. 37). Poderá haver
de qualquer interessado ou do Ministério Público, redução do prazo, para cinco anos, desde que o
declarará a ausência, e nomear-lhe-á curador. ausente contasse com, no mínimo, 75 anos quando
do seu desaparecimento (art. 38). Com a sucessão
Conforme se observa da leitura do art. 22 e seguin- definitiva, os herdeiros serão tidos como verdadei-
tes, são requisitos para ser decretada a ausência: ros proprietários, podendo usar, gozar e dispor do
bem conforme quiserem. Caso haja o retorno do
ausente em até dez anos da sucessão definitiva, ele
z Desaparecimento da pessoa de seu domicílio;
terá direito apenas aos bens existentes no estado
z Duração de tempo consideravelmente longo (caso em que se acharem (art. 39). Sobre os bens aliena-
concreto); dos terá direito o ausente aos bens adquiridos em
z Carência de notícias; seu lugar (sub-rogados) ou ao preço recebido.
z Não houver deixado representante ou procurador.
z Se o procurador não quiser ou não puder exercer o Quando dois sujeitos falecem na mesma ocasião,
mandato, será declarada a ausência (art. 23); como definir quem morreu primeiro? Este dilema
z Se o desaparecido houver nomeado procurador, trata de um assunto muito cobrado em concursos é
mas continuar sumido por mais de 3 anos, será quanto à comoriência – muito importante na análise
144 declarada sua ausência (art. 26). do direito das sucessões. Veja a previsão do Código:
Art. 8° Se dois ou mais indivíduos falecerem na z A existência de uma organização de pessoas ou
mesma ocasião, não se podendo averiguar se patrimônio para determinado fim com a observân-
algum dos comorientes precedeu aos outros, presu- cia das condições legais, tais como registro dos atos
mir-se-ão simultaneamente mortos. constitutivos (art. 45, CC);
z O ato constitutivo é o documento básico da socie-
Logo, a comoriência é a presunção de morte simul-
dade (estatuto ou contrato), o qual deverá ser
tânea de dois sujeitos quando não for possível preci-
sar qual morreu primeiro, por exemplo, quando da registrado no órgão competente como Cartório de
ocorrência de um acidente de avião. Registro de Pessoas Jurídicas, Junta Comercial etc.;
Como efeito não há transmissão de bens entre z A partir do registro, a pessoa jurídica adquire capacida-
os comorientes, caso eles tenham relação de paren- de e poderá, pois, contrair direitos e deveres jurídicos;
tesco. Exemplo: Ana e Beto são casados e morrem z A pessoa jurídica não possui todos os direitos da
simultaneamente — nenhum herda do outro, de sorte personalidade, mas apenas aqueles que lhe são
que seus respectivos herdeiros receberão os bens do compatíveis (art. 52, do CC), tais como o nome, a
falecido. honra, a imagem. Logo, a proteção não é da pes-
soa jurídica em si, mas da atividade das pessoas
naturais que está por traz daquela. Fala-se em uma
tutela avançada da pessoa humana. Nesse sentido
DA PESSOA JURÍDICA é a Súmula 227 do STJ: “a Pessoa Jurídica pode ser
vítima do dano moral”;
O título II, do Código Civil, trata das pessoas jurídicas. z Personalidade da pessoa jurídica é distinta da de
Seu significado é explicado da seguinte forma pela dou- seus instituidores, seu patrimônio é separado do
trinadora Maria Helena Diniz: a pessoa jurídica é verda- patrimônio de seus membros;
deira unidade de pessoas naturais ou de patrimônios, que z Em casos de desvio de finalidade da pessoa jurídi-
visa à consecução de certos fins, reconhecida pela ordem ca ou de confusão do patrimônio da pessoa jurídica
jurídica como sujeito de direitos e obrigações5. com a de seus membros, permite-se a desconsidera-
Esse conceito pode ser melhor entendido com a lei-
ção da personalidade jurídica, a partir da qual será
tura dos tipos de pessoa jurídica elencados pelo Código
possível atingir os bens dos membros (art. 50, CC);
Civil (arts. 40, 41, 42 e 44, do CC). Segundo esses dispo-
sitivos, a pessoa jurídica poderá ser de direito público z A pessoa jurídica pode ser sujeito ativo ou passivo
(interno ou externo) ou de direito privado. Vejamos: em atos civis e criminais. Por exemplo, as pessoas jurí-
dicas podem receber herança (inciso II, do art. 1799),
z Pessoas jurídicas de direito público: União, Estados, podem sofrer violação à honra (art. 52), podem pra-
Distrito Federal, Territórios, Municípios, autarquias, ticar crimes ambientais (Lei 9.605/1998). No entanto,
inclusive as associações públicas e as demais entida- a pessoa jurídica não pode exercer ato privativo da
des de caráter público criadas por lei (interno); Esta- pessoa natural, como, por exemplo, casar;
dos estrangeiros e todas as pessoas que forem regidas z O domicílio da pessoa jurídica é o local onde fun-
pelo direito internacional público (externo); cionam suas diretorias e administrações ou onde
z Pessoas jurídicas de direito privado: Associa- o ato constitutivo indicar. O domicílio da pessoa
ções, sociedades, fundações, organizações religio- jurídica de direito privado pode ser o lugar (inciso
sas, partidos políticos, empresas individuais de
IV, do art. 75): I) da administração e direção; II) o
responsabilidade limitada.
local indicado nos atos constitutivos. Quando hou-
ver diversos estabelecimentos (§ 1º, do art. 75),
Conforme o Enunciado 144, da III Jornada de Direito
Civil do Conselho da Justiça Federal: “A relação das pes- todos serão considerados domicílios. É importan-
soas jurídicas de direito privado constante nos incisos I te, nesse contexto, mencionar a Súmula 363, do
a V, art. 44, do Código Civil, não é exaustiva” (Conselho STF: a pessoa jurídica de Direito privado pode ser
da Justiça Federal. Jornadas de Direito Civil I, III, IV e V: demandada no domicílio da agência ou do estabe-
enunciados aprovados. Coordenador científico: Minis- lecimento em que se praticou o ato, independente se
tro Ruy Rosado de Aguiar Júnior. Brasília: Conselho da ali funciona a diretoria ou administração;
Justiça Federal, Centro de Estudos Judiciários, 2012). z A pessoa jurídica pode ser extinta pelos seguintes
Ademais, o art. 41 também deixou em aberto outras motivos: I) pelo decurso do prazo, se for determi-
possibilidades de pessoas jurídicas de direito públi- nado; II) pela deliberação dos membros; III) pela
co interno ao declarar que [...] as demais entidades de falta de pluralidade de membros (exemplo: morte
caráter público criadas por lei”(inciso V, art. 41, do CC).
de sócios); IV) quando a finalidade foi atingida ou
se tornou impossível. Exemplo: associação criada
REGRAS GERAIS
com o fim de angariar fundos para uma formatu-
ra, porém o curso é fechado pelo MEC; tem-se: fim
Primeiramente, é importante explicar que, por
NOÇÕES DE DIREITO
escolha didática, neste capítulo, nem sempre haverá a atingir (formatura) versus fim impossível (fecha-
transcrição do Código Civil. Porém, para melhor apro- mento do curso pelo MEC); V) pelo não cumpri-
veitamento de seu estudo, esteja com ele ao lado para mento da função social: desvio de fins, abuso de
conferir todos os artigos à medida em que forem citados. direito; VI) outras possibilidades previstas no ato
A partir da análise das disposições gerais do Títu- constitutivo. Em qualquer caso, deverá ser provi-
lo II, do Código (arts. 40 -52, do CC), podemos observar denciada a averbação da dissolução (§ 1º, do art.
algumas características comuns das pessoas jurídicas: 51, do CC);
z Os bens pertencentes à pessoa jurídica de fins não
z Existe para o direito como uma realidade ideal e econômicos que se extingue seguirão para outras
não corporal (art. 45, CC); entidades de mesmo fim.
5 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. Teoria Geral do Direito Civil. 32ª Ed. São Paulo: Saraiva, Vol. 1, 2015, p. 243. 145
Importante! II - os requisitos para a admissão, demissão e exclu-
são dos associados;
O marco definidor da atribuição da personali- III - os direitos e deveres dos associados;
dade jurídica é o registro do ato constitutivo no IV - as fontes de recursos para sua manutenção;
órgão competente (art. 45), logo, diferentemente V – o modo de constituição e de funcionamento dos
das pessoas naturais, as pessoas jurídicas não órgãos deliberativos;
necessariamente ganharão personalidade “ao VI - as condições para a alteração das disposições
nascerem”, mas sim a partir do registro de seu estatutárias e para a dissolução.
ato constitutivo. VII – a forma de gestão administrativa e de aprova-
ção das respectivas contas.
A principal ideia da noção de conduta é o fato de Obs.: De acordo com o § 6º, art. 37, da CF, as pes-
ela ser voluntária e resultar da liberdade de escolha soas jurídicas de direito público e as de direito priva-
do agente imputável, com a capacidade de discernir e do prestadoras de serviços públicos responderão pelos
NOÇÕES DE DIREITO
ter consciência do que fez. danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a
terceiros, assegurado o direito de regresso contra o
responsável nos casos de dolo ou culpa. Neste sentido,
Importante! o agente público responde conforme a teoria da res-
ponsabilidade subjetiva, quando da ação regressiva,
O ato ilícito também pode ser verificado pelo não respondendo pessoalmente perante terceiros. Já
abuso de direito. Nesse sentido, garante o art. as pessoas jurídicas de direito público interno respon-
187 do Código Civil que também comete ato ilíci- dem objetivamente.
to o titular de um direito que, ao exercê-lo, exce-
de manifestamente os limites impostos pelo seu Art. 932 [...]
fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos I - os pais respondem pelos filhos menores que esti-
bons costumes. verem sob sua autoridade e em sua companhia; 149
Obs.: Aquele que ressarcir o dano causado por Observação: O dano moral pode ser presumido. No
outrem pode reaver o que houver pago daquele por dano moral presumido ou in re ipsa, não é necessária
quem pagou, salvo se o causador do dano for descen- a apresentação de provas que demonstrem a ofensa
dente seu, absoluta ou relativamente incapaz (art. moral da pessoa. O próprio fato já configura o dano.
934, do CC). Nesse mesmo sentido, o Enunciado 445, da V Jorna-
da de Direito Civil, aponta que o dano moral indeni-
II - o tutor e o curador respondem pelos pupi- zável não pressupõe necessariamente a verificação de
los e curatelados, que se acharem nas mesmas sentimentos humanos desagradáveis como dor ou
condições; sofrimento.
O dano estético, considerado pela jurisprudência,
A respeito dos incapazes, deve-se dizer que estes é acumulável com o dano moral segundo a Súmula
respondem pelos prejuízos que causar, se as pessoas 387, do STJ. O leading case (caso principal) que origi-
por ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê- nou a referida súmula traz a situação da amputação
-lo ou não dispuserem de meios suficientes. Ademais, de uma das pernas do autor da ação e que pleiteava
a indenização prevista neste artigo, que deverá ser ambas indenizações. O dano moral diz respeito ao
equitativa, não terá lugar se privar do necessário o sofrimento, à dor, já o dano estético, quanto à defor-
incapaz ou as pessoas que dele dependem (art. 928 do midade em si.
CC). Tal sistemática consagra a ideia da responsabili- Já o dano reflexo consiste no prejuízo que atinge
dade civil subsidiária e mitigada dos incapazes. reflexamente pessoa próxima, ligada à vítima direta
da atuação ilícita. É o caso, por exemplo, do pai de
III - o empregador ou comitente respondem por
família que vem a falecer por descuido de um segu-
seus empregados, serviçais e prepostos, no exercí-
rança de banco inexperiente, em uma troca de tiros.
cio do trabalho que lhes competir, ou em razão dele;
IV - os donos de hotéis, hospedarias, casas ou esta- Note-se que, por o dano ter sido sofrido pela pessoa
belecimentos onde se albergue por dinheiro, mesmo que faleceu, os seus filhos, dependentes, sofreram os
para fins de educação, respondem pelos seus hóspe- seus reflexos desse, por conta da ausência do sustento
des, moradores e educandos; paterno. Com a comprovação deste dano, nada impe-
V - respondem os que gratuitamente houverem par- de a sua reparação civil.
ticipado nos produtos do crime, até a concorrente Por fim, a teoria da perda de uma chance é uma
quantia. construção doutrinária aceita no ordenamento jurídi-
co brasileiro como uma categoria autônoma de dano,
Já a responsabilidade civil objetiva em virtude do dentro do tema responsabilidade civil, ao lado dos
risco da atividade, se configura quando a atividade danos materiais, morais e estéticos. Por ser um dano
normalmente desenvolvida pelo autor do dano cau- de difícil verificação, mesmo sendo bastante utiliza-
sar à pessoa determinada um ônus maior do que aos da na prática forense, é considerado um tema com
demais membros da coletividade (enunciado 38 da I controvérsias.
Jornada de Direito Civil). Com efeito, atividade de ris-
co é mais um dos diversos conceitos jurídicos indeter- EXCLUDENTE DE RESPONSABILIDADE CIVIL
minados existentes em nosso Código Civil.
Dano: é a lesão, podendo ser destruição ou dimi- As excludentes da responsabilidade civil devem
nuição, que devido a certo evento, sofre uma pessoa, ser entendidas como circunstâncias que, por atacar
contra sua vontade, em qualquer bem ou interesse um dos elementos ou pressupostos gerais da respon-
jurídico, patrimonial ou moral. sabilidade civil, terminam por eliminar qualquer pre-
Assim, como a conduta humana e o nexo causal, é tensão indenizatória. Nesse sentido, existem ocasiões
indispensável a presença do dano para a configuração em que, mesmo havendo os requisitos para caracte-
da responsabilidade civil. Como a indenização mede- rização de responsabilidade civil, o agente não será
-se pela extensão do dano (art. 944, do CC), sem a ocor- obrigado a indenizar ou terá a indenização compar-
rência desse elemento não haveria o que indenizar, e, tilhada com a própria vítima. Seguem as principais
consequentemente, responsabilidade. causas excludentes da responsabilidade civil:
Se a ofensa tiver mais de um autor, pela obrigação
de indenizar ficam solidariamente responsáveis todos
z Estado de necessidade: consiste na situação de
os coautores (art. 942, do CC). Ademais, o direito de
ataque a um direito alheio, de valor jurídico igual
exigir reparação e a obrigação de prestá-la transmi-
ou inferior àquele que se pretende resguardar,
tem-se com a herança (art. 943, do CC). O dano pode
para remover perigo iminente, quando as circuns-
se apresentar em algumas espécies, como, por exem-
tâncias do fato não autorizarem outra forma de
plo, dano material, dano moral, dano estético e dano
atuar.
reflexo.
O dano material é aquele que atinge de forma
direta o patrimônio da vítima, ou seja, causa a dimi- Observação: Se a pessoa lesada, ou o dono da coi-
nuição ou destruição de um bem de valor econômico. sa, não forem culpados do perigo, poderá ter direito à
O dano material pode se apresentar de duas formas: indenização do prejuízo sofrido.
dano emergente (aquilo que efetivamente se perdeu
com o ato lesivo) e lucros cessantes (aquilo que se z Legítima defesa: o indivíduo encontra-se em uma
deixou de ganhar em virtude do ato lesivo). situação, atual ou iminente, de injusta agressão,
O dano moral causa lesão em um bem que não dirigida a si ou a terceiro, que não é obrigado a
pode retornar ao estado anterior por não ter caráter suportar. Vale lembrar que, se o agente, exercendo
simplesmente pecuniário. Esse dano é sobre os direi- seu válido direito de defesa, atinge terceiro ino-
tos da personalidade, como direito a vida, integridade cente, terá de indenizá-lo, cabendo-lhe, outrossim,
150 moral, integridade física e integridade psíquica. ação regressiva contra o verdadeiro agressor;
z Exercício regular de um direito: se o agente É importante ter em mente o conceito de fato.
atuar no exercício regular de um direito reconhe- Fato é qualquer ocorrência, fenômeno, situação
cido, não poderá haver responsabilidade civil. que se apresenta, um acontecimento, um evento. Os
Se alguém atua protegido pelo Direito, não pode- fatos podem ser jurídicos ou não jurídicos conforme
rá estar atuando contra esse mesmo Direito. No tenham ou não consequências jurídicas relevantes.
entanto, se o sujeito extrapola os limites racionais Assim temos que:
do legítimo exercício do seu direito, chama-se
de abuso de direito, situação desautorizada pela z Fatos não jurídicos: são aqueles que não interes-
sam ao estudo do direito. Exemplo: a respiração de
ordem jurídica. O abuso de direito é o contraponto
uma formiga;
do seu exercício regular e, como visto, materializa
z Fatos jurídicos: são os acontecimentos com reper-
um ato ilícito;
cussão no direito cujas consequências interessam
z Caso fortuito e força maior: até hoje perdura ao mundo jurídico. Exemplo: um animal que atra-
uma grande divergência doutrinária a respeito vessa a pista e causa acidente de trânsito.
da distinção entre caso fortuito e força maior. O
pacífico é que estaremos diante dessa excludente Como conclui-se com o quadro acima, os fatos
quando existe uma determinada ação e esta gera jurídicos em sentido amplo subdividem-se em fatos
consequências, efeitos imprevisíveis, impossíveis naturais e fatos humanos. Os fatos naturais são
de evitar ou impedir, afastando a responsabilida- aqueles sem interferência humana (exemplos: chuva,
de civil (parágrafo único, art. 393, do CC); deslizamento de terra, avalanche) e, por sua vez, pos-
z Culpa exclusiva da vítima: consiste na exclusiva suem duas espécies:
atuação culposa da vítima que tem o poder de que-
brar a lógica de causalidade, isentando o agente da z Fatos naturais ordinários: Evento natural comum,
responsabilidade civil. Imagine a hipótese do sujei- esperado, como a morte, o nascimento (com vida ou
to que, andando no seu veículo segundo as regras sem vida), a contagem de prazos. É de ressaltar que
de trânsito, depara-se com alguém que, querendo os fatos ordinários sofrem influência do tempo;
z Fatos naturais extraordinários: Eventos naturais
suicidar-se, arremessa-se sob as suas rodas. Nesse
incomuns. São exemplos o caso fortuito e a força
caso, o evento infausto, obviamente, não poderá
maior. O caso fortuito é o evento imprevisível e
ser atribuído ao motorista (agente), mas sim, e tão
inevitável (exemplo: um terremoto no Brasil),
somente, ao suicida (vítima). enquanto a força maior é o evento previsível, mas
inevitável (exemplo: uma enchente em São Paulo);
z Os fatos humanos, por outro lado, relacionam-se
Importante! com a vontade humana e podem ser atos jurídicos
A culpa exclusiva da vítima distingue-se da cul- em sentido amplo (lato sensu) ou atos ilícitos.
pa concorrente, pois nesta a vítima concorre
Vejamos:
culposamente para o evento danoso que sofreu.
Diante de uma hipótese de culpa concorrente, a z Atos jurídicos em sentido amplo (lato sensu):
indenização da vítima será fixada tendo-se em Atos voluntários, queridos, buscados. Contêm
conta a gravidade de sua culpa em confronto três subespécies — ato jurídico em sentido estrito,
com a do autor do dano (art. 945 do CC).0 negócio jurídico e ato fato:
Capacidade do agente
negócio jurídico, adiante analisados.
O primeiro aspecto da validade refere-se à capaci- Os parâmetros para verificar a vontade são (art.
dade das partes (caso você ainda tenha dúvidas, retor- 133 — alterado pela Lei de Liberdade Econômica de
ne ao primeiro assunto estudado). Como já sabemos, 2019):
para um negócio jurídico ser válido é preciso haver
capacidade de fato ou plena (quando as partes podem Analisar o comportamento das partes, além do
agir sem representação ou assistência). que foi escrito;
Porém, também existem situações em que haverá Analisar os costumes e práticas de mercado;
incapacidade relativa ou absoluta, quando, então, o Respeitar a boa-fé;
sujeito só poderá agir por seu assistente ou represen- Analisar o acordo como um todo, buscando
tante, respectivamente. sempre um fim comum. 153
z Objeto lícito, possível, determinado ou Quanto ao modo de atuação:
determinável
Condição suspensiva (art. 125, do CC): Condição
O objeto é o bem ou serviço em torno do qual as par- que suspende o início do negócio, condicionando-o a
tes manifestam sua vontade. Destarte, ele deverá ser: um evento futuro e incerto. Exemplo: O sujeito A ven-
derá sua moto ao sujeito B se mudar de cidade.
Lícito: Deve estar dentro dos contornos da lei, da Condição resolutiva (art. 126, do CC): Condição
boa-fé, dos bons costumes e da ordem pública. que interrompe o direito que foi adquirido pelo negó-
Exemplo: o transporte de entorpecentes é ilícito; cio jurídico diante da ocorrência de um evento futuro
Possível: Deve estar ao alcance humano e ter e incerto. Exemplo: O sujeito A emprestará o livro ao
a permissão da lei. Essa possibilidade deverá sujeito B quando este estiver na faculdade.
ser tanto fática (concretizado no mundo natu- Observe a disposição do Código Civil a respeito, res-
ral; por exemplo: não é possível a venda de um pectivamente, da condição suspensiva e da resolutiva:
terreno nos céus) quanto jurídica (consunti-
bilidade jurídica): não se pode negociar bens Art. 125 Subordinando-se a eficácia do negócio
públicos, bens com cláusula de inalienabilida- jurídico à condição suspensiva, enquanto esta se
de e bens de terceiros; não verificar, não se terá adquirido o direito, a que
Determinado ou determinável: Determina- ele visa.
do é o objeto certo, que não deixa margem para Art. 126 Se alguém dispuser de uma coisa sob con-
dúvidas; é indicado pela quantidade, gênero dição suspensiva, e, pendente esta, fizer quanto
e qualidade. Determinável é o objeto incerto, àquela novas disposições, estas não terão valor, rea-
que deixa em aberto a qualidade; é indicado lizada a condição, se com ela forem incompatíveis.
pelo gênero e quantidade.
Quanto à participação da vontade dos sujeitos:
z Forma prescrita ou não defesa em lei
Condição causal: Condição que dependerá de um
A regra dos negócios jurídicos é princípio da caso fortuito ou força maior. Exemplo: O sujeito A se
liberdade das formas – desde que a lei não proíba, os
compromete a emprestar o carro ao sujeito B caso
negócios são informais e não carecem de formas espe-
chova amanhã.
cíficas (art. 107). Porém, para alguns casos, a lei exige
Condição puramente potestativa: Condição que
certa formalidade, como forma prescrita, a exemplo
depende de puro arbítrio (vontade) de uma das partes
dos arts. 108 e 541:
(art. 122, CC). Exemplo: Darei a você esse veículo se eu
Art. 108 Não dispondo a lei em contrário, a escri- quiser. Esta condição é considera ilícita e, portanto,
tura pública é essencial à validade dos negócios invalida o negócio jurídico.
jurídicos que visem à constituição, transferência, Condição simplesmente potestativa: Difere das
modificação ou renúncia de direitos reais sobre condições simplesmente potestativas, pois não está
imóveis de valor superior a trinta vezes o maior atrelada unicamente à vontade de uma das partes,
salário mínimo vigente no País. dependendo de um evento futuro e incerto posterior.
Art. 541 A doação far-se-á por escritura pública ou Exemplo: Darei a você essa medalha se você tirar a
instrumento particular. melhor nota da turma.
Parágrafo único. A doação verbal será válida, se, Condição mista: Condição que depende da vonta-
versando sobre bens móveis e de pequeno valor, se
de não só das partes, como também de um terceiro.
lhe seguir incontinenti a tradição.
Exemplo: Darei a você esse apartamento se você se
casar com Maria.
z O plano da eficácia dos negócios jurídicos
Condição promíscua: Condição inicialmente
potestativa e que, por fato superveniente, dificulte o
No plano da eficácia, estão os negócios jurídicos
cumprimento. Exemplo: Prometer dar um prêmio a
que já geram efeitos no mundo jurídico ou aqueles
cujos efeitos estão pendentes. Trata-se dos elemen- um maratonista se ele vencer a próxima maratona,
tos acidentais, adicionados ao negócio jurídico para mas ele acabar lesionando o joelho de modo a não
modificar suas consequências. Esses elementos são: participar da maratona.
condição, termo ou encargo. Também invalidarão o negócio (nulidade
absoluta):
A condição Condição suspensiva que seja impossível. Exem-
plo: Dou-te a minha casa se minha mãe ressuscitar;
O Código Civil traz o seguinte conceito acerca do Condição ilícita. Exemplo: Vendo-te esse quadro
elemento condicional da condição: se você criar uma cópia falsificada para mim;
Condições incompreensíveis ou contraditórias.
Art. 121 Considera-se condição a cláusula que, Exemplo: Quando você se casar, te darei uma casa se
derivando exclusivamente da vontade das partes, você ainda estiver solteira.
subordina o efeito do negócio jurídico a evento Ademais, veja o que dispõe o Código Civil a respeito:
futuro e incerto.
Art. 123 Invalidam os negócios jurídicos que lhes
Logo, para ser condição ela precisa não somente são subordinados:
tratar de evento futuro e incerto, mas também ser I - as condições física ou juridicamente impossíveis,
fruto da vontade das partes. Ademais, a condição terá quando suspensivas;
classificações, conforme o modo de atuação e a parti- II - as condições ilícitas, ou de fazer coisa ilícita;
154 cipação da vontade dos sujeitos. III - as condições incompreensíveis ou contraditórias.
Art. 124 Têm-se por inexistentes as condições impossíveis, quando resolutivas, e as de não fazer coisa impossível.
O encargo traz um ônus ao sujeito beneficiado em um negócio jurídico gratuito. Ou seja, exige-se um com-
portamento específico de quem cumprirá o encargo. Como consequência, o encargo não suspende o direito. O
sujeito poderá ter direito e exercê-lo dentro do que foi acordado. No entanto, para manter o seu direito, deverá
realizar o encargo. Exemplos: Vou te dar um carro, desde que você leve meu filho todos os dias para a escola; vou
te dar uma fazenda, para que você construa nela uma capela.
O descumprimento do encargo ensejará a execução forçada. A legitimidade para exigir o cumprimento é do
interessado (se o interesse for coletivo: o Ministério Público). Porém, pode-se evitar o cumprimento com a renún-
cia ao direito. Não havendo o cumprimento, desfaz-se o negócio. Exemplo: revogação da doação (art. 555, do CC).
É importante observar que o encargo não suspense o negócio, salvo quando houver expressa convenção (e,
nesse caso, haverá condição suspensiva). Logo, ele se diferencia da condição suspensiva justamente porque o
encargo não suspende a aquisição nem o exercício do direito.
Para fixar o conteúdo e as principais diferenças, confira a tabela a seguir acerca de condição, termo e encargo:
CONDIÇÃO DE EFICÁCIA
Condição Termo Encargo
Suspensiva: impede a aquisição do direito Inicial: imediata aquisição de direito, mas Ocorre imediata aquisição direito e de seu
e de seu exercício. Existe apenas uma ex- obsta o seu exercício. O exercício do direi- exercício. Dependerá de um ato específi-
pectativa do direito to fica suspenso, aguardando o termo co a ser concretizado pelo beneficiário do
direito
Resolutiva: imediata aquisição de direito e Final: imediata aquisição de direito e de
de seu exercício. Existe a possibilidade de seu exercício. Ao final do prazo, o titular
o direito ser perdido, caso o evento incerto perde o direito
aconteça
VÍCIOS
Erro
z Erro ou ignorância
É o resultado de uma falsa percepção, noção, ou mesmo falta de percepção sobre a pessoa, objeto ou o próprio
negócio que se pratica. Ademais, há ausência de terceiro neste erro, isto é: no erro, o agente engana-se sozinho
NOÇÕES DE DIREITO
sobre determinado aspecto do negócio jurídico. Veja como prevê o Código Civil:
Art. 138 São anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações de vontade emanarem de erro substancial que
poderia ser percebido por pessoa de diligência normal, em face das circunstâncias do negócio.
Logo, o negócio jurídico praticado com erro somente será passível de anulabilidade se for real (produzir um
prejuízo/ dano ao declarante) e substancial, isto é, recair sobre aspectos determinantes do negócio jurídico, sendo
a causa essencial do negócio. O Código Civil prevê as espécies de erro substancial (art. 139, do CC):
Tio Pai
RELAÇÕES DE PARENTESCO
CONCEITO E MODALIDADES
Primo Eu Irmão
Parentesco é o vínculo jurídico estabelecido entre
pessoas que têm a mesma origem biológica (paren-
tesco consanguíneo ou natural); entre um cônjuge ou
companheiro e os parentes do outro (parentesco por
Filho Sobrinho
afinidade) e entre pessoas que têm, entre si, vínculo
civil (parentesco civil).
Este parentesco poderá ter as seguintes modalidades:
Neto Sobrinho-
z Parentesco consanguíneo ou natural: existente neto
entre pessoas que mantêm entre si um vínculo bio-
lógico ou de sangue, por terem origem no mesmo
tronco comum;
Bisneto
z Parentesco por afinidade: dá-se entre um côn-
juge (ou companheiro) e os parentes do outro.
Porém, atente-se ao fato de que marido e mulher Primeiramente, é importante saber que o parentes-
não são parentes entre si. Entre eles, existe um co se divide em linhas: existe a linha reta, que indica
vínculo de conjugalidade. O parentesco por afini- a ascendência e a descendência, e a linha colateral ou
dade se limita aos ascendentes, descendentes e aos transversal, que indica a relação com outros parentes.
irmãos do cônjuge (ou companheiro). Assim, há Na linha reta ascendente (veja a imagem), temos
relação de parentesco por afinidade em relação ao os pais, avós, bisavós e assim infinitamente (inde-
sogro/sogra, enteado/enteada e cunhado/cunhada. pendente do grau). Na linha reta descendente, temos
filhos, netos, bisnetos e, assim, infinitamente.
O grau de parentesco, na linha reta, é contado pelo
Importante! número de gerações. Assim, o pai é parente de primei-
ro grau em relação ao filho, o neto é parente de segun-
Sogra é para sempre. Isso, porque, na linha reta,
do grau em relação ao avô e assim por diante.
em qualquer grau, a afinidade nunca se extingue,
Na linha colateral, o parentesco vai até o quarto
nem mesmo com a dissolução do casamento ou
grau. Para contar o grau de parentesco na linha cola-
união estável. Existe um vínculo perpétuo! Daí,
teral, deve-se buscar o ascendente em comum e des-
vem a expressão de que “não existe ex-sogra”.
cer até o parente procurado. Por exemplo: para saber
qual é o grau de parentesco entre mim e meu primo,
z Parentesco civil: decorrente de outra origem, vou contar as gerações até o nosso ascendente comum
exclui a origem natural e por afinidade. Essa (no caso, nosso avô). Até o avô, existem duas gerações
modalidade tem origem tanto na adoção quanto (segundo grau). Agora, é necessário descer até chegar
na técnica de reprodução heteróloga, bem como ao primo. Por isso, eu desço um parente (o tio, contan-
158 na parentalidade socioafetiva. do terceiro grau) e chego ao primo (quarto grau).
Analise, pela imagem, que o primo é parente de Enunciado 129: A maternidade será presumida
quarto grau e que este é o limite para o parentesco em pela gestação. Parágrafo único: Nos casos de uti-
linha colateral. Pode-se concluir que o filho do meu lização das técnicas de reprodução assistida, a
primo (popularmente conhecido como “primo de maternidade será estabelecida em favor daquela
segundo grau”) já não tem mais relação de parentesco que forneceu o material genético, ou que, tendo pla-
nejado a gestação, valeu-se da técnica de reprodu-
comigo.
ção assistida heteróloga.
FILIAÇÃO
Multiparentalidade
Filiação é a relação jurídica entre pais e filhos. O
O STF, em 2016, reconheceu a possibilidade do
art. 1.597, do CC, traz as presunções de paternidade,
registro civil de mais de um pai ou mais de uma mãe
ou seja, existem situações que, por decorrerem do
(STF – RE: nº 898.060 – SANTA CATARINA, Relator:
casamento, fazem presumir a paternidade. São elas:
Min. Luiz Fux, Data de julgamento: 21/09/2016, ple-
nário). Por essa decisão, ficou atestado que o víncu-
z Os filhos nascidos cento e oitenta dias, pelo menos,
lo biológico não prepondera sobre o vínculo afetivo.
depois de estabelecida a convivência conjugal; Importa dizer que o filho pode ter um pai biológico e
z Os filhos nascidos nos trezentos dias subsequen- outro que, por laços de afeto, assim o reconheça.
tes à dissolução da sociedade conjugal, por mor- O Enunciado 632, do Conselho da Justiça Federal,
te, separação judicial, nulidade e anulação do inclusive, prevê que nos casos de reconhecimento de
casamento; multiparentalidade paterna ou materna, o filho terá
z Os filhos havidos por fecundação artificial homó- direito à participação na herança de todos os ascenden-
loga, mesmo que falecido o marido — situação em tes reconhecidos.
que o pai mantém o sêmen congelado para uma
futura fecundação; Reconhecimento de Filhos
z Os filhos havidos, a qualquer tempo, quando se
tratar de embriões excedentários, decorrentes de O Código civil traz duas formas de reconhecimento
concepção artificial homóloga. Nessa situação, a dos filhos pelos pais:
fecundação (encontro dos gametas) ocorre fora do
corpo da mulher, mantendo o embrião congelado z Reconhecimento voluntário
para futura implantação no útero;
z Os filhos havidos por inseminação artificial hete- A primeira forma é a voluntária, também conheci-
róloga, desde que tenha prévia autorização do da como perfilhação. O art. 1.609 traz as formas possí-
marido. A inseminação heteróloga conta com o veis desse reconhecimento. Vejamos:
material genético de terceiro (não do pai) e, por
isso, carece de autorização prévia do marido. Art. 1.609 [...]
I - por meio do registro do nascimento;
A prova de impotência do marido afasta a presun- II - por escritura pública ou escrito particular, a ser
ção de paternidade (art. 1599, do Código Civil). A dou- arquivado em cartório;
trina entende que se trata de impotência generandi, III - por testamento, ainda que incidentalmente
manifestado;
aquela relacionada à incapacidade de gerar (TARTU-
IV - por manifestação direta e expressa perante o
CE, Flávio. Manual de Direito Civil. Volume único. 9ª
juiz, ainda que o reconhecimento não haja sido o
ed. São Paulo: Método, 2019, p. 1225).
objeto único e principal do ato que o contém.
Alguns enunciados do Conselho da Justiça Federal
sobre o tema que valem a pena conhecer: O reconhecimento pode anteceder ao nascimento
do filho ou ser posterior (post mortem). No caso do
Enunciado 520: O conhecimento da ausência de
reconhecimento post mortem, o art. 1.609, parágrafo
vínculo biológico e a posse de estado de filho obs-
único, diz que o filho a ser reconhecido deve ter dei-
tam a contestação da paternidade presumida.
xado descendentes. O reconhecimento é irrevogável,
Enunciado 570: O reconhecimento de filho havido
ainda que se dê pelo testamento. Implica dizer que,
em união estável fruto de técnica de reprodução
ainda que o testamento seja revogado, o reconheci-
assistida heteróloga “a patre” consentida expres-
mento se manterá.
samente pelo companheiro representa a formali-
zação do vínculo jurídico de paternidade-filiação
Em relação ao filho maior, o reconhecimento só
cuja constituição se deu no momento do início da pode ocorrer com o consentimento deste (art. 1.614).
Quanto ao filho menor, o mesmo artigo permite que
NOÇÕES DE DIREITO
gravidez da companheira.
Enunciado 608: É possível o registro de nascimen- este impugne o reconhecimento em até quatro anos.
to dos filhos de pessoas do mesmo sexo originários Vale dizer que o STJ já se pronunciou no sentido de
de reprodução assistida, diretamente no Cartório que tal impugnação não está sujeita à decadência,
do Registro Civil, sendo dispensável a propositura tendo em vista que a verdade biológica é um direito
de ação judicial, nos termos da regulamentação da fundamental e, por isso, imprescritível. É isso a que se
Corregedoria local. refere o Recurso Especial nº 1.259.703/MS.
Enunciado 258: Não cabe a ação prevista no art. Outro aspecto referente ao reconhecimento de
1.601 do Código Civil se a filiação tiver origem em filhos é que este é incondicional, não aceitando opo-
procriação assistida heteróloga, autorizada pelo sição de termo nem condição. Por exemplo, não se
marido nos termos do inc. V do art. 1.597, cuja admite o reconhecimento de um filho apenas quando
paternidade configura presunção absoluta. sua mãe falecer (art. 1.613). 159
z Reconhecimento judicial c) Cessará, para os menores, pela colação de grau em
curso técnico profissionalizante devidamente reco-
A segunda forma de reconhecimento de filho é nhecido pelo Ministério da Educação e Cultura.
a judicial. A ação correspondente é a ação de inves- d) Pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela exis-
tigação de paternidade ou de maternidade, sendo a tência de relação de emprego, desde que, em função
primeira a via mais comum. Por ter natureza decla- deles, o menor com quatorze anos completos tenha
ratória, a ação não está sujeita a prazo. A Súmula 149 economia própria.
do STF diz que “o reconhecimento do estado de filiação
é direito personalíssimo, indisponível e imprescritível, 3. (FUMARC — 2012) Considerando o Código Civil Brasi-
podendo ser exercitado contra os pais ou seus herdei- leiro, são incapazes relativamente a certos atos, ou à
ros, sem qualquer restrição, observando o segredo de maneira de os exercer,
Justiça”.
a) os pródigos; os maiores de dezesseis e menores
Por se tratar de um interesse personalíssimo, a
de dezoito anos; os viciados em tóxicos; os ébrios
ação deve ser proposta pelo filho. Sendo ele um menor,
habituais.
deverá estar devidamente representado ou assistido.
b) os ébrios habituais; os viciados em tóxicos; os maio-
Poderá o Ministério Público atuar como substituto
res de dezesseis e menores que vinte e um anos; o
processual, tendo legitimação extraordinária.
índio.
A ação terá, com legitimado passivo, o suposto
c) os pródigos; o índio; os excepcionais, sem desenvol-
pai ou a suposta mãe. Se este (ou esta) for falecido(a),
vimento mental completo; os maiores de dezesseis e
caberá a ação contra os herdeiros.
menores de vinte e um anos.
A prova da filiação, na ação de investigação, ocor-
d) os excepcionais, com desenvolvimento mental com-
rerá por meio do teste de DNA. Em caso de recusa
pleto; os pródigos; os ébrios habituais; os maiores de
do pai (ou da mãe) na realização do teste, entende o
dezesseis e menores de dezoito anos.
STF que haverá, então, presunção da paternidade (ou
maternidade). Isso ocorre, porque não se pode obri- 4. (FUMARC — 2011) A personalidade civil de uma pes-
gar o genitor a realizar o teste, pois violaria sua inti- soa tem início
midade biológica (HC 71.373/RS). Nessa linha, é o art.
232 do Código Civil e a súmula 301 do STJ (não deixe a) quando da concepção.
de conferir). b) quando do nascimento com vida.
c) quando atingida a maioridade.
d) quando da emancipação.
2. (FUMARC — 2018) A capacidade jurídica envolve a a) O termo inicial suspende o exercício e a aquisição do
aptidão para adquirir direitos e assumir deveres pes- direito.
soalmente. Mais especificamente, significa que as b) Os prazos de meses e anos expiram no dia de igual
mais diversas relações jurídicas (celebrar contratos, número do de início, ou no imediato, se faltar exata
casar, adquirir bens, postular perante o Poder Judi- correspondência.
ciário...) podem ser realizadas pessoalmente pelas c) Salvo se o permitir a lei ou o representado, é anulável o
pessoas plenamente capazes ou por intermédio de negócio jurídico que o representante, no seu interesse
terceiros (o representante ou assistente) pelos incapa- ou por conta de outrem, celebrar consigo mesmo.
zes (citado por Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald). e) Se alguém dispuser de uma coisa sob condição sus-
Sobre a capacidade jurídica para os atos jurídicos, é pensiva, e, pendente esta, fizer quanto àquela novas
CORRETO afirmar: disposições, estas não terão valor, realizada a condi-
ção, se com ela forem incompatíveis.
a) A menoridade cessa aos vinte e um anos completos,
quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os 7. (FUMARC — 2011) Considerando os defeitos dos
atos da vida civil. negócios jurídicos, é INCORRETO afirmar, respectiva-
b) Cessará, para os menores, a incapacidade pela con- mente, que
cessão dos pais, ou de um deles na falta do outro,
mediante instrumento público, independentemente de a) o erro se constitui a partir do momento em que uma
homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido determinada pessoa induz a outra a praticar o ato que
160 o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos. a esta prejudica, em benefício próprio, enquanto que
a coação é a violência física ou moral que impede a
pessoa de manifestar livremente sua vontade.
ANOTAÇÕES
b) a coação ocorre a partir da violência física ou moral
que impede a pessoa de manifestar livremente sua
vontade, enquanto que a lesão ocorre, quando uma
pessoa se obriga à prestação manifestamente des-
proporcional ao valor da prestação oposta.
c) o erro, de fato ou de direito, é a falsa noção que se tem
a respeito de alguma coisa, enquanto que o dolo é a
intenção de praticar um ato em benefício próprio com
prejuízo de terceiro(s).
d) a culpa, em sentido amplo, é a violação de um dever
jurídico, imputável a uma pessoa, em decorrência de
um fato intencional omissivo ou comissivo, enquan-
to que a culpa, em sentido estrito, é a violação de um
dever jurídico, caracterizada pela imperícia, imprudên-
cia ou negligência.
a) a prescrição é irrenunciável.
b) o juiz pode reconhecer a prescrição de ofício.
c) a prescrição somente pode ser alegada em primeira
instância.
e) os prazos de prescrição podem ser alterados por con-
venção das partes.
9 GABARITO
1 B
2 B
3 A
NOÇÕES DE DIREITO
4 B
5 B
6 A
7 A
8 B
9 A
10 B
161
ANOTAÇÕES
162
Toda tipologia ou classificação depende dos crité-
rios adotados por seus estudiosos. É importante escla-
recer que existem diferentes classificações entre os
juristas mais renomeados. Não se trata, portanto, de
NOÇÕES DE DIREITO uma classificação ser mais acertada que outra, mas
sim, mais adequada à sua finalidade didática. Segundo
Alexandre de Moraes (2018) a tipologia ou a classifica-
ção das constituições pode ser basicamente delimitada:
Quanto ao conteúdo – qual o teor, o que compõe
DIREITO CONSTITUCIONAL a Constituição:
sua organização social, política, jurídica e econômica. Assembleia Nacional Constituinte, eleita direta e
Conjunto de normas jurídicas, normalmente escritas legitimamente pelo povo, para, em nome dele atuar.
em um texto unitário, que regulam a organização e z Outorgada: é a Constituição imposta de manei-
atuação do Estado nas relações sociais. ra unilateral por governante que não recebeu
do povo a legitimidade para em nome dele atuar
A Constituição é, assim, uma norma jurídica e, para (LENZA, 2019).
a maior parte dos sistemas, norma jurídica dotada
de superioridade hierárquica em relação às demais.
Para Hans Kelsen, a Constituição define quem elabo- Quanto à estabilidade ou alterabilidade – se
ra as normas e como elas vão ser elaboradas, cons- pode ou não ser alterada:
tituindo, assim, o ponto de partida e de validade de
todo o sistema jurídico. (BARCELLOS, 2018, p. 28) z Imutável: é vedada qualquer alteração. 163
z Rígida: exige para a sua alteração um processo z As constituições garantia, que visam assegurar
legislativo solene, mais complexo e árduo do que o direitos fundamentais, balanço, que reflete um
empregado para a modificação das normas infra- degrau de evolução socialista e a dirigente, que
constitucionais. Para Alexandre de Moraes (2018), estabelecem um plano de direção, um projeto de
a Constituição Federal de 1988 pode ser considera- Estado através de normas programáticas, objeti-
da super-rígida, porque em regra pode ser altera- vando uma evolução política (LENZA, 2019);
da por um processo legislativo diferenciado, mas, z As liberais (negativas) ou sociais (dirigentes),
excepcionalmente é imutável quanto às suas cláu- que levam em conta o seu conteúdo ideológico. As
sulas pétreas, previstas em seu art. 60, § 4º. Esta liberais refletem os direitos humanos de 1ª dimen-
classificação, contudo, não tem sido adotada pelo são, a não intervenção do Estado e a proteção das
STF. liberdades individuais. As sociais refletem a neces-
z Semirrígida: algumas regras poderão ser altera- sidade de atuação estatal e proteção dos direitos
das pelo processo legislativo ordinário, enquanto sociais (direitos humanos de segunda dimensão)
outras somente por um processo legislativo espe- (LENZA, 2019);
cial e complexo. z As expansivas, que apresentam um “conteúdo
z Flexível: não exige um processo legislativo de alte- anatômico e estrutural”, destacando-se a estrutu-
ração mais dificultoso do que as normas infracons- ração do texto e sua divisão em títulos, capítulos,
titucionais. Logo, pode ser alterada por processo seções, subseções, artigos da parte permanente e
legislativo ordinário. do ADCT” (LENZA, 2019, p. 189), além de apresen-
tarem dilatação de sua matéria constitucional, se
Quanto à extensão e finalidade – qual a sua comparadas com as Constituições brasileiras pre-
amplitude e a que se destina: cedentes ou com constituições estrangeiras.
só se encontram significados quando eles são acompa- prática: tem ligação com o princípio da unidade
nhados de uma solução prática. Ainda, um princípio da constituição. Prevê que diante do conflito de
jamais limitará a aplicação de outro princípio. bens jurídicos, não deve haver total anulação de
Quando ocorrer, deverá ter uma ponderação entre um em função do outro, ou seja, deve haver uma
ambos, por exemplo, podemos citar o princípio da concordância prática entre eles em um possível
moralidade no âmbito da Administração Pública, conflito aplicável a um caso concreto. Por exem-
pois está relacionado à ideia de boa fé e probidade, plo, não pode o legislador impor uma eventual sus-
sendo que o agente público deve atuar buscando o pensão de processo, sem instituir a suspensão dos
interesse público e evitar se valer do cargo público prazos prescricionais1. Percebe como, neste caso,
e do poder incumbido para se promover ou atender deve haver uma harmonização entre a aplicabili-
algum interesse individual. dade das normas.
1 Exemplo extraído do julgamento pelo STF do RE 966177 RG, rel. Min. Luiz Fux, julgado em 07.06.2017, DJe 01.02.2019. 165
REPÚBLICA E FEDERAÇÃO Art. 1º. Fundamentos:
“SO.CI.DI.VA.PLU”
República é uma forma de governo, assim como
SOberania;
a Monarquia e a Teocracia, ou seja, é a forma como
CIdadania;
se institui o poder na sociedade e como os órgãos de
DIgnidade da pessoa humana;
governo se relacionam. No sistema democrático do
VAlores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
Brasil, a República é caracterizada pelo chefe de um
PLUralismo Político.
estado eleito para um mandato por período determi-
nado. Já na Monarquia, esse cargo é recebido de forma
Art. 2º Separação dos Poderes:
hereditária e vitalício, como é o caso do Reino Unido.
Judiciário: Aplica as leis;
Também existe a chamada Teocracia que é quando
Legislativo: Elabora as leis;
o chefe do Estado é chamado por motivos religiosos,
Executivo: Administra o Estado.
como acontece, por exemplo, no Vaticano e no Irã.
Art. 3º Objetivos Fundamentais:
REPÚBLICA MONARQUIA TEOCRACIA “CON.GA.ER.PRO”
Democracia CONstruir uma sociedade livre, justa e solidária;
Chefe do Estado Chefe do Esta-
– Chefe do GArantir o desenvolvimento nacional;
é um cargo re- do é chamado
Estado eleito ERradicar a pobreza e a marginalização e redu-
cebido de forma por motivos
por um período zir as desigualdades sociais e regionais;
hereditária religiosos
determinado PROmover o bem de todos, sem preconceitos
Exemplo: Reino Exemplo: de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer
Exemplo: Brasil outras formas de discriminação.
Unido Vaticano
Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência A Teoria da tripartição de poderes foi idealizada
e de fundado receio de fuga ou de perigo à integri- por Montesquieu e determina a composição e divisão
dade física própria ou alheia, por parte do preso ou do Estado, a teoria objetiva que cada poder deve ser
de terceiros, justificada a excepcionalidade por escri-
independente e harmônico entre si, como forma de
to, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e
penal do agente ou da autoridade e de nulidade da dividir as funções do Estado, entre poder executivo,
prisão ou do ato processual a que se refere, sem pre- poder legislativo e poder judiciário, entendimento esse
juízo da responsabilidade civil do Estado. também chamado de teoria dos freios e contrapesos.
2 MORAES, op. cit, p. 24.
3 Trabalhador CLT – Termo vulgar utilizado para definir trabalhador/funcionário regido pela CLT (carteira assinada). 167
Objetivos da República Federativa do Brasil O objetivo é reduzir a chamada desigualdade
material, que significa tratar iguais os iguais e os
O art. 3° da Constituição Federal apresenta os obje- desiguais com desigualdade na medida de suas desi-
tivos fundamentais do Estado brasileiro, ou seja, dita gualdades, ou seja, é uma forma de proteção a certos
os compromissos que o Estado tem em relação aos grupos sociais, pessoas que foram discriminadas ao
cidadãos, em especial na garantia plena de igualdade longo da história do Brasil. Isso ocorre por meio das
entre todos os brasileiros. chamadas ações afirmativas, que visam, por meio da
José Afonso da Silva observa que (2017), é a primei- política pública, reduzir os prejuízos.
ra vez que uma Constituição relaciona especificamen- Sobre esse tema e explicações referente igualdade
te os objetivos do Estado brasileiro, que valem como formal e igualdade material será abordado na sequên-
base para as prestações positivas que venham a con- cia, no tópico de estudo do princípio da igualdade
cretizar a democracia econômica, social e cultural4. (caput, art. 5° da CF).
O inciso XX, que também disciplina o direito de O inciso XXIV trata da hipótese mais drástica do
associação, estabelece que não é possível obrigar poder de intervenção do Estado na economia: a desa-
qualquer pessoa a se associar, ou seja, o indivíduo tem propriação. A desapropriação é o ato pelo qual o
liberdade de escolha, podendo optar por fazer parte Estado toma para si ou para outrem (terceira pessoa)
do grupo ou não. Além disso, uma vez associado, ele bens de particulares, por meio do pagamento de jus-
será livre para decidir se permanece ou não associa- ta e prévia indenização. Portanto, trata-se de uma das
do. Portanto, compreende o direito de associar-se a hipóteses de aquisição originária da propriedade. É
cabível a desapropriação nas seguintes hipóteses:
outras pessoas para formação de uma entidade, como
também de deixar de participar quando for de seu
z Por necessidade pública: hipótese na qual o bem
interesse.
a ser desapropriado é imprescindível para a reali-
zação de uma atividade essencial do Estado;
Art. 5º [...]
z Por utilidade pública: hipótese na qual o bem não
XXI - as entidades associativas, quando expressa-
é imprescindível, mas é conveniente para a reali-
mente autorizadas, têm legitimidade para repre-
zação de uma atividade estatal;
sentar seus filiados judicial ou extrajudicialmente;
z Por interesse social: hipótese na qual a desapro-
priação é conveniente para o desenvolvimento da
O inciso XXI é o último dispositivo que trata do sociedade.
direito de associação. Ele se refere à representação
do filiado pela associação, quer em âmbito judicial Atenção! Não confundir com desapropriação
quer em âmbito extrajudicial, isto é, ele se refere à sancionatória, hipótese em que o bem não respeita a
legitimação da associação para atuar em nome dos função social da propriedade. Nela, a indenização não
associados. é prévia, sendo o prazo de resgate (Títulos da Dívida
Cabe esclarecer que representante é aquele que Pública) de 10 (dez) anos para bens urbanos e de 20
age em nome alheio, defendendo direito alheio. No (vinte) anos para bens rurais. Ainda, não confunda
caso das associações, para que estas atuem na condi- desapropriação com expropriação, que consiste na
ção de representantes, é preciso autorização expressa perda da propriedade no caso de cultivo de substân-
dos filiados, não bastando que exista autorização em cias entorpecentes ou de trabalho escravo. Nela, não
estatuto. Assim sendo, só poderão atuar se devida- há pagamento de indenização.
mente autorizadas pelos associados.
NOÇÕES DE DIREITO
do direito à segurança (garantias jurisdicionais). Esse A coisa julgada divide-se em coisa julgada mate-
princípio garante que todas as pessoas tenham acesso rial – quando impede a discussão em qualquer
ao Poder Judiciário. processo – e coisa julgada formal – quando impe-
de a discussão no mesmo processo.
Art. 5º [...]
XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido,
o ato jurídico perfeito e a coisa julgada;
8 Em conformidade com o art. 6º do Decreto Lei nº 4.657/1942 (Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro). Veja: “A Lei em vigor terá efeito
imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. § 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado
segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou.§ 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por ale, possa
exercer, como aqueles cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou condição pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem. § 3º Cha-
ma-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba recurso”. 175
Art. 5º [...] O inciso XLI decorre do direito à igualdade.
XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de Trata-se da necessidade de reconhecer que todos os
exceção; indivíduos possuem os mesmos direitos e as mesmas
proteções. Além disso, a lei não só não poderá ser apli-
A proibição dos tribunais de exceção, que decor- cada de modo discriminatório, como também deverá
re do direito à segurança, encontra-se prevista no inci- punir tais discriminações com base em qualquer con-
so XXXVII. Busca-se proibir que os tribunais ou juízos dição pessoal, como sexo, cor, origem, entre outras.
sejam criados especialmente para julgar determina-
dos crimes ou pessoas (nos casos concretos). Art. 5º [...]
Atenção! Tribunal de exceção não se confunde XLII - a prática do racismo constitui crime
com Justiças especializadas e foro privilegiado. inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de
reclusão, nos termos da lei;
Art. 5º [...]
XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a O inciso XLII trata da prática de racismo. Embora
organização que lhe der a lei, assegurados: a Constituição não tipifique o crime, ela manda crimi-
a) a plenitude de defesa; nalizar a conduta de racismo. Além disso, estabelece
b) o sigilo das votações; a não concessão de fiança ao racismo (inafiançável)
c) a soberania dos veredictos; e, ainda, que o ato pode ser julgado a qualquer tem-
d) a competência para o julgamento dos crimes po, independentemente da data em que foi cometido,
dolosos contra a vida; pois não se sujeita ao decurso do tempo (imprescrití-
vel). Vale lembrar, aqui, que a Lei nº 7.716, de 1989 é a
Outro desdobramento do direito à segurança é a Lei do Racismo e a Lei nº 12.288, de 2010, estabelece o
garantia do julgamento pelo Tribunal do Júri em Estatuto da Igualdade Racial.
crimes dolosos contra a vida, ou seja, homicídio (art.
121, CP), induzimento, instigação ou auxílio a suicídio Art. 5º [...]
ou à automutilação (art. 122, CP), infanticídio (art. 123, XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e
CP) e aborto (arts. 124 a 128, CP). Trata-se de direito do insuscetíveis de graça ou anistia a prática da
indivíduo de ser julgado por seus pares e, não, por um tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e
juízo de critério eminentemente técnico. drogas afins, o terrorismo e os definidos como
crimes hediondos, por eles respondendo os man-
Súmula Vinculante nº 45 A competência consti- dantes, os executores e os que, podendo evitá-los,
tucional do Tribunal do Júri prevalece sobre o foro se omitirem;
por prerrogativa de função estabelecido exclusiva-
mente pela Constituição Estadual. O inciso XLIII estabelece os crimes em que não
cabe fiança nem perdão, ou seja, graça, indulto e
Art. 5º [...] anistia. Embora o dispositivo não mencione o indulto,
XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defi- ele também não é cabível nos crimes elencados.
na, nem pena sem prévia cominação legal; Para lembrar dos crimes, memorize: T T T H
Os princípios da anterioridade e da reserva
Tortura
da lei penal (nullum crimen, nulla poena, sine lege)
Tráfico
encontram-se disciplinados no inciso XXXIX. Em sín-
Terrorismo
tese, pelo princípio da reserva legal, não há crime sem
Hediondos
lei que o defina, nem pena sem cominação legal. Já
pelo princípio da anterioridade, a lei que estabelece o
A graça e o indulto são modalidades de perdão
crime e a pena deve ser anterior a sua prática.
concedidas pelo Presidente da República, de modo
Art. 5º [...] a extinguir a punibilidade do agente. Enquanto, na
XL - a lei penal não retroagirá, salvo para bene- graça, o perdão é concedido de forma individual por
ficiar o réu; meio de decreto e mediante provocação do interes-
sado, no indulto, o perdão é coletivo e concedido por
O princípio da irretroatividade da lei penal decreto, o qual não possui destinatário certo e inde-
mais gravosa está disciplinado no inciso XL. Em ter- pende de provocação. O indulto pode ser total ou par-
mos de direito penal, a regra é a lei do tempo do cri- cial (comutação).
me, ou seja, será aplicada a lei do tempo da ação ou Já a anistia é o perdão concedido pelo Congresso
omissão. É possível, no entanto, aplicar lei posterior Nacional, por meio de lei, aos crimes e atos adminis-
caso esta seja mais benéfica ao réu. Exemplo: nova lei trativos. Na anistia, exclui-se o crime, rescinde-se a
deixa de considerar o fato como crime ou diminui a condenação e extingue-se totalmente a punibilidade.
sua pena.
Cabe destacar que a anistia pode ser concedida pelas
A retroatividade da lei penal mais benéfica é abso-
Assembleias Legislativas, porém se restringe aos atos
luta, isto é, ela desconstituirá, inclusive, condenações
administrativos, como, por exemplo, às transgres-
já transitadas em julgado. Exemplo: sujeito que cum-
sões disciplinares de servidores estaduais.
pre pena por um crime que lei posterior deixou de
É importante mencionar que esses crimes são
considerar respectivo ato como crime (caso de abolitio
prescritíveis, além de ser cabível a liberdade provi-
criminis) será colocado em liberdade.
sória. Ainda, a Lei nº 9.455, de 1997, trata dos crimes
Art. 5º [...] de tortura; a Lei nº 11.343, de 2006, dos crimes de dro-
XLI - a lei punirá qualquer discriminação atenta- gas; a Lei nº 13.260, de 2016, do terrorismo; a Lei nº
176 tória dos direitos e liberdades fundamentais; 8.072, de 1990 cuida dos crimes hediondos.
Art. 5º [...] O inciso XLVII, que decorre tanto do direito à vida
XLIV - constitui crime inafiançável e imprescri- como do direito à segurança, estabelece a proibição
tível a ação de grupos armados, civis ou milita- de determinadas penas. Assim, é vedada a pena de
res, contra a ordem constitucional e o Estado morte em tempos de paz. Isso porque, quando decla-
Democrático; rada a guerra pelo Presidente da República após a
autorização do Congresso Nacional, vigora a parte ati-
O inciso XLIV também traz hipóteses de não con- nente aos tempos de guerra9 do Código Penal Militar
cessão de fiança, cuja ação ou omissão pode ser julga- (CPM) e Código de Processo Penal Militar (CPPM), que
da a qualquer tempo, independentemente da data em estabelece, em determinados casos, a pena de morte.
que foi cometido. Tratam-se dos crimes desenvolvidos Exemplo: traição (art. 355, CPM)10.
pelas organizações criminosas contra a ordem consti-
tucional e democrática, como, por exemplo, no golpe Art. 5º [...]
de Estado. Cabe lembrar que a Lei nº 12.850, de 2013, XLVIII - a pena será cumprida em estabelecimen-
é que trata das organizações criminosas. tos distintos, de acordo com a natureza do deli-
to, a idade e o sexo do apenado;
Art. 5º [...]
XLV - nenhuma pena passará da pessoa do O inciso XLVIII traz um dos princípios relativos
condenado, podendo a obrigação de reparar
à execução da pena privativa de liberdade. Trata-
o dano e a decretação do perdimento de bens
-se da exigência de que o cumprimento da pena seja
ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores
feito de acordo com a natureza do crime, a idade e
e contra eles executadas, até o limite do valor do
o sexo do apenado. É por essa razão que os adoles-
patrimônio transferido;
centes ficam em estabelecimentos distintos dos adul-
O princípio da intranscendência ou personali- tos, assim como as mulheres permanecem em local
zação da pena está disciplinado no inciso XLV. Tra- diverso dos homens. Esse dispositivo decorre tanto do
ta-se da impossibilidade da pena ser aplicada a outra direito à segurança como do direito à vida.
pessoa que não o delinquente, uma vez que somente
o autor da infração penal pode ser responsabiliza- Art. 5º [...]
XLIX - é assegurado aos presos o respeito à inte-
do. Com a morte do condenado, declara-se extinta a
gridade física e moral;
punibilidade do crime. Assim, a pena não poderá ser
cumprida, por exemplo, pelos familiares ou herdeiros O inciso XLIX estabelece outro princípio relativo à
do autor do crime se este houver falecido. No entanto, execução da pena privativa de liberdade: a proteção
refere-se apenas à esfera penal, ou seja, a obrigação à integridade física e moral do preso. Busca-se, portan-
civil de reparar os danos pode ser estendida aos seus to, proteger os indivíduos da força do Estado. Trata-se,
sucessores até o limite do valor do patrimônio trans- também, de um dos desdobramentos do direito à segu-
ferido (herança). rança, por envolver garantias processuais, e do direito
Atenção! Multa é uma espécie de pena (art. 32, CP) à vida, por envolver a integridade do indivíduo.
e, portanto, não pode ser imposta aos herdeiros.
Art. 5º [...]
Art. 5º [...] L - às presidiárias serão asseguradas condições
XLVI - a lei regulará a individualização da pena para que possam permanecer com seus filhos
e adotará, entre outras, as seguintes: durante o período de amamentação;
a) privação ou restrição da liberdade;
b) perda de bens; O inciso L traz um princípio relativo à execução
c) multa; da pena privativa de liberdade. Trata-se do direito
d) prestação social alternativa; dos filhos de permanecerem com suas mães e serem
e) suspensão ou interdição de direitos; amamentados por elas durante a execução da pena.
Vale destacar que o art. 89, da Lei nº 7.210, de 1984
O inciso XLVI disciplina o princípio da individua- (Lei de Execução Penal), estabelece que a penitenciá-
lização da pena, uma vez que as penas devem ser ria de mulheres terá uma seção para gestantes e par-
previstas, impostas e executadas, em conformidade turientes e uma creche para abrigar crianças entre 6
com as condições pessoais de cada réu. Para tanto, a (seis) meses e 7 (sete) anos.
individualização deve operar-se em três fases distin- Art. 5º [...]
tas: legislativa, no momento em que elabora a norma; LI - nenhum brasileiro será extraditado, sal-
judicial, no momento da dosimetria da pena; executi- vo o naturalizado, em caso de crime comum,
va, na execução penal. praticado antes da naturalização, ou de com-
provado envolvimento em tráfico ilícito de
Art. 5º [...] entorpecentes e drogas afins, na forma da lei;
NOÇÕES DE DIREITO
Art. 81 A defesa dos interesses e direitos dos consu- Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos
e rurais, além de outros que visem à melhoria de
midores e das vítimas poderá ser exercida em juízo
sua condição social:
individualmente, ou a título coletivo.
Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida
Observa-se que esse dispositivo trata tanto dos
quando se tratar de:
trabalhadores urbanos como dos rurais e funda-se no
I - interesses ou direitos difusos, assim enten-
princípio da igualdade. Por essa razão, a CF/88 veda,
didos, para efeitos deste código, os transindi-
por exemplo, a diferenciação de salários, o exercício
viduais, de natureza indivisível, de que sejam
de funções e critério de admissão que tenham como
titulares pessoas indeterminadas e ligadas
base a idade, o sexo ou o estado civil, entre outros.
por circunstâncias de fato; [...]
Vejamos as proteções trazidas nele:
DIREITOS SOCIAIS Art. 7º [...]
I - relação de emprego protegida contra despedida
Os direitos sociais estão disciplinados nos arts. arbitrária ou sem justa causa, nos termos de lei
6º a 11, da CF, de 1988. Esses direitos se dividem em complementar, que preverá indenização compen-
direitos sociais propriamente ditos (art. 6º), direitos satória, dentre outros direitos;
trabalhistas (art. 7º) e direitos sindicais (art. 8º a 11).
Vejamos cada um deles: A CF, de 1988, do mesmo modo que estipula as
condições necessárias para a realização do trabalho,
Art. 6º São direitos sociais a educação, a saú- adota medidas de proteção ao trabalhador contra a
de, a alimentação, o trabalho, a moradia, o despedida arbitrária ou sem justa causa, com o obje-
transporte, o lazer, a segurança, a previdência tivo de resguardar o trabalhador contra as incerte-
social, a proteção à maternidade e à infância, a zas do mercado de trabalho. Assim, o inciso I prevê
assistência aos desamparados, na forma desta que uma lei complementar estabelecerá indenização
184 Constituição. compensatória, dentre outros direitos.
Súmula Vinculante nº 15 O cálculo de gratifica-
Importante! ções e outras vantagens do servidor público não
Ainda não foi elaborada lei complementar dis- incide sobre o abono utilizado para se atingir o
salário mínimo.
ciplinando o assunto. Por essa razão, aplica-se Súmula Vinculante nº 16 Os artigos 7º, IV, e 39,
o disposto no art. 10, do Ato das Disposições § 3º (redação da EC n. 19/1998), da Constituição
Constitucionais Transitórias, que fixa como referem-se ao total da remuneração percebida pelo
indenização o valor de 40% do depositado no servidor público.
Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS)
como a quantia devida a título de indenização Art. 7º [...]
V - piso salarial proporcional à extensão e à com-
compensatória.
plexidade do trabalho;
Trata-se do direito que tem o trabalhador de não ser XXV - assistência gratuita aos filhos e dependen-
surpreendido com o seu desligamento e poder pro- tes desde o nascimento até 5 (cinco) anos de ida-
gramar-se para voltar a enfrentar a concorrência do de em creches e pré-escolas;
mercado de trabalho. Por esse motivo, o aviso prévio
O inciso XXV trata da assistência em creche e pré-
é proporcional, ou seja, quanto maior o tempo de ser- -escola devida aos filhos e dependentes dos trabalha-
viço prestado à empresa, maior a sua permanência dores desde o nascimento até os 5 anos.
antes do desligamento. O prazo mínimo previsto na Com a Emenda Constitucional nº 53, de 2006, o pri-
CF/88 é de 30 (trinta) dias. meiro ano do ensino fundamental passou a ser cursa-
De acordo com o STF, o inciso XXI é uma norma do a partir dos 6 anos de idade. É por essa razão que
constitucional híbrida, uma vez que possui uma parte o auxílio creche ou auxílio pré-escola é devido até os
de eficácia plena (mínimo de 30 dias) e outra limitada 5 anos (cessa ao completar 6 anos quando pode fre-
(nos termos da lei). quentar a escola). 187
Art. 7º [...] Art. 7º [...]
XXVI - reconhecimento das convenções e acordos XXX - proibição de diferença de salários, de
coletivos de trabalho; exercício de funções e de critério de admissão por
motivo de sexo, idade, cor ou estado civil;
O inciso XXVI ressalta a importância das entida-
des sindicais nas negociações coletivas, de modo a O inciso XXX decorre do princípio da igualdade e foi tra-
permitir que se incrementem as condições sociais dos tado anteriormente quando explanado acerca do salário.
trabalhadores.
Art. 7º [...]
Art. 7º [...] XXXI - proibição de qualquer discriminação no
XXVII - proteção em face da automação, na forma tocante a salário e critérios de admissão do traba-
da lei; lhador portador de deficiência;
O seguro contra acidentes de trabalho encon- Mais um dispositivo que decorre do princípio
tra-se previsto no inciso XXVIII. O seguro é de com- da igualdade e veda a distinção entre as atividades
petência do empregador e não exclui a indenização desempenhadas, ou seja, a atividade manual não
a que este está obrigado no caso de incorrer em dolo poderá ser tida como mais ou menos importante que
ou culpa. a intelectual, por exemplo.
Súmula Vinculante nº 22 A Justiça do Trabalho Art. 7º [...]
é competente para processar e julgar as ações XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigo-
de indenização por danos morais e patrimoniais so ou insalubre a menores de dezoito e de qual-
decorrentes de acidente de trabalho propostas por quer trabalho a menores de dezesseis anos,
empregado contra empregador, inclusive aquelas salvo na condição de aprendiz, a partir de qua-
que ainda não possuíam sentença de mérito em torze anos;
primeiro grau quando da promulgação da Emenda
Constitucional 45/2004. O inciso XXX estabelece os limites etários para o
desempenho do trabalho. Aos menores de 16 anos não
Art. 7º [...]
é possível o desempenho da atividade laboral, exceto
XXIX - ação, quanto aos créditos resultantes das
no caso de aprendiz, que poderá desenvolver a ativi-
relações de trabalho, com prazo prescricional
dade entre 14 e 24 anos.
de cinco anos para os trabalhadores urbanos e
Atenção! Aprendiz não se confunde com estagiá-
rurais, até o limite de dois anos após a extinção
rio. Aprendiz é o jovem contratado por entes de coo-
do contrato de trabalho;
peração governamental, como, por exemplo, o SENAC
a) (Revogada).
e o SENAI, para aprender uma profissão, ou seja, a
b) (Revogada).
formação profissional é desenvolvida no ofício. Por
outro lado, estagiário é o estudante que complemen-
O inciso XXIX trata da prescrição das verbas tra-
ta, por meio do trabalho, o ensino do curso que está
balhistas. O prazo para que o trabalhador ingresse
desenvolvendo. Estagiário não é empregado nem está
com ação trabalhista é de 2 (dois) anos contados da submetido a limite de idade.
extinção do contrato de trabalho. Já com relação aos Além disso, o dispositivo veda o trabalho noturno,
créditos, a prescrição é de 5 (cinco) anos. Exemplo: perigoso ou insalubre aos maiores de 16 e menores
trabalhador que exerceu atividade na empresa entre de 18 anos, por se tratarem de pessoas em formação.
os períodos de 2010 a 2020. Ele terá até 2022 (dois anos
da extinção do contrato de trabalho) para promover a
açao e poderá cobrar os créditos dos últimos 5 anos, Importante!
ou seja, se ingressou em 2020, poderá pleitear os cré-
ditos de 2015 em diante. Não há previsão expressa do trabalho penoso
Quanto às nomenclaturas “prescrição relativa” e aos menores de 18 anos.
“prescrição total”, é importante distinguir que pres-
crição relativa é a interna, ou seja, aquela que ocorre Art. 7º [...]
dentro do contrato de trabalho, tendo como prazo 5 XXXIV - igualdade de direitos entre o trabalha-
anos. Já a prescrição total é aquela que ocorre após o dor com vínculo empregatício permanente e o
188 fim do contrato de trabalho, ou seja, de 2 anos. trabalhador avulso
O inciso XXXIV também decorre do princípio da O inciso II traz o princípio da unicidade sindical,
igualdade. Por ele, depreende-se a igualdade de direitos ou seja, a regra pela qual é vedada a criação de mais
entre os trabalhadores com vínculo empregatício e os de uma organização sindical na mesma base territo-
trabalhadores avulsos. Entende-se por trabalhador avul- rial. Por essa razão, a CF, de 1988 definiu a base terri-
so aquele que, de forma sindicalizada ou não, presta torial mínima, ou seja, o Município. No entanto, não
serviços tanto de natureza urbana como rural, sem pos- especificou a base máxima, de modo que pode haver
suir vínculo empregatício e a diversas empresas, com um sindicato para a defesa da categoria no âmbito
intermediação obrigatória do sindicato da categoria ou, estadual ou nacional.
quando se tratar de atividade portuária, com interme-
Art. 8º [...]
diação do Órgão Gestor de Mão-de-Obra (OGMO).
III - ao sindicato cabe a defesa dos direitos e inte-
resses coletivos ou individuais da categoria,
Art. 7º [...] inclusive em questões judiciais ou administrativas;
Parágrafo único. São assegurados à categoria dos
trabalhadores domésticos os direitos previstos A representação e substituição do sindicato na
nos incisos IV, VI, VII, VIII, X, XIII, XV, XVI, XVII, defesa dos direitos e interesses de seus membros está
XVIII, XIX, XXI, XXII, XXIV, XXVI, XXX, XXXI e
disciplinada no inciso III.
XXXIII e, atendidas as condições estabelecidas em
lei e observada a simplificação do cumprimento Art. 8º [...]
das obrigações tributárias, principais e acessórias, IV - a assembleia geral fixará a contribuição
decorrentes da relação de trabalho e suas peculiari- que, em se tratando de categoria profissional, será
dades, os previstos nos incisos I, II, III, IX, XII, XXV descontada em folha, para custeio do sistema
e XXVIII, bem como a sua integração à previdência confederativo da representação sindical respec-
social. tiva, independentemente da contribuição prevista
em lei;
Por fim, o parágrafo único trata dos direitos dos
trabalhadores domésticos. Considera-se doméstico O inciso IV trata da contribuição confederativa
o trabalhador que presta serviços de natureza contí- sindical. Cumpre esclarecer, no entanto, que nenhu-
nua e de finalidade não lucrativa à pessoa ou à famí- ma das contribuições relativas à atividade sindical
lia no âmbito residencial destas, como, por exemplo, é obrigatória, de modo a depender de autorização
cozinheiro residencial, jardineiro, babá, entre outros. expressa e prévia do destinatário. Portanto, somente
O dispositivo remete a determinados incisos, ressal- quem é filiado ao respectivo sindicato deve pagar a
tando que parte desse direito depende de regulamen- contribuição confederativa prevista nesse dispositivo.
tação legal, como no caso do FGTS.
Art. 579 (CLT) O desconto da contribuição sindical
Os direitos sindicais encontram-se disciplinados
está condicionado à autorização prévia e expressa
nos art. 8º a 11. Vejamos cada um deles: dos que participem de uma determinada categoria
econômica ou profissional, ou de uma profissão
Art. 8º É livre a associação profissional ou sin- liberal, em favor do sindicato representativo da
dical, observado o seguinte: mesma categoria.
I - a lei não poderá exigir autorização do Estado
para a fundação de sindicato, ressalvado o regis- Súmula Vinculante nº 40 A contribuição con-
tro no órgão competente, vedadas ao Poder Públi- federativa de que trata o art. 8º, IV, da Constitui-
co a interferência e a intervenção na organização ção Federal, só é exigível dos filiados ao sindicato
sindical; respectivo.
De acordo com o STF, para que um sindicato possa As entidades sindicais possuem a denominada
defender a categoria, não é preciso estar registrado no função negocial. Assim, com o objetivo de assegurar
órgão competente (Ministério do Trabalho), bastando o melhores condições e direitos aos trabalhadores, o
registro no Cartório de Registro das Pessoas Jurídicas. inciso IV estabelece como obrigatória a participação
dos sindicatos nas negociações coletivas.
Art. 8º [...]
II - é vedada a criação de mais de uma organi- Art. 8º [...]
zação sindical, em qualquer grau, representativa VII - o aposentado filiado tem direito a votar e
de categoria profissional ou econômica, na mesma ser votado nas organizações sindicais;
base territorial, que será definida pelos trabalha-
dores ou empregadores interessados, não podendo O inciso VII cuida do direito de votar e ser votado
ser inferior à área de um Município; do aposentado filiado à entidade sindical. 189
Art. 8º [...] O art. 10 decorre do direito a uma gestão democrá-
VIII - é vedada a dispensa do empregado sin- tica, ou seja, de participação junto aos colegiados dos
dicalizado a partir do registro da candidatura órgãos públicos que gerenciam os interesses profissio-
a cargo de direção ou representação sindical nais ou os valores aplicados nos fundos previdenciários.
e, se eleito, ainda que suplente, até um ano após o
final do mandato, salvo se cometer falta grave Art. 11 Nas empresas de mais de duzentos empre-
nos termos da lei. gados, é assegurada a eleição de um representan-
te destes com a finalidade exclusiva de promover-lhes
A estabilidade do dirigente sindical encontra-se o entendimento direto com os empregadores.
prevista no inciso VIII. Seu objetivo é permitir que seus
dirigentes atuem sem medo de represálias, ou seja, de Por fim, o art. 11 estabelece, como mecanismo de
serem desligados do emprego devido à atuação. Trata- promover o entendimento e facilitar o diálogo entre
-se, portanto, da regra que proíbe a dispensa do empre- empregados e empregador em empresas maiores
gado sindicalizado a partir do registro da candidatura a (com mais de 200 funcionários), a formação de uma
cargo de direção ou representação sindical. No caso dos comissão de representação.
eleitos, mesmo que na condição de suplentes, a estabili- Atenção! Os representantes não se confundem
dade perdura até um ano após o final do mandato. com os dirigentes sindicais.
Observa-se, no entanto, que a estabilidade não é
absoluta, uma vez que é possível a demissão em caso
de cometimento de falta grave. Ainda, cabe destacar
que, de acordo com a alínea “a”, do inciso II, do art. O ESTADO
10, do ADCT, os membros da Comissão Interna para
Prevenção de Acidentes (CIPA) eleitos pelos trabalha- CONCEITO, ELEMENTOS E FINALIDADE DO ESTADO
dores também possuem estabilidade; já os indicados
pelo empregador não a possuem. A origem de um Estado pode se dar de forma
natural, religiosa (Estado criado por Deus), pela for-
Art. 8º [...] ça e domínio dos mais fortes sobre os mais fracos,
Parágrafo único. As disposições deste artigo apli- pelo agrupamento de famílias, de forma contratual,
cam-se à organização de sindicatos rurais e de de forma derivada: por união, quando dois estados
colônias de pescadores, atendidas as condições soberanos se unem formando um só novo estado ou
que a lei estabelecer. fracionamento, quando um estado se divide em dois
novos estados independentes, ou de forma atípica, a
Por fim, o parágrafo único estabelece que essas exemplo do Vaticano e de Israel.
regras também são aplicadas aos sindicatos rurais e São elementos constitutivos do Estado: a soberania, a
de pescadores. finalidade, o povo e o território. Assim, Dalmo de Abreu
Dallari (apud Lenza, 2019, p. 719) define Estado como “a
Art. 9º É assegurado o direito de greve, competin- ordem jurídica soberana, que tem por fim o bem comum
do aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de um povo situado em determinado território”.
de exercê-lo e sobre os interesses que devam por Soberania é o poder político supremo e indepen-
meio dele defender. dente que o Estado detém consistente na capacidade
para editar e reger suas próprias normas e seu orde-
O direito de greve dos trabalhadores encontra-se namento jurídico.
assegurado no art. 9º, da CF, de 1988. Inicialmente, há A finalidade consiste no objetivo maior do Estado
de se esclarecer que a expressão “trabalhadores” refe- que é o bem comum, conjunto de condições para o
re-se aos empregados da iniciativa privada, geralmen- desenvolvimento integral da pessoa humana.
te regidos pela CLT. Em síntese, greve é a suspensão Povo é o conjunto de indivíduos, em regra, com um
temporária das atividades laborais desenvolvidas e objetivo comum, ligados a um determinado território
tem como causa o interesse dos trabalhadores. pelo vínculo da nacionalidade.
Território é o espaço físico dentro do qual o Esta-
Art. 9º [...] do exerce seu poder e sua soberania. Onde o povo se
§ 1º A lei definirá os serviços ou atividades essen- estabelece e se organiza com ânimo de permanência.
ciais e disporá sobre o atendimento das necessida- A Constituição de 1988 adotou a forma republica-
des inadiáveis da comunidade. na de governo, o sistema presidencialista de gover-
§ 2º Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis no e a forma federativa de Estado. Note tratar-se de
às penas da lei. três definições distintas.
Art. 10 É assegurada a participação dos traba- O federalismo é a forma de Estado marcado essen-
lhadores e empregadores nos colegiados dos cialmente pela união indissolúvel dos entes federativos,
órgãos públicos em que seus interesses profissio- ou seja, pela impossibilidade de secessão, separação.
nais ou previdenciários sejam objeto de discussão São entes da federação brasileira: a União; os Estados-
190 e deliberação. -Membros; o Distrito Federal e os Municípios.
Brasília é a capital federal e o Estado brasileiro é UNIÃO
considerado laico, mantendo uma posição de neutrali-
dade em matéria religiosa, admitindo o culto de todas A União é o ente federativo com dupla personalida-
as religiões, sem qualquer intervenção. de. Internamente, é uma pessoa jurídica de direito
público interno, com autonomia financeira, adminis-
FORMA DE ESTADO Federação trativa e política e capacidade de auto-organização,
FORMA DE GOVERNO República autogoverno, autolegislação e autoadministração.
Internacionalmente, a União representa a República
REGIME DE GOVERNO Democrático
Federativa do Brasil a quem cabe exercer as prerroga-
SISTEMA DE GOVERNO Presidencialismo tivas da soberania do Estado brasileiro.
o exercer, o ato aditado com base na competência suple- preende o mar territorial e a zona econômica exclusiva,
mentar perde a eficácia, naquilo que lhe for contrário. onde o Estado detém soberania para exploração e apro-
Sempre que falarmos em competência comum ou veitamento dos seus recursos naturais.
exclusiva, devemos excluir a ideia de “legislar”. Sempre A zona econômica exclusiva é a zona marítima
que falarmos em legislar, estaremos tratando necessa-
adjacente ao mar territorial que compreende a distân-
riamente de uma competência privativa ou concorrente.
cia de 188 milhas marítimas a partir da largura do mar
territorial. Na ZEE, o Estado costeiro possui direitos de
Competências Comuns e Exclusivas Arts. 21
soberania para fins de exploração e aproveitamento,
Administrativas e 23, CF
conservação e gestão dos recursos naturais, vivos ou
Competências Privativas e Arts. 22 não vivos das águas sobrejacentes ao leito do mar, do
Legislativas Concorrentes e 24, CF 191
leito do mar e seu subsolo.
VI - o mar territorial; E, a intervenção federal é a medida consistente na
supressão temporária da autonomia dos entes federa-
O mar territorial compreende a faixa de mar adja- tivos pelo Estado Federal diante do estado de anorma-
cente com dimensão de até 12 milhas marítimas (22km), lidade, em caráter totalmente excepcional, nos termos
a partir da costa litorânea brasileira, sobre a qual incide dos arts. 34 e seguintes da Constituição.
a soberania do Estado brasileiro, nos termos da Conven-
ção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar. Art. 34. A União não intervirá nos Estados nem no
Distrito Federal, exceto para:
VII - os terrenos de marinha e seus acrescidos; I - manter a integridade nacional;
VIII - os potenciais de energia hidráulica; II - repelir invasão estrangeira ou de uma unidade
IX - os recursos minerais, inclusive os do subsolo; da Federação em outra;
X - as cavidades naturais subterrâneas e os sítios III - pôr termo a grave comprometimento da ordem
arqueológicos e pré-históricos; pública;
XI - as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios. IV - garantir o livre exercício de qualquer dos Pode-
§ 1º É assegurada, nos termos da lei, à União, aos res nas unidades da Federação;
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios a V - reorganizar as finanças da unidade da Federa-
participação no resultado da exploração de petró- ção que:
leo ou gás natural, de recursos hídricos para fins a) suspender o pagamento da dívida fundada por
de geração de energia elétrica e de outros recursos mais de dois anos consecutivos, salvo motivo de
minerais no respectivo território, plataforma conti- força maior;
nental, mar territorial ou zona econômica exclusi- b) deixar de entregar aos Municípios receitas tribu-
va, ou compensação financeira por essa exploração. tárias fixadas nesta Constituição, dentro dos pra-
§ 2º A faixa de até cento e cinquenta quilômetros de zos estabelecidos em lei;
largura, ao longo das fronteiras terrestres, desig- VI - prover a execução de lei federal, ordem ou deci-
nada como faixa de fronteira, é considerada fun- são judicial;
damental para defesa do território nacional, e sua VII - assegurar a observância dos seguintes princí-
ocupação e utilização serão reguladas em lei. pios constitucionais:
Os parágrafos do dispositivo tratam da exploração a) forma republicana, sistema representativo e
de recursos hídricos e minerais no território marí- regime democrático;
timo brasileiro e autorizam a participação de Esta- b) direitos da pessoa humana;
dos, Distrito Federal e Municípios nos resultados da c) autonomia municipal;
exploração. Também tratam das faixas de frontei- d) prestação de contas da administração pública,
direta e indireta.
ras do território brasileiro que compreendem cento
e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante
e cinquenta quilômetros de largura.
de impostos estaduais, compreendida a proveniente de
transferências, na manutenção e desenvolvimento do
Competências da União ensino e nas ações e serviços públicos de saúde (Reda-
ção dada pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000)
Competência administrativa exclusiva da Art. 35. O Estado não intervirá em seus Municí-
União: art. 21, CF. pios, nem a União nos Municípios localizados em
Nos termos do art. 21, CF são competências exclu- Território Federal, exceto quando:
sivas da União: I - deixar de ser paga, sem motivo de força maior,
por dois anos consecutivos, a dívida fundada;
z Manter relações com Estados estrangeiros e parti- II - não forem prestadas contas devidas, na forma
cipar de organizações internacionais; da lei;
z Declarar a guerra e celebrar a paz; III - não tiver sido aplicado o mínimo exigido da
z Assegurar a defesa nacional; receita municipal na manutenção e desenvolvimen-
to do ensino e nas ações e serviços públicos de saú-
z Permitir, nos casos previstos em lei complementar,
de; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº
que forças estrangeiras transitem pelo território
29, de 2000).
nacional ou nele permaneçam temporariamente; IV - o Tribunal de Justiça der provimento a repre-
z Decretar o estado de sítio, o estado de defesa e a sentação para assegurar a observância de princí-
intervenção federal. pios indicados na Constituição Estadual, ou para
prover a execução de lei, de ordem ou de decisão
O estado de sítio, o estado de defesa e a inter- judicial.
venção federal fazem parte do Sistema Constitucio- Art. 36. A decretação da intervenção dependerá:
nal de Crise e são medidas constitucionais de exceção I - no caso do art. 34, IV, de solicitação do Poder
que visam restabelecer a ordem democrática e a nor- Legislativo ou do Poder Executivo coacto ou impe-
malidade da nação. dido, ou de requisição do Supremo Tribunal Federal,
O estado de sítio é a medida para o restabelecimento se a coação for exercida contra o Poder Judiciário;
da ordem constitucional nos casos de comoção grave de II - no caso de desobediência a ordem ou decisão
repercussão nacional ou ocorrência de fatos que com- judiciária, de requisição do Supremo Tribunal Fede-
ral, do Superior Tribunal de Justiça ou do Tribunal
provem a ineficácia de medida tomada durante o estado
Superior Eleitoral;
de defesa e declaração de estado de guerra ou resposta a
III -- de provimento, pelo Supremo Tribunal Federal,
agressão armada estrangeira, nos termos do art. 137, CF. de representação do Procurador-Geral da Repúbli-
O estado de defesa, por sua vez, consiste na medida ca, na hipótese do art. 34, VII;
para preservar ou prontamente restabelecer, em locais III - de provimento, pelo Supremo Tribunal Federal,
restritos e determinados, a ordem pública ou a paz de representação do Procurador-Geral da Repúbli-
social ameaçadas por grave e iminente instabilidade ca, na hipótese do art. 34, VII, e no caso de recusa à
institucional ou atingidas por calamidades de grandes execução de lei federal. (Redação dada pela Emen-
192 proporções na natureza, nos termos do art. 136, CF. da Constitucional nº 45, de 2004)
IV - de provimento, pelo Superior Tribunal de Justi- z Organizar e manter os serviços oficiais de estatís-
ça, de representação do Procurador-Geral da Repú- tica, geografia, geologia e cartografia de âmbito
blica, no caso de recusa à execução de lei federal. nacional;
(Revogado pela Emenda Constitucional nº 45, de z Exercer a classificação, para efeito indicativo,
2004) de diversões públicas e de programas de rádio e
§ 1º O decreto de intervenção, que especificará a televisão;
amplitude, o prazo e as condições de execução e
z Conceder anistia;
que, se couber, nomeará o interventor, será sub-
metido à apreciação do Congresso Nacional ou da
Assembleia Legislativa do Estado, no prazo de vin- A anistia é o perdão de dívida ou extinção da puni-
te e quatro horas. bilidade pela prática de determinadas infrações.
§ 2º Se não estiver funcionando o Congresso
Nacional ou a Assembleia Legislativa, far-se-á z Planejar e promover a defesa permanente contra
convocação extraordinária, no mesmo prazo de as calamidades públicas, especialmente as secas e
vinte e quatro horas. as inundações;
§ 3º Nos casos do art. 34, VI e VII, ou do art. 35, z Instituir sistema nacional de gerenciamento de
IV, dispensada a apreciação pelo Congresso Nacio- recursos hídricos e definir critérios de outorga de
nal ou pela Assembleia Legislativa, o decreto direitos de seu uso;
limitar-se-á a suspender a execução do ato impug- z Instituir diretrizes para o desenvolvimento urba-
nado, se essa medida bastar ao restabelecimento no, inclusive habitação, saneamento básico e
da normalidade.
transportes urbanos;
§ 4º Cessados os motivos da intervenção, as auto-
z Estabelecer princípios e diretrizes para o sistema
ridades afastadas de seus cargos a estes voltarão,
nacional de aviação;
salvo impedimento legal.
z Executar os serviços de polícia marítima, aeropor-
tuária e de fronteiras;
z Autorizar e fiscalizar a produção e o comércio de
z Explorar os serviços e instalações nucleares de
material bélico;
z Emitir moeda; qualquer natureza e exercer monopólio esta-
z Administrar as reservas cambiais do País e fiscali- tal sobre a pesquisa, a lavra, o enriquecimento e
zar as operações de natureza financeira, especial- reprocessamento, a industrialização e o comércio
mente as de crédito, câmbio e capitalização, bem de minérios nucleares e seus derivados, atendidos
como as de seguros e de previdência privada; os seguintes princípios e condições:
z Elaborar e executar planos nacionais e regionais
de ordenação do território e de desenvolvimento t oda atividade nuclear em território nacional
econômico e social; somente será admitida para fins pacíficos e
z Manter o serviço postal e o correio aéreo nacional; mediante aprovação do Congresso Nacional;
z Explorar, diretamente ou mediante autorização, sob regime de permissão, são autorizadas a
concessão ou permissão, os serviços de telecomu- comercialização e a utilização de radioisóto-
nicações, nos termos da lei, que disporá sobre a pos para a pesquisa e usos médicos, agrícolas
organização dos serviços, a criação de um órgão e industriais;
regulador e outros aspectos institucionais; sob regime de permissão, são autorizadas a
produção, comercialização e utilização de
Explorar, diretamente ou mediante autorização, radioisótopos de meia-vida igual ou inferior a
concessão ou permissão: duas horas;
a responsabilidade civil por danos nucleares
a) os serviços de radiodifusão sonora, e de sons e independe da existência de culpa;
imagens;
b) os serviços e instalações de energia elétrica e o z Organizar, manter e executar a inspeção do
aproveitamento energético dos cursos de água, trabalho;
em articulação com os Estados onde se situam os z Estabelecer as áreas e as condições para o exercí-
potenciais hidroenergéticos; cio da atividade de garimpagem, em forma asso-
c) a navegação aérea, aeroespacial e a infraestrutura ciativa (BRASIL, 2020).
aeroportuária;
d) os serviços de transporte ferroviário e aquaviá- Competências administrativas comuns da
rio entre portos brasileiros e fronteiras nacio- União, Estados, Distrito Federal e Municípios: art.
nais, ou que transponham os limites de Estado ou 23, CF:
Território; Conforme estabelece o art. 23 da Constituição
NOÇÕES DE DIREITO
e) os serviços de transporte rodoviário interestadual Federal, é competência comum da União, dos Estados,
e internacional de passageiros; do Distrito Federal e dos Municípios:
f) os portos marítimos, fluviais e lacustres;
z Zelar pela guarda da Constituição, das leis e das
z Organizar e manter o Poder Judiciário, o Ministé- instituições democráticas e conservar o patrimô-
rio Público do Distrito Federal e dos Territórios e a nio público;
Defensoria Pública dos Territórios; z Cuidar da saúde, assistência e proteção das pes-
z Organizar e manter a polícia civil, a polícia penal, soas com deficiência;
a polícia militar e o corpo de bombeiros militar z Proteger os documentos, as obras e outros bens
do Distrito Federal, bem como prestar assistência de valor histórico, artístico e cultural, os monu-
financeira ao Distrito Federal para a execução de mentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios
serviços públicos, por meio de fundo próprio; arqueológicos; 193
z Impedir a evasão, a destruição e a descaracteriza- z Sistemas de consórcios e sorteios;
ção de obras de arte e de outros bens de valor his- z Normas gerais de organização, efetivos, material
tórico, artístico ou cultural; bélico, garantias, convocação, mobilização, inativi-
z Proporcionar os meios de acesso à cultura, à edu- dades e pensões das polícias militares e dos corpos
cação, à ciência, à tecnologia, à pesquisa e à inova- de bombeiros militares;
ção (Redação dada pela Emenda Constitucional nº z Competência da polícia federal e das polícias rodo-
85, de 2015); viária e ferroviária federais;
z Proteger o meio ambiente e combater a poluição z Seguridade social;
em qualquer de suas formas; z Diretrizes e bases da educação nacional;
z Preservar as florestas, a fauna e a flora; z Registros públicos;
z Fomentar a produção agropecuária e organizar o z Atividades nucleares de qualquer natureza;
abastecimento alimentar; z Normas gerais de licitação e contratação, em todas as
z Promover programas de construção de moradias e modalidades, para as administrações públicas diretas,
a melhoria das condições habitacionais e de sanea- autárquicas e fundacionais da União, Estados, Distrito
mento básico; Federal e Municípios, obedecido o disposto no art. 37,
z Combater as causas da pobreza e os fatores de XXI, e para as empresas públicas e sociedades de eco-
marginalização, promovendo a integração social nomia mista, nos termos do art. 173, § 1°, III;
dos setores desfavorecidos; z Defesa territorial, defesa aeroespacial, defesa
z Registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões marítima, defesa civil e mobilização nacional;
de direitos de pesquisa e exploração de recursos z Propaganda comercial.
hídricos e minerais em seus territórios;
z Estabelecer e implantar política de educação para A Constituição Federal preceitua ainda que lei
a segurança do trânsito. complementar poderá autorizar os Estados a legislar
sobre questões específicas das matérias relacionadas
Leis complementares fixarão normas para a coope- neste artigo (BRASIL, 2020).
ração entre a União e os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvi- Competência Legislativa concorrente da União,
mento e do bem-estar em âmbito nacional (BRASIL, 2020). Estados e Distrito Federal: art. 24, CF:
Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal
Competência Legislativa privativa da União: legislar concorrentemente sobre:
art. 22, CF:
Nos termos do que preceitua o art. 22 da Constituição z Direito tributário, financeiro, penitenciário, eco-
Federal compete privativamente à União legislar sobre: nômico e urbanístico;
z Orçamento;
z Direito civil, comercial, penal, processual, eleito- z Juntas comerciais;
ral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do z Custas dos serviços forenses;
trabalho; z Produção e consumo;
z Desapropriação; z Florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natu-
z Requisições civis e militares, em caso de iminente reza, defesa do solo e dos recursos naturais, prote-
perigo e em tempo de guerra; ção do meio ambiente e controle da poluição;
z águas, energia, informática, telecomunicações e z Proteção ao patrimônio histórico, cultural, artísti-
radiodifusão; co, turístico e paisagístico;
z Serviço postal; z Responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao
z Sistema monetário e de medidas, títulos e garan- consumidor, a bens e direitos de valor artístico,
tias dos metais; estético, histórico, turístico e paisagístico;
z Política de crédito, câmbio, seguros e transferência z Educação, cultura, ensino, desporto, ciência, tecno-
de valores; logia, pesquisa, desenvolvimento e inovação;
z Comércio exterior e interestadual; z Criação, funcionamento e processo do juizado de
z Diretrizes da política nacional de transportes; pequenas causas;
z Regime dos portos, navegação lacustre, fluvial, z Procedimentos em matéria processual;
marítima, aérea e aeroespacial; z Previdência social, proteção e defesa da saúde;
z Trânsito e transporte; z Assistência jurídica e Defensoria pública;
z Jazidas, minas, outros recursos minerais e z Proteção e integração social das pessoas portado-
metalurgia; ras de deficiência;
z Nacionalidade, cidadania e naturalização; z Proteção à infância e à juventude;
z Populações indígenas; z Organização, garantias, direitos e deveres das polí-
z Emigração e imigração, entrada, extradição e cias civis.
expulsão de estrangeiros;
z Organização do sistema nacional de emprego e No âmbito da legislação concorrente, a competên-
condições para o exercício de profissões; cia da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais.
z Organização judiciária, do Ministério Público do A competência da União para legislar sobre normas
Distrito Federal e dos Territórios e da Defensoria gerais não exclui a competência suplementar dos Estados.
Pública dos Territórios, bem como organização Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os
administrativa destes; Estados exercerão a competência legislativa plena,
z Sistema estatístico, sistema cartográfico e de geo- para atender a suas peculiaridades.
logia nacionais; A superveniência de lei federal sobre normas
z Sistemas de poupança, captação e garantia da pou- gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe
194 pança popular; for contrário (BRASIL, 2020).
ESTADOS § 2º O subsídio dos Deputados Estaduais será fixa-
do por lei de iniciativa da Assembleia Legislativa,
O Brasil é composto de estados federados que gozam na razão de, no máximo, setenta e cinco por cento
de uma autonomia, consubstancianda na capacidade de daquele estabelecido, em espécie, para os Deputa-
auto-organização, auto-legislação, auto-governo e auto- dos Federais, observado o que dispõem os arts. 39,
-administração. Os Estados podem se formar a partir de § 4º, 57, § 7º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I. (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998).
incorporação, subdivisão ou desmembramento, que por
§ 3º Compete às Assembleias Legislativas dispor
sua vez, pode se dar por anexação ou formação. sobre seu regimento interno, polícia e serviços
A incorporação ou fusão é a junção de dois ou mais administrativos de sua secretaria, e prover os res-
Estados para formação de um único Estado novo. A pectivos cargos.
cisão ou subdivisão é a separação de um Estado em § 4º A lei disporá sobre a iniciativa popular no pro-
dois ou mais Estados autônomos e independentes. E, cesso legislativo estadual.
o desmembramento consiste na separação de parte de
um Estado para formação de um novo Estado (forma- O artigo 27, da CF, estabelece para o cálculo do
ção) ou anexação a outro Estado já existente. número de parlamentares das Assembleias Legis-
lativas de acordo com a sua representatividade na
Art. 18 A organização político-administrativa da Câmara dos Deputados. “O número de Deputados à
República Federativa do Brasil compreende a União, Assembleia Legislativa corresponderá ao triplo da
os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos representação do Estado na Câmara dos Deputados e,
autônomos, nos termos desta Constituição. atingido o número de trinta e seis, será acrescido de
§ 3º Os Estados podem incorporar-se entre si, sub- tantos quantos forem os Deputados Federais acima de
dividir-se ou desmembrar-se para se anexarem a doze.” Ou seja, nos estados com até 12 deputados fede-
outros, ou formarem novos Estados ou Territórios rais, multiplica-se o número de deputados federais por
Federais, mediante aprovação da população direta- três e tem-se o número de vagas à Assembleia Legislati-
mente interessada, através de plebiscito, e do Con- va (Deputados Estaduais).
gresso Nacional, por lei complementar.
Dica
Competências Estaduais:
Fórmulas:
Art. 25 Os Estados organizam-se e regem-se pelas nº de Deputados Estaduais - 36 + 12 = nº de
Constituições e leis que adotarem, observados os Deputados Federais, ou
princípios desta Constituição. nº de Deputados Federais + 36 – 12 = nº de
§ 1º São reservadas aos Estados as competências Deputados Estaduais.
que não lhes sejam vedadas por esta Constituição.
Exemplo: Vamos supor que o Estado X possua
§ 2º Cabe aos Estados explorar diretamente, ou
15 deputados federais. Logo, mais de 12 depu-
mediante concessão, os serviços locais de gás cana-
lizado, na forma da lei, vedada a edição de medida
tados. Sabendo disso, ao aplicar a fórmula tere-
provisória para a sua regulamentação. (Redação mos que: 15 + 36 – 12 = 39. Logo, o Estado X
dada pela Emenda Constitucional nº 5, de 1995). teria 39 deputados estaduais.
§ 3º Os Estados poderão, mediante lei complemen-
tar, instituir regiões metropolitanas, aglomerações As cadeiras ocupadas por cada estado na Câmara
urbanas e microrregiões, constituídas por agrupa- dos Deputados são normalmente previstas na Consti-
mentos de municípios limítrofes, para integrar a tuição Estadual, e proporcionais à população de cada
organização, o planejamento e a execução de fun- Estado. Exemplo: Minas Gerais elege 53 Deputados
ções públicas de interesse comum. Federais. Assim, seguindo a fórmula constitucional,
de acordo com sua representatividade na Câmara
Bens dos Estados-Membros: deverá eleger 77 deputados estaduais à Assembleia.
Por sua vez, o art. 28, da CF, trata das eleições para
Art. 26 Incluem-se entre os bens dos Estados: Governador e Vice, da perda do mandato e dos subsídios
I - as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, de Governador, vice-governador e Secretários Estaduais.
emergentes e em depósito, ressalvadas, neste caso,
na forma da lei, as decorrentes de obras da União; Art. 28 A eleição do Governador e do Vice-Gover-
II - as áreas, nas ilhas oceânicas e costeiras, que nador de Estado, para mandato de 4 (quatro) anos,
estiverem no seu domínio, excluídas aquelas sob realizar-se-á no primeiro domingo de outubro, em
domínio da União, Municípios ou terceiros; primeiro turno, e no último domingo de outubro,
III - as ilhas fluviais e lacustres não pertencentes à em segundo turno, se houver, do ano anterior ao
do término do mandato de seus antecessores, e a
União;
posse ocorrerá em 6 de janeiro do ano subsequen-
IV - as terras devolutas não compreendidas entre
te, observado, quanto ao mais, o disposto no art.
NOÇÕES DE DIREITO
as da União.
77 desta Constituição.
Art. 27 O número de Deputados à Assembleia § 1º Perderá o mandato o Governador que assumir
Legislativa corresponderá ao triplo da represen- outro cargo ou função na administração pública
tação do Estado na Câmara dos Deputados e, atin- direta ou indireta, ressalvada a posse em virtude
gido o número de trinta e seis, será acrescido de de concurso público e observado o disposto no art.
tantos quantos forem os Deputados Federais acima 38, I, IV e V. (Renumerado do parágrafo único, pela
de doze. Emenda Constitucional nº 19, de 1998).
§ 1º Será de quatro anos o mandato dos Deputa- § 2º Os subsídios do Governador, do Vice-Governa-
dos Estaduais, aplicando- sê-lhes as regras desta dor e dos Secretários de Estado serão fixados por
Constituição sobre sistema eleitoral, inviolabilida- lei de iniciativa da Assembleia Legislativa, obser-
de, imunidades, remuneração, perda de mandato, vado o que dispõem os arts. 37, XI, 39, § 4º, 150, II,
licença, impedimentos e incorporação às Forças 153, III, e 153, § 2º, I. (Incluído pela Emenda Consti-
Armadas. tucional nº 19, de 1998). 195
MUNICÍPIOS § 2º O parecer prévio, emitido pelo órgão competen-
te, sobre as contas que o Prefeito deve anualmente
O Município, que também é um ente federado prestar, só deixará de prevalecer por decisão de
que possui autonomia administrativa (autoadminis- dois terços dos membros da Câmara Municipal.
tração) e política (auto-organização, autogoverno e § 3º As contas dos Municípios ficarão, durante ses-
capacidade normativa própria), tendo vinculação senta dias, anualmente, à disposição de qualquer
ao Estado onde se localiza, depende na sua criação, contribuinte, para exame e apreciação, o qual pode-
incorporação, fusão ou desmembramento, de lei esta- rá questionar-lhes a legitimidade, nos termos da lei.
§ 4º É vedada a criação de tribunais, Conselhos ou
dual dentro do período determinado por lei comple-
órgãos de contas municipais.
mentar federal, além da realização de plebiscito.
Sua capacidade de auto-organização consiste na
DISTRITO FEDERAL
possibilidade da elaboração da lei orgânica própria.
O município possui o Poder Executivo, exercido pelo
O Distrito Federal é reconhecido como ente inte-
Prefeito e o Poder Legislativo, exercido pela Câmara
grante da Federação e goza de autonomia política,
Municipal. Entretanto, não há Poder Judiciário na esfe-
embora não se enquadre nem como estado-membro
ra municipal, sendo regido por lei orgânica, nos termos
ou município. Sua principal função é servir como
do art. 29, da CF. A Constituição prevê ainda a compo- sede do Governo Federal e não pode haver divisões
sição das Câmaras Municipais e o subsídio dos verea- em municípios.
dores, de acordo com a quantidade de habitantes do
município. Organização do Distrito Federal
Competência: O Distrito Federal não possui constituição, mas lei
orgânica própria, que define os princípios básicos de sua
A competência dos municípios está elencada no organização, suas competências e a organização de seus
art. 30, da CF. poderes governamentais, nos termos do art. 32, da CF.
Art. 30 Compete aos Municípios: Art. 32 O Distrito Federal, vedada sua divisão em
I - legislar sobre assuntos de interesse local; Municípios, reger-se-á por lei orgânica, votada em
II - suplementar a legislação federal e a estadual no dois turnos com interstício mínimo de dez dias, e
que couber; aprovada por dois terços da Câmara Legislativa,
III - instituir e arrecadar os tributos de sua compe- que a promulgará, atendidos os princípios estabe-
tência, bem como aplicar suas rendas, sem prejuí- lecidos nesta Constituição.
zo da obrigatoriedade de prestar contas e publicar § 1º Ao Distrito Federal são atribuídas as com-
balancetes nos prazos fixados em lei; petências legislativas reservadas aos Estados e
IV - criar, organizar e suprimir distritos, observada Municípios.
a legislação estadual; § 2º A eleição do Governador e do Vice-Governador,
V - organizar e prestar, diretamente ou sob regime observadas as regras do art. 77, e dos Deputados Dis-
de concessão ou permissão, os serviços públicos de tritais coincidirá com a dos Governadores e Deputa-
interesse local, incluído o de transporte coletivo, dos Estaduais, para mandato de igual duração.
que tem caráter essencial; § 3º Aos Deputados Distritais e à Câmara Legislati-
VI - manter, com a cooperação técnica e financei- va aplica-se o disposto no art. 27.
ra da União e do Estado, programas de educação § 4º Lei federal disporá sobre a utilização, pelo
infantil e de ensino fundamental; (Redação dada Governo do Distrito Federal, da polícia civil, da
pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006). polícia penal, da polícia militar e do corpo de bom-
VII - prestar, com a cooperação técnica e financei- beiros militar.
ra da União e do Estado, serviços de atendimento à
saúde da população; Hoje, não existe no Brasil nenhum Território. Com
VIII - promover, no que couber, adequado ordenamen- o advento da CF, de 1988, Roraima e Amapá foram
to territorial, mediante planejamento e controle do transformados em Estados e Fernando de Noronha foi
uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano; incorporado ao Estado de Pernambuco.
IX - promover a proteção do patrimônio histórico-
-cultural local, observada a legislação e a ação fis- ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
calizadora federal e estadual.
A Administração Pública tem suas regras discipli-
Fiscalização financeira e orçamentária nadas nos arts. 37 a 41, da CF, de 1988.
A fiscalização financeira e orçamentária dos Muni- Art. 37 A administração pública direta e indi-
cípios se dá sob duas modalidades: controle externo, reta de qualquer dos Poderes da União, dos Esta-
exercido pela Câmara Municipal e o controle interno, dos, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá
exercido pelo próprio executivo municipal, nos ter- aos princípios de legalidade, impessoalidade,
mos do art. 31, da CF. moralidade, publicidade e eficiência e, também,
ao seguinte:
Art. 31 A fiscalização do Município será exercida
pelo Poder Legislativo municipal, mediante contro- Conforme se observa do caput, do art. 37, a Admi-
le externo, e pelos sistemas de controle interno do nistração Pública divide-se em Administração
Poder Executivo municipal, na forma da lei. Pública Direta, que é composta pelos quatro entes
§ 1º O controle externo da Câmara Municipal será federativos (União, Estados, Municípios e Distrito
exercido com o auxílio dos Tribunais de Contas dos Federal), e Administração Pública Indireta, compos-
Estados ou do Município ou dos Conselhos ou Tri- ta pelas autarquias, fundações públicas, sociedades de
196 bunais de Contas dos Municípios, onde houver. economia mista e empresas públicas.
Via de regra, a Administração Pública submete-se No que se refere à forma de acesso, há de se escla-
a um regime jurídico de direito público, ou seja, a sua recer, inicialmente, que se tratam dos cargos não pri-
atuação independe da concordância dos administra- vativos de brasileiros natos, uma vez que, conforme
dos, pois se funda na própria soberania estatal. já explanado anteriormente, os cargos privativos de
O regime jurídico de direito público faz com que a brasileiro nato constam expressamente do § 3º, art.
Administração se sujeite a limites, que, por vezes, são 12, da CF, de 1988.
mais estritos do que aqueles a que estão submetidos Observa-se que os cargos não privativos de bra-
os particulares. Como exemplo, pode-se citar o dever sileiros natos podem ser preenchidos por brasileiros
de observância da finalidade pública. (natos ou naturalizados) de forma ampla. Vale frisar
Esse regime de prerrogativas e sujeições para a que pode a lei estabelecer requisitos limitadores,
Administração Pública encontra-se expresso em for- tais como formação escolar, idade, entre outros. Em
ma de princípios. De acordo com o dispositivo, são contrapartida, para que o estrangeiro possa ter aces-
princípios que regem a Administração Pública direta so a tais cargos, a lei deve especificar as hipóteses de
e indireta: legalidade, impessoalidade, moralidade, admissibilidade.
publicidade e eficiência. Há que se fazer, aqui, duas observações quanto à
O Princípio da Legalidade estabelece a sujeição aplicabilidade da norma. Com relação aos brasileiros,
da Administração Pública aos mandamentos da lei. a norma constitucional é de eficácia contida, ou seja,
A legalidade traduz o sentido de que a Administra- todos os brasileiros tem acesso aos cargos, empregos
ção Pública somente pode fazer o que a lei manda ou e funções públicas. A norma infraconstitucional pode
permite, bem como somente pode proibir o que a lei conter tais efeitos, estabelecendo critérios diferencia-
expressamente proíbe. dos. Portanto, estão disponíveis aos brasileiros todos
O Princípio da Impessoalidade traz a neutrali- os cargos, empregos e funções desde que a norma
dade necessária para o exercício da atividade admi- não restrinja. Já para os estrangeiros, a norma cons-
nistrativa. Destinado tanto ao administrador como ao titucional é de eficácia limitada, ou seja, para que o
administrado, esse princípio impõe a objetividade e a estrangeiro tenha acesso, faz-se necessária norma
isonomia da conduta administrativa. infraconstitucional regulando a hipótese. Deste modo,
O Princípio da Moralidade diz respeito à moral estão disponíveis aos estrangeiros somente os cargos,
administrativa. Segundo ele, os atos da administra- empregos e funções públicos que a lei autorizar.
ção pública devem ser balizados nas matrizes éticas
dominantes. A finalidade do princípio é fixar limites Art. 37 [...]
à atuação da Administração, evitando, por exemplo, o II - a investidura em cargo ou emprego públi-
excesso de poder ou desvio de finalidade. co depende de aprovação prévia em concurso
O Princípio da Publicidade exige a divulgação público de provas ou de provas e títulos, de
dos atos da Administração Pública com o objetivo acordo com a natureza e a complexidade do cargo
de permitir o conhecimento e o controle por toda a ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas
sociedade, pois ao administrador compete agir com as nomeações para cargo em comissão declarado
transparência. em lei de livre nomeação e exoneração;
Por fim, o Princípio da Eficiência impõe à Admi-
nistração a obrigação de realizar suas atribuições com O inciso II estabelece a necessidade de procedi-
rapidez, perfeição e rendimento, pois quem adminis- mento administrativo destinado à seleção das pessoas
tra gere algo que pertence à sociedade. Assim, cabe que irão ocupar empregos públicos ou cargos públicos
ao administrador zelar pelos interesses públicos com de provimento efetivo ou vitalício. Trata-se, portanto,
plena satisfação do administrado e com o menor custo de uma forma de escolha para atender aos princípios
para a sociedade. da igualdade e da moralidade administrativa, evitan-
Para memorizar os princípios, utilize o mnemôni- do-se, com isso, que o ingresso no serviço público se dê
co LIMPE: por critérios de favorecimento pessoal ou nepotismo.
Os concursos públicos devem ser abertos a todos
Legalidade; os interessados. Portanto, não se admite que a seleção
Impessoalidade; ocorra de forma interna (concursos internos).
Moralidade; Cabe consignar que os concursos públicos podem
Publicidade; ser de provas ou de provas e títulos. Deste modo,
Eficiência. não se admite concurso apenas de títulos nem admis-
são sem concurso público. Observa-se, no entanto,
Art. 37 [...] que existe exceções à regra relativa aos concursos
I - os cargos, empregos e funções públicas são públicos para os seguintes casos:
NOÇÕES DE DIREITO
observância aos ditames da segurança jurídica e à z Membros de Poder (chefes dos Poderes Executivos,
evolução jurisprudencial na interpretação da omis- senadores, deputados, vereadores, magistrados),
são legislativa sobre o direito de greve dos servido- detentores de mandato eletivo, Ministros de Esta-
res públicos civis, fixação do prazo de 60 (sessenta) do e Secretários Estaduais e Municipais;
dias para que o Congresso Nacional legisle sobre a z Ministros ou Conselheiros dos Tribunais de Contas;
matéria. Mandado de injunção deferido para deter-
z Membros do Ministério Público;
minar a aplicação das Leis 7.701/1988 e 7.783/1989.
z Integrantes das carreiras pertencentes à Advocacia
Art. 37 [...] Geral da União, à Procuradoria-Geral da Fazenda
VIII - a lei reservará percentual dos cargos e Nacional, às Procuradorias dos Estados e do Dis-
empregos públicos para as pessoas portado- trito Federal e às Defensorias Públicas da União,
ras de deficiência e definirá os critérios de sua DF e Territórios e Defensorias Públicas Estaduais
admissão; (Art. 135, CF); 199
z Servidores policiais integrantes da Polícia Fede- Art. 37 [...]
ral, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Ferroviária XII - os vencimentos dos cargos do Poder Legis-
Federal, Polícias Civis, Polícias Militares e Corpos lativo e do Poder Judiciário não poderão ser
de Bombeiros Militares. superiores aos pagos pelo Poder Executivo;
Municípios para pagamento de despesas de pes- dores do respectivo Tribunal de Justiça, limitado
soal ou de custeio em geral. a noventa inteiros e vinte e cinco centésimos por
cento do subsídio mensal dos Ministros do Supre-
mo Tribunal Federal, não se aplicando o disposto
As regras com relação ao teto e subteto da remu- neste parágrafo aos subsídios dos Deputados
neração são estendidas aos empregados das empresas Estaduais e Distritais e dos Vereadores.
públicas e sociedades de economia mista, bem como
às suas subsidiárias. No entanto, conforme o dispos- O dispositivo regulamenta a possibilidade de fixa-
to no § 9º, incidirá sobre as remunerações de direto- ção do subteto de forma única. Nesse caso, o valor
res de empresas estatais que receberem recursos dos máximo da remuneração para todo e qualquer servi-
entes da federação para pagamento de despesas de dor corresponderá ao subsídio dos desembargadores
pessoal ou de custeio em geral, como, por exemplo, do Tribunal de Justiça, ficando de fora desse subteto
nos casos da EMBRAPA e da Radiobras. apenas o subsídio dos deputados. 203
Vejamos a decisão do STF no julgamento da ADI 6.221 MC:
A faculdade conferida aos Estados para a regulação do teto aplicável a seus servidores (art. 37, § 12, da CF) não per-
mite que a regulamentação editada com fundamento nesse permissivo inove no tratamento do teto dos servidores
municipais, para quem o art. 37, XI, da CF, já estabelece um teto único.
Art. 37 [...]
§ 13 O servidor público titular de cargo efetivo poderá ser readaptado para exercício de cargo cujas atribui-
ções e responsabilidades sejam compatíveis com a limitação que tenha sofrido em sua capacidade física ou mental,
enquanto permanecer nesta condição, desde que possua a habilitação e o nível de escolaridade exigidos para o
cargo de destino, mantida a remuneração do cargo de origem.
Art. 37 [...]
§ 14 A aposentadoria concedida com a utilização de tempo de contribuição decorrente de cargo, emprego ou
função pública, inclusive do Regime Geral de Previdência Social, acarretará o rompimento do vínculo que gerou
o referido tempo de contribuição.
Art. 37 [...]
§ 15 É vedada a complementação de aposentadorias de servidores públicos e de pensões por morte a seus
dependentes que não seja decorrente do disposto nos §§ 14 a 16 do art. 40 ou que não seja prevista em lei que extinga
regime próprio de previdência social.
O § 15 proíbe toda espécie de complementação que não seja aquela decorrente de Regime de Previdência Com-
plementar, como, por exemplo, as complementações com base na Lei Estadual (São Paulo) nº 200, de 1974, pagas a
ex-empregados e a seus dependentes da Nossa Caixa, BANESPA, SABESP, VASP e FEPASA.
Art. 37 [...]
§ 16 Os órgãos e entidades da administração pública, individual ou conjuntamente, devem realizar avaliação das
políticas públicas, inclusive com divulgação do objeto a ser avaliado e dos resultados alcançados, na forma da lei.
O § 16 foi acrescido pela Emenda Constitucional nº 109, de 2021, e tem como objetivo aprimorar o mecanismo
de participação da sociedade na Administração Pública.
Art. 38 Ao servidor público da administração direta, autárquica e fundacional, no exercício de mandato eletivo,
aplicam-se as seguintes disposições:
I - tratando-se de mandato eletivo federal, estadual ou distrital, ficará afastado de seu cargo, emprego ou função;
II - investido no mandato de Prefeito, será afastado do cargo, emprego ou função, sendo-lhe facultado optar pela sua
remuneração;
III - investido no mandato de Vereador, havendo compatibilidade de horários, perceberá as vantagens de seu cargo,
emprego ou função, sem prejuízo da remuneração do cargo eletivo, e, não havendo compatibilidade, será aplicada
a norma do inciso anterior;
IV - em qualquer caso que exija o afastamento para o exercício de mandato eletivo, seu tempo de serviço será conta-
do para todos os efeitos legais, exceto para promoção por merecimento;
V - na hipótese de ser segurado de regime próprio de previdência social, permanecerá filiado a esse regime, no ente
federativo de origem.
O art. 38 estabelece regras relativas ao servidor público da Administração direta, autárquica e fundacional que
passar a desempenhar cargo eletivo, ou seja, for eleito para o Poder Executivo ou Legislativo.
Ao servidor público estadual, quando eleito para cargo eletivo federal, estadual e distrital, aplica-se a
seguinte regra: afastamento do cargo público estadual para se dedicar exclusivamente ao mandato, rece-
bendo obrigatoriamente a remuneração do cargo para o qual foi eleito.
Em contrapartida, quando o servidor público estadual é eleito para cargo eletivo municipal, podem ocorrer
duas situações distintas. Se o cargo é de prefeito, ele será afastado para dedicação exclusiva do cargo e pode
escolher entre a remuneração do cargo público ou do cargo eletivo. Já se o cargo é de vereador, é necessá-
rio saber se há ou não compatibilidade de horário. Se houver compatibilidade de horários, ele não precisa se
afastar, podendo exercer as duas atividades ao mesmo tempo, recebendo pelos dois. Se não houver compatibi-
lidade, aplica-se a mesma regra do prefeito, ou seja, será afastado para dedicação exclusiva do cargo, podendo
204 escolher entre a remuneração do cargo público ou do cargo eletivo.
SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL
Prefeito Vereador
Afastamento do cargo pú- Com compatibilidade de horário: não se
�
blico e remuneração do Afastamento do cargo e opção entre a re- afasta do cargo
cargo eletivo muneração eletiva ou do cargo Sem compatibilidade de horário: aplica-se a
�
mesma regra do prefeito
Para que a Administração Pública possa desempenhar suas atividades, ela necessita de pessoas que exerçam
as atribuições dos órgãos públicos, ou seja, de agentes públicos. A expressão agente público é utilizada como
gênero, designando toda e qualquer pessoa que exerça uma função pública, quer de forma remunerada
ou gratuita, quer de natureza política ou administrativa, quer com investidura definitiva ou transitória.
Os agentes públicos dividem-se em quatro categorias, quais sejam:
Agente políticos
Servidores públicos
Agentes Públicos
Particulares em
colaboração
Militares
Os agentes políticos são aqueles que exercem as típicas atividades de governo, ou seja, são responsáveis por
fixar as metas e diretrizes políticas do Estado, tais como os chefes do Poder Executivo (Presidente, Governador e
Prefeito e seus vices) e seus auxiliares diretos (Ministros e Secretários) e os membros do Poder Legislativo (Sena-
dores, Deputados federais, Deputados estaduais e Vereadores).
Os particulares em colaboração com o Poder Público são aqueles que prestam serviços ao Estado, porém
sem vínculo estatutário ou celetista de trabalho, podendo ou não ter remuneração. Exemplo: jurados, mesários,
notários e registradores (serviços notariais).
Os servidores públicos civis dividem-se em:
z Servidores públicos estatutários: exercem cargo público (vitalício, efetivo ou comissionado) e estão vincu-
lados a um estatuto;
z Empregados públicos: possuem emprego público e vinculam-se às regras da Consolidação das Leis do Traba-
lho (CLT);
z Servidores temporários: categoria à parte, porque não titularizam cargo público nem possuem qualquer
vínculo trabalhista regido pela CLT, como os empregados públicos. São contratados por tempo determinado
para atender à necessidade temporária de excepcional interesse público por meio de um processo de seleção
simplificado. Exercem funções públicas sem ocupar cargos ou empregos públicos e são regidos por regime
especial, veiculado por meio de lei específica.
Os servidores da Administração Pública direta, das autarquias e das fundações públicas estão sujeitos ao regi-
me jurídico de direito público administrativo, instituído em lei, a qual também instituirá planos de carreira. O
regime adotado é o estatutário. Não obstante, lei assegurará aos servidores isonomia de vencimentos para cargos
de atribuições iguais ou assemelhadas do mesmo Poder ou entre servidores dos Poderes Executivo, Legislativo e
Judiciário, excetuadas as vantagens de caráter individual e as relativas à natureza ou ao local de trabalho.
Vale destacar que as regras sobre os servidores públicos estão estabelecidas nos arts. 39 a 41, da CF, de 1988.
NOÇÕES DE DIREITO
Vejamos os dispositivos:
Art. 39 A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão conselho de política de administração e
remuneração de pessoal, integrado por servidores designados pelos respectivos Poderes.
§ 1º A fixação dos padrões de vencimento e dos demais componentes do sistema remuneratório observará:
I - a natureza, o grau de responsabilidade e a complexidade dos cargos componentes de cada carreira;
II - os requisitos para a investidura;
III - as peculiaridades dos cargos.
§ 2º A União, os Estados e o Distrito Federal manterão escolas de governo para a formação e o aperfeiçoamen-
to dos servidores públicos, constituindo-se a participação nos cursos um dos requisitos para a promoção na
carreira, facultada, para isso, a celebração de convênios ou contratos entre os entes federados.
205
§ 3º Aplica-se aos servidores ocupantes de car- Com objetivo de garantir o aperfeiçoamento do
go público o disposto no art. 7º, IV, VII, VIII, IX, profissional, o dispositivo estabelece a realização de
XII, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XX, XXII e XXX, cursos oficiais como requisito obrigatório para promo-
podendo a lei estabelecer requisitos diferenciados ção na carreira, sendo facultada, para tanto, a celebra-
de admissão quando a natureza do cargo o exigir. ção de convênios com os demais entes da federação.
§ 4º O membro de Poder, o detentor de manda-
Outra regra de extrema importância é a que
to eletivo, os Ministros de Estado e os Secretá-
assegura ao servidor público civil da Administração
rios Estaduais e Municipais serão remunerados
Pública direta, autárquica e fundacional os direi-
exclusivamente por subsídio fixado em parcela
única, vedado o acréscimo de qualquer gratifica- tos previstos nos incisos IV, VII, VIII, IX, XII, XIII,
ção, adicional, abono, prêmio, verba de representa- XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XX, XXII e XXX, art. 7º,
ção ou outra espécie remuneratória, obedecido, em da CF, de 1988, e aos direitos que, nos termos da lei,
qualquer caso, o disposto no art. 37, X e XI. visem à melhoria de sua condição social e da pro-
§ 5º Lei da União, dos Estados, do Distrito Federal e dutividade e da eficiência no serviço público, em
dos Municípios poderá estabelecer a relação entre especial o prêmio por produtividade e o adicional de
a maior e a menor remuneração dos servido- desempenho.
res públicos, obedecido, em qualquer caso, o dis- Atente-se aos limites de remuneração de servidores:
posto no art. 37, XI.
§ 6º Os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário z Mínimo: salário mínimo;
publicarão anualmente os valores do subsídio z Máximo: vide XI, art. 37, da CF (EC 41/2003).
e da remuneração dos cargos e empregos públicos.
§ 7º Lei da União, dos Estados, do Distrito Fede- É importante conhecer o texto da Súmula Vincu-
ral e dos Municípios disciplinará a aplicação lante nº 6 do STF:
de recursos orçamentários provenientes da
economia com despesas correntes em cada órgão, Súmula Vinculante nº 6 Não viola a Constituição
autarquia e fundação, para aplicação no desenvol- o estabelecimento de remuneração inferior ao salá-
vimento de programas de qualidade e produtivida- rio mínimo para as praças prestadoras de serviço
de, treinamento e desenvolvimento, modernização, militar inicial.
reaparelhamento e racionalização do serviço públi-
co, inclusive sob a forma de adicional ou prêmio de Art. 40 O regime próprio de previdência social
produtividade. dos servidores titulares de cargos efetivos terá cará-
§ 8º A remuneração dos servidores públicos organiza- ter contributivo e solidário, mediante contribuição
dos em carreira poderá ser fixada nos termos do § 4º. do respectivo ente federativo, de servidores ativos,
§ 9º É vedada a incorporação de vantagens de de aposentados e de pensionistas, observados crité-
caráter temporário ou vinculadas ao exercício rios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial.
de função de confiança ou de cargo em comis- § 1º O servidor abrangido por regime próprio de
são à remuneração do cargo efetivo. previdência social será aposentado:
I - por incapacidade permanente para o tra-
No que tange ao art. 39, a primeira observação a balho, no cargo em que estiver investido, quando
ser feita é que o caput foi alterado pela Emenda Cons- insuscetível de readaptação, hipótese em que será
titucional nº 19, de 1998. No entanto, como sua eficá- obrigatória a realização de avaliações periódicas
cia encontra-se suspensa devido à decisão do STF na para verificação da continuidade das condições que
ADI nº 2.135-4, é a redação original que se encontra ensejaram a concessão da aposentadoria, na forma
em vigor. Vejamos: de lei do respectivo ente federativo;
II - compulsoriamente, com proventos propor-
Art. 39 A União, os Estados, o Distrito Federal e os cionais ao tempo de contribuição, aos 70 (setenta)
Municípios instituirão, no âmbito de sua competên- anos de idade, ou aos 75 (setenta e cinco) anos de
cia, regime jurídico único e planos de carreira para idade, na forma de lei complementar;
os servidores da administração pública direta, das III - no âmbito da União, aos 62 (sessenta e dois)
autarquias e das fundações públicas. anos de idade, se mulher, e aos 65 (sessenta e
cinco) anos de idade, se homem, e, no âmbito
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
A CF, de 1988, estabelece regras para a fixação dos
na idade mínima estabelecida mediante emenda às
padrões de vencimento e dos demais componentes
respectivas Constituições e Leis Orgânicas, obser-
do sistema remuneratório, que deverá observar: a
vados o tempo de contribuição e os demais
natureza, o grau de responsabilidade e a comple-
requisitos estabelecidos em lei complementar do
xidade dos cargos que compõem cada carreira;
respectivo ente federativo.
os requisitos para a investidura nos cargos e as
§ 2º Os proventos de aposentadoria não poderão
demais peculiaridades dos cargos. Tais requisitos ser inferiores ao valor mínimo a que se refere o §
poderão influenciar na fixação dos vencimentos e 2º do art. 201 ou superiores ao limite máximo esta-
dependem de aprovação de lei específica, assim como belecido para o Regime Geral de Previdência Social,
para o seu aumento, alteração ou criação de nova observado o disposto nos §§ 14 a 16.
vantagem pecuniária. Por lei, também serão estabe- § 3º As regras para cálculo de proventos de
lecidos os reajustes diferenciados para corrigir equí- aposentadoria serão disciplinadas em lei do res-
vocos, como no caso de servidores que desempenham pectivo ente federativo.
atividades semelhantes, mas percebem valores muito § 4º É vedada a adoção de requisitos ou crité-
diferentes. Salienta-se que a revisão geral da remune- rios diferenciados para concessão de benefícios
ração dos servidores públicos, sem distinção de índi- em regime próprio de previdência social, ressalva-
206 ces entre civis e militares, será feita. do o disposto nos §§ 4º-A, 4º-B, 4º-C e 5º.
§ 4º-A. Poderão ser estabelecidos por lei comple- § 14 A União, os Estados, o Distrito Federal e os
mentar do respectivo ente federativo idade e tempo Municípios instituirão, por lei de iniciativa do res-
de contribuição diferenciados para aposentadoria pectivo Poder Executivo, regime de previdência
de servidores com deficiência, previamente sub- complementar para servidores públicos ocupantes
metidos a avaliação biopsicossocial realizada por de cargo efetivo, observado o limite máximo dos
equipe multiprofissional e interdisciplinar. benefícios do Regime Geral de Previdência Social
§ 4º-B. Poderão ser estabelecidos por lei complemen- para o valor das aposentadorias e das pensões em
tar do respectivo ente federativo idade e tempo de regime próprio de previdência social, ressalvado o
contribuição diferenciados para aposentadoria de disposto no § 16.
ocupantes do cargo de agente penitenciário, de agen- § 15 O regime de previdência complementar de que
te socioeducativo ou de policial dos órgãos de que tra- trata o § 14 oferecerá plano de benefícios somente
tam o inciso IV do caput do art. 51, o inciso XIII do na modalidade contribuição definida, observará o
caput do art. 52 e os incisos I a IV do caput do art. 144. disposto no art. 202 e será efetivado por intermédio
§ 4º-C. Poderão ser estabelecidos por lei comple- de entidade fechada de previdência complementar
mentar do respectivo ente federativo idade e tempo ou de entidade aberta de previdência complementar.
de contribuição diferenciados para aposentadoria § 16 Somente mediante sua prévia e expressa opção,
de servidores cujas atividades sejam exercidas com o disposto nos §§ 14 e 15 poderá ser aplicado ao
efetiva exposição a agentes químicos, físicos e bio- servidor que tiver ingressado no serviço público até
lógicos prejudiciais à saúde, ou associação desses a data da publicação do ato de instituição do cor-
agentes, vedada a caracterização por categoria respondente regime de previdência complementar.
profissional ou ocupação. § 17 Todos os valores de remuneração considera-
§ 5º Os ocupantes do cargo de professor terão idade dos para o cálculo do benefício previsto no § 3º
mínima reduzida em 5 (cinco) anos em relação às serão devidamente atualizados, na forma da lei.
idades decorrentes da aplicação do disposto no inci- § 18. Incidirá contribuição sobre os proventos de
so III do § 1º, desde que comprovem tempo de efeti- aposentadorias e pensões concedidas pelo regime
vo exercício das funções de magistério na educação de que trata este artigo que superem o limite máxi-
infantil e no ensino fundamental e médio fixado em mo estabelecido para os benefícios do regime geral
lei complementar do respectivo ente federativo. de previdência social de que trata o art. 201, com
§ 6º Ressalvadas as aposentadorias decorrentes dos percentual igual ao estabelecido para os servidores
cargos acumuláveis na forma desta Constituição, é titulares de cargos efetivos.
vedada a percepção de mais de uma aposentadoria § 19 Observados critérios a serem estabelecidos em
à conta de regime próprio de previdência social, apli- lei do respectivo ente federativo, o servidor titular
cando-se outras vedações, regras e condições para a de cargo efetivo que tenha completado as exigên-
acumulação de benefícios previdenciários estabele- cias para a aposentadoria voluntária e que opte
cidas no Regime Geral de Previdência Social. por permanecer em atividade poderá fazer jus a um
§ 7º Observado o disposto no § 2º do art. 201, quan- abono de permanência equivalente, no máximo, ao
do se tratar da única fonte de renda formal auferida valor da sua contribuição previdenciária, até com-
pelo dependente, o benefício de pensão por morte pletar a idade para aposentadoria compulsória.
será concedido nos termos de lei do respectivo ente § 20 É vedada a existência de mais de um regime
federativo, a qual tratará de forma diferenciada a próprio de previdência social e de mais de um órgão
hipótese de morte dos servidores de que trata o § ou entidade gestora desse regime em cada ente
4º-B decorrente de agressão sofrida no exercício ou federativo, abrangidos todos os poderes, órgãos e
em razão da função. entidades autárquicas e fundacionais, que serão
§ 8º É assegurado o reajustamento dos benefí- responsáveis pelo seu financiamento, observados
cios para preservar-lhes, em caráter permanente, o os critérios, os parâmetros e a natureza jurídica
valor real, conforme critérios estabelecidos em lei. definidos na lei complementar de que trata o § 22.
§ 9º O tempo de contribuição federal, estadual, § 21 (Revogado).
distrital ou municipal será contado para fins § 22 Vedada a instituição de novos regimes pró-
de aposentadoria, observado o disposto nos §§ 9º prios de previdência social, lei complementar
e 9º A do art. 201, e o tempo de serviço correspon- federal estabelecerá, para os que já existam, nor-
dente será contado para fins de disponibilidade. mas gerais de organização, de funcionamento e de
§ 10 A lei não poderá estabelecer qualquer forma responsabilidade em sua gestão, dispondo, entre
de contagem de tempo de contribuição fictício. outros aspectos, sobre:
§ 11 Aplica-se o limite fixado no art. 37, XI, à soma I - requisitos para sua extinção e consequente migra-
total dos proventos de inatividade, inclusive quando ção para o Regime Geral de Previdência Social;
decorrentes da acumulação de cargos ou empregos II - modelo de arrecadação, de aplicação e de utili-
públicos, bem como de outras atividades sujeitas zação dos recursos;
a contribuição para o regime geral de previdência III - fiscalização pela União e controle externo e
social, e ao montante resultante da adição de pro- social;
NOÇÕES DE DIREITO
Das Regiões
MINISTÉRIO PÚBLICO
Art. 43. Para efeitos administrativos, a União pode-
rá articular sua ação em um mesmo complexo O Ministério Público é uma instituição permanen-
NOÇÕES DE DIREITO
geoeconômico e social, visando a seu desenvolvi- te, incumbido da ordem jurídica, dos direitos sociais
mento e à redução das desigualdades regionais. e direitos individuais indisponíveis. Tem previsão no
§ 1º - Lei complementar disporá sobre: art. 127 a 130 da CF, de 1988, tem autonomia funcional
I - as condições para integração de regiões em e administrativa.
desenvolvimento; Ainda, o art. 127 § 1º da CF determina que são prin-
II - a composição dos organismos regionais que cípios institucionais do MP a unidade (membros inte-
executarão, na forma da lei, os planos regionais, gram um só órgão sob direção do procurador geral),
integrantes dos planos nacionais de desenvolvi- indivisibilidade (não tem vinculação aos processos
mento econômico e social, aprovados juntamente em que atuam) e a independência funcional (não é
com estes. subordinado aos poderes legislativo, executivo ou
§ 2º - Os incentivos regionais compreenderão, além judiciário). Partindo desta base que os membros do
de outros, na forma da lei: Ministério Público elaboram suas funções. 209
O Ministério Público é chefiado pelo Procurador O Ministério Público dispõe de competência para pro-
Geral da República para o mandato de dois anos (per- mover, por autoridade própria, e por prazo razoável,
mitida recondução ao cargo anteriormente ocupado), investigações de natureza penal, desde que respeita-
nomeado pelo Presidente da República, dentre os dos os direitos e garantias que assistem a qualquer
integrantes da carreira, com mais de 35 anos (art. 128, indiciado ou a qualquer pessoa sob investigação do
§ 1º da CF). Estado, observadas, sempre, por seus agentes, as
A nomeação precisa ser aprovada por maioria absolu- hipóteses de reserva constitucional de jurisdição
ta dos membros do Senado Federal, assim como a destitui- e, também, as prerrogativas profissionais de que se
acham investidos, em nosso País, os Advogados (Lei
ção também deverá ser presidida mediante autorização
8.906/94, artigo 7º, notadamente os incisos I, II, III, XI,
da maioria absoluta do Senado (art. 128 § 2º da CF).
XIII, XIV e XIX), sem prejuízo da possibilidade – sem-
Tem garantidos a vitaliciedade, a inamovibilidade
pre presente no Estado democrático de Direito – do
e a irredutibilidade de subsídios, ou seja, após dois
permanente controle jurisdicional dos atos, necessa-
anos de exercício, não pode perder o cargo (exceção: riamente documentados (Súmula Vinculante 14), pra-
sentença judicial transitada em julgado) e não pode ticados pelos membros dessa instituição.
ser removido sem ampla defesa.
O ingresso na carreira ocorre através de concurso (STF. RE 593727 Tema de Repercussão Geral. STF. Min. Cezar
público de provas e títulos, tem como requisitos ser Peluso, julgado em 14.05.2015, DJe 08.09.2015)
bacharel em direito e no mínimo três anos de ativida-
de jurídica, ainda na nomeação deve ser observada a Conforme também já considerou o STF o Ministé-
ordem de classificação. rio Público não tem legitimidade processual para
As funções atribuídas ao Ministério Público estão requerer através de ação civil pública, pretensão
relacionadas no art. 129 da CF, de 1988, vejamos: de natureza tributária em defesa dos contribuintes.
Art. 129 São funções institucionais do Ministério DIREITO CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. APE-
Público: LAÇÃO INTERPOSTA EM FACE DE SENTENÇA
I - promover, privativamente, a ação penal PROFERIDA EM SEDE DE AÇÃO CIVIL PÚBLICA
pública, na forma da lei; QUE DISCUTE MATÉRIA TRIBUTÁRIA (DIREITO
II - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos DOS CONTRIBUINTES À RESTITUIÇÃO DOS VALO-
e dos serviços de relevância pública aos direitos RES PAGOS A TÍTULO DE TAXA DE ILUMINAÇÃO
assegurados nesta Constituição, promovendo as PÚBLICA SUPOSTAMENTE INCONSTITUCIONAL).
medidas necessárias a sua garantia; ILEGITIMIDADE ATIVA “AD CAUSAM” DO MINIS-
III - promover o inquérito civil e a ação civil TÉRIO PÚBLICO PARA, EM AÇÃO CIVIL PÚBLICA,
pública, para a proteção do patrimônio públi- DEDUZIR PRETENSÃO RELATIVA À MATÉRIA TRI-
co e social, do meio ambiente e de outros inte- BUTÁRIA. REAFIRMAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA
resses difusos e coletivos; DA CORTE. REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA.
IV - promover a ação de inconstitucionalidade ou (ARE 694294.Tema de Repercussão Geral. STF. Min.
representação para fins de intervenção da União e Luiz Fux, julgado em 06.05.2013, DJe em 17.10.2014)
dos Estados, nos casos previstos nesta Constituição;
V - defender judicialmente os direitos e interesses Tema de Repercussão Geral: quando o STF analisa
das populações indígenas;
questões relevantes sob o aspecto econômico, político,
VI - expedir notificações nos procedimentos admi-
social ou jurídico. Assim, a decisão tomada pelo STF
nistrativos de sua competência, requisitando infor-
será aplicada nos processos sobrestados (processo que
mações e documentos para instruí-los, na forma da
lei complementar respectiva; está suspenso aguardando a análise da Corte sobre o
VII - exercer o controle externo da atividade poli- tema de repercussão geral) sobre o mesmo tema.
cial, na forma da lei complementar mencionada no
artigo anterior; ADVOCACIA PÚBLICA
VIII - requisitar diligências investigatórias e a ins-
tauração de inquérito policial, indicados os funda- Conforme prevê a Constituição Federal em seu art.
mentos jurídicos de suas manifestações processuais; 133 o advogado é essencial à administração da justiça
IX - exercer outras funções que lhe forem conferi- sendo inviolável por seus atos manifestos no exercício
das, desde que compatíveis com sua finalidade, da profissão. A advocacia, no âmbito privado, atende
sendo-lhe vedada a representação judicial e a con- aos particulares e empresas; e a advocacia pública
sultoria jurídica de entidades públicas. representa e assessora os interesses do Estado.
É chefiada pelo Advogado Geral da União, que
Observe que o Ministério Público tem capacidade deve ser cidadão maior de 35 anos de notável saber
postulatória para promover o inquérito civil, ação jurídico e reputação ilibada, sendo nomeado pelo Pre-
penal pública e ação civil pública para a proteção do sidente da República, conforme art. 131 § 1º, da CF, de
patrimônio público e social, do meio ambiente e de 1988.
outros interesses difusos e coletivos.
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção 1º: Presidente da República consulta dois conselhos.
de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros
e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilida- z Conselho da República;
de do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segu- z Conselho da Defesa Nacional.
rança e à propriedade, nos termos seguintes: [...]
LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica inte-
2º: Presidente da República decreta Estado de Defesa
gral e gratuita aos que comprovarem insuficiência (art. 84 IX e 136 caput da CF)
de recursos;
Art. 84 Compete privativamente ao Presidente da
Ainda, conforme art. 134, § 1º, da CF, as defenso- República:
rias públicas se organizam em cargos de carreiras, [...]
providos, na classe inicial, mediante concurso públi- IX - decretar o estado de defesa e o estado de sítio;
NOÇÕES DE DIREITO
co de provas e títulos. Aos integrantes é assegurada a Art. 136 O Presidente da República pode, ouvidos
garantia da inamovibilidade e proibido o exercício da o Conselho da República e o Conselho de Defesa
Nacional, decretar estado de defesa para preservar
advocacia fora das atribuições institucionais. ou prontamente restabelecer, em locais restritos
Os integrantes da Advocacia Geral da União e ser- e determinados, a ordem pública ou a paz social
vidores das defensorias públicas serão remunerados ameaçadas por grave e iminente instabilidade ins-
na forma de subsídio. titucional ou atingidas por calamidades de grandes
proporções na natureza.
Art. 135 Os servidores integrantes das carreiras
disciplinadas nas Seções II e III deste Capítulo 3º: Controle Político feito pelo Congresso Nacional:
serão remunerados na forma do art. 39, § 4º
[...] z Confirma: Art. 49, IV da CF, de 1988; 211
z Rejeita: Art. 136 § 4º da CF, de 1988.
Controle político imediato – ocorre na decretação ou caso persistirem as razões que justificaram o estado de
defesa, este poderá ser prorrogado por mais 30 dias, então o Presidente da República no prazo de 24 horas submete
a decisão ao Congresso Nacional, que deverá decidir pelo voto da maioria absoluta e mediante decreto legislativo,
sobre a aprovação ou suspensão.
Caso o Congresso estiver em recesso, será convocado no prazo de cinco dias – Sessão Legislativa Extraordinária.
Deverá, também, apreciar o decreto no prazo de dez dias do seu recebimento (art. 136, § 5º e 6º da CF/88).
Controle político concomitante (ao mesmo tempo) - Neste caso, cinco membros da mesa do Congresso
Nacional têm que acompanhar e fiscalizar as medidas tomadas.
Controle político sucessivo (no final) – Ocorre nos termos do art. 141, parágrafo único da CF, o qual determina
que após cessar o estado de defesa as medidas aplicadas em sua vigência serão relatadas pelo Presidente da República
em mensagem ao Congresso Nacional.
Caso o Congresso Nacional não aceite a justificativa relada pelo Presidente da República no controle político
sucessivo e se, caracterizado algum crime de responsabilidade, poderá o Presidente ser submetido ao processo,
conforme a Lei 1.079, de 1950, e art. 85 da CF, de 1988. (controle jurídico)
ESTADO DE SÍTIO
O estado de sítio está consagrado no art. 137 a 139 da CF, de 1988, e será decretado diante da ineficácia do estado
de defesa, diante de comoção de grave repercussão nacional. E não pode ser decretado por mais de 30 dias, porém,
se necessário, pode ser prorrogado por mais 30, se necessário de novo, mais 30, e assim por diante.
No caso de declaração de estado de guerra ou resposta a agressão armada estrangeira, o estado de sítio poderá
ser decretado por todo o tempo que perdurar a guerra ou a agressão armada estrangeira.
Procedimento:
z Conselho da República;
z Conselho da Defesa Nacional.
2º: Controle político prévio - Presidente da República solicita autorização ao Congresso Nacional par a decreta-
ção ou prorrogação do estado de sítio (art. 137, parágrafo único da CF/88).
Autorização será por maioria absoluta e por decreto legislativo (art. 49, IV da CF/88).
3º: Presidente da República decreta estado de sítio. (art. 84 IX e 137 caput da CF).
4º: Controle Político feito pelo Congresso Nacional:
Controle político concomitante (ao mesmo tempo) –A partir do momento que o estado de sítio é autorizado,
o Congresso designa cinco membros da mesa do Congresso Nacional para acompanhar e fiscalizar as execuções
das medidas referente ao estado de sítio. (art. 49, IV e art. 140 da CF, de 1988).
Controle político sucessivo (no final) - Ocorre nos termos do art. 141, parágrafo único da CF, o qual determina
que após cessar o estado de defesa as medidas aplicadas em sua vigência serão relatadas pelo Presidente da República
em mensagem ao Congresso Nacional.
O direito de reunião pode ser limitado por decreto presidencial no estado de defesa e estado de sítio. A censura
também se torna possível no estado de sítio.
Ainda, caso decretado estado de sítio por comoção grave de repercussão nacional ou ineficácia da medida
tomada durante o estado de defesa, só poderão ser tomadas contra as pessoas as medidas consagradas no art. 139,
da CF, vejamos:
212
ESTADO DE DEFESA ESTADO DE SÍTIO
TÍTULO V Seção I Seção II
ART. 136 A 141 Art. 136 da CF Art. 137 da CF
Preservar ou reestabelecer ordem pública e a paz Comoção grave de repercussão nacional ou ineficácia da medi-
social ameaçada por grave e iminente instabilida- da tomada durante o estado de defesa;
PRESSUPOSTOS
de institucional; Declaração de estado de guerra ou resposta a agressão arma-
Calamidade de grande proporção da natureza. da estrangeira.
Comoção grave de repercussão nacional ou ineficácia da medi-
da tomada durante o estado de defesa;
30 dias podendo ser prorrogado somente uma 30 dias podendo se for o caso ser prorrogado sucessivamente
PRAZO vez por igual período. 30 + 30 + 30 [...]
Exemplo: 30 + 30 Declaração de estado de guerra ou resposta a agressão arma-
da estrangeira.
Decretado pelo tempo que durar a guerra ou agressão armada.
COMPETÊNCIA Presidente da República Presidente da República
Posterior:
Prévio:
CONTROLE Depois de decretado estado de defesa o Presi-
Presidente da República depende de autorização pelo Congres-
POLÍTICO dente da República comunica congresso nacio-
so Nacional para decretar o estado de sítio.
nal que pode confirmar ou cessar.
FORÇAS ARMADAS
As forças armadas estão consagradas no título V da Constituição Federal, conforme art. 142, as forças armadas
são constituídas pela Marinha, Exército e Aeronáutica, a qual são instituições nacionais permanentes e regulares,
organizadas com base na hierarquia e disciplina, sob autoridade do Presidente da República. As funções das forças
armadas, além da defesa da pátria, também englobam a defesa do estado e das instituições democráticas (garantidoras
da lei e da ordem).
Dica
As forças armadas estão inseridas na estrutura do Poder Executivo.
Os membros das forças armadas são denominados como militares e tem função subsidiária, ou seja, desem-
penham funções que originalmente são de competência das forças da segurança pública (polícia federal, civil e
militar dos estados e DF).
Ainda, conforme dispõe o art. 142 do texto constitucional, as forças armadas estão sob a autoridade suprema do
Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de
qualquer destes, da lei e da ordem.
FORÇAS ARMADAS
PRESIDENTE DA REPÚBLICA É AUTORIDADE SUPREMA
Internamente são subordinadas aos seus respectivos comandantes, integrados no Ministério da Defesa com
obediência ao Presidente da República. Assim, as patentes são conferidas pelo Presidente da República, entretan-
to a perda desta só ocorrerá se for julgado indigno do oficialato ou com ele incompatível, por decisão de tribunal
militar de caráter permanente, em tempo de paz, ou de tribunal especial, em tempo de guerra, conforme incisos
I e VI do art. 142, da CF, de 1988.
Aos militares é proibida a sindicalização e greve. Ainda, no serviço ativo não pode estar filiado a partido
político.
STF já se posicionou sobre o tema:
z O exercício do direito de greve, sob qualquer forma ou modalidade, é vedado aos policiais civis e a todos os
NOÇÕES DE DIREITO
Conforme dispõe o § 2º do art. 142, da CF, não cabe habeas corpus em caso de punição militar, sendo que este
segue as próprias regras de hierarquia e disciplina.
Mas cuidado! A doutrina e jurisprudência entende que se aplica o mencionado dispositivo quanto ao mérito
das punições militares, ou seja, quando for o caso de ilegalidade dos pressupostos, como competência e cumpri-
mento de regras estabelecidas no regulamento militar é cabível a impetração de habeas corpus para análise do
poder judiciário. 213
RECURSO EXTRAORDINÁRIO. MATÉRIA CRIMI- É exercido por meio de órgãos federais e esta-
NAL. PUNIÇÃO DISCIPLINAR MILITAR. Não há duais como a polícia federal, polícia rodoviária fede-
que se falar em violação ao art. 142, § 2º, da CF, se ral, polícia ferroviária federal, polícias civis, polícias
a concessão de habeas corpus, impetrado con- militares, o corpo de bombeiros militares e as polícias
tra punição disciplinar militar, volta-se tão-so- penais federal, estadual e distrital, esta última acres-
mente para os pressupostos de sua legalidade,
centada pela Emenda Constitucional nº 104, de 2019.
excluindo a apreciação de questões referentes
ao mérito. Concessão de ordem que se pautou pela
Conforme o § 8º do art. 144, da CF, os municípios
apreciação dos aspectos fáticos da medida punitiva podem constituir guardas municipais destinados à pro-
militar, invadindo seu mérito. A punição disciplinar teção de seus bens, serviços e instalações (deve atuar
militar atendeu aos pressupostos de legalidade, somente na municipalidade). Cuidado! Esse órgão não
quais sejam, a hierarquia, o poder disciplinar, o ato integra a estrutura de segurança pública para exercer
ligado à função e a pena susceptível de ser aplica- a função de polícia ostensiva.
da disciplinarmente, tornando, portanto, incabível Para o STF os órgãos que compõe a segurança
a apreciação do habeas corpus. Recurso conhecido pública estão relacionados nos incisos I ao VI do art.
e provido. (STF. RE 338.840, rel. min. Ellen Gracie, 144, da CF, sendo esse rol taxativo, ou seja, não podem
Segunda Turma, DJ de 12.09.2003) os municípios ou estados criarem outros órgãos para
integrarem à segurança pública.
A Constituição também prevê o serviço militar
obrigatório, conforme art. 143, entretanto o inciso Art. 144 A segurança pública, dever do Estado,
VIII do art. 5º desobriga o alistado do serviço militar direito e responsabilidade de todos, é exercida para
por motivo de crença religiosa, convicção filosófica ou a preservação da ordem pública e da incolumidade
política, desde que cumpra prestação alternativa, que das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes
é de competência das forças armadas atribuir. órgãos:
I - polícia federal;
Art. 143 O serviço militar é obrigatório nos termos II - polícia rodoviária federal;
da lei. III - polícia ferroviária federal;
§ 1º Às Forças Armadas compete, na forma da lei, IV - polícias civis;
atribuir serviço alternativo aos que, em tempo de V - polícias militares e corpos de bombeiros
paz, após alistados, alegarem imperativo de cons- militares.
ciência, entendendo-se como tal o decorrente de VI - polícias penais federal, estaduais e distrital.
crença religiosa e de convicção filosófica ou políti-
ca, para se eximirem de atividades de caráter essen- Sobre o Departamento de Trânsito o STF já manifestou:
cialmente militar.
Os Estados-membros, assim como o Distrito Fede-
§ 2º - As mulheres e os eclesiásticos ficam isentos do
serviço militar obrigatório em tempo de paz, sujei- ral, devem seguir o modelo federal. O art. 144 da Cons-
tos, porém, a outros encargos que a lei lhes atribuir. tituição aponta os órgãos incumbidos do exercício da
segurança pública. Entre eles não está o Departamen-
Exemplo prático de uso das Forças Armadas: to de Trânsito. Resta, pois, vedada aos Estados-mem-
Em 20/10/2020 foi publicado no DOU decreto pre- bros a possibilidade de estender o rol, que esta Corte
sidencial que autoriza o uso das Forças Armadas nas já firmou ser numerus clausus, para alcançar o Depar-
eleições municipais de 2020. tamento de Trânsito.
O objeto é garantir a ordem pública durante a [ADI 1.182, voto do rel. min. Eros Grau, j. 24-11-
votação e segurança do processo eleitoral. 2005, P, DJ de 10-3-2006.]
DECRETO Nº 10.522, DE 19 DE OUTUBRO DE 2020 Vide ADI 2.827, rel. min. Gilmar Mendes, j. 16-9-
Autoriza o emprego das Forças Armadas para a 2010, P, DJE de 6-4-2011
garantia da ordem pública durante a votação e a apu- Serviços da segurança pública são custeados
ração das eleições de 2020. mediante impostos, sendo que não é permitida a cria-
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA , no uso das atribui- ção de taxa para esta finalidade, ainda, a remuneração
ções que lhe confere o art. 84, caput , incisos IV e XIII, dos servidores será exclusivamente por subsídio fixado
da Constituição, e tendo em vista o disposto no art. 15 em parcela única, na forma do § 4º do art. 39, da CF, de
da Lei Complementar nº 97, de 9 de junho de 1999, e no 1988.
art. 23, caput , inciso XIV, da Lei nº 4.737, de 15 de julho
de 1965 - Código Eleitoral, DECRETA: Art. 39 A União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios instituirão conselho de política de admi-
Art. 1º Fica autorizado o emprego das Forças Arma- nistração e remuneração de pessoal, integrado por
das para a garantia da ordem pública durante a vota- servidores designados pelos respectivos Poderes.
ção e a apuração das eleições de 2020. [...]
Art. 2º As localidades e o período de emprego das § 4º O membro de Poder, o detentor de mandato
Forças Armadas serão definidos conforme os ter- eletivo, os Ministros de Estado e os Secretários
mos de requisição do Tribunal Superior Eleitoral. Estaduais e Municipais serão remunerados exclu-
Art. 3º Este Decreto entra em vigor na data de sua sivamente por subsídio fixado em parcela úni-
publicação. ca, vedado o acréscimo de qualquer gratificação,
adicional, abono, prêmio, verba de representação
SEGURANÇA PÚBLICA ou outra espécie remuneratória, obedecido, em
qualquer caso, o disposto no art. 37, X e XI.
A segurança pública é dever do Estado, direito e
responsabilidade de todos, a qual objetiva a preserva- z Polícia Federal (art. 144, § 1º da CF) é órgão per-
ção da ordem pública e da incolumidade de pessoas e manente, organizado e mantido pela União. Exer-
do patrimônio, conforme consagra o art. 144 do texto ce a função de polícia judiciária da União, que está
214 constitucional. disposto nos incisos I ao IV, vejamos:
Art. 144 [...] Ainda, conforme consagra § 6º do art. 144 da CF
§ 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão ambos “subordinam-se, juntamente com as polícias civis
permanente, organizado e mantido pela União e e as polícias penais estaduais e distrital, aos Governado-
estruturado em carreira, destina-se a: res dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios”.
I - apurar infrações penais contra a ordem polí-
tica e social ou em detrimento de bens, serviços e
interesses da União ou de suas entidades autárqui- z Polícias Penais Federal, estaduais e distrital
cas e empresas públicas, assim como outras infra- (art. 144 § 5º-A) foi incluído pela Emenda Consti-
ções cuja prática tenha repercussão interestadual tucional nº 104 de 2019, às polícias penais cabe à
ou internacional e exija repressão uniforme, segun- segurança dos estabelecimentos penais, vincula-
do se dispuser em lei; das ao órgão administrador do sistema penal da
II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entor- unidade federativa a que pertencem.
pecentes e drogas afins, o contrabando e o desca-
minho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros
órgãos públicos nas respectivas áreas de competência;
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção Princípio da Aplicação da Lei Mais Favorável
de qualquer natureza, garantindo-se aos brasilei- (retroatividade da lei penal benéfica ou, ainda,
ros e aos estrangeiros residentes no País a inviola- irretroatividade da lei penal)
bilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade,
à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: A regra geral impõe que as leis tem sua validade
[...] voltada para o futuro, ou seja, são irretroativas. Por
XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, que tal regra? Porque, em caso contrário, haveria
nem pena sem prévia cominação legal; enorme insegurança jurídica, correndo-se o risco da
Art. 1º Não há crime sem lei anterior que o defina. sociedade (destinatária da norma) ser surpreendida a
Não há pena sem prévia cominação legal. todo instante. O inciso XL, art. 5º da CF e o art. 2º do
CP apresentam uma exceção, válida somente no Direi-
Ou seja, por força deste princípio, não há crime to Penal. Observe como o princípio vem disposto na
(nem contravenção) sem prévia determinação Constituição Federal e no Código Penal:
legal, assim como não há pena sem prévia comina-
ção (imposição, prescrição) feita em lei.
Não confunda o princípio da legalidade, previsto CF CP
no inciso II, art. 5º da CF, segundo o qual “ninguém
Art. 5º Todos são iguais Art. 2º Ninguém pode ser
será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coi-
perante a lei, sem distin- punido por fato que lei pos-
sa senão em virtude de lei” (legalidade em sentido
ção de qualquer natureza, terior deixa de considerar
amplo), com o princípio da legalidade criminal que, garantindo-se aos brasi- crime, cessando em vir-
conforme vimos, se encontra no inciso XXXIX, art. 5º leiros e aos estrangeiros tude dela a execução e os
da CF e art. 1º do CP, segundo o qual não há crime sem residentes no País a invio- efeitos penais da sentença
lei (legalidade em sentido estrito). labilidade do direito à vida, condenatória.
O princípio da legalidade tem quatro funções à liberdade, à igualdade, à Parágrafo único - A lei
fundamentais: segurança e à propriedade, posterior, que de qualquer
nos termos seguintes: modo favorecer o agente,
z Proibir a retroatividade da lei penal (nullum cri- [...] aplica-se aos fatos ante-
men nulla poena sine lege praevia); XL – a lei penal não re- riores, ainda que decididos
troagirá, salvo para bene- por sentença condenatória
z Proibir a criação de crimes e penas pelo costu-
ficiar o réu; transitada em julgado.
218 me (nullum crimen nulla poena sine lege scripta);
Trata-se do “princípio-exceção” da retroatividade a conduta delituosa em lei se a definição do crime é
da lei penal mais benéfica: a norma penal mais bené- vaga, confusa, ampla demais ou, ainda, dá margem a
fica ao agente do crime, retroage, sendo aplicável a mais de uma interpretação, o que gera insegurança e
casos em curso ou já definitivamente sentenciados. fere a legalidade.
Trata-se de assunto pertinente ao tema Lei penal no
tempo, que será visto mais adiante. Princípio da Exclusiva Proteção dos Bens Jurídicos
Os princípios que até agora vimos são os mais rele-
vantes (portanto, os mais cobrados) no que diz res- Conforme vimos anteriormente, a função do Direi-
peito à aplicação da lei penal. Podemos resumi-los da to Penal é proteger bens jurídicos. De acordo com tal
seguinte forma: princípio, dentro do Estado Democrático de Direito, a
interferência do Direito Penal na liberdade dos cida-
dãos só é legítima para proteger os bens jurídicos.
PREVISÃO
PRINCÍPIO SIGNIFICADO
LEGAL Princípio da Intervenção Mínima ou da
O Direito Penal deve Subsidiariedade ou do Direito Penal Mínimo
Dignidade da garantir a dignidade
Art. 1º, III, O Direito Penal deve tutelar apenas os bens jurí-
pessoa humana,limitando os
CF
humana excessos do Estado dicos mais relevantes, intervindo apenas o mínimo
(“superprincípio”) necessário nos conflitos sociais e na liberdade dos
indivíduos. Em outras palavras, a força punitiva do
A aplicação da lei pe-
Estado deve ser utilizada apenas como último recurso
nal só pode se dar se-
(ultima ratio).
guindo todas as etapas
Devido Art. 5º, LIV,
previstas em lei e ob-
processo legal CF Princípio da Pessoalidade ou da Personalidade ou da
servando todas as ga-
rantias constitucionais Responsabilidade Pessoal ou da Intranscendência da
previstas Pena
Não há crime (nem con- Encontra-se previsto no inciso XLV, art. 5º, da CF:
travenção) sem prévia
Art. 5º,
Legalidade determinação legal, as- Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção
XXXIX,CF e
penal sim como não há pena
art. 1º, CP de qualquer natureza, garantindo-se aos brasilei-
sem prévia cominação
ros e aos estrangeiros residentes no País a inviola-
em lei
bilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade,
Art. 5º, Apenas lei em sentido à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
Reserva legal XXXIX,CF e estrito pode criar cri- [...]
art. 1º, CP mes e cominar penas XLV - nenhuma pena passará da pessoa do con-
denado, podendo a obrigação de reparar o dano
A lei penal nova deve e a decretação do perdimento de bens ser, nos ter-
entrar em vigor antes mos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles
Art. 5º, do fato criminoso e se executadas, até o limite do valor do patrimônio
Anterioridade XXXIX,CF e aplica apenas para os transferido;
art. 1º, CP fatos ocorridos após
sua vigência Tal princípio define que a pena de um agente con-
denado não pode ser transferida para outra pessoa,
ou seja, apenas o indivíduo sentenciado pode ser
É um princípio-exceção. responsabilizado pela conduta criminosa praticada.
A regra geral é que as
Retroatividade Art. 5º, XL,- Não importa o tipo da pena (privativa de liberdade
leis tenham validade
da lei penal CF e art. 2º, ou multa): apenas o autor da infração penal pode ser
voltada para o futuro.
benéfica CP apenado, esta é a regra.
Só a lei penal favorável
ao agente retroage No entanto, o próprio inciso XLV traz uma exceção:
nas hipóteses previstas nos incisos I, II e §1º do art. 91 do
Código Penal (que estabelece como efeitos da condena-
Além dos princípios acima, existem outros que ção o dever de indenizar o dano causado e o perdimento
dizem respeito à aplicação da pena (como o da indivi- de determinados bens), mesmo com o falecimento do
dualização da pena e da humanidade) ou à teoria do condenado a obrigação de reparar o dano e a decreta-
crime (como o da intervenção mínima e o da taxativi- ção do perdimento de bens alcançam os sucessores até o
dade, por exemplo).
NOÇÕES DE DIREITO
O STJ possui súmulas específicas a respeito do ridas entre a sua entrada em vigor e sua revogação
princípio da insignificância que tratam de sua incom- (tempus regit actum). Esse fenômeno jurídico é cha-
patibilidade com certos tipos de crime, como por mado de atividade.
exemplo as Súmulas 589, 599 e 606 que afirmam, res- Se, excepcionalmente, a lei regula situações fo-
pectivamente, não ser aplicável a insignificância: ra de seu período de vigência, temos o fenômeno da
extratividade.
z Nos crimes ou contravenções praticados contra a A extratividade se dá de duas formas: quando a
mulher no âmbito das relações domésticas; lei regula situações ocorridas antes de sua vigên-
cia (passado), chamamos a extratividade de retroa-
z Nos crimes contra a Administração Pública; tividade. Se, por outro lado, a lei se aplica mesmo
z Nos delitos de transmissão clandestina de sinal de depois de cessada sua vigência (futuro), temos a
Internet via radiofrequência. ultratividade. 221
Importante! solucionar cada uma delas, o CP aponta regras que são
aplicadas conjuntamente com os princípios constitu-
A regra é a atividade da lei penal, ou seja, sua
cionais que vimos anteriormente. São quatro diferen-
aplicação somente durante seu período de
tes situações:
vigência. Como exceção, temos a extratividade
da lei penal mais benéfica, ou seja, sua aplicação z Abolitio criminis ou Novatio Legis ou Lei supres-
para regular situações passadas (retroatividade) siva de incriminações: a lei nova suprime deixa
ou futuras (ultratividade). de considerar como infração um fato que era ante-
riormente punido (passa a ser considerado atípico).
Tem como consequências: por força da retroativi-
Observe o art. 2º do Código Penal:
dade (inciso XL, art. 5º, da CF e art. 2º, caput, do CP)
aplica-se a lei nova. Ocorre a extinção da punibili-
Art. 2º Ninguém pode ser punido por fato que lei
dade (é, pois, causa extintiva da punibilidade, con-
posterior deixa de considerar crime, cessando em
forme o inciso III, art. 107, do CP). Os agentes que
virtude dela a execução e os efeitos penais da sen-
estiverem sendo processados, terão seus processos
tença condenatória.
Parágrafo único. A lei posterior, que de qualquer extintos, já os que não tiverem ainda sido denuncia-
modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos ante- dos, terão seus inquéritos trancados. Com a abolitio
riores, ainda que decididos por sentença condena- criminis, cessam os “efeitos penais da sentença con-
tória transitada em julgado. denatória”. Não cessam os efeitos civis (quanto aos
efeitos, veremos mais adiante quando tratarmos de
O art. 2º refere-se apenas à retroatividade, uma vez efeitos da condenação.
que está analisando a aplicação da lei penal tomando z Novatio legis in mellius: é a lei nova (novatio
por base a data do fato delituoso. Assim, temos duas legis) que, sem excluir a incriminação, ou seja,
situações: sem constituir abolitio criminis, é mais favorável
ao agente (in mellius). Por exemplo quando comi-
na pena mais branda, inclui atenuantes, permite
z Ou se aplica regra do tempus regit actum, se for
a obtenção de benefícios como a sursis e o livra-
mais benéfico;
mento condicional, entre outros. Tem como con-
z Se aplica a lei posterior (aquela que entra em sequências: de acordo com o inciso XL, art. 5º da
vigor após outra) se esta for mais benigna (retroa- CF e art. 2º, caput, do CP, retroage para favorecer
tividade). A lei posterior mais benéfica é chamada o agente, aplicando-se aos fatos anteriores “ainda
também de lex mitior. que decididos por sentença condenatória transita-
da em julgado”.
Observe as duas situações no Fluxograma a seguir: z Novatio legis in pejus: Ocorre quando a lei pos-
terior, sem criar novo tipo incriminador, de qual-
Retroativida de Benéfica quer modo agrava a situação do agente (in pejus).
Por exemplo, aumenta a pena, ou impõe uma
forma de execução mais severa (hipoteticamente
instituindo o mesmo rigor inicial da reclusão ao
Nova lei cumprimento dos crimes apenados com detenção)
Fato Sentença Nesta hipótese, a lei melhor (lex mitior) passa a ser
em vigor
a lei anterior. A lei mais severa recebe o nome de
lex gravior (lei mais grave). Tem como consequên-
cias: em relação à lei nova, aplica-se os princípios
LEI “A” LEI “B” da irretroatividade da lei mais severa. Quanto à lei
antiga, mais benéfica, aplica-se a ultratividade.
Se esta for mais Se esta for mais z Novatio legis incriminadora: se dá quando a
benéfica adota-se a favorável, usa-se lei nova cria um tipo incriminador, consideran-
regra da Atividade Retroatividade do infração uma conduta considerada irrelevan-
(tempus regit actum) Benéfica te pela lei anterior. Por exemplo, a Lei nº 10.224,
de 2001, introduziu no Código Penal o art. 216-A,
e criou o tipo de assédio sexual no ordenamento
Vejamos um exemplo para melhor fixar o expos- jurídico brasileiro. Tem como consequências: a
to anteriormente: imagine que um indivíduo pratica nova lei gravosa é irretroativa (art. 1º, CP).
um fato delituoso em 10 de fevereiro de 2021. Naquela
data, encontra-se em vigor a Lei “A”, que prevê a pena Veja que o texto do Código Penal não menciona a
mínima de 4 anos de reclusão para o crime. No entan- ultratividade, ou seja, a possibilidade do o juiz aplicar
to, em 10 de março do mesmo ano, entra em vigor a Lei uma lei já revogada. No entanto, essa aplicação pode
“B”, que comina a pena mínima de 2 anos de reclusão ocorrer na sentença, se esta for mais benéfica e vigen-
para o mesmo delito. Qual delas deve o juiz utilizar te à época do fato criminoso. Veja o seguinte exemplo:
ao proferir a sentença? Neste caso, o magistrado deve em 10 de fevereiro de 2021 encontra-se em vigor a Lei
aplicar a Lei “B”, por ser mais favorável ao réu (a Lei “A”, que prevê a pena mínima de 2 anos de reclusão
“B”, embora não estivesse em vigor na data do fato, para determinado crime; em 10 de março do mesmo
volta no tempo, retroagindo para beneficiar o agente). ano, entra em vigor a Lei “B”, que comina a pena míni-
Observe que, no exemplo acima, a lei posterior ma de 4 anos de reclusão para o mesmo delito. Em 10
(Lei “B” é mais favorável ao agente). No entanto, lei de agosto, ao sentenciar, o juiz deve utilizar a Lei “A”,
posterior pode entrar em conflito com a anterior de já revogada, mas vez que mais benéfica torna-se ultra-
222 maneiras diferentes, gerando situações diversas. Para tiva. Observe tal fenômeno no Fluxograma a seguir:
Ultratividade z Lei Excepcional: é aquela feita para vigorar em
épocas especiais, como guerra, calamidade etc. É
aprovada para vigorar enquanto perdurar o perío-
do excepcional. São facilmente identificáveis por
expressões como “esta lei terá vigência enquanto
Fato Nova lei em
Sentença durar o estado de calamidade pública”.
vigor
z Lei Temporária: é aquela feita para vigorar por
determinado tempo, estabelecido previamente na
própria lei. Assim, a lei traz em seu texto a data de
LEI “A” LEI “B” cessação de sua vigência. Um exemplo de lei tem-
porária é a Lei nº 12.663, de 2012, denominada Lei
Revogada. Se esta Se esta for mais favo- Geral da Copa, que criou tipos penais que duraram
for mais benéfica rável, aplica-se na até o dia 31 de dezembro de 2014.
adota-se a regra da sentença a regra geral
ultratividade (tempus regit actum)
Posto isso, rege o art. 3º do Código Penal que, mes-
mo cessadas as circunstâncias que a determinaram
(lei excepcional) ou decorrido o período de sua dura-
Note que, diferentemente do primeiro esquema, ção (lei temporária), é possível aplica-las aos fatos pra-
neste o foco está na sentença e não no fato. É uma ticados durante sua vigência.
questão de perspectiva. Desta forma, são leis ultra-ativas, isso porque
De quem é a competência para aplicar a lei poste- regulam atos praticados durante sua vigência, mesmo
rior favorável? Antes do juiz proferir a sentença, não após sua revogação.
há dificuldade: cabe ao juiz de 1º grau sua aplicação;
em grau de recurso, a competência é do Tribunal; e se
já transitada em julgado a sentença, a competência é Importante!
do juiz da execução penal, de acordo com o inciso I,
art. 66, da Lei de Execução Penal (LEP). Este é o posi- Ultratividade: as leis de vigência temporária
cionamento majoritário da doutrina e jurisprudência (excepcionais e temporárias) são ultra-ativas,
(Súmula 611 do STF). no sentido de continuarem a ser aplicadas aos
Todas as situações que vimos acima podem ser fatos praticados durante a sua vigência mesmo
resolvidas pela seguinte regra: A Lei só Retroage depois de sua auto revogação.
para Beneficiar o Sujeito. No entanto, como saber
qual das leis em conflito é a mais favorável ao agente?
Normas Penais em Branco e Direito Intertemporal
Para avaliar a mais benéfica, o juiz deve sempre apre-
ciar o caso concreto sob a eficácia de cada uma das
Questão interessante que diz respeito à alteração
leis em com conflito, comparando o resultado: o que
do complemento da norma penal em branco.
mais favorecer o agente deve prevalecer.
Primeiro vamos entender o que é norma penal em
branco e ver algumas particularidades a ela relaciona-
Lei Intermediária
das para depois vermos sua relação com o fator “tempo”.
Norma penal em branco ou cega pode ser defi-
O que acontece se houver uma lei intermediária,
nida como uma lei penal incriminadora que possui
ou seja, que entrou em vigor depois da data do fato
um elemento indeterminado no que diz respeito à
e foi revogada antes da sentença? Neste caso, deve descrição da conduta. Lembre-se que a norma penal
ser aplicada em favor do réu a mais favorável delas, incriminadora estabelece uma conduta (uma ação ou
mesmo que for a intermediária (também chamada de omissão) em seu preceito primário e uma sanção
intermédia) e não a última. penal em seu preceito secundário. Quando um tipo
penal traz seu preceito primário incompleto, preci-
Combinação de Leis sando ser complementado por outra norma, estamos
diante de uma norma penal em branco ou cega.
O que acontece se houverem várias leis sucessivas Vamos ver dois exemplos de norma penal em bran-
e cada uma delas tem uma parte, um aspecto mais co, o primeiro constante no art. 237 do Código Penal e
favorável ao sujeito. É possível combinar várias leis, o outro no art. 33 da Lei de Drogas:
criando uma “terceira lei” para beneficiar o agente?
Segundo a maior parte da doutrina, não, por violar o Conhecimento prévio de impedimento
princípio da legalidade. Essa é a posição do STJ e do
NOÇÕES DE DIREITO
A regra da retroatividade benéfica não se aplica Neste caso, o dispositivo penal não esclarece o que
no caso das chamadas leis intermitentes (leis tem- é “impedimento que lhe cause nulidade absoluta”. O
porárias e leis excepcionais). Veja o art. 3º, CP: complemento, neste caso, deve ser buscado em fonte
legislativa de igual hierarquia (Lei): o branco do art.
Art. 3º A lei excepcional ou temporária, embora 237, CP é complementado pelas hipóteses de impe-
decorrido o período de sua duração ou cessadas as dimento tratadas pelo Código Civil, em seu art. 1521.
circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao Este caso é o que se chama de norma penal em bran-
fato praticado durante sua vigência. co em sentido lato ou imprópria ou homogênea: a 223
complementação do preceito primário se faz com entanto, é que no tipo penal aberto a complementação
auxílio de uma lei. é feita por meio de um juízo de valoração realizado
Norma penal em branco é um assunto dos mais pelo juiz, isto é, o complemento vem da valoração feita
cobrados em concursos. É importante guardar não pelo magistrado e não de uma outra norma.
só suas relações com o direito temporal, mas também Agora que já vimos o conceito de norma penal em
suas classificações. Assim, vamos incluir mais três em branco e suas particularidades, vamos fazer uma rela-
nosso vocabulário jurídico-penal: ção dela com a questão do direito no tempo.
Vamos voltar ao exemplo do art. 33 da Lei nº 11.343,
z Norma Penal em Branco em Sentido Lato Homo- de 2006 (tráfico ilícito de drogas). O que ocorreria, por
vitelina: o complemento se encontra no mesmo exemplo, se houvesse a retirada de certa substância
diploma legal da norma incompleta (exemplo: psicoativa da portaria da ANVISA, que define as dro-
vários tipos do Código Penal tratam de crimes gas para efeito da Lei nº 11.343? Imagine um sujei-
cometidos por funcionário público; o conceito de to que é pego vendendo a droga “X”, que consta na
funcionário público é encontrado no art. 327 do Portaria, e passa a responder pelo crime de tráfico de
próprio CP). drogas. Com a retirada da substância da norma com-
z Norma Penal em Branco em Sentido Lato Hete- plementar, como ficaria a situação do agente?
rovitelina: o complemento está em diploma legal Neste caso, acontecerá a retroatividade benéfica,
diferente do da norma incompleta (exemplo: o art. descriminalizando o comportamento, por força da
237, CP fala em impedimento que cause a nulidade abolitio criminis. Veja que o fato passa a ser atípico
absoluta do casamento; o complemento encontra- não pela revogação da Lei que considerava o fato típi-
-se no Código Civil (CC). co, mas sim de seu complemento.
Tal foi o que ocorreu no caso do art. 237 do CP. O
z Quando o complemento é dado por uma norma Código Civil de 1916, em seu inciso VII, art. 183, previa
constante da CF, temos a chamada norma penal que um dos impedimentos absolutamente dirimentes
em branco de fundo constitucional (exemplo: o era o casamento do cônjuge adúltero com o corréu
art. 246 do CP que fala em “idade escolar”; tal con- condenado por tal crime. No entanto, o Código Civil
ceito encontra-se no inciso I, art. 208 da CF). de 2002 não trouxe tal impedimento, ocorrendo, pois,
abolitio criminis, que retroagiu em favor de eventuais
Agora veja o caso da Lei 11.343, de 2006 (Lei de réus.
Drogas): A retroação benéfica, por outro lado, não ocor-
re quando se tratar de complementos que tenham
Art. 33 Importar, exportar, remeter, preparar, pro- caráter excepcional ou temporário, como foi o caso,
duzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, ofe- por exemplo, da Lei nº 1.521, de 1951, a Lei de Crimes
recer, ter em depósito, transportar, trazer consigo,
Contra a Economia Popular: o comerciante que fosse
guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo
flagrado vendendo produto com preço acima do que
ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem
autorização ou em desacordo com determinação
constasse em tabela oficial respondia pelo ato, ainda
legal ou regulamentar: que o congelamento, com a respetiva revogação da
Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e tabela, se encerrasse antes da conclusão do inquérito
pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e qui- policial ou do processo penal.
nhentos) dias-multa.
Do Tempo do Crime
No caso do art. 33 da Lei de 11.346, de 2006, o dis-
positivo não define o que são “drogas”, nem o que seja Como vimos anteriormente, logo em seus primei-
“sem autorização legal ou em desacordo com deter- ros artigos, o Código Penal se preocupa em tratar da
minação legal ou regulamentar”. A definição de quais aplicação da lei penal no tempo. Mas qual a importân-
substâncias são ilícitas é encontrada em Portaria da cia de se conhecer o tempo do crime?
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) Determinar o tempo do crime é essencial, em pri-
que, por ser fonte legislativa hierarquicamente infe- meiro lugar, para saber que lei será aplicada no
rior, é denominada norma penal em branco em sen- caso concreto. Da mesma forma, é imprescindível
tido estrito ou própria ou heterogênea. para verificar a imputabilidade do agente (que
Por outro lado, temos a chamada norma penal pode ser menor de 18 no momento da conduta), fixar
em branco ao revés ou invertida ou inversa ou ao as circunstâncias do tipo penal, verificar a prescri-
avesso quando o complemento necessário se refere à ção, dentre outros aspectos.
sanção (preceito secundário). Um exemplo de norma Existem três teorias que podem ser consideradas
penal em branco ao revés é o tipo do crime de geno- para se determinar o tempo do crime:
cídio, previsto na Lei nº 2.889, de 1956, que apresenta
um branco em relação à pena, sendo necessário recor-
TEORIA DA Considera-se praticado o crime
rer a outras leis para completar tal branco. Pode acon-
ATIVIDADE no momento da conduta
tecer de o próprio complemento da norma incompleta
necessitar de outro complemento, ou seja, é preciso TEORIA DO Considera-se praticado o crime
uma dupla complementação. Neste acaso, temos o RESULTADO no momento do resultado
que se usa chamar de normal penal em branco ao
quadrado. Considera-se praticado o cri-
Ainda em relação às normas penais em branco, vale TEORIA MISTA OU me tanto no momento da con-
a pena lembrar que é importante saber diferenciá-las DA UBIQUIDADE duta quanto no momento do
dos tipos penais abertos. O tipo penal aberto, assim resultado
como na norma em branco, é uma norma incomple-
224 ta que necessita de complementação. A diferença, no
O Direito Penal brasileiro adotou, em relação Por sua vez, crime continuado é uma ficção jurí-
ao tempo do crime, a teoria da Atividade, por isso, dica criada para beneficiar o réu, prevista no art. 71
considera-se praticado o crime no momento da do CP e será estudado mais adiante. Por enquanto,
conduta (ação ou omissão), ainda que outro seja o basta saber que o crime continuado ocorre quando o
momento do resultado. agente pratica dois ou mais crimes da mesma espé-
cie, mediante duas ou mais condutas, sendo que, pelas
Art. 4º Considera-se praticado o crime no momento condições de tempo, lugar, modo de execução, são
da ação ou omissão, ainda que outro seja o momen- tidos uns como continuação dos outros.
to do resultado. Por exemplo, um empregado de uma loja de fer-
ramentas visando subtrair um kit de ferramentas
Ilustrando: no caso de um homicídio, é essencial do estabelecimento, resolve furtar uma ferramenta
que se determine o instante da ação (momento dos por dia, até ter em suas mãos o kit completo. 60 dias
tiros, por exemplo) e não o momento do resultado depois, o sujeito vai conseguir completar o conjunto e
(morte) pois, se o autor for menor de 18 anos à época vai ter cometido 60 furtos! Não fosse a regra benéfica
dos tiros, ainda que a vítima morra depois do atirador do art. 71 do CP, a pena mínima neste caso somaria 120
ter completado a maioridade penal, ele não pode res- anos de reclusão! Reconhecendo-se a ocorrência de
ponder criminalmente pelo ato. crime continuado, ocorrerá a chamada exasperação:
A teoria adotada pelo CP em seu art. 4º, em relação no nosso exemplo específico, será aplicada ao agente
ao tempo do crime, é a teoria da ATIVIDADE. Leva- a pena de um só dos furtos aumentadas de 1/6 até 2/3.
-se em conta, pois, o momento da conduta (ação ou No entanto, não nos interessa, neste momento, ingres-
omissão), pouco importando o instante do resultado. sar no tema do crime continuado, nos basta apenas
Veja o esquema a seguir como exemplo: a noção do fenômeno para que possamos discutir a
questão do tempo do crime quando de sua ocorrência.
Tempo do Crime (Art. 4º) Assim sendo, temos que a mesma regra aplicá-
vel ao crime permanente (Súmula 711 do STF) deve
ser aplicada ao crime continuado, com uma ressalva
Conduta Resultado
quanto às condutas praticadas pelos menores de 18
anos, por força do artigo 228 da CF que determina sua
Sentença Morte da inimputabilidade: na hipótese de um sujeito cometer
Vítima quatro furtos, possuindo 17 anos quando do come-
timento dos dois primeiros, e já 18, no momento da
prática dos dois últimos, somente estes dois é que ser-
Vítima
virão para constituir o crime continuado.
Considera-se hospitalizada
praticado no tempo
Tempo do Crime e Conflito Aparente de Normas
da conduta (Teoria
da Atividade, art. 4º)
O conflito aparente de normas (ou concurso apa-
rente de normas) se estabelece quando duas ou mais
normas aparentemente parecem ser aplicáveis ao
É na data da conduta, portanto, que:
mesmo fato.
Por exemplo: um sujeito resolve importar, via cor-
z Se verifica a imputabilidade penal: no nosso
reio, uma determinada substância entorpecente. Num
exemplo, o fato de ser o autor, maior ou menor de
primeiro momento, pode parecer que se aplique ao
18 anos;
caso o previsto no art. 334 do Código Penal, que trata
z Se fixam as circunstâncias do crime: qualifica-
do crime de contrabando. Ocorre que o mesmo fato
doras, causas de aumento ou diminuição de pena,
agravantes ou atenuantes (como, por exemplo, ser está previsto no art. 33 da Lei de Drogas. Parece, pois,
a vítima criança ou maior de 60 anos, que contam que as duas normas parecem ser aplicáveis ao mes-
como agravantes; ou ser o autor menor de 21 anos, mo fato. No entanto o conflito é apenas aparente, uma
o que vai servir como atenuante). vez que a própria lei apresenta mecanismos para sua
solução: no caso do nosso exemplo, aplica-se o art. 33
Tempo do Crime nas Infrações Permanentes e da Lei de Drogas (tráfico ilícito de drogas), por se tra-
Continuadas tar de lei especial (o tráfico internacional de drogas se
distingue do contrabando porque se refere, especifi-
camente, a um determinado tipo de mercadoria proi-
Nestes casos, será aplicada regra especial, que
consta na Súmula 711 do STF: “A lei penal mais grave bida, a droga. O mesmo ocorre com o tráfico de armas,
previsto no Estatuto do Desarmamento).
NOÇÕES DE DIREITO
Para fixar o entendimento, vamos ilustrar o princí- de fogo, disparo de arma de fogo e homicídio
pio da subsidiariedade: doloso: se tudo ocorreu no mesmo contexto fático
(mesmo desdobramento, ou seja, o agente só por-
z Lei principal (é o todo) tou irregularmente a arma e a disparou pois tinha
a intenção de matar alguém) o homicídio absorve
Ex.: Extorsão mediante sequestro (art. 159) os anteriores;
z A segunda é relacionada aos crimes de falsida-
z Lei subsidiária (é parte)
de e estelionato: neste caso, basta observar o que
Ex.: Sequestro e cárcere privado (art. 148) dispõe a Súmula 17 do STJ: quando o sujeito falsifi-
ca documento para aplicar um golpe, o estelionato
(crime-fim) absorve o falso (crime-meio). 227
E lembre-se: em qualquer situação, para que haja internacionais, a lei estrangeira é aplicável a deli-
consunção é imprescindível que os fatos de deem den- tos praticados em território nacional.
tro do mesmo contexto.
A figura utilizada para fazer referência ao prin- Como regra, o Brasil adota o princípio da terri-
cípio da consunção é da de um peixão, que engole torialidade temperada e 4 outros princípios como
um peixinho que engole o girino: isto é, o homicídio exceção:
absorve as lesões graves, que absorvem as lesões leves
que, por sua vez, absorvem as vias de fato. z Real ou de proteção ou da defesa: inciso I, § 3º,
art. 7º, e CP (exceção: extrataterritorialidade). A lei
Princípio da Alternatividade penal leva em conta a nacionalidade do bem jurí-
dico lesado pelo delito, sem se importar com local
O último dos princípios é do da alternatividade e é de sua prática ou da nacionalidade do sujeito ativo.
aplicado quando há a prática, no mesmo contexto fáti- z Justiça penal universal ou princípio universal
co, dos crimes de conteúdo múltiplo ou variado ou
ou da universalidade da justiça cosmopolita,
plurinuclear, que são os crimes que descrevem várias
ou da jurisdição mundial ou da repressão uni-
condutas no mesmo artigo, ou seja, contém vários ver-
versal ou da universalidade do direito de punir:
bos como núcleos do tipo. Um exemplo desse tipo de
alínea a, inciso II, art. 7º (exceção: extrataterrito-
crime encontra-se no art. 33, caput, da Lei de Drogas:
rialidade). Cada Estado tem o poder de punir qual-
quer crime, independentemente da nacionalidade
Art. 33 Importar, exportar, remeter, preparar, pro-
do autor ou da vítima ou, ainda, do local da sua
duzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, ofe-
recer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, prática. Basta que o criminoso esteja dentro do ter-
guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ritório do país.
ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem z Nacionalidade ativa ou princípio da perso-
autorização ou em desacordo com determinação nalidade: alíena b, inciso II, art. 7º (exceção:
legal ou regulamentar. extrataterritorialidade). Segundo o princípio da
nacionalidade, a lei penal do Estado se aplica a
Note que são dezessete verbos (núcleos diferen- seus cidadãos onde quer que se encontrem. O Bra-
tes): pelo princípio da alternatividade, se o agente sil adota a nacionalidade ativa, que impõe a apli-
pratica mais de um verbo, no mesmo contexto fático, cação da lei nacional ao cidadão que comete crime
só responderá por um único crime (por exemplo, se o no estrangeiro não importando a nacionalidade da
sujeito oferece e ministra). vítima.
z Representação ou pavilhão ou bandeira: alí-
A LEI PENAL NO ESPAÇO
nea c, inciso II, art. 7º (exceção: extrataterritoria-
lidade). Ficam sujeitos à lei do Brasil os delitos
Ao estudar, nos arts. 5º a 8º do CP, a aplicação da lei
cometidos em aeronaves e embarcações privadas,
penal no espaço vamos tratar do lugar de incidência
quando ocorridos no estrangeiro e aí não venham
da legislação penal brasileira, ou seja, onde ela é apli-
lá a ser julgados.
cada. Não vamos ver, neste momento, regras de com-
petência, que se encontram nos arts. 70 e seguintes do
Território Nacional
Código de Processo Penal (CPP).
O §1º e 2º do art. 5º do CP fala em território. O terri-
Territorialidade
tório que nos interessa é o território jurídico, ou seja,
o espaço em que o Estado exerce sua soberania. O ter-
O princípio adotado para tratar do âmbito da apli-
ritório nacional é composto pelas seguintes partes:
cação da lei penal brasileira é o princípio da Terri-
torialidade, que se encontra disposto no art. 5º do CP:
z O solo;
Art. 5º Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de z O subsolo;
convenções, tratados e regras de direito internacio- z O espaço aéreo correspondente;
nal, ao crime cometido no território nacional.
z Os cursos d’água internos (rios, lagos, mares
interiores);
O princípio da territorialidade significa que a lei
penal de um país só é aplicável no território do Estado z O mar territorial, assim entendido como a faixa
que a editou, sem se preocupar com a nacionalidade de mar exterior que compreende as 12 milhas
do sujeito ativo (autor) ou passivo (vítima). marítimas medidas a partir da linha do baixa-mar
O princípio da territorialidade pode se dar de duas do litoral continental e insular brasileiro, de acor-
formas: do com as referências contidas nas cartas náuticas
brasileiras (art. 1º da Lei nº 8.617, de 1993).
z De forma absoluta (princípio da territorialidade
absoluta) quando somente a lei penal do país é Em relação aos rios internacionais que constituem
aplicável aos crimes cometidos em seu território limites entre dois países, normalmente existe tratado
nacional; sobre o tema que ou determina que a divisa se encon-
z De forma temperada, relativizada ou mitigada tra na linha mediana do leito do rio ou que a divisa
(princípio da territorialidade temperada) quan- acompanhe a linha de maior profundidade da cor-
do a lei penal nacional é aplicada via de regra ao rente. Se o rio não for divisa, mas sucessivo, como o
crime cometido no território nacional, mas, excep- Amazonas, é indiviso, e cada Estado exerce soberania
228 cionalmente, por força de tratados e convenções sobre ele.
No caso dos lagos, salvo acordo em contrário, o aberta em São Paulo, mata a vítima. Quem vai punir
limite é fixado pela linha da meia distância entre as os autores?
margens do lago ou lagoa, que separa dois ou mais Para solucionar tais situações, existem três teorias:
Estados.
Por se relacionarem aos assuntos que estamos Extraterritorialidade
vendo, vale a pena estudar as hipóteses de não inci-
dência da lei a fatos cometidos no Brasil: Extraterritorialidade é a aplicação da lei brasilei-
ra aos crimes cometidos fora do Brasil. Sua sistema-
a) as imunidades diplomáticas; tização se encontra nos arts. 7º e 8º do CP.
b) as imunidades parlamentares; Tal fenômeno se justifica por dois motivos:
c) a inviolabilidade do advogado.
z Para proteger certos bens jurídicos (como, por
Esses assuntos são tratados em Direito Constitucio- exemplo, o patrimônio público);
nal, Direito Processual Penal e no estudo do Estatuto z Para impedir que certos delitos fiquem sem res-
da Ordem dos Advogados do Brasil. posta da lei penal. Não se aplica a extraterrito-
rialidade a todas as infrações penais (crimes e
Território por Extensão contravenções): de acordo com o art. 2º da Lei
de Contravenções Penais, não se aplica a lei
De acordo com o § 1º do art. 5º do Código Penal, para brasileira às contravenções ocorridas fora do
fins penais, é considerado território por extensão: território nacional. Ou seja, não há extraterrito-
rialidade de contravenção.
z As embarcações e aeronaves brasileiras, de na-
tureza pública ou a serviço do governo brasileiro A aplicação da lei brasileira no estrangeiro pode ser
onde quer que se encontrem; dar sem que seja necessária qualquer condição, receben-
z As aeronaves e as embarcações brasileiras, mer- do o nome de extraterritorialidade incondicionada:
cantes ou de propriedade privada, que se achem,
respectivamente, no espaço aéreo corresponden- z Hipóteses do art. 7, I, do CP:
te ou em alto-mar.
I - os crimes:
a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da
Vale notar que embaixada estrangeira, localizada
República;
no Brasil, constitui território brasileiro para efeito de b) contra o patrimônio ou a fé pública da União,
incidência da Lei penal brasileira. do Distrito Federal, de Estado, de Território, de
Município, de empresa pública, sociedade de eco-
Lugar do Crime nomia mista, autarquia ou fundação instituída pelo
Poder Público;
O CP trata do lugar do crime no art. 6º: c) contra a administração pública, por quem
está a seu serviço;
Art. 6º Considera-se praticado o crime no lugar em d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou
que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em par- domiciliado no Brasil;
te, bem como onde se produziu ou deveria produzir- [grifos nossos]
-se o resultado.
Nestes casos, aplica-se a lei penal brasileira ainda
Conforme já vimos antes, não se trata de fixar nor- que o crime tenha sido julgado no estrangeiro e
mas de competência (medida de jurisdição) uma vez independentemente de o agente entrar no Brasil.
que tais normas são cuidadas pelos arts. 70 e seguin- Se preenchidas certas condições indicadas na lei,
tes do CPP. O disposto no art. 6º, CP destina-se aos teremos a extraterritorialidade condicionada:
chamados crimes à distância, isto é, aqueles delitos
em que a ação ou a omissão ocorre em um país e o z Hipóteses do inciso II, art. 7, do CP: alínea ‘a’ e ‘b’,
resultado, em outro. Em relação ao local do crime, o inciso II, art. 7º + requisitos do §2º, art. 7º;
CP adota o princípio da ubiquidade. alínea ‘c’, inciso II, art. 7º do CP + requisitos do
§2º, art. 7º + alínea ‘c’, inciso II, art. 7º, in fine (não
ter sido julgado no estrangeiro);
Dica §3º, art. 7º, do CP + requisitos do §2º, art. 7º +
Para facilitar seu estudo, lembre-se do mnemô- requisitos do §3º (não ter sido pedida ou ter sido
nico “LUTA”, no que diz ao princípios adotados negada a extradição) + requisição do Ministro da
NOÇÕES DE DIREITO
Justiça.
quanto ao lugar do crime e o tempo do crime:
Lugar
Pena Cumprida no Estrangeiro
Ubiquidade
Tempo Art. 8º A pena cumprida no estrangeiro atenua a
Atividade pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando
diversas, ou nela é computada, quando idênticas.
Vamos exemplificar: na divisa Brasil-Paraguai, um
cidadão brasileiro, que se encontra em Foz do Igua- Quando se fala em extraterritorialidade condicio-
çu, atira em uma pessoa, que se encontra no Paraguai, nada, uma vez tendo sido cumprida a pena no estran-
vindo esta a falecer. Ou ainda, um indivíduo envia geiro, desaparece o interesse do Brasil em punir o
uma carta-bomba do Chile para o Brasil, que ao ser delinquente. 229
Por outro lado, nos casos de extraterritorialidade crime e contravenção, sendo que estas duas últimas
incondicionada, se o sujeito ativo entra em território estão incluídas na primeira
brasileiro, estará sujeito à punição, independente- No Código de Processo Penal há certa confusão:
mente de já ter sido condenado ou absolvido no exte- algumas vezes usa o termo infração, de forma genéri-
rior. Nesta hipótese, se aplicaria a fórmula do art. 8º, ca, incluindo os crimes (ou delitos) e as contravenções
CP. No entanto, tal dispositivo é inconstitucional, por (veja, por exemplo, os arts. 70, 72, 74, 76, 77 etc.). Em
ir contra a garantia constitucional de que ninguém outras situações, emprega a expressão delitos como
pode ser punido duas vezes pelo mesmo fato, constan- sinônimo de infração (por exemplo, conforme consta
te da Convenção Americana dos Direitos Humanos, nos arts. 301 e 302, CPP).
em vigor no Brasil. Para os fins do nosso estudo temos, então que
infração penal pode significar crime (ou delito) e
Eficácia da Sentença Penal Estrangeira contravenção penal.
As diferenças entre crime e contravenção serão
O art. 9º do CP trata dos efeitos da sentença penal vistas mais adiante.
estrangeira. De acordo com o disposto, somente pode
ser homologada para produzir os seguintes efeitos: Conceito de Crime
z Obrigar o condenado à reparação do dano (inciso O conceito de crime não é natural e sim algo arti-
I, art. 9º, CP); ficial, criado pelo legislador tendo em vista os interes-
ses da sociedade. Mas o que é crime?
z Sujeitar o condenado à medida de segurança (inci-
Podemos responder esta pergunta de três dife-
so II, art. 9º, CP).
rentes formas, olhando para o crime sob diferentes
aspectos: material, formal e analítico.
A homologação é feita por meio de sentença pelo Vamos ver o conceito de crime de acordo com cada
STJ (alíena ‘i’, inciso I, art. 105, da CF). No caso do inciso um desses pontos de vista:
I, art. 9º, CP depende de pedido da parte interessada; já
na hipótese do inciso II, art. 9º, CP, depende da existên-
z Aspecto material: é o juízo, a visão que a socie-
cia de tratado de extradição com o país respectivo ou,
dade tem sobre o que pode e deve ser proibido
na fala de ratado, de requisição do Ministro da Justiça.
por meio da aplicação de sanção penal. Sob esse
aspecto, o conceito material de crime consiste
na conduta que ofende um bem juridicamen-
CONTAGEM DE PRAZO te tutelado (bem juridicamente considerado
essencial para a existência da própria sociedade e
Antes de ingressar especificamente na contagem manutenção da paz social);
dos prazos, cumpre informar que o prazo penal e o z Aspecto formal: é a concepção sob a ótica do direi-
prazo processual são contados de maneiras diferentes: to. Assim, o conceito formal de crime constitui
uma conduta proibida por lei, que se realizada,
z Prazo penal (regra art. 10 do CP): inclui-se o pri- resulta na aplicação de uma pena. Considera-se
meiro dia, despreza-se o último; crime, dessa forma, o que o legislador apontar
z Prazo processual penal (§ 1º do art. 798 do CPP): como tal;
despreza-se o primeiro dia, conta-se o último.
z Por fim, o conceito que interessa aos nossos estu-
Frações Não Computáveis da Pena dos: sob o aspecto analítico, se procura apontar,
estabelecer os elementos estruturais do crime.
z Frações de penas: não são computadas as horas Vejamos:
nas penas privativas de liberdade e restritivas de
direitos, nem os centavos na pena pecuniária. Conceito Analítico de Crime
sário ou usa imoderadamente o meio necessário. z Características pessoais do agente, como a falta de
convivência social (surdo que ainda não aprendeu
A legítima defesa fica afastada se for excluído um a se comunicar).
dos seus requisitos essenciais.
Desenvolvimento Mental Retardado
z Após a reação justa (meio e moderação) por impre-
vidência ou conscientemente continua desneces- Configura aqui, o indivíduo que tem uma capa-
sariamente na ação. cidade que não corresponde às experiências para
aquele momento de vida, o que significa que a plena
Estará agindo com excesso o agente que intensi- potencialidade jamais será atingida. Os inimputáveis
fica demasiada e desnecessariamente a reação ini- aqui tratados não possuem condições de entender o
cialmente justificada. O excesso poderá ser doloso ou crime que cometeram. 239
Como acabamos de ver, ao menor de 18 anos se Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um
aplicam regras próprias. Ao completar 18 anos, a lei a dois terços, se o agente, em virtude de perturba-
presume que todos os indivíduos são imputáveis. ção de saúde mental ou por desenvolvimento men-
Porém, tal presunção é relativa, ou seja, é passível de tal incompleto ou retardado não era inteiramente
capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de
aferição. Assim, existem três possíveis critérios para a
determinar-se de acordo com esse entendimento.
verificação da inimputabilidade:
Menores de dezoito anos
z Sistema psicológico: interessa é somente o momen-
to da ação ou omissão delituosa, se ele tinha ou não Art. 27 Os menores de 18 (dezoito) anos são penal-
condições de avaliar o caráter criminoso do fato e mente inimputáveis, ficando sujeitos às normas
de orientar-se de acordo com esse entendimento, estabelecidas na legislação especial.
ou seja, o momento da pratica do crime. A emoção Emoção e paixão
não excluir a imputabilidade. E pessoa que comete
crime, com integral alternação de seu estado físico- No caso de embriaguez acidental completa, temos:
-psíquico responde pelos seus atos.
z Sistema biológico: interessa saber se o agente é Art. 28 Não excluem a imputabilidade penal:
portador de alguma doença mental ou desenvolvi- I - a emoção ou a paixão;
mento mental incompleto ou retardo, caso positivo Embriaguez
é considerado inimputável. Tal sistema é usado pela II - a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool
ou substância de efeitos análogos.
doutrina: Código Penal, sobre a menoridade penal.
§ 1º - É isento de pena o agente que, por embria-
z Sistema biopsicológico: exige-se que a causa
guez completa, proveniente de caso fortuito ou
geradora esteja prevista em lei e que, além disso, força maior, era, ao tempo da ação ou da omissão,
atue efetivamente no momento da ação delituo- inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito
sa, retirando do agente a capacidade de entendi- do fato ou de determinar-se de acordo com esse
mento e vontade. Desta forma, será inimputável entendimento.
aquele que, em razão de uma causa prevista em lei § 2º - A pena pode ser reduzida de um a dois terços,
(doença mental, incompleto ou retardado), atue no se o agente, por embriaguez, proveniente de caso
momento da pratica da infração penal sem capaci- fortuito ou força maior, não possuía, ao tempo da
dade de entender o caráter criminoso do fato. ação ou da omissão, a plena capacidade de enten-
der o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de
acordo com esse entendimento.
Somente há inimputabilidade se os três requisitos
estiverem presentes, sendo exceção aos menores de
Adoção do critério psicológico. A embriaguez
18 anos, regidos pelo sistema biológico.
admite qualquer meio probatório.
Já na embriaguez acidental fortuita, decorrente
Questões Importantes sobre Inimputabilidade
de caso fortuito ou de força maior, que ocorre, por
exemplo, quando o agente não conhece o caráter
A inimputabilidade do acusado é fornecida pelo alcoólico da bebida ou o agente é forçado a ingerir a
exame pericial feito pelo médico legal, exame que é bebida, adota-se o critério psicológico. Porém, não
denominado “incidente de insanidade mental”, em que basta estar embriagado fortuitamente.
se suspende o processo até o resulto final. Há prazo de Deve-se analisar se ao momento da ação ou omis-
10 dias para provar a existência da causa excludente são o agente era incapaz de entender o caráter ilíci-
da culpabilidade (Lei nº 11.719, de junho de 2008). to do fato ou de determinar-se de acordo com esse
Os requisitos biopsicológicos da inimputabilidade são: entendimento.
Posto isso, teremos duas possibilidades:
z Somente há inimputabilidade se os três requisitos
estiverem presentes, sendo exceção aos menores z Completa isenção de pena: § 1°, art. 28, CP;
de 18 anos, regidos pelo sistema biológico. z Incompleta redução de pena de 1/3 a 2/3: § 2°, art.
z Causal: existencial de doença mental ou de desen- 28, CP.
volvimento incompleto ou retardado, causas pre-
vistas em lei. A embriaguez patológica deve ser tratada como
z Cronológico: atuação ao tempo da ação ou omis- doença mental, regida pelo art. 26, CP.
são delituosa. Já na embriaguez preordenada o agente se embriaga
z Consequencial: perda total da capacidade de para encorajar-se a praticar o crime. Será punido pelo cri-
entender ou da capacidade de querer. me doloso cometido e terá a pena aumentada. Aplicação
da agravante genérica, alínea l, inciso II, art. 61, do CP.
Dispõe o Código Penal:
Art. 26 É isento de pena o agente que, por doença men- ERRO DE TIPO E DE PROIBIÇÃO
tal ou desenvolvimento mental incompleto ou retarda-
do, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente Erro de Tipo:
incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de
determinar-se de acordo com esse entendimento. Como bem explicam André Estefam e Victor Eduar-
do Gonçalves1, o erro, corresponde à falsa percepção
Redução de pena da realidade dos fatos, ou seja, há uma percepção
1 Estefam, André ; Gonçalves, Victor Eduardo Rios Direito penal esquematizado® – parte geral / André Estefam; Victor Eduardo Rios
240 Gonçalves. – Coleção esquematizado ® / coordenador Pedro Lenza - 9. ed. – São Paulo : Saraiva Educação, p. 516, 2020.
errônea pela qual o agente que comete o fato acre- Catarina foi ameaçada por Beatriz, que disse que
dita piamente não estar diante de um dos elementos iria lhe dar uma facada. A partir deste dia, Catari-
essenciais que constituem o crime. Exemplo, Carol na, assustada pelas ameaças de Beatriz, passou a
pega a chave do carro de Josiane, acreditando que a andar sempre com um canivete de bolso. Na sema-
chave era dela. na seguinte, Catarina desapercebida se encontra
com Beatriz numa rua sem saída. Beatriz então,
Neste caso, sem analisar corretamente os fatos
com movimentos suspeitos, inclina-se para dar um
era de se pensar que Carol teria cometido o crime de
abraço em Catarina e lhe dar uma flor como pedi-
furto, vez que preenchia quase todos os elementos da do de desculpas. Mas Catarina desfere de imediato
conduta tipificada no art. 155, do Código Penal. Toda- uma facada em Beatriz.
via, esta interpretação seria errônea, pois pendia do
elemento de vontade, já que que para Carol o objeto Estamos aqui, diante de uma tese de legítima defe-
não alheio. sa putativa. A verdade é que havia uma falsa percep-
Após este introito, acredito que você já deve pos- ção de realidade, que se passava somente na mente
suir uma noção do que é um erro. Agora iremos apro- de Catarina, que acreditava que seria esfaqueada por
fundar nos conceitos de erro de tipo escusável e erro Beatriz.
de tipo inescusável. Como veremos no próximo parágrafo, do mes-
mo artigo, o erro também pode ser determinado por
terceiro.
ERRO ESCUSÁVEL ERRO INESCUSÁVEL
É aquele que deriva de É aquele que deriva de Erro determinado por terceiro
fato imprevisível, que pe- fato evitável, que pelas
las circunstâncias concre- circunstâncias concretas § 2º Responde pelo crime o terceiro que determina
tas, qualquer pessoa de qualquer pessoa de dis- o erro.
discernimento mediano cernimento médio, teria
incorreria em tal erro. Por percebido o equívoco e Para entender este dispositivo nada melhor que
consequência, neste caso teria assim o evitado. Esta um clássico exemplo:
exclui-se o dolo – por espécie de erro é conhe-
inexistir o elemento von- cida também por erro de Maciel é pai de Carolina. Sua filha só possui 16
tade – e a culpa, por ser tipo permissivo, pois re- anos de idade, no entanto aparenta ser mais velha,
imprevisível. Esta espécie cai sobre circunstâncias podendo ser facilmente confundida como uma pes-
de erro também pode ser fáticas de uma causa de soa maior de idade. Maciel sempre frequenta deter-
conceituada como erro justificação, ou seja, ex- minado bar, por isso já é conhecido pelo garçom,
de tipo penal incrimina- cludente de ilicitude (tipo que como de costume lhe serve um chope. Certo
dor, pois recaí sobre uma penal permissivo). dia, Maciel comparece no bar com sua filha, o gar-
çom de prontidão lhe serve o seu chope, mas Maciel
situação fática elementar
pede mais um para Carolina.
do crime.
Sabe-se que é proibida a venda e o consumo de
Agora, vamos ao estudo do que dispõe o artigo 20, bebidas alcoólicas para menores de 18 anos de idade.
do Código Penal Brasileiro: Aqui, estamos diante de um típico caso de erro deter-
minado por terceiro, pelas circunstâncias do caso –
Erro sobre elementos do tipo Carolina aparentava ser mais velha e seu próprio pai
que pediu o chopp – não era exigível que o garçom
Art. 20 O erro sobre elemento constitutivo do tipo tivesse conhecimento sobre o fato, já que não é costu-
legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição me de os bares solicitarem a carteira identidade para
por crime culposo, se previsto em lei. aferir a idade. Neste caso, reponde quem determinou
o erro, in casu, Maciel.
Descriminantes putativas Vamos conhecer agora, o erro sobre a pessoa (§ 3º,
do art. 20, do Código Penal):
§ 1º - É isento de pena quem, por erro plenamente
justificado pelas circunstâncias, supõe situação de Erro sobre a pessoa
fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não
há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e
§ 3º O erro quanto à pessoa contra a qual o crime
o fato é punível como crime culposo.
é praticado não isenta de pena. Não se consideram,
neste caso, as condições ou qualidades da vítima,
Pela redação do artigo 20 é possível aferir que o senão as da pessoa contra quem o agente queria
NOÇÕES DE DIREITO
erro de tipo pode ou não excluir o dolo, isto é, o ele- praticar o crime.
mento vontade. Mas qual é a importância da vonta-
de para o estudo do erro de tipo? Tal elemento é de Esta figura pode ser conhecida também por error
fundamental importância, uma vez que se inexistir a in persona ou, ainda, por erro de tipo acidental. No
forma culposa de algum crime, o agente que praticou erro sobre a pessoa existe o crime, o agente quer o
o fato não cometerá crime algum, a contrário sensu, resultado, todavia confunde a pessoa visada, isto é,
se existir forma culposa este agente será punido pela quem ela queria realmente atingir. Por esta razão,
prática do crime na sua forma culposa. nesta hipótese inexiste isenção de pena.
O parágrafo § 1º do citado artigo dispõe sobre as É importante diferenciar a figura erro de tipo
discriminantes putativas. A palavra putativa deve ser acidental da figura de erro na execução, apesar de
entendida no sentido de aparentar ou parecer. Por muito parecidas são conceitos distintos, a diferença
exemplo: principal desta última é que, como o próprio nome 241
diz, o erro é na execução. Exemplo: por não saber ati- Ainda no mesmo artigo é trabalhado o erro sobre
rar acerta pessoa diversa. a ilicitude do fato evitável e o erro sobre a ilicitude
Vamos para a tabela: do fato inevitável, os conceitos deles são retirados do
parágrafo único do mesmo artigo.
ERRO DE TIPO ERRO DE TIPO
z Erro sobre a Ilicitude Evitável:
ACIDENTAL QUANTO ACIDENTAL QUANTO
À PESSOA À EXECUÇÃO
O erro sobre a ilicitude evitável, como visto aci-
O agente confunde a pes- O erro do agente ocorre ma, ocorrerá quando o agente através de uma
soa que queria atingir no ato da execução ação ou omissão praticar o fato sem consciên-
Ex.: no manuseio da arma cia de que é ilegal, mas que pelas circunstân-
cias do fato concreto era possível e exigível que
Para sua prova é extremamente importante que este soubesse que a sua conduta era ilícita. Nes-
você saiba que em ambas são desconsideradas as qua- te caso, o Juiz poderá diminuir a pena de um
lidades da pessoa que foi efetivamente atingida pelo sexto a um terço.
erro e consideradas as qualidades da pessoa que o
agente realmente queria atingir. z Erro sobre a Ilicitude Inevitável:
Mas no que isso importa para o direito? Novamen-
te para explicação, iremos estudar um exemplo. O erro inevitável é aquele em que pelas cir-
Mévio é casado com Clara, os dois possuem uma cunstâncias do caso concreto, era quase que
relação bastante conturbada. Mévio, prevalecendo de impossível exigir do agente a consciência
relações domésticas, muito nervoso por certa atitude necessária para evitar a prática do crime. Neste
de Clara, dispara diversos tiros em sua direção, acer- caso, haverá isenção de pena. Ex. Estrangeiro
tando o seu vizinho Joãozinho, que passava pelo local. – que no seu país os adolescentes de 16 anos
Joãozinho, veio à óbito. podem dirigir – vem visitar o Brasil e é parado
Nesta situação, Mévio mesmo tendo acertado um numa blitz, embora ainda fosse possível saber
que no Brasil não é permitido dirigir aos 16
homem responderá por feminicídio, pois apenas se
anos, era extremamente difícil exigir que este
consideram as qualidades da vítima que realmente
tivesse conhecimento.
queria atingir.
Temos ainda o erro de tipo acidental sobre o
objeto (error in objecto), esta figura é essencialmen-
te doutrinária. Aqui, como diz o próprio nome, o erro
ocorre sobre o objeto visado. Ex. Mário vai a uma joa- CONCURSO DE PESSOAS
lheria e furta um colar que acredita ser de diamantes,
mas ao chegar em casa descobre que em verdade tra- DEFINIÇÃO
ta-se de uma bijuteria barata. Neste caso, não haverá
exclusão de dolo, culpa, tampouco isenção de pena. O Código Penal define o concurso de pessoas no
Respondendo Mário pelo crime de furto consumado caput do art. 29.
(art. 155, do Código Penal).
Art. 29 Quem, de qualquer modo, concorre para o
Erro de Proibição: crime incide nas penas a este cominadas, na medi-
da de sua culpabilidade.
Após o estudo do erro sobre os elementos do tipo, [...]
iremos estudar o erro sobre a ilicitude do fato, tam-
bém conhecidos como erros de proibição. Veja o que Guilherme Nucci (2018) diz que concurso de pes-
dispõe o artigo 21, do Código Penal: soas é cooperação desenvolvida por várias pessoas
O erro de proibição para o cometimento de uma infração penal. Define-se,
ainda, por coautoria, participação, concurso de delin-
Erro sobre a ilicitude do fato quentes, concurso de agentes e cumplicidade.
Podemos dizer que há concurso de pessoas quan-
Art. 21 O desconhecimento da lei é inescusável. O do dois ou mais agentes concorrem para a prática do
erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta mesmo crime ou contravenção.
de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto
a um terço. Requisitos
Parágrafo único - Considera-se evitável o erro se o
agente atua ou se omite sem a consciência da ilici- São requisitos do concurso de pessoas:
tude do fato, quando lhe era possível, nas circuns-
tâncias, ter ou atingir essa consciência. z Pluralidades de agentes;
z Conduta relevante;
O citado artigo traz apontamentos muito impor- z Vínculo subjetivo;
tantes. O primeiro é que o desconhecimento da lei é z Unidade de crime.
inescusável, isto quer dizer que ninguém pode usar
como forma de desculpa a justificativa que praticou o Pluralidade de Agentes
fato por desconhecer que a conduta era considerada
criminosa. O próprio nome, pluralidade de agentes, incida
242 que a conduta criminosa é praticada por duas ou mais
pessoas. Parece simples, mas devemos estar muito Conduta Relevante
familiarizados com esse assunto quando tratamos de:
Neste requisito identifica-se que há pelo menos
z Crimes unissubjetivos; duas condutas penalmente relevantes.
z Crimes plurissubjetivos; O que devemos gravar na memória é que a contri-
z Crimes eventualmente plurissubjetivos. buição do partícipe deve ter influência sobre o resul-
tado, caso contrário, a participação é inócua.
Nos crimes unissubjetivos, o delito pode ser pra- Vamos ao exemplo:
ticado por um agente ou por dois ou mais agentes, o Conduta relevante: “A” se compromete a auxiliar
que chamamos de concurso eventual. “B” a fugir após o homicídio, concurso de pessoas no
Aqui, quando praticado em concurso (dois ou mais delito de homicídio, art. 121 do CP.
agentes) é necessária a adequação típica mediata. Conduta não relevante: “A” auxilia “B” a fugir após
É importante lembrar que adequação típica ime- o homicídio sem a comprometimento prévio, “A” pra-
diata ou indireta é quando para completar a tipici- tica favorecimento pessoal, art. 348 do CP e “B” pratica
dade é necessário conjugar o crime (tipo penal) com homicídio, art. 121 do CP.
uma norma de extensão.
A tentativa, por exemplo, o agente tenta matar a Vínculo Subjetivo
vítima, o art. 121 do CP (homicídio) é complementado
pelo inciso II, art. 14, do CP (tentativa). Trata-se de nexo psicológico entre os agentes.
A participação, por exemplo, o agente mata a víti- Sem o nexo psicológico, haverá vários crimes autô-
ma a pedido de outrem, o art. 121 do CP (homicídio) é nomos e, portanto, não é concurso de pessoas.
conjugado com o art. 29 do CP (concurso de pessoa). Vejamos o exemplo:
Para configurar concurso de pessoas em crimes Paulo, em contato com Renata, afirma que preten-
unissubjetivos é necessário que todos os agentes de matar Ana, às 20h em determinado local. Laura,
sejam culpáveis. Se um agente não for culpável, não inimiga de Ana, escuta a conversa e comparece ao
haverá concurso de pessoas, e sim autoria mediata. local na hora indicada. Paulo ataca Ana, que conse-
Portanto, não será concurso de pessoas, por exemplo, gue se soltar e sai correndo. Laura, que estava atrás da
se o agente (imputável) encomenda a morte da vítima a árvore, derruba Ana e facilita a ação de Paulo. Ainda
um menor de 18 anos (inimputável). Será caso de auto- que Paulo e Laura não tenham acordado, Laura res-
ria mediata pelo fato de o agente imputável utilizar o ponderá como partícipe do homicídio porque aderiu
inimputável como instrumento para a prática do delito. conscientemente à conduta de Paulo (Correia, 2018).
Sendo assim, lembre-se que no Concurso de pes-
soas em crimes unissubjetivos é necessário: Unidade de Crime
z Homicídio Doloso:
Além dessas condições gerais, algumas espécies de
Ação Penal exigem condições específicas, como a ação Homicídio simples (caput do art. 121, do CP);
248 pública condicionada, que pressupõe a existência de Homicídio privilegiado (§ 1º, art. 121, do CP);
Homicídio qualificado (§ 2º, art. 121, do CP). O homicídio privilegiado está previsto no § 1º, art.
121, e se configura em uma das seguintes situações:
z Homicídio culposo (§ 3º, art. 121, do CP).
Relevante valor social: possível e compreensí-
Veremos a seguir cada um deles. vel para a sociedade.
Ex.: indivíduo acaba com a vida de malfeitor
z Homicídio Simples em prol da sociedade;
Relevante valor moral: referente ao valor
moral individual. Temos como exemplos ações
O homicídio simples está previsto no caput do art.
movidas por compaixão, beneficiação, amparo.
121: Ex.: eutanásia;
Sob o domínio de violenta emoção, logo
Art. 121 Matar alguém: em seguida à injusta provocação da vítima:
Pena - reclusão, de seis a vinte anos. como o próprio nome diz, a ação tem que ter
acontecido logo após o ato, e o agente estando
Tanto o sujeito ativo quanto o sujeito passivo do sob condições de grandes emoções.
homicídio simples podem ser qualquer pessoa. A con- Ex.: O marido chega em casa e pega sua com-
duta é praticada mediante dolo (vontade consciente panheira em flagrante com outro indivíduo;
do sujeito). O crime se consumará quando ocorrer a dominado pela raiva, sem pensar, e sem con-
efetiva morte da vítima. Admite-se a forma tentada. trole, acaba matando o indivíduo.
Ele é bastante difícil de ser configurado, já que difi-
cilmente ocorre este crime sem que alguma qualifica- Quando reconhecido o privilégio, no crime de
dora (que veremos a seguir) seja aplicada. Podemos homicídio, quais as consequências? O juiz pode redu-
entender, então, que o homicídio simples é residual. zir a pena do agente de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço).
Será simples o homicídio quando ele não for
qualificado.
Sobre o homicídio simples, a informação mais Importante!
importante é que, em regra, ele não é crime hedion-
Atente-se ao patamar de redução da pena.
do; entretanto, se for praticado em atividade típica de
grupo de extermínio, ainda que cometido por um só
agente, será crime hediondo. Sobre o homicídio privilegiado, algumas conside-
O homicídio simples só será crime hediondo quando rações são muito importantes para a sua prova:
praticado em atividade típica de grupo de extermínio,
ainda que cometido por um só agente, conforme a pri- Não é considerado crime hediondo;
meira parte do inciso I, art. 1º, da Lei nº 8.072, de 1990. Não se comunica para coautores ou partícipes.
Art. 1º São considerados hediondos os seguintes Exemplo: o crime de homicídio é cometido por
crimes, todos tipificados no Decreto-Lei no 2.848, dois agentes (Vicente e Gabriel). Gabriel o pratica
de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, consuma-
sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida
dos ou tentados:
à injusta provocação da vítima; Vicente, não. Nesta
I - homicídio (art. 121), quando praticado em ati-
hipótese, Gabriel responderá por homicídio privile-
vidade típica de grupo de extermínio, ainda que
cometido por um só agente, e homicídio qualificado giado e Vicente, por homicídio.
(art. 121, § 2º, incisos I, II, III, IV, V, VI, VII e VIII);
[...] z Homicídio Qualificado
Atenção: a segunda parte do inciso I, art. 1º, da Lei nº No homicídio qualificado, o agente estará subme-
8.072, de 1990, com redação dada por meio da Lei nº 13.964, tido a uma pena maior, mais grave. As qualificado-
de 2019, trata de hipóteses de homicídio qualificado. ras são fatores que tornam a conduta praticada pelo
agente, de alguma forma, mais reprovável por parte
z Homicídio Privilegiado da sociedade. A pena do homicídio qualificado está
prevista entre 12 (doze) e 30 (trinta) anos.
Art. 121 [...] O Código Penal, no § 2º, art. 121, estabelece as
§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo seguintes qualificadoras:
de relevante valor social ou moral, ou sob o domí-
nio de violenta emoção, logo em seguida a injusta Art. 121 [...]
provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de § 2º [...]
NOÇÕES DE DIREITO
nada aos meios empregados pelo agente para penal, podendo o juiz deixar de aplicar a pena.
executar o crime. O instituto do perdão judicial se aplica apenas aos
Segundo a doutrina majoritária, o homicídio casos de homicídio culposo.
privilegiado-qualificado não será considerado Falaremos agora das causas de aumento de pena
hediondo, porque o privilégio afasta a hediondez. aplicadas ao homicídio.
Art. 127 As penas cominadas nos dois artigos ante- Aborto Sentimental ou Humanitário ou Ético
riores são aumentadas de um terço, se, em conse-
qüência do aborto ou dos meios empregados para Aborto sentimental é aquele praticado para inter-
provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natu- romper a gravidez resultante do estupro.
reza grave; e são duplicadas, se, por qualquer des- Os requisitos necessários para a exclusão da ilici-
sas causas, lhe sobrevém a morte. tude do aborto humanitário são:
A lesão corporal grave irá se configurar se resultar: A lesão corporal seguida de morte dar-se-á quando
ficar configurado que o agente não queria o resultado
z Incapacidade para as ocupações habituais, por morte (dolo direto no resultado morte) ou assumiu o
mais de 30 (trinta) dias; risco de produzi-lo (dolo eventual no resultado morte).
Se o agente quer matar, ele responderá pelo
É necessário que a incapacidade dure mais de homicídio. Porém, caso o agente queira apenas cau-
30 (trinta) dias, ou seja, a partir do 31º dia, caso sar lesões corporais, mas, por algum motivo, acabe
contrário, a lesão corporal não será grave. se excedendo, provocando a morte da vítima, ele irá
A incapacidade está relacionada a qualquer ocu- responder por lesão corporal seguida de morte, desde
pação habitual, como estudo, treinos, rotinas domésti- que fique evidenciado que ele não quis nem assumiu
cas, e não somente ao trabalho: o risco de produzir o resultado morte.
O crime de lesão corporal seguida de morte é um
z Perigo de vida; crime preterdoloso, ou seja, é um crime qualificado
z Debilidade permanente de membro, sentido ou pelo resultado, em que temos dolo na conduta inicial
função; e culpa no resultado produzido.
z Aceleração do parto.
Lesão Corporal Culposa
Lesão Corporal Gravíssima
Art. 129 [...]
Art. 129 [...] § 6º Se a lesão é culposa:
§ 2º Se resulta: Pena - detenção, de dois meses a um ano.
I - Incapacidade permanente para o trabalho;
II - enfermidade incurável; A lesão corporal culposa é aquela que o agente não
III perda ou inutilização do membro, sentido ou quer causar lesão corporal na vítima, mas a produz
função; por ter sido imprudente, negligente ou imperito.
IV - deformidade permanente; É importante compreender que não há gradações
V - aborto: na lesão corporal culposa, ou seja, ela não se divide
Pena - reclusão, de dois a oito anos. em leve, grave ou gravíssima, mas tão somente será
lesão corporal culposa.
A lesão corporal gravíssima irá se configurar se No caso de lesão corporal culposa, é aplicável o
resultar: instituto do perdão judicial, podendo o juiz deixar de
aplicar a pena se as consequências da infração penal
atingirem o agente de forma que a aplicação de san-
z Incapacidade permanente para o trabalho;
ção penal torne-se desnecessária.
z Enfermidade incurável; Aplica-se o perdão judicial ao crime de lesão cor-
z Perda ou inutilização do membro, sentido ou poral culposa.
função;
z Deformidade permanente; Lesão Corporal Privilegiada
z Aborto.
Os motivos que levam o agente a praticar a lesão
corporal privilegiada são os mesmos do homicídio
256 privilegiado.
Art. 129 [...] z For hipótese de lesão corporal grave, gravíssima
§ 4º Se o agente comete o crime impelido por motivo ou seguida de morte, praticada em quaisquer dos
de relevante valor social ou moral ou sob o domínio casos de violência doméstica vistos;
de violenta emoção, logo em seguida a injusta pro- z Se a vítima, enquadrada em um dos casos de vio-
vocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um lência doméstica vistos, for pessoa portadora de
sexto a um terço. deficiência.
Se o agente comete o crime impelido por motivo A pena será aumentada de 1/3 (um terço) até a
de relevante valor social ou moral ou sob o domínio metade:
de violenta emoção, logo em seguida à injusta provo-
cação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de 1/6 (um z Se a lesão corporal for praticada por milícia priva-
sexto) a 1/3 (um terço). da, sob o pretexto de prestação de serviço de segu-
É aplicável o instituto da substituição de pena nos rança, ou por grupo de extermínio.
casos de lesão corporal.
Não sendo graves as lesões, nos casos de lesão pri- A pena será aumentada de 1/3 (um terço) a 2/3
vilegiada ou nos casos de lesão recíproca (duas pes- (dois terços):
soas lesionam-se umas às outras), o juiz poderá ainda
substituir a pena de detenção pela de multa. z Se a lesão for praticada contra autoridade ou agen-
te das forças armadas (Marinha, Exército ou Aero-
Art. 129 [...] náutica), das forças de segurança pública (Polícia
§ 9º Se a lesão for praticada contra ascendente, des- Federal, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Fer-
cendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com roviária Federal, Policiais Civis, Polícias Militares
quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, pre- ou Corpo de Bombeiros Militares), integrantes do
valecendo-se o agente das relações domésticas, de sistema prisional (agentes penitenciários) e da For-
coabitação ou de hospitalidade: ça Nacional de Segurança Pública, no exercício da
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. função ou em razão dela, ou contra seu cônjuge,
companheiro ou parente consanguíneo até o ter-
O Código Penal traz disposições específicas para os ceiro grau, em razão dessa condição.
casos de lesão corporal praticada no âmbito de violên-
cia doméstica. Neste caso, a pena do agente será mais PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
grave, estando ele submetido a auto de prisão em fla-
grante e não somente a mero termo circunstanciado A periclitação da vida e da saúde é considerada
(salvo nos casos de lesão grave, gravíssima ou seguida como crimes de perigo, sendo criada, pelo autor do
de morte). fato, uma situação de perigo a que é exposta a vítima.
Considera-se lesão corporal no âmbito de violência Crimes de perigo são aqueles que não exigem a
doméstica se praticada contra as seguintes pessoas ou efetiva ocorrência de dano, apesar de poder aconte-
nos seguintes casos: cer, para que se configurem.
Os crimes de perigo são divididos em:
z Ascendente;
z Descendente; z Crimes de perigo concreto: é exigida uma com-
z Cônjuge ou companheiro; provação de que realmente aconteceu um risco
z Quem conviva ou tenha convivido. de perigo ou lesão ao bem jurídico protegido pela
norma penal;
É importante mencionar que, caso a vítima seja z Crimes de perigo abstrato: Não se exige nenhu-
mulher, teremos a aplicação da Lei Maria da Penha ma comprovação, já que o perigo é presumido. Ex.:
e, mesmo que seja caso de lesão corporal leve, a ação Um indíviduo dirigir após ter ingerido álcool.
penal será pública incondicionada.
Agora, veremos as hipóteses majoradas do crime Analisaremos os seguintes crimes: perigo de con-
de lesões corporais. Há diversas causas de aumento de tágeo venéreo; perigo de contágio de moléstia grave;
pena para este crime, portanto, leia-as com bastante abandono de incapaz; exposição ou abandono de
atenção. recém-nascido e omissão de socorro.
Nos casos de lesão corporal culposa:
A pena será aumentada de 1/3 (um terço) se: Perigo de Contágio Venéreo
z O crime resulta de inobservância de regra técnica Art. 130 Expor alguém, por meio de relações
NOÇÕES DE DIREITO
O crime é próprio, pois somente poderá ser prati- Art. 137 Participar de rixa, salvo para separar os
cado por representantes ou funcionários hospitalares contendores:
(sócios, administradores, atendentes, seguranças) ou Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou
profissionais da área da saúde (médicos, enfermeiros) multa.
incumbidos do atendimento emergencial. Parágrafo único. Se ocorre morte ou lesão corporal
O sujeito ativo deve ser a pessoa com poderes para de natureza grave, aplica-se, pelo fato da partici-
exigir cheque-caução, nota promissória ou qualquer pação na rixa, a pena de detenção, de seis meses a
garantia, bem como o preenchimento prévio de for- dois anos.
mulários administrativos, como condição para o aten-
dimento médico-hospitalar emergencial. O crime irá ocorrer quando o agente participar de
Para esse crime, a pena cominada é detenção, de rixa, salvo para separar os contendores.
três meses a um ano, e multa. Estamos diante de crime de concurso necessário,
A pena é aumentada até: que só irá existir caso presentes no mínimo 3 (três)
pessoas, umas contra as outras. Caso seja possível
z O dobro, se da negativa de atendimento resulta definir dois grupos específicos (grupo A x grupo B),
lesão corporal de natureza grave; este tipo penal não irá existir.
z O triplo, se resulta a morte. Para que a rixa se configure, exige-se que haja no
mínimo três grupos distintos (independentemente da
Maus-tratos quantidade de pessoas que integre cada grupo) agre-
dindo-se mutuamente.
Art. 136 Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa No caso de ocorrer uma briga entre a torcida do
sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para fim Corinthians e a torcida do Palmeiras, não há que se
de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer falar no crime de rixa, já que temos 2 (dois) grupos
privando-a de alimentação ou cuidados indispen- bem definidos.
sáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou Aquele que participa da rixa, apenas com a finali-
inadequado, quer abusando de meios de correção dade de separar os contendores, não irá responder
ou disciplina: por este tipo penal.
Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa. O crime de rixa não admite a forma culposa.
§ 1º Se do fato resulta lesão corporal de natureza
Sobre este crime, é importante que você fique
grave:
atento aos posicionamentos da doutrina dominante:
Pena - reclusão, de um a quatro anos.
§ 2º Se resulta a morte:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos. z Não admite tentativa;
§ 3º Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é z Consuma-se quando se inicia a rixa ou, caso já ini-
praticado contra pessoa menor de 14 (catorze) ciada, quando o agente entra na rixa;
anos. z Pode ser praticado à distância, não se exigindo
que necessariamente ocorra contato físico. Ex.:
O crime de maus-tratos consuma-se com a efetiva Rixa em que os agentes jogam pedras, garrafas ou
exposição da vítima a perigo, que deverá ser demons- mesas uns nos outros.
trada no caso concreto. Não há, portanto, necessidade
260 de resultado material, com dano efetivo à vítima.
A rixa será qualificada quando ocorrer, devido O crime de calúnia não admite a modalidade cul-
à rixa, lesão corporal de natureza grave ou a morte. posa e, segundo doutrina majoritária, pode ser prati-
Segundo a doutrina majoritária, salvo no caso de ser cado, além do dolo direto, por dolo eventual.
possível se identificar corretamente o autor da lesão Não é exigido que o crime seja praticado na modali-
grave ou da morte, todos os agentes que participaram dade verbal, podendo ser praticado por outros meios,
da rixa irão responder pela modalidade qualificada, como, por exemplo, na modalidade escrita.
exceto, também, se tiverem ingressado na rixa após a Em regra, a calúnia é crime unissubsistente, que
ocorrência da lesão grave ou da morte. se perfaz com a prática de um único ato, não sendo
possível o fracionamento do seu iter criminis; entre-
CRIMES CONTRA A HONRA tanto, caberá tentativa quando for possível promover
este fracionamento, a exemplo de calúnia praticada
Os crimes contra a honra estão entre aqueles que por meio de uma carta.
mais são cobrados em provas de concurso público, Em se tratando de intenção de brincar (animus
então vamos aprendê-los passo a passo. ludendi) por parte do agente, não há que se falar no
Eles estão previstos entre os arts. 138 e 145 do Códi- crime de calúnia.
go Penal e dividem-se em 3 (três) crimes diferentes:
Art. 138 [...]
z Calúnia; § 1º Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a
z Difamação; imputação, a propala ou divulga.
z Injúria. § 2º É punível a calúnia contra os mortos.
Antes de analisarmos cada um dos tipos penais, é Pune-se a calúnia praticada contra os mortos (nes-
importante compreender que se protege a honra da te caso, o sujeito passivo será família do morto):
pessoa, na sua modalidade objetiva e subjetiva.
A honra é classificada em: z Segundo parte da doutrina, é possível que a calú-
nia seja praticada contra pessoa jurídica, se o
fato falsamente imputado for referente a crime
HONRA OBJETIVA (HONRA EXTERNA)
ambiental;
Conceito que o indivíduo possui perante seus pares em z Equipara-se à calúnia, incorrendo nas mesmas
relação aos seus atributos morais, éticos, físicos e in- penas, a conduta daquele que, sabendo falsa a
telectuais. Refere-se ao apreço e respeito da pessoa no imputação, a propala (espalha) ou divulga.
grupo social. É a reputação social da pessoa
O crime de calúnia consuma-se quando o fato che-
HONRA SUBJETIVA (HONRA INTERNA)
ga ao conhecimento de um terceiro, distinto do autor
Conceito que o indivíduo possui de sua própria digni- e da vítima, já que o crime tutela a honra objetiva.
dade e decoro; trata-se do autoconceito dos atributos A calúnia admite, como regra, a exceção da verda-
morais, éticos, físicos e intelectuais. Refere-se ao nos- de, que nada mais se trata de prova da verdade, que é
so amor-próprio e autoestima a possibilidade que tem o agente de demonstrar que
o fato que ele imputou realmente aconteceu. Porém,
HONRA ESPECIAL OU PROFISSIONAL
em algumas hipóteses não será admitida a exceção da
Referente a determinado grupo social ou profissional verdade.
vista no art. 138 do Código Penal e se configura quando No entanto, nos casos de crime imputado, embora
o agente caluniar alguém, imputando-lhe falsamente de ação pública, em que o ofendido tenha sido absol-
fato definido como crime. vido por sentença irrecorrível, há uma presunção de
Exige-se que o fato imputado falsamente seja defi- que a imputação é falsa, respondendo o agente por
nido com um crime, não podendo ser uma mera con- ela.
travenção penal. O crime pode ter acontecido ou não, Mas se o réu conseguir provar que o fato que impu-
para fins de consumação deste tipo penal. tou à vítima é verdadeiro, ele será absolvido.
Ex.: Joãozinho diz que Pedrinho praticou um rou- É importante destacar que a calúnia é crime for-
bo à padaria da esquina de onde moram, sabendo mal, que se consuma com a prática da conduta, inde-
ser isso falso. Pronto, Joãozinho praticou o crime de pendentemente de o agente conseguir macular a
calúnia. honra objetiva da vítima. 261
Observe que o objeto jurídico protegido é a honra objetiva. Trata-se de crime formal e irá se configurar
objetiva, que consiste na reputação que a pessoa pos- ainda que a conduta não desonre objetivamente a
sui na sociedade. vítima.
Não há difamação praticada na modalidade cul-
posa. É possível a tentativa da difamação, quando for
Importante! possível fracionar o iter criminis, a exemplo da difa-
mação cometida por meio de carta.
Os crimes contra a honra dos Chefes dos Três A pessoa jurídica pode ser sujeito passivo do crime
Poderes, com exceção da injúria (Presidente da de difamação.
República, Presidente do Senado Federal, Presi- Na difamação, a exceção da verdade não pode ser
dente da Câmara dos Deputados e Presidente do aplicada, salvo se o ofendido é funcionário público e a
Supremo Tribunal Federal), em caso de motiva- ofensa é relativa ao exercício da função.
ção política, configurarão delito contra a Segu-
rança Nacional. � Exceção da Verdade
A injúria real configura-se quando a injúria consis- Atenção ao que dispõe o inciso IV, art. 141, pois a
te em violência ou vias de fato, que, por sua natureza pena não irá aumentar de 1/3 no caso de injúria pra-
ou pelo meio empregado, se considerem aviltantes. ticada contra pessoa maior de 60 anos ou portadora
Assim, caso o agente desfira um tapa no rosto da víti- de deficiência.
ma, com a intenção de ofendê-la (humilhá-la), irá pra- A pena será aplicada em dobro se o crime contra a
ticar uma injúria real. honra for praticado:
Você deve levar para sua prova os elementos que Para encerrarmos o assunto referente aos crimes
podem caracterizar a injuria racial, já que esse assun- contra a honra, iremos tratar da retratação e da ação
to tem grande incidência em provas. Sendo assim, penal. Segundo o Código Penal, a retratação, quando
caso o agente ofenda a vítima, fazendo uso de um dos admitida, constitui excludente de punibilidade.
elementos mencionados, a exemplo do agente que
chama a vítima de macaco (utilize como exemplo o Art. 143 O querelado que, antes da sentença, se
caso do ex-goleiro do Santos Futebol Clube, o Aranha, retrata cabalmente da calúnia ou da difamação,
que foi chamado de macaco), irá cometer o crime de fica isento de pena.
injúria racial. Parágrafo único. Nos casos em que o querelado
Fique atento para não confundir a injúria racial tenha praticado a calúnia ou a difamação utilizan-
com o crime de racismo. do-se de meios de comunicação, a retratação dar-
Na injúria racial, o animus do agente é ofender; -se-á, se assim desejar o ofendido, pelos mesmos
no racismo, o animus é segregar. meios em que se praticou a ofensa.
O STJ entendeu, na análise do AREsp (agravo em recur-
so especial), que a injúria racial é crime imprescritível. Retratação refere-se à possibilidade que tem o
Nos termos do § 2º, art. 138, do CP, é punível a calú- agente de retirar aquilo que disse, ou seja, de mani-
nia contra os mortos. festar que se equivocou em suas declarações, mani-
Observe-se que não há a mesma previsão para festando-se contrariamente ao que disse inicialmente.
difamação e injúria. A injúria não admite retratação. O querelado que,
Nos casos de difamação e injúria, o sujeito passivo antes da sentença (segundo doutrina majoritária: sen-
não é o morto, mas familiar seu. tença de 1º grau), retrata-se cabalmente da calúnia ou
da difamação, fica isento de pena.
Disposições Comuns Caso o querelado tenha praticado a calúnia ou
difamação fazendo uso de meios de comunicação, a
retratação se dará, caso assim deseje o ofendido, pelos
Vejamos as causas de aumento de pena aplicáveis
mesmos meios em que se praticou a ofensa.
aos crimes contra a honra em geral (calúnia, difama-
Suponha que o agente tenha praticado o crime
ção e injúria).
NOÇÕES DE DIREITO
Súmula 714 do STF É concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa e do Ministério Público, condicio-
nada à representação do ofendido, para a ação penal por crime contra a honra de servidor público em razão do
exercício de suas funções.
Logo, atente-se a esta informação: nos casos de crimes contra a honra de funcionário público em razão de suas
funções, a ação penal será privada ou condicionada à representação do ofendido. A doutrina dominante também
entende desta forma.
A ação será pública condicionada à requisição do Ministro da Justiça caso a conduta que configura crime con-
tra a honra seja praticada contra o Presidente da República, ou contra chefe de governo estrangeiro.
O caput do art. 5º, da Constituição Federal, assegura a todos o direito à liberdade. A partir dessa afirmação,
extrai-se que qualquer espécie de violação à liberdade do ser humano reclama punição.
O objeto jurídico é a liberdade do ser humano para agir dentro dos limites legais.
Já o objeto material é a pessoa sobre a qual recai a conduta criminosa.
Estudaremos, então, os crimes contra a liberdade individual.
Constrangimento Ilegal
Trata-se de crime comum que não admite a modalidade culposa. É a imposição ilegal à vítima de um compor-
tamento certo e determinado, comissivo ou omissivo.
Consuma-se o crime de constrangimento ilegal no instante em que a vítima faz ou deixa de fazer algo, em
decorrência da violência ou grave ameaça utilizada pelo agente. Admite tentativa.
Ação penal: pública incondicionada.
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, pois, trata-se de crime comum.
Se o sujeito ativo for funcionário público, e o fato for cometido no exercício de suas funções, responderá por
abuso de autoridade, na forma na Lei 13.869, de 2019.
O sujeito passivo pode ser qualquer pessoa, desde que dotada de capacidade de autodeterminação.
A Lei nº 10.741, de 2003, Estatuto do Idoso, em seu art. 107, pune com reclusão, de 2 a 5 anos, aquele que coage,
de qualquer modo, o idoso a doar, contratar, testar ou outorgar procuração.
A Lei nº 7.170, de 1983, Crimes contra a Segurança Nacional, no art. 28, sujeita à pena de reclusão, de 4 a 12 anos, a
conduta de atentar contra a liberdade pessoal do Presidente da República, do Senado Federal, da Câmara dos Deputa-
dos ou do Supremo Tribunal Federal.
A Lei nº 8.078, de 1990, Código de Defesa do Consumidor, no art. 71, prevê a pena de detenção, de 3 a 1 ano, e
multa, para quem utilizar, na cobrança de dívidas, de ameaça, coação, constrangimento físico ou moral, afirma-
ções falsas, incorretas ou enganosas, ou de qualquer outro procedimento que exponha o consumidor, injustifica-
damente, a ridículo ou interfira com seu trabalho, descanso ou lazer.
Irá se configurar como constrangimento ilegal quando o agente constranger alguém, mediante violência ou
grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer
o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda.
Exemplo: Jorge e Luís são vizinhos. Jorge é um valentão que se sente dono do bairro. Certo dia, Luís passava
pela rua, quando Jorge o aborda. Este, portando uma arma de fogo, saca a arma e a aponta para Luís e diz que, sob
pena de levar um tiro na cara, é para este dar meia volta e passar por outro lugar, já que não o quer mais passando
por sua rua. Luís, temendo por sua vida, dá meia volta e retorna.
A conduta de Jorge enquadra-se no constrangimento ilegal. Ele, fazendo uso de grave ameaça, constrangeu
Luís para que ele deixasse de fazer algo que a lei lhe permite (liberdade de locomoção).
A doutrina entende corretamente que o crime de constrangimento ilegal é subsidiário; o agente por ele irá res-
ponder, caso não seja enquadrado em uma outra conduta um tanto mais grave. Assim, caso o agente constranja
a vítima, por meio de violência, para que ela deixe de fazer alguma coisa, com o fim de obter para si vantagem
econômica, não irá cometer constrangimento ilegal, mas sim o crime de extorsão.
O constrangimento ilegal admite tentativa, já que é crime plurissubsistente, é crime comum, que pode ser
praticado por qualquer pessoa.
Além das penas previstas para o constrangimento ilegal, o agente irá responder pelas penas correspondentes à
violência; assim, caso o agente pratique o crime por meio de violência, provocando lesões corporais na vítima, res-
264 ponderá por constrangimento ilegal em concurso material com o crime de lesões corporais.
A pena será aplicada cumulativamente, nos termos Tício: se você não fizer pelo menos um gol na final do
do § 1º, art. 146, quando, para a execução do crime: campeonato, eu irei te matar.
O crime de ameaça se procede mediante ação
z Reúnem-se mais de 3 (três pessoas) — deve penal pública condicionada à representação.
haver no mínimo 4 (quatro) pessoas;
z Há emprego de arma — segundo a doutrina Perseguição
dominante, pode ser qualquer arma e não neces-
sariamente arma de fogo. Trata-se de um recente dispositivo, incluído pela
Lei nº 14.132, de 2021, que abrange o crime de perse-
Não serão enquadrados como constrangimento guição, conhecido por stalking.
ilegal: O crime pode ser praticado por qualquer meio, ou
Art. 146 [...] seja, é um crime de forma livre.
§ 3º Não se compreendem na disposição deste O sujeito, tanto passivo quanto ativo podem ser
artigo: qualquer pessoa. Trata-se de crime comum.
I - a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consen- O núcleo do tipo penal é o verbo “perseguir”, que
timento do paciente ou de seu representante legal, quer dizer: atormentar, importunar. É importante
se justificada por iminente perigo de vida; mencionar também a necessidade de reiteração da
II - a coação exercida para impedir suicídio. conduta, ou seja, uma sucessão de atos.
ele não irá cometer o crime de ameaça previsto no art. Art. 148 Privar alguém de sua liberdade, mediante
147, do CPB. seqüestro ou cárcere privado:
Trata-se de crime comum, que pode ser praticado Pena - reclusão, de um a três anos.
por qualquer pessoa. § 1º A pena é de reclusão, de dois a cinco anos:
I - se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge ou
Em regra, não cabe tentativa, já que se trata de cri-
companheiro do agente ou maior de 60 (sessenta)
me unissubsistente, que se consuma com a prática de
anos;
um único ato; porém, a doutrina majoritária admite II - se o crime é praticado mediante internação da
a tentativa se a ameaça for praticada na modalidade vítima em casa de saúde ou hospital;
escrita — por meio de uma carta, por exemplo. III - se a privação da liberdade dura mais de quinze
A doutrina admite a ameaça condicionada, que dias.
ocorrerá quando o agente colocar uma condição para IV - se o crime é praticado contra menor de 18
a prática do mal injusto e grave. Exemplo: Mévio diz a (dezoito) anos; 265
V - se o crime é praticado com fins libidinosos. A maior gravidade da conduta repousa no fato de
§ 2º Se resulta à vítima, em razão de maus-tratos ter sido o crime praticado no âmbito das relações fami-
ou da natureza da detenção, grave sofrimento físico liares, no seio da união estável, ou ainda contra pessoa
ou moral idosa, mais frágil em razão da avançada idade, e, con-
Pena - reclusão, de dois a oito anos. sequentemente, com menor possibilidade de defesa.
Antes de iniciarmos o estudo deste crime, é impor- z Se o crime é praticado mediante internação da víti-
tante entender a diferença entre o sequestro e o cár- ma em casa de saúde ou hospital:
cere privado.
No sequestro, ocorre restrição de liberdade da Crime conhecido como internação fraudulenta;
vítima, mas ela não fica necessariamente mantida em pode ser praticado por médico ou por qualquer outra
recinto fechado. Já no cárcere privado, necessaria- pessoa.
mente a vítima terá sua liberdade restringida, sendo
mantida em recinto fechado. z Se a privação da liberdade dura mais de 15 (quin-
Os crimes de sequestro e cárcere privado configu- ze) dias (inciso III):
ram-se quando o agente privar alguém de sua liberda-
de, mediante sequestro ou cárcere privado. Quanto mais longa a supressão da liberdade, maio-
Quando falamos em cárcere privado, estamos pen- res são as possibilidades de a vítima sofrer danos físi-
sando em confinamento, clausura; já quando falamos cos e psíquicos.
em sequestro, estamos considerando limites espaciais Trata-se de crime a prazo. O período legalmente exi-
mais amplos. gido deve ser computado em conformidade com a regra
Ambos consistem na privação da liberdade da víti- traçada pelo art. 10, do CP, compreendendo o intervalo
ma, sem o seu consentimento, por tempo juridicamen- entre a consumação do delito e a libertação do ofendido.
te relevante. Podem ser cometidos mediante detenção
ou retenção. z Se o crime é praticado contra menor de dezoito
A tentativa é possível, tanto no sequestro como no anos:
cárcere privado.
O objeto jurídico é a liberdade de locomoção, con- Aplica-se às hipóteses em que a vítima é criança
sistente no direito de ir, vir e permanecer, de toda e ou adolescente e, nesse último caso, impede a utiliza-
qualquer pessoa humana. ção da agravante genérica prevista na alínea “h”, do
Tão relevante é esse direito que a Constituição inciso II, art. 61, do CP. Não se confunde com o crime
Federal (CF), de 1988 prevê o habeas corpus como tipificado no art. 230, da Lei nº 8.069, de 1990, Estatu-
garantia para zelar pelo seu respeito sempre que to da Criança e do Adolescente, que apresenta crime
alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violên- menos rigoroso.
cia ou coação em sua liberdade de locomoção, por ile-
galidade ou abuso de poder. z Se o crime é praticado com fins libidinosos:
O objeto material é a pessoa humana que suporta
a conduta criminosa. Esse inciso foi acrescido pela Lei nº 11.106, de
Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo. Se, toda- 2005, para suprir a lacuna surgida em razão da revo-
via, tratar-se de funcionário público no exercício das gação do crime de rapto, que cuidava somente da pri-
suas funções, estará caracterizado o crime de abuso vação da liberdade de mulher honesta. Atualmente,
de autoridade. a qualificadora consiste na privação da liberdade de
Qualquer pessoa pode ser sujeito passivo. Se a víti- uma pessoa, homem ou mulher, com fins sexuais. Tra-
ma for ascendente, descendente, cônjuge, ou compa- ta-se de crime formal, de resultado cortado ou de con-
nheiro do agente, ou pessoa com idade superior a 60 sumação antecipada — consuma-se com a privação
(sessenta) anos ou inferior a 18 (dezoito) anos, incide da liberdade, desde que o sujeito deseje praticar atos
a figura qualificada (incisos I e IV, § 1º, art. 148, do CP). libidinosos com a vítima, pouco importando se alcan-
Se a vítima for o Presidente da República, do Senado ça ou não o fim almejado. Se envolver-se sexualmen-
Federal, da Câmara dos Deputados ou do Supremo te com a vítima, responderá, em concurso material,
Tribunal Federal, estará caracterizado crime contra pelo delito em apreço e pelo respectivo crime contra a
a Segurança Nacional (art. 28, da Lei 7.170, de 1983). liberdade sexual, tal como o estupro.
O elemento subjetivo é o dolo, sem qualquer fina- O § 2º qualifica o crime se resultar à vítima, em
lidade específica. Não se admite a modalidade culpo- razão de maus-tratos ou da natureza da detenção,
sa. Se o propósito do agente for obter, para si ou para grave sofrimento físico ou moral. Estamos diante de
outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço crime qualificado pelo resultado. Os maus-tratos con-
do resgate, o crime será de extorsão mediante seques- sistem na conduta agressiva do agente que ofende a
tro (art. 159, do CP). Se o delito for cometido com fins moral, o corpo ou a saúde da vítima, sem produzir
libidinosos, incidirá a figura qualificada definida pelo lesão corporal. Se ocorrer lesão corporal ou morte,
inciso V, § 1º, art. 158, do CP. haverá concurso material entre o sequestro ou cárce-
O consentimento da vítima, se válido, exclui o cri- re privado, na forma simples, e o crime de lesão cor-
me. Este crime apresenta formas que o qualificam, poral ou homicídio.
vejamos quais são elas: Por fim, saiba que este crime é comum, podendo ser
Será qualificado o crime de sequestro e cárcere praticado por qualquer pessoa, e permanente (muito
privado (incisos I ao V, § 1º, art. 158, do CP): importante que você fique atento à Súmula 711 do STF
— A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado
z Se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge ou ou ao crime permanente se a sua vigência é anterior à
266 companheiro do agente ou maior de 60 (sessenta) anos: cessação da continuidade ou da permanência).
Ex.: determinado agente pratica vários crimes em continuidade delitiva. Os primeiros atos são praticados sob
a égide de uma lei anterior menos grave. Os últimos atos são praticados sob a vigência de uma lei posterior mais
gravosa. Aplica-se ao crime continuado ou crime permanente a sob cuja égide tenha cessado a continuidade, isto
é, a última lei, mesmo que seja mais grave.
Art. 149 Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada
exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua loco-
moção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto:
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena correspondente à violência.
Observe o exemplo: Silvio, fazendeiro conhecido no interior de Goiás, coloca como jornada de trabalho para os
funcionários de sua fazenda a carga horária de 15 (quinze) horas diárias, pagando a eles um valor muito pequeno
como contraprestação. Silvio se recusa a fornecer transporte para os trabalhadores irem embora, já que, segundo
ele, eles o devem valores referentes à moradia fornecida pela fazenda, não dispondo eles de outra maneira de ir
para casa senão pelo transporte da fazenda. Silvio está cometendo o tipo penal que estamos estudando.
O crime de redução à condição análoga à de escravo não admite a modalidade culposa, podendo ser praticado
apenas dolosamente. É também crime permanente, portanto, sua conduta se prolonga no tempo.
Vejamos as causas de aumento de pena:
Irá praticar o crime de tráfico de pessoas o agente que agenciar, aliciar, recrutar, transportar, transferir, com-
prar, alojar ou acolher pessoa, mediante grave ameaça, violência, coação, fraude ou abuso, com a finalidade de
remover-lhe órgãos, tecidos ou partes do corpo; submetê-la a trabalhos em condições análogas à de escravo; subme-
tê-la a qualquer tipo de servidão; adoção ilegal ou exploração sexual (incisos I ao V, art. 149-A, do CP).
O tipo penal de tráfico de pessoas é misto alternativo, podendo ser praticado mediante a execução de qualquer
um dos seus 8 (oito) verbos.
Importante levar em consideração que, para compreender este tipo penal, é importante conhecer os verbos, os
meios empregados para a prática do crime e as finalidades. Acompanhe a tabela a seguir:
Coação
Transferir Submeter a qualquer tipo de servidão
Fraude
Comprar Adotar ilegalmente
Abuso
Alojar Explorar sexualmente
Acolher
Vamos exemplificar:
O agente, aqui no Brasil, realiza recrutamento de mulheres, por meio de fraude, faz propaganda de que o obje-
tivo é selecionar modelos para uma determinada marca de produtos de beleza e que o trabalho será na Europa.
Porém, as vítimas recrutas seguem para a Europa e são submetidas à exploração sexual.
Veja que esse crime é comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. Não se exige, também, nenhuma
condição especial do sujeito passivo do crime. 267
Quando há algumas circunstâncias específicas do Importante!
agente ou da vítima e essas condições se encaixam Casa desabitada não se confunde com casa na
nas hipóteses da lei, a pena do crime de tráfico de pes- ausência de seus moradores, pois, nesse caso,
soas será aumentada de 1/3 (um terço) até a metade. é possível o crime de violação de domicílio, uma
Vejamos: vez que subsiste a proteção da tranquilidade
doméstica.
Art. 149-A [...]
§ 1° A pena é aumentada de um terço até a metade
se: Quanto ao objetivo material, é o domicílio invadi-
I - o crime for cometido por funcionário públi- do, que suporta a entrada ou permanência de alguém,
co no exercício de suas funções ou a pretexto de clandestina ou astuciosamente, ou contra a vontade
exercê-las; expressa ou tácita de quem de direito.
II - o crime for cometido contra criança, adolescen- Verifica-se que é necessário que a conduta seja
te ou pessoa idosa ou com deficiência; praticada clandestina ou astuciosamente, ou contra
III - o agente se prevalecer de relações de paren- a vontade expressa ou tácita de quem de direito. Se
tesco, domésticas, de coabitação, de hospitalidade, presente o consentimento do morador, explícito ou
de dependência econômica, de autoridade ou de
implícito, o fato é atípico.
superioridade hierárquica inerente ao exercício de
Entrar ou permanecer clandestinamente em casa
emprego, cargo ou função; ou
alheia ou em suas dependências significa fazê-lo de
IV - a vítima do tráfico de pessoas for retirada do
forma oculta, sem se deixar notar pela vítima. Por sua
território nacional.
vez, entrar ou permanecer astuciosamente consiste
em conduta fraudulenta, maliciosa.
Por fim, para encerrarmos o estudo dos crimes
Entrar ou permanecer em casa alheia ou em suas
contra a liberdade pessoal, é importante mencionar
dependências contra a vontade expressa ou tácita de
que o crime de tráfico de pessoas apresenta causa de
quem de direito enseja a entrada ou permanência
diminuição de pena, desde que o agente preencha os francas. Nesses casos, o dissentimento de quem de
2 (dois) requisitos, que são cumulativos. direito pode ser expresso ou tácito.
A pena é reduzida de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois ter- Sobre o sujeito ativo, o crime é comum, poden-
ços) se o agente: do ser praticado por qualquer pessoa, inclusive pelo
proprietário do bem, quando entra ou permanece na
z For primário; residência ocupada pelo inquilino contra sua vontade
z Não integrar organização criminosa. expressa ou tácita.
O Código Penal não protege a propriedade nem a
CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DO posse indireta do locador.
DOMICÍLIO O locatário, possuidor direto do imóvel, não é ofen-
dido em sua posse, e sim em sua tranquilidade domés-
Violação de Domicílio tica. A serviçal que permite o ingresso do amante em
seu quarto pratica o crime em concurso com ele.
Art. 150 Entrar ou permanecer, clandestina ou O divorciado pode cometer o crime ao entrar ou
astuciosamente, ou contra a vontade expressa ou permanecer na residência do seu ex-cônjuge contra
tácita de quem de direito, em casa alheia ou em sua vontade.
suas dependências: Não há crime quando uma mulher, na ausência
Pena - detenção, de um a três meses, ou multa. do seu marido, permite a entrada do amante em sua
§ 1º Se o crime é cometido durante a noite, ou em residência.
lugar ermo, ou com o emprego de violência ou de Vejamos, o sujeito passivo é o titular do direito à
arma, ou por duas ou mais pessoas: tranquilidade doméstica.
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, além da É o “quem de direito”, o sujeito que tem o poder de
pena correspondente à violência. admitir ou excluir alguém da sua casa, pouco impor-
tando seja ou não seu proprietário.
O agente que entrar ou permanecer, clandestina Pode ser:
ou astuciosamente, ou contra vontade expressa ou
tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas z Uma pessoa a quem os demais habitantes da casa
dependências, irá cometer o crime de violação de estão subordinados (regime de subordinação);
domicílio. z Diversas pessoas, habitantes da mesma residência,
O crime de violação de domicílio é crime de mera em relação isonômica (regime de igualdade).
conduta, já que a lei descreve a conduta, mas não
descreve resultado naturalístico; é, também, crime O elemento subjetivo desse crime é o dolo, abran-
comum, que pode ser praticado por qualquer pessoa. gente do elemento normativo “contra a vontade ex-
Tutela-se, nesse crime, a tranquilidade doméstica, pressa ou tácita de quem de direito”.
abrangente da intimidade, da segurança e da vida pri- O crime é incompatível com o dolo eventual.
vada proporcionadas pelo domicílio. Há atipicidade, por ausência de dolo, nas condutas
A incriminação da violação de domicílio não pro- de entrar em casa alheia para esconder-se da polícia
tege a posse ou a propriedade. ou quando o sujeito supõe ingressar em local diverso
Não configura o delito em análise o ingresso em do proibido (erro de tipo). Não se admite a modalida-
casa abandonada ou desabitada, podendo restar de culposa.
caracterizado o crime de esbulho possessório, pre- Crime de mera conduta ou de simples atividade.
visto no inciso II, § 1º, art. 161, do CP (crime contra o Consuma-se quando o sujeito ingressa completamen-
268 patrimônio). te na casa da vítima, ou então quando, ciente de que deve
sair do local, não o faz por tempo juridicamente relevan- O caput do art. 151, do CP, foi revogado pelo caput
te. É imprescindível a entrada concreta em casa alheia. do art. 40, da Lei 6.538, de 1978, que regula os serviços
Cabe tentativa? É possível na conduta “entrar” postais:
(crime comissivo), e incabível no núcleo “permane-
cer” (crime omissivo próprio ou puro). Art. 40 Devassar indevidamente o conteúdo de cor-
Este crime apresenta forma qualificada: respondência fechada dirigida a outrem:
Pena - detenção, até seis meses, ou pagamento não
z Durante a noite; excedente a vinte dias-multa.
z Em lugar ermo;
z Com o emprego de violência ou de arma; A lei penal, por objeto jurídico, tutela a liberdade
z Por 2 (duas) ou mais pessoas. de comunicação do pensamento, concretizada pelo
sigilo da correspondência.
Os patamares mínimo e máximo da pena do crime É a correspondência, objeto material, por exemplo
serão alterados (de 1 a 3 meses para 6 meses a 2 anos) carta, bilhete, telegrama etc., violada pela conduta
se praticado em uma das hipóteses previstas. criminosa.
Observe o que o Código Penal diz sobre a expres- A correspondência pode ser particular ou oficial,
são “casa”: pouco importando que esteja ou não redigida em
português. Exige-se, porém, que se trate de idioma
Art. 150 [...] conhecido, pois, na hipótese de ser veiculada por códi-
§ 4º A expressão “casa” compreende: gos incompreensíveis e indecifráveis, haverá crime
I - qualquer compartimento habitado; impossível por absoluta impropriedade do objeto (art.
II - aposento ocupado de habitação coletiva;
17, do CP).
III - compartimento não aberto ao público, onde
A lei penal protege a correspondência fechada,
alguém exerce profissão ou atividade.
pois somente esta contém em seu interior um segre-
do. É preciso que seja a correspondência endereçada
A expressão “casa” não compreende:
a destinatário específico.
Não há crime de violação de correspondência:
Art. 150 [...]
§ 5º Não se compreendem na expressão “casa”:
z Conduta do sujeito que lê uma carta cujo envelope
I - hospedaria, estalagem ou qualquer outra habita-
ção coletiva, enquanto aberta, salvo a restrição do está aberto;
n.º II do parágrafo anterior; z Correspondências cujos envelopes possuem a
II - taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero. expressão “este envelope pode ser aberto pela
Empresa de Correios e Telégrafos”;
Para encerrarmos o assunto violação de domicílio, z Aquele que abre uma carta que encontrou e estava
por fim, veremos os casos em que, mesmo com a vio- perdida há décadas em lugar público;
lação, o fato não irá constituir crime. z Alguém abre uma carta remetida ao povo, aos elei-
tores em geral, aos amantes do futebol etc;
Art. 150 [...] z Os pais que abrirem cartas estranhas endereçadas
§ 3º Não constitui crime a entrada ou permanência aos filhos menores;
em casa alheia ou em suas dependências: z Ao diretor do estabelecimento prisional é assegu-
I - durante o dia, com observância das formalidades rado o direito de acessar o conteúdo de correspon-
legais, para efetuar prisão ou outra diligência; dências suspeitas remetidas aos presos (inciso XV e
II - a qualquer hora do dia ou da noite, quando algum parágrafo único, art. 41, da Lei de Execução Penal);
crime está sendo ali praticado ou na iminência de o ser. z Quando um dos cônjuges abre correspondências
encaminhadas ao outro cônjuge, não há crime, em
Em concurso de crimes: A caracterização do delito face do exercício regular de direito.
reclama que tenha o agente, como finalidade própria,
ingressado ou permanecido em casa alheia, e nada Devassar significa tomar conhecimento de algo
mais do que isso. proibido. O sigilo da correspondência é inviolável, por
Quando assim atua como meio de execução de expressa disposição constitucional (inciso XII, art. 5º).
outro crime mais grave, a violação de domicílio fica A devassa pode ser efetuada por qualquer meio;
absorvida (princípio da consunção). embora seja o método mais comum, não é obrigató-
Subsiste o crime de violação de domicílio quando ria a abertura da correspondência — o sujeito pode
há dúvida acerca do verdadeiro propósito do agente conhecer o conteúdo de uma carta apalpando o objeto
e quando caracteriza desistência voluntária, pois o que está em seu interior, por exemplo, dinheiro, car-
agente só responde pelos atos praticados.
NOÇÕES DE DIREITO
bo “destruir”, sendo parcial no verbo “romper”. A abertura com a chave verdadeira, obtida ilicita-
O delito de dano é absorvido pelo furto qualificado, mente pelo agente, não caracteriza chave falsa.
por força do princípio da subsidiariedade implícita. A cópia da chave verdadeira, quando obtida licita-
A destruição e o rompimento devem ser praticados mente, não é chave falsa. Se, no entanto, for tirada clan-
contra obstáculo, e não sobre a própria coisa furtada, por destinamente, incide a qualificadora do crime de furto.
exemplo, o agente rompe a porta do veículo para subtraí-lo.
Obstáculo é aquilo que protege a coisa para difi- z Mediante concurso de 2 (duas) ou mais pessoas:
cultar a sua subtração, por exemplo, matar o cão de
guarda da residência, destruir as telhas para adentrar O reconhecimento da qualificadora depende de
na residência, ou mesmo cortar os fios do alarme do pelo menos duas pessoas.
automóvel ou da cerca eletrificada. Computam-se os inimputáveis (menores e doentes
mentais) e os desconhecidos. 277
Detalhe, se o comparsa é menor de dezoito anos, o debate travado acerca da adequação típica, que dividia
agente responderá por furto qualificado em concurso as opiniões entre o furto qualificado pela destruição ou
material com o delito de corrupção de menores, pre- rompimento de obstáculo (inciso I, § 4º, art. 155, do CP)
visto no art. 244-B do ECA, desde que haja prova da e a explosão com intuito de obter vantagem pecuniária
efetiva corrupção do menor. (§ 2º, art. 251, do CP). O enquadramento do § 4º-A, art.
Sobre a presença no local do crime, basta a simples 155, do CP, absorve delitos de explosão e de dano, pois
participação, independentemente da presença na fase já funciona como causa de aumento de pena, aplican-
da execução. do-se o princípio da subsidiariedade tácita.
A absolvição do coautor nem sempre exclui a qua-
lificadora. De fato, havendo prova da pluralidade de z Furto de veículo automotor que venha a ser trans-
agentes, a qualificadora deve ser reconhecida. portado para outro Estado ou para o exterior:
No delito de roubo, o concurso de pessoas gera
aumento de pena de um terço até metade. No furto, A pena será de reclusão de 3 (três) a 8 (oito) anos
a pena dobra. se a subtração for de veículo automotor que venha a
Há doutrina que sustenta a violação do princípio ser transportado para outro Estado ou para o exterior.
da proporcionalidade da pena, porque o roubo é mais Não basta, porém, para a incidência da qualifica-
grave, de modo que o furto qualificado pelo concurso dora, o furto de veículo automotor, pois ainda se exige
de pessoas deveria sofrer apenas o aumento de um o efetivo transporte para outro Estado ou exterior.
terço até metade. Veículo automotor engloba, por exemplo, carros,
O STJ editou a Súmula 442: “É inadmissível aplicar motos, lanchas, aviões etc.
no furto qualificado pelo concurso de agentes a majo- Não é necessário que o transporte para outro Esta-
rante do roubo”. do ou exterior seja realizado pelo próprio agente.
Basta que o agente saiba da intenção de eventual
z Furto Qualificado pelo Emprego de Explosivo receptador transportar o veículo para outro Estado ou
exterior.
O § 4º-A, art. 155, do CP, foi introduzido por meio Quem realiza o transporte após a consumação do
da Lei nº 13.654, de 2018, e dispõe que: “A pena é de furto responde pelo crime de receptação. Por conse-
reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se hou- quência, o agente que é contratado para realizar o
ver emprego de explosivo ou de artefato análogo que transporte responde pelo furto, se o contrato for ante-
cause perigo comum”. rior à subtração, e por receptação, se só foi contratado
É o único furto que é crime hediondo (inciso IX, após a consumação.
art. 1º, da Lei 8072, de 1990, com redação dada pelo Consuma-se o transporte quando o veículo trans-
inciso IX, art. 1º, da Lei). põe os limites das fronteiras do Estado ou do país, com
O meio utilizado, explosivo ou artefato análogo, intuito de ali permanecer.
torna o fato mais grave, justificando-se o rigor da A mera condução do veículo para outro Estado ou
reprimenda penal, em razão da provocação de perigo exterior, com o intuito de retornar ao local de origem,
coletivo. é insuficiente para a caracterização da qualificadora.
Meio explosivo é o que causa estrondo, por exem- Admite-se a tentativa quando o agente realiza a
plos, dinamite, pólvora. subtração e é preso em flagrante, próximo à trans-
Importante destacar que o tipo penal, ao contrário posição da fronteira, antes de obter a posse pacífica.
do art. 251, do CP, não se refere à substância explosiva, Sabemos que a jurisprudência considera o furto con-
mas, sim, a meio explosivo. O meio explosivo utiliza- sumado como o simples apossamento do bem, inde-
do para explodir caixas eletrônicos de agências ban- pendentemente da posse pacífica. Porém, a tentativa
cárias para subtrair o dinheiro é um típico exemplo tornou-se impossível, pois, com o início da remoção do
do § 4º-A, art. 155, do CP. Já no crime do art. 251, do CP, bem, o furto já se consuma nas modalidades anterio-
podemos trazer a hipótese de o agente que lança um res, ainda que o agente seja preso próximo à fronteira.
artefato explosivo num ponto de ônibus e que expõe
as pessoas a risco. z Furto de semovente domesticável (animais,
O meio ou artefato explosivo, a que se refere a qua- como: bovinos, suínos, equinos) de produção, ain-
lificadora em análise, abrange qualquer explosão, seja da que abatido ou dividido em partes no local de
ela oriunda de substância explosiva ou não explosiva, subtração:
mas o assunto certamente enseja polêmica.
Sobre o artefato explosivo, trata-se de qualquer A pena será de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos,
objeto confeccionado por trabalho mecânico ou à mão, se a subtração for de semovente domesticável (animais,
por exemplo, as denominadas “bombas caseiras”. como: bovinos, suínos, equinos) de produção, ainda que
Para a incidência da qualificadora, é preciso abatido ou dividido em partes no local de subtração.
que seja um explosivo ou artefato que cause perigo O bem jurídico primário é o patrimônio do produ-
comum, ou seja, que coloque em risco um número tor e, o secundário é a saúde pública. Isso porque o
indeterminado de pessoas ou de patrimônios. animal poderá ser comercializado pelo criminoso sem
O agente que se utiliza de um explosivo com poten- que haja fiscalização do poder público, principalmen-
cial para causar perigo comum que, entretanto, mes- te sanitária. Pode-se incluir o sistema tributário na
mo diante da explosão, não se concretiza, responderá, condição de patrimônio lesado.
em caso de destruição ou rompimento de obstáculo, Na prática, dificilmente esta qualificadora será apli-
pelo furto qualificado do inciso I, § 4º, art. 155, do CP, e cada, pois este tipo de delito geralmente é praticado por
não pela qualificadora em análise, prevista no § 4º-A. mais de uma pessoa e, diante disso, incidirá a qualifica-
O explosivo geralmente é utilizado em furtos de dora do inciso IV, § 4º, art. 155, do CP, que é mais grave.
caixas eletrônicos de bancos, sendo que, diante do Com efeito, presentes uma das qualificadoras do §
278 advento desta nova qualificadora, encerra-se o antigo 4º, exclui-se a incidência da qualificadora em apreço,
pois sua pena é mais branda, podendo funcionar, nes- autorização ou em desacordo com determinação legal
se caso, como circunstância judicial do art. 59, do CP, ou regulamentar.
servindo de parâmetro apenas para dosagem da pena- Esse delito será absorvido pelo crime do§ 7º, art.
-base. Entretanto, existe outra corrente mais favorável 155, do CP, pois já funciona como qualificadora.
ao réu que, com base no princípio da especialidade, A pena será de reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez)
afasta a qualificadora do § 4º quando se tratar de anos, se a subtração for de substâncias explosivas ou
semovente domesticável de produção, impondo-se, de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibi-
nesse caso, a qualificadora específica do § 6º, conside- litem sua fabricação, montagem ou emprego.
rando-a novatio legis in melius.
O objeto material é o animal domesticável de pro- Furto Majorado
dução, ainda que abatido ou dividido em partes no
local da subtração. O furto será majorado quando a ele for aplicada a cau-
Trata-se de um tipo penal aberto, porquanto a defi- sa de aumento de pena prevista no § 1º, art. 155, do CP.
nição desse elemento normativo é complementada pelo
juiz. Art. 155 [...]
Para a incidência da qualificadora, é necessário que § 1º A pena aumenta-se de um terço, se o crime é
o agente subtraia o animal por inteiro ou na sua essên- praticado durante o repouso noturno.
cia. O tipo penal refere-se à subtração de semovente e,
não, de partes dele, de modo que, quando o animal já Sobre o repouso noturno, considere que, segundo
estava abatido ou dividido em partes, a incidência da o STJ (jurisprudência atual), a causa de aumento de
qualificadora estará condicionada à subtração do todo pena se aplica ao furto simples e ao furto qualificado.
ou das partes substanciais. Na hipótese de o agente dei- O furto majorado ocorre, por exemplo, quando o
xar no local apenas as patas do boi e subtrair o restan- agente, aproveitando-se do repouso noturno, entra
te, persiste a qualificadora. Não teria cabimento, por numa casa para furtar os eletroportáteis.
exemplo, qualificar o delito pelo furto de uma picanha Há discussão sobre a necessidade de a casa estar
extraída de um animal já abatido. Também não incide habitada e os moradores repousando, para que incida
a qualificadora quando o próprio agente abate o ani-
o aumento de um terço.
mal, subtraindo-lhe apenas uma de suas partes.
Duas teorias tratam da discussão:
Observa-se que, ao tempo da conduta, é necessário
que o animal ainda pertença ao produtor, posto que o
z Teoria subjetiva: a razão de ser do aumento da pena
intuito da lei foi protegê-lo.
é a maior proteção à tranquilidade dos que repou-
A subtração, por exemplo, de um porco que se
sam, bem como à incolumidade da vítima, que se
encontra no açougue não qualifica o delito.
encontra dormindo e desprotegida. Neste caso,
Não há que se falar, também, no delito em estudo
restringe o aumento da pena ao furto cometido em
quando se subtrai o leite da vaca ou outro bem produzi-
do pelo animal, porquanto o tipo penal se refere à sub- casa habitada com os moradores repousando;
tração do semovente e, não, dos bens que ele produz. z Teoria objetiva: o fundamento do aumento da pena
Nessas hipóteses, o furto será simples. é a proteção do patrimônio, que, nesse período,
encontra-se vulnerável à subtração. A finalidade
z A subtração for de substâncias explosivas ou de da lei visa proteger primordialmente o patrimô-
acessórios que, conjunta ou isoladamente, possi- nio, e depois, a tranquilidade.
bilitem sua fabricação, montagem ou emprego:
As duas teorias são aceitas, mas devemos com-
O objeto material consiste em substâncias explosi- preender que incide o aumento de um terço não só
vas ou acessórios que possibilitem a fabricação, mon- em furtos de residência, mas também em bancos, joa-
tagem ou emprego de substância explosiva. lherias, casas comerciais, bem como de automóveis
O que é substância explosiva? Substância explosi- estacionados na rua, de gado (abigeato).
va é a que causa estrondo, dissolvendo-se com a arre- Aplica-se a regra do repouso noturno mesmo que o
bentação, por exemplo, pólvora ou dinamite. local seja área comercial ou local desabitado.
Quanto aos acessórios, são os elementos que, em
conjunto ou isoladamente, são capazes de se transfor- Furto Privilegiado
mar quimicamente numa substância explosiva; aqui
podemos exemplificar com o estopim, a espoleta e o Art. 155 [...]
cordel detonante. São estes acessórios que possibili- § 2º Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor
tam a fabricação, montagem ou emprego da substân- a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de
cia explosiva. reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois
NOÇÕES DE DIREITO
ca depois do pacote anticrime terá a incidência da subtração patrimonial tentada, para alguns autores
majorante de 1/3 a 1/2; haverá o crime da primeira parte do § 3º, art. 157, con-
z Quem praticou o crime de roubo com arma de fogo sumado; outros, porém, sustentam que o delito seria
de uso permitido antes da Lei nº 13.654, de 2018, tentado.
terá a incidência da majorante de 1/3 a 1/2; O roubo qualificado pelo resultado morte, o latro-
z Quem praticou o crime de roubo com arma de fogo cínio, é um crime qualificado pelo resultado morte.
de uso permitido depois da Lei nº 13.654, de 2018, Por incrível que pareça, não se trata de crime con-
terá a incidência da majorante de 2/3; tra vida, mas sim de crime contra o patrimônio.
z Quem praticou o crime de roubo com arma de fogo O latrocínio constitui crime hediondo.
de uso restrito ou proibido antes da Lei nº 13.654, Para compreendermos o momento de consumação
de 2018, terá a incidência da majorante de 1/3 a do latrocínio, é necessário que você conheça a Súmula
1/2; 610 do STF. 283
Súmula 610 do STF: Há crime de latrocínio, quan- Extorsão
do o homicídio se consuma, ainda que não realize o
agente a subtração de bens da vítima. Art. 158 Constranger alguém, mediante violência ou
grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou
para outrem indevida vantagem econômica, a fazer,
SUBTRAÇÃO MORTE LATROCÍNIO
tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa:
Consumada Tentada Latrocínio tentado Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
Características da Extorsão:
A palavra latrocínio não se encontra no atual Códi-
go Penal. Trata-se de uma expressão tradicional.
z É crime comum, que pode ser praticado por qual-
O latrocínio pode ser próprio ou impróprio:
quer pessoa;
O latrocínio próprio ocorre quando a morte ocor-
z É crime complexo, já que tutela tanto o patrimônio
re antes ou durante a subtração da coisa; por exemplo,
quanto a liberdade individual;
o agente mata o empregado de um estabelecimento
z Não admite a modalidade culposa (só pode ser pra-
comercial, subtraindo em seguida o dinheiro do caixa.
ticado dolosamente);
No latrocínio impróprio, o agente primeiro se
z É crime formal, que se consuma com o constran-
apodera da coisa, sem qualquer violência, matando gimento, mediante violência ou grave ameaça,
a vítima logo em seguida com o intuito de assegurar independentemente de o agente conseguir ou não
a subtração ou a impunidade. Por exemplo, o agen- obter a indevida vantagem econômica.
te, logo após subtrair um bem, mata o policial que o
surpreende. Súmula 96 do STJ: O crime de extorsão consuma-
O sujeito passivo é tanto a pessoa que sofre a lesão -se independentemente da obtenção da vantagem
patrimonial quanto aquela que é morta, podendo esta indevida.
última ser até mesmo um policial ou terceiro.
Observe que estamos diante de crime pluriofensi- É importante não confundir o crime de extorsão
vo, que ofende mais de um bem jurídico, quais sejam: com o crime de roubo, que acabamos de estudar:
o patrimônio e a vida. Roubo: o agente emprega a violência ou grave
Não há necessidade de que morra a vítima do ameaça, visando à subtração; a participação da víti-
patrimônio, sendo suficiente, para a caracterização do ma é dispensável;
delito, a morte de qualquer outra pessoa. Extorsão: o agente emprega a violência ou grave
Na hipótese de pluralidade de sujeitos passivos ameaça para determinar um comportamento da víti-
com unidade de subtração patrimonial, haverá um só ma e obter indevida vantagem econômica; a partici-
delito de latrocínio. Por exemplo, o agente mata três pação da vítima é indispensável, sem ela, o autor não
empregados e em seguida subtrai bens do patrão. consegue obter a indevida vantagem econômica.
O latrocínio é delito qualificado pelo resultado,
tendo em vista a duplicidade de eventos. A morte No delito de extorsão, há a presença dos seguin-
pode ocorrer a título de dolo ou culpa. Somente na tes elementos:
hipótese de o latrocínio ser na modalidade culposa é
que o delito será preterdoloso. z O constrangimento para obter da vítima uma ação,
A morte deve decorrer da violência física. Se decor- omissão ou tolerância;
rer de grave ameaça ou violência imprópria, exclui-se z Emprego de violência ou grave ameaça;
o delito de latrocínio, respondendo o agente por rou- z Finalidade de obter, para si ou para outrem, inde-
bo em concurso com homicídio. vida vantagem econômica.
Por fim, para encerrarmos o crime de roubo, sobre
o latrocínio, fique atento ao seguinte: o latrocínio é o Tutela-se a propriedade, a posse, a integridade
roubo qualificado pelo resultado da violência empre- física e fisiopsíquica, bem como a liberdade pessoal.
gada pelo agente, resultando-se uma morte. Trata-se de delito pluriofensivo, porque ofende mais
Logo, se a morte resultar de outro elemento que de um bem jurídico.
não seja a violência empregada, não há que se falar Sobre o sujeito ativo, trata-se de crime comum,
em latrocínio. podendo ser praticado por qualquer pessoa. Obser-
O emprego de arma de brinquedo não caracteriza ve que o funcionário público também pode cometer
a aplicação da causa de aumento de pena, entretanto, extorsão. A doutrina ilustra a hipótese de o escrivão de
pode contribuir para a configuração do crime de rou- polícia que exige dinheiro de uma pessoa para influen-
284 bo, já que pode caracterizar a grave ameaça. ciar o delegado de polícia a realizar o indiciamento.
Sujeito passivo pode ser qualquer pessoa física ou para a obtenção da vantagem econômica, a pena
jurídica, inclusive a que sofre constrangimento sem é de reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além da
lesão patrimonial. multa; se resulta lesão corporal grave ou morte,
O núcleo do tipo é o verbo constranger, que signi- aplicam-se as penas previstas no art. 159, §§ 2° e
fica coagir, forçar, obrigar alguém a fazer, deixar de 3°, respectivamente.
fazer ou tolerar que se faça alguma coisa que a lei não
lhe impõe. Por exemplo, a vítima é conduzida, no seu próprio
O delito é punido a título de dolo. O agente visa veículo, sendo coagida a percorrer caixas eletrônicos
conseguir da vítima uma ação ou omissão, com o fim para a retirada de dinheiro, revelando ao meliante o
de obter, para si ou para outrem, indevida vantagem código secreto de seu cartão bancário magnético.
econômica. O bem jurídico protegido é o patrimônio e a liber-
A finalidade específica é a intenção de obter uma dade pessoal de movimento, isto é, o direito de ir, vir e
vantagem indevida e econômica. ficar no local livremente escolhido, assemelhando-se,
A vantagem econômica pode consistir em bem destarte, à extorsão mediante sequestro.
móvel ou imóvel, diferentemente do roubo, cuja van- O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa. Trata-se
tagem restringe-se ao bem móvel. de crime comum.
A vantagem, além de econômica, deve ainda ser É ainda crime permanente, viabilizando-se, en-
indevida, contrária ao direito. quanto não cessar o estado de permanência, a partici-
pação, a legítima defesa e a prisão em flagrante.
z Extorsão qualificada: O sujeito passivo pode ser qualquer pessoa física
ou jurídica.
Art. 158 [...] Admite-se a presença de mais de um sujeito passi-
§ 1º Se o crime é cometido por duas ou mais pes- vo. Por exemplo, o extorsionário realiza o sequestro
soas, ou com emprego de arma, aumenta-se a pena relâmpago do dirigente de uma pessoa jurídica, obri-
de um terço até metade. gando-o a assinar cheques da empresa.
Para sua tipificação, exige-se a presença dos ele-
Dispõe o § 1º, art. 158, do CP, que se o crime é come- mentos da extorsão fundamental: constrangimen-
tido por duas ou mais pessoas, ou com o emprego de to, por meio de violência ou grave ameaça, para se
arma, aumenta-se a pena de 1/3 até a metade. obter da vítima uma ação ou omissão, com o fim de
Por exemplo, dois agentes chantageiam uma obter, para si ou para outrem, indevida vantagem
mulher, ameaçando de morte a sua mãe, objetivando econômica.
a obtenção de vantagem econômica. Observe que, se a vantagem for absolutamente
Trata-se de causa de aumento de pena em quan- impossível de se obter, não há extorsão, respondendo
tidade fixa, que, em face da posição topográfica, é o agente apenas pelo delito de sequestro. Por exem-
inaplicável à extorsão do § 2º, art. 158. plo, sequestro relâmpago para obrigar menor impú-
São duas as majorantes da pena, vejamos: bere a assinar nota promissória.
Não se esqueça: além do constrangimento, por
Concurso de duas ou mais pessoas; meio de violência ou grave ameaça, exige-se ainda a
Emprego de arma. Observe que há emprego restrição da liberdade, isto é, um sequestro “relâmpa-
de qualquer arma, própria ou imprópria, não go”, rápido
necessita ser arma de fogo. No roubo, a violência pode ser anterior, concomi-
tante ou posterior à obtenção da vantagem, ao passo
Extorsão qualificada pelo resultado: que, na extorsão, o legislador é omisso quanto à vio-
lência posterior, de modo que esta deve ser anterior
Art. 158 [...] ou concomitante à obtenção da vantagem.
§ 2º Aplica-se à extorsão praticada mediante vio- Para que o sequestro relâmpago fique configura-
lência o disposto no § 3º do artigo anterior do, o Código Penal exige a restrição da liberdade da
vítima e que essa condição seja necessária para a
Veja que o § 2º, art. 158, do CP, dispõe que será aplica- obtenção da vantagem econômica.
do a extorsão praticada mediante violência ao disposto Ex.: “A”, criminoso conhecido na cidade, aborda
no § 3° do artigo anterior, ou seja, do crime de roubo. “B”, apontando uma arma de fogo para ela, ameaçan-
Assim, a extorsão qualificada pelo resultado ocor- do-a. Com a intenção de obter indevida vantagem eco-
re quando, em razão da violência, resulta em lesão nômica, “A” a conduz, forçadamente, em um veículo
corporal de natureza grave ou morte. de origem duvidosa, ao banco, constrangendo a víti-
Na hipótese de lesão grave, a pena é de reclusão de ma, que saca R$ 1.000,00 para o autor.
7 a 18 anos, além de multa; no caso de morte, reclusão No exemplo dado, ficou configurado o crime de
NOÇÕES DE DIREITO
de vinte a trinta anos, sem prejuízo da multa. extorsão mediante restrição da liberdade. Analise os
Observe que a lesão grave ou a morte deve decor- elementos:
rer de violência física, podendo ocorrer a título de
dolo ou culpa, afastando-se a qualificadora quando z Emprego de grave ameaça;
resultar de grave ameaça. z Constrangimento à vítima;
z Objetivo de obter indevida vantagem econômica;
Extorsão qualificada pelo sequestro — z Restrição da liberdade, que foi condição necessá-
sequestro relâmpago ria para obtenção da vantagem.
Vejamos uma hipótese: o agente priva a vítima da liberdade, colocando-a sob vigilância em um cativeiro. Em
seguida, visando obter vantagem, exige de familiares da vítima o preço do resgate, mas devido a um impasse com
os familiares, o agente mata a vítima.
O § 2º, art. 159, do CP, dispõe que, se do fato resulta lesão corporal de natureza grave, a pena cominada é de
reclusão, de 16 a 24 anos.
E o § 3º, art. 159, do CP, dispõe que, se resulta morte, a pena será reclusão de 24 a 30 anos.
A lesão grave e a morte podem ser dolosas ou culposas.
Os delitos de homicídio e lesão corporal, sejam eles dolosos ou culposos, são absorvidos, porque já funcionam
como qualificadoras.
A extorsão mediante sequestro seguida de morte é o crime mais grave do CP, tendo como pena mínima 24 anos
de reclusão.
Não há necessidade de que a morte seja provocada por violência física ou grave ameaça. O suicídio do seques-
trado, por exemplo, é suficiente para o reconhecimento da qualificadora, porque em tal situação é evidente a
culpa dos sequestradores.
Para que incida a redução da pena, a delação deve ter sido feita à autoridade, devendo essa expressão ser
tomada em sentido amplo para abranger qualquer agente encarregado do combate à criminalidade, por exemplo,
juiz, autoridade policial etc.
Quanto maior a contribuição, maior a redução da pena.
Trata-se de causa obrigatória de redução de pena.
O art. 13 da Lei nº 9.807, de 1999, dispõe sobre a extinção da punibilidade pelo perdão judicial ao acusado que,
sendo primário, tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e o processo criminal, desde que
dessa colaboração tenha resultado cumulativamente a identificação dos demais agentes, a localização da vítima
com sua integridade física preservada e a recuperação total ou parcial do produto do crime.
Presente apenas um desses requisitos, a pena ainda poderá ser reduzida de 1/3 a 2/3, independentemente da
primariedade do réu, por força do art. 14, da Lei nº 9.807, de 1999.
Extorsão Indireta
Art. 160 Exigir ou receber, como garantia de dívida, abusando da situação de alguém, documento que pode dar
causa a procedimento criminal contra a vítima ou contra terceiro:
NOÇÕES DE DIREITO
A extorsão indireta constitui forma mais branda de extorsão, que se configurará quando o agente exigir ou
receber, como garantia de dívida, abusando da situação de alguém, documento que pode dar causa a procedimento
criminal contra a vítima ou contra terceiro.
Como dito, é uma forma mais branda de extorsão, já que tem como pena a reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos,
enquanto a extorsão, em sua modalidade simples, tem como pena a reclusão de 4 (quatro) a 10 (anos).
É um crime que exige dolo específico, já que o agente pratica os verbos descritos no tipo penal (exigir ou rece-
ber) como garantia de dívida.
É necessário que o agente abuse da condição de alguém, assim, por exemplo, suponha que um agiota, apro-
veitando-se da condição de desespero pela qual se passa aquele que solicita um empréstimo, já que o filho deste
se encontra internado em estado grave e ele precisa do dinheiro para pagar o tratamento, exija documento que 287
possa dar causa a procedimento criminal — pronto, Exige-se que sejam águas correntes, cujo curso seja
teremos configurada a extorsão indireta, já que o desviado ou represado pelo agente, alterando, portan-
agiota abusou da condição da vítima. to, seu fluxo pela propriedade.
No verbo exigir, este crime é formal, consumando-
-se com a exigência do documento. Dica
Já no verbo receber, é crime material, consuman-
do-se com o efetivo recebimento do documento. Não configura crime de usurpação de águas,
É admitida a tentativa, já que pode ter seu iter cri- mas crime de furto, quando se trata de água reti-
minis fracionado. rada de água represada pelo dono para criação
É crime comum, já que não se exige qualquer con- de peixes.
dição especial do sujeito.
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, pois, tra-
USURPAÇÃO ta-se de crime comum.
O sujeito passivo, por sua vez, é a pessoa que pode
Alteração de Limites sofrer dano em decorrência do desvio ou represamento.
Consuma-se o crime no instante em que o agente
Art. 161 Suprimir ou deslocar tapume, marco, ou efetua o desvio ou represamento, ainda que não obte-
qualquer outro sinal indicativo de linha divisória, nha a vantagem em proveito próprio ou alheio a que o
para apropriar-se, no todo ou em parte, de coisa texto legal se refere. A tentativa é possível.
imóvel alheia:
Pena - detenção, de um a seis meses, e multa.
Esbulho Possessório
O objetivo da lei é resguardar a posse e a proprie- Art. 161 [...]
dade dos bens imóveis. § 1º Na mesma pena incorre quem: [...]
Esse tipo penal possui duas condutas típicas II - invade, com violência a pessoa ou grave amea-
alternativas: ça, ou mediante concurso de mais de duas pessoas,
terreno ou edifício alheio, para o fim de esbulho
z Supressão, ou seja, a total retirada do marco possessório.
divisório;
z Deslocamento do marco divisório, afastando-o Veja que o crime de esbulho possessório tem por
do local correto, de modo a aumentar a área do objeto jurídico o patrimônio, no tocante à propriedade
agente. e, especialmente, à posse legítima de um imóvel, bem
como a integridade física e a liberdade individual da
É necessário que o agente tenha intenção de apro- pessoa humana atingida pela conduta criminosa.
priar-se, no todo ou em parte, da propriedade alheia, por Pressupõe-se, neste crime, a invasão de proprieda-
meio da supressão ou deslocamento do marco divisório. de imóvel alheia, edificada ou não, desde que o fato se
Temos, por exemplo, a hipótese que não configu- dê mediante emprego de violência ou grave ameaça
ra crime, o fato de um agricultor retirar a cerca que a pessoa, bem como mediante concurso de duas ou
divide as terras com outro proprietário apenas para mais pessoas.
reformá-la. É possível que o agente invada a propriedade
Trata-se de crime próprio, somente podendo ser alheia sozinho ou em concurso com apenas mais uma
praticado pelo vizinho do imóvel, quer na zona urba-
pessoa e sem emprego de violência ou grave ameaça.
na, quer na rural.
Nesse caso, o fato é atípico. Não obstante, o § 1º, art.
Sendo assim, o sujeito passivo desse tipo penal só
1.210, do Código Civil, permite que o dono retome a
pode ser o vizinho, dono ou possuidor do imóvel.
posse, desde que o faça imediatamente, por meio do
Consuma-se no exato instante em que o agente
chamado desforço imediato.
suprime ou desloca o marco divisório, ainda que a
Se, em outra hipótese, logo após a invasão pacífica,
vítima posteriormente perceba o ocorrido e retome a
o invasor empregar violência para se manter na posse
parte de que foi tolhida.
quando o legítimo proprietário tentava retomá-la pelo
É possível a tentativa, quando o agente é flagrado
desforço imediato, haverá a configuração do delito.
iniciando supressão ou deslocamento e é impedido de
O crime só existe se a invasão se dá com o fim espe-
prosseguir. Se já o fez por completo, conforme já men-
cífico de esbulho possessório, ou seja, a retirada forçada
cionado, o crime está consumado, ainda que a vítima
retome posteriormente a parte a que faz jus. do legítimo possuidor, desde que o agente queira excluir
a posse da vítima para passar a exercê-la ele próprio.
Usurpação de Águas O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, exceto o
dono.
Art. 161 [...] Trata-se de crime comum.
§ 1º Na mesma pena incorre quem: O dono que invade imóvel alugado não incorre no
I - desvia ou represa, em proveito próprio ou de tipo penal em análise, que exige expressamente que o
outrem, águas alheias; bem seja alheio.
Dependendo da hipótese, poderá incorrer em cri-
Neste delito, a lei resguarda as águas públicas me de violação de domicílio (art. 150) ou retirada de
ou particulares que passem por determinado local, coisa própria do poder de terceiro (art. 346, do CP).
evitando que o dono do terreno sofra prejuízo caso Já o sujeito passivo é o dono ou possuidor do imó-
alguém queira desviar o seu curso ou represá-las, sem vel invadido.
288 autorização para tanto. Consuma-se no momento da invasão.
É possível tentativa quando a invasão não se aper- z Destruir – dano total da coisa alheia;
feiçoe em razão da oposição apresentada pelo dono, z Inutilizar – dano parcial, mas que torna a coisa
possuidor ou por terceiro. alheia sem utilidade;
Observe que, se o agente comete o esbulho com z Deteriorar – dano parcial da coisa alheia, que fica
emprego de violência, responde também pelas lesões estragada, por exemplo.
corporais causadas, ainda que leves, nos termos do § 2º,
art. 161, do CP, e as penas serão somadas. Tutela-se a propriedade e a posse.
Trata-se de crime doloso.
Art. 161 [...] O tipo penal fala em coisa alheia, sem exigir que
§ 2º Se o agente usa de violência, incorre também seja móvel. Portanto, caso o agente destrua, por exem-
na pena a esta cominada. plo, uma casa, praticará o crime de dano.
§ 3º Se a propriedade é particular, e não há emprego Características do crime de dano:
de violência, somente se procede mediante queixa.
z Crime comum — pode ser praticado por qualquer
A ação penal será, em regra, pública incondiciona- pessoa;
da, porém, caso não ocorra o emprego de violência, z Não admite a forma culposa. O dano culposo cons-
a ação penal passa a ser privada e só se procede me- titui ilícito de ordem civil;
diante queixa. z É crime material, que exige a ocorrência do resul-
tado (destruição, inutilização ou deterioração).
Supressão ou Alteração de Marca em Animais
Consuma-se quando o agente destrói, inutiliza ou
Art. 162 Suprimir ou alterar, indevidamente, em deteriora a coisa.
gado ou rebanho alheio, marca ou sinal indicativo A danificação parcial constitui crime consumado,
de propriedade: enquadrando-se no verbo deteriorar.
Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa.
Dano Qualificado
Este crime tutela a propriedade e a posse dos ani-
mais semoventes. O dano será praticado na modalidade qualificada
Para a prática deste crime é necessário que não se for cometido em uma das hipóteses a seguir:
tenha havido prévio furto ou apropriação indébita
dos animais, pois, nesses casos, o agente só será puni- Art. 163 [...]
do pela conduta anterior, sendo a supressão ou altera- Parágrafo único. Se o crime é cometido:
ção da marca impunível. I - com violência à pessoa ou grave ameaça;
A conduta típica consiste em apagar ou modificar II - com emprego de substância inflamável ou explo-
o sinal indicativo de propriedade em gado ou rebanho siva, se o fato não constitui crime mais grave
alheios. III - contra o patrimônio da União, de Estado, do
Quando a lei se refere a gado, está protegendo a Distrito Federal, de Município ou de autarquia,
propriedade de animais de grande porte, como bois fundação pública, empresa pública, sociedade de
ou cavalos, e quando se refere a rebanho, o faz em economia mista ou empresa concessionária de ser-
viços públicos;
relação a animais de porte menor, como porcos, ove-
IV - por motivo egoístico ou com prejuízo conside-
lhas, cabras etc.
rável para a vítima:
Marcas são feitas por ferro em brasa ou elementos Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa,
químicos no couro do animal. além da pena correspondente à violência.
Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, inclusive
quem possui animal que pertence a terceiro. Caso o crime de dano seja praticado com violên-
O sujeito passivo é dono do animal. cia à pessoa (forma qualificada vista anteriormente),
Consuma-se com a simples supressão ou alteração o agente responderá pelo crime de dano em concurso
da marca ou sinal, ainda que se dê apenas em relação com a pena correspondente à violência.
a um animal. Das hipóteses vistas, com exceção da qualificado-
É possível a tentativa quando o agente não conse- ra por motivo egoístico ou com prejuízo para a víti-
gue concretizar a remarcação iniciada, pela repentina ma (ação penal privada), a ação penal será pública
chegada de alguém ao local, ou até mesmo quando incondicionada.
concretiza a remarcação, porém a faz de tal forma
que continua sendo possível identificar a marca do Introdução ou Abandono de Animais em Propriedade
verdadeiro dono. Alheia
NOÇÕES DE DIREITO
O crime de dano previsto no art. 163, do CP, poderá Dispõe o art. 164, do CP, que é crime a conduta de
ser praticado mediante a execução das seguintes con- introduzir ou deixar animais em propriedade alheia,
dutas: destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia. sem consentimento de quem de direito, desde que do
Verbos do crime de dano (observe o que a doutrina fato resulte prejuízo: pena — detenção, de 15 dias a 6
estabelece sobre cada um dos verbos): meses, ou multa. 289
Tutela-se a propriedade e a posse do imóvel contra Veja a diferença:
o dano causado por animais.
O objetivo primordial da lei é a proteção da pro- z Apropriação Indébita: o agente recebe a coisa
priedade rural, onde o delito é comumente cometido. de boa-fé, depois, muda seu ânimo e passa a agir
Todavia, estende-se também a tutelar a propriedade como se fosse dono da coisa (passa a ter má-fé);
urbana, tendo em vista que a lei não restringiu a exis- z Estelionato: o agente já recebe a coisa de má-fé,
tência do delito à propriedade rural. com a intenção de ficar com ela desde o início.
Trata-se de crime comum, pois pode ser cometido
A apropriação indébita é crime que decorre de
por qualquer pessoa.
uma relação de confiança entre o autor e a vítima.
Sujeitos passivos são o proprietário e o possuidor,
Este entrega a coisa móvel ao agente, devido à con-
titulares do patrimônio ofendido. fiança que deposita nele.
Consuma-se com a danificação total ou parcial da O agente recebe a coisa com boa intenção, mas,
propriedade alheia, isto é, com o efetivo prejuízo. depois (parte da doutrina chama de dolo subsequen-
Este crime somente se procede mediante queixa. te), altera sua intenção, apropria-se da coisa e passa a
agir como dono dela.
Dano em Coisa de Valor Artístico, Arqueológico ou Veja as principais características da apropriação
Histórico indébita:
O proprietário comete o delito de dano ambiental, z É crime comum, que pode ser praticado por qual-
previsto no art. 62, da Lei nº 9.605, de 1998, e não do quer pessoa;
art. 165, do CP, que foi revogado pela citada lei, quan- z Não admite a forma culposa;
do se tratar de coisa de valor artístico, arqueológico, z Não admite tentativa, conforme doutrina majoritá-
histórico ou outro bem especialmente protegido por ria, tratando-se de crime unissubsistente, ou seja,
lei, ato administrativo ou decisão judicial, pois nesse é o conjunto de um só ato, a realização da condu-
tipo penal não se exige que a coisa seja alheia. ta esgota a concretização do delito, por exemplo,
apropriar-se de objeto de valor;
Alteração de Local Especialmente Protegido z É crime material, que se consuma quando o agente
inverte a posse da coisa alheia móvel.
Revogado pelo art. 63, da Lei nº 9.605, de 1998, que
dispõe ser crime a conduta de alterar o aspecto ou Aumento de Pena
estrutura de edificação ou local especialmente prote- Art. 168 [...]
gido por lei, ato administrativo ou decisão judicial, em § 1º A pena é aumentada de um terço, quando o
razão de seu valor paisagístico, ecológico, turístico, agente recebeu a coisa:
artístico, histórico, cultural, religioso, arqueológico, I - em depósito necessário;
etnográfico ou monumental, sem autorização da auto- II - na qualidade de tutor, curador, síndico, liquida-
ridade competente ou em desacordo com a concedida. tário, inventariante, testamenteiro ou depositário
A pena é de reclusão, de um a três anos, e multa. judicial;
III - em razão de ofício, emprego ou profissão.
Ação Penal
Apropriação Indébita Previdenciária
Art. 167 Nos casos do art. 163, do inciso IV do
seu parágrafo e do art. 164, somente se procede Art. 168-A Deixar de repassar à previdência social
mediante queixa. as contribuições recolhidas dos contribuintes, no
prazo e forma legal ou convencional:
A ação penal é privada no dano simples (caput
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
do art. 163, do CP) e no dano qualificado por motivo
egoístico ou considerável prejuízo para a vítima (inci-
O crime de apropriação indébita previdenciária
so IV, § único, art. 163, do CP). Nas demais formas de
é um crime próprio, pois só pode ser praticado pelo
dano qualificado, a ação é pública incondicionada. substituto tributário, que é a pessoa que recolhe as
APROPRIAÇÃO INDÉBITA contribuições sociais em nome do INSS para depois
repassá-las.
Art. 168 Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que No caso do contribuinte individual, ele é o res-
tem a posse ou a detenção: ponsável por esse desconto das contribuições e pelo
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. repasse ao INSS, de modo que é ele que irá responder
pelo crime.
O crime de apropriação indébita está previsto no No caso de sociedade, para fins penais, o sujeito
art. 168, do Código Penal. Este crime irá se configurar ativo é a pessoa física que no âmbito da empresa tem
quando o agente se apropriar de coisa alheia móvel de o poder de fato para decidir se irá ou não sonegar a
que tem a posse ou a detenção. contribuição arrecadada.
Neste crime, exige-se que a coisa alheia seja móvel. Tutela-se o patrimônio do INSS, que é uma autarquia
Para que você compreenda a apropriação indébi- federal, de modo que a competência é da Justiça Federal,
ta, é necessário saber que o agente já tem a posse ou conforme o inciso IV, art. 109, da Constituição Federal.
a detenção da coisa, passando, posteriormente, a agir Logo, o sujeito passivo é o INSS.
como se fosse dono da coisa. Conduta principal: ficará configurada quando o
Não se deve confundir a apropriação indébita com agente deixar de repassar à previdência social as con-
o crime de estelionato. tribuições recolhidas dos contribuintes, no prazo e
290 forma legal ou convencional.
Observe que o tipo penal principal é praticado na Não se trata de aplicação do princípio da insigni-
modalidade omissiva, deixando o agente de praticar ficância, porque a dívida tem um valor significativo,
uma conduta que deveria (repassar à previdência as mas se o valor for irrisório, por exemplo, R$ 100, R$
contribuições recolhidas após reter os valores). 200 ou R$ 300, ele poderá ser absolvido pelo princípio
Condutas equiparadas: da insignificância.
Quando o valor da dívida atinge uma cifra razoá-
Art. 168-A [...] vel de até R$ 10 mil, mas o INSS diz que não é preciso
§ 1° Nas mesmas penas incorre quem deixar de: mover a execução fiscal, nesse caso o réu poderá rece-
I – recolher, no prazo legal, contribuição ou outra ber o perdão judicial ou então ser condenado apenas
importância destinada à previdência social que na pena de multa, conforme o § 3º, art. 168, do CP.
tenha sido descontada de pagamento efetuado a A pena deste crime poderá ser extinta (extinção da
segurados, a terceiros ou arrecadada do público; punibilidade), caso o agente, espontaneamente, decla-
II – recolher contribuições devidas à previdência re, confesse e efetue o pagamento das contribuições,
social que tenham integrado despesas contábeis ou importâncias ou valores e preste as informações devi-
custos relativos à venda de produtos ou à prestação das à previdência social, na forma definida em lei ou
de serviços; regulamento, antes do início da ação fiscal.
III - pagar benefício devido a segurado, quando as
respectivas cotas ou valores já tiverem sido reem- Art. 168-A [...]
bolsados à empresa pela previdência social. § 2° É extinta a punibilidade se o agente, esponta-
neamente, declara, confessa e efetua o pagamento
Trata-se de norma penal em branco, complemen- das contribuições, importâncias ou valores e presta
tada em diversos dispositivos pela lei previdenciária as informações devidas à previdência social, na for-
correspondente. ma definida em lei ou regulamento, antes do início
Veja as características do crime de apropriação da ação fiscal.
indébita previdenciária:
Apesar de o Código Penal estabelecer que a conduta
z É crime omissivo, como dito, já que o agente não do agente, para que sua punibilidade seja extinta, seja
pratica a conduta que se espera dele (repassar); praticada antes do início da ação fiscal, o STF e o STJ
z Não admite a modalidade culposa; têm admitido a aplicação da exclusão da punibilidade
z Deverá ser praticado de forma dolosa. Segundo o com o pagamento efetuado a qualquer tempo, desde
STF, não é necessário dolo específico (especial fim que antes do trânsito em julgado (sentença definitiva).
de agir); Para encerrarmos o crime de apropriação indébita
z Não admite tentativa. previdenciária, vamos verificar uma hipótese de per-
dão judicial e de crime privilegiado.
O entendimento majoritário na doutrina é o de que A Lei nº 13.606, de 2018, lei bastante atual, diga-se
a apropriação indébita previdenciária é crime formal de passagem (importante atentar-se a isso), acrescen-
tou dispositivo ao Código Penal que estabelece que a
e, por isso, dispensa-se o enriquecimento indevido por
faculdade atribuída ao juiz de deixar de aplicar a pena
parte do agente ou o efetivo prejuízo ao erário.
ou de aplicar somente a pena de multa não se apli-
Contudo, o Supremo Tribunal Federal decidiu que
ca aos casos de parcelamento de contribuições cujo
o crime de apropriação indébita previdenciária é
valor, inclusive dos acessórios, seja superior àquele
material, pois, quando o agente omitiu o repasse, con-
estabelecido, administrativamente, como sendo míni-
figurou-se o enriquecimento indevido e o consequen-
mo para ajuizamento de suas execuções fiscais.
te prejuízo ao Erário.
Faculta-se ao juiz:
Essa decisão corrobora com o entendimento exa-
rado na Súmula Vinculante nº 24.
z Deixar de aplicar a pena (perdão judicial);
z Aplicar somente a pena de multa (crime
Súmula Vinculante nº 24: Na linha da jurispru-
privilegiado).
dência deste Tribunal Superior, o crime de apropria-
ção indébita previdenciária, previsto no art. 168-A,
Essas situações poderão ocorrer se o agente for
ostenta natureza de delito material. Portanto, o
momento consumativo do delito em tela correspon- primário e de bons antecedentes, desde que:
de à data da constituição definitiva do crédito tri-
butário, com o exaurimento da via administrativa Art. 168-A [...]
(ut, (RHC 36.704/SC, Rel. Ministro FELIX FISCHER, § 3° É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou
Quinta Turma, DJe 26/02/2016). Nos termos do art. aplicar somente a de multa se o agente for primário
111, I, do CP, este é o termo inicial da contagem do e de bons antecedentes, desde que:
I – tenha promovido, após o início da ação fiscal
NOÇÕES DE DIREITO
utiliza de artificio ardil (método de enganar) ou qual- da que lhe é devida. Consuma-se o crime quando o
quer outro tipo de fraude. estelionatário obtém a quitação da dívida, mediante a
Ele induz a vítima em erro (ela não estava em erro e promessa de entregar ao seu credor uma certa coisa.
o agente o faz) ou mantém a vítima em erro (ela estava Locação: a locação é o contrato pelo qual uma das
em erro, o agente, de má-fé, faz com que ela permaneça). partes se obriga a ceder a outra, por tempo determinado
No estelionato, a vítima, devido ao fato de ter sido ou não, o uso e gozo de coisa infungível, mediante certa
enganada, colabora com o agente, entregando-lhe, de retribuição. Consuma-se o crime quando o estelionatá-
alguma forma, a vantagem. rio recebe o sinal ou o pagamento do primeiro aluguel.
Esta condição, inclusive, é fator que serve para Garantia: a garantia compreende o penhor, a
diferenciar o estelionato de outros tipos penais que hipoteca e a anticrese. Consuma-se o crime quando o
com ele possam se confundir. estelionatário obtém o empréstimo, dando em garan-
tia uma coisa alheia. 293
Alienação ou Oneração Fraudulenta de Coisa Própria Vejamos, o tipo penal faz a seguinte alusão: “coisa
que deve entregar a alguém”, pressupondo-se, portan-
Art. 171 [...] to, uma obrigação de prestação de dar entre as partes.
§ 2º [...]
A obrigação deve ser a título oneroso. Se for gratuita,
II - vende, permuta, dá em pagamento ou em garan-
como o comodato e a doação, desaparece o delito, por-
tia coisa própria inalienável, gravada de ônus ou
litigiosa, ou imóvel que prometeu vender a terceiro, que não há prejuízo ao credor. Nos negócios gratuitos,
mediante pagamento em prestações, silenciando não se pode reclamar sequer vício redibitório, de modo
sobre qualquer dessas circunstâncias; que o devedor não é sancionado nem na esfera cível.
Se não houver uma obrigação antecedente, a
Este crime está previsto no inciso II, § 2º, art. 171, entrega de coisa defraudada pode configurar o delito
do CP, que consiste no agente que vende, permuta, do caput do art. 171.
dá em pagamento ou em garantia coisa própria ina-
lienável, gravada de ônus ou litigiosa, ou imóvel que Fraude para Recebimento de Indenização ou Valor de
prometeu vender a terceiro, mediante pagamento Seguro
em prestações, silenciando sobre qualquer dessas
circunstâncias. Art. 171 [...]
Temos que destacar que o objeto material do crime § 2º [...]
pode ser bem móvel ou imóvel. V - destrói, total ou parcialmente, ou oculta coisa
Vejamos: própria, ou lesa o próprio corpo ou a saúde, ou
Coisa própria inalienável: os bens inalienáveis agrava as conseqüências da lesão ou doença, com
são: bem de família do Código Civil, bem doado com o intuito de haver indenização ou valor de seguro
cláusula de inalienabilidade e bem deixado por testa-
mento com cláusula de inalienabilidade. O crime de fraude para recebimento de indeniza-
Coisa própria gravada de ônus, por exemplo: pe- ção ou valor de seguro, segundo a doutrina majoritá-
nhor, hipoteca, anticrese, enfiteuse, servidão, superfí- ria, é crime formal, que se consuma com a prática da
cie, uso, usufruto, habitação e superfície. conduta, independentemente de o agente conseguir
Coisa própria litigiosa: bem sub-judice é aquele ou não receber os valores referentes a indenização ou
em que há uma ação judicial acerca da titularidade da valor de seguro.
propriedade. Lembre-se de que o agente não é punido penal-
Imóvel próprio que prometeu vender a terceiro, mente por causar mal somente a si mesmo, sendo
mediante pagamento em prestações. assim, caso ele se lesione sem o fim de receber seguro,
Observa-se que a lei é omissa em relação a imóvel ele não será sujeito passivo do crime.
que prometeu vender a terceiro, mediante pagamento O sujeito passivo será a seguradora.
à vista. Também é omissa sobre o compromisso que
recai sobre bens móveis, ainda que em prestações. Fraude no Pagamento por Meio de Cheque
O estelionato contra idoso sofre recentes altera- Art. 175 Enganar, no exercício de atividade comer-
ções pela Lei nº 14.155, de 2021, e aumenta a pena do cial, o adquirente ou consumidor:
estelionato de 1/3 ao dobro, quando cometido contra I - vendendo, como verdadeira ou perfeita, merca-
doria falsificada ou deteriorada;
idoso ou vulnerável. Vejamos:
II - entregando uma mercadoria por outra:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
Art. 171 [...]
§ 1º Alterar em obra que lhe é encomendada a qua-
§ 4º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) ao dobro,
lidade ou o peso de metal ou substituir, no mesmo
se o crime é cometido contra idoso ou vulnerável,
caso, pedra verdadeira por falsa ou por outra de
considerada a relevância do resultado gravoso.
menor valor; vender pedra falsa por verdadeira;
vender, como precioso, metal de ou outra qualidade:
Importante destacar também que essa majorante Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa. [...]
incide sobre todas as modalidades de estelionato.
Em regra, a ação procede-se mediante representa- No crime de fraude no comércio, se o criminoso é
ção, exceto nos casos previstos no § 5º, do art. 171.
primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz
pode substituir a pena de reclusão pela de detenção,
Art. 171 [...]
diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a
§ 5º Somente se procede mediante representação,
pena de multa.
salvo se a vítima for:
I - a Administração Pública, direta ou indireta;
II - criança ou adolescente; Outras Fraudes
III - pessoa com deficiência mental; ou
IV - maior de 70 (setenta) anos de idade ou incapaz. Art. 176 Tomar refeição em restaurante, alojar-se
em hotel ou utilizar-se de meio de transporte sem
Duplicata Simulada dispor de recursos para efetuar o pagamento:
Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou
Art. 172 Emitir fatura, duplicata ou nota de ven- multa.
da que não corresponda à mercadoria vendida, em Parágrafo único. Somente se procede mediante repre-
quantidade ou qualidade, ou ao serviço prestado. sentação, e o juiz pode, conforme as circunstâncias,
Pena - detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e deixar de aplicar a pena.
multa.
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrerá A primeira conduta é tomar refeição em restau-
NOÇÕES DE DIREITO
aquêle que falsificar ou adulterar a escrituração do rante sem dispor de recursos para efetuar o pagamento.
Livro de Registro de Duplicatas. A lei refere-se genericamente a restaurante, de tal
forma que abrange lanchonetes, cafés, bares e outros
O crime em tela é caracterizado pela consumação, estabelecimentos que sirvam refeição. Esta, aliás,
que ocorre com a mera colocação da duplicata em cir- engloba a ingestão de bebidas. Entende-se que o deli-
culação, não sendo necessário o prejuízo a terceiros. to não se configura quando o agente é servido em sua
Não há previsão de forma culposa. própria residência.
A segunda conduta incriminada é alojar-se em
Abuso de Incapazes hotel sem dispor de recursos para efetuar o pagamen-
to. A punição, evidentemente, estende-se a fatos que
Art. 173 Abusar, em proveito próprio ou alheio, de ocorram em estabelecimentos similares, como pen-
necessidade, paixão ou inexperiência de menor, ou sões ou pousadas. 295
A terceira e última conduta criminosa consiste em Art. 177 [...]
utilizar-se de meio de transporte (ônibus, táxi, lota- § 1º Incorrem na mesma pena, se o fato não consti-
ção, barco, trem) sem possuir recursos para efetuar o tui crime contra a economia popular:
pagamento. I - o diretor, o gerente ou o fiscal de sociedade por
ações, que, em prospecto, relatório, parecer, balan-
O tipo penal expressamente exige que o agente
ço ou comunicação ao público ou à assembléia, faz
realize as condutas típicas sem dispor de recursos
afirmação falsa sobre as condições econômicas da
para efetuar o pagamento naquele instante. sociedade, ou oculta fraudulentamente, no todo ou
É necessário (elementar do tipo penal) que o agen- em parte, fato a elas relativo;
te não tenha recursos para pagar a refeição, o aloja- II - o diretor, o gerente ou o fiscal que promove, por
mento ou o meio de transporte. qualquer artifício, falsa cotação das ações ou de
Caso o agente tenha os recursos necessários e, outros títulos da sociedade;
entretanto, recuse-se a efetuar o pagamento, não III - o diretor ou o gerente que toma empréstimo à
cometerá o crime de outras fraudes. sociedade ou usa, em proveito próprio ou de tercei-
Deve-se identificar a má-fé do agente quando da ro, dos bens ou haveres sociais, sem prévia autori-
zação da assembléia geral;
prática da conduta descrita no tipo penal. Ele deve
IV - o diretor ou o gerente que compra ou vende, por
saber que não dispõe de recursos para pagar e mes-
conta da sociedade, ações por ela emitidas, salvo
mo assim utilizar os serviços descritos. Caso ocor- quando a lei o permite;
ra um imprevisto, o agente perde seu dinheiro sem V - o diretor ou o gerente que, como garantia de cré-
saber, por exemplo, ele não será responsabilizado dito social, aceita em penhor ou em caução ações
penalmente. da própria sociedade;
Trata-se de crime promovido mediante ação penal VI - o diretor ou o gerente que, na falta de balanço,
pública condicionada à representação da vítima. em desacordo com este, ou mediante balanço falso,
Admite-se a aplicação do instituto do perdão judi- distribui lucros ou dividendos fictícios;
cial, já que o juiz, conforme as circunstâncias, poderá VII - o diretor, o gerente ou o fiscal que, por inter-
posta pessoa, ou conluiado com acionista, conse-
deixar de aplicar a pena.
gue a aprovação de conta ou parecer;
VIII - o liquidante, nos casos dos ns. I, II, III, IV, V
Fraudes e Abusos na Fundação ou Administração de e VII;
Sociedade por Ações IX - o representante da sociedade anônima estran-
geira, autorizada a funcionar no País, que pratica
Art. 177 Promover a fundação de sociedade por os atos mencionados nos ns. I e II, ou dá falsa infor-
ações, fazendo, em prospecto ou em comunicação mação ao Governo.
ao público ou à assembleia, afirmação falsa sobre a
constituição da sociedade, ou ocultando fraudulen- Observe que, em tal dispositivo, o legislador pune
tamente fato a ela relativo: o diretor, o gerente e, em alguns casos, o fiscal e o
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa, se o liquidante, que incidam em fraude em afirmação
fato não constitui crime contra a economia popular. referente à situação econômica da empresa, realizem
falsa cotação de ações, tomem emprestado ou usem
Trata-se de crime em que o fundador da socieda- indevidamente bens ou haveres da sociedade, com-
de por ações (sociedade anônima ou comandita por prem ou vendam ilegalmente ações, prestem caução
ações) induz ou mantém em erro os candidatos a ou penhor ilegais, distribuam lucros ou dividendos
sócios, o público ou presentes à assembleia, fazendo fictícios ou aprovem fraudulentamente conta ou pare-
falsa afirmação sobre circunstâncias referentes à sua cer. Todos esses crimes são próprios, pois só podem
constituição ou ocultando fato relevante desta. Pode ser cometidos pelas pessoas expressamente mencio-
girar elas sobre falsa informação a respeito de subs- nadas no texto legal.
crições ou entradas, de recursos técnicos da compa-
nhia, de nomes de pseudo-investidores etc. Na forma Emissão Irregular de Conhecimento de Depósito ou
omissiva, pode o agente cometer o crime ocultando o “Warrant”
nome dos fundadores, problemas técnicos etc., cujo
conhecimento poderia prejudicar ou impedir a subs- Art. 178 Emitir conhecimento de depósito ou war-
rant, em desacordo com disposição legal:
crição de ações e a própria constituição da sociedade.
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa
A fraude pode constar de prospecto ou de comunica-
ção feita ao público ou em assembleia da empresa.
Trata-se de dispositivo fundamentado no Decreto
Trata-se de crime próprio em que o sujeito ativo é
nº 1.102, de 1903, que permite a emissão do conheci-
o responsável pela fundação da sociedade por ações.
mento de depósito e do warrant quando mercadorias
Sujeitos passivos são as pessoas físicas ou jurídicas são depositadas em armazéns gerais.
que subscreveram o capital ludibriadas. Esses títulos, negociáveis por endosso, são entre-
É crime formal que se consuma no momento em gues ao depositante, sendo que o primeiro é documen-
que é lançado o prospecto ou o comunicado com a to de propriedade da mercadoria e confere ao dono o
afirmação falsa ou contendo a omissão fraudulenta poder de disposição sobre a coisa, enquanto o segun-
de informação relevante, ainda que disso não decorra do confere ao portador direito real de garantia sobre
qualquer resultado lesivo. as mercadorias.
Sobre a pena, é claro que as figuras do § 1º, art. 177, Quem possui ambos tem a plena propriedade
do CP, são subsidiárias, ou seja, cedem lugar quando delas.
o fato se enquadra como crime contra a economia Delito é a circulação desses títulos em desacordo
296 popular da Lei nº 1.521, de 1951. com disposição legal.
Trata-se de norma penal em branco, complemen- Antes de iniciarmos a análise de cada uma das
tada pelo Decreto nº 1.102, de 1903. divisões feitas, é importante mencionar que, segundo
De acordo com seus ditames, a emissão é irregular posicionamento doutrinário majoritário, confirmada
quando: pela jurisprudência do STF, a coisa deve ser móvel.
É importante que você saiba, também, que a recep-
z A empresa não está legalmente constituída (art. tação é punível ainda que desconhecido ou isento de
1º); pena o autor do crime de que proveio a coisa.
z Inexiste autorização do Governo Federal para a Logo, a punição da receptação não depende da
emissão (arts. 2º e 4º); punição do crime anterior, de que se obteve a coisa.
z Inexistem as mercadorias no documento
especificadas; Receptação Simples
z Há emissão de mais de um título para a mesma
mercadoria ou gêneros especificados no título; Art. 180 Adquirir, receber, transportar, conduzir
z O título não perfaz as exigências reclamadas no ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que
art. 15 do decreto. sabe ser produto de crime, ou influir para que ter-
ceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte:
Sujeito ativo é o depositário da mercadoria. Sujei- Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
to passivo é o endossatário ou portador que recebe o
título sem saber da ilegalidade. É crime comum, tanto em relação ao sujeito ativo,
O crime se consuma quando o título é colocado como em relação ao sujeito passivo.
em circulação e a tentativa não é possível, pois, ou o A doutrina divide a receptação simples em própria
agente o coloca em circulação, consumando o crime, ou imprópria. Conheça tal divisão:
ou não o faz, sendo atípica a conduta.
z Receptação Própria: adquirir, receber, transpor-
Fraude à Execução tar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou
alheio, coisa que sabe ser produto de crime;
Art. 179 Fraudar execução, alienando, desvian- z Receptação Imprópria: influir para que terceiro,
do, destruindo ou danificando bens, ou simulando de boa-fé, a adquira, receba ou oculte.
dívidas:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
A receptação é crime de tipo misto alternativo, poden-
Parágrafo único. Somente se procede mediante
do o agente ser responsabilizado penalmente caso prati-
queixa.
que qualquer um dos verbos descritos no tipo penal.
O crime consiste na existência de uma senten-
Receptação Qualificada
ça a ser executada ou de uma ação executiva e
mandamento.
O agente, com o fim de fraudar a execução, desfa- A receptação qualificada é aquela praticada no
z-se de seus bens por meio de uma das condutas des- exercício de atividade comercial ou industrial.
critas na lei:
Art. 180 [...]
§ 1º Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocul-
z Alienando;
tar, ter em depósito, desmontar, montar, remontar,
z Desviando;
vender, expor à venda, ou de qualquer forma utili-
z Destruindo ou danificando bens;
zar, em proveito próprio ou alheio, no exercício de
z Simulando dívidas. atividade comercial ou industrial, coisa que deve
saber ser produto de crime:
Sujeito ativo é o devedor. Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa.
Se for empresário e as condutas forem perpetra-
das após decretada sua quebra, o ato caracterizará É admitido, na receptação qualificada, tanto o dolo
crime falimentar. direto quanto o dolo eventual (coisa que deve saber
O sujeito passivo é o credor. ser produto de crime).
Trata-se de crime material que somente se consu-
ma quando a vítima sofre algum prejuízo patrimonial Art. 180 [...]
em consequência da atitude do agente. § 2º Equipara-se à atividade comercial, para efeito
A tentativa é possível quando o sujeito não conse- do parágrafo anterior, qualquer forma de comércio
gue realizar a conduta típica pretendida. irregular ou clandestino, inclusive o exercício em
A ação penal é privada. residência.
NOÇÕES DE DIREITO
O art. 213, apresenta duas formas de estupro qua- Art. 215 Ter conjunção carnal ou praticar outro
lificado pelo resultado: no § 1º (lesão grave) e no § 2º ato libidinoso com alguém, mediante fraude ou
(morte). Em relação à lesão corporal, esta pode ser outro meio que impeça ou dificulte a livre manifes-
tação de vontade da vítima:
tanto grave quanto gravíssima (a distinção encontra-
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.
-se no art. 129, CP, respectivamente, nos §§ 1º e 2º). As
Parágrafo único. Se o crime é cometido com o fim de
lesões leves são absorvidas.
obter vantagem econômica, aplica-se também multa.
Em relação a estes resultados mais graves (lesão
grave e morte), a maioria da doutrina entende ser
Consiste na prática de conjunção carnal ou outro
hipótese de crime preterdoloso, isto é, o resultado
ato libidinoso com alguém (homem ou mulher) com
lesão ou morte se dá por culpa do atente (lembre-se
emprego de fraude ou outro meio que impeça ou difi-
preterdolo = dolo na conduta antecedente e culpa na
culte a livre manifestação de vontade da vítima.
consequente). Nesse sentido, se o agente quer estu-
O exemplo clássico (que já apareceu em mais de
prar e também tem o dolo de lesionar ou de matar,
uma prova) é o do médico que pede para que a pacien-
vai responder pelos dois crimes em concurso. Alguns
te tire toda a roupa, pois precisa examiná-la e, sem
doutrinadores, no entanto, entre eles Guilherme Nuc-
que seja necessário, toca as partes íntimas da vítima
ci, entendem ser indiferente o fato do agente agir com (que foi enganada, pois pensou que os toques fossem
dolo ou culpa em relação ao resultado mais grave. parte normal do exame; ou seja houve engano sobre a
O § 1º apresenta, ainda, a qualificadora pela idade legitimidade do ato). Outro exemplo muito usado é o
da vítima, caso seja menor de 18 e maior de 14. Em
NOÇÕES DE DIREITO
ESTUPRO DE VULNERÁVEL
Os parágrafos 3º e 4º apresentam formas qualifi-
É primeiro dos crimes do Capítulo II, Crimes cadas, pela ocorrência de lesão corporal grave ou de
sexuais contra vulnerável. No caput do art. 217-A temos morte:
o estupro de vulnerável simples ou próprio:
§ 3º Se da conduta resulta lesão corporal de natu-
Art. 217-A Ter conjunção carnal ou praticar outro reza grave:
ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos: Pena – reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos.
Pena – reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos. § 4º Se da conduta resulta morte:
Pena – reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.
[...] § 1º Incorre na mesma pena quem pratica as z é crime material, consumando-se com a prática da
ações descritas no caput com alguém que, por conjunção carnal ou de outro ato libidinoso;
enfermidade ou deficiência mental, não tem o
z é cabível a tentativa;
necessário discernimento para a prática do ato, ou
que, por qualquer outra causa, não pode oferecer z trata-se de tipo misto alternativo (lembre-se dos
resistência. comentários já feitos em outros crimes contra a
dignidade sexual);
Assim, são considerados vulneráveis (sujeitos pas- z assim como comentamos no caso do estupro do
sivos) para os fins dos crimes sexuais: art. 213, não é necessário o contato físico entre o
autor e a vítima.
z Art. 217-A, caput:
Por fim, cabe mencionar um tema muito interes-
Menores de 14 anos (o Professor Rogério San- sante: trata-se da chamada Exceção de Romeu e Ju-
chez denomina esta de vulnerabilidade absoluta). lieta. Você certamente já ouviu falar do clássico de
William Shakespeare: Julieta é uma jovem que se apai-
z Art. 217-A, primeira parte:
xona por Romeu, de uma família rival. A personagem
Julieta, na obra, tinha 13 quando se relacionou amo-
Enfermos e doentes mentais que não pos-
rosamente com Romeu (que, tinha 17). Agora imagine
suem o discernimento necessário para a prá-
tal situação frente à legislação penal brasileira: Julieta
tica do ato sexual (Rogério Sanchez denomina
se enquadraria, como vimos, no conceito de vulnerá-
esta de vulnerabilidade relativa, uma vez que,
por se tratar de critério biopsicológico, pode vel. Segundo a teoria da Exceção de Romeu e Julieta,
acontecer do enfermo ou doente mental ter o caso haja consentimento e, desde que haja pequena
discernimento exigido para a prática do ato). diferença de idade entre os parceiros (normalmente
se fala em até 5 anos) não seria o caso de considerar o
z Art. 217-A, parte final: ato sexual, por exemplo, de um casal de namorados de
13 e 18 anos, como estupro. No entanto, no Brasil, con-
Qualquer um que, por outra causa, não pos- forme jurisprudência consolidada, tal exceção não
sa oferecer resistência (por exemplo uma se aplica (lembre-se, de acordo com o STJ, “o consen-
pessoa que se encontra em coma ou sob efei- timento da vítima, sua eventual experiência sexual
to de sedação; pessoa desacordada, por moti- anterior ou a existência de relacionamento amoroso
vo de embriaguez; vítima do golpe “boa noite entre o agente e a vítima não afastam a ocorrência do
304 cinderela”). crime” – Resp 148.0881/PI, julgado em 26/08/2015).
CORRUPÇÃO DE MENORES FAVORECIMENTO DA PROSTITUIÇÃO OU DE OUTRA
FORMA DE EXPLORAÇÃO SEXUAL DE CRIANÇA OU
O art. 218 do CP trata do crime de corrupção de ADOLESCENTE OU DE VUNERÁVEL
menores.
O art. 218-B tem seis núcleos:
Art. 218 Induzir alguém menor de 14 (catorze)
anos a satisfazer a lascívia de outrem. Art. 218-B. Submeter, induzir ou atrair à prostitui-
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos. ção ou outra forma de exploração sexual alguém
menor de 18 (dezoito) anos ou que, por enfermidade
ou deficiência mental, não tem o necessário discer-
Alguns autores entendem quo nomen juris (nome do
nimento para a prática do ato, facilitá-la, impedir
crime) foi revogado (a redação anterior falava em “cor-
ou dificultar que a abandone: Pena – reclusão, de 4
romper”, que foi trocada por “induzir”), e tratam este (quatro) a 10 (dez) anos.
delito de “indução de vulnerável à lascívia”. No entanto
essa divergência não traz maiores implicações.
Induzir, como você já sabe, é sugerir, dar a ideia de O art, 218-B visa punir o sujeito que insere (subme-
algo a alguém. Nesta figura, o sujeito ativo é o media- te, induz ou atrai) o menor de 18 anos ou o vulnerável
dor (intermediário ou proxeneta) que induz a vítima o (homem ou mulher) no âmbito da exploração sexual
(prostituição e turismo sexual), tráfico para fins se-
menor de 14 anos a satisfazer a lascívia (desejo sexual)
xuais e pornografia) ou facilita sua permanência ou
de outrem (do beneficiário: o voyeur ou observador).
impede ou dificulta sua saída. Em resumo é trazer
É importante saber que para se configurar o tipo do
a vítima vulnerável para a prostiuição (ou outra
art. 218, CP, o agente deve induzir a vítima (menor de forma de exploração) ou impedir que a vítima
14) a praticar algum ato que tenha a finalidade satis- saia desse meio (neste último caso trata-se de crime
fazer a lascívia de outra pessoa (o beneficário). Veja permanente).
bem, o ato deve ser unicamente contemplativo (como Existem 4 formas de exploração sexual:
por exemplo, fazer a vítima vestir uma fantasia sensual
ou se mostrar nua), ou seja, não ocorre contato físico z Prostituição;
entre o beneficiado e a vítima. Este terceiro também z Turismo sexual;
não pode vir a filmar, fotografar ou, de qualquer meio, z Tráfico para fins sexuais;
registrar a cena; caso isso ocorra, vai responder pelo z Pornografia.
previsto no art. 240 do ECA (crime mais grave, com
penas de reclusão entre 4 e 8 anos, além de multa). O art. 218-B só cuida da prostiuição e do turismo
Caso ocorra a prática de conjunção carnal ou outro sexual envolvendo vulnerável. O tráfico é tratado
ato libidinoso envolvendo a vítima, aquele que indu- pelo art. 149-A, CP,V (tráfico de pessoas); a pornografia
ziu (caso tenha agido dolosamente) e beneficiado, vão envonvendo vulnerável, pelos arts. 240, 241, 241-A e
responder pelo tipo do art. 217-A (estupro de vulne- 241-e, do ECA.
rável). Esta é a corrente majoritária, defendida por
Rogério Greco, Fernando Capez, Rogério Sanches e Proxenetismo Mercenário
Cleber Masson, entre outros.
Se houver a intenção do agente em obter lucro,
SATISFAÇÃO DE LASCÍVIA MEDIANTE PRESENÇA aplica-se também a pena de multa:
DE CRIANÇA OU ADOLESCENTE
§ 1º Se o crime é praticado com o fim de obter van-
tagem econômica, aplica-se também multa.
Art. 218-A Praticar, na presença de alguém menor
de 14 (catorze) anos, ou induzi-lo a presenciar,
Neste caso, se dá o nome ao o agente de proxeneta
conjunção carnal ou outro ato libidinoso, a fim de
mercenário.
satisfazer lascívia própria ou de outrem:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.
Formas Equiparadas
O tipo do artigo 218-A pode ser divido em duas
De acordo com o § 2º, incorre nas mesmas penas:
partes:
I - quem pratica conjunção carnal ou outro ato libi-
z p
raticar conjunção carnal ou outro ato libidinoso dinoso com vítima vulnerável em situação de pros-
apto a satisfazer o prazer sexual, na frente de víti- tiuição ou exploração sexual
ma menor de 14 anos; II - o proprietário, gerente ou responsável do local
NOÇÕES DE DIREITO
z induzir menor de 14 a presenciar tais atos. em que ocorre a prática do delito do caput, lem-
brando, claro, que devem ter conhecimento (pois
não há responsabilidade objetiva). Neste caso a
Aspectos que merecem destaque:
cassação da licença do local é efeito obrigatório
(§ 3º).
z d
e acordo com a maior parte da doutrina não se
exige a presença física da vítima no mesmo local
Trata-se de crime hediondo, em todas as formas:
onde ocorre a conjunção ou o ato libidonoso. Ou
caput, incisos I e II, § 2º. Agora já sabemos quais são
seja, pode ser praticado por meio virtual; os três os crimes contra a dignidade sexual que são
z é
tipo misto alternativo: se o sujeito induz a pre- hediondos:
senciar e também pratica os atos, responde por um
só crime; z Art.213, caput e §§: 305
Estrupo. IV - de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime
é praticado:
z Art.217-A, caput e §§: a) mediante concurso de 2 (dois) ou mais agen-
tes (estupro coletivo);
Estrupo de vulnerável. b) para controlar o comportamento social ou
sexual da vítima (estupro corretivo)
z Art.218-B, caput e §§:
Favorecimento da prostituição ou outra forma O Capítulo V apresenta 5 tipos penais (arts. 227,
de exploração sexual de vulnerável. 228, 229, 230 e 232-A). Sobre estes tipos, não há diver-
gências doutrinárias ou jurisprudênciais, valendo a
DIVULGAÇÃO DE CENA DE ESTUPRO OU DE CENA leitura da lei seca (note que o art. 232-A não tem nada
DE ESTUPRO DE VULNERÁVEL, DE CENA DE SEXO a ver com dignidade sexual, tratando de migração). Os
OU DE PORNOGRAFIA arts. 231 e 231-A foram revogados, passando o tema a
ser tratado pelo art. 149, CP.
O tipo do art. 218-C é um crime subsidiário, que O Capítulo VI traz dois tipos, o do art. 233 (ato obs-
possui seis núcleos (tipo misto alternativo): ceno) e 234 (escrito ou objeto obsceno). Sobre eles,
além da leitura da lei, cabe mencionar que há discus-
Art. 218-C Oferecer, trocar, disponibilizar, transmi- são sobre a constitucionalidade de ambos, em relação
tir, vender ou expor à venda, distribuir, publicar ou ao primeiro por violação ao princípio da taxatividade
divulgar, por qualquer meio - inclusive por meio de (seria muito vago, subjetivo) e, quanto ao segundo,
comunicação de massa ou sistema de informática por ferir a liberdade de expressão.
ou telemática -, fotografia, vídeo ou outro regis-
tro audiovisual que contenha cena de estupro ou
Por fim, o Capítulo VII, nos arts. 234-A e 234-B,
de estupro de vulnerável ou que faça apologia ou apresenta disposições que são aplicáveis a todo o
induza a sua prática, ou, sem o consentimento da Título dos crimes contra a dignidade sexual, confo-
vítima, cena de sexo, nudez ou pornografia: me observado abaixo:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o fato
não constitui crime mais grave. z Disposições aplicáveis a todos os crimes contra a
dignidade sexual:
Visa coibir qualquer tipo de divulgação de mate-
rial que contenha: Aumento de pena (234-A):
z c ena de estupro ou estupro de vulnerável ou que III – de metade a 2/3 (dois terços), se do crime resul-
faça apologia ou induza a prática de tais crimes; ta gravidez;
IV – de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o agente:
z c ena de sexo, nudez ou pornografia, sem o consen- a) transmite à vítima doença sexualmente
timento da vítima. transmissível de que sabe ou deveria saber ser
portador;
Para os fins do art. 218-C são vulneráveis: pessoas b) ou se a vítima é idosa (igual ou maior de 60 anos)
com enfermidades ou doença mental ou que não pos- ou pessoa com deficiência.
sam, por qualquer razão, oferecer resistência. Veja
bem: que estas devem ter mais de 18 anos! No caso Correm em segredo de justiça. (234-B)
da divulgação de imagens de estupro, estupro de vul-
nerável ou cenas de pornografia, nudez ou sexo, apli- E assim finalizamos o estudo dos crimes contra a
cam-se as disposições do ECA. dignidade sexual.
Bem, agora sabemos quais são os crimes contra a
dignidade sexual mais importantes (capítulos I e II) e CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
quais as divergências doutrinárias e jurisprudenciais
que são aplicados a eles. O Capítulo III, que tratava Crimes Praticados por Funcionários Públicos Contra
sobre o Rapto, está revogado. a Administração em Geral
O Capítulo IV, nos arts. 225 e 226 apresentantam
disposições gerais que se aplicam aos crimes que já Nos crimes contra a Administração Pública, o bem
vimos até agora (do art. 213 ao 218-C). Veja abaixo. jurídico genericamente tutelado é a moralidade ou
probidade administrativa.
z Disposições aplicáveis a todos os crimes dos Cap. I Os crimes praticados por funcionário público con-
e II: tra a administração em geral são chamados de crimes
funcionais. Os crimes funcionais são aqueles prati-
Procedem-se mediante ação penal pública cados contra a administração pública por indivíduo
incondicionada (art. 225) que se encontra investido em uma função pública. São
divididos em funcionais próprios ou puros e funcio-
Aumento de pena (art. 226): nais impróprios ou impuros.
I – de quarta parte, se o crime é cometido com o Os crimes funcionais próprios são aqueles que
concurso de 2 (duas) ou mais pessoas; serão atípicos caso não sejam praticados por funcio-
II - de metade, se o agente é ascendente, padrasto nários públicos. Segundo a doutrina, neste caso, ocor-
ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companhei- rerá uma hipótese de atipicidade absoluta.
ro, tutor, curador, preceptor ou empregador Vejamos que a conduta que define o crime de pre-
da vítima ou por qualquer outro título tiver varicação será atípica caso não seja praticada por um
306 autoridade sobre ela; funcionário público.
Os crimes funcionais impróprios são aqueles que autarquias, por falta de previsão legal. Lembre-se
serão desclassificados para outras infrações penais de que o nosso ordenamento jurídico não admite a
caso não sejam praticados por funcionários públicos. analogia para prejudicar o agente.
Segundo a doutrina, neste caso, ocorrerá uma Os crimes funcionais admitem a coautoria de par-
hipótese de atipicidade relativa. ticular, sendo possível que este venha a ser responsa-
Já a conduta que define o crime de peculato-furto, bilizado por delito funcional contra a administração
praticada por meio do verbo subtrair, será desclassi- pública, desde que pratique a infração penal em concur-
ficada para o crime de furto, caso não seja praticada so com funcionário público e conheça esta qualidade.
por um funcionário público. Vamos exemplificar: José, funcionário público, con-
O Código Penal, em seu § 1º, do art. 327, traz o vida seu amigo de infância, Jonas, para juntos, subtraí-
conceito do que se entende por funcionário público. rem um computador na repartição pública que aquele
Vejamos: trabalha. O funcionário público obteria facilidades para
praticar o crime, já que havia ficado com a chave da
Art. 327 Considera-se funcionário público, para os repartição naquele período. No dia determinado, os
efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou agentes vão ao local e subtraem o computador.
sem remuneração, exerce cargo, emprego ou fun-
No exemplo apresentado, tanto José quanto Jonas
ção pública.
responderão pelo crime de peculato (vamos estudar
§ 1º Equipara-se a funcionário público quem exerce
suas características a seguir), já que praticaram a con-
cargo, emprego ou função em entidade paraestatal,
e quem trabalha para empresa prestadora de ser- duta em concurso de pessoas e a condição de caráter
viço contratada ou conveniada para a execução de pessoal (ser funcionário público) se comunica aos
atividade típica da Administração Pública. demais agentes (é necessário que eles conheçam a
condição).
A Lei de Improbidade Administrativa também traz Não podemos deixar de tratar do concurso de pes-
um conceito de funcionário público. Veja o que dispõe soas nos crimes funcionais. Os crimes funcionais são
o art. 2º, da Lei nº 8.429, de 1992: crimes próprios, à medida que o autor deve ser fun-
cionário público.
Art. 2° Reputa-se agente público, para os efeitos Em regra, não podem serem praticados por qual-
desta lei, todo aquele que exerce, ainda que tran- quer pessoa, entretanto, admitem a participação e a
sitoriamente ou sem remuneração, por eleição, coautoria, bem como a autoria mediata.
nomeação, designação, contratação ou qualquer
Observe que o particular sozinho não pratica cri-
outra forma de investidura ou vínculo, mandato,
me funcional, mas, se unido com outro funcionário
cargo, emprego ou função nas entidades menciona-
público, também responderá pelo delito.
das no artigo anterior.
Isso é decorrente da teoria monista ou unitária da
Veja que aqueles que exercem atividade transi- ação, prevista nos arts. 29 e 30 do CP, na qual “todo
tória, mesmo sem remuneração, também são con- aquele que concorre para o crime responde para o
siderados funcionários públicos. Logo, o mesário de mesmo crime”.
eleição, por exemplo, é funcionário público para efei- Nesse sentido, vamos exemplificar, pois responde
tos penais, à medida que exerce uma função pública. por peculato o particular que, a mando do funcionário
O art. 327 do CP faz menção a cargo público, público subtrai bens da repartição pública. Igualmente,
emprego público e função pública, vamos distinguir: enquadra-se na corrupção passiva a mulher do funcio-
nário público que instiga o marido a aceitar a propina.
z Cargo público é o criado por lei, com nomenclatu-
ra e número certo, além de possuir como instru- Peculato
mento vinculativo o estatuto;
z Emprego público, por sua vez, é o vínculo regido pela Art. 312 Apropriar-se o funcionário público de
CLT entre o trabalhador e a Administração; dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, públi-
z Função pública é tratada de forma residual, abar- co ou particular, de que tem a posse em razão do
cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio:
cando todas as demais pessoas que exercem algum
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.
tipo de função de natureza pública. Assim, pode-
§ 1º Aplica-se a mesma pena, se o funcionário públi-
mos citar como exemplo os jurados, os mesários, o co, embora não tendo a posse do dinheiro, valor ou
tabelião, o estagiário, dentre outros. bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído,
em proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilida-
No § 2º do art. 327, o Código Penal apresenta uma
de que lhe proporciona a qualidade de funcionário.
causa de aumento de pena aplicável a todos os crimes Peculato culposo
praticados por funcionário público contra a adminis- § 2º Se o funcionário concorre culposamente para o
tração em geral. Observe: crime de outrem:
NOÇÕES DE DIREITO
A prevaricação imprópria só poderá ser pratica- Art. 321 Patrocinar, direta ou indiretamente, inte-
da pelo diretor de penitenciária ou pelo funcionário resse privado perante a administração pública,
público que tem o dever funcional de impedir que o valendo-se da qualidade de funcionário
preso tenha acesso a aparelho de comunicação com Pena - detenção, de um a três meses, ou multa
outros presos ou com o ambiente externo. Parágrafo único - Se o interesse é ilegítimo:
Sobre a prevaricação imprópria, é importante Pena - detenção, de três meses a um ano, além da
ressaltar: multa.
A condescendência criminosa está prevista no art. É necessário que a condição de funcionário públi-
320 do Código Penal. co proporcione alguma facilidade ao sujeito ativo, que
patrocina interesse de terceiro, pessoa privada, caso
Art. 320 Deixar o funcionário, por indulgência, de não haja facilidade alguma proporcionada pelo cargo,
responsabilizar subordinado que cometeu infração o fato será atípico.
no exercício do cargo ou, quando lhe falte compe- O agente pode praticar este crime de diversas
tência, não levar o fato ao conhecimento da autori- maneiras, como, por exemplo, fazendo uma petição
dade competente: solicitando um benefício;
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.
z Modalidade qualificada: o crime de advocacia
Este crime pode ser praticado de duas formas:
administrativa será qualificado caso o interesse
z Quando o funcionário público, por indulgência, privado seja ilegítimo;
deixa de responsabilizar o subordinado que come- z Forma simples: interesse privado legítimo;
teu infração no exercício do cargo; z Forma qualificada: interesse privado ilegítimo.
z Quando o funcionário público, que não é compe-
tente para responsabilizar aquele que cometeu Sobre a advocacia administrativa, leve isso
infração no exercício do cargo, por indulgência, para sua prova:
não levar o fato ao conhecimento da autoridade
competente. z Não admite a modalidade culposa;
z É crime formal, que se consuma com a conduta,
A doutrina majoritária entende que o crime de não se exigindo que se atinja o interesse priva-
condescendência criminosa só pode ser praticado por do pleiteado;
superior hierárquico. z Segundo doutrina majoritária, admite tentativa
Você pode entender indulgência como compaixão, quando for possível se fracionar o iter criminis.
pena, piedade.
Há um requisito que deve ser cumprido para a Violência Arbitrária
prática da condescendência criminosa: uma infração
Art. 322 Praticar violência, no exercício de função
funcional (que pode ser uma violação administrativa
ou a pretexto de exercê-la.
ou penal) praticada por subordinado no exercício das
Pena - detenção, de seis meses a três anos, além da
atribuições do seu cargo. pena correspondente à violência.
Sobre a condescendência criminosa, saiba:
Na vigência da antiga Lei de abuso de autoridade,
z Não admite a forma culposa; encontrávamos alguns posicionamentos jurispruden-
z É crime omissivo; ciais, tanto do STF quanto do STJ, entendendo que este
314 z Não admite tentativa. crime continua em vigência.
Agora, a nova Lei de Abuso de Autoridade admite a Exige-se que o abandono se dê por um prazo rele-
possibilidade de aplicação subsidiária do art. 322, do CP. vante, apesar de o Código Penal não fixar prazo determi-
A prática da violência deve se dar em razão da nado. Entende a doutrina que o prazo será fixado pelo
função pública, não havendo a exigência de que seja estatuto a que estiver submetido o funcionário público.
praticado no efetivo desempenho das funções do Sobre o crime de abandono de função, leve para
cargo, podendo, portanto, ser praticada, por exemplo, a sua prova:
por um funcionário público que se encontre de folga.
O agente que fizer uso de violência arbitrária res- z É crime omissivo;
ponderá por este crime e pelo crime correspondente à z Não admite tentativa;
violência praticada. z Só pode ser praticado dolosamente – não admite
Apesar da divergência existente sobre a revogação a culpa.
ou não deste tipo penal, leve em consideração que:
z A violência arbitrária não admite a forma culposa, Exercício Funcional Ilegalmente Antecipado ou
devendo ser praticado dolosamente; Prolongado
z Admite tentativa;
z Segundo Rogério Greco, o objeto material será o Este crime está previsto no art. 324, do CP.
administrado contra o qual é praticada a violência
arbitrária; Art. 324 Entrar no exercício de função pública
z A violência tem que ser praticada arbitrariamente, antes de satisfeitas as exigências legais, ou conti-
não se enquadrando neste tipo penal as hipóteses nuar a exercê-la, sem autorização, depois de saber
de uso necessário e progressivo da força, admiti- oficialmente que foi exonerado, removido, substi-
dos em lei. tuído ou suspenso:
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.
Abandono de Função
Tutela-se a Administração Pública, no tocante ao
O crime de abandono de função está tipificado no seu normal funcionamento, pois o exercício ilegal de
art. 323, do CP. função pública afeta a prestação de serviços públicos.
Art. 323 Abandonar cargo público, fora dos casos
permitidos em lei: Este crime pode ser praticado de duas formas:
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.
§ 1º - Se do fato resulta prejuízo público: Entrar no exercício de função pública antes de
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. satisfeitas as exigências legais;
§ 2º - Se o fato ocorre em lugar compreendido na Continuar a exercer a função pública, sem auto-
faixa de fronteira: rização, depois de saber oficialmente que foi
Pena - detenção, de um a três anos, e multa. exonerado, removido, substituído ou suspenso.
É exigido que o funcionário público tenha sido
A conduta típica é a de abandonar cargo público, oficialmente comunicado sobre sua exonera-
fora dos casos permitidos em Lei. ção, remoção, substituição ou suspensão.
O nome do crime é abandono de função, porém,
o tipo penal fala em abandono de cargo público. É Observe que no exercício funcional ilegalmente
importante que você saiba que o conceito de função antecipado ou prolongado somente pode ser prati-
pública é mais amplo que o de cargo público (não há cado por funcionário público já nomeado, mas ainda
cargo sem função, mas há função sem cargo). sem ter cumprido todas as exigências legais (1ª parte),
Sendo assim, não haverá crime se ocorrer mero ou então pelo indivíduo que era funcionário público,
abandono de função pública (apesar do nome) ou de porém deixou de ser em razão de ter sido oficialmente
emprego público, mas tão somente no caso de aban- exonerado, removido, substituído ou suspenso (parte
dono de cargo público (não se admite a analogia in final).
malam partem). Em ambas as hipóteses, o crime é de mão própria,
De acordo com posicionamento doutrinário majoritá- de atuação pessoal ou de conduta infungível, pois
rio, as hipóteses de greve não configuram este tipo penal.
somente pode ser cometido pela pessoa expressamen-
As hipóteses em que o agente abandona o cargo
te indicada no tipo penal.
público, admitidas em Lei, não configuram o crime de
Se um particular entrar no exercício da função
abandono de função.
pública, a ele deverá ser imputado o crime de usurpa-
O crime de abandono de função tem circunstân-
cias que o qualificam: ção de função pública (art. 328 do CP).
Sobre o tipo penal em comento, é importante
z Se o fato resulta prejuízo público; saber:
NOÇÕES DE DIREITO
Art. 334 Iludir, no todo ou em parte, o pagamento incorrendo nas mesmas penas quem:
de direito ou imposto devido pela entrada, pela saí-
da ou pelo consumo de mercadoria. z Pratica navegação de cabotagem, fora dos casos
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. permitidos em lei;
§ 1° Incorre na mesma pena quem:
z Pratica fato assimilado, em lei especial, a descaminho;
I - pratica navegação de cabotagem, fora dos casos
z Vende, expõe à venda, mantém em depósito ou,
permitidos em lei;
II - pratica fato assimilado, em lei especial, a de qualquer forma, utiliza em proveito próprio
descaminho; ou alheio, no exercício de atividade comercial
III - vende, expõe à venda, mantém em depósito ou industrial, mercadoria de procedência estran-
ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio geira que introduziu clandestinamente no País
ou alheio, no exercício de atividade comercial ou ou importou fraudulentamente ou que sabe ser
industrial, mercadoria de procedência estrangeira produto de introdução clandestina no território 319
nacional ou de importação fraudulenta por parte O crime de contrabando apresenta, também, uma
de outrem; causa que aumenta a pena pelo dobro para o caso de
z Adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio o crime ser praticado em transporte aéreo, marítimo
ou alheio, no exercício de atividade comercial ou ou fluvial.
industrial, mercadoria de procedência estrangeira, Sobre o crime de contrabando, é importante
desacompanhada de documentação legal ou acom- que você leve para a sua prova:
panhada de documentos que sabe serem falsos.
z Trata-se de crime comum, que pode ser praticado
O Código Penal estabelece que a atividade comer- por qualquer pessoa;
cial é equiparada, para os efeitos do crime de desca- z Não admite a modalidade culposa;
minho, a qualquer forma de comércio irregular ou z Admite tentativa;
clandestino de mercadorias estrangeiras, inclusive o
z Não admite a aplicação do princípio da insignificância.
exercido em residências.
A pena do crime de descaminho será aplicada em É importante mencionar que no caso de produ-
dobro se o crime é praticado em transporte aéreo, tos específicos, a exemplo de armas de fogo ou subs-
marítimo ou fluvial. tâncias entorpecentes, irá prevalecer a aplicação da
Sobre o crime de descaminho, é importante que legislação especial, aplicando-se, respectivamente, o
você leve em consideração: estatuto do desarmamento (Lei 10.826, de 2003) e a Lei
de Drogas (Lei 11.343, de 2006).
z As figuras equiparadas ao crime de descaminho
De acordo com a Súmula 151, do STJ:
são: a pratica de navegação de cabotagem fora dos
casos permitidos em lei, pratica fato assimilado, A competência para o processo e julgamento por
em lei especial, a descaminho, etc; crime de contrabando ou descaminho define-se pela
z Trata-se de crime comum, que pode ser praticado prevenção do Juízo Federal do lugar da apreensão
por qualquer pessoa; dos bens.
z Admite a forma tentada, quando, no caso de expor-
tação, o crime é tentado se a mercadoria não chega Impedimento, Perturbação ou Fraude de Concorrência
a sair do país;
z A fraude utilizada pelo agente para iludir o paga- Art. 335 Impedir, perturbar ou fraudar concorrên-
mento de imposto pode se dar tanto em relação cia pública ou venda em hasta pública, promovida
à quantidade quanto em relação à qualidade do pela administração federal, estadual ou municipal,
produto; ou por entidade paraestatal; afastar ou procurar
z Não admite a modalidade culposa; afastar concorrente ou licitante, por meio de vio-
z Admite a aplicação do princípio da insignificância, lência, grave ameaça, fraude ou oferecimento de
nos casos em que o valor seja inferior àquele con- vantagem:
siderado irrelevante para fins de execução fiscal. Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou mul-
ta, além da pena correspondente à violência.
Parágrafo único - Incorre na mesma pena quem se
Importante! abstém de concorrer ou licitar, em razão da vanta-
gem oferecida.
Tanto para o STF quanto para o STJ, atualmente,
poderá ser aplicado o princípio da insignificância Afastar ou procurar afastar concorrente ou lici-
ao crime de descaminho que não exceda o valor tante, por meio de violência, grave ameaça, fraude ou
de R$ 20.000,00 (vinte mil reais). oferecimento de vantagem.
Trata-se de tipo penal misto alternativo (crime de
ação múltipla), que poderá ser praticado mediante
Conduta típica: importar ou exportar mercadoria execução de vários verbos:
proibida. São figuras equiparadas ao crime de contra-
bando, incorrendo nas mesmas penas quem:
z Impedir;
z Pratica fato assimilado, em lei especial, a z Perturbar;
contrabando; z Fraudar;
z Importa ou exporta clandestinamente mercadoria z Afastar;
que dependa de registro, análise ou autorização de z Procurar afastar.
órgão público competente;
z Reinsere no território nacional mercadoria brasi- Caso o crime seja praticado mediante violência, o
leira destinada à exportação; agente responderá também por ela (detenção, de seis
z Vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, meses a dois anos, ou multa, além da pena correspon-
de qualquer forma, utiliza em proveito próprio dente à violência).
ou alheio, no exercício de atividade comercial ou Forma equiparada: responderá com a mesma pena
industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira; do impedimento, perturbação ou fraude de concor-
z Adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio rência o agente que se abstém de concorrer ou licitar,
ou alheio, no exercício de atividade comercial ou em razão da vantagem oferecida.
industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira. Responderá pelo crime em sua forma equiparada
O Código Penal equipara, para os efeitos do crime o agente que se abster de concorrer ou licitar, devido
de contrabando, à atividade comercial, qualquer à vantagem oferecida. Caso seja por algum outro moti-
forma de comércio irregular ou clandestino de vo, como por violência ou grave ameaça, aquele que
mercadorias estrangeiras, inclusive o exercido em se abster não será responsabilizado criminalmente.
320 residências.
Sobre este crime, é importante que você leve Tutela-se a Administração Pública, relativamente
em consideração o seguinte: ao normal funcionamento da atividade administrativa.
Cabe destacar que o livro oficial, processo ou docu-
z Não admite forma culposa; mento (público ou particular) é confiado à custódia de
z É crime comum; funcionário, em razão de ofício, ou de particular em
z É crime material nas seguintes condutas: impe- serviço público.
dir, perturbar ou fraudar concorrência pública ou Por isso é dever confiar a custódia de funcioná-
venda em hasta pública, promovida pela adminis- rio, em razão de ofício, não se verificando este crime
tração federal, estadual ou municipal, ou por enti- quando alguém subtrai ou inutiliza, total ou parcial-
dade paraestatal; mente, um livro oficial, processo ou documento de
z É crime formal nas seguintes condutas: afastar quem não o guarda por conta da sua função.
ou procurar afastar concorrente ou licitante, por É importante analisar que na parte final do precei-
meio de violência, grave ameaça, fraude ou ofere- to primário do dispositivo em estudo tem a expressão
cimento de vantagem; “ou de particular em serviço público”, pois existem,
z Admite tentativa. em certas hipóteses excepcionais, particulares que
desempenham funções públicas, por exemplo, mesá-
Inutilização de Edital ou de Sinal rio nas eleições. Observe que se alguém subtrair ou
inutilizar, total ou parcialmente, algum documento
Art. 336 Rasgar ou, de qualquer forma, inutilizar confiado a estas pessoas, a ele será imputado o crime
ou conspurcar edital afixado por ordem de fun- de subtração ou inutilização de livro ou documento.
cionário público; violar ou inutilizar selo ou sinal Sobre o núcleo do tipo:
empregado, por determinação legal ou por ordem
de funcionário público, para identificar ou cerrar z Subtrair: retirar o livro oficial, processo ou docu-
qualquer objeto: mento do local em que se encontra, dele se apode-
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa. rando o agente;
z Inutilizar: tornar imprestável o livro oficial, pro-
O crime de inutilização de edital ou de sinal, pre- cesso ou documento, total ou parcialmente. Não se
visto no art. 336 do Código Penal, é de ação múltipla, reclama sua efetiva destruição.
podendo ser praticado da seguinte forma:
Consuma-se o crime em estudo no instante em que
z Rasgar ou, de qualquer forma inutilizar ou cons- o livro oficial, processo ou documento é subtraído,
purcar (manchar ou tornar sujo, de forma que não mediante seu apoderamento pelo agente, seguido da
possa ser utilizado) edital afixado por ordem de inversão da sua posse e sua consequente retirada da
funcionário público; esfera de vigilância da vítima, ou então inutilizado,
z Violar ou inutilizar selo ou sinal empregado, por total ou parcialmente.
determinação legal ou por ordem de funcionário Observe que se o documento se destina a fazer prova
público, para identificar ou cerrar (encobrir) qual- de relação jurídica, e o agente visa beneficiar a si pró-
quer objeto. prio ou a terceiro, o fato constituirá crime mais grave.
Sobre este tipo penal, é importante que você fique
Sobre o crime de inutilização de edital ou de atento ao seguinte:
sinal, leve em consideração:
z É crime comum;
z É crime comum; z Admite tentativa;
z Admite tentativa; z É crime subsidiário, respondendo o agente por ele
z Segundo posicionamento doutrinário dominante, apenas caso não se configure um crime mais grave;
caso a conduta seja praticada quando não mais pro- z Na hipótese de o documento se destinar a fazer pro-
duz efeito o edital (fora do seu prazo de validade, va de relação jurídica, e o agente visar se beneficiar a
por exemplo), não irá se configurar este tipo penal. si próprio ou a terceiro, o fato constituirá mais grave;
z Somente será praticado na modalidade dolosa.
Subtração ou Inutilização de Livro ou Documento
Sonegação de Contribuição Previdenciária
O crime de subtração ou inutilização de livro ou
documento, previsto no art. 337, do CP. O crime de sonegação de contribuição previden-
ciária está previsto no art. 337-A, do Código Penal.
Art. 337 Subtrair, ou inutilizar, total ou parcial-
NOÇÕES DE DIREITO
ção da ordem cronológica de sua exigibilidade: Art. 337-L Fraudar, em prejuízo da Administra-
Pena - reclusão, de 4 (quatro) anos a 8 (oito) anos, ção Pública, licitação ou contrato dela decorrente,
e multa. mediante:
I - entrega de mercadoria ou prestação de serviços
Aqui, temos duas figuras distintas no tipo – modifi- com qualidade ou em quantidade diversas das pre-
cação irregular de contrato e pagamento irregular de vistas no edital ou nos instrumentos contratuais;
contrato. Vale dizer que, sobre a ordem cronológica II - fornecimento, como verdadeira ou perfeita, de
de pagamento, há regramento específico no art. 141 e mercadoria falsificada, deteriorada, inservível para
seguintes, da Lei nº 14.133, de 2021. Trata-se, portanto, consumo ou com prazo de validade vencido;
de norma penal em branco. III - entrega de uma mercadoria por outra;
Perceba, ainda, que há duas figuras dentro do IV - alteração da substância, qualidade ou quanti-
mesmo tipo. A primeira traz um tipo misto alternativo dade da mercadoria ou do serviço fornecido; 323
V - qualquer meio fraudulento que torne injusta- § 1º Consideram-se condição de contorno as infor-
mente mais onerosa para a Administração Pública mações e os levantamentos suficientes e necessá-
a proposta ou a execução do contrato: rios para a definição da solução de projeto e dos
Pena - reclusão, de 4 (quatro) anos a 8 (oito) anos, respectivos preços pelo licitante, incluídos son-
e multa. dagens, topografia, estudos de demanda, condi-
ções ambientais e demais elementos ambientais
Trata-se de crime de forma vinculada, pois a Lei, impactantes, considerados requisitos mínimos ou
por meio dos incisos dispostos, elencou as condutas obrigatórios em normas técnicas que orientam a
nas quais incidirá no tipo o sujeito ativo. Ademais, é elaboração de projetos.
crime comum, doloso e material, pois é exigido o pre- § 2º Se o crime é praticado com o fim de obter benefí-
juízo à Administração Pública para a sua consumação, cio, direto ou indireto, próprio ou de outrem, aplica-se
sendo admissível a tentativa. em dobro a pena prevista no caput deste artigo.
Vejamos, agora, a contratação inidônea.
Aqui, temos um crime que não encontra correspon-
Art. 337-M Admitir à licitação empresa ou profis- dência na lei anterior. Perceba que, ainda que o nome do
sional declarado inidôneo: tipo traga o termo “omissão”, apenas um dos três núcleos
Pena - reclusão, de 1 (um) ano a 3 (três) anos, e presentes no caput será crime omissivo puro (omitir).
multa. O tipo traz as condições. Vejamos:
§ 1º Celebrar contrato com empresa ou profissional
declarado inidôneo:
z Contorno em relevante dissonância com a realidade;
Pena - reclusão, de 3 (três) anos a 6 (seis) anos, e
z Em frustração ao caráter competitivo da licitação;
multa.
z Em detrimento da seleção da proposta mais vanta-
§ 2º Incide na mesma pena do caput deste artigo
aquele que, declarado inidôneo, venha a participar josa para a Administração Pública.
de licitação e, na mesma pena do § 1º deste artigo,
aquele que, declarado inidôneo, venha a contratar Ainda, traz os contextos em que deverá ocorrer a
com a Administração Pública. conduta, para que se caracterize o crime:
Diferentemente da conduta constante do § 2º, a qual z Contratação para a elaboração de projeto básico,
constitui crime comum, a conduta incriminada no caput projeto executivo ou anteprojeto;
é um crime próprio, podendo ser praticada somente por z Diálogo competitivo;
agente público. Já o § 1º traz forma qualificada do delito z Procedimento de manifestação de interesse.
previsto no caput, ocorrendo a absorção da conduta de
admissão no caso da celebração do contrato. As formas de contração colocadas acima são pre-
Nas formas simples e qualificada, são normas vistas na Lei nº 14.133, de 2021, por isso se trata de
penais em branco, por dependerem da definição da norma penal em branco. O § 2º traz a hipótese de
declaração de inidoneidade. Ainda, trata-se de crime majoração da pena. Como não há restrição, deve-se
doloso, não sendo admitida a forma culposa. interpretar que qualquer benefício será suficiente
Vejamos, agora, o crime de impedimento indevido. para o enquadramento na hipótese.
Trata-se, portanto, de crime comum, pois, embora
Art. 337-N Obstar, impedir ou dificultar injusta- a Lei use o termo projetista, o verbo trazido constante
mente a inscrição de qualquer interessado nos do caput (entregar) poderá ser praticado por qualquer
registros cadastrais ou promover indevidamente a
pessoa. Ainda, é hipótese de delito formal, sendo pos-
alteração, a suspensão ou o cancelamento de regis-
sível a tentativa, exceto na modalidade “omitir”, por
tro do inscrito:
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e
se tratar de crime omissivo próprio.
multa. Por fim, temos um regramento específico para a
aplicação de multas nos casos dos crimes constantes
Nesse tipo penal, temos duas figuras distintas. Ambas dos artigos que estudamos até aqui.
configuram crime próprio. Dentre os verbos constantes
Art. 337-P A pena de multa cominada aos crimes
do tipo, apenas “dificultar” será crime de mera condu-
previstos neste Capítulo seguirá a metodologia de
ta, sendo que, nos demais, há necessidade de resultado
cálculo prevista neste Código e não poderá ser infe-
naturalístico, tratando-se de crimes materiais. Cabe fri- rior a 2% (dois por cento) do valor do contrato lici-
sar que, em todas as modalidades, será cabível a ten- tado ou celebrado com contratação direta.”
tativa. O crime poderá ser instantâneo (dificultar ou
promover) ou permanente (obstar ou impedir). Vale destacar que a metodologia para o cálculo da
Vamos, agora, conhecer o tipo omissão grave de multa será a constante do Código Penal, porém com
dado ou de informação por projetista. piso mínimo de 2% do valor do contrato licitado ou
celebrado por meio de contratação direta.
Art. 337-O Omitir, modificar ou entregar à Adminis-
tração Pública levantamento cadastral ou condição
CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA
de contorno em relevante dissonância com a reali-
A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ESTRANGEIRA
dade, em frustração ao caráter competitivo da licita-
ção ou em detrimento da seleção da proposta mais
vantajosa para a Administração Pública, em contra- Os Crimes previstos acima dividem-se em dois
tação para a elaboração de projeto básico, projeto tipos penais:
executivo ou anteprojeto, em diálogo competitivo ou
em procedimento de manifestação de interesse: z Corrupção ativa em transação comercial internacional;
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, e z Tráfico de influência em transação comercial
324 multa. internacional.
Inicialmente, é importante destacar quem é o fun- z No verbo dar, trata-se de crime material, que se
cionário público estrangeiro e quem se equipara a consuma com a obtenção do resultado;
funcionário público estrangeiro. z Admite tentativa, quando for possível fracionar
o iter criminis, as fases do crime, da cogitação ao
z Funcionário Público Estrangeiro: exaurimento.
O crime de corrupção ativa em transação comer- O crime de tráfico de influência em transação comer-
cial internacional terá sua pena aumentada de 1/3 cial internacional, previsto no art. 337-C do Código Penal,
NOÇÕES DE DIREITO
z Só poderá ser praticado dolosamente; A denunciação caluniosa está prevista no art. 339
z É crime comum; do Código Penal.
z Nos verbos solicitar, exigir e cobrar, trata-se de cri-
me formal, de consumação antecipada; Art. 339 Dar causa à instauração de inquérito poli-
z No verbo obter, trata-se de crime material, que se cial, de procedimento investigatório criminal, de
consuma com a obtenção do resultado; processo judicial, de processo administrativo dis-
z Admite tentativa, quando for possível fracionar o ciplinar, de inquérito civil ou de ação de improbi-
iter criminis. dade administrativa contra alguém, imputando-lhe
crime, infração ético-disciplinar ou ato ímprobo
CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA de que o sabe inocente: (Redação dada pela Lei nº
14.110, de 2020)
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.
Os crimes contra a administração da justiça têm
§ 1º A pena é aumentada de sexta parte, se o agente
como finalidade proteger uma regular fruição da
se serve de anonimato ou de nome suposto.
atividade judicial brasileira, incluindo atividades de
§ 2º A pena é diminuída de metade, se a imputação
natureza policial.
é de prática de contravenção.
A atividade judicial é de fundamental importância
para a sociedade, necessitando, assim, de proteção
por parte do Direito Penal. Com a nova redação dada ao dispositivo no final
do ano de 2020, o legislador alterou alguns requisitos
para que a denunciação caluniosa seja configurada.
Reingresso de Estrangeiro Expulso
Diferente da redação anterior, agora, a conduta
abarcada pelo dispositivo é mais ampla quanto às
Art. 338 Reingressar no território nacional o formas de praticar. Podemos observar que o disposi-
estrangeiro que dele foi expulso: tivo se refere à imputação não somente de crime, mas
Pena - reclusão, de um a quatro anos, sem prejuízo também de infração ético-disciplinar e ato ímprobo.
de nova expulsão após o cumprimento da pena. Por outro lado, o legislador colocou um segundo
requisito que restringe a configuração do tipo penal.
Este crime, previsto no art. 338 do Código Penal, Com a nova redação a denunciação caluniosa somen-
irá se configurar quando o estrangeiro que foi expulso te será praticada se da conduta do agente resultar na
do Brasil reingressar ao território nacional. instauração de inquérito policial, de PIC (procedimen-
O Ministério da Justiça e Segurança Pública escla- to investigatório criminal, de competência do MP), de
rece que a expulsão consiste em medida coercitiva de processo judicial, de PAD (processo administrativo
caráter discricionário de um Estado, levada a efeito disciplinar), de inquérito civil ou de ação de improbi-
em face do “estrangeiro que, de qualquer forma, aten- dade administrativa.
tar contra a segurança nacional, a ordem política ou Atenção às modificações recentes no delito de
social, a tranquilidade ou moralidade pública e a eco- denunciação caluniosa (art. 339 do CP). Anteriormen-
nomia popular, ou cujo procedimento o torne nocivo te, o dispositivo visava reprimir a acusação da prática
à conveniência e aos interesses nacionais” (art. 65 da de crime em face de pessoa inocente. Contudo, com
Lei nº 6.815, de 1980 - Estatuto do Estrangeiro). o advento da Lei 14.110, de 2020, o alcance do crime
foi ampliado para abranger também a imputação de
infração ético-disciplinar ou ato ímprobo. Veja, ainda,
Importante! que a aludida lei também incluiu a conduta de dar
causa a procedimento investigatório criminal.
O agente será responsabilizado penalmente, Sobre o crime de denunciação caluniosa, é
podendo, ainda, sofrer nova expulsão do territó- importante atentar-se ao seguinte:
rio brasileiro.
z Só pode ser praticado dolosamente: parte da dou-
trina não admite o dolo eventual neste crime, já
Sobre o crime de reingresso de estrangeiro que o tipo penal exige que o agente saiba que o
expulso, é importante atentar-se ao seguinte: fato é imputado contra pessoa inocente.
z É crime de mão própria, praticado pelo estrangei- A denunciação caluniosa poderá se configurar
ro expulso, não podendo a figura típica ser pratica- quando o agente imputa crime que realmente acon-
326 da por intermédio de terceira pessoa; teceu contra pessoa que sabe ser inocente ou quando
imputa a alguém a prática de crime que não existiu Sobre este crime, é importante mencionar que:
(neste caso não há dúvidas sobre a inocência da pes-
soa, já que o fato sequer aconteceu); z Não admite a forma culposa. Assim, se o agente
comunica à autoridade, sem intenção, crime ou
z É necessário que o fato imputado seja crime, contravenção penal, provocando a ação desta, este
infração ético-disciplinar, ato ímprobo ou contra- tipo penal não estará configurado;
venção penal (no caso de contravenção penal, a z É crime comum;
pena será reduzida de metade), não se configuran- z Admite tentativa:
do este tipo penal caso o agente impute infração
administrativa ou civil; Se o fato imputado for infração administrativa
z É crime comum; ou civil, não irá se configurar o crime;
z Admite a forma tentada, por exemplo, o agente Para a maioria da doutrina, não se configura o
narra ao delegado de polícia que o autor de deter- crime quando o agente se limita a comunicar
minado crime foi a pessoa A, mas o delegado não
ilícito penal diverso do que realmente ocorreu,
inicia qualquer investigação porque o verdadeiro
desde que o fato comunicado e o que realmente
autor do crime é B, que se apresenta e confessa ter
ocorreu sejam crimes da mesma natureza;
cometido o delito antes mesmo de a autoridade ter
iniciado qualquer investigação; Se o agente faz a comunicação falsa para tentar
z A pessoa contra quem se imputa o crime deve ocultar outro crime por ele praticado responde
ser determinada, sendo ela, assim como o Estado, também pela comunicação falsa de crime.
sujeito passivo da prática delituosa; Comunicação Falsa de Crime ou
z Em regra, a denunciação caluniosa absorve o cri- Contravenção:
me de calúnia.
z O agente não aponta pessoa certa e determinada
A pena será aumentada de 1/6 (sexta parte), caso como autora da infração penal, mas apenas comu-
o agente se sirva de anonimato ou de nome suposto. nica fato inexistente.
No caso de denunciação caluniosa privilegiada, a
pena será diminuída de metade, caso a imputação seja Exemplo: José Carlos viu uma publicação no Face-
de prática de contravenção penal. book relacionada a um aborto. De imediato, ligou em
Observe as principais diferenças entre a denuncia- uma delegacia de polícia e comunicou o crime ao dele-
ção caluniosa e o crime de calúnia. gado de polícia, que iniciou as investigações sobre o
fato. Entretanto, não sabia José Carlos que o aborto
z Denunciação Caluniosa: não existiu, já que a publicação se tratava de uma
brincadeira por parte daquele que a realizou.
É crime contra a administração da justiça; Não há que se falar em figura típica da comunica-
A ação penal é pública incondicionada, se dis- ção falsa de crime, já que o agente não teve dolo de
cute na doutrina e jurisprudência se o processo comunicar falsamente o fato que não existiu.
por denunciação caluniosa pode ser iniciado
antes do desfecho do procedimento ou ação Autoacusação Falsa
originários;
Punida pelo fato de o agente movimentar falsa- Art. 341 Acusar-se, perante a autoridade, de crime
mente o aparato estatal, tentando prejudicar a inexistente ou praticado por outrem:
vítima perante o Estado; Pena - detenção, de três meses a dois anos, ou
É admitida a imputação falsa de crime, infração multa.
ético-disciplinar, ato ímprobo ou contravenção
É possível a configuração deste tipo penal quando
penal.
o agente se acusar de:
z Calúnia:
z Crime não existente (a conduta criminosa sequer
É crime contra a honra; foi praticada, sequer existiu);
A ação penal é privada; z Crime existente, mas praticado por outra pessoa
Punida pelo fato de o agente ofender a honra (a conduta criminosa foi realmente realizada, mas
objetiva da vítima; foi outro indivíduo que a praticou).
É admitida a imputação falsa apenas de crime.
Sobre a autoacusação falsa, é importante levar
Comunicação Falsa de Crime ou Contravenção em consideração:
NOÇÕES DE DIREITO
Art. 340 Provocar a ação de autoridade, comuni- z Só pode ser praticado dolosamente;
cando-lhe a ocorrência de crime ou de contraven- z Admite a modalidade tentada na forma escrita,
ção que sabe não se ter verificado: quando a confissão falsa remetida se extravia;
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. z Não se exige que seja praticado apenas perante
autoridade policial, mas na presença de qualquer
Ao contrário do que ocorre no crime de denun- autoridade competente (delegado de polícia, mem-
ciação caluniosa, no crime de falsa comunicação de bro do Ministério Público, autoridade judicial etc.);
crime ou contravenção, o agente não individualiza z Não se exige a prática de qualquer ato por parte da
o autor, imputando a alguém o fato que não existiu, autoridade para a consumação do crime, bastando
mas apenas comunica à autoridade crime ou contra- a autoacusação falsa.
venção penal que sabe não ter ocorrido.
327
Falso Testemunho ou Falsa Perícia Não irá responder pelo crime de falso testemu-
nho a pessoa que praticar as condutas descritas no
O crime de falso testemunho ou falsa perícia está tipo penal incriminador com a finalidade de não se
previsto no art. 342 do Código Penal. autoincriminar.
Lembre-se que ninguém será prejudicado por não
Art. 342 Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar
produzir provas contra si mesmo.
a verdade como testemunha, perito, contador, tra-
Quando a testemunha mente por estar sendo
dutor ou intérprete em processo judicial, ou admi-
ameaçada de morte ou algum outro mal grave, não
nistrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral:
responde pelo crime de falso testemunho.
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e
O art. 343 do Código Penal apresenta um outro tipo
multa.
penal, chamado por parte da doutrina de corrupção ativa
§ 1° As penas aumentam-se de um sexto a um ter-
de testemunha contador, perito, intérprete ou tradutor.
ço, se o crime é praticado mediante suborno ou se
A figura típica é a de dar, oferecer ou prometer
cometido com o fim de obter prova destinada a pro-
dinheiro ou qualquer outra vantagem à testemunha,
duzir efeito em processo penal, ou em processo civil
perito, contador, tradutor ou intérprete, para fazer
em que for parte entidade da administração pública
afirmação falsa, negar ou calar a verdade em depoi-
direta ou indireta.
mento, perícia, cálculos, tradução ou interpretação.
§ 2° O fato deixa de ser punível se, antes da senten-
ça no processo em que ocorreu o ilícito, o agente se z Verbos: dar, oferecer ou prometer;
retrata ou declara a verdade. z Destinatário: testemunha, perito, contador, tra-
Art. 343 Dar, oferecer ou prometer dinheiro ou dutor ou intérprete;
qualquer outra vantagem a testemunha, perito, z Finalidade: fazer com que as pessoas façam
contador, tradutor ou intérprete, para fazer afirma- afirmação falsa, neguem ou calem a verdade
ção falsa, negar ou calar a verdade em depoimento, em depoimento, perícia, cálculos, tradução ou
perícia, cálculos, tradução ou interpretação: interpretação.
Pena - reclusão, de três a quatro anos, e multa.
Parágrafo único. As penas aumentam-se de um sex- As penas irão aumentar de 1/6 a 1/3 (um sexto a
to a um terço, se o crime é cometido com o fim de um terço), se o crime é:
obter prova destinada a produzir efeito em proces-
so penal ou em processo civil em que for parte enti- z Cometido com o fim de obter prova destinada a
dade da administração pública direta ou indireta. produzir efeito em processo penal;
z Cometido com o fim de obter prova destinada a pro-
Trata-se de crime plurinuclear, que poderá ser duzir efeito em processo civil em que for parte enti-
praticado mediante execução de quaisquer um dos dade da administração pública direta ou indireta.
verbos previstos no tipo penal.
Sobre o crime de corrupção ativa de testemu-
O tipo penal apresenta hipóteses que aumentarão
nha contador, perito, intérprete ou tradutor, é
a pena do agente. As penas aumentam-se de 1/6 (um importante saber o seguinte:
sexto) a 1/3 (um terço), se o crime é:
z Não pode ser praticado culposamente;
z Praticado mediante suborno; z Nos verbos oferecer ou prometer, é crime formal;
z Cometido com o fim de obter prova destinada a z No verbo dar, é crime material;
produzir efeito em processo penal; z Admite tentativa, quando for possível fracionar o
z Cometido com o fim de obter prova destinada a pro- iter criminis;
duzir efeito em processo civil em que for parte enti- z O fato deixa de ser punível se, antes da sentença
dade da administração pública direta ou indireta. no processo em que ocorreu o ilícito, o agente se
retrata ou declara a verdade.
Sobre o crime de falso testemunha ou falsa Coação no Curso do Processo
perícia, é importante levar para a sua prova:
Art. 344 Usar de violência ou grave ameaça, com o
z Não admite a forma culposa; fim de favorecer interesse próprio ou alheio, contra
z É crime de mão própria, que só poderá ser prati- autoridade, parte, ou qualquer outra pessoa que fun-
cado por uma das pessoas previstas no tipo penal; ciona ou é chamada a intervir em processo judicial,
policial ou administrativo, ou em juízo arbitral:
Segundo posicionamento doutrinário dominante: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa, além
da pena correspondente à violência.
z O falso testemunho não admite coautoria, mas é O crime de coação no curso do processo é aquele
possível a participação; em que, para beneficiar a si ou a terceiro, o agente
z A falsa perícia admite coautoria e participação. emprega de violência ou grave ameaça contra pessoas
z O ofendido (vítima) que praticar quaisquer dos que participam do processo ou juízo arbitral.
verbos previstos no tipo penal não pratica o crime
de falso testemunho, já que ele não é testemunha; Observe as duas hipóteses:
z Se o agente se retratar ou falar a verdade poderá
ter extinta a punibilidade do crime, desde que: 1. Suponha que André tenha praticado um crime de
roubo a um supermercado, estando ele sendo pro-
Seja realizada no processo em que ocorreu o ilí- cessado por isso. Thaís, funcionária do supermer-
cito (no processo em que se deu o falso e não no cado, é testemunha, tendo sido marcado um dia
processo referente ao falso); para que ela comparecesse em juízo para dar seu
Se realizada antes da sentença (ainda prevale- depoimento. André, com a finalidade de favorecer
ce o entendimento de que se trata da sentença seus próprios interesses, vai à casa de Thaís e, uti-
328 recorrível). lizando-se de uma arma de fogo para ameaçá-la,
exige que ela diga que não foi ele quem praticou o z Caso o agente pratique o crime com emprego de
fato, mas outra pessoa. André praticou o crime de violência, responderá também por ela.
coação no curso do processo, já que empregou de
grave ameaça contra a pessoa chamada a intervir No art. 346 do Código Penal, há uma outra figura
em processo judicial. típica, bastante parecida com o crime de exercício
arbitrário das próprias razões.
2. Aproveitando a mesma hipótese acima, porém, ago- Observe: Tirar, suprimir, destruir ou danificar coisa
ra André, sabendo sobre o que Thaís disse na inquiri- própria, que se acha em poder de terceiro por determi-
ção, vai à casa de Thaís e, utilizando-se de uma arma nação judicial ou convenção.
de fogo para ameaçá-la, dizendo que irá matá-la por Sobre este tipo penal, é importante salientar:
não dizer que foi outra pessoa que praticou o crime,
mas que o incriminou. André, nesta hipótese, prati- z Só pode ser praticado dolosamente;
cou o crime de ameaça, uma vez que empregou de z É crime de ação múltipla, que irá se configurar com
grave ameaça contra a pessoa após o depoimento, a prática de quaisquer um dos verbos previstos no
exaurindo-se a participação daquela na ação. tipo penal: tirar, suprimir, destruiu ou danificar;
z Exige-se que a coisa seja própria do agente que
Caso o agente utilize de violência para praticar o praticou a conduta delituosa;
crime de coação no curso do processo, responderá por z O objeto deve estar em poder de terceiro por deter-
este, além da pena correspondente à violência. minação judicial ou convenção. Se for por outro
Sobre a coação no curso do processo, atente-se motivo, não se configurará este crime;
às seguintes informações: z Admite tentativa.
z Pode ser praticado contra as autoridades respon- Para consumação deste crime, existem duas correntes:
sáveis pela condução do processo, como: juízes,
promotores, delegados de polícia, entre outros; O
crime é formal e se consuma quando o agen-
z Só pode ser praticado dolosamente; te emprega o meio executório;
z Exige-se o dolo específico por parte do agente de O crime é material e só se consuma com a satis-
favorecer interesse próprio ou alheio; fação da pretensão visada.
z É crime formal, que se consuma com o uso de vio-
lência ou grave ameaça, independentemente de o Fraude Processual
coagido ceder;
z Admite a forma tentada na hipótese de o crime ser Art. 347 Inovar artificiosamente, na pendência de
processo civil ou administrativo, o estado de lugar,
praticou por escrito e há extravio.
de coisa ou de pessoa, com o fim de induzir a erro o
Exercício Arbitrário das Próprias Razões juiz ou o perito:
Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa.
Art. 345 Fazer justiça pelas próprias mãos, para Parágrafo único. Se a inovação se destina a produ-
satisfazer pretensão, embora legítima, salvo quan- zir efeito em processo penal, ainda que não inicia-
do a lei o permite: do, as penas aplicam-se em dobro.
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa,
além da pena correspondente à violência. Aplica-se a pena em dobro, se a inovação se desti-
Parágrafo único - Se não há emprego de violência, na a produzir efeito em processo penal, ainda que não
somente se procede mediante queixa. indiciado o agente.
Art. 346 Tirar, suprimir, destruir ou danificar coi- Carlos praticou o crime de homicídio, ao matar
sa própria, que se acha em poder de terceiro por Cláudio, que lhe devia uma quantia em dinheiro. Com
determinação judicial ou convenção: a finalidade de simular uma hipótese de legítima defe-
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. sa, para induzir o perito a erro, Carlos coloca, fraudu-
lentamente, nas mãos da vítima, uma arma de fogo,
Observe a parte final da figura típica: salvo quan- modificando o estado de pessoa.
do a lei o permite. Carlos praticou o crime de fraude processual, res-
Vejamos mais um exemplo: Kelmon é proprietário pondendo pelo crime com a pena dobrada, já que ino-
de uma casa, que se encontra alugada para Diogo. O vou artificiosamente, na pendência de processo penal.
inquilino está devendo 6 (seis) meses de aluguel. Kel- Sobre o crime de fraude processual, fique aten-
mon, indignado com a situação, vai até o local, troca to ao seguinte:
todas as fechaduras e coloca os objetos pessoais de
Diogo do lado de fora. z É crime comum;
Kelmon praticou o crime de exercício arbitrário z Não admite a modalidade culposa;
das próprias razões, já que fez justiça com as próprias z Exige dolo específico: fim de induzir a erro juiz ou
NOÇÕES DE DIREITO
z Pode ser praticado tanto intramuros (no interior Se da violência resultarem lesões, ainda que
de estabelecimento de natureza prisional) quando leves, ou morte, o agente responderá pelos dois
extramuros (durante procedimento de escolta ou crimes, e as penas serão somadas.
condução);
z Em regra, trata-se de crime comum, que pode ser Arrebatamento de Preso
praticado por qualquer pessoa; Art. 353 Arrebatar preso, a fim de maltratá-lo, do
z Admite a forma culposa; poder de quem o tenha sob custódia ou guarda:
z É necessário, para configuração do crime, que a Pena - reclusão, de um a quatro anos, além da pena
prisão a que está submetida a pessoa seja legal; correspondente à violência.
z Trata-se de crime material, que se consuma com a
efetiva fuga; Sobre este crime, são relevantes as seguintes
z Admite a forma tentada; informações:
z Caso seja praticado mediante violência contra pes-
soa, responderá o agente também pela violência. z Não admite a modalidade culposa;
z Exige dolo específico: fim de maltratar o preso
Forma qualificada: (aplicar-lhe uma surra, por exemplo);
z É crime comum;
z Se o crime é praticado por pessoa sob cuja custódia z O tipo penal diz preso, sem discriminar se a prisão
ou guarda está o preso ou internado, será crime legal ou ilegal, por isso, pode cometer o crime mes-
próprio; mo que a prisão seja ilegal;
z Se se a prisão for ilegal, não haverá a incidência z O direito penal não permitir a analogia, portan-
deste crime, uma vez que apresente a legítima to, não haverá a incidência deste crime se o ato é
defesa de terceiro. cometido contra pessoa internada por medida de
z Se o crime é praticado a mão armada, ou por mais segurança;
de uma pessoa, ou mediante arrombamento, a z O preso arrebatado é sujeito passivo secundário;
pena é de reclusão, de dois a seis anos. z É crime formal, que se consuma com o arrebatamento,
Evasão Mediante Violência Contra Pessoa independentemente de se conseguir maltratar o preso;
z Admite a forma tentada;
Art. 352 Evadir-se ou tentar evadir-se o preso ou o z Quando o agente empregar a violência em con-
indivíduo submetido a medida de segurança deten- curso com o arrebatamento de preso, seja lesão
tiva, usando de violência contra a pessoa: corporal leve, grave ou gravíssima, mesmo que o
Pena - detenção, de três meses a um ano, além da resultado seja morte, o sujeito ativo responderá
pena correspondente à violência. pelos dois crimes (arrebatamento de preso e lesão
corpora, por exemplo).
Sobre este crime, é muito importante que você
leve em consideração: Motim de Presos
NOÇÕES DE DIREITO
z Trata-se de crime próprio, que só poderá ser prati- Art. 354 Amotinarem-se presos, perturbando a
cado por pessoa presa ou submetida à medida de ordem ou disciplina da prisão:
segurança detentiva; Pena - detenção, de seis meses a dois anos, além da
z Só pode ser praticado dolosamente; pena correspondente à violência.
z É crime de atentado ou de empreendimento, pois
prevê expressamente em sua descrição típica a Amotinarem-se, transmitindo a ideia de revolta
conduta de tentar o resultado, por isso, não admi- coletiva dos presos com a ordem e a disciplina da pri-
te a tentativa; são, provocando perturbação e alvoroço.
z Exige-se o emprego de violência contra pessoa. Ordem diz respeito à tranquilidade do ambiente
prisional.
Caso não haja emprego de violência ou se esta for Disciplina consiste no respeito e obediência às
empregada contra coisa, não irá se configurar este crime. regras previamente estabelecidas. 331
A prisão há de ser legal, pois as pessoas detidas inde- O patrocínio simultâneo se configura quando
vidamente têm o direito de se opor ao arbítrio do Estado. o advogado patrocinar as partes contrárias
Trata-se de crime próprio e plurissubjetivo, pluri- simultaneamente;
lateral ou de concurso necessário (precisa de mais de A tergiversação se configura quando o advoga-
uma pessoa para praticar o crime), somente pode ser do deixa de patrocinar o seu cliente para patro-
cometido pelos “presos”. cinar a parte contrária.
Vejamos que a lei não aponta um número mínimo
de indivíduos para a concretização do delito, é lícito Sobre o crime de patrocínio simultâneo ou ter-
concluir que se exigem pelo menos três pessoas, pois giversação, é importante que você saiba:
quando o CP quer duas ou quatro pessoas ele o diz
z Crime doloso;
expressamente.
z Não admite a modalidade culposa;
Sobre este crime, atente-se ao seguinte:
z A traição do advogado ou procurador deve produ-
z É crime plurissubjetivo ou de concurso necessário, zir prejuízo relevante de qualquer natureza, mate-
já que será praticado por “presos”; rial ou moral, desde que lícito;
z Admite tentativa;
z É crime próprio, que só poderá ser praticado por
z A ação penal é pública incondicionada.
pessoas presas;
z Só pode ser praticado dolosamente;
Sonegação de Papel ou Objeto de Valor Probatório
z O Código Penal não faz referência ao número de
presos que são necessários para a configuração do Art. 356 Inutilizar, total ou parcialmente, ou deixar
tipo penal, mas deixa claro se tratar de um crime de restituir autos, documento ou objeto de valor
coletivo; probatório, que recebeu na qualidade de advogado
z Não é relevante, para fins de caracterização des- ou procurador:
te crime, se o interesse dos presos é legítimo ou Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa.
ilegítimo;
z Caso seja praticado com emprego de violência, res- Previsto no art. 356, do CP, este crime se configu-
ponderá os agentes, também, por ela; ra quando o agente inutilizar, total ou parcialmente,
z Caso os agentes consigam se evadir em decorrên- ou deixar de restituir autos, documento ou objeto de
cia da violência empregada para o motim, respon- valor probatório, que recebeu na qualidade de advo-
derão também pelo crime do art. 352 do CP; gado ou procurador.
z Admite a forma tentada. Este crime pode ser praticado de 2 (duas) formas:
z É crime comum, que pode ser praticado por qual- z Só poderá ser praticado dolosamente;
quer pessoa; z Admite a modalidade tentada;
z Não admite a forma culpada; z Exige-se que a suspensão ou privação se dê por
z Admite tentativa quando o agente não consegue, decisão judicial. Caso se trate de decisão adminis-
por circunstâncias alheias a sua vontade, impedir, trativa, não irá se configurar este tipo penal.
perturbar ou fraudar a arrematação judicial;
CRIMES CONTRA AS FINANÇAS PÚBLICAS
z As condutas relacionadas ao licitante foram revo-
gadas pela Lei nº 8.666/1993, Lei de Licitações, com
NOÇÕES DE DIREITO
Faz-se necessário compreender o empenho, a A prática do crime não está apenas relacionada ao
liquidação e a ordem de pagamento: mantado eletivo, mas também mandato decorrente de
indicação.
z Empenho: ato emanado de autoridade competen- Trata-se de crime próprio ou especial, por isso, o sujei-
te que cria para o Estado obrigação de pagamento to ativo somente pode ser cometido pelos agentes públi-
334 pendente ou não de implemento de condição; cos titulares de mandato ou legislatura, representantes
dos órgãos e entidades indicados no art. 20 da Lei Com- Prestação de Garantia Graciosa
plementar nº 101/2000, Lei de Responsabilidade Fiscal,
pois apenas tais pessoas têm atribuição para assunção Está previsto no art. 359-E, do CP.
de obrigações.
O sujeito passivo é a União, os Estados, os Municí- Art. 359-E Prestar garantia em operação de crédito
pios ou o Distrito Federal, dependendo do ente federa- sem que tenha sido constituída contragarantia em
tivo afetado pela conduta criminosa, e, mediatamente, valor igual ou superior ao valor da garantia pres-
a coletividade, em face do prejuízo causado pelo abalo tada, na forma da lei:
nas finanças públicas. Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.
Consuma-se quando o sujeito ativo ordena ou auto-
riza a assunção de obrigação, nos últimos oito meses O tipo penal pune a conduta do funcionário público
que presta garantia sem a observância do requisito legal.
do mandato ou legislatura, cuja despesa não possa
Quanto aos requisitos legais, devemos entender
ser paga naquele exercício financeiro ou reste parte
que “prestar” tem o sentido de conceder ou autorizar
a ser paga no exercício seguinte, sem contrapartida
garantia, e isto está em conformidade com o art. 29,
suficiente para tanto, independentemente da compro-
inc. IV, da Lei Complementar nº 101/2000, Lei de Res-
vação de prejuízo aos cofres públicos.
Sobre este crime, é importante atentar-se às ponsabilidade Fiscal, concessão de garantia que é o
seguintes disposições: compromisso de adimplência de obrigação financeira
ou contratual assumida por algum ente da Federação
z Só pode ser praticado dolosamente; ou entidade a este vinculada.
z Este crime só se configura se as condutas típicas As condições para a concessão de garantia encon-
forem praticadas nos dois últimos quadrimestres tram-se no art. 40 da citada lei. Destaca-se entre elas
(oito meses anteriores ao término do mandato) do o oferecimento de contragarantia, em valor igual ou
último ano do mandato ou legislatura; superior ao da garantia a ser concedida, visando o
z É crime de ação múltipla; e equilíbrio das finanças públicas.
z Admite a modalidade tentada, apesar de ser de
Sobre este crime, saiba:
difícil comprovação, segundo posicionamento
doutrinário majoritário. z Este crime não admite a modalidade culposa;
z Não basta que seja constituída a contragarantia,
Ordenação de Despesa não Autorizada exige-se que ela seja igual ou superior ao valor da
garantia prestada.
O crime de ordenação de despesa não autorizada
está previsto no art. 359-D, do CP. Caso a contragarantia seja inferior ou não seja
prestada, este crime estará configurado.
Art. 359-D Ordenar despesa não autorizada por lei:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. Não Cancelamento de Restos a Pagar
Aumento de Despesa Total com Pessoal no Último Oferta Pública ou Colocação de Títulos no Mercado
Ano do Mandato ou Legislatura
Este crime se encontra previsto no art. 359-H, do
Art. 359-G Ordenar, autorizar ou executar ato que CP.
acarrete aumento de despesa total com pessoal,
nos cento e oitenta dias anteriores ao final do man-
Art. 359-H Ordenar, autorizar ou promover a ofer-
dato ou da legislatura:
ta pública ou a colocação no mercado financeiro
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
de títulos da dívida pública sem que tenham sido
criados por lei ou sem que estejam registrados em
z Ordenar é determinar alguma coisa;
sistema centralizado de liquidação e de custódia:
z Autorizar significa permitir que algo seja feito; e
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
z Executar traz a ideia de realizar ou concretizar
algo.
z Ordenar é determinar;
Este crime tem como finalidade evitar que se z Autorizar equivale a permitir que algo seja feito;
aumente as despesas totais com pessoal, concedendo z Promover traz a ideia de realizar, concretizar a
aumentos, contratando, alterações na carreira, entre oferta pública ou colocação de títulos no mercado;
outras formas, nos últimos dias do mandato ou legis-
latura, deixando para outro funcionário público a res- O objeto material do crime são os títulos da dívida
ponsabilidade de arcar com os compromissos. pública. Nos termos do art. 29, inciso II, da Lei Comple-
A diferença entre o art. 359-G e o art. 359-C do mentar nº 101/2000, Lei de Responsabilidade Fiscal,
CP, é que o crime em estudo não se relaciona com a considera-se dívida pública mobiliária aquela repre-
infração penal tipificada no art. 359-C do CP, porque sentada por títulos emitidos pela União, inclusive os
na assunção de obrigação no último ano do manda- do Banco Central do Brasil, Estados e Municípios.
to ou legislatura levam-se em conta despesas que não O sujeito ativo somente pode ser praticado pelo
podem ser pagas no mesmo exercício, ficando a obri- funcionário público dotado da atribuição para orde-
gação de pagamento ao sucessor, sem ter disponibili- nar, autorizar ou promover oferta pública ou colo-
dade orçamentária para tanto. cação no mercado financeiro de títulos da dívida
No art. 359-G, do CP, o aumento de despesa com pes- pública.
soal é permanente, ou seja, irá ultrapassar o exercício O sujeito passivo é a União, os Estados, os Muni-
cípios ou o Distrito Federal, dependendo do ente
financeiro, atingindo anos futuros. Consequentemen-
federativo atingido pela conduta criminosa, e, media-
te, o orçamento do ente federativo ou órgão público
tamente, a pessoa física ou jurídica prejudicada pela
ficará inevitavelmente comprometido, deixando de
compra de títulos irregularmente emitidos.
propiciar ao administrador público futuro condições
Consuma-se o crime em estudo no momento em
para gerir adequadamente a máquina estatal.
que o agente público ordena, autoriza ou promove a
Destaca-se que o elemento temporal do art. 359-G,
oferta pública ou a colocação no mercado financeiro
do CP, está consubstanciado na expressão “nos cento
de títulos da dívida pública sem que tenham sido cria-
e oitenta dias anteriores ao final do mandato ou da
dos por lei ou sem que estejam registrados em sistema
legislatura”.
centralizado de liquidação e de custódia, independen-
Assim, fora do período legalmente indicado não há
temente de efetivo prejuízo ao erário.
o que se falar na prática do delito, ainda que exista
ilegal aumento da despesa total com pessoal. Sobre este crime, é importante mencionar:
O sujeito ativo somente pode ser praticado pelo
z Só pode ser praticado dolosamente;
funcionário público com atribuição para ordenar,
z É crime de ação múltipla;
autorizar ou executar ato que acarrete aumento de
z Caso os títulos da dívida pública tenham sido cria-
despesa total com pessoal, nos últimos 180 dias do
dos por lei ou estejam registrados no sistema cen-
mandato ou legislatura.
tralizado de liquidação e de custódia, a prática da
O sujeito passivo é a União, os Estados, os Municí-
conduta prevista no tipo penal irá ser atípico.
pios ou o Distrito Federal, dependendo do ente federa-
tivo afetado pela conduta criminosa, e, mediatamente,
336 a coletividade, em razão dos prejuízos causados pelo
6. (FUMARC — 2013) Em qual fase do inter criminis ocor-
HORA DE PRATICAR! re o arrependimento eficaz do agente?
5. (FUMARC — 2013) São elementos caracterizadores da a) Beltrano, maior, capaz e primário, subtraiu um carnei-
culpa inconsciente, EXCETO: ro da fazenda de um amigo, sendo condenado a dois
anos de reclusão. No caso concreto, possuindo todas
a) Inobservância do cuidado objetivo. as circunstâncias judiciais favoráveis e sendo mais
b) Comportamento humano voluntário. benéfico ao réu, deve o juiz conceder a Beltrano a sus-
c) Produção de um resultado involuntário. pensão condicional da pena ao invés da substituição
d) Assunção por parte do agente do provável resultado. prevista no art. 44 do CP. 337
b) Marreco, maior e capaz, ameaçou de morte sua com- d) Homicídio qualificado por motivo torpe, conduta tipifi-
panheira, sendo processado e definitivamente conde- cada no art. 121, § 2°, II CP.
nado pelo crime de ameaça à pena de seis meses de
detenção. Nesse caso, conforme entendimento sumu- 12. (FUMARC — 2013) Adamastor, valendo-se de sua arma
lado pelo STJ, tem o agente direito à substituição da de fogo e agindo com animus necandi, deferiu diver-
pena privativa de liberdade por pena restritiva de direi- sos tiros contra sua vítima, com o firme propósito de
tos, desde que não seja a de prestação pecuniária ou a atingi-la. Entretanto, mesmo após deflagrar todos os
inominada. projéteis de sua arma, Adamastor, por erro na pontaria,
c) Sinfrônio, capaz, possui condenação definitiva pela não conseguiu acertar nenhum deles, razão pela qual
prática do crime de invasão de dispositivo informático a vítima saiu totalmente ilesa do evento criminoso.
à pena de dois anos de detenção. Decorridos quatro Pelo exposto, é CORRETO afirmar que Adamastor
anos do cumprimento integral da pena anterior, foi ele
novamente condenado pelo mesmo crime à pena de a) praticou o crime de tentativa de lesão corporal.
um ano de detenção. Mesmo sendo o agente reinci- b) não praticou crime de tentativa de homicídio em razão
dente, se socialmente recomendável, conforme pre- da caracterização do crime impossível.
visto no §3º do art. 44 do Código Penal, pode o juiz c) praticou o crime de homicídio na forma tentada, carac-
substituir a pena privativa de liberdade por restritiva de terizando-se a denominada tentativa perfeita.
direitos. d) praticou o crime de homicídio na forma tentada, carac-
d) Tício, capaz e devidamente habilitado, após ingerir terizando-se a denominada tentativa imperfeita.
substância entorpecente, assustou-se ao desviar o
veículo que dirigia de um buraco na pista, perdendo 13. (FUMARC — 2018) Analise os casos hipotéticos abai-
o controle do automóvel e vindo a causar a morte de xo e assinale a alternativa CORRETA:
uma criança. Pelo resultado praticado, foi condenado
por homicídio culposo, com as penas alteradas pela a) Do alto de uma árvore, Joca atira uma fruta contra a
Lei nº 13.546/17, a seis anos de reclusão. Nessa situa- cabeça de Maurício. Celso, percebendo a intenção de
ção, Tício tem direito à substituição da pena privativa Joca, assustado e com o fim de evitar a lesão contra
de liberdade por pena restritiva de direitos. Maurício, empurra a vítima com força. Na queda, Mau-
rício acaba por quebrar o braço. Nessa hipótese, tendo
10. (FUMARC — 2018) Com relação ao concurso de cri- Celso agido de forma excessiva, deve responder por
mes, é CORRETO afirmar: lesão corporal dolosa.
b) O agente que provoca, de forma dolosa, várias lesões
a) Não se admite a aplicação da suspensão condicional corporais, de natureza grave e gravíssima contra a
do processo ao crime continuado. mesma vítima, em um mesmo contexto fático, respon-
b) No caso hipotético em que Gioconda, ao dirigir seu de por crime continuado.
automóvel de maneira imprudente, perde o controle do c) Policial Civil que, durante uma festa de casamento,
carro, matando três pessoas e lesionando gravemente confunde convidado com um “perigoso assaltante”
outras cinco, deve ser reconhecido o concurso formal foragido e, imediatamente, dá voz de prisão ao indi-
próprio de crimes pelo qual lhe será aplicada somente víduo que, assustado, corre do policial, fazendo com
uma pena, a mais grave, aumentada de um sexto até a que este efetue disparos de arma de fogo que atingem
metade. mortalmente o convidado pelas costas, segundo a
c) No concurso de crimes, a aplicação da pena de multa teoria limitada da culpabilidade, atua em descriminan-
observa as regras pertinentes à modalidade de con- te putativa derivada de erro de tipo permissivo.
curso que incide no caso concreto. d) Semprônio entra em luta corporal contra Beltrano,
d) No concurso formal, aplica-se a mais grave das seu desafeto e, após provocar-lhe vários ferimentos,
penas cabíveis ou, se iguais, somente uma delas, resolve matá-lo, desferindo contra ele dois disparos
mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até de arma de fogo que não atingem a vítima. Preso em
a metade, ainda que os crimes concorrentes resultem flagrante, Semprônio responderá por lesão corporal,
de desígnios autônomos. tentativa de homicídio e disparo de arma de fogo, em
concurso material de crimes.
11. (FUMARC — 2018) A policial Michele Putin, na noite
de 14 de março de 2018, quando retornava para sua 14. (FUMARC — 2011) Com relação aos crimes patrimo-
casa, após liderar uma exitosa operação contra o trá- niais, é INCORRETO afirmar que
fico de entorpecentes na comunidade de “Miracema
do Norte”, foi abordada por dois homens armados a) segundo entendimento consolidado pelo STF, o cri-
e friamente assassinada. Num fenomenal trabalho me de estelionato, quando na modalidade de fraude
investigatório, a Polícia Civil logrou êxito em identificar no pagamento, por meio de cheque, consuma-se no
os assassinos como sendo os irmãos Jorge e Ernesto momento e local em que o banco sacado recusa o seu
Petralha, apurando que tal homicídio se deu em repre- pagamento.
sália pelas prisões ocorridas quando da citada opera- b) o agente que rouba o veículo da vítima e, sem motiva-
ção policial. ção alguma, a coloca no porta malas, abandonando-a
Diante desse quadro, podemos asseverar que os em estrada de município vizinho, responde pelos cri-
assassinos responderão por: mes de roubo e sequestro, em concurso material.
c) o agente que invade estabelecimento comercial anun-
a) Feminicídio, conduta tipificada no art. 121, § 2°, VI CP. ciando assalto e acaba por matar o proprietário e um
b) Homicídio funcional, conduta tipificada no art. 121, § cliente, fugindo em seguida com o dinheiro do caixa
2°, VII CP. e a carteira do cliente, responde por um só crime de
c) Homicídio qualificado por motivo fútil, conduta tipifi- latrocínio, crime complexo em que a pluralidade de
338 cada no art. 121, § 2°, II CP. vítimas serve apenas para fixação da pena.
d) agente que, após furtar, em concurso de pessoas, pre-
ciosa jóia em shopping Center, adquire a quota parte,
dos demais meliantes, não responde por crime de
receptação, tratando-se de post factum impunível.
9 GABARITO
1 D
2 B
3 C
4 A
5 D
6 B
7 C
8 B
9 D
10 B
11 B
12 C
13 C
14 C
15 A
NOÇÕES DE DIREITO
ANOTAÇÕES
339
ANOTAÇÕES
340
Quanto ao princípio do contraditório e ampla defe-
sa, a Constituição Federal determina que:
Art. 5º [...]
LV - aos litigantes, em processo judicial ou adminis-
NOÇÕES DE DIREITO trativo, e aos acusados em geral são assegurados o
contraditório e ampla defesa, com os meios e recur-
sos a ela inerentes;
O art. 9º traz o formalismo do inquérito policial, pois, como é possível observar, o inquérito policial é um
procedimento formal, exigindo-se que as suas peças sejam escritas ou datilografadas, bem como rubricadas pela
autoridade competente.
Art. 10 O inquérito deverá terminar no prazo de 10 dias, se o indiciado tiver sido preso em flagrante, ou esti-
ver preso preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia em que se executar a ordem de prisão,
ou no prazo de 30 dias, quando estiver solto, mediante fiança ou sem ela.
§ 1º A autoridade fará minucioso relatório do que tiver sido apurado e enviará autos ao juiz competente.
§ 2º No relatório poderá a autoridade indicar testemunhas que não tiverem sido inquiridas, mencionando o lugar
onde possam ser encontradas.
§ 3º Quando o fato for de difícil elucidação, e o indiciado estiver solto, a autoridade poderá requerer ao juiz a devo-
lução dos autos, para ulteriores diligências, que serão realizadas no prazo marcado pelo juiz.
O prazo de conclusão do inquérito policial é de 10 (dez) dias se o indiciado estiver preso (prisão em flagrante
ou preventiva), e de 30 (trinta) dias, se estiver solto (com ou sem fiança), sendo que ambos os prazos podem ser
prorrogados.
Em se tratando de indiciado solto, é necessário que o caso seja de difícil elucidação e que haja requerimento ao
juiz para devolução dos autos para ulteriores diligências, situação na qual o juiz prorrogará o prazo.
Contagem de prazo: Por tratar-se de norma processual penal material, o prazo deve ser contado como se faz
com qualquer prazo penal, nos termos do art. 10, do Código Penal, incluindo-se o primeiro dia e excluindo-se o
dia final.
Relatório final: Ao encerrar as investigações, a autoridade policial deverá relatar tudo o que foi feito na pre-
sidência do inquérito, de modo a apurar a materialidade e a autoria do crime.
Art. 11 Os instrumentos do crime, bem como os objetos que interessarem à prova, acompanharão os autos do
inquérito.
Os instrumentos do crime, que são todos os objetos ou aparelhos usados pelo criminoso para cometer a infra-
ção penal, bem como os objetos de interesse da prova, serão remetidos ao fórum juntamente com o inquérito
policial, para que possam ser exibidos ao destinatário final da prova.
Art. 12 O inquérito policial acompanhará a denúncia ou queixa, sempre que servir de base a uma ou outra.
Art. 13 Incumbirá ainda à autoridade policial:
I - fornecer às autoridades judiciárias as informações necessárias à instrução e julgamento dos processos;
II - realizar as diligências requisitadas pelo juiz ou pelo Ministério Público;
III - cumprir os mandados de prisão expedidos pelas autoridades judiciárias;
IV - representar acerca da prisão preventiva.
NOÇÕES DE DIREITO
Juntamente com os arts. 6º e 7º, do Código de Processo Civil, o art. 13, do Código de Processo Penal, indica
atribuições da autoridade policial, que nada mais são do que incumbências que refletem a própria natureza e
finalidade do inquérito policial.
Art. 13-A Nos crimes previstos nos arts. 148, 149 e 149-A, no § 3º do art. 158 e no art. 159 do Decreto-Lei no 2.848,
de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), e no art. 239 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança
e do Adolescente), o membro do Ministério Público ou o delegado de polícia poderá requisitar, de quaisquer órgãos
do poder público ou de empresas da iniciativa privada, dados e informações cadastrais da vítima ou de suspeitos.
Parágrafo único. A requisição, que será atendida no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, conterá:
I - o nome da autoridade requisitante;
II - o número do inquérito policial; e
III - a identificação da unidade de polícia judiciária responsável pela investigação. 345
Este artigo foi introduzido pela Lei nº 13.344, de O art. 14 está tratando da discricionariedade da
2016, que versa sobre o tráfico interno e internacional autoridade policial na condução do inquérito policial.
de pessoas. O art. 13-A, do Código de Processo Penal, No entanto, essa discricionariedade não é absoluta,
permite o acesso imediato do Delegado de Polícia e do pois a autoridade policial não poderá negar reque-
órgão do Ministério Público aos dados e às informa- rimento de diligências realizadas pelo investigado
ções cadastrais da vítima ou de suspeitos da prática quando elas guardarem importância e correlação
dos seguintes crimes:
com o esclarecimento dos fatos. Admite-se, assim, o
indeferimento de medidas inúteis, protelatórias ou
z Sequestro e cárcere privado;
desnecessárias.
z Redução à condição análoga à de escravo;
z Tráfico de pessoas;
Art. 14-A Nos casos em que servidores vincula-
z Extorsão qualificada pela restrição da liberdade
da vítima; dos às instituições dispostas no art. 144 da Cons-
z Extorsão mediante sequestro; tituição Federal figurarem como investigados em
z Crime de promover ou auxiliar a efetivação de ato inquéritos policiais, inquéritos policiais militares
destinado ao envio de criança ou adolescente para e demais procedimentos extrajudiciais, cujo objeto
o exterior com inobservância das formalidades for a investigação de fatos relacionados ao uso da
legais ou com o fito de obter lucro, previsto no art. força letal praticados no exercício profissional, de
239, do Estatuto da Criança e do Adolescente. forma consumada ou tentada, incluindo as situa-
ções dispostas no art. 23 do Decreto-Lei nº 2.848, de
O art. 13-B, do Código de Processo Penal, também 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), o indiciado
foi introduzido pela Lei nº 13.344, de 2016, e versa poderá constituir defensor. (Incluído pela Lei nº
sobre o acesso a sinais, informações e outros dados de 13.964, de 2019)
modo a permitir a localização da vítima ou dos suspei- § 1º Para os casos previstos no caput deste artigo,
tos de crimes em curso. Vejamos: o investigado deverá ser citado da instauração do
procedimento investigatório, podendo constituir
Art. 13-B Se necessário à prevenção e à repressão defensor no prazo de até 48 (quarenta e oito)
dos crimes relacionados ao tráfico de pessoas, o horas a contar do recebimento da citação.
membro do Ministério Público ou o delegado de (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
polícia poderão requisitar, mediante autoriza- § 2º Esgotado o prazo disposto no § 1º deste arti-
ção judicial, às empresas prestadoras de ser- go com ausência de nomeação de defensor pelo
viço de telecomunicações e/ou telemática que investigado, a autoridade responsável pela inves-
disponibilizem imediatamente os meios técnicos tigação deverá intimar a instituição a que estava
adequados – como sinais, informações e outros vinculado o investigado à época da ocorrência dos
– que permitam a localização da vítima ou dos fatos, para que essa, no prazo de 48 (quarenta e
suspeitos do delito em curso. (Incluído pela Lei oito) horas, indique defensor para a representa-
nº 13.344, de 2016)
ção do investigado. (Incluído pela Lei nº 13.964, de
§ 1º Para os efeitos deste artigo, sinal significa posi-
2019)
cionamento da estação de cobertura, setorização e
intensidade de radiofrequência. (Incluído pela Lei § 3º Havendo necessidade de indicação de defen-
nº 13.344, de 2016) sor nos termos do § 2º deste artigo, a defesa cabe-
§ 2º Na hipótese de que trata o caput, o sinal: rá preferencialmente à Defensoria Pública, e, nos
(Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016) locais em que ela não estiver instalada, a União ou
I - não permitirá acesso ao conteúdo da comunica- a Unidade da Federação correspondente à respec-
ção de qualquer natureza, que dependerá de autori- tiva competência territorial do procedimento ins-
zação judicial, conforme disposto em lei; (Incluído taurado deverá disponibilizar profissional para
pela Lei nº 13.344, de 2016) acompanhamento e realização de todos os atos
II - deverá ser fornecido pela prestadora de tele- relacionados à defesa administrativa do investi-
fonia móvel celular por período não superior a gado. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
30 (trinta) dias, renovável por uma única vez, por § 4º A indicação do profissional a que se refere o
igual período; (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016)
§ 3º deste artigo deverá ser precedida de manifes-
III - para períodos superiores àquele de que trata o
tação de que não existe defensor público lotado
inciso II, será necessária a apresentação de ordem
judicial. (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016) na área territorial onde tramita o inquérito e com
§ 3º Na hipótese prevista neste artigo, o inquérito atribuição para nele atuar, hipótese em que pode-
policial deverá ser instaurado no prazo máximo de rá ser indicado profissional que não integre os
72 (setenta e duas) horas, contado do registro da quadros próprios da Administração. (Incluído pela
respectiva ocorrência policial. (Incluído pela Lei nº Lei nº 13.964, de 2019)
13.344, de 2016) § 5º Na hipótese de não atuação da Defensoria
§ 4º Não havendo manifestação judicial no pra- Pública, os custos com o patrocínio dos interes-
zo de 12 (doze) horas, a autoridade competente ses dos investigados nos procedimentos de que
requisitará às empresas prestadoras de serviço de trata este artigo correrão por conta do orçamento
telecomunicações e/ou telemática que disponibili- próprio da instituição a que este esteja vincula-
zem imediatamente os meios técnicos adequados do à época da ocorrência dos fatos investigados.
– como sinais, informações e outros – que permi-
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
tam a localização da vítima ou dos suspeitos do
§ 6º As disposições constantes deste artigo se
delito em curso, com imediata comunicação ao juiz.
(Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016) aplicam aos servidores militares vinculados às
Art. 14 O ofendido, ou seu representante legal, instituições dispostas no art. 142 da Constituição
e o indiciado poderão requerer qualquer dili- Federal, desde que os fatos investigados digam res-
gência, que será realizada, ou não, a juízo da peito a missões para a Garantia da Lei e da Ordem.
346 autoridade. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
O art. 14-A, do Código de Processo Penal, estabele- ARQUIVAMENTO NO INQUÉRITO POLICIAL
ce a obrigatoriedade de “citação” dos agentes das for-
ças de segurança pública enumeradas pelo art. 144, Esgotadas todas as diligências cabíveis no decorrer
da Constituição Federal (à Polícia Ferroviária Federal, do inquérito policial, o membro do Ministério Público,
às Polícias Civis, às Policiais Militares, aos Corpos de entendendo que não há indícios suficientes acerca da
Bombeiros Militares e às Polícias Penais federal, esta- autoria e/ou prova da materialidade do crime, promo-
dual e distrital), sempre que figurarem como investi- verá o arquivamento do inquérito policial, nos termos
gados em procedimentos de apuração preliminar de
do art. 28, do Código de Processo Penal.
fatos “relacionados ao uso da força letal praticados no
Desta forma, não é permitido o arquivamento
exercício profissional”.
direto do inquérito pela autoridade policial, conforme
O dispositivo afirma que o indiciado poderá cons-
tituir defensor. No entanto, a atuação do profissional observamos no art. 17, do Código de Processo Penal.
é indispensável, desde que cumpridos os seguintes
requisitos: Espécies de Arquivamento
z O investigado integrar alguma das forças policiais O arquivamento é classificado pela doutrina nas
referidas no art. 144, da Constituição Federal; seguintes espécies: arquivamento implícito ou tácito,
z A investigação referir-se a uso de força letal; arquivamento originário, arquivamento indireto e
z A força letal ter sido aplicada em razão do exercí- arquivamento provisório.
cio profissional.
z Arquivamento implícito ou tácito: Não é admi-
Dessa forma, preenchidos esses requisitos, é obri- tido, pois configura omissão da denúncia pelo
gatória a atuação do defensor, não podendo o investi- Ministério Público;
gado dispor da sua atuação. Assim, o investigado será z Arquivamento originário: Aquele formulado
citado para constituir o defensor em 48 horas a contar pelo representante do Ministério Público nos
do recebimento da citação. Havendo inércia do inves- casos de competência originária nos tribunais. Por
tigado, a autoridade policial deverá intimar a institui-
exemplo: pelo Procurador Geral de Justiça peran-
ção à qual o investigado estava vinculado à época dos
te o Tribunal de Justiça, pelo Procurador Geral da
fatos, a fim de que indique o defensor em 48 horas.
República perante o Supremo Tribunal Federal etc.
Havendo necessidade de indicação de defensor,
nos termos do § 2º, do art. 14-A, a defesa caberá pre- z Arquivamento indireto: Quando o membro do
ferencialmente à Defensoria Pública, e, nos locais em Ministério Público deixa de oferecer denúncia
que ela não estiver instalada, à União ou à Unidade da perante o juízo em que atua e oficia pelo declínio
Federação correspondente. da competência, havendo o arquivamento indireto
neste juízo;
Art. 15 Se o indiciado for menor, ser-lhe-á nomeado z Arquivamento provisório: Hipótese de arqui-
curador pela autoridade policial. vamento dos autos do inquérito policial quando
ausente alguma condição de procedibilidade. Por
Em decorrência do art. 5º, do Código Civil, a meno- exemplo: a retratação da representação pela víti-
ridade cessa aos 18 (dezoito) anos completos. Assim, ma antes do oferecimento da denúncia de crime de
não há mais necessidade de curador para o indiciado ação penal pública condicionada à representação.
menor de 21 (vinte e um) anos. No entanto, ainda é
possível a nomeação de curador para o inimputável DA INAPLICABILIDADE DO PRINCÍPIO DA
do caput do art. 26, do Código Penal.
DEVOLUÇÃO
Art. 16 O Ministério Público não poderá requerer
a devolução do inquérito à autoridade poli- Desde a vigência da Lei nº 13.964, de 2019 (Pacote
cial, senão para novas diligências, imprescin- Anticrime), não se fala mais em Princípio da Devolu-
díveis ao oferecimento da denúncia. ção, conforme previsto no antigo texto do art. 28, do
Código de Processo Penal, em que o juiz, ao discordar
O Ministério Público é o titular da ação penal do pedido de arquivamento formulado pelo Ministé-
pública, como definido pela Constituição Federal. Por- rio Público, remetia os autos ao Procurador Geral ou
tanto, ele é o destinatário dos elementos produzidos a um órgão colegiado de Procuradores do Ministério
através do inquérito policial. Assim, o Parquet poderá Público (no âmbito do Ministério Público Federal,
requisitar diligências imprescindíveis à formação da denomina-se Câmara de Coordenação e Revisão), que,
sua opinio delicti. ao receber os autos do inquérito, poderia tomar uma
das seguintes decisões:
NOÇÕES DE DIREITO
DESARQUIVAMENTO
O desarquivamento do inquérito policial é possível sempre que surgirem provas novas (cláusula rebus sic
stantibus). No entanto, a jurisprudência converge quanto a sua possibilidade, por constituir coisa julgada formal,
quando arquivado por insuficiência de provas, ausência de pressuposto processual ou da condição da ação penal,
e falta de justa causa; bem como, quanto à impossibilidade de desarquivamento, por se tratar de coisa julgada
material, no caso de arquivamento por atipicidade do fato ou excludente da punibilidade (salvo no caso de certi-
dão de óbito falsa).
Importante!
O STF e o STJ divergem acerca da possiblidade de desarquivamento quando arquivado por manifesta causa
excludente da ilicitude. O STF entende pela possibilidade, já o STJ entende que não é possível.
Art. 18 Depois de ordenado o arquivamento do inquérito pela autoridade judiciária, por falta de base para a denún-
cia, a autoridade policial poderá proceder a novas pesquisas, se de outras provas tiver notícia.
Para que seja possível o desarquivamento, é necessário que surjam notícias de provas novas.
Art. 19 Nos crimes em que não couber ação pública, os autos do inquérito serão remetidos ao juízo competente,
onde aguardarão a iniciativa do ofendido ou de seu representante legal, ou serão entregues ao requerente, se o pedir,
mediante traslado.
Em se tratando de crimes de ação penal privada, os autos do inquérito policial serão destinados ao juiz com-
petente, que determinará a permanência dele em cartório, aguardando-se a iniciativa do ofendido ou de seu
representante legal.
Art. 20 A autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da
sociedade.
Parágrafo único. Nos atestados de antecedentes que lhe forem solicitados, a autoridade policial não poderá men-
cionar quaisquer anotações referentes a instauração de inquérito contra os requerentes. (Redação dada pela Lei nº
12.681, de 2012)
O sigilo do inquérito policial encontra-se previsto no art. 20. O objetivo do inquérito policial é investigar infra-
ções penais, coletando elementos de informação quanto à autoria e materialidade dos delitos. Sendo assim, de
nada resolveria se ao trabalho da polícia judiciária não fosse resguardado o sigilo necessário durante o curso de
sua realização.
Quanto ao acesso do advogado aos autos do inquérito policial, observe a Súmula Vinculante 14: é direito do
defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em proce-
dimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do
direito de defesa.
Art. 21 A incomunicabilidade do indiciado dependerá sempre de despacho nos autos e somente será permitida quan-
348 do o interesse da sociedade ou a conveniência da investigação o exigir.
Parágrafo único. A incomunicabilidade, que não
excederá de três dias, será decretada por despacho AÇÃO PENAL
fundamentado do Juiz, a requerimento da autorida-
de policial, ou do órgão do Ministério Público, res- O Estado é o responsável por aplicar a punição das
peitado, em qualquer hipótese, o disposto no artigo transgressões praticadas por um indivíduo. A aplica-
89, inciso III, do Estatuto da Ordem dos Advogados ção do direito de punir do Estado dá-se por meio de
do Brasil (Lei n. 4.215, de 27 de abril de 1963) (Reda- Ação Penal.
ção dada pela Lei nº 5.010, de 30.5.1966) A ação penal é o direito público subjetivo de pedir
ao Estado-Juiz a aplicação do direito penal objetivo a
Acredita-se que a incomunicabilidade do indicia- um caso concreto. Ou seja, é o direito do Estado ou do
ofendido de ingressar em juízo, solicitando a presta-
do está revogada pela Constituição Federal de 1988.
ção jurisdicional, para que seja aplicada às normas de
Isso porque, se durante a vigência do Estado de Defe- direito penal ao caso concreto, nos termos do inciso
sa o preso não pode ficar incomunicável (inciso IV, § XXXV, art. 5º, da Constituição Federal:
3º, art. 136, CF), não existe razão para que, em estado
de normalidade, mantenha-se uma pessoa incomuni- Art. 5º CF/88 [...]
cável. Além disso, de acordo com o inciso III, do art. XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder
7º, da Lei nº 8.906, de 1994, o preso jamais poderá ser Judiciário lesão ou ameaça a direito;
isolado de seu advogado. Nesse ínterim, podemos afir-
NATUREZA JURÍDICA (CARACTERÍSTICAS)
mar que não existe mais hipótese legal em que um
preso fique incomunicável, tendo em vista as disposi-
Trata-se de direito público, subjetivo, abstrato,
ções atuais da CF. autônomo e determinado (ou instrumental). Acompa-
nhe a seguir cada um desses pontos:
Art. 22 No Distrito Federal e nas comarcas em
que houver mais de uma circunscrição policial, a z Público: É exercido contra o Estado, independen-
autoridade com exercício em uma delas poderá, temente de quem ingressa em juízo, o próprio
nos inquéritos a que esteja procedendo, ordenar Estado por intermédio do Ministério Público ou o
diligências em circunscrição de outra, independen- particular;
temente de precatórias ou requisições, e bem assim z Subjetivo: O titular do direito e ação pode exigir
providenciará, até que compareça a autoridade do Estado/juiz a prestação jurisdicional;
competente, sobre qualquer fato que ocorra em sua z Abstrato: Trata-se de direito que independe do
presença, noutra circunscrição. resultado do processo penal, pois o direito de
ação é exercido ainda que a demanda seja julgada
O art. 22, do Código de Processo Penal, determina improcedente;
z Autônomo: Independe do direito de punir do
a autorização do ingresso da autoridade policial que
Estado (ius puniendi), ao qual o direito de ação é
preside um inquérito ou de seus emissários na cir-
preexistente.
cunscrição de outra autoridade policial, para colher z Determinado ou Instrumental: Trata-se de direi-
provas e empreender diligências, como forma de evi- to instrumentalmente conexo a um fato concreto.
tar os processos de expedição de precatórias, ofícios, Ou seja, a ação penal é o meio para se permitir o
requisições, entre outros meios que tornariam o tra- exercício do direito de punir.
mite do inquérito policial mais lento. Essa medida é
para economizar tempo e evitar a burocracia, incom- CONDIÇÕES DA AÇÃO PENAL
patível com a atividade policial.
O tema condições da ação penal é de suma impor-
Art. 23 Ao fazer a remessa dos autos do inquérito tância e que vem caindo nas provas tanto na parte
ao juiz competente, a autoridade policial oficiará
objetiva como na subjetiva.
As condições da ação penal podem ser genéricas,
ao Instituto de Identificação e Estatística, ou repar-
que são aquelas presentes em todas as ações penais,
tição congênere, mencionando o juízo a que tiverem
ou específicas, aquelas presentes em apenas algumas
sido distribuídos, e os dados relativos à infração
espécies de ação penal. Observe a seguir em mais
penal e à pessoa do indiciado. detalhes e atente-se para não as confundir.
de policial deve enviar a informação estatística no z Possibilidade jurídica do pedido: O pedido for-
momento do envio dos autos ao Ministério Público, mulado pela parte deve tratar sobre providências
ao qual caberá adotar a providência que entender possíveis e admitidas pelo direito objetivo, respal-
adequada. dadas pelo ordenamento jurídico;
Em se tratando de investigação que trate de crime z Interesse de agir: O interesse de agir deve ser
analisado sob os seguintes aspectos:
de ação penal privada, o caput do art. 19, do Código de
Processo Penal, dispõe que os autos devem ser envia-
Necessidade: Presume-se a necessidade da
dos ao juízo competente para aguardar a manifesta- ação penal diante de uma infração penal. Ela é
ção da vítima. Nesse caso, as informações estatísticas implícita na ação penal condenatória, visto que
devem ser prestadas no momento do envio dos autos nenhuma sanção pode ser aplicada sem o devi-
a juízo. do processo legal; 349
Adequação: Trata-se do ajustamento entre a Ação Penal Pública: Nesta espécie de ação, o titu-
providência judicial requerida à solução do lar é o Ministério Público. A ação penal pública divi-
conflito inerente ao pedido. A ação penal deve de-se em:
ser promovida com base nos moldes procedi-
mentais previstos no CPP, bem como com base z Ação Penal Pública Incondicionada: Trata-se da
em prova pré-constituída; regra adotada pelo nosso ordenamento jurídico. O
Utilidade da ação penal: Ela deve ser útil para Ministério Público (e outros órgão de persecução
a realização da pretensão punitiva do Estado. penal) age de ofício independentemente de qual-
quer condição;
z Legitimidade de parte: � Ação Penal Pública Condicionada: Neste caso,
será exigida a representação do ofendido ou a
Ad causam: A legitimidade para a causa. requisição do Ministro da Justiça. Essa representa-
ção ou requisição tratam-se de condição específica
Ativa: Ministério Público ou ofendido; de procedibilidade para o exercício da ação penal
Passiva: Apenas do agente da infração penal. pública condicionada, abrangendo, inclusive, o
inquérito policial.
Ad processum: A legitimidade para o processo.
Requisição: Exigência legal que o Ministro da
Ativa: Ministério Público ou o ofendido, represen- Justiça encaminha ao Ministério Público de que seja
tado por advogado; apurada a prática de determinada infração penal e
Passiva: Agente que cometeu a infração penal que sua autoria. Essa situação acontece quando há crime
for maior de idade. contra a honra do Presidente da República ou chefe de
governo estrangeiro.
z Justa causa: Consiste no lastro probatório mínimo Representação: O ofendido ou seu representan-
que deve lastrear toda e qualquer acusação penal te legal informa a notícia do crime e, caso manifeste
no ordenamento pátrio. interesse, representa criminalmente contra o autor
dos fatos.
Condições Específicas
Art. 25 A representação será irretratável, depois de
São as condições de procedibilidade para que o oferecida a denúncia.
Ministério Público possa oferecer a denúncia. São
elas: É cabível a retratação da representação, em
decorrência do princípio da oportunidade ou conve-
z Representação do ofendido; niência, desde que ela ocorra antes do oferecimento
z Requisição do Ministro da Justiça. da denúncia.
to na impossibilidade de fazê-lo; (Incluído pela Lei § 7º O juiz poderá recusar homologação à propos-
nº 13.964, de 2019) ta que não atender aos requisitos legais ou quando
II - renunciar voluntariamente a bens e direitos
não for realizada a adequação a que se refere o § 5º
indicados pelo Ministério Público como instrumen-
deste artigo. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
tos, produto ou proveito do crime; (Incluído pela
§ 8º Recusada a homologação, o juiz devolverá
Lei nº 13.964, de 2019)
III - prestar serviço à comunidade ou a entidades os autos ao Ministério Público para a análise da
públicas por período correspondente à pena míni- necessidade de complementação das investigações
ma cominada ao delito diminuída de um a dois ter- ou o oferecimento da denúncia. (Incluído pela Lei nº
ços, em local a ser indicado pelo juízo da execução, 13.964, de 2019)
na forma do art. 46 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de § 9º A vítima será intimada da homologação do
dezembro de 1940 (Código Penal); (Incluído pela Lei acordo de não persecução penal e de seu descum-
nº 13.964, de 2019) primento. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) 351
§ 10 Descumpridas quaisquer das condições estipu- Art. 29 Será admitida ação privada nos crimes
ladas no acordo de não persecução penal, o Minis- de ação pública, se esta não for intentada no pra-
tério Público deverá comunicar ao juízo, para fins zo legal, cabendo ao Ministério Público aditar a
de sua rescisão e posterior oferecimento de denún- queixa, repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva,
cia. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) intervir em todos os termos do processo, fornecer
§ 11 O descumprimento do acordo de não perse- elementos de prova, interpor recurso e, a todo tem-
cução penal pelo investigado também poderá ser po, no caso de negligência do querelante, retomar a
utilizado pelo Ministério Público como justifica- ação como parte principal.
tiva para o eventual não oferecimento de suspen- Art. 30 Ao ofendido ou a quem tenha qualidade
são condicional do processo. (Incluído pela Lei nº para representá-lo caberá intentar a ação privada.
13.964, de 2019) Art. 31 No caso de morte do ofendido ou quando
§ 12 A celebração e o cumprimento do acordo de declarado ausente por decisão judicial, o direito de
não persecução penal não constarão de certidão de oferecer queixa ou prosseguir na ação passará ao
antecedentes criminais, exceto para os fins previs- cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.
tos no inciso III do § 2º deste artigo. (Incluído pela
Lei nº 13.964, de 2019) Ação Penal Privada: Nesta ação, o titular é o ofen-
§ 13 Cumprido integralmente o acordo de não dido. A Ação Penal Privada será exigida pelo próprio
persecução penal, o juízo competente decretará tipo penal. São espécies da ação penal privada:
a extinção de punibilidade. (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019)
§ 14 No caso de recusa, por parte do Ministério
z Ação penal exclusivamente privada ou propria-
Público, em propor o acordo de não persecução mente dita: Espécie na qual são legitimados para
penal, o investigado poderá requerer a remessa dos ingressar com ação penal privada o ofendido ou
autos a órgão superior, na forma do art. 28 deste seu representante legal, ou, ainda, o curador espe-
Código. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) cial designado pelo juiz;
z Ação penal privada personalíssima: Persona-
Outra inovação trazida pelo pacote anticrime foi a líssima porque cabe única e exclusivamente
inclusão do art. 28-A, ao Código de Processo Penal, que ao ofendido ingressar com a ação, ou ao curador
regulamenta o Acordo de Não Persecução Penal. especial, caso designado para atuar em seu nome.
Trata-se de uma nova modalidade de flexibilização O único exemplo no ordenamento jurídico vigente
do Princípio da Obrigatoriedade da Ação Penal Públi- é o crime de induzimento a erro essencial e ocul-
ca, pois caso o acordo seja aceito, ele acarretará no tação de impedimento ao casamento (art. 236, do
não oferecimento de Denúncia pelo Ministério Públi- Código Penal);
co. Sua homologação é feita em audiência própria na z Ação penal privada subsidiária da pública: Tra-
qual se analisa a voluntariedade e a legalidade, ressal- ta-se de direito fundamental que confere a legiti-
tando que não faz coisa julgada material, e o seu cum- midade ao ofendido, ou seu representante legal,
prido integralmente gera a extinção de punibilidade. para propor queixa-crime substitutiva no caso de
A aplicação do Acordo de Não Persecução Penal inércia do Ministério Público, quando tiver ocorri-
requer o cumprimento de requisitos objetivos e con- do a transcrição do prazo para o oferecimento da
dições. Vejamos: denúncia. O prazo para que o ofendido proponha
a ação penal privada subsidiária da pública é de
Requisitos objetivos decadencial de 6 (seis) meses. Nesta hipótese, o
Ministério Público não fica impedido de propor a
z Confissão formal e circunstancial da prática deliti- ação penal pública competente, ainda que o ofen-
va pelo investigado; dido tenha proposto a ação penal privada.
z Infração cometida sem violência ou grave ameaça;
z Pena mínima inferior a 4 anos (consideradas as Art. 32 Nos crimes de ação privada, o juiz, a reque-
causas de aumento e diminuição aplicáveis ao rimento da parte que comprovar a sua pobreza,
caso concreto). nomeará advogado para promover a ação penal.
§ 1º Considerar-se-á pobre a pessoa que não puder
prover às despesas do processo, sem privar-se dos
Condições
recursos indispensáveis ao próprio sustento ou da
família.
z Reparar o dano ou restituir a coisa à vítima, exceto § 2º Será prova suficiente de pobreza o atestado da
na impossibilidade de fazê-lo; autoridade policial em cuja circunscrição residir o
z Renunciar voluntariamente a bens e direitos indi- ofendido.
cados pelo Ministério Público como instrumentos,
produto ou proveito do crime; Para aplicação do art. 32, do Código de Processo
z Prestar serviço à comunidade ou a entidades Penal, basta a comprovação de que se trata de pessoa
públicas por período correspondente à pena míni- com poucos recursos, que não pode prover às despe-
ma cominada ao delito diminuída de um a dois ter- sas do processo, bastando como meio de comprovação
ços, em local a ser indicado pelo juízo da execução; a apresentação de uma simples declaração de próprio
z Pagar prestação pecuniária à entidade pública ou punho do interessado.
de interesse social, a ser indicada pelo juízo da exe-
cução, que tenha, preferencialmente, como função Art. 33 Se o ofendido for menor de 18 anos, ou men-
proteger bens jurídicos iguais ou semelhantes aos talmente enfermo, ou retardado mental, e não tiver
aparentemente lesados pelo delito; ou representante legal, ou colidirem os interesses des-
z Cumprir, por prazo determinado, outra condi- te com os daquele, o direito de queixa poderá ser
ção indicada pelo Ministério Público, desde que exercido por curador especial, nomeado, de ofício
proporcional e compatível com a infração penal ou a requerimento do Ministério Público, pelo juiz
352 imputada. competente para o processo penal.
Nesta hipótese, o direito de queixa ou de repre- Art. 39 O direito de representação poderá ser
sentação poderá ser exercido por curador especial, exercido, pessoalmente ou por procurador com
nomeado, de ofício ou a requerimento do Ministério poderes especiais, mediante declaração, escrita
Público, pelo juiz competente para o processo penal. ou oral, feita ao juiz, ao órgão do Ministério Públi-
Importante lembrar que fica a cargo do curador co, ou à autoridade policial.
especial oferecer ou não a representação ou queixa, § 1º A representação feita oralmente ou por escrito,
cabendo a ele fazer o que entender ser oportuno aos sem assinatura devidamente autenticada do ofendi-
interesses do menor, do mentalmente enfermo ou do do, de seu representante legal ou procurador, será
retardado mental. reduzida a termo, perante o juiz ou autoridade poli-
cial, presente o órgão do Ministério Público, quan-
Art. 34 Se o ofendido for menor de 21 e maior de 18 do a este houver sido dirigida.
anos, o direito de queixa poderá ser exercido por ele § 2º A representação conterá todas as informações
ou por seu representante legal. que possam servir à apuração do fato e da autoria.
§ 3º Oferecida ou reduzida a termo a representa-
Atualmente, em decorrência da Lei nº 10.406, de ção, a autoridade policial procederá a inquérito,
2002 (Código Civil), o maior de 18 anos é plenamente ou, não sendo competente, remetê-lo-á à autorida-
de que o for.
capaz para todos os atos da vida civil, não mais neces-
§ 4º A representação, quando feita ao juiz ou peran-
sitando de representante legal. Portanto, não existe
te este reduzida a termo, será remetida à autorida-
mais sentido no disposto nesse artigo.
de policial para que esta proceda a inquérito.
§ 5º O órgão do Ministério Público dispensará o
Art. 35 (Revogado pela Lei nº 9.520, de 27.11.1997)
inquérito, se com a representação forem ofereci-
Art. 36 Se comparecer mais de uma pessoa com
dos elementos que o habilitem a promover a ação
direito de queixa, terá preferência o cônjuge, e, em
penal, e, neste caso, oferecerá a denúncia no prazo
seguida, o parente mais próximo na ordem de enu-
de quinze dias.
meração constante do art. 31, podendo, entretanto,
qualquer delas prosseguir na ação, caso o quere-
lante desista da instância ou a abandone. A representação deve ser feita pelo próprio ofen-
dido, pessoalmente, ou por procurador com poderes
O art. 31, do Código de Processo Penal, determina especiais. De acordo com o caput do art. 39, do Código
uma ordem de preferência na sucessão processual. No de Processo Penal, o destinatário dessa representação
entanto, tratando-se de sucessão processual em quei- será o juiz, o órgão do Ministério Público ou a autori-
xa-crime, qualquer um dos sucessores poderá prosse- dade policial.
guir no processo já instaurado, caso o querelante (o
cônjuge) desista ou abandone. Art. 40 Quando, em autos ou papéis de que conhece-
rem, os juízes ou tribunais verificarem a existência
Art. 37 As fundações, associações ou socieda- de crime de ação pública, remeterão ao Ministério
des legalmente constituídas poderão exercer a Público as cópias e os documentos necessários ao
ação penal, devendo ser representadas por quem oferecimento da denúncia.
os respectivos contratos ou estatutos designa-
rem ou, no silêncio destes, pelos seus diretores ou O art. 40, do Código de Processo Penal, traz a hipóte-
sócios-gerentes. se de notitia criminis apresentada por juízes ao Minis-
tério Público. Nos casos em que juízes e tribunais se
No caso de ação penal privada, a pessoa jurídica depararem com elementos sobre a prática de determi-
poderá figurar no polo ativo, ajuizando a queixa. Já nada infração de ação penal pública incondicionada,
em se tratando de caso de ação penal pública, quando deverão remeter tais informações ao titular da ação
o Ministério Público ficar inerte quanto à propositura penal, para que ele tome as devidas providências.
da ação, a pessoa jurídica poderá propor ação penal
privada subsidiária da pública. Art. 41 A denúncia ou queixa conterá a exposição
do fato criminoso, com todas as suas circunstân-
Art. 38 Salvo disposição em contrário, o ofendido, cias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos
ou seu representante legal, decairá no direito de pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do
queixa ou de representação, se não o exercer den- crime e, quando necessário, o rol das testemunhas.
tro do prazo de seis meses, contado do dia em que
vier a saber quem é o autor do crime, ou, no caso
Nesse artigo, estão listados de forma expressa os
do art. 29, do dia em que se esgotar o prazo para o
requisitos da peça acusatória, quais sejam:
oferecimento da denúncia.
Parágrafo único. Verificar-se-á a decadência do
NOÇÕES DE DIREITO
Aditamento da queixa pelo Ministério Público tem O querelante, ao optar pelo oferecimento da quei-
como objetivo corrigir eventuais falhas apresentadas xa, não pode escolher quem vai processar. Ele está
na peça inicial. obrigado a processar todos os autores do delito, por
Em se tratando da ação penal privada propria- força do princípio da indivisibilidade. Tal disposição
mente dita e da personalíssima, o Ministério Público
tem por objetivo evitar que a vítima escolha a pessoa
não é dotado de legitimidade ad causam, ou seja, ele
a ser punida.
não possui a legitimidade para incluir coautores, par-
tícipes e outros fatos delituosos de ação penal de ini-
ciativa privada. A única coisa que o Ministério Público Art. 49 A renúncia ao exercício do direito de quei-
pode fazer nessas situações é aditar a queixa-crime xa, em relação a um dos autores do crime, a todos
apenas para incluir circunstâncias de tempo, de lugar, se estenderá.
modus operandi etc.
Já nos casos de ação penal privada subsidiária da No mesmo sentido do artigo anterior, em decor-
pública, por possuir em sua origem a natureza públi- rência do princípio da indivisibilidade, a renúncia ao
ca, o Ministério Público tem ampla legitimidade para exercício do direito de queixa, em relação a um dos
proceder ao aditamento, podendo incluir novos fatos autores do crime, a todos se estenderá.
delituosos, novos coautores e partícipes, acrescentar
elementos, entre outros. Art. 50 A renúncia expressa constará de declara-
ção assinada pelo ofendido, por seu representante
Art. 46 O prazo para oferecimento da denúncia, legal ou procurador com poderes especiais.
estando o réu preso, será de 5 dias, contado da Parágrafo único. A renúncia do representante legal
data em que o órgão do Ministério Público rece- do menor que houver completado 18 (dezoito) anos
ber os autos do inquérito policial, e de 15 dias, se não privará este do direito de queixa, nem a renún-
o réu estiver solto ou afiançado. No último caso, se
cia do último excluirá o direito do primeiro.
houver devolução do inquérito à autoridade poli-
cial (art. 16), contar-se-á o prazo da data em que
o órgão do Ministério Público receber novamente A renúncia assinada pelo ofendido, ou por seu
os autos. representante, pode ser expressa ou tácita:
§ 1º Quando o Ministério Público dispensar o inqué-
rito policial, o prazo para o oferecimento da denún- z Renúncia expressa, legal ou por procurador
cia contar-se-á da data em que tiver recebido as com poderes especiais: Renúncia feita por decla-
peças de informações ou a representação ração inequívoca, conforme descrito no caput do
§ 2º O prazo para o aditamento da queixa será de 3
art. 50, do Código de Processo Civil;
dias, contado da data em que o órgão do Ministério
Público receber os autos, e, se este não se pronun- z Renúncia tácita: Ocorre quando a vítima pratica
ciar dentro do tríduo, entender-se-á que não tem o ato incompatível com a vontade de processar, con-
que aditar, prosseguindo-se nos demais termos do forme determinado pelo parágrafo único, art. 104,
354 processo. do Código Penal.
Já a renúncia do representante legal do menor com Art. 57 A renúncia tácita e o perdão tácito admiti-
18 (dezoito) anos completos ou mais foi tacitamente rão todos os meios de prova.
revogada pelo advento do novo Código Civil.
Quando o ofendido atinge sua maioridade aos 18 Ocorrendo controvérsia entre as partes, quanto
(dezoito) anos de idade, deixa de ter representante a renúncia e o perdão concedidos de maneira táci-
legal, com exceção dos casos como os de doença men- ta, haverá a necessidade de produção de prova para
tal ou retardamento mental.
demonstrar ao juiz que houve a prática de algum ato
Art. 51 O perdão concedido a um dos quere-
incompatível com a vontade de processar o autor do
lados aproveitará a todos, sem que produza, crime de ação penal privada. Neste sentido, o art. 57,
todavia, efeito em relação ao que o recusar. do Código de Processo Penal, admite todos os meios
de provas.
Na ação penal privada propriamente dita, o per-
dão equivale à desistência da demanda, o que somen- Art. 58 Concedido o perdão, mediante declaração
te pode ocorrer quando a ação já está ajuizada. Neste expressa nos autos, o querelado será intimado a
caso, o perdão é ato bilateral, pois exige a concor- dizer, dentro de três dias, se o aceita, devendo, ao
dância do agressor (querelado). mesmo tempo, ser cientificado de que o seu silêncio
importará aceitação.
Art. 52 Se o querelante for menor de 21 e maior Parágrafo único. Aceito o perdão, o juiz julgará
de 18 anos, o direito de perdão poderá ser exercido extinta a punibilidade.
por ele ou por seu representante legal, mas o per-
dão concedido por um, havendo oposição do outro,
não produzirá efeito. A aceitação do perdão também pode ser expressa
ou tácita.
Como anteriormente estudado, após a edição da
Lei nº 10.406, de 2002 (Código Civil), o maior de 18 z Aceitação expressa: Ocorre quando o querelado
anos não tem mais representante legal. Sendo assim, se manifesta expressamente no prazo estipulado
somente o ofendido maior de 18 (dezoito) anos pode- pelo art. 58, do Código de Processo Penal;
rá perdoar. Portando, o art. 52, do Código de Processo z Aceitação tácita: Ocorre quando o querelado,
Penal, atualmente não possui aplicação. intimado para se manifestar sobre o perdão con-
cedido pelo querelante, permanece inerte durante
Art. 53 Se o querelado for mentalmente enfermo ou
3 (três) dias.
retardado mental e não tiver representante legal,
ou colidirem os interesses deste com os do querela-
do, a aceitação do perdão caberá ao curador que o No caso da recusa, ela não pode ser tácita, já que o
juiz lhe nomear. silêncio importa a aceitação do perdão.
Quando o querelado for mentalmente enfermo ou Art. 59 A aceitação do perdão fora do processo
retardado mental, ele deverá ter um representante constará de declaração assinada pelo querelado,
legal, que é o seu curador de direito civil, a quem com- por seu representante legal ou procurador com
pete aceitar o perdão. Se o querelado for mentalmente poderes especiais.
enfermo ou retardado mental e não tiver represen-
tante legal, ou colidirem os interesses deste com os do Da mesma forma que o perdão pode ser concedido
querelado, a aceitação do perdão caberá ao curador
de forma judicial e extrajudicial, a aceitação também
que o juiz lhe nomear.
pode ser extraprocessual. Nesse caso, o querelado, ou
Art. 54 Se o querelado for menor de 21 anos, obser- o procurador com poderes especiais, deve firmar uma
var-se-á, quanto à aceitação do perdão, o disposto declaração aceitando o perdão.
no art. 52.
Art. 60 Nos casos em que somente se procede
Como anteriormente estudado, o maior de 18 anos mediante queixa, considerar-se-á perempta a ação
é plenamente capaz para todos os atos da vida civil e penal:
não possui mais representante legal. O referido dispo- I - quando, iniciada esta, o querelante deixar de pro-
sitivo já não possui mais aplicação. mover o andamento do processo durante 30 dias
seguidos;
Art. 55 O perdão poderá ser aceito por procurador II - quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo
com poderes especiais. sua incapacidade, não comparecer em juízo, para
Art. 56 Aplicar-se-á ao perdão extraprocessual prosseguir no processo, dentro do prazo de 60 (ses-
expresso o disposto no art. 50. senta) dias, qualquer das pessoas a quem couber
NOÇÕES DE DIREITO
z Conceder liberdade provisória, com ou sem fiança. De acordo com o art. 310 do CPP, se o juiz verifi-
car, pelo auto de prisão em flagrante, que o agente
Antes do Pacote Anticrime praticou o fato em legítima defesa, o juiz pode, de
maneira fundamentada, conceder ao acusado liber-
Art. 310 Ao receber o auto de prisão em flagrante, dade provisória, mediante termo de comparecimen-
o juiz deverá fundamentadamente: to obrigatório a todos os atos processuais, sob pena de
I - relaxar a prisão ilegal; ou revogação.
II - converter a prisão em flagrante em preventiva, Se o juiz verificar que o agente é reincidente ou
quando presentes os requisitos constantes do art. que integra organização criminosa armada ou milí-
312 deste Código, e se revelarem inadequadas ou cia, ou que porta arma de fogo de uso restrito, deverá
insuficientes as medidas cautelares diversas da pri- denegar a liberdade provisória, com ou sem medi-
são; ou das cautelares. 357
z Meramente irregulares. Ex.: uma palavra errada.
TEORIA GERAL DA PROVA PENAL z Nulos. Ex.: falta de defesa técnica;
z Inexistentes. Ex.: falta de sentença.
Provar significa demonstrar a veracidade de um
fato, por meio de inspeção/verificação/exame. Ou No campo das provas, a lei estabelece a obriga-
seja, provar exige atividade intelectual para conhecer toriedade da realização do exame de corpo de delito
o verdadeiro. quando a infração penal deixar vestígios:
Existe um conjunto de atividades que visam obter
a verdade dos fatos relevantes para o julgamento. Um Art.158 Quando a infração deixar vestígios, será
exemplo é a produção dos meios e atos praticados no indispensável o exame de corpo de delito, direto
processo que buscam o convencimento do juiz (perí- ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do
cia, testemunhas etc.) acusado.
Portanto, a prova permite a formação da convic- Parágrafo único. Dar-se-á prioridade à realização
ção do órgão julgador no curso processual quanto à do exame de corpo de delito quando se tratar de
crime que envolva:
existência de determinada situação fática. Para isso,
I - violência doméstica e familiar contra mulher;
existem instrumentos idôneos, lícitos e legítimos des-
II - violência contra criança, adolescente, idoso ou
critos na legislação processual penal.
pessoa com deficiência.
Art. 155 O juiz formará sua convicção pela livre
Se era possível a realização do exame direto, ou,
apreciação da prova produzida em contraditório
judicial, não podendo fundamentar sua decisão ainda, se a ausência do exame direto não foi supri-
exclusivamente nos elementos informativos colhi- da pelo exame de corpo de delito indireto, deverá o
dos na investigação, ressalvadas as provas cautela- processo ser anulado, a partir do momento em que o
res, não repetíveis e antecipadas. laudo deveria ter sido juntado ao processo.
O ato processual deve ser praticado em conso- Antes de tudo, deve-se saber o conceito de ônus:
nância com a Constituição Federal, com as Conven- um imperativo do próprio interesse, estando situa-
ções Internacionais sobre Direitos Humanos e com dos no campo da liberdade. Ainda que haja seu des-
as leis processuais penais, assegurando-se, assim, não cumprimento, não haverá qualquer ilicitude, pois o
somente às partes, como a toda a coletividade, a exis- cumprimento do ônus interessa ao próprio sujeito
tência de um processo penal justo e em consonância onerado.
com o princípio do devido processo legal.
Assim, a nulidade é compreendida como espécie ÔNUS MENOS
ÔNUS PERFEITO
de sanção aplicada ao ato processual defeituoso, do PERFEITO
que deriva a inaptidão para a produção de seus efei-
tos regulares. Apenas os atos processuais realizados O ônus é perfeito quando Um ônus é tido como me-
em consonância com o ordenamento jurídico serão o prejuízo, que é o resul- nos perfeito quando os
considerados válidos e idôneos a produzir os efeitos tado de seu descumpri- prejuízos que derivam de
almejados. mento, ocorre necessária seu descumprimento se
Todavia, existem irregularidades/defeitos sem e inevitavelmente. produzem de acordo com
consequência, isto é, apesar de o ato processual não a avaliação judicial.
ter sido praticado em fiel observância do modelo
legal, esta irregularidade não tem o condão de acar- O ônus da prova funciona como uma regra de
retar qualquer consequência. Outras irregularidades/ julgamento a ser aplicada pelo juiz quando perma-
defeitos acarretam tão somente sanções extraproces- necer em dúvida no momento do julgamento. Em
suais, ex.: multa. Mas também existem irregularida- outras palavras, o ônus funciona como uma regra de
des/defeitos que podem acarretar a invalidação do ato julgamento destinada ao juiz acerca do conteúdo da
processual. Neste caso, a irregularidade atenta contra sentença que deve proferir, caso não tenha sido com-
o interesse público ou contra interesse preponderante provada a verdade de uma afirmação feita no curso
das partes. do processo.
Em seu aspecto subjetivo, o ônus da prova deve ser
Dica compreendido como o encargo que recai sobre as par-
tes de buscar as fontes de prova capazes de compro-
Irregularidades ou defeitos que acarretam a ine-
var as afirmações por elas feitas ao longo do processo,
xistência jurídica: a violação ao devido processo introduzindo-as no processo utilizando-se dos meios
legal é tão absurda que acarreta a própria ine- de prova legalmente admissíveis.
xistência do ato jurídico. É o que ocorre com Vale lembrar que no âmbito processual penal, o
uma sentença prolatada por juiz impedido, tida ônus da prova subjetivo é atenuado por força da regra
como inexistente, haja visto a gravidade do pre- da comunhão da prova e dos poderes instrutórios do
juízo causado à imparcialidade da autoridade juiz.
jurisdicional. Conforme o princípio do livre convencimento
motivado, o juiz poderá formar seu convencimento a
Portanto, os atos podem ser: partir de todas as provas constantes do processo, quer
tenham sido elas produzidas pela parte que se bene-
z Perfeitos. Ex.: sentença que reúna todos os ficiou com tal prova, quer por iniciativa da parte con-
358 requisitos; trária, quer pela própria iniciativa probatória do juiz.
Art. 156 A prova da alegação incumbirá a quem a z Isolamento para evitar que se altere;
fizer, sendo, porém, facultado ao juiz de ofício: � Fixação (descrição detalhada do vestígio como se
I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, encontra no local do crime ou no corpo de delito);
a produção antecipada de provas consideradas � Coleta para análise pericial;
urgentes e relevantes, observando a necessidade, z Acondicionamento (o vestígio é embalado de for-
adequação e proporcionalidade da medida; ma individualizada, com anotação da data, hora e
II – determinar, no curso da instrução, ou antes de nome de quem fez a coleta e o acondicionamento);
proferir sentença, a realização de diligências para
z Transporte, garantindo a manutenção das caracte-
dirimir dúvida sobre ponto relevante
rísticas originais e o controle da posse;
z Recebimento (com informações);
No sistema processual penal existe distribuição do z Processamento (exame pericial com laudo do
ônus da prova entre acusação e defesa: perito);
Incumbe à acusação somente a prova da existên- z Armazenamento para realização de contra perícia,
cia do fato típico; ser descartado ou transportado;
Comprovada a existência do fato típico existe uma z Descarte, liberação do vestígio, com ou sem autori-
presunção de que o fato também é ilícito e culpável, zação judicial, a depender do caso.
cabe ao acusado informar tal presunção. Portanto,
compete ao réu o ônus da prova quanto às excluden- Lembre-se que em uma mera coleta de sangue
tes da ilicitude, da culpabilidade, ou acerca da presen- para exames de rotina já existe uma sistemática rígi-
ça de causa extintiva da punibilidade. da para evitar erros no resultado, imagine agora todos
Sendo assim, se o acusado apontar a existência de os cuidados que precisam ser adotados para não ser
um álibi, caberá a ele fazer prova de sua alegação. cometida nenhuma injustiça em âmbito penal. Logo,
Em virtude da regra probatória que deriva do todos os procedimentos elencados na lei precisam ser
princípio da presunção de inocência, tem-se que obedecidos para a valoração de uma prova.
somente é possível um decreto condenatório quando A coleta dos vestígios deverá ser realizada pre-
o magistrado estiver convencido da prática do delito ferencialmente por perito oficial, que dará o enca-
por parte do acusado. Já para a defesa, basta que pro- minhamento necessário para a central de custódia.
duza um estado de dúvida para que o acusado possa É proibida a entrada em locais isolados bem como a
ser absolvido. remoção de quaisquer vestígios de locais de crime
Outro ponto interessante é que para a acusação, antes da liberação por parte do perito responsável,
exige-se prova além de qualquer dúvida razoável; sendo tipificada como fraude processual a sua reali-
para a defesa, basta criar um estado de dúvida. zação (art. 158-C).
Da regra de julgamento do in dubio pro reo decor- No acondicionamento para transporte, o reci-
rente do princípio da presunção de inocência, tem-se piente precisa estar selado com lacre e numeração
que o ônus da prova recai precipuamente sobre o individualizada, para garantir a inviolabilidade e a
Ministério Público ou sobre o querelante. idoneidade do vestígio durante o transporte. O reci-
A inversão do ônus da prova significaria, portanto, piente precisa individualizar o vestígio e preservá-lo.
adotar a regra contrária: in dubio pro societate ou in Após cada rompimento de lacre, deve-se fazer
dubio contra reum. Diante da hierarquia constitucio- constar na ficha de acompanhamento de vestígio o
nal do princípio da presunção de inocência, forçoso é nome e a matrícula do responsável, a data, o local, a
concluir que nenhuma lei poderá, então, inverter finalidade, bem como as informações referentes ao
o ônus da prova com relação à condenação penal, novo lacre utilizado. O lacre rompido deverá ser acon-
sob pena de ser considerada inconstitucional. dicionado no interior do novo recipiente (art. 158-D).
A intervenção do juiz das garantias na fase inves- Todos os Institutos de Criminalística deverão ter
tigatória deve ser contingente e excepcional: Art. 3º-A. uma central de custódia destinada à guarda e controle
O processo penal terá estrutura acusatória, vedadas a dos vestígios. Toda central de custódia deve possuir
iniciativa do juiz na fase de investigação e a substitui- os serviços de protocolo. Na central de custódia, a
ção da atuação probatória do órgão de acusação. entrada e a saída de vestígio deverão ser protocola-
das, consignando-se informações sobre a ocorrência
CADEIA DE CUSTÓDIA no inquérito que a eles se relacionam (art. 158-E).
Após a realização da perícia, o material deverá ser
O Pacote Anticrime trouxe dentro da perícia a devolvido à central de custódia, devendo nela perma-
cadeia de custódia como garantidora da autenticidade necer. Caso a central de custódia não possua espaço
das evidências coletadas e examinadas, sem que haja ou condições de armazenar determinado material,
espaço para adulteração. Assim, documenta-se de deverá a autoridade policial ou judiciária determinar
maneira formal um procedimento destinado a manter as condições de depósito do referido material em local
NOÇÕES DE DIREITO
9 C
a) A prova sobre o “estado das pessoas” deve observar
restrições estabelecidas na lei civil. 10 A
b) A confissão deve ser cotejada com outros elementos
de convicção.
c) A narcoanálise constitui método para obtenção de
informações úteis à moderna investigação policial.
d) O juiz pode determinar a realização de prova mesmo ANOTAÇÕES
antes de iniciada a ação penal.
362
para a propagação do desconhecimento, pois, quando
se relativizam os direitos humanos, aqueles que deve-
riam lutar por seus direitos não sabem que os possui,
nem como se proteger.
Considerando que os direitos humanos contem-
DIREITOS HUMANOS plam diversos tratados internacionais e abrangem
uma grande quantidade de temas e matérias, o pre-
sente estudo terá como objeto o edital da Polícia Civil
do Estado de Minas Gerais.
Antes de iniciar o estudo, é preciso ter em mente
TEORIA GERAL DOS DIREITOS que, para melhor compreendê-lo, é primordial enten-
HUMANOS der sua estrutura e identificar as ideias mais impor-
tantes de cada um dos itens tratados.
Observa-se que, à medida que a sociedade se Feitas essas considerações iniciais, bons estudos!
desenvolve, são estabelecidos novos tipos de conflitos
de interesses, de tal forma que surge a necessidade de TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS
que o direito seja reordenado e capaz de criar meca-
nismos para a resolução dessas novas modalidades de As normas de direitos humanos, que são essen-
conflitos. ciais a uma vida digna, são fruto de um processo de
Atualmente, o direito não pode mais ser concebi- construção e reconstrução que variaram conforme as
do como restrito a uma determinada localidade, uma necessidades humanas e contexto de cada época da
vez que, diante do processo de interação entre os paí- história. Explicando melhor: suas regras foram desen-
ses aliado ao avanço das tecnologias e dos meios de volvidas a partir de uma ação ou luta social, sendo,
comunicação, é preciso estabelecer um sistema jurídi- portanto, uma construção social (consciente e voca-
co destinado a disciplinar a sociedade como um todo. cionada) que decorre dessas novas demandas com o
Destas regras aplicadas à sociedade internacional objetivo de assegurar a dignidade humana e evitar o
advém o Direito Internacional. sofrimento humano.
Didaticamente, o Direito Internacional é dividido Verifica-se, assim, que os direitos humanos não
em ramos, que variam conforme o objeto tutelado. surgiram de uma vez só, sendo fruto de um desenvol-
Um desses ramos é o Direito Internacional Direitos vimento histórico, conforme será explanado no item
Humanos ou, simplesmente, Direitos Humanos. “O processo histórico de construção e afirmação dos
A disciplina Direitos Humanos é o ramo do Direi- direitos Humanos”. Neste primeiro momento, atente-
to Internacional que cuida da proteção de todos os -se para o fato de que os direitos humanos foram sen-
seres humanos, independentemente de qualquer do reconhecidos aos poucos.
condição, tais como sexo, idade, nacionalidade, reli- Os primeiros direitos reconhecidos foram aqueles
gião, entre outros. Trata-se, pois, de um sistema de ligados ao próprio indivíduo, como, por exemplo, o
proteção indispensável à vida humana. direito de viver, de ter bens, de locomover-se. Trata-se
Cumpre consignar, por necessário, que os direitos de um primeiro olhar do Estado para o indivíduo. Um
humanos, por serem constantemente relativizados, olhar que reconhece que os seres humanos possuem
são interpretados equivocadamente ou de maneira direitos mínimos e que o poder do Estado não é ili-
reduzida, como, por exemplo, quando a disciplina é mitado. Assim, foram reconhecidas as liberdades dos
atrelada apenas à proteção de criminosos. No entanto, indivíduos, ou seja, seus direitos civis e individuais,
não é possível interpretá-los nem reduzi-los dessa for- que abrangem todas as pessoas sem qualquer distin-
ma, visto que sua proteção é muito maior. ção. Também foram reconhecidos os direitos de parti-
Entender que absolutamente todas as pessoas cipação popular na administração do Estado, isto é, os
possuem direitos é o primeiro passo para compreen- direitos políticos.
der o que são os direitos humanos. Todos os seres
humanos — ou seja, eu, você, seu vizinho, seu ami-
go, seu inimigo, aquele vendedor da esquina, aquela Importante!
senhora que frequenta a igreja, o pastor, a moça da Os primeiros direitos políticos eram bem limi-
lanchonete, o rapaz da academia e, até mesmo, os des- tados, pois estavam restritos a quem detinha
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
conhecidos — são titulares dos direitos humanos. a qualidade de cidadão e, por isso, atingiam
O segundo passo para entender os direitos huma- somente os eleitores. As mulheres, por exemplo,
nos é abandonar os preconceitos, isto é, os conceitos não eram consideradas cidadãs, assim como
preconcebidos, ou, melhor, os conceitos invisíveis que
os estrangeiros e, consequentemente, não pos-
carregamos sem perceber, assim como os esterióti-
suíam os direitos políticos, embora fossem titu-
pos, como, por exemplo, rotulações relativas ao sexo,
lares dos direitos civis mínimos garantidos pelo
envolvendo generalizações sobre as capacidades físi-
Estado.
cas, emocionais e intelectuais de mulheres e homens,
tais como “homens são naturalmente provedores”;
“feministas odeiam os homens”; “filhos de pais sepa- A esses direitos que buscavam a defesa do indi-
rados são desajustados”, entre outros. víduo em face do abuso de poder do Estado1 dá-se o
Assim sendo, os direitos humanos não estão ligados nome de direitos de primeira geração/dimensão, por
a nenhum grupo. Ainda, generalizar e estereotipar os serem os primeiros direitos tutelados pelo Estado.
direitos e as pessoas somente ajuda a perpetuar o des- Os segundos direitos reconhecidos foram aqueles
respeito e a impedir a igualdade, além de contribuir voltados a estabelecer a igualdade entre os indivíduos.
1 São chamados de liberdades públicas negativas ou direitos negativos. 363
Depois do olhar inicial para o indivíduo, reconhecendo Aos direitos coletivos dá-se o nome de direitos de ter-
suas liberdades, o Estado passou a visualizá-lo como ceira geração/dimensão.
membro de uma sociedade. Assim, foi possível reconhe-
cer as diferenças entre as pessoas. Como consequência, Atenção!
passou-se a exigir um papel mais ativo do Estado, para
garantir direitos de oportunidade iguais aos indivíduos Usa-se tanto a expressão “geração” como “dimensão”.
por meio de políticas públicas, como, por exemplo, aces- Atualmente, entende-se mais correto o uso da denomina-
so à educação e à saúde, voto feminino, regulamentação ção “dimensão”, devido a sua ideia de progressivida-
das regras trabalhistas e previdenciárias, entre outros. de, diferente de “geração”, que enseja interpretação de
Passou-se, então, a exigir uma ação e não mais uma substituição. Trata-se de uma classificação elaborada
omissão do Estado2. A esses direitos dá-se o nome de por Karel Vasak, para classificar os direitos em cate-
direitos de segunda geração/dimensão, estando ligados gorias conforme o contexto histórico que surgiram.
ao poder de exigir do Estado a consecução dos direitos Didaticamente, o jurista atrelou as três categorias dos
econômicos, sociais e culturais. direitos aos princípios da Revolução Francesa: liber-
Por fim, os terceiros direitos reconhecidos encon- dade, igualdade e fraternidade.
tram-se atrelados ao ideal de fraternidade, por dize-
rem respeito a toda coletividade. O olhar é mais Memorize:
amplo, visualizando direitos que transcendem os
indivíduos, ou seja, os direitos transindividuais. Tais
direitos decorrem das seguintes constatações:
Sistemas de Proteção
z Devem ser esgotados previamente todos os recur- z Relatórios periódicos: estes relatórios são apresen-
sos internos disponíveis: este requisito poderá ser tados pelos Estados-Partes de forma periódica aos
dispensado apenas na hipótese de ter transcorri- Comitês relacionados ao Tratado a que se tornaram
do excesso de prazo para julgamento interno pelo signatários. Por meio destes relatórios, devem infor-
Estado, de processo em que discuta uma violação mar quais as medidas de esfera legislativa, judicial E
de direito; administrativa que adotaram como forma de efeti-
var as disposições a que se comprometeram.
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
z A questão apenas poderá ser submetida a este órgão
internacional e não a outras instâncias internacio- z Comunicações, queixas ou petições individuais:
trata-se da possibilidade de uma pessoa ou um grupo
nais. Cabe ainda dizer que não podem ser apresen-
que tenha sido vítima de violação em direitos huma-
tadas denúncias anônimas.
nos, de apresentar uma manifestação com o objetivo
de conseguir a averiguação da conduta do Estado-
Atualmente, são admissíveis, além de petição pela -Parte pelo Comitê.
própria vítima, a apresentação por meio de um repre- z Comunicações, queixas ou petições interestatais:
sentante ou mesmo organizações ou entidades que trata-se da manifestação apresentada por um Estado
apoiem a causa. perante o outro para que seja analisada pelos Comi-
Após a apresentação da petição, o Estado denuncia- tês. É um mecanismo convencional facultativo, exce-
do é chamado para se manifestar por escrito, tendo um to na Convenção para Eliminação da Discriminação
prazo de seis meses para tanto. Racial, que é obrigatório.
Em seguida, o Comitê de Direitos Humanos analisará z Inquéritos: mecanismos pelos quais os comitês
a petição da denúncia e a defesa do Estado, proferindo podem agir independentemente de receberem qual-
uma decisão que poderá ser no sentido de reconheci- quer denúncia, a fim de apurarem se houve algu-
mento da violação ou mesmo na determinação que o ma violação de um dos direitos humanos pelo
denunciado tome medidas para reparar o dano. Estado-Parte. 371
Denota-se então que a Carta foi o documento que ins-
SISTEMA INTERAMERICANO DE tituiu o sistema regional de proteção dos direitos huma-
PROTEÇÃO AO DIREITOS HUMANOS nos que vigora nas Américas. Ademais, a Carta traz, no
art. 3, os princípios que vigoram na relação internacional
OS DIREITOS HUMANOS NA ORGANIZAÇÃO DOS entre os estados. Dentre esses, afirma-se que:
ESTADOS AMERICANOS
z A ordem internacional é constituída pelo respeito
O Sistema Interamericano foi instituído por meio à personalidade, soberania e independência dos
da Carta da Organização dos Estados Americanos Estados e que cabe a eles cumprirem as disposi-
(OEA), aprovada em Bogotá, Colômbia, em 1948. A ções dos tratados internacionais;
OEA foi fundada inicialmente por: Argentina, Bolívia, z A boa-fé deve vigorar na relação entre os estados e
Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Equador, deve vigorar a solidariedade entre todos;
El Salvador, Estados Unidos, Guatemala, Haiti, Hon- z A eliminação da pobreza crítica consta como prin-
duras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, cípio e seria um objetivo da democracia represen-
República Dominicana, Uruguai e Venezuela. tativa e responsabilidade comum compartilhada
Posteriormente, de forma gradual, os demais paí- entre os Estados americanos;
ses do continente também passaram a ser membros z A condenação à guerra de agressão, definindo que
da Organização. não há vencedores nesse evento. Define também
É necessário dizer que o Sistema Interamericano que uma agressão contra um estado americano
de Proteção aos Direitos Humanos conquistou seu constitui agressão contra todos os demais;
ápice com a entrada em vigor da Convenção America- z O respeito à diversidade cultural de cada estado é
na sobre Direitos Humanos ocorrida em 1978. Antes de extrema importância.
disso, houveram alguns episódios importantes para o
fortalecimento do sistema. Percebe-se assim que a Carta da OEA define de
Entre as décadas de 1930 e 50, foram instituídas forma bastante clara que o sistema interamericano
resoluções e convenções com o fito de proteger deter- é um órgão que busca a paz e proteção aos direitos
minados direitos. Posteriormente, em 1959, houve a humanos, sendo determinante na união dos estados
formação da Comissão Interamericana de Direitos americanos que o compõe na busca destes objetivos.
Humanos. Porém, embora tenha sido formada nessa Nos arts. 10 a 23, a Carta da OEA estabelece direitos
data, sua entrada em vigor e efetivo exercício ocorreu e deveres que devem ser observados pelos estados que
apenas em 1978, como mencionado acima. compõe o Sistema Interamericano, dentre estes: igual-
A OEA é formada pelos seguintes órgãos: dade; direito ao desenvolvimento da vida cultural,
política e econômica; inviolabilidade do território.
z Assembleia Geral: Composta por todos os mem-
bros, os quais detêm poder de deliberação das CONVENÇÃO AMERICANA DE DIREITOS HUMANOS
questões relativas à Organização; (PACTO DE SAN JOSÉ DA COSTA RICA)
z Reunião de Consulta dos Ministros das Relações
A Convenção Americana de Direitos Humanos,
Exteriores: Responsável pela análise de questões
conhecida também como Pacto de São José da Costa
emergenciais e de interesse dos Estados americanos.
Rica, é o tratado de maior relevância para o Sistema
Também apresenta pareceres quando consultada;
z Conselho Permanente da Organização e Conse- Interamericano de proteção aos direitos humanos.
lho Interamericano de Desenvolvimento: Subor- Foi assinado em 22 de novembro de 1969 na cidade
dinados à Assembleia Geral, exercem funções que de San José na Costa Rica, razão pela qual recebeu o
são determinadas pela própria Assembleia e pelo nome acima mencionado. Além disso, é importante
órgão de Reunião; lembrar que ela foi o marco inicial do Sistema Intera-
z Comissão Jurídica Interamericana: Corpo con- mericano de Proteção aos direitos Humanos.
sultivo que responde pelos assuntos jurídicos da O Brasil tornou-se signatário do Pacto, ou seja,
OEA. Busca a promoção de uma codificação de assinou o tratado, em 25 de setembro de 1992, e este
direito internacional; passou a vigorar em nosso ordenamento jurídico a
z Comissão Interamericana de Direitos Huma- partir do Decreto nº 678 de 06 de novembro de 1992.
nos: Sua função é a defesa dos direitos humanos, A Convenção é composta de 82 artigos. Dentre
além de atuar como órgão consultivo; esses, podemos destacar:
z Secretaria-Geral: Exerce funções administrativas.
z Direito à vida (art. 4), do qual decorre a proteção
A Carta da OEA, em seu art. 1, define qual sua natu- reconhecida desde o momento da concepção e a
reza e quais são seus propósitos: impossibilidade de reestabelecimento da pena de
morte nos países em que houver sido abolida;
Os Estados americanos consagram nesta Carta a
organização internacional que vêm desenvolvendo Art. 4 Direito à vida
para conseguir uma ordem de paz e de justiça, para 1. Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua
promover sua solidariedade, intensificar sua cola- vida. Esse direito deve ser protegido pela lei e, em
boração e defender sua soberania, sua integridade geral, desde o momento da concepção. Ninguém
territorial e sua independência. Dentro das Nações pode ser privado da vida arbitrariamente.
Unidas, a Organização dos Estados Americanos 2. Nos países que não houverem abolido a pena de
constitui um organismo regional. morte, esta só poderá ser imposta pelos delitos mais
A Organização dos Estados Americanos não tem graves, em cumprimento de sentença final de tribu-
mais faculdades que aquelas expressamente con- nal competente e em conformidade com lei que esta-
feridas por esta Carta, nenhuma de cujas disposi- beleça tal pena, promulgada antes de haver o delito
ções a autoriza a intervir em assuntos da jurisdição sido cometido. Tampouco se estenderá sua aplicação
372 interna dos Estados membros. a delitos aos quais não se aplique atualmente.
3. Não se pode restabelecer a pena de morte nos b) o serviço militar e, nos países onde se admite
Estados que a hajam abolido. a isenção por motivos de consciência, o serviço
4. Em nenhum caso pode a pena de morte ser apli- nacional que a lei estabelecer em lugar daquele;
cada por delitos políticos, nem por delitos comuns c) o serviço imposto em casos de perigo ou calamida-
conexos com delitos políticos. de que ameace a existência ou o bem-estar da comu-
5. Não se deve impor a pena de morte a pessoa que, nidade; e
no momento da perpetração do delito, for menor de d) o trabalho ou serviço que faça parte das obriga-
dezoito anos, ou maior de setenta, nem aplicá-la a ções cívicas normais.
mulher em estado de gravidez.
6. Toda pessoa condenada à morte tem direito a z Garantias judiciais (art. 8): Abrange o contraditó-
solicitar anistia, indulto ou comutação da pena, rio e a ampla defesa, a presunção de inocência do
os quais podem ser concedidos em todos os casos. indivíduo, dentre outras garantias. Vejamos:
Não se pode executar a pena de morte enquanto o
pedido estiver pendente de decisão ante a autorida- Art. 8 Garantias judiciais
de competente. 1. Toda pessoa tem direito a ser ouvida, com as
devidas garantias e dentro de um prazo razoável,
z Direito à integridade pessoal (art. 5), que abran- por um juiz ou tribunal competente, independente
ge o direito à integridade física, psíquica e moral, e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na
impossibilidade de prática de tortura, impossibili- apuração de qualquer acusação penal formulada
dade de aplicação de pena sem que se respeite à contra ela, ou para que se determinem seus direitos
dignidade da pessoa do condenado, impossibilida- ou obrigações de natureza civil, trabalhista, fiscal ou
de de a pena passar da pessoa do delinquente; de qualquer outra natureza.
2. Toda pessoa acusada de delito tem direito a que
Art. 5 Direito à integridade pessoal se presuma sua inocência enquanto não se compro-
1. Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua ve legalmente sua culpa. Durante o processo, toda
integridade física, psíquica e moral. pessoa tem direito, em plena igualdade, às seguintes
2. Ninguém deve ser submetido a torturas, nem a penas garantias mínimas:
ou tratos cruéis, desumanos ou degradantes. Toda a) direito do acusado de ser assistido gratuitamente
pessoa privada da liberdade deve ser tratada com o por tradutor ou intérprete, se não compreender ou
respeito devido à dignidade inerente ao ser humano. não falar o idioma do juízo ou tribunal;
3. A pena não pode passar da pessoa do delinqüente. b) comunicação prévia e pormenorizada ao acusado
4. Os processados devem ficar separados dos con- da acusação formulada;
denados, salvo em circunstâncias excepcionais, e c) concessão ao acusado do tempo e dos meios ade-
ser submetidos a tratamento adequado à sua con- quados para a preparação de sua defesa;
dição de pessoas não condenadas. d) direito do acusado de defender-se pessoalmente
5. Os menores, quando puderem ser processados, ou de ser assistido por um defensor de sua escolha
devem ser separados dos adultos e conduzidos a e de comunicar-se, livremente e em particular, com
tribunal especializado, com a maior rapidez possí- seu defensor;
vel, para seu tratamento. e) direito irrenunciável de ser assistido por um
6. As penas privativas da liberdade devem ter por defensor proporcionado pelo Estado, remunerado
finalidade essencial a reforma e a readaptação ou não, segundo a legislação interna, se o acusado
social dos condenados. não se defender ele próprio nem nomear defensor
dentro do prazo estabelecido pela lei;
z Proibição da escravidão e da servidão (art. 6):
f) direito da defesa de inquirir as testemunhas pre-
Neste artigo, é de grande relevância atentar-se às
sentes no tribunal e de obter o comparecimento,
hipóteses que não constituem trabalhos forçados
como testemunhas ou peritos, de outras pessoas que
ou obrigatórios, presentes no parágrafo 3º. Veja- possam lançar luz sobre os fatos;
mos a íntegra do artigo: g) direito de não ser obrigado a depor contra si mes-
ma, nem a declarar-se culpada; e
Art. 6 Proibição da escravidão e da servidão
h) direito de recorrer da sentença para juiz ou tribu-
1. Ninguém pode ser submetido a escravidão ou a
nal superior.
servidão, e tanto estas como o tráfico de escravos e
3. A confissão do acusado só é válida se feita sem
o tráfico de mulheres são proibidos em todas as suas
formas. coação de nenhuma natureza.
2. Ninguém deve ser constrangido a executar tra- 4. O acusado absolvido por sentença passada em
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
balho forçado ou obrigatório. Nos países em que julgado não poderá ser submetido a novo processo
se prescreve, para certos delitos, pena privativa da pelos mesmos fatos.
liberdade acompanhada de trabalhos forçados, esta 5. O processo penal deve ser público, salvo no que for
disposição não pode ser interpretada no sentido de necessário para preservar os interesses da justiça.
que proíbe o cumprimento da dita pena, imposta por
juiz ou tribunal competente. O trabalho forçado não z Direito à indenização (art. 10), garantido àquele
deve afetar a dignidade nem a capacidade física e que permanecer preso em virtude de sentença con-
intelectual do recluso. denatória transitada em julgado proferida com erro
3. Não constituem trabalhos forçados ou obri- judiciário, ou seja, quem foi privado de sua liberda-
gatórios para os efeitos deste artigo: de em virtude de um equívoco cometido pelo Esta-
a) os trabalhos ou serviços normalmente exigidos do durante seu julgamento terá direito a receber
de pessoa reclusa em cumprimento de sentença ou uma indenização em virtude dos danos decorrentes
resolução formal expedida pela autoridade judiciá- da situação vivenciada:
ria competente. Tais trabalhos ou serviços devem
ser executados sob a vigilância e controle das auto- Art. 10 Direito à indenização
ridades públicas, e os indivíduos que os executarem Toda pessoa tem direito de ser indenizada conforme
não devem ser postos à disposição de particulares, a lei, no caso de haver sido condenada em sentença
companhias ou pessoas jurídicas de caráter privado; passada em julgado, por erro judiciário. 373
z Proteção à família (art. 17): Nona Conferência Internacional Americana ocorrida
em Bogotá, na Colômbia.
Art. 17 Proteção da família No preâmbulo da Declaração, consta que a prote-
1. A família é o elemento natural e fundamental da ção integral dos direitos humanos deve ser observa-
sociedade e deve ser protegida pela sociedade e pelo da como ponto de partida para a evolução do direito
Estado. em âmbito americano. Em seu conteúdo, constam 27
2. É reconhecido o direito do homem e da mulher de direitos e 10 deveres, figurando, entre eles, o direito: à
contraírem casamento e de fundarem uma família, vida, à liberdade, à privacidade, à saúde, à educação,
se tiverem a idade e as condições para isso exigidas de ir e vir; ao devido processo legal, dentre outros.
pelas leis internas, na medida em que não afetem
Entretanto, trata-se de um documento que se mos-
estas o princípio da não-discriminação estabelecido
trou limitado com o passar do tempo em relação à
nesta Convenção.
efetiva proteção dos direitos humanos, tendo em vista
3. O casamento não pode ser celebrado sem o livre e
pleno consentimento dos contraentes. que não trouxe um mecanismo de proteção aos direi-
4. Os Estados Partes devem tomar medidas apropria- tos humanos. Assim, embora tenha trazido um impor-
das no sentido de assegurar a igualdade de direitos tante rol de direitos, não possibilitou meios para que
e a adequada equivalência de responsabilidades dos estes fossem garantidos.
cônjuges quanto ao casamento, durante o casamento Ademais, foi adotada como resolução, e não como
e em caso de dissolução do mesmo. Em caso de dis- tratado. Em razão disso, sua força jurídica foi enfra-
solução, serão adotadas disposições que assegurem a quecida, não tendo assumido um caráter obrigatório
proteção necessária aos filhos, com base unicamente perante os Estados membros da Organização dos Esta-
no interesse e conveniência dos mesmos. dos Americanos.
5. A lei deve reconhecer iguais direitos tanto aos filhos No entanto, é incontroversa sua importância como
nascidos fora do casamento como aos nascidos den- documento precursor no Sistema Interamericano
tro do casamento. para a proteção de Direitos Humanos que, mais tarde,
em 1969, fortaleceu-se por meio da Convenção Ameri-
z Direito ao nome (art. 18): cana dos Direitos Humanos.
z Despertar a consciência dos direitos humanos nos z A Comissão analisa se estão preenchidos os requi-
povos das Américas; sitos de admissibilidade;
z Formular recomendações aos Estados-membros, z Presentes os requisitos, determina que o Estado
quando julgar conveniente, para que adotem medi- acusado apresente informações sobre a violação
das protetivas dos direitos humanos; de direitos humanos que foi denunciada. É fixado
z Solicitar informações dos Estados-membros sobre a um prazo para o cumprimento desta providência;
aplicação de medidas protetivas dos direitos humanos; z Transcorrido o prazo, tendo ou não o Estado apre-
z Apresentar relatório anual à Assembleia Geral da sentado as informações, a Comissão passará a
Organização dos Estados Americanos. fazer uma análise de tudo que consta na denúncia,
inclusive para verificar se constam, de fato, ele-
Percebe-se, portanto, que a Comissão tem atua-
mentos de violação dos direitos humanos. Ausen-
ção de total importância para a proteção e defesa dos
tes os elementos, determina-se o arquivamento da
direitos humanos nas Américas, podendo, inclusive,
denúncia;
fazer recomendações para que os Estados, em âmbito
z Presentes os elementos, procederá a Comissão a
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
de seu direito interno, adotem medidas que protejam
um exame minucioso dos fatos, podendo inclusive
as pessoas e observem sua condição humana. proceder a uma investigação e determinar a parti-
Esta Comissão é órgão componente do Sistema, cipação do Estado;
cuja maior atribuição é monitorar os Estados e acom- z Antes da tomada de uma decisão, a Comissão bus-
panhar para garantir que estejam agindo de forma cará que o Estado e o denunciante cheguem a uma
protetiva e respeitosa à dignidade das pessoas e pro- solução amistosa;
teção de seus direitos humanos. z Se não for alcançada uma solução amistosa, a
Ainda é necessário dizer que o art. 44 estabelece Comissão elaborará um relatório com a exposição
importante regra na proteção dos direitos humanos: a dos fatos e as conclusões a que chegou sobre o fato.
possibilidade de serem apresentadas perante à Comis- Posteriormente, encaminha o relatório ao Secretá-
são petições que contenham denúncias ou queixas rio-Geral das Nações Unidas, que será responsável
em relação ao descumprimento de direitos humanos pela publicação, conforme previsto no art. 49;
pelos Estados-membros do Sistema Interamericano. z Transcorridos três meses da data em que foi reme-
Podem apresentar referida denúncia as próprias tido o relatório aos Estados interessados, se o assun-
vítimas, qualquer pessoa ou grupo de pessoas e enti- to não houver sido solucionado e nem submetido à
dades não-governamentais que sejam reconhecidas julgamento pela Corte, a Comissão poderá proceder
legalmente no Estado de origem. a uma votação em que, havendo votos da maioria 375
absoluta de seus membros, poderá emitir sua opi- Um caso de grande relevância submetido à Comissão
nião e conclusão sobre a questão. Esse procedimen- foi uma denúncia ocorrida em 1998, apresentada pela
to está previsto no art. 51, da Convenção. senhora Maria da Penha Maia Fernandes. O conteú-
do da petição referia-se à postura omissa do Brasil na
CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS adoção de medidas condenatórias em face do ex-marido
da denunciante, que proferiu agressões físicas contra a
A Corte Interamericana de Direitos Humanos tra- vítima, dando-lhe um tiro enquanto dormia. Em decor-
ta-se do órgão jurisdicional que compõe o Sistema rência da violência, Maria da Penha adquiriu paraplegia
Interamericano de proteção aos direitos humanos. É e ficou com outras sequelas físicas e psicológicas.
composta de sete juízes, nacionais dos Estados-mem- Passados quinze anos, não haviam sido tomadas
bros, sendo que não poderão atuar ao mesmo tempo medidas efetivas condenando o agressor. Assim, a
dois juízes de mesma nacionalidade. O Brasil já teve petição relatava o descumprimento de preceitos fun-
um juiz como seu representante, Antonio A. Cançado damentais da Declaração Americana de Direitos e
Trindade, que atuou no órgão até o ano de 2006. Deveres do Homem, bem como da Convenção Ameri-
Para que um Estado seja julgado pela Corte, deverá cana de Direitos Humanos.
reconhecer sua competência, como determina o art. A Comissão determinou que o Estado adotasse as
62. O Brasil reconheceu a competência da Corte em 4 medidas procedendo à condenação do ato violento.
de dezembro de 1998, por meio do Decreto Legislativo Ademais, recomendou que o Brasil adotasse medidas
nº 89, de 1998. protetivas em combate à violência contra a mulher,
Faz-se necessário dizer que uma denúncia de o que culminou na promulgação da Lei nº 11.340, de
violação de direitos humanos poderá chegar à Corte 2006, conhecida como Lei Maria da Penha, que busca
apenas por meio dos Estados-partes ou da Comissão, evitar e criminalizar atos de violência proferidos con-
como bem define o art. 61.1. tra as mulheres no Brasil.
Por sua vez, a primeira condenação que o Bra-
Importante! sil sofreu perante a Corte Interamericana de Direitos
Humanos ocorreu no chamado Caso Gomes Lund x
A vítima de uma possível violação de direitos Guerrilha do Araguaia.
humanos poderá apresentar sua denúncia à O caso que chegou à Corte trata da detenção, tortu-
Comissão, mas não à Corte. ra e do desaparecimento de cerca de setenta pessoas
no período de governo militar, compreendido entre os
anos de 1972-75.
Em continuidade, assim que uma denúncia chega A Corte entendeu que a Lei nº 6683, de 1979, conhe-
à Corte, ela será analisada. Se for reconhecida a viola- cida como Lei da Anistia (que concedeu anistia ampla
ção, a Corte determinará que seja assegurado ao pre- a quem praticou crimes políticos no período de 2 de
judicado o gozo do referido direito ou liberdade, como setembro de 1961 e 15 de agosto de 1979) impede inves-
bem determinado no art. 63. Além disso, poderá haver tigações e aplicação de penas em relação às graves
a condenação ao Estado-parte do pagamento de uma
violações de direitos humanos. Essa conduta omissiva
indenização para reparação dos danos que tenham
seria incompatível também com as disposições da Con-
sido causados à vítima da violação.
venção de Direitos Humanos.
A Corte também tem o poder de cautela. Isso signi-
Diante disso, e em virtude de o Brasil não ter toma-
fica que poderá tomar medidas em casos de extrema
do medidas efetivas no caso, a Corte condenou o Estado
gravidade e urgência com o objetivo de evitar que ocor-
à responsabilidade pelos desaparecimentos, bem como
ram danos irreparáveis à pessoa (art. 63.2).
pelo descumprimento de obrigações de adequar seu
Além da função jurisdicional, a Corte tem uma
função consultiva prevista no art. 64. Assim, poderá direito interno à Convenção Americana sobre Direitos
o órgão ser consultado pelos Estados-partes para que Humanos.
obtenham interpretações sobre o Pacto (Convenção) ou Essa decisão é vinculante e deverá ser cumprida
de outros tratados concernentes à proteção dos direitos imediatamente pelo Estado-parte.
humanos pelos Estados americanos.
Poderão, inclusive, serem emitidos pareceres pela ESTATUTO E REGULAMENTO DA CORTE
Corte sobre a compatibilidade das leis nacionais dos INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS
Estados em relação aos tratados internacionais.
Conforme visto, quando a Corte exerce sua função A Corte Interamericana de Direitos Humanos,
jurisdicional, ela estará submetendo um Estado-parte assim como a Comissão, também possui seu Estatuto,
ao seu julgamento. Tal situação significa permitir que que foi aprovado pela Assembleia Geral da OEA em
um órgão jurisdicional exerça influência sobre seu ter- outubro de 1979. O Estatuto estabelece que:
ritório, o que poderia ser considerada uma forma de se
flexibilizar sua soberania. z A natureza e o regime jurídico da Corte, consti-
Contudo, o que se conclui é que a proteção aos tuindo que se trata de uma instituição judiciária
direitos humanos e a garantia da paz são de tamanha autônoma, cujo objetivo é a aplicação e a inter-
relevância que os Estados-membros reconhecem a pretação da Convenção Americana sobre Direitos
autoridade da Corte e obedecem aos seus julgamentos, Humanos. As funções exercidas pela Corte são de
ainda que isso signifique uma certa ingerência de um natureza jurisdicional e consultiva;
organismo exterior no ordenamento interno do Estado. z A Corte tem sua sede em San José, na Costa Rica.
Atente-se aos dois casos práticos que apresentare- Entretanto, poderá realizar reuniões em qualquer
mos a seguir. Eles são importantes para a sua aprova- Estado membro da Organização dos Estados Ame-
ção e demonstram a autoridade da Comissão e da Corte ricanos, desde que a maioria de seus membros
376 Interamericana de Direitos Humanos. assim entenda conveniente;
z A sede da Corte pode ser alterada apenas mediante 4. O regime disciplinar será regulamentado pela
o voto de dois terços dos Estados Partes da Conven- Corte, sem prejuízo das normas administrativas da
ção na Assembleia Geral da OEA; Secretaria-Geral da OEA, na medida em que forem
z A composição da Corte, consta no art. 4º, é de sete aplicáveis à Corte em conformidade com o artigo 59
juízes provenientes dos Estados membros da OEA: da Convenção.
Os juízes serão eleitos a título pessoal dentre Conforme se vê, o artigo estabelece que os juízes e o
os juristas de mais alta autoridade moral e de pessoal da Corte deverão manter, no exercício de suas
reconhecida competência em matéria de direi- funções e fora delas, conduta que esteja em consonância
tos humanos, exercerão seus mandatos por seis com o cargo que detêm, e que serão responsabilizados
anos e somente poderão ser reeleitos uma úni- por eventuais faltas de cumprimento, negligência ou
ca vez; omissão no exercício de suas funções.
A eleição para os juízes deverá ocorrer nos seis Outra regra que merece atenção é a prevista no art.
meses anteriores à realização do período ordi- 23, que determina que o quórum de deliberação da Cor-
nário de sessões da Assembleia Geral da OEA, te é constituído por cinco juízes e que as decisões devem
antes que expire o prazo do mandato dos juízes ser tomadas pelo voto da maioria dos juízes presentes,
eleitos; conforme a seguir transcrito:
O art. 18 estabelece que o exercício do cargo de Já o Regulamento da Corte foi aprovado no XLIX
Juiz da Corte Interamericana de Direitos Humanos é período ordinário das sessões, ocorrido no período de
incompatível com o exercício dos seguintes cargos e 16 a 25 de novembro de 2000, tendo posteriormente sido
atividades: reformado no LXI período ordinário de sessões, celebra-
do no período de 20 de novembro a 4 de dezembro de
a) membros ou altos funcionários do Poder Execu- 2003. Seu objetivo é regular a organização e o procedi-
tivo, com exceção dos cargos que não impliquem mento da Corte Interamericana de Direitos Humanos.
subordinação hierárquica ordinária, bem como No Regulamento, constam as definições de termos
agentes diplomáticos que não sejam Chefes de Mis- utilizados na Corte, quais sejam:
são junto à OEA ou junto a qualquer dos seus Esta-
dos membros; 1. O termo “Agente” significa a pessoa designada por
b) funcionários de organismos internacionais; um Estado para representá-lo perante a Corte Intera-
c) quaisquer outros cargos ou atividades que impe- mericana de Direitos Humanos;
çam os juízes de cumprir suas obrigações ou que 2. O termo “Agente Assistente” significa a pessoa
afetem sua independência ou imparcialidade, ou a designada por um Estado para assistir o Agente
dignidade ou o prestígio do seu cargo. no exercício de suas funções e substituí-lo em suas
ausências temporárias;
É importante notar, portanto, que o Juiz da Corte 3. A expressão “Assembléia Geral” significa a Assem-
Interamericana não poderá ser membro ou funcioná- bléia Geral da Organização dos Estados Americanos;
rio do Poder Executivo. Há uma exceção: poderá ter 4. O termo “Comissão” significa a Comissão Intera-
cargo que não tenha subordinação hierárquica ordi- mericana de Direitos Humanos;
nária. Também não poderá ser agente diplomático 5. A expressão “Comissão Permanente” significa a
que não seja Chefe de Missão junto à OEA ou junto a Comissão Permanente da Corte Interamericana de
qualquer dos Estados membros. Direitos Humanos;
Da mesma forma, também não poderá o Juiz ser 6. A expressão “Conselho Permanente” significa o
funcionário de organismos internacionais ou ocupar Conselho Permanente da Organização dos Estados
cargos ou atividades que o impeçam de cumprir suas Americanos;
7. O termo “Convenção” significa a Convenção Ame-
obrigações junto à Corte, nem ter cargos que possam
ricana sobre Direitos Humanos (Pacto de San José da
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
a indenização pelo dano material ou moral decor- mas podem ser tratados de forma desigual quando
rente de sua violação. houver uma desigualdade que isso justifique.
A Constituição Federal traz alguns exemplos de situa-
Em razão disso, todos terão a garantia de que sua ções que são tratadas de forma desigual, pois há uma
integridade física e moral será respeitada. Porém, caso o desigualdade que justifique: por exemplo, a licença-ma-
indivíduo sofra qualquer forma de violação, poderá bus- ternidade e licença-paternidade, previstas, respectiva-
car reparação, tendo garantido o direito a ser indenizado mente, nos incisos XVIII e XIX, do art. 7º, da Constituição
pelo dano material ou moral decorrente de sua violação. Federal, ou ainda, o serviço militar obrigatório, que isenta
Assim, aquele que tenha sua honra, imagem, nome, as mulheres e os eclesiásticos (§ 2º, art. 143).
intimidade e vida privada expostos de qualquer for- Percebe-se assim que, embora esses sejam exemplos
ma, sem que tenha havido sua autorização para tanto, de possíveis direitos desiguais, eles se justificam em razão
terá direito a buscar, junto ao Poder Judiciário, inde- da desigualdade que envolve os detentores dos direitos.
nização pelos danos sofridos. Isso porque tal proteção Também podemos falar sobre o direito à igualdade
decorre da garantia fundamental de que todos gozam no tocante às cotas previstas para ingresso nas univer-
de ter preservada sua integridade, física ou moral. sidades. Atualmente, os vestibulares para ingresso nas
universidades estabelecem cotas específicas para pessoas
egressas do ensino público. Justifica-se porque, ao longo 381
dos tempos, verificou-se que os alunos que frequentaram Art. 5º [...]
escolas de ensino público apresentaram maiores dificul- VIII- ninguém será privado de direitos por motivo
dades para ingresso em universidades públicas do que de crença religiosa ou convicção filosófica ou políti-
aqueles que frequentaram o ensino privado. ca, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação
Além disso, hoje também é comum que existam legal a todos imposta e recusar-se a cumprir pres-
cotas nos editais de concursos públicos para negros. tação alternativa, fixada em lei.
Isso se justifica porque os negros, em virtude do pre-
Assim, é certo que cabe a cada indivíduo fazer
conceito perpetrado na sociedade, encontram, ainda
suas escolhas de vida e manter seus pensamentos, não
hoje, diversas barreiras que impedem o acesso aos
podendo o Estado criar qualquer óbice ou punir aque-
estudos e, posteriormente, ao mercado de trabalho
les que pensem de forma diversa.
em igualdade de condições com pessoas brancas.
Também merece ser mencionado o inciso IV do
Trata-se das chamadas ações afirmativas, que são
mesmo artigo:
medidas pontuais e que serão adotadas por certo perío-
do de tempo com o objetivo de amenizar ou mesmo IV- é livre a manifestação do pensamento, sendo
cessar as diferenças históricas havidas entre os indiví- vedado o anonimato.
duos. Vale dizer que as ações afirmativas estão previs-
tas no Estatuto da Igualdade Racial (Lei nº 12.288, de 20 E, ainda, o inciso IX:
de julho de 2010), em seu inciso VI, do art. 1º:
IX- é livre a expressão da atividade intelectual,
artística, científica e de comunicação, independen-
Art. 1º Esta Lei institui o Estatuto da Igualdade
temente de censura ou licença;
Racial, destinado a garantir à população negra a
efetivação da igualdade de oportunidades, a defesa
Assim, também decorrem da liberdade o direito de
dos direitos étnicos individuais, coletivos e difusos
manifestação do pensamento e de qualquer atividade
e o combate à discriminação e às demais formas de
intelectual, artística, científica e de comunicação. Por-
intolerância étnica.
tanto, não pode ser estabelecida qualquer forma de
censura pelo Poder Público. Ademais, todos os indiví-
Também são previstos nos editais de concursos públi-
duos podem expor sua atividade intelectual ou artísti-
cos vagas destinadas exclusivamente para pessoas que
ca de forma livre, sem necessitar de eventual aval dos
tenham alguma deficiência. Ou seja, em razão de uma
governantes. Destaca-se que é em razão disso que são
desigualdade em relação aos demais ocasionada pela
livres quaisquer manifestações.
deficiência, aquele que pleitear uma vaga em concurso
Ainda sobre o direito à liberdade, cabe mencionar,
público, deverá concorrer conforme suas condições.
ainda que brevemente, um fato notório ocorrido a
Diante disso, verifica-se que a igualdade está pre-
pouco tempo atrás. Atente-se, pois há grande chance
sente ainda que em situações que aparentam uma
deste assunto ser cobrado em sua prova:
possível desigualdade, pois, em verdade, deve ser
Uma associação de artistas ingressou com uma ação
observado todo o contexto ao redor desses direitos, de
no Supremo Tribunal Federal (STF) com o objetivo de
forma a garantir efetivamente que todos sejam trata-
impedir que fossem publicadas biografias não auto-
dos da mesma forma perante a lei, consoante prevê o
rizadas. A alegação deles era de que essas biografias
artigo 5º da Constituição Federal.
ofendiam a integridade moral dos biografados, visto
que expunham fatos desconhecidos pelas pessoas ou
z Direito à liberdade: A liberdade também é uma
mesmo situações que poderiam causar-lhes constran-
decorrência do direito à vida.
gimentos se viessem ao conhecimento público.
Contudo, a Corte entendeu que eles não tinham
O direito à liberdade, previsto no artigo 5º, se mani-
razão pois, ao necessitar de autorização para a publi-
festa em diversos pontos da Constituição Federal, e
cação das biografias, os escritores teriam violado seu
em muitos aspectos: liberdade de locomoção (inciso
direito à liberdade de manifestação e à liberdade inte-
XV); liberdade de pensamento (inciso IV); liberdade
lectual e artística.
de expressão (inciso IX); liberdade de associação (inci-
Finalmente, é necessário dizer que, diante da
so XVII); liberdade religiosa (inciso VI), liberdade de
garantia de liberdade, o indivíduo apenas poderá ser
exercício de trabalho (inciso XIII).
preso em situação de flagrante delito ou por meio de
Alguns aspectos devem ser destacados em relação
ordem escrita e fundamentada da autoridade compe-
à liberdade:
tente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime
Pela liberdade de locomoção:
propriamente militar, conforme estabelece o inciso
LXI, do art. 5º:
Art. 5º [...]
XV- é livre a locomoção no território nacional em LXI- ninguém será preso senão em flagrante delito
tempos de paz, podendo qualquer pessoa, nos ter- ou por ordem escrita e fundamentada de autorida-
mos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair de judiciária competente, salvo nos casos de trans-
com seus bens. gressão militar ou crime propriamente militar,
definidos em lei.
Assim, em decorrência da liberdade, também é
garantido pela Constituição Federal que todos vivam z Direito à propriedade: O direito à propriedade,
conforme suas convicções, seguindo a crença religiosa embora previsto na Constituição Federal, não é
que melhor lhe convier, bem como tendo respeitado absoluto, em primeiro lugar, porque o direito está
seu pensamento em relação à política ou convicções condicionado ao atendimento da função social.
filosóficas. Isso está previsto no inciso VIII, do art. 5º:
382
A Constituição Federal, em dois dispositivos, § 2º, indenização em dinheiro, ressalvados os casos pre-
art. 182, e art. 186, fala sobre o tema: vistos nesta Constituição.
Segundo previsto nesses dois dispositivos, em rela- Art. 196 Constituição Federal. A saúde é direito de
ção à propriedade urbana, a função social é cumprida todos e dever do Estado, garantido mediante polí-
quando as exigências de ordenação da cidade cons- ticas sociais e econômicas que visem à redução do
risco de doença e de outros agravos e ao acesso
tante no plano diretor estiverem sendo observadas.
universal e igualitário às ações e serviços para sua
Quanto à propriedade rural, a função social será
promoção, proteção e recuperação.
preenchida quando os seguintes requisitos estiverem
sendo cumpridos: aproveitamento racional e adequa- Ou seja, a obrigação do Estado com a população,
do da área; utilização adequada dos recursos naturais em princípio, é de manter políticas públicas que
disponíveis e preservação do meio ambiente; obser- previnam e protejam de doenças. Em um segundo
vância das disposições que regulam as relações de momento, se a pessoa já apresenta uma doença, cabe
trabalho, ou seja, daqueles que estiverem prestando ao Estado prestar-lhe atendimento médico e fornecer
serviços na propriedade; exploração que favoreça o medicamentos para a recuperação de sua saúde.
bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores. É necessário dizer que todos os direitos sociais são
Assim, embora o direito de propriedade seja universais. Portanto, caberá ao Poder Público imple-
garantido na Constituição Federal, ele não é absoluto. mentá-los sem qualquer distinção. Assim, mesmo que
Como visto, a função social deve ser atendida. Enten- a pessoa não apresente uma situação de vulnerabili-
de-se por função social, como visto acima, no caso da dade econômica, poderá buscar atendimento hospi-
propriedade urbana, que sejam atendidas e respeita- talar público ou mesmo matricular-se em uma escola
das as determinações do plano diretor. Em síntese, o estadual ou municipal.
plano diretor é um documento que deve ser elaborado
por cada município para o ordenamento das cidades. Dica
No caso da propriedade rural, para que seja efe-
tivamente aproveitada, é necessário que sejam uti- Direitos sociais são universais.
lizados os recursos naturais de forma consciente e
adequada, sem desperdício e depredação ambiental. Direitos Políticos
Ademais, a função social também inclui um impor-
tante elemento subjetivo daqueles que estão relacio- Os direitos políticos estão previstos nos arts. 14
a 16, da Constituição Federal, em seu Capítulo IV, no
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
nados à propriedade, qual seja: devem ser respeitadas
as relações trabalhistas daqueles que trabalham na Título II. São os meios efetivos pelos quais a pessoa
propriedade, bem como seu bem-estar, além do bem- exerce sua cidadania, pois é por meio desses direitos
-estar do proprietário. que a pessoa vota e também pode ser votada.
Finalmente, o direito de propriedade pode ser rela- O art. 14 preceitua o seguinte:
tivizado pela desapropriação. Prevista no inciso XXIV,
do art. 5º, a desapropriação poderá ser ordenada pelo Art. 14 A soberania popular será exercida pelo
sufrágio universal e pelo voto direto e secreto,
Poder Público em razão de necessidade, utilidade
com valor igual para todos, e, nos termos da lei,
pública e interesse social. Nesses casos, será determi-
mediante:
nada a perda da propriedade da pessoa em favor do
I - plebiscito;
Poder Público mediante o pagamento de uma indeni- II - referendo;
zação justa e prévia, que deverá ser paga em dinheiro. III - iniciativa popular.
Art. 5º [...]
Assim, dentre os direitos políticos, o mais conheci-
XXIV- a lei estabelecerá o procedimento para desa-
do deles é o sufrágio universal que nada mais é do que
propriação por necessidade ou utilidade pública,
o voto, estabelecido como direto e secreto e também o
ou por interesse social, mediante justa e prévia
direito de ser votado. 383
Percebe-se o que o voto de todos tem o mesmo z Incapacidade civil absoluta, ou seja, aquele que
valor, superada a questão que já permeou em consti- tenha sua incapacidade reconhecida terá seus
tuições anteriores em que o voto tinha valor diverso direitos suspensos (inciso II);
dependendo da posição social de seu titular. z Condenação criminal transitada em julgado
Por sua vez, plebiscito e referendo referem-se a enquanto durarem seus efeitos (inciso III);
formas por meio das quais o cidadão é instado a se z Recusa de cumprimento de obrigação a todos
manifestar sobre algum assunto de grande relevância imposta ou prestação alternativa, nos termos do
para o país. Assim, por meio de decretos legislativos, artigo 5º, VIII (vide também inciso IV);
as pessoas são convocadas para expressar sua opinião z Improbidade administrativa, nos termos do inciso
sobre determinado tema colocado em pauta. Diver- V, § 4º, do art. 37.
gem no seguinte: enquanto o plebiscito é estabelecido
de forma prévia e a população se manifesta a favor ou Dica
contrária a um tema que lhe é apresentado, o referen-
do é convocado posteriormente sobre um assunto que Não podem ser cassados os direitos políticos de
já faz parte do dia a dia dos cidadãos, cabendo a eles uma pessoa; porém, poderão ser suspensos em
ratificá-lo ou rejeitá-lo. situações previstas na lei.
Na história recente brasileira, houve um plebisci-
to em 21 de abril de 1993 em que os cidadãos foram Nacionalidade
chamados a manifestarem-se sobre a forma e sistema
de governo. Foram colocadas as opções de forma de Nacionalidade, conforme bem nos define o juris-
governo: monarquia ou república, e sistema de gover- ta Pedro Lenza “[...] pode ser definida como o vínculo
no: presidencialismo ou parlamentarismo. Prevale- jurídico-político que liga um indivíduo a determinado
ceu que a forma deveria ser mantida como república Estado, fazendo com que esse indivíduo passe a inte-
e o sistema, presidencialista. grar o povo daquele Estado e, por consequência, des-
Já, como exemplo de referendo, temos o ocorrido em frute de direitos e submeta-se a obrigações”.
23 de outubro de 2005, quando a população foi instada Diante disso, temos que um sujeito pode ser bra-
a posicionar-se sobre a seguinte questão: “O comércio sileiro nato ou naturalizado. O brasileiro nato, con-
de armas de fogo e munição deve ser proibido no Bra- forme preceitua a letra “a” do inciso I, do art. 12, da
sil?”. Importa destacar que estava vigente desde 2003 o Constituição Federal, é qualquer pessoa cujo nasci-
Estatuto do Desarmamento, no qual já havia sido proi- mento ocorreu em território brasileiro. Assim, perce-
bido o comércio de armas de fogo e munições. Contudo, be-se que a regra adotada no país é do jus solis.
havia previsão legal de que, para entrar em vigor, seria É necessário ressalvar, porém, o caso da pessoa
necessária a ratificação da população por meio de um que nasceu no Brasil, mas é filho de pais estrangei-
referendo, podendo, é claro, também rejeitar o disposi- ros e que estejam à serviço de seu país. Esse sujeito
tivo que, então, não vigoraria. não será brasileiro. Isso porque a Constituição Fede-
A maioria dos cidadãos votou pela ratificação do dis- ral, ainda na letra “a”, do inciso I, do art. 12, é clara
positivo, respondendo “não” à questão formulada men- ao dizer que também será brasileiro aquele que tiver
cionada acima o que fez com que vigorasse o artigo que nascido aqui, mesmo filho de estrangeiros, desde que
proibia o comércio de armas de fogo e munições no Brasil. os pais não estejam a serviço do seu país. Também
Outro direito político que deve ser mencionado é a será considerado brasileiro aquele que tem pai ou
iniciativa popular. Trata-se da iniciativa que garante a mãe brasileiros, mas nasceu no estrangeiro quando
todo cidadão o direito de apresentar um projeto de lei. um deles estava no exterior a serviço do Brasil.
Esse direito está regulamentado pelo § 2º do artigo 61 É necessário que apenas um dos genitores seja bra-
da Constituição Federal, cabendo, para tanto, serem sileiro, situação definida na letra “b”, inciso I, art. 12.
preenchidos os requisitos ali previstos. Finalmente, a letra “c” também desse dispositi-
vo define que será brasileiro nato aquele nascido no
Art. 61 [...] estrangeiro, filho de pai ou mãe brasileiros quando:
§ 2º A iniciativa popular pode ser exercida pela
apresentação à Câmara dos Deputados de projeto z For registrado em repartição brasileira competente,
de lei subscrito por, no mínimo, um por cento do ou seja, quando do nascimento, seus pais o registra-
eleitorado nacional, distribuído pelo menos por ram perante consulado brasileiro no exterior;
cinco Estados, com não menos de três décimos por z Venha a residir no Brasil e, após atingida a maiori-
cento dos eleitores de cada um deles. dade, opte pela nacionalidade brasileira.
Importa dizer que os direitos políticos são dividi- Nessa última hipótese, mesmo que a pessoa tenha
dos entre capacidade eleitoral ativa e capacidade elei- nascido no exterior e lá tenha sido registrada, se seu
toral passiva. A capacidade eleitoral ativa se refere ao pai ou sua mãe forem brasileiros e o sujeito tenha
direito de votar. Já a capacidade eleitoral passiva se vindo morar no Brasil, poderá, após completar dezoi-
refere ao direito de ser votado. Assim, em regra, todos to anos, optar pela nacionalidade. Vale ressaltar que
os brasileiros podem votar e ser votados. deve-se atingir a maioridade para fazer essa escolha,
O artigo 15 da Constituição Federal estabelece que tendo em vista ser esse o momento em que se alcança
é vedada a cassação de direitos políticos. Porém, é pos- a capacidade jurídica plena.
sível que uma pessoa sofra a perda ou suspensão de Ademais, o sujeito poderá ser brasileiro naturali-
seus direitos políticos. Isso pode ocorrer nas seguintes zado. Será naturalizado, conforme determina o inciso
situações previstas no artigo 15: II, do art. 12:
z Por meio do cancelamento da naturalização por z A pessoa nascida em país cujo idioma seja a língua por-
384 sentença transitada em julgado (inciso I); tuguesa, tendo, para tanto, que comprovar a residência
em solo brasileiro por um ano ininterrupto e idoneida- uma nação, detentor de direitos e deveres para a vida
de moral (letra “a”, do inciso II, do art. 12); em sociedade. É aquele que goza de direitos políticos.
z A pessoa nascida em qualquer país, desde que resi- O exercício da cidadania, portanto, é a vivência
dente no Brasil há mais de quinze anos ininterrup- experimentada por todos nós, cumprindo deveres de
tos e sem condenação penal (letra “b”, do inciso III, respeito às leis e ao próximo, bem como a exigência
do art. 12). de ver nossos direitos efetivados e de participar dos
rumos do país por meio de seus direitos políticos.
Assim, a pessoa poderá requerer a naturalização No Brasil, a cidadania apareceu de forma muito
brasileira, desde que se enquadre em alguma das tímida ao prever o direito de voto universal na Cons-
situações acima e preencha os requisitos determina- tituição de 1891 — embora com exceções àqueles que
dos pela Constituição Federal. de fato podiam votar — e na de 1934, que trouxe o
Ademais, existe uma situação peculiar em relação direito de voto à mulher.
ao cidadão português: Porém, é de fato pela Constituição Federal (CF) de
Conforme preceitua o § 1º, do art. 12, da Consti- 1988 que a cidadania passou a ser efetivamente um
tuição Federal, o português terá os mesmos direitos valor prezado pelo ordenamento jurídico. Ela defi-
do brasileiro, desde que tenha residência permanente ne que o Brasil constitui um Estado Democrático de
no Brasil e se houver reciprocidade de Portugal em Direito. Em razão disso, o parágrafo único, do art. 1º,
relação aos brasileiros, ou seja, se no país europeu o da CF, define o seguinte:
brasileiro gozar do mesmo privilégio.
O § 4º, do art. 12, define que o brasileiro perderá a Art. 1º [...]
nacionalidade nas seguintes situações: Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que
exerce por meio de representantes eleitos ou direta-
z O inciso I traz a situação daquele que tiver cance- mente, nos termos desta Constituição.
lada sua naturalização por sentença judicial moti-
vada por atividade nociva ao interesse nacional; Portanto, se o poder emana do povo, resta claro
z O inciso II define que deixará de ser brasileiro o que, por ser detentor desse poder, cabe a cada um dos
sujeito que adquirir outra nacionalidade, exceto se brasileiros o exercício da cidadania. Ou seja, deverá
houver o reconhecimento de nacionalidade origi- fazer valer seus direitos, bem como deve agir diaria-
nária (brasileira) pela lei estrangeira ou, ainda, se a mente de forma comprometida com sua nação.
pessoa tiver que se naturalizar, em virtude de nor- É possível dizer, então, que a relação entre direitos
ma estrangeira, como condição para permanência humanos e cidadania ocorre quando a pessoa age em
em seu território ou exercício de direitos civis. observância às leis do país em que vive e também bus-
ca que seus direitos sejam cumpridos.
Finalmente, é necessário dizer que a lei, não pode- O cidadão é assim definido como aquele que pro-
rá fazer qualquer distinção entre o brasileiro nato e o tege o meio ambiente em que vive e também exige de
naturalizado. A Constituição Federal, no § 2º, do art. seus governantes a efetivação de políticas públicas
12, porém, determina que alguns cargos são privativos por meio de medidas práticas que protejam reservas
de brasileiros natos, quais sejam: Presidente e Vice- ambientais, promovam a limpeza de rios, proteção da
-presidente da República; Presidente da Câmara dos fauna e da flora, por exemplo.
Deputados; Presidente do Senado Federal; Ministro do A cidadania também é exercida quando a popula-
Supremo Tribunal Federal; carreira diplomática; oficial ção exerce seu direito ao voto para a escolha dos seus
das Forças Armadas e Ministro do Estado de Defesa. governantes, e também quando sai às ruas em mani-
festações pacíficas contra corrupção.
Percebe-se, portanto, que o exercício da cidada-
nia está intimamente ligado aos direitos humanos. É
o meio pelo qual a pessoa dispõe para fazer com que
DEMOCRACIA, CIDADANIA E DIREITOS
seus direitos fundamentais sejam observados. O cida-
HUMANOS dão, portanto, é o sujeito que goza de direitos políticos
no Estado em que vive.
Mostra-se necessário verificar a relação entre os Como visto, a cidadania é um dos fundamentos da
direitos humanos e a cidadania, sendo que ambos República. Dessa forma, todo aquele que vive em territó-
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
devem caminhar de forma harmônica e conjunta. A rio brasileiro tem assegurada sua cidadania. Já vimos a
cidadania é um dos fundamentos da República Fede- origem dela e também como pode ser, de fato, exercida.
rativa do Brasil, assim como a dignidade da pessoa Quando falamos em direitos da cidadania, podemos
humana. Está assim prevista no inciso II, do art. 1º, da falar nos direitos fundamentais previstos na Constitui-
Constituição Federal. ção Federal e já mencionados, como o direito à igual-
Mas, afinal, o que é cidadania? Sua origem históri- dade, à manifestação do pensamento, à liberdade de
ca remonta à Grécia Antiga. Tratava-se do reconheci- consciência e de crença e à inviolabilidade do domicí-
mento atribuído àqueles detentores de direitos e que lio. Lembre-se que o rol de direitos é muito mais exten-
participavam das decisões políticas da polis (palavra so e está previsto no art. 5º, da Constituição Federal.
de origem grega que se refere a um modelo de cida- Também de grande importância para a cidada-
de antiga) em que habitavam. Porém, tratava-se de um nia são os direitos políticos. É por meio deles que o
atributo apenas daqueles que possuíam propriedades cidadão tem em suas mãos o poder para a escolha de
e, portanto, detinham poder para participação política. seus governantes, bem como o de se manifestar sobre
O conceito de cidadania e sua concretização tam- questões relevantes para a nação.
bém é atribuído à Revoluções Inglesas, no século XVII, e Quanto aos deveres do cidadão, incluem-se aí o
à Revolução Francesa, no ano de 1789. Trata-se do reco- respeito às leis e também ao próximo. Isso porque,
nhecimento do indivíduo como membro integrante de para que uma pessoa faça parte de uma nação como 385
um cidadão, deverá também respeitar os demais, não isso, ela passou a ser considerada apenas um meio,
agindo de forma que sua liberdade possa tolher a dos ou seja, a mulher só pode gerar os filhos, porque é
outros. A cidadania é um fundamento da República fecundada pelo homem, surgindo, assim, a noção de
Federativa do Brasil. família patriarcal. Como consequência, a sociedade
passou a apresentar a mulher como hierarquica-
mente inferior ao homem, visto que sua posição é de
reprodutora ou cuidadora, enquanto os homens são
DIREITOS HUMANOS, MINORIAS E tidos como ativos e provedores.
Por essa razão, até o século XIX, os acontecimen-
GRUPOS VULNERÁVEIS tos históricos e o discurso jurídico foram centrados
na figura do homem, por ser este o foco dos acon-
Embora os direitos humanos sejam universais,
tecimentos públicos dos quais as mulheres pouco
houve a necessidade de criação de um Sistema Espe-
participavam. Então, a estrutura jurídica dos Esta-
cial de Proteção dos Direitos Humanos que realças-
dos, basicamente, reproduzia o Código Civil Francês,
se o processo da especificação do sujeito de direito,
de 1804, enquadrando a mulher como relativamente
com o objetivo de visualizá-lo em sua especificidade e
incapaz e igualando-a aos menores e aos loucos, com
concreticidade. Deste modo, ao lado do Sistema de Pro-
teção aplicado a todos indistintamente (geral), foram destaque para o fato de que ela era propriedade do
criados mecanismos de proteção de alcance especial, pai ou do marido, tendo como função primordial
levando em conta as peculiaridades de determinados gerar filhos.
grupos, como no caso das mulheres, das crianças, das Somente no século XX que o Sistema Especial de
pessoas com deficiência, dos refugiados, dos grupos Proteção dos Direitos das Mulheres começou a ser
étnicos minoritários, como os indígenas, ou em razão reconhecido e protegido. A começar pela Carta da
da raça, cor, descendência ou origem nacional ou étni- ONU, que, em 1945, estabeleceu, em seu preâmbulo, a
ca, entre outros. igualdade de direitos entre homens e mulheres, assim
Cumpre esclarecer, no entanto, que o objetivo como no art. 1º, que, ao prever o respeito aos direitos
do Sistema Especial de Proteção não é relativizar as humanos, acrescentou a expressão “sem distinção de
peculiaridades sociais e culturais e, sim, aumentar raça, sexo, língua ou religião”.
o alcance de proteção dos direitos humanos, em Na sequência, em 1948, a DUDH, ao trazer a ideia
razão dessas mesmas peculiaridades. Consequente- de universalidade dos direitos humanos, deixou cla-
mente, os aparatos de proteção dos direitos humanos ro que eles são inerentes a todas as pessoas, sejam
gerais e especiais devem interagir em benefício dos homens ou mulheres.
próprios indivíduos. Vejamos alguns desses Sistemas As três primeiras décadas que se seguiram à cria-
Especiais de Proteção: ção da ONU foram focadas para a codificação dos
direitos legais e civis das mulheres, assim como para a
MULHERES coleta de dados sobre a situação delas em todo o mun-
do. Dentro deste contexto, foi estabelecida a Comis-
Da classificação dos indivíduos com base em suas são sobre o Status das Mulheres (CSW4), por meio da
características anatômicas, advém o conceito de Resolução 11(2) do Conselho Econômico e Social (ECO-
sexo, de tal modo que, após o nascimento, cada pes- SOC), que é o órgão da ONU responsável, entre outras
soa é identificada como sendo homem ou mulher, incumbências, pelos direitos das mulheres.
em conformidade com os seus atributos biológicos, Em 1967, com o empenho da CSW, foi publicada
como cromossomos, órgãos sexuais, hormônios, entre a Declaração sobre a Eliminação da Discriminação
outros. Há, ainda, os intersexos, ou seja, aqueles contra a Mulher. No entanto, como essa Declara-
que apresentam características de ambos os sexos. ção não se efetivou em um tratado internacional, de
Antigamente, tais pessoas eram denominadas de modo a não estabelecer obrigações para os Estados, a
hermafroditas. Comissão passou a se organizar para a normatização
da Declaração. Assim, em 1979, foi elaborada a Con-
venção sobre a Eliminação de Todas as Formas de
Importante! Discriminação contra as Mulheres (CEDAW5).
A CEDAW entrou em vigor em 1981 e é conside-
O termo gênero não é sinônimo de sexo. Do mes- rada o primeiro tratado internacional que dispõe
mo modo que gênero também não se confunde amplamente sobre os direitos humanos da mulher.
com sexualidade. Esses termos serão tratados Seus objetivos são: promover os direitos das mulheres
mais a frente. na busca da igualdade e reprimir quaisquer discrimi-
nações contra a mulher nos Estados-parte.
Essa Convenção possui dupla função: a primeira
Da separação entre homem e mulher, em con- é eliminar a discriminação e a segunda, garantir a
formidade com o sexo, decorre uma série de cons- igualdade. Para tanto, ela trata do princípio da igual-
truções históricas e culturais. Historicamente, a dade, quer como obrigação vinculante quer como um
sociedade desenvolveu-se em torno da mulher, de objetivo. Além disso, a CEDAW possui trinta artigos
modo a existir uma noção de sociedade matriarcal, dividos em seis partes.
por ser ela aquela que detinha o poder de conceber a A primeira parte é composta dos arts. 1º ao 6º,
vida. Todavia, à medida em que a sociedade começou estabelecendo o conceito da expressão “discrimina-
a associar a gestação com a relação sexual, a mulher ção contra a mulher”, as medidas políticas, as garan-
deixou de ser vista como a detentora do poder. Com tias dos direitos humanos e liberdades fundamentais
4 Sigla em inglês.
386 5 Sigla em inglês.
e medidas apropriadas, a fim de efetivar os avanços ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher,
das mulheres. tanto na esfera pública, como na privada.
Já a segunda parte, que vai dos arts. 7º ao 9º, tra- Como consequência, a violência contra a mulher
ta dos compromissos dos Estados-partes em eliminar apresenta-se como um padrão de violência específico,
as discriminações contra a mulher na vida política posto que, baseado no gênero, cause morte, dano ou
e pública, bem como com relação à representação e sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher.
nacionalidade. Com a Convenção de Belém do Pará, surgem
Os arts. 10 ao 14 compõem a terceira parte da outras estratégias para a proteção internacional dos
CEDAW e estabelecem que os Estados-partes elimi- direitos das mulheres, com destaque para o mecanis-
nem a discriminação na educação, no trabalho, na mo das petições à Comissão Interamericana de Direi-
saúde, na vida cultural, social e econômica das mulhe- tos Humanos. Como consequência desse mecanismo,
res, além de tratar da mulher rural. o caso Maria da Penha Maia Fernandes vs. Brasil cul-
A quarta parte é composta pelos artigos 15 e 16, minou na adoção da Lei nº 11.340, de 2006, conhecida
que trata da concordância dos Estados em buscar como Lei Maria da Penha, que criou os meios dentro
a igualdade de homens e mulheres perante a lei no do ordenamento jurídico brasileiro de coibir a violên-
exercício de seus direitos legais e nas leis que regem o
cia doméstica e familiar contra a mulher.
casamento e a família.
A Lei Maria da Penha, que foi publicada em 7
Por sua vez, a quinta parte, que vai dos arts. 17 ao
de agosto de 2006, é a primeira legislação nacional
22, dispõe sobre o Comitê para a Eliminação da Des-
específica, abordando o tema e reconhecendo ser a
criminação contra a Mulher, sua responsabilidade,
regramento e papel. violência contra a mulher uma forma de violação
Por fim, a sexta parte, da qual fazem parte os arts. de direitos humanos. Como consequência, o Estado
25 ao 30, dispõe sobre o efeito sobre outros tratados, brasileiro torna-se responsável por seu enfrentamento.
os compromissos dos Estados-partes e a administra- Em síntese, existem diferentes tipos de violência.
ção da Convenção. Constituem como tipos de violência:
Como a CEDAW não fazia referência à violência
z Violência psicológica, ou seja, as ações voltadas a
contra as mulheres, O CSW adotou a Recomendação
causar dano emocional e diminuição da autoesti-
Geral nº 19. De acordo com o documento, a violência
contra as mulheres pode ser entendida como uma for- ma da pessoa, tais como a desqualificação pessoal,
ma de discriminação que impede o gozo de seus direi- a ridicularização, a perseguição, o isolamento, o
tos de forma igualitária. Como consequência, a noção controle ou a vigilância do comportamento, o ciú-
de violência contra as mulheres foi incluída pelo me exagerado, a chantagem, as ações possessivas
Comitê como derivada do conceito de discriminação. de manipulação, entre outros;
z Violência física, ou seja, as ações voltadas à agres-
são corporal, como, por exemplo, tapas, tortura,
queimaduras, estrangulamento e, até mesmo, o
Importante! homicídio;
A Recomendação Geral define a violência contra z Violência sexual, isto é, a relação sexual sem con-
a mulher tendo como base as distinções, exclu- sentimento, quer por intimidação, força ou coer-
sões ou restrições baseadas no sexo. Assim ção, tais como o beijo forçado ou estupro, quer
decorrente da ingestão de álcool e drogas, quer
sendo, trata-se de qualquer “violência dirigida
pela pressão moral, como, por, exemplo, o aborto
contra a mulher porque mulher ou que a afeta de
ou a gravidez forçada;
forma desproporcional”. z Violência moral, refere-se ao ataque à imagem e
ao bem-estar social por meio de xingamentos, des-
Esses três instrumentos de proteção fazem parte qualificações, participação forçada em determina-
do Sistema Global Especial de Proteção. Já em âmbito das atividades degradantes, tais como desfiles e
regional, o Sistema Interamericano de Proteção dos leilões;
Direitos Humanos estabeleceu, em 1994, a Conven- z Violência patrimonial, que envolve ações volta-
das à danificação dos pertences e objetos pessoais
ção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradi-
ou de trabalho ou a apropriação destes, tais como
car a Violência contra a Mulher, também conhecida
dinheiro, roupas, celular, entre outros;
como Convenção Belém do Pará. A Convenção, que foi
z Violência virtual, que se refere a qualquer tipo
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
ratificada pelo Brasil em 1995, destaca-se por tratar a
de violência por meio da utilização dos recursos
violência contra as mulheres como violação de direitos
tecnológicos e virtuais, como, por exemplo, a expo-
humanos e manifestação das relações de poder histori-
sição de conteúdo íntimo sem autorização e des-
camente desiguais entre mulheres e homens.
qualificação nas redes sociais. Esta modalidade
Trata-se do primeiro tratado internacional de pro-
não está disciplinada na lei.
teção dos Direitos Humanos a reconhecer a violência
contra a mulher como um fenômeno generalizado, A Lei Maria da Penha é uma norma de natureza
que atinge um grande número de mulheres, sem processual e não material. Explicando melhor: a Lei nº
distinção de raça, classe, religião, idade ou qualquer 11.340, de 2006, não regula as relações jurídicas entre
outra condição. as pessoas, ou seja, ela não cria tipos penais (crimes).
De acordo com a Convenção, a violência contra a Os crimes estão definidos no Código Penal (CP) e nas
mulher é manifestação de relações de poder histori- legislações extravagantes. Na realidade, a lei estabele-
camente desiguais entre mulheres e homens e cons- ce normas processuais para regulamentar o exercício
tituiu grave violação aos direitos humanos, além de jurisdicional, isto é, define o rito processual cabível.
ofensa à dignidade humana. Nos termos do seu art. 1º, Portanto, não há a prática de crime da Lei Maria da
considera-se violência contra a mulher qualquer ação Penha e, sim, a prática, por exemplo, de lesão corporal
ou conduta, baseada no gênero, que cause morte, dano (art. 129, do CP) sob o rito da Lei Maria da Penha. 387
Por fim, cumpre mencionar a criação da ONU Essa Declaração deu origem, em 1989, à Convenção
Mulheres, em 2010, com o objetivo de unir, fortalecer sobre os Direitos da Criança, vigente desde 1990. De
e ampliar os esforços mundiais em defesa dos direitos acordo com tal Convenção, são consideradas crianças
humanos das mulheres. todo ser humano com menos de dezoito anos de idade,
salvo nos casos em que a legislação interna aplicável à
IDOSOS criança considere a maioridade alcançada antes.
Atenção! o Estatuto da Criança e do Adolescente
Inicialmente, há de se esclarecer que não existe (ECA) traz outra definição. Ele define como criança o indi-
um Sistema Global Especial de Proteção aos direi- víduo até a idade de doze anos e, entre doze e dezoito,
tos dos idosos. O que existe é um Plano de Ação Inter- como adolescente.
nacional sobre os Idosos, adotado pela Assembleia Ao acolher a concepção do desenvolvimento integral
Mundial sobre os Idosos e endossado pela Assem-
da criança, a Convenção reconhece nesses seres em for-
bleia Geral da ONU, tendo como base os seguintes
mação a necessidade de proteção especial e prioritária.
princípios:
Trata-se, portanto, de uma norma extraordinariamente
z Independência; abrangente, abarcando todas as áreas tradicionalmen-
z Participação; te definidas como direitos humanos, ou seja, os direitos
z Assistência; civis, políticos, econômicos, sociais e culturais. Nela, estão
z Realização pessoal; previstos os seguintes direitos: direito à vida e à proteção
z Dignidade. contra a pena capital; direito de ter uma nacionalidade;
proteção em face da separação dos pais; direito de deixar
Já no âmbito regional, no Sistema Interamericano qualquer país e de entrar no próprio país, bem como o
de Direitos Humanos, existe a Convenção Interame- direito de entrar e sair de qualquer Estado-parte para fins
ricana sobre a Proteção dos Direitos Humanos dos de reunificação familiar; proteção para não ser levada
Idosos, aprovada em 15 de junho de 2015. Trata-se da ilicitamente ao exterior; proteção de seus interesses no
primeira convenção internacional no mundo a prote- caso de adoção, liberdade de pensamento, consciência e
ger, de forma específica, os direitos humanos das pes- religião; direito à saúde; prevenção à mortalidade infan-
soas idosas. til; o direito a um nível adequado de vida e segurança
O objetivo da Convenção é exigir que os Esta- social; direito à educação; proteção contra a exploração
dos americanos promovam e protejam os direitos econômica com fixação de idade mínima para admissão
humanos das pessoas idosas, as quais devem ter em emprego; a proteção contra o envolvimento na pro-
assegurados idênticos direitos das demais pessoas, dução, tráfico e uso de drogas e substâncias psicotrópi-
inclusive o de não ser submetido à discriminação cas; proteção contra a exploração e o abuso sexual.
baseada na idade nem a qualquer tipo de violên- A Convenção possui, ainda, três Protocolos Faculta-
cia, bem como que sejam consagrados meios especí- tivos: Protocolo Facultativo sobre a Venda de Crianças,
ficos de proteção decorrentes da condição própria de Prostituição e Pornografia Infantis, Protocolo Faculta-
idoso, a fim de contribuir para sua plena inclusão, tivo sobre o Envolvimento de Crianças em Conflitos
integração e participação na sociedade. Armados e Protocolo Facultativo relativos aos proce-
No que se refere à proteção nacional, a Constitui- dimentos de comunicação. O objetivo do primeiro é
ção Federal, de 1988, estabelece a proteção aos direi- impor aos Estados-partes a obrigação de proibirem a
tos do idoso no art. 230, que assim dispõe: venda de crianças, a prostituição e a pornografia infan-
Art. 230 A família, a sociedade e o Estado têm o tis, além de exigir a criminalização de tais condutas. Já
dever de amparar as pessoas idosas, assegurando o segundo Protocolo tem o escopo de assegurar que os
sua participação na comunidade, defendendo sua membros das Forças Armadas dos Estados signatários à
dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito Convenção, que não tenham atingido a idade de 18 anos,
à vida. não participem diretamente em disputas ou de qual-
§ 1º Os programas de amparo aos idosos serão exe- quer grupo armado. Por fim, o terceiro Protocolo tem
cutados preferencialmente em seus lares. por objetivo possibilitar que as crianças de apresentem
§ 2º Aos maiores de sessenta e cinco anos é garanti- denúncias de violações a seus direitos. Este último pro-
da a gratuidade dos transportes coletivos urbanos. tocolo ainda não foi incorporado ao direito brasileiro.
A legislação brasileira permite que um menor de
Além disso, há a Lei nº 10.741, de 2003, denomina- dezoito anos se torne militar das Forças Armadas. Neste
da de Estatuto do Idoso. caso, há, inclusive, disposição legal, disciplinando a sua
emancipação civil. No entanto, desde o ano de 2006, as
Forças Armadas adotaram o procedimento de somen-
Importante! te submetê-los ao treinamento armado após os dezoito
De acordo com o Estatuto, idoso é a pessoa com anos, cientes de que a eles é aplicado o Estatuto da Crian-
idade igual ou superior a 60 anos. ça e do Adolescente e, não, o Código Penal Militar.
Como mecanismo de controle e fiscalização dos
direitos das crianças, a Convenção criou o Comitê sobre
CRIANÇAS E ADOLESCENTES os Direitos da Criança. Sua função é monitorar a imple-
mentação da Convenção nos Estados-partes, por meio do
O Sistema Global de Proteção aos direitos das crianças exame de relatórios periódicos encaminhados por estes.
e dos adolescentes teve início no ano de 1959 com a apro- Ainda com relação ao Sistema Global Especial de
vação, na Assembleia Geral da ONU, da Declaração dos Proteção, é importante mencionar a criação, no ano de
Direitos da Criança. Seu objetivo era integrar as crianças 1946, do programa denominado Fundo Internacional
na sociedade, zelar pelo seu convívio e interação social, de Emergência das Nações Unidas. Este programa foi
cultural e financeiro e dar-lhes condições de sobrevivên- elaborado com o escopo de ajudar as crianças da Euro-
388 cia até a sua adolescência. pa despois da Segunda Guerra Mundial. Em 1953, ele foi
convertido em um organismo permanente dentro do A importância da Convenção decorreu do fato de
sistema das Nações Unidas, agora denominado Fundo estimular programas coordenados e sistemáticos para
das Nações Unidas para a Infância (UNICEF6). O UNI- a proteção e a integração da população indígena, como,
CEF, que trabalha em cento e noventa países, tem como por exemplo, influenciar na atuação de diversos orga-
objetivo melhorar as políticas e serviços voltados à pro- nismos internacionais, como o Banco Mundial, para
teção de todas as crianças. Suas temáticas são desenvol- uma política de fornecimento de projetos de desen-
vidas por meio de eventos e campanhas (UNICEF, 2018). volvimento progressivo para a aculturação gradual da
Já no âmbito de proteção nacional, tem-se a Lei nº população indígena.
8.069, de 1990, também denominada de Estatuto da Com o decorrer dos anos, indígenas e tribais passa-
Criança e do Adolescente. ram a reivindicar sua identidade étnica, cultural, eco-
nômica e social, rejeitando, inclusive, o fato de serem
POVOS INDÍGENAS E COMUNIDADES chamados de “população indígena”, até porque o Pacto
TRADICIONAIS Internacional sobre Direitos Civis, de 1966, estabelecia
como direito a autodeterminação dos povos, de modo
A princípio, faz-se necessário consignar que a cons- que a expressão “população” deixou de ser adequada.
tituição de grupos étnicos resulta de eventos históricos Além disso, “população” denota transitoriedade e con-
consubstanciados em contrastes culturais preestabele- tingencialidade, ao passo que o termo “povo” caracteri-
cidos. Destes contrastes advêm fronteiras étnicas com za-se pela identidade e organização própria.
traços culturais determinados. Como consequência, a Convenção nº 107 foi substi-
Assim, ao se identificar grupos pelos próprios auto- tuída pela Convenção nº 169, da OIT, de 1989, e repre-
res em decorrência do processo de sua geração e manu- sentou o avanço mais significativo para a consciência
tenção, é possível estabelecer as categorias étnicas. da identidade indígena e tribal, sendo critério funda-
Neste sentido, consideram grupo étnico a população mental para determinar os grupos. Tal Convenção foi
que se perpetua biologicamente, compartilhando os o primeiro instrumento internacional vinculante que
mesmos valores culturais patentes como unidade na cuidava especificamente dos direitos dos povos indí-
forma de cultura e constituindo um campo de combi- genas e tribais, por ter como fundamento o critério
nação e de interação, além de poderem se identificar uns subjetivo da autoidentidade indígena ou tribal como
aos outros como uma categoria do mesmo tipo. decorrente do fato de que são considerados indígenas
Observa-se, portanto, que o primeiro problema os habitantes descendentes de povos da mesma região
enfrentado no desenvolvimento de um Sistema Espe- geográfica que viviam no local na época da conquista
cial de Proteção aos direitos dos povos indígenas e das ou colonização e que conservam as próprias institui-
comunidades tradicionais é estabelecer um critério ções sociais, econômicas, culturais e políticas.
para enquadrar os sujeitos de direito. Na realidade, os É importante saber que a Convenção declara a obri-
conceitos de índio e povos indígenas são generalizados, gação estatal de reconhecer a autonomia dos povos e
fundamentando-se mais na sua etmologia do que na de garantir-lhes a propriedade e a posse das terras.
antropologia. Por conseguinte, surge uma visão arqueoti- Embora a Convenção nº 169 seja extremamente
pada de índio como habitante da mata, um ser selvagem importante no reconhecimento dos direitos dos povos
que vive isolado do mundo, sem roupas ou qualquer con- indígenas, o ápice dessa tendência de reconhecimen-
tato com a civilização. to foi a aprovação da Declaração das Nações Unidas
No plano internacional, o reconhecimento dos direitos dos Direitos dos Povos Indígenas, em 2007. A Decla-
dos povos indígenas tem relação direta com o desenvolvi- ração reconheceu os direitos dos povos indígenas
mento sustentável do meio ambiente e a conservação de como um dos direitos coletivos no âmbito internacio-
biodiversidade. Conforme já mencionado, a DUDH trou- nal, trazendo a percepção do princípio da dignidade
xe a ideia de universalidade e de proteção aos direitos da pessoa humana a indivíduos isolados e pressupõe
humanos dentro de um contexto gobal e geral. sua inserção em uma coletividade. Assim, a dignida-
Para a formação de um sistema mais eficiente, houve de passa a ser reconhecida pela identidade de todos
a necessidade de considerar as peculiaridades de cada em uma só matriz: a humana. Isso significa dizer que,
grupo e de cada região. Neste sentido, o primeiro docu- dentro de uma mesma substância, devem-se reconhe-
mento de cunho internacional que visualizou o indíge- cer as diferenças.
na como sujeito específico de direitos foi a Convenção No Brasil, essa proteção é efetivada por meio da
nº 107, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Lei nº 6.001, de 1973, também denominada de Esta-
de 1957. A Convenção tinha como objetivo a proteção e
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
tuto do Índio, além de constar expressamente na CF,
a integração das populações indígenas, bem como outras de 1988 (arts. 231 e 232).
populações tribais ou semitribais nos países independen-
tes, estabelecendo, sobretudo, os direitos à terra e às con- PESSOA COM DEFICIÊNCIA
dições de trabalho, saúde e educação.
O Sistema Especial de Proteção aos direitos das
Dica pessoas com deficiência é recente. Na realidade, o
A Convenção define o termo “semitribal”, em seu modo de se visualizar tais pessoas pode ser resumi-
art. 2º, como grupos e as pessoas que, embora do em quatro fases distintas. A primeira fase foi a de
intolerância em relação às pessoas com deficiência.
prestes a perderem suas características tribais,
Neste período, a deficiência simbolizava a impureza,
não se achem ainda integrados na comunidade
o pecado, ou, até mesmo, o castigo divino. A segun-
nacional.
da fase foi marcada pela invisibilidade das pessoas
com deficiência. Dela decorreu a terceira fase, mar-
cada pelo assistencialismo e pautada na perspectiva
7 Cisgênero é a pessoa que se identifica com o gênero atribuído no nascimento, sendo o oposto do transgênero. 391
Em contrapartida, o refúgio é um instituto mais acontecimentos, não pode ou, devido ao referido
amplo, sendo aplicado a casos de perseguição de temor, não quer voltar a ele.
aspectos mais generalizados, de modo a proteger No caso de uma pessoa que tem mais de uma nacio-
um número elevado de pessoas. nalidade, a expressão “do país de sua nacionalida-
O asilo pode ser solicitado no próprio país de ori- de” se refere a cada um dos países dos quais ela é
nacional. Uma pessoa que, sem razão válida funda-
gem do indivíduo que está sendo perseguido, já o
da sobre um temor justificado, não se houver vali-
refúgio é admitido somente quando o indivíduo está
do da proteção de um dos países de que é nacional,
fora de seu país. Ademais, a concessão de asilo possui não será considerada privada da proteção do país
caráter constitutivo, enquanto o refúgio caracteriza de sua nacionalidade.
um ato declaratório. B. 1) Para os fins da presente Convenção, as pala-
A primeira tentativa de disciplinar o instituto do vras “acontecimentos ocorridos antes de 1º de
refúgio deu-se em 1919 com o Pacto da Sociedade janeiro de 1951”, do art. 1º, seção A, poderão ser
das Nações, também denominado de Liga das Nações, compreendidas no sentido de ou
porém sem conceituar quem seriam os refugiados e a) “acontecimentos ocorridos antes de 1º de janeiro
quais seus direitos e deveres. de 1951 na Europa”; ou
Entre os anos de 1922 a 1928, como resposta aos b) “acontecimentos ocorridos antes de 1º de janeiro
problemas causados em decorrência da Primeira de 1951 na Europa ou alhures”;
Guerra Mundial e dos vários conflitos que surgiram
na sequência, a Liga das Nações adotou quatro acor- Observa-se que a Convenção peca por definir
dos multilaterais para proteção aos refugiados. refugiado de forma limitada, tanto temporal como
Estes documentos deram origem à Convenção sobre geograficamente. Como consequência das limitações
o Estatuto Internacional dos Refugiados de 1933, temporais e geográficas, foi estabelecido o Protoco-
considerada um dos primeiros instrumentos jurídicos lo sobre o Estatuto dos Refugiados, em 1967, com
internacionais relativos a refugiados. A Convenção, o objetivo de ampliar o alcance da definição de
no entato, aplicava-se apenas aos refugiados armê- refugiado.
nios e russos. Portanto, o Sistema Global Específico de Prote-
Com a substituição da Liga das Nações pela ONU, ção aos direitos dos refugiados tem como finalidade
foi criado, em 1949, o Alto Comissariado das Nações restabelecer os direitos humanos mínimos das pes-
soas que saíram de seu meio social. Salienta-se, por
Unidas para os Refugiados (ACNUR), para a prote-
necessário, que a relação entre os direitos humanos
ção de refugiados e das populações deslocadas por
e os dos refugiados apresenta-se em três momentos
guerras, conflitos e perseguições.
fundamentais:
Na sequência, foi realizada a Conferência das
Nações Unidas de Plenipotenciários sobre o Estatuto
dos Refugiados e Apátridas. Como consequência, foi z Anterior ao refúgio;
aprovada, em 1951, a Convenção Relativa ao Esta- z No momento da solicitação de efúgio;
tuto dos Refugiados, e passou a vigorar em 1954. A z Na solução do problema.
Convenção é considerada a base legal de todo o Sis-
tema Global de Proteção ao refugiado, dispondo Como soluções que permitam aos refugiados viver
acerca do conceito de refugiado, meios de proteção, suas vidas com dignidade e paz, o ACNUR apresenta
seus direitos e deveres. como exemplos a repatriação voluntária, o reassen-
O conceito de refugiado está disposto no art. 1º, da tamento e a integração local. A repatriação voluntá-
Convenção, que assim estabelece: ria ocorre quando o refugiado decide retornar ao seu
Estado. Para aqueles que não podem retornar ao seu
Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugia- local de origem, seja por causa dos conflitos persis-
dos (1951) tentes, das guerras ou das perseguições, existem duas
Art. 1º Definição do termo “refugiado” opções: o reassentamento em outro Estado e a inte-
A. Para os fins da presente Convenção, o termo gração na comunidade de acolhimento.
“refugiado” se aplicará a qualquer pessoa: Complementando o Sistema Global de Proteção,
1) Que foi considerada refugiada nos termos dos têm-se os seguintes tratados de proteção: Declaração
Ajustes de 12 de maio de 1926 e de 30 de junho de de Cartagena sobre os Refugiados, de 1984; Declara-
1928, ou das Convenções de 28 de outubro de 1933 ção de São José sobre Refugiados e Pessoas Desloca-
e de 10 de fevereiro de 1938 e do Protocolo de 14 das, de 1994; Declaração e Plano de Ação do México
de setembro de 1939, ou ainda da Constituição da para Fortalecer a Proteção Internacional dos Refu-
Organização Internacional dos Refugiados; giados na América Latina, de 2004; Plano de Ação do
As decisões de inabilitação tomadas pela Organiza- México “para fortalecer a Proteção Internacional dos
ção Internacional dos Refugiados durante o perío- Refugiados na América Latina”, de 2004; Declaração
do do seu mandato, não constituem obstáculo a de Brasília sobre a Proteção de Refugiados e Apátri-
que a qualidade de refugiados seja reconhecida a das no Continente Americano, de 2010, Declaração de
pessoas que preencham as condições previstas no
Princípios do Mercosul sobre Proteção Internacional
parágrafo 2 da presente seção;
dos Refugiados, de 2012, e Mercosul/RMI/FEM/CONA-
2) Que, em conseqüência dos acontecimentos ocor-
RE/Ata nº 01/2012 (Ata do I Encontro dos CONARES ou
ridos antes de 1º de janeiro de 1951 e temendo ser
Equivalentes dos Estados parte e Associados do Mer-
perseguida por motivos de raça, religião, naciona-
lidade, grupo social ou opiniões políticas, se encon- cosul), de 2012.
tra fora do país de sua nacionalidade e que não
pode ou, em virtude desse temor, não quer valer-se
da proteção desse país, ou que, se não tem nacio-
nalidade e se encontra fora do país no qual tinha
392 sua residência habitual em conseqüência de tais
O Decreto nº 7.037, de 2009, aprovou o Programa
POLÍTICA NACIONAL DE DIREITOS Nacional de Direitos Humanos — PNDH-3 e dá outras
HUMANOS providências.
Constou no referido decreto seu art. 2º que o
Trata-se de uma Política implementada pelo Gover- PNDH-3 será implementado de acordo com os seguin-
no Federal com o objetivo de implementar os direitos tes eixos orientadores e suas respectivas diretrizes:
humanos no Brasil.
A Política Nacional fora efetivada por meio dos
Interação democrática en-
Programas Nacionais de Direitos Humanos. Ao todo EIXO ORIENTADOR I
tre Estado e sociedade civil;
foram três programas nos seguintes anos:
Desenvolvimento e Direitos
EIXO ORIENTADOR II
z PNDH 1 — 1996; Humanos;
z PNDH 2 — 2002;
z PNDH 3 — 2009. Universalizar direi-
EIXO ORIENTADOR III tos em um contexto de
Esses programas foram editados pela Presidência desigualdades;
da República por meio de Decretos. Segurança Pública,
É necessário esclarecer que eles não têm efeito EIXO ORIENTADOR IV Acesso à Justiça e Comba-
vinculante. Seu objetivo é buscar identificar os pro- te à Violência;
blemas e possíveis violações de Direitos Humanos e
propor medidas concretas de enfrentamento. Decor- Educação e cultura em
EIXO ORIENTADOR V
rem de um diálogo entre o governo federal e a socie- Direitos Humanos;
dade civil.
Sobre o último deles, o PNDH III implementado Direito à Memória e
EIXO ORIENTADOR VI
pelo Decreto nº 7.037, de 2009, alterado pelo Decreto à Verdade.
7.177/2010), temos o seguinte:
Sobre as metas, prazos e recursos necessários para
z Ano de implementação: 2009; a implementação do PNDH-3: serão definidos e apro-
z Seis eixos orientadores, 25 diretrizes transversais vados em Planos de Ação de Direitos Humanos bia-
e 81 objetivos estratégicos; nuais, conforme determinou o art. 3º.
z 519 ações programáticas; Por sua vez, o art. 4º determina a instituição do
Comitê de Acompanhamento e Monitoramento do
z Incorpora resoluções da 11ª Conferência Nacional PNDH-3, cujas finalidades são as seguintes:
de Direitos Humanos e propostas aprovadas nas
mais de 50 conferências nacionais temáticas pro- I - promover a articulação entre os órgãos e enti-
movidas desde 2003; dades envolvidos na implementação das suas ações
z Proposto por 31 Ministérios. programáticas;
II - elaborar os Planos de Ação dos Direitos
O PNDH III conta com um Comitê de Acompanha- Humanos;
mento e Monitoramento de sua implementação. III - estabelecer indicadores para o acompanha-
Seus objetivos são: identificar as barreiras para pro- mento, monitoramento e avaliação dos Planos de
moção e proteção dos direitos humanos no Brasil, esta- Ação dos Direitos Humanos;
belecer prioridades e apresentar propostas concretas IV - acompanhar a implementação das ações e
recomendações; e
de caráter administrativo, legislativo e político-cultural
V - elaborar e aprovar seu regimento interno.
que busquem equacionar os mais graves problemas
que hoje impossibilitam ou dificultam a sua plena rea-
O parágrafo 1º trata da composição do Comitê de
lização. Foi elaborado pelo Ministério da Justiça em
Acompanhamento e Monitoramento do PNDH-3, esta-
conjunto com diversas organizações da sociedade civil.
belecendo que será de um representante e respectivo
O PNDH III teve como mérito ter estabelecido uma
suplente de cada órgão a seguir descrito, indicados
interação entre a ordem internacional e constitucio-
pelos respectivos titulares:
nal, o que foi importante para a afirmação dos direi-
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
tos humanos. Há que se considerar que durante os
I - Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
regimes ditatoriais, o objetivo primordial dos direitos
Presidência da República, que o coordenará;
humanos era a proteção da pessoa em face do Estado.
II - Secretaria Especial de Políticas para as Mulhe-
Com a democratização, os direitos humanos passam res da Presidência da República;
a ser também um objetivo dos Estados, de forma que III - Secretaria Especial de Políticas de Promoção
estes podem ao mesmo tempo, promoverem os direi- da Igualdade Racial da Presidência da República;
tos humanos e serem seus violadores.8 IV - Secretaria-Geral da Presidência da República;
V - Ministério da Cultura;
VI - Ministério da Educação;
Importante! VII - Ministério da Justiça;
O PNDH resulta de um processo de democratiza- VIII - Ministério da Pesca e Aquicultura;
IX - Ministério da Previdência Social;
ção da sociedade e do Estado brasileiro.
X - Ministério da Saúde;
XI - Ministério das Cidades;
XII - Ministério das Comunicações;
O Secretário Especial dos Direitos Humanos da Seu objetivo é a concretização do princípio à igual-
Presidência da República: designará os representan- dade previsto nos tratados de direitos humanos a que
tes do Comitê de Acompanhamento e Monitoramento o Brasil aderiu, bem como na Constituição Federal.
do PNDH-3 (§ 2º). Consta como objetivo estratégico deste Eixo: a
promoção da cidadania plena (em consonância com
a universalidade; indivisibilidade e interdependência
Importante! dos Direitos Humanos);
O Comitê de Acompanhamento e Monitoramen- O desafio está justamente no enfrentamento por
to do PNDH-3 poderá constituir subcomitês meio de ações programáticas das desigualdades, com
temáticos para a execução de suas atividades, o objetivo de eliminá-las.
que poderão contar com a participação de repre-
z Sobre o Eixo Orientador IV: Segurança pública
sentantes de outros órgãos do Governo Federal.
O Eixo Orientador IV trata da Segurança Pública,
Ainda, o Comitê convidará representantes dos Acesso à Justiça e Combate à Violência, tendo como
demais Poderes, da sociedade civil e dos entes federa- uma de suas diretrizes, a Democratização e moderni-
dos para participarem de suas reuniões e atividades. zação do sistema de segurança pública
(§ 4º). O Objetivo estratégico I: Modernização do marco
Os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e os normativo do sistema de segurança pública, com a
órgãos do Poder Legislativo, do Poder Judiciário e adoção da seguinte ação programática:
do Ministério Público: serão convidados a aderir ao Propor alteração do texto constitucional, de modo
PNDH-3. (art. 5º). a considerar as polícias militares não mais como for-
ças auxiliares do Exército, mantendo-as apenas como
z Eixo Orientador I: Interação democrática entre força reserva.
Estado e sociedade civil
z Sobre o Eixo Orientador V: Educação e Cultura
Contexto histórico: rearticulação dos movi- em Direitos Humanos
mentos sociais (década de 70) luta pela demo-
cracia em um momento de repressão política; O objetivo é de formação de uma nova mentalida-
Formação de movimentos sociais locais: bus- de coletiva para o exercício da solidariedade, do res-
cando direitos básicos — moradia, transporte, peito às diversidades e da tolerância.
saúde. Há que se ressaltar aqui a importância da educa-
ção em direitos humanos, de forma que se estabeleça
Dica um canal estratégico para produzir uma sociedade
igualitária, o que vai além do direito à educação per-
Esses movimentos tiveram atuação importan- manente e de qualidade.
te durante a Assembleia Constituinte (antes da São definidas cinco grandes áreas do PNDH-3:
Constituição de 1988).
Na educação básica: possibilitar, desde a infân-
Nos anos 90, os movimentos sociais organizados
cia, a formação de sujeitos de direito. Prioridade:
tiveram importante papel na defesa do Estado; na
populações historicamente vulnerabilizadas;
busca pela manutenção dos direitos sociais perante o
No ensino superior: como meta, a inclusão dos
neoliberalismo e privatizações, etc.
Direitos Humanos como disciplinas diversas,
O foco era estabelecer diálogo entre o Estado e a
linhas de pesquisa, áreas de concentração.
sociedade civil que permitissem: o exercício da cida-
Na educação não formal: inclusão dos Direi-
dania e a obtenção de resultados práticos obtidos
tos Humanos nos programas de capacitação
desta interação, tais como políticas públicas e avan-
de lideranças comunitárias e nos programas
ços no tocante à diversidade social, cultural, étnica e
de qualificação profissional; alfabetização de
regional.
jovens e adultos, dentre outros;
z Sobre o Eixo Orientador II: Desenvolvimento e Formação e educação continuada em Direi-
Direitos Humanos tos Humanos: com recortes de gênero, rela-
ções étnico-raciais e de orientação sexual em
Em relação ao desenvolvimento, seu objetivo é todo o serviço público;
garantir a livre determinação dos povos; reconheci- Papel estratégico dos meios de comunicação
mento de soberania sobre os recursos e riquezas natu- de massa: para construir ou desconstruir o
rais; respeito pleno à identidade cultural e busca de ambiente nacional e cultural social de respeito
394 equidade na distribuição de riquezas. e proteção dos Direitos Humanos.
2. Os Estados Partes do presente Pacto comprome-
EDUCAÇÃO E CULTURA EM DIREITOS tem-se a garantir que os direitos nele enuncia-
HUMANOS dos e exercerão sem discriminação alguma por
motivo de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião
Estabelecido pela Assembleia Geral da ONU em 16 política ou de outra natureza, origem nacional ou
social, situação econômica, nascimento ou qual-
de dezembro de 1966, o PIDESC entrou em vigor para
quer outra situação.
o Brasil em 1992, por meio do Decreto nº 591. Esse
3. Os países em desenvolvimento, levando devi-
documento foi construído com o objetivo de tornar
damente em consideração os direitos humanos e a
juridicamente vinculantes os dispositivos da Decla-
situação econômica nacional, poderão determi-
ração Universal dos Direitos Humanos, buscando,
nar em que garantirão os direitos econômicos
assim, a responsabilização internacional dos estados reconhecidos no presente Pacto àqueles que não
partes por eventual violação dos direitos estipulados. sejam seus nacionais.
O foco desse Pacto são os direitos humanos de
segunda dimensão ou geração, explicitados pela
Os Estados membros do Pacto precisam imple-
tríade: direitos sociais, econômicos e culturais.
mentar políticas públicas direcionadas aos direitos
Ademais, o PIESC compreende que a pessoa
previstos no Pacto para se efetivar igualdades, pro-
humana, por ter deveres para com seus semelhan-
gressivamente, na medida dos recursos disponíveis
tes e para com a coletividade a que pertence, tem a
e do nascimento das necessidades sociais.
obrigação de lutar pela promoção e observância dos
direitos presentes no Pacto. Analisando esse dispositivo, a doutrina aponta que
O presente Pacto também tem status de norma a progressividade dos direitos econômicos, sociais e
supralegal, com base no entendimento do STF no RE culturais proíbe o retrocesso ou a redução de políti-
466.343, ou seja, tem hierarquia superior às normas cas públicas direcionadas à consecução de tais direi-
infraconstitucionais, mas é inferior à nossa Constitui- tos. Assim, uma vez efetivados esses direitos para a
ção Federal. população, ou até mesmo para estrangeiros, o Esta-
A seguir, comentaremos os principais artigos do do não poderá posteriormente suprimir, diminuir o
PIDCP explorados nas provas de concurso. espectro de proteção.
Esse dispositivo revela, assim, o Princípio da veda-
PARTE I, ARTIGO 1º – DIREITO À ção do retrocesso, também chamado de efeito cliquet.
AUTODETERMINAÇÃO O efeito cliquet dos direitos humanos significa que os
direitos não podem retroagir, só podendo avançar nas
1. Todos os povos têm direito a autodeterminação. proteções dos indivíduos. Esse princípio, de acordo
Em virtude desse direito, determinam livremente com Canotilho, significa que é inconstitucional qual-
seu estatuto político e asseguram livremente seu quer medida tendente a revogar os direitos sociais
desenvolvimento econômico, social e cultural. já regulamentados, sem a criação de outros meios
2. Para a consecução de seus objetivos, todos os alternativos capazes de compensar a anulação desses
povos podem dispor livremente de suas riquezas benefícios.
e de seus recursos naturais, sem prejuízo das
obrigações decorrentes da cooperação econômica
ARTIGO 3º – IGUALDADE ENTRE HOMENS E
internacional, baseada no princípio do proveito
mútuo, e do Direito Internacional. Em caso algum,
MULHERES
poderá um povo ser privado de seus próprios
meios de subsistência. Os Estados Partes do presente Pacto comprome-
3. Os Estados Partes do Presente Pacto, inclusive tem-se a assegurar a homens e mulheres igual-
aqueles que tenham a responsabilidade de adminis- dade no gozo de todos os direitos econômicos,
trar territórios não-autônomos e territórios sob tutela, sociais e culturais enumerados no presente Pacto.
deverão promover o exercício do direito à autode-
terminação e respeitar esse direito, em conformi- ARTIGO 4º – SUBMISSÃO DOS DIREITOS
dade com as disposições da Carta das Nações Unidas. UNICAMENTE ÀS LIMITAÇÕES ESTABELECIDAS EM
LEI
A emancipação política dos povos é expressamen-
te assegurada nesse dispositivo. A autodeterminação Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
dos povos garante aos povos o direito de autogover- que, no exercício dos direitos assegurados em con-
no e de decidir livremente o seu status político, assim formidade com presente Pacto pelo Estado, este
como aos Estados o direito de defender sua existência poderá submeter tais direitos unicamente às limi-
e condição de independente. tações estabelecidas em lei, somente na medida
compatível com a natureza desses direitos e exclu-
PARTE II, ARTIGO 2º – PROGRESSIVIDADE E sivamente com o objetivo de favorecer o bem-estar
APLICAÇÃO DE RECURSOS NA MEDIDA DO geral em uma sociedade democrática.
POSSÍVEL
ARTIGO 5º – REGRAS INTERPRETATIVAS
1. Cada Estado Parte do presente Pacto comprome-
te-se a adotar medidas, tanto por esforço próprio 1. Nenhuma das disposições do presente Pac-
como pela assistência e cooperação internacionais, to poderá ser interpretada no sentido de reco-
principalmente nos planos econômico e técnico, nhecer a um Estado, grupo ou indivíduo qualquer
até o máximo de seus recursos disponíveis, que direito de dedicar-se a quaisquer atividades ou de
visem a assegurar, progressivamente, por todos praticar quaisquer atos que tenham por objetivo
os meios apropriados, o pleno exercício dos direi- destruir os direitos ou liberdades reconheci-
tos reconhecidos no presente Pacto, incluindo, em dos no presente Pacto ou impor-lhe limitações
particular, a adoção de medidas legislativas. mais amplas do que aquelas nele previstas. 395
2. Não se admitirá qualquer restrição ou sus- ARTIGO 8º – LIBERDADE SINDICAL
pensão dos direitos humanos fundamentais reco-
nhecidos ou vigentes em qualquer país em virtude 1. Os Estados Partes do presente Pacto comprome-
de leis, convenções, regulamentos ou costumes, sob tem-se a garantir:
pretexto de que o presente Pacto não os reconheça a) O direito de toda pessoa de fundar com outras,
ou os reconheça em menor grau. sindicatos e de filiar-se ao sindicato de escolha,
sujeitando-se unicamente aos estatutos da organi-
PARTE III, ARTIGO 6º – DIREITO AO TRABALHO DIGNO zação interessada, com o objetivo de promover e
de proteger seus interesses econômicos e sociais. O
1. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem exercício desse direito só poderá ser objeto das
o direito ao trabalho, que compreende o direito restrições previstas em lei e que sejam necessá-
de toda pessoa de ter a possibilidade de ganhar rias, em uma sociedade democrática, no interesse
a vida mediante um trabalho livremente esco- da segurança nacional ou da ordem pública, ou
lhido ou aceito, e tomarão medidas apropriadas para proteger os direitos e as liberdades alheias;
para salvaguardar esse direito. b) O direito dos sindicatos de formar federações
2. As medidas que cada Estado Parte do presente ou confederações nacionais e o direito destas de
Pacto tomará a fim de assegurar o pleno exercício formar organizações sindicais internacionais
desse direito deverão incluir a orientação e a for- ou de filiar-se às mesmas.
mação técnica e profissional, a elaboração de c) O direito dos sindicatos de exercer livremente
programas, normas e técnicas apropriadas para suas atividades, sem quaisquer limitações além
assegurar um desenvolvimento econômico, social e daquelas previstas em lei e que sejam necessárias,
cultural constante e o pleno emprego produtivo em em uma sociedade democrática, no interesse da
condições que salvaguardem aos indivíduos o gozo segurança nacional ou da ordem pública, ou para
das liberdades políticas e econômicas fundamentais. proteger os direitos e as liberdades das demais
pessoas:
ARTIGO 7º – CONDIÇÕES DE TRABALHO JUSTAS E d) O direito de greve, exercido de conformidade
com as leis de cada país.
FAVORÁVEIS
2. O presente artigo não impedirá que se subme-
ta a restrições legais o exercício desses direitos
Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem o direi- pelos membros das forças armadas, da política
to de toda pessoa de gozar de condições de trabalho
ou da administração pública.
justas e favoráveis, que assegurem especialmente:
3. Nenhuma das disposições do presente artigo
a) Uma remuneração que proporcione, no míni-
permitirá que os Estados Partes da Convenção de
mo, a todos os trabalhadores:
1948 da Organização Internacional do Trabalho,
I) Um salário equitativo e uma remuneração
relativa à liberdade sindical e à proteção do direito
igual por um trabalho de igual valor, sem qualquer
sindical, venham a adotar medidas legislativas que
distinção; em particular, as mulheres deverão ter
restrinjam - ou a aplicar a lei de maneira a restrin-
a garantia de condições de trabalho não inferio-
gir as garantias previstas na referida Convenção.
res às dos homens e perceber a mesma remunera-
ção que eles por trabalho igual;
II) Uma existência decente para eles e suas famílias, O artigo traz basicamente a liberdade de constituição
em conformidade com as disposições do presente Pacto; dos sindicatos e filiação a eles. Além disso, o Pacto traz:
b) À segurança e a higiene no trabalho;
c) Igual oportunidade para todos de serem pro- z Possibilidade de organização em federações e
movidos, em seu trabalho, à categoria superior que confederações;
lhes corresponda, sem outras considerações que as z Exercício do direito de greve segundo a legislação
de tempo de trabalho e capacidade; interna de cada país;
d) O descanso, o lazer, a limitação razoável das z Possibilidade de a lei restringir que órgãos milita-
horas de trabalho e férias periódicas remune- res, políticos e da administração pública organi-
radas, assim como a remuneração dos feridos.
zem-se em sindicatos para a defesa da categoria.
Vamos sistematizar quais são os direitos trabalhis-
ARTIGO 9º – DIREITO À SEGURIDADE SOCIAL
tas previstos nesse artigo do Pacto:
Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem o
Remuneração mínima direito de toda pessoa à previdência social, inclu-
sive ao seguro social.
Salário justo e
remuneração igual ARTIGO 10 – DIREITOS DE FAMÍLIA
Saúde e higiene no
trabalho Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem
que:
Igualdade de 1. Deve-se conceder à família, que é o elemento
CONDIÇÕES
oportunidade natural e fundamental da sociedade, as mais
DE TRABALHO amplas proteção e assistência possíveis, especial-
Descanso e lazer mente para a sua constituição e enquanto ele for
responsável pela criação e educação dos filhos. O
Limitação de horas matrimônio deve ser contraído com o livre con-
trabalhadas sentimento dos futuros cônjuges.
Férias periódicas e
2. Deve-se conceder proteção especial às mães
remuneradas por um período de tempo razoável antes e depois
do parto. Durante esse período, deve-se conceder
Feriados remunerados às mães que trabalham licença remunerada ou
licença acompanhada de benefícios previden-
396 ciários adequados.
3. Devem-se adotar medidas especiais de proteção b) Assegurar uma repartição equitativa dos recur-
e de assistência em prol de todas as crianças e sos alimentícios mundiais em relação às necessida-
adolescentes, sem distinção alguma por motivo des, levando-se em conta os problemas tanto dos
de filiação ou qualquer outra condição. Devem-se países importadores quanto dos exportadores de
proteger as crianças e adolescentes contra a gêneros alimentícios.
exploração econômica e social. O emprego de
crianças e adolescentes em trabalhos que lhes ARTIGO 12 – DIREITO À SAÚDE
sejam nocivos à moral e à saúde ou que lhes
façam correr perigo de vida, ou ainda que lhes 1. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem
venham a prejudicar o desenvolvimento norma, o direito de toda pessoa de desfrutar o mais elevado
será punido por lei. nível possível de saúde física e mental.
Os Estados devem também estabelecer limites de 2. As medidas que os Estados Partes do presente
idade sob os quais fique proibido e punido por Pacto deverão adotar com o fim de assegurar o ple-
lei o emprego assalariado da mão-de-obra infantil. no exercício desse direito incluirão as medidas que
se façam necessárias para assegurar:
a) A diminuição da mortinatalidade e da mor-
A doutrina aponta duas espécies de casamento forçado: talidade infantil, bem como o desenvolvimento é
das crianças;
z O imposto a uma pessoa imatura, jovem, que não b) A melhoria de todos os aspectos de higiene do
consegue compreender o significado da aliança trabalho e do meio ambiente;
conjugal; c) A prevenção e o tratamento das doenças epi-
z O extorquido por coação, temor reverencial ou dêmicas, endêmicas, profissionais e outras,
bem como a luta contra essas doenças;
violência do cônjuge ou da família. d) A criação de condições que assegurem a todos
assistência médica e serviços médicos em caso
Esse disposto do PIDESC, juntamente ao art. 23, do de enfermidade.
Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, tra-
zem à tona o princípio da liberdade do casamento. ARTIGO 13 – DIREITO À EDUCAÇÃO
Nesse sentido, há outros tratados internacionais que
reconhecem o direito ao livre e pleno consentimen- 1. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem o
to para o casamento. Podemos destacar a Convenção direito de toda pessoa à educação. Concordam em que
sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discrimi- a educação deverá visar ao pleno desenvolvimento
nação contra as Mulheres, que afirma que o casamen- da personalidade humana e do sentido de sua digni-
dade e fortalecer o respeito pelos direitos humanos
to de uma criança não terá efeito legal, enquanto a
e liberdades fundamentais. Concordam ainda em
Convenção sobre os Direitos da Criança requer que os que a educação deverá capacitar todas as pessoas a
Estados tomem todas as medidas eficazes e adequadas participar efetivamente de uma sociedade livre, favore-
para abolir práticas que são prejudiciais às crianças. cer a compreensão, a tolerância e a amizade entre
Ademais, sobre a proibição ao trabalho infantil, todas as nações e entre todos os grupos raciais, étnicos
nossa Constituição Federal e o ECA proíbem qual- ou religiosos e promover as atividades das Nações Uni-
quer tipo de trabalho para o menor de 14 anos, via- das em prol da manutenção da paz.
bilizando o trabalho na condição de aprendiz a partir 2. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem
que, com o objetivo de assegurar o pleno exercício
dos 14 anos e do trabalho com carteira assinada a par-
desse direito:
tir dos 16 anos. Nosso ordenamento jurídico veda o a) A educação primária deverá ser obrigatória e
trabalho noturno, insalubre e perigoso aos menores acessível gratuitamente a todos;
de 18 anos. b) A educação secundária em suas diferentes
formas, inclusive a educação secundária técnica e
ARTIGO 11 – DIREITO AO NÍVEL DE VIDA profissional, deverá ser generalizada e torna-se
ADEQUADO acessível a todos, por todos os meios apropriados
e, principalmente, pela implementação progres-
siva do ensino gratuito;
1. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem
c) A educação de nível superior deverá igualmente
o direito de toda pessoa a um nível de vida ade- tornar-se acessível a todos, com base na capaci-
quado para si próprio e sua família, inclusive dade de cada um, por todos os meios apropriados
à alimentação, vestimenta e moradia adequa- e, principalmente, pela implementação progres-
das, assim como a uma melhoria contínua de siva do ensino gratuito;
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
suas condições de vida. Os Estados Partes toma- d) Dever-se-á fomentar e intensificar, na medida do
rão medidas apropriadas para assegurar a conse- possível, a educação de base para aquelas pessoas
cução desse direito, reconhecendo, nesse sentido, a que não receberam educação primária ou não
importância essencial da cooperação internacional concluíram o ciclo completo de educação primária;
fundada no livre consentimento. e) Será preciso prosseguir ativamente o desenvol-
2. Os Estados Partes do presente Pacto, reconhecen- vimento de uma rede escolar em todos os níveis
do o direito fundamental de toda pessoa de estar de ensino, implementar-se um sistema adequado
protegida contra a fome, adotarão, individual- de bolsas de estudo e melhorar continuamente
mente e mediante cooperação internacional, as as condições materiais do corpo docente.
1. Os Estados Partes do presente Pacto comprome-
medidas, inclusive programas concretos, que se
tem-se a respeitar a liberdade dos pais e, quan-
façam necessárias para:
do for o caso, dos tutores legais de escolher para
a) Melhorar os métodos de produção, conservação seus filhos escolas distintas daquelas criadas
e distribuição de gêneros alimentícios pela plena pelas autoridades públicas, sempre que atendam aos
utilização dos conhecimentos técnicos e científicos, padrões mínimos de ensino prescritos ou aprovados
pela difusão de princípios de educação nutricional e pelo Estado, e de fazer com que seus filhos venham
pelo aperfeiçoamento ou reforma dos regimes agrá- a receber educação religiosa ou moral que esteja
rios, de maneira que se assegurem a exploração e a de acordo com suas próprias convicções.
utilização mais eficazes dos recursos naturais; 397
2. Nenhuma das disposições do presente artigo à saúde, à moradia, ao meio ambiente, à cultura, ao
poderá ser interpretada no sentido de restringir a lazer, entre outros.
liberdade de indivíduos e de entidades de criar e É fato que a Declaração Universal dos Direitos
dirigir instituições de ensino, desde que respeitados Humanos (DUDH) foi o ponto de partida do processo
os princípios enunciados no parágrafo 1 do pre- gradual de formação, consolidação, expansão e aper-
sente artigo e que essas instituições observem os feiçoamento da proteção internacional dos direitos
padrões mínimos prescritos pelo Estado. humanos e, em face das necessidades de proteção,
os tratados de direitos humanos foram aumentando
Observe que o Pacto trouxe como sendo obrigação conforme se revelavam as necessidades inerentes aos
dos Estados de implementar o ensino gratuito somen- seres humanos.
te na educação primária. Sobre a educação secundá- Entre essas necessidades, encontra-se a prote-
ria e de nível superior, coloca-se que é importante ser ção do meio ambiente, desenvolvimento sustentá-
acessível a todos, mas que os Estados devem atuar vel e proteção aos bens culturais, temáticas cada vez
para implementar, de forma progressiva, a gratui- mais entrelaçadas. Há de se consignar que, para o
dade. Desse modo, com base na disponibilidade orça- pleno gozo dos direitos e garantias inerentes ao ser
mentária de cada país, deve-se desenvolver uma rede humano, é necessário um contexto ambiental sadio.
escolar que alcance todos os níveis de ensino. Consequentemente, existe uma clara inter-relação
e interdependência entre os direitos humanos e o
ARTIGO 14 – DIREITO À EDUCAÇÃO direito ambiental.
Cumpre mencionar que a preocupação com o meio
Todo Estado Parte do presente pacto que, no ambiente é tema recente, uma vez que, até o final do
momento em que se tornar Parte, ainda não tenha século XIX, não havia consciência desta necessidade
garantido em seu próprio território ou territórios de preservação da natureza e dos seus recursos natu-
sob sua jurisdição a obrigatoriedade e a gratui- rais. Inicialmente, esse Sistema de Proteção começou
dade da educação primária, se compromete a a ser desenhado, com a finalidade estritamente eco-
elaborar e a adotar, dentro de um prazo de dois
nômica, desconsiderando as relações ecológicas sis-
anos, um plano de ação detalhado destinado
têmicas e a conservação ambiental. Por essa razão,
à implementação progressiva, dentro de um
número razoável de anos estabelecidos no próprio
as primeiras regulamentações tinham por objetivo
plano, do princípio da educação primária obri- a proteção dos estoques de recursos naturais, não
gatória e gratuita para todos. com vistas à proteção do meio ambiente, mas a sua
utilização econômica e comercial.
O presente artigo estabelece que, se a educação pri-
mária não for obrigatória dentro do Estado parte, ele
deverá instituído no prazo de 2 anos e que o Estado deve Importante!
construir um plano de ação detalhado para demonstrar
como implementará na prática o princípio da educa- Essa despreocupação com a questão ambiental
ção primária obrigatória e gratuita para todos. é fruto de fatores de diversas matrizes, como
as científica, política, econômica e sociológi-
ARTIGO 15 – DIREITOS CULTURAIS ca. Além disso, até o início do século XX, exis-
tia o entendimento generalizado de que o meio
1. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem ambiente seria capaz de absorver todos os resí-
a cada indivíduo o direito de: duos industriais sem que a natureza sofresse
a) Participar da vida cultural; qualquer consequência.
b) Desfrutar o processo cientifico e suas
aplicações;
c) Beneficiar-se da proteção dos interesses Com o surgimento dos primeiros casos concretos
morais e materiais decorrentes de toda a produ- de degradação ambiental, já nas primeiras décadas
ção cientifica, literária ou artística de que seja autor. do século XX, foi necessário implementar medidas de
2. As Medidas que os Estados Partes do Presente forma conjunta com outros Estados. Surgem, então,
Pacto deverão adotar com a finalidade de assegu- as primeiras tentativas de consolidar um sistema jurí-
rar o pleno exercício desse direito incluirão aquelas
dico internacional de proteção do meio ambiente. No
necessárias à convenção, ao desenvolvimento e à
entanto, até o final da Segunda Guerra Mundial, fal-
difusão da ciência e da cultura.
tava um conjunto coerente e sólido de regras sobre o
3. Os Estados Partes do presente Pacto comprome-
tem-se a respeitar a liberdade indispensável à pes- meio ambiente no âmbito internacional.
quisa cientifica e à atividade criadora. Com a ameaça nuclear no período pós-Segun-
4. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem da Guerra Mundial, fez surgir alguns tratados neste
os benefícios que derivam do fomento e do desen- sentido: o Tratado de Moscou (1963), a Convenção do
volvimento da cooperação e das relações interna- Espaço Cósmico (1967), o Tratado sobre a Não-Prolife-
cionais no domínio da ciência e da cultura. ração de Armas Nucleares (1968), o Tratado de Proibi-
ção de Colocação de Armas Nucleares e outras Armas
de Destruição Maciça no Leito do Mar e do Oceano e
nos Respectivos Subsolos (1971).
AGENDA 2030 E OS OBJETIVOS DE Entretanto, o marco para o movimento em busca
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL de um desenvolvimento sustentável foi a Conferência
de Estocolmo, também denominada Conferência das
O Sistema de Proteção Internacional dos Direitos Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, realizada no
Humanos foi, aos poucos, incorporando ações especí- ano de 1972. O Programa das Nações Unidas para o
398 ficas em diversos campos, como o direito à educação,
Meio Ambiente (PNUMA) teve início com a Conferên- atividades que se levem a cabo, dentro de sua juris-
cia de Estocolmo, além de ter sido criada a Comissão dição, ou sob seu controle, não prejudiquem o meio
Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento ambiente de outros Estados ou de zonas situadas
Humano (WCED). fora de toda jurisdição nacional.
Como o pensamento havia mudado e o meio Princípio 22
ambiente não era mais visto como fonte inesgotável Os Estados devem cooperar para continuar desen-
de recursos, a Conferência teve como objetivo discutir volvendo o direito internacional no que se refere
à responsabilidade e à indenização às vítimas da
as consequências da degradação ambiental. Entraram
poluição e de outros danos ambientais que as ativi-
em discussão os seguintes temas: mudanças climáti-
dades realizadas dentro da jurisdição ou sob o con-
cas, qualidade da água, uso de pesticidas na agricul- trole de tais Estados causem à zonas fora de sua
tura, quantidade de metais pesados na natureza, além jurisdição.
das possibilidades de se reduzir os desastres naturais
e a modificação da paisagem, com o escopo de traçar Outra Conferência que se destacou por trazer de
as bases para o desenvolvimento sustentável. volta o tema do meio ambiente com a mesma preo-
O resultado da Convenção de Estocolmo foi a ela- cupação da necessidade de ação global foi a Confe-
boração da Declaração de Estocolmo sobre o Ambien- rência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente
te Humano, representando um manifesto com as e Desenvolvimento (CNUMAD), realizada na cidade
bases para a nova agenda ambiental do Sistema ONU do Rio de Janeiro no ano de 1992. A Conferência ficou
de proteção. conhecida pelos seguintes nomes: Cúpula da Terra,
Os vinte e seis princípios contidos na Declaração ECO 92 ou Rio 92 e teve como objetivo reconciliar o
tratam dos direitos e obrigações dos Estados e dos impacto das atividades socioeconômicas humanas no
indivíduos no que se refere à preservação do meio meio ambiente.
ambiente. Destacam-se: o art. 1º, que traz expresso o Com foco para o desenvolvimento sustentável, os
direito ao meio ambiente de qualidade que permita Estados envolvidos detalharam o programa denomi-
aos seres humanos uma vida digna com liberdade, nado Agenda 21 para direcionar suas atividades de
igualdade e condições adequadas de vida; os arts. 2º modo a protegerem e renovarem os recursos ambien-
e 5º, que tratam das responsabilidades em relação às tais. Eram ações voltadas à proteção da atmosfera, o
gerações, o art. 21 que diz respeito ao direito de um combate ao desmatamento, a perda de solo e a deser-
Estado de explorar seus recursos de acordo com suas tificação, além da prevenção da poluição da água e ar
políticas ambientais e obrigação de não provocar pre- e promoção da gestão segura dos resíduos tóxicos.
juízos transfronteiriços; e o art. 22, que traz a obri- Para revisar a Agenda 21, foi realizada uma sessão
gação dos Estados de cooperarem para desenvolver especial na Assembleia Geral da ONU em 1997. Essa
uma legislação internacional que trate de responsa- sessão foi chamada de Cúpula da Terra +5, cujo docu-
bilidade e indenização por prejuízos extraterritoriais. mento final recomentou a adoção de algumas metas
Vejamos: juridicamente vinculativas, com o objetivo de
reduzir as emissões de gases de efeito estufa, bem
Declaração de Estocolmo sobre o ambiente como para implementar uma maior movimenta-
humano (1972) ção dos padrões sustentáveis de distribuição de
Princípio 1 energia, produção e uso. Teve também como foco a
O homem tem o direito fundamental à liberdade, à erradicação da pobreza como pré-requisito para o
igualdade e ao desfrute de condições de vida ade- desenvolvimento sustentável.
quadas em um meio ambiente de qualidade tal que Na sequência, no ano de 2000, teve destaque a Cúpu-
lhe permita levar uma vida digna e gozar de bem-es- la do Milênio realizada na cidade de Nova York com o
tar, tendo a solene obrigação de proteger e melho- objetivo de garantir a sustentabilidade ambiental.
rar o meio ambiente para as gerações presentes e Com o escopo de transformar as metas, promes-
futuras. A este respeito, as políticas que promovem sas e compromissos assumidos pela Agenda 21 em
ou perpetuam o apartheid, a segregação racial, a ações concretas, foi realizada, em 2002, em Johanes-
discriminação, a opressão colonial e outras formas burgo, a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento
de opressão e de dominação estrangeira são conde- Sustentável, também conhecida como Rio+10, Rio
nadas e devem ser eliminadas.
Mais 10, por ter ocorrido após dez anos da CNUMAD,
Princípio 2
ou, ainda, Cúpula Mundial sobre o Desenvolvimento
Os recursos naturais da terra incluídos o ar, a água,
Sustentável. Como resultado, foram elaborados dois
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
a terra, a flora e a fauna e especialmente amostras
representativas dos ecossistemas naturais devem documentos: a Declaração de Johanesburgo sobre
ser preservados em benefício das gerações presen- Desenvolvimento Sustentável e o Plano de Implemen-
tes e futuras, mediante uma cuidadosa planificação tação, detalhando as prioridades para as ações.
ou ordenamento. Após dez anos da Cúpula Mundial sobre Desenvol-
[...] vimento Sustentável (Rio +10) e vinte da Conferência
Princípio 5 das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desen-
Os recursos não renováveis da terra devem empre- volvimento (Rio 92), o Rio de Janeiro voltou a ser sede
gar-se de forma que se evite o perigo de seu futuro de uma Conferência para definir uma agenda para o
esgotamento e se assegure que toda a humanidade desenvolvimento Sustentável para as próximas déca-
compartilhe dos benefícios de sua utilização. das: a Conferência das Nações Unidas sobre Desen-
[...] volvimento Sustentável (CNUDS), de 2012, também
Princípio 21 conhecida como Rio +20, com o objetivo de renovar
Em conformidade com a Carta das Nações Unidas e os compromissos com o desenvolvimento sustentável,
com os princípios de direito internacional, os Esta- tratar da economia verde no contexto do desenvolvi-
dos têm o direito soberano de explorar seus pró- mento sustentável e da erradicação da pobreza.
prios recursos em aplicação de sua própria política
ambiental e a obrigação de assegurar-se de que as 399
No ano de 2015, os cento e noventa e três Estados-membros da ONU reuniram-se para reconhecer que o maior
desafio global para o desenvolvimento sustentável é a pobreza, em todas as suas formas e dimensões. Neste
contexto, adotaram o documento Transformando o Nosso Mundo: A Agenda 2030 para o Desenvolvimento
Sustentável (A/70/L.1). Assim sendo, a Agenda 2030 é um plano de ação para promover o desenvolvimento sus-
tentável nos próximos 15 anos, ou seja, dos anos de 2016 a 2030.
A Agenda 2030 combinar os processos dos objetivos do milênio e os resultantes da Rio+20, de modo a inaugu-
rar uma nova fase para o desenvolvimento por integrar todos os componentes do desenvolvimento sustentável e
o engajamento de todos os países.
Como plano de ação, a Agenda 2030 indica dezessete Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e
cento e sessenta e nove metas para erradicar a pobreza e promover vida digna para todos.
É importante memorizar os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Vejamos:
1. Erradicação da pobreza - Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares.
2. Fome zero e agricultura sustentável - Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição
e promover a agricultura sustentável.
3. Saúde e bem-estar - Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades.
4. Educação de qualidade - Assegurar a educação inclusiva, e equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de
aprendizagem ao longo da vida para todos.
5. Igualdade de gênero - Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas.
6. Água limpa e saneamento - Garantir disponibilidade e manejo sustentável da água e saneamento para todos.
7. Energia limpa e acessível - Garantir acesso à energia barata, confiável, sustentável e renovável para todos.
8. Trabalho de decente e crescimento econômico - Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável,
emprego pleno e produtivo, e trabalho decente para todos.
9. Inovação infraestrutura - Construir infraestrutura resiliente, promover a industrialização inclusiva e sustentável, e
fomentar a inovação.
10. Redução das desigualdades - Reduzir as desigualdades dentro dos países e entre eles.
11. Cidades e comunidades sustentáveis - Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes
e sustentáveis.
12. Consumo e produção responsáveis - Assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis.
13. Ação contra a mudança global do clima - Tomar medidas urgentes para combater a mudança climática e seus impactos.
14. Vida na água - Conservação e uso sustentável dos oceanos, dos mares, e dos recursos marinhos para o desenvolvi-
mento sustentável.
15. Vida terrestre - Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma susten-
tável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da Terra e deter a perda da biodiversidade.
16. Paz, justiça e instituições eficazes - Promover sociedades pacíficas e inclusivas par ao desenvolvimento sustentável,
proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis.
17. Parcerias e meios de implementação - Fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria global para o
desenvolvimento sustentável.9
Esses 17 objetivos são integrados e indivisíveis, além de abrangerem as três dimensões do desenvolvimento
sustentável, ou seja, social, ambiental e econômico, podendo ser implementado pelos governos, pela sociedade
civil, pelo setor privado e por todos os seres humanos comprometidos com as presentes e futuras gerações.
Memorize:
Fonte: ONU
9 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável: 17 objetivos para transformar o nosso mundo. Pisco De Luz. Disponível em:https://www.
piscodeluz.org/desenvolvimento-sustentavel?gclid=CjwKCAjw_L6LBhBbEiwA4c46uov6zr-qOsWrBO8-84N7HhxV0PJAz0HahNHr0Qnti-
400 g5ppCBhWmBoJhoCrZgQAvD_BwE
Também deverá a pessoa investigada ser tratada
SEGURANÇA PÚBLICA E DIREITOS como inocente, sem qualquer presunção de que tenha
HUMANOS cometido o crime, ainda que as evidências sejam cla-
ras, tendo em vista o preceito trazido no inciso LVII do
O presente tópico vai abordar a relação entre a mesmo art. 5º: ninguém será considerado culpado até
Polícia Civil e os direitos humanos. A Polícia Civil está o trânsito em julgado da sentença penal condenatória.
prevista como um dos órgãos cujo dever é a efetivação Ademais, o sujeito não poderá ser preso sem que
da segurança pública. o policial esteja amparado por ordem escrita e funda-
Preceitua o art. 144, da Constituição Federal, que mentada da autoridade judiciária ou, em situação de
a segurança pública é dever do Estado, direito e res- flagrante delito (inciso LXI, art. 5º).
ponsabilidade de todos, é exercida para a preservação Além disso, caberá ao policial civil, no exercício
da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do de suas funções, a observância dos demais direitos
patrimônio, através dos seguintes órgãos: fundamentais:
Art. 1º Os funcionários responsáveis pela aplica- z constranger alguém com emprego de violência ou gra-
ção da lei devem sempre cumprir o dever que a lei ve ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental:
lhes impõe, servindo a comunidade e protegendo
todas as pessoas contra atos ilegais, em conformi- com o fim de obter informação, declaração ou
dade com o elevado grau de responsabilidade que a confissão da vítima ou de terceira pessoa;
sua profissão requer. para provocar ação ou omissão de natureza
criminosa;
Aqui, verifica-se que a atuação de todos aqueles em razão de discriminação racial ou religiosa;
responsáveis pelo cumprimento das leis, dentre eles
os policiais, é no sentido de que devem se ater ao cum- z submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autori-
primento da lei. Ou seja, devem combater atos ilegais, dade, com emprego de violência ou grave ameaça,
proteger à população, mas sua atuação também está a intenso sofrimento físico ou mental, como forma
estritamente vinculada ao cumprimento da lei. de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter
preventivo.
Art. 2º No cumprimento do dever, os funcionários
responsáveis pela aplicação da lei devem respeitar
O que se verifica é que ambas as condutas, podem
e proteger a dignidade humana, manter e apoiar os
direitos humanos de todas as pessoas.
estar relacionadas à atuação do policial e constituem
crime apenado com reclusão de dois a oito anos.
Assim, é importante observar, mais uma vez, que
Como já dito, caberá ao policial, a proteção e res-
a atuação do profissional responsável pelo cumpri-
peito à dignidade da pessoa, inclusive dos possíveis
mento da lei deverá ser ética e comprometida com a
suspeitos de estarem infringindo a lei.
ordem pública e cessação de violência, não podendo,
Assim, deverão ser observadas todas as regras, de
para tanto, utilizar-se de qualquer emprego de cons-
forma que se combata a ocorrência de possível crime,
trangimento ou violência e grave ameaça.
sem que haja violação de outros direitos dos envolvi-
Vale destacar que o policial civil, ainda que res-
dos ou de terceiros que por ventura estejam no espaço
ponsável pela apuração de infrações, também deve-
público no momento.
rá pautar sua conduta profissional nestas normas de
Por sua vez, o art. 3º preceitua que:
conduta e não poderá praticar qualquer ato de cons-
trangimento, de violência ou grave ameaça sob pena
Art. 3º Os funcionários responsáveis pela apli-
cação da lei só podem empregar a força quando de incorrer no crime de tortura.
estritamente necessária e na medida exigida para Em continuidade, art. 6º preceitua o seguinte:
o cumprimento do seu dever.
Art. 6º Os funcionários responsáveis pela aplica-
Esta regra de conduta é de extrema importância ção da lei devem garantir a proteção da saúde de
todas as pessoas sob sua guarda e, em especial,
na administração de conflitos no espaço público. Isto
devem adotar medidas imediatas para assegurar-
porque aqueles a quem couber a aplicação da lei, no
-lhes cuidados médicos, sempre que necessário.
caso, policiais, devem utilizar-se da força apenas e tão
somente quando for necessário. Ademais, somente
Mais uma vez, o que se verifica é a preocupação
deverão fazê-lo naquilo que for necessário ao cumpri-
que a atuação dos responsáveis pelo cumprimento da
mento do dever, o que deve levar em conta a necessi-
lei ocorra de forma protetiva, inclusive garantindo
dade, proporcionalidade e motivação, princípios que
que serão prestados os cuidados médicos para aqueles
devem trilhar a atuação do profissional.
que estejam sob sua guarda, como os condenados em
cumprimento de pena, por exemplo.
Art. 5º Nenhum funcionário responsável pela
Outra das regras de conduta preceitua que:
aplicação da lei pode infligir, instigar ou tolerar
qualquer ato de tortura ou qualquer outro trata-
mento ou pena cruel, desumano ou degradante, Art. 7º Os funcionários responsáveis pela aplica-
nem nenhum destes funcionários pode invocar ção da lei não devem cometer quaisquer atos de
ordens superiores ou circunstâncias excepcionais, corrupção. Também devem opor-se vigorosamente
tais como o estado de guerra ou uma ameaça de e combater todos estes atos.
guerra, ameaça à segurança nacional, instabili-
dade política interna ou qualquer outra emergên- Assim, o art. 7º determina que os responsáveis pela
cia pública, como justificativa para torturas ou aplicação da lei não devem cometer atos de corrupção
outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou e não só: devem também se opor, caso tenham conhe-
degradantes. cimento de qualquer ato desta natureza, combatendo-
-o. Ou seja, não poderá o policial se omitir caso tenha
O art. 5º aborda expressamente a questão da tor- conhecimento que outrem possa estar de qualquer for-
tura e afirma que nenhum dos responsáveis pela ma praticando ato corruptivo.
aplicação da lei poderá tolerar, instigar ou infringir Ainda sobre a atuação do policial no âmbito do
qualquer ato de tortura ou tratamento ou pena cruel, espaço público, é necessário mencionar a Porta-
desumano e degradante. ria Interministerial nº 4.226, de 31 de dezembro de
2010, do Governo Federal, estabelecida em conjunto
402
pelo Ministério de Justiça e Ministério das Relações Ainda, a diretriz acima mencionada considera ile-
Internacionais. gítimo o uso de armas de fogo quando em face de pes-
O referido documento busca estabelecer as polí- soa desarmada ou que não represente qualquer risco
ticas públicas de segurança em consonância com os de morte ou lesão grave, ainda que esteja na posse de
direitos humanos. arma.
Estas normas devem ser observadas pelos policiais Certamente trata-se de outra regra de essencial
federais, rodoviários federais, civis e militares, bem importância na administração de conflitos pela auto-
como guardas municipais e demais autoridades que, ridade policial.
por força de lei, fazem uso de arma de fogo em seu
trabalho. Não é legítimo o uso de armas de fogo contra
A primeira das diretrizes trazida pelo diploma veículo que desrespeite bloqueio policial em
legal e que deve trilhar o trabalho dos agentes no uso via pública, a não ser que o ato represente um
da força define quais são os princípios que devem ser risco imediato de morte ou lesão grave aos
obedecidos em sua atuação: agentes de segurança pública ou terceiros.
z Legalidade: caberá ao agente agir em estrita Outra das regras em relação às armas de fogo
observância da lei; determina que não é legítimo o uso de armas de fogo
z Necessidade: a atuação do agente, bem como o contra veículo que ultrapasse bloqueio policial em via
uso de armas de fogo deverá ocorrer tão somen- pública. Mais uma vez, a exceção se refere apenas ao
te quando houver efetiva necessidade, em caso de caso em que o agente infrator, de fato, ofereça risco
conflito que justifique o uso da força; de morte ou lesão grave ao agente de segurança ou
terceiro.
z Proporcionalidade: o uso da força deverá ser
sempre proporcional à situação que tenha se con-
Os chamados “disparos de advertência” não são
figurado, de forma que não haja excessos e não
considerados prática aceitável, por não atende-
ocorram lesões aos envolvidos;
rem aos princípios elencados na Diretriz nº 2 e
z Moderação: da mesma força que a proporcionali- em razão da imprevisibilidade de seus efeitos.
dade, a moderação se justifica de forma que a atua-
ção policial se concentre em estancar a situação Outra regra de grande relevância na administra-
vivenciada, protegendo os envolvidos, especial- ção de conflitos no espaço público diz respeito aos dis-
mente terceiros de possíveis lesões decorrentes do paros de advertência. Conforme a diretriz acima, não
uso da força; se trata de uma prática aceitável, pois em decorrência
z Conveniência: a atuação policial com o uso de deles, as consequências não são previsíveis.
armas deve ocorrer apenas quando se mostrar
necessária e, portanto, é conveniente que se utili- O ato de apontar arma de fogo contra pes-
ze de forma tão gravosa apenas para contenção da soas durante os procedimentos de aborda-
situação. gem não deverá ser uma prática rotineira e
indiscriminada.
Ademais, ainda constam como diretrizes constan-
tes na Portaria: Ainda, outra das diretrizes diz respeito à conduta
de apontar armas de fogo contra pessoas nos proce-
Os agentes de segurança pública não deverão dimentos de abordagem. Trata-se de uma prática que
disparar armas de fogo contra pessoas, exceto não deve ser considerada rotineira e não deve ser uti-
em casos de legítima defesa própria ou de ter- lizada de forma indiscriminada.
ceiro contra perigo iminente de morte ou lesão Assim, é certo que todas as normas de conduta
grave. e diretrizes sobre armas de fogo tem um ponto em
comum: a preocupação com o respeito dos direitos das
Esta regra de grande importância é em relação ao pessoas envolvidas, inclusive de possíveis suspeitos.
uso de armas contra pessoas. Para administrar um Denota-se, portanto, que, em ocorrendo um con-
conflito em espaço público, muitas vezes, o policial flito no espaço público, caberá ao policial, em sua
fará uso de armas de fogo, pensando estar agindo em atuação, observar tais diretrizes, de forma que sejam
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
cumprimento do seu dever legal. sempre respeitados os direitos humanos e preservada
Ocorre que a diretriz acima define que os agentes a integridade física das pessoas presentes na situação.
não devem utilizar-se de armas de fogo, fazendo dis-
paros contra a pessoa. Apenas poderão fazê-lo em caso
de legítima defesa própria ou de terceiros ou ainda
em caso de perigo iminente de morte ou lesão grave. HORA DE PRATICAR!
Resta claro, portanto, que a utilização de arma de
fogo deverá ser realizada em situações estritamente 1. (FUMARC — 2014) Considerando a distinção entre
necessárias e sempre com contenção, de forma que Direitos Humanos e Direitos Fundamentais, assinale
não ocorra qualquer forma de excesso. o documento que representa a inauguração dos Direi-
tos Humanos no cenário mundial:
Não é legítimo o uso de armas de fogo contra
pessoa em fuga que esteja desarmada ou que, a) Declaração Universal dos Direitos do Homem e do
mesmo na posse de algum tipo de arma, não Cidadão de 1789.
represente risco imediato de morte ou de lesão b) Declaração Universal dos Direitos do Homem de
grave aos agentes de segurança pública ou 1948.
terceiros; 403
c) Convenção Americana de Direitos Humanos de 1969. c) Introduz a indivisibilidade dos direitos humanos, ao
d) Constituição de Weimar de 1919. conjugar o catálogo dos direitos civis e políticos, com
o dos direitos econômicos, sociais e culturais.
2. (FUMARC — 2013) A Declaração Universal dos Direi- d) Teve imediatamente, após a sua adoção, grande
tos Humanos de 1948 foi de extrema importância repercussão moral ao despertar nos povos a cons-
para a afirmação e o reconhecimento dos Direitos ciência de que o conjunto da comunidade humana se
Humanos. Sobre esse documento, é incorreto afirmar interessava pelo seu destino.
que
5. (FUMARC — 2018) Sobre a Corte Interamericana de
a) foi aprovado pela Assembleia Geral da ONU e preten- Direitos Humanos, é correto afirmar:
deu ser um documento verdadeiramente universal.
b) estabeleceu que todos os homens nascem livres e a) A Comissão Interamericana e os Estados Partes
iguais em dignidade e direitos, sendo dotados de podem submeter um caso à Corte Interamericana,
razão e consciência e devendo agir em relação uns admitida a legitimação do indivíduo, nos termos da
aos outros com espírito de fraternidade. Convenção Americana.
c) apesar de estabelecer que a vontade do povo será a b) A Corte Interamericana não apresenta competência
base da autoridade do governo e de afirmar que esta consultiva.
vontade será expressa em eleições periódicas e legí- c) É órgão jurisdicional do sistema regional, compos-
timas, por sufrágio universal, por voto secreto ou pro- to por 15 juízes nacionais de Estados Membros da
cesso equivalente que assegure a liberdade de voto, OEA, eleitos a título pessoal pelos Estados Partes da
não reconheceu às mulheres o direito de participação Convenção.
na vida política dos Estados- Membros. d) O Estado brasileiro reconheceu a competência juris-
d) proibiu a tortura, o tratamento ou o castigo cruel, dicional da Corte Interamericana em dezembro de
desumano ou degradante. 1998.
3. (FUMARC — 2011) A Declaração Universal dos Direi- 6. (FUMARC — 2014) Sobre o sistema internacional de
tos Humanos, adotada em 10 de dezembro de 1948, proteção dos direitos humanos, é correto afirmar:
objetiva delinear uma ordem pública mundial funda-
da no respeito à dignidade da pessoa humana. Leia e a) A Corte Interamericana de Direitos Humanos já deci-
analise as assertivas abaixo: diu que a lei da anistia de 1979, editada pelo Brasil,
I A Declaração compreende um conjunto de direi- é manifestamente incompatível com a Convenção
tos e faculdades sem as quais um ser humano não Americana de Direitos Humanos.
pode desenvolver sua personalidade física, moral e b) O Brasil não ratificou a Convenção sobre os Direi-
intelectual. tos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo
II Sendo universal, é aplicável a todas as pessoas de Facultativo.
todos os países, raças, religiões e sexos, condiciona- c) O Brasil não se submete à jurisdição da Corte Intera-
da à aplicação ao regime político dos territórios nos mericana de Direitos Humanos.
quais incide. d) O Tribunal Penal Internacional é um órgão jurisdicio-
III Consolida a afirmação de uma ética universal, ao con- nal criado no âmbito do sistema interamericano de
sagrar um consenso sobre valores de cunho universal proteção dos direitos humanos, cuja atuação depen-
a serem seguidos pelos Estados. de de provocação da Comissão Interamericana de
Direitos Humanos.
Marque a opção correta
7. (FUMARC — 2014) Ao lado do sistema global de prote-
a) Somente as assertivas I e II estão corretas. ção dos direitos humanos, existem os sistemas regio-
b) Somente as assertivas II e III estão corretas. nais. Os principais sistemas regionais de proteção dos
c) Somente as assertivas I e III estão corretas. direitos humanos, não incipientes, são, exceto o
d) Somente a assertiva I está correta.
a) africano.
4. (FUMARC — 2011) A Declaração Universal dos Direi- b) asiático.
tos Humanos pode ser caracterizada, primeiramente c) europeu.
por sua amplitude, compreendendo um conjunto de d) interamericano.
direitos e faculdades, sem as quais um ser humano
não pode desenvolver sua personalidade física, moral 8. (FUMARC — 2014) Sobre a Corte Interamericana de
e intelectual. Em segundo lugar, pela universalida- Direitos Humanos, não é correto o que se afirma em:
de, aplicável a todas as pessoas de todos os países,
raças, religiões e sexos, seja qual for o regime políti- a) A Corte Interamericana, até março de 2010, no exer-
co dos territórios nos quais incide. Assinale abaixo a cício de sua jurisdição contenciosa, havia proferido
assertiva que é contrária ao enunciado acima: 211 sentenças. O Brasil, em 2006, foi condenado, pela
primeira vez, pela referida Corte no caso Damião Xime-
a) Como uma plataforma comum de ação, a Declaração nes Lopes.
foi adotada em 10 de dezembro de 1948, pela aprova- b) Até maio de 2011, dos nove casos relacionados ao
ção de 48 Estados, com 8 abstenções. Brasil encaminhados à Corte Interamericana, nenhum
a) Objetiva delinear uma ordem pública mundial funda- teve decisão final.
da no respeito à dignidade da pessoa humana, para c) Foi a delegação do Brasil que propôs a criação de uma
orientar o desenvolvimento de uma raça humana Corte Interamericana de Direitos Humanos, por oca-
superior. sião da IX Conferência Internacional Americana, reali-
404 zada em Bogotá, em 1948.
d) O Brasil reconheceu em dezembro de 1998 a compe- 11. (FUMARC — 2013) Considerando a proteção do “direi-
tência jurisdicional da Corte Interamericana de Direi- to à vida” na Convenção Americana de Direitos Huma-
tos Humanos. nos de 1969 (Pacto São José da Costa Rica), leia as
seguintes afirmativas:
9. (FUMARC — 2018) A Constituição Federal de 1988
elencou vários princípios processuais penais, porém, I Os países que aboliram a pena de morte poderão res-
no contexto de funcionamento integrado e complemen- tabelecê-la em casos excepcionais e mediante a cria-
tar das garantias processuais penais, não se pode per- ção de lei anterior que defina a conduta e estabeleça a
der de vista que os Tratados Internacionais de Direitos pena, proibindo-se a sua imposição ou decretação por
Humanos firmados pelo Brasil também incluíram diver- juízo ou tribunal de exceção.
sas garantias ao modelo processual penal brasileiro. II A pena de morte, nos países que a admitem, poderá
Nessa ordem, a Convenção Americana sobre Direitos ser aplicada a delitos comuns conexos com delitos
Humanos (CADH - Pacto de São José da Costa Rica) políticos.
prevê diversos direitos relacionados à tutela da liberda- III Não se deve impor a pena de morte a pessoa que,
de pessoal (Decreto 678/92, art. 7°), além de inúmeras no momento da perpetração do delito, for menor de
garantias judiciais (Decreto 678/92, art. 8°). dezoito anos, ou maior de setenta, nem aplicá-la a
Diante do enunciado, é correto afirmar: mulher em estado de gravidez.
IV Toda pessoa condenada à morte tem direito a soli-
a) Pelo Princípio da Ampla Defesa, temos a abrangência citar anistia, indulto ou comutação da pena, os quais
do direito à defesa técnica (processual ou específica) podem ser concedidos em todos os casos. Não se
e à autodefesa (material ou genérica), havendo entre
pode executar a pena de morte enquanto o pedi-
elas uma relação de complementaridade.
do estiver pendente de decisão ante a autoridade
b) Pelo Princípio da Publicidade, temos a preocupação
competente.
do legislador em garantir o acesso irrestrito a todos
São verdadeiras apenas as afirmativas
os atos processuais, sem qualquer tipo de ressalva.
c) Pelo Princípio do Contraditório, temos que o brocardo in
a) I e III.
dubio pro reo só incide até o trânsito em julgado de sen-
b) I e IV.
tença penal condenatória. Portanto, na revisão criminal,
que pressupõe o trânsito em julgado de sentença penal c) II e IV.
condenatória ou absolutória imprópria, não há que falar d) III e IV.
em in dubio pro reo, mas sim em in dubio contra reum.
d) Pelo Princípio do Estado de Inocência, temos que, “aos 12. (FUMARC — 2013) De acordo com a Convenção Ame-
litigantes, em processo judicial ou administrativo, e ricana de Direitos Humanos de 1969, para que uma
aos acusados em geral, são assegurados o contradi- petição ou comunicação seja admitida pela Comis-
tório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela são, será necessário que, exceto:
inerentes”.
a) a matéria da petição não esteja pendente de outro pro-
10. (FUMARC — 2014) O Brasil tem revelado, nos últimos cesso de solução internacional.
anos, crescente alinhamento à arquitetura de prote- b) seja apresentada dentro do prazo de seis meses,
ção internacional dos direitos humanos. Diante desse a partir da data em que o presumido prejudicado
posicionamento que anuncia uma esperança eman- em seus direitos tenha sido notificado da decisão
cipatória do sujeito de direitos, sob o prisma jurídico- definitiva.
-político, em face da proteção dos direitos humanos, c) o país violador haja ratificado ou aderido à Conven-
é correto afirmar que ção, mesmo que ainda não tenha se manifestado
expressamente sobre a competência da Comissão,
a) o Brasil, mesmo depois de condenado pela Corte Inte- tendo em vista que o modelo previsto garante a “pre-
ramericana de Direitos Humanos no Caso Escher e valência dos direitos humanos”.
outros versus Brasil, que envolveu a interceptação e o d) a petição seja apresentada por pessoa ou grupo de
monitoramento ilegal de linhas telefônicas, não auto- pessoas, ou entidade não governamental legalmen-
rizou o cumprimento da sentença por entender que te reconhecida em um ou mais Estados-Membros da
essa medida depende de decisão do Supremo Tribu- Organização, devendo conter o nome, a nacionalida-
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
nal Federal. de, a profissão, o domicílio e a assinatura da pessoa
b) o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, edi- ou das pessoas, ou do representante legal da entida-
tado no âmbito do sistema global de proteção dos direi- de que submeter a petição ou comunicação.
tos humanos, tem a ele o Segundo Protocolo ao Pacto
Internacional de Direitos Civis e Políticos, adotado em 13. (FUMARC — 2011) Para a proteção dos direitos huma-
15 de dezembro de 1989, que estabelece que cada nos, o instrumento de maior importância no sistema
Estado-parte deverá adotar todas as medidas necessá- interamericano é a Convenção Americana de Direitos
rias para abolir a pena de morte em sua jurisdição. O Humanos, também denominada Pacto de San José
citado Protocolo ainda não foi ratificado pelo Brasil.
da Costa Rica.
c) o Protocolo à Convenção Americana referente aos
Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (Protocolo de
San Salvador) foi ratificado pelo Brasil. Leia as assertivas abaixo:
d) o Protocolo Facultativo ao Pacto dos Direitos Civis e
Políticos, no âmbito do sistema global de proteção I Foi esse Pacto assinado em San José, na Cos-
aos direitos humanos, que trata do mecanismo das ta Rica, em 1969, mas somente entrou em vigor
petições individuais, está pendente de apreciação no somente em 1988, com a promulgação da chama-
Congresso Nacional. da Constituição Cidadã no Brasil. 405
II Apenas Estados-membros da Organização dos d) contempla o serviço de identificação e localização de
Estados Americanos têm o direito de aderir à Con- parentes ou responsáveis por idosos abandonados
venção Americana, que até março de 2010 contava em hospitais e instituições de longa permanência.
com 25 Estados-partes.
III Os Estados-partes da Convenção têm deveres 17. (FUMARC — 2018) A respeito da Convenção Intera-
negativos que consistem em não violar os direitos, mericana sobre a Proteção dos Direitos Humanos
as medidas necessárias para assegurar o pleno dos Idosos (2015), não é correto afirmar:
exercício dos direitos humanos internacionais são
da competência da ONU. a) A Convenção Interamericana sobre a Proteção dos
Marque a opção correta : Direitos Humanos dos Idosos é a primeira con-
venção internacional no mundo a proteger, de for-
a) Somente a assertiva I é incorreta.
ma específica, os direitos humanos das pessoas
b) As assertivas I, II e III estão corretas.
idosas.
c) As assertivas I, II e III estão incorretas.
b) A Convenção Interamericana sobre a Proteção dos
d) Somente a assertiva II está correta.
Direitos Humanos dos Idosos foi aprovada no dia
14. (FUMARC — 2011) O sistema internacional de pro- 15 de junho, que é o Dia Mundial de Conscientiza-
teção dos direitos humanos pode apresentar dife- ção da Violência contra a Pessoa Idosa.
rentes âmbitos de aplicação, daí poder se falar de c) O Brasil foi o primeiro país a assinar a Conven-
sistemas global e regional. O instrumento de maior ção Interamericana sobre a Proteção dos Direitos
importância no sistema interamericano é a Con- Humanos dos Idosos, juntamente com a Argenti-
venção Americana de Direitos Humanos, também na, o Chile, a Costa Rica e o Uruguai; o instrumento
denominada Pacto de San José da Costa Rica que entrou em vigor internacional em 13/12/2016.
d) Brasil não subscreveu a Convenção Interameri-
a) foi assinada em San José, Costa Rica, em 1969, cana sobre a Proteção dos Direitos Humanos dos
tendo como Estados-membros todos os países Idosos.
das Américas do Norte, Central e do Sul, que quei-
ram participar. 18.(FUMARC — 2014) Sobre o acesso das pessoas
b) substancialmente reconhece e assegura um catá- cegas ou com deficiência visual (Tratado de Mar-
logo de direitos civis, políticos, econômicos, sociais raquexe) à leitura, pode-se afirmar, exceto:
e culturais, garantindo-lhes a plena realização.
c) exige dos governantes dos Estados signatários a) No Brasil, o Congresso Nacional aprovou o Trata-
estritamente obrigações de natureza negativas, do por três quintos dos votos dos membros de cada
como por exemplo o dever de não torturar um Casa, em dois turnos, isto é, pelo procedimento pre-
indivíduo. visto no art. 5º, § 3º, da Constituição.
d) em face dos direitos constantes no texto, cada b) O Tratado do Livro Acessível define as expressões
Estado- parte deve respeitar e assegurar o livre e “obras”, “exemplar em formato acessível” e “entidade
pleno exercício desses direitos e liberdades, sem autorizada”.
qualquer discriminação. c) O Tratado do Livro Acessível não limita os direitos de
propriedade intelectual de autores e editores.
15. (FUMARC — 2018) Sobre a Política Nacional de d) O tratado tem por destinatários todas as pessoas: a)
Direitos Humanos do Brasil, é correto afirmar: cegas; b) que tenham uma deficiência visual ou outra
incapacidade de percepção ou de leitura que não pos-
a) A elaboração dos Programas Nacionais de Direi- sa ser corrigida para se obter uma acuidade visual
tos Humanos decorreu de recomendação feita na substancialmente equivalente à de uma pessoa que
Conferência Mundial de Direitos Humanos de Vie- não tenha esse tipo de deficiência ou dificuldade, e
na (1993). para quem é impossível ler material impresso de uma
b) As diretrizes contidas no PNDH-2 e no PNDH-3 forma substancialmente equivalente à de uma pes-
têm força normativa. soa sem essa deficiência ou dificuldade;
c) No Brasil, já foram aprovados três Programas e) que estejam impossibilitadas, de qualquer outra maneira,
Nacionais de Direitos Humanos, sendo: PNDH-1, devido a uma incapacidade física, de sustentar ou mani-
no governo Fernando Henrique Cardoso; PNDH-2, pular um livro ou focar ou mover os olhos da forma que
no governo Luiz Inácio Lula da Silva; PNDH-3, no normalmente seria apropriado para a leitura.
governo Dilma Rousseff.
d) O PNDH-3 carece de diretriz a respeito da profis- 19. (FUMARC — 2018) A Declaração Universal dos Direitos
sionalização da investigação de atos criminosos. Humanos, retomando os ideais da Revolução Francesa,
representou a manifestação histórica de que se forma-
16. (FUMARC — 2013) Quanto à política de atendimen- ra, enfim, em âmbito universal, o reconhecimento dos
to ao idoso prevista na Lei 10.741/2003 – Estatuto valores supremos da igualdade, da liberdade e da frater-
do Idoso, é incorreto afirmar que nidade. Em decorrência disso, os direitos fundamentais
expressos na Constituição Federal de 1988:
a) prioriza o abrigo em entidade pública ou privada.
b) prevê proteção jurídico- social por entidades de a) como na Declaração Universal dos Direitos Humanos,
defesa dos direitos dos idosos. esses direitos fundamentais são considerados uma
c) estabelece políticas e programas de assistên- recomendação sem força vinculante, uma etapa preli-
cia social, em caráter supletivo, para aqueles que minar para ulterior implementação na medida em que
406 necessitarem. a sociedade se desenvolver.
b) não consideram as diferenças humanas como fonte
de valores positivos a serem protegidos e estimula-
ANOTAÇÕES
dos, pois, ao criar dispositivos afirmativos legais, as
diferenças passam a ser tratadas como deficiências.
c) obrigam que o princípio da solidariedade seja interpre-
tado com a base dos direitos econômicos e sociais, que
são exigências elementares de proteção às classes ou
aos grupos sociais mais fracos ou necessitados.
d) tratam a liberdade como um princípio político e não
individual, pois o reconhecimento de liberdades indi-
viduais em sociedades complexas esconde a domina-
ção oligárquica dos mais ricos.
9 GABARITO
1 B
2 C
3 C
4 B
5 D
6 A
7 B
8 B
9 A
10 C
11 D
12 C
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
13 D
14 D
15 A
16 A
17 D
18 C
19 C
20 A
407
ANOTAÇÕES
408
z Visão de Tarefas: permite alternar entre os pro-
gramas em execução e abre novas áreas de traba-
lho. Seu atalho de teclado é: Windows+TAB.
z Microsoft Edge: navegador de Internet padrão do
Windows 10. Ele está configurado com o buscador
NOÇÕES DE padrão Microsoft Bing, mas pode ser alterado.
z Microsoft Loja: loja de app’s para o usuário baixar
INFORMÁTICA novos aplicativos para Windows.
z Windows Mail: aplicativo para correio eletrôni-
co, que carrega as mensagens da conta Microsoft
e pode se tornar um hub de e-mails com adição de
outras contas.
SISTEMA OPERACIONAL WINDOWS 10 z Barra de Acesso Rápido: ícones fixados de pro-
gramas para acessar rapidamente.
NOÇÕES DE SISTEMA OPERACIONAL WINDOWS: z Fixar itens: em cada ícone, ao clicar com o botão
WINDOWS 10 direito (secundário) do mouse, será mostrado o
menu rápido, que permite fixar arquivos abertos
O sistema operacional Windows foi desenvolvido recentemente e fixar o ícone do programa na bar-
pela Microsoft para computadores pessoais (PC) em ra de acesso rápido.
meados dos anos 80, oferecendo uma interface gráfi- z Central de Ações: centraliza as mensagens de
ca baseada em janelas, com suporte para apontadores segurança e manutenção do Windows, como as
como mouses, touch pad (área de toque nos portáteis), atualizações do sistema operacional. Atalho de
canetas e mesas digitalizadoras. teclado: Windows+A (Action). A Central de Ações
Atualmente, o Windows é oferecido na versão 10, não precisa ser carregada pelo usuário, ela é car-
que possui suporte para os dispositivos apontadores regada automaticamente quando o Windows é
tradicionais, além de tela touch screen e câmera (para inicializado.
acompanhar o movimento do usuário, como no siste- z Mostrar área de trabalho: visualizar rapidamen-
ma Kinect do videogame Xbox). te a área de trabalho, ocultando as janelas que
Em concursos públicos, as novas tecnologias e estejam em primeiro plano. Atalho de teclado:
suportes avançados são raramente questionados. As Windows+D (Desktop).
z Bloquear o computador: com o atalho de tecla-
questões aplicadas nas provas envolvem os concei-
do Windows+L (Lock), o usuário pode bloquear o
tos básicos e o modo de operação do sistema opera-
computador. Poderá bloquear pelo menu de con-
cional em um dispositivo computacional padrão (ou
trole de sessão, acionado pelo atalho de teclado
tradicional).
Ctrl+Alt+Del.
O sistema operacional Windows é um software
z Gerenciador de Tarefas: para controlar os aplica-
proprietário, ou seja, não tem o núcleo (kernel) dispo-
tivos, processos e serviços em execução. Atalho de
nível e o usuário precisa adquirir uma licença de uso
teclado: Ctrl+Shift+Esc.
da Microsoft.
z Minimizar todas as janelas: com o atalho de
O Windows 10 apresenta algumas novidades em teclado Windows+M (Minimize), o usuário pode
relação às versões anteriores, como assistente virtual, minimizar todas as janelas abertas, visualizando
navegador de Internet, locais que centralizam infor- a área de trabalho.
mações etc. z Criptografia com BitLocker: o Windows oferece o
sistema de proteção BitLocker, que criptografa os
z Botão Iniciar: permite acesso aos aplicativos ins- dados de uma unidade de disco, protegendo contra
talados no computador, com os itens recentes no acessos indevidos. Para uso no computador, uma
início da lista e os demais itens classificados em chave será gravada em um pendrive, e para aces-
ordem alfabética. Combina os blocos dinâmicos e sar o Windows, ele deverá estar conectado.
estáticos do Windows 8 com a lista de programas z Windows Hello: sistema de reconhecimento facial
do Windows 7. ou biometria, para acesso ao computador sem a
z Pesquisar: com novo atalho de teclado, a opção necessidade de uso de senha.
pesquisar permite localizar, a partir da digitação z Windows Defender: aplicação que integra recur-
de termos, itens no dispositivo, na rede local e na sos de segurança digital, como o firewall, antivírus
Internet. Para facilitar a ação, tem-se o seguinte e antispyware.
atalho de teclado: Windows+S (Search).
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
z Cortana: assistente virtual. Auxilia em pesquisas O botão direito do mouse aciona o menu de con-
de informações no dispositivo, na rede local e na texto, sempre.
Internet.
CONCEITO DE PASTAS, DIRETÓRIOS, ARQUIVOS E
ATALHOS
Importante!
No Windows 10, os diretórios são chamados de
A assistente virtual Cortana é uma novidade do
pastas e algumas pastas são especiais, contendo cole-
Windows 10 que está aparecendo em provas ções de arquivos que são chamadas de Bibliotecas. Ao
de concursos com regularidade. Semelhante todo são quatro Bibliotecas: Documentos, Imagens,
ao Google Assistente (Android), Siri (Apple) e Músicas e Vídeos. O usuário poderá criar Bibliotecas
Alexa (Amazon), essa integra recursos de aces- para sua organização pessoal, uma vez que elas oti-
sibilidade por voz para os usuários do sistema mizam a organização dos arquivos e pastas, inserindo
operacional. apenas ligações para os itens em seus locais originais. 409
Pasta com Pasta sem Pasta vazia
subpasta subpasta
O sistema de arquivos NTFS (New Technology File System) armazena os dados dos arquivos em localizações
dos discos de armazenamento. Por sua vez, os arquivos possuem nome e podem ter extensões.
O sistema de arquivos NFTS suporta unidades de armazenamento de até 256 TB (terabytes, trilhões de bytes)
O FAT32 suporta unidades de até 2 TB.
Antes de prosseguir, vamos conhecer estes conceitos.
Trilhas Circunferência do disco físico (como um hard disk HD ou unidades removíveis ópticas)
Clusters Unidades de armazenamento no disco, identificado pela trilha e setor onde se encontra
Pastas ou diretórios Estrutura lógica do sistema de arquivos para organização dos dados na unidade de disco
Pode identificar o tipo de arquivo, associando com um software que permita visualização
Extensão
e/ou edição. As pastas podem ter extensões como parte do nome
Arquivos especiais, que apontam para outros itens computacionais, como unidades, pas-
Atalhos tas, arquivos, dispositivos, sites na Internet, locais na rede etc. Os ícones possuem uma
seta, para diferenciar dos itens originais
O disco de armazenamento de dados tem o seu tamanho identificado em Bytes. São milhões, bilhões e até tri-
lhões de bytes de capacidade. Os nomes usados são do Sistema Internacional de Medidas (SI) e estão listados na
escala a seguir.
Exabyte
(EB)
Petabyte
(PB)
Terabyte
(TB)
Gigabyte trilhão
Megabyte (GB)
(MB) bilhão
Kilobyte
milhão
(KB) mil
Byte
(B)
Ainda não temos discos com capacidade na ordem de Petabytes (PB — quatrilhão de bytes) vendidos comer-
cialmente, mas quem sabe um dia... Hoje, essas medidas muito altas são usadas para identificar grandes volumes
de dados na nuvem, em servidores de redes, em empresas de dados etc.
Vamos falar um pouco sobre Bytes: 1 Byte representa uma letra, ou número, ou símbolo. Ele é formado por
8 bits, que são sinais elétricos (que vale zero ou um). Os dispositivos eletrônicos utilizam o sistema binário para
representação de informações.
A palavra “Nova”, quando armazenada no dispositivo, ocupará 4 bytes. São 32 bits de informação gravada na
memória.
A palavra “Concursos” ocupará 9 bytes, que são 72 bits de informação.
Os bits e bytes estão presentes em diversos momentos do cotidiano. Um plano de dados de celular oferece um
410 pacote de 5 GB, ou seja, poderá transferir até 5 bilhões de bytes no período contratado.
A conexão Wi-Fi de sua residência está operando z Atalhos
em 150 Mbps, ou 150 megabits por segundo, que são
18,75 MB por segundo, e um arquivo com 75 MB de Arquivos que indicam outro local: Extensão
tamanho levará 4 segundos para ser transferido do LNK, podem ser criados arrastando o item com
seu dispositivo para o roteador wireless. ALT ou CTRL+SHIFT pressionado.
z Drivers
Importante!
Arquivos de configuração: Extensão DLL e
O tamanho dos arquivos no Windows 10 é exi- outras, usadas para comunicação do software
bido em modo de visualização de Detalhes, nas com o hardware
Propriedades (botão direito do mouse, menu de
contexto) e na barra de status do Explorador de O Windows 10 usa o Explorador de Arquivos (que
antes era Windows Explorer) para o gerenciamento
Arquivos. Poderão ter as unidades KB, MB, GB,
de pastas e arquivos. Ele é usado para as operações
TB, indicando quanto espaço ocupam no disco de manipulação de informações no computador,
de armazenamento. desde o básico (formatar discos de armazenamento)
até o avançado (organizar coleções de arquivos em
Bibliotecas).
Quando os computadores pessoais foram apresen- O atalho de teclado Windows+E pode ser acionado
tados para o público, a árvore foi usada como analo- para executar o Explorador de Arquivos.
gia para explicar o armazenamento de dados, criando Como o Windows 10 está associado a uma con-
o termo “árvore de diretórios”. ta Microsoft (e-mail Live, ou Hotmail, ou MSN, ou
Outlook), o usuário tem disponível um espaço de
armazenamento de dados na nuvem Microsoft One-
Documentos
Drive. No Explorador de Arquivos, no painel do lado
Imagens Folhas
direito, o ícone OneDrive sincroniza os itens com a
Músicas Flores
nuvem. Ao inserir arquivos ou pastas no OneDrive,
Vídeos Frutos
eles serão enviados para a nuvem e sincronizados
com outros dispositivos que estejam conectados na
mesma conta de usuário.
Pastas e subpastas Tronco e galhos Os atalhos são representados por ícones com uma
seta no canto inferior esquerdo, e podem apontar para
um arquivo, pasta ou unidade de disco. Os atalhos são
independentes dos objetos que os referenciam, por-
tanto, se forem excluídos, não afetam o arquivo, pasta
Diretório raiz Raiz ou unidade de disco que estão apontando.
Podemos criar um atalho de várias formas
diferentes:
Árvore de diretórios
z Arrastar um item segurando a tecla Alt no teclado,
No Windows 10, a organização segue a seguinte e ao soltar, o atalho é criado;
definição: z No menu de contexto (botão direito) escolha
“Enviar para... Área de Trabalho (criar atalho);
z Um atalho para uma pasta cujo conteúdo está sen-
z Pastas
do exibido no Explorador de Arquivos pode ser
criado na área de trabalho arrastando o ícone da
Estruturas do sistema operacional: Arquivos pasta, mostrado na barra de endereços e soltando-
de Programas (Program Files), Usuários (Users), -o na área de trabalho.
Windows. A primeira pasta da undiade é cha-
mada raiz (da árvore de diretórios), represen- Arquivos ocultos, arquivos de sistema, arquivos
tada pela barra invertida: Documentos (Meus somente leitura... os atributos dos itens podem ser
Documentos), Imagens (Minhas Imagens), definidos pelo item Propriedades no menu de con-
Vídeos (Meus Vídeos), Músicas (Minhas Músi- texto. O Explorador de Arquivos pode exibir itens que
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Na área de trabalho podemos encontrar Ícones e estes podem ser ocultados se o usuário escolher “Ocultar
ícones da área de trabalho” no menu de contexto (botão direito do mouse, Exibir). Os ícones representam atalhos,
arquivos, pastas, unidades de discos e componentes do Windows (como Lixeira e Computador).
No canto inferior esquerdo encontraremos o botão Iniciar, que pode ser acionado pela tecla Windows ou pela
combinação de teclas Ctrl+Esc. Ao ser acionado, o menu Iniciar será apresentado na interface de blocos que sur-
giu com o Windows 8, interface Metro.
A ideia do menu Iniciar é organizar todas as opções instaladas no Windows 10, como acessar Configurações
(antigo Painel de Controle), programas instalados no computador, apps instalados no computador a partir da
Windows Store (loja de aplicativos da Microsoft) etc.
Ao lado do botão Iniciar encontramos a caixa de pesquisas (Cortana). Com ela, poderemos digitar ou ditar o
nome do recurso que estamos querendo executar e o Windows 10 apresentará a lista de opções semelhantes na
área de trabalho e a possibilidade de buscar na Internet. Além da digitação, podemos falar o que estamos queren-
do procurar, clicando no microfone no canto direito da caixa de pesquisa.
A seguir, temos o item Visão de Tarefas sendo uma novidade do Windows 10, que permite visualizar os dife-
rentes aplicativos abertos (como o atalho de teclado Alt+Tab clássico) e alternar para outra Área de Trabalho. O
atalho de teclado para Visão de Tarefas é Windows+Tab.
Enquanto no Windows 7 só temos uma Área de Trabalho, o Windows 10 permite trabalhar com várias áreas de
trabalho independentes, onde os programas abertos em uma não interfere com os programas abertos em outra.
A seguir, a tradicional Barra de Acesso Rápido, que organiza os aplicativos mais utilizados pelo usuário, per-
mitindo o acesso rápido, tanto por clique no mouse, como por atalhos (Windows+1 para o primeiro, Windows+2
para o segundo programa etc.) e também pelas funcionalidades do Aero (como o Aero Peek, que mostrará minia-
turas do que está em execução, e consequente transparência das janelas).
A Área de Notificação mostrará a data, hora, mensagens da Central de Ações (de segurança e manutenção),
processos em execução (aplicativos de segundo plano) etc. Atalho de teclado: Windows+B.
Por sua vez, em “Mostrar Área de Trabalho”, o atalho de teclado Windows+D mostrará a área de trabalho ao
primeiro clique e mostrará o programa que estava em execução ao segundo clique. Se a opção “Usar Espiar para
visualizar a área de trabalho ao posicionar o ponteiro do mouse no botão Mostrar Área de Trabalho na extremida-
de da barra de tarefas” estiver ativado nas Configurações da Barra de Tarefas, não será necessário clicar. Bastará
apontar para visualizar a Área de Trabalho.
Uma novidade do Windows 10 foi a incorporação dos Blocos Dinâmicos (que antes estavam na interface Metro
do Windows 8 e 8.1) no menu Iniciar. Os blocos são os aplicativos fixados no menu Iniciar. Se quiser ativar ou
desativar, pressione e segure o aplicativo (ou clique com o botão direito do mouse) que mostra o bloco dinâmico
e selecione Ativar bloco dinâmico ou Desativar bloco dinâmico.
412
Navegador padrão
do Windows 10 Atalhos
Itens Excluídos
Barra de Tarefas
Mostrar área de trabalho agora está no canto inferior direito, ao lado do relógio, na área de notificação da
Barra de Tarefas. O atalho continua o mesmo: Win+D (Desktop)
Aplicativos fixados na Barra de Tarefas são ícones que permanecem em exibição todo o tempo.
Aplicativo que está em execução 1 vez apresentará no computador um pequeno traço azul abaixo do ícone.
Aplicativo que está em execução mais de 1 vez apresentará no computador um pequeno traço segmentado
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
azul no ícone.
1 +1 não está em
execução execução execução
413
ÁREA DE TRANSFERÊNCIA
Um dos itens mais importantes do Windows não é visível como um ícone ou programa. A Área de Transfe-
rência é um espaço da memória RAM, que armazena uma informação de cada vez. A informação armazenada
poderá ser inserida em outro local, e ela acaba trabalhando em praticamente todas as operações de manipulação
de pastas e arquivos.
No Windows 10, se quiser visualizar o conteúdo da Área de Transferência, acione o atalho de teclado Windo-
ws+V (View).
Ao acionar o atalho de teclado Ctrl+C (Copiar), estamos copiando o item para a memória RAM, para ser inse-
rido em outro local, mantendo o original e criando uma cópia.
Ao acionar o atalho de teclado PrintScreen, estamos copiando uma “foto da tela inteira” para a Área de Trans-
ferência, para ser inserida em outro local, como em um documento do Microsoft Word ou edição pelo acessório
Microsoft Paint.
Ao acionar o atalho de teclado Alt+PrintScreen, estamos copiando uma “foto da janela atual” para a Área de
Transferência, desconsiderando outros elementos da tela do Windows.
Ao acionar o atalho de teclado Ctrl+V (Colar), o conteúdo que está armazenado na Área de Transferência será
inserido no local atual.
Dica
As três teclas de atalhos mais questionadas em questões do Windows são Ctrl+X, Ctrl+C e Ctrl+V, que acio-
nam os recursos da Área de Transferência.
As ações realizadas no Windows, em sua quase totalidade, podem ser desfeitas ao acionar o atalho de teclado
Ctrl+Z imediatamente após a sua realização. Por exemplo, ao excluir um item por engano, e pressionar Del ou
Delete, o usuário pode acionar Ctrl+Z (Desfazer) para restaurar ele novamente, sem necessidade de acessar a
Lixeira do Windows.
E outras ações podem ser repetidas, acionando o atalho de teclado Ctrl+Y (Refazer), quando possível.
Para obter uma imagem de alguma janela em exibição, além dos atalhos de teclado PrintScreen e Alt+PrintS-
creen, o usuário pode usar o recurso Instantâneo, disponível nos aplicativos do Microsoft Office.
Outra forma de realizar esta atividade é usar a Ferramenta de Captura (Captura e Esboço), disponível no
Windows.
Mas se o usuário quer apenas gravar a imagem capturada, poderá fazer com o atalho de teclado Windo-
ws+PrintScreen, que salva a imagem em um arquivo na pasta “Capturas de Tela”, na Biblioteca de Imagens.
A área de transferência é um dos principais recursos do Windows, que permite o uso de comandos, realização
de ações e controle das ações que serão desfeitas.
Ao nomear arquivos e pastas, algumas regras precisam ser conhecidas para que a operação seja realizada com
sucesso.
z O Windows não é case sensitive. Ele não faz distinção entre letras minúsculas ou letras maiúsculas. Um arquivo
chamado documento.docx será considerado igual ao nome Documento.DOCX.
z O Windows não permite que dois itens tenham o mesmo nome e a mesma extensão quando estiverem arma-
zenados no mesmo local.
z O Windows não aceita determinados caracteres nos nomes e extensões. São caracteres reservados para outras
operações, que são proibidos na hora de nomear arquivos e pastas. Os nomes de arquivos e pastas podem ser
compostos por qualquer caractere disponível no teclado, exceto os caracteres * (asterisco, usado em buscas),
? (interrogação, usado em buscas), / (barra normal, significa opção), | (barra vertical, significa concatenador
de comandos), \ (barra invertida, indica um caminho), “ (aspas, abrange textos literais), : (dois pontos, significa
unidade de disco), < (sinal de menor, significa direcionador de entrada) e > (sinal de maior, significa direcio-
nador de saída).
z Existem termos que não podem ser usados, como CON (console, significa teclado), PRN (printer, significa
impressora) e AUX (indica um auxiliar), por referenciar itens de hardware nos comandos digitados no Prompt
de Comandos (por exemplo, para enviar para a impressora um texto através da linha de comandos, usamos
TYPE TEXTO.TXT > PRN).
Entre os caracteres proibidos, o asterisco é o mais conhecido. Ele pode ser usado para substituir de zero à N
caracteres em uma pesquisa, tanto no Windows como nos sites de busca na Internet.
As ações realizadas pelos usuários em relação à manipulação de arquivos e pastas pode estar condicionada ao
local onde ela é efetuada, ou ao local de origem e destino da ação. Portanto, é importante verificar no enunciado
da questão, geralmente no texto associado, esses detalhes que determinarão o resultado da operação.
As operações podem ser realizadas com atalhos de teclado, com o mouse, ou com a combinação de ambos. As
bancas organizadoras costumam questionar ações práticas nas provas e, na maioria das vezes utilizam imagens
414 nas questões.
OPERAÇÕES COM TECLADO
Atalhos de teclado Resultado da operação
Ctrl+X e Ctrl+V
Não é possível recortar e colar na mesma pasta. Será exibida uma mensagem de erro
na mesma pasta
Ctrl+X e Ctrl+V
Recortar (da origem) e colar (no destino). O item será movido
em locais diferentes
Ctrl+C e Ctrl+V Copiar e colar. O item será duplicado. A cópia receberá um sufixo (Copia) para diferen-
na mesma pasta ciar do original
Ctrl+C e Ctrl+V Copiar (da origem) e colar (no destino). O item será duplicado, mantendo o nome e
em locais diferentes extensão
Tecla Delete em um item do Deletar, apagar, enviar para a Lixeira do Windows, podendo recuperar depois, se o item
disco rígido estiver em um disco rígido local interno ou externo conectado na CPU
Tecla Delete em um item do Será excluído definitivamente. A Lixeira do Windows não armazena itens de unidades
disco removível removíveis (pendrive), ópticas ou unidades remotas
Shift+Delete Independentemente do local onde estiver o item, ele será excluído definitivamente
Renomear. Trocar o nome e a extensão do item. Se houver outro item com o mesmo
F2 nome no mesmo local, um sufixo numérico será adicionado para diferenciar os itens.
Não é permitido renomear um item que esteja aberto na memória do computador
Lixeira
Um dos itens mais questionados em concursos públicos é a Lixeira do Windows. Ela armazena os itens que
foram excluídos de discos rígidos locais, internos ou externos conectados na CPU.
Ao pressionar o atalho de teclado Ctrl+D, ou a tecla Delete (DEL), o item é removido do local original e arma-
zenado na Lixeira.
Quando o item está na Lixeira, o usuário pode escolher a opção Restaurar, para retornar ele para o local
original. Se o local original não existe mais, pois suas pastas e subpastas foram removidas, a Lixeira recupera o
caminho e restaura o item.
Os itens armazenados na Lixeira poderão ser excluídos definitivamente, escolhendo a opção “Esvaziar Lixei-
ra” no menu de contexto ou faixa de opções da Lixeira.
Quando acionamos o atalho de teclado Shift+Delete, o item será excluído definitivamente. Pelo Windows, itens
excluídos definitivamente ou apagados após esvaziar a Lixeira não poderão ser recuperados. É possível recuperar
com programas de terceiros, mas isso não é considerado no concurso, que segue a configuração padrão.
Os itens que estão na Lixeira podem ser arrastados com o mouse para fora dela, restaurando o item para o
local onde o usuário liberar o botão do mouse.
A Lixeira do Windows tem o seu tamanho definido em 10% do disco rígido ou 50 GB. O usuário poderá alterar
o tamanho máximo reservado para a Lixeira, poderá desativar ela excluindo os itens diretamente e configurar
Lixeiras individuais para cada disco conectado.
415
OPERAÇÕES COM TECLADO E MOUSE
Arrastar com o botão principal pressionado um item com O item será copiado, quando a tecla CTRL for liberada, in-
a tecla CTRL pressionada dependente da origem ou do destino da ação
Arrastar com o botão principal pressionado um item com O item será movido, quando a tecla SHIFT for liberada, in-
a tecla SHIFT pressionada dependente da origem ou do destino da ação
Arrastar com o botão principal pressionado um item com Será criado um atalho para o item, independente da ori-
a tecla ALT pressionada (ou CTRL+SHIFT) gem ou do destino da ação
Extensões de Arquivos
O Windows 10 apresenta ícones que representam arquivos, de acordo com a sua extensão. A extensão carac-
teriza o tipo de informação que o arquivo armazena. Quando um arquivo é salvo, uma extensão é atribuída para
ele, de acordo com o programa que o criou. É possível alterar essa extensão, porém, corremos o risco de perder
o acesso ao arquivo, que não será mais reconhecido diretamente pelas configurações definidas em Programas
Padrão do Windows.
Importante!
Existem arquivos sem extensão, como itens do sistema operacional. Ela é opcional e procura associar o
arquivo com um programa para visualização ou edição. Se o arquivo não possui extensão, o usuário não
conseguirá executá-lo, por se tratar de conteúdo de uso interno do sistema operacional (que não deve ser
manipulado).
Confira na tabela a seguir algumas das extensões e ícones mais comuns em provas de concursos.
Adobe Acrobat. Pode ser criado e editado pelos aplicativos Office. Formato de documento
PDF
portável (Portable Document Format) que poderá ser visualizado em várias plataformas
Documento de textos do Microsoft Word. Textos com formatação que podem ser editados
DOCX
pelo LibreOffice Writer
Pasta de trabalho do Microsoft Excel. Planilhas de cálculos que podem ser editadas pelo
XLSX
LibreOffice Calc
Apresentação de slides do Microsoft PowerPoint, que poderá ser editada pelo LibreOffice
PPTX
Impress
Texto sem formatação. Formato padrão do acessório Bloco de Notas. Poderá ser aberto por
TXT
vários programas do computador
Rich Text Format (formato de texto rico). Padrão do acessório WordPad, este documento de
RTF
texto possui alguma formatação, como estilos de fontes
MP4, AVI, Formato de vídeo. Quando o Windows efetua a leitura do conteúdo, exibe no ícone a miniatura
MPG do primeiro quadro. No Windows 10, Filmes e TV reproduzem os arquivos de vídeo
416
EXTENSÃO ÍCONE FORMATO
Formato de áudio. O Gravador de Som pode gravar o áudio. O Windows Media Player e o
MP3
Groove Music podem reproduzir o som
BMP, GIF,
Formato de imagem. Quando o Windows efetua a leitura do conteúdo, exibe no ícone a miniatura
JPG, PCX,
da imagem. No Windows 10, o acessório Paint visualiza e edita os arquivos de imagens
PNG, TIF
Formato ZIP, padrão do Windows para arquivos compactados. Não necessita de programas
ZIP
adicionais, como o formato RAR que exige o WinRAR
Biblioteca de ligação dinâmica do Windows. Arquivo que contém informações que podem ser
DLL
usadas por vários programas, como uma caixa de diálogo
EXE, COM,
Arquivos executáveis, que não necessitam de outros programas para serem executados
BAT
Uma das extensões menos conhecidas e mais questionadas das bancas é a extensão RTF. Rich Text Format, uma
tentativa da Microsoft em criar um padrão de documento de texto com alguma formatação para múltiplas plata-
formas. A extensão RTF pode ser aberta pelos programas editores de textos, como o Microsoft Word e LibreOffice
Writer, e é padrão do acessório do Windows WordPad.
Se o usuário quiser, pode acessar Configurações (atalho de teclado Windows+I) e modificar o programa padrão.
Alterando essa configuração, o arquivo será visualizado e editado por outro programa de escolha do usuário.
As Configurações do Windows e dos programas instalados estão armazenadas no Registro do Windows. O
arquivo do registro do Windows pode ser editado pelo comando regedit.exe, acionado na caixa de diálogo “Exe-
cutar”. Entretanto, não devemos alterar suas hives (chaves de registro) sem o devido conhecimento, pois poderá
inutilizar o sistema operacional.
No Windows 10, Configurações é o Painel de Controle. A troca do nome alterou a organização dos itens de ajus-
tes do Windows, tornando-se mais simples e intuitivo.
Através deste item o usuário poderá instalar e desinstalar programas e dispositivos, configurar o Windows,
além de outros recursos administrativos.
Por meio do ícone Rede e Internet do Windows 10, acessado pela opção Configurações, localizada na lista exibi-
da a partir do botão Iniciar, é possível configurar VPN, Wi‐Fi, modo avião, entre outros. VPN/ Wi-Fi/ Modo avião/
Status da rede/ Ethernet/ Conexão discada/ Hotspot móvel/ Uso de dados/ Proxy.
Modo Avião é uma configuração comum em smartphones e tablets que permite desativar, de maneira rápida,
a comunicação sem fio do aparelho — que inclui Wi‑Fi, Bluetooth, banda larga móvel, GPS, GNSS, NFC e todos os
demais tipos de uso da rede sem fio.
No Explorador de Arquivos do Windows 10, ao exibir os detalhes dos arquivos, é possível visualizar informa-
ções, como, por exemplo, a data de modificação e o tamanho de cada arquivo.
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Um dos temas mais questionado em provas anteriores são os modos de exibição do Windows. Se tem um
computador com Windows 10, procure visualizar os modos de exibição no seu Explorador de Arquivos. Praticar
a disciplina no computador ajuda na memorização dos recursos.
1. Barra de menus
6. Barra de Rolagem
1. Barra de menus: são apresentados os menus com os respectivos serviços que podem ser executados no
aplicativo.
2. Barra ou linha de título: mostra o nome do arquivo e o nome do aplicativo que está sendo executado na jane-
la. Através dessa barra, conseguimos mover a janela quando a mesma não está maximizada. Para isso, clique
na barra de título, mantenha o clique e arraste e solte o mouse. Assim, você estará movendo a janela para a
posição desejada. Depois é só soltar o clique.
3. Botão minimizar: reduz uma janela de documento ou aplicativo para um ícone. Para restaurar a janela para
seu tamanho e posição anteriores, clique neste botão ou clique duas vezes na barra de títulos.
4. Botão maximizar: aumenta uma janela de documento ou aplicativo para preencher a tela. Para restaurar a
janela para seu tamanho e posição anteriores, clique neste botão ou clique duas vezes na barra de títulos.
5. Botão fechar: fecha o aplicativo ou o documento. Solicita que você salve quaisquer alterações não salvas antes
de fechar. Alguns aplicativos, como os navegadores de Internet, trabalham com guias ou abas, que possui o seu
próprio controle para fechar a guia ou aba. Atalho de teclado Alt+F4.
6. Barras de rolagem: as barras sombreadas ao longo do lado direito (e inferior de uma janela de documento).
Para deslocar-se para outra parte do documento, arraste a caixa ou clique nas setas da barra de rolagem.
No Windows 10, tanto pelo Explorador de Arquivos como pelo menu Iniciar, encontramos as opções para
gerenciamento de arquivos, pastas e configurações.
O Windows 10 disponibiliza listas de atalho como recurso que permite o acesso direto a sítios, músicas, docu-
mentos ou fotos. O conteúdo dessas listas está diretamente relacionado com o programa ao qual elas estão asso-
ciadas. O recurso de Lista de Atalhos, novidade do Windows 7 que foi mantida nas versões seguintes, possibilita
organizar os arquivos abertos por um aplicativo ao ícone do aplicativo, com a possibilidade ainda de fixar o item
na lista.
No Explorador de Arquivos do Windows 10, os menus foram trocados por guias, semelhante ao Microsoft Offi-
ce. Ao pressionar ALT, nenhum menu escondido será mostrado (como no Windows 7), mas os atalhos de teclado
para as guias Arquivo, Início, Compartilhar e Exibir.
O botão direito do mouse exibe a janela pop-up chamada “Menu de Contexto”. Em cada local que for clicado,
uma janela diferente será mostrada.
418 As opções exibidas no menu de contexto contêm as ações permitidas para o item clicado naquele local.
Através do menu de contexto da área de trabalho, podemos criar nova pasta (Ctrl+Shift+N), novo Atalho, ou
novos arquivos (Imagem de bitmap [BMP Paint], Documento do Microsoft Word [DOCX Microsoft Word], Formato
Rich Text [RTF WordPad], Documento de Texto [TXT Bloco de Notas], Planilha do Microsoft Excel [XLSX Microsoft
Excel], Pasta Compactada [extensão ZIP], entre outros).
Dica
Arquivos de imagens são editados pelo acessório do Windows Microsoft Paint, que no Windows 10 oferece
a versão Paint 3D.
Cada item (pasta ou arquivo) armazena uma série de informações relacionadas a si próprio. Estas informa-
ções podem ser consultadas em Propriedades, acessado no menu de contexto, exibido quando clicar com o botão
direito do mouse sobre o item.
Ao clicar com o botão direito sobre o ícone da Lixeira, será mostrado o menu de contexto, e escolhendo “Esva-
ziar Lixeira”, os itens serão removidos definitivamente; utilizando o Windows, não haverá meio de recuperá-los.
PROGRAMAS E APLICATIVOS
Dica
Os acessórios do Windows são aplicativos nativos do sistema operacional, que estão disponíveis para utiliza-
ção mesmo que não existam outros programas instalados no computador. Os acessórios oferecem recursos
básicos para anotações, edição de imagens e edição de textos.
Na primeira categoria encontramos o Configurações (antigo Painel de Controle). Usado para realizar as confi-
gurações de software (programas) e hardware (dispositivos), permite alterar o comportamento do sistema opera-
cional, personalizando a experiência no Windows 7. No Windows 10 o Painel de Controle chama-se Configurações,
e pode ser acessado pelo atalho de teclado Windows+X no menu de contexto, ou diretamente pelo atalho de tecla-
do Windows+I.
Na segunda categoria, temos programas que realizam atividades e outros que produzem mais arquivos. Por
exemplo, a calculadora. É um acessório do Windows 10 que inclui novas funcionalidades em relação às versões
anteriores, como o cálculo de datas e conversão de medidas. Temos também as Notas Autoadesivas (como peque-
nos post-its na tela do computador).
Outros acessórios são o WordPad (para edição de documentos com alguma formatação), Bloco de Notas (para
edição de arquivos de textos), MSPaint (para edição de imagens) e Visualizador de Imagens (que permite ver uma
imagem e chamar o editor correspondente).
E, finalmente, as ferramentas do sistema. Desfragmentar e Otimizar Unidades1 (antigo Desfragmentador de
Discos, para organizar clusters2), Verificação de Erros (para procurar por erros de alocação), Backup do Windows
(para cópia de segurança dos dados do usuário) e Limpeza de Disco (para liberar espaço livre no disco).
Otimizar
WINDOWS 10 O QUE
Explorador de Arquivos Gerenciamento de arquivos e pastas do computador
Win+S Pesquisar
xBox (Games, músicas = Groove) Integração com xBox, modo multiplayer gratuito, streaming de jogos do xBox One
Windows Hello Autenticação biométrica permite logar no sistema sem precisar de senhas
Permite alternar de maneira fácil entre os modos de desktop e tablet, sendo ideal
Continuum
para dispositivos conversíveis
Com funcionamento análogo à Google Play Store e à Apple Store, o ambiente per-
Windows Store
mite comprar jogos, apps, filmes, músicas e programas de TV
Desktops virtuais O recurso permite visualizar dados de vários computadores em uma única tela
O modo tablet deixa o Windows mais fácil e intuitivo de usar com touch em dispo-
Modo tablet
sitivos tipo conversíveis
Compartilhar Wi-Fi Compartilhar sua rede Wi-Fi com os amigos sem revelar a senha
Complemento para Telefone Sincronizar dados entre seu PC e smartphone ou tablete, seja iOs ou Android
Cortana Assistente pessoal semelhante à Siri da Apple, que já está disponível em português
Quando você clica duas vezes em um arquivo, como, por exemplo, uma imagem ou documento, o arquivo
420 é aberto no programa que está definido como o “programa padrão” para esse tipo de arquivo no Windows 10.
Porém, se você gosta de usar outro programa para abrir o arquivo, você pode defini-lo como padrão. Disponível
em Configurações, Sistema, Aplicativos Padrão.
O Bloco de Notas (notepad.exe) é um acessório do Windows para edição de arquivos de texto sem formatação,
com extensão TXT.
O WordPad (wordpad.exe) é um acessório do Windows para edição de arquivos de texto com alguma formata-
ção, com extensão RTF e DOCX.
O WordPad se assemelha ao Microsoft Word, com recursos simplificados.
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
O Paint (mspaint.exe) é o acessório do Windows para edição de imagens BMP, GIF, JPG, PNG e TIF.
421
A Ferramenta de Captura é um aplicativo da área de trabalho do Windows 10 que permite copiar parte de
alguma tela em exibição.
Notas Autoadesivas (que agora se chama Stick Notes) é um aplicativo do Windows 10, que permite a inserção
de pequenas notas de texto na área de trabalho do Windows, como recados do tipo Post-It.
As Anotações podem ser vinculadas ao Microsoft Bing e assistente virtual Cortana. Assim, ao anotar um ende-
reço, o mapa é exibido. Ao anotar um número de voo, as informações serão mostradas sobre a partida.
O aplicativo “Filmes e TV” pode ser usado para visualização de vídeos, assim como o “Windows Media Player”.
O Prompt de Comandos (cmd.exe) é usado para digitar comandos em um terminal de comandos.
O Microsoft Edge é o navegador de Internet padrão do Windows 10. Podemos usar outros navegadores, como o
Internet Explorer 11, Mozilla Firefox, Google Chrome, Apple Safari, Opera Browser etc.
O Windows Update (verificar se há atualizações) é o recurso do Windows para manter ele sempre atualizado.
Está em Configurações (atalho de teclado Windows+I), Atualização e segurança.
z Os documentos de texto produzidos pelo Microsoft Word 2010 possuem a extensão DOCX.
z Os documentos de texto habilitados para macros3 possuem a extensão DOCM.
z Um modelo4 de documento é um arquivo que pode ser usado para criar novos arquivos a partir de uma for-
matação pré-estabelecida. A extensão é DOTX.
z Um modelo de documento habilitado para macros contém, além da formatação básica para criação de outros
documentos, comandos programados para automatização de tarefas. A extensão é DOTM.
z As pastas de trabalho produzidas pelo Microsoft Excel 2010 possuem a extensão XLSX.
z As pastas de trabalho habilitadas para macros possuem a extensão XLSM.
z As pastas de trabalho do tipo modelo possuem a extensão XLTX.
z As pastas de trabalho do tipo modelo habilitadas para macros possuem a extensão XLTM.
z O arquivo do Excel que contém os dados de uma planilha que não foi salva, que pode ser recuperada pelo
usuário, possui a extensão XLSB. (binário).
z O arquivo com extensão CSV (Comma Separated Values) contém textos separados por vírgula, que podem ser
importados pelo Excel, podem ser usados em mala direta do Word, incorporados a um banco de dados etc.
z Um arquivo com a extensão. contact é um contato, que pode ser usado no Outlook 2016.
z Arquivos compactados com extensão ZIP podem armazenar outros arquivos e pastas.
z Os arquivos compactados podem ser criados pelo menu de contexto, opção Enviar para, Pasta Compactada.
z Os arquivos de Internet, como páginas salvas, recebem a extensão HTML e uma pasta será criada para os
arquivos auxiliares (imagens, vídeos etc.).
z O conteúdo de arquivos do Office pode ser transferido para outros arquivos do próprio Office através da Área
de Transferência do Windows.
z O conteúdo formatado do Office poderá ser transferido para outros arquivos do Windows, mas a formatação
poderá ser perdida.
Dica
Os atalhos de teclado do Windows são de termos originais em inglês. Por serem atalhos de teclado do siste-
ma operacional, são válidos para os programas que estiverem sendo executados no Windows.
3 Macros são pequenos programas desenvolvidos dentro de arquivos do Office, para automatização de tarefas. Os códigos dos programas são
escritos em linguagem VBA (Visual Basic for Applications). Arquivos com macros podem conter vírus, e no momento da abertura, o programa
perguntará se o usuário deseja ativar ou não as macros.
422 4 Template = modelo de documento, planilha ou apresentação, com a formatação básica a ser usada no novo arquivo.
ATALHO AÇÃO
Alt+Esc Alterna para o próximo aplicativo em execução
Alt+Tab Exibe a lista dos aplicativos em execução
Backspace Volta para a pasta anterior, que estava sendo exibida no Explorador de Arquivos
Ctrl+A Selecionar tudo
Ctrl+C Copia o item (os itens) para a Área de Transferência
Ctrl+Esc Botão Início
Ctrl+E / Ctrl+F Pesquisar
Ctrl+Shift+Esc Gerenciador de Tarefas
Ctrl+V Cola o item (os itens) da Área de Transferência no local do cursor
Ctrl+X Move o item (os itens) para a Área de Transferência
Ctrl+Y Refazer
Desfaz a última ação. Se acabou de renomear um arquivo, ele volta ao nome original. Se acabou
Ctrl+Z
de apagar um arquivo, ele restaura para o local onde estava antes de ser deletado
Del Move o item para a Lixeira do Windows
F1 Exibe a ajuda
F11 Tela Inteira
Renomear, trocar o nome: dois arquivos com mesmo nome e mesma extensão não podem estar
F2 na mesma pasta, se já existir outro arquivo com o mesmo nome, o Windows espera confirmação,
símbolos especiais não podem ser usados, como / | \ ? * “ < > :
F3 Pesquisar, quando acionado no Explorador de Arquivos. Win+S fora dele
F5 Atualizar
Shift+Del Exclui definitivamente, sem armazenar na Lixeira
Win Abre o menu Início
Win+1 Acessa o primeiro programa da barra de tarefas
Win+2 Acessa o segundo programa da barra de tarefas
Win+B Acessa a Área de Notificação
Win+D Mostra o desktop (área de trabalho)
Win+E Abre o Explorador de Arquivos
Win+F Feedback – hub para comentários sobre o Windows
Win+I Configurações (Painel de Controle)
Win+L Bloquear o Windows (Lock, bloquear)
Win+M Minimiza todas as janelas e mostra a área de trabalho, retornando como estavam antes.
Selecionar o monitor/projetor que será usado para exibir a imagem, podendo repetir, estender ou
Win+P
escolher
Win+S Search, para pesquisas (substitui o Win+F)
Win+Tab Exibe a lista dos aplicativos em execução em 3D (Visão de Tarefas)
Win+X Menu de acesso rápido, exibido ao lado do botão Iniciar NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Os documentos produzidos com o editor de textos Microsoft Word possuem a seguinte estrutura básica:
z Documentos: arquivos DOCX criados pelo Microsoft Word 2007 e superiores. Os documentos são arquivos
editáveis pelo usuário, que podem ser compartilhados com outros usuários para edição colaborativa;
z Modelos (Template), com extensão DOTX, contêm formatações que serão aplicadas aos novos documentos
criados a partir dele. O modelo é usado para a padronização de documentos;
z O modelo padrão do Word é NORMAL.DOTM (Document Template Macros — modelo de documento com
macros). Os macros são códigos desenvolvidos em Visual Basic for Applications (VBA) para a automatização
de tarefas;
423
z Páginas: unidades de organização do texto, segundo a orientação, o tamanho do papel e margens. As princi-
pais definições estão na guia Layout, mas é possível encontrar algumas definições na guia Design.
z Seção: divisão de formatação do documento, onde cada parte tem a sua configuração. Sempre que forem usa-
das configurações diferentes, como margens, colunas, tamanho da página, orientação, cabeçalhos, numeração
de páginas, entre outras, as seções serão usadas.
z Parágrafos: formado por palavras e marcas de formatação. Finalizado com a tecla Enter, contem formatação
independente do parágrafo anterior e do parágrafo seguinte;
z Linhas: sequência de palavras que pode ser um parágrafo, ocupando uma linha de texto. Se for finalizado com
quebra de linha, a configuração atual permanece na próxima linha.
z Palavras: formado por letras, números, símbolos, caracteres de formatação etc.
Os arquivos produzidos nas versões anteriores do Word são abertos e editados nas versões atuais. Arquivos de
formato DOC são abertos em Modo de Compatibilidade, todavia, alguns recursos são suspensos. Para usar todos
os recursos da versão atual, é necessário “Salvar como” (tecla de atalho F12) no formato DOCX.
Os arquivos produzidos no formato DOCX poderão ser editados pelas versões antigas do Office, desde que ins-
tale um pacote de compatibilidade, disponível para download no site da Microsoft.
Os arquivos produzidos pelo Microsoft Office podem ser gravados no formato PDF. O Microsoft Word, desde a
versão 2013, possui um recurso que permite editar um arquivo PDF como se fosse um documento do Word.
Durante a edição de um documento, o Microsoft Word:
z Faz a gravação automática dos dados editados enquanto o arquivo não tem um nome ou local de armazena-
mento definidos. Depois, se necessário, o usuário poderá “Recuperar documentos não salvos”;
z Faz a gravação automática de auto recuperação dos arquivos em edição que tenham nome e local definidos,
permitindo recuperar as alterações que não tenham sido salvas;
z As versões do Office 365 oferecem o recurso de “Salvamento automático”, associado à conta Microsoft, para
armazenamento na nuvem Microsoft OneDrive. Como na versão on-line, a cada alteração, o salvamento será
realizado.
z O formato de documento RTF (Rich Text Format) é padrão do acessório do Windows chamado WordPad, e por
ser portável, também poderá ser editado pelo Microsoft Word.
Dica
Em questões de informática, as extensões dos arquivos produzidos pelo usuário costumam ser questionadas
com regularidade.
z Ao iniciar a edição de um documento, o modo de exibição selecionado na guia Exibir é “Layout de Impressão”.
O documento será mostrado na tela da mesma forma que será impresso no papel;
z O Modo de Leitura permite visualizar o documento sem outras distrações, como, por exemplo, a Faixa de
Opções com os ícones. Neste modo, parecido com Tela Inteira, a barra de título continua sendo exibida;
z O modo de exibição “Layout da Web” é usado para visualizar o documento como ele seria exibido se estivesse
publicado na Internet como página web;
z Em “Estrutura de Tópicos” apenas os estilos de Títulos serão mostrados, auxiliando na organização dos blocos
de conteúdo;
z O modo “Rascunho”, que antes era modo “Normal”, exibe o conteúdo de texto do documento sem os elementos
gráficos (imagens, cabeçalho, rodapé) existentes nele;
z Os modos de exibição estão na guia “Exibir”, que faz parte da Faixa de Opções. Ela é o principal elemento da
interface do Microsoft Office;
Guia atual
Acesso rápido
Item com listagem
Guias ou abas
z Para mostrar ou ocultar a Faixa de Opções, o atalho de teclado Ctrl+F1 poderá ser acionado;
424 z A Faixa de Opções contém guias, que organizam os ícones em grupos, como será mostrado na tabela a seguir:
GUIA GRUPO ITEM ÍCONE
Recortar
Copiar
Área de Transferência
Colar
Pincel de Formatação
Página Inicial
Nome da fonte
Tamanho da fonte
Fonte
Aumentar fonte
Diminuir fonte
Folha de Rosto
Quebra de Página
Imagem
Formas
As bancas priorizam o conhecimento do candidato acerca do uso dos recursos para a produção de arquivos
(parte prática dos programas). Nas questões de editores de textos, a produção de documentos formatados com
imagens ilustrativas no formato antes/depois são os assuntos mais abordados.
z As guias possuem uma organização lógica sequencial das tarefas que serão realizadas no documento, desde o
início até a visualização do resultado final, como veremos na tabela a seguir:
BOTÃO/GUIA DICA
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Arquivo Comandos para o documento atual: Salvar, salvar como, imprimir, salvar e enviar
Tarefas secundárias: Adicionar um objeto que ainda não existe no documento, tabela, ilustrações
Inserir
e instantâneos
Referências Índices e acessórios: Notas de rodapé, notas de fim, índices, sumários etc.
425
BOTÃO/GUIA DICA
Correspondên-
Mala direta: Cartas, envelopes, etiquetas, e-mails e diretório de contatos
cias
Correção do documento: Ele está ficando pronto... Ortografia e gramática, idioma, controle de
Revisão
alterações, comentários, comparar, proteger etc.
A edição e formatação de textos consiste em aplicar estilos, efeitos e temas, tanto nas fontes, como nos pará-
grafos e nas páginas.
Os estilos fornecem configurações padronizadas para serem aplicadas aos parágrafos. Essas formatações
envolvem as definições de fontes e parágrafos, sendo úteis para a criação dos índices ao final da edição do docu-
mento. Os índices são gerenciados por meio das opções da guia referências, que estão disponíveis, na Microsoft
Word, na guia Página Inicial.
Com a ferramenta Pincel de Formatação, o usuário poderá copiar a formatação de um local e aplicar em outro
local no mesmo documento, ou em outro arquivo aberto. Para usar a ferramenta, selecione o “modelo de formata-
ção no texto”, clique no ícone da guia Página Inicial e clique no local onde deseja aplicar a formatação. O conteúdo
não será copiado, somente a formatação. Se efetuar duplo clique no ícone, poderá aplicar a formatação em vários
locais até pressionar a tecla Esc ou iniciar uma digitação.
Seleção
Utilizando-se do teclado e do mouse, como no sistema operacional, podemos selecionar palavras, linhas, pará-
grafos e até o documento inteiro.
Assim como no Windows, as operações com mouse e teclado também são questionadas nos programas do
Microsoft Office. Entretanto, por terem conteúdos distintos (textos, planilhas e apresentações de slides), a seleção
poderá ser diferente para algumas ações.
Botão principal Shift Seleção bloco Seleção de um ponto até outro local
Botão principal
Ctrl+Alt Seleção bloco Seleção vertical
pressionado
Dica
Teclas de atalhos e seleção com mouse são importantes, tanto nos concursos como no dia a dia. Experimen-
te praticar no computador. No Microsoft Word, se você digitar =rand(10,30) no início de um documento em
branco e apertar Enter, ele criará um texto “aleatório” com 10 parágrafos de 30 frases em cada um. Nele, você
426 poderá praticar à vontade.
CABEÇALHOS
Localizado na margem superior da página, poderá ser configurado em Inserir, grupo Cabeçalho e Rodapé5.
Poderá ser igual em toda a extensão do documento, diferente nas páginas pares e ímpares (para frente e verso),
mesmo que a seção anterior, diferente para cada seção do documento, não aparecer na primeira página, entre
várias opções de personalização.
Os cabeçalhos aceitam elementos gráficos, como tabelas e ilustrações.
A formatação de cabeçalho e rodapé, é diferente entre os programas do Microsoft Office. No Microsoft Word o
cabeçalho tem 1 coluna. No Excel, são 3 colunas. No Microsoft PowerPoint... depende, podendo ter 2 ou 3 colunas.
A numeração de páginas poderá ser inserida no cabeçalho e/ou rodapé.
(Digite aqui)
PARÁGRAFOS
Os parágrafos são estruturas do texto que são finalizadas com Enter. Um parágrafo poderá ter diferentes for-
matações. Confira:
Os editores de textos, recursos que conhecemos no dia a dia, possuem nomes específicos. Confira alguns
exemplos:
Muitos recursos de formatação não são impressos no papel, mas estão no documento. Para visualizar os carac-
teres não imprimíveis e controlar melhor o documento, você pode acionar o atalho de teclado Ctrl+* (Mostrar tudo).
Ctrl+Shift+
Espaço em branco não separável
Espaço
- - Hifens opcionais
- - Âncoras de objetos
FONTES
As fontes são arquivos True Type Font (.TTF) gravadas na pasta Fontes do Windows, e aparecem para todos os
programas do computador.
428
As formatações de fontes estão disponíveis no grupo Fonte, da guia Página Inicial.
Nomes de fontes como Calibri (fonte padrão do Word), Arial, Times New Roman, Courier New, Verdana, são os
mais comuns. Para facilitar o acesso a essas fontes, o atalho de teclado é: Ctrl+Shift+F.
A caixa de diálogo Formatar Fonte poderá ser acionada com o atalho Ctrl+D.
Ao lado, um número indica o tamanho da fonte: 8, 9, 10, 11, 12, 14 e assim sucessivamente. Se quiser, digite o
valor específico para o tamanho da letra.
Vejamos, agora, alguns atalhos de teclado:
z Pressione Ctrl+Shift+P para mudar o tamanho da fonte pelo atalho. E diretamente pelo teclado com Ctrl+Shift+<
para diminuir fonte e Ctrl+Shift+> para aumentar o tamanho da fonte;
z Estilos são formatos que modificam a aparência do texto, como negrito (atalho Ctrl+N), itálico (atalho Ctrl+I) e
sublinhado (atalho Ctrl+S). Já os efeitos modificam a fonte em si, como texto tachado (riscado simples sobre as
palavras), subscrito (como na fórmula H2O — atalho Ctrl + igual), e sobrescrito (como em km2 — atalho Ctrl+Shift+mais).
A diferença entre estilos e efeitos é que, os estilos podem ser combinados, como negrito-itálico, itálico-subli-
nhado, negrito-sublinhado, negrito-itálico-sublinhado, enquanto os efeitos são concorrentes entre si.
Concorrentes entre si, significa que você escolhe o efeito tachado ou tachado duplo, nunca os dois simultanea-
mente. O mesmo para o efeito TODAS MAIÚSCULAS e Versalete. Sobrescrito e subscrito.
Por sua vez, Sombra é um efeito independente, que pode ser combinado com outros. Já as opções de efeitos
Contorno, Relevo e Baixo Relevo não, devendo ser individuais.
Para finalizar esse assunto, temos o sublinhado. Ele é um estilo simples, mas comporta-se como efeito dentro
de si mesmo. Temos, então, Sublinhado simples, Sublinhado duplo, Tracejado, Pontilhado, Somente palavras (sem
considerar os espaços entre as palavras) etc. São os estilos de sublinhados, que se comportam como efeitos.
Dica
As questões sobre Fontes são práticas. Portanto, se puder praticar no seu computador, será melhor para a
memorização do tema. As questões são independentes da versão, portanto, você poderá usar o Word 2007
ou Word 365 para praticar as questões de Word 2016.
COLUNAS
O documento inicia com uma única coluna. Em Layout da Página, podemos escolher outra configuração, além
de definir opções de personalização.
As colunas poderão ser definidas para a seção atual (divisão de formatação dentro do documento) ou para o
documento inteiro. Assim como os cadernos de provas de concursos, que possuem duas colunas, é possível inserir
uma “Linha entre colunas”, separando-as ao longo da página.
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
429
MARCADORES SIMBÓLICOS E NUMÉRICOS
Biblioteca de Marcadores
Nenhum
Marcadores de Documento
Ao pressionar duas vezes “Enter”, sairá da formatação dos marcadores simbólicos, retornando ao Normal.
Os marcadores numéricos são semelhantes aos marcadores simbólicos, mas com números, letras ou algaris-
mos romanos. Podem ser combinados com os Recuos de parágrafos, surgindo o formato Múltiplos Níveis.
Para trabalhar com a formatação de marcadores Múltiplos níveis, o digitador poderá usar a tecla “TAB” para
aumentar o recuo, passando os itens do primeiro nível para o segundo nível. E também pelo ícone “Aumentar
recuo”, presente na guia Página Inicial, grupo Parágrafo. Usando a régua, pode-se aumentar o recuo também.
Dica
Ao teclar “Enter” em uma linha com marcador ou numeração, mas sem conteúdo, você sai do recurso, voltan-
do à configuração normal do parágrafo. Se forem listas numeradas, itens excluídos dela provocam a renume-
ração dos demais itens.
TABELAS
As tabelas são estruturas de organização muito utilizadas para um layout adequado do texto, semelhante a
colunas, com a vantagem que estas não criam seções exclusivas de formatação.
As tabelas seguem as mesmas definições de uma planilha de Excel, ou seja, tem linhas, colunas, é formada por
células, podendo conter, também, fórmulas simples.
Ao inserir uma tabela, seja ela vazia, a partir de um desenho livre, ou convertendo a partir de um texto, uma
planilha de Excel, ou um dos modelos disponíveis, será apresentada a barra de ferramentas adicional na Faixa de
Opções.
Um texto poderá ser convertido em Tabela, e voltar a ser um texto, se possuir os seguintes marcadores de for-
430 matação: ponto e vírgula, tabulação, enter (parágrafo) ou outro específico.
Algumas operações são exclusivas das Tabelas, como Mesclar Células (para unir células adjacentes em uma
única), Dividir células (para dividir uma ou mais células em várias outras), alinhamento do texto combinando
elementos horizontais tradicionais (esquerda, centro e direita) com verticais (topo, meio e base).
O editor de textos Microsoft Word oferece ferramentas para manipulação dos textos organizados em tabelas.
O usuário poderá organizar as células nas linhas e colunas da tabela, mesclar (juntar), dividir (separar), visua-
lizar as linhas de grade, ocultar as linhas de grade, entre outras opções.
E caso a tabela avance em várias páginas, temos a opção Repetir Linhas de Cabeçalho, atribuindo no início da
tabela da próxima página, a mesma linha de cabeçalho que foi usada na tabela da página anterior.
As tabelas do Word possuem algumas características que são diferentes das tabelas do Excel. Geralmente esses
itens são aqueles questionados em provas de concursos.
Por exemplo, no Word, quando o usuário está digitando em uma célula, ocorrerá mudança automática de
linha, posicionando o cursor embaixo. No Excel, o conteúdo “extrapola” os limites da célula, e será necessário
alterar as configurações na planilha ou a largura da coluna manualmente.
WORD EXCEL
Tabela, Mesclar Todos os conteúdos são mantidos Somente o conteúdo da primeira célula será mantido
Em inglês, com referências direcionais Em português, com referências posicionais
Tabela, Fórmulas
=SUM(ABOVE) =SOMA(A1:A5)
Tabelas, Fórmulas Não recalcula automaticamente Recalcula automaticamente e manualmente (F9)
Tachado Texto Não tem atalho de teclado Atalho: Ctrl+5
Quebra de linha
Shift+Enter Alt+Enter
manual
Pincel de Copia apenas a primeira formatação da
Copia várias formatações diferentes
Formatação origem
Ctrl+D Caixa de diálogo Fonte Duplica a informação da célula acima
Ctrl+E Centralizar Preenchimento Relâmpago
Ctrl+G Alinhar à Direita (parágrafo) Ir para...
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
IMPRESSÃO 431
Disponível no menu Arquivo e pelo atalho Ctrl+P (e também pelo Ctrl+Alt+I, Visualizar Impressão), a impres-
são permite o envio do arquivo em edição para a impressora. A impressora listada vem do Windows, do Painel
de Controle.
Podemos escolher a impressora, definir como será a impressão (Imprimir Todas as Páginas, ou Imprimir Sele-
ção, Imprimir Página Atual, imprimir as Propriedades), quais serão as páginas (números separados com ponto e
vírgula/vírgula indicam páginas individuais, separadas por traço uma sequência de páginas, com a letra s uma
seção específica, e com a letra p uma página específica).
Havendo a possibilidade, serão impressas de um lado da página, ou frente e verso automático, ou manual.
O agrupamento das páginas permite que várias cópias sejam impressas uma a uma, enquanto Desagrupado, as
páginas são impressas em blocos.
As configurações de Orientação (Retrato ou Paisagem), Tamanho do Papel e Margens, podem ser escolhidas no
momento da impressão, ou antes, na guia Layout da Página. A última opção em Imprimir possibilita a impressão
de miniaturas de páginas (várias páginas por folha) em uma única folha de papel.
432
Dica
Se envolve configurações diferentes, temos Quebras.
Cabeçalhos diferentes = quebras inseridas. Colunas diferentes = quebras inseridas. Tamanho de página dife-
rente = quebra inserida.
Numeração de Páginas
Disponível na guia Inserir, permite que um número seja apresentado na página, informando a sua numeração
em relação ao documento.
Combinado com o uso das seções, a numeração de página pode ser diferente em formatação a cada seção do
documento, como no caso de um TCC (Trabalho de Conclusão de Curso).
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
433
Conforme observado na imagem, o número de página poderá ser inserido no Início da Página (cabeçalho), ou
no Fim da página (rodapé), ou nas margens da página, e na posição atual do cursor.
LEGENDAS
Uma legenda é uma linha de texto exibida abaixo de um objeto para descrevê-lo. Podem ser usadas em Figuras
(que inclui Ilustrações) ou Tabelas.
Disponível na guia Referências (índices), as legendas podem ser inseridas na configuração padrão ou persona-
lizadas. Depois, podemos criar um índice específico para elas, que será o Índice de Ilustrações.
No final do grupo Legendas, da guia Referências, no Word, encontramos o ícone “Referência Cruzada”. Em
alguns textos, é preciso citar o conteúdo de outro local do documento. Assim, ao criar uma referência cruzada, o
usuário poderá ir para o local desejado pelo autor e a seguir retornar ao ponto em que estava antes.
ÍNDICES
Os índices serão criados a partir dos Estilos utilizados durante o texto, como Título 1, Título 2, e assim por
diante. Se não forem usados, posteriormente o usuário poderá “Adicionar Texto” no índice principal (Sumário),
Marcar Entrada (para inserir um índice) e até remover depois de inserido.
Os índices suportam Referências Cruzadas, que permitem o usuário navegar entre os links do documento de
forma semelhante ao documento na web. Ao clicar em um link, o usuário vai para o local escolhido. Ao clicar no
local, retorna para o local de origem.
Dica
A guia Referências é uma das opções mais questionadas em concursos públicos por dois motivos: envolvem
conceitos de formatação do documento exclusivos do Microsoft Word e é utilizado pelos estudantes na for-
matação de um TCC.
INSERÇÃO DE OBJETOS
Disponíveis na guia Inserir, os objetos que poderiam ser inseridos no documento estão organizados em
categorias:
z Páginas: objetos em forma de página, como a capa (Folha de Rosto), uma Página em Branco ou uma Quebra de
Página (divisão forçada, quebra de página manual, atalho Ctrl+Enter);
z Tabela: conforme comentado anteriormente, organizam os textos em células, linhas e colunas;
z Ilustrações: Imagem (arquivos do computador), ClipArt (imagens simples do Office), Formas (geométricas),
434 SmartArt (diagramas), Gráfico e Instantâneo (cópia de tela ou parte da janela).
Na sequência dos objetos para serem inseridos em um documento, encontramos:
z Links: indicado para acessar a Internet via navegador ou acionar o programa de e-mail ou criação de referên-
cia cruzada;
z Cabeçalho e Rodapé;
z Texto: elementos gráficos como Caixa de Texto, Partes Rápidas (com organizador de elementos do documen-
to), WordArt (que são palavras com efeitos), Letra Capitular (a primeira letra de um parágrafo com destaque),
Linha de Assinatura (que não é uma assinatura digital válida, dependendo de compra via Office Marketplace),
Data e Hora, ou qualquer outro Objeto, desde que instalado no computador;
z Símbolos: inserção de Equações ou Símbolos especiais.
CAMPOS PREDEFINIDOS
Esses campos são objetos disponíveis na guia Inserir que são predefinidos. Após a configuração inicial, são
inseridos no documento.
Além da configuração da Linha de Assinatura, existem outras opções, como Data e Hora, Objeto e dentro do
item Partes Rápidas, no grupo Texto, da guia Inserir, a opção Campo.
Entre as categorias disponíveis, encontramos campos para automação de documento, data e hora, equações e
fórmulas, índices, informação sobre o documento, informações sobre o usuário, mala direta, numeração, vínculos
e referências.
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
CAIXAS DE TEXTO
Nova Concursos
ATALHO AÇÃO
Ctrl+A Abrir: carrega um arquivo da memória permanente para a memória RAM
Salvar: grava o documento com o nome atual, substituindo o anterior. Caso não tenha nome,
Ctrl+B
será mostrado “Salvar como”
Ctrl+J Justificar: alinhamento do texto distribuído uniformemente entre as margens esquerda e direita
Ctrl+R Refazer
Pincel de Formatação: para copiar a formatação de um local e aplicá-la a outro, seja no mesmo
Ctrl+Shift+C
documento ou outro aberto. Para colar a formatação copiada, use Ctrl+Shift+V
Ctrl+Z Desfazer
436
ATALHO AÇÃO
F1 Ajuda
Importante!
O que você faz no Word, você faz no Writer. Quase tudo tem correspondência entre os aplicativos. Alguns
atalhos de teclado são diferentes, alguns nomes de comandos são diferentes, mas a maioria dos itens são
iguais.
O botão
abc é usado para fazer a verificação ortográfica (atalho F7). Para realizar a autoverificação ortográfi-
ca, o atalho é Shift+F7. A autoverificação ortográfica é para correção automática de todos os erros do documento
segundo as configurações predeterminadas pelo editor de textos Writer.
O recurso de Ortografia e Gramática, acionado pela tecla F7, permite identificar erros de ortografia (uma pala-
vra de cada vez, sublinhado ondulado vermelho) ou gramática (várias palavras, sublinhado ondulado verde). Já
a autocorreção é um recurso diferente, que permite substituir erros comuns, como a ausência de maiúscula no
início de uma frase, corrigir o uso acidental da tecla CapsLock (invertendo a digitação entre maiúscula e minúscu-
la), acentuação na palavra não (quando digitamos naõ), e principalmente a substituição de símbolos por palavras,
definidos pelo usuário, no menu Ferramentas, Opções de Autocorreção.
Os documentos do LibreOffice Writer possuem a seguinte estrutura básica, semelhante aos conceitos do Micro-
soft Word:
z Documentos: arquivos ODT (Open Document Text). Os documentos são arquivos editáveis pelo usuário. Os
Modelos, com extensão OTT (Open Template Text), contém formatações que serão aplicadas aos novos docu-
mentos criados a partir dele.
z Páginas: unidades de organização do texto, segundo o tamanho do papel e margens. Definições estão no menu
Formatar, item Estilo da Página..., guia Página.
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
A4
z Seção: divisão de formatação do documento, onde cada parte tem a sua configuração. Sempre que forem
usadas configurações diferentes, como margens, colunas, tamanho etc., as seções serão usadas. Disponível no
menu Inserir, item Seção. 437
z Parágrafos: formado por palavras e marcas de formatação. Finalizado com Enter, contém formatação inde-
pendente do parágrafo anterior, e do parágrafo seguinte.
z Linhas: sequência de palavras que pode ser um parágrafo, ocupando uma linha de texto. Se for finalizado com
Quebra de Linha, a configuração de formatação atual permanece na próxima linha.
z Palavras: formado por letras, números, símbolos, caracteres de formatação etc. Podemos definir a formatação
do texto no menu Formatar, item Texto (nas versões anteriores era Caractere). E podemos escolher em Texto.
A novidade na versão 5 é que o menu Texto já exibe na lista todos os estilos e efeitos disponíveis no editor.
A edição e formatação de textos consiste em aplicar estilos, efeitos e temas, tanto nas fontes, como nos parágra-
fos e nas páginas. O LibreOffice Writer tem todos esses recursos, como o Microsoft Word.
A seguir, conheça alguns exemplos. Cada texto contém a explicação sobre o efeito, ou estilo, ou configuração
aplicada.
As fontes são arquivos True Type Font (.TTF) gravadas na pasta Fontes do Windows e aparecem para todos os
programas do computador.
Nomes de fontes como Liberation Serif (fonte padrão do Writer 7), Arial, Times New Roman, Courier New,
Verdana, são os mais comuns.
Ao lado do nome da fonte, um número indica o tamanho da fonte: 8, 9, 10, 11, 12, 14 e assim sucessivamente.
Se quiser, digite o valor específico que deseja.
Maiúsculas e Minúsculas, é chamado de “Circular Caixa”.
Shift+F3 para alternar pelo teclado.
As formatações de fontes e parágrafos podem ser removidas pelo ícone “Limpar Formatação Direta (Ctrl+M),
disponível na barra de formatação de Caracteres.
E na sequência temos os estilos e efeitos de textos.
Assim como no Microsoft Word, os estilos podem ser combinados e os efeitos são concorrentes entre si. Dife-
rem nos atalhos de teclado (em inglês) e o nome de alguns recursos.
Estilos são formatos que modificam a aparência do texto, como negrito (atalho de teclado Ctrl+B - Bold), itálico
(atalho de teclado Ctrl+I), sublinhado (atalho de teclado Ctrl+U - Underline) e sublinhado duplo (atalho de teclado
Ctrl+D – Double, que não possui correspondente no Microsoft Word). Já os efeitos modificam a fonte em si, como
texto tachado (riscado simples sobre as palavras), subscrito (como na fórmula H2O — atalho de teclado Ctrl+Shift+B),
e sobrescrito (como em km2 — atalho de teclado Ctrl+Shift+P)
O LibreOffice Writer faz o mesmo que o Microsoft Word, mas com comandos diferentes e atalhos de teclado de
palavras em inglês.
O LibreOffice Writer tem algumas opções diferenciadas em relação ao Word. No Writer, acesse o menu Forma-
tar, Texto. Confira na tabela a seguir alguns exemplos comparativos entre o Writer e o Word.
Os atalhos de teclado usados no LibreOffice Writer para alinhamentos de parágrafos são: Ctrl+L (Left = Esquer-
da), Ctrl+E (Centralizado), Ctrl+R (Right = Direita) e Ctrl+J (Justificado).
Uma dúvida muito comum entre os candidatos que prestam provas de concursos públicos, está relacionada
com os atalhos de teclado. Afinal, qual é a lógica que existe por trás destas combinações de teclas?
Os atalhos de teclado do Microsoft Office são próprios e em português. No LibreOffice, como em aplicações na
Internet (coloquei a opção do Google Documentos), os atalhos são em inglês.
Alguns atalhos não possuem exatamente a mesma inicial do comando, por estar sendo usado em outra situa-
ção. Centralizado, por exemplo, do inglês Center. A letra C já está sendo usada em Ctrl+C (Copiar), e a próxima
letra está disponível. Assim, o atalho de teclado para centralizar um texto é Ctrl+E, tanto no Word como no Writer.
Barra de endereços do
Ctrl+K Inserir hiperlink Inserir hiperlink
navegador
6 O atalho de teclado Ctrl+D, quando acionado no navegador de Internet, permite adicionar a página atual em Favoritos, que são os sites
preferidos do usuário.
7 O atalho de teclado Ctrl+G, quando acionado no navegador de Internet, permite localizar uma informação na página atual.
8 O atalho de teclado Ctrl+J, quando acionado no navegador de Internet, permite visualizar as transferências de arquivos em andamento e
consultar os arquivos que foram baixados (Downloads). 439
ATALHO MICROSOFT WORD LIBREOFFICE WRITER GOOGLE DOCUMENTOS
Ctrl+R Repetir último comando Alinhar texto à direita (Right) Recarregar a página (Reload)
Importante!
Um dos comandos que mais confunde candidatos na prova é o Navegador, do LibreOffice. Não tem nenhuma
relação com o browser de Internet e é usado para navegar dentro do documento em edição.
z Página;
z Títulos;
z Tabelas;
z Quadros;
z Objetos OLE;
z Marca-páginas;
z Seções;
z Hiperlinks;
z Referências;
z Índices;
z Anotações;
z Objetos de Desenho;
z Controle;
z Fórmula de tabela;
z Fórmula de tabela incorreta;
A seleção no LibreOffice Writer tem uma sutil diferença em relação ao Microsoft Word. É a possibilidade de uso
de 4 cliques na seleção. Confira:
9 O atalho de teclado Ctrl+L, quando acionado no navegador de Internet, permite localizar uma informação na página atual.
10 O atalho de teclado Ctrl+N, quando acionado no navegador de Internet, abre uma nova janela de navegação.
11 O atalho de teclado Ctrl+igual, quando acionado no navegador de Internet, aumenta o zoom de exibição da página.
440 12 O atalho F3 no navegador aciona a pesquisa, e Shift+F3 também.
Cabeçalhos
Localizado na margem superior da página, poderá ser configurado em Inserir, Cabeçalho e rodapé.
Assim como no Word, é possível trabalhar com configurações diferentes dentro do mesmo documento. Para
isto, use as seções para dividir a formatação do documento.
Esta região aceitará qualquer elemento que seria usado no documento, como textos, imagens, tabelas, campos,
formas geométricas, hiperlinks, entre outros.
Inserir
Diferentemente da interface do Microsoft Word, que é baseada na Faixa de Opções com guias, grupos e ícones,
o LibreOffice tem a interface baseada em menus. Na tabela a seguir, confira algumas dicas para compreender a
sequência de comandos e menus do Writer. As dicas são válidas para o LibreOffice Calc e LibreOffice Impress.
MENU SIGNIFICADO
Permitem acesso às configurações de arquivo sobre o documento atual (novo, abrir, fechar, salvar,
Arquivo
imprimir, propriedades)
Permite acesso à Área de Transferência, além das opções temporárias (localizar, substituir, selecionar)
Editar
e área de transferência do Windows/Linux
Permite a configuração dos objetos que serão exibidos na tela do aplicativo. Modos de visualização,
Exibir
interface do usuário, elementos da tela de edição, Marcas de Formatação, Barra Lateral e Zoom
Permite adicionar um item que não existe no documento atual. Adicionar qualquer objeto no arquivo
Inserir atualmente editado. Se este objeto é atualizável, será um campo. Elementos da página, elementos grá-
ficos, elementos visuais, referências e índices, elementos de mala direta e cabeçalho e rodapé
Formatar significa dar um formato a um objeto que já existe. Parágrafo, estilos, marcadores e numera-
Formatar
ção, tabulações, etc. Permite alterar elementos editáveis do documento
Os estilos são formatações pré-definidas para serem usadas no texto. Posteriormente poderão ser
Estilos
organizadas em um índice
Disponibilizam ferramentas para o trabalho com tabelas, segundo as convenções próprias do recurso.
Tabelas
Ao incluir uma tabela no documento, a barra de ícones Tabela será exibida
Impressão
Disponível no menu Arquivo, e também pelo atalho Ctrl+P (e também pelo Ctrl+Shift+O, Visualizar Impressão),
a impressão permite o envio do arquivo em edição para a impressora. A impressora listada vem do Windows, do
Painel de Controle (ou Configurações, no caso do Windows 10).
Podemos escolher a impressora, definir como será a impressão (Imprimir Todas as Páginas, ou Seleção, Pági-
nas específicas), quais serão as páginas (números separados com ponto e vírgula/vírgula indicam páginas indivi-
duais, separadas por traço uma sequência de páginas).
441
Havendo a possibilidade disponível na impressora, serão impressas de um lado da página, ou frente e verso
automático, ou manual. Ao contrário do Word, que exibe tudo em uma única tela do Backstage, o Writer divide
em guias as opções da impressão.
Importante!
As planilhas de cálculos não são bancos de dados. Muitos usuários armazenam informações (dados) em
uma planilha de cálculos como se fosse um banco de dados, porém o Microsoft Access é o software do
pacote Microsoft Office desenvolvido para esta tarefa. Um banco de dados tem informações armazenadas
em registros, separados em tabelas, conectados por relacionamentos, para a realização de consultas.
Guias – Excel
BOTÃO/GUIA LEMBRETE
Arquivo Comandos para o documento atual: Salvar, salvar como, imprimir, Salvar e enviar
Página Inicial Tarefas iniciais: O início do trabalho, acesso à Área de Transferência (Colar Especial),
formatação de fontes, células, estilos etc
Inserir Tarefas secundárias: Adicionar um objeto que ainda não existe. Tabela, Ilustrações, Instan-
tâneos, Gráficos, Minigráficos, Símbolos etc
Layout da Página Configuração da página: Formatação global da planilha, formatação da página
Fórmulas Funções: Permite acesso a biblioteca de funções, gerenciamento de nomes, auditoria de
442 fórmulas e controle dos cálculos
BOTÃO/GUIA LEMBRETE
Dados Informações na planilha: Possibilitam obter dados externos, classificar e filtrar, além de ou-
tras ferramentas de dados
Revisão Correção do documento: Ele está ficando pronto... Ortografia e gramática, idioma, controle de
alterações, comentários, proteger etc
Exibição Visualização: Podemos ver o resultado de nosso trabalho. Será que ficou bom?
Os atalhos de formatação (Ctrl+N para negrito, Ctrl+I para itálico, entre outros) são os mesmos do Word.
A planilha em Excel, ou folha de dados, poderá ser impressa em sua totalidade, ou apenas áreas definidas pela Área
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
de Impressão, ou a seleção de uma área de dados, ou uma seleção de planilhas do arquivo, ou toda a pasta de trabalho.
Ao contrário do Microsoft Word, o Excel trabalha com duas informações em cada célula: dados reais e dados
formatados.
Por exemplo, se uma célula mostra o valor 5, poderá ser o número 5 ou uma função/fórmula que calculou e
resultou em 5 (como =10/2).
z Célula: unidade da planilha de cálculos, o encontro entre uma linha e uma coluna. A seleção individual é com
a tecla CTRL e a seleção de áreas é com a tecla SHIFT (assim como no sistema operacional);
z Coluna: células alinhadas verticalmente, nomeadas com uma letra;
z Linha: células alinhadas horizontalmente, numeradas com números;
443
Barra de Acesso Rápido Coluna
Barra de Fórmulas
Faixa de
Opções
Célula
Linha
z Planilha: o conjunto de células organizado em uma folha de dados. Na versão atual são 65546 colunas (nomea-
das de A até XFD) e 1048576 linhas (numeradas);
z Pasta de Trabalho: arquivo do Excel (extensão XLSX) contendo as planilhas, de 1 a N (de acordo com quanti-
dade de memória RAM disponível, nomeadas como Planilha1, Planilha2, Planilha3);
z Alça de preenchimento: no canto inferior direito da célula, permite que um valor seja copiado na direção
em que for arrastado. No Excel, se houver 1 número, ele é copiado. Se houver 2 números, uma sequência será
criada. Se for um texto, é copiado, mas texto com números é incrementado. Dias da semana, nome de mês e
datas são sempre criadas as continuações (sequências);
z Mesclar: significa simplesmente “Juntar”. Havendo diversos valores para serem mesclados, o Excel manterá
somente o primeiro destes valores, e centralizará horizontalmente na célula resultante;
E após a inserção dos dados, caso o usuário deseje, poderá juntar as informações das células.
Existem 4 opções no ícone Mesclar e Centralizar, disponível na guia Página Inicial:
z Mesclar e Centralizar: Une as células selecionadas a uma célula maior e centraliza o conteúdo da nova célula;
Este recurso é usado para criar rótulos (títulos) que ocupam várias colunas;
z Mesclar através: Mesclar cada linha das células selecionadas em uma célula maior;
z Mesclar células: Mesclar (unir) as células selecionadas em uma única célula, sem centralizar;
z Desfazer Mesclagem de Células: desfaz o procedimento realizado para a união de células.
A tabela de dados, ou folha de dados, ou planilha de dados, é o conjunto de valores armazenados nas células.
Estes dados poderão ser organizados (classificação), separados (filtro), manipulados (fórmulas e funções), além de
apresentar em forma de gráfico (uma imagem que representa os valores informados).
Para a elaboração, poderemos:
z Digitar o conteúdo diretamente na célula. Basta iniciar a digitação, e o que for digitado é inserido na célula;
z Digitar o conteúdo na barra de fórmulas. Disponível na área superior do aplicativo, a linha de fórmulas é o
conteúdo da célula. Se a célula possui um valor constante, além de mostrar na célula, este aparecerá na barra
de fórmulas. Se a célula possui um cálculo, seja fórmula ou função, esta será mostrada na barra de fórmulas;
z O preenchimento dos dados poderá ser agilizado através da Alça de Preenchimento ou pelas opções automá-
444 ticas do Excel;
z Os dados inseridos nas células poderão ser formatados, ou seja, continuam com o valor original (na linha de
fórmulas) mas são apresentados com uma formatação específica;
z Todas as formatações estão disponíveis no atalho de teclado Ctrl+1 (Formatar Células);
z Também na caixa de diálogo Formatar Células, encontraremos o item Personalizado, para criação de máscaras
de entrada de valores na célula.
1 Fração: Ex.: 4
2
102 Cientifico. Ex.: 4,00E + 00
ab Texto: Ex.: 4
Dica
As informações existentes nas células poderão ser exibidas com formatos diferentes. Uma data, por exem-
plo, na verdade é um número formatado como data. Por isto conseguimos calcular a diferença entre datas.
Os formatos Moeda e Contábil são parecidos entre si, mas possuem exibição diferenciada. No formato de Moe-
da, o alinhamento da célula é respeitado e o símbolo R$ acompanha o valor. No formato Contábil, o alinhamento
é ‘justificado’ e o símbolo de R$ fica posicionado na esquerda, alinhando os valores pela vírgula decimal.
Moeda Contábil
R$4,00 R$4,00
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
O ícone é para mostrar um valor com o formato de porcentagem. Ou seja, o número é multiplicado por 100.
Exibe o valor da célula como percentual (Ctrl+Shift+%)
1 R$1,00 1,00
,00
Os ícones ß,0
,00 à,0 são usados para Aumentar casas decimais (Mostrar valores mais precisos exibindo mais
casas decimais) ou Diminuir casas decimais (Mostrar valores menos precisos exibindo menos casas decimais).
Quando um número na casa decimal possui valor absoluto diferente de zero, ele é mostrado ao aumentar
casas decimais. Se não possuir, então será acrescentado zero.
Quando um número na casa decimal possui valor absoluto diferente de zero, ele poderá ser arredondado para
cima ou para baixo, de ao diminuir as casas decimais. É o mesmo que aconteceria com o uso da função ARRED,
para arredondar.
Simbologia Específica
Cada símbolo tem um significado, e nas tabelas a seguir, além de conhecer o símbolo, conheça o significado e
alguns exemplos de aplicação.
% (percentual) Percentual = 20% Faz 20 por cento, ou seja, 20 dividido por 100
z ( ) – parênteses;
z ^ – exponenciação (potência, um número elevado a outro número);
z * ou / – multiplicação (função MULT) ou divisão;
z + ou - – adição (função SOMA) ou subtração.
Importante!
Como resolver as questões de planilhas de cálculos?
Leitura atenta do enunciado (português e interpretação de textos);
Identificar a simbologia básica do Excel (informática);
Respeitar as regras matemáticas básicas (matemática);
Realizar o teste, e fazer o verdadeiro ou falso (raciocínio lógico).
z Um valor jamais poderá ser menor e maior que outro valor ao mesmo tempo;
z Uma célula vazia é um conjunto vazio, ou seja, não é igual a zero, é vazio;
z O símbolo matemático ≠ não poderá ser escrito diretamente na fórmula, use <>
z O símbolo matemático ≥ não poderá ser escrito diretamente na fórmula, use >=
z O símbolo matemático ≤ não poderá ser escrito diretamente na fórmula, use <=
OPERADORES DE REFERÊNCIA
z O símbolo de cifrão transforma uma referência relativa ( A1 ) em uma referência mista ( A$1 ou $A1 ) ou em
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Importante!
O símbolo de cifrão é um dos mais importantes na manipulação de fórmulas de planilhas de cálculos. Todas
as bancas organizadoras questionam fórmulas com e sem eles nas referências das células.
447
SÍMBOLOS USADOS NAS FÓRMULAS E FUNÇÕES
Identifica uma
= HOJE ( ) Retorna a data atual do computador
função ou os va-
( ) parênteses = SOMA (A1;B1) Faz a soma de A1 e B1
lores de uma ope-
= (3+5) / 2 Faz a soma de 3 e 5 antes de dividir por 2
ração prioritária
As fórmulas e funções começam com o sinal de igual. Outros símbolos podem ser usados, mas o Excel substi-
tuirá pelo sinal de igual.
O símbolo & é usado para concatenar dois conteúdos, como por exemplo: =”15”&”A45” resulta em 15A45. Pode-
remos usar a função CONCATENAR, ou a função CONCAT, para obter o mesmo resultado do símbolo &.
Erros
Quando trabalhamos com planilhas de cálculos, especialmente no início dos estudos, é comum aparecerem
mensagens de erros nas células, decorrente da falta de argumentos nas fórmulas, referências incorretas, erros de
digitação, entre outros. Vamos ver algumas das mensagens de erro mais comuns que ocorrem nas planilhas de
cálculos.
As planilhas de cálculos oferecem o recurso “Rastrear precedentes”, dentro do conceito de Auditoria de Fór-
mulas. Com este recurso, muito questionado em concursos, o usuário poderá ver setas na planilha indicando a
relação entre as células, e identificar a origem das mensagens de erros.
A seguir, os erros mais comuns que podem ocorrer em uma planilha de cálculos no Microsoft Excel:
z MED(valores): informa a mediana de uma série É possível encadear funções, ampliando as áreas
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
NÚM.CARACT(célula)
INT(valor)
TRUNCAR(valor;casas decimais)
=TRUNCAR(PI();3) exibir o valor de PI com 3 casas decimais – valor 3,14159 exibe 3,141.
ARRED(valor;casas decimais)
Exibe um número com a quantidade de casas decimais, arredondando para cima ou para baixo.
=ARRED(PI();3) exibir o valor de PI com 3 casas decimais – valor 3,14159 exibe 3,142.
FUNÇÕES LÓGICAS
E (Função E) Retorna VERDADEIRO se todos os seus argumentos forem VERDADEIROS
OU (Função OU) Retorna VERDADEIRO se um dos argumentos for VERDADEIRO
NÃO (Função NÃO) Inverte o valor lógico do argumento
FALSO (Função FALSO) Retorna o valor lógico FALSO
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Importante!
Foram apresentadas muitas funções neste material, não é verdade? Existem milhares de funções no Micro-
soft Excel e LibreOffice Calc. Em concursos públicos, estas são as mais questionadas.
IMPRESSÃO
A impressão no Excel é semelhante ao Word. Difere ao oferecer o item Área de Impressão, que permite ao
usuário escolher uma área de uma planilha para ser impressa. 451
Outro item que o Excel oferece que é exclusiva, a possibilidade de imprimir os títulos das colunas e linhas,
fazendo com que a impressão seja muito parecida com a tela que está sendo visualizada.
Ambos estão na guia Layout da Página.
E na caixa de diálogo de impressão (Ctrl+P) temos o ajuste da impressão (zoom), permitindo ajustar para caber
em uma página, ajustar apenas as linhas, apenas as colunas, e mudar as quebras de páginas arrastando a divisão
na tela.
INSERÇÃO DE OBJETOS
A inserção de objetos contém os mesmos itens do Microsoft Word, mas o destaque são os Gráficos.
A tabela e o gráfico dinâmico possibilitam resumir os dados rapidamente, a partir de critérios padronizados
452 no Excel.
Os gráficos são representações visuais de dados da planilha. De acordo com a opção escolhida, teremos uma
forma de apresentação. Alguns gráficos são indicados para situações específicas. Outros gráficos são generalistas.
Gráficos
Além da produção de planilhas de cálculos, o Microsoft Excel (e o LibreOffice Calc) produz gráficos com os
dados existentes nas células.
Gráficos são a representação visual de dados numéricos, e poderão ser inseridos na planilha como gráficos
‘comuns’ ou gráficos dinâmicos.
Os gráficos dinâmicos, assim como as tabelas dinâmicas, são construídos com dados existentes em uma ou
várias pastas de trabalho, associando e agrupando informações para a produção de relatórios completos.
z Os gráficos de Colunas representam valores em colunas 2D ou 3D. São opções do gráfico de Colunas: Agrupada,
Empilhada, 100% Empilhada, 3D Agrupada, 3D Empilhada, 3D 100% Empilhada, e 3D.
z Os gráficos de Linhas representam valores com linhas, pontos ou ambos. São opções do gráfico de Linhas:
Linha, Linha Empilhada, 100% Empilhada, com Marcadores, Empilhada com Marcadores, 100% Empilhada
com Marcadores, e 3D.
z Os gráficos de Pizza representam valores proporcionalmente. São opções do gráfico de Pizza: Pizza, Pizza 3D,
Pizza de Pizza, Barra de Pizza, e Rosca.
z Os gráficos de Barras representam dados de forma semelhante ao gráfico de Colunas, mas na horizontal. São
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
opções dos gráficos de Barras: Agrupadas, Empilhadas, 100% Empilhadas, 3D Agrupadas, 3D Empilhadas, e 3D
100% Empilhadas.
z Os gráficos de Área representam dados de forma semelhante ao gráfico de Linhas, mas com preenchimento
até a base (eixo X). São opções dos gráficos de Área: Área, Área Empilhada, Área 100% Empilhada, Área 3D,
Área 3D Empilhada, e Área 3D 100% Empilhada.
453
z Os gráficos de Dispersão representam duas séries z O gráfico do tipo Mapa de Árvore é usado para mos-
de valores em seus eixos. São opções dos gráficos trar proporcionalmente a hierarquia dos valores.
de Dispersão: Dispersão, com Linhas Suaves e Mar-
cadores, com Linhas Suaves, com Linhas Retas e
Marcadores, com Linhas Retas, Bolhas e Bolhas 3D.
454
CAMPOS PREDEFINIDOS
Semelhante ao Word, o Excel poderá operar com os mesmos campos. Campos são variáveis inseridas na plani-
lha de dados, que serão atualizadas segundo a necessidade.
Data e Hora, Linha de Assinatura, Cabeçalho e Rodapé, entre muitos.
Uma das principais diferenças entre o editor de textos e o editor de planilhas, é o Cabeçalho e Rodapé. Enquan-
to no editor de textos eles são únicos, no Excel estão dividido em 3 partes.
455
A numeração de páginas está associada ao Cabeçalho e Rodapé.
O Excel poderá trabalhar com as informações inseridas pelo usuário na planilha, e com dados provenientes
de outros locais. Disponível na guia Dados, o grupo ‘Obter Dados Externos’, apesar de figurar no edital de alguns
concursos, nunca foi questionado em provas de Noções de Informática, tanto nível médio como nível superior.
De Arquivo
De banco de dados
456
Do Azure
De serviços online
De outras fontes
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
CLASSIFICAÇÃO DE DADOS
CLASSIFICAÇÃO COMENTÁRIOS
Se houver datas ou horas, podemos ‘Classificar da mais antiga para a mais nova’
Classificar datas ou horas
ou ‘Classificar da mais nova para a mais antiga’, resumindo, cronologicamente
Você pode usar uma lista personalizada para classificar em uma ordem definida
Classificar por uma lista
pelo usuário. Por exemplo, uma coluna pode conter valores pelos quais você
personalizada
deseja classificar, como Alta, Média e Baixa
O LibreOffice oferece o aplicativo Calc para criação de planilhas de cálculos. Opera de forma semelhante ao
458 Microsoft Excel, e possui apenas algumas diferenças (que já foram questionadas em concursos públicos).
Os arquivos de planilhas de cálculos podem ser
criados pelo Microsoft Excel, LibreOffice Calc e Goo-
gle Planilhas. O arquivo produzido em um aplicativo
poderá ser editado por outro programa, pois são com-
patíveis entre si.
Podemos gravar uma planilha do Microsoft Excel
em qualquer local, e pelo LibreOffice Calc abrir nor-
malmente. O LibreOffice Calc reconhece o formato
XLS/XLSX do Excel sem problemas, e o local de arma-
zenamento não influencia nos recursos disponíveis
no aplicativo. z Mesclar células: significa simplesmente juntar. O
O arquivo criado pelo LibreOffice Calc receberá a LibreOffice Calc permite que o usuário escolha a
extensão padrão ODS (Open Document Sheet), que é forma como as células serão mescladas. Ao clicar
um componente do ODF (Open Document Format). O no ícone na barra de ferramentas, a caixa de diálo-
arquivo gravado é conhecido como PASTA DE TRABA- go “Mesclar células” será exibida.
LHO, e poderá ser gravado no formato do Microsoft
Office, todas as versões. A célula pode receber diferentes formatações,
Em cada Pasta de Trabalho, o LibreOffice Calc ini- especialmente na exibição de valores numéricos. Para
cia com 1 planilha (folha de dados), identificada por a exibição retornar ao padrão, pressionar Ctrl+M. A
abas na parte inferior da tela de visualização. Cada formação de células, linhas e colunas possibilita defi-
planilha é independente das demais, e usamos o nir bordas, sombreamento, e padrões que serão apli-
sinal de ponto final para referenciar dados em outras cados a estas.
planilhas. Uma opção muito utilizada no Calc, e também no
As colunas são identificadas por letras, nomeadas Excel, é Intervalos de Impressão. A planilha é grande
de A até AMJ (tecla F5 para navegar na planilha, que (muitas células, nomeadas de A1 até AMJ1048764) e
possui 1024 colunas). As linhas são numeradas com podemos marcar o intervalo (Definir) que será consi-
números, de 1 até 1.048.576 (tecla F5 para navegar na derado na impressão.
planilha). A formatação Condicional permite exibir célu-
O encontro entre uma linha e uma coluna é célula. las de diferentes cores e padrões, segundo condições
O LibreOffice Calc tem menos colunas que o Micro- estipuladas. Por exemplo, quando desejamos que os
soft Excel. Mas, isso não significa que ele seja melhor números negativos sejam vermelhos e os positivos em
ou pior. Cuidado com as comparações. Quando a ban- azul, é um caso.
ca sugere uma comparação, menosprezando um dos
itens, geralmente está errado. Formatar
Conceitos básicos
Simbologia Específica
Mensagens de Erros
z > (sinal de maior) maior que. Usado para testes,
para comparação.
Seguem abaixo os erros mais comuns que podem
Exemplo: =SE(A1>A2;”A1 é maior”;”A2 é maior”) – ocorrer em uma planilha do LibreOffice Calc:
efetua um teste e exibe uma mensagem.
z ##### A célula não é larga o suficiente para mos-
z < (sinal de menor) menor que. Usado em testes, trar o conteúdo;
para comparação. z NUM! ou Err:503! Operação de ponto flutuante
Exemplo: =SE(A1<A2;”A1 é menor”;”A2 é menor”) – inválida. Um cálculo resulta em overflow no inter-
460 efetua um teste e exibe uma mensagem. valo de valores definido;
z #VALOR ou Err:519! Sem resultado. A fórmula =MED(A2:C2) qual é o valor que está no meio, de 6,
resulta em um valor que não corresponde à sua 2 e 1? É o 2.
definição; ou a célula que é referenciada na fórmu- =MÉDIA(A2:C2) qual é a média dos valores de A2
la contém um texto em vez de um número; até C2? (6+2+1)/3 = 3.
z #REF ou Err:524! Referências inválidas. Em uma
fórmula, está faltando a coluna, a linha ou a plani- z MÁXIMO (valores) : exibe o maior valor das célu-
lha que contém uma célula referenciada; las selecionadas.
z #NOME? ou Err:525! Nomes inválidos. Não foi
possível avaliar um identificador, por exemplo, =MAXIMO(A1:D6) Exibe qual é o maior valor na
não foi possível encontrar uma referência válida, área de A1 até D6. Se houver dois valores iguais, ape-
um nome de domínio válido, uma etiqueta de colu- nas um será mostrado.
na/linha, uma macro, um separador decimal incor-
reto, suplemento não encontrado; z MAIOR (valores;posição) : exibe o maior valor de
z #DIV/0! ou Err:532! Divisão por zero. Operação uma série, segundo o argumento apresentado.
de divisão / quando o denominador é 0.
=MAIOR(A1:D6;3) Exibe o 3º maior valor nas célu-
Funções Básicas las A1 até D6.
z SOMA (valores) : realiza a operação de soma nas z MÍNIMO (valores) : exibe o menor valor das célu-
células selecionadas. las selecionadas.
CONCEITO DE SLIDES
As apresentações de slides podem ser gravadas em
formato de imagens (JPG, PNG), slide por slide, e até Conforme observado no item anterior, os slides são
transformadas em vídeo (extensão MP4). as unidades de trabalho do PowerPoint. Assim como
Os recursos do PowerPoint, como animações, tran- as páginas de um documento do Microsoft Word, os
sições, narração, serão inseridos no vídeo, que poderá slides possuem configurações como margens, orienta-
ser reproduzido em outros dispositivos, como Smart ção, números de páginas (slides, no caso), cabeçalhos
TV em totens de propagandas. e rodapés, etc.
O PowerPoint trabalha com 4 conceitos principais
de slides,
A preparação de uma apresentação de slides segue uma série de recomendações, quanto a quantidade de tex-
to, quantidade de slides, tempo da apresentação, etc.
Entretanto, para concursos públicos, o foco é outro. O questionamento é sobre como fazer, onde configurar,
como apresentar, etc.
Para entrar em modo de apresentação de slides do começo, devemos pressionar F5. Podemos escolher o ícone
‘Do Começo’ na guia Apresentações de Slides, grupo Iniciar Apresentação de Slides. E ainda clicar no ícone corres-
pondente na barra de status, ao lado do zoom.
A apresentação iniciará, e ao contrário do modo de exibição Leitura em Tela Inteira, a barra de títulos não será
mostrada. A outra forma de iniciar uma apresentação de slides é a partir do Slide Atual, pressionando Shift+F5 ou
clicando no ícone da guia Apresentação de Slides.
Durante a apresentação de slides, as setas de direção permitem mudar o slide em exibição. O Enter passa para
o próximo slide. O ESC sai da apresentação de slides.
Segurar a tecla CTRL e pressionar o botão principal (esquerdo) do mouse exibirá um ‘laser pointer’ na apre-
sentação. Pressionar a letra C ou vírgula deixará a tela em branco (clara). Pressionar E ou ponto final, deixa a tela
preta (escura).
A edição dos elementos textuais e parágrafos seguem os princípios do editor de textos Word. E os comandos
também são os mesmos. Por exemplo, o Salvar como PDF.
De acordo com o formato escolhido, alguns recursos poderão ser desabilitados.
O formato PDF é portável, e poderá ser usado em qualquer plataforma. Praticamente todos os programas dis-
poníveis no mercado reconhecem o formato PDF.
Confira a seguir os ícones do aplicativo, que costumam ser questionados em provas.
A outra forma de iniciar uma apresentação de slides é a partir do Slide Atual, pressionando Shift+F5
ou clicando no ícone da guia Apresentação de Slides.
Apresentar on-line: Transmitir a apresentação de slides para visualizadores remotos que possam
assisti-la em um navegador da Web.
Ocultar Slide: Ocultar o slide atual da apresentação. Ele não será mostrado durante a apresentação de
slides de tela inteira.
Testar Intervalos: Iniciar uma apresentação de slides em tela inteira na qual você possa testar sua
apresentação. A quantidade de tempo utilizada em cada slide é registrada e você pode salvar esses
intervalos para executar a apresentação automaticamente no futuro.
Gravar Apresentação de Slides: Gravar narrações de áudio, gestos do apontador laser ou intervalos de
slide e animação para reprodução durante a apresentação de slides.
Álbum de Fotografias: criar ou editar uma apresentação com base em uma série de imagens. Cada
imagem será colocada em um slide individual.
Ação: Adicionar uma ação ao objeto selecionado para especificar o que deve acontecer quando você
clicar nele ou passar o mouse sobre ele.
Gravação de tela: gravar o que está sendo exibido na tela e inserir no slide.
Formas: linhas, retângulos, formas básicas, setas largas, formas de equação, fluxograma, estrelas e
faixas, textos explicativos e botões de ação.
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
465
Arquivos do PowerPoint são abertos pelo LibreOffice Impress (antigo OpenOffice, BrOffice).
Da mesma forma, arquivos do LibreOffice Impress (formato ODP – Open Document Presentation) podem ser
abertos pelo Microsoft PowerPoint.
Ambos são capazes de produzir arquivos PDFs.
O LibreOffice Impress permite exportar uma apresentação ou desenho para diferentes formatos, incluindo os
citados no enunciado da questão.
Importante!
Extensões de arquivos são itens bastante questionados em provas de concursos.
Os modos de exibição permitem alternar entre a edição (Normal), exibição de títulos (Estrutura de Tópicos),
Notas (Anotações do apresentador) e Organizador de Slides (classificação de slides – miniaturas para organização).
z Leiaute: Permite a escolha do tipo de conteúdo que será inserido no slide. Para não esquecer: é o esqueleto de
cada slide da apresentação. O layout do slide (leiaute do eslaide) é a definição da posição dos objetos dentro de
cada slide da apresentação.
z Modelos: Permite a escolha do projeto visual que será utilizado no slide. Para não esquecer: é a aparência da
apresentação.
z Transição: Permite a escolha do efeito visual que será utilizado na passagem de um slide para outro slide. Para
não esquecer: é a animação entre os slides da apresentação.
z Mestre: Permite a escolha da posição de todos os elementos dentro de uma apresentação, assim como confi-
gurações específicas. Podemos configurar os slides, folhetos e anotações. Para não esquecer: é o esqueleto de
toda a apresentação.
Exibir
Slide mestre
466
Elementos do slide mestre...
Assim como nos demais aplicativos, o ícone permite transformar um objeto inserido em um hyperlink. O
ícone está disponível na Barra de Ferramentas Padrão. Atalho de teclado: Ctrl+K
No LibreOffice, o Hiperlink poderá ser para:
Correio: abre o aplicativo de e-mail padrão para o envio de uma mensagem eletrônica.
Documento: para algum local do documento atual, como uma Tabela, Seção ou Quadro.
Diferentemente da interface do Microsoft PowerPoint, que é baseada na Faixa de Opções com guias, grupos e
ícones, o LibreOffice tem a interface baseada em menus. Na tabela a seguir, confira algumas dicas para compreen-
der a sequência de comandos e menus do Impress. As dicas são válidas para o LibreOffice Writer e LibreOffice Calc.
MENU SIGNIFICADO
Arquivo Oferece comandos para o gerenciamento do arquivo atual, aquele que está em primeiro plano.
Acesso a recursos temporários (localizar, substituir, selecionar) e área de transferência do
Editar
Windows/Linux
Acesso aos controles sobre o que será mostrado na tela de edição, e como será exibido.
Exibir
Cor, preto e branco, escala de cinza.
Adicionar qualquer objeto na apresentação atualmente editada. Se este objeto é atualizá-
Inserir
vel, será um campo.
Formatar Mudar a aparência, mudar a configuração, dar uma forma, alterar o que está em edição.
Oferece comandos para o gerenciamento do aplicativo, alterando as configurações em
Ferramentas
todos os próximos arquivos editados pelo aplicativo.
Iniciar a apresentação, configurar a apresentação, Cronometrar, Interação, Animação
Apresentação de slides personalizada, Transição de slides, Exibir e Ocultar slides, e criar uma apresentação
personalizada.
Janela Oferece opções para organizar as janelas dos documentos.
Menu Slide
Novidade do LibreOffice Impress 5 mantida na versão 6/7, que não existia nas versões anteriores. Possui opções
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
similares à guia Apresentação de Slides do Microsoft PowerPoint. Contém as opções para manipulação dos slides
da apresentação, incluindo o item Transição de Slides, para adicionar uma animação entre os slides.
Slide
467
Menu Apresentação de Slides
tir do slide atual. Esta é uma alteração importante, Para acessar as mensagens armazenadas em um servidor de
pois nas versões anteriores, F5 iniciava no slide atual, e-mails, o usuário pode usar um cliente de e-mail ou o navegador de
e agora é como no PowerPoint, com dois atalhos de Internet
teclado diferentes.
Formas de acesso ao correio eletrônico
468
IMAP4 ou IMAP (Internet Message Access Protocol) z Modo de Navegação Anônima: o navegador aces-
é o Protocolo de Acesso às Mensagens via Internet é sa a Internet e apaga os dados acessados quando a
usado pelo navegador de Internet (sobre os protoco- janela é fechada.
los HTTP e HTTPS) na modalidade de acesso webmail,
transferindo cópias das mensagens para a janela do O navegador Google Chrome, quando conectado
navegador e mantendo as originais na caixa de men- em uma conta Google, permite que a exclusão do his-
sagens do servidor remoto. tórico de navegação seja realizada em todos os dis-
positivos conectados. Essa funcionalidade não estará
disponível caso não esteja conectado na conta Google.
Um dos atalhos de teclado diferente no Google
Servidor Exchange Enviar e Receber
Chrome, em comparação aos demais navegadores,
Servidor Gmail
SMTP é F6. Para acessar a barra de endereços nos outros
Enviar – SMTP
navegadores, pressione F4. No Google Chrome, o ata-
lho de teclado é F6.
Enviar e Receber
Receber – POP3
IMAP4 Para verificar a versão atualmente instalada do
Chrome, acesse no menu a opção “Ajuda” e, depois,
“Sobre o Google Chrome”. Se houver atualizações pen-
Remetente Destinatário dentes, elas serão instaladas. Se as atualizações foram
Cliente
Webmail instaladas, o usuário poderá reiniciar o navegador.
Caso o navegador seja reiniciado, ele retornará nos
O remetente está usando o programa Microsoft Outlook (cliente) mesmos sites que estavam abertos antes do reinício,
para enviar um e-mail. Ele usa o seu e-mail corporativo (Exchange).
com as mesmas credenciais de login.
O e-mail do destinatário é hospedado no servidor Gmail, e ele utiliza
um navegador de Internet (webmail) para ler e responder os e-mails
O Google Chrome permite a personalização com
recebidos. temas, que são conjuntos de imagens e cores combina-
das para alterar a visualização da janela do aplicativo.
conecta ou não em sua conta Google. z Ameaças: vulnerabilidades que existem e podem
ser exploradas por usuários;
z Modo Normal: sem estar conectado na conta Goo- z Falhas: vulnerabilidades existentes nos sistemas,
gle, o navegador armazena localmente as informa- sejam elas propositais ou acidentais;
z Ataques: ação que procura denegrir ou suspender
ções da navegação para o perfil atual do sistema
a operação de sistemas.
operacional. Todos os usuários do perfil, poderão
consultar as informações armazenadas;
Devido à crescente integração entre as redes de
z Modo Normal conectado na conta Google: o nave- comunicação, conexão com novos e inusitados dis-
gador armazena localmente as informações da positivos (IoT – Internet das Coisas) e criminosos
navegação e sincroniza com outros dispositivos com acesso de qualquer lugar do mundo, as redes de
conectados na mesma conta Google; informações tornaram-se particularmente difíceis de
z Modo Visitante: o navegador acessa a Internet, se proteger. Profissionais altamente qualificados são
mas não acessa as informações da conta Google formados e contratados pelas empresas com a única
registrada; função de proteger os sistemas informatizados. 469
Em concursos públicos, as ameaças e os ataques são os itens mais questionados.
Dica
Você conhece a Cartilha de Segurança CERT? Disponível gratuitamente na Internet, ela é a fonte oficial de
informações sobre ameaças, ataques, defesas e segurança digital. Ela pode ser acessada pelo link: <https://
cartilha.cert.br/>. (Acesso em: 5 out. 2021).
Ameaças
As ameaças são identificadas como aquelas que possuem potencial para comprometer a oferta ou existência
dos ativos computacionais, tais como: informações, processos e sistemas. Um ransomware – software que seques-
tra dados, utilizando-se de criptografia e solicita o pagamento de resgate para a liberação das informações seques-
tradas – é um exemplo de ameaça.
É importante entender que, apesar de a ameaça existir, se não ocorrer uma ação deliberada para sua execução
ou se medidas de proteção forem implementadas, ela é eliminada e não se torna um ataque. As ameaças à segu-
rança da informação podem ser classificadas como:
� Tecnológicas: quando ocorre mudança no padrão ou tecnologia, sem a devida atualização ou upgrade;
z Humanas: intencionais ou acidentais, que exploram vulnerabilidades nos sistemas;
z Naturais: não intencionais, relacionadas ao ambiente, como as catástrofes naturais.
As empresas precisam fazer uma avaliação das ameaças que possam causar danos ao ambiente computacio-
nal dela mesma (Gerenciamento de Risco), implementar sistemas de autenticação (Controlar o Acesso), definir
os requisitos de senha forte (Política de Segurança), manter um inventário e realizar o rastreamento de todos os
ativos (Gerenciamento de Recursos), além de utilizar sistemas de backup e restauração de dados (Gerenciamento
de Continuidade de Negócios).
Falhas
As falhas de segurança nos sistemas de informação poderão ser propositais ou involuntárias. Se o programador
insere, no código do sistema, uma falha que produza danos ou permita o acesso sem autenticação, temos um exem-
plo de falha proposital. Já se uma falha for descoberta após a implantação do sistema, sem que tenha sido uma falha
proposital, e tenha sido explorada por invasores, temos um exemplo de falha involuntária, inerente ao sistema.
Quando identificadas, as falhas são corrigidas pelas empresas que desenvolveram o sistema por meio da dis-
tribuição de notificações e correções de segurança. O Windows Update, serviço da Microsoft para atualização do
Windows, distribui, mensalmente, os patches (pacotes) de correções de falhas de segurança.
Ataques
Sem dúvidas, o assunto de maior destaque, tanto em concursos como no mundo real, são os ataques. Coor-
denados ou isolados, os ataques procuram romper as barreiras de segurança definidas na Política de Segurança,
com o objetivo de anular o sistema ou capturar dados.
Os ataques podem ser classificados como:
z Baixa complexidade: exploram falhas de segurança de forma isolada e são facilmente identificados e
anulados;
z Média complexidade: combinam duas ou mais ferramentas e técnicas, para obter acesso aos dados, sendo de
média complexidade para a solução, gerando impactos na operação dos sistemas, como a indisponibilidade;
z Alta complexidade: refinados e avançados, os ataques combinam o acesso às falhas do sistema, novos códi-
gos maliciosos desconhecidos e a distribuição do ataque com redes zumbis, tornando difícil a resolução do
problema.
Dica
� Ameaças existem e podem afetar ou não os sistemas computacionais;
� Falhas existem e podem ser exploradas ou não pelos invasores;
� Ataques são realizados todo o tempo contra todos os tipos de sistemas.
Vírus de Computador
O vírus de computador é a ameaça digital mais popular. Tem esse nome por se assemelhar a um vírus orgâ-
nico ou biológico. O vírus biológico é um organismo que possui um código viral que infecta uma célula de outro
organismo. Quando a célula infectada é acionada, o código viral é duplicado e se propaga para outras células
saudáveis do corpo. Quanto mais vírus existirem no organismo, menor será o seu desempenho, fazendo com que
recursos vitais sejam consumidos, podendo levar o hospedeiro à morte.
O vírus de computador é um código malicioso que infecta arquivos em um dispositivo. Quando o arquivo é
executado, o código do vírus é duplicado, propagando-se para outros arquivos do computador. Quanto mais vírus
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existirem no dispositivo, menor será o seu desempenho, fazendo com que recursos computacionais sejam consu-
midos, podendo levar o hospedeiro a uma falha catastrófica.
O vírus de computador poderá entrar no dispositivo do usuário por meio de um arquivo anexado em uma
mensagem de e-mail, ou por cópia de arquivos existentes em uma mídia removível, como o pen drive, recebidos
por alguma rede social, baixados de sites na Internet, entre outras formas de contaminação.
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VÍRUS DE COMPUTADOR CARACTERÍSTICAS
� Infectam o setor de boot do disco de inicialização
Vírus de boot
� Cada vez que o sistema é iniciado, o vírus é executado
Armazenados em sites na Internet, são carregados e executados quando o usuário
Vírus de script
acessa a página, usando um navegador de Internet
� As macros são desenvolvidas em linguagem Visual Basic for Applications (VBA)
Vírus de macro nos arquivos do Office, para a automatização de tarefas
� Quando desenvolvido com propósitos maliciosos, é um vírus de macro
O vírus “mutante” ou “polimórfico”, a cada nova multiplicação, o novo vírus mantém
Vírus do tipo mutante
traços do original, mas é diferente dele
São programados para agir em uma determinada data, causando algum tipo de dano
Vírus time bomb
no dia previamente agendado
� Um vírus stealth é um código malicioso muito complexo, que se esconde depois de
infectar um computador
Vírus stealth � Ele mantém cópias dos arquivos que foram infectados para si e, quando um softwa-
re antivírus realiza a detecção, apresenta o arquivo original, enganando o mecanismo
de proteção
� O vírus Nimda explora as falhas de segurança do sistema operacional
Vírus Nimda � Ele se propaga pelo correio eletrônico e, também, pela web, em diretórios comparti-
lhados, pelas falhas de servidor Microsoft IIS e nas trocas de arquivos
Todos os sistemas operacionais são vulneráveis aos vírus de computador. Quando um vírus de computador
é desenvolvido por um hacker, este procura elaborá-lo para um software que tenha uma grande quantidade de
usuários iniciantes, o que aumenta as suas chances de sucesso.
O Windows, por exemplo, possui muitos usuários e a maioria deles não tem preocupações com segurança. Por
isso, grande parte dos vírus de computadores são desenvolvidos para atacarem sistemas Windows.
O Linux, por sua vez, tem poucos usuários, se comparado ao Windows, e a maioria deles possui muito conhe-
cimento sobre Informática, tornando a ação de vírus nesse sistema uma ocorrência rara.
Já o Android, software operacional dos smartphones populares, é uma variação do sistema Linux original.
Apesar de possuir essa origem nobre, é alvo de milhares de vírus, por causa dos seus usuários, que, na maioria
das vezes, não têm rotinas de proteção e segurança de seus aparelhos.
Um vírus de computador poderá ser recebido por e-mail, transferido de sites na Internet, compartilhado em
arquivos, através do uso de mídias removíveis infectadas, nas redes sociais e por mensagens instantâneas. Vale
lembrar, no entanto, que um vírus necessita ser executado para que entre em ação, pois ele tem um hospedeiro
definido e um alvo estabelecido. Ele se propaga, inserindo cópias de si em outros arquivos, alterando ou removen-
do arquivos do dispositivo para propagação e autoproteção, a fim de não ser detectado pelo antivírus.
Worms
O worm é um verme que explora de forma independente as vulnerabilidades nas redes de dispositivos. Geral-
mente, eles deixam a comunicação na rede lenta, por ocuparem a conexão de dados ao enviarem cópias de seu
código malicioso.
Um verme biológico parasita um organismo, consumindo seus recursos e deixando o corpo debilitado. Um
verme tecnológico parasita um dispositivo, consumindo seus recursos de memória e conexão de rede, deixando o
aparelho e a rede de dados lentos.
Os worms não precisam ser executados pelo usuário como os vírus de computador e a sua propagação será
rápida caso não existam barreiras de proteção que os impeçam.
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2. Roteador infectado envia o worm para a impressora
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Smartphone
Dica
Os worms infectam dispositivos e propagam-se para outros dispositivos de forma autônoma, sem interferên-
cia do usuário.
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Os worms podem ser recebidos automaticamente pela rede, inseridos por um invasor ou por ação de outro
código malicioso. Assim como os vírus, ele poderá ser recebido por e-mail, transferido de sites na Internet, com-
partilhado em arquivos, por meio do uso de mídias removíveis infectadas, nas redes sociais e por mensagens
instantâneas.
Com o objetivo de explorar as vulnerabilidades dos dispositivos, os worms enviam cópias de si mesmos para
outros dispositivos e usuários conectados. Por serem autoexecutáveis, costumam consumir grande quantidade de
recursos computacionais, promovendo a instalação de outros códigos maliciosos e iniciando ataques na Internet
em busca de outras redes remotas.
Pragas Virtuais
As diversas pragas virtuais são, genericamente, chamadas de malwares (softwares maliciosos), por apresen-
tarem características semelhantes: oferecem alguma vantagem para o usuário, mas realizam ações danosas que
acabarão prejudicando-o.
É um código malicioso que realiza operações mal-intencionadas enquanto realiza uma operação desejada pelo
usuário, como um jogo on-line ou reprodução de um vídeo. Ele é enviado com o conteúdo desejado e, ao ser exe-
cutado, desativa as proteções do dispositivo, para que o invasor tenha acesso aos arquivos e dados.
Esse nome está, justamente, relacionado com a história do presente dado pelos gregos aos troianos, consis-
tindo em um cavalo de madeira, com soldados em seu interior. Após entrar nas fortificações de Troia, os gregos
desativaram as defesas e permitiram o acesso do seu exército.
Importante!
O Trojan ou Cavalo de Troia é apresentado, no enunciado de algumas questões de concursos, como um tipo
de vírus de computador.
474
3. Enquanto o usuário joga, o trojan desativado as proteções
z Spyware
É um programa malicioso que procura monitorar as atividades do sistema e enviar os dados capturados
durante a espionagem para terceiros. Existem softwares espiões considerados legítimos (instalados com o consen-
timento do usuário) e maliciosos (que executam ações prejudiciais à privacidade do usuário).
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Os softwares espiões podem ser especializados na captura de teclas digitadas (keylogger), nas telas e cliques efe-
tuados (screenlogger) ou para apresentação de propagandas alinhadas com os hábitos do usuário (adware). Eles,
geralmente, são instalados por outros programas maliciosos, para aumentar a quantidade de dados capturados.
z Bot
É um programa malicioso que mantém contato com o invasor, permitindo que comandos sejam executados
remotamente. O dispositivo controlado por um bot poderá integrar uma rede de dispositivos zumbis, a chamada
botnet.
Quando o invasor deseja atacar sites para provocar Negação de Serviço, ele aciona os bots que estão distri-
buídos nos dispositivos do usuário, para que façam a ação danosa. Além de esconder os rastros da identidade do
verdadeiro atacante, os bots poderão continuar sua propagação através do envio de cópias para outros contatos
do usuário afetado.
475
z Backdoor
É um código malicioso semelhante ao bot, mas que, além de executar comandos recebidos do invasor, realiza
ações para desativação de proteções e aberturas de portas de conexão. O invasor, ciente das portas TCP que estão
disponíveis, consegue acesso ao dispositivo para a instalação de outros códigos maliciosos e roubo de informações.
Assim como os spywares, existem backdoors legítimos (adicionados pelo desenvolvedor do software para fun-
cionalidades administrativas) e ilegítimos (para operarem independente do consentimento do usuário).
z Rootkit
É um código malicioso especializado em esconder e assegurar a presença de outros códigos maliciosos para o
invasor acessar o sistema. Essas pragas virtuais podem ser incorporadas em outras pragas, para que o código que
camufla a presença seja executado, escondendo os rastros do software malicioso.
Após a remoção de um rootkit, o sistema afetado não se recupera dos dados apagados, sendo necessária uma
cópia segura (backup) para restauração dos arquivos.
Dica
Cavalo de Troia, Spyware, Bot, Backdoor e Rootkit são as pragas digitais mais questionadas em concursos
públicos.
Confira, na tabela a seguir, outras pragas digitais que ameaçam a Segurança da Informação e a privacidade
dos usuários de sistemas computacionais.
Uma das ações mais comuns que procuram comprometer a segurança da informação é o ataque Phishing. O
usuário recebe uma mensagem (por e-mail, rede social ou SMS no telefone) e é induzido a clicar em um link mali-
cioso. O link acessa uma página que pode ser semelhante ao site original, induzindo o usuário a fornecer dados
pessoais, como login e senha. Em ataques mais elaborados, as páginas capturam dados bancários e de cartões de
crédito. O objetivo é simples: roubar dinheiro das contas do usuário.
476
1. O usuário recebe um e-mail do “banco”, mas é falso
Usuário
Usuário
Usuário
4. Seus dados são enviados para o invasor, que rouba $$$ das contas bancárias ou faz compras
no seu cartão de crédito
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Usuário
Outra ação mais elaborada tecnicamente é o Pharming. O invasor ataca um servidor DNS, modificando as
tabelas que direcionam o tráfego de dados e o usuário acessa uma página falsa. Da mesma forma que o Phishing,
esse ataque procura capturar dados bancários do usuário e roubar o seu dinheiro.
477
1. O atacante modifica a tabela de um servidor DNS
Usuário
Usuário
Usuário
4. Seus dados são enviados para o invasor, que rouba $$$ das contas bancárias ou faz compras
no seu cartão de crédito
Usuário
478
a) Ctrl+J.
HORA DE PRATICAR! b) Ctrl+N.
c) Ctrl+Shift+J.
1. (FUMARC — 2018) Ao acionar as “Configurações do d) Ctrl+Shift+N.
Windows” a partir do “Menu Iniciar” no Windows 10,
versão português, é possível gerenciar Vídeo, Notifica- 6. (FUMARC — 2018) O atalho de teclado que exibe a
ções e Energia, dentre outras configurações, a partir lista de downloads realizados no navegador Google
da opção: Chrome 69.x, versão português, é:
a) Aplicativos a) Ctrl+J
b) Ctrl+F
b) Dispositivos c) Ctrl+D
d) Ctrl+B
c) Personalização
7. (FUMARC — 2013) Sobre os mecanismos de busca na
d) Sistema Internet, analise as seguintes afirmativas:
que são exibidas ao iniciar o navegador, EXCETO: 10. (FUMARC — 2014) Analise as seguintes afirmativas
sobre ameaças à segurança na Internet:
a) Abrir a página Nova guia.
b) Abrir o mecanismo de pesquisa. I. Cavalos de Troia são programas que atraem a aten-
c) Abrir uma página específica ou um conjunto de ção do usuário e, além de executarem funções para
páginas. as quais foram aparentemente projetados, também
d) Continuar de onde você parou. executam operações maliciosas sem que o usuário
perceba.
5. (FUMARC — 2018) Uma janela anônima no navegador II. Spyware são programas que coletam informações
Google Chrome 69.x, versão português, é um modo sobre as atividades do usuário no computador e trans-
que abre uma nova janela onde é possível navegar na mitem essas informações pela Internet sem o consen-
Internet em modo privado, sem que o Chrome salve os timento do usuário.
sites que o usuário visita. O atalho de teclado que abre III. Pharming consiste na instalação de programas nas
uma nova janela anônima é: máquinas de usuários da internet para executar 479
tarefas automatizadas programadas por criminosos II. Vírus de boot: infectam a área de boot dos discos rígi-
cibernéticos. dos dos computadores.
III. Vírus de arquivo: infectam arquivos executáveis.
Estão CORRETAS as afirmativas:
Assinale a alternativa CORRETA:
a) I e II, apenas.
b) I e III, apenas. a) A afirmativa III está errada e as afirmativas I, II estão
c) II e III, apenas. corretas.
d) I, II e III. b) A afirmativa II está errada e as afirmativas I, III estão
corretas.
11. (FUMARC — 2013) Fragmento de programa que é uni- c) A afirmativa I está errada e as afirmativas II, III estão
do a um programa legítimo com a intenção de infectar corretas.
outros programas é denominado como d) As afirmativas I, II e III estão corretas.
Ameaça 9 GABARITO
I. Cavalo de Troia
II. Worm 1 D
III. Spyware
2 C
IV. Phishing
3 A
Descrição
4 B
( ) Mensagem eletrônica que simula um remetente con-
5 D
fiável para obter informações confidenciais como
senhas ou números de cartões de crédito. 6 A
( ) Programas espiões que capturam padrões de com-
portamento de usuários na internet e enviam essa 7 D
informação a entidades externas.
8 B
( ) Programas completos que se propagam para infec-
tar o ambiente onde se encontram. 9 A
( ) Fragmentos de código, embutidos em um programa,
para atrair a atenção do usuário e roubar senhas ou 10 A
informações confidenciais.
11 A
A sequência CORRETA, de cima para baixo, é: 12 D