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Polícia Civil de Minas Gerais

PC-MG
Escrivão de Polícia

NV-003OT-21
Cód.: 7908428801106
Obra

PC-MG – Polícia Civil de Minas Gerais


Escrivão de Polícia

Autores

LÍNGUA PORTUGUESA • Monalisa Costa, Ana Cátia Collares e Giselli Neves

REDAÇÃO OFICIAL (ON-LINE) • Nelson Sartori

LEI ORGÂNICA DA POLÍCIA CIVIL DE MINAS GERAIS • Olivia Gomes e Fernando Paternostro Zantedeschi

NOÇÕES DE DIREITO – DIREITO ADMINISTRATIVO • Fernando Paternostro Zantedeschi, Jonatas Albino e


Samantha Rodrigues

NOÇÕES DE DIREITO – DIREITO CIVIL • Felipe Garcia e Felipe Torres

NOÇÕES DE DIREITO – DIREITO CONSTITUCIONAL • Samara Kich, Giovana Marques e Ana Philippini

NOÇÕES DE DIREITO – DIREITO PENAL • Renato Philippini, Rodrigo Gonçalves e Jonatas Albino

NOÇÕES DE DIREITO – DIREITO PROCESSUAL PENAL • Eduardo Gigante e Kamila Gomes

NOÇÕES DE DIREITO - DIREITOS HUMANOS • Camila Cury e Alexandre Nápoles

NOÇÕES DE INFORMÁTICA • Fernando Nishimura

NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA (ON-LINE) • Caio Laforga e Renato Philippini

NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL (ON-LINE) • Rodrigo Montes e Renato Philippini

Edição:

Outubro/2021

Todos os direitos autorais desta obra são reservados e protegidos


pela Lei nº 9.610/1998. É proibida a reprodução parcial ou total,
por qualquer meio, sem autorização prévia expressa por escrito da
editora Nova Concursos.

Essa obra é vendida sem a garantia de atualização futura. No caso Dúvidas


de atualizações voluntárias e erratas, serão disponibilizadas no site
www.novaconcursos.com.br. Para acessar, clique em “Erratas e www.novaconcursos.com.br/contato
Retificações”, no rodapé da página, e siga as orientações. sac@novaconcursos.com.br
APRESENTAÇÃO
Um bom planejamento é determinante para a sua preparação
de sucesso na busca pela tão almejada aprovação. Por isso, pen-
sando no máximo aproveitamento de seus estudos, esse livro foi
organizado de acordo com os itens exigidos no Edital nº 04/2021
para o cargo de Escrivão de Polícia.

O conteúdo programático foi sistematizado em um sumário, faci-


litando a busca pelos temas do edital, no entanto, nem sempre
a banca organizadora do concurso dispõe os assuntos em uma
sequência lógica. Por isso, elaboramos este livro abordando todos
os itens do edital e reorganizando-os quando necessário, de uma
maneira didática para que você realmente consiga aprender e
otimizar os seus estudos.

Ao longo da teoria, você encontrará boxes – Importante e Dica


– com orientações, macetes e conceitos fundamentais cobrados
nas provas e a seção Hora de Praticar, trazendo exercícios gaba-
ritados da banca FUMARC, organizadora do certame.

A obra que você tem em suas mãos é resultado da competência


de nosso time editorial e da vasta experiência de nossos profes-
sores e autores parceiros – muitos também responsáveis pelas
aulas que você encontra em nossos Cursos Online – o que será
um diferencial na sua preparação. Nosso time faz tudo pensando
no seu sonho de ser aprovado em um concurso público. Agora é
com você!

Intensifique ainda mais a sua preparação acessando os conteú-


dos complementares disponíveis on-line para este livro em nos-
sa plataforma: Redação Oficial, Noções de Criminologia e Noções
de Medicina Legal além do Curso Bônus com 10 horas de videoau-
las. Para acessar, basta seguir as orientações na próxima página.
CONTEÚDO ON-LINE

Para intensificar a sua preparação para concursos, oferecemos em nossa plataforma on-
line materiais especiais e exclusivos, selecionados e planejados de acordo com a proposta
deste livro. São conteúdos que tornam a sua preparação muito mais eficiente.

BÔNUS:

• Curso On-line.

à Língua Portuguesa - Interpretação de Texto: Conceitos Importantes



à Lei Orgânica da Polícia Civil de Minas Gerais - Lei Complementar N° 129, de 2013 -

Lei Orgânica da Polícia Civil do Estado de Minas Gerais: Competências
à Noções de Direito - Direito Constitucional: Tratados e Convenções Internacionais

à Direito Civil - Da Personalidade e da Capacidade

à Direito Penal - Dos Crimes Contra o Patrimônio: Apropriação Indébita

à Direito Processual Penal - Da Prisão em Flagrante

à Legislação Especial - Lei N° 13.869, de 2019 - Crimes de Abuso de Autoridade;

à Noções de Direitos Humanos - Política Nacional de Direitos Humanos;

à Noções de Informática - Segurança Da Informação;

à Noções de Criminologia - Escola de Chicago;

à Noções de Medicina Legal - Traumatologia Forense: Instrumentos Cortantes

CONTEÚDO COMPLEMENTAR:

• Redação Oficial
• Noções de Criminologia
• Noções de Medicina Legal

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VERSO DA APOSTILA
SUMÁRIO

LÍNGUA PORTUGUESA....................................................................................................13
INTERPRETAÇÃO E COMPREENSÃO DE TEXTOS........................................................................... 13

IDENTIFICAÇÃO DE TIPOS TEXTUAIS: NARRATIVO, DESCRITIVO E DISSERTATIVO..................................15

CRITÉRIOS DE TEXTUALIDADE: COERÊNCIA E COESÃO E RECURSOS DE CONSTRUÇÃO TEXTUAL:


FONOLÓGICOS, MORFOLÓGICOS, SINTÁTICOS E SEMÂNTICOS..................................................................19

CONHECIMENTOS LINGUÍSTICOS E CONHECIMENTOS GRAMATICAIS CONFORME


PADRÃO FORMAL DA LÍNGUA .......................................................................................................... 23

PRINCÍPIOS GERAIS DE LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTO .........................................................................23

Intertextualidade............................................................................................................................................... 23

TIPOS DE DISCURSO.........................................................................................................................................23

VOZES DISCURSIVAS........................................................................................................................................24

Citação............................................................................................................................................................... 24
Paródia............................................................................................................................................................... 24
Alusão................................................................................................................................................................ 24
Paráfrase........................................................................................................................................................... 24
Epígrafe.............................................................................................................................................................. 25

SEMÂNTICA......................................................................................................................................... 24

CONSTRUÇÃO DE SENTIDO; SINONÍMIA, ANTONÍMIA, HOMONÍMIA, PARONÍMIA, POLISSEMIA,


DENOTAÇÃO E CONOTAÇÃO............................................................................................................................25

FIGURAS DE LINGUAGEM.................................................................................................................. 27

PONTUAÇÃO E EFEITOS DE SENTIDO.............................................................................................. 30

SINTAXE............................................................................................................................................... 33

ORAÇÃO, PERÍODO, TERMOS DAS ORAÇÕES..................................................................................................33

ARTICULAÇÃO DAS ORAÇÕES: COORDENAÇÃO E SUBORDINAÇÃO...........................................................38

CONCORDÂNCIA VERBAL E NOMINAL............................................................................................................41

REGÊNCIA VERBAL E NOMINAL.......................................................................................................................45

LEI ORGÂNICA DA POLÍCIA CIVIL DE MINAS GERAIS.......................................57


LEI ESTADUAL N.º 5.406, DE 16 DE DEZEMBRO DE 1969 (ESTATUTO DO SERVIDOR
POLICIAL CIVIL).................................................................................................................................. 57
REGIME DISCIPLINAR.......................................................................................................................................57

TRANSGRESSÕES DISCIPLINARES.................................................................................................................58

Classificação..................................................................................................................................................... 59
Causas e Circunstâncias que Influem no Julgamento................................................................................... 59
Penalidades....................................................................................................................................................... 60
Competência para Imposição de Penalidades............................................................................................... 61
Prisão Administrativa e Suspensão Preventiva.............................................................................................. 61
Procedimento Administrativo.......................................................................................................................... 61
Instauração do Processo................................................................................................................................. 61
Sindicância........................................................................................................................................................ 62
Comissões Processantes Permanentes......................................................................................................... 62

ATOS E TERMOS PROCESSUAIS......................................................................................................................63

Processo por Abandono de Cargo ou Função................................................................................................ 64


Revisão de Processo Administrativo............................................................................................................... 65

LEI COMPLEMENTAR ESTADUAL N.º 129, DE 08 DE NOVEMBRO DE 2013.................................. 66

DISPOSIÇÕES GERAIS.......................................................................................................................................66

Disposições Preliminares................................................................................................................................. 66

DA COMPETÊNCIA............................................................................................................................................68

DA ORGANIZAÇÃO............................................................................................................................................69

Da Estrutura Orgânica....................................................................................................................................... 69

DA ADMINISTRAÇÃO SUPERIOR — DA CHEFIA DA PCMG.............................................................................69

Da Chefia Adjunta da PCMG............................................................................................................................ 69


Do Conselho Superior da PCMG...................................................................................................................... 70
Do Órgão Especial............................................................................................................................................. 70
Da Câmara Disciplinar...................................................................................................................................... 70
Da Câmara de Planejamento e Orçamento..................................................................................................... 71
Da Corregedoria-Geral de Polícia Civil............................................................................................................. 71

DA ADMINISTRAÇÃO........................................................................................................................................72

Do Gabinete da Chefia da PCMG..................................................................................................................... 72


Da Academia de Polícia Civil............................................................................................................................ 72
Do Departamento de Trânsito de Minas Gerais.............................................................................................. 72
Da Superintendência de Investigação e Polícia Judiciária............................................................................ 73
Da Superintendência de Informações e Inteligência Policial......................................................................... 74
Da Superintendência de Polícia Técnico-Científica........................................................................................ 75
Da Superintendência de Planejamento, Gestão e Finanças.......................................................................... 76
DO ESTATUTO DOS POLICIAIS CIVIS...............................................................................................................76

Das Prerrogativas............................................................................................................................................. 76
Dos Direitos....................................................................................................................................................... 78
Dos Direitos dos Policiais Civis........................................................................................................................ 78
Das Indenizações e das Gratificações............................................................................................................ 79

DA REMOÇÃO.....................................................................................................................................................79

Do Regime de Trabalho do Policial Civil.......................................................................................................... 80

LICENÇAS, AFASTAMENTOS E DISPONIBILIDADES.......................................................................................81

Das Licenças..................................................................................................................................................... 81
Dos Afastamentos e das Disponibilidades..................................................................................................... 82

APOSENTADORIA, PROVENTOS E PENSÃO ESPECIAL..................................................................................83

Da Aposentadoria; Dos Proventos e Da Pensão Especial.............................................................................. 83

DAS CARREIRAS POLICIAIS CIVIS...................................................................................................................84

Disposições Gerais........................................................................................................................................... 84
Do Ingresso....................................................................................................................................................... 86
Do Estágio Probatório....................................................................................................................................... 87
Do Desenvolvimento na Carreira...................................................................................................................... 88
Do Adicional de Desempenho.......................................................................................................................... 89

DISPOSIÇÕES FINAIS........................................................................................................................................90

NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO.................................................................93


DIREITO ADMINISTRATIVO............................................................................................................... 93

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA..............................................................................................................................93

Conceito ............................................................................................................................................................ 93
Princípios........................................................................................................................................................... 93
Administração Pública Direta .......................................................................................................................... 96
Administração Pública Indireta........................................................................................................................ 96

AGENTES PÚBLICOS........................................................................................................................101

CONCEITO........................................................................................................................................................101

CLASSIFICAÇÃO (ESPÉCIE)............................................................................................................................101

CARGO PÚBLICO, EMPREGO PÚBLICO E FUNÇÃO PÚBLICA.......................................................................101

DIREITOS .........................................................................................................................................................102

DEVERES..........................................................................................................................................................104
RESPONSABILIDADE ADMINISTRATIVA, CIVIL E PENAL............................................................................106

LEI 8.429/92 (LEI DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA)..............................................................106

PODERES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA.....................................................................................114

PODER HIERÁRQUICO.....................................................................................................................................114

PODER DISCIPLINAR.......................................................................................................................................115

PODER REGULAMENTAR................................................................................................................................116

PODER DE POLÍCIA..........................................................................................................................................116

FATOS E ATOS ADMINISTRATIVOS................................................................................................117

CONCEITO........................................................................................................................................................117

REQUISITOS DO ATO ADMINISTRATIVO.......................................................................................................118

ATRIBUTOS DO ATO ADMINISTRATIVO........................................................................................................119

CLASSIFICAÇÃO..............................................................................................................................................120

REVOGAÇÃO E ANULAÇÃO............................................................................................................................121

SERVIÇOS PÚBLICOS.......................................................................................................................122

CONCEITO........................................................................................................................................................122

PRINCÍPIOS......................................................................................................................................................123

RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO........................................................................................124

REGIME JURÍDICO ADMINISTRATIVO............................................................................................127

NOÇÕES DE DIREITO CIVIL......................................................................................... 131


DIREITO CIVIL....................................................................................................................................131

DA PERSONALIDADE E DA CAPACIDADE......................................................................................................131

DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE.............................................................................................................132

DA PESSOA JURÍDICA......................................................................................................................145

RESPONSABILIDADE JURÍDICA......................................................................................................148

FATO JURÍDICO.................................................................................................................................151

NEGÓCIOS JURÍDICOS.....................................................................................................................152

CONCEITO........................................................................................................................................................152

VÍCIOS..............................................................................................................................................................155

Erro .................................................................................................................................................................. 155


Dolo.................................................................................................................................................................. 156
Coação............................................................................................................................................................. 157

CULPA...............................................................................................................................................................157

RELAÇÕES DE PARENTESCO...........................................................................................................158

NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL............................................................. 163


DIREITO CONSTITUCIONAL.............................................................................................................163

CONCEITO........................................................................................................................................................163

PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS..........................................................................................................165

DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS.....................................................................................169

DIREITOS INDIVIDUAIS...................................................................................................................................169

DIREITOS COLETIVOS.....................................................................................................................................183

DIREITOS SOCIAIS...........................................................................................................................................184

O ESTADO...........................................................................................................................................190

CONCEITO, ELEMENTOS E FINALIDADE DO ESTADO...................................................................................190

ORGANIZAÇÃO DO ESTADO............................................................................................................190

FUNÇÕES ESSENCIAIS À JUSTIÇA................................................................................................................209

DA DEFESA DO ESTADO E DAS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS................................................211

NOÇÕES DE DIREITO PENAL .................................................................................... 217


DIREITO PENAL.................................................................................................................................217

PRINCÍPIOS PENAIS CONSTITUCIONAIS.....................................................................................................217

TEMPO E LUGAR DO CRIME.............................................................................................................221

CONTAGEM DE PRAZO.....................................................................................................................230

CONCEITO DE CRIME E SEUS ELEMENTOS...................................................................................230

CONCURSO DE PESSOAS.................................................................................................................242

AUTORIA..........................................................................................................................................................243

PARTICIPAÇÃO................................................................................................................................................246

AÇÃO PENAL.....................................................................................................................................247

CLASSIFICAÇÃO..............................................................................................................................................247
CONDIÇÕES......................................................................................................................................................248

DOS CRIMES EM ESPÉCIE................................................................................................................248

CRIMES CONTRA A PESSOA..........................................................................................................................248

CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO..................................................................................................................275

CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL......................................................................................................299

CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA..........................................................................................306

NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL....................................................... 341


DIREITO PROCESSUAL PENAL........................................................................................................341

DIREITOS E GARANTIAS PROCESSUAIS PENAIS.........................................................................................341

INVESTIGAÇÃO CRIMINAL POLICIAL- INQUÉRITO POLICIAL.....................................................342

AÇÃO PENAL.....................................................................................................................................349

PRISÃO CAUTELAR...........................................................................................................................356

PRISÃO EM FLAGRANTE.................................................................................................................................356

Tipos e espécies de Flagrante....................................................................................................................... 356

TEORIA GERAL DA PROVA PENAL..................................................................................................358

CADEIA DE CUSTÓDIA.....................................................................................................................................359

DIREITOS HUMANOS..................................................................................................... 363


TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS....................................................................................363

O PROCESSO HISTÓRICO DE CONSTRUÇÃO E AFIRMAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS.........367

A ESTRUTURA NORMATIVA DO SISTEMA GLOBAL E DO SISTEMA INTERAMERICANO DE


PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS...........................................................................................369

SISTEMA GLOBAL DE PROTEÇÃO AOS DIREITOS HUMANOS.................................................................... 369


SISTEMA INTERAMERICANO DE PROTEÇÃO AOS DIREITOS HUMANOS..................................................370

A CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988 E OS TRATADOS


INTERNACIONAIS DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS.....................................................379

DEMOCRACIA, CIDADANIA E DIREITOS E HUMANOS..................................................................385

DIREITOS HUMANOS, MINORIAS E GRUPOS VULNERÁVEIS:......................................................386

MULHERES.......................................................................................................................................................386

IDOSOS.............................................................................................................................................................388
CRIANÇAS E ADOLESCENTES........................................................................................................................388

POVOS INDÍGENAS E COMUNIDADES TRADICIONAIS.................................................................................389

PESSOA COM DEFICIÊNCIA............................................................................................................................389

LGBTQIA+.........................................................................................................................................................390

REFUGIADOS....................................................................................................................................................391

POLÍTICA NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS.............................................................................393

EDUCAÇÃO E CULTURA EM DIREITOS HUMANOS........................................................................395

AGENDA 2030 E OS OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL................................398

SEGURANÇA PÚBLICA E DIREITOS HUMANOS.............................................................................401

NOÇÕES DE INFORMÁTICA........................................................................................ 409


SISTEMA OPERACIONAL WINDOWS 10.........................................................................................409

MICROSOFT WORD 2016: EDIÇÃO E FORMATAÇÃO DE TEXTOS................................................423

LIBREOFFICE WRITER 7.1.6: EDIÇÃO E FORMATAÇÃO DE TEXTOS............................................437

MICROSOFT EXCEL 2016: ELABORAÇÃO, CÁLCULOS E MANIPULAÇÃO DE TABELAS E


GRÁFICOS..........................................................................................................................................442

LIBREOFFICE CALC 7.1.6: ELABORAÇÃO, CÁLCULOS E MANIPULAÇÃO DE TABELAS E


GRÁFICOS..........................................................................................................................................458

MICROSOFT POWERPOINT 2016: ESTRUTURA BÁSICA DE APRESENTAÇÕES, EDIÇÃO E


FORMATAÇÃO...................................................................................................................................462

LIBREOFFICE IMPRESS 7.1.6: ESTRUTURA BÁSICA DE APRESENTAÇÕES, EDIÇÃO E


FORMATAÇÃO...................................................................................................................................465

MICROSOFT OUTLOOK 2016: CORREIO ELETRÔNICO.................................................................468

GOOGLE CHROME 93.X OU SUPERIOR: NAVEGAÇÃO NA INTERNET.........................................469

SEGURANÇA: TIPOS DE VÍRUS, CAVALOS DE TRÓIA, MALWARES, WORMS, SPYWARE,


PHISHING, PHARMING, RANSOMWARES, SPAM..........................................................................469
Todos esses assuntos completam o estudo basilar
de semântica com foco em provas e concursos, sempre
de olho na sua aprovação. Por isso, convidamos você a
estudar com afinco e dedicação, sem esquecer de pra-

LÍNGUA PORTUGUESA
ticar seus conhecimentos realizando os exercícios de
cada tópico, bem como, a seleção de exercícios finais,
selecionados especialmente para que este material
cumpra o propósito de alcançar sua aprovação.

INTERPRETAÇÃO E COMPREENSÃO DE INFERÊNCIA — ESTRATÉGIAS DE INTERPRETAÇÃO


TEXTOS A inferência é uma relação de sentido conhecida
INTRODUÇÃO desde a Grécia Antiga e que embasa as teorias sobre
interpretação de texto.
A interpretação e a compreensão textual são
aspectos essenciais a serem dominados por aque- Dica
les candidatos que buscam a aprovação em seleções
e concursos públicos. Trata-se de um assunto que Interpretar é buscar ideias, pistas do autor do
abrange questões específicas e de conteúdo geral nas texto, nas linhas apresentadas.
provas; conhecer e dominar estratégias que facilitem
a apreensão desse assunto pode ser o grande diferen- Porém, apesar de, aparentemente, parecer algo
cial entre o quase e a aprovação. subjetivo, existem “regras” para se buscar essas pistas.
Além disso, seja a compreensão textual, seja a A primeira e mais importante delas é identificar a
interpretação textual, ambas guardam uma relação orientação do pensamento do autor do texto, que fica
de proximidade com um assunto pouco explorado perceptível quando identificamos como o raciocínio
pelos cursos de português: a semântica, que incide dele foi exposto, se de maneira mais racional, a partir
suas relações de estudo sobre as relações de sentido da análise de dados, informações com fontes confiá-
que a forma linguística pode assumir. veis ou se de maneira mais empirista, partindo dos
Portanto, neste material você encontrará recursos efeitos, das consequências, a fim de se identificar as
para solidificar seus conhecimentos em interpretação causas.
e compreensão textual, associando a essas temáticas Por isso, é preciso compreender como podemos
as relações semânticas que permeiam o sentido de interpretar um texto mediante estratégias de leitura.
todo amontoado de palavras, tendo em vista que qual- Muitos pesquisadores já se debruçaram sobre o tema,
quer aglomeração textual é, atualmente, considerada que é intrigante e de grande profundidade acadêmi-
texto e, dessa forma, deve ter um sentido que precisa ca; neste material, selecionamos as estratégias mais
ser reconhecido por quem o lê. eficazes que podem contribuir para sua aprovação
Assim, vamos começar nosso estudo fazendo uma em seleções que avaliam a competência leitora dos
breve diferença entre os termos compreensão e candidatos.
interpretação textual.
A partir disso, apresentamos estratégias de leitura
Para muitos, essas palavras expressam o mesmo
que focam nas formas de inferência sobre um texto.
sentido, mas, como pretendemos deixar claro neste
Dessa forma, é fundamental identificar como ocorre
material, ainda que existam relações de sinonímia
o processo de inferência, que se dá por dedução
entre palavras do nosso vocabulário, a opção do autor
ou por indução. Para entender melhor, veja esse
por um termo ao invés de outro reflete um sentido
exemplo:
que deve ser interpretado no texto, uma vez que a
interpretação realiza ligações com o texto a partir
O marido da minha chefe parou de beber.
das ideias que o leitor pode concluir com a leitura.
Já a compreensão busca a análise de algo exposto
Observe que é possível inferir várias informa-
no texto, e, geralmente, é marcada por uma palavra ou
uma expressão e apresenta mais relações semânticas ções a partir dessa frase. A primeira é que a chefe do
e sintáticas. A compreensão textual estipula aspectos enunciador é casada (informação comprovada pela
linguísticos essencialmente relacionados à significa- expressão “marido”), a segunda é que o enuncia-
ção das palavras e, por isso, envolve uma forte ligação dor está trabalhando (informação comprovada pela
com a semântica. expressão “minha chefe”) e a terceira é que o marido
LÍNGUA PORTUGUESA

Sabendo disso, é importante separarmos os con- da chefe do enunciador bebia (expressão comprovada
teúdos que tenham mais apelo interpretativo ou pela expressão “parou de beber”). Note que há pistas
compreensivo. Neste material, você encontrará um contextuais do próprio texto que induzem o leitor a
forte conteúdo que relaciona semântica e interpreta- interpretar essas informações.
ção, contendo questões sobre os assuntos: inferência; Tratando-se de interpretação textual, os processos
figuras de linguagem; vícios de linguagem; e intertex- de inferência, sejam por dedução ou por indução, par-
tualidade. No que se refere aos estudos que focam na tem de uma certeza prévia para a concepção de uma
compreensão e semântica, os principais tópicos são: interpretação, construída pelas pistas oferecidas no
semântica dos sentidos e suas relações; coerência e texto junto da articulação com as informações acessa-
coesão; gêneros textuais (mais abordados em provas das pelo leitor do texto.
de concursos); tipos textuais e, ainda, as variações lin- A seguir, apresentamos um fluxograma que repre-
guísticas e suas consequências para o sentido. senta como ocorre a relação desses processos: 13
DEDUÇÃO → CERTEZA → INTERPRETAR Os conectivos (conjunções,
preposições, pronomes)
INFERÊNCIA ATENÇÃO AOS
são marcadores claros de
CONECTIVOS
INDUÇÃO → INTERPRETAR → CERTEZA opiniões, espaços físicos e
localizadores textuais

A partir desse esquema, conseguimos visualizar


A DEDUÇÃO
melhor como o processo de interpretação ocorre.
Agora, iremos detalhar esse processo, reconhecendo A leitura de um texto envolve a análise de diversos
as estratégias que compõem cada maneira de inferir aspectos que o autor pode colocar explicitamente ou de
informações de um texto. Por isso, vamos apresentar maneira implícita no enunciado.
nos tópicos seguintes como usar estratégias de cunho Em questões de concurso, as bancas costumam
dedutivo, indutivo e, ainda, como articular a isso o procurar nos enunciados implícitos do texto aspectos
nosso conhecimento de mundo na interpretação de para abordar em suas provas.
textos. No momento de ler um texto, o leitor articula seus
conhecimentos prévios a partir de uma informação
A INDUÇÃO que julga certa, buscando uma interpretação; assim,
ocorre o processo de interpretação por dedução. Con-
As estratégias de interpretação que observam forme Kleiman (2016, p. 47):
métodos indutivos analisam as “pistas” que o texto
oferece e, posteriormente, reconhecem alguma certe- Ao formular hipóteses o leitor estará predizendo
temas, e ao testá-las ele estará depreendendo o
za na interpretação. Dessa forma, é fundamental bus-
tema; ele estará também postulando uma possí-
car uma ordem de eventos ou processos ocorridos no vel estrutura textual; na predição ele estará ati-
texto e que variam conforme o tipo textual. vando seu conhecimento prévio, e na testagem
Sendo assim, no tipo textual narrativo, podemos ele estará enriquecendo, refinando, checando esse
identificar uma organização cronológica e espacial no conhecimento.
desenvolvimento das ações marcadas, por exemplo,
pelo uso do pretérito imperfeito; na descrição, pode- Fique atento a essa informação, pois é uma das
mos organizar as ideias do texto a partir da marcação primeiras estratégias de leitura para uma boa inter-
de adjetivos e demais sintagmas nominais; na argu- pretação textual: formular hipóteses, a partir da
mentação, esse encadeamento de ideias fica marcado macroestrutura textual; ou seja, antes da leitura ini-
pelo uso de conjunções e elementos que expõem uma cial, o leitor deve buscar identificar o gênero textual
ideia/ponto de vista. ao qual o texto pertence, a fonte da leitura, o ano,
entre outras informações que podem vir como “aces-
No processo interpretativo indutivo, as ideias são
sórios” do texto e, então, formular hipóteses sobre a
organizadas a partir de uma especificação para uma
leitura que deverá se seguir. Uma outra dica impor-
generalização. Vejamos um exemplo:
tante é ler as questões da prova antes de ler o texto,
pois, assim, suas hipóteses já estarão agindo conforme
Eu não sou literato, detesto com toda a paixão essa
um objetivo mais definido.
espécie de animal. O que observei neles, no tempo
O processo de interpretação por estratégias
em que estive na redação do O Globo, foi o bastan-
de dedução envolve a articulação de três tipos de
te para não os amar, nem os imitar. São em geral
conhecimento:
de uma lastimável limitação de ideias, cheios de
fórmulas, de receitas, só capazes de colher fatos
z Conhecimento Linguístico;
detalhados e impotentes para generalizar, cur-
z Conhecimento Textual;
vados aos fortes e às ideias vencedoras, e antigas,
z Conhecimento de Mundo.
adstritos a um infantil fetichismo do estilo e guia-
dos por conceitos obsoletos e um pueril e errôneo
O conhecimento de mundo, por tratar-se de um
critério de beleza. assunto mais abrangente, será abordado mais adiante.
(BARRETO, 2010, p. 21) Os demais, iremos abordar detalhadamente a seguir.

O trecho em destaque na citação do escritor Lima Conhecimento Linguístico


Barreto, em sua obra “Recordações do escrivão Isaías
Caminha” (1917), identifica bem como o pensamento Esse é o conhecimento basilar para compreensão e
indutivo compõe a interpretação e decodificação de decodificação do texto. Ele envolve o reconhecimento
um texto. Para deixar ainda mais evidente as estraté- das formas linguísticas estabelecidas socialmente por
gias usadas para identificar essa forma de interpretar, uma comunidade linguística, ou seja, envolve o reco-
deixamos a seguir dicas de como buscar a organiza- nhecimento das regras de uma língua.
ção cronológica de um texto. É importante salientar que as regras de reconhe-
cimento sobre o funcionamento da língua não são,
necessariamente, as regras gramaticais, mas as regras
A propriedade vocabular leva que estabelecem, por exemplo, no caso da língua por-
o cérebro a aproximar as pa- tuguesa, que o feminino é marcado pela desinência -a,
PROCURE SINÔNIMOS
lavras que têm maior asso- que a ordem de escrita respeita o sistema sujeito-ver-
ciação com o tema do texto
14 bo-objeto (SVO) etc.
Ângela Kleiman (2016) afirma que o conhecimen- Conforme Kleiman (2016), durante a leitura, nosso
to linguístico é aquele que “abrange desde o conhe- conhecimento de mundo que é relevante para a com-
cimento sobre como pronunciar português, passando preensão textual é ativado; por isso, é natural ao nosso
pelo conhecimento de vocabulário e regras da língua, cérebro associar informações, a fim de compreender
chegando até o conhecimento sobre o uso da língua” o novo texto que está em processo de interpretação.
(2016, p. 15). A esse respeito, a autora propõe o seguinte exer-
Um exemplo em que a interpretação textual é pre- cício para atestarmos a importância da ativação do
judicada pelo conhecimento linguístico é o texto a
conhecimento de mundo em um processo de interpre-
seguir:
tação. Leia o texto a seguir e faça o que se pede:

Como gemas para financiá-lo, nosso herói desa-


fiou valentemente todos os risos desdenhosos que
tentaram dissuadi-lo de seu plano. “Os olhos enga-
nam” disse ele, “um ovo e não uma mesa tipificam
corretamente esse planeta inexplorado.” Então as
três irmãs fortes e resolutas saíram à procura de
provas, abrindo caminho, às vezes através de imen-
sidões tranquilas, mas amiúde através de picos e
vales turbulentos (KLEIMAN, 2016, p. 24).

Agora tente responder as seguintes perguntas


sobre o texto:
Quem é o herói de que trata o texto?
Quem são as três irmãs?
Qual é o planeta inexplorado?
Certamente, você não conseguiu responder nenhu-
ma dessas questões; porém, ao descobrir o título des-
se texto, sua compreensão sobre essas perguntas será
afetada. O texto se chama “A descoberta da América
por Colombo”. Agora, volte ao texto, releia-o e busque
responder às questões; certamente você não terá mais
Fonte: https://bityli.com/OO6WHw. Acesso em: 5 out. 2021. as mesmas dificuldades.
Ainda que o texto não tenha sido alterado, ao voltar
Como é possível notar, o texto é uma peça publici- seus olhos por uma segunda vez a ele, já sabendo do
tária escrita em inglês, portanto, somente os leitores
que se trata, seu cérebro ativou um conhecimento pré-
proficientes nessa língua serão capazes de decodificar
vio que é essencial para a interpretação de questões.
e entender o que está escrito; assim, o conhecimento
linguístico torna-se crucial para a interpretação. Essas
são algumas estratégias de interpretação em que IDENTIFICAÇÃO DE TIPOS TEXTUAIS: NARRATIVO,
podemos usar métodos dedutivos. DESCRITIVO E DISSERTATIVO

Conhecimento Textual Tipos ou sequências textuais são unidades que


estruturam o texto. Para Bronckart1, “são unidades
Esse tipo de conhecimento atrela-se ao conheci- estruturais, relativamente autônomas, organizadas
mento linguístico e se desenvolve pela experiência em frases”.
leitora. Quanto maior exposição a diferentes tipos de Os tipos textuais marcam uma forma de organiza-
textos, melhor se dá a sua compreensão. Nesse conhe- ção da estrutura do texto, que se molda a depender
cimento, o leitor desenvolve sua habilidade porque do gênero discursivo e da necessidade comunicativa.
prepara sua leitura de acordo com o tipo de texto que Por exemplo, há gêneros que apresentam a predomi-
está lendo. Não se lê uma bula de remédio como se lê nância de narrações (contos, fábulas, romances, his-
uma receita de bolo ou um romance. Não se lê uma tória em quadrinhos etc.). Já em outros, predomina a
reportagem como se lê um poema. argumentação (redação do Enem, teses, dissertações,
Em outras palavras, esse conhecimento relaciona-
artigos de opinião etc.).
LÍNGUA PORTUGUESA

-se com a habilidade de reconhecer diferentes tipos de


No intuito de conceituar melhor os tipos textuais,
discursos, estruturas, tipos e gêneros textuais.
inspiramo-nos em Cavalcante (2013) e apresentamos a
seguinte figura, que demonstra como podemos identi-
Conhecimento de Mundo
ficar os tipos textuais e suas principais características,
O uso dos conhecimentos prévios é fundamental tendo em vista que cada sequência textual apresenta
para a boa interpretação textual, por isso, é sempre características próprias que pouco ou nada sofrem em
importante que o candidato a cargos públicos reserve alterações, mantendo uma estrutura linguística quase
um tempo para ampliar sua biblioteca e buscar fontes rígida que nos permite classificar os tipos textuais em
de informações fidedignas, para, dessa forma, aumen- cinco categorias (Narrativo, Descritivo, Expositivo,
tar seu conhecimento de mundo. Instrucional e Argumentativo).
1  BRONCKART, 1999 apud CAVALCANTE, 2013. 15
GÊNERO TEXTUAL

FRASES TIPO TEXTUAL TEXTO

A partir dessa imagem, podemos identificar que a orientação gramatical mantida pelas frases apresenta mar-
cas linguísticas, assinalando o tipo textual predominante que o texto deve manter, organizado pelas marcas do
gênero textual ao qual o texto pertence.

TIPO TEXTUAL
Classifica-se conforme as marcas linguísticas apresentadas no texto. Também é chamado de sequência textual
GÊNERO TEXTUAL
Classifica-se conforme a função do texto, atribuída socialmente

Uma última informação muito importante sobre tipos textuais que devemos considerar é que nenhum texto é
composto apenas por um tipo textual; o que ocorre é a existência de predominância de algumas sequências em
detrimento de outras, de acordo com o texto.
A seguir, aprenderemos a diferenciar cada classe de tipos textuais, reconhecendo suas principais característi-
cas e marcas linguísticas.
CLASSIFICAÇÃO DOS TIPOS TEXTUAIS E SUAS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS
Narrativo
Os textos compostos predominantemente por sequências narrativas cumprem o objetivo de contar uma his-
tória, narrar um fato. Por isso, precisam manter a atenção do leitor/ouvinte e, para tal, lançam mão de algumas
estratégias, como a organização dos fatos a partir de marcadores temporais e espaciais, a inclusão de um momen-
to de tensão (chamado de clímax) e um desfecho que poderá ou não apresentar uma moral.
Conforme Cavalcante (2013), o tipo textual narrativo pode ser caracterizado por sete aspectos. São eles:

z Situação inicial: Envolve a “quebra” de um equilíbrio, o que demanda uma situação conflituosa;
z Complicação: Desenvolvimento da tensão apresentada inicialmente;
z Ações (para o clímax): Acontecimentos que ampliam a tensão;
z Resolução: Momento de solução da tensão;
z Situação final: Retorno da situação equilibrada;
z Avaliação: Apresentação de uma “opinião” sobre a resolução;
z Moral: Apresentação de valores morais que a história possa ter apresentado.

Esses sete passos podem ser encontrados no seguinte exemplo, a canção “Era um garoto que como eu...” Vamos
lê-la e identificar essas características, bem como aprender a identificar outros pontos do tipo textual narrativo.

Era um garoto que como eu


Amava os Beatles e os Rolling Stones
Girava o mundo sempre a cantar
As coisas lindas da América
Não era belo, mas mesmo assim Situação inicial: predomínio de equilíbrio
Havia mil garotas afim
Cantava Help and Ticket to Ride
Oh Lady Jane e Yesterday
Cantava viva à liberdade
Mas uma carta sem esperar
Da sua guitarra, o separou
Fora chamado na América Complicação: início da tensão
Stop! Com Rolling Stones
Stop! Com Beatles songs
Mandado foi ao Vietnã
Clímax
Lutar com vietcongs
Era um garoto que como eu
Amava os Beatles e os Rolling Stones
Resolução
Girava o mundo, mas acabou
Fazendo a guerra no Vietnã

16
Cabelos longos não usa mais
Não toca a sua guitarra e sim
Um instrumento que sempre dá
A mesma nota,
ra-tá-tá-tá Situação final /
Não tem amigos, não vê garotas Avaliação
Só gente morta caindo ao chão
Ao seu país não voltará
Pois está morto no Vietnã
[...]
No peito, um coração não há
Moral
Mas duas medalhas sim

Disponível em: https://www.letras.mus.br/engenheiros-do-hawaii/12886/. Acesso em: 30 ago. 2021.

Essas sete marcas que definem o tipo textual narrativo podem ser resumidas em marcas de organização lin-
guística que são caracterizadas por:

z Presença de marcadores temporais e espaciais;


z Verbos, predominantemente, utilizados no passado;
z Presença de narrador e personagens.

Importante!
Os gêneros textuais que são predominantemente narrativos apresentam outras tipologias textuais em sua com-
posição, tendo em vista que nenhum texto é composto exclusivamente por uma sequência textual. Por isso,
devemos sempre identificar as marcas linguísticas que são predominantes em um texto, a fim de classificá-lo.

Para sua compreensão, também é necessário saber o que são marcadores temporais e espaciais. São formas
linguísticas como advérbios, pronomes, locuções etc. utilizados para demarcar um espaço físico ou temporal em
textos. Nos tipos textuais narrativos, esses elementos são essenciais para marcar o equilíbrio e a tensão da histó-
ria, além de garantirem a coesão do texto. Exemplos de marcadores temporais e espaciais: Atualmente, naquele
dia, nesse momento, aqui, ali, então...
Outro indicador do texto narrativo é a presença do narrador da história. Por isso, é importante aprendermos
a identificar os principais tipos de narrador de um texto:

Narrador: Também conhecido como foco narrativo, é o responsável por contar os fatos que compõem o texto
Narrador personagem: Verbos flexionados em 1ª pessoa. O narrador participa dos fatos
Narrador observador: Verbos flexionados em 3ª pessoa. O narrador tem propriedade dos fatos contados, porém, não
participa das ações
Narrador onisciente: Os fatos podem ser contados na 3ª ou 1ª pessoa verbal. O narrador conhece os fatos e não parti-
cipa das ações, porém, o fluxo de consciência do narrador pode ser exposto, levando o texto para a 1ª pessoa

Alguns gêneros conhecidos por suas marcas predominantemente narrativas são notícia, diário, conto, fábula,
entre outros. É importante reafirmar que o fato de esses gêneros serem essencialmente narrativos não significa
que não possam apresentar outras sequências em sua composição.
Para diferenciar os tipos textuais e proceder na classificação correta, é sempre essencial atentar-se às marcas
que predominam no texto.
Após demarcarmos as principais características do tipo textual narrativo, vamos agora conhecer as marcas
mais importantes da sequência textual classificada como descritiva.

Descritivo
LÍNGUA PORTUGUESA

O tipo textual descritivo é marcado pelas formas nominais que dominam o texto. Os gêneros que utilizam esse tipo
textual geralmente utilizam a sequência descritiva como suporte para um propósito maior. São exemplos de textos
cujo tipo textual predominante é a descrição: relato de viagem, currículo, anúncio, classificados, lista de compras.
Veja um trecho da Carta de Pero Vaz de Caminha, que relata, no ano de 1500, suas impressões a respeito de
alguns aspectos do território que viria a ser chamado de Brasil.

Ali veríeis galantes, pintados de preto e vermelho, e quartejados, assim pelos corpos como pelas pernas, que, certo,
assim pareciam bem. Também andavam entre eles quatro ou cinco mulheres, novas, que assim nuas, não pareciam
mal. Entre elas andava uma, com uma coxa, do joelho até o quadril e a nádega, toda tingida daquela tintura preta;
e todo o resto da sua cor natural. Outra trazia ambos os joelhos com as curvas assim tintas, e também os colos dos
pés; e suas vergonhas tão nuas, e com tanta inocência assim descobertas, que não havia nisso desvergonha nenhuma.

Disponível em: https://www.todamateria.com.br/carta-de-pero-vaz-de-caminha/. Acesso em: 30 ago. 2021. 17


Note que apesar da presença pontual da sequência narrativa, há predominância da descrição do cenário e dos
personagens, evidenciada pela presença de adjetivos (galantes, preto, vermelho, nuas, tingida, descobertas etc.).
A carta de Pero Vaz constitui uma espécie de relato descritivo utilizado para manter a comunicação entre a Corte
Portuguesa e os navegadores.
Considerando as emergências comunicativas do mundo moderno, a carta tornou-se um gênero menos usual e,
aos poucos, substituído por outros gêneros, como, por exemplo, o e-mail.
A sequência descritiva também pode se apresentar de forma esquemática em alguns gêneros, como podemos
ver no cardápio a seguir:

Disponível em: https://g1.globo.com/sp/sorocaba-jundiai/noticia/2020/07/12/filha-de-dono-de-cantina-faz-desenhos-para-divulgar-cardapio-e-


ajudar-o-pai-a-vender-na-web.ghtml. Acesso em: 30 ago. 2021.

Note que há a presença de muitos adjetivos, locuções, substantivos, que buscam levar o leitor a imaginar o
objeto descrito. O gênero mostrado apresenta a descrição das refeições (pão, croissant, feijão, carne etc.) com uso
de adjetivos ou locuções adjetivas (de queijo, doce, salgado, com calabresa, moída etc.). Ele está organizado de
forma esquematizada em seções (salgados, lanches, caldos e panquecas) de maneira a facilitar a leitura (o pedido,
no caso) do cliente.

Dissertativo

O tipo textual dissertativo é sem dúvidas o mais complexo e, por vezes, pode apresentar maior dificuldade na
identificação, bem como em sua análise.
O texto dissertativo tem por objetivo a defesa de um ponto de vista, portanto, envolve a defesa de uma tese
e a apresentação de argumentos que visam sustentar essa tese. Alguns exemplos de textos argumentativos são
18 artigos, monografias, ensaios científicos e filosóficos, dentre outros.
Outro aspecto importante dos textos argumentati- Essa metáfora nos leva a comparar um texto com um
vos é que eles são compostos por estruturas linguís- prédio, tal qual uma boa construção precisa de um bom
ticas conhecidas como operadores argumentativos, alicerce para manter-se em pé; um texto bem construí-
que organizam as orações subordinadas, estruturas do depende da organização das nossas ideias, da forma
mais comuns nesse tipo textual. como elas estão dispostas no texto. Isso significa que pre-
A seguir, apresentamos um quadro sintético com cisamos utilizar adequadamente os processos coesivos,
algumas estruturas linguísticas que funcionam como a fim de defendermos nossas ideias.
operadores argumentativos e que facilitam a escrita e Por isso, neste capítulo, iremos apresentar as prin-
a leitura de textos argumentativos: cipais formas de marcação, de processos que buscam
organizar as ideias em um texto, principalmente, os
OPERADORES ARGUMENTATIVOS processos de coesão que, como dissemos, apresentam
É incontestável que... um apelo mais forte às formas linguísticas que os pro-
Tal atitude é louvável / repudiável / notável... cessos envolvendo a coerência.
É mister / é fundamental / é essencial... No entanto, faz-se necessário mostrar algumas
características da coerência em um texto e como esse
processo liga-se não apenas às formas gramaticais,
Observe o exemplo a seguir:
mas, sobretudo, ao forte teor cognitivo. Tendo em
vista que a coerência é construída, tal qual o sentido,
O governo gasta, todos os anos, bilhões de reais no
tratamento das mais diversas doenças relacionadas
coletivamente, não por acaso, o grande linguista e
ao tabagismo; os ganhos com os impostos nem de estudioso da língua portuguesa, Luis Antonio Marcus-
longe compensam o dinheiro gasto com essas doen- chi (2007) afirmou que a coerência é “algo dinâmico
ças. Além disso, as empresas têm grandes prejuízos que se encontra mais na mente que no texto”.
por causa de afastamentos de trabalhadores devido Dito isso, usamos as palavras de Cavalcante (2013)
aos males causados pelo fumo. Portanto, é mis- para esclarecer ainda mais o conceito de coerência e
ter que sejam proibidas quaisquer propagandas de passarmos ao estudo detalhado dos processos de coe-
cigarros em todos os meios de comunicação. são. A autora afirma que a coerência:
Disponível em: http://educacao.globo.com/portugues/assunto/
texto-argumentativo/argumentacao.html. Acesso em: 30 ago. 2021.
Adaptado.
[...] Não está no texto em si; não nos é possível apon-
tá-la, destacá-la ou sublinha-la. Ela se constrói [...]
numa dada situação comunicativa, na qual o leitor,
Essas estruturas, quando utilizadas adequadamen-
com base em seus conhecimentos sociocognitivos e
te no texto argumentativo, expõem a opinião do autor, interacionais e na materialidade linguística, confe-
ajudando na defesa de seu ponto de vista e construin- re sentido ao que lê (CAVALCANTE, 2013, p. 31).
do a estrutura argumentativa desse tipo textual.
A seguir iremos nos deter aos processos de coesão
CRITÉRIOS DE TEXTUALIDADE: COERÊNCIA E importantes para uma boa compreensão e elaboração
COESÃO E RECURSOS DE CONSTRUÇÃO TEXTUAL:
textual. É importante destacar que esses processos de
FONOLÓGICOS, MORFOLÓGICOS, SINTÁTICOS E
coesão não podem ser dissociados da construção de sen-
SEMÂNTICOS
tidos implícita no processo de organização da coerência.
Ao elaborarmos um texto, devemos buscar organi-
COESÃO REFERENCIAL
zar as ideias apresentadas de modo a torná-lo coeso e
coerente. Porém, como fazer para que essa organiza-
ção mantenha esse padrão? Para descobrir, primeiro A coesão é marcada por processos referenciais que
é preciso esclarecer o que é coesão e o que é coerência relacionam termos e ideias a partir de mecanismos
e por que buscar esse padrão é importante. que inserem ou retomam uma porção textual. Os pro-
Os textos não são somente um aglomerado de pala- cessos marcados pela referenciação caracterizam-se
vras e frases escritas. Suas partes devem ser articula- pela construção de referentes em um texto, os quais
das e organizadas harmoniosamente de maneira que se relacionam com as ideias defendidas no texto. Esse
o texto faça sentido como um todo. A ligação, a rela- processo é marcado por vocábulos gramaticais e pode
ção, os nexos entre essas partes estabelecem o que se ser reconhecido pelo uso de algumas classes de pala-
chama de coesão textual. Os articuladores responsá- vras, das quais falaremos a seguir.
veis por essa “costura” do tecido (tessitura) do texto Antes, é necessário reconhecer processos referen-
são conhecidos como recursos coesivos que devem ser ciais que envolvam o uso de expressões anafóricas e
articulados de forma que garanta uma relação lógica catafóricas. Conforme Cavalcante (2013), “as expres-
entre as ideias, fazendo com que o texto seja inteli- sões que retomam referentes já apresentados no tex-
gível e faça sentido em determinado contexto. A res- to por outras expressões são chamadas de anáforas”.
peito disso, temos a coerência textual, que está ligada Vejamos o exemplo a seguir:
LÍNGUA PORTUGUESA

diretamente à significação do texto, aos sentidos que


ele produz para o leitor.
O Rocky Balboa era um humilde lutador de bairro, que
vivia de suas discretas lutas, no início de sua carreira.
COESÃO COERÊNCIA
Segundo seu treinador Mickey, Rocky era um jovem pro-
Utiliza-se de elementos super- Subjacente ao texto, enfatiza- missor, mas nunca se interessou realmente em evoluir,
ficiais, dando-se ênfase na for- -se o conteúdo e a produção preferiu trabalhar para um agiota italiano chamado Tony
ma e na articulação entre as de sentido/relação lógica Gazzo, com quem manteve uma certa amizade. Gazzo gos-
ideias tava de Rocky por ele ser descendente de italiano e o aju-
dou dando US$ 500,00 para o seu treinamento, na primeira
luta que fez com Apollo Creed.
Podemos usar uma metáfora muito interessante
quando se trata de compreender os processos de coe- Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Rocky_Balboa. Acesso em: 5 out.
são e coerência. 2021. Adaptado. 19
A partir da leitura, podemos perceber que todos os Nota-se, com isso, que esses pronomes apontam
termos destacados fazem referência a um mesmo refe- para uma parcela objetiva do texto, diferente do pro-
rente: Rocky Balboa. O processo de referenciação utiliza- nome “essa”, associado ao substantivo “tragédia”, que
do foi o uso de anáforas que assumem variadas formas recupera uma parcela textual maior, fazendo referên-
gramaticais e buscam conectar as ideias do texto. cia ao momento de pandemia em que o mundo passa.
Já os processos referenciais catafóricos apontam O uso de pronomes pode ser um aliado na construção
para porções textuais que ainda não foram mencio- da coesão, porém, o uso inadequado pode gerar ambi-
nadas anteriormente no texto, conforme o exemplo a guidades, ocasionando o efeito oposto e prejudicando a
seguir: “Os documentos requeridos para os candidatos coesão. Ex.: Encontrei Matheus, Pedro e sua mulher.
são estes: Identidade, CPF, Título de eleitor e reservista”
Não é possível saber qual dos homens estava
acompanhado.
Dica Por fim, destacamos que as classes de palavras
Em provas de concursos e seleções, ainda se relacionadas neste capítulo com os processos de coe-
encontra a terminologia “expressões referenciais são não podem ser vistas apenas sob a ótica descriti-
catafóricas”, remetendo ao uso já indicado no va-normativa, amplamente estudada nas gramáticas
material. No entanto, é importante salientar que, escolares. O interesse das principais bancas de con-
para linguistas e estudiosos, as anáforas são os cursos públicos é avaliar a capacidade interpretati-
processos referenciais que recuperam e/ou apon- va e racional dos candidatos. A análise de processos
tam para porções textuais. coesivos visa analisar a capacidade do candidato de
reconhecer a que e qual elemento está construindo as
Uso de Pronomes ou Pronominalização referências textuais.

Utilizar pronomes para manter a coesão de um Uso de Numerais


texto é essencial, evitando-se repetições desnecessá-
rias que tornam o texto cansativo para o leitor. Como Conforme mencionamos anteriormente, o uso de
a classe de pronomes é vasta, vamos enfatizar neste categorias gramaticais concorre para a progressão tex-
estudo os principais pronomes utilizados em recursos tual; uma das classes gramaticais que auxilia esse pro-
textuais para manter a coesão.
cesso é o uso de numerais.
A pronominalização é a base de recursos anafóri-
Iremos focar no valor coesivo que essa classe pro-
cos e recuperam porções textuais ou ainda um nome
move, auxiliando na ligação de ideias em um texto.
específico a que o autor faz referência no texto. Veja-
mos dois exemplos: Dessa forma, as expressões quantitativas, em algumas
circunstâncias, retomam dados anteriores numa rela-
ção de coesão.
O primeiro debate entre Donald Trump e Joe Ex.: Foram deixados dois avisos sobre a mesa: o pri-
Biden foi quente, com diversas interrupções e acu- meiro era para os professores, o segundo para os alunos.
sações pesadas. […] O primeiro ponto discutido foi As formas destacadas são numerais ordinais que
a indicação de Trump da juíza conservadora Amy recuperam informação no texto, evitando a repetição
Barrett para a Suprema Corte, depois da morte de de termos e auxiliando no desenvolvimento textual.
Ruth Bader Ginsburg. O presidente defendeu que
tem esse direito, pois os republicanos têm maioria Uso de Advérbios
no Senado [Casa que ratifica essa escolha] e criticou
os democratas, dizendo “que eles ainda não aceita-
Muitos advérbios auxiliam no processo de recupe-
ram que perderam a eleição”. […].
ração e instauração de ideias no texto, auxiliando o
O segundo ponto discutido foi a covid-19. Os
processo de coesão. As formas adverbias que marcam
EUA são o país mais atingido pela pandemia - são
tempo e espaço podem também ser denominadas de
7 milhões de casos e mais de 200 mil mortos. O
marcadores dêiticos, caso dos seguintes elementos:
âncora Chris Wallace perguntou aos dois o que eles
Hoje, aqui, acolá, amanhã, ontem...
fariam até que uma vacina aparecesse. Biden ata-
Perceba que esses advérbios só podem ser associa-
cou o republicano dizendo que Trump “não tem um
plano para essa tragédia”. Já Trump começou sua dos a um referente se forem instaurados no discurso,
resposta atacando a China - “deveriam ter fechado isto é, se mantiverem associação com as pessoas que
suas fronteiras no começo” -, colocou em dúvida as produzem as falas. Assim, uma pessoa que lê “hoje
estatísticas da Rússia e da própria China e, com pou- não haverá aula” em um cartaz na porta de uma sala
ca modéstia, disse que fez um “excelente trabalho” compreenderá que a marcação temporal refere-se
nesse momento dos EUA. ao momento em que a leitura foi realizada. Por isso,
esses elementos são conhecidos como dêiticos.
Fonte: https://br.noticias.yahoo.com/eleicoes-eua- Independentemente de como são chamados, esses
debate-025314998.html. Acesso em: 5 out. 2021. Adaptado.
elementos colaboram para a ligação de ideias no tex-
to, auxiliando também a construção da coesão textual.
Após a leitura do texto, é possível notar que a recu-
peração da informação apresentada é feita a partir de
muitos processos de coesão, porém, o uso dos prono- Uso de Nominalização
mes destacados recupera o assunto informado e ajuda
o leitor a construir seu posicionamento. É importante As expressões que retomam ideias e nomes já
buscar sempre o elemento a que o pronome faz refe- apresentados no texto, mediante outras formas de
rência; por exemplo, o primeiro pronome pessoal des- expressão, podem ser analisadas como processos
tacado no texto refere-se ao termo “republicanos”, já nominalizadores, incluindo substantivos, adjetivos e
o segundo, faz referência aos presidenciáveis que par- outras classes nominais.
20 ticipavam do debate.
Essas expressões recuperam informações median- Conforme Antunes (2005, p. 118), a elipse como
te novos nomes inseridos no texto, ou ainda, com o recurso coesivo “corresponde à estratégia de se omitir
uso de pronomes, conforme vimos anteriormente. um termo, uma expressão ou até mesmo uma sequên-
Vejamos um exemplo: cia maior (uma frase inteira, por exemplo) já introdu-
zidos anteriormente em outro segmento do texto, mas
recuperável por marcas do próprio contexto verbal”.
Antonio Carlos Belchior, mais conhecido como Bel-
Vejamos como ocorre, a partir do segmento a seguir:
chior, foi um cantor, compositor, músico, produtor,
artista plástico e professor brasileiro. Um dos mem-
bros do chamado Pessoal do Ceará, que inclui Fagner, “O Brasil evoluiu bastante des-
Ednardo, Amelinha e outros. Bel foi um dos primeiros de o início do século XXI. O
cantores de MPB do nordeste brasileiro a fazer sucesso país proporcionou a inclusão
internacional, em meados da década de 1970. social de muitas pessoas. A
SEM ELIPSE
nação obteve notoriedade in-
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Belchior. Acesso em: 5 out. ternacional por causa disso. A
2021. Adaptado. pátria, porém, ainda enfrenta
certas adversidades...”
Todas as marcações em negrito fazem referência “O Brasil evoluiu bastante
ao nome inicial Antônio Carlos Belchior; os termos desde o início do século XXI e
que se referem a esse nome inicial são expressões proporcionou a inclusão social
nominalizadoras que servem para ligar ideias e cons- de muitas pessoas, por causa COM ELIPSE
truir o texto. disso obteve notoriedade inter-
nacional, porém ainda enfrenta
Uso de Adjetivos certas adversidades...”

Os adjetivos também são considerados expres- COESÃO SEQUENCIAL


sões nominalizadoras que fazem referência a uma
porção textual ou a uma ideia referida no texto. No A coesão sequencial é responsável por organizar a
exemplo acima, a oração “Belchior foi um cantor, progressão temática do texto, isto é, garantir a manu-
compositor, músico, produtor, artista plástico tenção do tema tratado pelo texto de maneira a pro-
e professor” apresenta seis nomes que funcionam mover a evolução do debate assumido pelo autor.
como adjetivos de Belchior e, ao mesmo tempo, acres- Essa coesão pode ser garantida, em um texto, a
centam informações sobre essa personalidade, referi- partir de locuções que marcam tempo, conjunções,
da anteriormente.
desinências e modos verbais. Neste material, iremos
É importante recordar que não podemos identifi-
nos deter, sobretudo, aos processos de conjunções que
car uma classe de palavra sem avaliar o contexto em
que ela está inserida. No exemplo mencionado, as são utilizadas para garantir a progressão textual.
palavras cantor, compositor, músico, produtor, artis-
ta, professor são substantivos que funcionam como Conjunções Coordenativas
adjetivos e colaboram na construção textual.
As conjunções coordenativas são aquelas que
Uso de Verbos Vicários ligam orações coordenadas, ou seja, orações de valor
semântico independente. Na construção textual, elas
O vocábulo vicário é oriundo do latim vicarius e são importantes, pois, com seus valores, adicionam
significa “fazer as vezes”; assim, os verbos vicários informações relevantes ao texto.
são verbos usados em substituição de outros que já Exemplos de conjunções coordenativas atuando
foram muito utilizados no texto. na coesão:
Ex.: A disputa aconteceu, mas não foi como nós
esperávamos.
O verbo “acontecer” foi substituído na segunda Não apenas conversava com os de-
oração pelo verbo “foi”. ADITIVA mais alunos como também atrapalha-
va o professor
ALGUNS VERBOS VICÁRIOS IMPORTANTES Eram ideias interessantes, porém nin-
ADVERSATIVA
guém concordou com elas
Ser: “Ele trabalha, porém não é tanto assim”
Fazer: “Poderíamos concordar plenamente, mas não o Superou o estigma que pregava “ou estu-
ALTERNATIVAS
fizemos” da, ou trabalha” e conseguiu ser aprovada
Aceitar: “Se ele não acatar a promoção não aceita por Ao final, faça os exercícios, pois é
EXPLICATIVA
LÍNGUA PORTUGUESA

falta de interesse” uma forma de praticar o que aprendeu


Foi: “Se desistiu da vaga, foi por motivos pessoais”
O candidato não cumpriu sua promes-
CONCLUSIVA sa. Ficamos, portanto, desapontados
Uso de Elipse com ele
A elipse é uma forma de omissão de uma informa-
Perceba que as ideias ligadas pelas conjunções
ção já mencionada no texto. Geralmente, estudamos
a elipse mais detalhadamente na seção de figuras de precisam manter uma relação contextual, estabeleci-
linguagem de uma gramática; neste material, iremos da pela coerência e demonstrada pela coesão. Por isso,
nos deter a maiores aspectos da elipse também nes- orações como esta: “Não gosto de festas de aniversá-
sa seção. Aqui é importante salientar as propriedades rio, mas não vou à sua” estão equivocadas, pois as
recategorizadoras e referenciais da elipse, com o pro- ideias ligadas não estabelecem uma relação de adver-
pósito de manter a coesão textual. sidade, como demonstra a conjunção “mas”. 21
Conjunções Subordinativas No entanto, a repetição é um recurso coesivo
essencial para manter a progressão temática do texto,
Tal qual as conjunções coordenativas, as subordi- isto é, para que o tema debatido no texto não seja per-
nativas estabelecem uma ligação entre as ideias apre- dido, levando o escritor a fugir da temática.
sentadas num texto, porém, diferentemente daquelas, Embora também não recomendemos as repetições
estas ligam ideias apresentadas em orações subordi-
exageradas no texto, sabemos valorizar seu uso ade-
nadas, ou seja, orações que precisam de outra para
terem o sentido apreendido. quado em um texto; por isso, apresentamos, a seguir,
Exemplos de conjunções subordinativas atuando alguns usos comuns dessa estratégia coesiva.
na coesão:
CONTEXTOS DE USO ADEQUADO DE REPETIÇÕES
Como não havia estudado suficiente, resolvi
CAUSAL O candidato foi encontra-
não fazer essa prova
Falaram tão mal do filme que ele nem en-
do com duzentos milhões
CONSECUTIVA Marcar ênfase
trou em cartaz de reais na mala, duzen-
tos milhões!
COMPARATIVA Trabalhou como um escravo
Conforme o Ministro da Economia, os Marcar contraste Existem Políticos e políticos.
CONFORMATIVA
concursos não irão acabar
“Agora que sentei na minha
Ainda que vivamos um período de poucos cadeira de madeira, junto à
CONCESSIVA
concursos, não podemos desanimar
minha mesa de madeira,
Se estudarmos, conseguiremos ser colocada em cima deste
CONDICIONAL
aprovados! assoalho de madeira, olho
Marcar a continuidade
À proporção que aumentava seus horá- minhas estantes de ma-
temática
PROPORCIONAL rios de estudo, mais forte o candidato se deira e procuro um livro
tornava feito de polpa de madeira
Estudava sempre com afinco, a fim de ser para escrever um artigo
FINAL
aprovado contra o desmatamento
Quando o edital for publicado, já estarei florestal” Millôr Fernandes.
TEMPORAL
adiantado nos estudos
Uso de Paráfrase

Importante! A paráfrase é um recurso de reiteração que propor-


Não confundir: ciona maior esclarecimento sobre o assunto tratado no
Afim de — Relativo à afinidade, semelhança: texto. A paráfrase é utilizada para voltar a falar sobre
“Física e Química são disciplinas afins”. algo utilizando-se de outras palavras. Conforme Antu-
A fim de — Relativo a ter finalidade, ter como obje- nes (2005, p. 63), “alguma coisa é dita outra vez, em
tivo, com desejo de: “Estou a fim de comer pastel”. outro ponto do texto, embora com palavras diferentes”.
Vejamos o seguinte exemplo:
Conjunções Integrantes
Ceará goleia Fortaleza no Fortaleza é goleado pelo
As conjunções integrantes fazem parte das orações Castelão Ceará no Castelão
subordinadas; na realidade, elas apenas integram,
ligam uma oração principal a outra, subordinada. Os textos apresentados poderiam ser manchetes
Como podemos notar, o papel dessas conjunções é de jornais da capital cearense. A forma como o tex-
essencialmente coesivo, tendo em vista que elas são to se apresenta indica que a ênfase dada ao nome
“peças” que unem as orações. Existem apenas dois
dos times, em posições diferentes, cumpre um papel
tipos de conjunções integrantes: que e se.
importante na progressão temática do texto.
Além dessa função, a paráfrase pode ser marcada pelo
Quando é possível substituir o
Quero que a prova esteja uso de expressões textuais bem características, como: em
que pelo pronome isso, esta-
fácil. outras palavras, em outros termos, isto é, quer dizer, em
mos diante de uma conjunção
Quero. O quê? Isso. resumo, em suma, em síntese etc. Essas expressões indi-
integrante
Sempre haverá conjunção inte- cam que algo foi dito e passará a ser ressignificado no tex-
Perguntei se ele estava em to, garantindo a informatividade do texto.
grante em orações substantivas
casa.
e, consequentemente, em perío-
Perguntei. O quê? Isso
dos compostos Uso de Paralelismo

COESÃO RECORRENCIAL As ideias similares devem fazer a correspondência


entre si; a essa organização de ideias no texto, dá-se o
Uso de Repetições
nome de paralelismo. Quando as construções de frases
e orações são semelhantes, ocorre o paralelismo sin-
As recorrências de repetições em textos são comu-
mente recusadas pelos mestres da língua portuguesa. tático. Quando há sequência de expressões simétricas
Sobretudo, quando o assunto é redação, muitos pro- no plano das ideias e coerência entre as informações,
fessores recomendam em uníssono: evite repetir pala- ocorre o paralelismo semântico ou paralelismo de
22 vras e expressões! sentido.
ESTRUTURAS QUE SEMPRE DEVEM SER USADAS
JUNTAS
Não só..., mas também; não apenas..., mas ainda; não
tanto...quanto; ora...ora; seja...seja etc.

Além disso, é preciso respeitar a estrutura sintáti-


ca a qual a frase está inserida; vejamos um exemplo
em que houve quebra de paralelismo:
“É necessário estudar e que vocês se ajudem”
– Errado.
“É necessário que vocês se ajudem e que estudem”
– Correto.
Devemos manter a organização das orações, pois
não podemos coordenar orações reduzidas com ora-
ções desenvolvidas, é preciso manter o paralelismo
e deixá-las ou somente desenvolvida ou somente
Fonte: COLARES, 2020, informação verbal.
reduzidas.
No tocante ao paralelismo semântico, a ideia é
Compreendida a ideia de intertextualidade e apre-
a mesma, porém deixamos de analisar os pares no
sentada sua importância para a análise textual em
âmbito sintático e passamos ao plano das ideias. Veja-
mos o seguinte exemplo: provas, questões e textos, faz-se necessário conhecer
“Por um lado, os manifestantes agiram corretamen- algumas das principais formas de realização da inter-
te, por outro podem não ter agido errado” – Incorreto. textualidade em textos e em gêneros utilizados por
“Por um lado, os manifestantes agiram correta- bancas de concurso.
mente, por outro podem ter causado prejuízo à popu- Antes, porém, é necessário apontar que, confor-
lação” – Correto. me Koch e Elias (2015), todos os textos são, em algu-
“Encontrei duas pessoas conhecidas na rua: uma ma medida, recuperadores de outros. Quando o leitor
foi sua irmã e a outra estava bem” – Incorreto. acessa as ideias e reconhece essa intertextualidade,
“Encontrei duas pessoas conhecidas na rua: uma estamos diante de um processo de intertextualidade
foi sua irmã e a outra foi minha prima” – Correto. stricto senso. Quando não é possível acessar esse teor
intertextual, trata-se de uma intertextualidade lato
senso. Desenvolvemos o quadro a seguir para tornar
essa divisão mais didática:
CONHECIMENTOS LINGUÍSTICOS
E CONHECIMENTOS GRAMATICAIS INTERTEXTUALIDADE

CONFORME PADRÃO FORMAL DA


LÍNGUA
STRICTO SENSO LATO SENSO
PRINCÍPIOS GERAIS DE LEITURA E PRODUÇÃO DE
TEXTO
TEMÁTICA
Intertextualidade ESTILÍSTICA
EXPLÍCITA
IMPLÍCITA
Existem diversos mecanismos que são meios
importantes e, muitas vezes, imprescindíveis à cons-
trução de sentido dos gêneros textuais, dentre eles, a TIPOS DE DISCURSO
intertextualidade. Como vimos neste material, ao refe-
rirmo-nos à ideia de construção dos sentidos median- Discurso Direto
te o uso de gêneros textuais, destacamos a estrutura,
o propósito comunicativo e a função dos gêneros. Um
O discurso direto é aquele em que o narrador,
outro elemento importante para a compreensão tex-
que pode ser onisciente (isto é, saber tudo sobre o
tual é a intertextualidade, que diz respeito à proprie-
enredo e os personagens, revelando os sentimentos e
dade de um texto se relacionar com outros.
LÍNGUA PORTUGUESA

pensamentos mais íntimos, de um modo que vai além


Para se entender melhor a estrutura e a função
do termo intertextualidade, pode-se separar a pala- da própria imaginação) ou personagem (aquele que
vra em partes: “inter” é de origem latina e refere-se conta e participa dos fatos ao mesmo tempo) repete
à noção de dentro, ou seja, o que está dentro do texto, as falas de outro personagem, separando-as das
e “textualidade” tem a noção de conteúdo, palavras. suas. Para isso, o narrador usa marcas de pontua-
Unindo as duas, forma-se a intertextualidade, a partir ção que ajudam a identificar quem está falando. Essas
da qual podemos dar origem a um outro texto. marcas podem ser: dois pontos, aspas ou travessão de
A intertextualidade está presente em nosso dia diálogo. Veja, abaixo, um exemplo retirado do livro
a dia, sendo muito comum em gêneros oriundos da Robur, O Conquistador, de Júlio Verne:
internet e também da publicidade. A seguir, apresen-
tamos este exemplo, que resume a ideia de intertex- Nesse momento, Robur apareceu na ponte da aero-
tualidade que iremos trabalhar neste material: nave e os dois colegas aproximaram-se dele. 23
- Engenheiro Robur – disse tio Prudente -, eis-nos z Citação direta:
aqui nos confins da América! Parece-nos que esta
brincadeira vai acabar... A confiabilidade das fontes citadas confere relevân-
- Eu nunca brinco – respondeu Robur. cia ao trabalho acadêmico, cabendo, portanto, ao
produtor do texto, selecioná-las com rigor (BOA-
Ou seja, no discurso direto é o próprio personagem VENTURA, 2004, p. 81).
que fala dentro da história.
z Citação indireta:
Discurso Indireto
Segundo Boaventura (2004, p. 81), o respeito ao
trabalho acadêmico é diretamente proporcional
Por sua vez, o discurso indireto dá-se quando o
à credibilidade das fontes utilizadas, por isso é
narrador da história diz ou escreve o que outro per- necessário atentar-se para os diversos tipos de
sonagem disse. Melhor dizendo, no discurso indireto, citação aqui mencionados.
o narrador utiliza suas próprias palavras para transmi-
tir ou as falas de um ou de mais personagens. Observe Dica
o exemplo no seguinte trecho da obra “Doutor Jivago”,
de Boris Pasternak: “Na estação, o tio pediu ao guarda A citação indireta é um tipo de paráfrase.
que o deixasse passar pela grade para se despedir da
mulher”. Paródia
Uma caraterística desse tipo de discurso é que será
sempre feito na 3ª pessoa. Além disso, nesse tipo de A paródia é um tipo de intertextualidade estilística
discurso são utilizados verbos de elocução (verbos em que o autor recupera o estilo de outro texto, seja
que anunciam o discurso, tais como falou, disse, lem- verbal ou não-verbal. É muito comum tanto em tex-
tos musicais, nos quais são recuperados a melodia e o
brou, comentou, perguntou, respondeu, observou,
estilo do intérprete original, quanto em textos visuais,
exclamou, sentenciou, gritou, entre outros) e con-
como no exemplo a seguir:
junções (uma vez que, para que, a fim de que, para
que, conforme etc.) que separam a fala do narrador
das falas dos personagens.
A narração não é um tipo textual comum nas reda-
ções. O mais corriqueiro é que a banca examinadora
exija que o candidato identifique diferentes discursos
em uma questão de múltipla escolha ou ainda que
transforme um discurso direto em indireto em algu-
ma questão aberta, conforme os exemplos a seguir.

DISCURSO DIRETO DISCURSO INDIRETO

Eu não como carne Ele disse que não come


carne Fonte: https://bityli.com/1hcv1O. Acesso em: 5 out. 2021.

Vou ao restaurante esta Ele disse que iria ao res- Uma das caraterísticas da paródia é o tom irônico e
noite taurante naquela noite humorístico que pode variar, dependendo da sua fina-
Eu perdi a hora Ele falou que havia perdi- lidade textual.
do a hora
Alusão
Eu não conseguiria Ele mencionou que não
dormir conseguiria dormir A alusão é um intertexto que faz referência a uma
obra de arte, a um fato histórico, a textos de conheci-
mento comum. A alusão pode ocorrer de forma explí-
VOZES DISCURSIVAS: CITAÇÃO, PARÓDIA, ALUSÃO, cita ou implícita.
PARÁFRASE, EPÍGRAFE Ex.: Ganhei um jogo de aniversário que foi um ver-
dadeiro presente de grego.
Citação A expressão “presente de grego” faz alusão aos
fatos da Guerra de Tróia, em que os gregos fingiram
A citação também é um tipo de intertextualidade presentear os troianos com um cavalo de madeira
explícita e diz respeito às formas de citação de uma que fazia parte da estratégia grega para conseguirem
obra. Em um trabalho acadêmico, por exemplo, quan- invadir a cidade de Tróia e destruí-la por dentro.
do utilizamos as palavras de outros autores, devemos
mencioná-los direta ou indiretamente. A transcrição Paráfrase
fiel das palavras do autor do texto-fonte é chamada
A paráfrase é uma estratégia intertextual que con-
de citação direta. Quando nos baseamos na ideia do siste em recuperar aspectos do tema do texto-fonte, o
autor e escrevemos de outra forma suas palavras, a qual baseia a paráfrase. Dessa forma, é considerada
citação passa a ser indireta. um tipo de intertextualidade temática.
Independente da maneira como citamos em um Um bom exemplo desse tipo de intertextualidade é
texto, é imprescindível dar os créditos aos autores a música Monte Castelo, do grupo Legião Urbana, que
das obras citadas, por isso, devemos mencioná-los nas versa sobre o mesmo tema que a passagem bíblica “I
citações que também seguem o padrão estabelecido carta de São Paulo aos Coríntios” e também dos versos
24 pela ABNT. de Luís Vaz de Camões.
Monte Castelo — Legião Urbana z Sinonímia

Ainda que eu falasse a língua dos homens São palavras ou expressões que, empregadas em
E falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada um determinado contexto, têm significados seme-
seria. É só o amor, é só o amor
lhantes. É importante entender que a identidade dos
Que conhece o que é verdade
sinônimos é ocasional, ou seja, em alguns contextos
O amor é bom, não quer o mal
Não sente inveja ou se envaidece [...] uma palavra pode ser empregada no lugar de outra,
o que pode não acontecer em outras situações. O
I carta de São Paulo aos Coríntios uso das palavras “chamar”, “clamar” e “bradar”, por
exemplo, pode ocorrer de maneira equivocada se uti-
1 Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos lizadas como sinônimos, uma vez que a intensidade
anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que de suas significações é diferente.
soa ou como o sino que tine. 2 E ainda que tivesse O emprego dos sinônimos é um importante recurso
o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios para a coesão textual, uma vez que essa estratégia reve-
e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de la, além do domínio do vocabulário do falante, a capa-
maneira tal que transportasse os montes, e não
cidade que ele tem de realizar retomadas coesivas, o
tivesse amor, nada seria [...]
que contribuiu para melhor fluidez na leitura do texto.
11 Soneto – Luis Vaz de Camões
z Antonímia
Amor é um fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente; São palavras ou expressões que, empregadas em
é um contentamento descontente, um determinado contexto, têm significados opostos.
é dor que desatina sem doer. As relações de antonímia podem ser estabelecidas em
gradações (grande/pequeno; velho/jovem); reciproci-
É um não querer mais que bem querer; dade (comprar/vender) ou complementaridade (ele é
é um andar solitário entre a gente; casado/ele é solteiro). Vejamos o exemplo a seguir:
é nunca contentar se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;


é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade [...]

Epígrafe

A epígrafe é uma pequena citação colocada no iní-


cio de capítulos de livros, seções de trabalhos acadê-
micos ou de outros gêneros para manter uma relação
dessa citação com o assunto abordado na obra.
Ex.: No início deste capítulo, poderíamos ter colo-
cado a epígrafe: “Sei que às vezes uso palavras repe-
tidas, mas quais são as palavras que nunca são ditas”
(trecho da música Quase sem querer da banda Legião
Urbana), para iniciar nosso debate sobre intertextua-
lidade e as possibilidades de escrevermos algo com-
pletamente inédito em nosso contexto atual. Fonte: https://bityli.com/yozhvG. Acesso em: 5 out 2021.

A relação de sentido estabelecida na tirinha é cons-


truída a partir dos sentidos opostos das palavras “prende”
SEMÂNTICA e “solta”, marcando o uso de antônimos, nesse contexto.
CONSTRUÇÃO DE SENTIDO: SINONÍMIA, z Homonímia
ANTONÍMIA, HOMONÍMIA, PARONÍMIA,
POLISSEMIA, DENOTAÇÃO E CONOTAÇÃO Homônimos são palavras que têm a mesma pro-
núncia ou grafia, porém apresentam significados dife-
Quando escolhemos determinadas palavras ou rentes. É importante estar atento a essas palavras e a
expressões dentro de um conjunto de possibilidades seus dois significados. A seguir, listamos alguns homô-
de uso, estamos levando em conta o contexto que
LÍNGUA PORTUGUESA

nimos importantes:
influencia e permite o estabelecimento de diferentes
relações de sentido. Essas relações podem se dar por
acender (colocar fogo) ascender (subir)
meio de: sinonímia, antonímia, homonímia, paroní-
mia, polissemia, hiponímia e hiperonímia. acento (sinal gráfico) assento (local onde se senta)
acerto (ato de acertar) asserto (afirmação)
apreçar (ajustar o preço) apressar (tornar rápido)
Importante! bucheiro (tripeiro) buxeiro (pequeno arbusto)
bucho (estômago) buxo (arbusto)
Léxico: Conjunto de todas as palavras e expres-
sões de um idioma. caçar (perseguir animais) cassar (tornar sem efeito)
Vocabulário: Conjunto de palavras e expressões cegar (deixar cego) segar (cortar, ceifar)
que cada falante seleciona do léxico para se sela (forma do verbo selar;
cela (pequeno quarto)
comunicar. arreio) 25
censo (recenseamento) senso (entendimento, juízo) z Cumprimento/comprimento
céptico (descrente) séptico (que causa infecção) „ O comprimento do tecido que eu comprei é de
cerração (nevoeiro) serração (ato de serrar) 3,50 metros. (tamanho, grandeza)
cerrar (fechar) serrar (cortar) „ Dê meus cumprimentos a seu avô. (saudação)
cervo (veado) servo (criado)
chá (bebida) xá (antigo soberano do Irã)
z Delatar/dilatar
cheque (ordem de xeque (lance no jogo de „ Um dos alunos da turma delatou o colega que
pagamento) xadrez) chutou a porta e partiu o vidro. (denunciar)
círio (vela) sírio (natural da Síria) „ Comendo tanto assim, você vai acabar dilatan-
cito (forma do verbo citar) sito (situado) do seu estômago. (alargar, estender)
concertar (ajustar, combinar) consertar (reparar, corrigir)
concerto (sessão musical) conserto (reparo) z Dirigente/diligente
coser (costurar) cozer (cozinhar) „ O dirigente da empresa não quis prestar decla-
exotérico (que se expõe em rações sobre o funcionamento da mesma. (pes-
esotérico (secreto)
público) soa que dirige, gere)
espectador (aquele que expectador (aquele que tem „ Minha funcionária é diligente na realização de
assiste) esperança, que espera) suas funções. (expedito, aplicado)
esperto (perspicaz) experto (experiente, perito)
espiar (observar) expiar (pagar pena) z Discriminar/descriminar
espirar (soprar, exalar) expirar (terminar)
„ Ela se sentiu discriminada por não poder
estático (imóvel) extático (admirado) entrar naquele clube. (diferenciar, segregar)
esterno (osso do peito) externo (exterior) „ Em muitos países se discute sobre descrimi-
extrato (o que se extrai de nar o uso de algumas drogas. (descriminalizar,
estrato (camada)
algo) inocentar)
estremar (demarcar) extremar (exaltar, sublimar)
Fonte: https://www.normaculta.com.br/palavras-paronimas/. Acesso
incerto (não certo, impreciso) inserto (inserido, introduzido) em: 5 out. 2021.
incipiente (principiante) insipiente (ignorante)
laço (nó) lasso (frouxo) Polissemia (Plurissignificação)
ruço (pardacento, grisalho) russo (natural da Rússia)
Multiplicidade de sentidos encontradas em algu-
tacha (prego pequeno) taxa (imposto, tributo) mas palavras, dependendo do contexto. As palavras
tachar (atribuir defeito a) taxar (fixar taxa) polissêmicas guardam uma relação de sentido entre
si, diferenciando-as das palavras homônimas. A polis-
Fonte: https://www.soportugues.com.br/secoes/seman/seman6.php. semia é encontrada no exemplo a seguir:
Acesso em: 5 out 2021.

Parônimos

Parônimos são palavras que apresentam sentido


diferente e forma semelhante, conforme demonstra-
mos nos exemplos a seguir:
Fonte: https://bityli.com/EFbvZy. Acesso em: 5 out. 2021.

z Absorver/absolver DENOTAÇÃO

„ Tentaremos absorver toda esta água com O sentido denotativo da linguagem compreende
esponjas. (sorver) o significado literal da palavra independente do seu
contexto de uso. Preocupa-se com o significado mais
„ Após confissão, o padre absolveu todos os fiéis
objetivo e literal associado ao significado que aparece
de seus pecados. (inocentar) nos dicionários. A denotação tem como finalidade dar
ênfase à informação que se quer passar para o recep-
z Aferir/auferir tor de forma mais objetiva, imparcial e prática. Por
isso, é muito utilizada em textos informativos, como
„ Realizaremos uma prova para aferir seus notícias, reportagens, jornais, artigos, manuais didá-
conhecimentos. (avaliar, cotejar) ticos, entre outros.
„ O empresário consegue sempre auferir lucros Ex.: O fogo se alastrou por todo o prédio. (fogo:
em seus investimentos. (obter) chamas)
O coração é um músculo que bombeia sangue para
o corpo. (coração: parte do corpo)
z Cavaleiro/cavalheiro
CONOTAÇÃO
„ Todos os cavaleiros que integravam a cava-
laria do rei participaram na batalha. (homem
O sentido conotativo compreende o significado
que anda de cavalo) figurado e depende do contexto em que está inserido. A
„ Meu marido é um verdadeiro cavalheiro, abre conotação põe em evidência os recursos estilísticos dos
sempre as portas para eu passar. (homem edu- quais a língua dispõe para expressar diferentes senti-
26 cado e cortês) dos ao texto de maneira subjetiva, afetiva e poética.
A conotação tem como finalidade dar ênfase à “Mãe gentil, mas cruel, mas traiçoeira.” (Alberto
expressividade da mensagem de maneira que ela Oliveira)
possa provocar sentimentos ou diferentes sensações
no leitor. Por esse motivo, é muito utilizada em poe- Assíndeto
sias, conversas cotidianas, letras de músicas, anúncios
publicitários e outros. É a figura que consiste na omissão reiterada de
Ex.: “Amor é fogo que arde sem se ver”. conjunções. Geralmente a conjunção omitida é a coor-
Você mora no meu coração. denativa. Essa estratégia torna a leitura do texto mais
clara e dinâmica.
Ex.: “Pense, fale, compre, beba, leia, vote, não se
esqueça.” (Pitty)
“Vim, vi, venci.” (Júlio César)
FIGURAS DE LINGUAGEM
Anáfora
FIGURAS DE SINTAXE
Consiste na repetição de palavra ou expressões no
Consistem em modificações da estrutura da oração início da oração. Esse tipo de recurso é muito comum
(ou parte dela) por meio da omissão, inversão ou repe- em textos estruturados em versos consecutivos (poe-
tição de termos. Nesse caso, essas alterações ocorrem
mas, músicas, entre outros). O propósito é valorizar a
para conferir mais expressividade ao enunciado.
mensagem por meio da ênfase ao elemento repetido.
Elipse Ex.: “É o pau, é a pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
Utilizada para omitir termos numa oração que não É um caco de vidro, é a vida, é o sol
foram mencionados anteriormente, mas que podem É a noite, é a morte, é um laço, é o anzol.” (Tom
ser facilmente identificados pelo interlocutor. Essa Jobim)
omissão pode ser percebida por indícios gramaticais “Quando não tinha nada eu quis
ou dentro do próprio contexto. Quando tudo era ausência, esperei
Ex.: Ana Rita arrumou-se para o trabalho. Estava Quando tive frio, tremi
atrasada. (“elipse sujeito — ela”) Quando tive coragem, liguei”. (Daniela Mercury)
Os alunos e as alunas, mãos erguidas contra os
políticos, caminhavam pelas ruas. (elipse da preposi- Aliteração
ção — “de mãos erguidas”)
Recurso sonoro que consiste na repetição de sons
Zeugma consonantais para intensificar a rima e o ritmo.
Ex.: “Chove chuva choverando” (Oswald de Andrade)
Considerado um caso particular de elipse, o zeug-
“Se desmorono ou se edifico,
ma consiste omissão em orações seguintes de palavras
se permaneço ou me desfaço,
expressas na oração anterior.
Ex.: Eu sou professora; minha amiga, advogada. — não sei, não sei. Não sei se fico
Desembrulhe essa caixa enquanto eu desembru- ou passo.” (Cecília Meireles)
lho a outra.
Assonância
Pleonasmo
Figura de linguagem que aborda o uso de som em
Consiste na repetição de termos ou ideias com o harmonia. Caracterizada pela repetição de vogais.
objetivo de realçá-las, tornando-as mais expressivas. Ex.: “A pálida lágrima de Flávia” — repetição da
Ex.: “É rir meu riso e derramar meu pranto”. (Viní- vogal a.
cius de Moraes) “Amo muito tudo isso” — repetição do som da vogal
“Só Capitu, amparando a viúva, parecia vencer-se u.
a si mesma.” (Machado de Assis).
Onomatopeia
Dica
Recurso sonoro que procura representar os sons
Existe o pleonasmo literário, que é um recurso específicos de objetos, animais ou pessoas a partir de
estilístico aceitável e muito explorado na litera- uma percepção aproximada da realidade.
tura e na música. O problema é quando o pleo- Ex.: “O tic tac do relógio me deixava mais angus-
nasmo se torna vicioso. Expressões como “fatos tiado na prova”.
LÍNGUA PORTUGUESA

reais”, “subir para cima”, “ganhar de graça”, “cego “Psiiiiiu! — Falou o professor no momento da
dos olhos” e outras constituem um vício de lin- reunião”.
guagem. A repetição da ideia torna-se, portanto,
desnecessária, pois não traz nenhum reforço à Hipérbato ou Inversão
ideia apresentada.
Caracteriza-se pela inversão proposital da ordem
direta dos termos da oração. Essa inversão confere
Polissíndeto
maior efeito estilístico na construção do enunciado.
Figura que consiste no uso excessivo e repetitivo Ex.: “Os bons vi sempre passar / no mundo graves
de conjunções. tormentos” (Luiz Vaz de Camões)
Ex.: “Suspira, e chora, e geme, e sofre, e sua...” (Ola- Na ordem direta seria: Eu sempre vi passar os
vo Bilac) bons no mundo de graves tormentos. 27
Anástrofe Seu sorriso é tal qual um raio de sol numa manhã
nublada.
Diferentemente do hipérbato, a anástrofe consiste
na inversão mais sutil dos termos da oração, não pre- Metáfora
judicando o entendimento do enunciado.
Ex.: Consiste em usar uma palavra ou expressão em lu-
“Sabes também quanto é passageira essa desavença gar da outra em razão de algumas semelhanças (ana-
Não destrates o amor”. (Jacob do Bandolim) logia) conceituais. É recurso que está associado ao em-
Utilizando a figura de linguagem teríamos: “Sabes prego da palavra fora do seu sentido normal.
também quanto essa desavença é passageira”. Ex.: O tempo é uma cadeira ao sol, e nada mais.
(Carlos Drummond de Andrade)
Silepse Meu pensamento é um rio subterrâneo. (Fernan-
do Pessoa)
Consiste na concordância com o termo que está Observe:
subtendido na oração e não com o termo expresso na Metáfora: relação de semelhança não explícita.
oração. (Concordância ideológica). Existem três tipos
de silepse:
O que foi isso, Foi um candidato
z Silepse de Gênero: Há uma discordância entre homem? “ficha suja” que
os gêneros dos artigos, substantivos, pronomes e me abraçou...
adjetivos. Notamos na oração a presença do con-
traste entre os gêneros masculino e feminino.
Ex.: Vossa Excelência é falso. O pronome de trata-
mento certamente se refere a alguma autoridade do
sexo masculino (deputado, prefeito, vereador etc.)

z Silepse de Número: Há uma discordância entre


o verbo e o sujeito da oração quando ele expres-
sa uma ideia de coletividade. Nesse caso, o verbo
concorda com a ideia que nele está contida. Ex.:
A turma era barulhenta, falavam alto. (“falavam”
concorda com “alunos”) Comparação: relação de semelhança estabele-
z Silepse de Pessoa: Há uma discordância entre o cida por conectivos.
verbo e a pessoa do discurso expressa pelo sujeito
da oração. Geralmente o emissor se inclui no sujei-
to expresso em 3ª pessoa do plural, realizando a
flexão verbal na primeira pessoa. Ex.: Dizem que
os brasileiros somos amantes do futebol. (brasi-
leiros //3ª p. plural) (somos// 1ª p. plural)

Anacoluto

Consiste na quebra ou interrupção da estrutura


normal. Um dos termos da oração fica desvinculado
do restante da sentença e não estabelece nenhuma
ligação sintática com os demais.
Ex.: Meu vizinho, ouvi dizer que está muito doente.
Fonte: instagram.com/academiadotexto. Acesso em: 16 out. 2020.
FIGURAS DE PALAVRAS
Metonímia
As figuras de palavras estão associadas ao signifi-
cado delas. Caracterizam-se por apresentar uma subs- Consiste na substituição de um termo pelo outro
tituição ou transposição do sentido real da palavra em virtude de uma relação de proximidade ou conti-
para assumir um sentido figurado construído dentro nuidade. Essa relação é qualitativa e pode ser realiza-
de um contexto. A substituição de uma palavra por da dos seguintes modos:
outra pode acontecer por uma relação muito próxi-
ma (contiguidade) ou por uma comparação/analogia � A parte pelo todo:
(similaridade). Ex.: O brasileiro trabalha muito para garantir o
pão aos filhos (O brasileiro trabalha muito para
Comparação garantir alimento aos filhos).
� O autor pela obra:
Analogia explícita entre dois termos; a principal Ex.: Os leitores de Machado de Assis são cultos (Os
diferença entre a comparação e a metáfora, que é leitores da obra de Machado de Assis são cultos).
outro tipo de relação de semelhança, é que a compa- � O continente pelo conteúdo:
ração se estabelece com o uso de conectivos. Ex.: A menina bebeu a jarra de suco inteira (A
Ex.: Minha boca é como um túmulo. menina bebeu todo o suco da jarra).
28 A menina é como um doce. � A marca pelo produto:
Ex.: Minha filha pediu uma Melissa de aniversário Ex.: “As falas sentidas, que os olhos falavam.” (Casi-
(Minha filha pediu uma sandália de aniversário). miro de Abreu)
� Singular pelo plural: “E o pão preserve aquele branco sabor de alvora-
Ex.: O cidadão deve cumprir seus deveres legais da”. (Ferreira Gullar)
(Os cidadãos devem cumprir seus deveres legais).
� O concreto pelo abstrato: FIGURAS DE PENSAMENTO
Ex.: A juventude está cada vez mais ansiosa (Os
jovens estão cada vez mais ansiosos). Processo expressivo que enfatiza o aspecto semân-
� A causa pelo efeito: tico da linguagem. As figuras de pensamento introdu-
Ex.: Comprei a casa com o meu suor (Comprei a zem uma ideia diferente daquela que a palavra em
casa com o meu trabalho).
seu sentido real exprime.
� O instrumento pelo agente:
Ex.: O carro atropelou o cachorro (O motorista do
Antítese
veículo atropelou o cachorro).
� A coisa pela sua representação:
Ex.: O sonho de muitos candidatos é chegar ao Consiste no emprego de conceitos que se opõem e
Palácio do Planalto (O sonho de muitos candida- que podem ocorrer de maneira simultânea em uma
tos é chegar à Presidência da República). mesma oração. Na antítese, os conceitos antônimos
� O inventor pelo invento: não se contradizem e estão relacionados a referentes
Ex.: Diego comprou um Picasso no museu (Diego distintos.
comprou uma obra de Picasso no museu). Ex.: “Tristeza não tem fim, felicidade sim!” (Viní-
� A matéria pelo objeto: cius de Moraes)
Ex.: Custou-me apenas algumas pratas aque- “O mito não é nada que é tudo”. (Fernando Pessoa)
la mobília. (Custou-me apenas algumas moedas
aquela mobília.) Personificação ou Prosopopeia
� O proprietário pela propriedade
Ex.: Vou ao médico buscar meus exames (Vou ao Consiste em atribuir características, sentimentos e
consultório médico buscar meus exames). comportamentos próprios de seres humanos a seres
irracionais ou inanimados. É uma figura muito usada
Sinédoque
em textos literários, como fábulas e apólogos.
Atualmente as gramáticas não realizam distinção Ex.: “O cravo brigou com a rosa debaixo de uma
entre metonímia e sinédoque; a diferença entre essas sacada...” (cantiga popular).
figuras é tênue. Na sinédoque, a relação que se estabe- “As pedras andam vagarosamente”.
lece entre os termos é quantitativa, ou seja, quando
se amplia ou se reduz a significação das palavras. As Paradoxo
relações entre os termos são basicamente as seguin-
tes: parte pelo todo, singular pelo plural, gênero pela Consiste no emprego de conceitos opostos e contra-
espécie, particular pelo geral (ou vice-versa). ditórios na representação de uma ideia. No paradoxo,
Ex.: O homem é um ser mortal (os homens). embora os termos pareçam ilógicos, são perfeitamen-
É preciso pensar na criança (nas crianças). te aceitáveis no campo da literatura, o que confere ao
autor uma licença poética.
Antonomásia ou Perífrase Ex.: “Se lembra quando a gente chegou um dia a
acreditar que tudo era pra sempre, sem saber que
A antonomásia é uma figura que consiste na subs- o pra sempre sempre acaba” (Cássia Eller)
tituição de um nome próprio (de pessoa) por uma ex- “Dor, tu és um prazer!” (Castro Alves)
pressão que lhe confere alguma característica ou atri-
buto que o distingue (epíteto). É a substituição de um Eufemismo
nome por outro, o que pode configurar uma espécie
de apelido para o ser designado. Consiste no emprego de uma palavra ou expressão
Ex.: O poeta dos escravos é autor do célebre poema que serve para amenizar/ suavizar uma informação
“O navio negreiro”. (Castro Alves) desagradável ou fatídica. É um recurso essencial para
Este aeroporto tem o nome do pai da aviação. (San-
validar a polidez nas relações sociais.
tos Dumont)
Ex.: “Suzanna é uma mulher desprovida de bele-
Observação: A antonomásia é uma espécie de
za.” (feia)
perífrase. A diferença é que esta designa um ser (coi-
“Aquele pobre homem entregou a alma a Deus”
sas, animais ou lugares) por meio de características,
(morreu)
LÍNGUA PORTUGUESA

atributos ou um fato que o celebrizou.


Ex.: Fomos ao zoológico ver o rei da selva. (leão)
Adoraria conhecer a cidade luz. (Paris) Hipérbole
Qualquer dúvida consulte o pai dos burros.
(dicionário) Uso de expressões intencionalmente exageradas
para dar maior ênfase à mensagem expressa pelo
Sinestesia emissor.

Consiste no recurso que engloba um conjunto de Ex.: “Amor da minha vida, daqui até a eternidade
percepções e sensações interligadas aos processos Nossos destinos foram traçados na maternidade”.
sensoriais provenientes de diferentes sentidos (visão, (Cazuza)
audição, olfato, paladar e tato). Na sinestesia, a per- “Vou caçar mais um milhão de vagalumes por aí”.
cepção ou sensação de um sentido é atribuída a outro. (Pollo) 29
Ironia Ex.: Ela completou quinze primaveras, ou seja, 15
anos.
Consiste em expressar ideias, pensamentos e julga-
� Para separar datas e nomes de lugar.
mentos com o sentido contrário do que se diz. A ironia
Ex.: Belo Horizonte, 15 de abril de 1985.
tem como objetivo satirizar uma situação desagradá-
vel ou depreciar alguém pelo seu comportamento. � Para separar as conjunções coordenativas, exceto
Ex.: “Marcela amou-me durante quinze meses e e, nem, ou.
onze contos de réis...” (Machado de Assis) Ex.: Treinou muito, portanto se saiu bem.
“Parece um anjinho, briga com todos”.
A vírgula é facultativa quando a expressão de
Gradação tempo, modo ou lugar não for uma expressão, mas
uma palavra só. Exemplos:
Consiste na apresentação de ideias sinônimas (ou Antes vamos conversar. / Antes, vamos conversar.
não) em uma escala progressiva de maior ou menor Geralmente almoço em casa. / Geralmente, almoço
intensidade à expressão. Os termos da oração são fru- em casa.
tos de uma hierarquia e podem ser de ordem crescen- Ontem choveu o esperado para o mês todo. /
te ou decrescente. Ontem, choveu o esperado para o mês todo.
Ex.: “Mais dez, mais cem, mais mil e mais um bi- Ela acordou muito cedo. Por isso ficou com sono
lião, uns cingidos de luz, outros ensanguentados.” durante a aula. / Ela acordou muito cedo. Por isso,
(Machado de Assis) ficou com sono durante a aula.
“Eu era pobre. Era subalterno. Era nada.” (Montei- Irei à praia amanhã se não chover. / Irei à praia
ro Lobato) amanhã, se não chover.

Apóstrofe Não se Usa Vírgula nas Seguintes Situações

� Entre o sujeito e o verbo.


Consiste na invocação de alguém ou alguma coisa
Ex.: Todos os alunos daquele professor, entende-
personificada. Essa figura de linguagem realiza-se por
ram a explicação. (errado)
meio de um vocativo. A apóstrofe é um recurso estilís-
Muitas coisas que quebraram meu coração, con-
tico muito utilizado na linguagem informal (cotidia-
sertaram minha visão. (errado)
na), nos textos religiosos, políticos e poéticos.
Ex.: “Liberdade, Liberdade! É isso que pretende- � Entre o verbo e seu complemento, ou mesmo pre-
mos nessa luta”. dicativo do sujeito.
“Senhor, tende piedade de nós”. Ex.: Os alunos ficaram, satisfeitos com a explica-
ção. (errado)
Os alunos precisam de, que os professores os aju-
dem. (errado)
Os alunos entenderam, toda aquela explicação.
PONTUAÇÃO E EFEITOS DE SENTIDO (errado)
Vejamos agora as regras sobre os usos das diferen- � Entre um substantivo e seu complemento nominal
tes formas de pontuação que temos em nosso idioma. ou adjunto adnominal.
Ex.: A manutenção, daquele professor foi exigida
USO DE VÍRGULA pelos alunos. (errado)
� Entre locução verbal de voz passiva e agente da
A vírgula é um sinal de pontuação que exerce três passiva.
funções básicas: marcar as pausas e as inflexões da Ex.: Todos os alunos foram convidados, por aquele
voz na leitura; enfatizar e/ou separar expressões e professor para a feira. (errado)
orações e esclarecer o significado da frase, afastando
qualquer ambiguidade. � Entre o objeto e o predicativo do objeto.
Quando se trata de separar termos de uma mesma Ex.: Considero suas aulas, interessantes. (errado)
oração, deve-se usar a vírgula nos seguintes casos: Considero interessantes, as suas aulas. (errado)

� Para separar os termos de mesma função. USO DE PONTO E VÍRGULA


Ex.: Comprei livro, caderno, lápis, caneta.
É empregado nos seguintes casos o sinal de ponto
z Usa-se a vírgula para separar os elementos de e vírgula (;):
enumeração.
Ex.: Pontes, edifícios, caminhões, árvores... tudo foi � Nos contrastes, nas oposições, nas ressalvas.
arrastado pelo tsunami. Ex.: Ela, quando viu, ficou feliz; ele, quando a viu,
ficou triste.
� Para indicar a elipse (omissão de uma palavra que � No lugar das conjunções coordenativas deslocadas.
já apareceu na frase) do verbo. Ex.: O maratonista correu bastante; ficou, portan-
Ex.: Comprei melancia na feira; ele, abacate. to, exausto.
Ela prefere filmes de ficção científica; o namorado,
� No lugar do e seguido de elipse do verbo (=
filmes de terror.
zeugma).
� Para separar palavras ou locuções explicativas, Ex.: Na linguagem escrita é o leitor; na fala, o
30 retificativas. ouvinte.
Prefiro brigadeiros; minha mãe, pudim; meu pai, Meninos (pediu ela), vão lavar as mãos, que vamos
sorvete. jantar. (oração intercalada)
� Em enumerações, portarias, sequências.
PONTO-FINAL
Ex.: São órgãos do Ministério Público Federal:
o Procurador-Geral da República;
Usa-se o ponto no final nos seguintes casos:
o Colégio de Procuradores da República;
o Conselho Superior do Ministério Público Federal.
� Para indicar o fim de oração absoluta ou de
período.
DOIS-PONTOS
Ex.: “Itabira é apenas uma fotografia na parede.”
Carlos Drummond de Andrade
Marcam uma supressão de voz em frase que ainda
não foi concluída. � Nas abreviaturas.
Servem para: Ex.: apart. ou apto. = apartamento
sec. = secretário
� Introduzir uma citação (discurso direto). a.C. = antes de Cristo
Ex.: Assim disse Voltaire: “Devemos julgar um
homem mais pelas suas perguntas que pelas suas Dica
respostas”.
Símbolos do sistema métrico decimal e elemen-
� Introduzir um aposto explicativo, enumerativo, tos químicos não vêm com ponto final:
distributivo ou uma oração subordinada substan- Exemplos: km, m, cm, He, K, C
tiva apositiva.
Ex.: Em nosso meio, há bons profissionais: profes- PONTO DE INTERROGAÇÃO
sores, jornalistas, médicos.
� Introduzir uma explicação ou enumeração após Marca uma entonação ascendente (elevação da
expressões como por exemplo, isto é, ou seja, a voz) em tom questionador.
saber, como. Usa-se:
Ex.: Adquirimos vários saberes, como: Linguagens,
Filosofia, Ciências... � Em frase interrogativa direta.
z Marcar uma pausa entre orações coordenadas Ex.: O que você faria se só lhe restasse um dia?
(relação semântica de oposição, explicação/causa � Entre parênteses para indicar incerteza.
ou consequência). Ex.: Eu disse a palavra peremptório (?), mas acho
Ex.: Já leu muitos livros: pode-se dizer que é um que havia palavra melhor no contexto.
homem culto.
Precisamos ousar na vida: devemos fazê-lo com � Junto com o ponto de exclamação, para denotar
cautela. surpresa.
Ex.: Não conseguiu chegar ao local de prova?! (ou !?)
� Marcar invocação em correspondências.
Ex.: Prezados senhores: � E interrogações retóricas.
Comunico, por meio deste, que... Ex.: Jogaremos comida fora à toa? (Ou seja: “Claro
que não jogaremos comida fora à toa”).
TRAVESSÃO
PONTO DE EXCLAMAÇÃO
� Usado em discursos diretos, indica a mudança de
discurso de interlocutor. � É empregado para marcar o fim de uma frase com
Ex.: entonação exclamativa.
— Bom dia, Maria! Ex.: Que linda mulher!
Coitada dessa criança!
— Bom dia, Pedro!
� Aparece após uma interjeição.
� Serve também para colocar em relevo certas Ex.: Nossa! Isso é fantástico.
expressões, orações ou termos. Pode ser subs-
tituído por vírgula, dois-pontos, parênteses ou � Usado para substituir vírgulas em vocativos enfáticos.
colchetes. Ex.: “Fernando José! onde estava até esta hora?”
Ex.: Os professores ― amigos meus do curso cario-
� É repetido duas ou mais vezes quando se quer
ca ― vão fazer videoaulas. (aposto explicativo)
LÍNGUA PORTUGUESA

marcar uma ênfase.


Meninos ― pediu ela ―, vão lavar as mãos, que
Ex.: Inacreditável!!! Atravessou a piscina de 50
vamos jantar. (oração intercalada)
metros em 20 segundos!!!
Como disse o poeta: “Só não se inventou a máqui-
na de fazer versos ― já havia o poeta parnasiano”.
RETICÊNCIAS
PARÊNTESES
São usadas para:
Têm função semelhante à dos travessões e das
� Assinalar interrupção do pensamento.
vírgulas no sentido que colocam em relevo certos ter-
Ex.: ― Estou ciente de que...
mos, expressões ou orações.
― Pode dizer...
Ex.: Os professores (amigos meus do curso carioca)
vão fazer videoaulas. (aposto explicativo) � Indicar partes suprimidas de um texto. 31
Ex.: Na hora em que entrou no quarto ... e depois ASTERISCO
desceu as escadas apressadamente. (Também pode
ser usado: Na hora em que entrou no quarto [...] e � É colocado à direita e no canto superior de uma
depois desceu as escadas apressadamente.) palavra do trecho para se fazer uma citação ou
comentário qualquer sobre o termo em uma nota
� Para sugerir prolongamento da fala.
de rodapé.
Ex.: ― O que vocês vão fazer nas férias?
Ex.: A palavra tristeza é formada pelo adjetivo
― Ah, muitas coisas: dormir, nadar, pedalar...
triste acrescido do sufixo -eza*.
� Para indicar hesitação. *-eza é um sufixo nominal justaposto a um adjeti-
Ex.: ― Eu não a beijava porque... porque... tinha vo, o que origina um novo substantivo.
vergonha.
� Quando repetido três vezes, indica uma omissão
� Para realçar uma palavra ou expressão, normal- ou lacuna em um texto, principalmente em substi-
mente com outras intenções. tuição a um substantivo próprio.
Ex.: ― Ela é linda...! Você nem sabe como...! Ex.: O menor *** foi apreendido e depois encami-
nhado aos responsáveis.
USO DAS ASPAS
� Quando colocado antes e no alto da palavra, repre-
São usadas em citações ou em algum termo que senta o vocábulo como uma forma hipotética, isto
precisa ser destacado no texto, como por exemplo é, cuja existência é provável, mas não comprovada.
palavras de origem estrangeira ou gírias. Ex.: Parecer, do latim *parescere.
Usam-se nos seguintes casos: � Antes de uma frase para indicar que ela é agrama-
� Antes e depois de citações. tical, ou seja, uma frase que não respeita as regras
Ex.: “A vírgula é um calo no pé de todo mundo”, da gramática.
afirma Dad Squarisi, 64. * Edifício elaborou projeto o engenheiro.

� Para marcar estrangeirismos, neologismos, arcaís- USO DA BARRA


mos, gírias e expressões populares ou vulgares,
conotativas. A barra oblíqua [ / ] é um sinal gráfico usado:
Ex.: O homem, “ledo” de paixão, não teve a fortuna
que desejava. � Para indicar disjunção e exclusão, podendo ser
Não gosto de “pavonismos”. substituída pela conjunção “ou”.
Dê um “up” no seu visual. Ex.: Poderemos optar por: carne/peixe/dieta.
� Para realçar uma palavra ou expressão imprópria, Poderemos optar por: carne, peixe ou dieta.
às vezes com ironia ou malícia. � Para indicar inclusão, quando utilizada na separa-
Ex.: Veja como ele é “educado”: cuspiu no chão. ção das conjunções e/ou.
Ele reagiu impulsivamente e lhe deu um “não” Ex.: Os alunos poderão apresentar trabalhos orais
sonoro. e/ou escritos.
� Para citar nomes de mídias, livros etc. � Para indicar itens que possuem algum tipo de rela-
Ex.: Ouvi a notícia do “Jornal Nacional”. ção entre si.
Ex.: A palavra será classificada quanto ao número
COLCHETES
(plural/singular).
O carro atingiu os 220 km/h.
Representam uma variante dos parênteses, porém
tem uso mais restrito. � Para separar os versos de poesias, quando escritos
Usam-se nos seguintes casos: seguidamente na mesma linha. São utilizadas duas
barras para indicar a separação das estrofes.
� Para incluir num texto uma observação de nature- Ex.: “[…] De tanto olhar para longe,/não vejo o que
za elucidativa. passa perto,/meu peito é puro deserto./Subo mon-
Ex.: É de Stanislaw Ponte Preta [pseudônimo de te, desço monte.//Eu ando sozinha/ao longo da noi-
Sérgio Porto] a obra “Rosamundo e os outros”. te./Mas a estrela é minha.” Cecília Meireles
� Para isolar o termo latino sic (que significa “assim”), � Na escrita abreviada, para indicar que a palavra
a fim de indicar que, por mais estranho ou errado não foi escrita na sua totalidade.
que pareça, o texto original é assim mesmo. Ex.: a/c = aos cuidados de;
Ex.: “Era peior [sic] do que fazer-me esbirro aluga- s/ = sem
do.” (Machado de Assis) � Para separar o numerador do denominador nos
� Para indicar os sons da fala, quando se estuda números fracionários, substituindo a barra da
Fonologia. fração.
Ex.: mel: [mɛw]; bem: [bẽy] Ex.: 1/3 = um terço
� Para suprimir parte de um texto (assim como � Nas datas.
parênteses). Ex.: 31/03/1983
Ex.: Na hora em que entrou no quarto [...] e depois
� Nos números de telefone.
desceu as escadas apressadamente.
Ex.: 225 03 50/51/52
Na hora em que entrou no quarto (...) e depois des-
ceu as escadas apressadamente. (caso não preferí- � Nos endereços.
32 vel segundo as normas da ABNT) Ex.: Rua do Limoeiro, 165/232
� Na indicação de dois anos consecutivos. � O elemento que pratica ou recebe a ação expressa
Ex.: O evento de 2012/2013 foi um sucesso. pelo verbo;
� O termo que pode ser substituído por um pronome
� Para indicar fonemas, ou seja, os sons da língua.
do caso reto;
Ex.: /s/
� O termo com o qual o verbo concorda.

Embora não existam regras muito definidas sobre
a existência de espaços antes e depois da barra oblí- Ex.: A população implorou pela compra da vacina da
qua, privilegia-se o seu uso sem espaços: plural/singu- COVID-19.
lar, masculino/feminino, sinônimo/antônimo.
No exemplo anterior, “a população” é:

z O elemento sobre o qual se declarou algo (implo-


rou pela compra da vacina);
SINTAXE
z O elemento que pratica a ação de implorar;
ORAÇÃO, PERÍODO, TERMOS DAS ORAÇÕES z O termo com o qual o verbo concorda (o verbo
implorar está flexionado na 3ª pessoa do singular);
Ao selecionar palavras, nós as escolhemos entre z O termo que pode ser substituído por um pronome
os grandes grupos de palavras existentes na língua, do caso reto.
como verbos, substantivos ou adjetivos. Esses são gru-
pos morfológicos. Ao combinar as palavras em frases, (Ele implorou pela compra da vacina da COVID-19).
nós construímos um painel morfológico.
As palavras normalmente recebem uma dupla
classificação: a morfológica, que está relacionada à Núcleo do Sujeito
classe gramatical a que pertence, e a sintática, rela-
cionada à função específica que assumem em deter- O núcleo é a palavra base do sujeito. É a principal
minada frase. porque é a respeito dela que o predicado diz algo. O
núcleo indica a palavra que realmente está exercen-
Oração do determinada função sintática, que atua ou sofre
a ação. O núcleo do sujeito apresentará um substan-
Enunciado que se estrutura em torno de um verbo tivo, ou uma palavra com valor de substantivo, ou
(explícito, implícito ou subentendido) ou de uma locu- pronome.
ção verbal. Quanto ao sentido, a oração pode apresen-
tá-lo completo ou incompleto. z O sujeito simples contém apenas um núcleo.
Ex.: Você é um dos que se preocupam com a Ex.: O povo pediu providências ao governador.
poluição. Sujeito: O povo
“A roda de samba acabou”. (Chico Buarque) Núcleo do sujeito: povo

Período z Já no sujeito composto, o núcleo será constituído


de dois ou mais termos.
Período é o enunciado constituído de uma ou mais As luzes e as cores são bem visíveis.
orações. Sujeito: As luzes e as cores
Classifica-se em: Núcleo do sujeito: luzes/cores

� Simples: possui apenas uma oração. Dica


Ex.: O sol surgiu radiante.
Ninguém viu o acidente. Para determinar o sujeito da oração, colocam-se
� Composto: possui duas ou mais orações. as expressões interrogativas quem? ou o quê?
Ex.: “Amou daquela vez como se fosse a última.” antes do verbo.
(Chico Buarque) Ex.: A população pediu uma providência ao
Chegou em casa e tomou banho. governador.
Quem pediu uma providência ao governador?
Termos Essenciais da Oração Resposta: A população (sujeito).
Ex.: O pêndulo do relógio iria de um lado para o
São aqueles indispensáveis para a estrutura básica outro.
da oração. Costuma-se associar esses termos a situa-
LÍNGUA PORTUGUESA

O que iria de um lado para o outro?


ções analógicas, como um almoço tradicional brasi-
Resposta: O pêndulo do relógio (sujeito).
leiro constituído basicamente de arroz e feijão, por
exemplo. São eles: sujeito e predicado. Veremos a
Tipos de Sujeito
seguir cada um deles.
Quanto à função na oração, o sujeito classifica-se em:
SUJEITO

É o elemento que faz ou sofre a ação determinada Simples


pelo verbo.
O sujeito pode ser: DETERMINADO Composto

Elíptico
� O termo sobre o qual o restante da oração diz algo; 33
Assim, “de cabelo” seria um complemento verbal,
Com verbos flexionados na 3ª e não um sujeito da oração. Nesse caso, o sujeito é
pessoa do plural indeterminado, marcado pelo índice de indetermina-
INDETERMINADO Com verbos acompanhados do ção “-se”.
se (índice de indeterminação do
sujeito) z Voz passiva analítica (sujeito paciente)
Ex.: A minha saia azul está rasgada.
Usado para fenômenos da O sujeito está sofrendo uma ação, e não há presen-
INEXISTENTE natureza ou com verbos ça da partícula -se.
impessoais
PREDICADO
z Determinado: quando se identifica a pessoa, o
lugar ou o objeto na oração. Classifica-se em: É o termo que contém o verbo e informa algo sobre
o sujeito. Apesar de o sujeito e o predicado serem ter-
„ Simples: quando há apenas um núcleo. mos essenciais na oração, há casos em que a oração
Ex.: O [aluguel] da casa é caro. não possui sujeito. Mas, se a oração é estruturada em
Núcleo: aluguel torno de um verbo e ele está contido no predicado, é
Sujeito simples: O aluguel da casa impossível existir uma oração sem sujeito.
O predicado pode ser:
„ Composto: quando há dois núcleos ou mais.
Ex.: Os [sons] e as [cores] ficaram perfeitos.
z Aquilo que se declara a respeito do sujeito.
Núcleos: sons, cores.
Ex.: “A esposa e o amigo seguem sua marcha.”
Sujeito composto: Os sons e as cores
(José de Alencar)
„ Elíptico, oculto ou desinencial: quando não Predicado: seguem sua marcha
aparece na oração, mas é possível de ser identifi- z Uma declaração que não se refere a nenhum sujei-
cado devido à flexão do verbo ao qual se refere. to (oração sem sujeito):
Ex.: Vi o noticiário hoje de manhã. Sujeito: (Eu) Ex.: Chove pouco nesta época do ano.
Predicado: Chove pouco nesta época do ano.
z Indeterminado: quando não é possível identificar
o sujeito na oração, mas ainda sim está presente. Para determinar o predicado, basta separar o
Encontra-se na 3ª pessoa do plural ou representa- sujeito. Ocorrendo uma oração sem sujeito, o predica-
do por um índice de indeterminação do sujeito, a do abrangerá toda a declaração. A presença do verbo
partícula “se”. é obrigatória, seja de forma explícita ou implícita:
Ex.: “Nossos bosques têm mais vidas.” (Gonçalves
„ Colocando-se o verbo na 3ª pessoa do plural, Dias)
não se referindo a nenhuma palavra determi- Sujeito: Nossos bosques. Predicado: têm mais vida.
nada no contexto. Ex.: “Nossa vida mais amores”. (Gonçalves Dias)
Ex.: Passaram cedo por aqui, hoje. Sujeito: Nossa vida. Predicado: mais amores.
Entende-se que alguém passou cedo.
Classificação do Predicado
„ Colocando-se verbos sem complemento direto
(intransitivos, transitivos diretos ou de ligação) A classificação do predicado depende do significa-
na 3ª pessoa do singular acompanhados do pro- do e do tipo de verbo que apresenta.
nome se, que atua como índice de indetermina-
ção do sujeito.
z Predicado nominal: ocorre quando o núcleo sig-
Ex.: Não se vê com a neblina.
nificativo se concentra em um nome (corresponde
Entende-se que ninguém consegue ver nessa
a um predicativo do sujeito).
condição.
O verbo deste tipo de oração é sempre de ligação.
O predicado nominal tem por núcleo um nome
Classificação do Sujeito Quanto à Voz (substantivo, adjetivo ou pronome).
Ex.: “Nossas flores são mais bonitas.” (Murilo
z Voz ativa (sujeito agente) Mendes)
Ex.: Cláudia corta cabelos de terça a sábado. Predicado: são mais bonitas.
Nesse caso, o termo “Cláudia” é a pessoa que exer- Ex.: “As estrelas estão cheias de calafrios.” (Olavo
ce a ação na frase. Bilac)
Predicado: estão cheias de calafrios.
z Voz passiva sintética (sujeito paciente)
Ex.: Corta-se cabelo. É importante não confundir:
Pode-se ler “Cabelo é cortado”, ou seja, o sujeito
“cabelo” sofre uma ação, diferente do exemplo do z Verbo de ligação: quando não exprime uma ação,
item anterior. O “-se” é a partícula apassivadora da mas um estado momentâneo ou permanente que
oração. relaciona o sujeito ao restante do predicado, que é
o predicativo do sujeito.
Importante notar que não há preposição entre z Predicativo do sujeito; função exercida por subs-
o verbo e o substantivo. Se houvesse, por exemplo, tantivo, adjetivo, pronomes e locuções que atri-
“de” no meio da frase, o termo “cabelo” não seria mais buem uma condição ou qualidade ao sujeito.
sujeito, seria objeto indireto, um complemento verbal. Ex.: O garoto está bastante feliz.
34 Precisa-se de cabelo. Verbo de ligação: está.
Predicativo do sujeito: bastante feliz. Repare que no primeiro exemplo o termo “atento”
Ex.: Seu batom é muito forte. está caracterizando o sujeito “O homem” e, por isso, é
Verbo de ligação: é. considerado predicativo do sujeito.
Predicativo do sujeito: muito forte.
Ex.: “Fabiano marchou desorientado.” (Olavo Bilac)
Predicado Verbal Verbo intransitivo: marchou
Predicativo do sujeito: desorientado
Ocorre quando há dois núcleos significativos: um
verbo (transitivo ou intransitivo) e um nome (predi- No segundo exemplo, o termo “desorientado” indi-
cativo do sujeito ou, em caso transitivo, predicativo do ca um estado do termo “Fabiano”, que também é sujei-
objeto). Da natureza desse verbo é que decorrem os to. Temos mais um caso de predicativo do sujeito.
demais termos do predicado.
O verbo do predicado pode ser classificado em Ex.: “Ptolomeu achou o raciocínio exato.” (Macha-
transitivo direto, transitivo indireto, verbo transi- do de Assis)
tivo direto e indireto ou verbo intransitivo. Verbo transitivo direto: achou
Objeto direto: o raciocínio
z Verbo transitivo direto (VTD): é o verbo que exi- Predicativo do objeto: exato
ge um complemento não preposicionado, o objeto
direto. No terceiro exemplo, o termo “exato” caracteriza um
Ex.: “Fazer sambas lá na vila é um brinquedo.” julgamento relacionado ao termo “o raciocínio”, que é o
Noel Rosa objeto direto dessa oração. Com isso, podemos concluir
Verbo Transitivo Direto: Fazer. que temos um caso de predicativo do objeto, visto que
Ex.: Ele trouxe os livros ontem. “exato” não se liga a “Ptolomeu”, que é o sujeito.
Verbo Transitivo Direto: trouxe.
z Verbo Transitivo Indireto (VTI): o verbo transi- O que é o predicativo do objeto?
tivo indireto tem como necessidade o complemen-
to acompanhado de uma preposição para fazer É o termo que confere uma característica, uma
sentido. qualidade, ao que se refere.
Ex.: Nós acreditamos em você. A formação do predicativo do objeto se dá por um
Verbo transitivo indireto: acreditamos adjetivo ou por um substantivo.
Preposição: em
Ex.: Frida obedeceu aos seus pais. Ex.: Consideramos o filme proveitoso.
Verbo transitivo indireto: obedeceu Predicativo do objeto: proveitoso
Preposição: a (a + os) Ex.: Chamavam-lhe vitoriosa, pelas conquistas.
Ex.: Os professores concordaram com isso. Predicativo do objeto: vitoriosa
Verbo transitivo indireto: concordaram
Preposição: com Para facilitar a identificação do predicativo do
z Verbo Transitivo Direto e Indireto (VTDI): é o objeto, o recomendável é desdobrar a oração, acres-
verbo de sentido incompleto que exige dois com- centando-lhe um verbo de ligação, cuja função especí-
plementos: objeto direto (sem preposição) e objeto fica é relacionar o predicativo ao nome.
indireto (com preposição).
Ex.: “Ela contava-lhe anedotas, e pedia-lhe ou- O filme foi proveitoso.
tras.” (Machado de Assis) Ela era vitoriosa.
Verbo transitivo direto e indireto 1: contava
Objeto direto 1: anedotas Nessas duas últimas formas, os termos seriam pre-
Objeto indireto 1: lhe dicativos do sujeito, pois são precedidos de verbos de
Verbo transitivo direto e indireto 2: pedia ligação (foi e era, respectivamente).
Objeto direto 2: outras
Objeto indireto 2: lhe. TERMOS INTEGRANTES DA ORAÇÃO
z Verbo Intransitivo (VI): É aquele capaz de cons-
truir sozinho o predicado, que não precisa de com- São vocábulos que se agregam a determinadas
plementos verbais, sem prejudicar o sentido da estruturas para torná-las completas. De acordo com
oração. a gramática da língua portuguesa, esses termos são
Ex.: Escrevia tanto que os dedos adormeciam. divididos em:
LÍNGUA PORTUGUESA

Verbo intransitivo: adormeciam.


Complementos Verbais
Predicado Verbo-Nominal
São termos que completam o sentido de verbos
Ocorre quando há dois núcleos significativos: transitivos diretos e transitivos indiretos.
um verbo nocional (intransitivo ou transitivo) e um
nome (predicativo do sujeito ou, em caso de verbo z Objeto direto: revela o alvo da ação. Não é acom-
transitivo, predicativo do objeto). panhado de preposição.
Ex.: Examinei o relógio de pulso.
Ex.: “O homem parou atento.” (Murilo Mendes) Gostaria de vê-lo no topo do mundo.
Verbo intransitivo: parou O técnico convocou somente os do Brasil. (os =
Predicativo do sujeito: atento aqueles) 35
Pronomes e sua relação com o objeto direto Ex.: Riu um riso aterrador.
Dormiu o sono dos justos.
Além dos pronomes oblíquos o(s), a(s) e suas Como diferenciar objeto direto de sujeito?
variações lo(s), la(s), no(s), na(s), “que” quase sem- Já começaram os jogos da seleção. (sujeito)
pre exercem função de objeto direto, os pronomes Ignoraram os jogos da seleção. (objeto direto)
oblíquos me, te, se, nos, vos também podem exercer
essa função sintática. O objeto direto pode ser passado para a voz passi-
va analítica e se transforma em sujeito.
Ex.: Levou-me à sabedoria esta aula. (= “Levaram
quem? A minha pessoa”) Os jogos da seleção foram ignorados.
Nunca vos tomeis como grandes personalidades.
(= “Nunca tomeis quem? Vós”) z Objeto indireto: É complemento verbal regido de
Convidaram-na para o almoço de despedida. (= preposição obrigatória, que se liga diretamente a
“Convidaram quem? Ela”) verbos transitivos indiretos e diretos. Representa
Depois de terem nos recebido, abriram a caixa. (= o ser beneficiado ou o alvo de uma ação.
“Receberam quem? Nós”) Ex.: Por favor, entregue a carta ao proprietário da
casa 260.
Os pronomes demonstrativos o, a, os, as podem Gosto de ti, meu nobre.
ser objetos diretos. Normalmente, aparecem antes do Não troque o certo pelo duvidoso.
pronome relativo que. Vamos insistir em promover o novo romance de
ficção.
Ex.: Escuta o que eu tenho a dizer. (Escuta algo:
esse algo é o objeto direto) Objeto indireto e o uso de pronomes pessoais
Observe bem a que ele mostrar. (a = pronome
feminino definido) Pode ser representado pelos seguintes pronomes
oblíquos átonos: me, te, se, no, vos, lhe, lhes. Os pro-
z Objeto direto preposicionado nomes o, a, os, as não exercerão essa função.

Mesmo que o verbo transitivo direto não exija Ex.: Mostre-lhe onde fica o banheiro, por favor.
preposição no seu complemento, algumas palavras
requerem o uso da preposição para não perder o sen- Todos os pronomes oblíquos tônicos (me, mim,
tido de “alvo” do sujeito. comigo, te, ti, contigo) podem funcionar como objeto
Além disso, há alguns casos obrigatórios e outros indireto, já que sempre ocorrem com preposição.
facultativos.
Exemplos com ocorrência obrigatória de
Ex.: Você escreveu esta carta para mim?
preposição:
Não entendo nem a ele nem a ti.
z Objeto indireto pleonástico: Ocorrência repetida
Respeitava-se aos mais antigos.
dessa função sintática com o objetivo de enfatizar
Ali estava o artista a quem nosso amigo idolatrava.
uma mensagem.
Amavam-se um ao outro.
Ex.: A ele, sem reservas, supliquei-lhe ajuda.
“Olho Gabriela como a uma criança, e não mulher
feita.” (Ciro dos Anjos)
COMPLEMENTO NOMINAL
Exemplos com ocorrência facultativa de
preposição: Completa o sentido de substantivos, adjetivos e
Eles amam a Deus, assim diziam as pessoas daque- advérbios. É uma função sintática regida de preposi-
le templo. ção e com objetivo de completar o sentido de nomes. A
A escultura atrai a todos os visitantes. presença de um complemento nominal nos contextos
Não admito que coloquem a Sua Excelência num de uso é fundamental para o esclarecimento do senti-
pedestal. do do nome.
Ao povo ninguém engana.
Eu detesto mais a estes filmes do que àqueles. Ex.: Tenho certeza de que tu serás aprovado.
No caso “Você bebeu dessa água?”, a forma “des- Estou longe de casa e tão perto do paraíso.
sa” (preposição de + pronome essa) precisa estar pre-
sente para indicar parte de um todo, quando assim Para melhor identificar um complemento nomi-
for o contexto de uso. Logo, a pergunta é se a pessoa nal, siga a instrução:
bebeu uma porção da água, e não ela toda.
Nome + preposição + quem ou quê
z Objeto direto pleonástico: É a dupla ocorrência
dessa função sintática na mesma oração, a fim de Como diferenciar complemento nominal de com-
enfatizar um único significado. plemento verbal?

Ex.: “Eu não te engano a ti”. (Carlos Drummond de Ex.: Naquela época, só obedecia ao meu coração.
Andrade) (complemento verbal, pois “ao meu coração” liga-
-se diretamente ao verbo “obedecia”)
z Objeto direto interno: Representado por palavra Naquela época, a obediência ao meu coração pre-
que tem o mesmo radical do verbo ou apresenta valecia. (complemento nominal, pois “ao meu cora-
36 mesmo significado. ção” liga-se diretamente ao nome “obediência”).
Agente da Passiva Adjunto Adverbial

É o complemento de um verbo na voz passiva ana- Termo representado por advérbios, locuções
lítica. Sempre é precedido da preposição por, e, mais adverbiais ou adjetivos com valor adverbial. Relacio-
raramente, da preposição de. na-se ao verbo ou a toda oração para indicar variadas
Forma-se essencialmente pelos verbos auxiliares circunstâncias.
ser, estar, viver, andar, ficar.
z Tempo: Quero que ele venha logo;
Termos Acessórios da Oração z Lugar: A dança alegre se espalhou na avenida;
z Modo: O dia começou alegremente;
Há termos que, apesar de dispensáveis na estrutu- z Intensidade: Almoçou pouco;
ra básica da oração, são importantes para compreen-
z Causa: Ela tremia de frio;
são do enunciado porque trazem informações novas.
Esses termos são chamados acessórios da oração. z Companhia: Venha jantar comigo;
z Instrumento: Com a máquina, conseguiu lavar as
Adjunto Adnominal roupas;
z Dúvida: Talvez ele chegue mais cedo;
São termos que acompanham o substantivo, z Finalidade: Vivia para o trabalho;
núcleo de outra função, para qualificar, quantificar,
z Meio: Viajou de avião devido à rapidez;
especificar o elemento representado pelo substantivo.
z Assunto: Falávamos sobre o aluguel;
Categorias morfológicas que podem funcionar
como adjunto adnominal: z Negação: Não permitirei que permaneça aqui;
z Afirmação: Sairia sim naquela manhã;
z Artigos; z Origem: Descendia de nobres.
z Adjetivos;
z Numerais; Não confunda!
z Pronomes;
z Locuções adjetivas. Para conseguir distinguir adjunto adverbial de
adjunto adnominal, basta saber se o termo relacio-
Ex.: Aqueles dois antigos soldadinhos de chumbo nado ao adjunto é um verbo ou um nome, mesmo que
ficaram esquecidos no quarto. o sentido seja parecido.
Iam cheios de si. Ex.: Descendência de nobres. (O “de nobres” aqui
Estava conquistando o respeito dos seus. é um adjunto adnominal)
O novo regulamento originou a revolta dos Descendia de nobres. (O “de nobres” aqui é um
adjunto adverbial)
funcionários.
O doutor possuía mil lembranças de suas viagens.
Aposto
z Pronomes oblíquos átonos e a função de ajunto
Estruturas relacionadas a substantivos, pronomes
adnominal: os pronomes me, te, lhe, nos, vos, lhes ou orações. O aposto tem como propósito explicar,
exercem essa função sintática quando assumem identificar, esclarecer, especificar, comentar ou apon-
valor de pronomes possessivos. tar algo, alguém ou um fato.
Ex.: Puxaram-me o cabelo (Puxam meu cabelo). Ex.: Renata, filha de D. Raimunda, comprou uma
bicicleta.
z Como diferenciar adjunto adnominal de com- Aposto: filha de D. Raimunda
plemento nominal? Ex.: O escritor Machado de Assis escreveu gran-
des obras.
Quando o adjunto adnominal for representado por Aposto: Machado de Assis.
uma locução adjetiva, ele pode ser confundido com
complemento nominal. Para diferenciá-los, siga a dica: Classifica-se nas seguintes categorias:

„ Será adjunto adnominal: se o substantivo ao z Explicativo: usado para explicar o termo anterior.
qual se liga for concreto. Separa-se do substantivo a que se refere por uma
LÍNGUA PORTUGUESA

Ex.: A casa da idosa desapareceu. pausa, marcada na escrita por vírgulas, travessões
ou dois-pontos.
Se indicar posse ou o agente daquilo que
Ex.: As filhas gêmeas de Ana, que aniversariaram
expressa o substantivo abstrato.
ontem, acabaram de voltar de férias.
Ex.: A preferência do grupo não foi respeitada.
Jéssica, uma ótima pessoa, conseguiu apoio de todos.
„ Será complemento nominal: se indicar o alvo � Enumerativo: usado para desenvolver ideias que
daquilo que expressa o substantivo. foram resumidas ou abreviadas em um termo ante-
Ex.: A preferência pelos novos alojamentos não rior. Mostra os elementos contidos em um só termo.
foi respeitada. Ex.: Víamos somente isto: vales, montanhas e
Notava-se o amor pelo seu trabalho. riachos.
Se vier ligado a um adjetivo ou a um advérbio: Apenas três coisas me tiravam do sério, a saber,
Ex.: Manteve-se firme em seus objetivos. preconceito, antipatia e arrogância. 37
z Recapitulativo ou resumidor: É o termo usado Homem desesperado, João sempre perde o con-
para resumir termos anteriores. É expresso, nor- trole.
malmente, por um pronome indefinido. (aposto; núcleo: homem – substantivo)
Ex.: Os professores, coordenadores, alunos, todos
estavam empolgados com a feira. Vocativo
Irei a Moçambique, Cabo Verde, Angola e Guiné-
-Bissau, países africanos onde se fala português. O vocativo é um termo que não mantém relação
� Comparativo: Estabelece uma comparação implícita. sintática com outro termo dentro da oração. Não per-
Ex.: Meu coração, uma nau ao vento, está sem tence nem ao sujeito, nem ao predicado. É usado para
rumo. chamar ou interpelar a pessoa que o enunciador dese-
� Circunstancial: Exprime uma característica
ja se comunicar. É um termo independente, pois
circunstancial.
não faz parte da estrutura da oração.
Ex.: No inverno, busquemos sair com roupas
Ex.: Recepcionista, por favor, agende minha
apropriadas.
� Especificativo: É o aposto que aparece junto a um consulta.
substantivo de sentido genérico, sem pausa, para Ela te diz isso desde ontem, Fábio.
especificá-lo ou individualizá-lo. É constituído por
substantivos próprios. z Para distinguir vocativo de aposto: o vocati-
Exs.: O mês de abril. vo não se relaciona sintaticamente com nenhum
O rio Amazonas. outro termo da oração.
Meu primo José. Ex.: Lufe, faz um almoço gostoso para as crianças.
O aposto se relaciona sintaticamente com outro
z Aposto da oração: É um comentário sobre o termo da oração.
fato expresso pela oração, ou uma palavra que
A cozinha de Lufe, cozinheiro da família, é impecável.
condensa.
Sujeito: a cozinha de lufe.
Ex.: Após a notícia, ficou calado, sinal de sua
Aposto: cozinheiro da família (relaciona-se ao
preocupação.
sujeito).
O noticiário disse que amanhã fará muito calor —
ideia que não me agrada.
ARTICULAÇÃO DAS ORAÇÕES: COORDENAÇÃO E
� Distributivo: Dispõe os elementos equitativamente. SUBORDINAÇÃO
Ex.: Separe duas folhas: uma para o texto e outra
para as perguntas. Observe os exemplos a seguir:
Sua presença era inesperada, o que causou
surpresa. A apostila de Português está completa.
Um verbo: Uma oração = período simples
Dica Português e Matemática são disciplinas essen-
� O aposto pode aparecer antes do termo a que ciais para ser aprovado em concursos.
se refere, normalmente antes do sujeito. Dois verbos: duas orações = período composto
Ex.: Maior piloto de todos os tempos, Ayrton Sen-
na marcou uma geração. O período composto é formado por duas ou mais
� Segundo o gramático Cegalla, quando o apos- orações. Em um parágrafo, podem aparecer mistura-
to se refere a um termo preposicionado, pode ele do períodos simples e período compostos.
vir igualmente preposicionado.
Ex.: De cobras, (de) morcegos, (de) bichos, de PERÍODO SIMPLES PERÍODO COMPOSTO
tudo ele tinha medo.
� O aposto pode ter núcleo adjetivo ou adverbial. O povo levantou-se cedo
Era dia de eleição
Ex.: Tuas pestanas eram assim: frias e curvas para evitar aglomeração
(adjetivos, apostos do predicativo do sujeito).
Falou comigo deste modo: calma e maliciosa- Para não esquecer:
mente (advérbios, aposto do adjunto adverbial
de modo). Período simples é aquele formado por uma só
oração.
z Diferença de aposto especificativo e adjunto Período composto é aquele formado por duas ou
adnominal: Normalmente, é possível retirar a mais orações.
preposição que precede o aposto. Caso seja um
adjunto, se for retirada a preposição, a estrutura Classifica-se nas seguintes categorias:
fica prejudicada.
Ex.: A cidade Fortaleza é quente. z Por coordenação: orações coordenadas assindéticas;
(aposto especificativo / Fortaleza é uma cidade)
O clima de Fortaleza é quente. „ Orações coordenadas sindéticas: aditivas, adver-
(adjunto adnominal / Fortaleza é um clima?) sativas, alternativas, conclusivas, explicativas.
z Diferença de aposto e predicativo do sujeito: O
aposto não pode ser um adjetivo nem ter núcleo z Por subordinação:
adjetivo.
Ex.: Muito desesperado, João perdeu o controle. „ Orações subordinadas substantivas: subjeti-
(predicativo do sujeito; núcleo: desesperado – ad- vas, objetivas diretas, objetivas indiretas, com-
38 jetivo) pletivas nominais, predicativas, apositivas;
„ Orações subordinadas adjetivas: restritivas, Ex.: Estou recuperada, portanto viajarei próxima
explicativas; semana.
„ Orações subordinadas adverbiais: causais, “Era domingo; eu nada tinha, pois, a fazer.” (Paulo
comparativas, concessivas, condicionais, con- Mendes Campos)
formativas, consecutivas, finais, proporcionais,
z Explicativas: justificam uma opinião ou ordem
temporais.
expressa. Conjunções constitutivas: que, porque,
porquanto, pois.
z Por coordenação e subordinação: orações for-
Ex.: Vamos dormir, que é tarde. (o “que” equivale
madas por períodos mistos; a “pois”)
z Orações reduzidas: de gerúndio e de infinitivo. Vamos almoçar de novo porque ainda estamos
com fome.
Período Composto por Coordenação
PERÍODO COMPOSTO POR SUBORDINAÇÃO
As orações são sintaticamente independentes. Isso
significa que uma não possui relação sintática com Formado por orações sintaticamente dependentes,
verbos, nomes ou pronomes das demais orações no considerando a função sintática em relação a um ver-
período. bo, nome ou pronome de outra oração.
Tipos de orações subordinadas:
Ex.: “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.”
(Fernando Pessoa) z Substantivas;
Oração coordenada 1: Deus quer z Adjetivas;
Oração coordenada 2: o homem sonha z Adverbiais.
Oração coordenada 3: a obra nasce.
Ex.: “Subi devagarinho, colei o ouvido à porta da Orações Subordinadas Substantivas
sala de Damasceno, mas nada ouvi.” (M. de Assis)
Oração coordenada assindética: Subi devagarinho São classificadas nas seguintes categorias:
Oração coordenada assindética: colei o ouvido à
porta da sala de Damasceno z Orações subordinadas substantivas conectivas:
Oração coordenada sindética: mas nada ouvi são introduzidas pelas conjunções subordinativas
Conjunção adversativa: mas nada integrantes que e se.
Ex.: Dizem que haverá novos aumentos de
Orações Coordenadas Sindéticas impostos.
Não sei se poderei sair hoje à noite.
As orações coordenadas podem aparecer ligadas
às outras através de um conectivo (elo), ou seja, atra- z Orações subordinadas substantivas justapos-
vés de um síndeto, de uma conjunção, por isso o nome tas: introduzidas por advérbios ou pronomes
sindética. Veremos agora cada uma delas: interrogativos (onde, como, quando, quanto,
quem etc.)
z Aditivas: exprimem ideia de sucessibilidade ou Ex.: Ignora-se onde eles esconderam as joias
simultaneidade. roubadas.
Conjunções constitutivas: e, nem, mas, mas tam- Não sei quem lhe disse tamanha mentira.
bém, mas ainda, bem como, como também, se- z Orações subordinadas substantivas reduzidas:
não também, que (= e). não são introduzidas por conectivo, e o verbo fica
Ex.: Pedro casou-se e teve quatro filhos. no infinitivo.
Os convidados não compareceram nem explica- Ex.: Ele afirmou desconhecer estas regras.
ram o motivo.
z Orações subordinadas substantivas subjetivas:
z Adversativas: exprimem ideia de oposição, con- exercem a função de sujeito. O verbo da oração
traste ou ressalva em relação ao fato anterior. principal deve vir na voz ativa, passiva analítica
Conjunções constitutivas: mas, porém, todavia, ou sintética. Em 3ª pessoa do singular, sem se refe-
contudo, entretanto, no entanto, senão, não obs- rir a nenhum termo na oração.
tante, ao passo que, apesar disso, em todo caso. Ex.: Foi importante o seu regresso. (sujeito)
Ex.: Ele é rico, mas não paga as dívidas. Foi importante que você regressasse. (sujeito ora-
“A morte é dura, porém longe da pátria é dupla a cional) (or. sub. subst. subje.)
morte.” (Laurindo Rabelo)
z Orações subordinadas substantivas objetivas
LÍNGUA PORTUGUESA

z Alternativas: exprimem fatos que se alternam ou diretas: exercem a função de objeto direto de um
se excluem. verbo transitivo direto ou transitivo direto e indi-
Conjunções constitutivas: (ou), (ou ... ou), (ora ... reto da oração principal.
ora), (que ... quer), (seja ... seja), (já ... já), (talvez Ex.: Desejo o seu regresso. (OD)
... talvez). Desejo que você regresse. (OD oracional) (or. sub.
Ex.: Ora responde, ora fica calado. subst. obj. dir.)
Você quer suco de laranja ou refrigerante?
z Orações subordinadas substantivas completi-
z Conclusivas: exprimem uma conclusão lógica vas nominais: exercem a função de complemento
sobre um raciocínio. nominal de um substantivo, adjetivo ou advérbio
Conjunções constitutivas: logo, portanto, por con- da oração principal.
seguinte, pois isso, pois (o “pois” sem ser no início Ex.: Tenho necessidade de seu apoio. (comple-
de frase). mento nominal) 39
Tenho necessidade de que você me apoie. (com- � Orações subordinadas adverbiais comparati-
plemento nominal oracional) (or. sub. subst. com- vas: são introduzidas por: como, assim como, tal
pl. nom.) qual, como, mais etc.
Ex.: A cerveja nacional é menos concentrada (do)
z Orações subordinadas substantivas predicati-
que a importada.
vas: funcionam como predicativos do sujeito da
oração principal. Sempre figuram após o verbo de � Orações subordinadas adverbiais concessivas:
ligação ser. indica certo obstáculo em relação ao fato expres-
Ex.: Meu desejo é a sua felicidade. (predicativo do so na outra oração, sem, contudo, impedi-lo. São
sujeito) introduzidas por: embora, ainda que, mesmo que,
Meu desejo é que você seja feliz. (predicativo do por mais que, se bem que etc.
sujeito oracional) (or. sub. subst. predic.) Ex.: Mesmo que chova, iremos à praia amanhã.
z Orações subordinadas substantivas apositivas: � Orações subordinadas adverbiais condicionais:
funcionam como aposto. Geralmente vêm depois são introduzidas por: se, caso, desde que, salvo se,
de dois-pontos ou entre vírgulas. contanto que, a menos que etc.
Ex.: Só quero uma coisa: a sua volta imediata. (aposto) Ex.: Você terá sucesso desde que se esforce para tal.
Só quero uma coisa: que você volte imediata-
� Orações subordinadas adverbiais conformati-
mente. (aposto oracional) (or. sub. aposi.)
vas: são introduzidas por: como, conforme, segun-
z Orações subordinadas adjetivas: desempenham do, consoante.
função de adjetivo (adjunto adnominal ou, mais Ex.: Ele deverá agir conforme combinamos.
raramente, aposto explicativo). São introduzidas
� Orações subordinadas adverbiais consecutivas:
por pronomes relativos (que, o qual, a qual, os
são introduzidas por: que (precedido na oração
quais, as quais, cujo, cuja, cujos, cujas etc.) As
anterior de termos intensivos como tão, tanto,
orações subordinadas adjetivas classificam-se em:
tamanho etc.) de sorte que, de modo que, de forma
explicativas e restritivas.
que, sem que.
z Orações subordinadas adjetivas explicativas: Ex.: A garota rio tanto, que se engasgou.
não limitam o termo antecedente, e sim acrescen- “Achei as rosas mais belas do que nunca, e tão per-
tam uma explicação sobre o termo antecedente. fumadas que me estontearam.” (Cecília Meireles)
São consideradas termo acessório no período,
� Orações subordinadas adverbiais finais: indicam
podendo ser suprimidas. Sempre aparecem isola-
um objetivo a ser alcançado. São introduzidas por:
das por vírgulas.
para que, a fim de que, porque e que (= para que).
Ex.: Minha mãe, que é apaixonada por bichos,
Ex.: O pai sempre trabalhou para que os filhos
cria trinta gatos.
tivessem bom estudo.
z Orações subordinadas adjetivas restritivas:
� Orações subordinadas adverbiais proporcio-
especificam ou limitam a significação do termo
nais: são introduzidas por: à medida que, à pro-
antecedente, acrescentando-lhe um elemento indis-
porção que, quanto mais, quanto menos etc.
pensável ao sentido. Não são isoladas por vírgulas.
Ex.: A doença que surgiu recentemente ainda é Ex.: Quanto mais ouço essa música, mas a
incurável. aprecio.
� Orações subordinadas adverbiais temporais:
Dica são introduzidas por: quando, enquanto, logo que,
depois que, assim que, sempre que, cada vez que,
Como diferenciar as orações subordinadas adje- agora que etc.
tivas restritivas das orações subordinadas adjeti- Ex.: Assim que você sair, feche a porta, por favor.
vas explicativas?
Ele visitará o irmão que mora em Recife. Para separar as orações de um período composto, é
(restritiva, pois ele tem mais de um irmão e vai necessário atentar-se para dois elementos fundamen-
visitar apenas o que mora em Recife). tais: os verbos (ou locuções verbais) e os conectivos
Ele visitará o irmão, que mora em Recife. (conjunções ou pronomes relativos). Após assinalar
(explicativa, pois ele tem apenas um irmão que esses elementos, deve-se contar quantas orações ele
mora em Recife). representa, a partir da quantidade de verbos ou locu-
ções verbais. Exs.:
� Orações subordinadas adverbiais: exprimem
[“A recordação de uns simples olhos basta] — 1ª ora-
uma circunstância relativa a um fato expresso em
ção
outra oração. Têm função de adjunto adverbial.
[para fixar outros] — 2ª oração
São introduzidas por conjunções subordinativas
[que os rodeiam] — 3ª oração
(exceto as integrantes) e se enquadram nos seguin-
[e se deleitem com a imaginação deles]. — 4ª ora-
tes grupos:
ção (M. de Assis)
� Orações subordinadas adverbiais causais: são
introduzidas por: como, já que, uma vez que, por- Nesse período, a 2ª oração subordina-se ao verbo
que, visto que etc. basta, pertencente à 1ª (oração principal).
Ex.: Caminhamos o restante do caminho a pé por- A 3ª e a 4ª são orações coordenadas entre si, porém
40 que ficamos sem gasolina. ambas dependentes do pronome outros, da 2ª oração.
CONCORDÂNCIA VERBAL E NOMINAL z Quando o sujeito é um pronome interrogativo,
demonstrativo ou indefinido no plural + de nós /
Na elaboração da frase, as palavras relacionam-se de vós, o verbo pode concordar com o pronome no
umas com as outras. Ao se relacionarem, elas obede- plural ou com nós / vós. Ex.: Alguns de nós resol-
cem a alguns princípios: um deles é a concordância. viam essa questão. / Alguns de nós resolvíamos
Observe o exemplo: essa questão.
z Quando o sujeito é formado por palavras plurali-
A pequena garota andava sozinha pela cidade. zadas, normalmente topônimos (Amazonas, férias,
A: Artigo, feminino, singular; Minas Gerais, Estados Unidos, óculos etc.), se hou-
Pequena: Adjetivo, feminino, singular; ver artigo definido antes de uma palavra plura-
Garota: Substantivo, feminino, singular. lizada, o verbo fica no plural. Caso não haja esse
artigo, o verbo fica no singular. Ex.: Os Estados
Tanto o artigo quanto o adjetivo (ambos adjuntos Unidos continuam uma potência.
adnominais) concordam com o gênero (feminino) e o Estados Unidos continua uma potência.
número (singular) do substantivo. Santos fica em São Paulo. (Corresponde a: “A cida-
Na língua portuguesa, há dois tipos de concordân- de de Santos fica em São Paulo.”)
cia: verbal e nominal.

Concordância Verbal Importante!


Quando se aplica a nomes de obras artísticas, o
É a adaptação em número — singular ou plural
verbo fica no singular ou no plural.
— e pessoa que ocorre entre o verbo e seu respectivo
Os Lusíadas imortalizou / imortalizaram Camões.
sujeito.
“De todos os povos mais plurais culturalmente,
o Brasil, mesmo diante de opiniões contrárias, as z Quando o sujeito é formado pelas expressões mais
quais insistem em desmentir que nosso país é cheio de um, cerca de, perto de, menos de, coisa de,
de ‘brasis’ — digamos assim —, ganha disparando dos obra de etc., o verbo concorda com o numeral. Ex.:
outros, pois houve influências de todos os povos aqui: Mais de um aluno compareceu à aula.
europeus, asiáticos e africanos.” Mais de cinco alunos compareceram à aula.
Esse período, apesar de extenso, constitui-se de
um sujeito simples “o Brasil”, portanto o verbo cor- A expressão mais de um tem particularidades:
respondente a esse sujeito, “ganha”, necessita ficar no se a frase indica reciprocidade (pronome reflexivo
singular. recíproco se), se houver coletivo especificado ou se
Destrinchando o período, temos que os termos a expressão vier repetida, o verbo fica no plural. Ex.:
essenciais da oração (sujeito e predicado) são apenas Mais de um irmão se abraçaram.
“[...] o Brasil [...]” — sujeito — e “[...] ganha [...]” — pre-
dicado verbal. Mais de um grupo de crianças veio/vieram à festa.
Veja um caso de uso de verbo bitransitivo: Mais de um aluno, mais de um professor esta-
Ex.: Prefiro natação a futebol. vam presentes.
Verbo bitransitivo: Prefiro
Objeto direto: natação z Quando o sujeito é formado po um número per-
Objeto indireto: a futebol centual ou fracionário, o verbo concorda com o
numerado ou com o número inteiro, mas pode
Concordância Verbal com o Sujeito Simples concordar com o especificador dele. Se o numeral
vier precedido de um determinante, o verbo con-
Em regra geral, o verbo concorda com o núcleo do cordará apenas com o numeral. Ex.: Apenas 1/3
sujeito. das pessoas do mundo sabe o que é viver bem.
Ex.: Os jogadores de futebol ganham um salário
exorbitante. Apenas 1/3 das pessoas do mundo sabem o que é
viver bem.
Diferentes situações: Apenas 30% do povo sabe o que é viver bem.
Apenas 30% do povo sabem o que é viver bem.
z Quando o núcleo do sujeito for uma palavra de
Os 30% da população não sabem o que é viver mal.
sentido coletivo, o verbo fica no singular. Ex.: A
LÍNGUA PORTUGUESA

multidão gritou entusiasmada. � Os verbos bater, dar e soar concordam com o


z Quando o sujeito é o pronome relativo que, o ver- número de horas ou vezes, exceto se o sujeito for a
bo posterior ao pronome relativo concorda com o palavra relógio. Ex.: Deram duas horas, e ela não
antecedente do relativo. Ex.: Quais os limites do chegou. (Duas horas deram...)
Brasil que se situam mais próximos do Meridiano? Bateu o sino duas vezes. (O sino bateu)
z Quando o sujeito é o pronome indefinido quem, o Soaram dez badaladas no relógio da sala. (Dez
verbo fica na 3ª pessoa do singular. Ex.: Fomos nós badaladas soaram)
quem resolveu a questão. Soou dez badaladas o relógio da escola. (O relógio
da escola soou dez badaladas)
Por questão de ênfase, o verbo pode também con- z Quando o sujeito está em voz passiva sintética, o
cordar com o pronome reto antecedente. Ex.: Fomos verbo concorda com o sujeito paciente. Ex.: Ven-
nós quem resolvemos a questão. dem-se casas de veraneio aqui. 41
Nunca se viu, em parte alguma, pessoa tão Ex.: Nós somos unha e carne.
interessada.
� Concorda com o sujeito (pessoa)
z Quando o sujeito é um pronome de tratamento, o Ex.: Os meninos foram ao supermercado.
verbo fica sempre na 3ª pessoa. Ex.: Por que Vossa
� Em predicados nominais, quando o sujeito for
Majestade está preocupada?
representado por um dos pronomes tudo, nada,
Suas Excelências precisam de algo?
isto, isso, aquilo ou “coisas”, o verbo ser concor-
z Sujeito do verbo viver em orações optativas ou dará com o predicativo (preferencialmente) ou
exclamativas. Ex.: Vivam os campeões! com o sujeito
Ex.: No início, tudo é/são flores.
Concordância Verbal com o Sujeito Composto
� Concorda com o predicativo quando o sujeito for
� Núcleos do sujeito constituídos de pessoas grama- que ou quem
ticais diferentes. Ex.: Quem foram os classificados?
Ex.: Eu e ele nos tornamos bons amigos. � Em indicações de horas, datas, tempo, distância
� Núcleos do sujeito ligados pela preposição com. (predicativo), o verbo concorda com o predicativo
Ex.: O ministro, com seus assessores, chegou/che- Ex.: São nove horas.
garam ontem. É frio aqui.
Seria meio-dia e meia ou seriam doze horas?
� Núcleos do sujeito acompanhados da palavra cada
ou nenhum. � O verbo fica no singular quando precede termos
Ex.: Cada jogador, cada time, cada um deve man- como muito, pouco, nada, tudo, bastante, mais,
ter o espírito esportivo. menos etc. junto a especificações de preço, peso,
quantidade, distância, e também quando seguido
� Núcleos do sujeito sendo sinônimos e estando no do pronome o.
singular. Ex.: Cem metros é muito para uma criança.
Ex.: A angústia e a ansiedade não o ajudava/aju- Divertimentos é o que não lhe falta.
davam. (preferencialmente no singular) Dez reais é nada diante do que foi gasto.
� Gradação entre os núcleos do sujeito. � Na expressão expletiva “é que”, se o sujeito da ora-
Ex.: Seu cheiro, seu toque bastou/bastaram para
ção não aparecer entre o verbo ser e o que, o ser
me acalmar. (preferencialmente no singular)
ficará invariável. Se o ser vier separado do que, o
� Núcleos do sujeito no infinitivo verbo concordará com o termo não preposiciona-
Ex.: Andar e nadar faz bem à saúde. do entre eles.
Ex.: Eles é que sempre chegam cedo.
� Núcleos do sujeito resumidos por um aposto resu-
São eles que sempre chegam cedo.
mitivo (nada, tudo, ninguém)
É nessas horas que a gente precisa de ajuda. (cons-
Ex.: Os pedidos, as súplicas, nada disso o comoveu.
trução adequada)
� Sujeito constituído pelas expressões um e outro, São nessas horas que a gente precisa de ajuda.
nem um nem outro (construção inadequada)
Ex.: Um e outro já veio/vieram aqui.
Concordância do Infinitivo
� Núcleos do sujeito ligados por nem... nem
Ex.: Nem a televisão nem a internet desviarão meu
foco nos estudos. z Exemplos com verbos no infinitivo pessoal:
Nós lutaremos até vós serdes bem tratados. (sujei-
� Entre os núcleos do sujeito, aparecem as palavras to esclarecido)
como, menos, inclusive, exceto ou as expressões Está na hora de começarmos o trabalho. (sujeito
bem como, assim como, tanto quanto implícito “nós”)
Ex.: O Vasco ou o Corinthians ganhará o jogo na Falei sobre o desejo de aprontarmos logo o site.
final. (dois pronomes implícitos: eu, nós)
z Núcleos do sujeito ligados pelas séries correlativas Até me encontrarem, vocês terão de procurar
aditivas enfáticas (tanto... quanto / como / assim muito. (preposição no início da oração)
como; não só... mas também etc.) Para nós nos precavermos, precisaremos de luz.
Ex.: Tanto ela quanto ele mantém/mantêm sua (verbos pronominais)
popularidade em alta. Visto serem dez horas, deixei o local. (verbo ser
indicando tempo)
z Quando dois ou mais adjuntos modificam um úni- Estudo para me considerarem capaz de aprova-
co núcleo, o verbo fica no singular concordando ção. (pretensão de indeterminar o sujeito)
com o núcleo único. Mas, se houver determinante Para vocês terem adquirido esse conhecimento,
após a conjunção, o verbo fica no plural, pois aí o foi muito tempo de estudo. (infinitivo pessoal com-
sujeito passa a ser composto.
posto: locução verbal de verbo auxiliar + verbo no
Ex.: O preço dos alimentos e dos combustíveis
particípio)
aumentou. Ou: O preço dos alimentos e o dos
combustíveis aumentaram. z Exemplos com verbos no infinitivo impessoal:
Devo continuar trabalhando nesse projeto. (locu-
Concordância Verbal do Verbo Ser ção verbal)
Deixei-os brincar aqui. (pronome oblíquo átono
42 � Concorda com o sujeito sendo sujeito do infinitivo)
Quando o sujeito do infinitivo for um substantivo Casos Facultativos
no plural, usa-se tanto o infinitivo pessoal quanto o
impessoal. “Mandei os garotos sair/saírem”. z A multidão de pessoas invadiu/invadiram o
estádio.
Navegar é preciso, viver não é preciso. (infinitivo
z Aquele comediante foi um dos que mais me fez/
com valor genérico)
fizeram rir.
São casos difíceis de solucionar. (infinitivo prece-
dido de preposição de ou para) z Fui eu quem faltou/faltei à aula.
Soldados, recuar! (infinitivo com valor de imperativo)
z Quais de vós me ajudarão/ajudareis?
� Concordância do verbo parecer
z “Os Sertões” marcou/marcaram a literatura
Flexiona-se ou não o infinitivo.
brasileira.
Pareceu-me estarem os candidatos confiantes. (o
equivalente a “Pareceu-me que os candidatos esta- z Somente 1,5% das pessoas domina/dominam a
vam confiantes”, portanto, o infinitivo é flexiona- ciência. (1,5% corresponde ao singular)
do de acordo com o sujeito, no plural)
z Chegaram/Chegou João e Maria.
Eles parecem estudar bastante. (locução verbal,
logo, o infinitivo será impessoal) z Um e outro / Nem um nem outro já veio/vieram
aqui.
� Concordância dos verbos impessoais
São os casos de oração sem sujeito. O verbo fica z Eu, assim como você, odeio/odiamos a política
sempre na 3ª pessoa do singular. brasileira.
Ex.: Havia sérios problemas na cidade.
z O problema do sistema é/são os impostos.
Fazia quinze anos que ele havia se formado.
Deve haver sérios problemas na cidade. (verbo z Hoje é/são 22 de agosto.
auxiliar fica no singular)
z Devemos estudar muito para atingir/atingirmos
Trata-se de problemas psicológicos.
a aprovação.
Geou muitas horas no sul.
z Deixei os rapazes falar/falarem tudo.
� Concordância com sujeito oracional
Quando o sujeito é uma oração subordinada, o
verbo da oração principal fica na 3ª pessoa do Silepse de Número e de Pessoa
singular.
Ex.: Ainda vale a pena investir nos estudos. Conhecida também como “concordância irregular,
Sabe-se que dois alunos nossos foram aprovados. ideológica ou figurada”. Vejamos os casos:
Ficou combinado que sairíamos à tarde.
Urge que você estude. z Silepse de número: usa-se um termo discordando
Era preciso encontrar a verdade do número da palavra referente, para concordar
com o sentido semântico que ela tem. Ex.: Flor tem
Casos mais Frequentes em Provas vida muito curta, logo murcham. (ideia de plurali-
dade: todas as flores)
Veja agora uma lista com os casos mais abordados z Silepse de pessoa: o autor da frase participa do
em concursos: processo verbal. O verbo fica na 1ª pessoa do plu-
ral. Ex.: Os brasileiros, enquanto advindos de
� Sujeito posposto distanciado diversas etnias, somos multiculturais.
Ex.: Viviam o meio de uma grande floresta tropical
brasileira seres estranhos. Concordância Nominal
� Verbos impessoais (haver e fazer)
Define-se como a adaptação em gênero e número
Ex.: Faz dois meses que não pratico esporte.
que ocorre entre o substantivo (ou equivalente, como
Havia problemas no setor.
o adjetivo) e seus modificadores (artigos, pronomes,
Obs.: Existiam problemas no setor. (verbo existir
adjetivos, numerais).
terá sujeito “problemas” e será variável)
O adjetivo e as palavras adjetivas concordam em
� Verbo na voz passiva sintética gênero e número com o nome a que se referem.
Ex.: Criaram-se muitas expectativas para a luta. Ex.: Parede alta. / Paredes altas.
Muro alto. / Muros altos.
� Verbo concordando com o antecedente correto
LÍNGUA PORTUGUESA

do pronome relativo ao qual se liga


Casos com Adjetivos
Ex.: Contratei duas pessoas para a empresa, que
tinham experiência.
z Com função de adjunto adnominal: quando o
� Sujeito coletivo com especificador plural adjetivo funcionar como adjunto adnominal e esti-
Ex.: A multidão de torcedores vibrou/vibraram. ver após os substantivos, poderá concordar com
as somas desses ou com o elemento mais próximo.
� Sujeito oracional
Ex.: Encontrei colégios e faculdades ótimas. /
Ex.: Convém a eles alterar a voz. (verbo no singular)
Encontrei colégios e faculdades ótimos.
� Núcleo do sujeito no singular seguido de adjun-
to ou complemento no plural Há casos em que o adjetivo concordará apenas
Ex.: Conversa breve nos corredores pode gerar com o nome mais próximo, quando a qualidade per-
atrito. (verbo no singular) tencer somente a este. 43
Ex.: Saudaram todo o povo e a gente brasileira. Ex.: Ela gostava de ficar a sós. / Eles gostavam de
Foi um olhar, uma piscadela, um gesto estranho ficar a sós.
� Quite / anexo / incluso
Quando o adjetivo funcionar como adjunto adno-
Concordam com os elementos a que se referem.
minal e estiver antes dos substantivos, poderá con-
Ex.: Estamos quites com o banco.
cordar apenas com o elemento mais próximo. Ex.:
Seguem anexas as certidões negativas.
Existem complicadas regras e conceitos.
Inclusos, enviamos os documentos solicitados.
Quando houver apenas um substantivo qualifica-
do por dois ou mais adjetivos, pode-se: � Meio
Colocar o substantivo no plural e enumerar o Quando significar “metade”: concordará com o
adjetivo no singular. Ex.: Ele estuda as línguas ingle- elemento referente.
sa, francesa e alemã. Ex.: Ela estava meio (um pouco) nervosa.
Colocar o substantivo no singular e, ao enume- Quando significar “um pouco”: será invariável.
rar os adjetivos (também no singular), antepor um Ex.: Já era meio-dia e meia (metade da hora).
artigo a cada um, menos no primeiro deles. Ex.: Ele
� Grama
estuda a língua inglesa, a francesa e a alemã.
Quando significar “vegetação”, é feminino; quan-
do significar unidade de medida, é masculino.
z Com função de predicativo do sujeito
Ex.: Comprei duzentos gramas de farinha.
“A grama do vizinho sempre é mais verde.”
Com o verbo após o sujeito, o adjetivo concordará
com a soma dos elementos. � É proibido entrada / É proibida a entrada
Ex.: A casa e o quintal estavam abandonados. Se o sujeito vier determinado, a concordância do
Com o verbo antes do sujeito o predicativo do su- verbo e do predicativo do sujeito será regular, ou
jeito acompanhará a concordância do verbo, que por seja, tanto o verbo quanto o predicativo concorda-
sua vez concordará tanto com a soma dos elementos rão com o determinante.
quanto com o nome mais próximo. Ex.: Caminhada é bom para a saúde. / Esta cami-
Ex.: Estava abandonada a casa e o quintal. / Esta- nhada está boa.
vam abandonados a casa e o quintal. É proibido entrada de crianças. / É proibida a
Como saber quando o adjetivo tem valor de adjun- entrada de crianças.
to adnominal ou predicativo do sujeito? Substitua os Pimenta é bom? / A pimenta é boa?
substantivos por um pronome:
� Menos / pseudo
Ex.: Existem conceitos e regras complicados.
São invariáveis.
(substitui-se por “eles”)
Ex.: Havia menos violência antigamente.
Fazendo a troca, fica “Eles existem”, e não “Eles
Aquelas garotas são pseudoatletas. / Seu argumen-
existem complicados”.
to é pseudo-objetivo.
Como o adjetivo desapareceu com a substituição,
então é um adjunto adnominal. � Muito / bastante
Quando modificam o substantivo: concordam com
z Com função de predicativo do objeto ele.
Quando modificam o verbo: invariáveis.
Recomenda-se concordar com a soma dos substan- Ex.: Muitos deles vieram. / Eles ficaram muito
tivos, embora alguns estudiosos admitam a concor- irritados.
dância com o termo mais próximo. Bastantes alunos vieram. / Os alunos ficaram bas-
Ex.: Considero os conceitos e as regras complicados. tante irritados.
Tenho como irresponsáveis o chefe do setor e Se ambos os termos puderem ser substituídos por
seus subordinados. “vários”, ficarão no plural. Se puderem ser substi-
tuídos por “bem”, ficarão invariáveis.
Algumas Convenções
� Tal qual
Tal concorda com o substantivo anterior; qual,
� Obrigado / próprio / mesmo
com o substantivo posterior.
Ex.: A mulher disse: “Muito obrigada”.
Ex.: O filho é tal qual o pai. / O filho é tal quais os
A própria enfermeira virá para o debate.
pais.
Elas mesmas conversaram conosco.
Os filhos são tais qual o pai. / Os filhos são tais
quais os pais.
Dica Silepse (também chamada concordância
O termo mesmo no sentido de “realmente” será figurada)
É a que se opera não com o termo expresso, mas o
invariável.
que está subentendido.
Ex.: Os alunos resolveram mesmo a situação.
Ex.: São Paulo é linda! (A cidade de São Paulo é
linda!)
z Só / sós
Estaremos aberto no final de semana. (Estaremos
Variáveis quando significarem “sozinho” /
com o estabelecimento aberto no final de semana.)
“sozinhos”.
Os brasileiros estamos esperançosos. (Nós, brasi-
Invariáveis quando significarem “apenas,
leiros, estamos esperançosos.)
somente”.
Ex.: As garotas só queriam ficar sós. (As garotas � Possível
apenas queriam ficar sozinhas.) Concordará com o artigo, em gênero e número, em
44 A locução “a sós” é invariável. frases enfáticas com o “mais”, o “menos”, o “pior”.
Ex.: Conheci crianças o mais belas possíveis. / cidade-satélite — cidades-satélite;
Conheci crianças as mais belas possíveis. público-alvo — públicos-alvo;
elemento-chave — elementos-chave.
Plural de Substantivos Compostos Nestes substantivos também é possível a flexão
dos dois elementos: decretos-leis, cidades-satélites,
O adjetivo concorda com o substantivo referen- públicos-alvos, elementos-chaves.
te em gênero e número. Se o termo que funciona z Nos substantivos compostos preposicionados:
como adjetivo for originalmente um substantivo fica cana-de-açúcar — canas-de-açúcar;
invariável. pôr do sol — pores do sol;
Ex.: Rosas vermelhas e jasmins pérola. (pérola fim de semana — fins de semana;
também é um substantivo; mantém-se no singular) pé de moleque — pés de moleque.
Ternos cinza e camisas amarelas. (cinza também é
um substantivo; mantém-se no singular) Flexão Apenas do Segundo Elemento
Plural de Adjetivos Compostos � Nos substantivos compostos formados por tema
verbal ou palavra invariável + substantivo ou
Quando houver adjetivo composto, apenas o últi- adjetivo:
mo elemento concordará com o substantivo referente. bate-papo — bate-papos;
Os demais ficarão na forma masculina singular. quebra-cabeça — quebra-cabeças;
Se um dos elementos for originalmente um subs- arranha-céu — arranha-céus;
tantivo, todo o adjetivo composto ficará invariável. ex-namorado — ex-namorados;
Ex.: Violetas azul-claras com folhas verde-musgo. vice-presidente — vice-presidentes.
No termo “azul-claras”, apenas “claras” segue o
plural, pois ambos são adjetivos. � Nos substantivos compostos em que há repeti-
No termo “verde-musgo”, “musgo” permanece no ção do primeiro elemento:
singular, assim como “verde”, por ser substantivo. zum-zum — zum-zuns;
Nesse caso, o termo composto não concorda com o tico-tico — tico-ticos;
plural do substantivo referente, “folhas”. lufa-lufa — lufa-lufas;
Ex.: Calças rosa-claro e camisas verde-mar. reco-reco — reco-recos.
O termo “claro” fica invariável porque “rosa” tam- � Nos substantivos compostos grafados ligada-
bém pode ser um substantivo. mente, sem hífen:
O termo “mar” fica invariável por seguir a mesma girassol — girassóis;
lógica de “musgo” do exemplo anterior. pontapé — pontapés;
mandachuva — mandachuvas;
Dica fidalgo — fidalgos.
Azul-marinho, azul-celeste, ultravioleta e qual- � Nos substantivos compostos formados com
quer adjetivo composto iniciado por “cor-de” são grão, grã e bel:
sempre invariáveis. grão-duque — grão-duques;
O adjetivo composto pele-vermelha tem os dois ele- grã-fino — grã-finos;
mentos flexionados no plural (peles-vermelhas). bel-prazer — bel-prazeres.

Lista de Flexão dos Dois Elementos


Não Flexão dos Elementos
� Nos substantivos compostos formados por pala-
vras variáveis, especialmente substantivos e � Em alguns casos, não ocorre a flexão dos elementos
adjetivos: formadores, que se mantêm invariáveis. Isso ocor-
segunda-feira — segundas-feiras; re em frases substantivadas e em substantivos
matéria-prima — matérias-primas; compostos por um tema verbal e uma palavra
couve-flor — couves-flores; invariável ou outro tema verbal oposto:
guarda-noturno — guardas-noturnos; o disse me disse — os disse me disse;
primeira-dama — primeiras-damas. o leva e traz — os leva e traz;
o cola-tudo — os cola-tudo.
� Nos substantivos compostos formados por
temas verbais repetidos: REGÊNCIA VERBAL E NOMINAL
corre-corre — corres-corres;
LÍNGUA PORTUGUESA

pisca-pisca — piscas-piscas; Regência é a maneira como o nome ou o verbo se


pula-pula — pulas-pulas. relacionam com seus complementos, com ou sem pre-
Nestes substantivos também é possível a flexão posição. Quando um nome (substantivo, adjetivo ou
apenas do segundo elemento: corre-corres, pisca- advérbio) exige complemento preposicionado, esse
-piscas, pula-pulas. nome é um termo regente, e seu complemento é um
termo regido, pois há uma relação de dependência
Flexão Apenas do Primeiro Elemento entre o nome e seu complemento.
O nome exige um complemento nominal sempre ini-
z Nos substantivos compostos formados por subs- ciado por preposição, exceto se o complemento vier em
tantivo + substantivo em que o segundo termo forma de pronome oblíquo átono.
limita o sentido do primeiro termo: Ex.: Os discípulos daquele mestre sempre lhe
decreto-lei — decretos-lei; foram leais. 45
Observação: Complemento de “lhe”: predicativo Não seguido de infinitivo, geralmente rege objeto
do sujeito (desprovido de preposição). direto:
Pronome oblíquo átono: lhe. Ajudei-o muito à noite.
Foram leais: complemento de “lhe”, predicativo do
sujeito (desprovido de preposição). � Ansiar: transitivo direto; transitivo indireto.
Ex.: A falta de espaço ansiava o prisioneiro. (tran-
Regência Verbal sitivo direto com sentido de “angustiar”)
Ansiamos por sua volta. (transitivo indireto com
Relação de dependência entre um verbo e seu sentido de “desejar muito” — não admite “lhe”
complemento. As relações podem ser diretas ou indi- como complemento)
retas, isto é, com ou sem preposição. � Aspirar: transitivo direto; transitivo indireto.
Ex.: Aspiramos o ar puro das montanhas. (transiti-
Há verbos que admitem mais de uma regência vo direto com sentido de “respirar”)
sem que o sentido seja alterado. Sempre aspiraremos a dias melhores. (transitivo
indireto no sentido de “desejar”)
Ex.: Aquela moça não esquecia os favores recebidos.
V. T. D: esquecia � Assistir: transitivo direto; transitivo indireto.
Objeto direto: os favores recebidos. Ex.: Transitivo direto ou indireto no sentido de
Aquela moça não se esquecia dos favores recebidos. “prestar assistência”
V. T. I.: se esquecia O médico assistia os acidentados.
Objeto indireto: dos favores recebidos. O médico assistia aos acidentados.
Transitivo direto no sentido de “ver, presenciar”
No entanto, na Língua Portuguesa, há verbos Não assisti ao final da série.
que, mudando-se a regência, mudam de sentido,
alterando seu significado. O verbo assistir não pode ser empregado no particípio.
É incorreta a forma “O jogo foi assistido por milha-
res de pessoas.”
Ex.: Neste país aspiramos ar poluídos.
(aspiramos = sorvemos)
� Casar: intransitivo; transitivo indireto; transitivo
V. T. D.: aspiramos
direto e indireto.
Objeto direto: ar poluídos.
Ex.: Eles casaram na Itália há anos. (intransitivo)
A jovem não queria casar com ninguém. (transiti-
Os funcionários aspiram a um mês de férias.
vo indireto)
(aspiram = almejam)
O pai casou a filha com o vizinho. (transitivo dire-
V. T. I.: aspiram
to e indireto)
Objeto indireto: a um mês de férias
� Chamar: transitivo direto; transitivo seguido de
A seguir, uma lista dos principais verbos que predicativo do objeto
geram dúvidas quanto à regência: Ex.: Chamou o filho para o almoço. (transitivo dire-
to com sentido de “convocar”)
� Abraçar: transitivo direto Chamei-lhe inteligente. (transitivo seguido de pre-
Ex.: Abraçou a namorada com ternura. dicativo do objeto com sentido de “denominar,
O colar abraçava-lhe elegantemente o pescoço qualificar”)

� Agradar: transitivo direto; transitivo indireto � Custar: transitivo indireto; transitivo direto e indi-
Ex.: A menina agradava o gatinho. (transitivo dire- reto; intransitivo.
to com sentido de “acariciar”) Ex.: Custa-lhe crer na sua honestidade. (transitivo
A notícia agradou aos alunos. (transitivo indireto indireto com sentido de “ser difícil”)
no sentido de “ser agradável a”) A imprudência custou lágrimas ao rapaz. (transiti-
vo direto e indireto: sentido de “acarretar”)
� Agradecer: transitivo direto; transitivo indireto; Este vinho custou trinta reais. (intransitivo)
transitivo direto e indireto
Ex.: Agradeceu a joia. (transitivo direto: objeto não � Esquecer: admite três possibilidades.
personificado) Ex.: Esqueci os acontecimentos.
Agradeceu ao noivo. (transitivo indireto: objeto Esqueci-me dos acontecimentos.
personificado) Esqueceram-me os acontecimentos.
Agradeceu a joia ao noivo. (transitivo direto e indi- � Implicar: transitivo direto; transitivo indireto;
reto: refere-se a coisas e pessoas) transitivo direto e indireto.
� Ajudar: transitivo direto; transitivo indireto. Ex.: A resolução do exercício implica nova teoria.
Ex.: Seguido de infinitivo intransitivo precedido da (transitivo direto com sentido de “acarretar”)
Mamãe sempre implicou com meus hábitos. (transiti-
preposição a, rege indiferentemente objeto direto
vo indireto com sentido de “mostrar má disposição”)
e objeto indireto.
Ele implicou-se em negócios ilícitos. (transitivo
Ajudou o filho a fazer as atividades. (transitivo direto)
direto e indireto com sentido de envolver-se”)
Ajudou ao filho a fazer as atividades. (transitivo
indireto) � Informar: transitivo direto e indireto.
Se o infinitivo preposicionado for intransitivo, Ex.: Referente à pessoa: objeto direto; referente à
rege apenas objeto direto: coisa: objeto indireto, com as preposições de ou
46 Ajudaram o ladrão a fugir. sobre
Informaram o réu de sua condenação. inclusão, inserção em
Informaram o réu sobre sua condenação. inerente em/a
Referente à pessoa: objeto direto; referente à coi- descrente de/em
sa: objeto indireto, com a preposição a desiludido de/com
Informaram a condenação ao réu. desesperançado de
desapego de/a
� Interessar-se: verbo pronominal transitivo indi-
convívio com
reto, com as preposições em e por.
convivência com
Ex.: Ela interessou-se por minha companhia.
demissão, demitido de
� Namorar: intransitivo; transitivo indireto; transi- encerrado em
tivo direto e indireto. enfiado em
Ex.: Eles começaram a namorar faz tempo. (intran- imersão, imergido, imerso em
sitivo com sentido de “cortejar”) instalação, instalado em
Ele vivia namorando a vitrine de doces. (transitivo interessado, interesse em
indireto com sentido de “desejar muito”) intercalação, intercalado entre
“Namorou-se dela extremamente.” (A. Gar- supremacia sobre
ret) (transitivo direto e indireto com sentido de
“encantar-se”)
� Obedecer/desobedecer: transitivos indiretos.
Ex.: Obedeçam à sinalização de trânsito. HORA DE PRATICAR!
Não desobedeçam à sinalização de trânsito.
1. (FUMARC – 2014) Sobre o emprego dos Pronomes de
� Pagar: transitivo direto; transitivo indireto; transi- Tratamento, a construção incorreta é:
tivo direto e indireto.
Ex.: Você já pagou a conta de luz? (transitivo direto) a) Vossa Eminência dirigiu-se ao altar da Capela.
Você pagou ao dono do armazém? (transitivo b) Vossa Excelência encaminhará seu parecer pela
indireto) manhã.
Vou pagar o aluguel ao dono da pensão. (transitivo c) Vossa Magnificência proferiu seu discurso no auditó-
direto e indireto) rio principal.
� Perdoar: transitivo direto; transitivo indireto; d) Vossa Senhoria estais indignado com o desrespeito
transitivo direto e indireto demonstrado pelos requerentes.
Ex.: Perdoarei as suas ofensas. (transitivo direto)
A mãe perdoou à filha. (transitivo indireto) 2. (FUMARC – 2014) O Pronome de Tratamento adequa-
Ela perdoou os erros ao filho. (transitivo direto e do às comunicações encaminhadas a Juiz de Direito é:
indireto)
a) Ilustríssimo Senhor.
� Suceder: intransitivo; transitivo direto b) Meritíssimo Juiz.
Ex.: O caso sucedeu rapidamente. (intransitivo no
c) Vossa Excelência.
sentido de “ocorrer”)
d) Vossa Senhoria.
A noite sucede ao dia. (transitivo direto no sentido
de “vir depois”)
3. (FUMARC – 2013) Instrução: A questão está baseada
no texto a seguir. Leia-o com atenção.
Regência Nominal
“Leis penais e instituições são sempre propostas,
discutidas, legisladas e operadas por meio de códi-
Alguns nomes (substantivos, adjetivos e advér-
gos culturais definidos(a). Elas são estruturadas em
bios) exigem complementos preposicionados, exceto
linguagens, discursos e num sistema de signos(b)
quando vêm em forma de pronome oblíquo átono.
que corporificam significados culturais específicos,
distinções e sentimentos que devem ser interpreta-
Advérbios Terminados em “mente”
dos e entendidos quando se quer tornar inteligível o
sentido social(c) e aquilo que motiva a punição. Dessa
Os advérbios derivados de adjetivos seguem a forma, mesmo que alguém queira discutir que interes-
regência dos adjetivos: ses econômicos e políticos formam a base determi-
nante das políticas penais, esses ‘interesses’ devem,
análoga / analogicamente a necessariamente, operar por meio das leis, linguagens
contrária / contrariamente a institucionais e categorias penais(d) que estruturam e
compatível / compativelmente com
LÍNGUA PORTUGUESA

organizam as ações penais.”


diferente / diferentemente de
favorável / favoravelmente a (GARLAND apud SALLA, Fernando; GAUTO, Maitê; ALVAREZ, Marcos
paralela / paralelamente a César. A contribuição de David Garland: a sociologia da punição.
próxima / proximamente a/de Tempo soc. [online]. 2006, v. 18, n. 1, p. 329).
relativa / relativamente a
A alternativa cuja substituição indicada entre parênte-
Preposições Prefixos Verbais ses compromete a compreensão das ideias é:

Alguns nomes regem preposições semelhantes a a) “códigos culturais definidos” – (programas).


seus “prefixos”: b) “num sistema de signos” – (representações).
c) “tornar inteligível o sentido social” – (compreensível).
dependente, dependência de d) “e categorias penais” – (punitivas). 47
4. (FUMARC – 2016) 5. (FUMARC – 2013) Texto 1

Assaltos insólitos Redução da maioridade penal: O elo perdido

Affonso Romano Santanna Robson Sávio Reis Souza

Assalto não tem graça nenhuma, mas alguns, conta- Todas as vezes que ocorre um crime a provocar gran-
dos depois, até que são engraçados. de comoção nacional, parte da sociedade brasileira
É igual a certos incidentes de viagem, que, quando — capitaneada por um discurso minimalista e conser-
acontecem, deixam a gente aborrecidíssimo, mas, vador, com repercussão imediata na grande mídia —
depois, narrados aos amigos num jantar, passam a ter clama por leis draconianas como lenitivo para diminuir
sabor de anedota. a criminalidade violenta. Foi assim com a “criação” da
Uma vez me contaram de um cidadão que foi assalta- lei de crimes hediondos, por exemplo. O resultado des-
do em sua casa. Até aí, nada demais. Tem gente que se tipo de medida repressiva e pontual — objetivando o
é assaltada na rua, no ônibus, no escritório, até dentro adensamento do estado penal — não apresenta resul-
de igrejas e hospitais, mas muitos o são na própria tado efetivo em termos de diminuição dos crimes.
casa. O que não diminui o desconforto da situação. É admissível e compreensível que, diante de um crime
Pois lá estava o dito cujo em sua casa, mas vestido em bárbaro, os parentes da vítima desejem vingança. Sob
roupa de trabalho, pois resolvera dar uma pintura na o ponto de vista privado, essa é uma prerrogativa do
garagem e na cozinha. As crianças haviam saído com indivíduo; dos que sofrem a violência desproporcional
a mulher para fazer compras e o marido se entregava de qualquer forma e estão sob o impacto dela. Porém,
a essa terapêutica atividade, quando, da garagem, vê o Estado não tem essa prerrogativa. Considerando-se
adentrar pelo jardim dois indivíduos suspeitos. que o indivíduo pode, intimamente, desejar vingança
Mal teve tempo de tomar uma atitude e já ouvia: (haja vista nossa cultura judaico-cristã, que valoriza os
— É um assalto, fica quieto senão leva chumbo. atos sacrificiais), o Estado — mantenedor das conquis-
tas do processo civilizatório, cuja base está na garan-
Ele já se preparava para toda sorte de tragédias quan-
tia dos direitos humanos — não pode ser vingativo e
do um dos ladrões pergunta:
passional em seus atos.
— Cadê o patrão?
A mesma indignação que move muitas pessoas a
Num rasgo de criatividade, respondeu:
desejarem o recrudescimento penal (desde que seja
— Saiu, foi com a família ao mercado, mas já volta.
sempre direcionado para o outro) em momentos de
— Então vamos lá dentro, mostre tudo.
comoção não é mobilizadora frente à violência e car-
Fingindo-se, então, de empregado de si mesmo, e ao
nificina generalizadas que atingem, cotidianamente,
mesmo tempo para livrar sua cara, começou a dizer:
milhares de pessoas. Segundo o Ministério da Saúde,
— Se quiserem levar, podem levar tudo, estou me lixan-
do total de 1.103.088 mortes notificadas em 2009,
do, não gosto desse patrão.
138.697 (12,5%) foram decorrentes de causas exter-
— Paga mal, é um pão-duro. Por que não levam aquele nas (que poderiam ser evitáveis), representando a ter-
rádio ali? Olha, se eu fosse vocês levava aquele som ceira causa mais frequente de morte no Brasil.
também. Na cozinha tem uma batedeira ótima da A resposta simplista, da sociedade e do Estado, para
patroa. Não querem uns discos? Dinheiro não tem, enfrentar a criminalidade violenta é o encarceramento.
pois ouvi dizer que botam tudo no banco, mas ali den- Nos últimos 20 anos, nosso sistema prisional teve um
tro do armário tem uma porção de caixas de bombons, crescimento de 450%. Hoje, são mais de 550 mil pre-
que o patrão é tarado por bombom. sos (cerca de 60% cometeram crimes contra o patri-
Os ladrões recolheram tudo o que o falso empregado mônio; 30%, crimes relacionados a drogas e menos
indicou e saíram apressados. Daí a pouco chegavam a de 10% crimes contra a vida). Superlotado, o sistema
mulher e os filhos. prisional tem um déficit de cerca de 250 mil vagas. Em
Sentado na sala, o marido ria, ria, tanto nervoso, quan- condições degradantes e subumanas, quase 80% dos
to aliviado do próprio assalto que ajudara a fazer con- egressos prisionais voltam a praticar crimes. É neste
tra si mesmo. sistema que desejamos trancafiar adolescentes auto-
res de atos infracionais?
Disponível em: http://gazetaonline.globo.com/_conteudo/2010/04/ Paradoxalmente, nesse período de brutal encarcera-
blogs/628982assaltos-insolitos.html Acesso em: 19 ago. 2016
mento, as taxas de crimes violentos mantiveram-se
em patamares elevadíssimos. A Organização Mundial
Vocabulário: de Saúde informa que taxas de homicídio acima de
Insólito – incomum. 10 mortes por 100 mil habitantes são epidêmicas. A
média brasileira, nesse quesito, é de 29 por 100 mil,
A palavra destacada não está corretamente interpreta- sendo que na maioria das capitais essa cifra supera
da entre parênteses em: 30 homicídios por 100 mil, chegando, por exemplo,
em Maceió, à estrondosa cifra de 86 por 100 mil, ou
a) “[...] mas, depois, narrados aos amigos num jantar, seja, oito vezes mais do que o aceitável. Segundo
passam a ter sabor de anedota.” (piada) relatório recente da ONG mexicana Conselho Cidadão
b) “[...] vê adentrar pelo jardim dois indivíduos suspeitos.” para Segurança Pública e Justiça Penal, dentre as 34
(arrastar) nações mais violentas, o Brasil encontra- se em 13º
c) “É igual a certos incidentes de viagem, que, quando lugar. No ranking das 50 cidades mais violentas do
acontecem, deixam a gente aborrecidíssimo [...].” mundo, 15 são do Brasil. Por que assistimos a esse
(imprevistos) massacre com tanta passividade? [...]
d) “O que não diminui o desconforto da situação.” (Excerto do Artigo publicado no Jornal Estado de Minas, de
48 (incômodo) 25/05/2013, Caderno “Pensar e Agir”).
A alternativa que contém período composto por subor- Não se discute — e já vem tarde, a necessidade de lei
dinação é: que permita o aperfeiçoamento do processo democrá-
tico, afastando das urnas os condenados por crimes
a) Porém, o Estado não tem essa prerrogativa. e outras irregularidades graves contra direitos funda-
b) No ranking das 50 cidades mais violentas do mundo, mentais e princípios republicanos. O povo respira ali-
15 são do Brasil. viado. É o desejo, e não já da cidade, senão de toda a
c) A resposta simplista, da sociedade e do Estado, para população.
enfrentar a criminalidade violenta é o encarceramento. Mas algumas reflexões se impõem para esclarecer e
d) Paradoxalmente, nesse período de brutal encarcera- equacionar com serenidade e equilíbrio alguns postu-
mento, as taxas de crimes violentos mantiveram-se lados que devem nortear o aprimoramento da socie-
em patamares elevadíssimos. dade, permitindo-nos legar às gerações futuras um
cenário melhor, pois a nação que briga por seus direi-
6. (FUMARC – 2016) tos progride.
(http://jus.com.br/revista/texto/21281/lei-da-ficha-limpa-opiniao –
Americano passou 2007 sem jogar nada fora Texto adaptado)

O ano de 2007 foi um lixo para o empresário ameri- Leia o trecho transcrito:
cano Ari Derfel, de 35 anos, dono de um bufê. Ele
guardou todos os detritos industriais que produziu ao “O povo respira aliviado.”
longo do ano. Juntou tralha suficiente para lotar um
quarto de dormir. O objetivo: avaliar seus próprios A predicação do verbo negritado na frase acima se
hábitos de consumo e, com isso, denunciar o mun- repete em
do ambientalmente sujo em que vivemos, informa o
diário San Francisco Chronicle, dos Estados Unidos. a) Mesmo com os meus conselhos, ele continua ansioso.
“Quando jogamos uma coisa fora, o que ‘fora’ signifi- b) O presidente nomeou Catarina primeira secretária.
ca?”, indaga Derfel. c) Só ficarão acesas as lâmpadas da sala e do corredor.
O apartamento não fede, porque Derfel lava todas as d) O filho dependia da mãe para as atividades diárias.
embalagens antes de guardá-las. Como se não bas-
tasse ter atravessado 12 meses acumulando detritos, 8. (FUMARC – 2013) Assinale a resposta correta.
ele decidiu estender a aventura para 2008. Quer tentar A primeira explicitação das normas ortográficas da
diminuir o volume acumulado. Mas quais são, enfim, língua portuguesa, que está próximo de completar 500
as lições apreendidas? Boa parte do lixo domésti- anos, apenas sofreu alterações a partir do início do
co é resultado de comida embalada. “São alimentos século passado. É admirável haver numerosas gramá-
menos nutritivos, em sua maioria, do que os produtos ticas dos séculos XVI a XIX que atestam a evolução
frescos”, diz Derfel, citado por El País. “São também estrutural da língua, enquanto se continua a usar o
mais caros.” mesmo conjunto de regras ortográficas por quase 400
Conclusão: “Produzindo menos lixo ficarei mais sau- anos.
dável e mais rico”, resume. Induzido a dizer se está Com efeito, data de 1536 a célebre Grammatica da
louco, o americano é categórico: “Não”. Mas admite lingoagem portuguesa, título em cujos cinquenta capí-
não ter tido relacionamento amoroso nenhum durante tulos Fernão de Oliveira descreve, entre vários outros
o período de coleta, o que parece óbvio. aspectos da língua de sua época, a articulação dos
sons e as formas gráficas que se prestariam a sua
Revista da Semana – ago. 2007. representação. É interessante observar que, antes da
publicação dessa obra exordial, a língua portuguesa
O sujeito do verbo destacado não está corretamente era escrita segundo ortografias de orientação espe-
identificado em: cialmente latinizante, a exemplo do que também se
praticava em quase todos os demais vernáculos que
a) “Mas admite não ter tido relacionamento amoro- já se haviam diferenciado no mundo neolatino. A exce-
so nenhum durante o período de coleta [...]”. (ele, o ção ao conjunto é o espanhol, que, em 1517, recebeu
americano) o primeiro conjunto de regras ortográficas, também
b) “Boa parte do lixo doméstico é resultado de comida baseadas em diretrizes sonoras e etimológicas.
embalada”. (Boa parte do lixo doméstico) Por outro lado, o trabalho de Oliveira não fez, natural-
c) “Produzindo menos lixo ficarei mais saudável e mais mente, que se eliminasse de imediato toda oscilação
rico”. (Produzindo menos lixo) ortográfica dos textos portugueses. As edições d’Os
d) “O ano de 2007 foi um lixo para o empresário america- Lusíadas publicadas em 1572, por exemplo, coligem
no Ari Derfel, de 35 anos, dono de um bufê”. (O ano de
LÍNGUA PORTUGUESA

diversas formas variantes, e somente o tempo levaria


2007) à decisão em favor de uma delas mediante a consi-
deração de argumentos etimológicos, fonéticos e até
7. (FUMARC – 2012) Leia, atentamente, o texto abaixo mesmo pragmáticos. Em qualquer época, contudo, a
para responder à questão. ortografia corresponde a uma tentativa imperfeita de
registro escrito de um sistema essencialmente dinâ-
Congresso fixa lei mico e complexo: a língua exercida por uma comuni-
dade, caracterizada por seus dialetos e pelos traços
Com o advento da Lei Complementar nº 135, de 4 de sociais de seus falantes.
junho de 2010, que alterou a Lei Complementar nº 64, Somente no início do século XX ocorreu um esforço
de 18 de maio de 1990, o país celebrou a aprovação conjunto entre as Academias de Letras do Brasil e de
da figura que foi denominada de “ficha limpa”, porque Portugal, no sentido de se uniformizarem as grafias
lutou muito para isso. oficiais nos dois países. 49
Como fruto desse trabalho, vêm a lume, em 1911, os 10. (FUMARC – 2014) Texto 1: Leia com atenção o texto a
termos da primeira proposta de acordo ortográfico da seguir, para resolver as questões 10 e 11.
língua portuguesa; entretanto, sua aplicação foi difi-
cultada por múltiplos fatores, desde o nível acadêmi- O ato de ler e sua importância: vivências e exigências
co até o político. Houve tentativas de se retomarem
as linhas mestras desse documento em 1915 e em Anderson Fávero
1931, mas somente em 1943 se avança, no Brasil, em
caráter efetivo. A convenção ratificada pela Academia Saber ler é, além de uma exigência da sociedade
Brasileira de Letras não apenas transforma dígrafos moderna, uma dinâmica experiência existencial. Con-
em sinais simples, como também implementa a acen- tudo, há uma importante diferença entre saber ler e a
tuação distintiva para homófonos homógrafos e o uso prática efetiva da leitura: a efetiva leitura vai além do
de trema — aspectos estes que foram revistos, como texto verbal e começa — na palavra-mundo — antes
se sabe, no último Acordo Ortográfico. mesmo do contato com ele.
Referindo-nos tão somente ao texto verbal, o ato de
Apesar de envolverem comissões representantes dos
ler está invariavelmente relacionado ao processo de
mesmos países lusófonos, as decisões posteriores
escrita, e o leitor, na maioria das vezes, é visto como
nem sempre foram acatadas bilateralmente. Assim é
um mero agente “decodificador” de letras, num ges-
que, por exemplo, as diretrizes que compõem o Acordo
to simples e puramente mecânico de decifração de
de 1945 não foram aceitas no Brasil, e foi necessária
sinais e códigos. Porém, esse posicionamento sub-
a promulgação de lei específica, em 1971, para reduzir
misso frente à decifração de signos linguísticos e à
as dissonâncias ortográficas verificadas entre as gra- desenfreada recepção de informações não confere, a
fias oficiais vigentes nos dois lados do Atlântico. quem quer que seja, a qualidade e a competência de
Em sua essência, o Novo Acordo Ortográfico da Lín- leitor, tal como hoje as entendemos ou o entendemos.
gua Portuguesa, de 2009, pouco apresenta de efe- Ao contrário, uma patente passividade leitora vem
tivamente novo em relação ao disposto no encontro fazendo com que muitos assumam, cada vez mais,
multinacional de países falantes da língua portuguesa uma postura suscetível e vulnerável a quaisquer práti-
ocorrido em 1990. O documento é alvo de críticas par- cas ou intenções de dominação e/ou manipulação.
ticularmente severas — e absolutamente pertinentes Para que ocorra, então, uma prática concreta de liber-
— feitas por acadêmicos, as quais se sustentam no tação, a compreensão das mais diversas linguagens,
argumento de que há um equívoco reducionista e inad- expressões e formas simbólicas, configuradas quer
missível no âmago do Acordo. Essa questão compro- por palavras, quer por imagens, exige de qualquer lei-
mete o princípio em que se apoia a própria concepção tor, hoje, um caráter reflexivo e um papel mais do que
de toda a proposta, e tem motivado discussões e aná- ativo. Essa constante “atuação” se faz necessária para
lises que apontam a necessidade de revisão de seus que haja a produção de múltiplas possibilidades de
termos. Em bom português: uma língua não é apenas leitura e para que essas se multipliquem e se tornem
o que se escreve em atendimento a convenções arti- novas a cada experiência de “confronto” e de intera-
ficiais, mas fundamentalmente um quadro complexo ção textual, levando em consideração a surpreendente
e pluricêntrico que abarca todas as comunidades de diversidade de fenômenos que podem, enfim, ser cha-
fala. mados de texto. Assim, apreciações interpretativas,
críticas e sensíveis por parte dos leitores tornam-se,
A identificação do sujeito oracional está incorreta em: cada vez mais, componentes ativos na (e para a) con-
solidação de qualquer leitura.
a) O núcleo do sujeito da oração “vêm a lume” é “termos”, Sendo assim, abdicar de posições e posturas “iner-
que lhe é imediatamente posposto e que determina tes” é uma das características que permitem ao leitor
claramente a flexão do verbo “vir”. proficiente ser levado em conta como parte integran-
b) O núcleo do sujeito da oração “como também imple- te não só do ato da leitura, mas também dos textos.
menta a acentuação distintiva para homófonos homó- Uma leitura eficiente pressupõe sucessivos instantes
de construção e de desconstrução de significados, ou
grafos e o uso de trema” é “convenção”, contido no
seja, momentos de preenchimento de espaços vazios
mesmo período.
ou em branco dos textos, abertos a várias interpreta-
c) O sujeito da oração subordinada “Apesar de envolverem
ções. Além disso, essa eficaz leitura deve ser entendi-
comissões representantes dos mesmos países lusó-
da como um momento de apropriação e incorporação
fonos” está explícito na oração principal do mesmo
de saberes, bem como de participação afetiva e efeti-
período.
va numa realidade (quase sempre) alheia.
d) O sujeito da oração “e tem motivado discussões e aná- A predisposição e a empatia do leitor para entregar-se
lises” é “a própria concepção de toda a proposta”, que ao universo apresentado no texto, para mergulhar e se
a antecede no mesmo período. aprofundar nas entrelinhas e nos subentendidos são,
também, fundamentais para uma leitura polivalente,
9. (FUMARC – 2017) Há oração subordinada adjetiva multidirecional e aberta à flexibilidade. Todo texto é
restritiva, exceto em: plural, assim como os sentidos e os significados des-
se texto. Basta que o leitor esteja atento a todas as
a) “Alguém mora num condomínio melhor que o meu?” peculiaridades textuais e que associe ou atribua a elas
b) “Parece que do começo ao fim passamos a vida sendo significância por meio do que está explícito e, princi-
cobrados [...]”. palmente, implícito. Nenhuma leitura deve ser com-
c) “Combater a ânsia por coisas que nem queremos, preendida como um processo e/ou um ato estático;
ignorar ofertas no fundo desinteressantes [...]”. deve, sim, ser enxergada através de diversos ângulos,
d) “Não temos de correr angustiados atrás de modelos como uma atividade instigante e doadora de significa-
50 que nada têm a ver conosco [...]”. ção. [...]
A formação de um leitor deve valer-se de vivências sis- c) Um estudo publicado em 2015, com base em dados
temáticas de leitura, carregadas de significados e de da União Internacional, para Conservação da Nature-
sentidos que contribuam para o ser/estar no mundo, za, apontou que o espectro da extinção ameaça cer-
numa perspectiva de interação entre o mundo do leitor ca de 41% de todas as espécies de anfíbio e 26% dos
e o do autor do texto (ou da obra); deve envolver práti- mamíferos conhecidos.
cas sociais em que o indivíduo sinta a necessidade de d) Um estudo publicado em 2015 com base em dados da
ler. E deve, ainda, fazer do ato de ler um momento de União Internacional, para Conservação da Natureza,
apropriação de saberes, de conhecimento de si e do apontou que o espectro da extinção, ameaça cerca de
mundo e, sempre que possível, um momento de puro 41% de todas as espécies de anfíbio e 26% dos mamí-
prazer.
feros conhecidos.
Disponível em: http://www.cruzeirodosul.inf.br/materia/453769/o-
ato-de-ler-e-sua-importancia-vivencias-e-exigencias. Acesso em: 14. (FUMARC – 2014) O emprego do pronome relativo
dez./2013. “onde” está correto, exceto em:

“Todo texto é plural, assim como os sentidos e os sig- a) A lei onde era fixada a pena foi revogada.
nificados desse texto.” b) Diamantina é a cidade onde moro.
A articulação das orações do período expressa uma c) Onde houver ódio, que eu leve o amor.
ideia de d) Por onde eu passar, estarei atenta às ofertas.

a) Causa. 15. (FUMARC – 2018) Texto 1:


b) Comparação.
c) Condição. O discurso relatado em depoimentos da justiça
d) Consequência.
Evocar ou reproduzir os enunciados emitidos por
11. (FUMARC – 2014) “Assim, apreciações interpretati-
outros é comum na nossa fala cotidiana. Nos depoi-
vas, críticas e sensíveis por parte dos leitores tornam-
mentos prestados na justiça brasileira, isso também
-se, cada vez mais, componentes ativos na (e para a)
acontece, pois, de acordo com a bibliografia jurídica, a
consolidação de qualquer leitura.”
Sobre a Concordância Verbal do período acima, é cor- testemunha depõe sobre suas percepções sensoriais
reto afirmar: a respeito dos fatos, o que inclui as falas pronuncia-
das diante dela ou as que chegaram ao seu conheci-
a) O verbo concorda com o sujeito simples, em número e mento por meio de outras pessoas. A citação da fala
pessoa. do outro ocupa, portanto, um lugar de destaque nos
b) O verbo concorda com sujeito composto, em número e depoimentos, uma vez que somente por meio dela
pessoa. pode-se reconstruir alguns fatos.
c) O verbo depois do sujeito concorda com o elemento Logo, o discurso citado aparece nos depoimentos
mais próximo. como recurso empregado pela testemunha para incluir
d) O verbo impessoal concorda em 3ª pessoa do plural. ou para compor informações. Entretanto, ele apare-
ce também como mecanismo utilizado pelo agente
12. (FUMARC – 2018) Regência Verbal é o estudo das da justiça (juiz, delegado ou escrivão) para realizar o
relações estabelecidas entre o verbo (termo regente) assentamento escrito da fala da testemunha.
e seus complementos (termos regidos). Embora a oralidade seja um dos princípios do proces-
Indique a alternativa em que houve erro de Regência so penal, os depoimentos orais são reduzidos a termo
Verbal, comprometendo o sentido da frase. pelo escrivão ou consignados pelo juiz, passando a
fazer parte do processo, sob uma formalização escri-
a) A maioria dos delegados compareceu à reunião do ta. Essa passagem do oral para o escrito contribui para
Sindicato.
o caráter polifônico e controvertido da prova testemu-
b) O convênio implica a aceitação dos novos profissio-
nhal, pois é responsável por uma série de interferên-
nais no setor de protocolo.
cias dos agentes da justiça na elaboração dos textos
c) O plano diretor aspira a estabilidade econômica da
escritos, causando um remanejamento de estruturas e
empresa.
d) O secretário informou à autoridade interessada o teor de pontos de vista em relação à voz original. [...]
da nova proposta. Fonte: ROMUALDO, Edson C. O discurso relatado em depoimentos
da justiça: formas e funções. Acta Scientiarum. Human and Social
LÍNGUA PORTUGUESA

Sciences. Maringá, v. 25, n. 2, p. 233-240, 2003.


13. (FUMARC – 2017) A pontuação está correta em:
Sobre o Texto 1, é incorreto afirmar:
a) Um estudo publicado em 2015, com base em dados
da União Internacional, para Conservação da Nature-
za, apontou que, o espectro da extinção, ameaça cer- a) Apresenta argumentação por meio de citação livre e
ca de 41% de todas as espécies de anfíbio e 26% dos de discurso indireto.
mamíferos conhecidos. b) Contém um exemplo de discurso direto utilizado pelo
b) Um estudo publicado em 2015, com base em dados agente de justiça.
da União Internacional, para Conservação da Nature- c) Demonstra a relação entre o discurso falado e o regis-
za, apontou, que o espectro da extinção, ameaça cer- tro escrito do depoimento.
ca de 41% de todas as espécies de anfíbio, e 26% dos d) Discute sobre a importância do registro de fala para
mamíferos conhecidos. reconstituição dos fatos. 51
16. (FUMARC – 2016) a) Comparação, para demonstrar como se comporta
quem é feliz.
Viver para postar b) Contraste, em algumas partes, para realçar as diferen-
ças entre os insatisfeitos e os felizes.
Gregório Duvivier c) Enumeração, para hierarquizar os caminhos para se
obter a felicidade.
Amo fazer aniversário. Quando era pequeno (continuo d) Exemplificação, para ilustrar e explicar pontos de vista.
pequeno, eu sei, mas nessa época era bem pequeno),
lembro da frase mágica: “Hoje você pode fazer o que 17. (FUMARC – 2016)
você quiser” — e o que eu queria era muita coisa. Que-
ria o Tívoli Park, o chico cheese, o Parque da Mônica, Dois colunistas e a norma culta
tudo ao mesmo tempo. Sempre acabava optando pelo
Tívoli Park — Pasárgada da minha infância, onde era Sírio Possenti
feliz — e sabia.
Hoje já não tem Tívoli Park — minha Pasárgada fechou Publicado em 17 de março de 2016
depois de diversos casos de assalto dentro do trem-
-fantasma — mas a memória dessa liberdade plena e Não me lembro de ter ouvido ou lido alguma coisa de
irrestrita volta sempre que faço aniversário. Por isso, Tostão sobre língua, gramática. Esses troços de que
não reclamem se esta coluna flertar com a autoajuda. os que não são do ramo falam tanto. Mas, salvo enga-
Hoje esse é o meu Tívoli Park. no, andou emitindo juízo bem precário sobre a expres-
Ser feliz é a melhor maneira de parecer um idiota com- são “correr atrás do prejuízo”, que considerou errada
(“ninguém corre atrás do prejuízo” sentenciou, se bem
pleto. Para muita gente, a felicidade dos outros é um
que, como psicanalista, deve ter visto muito disso por
acinte. E não estou falando dos invejosos. Não consi-
aí) e que Cipro Neto comemorou (achei no Google).
go acreditar que existam invejosos de mim, para mim
Está lá: “No último domingo, Tostão fez deliciosa “aná-
essa paranoia com a inveja alheia é delírio narcísico.
lise crítica de clichês do futebol”. Um deles (“Vamos
Estou falando dos cronicamente insatisfeitos — esses
correr atrás do prejuízo”) recebeu a seguinte observa-
sim existem, e são muitos. Experimenta dizer que está
ção: “Se o time está perdendo, tem de correr atrás do
feliz. O olhar vai ser fulminante, assim como a respos-
lucro”. Já vi muita gente boa defender a legitimidade
ta mental: “Como é que esse imbecil pode ser feliz dessa construção (“correr atrás do prejuízo”), com o
num país desses, num calor desses, com um dólar argumento de que o uso lhe dá razão. O estranho é que
desses?”. ninguém diz que corre atrás do fracasso, do insuces-
Aprendi que reclamar do calor ou do dólar não reduz so, da tristeza. O que se diz é que o time corre atrás da
a temperatura nem o dólar. Aprendi que a lei de Mur- medalha, da vitória, da classificação. Por que diabos,
phy só existe pra quem acredita nela. E aprendi que então, correr atrás do prejuízo?”.
reparar na felicidade te ajuda a reconhecê-la quando Idiomatismos, Pasquale! Os idiomatismos e expres-
esbarrar com ela de novo — e acho que isso foi o mais sões feitas não têm sentido literal. São como os pro-
importante. vérbios ou outras expressões do tipo “enfiar o pé na
“A gente só reconhece a felicidade pelo barulhinho que jaca” ou a “a vaca vai pro brejo”. E “risco de vida”, que
ela faz quando vai embora”, dizia o Jacques Prévert. muita gente corrigiu para “de morte”, sob empurrões
Dificílimo reconhecer a felicidade quando ela ainda da Globo.
está no recinto. Caso reconheça, é fundamental foto- Tostão quis corrigir a cultura. Comentou outras
grafar, escrever, desenhar, filmar. Para isso servem expressões (como “marcar sob pressão”), que podem
nossos smartphones: para estocar os mais diversos cansar, mas não veiculam doutrinas erradas. Aliás, por
tipos de felicidade em pixels, áudios e blocos de nota. que todos deveriam correr atrás do lucro? Nem Tostão
Às vezes a necessidade de registro pode parecer uma faz isso, que se saiba. Tais expressões exigem boa
fuga do presente, mas, pelo contrário, é a documen- interpretação: corre-se atrás do prejuízo não para ficar
tação da felicidade que estica o presente para a vida com ele, para aumentá-lo, mas para acabar com ele,
toda. para caçá-lo, para anulá-lo.
Sempre que se depara com os melhores momentos da Mas, em outro domínio, Tostão fornece bons dados
vida — e no caso dele isso acontece quase todo dia — para os analistas. No dia 13/03/2016, escreveu: “O
meu padrasto exclama, com voz de barítono: “Felicida- amigo e médico Ciro Filogeno sugere, o que con-
de é isso aqui”. Aproveito para dizer: hoje faço 29 anos cordo…” e, logo depois, “… que nos empates por 0 a
e estou irremediavelmente feliz. Desculpem todos. Vai 0 os dois times não deveriam ganhar pontos, o que
passar. Mas enquanto isso, aproveito para exclamar, discordo…”.
antes que passe: “Felicidade é isso aqui”. Um professor meio cego e pouco lido diria que Tostão
errou. O argumento é sempre o mesmo: se é “concor-
Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/ do com”, então é “com o que (ou “com quem”) concor-
gregorioduvivier/ 2015/04/1615741-viver-para-postar.shtml Acesso do”; e se é “discordo de”, então é “de que discordo”.
em:7 set. 2016. Mas isso não é verdade. Tostão apenas escreveu
segundo outra regra (uma hora dessas vou ficar de
Vocabulário: caderninho na mão e anotar todos os casos de novas
Tivoli Park foi um parque de diversões localizado no adjetivas que ouço em rádio e TV, já que ninguém mais
bairro da Lagoa, na cidade do Rio de Janeiro, no Brasil. usa as antigas, especialmente com “cujo”).
Funcionou de 1973 a 1995. As frases de Tostão atestam uma tendência poderosa
do português, que é a de fazer orações adjetivas sem
Todas as seguintes técnicas, com as finalidades indi- a preposição (tem sido chamada de cortadora): num
cadas, são usadas pelo autor na estruturação de seu dos casos aqui mencionados saiu “com”, no outro,
52 texto, exceto: saiu “de”.
Tostão é obviamente uma pessoa culta, representante O mais terrível
no português culto falado e escrito no Brasil, que, entre
outras instituições, a escola deveria encampar. Luis Fernando Veríssimo
(Isso não significa que não se pode ou não se deve
empregar a forma tradicional, ou mesmo que ela não O mais terrível não era a menina me chamando de “tio”
seja ensinada. Sem emprego pode ser um bom índi- e pedindo um trocado, ela de pé no chão no asfalto
ce de escrita mais consciente, ou monitorada, o que é e eu no meu carro de bacana. O mais terrível não era
bom. É bom, mas não é a única alternativa correta). eu escolhendo a cara e a voz para dizer que não tinha
Já Ferreira Gullar, ferrenho defensor da gramática trocado, desculpe, como se a vergonha tivesse um
(mas eu duvido que a estude!) que a professorinha protocolo que a absolvesse. O mais terrível foi nem
lhe ensinou (devia ser bem fraquinha), como repeti- a naturalidade com que ela cuspiu na minha cara. O
damente insiste em dizer, escreveu no mesmo dia em mais terrível foi que ela era tão pequena que a cuspa-
sua coluna “que preferem abrir o jogo do que pagar a rada não me atingiu.
culpa…” (está avaliando as delações premiadas como Somos boas pessoas, bons cidadãos e bons pais,
o faria um taxista ouvinte da CBN). mas somos tios relapsos. Nossas sobrinhas e nossos
Não quero dizer que a escrita de Ferreira Gullar tem sobrinhos enchem as ruas de nossas cidades, cercam
problemas (pelo contrário: este é seu lado bom), como
nossos carros, invadem nossas vidas e insistem que
provavelmente diriam os que repetem “se é concordo
são nossa família, e não temos nada para lhes dar ou
com, então é com o que concordo”. Quando eu estava
dizer, além de esmola ou “desculpe”. Na família brasi-
no então quinto ano, antes do então ginásio, já estu-
leira “tios” e sobrinhos têm um diálogo de ameaça e
dava uma lista de palavras que incluíam “preferir a”
medo, revolta e remorso, e poucas palavras. Nenhum
em vez de “preferir (mais) do que”. Pois a construção
dita “errada” está cada vez mais viva e é cada vez mais consolo possível, nenhuma esperança, nenhuma expli-
empregada por pessoas cultas (vou tentar ouvir o Mer- cação. O que dizer a uma sobrinha cuja cabeça mal
val Pereira, por mais difícil que isso seja). Portanto, é chega à janela do carro e tenta cuspir na cara do tio?
cada vez mais “normal”. Feio. Falta de educação. Papai do céu castiga. Paciên-
As relativas de Tostão (que são de todos, aliás) e a cia, minha filha, este é apenas um ciclo econômico e
regência de Ferreira Gullar não deveriam mais implicar a nossa geração foi escolhida para este vexame, você
perda de pontos nas redações, nem serem objeto de aí desse tamanho pedindo esmola e eu aqui sem nada
provas “objetivas”. para te dizer, agora afasta que abriu o sinal. Não per-
PS 1 – a famosa coluna de Tostão que Pasquale gunte ao titio quem fez a escolha, é tudo muito com-
comentou está em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ plicado e, mesmo, você não entenderia a teoria. Vá
esporte/fk0201200009.htm. cheirar cola, para passar. Vá morrer, para esquecer. Ou
Tostão questiona, de fato, uma lista grande de clichês. vá crescer, para me matar na próxima esquina.
Vejam o segundo da lista: “Empatar fora de casa é A história, dizem, terminou, e os mocinhos ganharam.
bom.” Em um campeonato que a vitória vale três pon- Os realistas, os antiutópicos, os racionais. Ficou pro-
tos, empatar é sempre ruim. Repararam em “Em um vado que a solidariedade é antinatural e que cada um
campeonato que a vitória…”? deve cuidar dos apetites dos seus. Ou seja: ninguém é
Também aqui “falta” uma preposição. É sempre a mes- “tio” de ninguém. A família humana é um mito, o sofri-
ma regra! mento alheio é um estorvo e se a miséria à tua volta te
Claro que ninguém critica a gramática de Tostão incomoda, compra uma antena parabólica. Ninguém é
(nem o fez Pasquale, que vivia disso). Um indício de insensível, dizem os mocinhos, mas a compaixão não
que (“que”, diria o colunista) pertence à “elite intelec- funciona. Todos esses anos de convivência com a dor
tual”, cuja gramática é, portanto, culta. Ele diria “cuja”?
dos outros, que deviam ter nos educado para a com-
Duvido.
paixão, nos educaram para a autodefesa, para cuspir
PS 2 – Da tira Júlio & Gina de segunda, dia 14/03 (Folha
primeiro. Os bons sentimentos faliram, dizem os moci-
de S. Paulo): – Você não odiava TV? – Achei uma coi-
nhos. Confiemos o futuro ao mercado, que não tem
sa que eu gosto. Lá se foi mais uma preposição numa
relativa. Minha aposta é que ninguém percebe. sentimentos, que tritura gerações entre seus dedos
invisíveis, pra que se envolver? Afasta do carro que
Ref.: https://blogdosirioblog.wordpress.com/page/2/ [adaptado] abriu o sinal.
Mas mais terrível do que tudo é eu ficar aqui, escolhen-
“As frases de Tostão atestam uma tendência podero- do frases para encher o papel, até cuidando o estilo,
sa do português, que é a de fazer orações adjetivas já que é domingo. Como se fizesse alguma diferença.
sem a preposição (tem sido chamada de cortadora): Como se isso fosse nos salvar, o tio da sua impotência
LÍNGUA PORTUGUESA

num dos casos aqui mencionados saiu ‘com’, no outro, e cumplicidade e a sobrinha anônima do seu destino.
saiu ‘de’”. Desculpe.
É exemplo desse tipo de oração:
Fonte: VERÍSSIMO, Luis Fernando; FONSECA, Joaquim da. Traçando
a) Estou com os livros que você mais gosta. Porto Alegre. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 1995, p. 87-88.
b) Eu duvidava que houvesse engano.
c) O candidato com o qual simpatizo é grande amigo Sobre o texto, não é correto afirmar que
meu.
d) O mundo espera que todos lutem contra a miséria. a) Sugere medidas para tirar os menores da rua.
b) Há uma reflexão histórica, social e econômica.
18. (FUMARC – 2013) Instrução: Leia com atenção o texto c) Retrata uma triste situação do cotidiano urbano.
para responder à questão. d) Critica a sociedade indiferente ao terror da miséria. 53
19. (FUMARC – 2013) As vantagens em se aceitar o envelhecimento são,
exceto
Envelhecer bem é possível
a) Sorrir diante das perdas.
Anna Veronica Mautner b) Esquecer o agora e lembrar o mais antigo.
c) Acompanhar o desenvolvimento dos mais novos.
A criança passa por dramáticas transformações d) Confortar os que estão começando com a sabedoria
(andar, falar, conhecer o mundo etc.), mas não tem adquirida.
consciência delas porque lhe falta linguagem para
descrevê-las. 20. (FUMARC – 2012) Leia, atentamente, os textos I e II
Depois da adolescência, as mudanças continuam, para responder à questão.
mas com dramaticidade menor.
Tão marcante em transformações quanto a infância Texto I
é o envelhecimento. Nessa fase da vida, temos cons-
ciência de tudo o que ocorre: perdas físicas e mentais. Cidadezinha qualquer
Comecemos falando da reação aos imprevistos. Por Casas entre bananeiras
que velho tropeça e cai tanto? Porque a reação ao sus- Mulheres entre laranjeiras
to e o reflexo para evitar o perigo são mais lentos. Pomar amor cantar.
Falemos agora da memória, essa capacidade madras- Um homem vai devagar.
ta cuja falta castiga o idoso. Demoramos para lembrar Um cachorro vai devagar.
seja lá o que for e a conversa fica entrecortada de Um burro vai devagar.
silêncios, quase soluços. Devagar... as janelas olham.
O conteúdo que, em primeiro lugar, mergulha nas Eta vida besta, meu Deus.
sombras do esquecimento são os nomes próprios; (ANDRADE, Carlos Drummond de. Antologia poética. 2. ed. São
mais uns anos e substantivos comuns também se Paulo: Abril, 1982, p. 37.)
embaralham.
O curioso é que os adjetivos não somem. Aparecendo Texto II
o nome, sua qualidade ou quantidade vem junto, dos
fundos da memória. O nome está em algum lugar, em Cidadezinha Qualquer versus Nadópolis
algum tempo, de algum jeito. Se o substantivo emerge,
traz consigo as associações. Cidadezinha Qualquer, os leitores fiquem sabendo
Os verbos não somem, mas as ações deixam de ser logo, é uma cidade comum localizada em uma região
desempenhadas. Se o verbo desaparecer, a incomu- distante de um longínquo país. O que os leitores não
nicabilidade irá se instaurar. Envelhecer é perder: seja sabiam ainda, pois eu ainda não lhes contei, e agora
clareza, seja acuidade auditiva ou visual, velocidade conto, é que existe uma cidade chamada Nadópolis,
de resposta física ou de linguagem, memória. sede de um município fronteiriço com Cidadezinha
Aí vem aquela história: velho esquece o agora e lembra Qualquer. (...) Nadópolis era uma cidade meio anti-
o mais antigo. Não há nenhum mistério nisso. É que o pática mesmo. Não, não era birra dos cidadãos cida-
antigo já se transformou em imagem e a imagem rea- dequalquerianos: Nadópolis tinha um ar arrogante
viva as sensações. Quase nada é inconsciente, pois e antipático! A começar pelo nome pomposo. Esse
envelhecer é viver as mudanças diárias. “polis” grego e sofisticado no final do nome, essa pose
Sentimos a presença das mudanças. Se causam forçada que destoa do ambiente natural da região,
amargura, é pela não aceitação. E, se não aceitarmos renega a história... Isso para não falar da mania que
que já não somos o que éramos, o nosso contato com tinham os nadopolenses de apregoar as vantagens de
o mundo aqui e agora fica prejudicado. viver em um município como o seu. Era comum ouvi-
Assim como é natural o ser humano se transformar -los dizer:
ininterruptamente, em boa velocidade, do nascimento — “Nadópolis é a cidade mais porreta da região; lá
à puberdade, é natural envelhecer, com lentas perdas todo mundo veve bem e nóis não tem os pobrema qui
no início e mais rápidas depois. as outra cidade de perto tudo tem...”
Aceitando que viver é assim, permanente transforma- Para que os leitores não julguem o autor muito parcial
ção, podemos sorrir diante de perdas e transmitir (até é bom que se diga: realmente Nadópolis era mais prós-
com humor) a quem nos rodeia que estamos presen- pera do que Cidadezinha Qualquer. Graças ao incre-
tes, acompanhando o processo. mento de sua agricultura e à grande soma de recursos
Nada de dizer que a terceira idade é maravilhosa. Nada e trabalho que isto envolve, Nadópolis, àquela época,
disso. Perder não é bom. Mas alguns conseguem ir vivia o seu período de esplendor. Grandes e suntuosas
perdendo sem muita amargura, porque acompanham construções erguiam-se por toda parte, o comércio
as transformações dos que ainda estão ganhando. local atraía compradores de toda a proximidade, a vida
É a alegria do avô diante do neto. Há na atitude de noturna era agitadíssima. Grupos de visitantes eram
acompanhar o que já tivemos no passado doses de levados para pontos estratégicos para serem orienta-
aceitação e generosidade. Podemos ajudar. Nossa dos por um agente turístico sobre as maravilhas da
sabedoria funciona como conforto para quem está só cidade. Como não podia deixar de ser, a arrecadação
começando. da Prefeitura local também era das melhores.
O olhar bondoso do idoso diante do tatibitate do nenê
é sabedoria. O velho vislumbra o caminho que o bebê (COTRIM, Fabiano. http://www.faroldacidade.com.br. Postado em
irá seguir. Não é um reviver nem um renascer: é uma 01/04/2008. – Texto adaptado)
memória.
Folha de São Paulo, 05 mar. 2013. No texto I, constitui um ingrediente discursivo utilizado
pelo poeta
54
a) O uso também da linguagem coloquial, que se desvia
do padrão culto da língua.
b) A exposição argumentativa de ideias, que se efetiva
pela ausência de linguagem figurada.
c) A linguagem verbal articulada com situações imagéti-
cas, para dar mais veracidade aos fatos.
d) Os recursos de natureza narrativa que visam a estabe-
lecer um constante diálogo com o leitor.

9 GABARITO

1 D

2 C

3 A

4 B

5 C

6 C

7 B

8 D

9 B

10 B

11 A

12 C

13 C

14 A

15 B

16 C

17 A

18 A

19 B

20 A

ANOTAÇÕES
LÍNGUA PORTUGUESA

55
ANOTAÇÕES

56
LEI ORGÂNICA DA POLÍCIA CIVIL DE MINAS GERAIS

LEI ESTADUAL N.º 5.406, DE 16 DE DEZEMBRO DE 1969 (ESTATUTO DO SERVIDOR


POLICIAL CIVIL)
REGIME DISCIPLINAR

O regime disciplinar da Polícia Civil do Estado de Minas Gerais está disposto no Título XVII, do Livro V (Estatuto do
Servidor Policial Civil), da Lei Estadual nº 5.406, de 1969. Nesse Título, encontramos os deveres e proibições dos servido-
res, as penalidades a que estão sujeitos, as responsabilidades, entre outras regras.
O Regime Disciplinar consiste, basicamente, nos deveres, proibições, esferas de responsabilidades, meios de
apuração de ilícitos administrativos e sanções disciplinares. Neste sentido, o Regime Disciplinar da Polícia Civil do
Estado de Minas Gerais, que é regulamentado pela Lei Estadual nº 5.406, de 1969, aplica-se a todos os servidores no
exercício de funções de natureza policial.
Art. 142 As disposições constantes deste título aplicam-se a todos os servidores no exercício de funções de natureza policial.

DA DISCIPLINA POLICIAL

Para que possamos estudar o regime disciplinar, é imprescindível compreender o que é a disciplina policial, pois é a
base de toda atividade policial.
A disciplina policial contém rigorosa observância e o acatamento integral das leis, regulamentos, normas e disposi-
ções, traduzindo-se pelo perfeito cumprimento do dever por parte de todos e de cada um dos servidores no exercício de
funções de natureza policial.
O art. 143 determina que a disciplina da Polícia Civil do Estado de Minas Gerais fundamenta-se na subordinação hie-
rárquica e funcional, que nada mais é do que o policial civil estar sujeito às ordens de superiores para o cumprimento das
leis, regulamentos e normas de serviços.
Art. 143 A disciplina policial fundamenta-se na subordinação hierárquica e funcional, no cumprimento das leis, regulamen-
tos e normas de serviços.

Os princípios que fundamentam a disciplina policial estão dispostos no art. 144. Vejamos:
Art. 144 Além de outros a serem enumerados em regulamentação, são princípios básicos da disciplina policial:
I - subordinação hierárquica;
II - obediência aos superiores;
III - respeito às leis vigentes e às normas éticas;
IV - cooperação e respeito às autoridades de corporações policiais diversas e de outros poderes ou Secretarias de Estado;
V - apuração ou comunicação à autoridade competente, pela via hierárquica respectiva, da prática de transgressão disciplinar;
VI - observância das condições e normas necessárias para a boa execução das atividades policiais;
VII - espírito de camaradagem e de cooperação, mesmo quando de folga o servidor policial;
VIII - atendimento ao público em geral dentro das normas de urbanidade e sem preferência.

A hierarquia no serviço policial possui a seguinte estruturação:

Secretário de Estado da Segurança Pública

Dirigentes dos Órgãos Superiores da Polícia Civil

Chefe de Departamentos Policiais e Unidades Equiparadas Observando-se a


ordem descendente,
o escalonamento
Delegados de Polícia da série de classes
correspondentes
LEI ORGÂNICA

Peritos Criminais Inspetores Chefes de Serviços


Médicos-Legistas
Especialistas Gerais Policiais

Observando-se a escala
Ocupantes das demais Chefias Policiais
descendente de níveis
de vencimentos

Cargos das demais Classes Policiais


57
As ordens superiores deverão ser realizadas de ime- As transgressões disciplinares estão previstas no
diato, porém, deve-se observar se tais ordens são legais, art. 150:
vez que cabe a responsabilidade a quem as determinar,
sendo possível o agente responder pelos excessos que Art. 150 São transgressões disciplinares, além de
outras enumeradas nos regulamentos dos órgãos
cometer. Ademais, quando a ordem for de difícil com-
policiais e das aplicáveis aos servidores públicos
preensão, caberá ao agente prestar os esclarecimentos em geral:
necessários. I - concorrer para a divulgação, através da impren-
sa falada, escrita, televisionada, de fatos ocorridos
Art. 146 As ordens superiores devem ser prontamente na repartição, suscetíveis de provocar escândalo e
executadas, quando não sejam manifestamente ilegais, desprestígio à organização policial;
cabendo a responsabilidade a quem as determinar, res- II - indispor subordinados contra os seus superiores;
pondendo o agente pelos excessos que cometer. III - deixar de pagar dívidas legítimas ou assumir
Parágrafo único. Quando a ordem parecer obscura ou compromissos superiores às suas possibilidades
de difícil entendimento, compete ao agente solicitar os financeiras, de modo a comprometer o bom nome
esclarecimentos necessários, no ato de recebê-la. da instituição;
IV - manter relações de amizade com pessoas de
Os deveres do servidor policial civil do Estado de notórios e desabonadores antecedentes criminais
Minas Gerais estão previstos no art. 147: ou apresentar-se publicamente com elas, salvo se
por motivo de serviço;
Art. 147 São deveres do servidor policial, observadas V - transferir encargos que lhe competirem ou a
as suas atribuições, além dos que lhe cabem pelo car- seus subordinados, a pessoa estranha aos quadros
go, os constantes dos regulamentos vigentes especiais, da repartição, ressalvadas as exceções legais;
VI - faltar com a verdade, por má-fé ou malícia, no
os das normas comuns a todos os funcionários e os que
exercício de suas funções;
vierem a ser consignados em nova regulamentação.
VII - utilizar-se do anonimato;
VIII - deixar de comunicar à autoridade competente,
Já os servidores policiais civis do Estado de Minas
informações de que tenha conhecimento, sobre fatos
Gerais são proibidos de praticar os atos descritos no que interessem à atuação policial, especialmente em
art. 148: casos de iminente perturbação da ordem pública;
IX - apresentar, maliciosa ou tendenciosamente,
Art. 148 Além de outras proibições vigentes ou que partes, queixas ou reclamações;
constarão de regulamento, é vedado ao servidor X - dificultar, retardar ou, de qualquer forma, frus-
policial: trar o cumprimento de ordens legais da autoridade
I - participar de atividades político-partidárias, salvo competente;
se licenciado para tratar de interesses particulares; XI - permutar serviço sem expressa permissão da
II - exercer outras ocupações, em detrimento do exer- autoridade competente;
cício normal e imparcial de suas funções específicas; XII - abandonar o serviço para qual tenha sido
III - recusar-se a aceitar encargos ao cargo ou função designado;
XIII - atribuir-se qualidade ou posição de hierar-
para os quais for designado;
quia policial diversas das que efetivamente lhe
IV - fomentar discussões ou antagonismo entre os inte-
correspondem;
grantes das diferentes carreiras ou corporações poli- XIV - freqüentar, exceto em razão de serviço, luga-
ciais, a qualquer pretexto; res incompatíveis com o decoro da função policial;
V - aceitar presentes ou donativos por motivo de cum- XV - fazer uso indevido de arma ou equipamento
primento de missão policial; que lhe haja sido confiado para o serviço;
VI - censurar, através de veículos de divulgação, as XVI - submeter a maus-tratos, vexames ou a cons-
autoridades constituídas ou criticar os atos da admi- trangimentos não autorizados em lei, preso sob sua
nistração, ressalvado o trabalho de cunho doutrinário guarda ou custódia, bem como usar de violência
e que tenha sentido de colaboração e cooperação com desnecessária no exercício das funções policiais;
esta; XVII - permitir que presos conservem em seu poder
instrumentos com que possam causar danos nas
VII - quebrar sigilo de assuntos policiais, de modo a
dependências em que estejam recolhidos, ferir-se
prejudicar o andamento das investigações ou outros
ou produzir lesões em terceiros;
trabalhos policiais. XVIII - omitir-se no zelo da integridade física ou
moral de preso sob sua guarda;
TRANSGRESSÕES DISCIPLINARES
XIX - desrespeitar ou procrastinar o cumprimento
de decisão ou ordem judicial ou da autoridade poli-
As transgressões disciplinares são violações dos prin-
cial corregedora, bem como criticá-las;
cípios éticos, dos deveres e das obrigações que os policiais XX - dirigir-se ou referir-se a superior hierárquico e
civis possuem, na sua manifestação elementar e simples, autoridades públicas de modo desrespeitoso;
e qualquer omissão ou ação contrária aos preceitos esta- XXI - publicar, sem ordem expressa da autoridade
tuídos em lei, regulamentos, normas ou disposições, des- competente, ou dar oportunidade que se divulguem,
de que não constituam crime. documentos oficiais, ainda que não classificados
como reservados;
XXII - negligenciar no cumprimento de prazos para
Importante! conclusão de inquéritos policiais e processos disci-
plinares, bem como no que toca às demais obriga-
Este assunto é recorrente em provas. As bancas ções deles decorrentes;
examinadoras exigem a literalidade da Lei. XXIII - prevalecer-se, abusivamente, da condição de
58 policial;
XXIV - negligenciar a guarda de objetos e valores § 1º Só se torna necessária e eficaz a aplicação da
que, em decorrência da função ou para o seu exer- pena quando dela advém benefício ao punido, pela
cício, lhe tenham sido confiados, possibilitando, sua reeducação, ou à classe a que pertence, pelo
assim, que se danifiquem ou extraviem; fortalecimento da disciplina e da justiça.
XXV - lançar em livros e registros oficiais dados § 2º Será sempre classificada como grave a trans-
intencionalmente errôneos, incompletos ou que gressão que for:
possam induzir a erro, bem como inserir neles ano- I - de natureza infamante e desonrosa;
tações indevidas; II - ofensiva à dignidade policial ou profissional;
XXVI - indicar ou insinuar nomes de advogados III - atentatória às instituições ou à ordem legal;
para assistir pessoa que figura em inquérito poli- IV - decorrente da prática de ação ou omissão deli-
cial ou qualquer outro procedimento; berada, prejudicial ao serviço policial; e
XXVII - em razão do serviço ou fora dele, desres- V - contrária aos preceitos da hierarquia e de res-
peitar ou maltratar superior hierárquico, mesmo
peito à autoridade.
que este não esteja, na ocasião, no exercício de suas
funções;
XXVIII - ordenar ou executar medida privativa da Causas e Circunstâncias que Influem no Julgamento
liberdade individual, sem as formalidades legais ou
com abuso de poder; O art. 153 traz as causas e circunstâncias que
XXIX - provocar a paralisação, total ou parcial, do podem influir no julgamento das transgressões disci-
serviço policial ou dela participar; plinares. São elas:
XXX - não desempenhar a contento, intencional-
mente, ou por negligência, as missões de que for z Causas Justificativas: são as causas que, quando
incumbido; praticadas pelo policial civil, não terão punição, ou
XXXI - faltar ou chegar atrasado ao serviço ou dei- seja, não haverá aplicação de penalidade no julga-
xar de participar, com antecedência, à autoridade a
mento da transgressão.
que estiver subordinado, a impossibilidade do com-
parecimento, salvo por motivo justo;
XXXII - apresentar-se embriagado ou sob ação de CAUSAS JUSTIFICATIVAS
entorpecente, em serviço ou fora dele;
XXXIII - entregar-se à prática de vícios ou atos Ignorância, plenamente comprovada, quando não aten-
atentatórios à moral e aos bons costumes; te contra os sentimentos normais de patriotismo, hu-
XXXIV - cobrar carceragem, custas, emolumentos manidade e probidade
ou qualquer outra despesa que não tenham apoio Motivo de força maior plenamente comprovado e
em lei; e justificado
XXXV - deixar de atender imediatamente à con- Ter sido cometida a transgressão na prática de ação
vocação de autoridade policial corregedora, bem meritória, no interesse do serviço, da ordem ou do sos-
assim de prestar-lhe diretamente as informações sego público
solicitadas e julgadas necessárias. Ter sido cometida a transgressão em obediência a or-
dem superior
As transgressões disciplinares que estão no art.
Ter sido cometida a transgressão em legítima defesa
150 são classificadas em leves, médias e graves, de própria ou de outrem
acordo com a intensidade do dolo ou grau de culpa. Uso imperativo de meios violentos, a fim de compelir
O enquadramento das transgressões em leve, o subordinado a cumprir rigorosamente o seu dever;
média ou grave será realizado pela autoridade com- em caso de perigo, necessidade urgente, calamidade
petente para impor a penalidade, levando-se em pública, manutenção da ordem e da disciplina
consideração o fato e suas condições, bem como os
antecedentes do transgressor.
z Circunstâncias Atenuantes: são as causas de
Classificação
diminuição da penalidade a ser aplicada pela rea-
No entanto, a transgressão sempre será classifica- lização de transgressão disciplinar.
da como grave quando for:
CIRCUNSTÂNCIAS ATENUANTES
z De natureza infamante e desonrosa;
z Ofensiva à dignidade policial ou profissional; Bom comportamento anterior
z Atentatória às instituições ou à ordem legal; Relevância de serviços prestados
z Decorrente da prática de ação ou omissão delibe- Falta de prática de serviço
rada, prejudicial ao serviço policial; Ter sido cometida a transgressão em defesa própria,
z Contrária aos preceitos da hierarquia e de respeito de outrem ou de seus respectivos direitos
à autoridade. Ter sido cometida a transgressão para evitar mal maior
Ter sido de somenos importância a participação do in-
LEI ORGÂNICA

Art. 151 As transgressões disciplinares classificam- diciado na transgressão disciplinar


-se, segundo a intensidade de dolo ou do grau da Aceitável ignorância ou errônea compreensão das dis-
culpa, em:
posições legais e administrativas
I - leves;
Ter o transgressor procurado diminuir as consequên-
II - médias; e
cias das faltas, antes da pena, reparando o dano
III - graves.
Ter o transgressor confessado espontaneamente a fal-
Art. 152 A classificação a que se refere o artigo
anterior será feita pela autoridade competente para
ta perante a autoridade sindicante, de modo a facilitar
impor a penalidade, tendo em vista o fato, suas con- a sua apuração
dições e os antecedentes pessoais do transgressor. 59
„ O servidor policial punido com suspensão, per-
Importante! derá todas as vantagens e direitos decorrentes
do exercício do cargo.
Atente-se às causas justificativas e às circunstân-
cias atenuantes, pois a banca pode trocar uma Observação: a pena de suspensão poderá ser con-
pela outra. Lembre-se: vertida em multa, na base de 50% por dia de venci-
� Causas justificativas: não se aplica penalidade; mento ou remuneração. Neste caso, o servidor será
� Circunstâncias atenuantes: diminuem a pena- obrigado a permanecer em serviço.
lidade a ser aplicada.
z Multa

z Circunstâncias Agravantes: são causas que aumen- „ Será aplicada na forma e nos casos expressa-
tam a penalidade a ser aplicada, desde que elas cons- mente previstos em lei ou regulamentos.
tituam ou qualifiquem outra transgressão disciplinar.
z Demissão

CIRCUNSTÂNCIAS AGRAVANTES Será aplicada nos seguintes casos:

Reincidência específica ou genérica „ Abandono de cargo: quando o servidor policial


Mau comportamento anterior não comparecer ao serviço, por mais de 30 dias
A prática simultânea ou a conexão de duas ou mais consecutivos;
transgressões „ Procedimento irregular de natureza grave;
Concurso de dois ou mais agentes na prática de „ Ineficiência no serviço, quando verificada a
transgressão impossibilidade de readaptação;
Prática da transgressão durante a execução do serviço „ Aplicação indevida de dinheiros públicos;
policial ou em prejuízo deste „ Ausência do serviço, sem causa justificável, por
Abuso de autoridade ou poder mais de quarenta e cinco dias, interpoladamen-
Uso indevido de meios de coerção e intimidação te, durante um ano;
Coação, instigação ou determinação para que outro „ Exercício de qualquer atividade remunerada,
policial, subordinado ou não, pratique a transgressão estando o servidor licenciado para tratamento
ou dela participe de saúde.
Impedir ou dificultar, de qualquer maneira, a apuração
de falta z Demissão a bem do serviço público
Ter sido cometida a falta em presença de subordinados
Ter sido praticada a transgressão com premeditação Será aplicada nos casos em que o servidor policial:
Ter sido praticada a transgressão em lugar público „ For dado à incontinência pública e escandalo-
sa, ao vício de jogos proibidos, à embriaguez
Penalidades habitual, bem como ao uso de substâncias
entorpecentes que determine dependência físi-
As penalidades disciplinares são as sanções aplica- ca ou psíquica;
das no âmbito administrativo depois de deflagrado o „ Praticar crime contra a boa ordem, a adminis-
Processo Disciplinar. O art. 154 prevê as penalidades tração pública e a Fazenda Estadual, ou pre-
disciplinares da Polícia Civil do Estado de Minas Gerais: vistos nas leis relativas à segurança e à defesa
Art. 154 São penas disciplinares: nacional;
I - repreensão; „ Revelar segredos de que tenha conhecimento
II - suspensão; em razão do cargo, desde que o faça dolosamen-
III - multa; te e com prejuízo para o Estado ou particulares;
IV - demissão; „ Praticar insubordinação grave;
V - demissão a bem do serviço público; e „ Praticar, em serviço ou em decorrência deste,
VI - cassação de aposentadoria ou disponibilidade. ofensas físicas contra funcionários ou particu-
Parágrafo único. A aplicação das penas administra- lares, salvo em legítima defesa;
tivas não se sujeito à sequência estabelecida neste „ Lesar os cofres públicos ou dilapidar o patri-
artigo, mas é autônoma, segundo cada caso, e con- mônio do Estado;
sideradas a natureza e a gravidade de infração e os „ Receber ou solicitar propinas, comissões, pre-
danos que dela provierem para o serviço público. sentes ou vantagens de qualquer espécie, dire-
ta ou indiretamente, em razão de cumprimento
z Repreensão
de missão policial;
„ Será aplicada, por escrito, nos casos de falta de „ Pedir, por empréstimo, dinheiro ou quaisquer
cumprimento dos deveres e transgressões dis- valores a pessoas que tratem de interesse ou os
ciplinares leves que não justifiquem imposição tenham na repartição do servidor, ou estejam
de penalidade mais grave; sujeitos à sua fiscalização;
„ Em caso de dolo ou má-fé, as faltas de cumprimento „ Praticar qualquer crime que, pela sua nature-
de deveres serão punidas com pena de suspensão. za e configuração, seja considerado infamante,
de modo a incompatibilizar o servidor para o
z Suspensão exercício da função policial;
„ Exercer advocacia administrativa;
„ Será aplicada no caso da falta grave ou de „ For contumaz na prática de transgressões
reincidência; disciplinares;
60 „ Não excederá de noventa dias; „ Praticar a usura em qualquer de suas formas;
„ Incitar greves ou a elas aderir, ou praticar atos de A prisão administrativa trata-se de uma espécie de
sabotagem contra o regime ou o serviço público; prisão decretada por autoridade administrativa com-
„ Apresentar, com dolo, declaração falsa em maté- petente, no decorrer do processo administrativo disci-
ria de abono familiar ou de outro qualquer bene- plinar, visando compelir alguém a cumprir um dever
fício, sem prejuízo da responsabilidade civil e do de direito público.
procedimento criminal, que no caso couber. A prisão administrativa possui duas finalidades,
quais sejam:
z Cassação de aposentadoria ou disponibilidade
z Prevenção Especial: que visa evitar a reincidência da
Será aplicada quando provado que o servidor poli- transgressão, ou seja, a reeducação do transgressor;
cial inativo: z Retributiva: em que o objetivo é o restabelecimen-
to da ordem administrativa violada pela infração e
„ Praticou, quando em atividade, falta grave e o fortalecimento da disciplina.
que é cominada nesta lei a pena de demissão
ou de demissão a bem do serviço público; Já a suspensão preventiva, trata-se do afastamento
„ Aceitou ilegalmente cargo ou função pública; do transgressor das funções e do seu local de trabalho.
„ Aceitou representação de Estado estrangeiro, sem A finalidade desse afastamento preventivo é para que
prévia autorização do Presidente da República; ele não possa influir na apuração da irregularidade.
„ Praticou, quando convocado para o exercício Em se tratando da Polícia Civil do Estado de Minas
efetivo de funções policiais, nos termos legais e Gerais, tanto a prisão administrativa quanto a suspen-
regulamentares, quaisquer transgressões puní- são preventiva não poderão exceder o prazo de 90
veis com demissão a bem do serviço público. dias. Além disso, as autoridades competentes para a
aplicação das medidas acessórias são:
Competência para Imposição de Penalidades
z Quanto à prisão administrativa: Secretário de
As autoridades competentes para impor as penali- Estado da Segurança Pública;
dades disciplinares são: z Quanto à suspensão preventiva: Secretário de
Estado da Segurança Pública, o Órgão Disciplinar
PENALIDADES A AUTORIDADE da Polícia Civil e o Corregedor Geral de Polícia.
SEREM APLICADAS COMPETENTE
Art. 162 No curso do processo administrativo dis-
Em qualquer caso Governador do Estado ciplinar poderão ser aplicadas, como medidas
acessórias, a prisão administrativa e a suspensão
Repreensão e Suspensão Secretário da Segurança preventiva, nos termos de lei e regulamentos.
por até 90 dias Pública § 1º A prisão administrativa e a suspensão preven-
tiva não poderão exceder de noventa dias.
Repreensão e Suspensão Órgão disciplinar de Polí- § 2º São competentes para a aplicação das medidas
por até 60 dias cia Civil de que trata o parágrafo anterior:
I - o Secretário de Estado da Segurança Pública, quan-
Repreensão e Suspensão Corregedor Geral de
to à prisão administrativa e à suspensão preventiva; e
por até 30 dias Polícia
II - o Órgão Disciplinar da Polícia Civil e o Correge-
Superintendentes, Diretor dor Geral de Polícia, quanto à suspensão preventiva.
da Academia de Polícia,
Repreensão e Suspensão Diretor da Casa de De- Procedimento Administrativo
por até 30 dias tenção “Antônio Dutra
Ladeira” e Chefes de O procedimento administrativo consiste na suces-
Departamentos são de atos que objetivam a ter um resultado final.
Portanto, para que haja um processo administrativo,
Delegados Gerais de Polí- faz-se necessária uma sucessão de atos ordenados,
cia, Delegados de Polícia para culminar determinado fim
Repreensão e Suspensão
de Classe Especial e
por até 10 dias
Delegados Regionais de Instauração do Processo
Polícia

Repreensão e Suspensão os demais Delegados de Assim como as demais Polícias Civis do país, a
por até 5 dias Polícia de Carreira Polícia Civil do Estado de Minas Gerais também pos-
sui procedimento administrativo para apuração das
transgressões disciplinares dos servidores da Polícia
Como é possível observar no quadro acima, a úni- Civil, compreendendo os seguintes feitos:
ca autoridade competente para aplicar as penalidades
LEI ORGÂNICA

de demissão, demissão a bem do serviço público e cas- z Sindicância administrativa;


sação de aposentadoria ou disponibilidade é o Gover- z Processo administrativo.
nador do Estado.
Art. 163 A aplicação do disposto neste capítulo se
Prisão Administrativa e Suspensão Preventiva fará sem prejuízo da validade dos atos realizados
sob a vigência da lei anterior.
No âmbito do processo administrativo disciplinar, Art. 164 O procedimento administrativo para apu-
o art. 162, da Lei Estadual nº 5.406, de 1969, prevê a ração das transgressões disciplinares dos servido-
possibilidade de aplicação de duas medidas acessó- res da Polícia Civil compreende os seguintes feitos:
rias: a prisão administrativa e a suspensão preventiva. I - sindicância administrativa; e 61
II - processo administrativo. II - colherá as demais provas que houver, concluin-
Art. 165 Instaura-se processo administrativo ou do pela procedência ou não, da argüição feita con-
sindicância, a fim de apurar ação ou omissão de tra o servidor.
servidor policial civil puníveis disciplinarmente. Art. 171 Poderão, a critério da autoridade superior,
Art. 166 Será obrigatório o processo administra- ser consideradas como meio sumário de verifica-
tivo quando a falta disciplinar, por sua natureza, ção de falta disciplinar, e terão valor de sindicância
possa determinar a pena de demissão. administrativa, as provas colhidas contra o servidor
Parágrafo único. O processo será precedido de sindi- policial civil em inquérito policial instaurado contra
cância, quando não houver elementos suficientes para o mesmo e das quais resultem, também, responsabi-
se concluir pela existência da falta ou de sua autoria. lidade administrativa a que caiba pena de suspensão.
Art. 167 Nos casos do art. 150, poder-se-á aplicar Art. 172 A critério da autoridade que o designar,
a pena pela verdade sabida, salvo se, pelas circuns- o funcionário incumbido de proceder à sindicância
tâncias da falta, for conveniente instaurar-se sindi- poderá dedicar todo o seu tempo àquele encargo,
cância ou processo. ficando, em conseqüência e automaticamente, dis-
Parágrafo único. Entende-se por verdade sabida o pensado do serviço da repartição, durante a reali-
conhecimento pessoal e direto da falta por parte da zação dos trabalhos.
autoridade competente para aplicar a pena.
Art. 168 São competentes para determinar a instau- Comissões Processantes Permanentes
ração do processo administrativo as autoridades enu-
meradas no art. 161, até o item IV, inclusive, e, para
A Comissão Processante Permanente tem como
determinar a instauração de sindicâncias, as autorida- competência conduzir, apurar e instruir, no âmbito
des enumeradas no mesmo artigo, até o número VII. da Superintendência de Polícia Judiciária e Correi-
ções, as sindicâncias e os processos administrativos.
Sindicância As Comissões Processantes Permanentes serão
constituídas de três servidores estáveis da Polícia
Trata-se de procedimento sumário para apuração Civil, sendo o Delegado de Polícia de Carreira o pre-
de irregularidades cometidas no âmbito da Polícia sidente. Os membros dessas Comissões serão designa-
Civil do Estado de Minas Gerais. dos pelo Secretário de Estado da Segurança Pública.
As autoridades competentes para determinar a
instauração da sindicância são: z Impedimentos: Não poderá proceder a sindicân-
cia, nem fazer parte da Comissão Processante Per-
� O Governador do Estado; manente, parente, consanguíneo ou afim, em linha
� O Secretário da Segurança Pública; reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive do
� O órgão disciplinar de Polícia Civil; denunciante ou indiciado.
� O Corregedor Geral de Polícia;
� Os Superintendentes, Diretor da Academia de Polí- Art. 173 Na Superintendência de Polícia Judiciária e
cia, Diretor da Casa de Detenção “Antônio Dutra Correições haverá Comissões Processantes Permanen-
Ladeira” e Chefes de Departamentos; tes, destinadas a realizar os processos administrativos.
§ 1º Os membros das Comissões Processantes Per-
z Os Delegados Gerais de Polícia, Delegados de Polí-
manentes, serão designados pelo Secretário de
cia de Classe Especial e Delegados Regionais de
Estado da Segurança Pública.
Polícia; § 2º O disposto neste artigo não impede a designa-
z Os demais Delegados de Polícia de Carreira. ção de Comissões Especiais pelo Secretário, Corre-
gedor Geral ou órgão disciplinar da Polícia Civil.
A sindicância será realizada por funcionário ou Art. 174 As Comissões Processantes Permanentes
comissão de funcionários, de hierarquia igual ou supe- serão constituídas de três servidores estáveis da
rior, nunca inferior ao indiciado, ou por comissão Polícia Civil, devendo a sua presidência recair em
permanente. Delegado de Polícia de Carreira.
Na sindicância, proceder-se-á às seguintes Parágrafo único. Haverá tantas Comissões Processan-
diligências: tes Permanentes quantas forem julgadas necessárias.
Art. 175 Não poderá ser encarregado de proceder
z Oitiva de testemunhas para esclarecimento dos fatos a sindicância, nem fazer parte da Comissão Proces-
referidos na portaria ou despacho de designação; sante Permanente, mesmo como secretário desta,
z Sempre que possível, o interrogatório do acusado; parente, consangüíneo ou afim, em linha reta ou
z Colheita de provas. colateral, até o terceiro grau inclusive, do denun-
ciante ou indiciado, bem como o subordinado deste.
Por fim, a comissão concluirá o procedimento Parágrafo único. Ao funcionário designado incum-
pela procedência, ou não, da arguição feita contra o birá, desde logo, comunicar, à autoridade compe-
servidor. tente, o impedimento que houver, de acordo com
este artigo.
Art. 169 A sindicância meio sumário e, o quanto Art. 176 Os membros das Comissões Processantes
possível sigiloso, de verificação, será cometida a Permanentes, bem como os respectivos secretários,
funcionário ou a comissão de funcionários, de con- dedicarão todo o seu tempo aos trabalhos pertinen-
dição hierárquica nunca inferior à do indiciado, ou tes aos processos administrativos e às sindicâncias
à Comissão Processante Permanente a que se refere de que forem encarregados, ficando dispensados de
o art. 173 e seguintes. outros serviços da repartição durante todo o prazo
Art. 170 A Comissão ou o funcionário incumbido da designação.
da sindicância, dando-lhe início imediato, procede- Parágrafo único. Nas comissões não permanentes,
rá às seguintes diligências: também compostas de três membros, somente por
I - ouvirá testemunhas para esclarecimento dos expressa determinação da autoridade que as desig-
fatos referidos na portaria ou despacho de designa- nar, poderão seus integrantes ser afastados do exercí-
62 ção, e, sempre que possível, o acusado; e cio dos cargos, durante a realização do processo.
Art. 177 As Comissões Processantes Permanentes e Especiais terão jurisdição em todo o Estado, para o bom desem-
penho de seus trabalhos.

ATOS E TERMOS PROCESSUAIS

O processo administrativo disciplinar, também conhecido pela sigla PAD, é um instrumento pelo qual a Polícia
Civil do Estado de Minas Gerais apura responsabilidade do policial civil por infração praticada no exercício de
suas atribuições, ou que tenha relação com as atribuições do cargo em que se encontre investido. Será obrigatório
o processo administrativo quando a falta disciplinar, por sua natureza, possa determinar a pena de demissão.
As autoridades competentes para determinar a instauração do processo administrativo são:

z O Governador do Estado, em qualquer caso;


z O Secretário da Segurança Pública, até a de suspensão por noventa dias;
z O órgão disciplinar da Polícia Civil, até a de suspensão por sessenta dias;
z O Corregedor-Geral de Polícia, até a de suspensão por trinta dias.

O prazo de duração do processo administrativo é de 60 (sessenta) dias, a contar da citação do acusado. Esse
prazo poderá ser prorrogado pela autoridade que determinou a instauração do processo, por mais 60 dias. Por
fim, o Secretário de Estado da Segurança Pública, em casos especiais e mediante representação do Presidente da
Comissão, poderá autorizar nova e última prorrogação do prazo de até 60 dias.
Para melhor compreensão acerca do processo administrativo, observe o fluxograma a seguir:

O Processo Administrativo Presidente da Comissão


inicia-se no prazo de 8 dias, ordenará a citação do
Portaria Inicial
contados da data do ato que acusado
determinou sua instauração

Por mandado próprio,


instruído com cópia da
Se deixar de comparecer ou de portaria inicial
se representar, o acusado será
considerado revel
Por edital, publicado 5 vezes
seguidas no órgão oficial, nos
casos em que o acusado estiver
em local desconhecido ou se
ocultar, para evitar a citação
O Presidente nomeará um
funcionário, sempre que
possível bacharel em Direito,
para apresentação de defesa Fase de instrução
� Interrogatório do acusado
� Inquirição de testemunhas (o acusado poderá
Em se tratando de processo administrativo por
apresentar rol de até 10 testemunhas)
abandono de cargo ou função, o acusado deverá
� O Presidente da Comissão ordenará toda e qual-
ser citado para, no prazo de 5 dias, oferecer defesa
quer diligência que se afigure conveniente
ou requerer a produção da prova que tiver, que só
� O acusado poderá requerer o que for necessário a
pode versar sobre força maior ou coação ilegal
sua defesa, desde que não constitua recurso protela-
tório, prejudicial ao andamento normal dos trabalhos

A comissão apreciará a prova e a defesa produzidas, no


prazo de dez dias, representando o seu relatório O acusado deverá ser citado para apresentar, por escrito,
as razões finais de sua defesa, no prazo de 10 dias

Os autos do processo serão encaminhados Quando escaparem a sua alçada as penalidades e


concluso para o a autoridade que houver providências que lhe parecerem cabíveis, a autoridade
LEI ORGÂNICA

determinado a sua instauração, para que seja que determinou a instauração do processo administrativo
proferido julgamento, no prazo de 30 dias, deverá propô-las, justificadamente, dentro do prazo
prorrogáveis por igual período marcado para julgamento, à autoridade competente

Art. 178 O processo administrativo terá a forma prevista neste capítulo, iniciando-se no prazo de oito dias, contados
da data do ato que determinou sua instauração.
Art. 179 É assegurado ao funcionário o direito de ampla defesa, podendo, pessoalmente ou por procurador, acompa-
nhar todos os atos processuais, indicar e inquirir testemunhas, requerer juntada de documentos, vista dos autos em 63
mãos da Comissão, e o mais que julgar necessário, Parágrafo único. Terá o acusado o prazo de dez dias
observadas as normas processuais estabelecidas para apresentação da defesa a que se refere este arti-
nesta lei. go. Neste prazo lhe será dada vista dos autos em pre-
§ 1º Entende-se por direito de ampla defesa a opor- sença do secretário ou de qualquer dos membros da
tunidade que se confere ao acusado de praticar Comissão, no lugar do processo.
todos os atos previstos no artigo anterior, na fase Art. 186 No caso de revelia do acusado ou ainda de
instrutória do processo. perda de prazo para apresentação de defesa, o Pre-
§ 2º A autoridade processante não será obrigada a sidente nomeará um funcionário, sempre que possí-
suprir “ex-officio” a omissão do acusado na fase de vel bacharel em Direito, para produzi-la, na forma do
que trata o parágrafo anterior. artigo 185 e seu parágrafo único.
Art. 180 Na portaria que der início ao processo, o Pre- § 1º Neste relatório, a Comissão apreciará, em relação
sidente da Comissão ordenará a citação do acusado a cada acusado, separadamente, as faltas administra-
para se ver processar, até julgamento final, e nomea- tivas e irregularidades que lhe forem atribuídas, as
rá um dos membros da Comissão para secretariar os provas colhidas no processo, e as razões da defesa,
trabalhos. propondo, então, a absolvição ou a punição, indican-
§ 1º A citação do acusado será feita em mandado pró- do, neste caso, a pena que couber.
prio e será instruída com a cópia da portaria inicial. § 2º Deverá também a Comissão, em seu relatório,
§ 2º Se for desconhecido o paradeiro do acusado ou sugerir quaisquer outras providências que lhe pare-
este se ocultar para evitar a citação, esta será feita cerem de interesse do serviço público.
com o prazo de dez dias, mediante edital publicado Art. 187 Findo o prazo para a defesa e juntadas aos
por cinco vezes seguidas no órgão oficial, findo o qual autos as peças que a contiverem, a Comissão, no pra-
prosseguir-se-á no processo à sua revelia. zo de dez dias, apreciará a prova e a defesa produzi-
§ 3º Será considerado revel o funcionário que, citado das, representando o seu relatório.
ou intimado para os atos processuais, deixar de com- Art. 188 O processo administrativo deverá ser con-
parecer ou de se fazer representar. cluído no prazo de sessenta dias, a contar da citação
Art. 181 Feita a citação, terá prosseguimento o pro- do acusado.
cesso, em sua fase de instrução, designando o Presi- § 1º Poderá a autoridade que determinou a instau-
dente dia e hora para o interrogatório do acusado e a ração do processo prorrogar-lhe o prazo até mais
sessenta dias, por despacho, em representação cir-
inquirição de testemunhas, devendo este ser notifica-
cunstanciada que lhe fizer o Presidente da Comissão.
do a apresentar, caso queira, rol de testemunhas até o
§ 2º O Secretário de Estado da Segurança Pública, em
máximo de dez, no prazo de cinco dias.
casos especiais e mediante representação do Presi-
Parágrafo único. Poderá o acusado, respeitado o limi-
dente da Comissão, poderá autorizar nova e última
te previsto neste artigo, durante a fase instrutória,
prorrogação do prazo, por tempo não excedente ao
substituir as testemunhas ou indicar outras no lugar
do parágrafo anterior.
das que não comparecerem.
Art. 189 Ultimado o processo e, recebendo os autos
Art. 182 Proceder-se-á à tomada de depoimentos das
conclusos, a autoridade que houver determinado a
testemunhas arroladas pela Comissão e, a seguir, os
sua instauração deverá proferir julgamento no prazo
das testemunhas indicadas pelo acusado.
de trinta dias, prorrogáveis por igual período.
§ 1º Na audiência das testemunhas será dada a pala-
Parágrafo único. Se o processo não for julgado no
vra ao defensor do acusado ou a este, para repergun-
prazo indicado neste artigo, o acusado, caso esteja
tar às testemunhas. suspenso preventivamente, reassumirá automatica-
§ 2º Se o acusado ou seu defensor não comparecer, mente o cargo ou função e aguardará em exercício o
será designado o fato no respectivo termo. julgamento, salvo nos casos de prisão administrativa
§ 3º O Presidente poderá indeferir as perguntas que que ainda perdure e abandono de cargo ou função.
não tiverem conexão com a falta, consignando-se no Art. 190 Quando escaparem à sua alçada as penali-
termo as que forem indeferidas. dades e providências que lhe parecerem cabíveis, a
§ 4º Ocorrendo a necessidade do testemunho de ser- autoridade que determinou a instauração do proces-
vidores públicos ou militares, as respectivas solicita- so administrativo deverá propô-las, justificadamente,
ções deverão ser feitas a seus chefes ou comandantes dentro do prazo marcado para julgamento, à autori-
imediatos. dade competente.
Art. 183 Durante a fase instrutória de processo, pode- Art. 191 As decisões serão sempre publicadas no
rá o Presidente da Comissão ordenar toda e qualquer órgão oficial, dentro do prazo de oito dias.
diligência que se lhe afigure conveniente, facultando- Art. 192 O processo administrativo não poderá ser
-se ao acusado, nos termos do artigo 182, requerer o sobrestado para o fim de aguardar a decisão de ação
que for necessário à sua defesa, desde que não cons- penal ou civil.
titua recurso protelatório, prejudicial ao andamento Art. 193 Não será declarada a nulidade de nenhum
normal dos trabalhos ou de nenhum interesse para o ato processual que não houver influído na apuração
esclarecimento dos fatos em apuração. de verdade substancial ou, diretamente, na decisão do
Parágrafo único. O Presidente, entendendo descabida processo ou da sindicância, e os atos que forem decla-
a pretensão do acusado, recusará a diligência em des- rados nulos não afetarão o processo em seu todo, mas
pacho fundamentado. tão somente a diligência que contenham.
Art. 184 É permitido à Comissão tomar conhecimen-
to, na fase instrutória, de argüições novas que surgi- Processo por Abandono de Cargo ou Função
rem contra o acusado, caso em que este terá o direito
de produzir contra elas as provas que tiver. Art. 194 No caso de abandono de cargo ou função,
Art. 185 Encerrada a fase instrutória, em que serão instaurado o processo e feita a citação, na forma
praticados os atos concernentes à prova, o acusado dos artigos 168 e 180, comparecendo o acusado e
não mais poderá requerer diligências no processo e, tomadas as suas declarações, terá ele o prazo de
dentro de quarenta e oito horas, deverá ser citado cinco dias para oferecer defesa ou requerer a pro-
para apresentar, por escrito, as razões finais de sua dução da prova que tiver, que só pode versar sobre
64 defesa. força maior ou coação ilegal.
§ 1º Observar-se-á, então, no que couber, o disposto nos artigos 182 e seguintes.
§ 2º No caso de revelia, será designado pelo Presidente um funcionário para servir de defensor, observando-se o
disposto na parte final deste artigo e, no que couber, o disposto nos artigos 182 e seguintes.

Revisão de Processo Administrativo

O processo administrativo findo poderá ser revisado mediante interposição de recurso pelo punido, dirigido à
autoridade que aplicou a pena ou que a tiver confirmado em grau de recurso, nos seguintes casos:

z A decisão for contrária a textos expressos de lei ou à evidência dos autos;


z A decisão fundar-se em depoimento, exames ou documentos comprovadamente falsos ou errados;
z Após a decisão, forem descobertas novas provas da inocência do punido ou de circunstâncias que autorizem
pena mais branda.

O recurso, requerendo a revisão do processo administrativo, deverá ser devidamente fundamentado nessas
hipóteses, bem como instruídos com as provas. Caso contrário, ele será indeferido.
Na decisão da revisão, a pena anteriormente aplicada não poderá ser agravada.

z Quem poderá requerer a revisão?

„ O próprio infrator ou seu procurador;


„ Em caso de morte: cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.

z Como será processada a revisão?

„ Por Comissão Processante Permanente ou por Comissão Especial, a juízo do Secretário de Estado da Segu-
rança Pública.

Observe o fluxograma a seguir, o qual ilustra o processo de revisão:

O processo de revisão O presidente da Comissão marca o prazo de 5 dias, para que o


será apenso no processo requerente junte as provas que pretenda produzir
administrativo ou a sua cópia,
dando início imediato às
diligências

Instrução

O processo será encaminhado


Será aberta vista ao requerente
com relatório fundamentado da
pelo prazo de 10 dias, para que
Comissão, dentro de 15 dias,
apresente suas alegações
à autoridade competente, para
proferir o julgamento

Diminuição da pena

O prazo para Se julgado


julgamento será de procedente
30 dias Cancelamento da
penalidade

Art. 195 Dar-se-á revisão dos processos findos, mediante recurso do punido, quando:
I - a decisão for contrária a textos expressos de lei ou à evidência dos autos;
II - a decisão se fundar em depoimento, exames ou documentos comprovadamente falsos ou errados; e
LEI ORGÂNICA

III - após a decisão, se descobrirem novas provas da inocência do punido ou de circunstâncias que autorizem pena
mais branda.
§ 1º Os pedidos que não se fundarem nos casos enumerados no artigo e que não vierem documentados de provas,
serão indeferidos “in limine”.
§ 2º O pedido será sempre dirigido à autoridade que aplicou a pena ou que a tiver confirmado em grau de recurso.
§ 3º Não será admissível a reiteração do pedido, salvo se fundado em novas provas.
Art. 196 A revisão, que poderá verificar-se a qualquer tempo, não autoriza a agravação da pena.
Art. 197 A revisão poderá ser pedida pelo próprio punido, ou procurador legalmente habilitado, ou, no caso de mor-
te do punido, pelo cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.
Art. 198 Não constitui fundamento para revisão a simples alegação de injustiça da penalidade. 65
Art. 199 A revisão será processada por Comissão Disposições Preliminares
Processante Permanente, ou, a juízo do Secretá-
rio de Estado da Segurança Pública, por Comissão Art. 1º Esta Lei Complementar organiza a Polícia
Especial. Civil do Estado de Minas Gerais - PCMG -, define sua
§ 1º Será impedido de funcionar na revisão quem hou- competência e dispõe sobre o regime jurídico dos
ver integrado a comissão de processo administrativo. integrantes das carreiras policiais civis.
§ 2º O Presidente designará um funcionário para
secretariar a Comissão. Preliminarmente, o art. 2º dispõe sobre o que é,
Art. 200 Ao processo de revisão será apensado o exatamente, a Polícia Civil do Estado de Minas Gerais.
processo administrativo ou sua cópia, marcando o Vejamos:
Presidente o prazo de cinco dias para que o reque- Art. 2º A PCMG, órgão autônomo, essencial à
rente junte as provas que tiver, ou indique as que segurança pública, à realização da justiça e à
pretenda produzir. defesa das instituições democráticas, fundada na
Art. 201 Concluída a instrução do processo, será promoção da cidadania, da dignidade humana e dos
aberta vista ao requerente, perante o secretário da direitos e garantias fundamentais, tem por objeti-
comissão, pelo prazo de dez dias, para apresenta- vo, no território do Estado, em conformidade com o
ção de alegações. art. 136 da Constituição do Estado, dentre outros, o
Art. 202 Decorrido esse prazo, ainda que sem exercício das funções de:
alegações, será o processo encaminhado, com o I - proteção da incolumidade das pessoas e do
relatório fundamentado da Comissão e dentro do patrimônio;
prazo de quinze dias, à autoridade competente II - preservação da ordem e da segurança públicas;
para julgamento. III - preservação das instituições políticas e jurídicas;
Art. 203 Será de trinta dias o prazo para esse julga- IV - apuração das infrações penais e dos atos infra-
mento, sem prejuízo das diligências que a autorida- cionais, exercício da polícia judiciária e cooperação
com as autoridades judiciárias, civis e militares, em
de entenda necessárias ao melhor esclarecimento
assuntos de segurança interna.
do processo.
Art. 204 Julgada procedente a revisão, a Adminis- Já o art. 3º apresenta as atribuições básicas da
tração determinará a redução ou cancelamento da PCMG. Daremos destaque para somente algumas des-
pena. sas atribuições, principalmente as que são mais carac-
Art. 205 Ao processo de revisão aplicam-se as terísticas da Polícia Civil.
regras cominadas no art. 178 e seguintes, no que
couber. Art. 3º A PCMG reger-se-á pelos princípios consti-
tucionais da legalidade, impessoalidade, moralida-
de, publicidade e eficiência e deve ainda observar,
na sua atuação:
I - a promoção dos direitos humanos;
LEI COMPLEMENTAR ESTADUAL N.º II - a participação e interação comunitária;
129, DE 08 DE NOVEMBRO DE 2013 III - a mediação de conflitos;
IV - o uso proporcional da força;
DISPOSIÇÕES GERAIS V - o atendimento ao público com presteza, probi-
dade, urbanidade, atenção, interesse, respeito, dis-
É verdade que os policiais civis são uma espécie crição, moderação e objetividade;
de funcionário público, mas eles também apresentam VI - a hierarquia e a disciplina;
uma Lei Orgânica especial, que disciplina em maiores VII - a transparência e a sujeição a mecanismos de
controle interno e externo, na forma da lei;
detalhes o seu regime jurídico. Por isso, é importante
VIII - a integração com órgãos de segurança públi-
conhecer essa legislação especial. ca do Sistema de Defesa Social.
Passaremos a analisar o conteúdo da Lei Comple-
mentar nº 129, de 8 de novembro de 2013, conhecida A promoção dos direitos humanos constitui-se em
como a Lei Orgânica dos Policiais Civis do Estado de uma garantia de que são impostos diversos limites à ação
Minas Gerais, que dispõe sobre a organização e sobre policial. Esses limites dizem respeito aos direitos e liber-
o regime jurídico de seu pessoal. dades garantidos a todos os cidadãos brasileiros. A ação
Considerando que os policiais civis são uma forma policial, dessa forma, deve restringir-se a praticar ape-
especial de servidor público, faremos menções à Cons- nas os atos estritamente necessários para a promoção da
tituição Federal, bem como à legislação federal (Lei nº segurança pública dentro do Estado, evitando a prática de
8.112, de 1990), quando for absolutamente necessário. atos abusivos que possam ferir esses direitos e garantias.
Dada a multiplicidade de leis, em âmbitos diferen- É por isso, também, que o inciso IV dispõe sobre o uso
proporcional da força: ela não pode utilizar a força físi-
tes da Federação, é comum ao candidato questionar
ca como bem entender, há regras restritivas para o seu
qual lei ele deve utilizar para responder questões de
uso.
provas. É importante ressaltar que lei federal não se
A Polícia Civil tem por fundamentos a hierarquia e a
sobrepõe a lei estadual e vice-versa. Durante a prova o disciplina, que constam do inciso VI. Para a carreira de
candidato deve se ater ao que a pergunta diz. A gran- policial, a hierarquia e a disciplina são mais presentes do
de maioria das questões de provas delineia a legisla- que nas demais carreiras de servidores públicos civis; o
ção que deve ser utilizada para responder à pergunta. seu desrespeito é considerado uma infração para essas
Procure por expressões como “nos termos da Cons- pessoas.
tituição Federal”, “segundo a Lei nº 8.112, de 1990”, Apesar de ambas possuírem a mesma finalidade, é
“com base no Estatuto dos Servidores estaduais”, importante conhecer bem os conceitos de cada uma, para
66 entre outras. não haver confusão na hora da prova.
A hierarquia é a ordenação da autoridade em níveis O que difere a polícia judiciária das demais fun-
diferentes dentro da estrutura da Polícia Civil. O respeito ções de polícia presentes na Administração Pública
à hierarquia é consubstanciado no espírito de acatamen- é o fato de que esta possui natureza investigativa, o
to à sequência de autoridade. que significa que ela somente começa a atuar após a
A disciplina, por sua vez, é a rigorosa observância ocorrência de um delito (nesse caso, será um crime
e o acatamento integral de leis, regulamentos, normas ou uma contravenção penal). A polícia judiciária auxi-
e disposições que fundamentam o organismo policial e lia o Estado (Poder Judiciário) no exercício da função
coordenam seu funcionamento regular e harmônico, tra- jurisdicional penal.
duzindo-se pelo perfeito cumprimento do dever por parte O art. 10 complementa o assunto, elencando tam-
de todos e de cada um dos componentes desse organismo bém como características essenciais da polícia
O art. 4º complementa o conteúdo do art. 3º, indi- judiciária:
cando outras atribuições que, apesar de não serem fun-
damentais da PCMG, são igualmente indispensáveis no Art. 10 A função de polícia judiciária compreende:
exercício de sua ação no plano estadual. I - o exame preliminar a respeito da tipicidade
penal, ilicitude, culpabilidade, punibilidade e demais
Art. 4º Além dos princípios referidos no art. 3º, circunstâncias relacionadas à infração penal;
orientam a investigação criminal e o exercício das II - as diligências para a apuração de infrações
funções de polícia judiciária, a indisponibilidade penais e atos infracionais;
do interesse público, a finalidade pública, a III - a instauração e formalização de inquérito
proporcionalidade, a obrigatoriedade de atua- policial, de termo circunstanciado de ocorrência
ção, a autoridade, a oficialidade, o sigilo e a e de procedimento para apuração de ato infracional;
imparcialidade, observando-se ainda: IV - a definição sobre a autuação da prisão em fla-
I - a investidura em cargo de carreira policial civil; grante e a concessão de fiança;
II - a inevitabilidade da atuação policial civil; V - a requisição da apresentação de presos do sistema
III - a inafastabilidade da prestação do serviço poli- prisional em órgão ou unidade da PCMG, para fins de
cial civil; investigação criminal;
IV - a indeclinabilidade do dever de apurar infra- VI - a representação judicial para a decretação
ções criminais; de prisão provisória, de busca e apreensão, de
V - a indelegabilidade da atribuição funcional do interceptação de dados e de comunicações, em
policial civil; sistemas de informática e telemática, e demais
VI - a indivisibilidade da investigação criminal; medidas processuais previstas na legislação;
VII - a interdisciplinaridade da investigação VII - a presença em local de ocorrência de infração
criminal; penal, na forma prevista na legislação processual
VIII - a uniformidade de procedimentos policiais; penal;
IX - a busca da eficiência na investigação crimi- VIII - a elaboração de registros, termos, certidões,
nal e a repressão das infrações penais e dos atos atestados e demais atos previstos no Código de Pro-
infracionais. cesso Penal ou em leis específicas.

O art. 5º, por sua vez, dispõe sobre a autonomia FUNÇÃO DE INVESTIGAÇÃO CRIMINAL
administrativa e financeira da PCMG. Isso significa,
de modo geral, que a Polícia Civil é competente para Os arts. 6º a 8º dispõem sobre a função de investi-
realizar ações sem a necessidade de intervenção de gação criminal. A investigação criminal diz respeito à
outros órgãos de Segurança Pública. Vejamos: “apuração preliminar” da tipicidade penal, possuindo
caráter técnico-jurídico-científico e capaz de produzir
Art. 5º À PCMG é assegurada autonomia adminis- conhecimentos e indicadores sociopolíticos, econômi-
trativa e financeira, cabendo-lhe, especialmente: cos e culturais que se revelam no fenômeno criminal.
I - elaborar a sua programação financeira anual e
acompanhar e avaliar sua implantação, segundo as Art. 6º A investigação criminal tem caráter técni-
dotações consignadas no orçamento do Estado; co-jurídico-científico e produz, em articulação com
II - executar contabilidade própria; o sistema de defesa social, conhecimentos e indica-
III - adquirir materiais, viaturas e equipamentos dores sociopolíticos, econômicos e culturais que se
específicos. revelam no fenômeno criminal.
Parágrafo único. As atividades de planejamento e Art. 7º O exercício da investigação criminal tem iní-
orçamento e de administração financeira e conta- cio com o conhecimento de ato ou fato passível de
bilidade subordinam-se administrativamente ao caracterizar infração penal e se encerra com a apu-
Chefe da PCMG e tecnicamente às Secretarias de ração da infração penal ou ato infracional ou com
Estado de Planejamento e Gestão e de Fazenda, o exaurimento das possibilidades investigativas,
respectivamente. compreendendo:
I - a pesquisa técnico-científica a respeito de autoria,
FUNÇÕES DE POLÍCIA JUDICIÁRIA de materialidade, de motivos e de circunstâncias da
infração penal;
As funções de polícia judiciária envolvem não II - a articulação ordenada dos atos notariais do
somente a etapa de investigação criminal, como tam- inquérito policial e demais procedimentos de forma-
LEI ORGÂNICA

bém atos de prestação de auxílio ao sistema de justiça lização da produção probatória da prática de infra-
criminal para a aplicação da lei penal e processual, ção penal;
assim como os registros e a fiscalização de natureza III - a minimização dos efeitos do delito e o gerencia-
regulamentar, conforme dispõe o art. 9º. mento da crise dele decorrente.
Art. 8º A investigação criminal se destina à apura-
Art. 9º A função de polícia judiciária consiste, pre- ção de infrações penais e de atos infracionais, para
cipuamente, no auxílio ao sistema de justiça cri- subsidiar a realização da função jurisdicional do
minal para a aplicação da lei penal e processual, Estado, e à adoção de políticas públicas para a pro-
bem como nos registros e fiscalização de natureza teção de pessoas e bens para a boa qualidade de vida
regulamentar. social. 67
Seguindo o que dispõe a legislação, a direção da III - representar ao Poder Judiciário, por meio do
polícia judiciária cabe, em todo o Estado, aos Delegados Delegado de Polícia, pela decretação de medidas
de Polícia de carreira, nos limites de suas circunscri- cautelares pessoais e reais, como prisão preventiva
ções, e seus atos serão fiscalizados direta ou indireta- e temporária, busca e apreensão, quebra de sigilo
mente pelo Corregedor-Geral de Polícia Civil. Vejamos: e interceptação de dados e de telecomunicações,
além de outras inerentes à investigação criminal
Art. 11. A direção da polícia judiciária cabe, em todo e ao exercício da polícia judiciária, destinadas a
o Estado, aos Delegados de Polícia de carreira, nos colher e a resguardar provas da prática de infra-
limites de suas circunscrições. ções penais e de atos infracionais;
Parágrafo único. Os atos de polícia judiciária serão IV - organizar, cumprir e fazer cumprir os manda-
dos judiciais de prisão e de busca domiciliar;
fiscalizados direta ou indiretamente pelo Correge-
dor-Geral de Polícia Civil.
A Polícia Civil é um órgão responsável pela promo-
Por fim, o art. 12 aponta os símbolos institucionais ção da segurança pública dentro do Estado de Minas
Gerais. Não basta apenas que seus agentes exerçam
da PCMG. São os símbolos que identificam os agentes
funções investigativas, isto é, de apuração da ocorrên-
integrantes da Polícia Civil, e somente eles podem uti-
cia de crimes. A Polícia Civil deve, também, punir os
lizar de alguns desses símbolos. São ao todo cinco: o
infratores de forma adequada, resguardando os direi-
hino, o brasão, a logomarca, a bandeira e o distintivo.
tos das vítimas desses crimes. Por isso, os incisos II e III
Art. 12 São símbolos institucionais da PCMG o hino, expõem atividades voltadas à investigação/apuração
o brasão, a logomarca, a bandeira e o distintivo de ilícitos penais. A finalidade dessas competências
é, justamente, a proteção dos valores anteriormente
DA COMPETÊNCIA citados: a vida, a liberdade e a propriedade dos indiví-
duos enquanto cidadãos membros da sociedade.
Sobre a sua competência, o art. 14 apresenta, bem Justamente a proteção desses valores (que, vale
resumidamente, o conteúdo referente ao exercício da lembrar, são valores garantidos pela própria Consti-
polícia judiciária, isto é, a apuração no território do tuição Federal) é o que fundamenta a Polícia Civil a
Estado das infrações penais e dos atos infracionais de adotar medidas cautelares de finalidade de preserva-
natureza civil, exceto os militares. É, sem dúvidas, a ção do local da infração penal.
competência mais importante da Polícia Civil. A exce-
V - cumprir as requisições do Poder Judiciário e do
ção prevista no final do texto do dispositivo existe, pois
Ministério Público;
quem apura as infrações criminais de natureza militar VI - realizar correições e inspeções, em caráter
são os próprios órgãos da Polícia Militar. permanente ou extraordinário, em atividades e em
repartições em que atue, bem como responsabilizar-
Art. 14 À PCMG, órgão permanente do poder públi-
-se pelos procedimentos disciplinares destinados a
co, dirigido por Delegado de Polícia de carreira e apurar eventual prática de infrações atribuídas a
organizado de acordo com os princípios da hierar- seus servidores;
quia e da disciplina, incumbem, ressalvada a com- VII - formalizar o inquérito policial, o termo cir-
petência da União, as funções de polícia judiciária cunstanciado de ocorrência e o procedimento para
e a apuração, no território do Estado, das infrações apuração de ato infracional;
penais e dos atos infracionais, exceto os militares.
Parágrafo único. São atividades privativas da PCMG O inquérito policial é o documento que dá início à
a polícia técnico-científica, o processamento e arqui-
fase investigativa durante o exercício das atividades
vo de identificação civil e criminal, bem como o
típicas da polícia judiciária. É o conteúdo dentro do
registro e licenciamento de veículo automotor e a
inquérito que será utilizado como base para a even-
habilitação de condutor.
tual denúncia do crime, feita pelo Ministério Público,
É importante, também, destacar o conteúdo do art. ou pela própria vítima, quando cabível.
15, que aponta que a PCMG é subordinada diretamente
ao Governador do Estado. Vejamos: VIII - exercer o controle e a fiscalização de suas
armas e munições, de explosivos, fogos de artifício
Art. 15 A PCMG subordina-se diretamente ao Gover- e demais produtos controlados, observada a legis-
nador do Estado e integra, para fins operacionais, o lação federal específica;
Sistema de Defesa Social.
É a Polícia Civil o órgão responsável pelo controle
O art. 16, por sua vez, apresenta um rol com outras das armas de fogo, seja as do seu próprio estabeleci-
competências igualmente importantes. Faremos alguns mento, seja também as dos particulares. Esse controle
comentários sobre alguns desses incisos, mas recomen- se estende para todo material explosivo que circula
damos a memorização de todos: pelo Estado. É a Polícia Civil quem fiscaliza, por exem-
plo, a venda ilegal de fogos de artifício. Ninguém
Art. 16 À PCMG compete: adquire fogos de artifício com a intenção de ferir
I - planejar, coordenar, dirigir e executar, ressalva- outras pessoas, de fato, mas justamente por ser mate-
da a competência da União, as funções de polícia rial perigoso, a venda desse tipo de explosivo deve ser
judiciária e a apuração, no território do Estado, das fiscalizada.
infrações penais, exceto as militares;
II - preservar locais de crime com cenários e bens, IX - exercer o registro de controle policial, espe-
apreender objetos, colher provas, intimar, ouvir e cialmente no que tange a estabelecimentos de hos-
acarear pessoas, requisitar e realizar exames peri- pedagem, diversões públicas, comercialização de
ciais, proceder ao reconhecimento de pessoas e coi- produtos controlados e o prévio aviso relativo à
sas e praticar os demais atos necessários à adequada realização de reuniões e eventos sociais e políticos
apuração das infrações penais e dos atos infracio- em ambientes públicos, nos termos do inciso XVI do
68 nais, na forma da legislação processual penal; art. 5º da Constituição da República;
X - desenvolver atividades de ensino, extensão e pes- z Chefe da PCMG
quisa, em caráter permanente, objetivando o apri-
moramento de suas competências institucionais; A Chefia da PCMG é exercida pelo ocupante do
cargo de Chefe da Polícia Civil. O Chefe da PCMG será
A Polícia Civil incentiva o estudo, a pesquisa e o ensi- nomeado pelo Governador do Estado dentre os
no de seus agentes. Há todo um regramento especial integrantes, em atividade, do nível final da carreira
para os casos de afastamento do policial para frequentar de Delegado de Polícia que possuam, no mínimo, vinte
esses técnicos e profissionalizantes, que veremos mais
anos de efetivo serviço policial, vedada a nomeação
adiante.
daqueles inelegíveis em razão de atos ilícitos, nos ter-
XI - organizar e executar as atividades de registro, mos da legislação federal (parágrafo único, art. 18).
controle e licenciamento de veículos automotores, a É o art. 17 que trata da estrutura organizacional
formação e habilitação de condutores, o serviço de da Polícia Civil. A Lei Orgânica também apresenta as
estatística, a educação de trânsito e o julgamento de principais características e atribuições de cada um
recursos administrativos; desses órgãos expostos. Porém, acreditamos que nem
todos devem ser objeto de questão de prova, motivo
A Polícia Civil tem, como um de seus principais
pelo qual apenas veremos os órgãos considerados
órgãos, o Departamento de Trânsito (ou Detran-MG).
É esse órgão que cuida das competências dispostas no principais da Polícia Civil: os órgãos de administração
inciso XI. Veremos mais sobre esse importante órgão superior e os órgãos de administração.
posteriormente. O art. 22 traz em seus incisos um rol das competên-
cias do Chefe da PCMG, dentre as quais destacamos:
XII - cooperar com os órgãos municipais, estaduais e
federais de segurança pública, em assuntos relaciona- Art. 22 Ao Chefe da PCMG compete:
dos com as atividades de sua competência; I - exercer a direção superior, o planejamento estra-
XIII - promover interações para uso dos bancos de tégico e a administração geral da PCMG, por meio
dados disponíveis com os órgãos públicos municipais, da coordenação, do controle e da fiscalização das
estaduais e federais, bem como para uso de bancos de funções policiais civis e da observância do disposto
dados disponíveis com a iniciativa privada, observa- nesta Lei Complementar;
do o disposto nos incisos X e XII do art. 5º da Consti- II - presidir o Conselho Superior da PCMG e inte-
tuição da República; grar o Conselho de Defesa Social;
XIV - organizar e executar os serviços de identificação III - propor ao Governador do Estado o aumento
civil e criminal, bem como gerir o acervo e o banco de do efetivo e prover, mediante delegação, os cargos
dados correspondentes, inclusive para as atividades dos quadros de pessoal da PCMG, bem como deferir
de perícia criminal;
o compromisso de posse aos servidores da PCMG;
Os serviços que utilizam os bancos de dados para IV - promover a movimentação de servidores, pro-
identificar atos civis e criminais também são de atribui- porcionando equilíbrio entre os órgãos e unidades
ção exclusiva da Polícia Civil. Todas as atividades que da PCMG, observado o quadro de distribuição de
auxiliam a investigação criminal, que é outra compe- pessoal, nos termos de regulamento;
tência muito importante para a Polícia Civil, devem ser V - autorizar servidores da PCMG a afastar-se, em
exercidas por ela mesma. serviço, do Estado, sem sair do País, observado o
disposto no art. 68;
XV - promover o recrutamento, seleção, formação, VI - determinar a instauração de processo adminis-
aperfeiçoamento e o desenvolvimento profissional e trativo disciplinar e aplicar sanções disciplinares;
cultural de seus servidores; VII - decidir, em último grau de recurso, sobre a ins-
XVI - organizar e realizar ações de inteligência, bem tauração de inquérito policial e de outros procedi-
como participar de sistemas integrados de informa- mentos formais; [...]
ções de órgãos públicos municipais, estaduais, fede-
rais e de entidades privadas; DA ADMINISTRAÇÃO SUPERIOR — DA CHEFIA DA
XVII - organizar estatísticas criminais e realizar aná- PCMG
lise criminal;
XVIII - promover outras políticas de segurança públi- Dos Órgãos de Administração Superior
ca e defesa social, nos limites de sua competência.
A Chefia da PCMG é exercida pelo ocupante do
Desses últimos incisos, o mais importante é o inciso cargo de Chefe da Polícia Civil. O Chefe da PCMG será
XV, que apresenta o que se denomina autonomia admi- nomeado pelo Governador do Estado dentre os
nistrativa da Polícia Civil. Autonomia administrativa integrantes, em atividade, do nível final da carreira
significa que a PCMG é competente para organizar o seu
de Delegado de Polícia que possuam, no mínimo, vinte
pessoal da forma que preferir, sendo competente para
anos de efetivo serviço policial, vedada a nomeação
criar os cargos e realizar o processo de recrutamento,
daqueles inelegíveis em razão de atos ilícitos, nos ter-
desenvolvimento e aperfeiçoamento de seus agentes.
mos da legislação federal (parágrafo único, art. 18).
DA ORGANIZAÇÃO
LEI ORGÂNICA

Da Chefia Adjunta da PCMG


Da Estrutura Orgânica
O cargo de Chefe Adjunto da PCMG será ocupa-
Uma vez vistas as noções introdutórias sobre a Polícia do por pessoa escolhida pelo Chefe da PCMG dentre
Civil de Minas Gerais, as suas competências e os princí- os integrantes, em atividade, do nível final da carrei-
pios aos quais deve se submeter, vamos nos aprofundar ra de Delegado de Polícia que possuam, no mínimo,
sobre essa força policial e apresentar como a PCMG se vinte anos de efetivo serviço policial, e será nomeado
estrutura. Sobre esse tema, pode-se afirmar que a Polícia pelo Governador do Estado. Tem por função auxiliar
Civil se divide em múltiplos órgãos, para melhor aten- o Chefe da PCMG no exercício de suas atribuições, nos
der às suas múltiplas atribuições e competências. termos do art. 23. Vejamos: 69
Art. 23 O Chefe Adjunto da PCMG, escolhido pelo As demais unidades administrativas da estrutura
Chefe da PCMG dentre os integrantes, em atividade, orgânica complementar e a sua distribuição e descri-
do nível final da carreira de Delegado de Polícia que ção das competências serão estabelecidas em decreto.
possuam, no mínimo, vinte anos de efetivo serviço São órgãos mais acessórios, que não possuem uma
policial, e nomeado pelo Governador do Estado, relevância muito grande para a PCMG e, por isso, não
tem por função auxiliar o Chefe da PCMG no exercí-
serão objeto de nossos estudos. Apenas por motivos
cio de suas atribuições, competindo-lhe:
I - substituir o Chefe da PCMG em suas ausências,
didáticos, elencamos alguns desses órgãos extras: o
férias, afastamentos e impedimentos eventuais; Hospital da Polícia Civil; o Colégio Ordem e Progresso;
II - cooperar com o exercício das funções do Chefe a Divisão de Polícia Interestadual (Polinter) e a Casa
da PCMG, acompanhar a execução de atividades de Custódia da Polícia Civil.
por órgãos e unidades da PCMG, requisitar infor-
mações e determinar ações de interesse do serviço Do Órgão Especial
policial civil;
III - participar, como membro, das reuniões do Con- O órgão especial encontra-se previsto no art. 29,
selho Superior da PCMG; da Lei Orgânica. É o órgão composto exclusivamente
IV - exercer atribuições que lhe sejam delegadas por por Delegados-Gerais de Polícia que são titulares do
ato do Chefe da PCMG.
Conselho Superior da PCMG, bem como pelo Delegado
Assistente da Chefia da PCMG.
Do Conselho Superior da PCMG
Segundo o referido dispositivo, ao órgão especial
compete a execução de três tarefas:
Art. 24 O Conselho Superior da PCMG é órgão da
administração superior da PCMG, que tem a função
de assessorar e auxiliar a Chefia da PCMG, e possui z Decidir sobre os recursos contra decisão que negar
a seguinte estrutura: a instauração de inquérito policial;
I - Órgão Especial; z Decidir sobre os recursos contra ato de Delegado-
II - Câmara Disciplinar; -Geral de Polícia ou de órgão de administração da
III - Câmara de Planejamento e Orçamento. PCMG que avocou inquérito policial ou outros pro-
cedimentos formais;
O Conselho Superior da PCMG é outro órgão da z Decidir sobre a promoção, movimentação e remo-
administração superior da PCMG, que tem por esco- ção dos Delegados.
po assessorar e auxiliar a Chefia da PCMG. Esse Con-
selho Superior é dividido em Órgão Especial, uma É importante a leitura do referido dispositivo
Câmara Disciplinar e uma Câmara de Planejamento na sua íntegra:
e Orçamento.
O art. 26 apresenta algumas competências do Con- Art. 29 Ao Órgão Especial, composto exclusivamen-
selho Superior; dentre elas, destacamos: te por Delegados-Gerais de Polícia titulares dos
órgãos constantes no art. 25 e pelo Delegado Assis-
Art. 26 Ao Conselho Superior da PCMG compete: tente da Chefia da PCMG, compete pronunciar-se,
I - conhecer, fomentar e manifestar-se sobre pro- por determinação do Chefe da PCMG, sobre recurso
postas de programas, projetos e ações da PCMG; contra decisão que negar a instauração de inqué-
II - deliberar sobre o planejamento estratégico rito policial e sobre recurso contra ato de Delega-
e subsidiar a proposta orçamentária anual da do-Geral de Polícia ou de órgão de administração
PCMG; da PCMG que avocou, excepcional e fundamentada-
III - examinar ou elaborar atos normativos perti- mente, inquéritos policiais ou outros procedimen-
nentes ao serviço policial civil; tos formais, bem como sobre o previsto nos incisos
IV - deliberar sobre a localização de unidades da VI a X do art. 26 quando relacionado com a carreira
PCMG e sobre o quadro de distribuição de pessoal
de Delegado de Polícia.
da PCMG;
V - estudar e propor inovações visando à eficiência da
atividade policial civil; Para elucidar seus estudos, retome a leitura da
VI - propor ao Chefe da PCMG a remoção ex officio de íntegra dos incisos VI a X, do art. 26, anteriormente
policial civil, por conveniência da disciplina ou no inte- apresentados.
resse do serviço policial;
VII - pronunciar-se sobre atribuições e conduta funcio- Da Câmara Disciplinar
nal de servidores da PCMG;
VIII - deliberar sobre promoção de policial civil, nos ter- A Câmara Disciplinar, por sua vez, é o órgão encar-
mos do regulamento do respectivo plano de carreira; regado de decidir sobre os recursos emitidos contra
IX - outorgar a Medalha do Mérito Policial Civil Dele- os atos do Corregedor-Geral da Polícia Civil. A referida
gado Luiz Soares de Souza Rocha, criada pela Lei nº
Câmara é composta também por todos os membros do
7.920, de 8 de janeiro de 1981, e demais condecorações
Conselho Superior da PCMG e pelo Chefe Adjunto.
e distinções honoríficas;
X - deliberar, atendida a necessidade do serviço, sobre É o art. 30 que disciplina as competências da Câma-
o afastamento remunerado de servidores da PCMG ra Disciplinar. Observe o texto do dispositivo legal:
para frequentar curso ou estudos, no País ou no exte-
rior, observado o interesse da instituição e o disposto Art. 30 A Câmara Disciplinar será presidida pelo
no art. 68; Chefe Adjunto da PCMG e integrada pelos membros
XI - examinar e subsidiar a formulação da proposta do Conselho Superior da PCMG titulares de unida-
orçamentária da PCMG, propor a priorização de pro- des, à exceção do Chefe da PCMG, e julgará recur-
gramas, projetos e ações da PCMG e acompanhar a sos contra atos emanados do Corregedor-Geral de
70 execução do orçamento da PCMG. Polícia Civil, competindo-lhe:
I - recomendar ao Corregedor-Geral de Polícia Civil I - praticar atos de correição, promover o controle de
a instauração de procedimento administrativo dis- qualidade dos serviços e zelar pela correta execução
ciplinar contra servidor da PCMG e a realização de das funções de competência da PCMG;
inspeções e correições em órgãos e unidades da PCMG, II - realizar e determinar correições e inspeções, de
sem prejuízo das competências do Chefe da PCMG e do caráter geral ou parcial, ordinário ou extraordinário,
Corregedor-Geral de Polícia Civil; nas atividades de competência da PCMG;
II - propor ao Chefe da PCMG a remoção ex officio de III - determinar a instauração de processo adminis-
policial civil, por conveniência da disciplina, por maio- trativo disciplinar, bem como concluir e decidir sobre
ria simples dos membros do Conselho Superior da o mesmo, instaurar sindicância, inquérito policial,
PCMG, mediante trâmite de sindicância ou processo termos circunstanciados de ocorrência e outros pro-
disciplinar e solicitação fundamentada do Corregedor- cedimentos para apurar transgressões disciplinares e
-Geral de Polícia Civil; infrações penais imputadas a servidores da PCMG;
III - conhecer e julgar recurso contra decisão em proce- IV - atuar, preventiva e repressivamente, em face às
dimento administrativo disciplinar. infrações penais e disciplinares atribuídas aos policiais
Parágrafo único. O recurso contra decisão que negar civis e
a instauração de inquérito policial ou outros procedi- servidores da PCMG, bem como em requisições e soli-
mentos formais, bem como sobre o previsto nos incisos citações dos órgãos e entidades de controle interno e
VI a X do art. 26 quando relacionado com a carreira externo;
de Delegado de Polícia, será apreciado exclusivamente V - assumir, motivadamente, mediante ato do Chefe da
PCMG, após a aprovação da maioria dos membros do
por Delegados-Gerais de Polícia integrantes do órgão a
Conselho Superior, a administração de órgãos e unida-
que se refere o art. 29.
des da PCMG;
Podemos concluir que a Câmara Disciplinar possui VI - avocar inquéritos policiais e outros procedimen-
tos, para fins de correição, podendo concluí-los, se for
amplo poder deliberativo, pois é esse o órgão responsá-
o caso, ou delegar sua presidência a outra autoridade
vel, por exemplo, pela abertura (e condenação) do proces-
policial;
so disciplinar, podendo decidir pela remoção do agente VII - articular-se, no âmbito de sua competência, com
policial, ou, ainda, o absolver da condenação. o Poder Judiciário, o Ministério Público, a Defensoria
Segundo o parágrafo único, os recursos contra deci- Pública e órgãos congêneres;
sões de instauração de inquérito policial ou outros pro- VIII - aplicar, sem prejuízo da competência dos demais
cedimentos formais, e também a movimentação dos titulares de órgãos e unidades, nos termos desta Lei
Delegados de Polícia, serão analisados pelos Delegados- Complementar, penalidades disciplinares, observados
-Gerais de Polícia integrantes do Órgão Especial. os princípios da ampla defesa e do contraditório;
Observe também que, dos membros da Câmara Dis- IX - ampliar, excepcionalmente, a competência correi-
ciplinar, o único membro do Conselho Superior que não cional de Delegado de Polícia para o exercício de suas
faz parte da Câmara Disciplinar é o Chefe da PCMG. atribuições funcionais em unidade da PCMG diversa de
sua lotação;
Da Câmara de Planejamento e Orçamento X - propor ao Chefe da PCMG, mediante despacho devi-
damente fundamentado, o afastamento preliminar de
De forma mais singela, a Lei Orgânica faz uma breve servidores da PCMG pelo prazo máximo de até noven-
menção à Câmara de Planejamento e Orçamento no art. ta dias, na hipótese de indícios
31. Esse é o órgão incumbido de exercer atividades rela-
Se for constatado que um policial civil praticou uma
tivas ao orçamento e à proposta orçamentária da PCMG.
transgressão disciplinar mais grave, a Corregedoria é
Observe o texto legal:
competente para lhe aplicar a pena disciplinar de sus-
Art. 31 À Câmara de Planejamento e Orçamento, com- pensão, e ele deve ficar afastado do cargo pelo prazo
posta na forma do regimento, competirá examinar e mencionado.
subsidiar a formulação da proposta orçamentária da
XI - propor ao Chefe da PCMG, expressa e motivada-
PCMG, propor a priorização de programas, projetos
mente, a remoção ou a transferência de servidores da
e ações da PCMG e acompanhar a execução do orça-
PCMG, para fins disciplinares, nos termos desta Lei
mento da PCMG.
Complementar;
Assim, compete à Câmara de Planejamento e Orça- XII - dirimir conflitos de competência funcional e cir-
cunscricional no âmbito da PCMG, inclusive com cará-
mento o exercício do controle fiscal e financeiro da Polícia
ter normativo, quando necessário;
Civil. É ela a responsável, por exemplo, por acompanhar
XIII - manter atualizado o registro e o controle dos
o planejamento orçamentário anual da PCMG, analisar antecedentes funcionais e disciplinares dos servidores
quais serão suas receitas (o capital que será adquirido) e da PCMG e determinar, nas hipóteses legais, o cancela-
as despesas (o capital que será gasto), e também a possi- mento das respectivas anotações;
bilidade de acrescentar créditos suplementares quando XIV - acompanhar o estágio probatório dos servidores
necessário para equilibrar as contas públicas. da PCMG;
XV - convocar servidor da PCMG para atos e procedi-
LEI ORGÂNICA

Da Corregedoria-Geral de Polícia Civil mentos de correição, na forma da lei;


XVI - coordenar o cumprimento de mandado judicial
A Corregedoria-Geral de Polícia Civil está disciplinada de prisão de servidor da PCMG e cumprir mandado
pelos arts. 32 e 33. É o órgão orientador, fiscalizador e de busca e apreensão relacionado a procedimentos de
correicional das atividades funcionais e de conduta de competência da Corregedoria-Geral de Polícia Civil;
servidores da PCMG. XVII - planejar, estabelecer e priorizar as necessidades
As competências da Corregedoria estão previstas no logísticas e de pessoal para a realização das ativida-
art. 33, dentre as quais destacamos: des de sua competência e subsidiar as atividades de
suprimento de recursos pela Superintendência de
Art. 33 À Corregedoria-Geral de Polícia Civil compete: Planejamento, Gestão e Finanças. 71
DA ADMINISTRAÇÃO V - produzir e difundir conhecimentos acadê-
micos de interesse policial e desenvolver a
Do Gabinete da Chefia da PCMG uniformidade de procedimentos didáticos e
pedagógicos;
z Dos Gabinetes da PCMG VI - selecionar, credenciar e manter o quadro
docente preparado e capacitado, interna e exter-
Passando para os órgãos de Administração, temos namente às carreiras da PCMG, visando atender
primeiramente os Gabinetes de Chefia da PCMG. Os às especificidades das disciplinas das diversas áreas
Gabinetes de Chefia, segundo o art. 35, têm por fina- do conhecimento, relacionadas às funções de compe-
lidade garantir assessoramento direto ao Chefe da tência da PCMG;
PCMG e ao Chefe Adjunto da PCMG em assuntos políti- VII - admitir certificações de cursos e de titulações
acadêmicas obtidas por servidor da PCMG em insti-
cos e administrativos.
tuições de ensino e pesquisa, para incorporação no
As suas competências estão nos incisos do mesmo
seu histórico funcional, atendidos os requisitos legais;
dispositivo: VIII - promover o aprimoramento de técnicas policiais
e oferecer suporte às atividades de ensino, de pesqui-
Art. 35 O Gabinete da Chefia da PCMG tem por fina-
sa e de operação, simuladas e reais, para a padroni-
lidade garantir assessoramento direto ao Chefe da
zação de normas e de procedimentos de investigação
PCMG e ao Chefe Adjunto da PCMG em assuntos
criminal, de atividade notarial, de manejo e de empre-
políticos e administrativos, competindo-lhe:
go de armas de fogo, explosivos e técnicas de defesa
I - encaminhar os assuntos pertinentes a órgãos e pessoal;
unidades da PCMG e articular o fornecimento de IX - propor e viabilizar, junto aos órgãos estaduais e
apoio técnico, sempre que necessário; federais, o reconhecimento dos cursos que realiza;
II - encarregar-se do relacionamento da PCMG com X - difundir estratégias de polícia comunitária;
órgãos públicos federais, estaduais e municipais, XI - colaborar em políticas psicopedagógicas
dos diversos Poderes, e com organismos da socie- destinadas à preparação do policial civil para a
dade civil; aposentadoria;
III - planejar, dirigir e coordenar as atividades do XII - manter intercâmbio com outras instituições de
Gabinete e unidades a este vinculadas, mantendo ensino e pesquisa, nacionais e estrangeiras;
o respectivo controle sobre os documentos e atos XIII - conceder aos servidores da PCMG diplomas e
oficiais correspondentes; certificados relativos às atividades acadêmicas de
IV - acompanhar o desenvolvimento das atividades sua competência;
de comunicação social da PCMG; XIV - organizar e manter biblioteca especializada em
V - manter diálogo com os servidores da PCMG, matéria de interesse dos serviços policiais civis;
estabelecendo permanente canal de comunicação XV - planejar, estabelecer e priorizar as necessidades
com os representantes sindicais eleitos e associa- logísticas e de pessoal para a realização das ativida-
ções de classe; des de sua competência e subsidiar as atividades de
VI - coordenar e executar atividades de atendimen- suprimento de recursos pela Superintendência de Pla-
to e informação ao público e às autoridades. nejamento, Gestão e Finanças.
§ 1º A Academia de Polícia Civil manterá o Instituto
Da Academia de Polícia Civil de Criminologia como órgão de articulação científica
com outros centros de pesquisa e universidades inte-
A Academia de Polícia Civil tem, por finalidade, o ressados no estudo e pesquisa aplicados ao sistema
desenvolvimento profissional e técnico-científico dos de justiça criminal, com ênfase no processo da inves-
servidores da PCMG. O art. 36 trata das competências tigação criminal e no exercício da polícia judiciária.
da Academia, dentre as quais destacamos: § 2º Os servidores da PCMG poderão concorrer ao
credenciamento para o magistério policial.
Art. 36 A Academia de Polícia Civil tem por finali- § 3º Os coordenadores das áreas temáticas da matriz
dade o desenvolvimento profissional e técnico-cien- curricular da Academia de Polícia Civil, indicados
tífico dos servidores da PCMG, competindo-lhe: pelo seu diretor, terão seus nomes referendados pelo
I - realizar o recrutamento, a seleção, a forma- Chefe da PCMG.
ção técnico-profissional e o aperfeiçoamento § 4º O ensino, o treinamento, o recrutamento e a sele-
dos servidores da PCMG; ção de pessoal são privativos da Academia de Polícia
II - planejar e realizar treinamento, aperfei- Civil, que poderá decidir, atendidas as disposições
çoamento e especialização para servidores da legais, por sua terceirização, sob sua supervisão,
PCMG; vedado o exercício dessas atividades por qualquer
outro órgão ou unidade da PCMG.
A Academia de Polícia pode ser compreendida § 5º A Academia de Polícia Civil poderá credenciar
como o “instituto de ensino da Polícia Civil”, sendo órgãos ou entidades para a realização de exames
responsável não somente pela formação e seleção dos biomédicos e psicotécnicos, necessários à consecução
de concurso público, com observância das normas
agentes policiais, mas também por aperfeiçoá-los e
legais pertinentes.
capacitá-los a realizar atividades que requerem alta
especialização.
Do Departamento de Trânsito de Minas Gerais
III - realizar o acompanhamento educacional e
assegurar o aprimoramento continuado de ser- O Departamento de Trânsito de Minas Gerais
vidores da PCMG, aperfeiçoar a doutrina, a nor- (Detran-MG) é outro órgão de administração, previs-
malização e os protocolos de atuação profissional; to no art. 37. Ele tem por finalidade dirigir atividades
IV - executar pesquisas técnico-científicas sobre e serviços relativos ao registro e ao licenciamento de
métodos de investigação criminal para funda- veículo automotor e à habilitação de condutor, nos
72 mentar a edição de normas; termos do Código de Trânsito Brasileiro.
Art. 37 O Departamento de Trânsito de Minas Todos os dados referentes ao trânsito de veículos,
Gerais - Detran-MG -, órgão executivo de trânsito às infrações cometidas e aos registros dos condutores
do Estado, tem por finalidade dirigir as atividades mediante a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) são
e serviços relativos ao registro e ao licenciamento armazenados nos bancos de dados do próprio Detran.
de veículo automotor e à habilitação de condu- A consulta desses dados é aberta para o público, uma
tor, nos termos do Código de Trânsito Brasileiro, vez que tais informações estão dispostas, também, em
competindo-lhe: página de internet.
I - cumprir e fazer cumprir a legislação e as normas A recusa do Detran de disponibilizar os dados relati-
de trânsito, no âmbito das respectivas atribuições; vos a um condutor, quando solicitados, é uma violação
II - planejar, executar, coordenar, normatizar, gravíssima do direito de acesso à informação conferi-
orientar, controlar, fiscalizar e avaliar as ações e do a todos os cidadãos, sendo passível de interpor uma
atividades pertinentes ao serviço público de trânsi- ação constitucional denominada habeas data.
to que envolvam:
a) a formação e a habilitação de condutor de veícu- XII - articular-se com os órgãos do Sistema Nacio-
lo automotor; nal de Trânsito para o cumprimento das normas de
b) a infração e o controle relacionados ao condutor trânsito no Estado;
de veículo automotor; XIII - disponibilizar suporte técnico e logístico às
c) a vistoria, o registro, o emplacamento, o controle Juntas Administrativas de Recursos de Infrações
e o licenciamento de veículo automotor; - Jaris;
d) a remoção e guarda de veículo automotor XIV - planejar, estabelecer e priorizar as necessi-
dades logísticas e de pessoal para a realização das
apreendido em razão de infração de trânsito ou por
atividades de sua competência e subsidiar as ativi-
constituir objeto de crime;
dades de suprimento de recursos pela Superinten-
e) o leilão de veículos apreendidos; dência de Planejamento, Gestão e Finanças;
f) a avaliação psicológica e o exame de aptidão físi- XV - promover e orientar a realização de cursos,
ca e mental para habilitação de condutor de veículo ações e projetos educativos de trânsito, sob respon-
automotor; sabilidade de unidade específica a ser identificada
g) o funcionamento de clínicas médico-psicológicas em decreto.
e de centros de formação de condutores;
III - credenciar órgãos, entidades, instituições e Ao Detran compete, também, promover cursos ou
agentes para a execução de atividades previstas na qualquer outro tipo de atividade educacional para
legislação de trânsito, com observância das nor- lecionar aos condutores as normas de trânsito. As ati-
mas pertinentes; vidades educativas, quando feitas de maneira correta,
IV - vistoriar e inspecionar quanto às condições de incentivam a pessoas a não causarem acidentes ou
segurança veicular, registrar, emplacar, selar a pla- não cometerem infrações de trânsito enquanto diri-
ca e licenciar veículos, expedindo os corresponden- gem seus veículos.
tes certificados;
§ 1º Integram a estrutura do Detran-MG as Circuns-
As atividades referentes ao trânsito do Estado de crições Regionais de Trânsito - Ciretrans -, subordina-
Minas Gerais nem sempre são de caráter sancionató- das às Delegacias Regionais de Polícia Civil.
rio. O Detran é competente não apenas para aplicar § 2º Poderão ser delegadas diretamente ao Detran-
multa, mas também para tratar dessas atividades -MG, nos termos do regulamento, competências da
acessórias, como o registro de veículos e o emplaca- Superintendência de Planejamento, Gestão e Finan-
mento dos mesmos. ças, necessárias ao exercício de suas atividades
operacionais.
V - realizar, fiscalizar e controlar o processo de for-
mação, aperfeiçoamento, reciclagem e suspensão Da Superintendência de Investigação e Polícia
de condutores, expedir e cassar a Licença de Apren- Judiciária
dizagem, a Permissão para Dirigir e a Carteira
Nacional de Habilitação; Após o Detran, a Lei Orgânica apresenta-nos as
VI - estabelecer, em conjunto com os demais órgãos superintendências, cada uma com suas respectivas atri-
de trânsito, diretrizes para o policiamento ostensi- buições e competências. A primeira delas é a Superin-
vo de trânsito, bem como fiscalizar, autuar e apli- tendência de Investigação e Polícia Judiciária. É o órgão
car as medidas administrativas e penalidades de de administração encarregado de monitorar, coordenar,
competência do órgão conforme estabelece o Códi- supervisionar e fiscalizar todas as atividades de polícia
go de Trânsito Brasileiro; judiciária (fase de investigação do crime penal).
VII - coletar dados estatísticos e elaborar estudos Observe o texto do art. 38, que dispõe sobre as
sobre acidentes de trânsito e suas causas; competências dessa superintendência:
VIII - realizar investigação criminal e exercer a fun-
ção de polícia judiciária no âmbito de sua atuação; Art. 38 A Superintendência de Investigação e Polícia
IX - subsidiar o planejamento, a organização, a Judiciária tem por finalidade planejar, coordenar e
manutenção, o gerenciamento e a supervisão da supervisionar a execução de investigação criminal,
Escola Pública de Trânsito de Minas Gerais; bem como o exercício das funções de polícia judiciá-
LEI ORGÂNICA

X - gerenciar os bancos de dados sob sua respon- ria, competindo-lhe:


I - manter uniformidade de procedimentos no âmbi-
sabilidade e assegurar a disponibilidade de infor-
to das unidades da PCMG sob sua subordinação,
mações e de acesso a dados para suporte às ações
zelando pela eficiência das ações técnico-científicas
de caráter investigativo para a promoção da segu- da investigação criminal, no âmbito de sua atuação;
rança pública e da incolumidade das pessoas e do II - incumbir o Delegado de Polícia, ou outro policial
patrimônio; sob sua subordinação, da realização de diligências
XI - coordenar, no âmbito do Estado, os registros necessárias à apuração de infrações penais, por até
nacionais de condutores habilitados, de veículos, trinta dias, propondo ao Corregedor-Geral de Polícia
de infrações, de acidentes e estatísticas, de motores, Civil, quando for o caso, a ampliação de competência
dentre outros; funcional ou circunscricional; 73
III - decidir, sem prejuízo da competência do Corre- O inciso X, do art. 38, trata da tarefa de recolher em
gedor-Geral de Polícia Civil, sobre conflito de com- custódia os policiais civis submetido a procedimento
petência em matéria de investigação criminal e judicial ou contingenciamento por ordem legal, sen-
exercício da polícia judiciária, bem como a respeito do recolhidos para a Casa de Custódia da Polícia Civil.
do encaminhamento, a quem de direito, de inquéri- Esse é o lugar no qual os agentes policiais são “presos”
tos e procedimentos cuja instauração determinar; e mantidos encarcerados: eles não são mandados para
uma prisão comum como os demais criminosos.
Quando há um conflito de competência sobre a atua-
ção na investigação de um crime (por exemplo, se há algu- Da Superintendência de Informações e Inteligência
ma dúvida sobre se a investigação de um local do Estado Policial
de Minas Gerais cabe à Polícia Civil Estadual ou à Polícia
Federal), é a Superintendência de Investigação e Polícia A Superintendência de Informações e Inteligên-
Judiciária que deve emitir decisão sobre a matéria. cia Policial, como o próprio nome aduz, é o órgão
encarregado de coordenar as atividades de inteligên-
IV - inspecionar, periodicamente, unidades policiais cia policial. É esse o órgão responsável, por exemplo,
subordinadas, mandando lavrar termo em que se pela captação e transmissão de dados e informações
consignem anotações sobre irregularidades encon- relevantes para a PCMG, como o número de viatu-
tradas a serem comunicadas ao Corregedor-Geral de ras disponíveis para a jornada normal de trabalho, a
Polícia Civil; quantidade de detentos em um determinado sistema
V - remover Investigadores de Polícia e Escri-
carcerário do Estado, se houve a publicação de man-
vães de Polícia, a pedido ou por permuta, nos limi-
dado judicial (essencial para as investigações policiais
tes de determinado Departamento de Polícia Civil,
bem como propor ao Chefe da PCMG a remoção de
dentro do domicílio dos demais cidadãos) etc.
servidores entre Departamentos de Polícia Civil; De forma mais detalhada, temos o texto do art. 39,
VI - propor ao Chefe da PCMG a remoção de Dele- que dispõe sobre as principais competências da Supe-
gados de Polícia, nos termos desta Lei Complemen- rintendência de Informações e Inteligência Policial:
tar, bem como controlar a distribuição de servidores
em unidades da PCMG sob sua subordinação; Art. 39 A Superintendência de Informações e Inteli-
gência Policial tem por finalidade coordenar e exe-
Observe que o texto dos incisos V e VI são um pouco cutar as atividades de gestão de inteligência, por
meio da captação, análise e difusão de dados, infor-
distintos: a Superintendência de Investigação Judicial
mações e conhecimentos, competindo-lhe:
é competente para remover, de ofício ou a pedido, os I - organizar, dirigir, executar, orientar, supervisionar,
Investigadores e Escrivães de Polícia das investigações. normatizar e integrar as atividades de inteligência,
Contudo, ela não é competente para remover, ela mes- visando subsidiar a apuração de infrações penais, o
ma, os Delegados de Polícia das investigações. Essa é exercício das funções de polícia judiciária, a proteção
uma tarefa do Chefe da PCMG, sobre a qual a Superin- de pessoas e a preservação das instituições político-
tendência pode emitir apenas uma “proposição”. -jurídicas, em assuntos de segurança interna;
II - realizar as atividades de inteligência e contra
VII - orientar, acompanhar e supervisionar ativida- inteligência;
des gerenciais executadas pelos titulares de Depar- III - assessorar, orientar e informar o Chefe da
tamentos de Polícia Civil, Delegacias Regionais de PCMG sobre assuntos de interesse institucional;
Polícia Civil, Divisões Especializadas, Delegacias de IV - dirigir as atividades de estatística, telecomuni-
Polícia Civil e Delegacias Especializadas, no âmbito cações e informática no âmbito da PCMG;
de sua competência; V - realizar a gestão de bancos de dados e sistemas
VIII - planejar, estabelecer e priorizar as necessida- automatizados em operação na PCMG;
des logísticas e de pessoal para a realização das ati- VI - articular-se com unidades de inteligência de
vidades de polícia judiciária e investigação criminal outras instituições públicas;
e subsidiar as atividades de suprimento de recursos VII - disponibilizar para os Delegados de Polícia
pela Superintendência de Planejamento, Gestão e informações que possam subsidiar investigações
Finanças; criminais;
IX - atuar em matérias relacionadas ao cumprimento VIII - ter acesso a dados oriundos do serviço de
de cartas precatórias, fornecer informações às unida- identificação civil e criminal, de registro de veícu-
des policiais de outros entes da Federação, apoiar o los e cadastro de condutores, para fins notariais e
cumprimento de solicitações de captura de pessoas de composição das informações relevantes para os
com ordem de prisão e oferecer suporte para a rea- atos de investigação criminal e de polícia judiciária;
lização de diligências promovidas por policiais de IX - planejar, estabelecer e priorizar as necessida-
outros entes da Federação, por meio da Polinter; des logísticas e de pessoal para a realização das
X - receber, recolher e custodiar o policial civil da atividades de sua competência e subsidiar as ativi-
ativa ou aposentado, mesmo aquele que tenha sido dades de suprimento de recursos pela Superinten-
demitido do cargo ou tenha cassada a aposentado- dência de Planejamento, Gestão e Finanças.
ria em virtude de condenação, submetido a procedi-
mento de natureza judicial ou contingenciamento É interessante o fato de que a Lei Orgânica procura
de ordem legal, na Casa de Custódia da Polícia Civil. também definir o que são atividades de inteligência
policial em seu art. 40. Observe o texto legal:
Tais incisos apresentam pontos mais relacionados
Art. 40 Para os efeitos desta lei, considera-se gestão
ao exercício da polícia judiciária: a Superintendência de inteligência de segurança pública o conjunto de
de Investigação é a responsável pelo acompanhamen- atividades que objetivam identificar, acompanhar
to de toda a fase investigatória do crime penal, sendo e avaliar ameaças reais ou potenciais à segurança
responsável, por exemplo, por designar o tipo de perí- pública e produzir informações e conhecimentos
cia a ser realizada no local do crime, e também por que subsidiem ações para prevenir, neutralizar,
acompanhar os mandados de prisão temporária e pri- coibir e reprimir infrações de qualquer natureza,
74 são preventiva dos agentes supostos autores do crime. exceto as militares.
Parágrafo único. Estão compreendidos na gestão VII - manter intercâmbio com órgãos e insti-
de inteligência de segurança pública os seguintes tuições relacionadas às áreas técnico-científicas
aspectos policiais, dentre outros: correspondentes;
I - ocorrência criminal e seu desdobramento na VIII - divulgar estudos e trabalhos científicos
esfera de competência da PCMG; relativos a exames periciais;
II - registro dos atos de investigação criminal, des-
de a notícia sobre infração penal até o encerramen- Estabelecido os principais pontos do art. 41, veja-
to da respectiva apuração e sua formalização em mos o restante dos dispositivos:
procedimento legal;
III - análise sobre cenário criminal e sobre a atua- IX - propor a elaboração de convênios com órgãos e
ção policial civil; instituições congêneres;
IV - coleta de dados para subsidiar plano, progra- X - planejar, estabelecer e priorizar as necessida-
ma, projeto e ação governamental; des logísticas e de pessoal para a realização das
V - elaboração da estatística criminal e sua análise atividades de perícia técnica e de medicina legal e
qualitativa. subsidiar as atividades de suprimento de recursos
pela Superintendência de Planejamento, Gestão e
Assim, são consideradas atividades de inteligên-
Finanças;
cia policial não apenas aquelas ligadas à atuação da XI - acompanhar e avaliar as atividades desenvol-
Polícia Civil na investigação criminal, como também vidas por Peritos Criminais e por Médicos-Legistas,
todos os dados utilizados para a execução de progra- bem como fiscalizar o cumprimento do regime do
mas, projetos e ações governamentais dos quais a trabalho policial civil e do regime disciplinar a que
Polícia Civil é parte imprescindível. estão sujeitos, no que for pertinente.
§ 1º A Superintendência de Polícia Técnico-Cientí-
Da Superintendência de Polícia Técnico-Científica fica será dirigida, alternadamente, por Médico-Le-
gista ou Perito Criminal que esteja em atividade e
Art. 41 A Superintendência de Polícia Técnico- no último nível da carreira, exigidos, no mínimo,
-Científica, órgão de caráter permanente, é unidade quinze anos de efetivo exercício.
administrativa, técnica e de pesquisa que tem por § 2º Os Peritos Criminais e os Médicos-Legistas
finalidade coordenar e articular ações para a reali- lotados nas Seções Técnicas Regionais de Crimina-
zação de exames periciais criminais e médico-legais, lística, nos Postos de Perícia Integrada e nos Postos
promover estudos e pesquisas inerentes à produção Médico-Legais estão subordinados, administrativa-
de provas objetivas para o suporte às atividades de mente, à Superintendência de Polícia Técnico-Cien-
investigação criminal, ao exercício da polícia judi- tífica, cabendo a esta, ainda:
ciária e ao processo judicial criminal [...]. I - o suporte consistente no provimento dos recur-
sos logísticos;
O mesmo art. 41 apresenta as competências da II - a avaliação de desempenho operacional de Peri-
Superintendência Técnico-Científica, dentre as quais tos Criminais e de Médicos-Legistas, em conjunto
destacamos: com os coordenadores das Seções Técnicas Regio-
nais de Criminalística;
Art. 41 [...] III - a avaliação de desempenho no cumprimento de
I - gerir, planejar, coordenar, orientar, administrar normas técnicas pertinentes ao exercício das fun-
o funcionamento, dirigir, supervisionar, controlar e ções periciais;
avaliar a gestão e a execução do serviço de perícia IV - o acompanhamento das atividades desenvolvi-
oficial de natureza criminal no Estado; das por Peritos Criminais e por Médicos-Legistas;
II - estabelecer técnicas e métodos relativos à V - a fiscalização a respeito do cumprimento do
perícia técnica e à medicina legal para maior efi- regime de trabalho a que estão sujeitos os Peritos
ciência, eficácia e efetividade dos exames periciais; Criminais e os Médicos-Legistas.
§ 3º A atribuição prevista no inciso V do § 2º será
As atividades de perícia são muito importantes exercida em conjunto com a chefia de Departamento.
para a Polícia Civil, pois com ela as autoridades podem § 4º A perícia oficial criminal é constituída pelas
determinar diversos aspectos importantes durante a carreiras de Médico-Legista e de Perito Criminal,
execução do crime. Por exemplo: a depender da for- com formação superior específica, detalhada em
ma como a bala perfura o corpo da vítima, pode-se regulamento.
§ 5º O Instituto de Criminalística tem por finalidade
identificar se foi uma tentativa de homicídio (alguém
dirigir, gerir, planejar, orientar, coordenar, avaliar,
deu um tiro na vítima) ou de suicídio (a própria vítima
controlar, fiscalizar e executar as atividades de
se deu um tiro); o sangue que escorre de uma parede
perícia criminal e assessorar o Superintendente de
pode determinar se a vítima foi golpeada com uma Polícia Técnico-Científica em assuntos pertinentes
lâmina ou com um objeto achatado etc. à criminalística.
§ 6º O Instituto Médico-Legal tem por finalidade diri-
III - promover a articulação entre o Instituto gir, gerir, planejar, orientar, coordenar, avaliar, con-
LEI ORGÂNICA

de Criminalística e o Instituto Médico-Legal, trolar, fiscalizar e executar as atividades pertinentes


bem como entre os demais órgãos da polícia téc- às áreas da medicina legal e da odontologia legal,
nico-científica, no âmbito nacional e internacional; bem como assessorar o Superintendente de Polícia
VI - assegurar a autonomia técnica, científica Técnico-Científica nos assuntos correspondentes.
e funcional no exercício da atividade pericial; § 7º A direção do Instituto Médico-Legal e do Institu-
to de Criminalística será exercida, respectivamente,
A ideia geral é a de que o trabalho de perícia téc- por Médico-Legista e por Perito Criminal que este-
nico-científica não pode ser influenciado por questões jam em efetivo exercício e no último nível da car-
econômicas ou políticas, devendo manter o nível de reira, por proposta do Superintendente de Polícia
imparcialidade sempre que possível. Técnico-Cientifica ao Chefe da PCMG. 75
§ 8º A chefia dos Postos de Perícia Integrada será Com a contabilização e destinação dos recursos
exercida por um Perito Criminal ou Médico-Legista, para manutenção da PCMG;
a chefia das Seções Técnicas Regionais de Crimina- VIII - prover a atualização, a manutenção e o abas-
lística, por um Perito Criminal e a chefia dos Postos tecimento da frota de veículos da PCMG.
Médico-Legais, por um Médico-Legista, por propos- IX - gerenciar a elaboração e celebração dos ter-
ta do Superintendente de Polícia Técnico-Científica mos de doação, convênio, contrato e instrumento
ao Chefe da PCMG. congênere.
Art. 42 À Superintendência de Polícia Técnico-Cien-
tífica será destinada parcela do orçamento total da DO ESTATUTO DOS POLICIAIS CIVIS
PCMG compatível e adequada para custear e inves-
tir na perícia oficial criminal, sem prejuízo de even- Uma vez vista a estrutura organizacional da Polí-
tuais recursos oriundos de outras fontes. cia Civil, bem como as competências de seus princi-
Art. 43 No exercício da atividade de perícia oficial pais órgãos, vamos adentrar no tema do Estatuto dos
criminal, é assegurada autonomia técnica, científica Policiais Civis de Minas Gerais. Como já foi explicado
e funcional ao Perito Criminal e ao Médico-Legista, em momento anterior, o agente policial civil é um tipo
cabendo-lhe a realização de perícias relacionadas à especial de servidor público, e as regras quanto ao seu
investigação criminal de competência da PCMG, no regime jurídico estão previstas na referida Lei Orgâni-
âmbito de inquéritos policiais, termos circunstancia- ca e não na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
dos de ocorrência, processos, sindicâncias e demais Assim, sobre a matéria dos direitos e vantagens,
procedimentos administrativos, ficando vinculado a Lei Orgânica apresenta alguns contornos especiais
operacionalmente ao Delegado responsável pela que é muito importante conhecer. “Direitos e vanta-
investigação criminal, na forma do Código de Pro- gens” podem ser definidos como todo e qualquer tipo
cesso Penal. de benefício que dá ao agente policial um bônus por
ter exercido bem as suas funções. Essas vantagens
Da Superintendência de Planejamento, Gestão e podem ser de natureza pecuniária, incidindo sobre
Finanças o quanto ele ganha a título de remuneração, ou não
pecuniária.
Prevista no art. 44, tem por finalidade coordenar e
executar o planejamento logístico, gerenciar o orçamen- Das Prerrogativas
to, a contabilidade e a administração financeira, gerir os
recursos materiais e a administração de pessoal. Sobre as vantagens de natureza não pecuniárias,
As suas competências estão previstas no mesmo a Lei Orgânica faz menção a diversos institutos. O pri-
dispositivo, dentre as quais destacamos: meiro deles diz respeito às prerrogativas.
Prerrogativa é qualquer situação de vantagem
Art. 44 [...] obtida pela natureza de um cargo ou de uma função.
I - elaborar a proposta orçamentária da PCMG e No caso dos servidores públicos, existem algumas
acompanhar sua execução financeira, bem como prerrogativas que são comuns para todo e qualquer
viabilizar a prestação de contas da PCMG; cargo público, e existem algumas prerrogativas que
são mais restritas, exclusivas apenas a alguns cargos.
É a Superintendência de Gestão, Planejamento e A primeira grande prerrogativa, comum a todos os
Finanças que realiza o balanço de ganhos e gastos da servidores públicos, diz respeito à estabilidade. O seu
PCMG, apresentando o seu orçamento para o Governo principal efeito é que, uma vez estável no cargo, o ser-
do Estado de Minas Gerais, para fins de fiscalização vidor público não pode ser demitido por meras razões
contábil e orçamentária. de conveniência ou oportunidade pela Administra-
ção. Ela não pode demitir o servidor estável “porque
II - coordenar, orientar e executar as atividades não quer mais” trabalhar com ele.
de administração e pagamento de pessoal, expedir A legislação federal (Lei nº 8.112, de 1990) prevê
certidões funcionais, realizar averbações e prepa- que, uma vez que o servidor seja habilitado em con-
rar atos de posse e de aposentadoria; curso público e empossado em cargo de provimento
III - controlar o cadastro de pessoal, a lotação e a efetivo (não se admite estabilidade para cargos em
vacância de cargos da PCMG; comissão), ele adquirirá estabilidade no serviço públi-
IV - admitir, organizar, orientar e supervisionar a co ao completar 2 (dois) anos de efetivo exercício.
prestação de serviços terceirizados de apoio admi- Nesse mesmo sentido, temos o texto do art. 187, da Lei
nistrativo para os órgãos e unidades da PCMG, Estadual nº 869, de 1952, que trata do Estatuto dos Ser-
consistentes nas atividades de conservação, lim- vidores Públicos Civis do Estado de Minas Gerais.
peza, segurança e vigilância patrimonial, trans- Interessante observar que a Constituição Federal,
portes, copeiragem, reprografia, abastecimento de de 1988, também prevê a prerrogativa de estabilida-
energia e água, manutenção de instalações e suas de em seu art. 41. Todavia, os requisitos são distin-
dependências; tos: para o Texto Constitucional, o servidor público só
adquire estabilidade após completar 3 (três) anos de
Os serviços terceirizados são aqueles que não são efetivo exercício.
característicos da Polícia Civil, não são as suas “ativi- Isso não significa que, uma vez o servidor sendo
dades-fim”. Citamos como exemplos os serviços de lim- estável no seu cargo, ele possa “fazer o que quiser”
peza, segurança, vigilância, copeiragem, entre outros. sem sofrer nenhuma punição. A estabilidade não lhe
dá “carta branca” para agir como bem entender. O
V - guardar e manter controle de bens apreendidos servidor, mesmo estável, ainda pode ser exonerado de
ou arrecadados que não se vinculem a inquérito seu cargo em virtude de sentença judicial ou decisão
policial ou termo circunstanciado de ocorrência em processo administrativo em que se lhe tenha sido
e realizar os respectivos leilões, inclusive de bens assegurada ampla defesa. Essas são, porém, as únicas
76 inservíveis para a PCMG, nas hipóteses legais, hipóteses aceitas de sua exoneração.
O Texto Constitucional vai um pouco mais além: ele XII - exercer as funções em instalações que ofere-
prevê, ao todo, quatro modalidades de demissão de ser- çam condições adequadas de segurança, higiene e
vidor estável. São elas: saúde.
Parágrafo único. A carteira de identidade funcional
z Por sentença judicial transitada em julgado: For- do policial civil consignará as prerrogativas cons-
ma mais demorada para se demitir um servidor, tantes nos incisos III a V do caput.
considerando todo o aspecto burocrático existente
As prerrogativas mais importantes do referido
no processo judicial. O trânsito em julgado da sen-
artigo são aquelas previstas nos incisos III e VI. O por-
tença somente ocorre quando esgotados todos os
te de arma livre em todo o território nacional é uma
recursos cabíveis;
prerrogativa que tem forte relação com o próprio
z Mediante processo administrativo em que lhe
exercício da atividade policial, cujos principais obje-
seja assegurada ampla defesa. As regras referentes
tivos são a proteção de pessoas e bens públicos. A pro-
ao Processo Administrativo Disciplinar (ou PAD)
teção das pessoas pode levar a diversas situações que
serão vistas mais adiante;
põem em risco a vida do policial.
z Mediante procedimento de avaliação periódica
O inciso VI trata da prerrogativa do exercício do
de desempenho, na forma de lei complementar,
poder de polícia, que é o poder conferido às autorida-
assegurada ampla defesa: Quem não for aprovado
des públicas para limitar e restringir a liberdade indi-
na avaliação periódica de desempenho pode ser
vidual de certas pessoas, ou até mesmo o seu direito
exonerado de seu cargo público, independentemen-
de propriedade, em prol de um bem maior denomina-
te de ter completado o período de efetivo exercício;
do interesse público.
z Por excesso de gasto com pessoal: As hipóteses
anteriores estão previstas nos incisos do art. 41.
Todavia, essa última hipótese encontra-se dispos- Importante!
ta no inciso II, § 3º, do art. 169, da CF, de 1988. Sob
o aspecto orçamentário e financeiro, não pode a O tema da busca e apreensão em propriedade
Administração Pública realizar gastos superiores particular é também tratado pela Constituição
àqueles previstos em seu orçamento anual. Com Federal, de 1988, que estabelece alguns limites
isso, havendo a necessidade, é possível, sim, que um quanto ao exercício do poder de polícia. Segun-
servidor estável seja exonerado de seu cargo ape- do o texto do inciso XI, art. 5º, da CF, de 1998,
nas por motivos de “balancear” as contas públicas. a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém
nela podendo penetrar sem consentimento do
Além da estabilidade, ao servidor policial são tam- morador, salvo em caso de flagrante delito ou
bém concedidas algumas prerrogativas especiais, todas desastre, ou para prestar socorro, ou, durante
elas previstas nos incisos do art. 45, in verbis: o dia, por determinação judicial. Com isso, fica
bastante claro que o agente policial não pode,
Art. 45 O policial civil goza das seguintes prerrogativas:
I - desempenhar funções correspondentes à condição
por exemplo, realizar busca e apreensão na casa
hierárquica; de particular durante o período noturno, ou sem
II - usar privativamente distintivo e documento de iden- um mandado judicial correspondente.
tidade funcional, válido em todo território nacional;
III - ter porte livre de arma, em todo o território nacio-
nal, nos termos de legislação específica; Outra prerrogativa importante é aquela prevista
IV - ter livre acesso a locais públicos ou particulares no art. 47. O dispositivo apresenta hipóteses em que
sujeitos a intervenção policial, no exercício de suas o policial civil é condenado mediante processo admi-
atribuições, observada a legislação vigente; nistrativo disciplinar, sendo afastado de seu cargo.
V - ter prioridade em qualquer serviço de transporte e Vejamos:
comunicação, público e privado, quando em serviço de
caráter urgente; Art. 47 O policial civil será afastado do exercício
VI - exercer poder de polícia, inclusive a realização de das funções, até decisão final transitada em julgado,
busca pessoal e veicular, no caso de fundadas suspeitas quando for preso provisoriamente pela prática de
de prática criminosa ou para fins de cumprimento de infração penal, sem prejuízo de sua remuneração.
mandado judicial; § 1º O policial civil em liberdade provisória retorna-
VII - convocar pessoas para testemunhar diligência rá ao exercício das funções.
policial; § 2º No caso de condenação que não implique
VIII - ter aposentadoria especial, nos termos da lei; demissão, o policial civil:
IX - requisitar, em caso de iminente perigo públi- I - será afastado a partir da decisão de mérito tran-
co, bens ou serviços, públicos ou particulares, em sitada em julgado até o cumprimento total da pena
caráter excepcional, quando inviável outro proce- privativa da liberdade, com direito apenas a um
dimento, assegurada indenização ao proprietário, terço de sua remuneração; ou
LEI ORGÂNICA

em caso de dano; II - perceberá a remuneração integral atribuída ao


X - ser recolhido em prisão especial, à disposição cargo, quando permitido o exercício da função pela
da autoridade competente, quando sujeito a prisão natureza da pena aplicada ou por decisão judicial.
antes e após a condenação definitiva, conforme dis- § 3º É vedado reter ou descontar vencimentos ou
posto no Código de Processo Penal e nos termos da proventos do policial civil em decorrência de pro-
Lei federal nº 5.350, de 6 de novembro de 1967; cesso ou sindicância administrativa enquanto hou-
XI - receber, no ato de sua primeira designação, ver a possibilidade de recurso administrativo da
munições e colete balístico dentro do prazo de decisão.
validade, arma de fogo, algemas e distintivo oficial § 4º O afastamento a que se refere o caput compete
individualizado; ao Chefe da PCMG. 77
No caso de condenação que não implique demis- VI - ter acesso à reabilitação e a mecanismos de rea-
são, o policial civil será afastado a partir da decisão de daptação na hipótese de traumas, deficiências ou doen-
mérito transitada em julgado até o cumprimento total ças ocupacionais em decorrência da atividade policial;
da pena privativa da liberdade, com direito apenas a VII - ter respeitado seus direitos e garantias fundamen-
um terço de sua remuneração. Caso o agente policial tais, tanto no cotidiano como em atividades de forma-
possa continuar exercendo suas atribuições, devido à ção ou de treinamento;
natureza da infração disciplinar aplicada, ele poderá VIII - ser recolhido somente em unidade prisional pró-
perceber a remuneração integral atribuída ao cargo. pria e especial ou em sala especial da unidade em que
sirva, sob a responsabilidade do seu dirigente, quando
Quanto ao Delegado de Polícia, basta que tenha-
preso em flagrante delito ou por força de decisão judi-
mos ciência da íntegra do art. 46. Vejamos:
cial, sendo-lhe defeso exercer atividade funcional ou
Art. 46 O Delegado de Polícia, no exercício de sua sair da repartição sem expressa autorização do juízo
função, tem ainda as seguintes prerrogativas: a cuja disposição se encontre;
I - expedir notificações, mandados policiais e outros IX - ter a garantia de que todos os atos decisórios
atos necessários ao fiel desempenho de suas atri- de superiores hierárquicos que disponham sobre
buições; punições, lotação e remoção sejam motivados e
II - ser preso somente por ordem judicial escrita, fundamentados;
salvo em flagrante de crime inafiançável, caso em X - receber equipamentos de proteção individual e mobi-
que a autoridade fará, no prazo máximo de vinte e liários adequados ao tipo de trabalho desenvolvido;
quatro horas, a comunicação e a apresentação do XI - ter assistência médico-hospitalar na instituição a
Delegado de Polícia ao Chefe da PCMG; que se refere o inciso VII do § 1º do art. 17, na forma
III - requisitar, diretamente, de entidades públicas de regulamento.
ou privadas, informações, dados cadastrais, obje-
tos, papéis, documentos, exames e perícias neces- Uma vantagem que não está prevista nesse dispo-
sários à instrução de inquérito policial e demais sitivo, mas que merece nossa atenção, diz respeito ao
procedimentos legais, determinando o prazo para direito de greve. É um assunto que não costuma cair
sua apresentação, observadas as disposições legais com muita frequência, mas é importante o candida-
pertinentes. to saber, pois a matéria possui um contorno especial
§ 1º O Delegado de Polícia goza de autonomia e para os agentes da Polícia Civil.
independência no exercício das funções de seu Em relação aos servidores públicos no geral, a
cargo. regra é que eles podem, sim, exercer direito de greve
§ 2º As funções de polícia judiciária e a apuração de e fazer as suas reivindicações, tal qual ocorre com os
infrações penais exercidas pelo Delegado de Polícia empregados da esfera privada: mediante a paralisa-
são de natureza jurídica, essenciais e exclusivas de ção do serviço, com passeatas, discursos etc.
Estado. A Constituição Federal dispõe que é assegurado
§ 3º O cargo de Delegado de Polícia é privativo de
direito de greve aos servidores públicos, “nos termos
bacharel em direito, devendo-lhe ser dispensado
de lei específica”. Supostamente, o Legislativo deveria
o mesmo tratamento protocolar dado aos magis-
trados, aos membros da Defensoria Pública e do
ter elaborado uma lei especial que tratasse do direi-
Ministério Público e aos advogados, nos termos da to de greve dos servidores públicos. Ocorre que essa
legislação específica. legislação nunca chegou a ser feita.
O STF declarou mora legislativa abusiva e, sob o
Dos Direitos fundamento da aplicação de instituto análogo para
preencher a “lacuna da Lei”, concedeu aos servidores
Dos Direitos dos Policiais Civis o direito de exercer greve imediatamente pela aplica-
ção da Lei de Greve do setor privado, que é a Lei Fede-
Os agentes policiais possuem outras diversas van- ral nº 7.783, de 1989.
tagens, que não são apenas as prerrogativas. O art. Contudo, esse direito de greve é vedado para algu-
48 apresenta alguns direitos, de forma bem ampla e mas classes especiais de agentes públicos. É o caso,
geral. Esses direitos não se confundem com as prer- por exemplo, dos membros das Forças Armadas e dos
rogativas, porque as prerrogativas são aquelas decor- agentes militares inseridos na Polícia Militar e no Cor-
rentes da natureza do cargo policial, enquanto os po de Bombeiros Militar. São vedações previstas na
direitos são mais amplos, não possuindo uma relação própria Constituição Federal (inciso IV, § 3º, art. 142).
intrínseca com a função policial. Entende-se que tais pessoas exercem um papel mui-
Os direitos são os seguintes: to importante dentro do Estado, que é a promoção da
segurança pública, e, por isso, o seu serviço não pode
Art. 48 São direitos do policial civil os expressos na
sofrer paralisações.
Constituição da República, nesta Lei complementar
e ainda: E quanto aos policiais civis? Não há nenhum dis-
I - ter respeitado o regime do trabalho policial civil; positivo sobre o instituto na Lei Orgânica. Entretan-
II - receber instrução e treinamento frequentes a res- to, existem julgados que estendem a vedação imposta
peito do uso dos equipamentos de proteção individual; para os agentes militares também aos membros da
III - ter assegurados os direitos da policial civil femini- Polícia Civil, ante o fato de ambos exercerem a pro-
na, relativamente à gestação, amamentação e às exi- teção da segurança pública dentro do Estado (STF,
gências de cuidado com filhos menores, nos termos de Pleno, AgR no MI nº 774, rel. Min. Gilmar Mendes, j.
regulamento; 28.05.2014).
IV - ter acesso a serviços de saúde permanentes e de
boa qualidade; Dica
V - ter acompanhamento e tratamento especializado
em caso de lesões ou quando acometido de alto nível Quem pode entrar em greve: Servidores Públicos
78 de estresse; no geral e empregados públicos;
Quem não pode entrar em greve: Membros das XII - indenização securitária para policial civil que
Forças Armadas, agentes militares da Polícia Mili- for vítima de acidente em serviço que ocasione apo-
tar e do Corpo de Bombeiros Militares e, segundo sentadoria por invalidez ou morte, no valor de vinte
vezes o valor da remuneração mensal percebida na
alguns julgados, membros da Polícia Civil. data do acidente, até o limite de 9.993,6041 Ufemgs
(nove mil novecentos e noventa e três vírgula seis
Das Indenizações e das Gratificações mil e quarenta e uma Unidades Fiscais do Estado
de Minas Gerais);
Vamos abordar, agora, as vantagens pecuniárias XIII - percepção do valor referente à diferença de
que integram e influenciam o quanto o policial civil vencimento entre o seu cargo e aquele para o qual
ganha. A Lei Orgânica apresenta, de forma conjunta, vier a ser designado para fins de substituição, nos
alguns bônus a título de indenizações e gratificações. termos de decreto;
XIV - auxílio-natalidade, devido pelo nascimento
Acerca das indenizações, o art. 49 dispõe:
de filho ou adoção, no valor da remuneração per-
Art. 49 Aos integrantes das carreiras da PCMG cebida pelo servidor na ocasião do nascimento ou
serão atribuídas verbas indenizatórias e de gratifi- da adoção, a ser paga à vista de certidão, admitida
cação, observados os respectivos critérios e requi- uma única percepção no caso de pai e mãe serem
dos quadros da PCMG.
sitos, em especial:
I - ajuda de custo, em caso de remoção ex officio DA REMOÇÃO
ou designação para serviço ou estudo que importe
em alteração do domicílio, no valor de um mês de
O art. 52 trata da remoção, que é o deslocamen-
vencimento do servidor;
to do policial civil, de um município para outro, com
II - diárias, nos termos de decreto; e
prévia publicação de edital, observada a existência de
III - transporte pessoal e de dependentes, em caso
vaga no quadro de distribuição de pessoal da PCMG.
de remoção ex officio, compreendidos o cônjuge ou
Suponha que um agente policial se case, mas que
companheiro, os filhos e os enteados. [...]
seu cônjuge exerça cargo público em outro Municí-
A ajuda de custo é a vantagem concedida ao fun- pio. Assim, como forma de acompanhar o cônjuge e
cionário que for designado, de ofício, para ter exercício continuar exercendo suas atribuições, pode o agente
requerer a sua remoção, para exercer um cargo de
em nova sede, mesmo fora do Estado, destinando-se a
Polícia Civil, com atribuições similares ao anterior,
compensar o servidor pelas despesas realizadas com
mas em outro local. Esse é um claro caso de remoção
seu transporte e de sua família, compreendendo pas-
a pedido do policial, mas é importante frisar que a
sagem, bagagem e bens pessoais.
remoção também pode se dar quando a Polícia Civil
As diárias são concedidas ao policial que, em mis- entender ser conveniente para a mesma, caso em que
são oficial ou de estudos, afastar-se temporariamente da será feita ex officio.
sede em que seja lotado, a título de indenização das des- A remoção pode ocorrer, também, por permuta,
pesas de alimentação, hospedagem e locomoção urbana. que será processada a pedido escrito de ambos os
Transporte, por sua vez, é a indenização devida interessados. Pode ocorrer, por exemplo, uma “troca
ao policial que se deslocar da sede funcional em obje- de policiais” para trabalharem um no local do outro.
to de serviço, e compreende as hipóteses de remoção Vejamos:
ex officio para exercer função em outro local.
Os incisos IV e seguintes tratam de gratificações e Art. 52. O policial civil só poderá ser removido de
adicionais que incidem sobre a remuneração do agen- um município para outro, com prévia publicação
de edital, observada a existência de vaga no qua-
te policial:
dro de distribuição de pessoal da PCMG e, ainda,
IV - gratificação por encargo de curso ou concurso, excepcionalmente:
por hora-aula proferida em cursos, inclusive para I - a pedido ou por permuta;
II - para acompanhamento de cônjuge ou compa-
atuação em bancas examinadoras, em processo de
nheiro com declaração de união estável, se servidor
habilitação, controle e reabilitação de condutor de
público, em caso de remoção ex officio;
veículo automotor, de competência da Academia
III - por motivo de saúde do policial civil, filhos,
de Polícia Civil ou do Detran-MG, nos termos de cônjuges, companheiros, pais ou irmãos com
decreto; comprovada dependência financeira, e atestada a
V - auxílio-funeral, mediante a comprovação da necessidade clínica e nos termos de regulamento;
execução de despesas com o sepultamento de servi- IV - ex officio, no interesse do serviço policial, com-
dor, no valor de até um mês de vencimento ou pro- provada a necessidade, mediante ato motivado e
vento percebido na data do óbito; fundamentado;
VI - translado ou remoção quando ferido, acidenta- V - por conveniência da disciplina.
do ou falecido em serviço;
VII - adicional de desempenho, nos termos da legis- As hipóteses de remoção ex officio podem ser: para
acompanhamento de cônjuge ou companheiro com
LEI ORGÂNICA

lação em vigor;
VIII - prêmio de produtividade, nos termos da legis- declaração de união estável, se servidor público, ou,
lação específica; ainda, no interesse do serviço policial, comprovada a
IX - décimo terceiro salário, correspondente a um necessidade, mediante ato motivado e fundamentado
doze avos da remuneração a que fizer jus no mês de (incisos II e IV, art. 52).
dezembro por mês de exercício no respectivo ano; A remoção também pode se dar por motivo de
X - adicional de férias regulamentares correspon- saúde do policial civil, de seus filhos, cônjuge, compa-
dente a um terço da remuneração do servidor; nheiro, pais ou irmãos com comprovada dependência
XI - gratificação por risco de contágio, com a ampli- financeira, com a devida comprovação de necessida-
tude e condições estabelecidas em lei específica; de clínica em atestado médico (inciso III, art. 52). 79
Ademais, veja os outros dispositivos que tratam da II - pelo dever de imediata atuação, sempre que
remoção: presenciar a prática de infração penal, independen-
temente da carga horária semanal de trabalho, do
Art. 53 A remoção ou transferência de lotação de repouso semanal e férias, respeitadas as normas téc-
Delegado de Polícia por conveniência da discipli- nicas de segurança;
na somente ocorrerá após a abertura da sindicân- III - pela realização de diligências policiais em qual-
cia ou processo administrativo que observarão a quer região do Estado ou fora dele.
ampla defesa, cabendo seu processamento à Corre- § 1º Na hipótese do inciso II do caput, diante da
gedoria-Geral de Polícia Civil, e depois de aprova- impossibilidade de atuação decorrente de condições
da a proposta de remoção por maioria simples dos adversas, por exposição a risco desproporcional à
membros do Órgão Especial do Conselho Superior incolumidade do policial civil ou de terceiros, deverá
da PCMG, observado o interesse da administração. aquele acionar apoio para o atendimento do evento.
Art. 54 É assegurado ao policial civil, quando com-
provar não ter sido o autor da infração disciplinar, Os incisos do caput do art. 58 apresentam as três
o direito de revisão do ato de remoção ou transfe- principais características do regime de trabalho policial
rência, com a consequente percepção dos auxílios civil. O inciso I dispõe sobre a prestação de serviços
correspondentes, nos termos desta Lei Complemen- em condições adversas de segurança. É o caso, por
tar, caso requeira, formalmente, a lotação na uni- exemplo, do policial civil que é chamado para negociar
dade de origem. e impedir o sequestro de civis dentro de um estabele-
Art. 55 A remoção de Delegado de Polícia, ex officio, cimento. A possibilidade de haver negociações com os
no interesse do serviço policial, depende da existên- criminosos ou, ainda, uma “troca de tiros”, não é algo
cia de vaga no quadro de distribuição de pessoal da certo e determinado: a qualquer momento o policial
PCMG e somente ocorrerá depois de fundamenta- civil pode entrar em uma situação de risco.
das as razões e de aprovada a proposta de remoção O inciso II trata da imediata atuação. Mesmo que o
por maioria simples dos membros do Órgão Espe- policial não esteja em serviço, se ele presenciar a prá-
cial do Conselho Superior da PCMG. tica de infração penal (leia-se crime), ele deve agir de
Art. 56 A remoção ex officio de policial civil duran- modo a ajudar a vítima e deter o infrator. É o caso, por
te o gozo de férias regulamentares, férias-prêmio exemplo, do policial que está à paisana (não está em
ou licença para tratamento de saúde somente pro- serviço, não está utilizando o seu uniforme de policial
duzirá efeitos após o término do afastamento. civil) e acaba reagindo a um assalto, prendendo o cri-
§ 1º A licença para tratamento de saúde não impe- minoso ou até mesmo matando-o, se as circunstâncias
dirá a remoção ex officio, desde que já iniciado o
o levarem a essa última medida.
processo disciplinar.
O inciso III trata da realização de diligências poli-
§ 2º O policial civil poderá ser removido para a uni-
ciais em qualquer região do Estado de Minas Gerais
dade de recursos humanos da PCMG em casos de
ou fora dele. Mesmo que, por exemplo, o policial civil
licença, afastamento ou disponibilidade que invia-
esteja passando férias com a sua família em Fernando
bilizem o exercício pleno das atividades por perío-
do superior a cento e oitenta dias.
de Noronha (Pernambuco), ele deve estar alerta para a
Art. 57 A distribuição de policial civil no âmbito ocorrência de qualquer infração penal.
interno de atuação da unidade policial, no mesmo Como pode-se depreender da leitura dos incisos, o
município em que se encontra em exercício, pode ser regime de trabalho policial civil pode tornar-se bastan-
determinada pelo seu titular e não implica remo- te estressante para os seus agentes, motivo pelo qual o
ção, desde que formalizada por ato fundamentado. seu repouso e as suas férias devem ser concedidos sem-
pre que preenchidos os requisitos para sua aquisição.
Do Regime de Trabalho do Policial Civil
Art. 58 [...]
O regime do trabalho do policial civil é, com cer- § 2º A prestação de serviço em regime de plantão
teza, um dos mais perigosos do país. Considerando a implica:
sua atuação para não apenas investigar a ocorrência I - no efetivo exercício das funções do cargo ocupa-
de crimes, mas também a prevenção da ocorrência do pelo policial civil em atividades de competência
desses crimes, o policial civil é um dos raros profis- da PCMG;
sionais que está constantemente colocando em risco II - no prévio aviso a respeito da escala de plantão
que deve ser cumprida pelo policial civil;
a sua vida, bem como a vida de outras pessoas, como
III - no descanso, imediato e subsequente, pelo
terceiros civis que estão próximos, ou até mesmo a de
período mínimo de doze horas;
seus familiares. IV - no cumprimento de carga horária semanal de
Com isso, a Lei Orgânica procura caracterizar trabalho de quarenta horas;
o regime do trabalho policial civil em seu art. 58, V - compensação financeira ou em dias de folga,
detalhando o regime normal de trabalho e também nos termos de lei específica a ser encaminhada à
o regime de plantão. Observe o texto do dispositivo Assembleia Legislativa.
legal, primeiro: § 3º O período em trânsito para a realização de dili-
gências policiais em localidade diversa da lotação
Art. 58 Os ocupantes de cargos das carreiras poli- do policial civil, em qualquer região do Estado ou
ciais civis sujeitam-se ao regime do trabalho policial fora dele, considera-se como tempo efetivamente
civil, que se caracteriza: trabalhado.
I - pela prestação de serviço em condições adversas
de segurança, cumprimento de jornadas normais e O regime de plantão é caracterizado por uma jorna-
excepcionais, sujeito a plantões noturnos e a con- da de trabalho bastante extensa, respeitado o limite da
vocações a qualquer hora e dia, inclusive durante o carga de 40 horas por semana. O regime de plantão é
repouso semanal e férias, garantidas, em caso de se sempre elaborado em escalas, havendo o prévio aviso
exceder a carga horária prevista em lei, as compen- de cada escala para os distintos grupos de policiais que
80 sações devidas; devem exercer o referido regime.
Assim, pode o policial civil, por exemplo, trabalhar Art. 60 A licença para tratamento de saúde será
em um regime de segunda a terça-feira, por 30 horas concedida a pedido do policial civil ou ex officio,
sem intervalos entre a jornada de um dia e outro. sem prejuízo dos vencimentos e demais vantagens,
Imediatamente após o regime de plantão, ao policial sendo indispensável a avaliação médica.
civil é garantido um período de descanso de, no mínimo, Art. 61 O policial civil licenciado para tratamento
doze horas. de saúde não poderá dedicar-se a qualquer ativida-
de remunerada.
Se o policial civil tiver de trabalhar em dias de repou-
so ou feriados, a ele será assegurada uma compensação A licença para tratamento de saúde depende de ins-
financeira pela prestação de serviços na sua “folga”. peção por junta médica oficial, disciplinada pelo art. 62:
LICENÇAS, AFASTAMENTOS E DISPONIBILIDADES Art. 62 A licença para tratamento de saúde depende
de inspeção por junta médica oficial, até para o caso
Das Licenças de prorrogação.
§ 1º A licença concedida dentro do prazo de sessenta
As licenças estão dispostas no art. 59, da Lei Orgâ- dias do término da anterior é considerada prorrogação.
nica, sendo, ao todo, cinco. Vejamos: § 2º O policial civil que, no curso de doze meses imedia-
tamente anteriores ao requerimento de nova licença,
Art. 59 Conceder-se-á licença: houver se licenciado por período contínuo ou descon-
I - para tratamento de saúde; tínuo de três meses deverá submeter-se à verificação
II - por motivo de doença em pessoa da família; de invalidez.
III - por motivo de maternidade ou paternidade, guar- § 3º Declarada a incapacidade definitiva para o serviço,
da ou adoção, nos termos da lei; o policial civil será afastado de suas funções e aposen-
IV - por acidente em serviço; tado, ou, se considerado apto, reassumirá o exercício
V - para exercer mandato eletivo em diretoria de enti- das funções imediatamente ou ao término da licença.
dade sindical representativa de carreiras policiais
civis, constituída na forma da Constituição do Estado, Todavia, se o policial for acometido por doença
pelo período do mandato, sendo considerada como de grave, ele será compulsoriamente licenciado, com
efetivo exercício das funções e sem prejuízo da per- vencimento ou remuneração integral e demais vanta-
cepção da remuneração integral do cargo. gens. É isso o que dispõe o art. 63:

Antes de adentrar nas licenças especificamente, Art. 63 O policial civil acometido de doença
cumpre ressaltar que algumas bancas vêm abordan- grave definida em portaria ministerial ou legisla-
do as diferenças entre as licenças e os afastamentos. ção específica será compulsoriamente licencia-
Não existe um critério que seja totalmente infalível, do, com vencimento ou remuneração integral
mas, por ora, é importante memorizar que as licen- e demais vantagens.
ças são concedidas a interesse exclusivo do próprio Parágrafo único. Para verificação da doença refe-
servidor, ao contrário dos afastamentos em geral, que rida no caput, a inspeção médica será feita obriga-
são concedidos em interesse comum tanto do servidor toriamente por uma junta médica oficial, composta
de três membros.
como da própria Administração Pública. Além disso,
os prazos das licenças são, geralmente, mais curtos, de Observe que, no caso de o policial contrair doença
dias, semanas ou meses. Já as autorizações costumam grave, que o impossibilite de executar suas atividades
ter prazos mais longos, em anos. rotineiras, ele será licenciado independentemente da
Para compreender melhor a diferença entre licen- sua vontade (licença compulsória).
ças e afastamentos, segue uma tabela explicativa. Caso a doença (seja ela mais simples ou mais gra-
ve) torne o policial inválido, com a possibilidade ine-
LICENÇA AFASTAMENTO xistente de retorno ao serviço, ele será aposentado
compulsoriamente. Veja:
Finalidade de interes- Finalidade de interesse do
se exclusivo do agente agente e da Administração Art. 64 A licença será convertida em aposentado-
público Pública ria, antes do prazo estabelecido de dois anos inin-
terruptos, quando assim opinar a junta médica, por
Ex.: Doença de cônju- Ex.: Realização de espe- considerar definitiva para o serviço público a inva-
ge/membro da família; cialização; realização de lidez do policial civil.
exercer atividade políti- missão no exterior; servir a
ca; tratar de interesses outro órgão/entidade A licença por motivo de doença em pessoa da
particulares família será concedida, com vencimentos integrais,
pelo prazo máximo de 90 dias, sendo admitida a pror-
Possui prazos mais cur- Possui prazos mais longos rogação, sem remuneração, por até 120 dias. Vejamos
tos (dias, semanas) (meses, anos)
a íntegra do art. 65:
LEI ORGÂNICA

Art. 65 A licença por motivo de doença em pessoa


Agora que vimos essa importante distinção, pode-
da família, não renovável no período de doze meses
mos adentrar no assunto das licenças propriamente
após a sua concessão, será concedida, com venci-
ditas. Nos termos do art. 60, a licença para tratamen- mentos integrais, pelo prazo máximo de noventa
to de saúde será concedida a pedido do policial civil dias, sendo admitida a prorrogação, sem remune-
ou ex officio, sem prejuízo dos vencimentos e demais ração, por até cento e vinte dias.
vantagens, quando este contrair uma doença sim- § 1º A licença a que se refere o caput somente será
ples. Enquanto estiver licenciado, o policial civil não concedida se a assistência direta do policial civil
pode realizar qualquer outro serviço ou atividade for indispensável e não puder ser dada simultanea-
remunerada. mente com o exercício do cargo. 81
§ 2º O requerimento da licença por motivo de doen- O afastamento para frequentar cursos relaciona-
ça em pessoa da família deverá ser instruído com dos ao exercício das funções do cargo ocupado pelo
laudo expedido por junta médica oficial. policial civil poderá ser concedido pelo prazo máximo
§ 3º Considera-se, para o efeito deste artigo, como de 3 meses. O afastamento para participar de congres-
pessoa da família, pais, filhos, cônjuge ou compa- sos, seminários ou encontros relacionados ao exercí-
nheiro com declaração de união estável, para a cio da função, pelo prazo estabelecido no ato que o
qual seja indispensável a assistência pessoal do autorizar, será concedido pelo Chefe da PCMG, sem
policial civil e esta não possa ser prestada simulta- prejuízo da remuneração do policial civil. Vejamos:
neamente com o exercício de suas funções.
Art. 68 O Chefe da PCMG poderá conceder afasta-
Em se tratando por licença por acidente em servi- mento ao policial civil, sem prejuízo da remuneração:
ço, veja o que dispõe o art. 66: I - para frequentar cursos relacionados com o exer-
cício das funções do cargo ocupado pelo policial
Art. 66 Será concedida licença por acidente em civil, pelo prazo de três meses, prorrogável até o
máximo de três meses;
serviço, sem prejuízo dos vencimentos e vantagens
II - para participar de congressos, seminários ou
inerentes ao exercício do cargo, pelo prazo máximo
encontros relacionados com o exercício da função,
de dois anos, observado o seguinte:
pelo prazo estabelecido no ato que o autorizar § 1º
I - configura acidente em serviço o dano físico ou O afastamento a que se refere o inciso I do caput
mental que se relacione, mediata ou imediatamen- não será concedido ao policial civil em estágio pro-
te, com as funções exercidas; batório ou que esteja submetido a sindicância ou
II - equipara-se ao acidente em serviço o dano processo administrativo disciplinar.
decorrente de agressão sofrida no exercício fun- § 2º O afastamento previsto nos incisos I e II do
cional, bem como o dano sofrido em trânsito a ele caput obriga ao atendimento dos interesses insti-
pertinente; tucionais, à apresentação de relatório circunstan-
III - caso o acidentado em serviço necessite de ciado e certificados que comprovem as atividades
tratamento especializado comprovadamente não desenvolvidas.
disponível em instituição pública, poderá ter trata- § 3º O policial civil que não comprovar o aprovei-
mento em instituição privada à conta de recursos tamento da atividade desempenhada, na forma do
da PCMG, desde que recomendado por junta médi- § 2º, nos trinta dias subsequentes ao seu término,
ca oficial; perderá o direito de computar o tempo de afasta-
IV - a prova do acidente deverá ser feita no prazo de mento como tempo de serviço.
trinta dias contado de sua ocorrência, prorrogável § 4º O policial civil que tenha se afastado das fun-
ções para estudo, especialização ou aperfeiçoa-
quando as circunstâncias o exigirem, na forma de
mento, sem prejuízo da remuneração ou com ônus
regulamento.
para a PCMG, ficará obrigado a prestar serviços
Parágrafo único. Aplicam-se à licença por aciden-
pelo menos por mais três anos após o período do
te em serviço as disposições pertinentes à licença afastamento ou a ressarcir o Estado da importân-
para tratamento de saúde. cia despendida, inclusive com o custeio da viagem,
em conformidade com o disposto em regulamento.
Para a concessão de licença por acidente em ser- § 5º Na hipótese de afastamento para participar de
viço, deve o policial civil ter se acidentado em serviço. curso, congresso ou seminário no exterior ou para
A Lei Orgânica considera como acidente em serviço frequentar curso no País em prazo superior a seis
(inciso I, art. 66) o dano físico ou mental que se rela- meses, o policial civil dependerá de autorização do
cione, mediata ou imediatamente, com as funções Governador do Estado.
Art. 69 O policial civil afastado não pode exercer
exercidas.
nenhuma de suas funções, ou outra, pública ou
O inciso II, do art. 66, vai mais além, ao definir que
particular, diversa da que motivou o ato, sob pena
se equipara ao acidente em serviço o dano decorrente de cassação do ato de afastamento e do imediato
de agressão sofrida no exercício funcional, bem como retorno às atividades.
o dano sofrido em trânsito a ele pertinente.
O art. 70 trata do afastamento do policial civil para
Dos Afastamentos e das Disponibilidades exercer cargo público eletivo, ou concorrer a ele, ou
para exercer alguns cargos determinados. Vejamos:
O policial civil poderá afastar-se de suas funções,
por oito dias consecutivos, em duas ocasiões: por Art. 70 O policial civil poderá, ainda, afastar-se das
motivo de casamento ou por falecimento de cônjuge funções do cargo para:
ou companheiro, ascendente, descendente ou irmão. I - exercer cargo público eletivo;
II - concorrer a cargo público eletivo;
III - exercer cargo:
Art. 67 Sem prejuízo da remuneração, o policial
a) de Secretário de Estado, de Secretário Adjunto ou
civil poderá afastar-se de suas funções, por oito
de Subsecretário na Secretaria de Estado de Defesa
dias consecutivos, por motivo de:
Social ou cargos correspondentes na Controlado-
I - casamento; ria-Geral do Estado;
II - falecimento de cônjuge ou companheiro, ascen- b) de direção da Polícia Federal;
dente, descendente, ou irmão. c) de Ministro de Estado;
Parágrafo único. No caso do inciso I do caput, o d) de direção da Agência Brasileira de Informação
policial civil comunicará seu afastamento, com - Abin;
antecedência, ao Delegado de Polícia ou ao titular IV - tratar de interesses particulares, pelo prazo
82 da unidade a que esteja subordinado. máximo de dois anos.
§ 1º Não será concedido, nas hipóteses previstas nos incisos III e IV do caput, o afastamento de policial civil sub-
metido a processo administrativo disciplinar, que esteja em estágio probatório ou que reúna as condições previstas
para aposentadoria.
§ 2º O estágio probatório será interrompido nas hipóteses de afastamento previstas nos incisos I e II do caput.
§ 3º Na hipótese de afastamento prevista no inciso III do caput, o policial civil deverá optar pela percepção dos
vencimentos e vantagens de uma das funções públicas exercidas.
§ 4º O afastamento previsto no inciso IV do caput não será considerado como efetivo exercício e dar-se-á sem ven-
cimentos e vantagens.
§ 5º O afastamento do policial civil para concorrer a cargo público eletivo dar-se-á sem prejuízo da percepção
de vencimentos e vantagens, na forma da Lei Complementar federal nº 64, de 18 de maio de 1990.
§ 6º Na hipótese do exercício de mandato eletivo, o policial civil não poderá exercer, no âmbito da PCMG, cargos de
direção, chefia, assessoramento e coordenação, observado o disposto no inciso IX do art. 29 e no art. 38 da Consti-
tuição da República.

O afastamento para tratar de interesses particulares tem prazo máximo de 2 anos (inciso IV, art. 70). É a única
hipótese que não pode ser concedida quando o policial estiver submetido a processo administrativo disciplinar,
ou estiver em estágio probatório, ou, ainda, se o policial já reuniu todas as condições previstas para aposentadoria.
Como forma de facilitar os seus estudos, trouxemos uma tabela destacando as principais diferenças entre os
diversos tipos de licenças ou afastamentos, com as seguintes características em destaque:

z O nome da licença/do afastamento;


z Os requisitos que o servidor deve possuir para requerer a licença/o afastamento;
z Os documentos necessários que devem acompanhar o requerimento;
z O prazo (quando mencionado) e se o agente policial deve ou não perceber o vencimento/remuneração enquan-
to licenciado/afastado.

TRATAR DE
TRATAMENTO DE ACIDENTE EM DOENÇA MEM- APRIMORAÇÃO EXERCER MANDA-
INTERESSES
SAÚDE SERVIÇO BRO DA FAMÍLIA PROFISSIONAL TO ELETIVO
PARTICULARES
Policial adoeceu por Policial sofreu aci- Policial possui Policial tem interes- Policial foi convoca- Policial possui um
qualquer moléstia dente em serviço pessoa da família se em frequentar do para concorrer / problema particular
doente cursos ou participar exercer cargo eletivo
de congressos e se-
minários relaciona-
dos com o cargo
Depende de inspeção Depende de inspe- Depende de inspe- - - -
médica ção médica ção médica
Até o fim da doença/ Até o fim da inca- 90 dias, prorrogá- Por 3 meses para os Enquanto durar o Até 2 anos
moléstia pacidade laboral vel mais 120 dias cursos, ou pelo prazo mandato Sem vencimentos
Com vencimentos Com vencimentos Com vencimentos estabelecido no ato Sem vencimentos,
que autorizar o con- exceto para exercer
gresso ou seminário mandato de Prefeito
Com vencimentos ou Vereador (direito
de escolha)

APOSENTADORIA, PROVENTOS E PENSÃO ESPECIAL

Da Aposentadoria; Dos Proventos e Da Pensão Especial

Servidor público não é empregado. Por isso, não se aplica a ele o Regime Geral de Previdência, conhecido
também como RGPS. Os servidores possuem um regime próprio denominado Regime Próprio de Previdência dos
Servidores (ou RPPS). O mesmo vale para o servidor integrante da Polícia Civil.
Acerca do Regime Previdenciário dos policiais civis, faremos algumas ponderações sobre a aposentadoria, os
proventos e a pensão especial.
A aposentadoria possui previsão também na Constituição Federal. O Regime Próprio de Previdência dos Ser-
vidores (RPPS) também sofreu alterações na chamada “reforma da previdência”, promulgada pela Emenda Cons-
titucional nº 103, de 2019.
À luz da Constituição Federal (art. 40), o servidor será aposentado:
LEI ORGÂNICA

z Por incapacidade permanente para o trabalho, no cargo em que estiver investido, quando insuscetível de
readaptação. O Texto Constitucional explicita que será obrigatória a realização de avaliações periódicas para
verificação da continuidade das condições que ensejaram a concessão da aposentadoria, na forma de lei do
respectivo ente federativo;
z Compulsoriamente, com proventos proporcionais ao tempo de contribuição, aos 70 (setenta) anos de idade, ou
aos 75 (setenta e cinco) anos de idade, na forma da Lei Complementar nº 152, de 2015. Essa Lei Complementar
dispõe sobre a aposentadoria compulsória com proventos proporcionais, sendo aplicável aos servidores ocupan-
tes de cargos públicos da União, Estados, Municípios, Distrito Federal e suas autarquias e fundações; aos mem-
bros do Poder Judiciário; aos membros do Ministério Público e aos membros da Defensoria Pública; 83
z Voluntariamente, no âmbito da União, aos 62 (ses- II - proporcional, à razão de tantas quotas de 1/30 (um
senta e dois) anos de idade, se mulher, e aos 65 (ses- trinta avos) do vencimento básico quantos forem os
senta e cinco) anos de idade, se homem, e, no âmbito anos de serviço, nos demais casos.
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, § 1º Ao policial civil aposentado em razão de invalidez
na idade mínima estabelecida mediante emenda às permanente, considerado incapaz para o exercício de
respectivas Constituições e Leis Orgânicas, observa- serviço de natureza policial civil, em consequência de
dos o tempo de contribuição e os demais requisitos acidente no desempenho de suas funções ou de ato por
estabelecidos em lei complementar do respectivo ele praticado no cumprimento do dever profissional, é
ente federativo. assegurado o pagamento mensal de auxílio-invalidez,
de valor igual à remuneração de igual nível, incorpora-
À luz da Lei Orgânica dos Policiais Civis de Minas do ao seu provento para todos os fins.
Gerais (Lei Complementar nº 129, de 2013), os arts. § 2º O provento integral a que se refere o inciso I do
71 e 72 dispõem que o policial poderá ser aposentado caput corresponderá à totalidade da remuneração do
compulsoriamente, voluntariamente ou por invalidez. cargo efetivo em que se deu a aposentadoria e será
Observe atentamente o texto dos referidos dispositivos reajustado, na mesma data e em idêntico percentual,
sempre que se modificar, a qualquer título, a remune-
legais:
ração dos policiais civis em atividade, sendo estendido
Art. 71 O policial civil será aposentado: ao policial civil aposentado todo benefício ou vanta-
I - compulsoriamente; gem posteriormente atribuídos ao cargo ou função em
II - voluntariamente; que se deu a aposentadoria, inclusive os decorrentes de
III - por invalidez. transformação ou reclassificação do cargo ou função
§ 1º A aposentadoria compulsória do policial civil em que se deu a aposentadoria, nos termos da Consti-
ocorre aos setenta anos de idade, nos termos da tuição da República.
Constituição da República.
§ 2º É adotado regime especial de aposentadoria, Por fim, o art. 74 trata da pensão especial de um
nos termos dos incisos II e III do § 4º do art. 40 da modo bem singelo, afirmando apenas que é um bene-
Constituição da República, para o policial civil, cujo fício concedido à família do policial civil que falecer
exercício é considerado atividade de risco. em consequência de acidente no desempenho de suas
§ 3º A aposentadoria por invalidez será sempre pre- funções ou de ato por ele praticado no estrito cum-
cedida de licença por período não excedente a dois primento do dever. Essa pensão especial não poderá
anos, salvo quando o laudo médico concluir, ante- ser inferior ao vencimento e às demais vantagens que
riormente àquele prazo, pela incapacidade definitiva percebia à época do evento.
para o serviço.
Art. 72 O policial civil será aposentado voluntaria- Art. 74 À família do policial civil que falecer em
mente, independentemente da idade: consequência de acidente no desempenho de suas
I - se homem, após trinta anos de contribuição, desde funções ou de ato por ele praticado no estrito cum-
que conte, pelo menos, vinte anos de efetivo exercício primento do dever é assegurada pensão especial,
nos cargos das carreiras a que se refere o art. 76; que não poderá ser inferior ao vencimento e demais
II - se mulher: vantagens que percebia à época do evento.
a) após trinta anos de contribuição, desde que conte, Parágrafo único. A pensão especial de que trata o
pelo menos, vinte anos de efetivo exercício nos car- caput será reajustada nas mesmas bases do reajus-
gos das carreiras a que se refere o art. 76; tamento que for concedido à remuneração do cargo
b) após vinte e cinco anos de contribuição e de efeti- equivalente.
vo exercício nos cargos das carreiras a que se refere
o art. 76. DAS CARREIRAS POLICIAIS CIVIS

Os proventos são a retribuição que o policial apo- Disposições Gerais


sentado recebe. Não se chama “salário” ou “remune-
ração” porque esses dois são devidos para o servidor É importante o candidato saber como ocorre o
público que efetivamente exerce atribuições de seu ingresso em um cargo público da Polícia Civil de
cargo, o que não é o caso do aposentado. Minas Gerais. O art. 78 apresenta alguns conceitos ini-
ciais que ajudam o candidato a compreender melhor
Art. 73 O policial civil, ao ser aposentado, perceberá essa matéria. Vejamos:
provento:
I - integral: z Carreira: Conjunto de cargos de provimento efeti-
a) se contar com tempo para a aposentadoria especial; vo agrupados segundo sua natureza e complexida-
b) se for julgado, mediante laudo de junta médica ofi- de e estruturados em níveis e graus, escalonados
cial, incapaz para o desempenho de suas atividades, em função do grau de responsabilidade e das atri-
em decorrência de acidente no serviço ou por moléstia buições da carreira;
profissional ou alienação mental, artrite reumatoide, z Cargo de provimento efetivo: A unidade de ocu-
lúpus eritematoso disseminado (sistêmico), pênfigo
pação funcional do quadro de pessoal privativa de
foliáceo, cegueira, estados avançados da doença de
servidor público aprovado em concurso, com cria-
Paget (osteíte deformante), paralisia irreversível e
incapacitante, cardiopatia grave, esclerose múltipla,
ção, remuneração e quantitativo definidos em lei
hanseníase, tuberculose ativa, nefropatia grave, conta- ordinária, e, ainda, com atribuições, responsabili-
minação por radiação, síndrome de imunodeficiência dades, direitos e deveres de natureza estatutária
adquirida, fibrose cística (mucoviscidose), doença de estabelecidos em Lei Complementar;
Parkinson, neoplasia maligna, espondilartrose anci- z Quadro de pessoal: Conjunto de cargos de pro-
losante, hepatopatia grave ou doença que o invalide vimento efetivo e de provimento em comissão de
84 inteiramente, qualquer que seja o tempo de serviço; órgão ou de entidade;
z Nível: Posição do servidor no escalonamento ver- IV - operar os sistemas corporativos, registrar
tical dentro da mesma carreira, contendo cargos informações, elaborar estudos de suporte a deci-
escalonados em graus, com os mesmos requisitos são, bem como alimentar os programas e as fontes
de capacitação e mesmas natureza, complexidade, de informações de sua unidade, mantendo-os atua-
atribuições e responsabilidades; lizados, na forma designada;
V - exercer funções pertinentes à identificação
z Grau: Posição do servidor no escalonamento hori-
civil e criminal e ao registro e licenciamento de
zontal no mesmo nível de determinada carreira.
veículo automotor e à habilitação de condutor;
VI - cumprir, fazer cumprir e executar as determi-
O art. 76 esclarece que, dos cargos estruturados em nações e diretrizes superiores e atividades de com-
carreiras, nós temos cinco: petência da unidade em que tenha exercício para o
cumprimento das funções da PCMG;
Art. 76 As carreiras policiais civis são as seguintes: VII - sistematizar elementos e informações para
I - Delegado de Polícia; fins de apuração das infrações penais, administra-
II - Escrivão de Polícia; tivas e disciplinares;
III - Investigador de Polícia; VIII - formalizar relatórios sobre os resultados
IV - Médico-Legista; das ações policiais civis, diligências e providências
V - Perito Criminal. adotadas no curso das investigações;
Parágrafo único. Integram ainda o quadro de pes- IX - conduzir, no exercício da função policial civil,
soal da PCMG as carreiras administrativas, insti- veículos oficiais, inclusive aeronaves e embarca-
tuídas na forma de lei específica. ções, para os quais esteja habilitado;
X - atuar no desenvolvimento e no aperfeiçoa-
As atribuições dos cargos de provimento efetivo mento das técnicas de trabalho;
XI - observar os prazos e formas estabelecidos para
que integram as carreiras policiais civis são essenciais,
a elaboração e entrega de documentos oficiais pro-
próprias e típicas de Estado. A carreira de Delegado
duzidos em decorrência de suas atribuições, justi-
de Polícia possui natureza técnico-científico-jurídica, ficando formalmente os casos de impossibilidade;
enquanto os demais cargos em carreira apresentam XII - realizar a proteção, a guarda e o registro
natureza técnico-científica, derivados da aplicação formal da movimentação cronológica de procedi-
dos conhecimentos das ciências humanas, sociais e mentos, documentos, substâncias, objetos, bens e
naturalísticas, na forma da Constituição da República. valores arrecadados ou apreendidos, mediante reci-
Vejamos o que dispõe o art. 79: bo, durante o período em que com eles permanecer;
XIII - colaborar com o fornecimento de dados e infor-
Art. 79 As atribuições dos cargos de provimento mações para a realização de estatísticas da unidade
efetivo que integram as carreiras policiais civis são policial, na redação de ofícios e expedientes de inte-
essenciais, próprias e típicas de Estado, têm nature- resse administrativo e no controle, arquivamento
za especial e caráter técnico-científico-jurídico para e organização de folhas e atestados de frequência,
a carreira de Delegado de Polícia e caráter técni- documentos e formulários do respectivo setor.
co-científico para as demais, derivados da apli- § 2º Para o desempenho de suas funções, o Delega-
cação dos conhecimentos das ciências humanas, do de Polícia disporá dos serviços e recursos técni-
sociais e naturalísticas, na forma da Constituição co-científicos da PCMG e dos servidores e policiais
da República. civis a ele subordinados, podendo requisitar, obser-
vadas as limitações legais, quando necessário, o
auxílio de unidades e órgãos do Poder Executivo.
O § 1º, do art. 79, apresenta algumas atribuições § 3º A coleta de vestígios em locais de crime com-
conferidas ao policial civil. Muitas delas foram vistas pete, com primazia, ao Perito Criminal, assegurada
em momento anterior, mas é sempre importante des- a máxima preservação por parte daqueles que pri-
tacar as atribuições presentes no § 1º. Vejamos: meiro chegarem ao local, o qual, depois de liberado,
sujeita-se à análise dos Investigadores de Polícia
Art. 79 [...] para a obtenção de outros elementos que possam
§ 1º Ao policial civil são conferidas, além das atri- subsidiar a investigação criminal.
buições específicas de seus cargos estipuladas no § 4º O exercício das atribuições dos cargos das car-
Anexo II desta Lei Complementar, as funções de reiras a que se refere o art. 76 é incompatível com
polícia judiciária e de investigação criminal qualquer outra atividade, com exceção daquelas
para o estabelecimento das causas, circunstâncias, previstas na legislação.
motivos, autoria e materialidade das infrações
penais, administrativas e disciplinares, inclusive Da Hierarquia e da Disciplina na Carreira Policial
os atos de formalização em inquérito policial, termo
circunstanciado de ocorrência, laudos periciais ou Art. 81 As carreiras policiais civis obedecem à
outros procedimentos, instrumentos e atos oficiais, ordem hierárquica estabelecida entre os níveis que
incumbindo-lhe ainda: as compõem, mantido o poder hierárquico e disci-
I - realizar busca pessoal e veicular, no caso de plinar do Delegado de Polícia, nos termos do art. 139
LEI ORGÂNICA

fundada suspeita de prática de infração penal ou da Constituição do Estado, ressalvado aquele exercido
de cumprimento de mandados, bem como efetuar pelos titulares de unidades na esfera da Superintendên-
prisões; cia de Polícia Técnico-Científica, do Instituto Médico-
II - exercer atividades relativas à gestão cien- -Legal, do Instituto de Criminalística e do Hospital da
tífica de dados, de inteligência, de informa- Polícia Civil.
ções e de conhecimentos pertinentes à atividade § 1º A hierarquia e a disciplina são valores de inte-
investigativa; gração e otimização das atribuições dos cargos
III - desenvolver conteúdo pedagógico e dissemi- e competências organizacionais pertinentes às
nar conhecimentos em cursos realizados pela atividades da PCMG e objetivam assegurar a uni-
Academia de Polícia Civil; dade técnico-científica da investigação criminal. 85
§ 2º A hierarquia constitui instrumento de contro- O ingresso do candidato para um cargo público da
le e eficácia dos atos operacionais, com a finalida- Polícia Civil é o assunto tratado pelos arts. 83 e seguintes
de de sustentar a disciplina e a ética e de desenvolver da Lei Orgânica. De modo geral, as etapas que o candi-
o espírito de mútua cooperação em ambiente de dato deve percorrer para ocupar o correspondente cargo
estima, harmonia, confiança e respeito.
são bastante similares às etapas para ocupar um cargo
§ 3º A disciplina norteia o exercício efetivo das atri-
buições funcionais em face das disposições legais público na Administração Pública Estadual.
e das determinações fundamentadas e emanadas Por serem cargos de provimento efetivo, o ingresso
da autoridade competente, estimulando a coopera- nessas carreiras depende de prévia aprovação em con-
ção, o planejamento sistêmico, a troca de informações, curso público de provas e títulos, e será feito sempre no
o compartilhamento de experiências e a desburocrati- primeiro grau do nível inicial da carreira (art. 83). É abso-
zação das atividades policiais civis. lutamente vedado ingressar em cargo de carreira em um
§ 4º O regime hierárquico não autoriza imposições nível/grau superior ao inicial.
sobre o convencimento do policial civil, desde que devi-
damente fundamentado, ficando garantida sua auto-
Incumbe à Academia de Polícia a realização do refe-
nomia nas respostas às requisições. rido concurso público, sendo admitida a terceirização no
§ 5º Para fins de elaboração da política de remunera- todo ou em parte, sob supervisão da Academia da Polícia
ção das carreiras a que se refere o art. 76, o princípio Civil. Incumbe à Academia, também, a realização do cur-
da hierarquia será gradativamente aplicado. so de formação técnico-profissional.
§ 6º Não há subordinação hierárquica entre o Escrivão O art. 84 trata das etapas existentes do concurso
de Polícia, o Investigador de Polícia, o Médico-Legista público:
e o Perito Criminal.
Art. 84 O concurso público para ingresso em cargo
O art. 81 apresenta uma matéria que já vimos ante- das carreiras policiais civis é constituído das seguintes
riormente, mas com um enfoque na estrutura dos cargos etapas:
em carreira. Independentemente do tipo de cargo que I - provas e títulos;
o agente policial ocupa, ele continua subordinado hie- II - exame psicotécnico para avaliar os aspectos de
rarquicamente aos seus superiores, devendo obedecer cognição, aptidões específicas e características de
a todos os seus comandos e ordens, quando legais. Caso personalidade adequadas para o exercício do cargo
contrário, esse agente será punido mediante apuração de pretendido;
sua conduta irregular por processo disciplinar. III - exames biomédicos para aferir a higidez física e
Os parágrafos 2º e 3º apresentam conceitos próprios mental;
de hierarquia e disciplina, cuja memorização é absoluta- IV - exames biofísicos, por testes físicos específicos,
mente imprescindível. para apurar as condições para o exercício profissional
e a existência de deficiência física que o incapacite para
Da Carga Horária o exercício da função;
V - investigação social para verificar a idoneidade do
Art. 82 A carga horária semanal de trabalho dos poli-
ciais civis é de quarenta horas, vedado o cumprimento candidato, sob os aspectos moral, social e criminal.
de jornada diária superior a oito horas e em regime de § 1º As etapas previstas nos incisos II a V do caput, de
plantão superior a doze horas ininterruptas, salvo, em caráter eliminatório, serão realizadas para os aprova-
caráter excepcional, para a conclusão de determinada dos na etapa prevista no inciso I.
atividade policial civil. § 2º A etapa a que se refere o inciso I do caput, de cará-
§ 1º O Chefe da PCMG, mediante aprovação do Con- ter eliminatório e classificatório, poderá ser constituí-
selho Superior da PCMG poderá estabelecer regras da de prova objetiva de múltipla escolha, prova escrita
complementares para cumprimento da jornada de tra- discursiva e títulos para todos os cargos, além de pro-
balho dos policiais civis. va oral para o cargo de Delegado de Polícia e de digi-
§ 2º O funcionamento do plantão de Delegacias de Polí- tação para Escrivão de Polícia, devendo ser satisfeitos
cia Civil ocorrerá no período noturno, finais de semana os demais requisitos e exigências estabelecidos em
e feriados, nos termos de instrução do Conselho Supe- regulamento e no edital do concurso.
rior da PCMG. § 3º As regras do concurso serão publicadas em edi-
§ 3º Aplica-se o disposto neste artigo aos servidores da
tal, que deverá conter:
PCMG que, na data da publicação desta Lei Comple-
I - o número de vagas existentes;
mentar, forem detentores de função pública.
II - as matérias sobre as quais versarão as provas e
Do Ingresso os respectivos programas;
III - o desempenho mínimo exigido para aprovação
Art. 83 O ingresso nas carreiras a que refere o art. 76 nas provas;
depende de aprovação em concurso público de provas IV - os critérios de avaliação dos títulos;
e títulos, e dar-se-á no primeiro grau do nível inicial da V - o caráter eliminatório e classificatório de cada eta-
carreira. pa do concurso;
§ 1º Caberá privativamente à Academia de Polícia Civil VI - os requisitos para a inscrição, com exigência míni-
a realização: ma de comprovação pelo candidato:
I - na forma do edital, do concurso público a que se a) da escolaridade exigida para a nomeação;
refere o caput, admitida a terceirização, no todo ou em
b) de estar no gozo dos direitos políticos;
parte, sob supervisão da Academia da Polícia Civil;
c) de estar em dia com as obrigações militares, se do
II - nas condições estabelecidas em regulamento, do
sexo masculino.
curso de formação técnico-profissional.
§ 2º O candidato aprovado nas etapas a que se refere § 4º O concurso para ingresso na carreira de Delegado
o caput do art. 84 será, depois da nomeação e posse, de Polícia far-se-á, nas provas de conhecimento, com a
matriculado automaticamente no curso de formação participação da Ordem dos Advogados do Brasil.
técnico-profissional, fazendo jus à percepção do valor
correspondente à remuneração atribuída ao primeiro A etapa do inciso I, isto é, provas e títulos, é a etapa
grau do nível inicial da carreira para a qual tenha se para a qual você está estudando neste exato momento. É
86 candidatado. uma etapa de caráter classificatório e eliminatório.
Os exames contidos nos incisos II a V são etapas de Parágrafo único. Na avaliação a que se refere o
caráter apenas eliminatório, sendo aplicáveis aos candi- caput, serão observados, entre outros critérios
datos que foram aprovados na etapa do inciso I (§§ 1º e estabelecidos em regulamento:
2º, art. 84). I - idoneidade moral;
As informações essenciais e úteis sobre o concurso de II - conduta compatível com as atribuições do cargo;
provas e títulos, como o número de vagas existentes, as III - dedicação no cumprimento dos deveres e das
matérias exigidas na prova, os critérios de avaliação de atribuições do cargo;
títulos, os requisitos de escolaridade mínimos para a ins- IV - eficiência, pontualidade, assiduidade e compro-
crição etc., todos esses dados devem estar presentes no metimento no desempenho de suas atribuições;
edital do concurso público. V - presteza e segurança na atuação profissional;
O ingresso para cargo das carreiras policiais também VI - referências em razão da atuação funcional;
depende da comprovação de habilitação mínima em VII - publicação de livros, teses, estudos e arti-
nível superior. Vejamos: gos, premiação, concessões de comendas, títulos e
condecorações;
Art. 85 O ingresso em cargo das carreiras a que se refe- VIII - contribuição para a melhoria dos serviços da
re o art. 76, a realizar-se conforme o disposto no art. instituição;
83, depende da comprovação de habilitação mínima IX - integração comunitária no que estiver afeto às
em nível superior: atribuições do cargo;
I - correspondente a graduação em direito, para ingres- X - frequência e a avaliação em cursos promovidos
so na carreira de Delegado de Polícia; pela PCMG.
II - correspondente a graduação em medicina, para
ingresso na carreira de Médico-Legista;
A aprovação na avaliação de estágio probatório é
III - conforme definido no edital do concurso público,
para ingresso nas carreiras de Escrivão de Polícia, de condição essencial para a aquisição de estabilidade.
Investigador de Polícia e de Perito Criminal. É também importante ressaltar que o agente policial
Parágrafo único. Para fins do disposto nesta Lei Com- em período de estágio probatório não pode ter acesso
plementar, considera-se nível superior a formação a alguns benefícios, como licença/afastamento para
em educação superior, que compreende curso ou pro- tratar de interesses particulares.
grama de graduação, na forma da Lei de Diretrizes e Vejamos os outros dispositivos que versam sobre o
Bases da Educação. estágio probatório:
Uma vez encerrados os diversos exames do concur-
Art. 88 O policial civil, no período do estágio pro-
so, o candidato já aprovado deve tomar posse e entrar
batório, será avaliado por comissão de acompa-
em efetivo exercício. A posse é um ato formal em que o
nhamento e avaliação especial de desempenho
agente policial promete assumir o compromisso de exer-
composta por policiais civis estáveis, instituída por
cer todas as atribuições que lhe foram conferidas, e de
ato do Chefe da PCMG.
exercê-las bem. Entrar em efetivo exercício significa, de § 1º A comissão a que se refere o caput será composta:
modo geral, que o agente policial deve “sentar na cadei- I - para a carreira a que se refere o inciso I do art.
ra” e começar a exercer de fato as atribuições do cargo 76, por um Delegado de Polícia da Corregedoria-Ge-
que ocupa. ral de Polícia Civil, por um Delegado de Polícia da
Ademais, veja os motivos que podem levar à exclusão Superintendência de Investigação e Polícia Judiciá-
do candidato, nos termos do art. 86: ria e por um Delegado de Polícia da Academia de
Polícia Civil;
Art. 86 Constitui motivo para a exclusão do candi-
dato, durante o concurso, a verificação das seguintes II - para as carreiras a que se referem os incisos II
ocorrências, mediante investigação social, assegurada a V do art. 76, por um Delegado de Polícia da Cor-
ampla defesa: regedoria-Geral de Polícia Civil, por um Delegado
I - a constatação de incapacidade moral, física ou inap- de Polícia da Superintendência de Investigação e
tidão para o cargo almejado; Polícia Judiciária, por um Delegado de Polícia da
II - o envolvimento em fato que o comprometa moral Academia de Polícia Civil e por um ocupante da car-
ou profissionalmente; reira do policial civil, de nível da carreira superior
III - o registro de antecedentes criminais, a demis- àquele em que estiver posicionado o servidor avaliado.
são de outra instituição policial, bem como a omis- § 2º A permanência na carreira e a estabilidade do poli-
são desses dados na ficha de informações destinada cial civil serão deliberadas pelo Conselho Superior da
à investigação social. PCMG.
Art. 89 O Corregedor-Geral de Polícia Civil poderá, a
Do Estágio Probatório qualquer tempo do estágio probatório, ex officio ou
mediante provocação, impugnar, fundamentadamen-
O art. 87 trata do estágio probatório. O agente te, a permanência do policial civil no cargo efetivo de
policial será submetido a um período em que será carreira para o qual foi nomeado.
constantemente avaliado, verificando-se se o mesmo Parágrafo único. Fica suspenso, até o definitivo julga-
LEI ORGÂNICA

atende aos requisitos necessários a sua confirmação mento da impugnação a que se refere o caput, o perío-
no cargo, em virtude de aprovação prévia em concur- do de estágio probatório do policial civil.
so público. O prazo desse período de estágio probató- Art. 90 O Corregedor-Geral de Polícia Civil, em até
rio é de 3 (três) anos, a partir do ato da posse. noventa dias antes do término do estágio probatório,
apresentará ao Conselho Superior da PCMG parecer
Art. 87 O policial civil submeter-se-á a estágio pro- sobre a homologação de estágio probatório de policial
batório, pelo prazo de três anos, a partir do ato da civil.
posse, durante o qual será avaliada, em caráter § 1º A proposta de homologação de estágio probatório
permanente, sua aptidão para fins de declaração de implica a expedição da declaração de estabilidade do
estabilidade na carreira. policial civil. 87
§ 2º Quando o Conselho Superior da PCMG decidir, em Art. 94 Promoção é a passagem do policial civil do
caráter definitivo, pela maioria simples de seus mem- nível em que se encontra para o nível subsequente,
bros, pela não homologação do estágio probatório do na carreira a que pertence.
policial civil no cargo efetivo para o qual foi nomeado, § 1º A promoção dar-se-á:
o Chefe da PCMG proporá a sua exoneração, mediante I - por antiguidade, conforme os seguintes critérios:
conclusão de processo administrativo próprio, assegu- a) especial;
rados o contraditório e a ampla defesa. b) aposentadoria;
Art. 91 Ao Chefe da PCMG compete o ato declaratório II - por merecimento, conforme os seguintes
de estabilidade, no qual constará a nova condição do critérios:
policial civil para o desenvolvimento na carreira. a) mérito profissional;
b) por ato de bravura;
Do Desenvolvimento na Carreira III - por invalidez;
IV - post mortem.
Art. 92 O desenvolvimento do policial civil nas car-
A promoção ocorre, por exemplo, com o policial
reiras a que se refere o art. 76 dar-se-á mediante
que sobe de Escrivão para Papiloscopista. Altera-se o
progressão ou promoção.
nome do cargo, mas ele ainda permanece na mesma
Parágrafo único. Decreto disporá sobre as regras
de desenvolvimento do policial civil nas carreiras
estrutura de carreira.
a que se refere o art. 76, observados os requisitos Esquematicamente, podemos diferenciar a pro-
estabelecidos nesta Lei Complementar. gressão da promoção da seguinte forma:

Cargo de grau inicial → Cargo de grau máximo,


Sobre a progressão na carreira policial, o art. 92 mesmo nível (Progressão) → Cargo de nível superior
apresenta as duas formas de progressão admitidas: (Promoção)
são a progressão em sentido estrito e a promoção.
O termo “progressão” às vezes pode aparecer como Art. 94 [...]
“ascensão” funcional, justamente para não confundir § 2º A promoção pelos critérios alternados de
com a progressão espécie. antiguidade e merecimento ocorrerá, anualmen-
Nos termos do art. 93, progressão é a forma de te, nos meses de junho e dezembro, na forma de
ascensão do policial civil do grau em que se encontra regulamento.
para o grau subsequente, no mesmo nível da carreira § 3º Os períodos previstos no § 2º podem se aplicar
a que pertence. O que muda na progressão é o “núme- para a promoção por ato de bravura e para a pro-
ro adjacente” ao nome do cargo; geralmente, é feita de moção especial.
§ 4º As promoções por invalidez, post mortem e por
forma ascendente. Por exemplo: a progressão ocorre
aposentadoria poderão ocorrer em qualquer época
quando o policial sobe de Analista IV para Analista III. do ano e independem da existência de vagas.

Art. 93 Progressão é a passagem do policial civil A promoção por antiguidade far-se-á mediante a
do grau em que se encontra para o grau subsequen- contagem de tempo de serviço na classe, levando-se
te, no mesmo nível da carreira a que pertence. em conta os seguintes critérios: a promoção especial e
§ 1º A progressão do policial civil posicionado até o a promoção convertida em aposentadoria.
penúltimo nível hierárquico da carreira está condi- A promoção por merecimento será feita mediante
cionada ao preenchimento dos seguintes requisitos: contagem de pontos de avaliação constantes no Bole-
I - encontrar-se em efetivo exercício; tim de Merecimento estabelecido em regulamento.
II - ter cumprido o interstício mínimo de um ano de Os critérios de análise da promoção por merecimen-
efetivo exercício no mesmo grau; to são os seguintes: o mérito profissional e os atos de
III - ter recebido avaliação periódica de desempe- bravura praticados pelo policial. A promoção pelos
nho individual satisfatória durante o período aqui-
critérios alternados de antiguidade e merecimento
sitivo, nos termos do § 3º do art. 31 da Constituição
ocorrerá, anualmente, nos meses de junho e dezem-
do Estado.
bro, na forma de regulamento (§ 2º, art. 94).
§ 2º A progressão do policial civil do grau “A” do
Para que o policial tenha direito à promoção, seja
último nível hierárquico da carreira para o grau
por antiguidade ou por merecimento, deve preencher
subsequente está condicionada ao preenchimento
os requisitos previstos no § 5º, do referido art. 94:
dos seguintes requisitos:
I - ter cumprido os requisitos para a aposentadoria
Art. 94 [...]
especial, a que se refere o § 2º do art. 71;
§ 5º Fará jus à promoção por merecimento e por anti-
II - ter cumprido um ano de efetivo exercício no últi-
guidade o policial civil que atender às exigências esta-
mo nível hierárquico da carreira a que pertence;
belecidas em regulamento e preencher os seguintes
III - ter recebido avaliação periódica de desempe-
requisitos:
nho individual satisfatória no último nível hierár- I - encontrar-se em efetivo exercício;
quico da carreira a que pertence; II - ter cumprido o interstício mínimo de dois anos de
IV - ter requerido a aposentadoria, em caráter irre- efetivo exercício no mesmo nível;
tratável, e ter se beneficiado da faculdade prevista III - ter recebido no mínimo duas avaliações periódicas
no § 24 do art. 36 da Constituição do Estado. de desempenho individual satisfatórias desde a sua
promoção anterior, nos termos das normas legais per-
A promoção, por sua vez, é disciplinada pelo art. tinentes e do § 3º do art. 31 da Constituição do Estado;
94. É uma forma de progressão de níveis, podendo IV - comprovar participação e aprovação em ativida-
ocorrer de quatro formas distintas: por antiguida- des de aperfeiçoamento;
de; por merecimento; por invalidez; post mortem. V - comprovar a escolaridade mínima exigida para o
88 Vejamos: nível ao qual pretende ser promovido.
As promoções por bravura e post mortem são hipó- Art. 103 O Adicional de Desempenho - ADE - constitui
teses excepcionais de promoção, pois, ao contrário das vantagem remuneratória concedida mensalmente ao
demais, elas não necessitam que haja um cargo vago em policial civil que tenha ingressado no serviço público
grau ou nível superior. Isso porque tais promoções ocor- após a publicação da Emenda à Constituição nº 57, de
rem quando o agente policial ou falece ou não pode mais 15 de julho de 2003, ou que tenha feito a opção previs-
ta no art. 115 do Ato das Disposições Constitucionais
continuar exercendo suas funções como antes, devido a
Transitórias da Constituição do Estado e que cumprir
um incidente que o levou a praticar um ato de bravura,
os requisitos estabelecidos nesta Lei Complementar.
pondo em risco a sua vida para salvar a vida de outra pes- § 1º O valor do ADE será determinado a cada ano,
soa, como um civil ou até mesmo um colega de profissão. levando-se em conta o número de avaliações de desem-
O art. 99 aponta as hipóteses em que o policial civil penho individual - ADIs - e de avaliações especiais de
perderá o direito à progressão e à promoção. Vejamos: desempenho - AEDs - satisfatórias obtidas pelo policial
civil.
Art. 99 Perderá o direito à progressão e à promoção o § 2º A ADI e a AED serão realizadas em conformidade
policial civil que, no período aquisitivo: com instrução do Conselho Superior da PCMG.
I - sofrer punição disciplinar em que seja suspenso por § 3º O policial civil da ativa que fizer a opção a que se
trinta dias ou mais; refere o caput fará jus ao ADE a partir do exercício
II - afastar-se das funções específicas de seu cargo, subsequente, desde que obtenha resultado satisfatório
excetuados os casos previstos como de efetivo exercí- na ADI realizada no ano em que manifestar a referida
cio nas normas estatutárias vigentes e em legislação opção.
específica. § 4º A partir da data da opção pelo ADE, não serão
§ 1º É assegurado ao policial civil absolvido em proces- concedidas novas vantagens por tempo de serviço ao
so administrativo ou reabilitado o direito de computar policial civil, asseguradas aquelas já concedidas.
o tempo de suspensão a que se refere o inciso I do caput § 5º O somatório de percentuais de ADE e de adicionais
como período aquisitivo para fins de progressão e de por tempo de serviço, na forma de quinquênio ou trin-
promoção. tenário, não poderá exceder a 90% (noventa por cento)
§ 2º Na hipótese prevista no inciso II do caput, o afas- do vencimento básico do policial civil.
tamento ensejará a suspensão do período aquisitivo § 6º O policial civil poderá utilizar, para fins de aquisi-
para fins de promoção e progressão, contando-se, para ção do ADE, o período anterior à sua opção por esse
tais fins, o período anterior ao afastamento, desde que adicional, que será considerado de resultado satisfa-
tenha sido concluída a respectiva avaliação periódica tório, salvo o período já computado para obtenção de
de desempenho individual. adicional por tempo de serviço na forma de quinquênio.

O art. 101 apresenta um conteúdo muito importante: Pela leitura dos parágrafos do dispositivo legal, per-
os critérios de desempate utilizados no julgamento das cebemos que o adicional poderá ser concedido a cada
promoções por antiguidade e merecimento devem seguir quinquênio (5 anos), ou a cada trintenário (30 anos)
a seguinte ordem, devendo ser apurados sucessivamente: de efetivo exercício, observado o limite de até 90%
(noventa por cento) do valor do vencimento base do poli-
Art. 101 Para desempate no processo de promoção, cial civil.
serão apurados, sucessivamente: Os requisitos para a concessão do adicional estão
I - a maior média de resultados obtidos nas avaliações previstos no art. 104. São apenas dois: a conclusão do
de desempenho no respectivo período aquisitivo; estágio probatório e a obtenção de resultado satisfatório
II - o maior tempo de serviço no nível; (acima de 70%) na avaliação de desempenho individual
III - o maior tempo de serviço na carreira; ou especial. Observe o texto legal:
IV - o maior tempo no serviço público estadual;
V - o maior tempo em serviço público; Art. 104 São requisitos para a obtenção do ADE:
VI - o policial civil de maior idade. I - a conclusão do estágio probatório pelo policial civil;
II - ter obtido resultado satisfatório na ADI ou na AED.
É interessante notar que a idade do agente policial, § 1º Para fins do disposto no inciso II do caput, con-
que é o característico da promoção por antiguidade, sidera-se satisfatório o resultado igual ou superior
somente será utilizada como critério de desempate por a 70% (setenta por cento).
último. § 2º O período anual considerado para a AED terá iní-
cio no dia e no mês do ingresso do policial na PCMG.
Do Adicional de Desempenho § 3º Na ADI e na AED, será considerado fator de avalia-
ção, para concessão do ADE, o aproveitamento em cur-
Como forma de ajustar a remuneração dos agentes so profissional realizado pela Academia de Polícia Civil.
policiais civis que ingressaram na carreira a partir da § 4º A regulamentação da ADI e da AED, no que se refe-
data da publicação da Emenda Constitucional nº 57, de re ao disposto no § 3º, será efetivada por instrução do
2003, a Lei Orgânica também prevê uma vantagem pecu- Conselho Superior da PCMG.
niária remuneratória relacionada ao desempenho do
próprio policial civil. Por fim, o caput do art. 105 apresenta os valores a ser
LEI ORGÂNICA

Esse é o adicional de desempenho (ADE), benefício percebidos a título de ADE, para o policial civil que obti-
cuja concessão tem por base as avaliações de desempe- ver um determinado número de avaliações com resulta-
nho individuais (ou avaliações periódicas de desempe- dos satisfatórios:
nho) e também as avaliações especiais de desempenho, Art. 105 Os valores máximos do ADE correspondem a
todas elas aplicadas ao policial civil. um percentual do vencimento básico do policial civil,
A ideia desse adicional é oferecer um bônus na remu- estabelecido conforme o número de AEDs e ADIs com
neração do policial civil que apresenta notas mais satis- resultado satisfatório por ele obtido, assim definidos:
fatórias nas suas avaliações de desempenho do que os I - para três AEDs e ADIs com resultado satisfatório:
demais. É isso o que disciplina o art. 103: 6% (seis por cento); 89
II - para cinco AEDs e ADIs com resultado satisfatório: III - para vinte e oito ADIs e AEDs com resultado satis-
10% (dez por cento); fatório: até 62% (sessenta e dois por cento);
III - para dez AEDs e ADIs com resultado satisfatório: IV - para vinte e sete ADIs e AEDs com resultado satis-
20% (vinte por cento); fatório: até 58% (cinquenta e oito por cento);
IV - para quinze AEDs e ADIs com resultado satisfató- V - para vinte e seis ADIs e AEDs com resultado satisfa-
rio: 30% (trinta por cento); tório: até 54% (cinquenta e quatro por cento).
V - para vinte AEDs e ADIs com resultado satisfatório: § 1º O valor do ADE a ser incorporado aos proventos
40% (quarenta por cento); do policial civil será calculado por meio da multiplica-
VI - para vinte e cinco AEDs e ADIs com resultado satis- ção do percentual definido nos incisos I a V do caput
fatório: 50% (cinquenta por cento); pela centésima parte do resultado da média aritmética
VII - para trinta AEDs e ADIs com resultado satisfató- simples dos resultados satisfatórios obtidos nas ADIs e
rio: 60% (sessenta por cento). AEDs durante a carreira.
§ 1º O policial civil que fizer jus à percepção do ADE
§ 2º Para fins de incorporação aos proventos do poli-
continuará percebendo o adicional no percentual
cial civil que não alcançar o número de resultados
adquirido até atingir o número necessário de AEDs e
satisfatórios definido nos incisos do caput, o valor do
ADIs com resultado satisfatório para alcançar o nível
ADE será calculado pela média aritmética das últimas
subsequente definido nos incisos do caput.
sessenta parcelas do ADE percebidas anteriormente à
§ 2º O valor do ADE não será cumulativo, devendo o
percentual apurado a cada nível substituir o percen- sua aposentadoria ou à instituição da pensão.
tual anteriormente percebido pelo policial civil.
§ 3º O policial civil que não for avaliado, por estar Pela leitura dos textos dos parágrafos do referido arti-
totalmente afastado de suas atividades por mais de go, percebemos que mesmo que o policial civil aposenta-
cento e vinte dias, devido a problemas de saúde, terá o do não tenha obtido o mínimo de vinte e seis avaliações
resultado de sua AED ou ADI fixado em 70% (setenta com resultados satisfatórios, ainda assim ele terá direito
por cento), enquanto perdurar essa situação. ao ADE, cuja base de cálculo será a média aritmética das
§ 4º Se o afastamento previsto no § 3º for decorrente de últimas sessenta parcelas do Adicional de Desempenho
acidente de serviço ou de doença profissional, o poli- recebido enquanto ele estava trabalhando, em período
cial civil estável permanecerá com o resultado da sua
anterior a sua aposentadoria/pensão.
última AED ou ADI, se este for superior a 70% (setenta
por cento).
§ 5º Ao policial civil submetido a readaptação de fun- DISPOSIÇÕES FINAIS
ção, a outras restrições decorrentes de problemas
de saúde, ou que tenha sofrido acidente no exercício A Lei Orgânica encerra-se apresentado algumas dis-
de suas atividades, serão asseguradas, pelo Chefe da posições especiais. Por ser um conteúdo mais simples e
PCMG, condições especiais para a realização da AED e autoexplicativo, veremos o conteúdo desses dispositivos
da ADI, observadas suas limitações. na íntegra, separados por pertinência para seu concurso.
§ 6º O policial civil afastado do exercício de suas fun- O art. 107 dispõe sobre a hipótese de o policial civil
ções por mais de cento e vinte dias, contínuos ou não, ter sido designado para a função de Delegado Especial de
durante o período considerado para a AED e para a Polícia, sendo também bacharel em Direito. Vejamos:
ADI não será avaliado, quando o afastamento for devi-
do a:
Art. 107 O policial civil que tiver sido designado para
I - licença para tratar de interesse particular, sem
vencimento; a função de Delegado Especial de Polícia, atendida,
II - ausência, conforme a legislação civil; então, a condição de bacharel em direito, e que, na
III - privação ou suspensão de exercício de cargo ou data de publicação desta Lei Complementar, fizer jus à
função, nos casos previstos em lei; percepção de vantagem pessoal equivalente à diferen-
IV - cumprimento de sentença penal ou de prisão judi- ça entre o vencimento básico do cargo de Delegado de
cial, sem o exercício das funções; Polícia Substituto e o vencimento básico do cargo efe-
V - exercício temporário de cargo público de outra tivo por ele ocupado, acrescido dos adicionais por
esfera de governo. tempo de serviço, terá esse valor incorporado aos
proventos.
É importante ressaltar que esses valores não são § 1º Estende-se ao policial civil aposentado o direi-
cumulativos: uma vez que o policial civil cumprir com to de incorporação de que trata o caput, desde que
mais avaliações com resultados satisfatórios, os valores tenha percebido a vantagem pessoal durante a ati-
percentuais serão substituídos pelo valor maior, e não vidade, na condição descrita.
adicionados um ao outro. § 2º Para fins do disposto neste artigo, o policial
Da mesma forma, haverá também incorporação do civil da ativa ou aposentado será identificado em
referido Adicional nos proventos da aposentadoria do decreto.
policial civil quando este obteve determinado número
de avaliações com resultados satisfatórios, nos termos do O art. 109 salienta que os cargos de provimento
caput do art. 106: em comissão e as funções de confiança são privativos
de policiais civis que não tenham excedido em cinco
Art. 106 O ADE será incorporado aos proventos do anos o tempo exigido para a aposentadoria voluntária,
policial civil quando de sua aposentadoria, em valor com exceção dos cargos de Chefe e de Chefe Adjunto
correspondente a um percentual de seu vencimento da PCMG. Observe:
básico, estabelecido conforme o número de avaliações
de desempenho com resultado satisfatório por ele obti- Art. 109 Os cargos de provimento em comissão e as
do, respeitados os seguintes percentuais máximos: funções de confiança da estrutura da PCMG, ressal-
I - para trinta ADIs e AEDs com resultado satisfatório: vados os cargos de Chefe da PCMG e Chefe Adjunto
até 70% (setenta por cento); da PCMG, são privativos de policiais civis que não
II - para vinte e nove ADIs e AEDs com resultado satis- tenham excedido em cinco anos o tempo exigido
90 fatório: até 66% (sessenta e seis por cento); para a aposentadoria voluntária.
§ 1º Os cargos cujos titulares compõem o Conselho
Superior da PCMG a que se refere o art. 25 somente
poderão ser ocupados por um mesmo servidor pelo
período máximo de sete anos, ininterruptos ou não,
observado o disposto no § 2º.
§ 2º Não se aplica o disposto no § 1º aos titulares
dos cargos de Chefe da PCMG e Chefe Adjunto da
PCMG.
§ 3º Os cargos de Chefe de Departamento de Polí-
cia Civil, de Delegado Regional de Polícia Civil e de
Chefe de Divisão Especializada somente poderão
ser ocupados por um mesmo servidor, na mesma
unidade, pelo período máximo de cinco anos, inin-
terruptos ou não.
§ 4º Os períodos a que se referem os §§ 1º e 3º serão
contados a partir da data de publicação desta Lei
Complementar.

O art. 112 explica que o Estatuto dos Servidores


Públicos Civis do Estado de Minas Gerais é aplicável
subsidiariamente aos integrantes das carreiras poli-
ciais civis, principalmente naquilo que for compatível
e nas matérias que não foram disciplinadas pela Lei
Orgânica em questão.

Art. 112 Aplica-se aos integrantes das carreiras


policiais civis, nas matérias não disciplinadas nes-
ta Lei Complementar, subsidiariamente, o Estatuto
dos Servidores Públicos Civis do Estado de Minas
Gerais.

Por fim, o art. 119 fala sobre a promoção por


antiguidade:

Art. 119. O policial civil ocupante de cargo de nível


intermediário da respectiva carreira fará jus a
promoção por antiguidade, independentemente
de vaga, ao nível imediatamente superior quan-
do completar as exigências para aposentadoria
voluntária no âmbito do regime especial de aposen-
tadoria adotado para os ocupantes dos cargos de
provimento efetivo que integram as carreiras poli-
ciais civis.

ANOTAÇÕES

LEI ORGÂNICA

91
92
z Hierárquico: prevalece a de maior hierarquia. Ex.:
CF, de 1988, sobre qualquer norma interna;
z Cronológico: prevalecerá a lei mais nova sobre o
tema;
z Especialidade: prevalecerá a lei mais específica
NOÇÕES DE DIREITO sobre o tema.

PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS COM PREVISÃO


CONSTITUCIONAL

DIREITO ADMINISTRATIVO Vamos começar a conhecer cada um dos princí-


pios. Conheceremos os princípios expressos da Cons-
tituição Federal. É importante que você saiba que há
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
princípios expressos em várias outras normas que não
são a CF, de 1988. Conheceremos aqui apenas os cons-
Conceito tantes do caput do art. 37. Vejamos a sua literalidade.

Segundo José Afonso da Silva (2017), adminis- Art. 37 A administração pública direta e indireta
tração pública é o conjunto de meios institucionais, de qualquer dos Poderes da União, dos Estados,
financeiros e humanos destinados à execução das do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá
aos princípios de legalidade, impessoalidade,
decisões políticas1. moralidade, publicidade e eficiência e, também,
A Constituição Federal de 1988 estabeleceu regras ao seguinte:
gerais e preceitos específicos no Capítulo VII do Título
III. São normas que tratam da organização, diretrizes, Veja que a aplicabilidade do caput é bastante am-
remuneração e atuação dos servidores, acesso aos pla: todos os poderes, todas as esferas, administração
direta e indireta.
cargos públicos etc.
Você deve decorar esses princípios, fazendo uso do
famoso LIMPE, que traz a inicial de cada um dos prin-
Princípios cípios constantes do caput.

Os princípios são a base de um ordenamento jurí- Legalidade


dico, anteriores até mesmo à existência das normas,
pois influenciam no próprio processo legislativo. O princípio da legalidade tem sua origem no
Podem constar expressamente ou não, tendo como próprio estado de Direito. Vejamos o art. 1º da
Constituição.
característica terem enunciados genéricos, para apli-
cação num máximo possível de situações. Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada
Os princípios possuem alto nível de abstração, pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e
outra característica que irá permitir a sua aplicabili- do Distrito Federal, constitui-se em Estado Demo-
dade a um grande número de situações. crático de Direito e tem como fundamentos:
Também poderão ser utilizados para análise da
Em um Estado de Direito, a vida das pessoas, assim
validade de normas constantes do ordenamento jurí-
como também do Estado, será pautada no que cons-
dico, assim como a sua correta interpretação. tar da lei. No entanto, a interpretação do princípio da
Não há hierarquia na aplicação dos princípios. legalidade terá abordagens diferentes quando olhar-
Eles devem ser interpretados de forma harmônica. No mos para o particular ou para o agente público.
entanto, isso não impede que um ou outro esteja mais Vejamos a legalidade aplicável ao particular, cons-
presente quando da análise de uma situação concre- tante do art. 5º da Carta Magna.
ta. Nesse ponto, não falaremos de hierarquia, mas da
Art. 5º (...)
mera aplicabilidade do princípio à situação concreta II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de
trazida à análise. fazer alguma coisa senão em virtude de lei;
Vamos enumerar as características dos princípios
colocadas até então: Veja que o mandamento para o particular é permis-
sivo. Ele poderá fazer tudo que não estiver proibido em
z Generalidade; lei. Será obrigado a algo apenas quando da lei constar.
Essa não é a interpretação do princípio da lega-
z Abstração; lidade para o agente público. Aqui já cabe falar em
z Ausência de hierarquia entre si; legalidade administrativa. Ao agente público será per-
NOÇÕES DE DIREITO

z Interpretação e validação de regras. mitido tudo que a lei autorizar ou mandar. Ou seja, a
relação é oposta. Não é um mandamento permissivo,
Vejamos agora sobre as regras. Elas serão menos mas restritivo.
genéricas e abstratas. Ainda que aplicáveis eventual-
mente a várias situações correlatas, elas já procuram Impessoalidade
se aproximar da realidade dos fatos, apresentando
O princípio da impessoalidade, também conheci-
comandos mais claros e concretos. do como princípio da finalidade, tem como objetivo
No Brasil temos alguns critérios que podem ser uti- maximizar os resultados da Administração Pública
lizados para a solução do conflito entre regras: para a sociedade como um todo.
1  SILVA, op. cit, p. 665. 93
Ele irá impedir, por meio de cada uma de suas Há, por outro lado, atos que devem ser publicados
facetas, o direcionamento da atuação do Estado tanto para que gerem efeitos, pois como poderiam ser os
para o interesse de um particular ou um grupo especí- particulares cobrados a respeito de determinado ato
fico de particulares, como para o próprio interesse do ou norma do qual não tiveram a devida ciência?
agente público tomador de decisão. Nesse raciocínio, temos três tipos de atos conforme
A partir disso temos algumas leituras possíveis a necessidade ou não da sua publicidade.
para o princípio. Uma delas é a aplicação do princípio
da impessoalidade por meio da ausência de qualquer z Atos sigilosos: não podem ser publicados;
tipo de promoção pessoal do agente público cometen- z Atos internos: não precisam ser publicados, pois
te, buscando apenas o interesse público. não causam impacto nos administrados;
Outra leitura possível passará pelo tratamento iso- z Atos externos: precisam ser publicados para ciên-
nômico dos administrados. A isonomia permite o tra- cia dos interessados.
tamento diferenciado de acordo com diferenças entre
os administrados. É o que você na reserva de vagas Há ainda a possibilidade de obtenção de informa-
para idosos, por exemplo. ções por parte dos administrados, trazida no art. 5º da
Portanto, temos dois tipos de isonomia, a saber: CF, de 1988.

z Isonomia horizontal: pessoas em situações seme- Art. 5º [...]


lhantes devem ser tratadas da mesma forma; XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos
z Isonomia vertical: pessoas em situações diferentes públicos informações de seu interesse particular,
podem ter tratamentos distintos. ou de interesse coletivo ou geral, que serão presta-
das no prazo da lei, sob pena de responsabilidade,
Moralidade ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível
à segurança da sociedade e do Estado;
A moralidade administrativa estará intimamente XXXIV - são a todos assegurados, independente-
mente do pagamento de taxas:
ligada ao conceito de certo e errado, honesto e deso-
b) a obtenção de certidões em repartições públicas,
nesto, extrapolando a letra fria da lei. No entanto, não
para defesa de direitos e esclarecimento de situa-
para desobedecê-la, mas para complementar com um
ções de interesse pessoal;
conteúdo moral que muitas vezes não consta expres-
sa e claramente do texto legal, mas deve ser aplicado
Eficiência
pelo agente público quando da sua atuação.
Importante citar que a moralidade se aplica tanto
O princípio da eficiência foi introduzido no caput
ao agente público, quanto ao particular que defende
do art. 37 da CF, 1988, por meio da Emenda Constitu-
seu interesse diante da Administração Pública.
cional de 1998, tendo como objetivo, juntamente com
Há na Constituição outro mandamento que expõe
a mudança de outros dispositivos, aumentar a eficiên-
a importância do princípio da moralidade, constante
cia do Estado brasileiro.
do art. 5º. Vejamos.
A atuação da Administração Pública dentro desse
contexto, tentando se aproximar do conceito de admi-
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção
nistração gerencial, deverá buscar a maximização das
de qualquer natureza, garantindo-se aos brasilei-
ros e aos estrangeiros residentes no País a inviola- receitas do Estado, economicidade do gasto público,
bilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, corte de gastos desnecessários etc.
à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
(...) PRINCÍPIOS IMPLÍCITOS DA ADMINISTRAÇÃO
LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para PÚBLICA
propor ação popular que vise a anular ato lesi-
vo ao patrimônio público ou de entidade de que o O princípio implícito ao ordenamento jurídico é
Estado participe, à moralidade administrativa, ao aquele que não está escrito em norma alguma, mas
meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, se pode depreender do conjunto das normas deste
ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de ordenamento. Em Direito Administrativo, a doutrina
custas judiciais e do ônus da sucumbência; nos trará inúmeros princípios. Uns são, naturalmente,
mais citados e importantes. Nos ateremos a eles.
Publicidade
Princípio da Autotutela
A importância do princípio da publicidade está na
própria existência e exercício da democracia. Como Segundo o princípio da autotutela, a Administra-
poderiam os cidadãos fiscalizar a atuação do Estado e ção Pública poderá rever seus atos, podendo revogá-
seus governantes sem saber o que está acontecendo? -los ou anulá-los conforme o caso.
A publicidade trará a transparência necessária para Esse direito não é irrestrito, encontrando limite no
que os administrados possam exercer a democracia. art. 54 da Lei nº 9.784, de 1999, Processo Administra-
No entanto, devemos saber que tal princípio não tivo Federal.
tem aplicação absoluta. Há situações em que o sigilo,
a título de exceção, deverá prevalecer. Art. 54 O direito da Administração de anular os
É o caso, por exemplo, de operações sigilosas de atos administrativos de que decorram efeitos favo-
investigações de ilícitos ou mesmo inquéritos cuja ráveis para os destinatários decai em cinco anos,
publicidade possa ofender a privacidade de uma contados da data em que foram praticados, salvo
94 eventual vítima. comprovada má-fé.
Os efeitos causados por essa revisão podem variar. A Lei nº 8.987, de 1995, que trata de concessão
Caso seja uma anulação, pois era viciado o ato admi- de serviços públicos, traz a mitigação da exceção do
nistrativo, os efeitos serão, em regra, retroativos. contrato não cumprido (exceptio non adimpleti con-
No caso de se tratar de revogação, que é quando tractus). Um concessionário que tenha perante si uma
o ato não é viciado, mas se tornou inconveniente, os Administração Pública inadimplente, só poderá rom-
efeitos não serão retroativos. per o contrato depois da apreciação da Justiça, dife-
Por fim, a revisão pode resultar em manutenção rentemente do que permite a lei entre particulares.
do ato anteriormente praticado, sendo mero exercício
da autotutela e poder hierárquico da estrutura admi- Dica
nistrativa em questão.
Exceptio non adimpleti contractus: princípio
Princípio da Veracidade e da Legitimidade
decorrente do estudo de contratos em Direito
Civil que permite a uma parte contratante não
Visto também em atos administrativos, o princípio cumprir seu contrato diante da inadimplência do
da veracidade e da legitimidade informam que a atua- outro contratante.
ção da Administração Pública estará conforme a lei e
conforme a verdade dos fatos. Segundo o mesmo diploma normativo, teremos
Trata-se de presunções relativas, ou seja, o par- duas situações em que não restará caracterizada a
ticular que se julgar prejudicado poderá se insurgir descontinuidade dos serviços:
contra os atos da Administração Pública. No entanto,
tais presunções têm como consequência a inversão z Interrupções ocasionadas por situações de
do ônus da prova, devendo o particular provar que a emergência;
Administração Pública está errada, seja em processo z Interrupções após aviso prévio por razões técnicas
administrativo ou judicial. ou segurança das instalações;
z Interrupção após aviso prévio por inadimplemen-
to do usuário.
Princípios da Proporcionalidade e Razoabilidade
Princípio da Segurança Jurídica
Não há unanimidade na doutrina na forma como
se correlacionam esses dois princípios. No entanto,
passaremos aqui a leitura que nos parece mais fre- O princípio da segurança jurídica tem como obje-
quente em provas. tivo conferir estabilidade às relações jurídicas. Por
meio dele busca-se proteger:
Entenderemos a proporcionalidade como um sub-
princípio da razoabilidade. A proporcionalidade é
fácil de ser entendida quando falamos da duração de z Direito adquirido;
um processo judicial ou administrativo. Aliás, direito z Coisa julgada;
constante do art. 5º da CF, de 1988. z Ato jurídico perfeito.

Art. 5º [...] Tal princípio do Processo Administrativo Federal,


LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e administra- em que há vedação expressa à aplicação retroativa
tivo, são assegurados a razoável duração do pro- de nova interpretação de norma, privilegia a estabi-
cesso e os meios que garantam a celeridade de sua lidade das relações e situações jurídicas previamente
tramitação. estabelecidas.

Já para entender a proporcionalidade eu vou Princípio da Supremacia do interesse público


pedir que você imagine um outro cenário. Imagine
uma multidão de manifestantes que possuem alguns O princípio da supremacia do interesse públi-
objetos que podem causar danos ou ferimentos, mas co é o princípio que dá os poderes e prerrogativas à
sabe-se que não possuem arma de fogo. Caso haja Administração Pública. A supremacia do interesse
necessidade de conter os manifestantes, seria razoá- público sobre o privado é um aspecto fundamental
vel por parte do policiamento o uso de armamentos para o exercício da função administrativa. Podemos
não letais. citar como exemplo a desapropriação de um imóvel
No entanto, dentro dessa escolha correta o agente pertencente a um particular: o particular pode ter
público deverá medir o correto uso desse meio. Não interesse em não ter seu bem desapropriado, ou achar
poderá usar indiscriminadamente o material, uma o valor da indenização injusto, mas ele não pode ter
vez que ele é adequado. O uso desproporcional de interesse em extinguir o instituto da expropriação
um material adequado àquela situação poderá trazer administrativa. Trata-se de um instituto que deve
problemas aos administrados. existir, independentemente da sua vontade.
NOÇÕES DE DIREITO

Princípio da Continuidade do Serviço Público Princípio da Indisponibilidade do interesse público

Os serviços públicos garantem serviços essenciais Por esse princípio entende-se que o Poder Público
à população, por isso não podem, como regra, serem não é dono do interesse público, ele deve manuseá-lo
interrompidos, mas fornecidos permanentemente. segundo o que a norma lhe impõe. É por isso que ele
Tal importância traz impacto inclusive no direito não pode se desfazer de patrimônio público, contratar
de greve de servidores públicos. quem ele quiser, realizar gastos sem prestar contas a
seu superior, etc. Tais atos configuram em desvio de
Art. 37 [...] finalidade, uma vez que o objetivo principal deles não
VII - o direito de greve será exercido nos termos e é de interesse público, mas apenas do próprio agente,
nos limites definidos em lei específica; ou de algum terceiro beneficiário. 95
Administração Pública Direta Nestes moldes, o Estado é pessoa jurídica de direi-
to público interno. Mas há características peculariares
A Administração Direta é o conjunto de órgãos que distintivas que fazem com que afirmá-lo apenas como
integram as pessoas políticas ou federativas (União, pessoa jurídica de direito público interno seja correto,
Estados, Distrito Federal e Municípios), aos quais foi mas não suficiente. Pela peculiaridade da função que
atribuída a competência para o exercício das ativida- desempenha, o Estado é verdadeira pessoa adminis-
des administrativas do Estado de forma centralizada. trativa, eis que concentra para si o exercício das ativi-
Trata-se, portanto, dos serviços prestados direta- dades da administração pública.
mente pelas entidades políticas, utilizando-se, para
tanto, de seus órgãos internos, que são centros de
Administração Pública Indireta
competências despersonalizados.
Conquanto a função administrativa seja exercida
A Administração Pública Indireta é composta pelas
com predominância pelo Poder Executivo, devemos
saber que existem órgãos da Administração Direta em entidades administrativas. Estas, por sua vez, pos-
todos os Poderes e em todas as esferas da federação. suem personalidade jurídica própria e são responsá-
É possível extrair este entendimento diretamente do veis por executar atividades administrativas de forma
art. 37, caput, da Constituição Federal, que dispõe: “A descentralizada. São elas: as autarquias, as fundações
administração pública direta e indireta de qualquer públicas e as empresas estatais (empresas públicas e
dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal sociedades de economia mista).
e dos Municípios obedecerá aos princípios de legali- As entidades da Administração Indireta não pos-
dade, impessoalidade, moralidade, publicidade e efi- suem autonomia política e estão vinculadas à Admi-
ciência [...]”. nistração Direta. A vinculação não é subordinação,
Assim, é possível afirmar que existem órgãos da mas apenas uma forma de controle finalístico para
Administração Direta atuando na administração fede- fins de enquadramento da instituição no programa
ral, estadual, distrital e municipal, nos Poderes Execu- geral do Governo e para garantir que sejam atingidas
tivo, Legislativo e Judiciário. as finalidades da entidade controlada.
No entanto, o que nos interessa é estudar o Poder
Executivo, uma vez que quase todos os órgãos da DOS ENTES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Administração Direta encontram-se subordinados a
INDIRETA: AUTARQUIAS, FUNDAÇÕES,
este Poder.
EMPRESAS PÚBLICAS E SOCIEDADES DE
O art. 4º do Decreto-Lei nº 200, de 1967, definiu a
ECONOMIA MISTA
administração direta e indireta em âmbito federal,
vejamos:
As entidades da Administração Indireta podem ter
Art. 4° A Administração Federal compreende: personalidade jurídica de Direito Público ou de Direi-
I - A Administração Direta, que se constitui dos to Privado. Tal diferença é bastante relevante no que
serviços integrados na estrutura administrativa da diz respeito ao procedimento de criação dessas enti-
Presidência da República e dos Ministérios. dades autônomas.
II - A Administração Indireta, que compreende As pessoas jurídicas de direito público são criadas
as seguintes categorias de entidades, dotadas de por lei (inciso XIX, do art. 37, da CF, de 1988) e a sua
personalidade jurídica própria: personalidade jurídica advém no momento em que
a) Autarquias;
tal legislação entra em vigor no âmbito jurídico, não
b) Empresas Públicas;
c) Sociedades de Economia Mista. havendo necessidade de registro em cartório. As pes-
d) fundações públicas. soas jurídicas de direito privado, todavia, são autori-
Parágrafo único. As entidades compreendidas na zadas pela lei (inciso XX, do art. 37, da CF, de 1988),
Administração Indireta vinculam-se ao Ministério ou seja, a legislação deve permitir que ela exista, para
em cuja área de competência estiver enquadrada que o Poder Executivo regulamente suas funções
sua principal atividade. mediante a expedição de decretos. Sua personalidade
jurídica, dessa forma, está condicionada ao seu regis-
Por fim, é importante ressaltarmos uma pequena tro em cartório.
desatualização do dispositivo acima, que não traz o São pessoas jurídicas de Direito Público, membros
consórcio público de direito público (também conhe- da Administração Indireta: as autarquias, as funda-
cidas por associações públicas), também entidade
ções públicas, agências reguladoras e associações
integrante da administração indireta, conforme cons-
públicas. São pessoas jurídicas de Direito Privado: as
ta no Código Civil.
empresas públicas, as sociedades de economia mista,
Art. 41 São pessoas jurídicas de direito público in-
as fundações governamentais com estrutura de pes-
terno: soa jurídica de Direito Privado, as subsidiárias e os
I - a União; consórcios públicos de Direito Privado.
II - os Estados, o Distrito Federal e os Territórios;
III - os Municípios; z Autarquias
IV - as autarquias, inclusive as associações públi-
cas; As autarquias são pessoas jurídicas de Direito
V - as demais entidades de caráter público criadas
Público interno, criadas por legislação própria, que
por lei.
tem por escopo exercer as funções típicas da Adminis-
Parágrafo único. Salvo disposição em contrário, as
pessoas jurídicas de direito público, a que se tenha tração Pública. As autarquias possuem um conceito
dado estrutura de direito privado, regem-se, no que definido em lei, mais especificamente no inciso I, do
couber, quanto ao seu funcionamento, pelas nor- art. 5º, do Dec-Lei nº 200, de 1967: para os fins desta
96 mas deste Código. lei, considera-se:
I - Autarquia - o serviço autônomo, criado por lei, „ Especiais stricto sensu (Banco Central);
com personalidade jurídica, patrimônio e receita „ Agências reguladoras (Anatel, Anvisa).
próprios, para executar atividades típicas da Admi-
nistração Pública, que requeiram, para seu melhor z Corporativas: são as corporações profissionais,
funcionamento, gestão administrativa e financeira que promovem o controle e a fiscalização de cate-
descentralizada. gorias profissionais. Exemplos: CREA, CRO, CRM;
z Fundacionais: são as fundações públicas, enti-
Podemos fazer alguns comentários sobre o concei- dades que arrecadam patrimônio para o cumpri-
to apresentado. Ao dizer que as autarquias são criadas mento de um objetivo específico. Exemplos: Funai,
“para executar atividades típicas da Administração Procon, Funasa;
Pública”, o texto legal faz referência àquelas ativida- z Territoriais: são as autarquias de controle da
des características do Poder Público, e que só podem União, também denominadas territórios federais
ser executadas pelo mesmo, em regra. São atividades (art. 33 da CF, de 1988). A atual Constituição aboliu
em que deve haver a prevalência do interesse públi- os territórios federais remanescentes;
co sobre o privado e, por isso mesmo, as autarquias z Associativas: são as autarquias criadas pelo
resultado de uma celebração de consórcio públi-
gozam de diversas prerrogativas para executar tais
co, também denominadas associações públicas.
tarefas. É por isso que as autarquias são pessoas jurí-
Se o contrato de consórcio público envolver múl-
dicas de direito público. Com isso, tais entidades são
tiplos entes da Federação, tais autarquias podem
proibidas de exercer qualquer atividade econômica, ser transfederativas. Exemplo: associação criada
o que lhes proporciona uma grande vantagem: não entre União, Estados e Municípios para a constru-
pode ser decretada sua falência e também goza de ção de um teatro.
imunidade tributária.
A sua criação depende de lei específica. Isso signi-
fica que a sua existência é condicionada apenas pelo Importante!
trabalho realizado pelo legislador, não há outros atos
subsequentes que condicionam sua existência, como Curioso é o caso da Ordem dos Advogados do
Brasil. A OAB sempre foi considerada uma autar-
acontece com as pessoas jurídicas de direito privado. quia de regime comum. Todavia, durante o julga-
O regime de pessoal das autarquias é o estatu-
mento da ADI nº 3.026, o STF decidiu mudar seu
tário. Significa que a autarquia não pode contratar
entendimento, ao decidir que a OAB é um serviço
quem ela quiser, como se fosse um empregador: seus
independente e de natureza especial e que, por
funcionários devem ser servidores públicos, pre-
isso mesmo, não pode sofrer controle específico
viamente aprovados em prova de concurso público.
das autarquias. Assim, a OAB seria considerada
Assim, todas as questões referentes ao regime laboral
uma entidade própria sui generis, e não é mais
desses servidores devem ser resolvidas, tendo como
uma autarquia.
base a Lei nº 8.112, de 1990, conhecido também como
Estatuto dos Servidores Públicos Civis da União.
O patrimônio das autarquias consiste em bens z Fundações Públicas
públicos, que gozam da garantia de serem inalie-
náveis e impenhoráveis. Se o patrimônio é público, As fundações públicas são consideradas espécies
significa que ele é utilizado, de forma a atender uma de autarquias, possuindo diversas características
finalidade pública. Logo, não pode a autarquia abrir similares. Fundação pública é, nos termos do inciso
mão desses bens, e nem dá-los em garantia. IV, do art. 5º, do Dec-Lei nº 200, de 1967:
As autarquias somente podem celebrar contratos
públicos, isso é, são contratos típicos da Administra- [...] a entidade dotada de personalidade jurídica de
ção Pública, que a colocam em posição mais vantajosa direito privado, sem fins lucrativos, criada em vir-
em relação ao particular interessado. tude de autorização legislativa, para o desenvolvi-
mento de atividades que não exijam execução por
Pode-se afirmar que vigora o princípio da espe-
órgãos ou entidades de direito público, com auto-
cialidade no regime das autarquias. Isso significa que nomia administrativa, patrimônio próprio gerido
cada entidade é criada para atender a uma finalidade pelos respectivos órgãos de direção, e funciona-
individual e específica. Exemplificando: para tratar mento custeado por recursos da União e de outras
de questões do regime de previdência social, temos o fontes.
INSS, que é a única autarquia responsável pela con-
cessão de benefícios previdenciários. É o próprio INSS A Funai (Fundação Nacional do Índio), Funasa
que responde em juízo, havendo uma ação previden- (Fundação nacional de Saúde) e o IBGE (Instituto Bra-
ciária pleiteada por particular, e não a União/Estado. sileiro de Geografia e Estatística), são alguns exemplos
Devido à multiplicidade de assuntos temos, con- de fundações públicas.
NOÇÕES DE DIREITO

sequentemente, uma multiplicidade de autarquias. A Pelo conceito disposto na legislação, percebe-se


doutrina tende a classificar as autarquias nos seguin- que o referido Decreto-Lei dispõe serem as funda-
tes grupos: ções entidades com personalidade jurídica de Direito
Privado. Tal conceituação não foi recepcionada pela
Constituição de 1988 que, em seu inciso XIX, art. 37,
z Administrativas: são as autarquias comuns, apre-
decidiu não fazer tal distinção:
sentam regime jurídico ordinário. Exemplo: Insti-
tuto Nacional de Seguridade Social (INSS);
[...] Somente por lei específica poderá ser criada
z Especiais: possuem maior autonomia em relação autarquia e autorizada a instituição de empresa
as autarquias administrativas devido a presença pública, de sociedade de economia mista e de fun-
de certas características, como a presença de diri- dação, cabendo à lei complementar, neste último
gentes com mandato fixo. Podem se subdividir em: caso, definir as áreas de sua atuação. 97
Dessa forma, concluímos que as fundações podem z Quanto à atividade preponderante:
ser tanto de Direito Público como de Direito Priva-
do, dependendo do que a lei instituidora da funda- „ Agências de serviço, que exercem as funções
ção delimitar quanto as suas competências. Todavia, típicas;
importante frisar que, mesmo as fundações de regime „ Agências de polícia, que exercem fiscalização
jurídico privado devem obediência às normas públi- das atividades econômicas;
cas, e não à legislação civil. „ Agências de fomento, que ajudam a desenvol-
As fundações de direito privado, para sua criação, ver o setor privado;
precisam de autorização por lei. É diferente de uma „ Agências de uso de bens públicos.
autarquia, que é criada por lei. Aqui, a fundação já
existe, mas para atuar no mercado privado deve, além z Quanto à previsão constitucional:
de possuir autorização legislativa, obter registro em
cartório para adquirir sua personalidade jurídica, „ Agências com referência constitucional (a Ana-
como se fosse uma empresa. tel tem previsão no inciso XI, art. 21, da CF, de
Por conseguinte, seu patrimônio consiste em bens 1988);
privados, que não gozam das garantias de inalie- „ Agências sem referência constitucional, são a
nabilidade e impenhorabilidade presente nos bens grande maioria.
públicos.
Importante, também, destacar que as fundações
z Quanto ao momento de sua criação:
privadas podem celebrar contratos privados, os ins-
trumentos contratuais típicos da esfera privada como
„ Agências de primeira geração (1996 a 1999) na
compra e venda, locação de imóvel etc.
época das privatizações;
Como o patrimônio se destaca do seu instituidor, o
„ De segunda geração (2000 a 2004);
controle desse referido patrimônio é feito por órgão
„ De terceira geração, que adveio com as agên-
especial, denominado curadoria das fundações. No
cias pluripotenciárias (2005 em diante), exer-
caso das fundações de direito público, o controle fiscal
é exercido pelo Ministério Público. cendo múltiplas funções simultaneamente.

z Agências reguladoras: características e classi- z Associações públicas: a criação de consórcio: A


ficação: O surgimento das agências reguladoras União, os Estados, o Distrito Federal e os Municí-
possui fortes relações com a época das privatiza- pios são os entes responsáveis pela regulamenta-
ções na segunda metade dos anos 1990. Neste con- ção dos consórcios públicos e dos convênios de
texto, as agências reguladoras foram introduzidas, cooperação, autorizando a gestão associada de ser-
sobretudo pelas ECs nos 8 e 9, ambas de 1995, para viços públicos, bem como a transferência total ou
atuar como órgãos reguladores, fiscalizadores e parcial de encargos, serviços, pessoal e bens essen-
controladores da iniciativa privada, que passaram ciais à continuidade dos serviços transferidos (art.
a desenvolver as tarefas originalmente atribuídas 241 da CF, de 1988).
ao Estado. Alguns exemplos de agências regulado-
ras: Aneel, Anatel, Ancine, ANP, entre outros. Essas pessoas jurídicas autônomas, criadas pelos
entes federados, e que tem por objeto medidas de
As agências reguladoras também são autarquias mútua cooperação, denominam-se consórcio públi-
sob um regime especial, diferenciando-se das autar- cos. Os consórcios públicos são disciplinados pela Lei
quias comuns em dois aspectos: nº 11.107, de 2005. Uma das características mais dis-
tintas dos consórcios é a possibilidade de eles possuí-
„ Estabilidade: os dirigentes das agências regu- rem natureza de Direito Público ou de Direito Privado.
ladoras não podem ser exonerados por qual- Consórcios de Direito Privado obedecem às
quer motivo, ao contrário das autarquias, em normas da legislação civil. Possuem regime celetista,
que seus dirigentes atuam em cargos de comis- embora não possam ter fins lucrativos. Por isso, não
são. Assim, os dirigentes das agências têm integram a Administração Pública. Já os consórcios de
maior proteção contra o desligamento forçado, direito público são as associações públicas propria-
promovendo maior estabilidade no exercício mente ditas, podendo ser inclusive transfederativas se
de seu cargo; integrarem todas as esferas das pessoas consorciadas
„ Mandato fixo: os dirigentes não possuem car- (federal, estadual, municipal).
go vitalício. Mas a existência de mandato fixo
garante também maior estabilidade no seu car- z Empresas do Estado: as Empresas Públicas e Socie-
go, visto que ele tem prazo determinado para se dades de Economia Mista: Passemos a analisar o
encerrar. A duração dos mandatos pode variar grupo de pessoas jurídicas denominado de Empresas
dependendo de cada agência, podendo ser de 3 do Estado (ou empresas estatais). São as pessoas jurí-
anos como na Anvisa, 4 anos como na Aneel, ou dicas de Direito Privado pertencentes à Administra-
até 5 anos como na Anatel. ção Indireta e comportam duas espécies: as empresas
públicas e as sociedades de economia mista.
As agências reguladoras podem ser classificadas:
Muitas das características apresentadas pelas fun-
z Quanto à sua origem: dações privadas aplicam-se às empresas estatais, isso
é, sua criação depende de autorização legislativa além
„ Agências federais; do registro em cartório; seu patrimônio constitui em
„ Estaduais; bens privados; sua atividade principal consiste em
„ Municipais; exercer uma atividade econômica; e a aptidão para
98 „ Distritais. celebrar contratos privados.
As empresas públicas e as sociedades de economia Além disso, outra diferença relevante é em relação
mista apresentam características em comum: à forma de sua organização: as sociedades de econo-
mia mista devem obrigatoriamente ter a estrutura de
„ Atuação na prestação de serviços públicos sociedade anônima, trata-se de disposição legal do
ou no desenvolvimento de atividade eco- próprio Dec-Lei nº 200, de 1967. As empresas públi-
nômica: as empresas exploradoras de ativi- cas, por sua vez, não sofrem essa imposição, podendo
dade econômica geralmente recebem menor adotar a estrutura que desejar.
controle pela Administração, embora também
apresentem certas desvantagens, como não DAS ENTIDADES DE COLABORAÇÃO E SEU
ter imunidade a impostos, e seus bens não tem REGIME JURÍDICO
natureza pública, podendo ser penhorados.
„ Sofrem controle pelo Tribunal de Contas da Por fim, convém explanar sobre algumas pessoas
União: também podendo sofrer controle pelo jurídicas que, apesar de não integrarem a Administra-
Poder Judiciário, no que couber. ção Pública, seja Direta ou Indireta, ainda assim são a
„ Contratação de bens e serviços mediante elas aplicáveis as normas gerais de Direito Adminis-
prévia licitação: a licitação é processo utili- trativo. Essas são as entidades paraestatais.
zado a fim de promover uma competição justa As entidades paraestatais são entidades privadas
com as empresas privadas do mesmo setor. Tal que realizam atividades de interesse coletivo, sem
imposição não é exigida para as empresa públi- fins lucrativos que recebem incentivos de entidades
cas e sociedades de economia mista explorado- públicas. Tais empresas privadas cujos objetivos são
ras de atividade econômica. a execução de serviços de relevante interesse público
„ Obrigatoriedade de realização de concur- são denominadas entidades do Terceiro Setor. Tradi-
so público: trata-se de uma forma de avaliar cionalmente considera-se “entidade paraestatal” sinô-
os melhores funcionários dentro de um grupo nimo de entidades da Administração Indireta.
seleto de candidatos. As entidades paraestatais, por serem regidas pelo
„ Contratação de pessoal pelo regime celetis- direito privado, não têm os privilégios concedidos
ta: seus membros são denominados emprega- constitucionalmente às entidades de direito público.
dos públicos, salvo as hipóteses de contratação Essas entidades paraestatais podem se apresentar sob
para cargo comissionado. Todas as controvér- as seguintes formas:
sias envolvendo o regime laboral dos empre-
gados públicos deve ser resolvida com base na z Organização Social; A organização social (OS) não
CLT. Apesar disso, a vedação de acumular dois é uma pessoa jurídica especial, mas uma qualificação
cargos públicos também se estende aos empre- especial outorgada pelo governo federal a entidades
gos públicos. da iniciativa privada, sem fins lucrativos, cuja outor-
ga autoriza a fruição de vantagens peculiares, como
z Impossibilidade de decretar sua falência: no isenções fiscais, destinação de recursos orçamentá-
caso das estatais prestadoras de serviços públicos, rios, repasse de bens públicos, bem como emprésti-
nos termos do inciso I, do art. 2º, da Lei nº 11.101, mo temporário de servidores governamentais.
de 2005.
A Lei nº 9.637, de 1998, é a lei que regulamenta
As empresas públicas são pessoas jurídicas de essa qualificação das OS, e seu art. 1º é bastante claro
Direito Privado, cuja criação depende de autorização ao delimitar a área de atuação de tais entidades pri-
legal. Sua personalidade é concedida pelo registro de vadas: de modo geral, a OS será concedida a empre-
seus atos constitutivos em cartório, com a totalidade sas cujas principais atividades sejam dirigidas ao
de seu capital público e regime organizacional livre ensino, à pesquisa científica, ao desenvolvimen-
(inciso II, art. 5º do Dec-Lei nº 200, de 1967), poden- to tecnológico, à proteção e preservação do meio
do ser organizadas como sociedade anônima, ou de ambiente, à cultura e à saúde, Desempenham, por-
responsabilidade limitada, ou ainda sociedade por tanto, atividades de interesse público, mas que não
comandita de ações. São empresas públicas: o Ban- se caracterizam como serviços públicos stricto sensu,
co Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social razão pela qual é incorreto afirmar que as organiza-
(BNDES), a Caixa Econômica Federal (CEF) e a Empresa ções sociais são concessionárias ou permissionárias.
Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero). O art. 2º da referida Lei dispõe sobre os requisitos para
As sociedades de economia mista têm seu concei- a outorga da qualificação como OS: São requisitos específi-
to legal previsto no inciso III, do art. 5º, do Dec-Lei nº cos para que as entidades privadas referidas no art. ante-
200, de 1967. São pessoas jurídicas de direito privado, rior habilitem-se à qualificação como organização social:
cuja criação também depende de autorização legal e
registro em cartório, possui a maioria de seu capital „ Comprovar o registro de seu ato constitutivo,
público e devem ser obrigatoriamente organizadas incluindo a sua natureza social, seus objetivos,
como sociedades anônimas. São sociedades de econo- suas finalidades devem ser não lucrativas, a
NOÇÕES DE DIREITO

mia mista: Petrobrás, Banco do Brasil, Eletrobrás. composição dos membros de sua diretoria etc;
Percebemos algumas diferenças entre as empre- „ Haver aprovação, quanto à conveniência e opor-
sas públicas e as sociedades de economia mista. A pri- tunidade de sua qualificação como organização
meira diz respeito ao capital constitutivo: enquanto social, do Ministro ou titular de órgão supervi-
que nas empresas públicas, todo o seu capital deve sor ou regulador da área de atividade corres-
ser público (o Dec-Lei nº 200, de 1967, dispõe que seu pondente ao seu objeto social e do Ministro de
capital deve advir totalmente “da União”, mas admite- Estado da Administração Federal e Reforma do
-se também o capital de origem estadual e municipal), Estado. Importante ressaltar que a concessão de
as sociedades de economia mista admitem a presença tal qualificação é ato discricionário, ficando a
do capital de origem privada, mas pelo menos 50% cargo do agente responsável (Ministro de Esta-
mais uma de suas ações com direito a voto devem per- do), considerando critérios de conveniência e
tencer ao Estado. oportunidade, conceder ou não tal qualificação. 99
O instrumento de formalização da parceria entre a Administração e a organização social é o contrato de
gestão, cuja aprovação deve ser submetida ao Ministro de Estado ou outra autoridade supervisora da área de
atuação da entidade.
As organizações sociais representam uma espécie de parceria entre a Administração e a iniciativa privada,
exercendo atividades que, antes da Emenda 19, de 1998, eram desempenhadas por entidades públicas. Por isso,
seu surgimento no Direito Brasileiro está relacionado com um processo de privatização lato sensu realizado por
meio da abertura de atividades públicas à iniciativa privada.

z Organização da Sociedade Civil de Interesse Público

As Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIPs) são também pessoas jurídicas de direito pri-
vado, sem fins lucrativos, instituídas por iniciativa dos particulares e qualificadas pelo Estado, para desempenhar
serviços não exclusivos do Estado, com fiscalização pelo Poder Público, formalizando a parceria com a Adminis-
tração Pública por meio de termo de parceria.
A lei que disciplina as OSCIPs é a Lei nº 9.790, de 1999, sendo regulamentada pelo Decreto nº 3.100, de 1999. Seu
art. 3º dá uma noção mais ampla e geral sobre as entidades que podem ser qualificadas como OSCIPs, in verbis:

Art. 3º A qualificação instituída por esta Lei, observado em qualquer caso, o princípio da universalização dos ser-
viços, no respectivo âmbito de atuação das Organizações, somente será conferida às pessoas jurídicas de direito
privado, sem fins lucrativos, cujos objetivos sociais tenham pelo menos uma das seguintes finalidades:
I - promoção da assistência social;
II - promoção da cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico;
III - promoção gratuita da educação, observando-se a forma complementar de participação das organizações de que
trata esta Lei;
IV - promoção gratuita da saúde, observando-se a forma complementar de participação das organizações de que
trata esta Lei;
V - promoção da segurança alimentar e nutricional;
VI - defesa, preservação e conservação do meio ambiente e promoção do desenvolvimento sustentável;
VII - promoção do voluntariado;
VIII - promoção do desenvolvimento econômico e social e combate à pobreza;
IX - experimentação, não lucrativa, de novos modelos sócio-produtivos e de sistemas alternativos de produção,
comércio, emprego e crédito;
X - promoção de direitos estabelecidos, construção de novos direitos e assessoria jurídica gratuita de interesse
suplementar;
XI - promoção da ética, da paz, da cidadania, dos direitos humanos, da democracia e de outros valores universais;
XII - estudos e pesquisas, desenvolvimento de tecnologias alternativas, produção e divulgação de informações e
conhecimentos técnicos e científicos que digam respeito às atividades mencionadas neste artigo.
XIII - estudos e pesquisas para o desenvolvimento, a disponibilização e a implementação de tecnologias voltadas à
mobilidade de pessoas, por qualquer meio de transporte. 

Como já mencionamos, o instrumento que regula essa relação do Poder Público com a OSCIP é o termo de par-
ceria, que discriminará direitos, responsabilidades e obrigações das partes signatárias, prevendo especialmente
metas a serem alcançadas, prazo de duração, direitos e obrigações das partes e formas de fiscalização. Além disso,
outra diferença marcante entre a OSCIP da OS é que sua concessão é ato vinculado (§ 2º , do art. 1º, da Lei nº 9.790,
de 1999), podendo-se falar em um “direito adquirido” da empresa privada em obter a qualificação de OSCIP. O
requerimento deve ser encaminhado ao Ministro da Justiça, na forma do art. 5º da referida Lei.
Esquematicamente, podemos estabelecer as principais diferenças entre a OS e a OSCIP:

PRINCIPAIS DISTINÇÕES OS OSCIP


Lei nº 9.790, de 1999 + Decreto nº
Quanto à legislação Lei nº 9.637, de 1998
3.100, de 1999
Atividades de interesse público ante- Atividades não exclusivas do Estado,
Quanto ao exercício de funções riormente desempenhadas pelo Esta- mas de relevante interesse público
do (mais restrito) (mais abrangente)
Quanto ao Instrumento que forma-
Contrato de Gestão Termo de Parceria
liza a relação
Ato discricionário; conveniência e
Quanto à vinculação da qualificação Ato vinculado; disposição legal
oportunidade
Quanto ao ente público outorgante Ministro de Estado Ministro da Justiça
Quanto à possibilidade de direito
Não há tal possibilidade Há direito adquirido sobre a outorga
adquirido

100
O regime dos cargos públicos é disciplinado pela
AGENTES PÚBLICOS Lei Federal n° 8.112, de 1990, também conhecida como
Estatuto do Servidor Público.
CONCEITO Frente a isso, um ponto relevante a ser ressalta-
do desse regime é o alcance da estabilidade mediante
Nas lições de Celso Antônio Bandeira de Mello o fim do período de estágio probatório. Tal alcance
são agentes públicos as pessoas que exercem uma permite que o servidor não seja desligado de suas
função pública, ainda que em caráter temporário ou funções, salvo pelas hipóteses previstas em lei, como
sem remuneração. Trata-se de uma expressão ampla a sentença judicial transitada em julgado, processo
e genérica, uma vez que engloba todos aqueles que, administrativo disciplinar, ou a não aprovação em
dentro da organização da Administração Pública, avaliação periódica de desempenho (§ 1°, art. 41, da
exercem determinada função pública. CF, de 1988).
Assim, podemos dizer que agente público é gênero, Dentre os cargos públicos, ainda, há aqueles que
o qual comporta diversas espécies, como os agentes são vitalícios, que se apresentam de forma mais van-
políticos, os agentes militares, os servidores públi- tajosa, uma vez que o estágio probatório possui um
cos estatutários, os empregados públicos, os agentes tempo menor (2 anos, sendo de 3 anos para os car-
honoríficos, entre outros. Por isso, vamos especificar gos não-vitalícios), bem como o desligamento ocorrer
cada um deles com maiores detalhes. apenas mediante sentença condenatória transitada
em julgado. São vitalícios os cargos de: Magistratura,
CLASSIFICAÇÃO (ESPÉCIE) do Tribunal de Contas, e os cargos dos membros do
Ministério Público.
Além da estabilidade, é também assegurado aos
Agentes Políticos
servidores estatutários alguns direitos trabalhistas,
vejamos aqui os mais importantes:
Os agentes políticos possuem como característica
principal o fato de exercerem uma função pública de
Art. 39 [...]
alta direção do Estado. Seu ingresso é feito median- § 3° CF/1988: a) salário mínimo, b) remuneração
te eleições, e atuam em mandatos fixos, os quais têm de trabalho noturno superior ao diurno, c) repou-
o condão de extinguir a relação destes com o Estado so semanal remunerado, d) férias remuneradas, e)
de modo automático pelo simples decurso do tempo. licença à gestante etc.
Percebe-se, dessa forma, que a sua vinculação com o
Estado não é profissional, mas estatutária ou institu- Empregado Público
cional. São agentes políticos os parlamentares, o Pre-
sidente da República, os prefeitos, os governadores, De modo diferente da contratação dos servidores,
bem como seus respectivos vices, ministros de Estado os empregados públicos são contratados mediante
e secretários. regime celetista, isso é, com aplicação das regras pre-
vistas na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
Agentes Militares Trata-se de uma vinculação contratual. A contratação
de empregados públicos se dá, em regra, pelas pessoas
Os agentes militares constituem uma categoria a jurídicas de direito privado integrantes da Adminis-
parte dos demais agentes políticos, uma vez que as tração Indireta (empresas públicas, sociedades de eco-
instituições militares possuem fortes bases funda- nomia mista, consórcios etc.) Além disso, o ingresso de
mentadas na hierarquia e na disciplina. Apesar de tais pessoas também depende da sua aprovação em
também apresentarem vinculação estatutária, seu concurso público.
regime jurídico é disciplinado por legislação especial, O regime dos empregados públicos é menos prote-
e não aquela aplicável aos servidores civis. São agen- tivo do que o regime estatutário. Isso se deve ao fato de
tes militares os membros das Polícias Militares e dos que os empregados públicos não gozam da estabilida-
Corpos de Bombeiros militares dos Estados, Distrito de que os servidores possuem. Ao serem empossados,
Federal e Territórios, bem como os demais militares os empregados passam por um período de experiên-
ligados ao Exército, Marinha e Aeronáutica. Algumas cia de 90 dias. Todavia, mesmo após esse período, os
características que merecem destaque são: a proibi- empregados públicos podem ser dispensados.
ção de sindicalização dos militares, a proibição do A diferença dos empregados públicos para com
direito de greve, e a proibição à filiação partidária. os demais consiste no fato de que a sua demissão
será sempre motivada, após regular processo admi-
Servidores Públicos nistrativo, mediante contraditório e a ampla defesa.
Importante lembrar que, para a Administração Públi-
De modo geral, podemos dizer que a Constituição ca, a motivação de seus atos, bem como o tratamento
Federal de 1988 apresenta dois tipos de regimes para impessoal e a finalidade pública, são princípios nor-
NOÇÕES DE DIREITO

os agentes estatais: o regime estatutário ou de cargos teadores de sua atuação. Uma demissão imotivada de
públicos, e o regime celetista ou de empregos públicos. um empregado público seria absolutamente inadmis-
Os servidores públicos são contratados pelo regi- sível nessas condições.
me estatutário, enquanto os empregados públicos são
contratados pelo regime celetista, que muito se asse- CARGO PÚBLICO, EMPREGO PÚBLICO E FUNÇÃO
melha às regras contidas na CLT. PÚBLICA
Atente-se a esse conceito: Servidor público é o
agente contratado pela Administração Pública, direta Cargo público é o lugar dentro da organização fun-
ou indireta, sob o regime estatutário, sendo selecio- cional da Administração Direta e de suas autarquias e
nado mediante concurso público, para ocupar cargos fundações públicas que, ocupado por servidor públi-
públicos, possuindo vinculação com o Estado de natu- co, tem funções específicas e remuneração fixadas em
reza estatutária e não-contratual. lei ou diploma a ela equivalente. 101
O art. 3° da Lei no 8.112, de 1990 (Estatuto dos Ser- z Dois cargos ou empregos privativos de profissio-
vidores da União) define o cargo público como sendo nais na área da saúde (alínea c, inciso XVI, art. 37);
o conjunto de atribuições e responsabilidades previs- z Um cargo de vereador com outro cargo, emprego
tas na estrutura organizacional que devem ser come- ou função pública (inciso III, art. 38);
tidas a um servidor. z Um cargo de magistrado e outro de magistério
A função pública é a tividade em si mesma, ou seja, (inciso I, par. único, art. 95);
função é sinônimo de atribuição e corresponde às inú- z Um cargo de membro do Ministério Público e outro
meras tarefas que cosntituem o objeto dos serviços de magistério (alínea d, inciso II, § 5°, art. 128).
prestados pelos servidores públicos. Nesse sentido,
fala se em função de apoio, função de direção, função DIREITOS
técnica.
No sistema funcional, determinadas funções são Direitos e Prerrogativas
suscetíveis de remuneração. Em geral, emprega-se
a expressão função gratificada, ou seja, uma função
Prerrogativa é qualquer situação de vantagem
especial, fora da rotina administrativa e normalmente
obtida pela natureza de um cargo ou de uma função.
de caráter técnico, cujo exercício depende de confian-
No caso dos agentes públicos, existem algumas prer-
ça em autoridade superior.
rogativas que são comuns para todo e qualquer car-
Todo cargo tem função, porque não se pode admi-
tir um lugar na Administração que não tenha a prede- go público, e existem algumas prerrogativas que são
terminação das tarefas do servidor. Mas nem toda a mais restritas, exclusivas apenas para alguns cargos.
função pressupõe e existência de cargo. Geralmente essas prerrogativas mais exclusivas são
O cargo, ao ser criado, já pressupõe as funções que aplicáveis para os cargos militares e para os cargos de
lhe são atribuídas. Não pode ser instituído cargo com natureza política.
funções aleatórias ou indefinidas: é a prévia indica- No momento, é importante focar nas prerrogativas
ção das funções que confere garantia ao servidor e ao que se aplicam para todos os servidores públicos, que
Poder Público. Por tal motivo, é ilegítimo o denomi- ocupam cargos públicos em geral. A primeira grande
naoo desvio de função , que consiste no exercício, pelo prerrogativa diz respeito à estabilidade.
servidor, de funções relativas a outro cargo, que não o A estabilidade é a condição que o servidor público
que ocupa efetivamente. atinge após completar alguns requisitos. O seu princi-
A expressão emprego público é utilizada para pal efeito é que, uma vez estável no cargo, o servidor
identificar a relação funcional trabalhista, assim com público não pode ser demitido por razões de conve-
se tem usado a expressão empregado público como niência ou oportunidade pela Administração. Ela não
sinônima de servidor público trabalhista. Para bem pode demitir o servidor estável “porque não quer
diferenciar tais situações, é importante lembrar que o mais” trabalhar com ele.
servidor trabalhista tem função (no sentido de tarefa, Segundo o art. 21 do Estatuto dos Servidores
atividade), mas não ocupa cargo. O servidor estatutá- Públicos Civis da União, uma vez que o servidor seja
rio tem o cargo que ocupa e exerce as funções atribuí- habilitado em concurso público e empossado em cargo
das ao cargo.2 de provimento efetivo adquirirá estabilidade no ser-
viço público ao completar 2 (dois) anos de efetivo
Acumulação de Cargo, Emprego, e Função Pública exercício.
Interessante observar que a Constituição Federal
Sobre a acumulação de cargos, emprego e funções de 1988 também prevê a prerrogativa de estabilida-
públicas, deve-se salientar que o ordenamento jurídi- de em seu art. 41. Todavia, os requisitos são distintos:
co brasileiro, em regra, proíbe a acumulação de car- para o Texto Constitucional, o servidor público só
gos e empregos públicos. Tal proibição se estende, adquire estabilidade após completar 3 (três) anos de
inclusive, para as entidades da Administração Indire-
efetivo exercício.
ta. O caput do art. 118 da Lei n° 8.112, de 1990, dispõe
Isso não significa que, uma vez o servidor estando
no mesmo sentido: Ressalvados os casos previstos na
estável no seu cargo, ele pode fazer o que quiser e não
Constituição, é vedada a acumulação remunerada de
sofrerá nenhuma punição. A estabilidade não lhe dá
cargos públicos. Apesar do referido texto legal dispor
“carta branca” para agir como bem entender. Por isso
sobre agentes públicos no âmbito federal, entendemos
que também possa ser aplicado aos agentes públicos o conteúdo do art. 22 da Lei n° 8.112, de 1990: O servi-
dos Estados, Municípios, e Distrito Federal. dor estável só perderá o cargo em virtude de sentença
Pela leitura do dispositivo, vemos que a própria judicial transitada em julgado ou de processo adminis-
Constituição Federal dispõe de um rol de casos excep- trativo disciplinar no qual lhe seja assegurada ampla
cionais em que é permitida a acumulação dessas fun- defesa.
ções. Há entendimento praticamente unânime de que O Texto Constitucional vai um pouco além: ele pre-
se trata de um rol taxativo, ou seja, são válidas apenas vê ao todo, quatro modalidades de demissão de servi-
aquelas hipóteses de acumulação de cargos. dor estável. São elas:
Assim, as hipóteses de acumulação de cargos cons-
titucionalmente autorizadas são: z Por sentença judicial transitada em julgado: é
a forma mais demorada para se demitir um servi-
z Dois cargos de professor (alínea a, inciso XVI, art. dor, considerando todo o aspecto burocrático exis-
37); tente no processo judicial. O trânsito em julgado da
z Um cargo de professor com outro técnico ou cientí- sentença somente ocorre quando esgotados todos
fico (alínea b, inciso XVI, art. 37); os recursos cabíveis;
2 Carvalho Filho, José dos Santos. Manual de direito administrativo / José dos Santos Carvalho Filho. – 34. ed. – São Paulo: Atlas,
102 2020.p.1126 e 1127.
z Mediante processo administrativo em que lhe O art. 39 da Constituição Federal apresenta algu-
seja assegurada ampla defesa. As regras referentes mas regras gerais sobre o regime dos servidores públi-
ao Processo Administrativo Disciplinar (ou PAD) cos. Dentre as regras constitucionais, o § 1° do referido
serão vistas mais adiante; dispositivo prevê que a fixação dos padrões de ven-
z Mediante procedimento de avaliação periódica cimento e dos demais componentes do sistema
de desempenho, na forma de lei complementar, remuneratório observará três aspectos: a natureza,
assegurada ampla defesa: quem não for aprova- o grau de responsabilidade e a complexidade dos car-
do na avaliação periódica de desempenho, pode gos componentes de cada carreira; os requisitos para
ser exonerado de seu cargo público, independen- a investidura; e também as peculiaridades dos cargos.
temente de ter completado o período de efetivo
exercício;
z Regime de subsídios: trata-se de uma forma espe-
z Por excesso de gasto com pessoal: as hipóteses 1
cial de remuneração, feita em uma única parcela.
a 3 estão previstas nos incisos do art. 41. Todavia,
O regime de subsídios, previsto no § 4°, art. 39, da
essa última hipótese encontra-se disposta no inciso
II, § 3°, art. 169, da CF, de 1988. Sob o aspecto orça- CF, de 1988, foi introduzido com a finalidade de
mentário e financeiro, não pode a Administração coibir os “supersalários” comumente existentes no
Pública realizar gastos superiores àqueles previs- regime de servidores públicos brasileiros. Impor-
tos em seu orçamento anual. Com isso, havendo a tante ressaltar que recebem por subsídios somen-
necessidade, é possível, sim, que um servidor está- te os Chefes do Poder Executivo, parlamentares,
vel seja exonerado de seu cargo, apenas por moti- magistrados, ministros de Estado, secretários esta-
vos de “balancear” as contas públicas. duais, membros do Ministério Público e da Advo-
cacia Pública, entre outros;
Outra prerrogativa que merece maior destaque é z Indenizações: as indenizações são valores pagos
a vitaliciedade. É um instituto bastante parecido com aos servidores, mas que não integram seus ven-
a estabilidade, mas não pode ser confundida com a cimentos. O Estatuto prevê algumas hipóteses de
mesma. A vitaliciedade não é adquirida por qualquer recebimento de indenizações:
servidor: ela é somente concedida para alguns cargos
públicos especiais. „ Ajuda de custo por mudança, devida como
São considerados cargos vitalícios, segundo a forma de compensar as despesas de instalação
própria Constituição Federal: os cargos de Magistra- de servidor que tiver exercício em nova sede,
tura (inciso I, art. 95), os membros do Ministério Públi- ocorrendo mudança de seu domicílio;
co (alínea a, § 5°, art. 128), e os cargos ocupados pelos „ Ajuda de custo por falecimento: devido à
membros do Tribunal de Contas da União ou TCU (§ família do servidor que vier a falecer na nova
3°, art. 73).
sede, sendo devido para custear o transporte
A vitaliciedade é um instituto ainda mais forte do
para a localidade de origem;
que a estabilidade. Uma vez que a pessoa ocupe um
„ Diárias por deslocamento: devida ao servidor
desses cargos vitalícios, ela somente pode ser exone-
que se afastar, por motivos de serviço, da sede
rada mediante sentença judicial transitada em julga-
do. Essa é a única hipótese de exoneração, motivo pelo em caráter transitório, para outro local den-
qual ela garante uma prerrogativa maior do que ape- tro ou fora do país, receberá tal indenização
nas a estabilidade. como forma de ajuda no custeio do processo de
Das hipóteses de exoneração, apesar de ser um mudança;
aspecto relativo ao Regime de Previdência, é tam- „ Auxílio-moradia: trata-se de ressarcimento
bém considerada como uma forma de exoneração das despesas comprovadamente realizadas
a aposentadoria compulsória, isso é, a concessão do pelo servidor com aluguel de moradia ou com
referido benefício previdenciário quando o servidor hospedagem realizado por algum hotel, depen-
estável ou vitalício completar 75 (setenta e cinco) anos dendo do preenchimento de alguns requisitos,
de idade. A diferença é que, no caso da aposentadoria como não ter um imóvel funcional disponível
compulsória, o servidor para de trabalhar, mas con- para uso, seu cônjuge não ser ocupante de
tinua recebendo uma “remuneração”, chamada de imóvel funcional, ou que nenhuma outra pes-
provento. soa que resida com o servidor receba a mesma
A Lei n° 8.112, de 1990, em seus arts. 40 e 41, elen- indenização etc.
ca diversos direitos e gratificações aos servidores „ Gratificações, Adicionais e Retribuições:
públicos, os quais são de grande importância conhe- O art. 61 do Estatuto dos Servidores Públicos
cer. Vejamos os principais direitos: também prevê o pagamento das seguintes
gratificações:
NOÇÕES DE DIREITO

z Vencimentos: vencimentos está para o servidor


assim como o salário está para o empregado. Con- I - retribuição pelo exercício de função de direção,
siste na retribuição pecuniária pelo exercício do chefia e assessoramento;
cargo público, cujo valor é previamente fixado II - gratificação natalina;
em lei. Os vencimentos de cargos efetivos são, em IV - adicional pelo exercício de atividades insalu-
regra, irredutíveis; bres, perigosas ou penosas;
z Remuneração: é mais abrangente. É o vencimen- V - adicional pela prestação de serviço extraordinário;
to do cargo, somado a todas as outras vantagens VI - adicional noturno;
pecuniárias estabelecidas em lei. O menor valor VII - adicional de férias;
pago ao servidor público, independentemente de VIII - outros, relativos ao local ou à natureza do
sua vinculação, é o valor do salário mínimo vigen- trabalho;
te (§ 3°, art. 39, da CF, de 1988). IX - gratificação por encargo de curso ou concurso. 103
O servidor, em relação às férias, fará jus a trin- A regra geral é que, para exercer um mandato ele-
ta dias de licença para cada 12 meses de serviço, que tivo, o servidor deve se afastar do cargo e deixar de
podem ser acumuladas, até o máximo de dois perío- receber a remuneração do mesmo. Porém, tratando-se
dos, no caso de necessidade do serviço (art. 77, Lei n° de exercício de mandato de Prefeito, o servidor afas-
8.112, de 1990). Poderão ser parceladas em até três tar poderá optar, dentre as duas remunerações, por
períodos, desde que assim requeridas pelo servidor, e aquela que lhe for mais vantajosa (valores maiores,
no interesse da administração pública, na forma do § mais benefícios etc.). Outro aspecto importante: no
3° do mesmo dispositivo legal. caso de mandato de Vereador, o servidor poderá
As licenças são uma espécie de afastamento com exercer os dois cargos e receber ambas as remune-
algumas características próprias. Estão dispostas nos rações, desde que comprovada a compatibilidade
arts. 81 e seguintes da Lei dos Servidores Públicos de horários (atua como Vereador de dia e como agen-
Federais. Conceder-se-á licença ao servidor: te público de noite, e vice-versa). Sendo incompatível
o horário dos dois cargos, o Vereador pode optar pela
I - por motivo de doença em pessoa da família; remuneração mais vantajosa, igual ao Prefeito. Isso é
II - por motivo de afastamento do cônjuge ou assim porque, muitas vezes, a remuneração dos Pre-
companheiro; feitos e Vereadores de pequenos Municípios costuma
III - para o serviço militar; ser menor do que a remuneração do cargo público
IV - para atividade política; anterior, e ele pode facilmente se locomover de um
V - para capacitação; ambiente de trabalho para outro nesse Municípios de
VI - para tratar de interesses particulares; porte menor.
VII - para desempenho de mandato classista.
DEVERES
Apesar de haver previsão para concessão de licen-
ça por prêmio em virtude de assiduidade, tal hipótese Apesar da grande quantidade de direitos e vanta-
acabou sendo revogada pela Lei n° 9.527, de 1997. As gens, o Estatuto dos Servidores Públicos também atri-
licenças, como se depreende, são hipóteses de desliga- bui aos mesmos diversos deveres, com base no regime
mento temporário do servidor com o seu respectivo disciplinar o qual, se não for atendido, enseja a ins-
cargo, havendo uma expectativa para o seu retorno. tauração de processo disciplinar para a apuração de
As licenças poderão ser concedidas com ou sem remu- infrações funcionais.
neração, a depender de cada situação. Nos termos do art. 116 da Lei n° 8.112, de 1990:
Os afastamentos, que não se confundem com as
licenças, são hipóteses em que há um desligamento Art. 116 São deveres do servidor:
permanente do servidor com o seu cargo, e, em regra, I - exercer com zelo e dedicação as atribuições do
o seu prazo para retorno é bem maior, o que torna cargo
menos provável a sua chance de retorno. Além disso, II - ser leal às instituições a que servir;
quem tem interesse no afastamento do servidor são III - observar as normas legais e regulamentares;
ambos o servidor e a própria Administração Pública. IV - cumprir as ordens superiores, exceto quando
Estão previstos nos arts. 93 e seguintes da Lei n° 8.666, manifestamente ilegais;
de 1990. São quatro hipóteses: V - atender com presteza;
a) ao público em geral, prestando as informações
I – para servir a outro órgão ou entidade; requeridas, ressalvadas as protegidas por sigilo;
II – para exercício de mandato eletivo; b) à expedição de certidões requeridas para defesa
de direito ou esclarecimento de situações de inte-
III – para estudos ou missões no exterior;
resse pessoal;
IV – para participação em programa de pós-gra-
c) às requisições para a defesa da Fazenda Pública;
duação stricto sensu dentro do País.
VI - levar as irregularidades de que tiver ciência
em razão do cargo ao conhecimento da autoridade
Para compreender melhor a diferença entre licen- superior ou, quando houver suspeita de envolvi-
ças e afastamentos, segue uma tabela explicativa. mento desta, ao conhecimento de outra autoridade
competente para apuração;
LICENÇA AFASTAMENTO VII - zelar pela economia do material e a conserva-
ção do patrimônio público;
Finalidade é de interes- Finalidade é de interesse VIII - guardar sigilo sobre assunto da repartição;
se exclusivo do agente do agente e da Adminis- IX - manter conduta compatível com a moralidade
público tração Pública administrativa;
X - ser assíduo e pontual ao serviço;
Ex: doença do cônjuge/ Ex: realização de espe- XI - tratar com urbanidade as pessoas;
membro da família; para cialização; realização XII - representar contra ilegalidade, omissão ou
exercer atividade política; de missão no exterior; abuso de poder.
para tratar de interesses para servir a outro órgão/
particulares entidade Ao mesmo tempo, o art. 117 da mesma Lei impõe
Possui prazos mais cur- Possui prazos mais lon- aos servidores públicos diversas proibições. Trata-
tos (dias, semanas) gos (meses, anos) -se de uma matéria que exige grande capacidade de
memorização, ainda que não necessite de um alonga-
mento muito detalhado.
Uma questão que costuma cair com bastante fre-
quência nas provas de concurso público é sobre a Art. 117 Ao servidor é proibido:
remuneração de servidor afastado para exercício de I - ausentar-se do serviço durante o expediente, sem
104 mandato eletivo (art. 94, Lei n° 8.112, de 1990). prévia autorização do chefe imediato;
II - retirar, sem prévia anuência da autoridade A responsabilidade administrativa, por outro
competente, qualquer documento ou objeto da lado, consiste na instauração de processo discipli-
repartição; nar (art. 116 e seguintes, Lei n° 8.112, de 1990), pelo
III - recusar fé a documentos públicos; qual haverá a verificação da conduta delituosa do
IV - opor resistência injustificada ao andamento de agente, bem como a aplicação da pena mais adequa-
documento e processo ou execução de serviço; da. Imprescindível reforçar que a aplicação de qual-
V - promover manifestação de apreço ou desapreço quer pena ao servidor público pressupõe um processo
no recinto da repartição; administrativo, sendo assegurado ao acusado direito
VI - cometer a pessoa estranha à repartição, fora ao contraditório e à ampla defesa, sendo obrigatória,
dos casos previstos em lei, o desempenho de atri- inclusive, a presença do advogado em todas as fases
buição que seja de sua responsabilidade ou de seu do referido processo (Súmula n° 343 do STJ). Todavia,
subordinado; tal entendimento vem sofrendo alterações, pois o STF
VII - coagir ou aliciar subordinados no sentido de já reconheceu em Súmula Vinculante n° 5 entendi-
filiarem-se a associação profissional ou sindical, ou mento de que a falta de defesa técnica no processo
a partido político; administrativo disciplinar não é inconstitucional.
VIII - manter sob sua chefia imediata, em cargo Em relação às penalidades administrativas apli-
ou função de confiança, cônjuge, companheiro ou cáveis aos servidores públicos, a Lei n° 8.112, de 1990
parente até o segundo grau civil; (art. 127) prevê aplicação das seguintes sanções:
IX - valer-se do cargo para lograr proveito pessoal
ou de outrem, em detrimento da dignidade da fun-
z Advertência: é a sanção mais branda, aplicável
ção pública;
por escrito para o servidor que cometer atos como:
X - participar de gerência ou administração de
ausentar-se do serviço injustificadamente; recusar
sociedade privada, personificada ou não personifi-
fé a documento público; retirar qualquer docu-
cada, exercer o comércio, exceto na qualidade de
mento da repartição sem a devida autorização;
acionista, cotista ou comanditário;
manter sob sua chefia cônjuge, companheiro ou
XI - atuar, como procurador ou intermediário,
parente até o segundo grau; entre outros;
junto a repartições públicas, salvo quando se tra-
z Suspensão: aplicável somente quando o servidor
tar de benefícios previdenciários ou assistenciais
é reincidente nas faltas puníveis por advertên-
de parentes até o segundo grau, e de cônjuge ou
cia, desde que não tipifiquem infrações sujeitas a
companheiro;
XII - receber propina, comissão, presente ou van-
demissão do cargo. A suspensão não poderá ser
tagem de qualquer espécie, em razão de suas aplicada por prazo maior a noventa dias;
atribuições; z Demissão: trata-se da penalidade mais grave atri-
XIII - aceitar comissão, emprego ou pensão de esta- buída ao servidor público, uma vez que tem o con-
do estrangeiro; dão de exonerá-lo de seu cargo. A demissão será
XIV - praticar usura sob qualquer de suas formas; aplicada nos casos em que o servidor: cometer
XV - proceder de forma desidiosa; crime contra a administração pública; abandonar
XVI - utilizar pessoal ou recursos materiais da seu cargo; improbidade administrativa; praticar
repartição em serviços ou atividades particulares; conduta escandalosa na repartição; ofender fisica-
XVII - cometer a outro servidor atribuições estra- mente, em serviço, outro servidor; revelar segre-
nhas ao cargo que ocupa, exceto em situações de do o qual obteve devido a sua função; corrupção;
emergência e transitórias; receber propina, comissão, ou outra vantagem de
XVIII - exercer quaisquer atividades que sejam qualquer espécie em razão de suas atribuições;
incompatíveis com o exercício do cargo ou função e etc. Muitas dessas hipóteses impedem que o infra-
com o horário de trabalho; tor retorne ao serviço público federal, por isso tra-
XIX - recusar-se a atualizar seus dados cadastrais tar-se de uma das penalidades mais gravosas;
quando solicitado. z Cassação de Aposentadoria ou da Disponibi-
lidade: o servidor inativo que houver praticado
Por fim, em relação à responsabilidade dos ser- falta punível com a demissão, terá a sua aposenta-
vidores públicos, o art. 121 da Lei n° 8.112, de 1990, doria, ou sua disponibilidade cassada;
é bastante claro ao dispor que “O servidor responde z Destituição de Cargo em Comissão ou Função
civil, penal e administrativamente pelo exercício irregu- Comissionada: caso o servidor ocupante de car-
lar de suas atribuições”. Vemos, então, que uma única go não efetivo cometa uma das faltas passíveis da
pena de suspensão e demissão, poderá perder o
conduta praticada pelo referido servidor pode ense-
seu cargo de confiança ou função comissionada.
jar em responsabilização em três esferas distintas. A
responsabilidade civil do servidor público decorre
Por fim, é importante ressaltar que ao servidor é
da prática de atos comissivos ou omissivos, que sejam
conferido direito de petição, na forma do art. 104 e
capazes de causar danos materiais ao erário (patrimô-
NOÇÕES DE DIREITO

seguintes da Lei n° 8.666, de 1990, para requerer direi-


nio público), ou a terceiros. tos e interesses próprios em face do Poder Público. O
A responsabilidade penal do servidor tem seu requerimento será dirigido à autoridade competente
fundamento na apuração de uma conduta criminal, para decidi-lo e na sequência encaminhado por inter-
isso é, a hipótese em que o servidor público possa pra- médio daquela a qual o servidor estiver imediatamen-
ticar um ilícito penal, ou crime. A responsabilidade te subordinado. Deve ser respeitado o princípio do
penal é, definitivamente, a mais grave e perigosa, uma contraditório e da ampla defesa, dando espaço para
vez que ela pode repercutir nas demais esferas, tanto que tanto o servidor público como o Estado possam
pela condenação do servidor condenado, como pela impugnar todos os pontos do requerimento, apre-
sua absolvição pela falta de provas materiais ou pela sentar sua defesa técnica escrita, e interpor recursos
negação de sua autoria, sendo essas últimas hipóteses (art. 107, Lei n° 8.666, de 1990) das decisões que lhe
apenas exceções. prejudicarem. 105
O direito de requerer decai: em 5 (cinco) anos, z Cassação de Aposentadoria ou da Disponibi-
quanto aos atos de demissão e de cassação de apo- lidade: o servidor inativo que houver praticado
sentadoria ou disponibilidade, ou que afetem interes- falta punível com a demissão, terá a sua aposenta-
se patrimonial e créditos resultantes das relações de doria, ou sua disponibilidade cassada;
trabalho; ou em 120 (cento e vinte) dias, nos demais z Destituição de Cargo em Comissão ou Função
casos, salvo quando outro prazo for fixado em lei.
Comissionada: caso o servidor ocupante de car-
go não efetivo cometa uma das faltas passíveis da
RESPONSABILIDADE ADMINISTRATIVA, CIVIL E
PENAL pena de suspensão e demissão, poderá perder o
seu cargo de confiança ou função comissionada.
Em relação à responsabilidade dos servidores públi-
cos, o art. 121 da Lei n° 8.112, de 1990 é bastante claro ao Por fim, é importante ressaltar que ao servidor é
dispor que “O servidor responde civil, penal e administra- conferido direito de petição, na forma do art. 104 e
tivamente pelo exercício irregular de suas atribuições”. seguintes da Lei n° 8.666, de 1990, para requerer direi-
Vemos, então, que uma única conduta praticada pelo tos e interesses próprios em face do Poder Público. O
referido servidor pode ensejar em responsabilização em requerimento será dirigido à autoridade competente
três esferas distintas. A responsabilidade civil do ser- para decidi-lo e na sequência encaminhado por inter-
vidor público decorre da prática de atos comissivos ou
médio daquela a qual o servidor estiver imediatamen-
omissivos, que sejam capazes de causar danos materiais
ao erário (patrimônio público), ou a terceiros. te subordinado. Deve ser respeitado o princípio do
A responsabilidade penal do servidor tem seu fun- contraditório e da ampla defesa, dando espaço para
damento na apuração de uma conduta criminal, isso é, que tanto o servidor público como o Estado possam
a hipótese em que o servidor público possa praticar um impugnar todos os pontos do requerimento, apre-
ilícito penal, ou crime. A responsabilidade penal é, defi- sentar sua defesa técnica escrita, e interpor recursos
nitivamente, a mais grave e perigosa, uma vez que ela (art. 107, Lei n° 8.666, de 1990) das decisões que lhe
pode repercutir nas demais esferas, tanto pela condena- prejudicarem.
ção do servidor condenado, como pela sua absolvição O direito de requerer decai: em 5 (cinco) anos,
pela falta de provas materiais ou pela negação de sua quanto aos atos de demissão e de cassação de apo-
autoria, sendo essas últimas hipóteses apenas exceções.
sentadoria ou disponibilidade, ou que afetem interes-
A responsabilidade administrativa, por outro lado,
consiste na instauração de processo disciplinar (art. se patrimonial e créditos resultantes das relações de
116 e seguintes, Lei n° 8.112, de 1990), pelo qual haverá a trabalho; ou em 120 (cento e vinte) dias, nos demais
verificação da conduta delituosa do agente, bem como a casos, salvo quando outro prazo for fixado em lei.
aplicação da pena mais adequada. Imprescindível refor-
çar que a aplicação de qualquer pena ao servidor público
pressupõe um processo administrativo, sendo assegura-
do ao acusado direito ao contraditório e à ampla defesa,
sendo obrigatória, inclusive, a presença do advogado em LEI 8.429/92 (LEI DE IMPROBIDADE
todas as fases do referido processo (Súmula n° 343 do STJ). ADMINISTRATIVA)
Todavia, tal entendimento vem sofrendo alterações, pois
o STF já reconheceu em Súmula Vinculante n° 5 entendi- DISPOSIÇÕES INICIAIS
mento de que a falta de defesa técnica no processo admi-
nistrativo disciplinar não é inconstitucional.
Em relação às penalidades administrativas apli- A lei de improbidade administrativa dispõe sobre
cáveis aos servidores públicos, a Lei n° 8.112, de 1990 as sanções aplicáveis aos agentes públicos nos casos
(art. 127) prevê aplicação das seguintes sanções: de enriquecimento ilícito no exercício de mandato,
cargo, emprego ou função na Administração Pública
z Advertência: é a sanção mais branda, aplicável direta, indireta ou fundacional e dá outras providên-
por escrito para o servidor que cometer atos como: cias. Sendo assim, o grande foco dessa atividade legis-
ausentar-se do serviço injustificadamente; recusar lativa é seguir os valores empregados de forma ilícita.
fé a documento público; retirar qualquer docu- O administrador emprega esforços no controle das
mento da repartição sem a devida autorização; verbas e no seu uso. É uma lei que visa, objetivamen-
manter sob sua chefia cônjuge, companheiro ou te, “moralizar” o serviço público.
parente até o segundo grau; entre outros;
A improbidade administrativa possui base cons-
z Suspensão: aplicável somente quando o servidor
é reincidente nas faltas puníveis por advertên- titucional, na forma do § 4º, art. 37, da Constituição
cia, desde que não tipifiquem infrações sujeitas a Federal.
demissão do cargo. A suspensão não poderá ser
aplicada por prazo maior a noventa dias; Art. 37 (CFRB/88) [...]
z Demissão: trata-se da penalidade mais grave atri- § 4º Os atos de improbidade administrativa impor-
buída ao servidor público, uma vez que tem o con- tarão a suspensão dos direitos políticos, a perda
dão de exonerá-lo de seu cargo. A demissão será da função pública, a indisponibilidade dos bens e o
aplicada nos casos em que o servidor: cometer ressarcimento ao erário, na forma e gradação pre-
crime contra a administração pública; abandonar vistas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.
seu cargo; improbidade administrativa; praticar
conduta escandalosa na repartição; ofender fisica- O estudo de leis esparsas precisa passar pela leitu-
mente, em serviço, outro servidor; revelar segre-
ra do texto da lei. Desta forma, vamos conciliar a lei-
do o qual obteve devido a sua função; corrupção;
receber propina, comissão, ou outra vantagem de tura da lei com os esquemas, para melhorar o seu
qualquer espécie em razão de suas atribuições; entendimento sobre o conteúdo da Lei 8.429, de 1992.
etc. Muitas dessas hipóteses impedem que o infra- O art. 1º da Lei estabelece quem são os agentes que
tor retorne ao serviço público federal, por isso tra- poderão incorrer nas sanções decorrentes de impro-
106 tar-se de uma das penalidades mais gravosas; bidade administrativa.
Art. 1° Os atos de improbidade praticados por Importante!
qualquer agente público, servidor ou não, contra a
administração direta, indireta ou fundacional Após algumas mudanças de posicionamento,
de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do em 2018, o STF pacificou o assunto ao concluir
Distrito Federal, dos Municípios, de Território, de que os agentes políticos, com exceção do Pre-
empresa incorporada ao patrimônio público sidente da República, encontram-se sujeitos a
ou de entidade para cuja criação ou custeio o
erário haja concorrido ou concorra com mais
duplo regime sancionatório, podendo responder,
de cinquenta por cento do patrimônio ou da ao mesmo tempo, por improbidade administrati-
receita anual, serão punidos na forma desta lei. va e crime de responsabilidade.
Parágrafo único. Estão também sujeitos às penali-
dades desta lei os atos de improbidade praticados
contra o patrimônio de entidade que receba subven- O art. 5º, por sua vez, cuida de disciplinar a hipó-
ção, benefício ou incentivo, fiscal ou creditício, de tese de ressarcimento do dano causado ao patrimônio
órgão público bem como daquelas para cuja cria- público. Vejamos:
ção ou custeio o erário haja concorrido ou con-
corra com menos de cinqüenta por cento do Art. 5° Ocorrendo lesão ao patrimônio público por
patrimônio ou da receita anual, limitando-se, ação ou omissão, dolosa ou culposa, do agente ou
nestes casos, a sanção patrimonial à repercus- de terceiro, dar-se-á o integral ressarcimento do
são do ilícito sobre a contribuição dos cofres dano.
públicos.
O art. 6º aponta a perda dos valores e bens acresci-
dos indevidamente ao patrimônio do agente em casos
Agente público, servidor ou não
de enriquecimento ilícito. Vejamos:

Adm. Direta, Ind. e Art. 6° No caso de enriquecimento ilícito, perderá


Fund. o agente público ou terceiro beneficiário os bens ou
valores acrescidos ao seu patrimônio.
De qualquer dos
poderes da União, dos De acordo com o art. 7°, quando o ato de improbi-
Estados, do DF e dos dade causa lesão ao patrimônio público ou enseja enri-
Municípios quecimento ilícito, cabe à autoridade administrativa
Erário concorrido com + responsável pelo inquérito representar ao Ministério
de 50% Público, para a indisponibilidade dos bens do indicia-
do. Essa indisponibilidade recairá sobre bens que
assegurem o integral ressarcimento do dano, ou
O art. 2º traz o conceito de agente público. Vejamos:
sobre o acréscimo patrimonial resultante do enri-
Art. 2° Reputa-se agente público, para os efeitos quecimento ilícito.
desta lei, todo aquele que exerce, ainda que tran- O art. 8° aponta para os casos de sucessão em que o
sitoriamente ou sem remuneração, por eleição, valor ilícito se torna parte de uma herança:“o sucessor
nomeação, designação, contratação ou qualquer daquele que causar lesão ao patrimônio público ou se
outra forma de investidura ou vínculo, mandato,
enriquecer ilicitamente está sujeito às cominações des-
cargo, emprego ou função nas entidades menciona-
das no artigo anterior.
ta lei até o limite do valor da herança”.
A responsabilidade do agente, portanto, limita-se
De acordo com o art. 3°, é possível a aplicação dessa ao valor da herança, para que se respeite a intrans-
lei àquele que, mesmo não sendo agente público, indu- cendência da pena, a qual não pode passar da pessoa
za ou concorra para a prática do ato de improbidade do condenado de acordo com o que estabelece o inciso
ou dele se beneficie sob qualquer forma direta ou indire- XLV, art. 5º, da Constituição Federal.
ta. Estamos falando do particular. Estamos falando da
pessoa que, não sendo funcionária pública, induza ou ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
concorra para a improbidade.
Constituem atos de improbidade administrativa
Art. 4° Os agentes públicos de qualquer nível ou
hierarquia são obrigados a velar pela estrita obser- os atos que importam em enriquecimento ilícito, os
vância dos princípios de legalidade, impessoalida- que causam lesão ao erário, os decorrentes de con-
de, moralidade e publicidade no trato dos assuntos cessão ou aplicação indevida de benefício financeiro
NOÇÕES DE DIREITO

que lhe são afetos. ou tributário e os que atentam contra os princípios da


Administração Pública.
Agentes públicos que exer-
çam função pública, ainda
que transitoriamente e sem Enriquecimento ilícito
remuneração
ATOS DE
IMPROBIDADE Prejuízo ao erário
SUJEITOS ATIVOS Terceiro que, mesmo não
sendo agente público, indu- ADMINISTRATIVA
Concessão ou aplicação indevida de
za ou concorra para a prá- benefício financeiro ou tributário
tica do ato de improbidade
ou dele se beneficie sob Contra os princípios da
qualquer forma direta ou
Administração Pública
indireta 107
Atos de Improbidade Administrativa que Importam V - receber vantagem econômica de qualquer natu-
Enriquecimento Ilícito reza, direta ou indireta, para tolerar a exploração
ou a prática de jogos de azar, de lenocínio, de nar-
De acordo com o art. 9°, constitui ato de improbi- cotráfico, de contrabando, de usura ou de qualquer
dade administrativa importando enriquecimento ilí- outra atividade ilícita, ou aceitar promessa de tal
cito obter qualquer tipo de vantagem patrimonial vantagem;
indevida em razão do exercício de cargo, mandato, VI - receber vantagem econômica de qualquer natu-
função, emprego ou atividade nas entidades men- reza, direta ou indireta, para fazer declaração falsa
cionadas no art. 1° da Lei de Improbidade. sobre medição ou avaliação em obras públicas ou
Quando a lei fala sobre enriquecimento ilícito, qualquer outro serviço, ou sobre quantidade, peso,
a referência que deve fazer parte do raciocínio do medida, qualidade ou característica de mercado-
aluno é a seguinte: enriquecer importa, sempre, em rias ou bens fornecidos a qualquer das entidades
aumento de patrimônio. Assim, deve acontecer de for- mencionadas no art. 1º desta lei;
ma dolosa, ou seja, precisa de vontade e consciência o VII - adquirir, para si ou para outrem, no exer-
enriquecimento ilícito. cício de mandato, cargo, emprego ou função
Neste ponto, é muito importante esclarecer o sig- pública, bens de qualquer natureza cujo valor
seja desproporcional à evolução do patrimô-
nificado de alguns termos que serão importantes no
nio ou à renda do agente público;
decorrer do estudo. Para compreendermos melhor a
VIII - aceitar emprego, comissão ou exercer
Lei de Improbidade, é necessário saber com alguma
atividade de consultoria ou assessoramento
profundidade alguns pontos:
para pessoa física ou jurídica que tenha inte-
resse suscetível de ser atingido ou amparado
z Dolo: o dolo é a ação realizada com vontade e por ação ou omissão decorrente das atribui-
consciência, voltada a um fim; ções do agente público, durante a atividade;
z Culpa: sem maiores aprofundamentos, quando IX - perceber vantagem econômica para interme-
realizamos alguma conduta de forma culposa, não diar a liberação ou aplicação de verba pública de
temos a presença da vontade e da consciência, qualquer natureza;
ou seja, os atos de enriquecimento ilícito não X – receber vantagem econômica de qualquer
poderão ser culposos. natureza, direta ou indiretamente, para omitir ato
Atenção! Esse é um detalhe absolutamente rele- de ofício, providência ou declaração a que esteja
vante, podendo, rapidamente, decidir uma ques- obrigado;
tão de prova; XI - incorporar, por qualquer forma, ao seu patri-
z Trânsito em julgado: As decisões transitam em jul- mônio bens, rendas, verbas ou valores integrantes
gado e ocorrido esse evento são definitivas e não do acervo patrimonial das entidades mencionadas
se sujeitam a novas mudanças ou recursos. O trân- no art. 1° desta lei;
sito em julgado poderá ocorrer após o esgotamento XII - usar, em proveito próprio, bens, rendas, verbas
de todas as instâncias judiciais ou quando publicada a ou valores integrantes do acervo patrimonial das
decisão e as partes não impuserem recurso; entidades mencionadas no art. 1° desta lei.
z Rol exemplificativo: sempre que tivermos situa-
ções que não puderem ser limitadas e citadas
Dica
integralmente, criaremos um rol exemplifica-
tivo de situações. Essa técnica de redação traz Atente-se para o fato de que, na maioria dos
assertividade para a lei, evitando que o legislador incisos, é citada a expressão “receber vantagem
diga menos do que pretendia. Ou seja, sempre que econômica”. Preste atenção nas condutas que
encontrar um rol exemplificativo em alguma reda- não expressam claramente que consistem em
ção use-o como vetor de interpretação.
enriquecimento ilícito. Elas estão em negrito
para facilitar o seu estudo e memorização.
Os incisos do art. 9º estabelecem o rol de condutas
que são consideradas como enriquecimento ilícito.
As sanções para o enriquecimento ilícito são as
Art. 9º [...] mais graves.
I - receber, para si ou para outrem, dinheiro, bem
móvel ou imóvel, ou qualquer outra vantagem eco- Atos de Improbidade Administrativa que Causam
nômica, direta ou indireta, a título de comissão, Prejuízo ao Erário
porcentagem, gratificação ou presente de quem
tenha interesse, direto ou indireto, que possa ser Os atos de improbidade que causam prejuízo ao
atingido ou amparado por ação ou omissão decor- erário são longamente listados no art. 10 da Lei nº
rente das atribuições do agente público;
8.429, de 1992 – constituindo ato de improbidade
II - perceber vantagem econômica, direta ou indire-
ta, para facilitar a aquisição, permuta ou locação administrativa que causa lesão ao erário qualquer
de bem móvel ou imóvel, ou a contratação de ser- ação ou omissão (cuidado com as omissões – “não
viços pelas entidades referidas no art. 1° por preço fazer”), dolosa ou culposa (lembre-se de que as con-
superior ao valor de mercado; dutas culposas são divididas em imperícia, impru-
III - perceber vantagem econômica, direta ou indi- dência e negligência), que enseje perda patrimonial,
reta, para facilitar a alienação, permuta ou locação desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação
de bem público ou o fornecimento de serviço por dos bens ou haveres das entidades referidas no art.
ente estatal por preço inferior ao valor de mercado; 1º desta lei. Atente-se aos termos que a lei apresenta:
IV - utilizar, em obra ou serviço particular, veí-
culos, máquinas, equipamentos ou material
de qualquer natureza, de propriedade ou à z Perda patrimonial;
disposição de qualquer das entidades mencio- z Desvio;
nadas no art. 1° desta lei, bem como o trabalho z Apropriação;
de servidores públicos, empregados ou tercei- z Malbaratamento;
108 ros contratados por essas entidades; z Dilapidação dos bens ou haveres.
Quando tratamos de atos que causam prejuízo ao XIII - permitir que se utilize, em obra ou serviço
erário temos que ficar bastante atentos, pois, neste particular, veículos, máquinas, equipamentos ou
caso, a lei se apresenta com outra formatação. A pri- material de qualquer natureza, de propriedade ou à
meira situação que deve ser anotada é que, diferen- disposição de qualquer das entidades mencionadas
temente dos atos que geram enriquecimento ilícito, no art. 1° desta lei, bem como o trabalho de servi-
pode-se responder, por meio de atos que causam dor público, empregados ou terceiros contratados
prejuízo ao erário, por uma ação praticada de for- por essas entidades.
ma culposa. XIV – celebrar contrato ou outro instrumento que
Neste sentido, em alguma das modalidades de cul- tenha por objeto a prestação de serviços públicos
pa incorre-se e cria-se um prejuízo para o erário. Por por meio da gestão associada sem observar as for-
exemplo, quando um policial bate uma vírgula ele age malidades previstas na lei;
de forma culposa – ocorre um acidente de trânsito, – XV – celebrar contrato de rateio de consórcio públi-
prejuízo ao erário, que deverá ser indenizado. Desta co sem suficiente e prévia dotação orçamentária,
forma, fica claro que um ato que gera prejuízo ao erá- ou sem observar as formalidades previstas na lei.
rio poderá ocorrer também de forma culposa. XVI - facilitar ou concorrer, por qualquer forma,
É importante saber que o prejuízo ao erário é a para a incorporação, ao patrimônio particular de
única espécie de conduta que admite ação na moda- pessoa física ou jurídica, de bens, rendas, verbas ou
lidade culposa. valores públicos transferidos pela administração
Novamente a lei nos apresenta uma listagem de pública a entidades privadas mediante celebração
atos (incisos I ao XXI, do art. 10) que, se praticados, de parcerias, sem a observância das formalidades
serão considerados como atos de improbidade capa- legais ou regulamentares aplicáveis à espécie;
zes de causar prejuízo ao erário. O termo erário, ou XVII - permitir ou concorrer para que pessoa física
erário público, é o conjunto do patrimônio do Estado, ou jurídica privada utilize bens, rendas, verbas ou
sejam valores, sejam bens. valores públicos transferidos pela administração
pública a entidade privada mediante celebração
Art. 10 [...] de parcerias, sem a observância das formalidades
I - facilitar ou concorrer por qualquer forma para a legais ou regulamentares aplicáveis à espécie;
incorporação ao patrimônio particular, de pessoa XVIII - celebrar parcerias da administração públi-
física ou jurídica, de bens, rendas, verbas ou valo- ca com entidades privadas sem a observância das
res integrantes do acervo patrimonial das entida- formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à
des mencionadas no art. 1º desta lei; espécie;
II - permitir ou concorrer para que pessoa física XIX - agir negligentemente na celebração, fiscaliza-
ou jurídica privada utilize bens, rendas, verbas ou ção e análise das prestações de contas de parcerias
valores integrantes do acervo patrimonial das enti- firmadas pela administração pública com entida-
dades mencionadas no art. 1º desta lei, sem a obser- des privadas;
vância das formalidades legais ou regulamentares XX - liberar recursos de parcerias firmadas pela
aplicáveis à espécie; administração pública com entidades privadas
III - doar à pessoa física ou jurídica bem como ao sem a estrita observância das normas pertinentes
ente despersonalizado, ainda que de fins educativos ou influir de qualquer forma para a sua aplicação
ou assistências, bens, rendas, verbas ou valores do irregular.
patrimônio de qualquer das entidades mencionadas XXI - liberar recursos de parcerias firmadas pela
no art. 1º desta lei, sem observância das formalida-
administração pública com entidades privadas
des legais e regulamentares aplicáveis à espécie;
sem a estrita observância das normas pertinentes
IV - permitir ou facilitar a alienação, permuta ou
ou influir de qualquer forma para a sua aplicação
locação de bem integrante do patrimônio de qual-
irregular.
quer das entidades referidas no art. 1º desta lei, ou
ainda a prestação de serviço por parte delas, por
preço inferior ao de mercado; A leitura do texto da lei é inevitável. A verdade é
V - permitir ou facilitar a aquisição, permuta ou que, tendo conhecimento da “letra da lei”, o candidato
locação de bem ou serviço por preço superior ao já estaria apto a responder diversas questões.
de mercado;
VI - realizar operação financeira sem observância Atos de Improbidade Administrativa decorrentes
das normas legais e regulamentares ou aceitar de Concessão ou Aplicação Indevida de Benefício
garantia insuficiente ou inidônea; Financeiro ou Tributário (Art. 10-A, da Lei nº
VII - conceder benefício administrativo ou fiscal
8.429/1992)
sem a observância das formalidades legais ou regu-
lamentares aplicáveis à espécie;
VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou Finalmente alcançamos o art. 10-A. Esse é o mais
de processo seletivo para celebração de parcerias novo dos artigos da lei e acaba sendo menos cobrado
NOÇÕES DE DIREITO

com entidades sem fins lucrativos, ou dispensá-los nas provas, porém devemos lembrar que uma das for-
indevidamente; mas de cobrança desse ponto é a concessão de vanta-
IX - ordenar ou permitir a realização de despesas gens tributárias para a implementação de empresas.
não autorizadas em lei ou regulamento; Exemplo: dois municípios desejam atrair um polo de
X - agir negligentemente na arrecadação de tributo tecnologia e, para isso, começam uma guerra fiscal
ou renda, bem como no que diz respeito à conserva-
e acabam oferecendo vantagens indevidas para as
ção do patrimônio público;
XI - liberar verba pública sem a estrita observância
empresas que comporiam esse conglomerado.
das normas pertinentes ou influir de qualquer for- Dito isso, passamos a tratar dos atos de improbi-
ma para a sua aplicação irregular; dade administrativa decorrentes de concessão ou
XII - permitir, facilitar ou concorrer para que tercei- aplicação indevida de benefício financeiro ou
ro se enriqueça ilicitamente; tributário; 109
z Benefício financeiro: desembolsos efetivos. Art. 11 [...]
Exemplo: subvenções sociais (uma ajuda para a I - praticar ato visando fim proibido em lei ou regu-
manutenção de instituições públicas ou privadas, lamento ou diverso daquele previsto, na regra de
normalmente ligadas à arte, cultura ou assistência competência;
– sem fins lucrativos); II - retardar ou deixar de praticar, indevidamente,
z Benefício tributário: são vantagens tributárias. ato de ofício;
Por exemplo, diminuição das alíquotas de ISSQN. III - revelar fato ou circunstância de que tem ciência
em razão das atribuições e que deva permanecer
Art. 10-A Constitui ato de improbidade adminis- em segredo;
trativa qualquer ação ou omissão para conceder, IV - negar publicidade aos atos oficiais;
aplicar ou manter benefício financeiro ou tributá- V - frustrar a licitude de concurso público;
rio contrário ao que dispõem o caput e o § 1º do art. VI - deixar de prestar contas quando esteja obriga-
8º-A da Lei Complementar nº 116, de 31 de julho do a fazê-lo;
de 2003.    VII - revelar ou permitir que chegue ao conheci-
mento de terceiro, antes da respectiva divulgação
oficial, teor de medida política ou econômica capaz
É necessário saber que, em se tratando de ato dolo-
de afetar o preço de mercadoria, bem ou serviço.
so de improbidade administrativa, o STF estabelece
VIII - descumprir as normas relativas à celebração,
que o ressarcimento ao erário é imprescritível. fiscalização e aprovação de contas de parcerias fir-
madas pela administração pública com entidades
Atos de Improbidade Administrativa que Atentam privadas.
Contra os Princípios da Administração Pública (Art. IX - deixar de cumprir a exigência de requisitos de
11, da Lei nº 8.429/92) acessibilidade previstos na legislação.
X - transferir recurso a entidade privada, em razão
A Administração Pública precisa defender seus da prestação de serviços na área de saúde sem a
princípios e valores, por esse motivo estabeleceu san- prévia celebração de contrato, convênio ou instru-
ções para aqueles que realizem atos que atentem con- mento congênere, nos termos do parágrafo único
tra tais princípios. do art. 24 da Lei nº 8.080, de 19 de setembro de
Qualquer ação ou omissão que viole os deveres de 1990.
honestidade, imparcialidade, legalidade e lealdade
às instituições consiste em violação aos princípios da Atualmente o STJ tem aceitado a imposição de cau-
Administração Pública. telares de indisponibilidade de bens, não só para os
atos de enriquecimento ilícito ou de prejuízo ao erá-
Art. 11 Constitui ato de improbidade administrati- rio, mas também para os atos que atentem contra os
va que atenta contra os princípios da administra- princípios da Administração Pública.
ção pública qualquer ação ou omissão que viole os Importante ressaltar ainda a diferença entre frus-
deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, trar a licitude de procedimento licitatório ou de
e lealdade às instituições, e notadamente: [...] processo seletivo para celebração de parcerias com
entidades sem fins lucrativos, ou dispensá-los indevi-
O art. 37, caput, da Constituição Federal prevê que
damente e frustrar a licitude de concurso público.
Art. 37 A administração pública direta e indireta de Aquela conduta causa lesão ao erário, enquanto esta
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Dis- é um ato que atenta contra os princípios da Adminis-
trito Federal e dos Municípios obedecerá aos prin- tração Pública.
cípios de legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: [...] Frustrar a
licitude de
procedimento
Portanto, o texto constitucional prevê como prin-
licitatório ou de
cípios da Administração Pública a legalidade, processo seletivo Lesão ao erário
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência ou dispensá-los
memorize-os, por meio do famoso mnemônico LIM- indevidamente
CONDUTAS
PE: legalidade, impessoalidade, moralidade, publici- Frustrar a licitu-
Atenta contra
os princípios da
dade e eficiência. de de concurso Administração
Entretanto, você deve se atentar ao que a literali- público Pública
dade da questão cobra, uma vez que, em caso de esta
exigir os princípios expressos na Lei de Improbida-
DAS PENAS
de Administrativa, o aluno deve ter em mente que
são os seguintes: honestidade, imparcialidade, lega-
O art. 12 estabelece as sanções aplicadas no caso de
lidade e lealdade às instituições.
cometimento de ato de improbidade administrativa.
Honestidade As espécies de sanções são as mesmas, mas serão gra-
duadas de acordo com a modalidade de ato praticado.
PRINCI- Imparcialidade A Constituição prevê no § 4º, do art. 37, que:
PIOS DA
LIA Legalidade Art. 37 (CF/88) [...]
Lealdade às Instituições § 4º Os atos de improbidade administrativa impor-
tarão a suspensão dos direitos políticos, a per-
da da função pública, a indisponibilidade dos
Nos incisos do art. 11, estão previstas as condutas bens e o ressarcimento ao erário, na forma e
que atentam contra os princípios da Administração gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação
110 Pública. Vejamos: penal cabível.
Dica Em primeiro lugar, importa atentar para o fato de
que há independência entre as sanções penais, civis e
Sanções – Constituição Federal administrativas.
“Improbidade Administrativa: vai a PARIS:” Diante de atos que importam enriquecimento ilí-
Perda da função pública cito, serão aplicadas as seguintes sanções:
Ação penal (sem prejuízo da ação penal cabível)
Ressarcimento ao erário z Perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente
Indisponibilidade de bens ao patrimônio;
Suspensão dos direitos políticos z Ressarcimento integral do dano quando houver;
Atenção! Algumas bancas examinadoras procu- z Perda da função pública;
ram confundir o candidato, trocando a palavra z Suspensão dos direitos políticos de 8 (oito) a 10
suspensão por cassação dos direitos políticos. (dez) anos;
z Pagamento de multa civil de até 3 (três) vezes o
A LIA (Lei de Improbidade Administrativa) acres- valor do acréscimo patrimonial;
centou, ainda, dois tipos sanções: a) pagamento de z Proibição de contratar com o Poder Público ou
multa civil e (b) proibição de contratar com o Poder receber benefícios ou incentivos fiscais ou cre-
Público ou de receber benefícios ou incentivos fis-
ditícios, direta ou indiretamente, ainda que por
cais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda
intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio
que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja
majoritário pelo prazo de dez anos.
sócio majoritário.

Art. 12 Independentemente das sanções penais,


Ao cometer atos que importam prejuízo ao erá-
civis e administrativas previstas na legislação espe- rio, o agente estará sujeito a:
cífica, está o responsável pelo ato de improbidade
sujeito às seguintes cominações, que podem ser z Ressarcimento integral do dano;
aplicadas isolada ou cumulativamente, de acordo z Perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente
com a gravidade do fato: (Redação dada pela Lei nº ao patrimônio;
12.120, de 2009). z Perda da função pública;
I - na hipótese do art. 9°, perda dos bens ou valo- z Suspensão dos direitos políticos de 5 (cinco) a 8
res acrescidos ilicitamente ao patrimônio, ressarci- (oito) anos;
mento integral do dano, quando houver, perda da
z Pagamento de multa civil de até 2 (duas) vezes o
função pública, suspensão dos direitos políticos de
oito a dez anos, pagamento de multa civil de até valor do dano;
três vezes o valor do acréscimo patrimonial e proi- z Proibição de contratar com o Poder Público ou de
bição de contratar com o Poder Público ou receber receber benefícios ou incentivos fiscais ou cre-
benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, dire- ditícios, direta ou indiretamente, ainda que por
ta ou indiretamente, ainda que por intermédio de intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio
pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo majoritário pelo prazo de 5 (cinco) anos.
prazo de dez anos;
II - na hipótese do art. 10, ressarcimento integral do Na hipótese de o agente atentar contra os princí-
dano, perda dos bens ou valores acrescidos ilicita-
pios da Administração Pública, estará sujeito ao:
mente ao patrimônio, se concorrer esta circunstân-
cia, perda da função pública, suspensão dos direitos
políticos de cinco a oito anos, pagamento de multa z Ressarcimento integral do dano se houver;
civil de até duas vezes o valor do dano e proibição z Perda da função pública;
de contratar com o Poder Público ou receber bene- z Suspensão dos direitos políticos de 3 (três) a 5
fícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou (cinco) anos;
indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa z Pagamento de multa civil de até 100 (cem) vezes o
jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo valor da remuneração percebida pelo agente;
de cinco anos; z Proibição de contratar com o Poder Público ou de
III - na hipótese do art. 11, ressarcimento integral receber benefícios ou incentivos fiscais ou cre-
do dano, se houver, perda da função pública, sus-
ditícios, direta ou indiretamente, ainda que por
pensão dos direitos políticos de três a cinco anos,
intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio
pagamento de multa civil de até cem vezes o valor
da remuneração percebida pelo agente e proibição majoritário, pelo prazo de 3 (três) anos.
de contratar com o Poder Público ou receber bene-
fícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou E, finalmente, na hipótese prevista no art. 10-A
indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa (ação ou omissão para conceder, aplicar ou manter
NOÇÕES DE DIREITO

jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo benefício financeiro ou tributário), o agente estará
de três anos. sujeito à:
IV - na hipótese prevista no art. 10-A, perda da fun-
ção pública, suspensão dos direitos políticos de 5 z Perda da função pública;
(cinco) a 8 (oito) anos e multa civil de até 3 (três)
z Suspensão dos direitos políticos de 5 (cinco) a 8
vezes o valor do benefício financeiro ou tributário
(oito) anos;
concedido.  (Incluído pela Lei Complementar nº
157, de 2016) z Multa civil de até 3 (três) vezes o valor do benefício
Parágrafo único. Na fixação das penas previstas financeiro ou tributário concedido.
nesta lei o juiz levará em conta a extensão do dano
causado, assim como o proveito patrimonial obtido Essas informações foram resumidas no quadro a
pelo agente. seguir. Vejamos: 111
SUSPENSÃO DOS DIREITOS PROIBIÇÃO DE
MODALIDADES MULTA
POLÍTICOS CONTRATAR
Enriquecimento ilícito 8 a 10 anos Até 3x o valor do dano 10 anos
Prejuízo ao erário 5 a 8 anos Até 2x o valor do dano 5 anos
Atentar contra os princípios
3a5 Até 100x a remuneração 3 anos
da Administração Pública.
Concessão de benefício
5a8 Até 3x o valor do dano
indevido

Importante!
Na fixação das penas previstas na Lei de Improbidade Administrativa, o juiz levará em conta a extensão do
dano causado, assim como o proveito patrimonial obtido pelo agente.

DECLARAÇÃO DE BENS

De acordo com o art. 13 desta Lei, sempre a posse e o exercício de agente público ficam condicionados à apre-
sentação de declaração dos bens e valores que compõem o seu patrimônio privado, a fim de ser arquivada no
serviço de pessoal competente.  Isso servirá para analisar a evolução patrimonial do agente público. Essa decla-
ração compreenderá imóveis, móveis, semoventes (animais como bovinos ou equinos), dinheiro, títulos, ações e
qualquer outra espécie de bens e valores patrimoniais localizados no País ou no exterior e, quando for o caso,
abrangerá os bens e valores patrimoniais do cônjuge ou companheiro, dos filhos e de outras pessoas que vivam
sob a dependência econômica do declarante, excluídos apenas os objetos e utensílios de uso doméstico.
Muitas instituições, sobretudo federais, aceitam que seja utilizada cópia do imposto de renda do servidor.
Desta maneira, alcança-se o acompanhamento do desenvolvimento patrimonial do servidor de forma simples.
De acordo com o § 1° do art. 13, a declaração de bens será anualmente atualizada (e analisada) na data em
que o agente público deixar o exercício do mandato, cargo, emprego ou função.

Art. 13 [...]
§ 3° Será punido com a pena de demissão, a bem do serviço público, sem prejuízo de outras sanções cabíveis,
o agente público que se recusar a prestar declaração dos bens, dentro do prazo determinado, ou que a
prestar falsa.
§ 4° O declarante, a seu critério, poderá entregar cópia da declaração anual de bens apresentada à Delegacia da
Receita Federal na conformidade da legislação do Imposto sobre a Renda e proventos de qualquer natureza, com as
necessárias atualizações, para suprir a exigência contida no caput e no § 2° deste artigo.

PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO E DO PROCESSO JUDICIAL

O art. 14 estabelece que qualquer pessoa pode representar a autoridade administrativa competente, para que
seja instaurada investigação destinada a apurar a prática de ato de improbidade.
A representação escrita ou reduzida a termo e assinada conterá os dados de qualificação do representante,
as informações sobre o fato e sua autoria e apontará as provas de que tenha conhecimento, de acordo com o
§ 1° do art. 14.
Tendo em vista o disposto no § 2°, a autoridade administrativa poderá rejeitar a representação, em despacho
fundamentado, se a representação não apresentar os requisitos mínimos elencados pela lei.
A rejeição da representação não impede que esta seja realizada pelo Ministério Público (§ 2°).
Realizada a representação e atendidos os seus requisitos, a autoridade determinará a imediata apuração dos
fatos, vide § 3° do art. 14.
No caso de servidores federais, será processada na forma da Lei nº 8.112, de 1990 e, tratando-se de servidor
militar, de acordo com os respectivos regulamentos disciplinares, consoante dispõe o § 3° do art. 14.
Por conseguinte, uma vez estabelecida a comissão processante, essa dará conhecimento ao Ministério Público
e ao Tribunal ou Conselho de Contas da existência de procedimento administrativo, para apurar a prática de ato
de improbidade. Vejamos:

Art. 15 A comissão processante dará conhecimento ao Ministério Público e ao Tribunal ou Conselho de Contas da
existência de procedimento administrativo para apurar a prática de ato de improbidade.
Parágrafo único. O Ministério Público ou Tribunal ou Conselho de Contas poderá, a requerimento, designar
representante para acompanhar o procedimento administrativo.

De acordo com o art. 16, havendo fundados indícios de responsabilidade, a comissão representará ao MP ou à
procuradoria do órgão para que requeira ao juízo competente a decretação do sequestro dos bens do agente ou
de terceiro que tenha enriquecido ilicitamente ou causado danos ao patrimônio público.

112
Indícios fundados
de

PROPOSITURA DA AÇÃO
responsabilidade

O Ministério Público, se não Documento ou Ou, com razões

PROPOSITURA DA AÇÃO
Representação intervir no processo como justificação que fundamentadas da
MP ou parte, atuará, obrigatoriamente, contenham indícios impossibilidade de
Procuradoria como fiscal da lei, sob pena de suficientes da exis- apresentação de
nulidade (§ 4° do art. 17). tência do ato de qualquer dessas
improbidade. provas

Pedido de
sequestro dos
bens – de forma
cautelar

Caso a inicial esteja em devida forma, o juiz man-


dará autuá-la e ordenará a notificação do requerido,
Em 30 dias deve
para, por rescrito, oferecer manifestação. A manifes-
ser proposta a
tação poderá ser instruída com documentos e justifi-
ação
cações, tudo no prazo de 15 dias (§ 7°).
Após o recebimento da manifestação, o juiz, em 30
É possível, quando necessário, que o pedido inclua dias, em decisão fundamentada, rejeitará a ação se
a investigação, o exame e o bloqueio de bens, contas convencido da inexistência do ato de improbidade,
da improcedência da ação ou da inadequação da
bancárias e aplicações financeiras do indiciado no
via eleita (§ 8°).
exterior, nos termos da lei e dos tratados internacio-
nais (§ 2°). Art. 17 [...]
De acordo com o art. 17, a ação principal, que terá § 9° Recebida a petição inicial, o réu será citado
o rito ordinário, será proposta pelo Ministério Públi- para apresentar a contestação.
co ou pela pessoa jurídica interessada, dentro de 30 § 10 Da decisão que receber a petição inicial, cabe
agravo de instrumento.
(trinta) dias da efetivação da medida cautelar.
§ 10-A Havendo a possibilidade de solução consen-
sual, poderão as partes pedir ao juiz a interrupção
do prazo para a contestação. Essa interrupção será
Importante! por prazo não superior a 90 dias.
§ 11 Em qualquer fase do processo, reconhecida a
As ações de improbidade administrativa admi- inadequação da ação de improbidade, o juiz extin-
tem a celebração de acordo de não persecução guirá o processo sem julgamento do mérito. [...]
cível, nos termos da Lei de Improbidade Adminis- Art. 18 A sentença que julga procedente a ação civil
de reparação do dano ou decreta a perda dos bens
trativa (§ 1° do art. 17).    
havidos ilicitamente determinará o pagamento ou
a reversão dos bens, conforme o caso, em favor da
pessoa jurídica prejudicada pelo ilícito.
Atente-se ao uso das medidas cautelares. Elas são
adotadas para evitar um prejuízo irrecuperável ou
DISPOSIÇÕES PENAIS
de difícil recuperação, por isso sempre será necessá-
rio que estejam presentes para sua decretação dois No que se refere às disposições penais, constitui
elementos: crime a representação por ato de improbidade con-
tra agente público ou terceiro beneficiário quando o
z Fumus Boni Iuris – indícios de ocorrência – Com- autor da denúncia o sabe inocente (art. 19).
provado;
z Periculum In Mora – risco da demora Art. 19 Constitui crime a representação por ato de
improbidade contra agente público ou terceiro bene-
– Presumido.
ficiário, quando o autor da denúncia o sabe inocente.
Pena: detenção de seis a dez meses e multa.
A Fazenda Pública, em determinados casos, pro- Parágrafo único. Além da sanção penal, o denuncian-
moverá as ações necessárias à complementação do te está sujeito a indenizar o denunciado pelos danos
NOÇÕES DE DIREITO

ressarcimento ao erário (§ 2°). A propositura da ação materiais, morais ou à imagem que houver provocado.
enseja a prevenção da jurisdição do juízo para as
ações posteriormente promovidas desde que possuam
a mesma causa de pedir ou o mesmo objeto (§ 5°). 
Importante!
A perda da função pública e a suspensão dos
§ 6° A ação deve ser instruída com documentos ou direitos políticos só se efetivarão com a decisão
justificações que contenham indícios suficientes da final irrecorrível – trânsito em julgado – da sen-
existência do ato de improbidade ou com razões tença condenatória.
fundamentadas da impossibilidade de apresenta- Não esqueça de que jamais os direitos polí-
ção de qualquer dessas provas, observada a legis- ticos serão perdidos, podendo, somente, ser
lação vigente [...]. suspensos. 113
Art. 20 A perda da função pública e a suspensão PODER HIERÁRQUICO
dos direitos políticos só se efetivam com o trânsito
em julgado da sentença condenatória. Poder hierárquico é o poder que dispõe o Execu-
Parágrafo único. A autoridade judicial ou admi- tivo para organizar e distribuir as funções de seus
nistrativa competente poderá determinar o afas- órgãos, bem como ordenar e rever a atuação de seus
tamento do agente público do exercício do cargo, agentes, estabelecendo uma relação de subordinação
emprego ou função, sem prejuízo da remuneração, entre os servidores do seu quadro de pessoas. As rela-
quando a medida se fizer necessária à instrução ções de hierarquia são características únicas, existem
processual. somente no âmbito do Poder Executivo, isso é, não
existe hierarquia entre órgãos do Poder Legislativo e
Art. 21 A aplicação das sanções previstas nesta lei
do Judiciário. Além disso, importante frisar que não
independe:
existe poder hierárquico entre membros da Adminis-
I - Da efetiva ocorrência de dano ao patrimônio
tração Indireta, pois estes são entidades autônomas,
público, salvo quanto à pena de ressarcimento; que não se subordinam aos entes que o criaram. Pela
II - Da aprovação ou rejeição das contas pelo órgão hierarquia, há a imposição ao subalterno da estrita
de controle interno ou pelo Tribunal ou Conselho obediência às ordens e instruções legais superiores,
de Contas. além de definir a responsabilidade de cada um de
seus agentes e órgãos públicos.
De acordo com o art. 22, para apurar qualquer ilí- Quanto as suas características, diz-se que o poder
cito previsto na lei de improbidade administrativa, o hierárquico é interno e permanente. Interno é o
MP, de ofício ou a requerimento de autoridade admi- poder que atinge apenas os próprios membros da
nistrativa ou, ainda, mediante representação, poderá Administração e não tem o condão de atingir as rela-
ções dos particulares. É também um poder perma-
requisitar a instauração de inquérito policial ou
nente porque não é exercido de modo esporádico e
procedimento administrativo. episódico, como acontece no poder disciplinar.
Do poder hierárquico são decorrentes certas facul-
PRESCRIÇÃO dades implícitas ao superior, tais como dar ordens e
fiscalizar o seu cumprimento, delegar e avocar atri-
O art. 23, que dispõe sobre a prescrição, estabe- buições, bem como rever atos de seus inferiores.
lece que as ações destinadas a levar a efeitos as san- A delegação é a transferência temporária de com-
ções previstas na Lei de Improbidade Administrativa petência administrativa de seu titular, a outro órgão
podem ser propostas de acordo com o estabelecido no ou agente público. A delegação poderá ser vertical
quando a matéria for outorgada a um outro órgão ou
fluxograma seguinte:
agente público subordinado à autoridade outorgante,
permanecendo na mesma linha hierárquica. Mas a
05 anos – Término do mandato, cargo em comis- delegação também poderá ser feita para outro órgão
são ou função de confiança ou agente que esteja fora da sua linha hierárquica,
hipótese que denominamos de delegação horizontal.
PRESCRIÇÃO

O art. 12 da Lei n° 9.784, de 1999, dispõe do mesmo


05 anos – Da data da apresentação de contas modo:

Um órgão administrativo e seu titular poderão,


No prazo da prescrição da demissão a bem do se não houver impedimento legal, delegar parte
serviço público nos cargos efetivos ou empregos da sua competência a outros órgãos ou titulares,
ainda que estes não lhe sejam hierarquicamente
subordinados, quando for conveniente, em razão de
circunstâncias de índole técnica, social, econômica,
jurídica ou territorial.
PODERES DA ADMINISTRAÇÃO Essa transferência de competência é sempre pro-
PÚBLICA visória, o que significa que pode ser revogada a qual-
quer tempo.
A Administração Pública deve cumprir suas atri- A regra geral é sempre a delegabilidade das compe-
buições constitucionais por imposição legal. Para tências. Todavia, a própria legislação (art. 13 da Lei n°
tanto, o exercício de suas funções depende de certas 9.784, de 1999) assevera três matérias que não podem
ser delegadas. Assim, são indelegáveis: a edição de ato
prerrogativas, ou Poderes, conferidos pela legislação.
de caráter normativo, pois constituem-se em regras
Esses poderes são considerados instrumentos de tra- gerais aplicáveis a todos os órgãos, incompatível com
balho. Significa dizer que esses poderes-deveres são a delegação; a decisão em recursos administrativos,
instrumentais, utilizados pela Administração com o para evitar que a mesma autoridade possa julgar o
objetivo maior de promover a supremacia do interes- mesmo processo mais de uma vez pela delegação; e
se público. as matérias que forem consideradas de competência
O fundamento jurídico para que a Administração exclusiva do órgão ou autoridade.
possua tantos poderes e prerrogativas está contido no A avocação encontra-se disposta no art. 15 da Lei
princípio basilar da supremacia do interesse público n° 9.784, de 1999. Consiste na possibilidade da autori-
dade competente de chamar para si a competência de
sobre o privado. Para que o interesse público possa
um agente ou órgão subordinado. Trata-se de medida
prevalecer, sempre, sobre os interesses individuais excepcional e temporária e somente pode ser realizada
de cada cidadão, é imprescindível que a Administra- dentro da mesma linha hierárquica, o que significa que
ção permaneça em uma posição de superioridade em a avocação só pode ser vertical, não se admite a avoca-
114 relação aos demais. ção horizontal. Esquematicamente, temos:
PODER DISCIPLINAR
DELEGAÇÃO AVOCAÇÃO

Distribuição de Absorção de O poder disciplinar consiste na faculdade da Admi-


competências competências nistração de punir seus agentes, nas hipóteses em que
estes tenham cometido alguma infração de ordem
Admite horizontal e funcional. Por exemplo: quando o servidor público
Admite apenas vertical
vertical
se apresenta no serviço embriagado, não apenas uma
vez, mas constantemente, isso é uma transgressão
Por fim, a revisão é a capacidade de rever os atos disciplinar, uma conduta incompatível com a atuação
dos inferiores hierárquicos, apreciando todos os seus dos servidores públicos. Por isso ele deve ser punido,
aspectos para a análise de sua manutenção ou inva- mas essa punição não advém de um processo penal
lidação. É somente possível a revisão de atos prati- (não enseja a prisão), é uma punição aplicável por
cados pelos órgãos públicos e agentes subordinados pessoas de dentro da própria Administração, e geral-
hierarquicamente. mente envolvem ou a suspensão ou a demissão do
Para as entidades da Administração Indireta, real- cargo público.
mente, não há como aplicar o poder hierárquico, uma O poder disciplinar é correlato com o poder hierár-
vez que, por definição, elas não integram a mesma
quico, mas não se confunde com o mesmo. No poder
linha de hierarquia. São entes diferentes do seu cria-
hierárquico, a Administração Pública distribui e esca-
dor, com personalidade jurídica própria, com patri-
lona as suas funções executivas. Já no uso do poder
mônio exclusivo e podendo se responsabilizar em
disciplinar, a Administração simplesmente controla
juízo sem o auxílio da Administração Direta.
O que existe para as entidades da Administração o desempenho de funções e a conduta de seus servi-
Indireta é uma forma de controle fiscalizatório e fina- dores, responsabilizando-os pelas faltas porventura
lístico de seus atos, o qual denomina-se supervisão cometidas.
ministerial. A supervisão é feita pelo ente controla- Em relação as suas características, o poder disci-
dor, geralmente são os entes da Administração Direta plinar é interno, não-permanente ou temporário
(União, Estados, Municípios, Distrito Federal e os seus e discricionário. Assim como o poder hierárquico,
órgãos, ministérios e secretarias). A supervisão não se a imposição de sanções pela Administração não se
confunde com subordinação, pois entende-se que na aplica aos particulares, somente a seus próprios ser-
supervisão o ente controlado possui uma maior mar- vidores, salvo as hipóteses de estes serem contratados
gem de liberdade do que os órgãos hierarquicamente pela Administração Pública. Todavia, distingue-se do
subordinados. A supervisão ministerial não admite, poder hierárquico na medida em que é não-perma-
por exemplo, a possibilidade de revisão dos atos pra- nente, isso é, só será aplicado se e quando o servidor
ticados pela entidade controlada, pois a revisão é uma cometer infração funcional. Percebe-se, então, que o
forma de controle de mérito dos atos administrativos. poder disciplinar apresenta caráter punitivo e sancio-
Isso infere na autonomia garantida constitucional- nador, enquanto o poder hierárquico advém da sim-
mente a essas entidades.
ples obediência dos subalternos para com a entidade
detentora deste poder.
A discricionariedade do poder disciplinar traduz-
Importante!
-se na possibilidade da Administração em poder esco-
Cuidado para não confundir alguns conceitos. lher qual a punição mais apropriada para cada caso,
Quando um ato administrativo é ilícito (contrário isso é, ela possui certa margem de liberdade para o
a Lei), a hipótese de controle recai sobre a lega- seu exercício. Claro que, dentre essas escolhas, o
lidade do ato. Se o vício for insanável, a hipótese administrador não pode escolher “não punir” o agen-
é de anulação, e pode ser realizada tanto pela te público. Por isso, costuma-se dizer que, quanto ao
Administração Pública quanto pelo Poder Judi- dever de punir, esse tem natureza vinculada. A discri-
ciário. Por outro lado, quando o ato for conside- cionariedade atinge, somente, quanto à modalidade
rado inconveniente e inoportuno, discricionário, de punição que deve ser aplicada.
o Poder Judiciário não pode exercer controle Os servidores públicos que cometerem qualquer
de mérito, pois essa é uma tarefa exclusiva da infração no exercício de suas funções estão sujeitos
Administração, dentro da sua linha hierárquica. às seguintes penalidades, dispostas no art. 127 da Lei
O método mais correto para o ato inconveniente, n° 8.112, de 1990: advertência; suspensão; demissão;
neste caso, é o da revogação. cassação de aposentadoria ou disponibilidade; desti-
tuição de cargo em comissão e destituição de função
NOÇÕES DE DIREITO

comissionada. A aplicação de qualquer uma dessas


Lembrando que são considerados entes da Admi-
penalidades depende de prévio processo administra-
nistração Indireta: as autarquias, as fundações, as
tivo, respeitada a garantia de contraditório e ampla
empresas públicas e as sociedades de economia mista.
Do mesmo modo, não há que se falar em Poder Hie- defesa, sob pena de nulidade da sanção. Sobre qual
rárquico quando estamos diante de pessoas e órgãos sanção será aplicada, isso vai depender de cada caso,
independentes. Por exemplo: não há uma relação de considerando os danos que sua conduta causarem, se
hierarquia entre as pessoas que ocupam cargos polí- houve aspectos agravantes ou atenuantes, se o agente
ticos. Não há hierarquia, também, entre os membros público é primário ou reincidente, e os seus antece-
dos Três Poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário): dentes funcionais (art. 128, Lei n° 8.112, de 1990).
eles atuam de forma independente e harmônica entre O processo disciplinar será visto, em maiores deta-
si, um não se subordina ao outro. lhes, no capítulo referente aos Agentes Públicos. 115
PODER REGULAMENTAR Existem diversas espécies de regulamentos admi-
nistrativos:
O poder regulamentar consiste na possibilidade do
Chefe do Poder Executivo de cada entidade da Federa- z Regulamentos administrativos ou de organiza-
ção de editar atos administrativos gerais, abstratos ou ção: são aqueles que disciplinam questões internas
concretos, expedidos para dar fiel cumprimento à lei. de estruturação e funcionamento da Administra-
Seu fundamento legal encontra-se disposto no inciso ção Pública, bem como as relações jurídicas de
IV, art. 84 da CF, de 1988: sujeição especial do Poder Público perante par-
ticulares. Exemplo: regulamento que disciplina
Compete privativamente ao Presidente da Repú- organização e funcionamento da administração
blica: IV - sancionar, promulgar e fazer publicar federal (alínea a, inciso VI, art. 84, da CF, de 1988);
as leis, bem como expedir decretos e regulamentos z Regulamentos habilitados ou delegados: em
para sua fiel execução. alguns países, há a possibilidade de o Poder Legis-
lativo delegar ao Executivo a disciplina de maté-
Tal ato é de competência exclusiva do Presiden- rias reservadas privativamente à lei, havendo
te, o que significa que seria indelegável a qualquer uma transferência de competência legislativa.
Tais regulamentos não são admitidos no direito
subordinado. Porém, isso não é totalmente correto: o
administrativo brasileiro;
parágrafo único do mesmo dispositivo constitucional
z Regulamentos executivos: são os regulamentos
diz que há a possibilidade do Presidente delegar algu-
comuns, expedidos sobre matéria disciplinada pela
mas de suas atribuições para os Ministros de Estado, o legislação, permitindo a fiel execução da norma
Procurador-Geral da República ou ainda para o Advo- legal. É a hipótese do inciso IV, art. 84, da CF, de 1988;
gado-Geral da União. Além disso, este poder pode ser z Regulamentos autônomos: são os que dispõem
exercido, por simetria, pelos Governadores e Prefei- sobre tema não disciplinado pela legislação. Há
tos. Assim, para fins didáticos, costuma-se dizer que um conjunto de temas que a norma constitucio-
o poder regulamentar só pode ser delegado excepcio- nal retirou da competência do Poder Legislativo e
nalmente, com algumas restrições. atribuiu sua disciplina ao Poder Executivo. A EC n°
Vale notar quais competências do Presidente da 32, de 2001, elenca dois temas que só podem ser
República podem ser delegadas? O art. 84 pode ser disciplinados por decreto expedido pelo Presiden-
um tanto confuso nesse sentido, mas a interpretação te da República: a organização da administração
correta é a de que, em regra, as competências do Pre- federal; e a extinção de funções e cargos vagos e
sidente são exclusivas e indelegáveis. Excepcional- não ocupados.
mente, a matéria disposta nos incisos VI (dispor
mediante decreto sobre a organização e funciona- PODER DE POLÍCIA
mento da administração federal quando não implicar
aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos Devemos nos aprofundar mais no Poder de Polícia,
públicos; e a extinção de funções ou cargos públicos, uma vez que é a espécie de poder da Administração que
quando vagos), XII (conceder indulto e comutar penas, tem mais chances de cair em uma questão de prova.
com audiência, se necessário, dos órgãos instituídos em A expressão “poder de polícia” pode ser interpre-
lei), e a primeira parte do inciso XXV (prover os car- tada de duas maneiras: em um sentido amplo, cor-
gos públicos federais, na forma da lei) são competên- responde a qualquer limitação estatal à liberdade e
cias que podem ser transferidas para as pessoas propriedade privada, de origem administrativa ou
públicas previstas no parágrafo único do referido legislativa. Há também o poder de polícia em senti-
do restrito, mais utilizado pela doutrina, que engloba
art. 84. Observe que a competência para extinguir o
apenas as restrições impostas pelas limitações admi-
cargo público enquanto ainda ocupado não pode ser
nistrativas, excluindo as limitações de ordem legal.
delegada.
Em sentido restrito, envolve atividades administrati-
Uma das palavras chave do poder regulamen- vas de fiscalização e condicionamento da esfera priva-
tar é regulamento. Trata-se de ato administrativo da de interesses, em prol da coletividade.
que tem por escopo estabelecer detalhes e diretrizes O poder de polícia tem grande destaque no exer-
quanto ao modo de aplicação dos dispositivos legais, cício das funções da Administração moderna, junto
dando maior concretude aos comandos gerais e abs- com a prestação de serviços públicos e o fomento à
tratos presentes na legislação. Não se confunde com o iniciativa privada. Porém, essas duas funções repre-
decreto, que é outro ato administrativo que introduz o sentam uma atuação estatal ampliativa, enquanto que
regulamento em si. Decreto representa a forma do ato o poder de polícia representa uma atuação restritiva
administrativo, enquanto o regulamento representa do Estado, limitando a liberdade e a propriedade indi-
seu conteúdo. vidual em favor do interesse público.
Ambos os decretos e regulamentos são atos em O art. 78 do Código Tributário Nacional (CTN) tem
posição de inferioridade em relação as leis e, por seu conceito legal de poder de polícia:
isso, não são capazes de criar direitos e obrigações
aos particulares sem fundamento legal. Suas funções Art. 78 Considera-se poder de polícia atividade da
primordiais, no entanto, são a redução da margem de administração pública que, limitando ou discipli-
interpretação das normas, pois se um decreto dispõe nando direito, interesse ou liberdade, regula a práti-
ca de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse
qual é a forma mais correta de aplicação da lei, esta
público concernente à segurança, à higiene, à ordem,
perde um pouco de seu caráter geral e abstrato, seu aos costumes, à disciplina da produção e do merca-
campo de discricionariedade é reduzido a uma úni- do, ao exercício de atividades econômicas dependen-
ca forma válida de aplicação no âmbito jurídico. Por tes de concessão ou autorização do Poder Público, à
isso, o poder regulamentar apresenta natureza tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e
116 vinculada. aos direitos individuais ou coletivos.
Diante de tudo que foi exposto, podemos conceituar Porém, vale ressaltar as hipóteses de obtenção de
“poder de polícia” como a atividade da Administra- licença. A licença é ato administrativo relacionado ao
ção Pública, com fundamento na lei e na supremacia poder de polícia, que apresenta previsão legal para a sua
geral, que consiste na imposição de limites à liberdade obtenção, tratando-se, por isso, de ato vinculado. Com isso,
e à propriedade dos particulares, regulando a prática podemos afirmar que a manifestação do poder de polícia
desses atos, ou a abstenção dos mesmos, manifestan- pode ocorrer mediante a expedição de atos no exercício
do-se por meio de atos normativos ou concretos, tudo da competência discricionária da Administração, ou por
isso em benefício do interesse público. meio de atos vinculados, com a devida previsão legal.
Ao dizer que se trata de atividade da Administra- O poder de polícia também é em regra indelegável,
ção Pública, procuramos enfatizar a concepção stric- uma vez que pressupõe a posição de superioridade
to sensu do poder de polícia, que não se confunde com de quem o exerce, não podendo ser transferido a par-
as limitações à liberdade e ao direito de propriedade ticulares (inciso III, art. 4°, da Lei n° 11.079, de 2004).
impostas pelo legislador. Por ser atividade da Admi- Obviamente, o poder de império é único e exclusivo do
nistração, deve ser exercido respeitando-se os princí- Estado, se ele pudesse ser transferido a particulares, tal
pios da razoabilidade e proporcionalidade. medida seria um atentado contra a paz social.
A fundamentação legal é outro aspecto importan- Todavia, isso não impede que o Poder Público pos-
te do poder de polícia, uma vez que a lei condiciona o sa delegar as atividades consideradas preparatórias
exercício de determinadas atividades à obtenção de ou sucessivas do poder de polícia. Essa delegação é
licenças ou concessões pelo Poder Público. O legisla-
possível, desde que esses entes que recebem essa dele-
dor deve, então, elaborar os requisitos necessários
gação (entes da administração indireta, pessoas jurí-
para o exercício do poder de polícia pelo Estado.
dicas de direito privado, particulares etc.) tenham um
O poder de polícia tem por objeto a imposição de
vínculo com a própria Administração.
limitações à liberdade e propriedade dos particu-
lares, instituindo condições capazes de compatibili-
Polícia Administrativa e Polícia Judiciária
zar seu exercício às necessidades de interesse público.
Tais imposições também podem ser aplicadas ao Esta-
do. Isso significa que até mesmo o Poder Público pode A concepção do poder de polícia abrange muito
ter suas liberdades e propriedades sofrendo limita- mais do que a simples promoção de segurança públi-
ções em face das necessidades do interesse público. ca. Todavia, é imprescindível destacar as atividades
Para o seu exercício, a Administração Pública deve estatais de prevenção e repressão da criminalidade
regular a prática dos atos ou a abstenção de fatos. sob a ótica do poder de polícia. Assim, costuma-se
Em regra, o poder de polícia manifesta-se em obrigações dividir a atuação do Estado para promoção da segu-
negativas, ou de não fazer, impostas aos particulares, rança pública em duas categorias de “polícias” distin-
limitando a esfera de atuação dos seus direitos. Excep- tas: a polícia administrativa e a polícia judicial.
cionalmente, pode também manifestar-se mediante A polícia administrativa tem um caráter pre-
obrigações positivas ou de fazer, como é o caso da impo- ventivo. Isso significa que a sua atuação deve ocorrer
sição da função social da propriedade ao dono do imó- antes da prática do delito, tendo por finalidade evitar a
vel, disposta no inciso XXII, art. 5° da CF, de 1988. sua ocorrência. Submete-se às regras de Direito Admi-
O poder de polícia se manifesta pela expedição de nistrativo. No Brasil, a polícia administrativa é exer-
atos normativos, como é o caso das regras sobre o direi- cida por diversos órgãos de fiscalização de diversas
to de construir, ou por meio de atos concretos, como a áreas, como saúde, educação, trabalho, previdência e
obtenção de licença para a reforma de um imóvel, cujo assistência social. A polícia administrativa protege os
interesse é exclusivo do particular (proprietário do imó- interesses primordiais da sociedade ao impedir com-
vel, no caso). Ele se difere do Poder Disciplinar quanto portamentos individuais que possam causar prejuízos
ao destinatário da sanção: o Poder de Polícia somente maiores à coletividade.
atinge os particulares, isso é, aquelas pessoas da esfera A polícia judiciária, por sua vez, apresenta cará-
privada que não integram a Administração Pública. O ter repressivo. Sua atuação ocorre após a constatação
Poder Disciplinar, por sua vez, é um poder interno que de um crime. Após sua ocorrência, deve a polícia judi-
não atinge particulares, e sim os próprios agentes públi- ciária abrir um processo de investigação em busca
cos dentro da Administração. da autoria e da materialidade do crime. Sua razão de
Por fim, convém ressaltar a finalidade do poder de ser é a punição dos infratores. Rege-se pelas regras de
polícia: agir em prol do interesse público. Por isso, Direito Processual Penal. Ela incide sobre pessoas, ao
o Estado deve conciliar os direitos individuais, com contrário da polícia administrativa, que age sobre a
o interesse da coletividade. Tal finalidade é típica da atividade das pessoas. A função de polícia judiciária é
Administração Pública, pois tem como fundamento o exercida pelas corporações especializadas, denomina-
princípio sistêmico da primazia do interesse público das Polícia Civil e Polícia Federal.
sobre o privado.
NOÇÕES DE DIREITO

Natureza Jurídica do Poder de Polícia

Quanto a sua natureza jurídica, é entendimento FATOS E ATOS ADMINISTRATIVOS


majoritário que o poder de polícia é discricionário.
Na doutrina, muitos autores costumam definir poder CONCEITO
de polícia utilizando-se da expressão “faculdade que
o Estado possui de impor limites”. Isso quer dizer que Para o Direito, os atos são aqueles capazes de moti-
não apresenta características de obrigação legal, mas var efeitos jurídicos. Logo, assim como as pessoas na
de uma permissão. A escolha sobre qual método utili- vida privada, a Administração Pública também prati-
zar para o exercício do referido poder, e quando, com- ca atos, os quais possuem potencial de produzir efei-
pete somente à própria Administração Pública. tos jurídicos diversos. 117
Para Hely Lopes Meirelles, atos administrativos z Imprescritível, porque a competência perdura ao
são as manifestações de vontade da Administração longo do tempo, ela não caduca;
Pública que objetivam adquirir, resguardar, transfe- z Improrrogável significa dizer que se é competente
rir, modificar, extinguir e declarar direitos ou impor hoje, continuará sendo sempre, exceto por previ-
obrigações aos particulares ou a si própria. Isso signi- são legal expressa em sentido contrário.
fica que a Administração, antes mesmo de iniciar sua
atuação, deve expedir uma declaração que exprime a No entanto, essas características não vedam a pos-
sua vontade de realizar o referido ato. sibilidade de delegação, quando prevista em lei. Por
Importante frisar o caráter infralegal dos atos isso, pode-se dizer também que a delegabilidade é
administrativos, pois imprescindível é a submissão da outra característica da competência. Porém, atente-se
Administração Pública, seus agentes e órgãos à sobe- ao disposto no art. 13 da Lei nº 9.784, de 1999:
rania popular.
Não podem ser objeto de delegação:

Importante! I - a edição de atos de caráter normativo;


II - a decisão de recursos administrativos;
É imprescindível, assim, que o ato administrativo III - as matérias de competência exclusiva do órgão
esteja previsto em lei, sendo que seu conteúdo ou autoridade. Alguns atos, então, não podem ser
não pode ser contrário a ela (contra legem), mas delegados a outras autoridades, principalmente se
deve complementá-la, apresentando, então, uma tais atos são de competência exclusiva do agente
conformidade (secundum legem). público.

Objeto
REQUISITOS DO ATO ADMINISTRATIVO
Objeto é o conteúdo do ato, ou o resultado que
Os requisitos ou elementos dos atos administrati- pretende ser almejado pela prática do ato administra-
vos são assuntos com imensa divergência doutrinária. tivo. Todo ato administrativo tem por objeto a cria-
A maioria dos concursos públicos ainda adota a con- ção, modificação, ou comprovação de situações
cepção mais clássica dos requisitos dos atos adminis- jurídicas concernentes a pessoas, bens, ou atividades
trativos e, por isso, daremos maior destaque a ela. sujeitas ao exercício do Poder Público. É por meio dele
De modo geral, a corrente clássica, defendida por que a Administração exerce seu poder, concede um
autores, como Hely Lopes Meirelles, tende a dispor benefício, aplica uma sanção, declara sua vontade,
cinco requisitos dos atos administrativos para a sua estabelece um direito do administrado etc.
formação, utilizando, como inspiração, o preceito O objeto pode não estar previsto expressamente
legal disposto no art. 2º da Lei nº 4.717, de 1965. São na legislação, cabendo ao agente competente a opção
eles: que seja mais oportuna e conveniente ao interesse
público. A definição de objeto do ato administrativo
a) competência; trata-se, por isso, de ato discricionário.
b) objeto;
c) forma; Forma
d) motivo;
e) finalidade. A forma é o modo por meio do qual se exterioriza
o ato administrativo, é seu revestimento. O desrespeito
Competência à forma do ato acarreta na sua nulidade. Trata-se de
ato vinculado, quando exigida por Lei, e discricionário
Competência diz respeito à capacidade do agente quando a sua escolha couber ao próprio agente público.
público para o exercício dos atos administrativos. É Em regra, os atos administrativos são sempre exte-
requisito de validade, haja vista que, no Direito Admi- riorizados por escrito, mas podem também ser orais,
nistrativo, a lei é quem estabelece as competências gestuais, ou até mesmo expedidos por máquinas. O art.
atribuídas a seus agentes para o desempenho de suas 22 da Lei nº 9.784, de 1999, determina que “os atos do
funções. Quando o agente atua fora dos limites da lei, processo administrativo não dependem de forma deter-
diz-se que cometeu ato nulo por excesso de poder. É, minada senão quando a lei expressamente a exigir”.
por isso, sempre um ato vinculado.
A competência possui certas características pró- Motivo
prias, a saber: obrigatória, intransferível, irrenun-
ciável, imodificável, imprescritível e improrrogá- O motivo é a circunstância de fato ou de direito que
vel. Veremos de modo mais específico cada uma delas determina ou autoriza a prática do ato, isso é, a situa-
a seguir: ção fática que justifica a realização do ato. Situação
de fato é o conjunto de circunstâncias que motivam
z Obrigatória, porque representa um dever do agen- a realização do ato; questões de direito é a previsão
te público; legal que leva à realização do ato.
z Intransferível significa que, de modo geral, a com- O motivo pode ser tanto requisito vinculado como
petência é um quesito personalíssimo, não pode discricionário, dependendo do comando legal impos-
ser transferido para terceiros; to aos agentes. Assim, o motivo será vinculado quando
z Irrenunciável, porque o agente público não pode a lei expressamente obrigar o agente a agir de um cer-
abrir mão de sua competência; to modo, como na hipótese de lançamento tributário
z Imodificável significa que a competência, uma vez (o fiscal da Receita não tem direito de escolha, se deve
118 estabelecida, não pode sofrer alterações posteriores; ou não fazer o lançamento).
Situação diversa é a do pedido de demissão de ser- Veremos cada um desses atributos de modo mais
vidor público no caso de incontinência pública (inciso específico a seguir:
V, do art. 132, da Lei nº 8.112, de 1990), hipótese em Presunção de legitimidade e veracidade.
que a autoridade competente tem maior liberdade Também pode ser denominado presunção de
para avaliar se a demissão é realmente ato necessário legalidade. Significa que todo ato administrativo
ou não, dependendo do caso concreto. é considerado válido no âmbito jurídico até surgir
Não se confunde motivo com motivação, essa é prova em contrário. Se, pelo princípio da legalidade,
ao Administrador só cabe fazer o que a lei permite,
a justificativa para a realização de determinado ato.
então, presume-se que o fez respeitando a lei.
O motivo ocorre em momento anterior à prática do
Nosso Direito admite duas formas de presunção:
ato, enquanto que a motivação, por ser uma série de
explicações que justificam a expedição do ato, ocorre
z Presunção juris et de jure que significa “de direito e
sempre em momento posterior. Assim, todo o ato tem por direito”, é presunção absoluta, que não admite
seu motivo (Teoria dos Motivos Determinantes), mas prova em contrário;
nem sempre é expedido adjunto com a motivação, z Presunção juris tantum, resultante do próprio
que nada mais é do que a exteriorização dos motivos. direito e, embora por ele estabelecida como verda-
deira, admite prova em contrário.
Finalidade
A presunção dos atos administrativos é juris tan-
Finalidade é o objetivo a ser almejado pela prática tum. Trata-se, então, de presunção relativa. Cabe ao
daquele ato administrativo. Em muitos casos, o obje- particular que alegou a ilegalidade do ato administra-
tivo almejado é a proteção do interesse público. Sem- tivo provar a carência de legitimidade do mesmo.
pre que o ato for praticado, tendo em vista o interesse A presunção atinge todos os atos, inclusive aque-
alheio, será nulo por desvio de finalidade. les praticados pela Administração com base no direi-
Por exemplo: o trancamento de um estabelecimen- to privado. Qualquer que seja o ato, se praticado pela
to, após constatação de falta de cuidados higiênicos Administração Pública, será presumidamente legíti-
mo e verdadeiro.
com os alimentos, visa a proteção da vida e da saúde
dos cidadãos que frequentam aquele local. Pode-se
Imperatividade
afirmar, de modo geral, que a finalidade de um ato
administrativo sempre será a proteção dos direitos e
Compreendida também como coercibilidade, os
garantias fundamentais da pessoa humana.
atos administrativos se impõem aos destinatários,
Além dessa concepção clássica, há também uma independentemente de sua concordância, outorgan-
classificação mais moderna dos requisitos dos atos do-lhes deveres e obrigações. A imperatividade garan-
administrativos, elaborada por autores como Celso te ao Poder Público a capacidade de produzir atos
Antônio Bandeira de Mello. Por ser pouco utilizada que geram consequências perante terceiros. O Estado
em concursos públicos, observaremos apenas os pon- somente consegue alcançar seus objetivos de forma
tos essenciais e didáticos da referida classificação. eficiente se ele se encontrar em posição superior aos
Para essa concepção moderna, são requisitos dos seus governados.
atos administrativos: A justificativa da criação unilateral, ainda que
contra a vontade dos administrados, dos atos admi-
a) sujeito; nistrativos é o Poder coercitivo do Estado, também
b) motivo; denominado Poder Extroverso ou Poder de Império.
c) requisitos procedimentais; Esse não é um atributo comum a todos os atos, mas
d) finalidade; tão somente aos que impõem obrigações aos adminis-
e) causa; trados. Assim, não têm essa característica os atos que
f) formalização. outorgam direitos (autorização, permissão, licença),
bem como aqueles meramente administrativos (cer-
Sujeito, requisitos procedimentais e causa são os tidão, parecer).
requisitos vinculados, enquanto que o motivo, a fina-
lidade e a formalização são requisitos discricionários. Exigibilidade

ATRIBUTOS DO ATO ADMINISTRATIVO Consiste no atributo que permite à Administração


Pública aplicar sanções aos particulares por violação
da ordem jurídica, sem a necessidade de recorrer ao
Atributos são as características dos atos adminis-
processo judicial, que é demasiado longo e repleto de
trativos, que os distinguem dos demais atos jurídicos, solenidades. A exigibilidade permite ao Administrador
pois estão submetidos ao regime jurídico administra- aplicar as sanções administrativas, como multas, adver-
NOÇÕES DE DIREITO

tivo. Essas características traduzem em prerrogativas tências e interdição de estabelecimentos comerciais.


concedidas à Administração Pública para que ela pos-
sa atender de maneira adequada as necessidades da Autoexecutoriedade
população.
A doutrina moderna faz referência a cinco atribu- A autoexecutoriedade permite que a Administra-
tos distintos: ção Pública possa realizar a execução material de
seus atos. A expressão “auto” advém do fato de que
a) presunção de legitimidade e veracidade; o Poder Público não necessita de autorização judicial
b) imperatividade; para desconstituir a situação irregular e violadora da
c) exigibilidade; ordem jurídica, o que a difere da exigibilidade, que
d) auto executoriedade; não tem o condão de, por si só, desconstituir a irregu-
e) tipicidade. laridade do ato, apenas pune o infrator. 119
Para tanto, necessita da presença de dois requi- z Atos discricionários: a lei também estabelece
sitos: a previsão legal, como nos casos de Poder de uma série de regras para a prática de um ato, mas
Polícia; e o caráter de urgência, a fim de preservar o deixa certo grau de liberdade ao agente público,
interesse coletivo. que poderá optar por um entre vários caminhos
Assim, não há necessidade de intervenção judicial
igualmente válidos. Há uma avaliação subjetiva
nas hipóteses de: apreensão de mercadorias contra-
bandeadas, na demolição de construção irregular, prévia à edição do ato. É o caso das permissões
na interdição de estabelecimento comercial irregu- para o uso de bem público. No caso de o ato dis-
lar, entre outros. Todavia, afirmar que a execução cricionário não ser mais conveniente e oportuno
independe de manifestação do Judiciário não signifi- para a Administração Pública, a solução mais cor-
ca dizer que escapa do controle judicial. Poderá ser reta para sua extinção é a revogação.
levado ao crivo, mas somente a posteriori, depois
de seu cumprimento, se houver provocação da par- Quanto à Formação de Vontade
te interessada. As medidas judiciais mais adequadas
para contestar a força coercitiva administrativa são o
z Atos simples: são aqueles que nascem da manifes-
mandado de segurança e o habeas data (incisos LXIX e
tação de vontade de apenas um órgão, seja ele uni-
LXVIII, do art. 5º, da CF, de 1988).
Importante ressaltar ainda que os princípios da pessoal (formado só por uma pessoa) ou colegiado
razoabilidade e proporcionalidade impõem limites (composto por várias pessoas). O ato que altera
na atuação coercitiva dos agentes públicos. A autoe- o horário de atendimento da repartição pública,
xecutoriedade (leia-se o uso de força física) deve ser emitido por uma única pessoa, bem como a deci-
utilizada com bom senso e moderação. são administrativa do Conselho de Contribuintes
do Ministério da Fazenda, que expressa vontade
Tipicidade única apesar de ser órgão colegiado, são exemplos
de atos simples;
A tipicidade diz respeito à necessidade de respei- z Atos complexos: são aqueles que se formam pela
tar as finalidades específicas delimitadas pela lei, para
união de várias vontades, isso é, que necessitam da
cada espécie de ato administrativo. Dependendo da
finalidade que o Poder Público almeja, existe um ato manifestação de vontade de dois ou mais órgãos
definido em lei. A lei deve sempre estabelecer os tipos diferentes para a sua formação. Enquanto todos os
de atos e suas consequências, promovendo ao particu- órgãos competentes não se manifestarem da for-
lar a garantia de que a Administração Pública não fará ma devida, o ato não estará perfeito;
uso de atos inominados, sem tipificação, que impõe z Atos compostos: é aquele que advém de mani-
obrigações cuja previsão legal não existe. É um atri- festação de apenas um órgão. Porém, para que
buto que deriva do próprio princípio da legalidade. produza efeitos, depende da aprovação, visto,
ou anuência de outro ato, que o homologa, como
Dica condição para a executoriedade daquele ato. Cos-
A tipicidade é uma característica marcante da tuma-se afirmar que o ato posterior é acessório
expropriação de bens particulares pelo Poder do anterior, pois a manifestação do segundo ato
Público. É o caso de desapropriação administrati- não possui a mesma matéria do primeiro: ele ape-
va, hipótese em que o Poder Público tem a prerro- nas complementa a aplicação deste. Exemplo: a
gativa de tirar da esfera de alguma pessoa física nomeação de servidor público, que deve sempre
a titularidade sobre bem imóvel, transformando- anteceder a sua aprovação em concurso público.
-o em bem público. Para tanto, deve realizar um
procedimento envolvendo aspectos mais comple- Quanto aos Destinatários
xos, como a declaração de utilidade ou necessi-
dade pública (inciso XXIV, art. 5º, da CF, de 1998), z Atos gerais: são o conjunto de regras de caráter
bem como a necessidade de prévia indenização abstrato e impessoal. Seus destinatários são mui-
ao particular que teve seu bem expropriado, em tos, mas unidos por características em comum, que
pecúnia (§ 3º, do art. 182, da CF, de 1988). os faz destinatários do mesmo ato. Para produzi-
rem seus efeitos, já que externos, devem ser publi-
CLASSIFICAÇÃO
cados na imprensa oficial. Exemplos: os editais de
concurso público, as instruções normativas;
Atos administrativos existem dos mais variados
tipos. Para efeitos didáticos, costuma-se dividir e z Atos coletivos: são aqueles expedidos a um grupo
agrupá-los, formando-se uma verdadeira classificação definido de destinatários. É o caso, por exemplo,
desses atos. Portanto, passemos a analisar as diversas de alteração de horário de funcionamento de uma
modalidades de atos administrativos, observando os repartição pública. Tal ato, evidentemente, somen-
seguintes critérios: te é do interesse daqueles funcionários. A publici-
dade é atendida apenas com a comunicação dos
Quanto ao Grau de Liberdade interessados, visto que é um ato interno da Admi-
nistração Pública;
z Atos vinculados: são aqueles praticados pela z Atos individuais: são aqueles destinados a ape-
Administração Pública sem nenhuma liberdade
nas um único destinatário. Exemplo: a promoção
de atuação. A lei define todas as margens de sua
conduta. Havendo vício no ato vinculado, pode-se de um determinado servidor público. A exigência
pleitear a sua anulação, pois trata-se de vício de da publicidade depende somente da comunicação
legalidade. É o caso, por exemplo, da concessão de do interessado, não há necessidade de publicação
120 aposentadoria para o contribuinte beneficiário; pelo Diário Oficial.
Quanto aos Efeitos Alguns autores como, Celso Antônio Bandeira de
Mello salientam que há uma mescla dessa última
z Atos constitutivos: são aqueles que geram uma classificação, o que significa que o ato administrativo
nova situação jurídica aos destinatários. Pode ser pode se encontrar de diversas formas, tais como:
pela outorga de um novo direito, como permissão
de uso de bem público, ou a imposição de uma obri- a) perfeito, válido e eficaz;
gação, como estabelecer um período de suspensão; b) perfeito, válido e ineficaz;
z Atos declaratórios: são aqueles que afirmam uma c) perfeito, inválido e ineficaz;
situação já existente, seja de fato ou de direito. Não d) imperfeito, inválido e ineficaz.
cria, transfere ou extingue situação jurídica, ape-
nas a reconhece. É o caso da expedição de uma cer- Os critérios apresentados não são exaustivos: há
tidão de tempo de serviço; outras formas de classificação dos atos administrati-
z Atos modificativos: são os que tem capacidade de vos adotadas por diversos autores. Escolhemos apre-
alterar a situação já existente, sem que seja extin- sentar aqueles que têm mais chances de aparecer em
ta. Todavia, não tem o condão de criar direitos e uma questão de prova.
obrigações. Exemplo: a alteração do horário de
atendimento da repartição; REVOGAÇÃO E ANULAÇÃO
z Atos extintivos: também denominados atos des-
constitutivos, são aqueles que põem termo a um Os atos administrativos possuem um ciclo de vida.
direito ou dever pré-existentes. Exemplo: a demis- Eles são criados, começam a produzir efeitos e, depois
são de servidor público. de um tempo, desaparecem. Vamos analisar com mais
detalhes justamente o desaparecimento dos atos admi-
Quanto ao Objeto nistrativos, embora seja preferível utilizar o termo
“extinção” ou “invalidação” dos atos administrativos.
Para melhor compreensão do tema, a doutrina utili-
z Atos de império: são aqueles praticados pela
za-se de uma sistematização das formas de extinção dos
Administração em posição de superioridade
atos administrativos. A principal divisão que deve ser
perante os particulares, como na imposição de
feita é em relação à produção de efeitos: existem atos
multa por infração administrativa;
administrativos eficazes e atos ineficazes. Quando ine-
z Atos de gestão: são expedidos pela Administra-
ficaz, o ato pode ser extinto pela retirada, ou pela sua
ção, em posição de igualdade em relação aos admi-
recusa pelo beneficiário. Tratando-se de atos eficazes,
nistrados. É o caso da alienação de bem público;
há quatro formas de extinção dos atos administrativos:
z Atos de expediente: são atos internos, elaborados
por autoridade subalterna, que não tem capacida-
z Extinção ipsu iure pelo cumprimento dos efei-
de decisória. Exemplo: numeração dos autos no
tos: é a extinção que ocorre pelo cumprimento
processo judicial.
integral dos efeitos do ato administrativo. É a
extinção natural esperada por todo ato adminis-
Quanto à Exequibilidade trativo. Pode ocorrer mediante:
z Atos perfeitos ou imperfeitos: a perfeição diz „ Esgotamento do conteúdo, como a vacina-
respeito aos atos que completaram seu processo de ção de enfermos após expedição de ordem de
formação, isso é, que já apresentam todos os cinco entrega das vacinas;
elementos do ato administrativo (agente, forma, „ Execução da ordem, como o guinchamento de
finalidade, objeto e motivo). Por outro lado, atos veículo;
imperfeitos são os que ainda não completaram seu „ Implemento de condição resolutiva ou ter-
processo de formação, seja porque carecem de um mo final, como o prazo final para renovação
dos cinco elementos, seja porque recai uma condição da CNH.
suspensiva que impede que o ato se torne perfeito;
z Atos válidos ou inválidos: a validade não é sinô- z Extinção ipsu iure pelo desaparecimento da pes-
nimo de perfeição, uma vez que possui relação soa ou objeto: os atos administrativos podem tra-
com o ordenamento jurídico, e não com os elemen- tar das pessoas ou coisas. Desaparecendo um desses
tos constitutivos. Todo ato administrativo válido elementos, o ato extingue-se automaticamente, pois
deve ter uma norma jurídica como fundamento, perdeu a sua utilidade. As pessoas “desaparecem”
caso contrário, é considerado um ato ilícito (inváli- com seu falecimento, como a morte de servidor
do), podendo ser anulado; público que receberia promoção; e as coisas com
z Atos eficazes ou ineficazes: o critério analisado a sua ruína ou destruição, como o desabamento de
aqui é a eficácia dos atos administrativos. Ato efi- prédio que recebeu licença para a sua reforma;
NOÇÕES DE DIREITO

caz é aquele que já está produzindo efeitos concre- z Extinção por renúncia: ocorre quando o próprio
tos. São considerados eficazes porque sobre eles beneficiário abre mão da situação proporcionada
não recai nenhum prazo ou condição suspensiva. pelo ato administrativo. É o caso da exoneração de
Já os atos ineficazes são aqueles que não podem cargo público a pedido do seu ocupante;
produzir seus efeitos, seja por motivos de perfei- z Retirada do ato: é a forma mais importante de
ção, seja pela ausência de um outro ato adminis- extinção dos atos administrativos, para os concur-
trativo que o homologue. É o caso, por exemplo, sos públicos. É a extinção que se dá pela expedi-
da investidura de candidato em um cargo públi- ção de um segundo ato, elaborado para extinguir
co. Tal ato por si só é ineficaz, se o candidato não ato administrativo anterior a ele. Comporta cinco
tiver, além de ser aprovado em concurso público, modalidades, que serão vistas com maiores deta-
realizado outro ato que é a assinatura do termo de lhes: revogação, anulação, cassação, caducidade e
posse. contraposição. 121
Revogação O direito da Administração de anular os atos admi-
nistrativos de que decorram efeitos favoráveis para
Revogação é a extinção de ato administrativo que os destinatários decai em cinco anos, contados da
se encontra perfeito e apto a produzir seus efeitos, data em que foram praticados, salvo comprovada
praticado pela própria Administração Pública. Essa má-fé. O prazo decadencial de cinco anos é atributo
remoção é fundada em razões de conveniência e opor- exclusivo da anulação.
tunidade, sempre almejando a proteção do interesse
público. Nessa hipótese, ocorre uma causa superve- Por fim, em relação a seus efeitos, é importante fri-
niente, que altera o juízo de conveniência e oportu- sar que o ato nulo (aquele que carece de legalidade)
nidade sobre a permanência de ato discricionário, tem o seu defeito constatado desde a sua concepção.
obrigando a Administração a expedir um segundo ato Por isso, a anulação deve desconstituir os efeitos des-
capaz de revogar esse ato anterior. de a data da prática daquele ato. Podemos afirmar,
O conceito de revogação tem previsão no art. 53 da então, que a anulação possui efeito retroativo, ou ex
Lei nº 9.784, de 1999: tunc. Em regra, não gera ao particular direito à inde-
nização pela anulação de ato ilegal, salvo se compro-
A Administração deve anular seus próprios atos, var ter sofrido dano anormal para ocorrência, do qual
quando eivados de vício de legalidade, e pode revo- não tenha participado.
gá-los por motivo de conveniência ou oportunida-
de, respeitados os direitos adquiridos.

Sobre o mesmo assunto, a Súmula nº 473, do STF: SERVIÇOS PÚBLICOS


A administração pode anular seus próprios atos,
CONCEITO
quando eivados de vícios que os tornam ilegais,
porque deles não se originam direitos; ou revogá-
-los, por motivo de conveniência ou oportunidade, A atuação do Estado pode ser dividida em dois
respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em setores: o setor do domínio público e o setor dos servi-
todos os casos, a apreciação judicial. ços públicos. O domínio econômico tem natureza emi-
nentemente privada, é o campo de atuação primordial
Por tratar-se de questão de mérito, a revogação dos particulares e possui regulamentação nos arts.
somente pode ser decretada pela própria Administra- 170 e seguintes da Constituição Federal. Não é o ponto
ção Pública. É, também, decorrência do princípio da de enfoque, mas é importante ressaltar que o Estado
autotutela: a Administração Pública tem competência pode atuar no domínio econômico, seja como agente
para anular e revogar seus atos, sendo descabida a normativo e regulador, seja na exploração direta de
manifestação do Poder Judiciário nos atos adminis- atividades econômicas.
trativos discricionários. A revogação é elaborada pela O setor dos serviços públicos, por outro lado, é o
mesma autoridade que praticou o ato principal. campo de atuação predominante do Estado. Este é
O ato revocatório é sempre secundário, consti- encarregado de, dentre outras funções, o exercício da
tutivo e discricionário. Seu objeto será sempre o ato função administrativa, que é a atividade concreta e
administrativo ou a relação jurídica anterior perfei- imediata desenvolvida sob regime de direito público,
ta e eficaz, destituído de qualquer vício. A revogação para a consecução dos interesses coletivos. Dentre as
atinge somente os atos discricionários: para os atos funções administrativas, temos a prestação de servi-
vinculados, a medida cabível é a anulação. ços públicos em sentido estrito.
Por fim, em relação a seus efeitos, a revogação não Considerando o que foi exposto, cumpre esclare-
pode atingir as situações jurídicas do passado. Isso cer o que vem a ser serviço público e o que o diferen-
significa que a revogação produz efeitos futuros, não cia das atividades de fomento, do exercício do poder
retroativos, ou ex nunc. Há a possibilidade do particu- de polícia e da intervenção no domínio econômico.
lar, que se sentiu prejudicado com a referida medida,
ingressar em juízo com pedido de indenização contra Conceito de Serviço Público, Elementos Constitutivos
a Administração.
A matéria dos serviços públicos está contida, de
Anulação modo geral, na Constituição Federal e na Lei nº 8.987,
de 1995, que disciplina o regime de concessão e per-
É a extinção de ato administrativo defeituoso, missão dos serviços públicos.
pois carece de legalidade, podendo ser expedido pela O serviço público em sentido amplo (lato sensu)
Administração Pública, ou até mesmo pelo Poder Judi- tem sua origem com a denominada Escola do Serviço
ciário. A anulação deriva do próprio princípio da lega- Público, uma corrente doutrinária do século XX. Na
lidade e autotutela. Também possui fundamento no época, a doutrina começava a analisar com detalhes
art. 53 da Lei nº 9.784, de 1999, bem como na Súmula aquilo que ficou decidido no caso Agnes Blanco, na
nº 473, do STF. França. Esse foi o caso primordial para decretar, de
A anulação realizada pela própria Administração modo geral, que ao Estado era vedado a utilização do
ocorre mediante a expedição de ato anulatório. Suas Código Civil para a apuração de sua responsabilidade,
características principais são: é ato secundário, cons- quando causava danos na execução de serviços com
titutivo e vinculado. Tanto a Administração como o fundamento de direito público. Para Roger Bennard,
Poder Judiciário podem decretar a anulação de ato serviço público seria “a atividade ou organização
administrativo. Outra característica importante é o que abrange todas as funções de Estado”. A noção de
prazo definido pelo caput do art. 54 da Lei nº 9.784, serviço público muito se confunde com a de Direito
122 de 1999: Público.
A Escola do Serviço Público também influencia os Também temos certas atividades que, embora
autores brasileiros. Para José Cretella Junior, serviço sejam consideradas de serviço público, há serviços
público é “toda atividade que o Estado exerce, direta ou que satisfazem interesses particulares (elemento
indiretamente, para satisfação das necessidades públi- objetivo), como no caso do serviço de distribuição de
cas, mediante procedimento típico de direito público”. alimentos em prisões.
Podemos observar o caráter amplo e abrangente do Por fim, o regime do serviço público pode ser de
instituto, ao considerar também como serviço público Direito Privado (elemento formal), seguindo as nor-
as atividades legislativa e judiciária, que possuem um
mas da CLT para o regime de contratação de funcio-
rol difuso de destinatários (uti universe).
nários, e os bens podem ser alienados ou penhorados,
Com o passar do tempo, surge uma nova corren-
pois não estão afetados a uma utilidade pública.
te doutrinária, que busca delimitar um pouco essa
abrangência da noção de serviço público. Essa cor- Assim, pode-se concluir que a noção de serviço
rente é defendida pela grande maioria dos autores público está intrinsecamente ligada a forma de atua-
da atualidade, como Hely Lopes Meirelles e Celso ção do Estado. Uma das principais dificuldades de
Antônio Bandeira de Mello. Serviço público stricto buscar um conceito de serviço público reside justa-
sensu, então, seria todo aquele prestado pela Admi- mente nesse fato: a depender do modelo de Estado,
nistração ou por seus delegados, sob regime de direito sua forma de atuação poderá ser mais liberal ou mais
público, e fruível individualmente por cada um dos intervencionista. Dessa forma, o conceito de serviço
destinatários, para satisfazer necessidades essenciais público também poderá ser mais ou menos abrangen-
ou secundárias da coletividade, ou simples conve- te para cada País.
niências do Estado. José dos Santos Carvalho Filho é o autor jurista que
A grande diferença dessa nova noção de servi- apresenta muito bem essa dificuldade, ao definir ser-
ço público diz respeito a sua abrangência. Somen- viço público como “toda atividade prestada pelo Esta-
te abrange as atividades da Administração Pública, do ou por seus delegados, basicamente sob regime de
não se incluindo as funções legislativa e judiciária.
direito público, com vistas à satisfação de necessidades
Também não deve ser considerado serviço público
essenciais e secundárias da coletividade”.
a exploração de atividade econômica, porque nesses
casos o Estado age em regime privado; bem como as
atividades de fomento, porque trata-se de um subsídio PRINCÍPIOS
que se dá ao particular para que exerça certas ativida-
des com interesse coletivo. Por estar submetido a um regime especial, que
Outro traço característico dessa nova corrente pode ser total ou parcialmente de direito público,
sobre serviço público é a restrição da matéria para os princípios de direito administrativo, previstos no
apenas os serviços que possam ser fruídos singular- caput do art. 37 da CF, de 1988, são aplicáveis à pres-
mente por cada particular (uti singuli). Tais serviços tação dos serviços públicos. Porém, há ainda alguns
são custeados pelos próprios usuários, mediante o princípios específicos aos serviços públicos, que
pagamento de taxas. devem ser melhor analisados. São eles:
Assim, para o serviço público stricto sensu, pode-
mos elencar, dentre todos os conceitos, alguns ele- z Princípio da continuidade do serviço público: é
mentos identificadores que estão presentes em todas o princípio que diz respeito a obrigação do Estado
as definições. São eles:
de prestar o serviço público, que não pode parar,
dada a sua relevante finalidade pública. É dizer
z Elemento Subjetivo: A titularidade do serviço
que o Estado tem um poder-dever (obrigatorie-
público é exclusiva do Estado;
dade) de prestar tal atividade. O serviço deve ser
z Elemento Objetivo: A atividade caracterizada
como serviço público (geralmente, atendem a um ininterrupto, porém, o § 3º, art. 6º da Lei nº 8.987,
interesse público); de 1995, admite que, nos casos de serviços conces-
z Elemento Formal: Qual o regime em que o serviço sionados a entidades privadas, não se caracteriza
é prestado. A maioria dos casos, trata-se do regime descontinuidade do serviço a paralização quando
de Direito Público. motivada por razões de ordem técnica ou de segu-
rança das instalações; e por inadimplemento do
O fenômeno conhecido como a “crise do serviço usuário, considerado o interesse da coletividade.
público” se deu com o advento do Estado Regulador, A jurisprudência apresenta diversos julgados que
na primeira metade do século XX. Ele traz a ideia de acabam contestando referido legal, sobretudo no
um Estado que procura regular as atividades consi- que diz respeito aos serviços de fornecimento de
deradas serviços públicos. Se antes a execução dessas água e de energia elétrica;
tarefa era exclusiva do regime público, atualmente z Princípio da mutabilidade do regime jurídico:
a execução desses serviços pode ser feita sob regime o interesse público não é estanque, mas variável
NOÇÕES DE DIREITO

privado. O Estado carece de recursos para cuidar de ao longo do tempo. A instauração de serviço públi-
tantos setores, simultaneamente. co mediante certo regime jurídico não gera um
Por isso, houve a necessidade de delegar tais servi-
“direito adquirido” ao mesmo, o que significa que
ços, mediante concessão ou permissão, como também
o Poder Público pode alterar um estatuto ou con-
a criação de pessoas jurídicas próprias para controlar
tais atividades. Há assim, uma mitigação dos elemen- trato administrativo para promover maior ade-
tos identificadores do serviço público. Atualmente, quação na prestação do referido serviço;
admite-se que a execução dos serviços públicos seja z Princípio da isonomia dos usuários: trata-se
realizada por particulares (elemento subjetivo). Há de uma decorrência direta do princípio constitu-
uma delegação da execução do serviço, o qual poderá cional da impessoalidade. O serviço público deve
ocorrer mediante concessão ou permissão do serviço atender a todos, geralmente de forma individuali-
público, nos termos da Lei nº 8.987, de 1995. zada, sem discriminações e privilégios; 123
z Princípio da modicidade das tarifas: As tarifas No caso apresentado, o Estado acabou se tornando
não devem ser exorbitantes, pois o serviço deve o ente responsável por reparar a família pela morte da
ser aproveitado pelo maior número de usuários menina. Ocorre que a grande inovação se deu quan-
possível, independentemente de sua classe eco- do a corte julgadora decidiu que a responsabilidade
nômica. O valor a ser exigido dos usuários deve do Estado não poderia ter o seu fundamento retirado
ser o menor possível para, também, remunerar o do Direito Civil. Assim, a responsabilidade estatal tem
prestador do serviço, com uma pequena margem seu fundamento ligado às noções de responsabilidade
de lucro. Com o objetivo de reduzir ao máximo mais amplas do que o âmbito de Direito Civil, o que sig-
o valor da tarifa cobrada, a legislação brasileira nifica que, para o Estado ser considerado responsável,
prevê alguns mecanismos especiais, que se apre- deve haver a comprovação de que este agiu com culpa
sentam como fontes alternativas de remunera- lato sensu, abrangendo as hipóteses de dolo (intenção
ção do prestador do serviço público. É o caso, por de lesar), bem como as de negligência, imprudência e
exemplo, de espaços publicitários utilizados nos imperícia (culpa stricto sensu). Essa era a grande difi-
arredores de uma rodovia. A menor tarifa é tam- culdade dessa teoria: pelo fato da relação entre a Admi-
bém critério essencial para avaliação de proposta nistração Pública e o particular ser desigual, a vítima
numa licitação do tipo concorrência pública. muitas vezes não possuía meios suficientes para com-
provar a conduta dolosa ou culposa do Estado. No Bra-
sil, adotamos a teoria subjetiva no Direito Público,
excepcionalmente, nos casos de omissão da Admi-
nistração, ou na possibilidade de ação regressiva
RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO desta perante seus agentes.
A terceira teoria, denominada Teoria da Res-
Nos dias atuais, temos a total compreensão da ideia ponsabilidade Objetiva, surge nos meados de 1946.
de responsabilidade civil e extracontratual do Estado. Consiste no afastamento da necessidade de compro-
Significa dizer que ao Estado é imputado o dever de vação de dolo ou culpa do agente público, tendo por
ressarcir particulares pelos prejuízos praticados na fundamento do dever de indenizar a concepção de
conduta de seus agentes, independentemente de qual- risco administrativo. Quem presta um serviço públi-
quer acordo ou pacto estabelecido. co, assume o risco dos prejuízos que eventualmente
Todavia, essa concepção que temos atualmen- causar a outrem. Não cabe, dessa forma, a discussão
te não “brotou da terra”: ela foi o resultado de uma sobre aspectos subjetivos da responsabilidade estatal,
longa evolução histórica sobre a forma de atuação do exceto nas hipóteses de ação regressiva.
Poder Público na esfera privada. Por isso, é importan-
te analisar a evolução histórica da responsabilidade RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO NO
estatal, tendo como foco os países ocidentais, sobre- DIREITO BRASILEIRO: RESPONSABILIDADE POR
tudo o Brasil. AÇÃO E POR OMISSÃO

EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS TEORIAS DE A Constituição Federal de 1988 adotou a teoria da


RESPONSABILIDADE responsabilidade objetiva, na variação de risco admi-
nistrativo, que admite algumas excludentes ao dever
De modo geral, pode-se afirmar que a responsa- de indenizar, conforme se depreende da leitura do §
bilidade civil da Administração passou por três gran- 6º, art. 37, da CF, de 1988:
des fases. A primeira fase, denominada Teoria da
Irresponsabilidade, adveio na época dos Estados As pessoas jurídicas de direito público e as de
Absolutistas, onde havia uma concentração do poder direito privado prestadoras de serviços públicos
responderão pelos danos que seus agentes, nes-
político nas mãos de uma única pessoa. O Monarca,
sa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o
assim, praticava atos que jamais poderiam ensejar a
direito de regresso contra o responsável nos casos
reparação pelos danos, uma vez que o Monarca fazia de dolo ou culpa.
a sua vontade ter força de lei. A fundamentação dessa
soberania dos reis absolutistas era baseada na teoria Observe que o texto constitucional imputa as pes-
político-teológica de que eles eram representantes de soas jurídicas de direito privado, como sociedades de
Deus na terra, investidos desse Poder por obra divina. economia mista e empresas públicas, o dever de repa-
Tal teoria seria superada com o advento do Estado de rar na mesma modalidade que as pessoas da Adminis-
Direito francês, sobretudo do julgamento pelo Tribu- tração Direta. A Lei nº 8.112, de 1990, que dispõe sobre
nal de Conflitos da França, denominado Aresto Blanco, o regime dos servidores públicos, apresenta uma seção
no ano de 1873. O julgamento consistia na imputação sobre responsabilidades dos agentes públicos, colocan-
ao Estado do dever de reparar danos causados por do em destaque a responsabilidade objetiva. Temos no
um vagão da Companhia Nacional de Manufatura do art. 112 da referida Lei: “A responsabilidade civil decor-
Fumo, que havia atropelado uma menina enquanto re de ato omissivo ou comissivo, doloso ou culposo, que
brincava na rua. resulte em prejuízo ao erário ou a terceiros”.
A Teoria da Responsabilidade Subjetiva foi a O dever estatal de indenizar os particulares possui
primeira tentativa de explicar a imputação ao Estado dois fundamentos distintos: a legalidade e a igualda-
do dever de reparar os danos patrimoniais e demais de. Na hipótese de o Poder Público praticar um ato
prejuízos causados pela conduta de seus agentes. Por ilícito, causador de danos patrimoniais para a coleti-
essa corrente teórica, o Estado passaria a adquirir vidade, o dever de indenizar advém do princípio da
uma segunda personalidade denominada “fisco”, sen- legalidade, uma vez que a atuação do agente público
do esta uma personalidade patrimonial, capaz de res- deve ser feita sempre de acordo com a lei (secundum
124 sarcir os particulares pela prática de atos de gestão. legem).
Há, também, casos em que a Administração pra- Nesses casos, o Estado raramente é o autor do ato
tique atos lícitos, mas que também podem causar danoso. Por isso, só responderá se restar comprova-
prejuízos especiais ao particular. Nessas hipóteses, o do que ele tinha o dever legal de agir para impedir
dever de indenizar advém do princípio da isonomia, o resultado, e não o faz. Há uma análise subjetiva da
que pressupõe a igual repartição dos encargos sociais. conduta do Poder Público. Assim, o entendimento
mais correto é de que a responsabilidade civil do Esta-
REQUISITOS PARA DEMONSTRAÇÃO DE do, no caso de conduta omissiva, só ocorrerá quando
RESPONSABILIDADE ESTATAL presentes os elementos que caracterizam a culpa em
sentido amplo, logo, responsabilidade subjetiva.
Para que haja a configuração da responsabilidade
civil do Estado, é importante a presença de três ele- DAS CAUSAS EXCLUDENTES E ATENUANTES DA
mentos: a) um ato do agente público, b) dano ao RESPONSABILIDADE
particular, c) nexo de casualidade entre o dano e
o ato praticado. Dentro do âmbito da teoria objetiva da responsa-
Em relação ao segundo elemento, a doutrina cos-
bilidade estatal, existem duas vertentes distintas. A
tuma apontar quais são os danos que ensejam o dever
primeira, denominada risco integral, dispõe que o
de indenizar, isso é, quais são os denominados danos
Estado possui o dever de indenizar todo e qualquer
indenizáveis. Assim, considera-se dano indenizável:
dano causado pela prática de seus atos, não admitindo
nenhuma excludente. Trata-se de uma variação radi-
z Dano anormal: é o dano que ultrapassa os incon-
cal, em que a Administração se transforma em um
venientes naturais e esperados da vida em socie-
indenizador universal. Não é adotado em nenhum
dade. A vida em sociedade é caracterizada pelo
advento de certos incômodos normais e toleráveis país, sendo adotado no Brasil somente como exce-
a todos os cidadãos. Tais desconfortos só enseja- ção em alguns casos específicos, como nos acidentes
ram o dever de indenizar se forem considerados de trabalho, na indenização coberta pelo seguro obri-
intoleráveis. Assim, por exemplo, a feira colocada gatório para automóveis (DPVAT) etc.
em rua residencial não enseja dever de indenizar; A segunda vertente, denominada teoria do ris-
z Dano específico: é aquele que atinge uma certa co administrativo, é a adotada como regra geral no
pessoa, ou uma certa categoria de pessoas. Dessa direito brasileiro. Tal teoria reconhece algumas exclu-
forma, se o ato da Administração é capaz de causar dentes da responsabilidade do Estado. Excludentes
danos de modo geral, para toda a coletividade, não são circunstâncias que, como o próprio nome diz,
se caracteriza dano indenizável. Por exemplo: não afastam o dever de indenizar durante a sua ocorrên-
é considerado dano indenizável o aumento da tari- cia. São, ao todo, três modalidades:
fa do transporte público, haja vista que todos as
pessoas daquela cidade sofrerão com tal medida. z C ulpa exclusiva da vítima: são hipóteses em que
o prejuízo é consequência da intenção delibera-
RESPONSABILIDADE POR AÇÃO E da da própria vítima. O prejudicado, ao utilizar
RESPONSABILIDADE POR OMISSÃO o referido serviço público, acaba sofrendo danos
por uma ação tomada por ela mesma, não haven-
A responsabilidade por ação é aquela que se carac- do qualquer relação com as condutas do Poder
teriza pelo ato comissivo. O Estado pode causar danos Público. É o caso, por exemplo, de pessoa que se
aos particulares tanto por ação ou por omissão. Quan- joga na frente de viatura policial para ser atrope-
do o ato é comissivo, não há questionamento acerca lada. Não se confunde com a culpa concorrente,
da culpa do Estado em sua conduta. Nesse caso, a que se traduz no dano causado pela conduta recí-
responsabilidade objetiva do Estado se dará pela pre- proca do Estado e da própria vítima. Neste caso,
sença dos seus pressupostos: o fato administrativo, o há uma análise pericial para determinar os dife-
dano e o nexo causal existente entre os dois. rentes graus de culpa de cada agente, ensejando
Todavia, quando a conduta estatal for omissiva,
reparação;
será preciso distinguir se a omissão constitui ou não
z Força maior: é o evento imprevisível e involuntá-
fato gerador da responsabilidade civil do Estado. Isso
rio que rompe o nexo de casualidade entre o ato
significa que nem toda conduta omissiva caracteri-
da Administração e o prejuízo sofrido pela vítima.
za-se em um dever de indenizar, configurando-se na
Geralmente são causados pela força da natureza.
responsabilização do ente estatal. Somente quando
É o caso, por exemplo, do desabamento de terras
o Estado se omitir diante do dever legal de impe-
dir a ocorrência do dano é que será civilmente que arruínam as casas de um bairro, devido às for-
responsável. tes chuvas. Não se confunde com o caso fortuito,
NOÇÕES DE DIREITO

Ainda sobre a omissão, há uma discussão dou- em que o dano decorre de ato humano, ou da pró-
trinária a respeito da responsabilidade omissiva ser pria Administração, como o desabamento de uma
objetiva ou subjetiva. A primeira corrente, defendida estrada. O caso fortuito enseja o dever de respon-
por juristas como Hely Lopes Meirelles, defende que sabilidade somente se tal evento for causado pelo
se a Constituição Federal não distinguiu a responsabi- agente público;
lidade por ação e omissão, então não deve o intérprete z Culpa de terceiro: é a hipótese em que o prejuí-
fazê-lo também. zo é atribuído a pessoa estranha aos quadros da
Porém, a corrente majoritária defendida por Administração Pública. Dessa forma, não há como
juristas como Celso Antônio Bandeira de Mello diz o Estado ser imputado responsável por atos pra-
que a responsabilidade civil por omissão é sempre ticados por pessoas que não fazem parte de sua
subjetiva. composição. 125
Curioso é o caso dos danos causados pelas enchen- 1. A responsabilidade civil estatal, segundo a Cons-
tes, sobretudo em cidades onde o escoamento das tituição Federal de 1988, em seu art. 37, § 6º, subsu-
águas é precário, como ocorre em algumas regiões da me-se à teoria do risco administrativo, tanto para as
cidade de São Paulo. Como regra geral, o Estado não se condutas estatais comissivas quanto paras as omissi-
responsabiliza por prejuízos causados pelas enchen- vas, posto rejeitada a teoria do risco integral.
tes. A 3º Câmara de Direito Público do TJ/SP negou 2. A omissão do Estado reclama nexo de causalida-
provimento à AC nº 0170440220058260602 interposta de em relação ao dano sofrido pela vítima nos casos
por três proprietários de imóveis afetados pelas for- em que o Poder Público ostenta o dever legal e a efe-
tes chuvas do início do ano de 2012, que pleiteavam tiva possibilidade de agir para impedir o resultado
pedido de indenização pelos danos causados pelas
danoso.
chuvas, pois as galerias pluviais de seu bairro não
3. É dever do Estado e direito subjetivo do preso
eram suficientes para escoar toda a água, caracteri-
que a execução da pena se dê de forma humanizada,
zando-se em falta no serviço público. Segundo voto do
garantindo-se os direitos fundamentais do detento, e
relator, porém, não havia qualquer prova que defina
o de ter preservada a sua incolumidade física e moral
a ocorrência de qualquer falta de serviço que possa
ser atribuída ao Município e que tenha sido causa (art. 5º, inciso XLIX, da Constituição Federal).
concorrente para o evento. 4. O dever constitucional de proteção ao deten-
Todo aquele que se sentir prejudicado por con- to somente se considera violado quando possível a
duta comissiva ou omissiva de agente público pode atuação estatal no sentido de garantir os seus direitos
pleitear, pela via administrativa ou judicial, a devi- fundamentais, pressuposto inafastável para a confi-
da reparação pelos danos causados. Na via adminis- guração da responsabilidade civil objetiva estatal, na
trativa, basta que o prejudicado formule o pedido forma do art. 37, § 6º, da Constituição Federal.
a autoridade competente, que instaurará processo 5. Ad impossibilia nemo tenetur, por isso que nos
administrativo para apurar a responsabilidade e o casos em que não é possível ao Estado agir para evitar
pagamento de indenização. a morte do detento (que ocorreria mesmo que o pre-
Porém, é preferível que a vítima utilize a via judi- so estivesse em liberdade), rompe-se o nexo de cau-
cial, hipótese mais comum haja vista o direito de peti- salidade, afastando-se a responsabilidade do Poder
ção, que se caracteriza no dever do Poder Judiciário Público, sob pena de adotar-se contra legem e a opinio
de atender todas as demandas feitas pelos cidadãos. doctorum a teoria do risco integral, ao arrepio do tex-
O direito à indenização da vítima se instrumentaliza to constitucional.
pela ação indenizatória. A ação indenizatória, dessa 6. A morte do detento pode ocorrer por várias
forma, é aquela proposta pela vítima contra a pes- causas, como, v. g., homicídio, suicídio, acidente ou
soa jurídica que o agente público causador do dano morte natural, sendo que nem sempre será possível
pertence. Conforme dispõe o inciso V, § 3º, art. 206 do ao Estado evitá-la, por mais que adote as precauções
Código Civil, o prazo prescricional para a propositura
exigíveis.
de ação indenizatória é de três anos, contados da ocor-
7. A responsabilidade civil estatal resta conjurada
rência do evento danoso.
nas hipóteses em que o Poder Público comprova causa
Lembrando também que sempre há a possibilida-
impeditiva da sua atuação protetiva do detento, rom-
de de direito de regresso, por parte do ente público,
contra o agente que, de fato, praticou a conduta dano- pendo o nexo de causalidade da sua omissão com o
sa. Óbvio, quando a culpa recair totalmente sobre um resultado danoso.
agente ou um pequeno grupo de agentes públicos, o 8. Repercussão geral constitucional que assenta a
Estado não pode ser o único a arcar com os prejuí- tese de que: em caso de inobservância do seu dever
zos da reparação, ele possui direito de regresso. Ain- específico de proteção previsto no art. 5º, inciso XLIX,
da que os agentes não indenizem a vítima, sobre eles da Constituição Federal, o Estado é responsável pela
podem recair a ação regressiva com essa finalidade morte do detento.
específica. Significa dizer que os agentes públicos só 9. In casu, o tribunal a quo assentou que inocor-
podem responder de forma subjetiva, devendo inde- reu a comprovação do suicídio do detento, nem outra
nizar o Poder Público pela prática de seus atos. causa capaz de romper o nexo de causalidade da sua
omissão com o óbito ocorrido, restando escorreita a
RESPONSABILIDADE DO ESTADO SEGUNDO decisão impositiva de responsabilidade civil estatal.
REITERADAS DECISÕES DO SUPREMO TRIBUNAL 10. Recurso extraordinário DESPROVIDO.
FEDERAL (STF)
(RE 841526, Relator(a): LUIZ FUX, Tribunal Pleno, julgado em
É bem comum que algumas questões exijam do 30/03/2016, ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL -
candidato conhecimentos sobre a jurisprudência de MÉRITO DJe-159 DIVULGAÇÃO 29-07-2016 PUBLICAÇÃO 01-08-
2016)
determinada matéria. De fato, a teoria da responsa-
bilidade extracontratual do Estado abrange diversas
casuísticas que podem gerar algumas dúvidas, sobre Um tema que costuma cair bastante em questões
as quais a doutrina faz pouca menção. de prova diz respeito à morte do preso. Segundo enten-
Observe as seguintes ementas relacionadas com a dimento do STF, o Estado tem o dever de garantir que
referida matéria, todas extraídas do STF: a pessoa do detento cumpra sua pena com dignidade,
respeitados os seus direitos humanos fundamentais.
EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPER- Assim, quando um detento morre dentro da prisão,
CUSSÃO GERAL. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ES- demonstra-se uma omissão do Estado de atuar em
TADO POR MORTE DE DETENTO. ARTIGOS 5º, XLIX, garantir seus direitos. Até mesmo em casos de suicí-
126 E 37, § 6º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. dio é possível a responsabilização civil do Estado.
EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM I - A responsabilidade civil das pessoas jurídicas de
REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA. DIREITO direito privado prestadoras de serviço público é obje-
CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. RESPONSABI- tiva relativamente a terceiros usuários e não-usuários
LIDADE CIVIL DO ESTADO POR OMISSÃO. ART. 37, § do serviço, segundo decorre do art. 37, § 6º, da Consti-
6º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. FISCALIZAÇÃO DO tuição Federal.
COMÉRCIO DE FOGOS DE ARTIFÍCIO. TEORIA DO
II - A inequívoca presença do nexo de causalidade
RISCO ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE OBJE-
TIVA. NECESSIDADE DE VIOLAÇÃO DO DEVER JURÍDI- entre o ato administrativo e o dano causado ao ter-
CO ESPECÍFICO DE AGIR. ceiro não-usuário do serviço público, é condição sufi-
1. A Constituição Federal, no art. 37, § 6º, consagra ciente para estabelecer a responsabilidade objetiva da
a responsabilidade civil objetiva das pessoas jurídicas pessoa jurídica de direito privado.
de direito público e das pessoas de direito privado III - Recurso extraordinário desprovido.
prestadoras de serviços públicos. Aplicação da teoria
do risco administrativo. Precedentes da CORTE. (RE 591874, Relator(a): RICARDO LEWANDOWSKI, Tribunal
2. Para a caracterização da responsabilidade civil Pleno, julgado em 26/08/2009, REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO
estatal, há a necessidade da observância de requisitos DJe-237 DIVULG 17-12-2009 PUBLIC 18-12-2009 EMENT VOL-
mínimos para aplicação da responsabilidade objetiva, 02387-10 PP-01820 RTJ VOL-00222-01 PP-00500)
quais sejam:
a) existência de um dano; Outro caso que é bastante comum e costuma cair
b) ação ou omissão administrativa; em questões de prova diz respeito ao serviço públi-
c) ocorrência de nexo causal entre o dano e a ação co de transporte coletivo. Indaga-se como recairia a
ou omissão administrativa; e responsabilidade do Estado quando, por exemplo, um
d) ausência de causa excludente da responsabili- motorista de ônibus atropela um civil andando na
dade estatal.
rua, que é considerado um terceiro não-usuário do
3. Na hipótese, o Tribunal de Justiça do Estado de
São Paulo concluiu, pautado na doutrina da teoria do serviço. Segundo o entendimento do STF, as pessoas
risco administrativo e com base na legislação local, jurídicas concessionários do serviço de transporte
que não poderia ser atribuída ao Município de São possuem responsabilidade civil objetiva quando
Paulo a responsabilidade civil pela explosão ocorri- o dano for causado contra terceiros, sejam eles
da em loja de fogos de artifício. Entendeu-se que não usuários do serviço ou não. A presença do nexo de
houve omissão estatal na fiscalização da atividade, casualidade é bastante evidente.
uma vez que os proprietários do comércio desenvol-
viam a atividade de forma clandestina, pois ausente a
autorização estatal para comercialização de fogos de
artifício.
4. Fixada a seguinte tese de Repercussão Geral: REGIME JURÍDICO ADMINISTRATIVO
“Para que fique caracterizada a responsabilidade civil
do Estado por danos decorrentes do comércio de fogos O regime jurídico pode ser definido como conjunto
de artifício, é necessário que exista a violação de um de normas que irá orientar uma determinada relação
dever jurídico específico de agir, que ocorrerá quan- jurídica. Vejamos dois exemplos para, desde já, seja
do for concedida a licença para funcionamento sem possível ter em mente que esse conjunto de normas
as cautelas legais ou quando for de conhecimento do poderá variar de acordo com a situação.
poder público eventuais irregularidades praticadas
O primeiro deles seria um desentendimento seu
pelo particular”.
5. Recurso extraordinário desprovido. com seu vizinho em uma eventual construção irregu-
lar, que extrapola o direito de um e invade o direito
(RE 136861, Relator(a): EDSON FACHIN, Relator(a) p/ Acórdão: do outro.
ALEXANDRE DE MORAES, Tribunal Pleno, julgado em Num segundo momento, imagine que você foi fla-
11/03/2020, ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL -
MÉRITO DJe-201 DIVULG 12-08-2020 PUBLIC 13-08-2020)
grado por uma viatura policial ao avançar um sinal
vermelho em alta velocidade.
Fogos de artifício são produtos altamente perigosos Veja que, em que pese caber discussões de defesa
e que podem causar danos a diversas vítimas, seja ela de direitos em ambos os exemplos, as normas apli-
o adquirente do produto, ou ainda terceiros. Observe cáveis aos casos não são as mesmas. No primeiro
que, no caso mencionado, a vítima adquiriu fogos de exemplo há uma clara igualdade, o que não ocorre no
artifícios de forma clandestina dos proprietários do segundo momento.
comércio. Não houve, assim, a aquisição de licença Para começar a entender o regime jurídico-ad-
para a venda desses produtos. Sendo assim, firmou- ministrativo, ou seja, o regime jurídico ao qual se
-se entendimento de que só caberá responsabilida-
submete a Administração Pública quando da sua
de civil do Estado quando restar comprovado que
NOÇÕES DE DIREITO

atuação, deveremos entender dois princípios, chama-


houve a violação de um dever jurídico específico
de agir, como no caso de concessão de licença para dos pela doutrina em Direito Administrativo de supra
pessoa incapaz ou sem os cuidados específicos. Assim, princípios:
é hipótese de responsabilidade subjetiva.
z Supremacia do interesse público;
CONSTITUCIONAL. RESPONSABILIDADE DO ESTA-
z Indisponibilidade do interesse público.
DO. ART. 37, § 6º, DA CONSTITUIÇÃO. PESSOAS JURÍDI-
CAS DE DIREITO PRIVADO PRESTADORAS DE SERVIÇO
PÚBLICO. CONCESSIONÁRIO OU PERMISSIONÁRIO Com base na supremacia do interesse público serão
DO SERVIÇO DE TRANSPORTE COLETIVO. RESPON- criadas prerrogativas para proteger o interesse públi-
SABILIDADE OBJETIVA EM RELAÇÃO A TERCEIROS co diante do interesse particular. Exemplo: presunção
NÃO-USUÁRIOS DO SERVIÇO. RECURSO DESPROVIDO. de veracidade e legitimidade dos atos administrativos. 127
Já a indisponibilidade do interesse público irá im- b) os atos administrativos são nulos de pleno direito,
por restrições ao uso da coisa pública, também com não gerando qualquer efeito, sempre que a autoridade
intuito de proteção: inalienabilidade condicionada administrativa assim entender.
dos bens públicos. c) os atos administrativos são viciados e sujeitos ao des-
Importante ressaltar que a Administração Pública fazimento, em nome do interesse público, quando pra-
nem sempre estará atuando sob este regime jurídi- ticados segundo a vontade do próprio agente público.
co-administrativo, apesar de esta ser a regra. Have- d) os atos administrativos podem ser anulados, a todo e
rá situações em que a Administração Pública estará qualquer momento, independentemente do interesse
atuando de igual para igual com o particular, sujeita público, quando praticados, segundo determinação da
a um regime de direito privado. Portanto, dito isso, autoridade competente.
vamos organizar essa parte do raciocínio.
4. (FUMARC — 2014) O elemento que funciona, atual-
mente, como poderoso limite à discricionariedade
z Regime jurídico de direito público: conceito restri-
administrativa é o princípio
to (regime jurídico-administrativo);
z Regime jurídico de direito privado.
a) da inafastabilidade da jurisdição.
b) da unidade de jurisdição.
c) da razoabilidade.
HORA DE PRATICAR! d) do duplo grau de jurisdição.

5. (FUMARC — 2014) Um administrador público, tendo


1. (FUMARC — 2011) Em relação à interação do direito
recebido móveis novos para sua Unidade, doou, por
administrativo, com os demais ramos de direito, anali-
conta própria, o mobiliário antigo, ainda em bom esta-
se as afirmativas a seguir:
do de conservação, para uma instituição de caridade.
É CORRETO afirmar que o princípio da Administração
I. O direito administrativo é que dá mobilidade ao direito transgredido pelo dirigente foi o da
constitucional.
II. O direito administrativo tem vínculo com o direito pro- a) eficiência.
cessual civil e penal. b) hierarquia.
III. As normas de arrecadação de tributos podem ser c) indisponibilidade.
tidas como de direito administrativo. d) razoabilidade.
IV. A teoria civilista dos atos e negócios jurídicos têm apli-
cação supletiva aos atos e contratos administrativos. 6. (FUMARC— 2012) No que concerne aos traços pecu-
liares de sua atuação, é correto afirmar que os atribu-
Marque a alternativa correta tos dos atos administrativos são

a) apenas as afirmativas I, II e III estão corretas. a) imperatividade, anualidade, presunção de legalidade,


b) apenas as afirmativas II e IV estão corretas. eficácia e publicidade.
c) apenas as afirmativas I e II estão corretas. b) imperatividade, presunção de legalidade, eficácia, exe-
d) as afirmativas I, II, III e IV estão corretas. quibilidade e executoriedade.
c) publicidade relativa, imperatividade, eficácia, presun-
2. (FUMARC - 2018) Sobre os princípios da Administra- ção de legalidade e executividade.
ção Pública, é CORRETO afirmar que: d) publicidade, imperatividade, legalidade formal, eficá-
cia, executividade e executoriedade.
a) a efetivação de pagamento de precatório em deso-
bediência à ordem cronológica traduz violação ao 7. (FUMARC — 2012) Todos estes atos administrativos
princípio da impessoalidade, à luz do qual é vedada a podem ser revogados pela administração pública,
atuação administrativa dissociada da moral, dos prin- exceto os atos
cípios éticos, da boa-fé e da lealdade.
b) em consonância com o princípio da legalidade, esta- a) lícitos.
b) vinculados.
tuído no artigo 37, caput, da CR/88, a Administração
c) inoportunos.
Pública pode fazer tudo o que a lei não proíbe.
d) inconvenientes.
c) não são oponíveis às Sociedades de Economia Mista,
haja vista que essas sociedades são regidas pelo regi-
8. (FUMARC — 2018) Todas as hipóteses abaixo elenca-
me de direito privado.
das expressam implicações do princípio da separação
d) o princípio da supremacia do interesse público não se das funções sobre a relação entre a função adminis-
radica em dispositivo específico da CR/88, ainda que trativa e as demais funções do Estado, EXCETO a que
inúmeros aludam ou impliquem manifestações con- está contida na alternativa:
cretas dele.
a) A defesa de autarquia em regime especial que, ao ser
3. (FUMARC — 2011) Considerando que a Administração acionada judicialmente, sustenta a validade e a intan-
Pública está diretamente vinculada ao “princípio da gibilidade de ato normativo por ela emitido, no exercí-
reserva legal”, é VÁLIDO afirmar que cio de competência regulatória, invocando o seu poder
discricionário na matéria sub judice.
a) os atos administrativos não podem ser anulados, em b) A sustação pelo Poder Legislativo de ato normativo do
qualquer hipótese, senão mediante lei própria especi- Chefe do Poder Executivo que extrapolou a competên-
128 ficando seu objeto. cia regulamentar.
c) Declaração de inconstitucionalidade de lei municipal 12. (FUMARC — 2011) No tocante aos agentes públicos, é
que previa a exigência de autorização em concreto, INCORRETO afirmar que
emitida pela Câmara Municipal, como requisito de vali-
dade para os contratos a serem firmados por mem- a) para ser agente público, é mister o vínculo com o Esta-
bros do Poder Executivo. do, mesmo que não efetivo, mas perene, mediante
d) O exercício de poder hierárquico e do poder de tutela contrato bilateral e remuneração.
exercido pelo Chefe do Poder Executivo Federal, res- b) os agentes de fato podem ser necessários ou putativos.
pectivamente, sobre Ministro de Estado e Autarquia c) os agentes putativos desempenham atividade admi-
Federal. nistrativa, mas não têm investidura no cargo.
d) os agentes necessários apenas se assemelham, mas
9. (FUMARC — 2011) O poder de polícia, a cargo da não são agentes de direito.
Administração Pública, é exercido pela polícia admi-
nistrativa e pela polícia judiciária, cujas funções dis- 13. (FUMARC — 2016) Constitui ato de improbidade admi-
tinguem-se através da atuação de cada uma delas, nistrativa que atenta contra os princípios da adminis-
conforme se segue: tração pública:

I. A polícia administrativa atua por meio de agentes cre- a) Celebrar contrato ou outro instrumento que tenha por
denciados por diversos órgãos públicos, procurando objeto a prestação de serviços públicos por meio da
impedir a prática de atos lesivos por infração a regras gestão associada sem observar as formalidades pre-
do Direito Administrativo. vistas na lei.
II. A polícia judiciária tem por finalidade exclusiva a cola- b) Celebrar parcerias da administração pública com enti-
boração com outros órgãos, realizando sua missão dades privadas sem a observância das formalidades
independentemente dos desdobramentos futuros. legais ou regulamentares aplicáveis à espécie.
III. A polícia administrativa funciona como suporte ao c) Permitir que se utilizem, em obra ou serviço particu-
poder judiciário e sua atividade deve ser entendida lar, veículos, máquinas, equipamentos ou material de
como meio subsidiário ao aparelhamento judicial com qualquer natureza, de propriedade ou à disposição de
a finalidade de repressão ao crime. qualquer das entidades mencionadas no art. 1° dessa
IV. A polícia judiciária tem por finalidade zelar pela boa lei, bem como o trabalho de servidor público, emprega-
dos ou terceiros contratados por essas entidades.
conduta dos indivíduos em face das leis, ocupando-se,
d) Revelar fato ou circunstância de que tem ciência em
portanto, do comportamento anti-social dos mesmos.
razão das atribuições e que deva permanecer em
segredo.
Diante do que foi exposto, marque a alternativa correta.
14. (FUMARC — 2016) São atos de improbidade adminis-
a) está correta apenas a afirmativa I.
trativa que causam lesão ao erário, EXCETO:
b) está correta apenas a afirmativa IV.
c) estão corretas apenas as afirmativas II e IV.
a) Permitir ou facilitar a aquisição, a permuta ou a
d) estão corretas apenas as afirmativas I e III.
locação de bem ou serviço por preço superior ao de
mercado.
10. (FUMARC — 2014) Serviço público é toda atividade
b) Perceber vantagem econômica para intermediar a
que a administração pública executa, direta ou indire-
liberação ou aplicação de verba pública de qualquer
tamente, sob regime jurídico predominantemente natureza.
c) Doar à pessoa física ou jurídica, bem como ao ente
a) público. despersonalizado, ainda que de fins educativos ou
b) subjetivo. assistenciais, bens, rendas, verbas ou valores do patri-
c) administrativo. mônio de qualquer das entidades mencionadas no art.
d) público privado. 1º dessa lei, sem observância das formalidades legais
e regulamentares aplicáveis à espécie.
11. (FUMARC — 2011) O serviço público é uma ativida- d) Conceder benefício administrativo ou fiscal sem a
de oferecida à coletividade, realizada pelo Estado, no observância das formalidades legais ou regulamenta-
exercício da função pública regular. Nesse sentido, res aplicáveis à espécie.
analise as afirmativas atinentes às características do
serviço público: 15. (FUMARC — 2012) Riobaldo Diadorim, agente público
efetivo da Câmara Municipal de Sertão Grande, preten-
I. É um dever inescusável do Estado, como razão de sua dia desviar parte do estoque de papel A4 da Câmara,
própria existência; mas seu plano foi frustrado antes de se consumar gra-
NOÇÕES DE DIREITO

II. Todas as autoridades competentes para regular são ças à investigação do Ministério Público. De acordo
competentes para a execução; com a Lei nº 8.429/92, nesse caso, Riobaldo Diadorim
III. Tem sua adequação como direito fundamental, de poderá
acordo com princípios da própria Constituição.
I. Perder a função pública e ter seus direitos políticos
Assinale a alternativa correta cassados.
II. Ter de ressarcir o dano ao erário.
a) As afirmativas I, II e III estão incorretas. III. Ficar inelegível.
b) As afirmativas I, II e III estão corretas.
c) Apenas a afirmativa II está incorreta. Assinale a alternativa que indica qual(is) dos itens
d) Apenas a afirmativa III está incorreta. é(são) correto(s). 129
a) apenas item II.
b) Apenas o item III.
c) Apenas os itens I e III.
d) Os itens I, II e III.

9 GABARITO

1 D

2 D

3 C

4 C

5 C

6 B

7 B

8 D

9 A

10 A

11 B

12 A

13 D

14 B

15 B

ANOTAÇÕES

130
O nascimento com vida é confirmado a partir da
constatação do batimento cardíaco e da respiração —
comprovados pelo exame de Docimacia Hidrostática
de Galeano (guarde o nome deste exame para a pro-

NOÇÕES DE DIREITO va!). Ressalta-se que a Lei de Registros Públicos (Lei nº


6.015/73), no § 2°, do art. 53, também utiliza a respira-
ção como critério para a constatação da vida.
O conceito da personalidade civil, porém, ficou
a cargo da doutrina jurídica, a qual afirma que per-
DIREITO CIVIL sonalidade jurídica é a aptidão genérica para titulari-
zar direitos e contrair obrigações [...]1. À medida que
DA PERSONALIDADE E DA CAPACIDADE
progredirmos no estudo destes artigos do Código,
O Código Civil de 2002 trouxe o ser humano para observaremos que a composição da personalidade
o centro do ordenamento jurídico, isto é, ele passou a compreende:
ter como principal preocupação a pessoa humana. Isso
pode soar um tanto quanto óbvio, mas o Código Civil z O seu corpo físico e psíquico (art. 14);
anterior, do ano de 1916, girava em torno das questões z A vida (art. 15);
patrimoniais em detrimento das próprias pessoas. z O nome (art. 16);
Afinal, as relações privadas reguladas pelo Direito z A imagem (art. 20);
Civil, embora também tratem dos bens, das obriga-
z A intimidade (art. 21).
ções, dos contratos e da propriedade, não se reduzem
a estas. As relações existenciais — corpo, imagem,
honra — não só passaram a ter especial tratamento Ainda, o art. 2º dispõe, em sua segunda parte,
pelo Código atual e a orientar sua interpretação e apli- acerca da proteção, desde a concepção, dos direitos
cação, como também a inaugurar sua parte geral. do nascituro — objeto de grande discussão ao longo
Essas mudanças são explicadas, também, pelos dos anos, principalmente no tocante a este ter ou não
novos princípios basilares do Código Civil de 2002, a personalidade devido aos direitos assegurados. O nas-
saber: eticidade (reconhecimento de valores éticos cituro é quem foi concebido, está no ventre da mãe,
em detrimento de formalidades); socialidade (supe- mas ainda não nasceu.
ração do individualismo, busca pelo respeito aos
Da primeira leitura do Código Civil, poderíamos
interesses coletivos e à função social dos contratos);
operabilidade (facilitação da interpretação e aplica- responder que se adquire personalidade somente ao
ção dos institutos nele previstos). nascer com vida (Teoria Natalista) e que essa visão
tradicional do nosso ordenamento ainda seria a pre-
A PERSONALIDADE JURÍDICA dominante. Porém, outras, como a Concepcionista
(explicada a seguir), têm ganhado força na jurispru-
A Pessoa Humana dência nacional.
Embora a teoria natalista ainda seja o entendimen-
Como exposto, o estudo do Código Civil inicia-se pelo to adotado por muitas bancas de concursos, é necessá-
exame da pessoa natural e de seus atributos. A pessoa
rio ter conhecimento de todas as correntes existentes,
natural, para o Código Civil, é todo ser humano. Vejamos:
pois, ao cobrar o tema, a banca pode dar pistas de qual
Art. 1º Toda pessoa é capaz de direitos e deveres é o seu posicionamento ou sobre qual teoria pretende
na ordem civil. como resposta. Veja com atenção cada uma das três
teorias existentes e seus defensores:
Logo, mesmo os seres que não possuem forma
humana, como fetos anencéfalos e bebês com anomalias z Teoria Natalista (Caio Mário e Sílvio Venosa): só
craniofaciais, são considerados pessoas, porque são da há personalidade se houver nascimento com vida.
espécie humana (homo sapiens). Não são consideradas O nascituro não teria personalidade, nem seria
pessoas, porém, os entes despersonalizados, tais quais
pessoa (ente despersonalizado). Como consequên-
os embriões excedentários, concebidos in vitro e ain-
cia, não há proteção completa àqueles não nasci-
da não implantados em útero.
dos. A teoria serve de escusa ao aborto, vez que o
A Personalidade Civil feto não seria pessoa, mas coisa e o ser não nascido
não pode ser titular de patrimônio;
NOÇÕES DE DIREITO

Em sequência, o art. 2º aborda mais um atributo z Teoria da Personalidade Condicionada (Washi-


da pessoa humana: a personalidade civil. Analisemos: gton de Barros, Serpa Lopes e Bevilaqua): o nas-
cituro só tem personalidade, podendo adquirir
Art. 2º A personalidade civil da pessoa começa do direitos patrimoniais e existenciais, após o nas-
nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a
cimento com vida. Como consequência, o nasci-
concepção, os direitos do nascituro.
turo tem direitos eventuais. Se nascer com vida,
Retornando o foco à pessoa natural, percebe-se tais direitos se concretizarão com efeitos ex tunc
que tem personalidade quem é pessoa e que nasce (retroativo). Finalmente, o nascituro pode ser titu-
com vida. lar de patrimônio se nascer com vida (condição);
1 GAGLIANO, Pablo Stolze; FILHO, Rodolfo Pamplona. Manual de Direito Civil. 3ª ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019, p. 71. 131
z Teoria concepcionista (Pablo Stolze, Rosenvald, No Habeas Corpus nº 124.306/RJ, por sua vez, julga-
Maria Helena Diniz): o nascituro tem personalida- do em novembro de 2016, o STF manifestou-se no sen-
de plena desde a concepção. Como consequência, o tido de que a interrupção voluntária da gravidez no
nascituro é pessoa, pois se tende a conferir o máxi- primeiro trimestre da gestação não é crime. Argumen-
mo de direitos possível ao nascituro. O nascimento tos usados pelo relator Ministro Luís Roberto Barroso:
com vida apenas consolida eventual direito patri-
monial. Exemplos: Art. 542 A doação feita ao nas-
(a) a criminalização fere os direitos sexuais e repro-
cituro valerá, sendo aceita pelo seu representante
dutivos da mulher que não pode ser obrigada pelo
legal; Art. 1.798 Legitimam-se a suceder as pessoas
Estado a manter uma gravidez indesejada; (b) a
nascidas ou já concebidas no momento da abertura
criminalização viola a integridade física e psíquica
da sucessão.
da gestante; (c) a criminalização viola o direito à
igualdade, já que homens não engravidam e, por-
Independente da teoria utilizada, é certo que o
tanto, a equiparação plena de gênero depende de se
nascituro já possui alguns direitos, como o direito à
respeitar a vontade da mulher; (d) a criminalização
vida, à herança e aos alimentos. Por exemplo, a Lei
fere o princípio da proporcionalidade pelos seguin-
11.804, de 2008 (lei dos alimentos gravídicos) prevê ao
nascituro o direito à pensão alimentícia que deve ser tes motivos: (d.1) constitui medida duvidosa da
pleiteada pela mãe em face do suposto pai. proteção do bem jurídico – nascituro – por não pro-
Como visto, embora o legislador aparente a opção, duzir impacto relevante sobre o número de abor-
em um primeiro momento, pela Teoria Natalista ou, tos praticados no país; (d.2) o Estado pode evitar a
ao menos, não seja explícito em considerar o nascituro ocorrência de aborto por meios mais eficazes, como
uma pessoa, diversos tribunais do país têm proferido a educação sexual e o amparo à mulher que deseja
decisões a favor da Teoria Concepcionista, formando ter o filho, mas se encontra em situação adversa;
uma jurisprudência nesse sentido. Vejamos o seguin- (d.3) a criminalização gera custos sociais (mortes
te julgamento do Superior Tribunal de Justiça: e gastos com curetagem); (e) nenhum país demo-
crático e desenvolvido trata a interrupção da gra-
O Ministro Relator afirmou expressamente que, em videz no primeiro trimestre como crime, a exemplo
sua opinião, “o ordenamento jurídico como um todo dos EUA, Itália, Alemanha, Canadá, França, Espa-
– e não apenas o Código Civil de 2002 – alinhou-se nha, Portugal, Holanda, Bélgica e Austrália. (STF
mais à teoria concepcionista para a construção — HC: 124.306 RJ — RIO DE JANEIRO 9998493 –
da situação jurídica do nascituro, conclusão enfati- 51.2014.1.00.0000, Relator: Min. MARCO AURÉLIO,
camente sufragada pela majoritária doutrina con- Data de Julgamento: 09/08/2016, Primeira Turma,
temporânea”. (STJ. 4ª Turma. REsp 1.415.727-SC,
Data de Publicação: DJe-052 17-03-2017).
Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 4/9/2014
(Info 547).

Corroborando este entendimento, o STJ já conce- Importante!


deu danos morais a nascituro pela morte do pai por É necessário observar a tendência da banca de
atropelamento diante da violação de seu direito de
seu concurso, bem como as informações trazi-
ter conhecido o pai. (STJ — Resp: 399.028/SP, Relator:
Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, Data de das pela questão.
Julgamento: 26/02/2002, T4 — QUARTA TURMA, Data
de publicação: Julgado em 15/04/2002, DJ 15/04/2002 p.
Finalmente, quanto ao natimorto (aquele que nas-
232 RSTJ vol. 161 p. 395 RT vol. 803 p. 193). Igualmente,
ce morto), o Enunciado 1, do Conselho da Justiça Fede-
o STJ já decidiu que uma gestante que se envolve em
acidente de carro e, em virtude disso, sofre um abor- ral (discussões doutrinárias formadas por reunião de
to, terá direito de receber a indenização por morte 5 ministros do STJ e do Centro de Estudos Judiciários)
do DPVAT. (STJ. 4ª Turma. REsp 1.415.727-SC, Rel. Min. diz que a proteção que o Código defere ao nascitu-
Luis Felipe Salomão, julgado em 4/9/2014 (Info 547). ro alcança também o natimorto no que concerne aos
Noutro giro, embora a jurisprudência defenda a direitos da personalidade, tais como nome, imagem e
teoria concepcionista, nos últimos anos, houve deci- sepultura2.
sões no tocante ao aborto, em especial quanto ao feto
anencéfalo e ao aborto no primeiro trimestre de vida, DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE
afastando a aplicação da teoria concepcionista.
No julgamento da ADPF nº 54 de 2012, o Supre- Os direitos da personalidade são aqueles não
mo Tribunal Federal (STF) entendeu que a ausência
patrimoniais, inerentes à pessoa humana, compreen-
de atividade cerebral de um ser configura a sua mor-
didos no núcleo essencial de sua dignidade. São exem-
te, não sendo plausível obrigar a mãe a carregar um
filho morto. Conforme se extrai do julgamento: “uma plos de direito da personalidade: o direito ao corpo, o
mulher não pode ser obrigada a assistir, durante 9 direito à vida, o direito à honra, o direito ao nome e
meses, à missa de sétimo dia de um filho acometido de o direito à imagem. O art. 11, do Código Civil, traz as
uma doença que o levará à morte, com grave sofrimen- características do direito de personalidade:
to físico e moral para a gestante”. (STF — ADPF: 54 DF,
Relator: Min. MARCO AURÉLIO, Data de Julgamento: Art. 11 Com exceção dos casos previstos em lei, os
1204/2012, Tribunal Pleno, Data de Publicação: acór- direitos da personalidade são intransmissíveis e
dão eletrônico DJe-080 DIVULG 29-04-2013 PUBLIC irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer
30-04-2013). limitação voluntária.

2  CONSELHO DA JUSTIÇA FEDERAL. Jornadas de Direito Civil I, III, IV e V: enunciados aprovados. Coordenador científico: Ministro Ruy Rosado
132 de Aguiar Júnior. Brasília: Conselho da Justiça Federal, Centro de Estudos Judiciários, 2012).
Em seguida vamos analisar melhor cada uma Depreende-se desse preceito que, na defesa do
delas: direito personalíssimo, apenas o titular pode, em um
primeiro momento, proteger os seus direitos da per-
z Intransmissível: os direitos da personalidade não sonalidade. Neste sentido, a tutela do direito poderá, a
podem ser transmitidos a terceiros (seja por causa depender do que visa, ser:
mortis, seja por ato intervivos). Exceções: alguns
direitos podem ser transferidos temporariamente, z Tutela inibitória: contra as ameaças, para evitar
como a cessão do uso de imagem para comerciais, o dano. Exemplo: quando uma pessoa descobre
propagandas etc.; que um jornal pretende veicular sua imagem a
z Irrenunciável: os direitos da personalidade não uma reportagem. Pode-se buscar, por vias judi-
podem ser renunciados. O titular não pode abrir ciais, impedir a exposição da imagem;
mão deles de forma definitiva. Observação: dife- z Tutela repressiva: para cessar o dano. Exemplo:
rente da característica anterior em que se transmi- a imagem da pessoa é veiculada a uma reporta-
te a alguém, a renúncia seria abrir mão do direito,
gem. Podem-se buscar as vias judiciais para retirar
sem destiná-lo a outrem. Exemplo: não se pode
a imagem de circulação;
renunciar ao direito de ter um nome. Exceções:
z Perdas e danos: é o direito de pleitear indeniza-
alguns direitos podem ser renunciados tempora-
ção ante a uma lesão.
riamente, como em reality shows – os participan-
tes abrem mão, temporariamente, da privacidade;
z Autolimitação: o legislador não permite que, por Vale ressaltar que existem direitos da personalida-
vontade própria, o titular renuncie ou transmita de post mortem. Com a morte, alguns direitos da per-
seus direitos da personalidade. Trata-se de tute- sonalidade se mantêm, como os direitos ao corpo, à
la excessiva e sem justificativa. Porém, segundo imagem, ao nome. É o que assegura o parágrafo único,
o Enunciado nº 4, da I Jornada de Direito Civil, o art. 12, do Código Civil:
exercício dos direitos da personalidade pode sofrer
limitação voluntária, desde que não seja permanen- Art. 12 Parágrafo único. Em se tratando de morto,
te, nem geral. O titular pode dispor do exercício terá legitimação para requerer a medida prevista
dos seus direitos (a utilização deles), mas não do neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer
direito em si. parente em linha reta, ou colateral até o quarto
grau.
É importante saber que, embora os direitos da
personalidade sejam intransmissíveis, seus efeitos Conforme o Enunciado 400, do CJF — V Jornada de
patrimoniais podem ser transmitidos e, inclusive, Direito Civil —, o parágrafo único, do art. 12, e o pará-
constituir objeto de negociação. grafo único, do art. 20, asseguram legitimidade, por
Além das características expressas no Código, direito próprio aos parentes, cônjuge ou companhei-
Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona (2019, p. 97-98) ro, para a tutela contra lesão perpetrada post mortem3.
acrescentam outras: Logo, as indenizações cabíveis serão pagas para os
herdeiros e, não, para o morto. Um exemplo é o caso
z Absolutos: no sentido de serem oponíveis erga Garrincha: em 1995, Ruy Castro publicou a obra Estre-
omnes, isto é, todos terão o dever de respeitá-los; la Solitária — um brasileiro chamado Garrincha, sem
z Gerais ou necessários: no sentido de todas as pes- prévia autorização dos familiares do astro. Suas filhas,
soas serem titulares; em defesa da honra, imagem e privacidade, deman-
z Extrapatrimoniais: não são medidos financeira- daram contra a editora, pleiteando danos morais. O
mente; estão na esfera da proteção existencial do STJ (REsp 521697/RJ) conferiu os danos às filhas (dano
indivíduo; indireto ou dano em ricochete).
z Indisponíveis: a titularidade desses direitos não
pode ser alterada, o que, segundo os autores, abar- Espécies de Direito da Personalidade
ca as características mencionadas da irrenunciabi-
lidade e da intransmissibilidade; Primeiramente, vale lembrar que, assim como
z Imprescritíveis: não se perdem pelo não uso; a Constituição, de 1988, previu vários direitos fun-
z Impenhoráveis: não podem ser penhorados;
damentais em rol exemplificativo, como à vida, à
z Vitalícios: os direitos personalíssimos acompa-
liberdade, à honra, à intimidade, dentre outros,
nham a pessoa por toda a sua vida (alguns, até
assim também o Código Civil prevê direitos perso-
mesmo, após a morte, como é o caso da proteção
nalíssimos. Porém, de forma não exaustiva (apenas
do cadáver do falecido, de sua honra e de sua
exemplificativa).
imagem).
NOÇÕES DE DIREITO

Outra característica interessante dos direitos de Do Direito à Vida e à Integridade Física vs.
personalidade é acerca de sua tutela. Vejamos o que Intervenções Médicas e Cirúrgicas
dispõe o art. 12:
A Constituição Federal, de 1988, trata todos os direi-
Art. 12 Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a tos fundamentais no mesmo patamar, isto é, embora
lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas sejam os direitos mais importantes ao ser humano,
e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas nem mesmo o direito à vida é supremo e superior aos
em lei. demais. Vejamos:
3  Conselho da Justiça Federal. Jornadas de direito civil I, III, IV e V: enunciados aprovados. Coordenador científico: Ministro Ruy Rosado de
Aguiar Júnior. Brasília: Conselho da Justiça Federal, Centro de Estudos Judiciários, 2012. 133
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem dis- Pelo entendimento do enunciado, a recusa ao
tinção de qualquer natureza, garantindo-se aos tratamento é individual, não podendo ser oferecida
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País e substituída pela manifestação de outros (como de
a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à um representante legal no caso de incapazes), mas
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos somente pela própria pessoa que será submetida ao
seguintes:[...]
tratamento. Ainda, esta deve ser plenamente capaz e
não pode estar sendo objeto de coação ou de qualquer
Neste sentido, o Código Civil prevê ao paciente
constrangimento.
de tratamento médico ou de intervenção cirúrgica a
Nesse contexto, é interessante conhecer o nome de
opção entre fazer o procedimento ou não nos casos
procedimentos médicos possíveis com pacientes em
em que sua morte seja provável em decorrência do
leito de morte:
ato médico. Vejamos:

Art. 15 Ninguém pode ser constrangido a subme- z Eutanásia: É tratada como homicídio na sua for-
ter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou a ma comissiva (envolvem atos médicos no sentido
intervenção cirúrgica. de retirar a vida);
z Distanásia: É o prolongamento artificial da vida
O risco de vida será verificado quando há grande do paciente que não possui chances de cura ou de
probabilidade de morte. Podemos citar, como exem- recuperação;
plo, o tratamento para retirada de um tumor, o pro- z Ortotanásia: É a aceitação natural da morte, sem
cedimento delicado que pode levar o paciente a óbito. apressá-la (eutanásia) ou retardá-la (distanásia).
Por outro lado, quando há ausência de risco de vida É tratada como homicídio na sua forma passiva
o paciente será obrigado a submeter-se ao procedi- (ausência de atuação, quando poderiam ter sido
mento ou à intervenção cirúrgica, como na hipótese evitados certos efeitos);
de amputação de uma perna (não existe risco de vida z Suicídio assistido: Quando terceiro colabora com
no procedimento, mas, se não amputá-la, o paciente o suicídio, prestando informações ou colocando à
poderá morrer pelo alastramento do tecido morto). disposição do paciente meios necessários para a
Caberá ao médico, portanto, recolher o consen- prática.
timento informado de seu paciente. Isso significa
que o médico, seguindo a ética, deverá informar, de O Direito ao Corpo
modo mais amplo, ao paciente acerca de todos os
riscos da sua intervenção, para que este possa exer- Em continuidade, os arts. 13 e 14, do Código, dis-
cer seu direito de decisão quanto a realizar ou não o põem acerca do direito ao próprio corpo, estando ele
procedimento. vivo ou não. Vejamos:
Nesta temática, considerando o disposto no Códi-
go Civil, a resposta imediata a uma discussão que tem Art. 13 Salvo por exigência médica, é defeso o ato
sido levantada ao longo dos anos quanto à negativa de disposição do próprio corpo, quando importar
de realização de transfusão de sangue pelos seguido- diminuição permanente da integridade física, ou
res da religião “testemunhas de Jeová” seria: ante a contrariar os bons costumes.
manifestação expressa da vontade, a recusa à trans-
fusão de sangue deverá ser levada em consideração A regra é que não se pode dispor do próprio corpo
pelo médico.
(retirar parte do corpo ou alterá-lo) de forma perma-
Contudo a Resolução nº 1.021, de 1980, do Conse-
nente (importando diminuição permanente — são as
lho Federal de Medicina (CFM) contraria a autonomia
partes não regeneráveis. São exemplos de partes rege-
e o direito exposto no Código ao prever: “se houver
neráveis: cabelo, pele e unhas). Assim, poderá haver
iminente perigo de vida, o médico praticará a transfu-
disposição transitória, se não contrariar os bons cos-
são de sangue, independentemente de consentimento
do paciente ou de seus responsáveis”. tumes. Exceção: se houver exigência médica, poderá
Cumpre destacar que a Resolução não merece apli- haver disposição permanente ou transitória do corpo.
cação irrestrita, por contrariar a CF (direito à liberdade Outros pontos importantes é que não se poderão
religiosa) e, diante disso, o Conselho da Justiça Federal, contrariar os bons costumes, ou seja, tudo aquilo que
em 2011, editou o Enunciado 403, segundo o qual: desvirtua os padrões habituais de comportamento.
Trata-se de cláusula geral, a ser preenchida conforme
Enunciado 403 CJF - O Direito à inviolabilidade de análise da cultura e do caso exposto.
consciência e de crença, previsto no art. 5º, VI, da Exemplos curiosos são os casos de Voronoff e do
Constituição Federal, aplica-se também à pessoa homem-lagarto, Erik Sprague. O primeiro era um
que se nega a tratamento médico, inclusive trans- cirurgião russo que, entre os anos 1920 e 1930, reali-
fusão de sangue, com ou sem risco de morte, em zava diversas operações de rejuvenescimento mascu-
razão do tratamento ou da falta dele, desde que lino, retirando os testículos humanos e implantando,
observados os seguintes critérios: a - capacidade em seu lugar, testículos de macaco. Havia livre mani-
civil plena, excluído o suprimento pelo represen-
festação de vontade dos pacientes. Porém, podemos
tante ou assistente; b - manifestação de vontade
concluir que tal procedimento, em nosso ordena-
livre, consciente e informada; e c - oposição que
diga respeito exclusivamente à própria pessoa do mento, seria vedado, não somente por ir contra os
declarante. (Conselho da Justiça Federal. Jornadas costumes sociais, como também por alterar, de forma
de direito civil I, III, IV e V: enunciados aprovados. permanente, partes do corpo. O segundo exemplo, tra-
Coordenador científico: Ministro Ruy Rosado de ta do Body modification, o homem-lagarto, Erik Spra-
Aguiar Júnior. Brasília: Conselho da Justiça Fede- gue, o qual realizou intervenções para se assemelhar
134 ral, Centro de Estudos Judiciários, 2012). a um lagarto. Sua intenção era promover a arte.
Finalmente, havendo exigência médica, poder-se-á Art. 13 Parágrafo único. O ato previsto neste artigo
haver a disposição permanente do corpo nos casos em será admitido para fins de transplante, na forma
que há laudo médico que autorize. Exemplo: amputa- estabelecida em lei especial
ção de perna, para evitar a necrose; retirada de parte
de um órgão como tratamento de câncer etc. Conforme o art. 9º, da Lei 9.434, de 1997, será pos-
É importante ressaltar que o art. 13 não protege as sível a doação de órgãos do corpo vivo:
partes temporárias, nem as invasões que não causem
diminuição, a não ser que afronte os bons costumes. Art. 9º É permitida à pessoa juridicamente capaz
dispor gratuitamente de tecidos, órgãos e partes do
Como consequências, pode-se fazer a barba, cortar o
próprio corpo vivo, para fins terapêuticos (trata-
cabelo, depilar.
mento médico) ou para transplantes em cônjuge ou
parentes consanguíneos até o quarto grau, inclusi-
z O caso dos transexuais ve, na forma do § 4o deste artigo, ou em qualquer
outra pessoa, mediante autorização judicial, dis-
Neste posto, é importante analisarmos o caso do pensada esta em relação à medula óssea.
transexual.
Logo, poderá ser doador em vida qualquer sujeito
É o indivíduo que possui a convicção inalterável capaz (art. 9º, da Lei 9.434/97). O incapaz poderá doar
de pertencer ao sexo oposto ao constante em seu desde que (§ 6º, do art. 9º):
Registro de Nascimento, reprovando veementemen-
te seus órgãos sexuais externos, dos quais deseja se z Apenas medula óssea;
livrar por meio de cirurgia4. z Mediante representação dos pais ou tutor;
z Ausência de risco para sua saúde.
Em 1997, o Conselho Federal de Medicina, por
meio da Resolução 1.482, de 1997, autorizou as cirur- Ainda, poderá ser destinatário da doação de órgãos,
gias de transgenitalização, em caráter experimental. segundo as alterações da Lei 10.211, de 2001, apenas o
Em interpretação do art. 13, no Enunciado 6, do cônjuge ou parentes consanguíneos até o quarto grau
CJF/IJDC, o Conselho da Justiça Federal expressou: (pais, irmãos, filhos, avós, tios e primos). Porém, essa
restrição poderá ser excetuada por autorização judi-
Art. 13 a expressão “exigência médica”, contida no cial, a fim de ser feita doação a quem não é parente.
art.13, refere-se tanto ao bem-estar físico quanto ao Para doação de medula óssea, não será preciso
bem-estar psíquico do disponente. de autorização judicial. No caso da doação em vida
poderão ser doados: o rim, por ser órgão duplo, parte
Logo, por ser enquadrado como doença, um laudo do fígado ou do pulmão e a medula óssea. Contudo, a
médico poderá suprir o requisito da “exigência médi- doação pode ser revogada a qualquer momento, até o
ca” apontado pelo art. 13. Porém, existem condições momento da concretização.
para a realização da cirurgia (Resolução 1.955/2010): Nos casos de doação de órgãos após a morte, primei-
ramente, haverá necessidade do diagnóstico da morte
„ Avaliação de equipe multidisciplinar: médicos, cerebral, mediante utilização de critérios clínicos.
psicólogos, assistentes sociais, pelo período de O art. 4º, da Lei 9.434, de 1997, adotou o sistema
dois anos; do consentimento presumido, tomando a premissa
de que todos são doadores de órgãos e tecidos, salvo
„ Ser maior de 21 anos;
manifestação em contrário. Caso o doador não tenha
„ Cirurgias realizadas apenas em hospitais uni-
deixado expresso a sua vontade, o referido dispositi-
versitários ou hospitais públicos adequados à
vo, pela Lei 10.211, de 2001, adotou a orientação de
pesquisa.
que os parentes ou o cônjuge decidirão sobre o trans-
plante de órgãos do falecido.
Finalmente, a portaria 1.707 de 2008 (Ministério No caso em que o falecido deixou, em vida, a ins-
da Saúde) incluiu o Processo Transexualizador no trução para doar órgãos, mas, quando da sua morte,
âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). os parentes não concordam, aplica-se o art. 14, do
Código Civil: valerá a vontade manifestada do falecido
z A doação de órgãos antes da morte. Logo, aplica-se o art. 4º, da Lei 9.434,
de 1997, apenas nos casos em que o paciente não
Embora seja regra a impossibilidade de disposição manifestar vontade.
do próprio corpo, o art. 14, do Código Civil, permite a Ressalta-se que, se o doador especificar, em tes-
disposição do próprio corpo, para fins altruísticos ou tamento, a quem ele pretende beneficiar, como no
científicos, para depois da morte. caso de necessidade na família, esse documento será
NOÇÕES DE DIREITO

inválido. Assim, valerá a lista única de espera, para os


Art. 14 É válida, com objetivo científico, ou altruís- casos de doação após a morte.
tico, a disposição gratuita do próprio corpo, no
todo ou em parte, para depois da morte. O Direito ao Nome
Parágrafo único. O ato de disposição pode ser livre-
mente revogado a qualquer tempo. O direito ao nome é um direito-dever, pois a Lei de
Registros Públicos (Lei 6.015/1973) prevê a obrigato-
Ademais, o próprio código incentiva a disposição riedade de constar o nome no registro de nascimento.
dos órgãos para fins de transplante. Vejamos: Vejamos:
4 VIEIRA, Tereza Rodrigues. Adequação de Sexo do Transexual: Aspectos Psicológicos, Médicos e Jurídicos. In: Psicologia: Teoria e Prática,
Brasília, 2 (2): 88-102. 2000. Disponível em: http://editorarevistas.mackenzie.br/index.php/ptp/article/view/1113 135
Art. 50 Todo nascimento que ocorrer no território z Proteção de testemunha coagida ou ameaçada
nacional deverá ser dado a registro, no lugar em por ter colaborado em apuração de crime (§ 7º, do
que tiver ocorrido o parto ou no lugar da residência art. 57, LRP);
dos pais, dentro do prazo de quinze dias, que será
ampliado em até três meses para os lugares distan- z Inserção do sobrenome do padrasto ou madras-
tes mais de trinta quilômetros da sede do cartório. ta, desde que estes concordem (§ 8º, do art. 57,
Art. 54 O assento do nascimento deverá conter: LRP);
o nome e o prenome, que forem postos à criança; z Erros de fácil constatação (ex.: Cráudia): segundo
o art. 110, da LRP, tal erro pode ser corrigido pelo
Todavia, mais que um direito-dever, trata-se de próprio oficial do CRPN, sem necessidade de sen-
um direito da personalidade, dos mais importantes, o tença judicial;
qual identifica cada indivíduo na sociedade enquan-
z Introdução do nome do nubente (art. 1565, CC);
to ser particular e enquanto membro de uma família.
Logo, o nome tem dois aspectos: (I) individual e (II) z Retorno ao nome de solteiro após divórcio (art.
social — como a pessoa é conhecida na sociedade. 1578, CC);
Como não poderia deixar de ser, o art. 16, do Código z Exclusão do sobrenome do pai que nunca conhe-
Civil, menciona esse direito da seguinte forma: ceu (REsp 66.643);
z Alteração para colocar apelidos públicos e notó-
Art. 16 Toda pessoa tem direito ao nome, nele com- rios (art. 58, LRP);
preendidos o prenome e o sobrenome. z Exclusão dos sobrenomes paternos em razão do
abandono pelo genitor
Ressalte-se, pois, a partir da leitura do artigo cita-
do, a composição do nome:
O STJ já decidiu que pode haver a retirada do
z Prenome: é o primeiro nome, que indica quem é sobrenome paterno quando o pai abandona o filho
o indivíduo. Pode ser simples (ex.: Filipe) ou com- de pouca idade. Isso porque o registro do sobrenome
posto (ex.: Luiz Filipe); é capaz de despertar lembranças negativas e angus-
z Sobrenome (patronímico): é o indicativo da tiantes decorrentes do abandono. (STJ. 3ª Turma. REsp
família. Geralmente, tem-se o sobrenome materno 1.304.718-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, jul-
e, em seguida, o paterno. Inexiste obrigatoriedade gado em 18/12/2014, DJe 5/2/2015 (Info 555).
legal nesse sentido; Neste sentido, o procedimento para a alteração do
z Partículas: de, dos, de (ex.: Daiane dos Santos); nome seguirá as seguintes etapas (exceto para a situa-
z Agnome: visa perpetuar um nome anterior (ex.:
ção do sujeito no primeiro ano da maioridade) (art.
Júnior, Filho, Neto).
57, Lei 6.015/1973):
Em regra, o nome é caracterizado por sua imuta-
bilidade. Isso se justifica pela proteção à segurança z Petição judicial, apontando o motivo para alteração;
jurídica. Portanto, a regra é a de que o nome não pode z Manifestação do Ministério Público;
ser alterado. Todavia, admitem-se algumas hipóteses, z Sentença judicial;
previstas no art. 56, da Lei de Registros Públicos: z Publicação em jornal local.

Art. 56 O interessado, no primeiro ano após ter A proteção ao nome alcança também a limitação
atingido a maioridade civil, poderá, pessoalmente
do uso do nome por terceiros, havendo proibição,
ou por procurador bastante, alterar o nome, desde
que não prejudique os apelidos de família, averban- pelo Código Civil, de seu uso em publicações que expo-
do-se a alteração que será publicada pela imprensa. nham à pessoa ao desprezo público, situação em que
a violação do nome também afeta a honra da pessoa.
Logo, a possibilidade de modificar o nome ocorre- Veja:
rá dentro dos limites seguintes:
Art. 17 O nome da pessoa não pode ser empregado
z Após completar 18 anos, no prazo máximo de por outrem em publicações ou representações que a
1(um) ano. Inclusive, não será necessário advoga- exponham ao desprezo público, ainda quando não
do. O interessado solicitará no cartório de registro haja intenção difamatória.
civil e este enviará o pedido diretamente ao juiz.
Contudo, existem cartórios que só alteram o nome
É certo que as pessoas públicas, em razão do direi-
do sujeito no primeiro ano da maioridade, se hou-
ver, primeiro, uma sentença judicial, porque a Lei to à informação, acabam sendo alvo das publicações
6.015, em seu art. 109, diz que só haverá mudança vexatórias. Porém, mesmo em relação a elas, há limite
de nome com determinação judicial; para o uso do nome: apenas quanto ao pertinente ao
z Nome que exponha a pessoa ao ridículo (pará- interesse social, sem violar a intimidade da pessoa.
grafo único, do art. 55). Como exemplo, pode-se Exemplo: crime cometido por um político.
citar alguém que possua nomes vexatórios como: Ademais, também é vedado pelo Código o uso do
Sum Tim Am, Madeinusa, Primeira Delícia do nome de uma pessoa para fins publicitários sem sua
Casal Oliveira, Aides, Abrilina Décima Nona Caça-
permissão. É necessário o consentimento do sujeito,
pava Piratininga de Almeida, Agrícola Beterraba
Almeida, Antonio Manso Pacífico de Oliveira Sos- para que seu nome seja veiculado em propaganda
segado, Bispo de Paris, Caius Marcius Africanus, comercial:
Deus é Infinitamente Misericordioso, João Pensa
Bem, Maria Privada de Jesus. Nessa hipótese tam- Art. 18 Sem autorização, não se pode usar o nome
136 bém os transexuais, inclusive antes da cirurgia; alheio em propaganda comercial.
Exemplo disso foi a vinculação do nome do apre- Art. 20 Salvo se autorizadas, ou se necessárias
sentador de televisão Luciano Huck a uma publicida- à administração da justiça ou à manutenção da
de de lançamento imobiliário de alto luxo. A empresa ordem pública, a divulgação de escritos, a trans-
responsável citou o nome do apresentador como um missão da palavra, ou a publicação, a exposição
dos moradores da rua. Em razão disso, houve conde- ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão
ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da
nação da construtora ao pagamento de indenização
indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a
pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), em razão boa fama ou a respeitabilidade, ou se destinarem a
do uso indevido do nome e confirmação da condena- fins comerciais.
ção pelo STJ. (STJ — REsp: 1645614 SP 2015/0325698- Parágrafo único. Em se tratando de morto ou
0, Relator: Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, de ausente, são partes legítimas para requerer
Data de Julgamento: 26/06/2018, T3 – TERCEIRA TUR- essa proteção o cônjuge, os ascendentes ou os
MA, Data de Publicação: DJe 29/06/2018). descendentes.
Ainda, deve-se estender a proteção ao uso do nome
de uma pessoa para situações além da propaganda Igualmente trata-se de direito fundamental previs-
comercial, de forma a buscar a autorização do titular. to constitucionalmente no art. 5º:
Exemplo: atribuir a alguém a filiação de um partido
político ou a uma religião. Tanto é que a proteção se Art. 5º [...]
estende, também, ao pseudônimo — criação intelec- X - são invioláveis a intimidade, a vida privada,
tual usada pelo sujeito para o seu reconhecimento a honra e a imagem das pessoas, assegurado o
direito a indenização pelo dano material ou moral
social. São exemplos: Agenor de Miranda (Cazuza),
decorrente de sua violação;
Paulo César Batista (Paulinho da Viola).
Aplica-se, pois, a mesma proteção dada aos nomes
A proteção da imagem, segundo o Código Civil,
aos pseudônimos já estabelecidos no meio social, a
ocorre nas seguintes situações:
fim de coibir sua usurpação. Em caso de homônimos,
protege-se aquele que está mais fortemente estabele- z Se o uso da imagem atingir a honra, a boa fama ou
cido no meio social. a respeitabilidade: há preocupação com a reper-
Observe como o Código dispõe a respeito: cussão social da imagem. Contudo, a Constituição,
de 1988, traz uma proteção mais ampla que a civi-
Art. 19 O pseudônimo adotado para atividades líci- lista, sem condicionar a imagem a uma repercus-
tas goza da proteção que se dá ao nome. são social;
z Se houver uso da imagem destinado a fins comer-
Algumas observações acerca da proteção do nome ciais. Todavia, é criticável só existir proteção quan-
ainda devem ser consideradas: do a imagem estiver vinculada a fins comerciais.
Deixa-se de fora a tutela de uso da imagem em
z Qualquer outro motivo para se alterar o nome qualquer outro contexto.
poderá ser levado ao Judiciário que fará a devida
apreciação. Exemplo: inserir outros sobrenomes, Noutro giro, não haverá proteção da imagem
alterar nome não vexatório etc.; quando:
z Quanto aos transexuais, poderão fazer a alteração
do nome e do gênero mesmo antes da cirurgia de z Houver autorização do titular para seu uso;
correção do sexo, conforme atual entendimento z Resguardar a ordem pública e a administração da
dos tribunais. Chegou-se a cogitar na criação de justiça;
um terceiro gênero a ser atribuído aos transexuais,
mas tal ideia não foi recepcionada, por se tratar de Tais exceções estão ligadas ao direito à informa-
meio discriminatório. ção, também previsto constitucionalmente, como é o
caso da divulgação do nome de foragidos da polícia,
O Direito à Imagem de nomes de políticos envolvidos em escândalos etc.
Ademais, segundo entendimento do STJ, a ofensa
A imagem corresponde a qualquer representação ao direito à imagem materializa-se com a mera uti-
audiovisual ou tátil da pessoa humana alcançada por lização da imagem sem autorização, ainda que não
instrumentos técnicos de captação, como filmes, tele- tenha caráter vexatório ou que não viole a honra ou
jornais, computadores, bem como pela ação artística a intimidade da pessoa, desde que o conteúdo exibido
da criatividade humana nas telas da pintura, escultu- seja capaz de individualizar o ofendido:
ra ou qualquer tipo de artesanato. Logo, são espécies
A obrigação de reparação decorre do próprio uso
de imagem:
NOÇÕES DE DIREITO

indevido do direito personalíssimo, não sendo devi-


do exigir-se a prova da existência de prejuízo ou
z Imagem-retrato: é o aspecto fisionômico, a forma dano. O dano é a própria utilização indevida da
plástica do sujeito; imagem. (STJ. REsp 794.586/RJ, Rel. Min. Raul Araú-
z Imagem-atributo: é o conjunto de características jo, Quarta Turma, julgado em 15/09/2012 (Info 493
que decorrem do comportamento do indivíduo, STJ).
representando-o socialmente, como o jeito de
andar, o timbre da voz, um tique-nervoso, uma Logo, em uma breve síntese, podemos elencar
expressão facial. como efeitos da violação à imagem, ficando sob o ônus
do prejudicado pleitear através de ação judicial:
O direito à imagem é previsto pelo Código em seu
art. 20: z A retirada da imagem de circulação; 137
z A retratação daquele que utilizou a imagem de for- Todavia, é certo que não se proíbe aos jornalis-
ma indevida; tas tratar, em sua matéria, sobre uma pessoa notó-
z Indenização por danos materiais e morais. ria, principalmente se encontrar apoio em outras
matérias já publicadas e se a reportagem tiver cunho
Direito à Imagem vs. Direito à Informação investigativo, sem caráter sensacionalista. Veja que o
entendimento do STJ é nesse sentido:
Há, conforme vimos, a proteção ao uso da imagem.
Não constitui ato ilícito apto à produção de danos
Todavia, a Constituição, de 1988, assegura, também, o
morais a matéria jornalística sobre pessoa notó-
amplo direito à informação e à manifestação do pen- ria a qual, além de encontrar apoio em matérias
samento sem qualquer restrição: anteriormente publicadas por outros meios de
comunicação, tenha cunho meramente investigati-
Art. 220 A manifestação do pensamento, a criação, vo, revestindo-se, ainda, de interesse público, sem
a expressão e a informação, sob qualquer forma, nenhum sensacionalismo ou intromissão na priva-
processo ou veículo não sofrerão qualquer restri- cidade do autor. (STJ. 3ª Turma. REsp 1.330.028-DF,
ção, observado o disposto nesta Constituição. Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
§ 1º Nenhuma lei conterá dispositivo que pos- 6/11/2012 (Info 508 STJ).
sa constituir embaraço à plena liberdade de
informação jornalística em qualquer veículo de O Direito à Honra
comunicação social, observado o disposto no
art. 5º, IV, V, X, XIII e XIV. O direito à honra tutela o respeito, a considera-
ção, a boa fama e a estima que a pessoa desfruta nas
Nesses casos, porém, quando há o conflito entre relações sociais, a qual pode ser violada, por exemplo,
o direito personalíssimo e fundamental à imagem de quando uma pessoa é xingada em local público. Ela é
protegida como direito personalíssimo juntamente ao
um lado e, de outro, o direito à informação, são utili-
direito da imagem (art. 20) e do nome (art. 17). Ade-
zados critérios pela atual jurisprudência:
mais, também recebe proteção constitucional, isto é, é
um direito fundamental:
z Lugar público: há a ideia de que a imagem colhida
em lugar público implica em consentimento tácito Art. 5º [...]
de utilização pelo seu titular. Tal critério merece X - São invioláveis a intimidade, a vida privada, a
ser melhor analisado casuisticamente, conforme o honra e a imagem.
contexto. Pense em dois casos: no primeiro há a
imagem que retrata banhistas em uma praia cario- São suas espécies:
ca no verão; no outro, há uma imagem que mostra
uma garota fazendo topless em uma praia cario- z Honra objetiva: é a reputação de que goza a pes-
ca no verão. Não resta dúvida de que, no segundo soa no meio social;
caso, a exposição da garota é desnecessária; z Honra subjetiva: é o sentimento da própria pes-
z Pessoa pública: é a pessoa que vive sob os holo- soa que pode se refletir em vergonha, humilhação,
fotes da mídia, tais como artistas e políticos. Tal constrangimento etc.
critério merece ser melhor analisado casuistica-
mente, conforme o contexto. Pense nos dois casos Como efeitos da violação da honra temos a injú-
a seguir: no primeiro é reproduzida a imagem de ria, a difamação ou a calúnia e, inclusive, pela leitura
uma artista acenando para seus fãs da janela de do art. 953, do Código Civil, caberá indenização em
razão dos danos resultantes à vítima. A injúria signi-
um hotel; no segundo, temos o caso Cicarelli, a
fica ofender a dignidade ou decoro de alguém (honra
qual foi flagrada em cenas íntimas com seu namo-
subjetiva); a calúnia é o ato de imputar falso crime; e
rado em uma praia da Espanha. Não resta dúvida
a difamação ocorre ao imputar fato ofensivo à reputa-
de que, no segundo caso, a exposição da atriz foi ção, ainda que verdadeiro.
desnecessária. Ressaltam-se ainda, outros efeitos relacionados à
honra, para além da indenização dos danos morais.
Os critérios apresentados também podem ser De acordo com o inciso I, art. 1557, do Código, o casa-
substituídos por outros que melhor atendam a tutela mento poderá ser anulado se a honra da pessoa era
da imagem: desconhecida, isto é, se o/a nubente se casou sob erro
essencial a este respeito. Vejamos:
z O grau de utilidade para o público informado;
z O grau de atualidade da imagem (caso Xuxa); Art. 1.557 Considera-se erro essencial sobre a pes-
z O grau de necessidade da veiculação; soa do outro cônjuge:
z O grau de preservação do contexto original onde a I - o que diz respeito à sua identidade, sua honra e
boa fama, sendo esse erro tal que o seu conhecimen-
imagem foi obtida;
to ulterior torne insuportável a vida em comum ao
z O grau de consciência do titular da imagem sobre
cônjuge enganado;
a captação da imagem;
z O grau de identificação do titular da imagem; O inciso III, art. 557, do Código, também previu a
z Existem meios de se contornar a identificação, revogação de doação por ingratidão do donatário que
como a distorção da imagem por borrões ou as tar- injuriou ou caluniou gravemente o doador:
jas pretas.
z A amplitude de exposição do titular da imagem Art. 557 Podem ser revogadas por ingratidão as
(tutela da privacidade); doações:
138 z A repercussão da imagem no meio social. III - se o injuriou gravemente ou o caluniou;
Aliás, o mesmo poderá ocorrer no caso do herdeiro z Analisa-se a finalidade do veículo que propaga a
indigno. Vejamos: sátira: se o veículo é próprio para sátiras, sabe-se
que a possibilidade de qualquer notícia ser levada
Art. 1.814 São excluídos da sucessão os herdeiros a sério é ínfima;
ou legatários: z Veracidade do fato: se o fato reproduzido é verí-
II - que houverem acusado caluniosamente em juízo dico, tende a servir como informação ao público;
o autor da herança ou incorrerem em crime contra z O propósito da sátira: foi fazer rir ou diminuir o
a sua honra, ou de seu cônjuge ou companheiro; sujeito, causando-lhe constrangimento?

Ainda, além da indenização pelos danos à honra, O Direito à Privacidade


existem outras formas de compensação não pecuniá-
ria do dano à honra. A seguir: O direito à privacidade também é um direito per-
sonalíssimo e trata do direito de estar só. A ideia de
z Publicação em jornais da sentença que condenou não se ter invadida a propriedade alheia, de não ter
o pagamento à indenização pelo dano à honra. a intimidade familiar violada é fruto da influência
Publicação das partes mais importantes e em lin- do direito de propriedade, contendo uma concepção
guagem acessível; negativa (dever de abstenção) e uma concepção bur-
z Afixar, no lugar do dano, retratação pública pela guesa (só tem privacidade quem tem propriedade).
lesão causada; Vejamos:
z Conceder o direito de resposta à vítima, a ser publi-
cada em veículos de ampla circulação. Art. 21 A vida privada da pessoa natural é inviolá-
vel, e o juiz, a requerimento do interessado, adotará
Direito à Informação vs. Direito à Honra as providências necessárias para impedir ou fazer
cessar ato contrário a esta norma.
Assim como no caso do nome e da imagem, a honra
não poder ser usada como pretexto de informação. O Porém, com o desenvolvimento tecnológico e o
direito à informação não justifica os exageros e a vio- intenso fluxo de dados, há uma mudança de concep-
lação da intimidade do sujeito. Deve-se buscar sem- ção: não se trata apenas de “estar só”, mas de ter con-
pre a melhor forma de se informar sem colocar em trole sobre os próprios dados. Logo, existe um novo
risco a honra da pessoa envolvida. Pode-se citar como conceito sobre o direito de privacidade: é o direito ao
exemplo uma reportagem sobre motéis que mostrasse controle da coleta e da utilização dos próprios dados
a imagem de um casal entrando (haveria violação à pessoais.
imagem e à honra).
z Noções sobre dados pessoais: são dados que
z Sátira vs. direito à honra trazem informações sobre a pessoa, tais como,
suas opiniões, suas escolhas, sua carga genética,
A sátira é a manifestação legítima da liberdade de sua filiação política etc. Os dados sensíveis, por
expressão artística e intelectual em que se ridiculari- sua vez, são os dados pessoais que podem gerar
discriminação em determinadas circunstâncias.
za determinado objeto (geralmente pessoa) como for-
Exemplos: orientação sexual, escolha religiosa ou
ma de provocar uma reflexão.
política, ser portador de doença etc. Tais dados
Observe o Caso do Castelo de Itaipava (RESP
devem ser tutelados da melhor forma possível,
736.015/RJ): a revista Bundas elegeu o castelo de
impedindo a sua livre circulação;
Itaipava como “Castelo de Bundas”, afirmando que
z Dados integrados: são aqueles que, sozinhos,
o dono do castelo, já falecido, teria feito sua fortuna
não oferecem risco ao titular, mas, uma vez uni-
com lucros advindos de uma fábrica de papel higiêni-
dos, podem oferecer um perfil detalhado sobre
co. Os herdeiros, diante da matéria, pleitearam danos
a pessoa. Um exemplo é a utilização, para a cria-
morais em defesa da honra do falecido (parágrafo úni-
ção de perfis: empresa que quer pesquisar sobre
co, art. 12, do Código Civil).
seus candidatos à emprego, colhendo informações
A Ministra Nancy Andrighi, relatora, entendeu
sobre empregos passados, familiares, informações
que não houve ofensa à honra, pois a reportagem era
no Facebook etc.
satírica e visava comparar o Castelo de Bundas com
o Castelo de Caras (BRASIL, 2005, p. 88). Lado outro,
Dentre os caminhos para proteger os dados pes-
o Ministro Castro Filho entendeu que houve dano à
soais, temos:
honra em razão do humorismo deselegante, ofen-
sivo e vulgar, causando constrangimento à família
z Consentimento informado do titular: o titular deve
do morto. Porém, este foi voto vencido, julgando-se
NOÇÕES DE DIREITO

estar ciente acerca da destinação dos seus dados,


no voto vencedor que não houve ofensa pessoal ao
podendo limitar o seu uso;
antepassado dos autores da ação, mas, sim, uma sáti- z Criar mecanismos de fiscalização dos dados pes-
ra com costumes modernos. (STJ — Resp: 736015 RJ soais: a Constituição Federal, por exemplo, criou o
2005/0048150-7, Relator: Ministra NANCY ANDRIGHI, Habeas Data.
Data de Julgamento: 16/06/2005, T3 — TERCEIRA TUR-
MA, Data de Publicação: DJ 01/07/2005 p. 533 RDR vol. Art. 5º [...]
39 p. 300 RSTJ vol. 194 p. 406). LXXII - conceder-se-á “habeas-data”:
Nos casos, em que há por um lado o direito à a - para assegurar o conhecimento de informações
liberdade de expressão e, do outro, o direito à hon- relativas à pessoa do impetrante, constantes de
ra, pondera-se o direito à sátira e o direito à honra da registros ou bancos de dados de entidades governa-
seguinte forma: mentais ou de caráter público; 139
b - para a retificação de dados, quando não se z O formato de apresentação (sensacionalista ou não);
prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou z Os riscos de se afetar outros direitos da personali-
administrativo; dade como a honra.

No entanto, um ponto falho no Habeas Data é que Direito ao Conhecimento da Origem Biológica
ele não serve para a proteção de dados inseridos em
entidades particulares, ou seja, ele não serve para Finalmente, é fundamental apresentar o direito
criar mecanismos para a retirada de dados dos ban- ao conhecimento da origem biológica. Mesmo no caso
cos, estabelecendo o que se conhece por direito ao de anonimato do doador do sêmen para os casos de
esquecimento. inseminação artificial poderá ser exercido o direito ao
Em relação ao direito ao esquecimento, este é o conhecimento da origem biológica versus privacidade.
direito de impedir que todas as pegadas deixadas na Em 2010, no julgamento do RESP 807.849/RJ, o STJ
vida venham a seguir seu autor implacavelmente, em entendeu que é um direito da personalidade ter o
cada momento de sua existência. Neste caso, a pessoa conhecimento de seus antepassados. Porém, nos casos
pode requerer, como exemplo, a retirada de alguma de origem biológica decorrente de doação de sêmen,
informação indesejada sobre ela que circule na rede as consequências da quebra do anonimato serão:
mundial de computadores. Foi o caso de uma garota
acusada de ter colado em um concurso. Ela solicitou a z Permite-se apenas o conhecimento de quem é o
retirada de seu nome veiculado a esse fato das buscas dono do sêmen doado;
do Google através de ação judicial no TJRJ. z Não cria relação de parentesco entre o filho e o
doador;
Quanto às pessoas públicas, ressalta-se: estas
z Não gera para o doador de sêmen a obrigação de
merecem ter protegida a privacidade, especialmente
pagar alimentos;
quanto aos fatos que não dizem respeito ao interes-
z Não há direito de herança do filho em relação ao
se social. Igualmente, os fatos que ocorrem em local
doador de sêmen.
público não afastam a proteção da privacidade, pois
esta não se configura apenas em recintos fechados ou
No caso de recusa da realização do DNA, o direi-
privados. to ao conhecimento genético prepondera diante do
direito à privacidade. O Código Civil prevê que:
Biografias Não Autorizadas
Art. 231 Aquele que se nega a submeter-se a exame
Ao longo dos anos, tem sido objeto de debates e médico necessário não poderá aproveitar-se de sua
de julgamentos o conflito entre o direito de liberda- recusa.
de de expressão e o direito à intimidade, em especial Art. 232 A recusa à perícia médica ordenada pelo
nas biografias não autorizadas. Muito se discute se juiz poderá suprir a prova que se pretendia obter
haveria censura na limitação destas obras ou have- com o exame.
ria primazia da proteção à privacidade. O limite da
biografia, porém, seria a utilidade das informações à CAPACIDADE
sociedade.
Em 2016, o STF decidiu que a autorização prévia Para fins didáticos, no início do estudo do Código
do biografado ou de pessoas mencionadas na biogra- Civil, antes de prosseguirmos no estudo dos atributos
fia seria dispensada, porque essa prévia autorização da pessoa natural, pulamos alguns artigos, para apro-
configuraria uma forma de censura, afrontando a fundarmos na análise dos direitos da personalidade.
liberdade de expressão prevista na Constituição Fede- Agora, retornaremos ao art. 1º, do Código Civil, o qual
ral. As exatas palavras do STF foram as seguintes: afirma que “Toda pessoa é capaz [...]”. Isso significa
que a pessoa, ao nascer com vida, possui não somente
o direito à personalidade, como também a capacida-
É inexigível o consentimento de pessoa biografa-
de – “[...] de exercer direitos e deveres na ordem civil”.
da relativamente a obras biográficas literárias ou
Porém, assim como ocorre com a personalidade e os
audiovisuais, sendo por igual desnecessária a auto-
rização de pessoas retratadas como coadjuvantes
inúmeros direitos expostos decorrentes destas, a pes-
ou de familiares, em caso de pessoas falecidas ou
soa ao nascer sofrerá algumas limitações no exercício
ausentes. (STF. Plenário. ADI 4815/DF, Rel. Min. de sua capacidade até mesmo porque o recém-nasci-
Cármen Lúcia, julgado em 10/6/2015 (Info 789). do não consegue exercer pessoalmente seus direitos e
deveres na ordem civil.
Assim, temos que a capacidade é a medida da per-
Porém, isso não afasta o direito do biografado ou
sonalidade, isto é, ela define até onde uma pessoa
de qualquer retratado de pedir eventual indenização
pode exercer sua personalidade. As espécies de capa-
posterior, se ficar demonstrado o abuso na forma de
cidade, portanto, podem ser subdividas em:
divulgação dos fatos. Outras formas de reparação tam-
bém podem ser cogitadas, como a publicação de uma
z Capacidade de direito (capacidade jurídica ou
ressalva, uma nova edição com correção e o direito de de gozo): que é a aptidão com a qual todos nas-
resposta. cem para adquirir direitos e contrair obrigações.
Ressalta-se como parâmetros a serem anali- Porém, ela não é plena, pois seu titular apresen-
sados para ponderação do interesse público e da ta limitações de forma que não pode exercer seus
privacidade: direitos pessoalmente. Exemplo: Pessoa que nasce
e, logo depois, morre — houve capacidade jurídica,
z A repercussão emocional do fato sobre o com aquisição de direitos (ex.: herança, doação);
biografado; menor de idade, o qual depende de acompanha-
z A importância dos fatos para a construção da his- mento dos pais na vida civil para realizar negócios
140 tória do biografado; jurídicos, como um contrato;
z Capacidade de fato (capacidade de exercício ou de Art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos
agir): é a aptidão adquirida pela pessoa que já pode ou à maneira de os exercer:
exercer os direitos e cumprir as obrigações pes- I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito
soalmente, sem a ajuda, representação ou assistên- anos;
cia legal de terceiros. Exemplo: A pessoa maior de II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico;
idade e sem impedimentos legais ao contratar. III - aqueles que, por causa transitória ou perma-
nente, não puderem exprimir sua vontade;
IV - os pródigos
Por sua vez, quem não possui capacidade plena é
Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será
denominado incapaz, sendo todos os casos de incapa-
regulada por legislação especial.
cidade taxativamente previstos em lei. A regra, por-
tanto, é a de todas as pessoas serem capazes, havendo
Os maiores de 16 e menores de 18 anos serão assis-
exceções previstas no Código Civil, as quais serão ana-
tidos pelos pais, ou na ausência deles, por um tutor. O
lisadas a seguir. A incapacidade poderá ser:
menor manifestará a vontade e esta deverá ser confir-
mada pelo assistente. Quando houver conflito entre a
z Incapacidade relativa: não impede a pessoa vontade do assistente e do menor, poderá o juiz dar o
de realizar os atos da vida civil, mas estes ficam consentimento, se entender que a recusa do assistente
dependendo da confirmação do chamado assis- é injustificada (ex.: art. 1517 c/c art. 1519).
tente (estes incapazes são assistidos). É o caso dos Porém, alguns atos podem ser realizados pelo
maiores de 16 anos e menores de 18 anos; maior de 16 anos sem assistência:
z Incapacidade absoluta: impede que a pessoa
exerça qualquer de seus direitos pessoalmente, z Pode ser testemunha (inciso I, do art. 228);
sendo necessário um representante legal (estes z Mandatário – representante com procuração (art.
incapazes são representados). É o caso dos meno- 666);
res de 16 anos. z Pode redigir testamento (§ único, do art. 1860);
z Podem votar (alínea "c", inciso II, art. 14, da CF).
Os Absolutamente Incapazes
O caso dos ébrios habituais (alcoólatras) e dos
De acordo com o Código Civil, somente os menores viciados em tóxicos afeta apenas aqueles que possuem
de 16 anos são absolutamente incapazes: o vício incontrolável a ponto de gerar transtornos
mentais. Para se tornarem relativamente incapazes,
Art. 3° São absolutamente incapazes de exercer porém, deverão ser submetidos a um processo judi-
pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16 cial de curatela (inciso III, do art. 1.767) cuja sentença
(dezesseis) anos. determinará um curador. Somente com a interdição
os viciados dependerão de assistência de um curador
Nesta faixa etária, encontram-se crianças e ado- para praticar determinados atos da vida civil.
lescentes, pois o Estatuto da Criança e do Adolescente Também serão considerados relativamente inca-
(ECA) considera criança até os 12 anos e adolescente pazes aqueles que, por causa transitória ou perma-
até os 18 (art. 2º). Desta forma, os absolutamente inca- nente, não puderem exprimir sua vontade. Trata-se
pazes, isto é, os menores de 16 anos, apesar de terem de comprometimento das faculdades mentais, sendo
a capacidade de direito, não possuem a capacidade que a pessoa não possui uma correta percepção da
de fato, de forma que não poderão exercer seus direi- realidade. Quem definirá a ausência do discernimen-
tos de forma pessoal, necessitando de representação to será o juiz, através do procedimento da curatela
legal. Do contrário, atos praticados por eles pessoal- (inciso I, do art. 1.767).
mente serão nulos. É interessante observar que, com o Estatuto da Pes-
Segundo o inciso VII, do art. 1634, do Código Civil, soa com Deficiência, houve mudança no tratamento
cabe aos pais (ou tutor) a representação dos filhos até dado às pessoas com enfermidade ou doença mental e
os 16 anos — primeiramente aos pais e, na ausência àquelas que por causa transitória ou permanente não
destes, ao tutor (art. 1728, do Código Civil). possam exprimir sua vontade, pois antes todos estes
Todavia, embora não possa exercer pessoalmente eram considerados absolutamente incapazes. Porém
os atos da vida civil, a criança tem direito de escolha a Lei 13.146, de 2015, revogou os incisos I e II, do art.
ou ao menos de influenciar as decisões que digam res- 3º, do Código Civil. Ademais, até mesmo a constatação
peito a sua própria vida. Isso porque o art. 16, do ECA de incapacidade relativa destas pessoas deverá ser
(Lei 8.069/90), prediz que a criança e o adolescente têm constatada pelo procedimento de curatela, não sendo
direito à opinião, expressão, liberdade de crença e cul- uma condição verificada automaticamente pela exis-
to, participação da vida familiar. Ademais, os § 2°, do tência de alguma deficiência.
art. 45, e o § 2°, do art. 28, do ECA, preveem, inclusive, Finalmente, a última hipótese prevista de incapa-
o consentimento do adotado (criança ou adolescente).
NOÇÕES DE DIREITO

cidade relativa refere-se aos pródigos. Trata-se daque-


Logo, conclui-se que, embora o menor de 16 anos les que dilapidam o próprio patrimônio, em prejuízo
seja incapaz, ele possui discernimento reconhecido próprio. Porém, enquanto não forem submetidos ao
para algumas situações. processo de curatela (inciso V, art. 1.767, do Código
Civil), eles ainda serão considerados absolutamen-
Os Relativamente Incapazes te capazes de praticar todos os atos da vida civil. No
entanto, após a sentença judicial que declarar o estado
Como já explicado, os relativamente incapazes são de prodigalidade o pródigo será privado dos atos rela-
aqueles que já podem praticar determinados atos da tivos a seu patrimônio (art. 1.782): emprestar, nego-
vida civil pessoalmente, mas para alguns ainda preci- ciar, pagar, vender, hipotecar e praticar atos gerais de
sam de um assistente. O Código Civil apresenta um rol gestão ao seu patrimônio. Logo, fora as hipóteses do
(taxativo) um pouco maior para estes: art. 1782, o pródigo poderá agir sem curador. 141
Como se observa, em nenhuma das hipóteses elenca- A Cessação da Incapacidade
das, há menção da incapacidade relacionada ao envelhe-
cimento. Isso porque a senilidade, a idade avançada por Neste estudo, ao tratar de questões de representa-
si só, não compromete o discernimento da pessoa, sendo ção legal e assistência, vimos acerca da curatela e é
necessária a comprovação judicial da incapacidade. comum haver dúvida sobre as diferenças entre poder
Em todas as hipóteses referentes à incapacidade familiar, tutela e curatela. Atente-se às características
relativa à consequência de agir sem assistência (art. de cada um:
171, I) é de o ato ser anulável (não ter validade, mas o
ato poderá ser sanado). z Poder familiar: é o conjunto de deveres atribuí-
dos aos pais em benefício dos filhos menores;
A Mudança da Teoria das Incapacidades em z Tutela: é uma das formas de colocação da criança
conformidade com a Lei 13.146/2015 ou do adolescente em família substituta (art. 28,
ECA). O objeto da tutela é apenas menores inca-
O Brasil assinou a Convenção Internacional dos pazes. É o instituto de direito criado para haver
Direitos da Pessoa com Deficiência (CDPD), em vigor representação ou assistência de menores nos casos
desde 25/08/2009. Inclusive a Lei nº 13.146, de 7 de em que o menor não estiver mais sobre o poder
julho de 2015, o Estatuto da Pessoa com Deficiência, familiar (art. 1728): com o falecimento dos pais ou
foi baseada na CDPD: trata da proteção às pessoas com no caso de perda ou suspensão do poder familiar
deficiência e entrou em vigor em 7 de janeiro de 2016. (arts. 1637 e 1638);
O que se entende por deficiência? A pessoa com z Curatela: o objeto da curatela é direcionado à
deficiência é aquela que tem impedimento de longo assistência nos atos civis de maiores incapazes. A
prazo de natureza física, mental, intelectual ou senso- partir dos 18 anos, o sujeito já é considerado auto-
rial. Veja-se a previsão do estatuto: maticamente capaz (existe presunção legal — art.
5º). Para romper com a presunção legal, é necessá-
Art. 2º Considera-se pessoa com deficiência aquela rio que se proceda com a curatela do maior, a fim
que tem impedimento de longo prazo de natureza de provar sua incapacidade. Uma vez comprovada
física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em a sua incapacidade no procedimento da curatela, o
interação com uma ou mais barreiras, pode obs- sujeito ganhará um curador.
truir sua participação plena e efetiva na sociedade
em igualdade de condições com as demais pessoas. De acordo com o Código Civil, não havendo qual-
quer das hipóteses do art. 4º, aos dezoito anos, quando
Há três tipos de deficiência, quais sejam: o sujeito atinge a maioridade civil, ele também adqui-
re a capacidade plena. Vejamos:
z A deficiência sem curatela, podendo desfrutar de
todos os seus direitos pessoalmente; Art. 5º A menoridade cessa aos dezoito anos com-
z A deficiência com curatela, em que haverá uma pletos, quando a pessoa fica habilitada à prática de
proteção mais densa àquele que não consegue se todos os atos da vida civil.
autodeterminar;
z A deficiência com tomada de decisão apoiada: situa- Como consequência, ele poderá realizar todos os
ção em que o deficiente possui um discernimento atos da vida civil sem representação ou assistência,
precário, mas não inexistente, devendo o deficiente não se submeterá ao poder familiar, responderá pes-
eleger duas pessoas para ajudá-lo nas decisões. soalmente por seus atos, passará a responder penal-
mente pelos crimes cometidos.
Consequências:
A Responsabilidade Civil dos Pais pelos Atos do
z Os curatelados serão relativamente incapazes; Emancipado
z Os únicos absolutamente incapazes serão os meno-
res de 16 anos; Não restam dúvidas de que os pais são civilmente
z A curatela só servirá para a proteção do patrimô- responsáveis, de forma objetiva (mesmo sem o ele-
nio do curatelado, podendo este realizar atos exis- mento do dolo ou da culpa) pelos atos civis de seus
tenciais pessoalmente, como escolher a própria filhos (art. 928, do CC), sendo subsidiária a responsa-
religião, reconhecer filho, casar etc; bilidade destes.

Os Índios E quanto ao menor emancipado?

O parágrafo único, do art. 4º, do Código Civil, deter- Como o menor emancipado pratica seus atos sem
mina que os índios (ou silvícolas) terão sua capacida- representação ou assistência, a princípio, o mais lógi-
de regulada pela legislação especial — a Lei 6.001, de co seria que não houvesse responsabilidade dos pais
1973. A FUNAI (Fundação Nacional dos Índios) é o por seus atos. Porém, o STJ tem o entendimento que
ente que promove a plena proteção do índio. em se tratando de emancipação voluntária (analisada
O índio não integrado à sociedade deverá ser sem- a seguir) a emancipação por outorga dos pais não
pre representado pela FUNAI. O índio não integrado afasta a responsabilidade pelos atos do menor, isto
é aquele que não fala o português, nem tem contato é, os pais responderão de forma solidária pelos atos
com a sociedade urbana. Portanto, ante a ausência de do menor: “A emancipação voluntária, diversamente
representação do índio não integrado (art. 8º, da Lei da operada por força de lei, não exclui a responsabili-
6.001) o ato será nulo. dade civil dos pais pelos atos praticados por seus filhos
Os índios integrados submetem-se às regras do menores”. (STJ — AgRg no Ag: 1239557 RJ 2009/0195859
Código Civil (parágrafo único, art. 8º, da Lei 6.001) e — 0, Relator: Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, Data
praticam pessoalmente os atos da vida civil, sendo de Julgamento: 09/10/2012, T4, QUARTA TURMA, Data
142 plenamente capazes. de publicação: DJe 17/10/2012).
Todavia, o parágrafo único, do art. 5º, também pre- Quanto à emancipação legal por casamento, tem-
vê situações nas quais a incapacidade cessará antes -se que a idade núbil, isto é, a idade em que se pode
mesmo de atingida a maioridade: casar é a partir dos 16 anos. Porém, o casamento antes
dos 16 anos era praticado apenas para evitar imposi-
Art. 5º [...] ção de pena criminal ou em caso de gravidez. A pri-
Parágrafo único. Cessará, para os menores, a meira hipótese restou prejudicada após a Lei 11.106,
incapacidade:
I - pela concessão dos pais, ou de um deles na fal- de 2011, que, por sua vez, revogou os incisos VII e VIII,
ta do outro, mediante instrumento público, inde- do art. 107, do CP que previa a extinção de punibili-
pendentemente de homologação judicial, ou por dade pelo casamento da vítima com o culpado. Agora,
sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver com a Lei 13.811, de 2019, ficou vedado em qualquer
dezesseis anos completos; caso o casamento de quem não atingiu a idade núbil.
II - pelo casamento; Atenção! Por tratar-se de uma alteração recen-
III - pelo exercício de emprego público efetivo; te, redobre sua atenção, pois pode ser objeto de sua
IV - pela colação de grau em curso de ensino
superior; prova!
V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela Algumas breves considerações devem ser feitas,
existência de relação de emprego, desde que, em ainda, quanto às hipóteses de emancipação legal. Pri-
função deles, o menor com dezesseis anos comple- meiramente, o divórcio não devolve a incapacidade
tos tenha economia própria. ao menor. Segundo a hipótese de emancipação pelo
exercício de emprego público efetivo parece inviável,
A cessação da incapacidade antes mesmo de atingida a pois depende de lei que expressamente autorize o
maioridade é denominada emancipação. Este é o ato pelo menor ser investido em cargo público. No entanto, a
qual o menor adquire capacidade plena, podendo realizar Lei federal dos servidores públicos (inciso V, art. 5º, da
pessoalmente seus atos, sem representação ou assistência. Lei 8112/1990 — Geral) estabelece a idade mínima de
Como consequência, o emancipado poderá realizar todos 18 anos como requisito para a investidura.
os atos da vida civil sem representação ou assistência, não
É importante notar que a lei trata como espécie de
se submeterá ao poder familiar, responderá (em regra)
pessoalmente por seus atos (as mesmas consequências da emancipação legal o exercício no cargo público e não
maioridade), mas o sujeito continua sendo menor, isto é, apenas a posse (aceitação expressa do cargo). Isso sig-
ainda se sujeita ao ECA e continua sendo inimputável — nifica que a emancipação só ocorre quando o incapaz
não responderá penalmente pelos crimes cometidos. Ade- inicia suas atividades na Administração Pública.
mais, a emancipação, em regra, é definitiva e irrevogável. Em relação à colação de grau em curso de ensi-
no superior, mesmo sendo difícil em razão da longa
duração dos cursos de ensino fundamental e médio, a
Importante! Lei de Diretrizes Básicas da Educação Brasileira - LDB
(Lei nº 9.394/1996) admite a abreviação da duração de
O tema “capacidade” é recorrente nas provas de
cursos dos alunos extraordinários e não existe idade
escrivão.
mínima prevista para esta conclusão abreviada.
Finalmente quanto à última hipótese, entende-se
Conforme o parágrafo único, do art. 5º, são espé- por economia própria aquela que atende a subsis-
cies de emancipação: tência do sujeito e de seus dependentes. Segundo o
art. 974, o menor incapaz poderá exercer atividade
z Emancipação voluntária: ocorre pela concessão de empresa (estabelecimento próprio) apenas sendo
dos pais, ou de um deles na falta do outro (enten- representado. Assim, a ideia de estabelecimento civil
de-se por morto ou não registrado), mediante ins- ou comercial deve ser compreendida nas hipóteses
trumento público. Esse tipo de emancipação possui em que o menor age como profissional liberal (ex.:
como requisitos, portanto: o menor possuir 16 eletricista, professor, cantor etc.). A relação de empre-
anos completos e o ato ser realizado por meio de go poderá existir a partir dos 16 anos quando se pode
instrumento público (lavrado em cartório); estabelecer contrato regular (art. 403, da CLT).
z Emancipação judicial: ocorre por sentença judicial,
após ser ouvido o tutor. Será realizada esta modali-
A MORTE DA PESSOA NATURAL
dade de emancipação, através de processo judicial,
caso de um menor tutelado (veja o Quadro compara-
tivo Poder Familiar vs. Tutela vs. Curatela) e em caso De acordo com o Código Civil, a extinção da pes-
de recusa injustificável dos pais (ou de um deles) soa natural e da personalidade civil ocorrerá com a
em conceder a emancipação (parágrafo único, do morte:
art. 1.690). No caso de o menor ser tutelado deverá
ocorrer a oitiva do tutor (quer-se evitar que o tutor Art. 6° A existência da pessoa natural termina com
se desonere do múnus por capricho). A emancipação a morte; presume-se esta, quanto aos ausentes, nos
será registrada no cartório de pessoas naturais (inci- casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão
NOÇÕES DE DIREITO

so II, art. 9º, e inciso IV, art. 29, da Lei 6.015/1973); definitiva.
z Emancipação legal: se dá em razão de um deter-
minado acontecimento somado ao de ter 16 anos A morte ocorrerá com o fim da atividade cerebral
completos. Também deverá ser registrada no car- (art. 3º, da Lei 9434/1997), sendo necessário o laudo
tório de pessoas naturais (parágrafo único, art. 91,
médico para confecção do atestado de óbito. Confor-
da Lei 6.015/1973). São estes acontecimentos: o
casamento, o exercício de emprego público efetivo, me o art. 77, da Lei 6.015, de 1973 (LRP), exige-se o
pela colação de grau em curso de ensino superior, atestado de óbito para a realização do sepultamento.
pela existência de estabelecimento civil ou comer- A morte terá como consequências:
cial, ou pela existência de relação de emprego, des-
de que, em função deles, o menor com dezesseis z Põe fim a alguns direitos da personalidade do
anos completos tenha economia própria. morto; 143
z A extinção das relações obrigacionais; O procedimento de decretação da morte presumi-
z A extinção da sociedade conjugal; da com decretação de ausência ocorrerá em três fases:
z Saisine iuris: a transmissão automática dos bens
aos herdeiros. z 1ª fase: arrecadação de bens. Será necessária sen-
tença judicial que nomeie um curador e declara
A morte pode também ser subdividida em espé- a ausência (art. 24). Será legítimo curador: o côn-
cies, quais sejam: juge do ausente, desde que não separado de fato
há mais de dois anos (caput do art. 25). Na falta
do cônjuge (§ 1º): a curadoria caberá aos pais ou
z Morte real: aquela constatada com a presença de
descendentes (os mais próximos precedem os mais
um cadáver; remotos — § 2º). Na falta de parentes (§ 3º), compe-
z Morte presumida: aquela em que não há consta- te ao juiz a escolha do curador;
tação de cadáver, não há um corpo, podendo ser z 2ª fase: sucessão provisória. A sucessão é a trans-
com ou sem decretação de ausência; missão de bens a terceiro. Após um ano da arreca-
dação dos bens, poderá ser dado início à abertura
Vejamos como o Código aborda o assunto: provisória da sucessão. Vejamos:

Art. 7° Pode ser declarada a morte presumida, sem Art. 2º Decorrido um ano da arrecadação dos bens
decretação de ausência: do ausente, ou, se ele deixou representante ou pro-
curador, em se passando três anos, poderão os inte-
ressados requerer que se declare a ausência e se
A morte presumida é a situação, portanto, em que
abra provisoriamente a sucessão.
o sujeito desaparece, deixando indícios de que está
morto. Os incisos do art. 7º trazem as hipóteses em
Porém, o prazo citado será de três anos, se o ausente
que haverá esta presunção. Veja as situações: houver deixado representante (tutor, curador) ou pro-
curador. O prazo será contado a partir do desapareci-
Art. 7º [...] mento. Poderão requerer a declaração de ausência:
I - se for extremamente provável a morte de quem
estava em perigo de vida; Art. 27º são considerados interessados para reque-
II - se alguém, desaparecido em campanha (guer- rer a declaração de ausência: (I) o cônjuge; (II) os
ra) ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois herdeiros; (III) os credores.
anos após o término da guerra. Art. 28º o juiz irá abrir a sucessão por sentença e,
Parágrafo único. A declaração da morte presumida, 180 dias após todos os recursos, deverá ser instau-
nesses casos, somente poderá ser requerida depois rado o inventário e a partilha.
de esgotadas as buscas e averiguações, devendo a
sentença fixar a data provável do falecimento. A partir da abertura da sucessão provisória já
poderá ocorrer a venda dos imóveis do ausente (art.
O inciso I refere-se aos casos que envolvem nau- 31) desde que com autorização do juiz, para evitar a
frágio, inundação, incêndio, terremoto ou qualquer ruína. Igualmente, bens móveis poderão ser alienados
outra catástrofe e o II aos desaparecidos em campa- e se estiverem sujeitos à deterioração, o juiz poderá
nha de guerra ou feito de prisioneiros, como o caso convertê-los em bens imóveis (art. 29).
de jornalistas que ficam anos desaparecidos ao serem Ressalta-se que, quanto aos efeitos (art. 33), os her-
deiros, nessa fase, são apenas possuidores e não proprie-
presos por terroristas.
tários dos bens do ausente. Logo, serão dos sucessores
Ademais, a declaração de morte só será possível
provisórios todos os frutos e rendimentos que a coisa
depois de esgotados todos os meios de busca e será produzir, como, por exemplo, o aluguel, os animais nas-
necessária sentença judicial que decrete a morte. Esta cidos de um rebanho, as frutas de uma árvore etc.
morte presumida, como dito, poderá ocorrer com ou Caso haja o reaparecimento do ausente ou se for dado
sem decretação de ausência. por existente (art. 36): extingue-se a posse provisória, não
A ausência é o desaparecimento da pessoa natural, podendo mais os sucessores colher seus rendimentos.
sem dela se ter notícias. Veja o que prevê o Código:
z 3ª fase: sucessão definitiva: Finalmente, com a
Art. 22 Desaparecendo uma pessoa do seu domi- sucessão definitiva e se declara a morte presumi-
cílio sem dela haver notícia, se não houver dei- da (art. 6º). Após dez anos da sentença que conce-
xado representante ou procurador a quem caiba de a sucessão provisória, poderão os interessados
administrar-lhe os bens, o juiz, a requerimento pedir a sucessão definitiva (art. 37). Poderá haver
de qualquer interessado ou do Ministério Público, redução do prazo, para cinco anos, desde que o
declarará a ausência, e nomear-lhe-á curador. ausente contasse com, no mínimo, 75 anos quando
do seu desaparecimento (art. 38). Com a sucessão
Conforme se observa da leitura do art. 22 e seguin- definitiva, os herdeiros serão tidos como verdadei-
tes, são requisitos para ser decretada a ausência: ros proprietários, podendo usar, gozar e dispor do
bem conforme quiserem. Caso haja o retorno do
ausente em até dez anos da sucessão definitiva, ele
z Desaparecimento da pessoa de seu domicílio;
terá direito apenas aos bens existentes no estado
z Duração de tempo consideravelmente longo (caso em que se acharem (art. 39). Sobre os bens aliena-
concreto); dos terá direito o ausente aos bens adquiridos em
z Carência de notícias; seu lugar (sub-rogados) ou ao preço recebido.
z Não houver deixado representante ou procurador.
z Se o procurador não quiser ou não puder exercer o Quando dois sujeitos falecem na mesma ocasião,
mandato, será declarada a ausência (art. 23); como definir quem morreu primeiro? Este dilema
z Se o desaparecido houver nomeado procurador, trata de um assunto muito cobrado em concursos é
mas continuar sumido por mais de 3 anos, será quanto à comoriência – muito importante na análise
144 declarada sua ausência (art. 26). do direito das sucessões. Veja a previsão do Código:
Art. 8° Se dois ou mais indivíduos falecerem na z A existência de uma organização de pessoas ou
mesma ocasião, não se podendo averiguar se patrimônio para determinado fim com a observân-
algum dos comorientes precedeu aos outros, presu- cia das condições legais, tais como registro dos atos
mir-se-ão simultaneamente mortos. constitutivos (art. 45, CC);
z O ato constitutivo é o documento básico da socie-
Logo, a comoriência é a presunção de morte simul-
dade (estatuto ou contrato), o qual deverá ser
tânea de dois sujeitos quando não for possível preci-
sar qual morreu primeiro, por exemplo, quando da registrado no órgão competente como Cartório de
ocorrência de um acidente de avião. Registro de Pessoas Jurídicas, Junta Comercial etc.;
Como efeito não há transmissão de bens entre z A partir do registro, a pessoa jurídica adquire capacida-
os comorientes, caso eles tenham relação de paren- de e poderá, pois, contrair direitos e deveres jurídicos;
tesco. Exemplo: Ana e Beto são casados e morrem z A pessoa jurídica não possui todos os direitos da
simultaneamente — nenhum herda do outro, de sorte personalidade, mas apenas aqueles que lhe são
que seus respectivos herdeiros receberão os bens do compatíveis (art. 52, do CC), tais como o nome, a
falecido. honra, a imagem. Logo, a proteção não é da pes-
soa jurídica em si, mas da atividade das pessoas
naturais que está por traz daquela. Fala-se em uma
tutela avançada da pessoa humana. Nesse sentido
DA PESSOA JURÍDICA é a Súmula 227 do STJ: “a Pessoa Jurídica pode ser
vítima do dano moral”;
O título II, do Código Civil, trata das pessoas jurídicas. z Personalidade da pessoa jurídica é distinta da de
Seu significado é explicado da seguinte forma pela dou- seus instituidores, seu patrimônio é separado do
trinadora Maria Helena Diniz: a pessoa jurídica é verda- patrimônio de seus membros;
deira unidade de pessoas naturais ou de patrimônios, que z Em casos de desvio de finalidade da pessoa jurídi-
visa à consecução de certos fins, reconhecida pela ordem ca ou de confusão do patrimônio da pessoa jurídica
jurídica como sujeito de direitos e obrigações5. com a de seus membros, permite-se a desconsidera-
Esse conceito pode ser melhor entendido com a lei-
ção da personalidade jurídica, a partir da qual será
tura dos tipos de pessoa jurídica elencados pelo Código
possível atingir os bens dos membros (art. 50, CC);
Civil (arts. 40, 41, 42 e 44, do CC). Segundo esses dispo-
sitivos, a pessoa jurídica poderá ser de direito público z A pessoa jurídica pode ser sujeito ativo ou passivo
(interno ou externo) ou de direito privado. Vejamos: em atos civis e criminais. Por exemplo, as pessoas jurí-
dicas podem receber herança (inciso II, do art. 1799),
z Pessoas jurídicas de direito público: União, Estados, podem sofrer violação à honra (art. 52), podem pra-
Distrito Federal, Territórios, Municípios, autarquias, ticar crimes ambientais (Lei 9.605/1998). No entanto,
inclusive as associações públicas e as demais entida- a pessoa jurídica não pode exercer ato privativo da
des de caráter público criadas por lei (interno); Esta- pessoa natural, como, por exemplo, casar;
dos estrangeiros e todas as pessoas que forem regidas z O domicílio da pessoa jurídica é o local onde fun-
pelo direito internacional público (externo); cionam suas diretorias e administrações ou onde
z Pessoas jurídicas de direito privado: Associa- o ato constitutivo indicar. O domicílio da pessoa
ções, sociedades, fundações, organizações religio- jurídica de direito privado pode ser o lugar (inciso
sas, partidos políticos, empresas individuais de
IV, do art. 75): I) da administração e direção; II) o
responsabilidade limitada.
local indicado nos atos constitutivos. Quando hou-
ver diversos estabelecimentos (§ 1º, do art. 75),
Conforme o Enunciado 144, da III Jornada de Direito
Civil do Conselho da Justiça Federal: “A relação das pes- todos serão considerados domicílios. É importan-
soas jurídicas de direito privado constante nos incisos I te, nesse contexto, mencionar a Súmula 363, do
a V, art. 44, do Código Civil, não é exaustiva” (Conselho STF: a pessoa jurídica de Direito privado pode ser
da Justiça Federal. Jornadas de Direito Civil I, III, IV e V: demandada no domicílio da agência ou do estabe-
enunciados aprovados. Coordenador científico: Minis- lecimento em que se praticou o ato, independente se
tro Ruy Rosado de Aguiar Júnior. Brasília: Conselho da ali funciona a diretoria ou administração;
Justiça Federal, Centro de Estudos Judiciários, 2012). z A pessoa jurídica pode ser extinta pelos seguintes
Ademais, o art. 41 também deixou em aberto outras motivos: I) pelo decurso do prazo, se for determi-
possibilidades de pessoas jurídicas de direito públi- nado; II) pela deliberação dos membros; III) pela
co interno ao declarar que [...] as demais entidades de falta de pluralidade de membros (exemplo: morte
caráter público criadas por lei”(inciso V, art. 41, do CC).
de sócios); IV) quando a finalidade foi atingida ou
se tornou impossível. Exemplo: associação criada
REGRAS GERAIS
com o fim de angariar fundos para uma formatu-
ra, porém o curso é fechado pelo MEC; tem-se: fim
Primeiramente, é importante explicar que, por
NOÇÕES DE DIREITO

escolha didática, neste capítulo, nem sempre haverá a atingir (formatura) versus fim impossível (fecha-
transcrição do Código Civil. Porém, para melhor apro- mento do curso pelo MEC); V) pelo não cumpri-
veitamento de seu estudo, esteja com ele ao lado para mento da função social: desvio de fins, abuso de
conferir todos os artigos à medida em que forem citados. direito; VI) outras possibilidades previstas no ato
A partir da análise das disposições gerais do Títu- constitutivo. Em qualquer caso, deverá ser provi-
lo II, do Código (arts. 40 -52, do CC), podemos observar denciada a averbação da dissolução (§ 1º, do art.
algumas características comuns das pessoas jurídicas: 51, do CC);
z Os bens pertencentes à pessoa jurídica de fins não
z Existe para o direito como uma realidade ideal e econômicos que se extingue seguirão para outras
não corporal (art. 45, CC); entidades de mesmo fim.
5 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. Teoria Geral do Direito Civil. 32ª Ed. São Paulo: Saraiva, Vol. 1, 2015, p. 243. 145
Importante! II - os requisitos para a admissão, demissão e exclu-
são dos associados;
O marco definidor da atribuição da personali- III - os direitos e deveres dos associados;
dade jurídica é o registro do ato constitutivo no IV - as fontes de recursos para sua manutenção;
órgão competente (art. 45), logo, diferentemente V – o modo de constituição e de funcionamento dos
das pessoas naturais, as pessoas jurídicas não órgãos deliberativos;
necessariamente ganharão personalidade “ao VI - as condições para a alteração das disposições
nascerem”, mas sim a partir do registro de seu estatutárias e para a dissolução.
ato constitutivo. VII – a forma de gestão administrativa e de aprova-
ção das respectivas contas.

CLASSIFICAÇÃO Em regra, por força do art. 55, do Código Civil,


todos os associados devem ter o mesmo status na asso-
Quanto à Estrutura Interna ciação. No entanto, pode-se prever, no estatuto, cate-
gorias distintas de associados. Assim, pode ser que um
z As corporações associado seja liberado de pagar contribuições.
Outra característica importante diz respeito à
São compostas por agrupamento de pessoas, liga- intransmissibilidade da qualidade de associado, salvo
das por um sentimento comum, o chamado affec- se o estatuto trouxer norma diversa. Eis a previsão do
tio societatis. São suas modalidades: sociedades e art. 56, do Código Civil:
associações:
Art. 56 A qualidade de associado é intransmissível,
„ Sociedades se o estatuto não dispuser o contrário.
Parágrafo único. Se o associado for titular de quo-
Caracterizam-se por almejar lucro, podendo ser ta ou fração ideal do patrimônio da associação, a
sociedade simples ou sociedade empresária. transferência daquela não importará, de per si, na
A sociedade será simples (parágrafo único, do art. atribuição da qualidade de associado ao adquirente
966) se a atividade for intelectual, científica, cultural, ou ao herdeiro, salvo disposição diversa do estatuto.
literária ou artística, tais como escola, sociedade de
advogados, sociedade de dentistas. Seu registro será
Cada associado deve contribuir proporcional-
no Cartório de Registro de Pessoas Jurídicas (inciso II,
mente com as despesas da associação, na forma dos
art. 114, da Lei de Registros Públicos — LRP).
A sociedade será empresária (caput do art. 966), estatutos, independentemente de usar ou não os bene-
se assumir feições de sociedade empresarial, rela- fícios das atividades associativas.
cionada com atividade econômica organizada para a O STJ já decidiu no sentido de que o não filiado a
produção ou a circulação de bens e serviços. Seu regis- uma associação não pode ser compelido a pagar por
tro ocorrerá na Junta Comercial. despesas associativas, salvo se beneficiar-se da ativi-
A diferença entre sociedade simples e empresária dade, sob pena de configurar o enriquecimento sem
está na complexidade estrutural da empresa e de causa. Nesse sentido são os REsp 1.280.871-SP e REsp
sua atividade desenvolvida. Será ou não empresária 1.439.163-SP.
conforme o grau de organização que apresente. A exclusão de um associado, nos termos do art.
57 do Código Civil, só é possível se houver justa cau-
„ As associações sa e procedimento que assegure o direito de defesa e
recurso, de acordo com a previsão no Estatuto.
São pessoas jurídicas que não têm finalidade lucra- O órgão máximo de decisão de uma associação é
tiva, nos termos do art. 53, do Código Civil. São cons- chamado de Assembleia Geral. Ela tem caráter perma-
tituídas pela reunião de pessoas que visam alcançar nente e reúne todos os associados. O art. 60, do Código
determinado fim. Civil, diz que a assembleia pode ser realizada perio-
As atividades das associações podem ser culturais, dicamente, conforme previsão no Estatuto ou por
esportivas, acadêmicas, protetiva de direitos, profis- requerimento de 20% dos associados.
sionais ou qualquer outra que não tenha por natureza
As decisões da Assembleia Geral serão tomadas
a obtenção de lucro.
com base na maioria dos votos presentes, salvo pre-
Isso não significa que as associações não poderão
visão diversa especificada no Estatuto Social. São de
ter ganhos financeiros. Ou seja, elas podem receber
doação, cobrar por trabalhos desenvolvidos, promo- competência exclusiva da Assembleia Geral: a) a deci-
ver eventos para arrecadação de dinheiro. No entan- são sobre destituição de administradores da associa-
to, qualquer valor deverá ser revertido ao exercício ção e b) a alteração do estatuto.
da atividade associativa. Não se admite a partilha des- Em caso de dissolução da associação, vale a leitura
ses valores entre os associados. do art. 61, do Código Civil. Observe o destino do patri-
As associações são regidas pelo estatuto social, que mônio remanescente, bem como a possibilidade de
é uma espécie de lei orgânica, de modo a vincular os devolução das contribuições dos associados:
associados presentes e futuros. O registro é feito no
Cartório de Registro de Pessoas Jurídicas, nos termos Art. 61 Dissolvida a associação, o remanescente
do inciso I, art. 114, da Lei 6015, de 1973. O art. 54 do seu patrimônio líquido, depois de deduzidas, se
menciona o que precisa conter o estatuto, sob pena de for o caso, as quotas ou frações ideais referidas no
nulidade. Vejamos: parágrafo único do art. 56, será destinado à entida-
de de fins não econômicos designada no estatuto,
Art. 54 Sob pena de nulidade, o estatuto das ou, omisso este, por deliberação dos associados, à
associações conterá: instituição municipal, estadual ou federal, de
146 I - a denominação, os fins e a sede da associação; fins idênticos ou semelhantes.
§ 1o Por cláusula do estatuto ou, no seu silêncio, por Art. 64 Constituída a fundação por negócio jurídico
deliberação dos associados, podem estes, antes da entre vivos, o instituidor é obrigado a transferir-lhe
destinação do remanescente referida neste artigo, a propriedade, ou outro direito real, sobre os bens
receber em restituição, atualizado o respectivo dotados, e, se não o fizer, serão registrados, em
valor, as contribuições que tiverem prestado ao nome dela, por mandado judicial.
patrimônio da associação.
§ 2o Não existindo no Município, no Estado, no Dis- Ademais, a elaboração do estatuto poderá ser feita
trito Federal ou no Território, em que a associa- pelo próprio instituidor ou por terceiro. No entanto,
ção tiver sede, instituição nas condições indicadas se for destinada a terceiro, este deverá fazê-la no pra-
neste artigo, o que remanescer do seu patrimônio zo determinado em estatuto ou no prazo de 180 dias.
se devolverá à Fazenda do Estado, do Distrito Havendo descumprimento, o Ministério Público fará
Federal ou da União. o estatuto:

z Figuras diversas Art. 65 Aqueles a quem o instituidor cometer a apli-


cação do patrimônio, em tendo ciência do encargo,
Entre as pessoas jurídicas, existem figuras denomi- formularão logo, de acordo com as suas bases
nadas “diversas”, a saber: (artigo 62), o estatuto da fundação projetada, sub-
metendo-o, em seguida, à aprovação da autoridade
„ Sindicatos: O enunciado 142, do Conselho da competente, com recurso ao juiz.
Justiça Federal (CJF), trata os sindicatos como Parágrafo único. Se o estatuto não for elaborado
de sendo de natureza associativa. No entanto, no prazo assinado pelo instituidor, ou, não haven-
do prazo, em cento e oitenta dias, a incumbência
por tratarem de temas referentes ao interes-
caberá ao Ministério Público.
se coletivo, seu tratamento é dado pela Cons-
tituição Federal e Consolidação das Leis do
A aprovação do estatuto deverá passar pelo crivo
Trabalho (CLT). Os doutrinadores falam que o
do Ministério Público (art. 66, do CC), tendo em vista o
sindicato seria uma associação sui generis;
interesse social presente. Assim, nos termos do art. 66
„ ONGs: Fazem gestão de interesses sociais e
do Código Civil, a fiscalização da fundação competirá
surgem ao lado do Estado para a promoção de
sempre ao Ministério Público correspondente, isto é,
direitos fundamentais como saúde, educação,
ao Ministério Público Federal.
lazer etc. Por terem caráter público, serão regu-
Se funcionarem no Distrito Federal, ou em Territó-
lamentados pelo direito Administrativo e pelas
rio, caberá o encargo ao Ministério Público Estadual,
regras associativas do direito civil. É o chama-
inclusive de cada estado no caso de as atividades se
do terceiro setor;
estenderem por mais de um estado.
„ Fundos: São universalidade de recursos atre-
Como qualquer pessoa jurídica a criação da per-
lada a certas despesas e considerados entes
sonalidade da pessoa jurídica da fundação se dará
despersonalizados; na fase de registro no Cartório de Registro de Pes-
„ Maçonaria, Rotary: Associação civil; soas Jurídicas. Esse estatuto poderá passar por alte-
„ Condomínio: Considerado ente despersonali- ração (art. 67, CC), desde que obedeça aos seguintes
zado, não sendo sujeito de direitos. requisitos: Deliberação de, no mínimo, dois terços
dos responsáveis por gerir e representar a fundação;
z As fundações não haver contrariedade dos fins previstos originaria-
mente; alteração será submetida à provação do Minis-
Segundo Stolze e Pamplona, as fundações resultam tério Público em 45 dias.
da afetação de bens livres, por testamento ou escritura
pública, que faz o seu instituidor, especificando o fim „ Finalidades da fundação
para o qual se destina (2019, p. 126).
Uma característica importante das fundações é a O Código Civil aborda ainda as finalidades (art.62,
inalienabilidade dos bens. Exceção é quando a ven- parágrafo único) das fundações, quais sejam: assistên-
da do bem for indispensável para a existência ou cia social; cultura, defesa e conservação do patrimônio
continuidade das atividades da fundação. Nesse caso, histórico e artístico; educação; saúde; segurança ali-
o bem deverá ser vendido e substituído por outro mentar e nutricional; defesa, preservação e conserva-
(exemplo: imóvel em ruína). ção do meio ambiente e promoção do desenvolvimento
São exemplos de fundações: Fundação Roberto sustentável; pesquisa científica, desenvolvimento de
Marinho (atuação nas áreas ambiental, educacional tecnologias alternativas, modernização de sistemas de
e cultural, Telecurso, projetos para conservação do gestão, produção e divulgação de informações e conhe-
patrimônio, Canal Futura, Globo Ecologia etc); Funda- cimentos técnicos e científicos; promoção da ética, da
ção Bradesco (criada pelo Banco Bradesco para pro-
NOÇÕES DE DIREITO

cidadania, da democracia e dos direitos humanos; ati-


jetos sociais, especialmente de educação); Fundação vidades religiosas.
Getúlio Vargas (destinada ao ensino e pesquisa).
„ Dissolução das fundações
„ Fases de criação (art. 62): Afetação de bens,
criação de estatuto e fiscalização do Ministério A dissolução da fundação (art. 69, caput, do CC)
Público. será possível quando ela se tornar ilícita, impossível,
sua finalidade, inútil, e também poderá o Ministério
Uma fundação é criada a partir da afetação de Público pedir a sua dissolução, sendo que os bens
bens livres. Em outras palavras, pela destinação de remanescentes deverão ser destinados a outra fun-
certos bens desimpedidos através de escritura pública dação que desempenhe atividade semelhante. Em
ou de testamento. Veja-se a previsão do Código Civil: pormenores: 147
Finalidade ilícita: Aquela que desvia dos seus fins z Confusão patrimonial: Quando o membro utiliza
originais; o patrimônio da pessoa jurídica para realizar paga-
Finalidade impossível: Por intercorrência de um mentos pessoais, atentando contra a regra da sepa-
fator novo. Exemplo: fundação que não recebe verbas ração de patrimônios entre pessoa jurídica e pessoa
para o seu sustento; física. Exemplo: abre-se uma empresa de carros e
Finalidade inútil: O objeto da fundação foi cum- usa-se os carros para fins particulares, retira-se
prido. Exemplo: ajudar as vítimas da enchente após o dinheiro do caixa para pagar dívidas pessoais etc.
restabelecimento de todas as famílias. Veja a previsão do parágrafo 2º, do art. 50, do CC:

Quanto às Funções Exercidas Entende-se por confusão patrimonial a ausência de


separação de fato entre os patrimônios, caracteri-
z Pessoas Jurídicas de Direito Público zada por: I - cumprimento repetitivo pela sociedade
de obrigações do sócio ou do administrador ou vice-
São marcadas pela presença do Poder Público e -versa; II - transferência de ativos ou de passivos
sem efetivas contraprestações, exceto os de valor
são subdivididas em:
proporcionalmente insignificante; e III - outros atos
de descumprimento da autonomia patrimonial.
„ Pessoas jurídicas de direito público interno
(art. 41): União, Estados, Município e DF;
A desconsideração da personalidade é um proce-
„ Pessoas jurídicas de direito público externo
dimento judicial que ocorrerá mediante requerimen-
(art. 42): Regidas pelo direito internacional
to da parte lesada ou do Ministério Público. O art. 50,
público e envolvem instituições como UNESCO,
em sua parte final, esclarece que a desconsideração
UNICEF, OIT, ONU.
atingirá os bens dos administradores ou dos sócios da
empresa que direta ou indiretamente foram benefi-
z Pessoas Jurídicas de Direito Privado (art. 44)
ciados pelo abuso.
Nascem da vontade de particulares. São as funda-
ções, corporações, organizações religiosas e os parti-
Importante!
dos políticos.
As organizações religiosas e os partidos políticos não Para o Código Civil, o encerramento irregular
se submetem às regras das associações, por essas serem das atividades da empresa devedora não leva,
muito complexas e burocráticas. Assim, não se subme- por si só, a desconsideração da personalidade
tem aos requisitos do art. 53 ao 61, do Código Civil. jurídica para atingir o patrimônio de seus mem-
Exemplo: pode-se excluir um membro da igreja? bros. É necessário provar o abuso do direito. No
O que seria a justa causa, nessa hipótese? Assim, não entanto, quando a relação envolver direito do
há lei que defina o que são as organizações religiosas, consumidor, meio ambiente ou direito tributá-
nem a forma de seus estatutos. rio, o encerramento irregular das atividades da
Os partidos políticos, por sua vez, são regulamen-
empresa admite, por si só, a desconsideração da
tados pela Lei 9096, de 1995, e seus estatutos devem
personalidade jurídica.
ter registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Desconsideração da Personalidade Jurídica

Como abordado nas regras gerais deste tópico, a


pessoa jurídica responde por suas dívidas com seu
próprio patrimônio. Logo, há uma blindagem patri- RESPONSABILIDADE JURÍDICA
monial dos membros, que não são, em regra, atingi-
dos. Porém, dado os crescentes abusos pelos membros A responsabilidade jurídica é um conjunto de nor-
que passaram a usar a estrutura da empresa para mas que o cidadão deve cumprir. Ao agir em desacordo
prática de fraudes, houve a necessidade de coibir tais com as leis, está sujeito a penalidades, como pode ser a
práticas, retirando a blindagem existente através da reparação dos danos causados, através de indenizações
criação do instituto jurídico da desconsideração da financeiras, ou até mesmo, por meio de detenção.
personalidade jurídica.
A previsão está no art. 50, do Código Civil, e a Linhas Gerais
intenção do instituto é atingir o patrimônio dos mem-
bros da pessoa jurídica que cometeram abuso, sem Do verbo latino respondere, que significa a obriga-
extingui-la. ção que alguém tem de assumir com as consequências
Hipóteses de cabimento: a desconsideração da per- jurídicas de sua atividade, surgiu a palavra responsabi-
sonalidade da pessoa jurídica ocorrerá quando confi- lidade. O amparo de tal obrigação, no campo jurídico,
gurada o abuso do direito. Tal abuso pode se manifestar está no princípio fundamental da “proibição de ofen-
pelo desvio de finalidade ou pela confusão patrimonial. der”, ou seja, ninguém deve causar prejuízo a outrem.
Tal preceito regulamenta toda a vida em sociedade.
z Desvio de finalidade: “[...] é a utilização da pessoa A responsabilidade civil pressupõe a atividade
jurídica com o propósito de lesar credores e para a danosa de alguém que, atuando ilicitamente, viola
prática de atos ilícitos de qualquer natureza”. (art. uma norma jurídica que já existe (legal ou contratual),
50, parágrafo 1º). É a fuga dos objetivos da pessoa subordinando-se, dessa forma, às consequências do
jurídica, deixando um rastro de prejuízo a tercei- seu ato (obrigação de reparar — indenizar). Nesse tri-
ros ou a outros membros. Exemplo: usar a pessoa lhar, a responsabilidade civil pode ser contratual ou
148 jurídica para aplicar golpes extracontratual.
z Responsabilidade civil contratual: resulta de um z Nexo de causalidade: nexo de causalidade é a
contrato entre as partes, no qual aquele que não conexão entre o ato lesivo do agente e o dano ou
cumprir o pactuado, violando cláusula do contra- prejuízo sofrido pela vítima. Se não for comprova-
to, deverá indenizar a vítima pelo dano ou prejuí- do o nexo de causalidade, por mais que haja con-
zo. É o caso do inadimplemento absoluto. duta humana, não há que se falar em obrigação de
indenizar;
Observação: Quanto ao transporte de pessoas, no caso z Culpa: como vimos, a responsabilidade objetiva
do transporte  gratuito ou benévolo também conhecido independe da comprovação da culpa. Dessa forma,
como “carona”, não haverá responsabilidade contratual a culpa pode ser um dos pressupostos da respon-
objetiva do transportador. Em casos tais a responsabili- sabilidade civil, mas não é um elemento essencial
dade daquele que dá a carona depende da comprovação assim como a conduta humana, o nexo de causali-
de dolo ou culpa (responsabilidade extracontratual subje- dade e o dano.
tiva, nos termos do art. 186, do CC). Nesse sentido, posicio-
na-se a Súmula 145, do STJ: “No transporte desinteressado,
A culpa pode ser representada por negligência,
de simples cortesia, o transportador só será civilmente
responsável por danos causados ao transportado quando imprudência ou imperícia.
incorrer em dolo ou culpa grave.” A negligência caracteriza-se pela desatenção ou
falta de cuidado ao exercer certo ato, consistindo na
z Responsabilidade extracontratual: também omissão ou inobservância de dever de atenção. A
denominada de aquiliana, a responsabilidade civil imprudência, diferentemente da negligência, está
extracontratual é a que não deriva de contrato e revestida de má-fé, ou seja, possui dolo, mesmo que
sim da inobservância direta de uma regra legal. não seja a intenção direta do autor do ato lesivo. É
o caso de alguém embriagado assumir a direção de
ELEMENTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL um automóvel e atropelar uma pessoa. Por mais que
não tenha a intenção de lesar, assumiu o risco, saben-
Para haver a responsabilidade civil, ou seja, para do do seu estado de embriaguez. Já, para que haja
que uma pessoa seja compelida a indenizar outra, imperícia, necessário se faz uma falta de técnica ou
necessário se faz o preenchimento de alguns requisi- de conhecimento de que o agente deveria ter. Tendo
tos. Da leitura do art. 186 do Código Civil extraímos como foco o elemento acidental culpa, a responsabili-
a existência de quatro pressupostos orientadores da dade civil pode ser subjetiva ou objetiva.
responsabilidade civil, quais sejam: Responsabilidade subjetiva é aquela que tem por
princípio a culpa do agente, que a comprovação dada
pela vítima permite a indenização. Na responsabilidade
Conduta
subjetiva, não se pode responsabilizar alguém pelo dano
ocorrido se não houver culpa. Não basta apenas que haja
Nexo de causalidade
o comportamento humano causador de dano ou prejuízo.
No entanto, na responsabilidade objetiva, o
RESPONSABILIDADE CIVIL dever de indenizar independe da presença do ele-
Culpa* mento culpa. De acordo com o parágrafo único do art.
927 do Código Civil, haverá obrigação de reparar o
Dano
dano, independentemente de culpa (responsabilidade
objetiva), nos casos especificados em lei, ou quando
a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do
* Elemento acidental, sendo a sua presença dispen- dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos
sável na hipótese da responsabilidade civil objetiva. de outrem. Conclui-se que responsabilidade civil será
objetiva ou por previsão legal ou por risco da ativida-
z Conduta humana: a conduta humana se caracteri- de. Seguem alguns casos de responsabilidade objetiva
za pela ação ou pela omissão do agente. Ou, melhor, por previsão legal:
é o ato da pessoa que causa dano ou prejuízo a
outrem. Quando não há conduta humana causado- Art. 931 [...] os empresários individuais e as
ra de dano, mas, por exemplo, um evento da natu- empresas respondem independentemente de culpa
reza, não há o que se falar de responsabilidade civil, pelos danos causados pelos produtos postos em
nem tampouco de obrigação de indenizar. circulação;

A principal ideia da noção de conduta é o fato de Obs.: De acordo com o § 6º, art. 37, da CF, as pes-
ela ser voluntária e resultar da liberdade de escolha soas jurídicas de direito público e as de direito priva-
do agente imputável, com a capacidade de discernir e do prestadoras de serviços públicos responderão pelos
NOÇÕES DE DIREITO

ter consciência do que fez. danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a
terceiros, assegurado o direito de regresso contra o
responsável nos casos de dolo ou culpa. Neste sentido,
Importante! o agente público responde conforme a teoria da res-
ponsabilidade subjetiva, quando da ação regressiva,
O ato ilícito também pode ser verificado pelo não respondendo pessoalmente perante terceiros. Já
abuso de direito. Nesse sentido, garante o art. as pessoas jurídicas de direito público interno respon-
187 do Código Civil que também comete ato ilíci- dem objetivamente.
to o titular de um direito que, ao exercê-lo, exce-
de manifestamente os limites impostos pelo seu Art. 932 [...]
fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos I - os pais respondem pelos filhos menores que esti-
bons costumes. verem sob sua autoridade e em sua companhia; 149
Obs.: Aquele que ressarcir o dano causado por Observação: O dano moral pode ser presumido. No
outrem pode reaver o que houver pago daquele por dano moral presumido ou in re ipsa, não é necessária
quem pagou, salvo se o causador do dano for descen- a apresentação de provas que demonstrem a ofensa
dente seu, absoluta ou relativamente incapaz (art. moral da pessoa. O próprio fato já configura o dano. 
934, do CC). Nesse mesmo sentido, o Enunciado 445, da V Jorna-
da de Direito Civil, aponta que o dano moral  indeni-
II - o tutor e o curador respondem pelos pupi- zável não pressupõe necessariamente a verificação de
los e curatelados, que se acharem nas mesmas sentimentos humanos desagradáveis como  dor ou
condições; sofrimento.
O dano estético, considerado pela jurisprudência,
A respeito dos incapazes, deve-se dizer que estes é acumulável com o dano moral segundo a Súmula
respondem pelos prejuízos que causar, se as pessoas 387, do STJ. O leading case (caso principal) que origi-
por ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê- nou a referida súmula traz a situação da amputação
-lo ou não dispuserem de meios suficientes. Ademais, de uma das pernas do autor da ação e que pleiteava
a indenização prevista neste artigo, que deverá ser ambas indenizações. O dano moral diz respeito ao
equitativa, não terá lugar se privar do necessário o sofrimento, à dor, já o dano estético, quanto à defor-
incapaz ou as pessoas que dele dependem (art. 928 do midade em si.
CC). Tal sistemática consagra a ideia da responsabili- Já o dano reflexo consiste no prejuízo que atinge
dade civil subsidiária e mitigada dos incapazes. reflexamente pessoa próxima, ligada à vítima direta
da atuação ilícita. É o caso, por exemplo, do pai de
III - o empregador ou comitente respondem por
família que vem a falecer por descuido de um segu-
seus empregados, serviçais e prepostos, no exercí-
rança de banco inexperiente, em uma troca de tiros.
cio do trabalho que lhes competir, ou em razão dele;
IV - os donos de hotéis, hospedarias, casas ou esta- Note-se que, por o dano ter sido sofrido pela pessoa
belecimentos onde se albergue por dinheiro, mesmo que faleceu, os seus filhos, dependentes, sofreram os
para fins de educação, respondem pelos seus hóspe- seus reflexos desse, por conta da ausência do sustento
des, moradores e educandos; paterno. Com a comprovação deste dano, nada impe-
V - respondem os que gratuitamente houverem par- de a sua reparação civil.
ticipado nos produtos do crime, até a concorrente Por fim, a teoria da perda de uma chance é uma
quantia. construção doutrinária aceita no ordenamento jurídi-
co brasileiro como uma categoria autônoma de dano,
Já a responsabilidade civil objetiva em virtude do dentro do tema responsabilidade civil, ao lado dos
risco da atividade, se configura quando a atividade danos materiais, morais e estéticos. Por ser um dano
normalmente desenvolvida pelo autor do dano cau- de difícil verificação, mesmo sendo bastante utiliza-
sar à pessoa determinada um ônus maior do que aos da na prática forense, é considerado um tema com
demais membros da coletividade (enunciado 38 da I controvérsias.
Jornada de Direito Civil). Com efeito, atividade de ris-
co é mais um dos diversos conceitos jurídicos indeter- EXCLUDENTE DE RESPONSABILIDADE CIVIL
minados existentes em nosso Código Civil.
Dano: é a lesão, podendo ser destruição ou dimi- As excludentes da responsabilidade civil devem
nuição, que devido a certo evento, sofre uma pessoa, ser entendidas como circunstâncias que, por atacar
contra sua vontade, em qualquer bem ou interesse um dos elementos ou pressupostos gerais da respon-
jurídico, patrimonial ou moral. sabilidade civil, terminam por eliminar qualquer pre-
Assim, como a conduta humana e o nexo causal, é tensão indenizatória. Nesse sentido, existem ocasiões
indispensável a presença do dano para a configuração em que, mesmo havendo os requisitos para caracte-
da responsabilidade civil. Como a indenização mede- rização de responsabilidade civil, o agente não será
-se pela extensão do dano (art. 944, do CC), sem a ocor- obrigado a indenizar ou terá a indenização compar-
rência desse elemento não haveria o que indenizar, e, tilhada com a própria vítima. Seguem as principais
consequentemente, responsabilidade. causas excludentes da responsabilidade civil:
Se a ofensa tiver mais de um autor, pela obrigação
de indenizar ficam solidariamente responsáveis todos
z Estado de necessidade: consiste na situação de
os coautores (art. 942, do CC). Ademais, o direito de
ataque a um direito alheio, de valor jurídico igual
exigir reparação e a obrigação de prestá-la transmi-
ou inferior àquele que se pretende resguardar,
tem-se com a herança (art. 943, do CC). O dano pode
para remover perigo iminente, quando as circuns-
se apresentar em algumas espécies, como, por exem-
tâncias do fato não autorizarem outra forma de
plo, dano material, dano moral, dano estético e dano
atuar.
reflexo.
O dano material é aquele que atinge de forma
direta o patrimônio da vítima, ou seja, causa a dimi- Observação: Se a pessoa lesada, ou o dono da coi-
nuição ou destruição de um bem de valor econômico. sa, não forem culpados do perigo, poderá ter direito à
O dano material pode se apresentar de duas formas: indenização do prejuízo sofrido.
dano emergente (aquilo que efetivamente se perdeu
com o ato lesivo) e lucros cessantes (aquilo que se z Legítima defesa: o indivíduo encontra-se em uma
deixou de ganhar em virtude do ato lesivo). situação, atual ou iminente, de injusta agressão,
O dano moral causa lesão em um bem que não dirigida a si ou a terceiro, que não é obrigado a
pode retornar ao estado anterior por não ter caráter suportar. Vale lembrar que, se o agente, exercendo
simplesmente pecuniário. Esse dano é sobre os direi- seu válido direito de defesa, atinge terceiro ino-
tos da personalidade, como direito a vida, integridade cente, terá de indenizá-lo, cabendo-lhe, outrossim,
150 moral, integridade física e integridade psíquica. ação regressiva contra o verdadeiro agressor;
z Exercício regular de um direito: se o agente É importante ter em mente o conceito de fato.
atuar no exercício regular de um direito reconhe- Fato é qualquer ocorrência, fenômeno, situação
cido, não poderá haver responsabilidade civil. que se apresenta, um acontecimento, um evento. Os
Se alguém atua protegido pelo Direito, não pode- fatos podem ser jurídicos ou não jurídicos conforme
rá estar atuando contra esse mesmo Direito. No tenham ou não consequências jurídicas relevantes.
entanto, se o sujeito extrapola os limites racionais Assim temos que:
do legítimo exercício do seu direito, chama-se
de abuso de direito, situação desautorizada pela z Fatos não jurídicos: são aqueles que não interes-
sam ao estudo do direito. Exemplo: a respiração de
ordem jurídica. O abuso de direito é o contraponto
uma formiga;
do seu exercício regular e, como visto, materializa
z Fatos jurídicos: são os acontecimentos com reper-
um ato ilícito;
cussão no direito cujas consequências interessam
z Caso fortuito e força maior: até hoje perdura ao mundo jurídico. Exemplo: um animal que atra-
uma grande divergência doutrinária a respeito vessa a pista e causa acidente de trânsito.
da distinção entre caso fortuito e força maior. O
pacífico é que estaremos diante dessa excludente Como conclui-se com o quadro acima, os fatos
quando existe uma determinada ação e esta gera jurídicos em sentido amplo subdividem-se em fatos
consequências, efeitos imprevisíveis, impossíveis naturais e fatos humanos. Os fatos naturais são
de evitar ou impedir, afastando a responsabilida- aqueles sem interferência humana (exemplos: chuva,
de civil (parágrafo único, art. 393, do CC); deslizamento de terra, avalanche) e, por sua vez, pos-
z Culpa exclusiva da vítima: consiste na exclusiva suem duas espécies:
atuação culposa da vítima que tem o poder de que-
brar a lógica de causalidade, isentando o agente da z Fatos naturais ordinários: Evento natural comum,
responsabilidade civil. Imagine a hipótese do sujei- esperado, como a morte, o nascimento (com vida ou
to que, andando no seu veículo segundo as regras sem vida), a contagem de prazos. É de ressaltar que
de trânsito, depara-se com alguém que, querendo os fatos ordinários sofrem influência do tempo;
z Fatos naturais extraordinários: Eventos naturais
suicidar-se, arremessa-se sob as suas rodas. Nesse
incomuns. São exemplos o caso fortuito e a força
caso, o evento infausto, obviamente, não poderá
maior. O caso fortuito é o evento imprevisível e
ser atribuído ao motorista (agente), mas sim, e tão
inevitável (exemplo: um terremoto no Brasil),
somente, ao suicida (vítima). enquanto a força maior é o evento previsível, mas
inevitável (exemplo: uma enchente em São Paulo);
z Os fatos humanos, por outro lado, relacionam-se
Importante! com a vontade humana e podem ser atos jurídicos
A culpa exclusiva da vítima distingue-se da cul- em sentido amplo (lato sensu) ou atos ilícitos.
pa concorrente, pois nesta a vítima concorre
Vejamos:
culposamente para o evento danoso que sofreu.
Diante de uma hipótese de culpa concorrente, a z Atos jurídicos em sentido amplo (lato sensu):
indenização da vítima será fixada tendo-se em Atos voluntários, queridos, buscados. Contêm
conta a gravidade de sua culpa em confronto três subespécies — ato jurídico em sentido estrito,
com a do autor do dano (art. 945 do CC).0 negócio jurídico e ato fato:

„ Ato jurídico em sentido estrito: Atos cujos efei-


tos da manifestação da vontade humana são bus-
cados na lei. Exemplo: a vontade de reconhecer
FATO JURÍDICO um filho traz, ao pai, a obrigação de prestar ali-
mentos, a obrigação de responder pelos atos do
O Livro III, do Código Civil, trata dos fatos jurídicos menor, obrigação de assistência e cuidado etc.;
e, mais especificamente, no Título I, dos negócios jurí- „ Negócio Jurídico: Os efeitos da vontade huma-
dicos. Para iniciarmos o estudo deste assunto, obser- na são regulamentados pelo próprio sujeito.
vemos, primeiro, o quadro esquemático a seguir e, Trata-se da liberdade negocial e da autonomia
privada, pois o sujeito de direito tem liberda-
logo após, as explicações pertinentes:
de, por exemplo, para escrever um testamento,
redigir um contrato de compra e venda, fazer
FATO JURÍDICO EM SENTIDO AMPLO uma doação;
NOÇÕES DE DIREITO

„ Ato-fato jurídico: “é aquele em que a hipóte-


se de incidência pressupõe um ato humano,
Fatos Naturais Fatos Humanos porém, os seus efeitos decorrem por conta da
norma, pouco interessando se houver ou não
z Ato jurídico em vontade em prática”6. O ato-fato jurídico envol-
sentido amplo ve os chamados atos reais, porque só interessa
Ordinários Extraordinários
z Ato jurídico em z Ato o externo (conduta) e não o interno (vontade),
sentido estrito ilícito isto é, a vontade não é consciente. Exemplo:
z Negócio uma criança que compra um doce; encontrar
jurídico
um tesouro que não está sendo procurado;
6 FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil. Salvador: Juspodivm, Vol. 1, 2012, p. 579. 151
„ Atos ilícitos: Condutas em desacordo com as z Conforme as formalidades:
leis. O ilícito pode ser civil, penal ou adminis-
trativo. O ato ilícito faz gerar a responsabilida- „ Formais ou solenes: Precisam de uma forma
de civil se causar dano a alguém. ou solenidade específica. Exemplos: testamen-
tos só podem ser escritos, casamento (habilita-
ção, cerimônia etc.), art. 108 (negócio jurídico
envolvendo bem imóvel de valor superior a 30
salários mínimos);
NEGÓCIOS JURÍDICOS „ Informais ou não solenes: admitem forma
livre. Exemplo: contrato de locação e prestação
CONCEITO de serviço.

O Código Civil confere especial atenção ao negócio z Conforme a dependência:


jurídico, tanto é que trata a respeito de forma extensa
dos arts. 104 a 184, do Código. Logo, não será possível „ Principal: Sua existência não depende de
transcrever todos os art.s, mas esteja com a lei ao lado nenhum outro negócio. Exemplo: locação;
para, a cada menção, fazer sua leitura integral. Soma- „ Acessório: A existência está subordinada a
da à leitura da lei, atente-se à teoria da apostila, pois outro negócio. Exemplos: fiança em relação à
esta parte é bastante conceitual. locação, penhor em relação ao empréstimo.
O negócio jurídico é um ato jurídico lato sensu rea-
lizado a partir da manifestação de vontade de um ou z Conforme o momento de aperfeiçoamento:
mais sujeitos. Os efeitos da manifestação dessa vontade
são previstos pelos próprios envolvidos na intenção de „ Consensuais: Geram efeitos com a mera mani-
criar, manter, modificar ou extinguir direitos e obriga- festação de vontade. Exemplo: compra e venda;
ções. Isto é, estes têm o poder de fazer escolhas dentro „ Reais: Dependem da entrega do bem para
dos parâmetros legais (princípio da autonomia privada). gerar efeitos. Exemplo: empréstimo, depósito.
Ademais, o negócio jurídico envolve escolhas que
Escada Ponteana
podem ser existenciais ou patrimoniais. As existen-
ciais envolvem pacto de convivência, plano de parto
Os negócios jurídicos devem ser analisados sob
e testamento vital; já as patrimoniais englobam todo
três perspectivas: existência, validade e eficácia.
tipo de contrato, testamento e ofertas.
Pontes de Miranda concebeu essa estrutura a partir
de uma escada, que ficou conhecida no Direito Civil
Classificação dos Negócios Jurídicos como Escada Ponteana. Vejamos:

A classificação dos negócios jurídicos pode ser feita z Plano de Eficácia:


em relação aos sujeitos envolvidos, às vantagens obti-
das, aos efeitos no tempo, às formalidades, à depen- „ Condição;
dência e ao momento de aperfeiçoamento. „ Termo;
„ Encargo.
z Conforme os sujeitos envolvidos:
z Plano de Validade:
„ Unilateral: A vontade emana de uma única
pessoa. Exemplos: testamento, renúncia de um „ Capacidade (do agente);
crédito, promessa de recompensa, oferta; „ Vontade (livre);
„ Bilateral: Duas manifestações de vontade. „ Objeto lícito, possível, determinado ou determi-
Exemplo: contrato e casamento; nável;
„ Plurilateral: Envolvem mais de duas mani- „ Forma prescrita ou não em defesa da Lei.
festações de vontade. Exemplo: convenção de
condomínio, contrato de sociedade, contrato de z Plano de Existência:
consórcio.
„ Agente;
z Conforme as vantagens obtidas: „ Vontade;
„ Objeto;
„ Gratuitos: Negócios que beneficiam apenas „ Forma.
um dos envolvidos, com sacrifício patrimonial
A escada ponteana é a ideia de que os negócios
ao outro. Exemplos: doação, empréstimo;
jurídicos devem ser analisados dentro de uma estru-
„ Onerosos: Envolvem sacrifícios e vantagens
tura de três planos, começando pelos requisitos de
patrimoniais para todas as partes do negócio.
existência, depois validade e, por último, eficácia.
Exemplos: compra e venda, locação, seguro;
„ Bifrontes: Podem ser gratuitos ou onerosos, z O plano da existência dos negócios jurídicos
a depender da intenção das partes. Exemplos:
mandato e depósito. Refere-se àquele plano substancial de todo negócio
jurídico, isto é, que qualquer um deve apresentar, pois
z Conforme os efeitos no tempo: compreende os elementos mais essenciais: as partes
(ou agentes), a vontade (manifestação de algum inte-
„ Inter vivos: Efeitos produzidos desde logo; resse jurídico), o objeto e a forma. Como consequên-
„ Causa mortis: Efeitos produzidos após a mor- cia, na falta de algum desses elementos, fala-se em
152 te. Exemplo: testamento. negócio jurídico nulo.
Para memorizar de forma mais esquematizada, Logo, o negócio jurídico que for celebrado por
observe a imagem com elementos do plano de exis- incapaz (exceto aqueles negócios comuns e tolerados
tência de um negócio jurídico: pelo direito, como a compra em uma padaria) será
nulo. Se for praticado por relativamente incapaz,
será anulável. Isso significa que, no último caso, seus
assistentes poderão ratificar.
Agente Ademais, é preciso salientar as disposições do art.
180 e 105, do Código Civil, que proíbem ao menor
que celebra negócio jurídico ou do sujeito capaz que
celebra negócio com um relativamente incapaz de
invocarem a incapacidade para a própria torpeza nas
condições estabelecidas pela lei. Vejamos:

Art. 180 O menor, entre dezesseis e dezoito anos,


PLANO DA
Forma Vontade não pode, para eximir-se de uma obrigação, invo-
EXISTÊNCIA car a sua idade se dolosamente a ocultou quando
inquirido pela outra parte, ou se, no ato de obrigar-
-se, declarou-se maior.
Art. 105 A incapacidade relativa de uma das partes
não pode ser invocada pela outra em benefício pró-
prio, nem aproveita aos cointeressados capazes,
salvo se, neste caso, for indivisível o objeto do direi-
Objeto to ou da obrigação comum.

Logo, conforme a disposição acima, o menor que


agiu dolosamente, ocultando sua idade ou declarando
z O plano da validade dos negócios jurídicos que era maior no ato da celebração do negócio, não
poderá invocar proteção legal. Ademais, é de ressaltar
O plano de validade do negócio jurídico (art. 104, que a apresentação de exceção (defesa) da incapaci-
do CC) refere-se a dados adjetivos aos elementos de dade relativa só poderá ser apresentada pelo próprio
existência: agente capaz, objeto lícito, possível, deter- incapaz (quando não configurada a hipótese do art.
minado, determinável, forma prescrita ou não defe- 180, do CC), pois é pessoal.
sa em lei. Assim, temos: Consequentemente, o capaz que realiza negócio
jurídico com o menor não poderá invocar a anulabili-
dade ou nulidade do negócio com base nessa exceção
da incapacidade, a não ser que o objeto desse negócio
seja indivisível e haja cointeressados, quando, então,
Agente Capaz a invocação se aproveitará ao agente capaz do negó-
cio e aos cointeressados.
Ademais, em alguns casos, a lei pode exigir tam-
bém a legitimação do agente/ sujeito, isto é, requisi-
tos especiais para que uma determinada pessoa possa
celebrar um negócio.
Forma Alguns exemplos são a necessidade de anuência
prescrita ou Vontade
PLANO DA da esposa quando o marido deseja vender um imóvel
não em defesa Livre e Sem
VALIDADE (art. 1647, do CC) e a necessidade de consentimento
da Lei Vícios
do cônjuge e dos filhos na venda de ascendente para
descendente (art. 496, do CC). Como consequência, em
ambos os casos, os atos praticados sem as anuências
obrigatórias serão anuláveis.

z Vontade ou consentimento livre e sem vícios


Objeto Lícito
Haver vontade livre significa que ela ocorreu de
forma espontânea, sem erro ou dúvida no ato da cele-
bração do negócio jurídico. A ausência ou mácula
deste requisito terá como consequência os defeitos do
NOÇÕES DE DIREITO

„ Capacidade do agente
negócio jurídico, adiante analisados.
O primeiro aspecto da validade refere-se à capaci- Os parâmetros para verificar a vontade são (art.
dade das partes (caso você ainda tenha dúvidas, retor- 133 — alterado pela Lei de Liberdade Econômica de
ne ao primeiro assunto estudado). Como já sabemos, 2019):
para um negócio jurídico ser válido é preciso haver
capacidade de fato ou plena (quando as partes podem „ Analisar o comportamento das partes, além do
agir sem representação ou assistência). que foi escrito;
Porém, também existem situações em que haverá „ Analisar os costumes e práticas de mercado;
incapacidade relativa ou absoluta, quando, então, o „ Respeitar a boa-fé;
sujeito só poderá agir por seu assistente ou represen- „ Analisar o acordo como um todo, buscando
tante, respectivamente. sempre um fim comum. 153
z Objeto lícito, possível, determinado ou Quanto ao modo de atuação:
determinável
Condição suspensiva (art. 125, do CC): Condição
O objeto é o bem ou serviço em torno do qual as par- que suspende o início do negócio, condicionando-o a
tes manifestam sua vontade. Destarte, ele deverá ser: um evento futuro e incerto. Exemplo: O sujeito A ven-
derá sua moto ao sujeito B se mudar de cidade.
„ Lícito: Deve estar dentro dos contornos da lei, da Condição resolutiva (art. 126, do CC): Condição
boa-fé, dos bons costumes e da ordem pública. que interrompe o direito que foi adquirido pelo negó-
Exemplo: o transporte de entorpecentes é ilícito; cio jurídico diante da ocorrência de um evento futuro
„ Possível: Deve estar ao alcance humano e ter e incerto. Exemplo: O sujeito A emprestará o livro ao
a permissão da lei. Essa possibilidade deverá sujeito B quando este estiver na faculdade.
ser tanto fática (concretizado no mundo natu- Observe a disposição do Código Civil a respeito, res-
ral; por exemplo: não é possível a venda de um pectivamente, da condição suspensiva e da resolutiva:
terreno nos céus) quanto jurídica (consunti-
bilidade jurídica): não se pode negociar bens Art. 125 Subordinando-se a eficácia do negócio
públicos, bens com cláusula de inalienabilida- jurídico à condição suspensiva, enquanto esta se
de e bens de terceiros; não verificar, não se terá adquirido o direito, a que
„ Determinado ou determinável: Determina- ele visa.
do é o objeto certo, que não deixa margem para Art. 126 Se alguém dispuser de uma coisa sob con-
dúvidas; é indicado pela quantidade, gênero dição suspensiva, e, pendente esta, fizer quanto
e qualidade. Determinável é o objeto incerto, àquela novas disposições, estas não terão valor, rea-
que deixa em aberto a qualidade; é indicado lizada a condição, se com ela forem incompatíveis.
pelo gênero e quantidade.
Quanto à participação da vontade dos sujeitos:
z Forma prescrita ou não defesa em lei
Condição causal: Condição que dependerá de um
A regra dos negócios jurídicos é princípio da caso fortuito ou força maior. Exemplo: O sujeito A se
liberdade das formas – desde que a lei não proíba, os
compromete a emprestar o carro ao sujeito B caso
negócios são informais e não carecem de formas espe-
chova amanhã.
cíficas (art. 107). Porém, para alguns casos, a lei exige
Condição puramente potestativa: Condição que
certa formalidade, como forma prescrita, a exemplo
depende de puro arbítrio (vontade) de uma das partes
dos arts. 108 e 541:
(art. 122, CC). Exemplo: Darei a você esse veículo se eu
Art. 108 Não dispondo a lei em contrário, a escri- quiser. Esta condição é considera ilícita e, portanto,
tura pública é essencial à validade dos negócios invalida o negócio jurídico.
jurídicos que visem à constituição, transferência, Condição simplesmente potestativa: Difere das
modificação ou renúncia de direitos reais sobre condições simplesmente potestativas, pois não está
imóveis de valor superior a trinta vezes o maior atrelada unicamente à vontade de uma das partes,
salário mínimo vigente no País. dependendo de um evento futuro e incerto posterior.
Art. 541 A doação far-se-á por escritura pública ou Exemplo: Darei a você essa medalha se você tirar a
instrumento particular. melhor nota da turma.
Parágrafo único. A doação verbal será válida, se, Condição mista: Condição que depende da vonta-
versando sobre bens móveis e de pequeno valor, se
de não só das partes, como também de um terceiro.
lhe seguir incontinenti a tradição.
Exemplo: Darei a você esse apartamento se você se
casar com Maria.
z O plano da eficácia dos negócios jurídicos
Condição promíscua: Condição inicialmente
potestativa e que, por fato superveniente, dificulte o
No plano da eficácia, estão os negócios jurídicos
cumprimento. Exemplo: Prometer dar um prêmio a
que já geram efeitos no mundo jurídico ou aqueles
cujos efeitos estão pendentes. Trata-se dos elemen- um maratonista se ele vencer a próxima maratona,
tos acidentais, adicionados ao negócio jurídico para mas ele acabar lesionando o joelho de modo a não
modificar suas consequências. Esses elementos são: participar da maratona.
condição, termo ou encargo. Também invalidarão o negócio (nulidade
absoluta):
„ A condição Condição suspensiva que seja impossível. Exem-
plo: Dou-te a minha casa se minha mãe ressuscitar;
O Código Civil traz o seguinte conceito acerca do Condição ilícita. Exemplo: Vendo-te esse quadro
elemento condicional da condição: se você criar uma cópia falsificada para mim;
Condições incompreensíveis ou contraditórias.
Art. 121 Considera-se condição a cláusula que, Exemplo: Quando você se casar, te darei uma casa se
derivando exclusivamente da vontade das partes, você ainda estiver solteira.
subordina o efeito do negócio jurídico a evento Ademais, veja o que dispõe o Código Civil a respeito:
futuro e incerto.
Art. 123 Invalidam os negócios jurídicos que lhes
Logo, para ser condição ela precisa não somente são subordinados:
tratar de evento futuro e incerto, mas também ser I - as condições física ou juridicamente impossíveis,
fruto da vontade das partes. Ademais, a condição terá quando suspensivas;
classificações, conforme o modo de atuação e a parti- II - as condições ilícitas, ou de fazer coisa ilícita;
154 cipação da vontade dos sujeitos. III - as condições incompreensíveis ou contraditórias.
Art. 124 Têm-se por inexistentes as condições impossíveis, quando resolutivas, e as de não fazer coisa impossível.

„ Termo (art. 131)

Trata de um evento futuro e certo e possui como espécies:


Termo inicial (dies a quo): Marca o início do exercício do direito. Exemplo: te darei a casa no dia 12 de abril.
Termo final (dies ad quem): Marca o fim do exercício do direito. Exemplo: te emprestarei minha casa até o dia
12 de abril.
Todavia, o termo não necessariamente precisará de uma data determinada, logo, pode ser indeterminado.
Exemplo: quando você morrer; quando parar de chover; quando amanhecer.
Finalmente, será denominado de prazo o tempo que corre entre o termo inicial e o termo final: contagem dos
prazos (art. 132, do CC).
Agora, observe a diferença entre a condição suspensiva e o termo inicial. Atenção para não confundir:

CONDIÇÃO SUSPENSIVA TERMO INICIAL

Evento futuro e incerto Evento futuro e certo

Suspende o direito (só exis- Suspende o exercício do


te expectativa) e o exercício direito, mas esse já existe
do direito (já foi adquirido).

„ Encargo ou modo (art. 136, do CC)

O encargo traz um ônus ao sujeito beneficiado em um negócio jurídico gratuito. Ou seja, exige-se um com-
portamento específico de quem cumprirá o encargo. Como consequência, o encargo não suspende o direito. O
sujeito poderá ter direito e exercê-lo dentro do que foi acordado. No entanto, para manter o seu direito, deverá
realizar o encargo. Exemplos: Vou te dar um carro, desde que você leve meu filho todos os dias para a escola; vou
te dar uma fazenda, para que você construa nela uma capela.
O descumprimento do encargo ensejará a execução forçada. A legitimidade para exigir o cumprimento é do
interessado (se o interesse for coletivo: o Ministério Público). Porém, pode-se evitar o cumprimento com a renún-
cia ao direito. Não havendo o cumprimento, desfaz-se o negócio. Exemplo: revogação da doação (art. 555, do CC).
É importante observar que o encargo não suspense o negócio, salvo quando houver expressa convenção (e,
nesse caso, haverá condição suspensiva). Logo, ele se diferencia da condição suspensiva justamente porque o
encargo não suspende a aquisição nem o exercício do direito.
Para fixar o conteúdo e as principais diferenças, confira a tabela a seguir acerca de condição, termo e encargo:

CONDIÇÃO DE EFICÁCIA
Condição Termo Encargo
Suspensiva: impede a aquisição do direito Inicial: imediata aquisição de direito, mas Ocorre imediata aquisição direito e de seu
e de seu exercício. Existe apenas uma ex- obsta o seu exercício. O exercício do direi- exercício. Dependerá de um ato específi-
pectativa do direito to fica suspenso, aguardando o termo co a ser concretizado pelo beneficiário do
direito
Resolutiva: imediata aquisição de direito e Final: imediata aquisição de direito e de
de seu exercício. Existe a possibilidade de seu exercício. Ao final do prazo, o titular
o direito ser perdido, caso o evento incerto perde o direito
aconteça

VÍCIOS

Erro

z Erro ou ignorância

É o resultado de uma falsa percepção, noção, ou mesmo falta de percepção sobre a pessoa, objeto ou o próprio
negócio que se pratica. Ademais, há ausência de terceiro neste erro, isto é: no erro, o agente engana-se sozinho
NOÇÕES DE DIREITO

sobre determinado aspecto do negócio jurídico. Veja como prevê o Código Civil:

Art. 138 São anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações de vontade emanarem de erro substancial que
poderia ser percebido por pessoa de diligência normal, em face das circunstâncias do negócio.

Logo, o negócio jurídico praticado com erro somente será passível de anulabilidade se for real (produzir um
prejuízo/ dano ao declarante) e substancial, isto é, recair sobre aspectos determinantes do negócio jurídico, sendo
a causa essencial do negócio. O Código Civil prevê as espécies de erro substancial (art. 139, do CC):

Art. 139 O erro é substancial quando:


I - interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da declaração, ou a alguma das qualidades a ele essenciais; 155
II - concerne à identidade ou à qualidade essencial Art. 142 O erro de indicação da pessoa ou da coi-
da pessoa a quem se refira a declaração de vontade, sa, a que se referir a declaração de vontade, não
desde que tenha influído nesta de modo relevante; viciará o negócio quando, por seu contexto e pelas
III - sendo de direito e não implicando recusa à circunstâncias, se puder identificar a coisa ou pes-
aplicação da lei, for o motivo único ou principal do soa cogitada.
negócio jurídico. Art. 143 O erro de cálculo apenas autoriza a retifi-
cação da declaração de vontade.
Assim, o erro substancial poderá ser: Art. 144 O erro não prejudica a validade do negócio
jurídico quando a pessoa, a quem a manifestação
„ Error in negotio: Envolve a natureza do negó- de vontade se dirige, se oferecer para executá-la na
cio; é o desconhecimento dos elementos do conformidade da vontade real do manifestante.
negócio. Exemplo: alguém que recebe um livro
emprestado, acreditando ter sido doação; Vejamos cada um deles:
„ Error in corpore: Envolve o objeto principal
do negócio. Exemplo: alguém que compra uma „ Erro acidental (art.142): Recai sobre quali-
fazenda em Viçosa (Alagoas) acreditando que dades secundárias do negócio. Esse erro não
comprava em Viçosa (Minas Gerais); produz os mesmos efeitos do erro substancial.
„ Error in persona: Envolve a identidade ou Exemplo: doar uma casa para alguém, acredi-
qualidade de uma das partes do negócio. Exem- tando que este era casado, quando, na verdade,
plos: João faz testamento, deixando seus bens não era. Deixar em testamento um bem para o
para André, que acredita ser seu filho, quando, filho Antônio, mas, na verdade, queria escrever
na verdade, ele é filho de seu irmão. Inclusive,
filha Antônia. É um erro fácil de ser identifica-
o STJ tem entendimento de que, não haven-
do e corrigido. Inclusive, é nesse sentido o art.
do vínculo socioafetivo, é possível ao pai que
142, do CC;
registrou um filho em erro (sem saber que na
„ Falso motivo (art. 140): Só anula o negócio,
verdade não se tratava de filho biológico) pro-
mover a anulação de registro civil; se for expressamente declarado como razão
„ Error in quantitate: Envolve a quantidade determinante. Exemplo: Presentear-te com um
dos objetos negociados. Exemplo: o coleciona- carro porque você passou na OAB (e a pessoa só
dor que adquire uma coleção de 35 relógios, passou na primeira fase);
descobrindo depois que, originalmente, a cole- „ Erro de cálculo (art. 143): Não anula o negócio
ção possuía 40 relógios; jurídico, apenas gera a retificação;
„ Erro de direito: Falso conhecimento do direi- „ Possibilidade de conservação do negócio
to aplicável ou de sua interpretação. Exemplo: jurídico (art. 144): O erro não prejudica o
adquirir loteamento para construção em área negócio, se o receptor da vontade se dispuser a
impedida pelo Município. Exemplo: a pessoa conformar a vontade do negociante. Exemplo:
compra o imóvel, desconhecendo que tinha a pessoa comprou uma coleção de carrinhos,
sobre ele o direito de usucapião. acreditando que vinham todos, mas só recebeu
70% da coleção. O vendedor se compromete a
Quanto ao erro de direito, é importante observar entregar o restante.
que a Lei de Introdução às Normas de Direito Brasi-
leiro, no art. 3º, traz que ninguém pode alegar desco- Dolo
nhecimento da lei justificando seu descumprimento.
Ocorre que o inciso III, art. 139, do CC, de 2002, é lei É o vício através do qual o agente é induzido a se
especial e deve ser aplicada no caso em questão, desde equivocar em razão de manobras astuciosas, ardilosas
que se trate de erro substancial e que não implique e maliciosas perpetradas por outrem. É desnecessá-
em pretensão de descumprir a lei. ria a caracterização do prejuízo tido pelo declarante.
Se o objeto for ilícito (efeitos penais), não haverá Porém, na forma do art. 145, do CC, o dolo deve ter
escusabilidade. O negócio será tido por inexistente. sido a causa para a realização do negócio jurídico:
Anteriormente, falava-se que era elemento do
erro a escusabilidade, porém, não importa mais se o Art. 145 São os negócios jurídicos anuláveis por
declarante agiu com desídia e isso contribuiu para o
dolo, quando este for a sua causa.
vício. Inclusive, o Conselho da Justiça Federal pronun-
ciou-se neste sentido, elaborando o Enunciado 12, do
Logo, o dolo deve ser essencial, ou seja, determi-
CJF: Na sistemática do art. 138, é irrelevante ser ou não
nante para causar o negócio jurídico e assim este
escusável o erro, porque o dispositivo adota o princípio
da confiança. poder ser anulado. Se o negócio ocorreria mesmo
Finalmente, para a configuração do erro é necessá- sem o dolo, este será chamado acidental (como deno-
rio que o contratante que recebeu a manifestação de minado pelo art. 146, do CC) e gerará apenas indeni-
vontade perceba (conheça) o erro (cognoscibilidade). zação pelas perdas e danos do declarante. Exemplo:
O destinatário permite que o declarante se engane o vendedor de uma bicicleta que mente sobre sua
mesmo não havendo a intenção de enganar, embora procedência.
ele se aproveite do autoengano cometido pelo outro, São espécies de dolo:
isto é, percebeu o erro e se calou. Porém, observe, é
diferente quando o negociante se cala para induzir o „ Dolo positivo (comissivo): Ação perpetrada
erro. pelo agente. Exemplo: vender um carro, dizen-
O Código Civil ainda traz hipóteses de erros que do que ele tem airbag, quando, na verdade, não
156 não invalidaram o negócio jurídico: tem;
„ Dolo negativo (omissivo): Omissão caracteriza- Ela se manifesta sob duas formas:
da pelo silêncio intencional de uma das partes
(art. 147), sem o qual o negócio jurídico não se „ Coação física (vis absoluta): Pressão exter-
teria realizado. Exemplo: venda de apartamen- na capaz de tolher por completo a manifesta-
to mobiliado em que não se anuncia ao com- ção de vontade da vítima e os movimentos do
prador que os móveis são feitos sob medida; agente. Exemplos: vendedor espancado para
„ Dolu bonus: É tolerado, visto que se trata de assinar um contrato. Não é a hipótese do art.
exageros de vendedor, para valorizar o objeto 151, do Código Civil, que traz como elemento a
alienado. Exemplo: vendo o melhor carro do ameaça de um dano. Efeito desta coação abso-
mundo; o melhor professor de inglês da região. luta é que, como não há vontade, o negócio será
Na relação de consumo, é proibido o exagero inexistente;
que induza o consumidor a erro (§ 1º, do art. „ Coação moral (vis compulsiva): Caracteriza-se
37, do Código de Defesa do Consumidor);
pela existência de uma ameaça séria e idônea.
„ Dolu malus: Consiste em ações maliciosas. Não
Logo, o declarante teme um dano a ser causa-
é tolerado, visto que induz o declarante a erro;
do a si mesmo ou a pessoa próxima. Exemplo:
„ Dolo advindo de conduta de terceiro (art.
alguém que aceita vender sua casa, sob ameaça
148): Terceiro é aquele que intervém direta
de serem revelados seus segredos pessoais ou
ou indiretamente no negócio. Exemplo: André
se faz passar por João para vender uma casa sob ameaça de ser espancado, ou sob ameaça
a Ana. O negócio é anulável se a parte benefi- de ter a casa incendiada. Como efeito o negócio
ciada (aquela que recebe os frutos do negócio é anulável.
jurídico em razão do dolo) pelo dolo tivesse
conhecimento ou tivesse meios para conhecer. O art. 151, do CC, prevê o seguinte quanto ao tema:
No entanto, se a parte beneficiada não tiver
conhecimento, o dolo será acidental. Assim, o Art. 151 A coação, para viciar a declaração da von-
ludibriado terá direito de pedir indenização ao tade, há de ser tal que incuta ao paciente fundado
terceiro, mas o negócio continuará válido. Con- temor de dano iminente e considerável à sua pes-
tudo, havendo uma parte de boa-fé, o negócio soa, à sua família, ou aos seus bens.
é mantido.
Portanto, são requisitos da coação:
Ressalta-se que o art. 148, do CC, trata a respeito do
dolo praticado pelo representante, sendo que caso o z Ameaça de dano sério à vítima ou a terceiro a
dolo seja praticado por representante legal, o repre- quem se vincule afetivamente. Exemplo: matar
sentado somente responderá civilmente até o valor do um parente; sequestrar a filha; incendiar a casa;
proveito econômico que teve. z Iminência (está para acontecer) do dano. Con-
Porém, caso se trate de representante convencio- sequentemente, a ameaça que produz efeito em
nal, a responsabilidade do representante e do repre- futuro distante não se mostra suficiente para coa-
sentado será solidária. Ainda, de acordo com o art.150 gir alguém (exemplo: se você não me vender essa
do CC, caso ambas as partes tenham atuado com casa, não te contemplarei em meu testamento);
dolo, nenhuma poderá alegar o vício ou pretender z Deverão, ainda, serem analisadas circunstâncias
indenização. objetivas da vítima (art. 152, do CC) tais como
Veja o quadro comparativo para não confundir o idade, formação intelectual, sexo, temperamento,
dolo com o vício do erro: saúde etc.

ERRO Porém, não será coação:


O receptor da vontade percebe que o declarante está en-
ganado e ele permite que o negócio aconteça ainda assim z Ameaça de exercício regular de direito não ense-
Exemplo: Uma pessoa entra na loja e diz “nossa, esse ja coação. Exemplo: se você não me pagar, vou
quadro que veio da Índia está muito barato!”. O vendedor colocar seu nome no SPC;
percebe o equívoco (o quadro não veio da Índia), mas dei- z Temor reverencial, sem que haja ameaça. Exem-
xa a pessoa comprar com engano plo: medo de contrariar o pai, o patrão, o sacerdote;
z Coação por terceiro: só é anulada se o beneficiado
DOLO soubesse ou tivesse como saber dos danos causa-
O sujeito manipula a vontade do declarante, seja escon- dos à vítima pela coação (o que é difícil provar).
dendo informação, seja dando informação falsa. Aqui, O terceiro, nesses casos, estará ciente do negócio
existe uma intenção de enganar a pessoa jurídico, vez que se beneficiará. Caso o beneficia-
do esteja de boa-fé, o negócio será mantido, mas o
NOÇÕES DE DIREITO

Exemplo: Em uma loja de art.s indianos, o vendedor apre-


senta um quadro brasileiro para o comprador, fazendo-o coacto poderá ser ressarcido dos prejuízos sofridos
crer que a origem também seria indiana (art. 155). Observação: no CC, de 2016, a violência
sempre viciava o negócio, independente da ciência
Coação do beneficiado.

A coação é toda pressão física ou moral exerci- CULPA


da contra alguém, de modo a força-lo à prática de
um determinado negócio jurídico, contra a sua von- O ato ilícito ainda que praticado culposamente
tade, tornando defeituoso o negócio. Logo, a coação gera obrigação de reperação de danos causados ao
é um fator externo que impede a vontade livre do sujeito que teve prejuízos com a imperícia, imprudên-
declarante. cia ou negligência de outrem. 157
Os atos ilícitos são aqueles praticados em desacor- O Enunciado 256, do Conselho da Justiça Fede-
do com o que está prescrito no ordenamento jurídico ral/STJ, reconhece a posse de estado de filho como
cujos efeitos repercutem na esfera jurídica. São atos modalidade de parentesco civil. A posse de estado de
com efeitos jurídicos involuntários, contudo, impostos filho está na aparência (perante a sociedade) de que
por esse ordenamento. há um vínculo entre os sujeitos. Não há, portanto,
Não criam direitos, mas sim deveres e obrigações. registro dessa relação, mas existe o vínculo de afeto.
São definidos no art. 186 e 187, do Código Civil, e Na mesma linha do enunciado, o STF, no ano de 2016,
geram a obrigação de reparar o dano, conforme o art. em sede de repercussão geral, firmou a tese de que
927, também do CC. Vejamos: a paternidade afetiva declarada ou não em registro
não impede o reconhecimento do vínculo de filiação
Art. 186 Aquele que, por ação ou omissão volun-
concomitante, baseada na origem biológica. Por meio
tária, negligência ou imprudência, violar direito e
causar dano a outrem, ainda que exclusivamente dessa tese, houve o reconhecimento de vínculos múl-
moral, comete ato ilícito. tiplos parentais.
Art. 187 Também comete ato ilícito o titular de um
direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os Contagem dos Graus de Parentesco Natural
limites impostos pelo seu fim econômico ou social,
pela boa-fé ou pelos bons costumes.
Art. 927 Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187),
causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Bisavô
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o
dano, independentemente de culpa, nos casos espe-
cificados em lei, ou quando a atividade normalmen-
te desenvolvida pelo autor do dano implicar, por
sua natureza, risco para os direitos de outrem. Avô
Tio-avô

Tio Pai
RELAÇÕES DE PARENTESCO
CONCEITO E MODALIDADES
Primo Eu Irmão
Parentesco é o vínculo jurídico estabelecido entre
pessoas que têm a mesma origem biológica (paren-
tesco consanguíneo ou natural); entre um cônjuge ou
companheiro e os parentes do outro (parentesco por
Filho Sobrinho
afinidade) e entre pessoas que têm, entre si, vínculo
civil (parentesco civil).
Este parentesco poderá ter as seguintes modalidades:
Neto Sobrinho-
z Parentesco consanguíneo ou natural: existente neto
entre pessoas que mantêm entre si um vínculo bio-
lógico ou de sangue, por terem origem no mesmo
tronco comum;
Bisneto
z Parentesco por afinidade: dá-se entre um côn-
juge (ou companheiro) e os parentes do outro.
Porém, atente-se ao fato de que marido e mulher Primeiramente, é importante saber que o parentes-
não são parentes entre si. Entre eles, existe um co se divide em linhas: existe a linha reta, que indica
vínculo de conjugalidade. O parentesco por afini- a ascendência e a descendência, e a linha colateral ou
dade se limita aos ascendentes, descendentes e aos transversal, que indica a relação com outros parentes.
irmãos do cônjuge (ou companheiro). Assim, há Na linha reta ascendente (veja a imagem), temos
relação de parentesco por afinidade em relação ao os pais, avós, bisavós e assim infinitamente (inde-
sogro/sogra, enteado/enteada e cunhado/cunhada. pendente do grau). Na linha reta descendente, temos
filhos, netos, bisnetos e, assim, infinitamente.
O grau de parentesco, na linha reta, é contado pelo
Importante! número de gerações. Assim, o pai é parente de primei-
ro grau em relação ao filho, o neto é parente de segun-
Sogra é para sempre. Isso, porque, na linha reta,
do grau em relação ao avô e assim por diante.
em qualquer grau, a afinidade nunca se extingue,
Na linha colateral, o parentesco vai até o quarto
nem mesmo com a dissolução do casamento ou
grau. Para contar o grau de parentesco na linha cola-
união estável. Existe um vínculo perpétuo! Daí,
teral, deve-se buscar o ascendente em comum e des-
vem a expressão de que “não existe ex-sogra”.
cer até o parente procurado. Por exemplo: para saber
qual é o grau de parentesco entre mim e meu primo,
z Parentesco civil: decorrente de outra origem, vou contar as gerações até o nosso ascendente comum
exclui a origem natural e por afinidade. Essa (no caso, nosso avô). Até o avô, existem duas gerações
modalidade tem origem tanto na adoção quanto (segundo grau). Agora, é necessário descer até chegar
na técnica de reprodução heteróloga, bem como ao primo. Por isso, eu desço um parente (o tio, contan-
158 na parentalidade socioafetiva. do terceiro grau) e chego ao primo (quarto grau).
Analise, pela imagem, que o primo é parente de Enunciado 129: A maternidade será presumida
quarto grau e que este é o limite para o parentesco em pela gestação. Parágrafo único: Nos casos de uti-
linha colateral. Pode-se concluir que o filho do meu lização das técnicas de reprodução assistida, a
primo (popularmente conhecido como “primo de maternidade será estabelecida em favor daquela
segundo grau”) já não tem mais relação de parentesco que forneceu o material genético, ou que, tendo pla-
nejado a gestação, valeu-se da técnica de reprodu-
comigo.
ção assistida heteróloga.
FILIAÇÃO
Multiparentalidade
Filiação é a relação jurídica entre pais e filhos. O
O STF, em 2016, reconheceu a possibilidade do
art. 1.597, do CC, traz as presunções de paternidade,
registro civil de mais de um pai ou mais de uma mãe
ou seja, existem situações que, por decorrerem do
(STF – RE: nº 898.060 – SANTA CATARINA, Relator:
casamento, fazem presumir a paternidade. São elas:
Min. Luiz Fux, Data de julgamento: 21/09/2016, ple-
nário). Por essa decisão, ficou atestado que o víncu-
z Os filhos nascidos cento e oitenta dias, pelo menos,
lo biológico não prepondera sobre o vínculo afetivo.
depois de estabelecida a convivência conjugal; Importa dizer que o filho pode ter um pai biológico e
z Os filhos nascidos nos trezentos dias subsequen- outro que, por laços de afeto, assim o reconheça.
tes à dissolução da sociedade conjugal, por mor- O Enunciado 632, do Conselho da Justiça Federal,
te, separação judicial, nulidade e anulação do inclusive, prevê que nos casos de reconhecimento de
casamento; multiparentalidade paterna ou materna, o filho terá
z Os filhos havidos por fecundação artificial homó- direito à participação na herança de todos os ascenden-
loga, mesmo que falecido o marido — situação em tes reconhecidos.
que o pai mantém o sêmen congelado para uma
futura fecundação; Reconhecimento de Filhos
z Os filhos havidos, a qualquer tempo, quando se
tratar de embriões excedentários, decorrentes de O Código civil traz duas formas de reconhecimento
concepção artificial homóloga. Nessa situação, a dos filhos pelos pais:
fecundação (encontro dos gametas) ocorre fora do
corpo da mulher, mantendo o embrião congelado z Reconhecimento voluntário
para futura implantação no útero;
z Os filhos havidos por inseminação artificial hete- A primeira forma é a voluntária, também conheci-
róloga, desde que tenha prévia autorização do da como perfilhação. O art. 1.609 traz as formas possí-
marido. A inseminação heteróloga conta com o veis desse reconhecimento. Vejamos:
material genético de terceiro (não do pai) e, por
isso, carece de autorização prévia do marido. Art. 1.609 [...]
I - por meio do registro do nascimento;
A prova de impotência do marido afasta a presun- II - por escritura pública ou escrito particular, a ser
ção de paternidade (art. 1599, do Código Civil). A dou- arquivado em cartório;
trina entende que se trata de impotência generandi, III - por testamento, ainda que incidentalmente
manifestado;
aquela relacionada à incapacidade de gerar (TARTU-
IV - por manifestação direta e expressa perante o
CE, Flávio. Manual de Direito Civil. Volume único. 9ª
juiz, ainda que o reconhecimento não haja sido o
ed. São Paulo: Método, 2019, p. 1225).
objeto único e principal do ato que o contém.
Alguns enunciados do Conselho da Justiça Federal
sobre o tema que valem a pena conhecer: O reconhecimento pode anteceder ao nascimento
do filho ou ser posterior (post mortem). No caso do
Enunciado 520: O conhecimento da ausência de
reconhecimento post mortem, o art. 1.609, parágrafo
vínculo biológico e a posse de estado de filho obs-
único, diz que o filho a ser reconhecido deve ter dei-
tam a contestação da paternidade presumida.
xado descendentes. O reconhecimento é irrevogável,
Enunciado 570: O reconhecimento de filho havido
ainda que se dê pelo testamento. Implica dizer que,
em união estável fruto de técnica de reprodução
ainda que o testamento seja revogado, o reconheci-
assistida heteróloga “a patre” consentida expres-
mento se manterá.
samente pelo companheiro representa a formali-
zação do vínculo jurídico de paternidade-filiação
Em relação ao filho maior, o reconhecimento só
cuja constituição se deu no momento do início da pode ocorrer com o consentimento deste (art. 1.614).
Quanto ao filho menor, o mesmo artigo permite que
NOÇÕES DE DIREITO

gravidez da companheira.
Enunciado 608: É possível o registro de nascimen- este impugne o reconhecimento em até quatro anos.
to dos filhos de pessoas do mesmo sexo originários Vale dizer que o STJ já se pronunciou no sentido de
de reprodução assistida, diretamente no Cartório que tal impugnação não está sujeita à decadência,
do Registro Civil, sendo dispensável a propositura tendo em vista que a verdade biológica é um direito
de ação judicial, nos termos da regulamentação da fundamental e, por isso, imprescritível. É isso a que se
Corregedoria local. refere o Recurso Especial nº 1.259.703/MS.
Enunciado 258: Não cabe a ação prevista no art. Outro aspecto referente ao reconhecimento de
1.601 do Código Civil se a filiação tiver origem em filhos é que este é incondicional, não aceitando opo-
procriação assistida heteróloga, autorizada pelo sição de termo nem condição. Por exemplo, não se
marido nos termos do inc. V do art. 1.597, cuja admite o reconhecimento de um filho apenas quando
paternidade configura presunção absoluta. sua mãe falecer (art. 1.613). 159
z Reconhecimento judicial c) Cessará, para os menores, pela colação de grau em
curso técnico profissionalizante devidamente reco-
A segunda forma de reconhecimento de filho é nhecido pelo Ministério da Educação e Cultura.
a judicial. A ação correspondente é a ação de inves- d) Pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela exis-
tigação de paternidade ou de maternidade, sendo a tência de relação de emprego, desde que, em função
primeira a via mais comum. Por ter natureza decla- deles, o menor com quatorze anos completos tenha
ratória, a ação não está sujeita a prazo. A Súmula 149 economia própria.
do STF diz que “o reconhecimento do estado de filiação
é direito personalíssimo, indisponível e imprescritível, 3. (FUMARC — 2012) Considerando o Código Civil Brasi-
podendo ser exercitado contra os pais ou seus herdei- leiro, são incapazes relativamente a certos atos, ou à
ros, sem qualquer restrição, observando o segredo de maneira de os exercer,
Justiça”.
a) os pródigos; os maiores de dezesseis e menores
Por se tratar de um interesse personalíssimo, a
de dezoito anos; os viciados em tóxicos; os ébrios
ação deve ser proposta pelo filho. Sendo ele um menor,
habituais.
deverá estar devidamente representado ou assistido.
b) os ébrios habituais; os viciados em tóxicos; os maio-
Poderá o Ministério Público atuar como substituto
res de dezesseis e menores que vinte e um anos; o
processual, tendo legitimação extraordinária.
índio.
A ação terá, com legitimado passivo, o suposto
c) os pródigos; o índio; os excepcionais, sem desenvol-
pai ou a suposta mãe. Se este (ou esta) for falecido(a),
vimento mental completo; os maiores de dezesseis e
caberá a ação contra os herdeiros.
menores de vinte e um anos.
A prova da filiação, na ação de investigação, ocor-
d) os excepcionais, com desenvolvimento mental com-
rerá por meio do teste de DNA. Em caso de recusa
pleto; os pródigos; os ébrios habituais; os maiores de
do pai (ou da mãe) na realização do teste, entende o
dezesseis e menores de dezoito anos.
STF que haverá, então, presunção da paternidade (ou
maternidade). Isso ocorre, porque não se pode obri- 4. (FUMARC — 2011) A personalidade civil de uma pes-
gar o genitor a realizar o teste, pois violaria sua inti- soa tem início
midade biológica (HC 71.373/RS). Nessa linha, é o art.
232 do Código Civil e a súmula 301 do STJ (não deixe a) quando da concepção.
de conferir). b) quando do nascimento com vida.
c) quando atingida a maioridade.
d) quando da emancipação.

HORA DE PRATICAR! 5. (FUMARC — 2011) A capacidade do indivíduo, no


Direito Civil, é dividida em
1. (FUMARC — 2018) Amanda tem 15 anos de idade.
Mateus, por deficiência mental, não tem o necessário a) capacidade relativa, para maiores de 16 e menores de
discernimento para a prática pessoal dos atos da vida 18 anos, e capacidade plena, para maiores de 18 anos.
civil. Tício é excepcional, sem desenvolvimento mental b) capacidade relativa, capacidade plena ou absoluta,
completo. incapacidade absoluta.
De acordo com o Código Civil e o Estatuto da Pessoa c) incapacidade relativa, capacidade absoluta e capaci-
com Deficiência, considera(m)-se absolutamente inca- dade excepcional.
paz(es) de exercer, pessoalmente, os atos da vida civil: d) capacidade relativa, para maiores de 18 anos, e capa-
cidade plena para maiores de 21 anos.
a) Amanda e Mateus.
b) Amanda.
6. (FUMARC — 2012) Quanto aos negócios jurídicos,
c) Mateus e Tício.
todas as alternativas abaixo são corretas, EXCETO:
d) Mateus.

2. (FUMARC — 2018) A capacidade jurídica envolve a a) O termo inicial suspende o exercício e a aquisição do
aptidão para adquirir direitos e assumir deveres pes- direito.
soalmente. Mais especificamente, significa que as b) Os prazos de meses e anos expiram no dia de igual
mais diversas relações jurídicas (celebrar contratos, número do de início, ou no imediato, se faltar exata
casar, adquirir bens, postular perante o Poder Judi- correspondência.
ciário...) podem ser realizadas pessoalmente pelas c) Salvo se o permitir a lei ou o representado, é anulável o
pessoas plenamente capazes ou por intermédio de negócio jurídico que o representante, no seu interesse
terceiros (o representante ou assistente) pelos incapa- ou por conta de outrem, celebrar consigo mesmo.
zes (citado por Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald). e) Se alguém dispuser de uma coisa sob condição sus-
Sobre a capacidade jurídica para os atos jurídicos, é pensiva, e, pendente esta, fizer quanto àquela novas
CORRETO afirmar: disposições, estas não terão valor, realizada a condi-
ção, se com ela forem incompatíveis.
a) A menoridade cessa aos vinte e um anos completos,
quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os 7. (FUMARC — 2011) Considerando os defeitos dos
atos da vida civil. negócios jurídicos, é INCORRETO afirmar, respectiva-
b) Cessará, para os menores, a incapacidade pela con- mente, que
cessão dos pais, ou de um deles na falta do outro,
mediante instrumento público, independentemente de a) o erro se constitui a partir do momento em que uma
homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido determinada pessoa induz a outra a praticar o ato que
160 o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos. a esta prejudica, em benefício próprio, enquanto que
a coação é a violência física ou moral que impede a
pessoa de manifestar livremente sua vontade.
ANOTAÇÕES
b) a coação ocorre a partir da violência física ou moral
que impede a pessoa de manifestar livremente sua
vontade, enquanto que a lesão ocorre, quando uma
pessoa se obriga à prestação manifestamente des-
proporcional ao valor da prestação oposta.
c) o erro, de fato ou de direito, é a falsa noção que se tem
a respeito de alguma coisa, enquanto que o dolo é a
intenção de praticar um ato em benefício próprio com
prejuízo de terceiro(s).
d) a culpa, em sentido amplo, é a violação de um dever
jurídico, imputável a uma pessoa, em decorrência de
um fato intencional omissivo ou comissivo, enquan-
to que a culpa, em sentido estrito, é a violação de um
dever jurídico, caracterizada pela imperícia, imprudên-
cia ou negligência.

8. (FUMARC — 2012) Sobre a invalidade do negócio jurí-


dico, nos termos do Código Civil Brasileiro, é INCORRE-
TO afirmar que o negócio jurídico é nulo quando for

a) indeterminável o seu objeto.


b) celebrado com vício resultando de dolo.
c) celebrado por pessoa relativamente incapaz.
d) proibido por lei a pratica sem cominar sanção.

9. (FUMARC — 2013) São causas impeditivas ou suspen-


sivas do curso do prazo prescricional, EXCETO

a) a incapacidade relativa do credor.


b) a existência de condição suspensiva.
c) o não vencimento do prazo da obrigação.
d) a ausência do país, em virtude de serviço público da
União assumido pelo credor.

10. (FUMARC — 2013) Considerando-se o que determina


a lei específica, é CORRETO afirmar que

a) a prescrição é irrenunciável.
b) o juiz pode reconhecer a prescrição de ofício.
c) a prescrição somente pode ser alegada em primeira
instância.
e) os prazos de prescrição podem ser alterados por con-
venção das partes.

9 GABARITO

1 B
2 B
3 A
NOÇÕES DE DIREITO

4 B
5 B
6 A
7 A
8 B
9 A
10 B
161
ANOTAÇÕES

162
Toda tipologia ou classificação depende dos crité-
rios adotados por seus estudiosos. É importante escla-
recer que existem diferentes classificações entre os
juristas mais renomeados. Não se trata, portanto, de

NOÇÕES DE DIREITO uma classificação ser mais acertada que outra, mas
sim, mais adequada à sua finalidade didática. Segundo
Alexandre de Moraes (2018) a tipologia ou a classifica-
ção das constituições pode ser basicamente delimitada:
Quanto ao conteúdo – qual o teor, o que compõe
DIREITO CONSTITUCIONAL a Constituição:

CONCEITO z Material: conjunto de regras materialmente cons-


titucionais, ou seja, que contiver as normas funda-
O Constitucionalismo é um movimento político- mentais e estruturais do Estado, a organização de
-social, surgido no século XVIII e motivado por ideias seus órgãos, os direitos e garantias fundamentais,
iluministas para conter o absolutismo e fomentar a independentemente da forma em que estejam
adoção de constituições escritas pelas nações, com a organizadas tais disposições.
finalidade de limitar o poder dos governantes. O ideal
z Formal: consubstanciada em um documento sole-
do constitucionalismo é, portanto, defender um regi-
ne estabelecido pelo poder constituinte originário.
me político no qual há a necessidade de uma Consti-
tuição para reger a vida de um país, limitando os atos É levado em consideração o processo de sua for-
do Executivo, numa forma de organizar o poder. mação, e não necessariamente a materialidade de
Diante das novas tendências e necessidades do suas normas ou conteúdo.
universo jurídico constitucional na contemporanei-
dade, a preocupação do chamado constitucionalismo Quanto à forma – em quais formatos podem sur-
pós-moderno, pós-positivismo ou neoconstitucionalis- gir uma Constituição:
mo não mais consiste na ideia de limitação do poder
político, mas sim na eficácia e aplicabilidade das nor- z Escrita: expressa num único texto. “A Constituição
mas constitucionais, e na consequente concretização escrita é o mais alto estatuto jurídico de determina-
dos direitos fundamentais. da comunidade, caracterizando-se por ser a lei fun-
O jurista Manoel Gonçalves Ferreira Filho (2005)
damental de uma sociedade” (MORAES, 2018, p. 43).
ensina que o Direito Constitucional, como a própria
denominação revela, é correlativo à ideia de Consti- z Não escrita: não estabelecida em um documento
tuição e o conceito de Constituição é um fato cultural único e solene, mas é costumeira, baseada e con-
e, portanto, histórico. substanciada nos costumes, convenções, jurispru-
dências e práticas sociais preestabelecidas.
Como ciência, o Direito Constitucional é o conheci-
mento sistematizado da organização jurídica funda- Saiba:
mental de Estado. Isto é, conhecimento sistematizado Arábia Saudita, Líbia, Nova Zelândia e Reino Uni-
das regras jurídicas relativas à forma do Estado, à do são alguns exemplos de países que não possuem
forma do governo, ao modo de aquisição e exercício
uma Constituição escrita.
do poder, ao estabelecimento de seus órgãos e aos
limites de sua ação. (FERREIRA FILHO, 2005, p. 16).
Quanto ao modo de elaboração – como a Consti-
Constituição é o ato de constituir, de estabelecer, de tuição é elaborada:
firmar; ou, ainda, o modo pelo qual se constitui uma
coisa, um ser vivo, um grupo de pessoas; organização, z Dogmática: também chamada de sistemática, é
formação. Juridicamente, no entanto, Constituição deve sempre escrita e estrutural e surge a partir de dog-
ser entendida como a lei fundamental e suprema de um mas políticos ou sistemas ideológicos prévios.
Estado, que contém normas referentes à estruturação z Histórica: fruto da lenta e contínua síntese da
do Estado, à formação dos poderes públicos, forma de história e tradições de um povo, como é o caso da
governo e aquisição do poder de governar, distribuição Constituição inglesa.
de competências, direitos, garantias e deveres dos cida-
dãos. Além disso, é a Constituição que individualiza os
Quanto à origem – como se origina:
órgãos competentes para a edição de normas jurídicas,
legislativas ou administrativas (MORAES, 2018).
A Constituição é, em síntese, a lei máxima e fun- z Promulgada: também chamada de democráti-
damental de um país, que geralmente determina a ca, votada ou popular, é fruto do trabalho de uma
NOÇÕES DE DIREITO

sua organização social, política, jurídica e econômica. Assembleia Nacional Constituinte, eleita direta e
Conjunto de normas jurídicas, normalmente escritas legitimamente pelo povo, para, em nome dele atuar.
em um texto unitário, que regulam a organização e z Outorgada: é a Constituição imposta de manei-
atuação do Estado nas relações sociais. ra unilateral por governante que não recebeu
do povo a legitimidade para em nome dele atuar
A Constituição é, assim, uma norma jurídica e, para (LENZA, 2019).
a maior parte dos sistemas, norma jurídica dotada
de superioridade hierárquica em relação às demais.
Para Hans Kelsen, a Constituição define quem elabo- Quanto à estabilidade ou alterabilidade – se
ra as normas e como elas vão ser elaboradas, cons- pode ou não ser alterada:
tituindo, assim, o ponto de partida e de validade de
todo o sistema jurídico. (BARCELLOS, 2018, p. 28) z Imutável: é vedada qualquer alteração. 163
z Rígida: exige para a sua alteração um processo z As constituições garantia, que visam assegurar
legislativo solene, mais complexo e árduo do que o direitos fundamentais, balanço, que reflete um
empregado para a modificação das normas infra- degrau de evolução socialista e a dirigente, que
constitucionais. Para Alexandre de Moraes (2018), estabelecem um plano de direção, um projeto de
a Constituição Federal de 1988 pode ser considera- Estado através de normas programáticas, objeti-
da super-rígida, porque em regra pode ser altera- vando uma evolução política (LENZA, 2019);
da por um processo legislativo diferenciado, mas, z As liberais (negativas) ou sociais (dirigentes),
excepcionalmente é imutável quanto às suas cláu- que levam em conta o seu conteúdo ideológico. As
sulas pétreas, previstas em seu art. 60, § 4º. Esta liberais refletem os direitos humanos de 1ª dimen-
classificação, contudo, não tem sido adotada pelo são, a não intervenção do Estado e a proteção das
STF. liberdades individuais. As sociais refletem a neces-
z Semirrígida: algumas regras poderão ser altera- sidade de atuação estatal e proteção dos direitos
das pelo processo legislativo ordinário, enquanto sociais (direitos humanos de segunda dimensão)
outras somente por um processo legislativo espe- (LENZA, 2019);
cial e complexo. z As expansivas, que apresentam um “conteúdo
z Flexível: não exige um processo legislativo de alte- anatômico e estrutural”, destacando-se a estrutu-
ração mais dificultoso do que as normas infracons- ração do texto e sua divisão em títulos, capítulos,
titucionais. Logo, pode ser alterada por processo seções, subseções, artigos da parte permanente e
legislativo ordinário. do ADCT” (LENZA, 2019, p. 189), além de apresen-
tarem dilatação de sua matéria constitucional, se
Quanto à extensão e finalidade – qual a sua comparadas com as Constituições brasileiras pre-
amplitude e a que se destina: cedentes ou com constituições estrangeiras.

z Analítica: também chamada de dirigente, é ampla Dica


e detalhada, trazendo todos os assuntos que podem A Constituição da República Federativa do Brasil
ser considerados fundamentais e relevantes à for-
de 1988 é formal, escrita, dogmática, promulga-
mação, destinação e funcionamento do Estado. É
da, rígida (ou super-rígida) e analítica (MORAES,
minuciosa e normalmente estabelece regras que
2018). E ainda, nominalista, principiológica, defi-
poderiam ser matéria de leis infraconstitucionais.
nitiva, autônoma, de garantia, dirigente, social e
z Sintética: é concisa, breve e sucinta, tratando
apenas de princípios fundamentais e estruturais expansiva (LENZA, 2019).
do Estado. Geralmente são mais duradouras, um
exemplo é a Constituição dos Estados Unidos. A positivação de uma norma constitucional não
implica automaticamente em sua eficácia e aplicabilida-
de. Portanto, as normas constitucionais podem ser: de
Além desta classificação básica, alguns doutrina-
eficácia plena, de eficácia contida e de eficácia limitada.
dores as dividem em outros tipos, de acordo com o
Segundo Lenza (2019), as normas constitucionais
que acreditam ser mais adequado para os seus estu-
de eficácia plena e aplicabilidade direta, imediata e
dos. Existem ainda as constituições:
integral são aquelas normas da Constituição que, no
momento que esta entra em vigor, estão aptas a pro-
z Normativas, nominalistas ou semânticas: as
duzir todos os seus efeitos, independentemente de
constituições normativas são aquelas que conse-
norma integrativa infraconstitucional.
guem estar plenamente conformes com a reali- Já as normas constitucionais de eficácia contida
dade político-social do Estado que regula. Por sua ou prospectiva têm aplicabilidade direta e imediata,
vez, as nominalistas são as que buscam regular mas possivelmente não integral. Embora tenham for-
plenamente a vida política de seu Estado, mas, ça de produzir todos os seus efeitos quando da pro-
ainda não alcançam esse objetivo, por não serem mulgação da nova Constituição, ou da entrada em
totalmente consonantes à sua realidade social; e, vigor ou introdução de novos preceitos por emendas
por fim, as semânticas são as características de à Constituição, poderá haver a redução de sua abran-
poderes autoritários, criadas apenas com a finali- gência e limitação ou restrição à eficácia e à aplicabi-
dade de legitimar o poder de quem já o exerce. lidade que pode se dar por decretação do estado de
z As dualistas e pactuadas, as quais são oriundas de defesa ou de sítio, além de outras situações, por moti-
um pacto entre o Rei e o Poder Legislativo, e vinculam vo de ordem pública, bons costumes e paz social.
o monarca às normas estabelecidas na Constituição e Por sua vez, as normas constitucionais de eficá-
consequentemente limitam seu poder, antes absoluto; cia limitada são aquelas normas que, de imediato,
z As principiológicas, que reúnem mais princípios não têm o poder e a força de produzir todos os seus
(abstrato) do que regras (concretas) e as precei- efeitos, precisando de norma regulamentadora infra-
tuais, que contém mais regras que princípios; constitucional a ser editada pelo poder, órgão ou auto-
z As provisórias e definitivas, como o próprio nome ridade competente, ou até mesmo de integração por
aduz, as provisórias são temporárias e, em regra, meio de emenda constitucional. São, portanto, consi-
regulam períodos de transição ou visam definir as deradas normas de aplicabilidade indireta, mediata e
regras de elaboração de uma constituição definitiva; reduzida, ou ainda, diferida.
z As heterônomas, que são aquelas Constituições De modo geral, pode-se dizer que a Constituição de
elaboradas e decretadas por outro Estado que não 1988 é programática. Isso porque grande parte de suas
o próprio a ser regido, ou ainda por organizações normas traçam, na verdade, princípios para serem
internacionais; e, as autônomas que são as elabo- cumpridos pelos seus órgãos em longo prazo. São ver-
radas dentro do próprio Estado, sem interferên- dadeiras metas a serem atingidas pelo Estado e seus
164 cias externas; programas de governo na realização de seus fins sociais.
PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DE
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS INTERPRETAÇÃO

CONCEITO E NATUREZA Conforme já analisado no tópico de estudo da her-


menêutica constitucional, os dispositivos necessitam
Os princípios são um alicerce de um sistema, uma de interpretação, ainda que o texto seja claro e obje-
estrutura básica do ordenamento jurídico, trazendo tivo. Assi5.m, vejamos os princípios de interpretação
também uma melhor orientação à interpretação de um da constituição.
texto constitucional que não pode ser feita somente pela
análise do texto constitucional, mas de todo o contexto. z Supremacia da constituição: parte do entendi-
Os princípios constitucionais podem ser explíci- mento de que a Constituição é a norma suprema
tos ou implícitos. Os princípios explícitos são aqueles e que todo ordenamento jurídico deve obediência
que estão de forma expressa no texto constitucional a ela, sob pena de nulidade das normas que forem
(escritos), já os implícitos são obtidos por meio de uma contrarias a ela, ou seja, das normas inconstitucio-
construção lógica, ora, estão implícitos no texto mes- nais. Por exemplo, é aprovada uma emenda consti-
mo não aparecendo expressamente. tucional que estabelece a pena de prisão perpétua,
Como exemplo, podemos citar os princípios especí- violando o inciso IV, § 4°, art. 60 da CF. Observe que
ficos da Administração pública, que são os princípios no exemplo citado foi violado um direito (conteú-
expressos no art. 37 da Constituição, chamados de do) da Constituição Federal;
princípios explícitos. Bem como, também a Adminis- z Presunção de constitucionalidade das normas
tração Pública deve observar os princípios implícitos, inconstitucionais: A Constituição é a norma supre-
por exemplo, o princípio da supremacia do interesse ma, porém as normas infraconstitucionais, na sua
público, princípio da razoabilidade, princípio da pro- edição, presumem-se constitucional até que haja
porcionalidade, princípio da autotutela e princípio da o reconhecimento de sua inconstitucionalidade.
segurança jurídica, que são princípios que apesar de Portanto, a princípio, há uma presunção relativa
não estarem expressos na Constituição também devem das normas na sua edição;
ser observados pela Administração Pública. z Princípio da máxima efetividade: no momento
de interpretar uma norma constitucional, o inter-
prete deve aprofundar ao máximo sua interpreta-
Explícitos ção, para obter a máxima efetividade. Por exemplo,
busca-se a máxima efetividade da interpretação
PRINCÍPIOS da Constituição referente os direitos fundamen-
Implícitos tais, para que possam ser observados e aplicados
em potencial e não com limitações;
z Princípio da unidade da constituição: tem rela-
O tema princípios constitucionais é muito cobrado ção com o método sistemático, pelo fato de que
em provas. aqui a Constituição deve ser interpretada como um
todo e não como forma isolada, ou seja, não existe
FUNÇÕES E APLICAÇÃO hierarquia entre os dispositivos inseridos no texto
constitucional, todos fazem parte de um conjunto
de regras que devem ser observado na sua totalida-
Os princípios são mais do que regras. No ordena-
mento jurídico temos princípios e regras, sendo que de, por exemplo, não existe controle de constitucio-
as regras são as ordens mandamentais, já os princí- nalidade em face da própria Constituição Federal;
pios, como estudado no tópico anterior, vão além das z Princípio do efeito integrador: a interpretação
regras e ordens. da constituição não pode ser dada caso resulte na
Assim, os princípios têm uma função mais ampla desintegração social e conflito entre entes políti-
do que as regras, pois contêm conteúdos de maior cos, deve ser interpretada como forma de integrar
abrangência e importância. os entes políticos;
Os princípios possuem três funções: z Princípio da justeza ou conformidade funcional:
O intérprete da Constituição, que no Brasil é o Supre-
z Informativa, que servem como orientação para o mo Tribunal Federal, que é o responsável pela força
legislador ao elaborar a norma; normativa da Constituição, ou seja, deve interpretar
z Função integrativa, que suprem os vazios deixados a Constituição com rigor, não podendo alterar o tex-
pela legislação; e to dos seus dispositivos. Por exemplo, o STF, no exer-
z Função interpretativa, que como o próprio nome cício de suas funções, não pode alterar a repartição
já demonstra, auxilia na interpretação das normas. das competências estabelecidas pelo constituinte ori-
ginário, nos arts. 22, 23, 24 e 25 da CF;
Os princípios expressam os valores da sociedade e z Princípio da harmonização ou concordância
NOÇÕES DE DIREITO

só se encontram significados quando eles são acompa- prática: tem ligação com o princípio da unidade
nhados de uma solução prática. Ainda, um princípio da constituição. Prevê que diante do conflito de
jamais limitará a aplicação de outro princípio. bens jurídicos, não deve haver total anulação de
Quando ocorrer, deverá ter uma ponderação entre um em função do outro, ou seja, deve haver uma
ambos, por exemplo, podemos citar o princípio da concordância prática entre eles em um possível
moralidade no âmbito da Administração Pública, conflito aplicável a um caso concreto. Por exem-
pois está relacionado à ideia de boa fé e probidade, plo, não pode o legislador impor uma eventual sus-
sendo que o agente público deve atuar buscando o pensão de processo, sem instituir a suspensão dos
interesse público e evitar se valer do cargo público prazos prescricionais1. Percebe como, neste caso,
e do poder incumbido para se promover ou atender deve haver uma harmonização entre a aplicabili-
algum interesse individual. dade das normas.
1  Exemplo extraído do julgamento pelo STF do RE 966177 RG, rel. Min. Luiz Fux, julgado em 07.06.2017, DJe 01.02.2019. 165
REPÚBLICA E FEDERAÇÃO „ Art. 1º. Fundamentos:
“SO.CI.DI.VA.PLU”
República é uma forma de governo, assim como
SOberania;
a Monarquia e a Teocracia, ou seja, é a forma como
CIdadania;
se institui o poder na sociedade e como os órgãos de
DIgnidade da pessoa humana;
governo se relacionam. No sistema democrático do
VAlores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
Brasil, a República é caracterizada pelo chefe de um
PLUralismo Político.
estado eleito para um mandato por período determi-
nado. Já na Monarquia, esse cargo é recebido de forma
„ Art. 2º Separação dos Poderes:
hereditária e vitalício, como é o caso do Reino Unido.
Judiciário: Aplica as leis;
Também existe a chamada Teocracia que é quando
Legislativo: Elabora as leis;
o chefe do Estado é chamado por motivos religiosos,
Executivo: Administra o Estado.
como acontece, por exemplo, no Vaticano e no Irã.
„ Art. 3º Objetivos Fundamentais:
REPÚBLICA MONARQUIA TEOCRACIA “CON.GA.ER.PRO”
Democracia CONstruir uma sociedade livre, justa e solidária;
Chefe do Estado Chefe do Esta-
– Chefe do GArantir o desenvolvimento nacional;
é um cargo re- do é chamado
Estado eleito ERradicar a pobreza e a marginalização e redu-
cebido de forma por motivos
por um período zir as desigualdades sociais e regionais;
hereditária religiosos
determinado PROmover o bem de todos, sem preconceitos
Exemplo: Reino Exemplo: de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer
Exemplo: Brasil outras formas de discriminação.
Unido Vaticano

„ Art. 4º Princípios das Relações Internacionais:


Conforme determina o art. 2º do ADCT, ficou deter- Independência nacional;
minado que em 7 de setembro de 1993 o eleitorado Prevalência dos direitos humanos;
deveria decidir através de um plebiscito a forma de Autodeterminação dos povos;
governo e o sistema de governo. Nessa oportunidade, Não intervenção;
a população entendeu que o Brasil deveria continuar Igualdade entre os Estados;
sendo uma República Presidencialista. Defesa da paz;
Solução pacífica dos conflitos;
Art. 2º No dia 7 de setembro de 1993 o eleitorado Repúdio ao terrorismo e ao racismo;
definirá, através de plebiscito, a forma (república Cooperação entre os povos para o progresso da
ou monarquia constitucional) e o sistema de gover- humanidade.
no (parlamentarismo ou presidencialismo) que
devem vigorar no País.
Fundamentos
Um Estado Federado é constituído por um con-
Os fundamentos da República Federativa do Brasil
junto de Estados-Membros. Vale ressaltar que os
servem como base para todo o ordenamento jurídico,
Estados-Membros são autônomos, pois são dotados
pois se refere aos valores de formação da República
de autonomia e autogoverno, por outro lado, não
Federativa do Brasil. Veja a importância do artigo, não
são soberanos, uma vez que a soberania é somente a
somente em relação à Constituição, mas como para
Federação como um todo. No nosso pacto federativo,
toda a ordem jurídica do Estado. Assim, vamos anali-
o poder é descentralizado, pois a Constituição prevê
sar o art. 1º da Constituição Federal.
núcleos de poder, concedendo autonomia para os seus
entes (União, Estados, Municípios e Distrito Federal).
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada
pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e
FORMA DE SISTEMA DE REGIME DE FORMA DE do Distrito Federal, constitui-se em Estado Demo-
GOVERNO GOVERNO GOVERNO ESTADO crático de Direito e tem como fundamentos:
República Presidencialismo Democracia Federação I - a soberania;
II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana;
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS IV - os valores sociais do trabalho e da livre
iniciativa;
Os princípios fundamentais são mandamentos que V - o pluralismo político.
vão influenciar em toda ordem jurídica, por exemplo, é Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que
nesse momento que o texto constitucional formaliza a o exerce por meio de representantes eleitos ou dire-
relação entre povo, poder e território. Além disso, servem tamente, nos termos desta Constituição.
como um norte para outras normas e estão localizados
no título I da CF/88, o qual é composto por quatro artigos. A Soberania
Note que é nesses artigos que se proclama o regime
político democrático com fundamento na soberania A soberania se refere a um poder supremo e inde-
popular e garantia da separação de função entre os pendente, é a capacidade de editar suas próprias nor-
governos. Bem como, também se determina os valores mas, de forma que qualquer outra lei só possa existir
e diretrizes para o ordenamento constitucional. caso respeite as normas norteadoras definidas na
Vejamos no texto a seguir um resumo: Constituição. Em suma, é a autonomia que o Brasil
tem para se organizar politicamente sem a interferên-
166 z Título I: Dos Princípios Fundamentais: cia de outro Estado.
Nesse sentido, preleciona José Afonso da Silva Note que, a dignidade da pessoa humana é o direi-
(2017), a soberania é um poder político, supremo e to de titularidade universal, isto é, todos têm acesso
independente, ainda, é fundamento do próprio con- a esse direito pelo simples fato de ser pessoa, assim,
ceito de Estado, diante disto, não precisaria ser men- a nacionalidade e/ou capacidade não são fatores que
cionada no texto constitucional. possibilitam maior proteção, mas sim o fato de ser
Não obstante, a demonstração do poder supremo pode
cidadão, seja ele nacional ou estrangeiro.
ser vista de forma interna (poder do Estado) ou externa
(quando nos relacionamos com entidades internacionais).
Os Valores Sociais do Trabalho e da Livre Inciativa 
A Cidadania
Dispositivo que objetiva a proteção ao trabalho,
Podemos considerar cidadania como um objeto de pois é através deste que o homem garante sua subsis-
direito fundamental, pois é a participação do indiví- tência e o crescimento do Brasil, aqui não se menciona
duo no Estado Democrático de Direito. No texto consti- somente o “trabalhador CLT3”, mas também os autôno-
tucional, em sentido amplo, a existência da cidadania mos, empresários, empreendedores e empregadores.
está atrelada à vivencia social, na construção de rela-
ções, na mudança de mentalidade, na reivindicação O Pluralismo Político
de direitos e no cumprimento de deveres.
Assim, podemos concluir que a cidadania pode O legislador originário se preocupou em afirmar a
ser exercida não somente com o direito de voto, mas
ampla participação popular nos destinos políticos do
também com a participação do cidadão em conselhos
Brasil, com a inclusão da sociedade na participação dos
de temas importantes, como saúde, educação, compa-
recimento em audiências públicas e participação nas processos de formação da vontade geral da nação, garan-
reuniões referentes ao orçamento participativo. tindo a liberdade e a participação dos partidos políticos.
Atenção, nem toda pessoa é considerada cida- Ainda, podemos conceituar o pluralismo como a
dão. Em provas de concurso é importante observar garantia de que todo aquele de vive em sociedade terá
que cidadão é todo ser humano que está em condição direito a sua própria convicção política e partidária.
de votar e ser votado. Assim, podemos concluir que
uma criança e os estrangeiros não naturalizados não Separação dos Poderes
podem ser considerados cidadãos.
O art. 2º da Constituição, ao definir a indepen-
Dica dência e a harmonia entre si dos poderes, consagra o
Cuidado para não confundir cidadania com chamado princípio da separação dos poderes, ou prin-
nacionalidade: cípio da divisão funcional do poder do Estado.
Nacionalidade é o vínculo jurídico político que
une uma pessoa a um Estado e a cidadania é a Art. 2º São Poderes da União, independentes e
participação do indivíduo no Estado. Inclusive a harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o
nacionalidade é requisito para ser cidadão, ou Judiciário.
seja, para ser cidadão o indivíduo deve ser brasi-
leiro nato ou naturalizado. Assim, cada poder tem suas funções e organização
definidas, vejamos:
A Dignidade da Pessoa Humana
z Poder executivo exerce as funções de governo e
A dignidade da pessoa humana é um valor que administração. Como exemplo de administração,
influencia o conteúdo de todos os direitos fundamentais podemos mencionar o inciso I, art. 84 da CF, que
do homem consagrados no texto constitucional, é uma define como competência do Presidente da Repú-
proteção não somente do indivíduo em face do Estado, blica nomear e exonerar Ministros;
mas também perante a toda sociedade. Nesse sentido, z Poder legislativo é exercido pelo Congresso
considera Alexandre de Moraes (2011), a dignidade da Nacional, sua função é legislar, ou seja, tem a
pessoa humana é valor espiritual e moral, que se mani- função de elaborar as normas jurídicas gerais e
festa na autodeterminação da própria vida e traz consi-
abstratas. Por exemplo, é de competência do Con-
go a busca pelo respeito por parte das demais pessoas2.
Nesse tópico de estudo é importante mencionar a gresso Nacional a votação para aprovação de lei
súmula vinculante nº 11 editada pelo STF sobre o uso complementar (art. 69 da CF);
de algemas, vejamos: z Poder judiciário cabe o exercício da jurisdição,
por exemplo, a aplicação do Direito em um caso
NOÇÕES DE DIREITO

Súmula Vinculante 11 concreto através de um processo judicial.

Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência A Teoria da tripartição de poderes foi idealizada
e de fundado receio de fuga ou de perigo à integri- por Montesquieu e determina a composição e divisão
dade física própria ou alheia, por parte do preso ou do Estado, a teoria objetiva que cada poder deve ser
de terceiros, justificada a excepcionalidade por escri-
independente e harmônico entre si, como forma de
to, sob pena de responsabilidade disciplinar,  civil e
penal do agente ou da autoridade e de nulidade da dividir as funções do Estado, entre poder executivo,
prisão ou do ato processual a que se refere, sem pre- poder legislativo e poder judiciário, entendimento esse
juízo da responsabilidade civil do Estado. também chamado de teoria dos freios e contrapesos.
2  MORAES, op. cit, p. 24.
3  Trabalhador CLT – Termo vulgar utilizado para definir trabalhador/funcionário regido pela CLT (carteira assinada). 167
Objetivos da República Federativa do Brasil O objetivo é reduzir a chamada desigualdade
material, que significa tratar iguais os iguais e os
O art. 3° da Constituição Federal apresenta os obje- desiguais com desigualdade na medida de suas desi-
tivos fundamentais do Estado brasileiro, ou seja, dita gualdades, ou seja, é uma forma de proteção a certos
os compromissos que o Estado tem em relação aos grupos sociais, pessoas que foram discriminadas ao
cidadãos, em especial na garantia plena de igualdade longo da história do Brasil. Isso ocorre por meio das
entre todos os brasileiros. chamadas ações afirmativas, que visam, por meio da
José Afonso da Silva observa que (2017), é a primei- política pública, reduzir os prejuízos.
ra vez que uma Constituição relaciona especificamen- Sobre esse tema e explicações referente igualdade
te os objetivos do Estado brasileiro, que valem como formal e igualdade material será abordado na sequên-
base para as prestações positivas que venham a con- cia, no tópico de estudo do princípio da igualdade
cretizar a democracia econômica, social e cultural4. (caput, art. 5° da CF).

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da IV - Promover o Bem de Todos, Sem Preconceitos de


República Federativa do Brasil: Origem, Raça, Sexo, Cor, Idade e Quaisquer Outras
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; Formas de Discriminação
II - garantir o desenvolvimento nacional;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e redu- Todo direito e todo dever tem de ser estendido a
zir as desigualdades sociais e regionais; qualquer indivíduo, independente de gênero ou cor,
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de visando aqui à igualdade plena. Conforme a letra da lei,
origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras nenhum tipo de preconceito deve ser tolerado no Brasil.
formas de discriminação.
Princípios das Relações Internacionais
O rol dos objetivos fundamentais relacionados no
art. 3º da CF é um rol meramente exemplificativo, pois O art. 4º da Constituição enumera os princípios
se refere a metas, ou seja, objetivos que o Estado bus- fundamentais orientadores das relações internacio-
ca alcançar. nais; consagra, ainda, a não subordinação no plano
A seguir, vamos analisar cada um dos incisos deste internacional e a igualdade estre os Estados. Vejamos:
artigo tão importante da Constituição Federal.
Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se
nas suas relações internacionais pelos seguintes
I - Construir uma Sociedade Livre, Justa e Solidária
princípios:
I - independência nacional;
Preceito estabelecido visando o bem estar e qua- II - prevalência dos direitos humanos;
lidade de vida, o objetivo é construir uma sociedade III - autodeterminação dos povos;
livre, sem uma intervenção estatal exagerada, justa, IV - não-intervenção;
aplicando as normas do ordenamento jurídico e soli- V - igualdade entre os Estados;
dária, que se preocupa com o próximo. VI - defesa da paz;
O objetivo em tela consagra as três gerações de VII - solução pacífica dos conflitos;
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;
direitos fundamentais, como direito de primeira gera-
IX - cooperação entre os povos para o progresso da
ção, menciona a liberdade, direito de segunda geração
humanidade;
está relacionado ao direito de justiça social, e por fim X - concessão de asilo político.
os direitos de terceira geração estão relacionados à Parágrafo único. A República Federativa do Brasil
ideia de fraternidade e solidariedade. buscará a integração econômica, política, social e cul-
Cuidado: esse objetivo também pode ser chamado tural dos povos da América Latina, visando à forma-
de princípio da solidariedade. ção de uma comunidade latino-americana de nações.

II - Garantir o Desenvolvimento Nacional Os princípios enumerados no mencionado dispo-


sitivo reconhecem a soberania do Estado no plano
Neste caso, aplica-se pelo aperfeiçoamento do ser internacional, ou seja, não deve haver subordina-
humano, ou seja, que o desenvolvimento seja esten- ção entre os Estados. Sob esse mesmo entendimento
dido à política, à economia e à vida social. Bem como, temos o princípio da não-intervenção e o princípio da
ao buscar o desenvolvimento econômico, deve ser res- autodeterminação dos povos, assegurando que inter-
namente o Estado não deve sofrer nenhum tipo de
peitada às normas ambientais.
interferência sobre assuntos de interesse interno.
Cuidado: as bancas examinadoras gostam de tro-
O repúdio ao terrorismo e a concessão de asilo
car a palavra nacional por regional.
político têm relação com o princípio da prevalência
dos direitos humanos relacionado no inciso II, este
III - Erradicar a Pobreza e a Marginalização e Reduzir último deve ser rigorosamente respeitado. Nesse sen-
as Desigualdades Sociais e Regionais tido, em caso de extrema violação da prevalência dos
direitos humanos, pode até levar a interferência de
Tem como objetivo a igualdade de condições para outros Estados naquele, com o apoio do Brasil.
todos os cidadãos, com a intenção de reduzir as desi- Ainda a Constituição determina que o Brasil busca-
gualdades, ou seja, deve trazer melhorias para áreas rá integração econômica, política, social e cultural dos
como educação, saúde e emprego para todos, mas na povos da América Latina, visando à formação de uma
medida de suas desigualdades, entenda a seguir: comunidade latino-americana de nações5.
4  SILVA, op. cit, p. 107.
168 5  MORAES, op. cit, p. 27.
Verifica-se, ainda, a irrenunciabilidade como uma
DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS característica importante, na medida que nenhum ser
humano pode abrir mão de possuir direitos funda-
DIREITOS INDIVIDUAIS mentais. O indivíduo pode não usufruir deles adequa-
damente, mas não pode renunciar à possibilidade de
Os direitos e garantias fundamentais estão discipli- exercê-los.
nados no Título II, da CF, de 1988. Em síntese, a norma Outra característica dos direitos fundamentais é
constitucional divide tais elementos em cinco grupos,
a indivisibilidade. Não existe hierarquia entre tais
a saber:
direitos, pois todos possuem o mesmo valor. Conse-
quentemente, eles são indivisíveis na medida em que,
z Direitos individuais e coletivos;
z Direitos sociais; para a garantia de um, pressupõe-se a observância
z Direitos de nacionalidade; dos demais. Sendo assim, quando um deles é violado,
z Direitos políticos; os outros também o são.
z Partidos políticos. Por fim, outra característica importante é a limi-
tabilidade, isto é, os direitos fundamentais não são
Neste sentido, conclui-se que os direitos fundamen- absolutos, de modo que podem ser limitados sempre
tais constituem o gênero, do qual os direitos individuais, que houver uma hipótese de colisão de direitos fun-
coletivos, sociais, nacionais e políticos são espécies. damentais. É da limitabilidade que advém a regra de
que nenhum direito é absoluto. Por exemplo, mes-
mo possuindo o direito de locomoção, não é possível
Importante! ingressar em uma propriedade alheia fora das hipó-
teses previstas na CF, de 1988, (quais sejam: convite,
Direitos e garantias não se confundem! Direitos
desastre, flagrante delito, prestar socorro ou ordem
são bens e vantagens prescritos na norma cons-
judicial durante o dia), podendo, inclusive, caracteri-
titucional, como, por exemplo, o direito de ir e vir
zar o crime de invasão de domicílio.
(liberdade de locomoção). Garantias são os ins-
trumentos através dos quais se assegura o exer-
Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos
cício do referido direito tanto preventivamente,
com o habeas corpus, quanto repressivamente,
quando, por exemplo, se busca assegurar a sua Os direitos individuais e coletivos estão disciplina-
reparação no caso de violação. dos no art. 5º, da CF, de 1988. Muito cobrado em provas
de concursos públicos, esse dispositivo é o mais exten-
so dessa norma, sendo composto pelo caput (capítulo),
Antes de adentrar no estudo dos direitos e garan- por 78 (setenta e oito) incisos e 4 (quatro) parágrafos.
tias fundamentais propriamente ditos, é importante Vejamos cada uma de suas partes:
conhecermos suas características. A primeira delas é
a universalidade, ou seja, os direitos e garantias fun- Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distin-
damentais aplicam-se a todos os indivíduos. ção de qualquer natureza, garantindo-se aos bra-
Do seu caráter universal, decorre a garantia da dig- sileiros e aos estrangeiros residentes no País
nidade da pessoa humana, uma vez que o direito de a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade,
possuir condições mínimas para ter uma vida plena à igualdade, à segurança e à propriedade, nos
e digna é inerente a todos os indivíduos. Observa-se, termos seguintes:
ainda, que o reconhecimento da dignidade traz con-
sigo o fundamento da igualdade, por não comportar O caput do art. 5º traz os cinco pilares dos direitos
distinções relacionadas à raça, sexo, língua, religião, individuais e coletivos, quais sejam: vida, liberdade,
origem social ou nacional, entre outros.
igualdade, segurança e propriedade. Deles decor-
A historicidade outra característica a ser mencio-
rem todos os demais direitos estruturados nos seus
nada, uma vez que os direitos e garantias são frutos de
um desenvolvimento histórico, ou seja, são traçados incisos, como, por exemplo, do direito à vida, decorre
e estruturados de acordo com o desenvolvimento da o direito à integridade física e moral, a proibição da
própria sociedade. Considerar o contexto histórico é pena de morte e a proibição de venda de órgãos.
extremamente importante para se entender o porquê Quando a Constituição fala “brasileiros e estrangei-
da proteção dada pelos direitos fundamentais. Como ros residentes no país”, não significa que o estrangeiro
exemplo, pode-se citar as políticas afirmativas, como não residente não possua direitos. Tanto a CF/88 como
a política de quotas em concursos públicos. a Constituição estadual adotam o critério quantitativo
Além dessas, os direitos e garantias fundamen- para definir os titulares dos direitos fundamentais, ou
tais têm, como característica, a inalienabilidade. Por seja, a população brasileira – todos aqueles que resi-
terem a liberdade, a justiça e a paz como fundamen-
NOÇÕES DE DIREITO

dem em território brasileiro.


tos, não podem ser transferidos ou negociados. Assim, Além disso, o caput traz o princípio da isonomia
são conferidos a todos os indivíduos, que deles não ou da igualdade (“todos são iguais perante a lei, sem
podem se desfazer, porque são indisponíveis, tendo distinção de qualquer natureza”). Tal princípio tem,
em vista a proteção da pessoa humana.
como fundamento, o fato de que todos nascem e vivem
A imprescritibilidade também é uma de suas
características, visto que não deixam de ser exigíveis com os mesmos direitos e obrigações perante o Estado
em razão da falta de uso, ou seja, não prescrevem. Por brasileiro. São destinatários do princípio da igualdade
exemplo, o fato de determinada pessoa passar grande tanto o legislador como os aplicadores da lei.
parte de sua vida sem ter uma religião específica não
a impede de optar por uma ou outra ou, até mesmo, z Igualdade na lei: direcionado ao legislador, de modo
por nenhuma, pois seu direito à liberdade de crença a vedar a elaboração de dispositivos que estabele-
e exercício de culto não se perde em razão do tempo. çam desigualdades ou privilégio entre as pessoas; 169
z Igualdade perante a lei: direcionado aos aplica- É, também, utilizar-se de métodos como forma
dores da lei, uma vez que não é possível utilizar de anular a personalidade ou diminuir a capacidade
critérios discriminatórios na aplicação da norma, física ou mental, mesmo que sem dor. Assim, a CF, de
salvo nos casos em que a própria norma consti- 1988, veda tanto a tortura como qualquer tipo de tra-
tucional estabelece a aplicação desigual. Como tamento desumano ou degradante.
exemplo, podem-se citar o caso da exclusão de
Art. 5º [...]
mulheres e eclesiásticos do serviço militar obriga-
IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo
tório em tempo de paz, ou os casos de existência
vedado o anonimato;
de um pressuposto lógico e racional que justifique
a desequiparação efetuada, como a existência de Todas as pessoas possuem direitos atinentes à
assentos reservados para gestantes, idosos e pes- liberdade de foro íntimo, ou seja, de ter convicções
soas com deficiência nos transportes coletivos. religiosas, filosóficas, políticas, entre outras, possuin-
do, portanto, o direito de pensar. Além disso, possuem
Art. 5º [...]
direito de expressar livremente esses pensamentos.
I - homens e mulheres são iguais em direitos e
Assim, o direito à expressão do pensamento, que decor-
obrigações, nos termos desta Constituição;
re do direito à liberdade, está disciplinado no inciso IV.
O inciso I decorre do direito à igualdade. Trata-se O pensamento em si é absolutamente livre, por ser
da igualdade entre homens e mulheres. Inicialmen- uma questão de foro íntimo. O indivíduo pode pen-
te, há de se esclarecer que os direitos das mulheres são sar em que quiser, sem que o Estado possa interferir.
relativamente recentes, de modo que grande parte da No entanto, quando este pensamento é exteriorizado,
legislação anterior à CF, de 1988, estabelecia situações passa a ser possível a tutela e proteção do Estado.
diferenciadas entre homens e mulheres, como, por Cumpre mencionar que é da liberdade de expres-
exemplo, a necessidade de autorização marital para são que decorrem a proibição de censura e a vedação
do anonimato, por exemplo. Portanto, ao mesmo tem-
que a esposa ocupasse cargo público ou exercesse a
po que a Constituição assegura a liberdade de mani-
profissão fora do lar e o fato de o marido ser tido como
festação de pensamento, ela obriga que as pessoas
o chefe da sociedade conjugal, competindo a ele, entre
assumam a responsabilidade do que exteriorizam.
outros deveres, a administração dos bens do casal.
Assim sendo, esse inciso foi direcionado tanto
Art. 5º [...]
ao legislador, para que corrigisse tais desigualdades
V - é assegurado o direito de resposta, proporcio-
legais, como aos operadores do direito, para que não nal ao agravo, além da indenização por dano mate-
fossem mais estabelecidos critérios discriminatórios. rial, moral ou à imagem;
Atenção! Existem dois tipos de igualdade: a for-
mal e a material. A igualdade formal consiste em tra- A expressão do pensamento é livre, porém não
tar a todos de maneira igual, independentemente de é absoluta. Assim, a pessoa é livre para expor sua
qualquer condição. Já a igualdade material busca a opinião, porém, atingindo-se a honra de alguém,
igualdade de fato, para que todos tenham os mesmos por exemplo, ela poderá ser responsabilizada civil e
direitos e obrigações. Trata-se, portanto, da igualdade penalmente. Além disso, a CF, de 1988, estabelece o
efetiva, real, concreta ou situada. Assim, a igualdade direito de resposta, ou seja, o exercício do direito de
nada mais é que tratar igualmente os iguais, com os defesa da pessoa que foi ofendida em razão da mani-
mesmos direitos e obrigações, e desigualmente os festação do pensamento de outra, como, por exemplo,
desiguais, na medida de sua desigualdade. no caso de notícia inverídica ou errônea.
O inciso V prevê a indenização por dano mate-
Art. 5º [...] rial, moral ou à imagem. De acordo com a Súmula nº
II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de
37, do Superior Tribunal de Justiça7, esses danos são
fazer alguma coisa senão em virtude de lei;
acumuláveis.
O inciso II decorre do direito à segurança. Trata-se,
Art. 5º [...]
portanto, da segurança em matéria pessoal estampa-
VI - é inviolável a liberdade de consciência e de
da pelo princípio da legalidade. Em síntese, todas as
crença, sendo assegurado o livre exercício dos
pessoas estão submetidas ao império da lei, de modo cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a
que somente a lei pode obrigar alguém a fazer ou proteção aos locais de culto e a suas liturgias;
deixar de fazer algo. Assim sendo, somente a lei pode
limitar a vontade do indivíduo e obrigá-lo a fazer ou A liberdade de consciência abrange a liberdade
não fazer algo, como, por exemplo, o uso obrigatório de consciência em sentido estrito, ou seja, a liber-
de máscaras faciais de proteção. dade de pensamento de foro íntimo em questões não
Art. 5º [...] religiosas, tais como convicções de ordem ideológica
III - ninguém será submetido a tortura nem a tra- ou filosófica. Abrange, ainda, a liberdade de crença,
tamento desumano ou degradante; isto é, a liberdade de pensamento de foro íntimo em
questões de natureza religiosa. Com relação à religião,
O inciso III decorre do direito à vida, por decorrer o inciso VI assegura tanto a liberdade de crença (foro
da violação à integridade humana, tanto física como íntimo), ou seja, de ter uma religião, como a liberdade
psicológica. Torturar6 é causar ao indivíduo sofrimen- de expressão, isto é, de culto. Além disso, estabelece
to físico ou mental como forma de intimidação ou a liberdade religiosa, ou seja, de mudar de crença ou
castigo. religião e de manifestação da mesma.
6 Conceito em conformidade com o art. 2º da Convenção Interamericana, que visa prevenir e punir a tortura.
170 7 Súmula nº 37 (STJ) São cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundos do mesmo fato.
Art. 5º [...] Art. 5º [...]
VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém
de assistência religiosa nas entidades civis e nela podendo penetrar sem consentimento do
militares de internação coletiva; morador, salvo em caso de flagrante delito ou
desastre, ou para prestar socorro, ou, durante
O inciso VII é decorrência do direito à liberdade o dia, por determinação judicial;
de crença e culto, de modo a garantir aos internados
em estabelecimentos prisionais e de saúde o acesso à A inviolabilidade do domicílio está prevista no
assistência espiritual e religiosa. inciso XI do art. 5º e decorre do direito à segurança.
O dispositivo traz a regra de que a casa é inviolável
Art. 5º [...] e o ingresso nela deve ser feito com o consentimento
VIII - ninguém será privado de direitos por moti- do morador. Considera-se casa o lugar, não aberto ao
vo de crença religiosa ou de convicção filosófi-
público, em que uma pessoa vive ou trabalha. Trata-
ca ou política, salvo se as invocar para eximir-se
de obrigação legal a todos imposta e recusar-se
-se, portanto, de um conceito amplo, o qual se refere
a cumprir prestação alternativa, fixada em lei; ao lugar reservado à intimidade e à vida privada do
indivíduo.
O inciso VIII traz a chamada escusa de consciên- O conceito jurídico de casa está previsto nos §§ 4º e
cia ou objeção de consciência. Trata-se do direito de 5º do art. 150, do Código Penal. Vejamos:
não cumprir um serviço obrigatório por razões rela-
cionadas a sua consciência ou crença, de modo a asse- Art. 150 (Código Penal) [...]
gurar que não ocorrerá a perda dos direitos civis ou § 4º A expressão «casa» compreende:
políticos em decorrência de tal recusa. Por exemplo: I - qualquer compartimento habitado;
a pessoa que, por questão religiosa, seja contrária ao II - aposento ocupado de habitação coletiva;
serviço militar poderá alegar tal imperativo de cons- III - compartimento não aberto ao público, onde
ciência em seu alistamento militar. No entanto, a CF, alguém exerce profissão ou atividade.
de 1988, estabelece que, mesmo que dispensada da § 5º Não se compreendem na expressão «casa»:
prática dessa atividade, ela terá que cumprir serviço I - hospedaria, estalagem ou qualquer outra habita-
alternativo. ção coletiva, enquanto aberta, salvo a restrição do
n.º II do parágrafo anterior;
Art. 5º [...] II - taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero.
IX - é livre a expressão da atividade intelectual,
artística, científica e de comunicação, indepen- O dispositivo traz três exceções à regra. A primei-
dentemente de censura ou licença; ra exceção é a possibilidade de ingresso no caso de fla-
grante delito ou desastre, ou seja, é possível ingressar
O inciso IX trata da liberdade de expressão das no local se um crime estiver ocorrendo ou tiver aca-
atividades intelectual, artística, científica e de comu- bado de ocorrer por exemplo. A segunda exceção per-
nicação. Assim, a CF, de 1988, veda, expressamente, mite a entrada no local para prestar socorro, como,
qualquer atividade de censura ou licença. Cumpre por exemplo, no caso de o imóvel estar pegando fogo
esclarecer que censura é a verificação da compatibi- e ter alguém no interior do mesmo. Por fim, é possí-
lidade ou não entre um pensamento que se pretende vel ingressar na casa mediante autorização judicial,
expressar com as normas legais vigentes; licença é a como, por exemplo, quando o juiz expede um manda-
exigência de autorização para que o pensamento pos- do judicial para busca de algum(a) objeto/pessoa no
sa ser exteriorizado. local.
É importante consignar que, mesmo com autoriza-
Art. 5º [...] ção judicial, o ingresso deve ocorrer apenas durante
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada,
o dia, ou seja, durante o período noturno, dependerá
a honra e a imagem das pessoas, assegurado o
direito a indenização pelo dano material ou moral
do consentimento do morador. Assim sendo, durante
decorrente de sua violação; o dia, exibindo-se o mandado judicial, a busca pode
ser realizada mesmo sem a concordância do morador,
O inciso X decorre do direito à vida e traz a prote- sendo possível, inclusive, o arrombamento de porta se
ção dos direitos de personalidade, ou seja, o direito houver necessidade.
à privacidade. Tratam-se dos atributos morais que Atenção! O inciso III, do art. 22, da Lei nº 13.869,
devem ser preservados e respeitados por todos, uma de 2019, estabelece como dia o período compreendido
vez que a vida não deve ser protegida apenas em seus entre as 5h e 21h.
aspectos materiais.
NOÇÕES DE DIREITO

Aqui, torna-se necessário explicar alguns termos: Art. 5º [...]


intimidade é o direito de estar só, ou seja, de não ser XII - é inviolável o sigilo da correspondência e
perturbado em sua vida particular; vida privada refe- das comunicações telegráficas, de dados e das
re-se ao relacionamento de um indivíduo com seus comunicações telefônicas, salvo, no último caso,
familiares e amigos, quer em seu lar quer em locais por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que
fechados; honra é o atributo pessoal que compreende a lei estabelecer para fins de investigação criminal
tanto a autoestima (honra subjetiva) quanto a reputa- ou instrução processual penal;
ção de que goza a pessoa no meio social (honra objeti-
va); imagem é a expressão exterior da pessoa, ou seja, A inviolabilidade das comunicações pessoais
seus aspectos físicos (imagem-retrato), bem como a está disciplinada no inciso XII e também decorre do
exteriorização de sua personalidade no meio social direito à segurança. O dispositivo considera comuni-
(imagem-atributo). cações pessoais: 171
z As correspondências: comunicações recebidas Ressalta-se, ainda, que o dispositivo resguarda o
em casa, como, por exemplo, as cartas, as contas, sigilo da fonte quando necessário ao exercício profis-
os comunicados e avisos comerciais; sional. Deste modo, por exemplo, nenhum jornalista
z A comunicação telegráfica: comunicados mais poderá ser obrigado a revelar o nome de seu infor-
rápidos, que podem ser enviados tanto na forma mante ou a fonte de suas informações. Além disso, seu
escrita como pela internet, tais como o telegrama; silêncio não poderá sofrer qualquer sanção.
z A comunicação de dados: comunicação feita por
meio de rede de computadores, como, por exem- Art. 5º [...]
plo, a compra de produtos online ou homebank; XV - é livre a locomoção no território nacional
z As comunicações telefônicas: ligações feitas e em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos
recebidas por meio de telefone fixo ou móvel. termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair
com seus bens;
Embora não conste do inciso, o sigilo foi estendido
aos dados telemáticos por meio da Lei nº 9.296, de 1996. A liberdade de ir e vir encontra-se disciplinada no
Assim, estão protegidas as mensagens trocadas por meio inciso XV, do art. 5º, da CF, de 1988. Trata-se, portan-
de Skype, e-mail, WhatsApp, Messenger, entre outros. to, do direito de locomoção, que é um dos desdobra-
É importante mencionar que as violações de cor- mentos do direito à liberdade. Observa-se, no entanto,
respondência e de comunicação telegráfica são cri- que a liberdade de locomoção é restrita a tempo de
mes previstos no art. 151, do Código Penal, e na Lei nº paz, ou seja, no caso de decretação de guerra, passa a
6.538, de 1978, a qual dispõe sobre os serviços postais. viger a lei marcial, de modo que o ir e vir dos indiví-
Cabe consignar, ainda, que a quebra das comuni- duos pode sofrer limitações.
cações telefônicas é admitida mediante autorização A garantia constitucional que objetiva assegurar o
judicial (“salvo no último caso”) para fins de investiga- direito de locomoção é o habeas corpus, que será tra-
ção criminal ou instrução processual penal. Portanto, tado adiante.
somente para fins penais.
Art. 5º [...]
Atenção! Como não existe direito absoluto, é pos-
XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem
sível a quebra do sigilo das demais comunicações
armas, em locais abertos ao público, indepen-
mediante autorização judicial. dentemente de autorização, desde que não
Art. 5º [...] frustrem outra reunião anteriormente convoca-
XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofí- da para o mesmo local, sendo apenas exigido pré-
cio ou profissão, atendidas as qualificações profis- vio aviso à autoridade competente;
sionais que a lei estabelecer;
O inciso XVI traz outro desdobramento do direito
O direito de exercício de qualquer atividade à liberdade: o direito de reunião. Por reunião, enten-
profissional decorre do direito à liberdade. Trata-se de-se o agrupamento organizado de pessoas de cará-
da faculdade de escolher o trabalho que se pretende ter transitório e voltado para determinada finalidade.
exercer. No entanto, é necessário atender às qualifica- Portanto, é preciso que o evento seja organizado e
ções profissionais exigidas pela lei, como, por exem- preencha os seguintes requisitos: reunião pacífica e
plo, para ser médico, um dos requisitos é ter feito sem armas; fins lícitos; aviso prévio à autoridade com-
faculdade de medicina em território nacional ou ter petente e local aberto ao público.
sido aprovado em exame de revalidação no caso de Atenção! Aviso prévio não se confunde com auto-
faculdade estrangeira. rização. Para se reunir, é preciso, apenas, comunicar
Essa é uma norma constitucional de eficácia con- à autoridade local, a fim de evitar, por exemplo, que,
tida, ou seja, uma norma que produz todos os efeitos. no mesmo local, dia e hora, coincidam agrupamentos
No entanto, cabe destacar que uma norma infracons- de pessoas com posicionamentos distintos (Exemplo:
titucional (lei) pode conter o seu alcance ao fixar manifestações pró-aborto e contrária ao aborto).
condições ou requisitos para o pleno exercício da pro-
fissão, como, por exemplo, a regra de que, para advo- Art. 5º [...]
gar, é necessária a aprovação no exame da Ordem dos XVII - é plena a liberdade de associação para fins
lícitos, vedada a de caráter paramilitar;
Advogados do Brasil.

Art. 5º [...] A liberdade de associação encontra-se disciplina-


XIV - é assegurado a todos o acesso à informação da no inciso XVII. Diferentemente da reunião, a asso-
e resguardado o sigilo da fonte, quando necessá- ciação não possui caráter transitório. Portanto, se o
rio ao exercício profissional; caráter do agrupamento for permanente, tem-se uma
associação. É importante mencionar que tanto a reu-
O inciso XIV disciplina o direito de informação, nião como a associação devem possuir fins pacíficos.
que é um dos desdobramentos do direito à liberdade. No Brasil, é proibida a associação para fins ilícitos,
O direito à informação possui tríplice alcance, por como, por exemplo, a associação para fins contrários
englobar o direito de informar, de se informar e de à lei penal. Também é vedada a associação de caráter
ser informado. paramilitares, ou seja, a associação civil e desvincula-
da do Estado, que se encontra armada e com estrutura
similar às instituições militares, de modo a se utilizar
Importante! de táticas e técnicas policiais ou militares para alcan-
A liberdade de informação jornalística está pre- çar os seus objetivos.
vista no § 1º, do art. 220, da CF, de 1988, e é Art. 5º [...]
mais abrangente que a liberdade de imprensa, XVIII - a criação de associações e, na forma da lei,
que assegura o direito de veiculação de impres- a de cooperativas independem de autorização,
sos sem qualquer tipo de restrição por parte do sendo vedada a interferência estatal em seu
172 Estado. funcionamento;
O inciso XVIII disciplina o direito de associação. De acordo com o art. 1.228, do Código Civil, o direito
Trata-se da possibilidade de criação de mais ou menos de propriedade consiste na faculdade de usar, gozar e dis-
sindicatos sem a interferência do Estado. por da coisa, assim como o direito de reavê-la do poder
de quem quer que, injustamente, a possua ou a detenha.
Art. 5º [...] Observa-se, no entanto, que, em termos constitu-
XIX - as associações só poderão ser compulso- cionais, o direito de propriedade é mais amplo que no
riamente dissolvidas ou ter suas atividades direito civil, por abranger qualquer direito de conteú-
suspensas por decisão judicial, exigindo-se, no do patrimonial ou econômico, ou seja, tudo aquilo que
primeiro caso, o trânsito em julgado; possa ser convertido em dinheiro, alcançando crédi-
tos e direitos pessoais.
O inciso XIX, que também disciplina o direito de
associação, estabelece que as associações somente Art. 5º [...]
poderão ter suas atividades suspensas ou encerra- XXIII - a propriedade atenderá a sua função social;
das compulsoriamente (a força) por decisão do Poder
Judiciário. Salienta-se, por necessário, que, no caso de O inciso XXIII traz um limite ao direito de pro-
dissolução da associação, esta somente poderá ocor- priedade. Assim, a utilização de um bem deve ser fei-
rer após o trânsito em julgado, ou seja, quando não ta de acordo com a conveniência social da utilização
couber mais recursos. da coisa, ou seja, atendendo a sua função social. Por-
tanto, o direito do dono deve ajustar-se aos interesses
da sociedade.
z Dissolução das associações: decisão judicial + trân-
sito em julgado;
Art. 5º [...]
z Suspensão das associações: decisão judicial. XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para
desapropriação por necessidade ou utilidade
Art. 5º [...] pública, ou por interesse social, mediante justa
XX - ninguém poderá ser compelido a associar- e prévia indenização em dinheiro, ressalvados
-se ou a permanecer associado; os casos previstos nesta Constituição;

O inciso XX, que também disciplina o direito de O inciso XXIV trata da hipótese mais drástica do
associação, estabelece que não é possível obrigar poder de intervenção do Estado na economia: a desa-
qualquer pessoa a se associar, ou seja, o indivíduo tem propriação. A desapropriação é o ato pelo qual o
liberdade de escolha, podendo optar por fazer parte Estado toma para si ou para outrem (terceira pessoa)
do grupo ou não. Além disso, uma vez associado, ele bens de particulares, por meio do pagamento de jus-
será livre para decidir se permanece ou não associa- ta e prévia indenização. Portanto, trata-se de uma das
do. Portanto, compreende o direito de associar-se a hipóteses de aquisição originária da propriedade. É
cabível a desapropriação nas seguintes hipóteses:
outras pessoas para formação de uma entidade, como
também de deixar de participar quando for de seu
z Por necessidade pública: hipótese na qual o bem
interesse.
a ser desapropriado é imprescindível para a reali-
zação de uma atividade essencial do Estado;
Art. 5º [...]
z Por utilidade pública: hipótese na qual o bem não
XXI - as entidades associativas, quando expressa-
é imprescindível, mas é conveniente para a reali-
mente autorizadas, têm legitimidade para repre-
zação de uma atividade estatal;
sentar seus filiados judicial ou extrajudicialmente;
z Por interesse social: hipótese na qual a desapro-
priação é conveniente para o desenvolvimento da
O inciso XXI é o último dispositivo que trata do sociedade.
direito de associação. Ele se refere à representação
do filiado pela associação, quer em âmbito judicial Atenção! Não confundir com desapropriação
quer em âmbito extrajudicial, isto é, ele se refere à sancionatória, hipótese em que o bem não respeita a
legitimação da associação para atuar em nome dos função social da propriedade. Nela, a indenização não
associados. é prévia, sendo o prazo de resgate (Títulos da Dívida
Cabe esclarecer que representante é aquele que Pública) de 10 (dez) anos para bens urbanos e de 20
age em nome alheio, defendendo direito alheio. No (vinte) anos para bens rurais. Ainda, não confunda
caso das associações, para que estas atuem na condi- desapropriação com expropriação, que consiste na
ção de representantes, é preciso autorização expressa perda da propriedade no caso de cultivo de substân-
dos filiados, não bastando que exista autorização em cias entorpecentes ou de trabalho escravo. Nela, não
estatuto. Assim sendo, só poderão atuar se devida- há pagamento de indenização.
mente autorizadas pelos associados.
NOÇÕES DE DIREITO

Além disso, ao contrário da representação, a subs- Art. 5º [...]


XXV - no caso de iminente perigo público, a auto-
tituição judicial ou extrajudicial da associação inde-
ridade competente poderá usar de propriedade
pende de autorização, uma vez que, na substituição, a particular, assegurada ao proprietário indeniza-
associação atua em nome próprio, defendendo direito ção ulterior, se houver dano;
alheio (dos associados).
A requisição temporária da propriedade está
Art. 5º [...] disciplinada no inciso XXV. Trata-se da possibilidade
XXII - é garantido o direito de propriedade; de o Poder Público, em momentos de calamidade (já
ocorrida ou prestes a ocorrer), ingressar na posse de
O direito de propriedade encontra-se disciplina- bem particular, para assegurar a preservação de direi-
do no inciso XXII, do art. 5º. Tratam-se dos direitos tos mais importantes que a propriedade, tais como a
pessoais de natureza econômica. vida e a integridade das pessoas. 173
Por exemplo, no caso de uma enchente em um O inciso XXVIII também protege a propriedade
determinado local, o Poder Público fazer de um imó- intelectual. Deste modo, o dispositivo assegura a
vel privado, próximo ao local, um hospital de atendi- proteção de tais direitos ao indivíduo que participou
mento às vítimas. de obra coletiva, além de proteger a reprodução da
A requisição temporária é uma exceção ao princí- imagem e voz humanas. Ainda, assegura o direito de
pio da indenização prévia, uma vez que o pagamento fiscalização do aproveitamento econômico tanto nas
está condicionado à existência de danos. obras individuais como nas coletivas.
Art. 5º [...] Art. 5º [...]
XXVI - a pequena propriedade rural, assim defi- XXIX - a lei assegurará aos autores de inventos
nida em lei, desde que trabalhada pela família, industriais privilégio temporário para sua utili-
não será objeto de penhora para pagamento de zação, bem como proteção às criações industriais,
débitos decorrentes de sua atividade produtiva, à propriedade das marcas, aos nomes de empresas
dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu e a outros signos distintivos, tendo em vista o inte-
desenvolvimento;
resse social e o desenvolvimento tecnológico e eco-
nômico do País;
O inciso XXVI disciplina a impenhorabilidade da
pequena propriedade rural, por ser esta considera-
da bem de família e, portanto, insuscetível de penho- O último dispositivo que trata da propriedade inte-
ra, de modo a ficar a salvo de execuções por dívidas lectual é o inciso XXIX, garantindo aos autores de inven-
decorrentes da atividade produtiva. Além disso, a tos industriais os privilégios para sua utilização, ainda
CF/88 estabelece que esta deverá receber os recursos que de forma temporária. Além disso, assegura a pro-
previstos em lei que financiem o seu desenvolvimento. teção às criações industriais, à propriedade das marcas,
Embora o dispositivo não conceitue pequena pro- aos nomes de empresas e a outros signos distintivos.
priedade rural, o entendimento mais amplo é de que
esta possui área entre 1 (um) e 4 (quatro) módulos fis- Art. 5º [...]
cais, na qual a família trabalha, consistindo, pois, na XXX - é garantido o direito de herança;
sua única fonte de sobrevivência.
O direito de herança, que decorre do direito à pro-
Art. 5º [...] priedade, está disciplinado no inciso XX. Trata-se da
XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo modificação da titularidade do bem em decorrência do
de utilização, publicação ou reprodução de suas
falecimento (sucessão hereditária). Assim, o patrimônio
obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo
que a lei fixar;
do de cujus transmite-se aos seus herdeiros, os quais se
sub-rogam nas relações jurídicas do falecido, tanto no
O inciso XXVII disciplina o direito de proprieda- ativo como no passivo, até os limites da herança.
de intelectual, ou seja, a proteção legal e o reconheci-
mento de autoria em produções. Existem três tipos de
propriedade intelectual, quais sejam: Importante!
z Propriedade industrial: criações que movimen- O direito de sucessão está regulado no Código Civil.
tam o mercado e são empregadas para manter a
competitividade. Seu foco é voltado para a área
Art. 5º [...]
empresarial. São exemplos: as patentes, marcas,
XXXI - a sucessão de bens de estrangeiros situa-
desenhos, indicações geográficas, entre outros;
dos no País será regulada pela lei brasileira em
z Direitos autorais: criações artísticas, culturais e
benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, sem-
científicas, como, por exemplo, as obras intelec-
pre que não lhes seja mais favorável a lei pes-
tuais, literárias e artísticas;
soal do de cujus;
z Proteção sui generis: são as criações híbridas,
isto é, aquelas que se encontram em um estado
Ainda com relação ao direito de herança, o inciso
intermediário entre a propriedade industrial e
os direitos autorais. Exemplos: a topografia dos XXXI estabelece a lei que deverá ser aplicada caso a
circuitos integrados (mask works), a proteção de sucessão envolva bens de estrangeiros situados no Bra-
cultivares (obtenções vegetais ou variedades vege- sil. Assim, a regra é que se aplica a lei brasileira sempre
tais) e conhecimentos tradicionais associados aos que esta beneficiar cônjuge ou filho brasileiro. No entan-
recursos genéticos. to, caso a lei estrangeira (lei do país do de cujus) seja mais
benéfica a estas pessoas, ela é que será aplicada.
Neste sentido, a CF/88 garante aos autores o direito
exclusivo de utilização, publicação ou reprodução de Art. 5º [...]
suas obras, sendo esse direito transmitido aos herdei- XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a
ros do autor (direitos sucessórios) pelo tempo que a defesa do consumidor;
lei fixar.
O inciso XXXII traz a proteção ao consumidor
Art. 5º [...] como um dos direitos e deveres individuais e coleti-
XXVIII - são assegurados, nos termos da lei:
vos. Como consequência, a defesa do consumidor será
a) a proteção às participações individuais em
obras coletivas e à reprodução da imagem e voz
promovida por meio do Estado. Vale lembrar que é
humanas, inclusive nas atividades desportivas; a Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, conheci-
b) o direito de fiscalização do aproveitamento da como Código de Defesa do Consumidor (CDC), que
econômico das obras que criarem ou de que parti- estabelece as regras de proteção ao consumidor.
ciparem aos criadores, aos intérpretes e às respecti-
174 vas representações sindicais e associativas; Art. 5º [...]
XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públi- O inciso XXXVI é, também, um desdobramento do
cos informações de seu interesse particular, ou direito à segurança. Trata-se da garantia constitu-
de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas cional de que a novas leis não retirem das pessoas os
no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressal- direitos que elas adquiriram por meio de lei antiga, de
vadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à modo que as situações disciplinadas por uma norma
segurança da sociedade e do Estado; devem continuar protegidas por esta mesmo depois
de sua revogação ou substituição por outra em três
O inciso XXXIII decorre do direito de informação. casos8:
Trata-se de assegurar aos indivíduos o conhecimento
de informações relativas à sua pessoa, quando cons- z Direito Adquirido: é o direito assegurado à pessoa
tantes de banco de dados de entidades governamen- quando esta cumpriu todos os requisitos para a sua
tais ou abertas ao público, bem como de informação concessão pela norma anterior antes de ocorrer a
de interesse da coletividade. Aqui, vale mencionar alteração legal. Exemplo: uma pessoa completou o
que é a Lei nº 12.527, de 2011, que regula o acesso à tempo de contribuição previsto pela lei para apo-
informação previsto neste inciso. sentar, mas optou por permanecer trabalhando. Se
nova lei alterar os requisitos para aposentadoria,
Art. 5º [...] de modo a aumentar o tempo de contribuição, essa
XXXIV - são a todos assegurados, independente- pessoa não será prejudicada, pois adquiriu o direi-
mente do pagamento de taxas: to pela lei anterior;
a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defe-
sa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder; Atenção! Direito adquirido não se confunde com
b) a obtenção de certidões em repartições públi- expectativa de direito. Se a pessoa não completou
cas, para defesa de direitos e esclarecimento de todos os requisitos para a concessão do direito, ela
situações de interesse pessoal; não tem direito adquirido e, sim, expectativa de direi-
to. Exemplo: falta, para o indivíduo, um mês para que
O inciso XXXIV disciplina o direito de petição e o se complete o tempo de contribuição previsto pela lei
direito de certidão. O dispositivo assegura aos indi- para se aposentar. Antes de preencher tal requisito,
víduos o direito de formular pedidos para a Adminis- a lei é alterada e o tempo majorado. Esta pessoa não
tração Pública em defesa de seus direitos e, quando poderá se aposentar, pois tinha apenas expectativa
cabível, de terceiros, bem como de formular reclama- de direito, uma vez que todos os requisitos não foram
ções contra atos ilegais e abusivos cometidos pelos preenchidos para a sua concessão.
agentes do Estado. Assegura, ainda, o direito de plei-
tear, do Estado, documento expedido por este, que, z Ato jurídico Perfeito: trata-se do ato realizado
por possuir fé pública, é utilizado para comprovar a validamente sob a vigência de uma lei, mesmo que
existência de um fato. Deste modo, assegura ao indi- esta tenha sido posteriormente revogada ou modi-
víduo a obtenção de certidão para a defesa de direitos ficada. Exemplo: adolescente que se casou antes
ou esclarecimento de situações de interesse pessoal. de ter completado a idade núbil nas hipóteses per-
O exercício de tais direitos é gratuito, ou seja, mitidas pelo Código Civil terá seu casamento como
independe de qualquer pagamento. Importante men- válido mesmo após a alteração da lei civil, pela
cionar que, embora o dispositivo empregue o termo Lei nº 13.811/2019, que proibiu, expressamente, o
“taxas”, este foi utilizado em sentido amplo, visto que casamento de menor de 16 (dezesseis) anos, pois
proíbe a cobrança de qualquer importância (taxa, seus efeitos são protegidos pela lei anterior;
tarifa ou preço público). A função da gratuidade é não z Coisa Julgada: é a autoridade dada às decisões
obstar ou dificultar o exercício do direito, uma vez do Poder Judiciário quando destas não caiba mais
que pessoas sem recursos financeiros teriam dificul- recurso, de modo a impedir a modificação ou dis-
dades de exercer seu direito se este fosse condiciona- cussão da decisão de mérito. Exemplo: uma ação
do ao pagamento. de paternidade foi julgada procedente após o
suposto pai ter se recusado a realizar o exame de
Art. 5º [...] DNA. Assim, não é possível que, tempos depois, o
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder suposto pai resolva fazer o exame para se eximir
Judiciário lesão ou ameaça a direito; da paternidade, pois a decisão não pode ser mais
modificada.
O princípio da inafastabilidade de jurisdição
ou do controle do Poder Judiciário está disciplina-
do no inciso XXXV. Tal princípio é um desdobramento Importante!
NOÇÕES DE DIREITO

do direito à segurança (garantias jurisdicionais). Esse A coisa julgada divide-se em coisa julgada mate-
princípio garante que todas as pessoas tenham acesso rial – quando impede a discussão em qualquer
ao Poder Judiciário. processo – e coisa julgada formal – quando impe-
de a discussão no mesmo processo.
Art. 5º [...]
XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido,
o ato jurídico perfeito e a coisa julgada;

8 Em conformidade com o art. 6º do Decreto Lei nº 4.657/1942 (Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro). Veja: “A Lei em vigor terá efeito
imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. § 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado
segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou.§ 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por ale, possa
exercer, como aqueles cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou condição pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem. § 3º Cha-
ma-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba recurso”. 175
Art. 5º [...] O inciso XLI decorre do direito à igualdade.
XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de Trata-se da necessidade de reconhecer que todos os
exceção; indivíduos possuem os mesmos direitos e as mesmas
proteções. Além disso, a lei não só não poderá ser apli-
A proibição dos tribunais de exceção, que decor- cada de modo discriminatório, como também deverá
re do direito à segurança, encontra-se prevista no inci- punir tais discriminações com base em qualquer con-
so XXXVII. Busca-se proibir que os tribunais ou juízos dição pessoal, como sexo, cor, origem, entre outras.
sejam criados especialmente para julgar determina-
dos crimes ou pessoas (nos casos concretos). Art. 5º [...]
Atenção! Tribunal de exceção não se confunde XLII - a prática do racismo constitui crime
com Justiças especializadas e foro privilegiado. inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de
reclusão, nos termos da lei;
Art. 5º [...]
XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a O inciso XLII trata da prática de racismo. Embora
organização que lhe der a lei, assegurados: a Constituição não tipifique o crime, ela manda crimi-
a) a plenitude de defesa; nalizar a conduta de racismo. Além disso, estabelece
b) o sigilo das votações; a não concessão de fiança ao racismo (inafiançável)
c) a soberania dos veredictos; e, ainda, que o ato pode ser julgado a qualquer tem-
d) a competência para o julgamento dos crimes po, independentemente da data em que foi cometido,
dolosos contra a vida; pois não se sujeita ao decurso do tempo (imprescrití-
vel). Vale lembrar, aqui, que a Lei nº 7.716, de 1989 é a
Outro desdobramento do direito à segurança é a Lei do Racismo e a Lei nº 12.288, de 2010, estabelece o
garantia do julgamento pelo Tribunal do Júri em Estatuto da Igualdade Racial.
crimes dolosos contra a vida, ou seja, homicídio (art.
121, CP), induzimento, instigação ou auxílio a suicídio Art. 5º [...]
ou à automutilação (art. 122, CP), infanticídio (art. 123, XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e
CP) e aborto (arts. 124 a 128, CP). Trata-se de direito do insuscetíveis de graça ou anistia a prática da
indivíduo de ser julgado por seus pares e, não, por um tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e
juízo de critério eminentemente técnico. drogas afins, o terrorismo e os definidos como
crimes hediondos, por eles respondendo os man-
Súmula Vinculante nº 45 A competência consti- dantes, os executores e os que, podendo evitá-los,
tucional do Tribunal do Júri prevalece sobre o foro se omitirem;
por prerrogativa de função estabelecido exclusiva-
mente pela Constituição Estadual. O inciso XLIII estabelece os crimes em que não
cabe fiança nem perdão, ou seja, graça, indulto e
Art. 5º [...] anistia. Embora o dispositivo não mencione o indulto,
XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defi- ele também não é cabível nos crimes elencados.
na, nem pena sem prévia cominação legal; Para lembrar dos crimes, memorize: T T T H
Os princípios da anterioridade e da reserva
Tortura
da lei penal (nullum crimen, nulla poena, sine lege)
Tráfico
encontram-se disciplinados no inciso XXXIX. Em sín-
Terrorismo
tese, pelo princípio da reserva legal, não há crime sem
Hediondos
lei que o defina, nem pena sem cominação legal. Já
pelo princípio da anterioridade, a lei que estabelece o
A graça e o indulto são modalidades de perdão
crime e a pena deve ser anterior a sua prática.
concedidas pelo Presidente da República, de modo
Art. 5º [...] a extinguir a punibilidade do agente. Enquanto, na
XL - a lei penal não retroagirá, salvo para bene- graça, o perdão é concedido de forma individual por
ficiar o réu; meio de decreto e mediante provocação do interes-
sado, no indulto, o perdão é coletivo e concedido por
O princípio da irretroatividade da lei penal decreto, o qual não possui destinatário certo e inde-
mais gravosa está disciplinado no inciso XL. Em ter- pende de provocação. O indulto pode ser total ou par-
mos de direito penal, a regra é a lei do tempo do cri- cial (comutação).
me, ou seja, será aplicada a lei do tempo da ação ou Já a anistia é o perdão concedido pelo Congresso
omissão. É possível, no entanto, aplicar lei posterior Nacional, por meio de lei, aos crimes e atos adminis-
caso esta seja mais benéfica ao réu. Exemplo: nova lei trativos. Na anistia, exclui-se o crime, rescinde-se a
deixa de considerar o fato como crime ou diminui a condenação e extingue-se totalmente a punibilidade.
sua pena.
Cabe destacar que a anistia pode ser concedida pelas
A retroatividade da lei penal mais benéfica é abso-
Assembleias Legislativas, porém se restringe aos atos
luta, isto é, ela desconstituirá, inclusive, condenações
administrativos, como, por exemplo, às transgres-
já transitadas em julgado. Exemplo: sujeito que cum-
sões disciplinares de servidores estaduais.
pre pena por um crime que lei posterior deixou de
É importante mencionar que esses crimes são
considerar respectivo ato como crime (caso de abolitio
prescritíveis, além de ser cabível a liberdade provi-
criminis) será colocado em liberdade.
sória. Ainda, a Lei nº 9.455, de 1997, trata dos crimes
Art. 5º [...] de tortura; a Lei nº 11.343, de 2006, dos crimes de dro-
XLI - a lei punirá qualquer discriminação atenta- gas; a Lei nº 13.260, de 2016, do terrorismo; a Lei nº
176 tória dos direitos e liberdades fundamentais; 8.072, de 1990 cuida dos crimes hediondos.
Art. 5º [...] O inciso XLVII, que decorre tanto do direito à vida
XLIV - constitui crime inafiançável e imprescri- como do direito à segurança, estabelece a proibição
tível a ação de grupos armados, civis ou milita- de determinadas penas. Assim, é vedada a pena de
res, contra a ordem constitucional e o Estado morte em tempos de paz. Isso porque, quando decla-
Democrático; rada a guerra pelo Presidente da República após a
autorização do Congresso Nacional, vigora a parte ati-
O inciso XLIV também traz hipóteses de não con- nente aos tempos de guerra9 do Código Penal Militar
cessão de fiança, cuja ação ou omissão pode ser julga- (CPM) e Código de Processo Penal Militar (CPPM), que
da a qualquer tempo, independentemente da data em estabelece, em determinados casos, a pena de morte.
que foi cometido. Tratam-se dos crimes desenvolvidos Exemplo: traição (art. 355, CPM)10.
pelas organizações criminosas contra a ordem consti-
tucional e democrática, como, por exemplo, no golpe Art. 5º [...]
de Estado. Cabe lembrar que a Lei nº 12.850, de 2013, XLVIII - a pena será cumprida em estabelecimen-
é que trata das organizações criminosas. tos distintos, de acordo com a natureza do deli-
to, a idade e o sexo do apenado;
Art. 5º [...]
XLV - nenhuma pena passará da pessoa do O inciso XLVIII traz um dos princípios relativos
condenado, podendo a obrigação de reparar
à execução da pena privativa de liberdade. Trata-
o dano e a decretação do perdimento de bens
-se da exigência de que o cumprimento da pena seja
ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores
feito de acordo com a natureza do crime, a idade e
e contra eles executadas, até o limite do valor do
o sexo do apenado. É por essa razão que os adoles-
patrimônio transferido;
centes ficam em estabelecimentos distintos dos adul-
O princípio da intranscendência ou personali- tos, assim como as mulheres permanecem em local
zação da pena está disciplinado no inciso XLV. Tra- diverso dos homens. Esse dispositivo decorre tanto do
ta-se da impossibilidade da pena ser aplicada a outra direito à segurança como do direito à vida.
pessoa que não o delinquente, uma vez que somente
o autor da infração penal pode ser responsabiliza- Art. 5º [...]
XLIX - é assegurado aos presos o respeito à inte-
do. Com a morte do condenado, declara-se extinta a
gridade física e moral;
punibilidade do crime. Assim, a pena não poderá ser
cumprida, por exemplo, pelos familiares ou herdeiros O inciso XLIX estabelece outro princípio relativo à
do autor do crime se este houver falecido. No entanto, execução da pena privativa de liberdade: a proteção
refere-se apenas à esfera penal, ou seja, a obrigação à integridade física e moral do preso. Busca-se, portan-
civil de reparar os danos pode ser estendida aos seus to, proteger os indivíduos da força do Estado. Trata-se,
sucessores até o limite do valor do patrimônio trans- também, de um dos desdobramentos do direito à segu-
ferido (herança). rança, por envolver garantias processuais, e do direito
Atenção! Multa é uma espécie de pena (art. 32, CP) à vida, por envolver a integridade do indivíduo.
e, portanto, não pode ser imposta aos herdeiros.
Art. 5º [...]
Art. 5º [...] L - às presidiárias serão asseguradas condições
XLVI - a lei regulará a individualização da pena para que possam permanecer com seus filhos
e adotará, entre outras, as seguintes: durante o período de amamentação;
a) privação ou restrição da liberdade;
b) perda de bens; O inciso L traz um princípio relativo à execução
c) multa; da pena privativa de liberdade. Trata-se do direito
d) prestação social alternativa; dos filhos de permanecerem com suas mães e serem
e) suspensão ou interdição de direitos; amamentados por elas durante a execução da pena.
Vale destacar que o art. 89, da Lei nº 7.210, de 1984
O inciso XLVI disciplina o princípio da individua- (Lei de Execução Penal), estabelece que a penitenciá-
lização da pena, uma vez que as penas devem ser ria de mulheres terá uma seção para gestantes e par-
previstas, impostas e executadas, em conformidade turientes e uma creche para abrigar crianças entre 6
com as condições pessoais de cada réu. Para tanto, a (seis) meses e 7 (sete) anos.
individualização deve operar-se em três fases distin- Art. 5º [...]
tas: legislativa, no momento em que elabora a norma; LI - nenhum brasileiro será extraditado, sal-
judicial, no momento da dosimetria da pena; executi- vo o naturalizado, em caso de crime comum,
va, na execução penal. praticado antes da naturalização, ou de com-
provado envolvimento em tráfico ilícito de
Art. 5º [...] entorpecentes e drogas afins, na forma da lei;
NOÇÕES DE DIREITO

XLVII - não haverá penas:


a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, A proibição de extradição de brasileiro encon-
nos termos do art. 84, XIX; tra-se disciplinada no inciso LI. Extradição é uma
b) de caráter perpétuo; medida de cooperação internacional em que um Esta-
c) de trabalhos forçados; do entrega a outro Estado, a pedido deste, indivíduo
d) de banimento; que deva responder a processo penal ou cumprir
e) cruéis; pena.
9 Art. 15 (CPM) O tempo de guerra, para os efeitos da aplicação da lei penal militar, começa com a declaração ou o reconhecimento do estado
de guerra, ou com o decreto de mobilização se nele estiver compreendido aquele reconhecimento; e termina quando ordenada a cessação das
hostilidades.
10 Art. 355 (CPM) Tomar o nacional armas contra o Brasil ou Estado aliado, ou prestar serviço nas forças armadas de nação em guerra contra o
Brasil: Pena - morte, grau máximo; reclusão, de vinte anos, grau mínimo. 177
De acordo com a Norma Constitucional, o Brasil O inciso LV traz o princípio do contraditório e da
não entrega brasileiro para responder processo penal ampla defesa. Tal princípio objetiva garantir a igual-
ou cumprir pena em outro país. dade das partes de uma relação processual, bem como
É possível, no entanto, a entrega de brasileiro a segurança processual. Assim sendo, a parte contrá-
naturalizado, ou seja, que tenha adquirido a naciona- ria necessita ser ouvida (audiatur et altera pars), pois
lidade brasileira por outro motivo que não vinculado não pode ser atribuída a uma parte vantagens de que
ao nascimento (filiação ou local do nascimento) desde a outra não disponha.
que seja por crime comum e que este tenha sido prati- Como consequência, as partes têm acesso a tudo
cado antes de sua naturalização e, portanto, quando o que consta dos autos, como, por exemplo, todas as
agente tinha outra nacionalidade. Também é possível provas produzidas pela outra parte, podendo mani-
a extradição de brasileiro naturalizado por comprova- festar-se ou não. Além disso, a defesa pode ser exerci-
do envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e da de forma ampla, como, por exemplo, é possível ao
drogas afins, na forma da lei. indivíduo optar pela autodefesa (quando permitido)
ou pela defesa técnica. Assim, a ampla defesa garan-
Art. 5º [...] te ao agente a possibilidade de se defender sem qual-
LII - não será concedida extradição de estrangei- quer impedimento aos seus direitos constitucionais.
ro por crime político ou de opinião;
Art. 5º [...]
No que se refere à extradição de estrangeiro, o
LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas
inciso LII veda a entrega por crime político ou de
obtidas por meios ilícitos;
opinião. Considera-se um crime como político se ele
envolver ações ou omissões que prejudicam os inte-
A proibição de prova ilícita encontra-se estabele-
resses do país, do governo ou do sistema político.
cida no inciso LVI. As provas obtidas de forma ilícita
O crime político pode ser de dois tipos: próprio e
são absolutamente nulas, não podendo gerar qual-
impróprio. Crime político próprio é aquele capaz de
quer efeito no convencimento do juiz.
ameaçar a ordem institucional ou o sistema vigente.
Já o crime político impróprio é aquele crime comum
z Prova ilícita é aquela que viola direito material.
quando conexo ao crime político, de modo a ter
Exemplos: confissão mediante tortura e intercep-
natureza comum, mas conotação político-ideológica,
tação telefônica sem autorização judicial;
como, por exemplo, a extorsão mediante sequestro
z Prova ilegítima é aquela que viola direito proces-
para obter fundos para determinado grupo político.
sual. Exemplo: confissão do acusado em juízo sem
Por fim, crime de opinião é aquele que se configura a presença do advogado.
com o abuso da liberdade de expressão ou de pensa-
mento, como, por exemplo, nos casos dos crimes con-
O Supremo Tribunal Federal, adequadamente,
tra a honra.
adotou, por maioria de votos, a denominada teoria
fruits of poisonous tree (frutos da árvore envenenada).
Art. 5º [...]
São nulas tanto as provas produzidas de forma ilícita
LIII - ninguém será processado nem sentencia-
como também as derivadas (surgidas em decorrência
do senão pela autoridade competente;
da prova ilícita), ainda que obtidas de forma regular.
O princípio do juiz natural ou do juiz competen- Há contaminação do vício original, com exclusão
te encontra-se disciplinado no inciso LIII. Trata-se da da prova ilícita, bem como de suas derivações.
garantia de que nenhuma pessoa será processada ou
julgada por uma autoridade especialmente designada Art. 5º [...]
para o caso. Deste modo, as regras de competência LVII - ninguém será considerado culpado até o trân-
sito em julgado de sentença penal condenatória;
devem estar reestabelecidas no ordenamento jurídi-
co, de forma a assegurar que o julgamento seja reali-
zado por um juiz independente e imparcial. O inciso LVII traz o princípio da presunção de ino-
cência ou da presunção de culpabilidade. Assim, antes
Art. 5º [...] da condenação definitiva em um processo criminal,
LIV - ninguém será privado da liberdade ou de as pessoas ainda não são consideradas culpadas. Isso
seus bens sem o devido processo legal; ocorre porque quem possui o ônus de provar a culpa é
o Ministério Público, como órgão titular da ação penal
O princípio do devido processo legal está disci- pública e da vítima, no caso de ação penal privada. Des-
plinado no inciso LIV. Trata-se do desdobramento do te modo, não compete ao acusado provar sua inocência,
direito à segurança, de modo a garantir que os indi- mas ao Ministério Público ou à vítima comprovar a res-
víduos não sejam presos nem percam seus bens por ponsabilidade do réu até a última instância.
atuação arbitrária do poder do Estado. Assim sendo,
deverá existir um processo com todas as etapas pre- Art. 5º [...]
vistas em lei e com todas as garantias constitucionais. LVIII - o civilmente identificado não será subme-
Se tais regras não forem observadas, o processo é pas- tido a identificação criminal, salvo nas hipóteses
sível de nulidade. previstas em lei;

Art. 5º [...] A proibição da identificação criminal da pes-


LV - aos litigantes, em processo judicial ou admi- soa já civilmente identificada encontra-se no inciso
nistrativo, e aos acusados em geral são assegu- LVIII. Entende-se, por identificação, o processo utili-
rados o contraditório e ampla defesa, com os zado para se estabelecer a identidade de pessoas ou
178 meios e recursos a ela inerentes; coisas.
Assim, se o indivíduo apresenta documento de Pelo inciso LXI, depreende-se que a liberdade é a
identidade civil válido e sem qualquer suspeita funda- regra e a prisão é a exceção. Por essa razão, o dispo-
da de falsidade, ele não poderá ser identificado crimi- sitivo fixa as hipóteses em que o indivíduo será preso.
nalmente, ou seja, por meio do processo datiloscópico. Assim, a CF, de 1988, protege os indivíduos da força do
O objetivo do dispositivo é evitar o constrangimento Estado, uma vez que veda a prisão arbitrária ou abu-
pessoal de pessoas já identificadas civilmente. siva e estabelece que a restrição da liberdade só será
Cumpre esclarecer que a Lei nº 12.037, de 2009, dis- legítima quando respeitados os parâmetros legais.
ciplina o inciso e estabelece quais documentos servem Trata-se de um dos desdobramentos do direito à segu-
para a identificação civil. Ainda, a regra da não identi- rança, por envolver garantias processuais.
ficação criminal não é absoluta e abarca exceções. No Em termos de processo penal, existem dois tipos
entanto, tais exceções devem estar disciplinadas em lei11. de prisão. A prisão pena que é aquela decorrente de
sentença penal condenatória transitada em julgado,
Art. 5º [...] ou seja, o processo foi finalizado, a pessoa condena-
LIX - será admitida ação privada nos crimes de da e não cabe mais recurso, ingressando na fase de
ação pública, se esta não for intentada no prazo execução penal. Além disso, há a prisão processual,
legal; que tem função acautelatória e é aquela que ocorre
durante a fase de investigação, instrução e antes do
O inciso LIX traz a possibilidade de ação penal pri- julgamento definitivo, como a prisão em flagrante, a
vada subsidiária à ação penal pública. Assim, nos prisão temporária e a prisão preventiva.
casos em que o representante do Ministério Público Portanto, durante o curso do processo, o indiví-
não ofereceu a denúncia, não requereu diligências ou duo somente será preso se estiver em flagrante delito
não ordenou o arquivamento do Inquérito Policial, no (estiver cometendo o delito, acabou de cometê-lo, foi
prazo legal, admite-se o oferecimento da queixa crime. perseguido logo após ou foi encontrado logo depois,
A CF, de 1988, não estabeleceu hipótese de restri- com algo que faça presumir ser o autor da infração)12
ção quanto à aplicação da ação penal privada subsi- ou se for determinado pelo juiz nos demais casos das
diária da pública nos processos relativos aos delitos prisões acautelatórias.
previstos na legislação especial, como, por exemplo, Observa-se, ainda, que o inciso traz exceções, quais
nas ações em que se apuram crimes eleitorais. sejam: transgressão militar ou crime propriamen-
te militar, definido em lei. Quanto às transgressões,
Art. 5º [...] estas estão previstas nos regulamentos disciplinares,
LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos tanto das Forças Armadas como das Forças Auxiliares.
atos processuais quando a defesa da intimida- A elas é aplicado procedimento de apuração especí-
de ou o interesse social o exigirem; fico, também garantindo o contraditório e a ampla
defesa. Já os crimes militares encontram-se previstos
Como regra, todo processo é público, ou seja, é no Código Penal Militar, porém esse diploma não defi-
permitido o acesso aos atos. No entanto, em alguns ne quais são os crimes propriamente militares.
casos, tais como ações de divórcio, guarda, entre
outros, essa publicidade é restrita às partes e a seus Art. 5º [...]
procuradores, com o objetivo de resguardar a intimi- LXII - a prisão de qualquer pessoa e o local onde se
dade dos envolvidos. Também é possível restringir a encontre serão comunicados imediatamente ao
publicidade quando o interesse da sociedade exigir, juiz competente e à família do preso ou à pessoa
como, por exemplo, em determinados crimes ou atos, por ele indicada;
envolvendo crianças e adolescentes. É importante
mencionar, no entanto, que a restrição da publicidade Como a prisão em flagrante é a única modalida-
dos atos processuais não poderá prejudicar o interes- de de prisão acautelatória que não conta com ordem
se público à informação. judicial prévia, visto que é imposta no momento em
que a infração penal é praticada ou em momentos
após, faz-se necessário sua comunicação imediata ao
Importante! juiz, para que este possa efetuar o controle de legali-
dade da prisão.
A restrição da publicidade é popularmente
A CF, de 1988, não fixa o prazo da comunicação,
conhecida como segredo de Justiça.
porém o art. 306, do Código de Processo Penal, estabe-
lece que a comunicação será imediata e os autos reme-
Art. 5º [...] tidos em até 24 (vinte e quatro) horas após a prisão.
LXI - ninguém será preso senão em flagrante Além da comunicação ao juiz, a CF, de 1988, prevê
delito ou por ordem escrita e fundamentada de a comunicação à família do preso ou pessoa por ele
autoridade judiciária competente, salvo nos casos indicada, com o escopo não só de dar notícia de seu
NOÇÕES DE DIREITO

de transgressão militar ou crime propriamen- paradeiro, como também de prestar-lhe a assistência


te militar, definidos em lei; devida.
11 Art. 3º (Lei nº 12.037/2009) Embora apresentado documento de identificação, poderá ocorrer identificação criminal quando: I – o docu-
mento apresentar rasura ou tiver indício de falsificação; II – o documento apresentado for insuficiente para identificar cabalmente o indiciado;
III – o indiciado portar documentos de identidade distintos, com informações conflitantes entre si; IV – a identificação criminal for essencial às
investigações policiais, segundo despacho da autoridade judiciária competente, que decidirá de ofício ou mediante representação da autoridade
policial, do Ministério Público ou da defesa; V – constar de registros policiais o uso de outros nomes ou diferentes qualificações; VI – o estado
de conservação ou a distância temporal ou da localidade da expedição do documento apresentado impossibilite a completa identificação dos
caracteres essenciais. Parágrafo único. As cópias dos documentos apresentados deverão ser juntadas aos autos do inquérito, ou outra forma
de investigação, ainda que consideradas insuficientes para identificar o indiciado.
12 Art. 302 (CPP) Considera-se em flagrante delito quem: I -está cometendo a infração penal; II - acaba de cometê-la; III - é perseguido, logo
após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser autor da infração; IV - é encontrado, logo depois,
com instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele autor da infração. 179
Art. 5º [...] O inciso LXVII trata da prisão civil por dívida.
LXIII - o preso será informado de seus direitos, Considera-se prisão civil a medida privativa da liber-
entre os quais o de permanecer calado, sendo- dade que não possui caráter de pena e que tem como
-lhe assegurada a assistência da família e de finalidade compelir o devedor a satisfazer uma obri-
advogado; gação. Atualmente, a única hipótese de prisão por
dívidas é a de caráter alimentar, ou seja, o indivíduo
Considerando que a liberdade é a regra e a sua deixou de pagar a pensão alimentícia devida.
restrição só é legítima quando efetuada nos estritos Por se tratar de uma norma constitucional de efi-
limites legais, o inciso LXIII estabelece que o preso cácia contida, a prisão do depositário infiel, prevista
em flagrante deve ser comunicado dos seus direitos. na CF/88, embora constitucional, tornou-se ilícita em
Entre esses direitos, encontra-se o de permanecer em razão das seguintes Súmulas:
silêncio.
O silêncio do preso é apenas silêncio e não poderá Súmula Vinculante nº 25 (STF) É ilícita a prisão
ser utilizado de forma contrária. O acusado não é obri- civil de depositário infiel, qualquer que seja a moda-
lidade do depósito.
gado a produzir provas contra si mesmo. Ao se calar,
Súmula nº 419 (STJ) Descabe a prisão civil do depo-
esse silêncio não pode ser considerado como prova. sitário judicial infiel.
Além disso, o dispositivo também estabelece a
assistência da família e do advogado, garantindo tan- Art. 5º [...]
to o apoio pessoal como a assistência técnica que lhe LXVIII - conceder-se-á habeas-corpus sempre que
é devida. alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer
violência ou coação em sua liberdade de loco-
Art. 5º [...] moção, por ilegalidade ou abuso de poder;
LXIV - o preso tem direito à identificação dos
responsáveis por sua prisão ou por seu interro- O inciso LXVIII traz um dos remédios constitucio-
gatório policial; nais: o habeas corpus (HC). Remédios constitucio-
nais são as ações constitucionais previstas na própria
O inciso LXIV também decorre do direito à segu- Constituição com a finalidade de reclamar o restabele-
rança, uma vez que busca prevenir a prisão arbitrária. cimento de direitos fundamentais violados.
Assim, é assegurada ao indivíduo a identificação dos O HC é uma dessas ações constitucionais, sendo
responsáveis por sua prisão e interrogatório, uma utilizado para a tutela da liberdade de locomoção
vez que lhe é garantido questionar a competência ou sempre que alguém estiver sofrendo ou na iminência
atribuição dessas autoridades em conformidade com de sofrer constrangimento ilegal do seu direito de ir
a norma vigente e os princípios constitucionais e de e vir. Tal ação pode ser utilizada tanto em questões
direitos humanos. penais como em questões civis desde que haja cons-
trangimento ilegal efetivo ou potencial ao direito de ir
e vir. Exemplo: prisão por débitos alimentares.
Art. 5º [...]
LXV - a prisão ilegal será imediatamente relaxa-
Existem três modalidades de HC, quais sejam:
da pela autoridade judiciária;
z Habeas Corpus liberatório ou repressivo, em
que a ordem é concedida para fazer cessar o cons-
O inciso LXV traz mais um dos desdobramentos
trangimento à liberdade de locomoção quando já
do direito à segurança ao prever o relaxamento da
existente;
prisão ilegal. Assim, se o magistrado constatar que a
z Habeas Corpus preventivo, em que a ordem é
prisão foi ilegal, ele deverá colocar o preso em liber- concedida quando houver ameaça ao direito de ir
dade de forma imediata e sem condições. Exemplo: o e vir, de modo a impedir que uma pessoa venha a
indivíduo foi preso em flagrante, porém não se enqua- ter restringido seu direito;
drava nas hipóteses de flagrância do art. 302, do CPP. z Habeas Corpus de ofício, em que a ordem é
Relaxa-se prisão ilegal e revoga-se as demais pri- concedida pela autoridade judicial sem pedido,
sões cautelares, uma vez que estas necessitam de quando esta verificar, no curso de um proces-
requisitos para serem decretadas e não estão estes so, que alguém está sofrendo ou na iminência de
presentes. O magistrado deve revogar a prisão ou sofrer constrangimento ilegal em sua liberdade de
substituí-la por medidas cautelares diversas. locomoção.

Art. 5º [...] Não cabe HC nos seguintes casos:


LXVI - ninguém será levado à prisão ou nela
mantido, quando a lei admitir a liberdade provi- z Perda de patente;
sória, com ou sem fiança; z Perda de cargo;
z Pena de multa;
O inciso LXVI reforça que a regra é a liberdade e z Bens apreendidos (Obs.: no caso do passaporte, o
sua supressão é apenas medida excepcional e somen- STJ diz que caberá o HC. Já o STF diz que não cabe);
te deve ser decretada nos casos em que a norma z Pena extinta.
autorizar.
De acordo com o § 2º do art. 142, não caberá habeas
Art. 5º [...] corpus em relação a punições disciplinares militares.
LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo Além dos militares das Forças Armadas, essa dispo-
a do responsável pelo inadimplemento voluntário sição é estendida aos membros das Polícias Militares
e inescusável de obrigação alimentícia e a do e dos Corpos de Bombeiros Militares (art. 42, CF, de
180 depositário infiel; 1988).
No entanto, é cabível o HC se a sanção militar tiver Trata-se de inovação da CF, de 1988, para a tutela
sido aplicada de forma ilegal por autoridade incompe- de direitos coletivos líquidos e certos, também não
tente ou em desacordo com as formalidades legais ou amparados por HC ou habeas data, quando o respon-
além dos limites fixados em lei. sável pela ilegalidade for autoridade pública ou agente
de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder
Art. 5º [...] Público.
LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para O MS coletivo segue as mesmas regras do individual.
proteger direito líquido e certo, não amparado
Para partidos políticos, exige-se representação no
por habeas-corpus ou habeas-data, quando o
responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for Congresso Nacional (pelo menos, um deputado ou
autoridade pública ou agente de pessoa jurídi- senador do partido). Para associação, exige-se que ela
ca no exercício de atribuições do Poder Público; tenha sido constituída há, pelo menos, um ano.

O inciso LXIX traz outro remédio constitucional: o Art. 5º [...]


mandado de segurança (MS). Se o HC tutela a liber- LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sem-
dade de locomoção e o habeas data, o acesso e a retifi- pre que a falta de norma regulamentadora tor-
cação de dados, o MS é cabível para os demais direitos, ne inviável o exercício dos direitos e liberdades
sendo que seu objetivo e alcance é feito por exclusão. constitucionais e das prerrogativas inerentes à
Cabe destacar que a lei que disciplina o MS é a Lei nº nacionalidade, à soberania e à cidadania;
12.016, de 2009.
O MS é cabível quando houver direito líquido e O inciso LXXI traz o mandado de injunção (MI),
certo, ou seja, direito que pode ser comprovado de ação constitucional para a tutela dos direitos previs-
plano e que se apresenta de forma manifesta. Deste tos na CF, de 1988, inerentes à nacionalidade, à sobe-
modo, a prova deve ser toda pré-constituída, sendo rania e à cidadania, os quais não podem ser exercidos
que os documentos comprobatórios do direito devem em razão da falta de norma regulamentadora. Portan-
acompanhar a própria petição inicial, salvo se estes to, são pressupostos para o MI:
estiverem em repartição ou em poder de autoridade
que se recuse a fornecê-los por certidão. Consequen-
z Existência de um direito constitucionalmente pre-
temente, no MS, não há fase instrutória
O MS pode ser de duas espécies: visto com relação à nacionalidade, soberania e
cidadania;
z Mandado de segurança repressivo, cuja ordem z A não autoaplicabilidade desse direito;
de segurança objetiva cessar constrangimento ile- z Falta de norma infraconstitucional regulamenta-
gal já existente; dora que inviabilize o exercício do direito previsto
z Mandado de segurança preventivo, cuja ordem na CF/88.
de segurança busca pôr fim à iminência de cons-
trangimento ilegal a direito líquido e certo. Cabe lembrar que a lei que disciplina o MI é a Lei
nº 13.300, de 2016.
Não cabe MS contra: A omissão normativa decorrente da não elabora-
ção de ato legislativo ou administrativo permite ao
z Ato do qual caiba recurso com efeito suspensivo, indivíduo, ao Ministério Público e à Defensoria públi-
independentemente de caução; ca ingressarem com o MI.
z Decisão judicial da qual caiba recurso com efeito Atualmente, adota-se a Teoria Concretista, ou
suspensivo; seja, o magistrado resolve o caso concreto (sentença
z Decisão judicial transitada em julgado. normativa) e não mais comunica o Poder Legislativo
para suprir a omissão.
Por fim, seu prazo de impetração é de 120 (cento e
vinte) dias, contados da ciência do interessado do ato Art. 5º [...]
impugnado. LXXII - conceder-se-á habeas-data:
a) para assegurar o conhecimento de informações
Art. 5º [...] relativas à pessoa do impetrante, constantes de
LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser registros ou bancos de dados de entidades governa-
impetrado por: mentais ou de caráter público;
a) partido político com representação no Con- b) para a retificação de dados, quando não se
gresso Nacional; prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou
b) organização sindical, entidade de classe ou administrativo;
associação legalmente constituída e em funciona-
mento há pelo menos um ano, em defesa dos inte- O habeas data (HD) é o remédio constitucional
resses de seus membros ou associados;
NOÇÕES DE DIREITO

para a tutela do direito de informação e de intimida-


de do indivíduo, de modo a garantir ao impetrante
Do mesmo modo que o MS individual, é possível
o conhecimento de informações pessoais constantes
ingressar com mandado de segurança coletivo nos
de banco de dados de entidades governamentais ou
casos de direitos coletivos, assim entendidos como
os transindividuais, cuja natureza for indivisível, ou abertas ao público, bem como o direito de retificação
seja, de que sejam titulares grupos ou categorias de dessas informações quando errôneas.
pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por Cumpre salientar que a lei que disciplina o HD é
uma relação jurídica básica, e direitos individuais a Lei nº 9.507, de 1997. Por essa lei, o HD também é
homogêneos, assim entendidos como aqueles decor- cabível para anotação nos assentamentos do interessa-
rentes de origem comum e de atividade ou situação do, de contestação ou explicação sobre dado verdadeiro
específica da totalidade ou de parte dos associados ou mas justificável e que esteja sob pendência judicial ou
membros do impetrante. amigável, em conformidade com o inciso III, do art. 7º. 181
Ademais, a informação, a retificação ou a anotação A responsabilidade civil do Estado será estudada
foram negadas pela Administração Pública (entidades posteriormente.
governamentais da Administração direta ou indireta)
ou particular (pessoas jurídicas de direito privado) Art. 5º [...]
que mantenham banco de dados aberto ao público. LXXVI - são gratuitos para os reconhecidamente
O HD pode ser impetrado por qualquer pessoa, pobres, na forma da lei:
física ou jurídica, brasileira ou estrangeira, desde que a) o registro civil de nascimento;
as informações solicitadas digam respeito ao próprio b) a certidão de óbito;
indivíduo. Além disso, o HD não é instrumento jurídi-
co adequado para se ter acesso aos autos do processo
administrativo disciplinar (PAD). Ao garantir a gratuidade das certidões de nasci-
mento e óbito, a CF, de 1988, assegura que as pessoas
Art. 5º [...] possam ser registradas e possam usufruir dos direitos
LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para personalíssimos decorrentes, como, por exemplo, os
propor ação popular que vise a anular ato lesi- direitos de possuir um nome, de poder ser matricula-
vo ao patrimônio público ou de entidade de que o
do em uma escola, entre outros. Assim, a CF/88 garante
Estado participe, à moralidade administrativa,
ao meio ambiente e ao patrimônio histórico que a falta de recursos financeiros não seja considera-
e cultural, ficando o autor, salvo comprovada da um obstáculo para o exercício de tais direitos.
má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da
sucumbência; Art. 5º [...]
LXXVII - são gratuitas as ações de habeas-cor-
O inciso LXXIII traz outro remédio constitucional: pus e habeas-data, e, na forma da lei, os atos
a ação popular. Trata-se da ação constitucional colo-
necessários ao exercício da cidadania.
cada à disposição de qualquer cidadão para fiscalizar
o Poder Público. Cabe esclarecer que cidadão é aque-
le que possui capacidade eleitoral ativa, ou seja, que O inciso LXXVII trata da gratuidade dos remédios
pode votar. Portanto, a ação popular é cabível para os constitucionais de habeas corpus e habeas data. A
maiores de 16 (dezesseis) anos se eleitores. finalidade do dispositivo é garantir o acesso de todas
Atenção! Não há necessidade de os menores de 18 as pessoas a esses remédios constitucionais.
(dezoito) anos serem assistidos, pois consiste em um
direito político. Ademais, quanto aos estrangeiros, é Art. 5º [...]
possível o ajuizamento da ação popular pelo portu- LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e administrati-
guês em situação de equiparação com brasileiro. vo, são assegurados a razoável duração do pro-
Em regra, a ação popular é gratuita. O motivo da cesso e os meios que garantam a celeridade de sua
gratuidade é permitir o acesso ao Poder Judiciário de tramitação.
todos os cidadãos para a defesa dos atos lesivos do
Poder Público. No entanto, o inciso LXXIII estabele- O último inciso do art. 5º trata do princípio da
ce uma exceção: haverá custas e sucumbência caso
celeridade processual. Desta forma, a CF, de 1988,
o autor ingresse com a ação com má-fé e esta seja
comprovada. assegura a todos, quer no âmbito judicial, quer no
âmbito administrativo, a duração razoável do proces-
so, bem como dos meios que garantam a celeridade de
Importante! sua tramitação.

A má-fé deve ser sempre provada, enquanto a Art. 5º [...]


boa-fé é sempre presumida. § 1º As normas definidoras dos direitos e garantias
fundamentais têm aplicação imediata.
Art. 5º [...]
LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica De acordo com o § 1º, os direitos e garantias indi-
integral e gratuita aos que comprovarem insufi- viduais e coletivos previstos no art. 5º estão prontos
ciência de recursos; para ser aplicados e exigidos, uma vez que não depen-
dem da existência de qualquer outra norma para pro-
O inciso LXXIV garante o acesso à Justiça a todas duzir efeitos.
as pessoas. Assim sendo, o Estado brasileiro deve- Atenção! Não confundir aplicação imediata com a
rá prestar a assistência jurídica de forma integral e
aplicabilidade da norma constitucional (norma cons-
gratuita àqueles que comprovarem insuficiência de
titucional de eficácia plena, contida e limitada).
recursos financeiros. Esse direito instrumentaliza-se
por meio da Defensoria Pública ou por meio do convê- Art. 5º [...]
nio com a Defensoria Pública/Ordem dos Advogados
§ 2º Os direitos e garantias expressos nesta Consti-
do Brasil através da nomeação de advogado dativo.
tuição não excluem outros decorrentes do regi-
me e dos princípios por ela adotados, ou dos
Art. 5º [...]
LXXV - o Estado indenizará o condenado por erro tratados internacionais em que a República Federa-
judiciário, assim como o que ficar preso além do tiva do Brasil seja parte.
tempo fixado na sentença;
O § 2º estabelece que o rol de direitos e deveres
O inciso LXXV visa evitar abusos por parte do disposto no art. 5º é exemplificativo e não taxativo.
Poder Público ao prever a responsabilidade civil do Portanto, podem existir outros direitos em outros dis-
Estado nos casos de erro do Poder Judiciário e prisão positivos da CF, de 1988, em outros diplomas legais,
182 por tempo além do fixado em sentença. em tratados internacionais, entre outros.
Art. 5º [...] Naquele primeiro momento, foram reconhecidas
§ 3º Os tratados e convenções internacionais as liberdades dos indivíduos, ou seja, seus direitos
sobre direitos humanos que forem aprovados, civis e individuais, que abrangem todas as pessoas,
em cada Casa do Congresso Nacional, em dois sem qualquer distinção. Também foram reconhecidos
turnos, por três quintos dos votos dos respec- os direitos de participação popular na administração
tivos membros, serão equivalentes às emendas
do Estado, isto é, os direitos políticos.
constitucionais.
Também naquele momento, esses direitos de cida-
O § 3º estabelece as regras para a incorporação dania eram bem limitados, pois estavam restritos a
do tratado internacional que verse sobre direi- quem detinha a qualidade de cidadão e, por isso, atin-
tos humanos. Via de regra, o tratado internacional, giam somente os eleitores. As mulheres, por exem-
após a sua celebração e assinatura pelo Presidente da plo, não eram consideradas cidadãs, assim como os
República, passa por referendo parlamentar para sua estrangeiros; consequentemente, esses grupos não
incorporação. Assim, o Poder Legislativo o aprova, possuíam direitos políticos, embora fossem titulares
por meio de um Decreto Legislativo, e o remete ao Pre- dos direitos civis mínimos garantidos pelo Estado.
sidente da República para sua ratificação, por meio de A esses direitos, dá-se o nome de direitos de pri-
Decreto. O Decreto do Executivo é, por sua vez, pro- meira geração/dimensão, por serem os primeiros
mulgado e publicado em Diário Oficial da União e pas- direitos tutelados pelo Estado.
sa a ter força de lei. Os segundos direitos reconhecidos foram aqueles
No caso de tratado sobre direitos humanos, a CF, voltados a estabelecer a igualdade entre os indivíduos.
de 1988, disciplinou a possibilidade de sua incorpo- Depois do olhar inicial para o indivíduo, reconhecen-
ração, seguindo os mesmos procedimentos cabíveis do suas liberdades, o Estado passou a visualizá-lo
para as Emendas Constitucionais, ou seja, dois turnos como membro de uma sociedade. Assim, foi possível
em cada Casa do Congresso Nacional e aprovação por reconhecer as diferenças entre as pessoas. Como con-
3
/5 dos votos. Deste modo, o tratado passa a ser incor- sequência, passou-se a exigir um papel mais ativo do
porado, no ordenamento jurídico, com força de nor- Estado para garantir direitos de oportunidade iguais
ma constitucional. aos indivíduos, por meio de políticas públicas, como,
O § 3º, do art. 5º, da CF, de 1988, foi incluído pela por exemplo, acesso à educação e à saúde, voto femi-
Emenda Constitucional nº 45, de 2004. Portanto, apenas nino, regulamentação das regras trabalhistas e previ-
os tratados incorporados após essa Emenda e seguindo denciárias, entre outros. Por conseguinte, passou-se a
os parâmetros do dispositivo possuem força de norma exigir uma ação e não mais uma omissão do Estado14.
constitucional. Para os incorporados anteriormente, Esses direitos são chamados de direitos de segun-
caso se refiram aos direitos humanos, são considerados da geração/dimensão, estando ligados ao poder de
supralegais. Para todos os demais tratados, força legal. exigir do Estado a consecução dos direitos econô-
micos, sociais e culturais.
Art. 5º [...] Por fim, os terceiros direitos reconhecidos encon-
§ 4º O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal
tram-se atrelados ao ideal de fraternidade, por dize-
Penal Internacional a cuja criação tenha mani-
rem respeito a toda coletividade. O olhar é mais
festado adesão.
amplo, visualizando direitos que transcendem os
indivíduos, ou seja, os direitos transindividuais. Tais
Esse parágrafo também foi incluído pela Emenda
direitos decorrem das seguintes constatações:
Constitucional nº 45, de 2004. O Tribunal Penal Inter-
nacional (TPI) encontra-se disciplinado no Estatuto
de Roma e tem como finalidade julgar os crimes de z Existência de vínculo entre os seres humanos e o
genocídio, crimes de guerra, crimes contra a humani- planeta Terra;
dade e crimes de agressão. z Os recursos são finitos e não infinitos;
Atenção! Não confundir o TPI com a Corte Inter- z Há divisão desigual de riquezas;
nacional de Justiça, também conhecida como Tribu- z Existem ameaças cada vez mais concretas à sobre-
nal de Haia, que é o órgão jurídico da Organização das vivência da espécie humana.
Nações Unidas.
A esses direitos, dá-se o nome de direitos de tercei-
DIREITOS COLETIVOS ra geração/dimensão. Tratam-se dos direitos coletivos.

O direito é uma construção social que não surgiu


de uma só vez; ele é fruto do desenvolvimento históri- Importante!
co da sociedade. Assim, se, no início, os seres humanos Usa-se tanto a expressão “geração” quanto “di-
não tinham direitos, com o decorrer dos tempos, aos mensão”. Trata-se de uma classificação elabora-
NOÇÕES DE DIREITO

poucos, os direitos começaram a ser firmados.


da por Karel Vasak para classificar os direitos em
Os primeiros direitos reconhecidos foram aqueles
categorias, conforme o contexto histórico em ue
ligados ao próprio indivíduo, como, por exemplo, o
direito de viver, de ter bens, de se locomover. Era um surgiram. Didaticamente, o jurista atrelou as três
primeiro olhar do Estado para o indivíduo, um olhar categorias dos direitos aos princípios da Revolu-
que reconheceu que os seres humanos possuíam direi- ção Francesa: liberdade, igualdade e fraternidade.
tos mínimos e que o poder do Estado não é ilimitado. Assim, os direitos da primeira geração/dimensão
Tratou-se, portanto, da defesa do indivíduo diante do são os direitos de liberdade; os da segunda, de
abuso do poder do Estado13. igualdade e os da terceira, de fraternidade.
13  São chamadas de liberdades públicas negativas ou direitos negativos.
14  São chamadas de liberdades positivas ou prestacionais. 183
Os direitos coletivos dividem-se em três categorias: Os direitos sociais encontram-se estabelecidos no
art. 6º, da CF, de 1988. Tratam-se dos direitos ligados
à concepção de que é dever do Estado garantir igual-
Direitos difusos dade de oportunidades a todos através de políticas
públicas. O dispositivo assegura alguns dos direitos
denominados de segunda geração/dimensão, tais
como o direito à educação, trazendo a ideia de que
DIREITOS COLETIVOS LATO Direitos coletivos stricto
a instrução é o meio adequado para que o indivíduo
SENSU sensu
possa exercer outros direitos, tais como a liberdade de
expressão, a liberdade de associação, os direitos polí-
ticos, entre outros.
Direitos individuais Usa-se tanto o termo “geração” como “dimensão”.
homogênios Trata-se de uma classificação elaborada por Karel
Vasak para classificar os direitos em categorias confor-
Em síntese, os direitos difusos são os direitos me o contexto histórico que surgiram. Didaticamente,
constituídos por interesses indivisíveis, que podem o jurista atrelou as três categorias dos direitos huma-
nos aos princípios da Revolução Francesa: liberdade,
abranger um número indeterminado de pessoas com
igualdade e fraternidade. Assim, os direitos de primei-
sujeitos indeterminados e indetermináveis. São exem-
ra geração/dimensão são os direitos de liberdade; os de
plos: o direito ao meio ambiente ecologicamente equi- segunda, de igualdade; os de terceira, de fraternidade.
librado, o direito à autodeterminação dos povos, o Garante, também, o acesso dos indivíduos a um
direito à comunicação, a vedação à propaganda enga- sistema de saúde, além da assistência e proteção eco-
nosa, entre outros. nômica em determinados momentos, tais como incapa-
Em contrapartida, o direito coletivo (em sentido cidade temporária ou definitiva, velhice, entre outros.
estrito) são aqueles interesses indivisíveis que abran- Trata-se, pois, de um programa de proteção social para
gem um grupo ou uma categoria determinada de pes- amparar as pessoas em determinados eventos.
soas unidas pelo mesmo interesse jurídico, como, por Do art. 6º é que advém a ideia de reserva do pos-
exemplo, a proteção de determinados grupos sociais sível, pois o Estado deve garantir os direitos em con-
tidos como vulneráveis, os direitos à prestação de ser- formidade com seus recursos. Esse dispositivo traz a
viços públicos de qualidade, tais como os de energia ideia de mínimo existencial, ou seja, de um padrão
elétrica, água e saneamento básico. mínimo de condições materiais aceitáveis para uma
Por fim, os direitos individuais homogêneos são os vida com dignidade.
Neste sentido, o Estado deve assegurar que a quan-
interesses divisíveis e que têm como titulares pessoas
tidade de alimento seja suficiente para o indivíduo e
determinadas. Tratam-se dos direitos que, embora
sua família, que ele possa se vestir, ter moradia, acesso
individuais, ou seja, a título pessoal, são conduzidos
aos serviços médicos e sociais e segurança em casos de
coletivamente perante a Justiça em função da sua ori- imprevistos, tais como desemprego, incapacidade, velhi-
gem comum (proteção coletiva), como, por exemplo, ce, entre outros. Além disso, devem-se assegurar os cui-
os reajustes dos contratos de adesão que vinculam dados e assistência devidos à maternidade e à infância.
diversas pessoas. O referido artigo assegura, ainda, o direito ao tra-
Os direitos difusos possuem respaldo legal no inci- balho. Para tanto, o art. 7º estipula as condições neces-
so I, do parágrafo único, do art. 81, do Código de Defe- sárias para a realização do trabalho e adota medidas
sa do Consumidor (CDC). Vejamos: de proteção ao trabalhador nos seguintes termos:

Art. 81 A defesa dos interesses e direitos dos consu- Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos
e rurais, além de outros que visem à melhoria de
midores e das vítimas poderá ser exercida em juízo
sua condição social:
individualmente, ou a título coletivo.
Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida
Observa-se que esse dispositivo trata tanto dos
quando se tratar de:
trabalhadores urbanos como dos rurais e funda-se no
I - interesses ou direitos difusos, assim enten-
princípio da igualdade. Por essa razão, a CF/88 veda,
didos, para efeitos deste código, os transindi-
por exemplo, a diferenciação de salários, o exercício
viduais, de natureza indivisível, de que sejam
de funções e critério de admissão que tenham como
titulares pessoas indeterminadas e ligadas
base a idade, o sexo ou o estado civil, entre outros.
por circunstâncias de fato; [...]
Vejamos as proteções trazidas nele:
DIREITOS SOCIAIS Art. 7º [...]
I - relação de emprego protegida contra despedida
Os direitos sociais estão disciplinados nos arts. arbitrária ou sem justa causa, nos termos de lei
6º a 11, da CF, de 1988. Esses direitos se dividem em complementar, que preverá indenização compen-
direitos sociais propriamente ditos (art. 6º), direitos satória, dentre outros direitos;
trabalhistas (art. 7º) e direitos sindicais (art. 8º a 11).
Vejamos cada um deles: A CF, de 1988, do mesmo modo que estipula as
condições necessárias para a realização do trabalho,
Art. 6º São direitos sociais a educação, a saú- adota medidas de proteção ao trabalhador contra a
de, a alimentação, o trabalho, a moradia, o despedida arbitrária ou sem justa causa, com o obje-
transporte, o lazer, a segurança, a previdência tivo de resguardar o trabalhador contra as incerte-
social, a proteção à maternidade e à infância, a zas do mercado de trabalho. Assim, o inciso I prevê
assistência aos desamparados, na forma desta que uma lei complementar estabelecerá indenização
184 Constituição. compensatória, dentre outros direitos.
Súmula Vinculante nº 15 O cálculo de gratifica-
Importante! ções e outras vantagens do servidor público não
Ainda não foi elaborada lei complementar dis- incide sobre o abono utilizado para se atingir o
salário mínimo.
ciplinando o assunto. Por essa razão, aplica-se Súmula Vinculante nº 16 Os artigos 7º, IV, e 39,
o disposto no art. 10, do Ato das Disposições § 3º (redação da EC n. 19/1998), da Constituição
Constitucionais Transitórias, que fixa como referem-se ao total da remuneração percebida pelo
indenização o valor de 40% do depositado no servidor público.
Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS)
como a quantia devida a título de indenização Art. 7º [...]
V - piso salarial proporcional à extensão e à com-
compensatória.
plexidade do trabalho;

O inciso V assegura contraprestação mínima aos


Art. 7º [...]
trabalhadores pertencentes à mesma categoria pro-
II - seguro-desemprego, em caso de desemprego
fissional, como, por exemplo, professores, metalúrgi-
involuntário;
cos, farmacêuticos, entre outros. O piso deve levar em
consideração a extensão e a complexidade do trabalho
O inciso II trata do seguro-desemprego, que tem
e não pode ser fixado em múltiplos do salário mínimo.
como finalidade assegurar assistência financeira, de
Diferentemente do salário mínimo, que é nacio-
modo temporário, ao trabalhador que foi dispensado
nalmente unificado, é possível que os Estados e o Dis-
involuntariamente, ou seja, sem justa causa.
trito Federal instituam piso salarial estadual diferente
do nacional, em conformidade com o parágrafo úni-
Art. 7º [...]
co, do art. 22, da CF, de 1988, e Lei Complementar nº
III - fundo de garantia do tempo de serviço;
103/2000.
O FGTS encontra-se estabelecido no inciso III. Art. 7º [...]
Seu objetivo é resguardar o trabalhador nos casos VI - irredutibilidade do salário, salvo o disposto
de desemprego involuntário, aposentadoria, entre em convenção ou acordo coletivo;
outras situações, de modo que o trabalhador possa
sacar esses valores. O inciso VI traz a regra de que o salário do traba-
De acordo com a atual orientação do STF, o prazo lhador não pode ser reduzido. A redução somente é
prescricional para o trabalhador reclamar valores do admitida por meio de negociação coletiva com a par-
FGTS é de cinco anos (prescrição quinquenal), tendo, ticipação obrigatória do sindicato.
como base, o princípio da segurança jurídica (ARE nº A Medida Provisória (MP) nº 936, de 2020, que foi
709.212, STF). editada em razão da pandemia da COVID-19, passou a
permitir a redução salarial por meio de acordo indi-
Art. 7º [...] vidual firmado entre o empregador e o empregado,
IV - salário mínimo, fixado em lei, nacionalmen- ou seja, sem a participação do sindicato. Consideran-
te unificado, capaz de atender a suas necessidades do que o texto constitucional estabelece que o acordo
vitais básicas e às de sua família com moradia, ali- seja coletivo, a MP foi submetida ao STF, que mante-
mentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higie- ve a eficácia da regra (acordo individual) de redução
ne, transporte e previdência social, com reajustes temporária do salário por, no máximo, 90 (noventa)
periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, dias, sob o fundamento de que se trata de momento
sendo vedada sua vinculação para qualquer fim; excepcional e que o acordo individual seria razoável
por preservar o vínculo de emprego durante o perío-
O inciso IV estabelece a existência de uma remu- do, bem como a atuação do sindicato demandaria
neração mínima, justa e suficiente para assegurar ao demora, gerando insegurança jurídica e aumentando
trabalhador e a sua família uma vida digna. Assim, o o risco de desemprego.
salário mínimo deve ter a capacidade de atender às
necessidades tanto do trabalhador como de sua famí- Art. 7º [...]
lia. Cumpre mencionar que o valor deve ser fixado VII - garantia de salário, nunca inferior ao míni-
mo, para os que percebem remuneração variável;
em lei, ou seja, faz-se necessário a edição de lei para a
fixação do valor do salário mínimo.
Vale destacar que o STF entende não ser necessá- O inciso VII é um desdobramento do inciso IV ao
rio que o percentual de reajuste seja fixado em lei (em estabelecer que todo trabalhador tem o direito a rece-
ber uma remuneração justa e satisfatória que lhe asse-
sentido estrito), podendo a definição de tais valores
gure existência compatível com a dignidade humana.
ser feita por meio de decreto presidencial. Sobre o
NOÇÕES DE DIREITO

tema, existem quatro Súmulas Vinculantes importan-


Art. 7º [...]
tes, as quais é importante conhecer:
VIII - décimo terceiro salário com base na remu-
Súmula Vinculante nº 4 Salvo nos casos previs- neração integral ou no valor da aposentadoria;
tos na Constituição, o salário mínimo não pode ser
usado como indexador de base de cálculo de vanta- O inciso VIII estabelece o décimo terceiro salá-
gem de servidor público ou de empregado, nem ser rio ou gratificação de Natal aos trabalhadores. Para
substituído por decisão judicial. os servidores públicos, a gratificação recebe o nome
Súmula Vinculante nº 6 Não há violação à CF no de adicional natalino. Tal gratificação foi introduzida
estabelecimento de remuneração inferior ao míni- pela Lei nº 4.090, de 1962, garantindo ao trabalhador
mo em relação ao soldo dos recrutas, prestadores formal e com carteira assinada o correspondente a
do serviço militar inicial. 1/12 de sua remuneração ou aposentadoria. 185
Art. 7º [...] Art. 7º [...]
IX - remuneração do trabalho noturno superior XIII - duração do trabalho normal não superior
à do diurno; a oito horas diárias e quarenta e quatro sema-
nais, facultada a compensação de horários e a
O inciso IX trata do trabalho noturno. De acordo redução da jornada, mediante acordo ou conven-
ção coletiva de trabalho;
com o dispositivo, a remuneração deve ser superior
ao trabalho no período diurno.
O inciso XIII fixa a jornada de trabalho diária
A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), ao
em até 8 horas e a semanal em 44 horas, permitida,
regular a matéria, estabelece, no art. 73, como período porém, a compensação de horários e a redução da jor-
noturno, o trabalho desenvolvido entre as 22h de um nada, por meio de acordo ou convenção coletiva de
dia e as 5h do dia seguinte. Assim, durante esse perío- trabalho. Trata-se dos denominados bancos de horas
do, o adicional é de, pelo menos, 20% sobre a hora diur- e as escalas de revezamento.
na. Além disso, o cômputo da hora também é realizado No Brasil, são admitidas as jornadas inglesa e espa-
de forma diferente, uma vez que cada hora noturna nhola. Na jornada inglesa, existe uma diluição de 4
possui cinquenta e dois minutos e trinta segundos. horas no intervalo entre segunda e sexta-feira, de
Com relação ao trabalho rural, na lavoura, consi- modo a possibilitar que o trabalhador cumpra jornada
dera-se noturno o trabalho executado entre 21h de de 9 ou 8 horas durante esses dias, de modo a totalizar
um dia e 5h do dia seguinte. Já na pecuária, inicia-se 44 horas. Na jornada espanhola, há uma alternância na
às 20h de um dia e encerra-se às 4h do dia posterior. prestação de 48 horas em uma semana e 40 horas em
Acresce que o adicional é de 25% e que não há previ- outra, como, por exemplo, trabalhando sábados alter-
são de cômputo diferenciado para a hora noturna. nados. Assim, haveria uma média de 44 horas sema-
nais, o que evitaria o pagamento de hora extra.
Art. 7º [...]
Art. 7º [...]
X - proteção do salário na forma da lei, consti-
XIV - jornada de seis horas para o trabalho reali-
tuindo crime sua retenção dolosa;
zado em turnos ininterruptos de revezamento,
salvo negociação coletiva;
O inciso X estabelece a criminalização da conduta
de retenção do salário como uma das formas de prote- Assim como o inciso anterior, o inciso XIV tam-
ção ao trabalhador. Salienta-se que a conduta somente bém prevê limite para a jornada de trabalho. Esse
será considerada como crime se houver dolo, ou seja, dispositivo se aplica aos casos de jornada de trabalho
quando o empregador não paga porque não quer. com turnos ininterruptos e de revezamento, ou seja,
Cumpre esclarecer que esse inciso possui eficácia cons- aqueles locais que funcionam 24 horas por dia. Nesses
titucional limitada e carece de lei regulamentadora. casos, o empregado não poderá trabalhar mais de 6
horas. Ressalta-se, por fim, a possibilidade de negocia-
Art. 7º [...] ção coletiva para aumentar a jornada.
XI - participação nos lucros, ou resultados, des-
vinculada da remuneração, e, excepcionalmente, Art. 7º [...]
participação na gestão da empresa, conforme XV - repouso semanal remunerado, preferencial-
definido em lei; mente aos domingos;

A participação nos lucros ou resultados, em O inciso XV garante o descanso do trabalhador.


Trata-se do repouso semanal remunerado, também
caráter excepcional, na gestão da empresa encon-
denominado descanso semanal remunerado (DSR),
tra-se prevista no inciso XI. Trata-se de um valor des-
que é a possibilidade de o trabalhor ausentar-se de
vinculado da remuneração e definido em lei. Esse seu trabalho por 24 (vinte e quatro) horas, manten-
inciso também possui eficácia limitada, porém é regu- do-se a remuneração respectiva. Para o descanso e
lamentado pela Lei nº 10.101, de 2000. recomposição do empregado, a CF, de 1988, estabele-
ce, como preferência, os domingos.
Art. 7º [...]
XII - salário-família pago em razão do depen- Art. 7º [...]
dente do trabalhador de baixa renda nos termos XVI - remuneração do serviço extraordinário
da lei; superior, no mínimo, em cinquenta por cento à do
normal;
O inciso XII estabelece o salário-família. Trata-se
de um benefício regulamentado pelos arts. 65 a 70, da O pagamento de horas extras encontra-se previs-
Lei nº 8.213, de 1991, concedido aos trabalhadores que to no inciso XVI. A CF, de 1988, além de fixar a duração
possuem filhos ou equiparados de até 14 anos, ou com da jornada de trabalho, com o objetivo de evitar abu-
algum tipo de deficiência. Para ter direito ao valor, o sos por parte do empregador, garante ao trabalhador
trabalhador deve enquadrar-se no limite máximo de que os serviços prestados que excedam a jornada nor-
mal de trabalho sejam considerados extraordinários
renda estipulado pela Administração Pública.
e pagos com o valor de, no mínimo, 50% a mais que o
Até a Emenda Constitucional nº 20, de 1998, o bene-
valor normal.
fício era pago a todos os trabalhadores. Após sua edição,
o salário-família ficou restrito ao trabalhador de baixa Art. 7º [...]
renda. Para o ano de 2021, a tabela do Governo Federal XVII - gozo de férias anuais remuneradas com,
fixou o valor do salário-família em R$ 51,27 e limitou o pelo menos, um terço a mais do que o salário
186 benefício aos trabalhadores que recebem até R$ 1.503,25. normal;
O inciso XVII estabelece o direito às férias. Tra- Nos termos da Lei nº 12.506, de 2011, a esses 30
ta-se do descanso anual do trabalhador, que deve ser dias serão acrescidos três dias por ano de serviço
remunerado e acrescido de, pelo menos, 1/3 a mais do prestado na mesma empresa até o total de 60 dias.
que o salário normal. Portanto, a duração máxima do aviso prévio é de 90
dias (30 dias assegurados pela CF, de 1988 e outros 60
Art. 7º [...] previstos na lei).
XVIII - licença à gestante, sem prejuízo do empre-
go e do salário, com a duração de cento e vinte Art. 7º [...]
dias; XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho,
por meio de normas de saúde, higiene e segurança;
A licença à gestante encontra-se prevista no inci-
O inciso XXII traz a obrigação do empregador de
so XVIII. Trata-se do direito dos filhos recém-nascidos
preservar a saúde do trabalhador por meio da ado-
ou adotados de permanecerem com suas genitoras no
ção de medidas, quer individuais quer coletivas, que
momento inicial de sua vida ou na casa da adotante, o previnam e o protejam dos riscos ambientais do
da nova vida, com o objetivo de desenvolver víncu- trabalho.
los de afeto e cuidados necessários para o desenvol-
vimento saudável da criança. Constitucionalmente, o Art. 7º [...]
prazo de duração é de 120 dias, porém a Lei nº 11.770, XXIII - adicional de remuneração para as ativida-
de 2008, estendeu, para determinados casos, esse des penosas, insalubres ou perigosas, na forma
período de licença para 180 dias. da lei;
A Lei nº 12.010, de 2009, (Lei da Adoção) estendeu
às adotantes o mesmo prazo de licença das gestantes, O inciso XXIII estabelece os adicionais de ativida-
passando a ser de, no mínimo, 120 dias. Antes, a dura- des penosas, insalubres e perigosas. Atividade peno-
ção da licença variava conforme a idade do filho. sa é aquela exercida em zonas de fronteira ou aquela
que exige, para a sua realização, esforços físicos repe-
Art. 7º [...] tivos e intensos, de modo a causar esgotamento ou
XIX - licença-paternidade, nos termos fixados em desgaste excessivo. Nessa atividade, não há um dano
lei; efetivo à saúde do trabalhador, mas exige um maior
grau de atenção ou sacrifício físico ou mental, como,
por exemplo, serviços industriais em que o trabalha-
O inciso XIX trata da licença-paternidade, que, ao
dor é submetido a uma altura superior a três metros.
contrário do que ocorre com a licença à gestante, não
Por outro lado, na atividade insalubre, há um com-
possui prazo fixado pela CF, de 1988. Refere-se, tam- prometimento à saúde do trabalhador devido a seu
bém, ao direito do filho de ter o genitor ao seu lado no ambiente de trabalho, como, por exemplo, o traba-
momento inicial de sua vida. lhador que é submetido a calor ou a frio intenso ou
a ruído contínuo e intermitente. Por fim, atividade
Art. 7º [...] perigosa é aquela que pode ameaçar a vida do traba-
XX - proteção do mercado de trabalho da lhador, como, por exemplo, a exercida em instalações
mulher, mediante incentivos específicos, nos ter- elétricas de grandes voltagens.
mos da lei;

O inciso XX estabelece a criação, por meio de lei, Importante!


de normas de proteção do mercado de trabalho da
mulher. O dispositivo tem por objetivo proporcionar De acordo com o Tribunal Superior do Trabalho
a efetiva igualdade entre homens e mulheres. Tais (TST), não é possível a percepção cumulativa
regras foram introduzidas pela CLT e tratam de temas dos adicionais de insalubridade e periculosidade.
como duração e condições de trabalho, a discrimina-
ção, o trabalho noturno, a proteção à maternidade, XXIV - aposentadoria;
entre outros.
A aposentadoria está estabelecida no inciso XXIV,
Art. 7º [...] de modo a assegurar ao trabalhador o afastamento de
XXI - aviso prévio proporcional ao tempo de suas atividades após o cumprimento dos requisitos
serviço, sendo no mínimo de trinta dias, nos ter- previstos em lei, tais como idade e tempo de contri-
mos da lei; buição, bem como por motivo de incapacidade.

O aviso prévio está estabelecido no inciso XXI. Art. 7º [...]


NOÇÕES DE DIREITO

Trata-se do direito que tem o trabalhador de não ser XXV - assistência gratuita aos filhos e dependen-
surpreendido com o seu desligamento e poder pro- tes desde o nascimento até 5 (cinco) anos de ida-
gramar-se para voltar a enfrentar a concorrência do de em creches e pré-escolas;
mercado de trabalho. Por esse motivo, o aviso prévio
O inciso XXV trata da assistência em creche e pré-
é proporcional, ou seja, quanto maior o tempo de ser- -escola devida aos filhos e dependentes dos trabalha-
viço prestado à empresa, maior a sua permanência dores desde o nascimento até os 5 anos.
antes do desligamento. O prazo mínimo previsto na Com a Emenda Constitucional nº 53, de 2006, o pri-
CF/88 é de 30 (trinta) dias. meiro ano do ensino fundamental passou a ser cursa-
De acordo com o STF, o inciso XXI é uma norma do a partir dos 6 anos de idade. É por essa razão que
constitucional híbrida, uma vez que possui uma parte o auxílio creche ou auxílio pré-escola é devido até os
de eficácia plena (mínimo de 30 dias) e outra limitada 5 anos (cessa ao completar 6 anos quando pode fre-
(nos termos da lei). quentar a escola). 187
Art. 7º [...] Art. 7º [...]
XXVI - reconhecimento das convenções e acordos XXX - proibição de diferença de salários, de
coletivos de trabalho; exercício de funções e de critério de admissão por
motivo de sexo, idade, cor ou estado civil;
O inciso XXVI ressalta a importância das entida-
des sindicais nas negociações coletivas, de modo a O inciso XXX decorre do princípio da igualdade e foi tra-
permitir que se incrementem as condições sociais dos tado anteriormente quando explanado acerca do salário.
trabalhadores.
Art. 7º [...]
Art. 7º [...] XXXI - proibição de qualquer discriminação no
XXVII - proteção em face da automação, na forma tocante a salário e critérios de admissão do traba-
da lei; lhador portador de deficiência;

A proteção em face da automação é assegurada Também em decorrência do princípio da igualda-


no inciso XXVII. Trata-se de um mecanismo de prote- de, a CF/88 veda qualquer tipo de discriminação do
ção do trabalhador que perdeu seu posto de trabalho trabalhador com deficiência. A proibição estende-se
para a automação, ou seja, pela máquina, de modo desde a sua admissão. Assim sendo, o fato de o tra-
que a lei possa criar meios, tais como cursos e treina- balhador possuir uma limitação, quer física, psíquica
mentos, que possibilitem sua recolocação no mercado ou intelectual, não tem o condão de permitir que o
de trabalho. empregador pague uma contraprestação diversa dos
demais funcionários, por exemplo.
Art. 7º [...]
XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a Art. 7º [...]
cargo do empregador, sem excluir a indenização XXXII - proibição de distinção entre trabalho
a que este está obrigado, quando incorrer em dolo manual, técnico e intelectual ou entre os profis-
ou culpa; sionais respectivos;

O seguro contra acidentes de trabalho encon- Mais um dispositivo que decorre do princípio
tra-se previsto no inciso XXVIII. O seguro é de com- da igualdade e veda a distinção entre as atividades
petência do empregador e não exclui a indenização desempenhadas, ou seja, a atividade manual não
a que este está obrigado no caso de incorrer em dolo poderá ser tida como mais ou menos importante que
ou culpa. a intelectual, por exemplo.
Súmula Vinculante nº 22 A Justiça do Trabalho Art. 7º [...]
é competente para processar e julgar as ações XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigo-
de indenização por danos morais e patrimoniais so ou insalubre a menores de dezoito e de qual-
decorrentes de acidente de trabalho propostas por quer trabalho a menores de dezesseis anos,
empregado contra empregador, inclusive aquelas salvo na condição de aprendiz, a partir de qua-
que ainda não possuíam sentença de mérito em torze anos;
primeiro grau quando da promulgação da Emenda
Constitucional 45/2004. O inciso XXX estabelece os limites etários para o
desempenho do trabalho. Aos menores de 16 anos não
Art. 7º [...]
é possível o desempenho da atividade laboral, exceto
XXIX - ação, quanto aos créditos resultantes das
no caso de aprendiz, que poderá desenvolver a ativi-
relações de trabalho, com prazo prescricional
dade entre 14 e 24 anos.
de cinco anos para os trabalhadores urbanos e
Atenção! Aprendiz não se confunde com estagiá-
rurais, até o limite de dois anos após a extinção
rio. Aprendiz é o jovem contratado por entes de coo-
do contrato de trabalho;
peração governamental, como, por exemplo, o SENAC
a) (Revogada).
e o SENAI, para aprender uma profissão, ou seja, a
b) (Revogada).
formação profissional é desenvolvida no ofício. Por
outro lado, estagiário é o estudante que complemen-
O inciso XXIX trata da prescrição das verbas tra-
ta, por meio do trabalho, o ensino do curso que está
balhistas. O prazo para que o trabalhador ingresse
desenvolvendo. Estagiário não é empregado nem está
com ação trabalhista é de 2 (dois) anos contados da submetido a limite de idade.
extinção do contrato de trabalho. Já com relação aos Além disso, o dispositivo veda o trabalho noturno,
créditos, a prescrição é de 5 (cinco) anos. Exemplo: perigoso ou insalubre aos maiores de 16 e menores
trabalhador que exerceu atividade na empresa entre de 18 anos, por se tratarem de pessoas em formação.
os períodos de 2010 a 2020. Ele terá até 2022 (dois anos
da extinção do contrato de trabalho) para promover a
açao e poderá cobrar os créditos dos últimos 5 anos, Importante!
ou seja, se ingressou em 2020, poderá pleitear os cré-
ditos de 2015 em diante. Não há previsão expressa do trabalho penoso
Quanto às nomenclaturas “prescrição relativa” e aos menores de 18 anos.
“prescrição total”, é importante distinguir que pres-
crição relativa é a interna, ou seja, aquela que ocorre Art. 7º [...]
dentro do contrato de trabalho, tendo como prazo 5 XXXIV - igualdade de direitos entre o trabalha-
anos. Já a prescrição total é aquela que ocorre após o dor com vínculo empregatício permanente e o
188 fim do contrato de trabalho, ou seja, de 2 anos. trabalhador avulso
O inciso XXXIV também decorre do princípio da O inciso II traz o princípio da unicidade sindical,
igualdade. Por ele, depreende-se a igualdade de direitos ou seja, a regra pela qual é vedada a criação de mais
entre os trabalhadores com vínculo empregatício e os de uma organização sindical na mesma base territo-
trabalhadores avulsos. Entende-se por trabalhador avul- rial. Por essa razão, a CF, de 1988 definiu a base terri-
so aquele que, de forma sindicalizada ou não, presta torial mínima, ou seja, o Município. No entanto, não
serviços tanto de natureza urbana como rural, sem pos- especificou a base máxima, de modo que pode haver
suir vínculo empregatício e a diversas empresas, com um sindicato para a defesa da categoria no âmbito
intermediação obrigatória do sindicato da categoria ou, estadual ou nacional.
quando se tratar de atividade portuária, com interme-
Art. 8º [...]
diação do Órgão Gestor de Mão-de-Obra (OGMO).
III - ao sindicato cabe a defesa dos direitos e inte-
resses coletivos ou individuais da categoria,
Art. 7º [...] inclusive em questões judiciais ou administrativas;
Parágrafo único. São assegurados à categoria dos
trabalhadores domésticos os direitos previstos A representação e substituição do sindicato na
nos incisos IV, VI, VII, VIII, X, XIII, XV, XVI, XVII, defesa dos direitos e interesses de seus membros está
XVIII, XIX, XXI, XXII, XXIV, XXVI, XXX, XXXI e
disciplinada no inciso III.
XXXIII e, atendidas as condições estabelecidas em
lei e observada a simplificação do cumprimento Art. 8º [...]
das obrigações tributárias, principais e acessórias, IV - a assembleia geral fixará a contribuição
decorrentes da relação de trabalho e suas peculiari- que, em se tratando de categoria profissional, será
dades, os previstos nos incisos I, II, III, IX, XII, XXV descontada em folha, para custeio do sistema
e XXVIII, bem como a sua integração à previdência confederativo da representação sindical respec-
social. tiva, independentemente da contribuição prevista
em lei;
Por fim, o parágrafo único trata dos direitos dos
trabalhadores domésticos. Considera-se doméstico O inciso IV trata da contribuição confederativa
o trabalhador que presta serviços de natureza contí- sindical. Cumpre esclarecer, no entanto, que nenhu-
nua e de finalidade não lucrativa à pessoa ou à famí- ma das contribuições relativas à atividade sindical
lia no âmbito residencial destas, como, por exemplo, é obrigatória, de modo a depender de autorização
cozinheiro residencial, jardineiro, babá, entre outros. expressa e prévia do destinatário. Portanto, somente
O dispositivo remete a determinados incisos, ressal- quem é filiado ao respectivo sindicato deve pagar a
tando que parte desse direito depende de regulamen- contribuição confederativa prevista nesse dispositivo.
tação legal, como no caso do FGTS.
Art. 579 (CLT) O desconto da contribuição sindical
Os direitos sindicais encontram-se disciplinados
está condicionado à autorização prévia e expressa
nos art. 8º a 11. Vejamos cada um deles: dos que participem de uma determinada categoria
econômica ou profissional, ou de uma profissão
Art. 8º É livre a associação profissional ou sin- liberal, em favor do sindicato representativo da
dical, observado o seguinte: mesma categoria.
I - a lei não poderá exigir autorização do Estado
para a fundação de sindicato, ressalvado o regis- Súmula Vinculante nº 40 A contribuição con-
tro no órgão competente, vedadas ao Poder Públi- federativa de que trata o art. 8º, IV, da Constitui-
co a interferência e a intervenção na organização ção Federal, só é exigível dos filiados ao sindicato
sindical; respectivo.

O inciso I traz o princípio da liberdade sindical. Art. 8º [...]


Pelo dispositivo, é possível observar duas situações V - ninguém será obrigado a filiar-se ou a man-
distintas. A primeira refere-se à relação entre o Esta- ter-se filiado a sindicato;
do e o sindicato. Já a segunda, entre o sindicato e o
sindicalizado. Portanto, essa liberdade de associação O inciso V é um desdobramento do direito à liber-
sindical possui dupla dimensão, de modo a assegurar dade de associação, previsto no art. 5º, da CF, de 1988.
o direito dos trabalhadores em geral de criarem enti-
Art. 8º [...]
dades sindicais, como também a liberdade de aderi-
VI - é obrigatória a participação dos sindicatos
rem ou não ao sindicato, assim como se desfiliarem nas negociações coletivas de trabalho;
conforme sua vontade.
NOÇÕES DE DIREITO

De acordo com o STF, para que um sindicato possa As entidades sindicais possuem a denominada
defender a categoria, não é preciso estar registrado no função negocial. Assim, com o objetivo de assegurar
órgão competente (Ministério do Trabalho), bastando o melhores condições e direitos aos trabalhadores, o
registro no Cartório de Registro das Pessoas Jurídicas. inciso IV estabelece como obrigatória a participação
dos sindicatos nas negociações coletivas.
Art. 8º [...]
II - é vedada a criação de mais de uma organi- Art. 8º [...]
zação sindical, em qualquer grau, representativa VII - o aposentado filiado tem direito a votar e
de categoria profissional ou econômica, na mesma ser votado nas organizações sindicais;
base territorial, que será definida pelos trabalha-
dores ou empregadores interessados, não podendo O inciso VII cuida do direito de votar e ser votado
ser inferior à área de um Município; do aposentado filiado à entidade sindical. 189
Art. 8º [...] O art. 10 decorre do direito a uma gestão democrá-
VIII - é vedada a dispensa do empregado sin- tica, ou seja, de participação junto aos colegiados dos
dicalizado a partir do registro da candidatura órgãos públicos que gerenciam os interesses profissio-
a cargo de direção ou representação sindical nais ou os valores aplicados nos fundos previdenciários.
e, se eleito, ainda que suplente, até um ano após o
final do mandato, salvo se cometer falta grave Art. 11 Nas empresas de mais de duzentos empre-
nos termos da lei. gados, é assegurada a eleição de um representan-
te destes com a finalidade exclusiva de promover-lhes
A estabilidade do dirigente sindical encontra-se o entendimento direto com os empregadores.
prevista no inciso VIII. Seu objetivo é permitir que seus
dirigentes atuem sem medo de represálias, ou seja, de Por fim, o art. 11 estabelece, como mecanismo de
serem desligados do emprego devido à atuação. Trata- promover o entendimento e facilitar o diálogo entre
-se, portanto, da regra que proíbe a dispensa do empre- empregados e empregador em empresas maiores
gado sindicalizado a partir do registro da candidatura a (com mais de 200 funcionários), a formação de uma
cargo de direção ou representação sindical. No caso dos comissão de representação.
eleitos, mesmo que na condição de suplentes, a estabili- Atenção! Os representantes não se confundem
dade perdura até um ano após o final do mandato. com os dirigentes sindicais.
Observa-se, no entanto, que a estabilidade não é
absoluta, uma vez que é possível a demissão em caso
de cometimento de falta grave. Ainda, cabe destacar
que, de acordo com a alínea “a”, do inciso II, do art. O ESTADO
10, do ADCT, os membros da Comissão Interna para
Prevenção de Acidentes (CIPA) eleitos pelos trabalha- CONCEITO, ELEMENTOS E FINALIDADE DO ESTADO
dores também possuem estabilidade; já os indicados
pelo empregador não a possuem. A origem de um Estado pode se dar de forma
natural, religiosa (Estado criado por Deus), pela for-
Art. 8º [...] ça e domínio dos mais fortes sobre os mais fracos,
Parágrafo único. As disposições deste artigo apli- pelo agrupamento de famílias, de forma contratual,
cam-se à organização de sindicatos rurais e de de forma derivada: por união, quando dois estados
colônias de pescadores, atendidas as condições soberanos se unem formando um só novo estado ou
que a lei estabelecer. fracionamento, quando um estado se divide em dois
novos estados independentes, ou de forma atípica, a
Por fim, o parágrafo único estabelece que essas exemplo do Vaticano e de Israel.
regras também são aplicadas aos sindicatos rurais e São elementos constitutivos do Estado: a soberania, a
de pescadores. finalidade, o povo e o território. Assim, Dalmo de Abreu
Dallari (apud Lenza, 2019, p. 719) define Estado como “a
Art. 9º É assegurado o direito de greve, competin- ordem jurídica soberana, que tem por fim o bem comum
do aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de um povo situado em determinado território”.
de exercê-lo e sobre os interesses que devam por Soberania é o poder político supremo e indepen-
meio dele defender. dente que o Estado detém consistente na capacidade
para editar e reger suas próprias normas e seu orde-
O direito de greve dos trabalhadores encontra-se namento jurídico.
assegurado no art. 9º, da CF, de 1988. Inicialmente, há A finalidade consiste no objetivo maior do Estado
de se esclarecer que a expressão “trabalhadores” refe- que é o bem comum, conjunto de condições para o
re-se aos empregados da iniciativa privada, geralmen- desenvolvimento integral da pessoa humana.
te regidos pela CLT. Em síntese, greve é a suspensão Povo é o conjunto de indivíduos, em regra, com um
temporária das atividades laborais desenvolvidas e objetivo comum, ligados a um determinado território
tem como causa o interesse dos trabalhadores. pelo vínculo da nacionalidade.
Território é o espaço físico dentro do qual o Esta-
Art. 9º [...] do exerce seu poder e sua soberania. Onde o povo se
§ 1º A lei definirá os serviços ou atividades essen- estabelece e se organiza com ânimo de permanência.
ciais e disporá sobre o atendimento das necessida- A Constituição de 1988 adotou a forma republica-
des inadiáveis da comunidade. na de governo, o sistema presidencialista de gover-
§ 2º Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis no e a forma federativa de Estado. Note tratar-se de
às penas da lei. três definições distintas.

No que se refere aos serviços essenciais, tais como


transporte público, serviços de fornecimento de luz,
água, entre outros, o direito de greve é assegurado,
mas sofre restrições. A lei que disciplina a greve dos ORGANIZAÇÃO DO ESTADO
trabalhadores dos serviços essenciais é a Lei nº 7.783,
de 1989. FEDERAÇÃO

Art. 10 É assegurada a participação dos traba- O federalismo é a forma de Estado marcado essen-
lhadores e empregadores nos colegiados dos cialmente pela união indissolúvel dos entes federativos,
órgãos públicos em que seus interesses profissio- ou seja, pela impossibilidade de secessão, separação.
nais ou previdenciários sejam objeto de discussão São entes da federação brasileira: a União; os Estados-
190 e deliberação. -Membros; o Distrito Federal e os Municípios.
Brasília é a capital federal e o Estado brasileiro é UNIÃO
considerado laico, mantendo uma posição de neutrali-
dade em matéria religiosa, admitindo o culto de todas A União é o ente federativo com dupla personalida-
as religiões, sem qualquer intervenção. de. Internamente, é uma pessoa jurídica de direito
público interno, com autonomia financeira, adminis-
FORMA DE ESTADO Federação trativa e política e capacidade de auto-organização,
FORMA DE GOVERNO República autogoverno, autolegislação e autoadministração.
Internacionalmente, a União representa a República
REGIME DE GOVERNO Democrático
Federativa do Brasil a quem cabe exercer as prerroga-
SISTEMA DE GOVERNO Presidencialismo tivas da soberania do Estado brasileiro.

A forma de Estado compreende a organização dos Bens da União:


ordenamentos estatais. Exemplos: unitária, federa-
ção e confederação. Por sua vez, a forma de governo São bens da União os previstos no art. 20, CF:
compreende o conjunto de instituições políticas para
a organização e o funcionamento do poder estatal. Art. 20 [...]
Exemplos: República e Monarquia. I - os que atualmente lhe pertencem e os que lhe vie-
O regime de governo estabelece as formas de exer- rem a ser atribuídos;
cício do poder. Exemplo: Democracia e autocracia. E, II - as terras devolutas indispensáveis à defesa das
o sistema de governo consiste no modo pelo qual os fronteiras, das fortificações e construções milita-
poderes se relacionam entre si dentro de um Estado. res, das vias federais de comunicação e à preserva-
Exemplos: presidencialismo e parlamentarismo. ção ambiental, definidas em lei;

COMPETÊNCIAS Terras devolutas são terras públicas sem desti-


nação pelo Poder Público e que em nenhum momen-
Competência é o poder, normalmente legal, de to integraram o patrimônio de um particular, ainda
uma autoridade pública para a prática de atos admi- que estejam irregularmente sob sua posse. O termo
nistrativos e tomada de decisões. “devoluta” relaciona-se ao conceito de terra devolvida
(CÂMARA DOS DEPUTADOS, 2020).
Dica
Embora muito semelhantes, Competência é III - os lagos, rios e quaisquer correntes de água em
≠ Atribuição ≠ Capacidade. terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de
um Estado, sirvam de limites com outros países, ou
A atribuição pode decorrer de uma função espe-
se estendam a território estrangeiro ou dele prove-
cífica dentro de determinada competência. A
nham, bem como os terrenos marginais e as praias
capacidade decorre da condição necessária
fluviais;
para prática de determinado ato.
IV as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes
com outros países; as praias marítimas; as ilhas oceâ-
As competências dos entes federativos podem ser:
nicas e as costeiras, excluídas, destas, as que conte-
Materiais ou administrativas, que se dividem
nham a sede de Municípios, exceto aquelas áreas
em: exclusivas e comuns;
afetadas ao serviço público e a unidade ambiental
Legislativas, que compreedem as privativas e as
federal, e as referidas no art. 26, II; (Redação dada
concorrentes, complementares e suplementares;
pela Emenda Constitucional nº 46, de 2005).
Exclusiva, que é aquela conferida exclusivamen-
V - os recursos naturais da plataforma continental
te a um dos entes federativos (União, Estados, Distrito
e da zona econômica exclusiva;
Federal e Municípios), com exclusão dos demais.
Privativa, que é aquela enumerada como própria
de um ente, com possibilidade, entretanto, de delega- A plataforma continental é a faixa de terra submer-
ção para outro. sa que compreende todo o leito e o subsolo das áreas
Concorrente, que é a competência legislativa con- submarinas que se estendem além do seu mar territo-
ferida em comum a mais de um ente federativo. rial, em toda a extensão do prolongamento natural do
Na complementar, o ente federativo tem competência seu território terrestre, até alcançar a distância de 200
naquilo que a norma federal (superior) lhe dê condição milhas marítimas ou as bacias oceânicas (alto mar ou
de atuar e na suplementar, por sua vez, o ente federativo águas internacionais), a partir do início do que entende-
supre a competência federal não exercida, porém, se esta mos por mar territorial. A plataforma continental com-
NOÇÕES DE DIREITO

o exercer, o ato aditado com base na competência suple- preende o mar territorial e a zona econômica exclusiva,
mentar perde a eficácia, naquilo que lhe for contrário. onde o Estado detém soberania para exploração e apro-
Sempre que falarmos em competência comum ou veitamento dos seus recursos naturais.
exclusiva, devemos excluir a ideia de “legislar”. Sempre A zona econômica exclusiva é a zona marítima
que falarmos em legislar, estaremos tratando necessa-
adjacente ao mar territorial que compreende a distân-
riamente de uma competência privativa ou concorrente.
cia de 188 milhas marítimas a partir da largura do mar
territorial. Na ZEE, o Estado costeiro possui direitos de
Competências Comuns e Exclusivas Arts. 21
soberania para fins de exploração e aproveitamento,
Administrativas e 23, CF
conservação e gestão dos recursos naturais, vivos ou
Competências Privativas e Arts. 22 não vivos das águas sobrejacentes ao leito do mar, do
Legislativas Concorrentes e 24, CF 191
leito do mar e seu subsolo.
VI - o mar territorial; E, a intervenção federal é a medida consistente na
supressão temporária da autonomia dos entes federa-
O mar territorial compreende a faixa de mar adja- tivos pelo Estado Federal diante do estado de anorma-
cente com dimensão de até 12 milhas marítimas (22km), lidade, em caráter totalmente excepcional, nos termos
a partir da costa litorânea brasileira, sobre a qual incide dos arts. 34 e seguintes da Constituição.
a soberania do Estado brasileiro, nos termos da Conven-
ção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar. Art. 34. A União não intervirá nos Estados nem no
Distrito Federal, exceto para:
VII - os terrenos de marinha e seus acrescidos; I - manter a integridade nacional;
VIII - os potenciais de energia hidráulica; II - repelir invasão estrangeira ou de uma unidade
IX - os recursos minerais, inclusive os do subsolo; da Federação em outra;
X - as cavidades naturais subterrâneas e os sítios III - pôr termo a grave comprometimento da ordem
arqueológicos e pré-históricos; pública;
XI - as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios. IV - garantir o livre exercício de qualquer dos Pode-
§ 1º É assegurada, nos termos da lei, à União, aos res nas unidades da Federação;
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios a V - reorganizar as finanças da unidade da Federa-
participação no resultado da exploração de petró- ção que:
leo ou gás natural, de recursos hídricos para fins a) suspender o pagamento da dívida fundada por
de geração de energia elétrica e de outros recursos mais de dois anos consecutivos, salvo motivo de
minerais no respectivo território, plataforma conti- força maior;
nental, mar territorial ou zona econômica exclusi- b) deixar de entregar aos Municípios receitas tribu-
va, ou compensação financeira por essa exploração. tárias fixadas nesta Constituição, dentro dos pra-
§ 2º A faixa de até cento e cinquenta quilômetros de zos estabelecidos em lei;
largura, ao longo das fronteiras terrestres, desig- VI - prover a execução de lei federal, ordem ou deci-
nada como faixa de fronteira, é considerada fun- são judicial;
damental para defesa do território nacional, e sua VII - assegurar a observância dos seguintes princí-
ocupação e utilização serão reguladas em lei. pios constitucionais:
Os parágrafos do dispositivo tratam da exploração a) forma republicana, sistema representativo e
de recursos hídricos e minerais no território marí- regime democrático;
timo brasileiro e autorizam a participação de Esta- b) direitos da pessoa humana;
dos, Distrito Federal e Municípios nos resultados da c) autonomia municipal;
exploração. Também tratam das faixas de frontei- d) prestação de contas da administração pública,
direta e indireta.
ras do território brasileiro que compreendem cento
e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante
e cinquenta quilômetros de largura.
de impostos estaduais, compreendida a proveniente de
transferências, na manutenção e desenvolvimento do
Competências da União ensino e nas ações e serviços públicos de saúde (Reda-
ção dada pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000)
Competência administrativa exclusiva da Art. 35. O Estado não intervirá em seus Municí-
União: art. 21, CF. pios, nem a União nos Municípios localizados em
Nos termos do art. 21, CF são competências exclu- Território Federal, exceto quando:
sivas da União: I - deixar de ser paga, sem motivo de força maior,
por dois anos consecutivos, a dívida fundada;
z Manter relações com Estados estrangeiros e parti- II - não forem prestadas contas devidas, na forma
cipar de organizações internacionais; da lei;
z Declarar a guerra e celebrar a paz; III - não tiver sido aplicado o mínimo exigido da
z Assegurar a defesa nacional; receita municipal na manutenção e desenvolvimen-
to do ensino e nas ações e serviços públicos de saú-
z Permitir, nos casos previstos em lei complementar,
de; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº
que forças estrangeiras transitem pelo território
29, de 2000).
nacional ou nele permaneçam temporariamente; IV - o Tribunal de Justiça der provimento a repre-
z Decretar o estado de sítio, o estado de defesa e a sentação para assegurar a observância de princí-
intervenção federal. pios indicados na Constituição Estadual, ou para
prover a execução de lei, de ordem ou de decisão
O estado de sítio, o estado de defesa e a inter- judicial.
venção federal fazem parte do Sistema Constitucio- Art. 36. A decretação da intervenção dependerá:
nal de Crise e são medidas constitucionais de exceção I - no caso do art. 34, IV, de solicitação do Poder
que visam restabelecer a ordem democrática e a nor- Legislativo ou do Poder Executivo coacto ou impe-
malidade da nação. dido, ou de requisição do Supremo Tribunal Federal,
O estado de sítio é a medida para o restabelecimento se a coação for exercida contra o Poder Judiciário;
da ordem constitucional nos casos de comoção grave de II - no caso de desobediência a ordem ou decisão
repercussão nacional ou ocorrência de fatos que com- judiciária, de requisição do Supremo Tribunal Fede-
ral, do Superior Tribunal de Justiça ou do Tribunal
provem a ineficácia de medida tomada durante o estado
Superior Eleitoral;
de defesa e declaração de estado de guerra ou resposta a
III -- de provimento, pelo Supremo Tribunal Federal,
agressão armada estrangeira, nos termos do art. 137, CF. de representação do Procurador-Geral da Repúbli-
O estado de defesa, por sua vez, consiste na medida ca, na hipótese do art. 34, VII;
para preservar ou prontamente restabelecer, em locais III - de provimento, pelo Supremo Tribunal Federal,
restritos e determinados, a ordem pública ou a paz de representação do Procurador-Geral da Repúbli-
social ameaçadas por grave e iminente instabilidade ca, na hipótese do art. 34, VII, e no caso de recusa à
institucional ou atingidas por calamidades de grandes execução de lei federal. (Redação dada pela Emen-
192 proporções na natureza, nos termos do art. 136, CF. da Constitucional nº 45, de 2004)
IV - de provimento, pelo Superior Tribunal de Justi- z Organizar e manter os serviços oficiais de estatís-
ça, de representação do Procurador-Geral da Repú- tica, geografia, geologia e cartografia de âmbito
blica, no caso de recusa à execução de lei federal. nacional;
(Revogado pela Emenda Constitucional nº 45, de z Exercer a classificação, para efeito indicativo,
2004) de diversões públicas e de programas de rádio e
§ 1º O decreto de intervenção, que especificará a televisão;
amplitude, o prazo e as condições de execução e
z Conceder anistia;
que, se couber, nomeará o interventor, será sub-
metido à apreciação do Congresso Nacional ou da
Assembleia Legislativa do Estado, no prazo de vin- A anistia é o perdão de dívida ou extinção da puni-
te e quatro horas. bilidade pela prática de determinadas infrações.
§ 2º Se não estiver funcionando o Congresso
Nacional ou a Assembleia Legislativa, far-se-á z Planejar e promover a defesa permanente contra
convocação extraordinária, no mesmo prazo de as calamidades públicas, especialmente as secas e
vinte e quatro horas. as inundações;
§ 3º Nos casos do art. 34, VI e VII, ou do art. 35, z Instituir sistema nacional de gerenciamento de
IV, dispensada a apreciação pelo Congresso Nacio- recursos hídricos e definir critérios de outorga de
nal ou pela Assembleia Legislativa, o decreto direitos de seu uso;
limitar-se-á a suspender a execução do ato impug- z Instituir diretrizes para o desenvolvimento urba-
nado, se essa medida bastar ao restabelecimento no, inclusive habitação, saneamento básico e
da normalidade.
transportes urbanos;
§ 4º Cessados os motivos da intervenção, as auto-
z Estabelecer princípios e diretrizes para o sistema
ridades afastadas de seus cargos a estes voltarão,
nacional de aviação;
salvo impedimento legal.
z Executar os serviços de polícia marítima, aeropor-
tuária e de fronteiras;
z Autorizar e fiscalizar a produção e o comércio de
z Explorar os serviços e instalações nucleares de
material bélico;
z Emitir moeda; qualquer natureza e exercer monopólio esta-
z Administrar as reservas cambiais do País e fiscali- tal sobre a pesquisa, a lavra, o enriquecimento e
zar as operações de natureza financeira, especial- reprocessamento, a industrialização e o comércio
mente as de crédito, câmbio e capitalização, bem de minérios nucleares e seus derivados, atendidos
como as de seguros e de previdência privada; os seguintes princípios e condições:
z Elaborar e executar planos nacionais e regionais
de ordenação do território e de desenvolvimento „ t oda atividade nuclear em território nacional
econômico e social; somente será admitida para fins pacíficos e
z Manter o serviço postal e o correio aéreo nacional; mediante aprovação do Congresso Nacional;
z Explorar, diretamente ou mediante autorização, „ sob regime de permissão, são autorizadas a
concessão ou permissão, os serviços de telecomu- comercialização e a utilização de radioisóto-
nicações, nos termos da lei, que disporá sobre a pos para a pesquisa e usos médicos, agrícolas
organização dos serviços, a criação de um órgão e industriais;
regulador e outros aspectos institucionais; „ sob regime de permissão, são autorizadas a
produção, comercialização e utilização de
Explorar, diretamente ou mediante autorização, radioisótopos de meia-vida igual ou inferior a
concessão ou permissão: duas horas;
„ a responsabilidade civil por danos nucleares
a) os serviços de radiodifusão sonora, e de sons e independe da existência de culpa;
imagens;
b) os serviços e instalações de energia elétrica e o z Organizar, manter e executar a inspeção do
aproveitamento energético dos cursos de água, trabalho;
em articulação com os Estados onde se situam os z Estabelecer as áreas e as condições para o exercí-
potenciais hidroenergéticos; cio da atividade de garimpagem, em forma asso-
c) a navegação aérea, aeroespacial e a infraestrutura ciativa (BRASIL, 2020).
aeroportuária;
d) os serviços de transporte ferroviário e aquaviá- Competências administrativas comuns da
rio entre portos brasileiros e fronteiras nacio- União, Estados, Distrito Federal e Municípios: art.
nais, ou que transponham os limites de Estado ou 23, CF:
Território; Conforme estabelece o art. 23 da Constituição
NOÇÕES DE DIREITO

e) os serviços de transporte rodoviário interestadual Federal, é competência comum da União, dos Estados,
e internacional de passageiros; do Distrito Federal e dos Municípios:
f) os portos marítimos, fluviais e lacustres;
z Zelar pela guarda da Constituição, das leis e das
z Organizar e manter o Poder Judiciário, o Ministé- instituições democráticas e conservar o patrimô-
rio Público do Distrito Federal e dos Territórios e a nio público;
Defensoria Pública dos Territórios; z Cuidar da saúde, assistência e proteção das pes-
z Organizar e manter a polícia civil, a polícia penal, soas com deficiência;
a polícia militar e o corpo de bombeiros militar z Proteger os documentos, as obras e outros bens
do Distrito Federal, bem como prestar assistência de valor histórico, artístico e cultural, os monu-
financeira ao Distrito Federal para a execução de mentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios
serviços públicos, por meio de fundo próprio; arqueológicos; 193
z Impedir a evasão, a destruição e a descaracteriza- z Sistemas de consórcios e sorteios;
ção de obras de arte e de outros bens de valor his- z Normas gerais de organização, efetivos, material
tórico, artístico ou cultural; bélico, garantias, convocação, mobilização, inativi-
z Proporcionar os meios de acesso à cultura, à edu- dades e pensões das polícias militares e dos corpos
cação, à ciência, à tecnologia, à pesquisa e à inova- de bombeiros militares;
ção (Redação dada pela Emenda Constitucional nº z Competência da polícia federal e das polícias rodo-
85, de 2015); viária e ferroviária federais;
z Proteger o meio ambiente e combater a poluição z Seguridade social;
em qualquer de suas formas; z Diretrizes e bases da educação nacional;
z Preservar as florestas, a fauna e a flora; z Registros públicos;
z Fomentar a produção agropecuária e organizar o z Atividades nucleares de qualquer natureza;
abastecimento alimentar; z Normas gerais de licitação e contratação, em todas as
z Promover programas de construção de moradias e modalidades, para as administrações públicas diretas,
a melhoria das condições habitacionais e de sanea- autárquicas e fundacionais da União, Estados, Distrito
mento básico; Federal e Municípios, obedecido o disposto no art. 37,
z Combater as causas da pobreza e os fatores de XXI, e para as empresas públicas e sociedades de eco-
marginalização, promovendo a integração social nomia mista, nos termos do art. 173, § 1°, III;
dos setores desfavorecidos; z Defesa territorial, defesa aeroespacial, defesa
z Registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões marítima, defesa civil e mobilização nacional;
de direitos de pesquisa e exploração de recursos z Propaganda comercial.
hídricos e minerais em seus territórios;
z Estabelecer e implantar política de educação para A Constituição Federal preceitua ainda que lei
a segurança do trânsito. complementar poderá autorizar os Estados a legislar
sobre questões específicas das matérias relacionadas
Leis complementares fixarão normas para a coope- neste artigo (BRASIL, 2020).
ração entre a União e os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvi- Competência Legislativa concorrente da União,
mento e do bem-estar em âmbito nacional (BRASIL, 2020). Estados e Distrito Federal: art. 24, CF:
Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal
Competência Legislativa privativa da União: legislar concorrentemente sobre:
art. 22, CF:
Nos termos do que preceitua o art. 22 da Constituição z Direito tributário, financeiro, penitenciário, eco-
Federal compete privativamente à União legislar sobre: nômico e urbanístico;
z Orçamento;
z Direito civil, comercial, penal, processual, eleito- z Juntas comerciais;
ral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do z Custas dos serviços forenses;
trabalho; z Produção e consumo;
z Desapropriação; z Florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natu-
z Requisições civis e militares, em caso de iminente reza, defesa do solo e dos recursos naturais, prote-
perigo e em tempo de guerra; ção do meio ambiente e controle da poluição;
z águas, energia, informática, telecomunicações e z Proteção ao patrimônio histórico, cultural, artísti-
radiodifusão; co, turístico e paisagístico;
z Serviço postal; z Responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao
z Sistema monetário e de medidas, títulos e garan- consumidor, a bens e direitos de valor artístico,
tias dos metais; estético, histórico, turístico e paisagístico;
z Política de crédito, câmbio, seguros e transferência z Educação, cultura, ensino, desporto, ciência, tecno-
de valores; logia, pesquisa, desenvolvimento e inovação;
z Comércio exterior e interestadual; z Criação, funcionamento e processo do juizado de
z Diretrizes da política nacional de transportes; pequenas causas;
z Regime dos portos, navegação lacustre, fluvial, z Procedimentos em matéria processual;
marítima, aérea e aeroespacial; z Previdência social, proteção e defesa da saúde;
z Trânsito e transporte; z Assistência jurídica e Defensoria pública;
z Jazidas, minas, outros recursos minerais e z Proteção e integração social das pessoas portado-
metalurgia; ras de deficiência;
z Nacionalidade, cidadania e naturalização; z Proteção à infância e à juventude;
z Populações indígenas; z Organização, garantias, direitos e deveres das polí-
z Emigração e imigração, entrada, extradição e cias civis.
expulsão de estrangeiros;
z Organização do sistema nacional de emprego e No âmbito da legislação concorrente, a competên-
condições para o exercício de profissões; cia da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais.
z Organização judiciária, do Ministério Público do A competência da União para legislar sobre normas
Distrito Federal e dos Territórios e da Defensoria gerais não exclui a competência suplementar dos Estados.
Pública dos Territórios, bem como organização Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os
administrativa destes; Estados exercerão a competência legislativa plena,
z Sistema estatístico, sistema cartográfico e de geo- para atender a suas peculiaridades.
logia nacionais; A superveniência de lei federal sobre normas
z Sistemas de poupança, captação e garantia da pou- gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe
194 pança popular; for contrário (BRASIL, 2020).
ESTADOS § 2º O subsídio dos Deputados Estaduais será fixa-
do por lei de iniciativa da Assembleia Legislativa,
O Brasil é composto de estados federados que gozam na razão de, no máximo, setenta e cinco por cento
de uma autonomia, consubstancianda na capacidade de daquele estabelecido, em espécie, para os Deputa-
auto-organização, auto-legislação, auto-governo e auto- dos Federais, observado o que dispõem os arts. 39,
-administração. Os Estados podem se formar a partir de § 4º, 57, § 7º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I. (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998).
incorporação, subdivisão ou desmembramento, que por
§ 3º Compete às Assembleias Legislativas dispor
sua vez, pode se dar por anexação ou formação. sobre seu regimento interno, polícia e serviços
A incorporação ou fusão é a junção de dois ou mais administrativos de sua secretaria, e prover os res-
Estados para formação de um único Estado novo. A pectivos cargos.
cisão ou subdivisão é a separação de um Estado em § 4º A lei disporá sobre a iniciativa popular no pro-
dois ou mais Estados autônomos e independentes. E, cesso legislativo estadual.
o desmembramento consiste na separação de parte de
um Estado para formação de um novo Estado (forma- O artigo 27, da CF, estabelece para o cálculo do
ção) ou anexação a outro Estado já existente. número de parlamentares das Assembleias Legis-
lativas de acordo com a sua representatividade na
Art. 18 A organização político-administrativa da Câmara dos Deputados. “O número de Deputados à
República Federativa do Brasil compreende a União, Assembleia Legislativa corresponderá ao triplo da
os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos representação do Estado na Câmara dos Deputados e,
autônomos, nos termos desta Constituição. atingido o número de trinta e seis, será acrescido de
§ 3º Os Estados podem incorporar-se entre si, sub- tantos quantos forem os Deputados Federais acima de
dividir-se ou desmembrar-se para se anexarem a doze.” Ou seja, nos estados com até 12 deputados fede-
outros, ou formarem novos Estados ou Territórios rais, multiplica-se o número de deputados federais por
Federais, mediante aprovação da população direta- três e tem-se o número de vagas à Assembleia Legislati-
mente interessada, através de plebiscito, e do Con- va (Deputados Estaduais).
gresso Nacional, por lei complementar.
Dica
Competências Estaduais:
Fórmulas:
Art. 25 Os Estados organizam-se e regem-se pelas nº de Deputados Estaduais - 36 + 12 = nº de
Constituições e leis que adotarem, observados os Deputados Federais, ou
princípios desta Constituição. nº de Deputados Federais + 36 – 12 = nº de
§ 1º São reservadas aos Estados as competências Deputados Estaduais.
que não lhes sejam vedadas por esta Constituição.
Exemplo: Vamos supor que o Estado X possua
§ 2º Cabe aos Estados explorar diretamente, ou
15 deputados federais. Logo, mais de 12 depu-
mediante concessão, os serviços locais de gás cana-
lizado, na forma da lei, vedada a edição de medida
tados. Sabendo disso, ao aplicar a fórmula tere-
provisória para a sua regulamentação. (Redação mos que: 15 + 36 – 12 = 39. Logo, o Estado X
dada pela Emenda Constitucional nº 5, de 1995). teria 39 deputados estaduais.
§ 3º Os Estados poderão, mediante lei complemen-
tar, instituir regiões metropolitanas, aglomerações As cadeiras ocupadas por cada estado na Câmara
urbanas e microrregiões, constituídas por agrupa- dos Deputados são normalmente previstas na Consti-
mentos de municípios limítrofes, para integrar a tuição Estadual, e proporcionais à população de cada
organização, o planejamento e a execução de fun- Estado. Exemplo: Minas Gerais elege 53 Deputados
ções públicas de interesse comum. Federais. Assim, seguindo a fórmula constitucional,
de acordo com sua representatividade na Câmara
Bens dos Estados-Membros: deverá eleger 77 deputados estaduais à Assembleia.
Por sua vez, o art. 28, da CF, trata das eleições para
Art. 26 Incluem-se entre os bens dos Estados: Governador e Vice, da perda do mandato e dos subsídios
I - as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, de Governador, vice-governador e Secretários Estaduais.
emergentes e em depósito, ressalvadas, neste caso,
na forma da lei, as decorrentes de obras da União; Art. 28 A eleição do Governador e do Vice-Gover-
II - as áreas, nas ilhas oceânicas e costeiras, que nador de Estado, para mandato de 4 (quatro) anos,
estiverem no seu domínio, excluídas aquelas sob realizar-se-á no primeiro domingo de outubro, em
domínio da União, Municípios ou terceiros; primeiro turno, e no último domingo de outubro,
III - as ilhas fluviais e lacustres não pertencentes à em segundo turno, se houver, do ano anterior ao
do término do mandato de seus antecessores, e a
União;
posse ocorrerá em 6 de janeiro do ano subsequen-
IV - as terras devolutas não compreendidas entre
te, observado, quanto ao mais, o disposto no art.
NOÇÕES DE DIREITO

as da União.
77 desta Constituição.
Art. 27 O número de Deputados à Assembleia § 1º Perderá o mandato o Governador que assumir
Legislativa corresponderá ao triplo da represen- outro cargo ou função na administração pública
tação do Estado na Câmara dos Deputados e, atin- direta ou indireta, ressalvada a posse em virtude
gido o número de trinta e seis, será acrescido de de concurso público e observado o disposto no art.
tantos quantos forem os Deputados Federais acima 38, I, IV e V. (Renumerado do parágrafo único, pela
de doze. Emenda Constitucional nº 19, de 1998).
§ 1º Será de quatro anos o mandato dos Deputa- § 2º Os subsídios do Governador, do Vice-Governa-
dos Estaduais, aplicando- sê-lhes as regras desta dor e dos Secretários de Estado serão fixados por
Constituição sobre sistema eleitoral, inviolabilida- lei de iniciativa da Assembleia Legislativa, obser-
de, imunidades, remuneração, perda de mandato, vado o que dispõem os arts. 37, XI, 39, § 4º, 150, II,
licença, impedimentos e incorporação às Forças 153, III, e 153, § 2º, I. (Incluído pela Emenda Consti-
Armadas. tucional nº 19, de 1998). 195
MUNICÍPIOS § 2º O parecer prévio, emitido pelo órgão competen-
te, sobre as contas que o Prefeito deve anualmente
O Município, que também é um ente federado prestar, só deixará de prevalecer por decisão de
que possui autonomia administrativa (autoadminis- dois terços dos membros da Câmara Municipal.
tração) e política (auto-organização, autogoverno e § 3º As contas dos Municípios ficarão, durante ses-
capacidade normativa própria), tendo vinculação senta dias, anualmente, à disposição de qualquer
ao Estado onde se localiza, depende na sua criação, contribuinte, para exame e apreciação, o qual pode-
incorporação, fusão ou desmembramento, de lei esta- rá questionar-lhes a legitimidade, nos termos da lei.
§ 4º É vedada a criação de tribunais, Conselhos ou
dual dentro do período determinado por lei comple-
órgãos de contas municipais.
mentar federal, além da realização de plebiscito.
Sua capacidade de auto-organização consiste na
DISTRITO FEDERAL
possibilidade da elaboração da lei orgânica própria.
O município possui o Poder Executivo, exercido pelo
O Distrito Federal é reconhecido como ente inte-
Prefeito e o Poder Legislativo, exercido pela Câmara
grante da Federação e goza de autonomia política,
Municipal. Entretanto, não há Poder Judiciário na esfe-
embora não se enquadre nem como estado-membro
ra municipal, sendo regido por lei orgânica, nos termos
ou município. Sua principal função é servir como
do art. 29, da CF. A Constituição prevê ainda a compo- sede do Governo Federal e não pode haver divisões
sição das Câmaras Municipais e o subsídio dos verea- em municípios.
dores, de acordo com a quantidade de habitantes do
município. Organização do Distrito Federal
Competência: O Distrito Federal não possui constituição, mas lei
orgânica própria, que define os princípios básicos de sua
A competência dos municípios está elencada no organização, suas competências e a organização de seus
art. 30, da CF. poderes governamentais, nos termos do art. 32, da CF.

Art. 30 Compete aos Municípios: Art. 32 O Distrito Federal, vedada sua divisão em
I - legislar sobre assuntos de interesse local; Municípios, reger-se-á por lei orgânica, votada em
II - suplementar a legislação federal e a estadual no dois turnos com interstício mínimo de dez dias, e
que couber; aprovada por dois terços da Câmara Legislativa,
III - instituir e arrecadar os tributos de sua compe- que a promulgará, atendidos os princípios estabe-
tência, bem como aplicar suas rendas, sem prejuí- lecidos nesta Constituição.
zo da obrigatoriedade de prestar contas e publicar § 1º Ao Distrito Federal são atribuídas as com-
balancetes nos prazos fixados em lei; petências legislativas reservadas aos Estados e
IV - criar, organizar e suprimir distritos, observada Municípios.
a legislação estadual; § 2º A eleição do Governador e do Vice-Governador,
V - organizar e prestar, diretamente ou sob regime observadas as regras do art. 77, e dos Deputados Dis-
de concessão ou permissão, os serviços públicos de tritais coincidirá com a dos Governadores e Deputa-
interesse local, incluído o de transporte coletivo, dos Estaduais, para mandato de igual duração.
que tem caráter essencial; § 3º Aos Deputados Distritais e à Câmara Legislati-
VI - manter, com a cooperação técnica e financei- va aplica-se o disposto no art. 27.
ra da União e do Estado, programas de educação § 4º Lei federal disporá sobre a utilização, pelo
infantil e de ensino fundamental;  (Redação dada Governo do Distrito Federal, da polícia civil, da
pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006). polícia penal, da polícia militar e do corpo de bom-
VII - prestar, com a cooperação técnica e financei- beiros militar.
ra da União e do Estado, serviços de atendimento à
saúde da população; Hoje, não existe no Brasil nenhum Território. Com
VIII - promover, no que couber, adequado ordenamen- o advento da CF, de 1988, Roraima e Amapá foram
to territorial, mediante planejamento e controle do transformados em Estados e Fernando de Noronha foi
uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano; incorporado ao Estado de Pernambuco.
IX - promover a proteção do patrimônio histórico-
-cultural local, observada a legislação e a ação fis- ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
calizadora federal e estadual.
A Administração Pública tem suas regras discipli-
Fiscalização financeira e orçamentária nadas nos arts. 37 a 41, da CF, de 1988.

A fiscalização financeira e orçamentária dos Muni- Art. 37 A administração pública direta e indi-
cípios se dá sob duas modalidades: controle externo, reta de qualquer dos Poderes da União, dos Esta-
exercido pela Câmara Municipal e o controle interno, dos, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá
exercido pelo próprio executivo municipal, nos ter- aos princípios de legalidade, impessoalidade,
mos do art. 31, da CF. moralidade, publicidade e eficiência e, também,
ao seguinte:
Art.  31  A fiscalização do Município será exercida
pelo Poder Legislativo municipal, mediante contro- Conforme se observa do caput, do art. 37, a Admi-
le externo, e pelos sistemas de controle interno do nistração Pública divide-se em Administração
Poder Executivo municipal, na forma da lei. Pública Direta, que é composta pelos quatro entes
§ 1º O controle externo da Câmara Municipal será federativos (União, Estados, Municípios e Distrito
exercido com o auxílio dos Tribunais de Contas dos Federal), e Administração Pública Indireta, compos-
Estados ou do Município ou dos Conselhos ou Tri- ta pelas autarquias, fundações públicas, sociedades de
196 bunais de Contas dos Municípios, onde houver. economia mista e empresas públicas.
Via de regra, a Administração Pública submete-se No que se refere à forma de acesso, há de se escla-
a um regime jurídico de direito público, ou seja, a sua recer, inicialmente, que se tratam dos cargos não pri-
atuação independe da concordância dos administra- vativos de brasileiros natos, uma vez que, conforme
dos, pois se funda na própria soberania estatal. já explanado anteriormente, os cargos privativos de
O regime jurídico de direito público faz com que a brasileiro nato constam expressamente do § 3º, art.
Administração se sujeite a limites, que, por vezes, são 12, da CF, de 1988.
mais estritos do que aqueles a que estão submetidos Observa-se que os cargos não privativos de bra-
os particulares. Como exemplo, pode-se citar o dever sileiros natos podem ser preenchidos por brasileiros
de observância da finalidade pública. (natos ou naturalizados) de forma ampla. Vale frisar
Esse regime de prerrogativas e sujeições para a que pode a lei estabelecer requisitos limitadores,
Administração Pública encontra-se expresso em for- tais como formação escolar, idade, entre outros. Em
ma de princípios. De acordo com o dispositivo, são contrapartida, para que o estrangeiro possa ter aces-
princípios que regem a Administração Pública direta so a tais cargos, a lei deve especificar as hipóteses de
e indireta: legalidade, impessoalidade, moralidade, admissibilidade.
publicidade e eficiência. Há que se fazer, aqui, duas observações quanto à
O Princípio da Legalidade estabelece a sujeição aplicabilidade da norma. Com relação aos brasileiros,
da Administração Pública aos mandamentos da lei. a norma constitucional é de eficácia contida, ou seja,
A legalidade traduz o sentido de que a Administra- todos os brasileiros tem acesso aos cargos, empregos
ção Pública somente pode fazer o que a lei manda ou e funções públicas. A norma infraconstitucional pode
permite, bem como somente pode proibir o que a lei conter tais efeitos, estabelecendo critérios diferencia-
expressamente proíbe. dos. Portanto, estão disponíveis aos brasileiros todos
O Princípio da Impessoalidade traz a neutrali- os cargos, empregos e funções desde que a norma
dade necessária para o exercício da atividade admi- não restrinja. Já para os estrangeiros, a norma cons-
nistrativa. Destinado tanto ao administrador como ao titucional é de eficácia limitada, ou seja, para que o
administrado, esse princípio impõe a objetividade e a estrangeiro tenha acesso, faz-se necessária norma
isonomia da conduta administrativa. infraconstitucional regulando a hipótese. Deste modo,
O Princípio da Moralidade diz respeito à moral estão disponíveis aos estrangeiros somente os cargos,
administrativa. Segundo ele, os atos da administra- empregos e funções públicos que a lei autorizar.
ção pública devem ser balizados nas matrizes éticas
dominantes. A finalidade do princípio é fixar limites Art. 37 [...]
à atuação da Administração, evitando, por exemplo, o II - a investidura em cargo ou emprego públi-
excesso de poder ou desvio de finalidade. co depende de aprovação prévia em concurso
O Princípio da Publicidade exige a divulgação público de provas ou de provas e títulos, de
dos atos da Administração Pública com o objetivo acordo com a natureza e a complexidade do cargo
de permitir o conhecimento e o controle por toda a ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas
sociedade, pois ao administrador compete agir com as nomeações para cargo em comissão declarado
transparência. em lei de livre nomeação e exoneração;
Por fim, o Princípio da Eficiência impõe à Admi-
nistração a obrigação de realizar suas atribuições com O inciso II estabelece a necessidade de procedi-
rapidez, perfeição e rendimento, pois quem adminis- mento administrativo destinado à seleção das pessoas
tra gere algo que pertence à sociedade. Assim, cabe que irão ocupar empregos públicos ou cargos públicos
ao administrador zelar pelos interesses públicos com de provimento efetivo ou vitalício. Trata-se, portanto,
plena satisfação do administrado e com o menor custo de uma forma de escolha para atender aos princípios
para a sociedade. da igualdade e da moralidade administrativa, evitan-
Para memorizar os princípios, utilize o mnemôni- do-se, com isso, que o ingresso no serviço público se dê
co LIMPE: por critérios de favorecimento pessoal ou nepotismo.
Os concursos públicos devem ser abertos a todos
Legalidade; os interessados. Portanto, não se admite que a seleção
Impessoalidade; ocorra de forma interna (concursos internos).
Moralidade; Cabe consignar que os concursos públicos podem
Publicidade; ser de provas ou de provas e títulos. Deste modo,
Eficiência. não se admite concurso apenas de títulos nem admis-
são sem concurso público. Observa-se, no entanto,
Art. 37 [...] que existe exceções à regra relativa aos concursos
I - os cargos, empregos e funções públicas são públicos para os seguintes casos:
NOÇÕES DE DIREITO

acessíveis aos brasileiros que preencham os


requisitos estabelecidos em lei, assim como aos z Cargos de mandato eletivo;
estrangeiros, na forma da lei; z Cargo comissionado;
z Contratação temporária por excepcional interesse
O inciso I estabelece os requisitos e a forma de público;
preenchimento dos cargos, empregos e funções tanto z Ex-combatente que tenha efetivamente participa-
por brasileiros como por estrangeiros, quais sejam: do de operações bélicas durante a Segunda Guerra
Mundial (Inciso I, art. 53, ADCT);
z Previsão obrigatória em lei; z Outras hipóteses: Ministros ou Conselheiros dos
z Observância do princípio da isonomia e razoabilidade; Tribunais de Contas; Ministros do STF, do STJ, TSE,
z Compatibilidade com a natureza das atribuições TST e STM; integrantes do quinto Constitucional
do cargo a ser preenchido. dos Tribunais Judiciários. 197
Art. 37 [...] A iniciativa da lei que cria, extingue ou transforma
III - o prazo de validade do concurso público será cargos varia conforme o caso. Por exemplo, no caso
de até dois anos, prorrogável uma vez, por igual dos cargos do Poder Judiciário, dos Tribunais de Con-
período; tas e do Ministério Público, a lei será de iniciativa dos
respectivos Tribunais ou Procuradores-Gerais.
O inciso III traz o prazo de validade do concurso Excepciona a regra quando os cargos ou funções
público, que é de até 2 (dois) anos. Assim sendo, cabe se encontrarem vagos, uma vez que a Emenda Cons-
ao edital definir qual o prazo do concurso, não poden- titucional nº 32, de 2001, possibilitou a extinção por
do, no entanto, ser superior a 2 (dois) anos. meio de decreto do Presidente da República. Com rela-
Além disso, é possível a prorrogação do prazo de ção aos Governadores e Prefeitos, a extinção do cargo
validade por uma única vez e por igual período, ou vago é possível se houver semelhante previsão nas
seja, se o prazo de validade do edital é de 1 (um) ano, respectivas Constituições Estaduais ou Leis Orgânicas
ele somente poderá ser prorrogado por 1 (um) ano. (princípio da simetria).
Aqui, cabe uma observação importante: a prorroga- No que se refere às garantias e características
ção só é possível ser feita enquanto não expirado o especiais, os cargos podem ser classificados em vitalí-
prazo inicial. cios, efetivos e comissionados. Cargo vitalício é aque-
O candidato que for aprovado em concurso públi- le com a maior garantia em relação à permanência.
co dentro do número de vagas previstas no edital, Trata-se daquele destinado a receber o ocupante em
estando tal concurso dentro do prazo de validade, caráter permanente, como no caso dos magistrados
(inciso I, art. 95, CF, de 1988), os de membros do Minis-
possui o direito subjetivo de ser nomeado, assim como
tério Público (alínea “a”, inciso I, § 5º, art. 128, CF, de
a prioridade na nomeação. Em contrapartida, o candi-
1988) e os de ministros do Tribunal de Contas (§ 3º,
dato aprovado fora do número de vagas possui mera
art. 73, CF, de 1988). A vitaliciedade é adquirida após
expectativa de direito à nomeação, devendo subme-
2 (dois) anos de efetivo exercício no cargo e tais servi-
ter-se ao juízo de conveniência e oportunidade da dores só poderão ser demitidos por sentença judicial
Administração. transitada em julgado.
Já cargo efetivo é aquele provido por concurso
Art. 37 [...]
público, cujos integrantes possuem a estabilidade; ou
IV - durante o prazo improrrogável previsto no edi-
seja, após 3 (três) anos de efetivo exercício, só poderão
tal de convocação, aquele aprovado em concurso
ser demitidos por decisão judicial transitada em jul-
público de provas ou de provas e títulos será con-
vocado com prioridade sobre novos concursa-
gado, processo administrativo disciplinar ou processo
dos para assumir cargo ou emprego, na carreira;
de avaliação periódica de desempenho.
Por fim, cargo em comissão é aquele preenchido
O inciso IV regula a hipótese de novo concurso de acordo com a confiança. Como regra, ele deve ser
para o mesmo cargo enquanto os candidatos aprova- preenchido preferencialmente por servidores de car-
dos em certame anterior e com prazo de validade não reira. Portanto, para os demais casos (pessoal de fora
expirado ainda não foram convocados. Assim, estabe- da Administração), a nomeação deve ser exceção.
Além disso, é importante frisar que a nomeação aos
lece a prioridade de convocação destes em face dos
cargos em comissão somente é possível para os cargos
novos aprovados.
de chefia, direção ou assessoramento. Portanto, para
Segundo entendimento do STF, para gozar da prio-
as atribuições de execução e, não, para as atribuições
ridade na nomeação, não basta ao candidato a mera técnicas e operacionais. Exemplo: cabe a nomeação
aprovação, sendo necessário que ele tenha sido classi- para cargo em comissão de Secretário de Transportes,
ficado dentro do número de vagas disponibilizadas no por demandar conhecimento específico e confiança. Já
concurso, ou seja, se o edital previu uma vaga e foram para o motorista, isto não é cabível, pois, diferentemen-
aprovados dois candidatos, somente o primeiro tem te do Secretário, sua atribuição é meramente operacio-
prioridade de nomeação. nal e não demanda a relação de confiança.
Como regra, os cargos em comissão são de livre
Art. 37 [...] nomeação e exoneração (ad nutum). A exceção a essa
V - as funções de confiança, exercidas exclusiva- regra é o que se intitula de nepotismo (favorecimento
mente por servidores ocupantes de cargo efeti- de parentes em detrimento de pessoas mais qualifi-
vo, e os cargos em comissão, a serem preenchidos cadas). Importante salientar que essa prática também
por servidores de carreira nos casos, condições pode ocorrer de forma cruzada. Por exemplo: quando
e percentuais mínimos previstos em lei, destinam- autoridades, a fim de omitir o nepotismo, nomeiam
-se apenas às atribuições de direção, chefia e para determinado cargo parentes um do outro de
assessoramento; maneira recíproca.
Vejamos, a seguir, o texto da Súmula Vinculante nº
O inciso V trata de duas situações distintas: a fun- 13, do STF, relativa ao tema:
ção de confiança e o cargo de confiança (em comis-
são). Cargo público é a unidade estrutural e funcional Súmula Vinculante nº 13 A nomeação de cônju-
em que o servidor exerce suas atribuições e responsa- ge, companheiro, ou parente, em linha reta, cola-
bilidades, ou seja, é o local dentro da estrutura orga- teral ou por afinidade, até o 3º grau, inclusive, da
nizacional que deve ser atribuído a um servidor. Já autoridade nomeante ou de servidor da mesma pes-
soa jurídica, investido em cargo de direção, chefia
função é a própria atribuição e responsabilidade.
ou assessoramento, para o exercício de cargo em
Em regra, os cargos públicos somente podem ser comissão ou de confiança, ou, ainda, de função gra-
criados, transformados ou extintos por lei. Assim, tificada na administração pública direta e indireta,
cabe ao Poder Legislativo, com a sanção do chefe do em qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do
Poder Executivo, dispor sobre a criação, transforma- Distrito Federal e dos Municípios, compreendido o
198 ção e extinção de cargos, empregos e funções públicas. ajuste mediante designações recíprocas, viola a CF.
A Súmula Vinculante nº 13 aplica-se apenas aos O inciso VIII estabelece a reserva de vagas para
cargos de natureza administrativa, estando de pessoas com deficiência. Trata-se de uma norma
fora do seu âmbito as nomeações para cargos políti- constitucional de eficácia limitada, ou seja, que depen-
cos. Exemplo: o STF considerou válida a nomeação de da edição de lei infraconstitucional para poder
para o cargo de Secretário Estadual de Transportes gerar os efeitos.
de irmão de Governador de Estado sob a alegação de Com relação à reserva, cumpre salientar que as
que o cargo em questão possuía natureza política (Rcl atribuições do cargo devem ser compatíveis com a
6.650-MC-AgR). deficiência. Ainda, a reserva é de até 20% (vinte por
Por fim, para o exercício da função de confiança, cento) das vagas oferecidas no concurso, isto é, a
o pressuposto é que o nomeado já exerça cargo na CF/88 fixou apenas o limite máximo (teto) do número
Administração. Exemplo: um escrevente técnico é
a ser reservado.
nomeado para a função de assessor do juiz.
O § 1º, art. 37, do Decreto nº 3.298, de 1999, esta-
belece o percentual mínimo de 5% das vagas e, no
caso de o número obtido ser fracionado, o número de
Importante!
vagas será elevado até o primeiro número inteiro sub-
Função de confiança: deve ser agente público;
� sequente, ou seja, arredondado para cima.
Cargo em confiança: pode ou não ser agente

público. Art. 37 [...]
IX - a lei estabelecerá os casos de contratação por
tempo determinado para atender a necessidade
Art. 37 [...] temporária de excepcional interesse público;
VI - é garantido ao servidor público civil o direito à
livre associação sindical; O servidor temporário encontra-se disciplinado
no inciso IX. Trata-se de uma categoria à parte, uma
O inciso VI decorre do direito à liberdade do artigo vez que não titulariza cargo público nem possui
5º da CF, de 1988. Lembrem-se: ninguém é obrigado a se
qualquer vínculo trabalhista regido pela CLT, sendo
associar ou a se manter associado.
regida por regime especial veiculado por meio de lei
específica de cada ente da federação.
Art. 37 [...]
VII - o direito de greve será exercido nos termos e O servidor público exerce funções públicas sem
nos limites definidos em lei específica; ocupar cargos ou empregos públicos e sua contra-
tação é por tempo determinado e para atender
O direito de greve dos servidores públicos é dife- necessidade temporária de excepcional interesse
rente dos demais trabalhadores da iniciativa privada. público. Por exemplo: agente sanitário em caso de
Enquanto estes podem interromper completamente surto de dengue.
suas atividades, o servidor público precisa garantir
que os serviços sejam mantidos e em percentual que Art. 37 [...]
possa atender à população. Trata-se da aplicação do X - a remuneração dos servidores públicos e
princípio da continuidade, uma vez que não é possí- o subsídio de que trata o § 4º do art. 39 somente
vel a interrupção total das atividades prestadas pela poderão ser fixados ou alterados por lei especí-
Administração à população por serem estas essen- fica, observada a iniciativa privativa em cada caso,
ciais e necessárias à coletividade. Para tanto, a Norma assegurada revisão geral anual, sempre na mesma
Constitucional prevê que os termos e limites devem data e sem distinção de índices;
ser estabelecidos em lei.
Ainda não foi elaborada lei para dar aplicabilidade O inciso X trata da remuneração dos servidores
ao inciso VII. Por essa razão, o STF proferiu a seguinte públicos. Cumpre esclarecer, no entanto, que remu-
decisão nos autos do Mandado de Injunção 670-ES: neração é o gênero, do qual salário, vencimentos e
subsídios são espécies. Salário é a contraprestação
STF, MI 670-ES: Mandado de injunção. Garantia pecuniária paga aos empregados públicos, regidos
fundamental (CF, Art. 5º, inciso LXXI). Direito de pela CLT. Vencimentos são a modalidade remunera-
greve dos servidores públicos civis (CF, Art. 37, tória da maioria dos servidores submetidos a regime
inciso VII). Evolução do tema na jurisprudência jurídico estatutário, englobando o vencimento-base e
do Supremo Tribunal Federal (STF). Definição dos
as vantagens pecuniárias. Já subsídio é uma parcela
parâmetros de competência constitucional para
apreciação no âmbito da justiça federal e da jus- única, sem qualquer acréscimo, obrigatória para as
tiça estadual até a edição da legislação específica seguintes categorias:
pertinente, nos termos do art. 37, VII, da CF. Em
NOÇÕES DE DIREITO

observância aos ditames da segurança jurídica e à z Membros de Poder (chefes dos Poderes Executivos,
evolução jurisprudencial na interpretação da omis- senadores, deputados, vereadores, magistrados),
são legislativa sobre o direito de greve dos servido- detentores de mandato eletivo, Ministros de Esta-
res públicos civis, fixação do prazo de 60 (sessenta) do e Secretários Estaduais e Municipais;
dias para que o Congresso Nacional legisle sobre a z Ministros ou Conselheiros dos Tribunais de Contas;
matéria. Mandado de injunção deferido para deter-
z Membros do Ministério Público;
minar a aplicação das Leis 7.701/1988 e 7.783/1989.
z Integrantes das carreiras pertencentes à Advocacia
Art. 37 [...] Geral da União, à Procuradoria-Geral da Fazenda
VIII - a lei reservará percentual dos cargos e Nacional, às Procuradorias dos Estados e do Dis-
empregos públicos para as pessoas portado- trito Federal e às Defensorias Públicas da União,
ras de deficiência e definirá os critérios de sua DF e Territórios e Defensorias Públicas Estaduais
admissão; (Art. 135, CF); 199
z Servidores policiais integrantes da Polícia Fede- Art. 37 [...]
ral, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Ferroviária XII - os vencimentos dos cargos do Poder Legis-
Federal, Polícias Civis, Polícias Militares e Corpos lativo e do Poder Judiciário não poderão ser
de Bombeiros Militares. superiores aos pagos pelo Poder Executivo;

A isonomia dos vencimentos dos servidores dos


Vejamos, a seguir, o texto da Súmula nº 679, do STF:
três Poderes está disciplinada no inciso XII. Sua finali-
dade é manter a paridade.
Súmula 679 (STF) A fixação de vencimentos dos
É importante o texto da Súmula Vinculante nº 37,
servidores públicos não pode ser objeto de conven-
do STF:
ção coletiva.
Súmula Vinculante nº 37 Não cabe ao Poder Judi-
No que se refere à revisão, o dispositivo trata ape- ciário, que não tem função legislativa, aumentar
nas da revisão geral, ou seja, ao reajuste anual genéri- vencimentos de servidores públicos sob fundamen-
co, que tem por objetivo repor as perdas inflacionárias to de isonomia.
do período, sendo aplicável a todos os servidores. Por-
tanto, não a confunda com reajuste específico, que é Art. 37 [...]
aquele aplicado apenas a alguns cargos ou carreiras XIII - é vedada a vinculação ou equiparação de
funcionais, com a finalidade de evitar a defasagem quaisquer espécies remuneratórias para o efeito
remuneratória. de remuneração de pessoal do serviço público;

Art. 37 [...] A vedação à vinculação e à equiparação de


XI - a remuneração e o subsídio dos ocupantes de remunerações encontra-se prevista no inciso XIII.
cargos, funções e empregos públicos da administra- Sobre isso, vejamos o texto da Súmula nº 681:
ção direta, autárquica e fundacional, dos membros
de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Súmula nº 681 (STF) É inconstitucional a vincula-
Distrito Federal e dos Municípios, dos detentores ção do reajuste de vencimentos de servidores esta-
duais ou municipais a índices federais de correção
de mandato eletivo e dos demais agentes políticos
monetária.
e os proventos, pensões ou outra espécie remu-
neratória, percebidos cumulativamente ou não,
Atenção! Há duas exceções à regra de não vincu-
incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer
lação, quais sejam:
outra natureza, não poderão exceder o subsídio
mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo
Tribunal Federal, aplicando-se como limite, nos z A equiparação de vencimentos e vantagens entre
Municípios, o subsídio do Prefeito, e nos Esta- os Ministros do TCU e do STJ (§ 3º, art. 73, CF/88);
dos e no Distrito Federal, o subsídio mensal do z A vinculação entre o subsídio dos Ministros dos
Governador no âmbito do Poder Executivo, o Tribunais Superiores e o subsídio mensal fixado
subsídio dos Deputados Estaduais e Distritais para os Ministros do STF (Inciso V, art. 93, CF/88).
no âmbito do Poder Legislativo e o subsídio
dos Desembargadores do Tribunal de Justiça, Art. 37 [...]
limitado a noventa inteiros e vinte e cinco centési- XIV - os acréscimos pecuniários percebidos por
servidor público não serão computados nem
mos por cento do subsídio mensal, em espécie, dos
acumulados para fins de concessão de acréscimos
Ministros do Supremo Tribunal Federal, no âmbito
ulteriores;
do Poder Judiciário, aplicável este limite aos mem-
bros do Ministério Público, aos Procuradores e aos
O inciso XIV trata da vedação ao efeito-repicão
Defensores Públicos;
ou efeito cascata, ou seja, veda-se que a mesma van-
tagem seja repetidamente computada para o cálculo
Com relação ao teto do funcionalismo público, a das demais vantagens. A finalidade do dispositivo é
CF, de 1988, estabeleceu duas regras. A primeira é a evitar que, na base de cálculo de uma vantagem remu-
do teto geral, ou seja, o limite máximo de remune- neratória, seja acrescida outra vantagem. Por exem-
ração que é o valor dos subsídios dos Ministros do plo: se o servidor faz jus e recebe um adicional por
Supremo Tribunal Federal. Já a segunda regra trata tempo de serviço, não é possível inseri-lo na base de
do denominado subteto, ou seja, o teto para os Esta- cálculo para a concessão de outra gratificação, como,
dos, Municípios e Distrito Federal. por exemplo, uma gratificação de produtividade.
Vale destacar que o dispositivo previu duas hipóte-
ses de subtetos: o teto único e o teto por Poder. O teto Art. 37 [...]
único tem, como base, a fixação de um valor máximo XV - o subsídio e os vencimentos dos ocupantes
estabelecido para fins remuneratórios. Já o teto por de cargos e empregos públicos são irredutíveis,
Poderes faz com que cada ente político adote um sub- ressalvado o disposto nos incisos XI e XIV deste
artigo e nos arts. 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, §
teto próprio para a fixação dos subsídios. O Executi-
2º, I;
vo tem, como subteto, os subsídios do Governador. O
Legislativo tem, como subteto, os subsídios dos depu- A irredutibilidade dos subsídios e dos venci-
tados estaduais, que, por sua vez, não poderão exceder mentos dos ocupantes de cargos, funções e empregos
75% dos subsídios dos deputados federais. Por fim, o públicos encontra-se estabelecida no inciso XV. Trata-
Judiciário adota, como subteto, o valor de 90,25% dos -se da impossibilidade de redução do valor nominal,
subsídios do Supremo Tribunal Federal, ressaltando ou seja, se a remuneração é de R$ 5.000,00, não pode-
que esse subteto se aplica tão somente aos seus ser- rá reduzi-lo para valor inferior. No entanto, é possível
vidores e, não, aos membros da Magistratura, pois a que ocorra a redução real, ou seja, que o poder aquisi-
200 estes é aplicado o teto do Supremo Tribunal Federal. tivo desse valor seja atingido pela inflação.
Art. 37 [...] Art. 37 [...]
XVI - é vedada a acumulação remunerada de XVIII - a administração fazendária e seus servi-
cargos públicos, exceto, quando houver compa- dores fiscais terão, dentro de suas áreas de com-
tibilidade de horários, observado em qualquer petência e jurisdição, precedência sobre os demais
caso o disposto no inciso XI: setores administrativos, na forma da lei;
a) a de dois cargos de professor;
b) a de um cargo de professor com outro técni-
O inciso XVIII trata da precedência da Administra-
co ou científico;
c) a de dois cargos ou empregos privativos de pro- ção Fazendária e seus servidores fiscais aos demais
fissionais de saúde, com profissões regulamentadas; setores administrativos. Isso significa dizer que, den-
tro da estrutura da Administração Pública, esta deverá
O inciso XVI trata da vedação de acumulação de dar prioridade para os serviços atinentes à arrecada-
cargos. Como regra, é vedada a acumulação remu- ção dos tributos, por se tratarem dos recursos essen-
nerada de cargos públicos. No entanto, é possível ciais ao seu funcionamento.
a acumulação se houver compatibilidade de horá-
rios entre os cargos e somente em três hipóteses. A Art. 37 [...]
primeira refere-se ao magistério e traz a possibilidade XIX - somente por lei específica poderá ser criada
de acumular dois cargos de professor (ex.: cargo de autarquia e autorizada a instituição de empre-
professor da rede municipal no período matutino e sa pública, de sociedade de economia mista e
cargo de professor da rede estadual no período notur- de fundação, cabendo à lei complementar, neste
no). A segunda hipótese é a acumulação de um cargo último caso, definir as áreas de sua atuação;
de professor com outro técnico ou científico (ex.:
cargo técnico em enfermagem em hospital estadual Para que uma autarquia seja criada, faz-se neces-
com carga horária compatível com cargo de professor sária a autorização legislativa (lei específica), de modo
de ensino médio estadual). Por fim, é possível a acu- a adquirir a personalidade jurídica com a própria lei.
mulação de dois cargos privativos de profissionais Em contrapartida, é preciso lei que autorize a criação
da saúde, com profissões regulamentadas (ex.: car- das empresas públicas, sociedades de economia mista
go de dentista, em um município, durante o período e fundações, devendo, posteriormente, ser registra-
matutino com outro cargo de dentista, em outro muni- das, a fim de adquirirem a personalidade jurídica.
cípio, no período vespertino). Ressalta-se, por fim, que para as fundações, uma lei
complementar deve definir as áreas de sua atuação.
Importante!
LEI ESPECÍFICA LEI COMPLEMENTAR
Cargos burocráticos não são considerados como
técnicos. Para ser enquadrado como cargo téc- � Cria as autarquias � Cria as fundações
nico passível de acumulação, é necessária for- � Autoriza a criação das públicas
mação específica na área de atuação. Portanto, demais entidades –
cargo técnico é aquele que requer conhecimento criadas por meio diver-
específico na área de atuação do profissional, so do que autorizou
com habilitação específica de grau universitário
ou profissionalizante (Ensino Médio). Art. 37 [...]
XX - depende de autorização legislativa, em
cada caso, a criação de subsidiárias das enti-
Em síntese: dades mencionadas no inciso anterior, assim
como a participação de qualquer delas em empresa
z Regra: Não acumulação de cargos públicos privada;
remunerados;
z Exceção: Acumulação de cargos públicos remune- Assim como no inciso anterior, também depende
rados, quando há compatibilidade de horários e
de autorização legislativa a criação de subsidiárias da
nas seguintes hipóteses:
Administração indireta, assim como a participação de
qualquer delas em empresa privada.
„ Dois cargos de professor;
„ Um cargo de professor com outro técnico ou
Art. 37 [...]
científico;
XXI - ressalvados os casos especificados na legisla-
„ Dois cargos privativos de profissionais de saú-
ção, as obras, serviços, compras e alienações
de, com profissões regulamentadas.
serão contratados mediante processo de licitação
pública que assegure igualdade de condições a
Art. 37 [...]
NOÇÕES DE DIREITO

todos os concorrentes, com cláusulas que esta-


XVII - a proibição de acumular estende-se a empre-
gos e funções e abrange autarquias, fundações, beleçam obrigações de pagamento, mantidas as
empresas públicas, sociedades de economia mis- condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o
ta, suas subsidiárias, e sociedades controladas, qual somente permitirá as exigências de qualifica-
direta ou indiretamente, pelo poder público; ção técnica e econômica indispensáveis à garantia
do cumprimento das obrigações.
O inciso XVII estende a regra da não acumulação
para a Administração Indireta. Portanto, a proibição Outra regra contida na Constituição Estadual é a
aplica-se às autarquias, fundações e empresas públi- exigência de licitação pública para contratação de
cas, sociedades de economia mista, bem como às suas obras, serviços, compras e alienações, ressalvados
subsidiárias, além das sociedades controladas direta os casos de dispensa e inexigibilidade previstos em
ou indiretamente pelo poder público. lei. 201
Vale frisar, aqui, que é assegurada a todos a igual- II - o acesso dos usuários a registros administrati-
dade de condições, com cláusulas que estabeleçam vos e a informações sobre atos de governo, obser-
obrigações de pagamento, mantidas as condições efe- vado o disposto no art. 5º, X e XXXIII;
tivas da proposta, nos termos da lei, a qual somente III - a disciplina da representação contra o exercí-
cio negligente ou abusivo de cargo, emprego ou fun-
permitirá as exigências de qualificação técnica e eco-
ção na administração pública.
nômica indispensáveis à garantia do cumprimento
das obrigações.
O § 3º remete à preocupação do legislador para que
haja um controle social, de modo a estabelecer meios
Art. 37 [...] para que qualquer pessoa comunique as irregularida-
XXII - as administrações tributárias da União, des ou ilegalidades praticadas pelos agentes públicos.
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, Trata-se, portanto, da possibilidade de controle para
atividades essenciais ao funcionamento do Estado, evitar os atos de improbidade administrativa, ou seja,
exercidas por servidores de carreiras específicas,
de condutas ilegais, desonestas, abusivas e incorretas.
terão recursos prioritários para a realização
de suas atividades e atuarão de forma integrada,
Art. 37 [...]
inclusive com o compartilhamento de cadastros e § 4º Os atos de improbidade administrativa
de informações fiscais, na forma da lei ou convênio. importarão a suspensão dos direitos políticos,
a perda da função pública, a indisponibilidade
O inciso XXII traz mais uma regra de prioridade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma
da parte fiscal e de arrecadação. Assim, a Adminis- e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação
tração tributária de qualquer dos entes da federação penal cabível.
possui recurso prioritário para a realização de suas
atividades. De acordo com o § 4º, as penalidades para os atos
de improbidade são as seguintes: suspensão dos
Art. 37 [...] direitos políticos; perda de função pública; indispo-
§ 1º A publicidade dos atos, programas, obras, nibilidade dos bens e ressarcimento ao erário, sem
serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá prejuízo da ação penal cabível, ou seja, aplica-se a
ter caráter educativo, informativo ou de orien- penalidade administrativa cumulativamente com a
tação social, dela não podendo constar nomes, sanção penal (se o fato constituir crime).
símbolos ou imagens que caracterizem promoção Para memorizar os atos de improbidade adminis-
pessoal de autoridades ou servidores públicos. trativa, memorize o mnemônico PARIS:

O § 1º trata das regras de publicidade dos atos, Perda de função pública;


programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos Ação penal cabível (sem prejuízo);
públicos. Esse dispositivo é consequência direta do Ressarcimento ao erário;
princípio da impessoalidade, pois tal publicidade deve Indisponibilidade de bens;
Suspensão dos direitos políticos.
ser de caráter informativo, educativo ou de orienta-
ção social, ou seja, a propaganda pública não pode ser
Art. 37 [...]
meio para promoção pessoal. É por esse motivo que § 5º A lei estabelecerá os prazos de prescrição
não é permitido ao Governador ou ao Prefeito, por para ilícitos praticados por qualquer agente,
exemplo, continuar a utilizar o slogan de campanha servidor ou não, que causem prejuízos ao erário,
após ser eleito, uma vez que vincularia aquela ativi- ressalvadas as respectivas ações de ressarcimento.
dade pública a sua pessoa.
Nos termos do § 5º, os prazos prescricionais e as
Art. 37 [...] ações de ressarcimento serão disciplinadas em lei.
§ 2º A não observância do disposto nos incisos II Vale lembrar que a lei que disciplina as regras apli-
e III implicará a nulidade do ato e a punição da cáveis aos agentes públicos nos casos de improbidade
autoridade responsável, nos termos da lei. administrativa é a Lei nº 8.429, de 1992.

O § 2º traz a responsabilidade do agente público Art. 37 [...]


pela não observância da regra de que, para contratação § 6º As pessoas jurídicas de direito público e
de pessoal, o concurso público é indispensável. Conse- as de direito privado prestadoras de serviços
quentemente, se houver ingresso de pessoal sem o devi- públicos responderão pelos danos que seus
agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros,
do processo de seleção, haverá nulidade da nomeação,
assegurado o direito de regresso contra o respon-
devendo a autoridade sofrer as punições em conformi- sável nos casos de dolo ou culpa.
dade com a norma infraconstitucional. Além disso, o
prazo de validade do concurso também implica em nuli- O § 6º trata da responsabilidade civil objetiva
dade da nomeação e responsabilidade do agente. do Estado, o que significa que o Estado é responsável
civilmente pelos atos praticados por seus agentes ou
Art. 37 [...] pelos prestadores de serviço público de forma obje-
§ 3º A lei disciplinará as formas de participação tiva, isto é, independentemente de culpa. Trata-se da
do usuário na administração pública direta e chamada Teoria do Risco Administrativo.
indireta, regulando especialmente: Portanto, o Estado é responsável quando um de seus
I - as reclamações relativas à prestação dos serviços agentes, no desempenho da função, gera dano a um ter-
públicos em geral, asseguradas a manutenção de ser- ceiro, independentemente da comprovação de dolo
viços de atendimento ao usuário e a avaliação perió- ou culpa, sendo necessário, apenas, demonstrar o nexo
202 dica, externa e interna, da qualidade dos serviços; causal da atividade do agente e o dano de terceiro.
Cumpre mencionar, por necessário, que é possível O modo pelo qual a Lei Complementar nº 101, de
ao Estado ingressar com ação regressiva para cobrar 2000, (Lei de Responsabilidade Fiscal) denomina as
do agente o valor que pagou a esse terceiro. No entan- empresas públicas e sociedades de economia mis-
to, ao contrário do que ocorre com o Estado, a respon- ta encaixa-se como “empresa estatal dependente”,
sabilidade do agente é subjetiva, ou seja, para que ele expressão disposta no § 9º.
seja responsabilizado civilmente, é preciso demons-
trar que houve dolo ou culpa. Art. 37 [...]
§ 10 É vedada a percepção simultânea de pro-
Entende-se por pessoa jurídica de direito privado
ventos de aposentadoria decorrentes do art. 40
prestadora de serviços públicos as empresas públicas, ou dos arts. 42 e 142 com a remuneração de car-
sociedades de economia mista e as concessionárias e go, emprego ou função pública, ressalvados os
permissionárias, isto é, aquelas empresas seleciona- cargos acumuláveis na forma desta Constitui-
das por procedimento licitatório para desempenhar ção, os cargos eletivos e os cargos em comissão
serviço público. Por exemplo: serviço de transporte declarados em lei de livre nomeação e exoneração.
público urbano.
O § 10 veda a percepção simultânea de proventos
Art. 37 [...] de aposentadoria com remuneração de cargo, empre-
§ 7º A lei disporá sobre os requisitos e as restri- go ou função pública, ressalvada a hipótese de cargos
ções ao ocupante de cargo ou emprego da adminis- acumuláveis, na forma da Constituição, cargos eleti-
tração direta e indireta que possibilite o acesso a vos e cargos em comissão. Esse dispositivo foi acres-
informações privilegiadas. centado pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998,
que também resguardou o direito daqueles servidores
O § 7º pressupõe a existência de regras éticas de aposentados que, até a data da promulgação da Emen-
conduta das autoridades da Administração Pública, da, retornaram à atividade antes da proibição.
de modo a tentar minimizar a possibilidade de con- A proibição aplica-se aos servidores públicos efe-
flito entre o interesse privado e o dever funcional. tivos e aos militares, tanto das Forças Armadas como
Ainda, objetiva-se a criação de mecanismos, a fim de das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares.
regulamentar o acesso às informações. Vejamos a repercussão geral reconhecida com
mérito julgado pelo STF:
Art. 37 [...]
§ 8º A autonomia gerencial, orçamentária e Há remansosa jurisprudência desta Corte nesse sen-
financeira dos órgãos e entidades da admi- tido, afirmando a impossibilidade da acumulação
nistração direta e indireta poderá ser amplia- tríplice de cargos públicos, ainda que os provimen-
da mediante contrato, a ser firmado entre seus tos nestes tenham ocorrido antes da vigência da EC
administradores e o poder público, que tenha por 20/1998. [...] o art. 11 da EC 20/1998 possibilita a acu-
objeto a fixação de metas de desempenho para o mulação, apenas, de um provento de aposentadoria
órgão ou entidade, cabendo à lei dispor sobre: com a remuneração de um cargo na ativa, no qual
I - o prazo de duração do contrato; se tenha ingressado por concurso público antes da
II - os controles e critérios de avaliação de desempenho, edição da referida emenda, ainda que inacumuláveis
direitos, obrigações e responsabilidade dos dirigentes; os cargos. Em qualquer hipótese, é vedada a acumu-
III - a remuneração do pessoal. lação tríplice de remunerações, sejam proventos,
sejam vencimentos. (ARE 848.993 RG)
O § 8º busca alcançar melhores resultados na Art. 37 [...]
Administração Pública por meio da criação de novos § 11 Não serão computadas, para efeito dos limi-
tes remuneratórios de que trata o inciso XI do
instrumentos no âmbito do Direito Público, de modo
caput deste artigo, as parcelas de caráter inde-
a conferir maior autonomia ou estabelecer parcerias
nizatório previstas em lei.
com entidades privadas sem fins lucrativos. Dessas
medidas, atente-se para o contrato de gestão.
O § 11 traz uma regra com relação ao teto e subte-
Entende-se por contrato de gestão o contrato admi-
to do funcionalismo público. Trata-se do não cômputo
nistrativo firmado pelo Poder Público na condição de
das verbas indenizatórias, tais como diárias, ajuda de
contratante e entidade privada ou da Administração custo, entre outras, no limite remuneratório.
Indireta, no qual é instrumentalizada parceria.
Art. 37 [...]
Art. 37 [...] § 12 Para os fins do disposto no inciso XI do caput
§ 9º O disposto no inciso XI aplica-se às empre- deste artigo, fica facultado aos Estados e ao Distri-
sas públicas e às sociedades de economia mis- to Federal fixar, em seu âmbito, mediante emenda
ta, e suas subsidiárias, que receberem recursos às respectivas Constituições e Lei Orgânica, como
da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos limite único, o subsídio mensal dos Desembarga-
NOÇÕES DE DIREITO

Municípios para pagamento de despesas de pes- dores do respectivo Tribunal de Justiça, limitado
soal ou de custeio em geral. a noventa inteiros e vinte e cinco centésimos por
cento do subsídio mensal dos Ministros do Supre-
mo Tribunal Federal, não se aplicando o disposto
As regras com relação ao teto e subteto da remu- neste parágrafo aos subsídios dos Deputados
neração são estendidas aos empregados das empresas Estaduais e Distritais e dos Vereadores.
públicas e sociedades de economia mista, bem como
às suas subsidiárias. No entanto, conforme o dispos- O dispositivo regulamenta a possibilidade de fixa-
to no § 9º, incidirá sobre as remunerações de direto- ção do subteto de forma única. Nesse caso, o valor
res de empresas estatais que receberem recursos dos máximo da remuneração para todo e qualquer servi-
entes da federação para pagamento de despesas de dor corresponderá ao subsídio dos desembargadores
pessoal ou de custeio em geral, como, por exemplo, do Tribunal de Justiça, ficando de fora desse subteto
nos casos da EMBRAPA e da Radiobras. apenas o subsídio dos deputados. 203
Vejamos a decisão do STF no julgamento da ADI 6.221 MC:

A faculdade conferida aos Estados para a regulação do teto aplicável a seus servidores (art. 37, § 12, da CF) não per-
mite que a regulamentação editada com fundamento nesse permissivo inove no tratamento do teto dos servidores
municipais, para quem o art. 37, XI, da CF, já estabelece um teto único.
Art. 37 [...]
§ 13 O servidor público titular de cargo efetivo poderá ser readaptado para exercício de cargo cujas atribui-
ções e responsabilidades sejam compatíveis com a limitação que tenha sofrido em sua capacidade física ou mental,
enquanto permanecer nesta condição, desde que possua a habilitação e o nível de escolaridade exigidos para o
cargo de destino, mantida a remuneração do cargo de origem.

O § 13 trata da possibilidade de readaptação do servidor público. A readaptação é o provimento derivado que


consiste na investidura do servidor em cargo de atribuições e responsabilidades compatíveis com a limitação
que tenha sofrido em sua capacidade física ou mental verificada em inspeção médica. Deste modo, o servidor
será efetivado em cargo com atribuições semelhantes, respeitando-se a habilitação exigida, assim como o nível de
escolaridade e a equivalência de vencimentos.
No caso de inexistir cargo vago, o servidor exercerá suas atribuições como excedente, permanecendo nessa
situação até a ocorrência de vaga no cargo compatível.

Art. 37 [...]
§ 14 A aposentadoria concedida com a utilização de tempo de contribuição decorrente de cargo, emprego ou
função pública, inclusive do Regime Geral de Previdência Social, acarretará o rompimento do vínculo que gerou
o referido tempo de contribuição.

O § 14 disciplina o rompimento do vínculo quando o agente público solicita aposentadoria e utiliza-se do


tempo de contribuição decorrente daquele cargo, emprego ou função pública. Assim, o servidor será desligado da
Administração Pública.
Neste sentido, o agente público que pretende se aposentar não poderá mais continuar a trabalhar no local em que
utilizou o tempo para comprovação de contribuição.

Art. 37 [...]
§ 15 É vedada a complementação de aposentadorias de servidores públicos e de pensões por morte a seus
dependentes que não seja decorrente do disposto nos §§ 14 a 16 do art. 40 ou que não seja prevista em lei que extinga
regime próprio de previdência social.

O § 15 proíbe toda espécie de complementação que não seja aquela decorrente de Regime de Previdência Com-
plementar, como, por exemplo, as complementações com base na Lei Estadual (São Paulo) nº 200, de 1974, pagas a
ex-empregados e a seus dependentes da Nossa Caixa, BANESPA, SABESP, VASP e FEPASA.

Art. 37 [...]
§ 16 Os órgãos e entidades da administração pública, individual ou conjuntamente, devem realizar avaliação das
políticas públicas, inclusive com divulgação do objeto a ser avaliado e dos resultados alcançados, na forma da lei.

O § 16 foi acrescido pela Emenda Constitucional nº 109, de 2021, e tem como objetivo aprimorar o mecanismo
de participação da sociedade na Administração Pública.

Art. 38 Ao servidor público da administração direta, autárquica e fundacional, no exercício de mandato eletivo,
aplicam-se as seguintes disposições:
I - tratando-se de mandato eletivo federal, estadual ou distrital, ficará afastado de seu cargo, emprego ou função;
II - investido no mandato de Prefeito, será afastado do cargo, emprego ou função, sendo-lhe facultado optar pela sua
remuneração;
III - investido no mandato de Vereador, havendo compatibilidade de horários, perceberá as vantagens de seu cargo,
emprego ou função, sem prejuízo da remuneração do cargo eletivo, e, não havendo compatibilidade, será aplicada
a norma do inciso anterior;
IV - em qualquer caso que exija o afastamento para o exercício de mandato eletivo, seu tempo de serviço será conta-
do para todos os efeitos legais, exceto para promoção por merecimento;
V - na hipótese de ser segurado de regime próprio de previdência social, permanecerá filiado a esse regime, no ente
federativo de origem.

O art. 38 estabelece regras relativas ao servidor público da Administração direta, autárquica e fundacional que
passar a desempenhar cargo eletivo, ou seja, for eleito para o Poder Executivo ou Legislativo.
Ao servidor público estadual, quando eleito para cargo eletivo federal, estadual e distrital, aplica-se a
seguinte regra: afastamento do cargo público estadual para se dedicar exclusivamente ao mandato, rece-
bendo obrigatoriamente a remuneração do cargo para o qual foi eleito.
Em contrapartida, quando o servidor público estadual é eleito para cargo eletivo municipal, podem ocorrer
duas situações distintas. Se o cargo é de prefeito, ele será afastado para dedicação exclusiva do cargo e pode
escolher entre a remuneração do cargo público ou do cargo eletivo. Já se o cargo é de vereador, é necessá-
rio saber se há ou não compatibilidade de horário. Se houver compatibilidade de horários, ele não precisa se
afastar, podendo exercer as duas atividades ao mesmo tempo, recebendo pelos dois. Se não houver compatibi-
lidade, aplica-se a mesma regra do prefeito, ou seja, será afastado para dedicação exclusiva do cargo, podendo
204 escolher entre a remuneração do cargo público ou do cargo eletivo.
SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL

Eleito para cargo federal,


Eleito para cargo municipal
estadual ou distrital

Prefeito Vereador
Afastamento do cargo pú- Com compatibilidade de horário: não se

blico e remuneração do Afastamento do cargo e opção entre a re- afasta do cargo
cargo eletivo muneração eletiva ou do cargo Sem compatibilidade de horário: aplica-se a

mesma regra do prefeito

Para que a Administração Pública possa desempenhar suas atividades, ela necessita de pessoas que exerçam
as atribuições dos órgãos públicos, ou seja, de agentes públicos. A expressão agente público é utilizada como
gênero, designando toda e qualquer pessoa que exerça uma função pública, quer de forma remunerada
ou gratuita, quer de natureza política ou administrativa, quer com investidura definitiva ou transitória.
Os agentes públicos dividem-se em quatro categorias, quais sejam:

Agente políticos

Servidores públicos
Agentes Públicos
Particulares em
colaboração

Militares

Os agentes políticos são aqueles que exercem as típicas atividades de governo, ou seja, são responsáveis por
fixar as metas e diretrizes políticas do Estado, tais como os chefes do Poder Executivo (Presidente, Governador e
Prefeito e seus vices) e seus auxiliares diretos (Ministros e Secretários) e os membros do Poder Legislativo (Sena-
dores, Deputados federais, Deputados estaduais e Vereadores).
Os particulares em colaboração com o Poder Público são aqueles que prestam serviços ao Estado, porém
sem vínculo estatutário ou celetista de trabalho, podendo ou não ter remuneração. Exemplo: jurados, mesários,
notários e registradores (serviços notariais).
Os servidores públicos civis dividem-se em:

z Servidores públicos estatutários: exercem cargo público (vitalício, efetivo ou comissionado) e estão vincu-
lados a um estatuto;
z Empregados públicos: possuem emprego público e vinculam-se às regras da Consolidação das Leis do Traba-
lho (CLT);
z Servidores temporários: categoria à parte, porque não titularizam cargo público nem possuem qualquer
vínculo trabalhista regido pela CLT, como os empregados públicos. São contratados por tempo determinado
para atender à necessidade temporária de excepcional interesse público por meio de um processo de seleção
simplificado. Exercem funções públicas sem ocupar cargos ou empregos públicos e são regidos por regime
especial, veiculado por meio de lei específica.

Os servidores da Administração Pública direta, das autarquias e das fundações públicas estão sujeitos ao regi-
me jurídico de direito público administrativo, instituído em lei, a qual também instituirá planos de carreira. O
regime adotado é o estatutário. Não obstante, lei assegurará aos servidores isonomia de vencimentos para cargos
de atribuições iguais ou assemelhadas do mesmo Poder ou entre servidores dos Poderes Executivo, Legislativo e
Judiciário, excetuadas as vantagens de caráter individual e as relativas à natureza ou ao local de trabalho.
Vale destacar que as regras sobre os servidores públicos estão estabelecidas nos arts. 39 a 41, da CF, de 1988.
NOÇÕES DE DIREITO

Vejamos os dispositivos:

Art. 39 A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão conselho de política de administração e
remuneração de pessoal, integrado por servidores designados pelos respectivos Poderes.
§ 1º A fixação dos padrões de vencimento e dos demais componentes do sistema remuneratório observará:
I - a natureza, o grau de responsabilidade e a complexidade dos cargos componentes de cada carreira;
II - os requisitos para a investidura;
III - as peculiaridades dos cargos.
§ 2º A União, os Estados e o Distrito Federal manterão escolas de governo para a formação e o aperfeiçoamen-
to dos servidores públicos, constituindo-se a participação nos cursos um dos requisitos para a promoção na
carreira, facultada, para isso, a celebração de convênios ou contratos entre os entes federados.

205
§ 3º Aplica-se aos servidores ocupantes de car- Com objetivo de garantir o aperfeiçoamento do
go público o disposto no art. 7º, IV, VII, VIII, IX, profissional, o dispositivo estabelece a realização de
XII, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XX, XXII e XXX, cursos oficiais como requisito obrigatório para promo-
podendo a lei estabelecer requisitos diferenciados ção na carreira, sendo facultada, para tanto, a celebra-
de admissão quando a natureza do cargo o exigir. ção de convênios com os demais entes da federação.
§ 4º O membro de Poder, o detentor de manda-
Outra regra de extrema importância é a que
to eletivo, os Ministros de Estado e os Secretá-
assegura ao servidor público civil da Administração
rios Estaduais e Municipais serão remunerados
Pública direta, autárquica e fundacional os direi-
exclusivamente por subsídio fixado em parcela
única, vedado o acréscimo de qualquer gratifica- tos previstos nos incisos IV, VII, VIII, IX, XII, XIII,
ção, adicional, abono, prêmio, verba de representa- XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XX, XXII e XXX, art. 7º,
ção ou outra espécie remuneratória, obedecido, em da CF, de 1988, e aos direitos que, nos termos da lei,
qualquer caso, o disposto no art. 37, X e XI. visem à melhoria de sua condição social e da pro-
§ 5º Lei da União, dos Estados, do Distrito Federal e dutividade e da eficiência no serviço público, em
dos Municípios poderá estabelecer a relação entre especial o prêmio por produtividade e o adicional de
a maior e a menor remuneração dos servido- desempenho.
res públicos, obedecido, em qualquer caso, o dis- Atente-se aos limites de remuneração de servidores:
posto no art. 37, XI.
§ 6º Os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário z Mínimo: salário mínimo;
publicarão anualmente os valores do subsídio z Máximo: vide XI, art. 37, da CF (EC 41/2003).
e da remuneração dos cargos e empregos públicos.
§ 7º Lei da União, dos Estados, do Distrito Fede- É importante conhecer o texto da Súmula Vincu-
ral e dos Municípios disciplinará a aplicação lante nº 6 do STF:
de recursos orçamentários provenientes da
economia com despesas correntes em cada órgão, Súmula Vinculante nº 6 Não viola a Constituição
autarquia e fundação, para aplicação no desenvol- o estabelecimento de remuneração inferior ao salá-
vimento de programas de qualidade e produtivida- rio mínimo para as praças prestadoras de serviço
de, treinamento e desenvolvimento, modernização, militar inicial.
reaparelhamento e racionalização do serviço públi-
co, inclusive sob a forma de adicional ou prêmio de Art. 40 O regime próprio de previdência social
produtividade. dos servidores titulares de cargos efetivos terá cará-
§ 8º A remuneração dos servidores públicos organiza- ter contributivo e solidário, mediante contribuição
dos em carreira poderá ser fixada nos termos do § 4º. do respectivo ente federativo, de servidores ativos,
§ 9º É vedada a incorporação de vantagens de de aposentados e de pensionistas, observados crité-
caráter temporário ou vinculadas ao exercício rios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial.
de função de confiança ou de cargo em comis- § 1º O servidor abrangido por regime próprio de
são à remuneração do cargo efetivo. previdência social será aposentado:
I - por incapacidade permanente para o tra-
No que tange ao art. 39, a primeira observação a balho, no cargo em que estiver investido, quando
ser feita é que o caput foi alterado pela Emenda Cons- insuscetível de readaptação, hipótese em que será
titucional nº 19, de 1998. No entanto, como sua eficá- obrigatória a realização de avaliações periódicas
cia encontra-se suspensa devido à decisão do STF na para verificação da continuidade das condições que
ADI nº 2.135-4, é a redação original que se encontra ensejaram a concessão da aposentadoria, na forma
em vigor. Vejamos: de lei do respectivo ente federativo;
II - compulsoriamente, com proventos propor-
Art. 39 A União, os Estados, o Distrito Federal e os cionais ao tempo de contribuição, aos 70 (setenta)
Municípios instituirão, no âmbito de sua competên- anos de idade, ou aos 75 (setenta e cinco) anos de
cia, regime jurídico único e planos de carreira para idade, na forma de lei complementar;
os servidores da administração pública direta, das III - no âmbito da União, aos 62 (sessenta e dois)
autarquias e das fundações públicas. anos de idade, se mulher, e aos 65 (sessenta e
cinco) anos de idade, se homem, e, no âmbito
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
A CF, de 1988, estabelece regras para a fixação dos
na idade mínima estabelecida mediante emenda às
padrões de vencimento e dos demais componentes
respectivas Constituições e Leis Orgânicas, obser-
do sistema remuneratório, que deverá observar: a
vados o tempo de contribuição e os demais
natureza, o grau de responsabilidade e a comple-
requisitos estabelecidos em lei complementar do
xidade dos cargos que compõem cada carreira;
respectivo ente federativo.
os requisitos para a investidura nos cargos e as
§ 2º Os proventos de aposentadoria não poderão
demais peculiaridades dos cargos. Tais requisitos ser inferiores ao valor mínimo a que se refere o §
poderão influenciar na fixação dos vencimentos e 2º do art. 201 ou superiores ao limite máximo esta-
dependem de aprovação de lei específica, assim como belecido para o Regime Geral de Previdência Social,
para o seu aumento, alteração ou criação de nova observado o disposto nos §§ 14 a 16.
vantagem pecuniária. Por lei, também serão estabe- § 3º As regras para cálculo de proventos de
lecidos os reajustes diferenciados para corrigir equí- aposentadoria serão disciplinadas em lei do res-
vocos, como no caso de servidores que desempenham pectivo ente federativo.
atividades semelhantes, mas percebem valores muito § 4º É vedada a adoção de requisitos ou crité-
diferentes. Salienta-se que a revisão geral da remune- rios diferenciados para concessão de benefícios
ração dos servidores públicos, sem distinção de índi- em regime próprio de previdência social, ressalva-
206 ces entre civis e militares, será feita. do o disposto nos §§ 4º-A, 4º-B, 4º-C e 5º.
§ 4º-A. Poderão ser estabelecidos por lei comple- § 14 A União, os Estados, o Distrito Federal e os
mentar do respectivo ente federativo idade e tempo Municípios instituirão, por lei de iniciativa do res-
de contribuição diferenciados para aposentadoria pectivo Poder Executivo, regime de previdência
de servidores com deficiência, previamente sub- complementar para servidores públicos ocupantes
metidos a avaliação biopsicossocial realizada por de cargo efetivo, observado o limite máximo dos
equipe multiprofissional e interdisciplinar. benefícios do Regime Geral de Previdência Social
§ 4º-B. Poderão ser estabelecidos por lei complemen- para o valor das aposentadorias e das pensões em
tar do respectivo ente federativo idade e tempo de regime próprio de previdência social, ressalvado o
contribuição diferenciados para aposentadoria de disposto no § 16.
ocupantes do cargo de agente penitenciário, de agen- § 15 O regime de previdência complementar de que
te socioeducativo ou de policial dos órgãos de que tra- trata o § 14 oferecerá plano de benefícios somente
tam o inciso IV do caput do art. 51, o inciso XIII do na modalidade contribuição definida, observará o
caput do art. 52 e os incisos I a IV do caput do art. 144. disposto no art. 202 e será efetivado por intermédio
§ 4º-C. Poderão ser estabelecidos por lei comple- de entidade fechada de previdência complementar
mentar do respectivo ente federativo idade e tempo ou de entidade aberta de previdência complementar.
de contribuição diferenciados para aposentadoria § 16 Somente mediante sua prévia e expressa opção,
de servidores cujas atividades sejam exercidas com o disposto nos §§ 14 e 15 poderá ser aplicado ao
efetiva exposição a agentes químicos, físicos e bio- servidor que tiver ingressado no serviço público até
lógicos prejudiciais à saúde, ou associação desses a data da publicação do ato de instituição do cor-
agentes, vedada a caracterização por categoria respondente regime de previdência complementar.
profissional ou ocupação. § 17 Todos os valores de remuneração considera-
§ 5º Os ocupantes do cargo de professor terão idade dos para o cálculo do benefício previsto no § 3º
mínima reduzida em 5 (cinco) anos em relação às serão devidamente atualizados, na forma da lei.
idades decorrentes da aplicação do disposto no inci- § 18. Incidirá contribuição sobre os proventos de
so III do § 1º, desde que comprovem tempo de efeti- aposentadorias e pensões concedidas pelo regime
vo exercício das funções de magistério na educação de que trata este artigo que superem o limite máxi-
infantil e no ensino fundamental e médio fixado em mo estabelecido para os benefícios do regime geral
lei complementar do respectivo ente federativo. de previdência social de que trata o art. 201, com
§ 6º Ressalvadas as aposentadorias decorrentes dos percentual igual ao estabelecido para os servidores
cargos acumuláveis na forma desta Constituição, é titulares de cargos efetivos.
vedada a percepção de mais de uma aposentadoria § 19 Observados critérios a serem estabelecidos em
à conta de regime próprio de previdência social, apli- lei do respectivo ente federativo, o servidor titular
cando-se outras vedações, regras e condições para a de cargo efetivo que tenha completado as exigên-
acumulação de benefícios previdenciários estabele- cias para a aposentadoria voluntária e que opte
cidas no Regime Geral de Previdência Social. por permanecer em atividade poderá fazer jus a um
§ 7º Observado o disposto no § 2º do art. 201, quan- abono de permanência equivalente, no máximo, ao
do se tratar da única fonte de renda formal auferida valor da sua contribuição previdenciária, até com-
pelo dependente, o benefício de pensão por morte pletar a idade para aposentadoria compulsória.
será concedido nos termos de lei do respectivo ente § 20 É vedada a existência de mais de um regime
federativo, a qual tratará de forma diferenciada a próprio de previdência social e de mais de um órgão
hipótese de morte dos servidores de que trata o § ou entidade gestora desse regime em cada ente
4º-B decorrente de agressão sofrida no exercício ou federativo, abrangidos todos os poderes, órgãos e
em razão da função. entidades autárquicas e fundacionais, que serão
§ 8º É assegurado o reajustamento dos benefí- responsáveis pelo seu financiamento, observados
cios para preservar-lhes, em caráter permanente, o os critérios, os parâmetros e a natureza jurídica
valor real, conforme critérios estabelecidos em lei. definidos na lei complementar de que trata o § 22.
§ 9º O tempo de contribuição federal, estadual, § 21 (Revogado).
distrital ou municipal será contado para fins § 22 Vedada a instituição de novos regimes pró-
de aposentadoria, observado o disposto nos §§ 9º prios de previdência social, lei complementar
e 9º A do art. 201, e o tempo de serviço correspon- federal estabelecerá, para os que já existam, nor-
dente será contado para fins de disponibilidade. mas gerais de organização, de funcionamento e de
§ 10 A lei não poderá estabelecer qualquer forma responsabilidade em sua gestão, dispondo, entre
de contagem de tempo de contribuição fictício. outros aspectos, sobre:
§ 11 Aplica-se o limite fixado no art. 37, XI, à soma I - requisitos para sua extinção e consequente migra-
total dos proventos de inatividade, inclusive quando ção para o Regime Geral de Previdência Social;
decorrentes da acumulação de cargos ou empregos II - modelo de arrecadação, de aplicação e de utili-
públicos, bem como de outras atividades sujeitas zação dos recursos;
a contribuição para o regime geral de previdência III - fiscalização pela União e controle externo e
social, e ao montante resultante da adição de pro- social;
NOÇÕES DE DIREITO

ventos de inatividade com remuneração de cargo IV - definição de equilíbrio financeiro e atuarial;


acumulável na forma desta Constituição, cargo em V - condições para instituição do fundo com finalidade
comissão declarado em lei de livre nomeação e exo- previdenciária de que trata o art. 249 e para vincula-
neração, e de cargo eletivo. ção a ele dos recursos provenientes de contribuições e
§ 12 Além do disposto neste artigo, serão observa- dos bens, direitos e ativos de qualquer natureza;
dos, em regime próprio de previdência social, no VI - mecanismos de equacionamento do deficit
que couber, os requisitos e critérios fixados para o atuarial;
Regime Geral de Previdência Social. VII - estruturação do órgão ou entidade gestora do
§ 13 Aplica-se ao agente público ocupante, exclusi- regime, observados os princípios relacionados com
vamente, de cargo em comissão declarado em lei de governança, controle interno e transparência;
livre nomeação e exoneração, de outro cargo tem- VIII - condições e hipóteses para responsabilização
porário, inclusive mandato eletivo, ou de emprego daqueles que desempenhem atribuições relacionadas,
público, o Regime Geral de Previdência Social. direta ou indiretamente, com a gestão do regime; 207
IX - condições para adesão a consórcio público; z Regra: Veda-se a aposentadoria especial;
X - parâmetros para apuração da base de cálculo e z Exceção: vide §§ 4º-A, 4º-B, 4º-C e 5º, art. 40. Em
definição de alíquota de contribuições ordinárias e síntese:
extraordinárias.
„ Servidores com deficiência;
O art. 40, da CF, de 1988, regulamenta o Regime Pre- „ Agente penitenciário;
videnciário Próprio de Previdência Social. Em sín- „ Agente socioeducativo;
tese, o sistema previdenciário do servidor público foi „ Policial das carreiras do art. 144 (Segurança Públi-
alterado com a EC nº 103, de 2019, da seguinte forma: ca) e policiais da Câmara e do Senado Federal;
„ Atividades que prejudiquem à saúde (aquelas
z Desconstitucionalização das regras de previdência, exercidas com efetiva exposição a agentes quí-
de modo que vários regramentos sobre aposenta- micos, físicos e biológicos prejudiciais à saúde,
doria e pensão passaram a ser de competência de
ou associação desses agentes).
lei infraconstitucional;
z Nova mudança no cálculo da pensão;
Art. 41 São estáveis após três anos de efetivo
z Maior aproximação do RGPS e RPPS;
exercício os servidores nomeados para cargo de
z Modificações no abono de permanência; provimento efetivo em virtude de concurso público.
z Previsão de readaptação antes de aposentadoria § 1º O servidor público estável só perderá o cargo:
por incapacidade permanente; I - em virtude de sentença judicial transitada
z Inclusão dos agentes políticos ocupantes de man- em julgado;
dato eletivo nas regras do RGPS; II - mediante processo administrativo em que lhe
z Exclusão da aposentadoria apenas por tempo de seja assegurada ampla defesa;
contribuição; III - mediante procedimento de avaliação perió-
z Regras especiais para carreiras policiais previstas dica de desempenho, na forma de lei complemen-
na CF. tar, assegurada ampla defesa.
§ 2º Invalidada por sentença judicial a demis-
No que tange à aposentadoria, suas modalidades são:
são do servidor estável, será ele reintegrado, e o
z Voluntária: quando se dá por livre e espontânea eventual ocupante da vaga, se estável, reconduzi-
vontade desde que cumpridos os requisitos dispos- do ao cargo de origem, sem direito a indenização,
tos a seguir: aproveitado em outro cargo ou posto em disponi-
bilidade com remuneração proporcional ao tempo
de serviço.
HOMEM MULHER
§ 3º Extinto o cargo ou declarada a sua desne-
IDADE 65 anos 62 anos cessidade, o servidor estável ficará em disponi-
TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO 25 anos 25 anos bilidade, com remuneração proporcional ao
tempo de serviço, até seu adequado aproveita-
TEMPO NO SERVIÇO mento em outro cargo.
10 anos 10 anos
PÚBLICO § 4º Como condição para a aquisição da esta-
TEMPO NA CARREIRA 5 anos 5 anos bilidade, é obrigatória a avaliação especial de
desempenho por comissão instituída para essa
finalidade.
No caso dos professores dos ensinos infantil, fun-
damental e médio, conta-se com a redução de 5 anos Por fim, o art. 41, da CF, de 1988, trata da estabi-
do requisito etário, ou seja, 60 anos para os homens e
lidade, que prevê a regra de que a estabilidade é
57 anos para as mulheres. Atenção! Essa regra não se
adquirida após três anos de efetivo exercício. Tra-
aplica aos professores do ensino superior.
ta-se de uma garantia constitucional de permanência
Vejamos o texto da Súmula nº 726, do STF:
no serviço público outorgada ao servidor aprovado
em concurso público e nomeado a cargo de provimen-
Súmula nº 726 Para efeito de aposentadoria espe-
cial de professores, não se computa o tempo de ser- to efetivo, que tenha transposto o período de está-
viço prestado fora da sala de aula. gio probatório e aprovado na avaliação especial de
desempenho. Uma vez efetivo, o servidor só perderá
z Involuntária: quando se dá independentemente o cargo em três hipóteses: sentença judicial transi-
da vontade do servidor, em virtude de: tada em julgado; processo administrativo e procedi-
mento de avaliação periódica de desempenho.
„ Incapacidade permanente, sendo necessário Explicando melhor, para a contratação de pessoal
que se proceda a readaptação do servidor antes na Administração Pública, é realizado concurso públi-
do procedimento para a aposentadoria; co para preenchimento de cargos públicos. Com isso,
„ Adimplemento de idade limite (aposentadoria a pessoa que foi aprovada dentro do número de vagas
compulsória aos 70 ou aos 75 anos de idade, na previstas no certame tem o direito de ser nomeada
forma da Lei Complementar nº 152/2015). para o cargo público. Com a nomeação, essa pessoa
assina o termo de posse e pode, a partir de então, exer-
A CF, de 1988, estabelece, ainda, o direito de uti- cer efetivamente o cargo público. Nos primeiros três
lizar, para fins de aposentadoria, o tempo de servi- anos de exercício, esse servidor passa por um período
ço desempenhado em outro ente da Federação ou de avaliação. Trata-se do estágio probatório, ou seja,
na iniciativa privada. Por exemplo: uma pessoa que um período que será analisado seu desempenho fun-
trabalhou 8 (oito) anos em uma empresa antes de ser cional. Completados três anos de serviço público e
aprovada em concurso público estadual pode consi- aprovado no estágio probatório, o servidor adquire a
208 derar esse tempo no cálculo final do tempo de serviço. denominada estabilidade.
O dispositivo estabelece, ainda, a possibilidade de I - igualdade de tarifas, fretes, seguros e outros
reintegração, ou seja, o retorno, por meio de decisão itens de custos e preços de responsabilidade do
judicial, do servidor público ilegalmente desligado Poder Público;
ao cargo de origem ou ao cargo resultante de sua II - juros favorecidos para financiamento de ativi-
transformação. Salienta-se que ele fará jus ao rece- dades prioritárias;
III - isenções, reduções ou diferimento temporário
bimento de todas as vantagens que teria auferido no
de tributos federais devidos por pessoas físicas ou
período em que ficou desligado, inclusive das promo- jurídicas;
ções por antiguidade que teria conquistado. IV - prioridade para o aproveitamento econômico
É possível, também, que decisão administrativa e social dos rios e das massas de água represadas
invalide a demissão. ou represáveis nas regiões de baixa renda, sujeitas
No caso de o cargo anteriormente ocupado pelo a secas periódicas.
servidor ter sido extinto, ele será reintegrado ao ser- § 3º - Nas áreas a que se refere o § 2º, IV, a União
viço público, porém ficará em disponibilidade remu- incentivará a recuperação de terras áridas e coo-
nerada até seu adequado aproveitamento em outro perará com os pequenos e médios proprietários
cargo. Já no caso de o cargo provido ter sido ocupado rurais para o estabelecimento, em suas glebas, de
por outro servidor, o ocupante será reconduzido ao fontes de água e de pequena irrigação.
cargo de origem, sem direito à indenização, ou apro-
veitado em outro cargo, ou, ainda, posto em disponi- FUNÇÕES ESSENCIAIS À JUSTIÇA
bilidade enquanto o servidor reintegrado voltará a
exercer o seu cargo. O art. 3º da Constituição relaciona os objetivos
fundamentais do Estado brasileiro, o qual, assegurar
Dos Militares dos Estados, do Distrito Federal e dos a igualdade entre os brasileiros é basicamente o obje-
Territórios tivo que o Estado deve alcançar.
O inciso I do mencionado dispositivo prevê como
objetivo do Estado “construir uma sociedade livre, jus-
São militares dos Estados, do Distrito Federal e dos
ta e solidária”, preceito estabelecido visando o bem
Territórios, os membros das polícias militares e corpos
estar e qualidade de vida.
de bombeiros militares, instituições organizadas com
Entretanto, é necessário que o cidadão tenha aces-
base na hierarquia e disciplina, nos termos do art. 42, CF.
so a uma maneira de exigir a garantia dos direitos
Aos militares são proibidas a sindicalização e a fundamentais perante o poder judiciário, dessa for-
greve, em face das funções por eles desempenhadas. ma, foram criados mecanismos que permitem acionar
o poder judiciário em caso de violação de direitos e
Art. 42. Os membros das Polícias Militares e Corpos garantias. Nesse ponto, a Constituição enumera algu-
de Bombeiros Militares, instituições organizadas com
mas funções importantes para desenvolvimento das
base na hierarquia e disciplina, são militares dos
atividades do poder judiciário, ou seja, as funções
Estados, do Distrito Federal e dos Territórios (Reda-
essenciais à justiça que tem como objetivo de garantir
ção dada pela Emenda Constitucional nº 18, de 1998).
o direito de acesso à justiça.
§ 1º Aplicam-se aos militares dos Estados, do Distri-
Assim, de acordo com o Capítulo IV da CF, de 1988,
to Federal e dos Territórios, além do que vier a ser
fixado em lei, as disposições do art. 14, § 8º; do art.
são funções essenciais à justiça, ao Ministério Público,
40, § 9º; e do art. 142, §§ 2º e 3º, cabendo a lei esta- à Advocacia Pública e à Defensoria Pública.
dual específica dispor sobre as matérias do art. 142,
§ 3º, inciso X, sendo as patentes dos oficiais conferi- MINISTÉRIO PÚBLICO (ART. 127 A 130 CF)
das pelos respectivos governadores (Redação dada
Incumbido da ordem jurídica, dos direitos sociais e direitos in-
pela Emenda Constitucional nº 20, de 15/12/98). dividuais indisponíveis
§ 2º Aos pensionistas dos militares dos Estados, do Dis-
trito Federal e dos Territórios aplica-se o que for fixado DEFENSORIA PÚBLICA (ART. 134 A 135 CF)
em lei específica do respectivo ente estatal (Redação Promoção dos direitos humanos, e da defesa dos direitos cole-
dada pela Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003). tivos e individuais de forma não onerosa
§ 3º Aplica-se aos militares dos Estados, do Distrito ADVOCACIA (ART. 131 A 133 CF)
Federal e dos Territórios o disposto no art. 37, inciso
XVI, com prevalência da atividade militar (Incluído Advocacia Pública: representa e assessora os interesses do Estado
pela Emenda Constitucional nº 101, de 2019). União: AGU
Estados: Procuradorias Estaduais

Das Regiões
MINISTÉRIO PÚBLICO
Art. 43. Para efeitos administrativos, a União pode-
rá articular sua ação em um mesmo complexo O Ministério Público é uma instituição permanen-
NOÇÕES DE DIREITO

geoeconômico e social, visando a seu desenvolvi- te, incumbido da ordem jurídica, dos direitos sociais
mento e à redução das desigualdades regionais. e direitos individuais indisponíveis. Tem previsão no
§ 1º - Lei complementar disporá sobre: art. 127 a 130 da CF, de 1988, tem autonomia funcional
I - as condições para integração de regiões em e administrativa.
desenvolvimento; Ainda, o art. 127 § 1º da CF determina que são prin-
II - a composição dos organismos regionais que cípios institucionais do MP a unidade (membros inte-
executarão, na forma da lei, os planos regionais, gram um só órgão sob direção do procurador geral),
integrantes dos planos nacionais de desenvolvi- indivisibilidade (não tem vinculação aos processos
mento econômico e social, aprovados juntamente em que atuam) e a independência funcional (não é
com estes. subordinado aos poderes legislativo, executivo ou
§ 2º - Os incentivos regionais compreenderão, além judiciário). Partindo desta base que os membros do
de outros, na forma da lei: Ministério Público elaboram suas funções. 209
O Ministério Público é chefiado pelo Procurador O Ministério Público dispõe de competência para pro-
Geral da República para o mandato de dois anos (per- mover, por autoridade própria, e por prazo razoável,
mitida recondução ao cargo anteriormente ocupado), investigações de natureza penal, desde que respeita-
nomeado pelo Presidente da República, dentre os dos os direitos e garantias que assistem a qualquer
integrantes da carreira, com mais de 35 anos (art. 128, indiciado ou a qualquer pessoa sob investigação do
§ 1º da CF). Estado, observadas, sempre, por seus agentes, as
A nomeação precisa ser aprovada por maioria absolu- hipóteses de reserva constitucional de jurisdição
ta dos membros do Senado Federal, assim como a destitui- e, também, as prerrogativas profissionais de que se
acham investidos, em nosso País, os Advogados (Lei
ção também deverá ser presidida mediante autorização
8.906/94, artigo 7º, notadamente os incisos I, II, III, XI,
da maioria absoluta do Senado (art. 128 § 2º da CF).
XIII, XIV e XIX), sem prejuízo da possibilidade – sem-
Tem garantidos a vitaliciedade, a inamovibilidade
pre presente no Estado democrático de Direito – do
e a irredutibilidade de subsídios, ou seja, após dois
permanente controle jurisdicional dos atos, necessa-
anos de exercício, não pode perder o cargo (exceção: riamente documentados (Súmula Vinculante 14), pra-
sentença judicial transitada em julgado) e não pode ticados pelos membros dessa instituição.
ser removido sem ampla defesa.
O ingresso na carreira ocorre através de concurso (STF. RE 593727 Tema de Repercussão Geral. STF. Min. Cezar
público de provas e títulos, tem como requisitos ser Peluso, julgado em 14.05.2015, DJe 08.09.2015)
bacharel em direito e no mínimo três anos de ativida-
de jurídica, ainda na nomeação deve ser observada a Conforme também já considerou o STF o Ministé-
ordem de classificação. rio Público não tem legitimidade processual para
As funções atribuídas ao Ministério Público estão requerer através de ação civil pública, pretensão
relacionadas no art. 129 da CF, de 1988, vejamos: de natureza tributária em defesa dos contribuintes.

Art. 129 São funções institucionais do Ministério DIREITO CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. APE-
Público: LAÇÃO INTERPOSTA EM FACE DE SENTENÇA
I - promover, privativamente, a ação penal PROFERIDA EM SEDE DE AÇÃO CIVIL PÚBLICA
pública, na forma da lei; QUE DISCUTE MATÉRIA TRIBUTÁRIA (DIREITO
II - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos DOS CONTRIBUINTES À RESTITUIÇÃO DOS VALO-
e dos serviços de relevância pública aos direitos RES PAGOS A TÍTULO DE TAXA DE ILUMINAÇÃO
assegurados nesta Constituição, promovendo as PÚBLICA SUPOSTAMENTE INCONSTITUCIONAL).
medidas necessárias a sua garantia; ILEGITIMIDADE ATIVA “AD CAUSAM” DO MINIS-
III - promover o inquérito civil e a ação civil TÉRIO PÚBLICO PARA, EM AÇÃO CIVIL PÚBLICA,
pública, para a proteção do patrimônio públi- DEDUZIR PRETENSÃO RELATIVA À MATÉRIA TRI-
co e social, do meio ambiente e de outros inte- BUTÁRIA. REAFIRMAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA
resses difusos e coletivos; DA CORTE. REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA.
IV - promover a ação de inconstitucionalidade ou (ARE 694294.Tema de Repercussão Geral. STF. Min.
representação para fins de intervenção da União e Luiz Fux, julgado em 06.05.2013, DJe em 17.10.2014)
dos Estados, nos casos previstos nesta Constituição;
V - defender judicialmente os direitos e interesses Tema de Repercussão Geral: quando o STF analisa
das populações indígenas;
questões relevantes sob o aspecto econômico, político,
VI - expedir notificações nos procedimentos admi-
social ou jurídico.  Assim, a decisão tomada pelo STF
nistrativos de sua competência, requisitando infor-
será aplicada nos processos sobrestados (processo que
mações e documentos para instruí-los, na forma da
lei complementar respectiva; está suspenso aguardando a análise da Corte sobre o
VII - exercer o controle externo da atividade poli- tema de repercussão geral) sobre o mesmo tema.
cial, na forma da lei complementar mencionada no
artigo anterior; ADVOCACIA PÚBLICA
VIII - requisitar diligências investigatórias e a ins-
tauração de inquérito policial, indicados os funda- Conforme prevê a Constituição Federal em seu art.
mentos jurídicos de suas manifestações processuais; 133 o advogado é essencial à administração da justiça
IX - exercer outras funções que lhe forem conferi- sendo inviolável por seus atos manifestos no exercício
das, desde que compatíveis com sua finalidade, da profissão. A advocacia, no âmbito privado, atende
sendo-lhe vedada a representação judicial e a con- aos particulares e empresas; e a advocacia pública
sultoria jurídica de entidades públicas. representa e assessora os interesses do Estado.
É chefiada pelo Advogado Geral da União, que
Observe que o Ministério Público tem capacidade deve ser cidadão maior de 35 anos de notável saber
postulatória para promover o inquérito civil, ação jurídico e reputação ilibada, sendo nomeado pelo Pre-
penal pública e ação civil pública para a proteção do sidente da República, conforme art. 131 § 1º, da CF, de
patrimônio público e social, do meio ambiente e de 1988.
outros interesses difusos e coletivos.

Ministério Público tem Poder de Investigação Importante!


O STF em tema de repercussão geral entendeu que Conforme o art. 52, II e 102, I “c” da CF, de 1988,
o Ministério Público tem poder para promover, por o Advogado Geral da União é Julgado no Senado
autoridade própria investigações de natureza penal, Federal nos crimes de responsabilidade e pelo
210 conforme a tese assim sumulada: STF nos crimes comuns.
Nas funções da advocacia pública inclui consulto- § 4º O membro de Poder, o detentor de mandato
ria, onde o advogado assessora as Autoridades Públi- eletivo, os Ministros de Estado e os Secretários
cas, auxiliando o cumprimento da lei nos atos públicos Estaduais e Municipais serão remunerados exclu-
sivamente por subsídio fixado em parcela única,
e funções de contencioso, a qual representa em juízo
vedado o acréscimo de qualquer gratificação, adi-
os interesses do poder público.
cional, abono, prêmio, verba de representação ou
outra espécie remuneratória, obedecido, em qual-
Art. 131 A Advocacia-Geral da União é a instituição quer caso, o disposto no art. 37, X e XI.
que, diretamente ou através de órgão vinculado,
representa a União, judicial e extrajudicialmente, Ainda, o subsídio deverá ser fixado ou alterado por
cabendo-lhe, nos termos da lei complementar que lei específica, observada a iniciativa privada de cada
dispuser sobre sua organização e funcionamento, caso.
as atividades de consultoria e assessoramento jurí-
dico do Poder Executivo.

Cada um dos entes da União possui sua respectiva


advocacia pública. No que tange aos estados e Distri- DA DEFESA DO ESTADO E DAS
to Federal, os procuradores terão ingresso na carreira INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS
por meio de concurso público de provas e títulos com
a participação da OAB em todas as fases. É assegura- ESTADO DE DEFESA
da a estabilidade após três anos de efetivo exercício,
mediante avaliação de desempenho. O Estado de Defesa e Estado de Sítio são legalida-
des extraordinárias temporárias, criadas por Decreto
do Presidente da República, consagrados no Título V
FEDERAL ESTADUAL DISTRITAL MUNICIPAL da Constituição Federal.
Advocacia Procuradoria Procuradoria Procuradoria O estado de defesa tem o objetivo de preservar ou
Geral da União Geral do Geral do DF Geral reestabelecer em locais restritos à ordem pública e a
– AGU Estado Municipal paz social ameaçada por grave e iminente instabilida-
de institucional ou atingidas por calamidade de grande
O Advogado Geral da União não representa a União proporção da natureza, conforme dispõe art. 136 da CF,
nas dívidas de natureza tributária, a representação da de 1988.
União neste caso cabe à PGN – Procuradoria-Geral da É obrigatória análise pelo Conselho da República e
Fazenda Nacional, conforme consagra o art. 131 § 3º pelo Conselho de Defesa Nacional (art. 89 a 91 da CF/88),
da CF, 1988. ainda que a opinião dos Conselhos não seja vinculante.
O controle político ocorre após a decretação do Presi-
DEFENSORIA PÚBLICA dente deve no prazo de 24 horas enviar ao Congresso
Nacional para análise, para ser autorizado depende da
Instituição permanente com autonomia funcional autorização da maioria absoluta de seus membros.
O tempo de duração não será superior a 30 dias, poden-
e administrativa que tem a atribuição da promoção
do ser prorrogado uma única vez, por igual período. Nes-
dos direitos humanos, e da defesa dos direitos coleti-
se período será limitado o direto de reunião, mesmo que
vos e individuais de forma não onerosa (gratuita aos
exercida junto às associações, sigilo de correspondência e
necessitados) conforme consagra o art. 5º, LXXIV da sigilo de comunicação telegráfica e telefônica.
Constituição. Procedimento:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção 1º: Presidente da República consulta dois conselhos.
de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros
e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilida- z Conselho da República;
de do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segu- z Conselho da Defesa Nacional.
rança e à propriedade, nos termos seguintes: [...]
LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica inte-
2º: Presidente da República decreta Estado de Defesa
gral e gratuita aos que comprovarem insuficiência (art. 84 IX e 136 caput da CF)
de recursos;
Art. 84 Compete privativamente ao Presidente da
Ainda, conforme art. 134, § 1º,  da CF, as defenso- República:
rias públicas se organizam em cargos de carreiras, [...]
providos, na classe inicial, mediante concurso públi- IX - decretar o estado de defesa e o estado de sítio;
NOÇÕES DE DIREITO

co de provas e títulos. Aos integrantes é assegurada a Art. 136 O Presidente da República pode, ouvidos
garantia da inamovibilidade e proibido o exercício da o Conselho da República e o Conselho de Defesa
Nacional, decretar estado de defesa para preservar
advocacia fora das atribuições institucionais. ou prontamente restabelecer, em locais restritos
Os integrantes da Advocacia Geral da União e ser- e determinados, a ordem pública ou a paz social
vidores das defensorias públicas serão remunerados ameaçadas por grave e iminente instabilidade ins-
na forma de subsídio. titucional ou atingidas por calamidades de grandes
proporções na natureza.
Art. 135 Os servidores integrantes das carreiras
disciplinadas nas Seções II e III deste Capítulo 3º: Controle Político feito pelo Congresso Nacional:
serão remunerados na forma do art. 39, § 4º
[...] z Confirma: Art. 49, IV da CF, de 1988; 211
z Rejeita: Art. 136 § 4º da CF, de 1988.

Controle político imediato – ocorre na decretação ou caso persistirem as razões que justificaram o estado de
defesa, este poderá ser prorrogado por mais 30 dias, então o Presidente da República no prazo de 24 horas submete
a decisão ao Congresso Nacional, que deverá decidir pelo voto da maioria absoluta e mediante decreto legislativo,
sobre a aprovação ou suspensão.
Caso o Congresso estiver em recesso, será convocado no prazo de cinco dias – Sessão Legislativa Extraordinária.
Deverá, também, apreciar o decreto no prazo de dez dias do seu recebimento (art. 136, § 5º e 6º da CF/88).
Controle político concomitante (ao mesmo tempo) - Neste caso, cinco membros da mesa do Congresso
Nacional têm que acompanhar e fiscalizar as medidas tomadas.
Controle político sucessivo (no final) – Ocorre nos termos do art. 141, parágrafo único da CF, o qual determina
que após cessar o estado de defesa as medidas aplicadas em sua vigência serão relatadas pelo Presidente da República
em mensagem ao Congresso Nacional.
Caso o Congresso Nacional não aceite a justificativa relada pelo Presidente da República no controle político
sucessivo e se, caracterizado algum crime de responsabilidade, poderá o Presidente ser submetido ao processo,
conforme a Lei 1.079, de 1950, e art. 85 da CF, de 1988. (controle jurídico)

ESTADO DE SÍTIO

O estado de sítio está consagrado no art. 137 a 139 da CF, de 1988, e será decretado diante da ineficácia do estado
de defesa, diante de comoção de grave repercussão nacional. E não pode ser decretado por mais de 30 dias, porém,
se necessário, pode ser prorrogado por mais 30, se necessário de novo, mais 30, e assim por diante.
No caso de declaração de estado de guerra ou resposta a agressão armada estrangeira, o estado de sítio poderá
ser decretado por todo o tempo que perdurar a guerra ou a agressão armada estrangeira.
Procedimento:

1º: Presidente da República consulta dois conselhos.

z Conselho da República;
z Conselho da Defesa Nacional.

2º: Controle político prévio - Presidente da República solicita autorização ao Congresso Nacional par a decreta-
ção ou prorrogação do estado de sítio (art. 137, parágrafo único da CF/88).

Autorização será por maioria absoluta e por decreto legislativo (art. 49, IV da CF/88).

3º: Presidente da República decreta estado de sítio. (art. 84 IX e 137 caput da CF).
4º: Controle Político feito pelo Congresso Nacional:

Controle político concomitante (ao mesmo tempo) –A partir do momento que o estado de sítio é autorizado,
o Congresso designa cinco membros da mesa do Congresso Nacional para acompanhar e fiscalizar as execuções
das medidas referente ao estado de sítio. (art. 49, IV e art. 140 da CF, de 1988).
Controle político sucessivo (no final) - Ocorre nos termos do art. 141, parágrafo único da CF, o qual determina
que após cessar o estado de defesa as medidas aplicadas em sua vigência serão relatadas pelo Presidente da República
em mensagem ao Congresso Nacional.
O direito de reunião pode ser limitado por decreto presidencial no estado de defesa e estado de sítio. A censura
também se torna possível no estado de sítio.
Ainda, caso decretado estado de sítio por comoção grave de repercussão nacional ou ineficácia da medida
tomada durante o estado de defesa, só poderão ser tomadas contra as pessoas as medidas consagradas no art. 139,
da CF, vejamos:

I - obrigação de permanência em localidade determinada;


II - detenção em edifício não destinado a acusados ou condenados por crimes comuns;
III - restrições relativas à inviolabilidade da correspondência, ao sigilo das comunicações, à prestação de informações e
à liberdade de imprensa, radiodifusão e televisão, na forma da lei;
IV - suspensão da liberdade de reunião;
V - busca e apreensão em domicílio;
VI - intervenção nas empresas de serviços públicos;
VII - requisição de bens.
Parágrafo único. Não se inclui nas restrições do inciso III a difusão de pronunciamentos de parlamentares efetuados
em suas Casas Legislativas, desde que liberada pela respectiva Mesa.

212
ESTADO DE DEFESA ESTADO DE SÍTIO
TÍTULO V Seção I Seção II
ART. 136 A 141 Art. 136 da CF Art. 137 da CF
Preservar ou reestabelecer ordem pública e a paz Comoção grave de repercussão nacional ou ineficácia da medi-
social ameaçada por grave e iminente instabilida- da tomada durante o estado de defesa;
PRESSUPOSTOS
de institucional; Declaração de estado de guerra ou resposta a agressão arma-
Calamidade de grande proporção da natureza. da estrangeira.
Comoção grave de repercussão nacional ou ineficácia da medi-
da tomada durante o estado de defesa;
30 dias podendo ser prorrogado somente uma 30 dias podendo se for o caso ser prorrogado sucessivamente
PRAZO vez por igual período. 30 + 30 + 30 [...]
Exemplo: 30 + 30 Declaração de estado de guerra ou resposta a agressão arma-
da estrangeira.
Decretado pelo tempo que durar a guerra ou agressão armada.
COMPETÊNCIA Presidente da República Presidente da República
Posterior:
Prévio:
CONTROLE Depois de decretado estado de defesa o Presi-
Presidente da República depende de autorização pelo Congres-
POLÍTICO dente da República comunica congresso nacio-
so Nacional para decretar o estado de sítio.
nal que pode confirmar ou cessar.

FORÇAS ARMADAS

As forças armadas estão consagradas no título V da Constituição Federal, conforme art. 142, as forças armadas
são constituídas pela Marinha, Exército e Aeronáutica, a qual são instituições nacionais permanentes e regulares,
organizadas com base na hierarquia e disciplina, sob autoridade do Presidente da República. As funções das forças
armadas, além da defesa da pátria, também englobam a defesa do estado e das instituições democráticas (garantidoras
da lei e da ordem).

Dica
As forças armadas estão inseridas na estrutura do Poder Executivo.

Os membros das forças armadas são denominados como militares e tem função subsidiária, ou seja, desem-
penham funções que originalmente são de competência das forças da segurança pública (polícia federal, civil e
militar dos estados e DF).
Ainda, conforme dispõe o art. 142 do texto constitucional, as forças armadas estão sob a autoridade suprema do
Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de
qualquer destes, da lei e da ordem.

FORÇAS ARMADAS
PRESIDENTE DA REPÚBLICA É AUTORIDADE SUPREMA

MARINHA EXÉRCITO AERONÁUTICA

Internamente são subordinadas aos seus respectivos comandantes, integrados no Ministério da Defesa com
obediência ao Presidente da República. Assim, as patentes são conferidas pelo Presidente da República, entretan-
to a perda desta só ocorrerá se for julgado indigno do oficialato ou com ele incompatível, por decisão de tribunal
militar de caráter permanente, em tempo de paz, ou de tribunal especial, em tempo de guerra, conforme incisos
I e VI do art. 142, da CF, de 1988.
Aos militares é proibida a sindicalização e greve. Ainda, no serviço ativo não pode estar filiado a partido
político.
STF já se posicionou sobre o tema:

z O exercício do direito de greve, sob qualquer forma ou modalidade, é vedado aos policiais civis e a todos os
NOÇÕES DE DIREITO

servidores públicos que atuem diretamente na área de segurança pública;


z É obrigatória a participação do poder público em mediação instaurada pelos órgãos classistas das carreiras
de segurança pública, nos termos do art. 165 do CPC, para vocalização dos interesses da categoria. (STF. ARE
654.432, rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 5-4-2017, P, DJE de 11.60.2018, Tema 541)

Conforme dispõe o § 2º do art. 142, da CF, não cabe habeas corpus em caso de punição militar, sendo que este
segue as próprias regras de hierarquia e disciplina.
Mas cuidado! A doutrina e jurisprudência entende que se aplica o mencionado dispositivo quanto ao mérito
das punições militares, ou seja, quando for o caso de ilegalidade dos pressupostos, como competência e cumpri-
mento de regras estabelecidas no regulamento militar é cabível a impetração de habeas corpus para análise do
poder judiciário. 213
RECURSO EXTRAORDINÁRIO. MATÉRIA CRIMI- É exercido por meio de órgãos federais e esta-
NAL. PUNIÇÃO DISCIPLINAR MILITAR. Não há duais como a polícia federal, polícia rodoviária fede-
que se falar em violação ao art. 142, § 2º, da CF, se ral, polícia ferroviária federal, polícias civis, polícias
a concessão de habeas corpus, impetrado con- militares, o corpo de bombeiros militares e as polícias
tra punição disciplinar militar, volta-se tão-so- penais federal, estadual e distrital, esta última acres-
mente para os pressupostos de sua legalidade,
centada pela Emenda Constitucional nº 104, de 2019.
excluindo a apreciação de questões referentes
ao mérito. Concessão de ordem que se pautou pela
Conforme o § 8º do art. 144, da CF, os municípios
apreciação dos aspectos fáticos da medida punitiva podem constituir guardas municipais destinados à pro-
militar, invadindo seu mérito. A punição disciplinar teção de seus bens, serviços e instalações (deve atuar
militar atendeu aos pressupostos de legalidade, somente na municipalidade). Cuidado! Esse órgão não
quais sejam, a hierarquia, o poder disciplinar, o ato integra a estrutura de segurança pública para exercer
ligado à função e a pena susceptível de ser aplica- a função de polícia ostensiva.
da disciplinarmente, tornando, portanto, incabível Para o STF os órgãos que compõe a segurança
a apreciação do habeas corpus. Recurso conhecido pública estão relacionados nos incisos I ao VI do art.
e provido. (STF. RE 338.840, rel. min. Ellen Gracie, 144, da CF, sendo esse rol taxativo, ou seja, não podem
Segunda Turma, DJ de 12.09.2003) os municípios ou estados criarem outros órgãos para
integrarem à segurança pública.
A Constituição também prevê o serviço militar
obrigatório, conforme art. 143, entretanto o inciso Art. 144 A segurança pública, dever do Estado,
VIII do art. 5º desobriga o alistado do serviço militar direito e responsabilidade de todos, é exercida para
por motivo de crença religiosa, convicção filosófica ou a preservação da ordem pública e da incolumidade
política, desde que cumpra prestação alternativa, que das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes
é de competência das forças armadas atribuir. órgãos:
I - polícia federal;
Art. 143 O serviço militar é obrigatório nos termos II - polícia rodoviária federal;
da lei. III - polícia ferroviária federal;
§ 1º Às Forças Armadas compete, na forma da lei, IV - polícias civis;
atribuir serviço alternativo aos que, em tempo de V - polícias militares e corpos de bombeiros
paz, após alistados, alegarem imperativo de cons- militares.
ciência, entendendo-se como tal o decorrente de VI - polícias penais federal, estaduais e distrital.    
crença religiosa e de convicção filosófica ou políti-
ca, para se eximirem de atividades de caráter essen- Sobre o Departamento de Trânsito o STF já manifestou:
cialmente militar.
Os Estados-membros, assim como o Distrito Fede-
§ 2º - As mulheres e os eclesiásticos ficam isentos do
serviço militar obrigatório em tempo de paz, sujei- ral, devem seguir o modelo federal. O art. 144 da Cons-
tos, porém, a outros encargos que a lei lhes atribuir.   tituição aponta os órgãos incumbidos do exercício da
segurança pública. Entre eles não está o Departamen-
Exemplo prático de uso das Forças Armadas: to de Trânsito. Resta, pois, vedada aos Estados-mem-
Em 20/10/2020 foi publicado no DOU decreto pre- bros a possibilidade de estender o rol, que esta Corte
sidencial que autoriza o uso das Forças Armadas nas já firmou ser numerus clausus, para alcançar o Depar-
eleições municipais de 2020. tamento de Trânsito.
O objeto é garantir a ordem pública durante a [ADI 1.182, voto do rel. min. Eros Grau, j. 24-11-
votação e segurança do processo eleitoral. 2005, P, DJ de 10-3-2006.]
DECRETO Nº 10.522, DE 19 DE OUTUBRO DE 2020 Vide ADI 2.827, rel. min. Gilmar Mendes, j. 16-9-
Autoriza o emprego das Forças Armadas para a 2010, P, DJE de 6-4-2011
garantia da ordem pública durante a votação e a apu- Serviços da segurança pública são custeados
ração das eleições de 2020. mediante impostos, sendo que não é permitida a cria-
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA , no uso das atribui- ção de taxa para esta finalidade, ainda, a remuneração
ções que lhe confere o art. 84, caput , incisos IV e XIII, dos servidores será exclusivamente por subsídio fixado
da Constituição, e tendo em vista o disposto no art. 15 em parcela única, na forma do § 4º do art. 39, da CF, de
da Lei Complementar nº 97, de 9 de junho de 1999, e no 1988.
art. 23, caput , inciso XIV, da Lei nº 4.737, de 15 de julho
de 1965 - Código Eleitoral, DECRETA: Art. 39 A União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios instituirão conselho de política de admi-
Art. 1º Fica autorizado o emprego das Forças Arma- nistração e remuneração de pessoal, integrado por
das para a garantia da ordem pública durante a vota- servidores designados pelos respectivos Poderes.    
ção e a apuração das eleições de 2020. [...]
Art. 2º As localidades e o período de emprego das § 4º O membro de Poder, o detentor de mandato
Forças Armadas serão definidos conforme os ter- eletivo, os Ministros de Estado e os Secretários
mos de requisição do Tribunal Superior Eleitoral. Estaduais e Municipais serão remunerados exclu-
Art. 3º Este Decreto entra em vigor na data de sua sivamente por subsídio fixado em parcela úni-
publicação. ca, vedado o acréscimo de qualquer gratificação,
adicional, abono, prêmio, verba de representação
SEGURANÇA PÚBLICA ou outra espécie remuneratória, obedecido, em
qualquer caso, o disposto no art. 37, X e XI.
A segurança pública é dever do Estado, direito e
responsabilidade de todos, a qual objetiva a preserva- z Polícia Federal (art. 144, § 1º da CF) é órgão per-
ção da ordem pública e da incolumidade de pessoas e manente, organizado e mantido pela União. Exer-
do patrimônio, conforme consagra o art. 144 do texto ce a função de polícia judiciária da União, que está
214 constitucional. disposto nos incisos I ao IV, vejamos:
Art. 144 [...] Ainda, conforme consagra § 6º do art. 144 da CF
§ 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão ambos “subordinam-se, juntamente com as polícias civis
permanente, organizado e mantido pela União e e as polícias penais estaduais e distrital, aos Governado-
estruturado em carreira, destina-se a: res dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios”.
I - apurar infrações penais contra a ordem polí-
tica e social ou em detrimento de bens, serviços e
interesses da União ou de suas entidades autárqui- z Polícias Penais Federal, estaduais e distrital
cas e empresas públicas, assim como outras infra- (art. 144 § 5º-A) foi incluído pela Emenda Consti-
ções cuja prática tenha repercussão interestadual tucional nº 104 de 2019, às polícias penais cabe à
ou internacional e exija repressão uniforme, segun- segurança dos estabelecimentos penais, vincula-
do se dispuser em lei; das ao órgão administrador do sistema penal da
II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entor- unidade federativa a que pertencem.
pecentes e drogas afins, o contrabando e o desca-
minho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros
órgãos públicos nas respectivas áreas de competência;

Conforme considerações do STF, na busca e apreen- HORA DE PRATICAR!


são de tráfico de drogas o cumprimento da ordem
judicial pela polícia militar não contamina o flagrante 1. (FUMARC — 2013) Constituem objetivos da República
e a busca e apreensão realizadas. Federativa do Brasil, EXCETO:

III - exercer as funções de polícia marítima, aero- a) Garantir o desenvolvimento nacional.


portuária e de fronteiras;          b) Construir uma sociedade livre, justa e solidária.
IV - exercer, com exclusividade, as funções de polí- c) Erradicar as desigualdades sociais e regionais e redu-
cia judiciária da União. zir a pobreza e a marginalização.
d) Promover o bem de todos, sem preconceitos de ori-
z Polícia Rodoviária Federal (art. 144, § 2º da CF) gem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas
é órgão permanente, organizado e mantido pela de discriminação.
União, tem como função o patrulhamento ostensi-
vo das rodovias federais; 2. (FUMARC — 2013) A Constituição Federal de 1988 ins-
z Polícia Ferroviária Federal (art. 144, § 3º da CF) titui o princípio da aplicabilidade imediata das normas
é órgão permanente, organizado e mantido pela que traduzem direitos e garantias fundamentais.
União, tem como função o patrulhamento ostensi- Tal princípio intenta, EXCETO:
vo das ferrovias federais.
a) assegurar a força dirigente e vinculante dos direitos e
A Polícia Ferroviária Federal surgiu no Brasil em garantias de cunho fundamental.
1852 por Decreto Imperial, nessa época era denomi- b) ressaltar apenas que os direitos e garantias se apli-
nada como “Polícia dos Caminhos de Ferro” e tinha o cam independentemente da intervenção legislativa.
objetivo de cuidar das riquezas que eram transporta- c) tornar os referidos direitos e garantias prerrogativas
das pelos trilhos de ferro. diretamente aplicáveis pelos poderes Legislativo, Exe-
Entretanto, apesar de ter autorização na atual cutivo e Judiciário.
constituição, hoje essa polícia não existe de fato.
d) sublinhar que os direitos e garantias valem diretamen-
te contra a lei, quando esta estabelece restrições em
z Polícias Civis (art. 144, § 4º da CF) são dirigidas
desconformidade com a Constituição.
por delegados de carreiras e subordinadas aos
Governadores dos estados ou DF têm função de 3. (FUMARC — 2013) É crime imprescritível nos termos
polícia judiciária (exercício da segurança pública) da Constituição Federal de 1988
e apuração de infrações penais, salvo as militares.
a) o terrorismo.
Art. 144 [...] b) a prática da tortura.
§ 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de
c) a prática do racismo.
polícia de carreira, incumbem, ressalvada a compe-
tência da União, as funções de polícia judiciária e a d) o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins.
apuração de infrações penais, exceto as militares.
4. (FUMARC — 2013) A Constituição Federal de 1988
traz previsão expressa no sentido de que são direitos
Fique atento que o art. 144 § 4º não menciona a ati-
vidade penitenciária como atividade da polícia civil. sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho,
A Constituição do Brasil – art. 144, § 4º – define a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a
incumbirem às polícias civis “as funções de polícia proteção à maternidade e à infância, a assistência aos
judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as desamparados.
Logo depois, relaciona como direitos dos trabalhado-
NOÇÕES DE DIREITO

militares”. Não menciona a atividade penitenciária,


que diz com a guarda dos estabelecimentos prisionais; res urbanos e rurais, EXCETO:
não atribui essa atividade específica à polícia civil.
(STF. ADI 3.916, rel. min. Eros Grau, DJE de 14-5-2010) a) Piso salarial proporcional à extensão e à complexida-
de do trabalho.
z Polícias militares e Corpo de Bombeiros Militar b) Repouso semanal remunerado, preferencialmente aos
(art. 144, § 5º da CF): as polícias militares cabem sábados e domingos.
à polícia ostensiva sendo atribuído a preservação c) Décimo terceiro salário com base na remuneração
da ordem pública e ao corpo de bombeiros milita- integral ou no valor da aposentadoria.
res objetivam a execução das atividades de defesa d) Licença paternidade, nos termos fixados em lei.
civil, prevenção e combate a incêndios, buscas e
salvamentos públicos.
215
5. (FUMARC — 2011) No rol dos Direitos Sociais, consa- c) a supressão dos direitos fundamentais, entre eles, a
grados pela Constituição Federal, consta o “direito de inviolabilidade de domicílio e de correspondência.
greve”, reconhecido através e) a vedação quanto à impetração do mandado de segu-
rança, do mando de injunção, do habeas corpus e do
a) da busca na melhoria das condições de vida dos hipos- habeas data.
suficientes e na concretização da igualdade social.
b) da reivindicação do pagamento de indenização com- 10. (FUMARC — 2011) O texto abaixo diz respeito à ques-
pensatória, impedindo a dispensa injustificada, sem tão, leia-o, atentamente:
motivo socialmente relevante.
c) do direito de imunidade do trabalhador face às conse- “Dizer que a Segurança Pública é um dever do Esta-
quências normais de não trabalhar, implicando numa do determina uma interpretação ampliada do artigo
permissão de não cumprimento de uma obrigação. 144 da Constituição Federal, porque distribui a res-
d) do direito à capacitação e aperfeiçoamento do indiví- ponsabilidade por inúmeros órgãos. A própria noção
duo para o mercado de trabalho. de Segurança Pública precisa ser realmente com-
preendida, porque retrata diversas circunstâncias em
6. (FUMARC — 2018) A competência para a explorar dire- que a incolumidade física e patrimonial de pessoas é
tamente, ou mediante concessão, os serviços locais colocada em xeque, ou seja, para além de uma tipolo-
de gás canalizado é dos gia penal. Contudo, o maior desafio é a conceituação
da preservação da ordem pública como referencial, já
a) estados-membros e dos municípios. que o universo a que estamos envolvidos tange a salu-
b) estados-membros, do distrito federal e dos municípios. bridade, a segurança e a tranquilidade pública, o que
c) estados-membros. amplia o contexto para além da capacidade das insti-
d) municípios. tuições de Segurança Pública. A capacidade jurídica
de cada órgão, limitada pela lei, não se impõe sobre
7. (FUMARC — 2018) Nossa Constituição Federal, ao dis- um princípio de primazia da prevenção, nem a dis-
por sobre a “Organização dos Poderes”, trata, no Capí- tribuição de responsabilidades para toda a sociedade.
tulo IV, das funções essenciais à Justiça: o Ministério Assim como o Poder de Polícia não é o Poder da Polí-
Público, a Advocacia Pública e a Defensoria Pública. cia, Polícia não faz apenas com a Polícia!”
Quanto ao Ministério Público, a única opção que está
em conformidade com nossa Carta Magna é: (Jorge Tassi)

a) Dentre as garantias gozadas pelos membros do Minis- Analise as afirmativas abaixo:


tério Público, temos a vitaliciedade após 5 anos de I A Polícia Federal possui funções limitadas a crimes
exercício, não podendo perder o cargo senão por sen- de ordem política e social que atentem contra a União,
tença judicial transitada em julgado. assim como a prevenção e repressão do tráfico de dro-
b) Inamovibilidade, salvo por motivo de interesse públi- gas, do contrabando ou descaminho, exercendo a polí-
co, mediante decisão do órgão colegiado competente cia de fronteira e de aeroporto. Não possui, contudo,
do Ministério Público, pelo voto de maioria simples de missões atinentes a crimes de competência estadual.
seus membros, assegurada ampla defesa. II A Polícia Militar cabe a polícia ostensiva, mas suas
c) Promover o inquérito civil e ação civil pública, para atribuições são limitadas nos crimes de competência
a proteção do patrimônio público e social, do meio da Polícia Federal.
ambiente e de outros interesses difusos. III Aos municípios é facultada a criação de Guardas
d) Promover, subsidiariamente, a ação penal pública, na Municipais, que desenvolverão missões, que pos-
forma da lei. suem missões como a proteção de serviços públicos
essenciais.
8. (FUMARC — 2018) A Emenda Constitucional n. 80, de Assinale a alternativa correta
4 de junho de 2014, foi responsável por alterar disposi-
tivos do Capítulo IV - Das Funções Essenciais à Justi- a) Apenas a afirmativa I está correta.
ça, do Título IV - Da Organização dos Poderes. b) Apenas a afirmativa III está correta.
Em relação à Defensoria Pública, esta emenda c) As afirmativas I, II e III estão corretas.
d) As afirmativas I, II e III estão incorretas.
a) assegura às Defensorias Públicas Estaduais autono-
mia funcional e administrativa, além da iniciativa de
sua proposta orçamentária. 9 GABARITO
b) atribui à Defensoria Pública a iniciativa legislativa quan-
to à fixação de subsídios dos defensores públicos. 1 C
c) averba que a Defensoria Pública é instituição essen-
cial à função jurisdicional do Estado. 2 B
d) estende aos defensores públicos a garantia da ina- 3 C
movibilidade, na forma assegurada aos membros do
Poder Judiciário. 4 B

9. (FUMARC — 2011) Quanto aos sistemas estabeleci- 5 C


dos pela Constituição Federal de 1988, para enfrentar 6 C
os períodos de crise política nos quais a ordem consti-
tucional se vê ameaçada, estão previstos: 7 C

a) o estado de defesa, o estado de sítio, a intervenção 8 B


federal e o uso excepcional das forças armadas. 9 A
b) a suspensão da Constituição, a lei marcial, o estado de
defesa, o estado de sítio e a suspensão do habeas corpus. 10 B
216
z Parte especial:

Arts. 121 ao 359: Crimes em Espécie.

Ou seja, a parte geral do Código Penal é responsá-


NOÇÕES DE DIREITO vel por responder a três perguntas fundamentais:

z O que é o Direito Penal? Teoria da norma penal.


z Quais requisitos jurídicos deve ter o delito? Teoria
do crime.
DIREITO PENAL
z Quais devem ser as consequencias penais do deli-
to? Teoria da pena.
PRINCÍPIOS PENAIS CONSTITUCIONAIS
Além disso, apresenta as situações que impedem a
Conceito e Princípios Básicos
punição e promovem a extinção da punibilidade.
A parte especial, por sua vez, apresenta, em 11 títu-
O Direito Penal é o conjunto de regras e prin-
los, a descrição dos crimes e a cominação das penas.
cípios que disciplinam a infração penal, ou seja, o
O estudo da teoria da norma penal se inicia
crime ou delito e a contravenção penal, e a sanção
pelo exame dos princípios penais. O conhecimento
penal, isto é, a pena e a medida de segurança.
dos princípios é essencial para se entender a lógica
Tal conceito é de grande importância, uma vez que
do funcionamento do Direito Penal. Ao estudá-los,
delimita o objeto e o alcance da matéria, assim como
é importante ter em mente sua função limitadora,
ajuda no estudo e na compreensão da disciplina.
ou seja servem como garantia do cidadão perante o
Mas para que serve esse ramo do Direito? Podemos
poder punitivo do Estado, e é por tal razão, dada a sua
dizer que o Direito Penal serve para tutelar (proteger,
importância, que os princípios penais encontram-se
cuidar) os principais bens jurídicos (valores materiais
previstos na Constituição (também chamados de prin-
ou imateriais, como a vida, liberdade, patrimônio,
cípios constitucionais do Direito Penal) e em tratados
honra, saúde, entre outros) instituindo sanções para
de direitos humanos, como por exemplo na Conven-
quem infringir suas normas.
ção Americana de Direitos Humanos (Pacto de San
José da Costa Rica).
Dica Os princípios não são somente um conjunto de
O Direito Penal faz parte das chamadas Ciências valores, diretrizes ou instruções de cunho ético ou
programático. Os princípios são normas de aplica-
Criminais. Juntamente como Direito Processual
ção prática: tem caráter imperativo (cogente). Estão
Penal e a Execução Penal, compõe a Dogmática
em posição de superioridade às regras, orientando a
Penal (tratada por alguns autores por Ciências
interpretação destas ou impedindo a sua aplicação
Penais). Por sua vez, a Dogmática Penal, a Cri- quando estiverem em contradição aos princípios
minologia e a Política Criminal interagem entre Dentre os princípios aplicáveis ao Direito Penal,
si, formando o modelo tripartido das Ciências dois merecem destaque, por deles se extraírem todos
Criminais. os demais: o princípio da dignidade da pessoa
humana e o princípio do devido processo legal.
O estudo do Direito Penal se dá pela análise do O princípio da dignidade da pessoa humana
Código Penal (Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro é tido como um “superprincípio”, ou seja, nele se
de 1940) e da chamada legislação penal especial ou baseiam todas as escolhas políticas no Direito: em
extravagante, que consiste nas normas penais conti- outras palavras, é um valor que orienta todo o sistema
das em leis fora do Código Penal (como, por exemplo, jurídico e prevalece no momento da interpretação de
a Lei de Crimes Ambientais, o Estatuto do Desarma- todos os demais princípios e normas (nenhum princí-
mento, a Lei de Drogas, entre outras). pio ou regra de qualquer área do Direito, inclusive na
O Código Penal (CP), que será objeto do nosso estu- esfera Penal, pode ser contrário a ele). Esse princípio
do, é dividido em duas partes: a parte geral (art. 1° ao maior encontra-se no inciso III, art. 1º, da CF, inseri-
art. 120) em que se apresentam os critérios a partir do como fundamento do Estado Democrático de
dos quais o Direito Penal será aplicado, isto é, quan- Direito:
do determinada conduta vai constituir crime e de que
forma deve ser aplicada a sanção, e a parte especial Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada
(art. 121 ao art. 359), em que constam os crimes em pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e
NOÇÕES DE DIREITO

espécie e as respectivas penas. do Distrito Federal, constitui-se em Estado Demo-


Para facilitar o estudo, observe a seguinte divisão crático de Direito e tem como fundamentos:
didática (apenas didática, uma vez que o Código não [...]
está dividido desta maneira): III – a dignidade da pessoa humana

z Parte Geral: A dignidade humana, na área penal, se desdobra


em dois aspectos:
Arts. 1 ao 12: Teoria da Norma: Lei penal no tempo
e no espaço; z O respeito à dignidade da pessoa humana quando
Arts. 13 ao 31: Teoria do Crime; esta se torna acusada em um processo-crime;
Arts. 32 ao 106: Teoria da Pena; z O respeito à dignidade do ofendido, que teve seu
Arts. 107 ao 120: Extinção da Punibilidade. bem jurídico perdido ou danificado. 217
A dignidade da pessoa humana só é assegurada quan- z Proibir o emprego da analogia para criar cri-
do é observado outro princípio basilar: o Devido proces- mes, fundamentar ou agravar penas (nullum cri-
so legal, que se encontra no inciso LIV, art. 5º, da CF: men nulla poena sine lege stricta);
z Proibir incriminações vagas e indeterminadas
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção
(nullum crimen nulla poena sine lege certa).
de qualquer natureza, garantindo-se aos brasilei-
ros e aos estrangeiros residentes no País a inviola-
bilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, O princípio da legalidade criminal apresenta
à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: atualmente, várias esferas de garantia. Dentre estas,
[...] as mais relevantes são os princípios da reserva legal
LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus e da anterioridade.
bens sem o devido processo legal;
Princípio da Reserva Legal
De forma simples, a consolidação do devido pro-
cesso legal se dá quando é assegurado a todos o direito Ainda de acordo com o inciso XXXIX, art. 5º da CF
a um processo que segue todas as etapas previstas em e o art. 1º, CP, em matéria penal, apenas lei em sen-
lei e que observa todas as garantias constitucionais tido estrito (aprovada pelo Parlamento, seguindo o
previstas. Dizer que foi observado o princípio do devi- procedimento legislativo previsto na CF) pode criar
do processo legal na esfera penal significa afirmar que crimes e sanções (penas e medidas de segurança).
houve sucesso na aplicação de todos os princípios pro- Assim apenas leis ordinárias e leis complementa-
cessuais penais e processuais penais. res (leis em sentido estrito) podem prever crimes
É importante saber que os princípios da Dignidade e cominar penas: Emendas constitucionais, Medidas
da pessoa humana e do Devido processo legal não tem Provisórias, Leis Delegadas, Decretos Legislativos e
aplicabilidade somente ao Direito Penal, mas alcan- Resoluções não podem ser usadas.
çam o Direito como um todo. No entanto, produzem
reflexos importantíssimos na área Penal e servem de Princípio da Anterioridade
base para todos os demais princípios e normas.
Previsto também no inciso XXXIX, art. 5º da CF e
Princípio da Legalidade art. 1º do CP, o princípio da anterioridade determina
que, antes da prática do crime, deve haver prévia defi-
Previsto no inciso XXIX, art. 5º da Constituição, nição em lei (estabelecendo, ainda, a pena cabível).
com redação semelhante à do art. 1º do CP, o princípio
Quem pratica a conduta criminosa, deve saber de
da legalidade é a mais importante garantia do cidadão
antemão que o ato se trata de conduta criminosa e sua
frente ao poder punitivo do Estado, sendo o mais rele-
consequência. Em outras palavras, a lei penal nova
vante princípio penal.
deve entrar em vigor antes do fato criminoso e se apli-
Compare o princípio conforme exposto na Consti-
ca apenas para os fatos ocorridos após sua vigência.
tuição (art. 5°) e no Código Penal (art. 1°):

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção Princípio da Aplicação da Lei Mais Favorável
de qualquer natureza, garantindo-se aos brasilei- (retroatividade da lei penal benéfica ou, ainda,
ros e aos estrangeiros residentes no País a inviola- irretroatividade da lei penal)
bilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade,
à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: A regra geral impõe que as leis tem sua validade
[...] voltada para o futuro, ou seja, são irretroativas. Por
XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, que tal regra? Porque, em caso contrário, haveria
nem pena sem prévia cominação legal; enorme insegurança jurídica, correndo-se o risco da
Art. 1º Não há crime sem lei anterior que o defina. sociedade (destinatária da norma) ser surpreendida a
Não há pena sem prévia cominação legal. todo instante. O inciso XL, art. 5º da CF e o art. 2º do
CP apresentam uma exceção, válida somente no Direi-
Ou seja, por força deste princípio, não há crime to Penal. Observe como o princípio vem disposto na
(nem contravenção) sem prévia determinação Constituição Federal e no Código Penal:
legal, assim como não há pena sem prévia comina-
ção (imposição, prescrição) feita em lei.
Não confunda o princípio da legalidade, previsto CF CP
no inciso II, art. 5º da CF, segundo o qual “ninguém
Art. 5º Todos são iguais Art. 2º Ninguém pode ser
será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coi-
perante a lei, sem distin- punido por fato que lei pos-
sa senão em virtude de lei” (legalidade em sentido
ção de qualquer natureza, terior deixa de considerar
amplo), com o princípio da legalidade criminal que, garantindo-se aos brasi- crime, cessando em vir-
conforme vimos, se encontra no inciso XXXIX, art. 5º leiros e aos estrangeiros tude dela a execução e os
da CF e art. 1º do CP, segundo o qual não há crime sem residentes no País a invio- efeitos penais da sentença
lei (legalidade em sentido estrito). labilidade do direito à vida, condenatória.
O princípio da legalidade tem quatro funções à liberdade, à igualdade, à Parágrafo único - A lei
fundamentais: segurança e à propriedade, posterior, que de qualquer
nos termos seguintes: modo favorecer o agente,
z Proibir a retroatividade da lei penal (nullum cri- [...] aplica-se aos fatos ante-
men nulla poena sine lege praevia); XL – a lei penal não re- riores, ainda que decididos
troagirá, salvo para bene- por sentença condenatória
z Proibir a criação de crimes e penas pelo costu-
ficiar o réu; transitada em julgado.
218 me (nullum crimen nulla poena sine lege scripta);
Trata-se do “princípio-exceção” da retroatividade a conduta delituosa em lei se a definição do crime é
da lei penal mais benéfica: a norma penal mais bené- vaga, confusa, ampla demais ou, ainda, dá margem a
fica ao agente do crime, retroage, sendo aplicável a mais de uma interpretação, o que gera insegurança e
casos em curso ou já definitivamente sentenciados. fere a legalidade.
Trata-se de assunto pertinente ao tema Lei penal no
tempo, que será visto mais adiante. Princípio da Exclusiva Proteção dos Bens Jurídicos
Os princípios que até agora vimos são os mais rele-
vantes (portanto, os mais cobrados) no que diz res- Conforme vimos anteriormente, a função do Direi-
peito à aplicação da lei penal. Podemos resumi-los da to Penal é proteger bens jurídicos. De acordo com tal
seguinte forma: princípio, dentro do Estado Democrático de Direito, a
interferência do Direito Penal na liberdade dos cida-
dãos só é legítima para proteger os bens jurídicos.
PREVISÃO
PRINCÍPIO SIGNIFICADO
LEGAL Princípio da Intervenção Mínima ou da
O Direito Penal deve Subsidiariedade ou do Direito Penal Mínimo
Dignidade da garantir a dignidade
Art. 1º, III, O Direito Penal deve tutelar apenas os bens jurí-
pessoa humana,limitando os
CF
humana excessos do Estado dicos mais relevantes, intervindo apenas o mínimo
(“superprincípio”) necessário nos conflitos sociais e na liberdade dos
indivíduos. Em outras palavras, a força punitiva do
A aplicação da lei pe-
Estado deve ser utilizada apenas como último recurso
nal só pode se dar se-
(ultima ratio).
guindo todas as etapas
Devido Art. 5º, LIV,
previstas em lei e ob-
processo legal CF Princípio da Pessoalidade ou da Personalidade ou da
servando todas as ga-
rantias constitucionais Responsabilidade Pessoal ou da Intranscendência da
previstas Pena

Não há crime (nem con- Encontra-se previsto no inciso XLV, art. 5º, da CF:
travenção) sem prévia
Art. 5º,
Legalidade determinação legal, as- Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção
XXXIX,CF e
penal sim como não há pena
art. 1º, CP de qualquer natureza, garantindo-se aos brasilei-
sem prévia cominação
ros e aos estrangeiros residentes no País a inviola-
em lei
bilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade,
Art. 5º, Apenas lei em sentido à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
Reserva legal XXXIX,CF e estrito pode criar cri- [...]
art. 1º, CP mes e cominar penas XLV - nenhuma pena passará da pessoa do con-
denado, podendo a obrigação de reparar o dano
A lei penal nova deve e a decretação do perdimento de bens ser, nos ter-
entrar em vigor antes mos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles
Art. 5º, do fato criminoso e se executadas, até o limite do valor do patrimônio
Anterioridade XXXIX,CF e aplica apenas para os transferido;
art. 1º, CP fatos ocorridos após
sua vigência Tal princípio define que a pena de um agente con-
denado não pode ser transferida para outra pessoa,
ou seja, apenas o indivíduo sentenciado pode ser
É um princípio-exceção. responsabilizado pela conduta criminosa praticada.
A regra geral é que as
Retroatividade Art. 5º, XL,- Não importa o tipo da pena (privativa de liberdade
leis tenham validade
da lei penal CF e art. 2º, ou multa): apenas o autor da infração penal pode ser
voltada para o futuro.
benéfica CP apenado, esta é a regra.
Só a lei penal favorável
ao agente retroage No entanto, o próprio inciso XLV traz uma exceção:
nas hipóteses previstas nos incisos I, II e §1º do art. 91 do
Código Penal (que estabelece como efeitos da condena-
Além dos princípios acima, existem outros que ção o dever de indenizar o dano causado e o perdimento
dizem respeito à aplicação da pena (como o da indivi- de determinados bens), mesmo com o falecimento do
dualização da pena e da humanidade) ou à teoria do condenado a obrigação de reparar o dano e a decreta-
crime (como o da intervenção mínima e o da taxativi- ção do perdimento de bens alcançam os sucessores até o
dade, por exemplo).
NOÇÕES DE DIREITO

limite do valor do patrimônio transferido.


Vimos acima a questão da responsabilidade pes-
Taxatividade ou da Determinação soal: mas e as pessoas jurídicas, respondem na esfera
penal? Sim, atualmente, somente em relação aos cri-
Diz respeito à técnica de elaboração da lei penal, mes ambientais. A responsabilidade penal da pes-
que deve ser suficientemente clara e precisa na for- soa jurídica é prevista na Lei Ambiental, Lei nº 9.605,
mulação do conteúdo do tipo legal e no estabelecimen- de 1998, em seu art. 3º. A CF prevê a possibilidade
to da sanção para que exista real segurança jurídica. da responsabilização criminal da pessoa jurídica em
Tal assertiva constitui postulado indeclinável do duas hipóteses: nos crimes ambientais e nos crimes
Estado de direito material: democrático e social. econômicos (§ 3º, arts. 173 e 225, CF) mas apenas o pri-
O princípio da taxatividade é uma consequência do meiro encontra-se regulamentado e, portanto, pode
princípio da legalidade: de nada adianta estabelecer ser aplicado. 219
Princípio da Individualização da Pena Princípio da Humanidade da Pena ou da Limitação
das Penas
Garante que o Direto Penal seja aplicado em cada
caso concreto, tendo em vista particularidades como Em um Estado de Direito democrático veda-se
a personalidade do agente e o grau de lesão ao bem a criação, a aplicação ou a execução de pena, bem
jurídico (impede, pois, a generalização da aplicação como de qualquer outra medida que atentar contra
da pena). Tal princípio está expresso no inciso XLVI, a dignidade humana. Apresenta-se como uma dire-
art. 5º da CF: triz garantidora de ordem material e restritiva da lei
penal, verdadeira salvaguarda da dignidade pessoal,
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção e se relaciona de forma estreita com os princípios da
de qualquer natureza, garantindo-se aos brasilei- culpabilidade e da igualdade.
ros e aos estrangeiros residentes no País a inviola- Está previsto no inciso XLVII, art. 5° da CF, que
bilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, proíbe as seguintes penas:
à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
[...] z de morte, salvo em caso de guerra declarada;
XLVI - a lei regulará a individualização da pena [...] z de caráter perpétuo;
z de trabalhos forçados;
A pena deve ser individualizada em três planos: z de banimento;
legislativo, judicial e executório. Isto é, o princípio da z cruéis.
individualização da pena se dá em três momentos na
esfera penal: Um Estado que mata, que tortura, que humilha o
cidadão não só perde qualquer legitimidade, senão
z Cominação: a primeira fase de individualização que contradiz sua razão de ser, colocando-se ao nível
da pena se inicia com a seleção feita pelo legisla- dos mesmos delinquentes (FERRAJOLI, 2014).
dor, quando escolhe para fazer parte do pequeno
âmbito de abrangência do Direito Penal aquelas Princípio da Adequação Social
condutas, positivas ou negativas, que atacam nos-
sos bens mais importantes. Uma vez feita essa Uma conduta não será tida como típica se for
seleção, o legislador valora as condutas, apre- socialmente adequada ou reconhecida, isto é, se esti-
sentando penas de acordo com a importância ver de acordo da ordem social da vida historicamente
do bem a ser tutelado. condicionada.
z Aplicação: tendo o julgador chegado à conclusão Outro aspecto é o de conformidade ao Direito, que
de que o fato praticado é típico, ilícito e culpável, prevê uma concordância com determinações jurídi-
dirá qual a infração praticada e começará, agora, cas de comportamentos já estabelecidos.
a individualizar a pena a ele correspondente, O princípio da adequação social possui dupla fun-
observando as determinações contidas no art. 59 ção, acompanhe:
do Código Penal (método trifásico). Uma delas é a de restringir o âmbito de abrangên-
cia do tipo penal, limitando a sua interpretação, e dele
z Execução Penal: a execução não pode igual para
excluindo as condutas consideradas socialmente ade-
todos os presos, justamente porque as pessoas não quadas e aceitas pela sociedade.
são iguais, mas sumamente diferentes, e tampou- A segunda função é dirigida ao legislador em duas
co a execução pode ser homogênea durante todo vertentes.
período de seu cumprimento. Individualizar a A primeira delas o orienta quando da seleção das
pena, na execução consiste em dar a cada preso condutas que deseja proibir ou impor, com a finalida-
as oportunidades para lograr a sua reinserção de de proteger os bens considerados mais importantes.
social, posto que é pessoa, ser distinto. Se a conduta que está na mira do legislador for
considerada socialmente adequada, não poderá ele
Princípio da Proporcionalidade da Pena ou da reprimi-la valendo-se do Direito Penal. A segunda ver-
Razoabilidade ou da Proibição de Excesso tente destina-se a fazer com que o legislador repense
os tipos penais e retire do ordenamento jurídico a pro-
Deve existir sempre uma medida de justo equilí- teção sobre aqueles bens cujas condutas já se adapta-
brio entre a gravidade do fato praticado e a sanção ram perfeitamente à evolução da sociedade.
imposta: a pena deve ser proporcionada ou adequada Exemplo clássico é o adultério, que deixou de ser
à magnitude da lesão ao bem jurídico representada crime no Brasil em 2005. Por outro lado, são exemplos
pelo delito e a medida de segurança à periculosidade de condutas formalmente típicas (previstas em tipo
criminal do agente. legal) mas materialmente atípicas (por serem social-
A observância deste princípio impede que o Direi- mente adequadas/aceitas): a tatuagem e o furo para a
to Penal intervenha de forma desnecessária ou exces- colocação de um brinco ou de um piercing.
siva na esfera individual, gerando danos mais graves
do que os necessários para a proteção social. Princípio da Insignificância
Esse princípio tem duplo destinatário:
Relacionado aos chamados crimes de bagatela,
z O poder legislativo: que tem de estabelecer penas também conhecidos como delitos de lesão míni-
proporcionadas, em abstrato, à gravidade do ma. Este é um dos princípios penais que, nos últimos
delito; anos, vem sendo cada vez mais discutido na doutri-
z Juiz: as penas que os juízes impõem ao autor do na e tratado pela jurisprudência. De forma simples,
delito tem de ser proporcionais à sua concreta consiste no princípio que afirma que o Direito Penal
220 gravidade. não deve se preocupar com condutas incapazes de
ofender de forma relevante os bens jurídicos pro- Para o STF e o STJ o fato de ser reincidente não
tegidos pelo tipo penal. impede a aplicação do princípio da insignificância.
A insignificância tem natureza jurídica de causa Nesse sentido, em abril, a Segunda Turma do STF,
de exclusão da tipicidade material, isto é, como con- no julgamento do Habeas Corpus 181389, manteve, por
sequência, devem ser tidas como atípicas as ações ou unanimidade, decisão do ministro Gilmar Mendes que
omissões que afetam muito infimamente a um bem absolveu réu reincidente condenado a um ano e nove
jurídico-penal. meses de reclusão pela tentativa de furto de R$4,15 em
A irrelevante lesão do bem jurídico protegido não moedas e de uma garrafa de Coca-Cola, duas de cerveja
e uma de cachaça (produtos que totalizam R$29,15).
justifica a imposição de uma pena, devendo-se excluir
a tipicidade em caso de danos de pouca importância.
Princípio da Lesividade ou da Ofensividade do
Tal princípio é utilizado, por exemplo, em casos de
Evento
pequenos furtos simples.
O princípio da insignificância traz consigo uma
A lei penal tem o dever de prevenir os mais altos
série de discussões relevantes. A primeira delas diz custos individuais representados pelos efeitos lesivos
respeitos aos requisitos para sua aplicação. das ações reprováveis e somente eles podem justificar
De acordo com o entendimento consolidado do o custo das penas e das proibições.
Supremo Tribunal Federal (STF), sua aplicação não O princípio axiológico da separação entre direito
é irrestrita e o princípio da bagatela somente pode e moral veta, por sua vez, a proibição de condutas
ser aplicado se presentes as seguintes condições meramente imorais ou de estados de ânimo perverti-
objetivas, ligadas, portanto, ao fato (requisitos dos, hostis, ou, inclusive, perigosos.
objetivos):
Princípio da Razoabilidade
REQUISITOS OBJETIVOS DO PRINCÍPIO DA
Segundo a doutrina, o razoável sobrepõe o que é
INSIGNIFICÂNCIA (STF)
legal. E isso faz com que a lei seja interpretada e apli-
M Mínima ofensividade da conduta cada em harmonia com a realidade, de modo social e
juridicamente razoável, buscando aquilo que é justo.
A Ausência de periculosidade social
Princípio do Ne Bis In Idem
Reduzidíssimo grau de reprovabilidade do
R
comportamento
De acordo com o princípio do ne bis in idem (não
I Inexpressividade da lesão jurídica provocada repetir sobre o mesmo), nenhum indivíduo pode ser
punido duas vezes pelo mesmo fato. Tem aplicabili-
dade no âmbito do direito penal material (ninguém
Além destes (apresentados como forma de facili-
pode sofrer duas penas em face do mesmo crime) e do
tar o aprendizado pela sigla M.A.R.I – que pode ser
direito processual penal (ninguém pode ser processa-
trocada por R.I.A.M, desde que se altere a ordem), o
do e julgado duas vezes pelo mesmo fato).
Superior Tribunal de Justiça (STJ), acrescenta mais
dois requisitos, de ordem objetiva (dizem respeito,
portanto, aos sujeitos):
TEMPO E LUGAR DO CRIME
z Não ser o réu criminoso habitual ou militar;
z Condições da vítima: condição econômica, o valor A LEI PENAL NO TEMPO
sentimental do bem, as circunstâncias e o resulta-
Eficácia da Lei Penal no Tempo
do do crime, de modo que se determina, no âmbito
subjetivo, a existência ou não de lesão.
A lei penal nasce (é sancionada, promulgada e
publicada), tem seu tempo de vida (vigência) e morre
Ou seja, constituem exceção à aplicação do prin-
(é revogada). A revogação pode ser expressa (quan-
cípio: o fato de ser o crime praticado por militar do lei posterior textualmente afirma que a lei ante-
(tendo em vista o alto grau de reprovabilidade da rior não mais produz efeitos) ou tácita (quando não
conduta e da quebra da hierarquia e da disciplina a há revogação expressa, mas a nova lei é incompatível
qual tal classe encontra-se sujeita), ou por crimino- com a anterior ou regula totalmente a matéria que
so habitual (aquele que pratica crimes como meio de constava na lei mais antiga).
vida). A regra é que a lei regula todas as situações ocor-
NOÇÕES DE DIREITO

O STJ possui súmulas específicas a respeito do ridas entre a sua entrada em vigor e sua revogação
princípio da insignificância que tratam de sua incom- (tempus regit actum). Esse fenômeno jurídico é cha-
patibilidade com certos tipos de crime, como por mado de atividade.
exemplo as Súmulas 589, 599 e 606 que afirmam, res- Se, excepcionalmente, a lei regula situações fo-
pectivamente, não ser aplicável a insignificância: ra de seu período de vigência, temos o fenômeno da
extratividade.
z Nos crimes ou contravenções praticados contra a A extratividade se dá de duas formas: quando a
mulher no âmbito das relações domésticas; lei regula situações ocorridas antes de sua vigên-
cia (passado), chamamos a extratividade de retroa-
z Nos crimes contra a Administração Pública; tividade. Se, por outro lado, a lei se aplica mesmo
z Nos delitos de transmissão clandestina de sinal de depois de cessada sua vigência (futuro), temos a
Internet via radiofrequência. ultratividade. 221
Importante! solucionar cada uma delas, o CP aponta regras que são
aplicadas conjuntamente com os princípios constitu-
A regra é a atividade da lei penal, ou seja, sua
cionais que vimos anteriormente. São quatro diferen-
aplicação somente durante seu período de
tes situações:
vigência. Como exceção, temos a extratividade
da lei penal mais benéfica, ou seja, sua aplicação z Abolitio criminis ou Novatio Legis ou Lei supres-
para regular situações passadas (retroatividade) siva de incriminações: a lei nova suprime deixa
ou futuras (ultratividade). de considerar como infração um fato que era ante-
riormente punido (passa a ser considerado atípico).
Tem como consequências: por força da retroativi-
Observe o art. 2º do Código Penal:
dade (inciso XL, art. 5º, da CF e art. 2º, caput, do CP)
aplica-se a lei nova. Ocorre a extinção da punibili-
Art. 2º Ninguém pode ser punido por fato que lei
dade (é, pois, causa extintiva da punibilidade, con-
posterior deixa de considerar crime, cessando em
forme o inciso III, art. 107, do CP). Os agentes que
virtude dela a execução e os efeitos penais da sen-
estiverem sendo processados, terão seus processos
tença condenatória.
Parágrafo único. A lei posterior, que de qualquer extintos, já os que não tiverem ainda sido denuncia-
modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos ante- dos, terão seus inquéritos trancados. Com a abolitio
riores, ainda que decididos por sentença condena- criminis, cessam os “efeitos penais da sentença con-
tória transitada em julgado. denatória”. Não cessam os efeitos civis (quanto aos
efeitos, veremos mais adiante quando tratarmos de
O art. 2º refere-se apenas à retroatividade, uma vez efeitos da condenação.
que está analisando a aplicação da lei penal tomando z Novatio legis in mellius: é a lei nova (novatio
por base a data do fato delituoso. Assim, temos duas legis) que, sem excluir a incriminação, ou seja,
situações: sem constituir abolitio criminis, é mais favorável
ao agente (in mellius). Por exemplo quando comi-
na pena mais branda, inclui atenuantes, permite
z Ou se aplica regra do tempus regit actum, se for
a obtenção de benefícios como a sursis e o livra-
mais benéfico;
mento condicional, entre outros. Tem como con-
z Se aplica a lei posterior (aquela que entra em sequências: de acordo com o inciso XL, art. 5º da
vigor após outra) se esta for mais benigna (retroa- CF e art. 2º, caput, do CP, retroage para favorecer
tividade). A lei posterior mais benéfica é chamada o agente, aplicando-se aos fatos anteriores “ainda
também de lex mitior. que decididos por sentença condenatória transita-
da em julgado”.
Observe as duas situações no Fluxograma a seguir: z Novatio legis in pejus: Ocorre quando a lei pos-
terior, sem criar novo tipo incriminador, de qual-
Retroativida de Benéfica quer modo agrava a situação do agente (in pejus).
Por exemplo, aumenta a pena, ou impõe uma
forma de execução mais severa (hipoteticamente
instituindo o mesmo rigor inicial da reclusão ao
Nova lei cumprimento dos crimes apenados com detenção)
Fato Sentença Nesta hipótese, a lei melhor (lex mitior) passa a ser
em vigor
a lei anterior. A lei mais severa recebe o nome de
lex gravior (lei mais grave). Tem como consequên-
cias: em relação à lei nova, aplica-se os princípios
LEI “A” LEI “B” da irretroatividade da lei mais severa. Quanto à lei
antiga, mais benéfica, aplica-se a ultratividade.
Se esta for mais Se esta for mais z Novatio legis incriminadora: se dá quando a
benéfica adota-se a favorável, usa-se lei nova cria um tipo incriminador, consideran-
regra da Atividade Retroatividade do infração uma conduta considerada irrelevan-
(tempus regit actum) Benéfica te pela lei anterior. Por exemplo, a Lei nº 10.224,
de 2001, introduziu no Código Penal o art. 216-A,
e criou o tipo de assédio sexual no ordenamento
Vejamos um exemplo para melhor fixar o expos- jurídico brasileiro. Tem como consequências: a
to anteriormente: imagine que um indivíduo pratica nova lei gravosa é irretroativa (art. 1º, CP).
um fato delituoso em 10 de fevereiro de 2021. Naquela
data, encontra-se em vigor a Lei “A”, que prevê a pena Veja que o texto do Código Penal não menciona a
mínima de 4 anos de reclusão para o crime. No entan- ultratividade, ou seja, a possibilidade do o juiz aplicar
to, em 10 de março do mesmo ano, entra em vigor a Lei uma lei já revogada. No entanto, essa aplicação pode
“B”, que comina a pena mínima de 2 anos de reclusão ocorrer na sentença, se esta for mais benéfica e vigen-
para o mesmo delito. Qual delas deve o juiz utilizar te à época do fato criminoso. Veja o seguinte exemplo:
ao proferir a sentença? Neste caso, o magistrado deve em 10 de fevereiro de 2021 encontra-se em vigor a Lei
aplicar a Lei “B”, por ser mais favorável ao réu (a Lei “A”, que prevê a pena mínima de 2 anos de reclusão
“B”, embora não estivesse em vigor na data do fato, para determinado crime; em 10 de março do mesmo
volta no tempo, retroagindo para beneficiar o agente). ano, entra em vigor a Lei “B”, que comina a pena míni-
Observe que, no exemplo acima, a lei posterior ma de 4 anos de reclusão para o mesmo delito. Em 10
(Lei “B” é mais favorável ao agente). No entanto, lei de agosto, ao sentenciar, o juiz deve utilizar a Lei “A”,
posterior pode entrar em conflito com a anterior de já revogada, mas vez que mais benéfica torna-se ultra-
222 maneiras diferentes, gerando situações diversas. Para tiva. Observe tal fenômeno no Fluxograma a seguir:
Ultratividade z Lei Excepcional: é aquela feita para vigorar em
épocas especiais, como guerra, calamidade etc. É
aprovada para vigorar enquanto perdurar o perío-
do excepcional. São facilmente identificáveis por
expressões como “esta lei terá vigência enquanto
Fato Nova lei em
Sentença durar o estado de calamidade pública”.
vigor
z Lei Temporária: é aquela feita para vigorar por
determinado tempo, estabelecido previamente na
própria lei. Assim, a lei traz em seu texto a data de
LEI “A” LEI “B” cessação de sua vigência. Um exemplo de lei tem-
porária é a Lei nº 12.663, de 2012, denominada Lei
Revogada. Se esta Se esta for mais favo- Geral da Copa, que criou tipos penais que duraram
for mais benéfica rável, aplica-se na até o dia 31 de dezembro de 2014.
adota-se a regra da sentença a regra geral
ultratividade (tempus regit actum)
Posto isso, rege o art. 3º do Código Penal que, mes-
mo cessadas as circunstâncias que a determinaram
(lei excepcional) ou decorrido o período de sua dura-
Note que, diferentemente do primeiro esquema, ção (lei temporária), é possível aplica-las aos fatos pra-
neste o foco está na sentença e não no fato. É uma ticados durante sua vigência.
questão de perspectiva. Desta forma, são leis ultra-ativas, isso porque
De quem é a competência para aplicar a lei poste- regulam atos praticados durante sua vigência, mesmo
rior favorável? Antes do juiz proferir a sentença, não após sua revogação.
há dificuldade: cabe ao juiz de 1º grau sua aplicação;
em grau de recurso, a competência é do Tribunal; e se
já transitada em julgado a sentença, a competência é Importante!
do juiz da execução penal, de acordo com o inciso I,
art. 66, da Lei de Execução Penal (LEP). Este é o posi- Ultratividade: as leis de vigência temporária
cionamento majoritário da doutrina e jurisprudência (excepcionais e temporárias) são ultra-ativas,
(Súmula 611 do STF). no sentido de continuarem a ser aplicadas aos
Todas as situações que vimos acima podem ser fatos praticados durante a sua vigência mesmo
resolvidas pela seguinte regra: A Lei só Retroage depois de sua auto revogação.
para Beneficiar o Sujeito. No entanto, como saber
qual das leis em conflito é a mais favorável ao agente?
Normas Penais em Branco e Direito Intertemporal
Para avaliar a mais benéfica, o juiz deve sempre apre-
ciar o caso concreto sob a eficácia de cada uma das
Questão interessante que diz respeito à alteração
leis em com conflito, comparando o resultado: o que
do complemento da norma penal em branco.
mais favorecer o agente deve prevalecer.
Primeiro vamos entender o que é norma penal em
branco e ver algumas particularidades a ela relaciona-
Lei Intermediária
das para depois vermos sua relação com o fator “tempo”.
Norma penal em branco ou cega pode ser defi-
O que acontece se houver uma lei intermediária,
nida como uma lei penal incriminadora que possui
ou seja, que entrou em vigor depois da data do fato
um elemento indeterminado no que diz respeito à
e foi revogada antes da sentença? Neste caso, deve descrição da conduta. Lembre-se que a norma penal
ser aplicada em favor do réu a mais favorável delas, incriminadora estabelece uma conduta (uma ação ou
mesmo que for a intermediária (também chamada de omissão) em seu preceito primário e uma sanção
intermédia) e não a última. penal em seu preceito secundário. Quando um tipo
penal traz seu preceito primário incompleto, preci-
Combinação de Leis sando ser complementado por outra norma, estamos
diante de uma norma penal em branco ou cega.
O que acontece se houverem várias leis sucessivas Vamos ver dois exemplos de norma penal em bran-
e cada uma delas tem uma parte, um aspecto mais co, o primeiro constante no art. 237 do Código Penal e
favorável ao sujeito. É possível combinar várias leis, o outro no art. 33 da Lei de Drogas:
criando uma “terceira lei” para beneficiar o agente?
Segundo a maior parte da doutrina, não, por violar o Conhecimento prévio de impedimento
princípio da legalidade. Essa é a posição do STJ e do
NOÇÕES DE DIREITO

STF. Art. 237 Contrair casamento, conhecendo a existên-


cia de impedimento que lhe cause a nulidade absoluta:
Leis Temporárias e Excepcionais Pena - detenção, de três meses a um ano.

A regra da retroatividade benéfica não se aplica Neste caso, o dispositivo penal não esclarece o que
no caso das chamadas leis intermitentes (leis tem- é “impedimento que lhe cause nulidade absoluta”. O
porárias e leis excepcionais). Veja o art. 3º, CP: complemento, neste caso, deve ser buscado em fonte
legislativa de igual hierarquia (Lei): o branco do art.
Art. 3º A lei excepcional ou temporária, embora 237, CP é complementado pelas hipóteses de impe-
decorrido o período de sua duração ou cessadas as dimento tratadas pelo Código Civil, em seu art. 1521.
circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao Este caso é o que se chama de norma penal em bran-
fato praticado durante sua vigência. co em sentido lato ou imprópria ou homogênea: a 223
complementação do preceito primário se faz com entanto, é que no tipo penal aberto a complementação
auxílio de uma lei. é feita por meio de um juízo de valoração realizado
Norma penal em branco é um assunto dos mais pelo juiz, isto é, o complemento vem da valoração feita
cobrados em concursos. É importante guardar não pelo magistrado e não de uma outra norma.
só suas relações com o direito temporal, mas também Agora que já vimos o conceito de norma penal em
suas classificações. Assim, vamos incluir mais três em branco e suas particularidades, vamos fazer uma rela-
nosso vocabulário jurídico-penal: ção dela com a questão do direito no tempo.
Vamos voltar ao exemplo do art. 33 da Lei nº 11.343,
z Norma Penal em Branco em Sentido Lato Homo- de 2006 (tráfico ilícito de drogas). O que ocorreria, por
vitelina: o complemento se encontra no mesmo exemplo, se houvesse a retirada de certa substância
diploma legal da norma incompleta (exemplo: psicoativa da portaria da ANVISA, que define as dro-
vários tipos do Código Penal tratam de crimes gas para efeito da Lei nº 11.343? Imagine um sujei-
cometidos por funcionário público; o conceito de to que é pego vendendo a droga “X”, que consta na
funcionário público é encontrado no art. 327 do Portaria, e passa a responder pelo crime de tráfico de
próprio CP). drogas. Com a retirada da substância da norma com-
z Norma Penal em Branco em Sentido Lato Hete- plementar, como ficaria a situação do agente?
rovitelina: o complemento está em diploma legal Neste caso, acontecerá a retroatividade benéfica,
diferente do da norma incompleta (exemplo: o art. descriminalizando o comportamento, por força da
237, CP fala em impedimento que cause a nulidade abolitio criminis. Veja que o fato passa a ser atípico
absoluta do casamento; o complemento encontra- não pela revogação da Lei que considerava o fato típi-
-se no Código Civil (CC). co, mas sim de seu complemento.
Tal foi o que ocorreu no caso do art. 237 do CP. O
z Quando o complemento é dado por uma norma Código Civil de 1916, em seu inciso VII, art. 183, previa
constante da CF, temos a chamada norma penal que um dos impedimentos absolutamente dirimentes
em branco de fundo constitucional (exemplo: o era o casamento do cônjuge adúltero com o corréu
art. 246 do CP que fala em “idade escolar”; tal con- condenado por tal crime. No entanto, o Código Civil
ceito encontra-se no inciso I, art. 208 da CF). de 2002 não trouxe tal impedimento, ocorrendo, pois,
abolitio criminis, que retroagiu em favor de eventuais
Agora veja o caso da Lei 11.343, de 2006 (Lei de réus.
Drogas): A retroação benéfica, por outro lado, não ocor-
re quando se tratar de complementos que tenham
Art. 33 Importar, exportar, remeter, preparar, pro- caráter excepcional ou temporário, como foi o caso,
duzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, ofe- por exemplo, da Lei nº 1.521, de 1951, a Lei de Crimes
recer, ter em depósito, transportar, trazer consigo,
Contra a Economia Popular: o comerciante que fosse
guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo
flagrado vendendo produto com preço acima do que
ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem
autorização ou em desacordo com determinação
constasse em tabela oficial respondia pelo ato, ainda
legal ou regulamentar: que o congelamento, com a respetiva revogação da
Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e tabela, se encerrasse antes da conclusão do inquérito
pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e qui- policial ou do processo penal.
nhentos) dias-multa.
Do Tempo do Crime
No caso do art. 33 da Lei de 11.346, de 2006, o dis-
positivo não define o que são “drogas”, nem o que seja Como vimos anteriormente, logo em seus primei-
“sem autorização legal ou em desacordo com deter- ros artigos, o Código Penal se preocupa em tratar da
minação legal ou regulamentar”. A definição de quais aplicação da lei penal no tempo. Mas qual a importân-
substâncias são ilícitas é encontrada em Portaria da cia de se conhecer o tempo do crime?
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) Determinar o tempo do crime é essencial, em pri-
que, por ser fonte legislativa hierarquicamente infe- meiro lugar, para saber que lei será aplicada no
rior, é denominada norma penal em branco em sen- caso concreto. Da mesma forma, é imprescindível
tido estrito ou própria ou heterogênea. para verificar a imputabilidade do agente (que
Por outro lado, temos a chamada norma penal pode ser menor de 18 no momento da conduta), fixar
em branco ao revés ou invertida ou inversa ou ao as circunstâncias do tipo penal, verificar a prescri-
avesso quando o complemento necessário se refere à ção, dentre outros aspectos.
sanção (preceito secundário). Um exemplo de norma Existem três teorias que podem ser consideradas
penal em branco ao revés é o tipo do crime de geno- para se determinar o tempo do crime:
cídio, previsto na Lei nº 2.889, de 1956, que apresenta
um branco em relação à pena, sendo necessário recor-
TEORIA DA Considera-se praticado o crime
rer a outras leis para completar tal branco. Pode acon-
ATIVIDADE no momento da conduta
tecer de o próprio complemento da norma incompleta
necessitar de outro complemento, ou seja, é preciso TEORIA DO Considera-se praticado o crime
uma dupla complementação. Neste acaso, temos o RESULTADO no momento do resultado
que se usa chamar de normal penal em branco ao
quadrado. Considera-se praticado o cri-
Ainda em relação às normas penais em branco, vale TEORIA MISTA OU me tanto no momento da con-
a pena lembrar que é importante saber diferenciá-las DA UBIQUIDADE duta quanto no momento do
dos tipos penais abertos. O tipo penal aberto, assim resultado
como na norma em branco, é uma norma incomple-
224 ta que necessita de complementação. A diferença, no
O Direito Penal brasileiro adotou, em relação Por sua vez, crime continuado é uma ficção jurí-
ao tempo do crime, a teoria da Atividade, por isso, dica criada para beneficiar o réu, prevista no art. 71
considera-se praticado o crime no momento da do CP e será estudado mais adiante. Por enquanto,
conduta (ação ou omissão), ainda que outro seja o basta saber que o crime continuado ocorre quando o
momento do resultado. agente pratica dois ou mais crimes da mesma espé-
cie, mediante duas ou mais condutas, sendo que, pelas
Art. 4º Considera-se praticado o crime no momento condições de tempo, lugar, modo de execução, são
da ação ou omissão, ainda que outro seja o momen- tidos uns como continuação dos outros.
to do resultado. Por exemplo, um empregado de uma loja de fer-
ramentas visando subtrair um kit de ferramentas
Ilustrando: no caso de um homicídio, é essencial do estabelecimento, resolve furtar uma ferramenta
que se determine o instante da ação (momento dos por dia, até ter em suas mãos o kit completo. 60 dias
tiros, por exemplo) e não o momento do resultado depois, o sujeito vai conseguir completar o conjunto e
(morte) pois, se o autor for menor de 18 anos à época vai ter cometido 60 furtos! Não fosse a regra benéfica
dos tiros, ainda que a vítima morra depois do atirador do art. 71 do CP, a pena mínima neste caso somaria 120
ter completado a maioridade penal, ele não pode res- anos de reclusão! Reconhecendo-se a ocorrência de
ponder criminalmente pelo ato. crime continuado, ocorrerá a chamada exasperação:
A teoria adotada pelo CP em seu art. 4º, em relação no nosso exemplo específico, será aplicada ao agente
ao tempo do crime, é a teoria da ATIVIDADE. Leva- a pena de um só dos furtos aumentadas de 1/6 até 2/3.
-se em conta, pois, o momento da conduta (ação ou No entanto, não nos interessa, neste momento, ingres-
omissão), pouco importando o instante do resultado. sar no tema do crime continuado, nos basta apenas
Veja o esquema a seguir como exemplo: a noção do fenômeno para que possamos discutir a
questão do tempo do crime quando de sua ocorrência.
Tempo do Crime (Art. 4º) Assim sendo, temos que a mesma regra aplicá-
vel ao crime permanente (Súmula 711 do STF) deve
ser aplicada ao crime continuado, com uma ressalva
Conduta Resultado
quanto às condutas praticadas pelos menores de 18
anos, por força do artigo 228 da CF que determina sua
Sentença Morte da inimputabilidade: na hipótese de um sujeito cometer
Vítima quatro furtos, possuindo 17 anos quando do come-
timento dos dois primeiros, e já 18, no momento da
prática dos dois últimos, somente estes dois é que ser-
Vítima
virão para constituir o crime continuado.
Considera-se hospitalizada
praticado no tempo
Tempo do Crime e Conflito Aparente de Normas
da conduta (Teoria
da Atividade, art. 4º)
O conflito aparente de normas (ou concurso apa-
rente de normas) se estabelece quando duas ou mais
normas aparentemente parecem ser aplicáveis ao
É na data da conduta, portanto, que:
mesmo fato.
Por exemplo: um sujeito resolve importar, via cor-
z Se verifica a imputabilidade penal: no nosso
reio, uma determinada substância entorpecente. Num
exemplo, o fato de ser o autor, maior ou menor de
primeiro momento, pode parecer que se aplique ao
18 anos;
caso o previsto no art. 334 do Código Penal, que trata
z Se fixam as circunstâncias do crime: qualifica-
do crime de contrabando. Ocorre que o mesmo fato
doras, causas de aumento ou diminuição de pena,
agravantes ou atenuantes (como, por exemplo, ser está previsto no art. 33 da Lei de Drogas. Parece, pois,
a vítima criança ou maior de 60 anos, que contam que as duas normas parecem ser aplicáveis ao mes-
como agravantes; ou ser o autor menor de 21 anos, mo fato. No entanto o conflito é apenas aparente, uma
o que vai servir como atenuante). vez que a própria lei apresenta mecanismos para sua
solução: no caso do nosso exemplo, aplica-se o art. 33
Tempo do Crime nas Infrações Permanentes e da Lei de Drogas (tráfico ilícito de drogas), por se tra-
Continuadas tar de lei especial (o tráfico internacional de drogas se
distingue do contrabando porque se refere, especifi-
camente, a um determinado tipo de mercadoria proi-
Nestes casos, será aplicada regra especial, que
consta na Súmula 711 do STF: “A lei penal mais grave bida, a droga. O mesmo ocorre com o tráfico de armas,
previsto no Estatuto do Desarmamento).
NOÇÕES DE DIREITO

aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente,


se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade Note, o conflito é apenas aparente, pois somente
ou da permanência”. uma delas acaba regulamentando o fato, afastan-
Crime permanente é aquele cuja consumação do as demais.
se prolonga no tempo pela vontade do sujeito ativo Para que ocorra o conflito aparente de normas,
como, por exemplo, no caso de um sequestro. Neste devem estar presentes dois pressupostos:
caso, é considerado tempo do crime todo o período em
que se desenrolar a atividade criminosa. Assim sen- z Unidade de fato, ou seja, a existência de uma única
do, se um sequestrador, menor de 18 anos quando do infração penal (por exemplo: uma morte);
início da prática do crime atinge a maioridade ainda z Pluralidade de normas identificando o mesmo fato
com o delito em curso, é considerado imputável para como delituoso, isto é, duas ou mais normas pre-
os fins penais. tensamente regulando o mesmo fato criminoso. 225
A solução se dá pela aplicação de alguns princí- O infanticídio (crime específico) é lei especial em
pios que vamos ver a seguir (chamados de princípios relação ao homicídio (crime genérico), uma vez que
que solucionam o conflito aparente de normas). contém mais elementos:
São quatro os princípios que solucionam o con-
flito aparente de normas: z Sob a influência do estado puerperal;
z O próprio filho;
z Especialidade;
z Durante o parto ou logo após.
z Subsidiariedade;
z Consunção (ou absorção); Assim, estando presentes as especializantes, o
z Alternatividade (este último não é unânime entre tipo genérico é preterido pelo especial, a fim de
os autores, conforme veremos ao estuda-lo). que se evite a dupla punição (bis in idem). Em outras
palavras, no conflito aparente entre norma geral e
Antes de verificar se há leis concorrentes, deve- norma especial, afasta-se a geral e aplica-se a especial.
-se analisar se não é o caso da ocorrência de suces- Note que no exemplo colocado acima, ambos dis-
são temporal de leis. Ou seja, a primeira “peneira” positivos se encontram dispostos na mesma lei (CP).
a ser feita, é verificar se não se trata de conflito de Pode ocorrer, no entanto, de estarem contidas em leis
leis no tempo, que são solucionados pelo princípio distintas, como nos exemplos abaixo. Observe, res-
de que lei posterior revoga lei anterior (lex posterior pectivamente os tipos penais do homicídio culposo,
derogat priori). Por exemplo, a Lei “A” regra determi-
previsto no Código Penal, e o homicídio culposo na
nada situação; Lei “B”, posterior, revogando a lei mais
direção de veículo automotor, que consta do Código
antiga, passa a viger tratando do mesmo conteúdo;
de Trânsito Brasileiro (CTB):
neste caso não há conflito aparente de normas, mas
sim aplicação das regras relativas à lei penal no tempo
Art. 121 Matar alguém:
vistas anteriormente.
[...]
Uma corrente minoritária de autores inclui a
sucessão temporal de leis como um princípio de solu-
Homicídio culposo
ção do conflito aparente de normas (como é caso do
Prof. Guilherme Nucci, que o apresenta como “critério
da sucessividade”). § 3º Se o homicídio é culposo (Vide Lei nº 4.611, de 1965)
Vamos agora, analisar detalhadamente cada um Pena – detenção, de um a três anos.
Art. 302 Praticar homicídio culposo na direção de
deles.
veículo automotor.
Princípio da Especialidade
Pode ocorrer também, que a relação entre norma
Lei especial afasta a aplicação de lei geral (lex spe- geral e especial ocorra “dentro” de determinados cri-
cialis derogat generali), como, a propósito, encontra-se mes que apresentem um tipo simples e formas típicas
previsto no art. 12 do Código Penal: qualificadas ou privilegiadas. Assim, o tipo funda-
mental é excluído pelo qualificado ou privilegiado,
Art. 12 As regras gerais deste Código aplicam-se que deriva daquele. Nesses termos, o furto simples
aos fatos incriminados por lei especial, se esta não (art. 155, caput) é excluído pelo privilegiado (§ 2°, art.
dispuser de modo diverso 155); o estelionato simples (art. 171, caput) é excluído
pelo qualificado (§ 3°, art. 171) etc.
Uma norma penal incriminadora (que descreve
crimes e comina penas) é especial em relação a outra Princípio da Subsidiariedade (Tipo de Reserva)
quando:
Uma norma é considerada subsidiária em relação
z Possui em sua definição legal todos os elementos a outra quando a conduta nela prevista (de menor
típicos que constam na geral; gravidade) integra o tipo da principal (que descreve o
z Apresenta mais alguns elementos (de natureza fato de forma mais abrangente). Neste caso, a lei prin-
objetiva ou subjetiva), chamados de especializan- cipal afasta a aplicação de lei secundária (lex primaria
tes, que a tornam mais ou menos severa do que a derogat subsidiariae), justamente porque esta última
geral. cabe dentro dela.
Ou seja, a figura típica subsidiária (chamada pelo
Vamos exemplificar. O tipo penal do homicídio grande penalista brasileiro Nelson Hungria, de “sol-
simples, descrito abaixo, é lei geral: dado de reserva”) é parte da principal, estando nela
contida. Observe que não se trata de ser especial, mas
Homicídio simples sim mais ampla. Veja os exemplos abaixo:

Art. 121 Matar alguém.


z O crime de ameaça (art. 147, do CP) é subsidiá-
rio (“cabe”) no delito de constrangimento ilegal
Compare com o tipo penal do infanticídio, outro
mediante ameaça (art.146). Este, por sua vez, é
dos crimes contra a vida:
subsidiário ao crime de extorsão (art. 158, do CP);
Infanticídio z O crime de disparo de arma de fogo (art. 15 da Lei
nº 10.826, de 2003) se encaixa no crime de homicí-
Art. 123 Matar, sob a influência do estado puerpe- dio cometido com disparo de arma de fogo (art. 121,
226 ral, o próprio filho, durante o parto ou logo após. do CP).
Veja que há um só fato. No exemplo da morte cau- Princípio da Consunção ou Absorção
sada por disparo de arma de fogo, o fato (disparo que
acaba matando) é maior do que a norma subsidiara Trata-se do princípio segundo o qual o fato previs-
(mero disparo), só podendo, portanto, se encaixar na to por uma lei está, igualmente, contido em outra de
norma principal (mais ampla). maior amplitude, aplicando-se somente esta última.
A subsidiariedade se apresenta nas seguintes Os fatos menos amplos e menos graves servem como
formas: preparação ou execução ou mero exaurimento.
Ou seja, ocorre a consunção ou absorção, quando:
z Expressa ou explícita: ocorre quando a própria
norma indica expressamente em seu texto seu z Um fato definido por uma norma incriminadora é
caráter subsidiário, ou seja, afirma que só vai ser meio necessário ou normal fase de preparação ou
aplicada se não for o caso da aplicação de outra, execução de outro crime;
de maior gravidade. Esta é mais simples de ser z Quando constitui conduta anterior ou posterior do
identificada, sendo reconhecida por expressões agente, cometida com a mesma finalidade prática
tais como “se o fato não constituir crime mais gra- relativa ao crime que absorve.
ve”. Um exemplo é o delito de perigo para a vida
ou saúde de outrem: o art. 132 do CP descreve em A consunção tem várias aplicações: a tentativa é
seu preceito secundário a pena de detenção, de absorvida pela consumação; a participação pela coauto-
três meses a um ano, “se o fato não constitui crime ria; e o porte de arma é absorvido no homicídio quanto
mais grave”. Ou seja, a lei explicitamente indica a arma é adquirida e portada com a finalidade de matar
que o art. 132 só é aplicável se o fato não constituir a vítima. É utilizada, também, no crime progressivo
crime mais grave, como a tentativa de homicídio, o (aquele no qual o agente possui um só desígnio, mas,
perigo de contágio de moléstia grave e o abandono para alcançar o resultado mais grave, passa pelo menos
de incapaz, entre outros. São outros exemplos de grave. Em outras palavras, é quando o agente desde o
subsidiariedade expressa os arts. 129 (§ 3º), 238, início quer alcançar o resultado mais grave, e o bus-
239 e 307, todos do CP e os arts. 21, 29 e 46 da Lei ca, por meio de atos sucessivos e crescentes, como por
de Contravenções Penais (LCP). exemplo no caso do homicida que deseja matar a víti-
z Tácita ou implícita: neste caso, a norma nada fala. ma cortando as partes do corpo: embora cometa várias
No entanto, o fato incriminado na norma subsidiá- ações, sua intenção é matar a vítima e, assim, reponde
ria serve como elemento componente ou agravan- por um único crime de homicídio qualificado.
te especial da norma principal, como, por exemplo, Outra aplicação da consunção se dá na progressão
no caso do estupro (norma principal) que contém criminosa, ou seja, quando o agente possui um dolo
o constrangimento ilegal (norma subsidiária) e do inicial e, no mesmo contexto fático, resolve substituir o
furto qualificado pelo arrombamento, que contém desígnio, como, por exemplo, quando o sujeito, desejan-
o dano (o constrangimento ilegal é subsidiário de do causar lesões à vítima, corta seus dedos. No entanto,
todos os crimes que têm como meio de execução a no mesmo momento, muda de ideia e resolve matar o
violência física ou a grave ameaça; o dano, por sua ofendido com um tiro na cabeça. Neste caso, o agente res-
vez funciona como circunstância qualificadora do ponde pelo homicídio, ficando as lesões corporais absor-
furto). Outro exemplo é a omissão de socorro (art. vidas (se não fossem no mesmo contexto fático, como por
135, CP) que serve como qualificadora do homicí- exemplo no caso do agente que mata a vítima um mês
dio culposo (§ 4º, art. 121, CP). após causar-lhe lesões, haveria, por outro lado, concurso
de crimes, respondendo o agente pelos dois delitos).
Na prática, o princípio da subsidiariedade acaba Duas outras aplicações do princípio se dão nos
por gerar os mesmos resultados do princípio da espe- chamados ante factum impunível e no post factum
cialidade. No entanto, trata-se de institutos diferentes. impunível. No primeiro caso, podemos citar, como
A distinção pode ser feita de duas maneiras: exemplo, o agente que toca o corpo da vítima e, na
mesma linha de desdobramento, praticar a conjun-
z Na especialidade: há relação entre o fato descrito ção carnal: responde pelo estupro, ficando os toques
pela norma genérica e o estabelecido pela especial absorvidos. Já no caso do fato posterior não punível, o
(relação de gênero e espécie); na subsidiariedade exemplo clássico é o do sujeito que furta determinada
não existe essa relação; coisa e em seguida a destrói: vai responder somente
z Na subsidiariedade: quando se afasta a incidên- pelo furto.
cia da norma primária a pena do tipo subsidiário Em relação ao princípio da consunção, duas ques-
pode ser aplicada, como um ‘soldado de reserva’ e tões são recorrentes em concursos:
aplicar-se pelo residuum.
z A primeira diz respeito ao porte ilegal de arma
NOÇÕES DE DIREITO

Para fixar o entendimento, vamos ilustrar o princí- de fogo, disparo de arma de fogo e homicídio
pio da subsidiariedade: doloso: se tudo ocorreu no mesmo contexto fático
(mesmo desdobramento, ou seja, o agente só por-
z Lei principal (é o todo) tou irregularmente a arma e a disparou pois tinha
a intenção de matar alguém) o homicídio absorve
„ Ex.: Extorsão mediante sequestro (art. 159) os anteriores;
z A segunda é relacionada aos crimes de falsida-
z Lei subsidiária (é parte)
de e estelionato: neste caso, basta observar o que
„ Ex.: Sequestro e cárcere privado (art. 148) dispõe a Súmula 17 do STJ: quando o sujeito falsifi-
ca documento para aplicar um golpe, o estelionato
(crime-fim) absorve o falso (crime-meio). 227
E lembre-se: em qualquer situação, para que haja internacionais, a lei estrangeira é aplicável a deli-
consunção é imprescindível que os fatos de deem den- tos praticados em território nacional.
tro do mesmo contexto.
A figura utilizada para fazer referência ao prin- Como regra, o Brasil adota o princípio da terri-
cípio da consunção é da de um peixão, que engole torialidade temperada e 4 outros princípios como
um peixinho que engole o girino: isto é, o homicídio exceção:
absorve as lesões graves, que absorvem as lesões leves
que, por sua vez, absorvem as vias de fato. z Real ou de proteção ou da defesa: inciso I, § 3º,
art. 7º, e CP (exceção: extrataterritorialidade). A lei
Princípio da Alternatividade penal leva em conta a nacionalidade do bem jurí-
dico lesado pelo delito, sem se importar com local
O último dos princípios é do da alternatividade e é de sua prática ou da nacionalidade do sujeito ativo.
aplicado quando há a prática, no mesmo contexto fáti- z Justiça penal universal ou princípio universal
co, dos crimes de conteúdo múltiplo ou variado ou
ou da universalidade da justiça cosmopolita,
plurinuclear, que são os crimes que descrevem várias
ou da jurisdição mundial ou da repressão uni-
condutas no mesmo artigo, ou seja, contém vários ver-
versal ou da universalidade do direito de punir:
bos como núcleos do tipo. Um exemplo desse tipo de
alínea a, inciso II, art. 7º (exceção: extrataterrito-
crime encontra-se no art. 33, caput, da Lei de Drogas:
rialidade). Cada Estado tem o poder de punir qual-
quer crime, independentemente da nacionalidade
Art. 33 Importar, exportar, remeter, preparar, pro-
do autor ou da vítima ou, ainda, do local da sua
duzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, ofe-
recer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, prática. Basta que o criminoso esteja dentro do ter-
guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ritório do país.
ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem z Nacionalidade ativa ou princípio da perso-
autorização ou em desacordo com determinação nalidade: alíena b, inciso II, art. 7º (exceção:
legal ou regulamentar. extrataterritorialidade). Segundo o princípio da
nacionalidade, a lei penal do Estado se aplica a
Note que são dezessete verbos (núcleos diferen- seus cidadãos onde quer que se encontrem. O Bra-
tes): pelo princípio da alternatividade, se o agente sil adota a nacionalidade ativa, que impõe a apli-
pratica mais de um verbo, no mesmo contexto fático, cação da lei nacional ao cidadão que comete crime
só responderá por um único crime (por exemplo, se o no estrangeiro não importando a nacionalidade da
sujeito oferece e ministra). vítima.
z Representação ou pavilhão ou bandeira: alí-
A LEI PENAL NO ESPAÇO
nea c, inciso II, art. 7º (exceção: extrataterritoria-
lidade). Ficam sujeitos à lei do Brasil os delitos
Ao estudar, nos arts. 5º a 8º do CP, a aplicação da lei
cometidos em aeronaves e embarcações privadas,
penal no espaço vamos tratar do lugar de incidência
quando ocorridos no estrangeiro e aí não venham
da legislação penal brasileira, ou seja, onde ela é apli-
lá a ser julgados.
cada. Não vamos ver, neste momento, regras de com-
petência, que se encontram nos arts. 70 e seguintes do
Território Nacional
Código de Processo Penal (CPP).
O §1º e 2º do art. 5º do CP fala em território. O terri-
Territorialidade
tório que nos interessa é o território jurídico, ou seja,
o espaço em que o Estado exerce sua soberania. O ter-
O princípio adotado para tratar do âmbito da apli-
ritório nacional é composto pelas seguintes partes:
cação da lei penal brasileira é o princípio da Terri-
torialidade, que se encontra disposto no art. 5º do CP:
z O solo;
Art. 5º Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de z O subsolo;
convenções, tratados e regras de direito internacio- z O espaço aéreo correspondente;
nal, ao crime cometido no território nacional.
z Os cursos d’água internos (rios, lagos, mares
interiores);
O princípio da territorialidade significa que a lei
penal de um país só é aplicável no território do Estado z O mar territorial, assim entendido como a faixa
que a editou, sem se preocupar com a nacionalidade de mar exterior que compreende as 12 milhas
do sujeito ativo (autor) ou passivo (vítima). marítimas medidas a partir da linha do baixa-mar
O princípio da territorialidade pode se dar de duas do litoral continental e insular brasileiro, de acor-
formas: do com as referências contidas nas cartas náuticas
brasileiras (art. 1º da Lei nº 8.617, de 1993).
z De forma absoluta (princípio da territorialidade
absoluta) quando somente a lei penal do país é Em relação aos rios internacionais que constituem
aplicável aos crimes cometidos em seu território limites entre dois países, normalmente existe tratado
nacional; sobre o tema que ou determina que a divisa se encon-
z De forma temperada, relativizada ou mitigada tra na linha mediana do leito do rio ou que a divisa
(princípio da territorialidade temperada) quan- acompanhe a linha de maior profundidade da cor-
do a lei penal nacional é aplicada via de regra ao rente. Se o rio não for divisa, mas sucessivo, como o
crime cometido no território nacional, mas, excep- Amazonas, é indiviso, e cada Estado exerce soberania
228 cionalmente, por força de tratados e convenções sobre ele.
No caso dos lagos, salvo acordo em contrário, o aberta em São Paulo, mata a vítima. Quem vai punir
limite é fixado pela linha da meia distância entre as os autores?
margens do lago ou lagoa, que separa dois ou mais Para solucionar tais situações, existem três teorias:
Estados.
Por se relacionarem aos assuntos que estamos Extraterritorialidade
vendo, vale a pena estudar as hipóteses de não inci-
dência da lei a fatos cometidos no Brasil: Extraterritorialidade é a aplicação da lei brasilei-
ra aos crimes cometidos fora do Brasil. Sua sistema-
a) as imunidades diplomáticas; tização se encontra nos arts. 7º e 8º do CP.
b) as imunidades parlamentares; Tal fenômeno se justifica por dois motivos:
c) a inviolabilidade do advogado.
z Para proteger certos bens jurídicos (como, por
Esses assuntos são tratados em Direito Constitucio- exemplo, o patrimônio público);
nal, Direito Processual Penal e no estudo do Estatuto z Para impedir que certos delitos fiquem sem res-
da Ordem dos Advogados do Brasil. posta da lei penal. Não se aplica a extraterrito-
rialidade a todas as infrações penais (crimes e
Território por Extensão contravenções): de acordo com o art. 2º da Lei
de Contravenções Penais, não se aplica a lei
De acordo com o § 1º do art. 5º do Código Penal, para brasileira às contravenções ocorridas fora do
fins penais, é considerado território por extensão: território nacional. Ou seja, não há extraterrito-
rialidade de contravenção.
z As embarcações e aeronaves brasileiras, de na-
tureza pública ou a serviço do governo brasileiro A aplicação da lei brasileira no estrangeiro pode ser
onde quer que se encontrem; dar sem que seja necessária qualquer condição, receben-
z As aeronaves e as embarcações brasileiras, mer- do o nome de extraterritorialidade incondicionada:
cantes ou de propriedade privada, que se achem,
respectivamente, no espaço aéreo corresponden- z Hipóteses do art. 7, I, do CP:
te ou em alto-mar.
I - os crimes:
a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da
Vale notar que embaixada estrangeira, localizada
República;
no Brasil, constitui território brasileiro para efeito de b) contra o patrimônio ou a fé pública da União,
incidência da Lei penal brasileira. do Distrito Federal, de Estado, de Território, de
Município, de empresa pública, sociedade de eco-
Lugar do Crime nomia mista, autarquia ou fundação instituída pelo
Poder Público;
O CP trata do lugar do crime no art. 6º: c) contra a administração pública, por quem
está a seu serviço;
Art. 6º Considera-se praticado o crime no lugar em d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou
que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em par- domiciliado no Brasil;
te, bem como onde se produziu ou deveria produzir- [grifos nossos]
-se o resultado.
Nestes casos, aplica-se a lei penal brasileira ainda
Conforme já vimos antes, não se trata de fixar nor- que o crime tenha sido julgado no estrangeiro e
mas de competência (medida de jurisdição) uma vez independentemente de o agente entrar no Brasil.
que tais normas são cuidadas pelos arts. 70 e seguin- Se preenchidas certas condições indicadas na lei,
tes do CPP. O disposto no art. 6º, CP destina-se aos teremos a extraterritorialidade condicionada:
chamados crimes à distância, isto é, aqueles delitos
em que a ação ou a omissão ocorre em um país e o z Hipóteses do inciso II, art. 7, do CP: alínea ‘a’ e ‘b’,
resultado, em outro. Em relação ao local do crime, o inciso II, art. 7º + requisitos do §2º, art. 7º;
CP adota o princípio da ubiquidade. alínea ‘c’, inciso II, art. 7º do CP + requisitos do
§2º, art. 7º + alínea ‘c’, inciso II, art. 7º, in fine (não
ter sido julgado no estrangeiro);
Dica §3º, art. 7º, do CP + requisitos do §2º, art. 7º +
Para facilitar seu estudo, lembre-se do mnemô- requisitos do §3º (não ter sido pedida ou ter sido
nico “LUTA”, no que diz ao princípios adotados negada a extradição) + requisição do Ministro da
NOÇÕES DE DIREITO

Justiça.
quanto ao lugar do crime e o tempo do crime:
Lugar
Pena Cumprida no Estrangeiro
Ubiquidade
Tempo Art. 8º A pena cumprida no estrangeiro atenua a
Atividade pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando
diversas, ou nela é computada, quando idênticas.
Vamos exemplificar: na divisa Brasil-Paraguai, um
cidadão brasileiro, que se encontra em Foz do Igua- Quando se fala em extraterritorialidade condicio-
çu, atira em uma pessoa, que se encontra no Paraguai, nada, uma vez tendo sido cumprida a pena no estran-
vindo esta a falecer. Ou ainda, um indivíduo envia geiro, desaparece o interesse do Brasil em punir o
uma carta-bomba do Chile para o Brasil, que ao ser delinquente. 229
Por outro lado, nos casos de extraterritorialidade crime e contravenção, sendo que estas duas últimas
incondicionada, se o sujeito ativo entra em território estão incluídas na primeira
brasileiro, estará sujeito à punição, independente- No Código de Processo Penal há certa confusão:
mente de já ter sido condenado ou absolvido no exte- algumas vezes usa o termo infração, de forma genéri-
rior. Nesta hipótese, se aplicaria a fórmula do art. 8º, ca, incluindo os crimes (ou delitos) e as contravenções
CP. No entanto, tal dispositivo é inconstitucional, por (veja, por exemplo, os arts. 70, 72, 74, 76, 77 etc.). Em
ir contra a garantia constitucional de que ninguém outras situações, emprega a expressão delitos como
pode ser punido duas vezes pelo mesmo fato, constan- sinônimo de infração (por exemplo, conforme consta
te da Convenção Americana dos Direitos Humanos, nos arts. 301 e 302, CPP).
em vigor no Brasil. Para os fins do nosso estudo temos, então que
infração penal pode significar crime (ou delito) e
Eficácia da Sentença Penal Estrangeira contravenção penal.
As diferenças entre crime e contravenção serão
O art. 9º do CP trata dos efeitos da sentença penal vistas mais adiante.
estrangeira. De acordo com o disposto, somente pode
ser homologada para produzir os seguintes efeitos: Conceito de Crime

z Obrigar o condenado à reparação do dano (inciso O conceito de crime não é natural e sim algo arti-
I, art. 9º, CP); ficial, criado pelo legislador tendo em vista os interes-
ses da sociedade. Mas o que é crime?
z Sujeitar o condenado à medida de segurança (inci-
Podemos responder esta pergunta de três dife-
so II, art. 9º, CP).
rentes formas, olhando para o crime sob diferentes
aspectos: material, formal e analítico.
A homologação é feita por meio de sentença pelo Vamos ver o conceito de crime de acordo com cada
STJ (alíena ‘i’, inciso I, art. 105, da CF). No caso do inciso um desses pontos de vista:
I, art. 9º, CP depende de pedido da parte interessada; já
na hipótese do inciso II, art. 9º, CP, depende da existên-
z Aspecto material: é o juízo, a visão que a socie-
cia de tratado de extradição com o país respectivo ou,
dade tem sobre o que pode e deve ser proibido
na fala de ratado, de requisição do Ministro da Justiça.
por meio da aplicação de sanção penal. Sob esse
aspecto, o conceito material de crime consiste
na conduta que ofende um bem juridicamen-
CONTAGEM DE PRAZO te tutelado (bem juridicamente considerado
essencial para a existência da própria sociedade e
Antes de ingressar especificamente na contagem manutenção da paz social);
dos prazos, cumpre informar que o prazo penal e o z Aspecto formal: é a concepção sob a ótica do direi-
prazo processual são contados de maneiras diferentes: to. Assim, o conceito formal de crime constitui
uma conduta proibida por lei, que se realizada,
z Prazo penal (regra art. 10 do CP): inclui-se o pri- resulta na aplicação de uma pena. Considera-se
meiro dia, despreza-se o último; crime, dessa forma, o que o legislador apontar
z Prazo processual penal (§ 1º do art. 798 do CPP): como tal;
despreza-se o primeiro dia, conta-se o último.
z Por fim, o conceito que interessa aos nossos estu-
Frações Não Computáveis da Pena dos: sob o aspecto analítico, se procura apontar,
estabelecer os elementos estruturais do crime.
z Frações de penas: não são computadas as horas Vejamos:
nas penas privativas de liberdade e restritivas de
direitos, nem os centavos na pena pecuniária. Conceito Analítico de Crime

Do ponto de vista analítico, diferentes doutrinado-


Importante! res enxergam o crime de formas diferentes. Existem
várias correntes, mas as principais são duas:
Para fins de prescrição e decadência, os prazos são
contados de acordo com a regra do art. 10, do CP. � A que entende que o crime é Fato Típico + Anti-
jurídico (concepção bipartida), sendo a culpabi-
lidade pressuposto de aplicação da pena (entre
eles René Ariel Dotti, Fernando Capez, Damásio de
CONCEITO DE CRIME E SEUS Jesus, Julio Fabrini Mirabete, Cleber Masson);
ELEMENTOS z A que concebe o crime como um Fato Típico +
Antijurídico + Culpável (concepção tripartida
TEORIA GERAL DO CRIME ou tripartite) e que é majoritária tanto no Brasil
quanto no exterior. Entre seus adeptos estão tanto
Nomenclatura aqueles que adotam a teoria da conduta finalista
(como Heleno Fragoso, Eugenio Raúl Zaffaroni,
A doutrina brasileira utiliza o termo Infração de Luiz Regis Prado, Rogério Greco, entre outros) ou
forma genérica, para englobar os crimes ou delitos e causalista (Nélson Hungria, Frederico Marques,
as contravenções. Aníbal Bruno e Magalhães Noronha).
O Código Penal não utiliza em seu texto a expressão
230 delito, optando por utilizar as expressões infração,
Diferença entre Crime e Contravenção Por outro lado, sujeito passivo é entendido como
o titular do bem jurídico cuja ofensa fundamenta o
Antes de prosseguir com o estudo do crime, é inte- crime. Existem duas espécies:
ressante fazer a distinção entre crime e contravenção
penal (também chamada de crime anão ou delito Lili- z Sujeito passivo formal ou constante ou geral ou
putiano ou crime vagabundo ou delitti nani). genérico: é o Estado;
Existem países que utilizam a classificação tripar- z Sujeito passivo material ou eventual ou particu-
tida de infrações penais: delitos, crimes e contraven- lar ou acidental: o titular do interesse protegido
ções. O Brasil adota, como já vimos, a classificação penalmente (pode ser o ser humano, pessoa jurídi-
bipartida, que divide as infrações entre crimes (ou ca, a coletividade ou o Estado).
delitos) e contravenções.
Não existe um dado único que faça a distinção É importante salientar que pessoa incapaz pode
entre os dois tipos de infração penal. Tanto os crimes ser sujeito passivo do crime (recém-nascido, menor
quanto as contravenções configuram comportamen- em idade escolar, portador de deficiência mental etc.)
tos que violam mandamentos legais que possuem É possível ser sujeito passivo mesmo antes de nascer,
como sanção a aplicação de uma pena. A grande dis- pois o feto tem direito à vida, bem jurídico protegi-
tinção é a maior ou menor gravidade com que a lei vê do pela punição do aborto (arts. 124, 125 e 126, do
tais condutas. CP). Pessoa morta e animais não podem ser sujeitos
No entanto existem outros elementos que ajudam passivo, pois não são titulares de direitos (podem ser
na distinção. objetos materiais; a titularidade é de outros: família,
Em relação às penas: os crimes são punidos com coletividade etc.) Aproveitando que mencionamos
penas privativas de liberdade (reclusão ou detenção), objeto do crime, guarde:
restritivas de direitos e multa; já as contravenções são
punidas com prisão simples e/ou multa. z Objeto jurídico consiste no bem ou interesse tute-
Com relação ao elemento subjetivo: no crime é o lado pela norma penal (como vida, patrimônio,
dolo ou a culpa; na contravenção é a voluntariedade. honra etc.);
Por último, é possível a tentativa nos crimes, z Objeto material é a pessoa ou coisa sobre a qual
enquanto ela é incabível nas contravenções. recai a conduta criminosa (por exemplo a coisa
móvel, no furto).
Sujeitos do Crime
Classificação dos Crimes
Antes de analisarmos os elementos do crime é
importante fixar alguns conceitos sobre os sujeitos do Qualificação é o nome que se dá ao fato ou a infra-
crime. ção, seja pela doutrina ou pela lei. Assim temos:
Sujeito ativo é quem pratica o fato descrito na nor-
ma penal incriminadora. O crime é uma ação huma- z É o nome que a lei dá (nomen juris). Por exem-
na, sendo que apenas o ser humano pode delinquir. plo, “ofender a integridade corporal ou a saúde
Animais e entes inanimados não possuem capacidade de outrem” é chamada pelo art. 129, CP de “lesão
penal (conjunto de condições necessárias para que corporal”.
um sujeito possa ser titular de direitos e obrigações z Que são os nomes dados pela doutrina aos fatos
na esfera penal). criminosos. Por exemplo: crime de mera conduta,
crime permanente, crime próprio etc.)
z É o nome dado à modalidade a que o fato pertence:
Importante! crime ou contravenção. Por exemplo, “homicídio” é
A Constituição Federal prevê no § 5º, art. 173, crime, enquanto o “jogo do bicho” é contravenção.
e § 3º, art. 225, que a legislação ordinária esta-
A classificação doutrinária dos crimes serve
beleça a punição da pessoa jurídica nos atos
para facilitar o estudo e o entendimento dos tipos
cometidos contra a economia popular, a ordem penais incriminadores. No entanto, existem muitos
econômica e financeira e o meio ambiente. nomes, ficando difícil fazer uma classificação defini-
Atualmente apenas a Lei nº 9.605, de 1998, Lei tiva, uma vez que os estudiosos do Direito Penal ao
de Proteção Ambiental prevê essa responsabi- sistematizarem a matéria, acabam por criar novas
lidade. Ou seja, a pessoa jurídica responde por nomenclaturas.
crime ambientais. As principais são:
NOÇÕES DE DIREITO

Crimes Comuns e Especiais


Existem várias nomenclaturas em lei para se referir
ao sujeito ativo: “agente” (por exemplo, nos arts. 14, São os definidos no Direito Penal Comum; os espe-
(inciso II); 15; 18, (incisos I e II); 19; 20 (§ 3º); 21, pará- ciais, são os descritos no Direito Penal Especial.
grafo único; 23, caput e parágrafo único; 26, caput e
parágrafo único, todos do CP); “indiciado”, na fase do Crimes Comuns (quanto ao agente) e Próprios
inquérito; acusado, denunciado, réu durante a fase pro-
cessual; “sentenciado”, “preso”, “condenado”, “detento” Crime comum é aquele que pode ser praticado por
ou “recluso”, para aqueles que já foram condenados. qualquer pessoa (furto, homicídio etc.) Crime próprio
Usa-se, ainda, sob o ponto de vista biopsíquico, as é o que só pode ser cometido por um agente com qua-
expressões “criminoso” ou “delinquente”. lidades especiais (uma condição jurídica, como ser 231
funcionário público; de parentesco, como mãe, filho; Sistemas Penais
profissional, como médico; ou natural, como no caso
da gestante. O conceito analítico de crime, que é o que nos inte-
Dentro do contexto dos crimes próprios há uma ressa no presente estudo, apresenta várias concepções
categoria chamada crimes de mão própria ou de diferentes sobre sua estrutura, elementos e maneira
atuação pessoal, que são os que só podem ser come- como esses elementos interagem entre si.
tidos pelo agente em pessoa, de forma direta, como Dentre essas diferentes teorias, o Código Penal
por exemplo no caso de falso testemunho (a testemu- adotou a teoria finalista, de modo que, conforme
nha não pode mentir por meio de outro sujeito). O vamos ver a seguir, é imprescindível a presença
crime de mão própria admite participação, mas não do dolo ou da culpa a fim de que se configure uma
coautoria. conduta penalmente relevante.
Concebida nos anos 1930 por Hans Welzel, um
Crimes de Dano e de Perigo alemão jurista e filósofo do direito, foi adotada no
Brasil por doutrinadores como Damásio E. De Jesus,
Crime de dano é o que apenas se consuma quando Júlio Fabrinni Mirabete e Miguel Reale Júnior, dentre
ocorre a efetiva lesão ao bem jurídico (como no homi- outros penalistas.
cídio, nas lesões corporais). Crime de perigo são os Para a teoria finalista, também chamada de “teo-
que se consumam com a mera possibilidade do dano ria final”, “finalismo penal”, “teoria finalista da ação”
(como, por exemplo, na rixa, art. 137, CP e no incên- ou, ainda, “teoria da ação finalista”, o crime é fato
dio, art. 250, CP). típico (seus elementos são: conduta, dolosa ou cul-
Os crimes de perigo, por sua vez, subdividem-se em: posa; resultado naturalístico; relação de causalidade
ou nexo causal; e tipicidade), ilícito (antijurídico) e
z Crime de perigo presumido (ou abstrato) e crime culpável (imputabilidade; exigibilidade de conduta
de perigo concreto: No presumido ou abstrato o diversa e potencial consciência da ilicitude).
perigo é presumido pela lei. Basta a ação ou omis- Fator importante a ser lembrado quando se fala nes-
são (exemplo, art. 135, CP; art. 306, CTB e arts. 14 ta teoria, é que o dolo e a culpa integram o fato típico.
ao 16 do Estatuto do Desarmamento). Já o concreto
Assim, segundo a teoria finalista, o conceito analí-
depende de prova efetiva de perigo (exemplo, no
tico de crime é composto pelos seguintes elementos:
crime de exposição ou abandono de recém-nasci-
do, art. 134, CP)
z Fato Típico
z Crime de perigo individual e crime de perigo
comum (coletivo). Perigo individual é o que coloca „ Conduta;
em risco de dano o bem jurídico de uma só pessoa „ Resultado;
ou de grupo determinado de pessoas (por exem- „ Nexo causal;
plo, perigo de contágio venéreo, art. 130, CP). Já no
„ Tipicidade.
perigo comum ou coletivo o risco atinge um núme-
ro indeterminado de pessoas (como no delito de
z Antijurídico (ou Ilícito)
incêndio, art. 250, CP).
„ Contrariedade ao ordenamento jurídico.
Crimes Comissivos e Omissivos
z Culpabilidade
Crime comissivo é aquele que implica em uma
ação, um fazer do sujeito; já o crime omissivo, carac-
teriza-se por um não-fazer. Juízo de reprobabilidade formado pela:
Dividem-se nas seguintes modalidades:
„ Imputabilidade;
z Comissivos por omissão: são os delitos de ação, „ Exigibilidade de conduta diversa;
praticado de forma excepcional por omissão (nos „ Potencial consciência da ilicitude.
casos em que o agente tem o dever jurídico de
impedir o resultado e não o faz – § 2º, art. 13, CP); Vamos agora estudar os elementos do crime, de
z Omissivos por comissão. forma separada, assim como suas causas de exclusão.

Crimes Instantâneos, Permanentes e Instantâneos FATO TÍPICO


de Efeitos Permanentes
Não importa a posição adotada, bipartite (Crime
Crime instantâneo é aquele que se consuma em = Fato Típico + Antijurídico) ou tripartite (Crime =
momento determinado, sem prolongamento. Fato Típico + Antijurídico + Culpável) o primeiro
Crimes permanentes são aqueles nos quais a elemento (requisito, característica) do conceito analí-
consumação prolonga-se no tempo (Ex.: extorsão tico de crime é o fato típico.
mediante sequestro). O fato típico possui 4 elementos:
Crime instantâneo de efeitos permanentes é aque-
le em que a consumação também ocorre em momento z Conduta dolosa ou culposa;
determinado, mas os efeitos da consumação têm efei- z Nexo de causalidade (exceto nos crimes de mera
tos duradouros (como no homicídio).
conduta e nos formais);
Existem uma série de outras classificações, como
crime continuado, delito putativo, por exemplo, que z Resultado (salvo nos crimes de mera conduta);
232 serão vistas ao tratar de outros temas mais à frente. z Tipicidade.
Dos 4 elementos do fato típico, 2 deles, a conduta em primeiro lugar ao Código Penal verificar o que
e a tipicidade são obrigatórios. Em alguns casos, não está disposto sobre o dolo e a culpa.
são necessários o nexo de causalidade e o resultado.
No caso dos crimes materiais (como já vimos aci- Art. 18 Diz-se o crime:
ma, que é aquele que descreve uma conduta + um Crime doloso
resultado naturalístico e, para que o crime ocorra, é I – doloso, quando o agente quis o resultado ou
preciso que acontece o resultado descrito na norma), assumiu o risco de produzi-lo;
são necessários os 4 elementos para que se configure Crime culposo
o crime, como por exemplo, no caso do homicídio: II – culposo, quando o agente deu causa ao resulta-
do por imprudência, negligência ou imperícia.
Parágrafo único – Salvo os casos expressos em lei,
ninguém pode ser punido por fato previsto como
Conduta
crime, senão quando o pratica dolosamente.
Nexo Causal
Vamos ver, agora de forma separada, o dolo e a
Resultado
Uma Relação de culpa, que são os elementos subjetivos da conduta.
facada, causa e efeito
por Tipicidade
entre a Sendo crime
exemplo facada (ação) material, Adequação
e o resultado requer o entre o fato Importante!
(morte) resultado, no praticado e a
caso, a morte previsão legal: Não existe crime sem dolo ou culpa (princípio da
Art.121,CP responsabilidade subjetiva).
(Matar alguém)
Os crimes, em geral, são dolosos e, excepcional-
mente, culposos (apenas quando a lei, de forma
No entanto, em alguns casos, vão bastar apenas a expressa, determinar).
conduta e a tipicidade. Isto ocorre nos crimes formais
(que dispensam a ocorrência do resultado, que é mero
Dolo
exaurimento; ou ainda, nem o preveem, fazendo com
que seja desnecessário verificar o nexo causal) como
Podemos definir dolo como sendo a vontade de
no exemplo abaixo:
produzir o resultado típico.
No dolo direito (ou imediato ou determinado) exis-
te a intenção do agente de ofender o bem jurídico.
Conduta
Exemplo: querendo a morte da vítima, o atirador des-
Nexo Causal fere um tiro fatal.
Exigir que se Já no dolo indireto ou eventual, o sujeito assume o
assine um Resultado
contrato risco de produzir o resultado.
Não é
favorável ao necessário Tipicidade A diferença relevante está entre o dolo direito e o
autor, sob Não é eventual. Mas existem outras classificações de dolo,
ameaça necessário Adequação
entre o fato sem muita utilidade. Dentre essas, cabe mencionar o
praticado e a dolo alternativo, que pode aparecer em algum enun-
previsão legal: ciado de questão.
Art.158,CP
(Extorsão)
Dolo alternativo se configura quando o agente age
com indiferença, buscando um resultado ou outro
(não se trata de uma forma independente de dolo).
Conduta Exemplo de dolo alternativo é o do agente que encon-
tra uma carteira em um banco de praça e a leva para
A conduta é toda ação ou omissão humana, cons- casa, pouco se importando se alguém a esqueceu ali
ciente e voluntária, dirigida a determinada finalidade. ou é de alguém que se encontra brincado com o filho
A conduta pode se realizar: no parque que fica dentro da praça. Neste caso pode
ter praticado o crime de furto (art. 155, CP) ou de apro-
z Por uma ação (um fazer, um comportamento priação de coisa achada (inciso II, art. 169, CP).
positivo); São elementos do Dolo:
z Por uma omissão (um não fazer, uma abstenção).
z Consciência da conduta e do resultado;
z Consciência da relação causal objetiva entre a
NOÇÕES DE DIREITO

Existem várias teorias que tratam da definição


da conduta criminosa; é essencial conhecer a Teoria conduta e o resultado;
Finalista da Conduta, elaborada por Hans Welzel e z Vontade de realizar a conduta e de produzir o
sobre a qual já mencionamos. Para a teoria finalista, resultado.
adotada pelo cp como vimos, a conduta precisa ser
ou dolosa ou culposa, ou seja, dolo e culpa, integram Culpa
o Fato Típico (estão dentro da conduta, que é um de
seus elementos). A culpa, por sua vez, não exige a intenção do agen-
Mas o que são dolo e culpa? te de agredir a norma, mas ele acaba agindo de forma
Ainda dentro do estudo da conduta, vamos estabe- descuidada para com o bem jurídico. No crime culpo-
lecer os conceitos de dolo e de culpa, essenciais para so, o resultado ilícito não é desejado, mas é previsível
o entendimento do próprio conceito de crime. Vamos, e poderia ter sido evitado. Tal descuido se concretiza 233
por meio da negligência, imprudência ou imperícia De forma simples, o resultado naturalístico deve
(espécies de culpa, conforme o art. 18, II, CP). ter sido causado pela conduta praticada pelo agente (o
agente só responde se sua conduta tiver influenciado
z Imprudência: é a forma ativa de culpa em que o no resultado).
agente executa um comportamento sem cautela Ao tratar do nexo de causalidade, o CP adotou, no
(de forma precipitada ou com insensatez). art. 13, caput, 2ª parte, a chamada teoria da equiva-
lência dos antecedentes causais (também conhecida
Ex.: o sujeito que dirige em alta velocidade dentro
por conditio sine qua non) que considera causa a ação
da cidade, onde pedestres por todos os lados.
ou omissão sem a qual o resultado não teria ocor-
z Negligência: é a forma passiva de culpa em que o rido. Por esta teoria todos os antecedentes se equiva-
agente deixa de agir, fica inerte, por descuido ou lem, ou seja, todas as causas tem o mesmo valor.
desatenção, quando era necessário agir de modo Para saber se uma conduta é causa do resultado
contrário. basta, mentalmente, excluí-la da série causal. Se, com
Ex.: não acionar o freio de mão ao estacionar o veí- sua exclusão, o resultado deixar de ocorrer do modo
culo em uma ladeira. que ocorreu, é considerada causa (esse processo é cha-
mado de Processo Hipotético de Eliminação Thyrén).
z Imperícia: consiste na imprudência no campo
Esta teoria, se mal interpretada, pode levar a
técnico, pressupondo a falta de cautela relativa ao
excessos (regressus ad infinitum), como no caso de um
exercício de uma arte, um ofício ou uma profissão.
homicídio com arma de fogo, em o comerciante que
Ex.: no caso do médico que deixa de tomar os cui- vendeu a arma e, antes dele, o dono da fábrica que
dados necessários quanto à assepsia antes de uma produziu o armamento também teriam dado causa ao
cirurgia, o que acaba por causar uma infecção que resultado! Como solucionar tal situação injusta? Neste
provoca a morte do paciente. caso, temos que verificar se tanto o comerciante quan-
to o industrial agiram com dolo ou culpa: caso nega-
Sempre nas questões que envolvem o dolo even- tivo, não serão responsabilizados (não há fato típico).
tual e culpa consciente, se fizermos uma leitura rápi- Tema importantíssimo ao tratar de nexo causal diz
da, podemos ficar com dúvida. Portanto, vamos fazer respeito às concausas e seus efeitos
a segunda leitura da questão e identificar as palavras Concausas são as causas concomitantes que se
que diferenciam o dolo eventual da culpa consciente. unem para gerar o resultado. Na prática não há dis-
tinção entre causas e concausas. As causas podem ser
Crime Preterdoloso ou Preterintencional preexistentes, concomitantes e supervenientes, absoluta
ou relativamente independentes da conduta do sujeito.
Trata-se de uma espécie de crime qualificado A questão aqui é que temos duas possíveis causas
pelo resultado. Neste caso, o agente quer causar um para um único resultado, e é necessário se determinar
determinado resultado (possui dolo quanto a este de que forma o agente deverá ser responsabilizado,
resultado), mas acaba causando outro resultado, de tendo em vista sua contribuição para o resultado final
forma culposa (possui dolo no antecedente e culpa no do crime. Ou seja, a responsabilização vai variar de
consequente. acordo com a relevância da concausa (se ela contri-
Ocorre, por exemplo, na lesão corporal seguida buiu ou não para o resultado produzido).
de morte, quando o agente quer lesionar (dolo) mas Primeiramente vamos ver a hipótese das causas
acaba matando (por culpa). Neste caso a conduta sub- absolutamente independentes: da conduta do sujeito.
sequente (morte) vai servir como um evento qualifica- Vamos tratar por meio de exemplos, pois é a forma
dor (vai responder pelo crime na forma mais grave). mais fácil de se entender:

Resultado z 1º caso (causa preexistente): imagine a situa-


ção em que o genro envenena a sogra no café da
O segundo elemento do fato típico é o resultado, manhã. O veneno “A” leva tempo para agir. Na
que nada mais é do que a modificação do mundo exte- hora do almoço, a nora envenena (veneno “B”) o
rior causada pela conduta (é o que se chama de resul- suco da sogra, que logo após, cai morta. A necrop-
tado naturalístico: aplicação da teoria naturalística). sia conclui que o veneno “A”, exclusivamente, foi a
No entanto nem todo crime tem resultado (natu- causa mortis.
ralístico), como no caso dos crimes de mera conduta
(conforme já vimos, que é aquele em que a lei descre- Neste caso a conduta da nora não causou o resul-
ve apenas uma conduta e não um resultado, consu- tado, a morte foi causada por causa preexistente
mando-se no momento da prática da conduta, como (envenenamento pelo genro). A nora só vai responder
no caso do delito de invasão de domicílio). pelos atos já praticados, ou seja, tentativa de homi-
cídio; o genro, por sua vez, responde por homicídio
Nexo de Causalidade ou Nexo Causal ou Relação de consumado.
Causalidade
z 2º caso (causa concomitante): nesta hipótese, a
Trata-se do elo que une a causa ao resultado e nora envenena o suco da sogra, uma mulher ido-
encontra-se expressamente previsto no art. 13, CP: sa. No momento em que tomava o suco envene-
nado, um indivíduo invade a casa para cometer
Relação de causalidade um roubo; assustada, a idosa morre de colapso
cardíaco, exclusivamente. Neste caso, há quebra
Art. 13 O resultado, de que depende a existência do do nexo causal e a nora só responde pelos atos já
crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. praticados.
Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o z 3º caso (causa superveniente): neste exemplo a
234 resultado não teria ocorrido. nora envenena o suco da sogra, que o toma, faz
todos os afazeres normais e, mais tarde ao sair de Veja que elas não estão agrupadas em um único artigo.
casa, é atropelada e morre, exclusivamente por Por sua vez, como causas supralegais podemos
causa do acidente (o veneno não teve tempo de citar o princípio da insignificância, já visto anterior-
agir). Aqui também não há relação de causalida- mente e também com a chamada adequação social
de, respondendo a nora pelos atos já praticados (comportamentos que são aceitos normalmente pela
(homicídio tentado). sociedade e deixa de ser entendida como lesiva a
algum bem jurídico).
Os três casos acima mostram causas absoluta-
mente independentes da conduta do sujeito: houve Crime Impossível
quebra no nexo causal e o agente só responde pelos
atos já praticados. Disposto no art. 17, CP.
Agora vamos ver as três hipóteses de causas relati- Pode se dar de três formas:
vamente independentes da conduta do sujeito:
z Inidoneidade absoluta do meio: meio escolhido
z 1º caso (causa preexistente): numa briga entre não tem qualquer possibilidade razoável de lesar o
vizinhos, o vizinho “A” dá um golpe de estilete no bem jurídico (matar alguém com “poder da mente”);
braço do vizinho “B’, com a intenção de mata-lo. A z Impropriedade absoluta do objeto: o objeto
vítima era hemofílica, o que fez com que perdesse material não reveste o bem jurídico protegido pela
grande quantidade de sangue, vindo a falecer. Nes- norma penal, como tentar matar alguém já morto
te caso, existe uma relação de causalidade entre a ou abortar não estando a mulher grávida;
conduta (“estiletada”) e o resultado (morte), sen- z Obra do agente provocador: flagrante preparado,
do a causa da morte a hemofilia (condição). Nesta ou seja, quando o Estado instiga o crime para que o
hipótese, a conduta e a causa não são absoluta- sujeito caia em uma “armadilha”, tendo tomado pro-
mente independentes, mantendo-se o nexo causal: vidências para que o bem jurídico não sofra risco.
portanto o vizinho que desferiu o golpe vai respon-
der pelo resultado. Desistência Voluntária, Arrependimento Eficaz e
Arrependimento Posterior
z 2º caso (causa concomitante): um assaltante entra
numa casa e atira no morador que, no momento,
A desistência voluntária e o arrependimento efi-
estava infartando, sendo que a lesão causada pelo
caz encontram-se previstos no art. 15 CP.
projétil contribuiu para que ocorresse o evento
A desistência voluntária se configura quando
morte. Neste caso, há relação de dependência casa-
o sujeito inicia o processo executório, mas desiste
-conduta, não havendo quebra do nexo causal;
voluntariamente de nele prosseguir, evitando a con-
assim sendo o agente responde pelo resultado.
sumação. É o caso, por exemplo, do sujeito que ingres-
z 3º caso (causa superveniente): uma pessoa balea- sa na casa da vítima e, voluntariamente, desiste da
da no peito é socorrida por uma ambulância que, no subtração que pretendia efetuar. Veja que, no caso do
percurso até o hospital, sofre um acidente, fazendo exemplo, se o sujeito desiste do furto pelo risco de ser
com que a vítima venha a falecer de traumatismo surpreendido em flagrante diante do funcionamento
craniano. Neste caso há nexo causal, no entanto o do sistema de alarme, não se fala em desistência, mas
art. 13, § 1º do CP, apresenta uma exceção, excluin- sim em tentativa punível.
do a imputação, fazendo com que o agente só res- Já o arrependimento eficaz se dá após esgotado
ponda pelos atos já praticados (superveniência de o processo executório imaginado, mas resolve agir
causa relativamente independente). voluntariamente atuar para evitar, com sucesso, a
consumação.
Nos dois casos, conforme art. 15, do CP, a conse-
Importante! quência é que o sujeito deve responder apenas pelos
Se as causas forem relativamente independen- resultados já produzidos.
tes (preexistentes ou concomitantes) o agente Esses dois institutos são incompatíveis com os cri-
responde pelo resultado. Por exceção da lei (§1º, mes culposos, pela sua própria natureza, salvo na cul-
art. 13, CP) no caso da superveniência de causa pa imprópria.
relativamente independente, o agente só respon-
de pelos atos já praticados. MOTIVOS ALHEIOS À VONTADE DO AGENTE

z Antes de esgotar a execução:


Tipicidade
„ Tentativa
A tipicidade nada mais é do que a convergência, a „ Imperfeita
NOÇÕES DE DIREITO

cominação do fato no mundo com o tipo abstrato pre- „ Inacabada


visto na lei. Por exemplo, o fato de eliminar a vida de
alguém encontra adequação ao previsto no art. 121, z Depois de esgotar a Execução:
do CP, “matar alguém”.
As excludentes de tipicidade dividem-se em legais „ Tentativa perfeita ou acabada ou crime falho
(quando expressamente previstas em lei) e suprale-
gais (implicitamente previstas em lei). Podemos men- z Consequência jurídica:
cionar como exemplos:
„ Responde pela tentativa: pena do crime
z De excludentes legais, o crime impossível (art. 17, CP); consumado reduzida de 1/3 (um terço) a 2/3
z O impedimento de suicídio (§ 3º, art. 146);
(dois terços)
z Retratação no crime de falso testemunho (§ 2º, art. 342). 235
Crime-obstáculo
MODIFICAÇÃO DA VONTADE DO AGENTE
Classifica-se de crime-obstáculo quando os atos
z Antes de esgotar a execução:
preparatórios são punidos como crime autônomo, por
exemplo, associação criminosa, art. 288, do CP.
„ Desistência
„ Voluntária
Atos Preparatórios e Atos de Execução
z Depois de esgotar a Execução:
z Teoria subjetiva: importa a exteriorização da
„ Arrependimento eficaz vontade criminosa pelo agente e não distingue
atos preparatórios de atos executórios.
z Consequência jurídica: z Teoria objetiva-formal (majoritária): a execu-
ção inicia-se quando o agente começa a praticar o
„ Só responde pelos atos já praticados núcleo contido no tipo penal. Antes disso, os atos
são preparatórios.
z Teoria objetiva-material: são atos executórios
O arrependimento posterior é uma causa obriga- aqueles em que se inicia a prática do núcleo do
tória de diminuição de pena para os crimes pratica-
tipo, bem como os atos imediatamente anteriores,
dos sem violência ou grave ameaça dolosa à pessoa,
com base na visão de terceira pessoa alheia à con-
nos quais o prejuízo é reparado por ato voluntário do
duta criminosa. (Rogério Cunha Sanches)
infrator até o momento do recebimento da denúncia
z Teoria objetiva-individual: são atos executórios
ou queixa.
aqueles em que se inicia a prática do núcleo do
O art. 16, do CP, estabelece redução de um a dois
tipo, bem como os atos imediatamente anteriores,
terços, e prevalece que a redução será tanto maior
com base no plano concreto do agente.
quando mais célere a reparação.
z Teoria da hostilidade ao bem jurídico: a execu-
ção inicia-se quando o agente ataca o bem jurídico
Casos Excepcionais de Arrependimento Posterior no
Código Penal
E se persistirem a dúvida se o ato é preparató-
rio ou de execução? Deve-se considerar, neste caso,
A reparação do dano no crime de estelionato por
o ato preparatório, por ser mais benéfico ao agente.
meio de cheque, até o recebimento da denúncia, tem
Para cada classificação do crime há o momento da
efeito diverso.
consumação.
No peculato culposo (§ 2º, art. 312, do CP), a reparação
Vejamos a consumação de crime entre Roubo X
do dano até a sentença definitiva extingue a punibilidade,
Latrocínio:
e se posterior ainda reduz a pena em metade (§ 3º, art.
312, do CP).
z Roubo: Súmula 582, STJ: consuma-se o crime de
Crime consumado e crime tentado roubo com a inversão da posse do bem median-
te emprego de violência ou grave ameaça, ainda
Para estudarmos os crimes consumados e os crimes que breve tempo e em seguida à perseguição ime-
tentados, é importante conhecermos a iter criminis. diata ao agente e recuperação da coisa roubada,
Segundo Cleber Masson, iter criminis é o caminho sendo prescindível a posse mansa e pacífica ou
do crime, corresponde às etapas percorridas pelo desvigiada.
agente para a prática de um fato previsto em lei como z Latrocínio: Súmula 610, STF: há crime de latro-
infração penal. cínio, quando o homicídio se consuma, ainda que
Considerando que já estudamos crime doloso, não realize a agente a subtração de bens da vítima.
podemos concluir que iter criminis é um instituto Há tentativa de latrocínio quando o sujeito age com
exclusivo dos crimes dolosos. dolo de subtrair e dolo de matar, mas o resultado
Os crimes possuem as seguintes fases: morte não ocorre por circunstâncias alheias à sua
vontade. O fator determinante para a consumação
z Cogitação ou fase interna: É a fase mental de pre- do latrocínio é a ocorrência do resultado morte,
paração do crime: idealização, deliberação e reso- sendo dispensada a efetiva inversão da posse.
lução. Não há conduta penalmente relevante.
O crime é consumado quando nele se reúnem
z Atos preparatórios: O crime começa a se proje-
todos os elementos da sua definição legal. A tentativa
tar no mundo exterior. O agente adquire arma
ocorre, quando, iniciada a execução, não se consuma
de fogo. Em regra, não são puníveis, salvo nos
por circunstância alheias à vontade do agente.
crimes-obstáculo.
z Atos de execução: O agente começa a realizar o Tentativa
núcleo do tipo penal, de forma idônea e inequívo-
ca. Essa fase pode haver punição pela tentativa.
z Branca ou incruenta (improfícua): o objeto do
z Consumação: Crime consumado é quando nele se crime não é atingido pela conduta. O iter criminis
reúnem todos os elementos de sua definição legal. percorrido, o quantum de redução deve se aproxi-
Fim do iter criminis. mar da fração máxima (2/3).
z Exaurimento: Não influi na tipicidade, mas pode z Vermelha ou cruenta: o objeto de crime é atingi-
influenciar na dosimetria da pena, ser reconhe- do pela conduta. Considerando o iter criminis per-
cido como qualificadora ou configurar crime corrido, o quantum de redução da tentativa deve se
236 autônomo. aproximar do mínimo (1/3).
z Perfeita ou acabada: o agente esgota todos os Não esqueça que o dolo da tentativa é igual ao dolo
meios de execução à sua disposição e, mesmo da consumação: o sujeito quer o resultado.
assim, a consumação não sobrevém por circuns- Exemplo: “A” quer subtrair o celular de “B”. Na
tância alheias a sua vontade. consumação, “A” consegue subtrair. Na tentativa,
z Crime falho: agente dispara tiros na vítima, mas é quando “A” consegue colocar a mão no celular, é sur-
socorrida e sobrevive. preendido por “C” que, à distância, percebeu a ação de
z Imperfeita ou inacabada: o agente, por fatores “A”. Neste momento, “A” deixa o celular e foge do local.
alheios a sua vontade, não esgota os meios de A vontade de “A” era: subtrair o celular.
execução ao seu alcance, dentro daquilo que con- O inciso II, art. 14, do CP não tem autonomia, pois a
sidera suficiente, em seu projeto criminoso, para tentativa não existe por si só, isoladamente.
alcançar resultado. Sua aplicação exige a realização de um tipo incri-
z Tentativa propriamente dita: agente, no segundo minador, previsto na Parte Especial do CP ou pela
disparo, é interrompido pela chegada de policiais legislação penal especial.
e o crime não se consuma por circunstância alheia O CP e a legislação extravagante não preveem,
à sua vontade. para cada crime, a figura da tentativa, nada obstante
a maioria deles seja com ela compatível.
São crimes que admitem tentativa: Isso explica o motivo pelo qual não encontramos
a descrição do crime, pois há uma pena prevista em
z Crimes dolosos; caso de consumação e outra pena para a hipótese de
z Crime plurissubsistentes (formais e de mera conduta); tentativa.
z Omissivos impróprios; A tentativa de furto é a combinação de “subtrair,
z Crimes de perigo concreto; para si ou para outrem, coisa alheia móvel” com a exe-
z Crimes permanentes. cução iniciada, mas que não se consuma por circuns-
tâncias alheias à vontade do agente”.
Crimes que não admitem tentativa: Furto tentado é: art. 155, caput, c/c o inciso II, art.
14, ambos do CP.
z Crimes culposos, exceto a culpa imprópria;
z Contravenções penais;
z Crimes habituais; Importante!
z Crimes omissivos próprios; A lei penal (CP ou lei extravagante) não prevê a
z Crimes unissubjetivos; tentativa para cada crime, mas define o delito e
z Crimes preterdolosos; prevê a pena para o caso de consumação.
z Crimes de resultado; Por isso, todo o crime tentado deve incluir na
z Crimes de empreendimento (atendado); descrição do delito o inciso II, art. 14, do CP.
z Crimes impossíveis;
z Crimes de perigo comum;
z Crimes subordinados a uma condição objetiva de E a pena para o caso de crime tentado?
punibilidade; A punibilidade da tentativa é disciplinada pelo
z Crimes-obstáculo. parágrafo único, art. 14, do CP. O CP acolheu como
regra a teoria objetiva, realística ou dualista.
Pena da Tentativa Teoria objetiva, realística ou dualista significa que
ao se determinar a pena da tentativa, ela deve corres-
Salvo disposição em contrário, pune-se a tentati- ponder à pena do crime consumado, diminuída de 1/3
va com a pena correspondente ao crime consumado, (um terço) a 2/3 (dois terços).
diminuída de 1/3 a 2/3. Como o desvalor do resultado é menor quando
A tentativa é uma causa de diminuição de pena. comparado ao do crime consumado, o agente deve
A redução deve ser basear no iter criminis percor- suportar uma punição mais branda.
rido pelo agente. Vamos exemplificar:
A definição do crime tentado (inciso II, art. 14, do
CP) é uma norma de extensão ou de ampliação, uma z “A” subtrai o celular de “B” e foi condenado a pena
vez que, o tipo penal deve ser conjugado com o inciso de 2 anos.
II, art. 14, do CP. z “A” tentou subtrair o celular de “B” e foi condenado
O inciso II, art. 14, do CP, dispõe que a tentativa é a pena de 1 ano e 4 meses.
o início de execução de um crime que somente não
se consuma por circunstâncias alheias à vontade do No exemplo 1, o crime foi consumado, por isso foi
NOÇÕES DE DIREITO

agente. aplicada a pena de 2 anos (lembrando que a pena pre-


O ato de tentativa é um ato de execução. vista para furto é de um a quatro anos, e multa).
Exige-se que o sujeito tenha praticado atos execu- No exemplo 2 o crime foi tentado, motivo pelo qual
tórios, daí não sobrevindo a consumação por forças a pena de 2 anos foi diminuída de 2/3, resultando em
estranhas ao seu propósito, o que acarreta em tipici- 1 ano e 4 meses.
dade não finalizada, sem conclusão. A tentativa constitui-se em causa obrigatória de
A tentativa tem três elementos em sua estrutura: diminuição da pena.
Incide na terceira fase de aplicação da pena priva-
z Início da execução do crime; tiva de liberdade, e sempre a reduz.
z Ausência de consumação por circunstâncias alheia A liberdade do magistrado repousa unicamente no
à vontade do agente; quantum da diminuição, balizando-se entre os limites
z Dolo de consumação. legais, de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços). Deve reduzi-la, 237
podendo somente escolher o montante da diminuição. Pena: reclusão, de 3 a 10 anos.
E, para navegar entre tais parâmetros, o critério decisi- Parágrafo único - Ocorrendo a invasão, a pena
vo é a maior ou menor proximidade da consumação, ou aumenta-se até o dobro.
seja, a distância percorrida do iter criminis. Art. 11 Tentar desmembrar parte do território
Excepcionalmente, entretanto, é aceita a teoria nacional para constituir país independente.
subjetiva, voluntarística ou monista, consagrada pela Pena: reclusão, de 4 a 12 anos.
expressão “salvo disposição em contrário”.
Essas teorias têm a tese de que a pena para os crimes ANTIJURIDICIDADE (ILICITUDE)
consumados são as mesmas para os crimes tentados.
Aplica-se essas teorias em alguns casos. A antijuridicidade, segundo requisito do crime,
Há casos restritos em que o crime consumado e o consiste na contradição entre fato e o ordenamento
crime tentado comportam igual punição: são os deli- jurídico, resultando na lesão ao bem jurídico tutelado.
tos de atentado ou de empreendimento. Por exemplo: O fato típico, até prova em contrário, é um fato que,
ajustando-se a um tipo penal, é antijurídico, a não ser
z Evasão mediante violência contra a pessoa (art. que haja uma causa que o torne lícito.
352 do CP), em que o preso ou indivíduo submetido
à medida de segurança detentiva, usando de vio- Exclusão de Ilicitude
lência contra a pessoa, recebe igual punição quan-
do se evade ou tenta evadir-se do estabelecimento A antijuridicidade pode ser afastada por certas
em que se encontra privado de sua liberdade; causas, chamadas de “causas de exclusão da antiju-
z Lei nº 4.737, de 1965 – Código Eleitoral, art. 309, no ridicidade” ou “justificativas”. Na incidência de uma
qual se sujeita à igual pena o eleitor que vota ou ten- delas, o fato permanece típico, mas não há crime:
ta votar mais de uma vez, ou em lugar de outrem. excluindo-se a ilicitude, e sendo ela um quesito do cri-
me, fica excluído o próprio crime. Como consequên-
Crimes Punidos apenas na Forma Tentada cia, o sujeito deve ser absolvido.
O art. 23 do CP apresenta as causas de exclusão da
A regra vigente no sistema penal brasileiro é a antijuridicidade:
punição dos crimes nas modalidades consumada e
tentada. z Estado de necessidade;
Mas em algumas situações não se admite a tendên- z Legítima defesa;
cia, seja pela natureza da infração penal, seja em obe- z Estrito cumprimento de dever legal;
diência a determinado mandamento legal, razão pela z Exercício regular de direito.
qual apenas é possível a imposição de sanção penal
para a forma consumada do delito ou da contraven- Estado de Necessidade
ção penal.
É o que se verifica, a título ilustrativo, nos crimes
Conforme expressa o art. 24, CP, o estado de neces-
culposos (salvo na culpa imprópria) e nos crimes
sidade é a situação de perigo atual, que não foi provo-
unissubsistentes.
cada voluntariamente pelo agente, na qual este viola
Relembrando:
bem de outrem, para não sacrificar direito seu ou de
terceiros, sacrifício que não poderia razoavelmente
z Culpa: O agente não quer e nem assume o risco de
ser exigido.
produzir o resultado.
Para que se configure:
z Culpa imprópria: decorre do erro de tipo evitável
nas descriminantes putativas ou do excesso nas
causas de justificação. O agente quer o resultado z O perigo deve ser atual;
em razão de a sua vontade encontrar-se viciada por z Deve haver ameaça a direito próprio ou alheio,
um erro que, com mais cuidado poderia ser evitado. cujo sacrifício não era razoável de se exigir;
z Crime unissubsistente: é realizado por ato único, z Que a situação não tenha sido provocada pela von-
não sendo admitido o fracionamento da conduta, tade do agente;
como, por exemplo, no desacato (art. 331, do CP)
z Que seja inevitável de outro modo;
praticado verbalmente.
z Que o agente saiba que se encontra em estado de
Entretanto, em hipóteses raríssimas somente é necessidade (requisito subjetivo);
cabível a punição de determinados delitos na forma z Que não haja o dever legal do agente de enfrentar
tentada, pois nesse sentido orientou-se a previsão o perigo (§ 1º, art. 24, CP).
legislativa quando da elaboração do tipo penal.
Exemplos disso encontram-se nos arts. 9º e 11 O exemplo clássico é o de dois tripulantes de um
da Lei 7.170, de 1983 – Crimes contra a Segurança navio que, após o naufrágio, dividem um único salva-
Nacional. -vidas. Percebendo que vai afundar, um deles mata o
outro com a finalidade de ficar com o salva-vidas para
Art. 9º Tentar submeter o território nacional, ou
si só, salvando-se.
parte dele, ao domínio ou à soberania de outro país.
Pena: reclusão, de 4 a 20 anos.
Parágrafo único - Se do fato resulta lesão corporal Legítima Defesa
grave, a pena aumenta-se até um terço; se resulta
morte aumenta-se até a metade. Constitui outra causa excludente de ilicitude, des-
Art. 10 Aliciar indivíduos de outro país para inva- ta vez prevista no art. 25, CP. Encontra-se em legítima
238 são do território nacional. defesa aquele que, utilizando os meios necessários
com moderação, repele injusta agressão, atual ou imi- culposo. O agente responderá pela conduta constituti-
nente, a direito seu ou de terceiros. va do excesso.
Para que se configure é necessário:
CULPABILIDADE E SUAS EXCLUDENTES
z Agressão injusta atual ou iminente, ou seja, pre-
sente ou prestes a acontecer; As excludentes de culpabilidade podem ser divi-
z Preservação de qualquer bem jurídico, próprio ou didas, para fins de estudo, em dois grupos: as que se
alheio (legítima defesa própria ou de terceiros); relacionam com o agente e as que dizem respeito ao
fato:
z Repulsa utilizando os meios necessários, de forma
moderada.
z Quanto ao agente do fato:
Estrito Cumprimento do Dever Legal Existência de doença mental ou desenvolvimento
mental incompleto ou retardado (art. 26, caput, CP);
Encontra-se no inciso III, art. 23, primeira parte, do Existência de embriaguez decorrente de vício (art.
CP. Se o agente atua rigorosamente dentro do imposto 26, caput, CP);
por norma legal, o comportamento não pode ser anti- Menoridade (art. 27, CP).
jurídico. É o caso do oficial de justiça que, cumprindo
determinação legal, realiza a apreensão de determi- z Quanto ao fato (legais):
nado bem de um cidadão.
Coação moral irresistível (art. 22, CP);
Exercício Regular de Direito Obediência hierárquica (art. 22, CP);
Embriaguez decorrente de caso fortuito ou força
Está disposto no inciso III, art. 23, segunda parte, maior (§ 1º, art. 28, CP);
do CP. Da mesma forma que a anterior, não pode ser Erro de proibição escusável (art. 21, CP);
ilícita a conduta daquele que age estritamente exer- Descriminantes putativas.
cendo direito seu.
z Quanto ao fato (supralegais):
Causas Supralegais de Exclusão da Antijuridicidade Inexigibilidade de conduta diversa;
Estado de necessidade exculpante;
Existem condutas consideradas justas pela cons- Excesso exculpante;
ciência social que não se encontram previstas nas Excesso acidental.
causas de exclusão da antijuridicidade elencadas no
art. 23, do CP. Nesse sentido, a doutrina aponta que Doença Mental
o consentimento do ofendido (fora das hipóteses em
que o dissenso da vítima constitui requisito da figura Doença mental pode ser conceituada como o qua-
típica), pode vir a excluir a ilicitude, caso se praticado dro de alterações e doenças psíquicas que retiram do
em situação justificante, como é o caso do indivíduo indivíduo a faculdade de controlar e comandar a pró-
que tatua o corpo de outras pessoas, praticando con- pria vontade. Importante esclarecer que a dependên-
duta típica de lesões corporais, que, no entanto, são cia patológica, como drogas, configura doença mental
lícitas se presente o consentimento do ofendido. quando retira a capacidade de entender ou querer.

Desenvolvimento Mental Incompleto ou Retardado


Excesso Punível
Por desenvolvimento mental incompleto se
Ao reagir à agressão injusta que está sofrendo, ou
entende as limitações na capacidade de compreensão
em vias de sofrê-la, em relação ao meio usado o agen- da ilicitude do fato ou a incapacidade de se autodeter-
te pode encontrar-se em três situações diferentes: minar de acordo com o entendimento (precário) uma
vez que o sujeito ainda não atingiu maturidade (seja
z Usa de um meio moderado e dentro do necessário física ou mental). São causas:
para repelir à agressão.
z A menoridade: os menores de 18 anos, em razão de
Haverá necessariamente o reconhecimento da não sofrerem sanção penal pela prática de ilícito
legítima defesa. penal, em decorrência da ausência de culpabilida-
de, estão sujeitos ao procedimento medidas sócio
z De maneira consciente emprega um meio desneces- educativos prevista no ECA;
NOÇÕES DE DIREITO

sário ou usa imoderadamente o meio necessário. z Características pessoais do agente, como a falta de
convivência social (surdo que ainda não aprendeu
A legítima defesa fica afastada se for excluído um a se comunicar).
dos seus requisitos essenciais.
Desenvolvimento Mental Retardado
z Após a reação justa (meio e moderação) por impre-
vidência ou conscientemente continua desneces- Configura aqui, o indivíduo que tem uma capa-
sariamente na ação. cidade que não corresponde às experiências para
aquele momento de vida, o que significa que a plena
Estará agindo com excesso o agente que intensi- potencialidade jamais será atingida. Os inimputáveis
fica demasiada e desnecessariamente a reação ini- aqui tratados não possuem condições de entender o
cialmente justificada. O excesso poderá ser doloso ou crime que cometeram. 239
Como acabamos de ver, ao menor de 18 anos se Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um
aplicam regras próprias. Ao completar 18 anos, a lei a dois terços, se o agente, em virtude de perturba-
presume que todos os indivíduos são imputáveis. ção de saúde mental ou por desenvolvimento men-
Porém, tal presunção é relativa, ou seja, é passível de tal incompleto ou retardado não era inteiramente
capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de
aferição. Assim, existem três possíveis critérios para a
determinar-se de acordo com esse entendimento.
verificação da inimputabilidade:
Menores de dezoito anos
z Sistema psicológico: interessa é somente o momen-
to da ação ou omissão delituosa, se ele tinha ou não Art. 27 Os menores de 18 (dezoito) anos são penal-
condições de avaliar o caráter criminoso do fato e mente inimputáveis, ficando sujeitos às normas
de orientar-se de acordo com esse entendimento, estabelecidas na legislação especial.
ou seja, o momento da pratica do crime. A emoção Emoção e paixão
não excluir a imputabilidade. E pessoa que comete
crime, com integral alternação de seu estado físico- No caso de embriaguez acidental completa, temos:
-psíquico responde pelos seus atos.
z Sistema biológico: interessa saber se o agente é Art. 28 Não excluem a imputabilidade penal:
portador de alguma doença mental ou desenvolvi- I - a emoção ou a paixão;
mento mental incompleto ou retardo, caso positivo Embriaguez
é considerado inimputável. Tal sistema é usado pela II - a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool
ou substância de efeitos análogos.
doutrina: Código Penal, sobre a menoridade penal.
§ 1º - É isento de pena o agente que, por embria-
z Sistema biopsicológico: exige-se que a causa
guez completa, proveniente de caso fortuito ou
geradora esteja prevista em lei e que, além disso, força maior, era, ao tempo da ação ou da omissão,
atue efetivamente no momento da ação delituo- inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito
sa, retirando do agente a capacidade de entendi- do fato ou de determinar-se de acordo com esse
mento e vontade. Desta forma, será inimputável entendimento.
aquele que, em razão de uma causa prevista em lei § 2º - A pena pode ser reduzida de um a dois terços,
(doença mental, incompleto ou retardado), atue no se o agente, por embriaguez, proveniente de caso
momento da pratica da infração penal sem capaci- fortuito ou força maior, não possuía, ao tempo da
dade de entender o caráter criminoso do fato. ação ou da omissão, a plena capacidade de enten-
der o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de
acordo com esse entendimento.
Somente há inimputabilidade se os três requisitos
estiverem presentes, sendo exceção aos menores de
Adoção do critério psicológico. A embriaguez
18 anos, regidos pelo sistema biológico.
admite qualquer meio probatório.
Já na embriaguez acidental fortuita, decorrente
Questões Importantes sobre Inimputabilidade
de caso fortuito ou de força maior, que ocorre, por
exemplo, quando o agente não conhece o caráter
A inimputabilidade do acusado é fornecida pelo alcoólico da bebida ou o agente é forçado a ingerir a
exame pericial feito pelo médico legal, exame que é bebida, adota-se o critério psicológico. Porém, não
denominado “incidente de insanidade mental”, em que basta estar embriagado fortuitamente.
se suspende o processo até o resulto final. Há prazo de Deve-se analisar se ao momento da ação ou omis-
10 dias para provar a existência da causa excludente são o agente era incapaz de entender o caráter ilíci-
da culpabilidade (Lei nº 11.719, de junho de 2008). to do fato ou de determinar-se de acordo com esse
Os requisitos biopsicológicos da inimputabilidade são: entendimento.
Posto isso, teremos duas possibilidades:
z Somente há inimputabilidade se os três requisitos
estiverem presentes, sendo exceção aos menores z Completa isenção de pena: § 1°, art. 28, CP;
de 18 anos, regidos pelo sistema biológico. z Incompleta redução de pena de 1/3 a 2/3: § 2°, art.
z Causal: existencial de doença mental ou de desen- 28, CP.
volvimento incompleto ou retardado, causas pre-
vistas em lei. A embriaguez patológica deve ser tratada como
z Cronológico: atuação ao tempo da ação ou omis- doença mental, regida pelo art. 26, CP.
são delituosa. Já na embriaguez preordenada o agente se embriaga
z Consequencial: perda total da capacidade de para encorajar-se a praticar o crime. Será punido pelo cri-
entender ou da capacidade de querer. me doloso cometido e terá a pena aumentada. Aplicação
da agravante genérica, alínea l, inciso II, art. 61, do CP.
Dispõe o Código Penal:

Art. 26 É isento de pena o agente que, por doença men- ERRO DE TIPO E DE PROIBIÇÃO
tal ou desenvolvimento mental incompleto ou retarda-
do, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente Erro de Tipo:
incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de
determinar-se de acordo com esse entendimento. Como bem explicam André Estefam e Victor Eduar-
do Gonçalves1, o erro, corresponde à falsa percepção
Redução de pena da realidade dos fatos, ou seja, há uma percepção
1  Estefam, André ; Gonçalves, Victor Eduardo Rios Direito penal esquematizado® – parte geral / André Estefam; Victor Eduardo Rios
240 Gonçalves. – Coleção esquematizado ® / coordenador Pedro Lenza - 9. ed. – São Paulo : Saraiva Educação, p. 516, 2020.
errônea pela qual o agente que comete o fato acre- Catarina foi ameaçada por Beatriz, que disse que
dita piamente não estar diante de um dos elementos iria lhe dar uma facada. A partir deste dia, Catari-
essenciais que constituem o crime. Exemplo, Carol na, assustada pelas ameaças de Beatriz, passou a
pega a chave do carro de Josiane, acreditando que a andar sempre com um canivete de bolso. Na sema-
chave era dela. na seguinte, Catarina desapercebida se encontra
com Beatriz numa rua sem saída. Beatriz então,
Neste caso, sem analisar corretamente os fatos
com movimentos suspeitos, inclina-se para dar um
era de se pensar que Carol teria cometido o crime de
abraço em Catarina e lhe dar uma flor como pedi-
furto, vez que preenchia quase todos os elementos da do de desculpas. Mas Catarina desfere de imediato
conduta tipificada no art. 155, do Código Penal. Toda- uma facada em Beatriz.
via, esta interpretação seria errônea, pois pendia do
elemento de vontade, já que que para Carol o objeto Estamos aqui, diante de uma tese de legítima defe-
não alheio. sa putativa. A verdade é que havia uma falsa percep-
Após este introito, acredito que você já deve pos- ção de realidade, que se passava somente na mente
suir uma noção do que é um erro. Agora iremos apro- de Catarina, que acreditava que seria esfaqueada por
fundar nos conceitos de erro de tipo escusável e erro Beatriz.
de tipo inescusável. Como veremos no próximo parágrafo, do mes-
mo artigo, o erro também pode ser determinado por
terceiro.
ERRO ESCUSÁVEL ERRO INESCUSÁVEL

É aquele que deriva de É aquele que deriva de Erro determinado por terceiro
fato imprevisível, que pe- fato evitável, que pelas
las circunstâncias concre- circunstâncias concretas § 2º Responde pelo crime o terceiro que determina
tas, qualquer pessoa de qualquer pessoa de dis- o erro.
discernimento mediano cernimento médio, teria
incorreria em tal erro. Por percebido o equívoco e Para entender este dispositivo nada melhor que
consequência, neste caso teria assim o evitado. Esta um clássico exemplo:
exclui-se o dolo – por espécie de erro é conhe-
inexistir o elemento von- cida também por erro de Maciel é pai de Carolina. Sua filha só possui 16
tade – e a culpa, por ser tipo permissivo, pois re- anos de idade, no entanto aparenta ser mais velha,
imprevisível. Esta espécie cai sobre circunstâncias podendo ser facilmente confundida como uma pes-
de erro também pode ser fáticas de uma causa de soa maior de idade. Maciel sempre frequenta deter-
conceituada como erro justificação, ou seja, ex- minado bar, por isso já é conhecido pelo garçom,
de tipo penal incrimina- cludente de ilicitude (tipo que como de costume lhe serve um chope. Certo
dor, pois recaí sobre uma penal permissivo). dia, Maciel comparece no bar com sua filha, o gar-
çom de prontidão lhe serve o seu chope, mas Maciel
situação fática elementar
pede mais um para Carolina.
do crime.
Sabe-se que é proibida a venda e o consumo de
Agora, vamos ao estudo do que dispõe o artigo 20, bebidas alcoólicas para menores de 18 anos de idade.
do Código Penal Brasileiro: Aqui, estamos diante de um típico caso de erro deter-
minado por terceiro, pelas circunstâncias do caso –
Erro sobre elementos do tipo Carolina aparentava ser mais velha e seu próprio pai
que pediu o chopp – não era exigível que o garçom
Art. 20 O erro sobre elemento constitutivo do tipo tivesse conhecimento sobre o fato, já que não é costu-
legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição me de os bares solicitarem a carteira identidade para
por crime culposo, se previsto em lei. aferir a idade. Neste caso, reponde quem determinou
o erro, in casu, Maciel.
Descriminantes putativas Vamos conhecer agora, o erro sobre a pessoa (§ 3º,
do art. 20, do Código Penal):
§ 1º - É isento de pena quem, por erro plenamente
justificado pelas circunstâncias, supõe situação de Erro sobre a pessoa
fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não
há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e
§ 3º O erro quanto à pessoa contra a qual o crime
o fato é punível como crime culposo.
é praticado não isenta de pena. Não se consideram,
neste caso, as condições ou qualidades da vítima,
Pela redação do artigo 20 é possível aferir que o senão as da pessoa contra quem o agente queria
NOÇÕES DE DIREITO

erro de tipo pode ou não excluir o dolo, isto é, o ele- praticar o crime.
mento vontade. Mas qual é a importância da vonta-
de para o estudo do erro de tipo? Tal elemento é de Esta figura pode ser conhecida também por error
fundamental importância, uma vez que se inexistir a in persona ou, ainda, por erro de tipo acidental. No
forma culposa de algum crime, o agente que praticou erro sobre a pessoa existe o crime, o agente quer o
o fato não cometerá crime algum, a contrário sensu, resultado, todavia confunde a pessoa visada, isto é,
se existir forma culposa este agente será punido pela quem ela queria realmente atingir. Por esta razão,
prática do crime na sua forma culposa. nesta hipótese inexiste isenção de pena.
O parágrafo § 1º do citado artigo dispõe sobre as É importante diferenciar a figura erro de tipo
discriminantes putativas. A palavra putativa deve ser acidental da figura de erro na execução, apesar de
entendida no sentido de aparentar ou parecer. Por muito parecidas são conceitos distintos, a diferença
exemplo: principal desta última é que, como o próprio nome 241
diz, o erro é na execução. Exemplo: por não saber ati- Ainda no mesmo artigo é trabalhado o erro sobre
rar acerta pessoa diversa. a ilicitude do fato evitável e o erro sobre a ilicitude
Vamos para a tabela: do fato inevitável, os conceitos deles são retirados do
parágrafo único do mesmo artigo.
ERRO DE TIPO ERRO DE TIPO
z Erro sobre a Ilicitude Evitável:
ACIDENTAL QUANTO ACIDENTAL QUANTO
À PESSOA À EXECUÇÃO
„ O erro sobre a ilicitude evitável, como visto aci-
O agente confunde a pes- O erro do agente ocorre ma, ocorrerá quando o agente através de uma
soa que queria atingir no ato da execução ação ou omissão praticar o fato sem consciên-
Ex.: no manuseio da arma cia de que é ilegal, mas que pelas circunstân-
cias do fato concreto era possível e exigível que
Para sua prova é extremamente importante que este soubesse que a sua conduta era ilícita. Nes-
você saiba que em ambas são desconsideradas as qua- te caso, o Juiz poderá diminuir a pena de um
lidades da pessoa que foi efetivamente atingida pelo sexto a um terço.
erro e consideradas as qualidades da pessoa que o
agente realmente queria atingir. z Erro sobre a Ilicitude Inevitável:
Mas no que isso importa para o direito? Novamen-
te para explicação, iremos estudar um exemplo. „ O erro inevitável é aquele em que pelas cir-
Mévio é casado com Clara, os dois possuem uma cunstâncias do caso concreto, era quase que
relação bastante conturbada. Mévio, prevalecendo de impossível exigir do agente a consciência
relações domésticas, muito nervoso por certa atitude necessária para evitar a prática do crime. Neste
de Clara, dispara diversos tiros em sua direção, acer- caso, haverá isenção de pena. Ex. Estrangeiro
tando o seu vizinho Joãozinho, que passava pelo local. – que no seu país os adolescentes de 16 anos
Joãozinho, veio à óbito. podem dirigir – vem visitar o Brasil e é parado
Nesta situação, Mévio mesmo tendo acertado um numa blitz, embora ainda fosse possível saber
que no Brasil não é permitido dirigir aos 16
homem responderá por feminicídio, pois apenas se
anos, era extremamente difícil exigir que este
consideram as qualidades da vítima que realmente
tivesse conhecimento.
queria atingir.
Temos ainda o erro de tipo acidental sobre o
objeto (error in objecto), esta figura é essencialmen-
te doutrinária. Aqui, como diz o próprio nome, o erro
ocorre sobre o objeto visado. Ex. Mário vai a uma joa- CONCURSO DE PESSOAS
lheria e furta um colar que acredita ser de diamantes,
mas ao chegar em casa descobre que em verdade tra- DEFINIÇÃO
ta-se de uma bijuteria barata. Neste caso, não haverá
exclusão de dolo, culpa, tampouco isenção de pena. O Código Penal define o concurso de pessoas no
Respondendo Mário pelo crime de furto consumado caput do art. 29.
(art. 155, do Código Penal).
Art. 29 Quem, de qualquer modo, concorre para o
Erro de Proibição: crime incide nas penas a este cominadas, na medi-
da de sua culpabilidade.
Após o estudo do erro sobre os elementos do tipo, [...]
iremos estudar o erro sobre a ilicitude do fato, tam-
bém conhecidos como erros de proibição. Veja o que Guilherme Nucci (2018) diz que concurso de pes-
dispõe o artigo 21, do Código Penal: soas é cooperação desenvolvida por várias pessoas
O erro de proibição para o cometimento de uma infração penal. Define-se,
ainda, por coautoria, participação, concurso de delin-
Erro sobre a ilicitude do fato quentes, concurso de agentes e cumplicidade.
Podemos dizer que há concurso de pessoas quan-
Art. 21 O desconhecimento da lei é inescusável. O do dois ou mais agentes concorrem para a prática do
erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta mesmo crime ou contravenção.
de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto
a um terço. Requisitos
Parágrafo único - Considera-se evitável o erro se o
agente atua ou se omite sem a consciência da ilici- São requisitos do concurso de pessoas:
tude do fato, quando lhe era possível, nas circuns-
tâncias, ter ou atingir essa consciência. z Pluralidades de agentes;
z Conduta relevante;
O citado artigo traz apontamentos muito impor- z Vínculo subjetivo;
tantes. O primeiro é que o desconhecimento da lei é z Unidade de crime.
inescusável, isto quer dizer que ninguém pode usar
como forma de desculpa a justificativa que praticou o Pluralidade de Agentes
fato por desconhecer que a conduta era considerada
criminosa. O próprio nome, pluralidade de agentes, incida
242 que a conduta criminosa é praticada por duas ou mais
pessoas. Parece simples, mas devemos estar muito Conduta Relevante
familiarizados com esse assunto quando tratamos de:
Neste requisito identifica-se que há pelo menos
z Crimes unissubjetivos; duas condutas penalmente relevantes.
z Crimes plurissubjetivos; O que devemos gravar na memória é que a contri-
z Crimes eventualmente plurissubjetivos. buição do partícipe deve ter influência sobre o resul-
tado, caso contrário, a participação é inócua.
Nos crimes unissubjetivos, o delito pode ser pra- Vamos ao exemplo:
ticado por um agente ou por dois ou mais agentes, o Conduta relevante: “A” se compromete a auxiliar
que chamamos de concurso eventual. “B” a fugir após o homicídio, concurso de pessoas no
Aqui, quando praticado em concurso (dois ou mais delito de homicídio, art. 121 do CP.
agentes) é necessária a adequação típica mediata. Conduta não relevante: “A” auxilia “B” a fugir após
É importante lembrar que adequação típica ime- o homicídio sem a comprometimento prévio, “A” pra-
diata ou indireta é quando para completar a tipici- tica favorecimento pessoal, art. 348 do CP e “B” pratica
dade é necessário conjugar o crime (tipo penal) com homicídio, art. 121 do CP.
uma norma de extensão.
A tentativa, por exemplo, o agente tenta matar a Vínculo Subjetivo
vítima, o art. 121 do CP (homicídio) é complementado
pelo inciso II, art. 14, do CP (tentativa). Trata-se de nexo psicológico entre os agentes.
A participação, por exemplo, o agente mata a víti- Sem o nexo psicológico, haverá vários crimes autô-
ma a pedido de outrem, o art. 121 do CP (homicídio) é nomos e, portanto, não é concurso de pessoas.
conjugado com o art. 29 do CP (concurso de pessoa). Vejamos o exemplo:
Para configurar concurso de pessoas em crimes Paulo, em contato com Renata, afirma que preten-
unissubjetivos é necessário que todos os agentes de matar Ana, às 20h em determinado local. Laura,
sejam culpáveis. Se um agente não for culpável, não inimiga de Ana, escuta a conversa e comparece ao
haverá concurso de pessoas, e sim autoria mediata. local na hora indicada. Paulo ataca Ana, que conse-
Portanto, não será concurso de pessoas, por exemplo, gue se soltar e sai correndo. Laura, que estava atrás da
se o agente (imputável) encomenda a morte da vítima a árvore, derruba Ana e facilita a ação de Paulo. Ainda
um menor de 18 anos (inimputável). Será caso de auto- que Paulo e Laura não tenham acordado, Laura res-
ria mediata pelo fato de o agente imputável utilizar o ponderá como partícipe do homicídio porque aderiu
inimputável como instrumento para a prática do delito. conscientemente à conduta de Paulo (Correia, 2018).
Sendo assim, lembre-se que no Concurso de pes-
soas em crimes unissubjetivos é necessário: Unidade de Crime

z Adequação típica; Em síntese, o Código Penal adotou a Teoria Monis-


z Agentes culpáveis. ta, Unitária ou Igualitária.
Isso significa que todos os agentes que concorrem
Nos crimes plurissubjetivos, como o próprio para o mesmo crime devem receber tratamento iguali-
nome indica, são os delitos que só podem ser pratica- tário no que diz respeito à classificação jurídica do fato.
dos por duas ou mais pessoas, denominados crimes Há crime único e pluralidade de agentes.
de concurso necessário.
O tipo penal exige a pluralidade de pessoas e não z Crime único: se dois agentes praticam em concur-
necessita de norma de extensão. Por exemplo: o Códi- so o crime de roubo, não é possível que um agen-
go Penal tipifica no art. 288 o delito de associação cri- te responda por roubo consumado e outro agente
minosa, que exige 3 ou mais pessoas. responsa por roubo tentado.
É necessário que apenas um agente seja culpável. z Teoria Moderada: os agentes não receberão a mes-
Aproveitando o exemplo acima, no caso de associação ma pena; a aplicação da pena é individualizada de
criminosa, um agente é culpável e ou demais agentes acordo com a culpa de cada agente.
são inimputáveis. Mesmo assim, é caso de concurso de
pessoas em crimes plurissubjetivos. AUTORIA
Nos crimes eventualmente plurissubjetivo,
podendo ser chamado também de pseudoconcurso, Existem ainda três teorias sobre o concurso de
concurso impróprio ou concurso aparente, o delito pessoas:
pode ser praticado por uma pessoa, mas tem a pena
aumentada quando praticados em concursos de z Teoria Unitária (monista);
NOÇÕES DE DIREITO

pessoas. z Teoria Pluralista;


Vejamos, o crime de furto pode ser praticado por z Teoria Dualista.
um único agente. Mas, há a modalidade de furto qua-
lificado mediante concurso de dois ou mais agentes. Vamos ver cada uma das teorias.
Aqui também basta que um agente seja culpável.
Seguindo o mesmo exemplo acima, se no furto qualifi- z Teoria Unitária (monista): trata-se de um crime
cado mediante concurso de pessoas, um dos agentes é único e indivisível. Ocorre quando mais de um
imputável e os demais agentes são inimputáveis. Mes- agente concorre para a prática do delito, prati-
mo assim, estaremos diante de curso de pessoas em cando o ato na sua totalidade ou não, e estes, res-
crimes eventualmente plurissubjetivos. ponderão pelo mesmo crime. Haverá somente um
delito e todos os agentes incorrem no mesmo tipo
penal. Essa teoria é adotada pelo Código Penal. 243
z Teoria Pluralista: para essa teoria, quando mais O conceito de autor na teoria do domínio do fato,
de um agente estiver realizando um delito, sendo compreende:
as condutas diversas um dos outros ainda que para
realizar o mesmo resultado, cada qual responderá z Autor propriamente dito: é aquele que pratica o
pelas suas condutas, ou seja, cada agente pratica um núcleo do tipo penal;
crime autônomo dos demais. Esta teoria foi adotada z Autor intelectual: é aquele que planeja mental-
pelo Código Penal ao tratar do aborto, pois quando mente a empreitada criminosa;
praticado pela gestante, esta incorrerá na pena do z Autor mediato: é aquele que se vale de um incul-
art. 124 do CP, se praticado por outrem, aplicar-se-á pável ou de pessoa que atua sem dolo ou culpa
a pena do art. 126 do CP. O mesmo procedimento para cometer a conduta criminosa;
ocorre na corrupção ativa e passiva. z Coautores: é aquele que age em colaboração recí-
proca e voluntária com o outro para a realização
z Teoria Dualista: de acordo com essa teoria, quan-
da conduta principal. A conduta principal é o ver-
do houver mais de um agente, com condutas diver-
bo do tipo penal;
sas entre si, provocando-se um resultado, deve-se
z Partícipe: quem de qualquer modo concorre para
separar os coautores e partícipes, sendo que cada
o crime, desde que não realize o núcleo do tipo
um deles responderá por um crime autônomo. penal nem possua o controle final do fato.
z Partícipe na teoria do domínio do fato: Guilher-
Além das teorias estudadas, vamos destacar as teo-
me Nucci (2018) esclarece que partícipe só possui
rias que conceituam o autor.
o domínio da vontade da própria conduta, tratan-
Teorias do Autor do-se de um “colaborador”, uma figura lateral, não
tendo o domínio finalista do crime. O delito não
z Teoria subjetiva ou unitária: não diferencia o autor lhe pertence: ele colabora no crime alheio.
do partícipe. Então, autor (e partícipe) é o agente que
de qualquer modo contribui para a produção de um
resultado penalmente relevante. Temos por exemplo Importante!
o art. 349 do CP, que dispõe, prestar a criminoso, fora Qual a teoria adotada pelo Código Penal?
dos casos de coautoria ou de receptação, auxílio des- O art. 29, caput, do CP, acolheu a teoria objetiva
tinado a tornar seguro o proveito do crime. ou dualista (objetivo-formal).
z Teoria extensiva: não diferencia o autor do partícipe, Diferencia autor e partícipe:
mas, traz a definição de cúmplice, o agente que con- � Autor: quem realiza o núcleo do tipo penal;
corre de modo menos importante para o resultado. � Partícipe: quem de qualquer modo concorre
z Teoria objetiva ou dualista: diferencia autor e para o crime, sem executar a conduta criminosa.
partícipe. Esta teoria se subdivide:

„ Teoria objetivo-formal (teoria restritiva): Coautoria e Concurso de Pessoas


autor é quem realiza o núcleo do tipo penal
(“verbo”), ou seja, a conduta criminosa descri- Coautoria é a forma de concurso de pessoas que
ta pelo preceito primário da norma incrimi- ocorre quando o núcleo do tipo penal é executado por
nadora. Partícipe é quem de qualquer modo duas ou mais pessoas (Nucci, 2018).
concorre para o crime, sem praticar o núcleo Esclarecendo: se dois ou mais autores unidos entre
do tipo. Vejamos o exemplo: autor do crime si para a prática de um determinado crime, por exem-
de homicídio é o agente que efetua disparos plo, furto, estamos diante da hipótese de coautoria.
de revólver em alguém, matando-o. Partícipe A coautoria pode ser:
é o agente que empresta a arma de fogo para a
finalidade da prática de homicídio. z Parcial ou funcional;
z Direta ou material.
O artigo 29 do Código Penal adotou essa teoria.
Vejamos: „ Coautoria parcial, ou funcional: diversos
autores praticam atos de execução diversos, os
Art. 29 Quem, de qualquer modo, concorre para o quais, somados, produzem o resultado deseja-
crime incide nas penas a este cominadas, na medi- do, por exemplo, uma agente segura a vítima,
da de sua culpabilidade. outro agente a esfaqueia, produzindo a sua
morte;
„ Teoria objetivo-material: autor é quem pres- „ Coautoria direta ou material: todos os autores
ta a contribuição objetiva mais importante efetuam igual conduta criminosa, por exemplo,
para a produção do resultado, e não necessa- vários agentes efetuam disparos com arma de
riamente aquele que realiza o núcleo do tipo fogo em direção à vítima, matando-a.
penal, o verbo. Partícipe é quem concorre de
forma menos relevante, ainda que mediante a Todas as vezes que estudamos coautoria pergunta-
realização do núcleo do tipo. mos se é admissível nos casos de crimes próprios e de
crimes de mão própria.
z Teoria do domínio do fato: em síntese é uma teo-
ria intermediaria entre a teoria objetiva e a teo- z Crimes próprios ou especiais: são os casos em
ria subjetiva. Autor é aquele que tem o controle que o tipo penal exige uma situação de fato ou
final do fato, apesar de não realizar o núcleo do de direito diferenciada por parte do sujeito ati-
244 tipo penal. vo, por exemplo, dois funcionários públicos,
juntos, praticam o crime de peculato, art. 312 do II. Se quando o tiro disparado por Felipe atingiu Pau-
CP. Nos crimes próprios ou especiais é admitida a lo quando ele já estava morto pelo disparo de Tia-
coautoria. go, este responderá por homicídio consumado e
z Crimes de mão própria, de atuação pessoal Felipe não responderá por nenhum crime, pois se
ou de conduta infungível: são as hipóteses que trata de crime impossível.
somente podem ser praticados pelo sujeito expres-
samente indicado pelo tipo penal. O crime só pode z Multidão delinquente: o fato ocorre por influên-
ser praticado pelo agente indicado no tipo penal, cia de indivíduos reunidos, que, em clima de
e ninguém mais, por exemplo, crime de falsa perí- tumultuo, ou manipulação, tornam-se desprovidos
cia, art. 342 do CP. Nos crimes de mão própria não de limites éticos e morais (Sanches Cunha, 2016).
é admitida a coautoria. z Coautoria sucessiva: a regra é que todos os coau-
tores iniciem, juntos, a empreitada criminosa.
Há outros temas importantes que devemos conhe- Rogério Greco (2015) adverte que pode acontecer
cer sobre autoria e coautoria: que alguém, ou mesmo o grupo, já tenha começado
a percorrer o iter criminis (fases do crime: cogita-
z Executor de reserva: agente que acompanha, pre- ção, atos preparatórios, atos de execução e consu-
sencialmente, a execução da conduta típica, fican- mação), ingressando na fase dos atos de execução,
do à disposição, se necessário, para nela interferir. quando outra pessoa adere à conduta criminosa
daquele, e agora, unidos pelo vínculo psicológico,
Ou seja: passam, juntos, a praticar a infração penal.
z Coautoria em crimes omissivos: há corrente na
„ Se o agente interfere, será tratado como coautor; doutrina que não admite a coautoria em crimes
„ Se o agente não interfere, será trado como partícipe. omissivos. Porém, vamos tratar aqui da corrente
que admite a coautoria em crimes omissivos (pró-
z Autor intelectual: a definição se encontra no inciso prios, ou puros; impróprios, espúrios ou comissi-
I, art. 62, do CP, afirmando que a pena será agrava em vos por omissão). Ocorre a coautoria quando dois
relação ao agente que promove, ou organiza a coo- ou mais agentes, vinculados pela unidade de pro-
peração no crime ou dirige a atividade dos demais pósitos, prestam contribuições relevantes para a
agentes. produção do resultado, realizando atos de execu-
z Autoria de escritório ou autoria mediata espe- ção previstos na lei penal (Nucci, 2018). Por exem-
cial: agente que dita a ordem a ser executada por plo, dois agentes podem, caminhando pela rua,
outro autor direto, dotado de culpabilidade e pas- deparar-se com outra, ferida, em busca de ajuda.
sível de ser substituído a qualquer momento por Associadas, uma conhecendo a conduta da outra
outra pessoa, no âmbito de uma organização ilí- e até havendo incentivo recíproco, resolvem ir
cita de poder. Temos por exemplo, o líder do PCC embora, ou seja, os agentes são coautores do crime
(Primeiro Comando da Capital), em São Paulo, ou de omissão de socorro definido no art. 135 do CP.
do CV (Comando Vermelho), no Rio de Janeiro que z Autoria mediata: não está expresso no Código
comandam as redes ilícitas e hierarquizadas. Penal, porém a doutrina trata do tema. De acordo
z Autoria por convicção: o agente comete um cri- com Guilherme Nucci (2018) “trata-se de espécie de
me motivado por convicções pessoais, por exem- autoria em que alguém, o “sujeito de trás” se utiliza,
plo, religião, moral, política, esporte (futebol). para a execução da infração penal, de uma pessoa
z Autor por determinação: é quem se vale de outro, inculpável ou que atua sem dolo ou culpa.”
que não realiza conduta punível, por ausência de
dolo, em um crime de mão própria, ou ainda o Há dois sujeitos nessa relação:
sujeito que não reúne as condições legalmente exi-
gidas para a prática de um crime próprio, quando „ Autor mediato: quem ordena a prática do
se utiliza de quem possui tais qualidades e se com- crime;
porta de forma atípica, ou acobertado por uma „ Autor imediato: aquele que executa a conduta
causa de exclusão da ilicitude ou da culpabilidade criminosa.
(Sanches Cunha, 2016). Podemos exemplificar uma
mulher que dá sonífero a outra e depois hipnotiza Guilherme Nucci exemplifica: “A”, desejando matar
um amigo, ordenando-lhe que com ela mantenha sua esposa, entrega uma arma de fogo municiada à “B”,
relações sexuais durante o transe. criança de pouca idade, dizendo-lhe que, se apertar o
z Autoria colateral: dois ou mais agentes querem pra- gatilho na cabeça da mulher, essa lhe dará balas. Quan-
ticar o mesmo crime, mas não estão ligados pelo vín- do se fala em pessoa sem culpabilidade, aí se insere
culo psicológico. Acompanhe o raciocínio do exemplo: qualquer um dos seus elementos: imputabilidade,
NOÇÕES DE DIREITO

potencial consciência da ilicitude e exigibilidade de


Tiago e Felipe, sem vínculo psicológico, querem conduta diversa. Ausente qualquer deles, faltará a
matar Paulo. culpabilidade. A pessoa que atua sem discernimento,
Tiago e Felipe ficam de tocaia na rua por onde Pau- funciona como mero instrumento do crime.
lo costuma transitar. A autoria mediata é incompatível com os crimes
Quando Paulo passar pela rua, Tiago e Felipe ati- culposos, pois nesses crimes, o resultado naturalístico
ram simultaneamente. é involuntariamente produzido pelo agente. Conse-
Após o resultado da perícia, temos duas hipóteses: quentemente, não se pode conceber a utilização de um
inculpável ou de pessoa sem dolo ou culpa para funcio-
I. Se a morte resultou do disparo de Tiago, este res- nar como instrumento de um crime cujo resultado o
ponderá por homicídio consumado e Felipe res- agente não quer nem assume o risco de produzir (Nuc-
ponderá por homicídio tentado. ci, 2018) 245
A autoria mediata é incompatível com os cri- A participação pode ser:
mes de mão própria, porque a conduta somente
pode ser praticada pela pessoa diretamente indicada z Moral: a conduta do agente se restringe a induzir
pelo tipo penal, ou seja, a infração penal não pode ter ou instigar terceira pessoa a cometer uma infração
a sua execução delegada a outrem. penal. Não há colaboração com meios materiais, mas
apenas com ideias de natureza penalmente ilícitas.
PARTICIPAÇÃO Induzir é fazer surgir na mente de outrem a vontade
criminosa, até então inexistente. Instigar é reforçar a
Há dois posicionamentos sobre o assunto, embora vontade criminosa que já existe na mente de outrem;
ambos dentro da teoria objetiva, formal ou normati- z Material: o agente presta auxílio ao autor do cri-
va, vejamos: me. O partícipe que auxilia é chamado pela dou-
trina de cúmplice. Auxiliar é facilitar a execução
do crime sem, porém, executar o núcleo do tipo. O
z Teoria Formal: autor é o agente que pratica a figu-
auxílio pode-se dar durante os atos preparatórios
ra típica descrita no tipo penal, e partícipe é aquele
ou executórios. Vamos exemplificar o auxílio na
que comete ações não contidas no tipo, responden-
participação material:
do apenas pelo auxílio que prestou (entendimento
majoritário). O agente que furta os bens de uma
„ emprestar o dinheiro para a compra de remé-
pessoa, incorre nas penas do art. 155 do CP, enquan-
dio abortivo;
to aquele que o aguarda com o carro para ajudá-lo a „ ensinar a fórmula do veneno que se irá minis-
fugir, responderá apenas pela colaboração. trar à vítima;
z Teoria Normativa: autor é o agente que, além de „ vigiar o local do crime para o agente executar
praticar a figura típica, comanda a ação dos demais o roubo.
(“autor executor” e “autor intelectual”).
z Participação de menor importância: Partici-
O partícipe é aquele que colabora para a prática pação de menor importância, ou mínima, é a de
da conduta delitiva, mas sem realizar a figura típica reduzida eficiência causal. Por quê? Porque con-
descrita, e sem ter controle das ações dos demais. tribui para a produção do resultado, mas de forma
Aquele que planeja o delito e aquele que o executa menos decisiva. Entendeu? Apenas participa.
são coautores.
Sendo assim, de acordo com a opinião majoritária teo- O melhor critério para constatar a participação de
ria formal, o executor de reserva é apenas partícipe, ou menor importância é o da equivalência dos antecedentes.
seja, se João atira em Pedro e o mata, e logo após Mário A participação de menor importância está prevista
também desfere tiros em Pedro, Mário (executor de no § 1º, art. 29, do CP, com pena pode ser diminuída
reserva) responderá apenas pela participação, pois não de 1/6 a 1/3.
praticou a conduta matar, já que atirou em um cadáver. Encontramos em algumas doutrinas que a redu-
O juiz poderá aplicar penas iguais para autor e ção é mera faculdade do juiz, mas oriento que outras
partícipe, e até mesmo pena mais gravosa a este últi- doutrinas têm a tese de que quando a lei concede ao
mo, quando, por exemplo, for o mentor do crime. agente a possibilidade de obter certos benefícios, tal
possibilidade ingressa nos chamados direitos públicos
Sobre o assunto, ver o que preceitua o art. 29 do CP: de liberdade do réu.
É necessário saber que a participação de menor
“[...] quem, de qualquer modo, concorre para o cri- importância somente se aplica à participação. A atua-
me incide nas penas a este cominadas, na medida ção do coautor é sempre relevante.
de sua culpabilidade” Além disso, a participação de menor importância
descreve uma causa de diminuição da pena, aplicável
Dessa forma deve-se analisar cada caso concreto de na terceira fase da fixação da pena. Trata-se de direito
modo a verificar a proporção da colaboração (Nucci, 2018). subjetivo do réu.
A participação é a modalidade de concurso de pessoas Lembre-se de que a diminuição da pena se relacio-
na à participação, ou seja, ao comportamento adotado
em que o sujeito não realiza diretamente o núcleo do tipo
pelo sujeito, e não à sua pessoa.
penal, mas de qualquer modo concorre para o crime.
A redução da pena não alcançará o coautor nem
Trata-se de qualquer tipo de colaboração, desde
o partícipe intelectual, isto é, o que planejou o crime,
que não relacionada à prática do verbo contido na
porque em tal caso não se pode falar em participação
descrição da conduta criminosa. de somenos importância.
Exemplo: é partícipe de um homicídio aquele que, É relevante saber que a menor importância da
ciente do propósito criminoso do autor, e disposto a cooperação pode ocorrer na preparação ou execução
com ele colaborar, empresta uma arma de fogo muni- do crime, embora seja mais frequente durante os atos
ciada para ser utilizada na execução do delito. preparatórios.
As condições pessoais, referentes ao autor ser pri-
A participação possui dois requisitos: mário ou reincidente, perigoso ou não, não impedem
a redução da pena, se tiver contribuído minimamente
z propósito de colaborar para a conduta do autor para a produção do resultado.
(principal);
z colaboração efetiva, por meio de um comportamen- Agravante
to acessório que concorra para a conduta principal.
O Código Penal, no art. 61, trata das circunstân-
246 cias agravantes, ou seja, reincidência, ter o agente
cometido o crime, por exemplo, por motivo fútil ou de materialidade, a fim de que o juiz declare proce-
torpe, dentre outras hipóteses legal. dente a pretensão punitiva estatal e condene o autor
Aqui vamos dedicar o estudo do art. 62 do CP, pois da infração penal.
se trata das agravantes aplicáveis no caso de concurso Durante o transcorrer da Ação Penal, será asse-
de pessoas. gurado ao acusado amplo direito de defesa, além de
outras garantias, como a estrita observância do pro-
Art. 62 A pena será ainda agravada em relação ao cedimento previsto em lei, a possibilidade de só ser
agente que: julgado pelo juiz competente,ou de ter assegurado o
I- promove, ou organiza a cooperação no crime ou contraditório e o duplo grau de jurisdição etc.
dirige a atividade dos demais agentes;
Na Ação Penal, conforme dispõe o art. 100, caput,
II- coage ou induz outrem à execução material do
do CP, o Estado é detentor do direito e do poder de
crime;
III- instiga ou determina a cometer o crime alguém punir (jus puniendi), podendo conferir a iniciativa do
sujeito à sua autoridade ou não punível em virtude desencadeamento dela a um órgão público (Minis-
de condição ou qualidade pessoal; tério Público) ou à própria vítima, dependendo da
IV- executa o crime, ou nele participa, mediante modalidade do crime praticado.
paga ou promessa de recompensa. Por isso, para cada delito previsto em lei, existe a
prévia definição das espécies de Ação Penal:
Vamos estudar:
z Iniciativa pública;
z quem promove ou organiza a cooperação no crime, z Iniciativa privada.
ou dirige a atividade dos demais agentes. São os auto-
res intelectuais. O agente é organizador do delito. Desse modo, as infrações penais são divididas nes-
z quem coage outrem à execução material do crime. tas duas categorias:
Veja, a coação pode ser física ou moral, resistível ou
irresistível. Se a coação for resistível, coator e coagi- z Crimes de ação pública;
do respondem pelo delito. Se a coação for irresistí- z Crimes de ação privada.
vel, só o coator responde pelo crime, sem a aludida
agravante. Nessa coação não há propriamente con- CLASSIFICAÇÃO
curso de pessoas, e, sim, autoria mediata.
Ação Penal Pública
Coagir alguém a praticar crime configura delito de
tortura, pois o coator será responsabilizado pelo deli- É aquela em que a iniciativa é exclusiva do Minis-
to praticado pelo coagido em concurso material com o tério Público, nos termos do inciso I, art. 129, da CF. A
crime de tortura da alínea b, inciso I, art. 1º, da Lei n°
peça processual que a ela dá início é a Denúncia.
9.455, de 1997.
A ação pública apresenta as seguintes modalidades:
z quem instiga ou determina a cometer o crime
z Incondicionada: o exercício da Ação independe
alguém sujeito à sua autoridade ou não punível em
de qualquer condição especial;
virtude de condição ou qualidade pessoal;
z Condicionada: a propositura da Ação Penal depen-
z quem induz ou instiga a cometer crime pessoa não
de da prévia existência de uma condição especial
punível, como o doente mental;
(representação da vítima ou requisição do Ministro
da Justiça, conforme § 1º, art. 100, do CP).
Importante!
Ação Penal Privada
Aquele que induz menor de dezoito anos a pra-
ticar crime contra determinada vítima será par- É aquela em que a iniciativa da propositura é con-
ticipe do delito e ainda responderá pelo crime de ferida à vítima. A peça inicial é a Queixa-crime.
corrupção de menores previsto no art. 244-B do Subdivide-se em:
ECA.
z Exclusiva: a iniciativa da Ação Penal é da vítima,
mas, se esta for menor ou incapaz, a Lei prevê que
z quem executa o crime, ou nele participa, median-
possa ser proposta pelo representante legal. Ade-
te paga ou promessa de recompensa. Em paga, o
mais, em caso de morte da vítima, a Ação poderá
recebimento é prévio. Em promessa de recompen-
ser iniciada por seus sucessores (cônjuge, compa-
sa, o recebimento é posterior à prática do delito.
NOÇÕES DE DIREITO

nheiro, ascendente, descendente ou irmão) e, se já


estiver em andamento por ocasião do falecimento,
poderão eles prosseguir no feito;
z Personalíssima: a Ação só pode ser proposta pela
AÇÃO PENAL vítima. Se ela for menor, deve-se esperar que com-
plete 18 anos. Se for doente mental, deve-se aguar-
A fim de que você possa compreender melhor este dar eventual restabelecimento.
assunto, embasaremos nosso estudo em um esquema pro-
posto por André Estefan e Victor Eduardo Rios Gonçalves É importante saber que, em caso de morte, a ação
em Direito Penal Esquematizado – Parte Geral (2014). não pode ser proposta pelos sucessores. Se já tiver
A Ação Penal é o procedimento judicial iniciado sido proposta na data do falecimento, a ação se extin-
pelo titular da ação quando há indícios de autoria e gue pela impossibilidade de sucessão no polo ativo. 247
z Subsidiária da pública: é a Ação proposta pela representação da vítima ou de requisição do Ministro
vítima em crime de ação pública, possibilidade da Justiça.
que só existe quando o Ministério Público, dentro Existem, ainda, na legislação, algumas outras con-
do prazo que a Lei lhe confere, não apresenta qual- dições (de procedibilidade) específicas, quais sejam:
quer manifestação.
z A entrada do autor da infração no território nacio-
Observa-se, por fim, que a Ação Penal somente tem nal, nas hipóteses de extraterritorialidade da lei
início efetivo quando o juiz recebe a denúncia ou a penal brasileira, previstas nos §§ 2º e 3º, do art. 7º,
queixa. do Código Penal;
z Autorização da Câmara dos Deputados para a ins-
CONDIÇÕES tauração de processo criminal contra o Presiden-
te da República, Vice-Presidente ou Ministros de
São condições que devem estar presentes para a Estado, perante o Supremo Tribunal Federal (inci-
propositura de toda e qualquer ação penal. Vejamos , so I, art. 51, da CF);
a seguir, como funcionam uma a uma. z Autorização da respectiva Casa Legislativa para
proceder á Ação Penal contra Senadores da Repú-
Legitimidade de Parte blica e Deputados Federais e Estaduais.

Se a Ação for pública, deve ser proposta pelo Minis-


tério Público e, se for privada, pelo ofendido ou por seu
representante legal.
O acusado deve ser maior de 18 anos e ser pessoa DOS CRIMES EM ESPÉCIE
física, pois, salvo nos crimes ambientais, pessoa jurí-
dica não pode figurar no polo passivo de uma Ação CRIMES CONTRA A PESSOA
Penal, pois, em regra, não cometem crime.
Os inimputáveis por doença mental ou por depen- Trataremos neste tópico dos crimes contra a vida,
dência de substância entorpecente podem figurar no que estão incorporados nos arts. 121 ao 128. Eles tute-
polo passivo da Ação Penal, pois, se provada a acusa- lam o bem jurídico mais relevante que temos: a vida,
ção, serão absolvidos, mas com aplicação de medida nas suas modalidades intrauterina ou extrauterina.
de segurança ou de sujeição a tratamento médico con- Os crimes contra a vida poderão ser dolosos ou cul-
tra a dependência. posos, sendo que os primeiros poderão ter conduta
comissiva ou omissiva.
Interesse de Agir
Homicídio
Para que a Ação Penal seja admitida, é necessária
a existência de indícios suficientes de autoria e de O crime de homicídio tem como ação a seguinte
materialidade a ensejar sua propositura. Além disso, conduta: matar alguém.
é preciso que não esteja extinta a punibilidade pela O verbo descrito no tipo penal é matar, que fica
prescrição ou qualquer outra causa. configurado quando se faz ao interromper ou cessar a
vida. O alguém previsto na conduta necessariamente
Possibilidade Jurídica do Pedido deve ser a pessoa humana.
É um crime classificado de diversas modalidades.
No Processo Penal, o pedido que se endereça ao As principais classificações são:
juízo é o de condenação do acusado a uma pena ou
medida de segurança. z Crime comum: pode ser praticado por qualquer
Para ser possível requerer a condenação, é preciso pessoa, sem que necessite de quaisquer condições
que o fato descrito na denúncia ou queixa seja típi- especiais;
co, isto é, que se mostrem presentes no caso concreto z Crime material: para sua consumação, é exigida a
todas as elementares exigidas na descrição abstrata ocorrência do resultado morte;
da infração penal. z Crime de forma livre: pode ser praticado com
qualquer modo de execução (a tiros, facadas, pau-
ladas, por meio de veneno, entre outros);
Importante! z Crime instantâneo de efeitos permanentes: a
conduta delituosa não se prolonga no tempo e,
A denúncia ou queixa-crime oferecida sem a após a consumação, os efeitos são irreversíveis;
estrita observância das condições da Ação deve z Crime plurissubsistente: pode ser praticado por
ser rejeitada, conforme os expressos termos do meio de um ou mais atos de execução;
inciso II, art. 395, do Código de Processo Penal. z Crime unissubjetivo: pode ser praticado por um
Se a falta de condição da ação for percebida ou mais agentes.
somente após o recebimento da denúncia ou
queixa, deve ser declarada a nulidade da Ação É importante que você saiba que as classificações
Penal que está em andamento desde o seu prin- aqui descritas, já que elas são bastante cobradas em
cípio, nos termos do inciso II, art. 563, do Código provas.
de Processo Penal. O crime de homicídio é dividido em:

z Homicídio Doloso:
Além dessas condições gerais, algumas espécies de
Ação Penal exigem condições específicas, como a ação „ Homicídio simples (caput do art. 121, do CP);
248 pública condicionada, que pressupõe a existência de „ Homicídio privilegiado (§ 1º, art. 121, do CP);
„ Homicídio qualificado (§ 2º, art. 121, do CP). O homicídio privilegiado está previsto no § 1º, art.
121, e se configura em uma das seguintes situações:
z Homicídio culposo (§ 3º, art. 121, do CP).
„ Relevante valor social: possível e compreensí-
Veremos a seguir cada um deles. vel para a sociedade.
Ex.: indivíduo acaba com a vida de malfeitor
z Homicídio Simples em prol da sociedade;
„ Relevante valor moral: referente ao valor
moral individual. Temos como exemplos ações
O homicídio simples está previsto no caput do art.
movidas por compaixão, beneficiação, amparo.
121: Ex.: eutanásia;
„ Sob o domínio de violenta emoção, logo
Art. 121 Matar alguém: em seguida à injusta provocação da vítima:
Pena - reclusão, de seis a vinte anos. como o próprio nome diz, a ação tem que ter
acontecido logo após o ato, e o agente estando
Tanto o sujeito ativo quanto o sujeito passivo do sob condições de grandes emoções.
homicídio simples podem ser qualquer pessoa. A con- Ex.: O marido chega em casa e pega sua com-
duta é praticada mediante dolo (vontade consciente panheira em flagrante com outro indivíduo;
do sujeito). O crime se consumará quando ocorrer a dominado pela raiva, sem pensar, e sem con-
efetiva morte da vítima. Admite-se a forma tentada. trole, acaba matando o indivíduo.
Ele é bastante difícil de ser configurado, já que difi-
cilmente ocorre este crime sem que alguma qualifica- Quando reconhecido o privilégio, no crime de
dora (que veremos a seguir) seja aplicada. Podemos homicídio, quais as consequências? O juiz pode redu-
entender, então, que o homicídio simples é residual. zir a pena do agente de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço).
Será simples o homicídio quando ele não for
qualificado.
Sobre o homicídio simples, a informação mais Importante!
importante é que, em regra, ele não é crime hedion-
Atente-se ao patamar de redução da pena.
do; entretanto, se for praticado em atividade típica de
grupo de extermínio, ainda que cometido por um só
agente, será crime hediondo. Sobre o homicídio privilegiado, algumas conside-
O homicídio simples só será crime hediondo quando rações são muito importantes para a sua prova:
praticado em atividade típica de grupo de extermínio,
ainda que cometido por um só agente, conforme a pri- „ Não é considerado crime hediondo;
meira parte do inciso I, art. 1º, da Lei nº 8.072, de 1990. „ Não se comunica para coautores ou partícipes.

Art. 1º São considerados hediondos os seguintes Exemplo: o crime de homicídio é cometido por
crimes, todos tipificados no Decreto-Lei no 2.848, dois agentes (Vicente e Gabriel). Gabriel o pratica
de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, consuma-
sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida
dos ou tentados:
à injusta provocação da vítima; Vicente, não. Nesta
I - homicídio (art. 121), quando praticado em ati-
hipótese, Gabriel responderá por homicídio privile-
vidade típica de grupo de extermínio, ainda que
cometido por um só agente, e homicídio qualificado giado e Vicente, por homicídio.
(art. 121, § 2º, incisos I, II, III, IV, V, VI, VII e VIII);
[...] z Homicídio Qualificado

Atenção: a segunda parte do inciso I, art. 1º, da Lei nº No homicídio qualificado, o agente estará subme-
8.072, de 1990, com redação dada por meio da Lei nº 13.964, tido a uma pena maior, mais grave. As qualificado-
de 2019, trata de hipóteses de homicídio qualificado. ras são fatores que tornam a conduta praticada pelo
agente, de alguma forma, mais reprovável por parte
z Homicídio Privilegiado da sociedade. A pena do homicídio qualificado está
prevista entre 12 (doze) e 30 (trinta) anos.
Art. 121 [...] O Código Penal, no § 2º, art. 121, estabelece as
§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo seguintes qualificadoras:
de relevante valor social ou moral, ou sob o domí-
nio de violenta emoção, logo em seguida a injusta Art. 121 [...]
provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de § 2º [...]
NOÇÕES DE DIREITO

um sexto a um terço. I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou


por outro motivo torpe;
Segundo Nucci, privilégios são circunstâncias II - por motivo fútil;
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfi-
legais específicas, vinculadas ao tipo penal incrimi-
xia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de
nador, provocadoras da diminuição da faixa de apli-
que possa resultar perigo comum;
cação da pena, em patamares prévia e abstratamente IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimu-
estabelecidos pelo legislador, alterando o mínimo e o lação ou outro recurso que dificulte ou torne impos-
máximo previstos para o crime. sível a defesa do ofendido;
Para fins do nosso estudo, vamos entender o homi- V - para assegurar a execução, a ocultação, a impu-
cídio privilegiado como uma modalidade mais branda nidade ou vantagem de outro crime:
do crime de homicídio. Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
Feminicídio (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) 249
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfi-
feminino: (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) xia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de
VII - contra autoridade ou agente descrito nos arts. que possa resultar perigo comum;
142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do
sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Temos aqui qualificadoras relacionadas aos meios
Pública, no exercício da função ou em decorrência empregados pelo agente para praticar o crime, que
dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou paren- podem estar relacionadas a meios insidiosos (empre-
te consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa
go de veneno), cruéis (asfixia, tortura) ou que possam
condição: (Incluído pela Lei nº 13.142, de 2015)
resultar em perigo comum (fogo, explosivo).
VIII - (VETADO): (Incluído pela Lei nº 13.964, de
2019)
Em relação ao emprego de veneno, segundo a
doutrina majoritária, tal qualificadora só irá se con-
Atenção: a segunda parte do inciso I, art. 1º, da Lei figurar se ficar comprovado que a vítima ingeriu o
nº 8.092, de 1990, com redação dada por meio da Lei veneno sem saber que o fazia. Caso a vítima saiba que
nº 13.964, de 2019, diz que será hediondo o homicídio está ingerindo veneno, outra qualificadora poderá ser
qualificado em todas as hipóteses dos incisos I, II, III, aplicada, a de meio cruel.
IV, V, VI, VII e VIII, do § 2º, art. 121, do CP.
Agora, vamos esclarecer cada um dos incisos do §
2º, art. 121, do CP: Importante!
Se o homicídio é cometido: No Direito Penal, o agente é punido, em regra,
pelo crime que queria praticar. Assim, caso o
Art. 121 [...]
agente queira torturar, mas se exceda e acabe
§ 2º [...]
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou matando a vítima, irá responder por tortura qua-
por outro motivo torpe; lificada pelo resultado morte. Se o agente queria
matar e usa a tortura como meio para atingir a
Motivo torpe refere-se a algo repugnante, nojento, sua finalidade, irá responder por homicídio quali-
abjeto. ficado pela tortura.
O Código Penal nos exemplifica o que vem a ser
motivo torpe: mediante paga ou promessa de recom-
pensa. Os demais casos de torpeza serão interpreta- Art. 121 [...]
dos analogicamente pela autoridade judicial. § 2º [...]
O homicídio praticado mediante paga ou promessa IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimu-
lação ou outro recurso que dificulte ou torne impos-
de recompensa é conhecido doutrinariamente como
sível a defesa do ofendido;
homicídio mercenário.
Ele fica configurado quando o agente pratica o
As qualificadoras mencionadas no inciso IV tam-
crime motivado por alguma recompensa (segundo a
doutrina, deve ser de natureza econômica), que pode bém estão relacionadas aos meios empregados pelo
ser anterior (na modalidade paga) ou posterior (na agente. Quando o agente comete um homicídio, pra-
modalidade promessa de recompensa). ticando-o de forma que a defesa da vítima seja difi-
A 6ª Turma do STJ entende que a comunicabilida- cultada ou se torne impossível, ele responderá na
de da qualificadora “mediante paga ou promessa de modalidade qualificada.
recompensa” não é automática, tratando-se de qualifi-
cadora de natureza pessoal, que não irá se comunicar Art. 121 [...]
automaticamente ao mandante do crime, responden- § 2º [...]
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impu-
do este na modalidade qualificada se torpe for o moti-
nidade ou a vantagem de outro crime;
vo que o levou a pagar pela morte da vítima.
Assim, por exemplo, se Alessandro, que tem a
intenção de matar um desafeto, chamado Antoniel, Nesta forma qualificada, o agente pratica o homi-
pagar R$ 1.000,00 (mil reais) a Fabrício para que este cídio para, de alguma forma, garantir uma vantagem
mate Antoniel, a qualificadora será aplicada a Fabrí- relacionada a um outro crime. A doutrina chama esta
cio; já para Alessandro, o mandante, o homicídio não qualificadora de conexão instrumental, que pode ser
será necessariamente qualificado. teleológica ou consequencial.
Conexão instrumental teleológica assegura a exe-
Art. 121 [...] cução futura de um outro crime.
§ 2º [...] Conexão instrumental consequencial assegura a
II - por motivo fútil; ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime,
praticado anteriormente.
Motivo fútil refere-se a um motivo pequeno, des- Segundo a doutrina majoritária, não é necessário
proporcional, banal. Há desproporcionalidade entre a que o crime anterior ou posterior pode ter sido prati-
conduta praticado e a motivação. cado por uma outra pessoa, não existindo a obrigato-
O homicídio será qualificado por motivo fútil riedade de que seja o próprio autor do homicídio.
quando, por exemplo, for motivado por um dívida de
uma carteira de cigarro. Art. 121 [...]
§ 2º [...]
Art. 121 [...] VI - contra a mulher por razões da condição de sexo
250 § 2º [...] feminino.
Fique atento, pois este dispositivo tem grande O homicídio culposo é aquele em que o agente não
incidência em provas de concursos públicos. Estamos quer como o resultado a morte, nem assume o risco de
falando do feminicídio. realizá-lo, mas acaba causando a morte de alguém por
Você acertará todos os itens correspondentes imprudência, negligência ou imperícia.
quando entender que nem toda morte de mulher será A imprudência fica configurada quando o agente
considerada feminicídio, mas sim a morte de mulher é afoito, praticando conduta não recomendada pela
praticada devido a sua condição de sexo feminino. vida em sociedade. Exemplo: Ciclano está mudando
O Código Penal estabelece que se considera que há alguns móveis em apartamento, que fica no 4º andar.
razões de condição de sexo feminino quando a morte Ele decide que não quer mais um jarro de plantas e,
da mulher envolver violência doméstica ou familiar ou para se livrar do objeto, joga-o pela janela. O jarro cai
menosprezo ou discriminação à condição de mulher. na cabeça de Beltrano, que morre imediatamente.
O feminicídio ficará configurado com a morte da Observe que Ciclano não queria a morte de Beltra-
mulher devido à violência de gênero e não quando no, nem assumiu o risco de matá-lo, mas, por ter sido
ocorrer a morte da mulher em qualquer situação. imprudente (praticado uma ação não recomendável),
acabou causando a morte da vítima.
Art. 121 [...] Nesse caso, a negligência fica configurada quando
§ 2º [...] o agente é omisso ou relapso. Ele não faz algo que a
VII - contra autoridade ou agente descrito nos arts. vida em sociedade recomenda.
142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do Além disso, imperícia é a falta de aptidão técnica
sistema prisional e da Força Nacional de Segurança para o desempenho de determinada atividade.
Pública, no exercício da função ou em decorrência Nos exemplos a seguir, que a doutrina apresen-
dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou paren- ta com mais frequência, poderemos ver a diferença
te consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa entre a negligência e a imperícia:
condição.
„ Ex.: Adolfo é médico cirurgião. Certo dia, ao
O homicídio será qualificado quando praticado fazer uma cirurgia renal, ele deixa um bisturi
contra os seguintes agentes ou autoridades: dentro do paciente, que vem a óbito;
„ Ex.: Teobaldo é médico clínico geral em período
„ Integrantes das Forças Armadas (Marinha, de residência. Ele vai fazer uma cirurgia renal,
Exército ou Aeronáutica); erra no procedimento e a vítima morre.
„ Integrantes dos órgãos de segurança pública:
Polícia Federal; Polícia Rodoviária Federal; No primeiro exemplo: Adolfo irá responder por
Polícia Ferroviária Federal; Polícias Civis; Poli- homicídio culposo por negligência. Observe que ele
ciais Militares; Corpo de Bombeiros Militares; é médico cirurgião, logo, tem perícia para a realiza-
Polícias Penais federal, estadual e municipal. ção de cirurgias, mas foi omisso ao esquecer o equipa-
mento dentro do paciente.
Mais uma vez, você deve ficar atento e levar para a No segundo exemplo: Teobaldo irá responder por
sua prova que não é a morte de qualquer dos agentes homicídio culposo por imperícia, já que faltava a ele
ou autoridades citados que irá qualificar o homicídio, aptidão necessária para realizar perícias.
mas sim se a morte deles for praticada no exercício No caso do homicídio culposo, é possível a aplica-
da função (enquanto eles trabalham) ou em razão da ção do instituto do perdão judicial, previsto no § 5º,
função (devido ao cargo que eles ocupam ou função art. 121, do CP:
que eles exercem).
A qualificadora também será aplicada se o homi- Art. 121 [...]
cídio for praticado contra o cônjuge, companheiro § 5º Na hipótese de homicídio culposo, o juiz pode-
ou parente consanguíneo até o 3º (terceiro) grau dos rá deixar de aplicar a pena, se as conseqüências da
agentes ou autoridades que vimos, também motivado infração atingirem o próprio agente de forma tão
pela função que os agentes ou autoridades exercem. grave que a sanção penal se torne desnecessária.

Dica Você pode entender a aplicação do perdão judicial


ao seguinte caso: pai que, por imprudência, provoca
É possível que o homicídio seja privilegiado e um acidente de trânsito e mata o próprio filho. Nes-
qualificado ao mesmo tempo? Sim. te caso, as consequências da infração penal (homi-
É possível, porém, é necessário que a qualifica- cídio) atingem o pai de forma tão grave (a morte de
dora seja de natureza objetiva, ou seja, relacio- seu filho) que é desnecessária a aplicação de sanção
NOÇÕES DE DIREITO

nada aos meios empregados pelo agente para penal, podendo o juiz deixar de aplicar a pena.
executar o crime. O instituto do perdão judicial se aplica apenas aos
Segundo a doutrina majoritária, o homicídio casos de homicídio culposo.
privilegiado-qualificado não será considerado Falaremos agora das causas de aumento de pena
hediondo, porque o privilégio afasta a hediondez. aplicadas ao homicídio.

z Homicídio Culposo z Homicídio Majorado

Art. 121 [...] As causas de aumento de pena estão previstas nos


§ 3º Se o homicídio é culposo: § 4º, 6º e 7º, art. 121.
Pena - detenção, de um a três anos. 251
Vejamos: z Induzir: criar uma ideia que não existe. A vítima
nunca pensou em se suicidar e o agente faz surgir
Art. 121 [...] esta ideia na cabeça dela;
§ 4º No homicídio culposo, a pena é aumentada de z Instigar: reforçar uma ideia que já existe. A víti-
1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância ma pensa ou já pensou em se suicidar e o agente
de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se reforça essa ideia;
o agente deixa de prestar imediato socorro à víti- z Auxiliar: o agente presta auxílio material à víti-
ma, não procura diminuir as conseqüências do seu ma. Por exemplo, emprestando uma arma, uma
ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo corda, entre outras formas de auxílio.
doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um
terço) se o crime é praticado contra pessoa menor
Com o advento da Lei nº 13.968, de 2019, na hipó-
de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos.
tese de a automutilação ou de a tentativa de suicídio
[...]
resultar lesão corporal de natureza grave ou gravíssi-
§ 6º A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a
ma, nos termos dos §§ 1º e 2º, art. 129, do CP, a pena
metade se o crime for praticado por milícia priva-
da, sob o pretexto de prestação de serviço de segu-
cominada é de reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.
rança, ou por grupo de extermínio.
Art. 122 [...]
§ 1º Se da automutilação ou da tentativa de suicídio
Quanto ao feminicídio, o aumento será de 1/3 até
resulta lesão corporal de natureza grave ou gravís-
metade, quando praticado nas circunstâncias do § 7º, sima, nos termos dos §§ 1º e 2º do art. 129 deste
art. 121: Código:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.
Art. 121 [...] § 2º Se o suicídio se consuma ou se da automutila-
§ 7º A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um ção resulta morte:
terço) até a metade se o crime for praticado: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.
I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses poste-
riores ao parto; Essa redação (§ 1º, art. 122, do CP) citada põe fim
II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior à discussão sobre a possibilidade de tentativa para o
de 60 (sessenta) anos, com deficiência ou portadora
induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio.
de doenças degenerativas que acarretem condição
Hoje, a lei diz que o crime de induzimento, instiga-
limitante ou de vulnerabilidade física ou mental;
ção ou auxílio ao suicídio e, agora, da automutilação,
III - na presença física ou virtual de descendente ou
de ascendente da vítima;
admite tentativa.
IV - em descumprimento das medidas protetivas de Porém, em caso de consumação do suicídio ou da
urgência previstas nos incisos I, II e III do caput do automutilação resultar morte, a pena prevista é de
art. 22 da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006. reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.

As causas de aumento de pena aplicáveis ao homi- z Forma Qualificada


cídio culposo também merecem atenção especial.
Para tanto, dividimos a disposição do § 4º, art. 121, a Com a redação da Lei nº 13.968, de 2019, a pena
seguir: para o crime de induzimento, instigação e auxílio ao
suicídio e de automutilação é duplicada em dois casos.
„ Se o crime resulta de inobservância de regra Vejamos:
técnica de profissão, arte ou ofício – aumento
de 1/3 (um terço); Art. 122 [...]
§ 3º A pena é duplicada:
„ Se o agente deixa de prestar imediato socorro
I - se o crime é praticado por motivo egoístico, torpe
à vítima, não procura diminuir as consequên-
ou fútil;
cias do seu ato ou foge para evitar prisão em II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qual-
flagrante – aumento de 1/3 (um terço). quer causa, a capacidade de resistência.

Induzimento, Instigação ou Auxílio a Suicídio ou a z Aumento de pena


Automutilação
Art. 122 [...]
No Direito Penal Brasileiro, não se pune a autole- § 4º A pena é aumentada até o dobro se a conduta
são, ou seja, uma pessoa não será punida penalmente é realizada por meio da rede de computadores, de
caso provoque mal somente a si própria. rede social ou transmitida em tempo real.
O tipo penal que iremos estudar não pune o suicí- § 5º Aumenta-se a pena em metade se o agente é
dio, que consiste na eliminação da própria vida, mas líder ou coordenador de grupo ou de rede virtual.
sim a conduta daquele que induz, instiga ou auxilia a
prática de um suicídio ou a automutilação. Não é caso de crime de induzimento, instigação
ou auxílio ao suicídio e da automutilação quando a
Art. 122 Induzir ou instigar alguém a suicidar-se vítima não tem algum discernimento para a prática
ou a praticar automutilação ou prestar-lhe auxílio do suicídio e da autolesão. Caso a conduta seja prati-
material para que o faça: cada contra alguém sem qualquer discernimento, por
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos. exemplo, uma criança de 10 anos de idade, não esta-
remos diante do crime de induzir, instigar ou auxi-
Inicialmente, devemos entender o que significa liar a prática de suicídio, mas sim diante do crime de
252 cada um dos verbos que configuram o tipo penal: homicídio.
Art. 122 [...] biopsicológico ou fisiopsicológico, afastando-se do
§ 7º Se o crime de que trata o § 2º deste artigo é sistema psicológico, que exigia o motivo de honra. O
cometido contra menor de 14 (quatorze) anos ou simples estado puerperal é apto ao reconhecimento
contra quem não tem o necessário discernimento
do infanticídio.
para a prática do ato, ou que, por qualquer outra
causa, não pode oferecer resistência, responde o
Estado puerperal é o conjunto das perturbações
agente pelo crime de homicídio, nos termos do art. psíquicas e fisiológicas sofridas pela mulher em razão
121 deste Código. do fenômeno do parto. Diversos fatores como, por
exemplo, sofrimento, a perda de sangue, a angústia,
Neste sentido, o Código Penal, trata, com a inclusão a inquietação ou outros podem levar a parturiente a
da redação dada por meio da Lei nº 13.968, de 2019, da sofrer um colapso do senso moral, uma liberação de
hipótese da automutilação ou da tentativa de suicídio impulsos maldosos, chegando por isso a matar o pró-
resulta lesão corporal de natureza gravíssima. Se for prio filho.
cometido contra menor de 14 (quatorze) anos ou con- A influência do estado puerperal normalmente
tra quem, por enfermidade ou deficiência mental, não acontece em qualquer parto, havendo, inclusive, jul-
tem o necessário discernimento para a prática do ato, gados dispensando a prova pericial para comprová-lo.
ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer
O infanticídio deve ocorrer durante o parto ou logo
resistência, responde o agente pelo crime lesão corpo-
após, ou seja, logo em seguida ao parto, sem intervalo.
ral gravíssima.
Antes do início do parto, a morte do feto será aborto, e
Art. 122 [...] se não ocorrer logo após o parto, será homicídio.
§ 6º Se o crime de que trata o § 1º deste artigo resul- A expressão “logo após o parto” compreende todo
ta em lesão corporal de natureza gravíssima e é o período em que permanecer a influência do esta-
cometido contra menor de 14 (quatorze) anos ou do puerperal. Sobrevindo a fase da bonança, em que
contra quem, por enfermidade ou deficiência men- predomina o instinto materno, cessa a influência do
tal, não tem o necessário discernimento para a prá- estado puerperal. Se, não permanecendo o estado
tica do ato, ou que, por qualquer outra causa, não
puerperal, a mãe matar o filho, não estaremos diante
pode oferecer resistência, responde o agente pelo
crime descrito no § 2º do art. 129 deste Código. do crime de infanticídio, mas de homicídio.
O delito só admite o dolo, que pode ser direto ou
Por fim, se o crime de suicídio se consuma ou se eventual.
da automutilação resulta morte e a vítima é menor de Se houver a hipótese de a conduta de a mãe, em
14 (quatorze) anos ou contra quem não tem o neces- estado puerperal, logo após o parto, culposamente
sário discernimento para a prática do ato, ou que, por matar o filho, estaremos diante de homicídio culposo.
qualquer outra causa, não pode oferecer resistência, Há certos casos em que a mulher, após o parto,
responde o agente pelo crime de homicídio. vê-se acometida da chamada psicose puerperal, que
é uma doença mental que lhe tira totalmente o poder
Infanticídio de autodeterminação. Nesta hipótese, a mãe é consi-
derada absolutamente inimputável, conforme o caput
Art. 123 Matar, sob a influência do estado puerpe-
do art. 26, do CP.
ral, o próprio filho, durante o parto ou logo após:
Se, em outra hipótese, a mãe, além da influência
Pena - detenção, de dois a seis anos.
do estado puerperal, tiver outra causa de semi-im-
O infanticídio é classificado pela doutrina como putabilidade, consistente em perturbação da saúde
crime bipróprio, já que ele exige qualidades especiais mental, que não lhe retire a inteira capacidade de
tanto do sujeito ativo quanto do sujeito passivo. entendimento ou autodeterminação, deverá ser apli-
É necessário que o sujeito ativo — quem pratica cada a regra do parágrafo único, art. 26, do CP, ou seja,
a conduta — seja a própria mãe e que o sujeito pas- a pena do infanticídio poderá ser reduzida de um a
sivo — quem é ameaçado pela conduta criminosa dois terços, ou poderá ser substituída por medida de
— seja o próprio filho, para que este tipo penal fique segurança.
configurado.
São outros requisitos que devem estar presentes HOMICÍDIO
para configuração do crime de infanticídio:
A parturiente mata o filho
sem estar influenciada Homicídio, art. 121, do CP
z Que a mãe esteja sob a influência do estado puerperal;
pelo estado puerperal
NOÇÕES DE DIREITO

O estado puerperal é uma alteração emocional


pela qual passam algumas mães durante o período INFANTICÍDIO
correspondente ao parto.
A parturiente mata o filho
Não existe prazo definido em lei, na doutrina ou
sob a influência do estado Infanticídio, art. 123, do CP
na jurisprudência, sobre quanto tempo dura o estado puerperal
puerperal.
A parturiente mata o filho Infanticídio, art. 123, com-
z Que a conduta seja praticada durante ou logo após influenciada pelo estado binado com o parágrafo
o parto. puerperal e por apresentar único, do art. 26, do CP
alguma outra causa que Redução da pena de um a
O Código Penal adota, para o crime de infan- lhe tire a plenitude do po- dois terços, ou medida de
ticídio, critério fisiológico, também denominado der de autodeterminação segurança 253
INFANTICÍDIO Os meios abortivos mais citados são:
Infanticídio, art. 123, com-
z Processos químicos: introdução de certas subs-
A parturiente mata o filho binado com o caput do art.
por estar acometida de 26, do CP tâncias químicas no organismo, como o fósforo,
doença mental, psicose Absolvição sumária, chumbo, álcool, ácido etc;
puerperal causa excludente da z Processos físicos mecânicos: curetagem, jogos
culpabilidade esportivos, quedas voluntárias etc;
z Processos físico-térmicos: bolsas de água quente
e bolsas de gelo;
O infanticídio admite tentativa. z Processos psíquicos: susto, sugestão, induzimen-
to de terror etc.
Aborto
O crime de aborto admite tentativa, na hipótese
O crime de aborto, no Brasil, está no rol dos crimes em que se emprega meios abortivos, mas não sobre-
contra a vida. É tutelado o nascituro desde a concep- vêm a morte do feto por circunstâncias alheias à von-
ção. O Código Penal estabelece três modalidades de tade do agente.
aborto, previstas nos arts. 124, 125 e 126. Há quatro modalidades de aborto:
No art. 124, do CP, temos o aborto praticado pela
gestante. O sujeito ativo é a própria gestante e a vítima z Autoaborto (1ª parte do art. 124);
é o feto. z Aborto consentido (2ª parte do art. 124);
z Aborto consensual (art. 126);
Art. 124 Provocar aborto em si mesma ou consen- z Aborto sem o consentimento da gestante (art. 125 e
tir que outrem lho provoque: (Vide ADPF 54) parágrafo único do art. 126).
Pena - detenção, de um a três anos.
Autoaborto
No art. 125, do CP, o crime de aborto é praticado
por terceiro, porém sem o consentimento da gestante. O autoaborto é o praticado pela própria gestante.
Observe que neste delito o sujeito ativo é o terceiro, Sujeito ativo do delito é a gestante. Ela executa direta-
aquele que realiza o aborto. As vítimas, sujeitos passi- mente a conduta criminosa. Trata-se de crime de mão
vos, são a gestante e o feto. própria ou de atuação pessoal, pois só pode ser come-
tido pela gestante em pessoa.
Art. 125 Provocar aborto, sem o consentimento da Terceiros podem atuar como partícipes, mas não
gestante: como coautores.
Pena - reclusão, de três a dez anos.
z Aborto Consentido e Aborto Consensual
Já no art. 126, do CP, o crime de aborto é praticado
por terceiro, mas com o consentimento da gestante. O aborto consentido ocorre quando a gestante per-
Aqui, temos na condição de sujeito ativo o terceiro e mite que outrem o provoque.
a gestante, e a vítima, sujeito passivo, apenas o feto. É essencial ao crime o concurso dos dois elementos:

Art. 126 Provocar aborto com o consentimento da „ Consentimento da gestante;


gestante: „ Execução do aborto por terceiro.
Pena - reclusão, de um a quatro anos.
Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo ante- Observe-se, porém, desde logo, que o aborto con-
rior, se a gestante não é maior de quatorze anos, ou sentido é crime bilateral, exigindo a presença de duas
é alienada ou débil mental, ou se o consentimento é pessoas: a gestante e o terceiro executor.
obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência. O terceiro responde pelo art. 126, do CP (aborto
consensual), enquanto a gestante, pela 2ª parte do art.
O Código Penal não define aborto. Cabe à juris- 124, do CP (aborto consentido).
prudência e à doutrina definir o crime de aborto. De O aborto consentido é crime de mão própria ou de
acordo com termos relacionados à medicina, aborto é atuação pessoal, podendo ser cometido apenas pela
a expulsão do produto da concepção. gestante. Mas, evidentemente, admite a presença do
O aborto consiste na interrupção da gravidez com partícipe, consistente na conduta acessória do tercei-
a morte do produto da concepção. Dessa definição ro que se limita a induzir, instigar ou auxiliar a ges-
sobressaem os seguintes elementos necessários à tante a consentir na realização do aborto.
constituição do delito:
z Aborto Praticado sem Consentimento da Gestante
z Estado fisiológico da gravidez;
z Emprego de meios dirigidos à provocação do O art. 125, do CP, comina pena de reclusão de 3
aborto; (três) a 10 (dez) anos ao aborto provocado sem o con-
z Morte do produto da concepção; sentimento da gestante.
z Dolo. O não consentimento da gestante é o elemento
essencial à configuração do delito e pode ser:
O aborto é crime de forma livre, admitindo uma
infinidade de meios executórios. „ Expresso;
254 „ Presumido.
Expresso, também conhecido como real, ocorre Aborto sentimental ou humanitário ou ético.
quando a gestante se opõe ao aborto, mas é vencida
pela violência física, grave ameaça e fraude, ou seja, „ Aborto Necessário ou Terapêutico ou Profilático
respectivamente, chute na barriga, ameaça de matar
a gestante se não abortar e colocar substância aborti- Aborto necessário é o praticado por médico, se não
va na alimentação da gestante, sem consentimento da há outro meio de salvar a vida da gestante, conforme
vítima, mãe. o inciso I, art. 128, do CP, desde que presentes três
Presumido é quando a gestante está incapaz de requisitos:
consentir nas formas previstas no parágrafo único,
art. 126, do CP: z Perigo real à vida da gestante;
z Não haver outro meio de salvar-lhe a vida;
„ A gestante não é maior de catorze anos; z Execução por médico.
„ A gestante é alienada mental (doente men-
tal) ou débil mental (desenvolvimento mental O aborto necessário exige perigo à vida, e não saú-
retardado). de, da gestante.
Quando chamado de terapêutico, tem efeito curati-
z Aborto Qualificado vo, e quando profilático, preventivo.

Art. 127 As penas cominadas nos dois artigos ante- „ Aborto Sentimental ou Humanitário ou Ético
riores são aumentadas de um terço, se, em conse-
qüência do aborto ou dos meios empregados para Aborto sentimental é aquele praticado para inter-
provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natu- romper a gravidez resultante do estupro.
reza grave; e são duplicadas, se, por qualquer des- Os requisitos necessários para a exclusão da ilici-
sas causas, lhe sobrevém a morte. tude do aborto humanitário são:

O art. 127, do CP, estabelece duas hipóteses de z Gravidez resultante de estupro;


aborto qualificado: z Prévio consentimento da gestante ou, quando in-
capaz, de seu representante legal;
„ Aborto qualificado pela morte; z Execução por médico; se praticado por outras pes-
„ Aborto qualificado pela lesão corporal de natu- soas, respondem pelo crime.
reza grave.
A prova do estupro pode ser feita por todos os
As lesões graves são aquelas tipificadas nos §§ 1º e meios admissíveis em direito.
2º, art. 129, do CP. Para a prática do aborto humanitário, não é neces-
sário processo (ação penal), autorização judicial
Dica nem sentença condenatória. Ação penal é pública
incondicionada.
Os dois resultados qualificativos do delito, isto é,
a morte e a lesão grave, devem ser imputadas ao LESÕES CORPORAIS
agente a título de culpa. Estamos diante de hipó-
tese de crime preterdoloso, o agente age com Podemos entender lesão corporal como qualquer
dolo em relação ao aborto e culpa em relação alteração provocada na integridade corporal ou na
ao resultado. saúde de uma pessoa.
Agora, se o agente atua com dolo em relação à A lesão corporal é comum, material, instantânea e
morte ou lesão grave, responde por aborto em de forma livre; portanto, pode ser praticada por qual-
concurso formal com o crime de homicídio ou quer pessoa, exige a ocorrência do resultado para fins
crime de lesão corporal. de consumação, a conduta não se prolonga no tempo
e pode ser praticada de qualquer maneira (pedradas,
z Aborto Legal pauladas, tiros, socos, chutes, arranhões etc.)
As lesões corporais estão previstas no art. 129,
O art. 128, do CP, estabelece duas modalidades em do Código Penal, e podem ser divididas da seguinte
que o aborto não constitui delito, desde que praticado forma:
por médico. Vejamos:
z Lesão corporal simples;
Art. 128 Não se pune o aborto praticado por z Lesão corporal grave;
médico: z Lesão corporal gravíssima;
NOÇÕES DE DIREITO

Aborto necessário z Lesão corporal seguida de morte;


I - Se não há outro meio de salvar a vida da gestante; z Lesão corporal culposa;
Aborto no caso de gravidez resultante de estupro z Lesão corporal privilegiada.
II - Se a gravidez resulta de estupro e o aborto é
precedido de consentimento da gestante ou, quando As lesões corporais graves, gravíssimas e seguidas
incapaz, de seu representante legal. de morte compõem o grupo lesões corporais qualifica-
das, segundo a doutrina penalista.
Exclui-se a antijuridicidade, uma vez que a norma Antes de analisarmos cada uma das lesões, vamos
penal permite expressamente o abortamento, estabe- falar da ação penal. O crime de lesão corporal é clas-
lecendo a licitude do fato. sificado como delito não-transeunte, que é aquele que
A doutrina trata do aborto legal da seguinte forma: deixa vestígios, sendo necessária a realização de exa-
Aborto necessário ou terapêutico ou profilático; me de corpo de delito. 255
Lesão Corporal Leve Atente-se à seguinte tabela, elaborada para evitar
confusões quanto às lesões grave e gravíssima:
Art. 129 Ofender a integridade corporal ou a saúde
de outrem: LESÃO GRAVE LESÃO GRAVÍSSIMA
Pena - detenção, de três meses a um ano.
Debilidade permanente Perda ou inutilização
de membro, sentido ou do membro sentido ou
A lesão leve, também chamada de simples, previs-
função função
ta no caput do art. 129, é residual. Teremos configu-
rada tal modalidade de lesão, caso não se configure Exemplo: Devido às le-
Exemplo: Devido às le-
nenhuma das outras. sões sofridas, a vítima
sões sofridas, a vítima
perde um dos olhos, mas
A lesão corporal qualificada está prevista nos pará- perde a visão
ainda enxerga
grafos 1º, 2º e 3º, do art. 129.

Lesão Corporal Grave O Código Penal não divide as lesões em graves ou


gravíssimas. Para o Código Penal Brasileiro (CPB),
Art. 129 [...] todas elas são graves. Esta divisão é uma construção
§ 1º Se resulta: doutrinária.
I - incapacidade para as ocupações habituais, por
mais de trinta dias; Lesão Corporal Seguida de Morte
II - perigo de vida;
III - debilidade permanente de membro, sentido ou Art. 129 [...]
função; § 3º Se resulta morte e as circunstâncias eviden-
ciam que o agente não quis o resultado, nem assu-
IV - aceleração de parto:
miu o risco de produzi-lo:
Pena - reclusão, de um a cinco anos.
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.

A lesão corporal grave irá se configurar se resultar: A lesão corporal seguida de morte dar-se-á quando
ficar configurado que o agente não queria o resultado
z Incapacidade para as ocupações habituais, por morte (dolo direto no resultado morte) ou assumiu o
mais de 30 (trinta) dias; risco de produzi-lo (dolo eventual no resultado morte).
Se o agente quer matar, ele responderá pelo
É necessário que a incapacidade dure mais de homicídio. Porém, caso o agente queira apenas cau-
30 (trinta) dias, ou seja, a partir do 31º dia, caso sar lesões corporais, mas, por algum motivo, acabe
contrário, a lesão corporal não será grave. se excedendo, provocando a morte da vítima, ele irá
A incapacidade está relacionada a qualquer ocu- responder por lesão corporal seguida de morte, desde
pação habitual, como estudo, treinos, rotinas domésti- que fique evidenciado que ele não quis nem assumiu
cas, e não somente ao trabalho: o risco de produzir o resultado morte.
O crime de lesão corporal seguida de morte é um
z Perigo de vida; crime preterdoloso, ou seja, é um crime qualificado
z Debilidade permanente de membro, sentido ou pelo resultado, em que temos dolo na conduta inicial
função; e culpa no resultado produzido.
z Aceleração do parto.
Lesão Corporal Culposa
Lesão Corporal Gravíssima
Art. 129 [...]
Art. 129 [...] § 6º Se a lesão é culposa:
§ 2º Se resulta: Pena - detenção, de dois meses a um ano.
I - Incapacidade permanente para o trabalho;
II - enfermidade incurável; A lesão corporal culposa é aquela que o agente não
III perda ou inutilização do membro, sentido ou quer causar lesão corporal na vítima, mas a produz
função; por ter sido imprudente, negligente ou imperito.
IV - deformidade permanente; É importante compreender que não há gradações
V - aborto: na lesão corporal culposa, ou seja, ela não se divide
Pena - reclusão, de dois a oito anos. em leve, grave ou gravíssima, mas tão somente será
lesão corporal culposa.
A lesão corporal gravíssima irá se configurar se No caso de lesão corporal culposa, é aplicável o
resultar: instituto do perdão judicial, podendo o juiz deixar de
aplicar a pena se as consequências da infração penal
atingirem o agente de forma que a aplicação de san-
z Incapacidade permanente para o trabalho;
ção penal torne-se desnecessária.
z Enfermidade incurável; Aplica-se o perdão judicial ao crime de lesão cor-
z Perda ou inutilização do membro, sentido ou poral culposa.
função;
z Deformidade permanente; Lesão Corporal Privilegiada
z Aborto.
Os motivos que levam o agente a praticar a lesão
corporal privilegiada são os mesmos do homicídio
256 privilegiado.
Art. 129 [...] z For hipótese de lesão corporal grave, gravíssima
§ 4º Se o agente comete o crime impelido por motivo ou seguida de morte, praticada em quaisquer dos
de relevante valor social ou moral ou sob o domínio casos de violência doméstica vistos;
de violenta emoção, logo em seguida a injusta pro- z Se a vítima, enquadrada em um dos casos de vio-
vocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um lência doméstica vistos, for pessoa portadora de
sexto a um terço. deficiência.

Se o agente comete o crime impelido por motivo A pena será aumentada de 1/3 (um terço) até a
de relevante valor social ou moral ou sob o domínio metade:
de violenta emoção, logo em seguida à injusta provo-
cação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de 1/6 (um z Se a lesão corporal for praticada por milícia priva-
sexto) a 1/3 (um terço). da, sob o pretexto de prestação de serviço de segu-
É aplicável o instituto da substituição de pena nos rança, ou por grupo de extermínio.
casos de lesão corporal.
Não sendo graves as lesões, nos casos de lesão pri- A pena será aumentada de 1/3 (um terço) a 2/3
vilegiada ou nos casos de lesão recíproca (duas pes- (dois terços):
soas lesionam-se umas às outras), o juiz poderá ainda
substituir a pena de detenção pela de multa. z Se a lesão for praticada contra autoridade ou agen-
te das forças armadas (Marinha, Exército ou Aero-
Art. 129 [...] náutica), das forças de segurança pública (Polícia
§ 9º Se a lesão for praticada contra ascendente, des- Federal, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Fer-
cendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com roviária Federal, Policiais Civis, Polícias Militares
quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, pre- ou Corpo de Bombeiros Militares), integrantes do
valecendo-se o agente das relações domésticas, de sistema prisional (agentes penitenciários) e da For-
coabitação ou de hospitalidade: ça Nacional de Segurança Pública, no exercício da
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. função ou em razão dela, ou contra seu cônjuge,
companheiro ou parente consanguíneo até o ter-
O Código Penal traz disposições específicas para os ceiro grau, em razão dessa condição.
casos de lesão corporal praticada no âmbito de violên-
cia doméstica. Neste caso, a pena do agente será mais PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
grave, estando ele submetido a auto de prisão em fla-
grante e não somente a mero termo circunstanciado A periclitação da vida e da saúde é considerada
(salvo nos casos de lesão grave, gravíssima ou seguida como crimes de perigo, sendo criada, pelo autor do
de morte). fato, uma situação de perigo a que é exposta a vítima.
Considera-se lesão corporal no âmbito de violência Crimes de perigo são aqueles que não exigem a
doméstica se praticada contra as seguintes pessoas ou efetiva ocorrência de dano, apesar de poder aconte-
nos seguintes casos: cer, para que se configurem.
Os crimes de perigo são divididos em:
z Ascendente;
z Descendente; z Crimes de perigo concreto: é exigida uma com-
z Cônjuge ou companheiro; provação de que realmente aconteceu um risco
z Quem conviva ou tenha convivido. de perigo ou lesão ao bem jurídico protegido pela
norma penal;
É importante mencionar que, caso a vítima seja z Crimes de perigo abstrato: Não se exige nenhu-
mulher, teremos a aplicação da Lei Maria da Penha ma comprovação, já que o perigo é presumido. Ex.:
e, mesmo que seja caso de lesão corporal leve, a ação Um indíviduo dirigir após ter ingerido álcool.
penal será pública incondicionada.
Agora, veremos as hipóteses majoradas do crime Analisaremos os seguintes crimes: perigo de con-
de lesões corporais. Há diversas causas de aumento de tágeo venéreo; perigo de contágio de moléstia grave;
pena para este crime, portanto, leia-as com bastante abandono de incapaz; exposição ou abandono de
atenção. recém-nascido e omissão de socorro.
Nos casos de lesão corporal culposa:
A pena será aumentada de 1/3 (um terço) se: Perigo de Contágio Venéreo

z O crime resulta de inobservância de regra técnica Art. 130 Expor alguém, por meio de relações
NOÇÕES DE DIREITO

sexuais ou qualquer ato libidinoso, a contágio de


de profissão, arte ou ofício;
moléstia venérea, de que sabe ou deve saber que
z O agente deixa de prestar imediato socorro à vítima;
está contaminado:
z O autor não procura diminuir as consequências do Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
seu ato; § 1º Se é intenção do agente transmitir a moléstia:
z O agente foge para evitar prisão em flagrante. Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
§ 2º Somente se procede mediante representação.
Nos casos de lesão corporal dolosa:
A pena será aumentada de 1/3 (um terço) se: Este crime fica configurado quando o agente expõe
alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato
z A vítima é menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 libidinoso, a contágio de moléstia venérea, de que
(sessenta) anos; sabe ou deve saber que está contaminado. 257
A forma qualificada deste crime ocorre se o agente Mais uma vez, reiteramos: exige-se para a configu-
tem a intenção de transmitir a moléstia venérea. Este ração deste tipo penal o dolo específico, que consiste
crime somente se procede mediante representação, na intenção do agente de transmitir a moléstia grave.
ou seja, trata-se de crime promovido mediante ação A doutrina não admite, para este crime, o dolo even-
penal pública condicionada. tual, quando o agente não quer diretamente transmi-
Moléstia venérea, segundo a doutrina, refere-se ao tir a doença, mas assume o risco de transmiti-la.
nome genérico dado a qualquer doença que possa ser Trata-se de crime formal, que se consuma com a
transmitida por meio de relação sexual, como sífilis. prática do ato destinado a transmitir a moléstia grave,
O crime consuma-se com a prática do ato sexual, não se exigindo, para fins de consumação, a efetiva
capaz de transmitir a moléstia venérea. Caso a vítima transmissão da moléstia.
seja contaminada, tal fato será mero exaurimento do Ao contrário do crime de Perigo de Contágeo
crime. Venéreo, procede-se mediante ação penal pública
O crime é de conduta vinculada, exigindo a con- incondicionada.
junção carnal, o coito anal, o sexo oral ou qualquer Antes de passarmos para a análise de outros tipos
outro ato de libidinagem que sirva para a satisfação penais, é importante que façamos uma distinção entre
da libido. os dois tipos penais que acabamos de ver:
Caso a contaminação provenha de outra ação físi-
ca, como o aperto de mão ou a ingestão de alimen- PERIGO DE CONTÁGIO PERIGO DE CONTÁGIO
tos, inexistirá o crime de perigo de contágio venéreo, VENÉREO DE MOLÉSTIA GRAVE
podendo subsistir o delito de lesão corporal, dolosa ou
culposa, ou os crimes dos arts. 131 e 132, do CP. A transmissão deve se dar A transmissão dá-se por
por meio de relação sexual qualquer meio
Transmite-se moléstia Transmite-se moléstia
Importante! venérea grave
É importante mencionar, pela própria nature- É norma penal em branco É norma penal em branco
za do tipo penal, que não se exige, para a sua Não se exige dolo
Exige-se dolo específico
configuração simples, dolo específico do agen- específico
te em transmitir a doença venérea (caso ocor- Ação penal pública Ação penal pública
ra esta hipótese, o crime será qualificado), condicionada incondicionada
bastando que ele tenha a intenção de ter a rela-
ção sexual, sabendo ou devendo saber que está
Perigo para a Vida ou Saúde de Outrem
contaminado.
O art. 132 do CP trata do crime de perigo para a
Como o fato se relaciona a uma ou mais pessoas vida ou saúde de outrem:
determinadas, estamos diante de um delito de perigo
individual, o qual deve ser averiguado diante do caso Art. 132 Expor a vida ou a saúde de outrem a peri-
concreto. Isso porque da simples relação sexual do go direto e iminente:
agente com a vítima não decorre presunção absolu- Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato
ta da existência desse perigo. A presunção é relativa, não constitui crime mais grave.
admitindo prova em contrário, como no caso de a víti- Parágrafo único. A pena é aumentada de um sexto
ma já ser portadora de doença venérea. a um terço se a exposição da vida ou da saúde de
outrem a perigo decorre do transporte de pessoas
para a prestação de serviços em estabelecimentos
Perigo de Contágio de Moléstia Grave
de qualquer natureza, em desacordo com as nor-
mas legais.
Art. 131 Praticar, com o fim de transmitir a outrem
moléstia grave de que está contaminado, ato capaz
de produzir o contágio: A conduta nuclear é expor, ou seja, colocar em peri-
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. go a vida, a integridade física ou a saúde de alguém. O
perigo é concreto, direto, iminente e anormal.
Este crime se configura quando o agente prati- Perigo concreto diz que a mera prática do compor-
car, com o fim de transmitir a outrem moléstia grave tamento ilícito não é suficiente para a caracterização
de que está contaminado, ato capaz de transmitir o do crime, sendo imprescindível que, em face da con-
contágio. duta do agente, a vítima tenha a sua vida, a sua integri-
É necessário que o sujeito passivo, que pode ser dade corporal ou a sua saúde exposta a risco de lesão.
qualquer pessoa, não seja contaminado pela moléstia Perigo direto visa a pessoa ou pessoas determinadas.
grave que o sujeito ativo pretende transmitir. Perigo iminente está prestes a ocorrer. Se a possibili-
A moléstia grave, neste caso, não precisa, necessa- dade de ocorrência do perigo é futura ou presumida, não
riamente, ser transmitida por meio de relação sexual, estará caracterizada a infração penal do art. 132, do CP.
podendo ser transmitida por qualquer outro meio. Perigo anormal não decorre da atividade de profis-
Temos como exemplo o agente que, de qualquer sionais que trabalham com o risco, como o policial e
forma ou por qualquer meio, intencionalmente (exi- o bombeiro. Portanto, se o patrão não toma providên-
ge-se o dolo específico de transmitir a doença) trans- cias para a segurança e proteção dos operários que
mite à vítima a tuberculose (moléstia grave). trabalham na fábrica de explosivos, e dessa inação
Trata-se de norma penal em branco, complemen- resulta uma situação concreta de perigo, estará confi-
tada por meio dos atos praticados por órgãos adminis- gurado o crime do art. 132, do CP, na sua modalidade
258 trativos da área de saúde. omissiva.
Abandono de Incapaz O crime de exposição ou abandono de recém-nas-
cido configura-se quando o agente expõe ou abando-
O crime de abandono de incapaz configura-se na recém-nascido, para ocultar desonra própria.
quando o agente abandona pessoa que está sob seu Este crime será praticado na modalidade qualifica-
cuidado, guarda, vigilância ou autoridade, e, por qual- da se do fato resultar:
quer motivo, incapaz de defender-se dos riscos resul-
tantes do abandono. z Lesão corporal de natureza grave;
São formas qualificadas do crime de abandono de z Morte.
incapaz:
Este crime exige dolo específico, ou seja, um espe-
z Se do abandono resulta lesão corporal de natureza cial fim de agir, que consiste na prática da conduta
grave; para ocultar desonra própria.
z Se do abandono resulta a morte. Segundo a doutrina majoritária, é exigido que o
recém-nascido fique exposto à situação concreta de
“Incapaz” refere-se a qualquer pessoa que não perigo para que o crime se consume.
tenha condições de se proteger sozinha, podendo ficar Ainda, conforme doutrina majoritária, trata-se de
exposta, em razão do abandono, à situação de perigo. crime próprio, que somente poderá ser praticado pelo
Tenha como exemplo o pai que deixa o filho, de ape- pai ou pela mãe que buscam ocultar desonra própria.
nas dois anos de idade, sozinho em casa. Esta criança Ex.: Mãe que expõe ou abandona o filho recém-
não tem capacidade de se defender sozinha, configu- -nascido em uma lata de lixo para ocultar uma deson-
rando, assim, o tipo penal de abandono de incapaz. ra (sua infidelidade).
Para que o crime de abandono de incapaz seja qua- O crime será promovido mediante ação penal
lificado, é necessário que o resultado seja lesão corpo- pública incondicionada.
ral grave ou morte. Caso resulte apenas lesão corporal
de natureza leve — bastante explorado pelas bancas — Omissão de Socorro
o crime será configurado em sua modalidade simples.
Veja características do crime de abandono de Art. 135 Deixar de prestar assistência, quando pos-
incapaz: sível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abando-
nada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida,
z É crime próprio, já que se exige uma condição ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou
especial do agente: ser pessoa que tem o cuidado, não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade
guarda, vigilância ou autoridade sobre a vítima; pública:
z É crime formal, que não exige que ocorra qual- Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Parágrafo único. A pena é aumentada de metade,
quer coisa com o abandonado (vítima) para fins de
se da omissão resulta lesão corporal de natureza
consumação do crime.
grave, e triplicada, se resulta a morte.

A pena prevista para o crime de abando de incapaz é:


Não se aplica este tipo penal ao agente que cau-
sou o perigo. Assim, se um indivíduo, com a intenção
Art. 133 Abandonar pessoa que está sob seu cui-
de causar lesões corporais, arremessa uma pedra na
dado, guarda, vigilância ou autoridade, e, por
vítima e foge, não poderá ele ser responsabilizado por
qualquer motivo, incapaz de defender-se dos riscos
resultantes do abandono:
omissão de socorro por não ter prestado socorro à
Pena - detenção, de seis meses a três anos. vítima ou por não ter comunicado o fato à autoridade.
§ 1º Se do abandono resulta lesão corporal de natu- Fique atento às seguintes informações sobre a
reza grave: omissão de socorro:
Pena - reclusão, de um a cinco anos.
§ 2º Se resulta a morte: z Não admite tentativa (é crime omissivo próprio);
Pena - reclusão, de quatro a doze anos. z Não admite a modalidade culposa.

As penas cominadas neste artigo aumentam-se de Dica


um terço:
Fique bastante atento às causas de aumento de
z Se o abandono ocorre em lugar ermo; pena do crime de omissão de socorro.
z Se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge,
irmão, tutor ou curador da vítima; Em 2012, foi inserido no Código Penal um novo
NOÇÕES DE DIREITO

z Se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos. tipo penal, chamado de condicionamento de atendi-


mento médico-hospitalar emergencial, que se con-
Exposição ou Abandono de Recém Nascido figura quando o agente exigir cheque-caução, nota
promissória ou qualquer garantia, bem como o preen-
Art. 134 Expor ou abandonar recém-nascido, para chimento prévio de formulários administrativos,
ocultar desonra própria: como condição para o atendimento médico-hospitalar
Pena - detenção, de seis meses a dois anos. emergencial.
§ 1º Se do fato resulta lesão corporal de natureza Suponha que um indivíduo ingresse em um hos-
grave: pital necessitando de atendimento médico emergen-
Pena - detenção, de um a três anos. cial. O funcionário do hospital exige que ele deixe um
§ 2º Se resulta a morte: cheque-caução para que o atendimento médico seja
Pena - detenção, de dois a seis anos. realizado. Pronto, a situação configurou-se como tipo 259
penal de condicionamento de atendimento médico- É crime permanente, na modalidade privação de
-hospitalar emergencial. cuidados ou alimentos e sujeição a trabalho excessivo
É necessário que o atendimento médico seja emer- ou inadequado; o delito é permanente, hipótese em
gencial. Assim, este crime não ira se configurar caso que a consumação se prolonga no tempo, já que há
o atendimento médico seja algo rotineiro, com uma contínua e incessante agressão ao bem jurídico.
simples consulta, por exemplo. Também é crime instantâneo, na modalidade
O crime de omissão de socorro apresenta causas abuso de meios de correção ou disciplina o delito é
de aumento de pena. instantâneo, já que a consumação se dá em momento
A pena será aumentada até o dobro se da negativa determinado, sem continuidade no tempo. No entan-
de atendimento resulta lesão corporal grave. to, entendemos que se o pai, com o fim de aplicar
A pena será aumentada até o triplo se da negativa castigo ao filho, trancá-lo por tempo excessivamente
de atendimento resulta morte. prolongado, haverá crime permanente.
A tentativa somente será possível nas formas
Condicionamento de Atendimento Médico-Hospitalar comissivas, como no caso do agente que amarra a
Emergencial vítima e apanha um porrete, a fim de agredi-la, sendo
nesse exato momento surpreendido. As modalidades
Art. 135-A Exigir cheque-caução, nota promissória omissivas não aceitarão a forma tentada.
ou qualquer garantia, bem como o preenchimen- O crime é qualificado se resulta:
to prévio de formulários administrativos, como
condição para o atendimento médico-hospitalar
z Lesão corporal de natureza grave;
emergencial:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e
z Morte.
multa.
Parágrafo único. A pena é aumentada até o dobro Porém, aumenta-se a pena de um terço se o cri-
se da negativa de atendimento resulta lesão cor- me é praticado contra pessoa menor de 14 anos.
poral de natureza grave, e até o triplo se resulta a
morte. RIXA

O crime é próprio, pois somente poderá ser prati- Art. 137 Participar de rixa, salvo para separar os
cado por representantes ou funcionários hospitalares contendores:
(sócios, administradores, atendentes, seguranças) ou Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou
profissionais da área da saúde (médicos, enfermeiros) multa.
incumbidos do atendimento emergencial. Parágrafo único. Se ocorre morte ou lesão corporal
O sujeito ativo deve ser a pessoa com poderes para de natureza grave, aplica-se, pelo fato da partici-
exigir cheque-caução, nota promissória ou qualquer pação na rixa, a pena de detenção, de seis meses a
garantia, bem como o preenchimento prévio de for- dois anos.
mulários administrativos, como condição para o aten-
dimento médico-hospitalar emergencial. O crime irá ocorrer quando o agente participar de
Para esse crime, a pena cominada é detenção, de rixa, salvo para separar os contendores.
três meses a um ano, e multa. Estamos diante de crime de concurso necessário,
A pena é aumentada até: que só irá existir caso presentes no mínimo 3 (três)
pessoas, umas contra as outras. Caso seja possível
z O dobro, se da negativa de atendimento resulta definir dois grupos específicos (grupo A x grupo B),
lesão corporal de natureza grave; este tipo penal não irá existir.
z O triplo, se resulta a morte. Para que a rixa se configure, exige-se que haja no
mínimo três grupos distintos (independentemente da
Maus-tratos quantidade de pessoas que integre cada grupo) agre-
dindo-se mutuamente.
Art. 136 Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa No caso de ocorrer uma briga entre a torcida do
sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para fim Corinthians e a torcida do Palmeiras, não há que se
de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer falar no crime de rixa, já que temos 2 (dois) grupos
privando-a de alimentação ou cuidados indispen- bem definidos.
sáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou Aquele que participa da rixa, apenas com a finali-
inadequado, quer abusando de meios de correção dade de separar os contendores, não irá responder
ou disciplina: por este tipo penal.
Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa. O crime de rixa não admite a forma culposa.
§ 1º Se do fato resulta lesão corporal de natureza
Sobre este crime, é importante que você fique
grave:
atento aos posicionamentos da doutrina dominante:
Pena - reclusão, de um a quatro anos.
§ 2º Se resulta a morte:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos. z Não admite tentativa;
§ 3º Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é z Consuma-se quando se inicia a rixa ou, caso já ini-
praticado contra pessoa menor de 14 (catorze) ciada, quando o agente entra na rixa;
anos. z Pode ser praticado à distância, não se exigindo
que necessariamente ocorra contato físico. Ex.:
O crime de maus-tratos consuma-se com a efetiva Rixa em que os agentes jogam pedras, garrafas ou
exposição da vítima a perigo, que deverá ser demons- mesas uns nos outros.
trada no caso concreto. Não há, portanto, necessidade
260 de resultado material, com dano efetivo à vítima.
A rixa será qualificada quando ocorrer, devido O crime de calúnia não admite a modalidade cul-
à rixa, lesão corporal de natureza grave ou a morte. posa e, segundo doutrina majoritária, pode ser prati-
Segundo a doutrina majoritária, salvo no caso de ser cado, além do dolo direto, por dolo eventual.
possível se identificar corretamente o autor da lesão Não é exigido que o crime seja praticado na modali-
grave ou da morte, todos os agentes que participaram dade verbal, podendo ser praticado por outros meios,
da rixa irão responder pela modalidade qualificada, como, por exemplo, na modalidade escrita.
exceto, também, se tiverem ingressado na rixa após a Em regra, a calúnia é crime unissubsistente, que
ocorrência da lesão grave ou da morte. se perfaz com a prática de um único ato, não sendo
possível o fracionamento do seu iter criminis; entre-
CRIMES CONTRA A HONRA tanto, caberá tentativa quando for possível promover
este fracionamento, a exemplo de calúnia praticada
Os crimes contra a honra estão entre aqueles que por meio de uma carta.
mais são cobrados em provas de concurso público, Em se tratando de intenção de brincar (animus
então vamos aprendê-los passo a passo. ludendi) por parte do agente, não há que se falar no
Eles estão previstos entre os arts. 138 e 145 do Códi- crime de calúnia.
go Penal e dividem-se em 3 (três) crimes diferentes:
Art. 138 [...]
z Calúnia; § 1º Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a
z Difamação; imputação, a propala ou divulga.
z Injúria. § 2º É punível a calúnia contra os mortos.

Antes de analisarmos cada um dos tipos penais, é Pune-se a calúnia praticada contra os mortos (nes-
importante compreender que se protege a honra da te caso, o sujeito passivo será família do morto):
pessoa, na sua modalidade objetiva e subjetiva.
A honra é classificada em: z Segundo parte da doutrina, é possível que a calú-
nia seja praticada contra pessoa jurídica, se o
fato falsamente imputado for referente a crime
HONRA OBJETIVA (HONRA EXTERNA)
ambiental;
Conceito que o indivíduo possui perante seus pares em z Equipara-se à calúnia, incorrendo nas mesmas
relação aos seus atributos morais, éticos, físicos e in- penas, a conduta daquele que, sabendo falsa a
telectuais. Refere-se ao apreço e respeito da pessoa no imputação, a propala (espalha) ou divulga.
grupo social. É a reputação social da pessoa
O crime de calúnia consuma-se quando o fato che-
HONRA SUBJETIVA (HONRA INTERNA)
ga ao conhecimento de um terceiro, distinto do autor
Conceito que o indivíduo possui de sua própria digni- e da vítima, já que o crime tutela a honra objetiva.
dade e decoro; trata-se do autoconceito dos atributos A calúnia admite, como regra, a exceção da verda-
morais, éticos, físicos e intelectuais. Refere-se ao nos- de, que nada mais se trata de prova da verdade, que é
so amor-próprio e autoestima a possibilidade que tem o agente de demonstrar que
o fato que ele imputou realmente aconteceu. Porém,
HONRA ESPECIAL OU PROFISSIONAL
em algumas hipóteses não será admitida a exceção da
Referente a determinado grupo social ou profissional verdade.

Art. 138 [...]


Honra objetiva é aquilo que as pessoas (grupo § 3º Admite-se a prova da verdade, salvo:
social) pensam sobre o indivíduo. I - se, constituindo o fato imputado crime de ação
Honra subjetiva é aquilo que o indivíduo pensa privada, o ofendido não foi condenado por sentença
sobre si mesmo. irrecorrível;
II - se o fato é imputado a qualquer das pessoas
Calúnia indicadas no nº I do art. 141;
III - se do crime imputado, embora de ação pública,
Art. 138 Caluniar alguém, imputando-lhe falsa- o ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível.
mente fato definido como crime:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. Como regra, admite exceção da verdade, ou seja,
admite que o réu prove que a vítima realmente prati-
A calúnia, que protege a honra objetiva, está pre- cou o crime que lhe foi imputado.
NOÇÕES DE DIREITO

vista no art. 138 do Código Penal e se configura quando No entanto, nos casos de crime imputado, embora
o agente caluniar alguém, imputando-lhe falsamente de ação pública, em que o ofendido tenha sido absol-
fato definido como crime. vido por sentença irrecorrível, há uma presunção de
Exige-se que o fato imputado falsamente seja defi- que a imputação é falsa, respondendo o agente por
nido com um crime, não podendo ser uma mera con- ela.
travenção penal. O crime pode ter acontecido ou não, Mas se o réu conseguir provar que o fato que impu-
para fins de consumação deste tipo penal. tou à vítima é verdadeiro, ele será absolvido.
Ex.: Joãozinho diz que Pedrinho praticou um rou- É importante destacar que a calúnia é crime for-
bo à padaria da esquina de onde moram, sabendo mal, que se consuma com a prática da conduta, inde-
ser isso falso. Pronto, Joãozinho praticou o crime de pendentemente de o agente conseguir macular a
calúnia. honra objetiva da vítima. 261
Observe que o objeto jurídico protegido é a honra objetiva. Trata-se de crime formal e irá se configurar
objetiva, que consiste na reputação que a pessoa pos- ainda que a conduta não desonre objetivamente a
sui na sociedade. vítima.
Não há difamação praticada na modalidade cul-
posa. É possível a tentativa da difamação, quando for
Importante! possível fracionar o iter criminis, a exemplo da difa-
mação cometida por meio de carta.
Os crimes contra a honra dos Chefes dos Três A pessoa jurídica pode ser sujeito passivo do crime
Poderes, com exceção da injúria (Presidente da de difamação.
República, Presidente do Senado Federal, Presi- Na difamação, a exceção da verdade não pode ser
dente da Câmara dos Deputados e Presidente do aplicada, salvo se o ofendido é funcionário público e a
Supremo Tribunal Federal), em caso de motiva- ofensa é relativa ao exercício da função.
ção política, configurarão delito contra a Segu-
rança Nacional. � Exceção da Verdade

Art. 139 [...]


Excepcionalmente, é proibida a prova da verdade, Parágrafo único. A exceção da verdade somente se
em três hipóteses previstas no § 3º, art. 138. admite se o ofendido é funcionário público e a ofen-
Nessas três hipóteses do § 3º, art. 138, do CP, ainda sa é relativa ao exercício de suas funções.
que verdadeira a imputação, o crime de calúnia não
será excluído. Injúria
Observa-se a possibilidade de a calúnia incidir
sobre o fato verdadeiro nessas três hipóteses em que Art. 140 Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignida-
a lei proíbe a exceção da verdade. A primeira ocor- de ou o decoro:
re quando o fato imputado constituir delito de ação Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
privada e o ofendido não houver sido condenado por
sentença transitada em julgado. A vedação é justifi- A injúria, que tutela a honra subjetiva do agente,
cada pelo princípio da disponibilidade da ação penal está prevista no art. 140, do Código Penal, e configura-
privada, que pode ou não ser ajuizada, consoante à -se quando o agente injuriar alguém, ofendendo-lhe a
exclusiva vontade do ofendido ou de seu representan- dignidade ou o decoro.
te legal. Na injúria, o agente ofende a dignidade e o deco-
A segunda hipótese em que não se admite a exce- ro da vítima, emitindo ofensa depreciativa, mas sem
ção da verdade é quando a ofensa for irrogada contra imputar a ele fato definido como crime ou ofensivo
o presidente da República ou chefe de governo estran- a sua reputação. Exemplo: Fernando xinga Leandro,
chamando-o de burro e idiota.
geiro. Justifica-se a proibição pela alta relevância
A conduta de Fernando configura o crime de
política desempenhada pelo presidente da República,
injúria.
que não pode ficar à mercê de qualquer acusação. No
Na injúria, há lesão à honra subjetiva da vítima, ou
tocante ao chefe de governo estrangeiro, expressão seja, afeta-se o sentimento da pessoa em relação aos
que abrange o primeiro-ministro e o presidente, a seus próprios atributos morais (dignidade), físicos e
proibição encontra suas raízes na política de diploma- intelectuais (decoro). Não é necessário que o fato che-
cia que deve reinar nas relações internacionais. gue ao conhecimento de um terceiro.
A terceira hipótese de proibição da vedação dá-se A injúria também é crime formal, consumando-se
quando o ofendido tiver sido absolvido por senten- com a prática da conduta, independentemente de a
ça transitada em julgado do fato criminoso que lhe é vítima sentir lesada ou não a sua honra subjetiva.
imputado, respeitando a coisa julgada. A injúria só pode ser praticada dolosamente, não
sendo admitida a modalidade culposa. É admitida a
Difamação tentativa de injúria, quando o iter criminis puder ser
fracionado.
Art. 139 Difamar alguém, imputando-lhe fato ofen- Lembre-se de que a injúria, assim como os demais
sivo à sua reputação: crimes contra a honra, pode ser praticada por outros
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. meios e não somente de forma verbal.
A injúria não admite exceção da verdade.
A difamação configura-se quando o agente difamar Sendo assim, é importante levar em consideração
alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação. o seguinte:
Ex.: Suponha que Lili diga para um grupo de vizi-
nhos que Márcia, também vizinha, é garota de progra- EXCEÇÃO DA VERDADE
ma e atende aos clientes no período noturno em sua Calúnia É admitida como regra
residência.
A conduta praticada por Lili configura o crime de Difamação É admitida excepcionalmente
difamação. Injúria Não é admitida
Observe que o fato imputado não constitui um cri-
me, podendo, inclusive, constituir uma contravenção Na injúria, o juiz pode deixar de aplicar a pena nos
penal. Entretanto, caso constitua crime, será calúnia. seguintes casos:
A difamação irá ocorrer independentemente de
o fato imputado ser verdadeiro ou não. A difamação, Art. 140 [...]
assim como a calúnia, também se consuma quando o § 1º O juiz pode deixar de aplicar a pena:
fato chega ao conhecimento de um terceiro, distinto I - quando o ofendido, de forma reprovável, provo-
262 do autor e da vítima, já que também protege a honra cou diretamente a injúria;
II - no caso de retorsão imediata, que consista em IV - contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou
outra injúria. portadora de deficiência, exceto no caso de injúria.

A injúria real configura-se quando a injúria consis- Atenção ao que dispõe o inciso IV, art. 141, pois a
te em violência ou vias de fato, que, por sua natureza pena não irá aumentar de 1/3 no caso de injúria pra-
ou pelo meio empregado, se considerem aviltantes. ticada contra pessoa maior de 60 anos ou portadora
Assim, caso o agente desfira um tapa no rosto da víti- de deficiência.
ma, com a intenção de ofendê-la (humilhá-la), irá pra- A pena será aplicada em dobro se o crime contra a
ticar uma injúria real. honra for praticado:

Art. 140 [...] z Mediante paga ou promessa de recompensa.


§ 2º Se a injúria consiste em violência ou vias de
fato, que, por sua natureza ou pelo meio emprega-
Veja as hipóteses de exclusão dos crimes contra a
do, se considerem aviltantes:
honra:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa,
além da pena correspondente à violência.
Art. 142 Não constituem injúria ou difamação
punível:
É possível que a injúria seja racial, quando consis-
I - a ofensa irrogada em juízo, na discussão da cau-
tir na utilização de elementos referentes à raça, cor,
sa, pela parte ou por seu procurador;
etnia, religião, origem ou à condição de pessoa idosa
II - a opinião desfavorável da crítica literária, artís-
ou portadora de deficiência.
tica ou científica, salvo quando inequívoca a inten-
ção de injuriar ou difamar;
Art. 140 [...] III - o conceito desfavorável emitido por funcioná-
§ 3º Se a injúria consiste na utilização de elementos rio público, em apreciação ou informação que pres-
referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a te no cumprimento de dever do ofício.
condição de pessoa idosa ou portadora de deficiên- Parágrafo único. Nos casos dos ns. I e III, respon-
cia: (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003) de pela injúria ou pela difamação quem lhe dá
Pena - reclusão de um a três anos e multa. publicidade.

Você deve levar para sua prova os elementos que Para encerrarmos o assunto referente aos crimes
podem caracterizar a injuria racial, já que esse assun- contra a honra, iremos tratar da retratação e da ação
to tem grande incidência em provas. Sendo assim, penal. Segundo o Código Penal, a retratação, quando
caso o agente ofenda a vítima, fazendo uso de um dos admitida, constitui excludente de punibilidade.
elementos mencionados, a exemplo do agente que
chama a vítima de macaco (utilize como exemplo o Art. 143 O querelado que, antes da sentença, se
caso do ex-goleiro do Santos Futebol Clube, o Aranha, retrata cabalmente da calúnia ou da difamação,
que foi chamado de macaco), irá cometer o crime de fica isento de pena.
injúria racial. Parágrafo único. Nos casos em que o querelado
Fique atento para não confundir a injúria racial tenha praticado a calúnia ou a difamação utilizan-
com o crime de racismo. do-se de meios de comunicação, a retratação dar-
Na injúria racial, o animus do agente é ofender; -se-á, se assim desejar o ofendido, pelos mesmos
no racismo, o animus é segregar. meios em que se praticou a ofensa.
O STJ entendeu, na análise do AREsp (agravo em recur-
so especial), que a injúria racial é crime imprescritível. Retratação refere-se à possibilidade que tem o
Nos termos do § 2º, art. 138, do CP, é punível a calú- agente de retirar aquilo que disse, ou seja, de mani-
nia contra os mortos. festar que se equivocou em suas declarações, mani-
Observe-se que não há a mesma previsão para festando-se contrariamente ao que disse inicialmente.
difamação e injúria. A injúria não admite retratação. O querelado que,
Nos casos de difamação e injúria, o sujeito passivo antes da sentença (segundo doutrina majoritária: sen-
não é o morto, mas familiar seu. tença de 1º grau), retrata-se cabalmente da calúnia ou
da difamação, fica isento de pena.
Disposições Comuns Caso o querelado tenha praticado a calúnia ou
difamação fazendo uso de meios de comunicação, a
retratação se dará, caso assim deseje o ofendido, pelos
Vejamos as causas de aumento de pena aplicáveis
mesmos meios em que se praticou a ofensa.
aos crimes contra a honra em geral (calúnia, difama-
Suponha que o agente tenha praticado o crime
ção e injúria).
NOÇÕES DE DIREITO

de calúnia ou difamação pelo Facebook. Neste caso,


a retratação se dará também pelo Facebook, se assim
Art. 141 As penas cominadas neste Capítulo
aumentam-se de um terço, se qualquer dos crimes
desejar a vítima.
é cometido: Caso alguém faça uso de referências, alusões ou
I - contra o Presidente da República, ou contra chefe frases, sendo possível inferir calúnia, difamação ou
de governo estrangeiro; injúria, aquele que se julgar ofendido poderá pedir
II - contra funcionário público, em razão de suas explicações em juízo. Caso seja recusado o pedido de
funções; explicações ou, a critério da autoridade judicial, não
III - na presença de várias pessoas, ou por meio que foi dado de maneira satisfatória, responderá pela
facilite a divulgação da calúnia, da difamação ou ofensa.
da injúria.
263
Por fim, sobre a ação penal nos crimes contra a honra, é importante que você saiba:

AÇÃO PENAL NOS CRIMES CONTRA A HONRA


Regra Exceções
Ação será pública condicionada nos casos de:
� Injúria real
Ação será privada, procedendo-se mediante queixa � Injúria racial
� Se os crimes contra a honra foram praticados contra fun-
cionário público, em razão de suas funções

Súmula 714 do STF É concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa e do Ministério Público, condicio-
nada à representação do ofendido, para a ação penal por crime contra a honra de servidor público em razão do
exercício de suas funções.

Logo, atente-se a esta informação: nos casos de crimes contra a honra de funcionário público em razão de suas
funções, a ação penal será privada ou condicionada à representação do ofendido. A doutrina dominante também
entende desta forma.
A ação será pública condicionada à requisição do Ministro da Justiça caso a conduta que configura crime con-
tra a honra seja praticada contra o Presidente da República, ou contra chefe de governo estrangeiro.

CRIMES CONTRA A LIBERDADE PESSOAL E CRIMES CONTRA A LIBERDADE INDIVIDUAL

O caput do art. 5º, da Constituição Federal, assegura a todos o direito à liberdade. A partir dessa afirmação,
extrai-se que qualquer espécie de violação à liberdade do ser humano reclama punição.
O objeto jurídico é a liberdade do ser humano para agir dentro dos limites legais.
Já o objeto material é a pessoa sobre a qual recai a conduta criminosa.
Estudaremos, então, os crimes contra a liberdade individual.

Constrangimento Ilegal

Trata-se de crime comum que não admite a modalidade culposa. É a imposição ilegal à vítima de um compor-
tamento certo e determinado, comissivo ou omissivo.
Consuma-se o crime de constrangimento ilegal no instante em que a vítima faz ou deixa de fazer algo, em
decorrência da violência ou grave ameaça utilizada pelo agente. Admite tentativa.
Ação penal: pública incondicionada.
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, pois, trata-se de crime comum.
Se o sujeito ativo for funcionário público, e o fato for cometido no exercício de suas funções, responderá por
abuso de autoridade, na forma na Lei 13.869, de 2019.
O sujeito passivo pode ser qualquer pessoa, desde que dotada de capacidade de autodeterminação.
A Lei nº 10.741, de 2003, Estatuto do Idoso, em seu art. 107, pune com reclusão, de 2 a 5 anos, aquele que coage,
de qualquer modo, o idoso a doar, contratar, testar ou outorgar procuração.
A Lei nº 7.170, de 1983, Crimes contra a Segurança Nacional, no art. 28, sujeita à pena de reclusão, de 4 a 12 anos, a
conduta de atentar contra a liberdade pessoal do Presidente da República, do Senado Federal, da Câmara dos Deputa-
dos ou do Supremo Tribunal Federal.
A Lei nº 8.078, de 1990, Código de Defesa do Consumidor, no art. 71, prevê a pena de detenção, de 3 a 1 ano, e
multa, para quem utilizar, na cobrança de dívidas, de ameaça, coação, constrangimento físico ou moral, afirma-
ções falsas, incorretas ou enganosas, ou de qualquer outro procedimento que exponha o consumidor, injustifica-
damente, a ridículo ou interfira com seu trabalho, descanso ou lazer.
Irá se configurar como constrangimento ilegal quando o agente constranger alguém, mediante violência ou
grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer
o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda.
Exemplo: Jorge e Luís são vizinhos. Jorge é um valentão que se sente dono do bairro. Certo dia, Luís passava
pela rua, quando Jorge o aborda. Este, portando uma arma de fogo, saca a arma e a aponta para Luís e diz que, sob
pena de levar um tiro na cara, é para este dar meia volta e passar por outro lugar, já que não o quer mais passando
por sua rua. Luís, temendo por sua vida, dá meia volta e retorna.
A conduta de Jorge enquadra-se no constrangimento ilegal. Ele, fazendo uso de grave ameaça, constrangeu
Luís para que ele deixasse de fazer algo que a lei lhe permite (liberdade de locomoção).
A doutrina entende corretamente que o crime de constrangimento ilegal é subsidiário; o agente por ele irá res-
ponder, caso não seja enquadrado em uma outra conduta um tanto mais grave. Assim, caso o agente constranja
a vítima, por meio de violência, para que ela deixe de fazer alguma coisa, com o fim de obter para si vantagem
econômica, não irá cometer constrangimento ilegal, mas sim o crime de extorsão.
O constrangimento ilegal admite tentativa, já que é crime plurissubsistente, é crime comum, que pode ser
praticado por qualquer pessoa.
Além das penas previstas para o constrangimento ilegal, o agente irá responder pelas penas correspondentes à
violência; assim, caso o agente pratique o crime por meio de violência, provocando lesões corporais na vítima, res-
264 ponderá por constrangimento ilegal em concurso material com o crime de lesões corporais.
A pena será aplicada cumulativamente, nos termos Tício: se você não fizer pelo menos um gol na final do
do § 1º, art. 146, quando, para a execução do crime: campeonato, eu irei te matar.
O crime de ameaça se procede mediante ação
z Reúnem-se mais de 3 (três pessoas) — deve penal pública condicionada à representação.
haver no mínimo 4 (quatro) pessoas;
z Há emprego de arma — segundo a doutrina Perseguição
dominante, pode ser qualquer arma e não neces-
sariamente arma de fogo. Trata-se de um recente dispositivo, incluído pela
Lei nº 14.132, de 2021, que abrange o crime de perse-
Não serão enquadrados como constrangimento guição, conhecido por stalking.
ilegal: O crime pode ser praticado por qualquer meio, ou
Art. 146 [...] seja, é um crime de forma livre.
§ 3º Não se compreendem na disposição deste O sujeito, tanto passivo quanto ativo podem ser
artigo: qualquer pessoa. Trata-se de crime comum.
I - a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consen- O núcleo do tipo penal é o verbo “perseguir”, que
timento do paciente ou de seu representante legal, quer dizer: atormentar, importunar. É importante
se justificada por iminente perigo de vida; mencionar também a necessidade de reiteração da
II - a coação exercida para impedir suicídio. conduta, ou seja, uma sucessão de atos.

Ameaça Art. 147-A Perseguir alguém, reiteradamente e por


qualquer meio, ameaçando-lhe a integridade física
O crime de ameaça, previsto no art. 147, do Códi- ou psicológica, restringindo-lhe a capacidade de
locomoção ou, de qualquer forma, invadindo ou
go Penal, irá se configurar quando o agente ameaçar
perturbando sua esfera de liberdade ou privacidade.
alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e
outro meio simbólico, de lhe causar mal injusto e multa.
grave. § 1º A pena é aumentada de metade se o crime é
O bem jurídico tutelado pela lei penal é a liberda- cometido:
de da pessoa humana, notadamente no tocante à paz I - contra criança, adolescente ou idoso;
de espírito, ao sossego, à tranquilidade e ao sentimen- II - contra mulher por razões da condição de sexo
to de segurança. É a pessoa contra a qual se dirige a feminino, nos termos do § 2º-A do art. 121 deste
ameaça. Código;
Consuma-se quando a vítima toma conhecimento III - mediante concurso de 2 (duas) ou mais pessoas
do conteúdo da ameaça, pouco importando sua efe- ou com o emprego de arma.
tiva intimidação e a real intenção do autor em fazer § 2º As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuí-
valer sua promessa. zo das correspondentes à violência.
§ 3º Somente se procede mediante representação.
O crime é formal, de consumação antecipada ou de
resultado cortado. Basta o agente querer intimidar e
Violência Psicológica contra a Mulher
ter a sua ameaça capacidade para fazê-lo.
A tentativa é admissível nas hipóteses de ameaça
Outra importante inclusão realizada pela Lei nº
escrita, simbólica ou por gestos, e incompatível nos
14.188, de 2021, foi a tipificação do crime de violência
casos de ameaça verbal.
psicológica contra a mulher. Vejamos:
Não se reclama nenhuma finalidade específica, e
não se admite a modalidade culposa. A ação penal é
Art. 147-B Causar dano emocional à mulher que a
pública condicionada à representação.
prejudique e perturbe seu pleno desenvolvimento ou
É possível verificar que o crime de ameaça é de que vise a degradar ou a controlar suas ações, com-
ação livre, podendo ser praticado de qualquer forma portamentos, crenças e decisões, mediante ameaça,
pelo agente: verbalmente, por escrita, gestualmente, constrangimento, humilhação, manipulação, iso-
entre outras formas. lamento, chantagem, ridicularização, limitação do
Assim, caso um indivíduo olhe para um desafeto direito de ir e vir ou qualquer outro meio que cause
e faça o gesto de uma arma com a mão e aponte para prejuízo à sua saúde psicológica e autodeterminação:
este, o crime de ameaça poderá se configurar. Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e
É muito importante compreender que a ameaça multa, se a conduta não constitui crime mais grave.
está relacionada a um mal “injusto” e “grave”, con-
trário ao direito. Caso o agente ameace, por exemplo, Sequestro e Cárcere Privado
entrar na justiça para cobrar uma dívida (mal justo),
NOÇÕES DE DIREITO

ele não irá cometer o crime de ameaça previsto no art. Art. 148 Privar alguém de sua liberdade, mediante
147, do CPB. seqüestro ou cárcere privado:
Trata-se de crime comum, que pode ser praticado Pena - reclusão, de um a três anos.
por qualquer pessoa. § 1º A pena é de reclusão, de dois a cinco anos:
I - se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge ou
Em regra, não cabe tentativa, já que se trata de cri-
companheiro do agente ou maior de 60 (sessenta)
me unissubsistente, que se consuma com a prática de
anos;
um único ato; porém, a doutrina majoritária admite II - se o crime é praticado mediante internação da
a tentativa se a ameaça for praticada na modalidade vítima em casa de saúde ou hospital;
escrita — por meio de uma carta, por exemplo. III - se a privação da liberdade dura mais de quinze
A doutrina admite a ameaça condicionada, que dias.
ocorrerá quando o agente colocar uma condição para IV - se o crime é praticado contra menor de 18
a prática do mal injusto e grave. Exemplo: Mévio diz a (dezoito) anos; 265
V - se o crime é praticado com fins libidinosos. A maior gravidade da conduta repousa no fato de
§ 2º Se resulta à vítima, em razão de maus-tratos ter sido o crime praticado no âmbito das relações fami-
ou da natureza da detenção, grave sofrimento físico liares, no seio da união estável, ou ainda contra pessoa
ou moral idosa, mais frágil em razão da avançada idade, e, con-
Pena - reclusão, de dois a oito anos. sequentemente, com menor possibilidade de defesa.

Antes de iniciarmos o estudo deste crime, é impor- z Se o crime é praticado mediante internação da víti-
tante entender a diferença entre o sequestro e o cár- ma em casa de saúde ou hospital:
cere privado.
No sequestro, ocorre restrição de liberdade da Crime conhecido como internação fraudulenta;
vítima, mas ela não fica necessariamente mantida em pode ser praticado por médico ou por qualquer outra
recinto fechado. Já no cárcere privado, necessaria- pessoa.
mente a vítima terá sua liberdade restringida, sendo
mantida em recinto fechado. z Se a privação da liberdade dura mais de 15 (quin-
Os crimes de sequestro e cárcere privado configu- ze) dias (inciso III):
ram-se quando o agente privar alguém de sua liberda-
de, mediante sequestro ou cárcere privado. Quanto mais longa a supressão da liberdade, maio-
Quando falamos em cárcere privado, estamos pen- res são as possibilidades de a vítima sofrer danos físi-
sando em confinamento, clausura; já quando falamos cos e psíquicos.
em sequestro, estamos considerando limites espaciais Trata-se de crime a prazo. O período legalmente exi-
mais amplos. gido deve ser computado em conformidade com a regra
Ambos consistem na privação da liberdade da víti- traçada pelo art. 10, do CP, compreendendo o intervalo
ma, sem o seu consentimento, por tempo juridicamen- entre a consumação do delito e a libertação do ofendido.
te relevante. Podem ser cometidos mediante detenção
ou retenção. z Se o crime é praticado contra menor de dezoito
A tentativa é possível, tanto no sequestro como no anos:
cárcere privado.
O objeto jurídico é a liberdade de locomoção, con- Aplica-se às hipóteses em que a vítima é criança
sistente no direito de ir, vir e permanecer, de toda e ou adolescente e, nesse último caso, impede a utiliza-
qualquer pessoa humana. ção da agravante genérica prevista na alínea “h”, do
Tão relevante é esse direito que a Constituição inciso II, art. 61, do CP. Não se confunde com o crime
Federal (CF), de 1988 prevê o habeas corpus como tipificado no art. 230, da Lei nº 8.069, de 1990, Estatu-
garantia para zelar pelo seu respeito sempre que to da Criança e do Adolescente, que apresenta crime
alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violên- menos rigoroso.
cia ou coação em sua liberdade de locomoção, por ile-
galidade ou abuso de poder. z Se o crime é praticado com fins libidinosos:
O objeto material é a pessoa humana que suporta
a conduta criminosa. Esse inciso foi acrescido pela Lei nº 11.106, de
Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo. Se, toda- 2005, para suprir a lacuna surgida em razão da revo-
via, tratar-se de funcionário público no exercício das gação do crime de rapto, que cuidava somente da pri-
suas funções, estará caracterizado o crime de abuso vação da liberdade de mulher honesta. Atualmente,
de autoridade. a qualificadora consiste na privação da liberdade de
Qualquer pessoa pode ser sujeito passivo. Se a víti- uma pessoa, homem ou mulher, com fins sexuais. Tra-
ma for ascendente, descendente, cônjuge, ou compa- ta-se de crime formal, de resultado cortado ou de con-
nheiro do agente, ou pessoa com idade superior a 60 sumação antecipada — consuma-se com a privação
(sessenta) anos ou inferior a 18 (dezoito) anos, incide da liberdade, desde que o sujeito deseje praticar atos
a figura qualificada (incisos I e IV, § 1º, art. 148, do CP). libidinosos com a vítima, pouco importando se alcan-
Se a vítima for o Presidente da República, do Senado ça ou não o fim almejado. Se envolver-se sexualmen-
Federal, da Câmara dos Deputados ou do Supremo te com a vítima, responderá, em concurso material,
Tribunal Federal, estará caracterizado crime contra pelo delito em apreço e pelo respectivo crime contra a
a Segurança Nacional (art. 28, da Lei 7.170, de 1983). liberdade sexual, tal como o estupro.
O elemento subjetivo é o dolo, sem qualquer fina- O § 2º qualifica o crime se resultar à vítima, em
lidade específica. Não se admite a modalidade culpo- razão de maus-tratos ou da natureza da detenção,
sa. Se o propósito do agente for obter, para si ou para grave sofrimento físico ou moral. Estamos diante de
outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço crime qualificado pelo resultado. Os maus-tratos con-
do resgate, o crime será de extorsão mediante seques- sistem na conduta agressiva do agente que ofende a
tro (art. 159, do CP). Se o delito for cometido com fins moral, o corpo ou a saúde da vítima, sem produzir
libidinosos, incidirá a figura qualificada definida pelo lesão corporal. Se ocorrer lesão corporal ou morte,
inciso V, § 1º, art. 158, do CP. haverá concurso material entre o sequestro ou cárce-
O consentimento da vítima, se válido, exclui o cri- re privado, na forma simples, e o crime de lesão cor-
me. Este crime apresenta formas que o qualificam, poral ou homicídio.
vejamos quais são elas: Por fim, saiba que este crime é comum, podendo ser
Será qualificado o crime de sequestro e cárcere praticado por qualquer pessoa, e permanente (muito
privado (incisos I ao V, § 1º, art. 158, do CP): importante que você fique atento à Súmula 711 do STF
— A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado
z Se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge ou ou ao crime permanente se a sua vigência é anterior à
266 companheiro do agente ou maior de 60 (sessenta) anos: cessação da continuidade ou da permanência).
Ex.: determinado agente pratica vários crimes em continuidade delitiva. Os primeiros atos são praticados sob
a égide de uma lei anterior menos grave. Os últimos atos são praticados sob a vigência de uma lei posterior mais
gravosa. Aplica-se ao crime continuado ou crime permanente a sob cuja égide tenha cessado a continuidade, isto
é, a última lei, mesmo que seja mais grave.

Redução à Condição Análoga à de Escravo

Art. 149 Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada
exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua loco-
moção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto:
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena correspondente à violência.

A doutrina classifica-o como crime de ação múltipla.


O tipo penal apresenta duas hipóteses equiparadas, respondendo o agente com as mesmas penas do tipo penal
principal.
Incorrerá nas mesmas penas aquele que cerceia o uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalha-
dor, com o fim de retê-lo no local de trabalho, e aquele que mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou se
apodera de documentos ou objetos pessoais do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho.

Art. 149 [...]


§ 1º Nas mesmas penas incorre quem: (Incluído pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)
I - cerceia o uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho;
(Incluído pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)
II - mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou se apodera de documentos ou objetos pessoais do trabalha-
dor, com o fim de retê-lo no local de trabalho. (Incluído pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)
§ 2º A pena é aumentada de metade, se o crime é cometido: (Incluído pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)
I - contra criança ou adolescente; (Incluído pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)
II - por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou origem.

Observe o exemplo: Silvio, fazendeiro conhecido no interior de Goiás, coloca como jornada de trabalho para os
funcionários de sua fazenda a carga horária de 15 (quinze) horas diárias, pagando a eles um valor muito pequeno
como contraprestação. Silvio se recusa a fornecer transporte para os trabalhadores irem embora, já que, segundo
ele, eles o devem valores referentes à moradia fornecida pela fazenda, não dispondo eles de outra maneira de ir
para casa senão pelo transporte da fazenda. Silvio está cometendo o tipo penal que estamos estudando.
O crime de redução à condição análoga à de escravo não admite a modalidade culposa, podendo ser praticado
apenas dolosamente. É também crime permanente, portanto, sua conduta se prolonga no tempo.
Vejamos as causas de aumento de pena:

z Contra criança ou adolescente;


z Por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou origem.
Tráfico de Pessoas

Irá praticar o crime de tráfico de pessoas o agente que agenciar, aliciar, recrutar, transportar, transferir, com-
prar, alojar ou acolher pessoa, mediante grave ameaça, violência, coação, fraude ou abuso, com a finalidade de
remover-lhe órgãos, tecidos ou partes do corpo; submetê-la a trabalhos em condições análogas à de escravo; subme-
tê-la a qualquer tipo de servidão; adoção ilegal ou exploração sexual (incisos I ao V, art. 149-A, do CP).
O tipo penal de tráfico de pessoas é misto alternativo, podendo ser praticado mediante a execução de qualquer
um dos seus 8 (oito) verbos.
Importante levar em consideração que, para compreender este tipo penal, é importante conhecer os verbos, os
meios empregados para a prática do crime e as finalidades. Acompanhe a tabela a seguir:

VERBOS MEIOS EMPREGADOS FINALIDADES


Agenciar
Aliciar Remover órgãos, tecidos ou partes do corpo
Grave Ameaça
Recrutar Submeter a trabalhos em condições análogas à
Violência
Transportar de escravo
NOÇÕES DE DIREITO

Coação
Transferir Submeter a qualquer tipo de servidão
Fraude
Comprar Adotar ilegalmente
Abuso
Alojar Explorar sexualmente
Acolher

Vamos exemplificar:
O agente, aqui no Brasil, realiza recrutamento de mulheres, por meio de fraude, faz propaganda de que o obje-
tivo é selecionar modelos para uma determinada marca de produtos de beleza e que o trabalho será na Europa.
Porém, as vítimas recrutas seguem para a Europa e são submetidas à exploração sexual.
Veja que esse crime é comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. Não se exige, também, nenhuma
condição especial do sujeito passivo do crime. 267
Quando há algumas circunstâncias específicas do Importante!
agente ou da vítima e essas condições se encaixam Casa desabitada não se confunde com casa na
nas hipóteses da lei, a pena do crime de tráfico de pes- ausência de seus moradores, pois, nesse caso,
soas será aumentada de 1/3 (um terço) até a metade. é possível o crime de violação de domicílio, uma
Vejamos: vez que subsiste a proteção da tranquilidade
doméstica.
Art. 149-A [...]
§ 1° A pena é aumentada de um terço até a metade
se: Quanto ao objetivo material, é o domicílio invadi-
I - o crime for cometido por funcionário públi- do, que suporta a entrada ou permanência de alguém,
co no exercício de suas funções ou a pretexto de clandestina ou astuciosamente, ou contra a vontade
exercê-las; expressa ou tácita de quem de direito.
II - o crime for cometido contra criança, adolescen- Verifica-se que é necessário que a conduta seja
te ou pessoa idosa ou com deficiência; praticada clandestina ou astuciosamente, ou contra
III - o agente se prevalecer de relações de paren- a vontade expressa ou tácita de quem de direito. Se
tesco, domésticas, de coabitação, de hospitalidade, presente o consentimento do morador, explícito ou
de dependência econômica, de autoridade ou de
implícito, o fato é atípico.
superioridade hierárquica inerente ao exercício de
Entrar ou permanecer clandestinamente em casa
emprego, cargo ou função; ou
alheia ou em suas dependências significa fazê-lo de
IV - a vítima do tráfico de pessoas for retirada do
forma oculta, sem se deixar notar pela vítima. Por sua
território nacional.
vez, entrar ou permanecer astuciosamente consiste
em conduta fraudulenta, maliciosa.
Por fim, para encerrarmos o estudo dos crimes
Entrar ou permanecer em casa alheia ou em suas
contra a liberdade pessoal, é importante mencionar
dependências contra a vontade expressa ou tácita de
que o crime de tráfico de pessoas apresenta causa de
quem de direito enseja a entrada ou permanência
diminuição de pena, desde que o agente preencha os francas. Nesses casos, o dissentimento de quem de
2 (dois) requisitos, que são cumulativos. direito pode ser expresso ou tácito.
A pena é reduzida de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois ter- Sobre o sujeito ativo, o crime é comum, poden-
ços) se o agente: do ser praticado por qualquer pessoa, inclusive pelo
proprietário do bem, quando entra ou permanece na
z For primário; residência ocupada pelo inquilino contra sua vontade
z Não integrar organização criminosa. expressa ou tácita.
O Código Penal não protege a propriedade nem a
CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DO posse indireta do locador.
DOMICÍLIO O locatário, possuidor direto do imóvel, não é ofen-
dido em sua posse, e sim em sua tranquilidade domés-
Violação de Domicílio tica. A serviçal que permite o ingresso do amante em
seu quarto pratica o crime em concurso com ele.
Art. 150 Entrar ou permanecer, clandestina ou O divorciado pode cometer o crime ao entrar ou
astuciosamente, ou contra a vontade expressa ou permanecer na residência do seu ex-cônjuge contra
tácita de quem de direito, em casa alheia ou em sua vontade.
suas dependências: Não há crime quando uma mulher, na ausência
Pena - detenção, de um a três meses, ou multa. do seu marido, permite a entrada do amante em sua
§ 1º Se o crime é cometido durante a noite, ou em residência.
lugar ermo, ou com o emprego de violência ou de Vejamos, o sujeito passivo é o titular do direito à
arma, ou por duas ou mais pessoas: tranquilidade doméstica.
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, além da É o “quem de direito”, o sujeito que tem o poder de
pena correspondente à violência. admitir ou excluir alguém da sua casa, pouco impor-
tando seja ou não seu proprietário.
O agente que entrar ou permanecer, clandestina Pode ser:
ou astuciosamente, ou contra vontade expressa ou
tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas z Uma pessoa a quem os demais habitantes da casa
dependências, irá cometer o crime de violação de estão subordinados (regime de subordinação);
domicílio. z Diversas pessoas, habitantes da mesma residência,
O crime de violação de domicílio é crime de mera em relação isonômica (regime de igualdade).
conduta, já que a lei descreve a conduta, mas não
descreve resultado naturalístico; é, também, crime O elemento subjetivo desse crime é o dolo, abran-
comum, que pode ser praticado por qualquer pessoa. gente do elemento normativo “contra a vontade ex-
Tutela-se, nesse crime, a tranquilidade doméstica, pressa ou tácita de quem de direito”.
abrangente da intimidade, da segurança e da vida pri- O crime é incompatível com o dolo eventual.
vada proporcionadas pelo domicílio. Há atipicidade, por ausência de dolo, nas condutas
A incriminação da violação de domicílio não pro- de entrar em casa alheia para esconder-se da polícia
tege a posse ou a propriedade. ou quando o sujeito supõe ingressar em local diverso
Não configura o delito em análise o ingresso em do proibido (erro de tipo). Não se admite a modalida-
casa abandonada ou desabitada, podendo restar de culposa.
caracterizado o crime de esbulho possessório, pre- Crime de mera conduta ou de simples atividade.
visto no inciso II, § 1º, art. 161, do CP (crime contra o Consuma-se quando o sujeito ingressa completamen-
268 patrimônio). te na casa da vítima, ou então quando, ciente de que deve
sair do local, não o faz por tempo juridicamente relevan- O caput do art. 151, do CP, foi revogado pelo caput
te. É imprescindível a entrada concreta em casa alheia. do art. 40, da Lei 6.538, de 1978, que regula os serviços
Cabe tentativa? É possível na conduta “entrar” postais:
(crime comissivo), e incabível no núcleo “permane-
cer” (crime omissivo próprio ou puro). Art. 40 Devassar indevidamente o conteúdo de cor-
Este crime apresenta forma qualificada: respondência fechada dirigida a outrem:
Pena - detenção, até seis meses, ou pagamento não
z Durante a noite; excedente a vinte dias-multa.
z Em lugar ermo;
z Com o emprego de violência ou de arma; A lei penal, por objeto jurídico, tutela a liberdade
z Por 2 (duas) ou mais pessoas. de comunicação do pensamento, concretizada pelo
sigilo da correspondência.
Os patamares mínimo e máximo da pena do crime É a correspondência, objeto material, por exemplo
serão alterados (de 1 a 3 meses para 6 meses a 2 anos) carta, bilhete, telegrama etc., violada pela conduta
se praticado em uma das hipóteses previstas. criminosa.
Observe o que o Código Penal diz sobre a expres- A correspondência pode ser particular ou oficial,
são “casa”: pouco importando que esteja ou não redigida em
português. Exige-se, porém, que se trate de idioma
Art. 150 [...] conhecido, pois, na hipótese de ser veiculada por códi-
§ 4º A expressão “casa” compreende: gos incompreensíveis e indecifráveis, haverá crime
I - qualquer compartimento habitado; impossível por absoluta impropriedade do objeto (art.
II - aposento ocupado de habitação coletiva;
17, do CP).
III - compartimento não aberto ao público, onde
A lei penal protege a correspondência fechada,
alguém exerce profissão ou atividade.
pois somente esta contém em seu interior um segre-
do. É preciso que seja a correspondência endereçada
A expressão “casa” não compreende:
a destinatário específico.
Não há crime de violação de correspondência:
Art. 150 [...]
§ 5º Não se compreendem na expressão “casa”:
z Conduta do sujeito que lê uma carta cujo envelope
I - hospedaria, estalagem ou qualquer outra habita-
ção coletiva, enquanto aberta, salvo a restrição do está aberto;
n.º II do parágrafo anterior; z Correspondências cujos envelopes possuem a
II - taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero. expressão “este envelope pode ser aberto pela
Empresa de Correios e Telégrafos”;
Para encerrarmos o assunto violação de domicílio, z Aquele que abre uma carta que encontrou e estava
por fim, veremos os casos em que, mesmo com a vio- perdida há décadas em lugar público;
lação, o fato não irá constituir crime. z Alguém abre uma carta remetida ao povo, aos elei-
tores em geral, aos amantes do futebol etc;
Art. 150 [...] z Os pais que abrirem cartas estranhas endereçadas
§ 3º Não constitui crime a entrada ou permanência aos filhos menores;
em casa alheia ou em suas dependências: z Ao diretor do estabelecimento prisional é assegu-
I - durante o dia, com observância das formalidades rado o direito de acessar o conteúdo de correspon-
legais, para efetuar prisão ou outra diligência; dências suspeitas remetidas aos presos (inciso XV e
II - a qualquer hora do dia ou da noite, quando algum parágrafo único, art. 41, da Lei de Execução Penal);
crime está sendo ali praticado ou na iminência de o ser. z Quando um dos cônjuges abre correspondências
encaminhadas ao outro cônjuge, não há crime, em
Em concurso de crimes: A caracterização do delito face do exercício regular de direito.
reclama que tenha o agente, como finalidade própria,
ingressado ou permanecido em casa alheia, e nada Devassar significa tomar conhecimento de algo
mais do que isso. proibido. O sigilo da correspondência é inviolável, por
Quando assim atua como meio de execução de expressa disposição constitucional (inciso XII, art. 5º).
outro crime mais grave, a violação de domicílio fica A devassa pode ser efetuada por qualquer meio;
absorvida (princípio da consunção). embora seja o método mais comum, não é obrigató-
Subsiste o crime de violação de domicílio quando ria a abertura da correspondência — o sujeito pode
há dúvida acerca do verdadeiro propósito do agente conhecer o conteúdo de uma carta apalpando o objeto
e quando caracteriza desistência voluntária, pois o que está em seu interior, por exemplo, dinheiro, car-
agente só responde pelos atos praticados.
NOÇÕES DE DIREITO

tão bancário, objetos de valor.


Ação penal: pública incondicionada. Assim, também pode praticar o delito o agente
pode inteirar-se do seu conteúdo sem abri-la.
CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DE Para caracterização do crime não basta ao agente
CORRESPONDÊNCIA
devassar o conteúdo de correspondência fechada diri-
Violação de Correspondência gida a outrem. É preciso que o faça indevidamente, sem
ter o direito de tomar conhecimento do seu conteúdo.
Observe: O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, pois se
trata de crime comum.
Art. 151 Devassar indevidamente o conteúdo de Incidirá uma agravante genérica se o crime for
correspondência fechada, dirigida a outrem: cometido por pessoa prevalecendo-se do cargo, ou em
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. abuso da função. 269
É imprescindível que o sujeito pratique o fato em É preciso seja a correspondência endereçada a
decorrência do cargo ou função específica por ele destinatário específico.
desempenhada, relativa ao serviço postal. O crime previsto no § 1º, art. 40, da Lei 6.538, de
Detalhe: para ser sujeito passivo, observamos que 1978, é crime autônomo em relação ao caput. As penas
há duas vítimas o remetente e o destinatário. alternativas cominadas em abstrato são as mesmas do
Exclui-se o crime se qualquer um deles autorizar delito de violação de correspondência, mas o legisla-
o conhecimento do conteúdo da correspondência por dor utilizou outro núcleo e inseriu novas elementares.
terceira pessoa. Enquanto não chega ao destinatário, O objeto jurídico é a inviolabilidade da correspon-
pertence unicamente ao remetente. dência, no sentido de ser preservada pelo seu titular
Vejamos alguns pontos importantes: até quando reputar conveniente.
Tem como objetivo material a correspondência
z A impossibilidade de localização do destinatário alheia, mas agora retirada da esfera de disponibilida-
não afasta o crime; de do seu titular.
z O falecimento do remetente não exclui o delito; Pode, no entanto, estar aberta ou fechada, uma
z Se a correspondência ainda não foi enviada, e vez que a conduta consiste em apossar-se da corres-
sobreveio sua morte, seus herdeiros têm o direi- pondência para sonegá-la ou destruí-la, indevidamen-
to de conhecer seu conteúdo, pois ela agora lhes te, e não para tomar conhecimento ilegítimo do seu
pertence; conteúdo.
z Se o destinatário falece antes de receber a corres- A conduta consiste em apossar-se de correspon-
pondência, seus sucessores poderão conhecer seu dência alheia, ainda que aberta, para sonegá-la ou
conteúdo, que provavelmente a eles interessa. destruí-la, no todo ou em parte.
A modalidade desse crime é o dolo, abrangente da
O crime de violação de correspondência é dolo- ilegitimidade da conduta de apossar-se de correspon-
so, abrange a ilegitimidade da conduta de devassar a dência alheia, com a exigência da finalidade específi-
correspondência alheia. Não se admite a modalidade ca de sonegá-la ou destruí-la.
culposa. É possível a tentativa.
Se a finalidade do agente for praticar espionagem Causa de aumento da pena:
contrária à Segurança Nacional, serão aplicáveis o caput
Art. 151 [...]
do art. 13 e o art. 14, da Lei nº 7.170, de 1983, conforme
§ 2º As penas aumentam-se de metade, se há
o caso.
dano para outrem.
O crime de violação de correspondência consuma-se
com o conhecimento do conteúdo da correspondência.
O dano pode ser econômico ou moral, e o prejudi-
É possível a tentativa.
cado pode ser o remetente, o destinatário ou mesmo
Pena e causa de aumento de pena estão, respec-
um terceiro.
tivamente, cominadas e descritas na Lei nº 6.538, de
Por tratar-se de crime de dupla subjetividade passi-
1978.
va, o direito de representação pode ser exercido tanto
A pena cominada é detenção, de até seis meses, ou
pelo remetente como pelo destinatário da correspon-
pagamento não excedente a vinte dias-multa dência. Se um deles quiser representar, e o outro não,
O juiz pode aplicar a pena de 1 (um) dia a 6 (seis) prevalece a vontade daquele que deseja autorizar a
meses de detenção. instauração da persecução penal.
Por sua vez, a pena de multa parte do mínimo legal,
de 10 (dez) dias-multa, nos termos do caput do art. 49, Violação de Comunicação Telegráfica, Radioelétrica
do CP, e vai até o máximo de 20 (vinte) dias-multa. ou Telefônica
As penas são aumentadas da metade quando há
dano a outrem. Esse dano pode ser econômico ou Art. 151 [...]
moral, e o prejudicado pode ser o remetente, o desti- § 1º [...]
natário ou mesmo um terceiro. II - quem indevidamente divulga, transmite a
A ação penal é pública condicionada à representação. outrem ou utiliza abusivamente comunicação tele-
Tratando-se de crime de dupla subjetividade pas- gráfica ou radioelétrica dirigida a terceiro, ou con-
siva (remetente e destinatário); o direito de represen- versação telefônica entre outras pessoas;
tação pode ser exercido tanto pelo remetente como III - quem impede a comunicação ou a conversação
pelo destinatário da correspondência. Se um deles referidas no número anterior;
quiser representar, e o outro não, prevalece a vontade IV - quem instala ou utiliza estação ou aparelho
daquele que deseja autorizar a instauração da perse- radioelétrico, sem observância de disposição legal.
cução penal.
A primeira parte do inciso II, § 1º, art. 151, do CP,
Sonegação ou Destruição de Correspondência está em vigor unicamente nas hipóteses em que a vio-
lação é efetuada por pessoas comuns.
Observe: Aplica-se o § 1º, art. 56, da Lei nº 4.117, de 1962,
Código Brasileiro de Telecomunicações, nas hipóte-
Art. 151 [...] ses em que a violação é praticada por funcionário do
§ 1º Na mesma pena incorre: governo encarregado da transmissão da mensagem.
I - quem se apossa indevidamente de correspondên- A parte final do inciso II, § 1º, art. 151, do CP, foi
cia alheia, embora não fechada e, no todo ou em derrogada pela Lei nº 9.296, de 1996, que regulamenta
parte, a sonega ou destrói; a parte final do inciso XII, art. 5º, da CF, de 1988.
A Lei nº 9.296, de 1996, Interceptação Telefônica,
O inciso I, § 1º, art. 151, do Código Penal, foi revo- criou um tipo penal específico para a violação do sigi-
270 gado pelo § 1º, art. 40, da Lei nº 6.538, de 1978. lo telefônico no art. 10, dispondo que constitui crime
realizar interceptação de comunicações telefônicas, de As penas, em todas as hipóteses, aumentam-se de
informática ou telemática, promover escuta ambiental metade, se há dano para outrem.
ou quebrar segredo da Justiça, sem autorização judicial Esse dano pode ser econômico ou moral, e perti-
ou com objetivos não autorizados em lei. nente a qualquer pessoa.
O dispositivo continua aplicável ao terceiro que
não interveio na interceptação telefônica criminosa, Art. 151 [...]
mas divulgou-a a outras pessoas. § 3º Se o agente comete o crime, com abuso de fun-
ção em serviço postal, telegráfico, radioelétrico ou
Esse inciso II tem como núcleo divulgar, transmi-
telefônico:
tir e utilizar, tipo misto alternativo. A prática de mais
Pena - detenção, de um a três anos.
de uma conduta visando igual objeto material carac-
teriza crime único. Aplicável às hipóteses não revogadas pela Lei nº
Divulgar é tornar algo público, dando conheci- 4.117, de 1962, Código Brasileiro de Telecomunica-
mento do seu conteúdo a outras pessoas. ções, e pela Lei nº 6.538, de 1978, Serviços Postais.
Transmitir significa enviar de um local para outro. A incidência da figura qualificada só será cabível
Utilizar é fazer uso de algo. quando o sujeito ativo desempenhar alguma função
em serviço postal, telegráfico, radioelétrico ou telefô-
nico, e dela abusar.
Importante! Exige-se a relação de causalidade entre a fun-
ção exercida abusivamente pelo agente e o delito
Na hipótese de um terceiro concorrer de qual-
praticado.
quer modo para a interceptação telefônica ilegal, Quanto à qualificadora, a ação penal é pública
será partícipe do crime definido pelo art. 10, da incondicionada.
Lei 9.296, de 1996. Se tiver ciência de uma gra-
vação oriunda de violação telefônica indevida, e Correspondência Comercial
divulgá-la, a ele será imputado o crime definido
pelo inciso I, § 1º, art. 151, do CP. Art. 152 Abusar da condição de sócio ou emprega-
do de estabelecimento comercial ou industrial para,
no todo ou em parte, desviar, sonegar, subtrair ou
A modalidade do crime prevista no inciso III, § 3º, suprimir correspondência, ou revelar a estranho
art. 151, do CP, está em vigor. seu conteúdo:
A figura do inciso III é impedir, obstruir, a comu- Pena - detenção, de três meses a dois anos.
nicação ou conversação telegráfica, radioelétrica Parágrafo único. Somente se procede mediante
representação.
ou telefônica. Pune-se o indivíduo que, sem amparo
legal, não deixa ser realizada a comunicação ou con-
O objeto jurídico desse crime é a inviolabilidade
versação alheia.
de correspondência. A lei penal tutela a liberdade de
O inciso IV, § 1º, art. 151, do CP, foi substituído pelo
comunicação do pensamento transmitida por meio de
art. 70, da Lei nº 4.117, de 1962, Código Brasileiro de correspondência comercial.
Telecomunicações. O objeto material é a correspondência comercial
A finalidade da lei é vedar a uma pessoa, sem auto- que suporta a conduta criminosa. No conceito de cor-
rização legal, a instalação ou utilização de aparelho respondência comercial, encaixa-se toda e qualquer
clandestino de telecomunicações. carta, bilhete ou telegrama inerente à atividade mer-
Nesse crime, tem-se por objeto jurídico o sigilo da cantil. Deve relacionar-se às atividades exercidas pelo
comunicação transmitida pelo telégrafo, pelo rádio e estabelecimento comercial ou industrial.
pelo telefone. O núcleo do tipo é abusar, que significa utilizar de
O objeto material é a comunicação telegráfica ou forma excessiva ou inadequada.
radioelétrica dirigida a terceiro, ou a conversação Os sócios ou empregados, no exercício de suas
telefônica entre pessoas indevidamente divulgada, atividades, geralmente têm acesso a informações
transmitida a outrem ou utilizada abusivamente. contidas em correspondências endereçadas ao esta-
O crime é de modalidade dolosa. Quanto à utiliza- belecimento comercial ou industrial.
ção de comunicação telegráfica ou radioelétrica, exi- A conduta de abusar concretiza-se mediante o ato
ge-se que o sujeito cometa o fato abusivamente, isto de, no todo ou em parte, desviar, sonegar, subtrair ou
é, com a consciência de abusar quanto ao uso indevi- suprimir correspondência, ou revelar a estranho seu
do da mensagem. conteúdo. Pode ser exteriorizada por ação, por exem-
Sobre a consumação, observa-se que no tipo pre- plo, abrir uma carta, ou por omissão, por exemplo, dei-
xar uma correspondência ser destruída pela chuva.
NOÇÕES DE DIREITO

visto no inciso II ocorre com a divulgação, transmis-


Desviar é afastar a correspondência do seu real
são ou utilização abusiva. A divulgação necessita do
destino.
conhecimento do conteúdo da comunicação por um
Sonegar é esconder, no sentido de obstar a che-
número indeterminado de pessoas.
gada da correspondência ao correto estabelecimento
A ação penal na hipótese do inciso I é pública
comercial ou industrial.
incondicionada. Nas hipóteses dos incisos II e III, é Subtrair é apoderar-se da correspondência comer-
pública condicionada à representação. Já para o pre- cial, retirando do seu devido lugar ou impedindo seu
visto no inciso IV, é pública incondicionada. envio ao destino original.
Suprimir é destruir para que a correspondência
Art. 151 [...] não seja entregue em seu destino, ou para que seja
§ 2º As penas aumentam-se de metade, se há dano retirada do estabelecimento comercial ou industrial
para outrem. para o qual foi encaminhada. 271
Revelar é permitir o acesso ao conteúdo da corres- Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa, de
pondência do estabelecimento comercial ou indus- trezentos mil réis a dois contos de réis.
trial a quem seja alheio aos seus quadros ou não tenha § 1º Somente se procede mediante representação.
o direito de conhecer o que nela se contém.
Sobre o sujeito ativo, somente pode ser o sócio ou O objeto jurídico é a inviolabilidade da intimidade
empregado do estabelecimento comercial ou indus- ou da vida privada. Veda-se a divulgação de segredos
trial, por ser crime próprio. cujo conhecimento por terceiros pode trazer prejuízos
Já o sujeito passivo é o estabelecimento comercial ao seu titular.
ou industrial titular da correspondência violada. O objeto material é o conteúdo secreto de docu-
Esse crime é praticado na modalidade dolosa. Exi- mento particular ou de correspondência confidencial.
ge-se também um especial fim de agir, representa-
Vejamos que o núcleo do tipo é divulgar, vulgari-
do pela intenção de abusar da condição de sócio ou
zar, tornar público ou conhecido um fato ou informa-
empregado. É necessário ter o agente, ao tempo da
conduta, a consciência de que abusa da sua peculiar ção. Não basta a comunicação a uma só pessoa ou a
condição em relação à vítima. um número reduzido e limitado, exige-se propagação,
Não se admite a modalidade culposa. difusão, possibilitando o conhecimento do fato a um
O crime é formal, de consumação antecipada ou número indeterminado de pessoas.
de resultado cortado. Consuma-se quando o agente A conduta de divulgar pode ser praticada por
desvia, sonega, subtrai ou suprime a correspondên- variados meios — crime de forma livre. Veda-se que
cia comercial, ou então quando revela a terceiro seu uma pessoa, destinatária de um documento particular
conteúdo. ou de uma correspondência confidencial, possa divul-
É possível a tentativa. gá-la a terceiros, provocando danos a alguém.
A ação penal é pública condicionada à represen- Esse tipo penal não se aplica ao documento públi-
tação. co, por ausência de previsão legal. A revelação do seu
conteúdo pode, contudo, caracterizar o crime de vio-
CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DOS lação de sigilo funcional, previsto no art. 325, do CP.
SEGREDOS O elemento do tipo está contido na expressão sem
justa causa. Não é qualquer divulgação de conteúdo
Observamos que o inciso X, art. 5º, da CF, de 1988, de documento particular ou de correspondência con-
é responsável por assegurar a inviolabilidade de dois fidencial que caracteriza o delito de divulgação de
direitos fundamentais do ser humano: honra e vida
segredo — a divulgação deve ser realizada sem justa
privada.
causa.
Reserva-se a toda pessoa o direito de manter segre-
do acerca de fatos afetos à sua vida privada. Nessa A justa causa conduz à exclusão da tipicidade
seara, a norma constitucional resguarda os segredos do fato. Há justa causa, entre outras, nas seguintes
pessoais. hipóteses:
De fato, um segredo inerente a alguém, quando
divulgado ou revelado sem justa causa, tem o condão z Comunicação à autoridade policial, ao Ministério
de acarretar sérios danos às pessoas em geral. Público ou ao Poder Judiciário de infração penal;
Vejamos, o Código Penal, nos arts. 153 e 154, res- z Consentimento do interessado;
guarda o conhecimento público segredos cuja revela- z Para servir de prova da existência de uma infração
ção possa produzir danos a uma pessoa. penal ou de sua autoria;
Não ingressa na proteção penal, consequentemen- z Dever de testemunhar em juízo;
te, a punição pela revelação ou divulgação de fatos z Defesa de interesse legítimo.
secretos incapazes de proporcionar consequências
jurídicas ao seu titular. Também não há crime quando alguém entrega à
Secreto é o fato da vida privada que se tem interes- autoridade policial, ao Ministério Público ou à autori-
se em ocultar.
dade judiciária uma missiva recebida de outrem, con-
Pressupõe dois elementos:
tendo a confissão de um delito pelo verdadeiro autor.
Por se tratar de crime próprio, observa-se que
z Negativo: ausência de notoriedade;
z Positivo: vontade determinante de sua custódia o sujeito ativo somente pode ser o destinatário ou
ou preservação. detentor do documento particular ou correspondên-
z Crimes contra a inviolabilidade de correspondên- cia de conteúdo confidencial.
cia: o legislador busca coibir o conhecimento do Sujeito passivo é aquele a quem a divulgação do
conteúdo de uma missiva sem autorização para segredo possa produzir dano, remetente, destinatário
tanto; tutela-se unicamente a inviolabilidade de ou qualquer outra pessoa.
correspondência; Esse crime é praticado na modalidade dolosa.
z Crimes contra a inviolabilidade dos segredos: Não se admite a forma culposa.
protege-se um segredo nela contido, capaz de, se Consuma-se no instante em que o segredo é divul-
divulgado ou revelado, causar danos a outrem. gado para um número indeterminado de pessoas.
Além disso, o bem jurídico resguardado pela lei É possível a tentativa.
penal é a inviolabilidade dos segredos.
Art. 153 [...]
Divulgação de Segredo § 1º A Divulgar, sem justa causa, informações sigi-
losas ou reservadas, assim definidas em lei, conti-
Art. 153 Divulgar alguém, sem justa causa, conteú- das ou não nos sistemas de informações ou banco
do de documento particular ou de correspondência de dados da Administração Pública:
confidencial, de que é destinatário ou detentor, e Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e
272 cuja divulgação possa produzir dano a outrem: multa.
A qualificadora, denominada de divulgação de O núcleo do tipo é revelar, no sentido de delatar
sigilo funcional de sistemas de informações, foi ins- ou denunciar.
tituída pela Lei nº 9.983, de 2000, com o fim de tutelar O crime é de forma livre, comportando qualquer
as informações sigilosas ou reservadas de interesse meio de execução.
da Administração Pública, notadamente as relativas à Por ser crime próprio, somente pode ser cometido
Previdência Social. por quem teve conhecimento do segredo em razão de
É necessário que a informação sigilosa ou reserva- sua função, ministério, ofício ou profissão.
da tenha conteúdo material. Qualquer pessoa está suscetível a ser sujeito pas-
Logo, não há crime quando se tratar de informação sivo prejudicado pela revelação do segredo, seja seu
meramente verbal, ainda que sigilosa ou reservada. titular ou até mesmo um terceiro.
Esse crime é praticado na modalidade dolosa,
abrangente da ciência da ilegitimidade da conduta
Importante! e da possibilidade de causar dano a outrem. Não se
admite a modalidade culposa, e não se exige nenhu-
Informações são os dados sobre alguém ou ma finalidade específica.
algo. Consuma-se no instante em que o confidente neces-
Sigilosa é a informação confidencial, secreta. sário revela a terceira pessoa o segredo de que tem
Reservada é a informação merecedora de cuida- ciência em razão de função, ministério, ofício ou pro-
dos especiais relativamente às pessoas que dela fissão. Basta seja contado o conteúdo do segredo a uma
possam ter ciência. única pessoa, desde que esta conduta possa causar
dano a alguém, patrimonial ou moral. Prescinde-se da
produção do resultado naturalístico. O crime é formal,
Trata-se de crime comum: pode ser praticado por de resultado cortado ou de consumação antecipada.
qualquer pessoa. É admissível a tentativa na revelação do segredo
Se o sujeito ativo for funcionário público, a ele será por escrito, tal como na carta que se extravia (delito
imputado o crime de violação de sigilo funcional, con- plurissubsistente).
forme art. 325, do CP. É pública condicionada à representação, a teor do
O sujeito passivo é o Estado. parágrafo único, art. 154, do CP.
Nada impede a existência de um particular como
sujeito passivo, desde que possa ser prejudicado pela Invasão de Dispositivo Informático
divulgação das informações sigilosas ou reservadas.
Art. 154-A Invadir dispositivo informático alheio,
Art. 153 [...] conectado ou não à rede de computadores, median-
§ 2º Quando resultar prejuízo para a Administra- te violação indevida de mecanismo de segurança e
ção Pública, a ação penal será incondicionada. com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou
informações sem autorização expressa ou tácita do
No caput, a ação penal é pública condicionada à titular do dispositivo ou instalar vulnerabilidades
representação. para obter vantagem ilícita:
Não se aplica a regra prevista no § 2º, art. 153, do Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e
CP, pois o tipo fundamental fala somente em dano a multa.
outrem, excluindo, portanto, a eficácia penal da con-
duta criminosa em relação à Administração Pública. O objeto jurídico é a liberdade individual, especi-
Na figura qualificada, em regra, é pública condicio- ficamente no tocante à inviolabilidade dos segredos.
nada à representação. E o objeto material é o dispositivo informático alheio,
Nesse caso, somente o particular é ofendido pela conectado ou não à rede de computadores.
conduta criminosa. No entanto, se do fato resultar Os dispositivos informáticos dividem-se basica-
prejuízo para a Administração Pública, a ação penal mente em quatro grupos:
será pública incondicionada.
z Dispositivos de processamento: Responsáveis
Violação do Segredo Profissional pela análise de dados, com o fornecimento de
informações, visando a compreensão de uma
Acompanhe o que dispõe o art. 154: informação do dispositivo de entrada para envio
aos dispositivos de saída ou de armazenamen-
Art. 154 Revelar alguém, sem justa causa, segredo,
to. Exemplos: placas de vídeo e processadores de
de que tem ciência em razão de função, ministério, computadores e smartphones;
ofício ou profissão, e cuja revelação possa produzir z Dispositivos de entrada: Relacionam-se à capta-
NOÇÕES DE DIREITO

dano a outrem: ção de dados escritos, orais ou visuais (exemplos:


Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa teclados, microfones e webcam);
de um conto a dez contos de réis. z Dispositivos de saída: Fornecem uma interfa-
Parágrafo único. Somente se procede mediante ce destinada ao conhecimento ou captação, para
representação. outros dispositivos, da informação escrita, oral ou
visual produzida no processamento (exemplos:
O objeto jurídico é a inviolabilidade da intimidade impressoras e monitores);
e da vida privada das pessoas, relativamente ao segre- z Dispositivos de armazenamento: Dizem respeito
do profissional. O dever de guardá-lo, contudo, não é à guarda de dados ou informações para posterior
absoluto. análise (exemplos: pendrives, HDs — hard disks —
Já o objeto material é o assunto transmitido ao pro- e CDs — discos compactos). Só há crime quando
fissional em caráter sigiloso. a conduta recai em dispositivo informático alheio. 273
O fato será atípico quando o sujeito devassa um Evidentemente, não há crime se existia permissão
dispositivo próprio, ainda que não esteja sob sua pos- para tanto, como ocorre nos computadores instalados
se. É irrelevante se o dispositivo informático alheio se em escolas infantis, pelos quais os pais acompanham à
encontra ou não conectado à rede de computadores. distância as atividades desenvolvidas pelos seus filhos.
Não se exige sua interligação com outro disposi-
tivo informático, possibilitando o compartilhamento Art. 154-A [...]
de dados ou informações. O núcleo do tipo é invadir, § 4º Na hipótese do § 3º, aumenta-se a pena de um a
no sentido de devassar dispositivo informático alheio, dois terços se houver divulgação, comercialização
conectado ou não à rede de computadores. ou transmissão a terceiro, a qualquer título, dos
dados ou informações obtidos.
Por tratar-se de crime comum ou geral, o sujeito
ativo pode ser cometido por qualquer pessoa. Embora
Aplica-se unicamente à modalidade qualificada
esta condição não seja exigida pelo tipo penal, nor-
prevista no § 3º, art. 154-A. Nesse caso, o exaurimento
malmente o crime é praticado por sujeitos dotados de
justifica a maior severidade no tratamento penal. A
especiais conhecimentos de informática, conhecidos
divulgação, comercialização ou transmissão a tercei-
como crackers.
ro, embora normalmente envolva alguma contrapres-
O sujeito passivo pode ser qualquer pessoa, física
tação, pode ser gratuita, pois o legislador empregou a
ou jurídica.
expressão “a qualquer título”.
Esse crime é praticado na modalidade dolosa,
Aumenta-se a pena de um terço à metade se o cri-
acrescido de um especial fim de agir representado
me for praticado contra:
pela expressão e com o fim de obter, adulterar ou des-
truir dados ou informações sem autorização expressa
z Presidente da República, governadores e prefeitos;
ou tácita do titular do dispositivo ou instalar vulnera- z Presidente do Supremo Tribunal Federal;
bilidades para obter vantagem ilícita. z Presidente da Câmara dos Deputados, do Sena-
Consuma-se com o simples ato de invadir dispo- do Federal, de Assembleia Legislativa de Estado,
sitivo informático alheio, conectado ou não à rede da Câmara Legislativa do Distrito Federal ou de
de computadores, mediante violação indevida de Câmara Municipal;
mecanismo de segurança, com a finalidade de obter, z Dirigente máximo da administração direta e indi-
adulterar ou destruir dados ou informações sem auto- reta federal, estadual, municipal ou do Distrito
rização expressa ou tácita do titular do dispositivo ou Federal.
instalar vulnerabilidades para obter vantagem ilícita,
pouco importando se este objetivo vem a ser efetiva- z Ação Penal
mente alcançado.
É possível a tentativa, em face do caráter pluris- Art. 154-B Nos crimes definidos no art. 154-A,
subsistente do delito, permitindo o fracionamento do somente se procede mediante representação, sal-
iter criminis. vo se o crime é cometido contra a administração
pública direta ou indireta de qualquer dos Poderes
Art. 154-A [...] da União, Estados, Distrito Federal ou Municípios
§ 1º Na mesma pena incorre quem produz, oferece, ou contra empresas concessionárias de serviços
distribui, vende ou difunde dispositivo ou programa públicos.
de computador com o intuito de permitir a prática
da conduta definida no caput. No crime de invasão de dispositivo informático,
§ 2º Aumenta-se a pena de um sexto a um terço se em regra, a ação é pública condicionada à represen-
da invasão resulta prejuízo econômico. tação do ofendido ou de quem tiver qualidade para
representá-lo.
Cuida-se de causa de aumento da pena, a ser uti- Isso é justificado pela disponibilidade do interesse
lizada na terceira e última fase da aplicação da pena atacado pelo delito, vinculado precipuamente à esfera
privativa de liberdade. de intimidade da vítima.
Diversos fatores podem proporcionar o prejuízo Reserva-se ao ofendido ou ao seu representante
econômico: divulgação de informações capazes de a oportunidade (ou conveniência) para autorizar ou
macular a honra da vítima, tempo de trabalho neces- não o início da persecução penal.
sário para a reprodução dos dados ou informações Excepcionalmente, a ação penal será pública
destruídos ou adulterados, valores gastos para livrar incondicionada, nas hipóteses em que o delito envol-
o dispositivo informático de vírus etc. ver a Administração Pública, pois nesses casos há
Em qualquer dos casos, a elevação da pena será ofensa a valores de natureza indisponível.
obrigatória.
REFERÊNCIAS
Art. 154-A [...]
§ 3º Se da invasão resultar a obtenção de conteú- CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Vol. 1,
do de comunicações eletrônicas privadas, segredos 19ª ed. São Paulo: Saraiva, 2016.
comerciais ou industriais, informações sigilosas, CUNHA, Rogério Sanches. Pacote Anticrimes —
assim definidas em lei, ou o controle remoto não Lei 13.964/2019: Comentários às Alterações no CP,
autorizado do dispositivo invadido: CPP e LEP. Salvador: Juspodium, 2020.
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito penal
multa, se a conduta não constitui crime mais grave. esquematizado: parte especial. 6ª ed. São Paulo:
Saraiva, 2016.
A pena é de detenção, de 6 meses a 2 anos, e multa, JESUS, Damásio de. Código Penal Anotado. 22ª ed.
274 se a conduta não constitui crime mais grave. São Paulo: Saraiva, 2014.
MASSON, Cleber. Código Penal Comentado. 2ª ed. Para entendê-lo, dividiremos em duas partes:
São Paulo: Método, 2014.
z Subtrair (verbo) — consiste no ato de se apossar de
CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO propriedade de outra pessoa, seja para si ou para
outra pessoa. Por exemplo, o agente subtrai para
Furto si uma bicicleta que estava estacionada próximo
à lanchonete;
Art. 155 Subtrair, para si ou para outrem, coisa z Coisa alheia móvel — necessário que o objeto
alheia móvel: material do crime de furto seja coisa móvel e que
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. pertença a outra pessoa; caso seja coisa imóvel, ou
que pertença ao próprio autor, não configurará
O primeiro crime contra o patrimônio é o furto. furto. Por exemplo, o agente que, aproveitando a
Em síntese, o crime de furto é definido por ser a sub- distração da vítima, subtraia o aparelho celular.
tração de coisa alheia móvel para si ou para outrem.
Há o furto (art. 155, do CP) e o furto de coisa comum Não há emprego de violência nem grave ameaça
(art. 156). à pessoa, distinguindo-se, nesse aspecto, do delito de
Sobre o bem jurídico, não há consenso na doutri- roubo.
na, vejamos:
O furto tem as seguintes características:
z Somente a propriedade (Hungria);
z A propriedade e a posse (Nucci; Greco; Masson); z É crime comum, que pode ser praticado por qual-
z A propriedade, a posse e a detenção (Mirabete; quer pessoa;
Delmanto; Bitencourt). z É crime material, que exige a ocorrência do resul-
tado naturalístico para fins de consumação, ou
Subtrair significa retirar a coisa da posse da vítima, seja, o crime só ocorre quando o sujeito ativo sub-
passando-a ao poder do agente. Pode ocorrer por apo- trai a coisa móvel;
deramento direto, quando o agente apreende a coisa z O furto só se pratica dolosamente;
manualmente, ou por apoderamento indireto, na hipó- z Não admite a modalidade culposa;
tese de o agente utilizar-se de terceiros ou de animal. z É crime plurissubsistente, ou seja, a conduta do
agente para praticar o furto é fracionada em
z Coisa: refere-se a tudo aquilo que possui existên- diversos atos que somados consumam o delito;
cia de natureza corpórea; portanto, admite a tentativa quando o agente, por
z Coisa alheia: significa pertencente a outrem. motivos alheios a sua vontade, pratica alguns atos
e não ocorre a consumação do delito. Por exemplo,
A coisa sem dono não é objeto de furto. o agente, com animus de furtar objetos eletrôni-
Não configura o crime de furto (art. 155, do CP) a cos de uma casa, pula o muro para ingressar no
subtração de coisa própria, mesmo que em poder de interior da residência, mas o proprietário da casa
terceiro, embora possa caracterizar o delito descrito acorda e acende a luz, momento em que o agente
no art. 346, do CP, ou o crime de furto de coisa comum deixa de praticar os demais atos.
(art. 156, do CP).
Não há furto de coisa abandonada, pois não inte- A lei tutela a propriedade e a posse. A simples
gra o patrimônio de ninguém. detenção não configura o crime de furto.
Se houver o apoderamento de coisa perdida, pode- Sobre a consumação deste crime, é importan-
-se configurar o crime do inciso II, § único, art. 169, te conhecer o posicionamento adotado pelas cortes
do CP. superiores (STF e STJ).
Sobre o valor afetivo, para alguns autores (como Os tribunais superiores adotam a teoria da apprehen-
Damásio e Rogério Greco), coisa de valor afetivo ou sio, também chamada de amotio, que considera con-
sentimental também pode ser objeto material de furto. sumado o crime de furto (e isso vale para o crime de
Segundo Hungria, “a coisa subtraída deve represen- roubo) quando o agente se apossa da coisa alheia móvel,
tar para o dono, se não um valor reduzível a dinheiro, mesmo que por um breve período de tempo, não sen-
pelo menos uma utilidade (valor de uso), seja qual for, do necessário que a coisa saia da área de vigilância da
de modo que possa ser considerada como integrante vítima.
do seu patrimônio”. Um questionamento oportuno é verificar se o bem
Em sentido contrário, uma parcela da doutrina subtraído deve ter valor econômico, ou seja, se o obje-
(Nucci, por exemplo) sustenta que deve haver subtra- to material pode ser negociável.
NOÇÕES DE DIREITO

ção de coisa com valor patrimonial.


Em regra, o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, Vejamos os bens que integram o patrimônio:
exceto o proprietário.
Sujeito passivo à vítima do furto: o proprietário, o z Os bens corpóreos, com existência material, por
possuidor ou detentor da coisa legítima. exemplo, um veículo, e incorpóreos, com existên-
cia abstrata, por exemplo, um direito autoral, de
Furto Simples valor econômico;
z Os bens de valor afetivo ou sentimental, por exem-
O art. 155 do CP define o furto simples. plo, cartas e fotografias;
Configura-se quando o agente subtrai, para si ou z Os bens úteis à pessoa, embora destituídos de valor
para outrem, coisa alheia móvel. econômico ou sentimental. 275
Portanto, vimos que não se pode restringir o patri- z Cadáver: não pode ser objeto de furto, pois consti-
mônio às coisas de valor econômico. tui delito do art. 211, do CP, destruição, subtração
Além disso, o sujeito ativo do crime de furto pode ser ou ocultação de cadáver. Porém, se o cadáver tem
qualquer pessoa, pois, trata-se de crime comum ou geral. valor econômico, por exemplo, sendo pertencente
Há, ainda, exceções. Vejamos: à Faculdade de Medicina, haverá furto. Se houver
furto de algum objeto que foi sepultado junto ao
z Furto qualificado pelo abuso de confiança, previs- cadáver, por exemplo, arcada dentária de ouro, o
to no inciso II, § 4º, art. 155, por ser crime próprio, crime será furto, e a vítima será o herdeiro do de
o agente é aquela pessoa que a vítima confia, por cujus;
exemplo, o furto praticado por um empregado; z Energia elétrica: discutia-se se constituía ou não
z Quanto ao proprietário, caso subtraia a própria coi- coisa móvel. O legislador penal tipificou o furto de
sa que se encontra em poder de terceiro, não res- energia elétrica no § 3º, art. 155, do CP, equiparan-
ponderá por furto, mas sim pelo crime de exercício do-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer
arbitrário das próprias razões (arts. 345 ou 346, do outra que tenha valor econômico, por exemplo,
CP, conforme a pretensão seja legítima ou ilegítima); energia radioativa, energia cinética, energia atô-
z Quando a coisa pertencer a mais de uma pessoa, mica, energia genética etc. Porém, a energia deve
o condômino que a subtrair responderá pelo deli- ser suscetível de apossamento, ou seja, que possa
to de furto de coisa comum (art. 156, do CP). Por ser separada da coisa que a produz.
exemplo, um dos condôminos furta cadeiras da
área de uso comum do condomínio; Art. 155 [...]
z O funcionário público, que subtrai bem público, § 3º Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou
responderá por peculato-furto (§ 1º, art. 312, do qualquer outra que tenha valor econômico.
CP), desde que a função pública tenha facilitado a
subtração, pois, se em nada facilitou, o delito será z Alteração no sistema de medição de energia elétri-
de furto (art. 155, do CP); ca: de acordo com o entendimento do STJ, a alte-
ração no sistema de medição de energia elétrica,
„ Funcionário público que subtrai bem particu- mediante fraude, para que o resultado calculado
lar que se encontra sob a guarda ou custódia da no sistema seja menor do que o consumo real,
Administração Pública, desde que a função tenha configura o crime de estelionato, e não o crime de
facilitado a subtração, responderá por peculato- furto;
-furto. Por exemplo: policial rodoviário que sub- z Instalação clandestina de TV a cabo: há duas
trai veículo que estava apreendido no pátio do correntes:
posto de fiscalização da Polícia Rodoviária;
„ Funcionário público que subtrai bem particu- „ Primeira: trata-se de fato atípico, pois não há
lar que não estava sob a guarda ou custódia da propriamente a subtração de energia e, sim,
Administração Pública ou estava, mas a função o aproveitamento de um serviço. A energia se
em nada facilitou a subtração, responderá por consome ou se reduz com o uso e isso não ocor-
furto. Por exemplo: policial rodoviário que sub- re com a TV a cabo, cuja utilização não gera
trai um bem que se encontrava no porta-malas qualquer custo adicional para a operadora. É
de um veículo que ele foi vistoriar, mas que não um mero ilícito civil. Observe que o art. 35, da
estava apreendido, cometerá o crime de furto. Lei nº 8.977, de 1995, dispõe que é “ilícito penal
a interceptação ou a recepção não autorizada
O sujeito passivo é o titular do bem jurídico lesado dos sinais de TV a Cabo”, entretanto, não lhe
ou exposto a perigo de lesão. cominou qualquer pena, sendo vedada a sua
O titular do bem jurídico, apesar de divergên- imposição pela via da analogia;
cias na doutrina, prevalece sendo o proprietário e „ Segunda: dominante no STJ, considera que há
possuidor. crime de furto. Argumenta-se que o sinal de
O detentor é arrolado no processo como testemu- televisão se propaga por meio de ondas, o que
nha, e não como vítima. na definição técnica se enquadra como energia
radiante, que é uma forma de energia associa-
Vejamos os pontos mais questionados sobre o da à radiação eletromagnética.
crime de furto:
Furto Qualificado
z Coisas ilícitas: podem ser objeto de furto, por exem-
plo, responde por furto quem subtrai mercadoria O furto qualificado é aquele no qual as suas penas
contrabandeada e, neste caso, a vítima responderá são modificadas nos patamares mínimos e máximo,
pelo crime de contrabando. Por outro lado, as coi- aumentando consideravelmente.
sas ilícitas não podem ser objeto de furto se cons- Trata-se de qualificado por ter pena própria e não
tituírem elemento de outro crime, por exemplo, a mera causa de aumento de pena. Podemos exemplifi-
subtração de droga é crime do art. 33, da Lei nº car com o caso de o agente furtar objetos eletrônicos
11.343, de 2006; a subtração de arma de fogo é cri- de uma casa utilizado chave falsa para abrir o portão
me do art. 16, da Lei nº 10.826, de 2003; e a porta da casa.
z Algumas partes naturais do corpo humano: podem
ser objeto de furto se passíveis de figurarem numa O furto será qualificado nas seguintes hipóteses:
relação jurídica, por exemplo, subtração do cabelo
com o fim de obter lucro. Portanto, a subtração de Art. 155 [...]
um rim ou outro órgão vital não é furto, e sim lesão § 4º A pena é de reclusão de dois a oito anos, e mul-
276 corporal grave, ou homicídio consumado ou tentado; ta, se o crime é cometido:
I - com destruição ou rompimento de obstáculo à A mera remoção de obstáculo, quando destituída
subtração da coisa; da danificação, não qualifica o furto, por exemplo,
II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, desparafusar o farol do automóvel e desatar o nó da
escalada ou destreza; corda que prende a canoa.
III - com emprego de chave falsa;
IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas. z Com abuso de confiança, ou mediante fraude,
escalada ou destreza:
É importante ressaltar também as recentes altera-
ções legais. Atenção especial para o disposto no § 4º-B No abuso de confiança, o agente se vale da confian-
e § 4º-C, do art. 155, que foram incluídos pela Lei nº ça que o dono da coisa tem nele para poder subtrair,
14.155, de 2021. Vejamos: como, por exemplo, quando o agente é amigo do dono
da casa, que deixa sua carteira sobre a mesa e vai ao
Art. 155 [...] banheiro despreocupado, momento em que o agente,
§ 4º-A A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez)
aproveitando desta confiança, subtrai a carteira.
anos e multa, se houver emprego de explosivo ou de
O uso de fraude fica configurado quando o agente
artefato análogo que cause perigo comum.
usa de artifício para enganar a vítima, para subtrair
§ 4º-B A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito)
anos, e multa, se o furto mediante fraude é cometi- a coisa, a exemplo do agente que se passa por funcio-
do por meio de dispositivo eletrônico ou informáti- nário de empresa de telefonia para conseguir entrar
co, conectado ou não à rede de computadores, com numa casa e subtrair um aparelho celular que nela
ou sem a violação de mecanismo de segurança ou a estava.
utilização de programa malicioso, ou por qualquer
outro meio fraudulento análogo. Dica
§ 4º-C A pena prevista no § 4º-B deste artigo, consi-
derada a relevância do resultado gravoso: Não confunda o furto mediante fraude com o
I – aumenta-se de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), estelionato.
se o crime é praticado mediante a utilização de ser- No furto mediante fraude, o agente usa a fraude
vidor mantido fora do território nacional; sobre a vítima para subtrair a coisa.
II – aumenta-se de 1/3 (um terço) ao dobro, se o cri- No estelionato, o agente emprega a fraude para
me é praticado contra idoso ou vulnerável. ludibriar a vítima e fazer com que ela mesma
§ 5º A pena é de reclusão de três a oito anos, se a entregue a coisa.
subtração for de veículo automotor que venha a ser
transportado para outro Estado ou para o exterior.
No furto qualificado pela escalada, segundo o STJ, a
§ 6º A pena é de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos
se a subtração for de semovente domesticável de
entrada em um local se dá por um meio anormal, que
produção, ainda que abatido ou dividido em partes exige do agente esforço físico incomum. Para a dou-
no local da subtração. trina majoritária, não é relevante se ocorre por cima
§ 7º A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) ou por baixo, desde que o agente não pratique nenhu-
anos e multa, se a subtração for de substâncias ma forma de destruição ou rompimento de obstáculo,
explosivas ou de acessórios que, conjunta ou iso- quando aplicaremos outra qualificadora ao fato.
ladamente, possibilitem sua fabricação, montagem No furto qualificado pela destreza, o agente faz uso
ou emprego. de alguma habilidade especial. Segundo a doutrina, o
exemplo clássico é o batedor de carteira.
z Com destruição ou rompimento de obstáculo à Não há a qualificadora quando a vítima percebe a
subtração da coisa: subtração. Em tal situação, o agente responde por ten-
tativa de furto simples, ou furto simples consumado,
Destruir é desfazer, demolir, por exemplo, o agen- caso consiga arrebatar o objeto.
te destrói algo para subtrair a coisa, a exemplo daque-
le que arromba o portão de uma casa para entrar e z Com emprego de chave falsa:
subtrair uma televisão.
Romper é abrir brecha, arrombar, arrebentar, ser- No emprego de chave falsa, para subtrair a coisa, o
rar, forçar, rasgar etc. Por exemplo, o agente abre a agente faz uso de chave distinta da chave original ou obje-
porta da casa com um pé de cabra para entrar e sub- to capaz de abrir um cadeado ou fechadura, por exemplo,
trair uma televisão. gazuas, pedaço de arame, micha, clips etc. Anote-se que a
Nos dois casos, o delito deixa vestígios, sendo chave falsa pode ou não ter formato de chave.
imprescindível o exame de corpo delito. A jurisprudência não é unânime no caso de se a liga-
Em ambos há uma danificação, que é total no ver- ção direta do veículo caracteriza ou não chave falsa.
NOÇÕES DE DIREITO

bo “destruir”, sendo parcial no verbo “romper”. A abertura com a chave verdadeira, obtida ilicita-
O delito de dano é absorvido pelo furto qualificado, mente pelo agente, não caracteriza chave falsa.
por força do princípio da subsidiariedade implícita. A cópia da chave verdadeira, quando obtida licita-
A destruição e o rompimento devem ser praticados mente, não é chave falsa. Se, no entanto, for tirada clan-
contra obstáculo, e não sobre a própria coisa furtada, por destinamente, incide a qualificadora do crime de furto.
exemplo, o agente rompe a porta do veículo para subtraí-lo.
Obstáculo é aquilo que protege a coisa para difi- z Mediante concurso de 2 (duas) ou mais pessoas:
cultar a sua subtração, por exemplo, matar o cão de
guarda da residência, destruir as telhas para adentrar O reconhecimento da qualificadora depende de
na residência, ou mesmo cortar os fios do alarme do pelo menos duas pessoas.
automóvel ou da cerca eletrificada. Computam-se os inimputáveis (menores e doentes
mentais) e os desconhecidos. 277
Detalhe, se o comparsa é menor de dezoito anos, o debate travado acerca da adequação típica, que dividia
agente responderá por furto qualificado em concurso as opiniões entre o furto qualificado pela destruição ou
material com o delito de corrupção de menores, pre- rompimento de obstáculo (inciso I, § 4º, art. 155, do CP)
visto no art. 244-B do ECA, desde que haja prova da e a explosão com intuito de obter vantagem pecuniária
efetiva corrupção do menor. (§ 2º, art. 251, do CP). O enquadramento do § 4º-A, art.
Sobre a presença no local do crime, basta a simples 155, do CP, absorve delitos de explosão e de dano, pois
participação, independentemente da presença na fase já funciona como causa de aumento de pena, aplican-
da execução. do-se o princípio da subsidiariedade tácita.
A absolvição do coautor nem sempre exclui a qua-
lificadora. De fato, havendo prova da pluralidade de z Furto de veículo automotor que venha a ser trans-
agentes, a qualificadora deve ser reconhecida. portado para outro Estado ou para o exterior:
No delito de roubo, o concurso de pessoas gera
aumento de pena de um terço até metade. No furto, A pena será de reclusão de 3 (três) a 8 (oito) anos
a pena dobra. se a subtração for de veículo automotor que venha a
Há doutrina que sustenta a violação do princípio ser transportado para outro Estado ou para o exterior.
da proporcionalidade da pena, porque o roubo é mais Não basta, porém, para a incidência da qualifica-
grave, de modo que o furto qualificado pelo concurso dora, o furto de veículo automotor, pois ainda se exige
de pessoas deveria sofrer apenas o aumento de um o efetivo transporte para outro Estado ou exterior.
terço até metade. Veículo automotor engloba, por exemplo, carros,
O STJ editou a Súmula 442: “É inadmissível aplicar motos, lanchas, aviões etc.
no furto qualificado pelo concurso de agentes a majo- Não é necessário que o transporte para outro Esta-
rante do roubo”. do ou exterior seja realizado pelo próprio agente.
Basta que o agente saiba da intenção de eventual
z Furto Qualificado pelo Emprego de Explosivo receptador transportar o veículo para outro Estado ou
exterior.
O § 4º-A, art. 155, do CP, foi introduzido por meio Quem realiza o transporte após a consumação do
da Lei nº 13.654, de 2018, e dispõe que: “A pena é de furto responde pelo crime de receptação. Por conse-
reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se hou- quência, o agente que é contratado para realizar o
ver emprego de explosivo ou de artefato análogo que transporte responde pelo furto, se o contrato for ante-
cause perigo comum”. rior à subtração, e por receptação, se só foi contratado
É o único furto que é crime hediondo (inciso IX, após a consumação.
art. 1º, da Lei 8072, de 1990, com redação dada pelo Consuma-se o transporte quando o veículo trans-
inciso IX, art. 1º, da Lei). põe os limites das fronteiras do Estado ou do país, com
O meio utilizado, explosivo ou artefato análogo, intuito de ali permanecer.
torna o fato mais grave, justificando-se o rigor da A mera condução do veículo para outro Estado ou
reprimenda penal, em razão da provocação de perigo exterior, com o intuito de retornar ao local de origem,
coletivo. é insuficiente para a caracterização da qualificadora.
Meio explosivo é o que causa estrondo, por exem- Admite-se a tentativa quando o agente realiza a
plos, dinamite, pólvora. subtração e é preso em flagrante, próximo à trans-
Importante destacar que o tipo penal, ao contrário posição da fronteira, antes de obter a posse pacífica.
do art. 251, do CP, não se refere à substância explosiva, Sabemos que a jurisprudência considera o furto con-
mas, sim, a meio explosivo. O meio explosivo utiliza- sumado como o simples apossamento do bem, inde-
do para explodir caixas eletrônicos de agências ban- pendentemente da posse pacífica. Porém, a tentativa
cárias para subtrair o dinheiro é um típico exemplo tornou-se impossível, pois, com o início da remoção do
do § 4º-A, art. 155, do CP. Já no crime do art. 251, do CP, bem, o furto já se consuma nas modalidades anterio-
podemos trazer a hipótese de o agente que lança um res, ainda que o agente seja preso próximo à fronteira.
artefato explosivo num ponto de ônibus e que expõe
as pessoas a risco. z Furto de semovente domesticável (animais,
O meio ou artefato explosivo, a que se refere a qua- como: bovinos, suínos, equinos) de produção, ain-
lificadora em análise, abrange qualquer explosão, seja da que abatido ou dividido em partes no local de
ela oriunda de substância explosiva ou não explosiva, subtração:
mas o assunto certamente enseja polêmica.
Sobre o artefato explosivo, trata-se de qualquer A pena será de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos,
objeto confeccionado por trabalho mecânico ou à mão, se a subtração for de semovente domesticável (animais,
por exemplo, as denominadas “bombas caseiras”. como: bovinos, suínos, equinos) de produção, ainda que
Para a incidência da qualificadora, é preciso abatido ou dividido em partes no local de subtração.
que seja um explosivo ou artefato que cause perigo O bem jurídico primário é o patrimônio do produ-
comum, ou seja, que coloque em risco um número tor e, o secundário é a saúde pública. Isso porque o
indeterminado de pessoas ou de patrimônios. animal poderá ser comercializado pelo criminoso sem
O agente que se utiliza de um explosivo com poten- que haja fiscalização do poder público, principalmen-
cial para causar perigo comum que, entretanto, mes- te sanitária. Pode-se incluir o sistema tributário na
mo diante da explosão, não se concretiza, responderá, condição de patrimônio lesado.
em caso de destruição ou rompimento de obstáculo, Na prática, dificilmente esta qualificadora será apli-
pelo furto qualificado do inciso I, § 4º, art. 155, do CP, e cada, pois este tipo de delito geralmente é praticado por
não pela qualificadora em análise, prevista no § 4º-A. mais de uma pessoa e, diante disso, incidirá a qualifica-
O explosivo geralmente é utilizado em furtos de dora do inciso IV, § 4º, art. 155, do CP, que é mais grave.
caixas eletrônicos de bancos, sendo que, diante do Com efeito, presentes uma das qualificadoras do §
278 advento desta nova qualificadora, encerra-se o antigo 4º, exclui-se a incidência da qualificadora em apreço,
pois sua pena é mais branda, podendo funcionar, nes- autorização ou em desacordo com determinação legal
se caso, como circunstância judicial do art. 59, do CP, ou regulamentar.
servindo de parâmetro apenas para dosagem da pena- Esse delito será absorvido pelo crime do§ 7º, art.
-base. Entretanto, existe outra corrente mais favorável 155, do CP, pois já funciona como qualificadora.
ao réu que, com base no princípio da especialidade, A pena será de reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez)
afasta a qualificadora do § 4º quando se tratar de anos, se a subtração for de substâncias explosivas ou
semovente domesticável de produção, impondo-se, de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibi-
nesse caso, a qualificadora específica do § 6º, conside- litem sua fabricação, montagem ou emprego.
rando-a novatio legis in melius.
O objeto material é o animal domesticável de pro- Furto Majorado
dução, ainda que abatido ou dividido em partes no
local da subtração. O furto será majorado quando a ele for aplicada a cau-
Trata-se de um tipo penal aberto, porquanto a defi- sa de aumento de pena prevista no § 1º, art. 155, do CP.
nição desse elemento normativo é complementada pelo
juiz. Art. 155 [...]
Para a incidência da qualificadora, é necessário que § 1º A pena aumenta-se de um terço, se o crime é
o agente subtraia o animal por inteiro ou na sua essên- praticado durante o repouso noturno.
cia. O tipo penal refere-se à subtração de semovente e,
não, de partes dele, de modo que, quando o animal já Sobre o repouso noturno, considere que, segundo
estava abatido ou dividido em partes, a incidência da o STJ (jurisprudência atual), a causa de aumento de
qualificadora estará condicionada à subtração do todo pena se aplica ao furto simples e ao furto qualificado.
ou das partes substanciais. Na hipótese de o agente dei- O furto majorado ocorre, por exemplo, quando o
xar no local apenas as patas do boi e subtrair o restan- agente, aproveitando-se do repouso noturno, entra
te, persiste a qualificadora. Não teria cabimento, por numa casa para furtar os eletroportáteis.
exemplo, qualificar o delito pelo furto de uma picanha Há discussão sobre a necessidade de a casa estar
extraída de um animal já abatido. Também não incide habitada e os moradores repousando, para que incida
a qualificadora quando o próprio agente abate o ani-
o aumento de um terço.
mal, subtraindo-lhe apenas uma de suas partes.
Duas teorias tratam da discussão:
Observa-se que, ao tempo da conduta, é necessário
que o animal ainda pertença ao produtor, posto que o
z Teoria subjetiva: a razão de ser do aumento da pena
intuito da lei foi protegê-lo.
é a maior proteção à tranquilidade dos que repou-
A subtração, por exemplo, de um porco que se
sam, bem como à incolumidade da vítima, que se
encontra no açougue não qualifica o delito.
encontra dormindo e desprotegida. Neste caso,
Não há que se falar, também, no delito em estudo
restringe o aumento da pena ao furto cometido em
quando se subtrai o leite da vaca ou outro bem produzi-
do pelo animal, porquanto o tipo penal se refere à sub- casa habitada com os moradores repousando;
tração do semovente e, não, dos bens que ele produz. z Teoria objetiva: o fundamento do aumento da pena
Nessas hipóteses, o furto será simples. é a proteção do patrimônio, que, nesse período,
encontra-se vulnerável à subtração. A finalidade
z A subtração for de substâncias explosivas ou de da lei visa proteger primordialmente o patrimô-
acessórios que, conjunta ou isoladamente, possi- nio, e depois, a tranquilidade.
bilitem sua fabricação, montagem ou emprego:
As duas teorias são aceitas, mas devemos com-
O objeto material consiste em substâncias explosi- preender que incide o aumento de um terço não só
vas ou acessórios que possibilitem a fabricação, mon- em furtos de residência, mas também em bancos, joa-
tagem ou emprego de substância explosiva. lherias, casas comerciais, bem como de automóveis
O que é substância explosiva? Substância explosi- estacionados na rua, de gado (abigeato).
va é a que causa estrondo, dissolvendo-se com a arre- Aplica-se a regra do repouso noturno mesmo que o
bentação, por exemplo, pólvora ou dinamite. local seja área comercial ou local desabitado.
Quanto aos acessórios, são os elementos que, em
conjunto ou isoladamente, são capazes de se transfor- Furto Privilegiado
mar quimicamente numa substância explosiva; aqui
podemos exemplificar com o estopim, a espoleta e o Art. 155 [...]
cordel detonante. São estes acessórios que possibili- § 2º Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor
tam a fabricação, montagem ou emprego da substân- a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de
cia explosiva. reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois
NOÇÕES DE DIREITO

A fabricação é a produção ou confecção. terços, ou aplicar somente a pena de multa.


Montagem é a junção dos componentes.
Emprego é a utilização. Está previsto no § 2º, art. 155, do CP. Ocorre, por
O tipo penal não se refere aos maquinários e exemplo, no caso de agente primário que subtraiu
outros objetos que também são utilizados para fabri- uma pequena bolsa vazia de uma loja, cujo valor é
car, montar ou utilizar os explosivos, mas tão somen- inferior ao salário mínimo.
te aos acessórios que compõem a própria substância
explosiva. São características do furto privilegiado:
É bom lembrar que configura crime, nos termos
do inciso III, do § único, art. 16, da Lei nº 10.846/2003, z Réu primário;
Estatuto do Desarmamento, possuir, deter, fabricar z Coisa furtada de pequeno valor — Segundo a juris-
ou empregar artefato explosivo ou incendiário, sem prudência, até 1 (um) salário mínimo. 279
No caso do furto privilegiado, o juiz poderá ado- § 1º Somente se procede mediante representação.
tar uma das seguintes medidas: § 2º Não é punível a subtração de coisa comum
fungível, cujo valor não excede a quota a que tem
z Substituir a pena de reclusão pela de detenção; direito o agente.
z Diminuir a pena de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois
terços); Acabamos de dizer que é necessário que a coisa
z Aplicar somente a pena de multa. seja alheia no crime de furto. Entretanto, agora esta-
mos diante de um crime específico, o furto de coisa
Segundo o STJ, é possível o reconhecer privilé-
comum.
gio para o furto simples ou para o furto qualificado;
entretanto, neste caso, as qualificadoras têm que ser O furto de coisa comum irá se configurar quando
de natureza objetiva (emprego de chave falsa, por o agente for condômino, coerdeiro ou sócio, e sub-
exemplo). trair, para si ou para outrem, a quem legitimamente a
detém, coisa comum.
Súmula 511 do STJ: É possível o reconhecimento do Temos aqui um crime próprio, que somente pode-
privilégio previsto no § 2º do art. 155 o CP nos casos rá ser praticado pelo condômino, coerdeiro ou sócio.
de crime de furto qualificado, se estiverem presen- É crime de ação penal pública condicionada à
tes a primariedade do agente, o pequeno valor da
representação.
coisa e a qualificadora for de ordem objetiva.
O Código Penal é expresso ao fixar que, se a coisa
O termo “pequeno valor da coisa” é entendido, comum for fungível (substituível por outra da mesma
pela jurisprudência, como o valor que não excede ao espécie, a exemplo do dinheiro), não será punível a
valor do salário mínimo. É necessário o auto de ava- sua subtração caso o valor não exceda a quota a que
liação. É claro que o referencial do salário mínimo tem direito o agente.
não é tão rígido, admitindo-se o privilégio quando a Suponha que Alessandro, Fabrício e Diego
coisa excede modicamente esse valor. sejam sócios. A sociedade é avaliada no valor de R$
Considera-se “ordem subjetiva” a hipótese de furto 150.000,00 (cento e cinquenta mil reais). As partes na
qualificado por abuso de confiança. Deve-se identifi-
sociedade são iguais.
car a confiança da vítima para com o agente. Por isso,
não se trata de furto privilegiado. Assim, caso Alessandro subtraia R$ 50.000,00 (cin-
A regra é que as qualificadoras do crime de fur- quenta mil), não cometerá crime, já que o valor sub-
to são objetivas, por exemplo, emprego de chave traído não é superior à sua quota.
falsa. Nesta regra, há compatibilidade com o furto
qualificado. Dica

Furto de Uso O furto de coisa comum não é tão cobrado em


provas de concursos públicos. Porém, quando
Esta conduta não exige a intenção de se apoderar, cobrado, tentam misturar suas características
para si ou para outra pessoa, da coisa alheia móvel com as características do furto tradicional.
que foi subtraída. � Furto: coisa alheia, crime comum e ação penal
O furto de uso é fato atípico, tal instituto não se
incondicionada;
aplica ao crime de roubo.
Por exemplo, se o agente subtrai a coisa com a � Furto de coisa comum: coisa comum, crime
intenção de usar e devolver depois, não cometerá o próprio e ação penal condicionada.
crime de furto.
Na hipótese de o indivíduo subtrair uma bicicleta, Outras Hipóteses
devolvendo-a após dar uma volta no quarteirão, não
se configura crime de furto. Não há furto na hipótese de o credor subtrair bens
do devedor para ressarcir-se, pois se trata de um cri-
O reconhecimento do furto de uso necessita da me específico, previsto no art. 345, do CP, exercício
presença de dois requisitos:
arbitrário das próprias razões. Vejamos: “A” deve uma
quantia em dinheiro para “B”. “B”, cansado de cobrar o
� Uso momentâneo de coisa infungível, ou seja, o
uso duradouro constitui crime de furto. Tratando- valor da dívida, subtrai a bicicleta de “A” para quitá-la.
-se de coisa fungível, como o dinheiro, nem o uso O furto famélico é aquele em que o agente bus-
momentâneo seguido da pronta restituição exclui ca saciar a fome, não é estado de necessidade, salvo
o delito; se a subtração for o único meio de se alimentar. Por
� Restituição imediata e integral da coisa. Nesta exemplo, a mãe, diante da necessidade de alimentar o
hipótese, o ladrão, para beneficiar-se do furto de filho, subtrai uma maçã de uma barraca de feira para
uso, deve deixar a coisa no mesmo lugar de onde a alimentá-lo.
subtraiu ou nas proximidades. O furto em estado de precisão, aquele em que o
agente está desempregado e subtrai alimentos, ele-
Furto de Coisa Comum
trodomésticos etc. constitui crime. Por exemplo, o pai,
estando desempregado e sem condições de manter o
Art. 156 Subtrair o condômino, co-herdeiro ou
sócio, para si ou para outrem, a quem legitimamen- sustento da família, subtrai alimentos e eletroportá-
te a detém, a coisa comum: teis de um hipermercado para suprir o sustento do lar.
280 Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
ROUBO E EXTORSÃO Irá praticar o crime de roubo o agente que subtrair
coisa móvel alheia, para si ou para outrem, median-
Roubo te grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de
havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilida-
O roubo é a subtração de, por exemplo, um reló- de de resistência.
gio alheio, para si ou para outrem, mediante violência Também irá praticar o crime de roubo o agente
contra pessoa. que, logo depois de subtraída a coisa, emprega violên-
O roubo pode ser simples, majorado ou qualifica- cia contra pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar
do. Veremos sobre esses assuntos mais adiante! a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si
O roubo é delito pluriofensivo, isto é, ofende mais ou para terceiro.
de um bem jurídico.
A incriminação do roubo visa a tutela do patri- Vamos falar das características do crime de
mônio, integridade fisiopsíquica, a saúde e a roubo:
tranquilidade.
Na forma qualificada como latrocínio, tutela-se z É crime comum, já que pode ser praticado por
também a vida. qualquer pessoa;
Sobre o sujeito ativo, trata-se de crime comum, z É crime complexo, já que atinge mais de um bem
podendo ser praticado por qualquer pessoa. jurídico penalmente relevante (há mais de um cri-
Nada obsta que um dos criminosos execute a vio- me configurando o tipo penal do crime de roubo):
lência para que o seu comparsa subtraia a coisa. Nesta furto (+) ameaça ou violência;
hipótese, ambos serão coautores de roubo.
z Não admite a modalidade culposa;
E, quanto ao sujeito passivo, pode ser tanto a pes-
z É crime material, que exige a ocorrência do resul-
soa que sofre a violência física, moral e imprópria,
tado para fins de consumação;
quanto aquela que sofre a lesão patrimonial.
z Para consumação, adota-se, assim como no furto, a
O agente que, no mesmo contexto, aborda diversas
teoria da apprehensio, ou amotio.
vítimas, subtraindo bens de todas elas, por exemplo, um
assalto no interior do ônibus, responde por tanto roubos
quanto forem as vítimas, em concurso formal de delitos. Há duas definições em que devemos ter atenção:
No crime de roubo, a conduta do agente recai arrebatamento de inopino e trombada.
sobre a pessoa e coisa alheia móvel. No arrebatamento, que é o ato de arrancar com
O objeto material é duplo: pessoa e coisa. violência a coisa que está em poder da vítima ou no
corpo dela, temos por exemplo o ato de puxar o colar
O roubo, previsto no art. 157, do CP, é dividido do pescoço da vítima.
em 3 (três) espécies: A doutrina se divide. Alguns defendem a tese de
que a arrebatamento caracteriza violência contra coi-
z Roubo próprio: antes ou durante a subtração da sa, constituindo o delito de furto. Por outro lado, há
coisa móvel, o agente emprega violência ou grave quem defenda que se trata de violência contra pessoa,
ameaça; configurando crime de roubo, teoria mais aceita.
z Roubo impróprio: o agente subtrai a coisa móvel, A trombada contra a vítima tem suas divergências
em seguida, a fim de assegurar a impunidade do na jurisprudência.
crime ou a detenção da coisa para si ou para ter- Há quem afirma que se trata de furto, exceto quan-
ceiro, emprega violência contra pessoa ou grave do reduzir a vítima à impossibilidade de resistência,
ameaça; quando então configurará roubo.
z Roubo com violência imprópria: o agente subtrai Outra parte defende que sempre se enquadrará na
coisa móvel alheia, depois de havê-la, por qualquer hipótese de roubo, visto que o ato tem violência física.
meio, reduzido à impossibilidade de resistência. Aqui, no caso de trombada, a maioria entende que
Exemplo 1: Tício, fazendo uso de arma de fogo para se trata de furto.
intimidar a vítima, anuncia um assalto e subtrai a
mochila de Mévio — temos aqui o roubo próprio. Roubo Majorado
Exemplo 2: Tício subtrai uma garrafa de vinho
caro em um supermercado. Ao sair, verifica que O roubo majorado ocorre, por exemplo, quando o
o segurança está vindo em sua direção. Neste agente, sabendo que a vítima está prestando serviço
momento, Tício, para poder fugir com a garrafa de de transporte de valores, subtrai, mediante violência,
vinho, desfere um soco no rosto do segurança, que os malotes que a vítima portava.
cai — temos aqui o roubo impróprio. Vejamos as causas de aumento de pena aplicáveis
Exemplo 3: Tício conhece Mévia em uma festa. ao crime de roubo.
Os dois vão para a casa dela. Ele coloca sonífero
NOÇÕES DE DIREITO

na bebida dela, que entra em sono profundo, em Art. 157 [...]


seguida, o agente subtrai todos o dinheiro existen- § 2º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até
te na carteira de Mévia — temos aqui o roubo com metade:
violência imprópria. I – (revogado);
II - se há o concurso de duas ou mais pessoas;
Roubo Simples III - se a vítima está em serviço de transporte de
valores e o agente conhece tal circunstância.
Art. 157 Subtrair coisa móvel alheia, para si ou IV - se a subtração for de veículo automotor que
para outrem, mediante grave ameaça ou violência venha a ser transportado para outro Estado ou
a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, para o exterior;
reduzido à impossibilidade de resistência: V - se o agente mantém a vítima em seu poder, res-
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa. tringindo sua liberdade. 281
VI – se a subtração for de substâncias explosivas ou z Fabricação é a produção ou confecção;
de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possi- z Montagem é a junção dos componentes;
bilitem sua fabricação, montagem ou emprego. z Emprego é a utilização.
VII - se a violência ou grave ameaça é exercida com
emprego de arma branca;
A última causa de aumento de pena é a violên-
cia ou grave ameaça exercida com emprego de arma
Vejamos cada uma das majorantes:
branca. Arma branca é a que não é arma de fogo.
Abrange as armas impróprias, que são os instru-
A primeira majorante, concurso de
mentos que servem para ataque ou defesa, embora
duas ou mais pessoas, justifica-se
pela maior organização do delito, não seja esta a sua finalidade, como a tesoura, faca de
aumentando a possibilidade de con- cozinha, pedaço de pau, caco de vidro etc., bem como
PRIMEIRA sumação à medida em que diminui a as armas próprias que não sejam de fogo, que são os
MAJORANTE chance de defesa da vítima instrumentos cuja finalidade específica é o ataque
Os menores de 18 anos, os doentes ou defesa, como o punhal, a espada, o soco inglês e
mentais e os desconhecidos, parti- outros.
cipantes da conduta criminosa, tam- Mas, há correntes que consideram arma branca as
bém são computados
armas próprias, ou seja, o instrumento que tem a fina-
A segunda causa de aumento ocorre lidade específica de ataque ou defesa.
quando a vítima está em serviço de A majoração da pena consiste no uso efetivo ou
transporte de valores e o agente co- exibição ostensiva da arma branca.
nhece tal circunstância Atente-se:
SEGUNDA
Objetiva-se tutelar a segurança do Em relação à causa de aumento de pena referente
MAJORANTE
transporte
ao concurso de duas ou mais pessoas, entende o STJ,
“Valores” abrange dinheiro, joias pre-
ciosas e qualquer outro bem passível em se tratando de hipótese de associação criminosa,
de ser convertido em pecúnia que os agentes respondem pelo roubo com aumento
de pena e pelo crime de associação criminosa, em con-
A terceira majorante consiste na curso material.
subtração de veículo automotor que
O roubo praticado com restrição da liberdade
venha a ser transportado para outro
é aquele em que o agente mantém a vítima em seu
Estado ou Exterior
A expressão “veículo automotor” poder, restringindo a sua liberdade. Por exemplo,
abrange, do mesmo modo que estu- imagine que Tiago, portando uma faca, anuncie um
damos no crime de furto: aeronaves, assalto para subtrair o veículo de Diego. O autor sub-
automóveis, motocicletas, lanchas trai o veículo, coloca a vítima no porta-malas e o leva
TERCEIRA
Para a incidência do aumento da por 10 quilômetros, liberando-o em seguida.
MAJORANTE
pena, é necessário que o veículo seja No exemplo apresentado, será aplicada a causa de
efetivamente transportado para ou- aumento de pena a Tiago, já que ele restringiu a liber-
tro Estado ou Exterior. Isso porque
dade de Diego, vítima do roubo.
o transporte diminui a possibilidade
de recuperação do bem, facilitando
ainda a adulteração e negociação do Art. 157 [...]
veículo, envolvendo, muitas vezes, ter- § 2º-A A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços):
ceiros de boa-fé I - se a violência ou ameaça é exercida com emprego
de arma de fogo;
A quarta majorante ocorre quando o II - se há destruição ou rompimento de obstáculo
QUARTA agente mantém a vítima em seu poder, mediante o emprego de explosivo ou de artefato
MAJORANTE restringindo a sua liberdade. Viola-se análogo que cause perigo comum.
a liberdade pessoal de locomoção

A quinta majorante acontece se a Se a violência ou grave ameaça é exercida com


subtração for de substâncias explosi- emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido,
QUINTA
vas ou de acessórios que, conjunta ou aplica-se em dobro a pena.
MAJORANTE
isoladamente, possibilitem sua fabri- Pena prevista: reclusão de quatro a dez anos, e
cação, montagem ou emprego multa. Aplica-se a pena e multiplica por dois.

z Substância explosiva é a que causa estrondo, dis- Art. 157 [...]


solvendo-se com a arrebentação, por exemplo, pól- § 2º-B Se a violência ou grave ameaça é exercida
vora ou dinamite; com emprego de arma de fogo de uso restrito ou
z Quanto aos acessórios, são os elementos que, em proibido, aplica-se em dobro a pena prevista no
conjunto ou isoladamente, são capazes de se trans- caput deste artigo.
formar quimicamente numa substância explosiva;
aqui podemos exemplificar o estopim, a espoleta e Aqui estamos diante de três majorantes do roubo
o cordel detonante. São estes acessórios que pos- com emprego de arma de fogo.
sibilitam a fabricação, montagem ou emprego da
282 substância explosiva;
São elas: z Quem praticou o crime de roubo com arma de fogo
de uso restrito ou proibido depois da Lei nº 13.654,
É aquela cujo porte é passível de 2018, e antes do pacote anticrime terá a incidên-
de obtenção. Neste caso, a cia da majorante de 2/3;
ARMA DE FOGO DE pena é aumentada de 2/3 (dois z Quem praticou o crime de roubo com arma de fogo
USO PERMITIDO terços), por força do inciso I, de uso restrito ou proibido depois do pacote anti-
§ 2º-A, art. 157, do CP, introdu- crime terá pena em dobro.
zido pela Lei nº 13.654, de 2018
Vamos estudar agora o roubo majorado pela des-
É aquela cujo porte é restrito a truição ou rompimento de obstáculo com emprego de
determinadas pessoas. Neste explosivo.
ARMA DE FOGO DE caso, a pena é dobrada, nos ter- Observa-se que a qualificadora do §4-A, do crime
USO RESTRITO mos do § 2º-B, art. 157, do CP, de furto, tem incidência ainda que não haja destruição
introduzido pela Lei nº 13.964, ou rompimento de obstáculo, bastando o emprego de
de 2019 explosivo ou de artefato que cause perigo comum, ao
passo que, no roubo, a majorante em análise depen-
É aquela cujo porte é vedado.
de, além do explosivo ou artefato que cause perigo
A pena também é dobrada,
ARMA DE FOGO DE comum, que haja ainda destruição ou rompimento de
nos termos do § 2º-B, art. 157,
USO PROIBIDO obstáculo.
do CP, introduzido pela Lei nº
13.964, de 2019
Roubo Qualificado

Justifica-se a majorante em razão da maior poten- Art. 157 [...]


cialidade lesiva do fato, que cria risco de morte à vítima. § 3º Se da violência resulta:
O porte velado, oculto, não majora a pena do rou- I – lesão corporal grave, a pena é de reclusão de 7
bo, porque a lei exige o emprego da arma, consisten- (sete) a 18 (dezoito) anos, e multa;
te no uso efetivo ou porte ostensivo. Assim, só incide II – morte, a pena é de reclusão de 20 (vinte) a 30
a majorante quando a violência ou grave ameaça é (trinta) anos, e multa.
exercida com emprego de arma de fogo.
Observe que o roubo majorado absorve o delito de O roubo será qualificado pelo resultado em duas
arma de fogo, previsto na legislação especial, que já hipóteses:
funciona como causa de aumento de pena.
Quanto à arma de brinquedo, não funciona como z Lesão corporal grave;
causa de aumento de pena, pois não se trata de arma z Morte — latrocínio.
de fogo, mas é suficiente para servir de meio de execu-
ção de um roubo simples. A doutrina majoritária entende que a lesão cor-
Quanto à arma descarregada, também não majora poral grave e a morte não precisam ser praticadas
a pena do roubo, falta-lhe potencialidade ofensiva e, intencionalmente pelo agente, ou seja, é possível que
portanto, não se trata de arma, respondendo o agente o roubo seja qualificado pelo resultado, mesmo se o
por roubo simples. resultado tiver sido provocado pelo agente culposa-
Já a arma não apreendida, compete ao agente mente, quando ele faz uso de violência.
exibi-la em juízo para que seja periciada, sob pena Iniciaremos o estudo do roubo qualificado pela
de incidência da majorante diante da presunção de lesão corporal.
potencialidade ofensiva. Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena
Se a violência ou ameaça é exercida com emprego é de reclusão de 7 (sete) a 18 (dezoito) anos, e multa.
de arma de fogo — causa de aumento de pena acres- Entende-se por lesão grave, nesta qualificadora,
cida pela Lei 13.654, de 2018, devemos observar o tanto os resultados previstos no § 1º, art. 129, do CP
seguinte: (lesão corporal grave), quanto os previstos no § 2º, art.
129, do CP (lesão corporal gravíssima).
z Quem praticou o crime de roubo com arma branca Se houver lesão leve, o roubo é simples.
antes da Lei nº 13.654, de 2018, não terá incidência Trata-se de crime qualificado pelo resultado.
de majorante; A lesão grave pode ocorrer a título de dolo ou culpa,
z Quem praticou o crime de roubo com arma branca sendo que, nessa última hipótese, o delito será preter-
depois da Lei nº 13.654, de 2018, e antes do pacote doloso. Em ambos os casos, o delito de lesão corporal
anticrime não terá incidência de majorante; é absorvido, porque já funciona como qualificadora.
z Quem praticou o crime de roubo com arma bran- Observe que se houver lesão grave consumada e
NOÇÕES DE DIREITO

ca depois do pacote anticrime terá a incidência da subtração patrimonial tentada, para alguns autores
majorante de 1/3 a 1/2; haverá o crime da primeira parte do § 3º, art. 157, con-
z Quem praticou o crime de roubo com arma de fogo sumado; outros, porém, sustentam que o delito seria
de uso permitido antes da Lei nº 13.654, de 2018, tentado.
terá a incidência da majorante de 1/3 a 1/2; O roubo qualificado pelo resultado morte, o latro-
z Quem praticou o crime de roubo com arma de fogo cínio, é um crime qualificado pelo resultado morte.
de uso permitido depois da Lei nº 13.654, de 2018, Por incrível que pareça, não se trata de crime con-
terá a incidência da majorante de 2/3; tra vida, mas sim de crime contra o patrimônio.
z Quem praticou o crime de roubo com arma de fogo O latrocínio constitui crime hediondo.
de uso restrito ou proibido antes da Lei nº 13.654, Para compreendermos o momento de consumação
de 2018, terá a incidência da majorante de 1/3 a do latrocínio, é necessário que você conheça a Súmula
1/2; 610 do STF. 283
Súmula 610 do STF: Há crime de latrocínio, quan- Extorsão
do o homicídio se consuma, ainda que não realize o
agente a subtração de bens da vítima. Art. 158 Constranger alguém, mediante violência ou
grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou
para outrem indevida vantagem econômica, a fazer,
SUBTRAÇÃO MORTE LATROCÍNIO
tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa:
Consumada Tentada Latrocínio tentado Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.

Tentada Tentada O crime de extorsão previsto no art. 158, do CP,


configurar-se-á quando o agente constranger alguém,
Consumada Consumada Latrocínio consumado mediante violência ou grave ameaça, com o intuito de
Tentada Consumada obter para si ou para outrem indevida vantagem eco-
nômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer
alguma coisa.
Por exemplo, o agente chantageia uma mulher e o
Importante! marido, ameaçando de morte o seu filho, objetivando
a obtenção de vantagem econômica.
Caso o agente mate o seu comparsa, após a Neste crime, observe que não se fala em coisa
prática do roubo, para ficar com a vantagem do móvel, mas sim em indevida vantagem econômica.
crime somente para si, não há que se falar, neste Logo, para a configuração da extorsão, é possível que
caso, em crime de latrocínio. a vantagem econômica seja coisa imóvel.

Características da Extorsão:
A palavra latrocínio não se encontra no atual Códi-
go Penal. Trata-se de uma expressão tradicional.
z É crime comum, que pode ser praticado por qual-
O latrocínio pode ser próprio ou impróprio:
quer pessoa;
O latrocínio próprio ocorre quando a morte ocor-
z É crime complexo, já que tutela tanto o patrimônio
re antes ou durante a subtração da coisa; por exemplo,
quanto a liberdade individual;
o agente mata o empregado de um estabelecimento
z Não admite a modalidade culposa (só pode ser pra-
comercial, subtraindo em seguida o dinheiro do caixa.
ticado dolosamente);
No latrocínio impróprio, o agente primeiro se
z É crime formal, que se consuma com o constran-
apodera da coisa, sem qualquer violência, matando gimento, mediante violência ou grave ameaça,
a vítima logo em seguida com o intuito de assegurar independentemente de o agente conseguir ou não
a subtração ou a impunidade. Por exemplo, o agen- obter a indevida vantagem econômica.
te, logo após subtrair um bem, mata o policial que o
surpreende. Súmula 96 do STJ: O crime de extorsão consuma-
O sujeito passivo é tanto a pessoa que sofre a lesão -se independentemente da obtenção da vantagem
patrimonial quanto aquela que é morta, podendo esta indevida.
última ser até mesmo um policial ou terceiro.
Observe que estamos diante de crime pluriofensi- É importante não confundir o crime de extorsão
vo, que ofende mais de um bem jurídico, quais sejam: com o crime de roubo, que acabamos de estudar:
o patrimônio e a vida. Roubo: o agente emprega a violência ou grave
Não há necessidade de que morra a vítima do ameaça, visando à subtração; a participação da víti-
patrimônio, sendo suficiente, para a caracterização do ma é dispensável;
delito, a morte de qualquer outra pessoa. Extorsão: o agente emprega a violência ou grave
Na hipótese de pluralidade de sujeitos passivos ameaça para determinar um comportamento da víti-
com unidade de subtração patrimonial, haverá um só ma e obter indevida vantagem econômica; a partici-
delito de latrocínio. Por exemplo, o agente mata três pação da vítima é indispensável, sem ela, o autor não
empregados e em seguida subtrai bens do patrão. consegue obter a indevida vantagem econômica.
O latrocínio é delito qualificado pelo resultado,
tendo em vista a duplicidade de eventos. A morte No delito de extorsão, há a presença dos seguin-
pode ocorrer a título de dolo ou culpa. Somente na tes elementos:
hipótese de o latrocínio ser na modalidade culposa é
que o delito será preterdoloso. z O constrangimento para obter da vítima uma ação,
A morte deve decorrer da violência física. Se decor- omissão ou tolerância;
rer de grave ameaça ou violência imprópria, exclui-se z Emprego de violência ou grave ameaça;
o delito de latrocínio, respondendo o agente por rou- z Finalidade de obter, para si ou para outrem, inde-
bo em concurso com homicídio. vida vantagem econômica.
Por fim, para encerrarmos o crime de roubo, sobre
o latrocínio, fique atento ao seguinte: o latrocínio é o Tutela-se a propriedade, a posse, a integridade
roubo qualificado pelo resultado da violência empre- física e fisiopsíquica, bem como a liberdade pessoal.
gada pelo agente, resultando-se uma morte. Trata-se de delito pluriofensivo, porque ofende mais
Logo, se a morte resultar de outro elemento que de um bem jurídico.
não seja a violência empregada, não há que se falar Sobre o sujeito ativo, trata-se de crime comum,
em latrocínio. podendo ser praticado por qualquer pessoa. Obser-
O emprego de arma de brinquedo não caracteriza ve que o funcionário público também pode cometer
a aplicação da causa de aumento de pena, entretanto, extorsão. A doutrina ilustra a hipótese de o escrivão de
pode contribuir para a configuração do crime de rou- polícia que exige dinheiro de uma pessoa para influen-
284 bo, já que pode caracterizar a grave ameaça. ciar o delegado de polícia a realizar o indiciamento.
Sujeito passivo pode ser qualquer pessoa física ou para a obtenção da vantagem econômica, a pena
jurídica, inclusive a que sofre constrangimento sem é de reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além da
lesão patrimonial. multa; se resulta lesão corporal grave ou morte,
O núcleo do tipo é o verbo constranger, que signi- aplicam-se as penas previstas no art. 159, §§ 2° e
fica coagir, forçar, obrigar alguém a fazer, deixar de 3°, respectivamente.
fazer ou tolerar que se faça alguma coisa que a lei não
lhe impõe. Por exemplo, a vítima é conduzida, no seu próprio
O delito é punido a título de dolo. O agente visa veículo, sendo coagida a percorrer caixas eletrônicos
conseguir da vítima uma ação ou omissão, com o fim para a retirada de dinheiro, revelando ao meliante o
de obter, para si ou para outrem, indevida vantagem código secreto de seu cartão bancário magnético.
econômica. O bem jurídico protegido é o patrimônio e a liber-
A finalidade específica é a intenção de obter uma dade pessoal de movimento, isto é, o direito de ir, vir e
vantagem indevida e econômica. ficar no local livremente escolhido, assemelhando-se,
A vantagem econômica pode consistir em bem destarte, à extorsão mediante sequestro.
móvel ou imóvel, diferentemente do roubo, cuja van- O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa. Trata-se
tagem restringe-se ao bem móvel. de crime comum.
A vantagem, além de econômica, deve ainda ser É ainda crime permanente, viabilizando-se, en-
indevida, contrária ao direito. quanto não cessar o estado de permanência, a partici-
pação, a legítima defesa e a prisão em flagrante.
z Extorsão qualificada: O sujeito passivo pode ser qualquer pessoa física
ou jurídica.
Art. 158 [...] Admite-se a presença de mais de um sujeito passi-
§ 1º Se o crime é cometido por duas ou mais pes- vo. Por exemplo, o extorsionário realiza o sequestro
soas, ou com emprego de arma, aumenta-se a pena relâmpago do dirigente de uma pessoa jurídica, obri-
de um terço até metade. gando-o a assinar cheques da empresa.
Para sua tipificação, exige-se a presença dos ele-
Dispõe o § 1º, art. 158, do CP, que se o crime é come- mentos da extorsão fundamental: constrangimen-
tido por duas ou mais pessoas, ou com o emprego de to, por meio de violência ou grave ameaça, para se
arma, aumenta-se a pena de 1/3 até a metade. obter da vítima uma ação ou omissão, com o fim de
Por exemplo, dois agentes chantageiam uma obter, para si ou para outrem, indevida vantagem
mulher, ameaçando de morte a sua mãe, objetivando econômica.
a obtenção de vantagem econômica. Observe que, se a vantagem for absolutamente
Trata-se de causa de aumento de pena em quan- impossível de se obter, não há extorsão, respondendo
tidade fixa, que, em face da posição topográfica, é o agente apenas pelo delito de sequestro. Por exem-
inaplicável à extorsão do § 2º, art. 158. plo, sequestro relâmpago para obrigar menor impú-
São duas as majorantes da pena, vejamos: bere a assinar nota promissória.
Não se esqueça: além do constrangimento, por
„ Concurso de duas ou mais pessoas; meio de violência ou grave ameaça, exige-se ainda a
„ Emprego de arma. Observe que há emprego restrição da liberdade, isto é, um sequestro “relâmpa-
de qualquer arma, própria ou imprópria, não go”, rápido
necessita ser arma de fogo. No roubo, a violência pode ser anterior, concomi-
tante ou posterior à obtenção da vantagem, ao passo
„ Extorsão qualificada pelo resultado: que, na extorsão, o legislador é omisso quanto à vio-
lência posterior, de modo que esta deve ser anterior
Art. 158 [...] ou concomitante à obtenção da vantagem.
§ 2º Aplica-se à extorsão praticada mediante vio- Para que o sequestro relâmpago fique configura-
lência o disposto no § 3º do artigo anterior do, o Código Penal exige a restrição da liberdade da
vítima e que essa condição seja necessária para a
Veja que o § 2º, art. 158, do CP, dispõe que será aplica- obtenção da vantagem econômica.
do a extorsão praticada mediante violência ao disposto Ex.: “A”, criminoso conhecido na cidade, aborda
no § 3° do artigo anterior, ou seja, do crime de roubo. “B”, apontando uma arma de fogo para ela, ameaçan-
Assim, a extorsão qualificada pelo resultado ocor- do-a. Com a intenção de obter indevida vantagem eco-
re quando, em razão da violência, resulta em lesão nômica, “A” a conduz, forçadamente, em um veículo
corporal de natureza grave ou morte. de origem duvidosa, ao banco, constrangendo a víti-
Na hipótese de lesão grave, a pena é de reclusão de ma, que saca R$ 1.000,00 para o autor.
7 a 18 anos, além de multa; no caso de morte, reclusão No exemplo dado, ficou configurado o crime de
NOÇÕES DE DIREITO

de vinte a trinta anos, sem prejuízo da multa. extorsão mediante restrição da liberdade. Analise os
Observe que a lesão grave ou a morte deve decor- elementos:
rer de violência física, podendo ocorrer a título de
dolo ou culpa, afastando-se a qualificadora quando z Emprego de grave ameaça;
resultar de grave ameaça. z Constrangimento à vítima;
z Objetivo de obter indevida vantagem econômica;
„ Extorsão qualificada pelo sequestro — z Restrição da liberdade, que foi condição necessá-
sequestro relâmpago ria para obtenção da vantagem.

Art. 158 [...] Se, no caso de sequestro relâmpago, ocorrer o resul-


§ 3º Se o crime é cometido mediante a restrição da tado morte ou o resultado lesão corporal de nature-
liberdade da vítima, e essa condição é necessária za grave, o agente será punido com as mesmas penas 285
aplicadas ao crime de extorsão mediante sequestro qua- (observe que o empregado não é vítima do crime —
lificada (24 a 30 anos; 16 a 24 anos, respectivamente). não foi sequestrado e nem pagou o resgate).
A pessoa jurídica pode ser vítima de extorsão
z Extorsão Hedionda mediante sequestro, segundo entendimento doutriná-
rio dominante, quando dela for exigida a vantagem
O delito de extorsão só é crime hediondo na situa- correspondente ao resgate.
ção do 3º, art. 158, do CP. A extorsão mediante sequestro traz em suas dis-
Esta hipótese foi introduzida pela Lei 13.964, de posições a possibilidade de aplicação do instituto da
2019. delação premiada.
Assim, dispõe o inciso III, art. 1º, da Lei nº 8.072, A delação será aplicada no caso de o crime ser
de 1990, que é crime hediondo a extorsão qualificada cometido em concurso de pessoas, ao concorrente
pela restrição da liberdade da vítima, ocorrência de que denunciar à autoridade, facilitando a libertação
lesão corporal ou morte. do sequestrado.
A Lei nº 13.964, de 2019, em vez de manter como Neste caso, o concorrente que denunciou terá a
hediondo o § 2º, art. 158, do CP, e acrescentar o § 3º, pena reduzida de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços).
art. 158, do CP, em sua nova redação, só fez menção ao
§ 3º, do art. 158. z Extorsão Mediante Sequestro Qualificada
Por exemplo, o agente restringe a liberdade da víti-
ma, com o emprego de violência à sua pessoa como Art. 159 [...]
forma de obter indevida vantagem econômica. § 1º Se o seqüestro dura mais de 24 (vinte e quatro)
horas, se o seqüestrado é menor de 18 (dezoito) ou
Extorsão Mediante Sequestro maior de 60 (sessenta) anos, ou se o crime é cometi-
do por bando ou quadrilha.
Art. 159 Seqüestrar pessoa com o fim de obter, para Pena - reclusão, de doze a vinte anos.
si ou para outrem, qualquer vantagem, como condi-
ção ou preço do resgate: Há quatro qualificadoras:
Pena - reclusão, de oito a quinze anos..
„ Se o sequestrado é menor de 18 anos;
A extorsão mediante sequestro prevista no art.
„ Se o sequestro dura mais de 24 horas;
159, do Código Penal, configurar-se-á quando o agente
„ Se o sequestrado é maior de 60 anos;
sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para
„ Se o crime é cometido por quadrilha ou bando.
outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço
de resgate.
A primeira qualificadora justifica-se pela maior
Neste crime, temos a restrição da liberdade da víti-
ma (mediante sequestro ou cárcere privado), só que fragilidade emocional do sequestrado menor de 18
o agente possui uma finalidade específica (exige-se anos, cuja personalidade se encontra, ainda, em
dolo específico): obter qualquer vantagem (segundo a formação.
doutrina, deve ser vantagem indevida e de natureza A segunda qualificadora, o sequestro que dura
patrimonial), como condição ou preço de resgate. mais de 24 horas, é um crime a prazo, porque o seu
reconhecimento depende de um lapso de tempo.
Características da extorsão mediante sequestro: Quanto mais duradouro o sequestro, maior o sofri-
mento da vítima e dos familiares, daí a razão da qua-
z É crime comum — qualquer pessoa pode cometê-lo; lificadora. Contam-se as horas, minuto a minuto, a
z É crime complexo (junção de 2 (dois) crimes — partir do início da privação da liberdade.
extorsão mais sequestro ou cárcere privado; A terceira qualificadora foi introduzida pelo Esta-
z É crime permanente, já que sua conduta se protrai tuto do Idoso. Ocorre quando o sequestrado é maior
(prolonga) — atenção à aplicação da Súmula 711 do de 60 anos. Se no início do sequestro era menor de ses-
STF; senta, ao atingir esta idade incide a causa de aumen-
z É crime formal, que se consuma com a restrição da to, caso ainda esteja em poder dos sequestradores. Há
liberdade, desde que motivada pela obtenção de tese que afirma que a lei diz maior de 60 anos, motivo
condição ou preço de resgate; pelo qual não se aplica qualificadora.
z Não admite a modalidade culposa; A quarta qualificadora, crime cometido por quadri-
z Admite tentativa. lha ou bando, justifica-se pela maior organização dos
sequestradores, aumentando as chances de êxito no
É importante mencionar que o agente deve seques- delito. Quadrilha ou bando é a associação estável ou
trar “pessoa”. Caso seja um animal (parece bobo, mas permanente entre três ou mais pessoas, com o intuito
já foi cobrado em prova), não haverá o crime de extor- de cometer uma série indeterminada de delitos.
são mediante sequestro.
É importante mencionar um entendimento defen- z Extorsão mediante sequestro qualificada pelo
dido pela doutrina majoritária: no resultado “morte”, resultado
não é necessário que a pessoa morta seja a vítima do
sequestro, podendo ser qualquer pessoa que mor- Art. 159 [...]
ra em decorrência da extorsão mediante sequestro. § 2º Se do fato resulta lesão corporal de natureza
Assim, por exemplo, se um empregado for ao local grave:
combinado com os sequestradores, a pedido de seus Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos.
patrões, entregar o resgate e for morto pelos auto- § 3º Se resulta a morte:
286 res, a qualificadora será aplicada da mesma forma Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos.
A extorsão mediante sequestro é qualificada se do fato resulta:

„ Lesão corporal de natureza grave;


„ Morte.

Vejamos uma hipótese: o agente priva a vítima da liberdade, colocando-a sob vigilância em um cativeiro. Em
seguida, visando obter vantagem, exige de familiares da vítima o preço do resgate, mas devido a um impasse com
os familiares, o agente mata a vítima.
O § 2º, art. 159, do CP, dispõe que, se do fato resulta lesão corporal de natureza grave, a pena cominada é de
reclusão, de 16 a 24 anos.
E o § 3º, art. 159, do CP, dispõe que, se resulta morte, a pena será reclusão de 24 a 30 anos.
A lesão grave e a morte podem ser dolosas ou culposas.
Os delitos de homicídio e lesão corporal, sejam eles dolosos ou culposos, são absorvidos, porque já funcionam
como qualificadoras.
A extorsão mediante sequestro seguida de morte é o crime mais grave do CP, tendo como pena mínima 24 anos
de reclusão.
Não há necessidade de que a morte seja provocada por violência física ou grave ameaça. O suicídio do seques-
trado, por exemplo, é suficiente para o reconhecimento da qualificadora, porque em tal situação é evidente a
culpa dos sequestradores.

A EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO SERÁ QUALIFICADA NOS SEGUINTES CASOS:

Se o sequestro du- Se o sequestrado Se o crime é come- Se do fato resultar Se do fato resultar


rar mais de 24 (vin- é menor de 18 tido por bando ou lesão corporal de a morte
te e quatro) horas (dezoito) anos ou quadrilha (agora é natureza grave
maior de 60 (ses- associação crimi-
senta) anos nosa — responde
pelos 2 crimes)

Reclusão de 12 a Reclusão de 12 a Reclusão de 12 a Reclusão de 16 a Reclusão de 24 a


20 anos 20 anos 20 anos 24 anos 30 anos

Causa de Redução de Pena

Art. 159 [...]


§ 4º Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à autoridade, facilitando a libertação do
seqüestrado, terá sua pena reduzida de um a dois terços.

Para que incida a redução da pena, a delação deve ter sido feita à autoridade, devendo essa expressão ser
tomada em sentido amplo para abranger qualquer agente encarregado do combate à criminalidade, por exemplo,
juiz, autoridade policial etc.
Quanto maior a contribuição, maior a redução da pena.
Trata-se de causa obrigatória de redução de pena.
O art. 13 da Lei nº 9.807, de 1999, dispõe sobre a extinção da punibilidade pelo perdão judicial ao acusado que,
sendo primário, tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e o processo criminal, desde que
dessa colaboração tenha resultado cumulativamente a identificação dos demais agentes, a localização da vítima
com sua integridade física preservada e a recuperação total ou parcial do produto do crime.
Presente apenas um desses requisitos, a pena ainda poderá ser reduzida de 1/3 a 2/3, independentemente da
primariedade do réu, por força do art. 14, da Lei nº 9.807, de 1999.

Extorsão Indireta

Art. 160 Exigir ou receber, como garantia de dívida, abusando da situação de alguém, documento que pode dar
causa a procedimento criminal contra a vítima ou contra terceiro:
NOÇÕES DE DIREITO

Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.

A extorsão indireta constitui forma mais branda de extorsão, que se configurará quando o agente exigir ou
receber, como garantia de dívida, abusando da situação de alguém, documento que pode dar causa a procedimento
criminal contra a vítima ou contra terceiro.
Como dito, é uma forma mais branda de extorsão, já que tem como pena a reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos,
enquanto a extorsão, em sua modalidade simples, tem como pena a reclusão de 4 (quatro) a 10 (anos).
É um crime que exige dolo específico, já que o agente pratica os verbos descritos no tipo penal (exigir ou rece-
ber) como garantia de dívida.
É necessário que o agente abuse da condição de alguém, assim, por exemplo, suponha que um agiota, apro-
veitando-se da condição de desespero pela qual se passa aquele que solicita um empréstimo, já que o filho deste
se encontra internado em estado grave e ele precisa do dinheiro para pagar o tratamento, exija documento que 287
possa dar causa a procedimento criminal — pronto, Exige-se que sejam águas correntes, cujo curso seja
teremos configurada a extorsão indireta, já que o desviado ou represado pelo agente, alterando, portan-
agiota abusou da condição da vítima. to, seu fluxo pela propriedade.
No verbo exigir, este crime é formal, consumando-
-se com a exigência do documento. Dica
Já no verbo receber, é crime material, consuman-
do-se com o efetivo recebimento do documento. Não configura crime de usurpação de águas,
É admitida a tentativa, já que pode ter seu iter cri- mas crime de furto, quando se trata de água reti-
minis fracionado. rada de água represada pelo dono para criação
É crime comum, já que não se exige qualquer con- de peixes.
dição especial do sujeito.
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, pois, tra-
USURPAÇÃO ta-se de crime comum.
O sujeito passivo, por sua vez, é a pessoa que pode
Alteração de Limites sofrer dano em decorrência do desvio ou represamento.
Consuma-se o crime no instante em que o agente
Art. 161 Suprimir ou deslocar tapume, marco, ou efetua o desvio ou represamento, ainda que não obte-
qualquer outro sinal indicativo de linha divisória, nha a vantagem em proveito próprio ou alheio a que o
para apropriar-se, no todo ou em parte, de coisa texto legal se refere. A tentativa é possível.
imóvel alheia:
Pena - detenção, de um a seis meses, e multa.
Esbulho Possessório
O objetivo da lei é resguardar a posse e a proprie- Art. 161 [...]
dade dos bens imóveis. § 1º Na mesma pena incorre quem: [...]
Esse tipo penal possui duas condutas típicas II - invade, com violência a pessoa ou grave amea-
alternativas: ça, ou mediante concurso de mais de duas pessoas,
terreno ou edifício alheio, para o fim de esbulho
z Supressão, ou seja, a total retirada do marco possessório.
divisório;
z Deslocamento do marco divisório, afastando-o Veja que o crime de esbulho possessório tem por
do local correto, de modo a aumentar a área do objeto jurídico o patrimônio, no tocante à propriedade
agente. e, especialmente, à posse legítima de um imóvel, bem
como a integridade física e a liberdade individual da
É necessário que o agente tenha intenção de apro- pessoa humana atingida pela conduta criminosa.
priar-se, no todo ou em parte, da propriedade alheia, por Pressupõe-se, neste crime, a invasão de proprieda-
meio da supressão ou deslocamento do marco divisório. de imóvel alheia, edificada ou não, desde que o fato se
Temos, por exemplo, a hipótese que não configu- dê mediante emprego de violência ou grave ameaça
ra crime, o fato de um agricultor retirar a cerca que a pessoa, bem como mediante concurso de duas ou
divide as terras com outro proprietário apenas para mais pessoas.
reformá-la. É possível que o agente invada a propriedade
Trata-se de crime próprio, somente podendo ser alheia sozinho ou em concurso com apenas mais uma
praticado pelo vizinho do imóvel, quer na zona urba-
pessoa e sem emprego de violência ou grave ameaça.
na, quer na rural.
Nesse caso, o fato é atípico. Não obstante, o § 1º, art.
Sendo assim, o sujeito passivo desse tipo penal só
1.210, do Código Civil, permite que o dono retome a
pode ser o vizinho, dono ou possuidor do imóvel.
posse, desde que o faça imediatamente, por meio do
Consuma-se no exato instante em que o agente
chamado desforço imediato.
suprime ou desloca o marco divisório, ainda que a
Se, em outra hipótese, logo após a invasão pacífica,
vítima posteriormente perceba o ocorrido e retome a
o invasor empregar violência para se manter na posse
parte de que foi tolhida.
quando o legítimo proprietário tentava retomá-la pelo
É possível a tentativa, quando o agente é flagrado
desforço imediato, haverá a configuração do delito.
iniciando supressão ou deslocamento e é impedido de
O crime só existe se a invasão se dá com o fim espe-
prosseguir. Se já o fez por completo, conforme já men-
cífico de esbulho possessório, ou seja, a retirada forçada
cionado, o crime está consumado, ainda que a vítima
retome posteriormente a parte a que faz jus. do legítimo possuidor, desde que o agente queira excluir
a posse da vítima para passar a exercê-la ele próprio.
Usurpação de Águas O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, exceto o
dono.
Art. 161 [...] Trata-se de crime comum.
§ 1º Na mesma pena incorre quem: O dono que invade imóvel alugado não incorre no
I - desvia ou represa, em proveito próprio ou de tipo penal em análise, que exige expressamente que o
outrem, águas alheias; bem seja alheio.
Dependendo da hipótese, poderá incorrer em cri-
Neste delito, a lei resguarda as águas públicas me de violação de domicílio (art. 150) ou retirada de
ou particulares que passem por determinado local, coisa própria do poder de terceiro (art. 346, do CP).
evitando que o dono do terreno sofra prejuízo caso Já o sujeito passivo é o dono ou possuidor do imó-
alguém queira desviar o seu curso ou represá-las, sem vel invadido.
288 autorização para tanto. Consuma-se no momento da invasão.
É possível tentativa quando a invasão não se aper- z Destruir – dano total da coisa alheia;
feiçoe em razão da oposição apresentada pelo dono, z Inutilizar – dano parcial, mas que torna a coisa
possuidor ou por terceiro. alheia sem utilidade;
Observe que, se o agente comete o esbulho com z Deteriorar – dano parcial da coisa alheia, que fica
emprego de violência, responde também pelas lesões estragada, por exemplo.
corporais causadas, ainda que leves, nos termos do § 2º,
art. 161, do CP, e as penas serão somadas. Tutela-se a propriedade e a posse.
Trata-se de crime doloso.
Art. 161 [...] O tipo penal fala em coisa alheia, sem exigir que
§ 2º Se o agente usa de violência, incorre também seja móvel. Portanto, caso o agente destrua, por exem-
na pena a esta cominada. plo, uma casa, praticará o crime de dano.
§ 3º Se a propriedade é particular, e não há emprego Características do crime de dano:
de violência, somente se procede mediante queixa.
z Crime comum — pode ser praticado por qualquer
A ação penal será, em regra, pública incondiciona- pessoa;
da, porém, caso não ocorra o emprego de violência, z Não admite a forma culposa. O dano culposo cons-
a ação penal passa a ser privada e só se procede me- titui ilícito de ordem civil;
diante queixa. z É crime material, que exige a ocorrência do resul-
tado (destruição, inutilização ou deterioração).
Supressão ou Alteração de Marca em Animais
Consuma-se quando o agente destrói, inutiliza ou
Art. 162 Suprimir ou alterar, indevidamente, em deteriora a coisa.
gado ou rebanho alheio, marca ou sinal indicativo A danificação parcial constitui crime consumado,
de propriedade: enquadrando-se no verbo deteriorar.
Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa.
Dano Qualificado
Este crime tutela a propriedade e a posse dos ani-
mais semoventes. O dano será praticado na modalidade qualificada
Para a prática deste crime é necessário que não se for cometido em uma das hipóteses a seguir:
tenha havido prévio furto ou apropriação indébita
dos animais, pois, nesses casos, o agente só será puni- Art. 163 [...]
do pela conduta anterior, sendo a supressão ou altera- Parágrafo único. Se o crime é cometido:
ção da marca impunível. I - com violência à pessoa ou grave ameaça;
A conduta típica consiste em apagar ou modificar II - com emprego de substância inflamável ou explo-
o sinal indicativo de propriedade em gado ou rebanho siva, se o fato não constitui crime mais grave
alheios. III - contra o patrimônio da União, de Estado, do
Quando a lei se refere a gado, está protegendo a Distrito Federal, de Município ou de autarquia,
propriedade de animais de grande porte, como bois fundação pública, empresa pública, sociedade de
ou cavalos, e quando se refere a rebanho, o faz em economia mista ou empresa concessionária de ser-
viços públicos;
relação a animais de porte menor, como porcos, ove-
IV - por motivo egoístico ou com prejuízo conside-
lhas, cabras etc.
rável para a vítima:
Marcas são feitas por ferro em brasa ou elementos Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa,
químicos no couro do animal. além da pena correspondente à violência.
Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, inclusive
quem possui animal que pertence a terceiro. Caso o crime de dano seja praticado com violên-
O sujeito passivo é dono do animal. cia à pessoa (forma qualificada vista anteriormente),
Consuma-se com a simples supressão ou alteração o agente responderá pelo crime de dano em concurso
da marca ou sinal, ainda que se dê apenas em relação com a pena correspondente à violência.
a um animal. Das hipóteses vistas, com exceção da qualificado-
É possível a tentativa quando o agente não conse- ra por motivo egoístico ou com prejuízo para a víti-
gue concretizar a remarcação iniciada, pela repentina ma (ação penal privada), a ação penal será pública
chegada de alguém ao local, ou até mesmo quando incondicionada.
concretiza a remarcação, porém a faz de tal forma
que continua sendo possível identificar a marca do Introdução ou Abandono de Animais em Propriedade
verdadeiro dono. Alheia
NOÇÕES DE DIREITO

DANO Art. 164 Introduzir ou deixar animais em proprie-


dade alheia, sem consentimento de quem de direito,
Art. 163 Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa desde que o fato resulte prejuízo:
alheia: Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, ou
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. multa.

O crime de dano previsto no art. 163, do CP, poderá Dispõe o art. 164, do CP, que é crime a conduta de
ser praticado mediante a execução das seguintes con- introduzir ou deixar animais em propriedade alheia,
dutas: destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia. sem consentimento de quem de direito, desde que do
Verbos do crime de dano (observe o que a doutrina fato resulte prejuízo: pena — detenção, de 15 dias a 6
estabelece sobre cada um dos verbos): meses, ou multa. 289
Tutela-se a propriedade e a posse do imóvel contra Veja a diferença:
o dano causado por animais.
O objetivo primordial da lei é a proteção da pro- z Apropriação Indébita: o agente recebe a coisa
priedade rural, onde o delito é comumente cometido. de boa-fé, depois, muda seu ânimo e passa a agir
Todavia, estende-se também a tutelar a propriedade como se fosse dono da coisa (passa a ter má-fé);
urbana, tendo em vista que a lei não restringiu a exis- z Estelionato: o agente já recebe a coisa de má-fé,
tência do delito à propriedade rural. com a intenção de ficar com ela desde o início.
Trata-se de crime comum, pois pode ser cometido
A apropriação indébita é crime que decorre de
por qualquer pessoa.
uma relação de confiança entre o autor e a vítima.
Sujeitos passivos são o proprietário e o possuidor,
Este entrega a coisa móvel ao agente, devido à con-
titulares do patrimônio ofendido. fiança que deposita nele.
Consuma-se com a danificação total ou parcial da O agente recebe a coisa com boa intenção, mas,
propriedade alheia, isto é, com o efetivo prejuízo. depois (parte da doutrina chama de dolo subsequen-
Este crime somente se procede mediante queixa. te), altera sua intenção, apropria-se da coisa e passa a
agir como dono dela.
Dano em Coisa de Valor Artístico, Arqueológico ou Veja as principais características da apropriação
Histórico indébita:

O proprietário comete o delito de dano ambiental, z É crime comum, que pode ser praticado por qual-
previsto no art. 62, da Lei nº 9.605, de 1998, e não do quer pessoa;
art. 165, do CP, que foi revogado pela citada lei, quan- z Não admite a forma culposa;
do se tratar de coisa de valor artístico, arqueológico, z Não admite tentativa, conforme doutrina majoritá-
histórico ou outro bem especialmente protegido por ria, tratando-se de crime unissubsistente, ou seja,
lei, ato administrativo ou decisão judicial, pois nesse é o conjunto de um só ato, a realização da condu-
tipo penal não se exige que a coisa seja alheia. ta esgota a concretização do delito, por exemplo,
apropriar-se de objeto de valor;
Alteração de Local Especialmente Protegido z É crime material, que se consuma quando o agente
inverte a posse da coisa alheia móvel.
Revogado pelo art. 63, da Lei nº 9.605, de 1998, que
dispõe ser crime a conduta de alterar o aspecto ou Aumento de Pena
estrutura de edificação ou local especialmente prote- Art. 168 [...]
gido por lei, ato administrativo ou decisão judicial, em § 1º A pena é aumentada de um terço, quando o
razão de seu valor paisagístico, ecológico, turístico, agente recebeu a coisa:
artístico, histórico, cultural, religioso, arqueológico, I - em depósito necessário;
etnográfico ou monumental, sem autorização da auto- II - na qualidade de tutor, curador, síndico, liquida-
ridade competente ou em desacordo com a concedida. tário, inventariante, testamenteiro ou depositário
A pena é de reclusão, de um a três anos, e multa. judicial;
III - em razão de ofício, emprego ou profissão.
Ação Penal
Apropriação Indébita Previdenciária
Art. 167 Nos casos do art. 163, do inciso IV do
seu parágrafo e do art. 164, somente se procede Art. 168-A Deixar de repassar à previdência social
mediante queixa. as contribuições recolhidas dos contribuintes, no
prazo e forma legal ou convencional:
A ação penal é privada no dano simples (caput
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
do art. 163, do CP) e no dano qualificado por motivo
egoístico ou considerável prejuízo para a vítima (inci-
O crime de apropriação indébita previdenciária
so IV, § único, art. 163, do CP). Nas demais formas de
é um crime próprio, pois só pode ser praticado pelo
dano qualificado, a ação é pública incondicionada. substituto tributário, que é a pessoa que recolhe as
APROPRIAÇÃO INDÉBITA contribuições sociais em nome do INSS para depois
repassá-las.
Art. 168 Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que No caso do contribuinte individual, ele é o res-
tem a posse ou a detenção: ponsável por esse desconto das contribuições e pelo
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. repasse ao INSS, de modo que é ele que irá responder
pelo crime.
O crime de apropriação indébita está previsto no No caso de sociedade, para fins penais, o sujeito
art. 168, do Código Penal. Este crime irá se configurar ativo é a pessoa física que no âmbito da empresa tem
quando o agente se apropriar de coisa alheia móvel de o poder de fato para decidir se irá ou não sonegar a
que tem a posse ou a detenção. contribuição arrecadada.
Neste crime, exige-se que a coisa alheia seja móvel. Tutela-se o patrimônio do INSS, que é uma autarquia
Para que você compreenda a apropriação indébi- federal, de modo que a competência é da Justiça Federal,
ta, é necessário saber que o agente já tem a posse ou conforme o inciso IV, art. 109, da Constituição Federal.
a detenção da coisa, passando, posteriormente, a agir Logo, o sujeito passivo é o INSS.
como se fosse dono da coisa. Conduta principal: ficará configurada quando o
Não se deve confundir a apropriação indébita com agente deixar de repassar à previdência social as con-
o crime de estelionato. tribuições recolhidas dos contribuintes, no prazo e
290 forma legal ou convencional.
Observe que o tipo penal principal é praticado na Não se trata de aplicação do princípio da insigni-
modalidade omissiva, deixando o agente de praticar ficância, porque a dívida tem um valor significativo,
uma conduta que deveria (repassar à previdência as mas se o valor for irrisório, por exemplo, R$ 100, R$
contribuições recolhidas após reter os valores). 200 ou R$ 300, ele poderá ser absolvido pelo princípio
Condutas equiparadas: da insignificância.
Quando o valor da dívida atinge uma cifra razoá-
Art. 168-A [...] vel de até R$ 10 mil, mas o INSS diz que não é preciso
§ 1° Nas mesmas penas incorre quem deixar de: mover a execução fiscal, nesse caso o réu poderá rece-
I – recolher, no prazo legal, contribuição ou outra ber o perdão judicial ou então ser condenado apenas
importância destinada à previdência social que na pena de multa, conforme o § 3º, art. 168, do CP.
tenha sido descontada de pagamento efetuado a A pena deste crime poderá ser extinta (extinção da
segurados, a terceiros ou arrecadada do público; punibilidade), caso o agente, espontaneamente, decla-
II – recolher contribuições devidas à previdência re, confesse e efetue o pagamento das contribuições,
social que tenham integrado despesas contábeis ou importâncias ou valores e preste as informações devi-
custos relativos à venda de produtos ou à prestação das à previdência social, na forma definida em lei ou
de serviços; regulamento, antes do início da ação fiscal.
III - pagar benefício devido a segurado, quando as
respectivas cotas ou valores já tiverem sido reem- Art. 168-A [...]
bolsados à empresa pela previdência social. § 2° É extinta a punibilidade se o agente, esponta-
neamente, declara, confessa e efetua o pagamento
Trata-se de norma penal em branco, complemen- das contribuições, importâncias ou valores e presta
tada em diversos dispositivos pela lei previdenciária as informações devidas à previdência social, na for-
correspondente. ma definida em lei ou regulamento, antes do início
Veja as características do crime de apropriação da ação fiscal.
indébita previdenciária:
Apesar de o Código Penal estabelecer que a conduta
z É crime omissivo, como dito, já que o agente não do agente, para que sua punibilidade seja extinta, seja
pratica a conduta que se espera dele (repassar); praticada antes do início da ação fiscal, o STF e o STJ
z Não admite a modalidade culposa; têm admitido a aplicação da exclusão da punibilidade
z Deverá ser praticado de forma dolosa. Segundo o com o pagamento efetuado a qualquer tempo, desde
STF, não é necessário dolo específico (especial fim que antes do trânsito em julgado (sentença definitiva).
de agir); Para encerrarmos o crime de apropriação indébita
z Não admite tentativa. previdenciária, vamos verificar uma hipótese de per-
dão judicial e de crime privilegiado.
O entendimento majoritário na doutrina é o de que A Lei nº 13.606, de 2018, lei bastante atual, diga-se
a apropriação indébita previdenciária é crime formal de passagem (importante atentar-se a isso), acrescen-
tou dispositivo ao Código Penal que estabelece que a
e, por isso, dispensa-se o enriquecimento indevido por
faculdade atribuída ao juiz de deixar de aplicar a pena
parte do agente ou o efetivo prejuízo ao erário.
ou de aplicar somente a pena de multa não se apli-
Contudo, o Supremo Tribunal Federal decidiu que
ca aos casos de parcelamento de contribuições cujo
o crime de apropriação indébita previdenciária é
valor, inclusive dos acessórios, seja superior àquele
material, pois, quando o agente omitiu o repasse, con-
estabelecido, administrativamente, como sendo míni-
figurou-se o enriquecimento indevido e o consequen-
mo para ajuizamento de suas execuções fiscais.
te prejuízo ao Erário.
Faculta-se ao juiz:
Essa decisão corrobora com o entendimento exa-
rado na Súmula Vinculante nº 24.
z Deixar de aplicar a pena (perdão judicial);
z Aplicar somente a pena de multa (crime
Súmula Vinculante nº 24: Na linha da jurispru-
privilegiado).
dência deste Tribunal Superior, o crime de apropria-
ção indébita previdenciária, previsto no art. 168-A,
Essas situações poderão ocorrer se o agente for
ostenta natureza de delito material. Portanto, o
momento consumativo do delito em tela correspon- primário e de bons antecedentes, desde que:
de à data da constituição definitiva do crédito tri-
butário, com o exaurimento da via administrativa Art. 168-A [...]
(ut, (RHC 36.704/SC, Rel. Ministro FELIX FISCHER, § 3° É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou
Quinta Turma, DJe 26/02/2016). Nos termos do art. aplicar somente a de multa se o agente for primário
111, I, do CP, este é o termo inicial da contagem do e de bons antecedentes, desde que:
I – tenha promovido, após o início da ação fiscal
NOÇÕES DE DIREITO

prazo prescricional” (AgRg no REsp  1.644.719/SP,


e antes de oferecida a denúncia, o pagamento da
DJe 31/05/2017).
contribuição social previdenciária, inclusive aces-
sórios; ou
Importante estudar também o tema do princípio II – o valor das contribuições devidas, inclusive
da insignificância no crime de apropriação indébita acessórios, seja igual ou inferior àquele estabele-
previdenciária. cido pela previdência social, administrativamente,
Neste caso, a Portaria nº 296, de 2007, da Previdência como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas
Social diz que o INSS não executa, não move, ação de execuções fiscais.
execução fiscal por dívida de até R$ 10 mil, de modo que,
se o indivíduo pagasse débitos até esse valor, a punibi- De acordo com a Procuradoria-Geral da Fazenda
lidade estaria extinta pelo perdão judicial, obviamente, Nacional, o valor mínimo para ajuizar execuções fis-
desde que ele seja primário e de bons antecedentes. cais por débito para com o fisco é de R$20 mil. 291
Apropriação de Coisa Havida por Erro, Caso Fortuito I - quem acha tesouro em prédio alheio e se apro-
ou Força da Natureza pria, no todo ou em parte, da quota a que tem direi-
to o proprietário do prédio;
Art. 169 Apropriar-se alguém de coisa alheia vin-
da ao seu poder por erro, caso fortuito ou força da Irá praticar este crime o agente que achar tesouro
natureza: em prédio alheio e se apropriar, no todo ou em parte,
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.
da quota a que tem direito o proprietário do prédio.
Aqui, pune-se a conduta do indivíduo que acha
Neste crime, a apropriação se dá não devido à rela- tesouro em prédio que pertence a outra pessoa e se
ção de confiança existente entre autor e vítima, mas, apropria da quota-parte que o proprietário do prédio
sim, porque a coisa chegou ao poder do agente por
tem direito, de acordo com o Código Civil, que estabe-
erro, caso fortuito ou força da natureza.
lece que o tesouro deve ser dividido igualmente entre
Ex.: “A” recebe em sua casa, por erro do entregador
aquele que achou e entre o proprietário do local em
de uma loja, uma televisão de 50 polegadas. O agente
que ele foi achado.
se apropria da coisa havida por erro.
O Código Civil conceitua tesouro como depósito
Caso “A” tenha recebido a coisa de boa-fé, mas,
antigo de coisas preciosas, oculto e de cujo dono não
posteriormente, altere a posse da coisa, apropriando-
haja memória.
-se dela, irá cometer o crime de apropriação de coisa
O tipo penal não se caracteriza com o verbo
havida por erro, caso fortuito ou força da natureza.
“achar”. Tome cuidado. Aquele que acha tesouro não
Entretanto, para configuração do delito, o agente
comete crime algum. A conduta criminosa encontra-se
não pode ter induzido nem mantido a pessoa em erro
no verbo “apropriar-se”, quando o agente se apropria
no momento do recebimento da coisa, caso contrário,
tendo em vista a fraude, haverá o crime de estelionato. da parte a que tem direito o proprietário do prédio.
Na apropriação de coisa havida por erro, ao tempo Para que este crime se configure, é necessário que
do recebimento da coisa, o agente procede de boa-fé, o tesouro tenha sido localizado em prédio que possua
não percebe o erro. Este é constatado após o recebi- proprietário.
mento da coisa.
Necessário, portanto, o dolo subsequente, isto é, o Apropriação de Coisa Achada
agente recebe, identifica que não lhe pertence, mas
fica com o patrimônio. Art. 169 [...]
O erro deve ser alheio, isto é, de quem concede a Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa. [...]
disponibilidade da coisa ao sujeito ativo. É necessário Parágrafo único. Na mesma pena incorre:
II - quem acha coisa alheia perdida e dela se apro-
que o agente não perceba o aludido erro.
pria, total ou parcialmente, deixando de restituí-la
Há uma duplicidade de erros, de quem entrega e
ao dono ou legítimo possuidor ou de entregá-la à
de quem recebe a coisa.
autoridade competente, dentro no prazo de quinze
Quanto à distinção entre caso fortuito e força da
dias.
natureza, uma parcela significativa da doutrina consi-
dera as expressões equivalentes. Mesmo assim, vamos
O que dizer sobre “achado não é roubado”, ditado
estabelecer uma diferenciação.
popular muito conhecido?
Força da natureza é o acontecimento de eventos
O crime de apropriação de coisa achada não é cos-
físicos ou naturais, de índole ininteligente, como o gra-
tuma ser mencionado, mas existe.
nizo, o raio, a inundação, a tempestade e o terremoto.
Este crime será aplicado a quem achar coisa alheia
Caso fortuito deriva de fatos humanos, como a gre-
perdida e dela se apropriar, total ou parcialmente,
ve, o motim, a guerra, a queda de um avião etc.
deixando de restitui-la ao dono ou legítimo possuidor
No delito em apreço, a coisa chega ao agente por
ou de entregá-la à autoridade competente, dentro do
meio de um evento imprevisível.
Exemplo clássico: um vendaval lança as roupas do prazo de 15 (quinze) dias.
varal do vizinho ao quintal da casa de B e este apro- Trata-se de crime a prazo, que é aquele que, para
pria-se delas. Ou uma mala despenca de um avião, sua consumação, exige que transcorra determinado
caindo na chácara de B, que dela se apropria. Ainda, período (15 dias).
o animal de uma fazenda passa para a fazenda de B, Sujeito ativo é aquele que acha a coisa perdida.
que dele se apropria. Trata-se de crime próprio, pois é praticado por
Observe que a coisa não é entregue pela vítima ao aquele que acha a coisa perdida.
agente, originando-se o apossamento de um aconteci- Na hipótese de o sujeito ativo emprestar a coisa
mento imprevisível. à uma outra pessoa, vindo esta a apropriar-se, não
Este crime não admite a modalidade culposa, cometerá o delito em apreço, e sim o crime de apro-
podendo ser praticado apenas a título de dolo. priação indébita, previsto no art. 168, do CP.
Trata-se de crime comum, podendo ser praticado Se, por outro lado, o proprietário achar a própria
por qualquer pessoa. coisa e deixar de restitui-la ao legítimo possuidor, que
O Código Penal apresenta duas hipóteses asseme- a havia perdido, também não se configura o delito,
lhadas, punidas com a mesma pena: a apropriação de porque o tipo penal exige que a coisa seja alheia.
tesouro e a apropriação de coisa achada. Sujeito passivo é o proprietário ou possuidor.
O objeto material é coisa alheia perdida.
Apropriação de Tesouro Trata-se de elemento normativo do tipo, cujo signi-
ficado requer um juízo de valor do magistrado.
Art. 169 [...] Coisa perdida é a que se encontra em lugar público ou
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa. [...] de uso público em circunstâncias indicativas do extravio,
292 Parágrafo único. Na mesma pena incorre: por exemplo, uma carteira exposta no meio da rua.
No caso de coisa abandonada (res derelicta) ou coi- Características do crime de estelionato:
sa sem dono (res nullius), não haverá crime algum por
parte de quem apropriar-se. Este torna-se dono da coisa. z Crime comum: não se exige características especí-
O elemento subjetivo do tipo é o dolo, consistente ficas do sujeito ativo;
na vontade de apropriar-se da coisa. z Crime material: o crime consuma-se com a ocor-
Quanto à consumação, ocorre quando o agente rência do resultado obtenção da vantagem ilícita,
deixa de restituir a coisa ao dono ou legítimo possui- acarretando prejuízo a terceiro;
dor ou de entregá-la à autoridade competente, dentro z Não admite a forma culposa: só se pratica a título
do prazo de quinze dias. de dolo;
O crime de apropriação de coisa achada poderá se z Admite a modalidade tentada.
configurar:
O estelionato privilegiado é aquele em que o
z Se o agente deixa de restituir a coisa achada ao agente é primário e é de pequeno valor o prejuízo.
dono ou legítimo possuidor; Poderá o juiz, neste caso, substituir a pena de reclusão
z Se o agente deixa de entregar a coisa achada à pela pena de detenção, diminuir a pena de 1/3 a 2/3 ou
autoridade competente. aplicar somente a pena de multa.
Art. 171 [...]
Por fim, o Código Penal estabelece a possibilida- § 1º Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor
de de se aplicar aos crimes previstos no capítulo da o prejuízo, o juiz pode aplicar a pena conforme o
apropriação indébita os institutos aplicáveis ao furto disposto no art. 155, § 2º.
privilegiado. Logo:
Vejamos as formas equiparadas do crime de este-
z Se o criminoso é primário; lionato, que serão submetidas às mesmas penas.
z Se é de pequeno valor a coisa.
Disposição de Coisa Alheia como Própria
O juiz poderá:
Art. 171 [...]
z Substituir a pena de reclusão pela pena de § 2º Nas mesmas penas incorre quem:
detenção; I - vende, permuta, dá em pagamento, em locação
z Diminuir a pena de 1/3 a 2/3; ou em garantia coisa alheia como própria;
z Aplicar somente a pena de multa.
Este crime está previsto no inciso I, § 2º, art. 171,
ESTELIONATO E OUTRAS FRAUDES do CP, ou seja, o agente vende, permuta, dá em paga-
mento, em locação ou em garantia coisa alheia como
Estelionato própria — disposição de coisa alheia como própria. O
agente, neste crime, faz com que coisa alheia se passe
Art. 171 Obter, para si ou para outrem, vantagem como dele, enganando outrem.
ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo Os verbos previstos no tipo são: vender, permutar
alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qual- (trocar), dar como pagamento, locação ou garantia.
quer outro meio fraudulento: Vender: a venda é o contrato pelo qual as partes se
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de qui- obrigam a dar uma coisa por dinheiro. Aperfeiçoa-se
nhentos mil réis a dez contos de réis. com o acordo de vontades acerca da coisa e do pre-
ço, independentemente da tradição. Esta é necessária
O crime de estelionato (art. 171, do CP) será prati- para a aquisição da propriedade, e não para a forma-
cado quando o agente obtiver, para si ou para outrem, ção do contrato. Consuma-se o crime com a obtenção
vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou da vantagem e causação do prejuízo.
mantendo alguém em erro, mediante artifício ardil Permutar (trocar): a permuta ou troca é o con-
ou qualquer outro meio fraudulento. trato pelo qual as partes assumem a obrigação de dar
O agente altera, de modo consciente, a data de óbi- uma coisa por outra. Aperfeiçoa-se também com o
to de seu genitor, induzindo o tabelião em erro para simples acordo de vontades, independentemente da
não pagar multa em procedimento extrajudicial de entrega do bem. Consuma-se o crime quando a vítima
inventário (vantagem econômica). entrega ao estelionatário a coisa, pois, nesse momen-
Observe que o crime fala em vantagem ilícita (segun- to, opera-se o prejuízo e a obtenção da vantagem.
do a doutrina majoritária, deve ser vantagem de natu- Dar em pagamento: a dação em pagamento con-
reza patrimonial), podendo ser coisa móvel ou imóvel. siste na extinção de uma obrigação vencida pelo fato
A vantagem ilícita é obtida pelo agente, que se de o credor consentir em receber prestação diversa
NOÇÕES DE DIREITO

utiliza de artificio ardil (método de enganar) ou qual- da que lhe é devida. Consuma-se o crime quando o
quer outro tipo de fraude. estelionatário obtém a quitação da dívida, mediante a
Ele induz a vítima em erro (ela não estava em erro e promessa de entregar ao seu credor uma certa coisa.
o agente o faz) ou mantém a vítima em erro (ela estava Locação: a locação é o contrato pelo qual uma das
em erro, o agente, de má-fé, faz com que ela permaneça). partes se obriga a ceder a outra, por tempo determinado
No estelionato, a vítima, devido ao fato de ter sido ou não, o uso e gozo de coisa infungível, mediante certa
enganada, colabora com o agente, entregando-lhe, de retribuição. Consuma-se o crime quando o estelionatá-
alguma forma, a vantagem. rio recebe o sinal ou o pagamento do primeiro aluguel.
Esta condição, inclusive, é fator que serve para Garantia: a garantia compreende o penhor, a
diferenciar o estelionato de outros tipos penais que hipoteca e a anticrese. Consuma-se o crime quando o
com ele possam se confundir. estelionatário obtém o empréstimo, dando em garan-
tia uma coisa alheia. 293
Alienação ou Oneração Fraudulenta de Coisa Própria Vejamos, o tipo penal faz a seguinte alusão: “coisa
que deve entregar a alguém”, pressupondo-se, portan-
Art. 171 [...] to, uma obrigação de prestação de dar entre as partes.
§ 2º [...]
A obrigação deve ser a título oneroso. Se for gratuita,
II - vende, permuta, dá em pagamento ou em garan-
como o comodato e a doação, desaparece o delito, por-
tia coisa própria inalienável, gravada de ônus ou
litigiosa, ou imóvel que prometeu vender a terceiro, que não há prejuízo ao credor. Nos negócios gratuitos,
mediante pagamento em prestações, silenciando não se pode reclamar sequer vício redibitório, de modo
sobre qualquer dessas circunstâncias; que o devedor não é sancionado nem na esfera cível.
Se não houver uma obrigação antecedente, a
Este crime está previsto no inciso II, § 2º, art. 171, entrega de coisa defraudada pode configurar o delito
do CP, que consiste no agente que vende, permuta, do caput do art. 171.
dá em pagamento ou em garantia coisa própria ina-
lienável, gravada de ônus ou litigiosa, ou imóvel que Fraude para Recebimento de Indenização ou Valor de
prometeu vender a terceiro, mediante pagamento Seguro
em prestações, silenciando sobre qualquer dessas
circunstâncias. Art. 171 [...]
Temos que destacar que o objeto material do crime § 2º [...]
pode ser bem móvel ou imóvel. V - destrói, total ou parcialmente, ou oculta coisa
Vejamos: própria, ou lesa o próprio corpo ou a saúde, ou
Coisa própria inalienável: os bens inalienáveis agrava as conseqüências da lesão ou doença, com
são: bem de família do Código Civil, bem doado com o intuito de haver indenização ou valor de seguro
cláusula de inalienabilidade e bem deixado por testa-
mento com cláusula de inalienabilidade. O crime de fraude para recebimento de indeniza-
Coisa própria gravada de ônus, por exemplo: pe- ção ou valor de seguro, segundo a doutrina majoritá-
nhor, hipoteca, anticrese, enfiteuse, servidão, superfí- ria, é crime formal, que se consuma com a prática da
cie, uso, usufruto, habitação e superfície. conduta, independentemente de o agente conseguir
Coisa própria litigiosa: bem sub-judice é aquele ou não receber os valores referentes a indenização ou
em que há uma ação judicial acerca da titularidade da valor de seguro.
propriedade. Lembre-se de que o agente não é punido penal-
Imóvel próprio que prometeu vender a terceiro, mente por causar mal somente a si mesmo, sendo
mediante pagamento em prestações. assim, caso ele se lesione sem o fim de receber seguro,
Observa-se que a lei é omissa em relação a imóvel ele não será sujeito passivo do crime.
que prometeu vender a terceiro, mediante pagamento O sujeito passivo será a seguradora.
à vista. Também é omissa sobre o compromisso que
recai sobre bens móveis, ainda que em prestações. Fraude no Pagamento por Meio de Cheque

Defraudação de Penhor Art. 171 [...]


§ 2º [...]
Art. 171 [...] VI - emite cheque, sem suficiente provisão de fundos
§ 2º [...] em poder do sacado, ou lhe frustra o pagamento.
III - defrauda, mediante alienação não consentida
pelo credor ou por outro modo, a garantia pigno-
Leve em consideração que, para configuração des-
ratícia, quando tem a posse do objeto empenhado;
ta forma equiparada de estelionato, é necessário que
o agente saiba desde o início que não dispõe de fundos
Este crime está previsto no inciso III, § 2º, art. 171,
do CP, e consiste na conduta de o agente defraudar, para cobrir o cheque, não se englobando nesta moda-
mediante alienação não consentida pelo credor ou lidade criminosa os casos de não pagamento de che-
por outro modo, a garantia pignoratícia, quando tem que por motivos cotidianos (sem má-fé).
a posse do objeto empenhado. É importante conhecer duas súmulas do STF, refe-
É essencial a fraude, isto é, a falta de autorização rentes ao crime de fraude no pagamento por meio de
do credor. O consentimento deste exclui o crime. cheque.
A consumação ocorre com a efetiva defraudação,
isto é, com a alienação, ocultação, abandono etc. da Súmula 521: O foro competente para o processo e
coisa empenhada. julgamento dos crimes de estelionato, sob a modali-
A defraudação parcial é suficiente para a consu- dade da emissão dolosa de cheque sem provisão de
mação, porque diminui a garantia do credor, gerando fundos, é o local onde se deu a recusa do pagamento
prejuízo. pelo sacado.
Súmula 554: O pagamento de cheque emitido sem
Fraude na Entrega de Coisa provisão de fundos, após o recebimento da denún-
cia, não obsta ao prosseguimento da ação penal.
Art. 171 [...]
§ 2º [...] Podemos concluir, pela leitura da Súmula 554, que
IV - defrauda substância, qualidade ou quantidade se o agente pagar os valores referentes ao cheque emi-
de coisa que deve entregar a alguém; tido sem fundos antes do recebimento da denúncia,
será impedido o início da ação penal.
Este crime está previsto inciso IV, § 2º, art. 171, do Vejamos também a Súmula 17 do STJ: “Quando o
CP, em que o agente defrauda substância, qualidade falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade
294 ou quantidade, de coisa que deve entregar a alguém. lesiva, é por este absorvido”.
Entenda da seguinte forma: se o uso do documento da alienação ou debilidade mental de outrem, indu-
falso se exaurir (extinguir) na prática do estelionato, zindo qualquer deles à prática de ato suscetível de
este crime absorverá aquele. produzir efeito jurídico, em prejuízo próprio ou de
Se não se exaurir, o agente responderá pelos dois terceiro:
crimes em concurso formal. Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
Observe as causas de aumento de pena previstas
no Código Penal para o estelionato: O crime consuma-se independentemente de pre-
juízo causado, ou seja, trata-se de crime formal.
Art. 171 [...]
§ 3º A pena aumenta-se de um terço, se o crime é Induzimento à Especulação
cometido em detrimento de entidade de direito
público ou de instituto de economia popular, assis- Art. 174 Abusar, em proveito próprio ou alheio, da
tência social ou beneficência. inexperiência ou da simplicidade ou inferioridade
mental de outrem, induzindo-o à prática de jogo ou
A pena será aumentada de 1/3 (um terço) se o cri- aposta, ou à especulação com títulos ou mercado-
me é praticado: rias, sabendo ou devendo saber que a operação é
ruinosa:
z Em detrimento de entidade de direito público Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
ou de instituto de economia popular, assistência
social ou beneficência. É chamado de estelionato O crime consuma-se independentemente da exis-
previdenciário. tência de prejuízo, trata-se de crime formal. Uma
situação peculiar é que o delito pode ser tanto realiza-
A pena será aplicada em dobro: do por meio de jogos ou apostas lícitas quanto ilícitas.

Estelionato Contra Idoso Fraude no Comércio

O estelionato contra idoso sofre recentes altera- Art. 175 Enganar, no exercício de atividade comer-
ções pela Lei nº 14.155, de 2021, e aumenta a pena do cial, o adquirente ou consumidor:
estelionato de 1/3 ao dobro, quando cometido contra I - vendendo, como verdadeira ou perfeita, merca-
doria falsificada ou deteriorada;
idoso ou vulnerável. Vejamos:
II - entregando uma mercadoria por outra:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
Art. 171 [...]
§ 1º Alterar em obra que lhe é encomendada a qua-
§ 4º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) ao dobro,
lidade ou o peso de metal ou substituir, no mesmo
se o crime é cometido contra idoso ou vulnerável,
caso, pedra verdadeira por falsa ou por outra de
considerada a relevância do resultado gravoso.
menor valor; vender pedra falsa por verdadeira;
vender, como precioso, metal de ou outra qualidade:
Importante destacar também que essa majorante Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa. [...]
incide sobre todas as modalidades de estelionato.
Em regra, a ação procede-se mediante representa- No crime de fraude no comércio, se o criminoso é
ção, exceto nos casos previstos no § 5º, do art. 171.
primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz
pode substituir a pena de reclusão pela de detenção,
Art. 171 [...]
diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a
§ 5º Somente se procede mediante representação,
pena de multa.
salvo se a vítima for:
I - a Administração Pública, direta ou indireta;
II - criança ou adolescente; Outras Fraudes
III - pessoa com deficiência mental; ou
IV - maior de 70 (setenta) anos de idade ou incapaz. Art. 176 Tomar refeição em restaurante, alojar-se
em hotel ou utilizar-se de meio de transporte sem
Duplicata Simulada dispor de recursos para efetuar o pagamento:
Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou
Art. 172 Emitir fatura, duplicata ou nota de ven- multa.
da que não corresponda à mercadoria vendida, em Parágrafo único. Somente se procede mediante repre-
quantidade ou qualidade, ou ao serviço prestado. sentação, e o juiz pode, conforme as circunstâncias,
Pena - detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e deixar de aplicar a pena.
multa.
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrerá A primeira conduta é tomar refeição em restau-
NOÇÕES DE DIREITO

aquêle que falsificar ou adulterar a escrituração do rante sem dispor de recursos para efetuar o pagamento.
Livro de Registro de Duplicatas. A lei refere-se genericamente a restaurante, de tal
forma que abrange lanchonetes, cafés, bares e outros
O crime em tela é caracterizado pela consumação, estabelecimentos que sirvam refeição. Esta, aliás,
que ocorre com a mera colocação da duplicata em cir- engloba a ingestão de bebidas. Entende-se que o deli-
culação, não sendo necessário o prejuízo a terceiros. to não se configura quando o agente é servido em sua
Não há previsão de forma culposa. própria residência.
A segunda conduta incriminada é alojar-se em
Abuso de Incapazes hotel sem dispor de recursos para efetuar o pagamen-
to. A punição, evidentemente, estende-se a fatos que
Art. 173 Abusar, em proveito próprio ou alheio, de ocorram em estabelecimentos similares, como pen-
necessidade, paixão ou inexperiência de menor, ou sões ou pousadas. 295
A terceira e última conduta criminosa consiste em Art. 177 [...]
utilizar-se de meio de transporte (ônibus, táxi, lota- § 1º Incorrem na mesma pena, se o fato não consti-
ção, barco, trem) sem possuir recursos para efetuar o tui crime contra a economia popular:
pagamento. I - o diretor, o gerente ou o fiscal de sociedade por
ações, que, em prospecto, relatório, parecer, balan-
O tipo penal expressamente exige que o agente
ço ou comunicação ao público ou à assembléia, faz
realize as condutas típicas sem dispor de recursos
afirmação falsa sobre as condições econômicas da
para efetuar o pagamento naquele instante. sociedade, ou oculta fraudulentamente, no todo ou
É necessário (elementar do tipo penal) que o agen- em parte, fato a elas relativo;
te não tenha recursos para pagar a refeição, o aloja- II - o diretor, o gerente ou o fiscal que promove, por
mento ou o meio de transporte. qualquer artifício, falsa cotação das ações ou de
Caso o agente tenha os recursos necessários e, outros títulos da sociedade;
entretanto, recuse-se a efetuar o pagamento, não III - o diretor ou o gerente que toma empréstimo à
cometerá o crime de outras fraudes. sociedade ou usa, em proveito próprio ou de tercei-
Deve-se identificar a má-fé do agente quando da ro, dos bens ou haveres sociais, sem prévia autori-
zação da assembléia geral;
prática da conduta descrita no tipo penal. Ele deve
IV - o diretor ou o gerente que compra ou vende, por
saber que não dispõe de recursos para pagar e mes-
conta da sociedade, ações por ela emitidas, salvo
mo assim utilizar os serviços descritos. Caso ocor- quando a lei o permite;
ra um imprevisto, o agente perde seu dinheiro sem V - o diretor ou o gerente que, como garantia de cré-
saber, por exemplo, ele não será responsabilizado dito social, aceita em penhor ou em caução ações
penalmente. da própria sociedade;
Trata-se de crime promovido mediante ação penal VI - o diretor ou o gerente que, na falta de balanço,
pública condicionada à representação da vítima. em desacordo com este, ou mediante balanço falso,
Admite-se a aplicação do instituto do perdão judi- distribui lucros ou dividendos fictícios;
cial, já que o juiz, conforme as circunstâncias, poderá VII - o diretor, o gerente ou o fiscal que, por inter-
posta pessoa, ou conluiado com acionista, conse-
deixar de aplicar a pena.
gue a aprovação de conta ou parecer;
VIII - o liquidante, nos casos dos ns. I, II, III, IV, V
Fraudes e Abusos na Fundação ou Administração de e VII;
Sociedade por Ações IX - o representante da sociedade anônima estran-
geira, autorizada a funcionar no País, que pratica
Art. 177 Promover a fundação de sociedade por os atos mencionados nos ns. I e II, ou dá falsa infor-
ações, fazendo, em prospecto ou em comunicação mação ao Governo.
ao público ou à assembleia, afirmação falsa sobre a
constituição da sociedade, ou ocultando fraudulen- Observe que, em tal dispositivo, o legislador pune
tamente fato a ela relativo: o diretor, o gerente e, em alguns casos, o fiscal e o
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa, se o liquidante, que incidam em fraude em afirmação
fato não constitui crime contra a economia popular. referente à situação econômica da empresa, realizem
falsa cotação de ações, tomem emprestado ou usem
Trata-se de crime em que o fundador da socieda- indevidamente bens ou haveres da sociedade, com-
de por ações (sociedade anônima ou comandita por prem ou vendam ilegalmente ações, prestem caução
ações) induz ou mantém em erro os candidatos a ou penhor ilegais, distribuam lucros ou dividendos
sócios, o público ou presentes à assembleia, fazendo fictícios ou aprovem fraudulentamente conta ou pare-
falsa afirmação sobre circunstâncias referentes à sua cer. Todos esses crimes são próprios, pois só podem
constituição ou ocultando fato relevante desta. Pode ser cometidos pelas pessoas expressamente mencio-
girar elas sobre falsa informação a respeito de subs- nadas no texto legal.
crições ou entradas, de recursos técnicos da compa-
nhia, de nomes de pseudo-investidores etc. Na forma Emissão Irregular de Conhecimento de Depósito ou
omissiva, pode o agente cometer o crime ocultando o “Warrant”
nome dos fundadores, problemas técnicos etc., cujo
conhecimento poderia prejudicar ou impedir a subs- Art. 178 Emitir conhecimento de depósito ou war-
rant, em desacordo com disposição legal:
crição de ações e a própria constituição da sociedade.
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa
A fraude pode constar de prospecto ou de comunica-
ção feita ao público ou em assembleia da empresa.
Trata-se de dispositivo fundamentado no Decreto
Trata-se de crime próprio em que o sujeito ativo é
nº 1.102, de 1903, que permite a emissão do conheci-
o responsável pela fundação da sociedade por ações.
mento de depósito e do warrant quando mercadorias
Sujeitos passivos são as pessoas físicas ou jurídicas são depositadas em armazéns gerais.
que subscreveram o capital ludibriadas. Esses títulos, negociáveis por endosso, são entre-
É crime formal que se consuma no momento em gues ao depositante, sendo que o primeiro é documen-
que é lançado o prospecto ou o comunicado com a to de propriedade da mercadoria e confere ao dono o
afirmação falsa ou contendo a omissão fraudulenta poder de disposição sobre a coisa, enquanto o segun-
de informação relevante, ainda que disso não decorra do confere ao portador direito real de garantia sobre
qualquer resultado lesivo. as mercadorias.
Sobre a pena, é claro que as figuras do § 1º, art. 177, Quem possui ambos tem a plena propriedade
do CP, são subsidiárias, ou seja, cedem lugar quando delas.
o fato se enquadra como crime contra a economia Delito é a circulação desses títulos em desacordo
296 popular da Lei nº 1.521, de 1951. com disposição legal.
Trata-se de norma penal em branco, complemen- Antes de iniciarmos a análise de cada uma das
tada pelo Decreto nº 1.102, de 1903. divisões feitas, é importante mencionar que, segundo
De acordo com seus ditames, a emissão é irregular posicionamento doutrinário majoritário, confirmada
quando: pela jurisprudência do STF, a coisa deve ser móvel.
É importante que você saiba, também, que a recep-
z A empresa não está legalmente constituída (art. tação é punível ainda que desconhecido ou isento de
1º); pena o autor do crime de que proveio a coisa.
z Inexiste autorização do Governo Federal para a Logo, a punição da receptação não depende da
emissão (arts. 2º e 4º); punição do crime anterior, de que se obteve a coisa.
z Inexistem as mercadorias no documento
especificadas; Receptação Simples
z Há emissão de mais de um título para a mesma
mercadoria ou gêneros especificados no título; Art. 180 Adquirir, receber, transportar, conduzir
z O título não perfaz as exigências reclamadas no ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que
art. 15 do decreto. sabe ser produto de crime, ou influir para que ter-
ceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte:
Sujeito ativo é o depositário da mercadoria. Sujei- Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
to passivo é o endossatário ou portador que recebe o
título sem saber da ilegalidade. É crime comum, tanto em relação ao sujeito ativo,
O crime se consuma quando o título é colocado como em relação ao sujeito passivo.
em circulação e a tentativa não é possível, pois, ou o A doutrina divide a receptação simples em própria
agente o coloca em circulação, consumando o crime, ou imprópria. Conheça tal divisão:
ou não o faz, sendo atípica a conduta.
z Receptação Própria: adquirir, receber, transpor-
Fraude à Execução tar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou
alheio, coisa que sabe ser produto de crime;
Art. 179 Fraudar execução, alienando, desvian- z Receptação Imprópria: influir para que terceiro,
do, destruindo ou danificando bens, ou simulando de boa-fé, a adquira, receba ou oculte.
dívidas:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
A receptação é crime de tipo misto alternativo, poden-
Parágrafo único. Somente se procede mediante
do o agente ser responsabilizado penalmente caso prati-
queixa.
que qualquer um dos verbos descritos no tipo penal.
O crime consiste na existência de uma senten-
Receptação Qualificada
ça a ser executada ou de uma ação executiva e
mandamento.
O agente, com o fim de fraudar a execução, desfa- A receptação qualificada é aquela praticada no
z-se de seus bens por meio de uma das condutas des- exercício de atividade comercial ou industrial.
critas na lei:
Art. 180 [...]
§ 1º Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocul-
z Alienando;
tar, ter em depósito, desmontar, montar, remontar,
z Desviando;
vender, expor à venda, ou de qualquer forma utili-
z Destruindo ou danificando bens;
zar, em proveito próprio ou alheio, no exercício de
z Simulando dívidas. atividade comercial ou industrial, coisa que deve
saber ser produto de crime:
Sujeito ativo é o devedor. Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa.
Se for empresário e as condutas forem perpetra-
das após decretada sua quebra, o ato caracterizará É admitido, na receptação qualificada, tanto o dolo
crime falimentar. direto quanto o dolo eventual (coisa que deve saber
O sujeito passivo é o credor. ser produto de crime).
Trata-se de crime material que somente se consu-
ma quando a vítima sofre algum prejuízo patrimonial Art. 180 [...]
em consequência da atitude do agente. § 2º Equipara-se à atividade comercial, para efeito
A tentativa é possível quando o sujeito não conse- do parágrafo anterior, qualquer forma de comércio
gue realizar a conduta típica pretendida. irregular ou clandestino, inclusive o exercício em
A ação penal é privada. residência.
NOÇÕES DE DIREITO

Se a fraude atingir execução promovida pela


União, Estado ou Município, a ação será pública Receptação Culposa
incondicionada.
Art. 180 [...]
RECEPTAÇÃO § 3º Adquirir ou receber coisa que, por sua nature-
za ou pela desproporção entre o valor e o preço, ou
O crime de receptação pode ser dividido em: pela condição de quem a oferece, deve presumir-se
obtida por meio criminoso:
z Receptação simples; Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa, ou
z Receptação qualificada; ambas as penas.
z Receptação culposa;
z Receptação de animal. 297
Segundo entendimento doutrinário majoritário, a suínos, que constituem patrimônio de alguém, domes-
receptação será culposa quando o agente adquirir ou ticados com finalidade produtiva.
receber coisa que, por sua natureza ou pela despro- Ex.: Fulano adquire, no exercício do comércio em
porção entre o valor e o preço, ou pela condição de seu açougue, gado abatido após ser furtado em uma
quem a oferece, presume-se que tenha sido obtida por fazenda, com a finalidade de comercializar a carne.
meio criminoso. Fulano praticou o crime de receptação de animal.
Ex.: Fulano adquiri uma motocicleta, avaliada em
R$ 10.000,00, de Ciclano, que pediu por ela o valor DISPOSIÇÕES GERAIS
de R$ 2.500,00. Fulano é abordado por policiais civis,
identificando-se, posteriormente, que a motocicleta é Imunidades nos Crimes Contra o Patrimônio
objeto de furto.
É possível que Fulano seja responsabilizado cri- Introdução
minalmente por receptação culposa, já que há muita
desproporção entre o valor da coisa e o preço pedido As disposições gerais dos crimes contra o patrimô-
pelo agente, tendo ele elementos para presumir que a nio versam sobre as:
coisa foi obtida por meio criminoso.
À receptação culposa aplica-se o instituto do per- z Imunidades
dão judicial, podendo o juiz deixar de aplicar a pena, „ Imunidades absolutas;
levando em consideração as circunstâncias do fato e „ Imunidades relativas ou processuais penais.
caso o criminoso seja primário.
No caso de receptação dolosa, aplica-se o institu- z Exceções às imunidades
to do privilégio, podendo o juiz, caso o agente seja
primário e seja de pequeno valor a coisa, substituir Art. 181 É isento de pena quem comete qualquer
a pena de reclusão pela pena de detenção, reduzir a dos crimes previstos neste título, em prejuízo:
pena de 1/3 a 2/3, ou aplicar somente a pena de multa. I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal;
Em 2017, por meio da Lei 13.531, foi inserido II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco
importante dispositivo ao Código Penal, que aumenta legítimo ou ilegítimo, seja civil ou natural.
a pena do agente ao dobro.
A pena prevista para a receptação simples (própria As imunidades absolutas isentam de pena quem
ou imprópria) será aplicada em dobro, tratando-se de comete delito contra o patrimônio em prejuízo de
ascendente, descendente ou cônjuge, na constância
bens do patrimônio da União, de Estado, do Distrito
da sociedade conjugal.
Federal, de Município ou de autarquia, fundação públi-
São autênticas escusas absolutórias, vedando
ca, empresa pública, sociedade de economia mista ou
inclusive a instauração do inquérito policial.
empresa concessionária de serviços públicos. Vejamos:
Trata-se de um perdão legal.
Conquanto o fato seja típico, antijurídico e culpá-
Art. 180 [...]
vel, há um impedimento legal da punibilidade, que é
§ 6º Tratando-se de bens do patrimônio da União,
excluída antes mesmo da prática do delito, distinguin-
de Estado, do Distrito Federal, de Município ou
do-se do perdão judicial, que é concedido pelo juiz na
de autarquia, fundação pública, empresa pública,
sentença, após o devido processo legal.
sociedade de economia mista ou empresa conces-
A primeira causa de imunidade é o delito prati-
sionária de serviços públicos, aplica-se em dobro a
pena prevista no caput deste artigo.
cado em prejuízo de cônjuge, na constância da socie-
dade conjugal; por exemplo, não se instaura sequer
inquérito policial quando a esposa furta o marido, ou
Receptação de Animal
vice-versa.
A imunidade subsiste na separação de fato.
Trata-se de um tipo autônomo de receptação e não
Exclui-se a imunidade se por ocasião do delito eles
uma forma qualificada de receptação, já que se altera estavam separados judicialmente.
os patamares mínimos e máximos da pena. A tendência é estender a imunidade à união está-
A receptação de animal (semovente domesticável de vel, considerando-a equiparada ao casamento.
produção) tem a pena de reclusão, de 2 a 5 anos e multa.
O crime de receptação de animal está previsto no
art. 180-A do Código Penal. Importante!
Foi inserido pela Lei nº 13.330, de 2016, sendo, por-
tanto, um tipo penal bastante recente. O inciso IV, art. 7º, da Lei Maria da Penha, con-
sidera também violência doméstica o atentado
Art. 180-A Adquirir, receber, transportar, conduzir, contra o patrimônio da mulher.
ocultar, ter em depósito ou vender, com a finalida- Diante disso, uma corrente doutrinária susten-
de de produção ou de comercialização, semovente ta que não haveria mais imunidade nos crimes
domesticável de produção, ainda que abatido ou patrimoniais contra a mulher.
dividido em partes, que deve saber ser produto de Entretanto, o STJ já decidiu pela manutenção
crime: da imunidade, à medida que a referida lei não a
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. afastou expressamente.
Aqui, também é admitido o dolo eventual (que
deve saber ser produto de crime). A segunda causa de imunidade, crime contra o
Semovente domesticável de produção pode ser patrimônio praticado em prejuízo de ascendente, inci-
298 entendido como animais de bando, como bovinos e de também nos casos de adoção.
Porém, se o filho adotivo furta o pai biológico, este I - se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em
responderá pelo delito, e vice-versa, pois a adoção geral, quando haja emprego de grave ameaça ou
extingue os vínculos com a família de sangue. violência à pessoa;
Tratando-se de vínculo de afinidade, como sogro, II - ao estranho que participa do crime.
sogra, genro, nora, padrasto, madrasta, enteado e III – se o crime é praticado contra pessoa com idade
enteada, não há imunidade, tendo em vista a vedação igual ou superior a 60 (sessenta) anos.
da analogia.
A última causa de imunidade absoluta, quando se O art. 183 do CP dispõe que as imunidades absolu-
pratica crime contra o patrimônio em prejuízo de des- tas e relativas não se aplicam:
cendente, é aplicada também nos casos de adoção.
z Ao crime de roubo, ainda que o roubo seja com
Art. 182 Somente se procede mediante representa- violência imprópria, como a subtração ocorrida
ção, se o crime previsto neste título é cometido em após o ladrão hipnotizar a vítima, exclui-se a imu-
prejuízo: nidade, pois a lei não abre qualquer exceção ao
I - do cônjuge desquitado ou judicialmente separado; delito de roubo;
II - de irmão, legítimo ou ilegítimo; z Ao crime de extorsão, ainda que se trate da extor-
III - de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita. são indireta, onde não há violência ou grave amea-
ça, exclui-se a imunidade;
Nas imunidades penais relativas, previstas no art. z Aos delitos cometidos com emprego de grave
182, do CP, o delito, de ação pública incondicionada, ameaça ou violência à pessoa;
transmuda-se para ação pública condicionada à repre- z Ao estranho que participa do crime, pois, a imuni-
sentação da vítima ou de seu representante legal. dade é uma circunstância pessoal, logo, incomuni-
Tratando-se de crime de ação privada, não há que cável. Por exemplo, o terceiro que auxilia o marido
se falar em imunidade processual, cuja finalidade é a furtar a esposa responde pelo crime de furto;
beneficiar, ao invés de prejudicar. z Aos delitos praticados contra pessoa com idade
A ação penal privada é mais vantajosa do que a igual ou superior a 60 anos.
ação penal pública condicionada à representação.
A primeira causa de imunidade processual con- CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL
siste no fato de o delito ser praticado em prejuízo de
cônjuge judicialmente separado. Vejamos, marido fur- Bem Jurídico Tutelado
ta esposa um tempo depois de o casamento ser dis-
solvido, estão separados judicialmente. Neste caso, há Na redação original do Código Penal de 1940, os
imunidade relativa. tipos constantes no Título VI, da Parte Especial, eram
chamados de “Crimes contra os costumes”. Costumes,
Tratando-se de cônjuges divorciados ao tempo do
na época, tinha o significado de hábitos, condutas
crime, não há qualquer imunidade. Por exemplo, após
sexuais que eram aprovadas pela moral vigente.
separados judicialmente, ex-esposa furta ex-marido.
Com a promulgação da Constituição Federal de
A segunda causa, delito praticado em prejuízo
1988, que adotou a dignidade da pessoa humana
de irmão, abrange os irmãos germanos ou bilaterais
como fundamento, a dotrina passou a entender que
(filhos dos mesmos pais) e os irmãos unilaterais, que
ao invés de tutelar os costumes, a lei penal deveria
podem ser consanguíneos (filhos do mesmo pai) ou
proteger o bem jurídico liberdade sexual em sentindo
uterinos (filhos da mesma mãe).
amplo. Seguindo esse entendimento, a Lei nº 12.015,
É claro que a imunidade também se estende aos de 2009, promoveu alterações em alguns tipos penais
irmãos adotivos. e mudou o bem jurídico do Título VI do CP, que pas-
Observa-se que, se o agente comete delito de furto sou a ser denominado “Dos crimes contra a dignidade
em prejuízo de cunhado: sexual”.
Os crimes contra a dignidade sexual trazem, por-
z Se a sua irmã for casada no regime da comunhão tanto, a tipificação de condutas sexuais praticadas:
universal, haverá imunidade;
z Se o regime for o da comunhão parcial, só have- a) contra a vontade da vítima – Capítulo I;
rá imunidade se o furto recaiu sobre bem comum, b) mediante fraude (vontade viciada) – Capítulo I;
isto é, comunicável em razão do casamento; c) contra vulneráveis – Capítulo II.
z Se o regime for o da separação de bens, não
há falar-se em imunidade, pois os bens não se Em todos os tipos penais dos crimes contra a dig-
comunicam. nidade sexual o bem jurídico tutelado é a liberdade
sexual.
NOÇÕES DE DIREITO

A última causa de imunidade, delito praticado em


prejuízo de tio ou sobrinho com quem o agente coabi-
ta, pode se caracterizar ainda que o crime tenha sido Importante!
praticado fora do local em que eles vivem, como, por
exemplo, numa pescaria. Inseridos ao tema crimes contra a dignidade
Se não houver coabitação, mas apenas relação de sexual encontram-se o tipo do estupro (art. 213,
hospitalidade, moradia eventual, como a que ocorre nas CP), o assédio sexual (art. 216-A), o registro não
férias escolares em que o sobrinho vai passar alguns autorizado da intimidade sexual (art. 216-B) e o
dias na casa de um tio, não há falar-se em imunidade. estupro de vulnerável (art. 217-A) tipos penais
recorrentes em provas de concursos. Dentre
Art. 183 Não se aplica o disposto nos dois artigos estes, merece destaque o tipo do art. 217-A que
anteriores: costuma receber maior destaque nas provas. 299
ESTUPRO E a outra forma é qualificada pela morte:

Estupro § 2º Se da conduta resulta morte:


Pena – reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.
Art. 213 Constranger alguém, mediante violência
ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a pra- São, assim, três as formas qualificadas:
ticar ou permitir que com ele se pratique outro ato
libidinoso:
Pena – reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.
z Estupro com resultado lesão corporal grave (§ 1º);
z Estupro contra vítima menor de 18 e maior de 14 (§ 1º);
No caput do art. 213 encontra-se a modalidade z Estupro com resultado morte (§ 2º).
simples. Constranger significa forçar, coagir alguém
usando de violência (vis absoluta) ou grave ameaça Todos dos tipos de estupro (caput e parágrafos) são
(vis compulsiva). No caso do estupro a coação tem a considerados hediondos, confome o inciso V, art. 1º,
finalidade de se obter: da Lei nº 8.072, de 1990.

a) a conjunção carnal, que é a introdução do pênis z Hediondos:


na vagina (cópula vagínica);
b) outro ato libidinoso (diverso da conjunção carnal „ Art. 213, caput (estupro simples);
como, por exemplo, sexo oral, sexo anal, toques „ Art. 213, § 1º (qualif. pela lesão grave/ idade);
íntimos ou sobre a roupa, masturbação e o beijo „ Art. 213, § 2º (qualif. pela morte).
lascivo). A conjunção carnal é um tipo de ato libi-
dinoso (gênero). O sujeito ativo e o sujeito passivo do estupro
podem ser qualquer pessoa, sem qualquer qualifi-
Atos libidinosos cação especial (crime comum). Homens e mulheres
(gênero) podem ser tanto autores quanto vítimas (crime bico-
mum). A esposa pode ser vítitma do crime pratica-
do pelo marido, ou seja, ocorre o estupro quando
o marido constrange, mediante violência ou grave
Conjunção carnal ameaça, sua esposa à prática de conjunção carnal
(espécie) ou ato libidinoso. Não há nada que impeça, também,
que a prostituta seja sujeito passivo.
É possível a participação (quando um dos autores
Trata-se de um tipo misto alternativo, conforme segura a vítima para que com ela se pratique os atos)
doutrina e jurisprudência do STF e STJ. Ou seja, se o e a coautoria (quando há instigação, por exemplo).
sujeito constrange a vítima à conjunção carnal e pra- Só existe estupro doloso, se consumado com a efe-
tica sexo oral, responde por um só crime. Da mesma tiva prática da conjunção carnal ou dos atos libidino-
forma a prática de vários atos libidinosos configura sos (crime material).
crime único (claro desde que contra a mesma víti- A grave ameaça ou a violência constituem cri-
ma, no mesmo contexto). mes-meio para a prática do estupro, ficando por
A redação do estupro antes da Lei nº 12.012, de
ele absorvidos (princípio da consunção).
2009, era assim:
Vamos agora ver algumas particularidades sobre
o crime de estupro que já foram objeto de questiona-
Art. 213 Constranger mulher à conjunção carnal,
mento em provas:
mediante violência ou grave ameaça.
Só mulher poderia ser vítima e somente o homem
poderia ser sujeito ativo, uma vez que só se consu- z Consumação e tentativa.
mava o crime pela conjunção carnal.
Os demais atos libidinosos eram protegidos pelo Observe os dois exemplos:
tipo do atentado violento ao pudor, que se encon-
trava no art. 214, CP, hoje revogado: „ o
agente aborda sua vítima na rua e a leva para
Art. 214 Constranger alguém, mediante violência ou um local ermo com a intenção de estuprá-la;
grave ameaça, a praticar ou permitir que com ele se lá chegando começa a tirar a roupa da vítima,
pratique ato libidinoso diverso da conjunção carnal. momento que é interrompido pela chegada da
Atenção: não houve abolitio criminis, pois, apesar polícia, antes da prática de algum ato libidinoso
do art. 214 de ter sido revogado, as condutas por
ou de conjunção carnal. Neste caso vai respon-
ele tratadas encontram-se hoje previstas no art.
der pelo estupro na forma tentada;
213, CP (houve, portanto, o que chamamos de con-
tinuidade típico-normativa). „ vamos modificar um pouco o exemplo acima.
Nesta situação, ao retirar as roupas da vítima, o
O estupro tem, também, duas formas qualifica- sujeito toca e beija suas partes íntimas, quando
das pelo resultado. A primeira pela ocorrência de é surpreendio pela polícia. Muito embora não
lesão corporal grave (tanto faz as graves quanto as tenha praticado a conjunção carnal, que era
gravíssímas) ou pela idade da vítima: seu dolo, antes de ser interropido pela polícia
praticou atos libidinosos ao tocar as partes ínti-
§ 1º Se da conduta resulta lesão corporal de mas da vítima. Neste caso, vai responder pelo
natureza grave ou se a vítima é menor de 18 estupro consumado.
(dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos:
300 Pena – reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos.
z “Curra” é o nome vulgarmente dado para a situa- Estupro de vulnerável
ção na qual dois ou mais agentes se revezam Vítima menor de 14 anos
(art. 217-A, CP)
na prática do estupro contra a mesma vítima.
Ocorre, por exemplo, quando um agente segura
a vítima, enquanto o outro mantém com ela con- Você notou uma “falha”? O que acontece se a víti-
junção carnal; logo após, eles se revezam. Neste ma tiver exatos 14 anos, ou seja, se for estuprada exa-
caso, cada um dos agentes vai responder por tamente no dia em que completa 14 anos? Existe uma
dois crimes (um como autor e outro como coau- lacuna na lei que deixa de fora da forma qualifica-
tor, como no nosso exemplo; ou ainda como partí- da a vítima com exatos 14 anos completos na data
cipe, dependendo da situação). do crime (que fala em vítima “maior de” 14, mas não
menciona com idade “igual”) bem como não tipifica
z A presença de lesões na vítima não é requisito a conduta com estupro de vulnerável (“menor de”
necessário, uma vez que certos atos libidinosos 14 anos). Neste caso, o enquadramento é feito como
não deixam marcas visíveis que sejam passíveis estupro simples (art. 213, caput). Fique antento a este
de serem apuradas por meio de exame de corpo fato, que pode ser uma típica “pegadinha’.
de delito. Na verdade, em algumas situações, o
contato físico entre a vítima e o agressor não é Causas de Aumento de Pena
necessário para que haja consumação do estu-
pro (com relação aos atos libidinosos). O tipo do Preste atenção que as causas de aumento de pena
art. 213, menciona “praticar” ou “permitir” [a víti- que se aplicam a todos os crimes contra a dignidade
ma], que com ela se pratique ato libidinoso diverso sexual, encontram-se no art. 226, que vamos ver mais
da conjunção carnal. Imagine a situação hipotética adiante.
na qual o agente constrage a vítima mediante gra- Com a entrada em vigor da Lei nº 13.718, de 2018,
ve ameaça a tocar seu próprio corpo de maneira que alterou o art. 225 do Código Penal, TODOS os cri-
erótica (automasturbação). Neste caso o agente vai mes contra a dignidade sexual passaram a ser crimes
responder pelo estupro, uma vez que constrangeu de ação penal pública incondicionada, não precisando
a vítima a praticar ato libidinoso, mediante grave mais da representação da vítima.
ameaça.
z Absurdamente, o casamento da vítima com o VIOLAÇÃO SEXUAL MEDIANTE FRAUDE
agressor (ou com terceiro), até 2005, configura-
va causa extintiva da punibilidade para os crimes A atual redação do art. 215, CP se deu com as modi-
de estupro. A Lei nº 11.106, de 2005, entre outras ficações da Lei nº 12.015, de 2009, dá qual já falamos
mudanças, acabou com essa possibilidade. quando estudamos o estupro. Aqui houve nova conti-
nuidade típico-normativa: o tipo do 216 foi revogado
Formas Qualificadas pelo Resultado e a conduta incluída no art. 215, CP.

O art. 213, apresenta duas formas de estupro qua- Art. 215 Ter conjunção carnal ou praticar outro
lificado pelo resultado: no § 1º (lesão grave) e no § 2º ato libidinoso com alguém, mediante fraude ou
(morte). Em relação à lesão corporal, esta pode ser outro meio que impeça ou dificulte a livre manifes-
tação de vontade da vítima:
tanto grave quanto gravíssima (a distinção encontra-
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.
-se no art. 129, CP, respectivamente, nos §§ 1º e 2º). As
Parágrafo único. Se o crime é cometido com o fim de
lesões leves são absorvidas.
obter vantagem econômica, aplica-se também multa.
Em relação a estes resultados mais graves (lesão
grave e morte), a maioria da doutrina entende ser
Consiste na prática de conjunção carnal ou outro
hipótese de crime preterdoloso, isto é, o resultado
ato libidinoso com alguém (homem ou mulher) com
lesão ou morte se dá por culpa do atente (lembre-se
emprego de fraude ou outro meio que impeça ou difi-
preterdolo = dolo na conduta antecedente e culpa na
culte a livre manifestação de vontade da vítima.
consequente). Nesse sentido, se o agente quer estu-
O exemplo clássico (que já apareceu em mais de
prar e também tem o dolo de lesionar ou de matar,
uma prova) é o do médico que pede para que a pacien-
vai responder pelos dois crimes em concurso. Alguns
te tire toda a roupa, pois precisa examiná-la e, sem
doutrinadores, no entanto, entre eles Guilherme Nuc-
que seja necessário, toca as partes íntimas da vítima
ci, entendem ser indiferente o fato do agente agir com (que foi enganada, pois pensou que os toques fossem
dolo ou culpa em relação ao resultado mais grave. parte normal do exame; ou seja houve engano sobre a
O § 1º apresenta, ainda, a qualificadora pela idade legitimidade do ato). Outro exemplo muito usado é o
da vítima, caso seja menor de 18 e maior de 14. Em
NOÇÕES DE DIREITO

do irmão gêmeo que toma o lugar de seu irmão e pra-


relação à idade da vítima, temos as seguintes hipó- tica conjunção carnal com a namorada deste (engano
teses (atenção que há uma possível “pegadinha” de sobre a pessoa).
prova). Na hora da prova não confunda o crime do art.
215 com o do art. 217-A (que vamos ver logo mais).
IDADE DA VÍTIMA CONSEQUÊNCIA A redação da violação sexual mediante fraude (art.
215) aponta que o agente deve impedir ou dificultar
Estupro simples (art. a livre manifestação da vontade da vítima: se o agen-
Maior de 18 anos
213, caput, CP) te retira por completo a vontade da vítima (embe-
bedando-a completamente, por exemplo), esta se
Vítima maior de 14 e me- Estupro qualificado (art.
torna vulnerável, sendo o caso então da aplicação
nor de 18 213, § 1º, CP)
do tipo penal do art. 217-A (estupro de vulnerável). 301
Também não confunda o art. 215 com o 213 (estu- O Párágrafo único foi vetado. Temos apenas o § 2º.
pro): o meio de execução é diferente: A palavra constranger, no caso do art. 216-A, não
tem o mesmo sentido do que no estupro: o assédio
z Art. 213 (estupro): Violência ou grave ameaça. sexual tem a ideia de intimidar alguém a fazer
z Art. 215 (violação): Fraude ou outro meio que alguma coisa (atos sexuais, libidinosos) sem o uso
impeça ou dificulte a manifestação de vontade. de violência ou grave ameaça. O intuito do agente é
obter favorecimento sexual de qualquer forma (pode
Veja que para que configure este tipo, deve haver ser até um beijo), mediante uma ameaça (quer pode
fraude, engano, ardil; se houver violência ou grave ser explícita ou não) ou de uma promessa (de promo-
ameaça não configura o art. 215, CP. ção, por exemplo), que também pode ser explícita ou
Se a vítima for menor de 14 anos, vai ser o caso da implícita.
incidência do art. 217-A. O sujeito ativo está em posição hierarquicamente
superior à vitima (tem maior autoridade na estrutura
Não é crime hediondo. administrativa) ou que tem ascendência inerente ao
emprego, cargo ou função que exerce (setor privado);
O parágrafo único do art. 215 prevê a aplicação por sua vez, o sujeito passivo é o subordinado (assé-
também da pena de multa se o delito é praticado com dio vertical). É o que se chama de crime bipróprio
a finalidade de obter vantagem econômica, como no (exige carecterísticas especiais do sujeito ativo e do
caso do agente que deixa de pagar a prostituta após passivo).
a realização da conjunção carnal ou de outro ato Não há assédio sexual entre funcionários do mes-
libidinoso. mo nível (assédio horizontal). Também não se confi-
gura quando o subordinado assedia o superior.
IMPORTUNAÇÃO SEXUAL São aspectos relevantes relativos ao tipo do art. 216-A:

Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018, o art. 215-A z é crime bicomum;


revogou o art. 61 da Lei de Contravenções Penais (que z o
flerte (paquera) ou o namoro não configuram a
previa conduta semelhante), criando o tipo penal de conduta descrita;
importunação sexual: z s e a vítima é menor de 14 anos, configura o tipo do
art. 217-A;
Art. 215-A Praticar contra alguém e sem a sua
z é
crime formal (de resultado cortado), ou seja,
anuência ato libidinoso com o objetivo de satisfazer
consuma-se com o constrangimento;
a própria lascívia ou a de terceiro:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o ato z o
parágrafo § 2º determina o aumento de até um
não constitui crime mais grave. terço se a vítima tem mais de 14 e é menor do que
18 anos (cuidado que o dispositivo fala em menor
Exemplo de conduta tratada por este tipo penal de 18, mas como vimos, os menores de 14 são cui-
foi objeto de destaque na mídia em tempos recentes, dados pelo art. 217-A); não estabelece, no entan-
que se materializava quando o sujeito, dentro de um to, o quantitativo mínimo de aumento: a doutrina
transporte coletivo, ejaculava na vítima ou se esfre- aponta que deve ser aplicado o aumento mínimo
gava nela. existente no CP: um sexto;
Os principais aspectos sobre esse crime são: z a
paixão do agente pela vítima não excluem o
crime (veja o art. 28, I do CP, que afirma expres-
z não é hediondo; samente que a emoção e a paixão não afastam a
z é crime subsidiário (só vai se aplicar se não consti- responsabilidade penal);
tuir crime mais grave); z c onforme a doutrina majoritária é crime instan-
z é bicomum (homem e mulher podem ser sujeitos tâneo, não exigindo a prática de atos de forma
ativos/passivos); reiterada;
z se praticado contra menor de 14 anos, é afastado,
z n
ão se exige que o assédio ocorra dentro do
incindo o tipo do art. 217-A;
ambiente de trabalho;
z deve ser praticado contra vítima(s) determina(s);
se não é praticado contra pessoa específica, cons- z p
or último temos a questão da relação professor e
titui ato obsceno (art. 233, CP) como por exemplo, aluno. Existe o crime, por exemplo, quando o pro-
quando o agente se masturba no meio de um par- fessor, ao afirmar a uma aluna que precisava de
que, sem se dirigir a ninguém de forma particular. pontos para ser aprovada em sua disciplina, apro-
xima-se e toca sua barriga e seus seios? Neste caso
ASSÉDIO SEXUAL temos duas posições: a primeira corrente afirma
que não, por não haver hierarquia ou ascendência
O assédio sexual encontra-se previsto no art. 216-A: do docente em relação ao aluno (já foi o entendi-
mento predominante e ainda prevalece na dou-
Art. 216-A Constranger alguém com o intuito de trina); já pela segunda corrente, adotada pelo STJ
obter vantagem ou favorecimento sexual, prevale- em 2019 (ao analisar exatemente um caso como
cendo-se o agente da sua condição de superior hie- o do exemplo), afirma que, apesar de não haver
rárquico ou ascendência inerentes ao exercício de relação de hierarquia, há um domínio do docen-
emprego, cargo ou função. te sobre o aluno, sendo aplicável o tipo do assédio
Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos sexual. Essa discussão se aplica na relação entre
Parágrafo único. líderes religiosos, como pastores e padres, e seus
§ 2º o A pena é aumentada em até um terço se a fiéis; neste caso, aplica-se a posição da doutrina
302 vítima é menor de 18 (dezoito) anos. que afirma não ser possível.
Em relação à configuração de crime de assédio na Forma Equiparada
relação entre professor e aluno:
O parágrafo único do artigo 216-B apresenta uma
z n
uma prova objetiva, o mais indicado é seguir a forma equiparada ao registro do caput. Neste caso o
posição do STJ, no sentido de que é possível o assé- agente não registra cena verdadeira (ou seja, a víti-
dio sexual entre professores e alunos; ma não participa do ato), mas sim faz uma montagem
(de fotografia, vídeo, áudio ou qualquer meio) para
z n
uma prova discursiva, explique as duas posições. incluir alguém em cena de nudez ou ato sexual ou libi-
Veja o posicionamento, por exemplo, de Guilher- dinoso de caráter íntimo. Com o avanço de softwares
me Nucci. de manipulação de imagem cada vez mais potentes,
essa forma de crime tem aumentado cada vez mais
Lembre-se que em relação à hipótese de assédio na Internet, sobretudo com a inclusão do rosto de pes-
sexual entre líderes religiosos: não cabe. soas famosas em cenas de filmes pornográficos (pro-
vavelmente você já ouviu falar do chamado deepfake,
REGISTRO NÃO AUTORIZADO DA INTIMIDADE que consiste na manipulação de rostos por meio de
SEXUAL inteligência artificial).
Vamos aproveitar e estudar outro tipo penal que
Incluído em dezembro de 2018, no CP, pela Lei nº tem relação direta com o crime do art. 216-B.
13.772, de 2018, é o único crime que consta do Capítu- Leia atentamente os verbos que constam no art.
lo I-A do Título VI: 216-B: produzir, fotografar, filmar ou registrar. Obser-
ve que não há a expressão divulgar. E então, o que
Art. 216-B Produzir, fotografar, filmar ou registrar, acontece se alguém divulga a cena registrada? Neste
por qualquer meio, conteúdo com cena de nudez ou caso, incide em uma das formas previstas no art. 218-
ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo e privado C, incluído no CP em 2018, Divulgação de cena de estu-
sem autorização dos participantes: pro ou de cena de estupro de vulnerável, de cena de
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e multa. sexo ou de pornografia:
Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem
realiza montagem em fotografia, vídeo, áudio ou Art. 218-C Oferecer, trocar, disponibilizar, transmi-
qualquer outro registro com o fim de incluir pes- tir, vender ou expor à venda, distribuir, publicar ou
soa em cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso divulgar, por qualquer meio - inclusive por meio de
de caráter íntimo. comunicação de massa ou sistema de informática
ou telemática -, fotografia, vídeo ou outro regis-
Note que art. 216-B constitui em um tipo misto tro audiovisual que contenha cena de estupro ou
alternativo, trazendo os seguintes núcleos: produzir, de estupro de vulnerável ou que faça apologia ou
fotografar, filmar ou registrar, por qualquer meio. induza a sua prática, ou, sem o consentimento da
Pode se configurar tal crime por exemplo, quando vítima, cena de sexo, nudez ou pornografia:
um locador instala um equipamento de gravação de Pena – reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o fato
vídeo em um imóvel com a finalidade de captar ima- não constitui crime mais grave.
gens íntimas sem o conhecimento dos ocupantes. Ou,
ainda, quando o vizinho filma a vizinha trocando de Veja bem, o art. 218-C (divulgação) prevê um crime
mais grave do que o previsto no art. 216-B (divulgação).
roupa.
Uma das formas mais comuns de prática é o que
O consentimento do ofendido, afasta a tipicidade,
se conhece por pornô de vingança (revenge porn, em
uma vez no tipo consta a expressão “sem a autoriza-
inglês) na qual após o término de um relacionamento,
ção dos participantes”.
o agente divulga cenas íntimas da(o) ex-parceira(o).
Os pontos relevantes em relação ao tipo do art.
218-C são:
Importante!
Apenas o maior de idade, capaz, pode consentir z trata-se de crime subsidiário;
com o registro. Se a vítima for menor, configura z é tipo misto alternativo, ou seja, se o agente praticar
o delito do art. 240 do Estatuto da Criança e do todos os núcleos que constam no artigo, dentro do mes-
Adolescente: mo contexto fático, responde somente por um crime;
Art. 240 Produzir, reproduzir, dirigir, fotogra- z assim como os demais crimes contra a digni-
dade sexual, procede-se mediante ação pública
far, filmar ou registrar, por qualquer meio, cena
incondicionada;
de sexo explícito ou pornográfica, envolvendo
NOÇÕES DE DIREITO

z em relação ao sujeito passivo: pode ser qualquer


criança ou adolescente: um, desde que não seja menor de 18 anos. Neste
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e caso, sendo criança ou adolescente, aplica-se o dis-
multa. posto no art. 241-B do ECA:

Art. 241-B Adquirir, possuir ou armazenar, por


É importante notar que a lei fala em “caráter ínti- qualquer meio, fotografia, vídeo ou outra forma de
mo e privado”. Por exemplo, filmar um casal realizan- registro que contenha cena de sexo explícito ou por-
do ato sexual numa praia não configura o tipo do art. nográfica envolvendo criança ou adolescente:
216-B. Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e
É cabível a tentativa: o agente pode tentar regis- multa.
trar e não consequir. 303
z o parágrafo estipula causa especial de aumento de O parágrafo 5º do art. 217-A consiste em norma
pena (de 1/3 a 2/3) se o agente mantém ou já man- penal explicativa: aplica-se a pena do estupro de vul-
teve relação íntima de afeto com a vítima, ou se o nerável mesmo que a vítima tenha consentido com o
crime é cometido com a finalidade de vingança ou ato ou ainda que já tenha praticado relações sexuais
de humilhar a pessoa exposta; anteriores (ou seja a virgindade é irrelevante)
z por fim, o § 2º indica causa especial de exclusão
da ilicitude: não há crime com a conduta se dá em § 5º As penas previstas no caput e nos §§ 1º, 3º e 4º
publicação que adote recurso que impossibilite deste artigo aplicam-se independentemente do con-
identificar a vítima ou se devidamente autorizado, sentimento da vítima ou do fato de ela ter mantido
no caso de pessoa maior e capaz. relações sexuais anteriormente ao crime.

ESTUPRO DE VULNERÁVEL
Os parágrafos 3º e 4º apresentam formas qualifi-
É primeiro dos crimes do Capítulo II, Crimes cadas, pela ocorrência de lesão corporal grave ou de
sexuais contra vulnerável. No caput do art. 217-A temos morte:
o estupro de vulnerável simples ou próprio:
§ 3º Se da conduta resulta lesão corporal de natu-
Art. 217-A Ter conjunção carnal ou praticar outro reza grave:
ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos: Pena – reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos.
Pena – reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos. § 4º Se da conduta resulta morte:
Pena – reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.

Conforme podemos notar do tipo do art. 217-A,


não é necessário o constrangimento da vítima (me- Todas as hipóteses de estupro de vulnerável (§§
diante violência ou grave ameaça): qualquer prática 1º, 3º e 4º) são consideradas hediondas (conforme
de conjunção carnal ou outro ato libidinoso com prevê o inciso VII, art. 1º, da Lei nº 8.072, de 1990).
pessoa menor de 14 anos, configura estupro de vul-
nerável (o constrangimento é presumido: presunção z Hediondos:
absoluta).
„ Art. 217-A caput (estupro de vulnerável próprio);
Forma equiparada „ Art. 217-A, § 3º (qualificada pela lesão grave);
„ Art. 217-A, § 4º (qualificada pela morte).
O § 1º do art. 217-A apresenta a figura equiparada
do estupro de vulnerável: O art. 217-A tem os seguintes aspectos:

[...] § 1º Incorre na mesma pena quem pratica as z é crime material, consumando-se com a prática da
ações descritas no caput com alguém que, por conjunção carnal ou de outro ato libidinoso;
enfermidade ou deficiência mental, não tem o
z é cabível a tentativa;
necessário discernimento para a prática do ato, ou
que, por qualquer outra causa, não pode oferecer z trata-se de tipo misto alternativo (lembre-se dos
resistência. comentários já feitos em outros crimes contra a
dignidade sexual);
Assim, são considerados vulneráveis (sujeitos pas- z assim como comentamos no caso do estupro do
sivos) para os fins dos crimes sexuais: art. 213, não é necessário o contato físico entre o
autor e a vítima.
z Art. 217-A, caput:
Por fim, cabe mencionar um tema muito interes-
„ Menores de 14 anos (o Professor Rogério San- sante: trata-se da chamada Exceção de Romeu e Ju-
chez denomina esta de vulnerabilidade absoluta). lieta. Você certamente já ouviu falar do clássico de
William Shakespeare: Julieta é uma jovem que se apai-
z Art. 217-A, primeira parte:
xona por Romeu, de uma família rival. A personagem
Julieta, na obra, tinha 13 quando se relacionou amo-
„ Enfermos e doentes mentais que não pos-
rosamente com Romeu (que, tinha 17). Agora imagine
suem o discernimento necessário para a prá-
tal situação frente à legislação penal brasileira: Julieta
tica do ato sexual (Rogério Sanchez denomina
se enquadraria, como vimos, no conceito de vulnerá-
esta de vulnerabilidade relativa, uma vez que,
por se tratar de critério biopsicológico, pode vel. Segundo a teoria da Exceção de Romeu e Julieta,
acontecer do enfermo ou doente mental ter o caso haja consentimento e, desde que haja pequena
discernimento exigido para a prática do ato). diferença de idade entre os parceiros (normalmente
se fala em até 5 anos) não seria o caso de considerar o
z Art. 217-A, parte final: ato sexual, por exemplo, de um casal de namorados de
13 e 18 anos, como estupro. No entanto, no Brasil, con-
„ Qualquer um que, por outra causa, não pos- forme jurisprudência consolidada, tal exceção não
sa oferecer resistência (por exemplo uma se aplica (lembre-se, de acordo com o STJ, “o consen-
pessoa que se encontra em coma ou sob efei- timento da vítima, sua eventual experiência sexual
to de sedação; pessoa desacordada, por moti- anterior ou a existência de relacionamento amoroso
vo de embriaguez; vítima do golpe “boa noite entre o agente e a vítima não afastam a ocorrência do
304 cinderela”). crime” – Resp 148.0881/PI, julgado em 26/08/2015).
CORRUPÇÃO DE MENORES FAVORECIMENTO DA PROSTITUIÇÃO OU DE OUTRA
FORMA DE EXPLORAÇÃO SEXUAL DE CRIANÇA OU
O art. 218 do CP trata do crime de corrupção de ADOLESCENTE OU DE VUNERÁVEL
menores.
O art. 218-B tem seis núcleos:
Art. 218 Induzir alguém menor de 14 (catorze)
anos a satisfazer a lascívia de outrem. Art. 218-B. Submeter, induzir ou atrair à prostitui-
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos. ção ou outra forma de exploração sexual alguém
menor de 18 (dezoito) anos ou que, por enfermidade
ou deficiência mental, não tem o necessário discer-
Alguns autores entendem quo nomen juris (nome do
nimento para a prática do ato, facilitá-la, impedir
crime) foi revogado (a redação anterior falava em “cor-
ou dificultar que a abandone: Pena – reclusão, de 4
romper”, que foi trocada por “induzir”), e tratam este (quatro) a 10 (dez) anos.
delito de “indução de vulnerável à lascívia”. No entanto
essa divergência não traz maiores implicações.
Induzir, como você já sabe, é sugerir, dar a ideia de O art, 218-B visa punir o sujeito que insere (subme-
algo a alguém. Nesta figura, o sujeito ativo é o media- te, induz ou atrai) o menor de 18 anos ou o vulnerável
dor (intermediário ou proxeneta) que induz a vítima o (homem ou mulher) no âmbito da exploração sexual
(prostituição e turismo sexual), tráfico para fins se-
menor de 14 anos a satisfazer a lascívia (desejo sexual)
xuais e pornografia) ou facilita sua permanência ou
de outrem (do beneficiário: o voyeur ou observador).
impede ou dificulta sua saída. Em resumo é trazer
É importante saber que para se configurar o tipo do
a vítima vulnerável para a prostiuição (ou outra
art. 218, CP, o agente deve induzir a vítima (menor de forma de exploração) ou impedir que a vítima
14) a praticar algum ato que tenha a finalidade satis- saia desse meio (neste último caso trata-se de crime
fazer a lascívia de outra pessoa (o beneficário). Veja permanente).
bem, o ato deve ser unicamente contemplativo (como Existem 4 formas de exploração sexual:
por exemplo, fazer a vítima vestir uma fantasia sensual
ou se mostrar nua), ou seja, não ocorre contato físico z Prostituição;
entre o beneficiado e a vítima. Este terceiro também z Turismo sexual;
não pode vir a filmar, fotografar ou, de qualquer meio, z Tráfico para fins sexuais;
registrar a cena; caso isso ocorra, vai responder pelo z Pornografia.
previsto no art. 240 do ECA (crime mais grave, com
penas de reclusão entre 4 e 8 anos, além de multa). O art. 218-B só cuida da prostiuição e do turismo
Caso ocorra a prática de conjunção carnal ou outro sexual envolvendo vulnerável. O tráfico é tratado
ato libidinoso envolvendo a vítima, aquele que indu- pelo art. 149-A, CP,V (tráfico de pessoas); a pornografia
ziu (caso tenha agido dolosamente) e beneficiado, vão envonvendo vulnerável, pelos arts. 240, 241, 241-A e
responder pelo tipo do art. 217-A (estupro de vulne- 241-e, do ECA.
rável). Esta é a corrente majoritária, defendida por
Rogério Greco, Fernando Capez, Rogério Sanches e Proxenetismo Mercenário
Cleber Masson, entre outros.
Se houver a intenção do agente em obter lucro,
SATISFAÇÃO DE LASCÍVIA MEDIANTE PRESENÇA aplica-se também a pena de multa:
DE CRIANÇA OU ADOLESCENTE
§ 1º Se o crime é praticado com o fim de obter van-
tagem econômica, aplica-se também multa.
Art. 218-A Praticar, na presença de alguém menor
de 14 (catorze) anos, ou induzi-lo a presenciar,
Neste caso, se dá o nome ao o agente de proxeneta
conjunção carnal ou outro ato libidinoso, a fim de
mercenário.
satisfazer lascívia própria ou de outrem:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.
Formas Equiparadas
O tipo do artigo 218-A pode ser divido em duas
De acordo com o § 2º, incorre nas mesmas penas:
partes:
I - quem pratica conjunção carnal ou outro ato libi-
z p
raticar conjunção carnal ou outro ato libidinoso dinoso com vítima vulnerável em situação de pros-
apto a satisfazer o prazer sexual, na frente de víti- tiuição ou exploração sexual
ma menor de 14 anos; II - o proprietário, gerente ou responsável do local
NOÇÕES DE DIREITO

z induzir menor de 14 a presenciar tais atos. em que ocorre a prática do delito do caput, lem-
brando, claro, que devem ter conhecimento (pois
não há responsabilidade objetiva). Neste caso a
Aspectos que merecem destaque:
cassação da licença do local é efeito obrigatório
(§ 3º).
z d
e acordo com a maior parte da doutrina não se
exige a presença física da vítima no mesmo local
Trata-se de crime hediondo, em todas as formas:
onde ocorre a conjunção ou o ato libidonoso. Ou
caput, incisos I e II, § 2º. Agora já sabemos quais são
seja, pode ser praticado por meio virtual; os três os crimes contra a dignidade sexual que são
z é
tipo misto alternativo: se o sujeito induz a pre- hediondos:
senciar e também pratica os atos, responde por um
só crime; z Art.213, caput e §§: 305
„ Estrupo. IV - de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime
é praticado:
z Art.217-A, caput e §§: a) mediante concurso de 2 (dois) ou mais agen-
tes (estupro coletivo);
„ Estrupo de vulnerável. b) para controlar o comportamento social ou
sexual da vítima (estupro corretivo)
z Art.218-B, caput e §§:
„ Favorecimento da prostituição ou outra forma O Capítulo V apresenta 5 tipos penais (arts. 227,
de exploração sexual de vulnerável. 228, 229, 230 e 232-A). Sobre estes tipos, não há diver-
gências doutrinárias ou jurisprudênciais, valendo a
DIVULGAÇÃO DE CENA DE ESTUPRO OU DE CENA leitura da lei seca (note que o art. 232-A não tem nada
DE ESTUPRO DE VULNERÁVEL, DE CENA DE SEXO a ver com dignidade sexual, tratando de migração). Os
OU DE PORNOGRAFIA arts. 231 e 231-A foram revogados, passando o tema a
ser tratado pelo art. 149, CP.
O tipo do art. 218-C é um crime subsidiário, que O Capítulo VI traz dois tipos, o do art. 233 (ato obs-
possui seis núcleos (tipo misto alternativo): ceno) e 234 (escrito ou objeto obsceno). Sobre eles,
além da leitura da lei, cabe mencionar que há discus-
Art. 218-C Oferecer, trocar, disponibilizar, transmi- são sobre a constitucionalidade de ambos, em relação
tir, vender ou expor à venda, distribuir, publicar ou ao primeiro por violação ao princípio da taxatividade
divulgar, por qualquer meio - inclusive por meio de (seria muito vago, subjetivo) e, quanto ao segundo,
comunicação de massa ou sistema de informática por ferir a liberdade de expressão.
ou telemática -, fotografia, vídeo ou outro regis-
tro audiovisual que contenha cena de estupro ou
Por fim, o Capítulo VII, nos arts. 234-A e 234-B,
de estupro de vulnerável ou que faça apologia ou apresenta disposições que são aplicáveis a todo o
induza a sua prática, ou, sem o consentimento da Título dos crimes contra a dignidade sexual, confo-
vítima, cena de sexo, nudez ou pornografia: me observado abaixo:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o fato
não constitui crime mais grave. z Disposições aplicáveis a todos os crimes contra a
dignidade sexual:
Visa coibir qualquer tipo de divulgação de mate-
rial que contenha: „ Aumento de pena (234-A):

z c ena de estupro ou estupro de vulnerável ou que III – de metade a 2/3 (dois terços), se do crime resul-
faça apologia ou induza a prática de tais crimes; ta gravidez;
IV – de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o agente:
z c ena de sexo, nudez ou pornografia, sem o consen- a) transmite à vítima doença sexualmente
timento da vítima. transmissível de que sabe ou deveria saber ser
portador;
Para os fins do art. 218-C são vulneráveis: pessoas b) ou se a vítima é idosa (igual ou maior de 60 anos)
com enfermidades ou doença mental ou que não pos- ou pessoa com deficiência.
sam, por qualquer razão, oferecer resistência. Veja
bem: que estas devem ter mais de 18 anos! No caso „ Correm em segredo de justiça. (234-B)
da divulgação de imagens de estupro, estupro de vul-
nerável ou cenas de pornografia, nudez ou sexo, apli- E assim finalizamos o estudo dos crimes contra a
cam-se as disposições do ECA. dignidade sexual.
Bem, agora sabemos quais são os crimes contra a
dignidade sexual mais importantes (capítulos I e II) e CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
quais as divergências doutrinárias e jurisprudenciais
que são aplicados a eles. O Capítulo III, que tratava Crimes Praticados por Funcionários Públicos Contra
sobre o Rapto, está revogado. a Administração em Geral
O Capítulo IV, nos arts. 225 e 226 apresentantam
disposições gerais que se aplicam aos crimes que já Nos crimes contra a Administração Pública, o bem
vimos até agora (do art. 213 ao 218-C). Veja abaixo. jurídico genericamente tutelado é a moralidade ou
probidade administrativa.
z Disposições aplicáveis a todos os crimes dos Cap. I Os crimes praticados por funcionário público con-
e II: tra a administração em geral são chamados de crimes
funcionais. Os crimes funcionais são aqueles prati-
„ Procedem-se mediante ação penal pública cados contra a administração pública por indivíduo
incondicionada (art. 225) que se encontra investido em uma função pública. São
divididos em funcionais próprios ou puros e funcio-
„ Aumento de pena (art. 226): nais impróprios ou impuros.
I – de quarta parte, se o crime é cometido com o Os crimes funcionais próprios são aqueles que
concurso de 2 (duas) ou mais pessoas; serão atípicos caso não sejam praticados por funcio-
II - de metade, se o agente é ascendente, padrasto nários públicos. Segundo a doutrina, neste caso, ocor-
ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companhei- rerá uma hipótese de atipicidade absoluta.
ro, tutor, curador, preceptor ou empregador Vejamos que a conduta que define o crime de pre-
da vítima ou por qualquer outro título tiver varicação será atípica caso não seja praticada por um
306 autoridade sobre ela; funcionário público.
Os crimes funcionais impróprios são aqueles que autarquias, por falta de previsão legal. Lembre-se
serão desclassificados para outras infrações penais de que o nosso ordenamento jurídico não admite a
caso não sejam praticados por funcionários públicos. analogia para prejudicar o agente.
Segundo a doutrina, neste caso, ocorrerá uma Os crimes funcionais admitem a coautoria de par-
hipótese de atipicidade relativa. ticular, sendo possível que este venha a ser responsa-
Já a conduta que define o crime de peculato-furto, bilizado por delito funcional contra a administração
praticada por meio do verbo subtrair, será desclassi- pública, desde que pratique a infração penal em concur-
ficada para o crime de furto, caso não seja praticada so com funcionário público e conheça esta qualidade.
por um funcionário público. Vamos exemplificar: José, funcionário público, con-
O Código Penal, em seu § 1º, do art. 327, traz o vida seu amigo de infância, Jonas, para juntos, subtraí-
conceito do que se entende por funcionário público. rem um computador na repartição pública que aquele
Vejamos: trabalha. O funcionário público obteria facilidades para
praticar o crime, já que havia ficado com a chave da
Art. 327 Considera-se funcionário público, para os repartição naquele período. No dia determinado, os
efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou agentes vão ao local e subtraem o computador.
sem remuneração, exerce cargo, emprego ou fun-
No exemplo apresentado, tanto José quanto Jonas
ção pública.
responderão pelo crime de peculato (vamos estudar
§ 1º Equipara-se a funcionário público quem exerce
suas características a seguir), já que praticaram a con-
cargo, emprego ou função em entidade paraestatal,
e quem trabalha para empresa prestadora de ser- duta em concurso de pessoas e a condição de caráter
viço contratada ou conveniada para a execução de pessoal (ser funcionário público) se comunica aos
atividade típica da Administração Pública. demais agentes (é necessário que eles conheçam a
condição).
A Lei de Improbidade Administrativa também traz Não podemos deixar de tratar do concurso de pes-
um conceito de funcionário público. Veja o que dispõe soas nos crimes funcionais. Os crimes funcionais são
o art. 2º, da Lei nº 8.429, de 1992: crimes próprios, à medida que o autor deve ser fun-
cionário público.
Art. 2° Reputa-se agente público, para os efeitos Em regra, não podem serem praticados por qual-
desta lei, todo aquele que exerce, ainda que tran- quer pessoa, entretanto, admitem a participação e a
sitoriamente ou sem remuneração, por eleição, coautoria, bem como a autoria mediata.
nomeação, designação, contratação ou qualquer
Observe que o particular sozinho não pratica cri-
outra forma de investidura ou vínculo, mandato,
me funcional, mas, se unido com outro funcionário
cargo, emprego ou função nas entidades menciona-
público, também responderá pelo delito.
das no artigo anterior.
Isso é decorrente da teoria monista ou unitária da
Veja que aqueles que exercem atividade transi- ação, prevista nos arts. 29 e 30 do CP, na qual “todo
tória, mesmo sem remuneração, também são con- aquele que concorre para o crime responde para o
siderados funcionários públicos. Logo, o mesário de mesmo crime”.
eleição, por exemplo, é funcionário público para efei- Nesse sentido, vamos exemplificar, pois responde
tos penais, à medida que exerce uma função pública. por peculato o particular que, a mando do funcionário
O art. 327 do CP faz menção a cargo público, público subtrai bens da repartição pública. Igualmente,
emprego público e função pública, vamos distinguir: enquadra-se na corrupção passiva a mulher do funcio-
nário público que instiga o marido a aceitar a propina.
z Cargo público é o criado por lei, com nomenclatu-
ra e número certo, além de possuir como instru- Peculato
mento vinculativo o estatuto;
z Emprego público, por sua vez, é o vínculo regido pela Art. 312 Apropriar-se o funcionário público de
CLT entre o trabalhador e a Administração; dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, públi-
z Função pública é tratada de forma residual, abar- co ou particular, de que tem a posse em razão do
cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio:
cando todas as demais pessoas que exercem algum
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.
tipo de função de natureza pública. Assim, pode-
§ 1º Aplica-se a mesma pena, se o funcionário públi-
mos citar como exemplo os jurados, os mesários, o co, embora não tendo a posse do dinheiro, valor ou
tabelião, o estagiário, dentre outros. bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído,
em proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilida-
No § 2º do art. 327, o Código Penal apresenta uma
de que lhe proporciona a qualidade de funcionário.
causa de aumento de pena aplicável a todos os crimes Peculato culposo
praticados por funcionário público contra a adminis- § 2º Se o funcionário concorre culposamente para o
tração em geral. Observe: crime de outrem:
NOÇÕES DE DIREITO

Pena - detenção, de três meses a um ano.


Art. 327 [...]
§ 3º No caso do parágrafo anterior, a reparação do
§ 2º A pena será aumentada da terça parte quan-
dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue a
do os autores dos crimes previstos neste Capítu-
punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a
lo forem ocupantes de cargos em comissão ou de
pena imposta.
função de direção ou assessoramento de órgão da
administração direta, sociedade de economia mis-
ta, empresa pública ou fundação instituída pelo O crime de peculato, previsto no art. 312, do CP, é
poder público. dividido da seguinte forma:

É importante saber que a pena não será aumen- z Peculato-apropriação;


tada caso o funcionário público ocupe cargo em z Peculato-desvio;
comissão ou função de direção ou assessoramento em z Peculato-furto; 307
z Peculato culposo; podem ser substituídos por outros da mesma espécie,
z Peculato mediante erro de outrem. quantidade e qualidade.
É importante mencionar que é necessário, para
Parte da doutrina apresenta, ainda, a seguinte divisão que não seja típica a conduta do peculato de uso, que
para o crime de peculato: o bem seja infungível e não consumível, a exemplo
de um carro oficial ou de um computador.
z Próprio: peculato-apropriação e peculato-desvio; Caso o bem seja fungível e consumível, a exemplo
z Impróprio: peculato-furto. do dinheiro, a conduta será típica.
Se a conduta relacionada ao Peculato de Uso for
O peculato-apropriação irá se configurar quando praticada por Prefeito, o fato será típico, independen-
o funcionário público se apropriar de dinheiro, valor temente da natureza do bem, por expressa previsão
ou qualquer outro bem móvel, público ou particu- legal no inciso II, art. 1º, do Decreto-Lei nº 201, de 1967.
lar, de que tem a posse em razão do cargo, como por O Peculato-furto irá se configurar quando o fun-
exemplo, vereador que se apropria de bens (aparelho cionário público, embora não tendo a posse do dinhei-
de celular, notebook) do qual tem posse em razão do ro, valor ou bem, o subtrai ou concorre para que seja
cargo (eletivo) que ocupa. subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se
É muito importante que você fique atento, em rela- de facilidade que lhe proporciona a qualidade de
ção ao peculato-apropriação, ao seguinte: funcionário.
O peculato-furto pode ser praticado de duas
z Para que se configure, é necessário que o agente formas:
tenha a posse do bem em razão do seu cargo;
z O bem pode ser público ou particular (imagine um z Subtraindo o dinheiro, valor ou bem;
objeto particular apreendido numa delegacia de z Concorrendo para que seja subtraído o dinheiro,
polícia); valor ou bem.
z O sujeito passivo é a administração pública, con-
tudo, no caso de bem particular, o dono do bem
É importante mencionar que:
também será sujeito passivo do delito.
z Para que se configure este crime, é necessário que
O peculato-desvio irá se configurar quando o
o funcionário público não tenha a posse da coisa;
funcionário público desviar, em proveito próprio ou
z O primeiro é o verbo subtrair, que é o fato de o
alheio, dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel,
bem ser arrebatado pelo próprio funcionário
público ou particular.
Segundo posicionamento majoritário, apesar de público;
algumas posições jurisprudenciais em sentido con- z O segundo é o verbo concorrer, que significa indu-
trário, para que se configure o peculato-desvio, é zir, instigar ou auxiliar uma outra pessoa a reali-
necessário que o bem seja desviado para integrar o zar a subtração, como por, exemplo, o funcionário
patrimônio do próprio funcionário público ou de ter- público que distrai os demais para que o seu ami-
ceiros, não se configurando o tipo penal caso ocorra go, que é ladrão, ingresse na repartição com o obje-
mero desvio de finalidade. tivo de surrupiar os bens;
z Para que se configure o peculato-furto é necessário
que o ato seja doloso;
Importante! z A qualidade de funcionário público deve acarretar
alguma facilidade para a subtração da coisa. Caso
É importante que você saiba que parte mino- não haja facilidade, o agente responderá por furto
ritarária da doutrina defende que, para que se normalmente.
configure o peculato-desvio, não é necessário a
intenção de assenhoramento (apoderar-se) por Vamos trazer dois exemplos:
parte do funcionário público, podendo se confi- Exemplo 1: Carlos é funcionário público. Certo dia,
gurar com o mero uso irregular da coisa pública, na hora de sair, valendo-se do fato de estar sozinho na
em proveito próprio ou alheio. repartição, ele subtrai um notebook do órgão público.
Está, certamente, configurado o crime de peculato-fur-
to, já que a condição de funcionário público do servi-
Com base no que foi exposto, é importante men- dor foi uma facilidade para que ele subtraísse o bem.
cionar que o peculato de uso, em regra, é considerado Exemplo 2: Michele é funcionária pública de Tri-
figura atípica. Segundo Cleber Masson,
bunal Federal. Certo dia, ao passar em frente a uma
escola que se encontra próxima à sua casa, Michele
o uso momentâneo de coisa infungível, sem a inten-
percebe que o vigilante esqueceu a porta dos fundos
ção de incorporá-lo ao patrimônio pessoal ou de
terceiro, seguido da sua integral restituição a quem aberta, estando próximo um aparelho celular da esco-
de direito é atípico. la. Michele entra pela porta e subtrai o aparelho. Não
há que se falar em peculato-furto, já que a qualidade
É necessário sabermos o que se trata de infungível. de funcionária pública de Michele em nada contri-
O art. 85, do CC, dispõe que são fungíveis os móveis buiu para a prática da subtração, podendo qualquer
que podem substituir-se por outros da mesma espécie, pessoa, na mesma situação, praticar essa conduta
qualidade e quantidade. delituosa. Dessa forma, Michele responderá pelo cri-
O Código Civil não define os bens infungíveis, me de furto.
308 mas podemos compreender que são os bens que não
Observe que: erro será partícipe deste delito de peculato mediante
erro.
z Admite a modalidade tentada, já que se trata de O elemento subjetivo do tipo é o dolo subsequente,
crime plurissubsistente (atos múltiplos, ou seja, o isto é, posterior ao recebimento da coisa.
autor entra no local subtrai a coisa); Num primeiro momento, o funcionário público
z O bem subtraído pode ser público ou particular; toma posse do bem de boa-fé, sem constatar o erro
z O sujeito passivo é a administração pública. Caso alheio, mas posteriormente, após detectar o erro,
o bem seja particular, também será sujeito passivo apropria-se da coisa.
da infração penal o dono do bem; É importante levar em consideração as seguintes
z É crime material. características do crime de peculato mediante erro de
outrem:
O peculato culposo, previsto no § 2°, art. 312, con-
figura-se quando o funcionário público concorre cul- z É crime material, que se consuma quando o agen-
posamente para o crime de outrem. te inverte a propriedade do dinheiro ou outra uti-
Dos crimes praticados por funcionário público lidade, sabendo que eles chegaram ao seu poder
contra a administração em geral, o peculato é o úni- por erro de outra pessoa, passando a agir como se
co que prevê expressamente a possibilidade de ser dono fosse;
cometido na modalidade culposa. z Segundo a doutrina majoritária, admite a modali-
No peculato culposo, o funcionário público não dade tentada;
tem intenção em praticar o crime, contudo, por culpa, z O funcionário público deve receber a coisa em
acaba concorrendo para a subtração da coisa. razão do cargo que exerce;
Neste sentido, Damásio ensina que no peculato z O sujeito passivo é a administração pública. Caso o
culposo podem ocorrer as seguintes situações: bem seja particular, também será sujeito passivo o
dono do bem;
z Um funcionário, por culpa, concorre para que
z Parte da doutrina entende que se a pessoa for
outro funcionário cometa peculato (caput ou §1º);
induzida ao erro, irá se configurar o crime de este-
z Um funcionário, por culpa, concorre para que outro
lionato, previsto no art. 171, do CP, sendo neces-
funcionário ou um particular cometam o fato; sário, portanto, para caracterização do crime de
z Um funcionário, por culpa, concorre para que um peculato mediante erro de outrem, que a vítima
particular cometa o fato (furto etc.) entregue a coisa por erro próprio.
Vejamos agora outro exemplo prático: José, agen- Inserção de dados falsos em Sistemas de
te de polícia legislativa, esquece, por omissão, já que Informação
queria assistir a um jogo de futebol, de trancar uma
porta da Câmara Legislativa do Distrito Federal, ao O crime de inserção de dados falsos em sistemas
qual somente ele tem acesso. No ambiente em que a de informação está previsto no art. 313-A do CP.
porta se encontra, há vários objetos de valor conside-
rável para o Poder Legislativo distrital. João, também Art. 313-A Inserir ou facilitar, o funcionário autori-
policial legislativo, aproveitando-se do fato de a porta zado, a inserção de dados falsos, alterar ou excluir
estar aberta, ingressa no local e subtrai uma câmera indevidamente dados corretos nos sistemas infor-
matizados ou bancos de dados da Administração
fotográfica.
Pública com o fim de obter vantagem indevida para
Neste exemplo, José poderá ser responsabiliza-
si ou para outrem ou para causar dano:
do criminalmente pelo crime de peculato culposo, já Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
que concorreu culposamente para o crime de outrem
(peculato-furto de João). O agente foi omisso ao deixar
de trancar a porta, fator que contribuiu para a prática Importante!
da subtração.
Sobre o peculato culposo, é importante saber que no Inserção de dados falsos em sistemas de infor-
§ 3º do art. 312, do CP, dispõe que: mação é chamado de peculato eletrônico.

z Se a reparação do dano resultante do peculato cul-


poso ocorrer antes da sentença transitar em julga- Sujeito ativo é apenas o funcionário público auto-
do, extingue a punibilidade; rizado a inserir ou excluir dados do sistema. Outros
z Se a reparação do dano resultante do peculato cul- funcionários, que não dispõem desta competência,
poso ocorrer após a sentença transitar em julgado, respondem pelo crime do art. 313-B do CP.
a pena será reduzida da metade. A fraude no sistema informatizado ou em bancos
NOÇÕES DE DIREITO

de dados pelo funcionário competente, para obter


O peculato mediante erro de outrem está previs- vantagem para si ou para outrem, caracteriza o delito
to no art. 313, do CP, configurando-se quando o funcio- em análise, sendo que o estelionato, por ser um crime
nário público se apropriar de dinheiro ou qualquer menos grave, é absorvido.
utilidade que, no exercício do cargo, recebeu por erro A conduta que define este tipo penal é a seguinte:
de outrem.
Parte da doutrina chama esta modalidade de z Inserir ou facilitar, o funcionário autorizado,
peculato-estelionato. a inserção de dados falsos, alterar ou excluir
Sujeito ativo é o funcionário público que, por erro indevidamente dados corretos nos sistemas infor-
de outrem toma posse de um bem móvel, em razão da matizados ou bancos de dados da Administração
função, apropriando-se deste. O terceiro que induz o Pública com o fim de obter vantagem indevida
funcionário a apropriar-se do bem que recebeu por para si ou para outrem ou para causar dano. 309
Para que este crime se configure, é necessário que A pena deste crime será aumentada de 1/3 (um
as condutas descritas no tipo penal sejam praticadas terço) até metade: caso da modificação ou alteração
por funcionário público autorizado a operar os siste- resulte dano para a Administração Pública ou para o
mas informatizados ou bancos de dados da adminis- administrado.
tração pública. Fique atento às diferenças entre os tipos penais
Trata-se de crime plurinuclear, já que o tipo penal do crime de inserção de dados falsos em sistemas de
descreve vários verbos que podem ser praticados informação e do crime de modificação ou alteração
para a sua configuração. não autorizada de sistemas de informação.

Condutas: z Inserção de dados falsos em Sistemas de Infor-


z Inserir dados falsos; mação:
z Facilitar a inserção de dados falsos;
z Alterar dados corretos; „ Verbos: Inserir, facilitar a inserção, alterar,
z Excluir indevidamente dados corretos. excluir indevidamente;
„ Deve ser praticado por funcionário autorizado;
É necessário, para a tipificação do delito, que as „ Exige dolo específico de obter vantagem indevi-
condutas acima sejam realizadas em sistema informa- da ou de causar dano.
tizado (computador) ou bancos de dados (fichários,
livros ou outro meio físico) da Administração Pública. z Modificação ou alteração não autorizada de Siste-
mas de Informação:
z Objeto Material: Sistemas informatizados ou ban-
cos de dados da Administração Pública. „ Verbos: modificar ou alterar;
z Finalidade (dolo específico): „ Se praticado por funcionário autorizado, será
fato atípico;
„ Obter vantagem indevida para si ou para outrem; „ Não exige dolo específico.
„ Causar dano.
Extravio, Sonegação ou Inutilização de Livro ou
O elemento subjetivo do tipo é o dolo específico, Documento
que consiste no fim de obter vantagem indevida para
si ou para outrem ou causar dano à Administração Está previsto no art. 314 do Código Penal.
Pública ou a uma terceira pessoa.
Sem esta finalidade de obter vantagem ou causar Art. 314 Extraviar livro oficial ou qualquer docu-
dano, haverá o crime do art. 313-B do CP. mento, de que tem a guarda em razão do cargo;
O crime consuma-se com a conduta, independen- sonegá-lo ou inutilizá-lo, total ou parcialmente:
temente do resultado. Trata-se de crime formal, que Pena - reclusão, de um a quatro anos, se o fato não
se caracteriza ainda que a vantagem ou o dano alme- constitui crime mais grave.
jado não se verifique.
Admite-se a tentativa na hipótese de o agente ser Este crime se configurará quando o agente extra-
surpreendido antes de ultimar a conduta, por exem- viar livro oficial ou qualquer documento, de que tem
plo, agente é flagrado quando iniciava a supressão dos a guarda em razão do cargo; sonegá-lo ou inutilizá-lo,
dados corretos. total ou parcialmente.
Os núcleos do tipo são os verbos extraviar (fazer
Modificação ou alteração não autorizada de desaparecer), sonegar (não apresentar) e inutilizar
(tornar imprestável).
Sistemas de Informação
Sobre este crime, é importante que você saiba:
O crime de modificação ou alteração não autori-
zada de sistemas de informação está previsto no art. z Trata-se de crime subsidiário (o crime fica absorvi-
313-B, do Código Penal. do quando o fato constitui crime mais grave), res-
pondendo por ele, o funcionário público, apenas se
Art. 313-B Modificar ou alterar, o funcionário, sis- não se configurar crime mais grave;
tema de informações ou programa de informáti- z Não admite a modalidade culposa;
ca sem autorização ou solicitação de autoridade z Admite tentativa;
competente: z O extravio, a sonegação e inutilização podem ser
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos, parciais ou totais.
e multa.
Parágrafo único. As penas são aumentadas de um Sujeito ativo é apenas o funcionário público res-
terço até a metade se da modificação ou alteração ponsável pela guarda do livro oficial ou documen-
resulta dano para a Administração Pública ou para to. Se a conduta for praticada por outro funcionário
o administrado. público o crime será o previsto no art. 337 do CP. Caso
seja praticado por advogado ou procurador, que inu-
tiliza documento ou objeto do processo, o enquadra-
Este tipo penal irá se configurar quando o agente
mento será no art. 356 do CP.
modificar ou alterar sistema de informações ou pro-
O delito em estudo é subsidiário, pois só será apli-
grama de informática sem autorização ou solicitação cado se não houver outro crime mais grave.
de autoridade competente. Assim, o funcionário público que recebe dinheiro
Caso o funcionário público seja autorizado ou pra- para destruir livro ou documento responderá apenas
tique a conduta por solicitação da autoridade compe- pelo crime de corrupção passiva, que é mais grave.
tente, o fato será atípico. Por fim, quando se tratar de livros ou documentos
310 relativos a tributos, o funcionário que tinha a guarda
e praticou uma das condutas acima, responderá pelo Vamos exemplificar: funcionário público, agente
crime do inciso I, art. 3º, da Lei nº 8.137, de 1990, de trânsito, exige de particular a quantia de R$2.000,00
quando o fato acarretar pagamento indevido ou ine- para que libere o seu veículo, sob pena de levá-lo
xato de tributo. indevidamente ao pátio do Detran.
A vantagem indevida, segundo posicionamento
Emprego Irregular de Verbas ou Rendas Públicas majoritário, não necessita ser patrimonial, podendo
ser qualquer outra vantagem.
Previsto no art. 315, do CP, o crime de emprego irre- É importante mencionar que a concussão se dará
gular de verbas ou rendas públicas irá se configurar em razão da função do agente público, não se exigindo
com a prática da seguinte conduta. que o fato seja praticado no efetivo desempenho das
atribuições do cargo. Sendo assim, este crime pode ser
Art. 315 Dar às verbas ou rendas públicas aplica- cometido por funcionário público de férias e, segundo
ção diversa da estabelecida em lei: a doutrina dominante, nomeado, mas não empossado
Pena - detenção, de um a três meses, ou multa. (antes de assumi-la).
A violência ou grave ameaça (morte, prisão) não
são elementos integrantes do crime de concussão.
Este crime não se aplica ao Prefeito Municipal, res-
Se o funcionário público exigir o pagamento de
pondendo este pelo crime previsto em lei específica, o
vantagem indevida, mediante violência ou grave
Decreto nº 201, de 1967. ameaça, estará cometendo o crime de extorsão, pre-
Exige que o emprego irregular se dê em benefí- visto no art. 158 do Código Penal.
cio da própria administração pública, contrariando a Sobre a concussão, é importante que você
legislação, não podendo o agente desviar as verbas ou conheça as seguintes informações, frequentemen-
rendas em benefício próprio, sob pena de responder te cobradas em prova: não pode ser praticada na
por outro crime. modalidade culposa;
Vamos exemplificar: a Câmara Legislativa do
Município XYZ aprova a utilização de um milhão de z Trata-se de crime formal, que se consuma com a
reais para construção de uma passarela. A autoridade prática da exigência, sendo o recebimento da van-
pública competente utiliza a verba mencionada para tagem mero exaurimento do crime; o particular,
a construção de uma escola. de quem se exigiu a vantagem indevida, é sujeito
Pronto, configurou-se o crime de emprego irregular passivo secundário deste crime. A administração
de verbas ou rendas públicas. O agente deu às verbas pública é o sujeito passivo primário.
públicas destinação diversa daquela estabelecida em lei.
„ Em regra, não admite a tentativa, salvo quando
Observe que a destinação da verba se deu no inte-
for possível fracionar o iter criminis, a exemplo
resse da administração, já que, caso se dê em benefí- da concussão praticada mediante carta endere-
cio próprio, o agente responderá por outro crime. çada à vítima;
É importante mencionar a aplicação da excludente „ É possível se praticar a concussão indiretamen-
de ilicitude do estado de necessidade: caso o emprego te, quando, por exemplo, o funcionário público
se dê devido a uma situação de perigo iminente (uti- exige a vantagem indevida por intermédio de
lizou-se verba pública destinada ao esporte, para se outra pessoa.
construir um abrigo durante perigo de chuvas que
desabrigaram grande parte da população), o fato será É importante diferenciar concussão e corrupção
típico, mas não será antijurídico. passiva:
Sobre o emprego irregular de verbas ou rendas
públicas, é importante mencionar: Tem no núcleo do tipo
o verbo “exigir”, há um
z Este crime será praticado pelo funcionário público caráter intimidativo na
que tem poder de decisão sobre as verbas ou ren- CONCUSSÃO conduta
das públicas, podendo delas dispor;
z Não exige nenhum fim específico; O ato de exigir é algo
z Não admite a modalidade culposa; impositivo
z Admite a tentativa;
Tem os verbos “solicitar
z Não exige a ocorrência de dano pela administra-
ou receber, ou aceitar”
ção pública para a sua configuração.
Solicitar é pedir, o que,
Concussão portanto, não pressupõe
intimidação
NOÇÕES DE DIREITO

Art. 316 Exigir, para si ou para outrem, direta ou CORRUPÇÃO PASSIVA


indiretamente, ainda que fora da função ou antes de Receber e aceitar pressu-
assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida: põem uma conduta ativa
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. do particular, ou seja,
além de não ocorrer inti-
No crime de concussão, o funcionário público, midação, há uma conduta
valendo-se de sua autoridade, exige (conduta mais inicial do terceiro
forte do que apenas pedir) o pagamento de vantagem,
não devida pela pessoa. O particular, por temer qual- Excesso de Exação
quer represália por parte do funcionário público pode
ou não pagar a vantagem indevida. O excesso de exação, previsto no § 1º, do art. 316,
do CP, é uma forma de concussão. 311
Art. 316 [...] constituindo-se, assim, elemento de distinção entre os
§ 1º Se o funcionário exige tributo ou contribuição tipos penais.
social que sabe ou deveria saber indevido, ou, quan-
do devido, emprega na cobrança meio vexatório ou Corrupção Passiva
gravoso, que a lei não autoriza:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa. Art. 317 Solicitar ou receber, para si ou para
outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da
Exação significa correção, exatidão. função ou antes de assumi-la, mas em razão dela,
São dois os delitos que recebem o nome de excesso vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal
de exação: vantagem:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
z Exigência indevida de tributo ou contribuição social; § 1º A pena é aumentada de um terço, se, em con-
z Cobrança devida de tributo ou contribuição social, sequência da vantagem ou promessa, o funcionário
mas de forma vexatória ou gravosa. retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou
o pratica infringindo dever funcional.
O núcleo do tipo é o verbo exigir que, diferente-
§ 2º Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou
mente do crime de concussão, não se atrela à intimi-
retarda ato de ofício, com infração de dever funcional,
dação, mas, sim, à simples cobrança indevida.
cedendo a pedido ou influência de outrem:
A cobrança é indevida quando o tributo ou con-
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
tribuição social não existe ou então já foi pago, bem
como na hipótese em que a cobrança é excessiva, em
A doutrina classifica a corrupção passiva em pró-
valor maior que o devido.
O elemento subjetivo do tipo é o dolo, que consiste pria ou imprópria, antecedente ou subsequente.
no fato de o agente ter consciência ou dúvida, que se Corrupção passiva:
trata de uma cobrança indevida.
Na segunda modalidade criminosa, cobrança z Própria: Quando o funcionário público pratica os
vexatória ou gravosa, o tributo ou contribuição social verbos do tipo penal para praticar ato ilícito, por
é devido. O problema reside no modus operandi da exemplo, oficial de justiça recebe dinheiro para
cobrança, que é feita de forma vexatória, humilhante, retardar o cumprimento do mandado de citação;
ou gravosa, vale dizer, com a imposição de medidas z Imprópria: Quando o funcionário público pratica
totalmente desnecessárias. os verbos do tipo penal para praticar ato lícito, por
O crime se consuma com a simples cobrança vexa- exemplo, escrevente solicita dinheiro para que a
tória ou gravosa, independentemente do recebimento. certidão seja expedida dentro do prazo;
Admite-se a tentativa quando a cobrança vexató- z Antecedente: Quando a vantagem indevida é
ria ou gravosa é realizada por escrito, mas, por cir- entregue ao funcionário público antes de sua ação
cunstâncias alheias à vontade do agente, é descoberta ou omissão, por exemplo, juiz recebe vantagem
antes que a vítima tomasse conhecimento. indevida para prolatar sentença absolutória;
Vejamos:
z Subsequente: Quando a vantagem indevida é
José, funcionário público da prefeitura do Municí-
entregue ao funcionário público depois de sua
pio de Simplicidade, sabendo que seu vizinho, Márcio,
ação ou omissão, por exemplo, após retardar o
deve dez mil reais em tributo, para cobrá-lo, coloca
uma faixa enorme na entrada da rua, com a seguinte processo até levá-lo à prescrição, o juiz solicita
escrita: Márcio, deixe de ser irresponsável e pague os vantagem indevida ao réu.
dez mil reais que você deve de tributo à prefeitura.
Observe que a corrupção passiva pode ser direta
No exemplo, José cobrou imposto devido, fazendo
uso de meio vexatório, não autorizado por lei, confi- ou indireta:
gurando-se, assim, o excesso de exação.
z Direta: quando é o próprio funcionário público
Sobre o excesso de exação, é importante que solicita, recebe ou aceita promessa de vanta-
mencionar: gem indevida;
z Não admite a modalidade culposa, pois a expres- z Indireta: quando uma interposta pessoa, em con-
são “que sabe” é dolo direto, e a expressão “devia luio com o funcionário público, solicita, recebe
saber” é dolo eventual; ou aceita promessa de vantagem indevida. Nesse
z Admite a tentativa quando for possível fracionar o caso, tanto o “testa de ferro” quanto o funcionário
iter criminis, a exemplo do excesso de exação prati- público responderão por corrupção passiva.
cado mediante carta endereçada à vítima;
z Se o funcionário desviar, em proveito próprio ou Entende a doutrina majoritária que o mero pre-
de outrem, o que recebeu indevidamente para sente recebido pelo funcionário público, por grati-
recolher aos cofres públicos, responderá por dão ou amizade, por exemplo, uma lembrancinha de
excesso de exação na modalidade qualificada. natal, não configura o crime de corrupção passiva.
A vantagem indevida, segundo posicionamento
Quando observamos a forma qualificada do exces- majoritário, não necessita ser patrimonial, podendo
so de exação, é possível compreender que o tipo penal ser qualquer outra vantagem.
previsto no § 1º não exige que o funcionário público Sobre a corrupção passiva, leve em consideração que:
tenha a intenção de ficar para si ou para outro aquilo
que recebeu. Caso o faça, responderá pelo crime na z Não pode ser praticada na modalidade culposa;
forma qualificada. z Trata-se de crime formal, quando praticada por
Na concussão propriamente dita, exige-se que meio dos verbos solicitar e aceitar promessa, que
o funcionário público pratique a conduta visando se consuma com a conduta, sendo o efetivo recebi-
312 obter a vantagem indevida para si ou para outrem, mento da vantagem mero exaurimento do crime;
z Quando praticada por meio do verbo receber, é tem o dever funcional de evitar a prática dos crimes
crime material, que exige o efetivo recebimento de contrabando e descaminho.
para se consumar (§ 2°, art. 317, do CP); A doutrina dominante entende que, caso o funcio-
z Em regra, não admite a tentativa, salvo quando for nário público não tenha o dever funcional de evitar
possível fracionar o iter criminis, a exemplo da cor- a prática do contrabando ou descaminho, responderá
rupção passiva praticada mediante emprego de carta; como partícipe do crime de contrabando ou do crime
de descaminho.
O particular que paga a vantagem indevida soli-
citada pelo funcionário público não pratica crime Sobre este crime, é pertinente saber:
algum, por falta de tipicidade penal.
A corrupção passiva possui uma forma privilegiada. z Pode ser praticado de forma comissiva (quando o
Observe que na corrupção passiva privilegiada funcionário indica uma forma de o contrabandista
o agente pratica a conduta não com a finalidade de desviar-se da fiscalização), ou omissiva (quando o
conseguir alguma vantagem indevida, mas sim com funcionário, ciente de que há produto de descami-
a finalidade de ceder a pedido ou influência de outro. nho em um compartimento, não o inspeciona, libe-
A pena da corrupção passiva será aumentada de 1/3 rando as mercadorias);
(um terço) se, em consequência da vantagem ou promes-
z Não admite a modalidade culposa;
sa, o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer
z É crime formal, que se consuma com a facilitação,
ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional.
independente ou não de o agente conseguir prati-
car o contrabando ou o descaminho;
Dica z Admite a tentativa somente na forma comissiva,
Não seja surpreendido por pegadinhas em prova: quando o funcionário público indica o método
de se desviar da fiscalização, mas outro servidor
a corrupção passiva e a concussão diferenciam-
impede o desvio;
-se nos verbos que configuram o tipo penal incri-
z A competência é da Justiça Federal.
minador. Corrupção passiva: solicitar, receber ou
aceitar promessa. Concussão: exigir. Prevaricação

Facilitação de Contrabando ou Descaminho Art. 319 Retardar ou deixar de praticar, indevida-


mente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição
O crime de facilitação de contrabando ou descami- expressa de lei, para satisfazer interesse ou senti-
nho está previsto no art. 318, do CP. mento pessoal:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
Art. 318 Facilitar, com infração de dever funcional, Art. 319-A Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou
a prática de contrabando ou descaminho (art. 334): agente público, de cumprir seu dever de vedar ao
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa. preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio ou
similar, que permita a comunicação com outros
z Contrabando é a exportação ou a importação do presos ou com o ambiente externo:
território nacional de uma mercadoria proibida; Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.
z Descaminho é a exportação ou importação do territó-
rio nacional de uma mercadoria lícita, mas mediante O crime de prevaricação é dividido em:
sonegação dos direitos ou impostos devidos.
z Própria : prevista no art. 319 do Código Penal;
O núcleo do tipo é o verbo facilitar, que significa viabi-
z Imprópria : prevista no art. 319-A do Código Penal.
lizar, tornar mais simples o contrabando ou descaminho.
O elemento subjetivo é o dolo que pode ser direto
O crime em estudo não se confunde com a corrup-
ou eventual.
ção passiva privilegiada, em que o agente age ou deixa
Lembre-se: de agir cedendo a pedido ou influência de outrem.
Na prevaricação não existe este pedido ou influên-
z Dolo direto (determinado): ocorre quando o cia. O agente toma a iniciativa de agir ou se omitir para
agente prevê determinado resultado, dirigindo satisfazer interesse ou sentimento pessoal. Assim, se
sua conduta na busca de realizar esse mesmo um fiscal flagra um desconhecido cometendo irregu-
resultado; laridade e deixa de autuá-lo em razão de insistentes
z Dolo eventual: o agente prevê pluralidade de resul- pedidos deste, há corrupção passiva privilegiada, mas,
tados, porém dirige sua conduta na realização de se o fiscal deixa de autuar porque percebe que a pes-
um deles. Quer um resultado, mas aceita o outro. soa é um antigo amigo, configura-se a prevaricação.
A prevaricação poderá ser praticada de 3 (três) for-
NOÇÕES DE DIREITO

Observa-se que o crime se consuma com a primei- mas diferentes:


ra conduta que facilita o contrabando ou descaminho,
ainda que não haja efetivamente a entrada ou saída z Retardar indevidamente a prática de ato de ofício;
da mercadoria do território nacional. z Deixar de praticar indevidamente ato de ofício;
Trata-se de crime formal, pois se consuma com a z Praticar ato de ofício contra disposição expressa de lei.
conduta, independentemente da ocorrência do con-
trabando ou descaminho. O crime de prevaricação exige um fim específico
Admite-se a tentativa quando o agente se empenha de agir: satisfazer interesse ou sentimento pessoal.
para realizar a conduta de facilitar o contrabando ou Você pode entender interesse ou sentimento pes-
descaminho, mas é surpreendido antes de concluí-la. soal de diversas formas: vingança, compaixão, ódio,
É possível se extrair da leitura do tipo penal que amizade, preguiça, entre outros.
o crime será praticado pelo funcionário público que 313
Sobre a prevaricação, leve para a sua prova: Como é possível observar, os crimes de corrupção
passiva privilegiada, prevaricação e condescendência
z Não admite a forma culposa; criminosa possuem características similares.
z Pode ser praticado de forma omissiva (retardar ou Vejamos as diferenças:
deixar de praticar) ou comissiva (praticar);
z Admite tentativa apenas quando praticado de for- z Corrupção Passiva Privilegiada: O agente dei-
ma comissiva; xa de praticar ato de ofício cedendo a pedido ou
z Tentativa na prevaricação: influência de outrem;
z Prevaricação: O agente deixa de praticar ato de ofí-
„ Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, cio para satisfazer sentimento ou interesse pessoal;
ato de ofício: não admite tentativa; z Condescendência Criminosa: O agente deixa de
„ Praticar ato de ofício contra disposição expres- praticar ato de ofício (responsabilizar o subalter-
sa de lei: admite tentativa. A prevaricação no) por indulgência.
imprópria configurar-se-á quando o diretor
de penitenciária e/ou agente público deixar de Advocacia Administrativa
cumprir seu dever de vedar ao preso o acesso
a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que O crime de advocacia administrativa, previsto no
permita a comunicação com outros presos ou art. 321 do Código Penal, pode ser praticado na moda-
com o ambiente externo. lidade simples ou qualificada.

A prevaricação imprópria só poderá ser pratica- Art. 321 Patrocinar, direta ou indiretamente, inte-
da pelo diretor de penitenciária ou pelo funcionário resse privado perante a administração pública,
público que tem o dever funcional de impedir que o valendo-se da qualidade de funcionário
preso tenha acesso a aparelho de comunicação com Pena - detenção, de um a três meses, ou multa
outros presos ou com o ambiente externo. Parágrafo único - Se o interesse é ilegítimo:
Sobre a prevaricação imprópria, é importante Pena - detenção, de três meses a um ano, além da
ressaltar: multa.

z Não admite a forma culposa; z Modalidade simples: configura-se quando o fun-


z Não admite tentativa. cionário público patrocinar, direta ou indireta-
mente, interesse privado perante à administração
Condescendência Criminosa pública, valendo-se da qualidade de funcionário.

A condescendência criminosa está prevista no art. É necessário que a condição de funcionário públi-
320 do Código Penal. co proporcione alguma facilidade ao sujeito ativo, que
patrocina interesse de terceiro, pessoa privada, caso
Art. 320 Deixar o funcionário, por indulgência, de não haja facilidade alguma proporcionada pelo cargo,
responsabilizar subordinado que cometeu infração o fato será atípico.
no exercício do cargo ou, quando lhe falte compe- O agente pode praticar este crime de diversas
tência, não levar o fato ao conhecimento da autori- maneiras, como, por exemplo, fazendo uma petição
dade competente: solicitando um benefício;
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.
z Modalidade qualificada: o crime de advocacia
Este crime pode ser praticado de duas formas:
administrativa será qualificado caso o interesse
z Quando o funcionário público, por indulgência, privado seja ilegítimo;
deixa de responsabilizar o subordinado que come- z Forma simples: interesse privado legítimo;
teu infração no exercício do cargo; z Forma qualificada: interesse privado ilegítimo.
z Quando o funcionário público, que não é compe-
tente para responsabilizar aquele que cometeu Sobre a advocacia administrativa, leve isso
infração no exercício do cargo, por indulgência, para sua prova:
não levar o fato ao conhecimento da autoridade
competente. z Não admite a modalidade culposa;
z É crime formal, que se consuma com a conduta,
A doutrina majoritária entende que o crime de não se exigindo que se atinja o interesse priva-
condescendência criminosa só pode ser praticado por do pleiteado;
superior hierárquico. z Segundo doutrina majoritária, admite tentativa
Você pode entender indulgência como compaixão, quando for possível se fracionar o iter criminis.
pena, piedade.
Há um requisito que deve ser cumprido para a Violência Arbitrária
prática da condescendência criminosa: uma infração
Art. 322 Praticar violência, no exercício de função
funcional (que pode ser uma violação administrativa
ou a pretexto de exercê-la.
ou penal) praticada por subordinado no exercício das
Pena - detenção, de seis meses a três anos, além da
atribuições do seu cargo. pena correspondente à violência.
Sobre a condescendência criminosa, saiba:
Na vigência da antiga Lei de abuso de autoridade,
z Não admite a forma culposa; encontrávamos alguns posicionamentos jurispruden-
z É crime omissivo; ciais, tanto do STF quanto do STJ, entendendo que este
314 z Não admite tentativa. crime continua em vigência.
Agora, a nova Lei de Abuso de Autoridade admite a Exige-se que o abandono se dê por um prazo rele-
possibilidade de aplicação subsidiária do art. 322, do CP. vante, apesar de o Código Penal não fixar prazo determi-
A prática da violência deve se dar em razão da nado. Entende a doutrina que o prazo será fixado pelo
função pública, não havendo a exigência de que seja estatuto a que estiver submetido o funcionário público.
praticado no efetivo desempenho das funções do Sobre o crime de abandono de função, leve para
cargo, podendo, portanto, ser praticada, por exemplo, a sua prova:
por um funcionário público que se encontre de folga.
O agente que fizer uso de violência arbitrária res- z É crime omissivo;
ponderá por este crime e pelo crime correspondente à z Não admite tentativa;
violência praticada. z Só pode ser praticado dolosamente – não admite
Apesar da divergência existente sobre a revogação a culpa.
ou não deste tipo penal, leve em consideração que:

z A violência arbitrária não admite a forma culposa, Exercício Funcional Ilegalmente Antecipado ou
devendo ser praticado dolosamente; Prolongado
z Admite tentativa;
z Segundo Rogério Greco, o objeto material será o Este crime está previsto no art. 324, do CP.
administrado contra o qual é praticada a violência
arbitrária; Art. 324 Entrar no exercício de função pública
z A violência tem que ser praticada arbitrariamente, antes de satisfeitas as exigências legais, ou conti-
não se enquadrando neste tipo penal as hipóteses nuar a exercê-la, sem autorização, depois de saber
de uso necessário e progressivo da força, admiti- oficialmente que foi exonerado, removido, substi-
dos em lei. tuído ou suspenso:
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.
Abandono de Função
Tutela-se a Administração Pública, no tocante ao
O crime de abandono de função está tipificado no seu normal funcionamento, pois o exercício ilegal de
art. 323, do CP. função pública afeta a prestação de serviços públicos.
Art. 323 Abandonar cargo público, fora dos casos
permitidos em lei: Este crime pode ser praticado de duas formas:
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.
§ 1º - Se do fato resulta prejuízo público: „ Entrar no exercício de função pública antes de
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. satisfeitas as exigências legais;
§ 2º - Se o fato ocorre em lugar compreendido na „ Continuar a exercer a função pública, sem auto-
faixa de fronteira: rização, depois de saber oficialmente que foi
Pena - detenção, de um a três anos, e multa. exonerado, removido, substituído ou suspenso.
É exigido que o funcionário público tenha sido
A conduta típica é a de abandonar cargo público, oficialmente comunicado sobre sua exonera-
fora dos casos permitidos em Lei. ção, remoção, substituição ou suspensão.
O nome do crime é abandono de função, porém,
o tipo penal fala em abandono de cargo público. É Observe que no exercício funcional ilegalmente
importante que você saiba que o conceito de função antecipado ou prolongado somente pode ser prati-
pública é mais amplo que o de cargo público (não há cado por funcionário público já nomeado, mas ainda
cargo sem função, mas há função sem cargo). sem ter cumprido todas as exigências legais (1ª parte),
Sendo assim, não haverá crime se ocorrer mero ou então pelo indivíduo que era funcionário público,
abandono de função pública (apesar do nome) ou de porém deixou de ser em razão de ter sido oficialmente
emprego público, mas tão somente no caso de aban- exonerado, removido, substituído ou suspenso (parte
dono de cargo público (não se admite a analogia in final).
malam partem). Em ambas as hipóteses, o crime é de mão própria,
De acordo com posicionamento doutrinário majoritá- de atuação pessoal ou de conduta infungível, pois
rio, as hipóteses de greve não configuram este tipo penal.
somente pode ser cometido pela pessoa expressamen-
As hipóteses em que o agente abandona o cargo
te indicada no tipo penal.
público, admitidas em Lei, não configuram o crime de
Se um particular entrar no exercício da função
abandono de função.
pública, a ele deverá ser imputado o crime de usurpa-
O crime de abandono de função tem circunstân-
cias que o qualificam: ção de função pública (art. 328 do CP).
Sobre o tipo penal em comento, é importante
z Se o fato resulta prejuízo público; saber:
NOÇÕES DE DIREITO

z Se o fato ocorre em lugar compreendido na faixa


de fronteira. z Não admite a forma culposa;
z Admite tentativa.
Cabe destacar a faixa de fronteira. Essa qualificado-
ra é uma norma penal em branco, visto que a definição Violação de Sigilo Funcional
da faixa de fronteira é fornecida pela Lei nº 6.634/1979,
compreendendo um raio de 150 (cento e cinquenta) O crime de violação de sigilo funcional se encontra
quilômetros ao longo das fronteiras nacionais. previsto no art. 325 do Código Penal.
O fundamento desta qualificadora é a proteção à
soberania nacional que, nas fronteiras, torna-se mais Art. 325 Revelar fato de que tem ciência em razão
vulnerável. do cargo e que deva permanecer em segredo, ou
facilitar-lhe a revelação: 315
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou mul- Trata-se de crimes comuns, que não exigem
ta, se o fato não constitui crime mais grave. nenhuma condição ou qualidade especial do sujeito
§ 1o Nas mesmas penas deste artigo incorre quem: ativo, podendo ser praticados por qualquer pessoa.
I – permite ou facilita, mediante atribuição, forne-
cimento e empréstimo de senha ou qualquer outra Usurpação de Função Pública
forma, o acesso de pessoas não autorizadas a siste-
mas de informações ou banco de dados da Adminis- O crime de usurpação de função pública irá se con-
tração Pública; figurar quando o agente usurpar o exercício de fun-
II – se utiliza, indevidamente, do acesso restrito. ção pública.
§ 2o Se da ação ou omissão resulta dano à Adminis-
tração Pública ou a outrem:
Art. 328 Usurpar o exercício de função pública:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.
Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa.
Parágrafo único - Se do fato o agente aufere vantagem:
Este crime pode ser praticado de duas formas:
Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa.Usur-
par = apoderar-se.
z Revelar fato de que tem ciência em razão do cargo
e que deva permanecer em segredo;
z Facilitar a revelação de fato de que tem ciência Inicialmente, é importante que você não confunda
em razão do cargo e que deva permanecer em o usurpador de função com o funcionário ou agente
segredo.É importante mencionar que o agente público de fato. (Assunto bastante cobrado, tanto na
toma conhecimento do fato que deve permanecer disciplina Direito Penal, quanto na disciplina Direito
em segredo em razão do cargo que ocupa, não se Administrativo).
exigindo que tenha sido no efetivo desempenho
das atribuições do cargo. z Usurpação de função pública: o agente exerce a
função sem nenhum tipo de investidura, apode-
Logo, o crime pode ser praticado no caso de o rando-se dela. É crime.
agente tomar conhecimento do fato durante período z Funcionário ou agente de fato: o Agente exerce a
de licença, mas em razão do cargo. função pública, por ter ocorrido alguma irregula-
O Código Penal apresenta duas formas equipara-
ridade. Não é crime.
das do crime de violação de sigilo funcional. Observe:

z Permite ou facilita, mediante atribuição, forneci- Segundo posicionamento doutrinário majoritário,


mento e empréstimo de senha ou qualquer outra é necessário, para fins de consumação, que o agente
forma, o acesso de pessoas não autorizadas a siste- execute algum ato inerente ao exercício da função,
mas de informações ou banco de dados da Admi- não configurando o crime a mera apresentação a ter-
nistração Pública; ceiros como funcionário público.
z Utiliza-se, indevidamente, do acesso restrito. Vamos exemplificar:
Forma qualificada: se da ação ou omissão resulta Exemplo 1: Antônio se apresenta como policial
dano à Administração Pública ou a outrem. militar para seus conhecidos como forma de se
Sobre este crime, fique atento: autovalorizar. Não há que se falar em configura-
ção do crime de usurpação de função pública, já
z Só será praticado dolosamente – não admite forma que o agente não praticou nenhum ato inerente ao
culposa; exercício da função policial militar, podendo, con-
z Em regra, não admite tentativa, salvo casos excep- forme o caso, configurar outra infração penal.
cionais, a exemplo de ser praticado na forma Exemplo 2: Antônio adquire, fraudulentamente,
escrita. uma farda da polícia militar. Em determinado dia,
ele promove uma falsa barreira e passa a abordar
Violação de Sigilo de Proposta de Concorrência as pessoas que nela passam. Há a prática do crime
de usurpação de função pública, já que o agente
Este tipo penal está previsto no art. 326 do Código
praticou ato inerente ao exercício da função poli-
Penal.
cial militar.
Art. 326 Devassar o sigilo de proposta de concor- Você não pode confundir o crime de usurpação de
rência pública, ou proporcionar a terceiro o ensejo
função pública com o crime exercício funcional ilegal-
de devassá-lo:
mente antecipado ou prolongado.
Pena - Detenção, de três meses a um ano, e multa.
z Usurpação de Função Pública:
É um crime relacionado ao procedimento licitatório.
A doutrina dominante entende que o crime de „ O agente não possui vínculo algum com a
violação de sigilo de proposta de concorrência foi administração pública (em relação à função
revogado tacitamente pela Lei 8.666, de 1993 (Lei de usurpada);
Licitações).
„ É crime praticado por particular contra a admi-
nistração pública.
CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA
A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL z Exercício Funcional Ilegalmente Antecipado ou
Prolongado:
Os crimes praticados por particular contra a admi-
nistração pública estão previstos entre os arts. 328 e „ O agente possui algum tipo de vínculo com a
316 337-A do Código Penal. administração pública;
„ É crime praticado por funcionário público con- Resistência Qualificada
tra a administração pública.
z Se, em razão da resistência, o ato não se executa.
Há uma forma qualificada do crime de usurpação
Portanto, caso o agente apenas resista, sem, contu-
de função pública:
do, não ocasionar a frustração do ato a ser praticado,
z Usurpação de função pública qualificada: Se de responderá pelo delito descrito no caput. Entretanto,
fato, o agente auferir vantagem (qualquer tipo de se da resistência o funcionário público fica impossibi-
vantagem e não necessariamente financeira). litado de exercer o ato, responderá pela forma qualifi-
cada prevista no § 1º.
Sobre o crime de usurpação de função pública,
é importante que você leve em consideração: Concurso Material Obrigatório

Leve para a sua prova o seguinte: o agente respon-


z Não admite a modalidade culposa;
derá pela resistência e pela violência empregada.
z Admite tentativa;
Vejamos: Se, para se opor à execução de ato legal
z Pode ser praticado por funcionário público, segun-
praticado por funcionário competente, o particular
do posicionamento que prevalece, mas a função
usa de violência, causando lesão corporal de nature-
usurpada deve ser totalmente alheia à função dele za grave, responderá pelos dois crimes: resistência e
(sendo ele considerado particular); lesão grave.
z É crime formal, não se exigindo para a sua confi-
guração prejuízo ou dano à administração pública; Desobediência
z Ação penal pública incondicionada.
Este crime está previsto no art. 330 do Código
Resistência Penal. Irá se configurar quando o agente desobedecer
a ordem legal de funcionário público.
O crime de resistência está previsto no art. 329 do
Código Penal. Art. 330 Desobedecer a ordem legal de funcionário
público:
Art. 329 Opor-se à execução de ato legal, mediante Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e
violência ou ameaça a funcionário competente para multa.
executá-lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio:
Pena - detenção, de dois meses a dois anos. Vitor Eduardo Rios Gonçalves destaca que:
§ 1º - Se o ato, em razão da resistência, não se
z Deve haver uma ordem: significa determinação,
executa:
mandamento. O não atendimento de mero pedido
Pena - reclusão, de um a três anos.
ou solicitação não caracteriza o crime;
§ 2º - As penas deste artigo são aplicáveis sem pre-
juízo das correspondentes à violência.
z A ordem deve ser legal: material e formalmente.
Pode até ser injusta, só não pode ser ilegal;
Sobre a conduta típica, algumas informações são z Deve ser emanada de funcionário público com-
muito importantes: petente para proferi-la. Ex.: delegado de polícia
requisita informação bancária e o gerente do ban-
z Exige-se que o ato praticado pelo funcionário co não atende. Não há crime, pois o gerente só está
público seja legal; obrigado a fornecer a informação se houver deter-
z Se o ato praticado por funcionário público for ile- minação judicial;
gal, não há que se falar em resistência; z É necessário que o destinatário tenha o dever jurídico
z Exige-se que o funcionário público seja competen- de cumprir a ordem. Além disso, não haverá crime se
te para executar o ato; a recusa se der por motivo de força maior ou por ser
z Não se exige que a violência ou ameaça seja empre- impossível por algum motivo o seu cumprimento.
gada diretamente contra o funcionário competen-
te, podendo ser empregada contra o terceiro que A ordem deve ser legal. Caso se trate de ordem
esteja auxiliando o funcionário. ilegal, não há que se falar na configuração deste tipo
penal.
Sobre a resistência, é importante que você leve em Sobre a desobediência, é importante que você
consideração: leve em consideração:

z Deve ser praticado dolosamente; z Não admite a culpa;


z A oposição constitui um ato positivo, devendo o z Pode ser praticado tanto na forma omissiva quan-
to na forma comissiva;
NOÇÕES DE DIREITO

agente empregar violência ou grave ameaça.Ape-


sar do tipo penal previsto no art. 329 do CP não z Na forma omissiva, não admite tentativa, na forma
abranger a resistência passiva (sem uso de violên- comissiva, admite;
z Deve haver ordem emanada por funcionário
cia ou ameaça), a depender da conduta do agente,
público, não caracterizando este crime a mera
pode configurar o crime de desobediência;
solicitação.
z A violência ou ameaça deve ser empregada con-
tra pessoa, não constituindo o crime se empregada Observe que o crime de resistência e de desobe-
contra coisa (posição dominante); diência se distinguem, na prática, no que tange ao
z É crime formal, que se consuma com a prática
uso de violência ou ameaça.
da violência ou ameaça;
z Admite tentativa nas hipóteses de fracionamento
do iter criminis. 317
Desacato Trata-se de crime plurinuclear, que pode ser prati-
cado com o exercício de qualquer um dos verbos pre-
O crime de desacato, previsto no art. 331 do Código vistos no tipo penal:
Penal, tem como conduta típica desacatar funcionário
público no exercício da função ou em razão dela.
z Solicitar;
Art. 331 Desacatar funcionário público no exercí- z Exigir;
cio da função ou em razão dela: z Cobrar;
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. z Obter.

Desacatar = ofender, faltar com respeito. Dica


Não se exige que o funcionário público esteja no
efetivo desempenho das atribuições do seu cargo para Observe que as iniciais dos verbos nucleares for-
caracterização do crime de desacato, mas sim que a mam a palavra SECO.
ofensa se dê em razão da função pública.
O agente não tem influência sobre o funcionário
Exemplo 1: Diego Souza xinga Cássio, policial civil, público, mas passa a impressão de que a tem, com a fina-
que estava no exercício de sua função, de “poli- lidade de obter vantagem ou promessa de vantagem.
cialzinho de merda”, quando este estava prestes a Caso o agente realmente tenha poder de influência
prender aquele. sobre o funcionário público que praticará o ato, não
Exemplo 2: Diego Souza xinga Cássio, policial há que se falar em tráfico de influência, podendo, no
civil, num restaurante em Porto Seguro, durante entanto, configurar-se corrupção ativa.
as férias deles, de “policialzinho de merda”, pelo Sobre o tráfico de influência, é importante que
fato de Cássio tê-lo prendido no passado. você tome cuidado com as seguintes informações:
Exemplo 3: Diego Souza xinga Cássio, policial civil,
de “babaca sem noção”, numa partida de futebol, z A pessoa que paga a vantagem pratica indiferente
pelo fato deste ter pegado um pênalti daquele. penal, por falta de previsão legal desta conduta;
z Em regra, é crime formal, consumando-se com a
Nos exemplos 1 e 2, configura-se o crime de desa-
solicitação, exigência ou cobrança;
cato, já que a ofensa proferida pelo agente se deu em
z No caso do verbo obter, o crime é material;
razão da função exercida pelo funcionário público.
z Só pode ser praticado dolosamente;
No exemplo 3, não há que se falar em desacato. Embo-
z Exige um especial fim de agir: obter vantagem ou
ra Cássio seja funcionário público, a ofensa proferida pelo
promessa de vantagem para si ou para outrem.
agente em nada tem a ver com a função pública.
Sobre o desacato, é importante que você fique A pena do crime de tráfico de influência será
atento às seguintes considerações: aumentada de metade:
z O desacato pode se dar por qualquer meio: insul- z Se o agente alega ou insinua que a vantagem é
tos, vias de fato, gestos, entre outros; também destinada ao funcionário.
z O desacato deve ser praticado contra funcionário
público, não caracterizando este tipo penal a críti- Corrupção Ativa
ca ou ofensa à repartição pública;
z É crime formal, que se consuma com a prática da con- O crime de corrupção ativa, previsto no art. 333 do
duta descrita no tipo penal, independentemente de o Código Penal, é um dos tipos penais mais cobrados em
funcionário público se considerar ofendido ou não; relação aos crimes contra a administração pública.
z Só pode ser praticado dolosamente;
z Deve ser praticado na presença do funcionário Art. 333 Oferecer ou prometer vantagem indevida
público – doutrina dominante. a funcionário público, para determiná-lo a praticar,
omitir ou retardar ato de ofício
Em dezembro de 2016, a 5ª turma do STJ decidiu Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
pela descriminalização do crime de desacato, por Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço,
entender que este crime viola a liberdade de expres- se, em razão da vantagem ou promessa, o funcio-
são do indivíduo, em julgamento de Habeas Corpus. nário retarda ou omite ato de ofício, ou o pratica
Contudo, a 3ª seção do STJ pacificou o posicionamen- infringindo dever funcional.
to do tribunal no sentido de que o desacato continua
Atente-se às informações a seguir, muito impor-
sendo crime, que não viola a liberdade de expressão.
tantes em relação à corrupção ativa:
Tráfico de Influência
z Trata-se de crime plurinuclear, já que o tipo penal
prevê mais de um verbo para sua prática: ofere-
O crime de tráfico de influência está previsto no
cer e prometer, por exemplo, João oferece uma
art. 332 do Código Penal.
quantia em dinheiro ao policial rodoviário federal
para não ser multado pela prática de infração de
Art. 332 Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou
para outrem, vantagem ou promessa de vantagem,
trânsito. Pedro promete entregar uma quantia em
a pretexto de influir em ato praticado por funcioná- dinheiro ao guarda municipal quando retornar ao
rio público no exercício da função: seu veículo que está estacionado em local proibido;
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. z É crime formal, que se consuma com a prática da
Parágrafo único - A pena é aumentada da metade, conduta delituosa, não se exigindo que o funcionário
se o agente alega ou insinua que a vantagem é tam- público aceite a vantagem ou promessa de vantagem;
318 bém destinada ao funcionário. z Não admite a forma culposa;
z Exige-se dolo específico a intenção de determinar que introduziu clandestinamente no País ou impor-
o funcionário público a praticar, omitir ou retar- tou fraudulentamente ou que sabe ser produto de
dar ato de ofício; introdução clandestina no território nacional ou de
z O verbo pagar não faz parte do tipo penal. Portanto, importação fraudulenta por parte de outrem;
caso o particular pague vantagem solicitada ou exi- IV - adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio
gida por funcionário público, não praticará crime ou alheio, no exercício de atividade comercial ou
algum; A pena da corrupção ativa será aumentada industrial, mercadoria de procedência estrangeira,
de 1/3 (um terço): se, em razão da vantagem ou pro- desacompanhada de documentação legal ou acom-
messa, o funcionário público retarda ou omite ato panhada de documentos que sabe serem falsos.
de ofício, ou o pratica infringindo dever funcional. § 2° Equipara-se às atividades comerciais, para os
efeitos deste artigo, qualquer forma de comércio irre-
Você não pode confundir os crimes de corrupção gular ou clandestino de mercadorias estrangeiras,
ativa, corrupção passiva e concussão: inclusive o exercido em residências.
§ 3° A pena aplica-se em dobro se o crime de descaminho
CORRUPÇÃO ATIVA é praticado em transporte aéreo, marítimo ou fluvial.

z Verbos: oferecer e prometer; Contrabando:


z Praticado por particular contra a administração
pública; Art. 334-A Importar ou exportar mercadoria proibida:
z É crime quando o agente, com oferta ou promessa Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 ( cinco) anos.
de vantagem, quer que o funcionário público retar- § 1° Incorre na mesma pena quem:
de ato de ofício, omita ato de ofício ou pratique ato I - pratica fato assimilado, em lei especial, a
de ofício; contrabando;
z Quando a corrupção ativa é para obter voto, o crime II - importa ou exporta clandestinamente mercado-
será o tipificado no art. 299 do Código Eleitoral; ria que dependa de registro, análise ou autorização
de órgão público competente;
z Se o agente se limitar a pedidos “dar um jeitinho” ou
III - reinsere no território nacional mercadoria bra-
“quebrar o galho”, não se configura crime de corrup-
sileira destinada à exportação;
ção ativa por falta de elementares.
IV - vende, expõe à venda, mantém em depósito
ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio
CORRUPÇÃO PASSIVA ou alheio, no exercício de atividade comercial ou
industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira;
z Verbos: solicitar, receber e aceitar promessa; V - adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio
z Quando se tratar de corrupção passiva privilegiada, ou alheio, no exercício de atividade comercial ou
quando o funcionário público “dá o jeitinho” e não pra- industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira.
tica o ato que deveria, o particular figura como partíci- § 2º - Equipara-se às atividades comerciais, para os
pe por ter praticado o induzimento. efeitos deste artigo, qualquer forma de comércio irre-
gular ou clandestino de mercadorias estrangeiras,
inclusive o exercido em residências.
CONCUSSÃO § 3° A pena aplica-se em dobro se o crime de contraban-
do é praticado em transporte aéreo, marítimo ou fluvial.
z Verbo: exigir;
z Crime praticado por funcionário público contra a Vamos simplificar estes crimes:
administração pública;
z O agente exige, para si ou para outrem, vantagem z Descaminho: consiste em não pagar direito ou
indevida, direta ou indireta, ainda que fora da sua imposto devido pela entrada, saída ou consumo de
função pública, ou antes de assumi-la, mas em mercadoria;
razão dela. z Contrabando: consiste na importação ou exporta-
ção de mercadoria proibida.

Descaminho e Contrabando No descaminho, a mercadoria não tem a comercia-


lização proibida no território brasileiro, já no contra-
Os crimes de descaminho e contrabando, previs- bando, sim.
tos nos arts. 334 e 334-A, respectivamente, do Código No passado, os dois tipos penais estavam previstos
Penal, constituem práticas distintas, que devem ser no mesmo dispositivo. Contudo, houve alteração e,
observadas. no momento, cada um destes crimes integra um tipo
Descaminho: penal distinto.
São figuras equiparadas ao crime de descaminho,
NOÇÕES DE DIREITO

Art. 334 Iludir, no todo ou em parte, o pagamento incorrendo nas mesmas penas quem:
de direito ou imposto devido pela entrada, pela saí-
da ou pelo consumo de mercadoria. z Pratica navegação de cabotagem, fora dos casos
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. permitidos em lei;
§ 1° Incorre na mesma pena quem:
z Pratica fato assimilado, em lei especial, a descaminho;
I - pratica navegação de cabotagem, fora dos casos
z Vende, expõe à venda, mantém em depósito ou,
permitidos em lei;
II - pratica fato assimilado, em lei especial, a de qualquer forma, utiliza em proveito próprio
descaminho; ou alheio, no exercício de atividade comercial
III - vende, expõe à venda, mantém em depósito ou industrial, mercadoria de procedência estran-
ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio geira que introduziu clandestinamente no País
ou alheio, no exercício de atividade comercial ou ou importou fraudulentamente ou que sabe ser
industrial, mercadoria de procedência estrangeira produto de introdução clandestina no território 319
nacional ou de importação fraudulenta por parte O crime de contrabando apresenta, também, uma
de outrem; causa que aumenta a pena pelo dobro para o caso de
z Adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio o crime ser praticado em transporte aéreo, marítimo
ou alheio, no exercício de atividade comercial ou ou fluvial.
industrial, mercadoria de procedência estrangeira, Sobre o crime de contrabando, é importante
desacompanhada de documentação legal ou acom- que você leve para a sua prova:
panhada de documentos que sabe serem falsos.
z Trata-se de crime comum, que pode ser praticado
O Código Penal estabelece que a atividade comer- por qualquer pessoa;
cial é equiparada, para os efeitos do crime de desca- z Não admite a modalidade culposa;
minho, a qualquer forma de comércio irregular ou z Admite tentativa;
clandestino de mercadorias estrangeiras, inclusive o
z Não admite a aplicação do princípio da insignificância.
exercido em residências.
A pena do crime de descaminho será aplicada em É importante mencionar que no caso de produ-
dobro se o crime é praticado em transporte aéreo, tos específicos, a exemplo de armas de fogo ou subs-
marítimo ou fluvial. tâncias entorpecentes, irá prevalecer a aplicação da
Sobre o crime de descaminho, é importante que legislação especial, aplicando-se, respectivamente, o
você leve em consideração: estatuto do desarmamento (Lei 10.826, de 2003) e a Lei
de Drogas (Lei 11.343, de 2006).
z As figuras equiparadas ao crime de descaminho
De acordo com a Súmula 151, do STJ:
são: a pratica de navegação de cabotagem fora dos
casos permitidos em lei, pratica fato assimilado, A competência para o processo e julgamento por
em lei especial, a descaminho, etc; crime de contrabando ou descaminho define-se pela
z Trata-se de crime comum, que pode ser praticado prevenção do Juízo Federal do lugar da apreensão
por qualquer pessoa; dos bens.
z Admite a forma tentada, quando, no caso de expor-
tação, o crime é tentado se a mercadoria não chega Impedimento, Perturbação ou Fraude de Concorrência
a sair do país;
z A fraude utilizada pelo agente para iludir o paga- Art. 335 Impedir, perturbar ou fraudar concorrên-
mento de imposto pode se dar tanto em relação cia pública ou venda em hasta pública, promovida
à quantidade quanto em relação à qualidade do pela administração federal, estadual ou municipal,
produto; ou por entidade paraestatal; afastar ou procurar
z Não admite a modalidade culposa; afastar concorrente ou licitante, por meio de vio-
z Admite a aplicação do princípio da insignificância, lência, grave ameaça, fraude ou oferecimento de
nos casos em que o valor seja inferior àquele con- vantagem:
siderado irrelevante para fins de execução fiscal. Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou mul-
ta, além da pena correspondente à violência.
Parágrafo único - Incorre na mesma pena quem se
Importante! abstém de concorrer ou licitar, em razão da vanta-
gem oferecida.
Tanto para o STF quanto para o STJ, atualmente,
poderá ser aplicado o princípio da insignificância Afastar ou procurar afastar concorrente ou lici-
ao crime de descaminho que não exceda o valor tante, por meio de violência, grave ameaça, fraude ou
de R$ 20.000,00 (vinte mil reais). oferecimento de vantagem.
Trata-se de tipo penal misto alternativo (crime de
ação múltipla), que poderá ser praticado mediante
Conduta típica: importar ou exportar mercadoria execução de vários verbos:
proibida. São figuras equiparadas ao crime de contra-
bando, incorrendo nas mesmas penas quem:
z Impedir;
z Pratica fato assimilado, em lei especial, a z Perturbar;
contrabando; z Fraudar;
z Importa ou exporta clandestinamente mercadoria z Afastar;
que dependa de registro, análise ou autorização de z Procurar afastar.
órgão público competente;
z Reinsere no território nacional mercadoria brasi- Caso o crime seja praticado mediante violência, o
leira destinada à exportação; agente responderá também por ela (detenção, de seis
z Vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, meses a dois anos, ou multa, além da pena correspon-
de qualquer forma, utiliza em proveito próprio dente à violência).
ou alheio, no exercício de atividade comercial ou Forma equiparada: responderá com a mesma pena
industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira; do impedimento, perturbação ou fraude de concor-
z Adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio rência o agente que se abstém de concorrer ou licitar,
ou alheio, no exercício de atividade comercial ou em razão da vantagem oferecida.
industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira. Responderá pelo crime em sua forma equiparada
O Código Penal equipara, para os efeitos do crime o agente que se abster de concorrer ou licitar, devido
de contrabando, à atividade comercial, qualquer à vantagem oferecida. Caso seja por algum outro moti-
forma de comércio irregular ou clandestino de vo, como por violência ou grave ameaça, aquele que
mercadorias estrangeiras, inclusive o exercido em se abster não será responsabilizado criminalmente.
320 residências.
Sobre este crime, é importante que você leve Tutela-se a Administração Pública, relativamente
em consideração o seguinte: ao normal funcionamento da atividade administrativa.
Cabe destacar que o livro oficial, processo ou docu-
z Não admite forma culposa; mento (público ou particular) é confiado à custódia de
z É crime comum; funcionário, em razão de ofício, ou de particular em
z É crime material nas seguintes condutas: impe- serviço público.
dir, perturbar ou fraudar concorrência pública ou Por isso é dever confiar a custódia de funcioná-
venda em hasta pública, promovida pela adminis- rio, em razão de ofício, não se verificando este crime
tração federal, estadual ou municipal, ou por enti- quando alguém subtrai ou inutiliza, total ou parcial-
dade paraestatal; mente, um livro oficial, processo ou documento de
z É crime formal nas seguintes condutas: afastar quem não o guarda por conta da sua função.
ou procurar afastar concorrente ou licitante, por É importante analisar que na parte final do precei-
meio de violência, grave ameaça, fraude ou ofere- to primário do dispositivo em estudo tem a expressão
cimento de vantagem; “ou de particular em serviço público”, pois existem,
z Admite tentativa. em certas hipóteses excepcionais, particulares que
desempenham funções públicas, por exemplo, mesá-
Inutilização de Edital ou de Sinal rio nas eleições. Observe que se alguém subtrair ou
inutilizar, total ou parcialmente, algum documento
Art. 336 Rasgar ou, de qualquer forma, inutilizar confiado a estas pessoas, a ele será imputado o crime
ou conspurcar edital afixado por ordem de fun- de subtração ou inutilização de livro ou documento.
cionário público; violar ou inutilizar selo ou sinal Sobre o núcleo do tipo:
empregado, por determinação legal ou por ordem
de funcionário público, para identificar ou cerrar z Subtrair: retirar o livro oficial, processo ou docu-
qualquer objeto: mento do local em que se encontra, dele se apode-
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa. rando o agente;
z Inutilizar: tornar imprestável o livro oficial, pro-
O crime de inutilização de edital ou de sinal, pre- cesso ou documento, total ou parcialmente. Não se
visto no art. 336 do Código Penal, é de ação múltipla, reclama sua efetiva destruição.
podendo ser praticado da seguinte forma:
Consuma-se o crime em estudo no instante em que
z Rasgar ou, de qualquer forma inutilizar ou cons- o livro oficial, processo ou documento é subtraído,
purcar (manchar ou tornar sujo, de forma que não mediante seu apoderamento pelo agente, seguido da
possa ser utilizado) edital afixado por ordem de inversão da sua posse e sua consequente retirada da
funcionário público; esfera de vigilância da vítima, ou então inutilizado,
z Violar ou inutilizar selo ou sinal empregado, por total ou parcialmente.
determinação legal ou por ordem de funcionário Observe que se o documento se destina a fazer prova
público, para identificar ou cerrar (encobrir) qual- de relação jurídica, e o agente visa beneficiar a si pró-
quer objeto. prio ou a terceiro, o fato constituirá crime mais grave.
Sobre este tipo penal, é importante que você fique
Sobre o crime de inutilização de edital ou de atento ao seguinte:
sinal, leve em consideração:
z É crime comum;
z É crime comum; z Admite tentativa;
z Admite tentativa; z É crime subsidiário, respondendo o agente por ele
z Segundo posicionamento doutrinário dominante, apenas caso não se configure um crime mais grave;
caso a conduta seja praticada quando não mais pro- z Na hipótese de o documento se destinar a fazer pro-
duz efeito o edital (fora do seu prazo de validade, va de relação jurídica, e o agente visar se beneficiar a
por exemplo), não irá se configurar este tipo penal. si próprio ou a terceiro, o fato constituirá mais grave;
z Somente será praticado na modalidade dolosa.
Subtração ou Inutilização de Livro ou Documento
Sonegação de Contribuição Previdenciária
O crime de subtração ou inutilização de livro ou
documento, previsto no art. 337, do CP. O crime de sonegação de contribuição previden-
ciária está previsto no art. 337-A, do Código Penal.
Art. 337 Subtrair, ou inutilizar, total ou parcial-
NOÇÕES DE DIREITO

mente, livro oficial, processo ou documento confia-


Art. 337-A Suprimir ou reduzir contribuição social
do à custódia de funcionário, em razão de ofício, ou
previdenciária e qualquer acessório, mediante as
de particular em serviço público:
seguintes condutas:
Pena - reclusão, de dois a cinco anos, se o fato não
I – omitir de folha de pagamento da empresa ou de
constitui crime mais grave.
documento de informações previsto pela legislação
previdenciária segurados empregado, empresário,
z Conduta típica: subtrair, ou inutilizar, total ou trabalhador avulso ou trabalhador autônomo ou a
parcialmente, livro oficial, processo ou documen- este equiparado que lhe prestem serviços;
to confiado à custódia de funcionário, em razão de II – deixar de lançar mensalmente nos títulos pró-
ofício ou de particular em serviço público. prios da contabilidade da empresa as quantias
descontadas dos segurados ou as devidas pelo
empregador ou pelo tomador de serviços; 321
III – omitir, total ou parcialmente, receitas ou da punibilidade do agente, ainda que efetuado após o
lucros auferidos, remunerações pagas ou credi- julgamento da ação penal, desde que antes do trânsito
tadas e demais fatos geradores de contribuições em julgado da condenação.
sociais previdenciárias:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. Destaca-se:
§ 1o É extinta a punibilidade se o agente, espontanea-
z A competência para julgar o crime de sonegação
mente, declara e confessa as contribuições, impor-
tâncias ou valores e presta as informações devidas à
de contribuição previdenciária é da justiça federal;
previdência social, na forma definida em lei ou regu- z Admite a forma tentada;
lamento, antes do início da ação fiscal. z É crime material;
§ 2o É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou z Este tipo penal admite a aplicação do princípio da
aplicar somente a de multa se o agente for primário insignificância, excluindo-se, assim, a tipicidade
e de bons antecedentes, desde que: material do crime;
I – (vetado) z Se o empregador não é pessoa jurídica e sua folha
II – o valor das contribuições devidas, inclusive de pagamento mensal não ultrapassa R$ 1.510,00
acessórios, seja igual ou inferior àquele estabele- (um mil, quinhentos e dez reais), o juiz poderá
cido pela previdência social, administrativamente, reduzir a pena de um terço até a metade ou aplicar
como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas
apenas a de multa.
execuções fiscais.
§ 3o Se o empregador não é pessoa jurídica e sua
folha de pagamento mensal não ultrapassa R$ DOS CRIMES EM LICITAÇÕES E CONTRATOS
1.510,00 (um mil, quinhentos e dez reais), o juiz ADMINISTRATIVOS
poderá reduzir a pena de um terço até a metade ou
aplicar apenas a de multa. Neste tópico, vamos conhecer as alterações legisla-
§ 4° O valor a que se refere o parágrafo anterior será tivas trazidas pela nova Lei de Licitações em âmbito
reajustado nas mesmas datas e nos mesmos índices criminal (Lei n° 14.133, de 01 de abril de 2021). Tra-
do reajuste dos benefícios da previdência social. ta-se do Capítulo II da referida lei, o qual se encontra,
praticamente, no encerramento desse ato normativo.
Extinção da punibilidade: caso o agente, de for- O Capítulo II-B – Dos Crimes em Licitações e Contratos
ma espontânea, declare ou confesse as contribuições, Administrativos – alterou, inclusive, o Código Penal,
importâncias ou valores e preste as informações devi- Título IX – Dos Crimes Contra a Administração Pública.
das à previdência social, na forma definida em lei ou É interessante frisar que, com a inserção desses
regulamento, antes do início da ação fiscal (não se exi- dispositivos no Código Penal, encerra-se a discussão
ge o pagamento do tributo sonegado). sobre serem ou não crimes contra a Administração
A declaração ou confissão e a prestação das infor- Pública. Uma consequência imediata é a aplicação do
mações deverão ocorrer antes do início da ação fiscal. disposto no § 4º, art. 33. Vejamos:
Sobre o crime de sonegação de contribuição pre-
videnciária, é importante atentar-se ao seguinte: Art. 33 [...]
§ 4º O condenado por crime contra a administração
z Não admite a modalidade culposa; pública terá a progressão de regime do cumprimen-
z De acordo com o art. 34 da Lei nº 9.249, de 1995, to da pena condicionada à reparação do dano que
confirmado pela doutrina majoritária, o pagamen- causou, ou à devolução do produto do ilícito prati-
to integral do tributo ou contribuição social, após cado, com os acréscimos legais.
a ação fiscal, mas antes do recebimento da denún-
cia, também acarretará a extinção da punibilida- O art. 337-E traz a conduta penal chamada contra-
de. Veremos esse artigo a seguir: tação direta ilegal.

Art. 337-E Admitir, possibilitar ou dar causa à con-


Art. 34 Extingue-se a punibilidade dos crimes defi-
tratação direta fora das hipóteses previstas em lei:
nidos na Lei 8.137, de 27 de dezembro de 1990, e na
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
Lei 4.729, de 14 de julho de 1965, quando o agente
promover o pagamento do tributo ou contribuição
Lembre-se de que a contratação direta deverá
social, inclusive acessórios, antes do recebimento
ocorrer nos casos em que a Lei permite que não seja
da denúncia.
realizado o procedimento licitatório.
Será extinta a punibilidade se o agente, espon- O tipo encontra equivalência com o art. 89 da lei
taneamente, declarar e confessar as contribuições, anterior. Assim, é importante destacar que o STF e o
importâncias ou valores e prestar as informações STJ se posicionaram em relação ao dispositivo ante-
devidas à previdência social, na forma definida em lei rior pela necessidade de dolo específico, ou seja,
ou regulamento, antes do início da ação fiscal. vontade consciente de produzir o resultado lesivo ao
O termo final para o pagamento é o início da ação erário, além do dolo genérico (contratação fora das
fiscal. hipóteses legais). Com base nessas informações, é pro-
Se o agente for beneficiado pela concessão do par- vável que o entendimento seja o mesmo em relação ao
celamento dos valores devidos a título de contribui- novo dispositivo.
ção social previdenciária, ou qualquer acessório, o O crime é doloso não havendo previsão de modali-
pagamento integral do débito importará na extinção dade culposa. É, ainda, plurissubsistente (a conduta é
da punibilidade (§ 4º, art. 83, da Lei nº 9.430, de 1996). fracionada em diversos atos) e, portanto, possibilita a
O Supremo Tribunal Federal entende, com ampa- punição pela tentativa.
ro no art. 69 da Lei nº 11.941, de 2009, que o paga- Em seguida, temos o tipo frustração do caráter
322 mento integral do débito fiscal acarreta na extinção competitivo de licitação no art. 337-F.
Art. 337-F Frustrar ou fraudar, com o intuito de (admitir, possibilitar ou dar causa). A prática de mais
obter para si ou para outrem vantagem decorren- de uma dessas condutas configurará a prática de úni-
te da adjudicação do objeto da licitação, o caráter co crime. No entanto, caso a prática de uma ou mais
competitivo do processo licitatório: dessas condutas seja combinada com a prática de con-
Pena - reclusão, de 4 (quatro) anos a 8 (oito) anos, duta enquadrada na segunda figura do tipo, teremos
e multa. um concurso de crimes.
Ademais, o crime é próprio quanto a segunda figu-
Trata-se de hipótese de crime formal, não sendo
ra (pagamento irregular), mas comum em relação a
necessária a obtenção de vantagem para que reste
primeira, pois alguns núcleos podem ser praticados
caracterizada a prática criminal. Aqui, também, tem-
por sujeitos ativos que não são agentes públicos.
-se a hipótese de crime doloso. Trata-se de crime de
Vamos, agora, ao tipo perturbação de processo
tipo misto alternativo, pois existe mais de um núcleo.
licitatório.
A jurisprudência existente em relação ao tipo equiva-
lente da lei anterior afirma que se trata de crime for- Art. 337-I Impedir, perturbar ou fraudar a realiza-
mal. Vejamos: ção de qualquer ato de processo licitatório:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos,
A natureza formal da conduta descrita no art. 90 da
e multa.
Lei 8.666/93 dispensa a demonstração de prejuízo
ou dano aos cofres públicos. Basta a comprovação Aqui, temos um crime comum e de tipo misto alterna-
da fraude para se configurar o crime em questão. tivo. Trata-se de crime material, sendo exigido o impedi-
(STJ, AgRg no AREsp 1003485/BA)
mento, a perturbação ou a fraude para a sua consumação.
Trata-se de crime comum, não sendo exigida qua- Em seguida, vejamos o tipo violação de sigilo em
lificação específica para o sujeito ativo e é doloso, não licitação.
existindo possibilidade de modalidade culposa. Art. 337-J Devassar o sigilo de proposta apresenta-
Vejamos, agora, o patrocínio de contratação indevida. da em processo licitatório ou proporcionar a tercei-
ro o ensejo de devassá-lo:
Art. 337-G Patrocinar, direta ou indiretamente,
Pena - detenção, de 2 (dois) anos a 3 (três) anos, e
interesse privado perante a Administração Pública,
multa.
dando causa à instauração de licitação ou à cele-
bração de contrato cuja invalidação vier a ser Trata-se de crime de tipo alternativo e comum,
decretada pelo Poder Judiciário:
podendo ser praticado por qualquer pessoa. Em rela-
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, e
ção à conduta de devassar, é exigido que seja quebra-
multa.
do o sigilo para a consumação, sendo o crime, nessa
Aqui, temos uma modalidade especial para o cri- hipótese, material.
me de advocacia administrativa. É bom frisar que há Já em relação à hipótese de proporcionar que um
a necessidade de que o sujeito ativo seja agente públi- terceiro o faça, não será necessário o resultado natu-
co, sendo que o interesse eventualmente patrocinado ralístico, sendo, portanto, hipótese formal.
pode ser legítimo ou não. Trata-se, portanto, de crime Vejamos, agora, o tipo afastamento de licitante.
material, pois o tipo exige a instauração de licitação
Art. 337-K Afastar ou tentar afastar licitante
ou celebração de contrato.
por meio de violência, grave ameaça, fraude ou ofe-
Perceba que há, ainda, a necessidade de invalida- recimento de vantagem de qualquer tipo:
ção, pelo Judiciário, do contrato administrativo. Caso Pena - reclusão, de 3 (três) anos a 5 (cinco) anos,
seja invalidado pela própria Administração Públi- e multa, além da pena correspondente à violência.
ca, não sofrendo, desta forma, intervenção do Poder Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem se
Judiciário, não haverá justa causa para a ação penal, abstém ou desiste de licitar em razão de vantagem
conforme decidido pelo STJ. Assim, trata-se de crime oferecida.
próprio, doloso e material.
Vamos conhecer, agora, o tipo modificação ou Trata-se de delito de atentado ou de mero empreen-
pagamento irregular em contrato administrativo. dimento, pois as formas tentada e consumada são
equivalentes. O Parágrafo Único traz a modalidade
Art. 337-H Admitir, possibilitar ou dar causa equiparada, em que um licitante se afasta mediante
a qualquer modificação ou vantagem, inclusive vantagem a ele oferecida. Já no caso do emprego de
prorrogação contratual, em favor do contratado, violência, há possibilidade de concurso de crimes.
durante a execução dos contratos celebrados com a Trata-se, portanto, de crime formal e comum e de
Administração Pública, sem autorização em lei, no mero empreendimento, como vimos anteriormente.
edital da licitação ou nos respectivos instrumentos
Vejamos, agora, à fraude em licitação ou contrato.
contratuais, ou, ainda, pagar fatura com preteri-
NOÇÕES DE DIREITO

ção da ordem cronológica de sua exigibilidade: Art. 337-L Fraudar, em prejuízo da Administra-
Pena - reclusão, de 4 (quatro) anos a 8 (oito) anos, ção Pública, licitação ou contrato dela decorrente,
e multa. mediante:
I - entrega de mercadoria ou prestação de serviços
Aqui, temos duas figuras distintas no tipo – modifi- com qualidade ou em quantidade diversas das pre-
cação irregular de contrato e pagamento irregular de vistas no edital ou nos instrumentos contratuais;
contrato. Vale dizer que, sobre a ordem cronológica II - fornecimento, como verdadeira ou perfeita, de
de pagamento, há regramento específico no art. 141 e mercadoria falsificada, deteriorada, inservível para
seguintes, da Lei nº 14.133, de 2021. Trata-se, portanto, consumo ou com prazo de validade vencido;
de norma penal em branco. III - entrega de uma mercadoria por outra;
Perceba, ainda, que há duas figuras dentro do IV - alteração da substância, qualidade ou quanti-
mesmo tipo. A primeira traz um tipo misto alternativo dade da mercadoria ou do serviço fornecido; 323
V - qualquer meio fraudulento que torne injusta- § 1º Consideram-se condição de contorno as infor-
mente mais onerosa para a Administração Pública mações e os levantamentos suficientes e necessá-
a proposta ou a execução do contrato: rios para a definição da solução de projeto e dos
Pena - reclusão, de 4 (quatro) anos a 8 (oito) anos, respectivos preços pelo licitante, incluídos son-
e multa. dagens, topografia, estudos de demanda, condi-
ções ambientais e demais elementos ambientais
Trata-se de crime de forma vinculada, pois a Lei, impactantes, considerados requisitos mínimos ou
por meio dos incisos dispostos, elencou as condutas obrigatórios em normas técnicas que orientam a
nas quais incidirá no tipo o sujeito ativo. Ademais, é elaboração de projetos.
crime comum, doloso e material, pois é exigido o pre- § 2º Se o crime é praticado com o fim de obter benefí-
juízo à Administração Pública para a sua consumação, cio, direto ou indireto, próprio ou de outrem, aplica-se
sendo admissível a tentativa. em dobro a pena prevista no caput deste artigo.
Vejamos, agora, a contratação inidônea.
Aqui, temos um crime que não encontra correspon-
Art. 337-M Admitir à licitação empresa ou profis- dência na lei anterior. Perceba que, ainda que o nome do
sional declarado inidôneo: tipo traga o termo “omissão”, apenas um dos três núcleos
Pena - reclusão, de 1 (um) ano a 3 (três) anos, e presentes no caput será crime omissivo puro (omitir).
multa. O tipo traz as condições. Vejamos:
§ 1º Celebrar contrato com empresa ou profissional
declarado inidôneo:
z Contorno em relevante dissonância com a realidade;
Pena - reclusão, de 3 (três) anos a 6 (seis) anos, e
z Em frustração ao caráter competitivo da licitação;
multa.
z Em detrimento da seleção da proposta mais vanta-
§ 2º Incide na mesma pena do caput deste artigo
aquele que, declarado inidôneo, venha a participar josa para a Administração Pública.
de licitação e, na mesma pena do § 1º deste artigo,
aquele que, declarado inidôneo, venha a contratar Ainda, traz os contextos em que deverá ocorrer a
com a Administração Pública. conduta, para que se caracterize o crime:

Diferentemente da conduta constante do § 2º, a qual z Contratação para a elaboração de projeto básico,
constitui crime comum, a conduta incriminada no caput projeto executivo ou anteprojeto;
é um crime próprio, podendo ser praticada somente por z Diálogo competitivo;
agente público. Já o § 1º traz forma qualificada do delito z Procedimento de manifestação de interesse.
previsto no caput, ocorrendo a absorção da conduta de
admissão no caso da celebração do contrato. As formas de contração colocadas acima são pre-
Nas formas simples e qualificada, são normas vistas na Lei nº 14.133, de 2021, por isso se trata de
penais em branco, por dependerem da definição da norma penal em branco. O § 2º traz a hipótese de
declaração de inidoneidade. Ainda, trata-se de crime majoração da pena. Como não há restrição, deve-se
doloso, não sendo admitida a forma culposa. interpretar que qualquer benefício será suficiente
Vejamos, agora, o crime de impedimento indevido. para o enquadramento na hipótese.
Trata-se, portanto, de crime comum, pois, embora
Art. 337-N Obstar, impedir ou dificultar injusta- a Lei use o termo projetista, o verbo trazido constante
mente a inscrição de qualquer interessado nos do caput (entregar) poderá ser praticado por qualquer
registros cadastrais ou promover indevidamente a
pessoa. Ainda, é hipótese de delito formal, sendo pos-
alteração, a suspensão ou o cancelamento de regis-
sível a tentativa, exceto na modalidade “omitir”, por
tro do inscrito:
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e
se tratar de crime omissivo próprio.
multa. Por fim, temos um regramento específico para a
aplicação de multas nos casos dos crimes constantes
Nesse tipo penal, temos duas figuras distintas. Ambas dos artigos que estudamos até aqui.
configuram crime próprio. Dentre os verbos constantes
Art. 337-P A pena de multa cominada aos crimes
do tipo, apenas “dificultar” será crime de mera condu-
previstos neste Capítulo seguirá a metodologia de
ta, sendo que, nos demais, há necessidade de resultado
cálculo prevista neste Código e não poderá ser infe-
naturalístico, tratando-se de crimes materiais. Cabe fri- rior a 2% (dois por cento) do valor do contrato lici-
sar que, em todas as modalidades, será cabível a ten- tado ou celebrado com contratação direta.”
tativa. O crime poderá ser instantâneo (dificultar ou
promover) ou permanente (obstar ou impedir). Vale destacar que a metodologia para o cálculo da
Vamos, agora, conhecer o tipo omissão grave de multa será a constante do Código Penal, porém com
dado ou de informação por projetista. piso mínimo de 2% do valor do contrato licitado ou
celebrado por meio de contratação direta.
Art. 337-O Omitir, modificar ou entregar à Adminis-
tração Pública levantamento cadastral ou condição
CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA
de contorno em relevante dissonância com a reali-
A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ESTRANGEIRA
dade, em frustração ao caráter competitivo da licita-
ção ou em detrimento da seleção da proposta mais
vantajosa para a Administração Pública, em contra- Os Crimes previstos acima dividem-se em dois
tação para a elaboração de projeto básico, projeto tipos penais:
executivo ou anteprojeto, em diálogo competitivo ou
em procedimento de manifestação de interesse: z Corrupção ativa em transação comercial internacional;
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, e z Tráfico de influência em transação comercial
324 multa. internacional.
Inicialmente, é importante destacar quem é o fun- z No verbo dar, trata-se de crime material, que se
cionário público estrangeiro e quem se equipara a consuma com a obtenção do resultado;
funcionário público estrangeiro. z Admite tentativa, quando for possível fracionar
o iter criminis, as fases do crime, da cogitação ao
z Funcionário Público Estrangeiro: exaurimento.

„ Quem, ainda que transitoriamente ou sem


É a fase mental de preparação do
remuneração, exerce cargo, emprego ou fun-
Cogitação crime: idealização, deliberação e
ção pública em entidades estatais ou em repre-
ou resolução.
sentações diplomáticas de país estrangeiro.
Fase Interna Não há conduta penalmente
relevante
z Equipara-se a Funcionário Público Estrangeiro:

„ Quem exerce cargo, emprego ou função em


O crime começa a projetar-se no
empresas controladas, diretamente ou indire-
mundo exterior.
tamente, pelo Poder Público de país estrangeiro Atos
O agente adquire arma de fogo.
ou em organizações públicas internacionais. Preparatórios
Em regra não são puníveis, salvo
nos crimes-obstáculo
Corrupção Ativa em Transação Comercial
Internacional
O agente começa a realizar o
O crime de corrupção ativa em transação comer- núcleo do tipo penal, de forma
cial internacional, previsto no art. 337-B do Código Atos de
Execução idônea e inequívoca.
Penal, é bastante parecido com o tipo penal de cor- Essa fase pode haver punição
rupção ativa, crime praticado por particular contra a
pela tentativa
administração em geral, que já analisamos.

Art. 337-B Prometer, oferecer ou dar, direta ou


indiretamente, vantagem indevida a funcioná- Crime consumado é quando nele se
rio público estrangeiro, ou a terceira pessoa, reúnem todos os elementos de sua
Consumação
para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar definição legal.
ato de ofício relacionado à transação comercial Fim do iter criminis
internacional:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 8 (oito) anos, e multa.
Parágrafo único. A pena é aumentada de 1/3 (um ter-
ço), se, em razão da vantagem ou promessa, o fun- Não influi na tipicidade, mas pode
cionário público estrangeiro retarda ou omite o ato influenciar na dosimetria da pena,
Exaurimento
de ofício, ou o pratica infringindo dever funcional. ser reconhecido como qualificadora
ou configurar crime autônomo
z Corrupção Ativa em Transação Comercial
Internacional:
Tráfico de Influência em Transação Comercial
„ Verbos: prometer, oferecer e dar; Internacional
„ Fim específico: determinar o funcionário pú-
Art. 337-C Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si
blico estrangeiro a praticar, omitir ou retardar
ou para outrem, direta ou indiretamente, vantagem
ato de ofício relacionado à transação comercial
ou promessa de vantagem a pretexto de influir em
internacional. ato praticado por funcionário público estrangeiro
no exercício de suas funções, relacionado a transa-
z Corrupção Ativa: ção comercial internacional:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
„ Verbos: oferecer e prometer; Parágrafo único. A pena é aumentada da metade,
„ Fim específico: determinar o funcionário públi- se o agente alega ou insinua que a vantagem é tam-
co a praticar, omitir ou retardar ato de ofício. bém destinada a funcionário estrangeiro.

O crime de corrupção ativa em transação comer- O crime de tráfico de influência em transação comer-
cial internacional terá sua pena aumentada de 1/3 cial internacional, previsto no art. 337-C do Código Penal,
NOÇÕES DE DIREITO

(um terço) se: é muito parecido com o crime de tráfico de influência,


crime praticado por particular contra a administração
z Em razão da vantagem ou promessa, o funcionário em geral, previsto no art. 332 do Código Penal.
público estrangeiro retarda ou omite o ato de ofí-
cio, ou o pratica infringindo dever funcional. z Tráfico de Influência em Transação Comercial
Internacional:
Sobre este crime, é importante mencionar que:
„ Verbos: solicitar, exigir, cobrar ou obter;
z Só poderá ser praticado dolosamente; „ Pretexto: influir em ato praticado por funcio-
z É crime comum; nário público estrangeiro no exercício de suas
z Nos verbos oferecer e prometer, trata-se de crime funções, relacionado a transação comercial
formal, de consumação antecipada; internacional. 325
z Tráfico de Influência: z O fato de o crime ser de mão própria não exclui a
possibilidade de concurso de pessoas na modalida-
„ Verbos: solicitar, exigir, cobrar ou obter; de participação;
„ Pretexto: influir em ato praticado por funcio- z É necessário, para configuração do crime, que o
nário público no exercício da função. estrangeiro tenha ciência de que foi expulso do
território brasileiro;
O crime de tráfico de influência em transação z Admite tentativa;
comercial internacional terá sua pena aumentada da z É crime material, que se consuma com o devido
metade se: reingresso ao território nacional;
z Trata-se de crime de competência da Justiça Federal;
z Se o agente alega ou insinua que a vantagem é tam- z Não se tipifica o crime quanto ao estrangeiro, após
bém destinada ao funcionário público estrangeiro. decretada sua expulsão, permanece indevidamen-
te no país.
Em relação a este tipo penal, é importante
saber o seguinte: Denunciação Caluniosa

z Só poderá ser praticado dolosamente; A denunciação caluniosa está prevista no art. 339
z É crime comum; do Código Penal.
z Nos verbos solicitar, exigir e cobrar, trata-se de cri-
me formal, de consumação antecipada; Art. 339 Dar causa à instauração de inquérito poli-
z No verbo obter, trata-se de crime material, que se cial, de procedimento investigatório criminal, de
consuma com a obtenção do resultado; processo judicial, de processo administrativo dis-
z Admite tentativa, quando for possível fracionar o ciplinar, de inquérito civil ou de ação de improbi-
iter criminis. dade administrativa contra alguém, imputando-lhe
crime, infração ético-disciplinar ou ato ímprobo
CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA de que o sabe inocente: (Redação dada pela Lei nº
14.110, de 2020)
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.
Os crimes contra a administração da justiça têm
§ 1º A pena é aumentada de sexta parte, se o agente
como finalidade proteger uma regular fruição da
se serve de anonimato ou de nome suposto.
atividade judicial brasileira, incluindo atividades de
§ 2º A pena é diminuída de metade, se a imputação
natureza policial.
é de prática de contravenção.
A atividade judicial é de fundamental importância
para a sociedade, necessitando, assim, de proteção
por parte do Direito Penal. Com a nova redação dada ao dispositivo no final
do ano de 2020, o legislador alterou alguns requisitos
para que a denunciação caluniosa seja configurada.
Reingresso de Estrangeiro Expulso
Diferente da redação anterior, agora, a conduta
abarcada pelo dispositivo é mais ampla quanto às
Art. 338 Reingressar no território nacional o formas de praticar. Podemos observar que o disposi-
estrangeiro que dele foi expulso: tivo se refere à imputação não somente de crime, mas
Pena - reclusão, de um a quatro anos, sem prejuízo também de infração ético-disciplinar e ato ímprobo.
de nova expulsão após o cumprimento da pena. Por outro lado, o legislador colocou um segundo
requisito que restringe a configuração do tipo penal.
Este crime, previsto no art. 338 do Código Penal, Com a nova redação a denunciação caluniosa somen-
irá se configurar quando o estrangeiro que foi expulso te será praticada se da conduta do agente resultar na
do Brasil reingressar ao território nacional. instauração de inquérito policial, de PIC (procedimen-
O Ministério da Justiça e Segurança Pública escla- to investigatório criminal, de competência do MP), de
rece que a expulsão consiste em medida coercitiva de processo judicial, de PAD (processo administrativo
caráter discricionário de um Estado, levada a efeito disciplinar), de inquérito civil ou de ação de improbi-
em face do “estrangeiro que, de qualquer forma, aten- dade administrativa.
tar contra a segurança nacional, a ordem política ou Atenção às modificações recentes no delito de
social, a tranquilidade ou moralidade pública e a eco- denunciação caluniosa (art. 339 do CP). Anteriormen-
nomia popular, ou cujo procedimento o torne nocivo te, o dispositivo visava reprimir a acusação da prática
à conveniência e aos interesses nacionais” (art. 65 da de crime em face de pessoa inocente. Contudo, com
Lei nº 6.815, de 1980 - Estatuto do Estrangeiro). o advento da Lei 14.110, de 2020, o alcance do crime
foi ampliado para abranger também a imputação de
infração ético-disciplinar ou ato ímprobo. Veja, ainda,
Importante! que a aludida lei também incluiu a conduta de dar
causa a procedimento investigatório criminal.
O agente será responsabilizado penalmente, Sobre o crime de denunciação caluniosa, é
podendo, ainda, sofrer nova expulsão do territó- importante atentar-se ao seguinte:
rio brasileiro.
z Só pode ser praticado dolosamente: parte da dou-
trina não admite o dolo eventual neste crime, já
Sobre o crime de reingresso de estrangeiro que o tipo penal exige que o agente saiba que o
expulso, é importante atentar-se ao seguinte: fato é imputado contra pessoa inocente.

z É crime de mão própria, praticado pelo estrangei- A denunciação caluniosa poderá se configurar
ro expulso, não podendo a figura típica ser pratica- quando o agente imputa crime que realmente acon-
326 da por intermédio de terceira pessoa; teceu contra pessoa que sabe ser inocente ou quando
imputa a alguém a prática de crime que não existiu Sobre este crime, é importante mencionar que:
(neste caso não há dúvidas sobre a inocência da pes-
soa, já que o fato sequer aconteceu); z Não admite a forma culposa. Assim, se o agente
comunica à autoridade, sem intenção, crime ou
z É necessário que o fato imputado seja crime, contravenção penal, provocando a ação desta, este
infração ético-disciplinar, ato ímprobo ou contra- tipo penal não estará configurado;
venção penal (no caso de contravenção penal, a z É crime comum;
pena será reduzida de metade), não se configuran- z Admite tentativa:
do este tipo penal caso o agente impute infração
administrativa ou civil; „ Se o fato imputado for infração administrativa
z É crime comum; ou civil, não irá se configurar o crime;
z Admite a forma tentada, por exemplo, o agente „ Para a maioria da doutrina, não se configura o
narra ao delegado de polícia que o autor de deter- crime quando o agente se limita a comunicar
minado crime foi a pessoa A, mas o delegado não
ilícito penal diverso do que realmente ocorreu,
inicia qualquer investigação porque o verdadeiro
desde que o fato comunicado e o que realmente
autor do crime é B, que se apresenta e confessa ter
ocorreu sejam crimes da mesma natureza;
cometido o delito antes mesmo de a autoridade ter
iniciado qualquer investigação; „ Se o agente faz a comunicação falsa para tentar
z A pessoa contra quem se imputa o crime deve ocultar outro crime por ele praticado responde
ser determinada, sendo ela, assim como o Estado, também pela comunicação falsa de crime.
sujeito passivo da prática delituosa; „ Comunicação Falsa de Crime ou
z Em regra, a denunciação caluniosa absorve o cri- Contravenção:
me de calúnia.
z O agente não aponta pessoa certa e determinada
A pena será aumentada de 1/6 (sexta parte), caso como autora da infração penal, mas apenas comu-
o agente se sirva de anonimato ou de nome suposto. nica fato inexistente.
No caso de denunciação caluniosa privilegiada, a
pena será diminuída de metade, caso a imputação seja Exemplo: José Carlos viu uma publicação no Face-
de prática de contravenção penal. book relacionada a um aborto. De imediato, ligou em
Observe as principais diferenças entre a denuncia- uma delegacia de polícia e comunicou o crime ao dele-
ção caluniosa e o crime de calúnia. gado de polícia, que iniciou as investigações sobre o
fato. Entretanto, não sabia José Carlos que o aborto
z Denunciação Caluniosa: não existiu, já que a publicação se tratava de uma
brincadeira por parte daquele que a realizou.
„ É crime contra a administração da justiça; Não há que se falar em figura típica da comunica-
„ A ação penal é pública incondicionada, se dis- ção falsa de crime, já que o agente não teve dolo de
cute na doutrina e jurisprudência se o processo comunicar falsamente o fato que não existiu.
por denunciação caluniosa pode ser iniciado
antes do desfecho do procedimento ou ação Autoacusação Falsa
originários;
„ Punida pelo fato de o agente movimentar falsa- Art. 341 Acusar-se, perante a autoridade, de crime
mente o aparato estatal, tentando prejudicar a inexistente ou praticado por outrem:
vítima perante o Estado; Pena - detenção, de três meses a dois anos, ou
„ É admitida a imputação falsa de crime, infração multa.
ético-disciplinar, ato ímprobo ou con­travenção
É possível a configuração deste tipo penal quando
penal.
o agente se acusar de:
z Calúnia:
z Crime não existente (a conduta criminosa sequer
„ É crime contra a honra; foi praticada, sequer existiu);
„ A ação penal é privada; z Crime existente, mas praticado por outra pessoa
„ Punida pelo fato de o agente ofender a honra (a conduta criminosa foi realmente realizada, mas
objetiva da vítima; foi outro indivíduo que a praticou).
„ É admitida a imputação falsa apenas de crime.
Sobre a autoacusação falsa, é importante levar
Comunicação Falsa de Crime ou Contravenção em consideração:
NOÇÕES DE DIREITO

Art. 340 Provocar a ação de autoridade, comuni- z Só pode ser praticado dolosamente;
cando-lhe a ocorrência de crime ou de contraven- z Admite a modalidade tentada na forma escrita,
ção que sabe não se ter verificado: quando a confissão falsa remetida se extravia;
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. z Não se exige que seja praticado apenas perante
autoridade policial, mas na presença de qualquer
Ao contrário do que ocorre no crime de denun- autoridade competente (delegado de polícia, mem-
ciação caluniosa, no crime de falsa comunicação de bro do Ministério Público, autoridade judicial etc.);
crime ou contravenção, o agente não individualiza z Não se exige a prática de qualquer ato por parte da
o autor, imputando a alguém o fato que não existiu, autoridade para a consumação do crime, bastando
mas apenas comunica à autoridade crime ou contra- a autoacusação falsa.
venção penal que sabe não ter ocorrido.
327
Falso Testemunho ou Falsa Perícia Não irá responder pelo crime de falso testemu-
nho a pessoa que praticar as condutas descritas no
O crime de falso testemunho ou falsa perícia está tipo penal incriminador com a finalidade de não se
previsto no art. 342 do Código Penal. autoincriminar.
Lembre-se que ninguém será prejudicado por não
Art. 342 Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar
produzir provas contra si mesmo.
a verdade como testemunha, perito, contador, tra-
Quando a testemunha mente por estar sendo
dutor ou intérprete em processo judicial, ou admi-
ameaçada de morte ou algum outro mal grave, não
nistrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral:
responde pelo crime de falso testemunho.
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e
O art. 343 do Código Penal apresenta um outro tipo
multa.
penal, chamado por parte da doutrina de corrupção ativa
§ 1° As penas aumentam-se de um sexto a um ter-
de testemunha contador, perito, intérprete ou tradutor.
ço, se o crime é praticado mediante suborno ou se
A figura típica é a de dar, oferecer ou prometer
cometido com o fim de obter prova destinada a pro-
dinheiro ou qualquer outra vantagem à testemunha,
duzir efeito em processo penal, ou em processo civil
perito, contador, tradutor ou intérprete, para fazer
em que for parte entidade da administração pública
afirmação falsa, negar ou calar a verdade em depoi-
direta ou indireta.
mento, perícia, cálculos, tradução ou interpretação.
§ 2° O fato deixa de ser punível se, antes da senten-
ça no processo em que ocorreu o ilícito, o agente se z Verbos: dar, oferecer ou prometer;
retrata ou declara a verdade. z Destinatário: testemunha, perito, contador, tra-
Art. 343 Dar, oferecer ou prometer dinheiro ou dutor ou intérprete;
qualquer outra vantagem a testemunha, perito, z Finalidade: fazer com que as pessoas façam
contador, tradutor ou intérprete, para fazer afirma- afirmação falsa, neguem ou calem a verdade
ção falsa, negar ou calar a verdade em depoimento, em depoimento, perícia, cálculos, tradução ou
perícia, cálculos, tradução ou interpretação: interpretação.
Pena - reclusão, de três a quatro anos, e multa.
Parágrafo único. As penas aumentam-se de um sex- As penas irão aumentar de 1/6 a 1/3 (um sexto a
to a um terço, se o crime é cometido com o fim de um terço), se o crime é:
obter prova destinada a produzir efeito em proces-
so penal ou em processo civil em que for parte enti- z Cometido com o fim de obter prova destinada a
dade da administração pública direta ou indireta. produzir efeito em processo penal;
z Cometido com o fim de obter prova destinada a pro-
Trata-se de crime plurinuclear, que poderá ser duzir efeito em processo civil em que for parte enti-
praticado mediante execução de quaisquer um dos dade da administração pública direta ou indireta.
verbos previstos no tipo penal.
Sobre o crime de corrupção ativa de testemu-
O tipo penal apresenta hipóteses que aumentarão
nha contador, perito, intérprete ou tradutor, é
a pena do agente. As penas aumentam-se de 1/6 (um importante saber o seguinte:
sexto) a 1/3 (um terço), se o crime é:
z Não pode ser praticado culposamente;
z Praticado mediante suborno; z Nos verbos oferecer ou prometer, é crime formal;
z Cometido com o fim de obter prova destinada a z No verbo dar, é crime material;
produzir efeito em processo penal; z Admite tentativa, quando for possível fracionar o
z Cometido com o fim de obter prova destinada a pro- iter criminis;
duzir efeito em processo civil em que for parte enti- z O fato deixa de ser punível se, antes da sentença
dade da administração pública direta ou indireta. no processo em que ocorreu o ilícito, o agente se
retrata ou declara a verdade.
Sobre o crime de falso testemunha ou falsa Coação no Curso do Processo
perícia, é importante levar para a sua prova:
Art. 344 Usar de violência ou grave ameaça, com o
z Não admite a forma culposa; fim de favorecer interesse próprio ou alheio, contra
z É crime de mão própria, que só poderá ser prati- autoridade, parte, ou qualquer outra pessoa que fun-
cado por uma das pessoas previstas no tipo penal; ciona ou é chamada a intervir em processo judicial,
policial ou administrativo, ou em juízo arbitral:
Segundo posicionamento doutrinário dominante: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa, além
da pena correspondente à violência.
z O falso testemunho não admite coautoria, mas é O crime de coação no curso do processo é aquele
possível a participação; em que, para beneficiar a si ou a terceiro, o agente
z A falsa perícia admite coautoria e participação. emprega de violência ou grave ameaça contra pessoas
z O ofendido (vítima) que praticar quaisquer dos que participam do processo ou juízo arbitral.
verbos previstos no tipo penal não pratica o crime
de falso testemunho, já que ele não é testemunha; Observe as duas hipóteses:
z Se o agente se retratar ou falar a verdade poderá
ter extinta a punibilidade do crime, desde que: 1. Suponha que André tenha praticado um crime de
roubo a um supermercado, estando ele sendo pro-
„ Seja realizada no processo em que ocorreu o ilí- cessado por isso. Thaís, funcionária do supermer-
cito (no processo em que se deu o falso e não no cado, é testemunha, tendo sido marcado um dia
processo referente ao falso); para que ela comparecesse em juízo para dar seu
„ Se realizada antes da sentença (ainda prevale- depoimento. André, com a finalidade de favorecer
ce o entendimento de que se trata da sentença seus próprios interesses, vai à casa de Thaís e, uti-
328 recorrível). lizando-se de uma arma de fogo para ameaçá-la,
exige que ela diga que não foi ele quem praticou o z Caso o agente pratique o crime com emprego de
fato, mas outra pessoa. André praticou o crime de violência, responderá também por ela.
coação no curso do processo, já que empregou de
grave ameaça contra a pessoa chamada a intervir No art. 346 do Código Penal, há uma outra figura
em processo judicial. típica, bastante parecida com o crime de exercício
arbitrário das próprias razões.
2. Aproveitando a mesma hipótese acima, porém, ago- Observe: Tirar, suprimir, destruir ou danificar coisa
ra André, sabendo sobre o que Thaís disse na inquiri- própria, que se acha em poder de terceiro por determi-
ção, vai à casa de Thaís e, utilizando-se de uma arma nação judicial ou convenção.
de fogo para ameaçá-la, dizendo que irá matá-la por Sobre este tipo penal, é importante salientar:
não dizer que foi outra pessoa que praticou o crime,
mas que o incriminou. André, nesta hipótese, prati- z Só pode ser praticado dolosamente;
cou o crime de ameaça, uma vez que empregou de z É crime de ação múltipla, que irá se configurar com
grave ameaça contra a pessoa após o depoimento, a prática de quaisquer um dos verbos previstos no
exaurindo-se a participação daquela na ação. tipo penal: tirar, suprimir, destruiu ou danificar;
z Exige-se que a coisa seja própria do agente que
Caso o agente utilize de violência para praticar o praticou a conduta delituosa;
crime de coação no curso do processo, responderá por z O objeto deve estar em poder de terceiro por deter-
este, além da pena correspondente à violência. minação judicial ou convenção. Se for por outro
Sobre a coação no curso do processo, atente-se motivo, não se configurará este crime;
às seguintes informações: z Admite tentativa.
z Pode ser praticado contra as autoridades respon- Para consumação deste crime, existem duas correntes:
sáveis pela condução do processo, como: juízes,
promotores, delegados de polícia, entre outros; „ O
crime é formal e se consuma quando o agen-
z Só pode ser praticado dolosamente; te emprega o meio executório;
z Exige-se o dolo específico por parte do agente de „ O crime é material e só se consuma com a satis-
favorecer interesse próprio ou alheio; fação da pretensão visada.
z É crime formal, que se consuma com o uso de vio-
lência ou grave ameaça, independentemente de o Fraude Processual
coagido ceder;
z Admite a forma tentada na hipótese de o crime ser Art. 347 Inovar artificiosamente, na pendência de
processo civil ou administrativo, o estado de lugar,
praticou por escrito e há extravio.
de coisa ou de pessoa, com o fim de induzir a erro o
Exercício Arbitrário das Próprias Razões juiz ou o perito:
Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa.
Art. 345 Fazer justiça pelas próprias mãos, para Parágrafo único. Se a inovação se destina a produ-
satisfazer pretensão, embora legítima, salvo quan- zir efeito em processo penal, ainda que não inicia-
do a lei o permite: do, as penas aplicam-se em dobro.
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa,
além da pena correspondente à violência. Aplica-se a pena em dobro, se a inovação se desti-
Parágrafo único - Se não há emprego de violência, na a produzir efeito em processo penal, ainda que não
somente se procede mediante queixa. indiciado o agente.
Art. 346 Tirar, suprimir, destruir ou danificar coi- Carlos praticou o crime de homicídio, ao matar
sa própria, que se acha em poder de terceiro por Cláudio, que lhe devia uma quantia em dinheiro. Com
determinação judicial ou convenção: a finalidade de simular uma hipótese de legítima defe-
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. sa, para induzir o perito a erro, Carlos coloca, fraudu-
lentamente, nas mãos da vítima, uma arma de fogo,
Observe a parte final da figura típica: salvo quan- modificando o estado de pessoa.
do a lei o permite. Carlos praticou o crime de fraude processual, res-
Vejamos mais um exemplo: Kelmon é proprietário pondendo pelo crime com a pena dobrada, já que ino-
de uma casa, que se encontra alugada para Diogo. O vou artificiosamente, na pendência de processo penal.
inquilino está devendo 6 (seis) meses de aluguel. Kel- Sobre o crime de fraude processual, fique aten-
mon, indignado com a situação, vai até o local, troca to ao seguinte:
todas as fechaduras e coloca os objetos pessoais de
Diogo do lado de fora. z É crime comum;
Kelmon praticou o crime de exercício arbitrário z Não admite a modalidade culposa;
das próprias razões, já que fez justiça com as próprias z Exige dolo específico: fim de induzir a erro juiz ou
NOÇÕES DE DIREITO

mãos, para satisfazer pretensão legítima (ele tinha o perito;


direito de receber os valores correspondentes ao alu- z É crime formal, que se consuma com a prática da
guel de seu imóvel). conduta prevista no tipo penal, ainda que não seja
A pretensão do agente deveria ter sido soluciona- efetivamente induzido a erro o juiz ou o perito;
da pelos meios legais pertinentes. z Admite a modalidade tentada.
Sobre o exercício arbitrário das próprias Favorecimento Pessoal
razões, atente-se ao seguinte:
Art. 348 Auxiliar a subtrair-se à ação de autorida-
z É crime comum, que pode ser praticado por qual- de pública autor de crime a que é cominada pena
quer pessoa; de reclusão:
z Só poderá ser praticado dolosamente; Pena - detenção, de um a seis meses, e multa.
z Admite tentativa; § 1º - Se ao crime não é cominada pena de reclusão: 329
Pena - detenção, de quinze dias a três meses, e multa. Requisitos do favorecimento real:
§ 2º - Se quem presta o auxílio é ascendente, descenden-
te, cônjuge ou irmão do criminoso, fica isento de pena. z Prestar auxílio a criminoso;
z O auxílio é destinado a tornar seguro o proveito do
Este tipo penal pode gerar algumas dúvidas em você. crime (que já ocorreu);
Para esclarecê-las, vamos analisar alguns exemplos: z Aquele que presta auxílio não pode ser coautor ou
receptador do crime praticado anteriormente.
Exemplo 1: Júnior pratica o crime de roubo. O dele-
gado de polícia da região está a sua procura. O autor Ao favorecimento real, não se aplica a escusa penal
do crime pede para se esconder do delegado na casa absolutória mesmo que a conduta seja praticada pelo
de Danilo, seu amigo. Danilo, em sua casa, escon- ascendente, descendente, cônjuge ou irmão.
de Júnior. Júnior responderá pelo crime de roubo; Sobre o favorecimento real, é importante men-
Danilo, pelo crime de favorecimento pessoal, já que cionar que:
auxiliou a se subtrair da ação de autoridade pública
autor de crime a que se comina pena de reclusão. z Não admite a culpa;
Exemplo 2: Francisco, Jefferson e César combi- z Admite tentativa;
nam um crime de roubo. Francisco e Jefferson vão z O auxílio não pode ter sido combinado previamen-
praticar o verbo descrito no tipo penal, César irá te pelos agentes, caso os agentes combinem antes,
dar fuga aos agentes. O crime é praticado, os poli- o crime não será de favorecimento real, mas sim
ciais acabam tomando conhecimento da prática haverá participação;
delituosa e vão atrás dos criminosos, contudo, eles z É crime comum;
conseguem se evadir. Todos os agentes responde- z Há uma conduta típica, prevista no art. 349-A do
rão apenas pelo crime de roubo. Não se aplicando Código Penal, inserida no ano de 2009, chama-
a César, responsável pela fuga, o crime de favoreci- do por parte da doutrina de favorecimento real
mento pessoal, porque, para que se configure este impróprio.
crime, não pode o agente ter participado do crime
Observe: ingressar, promover, intermediar, auxi-
anterior e nem pode haver liame subjetivo prévio
liar ou facilitar a entrada de aparelho telefônico de
entre os agentes, ou seja, ligação ou vínculo psico-
comunicação móvel, de rádio ou similar, sem autori-
lógico e subjetivo entre os agentes do delito.
zação legal, em estabelecimento prisional.
Este crime apresenta uma forma privilegiada, ao Trata-se de crime plurinuclear, que poderá ser
qual se comina uma pena mais branda: se ao crime praticado mediante execução de quaisquer um dos
praticado não é cominada pena de reclusão (detenção, verbos descritos no tipo penal incriminador.
por exemplo). Sobre este crime, é importante levar para a sua
Ficará isento de pena (escusa penal absolutória), prova:
caso a conduta que configura o favorecimento pessoal
z Não admite a culpa;
seja praticado pelo: z Caso haja autorização legal para ingresso do apa-
z Ascendente; relho, o fato será atípico;
z Descendente; z É crime comum;
z A pessoa que se encontra presa poderá responder
z Cônjuge;
por este tipo penal, contudo, caso apenas utilize o
z Irmão.
aparelho que ingressou no estabelecimento prisio-
Sobre o favorecimento pessoal, leve para a sua nal, não será punido por este crime, cometendo
prova o seguinte: apenas falta grave, de acordo com a Lei de Execu-
ções Penais.
z Não pode ser praticado culposamente;
z É crime comum; Exercício Arbitrário ou Abuso de Poder
z O crime se consuma com o êxito na subtração do
Este crime, previsto no art. 350 do Código Penal,
criminoso;
encontrava-se revogado tacitamente pela Lei de Abu-
z Caso não ocorra êxito na subtração, haverá a
so de Autoridade, Lei 4.898, de 1965.
modalidade tentada;
Com a Lei nº 13.964, de 2019, o crime foi expressa-
z É crime acessório, que exige a ocorrência de delito mente revogado.
anterior;
z Não pratica o crime o agente que auxiliar a sub- Fuga de Pessoa Presa ou Submetida à Medida de
trair-se à ação de autoridade pública autor de con- Segurança
travenção penal.
Art. 351 Promover ou facilitar a fuga de pessoa
Favorecimento Real legalmente presa ou submetida a medida de segu-
rança detentiva:
Art. 349 Prestar a criminoso, fora dos casos de Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
co-autoria ou de receptação, auxílio destinado a § 1º - Se o crime é praticado a mão armada, ou por
tornar seguro o proveito do crime: mais de uma pessoa, ou mediante arrombamento, a
Pena - detenção, de um a seis meses, e multa. pena é de reclusão, de dois a seis anos.
Art. 349-A Ingressar, promover, intermediar, auxi- § 2º - Se há emprego de violência contra pessoa, apli-
liar ou facilitar a entrada de aparelho telefônico de ca-se também a pena correspondente à violência.
comunicação móvel, de rádio ou similar, sem auto- § 3º - A pena é de reclusão, de um a quatro anos, se
rização legal, em estabelecimento prisional. o crime é praticado por pessoa sob cuja custódia ou
330 Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano. guarda está o preso ou o internado.
§ 4º - No caso de culpa do funcionário incumbido da Exemplo 1: Michele, presa em uma penitenciária
custódia ou guarda, aplica-se a pena de detenção, feminina, para fugir, emprega violência contra uma
de três meses a um ano, ou multa. agente prisional, conseguindo, assim, evadir-se.
Exemplo 2: Michele, presa em uma penitenciária
Como se pode observar pela leitura da figura típi-
feminina, aproveitando de um momento de des-
ca, este tipo penal poderá ser praticado de 2 (duas)
cuido dos agentes prisionais, quebra uma janela
formas:
com um soco e foge do estabelecimento prisional.
z Com a promoção da fuga; Exemplo 3: Michele, presa em uma penitenciária
z Com a facilitação da fuga. feminina, ao verificar que os agentes prisionais
estão distraídos, foge, pulando o muro do estabe-
Este crime apresenta, também, formas qualifica- lecimento prisional.
das e uma forma culposa.
Na forma culposa, é crime próprio, que será prati- Apenas no exemplo 1, haverá a configuração do
cado pelo funcionário incumbido da guarda ou custó- crime de evasão mediante violência contra pessoa, já
dia da pessoa presa. que no exemplo 2 a violência foi empregada contra
Sobre o crime de fuga de pessoa presa ou sub- coisa e no exemplo 3 não houve emprego de violência.
metida à medida de segurança, é importante levar
em consideração: Dica

z Pode ser praticado tanto intramuros (no interior Se da violência resultarem lesões, ainda que
de estabelecimento de natureza prisional) quando leves, ou morte, o agente responderá pelos dois
extramuros (durante procedimento de escolta ou crimes, e as penas serão somadas.
condução);
z Em regra, trata-se de crime comum, que pode ser Arrebatamento de Preso
praticado por qualquer pessoa; Art. 353 Arrebatar preso, a fim de maltratá-lo, do
z Admite a forma culposa; poder de quem o tenha sob custódia ou guarda:
z É necessário, para configuração do crime, que a Pena - reclusão, de um a quatro anos, além da pena
prisão a que está submetida a pessoa seja legal; correspondente à violência.
z Trata-se de crime material, que se consuma com a
efetiva fuga; Sobre este crime, são relevantes as seguintes
z Admite a forma tentada; informações:
z Caso seja praticado mediante violência contra pes-
soa, responderá o agente também pela violência. z Não admite a modalidade culposa;
z Exige dolo específico: fim de maltratar o preso
Forma qualificada: (aplicar-lhe uma surra, por exemplo);
z É crime comum;
z Se o crime é praticado por pessoa sob cuja custódia z O tipo penal diz preso, sem discriminar se a prisão
ou guarda está o preso ou internado, será crime legal ou ilegal, por isso, pode cometer o crime mes-
próprio; mo que a prisão seja ilegal;
z Se se a prisão for ilegal, não haverá a incidência z O direito penal não permitir a analogia, portan-
deste crime, uma vez que apresente a legítima to, não haverá a incidência deste crime se o ato é
defesa de terceiro. cometido contra pessoa internada por medida de
z Se o crime é praticado a mão armada, ou por mais segurança;
de uma pessoa, ou mediante arrombamento, a z O preso arrebatado é sujeito passivo secundário;
pena é de reclusão, de dois a seis anos. z É crime formal, que se consuma com o arrebatamento,
Evasão Mediante Violência Contra Pessoa independentemente de se conseguir maltratar o preso;
z Admite a forma tentada;
Art. 352 Evadir-se ou tentar evadir-se o preso ou o z Quando o agente empregar a violência em con-
indivíduo submetido a medida de segurança deten- curso com o arrebatamento de preso, seja lesão
tiva, usando de violência contra a pessoa: corporal leve, grave ou gravíssima, mesmo que o
Pena - detenção, de três meses a um ano, além da resultado seja morte, o sujeito ativo responderá
pena correspondente à violência. pelos dois crimes (arrebatamento de preso e lesão
corpora, por exemplo).
Sobre este crime, é muito importante que você
leve em consideração: Motim de Presos
NOÇÕES DE DIREITO

z Trata-se de crime próprio, que só poderá ser prati- Art. 354 Amotinarem-se presos, perturbando a
cado por pessoa presa ou submetida à medida de ordem ou disciplina da prisão:
segurança detentiva; Pena - detenção, de seis meses a dois anos, além da
z Só pode ser praticado dolosamente; pena correspondente à violência.
z É crime de atentado ou de empreendimento, pois
prevê expressamente em sua descrição típica a Amotinarem-se, transmitindo a ideia de revolta
conduta de tentar o resultado, por isso, não admi- coletiva dos presos com a ordem e a disciplina da pri-
te a tentativa; são, provocando perturbação e alvoroço.
z Exige-se o emprego de violência contra pessoa. Ordem diz respeito à tranquilidade do ambiente
prisional.
Caso não haja emprego de violência ou se esta for Disciplina consiste no respeito e obediência às
empregada contra coisa, não irá se configurar este crime. regras previamente estabelecidas. 331
A prisão há de ser legal, pois as pessoas detidas inde- „ O patrocínio simultâneo se configura quando
vidamente têm o direito de se opor ao arbítrio do Estado. o advogado patrocinar as partes contrárias
Trata-se de crime próprio e plurissubjetivo, pluri- simultaneamente;
lateral ou de concurso necessário (precisa de mais de „ A tergiversação se configura quando o advoga-
uma pessoa para praticar o crime), somente pode ser do deixa de patrocinar o seu cliente para patro-
cometido pelos “presos”. cinar a parte contrária.
Vejamos que a lei não aponta um número mínimo
de indivíduos para a concretização do delito, é lícito Sobre o crime de patrocínio simultâneo ou ter-
concluir que se exigem pelo menos três pessoas, pois giversação, é importante que você saiba:
quando o CP quer duas ou quatro pessoas ele o diz
z Crime doloso;
expressamente.
z Não admite a modalidade culposa;
Sobre este crime, atente-se ao seguinte:
z A traição do advogado ou procurador deve produ-
z É crime plurissubjetivo ou de concurso necessário, zir prejuízo relevante de qualquer natureza, mate-
já que será praticado por “presos”; rial ou moral, desde que lícito;
z Admite tentativa;
z É crime próprio, que só poderá ser praticado por
z A ação penal é pública incondicionada.
pessoas presas;
z Só pode ser praticado dolosamente;
Sonegação de Papel ou Objeto de Valor Probatório
z O Código Penal não faz referência ao número de
presos que são necessários para a configuração do Art. 356 Inutilizar, total ou parcialmente, ou deixar
tipo penal, mas deixa claro se tratar de um crime de restituir autos, documento ou objeto de valor
coletivo; probatório, que recebeu na qualidade de advogado
z Não é relevante, para fins de caracterização des- ou procurador:
te crime, se o interesse dos presos é legítimo ou Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa.
ilegítimo;
z Caso seja praticado com emprego de violência, res- Previsto no art. 356, do CP, este crime se configu-
ponderá os agentes, também, por ela; ra quando o agente inutilizar, total ou parcialmente,
z Caso os agentes consigam se evadir em decorrên- ou deixar de restituir autos, documento ou objeto de
cia da violência empregada para o motim, respon- valor probatório, que recebeu na qualidade de advo-
derão também pelo crime do art. 352 do CP; gado ou procurador.
z Admite a forma tentada. Este crime pode ser praticado de 2 (duas) formas:

Patrocínio Infiel z Inutilizar, total ou parcialmente, autos, documento


ou objeto de valor probatório (forma comissiva);
Art. 355 Trair, na qualidade de advogado ou procu- z Deixar de restituir autos, documento ou objeto de
rador, o dever profissional, prejudicando interesse, valor probatório (forma omissiva).
cujo patrocínio, em juízo, lhe é confiado:
Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa. Sobre este tipo penal, é importante saber o
Parágrafo único. Incorre na pena deste artigo o advoga- seguinte:
do ou procurador judicial que defende na mesma causa,
simultânea ou sucessivamente, partes contrárias. z É crime próprio, que só pode ser praticado pelo
advogado ou procurador que recebeu os autos,
No art. 355, do CP, temos 2 (dois) crimes distintos, documento ou objeto de valor probatório;
com as seguintes condutas típicas: patrocínio infiel no z Não é punido na modalidade culposa;
caput e patrocínio simultâneo ou tergiversação no § 1º. z A doutrina dominante admite a tentativa na moda-
lidade comissiva, mas não admite na modalidade
z Patrocínio Infiel: trair, na qualidade de advogado omissiva.
ou procurador, o dever profissional, prejudicando
interesse, cujo patrocínio, em juízo, lhe é confiado. Exploração de Prestígio
z É crime próprio, que só será praticado pelo advo-
gado ou procurador que trair o dever funcional; Está previsto no art. 357, do CP.
z É crime material, que se consuma quando se preju-
dicar o interesse do representado; Art. 357 Solicitar ou receber dinheiro ou qualquer
z Não admite forma culposa; outra utilidade, a pretexto de influir em juiz, jurado,
z Admite tentativa somente quando o advogado ou órgão do Ministério Público, funcionário de justiça,
procurador pretende cometer o crime na forma perito, tradutor, intérprete ou testemunha:
comissiva, uma vez que na forma omissiva não se Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.
Parágrafo único - As penas aumentam-se de um
admite a tentativa;
terço, se o agente alega ou insinua que o dinheiro
z É crime próprio; ou utilidade também se destina a qualquer das pes-
z Não admite a forma culposa; soas referidas neste artigo.
z É crime formal, que não exige o prejuízo;
z Patrocínio simultâneo ou tergiversação: defen- Atenção à distinção desse tipo penal com o tipo penal
der, na mesma causa, o advogado ou procura- previsto no art. 332 do CP (tráfico de influência). O pre-
dor judicial, simultânea (patrocínio simultâneo) sente crime apresenta um rol específico de pessoas, dife-
ou sucessivamente (tergiversação ou patrocínio rente do crime de tráfico de influência que generaliza
332 sucessivo), partes contrárias; colocando a expressão “funcionário público”.
Importante! Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem se
abstém ou desiste de licitar, em razão da vantagem
Muitos examinadores trazem na questão situa- oferecida.
ção hipotética envolvendo algum serventuário [...].
da justiça. Atente-se a esses casos específi-
cos pois, apesar de serem funcionário público, z No caso de emprego de violência, responderá o
estão elencado expressamente no rol do art. 357 agente, também, por ela.
(exploração de prestígio).
Desobediência a decisão judicial sobre Perda ou
Suspensão de Direito
A pena do crime de exploração de prestígio será
aumentada de 1/3 (um terço): Art. 359 Exercer função, atividade, direito, autori-
dade ou múnus, de que foi suspenso ou privado por
z Se o agente alega ou insinua que o dinheiro ou decisão judicial:
utilidade também se destina ao juiz, ao jurado, Pena - detenção, de três meses a dois anos, ou multa.
ao órgão do ministério público, ao funcionário de
O crime de desobediência à decisão judicial sobre per-
justiça, ao perito, ao tradutor, ao intérprete ou à
da ou suspensão de direito, inserido no Código Penal entre
testemunha.
os crimes contra a Administração da Justiça, representa
Sobre o crime de exploração de prestígio, leve uma modalidade especial do delito de desobediência, capi-
para a sua prova: tulado no art. 329 do CP entre os crimes praticados por par-
ticular contra a Administração em Geral.
z É crime comum, que poderá ser praticado por Há, nos dois delitos, o descumprimento de ordem
qualquer pessoa; legal emanada de funcionário público. No entanto, o
z Só poderá ser praticado dolosamente; crime definido no art. 359, do CP, possui elementos
z No verbo solicitar é crime formal; especializantes, pois o agente não desobedece a uma
z No verbo receber é crime material; simples ordem legal emitida por qualquer funcioná-
z Admite tentativa. rio público.
Neste crime vai além, exercendo função, atividade,
Violência ou Fraude em Arrematação Judicial direito, autoridade ou múnus de que estava suspenso
ou privado por decisão judicial.
Art. 358 Impedir, perturbar ou fraudar arrema-
Tutela-se a Administração da justiça.
tação judicial; afastar ou procurar afastar con-
Quanto ao sujeito ativo, verifica-se que se trata de
corrente ou licitante, por meio de violência, grave
ameaça, fraude ou oferecimento de vantagem: crime próprio ou especial, pois somente pode ser prati-
Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa, cado pela pessoa que, por decisão judicial, foi suspensa
além da pena correspondente à violência. ou privada relativamente ao exercício de determinada
função, atividade, direito, autoridade ou múnus.
Arrematação judicial, também conhecida como O sujeito passivo é o Estado.
leilão ou praça, é o ato de transferência dos bens Consuma-se com o simples exercício da função,
penhorados do devedor, em que um funcionário da atividade, direito, autoridade ou múnus do qual o
justiça apregoa e um interessado os adquire, em hasta agente foi suspenso ou privado por decisão judicial,
pública, pelo maior lance. ainda que desta conduta não seja produzido nenhum
Trata-se de atividade inerente ao Poder Judiciário, resultado naturalístico.
consistente em verdadeira expropriação destinada à Basta a prática de um único ato capaz de afrontar a
satisfação de crédito não cumprido voluntariamente. determinação emanada do Poder Judiciário.
Sobre este crime, é importante atentar-se ao Sobre este crime, é importante que você leve
seguinte: em consideração as seguintes informações:

z É crime comum, que pode ser praticado por qual- z Só poderá ser praticado dolosamente;
quer pessoa; z Admite a modalidade tentada;
z Não admite a forma culpada; z Exige-se que a suspensão ou privação se dê por
z Admite tentativa quando o agente não consegue, decisão judicial. Caso se trate de decisão adminis-
por circunstâncias alheias a sua vontade, impedir, trativa, não irá se configurar este tipo penal.
perturbar ou fraudar a arrematação judicial;
CRIMES CONTRA AS FINANÇAS PÚBLICAS
z As condutas relacionadas ao licitante foram revo-
gadas pela Lei nº 8.666/1993, Lei de Licitações, com
NOÇÕES DE DIREITO

Os crimes contra as finanças públicas foram acres-


possível tipificação nos arts. 93 e 95 da citada lei, cidos ao Código Penal, em capítulo próprio dos crimes
vejamos: contra a administração pública, no ano 2000.
Art. 93 Impedir, perturbar ou fraudar a realização Estão previstos do art. 359-A ao art. 359-H.
de qualquer ato de procedimento licitatório:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, Dica
e multa.
Art. 95 Afastar ou procurar afastar licitante, por
Já adianto que os crimes contra as finanças
meio de violência, grave ameaça, fraude ou ofereci- públicas são próprios, praticados por funcioná-
mento de vantagem de qualquer tipo: rio público (crimes funcionais), exigindo-se que
Pena - detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e mul- este funcionário possa dispor sobre as finanças
ta, além da pena correspondente à violência. públicas. 333
Parte considerável da doutrina entende ser possí- z Liquidação: consiste na verificação do direito
vel que o particular seja sujeito ativo dos crimes contra adquirido pelo credor, tendo por base os títulos e
as finanças públicas, mas desde que, por força de lei, documentos comprobatórios do respectivo crédito; e
tenha disponibilidade sobre elas. Entretanto, tal pos- z Ordem de pagamento: despacho exarado por
sibilidade se trata de caso extremamente excepcional. autoridade competente, determinando que a des-
Todos os crimes contra as finanças públicas são pro- pesa seja paga.
cessados mediante ação penal pública incondicionada.
Sobre os restos a pagar, trata-se das despesas empe-
nhadas, mas não pagas até o dia 31 de dezembro. Dessa
Contratação de Operação de Crédito
forma, o tipo penal pune o administrador que:
Este crime se encontra previsto no art. 359-A do, CP.
z i nscreve em restos a pagar despesas que não foram
previamente empenhadas; ou
Art. 359-A Ordenar, autorizar ou realizar operação
z inscreve em restos a pagar despesas previamente
de crédito, interno ou externo, sem prévia autoriza-
empenhadas, mas com excesso aos limites legais.
ção legislativa:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 2 (dois) anos.
Quanto ao sujeito ativo, somente pode ser pra-
Parágrafo único. Incide na mesma pena quem orde- ticado pelo agente público dotado da atribuição de
na, autoriza ou realiza operação de crédito, interno ordenar ou autorizar a inscrição da despesa. Se o fun-
ou externo: cionário público praticar o ato sem atribuição legal
I – com inobservância de limite, condição ou mon- para tanto, este será passível de anulação pelo próprio
tante estabelecido em lei ou em resolução do Sena- Poder Público, tornando atípica a conduta.
do Federal; O sujeito passivo é a União, os Estados, os Municí-
II – quando o montante da dívida consolidada ultra- pios ou o Distrito Federal, dependendo do ente federa-
passa o limite máximo autorizado por lei. tivo afetado pela conduta criminosa, e, mediatamente,
a coletividade, em face do prejuízo causado pelo abalo
Trata-se de crime de ação múltipla, que poderá nas finanças públicas.
ser praticado mediante execução de qualquer um dos Consuma-se no momento da prática da conduta
verbos previstos no tipo penal. Respondendo por este legalmente descrita, ordenar ou autorizar a inscrição em
crime aquele que praticar a conduta típica. restos a pagar, independentemente da lesão ao erário.
Há formas equiparadas do crime de contratação Sobre este crime, é importante levar em
de operação de crédito, incorrendo nas mesmas penas consideração:
aquele que ordena, autoriza ou realiza, operação de
z Não admite a modalidade culposa; e
crédito, interno ou externo:
z Trata-se de crime de ação múltipla.
z Com inobservância de limite, condição ou montan-
Assunção de Obrigação no Último Ano do Mandato
te estabelecido em lei ou em resolução do Senado
ou Legislatura
Federal;
z Quando o montante da dívida consolidada ultra-
Art. 359-C Ordenar ou autorizar a assunção de
passa o limite máximo autorizado por lei.
obrigação, nos dois últimos quadrimestres do últi-
mo ano do mandato ou legislatura, cuja despesa
Sobre este crime, é importante que você leve não possa ser paga no mesmo exercício financei-
em consideração: ro ou, caso reste parcela a ser paga no exercício
seguinte, que não tenha contrapartida suficiente de
z Não admite a modalidade culposa; disponibilidade de caixa:
z Caso o agente pratique as condutas com autoriza- Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
ção legislativa prévia, o fato será atípico, mas, se
ultrapassar os limites da lei, o fato será típico; O objeto material do crime é a obrigação assumi-
z Nos verbos ordenar e autorizar, o crime é formal; da nos dois últimos quadrimestres do último ano do
z No verbo realizar, o crime é material. mandato ou legislatura.
Pode ser praticado de 2 (duas) formas:
Inscrição de Despesas não Empenhadas em Restos
a Pagar z Ordenar ou autorizar a assunção de obrigação,
nos dois últimos quadrimestres do último ano do
Este crime está previsto no art. 359-B, do CP. mandato ou legislatura, cuja despesa não possa ser
paga no mesmo exercício financeiro;
Art. 359-B Ordenar ou autorizar a inscrição em z Ordenar ou autorizar a assunção de obrigação, nos
restos a pagar, de despesa que não tenha sido pre- dois últimos quadrimestres do último ano do man-
viamente empenhada ou que exceda limite estabe- dato ou legislatura, se restar parcela a ser paga no
lecido em lei: exercício seguinte, que não tenha contrapartida
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos. suficiente de disponibilidade de caixa.

Faz-se necessário compreender o empenho, a A prática do crime não está apenas relacionada ao
liquidação e a ordem de pagamento: mantado eletivo, mas também mandato decorrente de
indicação.
z Empenho: ato emanado de autoridade competen- Trata-se de crime próprio ou especial, por isso, o sujei-
te que cria para o Estado obrigação de pagamento to ativo somente pode ser cometido pelos agentes públi-
334 pendente ou não de implemento de condição; cos titulares de mandato ou legislatura, representantes
dos órgãos e entidades indicados no art. 20 da Lei Com- Prestação de Garantia Graciosa
plementar nº 101/2000, Lei de Responsabilidade Fiscal,
pois apenas tais pessoas têm atribuição para assunção Está previsto no art. 359-E, do CP.
de obrigações.
O sujeito passivo é a União, os Estados, os Municí- Art. 359-E Prestar garantia em operação de crédito
pios ou o Distrito Federal, dependendo do ente federa- sem que tenha sido constituída contragarantia em
tivo afetado pela conduta criminosa, e, mediatamente, valor igual ou superior ao valor da garantia pres-
a coletividade, em face do prejuízo causado pelo abalo tada, na forma da lei:
nas finanças públicas. Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.
Consuma-se quando o sujeito ativo ordena ou auto-
riza a assunção de obrigação, nos últimos oito meses O tipo penal pune a conduta do funcionário público
que presta garantia sem a observância do requisito legal.
do mandato ou legislatura, cuja despesa não possa
Quanto aos requisitos legais, devemos entender
ser paga naquele exercício financeiro ou reste parte
que “prestar” tem o sentido de conceder ou autorizar
a ser paga no exercício seguinte, sem contrapartida
garantia, e isto está em conformidade com o art. 29,
suficiente para tanto, independentemente da compro-
inc. IV, da Lei Complementar nº 101/2000, Lei de Res-
vação de prejuízo aos cofres públicos.
Sobre este crime, é importante atentar-se às ponsabilidade Fiscal, concessão de garantia que é o
seguintes disposições: compromisso de adimplência de obrigação financeira
ou contratual assumida por algum ente da Federação
z Só pode ser praticado dolosamente; ou entidade a este vinculada.
z Este crime só se configura se as condutas típicas As condições para a concessão de garantia encon-
forem praticadas nos dois últimos quadrimestres tram-se no art. 40 da citada lei. Destaca-se entre elas
(oito meses anteriores ao término do mandato) do o oferecimento de contragarantia, em valor igual ou
último ano do mandato ou legislatura; superior ao da garantia a ser concedida, visando o
z É crime de ação múltipla; e equilíbrio das finanças públicas.
z Admite a modalidade tentada, apesar de ser de
Sobre este crime, saiba:
difícil comprovação, segundo posicionamento
doutrinário majoritário. z Este crime não admite a modalidade culposa;
z Não basta que seja constituída a contragarantia,
Ordenação de Despesa não Autorizada exige-se que ela seja igual ou superior ao valor da
garantia prestada.
O crime de ordenação de despesa não autorizada
está previsto no art. 359-D, do CP. Caso a contragarantia seja inferior ou não seja
prestada, este crime estará configurado.
Art. 359-D Ordenar despesa não autorizada por lei:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. Não Cancelamento de Restos a Pagar

Art. 359-F Deixar de ordenar, de autorizar ou de


Ordenar tem o sentido de mandar, determinar que promover o cancelamento do montante de restos a
se realize a despesa pública, a qual compreende os pagar inscrito em valor superior ao permitido em
desembolsos efetuados pelo Estado para fazer frente lei:
às suas diversas responsabilidades junto à sociedade. Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.
Sobre o sujeito ativo, trata-se de crime próprio ou
especial, pois somente pode ser cometido pelo funcio- z Deixar de ordenar é não determinar a terceiro que
nário público com atribuição para ordenar despesas, algo seja feito;
conhecido como “ordenador de despesas”. z Deixar de autorizar é não permitir que terceira
O tipo penal não alcança o “realizador de despesas”, pessoa faça algo; e
compreendido como a pessoa que se limita a cumprir z Deixar de promover equivale a não realizar direta-
ou executar a ordem expedida pelo ordenador. mente alguma coisa.
O sujeito passivo é a União, os Estados, os Muni-
cípios ou o Distrito Federal, dependendo do ente O administrador público que se depara com restos
federativo prejudicado pela conduta criminosa, e, a pagar inscritos em valor superior ao limite permiti-
secundariamente, a coletividade, em decorrência dos do em Lei tem o dever legal de autorizar, ordenar ou
prejuízos causados pela ordenação de despesas públi- promover o seu cancelamento, sob pena de incorrer
cas não autorizadas em lei. no crime de não cancelamento de restos a pagar.
Consuma-se o crime quando o funcionário público O sujeito ativo é o funcionário público com atribui-
ordena a realização da despesa sem autorização legal, ção para ordenar, autorizar ou promover o cancela-
NOÇÕES DE DIREITO

independentemente da comprovação de efetiva lesão mento do montante de restos a pagar indevidamente


ao erário. inscritos. Trata-se de crime próprio ou especial. Com
Sobre este tipo penal, é importante mencionar isso, o funcionário público que deixa o cargo será res-
que: ponsabilizado pela “inscrição de despesas não empe-
nhadas em restos a pagar” (art. 359-B), ao passo que
z Não admite a forma culposa; o funcionário público que assume o cargo deverá ser
z É crime de ação simples; responsabilizado por não ter determinado o “cance-
z Caso a despesa seja ordenada com autorização lamento do montante de restos a pagar” (art. 359-F),
legislativa, o fato será atípico; inscrito em valor superior ao legalmente permitido.
z É crime formal, segundo Nucci. Os dois agentes contribuem para o mesmo resul-
tado, mas a eles serão imputados crimes diversos, em
face do especial tratamento conferido pela lei penal. 335
O sujeito passivo é a União, os Estados, os Municí- aumento de despesa total com pessoal no último ano
pios ou o Distrito Federal, dependendo do ente federa- do mandato ou legislatura.
tivo afetado pela conduta criminosa, e, mediatamente, Consuma-se quando o agente público ordena,
a coletividade, em razão dos prejuízos causados pelo autoriza ou executa o ato de aumento de despesa com
não cancelamento de restos a pagar. pessoal, nos últimos 180 dias de mandato ou legislatu-
O crime se consuma quando o sujeito ativo deixa ra, independentemente da comprovação de prejuízo
de ordenar, de autorizar ou de promover o cancela- econômico ao erário.
mento do montante de restos a pagar inscrito inde- Sobre este crime, leve em consideração o
vidamente, independentemente de comprovação de seguinte:
lesão patrimonial ao erário.
A omissão que não ultrapassa os limites de restos a z Só pode ser praticado dolosamente;
pagar não configura este crime. z É crime de ação múltipla;
Sobre este crime, fique atento ao seguinte: z Para sua configuração, deve ser praticado nos 180
dias que antecedem o fim do mandato ou legisla-
z Só pode ser praticado dolosamente; tura. Caso realizado em outro período, não irá se
z É crime omissivo; configurar;
z Não admite tentativa. z Admite tentativa.

Aumento de Despesa Total com Pessoal no Último Oferta Pública ou Colocação de Títulos no Mercado
Ano do Mandato ou Legislatura
Este crime se encontra previsto no art. 359-H, do
Art. 359-G Ordenar, autorizar ou executar ato que CP.
acarrete aumento de despesa total com pessoal,
nos cento e oitenta dias anteriores ao final do man-
Art. 359-H Ordenar, autorizar ou promover a ofer-
dato ou da legislatura:
ta pública ou a colocação no mercado financeiro
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
de títulos da dívida pública sem que tenham sido
criados por lei ou sem que estejam registrados em
z Ordenar é determinar alguma coisa;
sistema centralizado de liquidação e de custódia:
z Autorizar significa permitir que algo seja feito; e
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
z Executar traz a ideia de realizar ou concretizar
algo.
z Ordenar é determinar;
Este crime tem como finalidade evitar que se z Autorizar equivale a permitir que algo seja feito;
aumente as despesas totais com pessoal, concedendo z Promover traz a ideia de realizar, concretizar a
aumentos, contratando, alterações na carreira, entre oferta pública ou colocação de títulos no mercado;
outras formas, nos últimos dias do mandato ou legis-
latura, deixando para outro funcionário público a res- O objeto material do crime são os títulos da dívida
ponsabilidade de arcar com os compromissos. pública. Nos termos do art. 29, inciso II, da Lei Comple-
A diferença entre o art. 359-G e o art. 359-C do mentar nº 101/2000, Lei de Responsabilidade Fiscal,
CP, é que o crime em estudo não se relaciona com a considera-se dívida pública mobiliária aquela repre-
infração penal tipificada no art. 359-C do CP, porque sentada por títulos emitidos pela União, inclusive os
na assunção de obrigação no último ano do manda- do Banco Central do Brasil, Estados e Municípios.
to ou legislatura levam-se em conta despesas que não O sujeito ativo somente pode ser praticado pelo
podem ser pagas no mesmo exercício, ficando a obri- funcionário público dotado da atribuição para orde-
gação de pagamento ao sucessor, sem ter disponibili- nar, autorizar ou promover oferta pública ou colo-
dade orçamentária para tanto. cação no mercado financeiro de títulos da dívida
No art. 359-G, do CP, o aumento de despesa com pes- pública.
soal é permanente, ou seja, irá ultrapassar o exercício O sujeito passivo é a União, os Estados, os Muni-
cípios ou o Distrito Federal, dependendo do ente
financeiro, atingindo anos futuros. Consequentemen-
federativo atingido pela conduta criminosa, e, media-
te, o orçamento do ente federativo ou órgão público
tamente, a pessoa física ou jurídica prejudicada pela
ficará inevitavelmente comprometido, deixando de
compra de títulos irregularmente emitidos.
propiciar ao administrador público futuro condições
Consuma-se o crime em estudo no momento em
para gerir adequadamente a máquina estatal.
que o agente público ordena, autoriza ou promove a
Destaca-se que o elemento temporal do art. 359-G,
oferta pública ou a colocação no mercado financeiro
do CP, está consubstanciado na expressão “nos cento
de títulos da dívida pública sem que tenham sido cria-
e oitenta dias anteriores ao final do mandato ou da
dos por lei ou sem que estejam registrados em sistema
legislatura”.
centralizado de liquidação e de custódia, independen-
Assim, fora do período legalmente indicado não há
temente de efetivo prejuízo ao erário.
o que se falar na prática do delito, ainda que exista
ilegal aumento da despesa total com pessoal. Sobre este crime, é importante mencionar:
O sujeito ativo somente pode ser praticado pelo
z Só pode ser praticado dolosamente;
funcionário público com atribuição para ordenar,
z É crime de ação múltipla;
autorizar ou executar ato que acarrete aumento de
z Caso os títulos da dívida pública tenham sido cria-
despesa total com pessoal, nos últimos 180 dias do
dos por lei ou estejam registrados no sistema cen-
mandato ou legislatura.
tralizado de liquidação e de custódia, a prática da
O sujeito passivo é a União, os Estados, os Municí-
conduta prevista no tipo penal irá ser atípico.
pios ou o Distrito Federal, dependendo do ente federa-
tivo afetado pela conduta criminosa, e, mediatamente,
336 a coletividade, em razão dos prejuízos causados pelo
6. (FUMARC — 2013) Em qual fase do inter criminis ocor-
HORA DE PRATICAR! re o arrependimento eficaz do agente?

1. (FUMARC — 2011) Em relação às Teorias do Delito, a) Na fase dos atos preparatórios.


assinale a alternativa INCORRETA: b) Depois de encerrada a fase de execução e antes da
consumação.
a) A antinormatividade, de acordo com Zaffaroni, consis- c) Durante a realização dos atos executórios e antes da
te em se averiguar a proibição através da indagação consumação.
do alcance proibitivo da norma, não considerada de d) Durante a realização dos atos preparatórios e antes do
forma isolada, e sim conglobada na ordem normativa. início da execução.
b) A culpa imprópria está presente na discriminante puta-
tiva, nela, o agente dá causa dolosa ao resultado, mas 7. (FUMARC — 2018) Com relação ao iter criminis, é
responde como se tivesse praticado crime culposo, CORRETO afirmar:
em razão de erro evitável pelas circunstâncias.
c) No dolo direto, o agente quer efetivamente produzir o a) No crime falho ou na tentativa imperfeita, o processo
resultado, ao praticar a conduta típica, e no dolo indi- de execução é integralmente realizado pelo agente e o
reto, o agente não busca com sua conduta resultado resultado é atingido.
certo e determinado, subdividindo-se em dolo alterna- b) Não existe desistência voluntária no caso de agen-
tivo e eventual. te que desiste de prosseguir com os atos de execu-
d) De acordo com a teoria objetiva-formal, há tentativa, ção por conselho de seu advogado, já que ausente a
quando o agente, de modo inequívoco, exterioriza sua voluntariedade.
conduta no sentido de praticar a infração penal. c) Com relação à tentativa, o Código Penal adota, como
regra, a teoria objetiva e aplica ao agente a pena cor-
2. (FUMARC — 2014) Quanto aos princípios constitucio- respondente ao crime consumado, reduzida de um a
nais de natureza penal, NÃO é correto o que se afirma dois terços, conforme maior ou menor tenha sido a
em: proximidade do resultado almejado.
d) O arrependimento posterior tem natureza jurídica de
a) As penas no Brasil têm caráter preventivo e retributivo. causa de exclusão da tipicidade, desde que restituí-
b) A obrigação de reparar o dano produzido pelo crime da a coisa ou reparado o dano nos crimes praticados
não pode se estender aos familiares do preso, sob for- sem violência ou grave ameaça até o recebimento da
ma de sucessão. denúncia ou queixa.
c) O princípio constitucional da responsabilidade pes-
soal significa que a pena não pode passar da pessoa 8. (FUMARC — 2018) Com relação à culpabilidade e suas
do condenado. teorias, é INCORRETO afirmar:
d) O princípio da proporcionalidade significa que a pena
deve ser proporcional ao crime, ou seja, guardar equilí- a) A teoria normativa pura, a fim de tipificar uma condu-
brio entre a infração praticada e a sanção imposta. ta, desloca a análise do dolo ou da culpa para o fato
típico, transformando a culpabilidade em um juízo de
3. (FUMARC — 2013) Em relação à interpretação da nor- reprovação social incidente sobre o fato típico e anti-
ma penal, é CORRETO afirmar: jurídico e sobre seu autor.
b) O Código Penal vigente adota a teoria limitada da
a) O Direito Penal veda o uso da interpretação analógica culpabilidade, pela qual as descriminantes putativas
em desfavor do réu. incidentes sobre a existência ou os limites de uma
b) O resultado da interpretação da norma penal necessa- causa de justificação sempre são consideradas erro
riamente será declarativo. de proibição.
c) A interpretação autêntica vincula o entendimento dos c) São elementos da culpabilidade, tanto para a teoria
demais intérpretes e operadores do Direito Penal. normativa quanto a limitada, a imputabilidade, a cons-
d) A interpretação gramatical ou literal é a única admi- ciência potencial da ilicitude e a exigibilidade de con-
tida em matéria penal em relação às normas penais duta diversa.
incriminadoras. d) Segundo a teoria psicológica idealizada por Von Liszt
e Beling, a imputabilidade é pressuposto da culpabili-
4. (FUMARC — 2014) Sobre a Lei Penal, é CORRETO afir- dade, fazendo o dolo e a culpa parte de sua análise.
mar que Por sua vez, as teorias normativas, seja a extrema-
da seja a limitada, excluem o dolo e a culpa de sua
a) não retroage, salvo para beneficiar o réu. apreciação.
NOÇÕES DE DIREITO

b) não retroage, salvo se o fato criminoso ainda não for


conhecido. 9. (FUMARC — 2018) Com relação à substituição das
c) retroage, salvo disposição expressa em contrário. penas privativas de liberdade pelas restritivas de direi-
d) retroage, se ainda não houver processo penal instaurado. to, é CORRETO afirmar:

5. (FUMARC — 2013) São elementos caracterizadores da a) Beltrano, maior, capaz e primário, subtraiu um carnei-
culpa inconsciente, EXCETO: ro da fazenda de um amigo, sendo condenado a dois
anos de reclusão. No caso concreto, possuindo todas
a) Inobservância do cuidado objetivo. as circunstâncias judiciais favoráveis e sendo mais
b) Comportamento humano voluntário. benéfico ao réu, deve o juiz conceder a Beltrano a sus-
c) Produção de um resultado involuntário. pensão condicional da pena ao invés da substituição
d) Assunção por parte do agente do provável resultado. prevista no art. 44 do CP. 337
b) Marreco, maior e capaz, ameaçou de morte sua com- d) Homicídio qualificado por motivo torpe, conduta tipifi-
panheira, sendo processado e definitivamente conde- cada no art. 121, § 2°, II CP.
nado pelo crime de ameaça à pena de seis meses de
detenção. Nesse caso, conforme entendimento sumu- 12. (FUMARC — 2013) Adamastor, valendo-se de sua arma
lado pelo STJ, tem o agente direito à substituição da de fogo e agindo com animus necandi, deferiu diver-
pena privativa de liberdade por pena restritiva de direi- sos tiros contra sua vítima, com o firme propósito de
tos, desde que não seja a de prestação pecuniária ou a atingi-la. Entretanto, mesmo após deflagrar todos os
inominada. projéteis de sua arma, Adamastor, por erro na pontaria,
c) Sinfrônio, capaz, possui condenação definitiva pela não conseguiu acertar nenhum deles, razão pela qual
prática do crime de invasão de dispositivo informático a vítima saiu totalmente ilesa do evento criminoso.
à pena de dois anos de detenção. Decorridos quatro Pelo exposto, é CORRETO afirmar que Adamastor
anos do cumprimento integral da pena anterior, foi ele
novamente condenado pelo mesmo crime à pena de a) praticou o crime de tentativa de lesão corporal.
um ano de detenção. Mesmo sendo o agente reinci- b) não praticou crime de tentativa de homicídio em razão
dente, se socialmente recomendável, conforme pre- da caracterização do crime impossível.
visto no §3º do art. 44 do Código Penal, pode o juiz c) praticou o crime de homicídio na forma tentada, carac-
substituir a pena privativa de liberdade por restritiva de terizando-se a denominada tentativa perfeita.
direitos. d) praticou o crime de homicídio na forma tentada, carac-
d) Tício, capaz e devidamente habilitado, após ingerir terizando-se a denominada tentativa imperfeita.
substância entorpecente, assustou-se ao desviar o
veículo que dirigia de um buraco na pista, perdendo 13. (FUMARC — 2018) Analise os casos hipotéticos abai-
o controle do automóvel e vindo a causar a morte de xo e assinale a alternativa CORRETA:
uma criança. Pelo resultado praticado, foi condenado
por homicídio culposo, com as penas alteradas pela a) Do alto de uma árvore, Joca atira uma fruta contra a
Lei nº 13.546/17, a seis anos de reclusão. Nessa situa- cabeça de Maurício. Celso, percebendo a intenção de
ção, Tício tem direito à substituição da pena privativa Joca, assustado e com o fim de evitar a lesão contra
de liberdade por pena restritiva de direitos. Maurício, empurra a vítima com força. Na queda, Mau-
rício acaba por quebrar o braço. Nessa hipótese, tendo
10. (FUMARC — 2018) Com relação ao concurso de cri- Celso agido de forma excessiva, deve responder por
mes, é CORRETO afirmar: lesão corporal dolosa.
b) O agente que provoca, de forma dolosa, várias lesões
a) Não se admite a aplicação da suspensão condicional corporais, de natureza grave e gravíssima contra a
do processo ao crime continuado. mesma vítima, em um mesmo contexto fático, respon-
b) No caso hipotético em que Gioconda, ao dirigir seu de por crime continuado.
automóvel de maneira imprudente, perde o controle do c) Policial Civil que, durante uma festa de casamento,
carro, matando três pessoas e lesionando gravemente confunde convidado com um “perigoso assaltante”
outras cinco, deve ser reconhecido o concurso formal foragido e, imediatamente, dá voz de prisão ao indi-
próprio de crimes pelo qual lhe será aplicada somente víduo que, assustado, corre do policial, fazendo com
uma pena, a mais grave, aumentada de um sexto até a que este efetue disparos de arma de fogo que atingem
metade. mortalmente o convidado pelas costas, segundo a
c) No concurso de crimes, a aplicação da pena de multa teoria limitada da culpabilidade, atua em descriminan-
observa as regras pertinentes à modalidade de con- te putativa derivada de erro de tipo permissivo.
curso que incide no caso concreto. d) Semprônio entra em luta corporal contra Beltrano,
d) No concurso formal, aplica-se a mais grave das seu desafeto e, após provocar-lhe vários ferimentos,
penas cabíveis ou, se iguais, somente uma delas, resolve matá-lo, desferindo contra ele dois disparos
mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até de arma de fogo que não atingem a vítima. Preso em
a metade, ainda que os crimes concorrentes resultem flagrante, Semprônio responderá por lesão corporal,
de desígnios autônomos. tentativa de homicídio e disparo de arma de fogo, em
concurso material de crimes.
11. (FUMARC — 2018) A policial Michele Putin, na noite
de 14 de março de 2018, quando retornava para sua 14. (FUMARC — 2011) Com relação aos crimes patrimo-
casa, após liderar uma exitosa operação contra o trá- niais, é INCORRETO afirmar que
fico de entorpecentes na comunidade de “Miracema
do Norte”, foi abordada por dois homens armados a) segundo entendimento consolidado pelo STF, o cri-
e friamente assassinada. Num fenomenal trabalho me de estelionato, quando na modalidade de fraude
investigatório, a Polícia Civil logrou êxito em identificar no pagamento, por meio de cheque, consuma-se no
os assassinos como sendo os irmãos Jorge e Ernesto momento e local em que o banco sacado recusa o seu
Petralha, apurando que tal homicídio se deu em repre- pagamento.
sália pelas prisões ocorridas quando da citada opera- b) o agente que rouba o veículo da vítima e, sem motiva-
ção policial. ção alguma, a coloca no porta malas, abandonando-a
Diante desse quadro, podemos asseverar que os em estrada de município vizinho, responde pelos cri-
assassinos responderão por: mes de roubo e sequestro, em concurso material.
c) o agente que invade estabelecimento comercial anun-
a) Feminicídio, conduta tipificada no art. 121, § 2°, VI CP. ciando assalto e acaba por matar o proprietário e um
b) Homicídio funcional, conduta tipificada no art. 121, § cliente, fugindo em seguida com o dinheiro do caixa
2°, VII CP. e a carteira do cliente, responde por um só crime de
c) Homicídio qualificado por motivo fútil, conduta tipifi- latrocínio, crime complexo em que a pluralidade de
338 cada no art. 121, § 2°, II CP. vítimas serve apenas para fixação da pena.
d) agente que, após furtar, em concurso de pessoas, pre-
ciosa jóia em shopping Center, adquire a quota parte,
dos demais meliantes, não responde por crime de
receptação, tratando-se de post factum impunível.

15. (FUMARC — 2018) Ao anoitecer de 28 de abril de 2017,


o funcionário público municipal Mário Pança, ao sair
da prefeitura de Passárgada, onde trabalha, encontra
um pacote contendo cerca de R$ 20.000,00 (vinte mil
reais) em notas de R$ 100,00. Feliz com a possibilida-
de de saldar todas as suas dívidas, leva tal numerário
para casa e, no dia seguinte, procura seus credores,
saldando um a um. Marta Rochedo, que havia perdi-
do tal numerário, procura a Delegacia de Polícia local
pedindo providências a respeito. Os policiais civis rea-
lizam investigações, conseguindo apurar que Mário
Pança havia encontrado tal numerário, dando cabo de
suas dívidas com o mesmo. Diante de tal enunciado,
a opção em que se enquadra a conduta praticada por
Mário Pança é:

a) Apropriação indébita de coisa alheia achada.


b) Furto privilegiado.
c) Furto simples.
d) Peculato apropriação.

9 GABARITO

1 D

2 B

3 C

4 A

5 D

6 B

7 C

8 B

9 D

10 B

11 B

12 C

13 C

14 C

15 A
NOÇÕES DE DIREITO

ANOTAÇÕES

339
ANOTAÇÕES

340
Quanto ao princípio do contraditório e ampla defe-
sa, a Constituição Federal determina que:

Art. 5º [...]
LV - aos litigantes, em processo judicial ou adminis-
NOÇÕES DE DIREITO trativo, e aos acusados em geral são assegurados o
contraditório e ampla defesa, com os meios e recur-
sos a ela inerentes;

O princípio do contraditório garante direito à


DIREITO PROCESSUAL PENAL informação mais participação no processo (oferecer
reação). Inclusive, no processo penal é obrigatória a
DIREITOS E GARANTIAS PROCESSUAIS PENAIS assistência técnica por advogado.
O princípio da ampla defesa complementa o con-
Dentre os direitos e garantias que a Constituição traditório, e significa utilizar meios de prova sobre
Federal e o Código de Processo Penal asseguram, tan- materialidade e autoria, abrangendo o direito de
to ao acusado quanto ao réu, destacam-se o sistema audiência (ser ouvido, participar da formação do con-
acusatório, a presunção de inocência, o princípio do vencimento do julgador) e o direito de trazer provas
contraditório e da ampla defesa, a publicidade e a ao processo.
proporcionalidade.
O Pacote Anticrime (Lei 13.964, de 2019) trouxe
como regra expressa que: Importante!
Art. 3º-A. O processo penal terá estrutura acusa-
O STF, recentemente, decidiu que não é válida
tória, vedadas a iniciativa do juiz na fase de inves- a condução coercitiva do investigado ou do réu
tigação e a substituição da atuação probatória do para interrogatório no âmbito da investigação ou
órgão de acusação.  da ação penal.
STF. Plenário. ADPF 395/DF e ADPF 444/DF, Rel.
Isso significa que existe distinção entre as figuras Min. Gilmar Mendes, julgados em 13 e 14/6/2018
de acusação, defesa e julgamento. O juiz deve manter- (Info 906).
-se equidistante e imparcial. O processo, no sistema
acusatório, é público e a produção probatória perten-
ce às partes. Além disso, garante-se: Ademais, o sistema processual penal garante a
publicidade dos processos, como meio de transpa-
z Oralidade, ex. audiência; rência e fiscalização. Todavia, a regra é excepcionada
pelo segredo de justiça, de maneira que, neste caso,
z Presunção de inocência;
somente as partes e/ou procuradores terão acesso ao
z Paridade de armas entre as partes;
andamento processual.
z Busca da verdade.
A verdade no processo penal acusatório não é real,
de maneira que não pode ser obtida a qualquer custo,
O sistema acusatório é próprio dos regimes demo-
mediante tortura e provas ilícitas. O que há é a apro-
cráticos, em contraposição ao sistema inquisitivo, que
ximação da realidade, sem desrespeitar os direitos e
contempla o juiz inquisidor (acusa e julga), processo
garantias do acusado.
sigiloso e iniciado de ofício, sem muitas garantias.
Inclusive, no JECRIM existe a denominada verdade
A presunção de inocência é garantia constitucional
consensual, ou seja, a realidade é posta em um segun-
do acusado: do plano, e dispensada para a transação.
No processo penal incide o princípio do juiz natu-
Art. 5º [...]
ral, que está positivado na Constituição Federal:
LVII - ninguém será considerado culpado até o trân-
sito em julgado de sentença penal condenatória;
Art. 5º [...]
LIII - ninguém será processado nem sentenciado
Em razão disto, durante a instrução criminal o senão pela autoridade competente;
ônus da prova pertence à acusação, na dúvida a prova
milita a favor do acusado, na dosimetria da pena não Isso significa que apenas o órgão do Poder Judiciá-
pode usar Inquérito Policial nem ação penal em curso rio regularmente investido, imparcial, conhecido por
para tornar a pena mais rígida. regras objetivas de competência estabelecidas antes
Súmula 444 STJ: É vedada a utilização de inquéri-
NOÇÕES DE DIREITO

da infração, pode julgar.


tos policiais e ações penais em curso para agravar a No mesmo sentido, não pode ocorrer a figura do
pena-base. acusador de exceção, ou seja, não pode ser designado
Ademais, em 07/11/2019 o STF proibiu a execução um membro do Ministério Público para atuar em um
provisória da pena durante o julgamento das ADCs 43, caso concreto, uma vez que, existem regras abstratas
44 e 54. Assim, o cumprimento da pena somente pode anteriores à infração.
ter início com o esgotamento de todos os recursos. O Pacote Anticrime (Lei 13.964, de 2019) trouxe
O acusado responde em liberdade como regra, a a figura do Juiz das Garantias para atuar até o rece-
exceção fica a cargo das medidas cautelares, que são bimento da denúncia, e posteriormente o processo
utilizadas para assegurar o bom andamento proces- encaminha-se ao juiz da instrução e julgamento. Isso
sual e aplicação da pena. Ex.: prisão temporária, pri- visa manter a imparcialidade do juiz no momento de
são preventiva. julgar, não tendo contato com a investigação. 341
Art. 3º-B. O juiz das garantias é responsável pelo Ocorrida uma infração penal, que pode ser um
controle da legalidade da investigação criminal e crime ou uma contravenção penal, surge para o Esta-
pela salvaguarda dos direitos individuais cuja fran- do o direito de punir (jus puniendi), que pressupõe a
quia tenha sido reservada à autorização prévia do existência de um prévio processo penal. No entanto,
Poder Judiciário, competindo-lhe especialmente: [...] para que esse processo seja instaurado, é necessário
Art. 3º-C A competência do juiz das garantias que o órgão acusador possua elementos informativos
abrange todas as infrações penais, exceto as de necessários e suficientes para a propositura da ação
menor potencial ofensivo, e cessa com o recebimen- penal, que, por sua vez, busca a condenação do cri-
to da denúncia ou queixa na forma do art. 399 deste minoso com a aplicação de uma pena ou medida de
Código.   segurança. Assim, será por meio dos elementos infor-
mativos colhidos através da investigação preliminar,
Importante destacar que em janeiro de 2020 o via inquérito policial, que o órgão acusador terá os
ministro Luiz Fux suspendeu por tempo indetermi- elementos necessários para propor a ação penal.
nado a eficácia das regras do Pacote Anticrime (Lei Neste sentido, podemos conceituar Inquérito Poli-
13.964/2019) que instituem a figura do Juiz das Garan- cial como procedimento preparatório da ação penal,
tias. A decisão cautelar, proferida nas Ações Diretas investigativo, inquisitivo, de caráter administrati-
de Inconstitucionalidade (ADI’s) 6298, 6299, 6300 e vo, conduzido por autoridade de polícia judiciária,
6305, ainda será submetida a referendo do Plenário. destinado a reunir elementos necessários de auto-
ria e materialidade de infrações penais.
Ademais, o Princípio “Nemo Tenetur Se Detegere”
Entre os principais objetivos do inquérito policial,
garante que ninguém é obrigado a produzir prova
temos a formação da convicção do representante do
contra si mesmo, como forma de defesa passiva. Ex.: Ministério Público e a colheita de provas urgentes
é proibida a intimação do investigado para que cola- (que são aquelas que podem desaparecer após a ocor-
bore em atos que possam ocasionar a sua condenação rência do crime).
– oferecer padrão vocal, material para exame grafo-
técnico, prova incriminadora invasiva. CARACTERÍSTICAS DO INQUÉRITO POLICIAL
Esse princípio possui como desdobramentos:
O tema “características do inquérito policial” é um
z Direito ao silêncio; dos mais cobrados em provas de concurso dentro dos
z Inexigibilidade de dizer a verdade; tópicos de inquérito policial. Vamos a cada uma delas:
z Inexigibilidade de comportamento ativo, ex. na
reconstituição de crime. z Administrativo: O inquérito policial tem natureza
de procedimento administrativo, e não de processo
Por fim, assegura-se a proporcionalidade, aspecto judicial. Isso porque ele é instaurado e conduzido
material do devido processo legal: por uma autoridade policial, conforme descreve o
art. 4º, do Código de Processo Penal;
PROPORCIONALIDADE z Informativo: O inquérito policial é peça meramen-
ADEQUAÇÃO NECESSIDADE te informativa para a propositura de ação penal,
EM SENTIDO ESTRITO
pois eventual irregularidade na fase inquisitorial
É necessário Buscar a alter- Deve ser feita uma pon- não contamina o processo nem enseja nulidade;
verificar se a nativa menos deração entre o ônus e o z Sigiloso: Enquanto o processo criminal em regra é
medida é apta gravosa benefício a ser obtido público, no inquérito policial o sigilo faz-se neces-
para atingir o sário para elucidação do fato ou é exigido pelo
fim almejado
interesse da sociedade, conforme dispõe o art. 20,
do Código de Processo Penal. Dessa forma, apesar
Por exemplo, uma interceptação telefônica é ade- de a publicidade ser a regra, o sigilo é necessário
quada para identificar autoria e materialidade de um no inquérito policial, tendo em vista que a auto-
ridade policial busca reunir elementos e provas
crime. Além disso, no caso concreto pode ser a alter-
para embasar uma futura ação penal. Portanto, de
nativa menos gravosa. Por fim, o benefício do resulta-
nada adiantaria uma investigação não sigilosa. É
do é maior do que o malefício da medida.
importante notar que o sigilo não se aplica ao juiz,
ao Ministério Público e ao advogado. Com relação
ao advogado, a fundamentação encontra-se no
inciso XIV e no § 10, do art. 7º, do Estatuto da OAB,
INVESTIGAÇÃO CRIMINAL POLICIAL- e na Súmula Vinculante nº 14;
z Inquisitivo (Inquisitorial): De acordo com a dou-
INQUÉRITO POLICIAL trina majoritária, o inquérito policial é um pro-
cedimento inquisitivo, pois não há de se falar em
Iremos estudar neste momento o regramento do contraditório ou ampla defesa;
Inquérito Policial, que está elencado entre os arts.
4º ao 23, do Código de Processo Penal. Dessa forma, Atenção! A Lei nº 13.964, de 2019 (Pacote Anticri-
iniciaremos nosso estudo com a redação do art. 4º. me), trouxe a mitigação à característica inquisitorial.
Vejamos: O art. 14-A, do Código de Processo Penal, determina
que no caso de servidores pertencentes às instituições
Art. 4º A polícia judiciária será exercida pelas dispostas no art. 144, da Constituição Federal, que uti-
autoridades policiais no território de suas respec- lizarem da força praticando o exercício profissional,
tivas circunscrições e terá por fim a apuração das de forma tentada ou consumada, inclusive em casos
infrações penais e da sua autoria. de legítima defesa, será instaurada investigação,
Parágrafo único. A competência definida neste arti- momento em que será necessária a citação do inves-
go não excluirá a de autoridades administrativas, a tigado, que poderá constituir defensor no prazo de 48
342 quem por lei seja cometida a mesma função. horas do recebimento da citação.
z Dispensável: Caso o Ministério Público ou o ofen- z Os chefes de repartições públicas ou corregedores
dido disponha de um lastro probatório suficiente, permanentes, nos casos de sindicâncias e proces-
o inquérito policial é dispensável. Ou seja, já que sos administrativos;
a finalidade do inquérito policial é a colheita de z Os promotores de justiça, no caso de inquérito
elementos de prova quanto à infração penal e sua civil voltado a apurar lesões a interesses difusos
autoria, caso o titular da ação (Ministério Público e coletivos;
z Os parlamentares, durante os trabalhos das Comis-
ou ofendido) disponha desses elementos neces-
sões Parlamentares de Inquérito.
sários para o oferecimento da peça acusatória, o
inquérito policial será dispensável; Art. 5º Nos crimes de ação pública o inquérito
z Oficialidade: O inquérito policial será presidido policial será iniciado:
por órgão oficial do Estado, polícia judiciária (Polí- I - de ofício;
cia Civil ou Federal), sendo vedada a delegação II - mediante requisição da autoridade judiciá-
da condução do inquérito policial a particulares. ria ou do Ministério Público, ou a requerimen-
Observe que, apesar de o juiz e membro do Minis- to do ofendido ou de quem tiver qualidade
para representá-lo.
tério Público requisitarem a instauração do inqué-
§ 1º O requerimento a que se refere o nº II conterá
rito policial, eles não podem presidi-lo; sempre que possível:
z Oficiosidade: Ao tomar conhecimento de notícia a) a narração do fato, com todas as circunstâncias;
de crime de ação penal pública incondicionada, b) a individualização do indiciado ou seus sinais
independentemente de por qual meio, a autorida- característicos e as razões de convicção ou de pre-
de policial é obrigada a agir de ofício, independen- sunção de ser ele o autor da infração, ou os motivos
temente de provocação; de impossibilidade de o fazer;
c) a nomeação das testemunhas, com indicação de
z Indisponibilidade: Uma vez instaurado o inqué-
sua profissão e residência.
rito, a autoridade policial não poderá promover o § 2º Do despacho que indeferir o requerimento de
seu arquivamento, mesmo que em seu juízo con- abertura de inquérito caberá recurso para o chefe
clua pela atipicidade do fato ou pela ausência de de Polícia.
indícios quanto à autoria, de acordo com o art. 17, § 3º Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimen-
do Código de Processo Penal; to da existência de infração penal em que caiba ação
z Escrito ou Formal: Os atos praticados decorrentes pública poderá, verbalmente ou por escrito, comunicá-
-la à autoridade policial, e esta, verificada a procedên-
do inquérito policial devem ser escritos e os atos cia das informações, mandará instaurar inquérito.
orais reduzidos a termo, nos termos do art. 9º, do § 4º O inquérito, nos crimes em que a ação pública
Código de Processo Penal; depender de representação, não poderá sem ela ser
z Discricionário: O inquérito policial é conduzido iniciado.
de maneira discricionária pela autoridade policial. § 5º Nos crimes de ação privada, a autoridade poli-
Isso quer dizer que cabe à autoridade policial deci- cial somente poderá proceder a inquérito a reque-
rimento de quem tenha qualidade para intentá-la.
dir quais as providências necessárias à elucida-
ção da infração penal. Nos arts. 6º e 7º, temos um
O inquérito policial poderá ser instaurado das
rol exemplificativo de diligências que podem ser
seguintes formas:
determinadas. É importante notar que a autorida-
de policial não pode negar ao indiciado o exame z De ofício pelo delegado: Quando a autoridade
de corpo e delito. policial toma conhecimento de um fato crimino-
so, independentemente do meio (pela mídia, por
Dica boatos que correm “na boca do povo” ou por qual-
quer outro meio), cuja ação penal pública é incon-
Memorize as características do Inquérito Policial dicionada, ele deve agir de ofício, instaurando o
utilizando o mnemônico É IDOSO: inquérito policial, por meio de da peça inaugural
Escrito chamada Portaria. Esta hipótese de instauração do
Inquisitivo inquérito policial é denominada notitia criminis
Dispensável espontânea (de cognição direta ou imediata);
z Por meio de requisição do membro do Ministé-
Oficial
rio Público ou do juiz: Quando se tratar de crime
Sigiloso que se procede por meio de ação penal públi-
Oficioso ca incondicionada, o inquérito policial pode ser
instaurado através de requisição do membro do
Conforme informado, a atividade investigatória do Ministério Público ou do juiz, que terá caráter de
inquérito policial deve ser desenvolvida pelo Estado, ordem para que o delegado instaure o inquérito
por meio da autoridade de polícia judiciária (estadual policial. Esta hipótese de instauração do inquérito
NOÇÕES DE DIREITO

e federal). policial é denominada notitia criminis provocada


Outras autoridades administrativas produto- (de cognição indireta ou mediata);
ras de inquérito: o inquérito policial não é o único e z Por requerimento do ofendido: A vítima de cri-
exclusivo a dar sustentação probatória a ação penal. me de ação penal pública incondicionada também
pode provocar a autoridade policial com a fina-
São admitidos outros procedimentos, desde que pre-
lidade que se instaure o inquérito policial. Esta
vista em lei a função investigatória da autoridade. hipótese de instauração do inquérito policial tam-
São autoridades capazes de produzir provas pré- bém é denominada notitia criminis provocada (de
-constituídas para fundamentar a ação penal, dentre cognição indireta ou mediata). Importante obser-
outras possibilidades legais: var que, nesta hipótese, o § 2º, do art. 5º, prevê que,
caso o requerimento do ofendido seja indeferido,
z Os oficiais militares, no caso de inquérito militar; caberá recurso administrativo ao chefe de polícia; 343
z Por provocação de qualquer um do povo: Quan- V - ouvir o indiciado, com observância, no que for
do se tratar de crime que se procede por meio de aplicável, do disposto no Capítulo III do Título VII,
ação penal pública incondicionada, qualquer pes- deste Livro, devendo o respectivo termo ser assina-
soa poderá provocar a autoridade policial para do por duas testemunhas que lhe tenham ouvido a
que se instaure o inquérito policial, que ocorrerá leitura;
por meio da peça inaugural chamada Portaria.
Esta hipótese de instauração do IP é denominada Nesta hipótese, vale lembrar que, antes de ouvir
delatio criminis simples; o acusado, é necessária a advertência quanto ao seu
z Pela prisão em flagrante do agente: Quando direito ao silêncio.
ocorre a prisão em flagrante da pessoa que come- Quanto ao termo, ele deve ser assinado por duas
teu crime de ação penal pública incondicionada. testemunhas; todavia, a falta delas incorre em mera
Nesta situação, o inquérito policial será instaurado irregularidade.
por meio do auto de prisão em flagrante. Esta hipó-
tese de instauração do inquérito policial é denomi- VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas
nada notitia criminis de cognição coercitiva. e a acareações;
VII - determinar, se for caso, que se proceda a exa-
Instauração de inquérito policial quando o cri- me de corpo de delito e a quaisquer outras perícias;
me for de ação penal pública condicionada: Ocorre
quando o crime exigir representação da vítima ou do Nos casos em que o crime deixe vestígios, é obri-
seu representante legal. Neste caso, o inquérito poli- gatório o exame de corpo de delito direto ou indireto.
cial não poderá ser instaurado sem essa representa- O termo “outras perícias” abrange diversos outros
ção, pois ela configura condição de procedibilidade da exames periciais que podem ser determinados de ofí-
ação penal. Esta hipótese é denominada delatio crimi- cio pela autoridade policial, com exceção do exame
nis postulatória. de insanidade mental, que exige prévia autorização
Instauração de inquérito policial quando o cri- judicial.
me for de ação penal privada: Exige-se requerimen-
to da vítima ou de seu representante legal, ou, no caso VIII - ordenar a identificação do indiciado pelo pro-
de morte ou declaração de ausência, são legitimados o cesso datiloscópico, se possível, e fazer juntar aos
cônjuge, ascendente, descendente e irmão, nos termos autos sua folha de antecedentes;
do art. 31, do Código de Processo Penal. IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob
O art. 6º, do Código de Processo Penal, estipula dili- o ponto de vista individual, familiar e social, sua
gências a serem realizadas pela autoridade policial condição econômica, sua atitude e estado de ânimo
logo que tomar conhecimento da prática de infração antes e depois do crime e durante ele, e quaisquer
penal. Vejamos: outros elementos que contribuírem para a aprecia-
ção do seu temperamento e caráter.
Art. 6º Logo que tiver conhecimento da prática da
infração penal, a autoridade policial deverá: O presente inciso é bem detalhado e autoexplica-
I - dirigir-se ao local, providenciando para que não tivo, devendo tais esclarecimentos serem objeto de
se alterem o estado e conservação das coisas, até a investigação pela autoridade policial, tendo em vista
chegada dos peritos criminais; (Redação dada pela que lhe incumbe não só elucidar a materialidade e a
Lei nº 8.862, de 28.3.1994) autoria, mas também as circunstâncias da infração
penal.
Essa diligência tem como objetivo a preservação
dos elementos de prova durante o exame pericial, pois X - colher informações sobre a existência de filhos,
quanto mais intacta estiver a “cena do crime”, melhor respectivas idades e se possuem alguma deficiência
serão as condições para o exame do perito. e o nome e o contato de eventual responsável pelos
cuidados dos filhos, indicado pela pessoa presa.

Importante! A Lei nº 13.257, de 2016, introduziu este inciso


O art. 1º, da Lei nº 5.970, de 1973, configura exce- dentre as diligências a ser realizadas pela autoridade
policial, no sentido de saber se o preso ou a presa tem
ção à regra, permitindo a remoção de pessoas,
filhos, suas idades e com quem vivem.
no caso de acidente de trânsito, que tenham
sofrido lesão, estiverem no leito da via e prejudi-
Art. 7º Para verificar a possibilidade de haver a
carem o tráfego. infração sido praticada de determinado modo, a
autoridade policial poderá proceder à reprodu-
ção simulada dos fatos, desde que esta não
II - apreender os objetos que tiverem relação com o
fato, após liberados pelos peritos criminais; (Reda- contrarie a moralidade ou a ordem pública.
ção dada pela Lei nº 8.862, de 28.3.1994)
III - colher todas as provas que servirem para o Trata-se de diligência que tem como objetivo veri-
esclarecimento do fato e suas circunstâncias; ficar a veracidade das versões constantes dos autos, a
fim de melhor se aproximar ao que realmente aconte-
Observe que os incisos acima tratam da caracterís- ceu na prática da infração penal. No entanto, a repro-
tica da discricionariedade na atuação da autoridade dução será vedada quando for contrária à moralidade
policial na condução do inquérito policial, durante o ou à ordem pública, como, por exemplo, nos crimes
qual ela deverá colher todos os elementos possíveis. sexuais. Por fim, temos que o investigado não está
obrigado a participar dessa diligência, pois não é obri-
344 IV - ouvir o ofendido; gado a produzir prova contra si.
Art. 8º Havendo prisão em flagrante, será observado o disposto no Capítulo II do Título IX deste Livro.
Art. 9º Todas as peças do inquérito policial serão, num só processado, reduzidas a escrito ou datilografadas e, neste
caso, rubricadas pela autoridade.

O art. 9º traz o formalismo do inquérito policial, pois, como é possível observar, o inquérito policial é um
procedimento formal, exigindo-se que as suas peças sejam escritas ou datilografadas, bem como rubricadas pela
autoridade competente.

Art. 10 O inquérito deverá terminar no prazo de 10 dias, se o indiciado tiver sido preso em flagrante, ou esti-
ver preso preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia em que se executar a ordem de prisão,
ou no prazo de 30 dias, quando estiver solto, mediante fiança ou sem ela.
§ 1º A autoridade fará minucioso relatório do que tiver sido apurado e enviará autos ao juiz competente.
§ 2º No relatório poderá a autoridade indicar testemunhas que não tiverem sido inquiridas, mencionando o lugar
onde possam ser encontradas.
§ 3º Quando o fato for de difícil elucidação, e o indiciado estiver solto, a autoridade poderá requerer ao juiz a devo-
lução dos autos, para ulteriores diligências, que serão realizadas no prazo marcado pelo juiz.

O prazo de conclusão do inquérito policial é de 10 (dez) dias se o indiciado estiver preso (prisão em flagrante
ou preventiva), e de 30 (trinta) dias, se estiver solto (com ou sem fiança), sendo que ambos os prazos podem ser
prorrogados.
Em se tratando de indiciado solto, é necessário que o caso seja de difícil elucidação e que haja requerimento ao
juiz para devolução dos autos para ulteriores diligências, situação na qual o juiz prorrogará o prazo.
Contagem de prazo: Por tratar-se de norma processual penal material, o prazo deve ser contado como se faz
com qualquer prazo penal, nos termos do art. 10, do Código Penal, incluindo-se o primeiro dia e excluindo-se o
dia final.
Relatório final: Ao encerrar as investigações, a autoridade policial deverá relatar tudo o que foi feito na pre-
sidência do inquérito, de modo a apurar a materialidade e a autoria do crime.

PRAZOS PARA CONCLUSÃO DO INQUÉRITO POLICIAL (EM DIAS)


Preso Solto
Regra Geral (art. 10, do CPP) 10 30
Inquérito Policial Federal 15 + 15 30
Inquérito Policial Militar 20 40 + 20
Lei de Drogas 30 + 30 90 + 90
Crimes contra Economia Popular 10 10
Crime hediondo ou equiparado (§ Prisão temporária: 30 + 30 -
4º, art. 2º, da Lei nº 8.072/90)

Art. 11 Os instrumentos do crime, bem como os objetos que interessarem à prova, acompanharão os autos do
inquérito.

Os instrumentos do crime, que são todos os objetos ou aparelhos usados pelo criminoso para cometer a infra-
ção penal, bem como os objetos de interesse da prova, serão remetidos ao fórum juntamente com o inquérito
policial, para que possam ser exibidos ao destinatário final da prova.

Art. 12 O inquérito policial acompanhará a denúncia ou queixa, sempre que servir de base a uma ou outra.
Art. 13 Incumbirá ainda à autoridade policial:
I - fornecer às autoridades judiciárias as informações necessárias à instrução e julgamento dos processos;
II - realizar as diligências requisitadas pelo juiz ou pelo Ministério Público;
III - cumprir os mandados de prisão expedidos pelas autoridades judiciárias;
IV - representar acerca da prisão preventiva.
NOÇÕES DE DIREITO

Juntamente com os arts. 6º e 7º, do Código de Processo Civil, o art. 13, do Código de Processo Penal, indica
atribuições da autoridade policial, que nada mais são do que incumbências que refletem a própria natureza e
finalidade do inquérito policial.

Art. 13-A Nos crimes previstos nos arts. 148, 149 e 149-A, no § 3º do art. 158 e no art. 159 do Decreto-Lei no 2.848,
de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), e no art. 239 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança
e do Adolescente), o membro do Ministério Público ou o delegado de polícia poderá requisitar, de quaisquer órgãos
do poder público ou de empresas da iniciativa privada, dados e informações cadastrais da vítima ou de suspeitos.
Parágrafo único. A requisição, que será atendida no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, conterá:
I - o nome da autoridade requisitante;
II - o número do inquérito policial; e
III - a identificação da unidade de polícia judiciária responsável pela investigação. 345
Este artigo foi introduzido pela Lei nº 13.344, de O art. 14 está tratando da discricionariedade da
2016, que versa sobre o tráfico interno e internacional autoridade policial na condução do inquérito policial.
de pessoas. O art. 13-A, do Código de Processo Penal, No entanto, essa discricionariedade não é absoluta,
permite o acesso imediato do Delegado de Polícia e do pois a autoridade policial não poderá negar reque-
órgão do Ministério Público aos dados e às informa- rimento de diligências realizadas pelo investigado
ções cadastrais da vítima ou de suspeitos da prática quando elas guardarem importância e correlação
dos seguintes crimes:
com o esclarecimento dos fatos. Admite-se, assim, o
indeferimento de medidas inúteis, protelatórias ou
z Sequestro e cárcere privado;
desnecessárias.
z Redução à condição análoga à de escravo;
z Tráfico de pessoas;
Art. 14-A Nos casos em que servidores vincula-
z Extorsão qualificada pela restrição da liberdade
da vítima; dos às instituições dispostas no art. 144 da Cons-
z Extorsão mediante sequestro; tituição Federal figurarem como investigados em
z Crime de promover ou auxiliar a efetivação de ato inquéritos policiais, inquéritos policiais militares
destinado ao envio de criança ou adolescente para e demais procedimentos extrajudiciais, cujo objeto
o exterior com inobservância das formalidades for a investigação de fatos relacionados ao uso da
legais ou com o fito de obter lucro, previsto no art. força letal praticados no exercício profissional, de
239, do Estatuto da Criança e do Adolescente. forma consumada ou tentada, incluindo as situa-
ções dispostas no art. 23 do Decreto-Lei nº 2.848, de
O art. 13-B, do Código de Processo Penal, também 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), o indiciado
foi introduzido pela Lei nº 13.344, de 2016, e versa poderá constituir defensor. (Incluído pela Lei nº
sobre o acesso a sinais, informações e outros dados de 13.964, de 2019)
modo a permitir a localização da vítima ou dos suspei- § 1º Para os casos previstos no caput deste artigo,
tos de crimes em curso. Vejamos: o investigado deverá ser citado da instauração do
procedimento investigatório, podendo constituir
Art. 13-B Se necessário à prevenção e à repressão defensor no prazo de até 48 (quarenta e oito)
dos crimes relacionados ao tráfico de pessoas, o horas a contar do recebimento da citação.
membro do Ministério Público ou o delegado de (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
polícia poderão requisitar, mediante autoriza- § 2º Esgotado o prazo disposto no § 1º deste arti-
ção judicial, às empresas prestadoras de ser- go com ausência de nomeação de defensor pelo
viço de telecomunicações e/ou telemática que investigado, a autoridade responsável pela inves-
disponibilizem imediatamente os meios técnicos tigação deverá intimar a instituição a que estava
adequados – como sinais, informações e outros vinculado o investigado à época da ocorrência dos
– que permitam a localização da vítima ou dos fatos, para que essa, no prazo de 48 (quarenta e
suspeitos do delito em curso. (Incluído pela Lei oito) horas, indique defensor para a representa-
nº 13.344, de 2016)
ção do investigado. (Incluído pela Lei nº 13.964, de
§ 1º Para os efeitos deste artigo, sinal significa posi-
2019)
cionamento da estação de cobertura, setorização e
intensidade de radiofrequência. (Incluído pela Lei § 3º Havendo necessidade de indicação de defen-
nº 13.344, de 2016) sor nos termos do § 2º deste artigo, a defesa cabe-
§ 2º Na hipótese de que trata o caput, o sinal: rá preferencialmente à Defensoria Pública, e, nos
(Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016) locais em que ela não estiver instalada, a União ou
I - não permitirá acesso ao conteúdo da comunica- a Unidade da Federação correspondente à respec-
ção de qualquer natureza, que dependerá de autori- tiva competência territorial do procedimento ins-
zação judicial, conforme disposto em lei; (Incluído taurado deverá disponibilizar profissional para
pela Lei nº 13.344, de 2016) acompanhamento e realização de todos os atos
II - deverá ser fornecido pela prestadora de tele- relacionados à defesa administrativa do investi-
fonia móvel celular por período não superior a gado. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
30 (trinta) dias, renovável por uma única vez, por § 4º A indicação do profissional a que se refere o
igual período; (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016)
§ 3º deste artigo deverá ser precedida de manifes-
III - para períodos superiores àquele de que trata o
tação de que não existe defensor público lotado
inciso II, será necessária a apresentação de ordem
judicial. (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016) na área territorial onde tramita o inquérito e com
§ 3º Na hipótese prevista neste artigo, o inquérito atribuição para nele atuar, hipótese em que pode-
policial deverá ser instaurado no prazo máximo de rá ser indicado profissional que não integre os
72 (setenta e duas) horas, contado do registro da quadros próprios da Administração. (Incluído pela
respectiva ocorrência policial. (Incluído pela Lei nº Lei nº 13.964, de 2019)
13.344, de 2016) § 5º Na hipótese de não atuação da Defensoria
§ 4º Não havendo manifestação judicial no pra- Pública, os custos com o patrocínio dos interes-
zo de 12 (doze) horas, a autoridade competente ses dos investigados nos procedimentos de que
requisitará às empresas prestadoras de serviço de trata este artigo correrão por conta do orçamento
telecomunicações e/ou telemática que disponibili- próprio da instituição a que este esteja vincula-
zem imediatamente os meios técnicos adequados do à época da ocorrência dos fatos investigados.
– como sinais, informações e outros – que permi-
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
tam a localização da vítima ou dos suspeitos do
§ 6º As disposições constantes deste artigo se
delito em curso, com imediata comunicação ao juiz.
(Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016) aplicam aos servidores militares vinculados às
Art. 14 O ofendido, ou seu representante legal, instituições dispostas no art. 142 da Constituição
e o indiciado poderão requerer qualquer dili- Federal, desde que os fatos investigados digam res-
gência, que será realizada, ou não, a juízo da peito a missões para a Garantia da Lei e da Ordem.
346 autoridade. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
O art. 14-A, do Código de Processo Penal, estabele- ARQUIVAMENTO NO INQUÉRITO POLICIAL
ce a obrigatoriedade de “citação” dos agentes das for-
ças de segurança pública enumeradas pelo art. 144, Esgotadas todas as diligências cabíveis no decorrer
da Constituição Federal (à Polícia Ferroviária Federal, do inquérito policial, o membro do Ministério Público,
às Polícias Civis, às Policiais Militares, aos Corpos de entendendo que não há indícios suficientes acerca da
Bombeiros Militares e às Polícias Penais federal, esta- autoria e/ou prova da materialidade do crime, promo-
dual e distrital), sempre que figurarem como investi- verá o arquivamento do inquérito policial, nos termos
gados em procedimentos de apuração preliminar de
do art. 28, do Código de Processo Penal.
fatos “relacionados ao uso da força letal praticados no
Desta forma, não é permitido o arquivamento
exercício profissional”.
direto do inquérito pela autoridade policial, conforme
O dispositivo afirma que o indiciado poderá cons-
tituir defensor. No entanto, a atuação do profissional observamos no art. 17, do Código de Processo Penal.
é indispensável, desde que cumpridos os seguintes
requisitos: Espécies de Arquivamento

z O investigado integrar alguma das forças policiais O arquivamento é classificado pela doutrina nas
referidas no art. 144, da Constituição Federal; seguintes espécies: arquivamento implícito ou tácito,
z A investigação referir-se a uso de força letal; arquivamento originário, arquivamento indireto e
z A força letal ter sido aplicada em razão do exercí- arquivamento provisório.
cio profissional.
z Arquivamento implícito ou tácito: Não é admi-
Dessa forma, preenchidos esses requisitos, é obri- tido, pois configura omissão da denúncia pelo
gatória a atuação do defensor, não podendo o investi- Ministério Público;
gado dispor da sua atuação. Assim, o investigado será z Arquivamento originário: Aquele formulado
citado para constituir o defensor em 48 horas a contar pelo representante do Ministério Público nos
do recebimento da citação. Havendo inércia do inves- casos de competência originária nos tribunais. Por
tigado, a autoridade policial deverá intimar a institui-
exemplo: pelo Procurador Geral de Justiça peran-
ção à qual o investigado estava vinculado à época dos
te o Tribunal de Justiça, pelo Procurador Geral da
fatos, a fim de que indique o defensor em 48 horas.
República perante o Supremo Tribunal Federal etc.
Havendo necessidade de indicação de defensor,
nos termos do § 2º, do art. 14-A, a defesa caberá pre- z Arquivamento indireto: Quando o membro do
ferencialmente à Defensoria Pública, e, nos locais em Ministério Público deixa de oferecer denúncia
que ela não estiver instalada, à União ou à Unidade da perante o juízo em que atua e oficia pelo declínio
Federação correspondente. da competência, havendo o arquivamento indireto
neste juízo;
Art. 15 Se o indiciado for menor, ser-lhe-á nomeado z Arquivamento provisório: Hipótese de arqui-
curador pela autoridade policial. vamento dos autos do inquérito policial quando
ausente alguma condição de procedibilidade. Por
Em decorrência do art. 5º, do Código Civil, a meno- exemplo: a retratação da representação pela víti-
ridade cessa aos 18 (dezoito) anos completos. Assim, ma antes do oferecimento da denúncia de crime de
não há mais necessidade de curador para o indiciado ação penal pública condicionada à representação.
menor de 21 (vinte e um) anos. No entanto, ainda é
possível a nomeação de curador para o inimputável DA INAPLICABILIDADE DO PRINCÍPIO DA
do caput do art. 26, do Código Penal.
DEVOLUÇÃO
Art. 16 O Ministério Público não poderá requerer
a devolução do inquérito à autoridade poli- Desde a vigência da Lei nº 13.964, de 2019 (Pacote
cial, senão para novas diligências, imprescin- Anticrime), não se fala mais em Princípio da Devolu-
díveis ao oferecimento da denúncia. ção, conforme previsto no antigo texto do art. 28, do
Código de Processo Penal, em que o juiz, ao discordar
O Ministério Público é o titular da ação penal do pedido de arquivamento formulado pelo Ministé-
pública, como definido pela Constituição Federal. Por- rio Público, remetia os autos ao Procurador Geral ou
tanto, ele é o destinatário dos elementos produzidos a um órgão colegiado de Procuradores do Ministério
através do inquérito policial. Assim, o Parquet poderá Público (no âmbito do Ministério Público Federal,
requisitar diligências imprescindíveis à formação da denomina-se Câmara de Coordenação e Revisão), que,
sua opinio delicti. ao receber os autos do inquérito, poderia tomar uma
das seguintes decisões:
NOÇÕES DE DIREITO

Art. 17 A autoridade policial não poderá man-


dar arquivar autos de inquérito.
z Ratificação do requerimento de arquivamento,
hipótese em que o órgão julgador, mesmo discor-
Esse artigo determina a indisponibilidade do
dando novamente, deveria acatar;
inquérito policial. Isso porque, uma vez instaurado o
inquérito policial, o seu arquivamento somente será z Requerimento de realização de novas diligências;
possível a partir de pedido formulado pelo Ministério z Oferecimento de denúncia, acolhendo o entendi-
Público, que, como vimos anteriormente, é o titular da mento do órgão julgador;
ação penal. Portanto, instaurado o inquérito policial, z Designação de outro membro do Ministério Públi-
mesmo que a autoridade policial conclua pela atipici- co — na qualidade de longa manus, portanto, não
dade da conduta investigada, não poderá determinar deve ser abster de cumprir o fim da designação —
o seu arquivamento. para oferecer denúncia. 347
Atualmente, com a nova redação do art. 28, o arquivamento procede-se da seguinte forma: após ordenar o
arquivamento dos autos do inquérito, o Ministério Público deverá comunicar a vítima, o investigado e a autorida-
de policial e encaminhar os autos para instância de revisão. Somente a vítima pode impugnar o arquivamento, e
possui o prazo de 30 dias para pedir a revisão para instância de revisão.
Veja o art. 28, do Código de Processo Penal, com a nova redação e a sua comparação com a redação anterior:

REDAÇÃO ANTIGA REDAÇÃO NOVA DADA PELA LEI Nº 13.964/2019


Art. 28 Se o órgão do Ministério Público, ao invés de Art. 28 Ordenado o arquivamento do inquérito policial ou de
apresentar a denúncia, requerer o arquivamento do quaisquer elementos informativos da mesma natureza, o órgão
inquérito policial ou de quaisquer peças de informa- do Ministério Público comunicará à vítima, ao investigado e à
ção, o juiz, no caso de considerar improcedentes as autoridade policial e encaminhará os autos para a instância de
razões invocadas, fará remessa do inquérito ou peças revisão ministerial para fins de homologação, na forma da lei.
de informação ao procurador-geral, e este oferecerá a § 1º Se a vítima, ou seu representante legal, não concordar com
denúncia, designará outro órgão do Ministério Público o arquivamento do inquérito policial, poderá, no prazo de 30
para oferecê-la, ou insistirá no pedido de arquivamen- (trinta) dias do recebimento da comunicação, submeter a ma-
to, ao qual só então estará o juiz obrigado a atender. téria à revisão da instância competente do órgão ministerial,
conforme dispuser a respectiva lei orgânica.
§ 2º Nas ações penais relativas a crimes praticados em detri-
mento da União, Estados e Municípios, a revisão do arquiva-
mento do inquérito policial poderá ser provocada pela chefia do
órgão a quem couber a sua representação judicial.

DESARQUIVAMENTO

O desarquivamento do inquérito policial é possível sempre que surgirem provas novas (cláusula rebus sic
stantibus). No entanto, a jurisprudência converge quanto a sua possibilidade, por constituir coisa julgada formal,
quando arquivado por insuficiência de provas, ausência de pressuposto processual ou da condição da ação penal,
e falta de justa causa; bem como, quanto à impossibilidade de desarquivamento, por se tratar de coisa julgada
material, no caso de arquivamento por atipicidade do fato ou excludente da punibilidade (salvo no caso de certi-
dão de óbito falsa).

Importante!
O STF e o STJ divergem acerca da possiblidade de desarquivamento quando arquivado por manifesta causa
excludente da ilicitude. O STF entende pela possibilidade, já o STJ entende que não é possível.

Art. 18 Depois de ordenado o arquivamento do inquérito pela autoridade judiciária, por falta de base para a denún-
cia, a autoridade policial poderá proceder a novas pesquisas, se de outras provas tiver notícia.

Para que seja possível o desarquivamento, é necessário que surjam notícias de provas novas.

Art. 19 Nos crimes em que não couber ação pública, os autos do inquérito serão remetidos ao juízo competente,
onde aguardarão a iniciativa do ofendido ou de seu representante legal, ou serão entregues ao requerente, se o pedir,
mediante traslado.

Em se tratando de crimes de ação penal privada, os autos do inquérito policial serão destinados ao juiz com-
petente, que determinará a permanência dele em cartório, aguardando-se a iniciativa do ofendido ou de seu
representante legal.

Art. 20 A autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da
sociedade.
Parágrafo único. Nos atestados de antecedentes que lhe forem solicitados, a autoridade policial não poderá men-
cionar quaisquer anotações referentes a instauração de inquérito contra os requerentes. (Redação dada pela Lei nº
12.681, de 2012)

O sigilo do inquérito policial encontra-se previsto no art. 20. O objetivo do inquérito policial é investigar infra-
ções penais, coletando elementos de informação quanto à autoria e materialidade dos delitos. Sendo assim, de
nada resolveria se ao trabalho da polícia judiciária não fosse resguardado o sigilo necessário durante o curso de
sua realização.
Quanto ao acesso do advogado aos autos do inquérito policial, observe a Súmula Vinculante 14: é direito do
defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em proce-
dimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do
direito de defesa.

Art. 21 A incomunicabilidade do indiciado dependerá sempre de despacho nos autos e somente será permitida quan-
348 do o interesse da sociedade ou a conveniência da investigação o exigir.
Parágrafo único. A incomunicabilidade, que não
excederá de três dias, será decretada por despacho AÇÃO PENAL
fundamentado do Juiz, a requerimento da autorida-
de policial, ou do órgão do Ministério Público, res- O Estado é o responsável por aplicar a punição das
peitado, em qualquer hipótese, o disposto no artigo transgressões praticadas por um indivíduo. A aplica-
89, inciso III, do Estatuto da Ordem dos Advogados ção do direito de punir do Estado dá-se por meio de
do Brasil (Lei n. 4.215, de 27 de abril de 1963) (Reda- Ação Penal.
ção dada pela Lei nº 5.010, de 30.5.1966) A ação penal é o direito público subjetivo de pedir
ao Estado-Juiz a aplicação do direito penal objetivo a
Acredita-se que a incomunicabilidade do indicia- um caso concreto. Ou seja, é o direito do Estado ou do
ofendido de ingressar em juízo, solicitando a presta-
do está revogada pela Constituição Federal de 1988.
ção jurisdicional, para que seja aplicada às normas de
Isso porque, se durante a vigência do Estado de Defe- direito penal ao caso concreto, nos termos do inciso
sa o preso não pode ficar incomunicável (inciso IV, § XXXV, art. 5º, da Constituição Federal:
3º, art. 136, CF), não existe razão para que, em estado
de normalidade, mantenha-se uma pessoa incomuni- Art. 5º CF/88 [...]
cável. Além disso, de acordo com o inciso III, do art. XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder
7º, da Lei nº 8.906, de 1994, o preso jamais poderá ser Judiciário lesão ou ameaça a direito;
isolado de seu advogado. Nesse ínterim, podemos afir-
NATUREZA JURÍDICA (CARACTERÍSTICAS)
mar que não existe mais hipótese legal em que um
preso fique incomunicável, tendo em vista as disposi-
Trata-se de direito público, subjetivo, abstrato,
ções atuais da CF. autônomo e determinado (ou instrumental). Acompa-
nhe a seguir cada um desses pontos:
Art. 22 No Distrito Federal e nas comarcas em
que houver mais de uma circunscrição policial, a z Público: É exercido contra o Estado, independen-
autoridade com exercício em uma delas poderá, temente de quem ingressa em juízo, o próprio
nos inquéritos a que esteja procedendo, ordenar Estado por intermédio do Ministério Público ou o
diligências em circunscrição de outra, independen- particular;
temente de precatórias ou requisições, e bem assim z Subjetivo: O titular do direito e ação pode exigir
providenciará, até que compareça a autoridade do Estado/juiz a prestação jurisdicional;
competente, sobre qualquer fato que ocorra em sua z Abstrato: Trata-se de direito que independe do
presença, noutra circunscrição. resultado do processo penal, pois o direito de
ação é exercido ainda que a demanda seja julgada
O art. 22, do Código de Processo Penal, determina improcedente;
z Autônomo: Independe do direito de punir do
a autorização do ingresso da autoridade policial que
Estado (ius puniendi), ao qual o direito de ação é
preside um inquérito ou de seus emissários na cir-
preexistente.
cunscrição de outra autoridade policial, para colher z Determinado ou Instrumental: Trata-se de direi-
provas e empreender diligências, como forma de evi- to instrumentalmente conexo a um fato concreto.
tar os processos de expedição de precatórias, ofícios, Ou seja, a ação penal é o meio para se permitir o
requisições, entre outros meios que tornariam o tra- exercício do direito de punir.
mite do inquérito policial mais lento. Essa medida é
para economizar tempo e evitar a burocracia, incom- CONDIÇÕES DA AÇÃO PENAL
patível com a atividade policial.
O tema condições da ação penal é de suma impor-
Art. 23 Ao fazer a remessa dos autos do inquérito tância e que vem caindo nas provas tanto na parte
ao juiz competente, a autoridade policial oficiará
objetiva como na subjetiva.
As condições da ação penal podem ser genéricas,
ao Instituto de Identificação e Estatística, ou repar-
que são aquelas presentes em todas as ações penais,
tição congênere, mencionando o juízo a que tiverem
ou específicas, aquelas presentes em apenas algumas
sido distribuídos, e os dados relativos à infração
espécies de ação penal. Observe a seguir em mais
penal e à pessoa do indiciado. detalhes e atente-se para não as confundir.

Por fim, o art. 23, do Código de Processo Penal, Condições Genéricas


preocupa-se com os dados estatísticos. A autorida-
NOÇÕES DE DIREITO

de policial deve enviar a informação estatística no z Possibilidade jurídica do pedido: O pedido for-
momento do envio dos autos ao Ministério Público, mulado pela parte deve tratar sobre providências
ao qual caberá adotar a providência que entender possíveis e admitidas pelo direito objetivo, respal-
adequada. dadas pelo ordenamento jurídico;
Em se tratando de investigação que trate de crime z Interesse de agir: O interesse de agir deve ser
analisado sob os seguintes aspectos:
de ação penal privada, o caput do art. 19, do Código de
Processo Penal, dispõe que os autos devem ser envia-
„ Necessidade: Presume-se a necessidade da
dos ao juízo competente para aguardar a manifesta- ação penal diante de uma infração penal. Ela é
ção da vítima. Nesse caso, as informações estatísticas implícita na ação penal condenatória, visto que
devem ser prestadas no momento do envio dos autos nenhuma sanção pode ser aplicada sem o devi-
a juízo. do processo legal; 349
„ Adequação: Trata-se do ajustamento entre a Ação Penal Pública: Nesta espécie de ação, o titu-
providência judicial requerida à solução do lar é o Ministério Público. A ação penal pública divi-
conflito inerente ao pedido. A ação penal deve de-se em:
ser promovida com base nos moldes procedi-
mentais previstos no CPP, bem como com base z Ação Penal Pública Incondicionada: Trata-se da
em prova pré-constituída; regra adotada pelo nosso ordenamento jurídico. O
„ Utilidade da ação penal: Ela deve ser útil para Ministério Público (e outros órgão de persecução
a realização da pretensão punitiva do Estado. penal) age de ofício independentemente de qual-
quer condição;
z Legitimidade de parte: � Ação Penal Pública Condicionada: Neste caso,
será exigida a representação do ofendido ou a
„ Ad causam: A legitimidade para a causa. requisição do Ministro da Justiça. Essa representa-
ção ou requisição tratam-se de condição específica
Ativa: Ministério Público ou ofendido; de procedibilidade para o exercício da ação penal
Passiva: Apenas do agente da infração penal. pública condicionada, abrangendo, inclusive, o
inquérito policial.
„ Ad processum: A legitimidade para o processo.
Requisição: Exigência legal que o Ministro da
Ativa: Ministério Público ou o ofendido, represen- Justiça encaminha ao Ministério Público de que seja
tado por advogado; apurada a prática de determinada infração penal e
Passiva: Agente que cometeu a infração penal que sua autoria. Essa situação acontece quando há crime
for maior de idade. contra a honra do Presidente da República ou chefe de
governo estrangeiro.
z Justa causa: Consiste no lastro probatório mínimo Representação: O ofendido ou seu representan-
que deve lastrear toda e qualquer acusação penal te legal informa a notícia do crime e, caso manifeste
no ordenamento pátrio. interesse, representa criminalmente contra o autor
dos fatos.
Condições Específicas
Art. 25 A representação será irretratável, depois de
São as condições de procedibilidade para que o oferecida a denúncia.
Ministério Público possa oferecer a denúncia. São
elas: É cabível a retratação da representação, em
decorrência do princípio da oportunidade ou conve-
z Representação do ofendido; niência, desde que ela ocorra antes do oferecimento
z Requisição do Ministro da Justiça. da denúncia.

AÇÃO PENAL (ARTS. 24 A 62, CPP)


Importante!
A ação penal encontra -se regulamentada entre os
arts. 24 a 62, do Código de Processo Penal, os quais De acordo com o art. 16, da Lei nº 11.340, de
analisaremos a seguir: 2006, nos crimes praticados mediante violência
doméstica e familiar contra a mulher, a retrata-
Art. 24 Nos crimes de ação pública, esta será pro- ção é possível até o recebimento da denúncia.
movida por denúncia do Ministério Público, mas Essa retratação será feita perante o juiz, em
dependerá, quando a lei o exigir, de requisição do audiência designada especialmente para esse
Ministro da Justiça, ou de representação do ofendi- fim, ouvido o Ministério Público.
do ou de quem tiver qualidade para representá-lo.
§ 1º No caso de morte do ofendido ou quando
declarado ausente por decisão judicial, o direito de Art. 26 A ação penal, nas contravenções, será ini-
representação passará ao cônjuge, ascendente, des- ciada com o auto de prisão em flagrante ou por
cendente ou irmão. (Parágrafo único renumerado meio de portaria expedida pela autoridade judiciá-
pela Lei nº 8.699, de 27.8.1993) ria ou policial.
§ 2º Seja qual for o crime, quando praticado em
detrimento do patrimônio ou interesse da União,
A norma descrita no art. 26, do Código de Proces-
Estado e Município, a ação penal será públi-
so Penal, está revogada pela Constituição Federal,
ca. (Incluído pela Lei nº 8.699, de 27.8.1993)
de 1988. Isso porque, anteriormente à Constituição
de 1988, era possível o início da ação penal por por-
As espécies de ação penal levam em consideração
taria da autoridade judiciária ou policial, bem como
o titular do seu exercício, nos termos do art. 24, do
pela lavratura do auto de prisão em flagrante. Com
Código de Processo Penal. Por meio da tabela a seguir,
o advento da Constituição Federal, a titularidade da
observe quais são as espécies de ação penal:
ação penal passou a ser do Ministério Público.
AÇÃO PENAL PÚBLICA AÇÃO PENAL PRIVADA
Art. 27 Qualquer pessoa do povo poderá provocar
Incondicionada Propriamente dita a iniciativa do Ministério Público, nos casos em que
Personalíssima caiba a ação pública, fornecendo-lhe, por escrito,
Condicionada à
informações sobre o fato e a autoria e indicando o
representação Subsidiária da Pública
350 tempo, o lugar e os elementos de convicção.
Este artigo trata da delatio criminis ao Ministério IV - pagar prestação pecuniária, a ser estipulada
Público. Se o próprio Código de Processo Penal pre- nos termos do art. 45 do Decreto-Lei nº 2.848, de
vê que qualquer pessoa está autorizada a comunicar 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), a entidade
a ocorrência de um crime à autoridade policial com pública ou de interesse social, a ser indicada pelo
o intuito de se instaurar inquérito policial, o mesmo juízo da execução, que tenha, preferencialmen-
ocorre com o Ministério Público, que, como já vimos, te, como função proteger bens jurídicos iguais ou
é titular da ação penal. Assim, qualquer pessoa pode- semelhantes aos aparentemente lesados pelo deli-
rá encaminhar ao promotor de justiça uma petição, to; ou (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
requerendo providências e fornecendo dados e docu- V - cumprir, por prazo determinado, outra condição
mentos, para que as medidas legais sejam tomadas. indicada pelo Ministério Público, desde que propor-
cional e compatível com a infração penal imputada.
Art. 28 Ordenado o arquivamento do inquérito (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
policial ou de quaisquer elementos informativos da § 1º Para aferição da pena mínima cominada ao
mesma natureza, o órgão do Ministério Público delito a que se refere o caput deste artigo, serão
comunicará à vítima, ao investigado e à auto- consideradas as causas de aumento e diminuição
ridade policial e encaminhará os autos para aplicáveis ao caso concreto. (Incluído pela Lei nº
a instância de revisão ministerial para fins 13.964, de 2019)
de homologação, na forma da lei. (Redação dada § 2º O disposto no caput deste artigo não se apli-
pela Lei nº 13.964, de 2019) ca nas seguintes hipóteses: (Incluído pela Lei nº
§ 1º Se a vítima, ou seu representante legal, não 13.964, de 2019)
concordar com o arquivamento do inquérito poli-
I - se for cabível transação penal de competência
cial, poderá, no prazo de 30 (trinta) dias do rece-
dos Juizados Especiais Criminais, nos termos da lei;
bimento da comunicação, submeter a matéria à
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
revisão da instância competente do órgão ministe-
rial, conforme dispuser a respectiva lei orgânica. II - se o investigado for reincidente ou se houver ele-
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) mentos probatórios que indiquem conduta criminal
§ 2º Nas ações penais relativas a crimes praticados habitual, reiterada ou profissional, exceto se insig-
em detrimento da União, Estados e Municípios, a nificantes as infrações penais pretéritas; (Incluído
revisão do arquivamento do inquérito policial pela Lei nº 13.964, de 2019)
poderá ser provocada pela chefia do órgão a quem III - ter sido o agente beneficiado nos 5 (cinco) anos
couber a sua representação judicial. (Incluído anteriores ao cometimento da infração, em acordo
pela Lei nº 13.964, de 2019) de não persecução penal, transação penal ou sus-
pensão condicional do processo; e (Incluído pela Lei
O art. 28, do Código de Processo Penal, foi alterado nº 13.964, de 2019)
pela Lei nº 13.964, de 2019, denominada Pacote Anti- IV - nos crimes praticados no âmbito de violên-
crime. A nova redação determina que não há mais o cia doméstica ou familiar, ou praticados contra a
requerimento de arquivamento ao juiz, devendo este mulher por razões da condição de sexo feminino,
ser realizado diretamente pelo Ministério Público. em favor do agressor. (Incluído pela Lei nº 13.964,
Observe a tabela a seguir: de 2019)
§ 3º O acordo de não persecução penal será for-
ORDENADO O ARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO malizado por escrito e será firmado pelo membro
POLICIAL OU DE QUALQUER OUTRO ELEMENTO do Ministério Público, pelo investigado e por seu
INFORMATIVO DA MESMA NATUREZA, O defensor. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
MINISTÉRIO PÚBLICO: § 4º Para a homologação do acordo de não perse-
cução penal, será realizada audiência na qual o juiz
Comunicará: deverá verificar a sua voluntariedade, por meio da
Encaminhará os autos para a
� Vítima oitiva do investigado na presença do seu defensor,
instância de revisão ministerial
� Investigado e sua legalidade. (Incluído pela Lei nº 13.964, de
para fins de homologação
� Autoridade policial 2019)
§ 5º Se o juiz considerar inadequadas, insuficientes
Art. 28-A Não sendo caso de arquivamento e tendo o ou abusivas as condições dispostas no acordo de
investigado confessado formal e circunstancialmen- não persecução penal, devolverá os autos ao Minis-
te a prática de infração penal sem violência ou grave tério Público para que seja reformulada a proposta
ameaça e com pena mínima inferior a 4 (quatro) anos, de acordo, com concordância do investigado e seu
o Ministério Público poderá propor acordo de não per- defensor. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
secução penal, desde que necessário e suficiente para § 6º Homologado judicialmente o acordo de não
reprovação e prevenção do crime, mediante as seguin- persecução penal, o juiz devolverá os autos ao
tes condições ajustadas cumulativa e alternativamen- Ministério Público para que inicie sua execução
te: (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) perante o juízo de execução penal. (Incluído pela
I - reparar o dano ou restituir a coisa à vítima, exce- Lei nº 13.964, de 2019)
NOÇÕES DE DIREITO

to na impossibilidade de fazê-lo; (Incluído pela Lei § 7º O juiz poderá recusar homologação à propos-
nº 13.964, de 2019) ta que não atender aos requisitos legais ou quando
II - renunciar voluntariamente a bens e direitos
não for realizada a adequação a que se refere o § 5º
indicados pelo Ministério Público como instrumen-
deste artigo. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
tos, produto ou proveito do crime; (Incluído pela
§ 8º Recusada a homologação, o juiz devolverá
Lei nº 13.964, de 2019)
III - prestar serviço à comunidade ou a entidades os autos ao Ministério Público para a análise da
públicas por período correspondente à pena míni- necessidade de complementação das investigações
ma cominada ao delito diminuída de um a dois ter- ou o oferecimento da denúncia. (Incluído pela Lei nº
ços, em local a ser indicado pelo juízo da execução, 13.964, de 2019)
na forma do art. 46 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de § 9º A vítima será intimada da homologação do
dezembro de 1940 (Código Penal); (Incluído pela Lei acordo de não persecução penal e de seu descum-
nº 13.964, de 2019) primento. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) 351
§ 10 Descumpridas quaisquer das condições estipu- Art. 29 Será admitida ação privada nos crimes
ladas no acordo de não persecução penal, o Minis- de ação pública, se esta não for intentada no pra-
tério Público deverá comunicar ao juízo, para fins zo legal, cabendo ao Ministério Público aditar a
de sua rescisão e posterior oferecimento de denún- queixa, repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva,
cia. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) intervir em todos os termos do processo, fornecer
§ 11 O descumprimento do acordo de não perse- elementos de prova, interpor recurso e, a todo tem-
cução penal pelo investigado também poderá ser po, no caso de negligência do querelante, retomar a
utilizado pelo Ministério Público como justifica- ação como parte principal.
tiva para o eventual não oferecimento de suspen- Art. 30 Ao ofendido ou a quem tenha qualidade
são condicional do processo. (Incluído pela Lei nº para representá-lo caberá intentar a ação privada.
13.964, de 2019) Art. 31 No caso de morte do ofendido ou quando
§ 12 A celebração e o cumprimento do acordo de declarado ausente por decisão judicial, o direito de
não persecução penal não constarão de certidão de oferecer queixa ou prosseguir na ação passará ao
antecedentes criminais, exceto para os fins previs- cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.
tos no inciso III do § 2º deste artigo. (Incluído pela
Lei nº 13.964, de 2019) Ação Penal Privada: Nesta ação, o titular é o ofen-
§ 13 Cumprido integralmente o acordo de não dido. A Ação Penal Privada será exigida pelo próprio
persecução penal, o juízo competente decretará tipo penal. São espécies da ação penal privada:
a extinção de punibilidade. (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019)
§ 14 No caso de recusa, por parte do Ministério
z Ação penal exclusivamente privada ou propria-
Público, em propor o acordo de não persecução mente dita: Espécie na qual são legitimados para
penal, o investigado poderá requerer a remessa dos ingressar com ação penal privada o ofendido ou
autos a órgão superior, na forma do art. 28 deste seu representante legal, ou, ainda, o curador espe-
Código. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) cial designado pelo juiz;
z Ação penal privada personalíssima: Persona-
Outra inovação trazida pelo pacote anticrime foi a líssima porque cabe única e exclusivamente
inclusão do art. 28-A, ao Código de Processo Penal, que ao ofendido ingressar com a ação, ou ao curador
regulamenta o Acordo de Não Persecução Penal. especial, caso designado para atuar em seu nome.
Trata-se de uma nova modalidade de flexibilização O único exemplo no ordenamento jurídico vigente
do Princípio da Obrigatoriedade da Ação Penal Públi- é o crime de induzimento a erro essencial e ocul-
ca, pois caso o acordo seja aceito, ele acarretará no tação de impedimento ao casamento (art. 236, do
não oferecimento de Denúncia pelo Ministério Públi- Código Penal);
co. Sua homologação é feita em audiência própria na z Ação penal privada subsidiária da pública: Tra-
qual se analisa a voluntariedade e a legalidade, ressal- ta-se de direito fundamental que confere a legiti-
tando que não faz coisa julgada material, e o seu cum- midade ao ofendido, ou seu representante legal,
prido integralmente gera a extinção de punibilidade. para propor queixa-crime substitutiva no caso de
A aplicação do Acordo de Não Persecução Penal inércia do Ministério Público, quando tiver ocorri-
requer o cumprimento de requisitos objetivos e con- do a transcrição do prazo para o oferecimento da
dições. Vejamos: denúncia. O prazo para que o ofendido proponha
a ação penal privada subsidiária da pública é de
Requisitos objetivos decadencial de 6 (seis) meses. Nesta hipótese, o
Ministério Público não fica impedido de propor a
z Confissão formal e circunstancial da prática deliti- ação penal pública competente, ainda que o ofen-
va pelo investigado; dido tenha proposto a ação penal privada.
z Infração cometida sem violência ou grave ameaça;
z Pena mínima inferior a 4 anos (consideradas as Art. 32 Nos crimes de ação privada, o juiz, a reque-
causas de aumento e diminuição aplicáveis ao rimento da parte que comprovar a sua pobreza,
caso concreto). nomeará advogado para promover a ação penal.
§ 1º Considerar-se-á pobre a pessoa que não puder
prover às despesas do processo, sem privar-se dos
Condições
recursos indispensáveis ao próprio sustento ou da
família.
z Reparar o dano ou restituir a coisa à vítima, exceto § 2º Será prova suficiente de pobreza o atestado da
na impossibilidade de fazê-lo; autoridade policial em cuja circunscrição residir o
z Renunciar voluntariamente a bens e direitos indi- ofendido.
cados pelo Ministério Público como instrumentos,
produto ou proveito do crime; Para aplicação do art. 32, do Código de Processo
z Prestar serviço à comunidade ou a entidades Penal, basta a comprovação de que se trata de pessoa
públicas por período correspondente à pena míni- com poucos recursos, que não pode prover às despe-
ma cominada ao delito diminuída de um a dois ter- sas do processo, bastando como meio de comprovação
ços, em local a ser indicado pelo juízo da execução; a apresentação de uma simples declaração de próprio
z Pagar prestação pecuniária à entidade pública ou punho do interessado.
de interesse social, a ser indicada pelo juízo da exe-
cução, que tenha, preferencialmente, como função Art. 33 Se o ofendido for menor de 18 anos, ou men-
proteger bens jurídicos iguais ou semelhantes aos talmente enfermo, ou retardado mental, e não tiver
aparentemente lesados pelo delito; ou representante legal, ou colidirem os interesses des-
z Cumprir, por prazo determinado, outra condi- te com os daquele, o direito de queixa poderá ser
ção indicada pelo Ministério Público, desde que exercido por curador especial, nomeado, de ofício
proporcional e compatível com a infração penal ou a requerimento do Ministério Público, pelo juiz
352 imputada. competente para o processo penal.
Nesta hipótese, o direito de queixa ou de repre- Art. 39 O direito de representação poderá ser
sentação poderá ser exercido por curador especial, exercido, pessoalmente ou por procurador com
nomeado, de ofício ou a requerimento do Ministério poderes especiais, mediante declaração, escrita
Público, pelo juiz competente para o processo penal. ou oral, feita ao juiz, ao órgão do Ministério Públi-
Importante lembrar que fica a cargo do curador co, ou à autoridade policial.
especial oferecer ou não a representação ou queixa, § 1º A representação feita oralmente ou por escrito,
cabendo a ele fazer o que entender ser oportuno aos sem assinatura devidamente autenticada do ofendi-
interesses do menor, do mentalmente enfermo ou do do, de seu representante legal ou procurador, será
retardado mental. reduzida a termo, perante o juiz ou autoridade poli-
cial, presente o órgão do Ministério Público, quan-
Art. 34 Se o ofendido for menor de 21 e maior de 18 do a este houver sido dirigida.
anos, o direito de queixa poderá ser exercido por ele § 2º A representação conterá todas as informações
ou por seu representante legal. que possam servir à apuração do fato e da autoria.
§ 3º Oferecida ou reduzida a termo a representa-
Atualmente, em decorrência da Lei nº 10.406, de ção, a autoridade policial procederá a inquérito,
2002 (Código Civil), o maior de 18 anos é plenamente ou, não sendo competente, remetê-lo-á à autorida-
de que o for.
capaz para todos os atos da vida civil, não mais neces-
§ 4º A representação, quando feita ao juiz ou peran-
sitando de representante legal. Portanto, não existe
te este reduzida a termo, será remetida à autorida-
mais sentido no disposto nesse artigo.
de policial para que esta proceda a inquérito.
§ 5º O órgão do Ministério Público dispensará o
Art. 35 (Revogado pela Lei nº 9.520, de 27.11.1997)
inquérito, se com a representação forem ofereci-
Art. 36 Se comparecer mais de uma pessoa com
dos elementos que o habilitem a promover a ação
direito de queixa, terá preferência o cônjuge, e, em
penal, e, neste caso, oferecerá a denúncia no prazo
seguida, o parente mais próximo na ordem de enu-
de quinze dias.
meração constante do art. 31, podendo, entretanto,
qualquer delas prosseguir na ação, caso o quere-
lante desista da instância ou a abandone. A representação deve ser feita pelo próprio ofen-
dido, pessoalmente, ou por procurador com poderes
O art. 31, do Código de Processo Penal, determina especiais. De acordo com o caput do art. 39, do Código
uma ordem de preferência na sucessão processual. No de Processo Penal, o destinatário dessa representação
entanto, tratando-se de sucessão processual em quei- será o juiz, o órgão do Ministério Público ou a autori-
xa-crime, qualquer um dos sucessores poderá prosse- dade policial.
guir no processo já instaurado, caso o querelante (o
cônjuge) desista ou abandone. Art. 40 Quando, em autos ou papéis de que conhece-
rem, os juízes ou tribunais verificarem a existência
Art. 37 As fundações, associações ou socieda- de crime de ação pública, remeterão ao Ministério
des legalmente constituídas poderão exercer a Público as cópias e os documentos necessários ao
ação penal, devendo ser representadas por quem oferecimento da denúncia.
os respectivos contratos ou estatutos designa-
rem ou, no silêncio destes, pelos seus diretores ou O art. 40, do Código de Processo Penal, traz a hipóte-
sócios-gerentes. se de notitia criminis apresentada por juízes ao Minis-
tério Público. Nos casos em que juízes e tribunais se
No caso de ação penal privada, a pessoa jurídica depararem com elementos sobre a prática de determi-
poderá figurar no polo ativo, ajuizando a queixa. Já nada infração de ação penal pública incondicionada,
em se tratando de caso de ação penal pública, quando deverão remeter tais informações ao titular da ação
o Ministério Público ficar inerte quanto à propositura penal, para que ele tome as devidas providências.
da ação, a pessoa jurídica poderá propor ação penal
privada subsidiária da pública. Art. 41 A denúncia ou queixa conterá a exposição
do fato criminoso, com todas as suas circunstân-
Art. 38 Salvo disposição em contrário, o ofendido, cias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos
ou seu representante legal, decairá no direito de pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do
queixa ou de representação, se não o exercer den- crime e, quando necessário, o rol das testemunhas.
tro do prazo de seis meses, contado do dia em que
vier a saber quem é o autor do crime, ou, no caso
Nesse artigo, estão listados de forma expressa os
do art. 29, do dia em que se esgotar o prazo para o
requisitos da peça acusatória, quais sejam:
oferecimento da denúncia.
Parágrafo único. Verificar-se-á a decadência do
NOÇÕES DE DIREITO

direito de queixa ou representação, dentro do mes- z Exposição do fato criminoso;


mo prazo, nos casos dos arts. 24, parágrafo único, z Qualificação do acusado;
e 31. z Classificação do crime;
z Rol de testemunhas, quando necessário.
A decadência é a perda do direito de agir, pelo
decurso do tempo estabelecido em lei, provocando a No entanto, não se excluem outros requisitos elen-
extinção da punibilidade do agente. cados pela doutrina, tais como o endereçamento da
O prazo decadência previsto no art. 38, do Códi- peça acusatória, a citação das razões de convicção ou
go de Processo Penal, é de 6 (seis) meses, contados presunção da delinquência, entre outros.
da data do conhecimento da autoria. Por tratar-se de
prazo de direito material, inclui-se o dia do começo e Art. 42 O Ministério Público não poderá desis-
exclui-se o do fim. tir da ação penal. 353
Em outras palavras, o Ministério Público é obrigado O art. 46, do Código de Processo Penal, determina
a oferecer denúncia, caso estejam presentes as condi- os prazos para oferecimento da denúncia. Vejamos a
ções da ação penal e a existência de justa causa. Além tabela a seguir:
disso, o Ministério Público também não poderá dispor
ou desistir do processo em curso. Tal regramento é ACUSADO PRESO
aplicável tanto para ação penal pública (incondiciona-
da e condicionada), quanto para ação penal privada Prazo para oferecimento da denúncia: 5 dias
subsidiária da pública, em se tratando do Ministério ACUSADO SOLTO
Público, pois este não apenas tem que assumir o pro- Prazo para oferecimento da denúncia: 15 dias
cesso que foi iniciado e negligenciado pelo querelante,
como também dele não poderá desistir
Art. 47 Se o Ministério Público julgar necessá-
Art. 43 (Revogado pela Lei nº 11.719, de 2008). rios maiores esclarecimentos e documentos com-
Art. 44 A queixa poderá ser dada por procurador plementares ou novos elementos de convicção,
com poderes especiais, devendo constar do ins- deverá requisitá-los, diretamente, de quaisquer
trumento do mandato o nome do querelante e a autoridades ou funcionários que devam ou possam
menção do fato criminoso, salvo quando tais escla- fornecê-los.
recimentos dependerem de diligências que devem
ser previamente requeridas no juízo criminal. O referido artigo trata-se da requisição ministerial.
Estando o representante do Ministério Público com o
Nos termos do art. 44, o procurador não neces-
inquérito policial em mãos e concluindo pela neces-
sariamente precisa ser advogado. Essa procuração
sidade de maiores esclarecimentos acerca da autoria
poderá abranger a nomeação, por mandato, de qual-
quer pessoa capaz que possa representar o querelan- e/ou materialidade, poderá requisitar as diligências
te, que inclusive, pode contratar o advogado para o complementares diretamente à autoridade policial e/
ajuizamento da ação penal. ou administrativa, desde que não haja necessidade de
prévia autorização judicial.
Art. 45 A queixa, ainda quando a ação penal for
privativa do ofendido, poderá ser aditada pelo Art. 48 A queixa contra qualquer dos autores do
Ministério Público, a quem caberá intervir em crime obrigará ao processo de todos, e o Minis-
todos os termos subseqüentes do processo. tério Público velará pela sua indivisibilidade.

Aditamento da queixa pelo Ministério Público tem O querelante, ao optar pelo oferecimento da quei-
como objetivo corrigir eventuais falhas apresentadas xa, não pode escolher quem vai processar. Ele está
na peça inicial. obrigado a processar todos os autores do delito, por
Em se tratando da ação penal privada propria- força do princípio da indivisibilidade. Tal disposição
mente dita e da personalíssima, o Ministério Público
tem por objetivo evitar que a vítima escolha a pessoa
não é dotado de legitimidade ad causam, ou seja, ele
a ser punida.
não possui a legitimidade para incluir coautores, par-
tícipes e outros fatos delituosos de ação penal de ini-
ciativa privada. A única coisa que o Ministério Público Art. 49 A renúncia ao exercício do direito de quei-
pode fazer nessas situações é aditar a queixa-crime xa, em relação a um dos autores do crime, a todos
apenas para incluir circunstâncias de tempo, de lugar, se estenderá.
modus operandi etc.
Já nos casos de ação penal privada subsidiária da No mesmo sentido do artigo anterior, em decor-
pública, por possuir em sua origem a natureza públi- rência do princípio da indivisibilidade, a renúncia ao
ca, o Ministério Público tem ampla legitimidade para exercício do direito de queixa, em relação a um dos
proceder ao aditamento, podendo incluir novos fatos autores do crime, a todos se estenderá.
delituosos, novos coautores e partícipes, acrescentar
elementos, entre outros. Art. 50 A renúncia expressa constará de declara-
ção assinada pelo ofendido, por seu representante
Art. 46 O prazo para oferecimento da denúncia, legal ou procurador com poderes especiais.
estando o réu preso, será de 5 dias, contado da Parágrafo único. A renúncia do representante legal
data em que o órgão do Ministério Público rece- do menor que houver completado 18 (dezoito) anos
ber os autos do inquérito policial, e de 15 dias, se não privará este do direito de queixa, nem a renún-
o réu estiver solto ou afiançado. No último caso, se
cia do último excluirá o direito do primeiro.
houver devolução do inquérito à autoridade poli-
cial (art. 16), contar-se-á o prazo da data em que
o órgão do Ministério Público receber novamente A renúncia assinada pelo ofendido, ou por seu
os autos. representante, pode ser expressa ou tácita:
§ 1º Quando o Ministério Público dispensar o inqué-
rito policial, o prazo para o oferecimento da denún- z Renúncia expressa, legal ou por procurador
cia contar-se-á da data em que tiver recebido as com poderes especiais: Renúncia feita por decla-
peças de informações ou a representação ração inequívoca, conforme descrito no caput do
§ 2º O prazo para o aditamento da queixa será de 3
art. 50, do Código de Processo Civil;
dias, contado da data em que o órgão do Ministério
Público receber os autos, e, se este não se pronun- z Renúncia tácita: Ocorre quando a vítima pratica
ciar dentro do tríduo, entender-se-á que não tem o ato incompatível com a vontade de processar, con-
que aditar, prosseguindo-se nos demais termos do forme determinado pelo parágrafo único, art. 104,
354 processo. do Código Penal.
Já a renúncia do representante legal do menor com Art. 57 A renúncia tácita e o perdão tácito admiti-
18 (dezoito) anos completos ou mais foi tacitamente rão todos os meios de prova.
revogada pelo advento do novo Código Civil.
Quando o ofendido atinge sua maioridade aos 18 Ocorrendo controvérsia entre as partes, quanto
(dezoito) anos de idade, deixa de ter representante a renúncia e o perdão concedidos de maneira táci-
legal, com exceção dos casos como os de doença men- ta, haverá a necessidade de produção de prova para
tal ou retardamento mental.
demonstrar ao juiz que houve a prática de algum ato
Art. 51 O perdão concedido a um dos quere-
incompatível com a vontade de processar o autor do
lados aproveitará a todos, sem que produza, crime de ação penal privada. Neste sentido, o art. 57,
todavia, efeito em relação ao que o recusar. do Código de Processo Penal, admite todos os meios
de provas.
Na ação penal privada propriamente dita, o per-
dão equivale à desistência da demanda, o que somen- Art. 58 Concedido o perdão, mediante declaração
te pode ocorrer quando a ação já está ajuizada. Neste expressa nos autos, o querelado será intimado a
caso, o perdão é ato bilateral, pois exige a concor- dizer, dentro de três dias, se o aceita, devendo, ao
dância do agressor (querelado). mesmo tempo, ser cientificado de que o seu silêncio
importará aceitação.
Art. 52 Se o querelante for menor de 21 e maior Parágrafo único. Aceito o perdão, o juiz julgará
de 18 anos, o direito de perdão poderá ser exercido extinta a punibilidade.
por ele ou por seu representante legal, mas o per-
dão concedido por um, havendo oposição do outro,
não produzirá efeito. A aceitação do perdão também pode ser expressa
ou tácita.
Como anteriormente estudado, após a edição da
Lei nº 10.406, de 2002 (Código Civil), o maior de 18 z Aceitação expressa: Ocorre quando o querelado
anos não tem mais representante legal. Sendo assim, se manifesta expressamente no prazo estipulado
somente o ofendido maior de 18 (dezoito) anos pode- pelo art. 58, do Código de Processo Penal;
rá perdoar. Portando, o art. 52, do Código de Processo z Aceitação tácita: Ocorre quando o querelado,
Penal, atualmente não possui aplicação. intimado para se manifestar sobre o perdão con-
cedido pelo querelante, permanece inerte durante
Art. 53 Se o querelado for mentalmente enfermo ou
3 (três) dias.
retardado mental e não tiver representante legal,
ou colidirem os interesses deste com os do querela-
do, a aceitação do perdão caberá ao curador que o No caso da recusa, ela não pode ser tácita, já que o
juiz lhe nomear. silêncio importa a aceitação do perdão.

Quando o querelado for mentalmente enfermo ou Art. 59 A aceitação do perdão fora do processo
retardado mental, ele deverá ter um representante constará de declaração assinada pelo querelado,
legal, que é o seu curador de direito civil, a quem com- por seu representante legal ou procurador com
pete aceitar o perdão. Se o querelado for mentalmente poderes especiais.
enfermo ou retardado mental e não tiver represen-
tante legal, ou colidirem os interesses deste com os do Da mesma forma que o perdão pode ser concedido
querelado, a aceitação do perdão caberá ao curador
de forma judicial e extrajudicial, a aceitação também
que o juiz lhe nomear.
pode ser extraprocessual. Nesse caso, o querelado, ou
Art. 54 Se o querelado for menor de 21 anos, obser- o procurador com poderes especiais, deve firmar uma
var-se-á, quanto à aceitação do perdão, o disposto declaração aceitando o perdão.
no art. 52.
Art. 60 Nos casos em que somente se procede
Como anteriormente estudado, o maior de 18 anos mediante queixa, considerar-se-á perempta a ação
é plenamente capaz para todos os atos da vida civil e penal:
não possui mais representante legal. O referido dispo- I - quando, iniciada esta, o querelante deixar de pro-
sitivo já não possui mais aplicação. mover o andamento do processo durante 30 dias
seguidos;
Art. 55 O perdão poderá ser aceito por procurador II - quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo
com poderes especiais. sua incapacidade, não comparecer em juízo, para
Art. 56 Aplicar-se-á ao perdão extraprocessual prosseguir no processo, dentro do prazo de 60 (ses-
expresso o disposto no art. 50. senta) dias, qualquer das pessoas a quem couber
NOÇÕES DE DIREITO

fazê-lo, ressalvado o disposto no art. 36;


O perdão subdivide-se em extrajudicial ou judicial. III - quando o querelante deixar de comparecer,
sem motivo justificado, a qualquer ato do processo
z Perdão Judicial: Perdão concedido no decorrer a que deva estar presente, ou deixar de formular o
do processo penal, mediante petição assinada pedido de condenação nas alegações finais;
pelo ofendido ou por procurador com poderes
IV - quando, sendo o querelante pessoa jurídica,
especiais;
esta se extinguir sem deixar sucessor.
z Perdão Extrajudicial: Concedido fora do proces-
so penal, mediante termo expresso desistindo da
ação. Pode ser pessoalmente ou por procurador A perempção consiste na desídia por parte que-
com poderes especiais, ou em virtude da prática relante na condução da ação sem lhe dar o devido
de ato incompatível com o desejo de prosseguir andamento, demonstrando o desinteresse na causa.
com o feito. Ocorrerá a perempção nos seguintes casos: 355
z Deixar de promover injustificadamente o anda- A prisão preventiva somente será determinada
mento do processo por 30 dias seguidos; quando não for cabível a sua substituição por outra
z Não comparecimento aos autos dos sucessores do medida cautelar. Ademais, o não cabimento da substi-
querelante falecido ou incapaz, no prazo de 60 tuição por outra medida cautelar deverá ser justifica-
dias, para dar prosseguimento, independentemen- do de forma fundamentada nos elementos presentes
te de intimação; do caso concreto, de forma individualizada (art. 282,
z Quando o querelante deixar de comparecer a ato
§ 6º).
processual que deva estar presente, sem motivo
As medidas cautelares não se aplicam à infração
justificado, ou deixar de formular o pedido de con-
denação nas alegações finais; que não for cominada pena privativa de liberdade,
z Quando o querelante for pessoa jurídica e, ao ser pois a intensidade da medida não faz sentido se a pró-
extinta, não deixar sucessor. pria lei comina um resultado mais brando para aque-
le determinado crime.
Art. 61 Em qualquer fase do processo, o juiz, se
reconhecer extinta a punibilidade, deverá PRISÃO EM FLAGRANTE
declará-lo de ofício.
Parágrafo único. No caso de requerimento do Ninguém poderá ser preso senão:
Ministério Público, do querelante ou do réu, o juiz
mandará autuá-lo em apartado, ouvirá a parte con-
trária e, se o julgar conveniente, concederá o prazo z Em flagrante delito;
de cinco dias para a prova, proferindo a decisão z Ordem escrita e fundamentada da autoridade judi-
dentro de cinco dias ou reservando-se para apre- ciária competente;
ciar a matéria na sentença final. z Prisão cautelar (prisão temporária, prisão preven-
tiva etc.);
De acordo com o art. 61, do Código de Processo Penal, z Condenação criminal transitada em julgado.
cabe ao magistrado reconhecer qualquer causa de extin-
ção da punibilidade, ouvindo as partes previamente, Qualquer do povo poderá (flagrante facultativo)
mas agindo de ofício, pois trata-se de hipótese em que o prender em flagrante delito; as autoridades poli-
Estado não possui mais o interesse de punir o acusado. ciais deverão (flagrante compulsório) prender em
flagrante delito.
Art. 62 No caso de morte do acusado, o juiz
somente à vista da certidão de óbito, e depois de
ouvido o Ministério Público, declarará extinta a Tipos e espécies de Flagrante
punibilidade.
FLAGRANTE Está cometendo ou acaba de
Por fim, finalizando nossos estudos quanto a ação PRÓPRIO cometer.
penal, quando ocorrer a morte do acuso, o juiz deverá
declarar extinta a punibilidade, após a juntada de certidão FLAGRANTE É perseguido logo após, em si-
de óbito nos autos e manifestação do Ministério Público. IMPRÓPRIO, tuação que faça presumir ser
IRREAL, QUASE autor da infração.
FLAGRANTE
É encontrado, logo depois, com
PRISÃO CAUTELAR FLAGRANTE instrumentos, armas e objetos
PRESUMIDO, FICTO que façam presumir ser ele au-
A prisão não pode ser vista como meio de prova tor da infração.
(ex. tortura), inclusive, a prisão exige fundamentação FLAGRANTE A autoridade policial espera o
idônea para a sua concessão. ESPERADO início da execução delitiva.
O agente é induzido a cometer
Art. 315 A decisão que decretar, substituir ou dene-
gar a prisão preventiva será sempre motivada e
FLAGRANTE o delito S145/STF: Não há crime
fundamentada.   PREPARADO/ quando a preparação do flagran-
PROVOCADO te pela polícia torna impossível
A prisão, como privação da liberdade de locomo- sua consumação.
ção, é dividida em duas espécies. A primeira espécie A autoridade policial tem a fa-
de prisão é a prisão como cumprimento de pena, após culdade de aguardar o momen-
o trânsito em julgado da condenação. Nesse tipo de to mais adequado para realizar
prisão o procedimento passa a ser aplicado pelo juiz FLAGRANTE a prisão, ainda que sua atitude
das execuções, de acordo com a Lei de Execução Penal PRORROGADO/ implique na postergação da
(LEP). A outra espécie de prisão consiste na prisão DIFERIDO intervenção.
como medida cautelar, que visa assegurar o regular Obs.: só na lei de organização cri-
trâmite do processo, para no final vir a ser aplicada a minosa basta a comunicação pré-
pena e esta ser cumprida. via do juiz (e não a autorização).
O sistema processual penal permite durante o
trâmite processual a imposição de restrições tanto à
Se a infração for inafiançável, a falta de exibição
liberdade do indivíduo (ex.: prisão cautelar), como
medidas cautelares diversas da prisão, ex.: monitora- do mandado não impede a prisão. O preso será ime-
ção eletrônica. Isso acontece para a proteção do pro- diatamente apresentado ao juiz que tiver expedido o
cesso. Ex.: imagine que haja risco de o acusado fugir mandado, para a realização de audiência de custó-
do país, o juiz pode reter o passaporte do indivíduo, dia. A audiência de custódia serve, por exemplo, para
ou, a requerimento do Ministério Público impor uma o juiz identificar eventuais maus tratos sofridos pelo
356 prisão cautelar. preso.
III - conceder liberdade provisória, com ou sem
ANTES DO PACOTE APÓS O PACOTE
fiança.
ANTICRIME ANTICRIME Parágrafo único.  Se o juiz verificar, pelo auto de pri-
Art. 283  Ninguém poderá Art. 283 Ninguém poderá são em flagrante, que o agente praticou o fato nas
ser preso senão em fla- ser preso senão em fla- condições constantes dos incisos I a III do caput do
grante delito ou por ordem grante delito ou por ordem art. 23 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro
escrita e fundamentada da escrita e fundamentada da de 1940 - Código Penal, poderá, fundamentada-
mente, conceder ao acusado liberdade provisória,
autoridade judiciária com- autoridade judiciária com-
mediante termo de comparecimento a todos os atos
petente, em decorrência petente, em decorrência
processuais, sob pena de revogação.
de sentença condenatória de prisão cautelar ou em
transitada em julgado ou, virtude de condenação
Após o Pacote Anticrime
no curso da investigação criminal transitada em
ou do processo, em virtu- julgado.   
Art. 310 Após receber o auto de prisão em flagran-
de de prisão temporária ou te, no prazo máximo de até 24 (vinte e quatro) horas
prisão preventiva.   após a realização da prisão, o juiz deverá promover
Art.  287 Se a infração for Art. 287 Se a infração for audiência de custódia com a presença do acusado,
inafiançável, a falta de inafiançável, a falta de seu advogado constituído ou membro da Defensoria
exibição do mandado não exibição do mandado não Pública e o membro do Ministério Público, e, nessa
audiência, o juiz deverá, fundamentadamente:  
obstará à prisão, e o preso, obstará a prisão, e o preso,
I - relaxar a prisão ilegal; ou           
em tal caso, será imedia- em tal caso, será imediata-
II - converter a prisão em flagrante em preventiva,
tamente apresentado ao mente apresentado ao juiz quando presentes os requisitos constantes do  art.
juiz que tiver expedido o que tiver expedido o man- 312 deste Código, e se revelarem inadequadas ou
mandado. dado, para a realização de insuficientes as medidas cautelares diversas da pri-
audiência de custódia.  são; ou              
III - conceder liberdade provisória, com ou sem
Perceba que o Pacote Anticrime dividiu a prisão fiança.      
em duas espécies: prisão cautelar e prisão execução § 1º Se o juiz verificar, pelo auto de prisão em fla-
de pena. Ademais, a nova legislação impôs a realiza- grante, que o agente praticou o fato em qualquer
das condições constantes dos  incisos I, II ou III
ção da audiência de custódia seguida da prisão.
do  caput  do art. 23 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7
Após receber o auto de prisão em flagrante, no pra- de dezembro de 1940 (Código Penal), poderá, fun-
zo máximo de 24 horas (contadas da realização da pri- damentadamente, conceder ao acusado liberdade
são), o juiz deverá promover Audiência de custódia, provisória, mediante termo de comparecimento
com a presença do acusado, seu advogado constituí- obrigatório a todos os atos processuais, sob pena
do ou membro da Defensoria Pública e o membro do de revogação.          
Ministério Público. § 2º Se o juiz verificar que o agente é reincidente
Se transcorridas as vinte e quatro horas, a não rea- ou que integra organização criminosa armada ou
lização da audiência de custódia (sem motivação idô- milícia, ou que porta arma de fogo de uso restrito,
deverá denegar a liberdade provisória, com ou sem
nea) ensejará a Ilegalidade da prisão, a ser relaxada
medidas cautelares.       
pela autoridade competente, sem prejuízo da possibi- § 3º A autoridade que deu causa, sem motivação
lidade de imediata decretação de prisão preventiva. idônea, à não realização da audiência de custódia
Ademais, a autoridade que deu causa, sem motivação no prazo estabelecido no  caput  deste artigo res-
idônea, à não realização da audiência de custódia no ponderá administrativa, civil e penalmente pela
prazo estabelecido responderá administrativa, civil e omissão.        
penalmente pela omissão. § 4º Transcorridas 24 (vinte e quatro) horas após o
Todavia, no dia 22/01/2020, o Ministro Luiz Fux decurso do prazo estabelecido no caput deste arti-
suspendeu a eficácia da liberação da prisão pela não go, a não realização de audiência de custódia sem
realização da audiência de custódia no prazo de 24 motivação idônea ensejará também a ilegalidade
da prisão, a ser relaxada pela autoridade compe-
horas.
tente, sem prejuízo da possibilidade de imediata
Na audiência de custódia, o juiz decide fundamen- decretação de prisão preventiva. 
tadamente (art. 310):
Ademais, de acordo com a jurisprudência, a deci-
z Relaxar a prisão ilegal; são proferida na audiência de custódia reconhecendo
z Converter a prisão em flagrante em preventiva, a atipicidade do fato não faz coisa julgada. A decisão
quando presentes os requisitos, e se revelarem não vincula o titular da ação penal, que poderá ofere-
inadequadas ou insuficientes as medidas cautela- cer acusação contra o indivíduo, narrando os mesmos
res diversas da prisão; fatos, e o juiz poderá receber a denúncia.
NOÇÕES DE DIREITO

z Conceder liberdade provisória, com ou sem fiança. De acordo com o art. 310 do CPP, se o juiz verifi-
car, pelo auto de prisão em flagrante, que o agente
Antes do Pacote Anticrime praticou o fato em legítima defesa, o juiz pode, de
maneira fundamentada, conceder ao acusado liber-
Art. 310 Ao receber o auto de prisão em flagrante, dade provisória, mediante termo de comparecimen-
o juiz deverá fundamentadamente: to obrigatório a todos os atos processuais, sob pena de
I - relaxar a prisão ilegal; ou revogação.
II - converter a prisão em flagrante em preventiva, Se o juiz verificar que o agente é reincidente ou
quando presentes os requisitos constantes do  art. que integra organização criminosa armada ou milí-
312 deste Código, e se revelarem inadequadas ou cia, ou que porta arma de fogo de uso restrito, deverá
insuficientes as medidas cautelares diversas da pri- denegar a liberdade provisória, com ou sem medi-
são; ou das cautelares. 357
z Meramente irregulares. Ex.: uma palavra errada.
TEORIA GERAL DA PROVA PENAL z Nulos. Ex.: falta de defesa técnica;
z Inexistentes. Ex.: falta de sentença.
Provar significa demonstrar a veracidade de um
fato, por meio de inspeção/verificação/exame. Ou No campo das provas, a lei estabelece a obriga-
seja, provar exige atividade intelectual para conhecer toriedade da realização do exame de corpo de delito
o verdadeiro. quando a infração penal deixar vestígios:
Existe um conjunto de atividades que visam obter
a verdade dos fatos relevantes para o julgamento. Um Art.158 Quando a infração deixar vestígios, será
exemplo é a produção dos meios e atos praticados no indispensável o exame de corpo de delito, direto
processo que buscam o convencimento do juiz (perí- ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do
cia, testemunhas etc.) acusado.
Portanto, a prova permite a formação da convic- Parágrafo único. Dar-se-á prioridade à realização
ção do órgão julgador no curso processual quanto à do exame de corpo de delito quando se tratar de
crime que envolva:
existência de determinada situação fática. Para isso,
I - violência doméstica e familiar contra mulher;
existem instrumentos idôneos, lícitos e legítimos des-
II - violência contra criança, adolescente, idoso ou
critos na legislação processual penal.
pessoa com deficiência.
Art. 155 O juiz formará sua convicção pela livre
Se era possível a realização do exame direto, ou,
apreciação da prova produzida em contraditório
judicial, não podendo fundamentar sua decisão ainda, se a ausência do exame direto não foi supri-
exclusivamente nos elementos informativos colhi- da pelo exame de corpo de delito indireto, deverá o
dos na investigação, ressalvadas as provas cautela- processo ser anulado, a partir do momento em que o
res, não repetíveis e antecipadas. laudo deveria ter sido juntado ao processo.

Nulidade da prova Requisitos e ônus da prova

O ato processual deve ser praticado em conso- Antes de tudo, deve-se saber o conceito de ônus:
nância com a Constituição Federal, com as Conven- um imperativo do próprio interesse, estando situa-
ções Internacionais sobre Direitos Humanos e com dos no campo da liberdade. Ainda que haja seu des-
as leis processuais penais, assegurando-se, assim, não cumprimento, não haverá qualquer ilicitude, pois o
somente às partes, como a toda a coletividade, a exis- cumprimento do ônus interessa ao próprio sujeito
tência de um processo penal justo e em consonância onerado.
com o princípio do devido processo legal.
Assim, a nulidade é compreendida como espécie ÔNUS MENOS
ÔNUS PERFEITO
de sanção aplicada ao ato processual defeituoso, do PERFEITO
que deriva a inaptidão para a produção de seus efei-
tos regulares. Apenas os atos processuais realizados O ônus é perfeito quando Um ônus é tido como me-
em consonância com o ordenamento jurídico serão o prejuízo, que é o resul- nos perfeito quando os
considerados válidos e idôneos a produzir os efeitos tado de seu descumpri- prejuízos que derivam de
almejados. mento, ocorre necessária seu descumprimento se
Todavia, existem irregularidades/defeitos sem e inevitavelmente. produzem de acordo com
consequência, isto é, apesar de o ato processual não a avaliação judicial.
ter sido praticado em fiel observância do modelo
legal, esta irregularidade não tem o condão de acar- O ônus da prova funciona como uma regra de
retar qualquer consequência. Outras irregularidades/ julgamento a ser aplicada pelo juiz quando perma-
defeitos acarretam tão somente sanções extraproces- necer em dúvida no momento do julgamento. Em
suais, ex.: multa. Mas também existem irregularida- outras palavras, o ônus funciona como uma regra de
des/defeitos que podem acarretar a invalidação do ato julgamento destinada ao juiz acerca do conteúdo da
processual. Neste caso, a irregularidade atenta contra sentença que deve proferir, caso não tenha sido com-
o interesse público ou contra interesse preponderante provada a verdade de uma afirmação feita no curso
das partes. do processo.
Em seu aspecto subjetivo, o ônus da prova deve ser
Dica compreendido como o encargo que recai sobre as par-
tes de buscar as fontes de prova capazes de compro-
Irregularidades ou defeitos que acarretam a ine-
var as afirmações por elas feitas ao longo do processo,
xistência jurídica: a violação ao devido processo introduzindo-as no processo utilizando-se dos meios
legal é tão absurda que acarreta a própria ine- de prova legalmente admissíveis.
xistência do ato jurídico. É o que ocorre com Vale lembrar que no âmbito processual penal, o
uma sentença prolatada por juiz impedido, tida ônus da prova subjetivo é atenuado por força da regra
como inexistente, haja visto a gravidade do pre- da comunhão da prova e dos poderes instrutórios do
juízo causado à imparcialidade da autoridade juiz.
jurisdicional. Conforme o princípio do livre convencimento
motivado, o juiz poderá formar seu convencimento a
Portanto, os atos podem ser: partir de todas as provas constantes do processo, quer
tenham sido elas produzidas pela parte que se bene-
z Perfeitos. Ex.: sentença que reúna todos os ficiou com tal prova, quer por iniciativa da parte con-
358 requisitos; trária, quer pela própria iniciativa probatória do juiz.
Art. 156 A prova da alegação incumbirá a quem a z Isolamento para evitar que se altere;
fizer, sendo, porém, facultado ao juiz de ofício: � Fixação (descrição detalhada do vestígio como se
I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, encontra no local do crime ou no corpo de delito);
a produção antecipada de provas consideradas � Coleta para análise pericial;
urgentes e relevantes, observando a necessidade, z Acondicionamento (o vestígio é embalado de for-
adequação e proporcionalidade da medida; ma individualizada, com anotação da data, hora e
II – determinar, no curso da instrução, ou antes de nome de quem fez a coleta e o acondicionamento);
proferir sentença, a realização de diligências para
z Transporte, garantindo a manutenção das caracte-
dirimir dúvida sobre ponto relevante
rísticas originais e o controle da posse;
z Recebimento (com informações);
No sistema processual penal existe distribuição do z Processamento (exame pericial com laudo do
ônus da prova entre acusação e defesa: perito);
Incumbe à acusação somente a prova da existên- z Armazenamento para realização de contra perícia,
cia do fato típico; ser descartado ou transportado;
Comprovada a existência do fato típico existe uma z Descarte, liberação do vestígio, com ou sem autori-
presunção de que o fato também é ilícito e culpável, zação judicial, a depender do caso.
cabe ao acusado informar tal presunção. Portanto,
compete ao réu o ônus da prova quanto às excluden- Lembre-se que em uma mera coleta de sangue
tes da ilicitude, da culpabilidade, ou acerca da presen- para exames de rotina já existe uma sistemática rígi-
ça de causa extintiva da punibilidade. da para evitar erros no resultado, imagine agora todos
Sendo assim, se o acusado apontar a existência de os cuidados que precisam ser adotados para não ser
um álibi, caberá a ele fazer prova de sua alegação. cometida nenhuma injustiça em âmbito penal. Logo,
Em virtude da regra probatória que deriva do todos os procedimentos elencados na lei precisam ser
princípio da presunção de inocência, tem-se que obedecidos para a valoração de uma prova.
somente é possível um decreto condenatório quando A coleta dos vestígios deverá ser realizada pre-
o magistrado estiver convencido da prática do delito ferencialmente por perito oficial, que dará o enca-
por parte do acusado. Já para a defesa, basta que pro- minhamento necessário para a central de custódia.
duza um estado de dúvida para que o acusado possa É proibida a entrada em locais isolados bem como a
ser absolvido. remoção de quaisquer vestígios de locais de crime
Outro ponto interessante é que para a acusação, antes da liberação por parte do perito responsável,
exige-se prova além de qualquer dúvida razoável; sendo tipificada como fraude processual a sua reali-
para a defesa, basta criar um estado de dúvida. zação (art. 158-C).
Da regra de julgamento do in dubio pro reo decor- No acondicionamento para transporte, o reci-
rente do princípio da presunção de inocência, tem-se piente precisa estar selado com lacre e numeração
que o ônus da prova recai precipuamente sobre o individualizada, para garantir a inviolabilidade e a
Ministério Público ou sobre o querelante. idoneidade do vestígio durante o transporte. O reci-
A inversão do ônus da prova significaria, portanto, piente precisa individualizar o vestígio e preservá-lo.
adotar a regra contrária: in dubio pro societate ou in Após cada rompimento de lacre, deve-se fazer
dubio contra reum. Diante da hierarquia constitucio- constar na ficha de acompanhamento de vestígio o
nal do princípio da presunção de inocência, forçoso é nome e a matrícula do responsável, a data, o local, a
concluir que nenhuma lei poderá, então, inverter finalidade, bem como as informações referentes ao
o ônus da prova com relação à condenação penal, novo lacre utilizado. O lacre rompido deverá ser acon-
sob pena de ser considerada inconstitucional. dicionado no interior do novo recipiente (art. 158-D).
A intervenção do juiz das garantias na fase inves- Todos os Institutos de Criminalística deverão ter
tigatória deve ser contingente e excepcional: Art. 3º-A. uma central de custódia destinada à guarda e controle
O processo penal terá estrutura acusatória, vedadas a dos vestígios. Toda central de custódia deve possuir
iniciativa do juiz na fase de investigação e a substitui- os serviços de protocolo. Na central de custódia, a
ção da atuação probatória do órgão de acusação. entrada e a saída de vestígio deverão ser protocola-
das, consignando-se informações sobre a ocorrência
CADEIA DE CUSTÓDIA no inquérito que a eles se relacionam (art. 158-E).
Após a realização da perícia, o material deverá ser
O Pacote Anticrime trouxe dentro da perícia a devolvido à central de custódia, devendo nela perma-
cadeia de custódia como garantidora da autenticidade necer. Caso a central de custódia não possua espaço
das evidências coletadas e examinadas, sem que haja ou condições de armazenar determinado material,
espaço para adulteração. Assim, documenta-se de deverá a autoridade policial ou judiciária determinar
maneira formal um procedimento destinado a manter as condições de depósito do referido material em local
NOÇÕES DE DIREITO

a história cronológica de uma evidência. diverso, mediante requerimento do diretor do órgão


A consequência da quebra da cadeia de custódia central de perícia oficial de natureza criminal (art.
(break on the chain of custody) é a proibição de valo- 158-F).
ração probatória com a consequente exclusão dela e A preocupação com a audiência de custódia ini-
de toda a derivada. Em suma, preservar a fonte de ciou-se nos Estados Unidos, na década de 90, quando
prova garante a validade da prova. o ex-jogador de futebol americano e então ator O. J.
O período da cadeia de custódia vai do reconheci- Simpson foi acusado de ser o executor do homicídio
mento do elemento de prova até o seu descarte. São de sua ex-esposa e de um amigo dela, e absolvido. A
etapas do rastreamento do vestígio: defesa conseguiu absolvição justamente porque a pre-
servação do local foi inadequada. A partir de então a
z Reconhecimento como elemento potencial para a cadeia de custódia passou a ser pensada e desenvolvi-
produção de prova; da pela maioria dos países. 359
b) O delegado é o presidente do inquérito policial. A ele
PERITOS E INTÉRPRETES
cumpre dirigir a atividade investigativa. Entre as suas
Art. 159 O exame de corpo de delito e outras perícias
funções estão: a elaboração da portaria, a condução
serão realizados por perito oficial, portador de diploma do flagrante, a tomada de depoimentos e a elaboração
de curso superior. do relatório final que encerra o inquérito.
§ 1º Na falta de perito oficial, o exame será realizado c) O perito é o responsável pela produção das provas
por 2 (duas) pessoas idôneas, portadoras de diploma objetivas que irão compor o inquérito. Nos crimes de
de curso superior preferencialmente na área específica, homicídio, ele é o profissional responsável pelo estu-
dentre as que tiverem habilitação técnica relacionada do do cadáver realizado na cena do crime, bem como
com a natureza do exame. pela coleta de indícios materiais que contribuam para
No processo penal, diferente do que acontece no proces- a identificação de uma possível autoria.
so civil, as partes não intervêm na nomeação do perito. d) O promotor é o profissional tido, legalmente, como o
Quem não pode ser perito? Se antes prestou depoimen- responsável por iniciar a ação penal. Ele pode requisi-
to/opinou sobre o objeto da perícia; analfabetos; meno- tar, inclusive, a iniciação do inquérito policial, além das
res de 21 anos. diligências que julgar pertinentes.
Atenção: Os intérpretes são equiparados a peritos para
fins penais. 3. (FUMARC — 2011) Sobre o inquérito policial é INCOR-
RETO afirmar:
Por fim, vale lembrar que sempre que a infração
deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo a) Tem valor probante relativo.
de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a b) Todas as provas produzidas devem ser repetidas sob
confissão do acusado. Ex.: uma pessoa apanha, deve contraditório.
ser feito o exame de corpo de delito para que seja ana- c) Vícios do inquérito não nulificam subsequente ação penal.
lisada a lesão corporal. d) O investigado pode requerer diligências.

4. (FUMARC — 2011) Não é condição geral ou especial


da ação penal:
HORA DE PRATICAR!
a) O pedido.
1. (FUMARC — 2018) Considerando que o Inquérito Poli- b) A legitimidade das partes.
cial é um procedimento de natureza administrativa em c) A entrada do agente no território nacional em caso de
que não se pode falar em partes stricto sensu, já que extraterritorialidade da lei penal.
não existe uma estrutura processual dialética, sob a d) A requisição do Ministro da Justiça.
garantia do contraditório e da ampla defesa, com ful-
5. (FUMARC — 2018) Em matéria de provas no processo
cro no enunciado retro, é CORRETO afirmar:
penal, é CORRETO afirmar:
a) É facultada ao advogado do investigado a participa- a) A absolvição independe de o acusado provar o
ção irrestrita a todos os atos do inquérito policial, sob alegado.
pena de nulidade que maculará a posterior ação penal. b) A declaração de ilicitude de uma prova necessaria-
b) No inquérito policial, temos necessariamente duas mente implica nulidade ab-soluta de todo o processo.
partes stricto sensu, em razão de sua estrutura pro- c) A prova testemunhal não poderá ser determinada de
cessual dialética, sob a garantia do contraditório e da ofício pelo juiz.
ampla defesa. d) Não há contaminação da prova quando ficar eviden-
c) Nos crimes de ação pública, o inquérito policial será ciado seu nexo causal com a prova originária.
iniciado de ofício ou mediante requisição da autori-
dade judiciária ou do Ministério Público, ou a reque- 6. (FUMARC — 2018) Acerca da prova da materialidade
rimento do ofendido ou de quem tiver qualidade para através de perícia (desconsiderando-se a possibilida-
representá-lo. de de prova da materialidade por exame de corpo de
d) Por sua própria natureza, o procedimento do inqué- delito indireto ou prova testemunhal), relativamente
rito policial deve ser inflexível, em obediência a aos crimes de furto qualificado pela destruição ou
uma ordem pré-determinada e rígida que norteia tal rompimento de obstáculo à subtração da coisa (CP,
procedimento. art. 155, §4º, I), de furto qualificado pela escalada (CP,
art. 155, §4º, II), de furto qualificado pelo emprego
2. (FUMARC — 2013) O inquérito policial pode ser con- de explosivo ou artefato análogo que cause perigo
siderado como um instrumento multifacetado, uma comum (CP, art. 155, §4º-A), de incêndio (CP, art. 250),
vez que dele participam, direta ou indiretamente, e de explosão simples e privilegiada (CP, art. 251,
diversos atores de diferentes instituições do sistema caput e §1º), é INCORRETO afirmar:
de justiça criminal.
Em relação a esses atores, NÃO é correto afirmar: a) A materialidade do crime de furto qualificado pela
destruição de obstáculo à subtração da coisa se com-
a) O advogado é o principal ator do processo penal, do prova nas hipóteses em que o laudo pericial, além de
qual participa ativamente. Sua ação também é perce- descrever os vestígios, indique com que instrumentos,
bida no inquérito policial em várias situações: quando por que meios e em que época presume-se ter sido o
da necessidade de empreender medidas que afetam fato praticado.
as liberdades e garantias individuais, quando da auto- b) A legislação processual penal não exige a realização
rização para a dilação de prazos na investigação, nos de perícia para a comprovação da materialidade do
360 despachos, dentre outros. crime de furto qualificado pela escalada.
c) Para comprovar a materialidade do crime de incêndio, b) Quando da lavratura do Auto de Prisão em flagrante,
os peritos verificarão a causa e o lugar em que este o escrivão de polícia, independentemente da presen-
houver começado, o perigo que dele tiver resultado ça da Autoridade Policial, deverá proceder à oitiva do
para a vida ou para o patrimônio alheio, a extensão do conduzido, do condutor e de duas testemunhas que
dano e o seu valor, bem como as demais circunstân- presenciaram toda a ação policial que culminou na
cias que interessarem à elucidação do fato. apreensão do conduzido.
d) Para que incida a circunstância qualificadora prevista c) Teremos a figura do flagrante esperado quando
no art. 155, §4º-A, do CP (crime de furto qualificado alguém (particular ou autoridade policial), de forma
pelo emprego de explosivo ou artefato análogo que insidiosa, instiga o agente à prática do delito com o
cause perigo comum), os peritos devem analisar a objetivo de prendê-lo em flagrante, ao mesmo tempo
natureza e a eficiência dos instrumentos empregados em que adota todas as providências para que o deli-
para a prática da infração. to não se consume. Como adverte a doutrina, nessa
7. (FUMARC — 2018) No que tange à perícia oficial e em hipótese de flagrante, o suposto autor do delito não
acordo com o CPP, é CORRETO afirmar: passa de um protagonista inconsciente de uma comé-
dia, cooperando para a ardilosa averiguação da autoria
a) É facultada ao acusado a indicação de assistente téc- de crimes anteriores, ou da simulação da exteriorida-
nico, após admissão pela autoridade policial. de de um crime.
b) Entende-se por perícia complexa aquela que abrange d) Teremos a figura do flagrante provocado quando,
mais de uma área de conhecimento especializado. valendo-se de investigação anterior, sem a utilização
c) Faculta-se ao Ministério Público e ao assistente técni- de um agente provocador, a autoridade policial ou ter-
co do querelante a formulação de quesitos a qualquer ceiro limita-se a aguardar o momento do cometimento
tempo do inquérito policial. do delito para efetuar a prisão em flagrante, respon-
d) Na falta de perito oficial, qualquer contribuinte pode- dendo o agente pelo crime praticado na modalidade
rá exercer o mister, desde que não inadimplente com consumada, ou, a depender do caso, tentada.
impostos públicos, e que seja admitido pelo delegado
de polícia presidente do inquérito.
9 GABARITO
8. (FUMARC — 2011) Sobre a prova pericial é INCORRE-
TO afirmar:
1 C
a) O exame de corpo de delito deverá ser assinado por 2 2 A
(dois) peritos oficiais, portadores de diploma de curso
superior. 3 B
b) O exame de corpo de delito poderá ser realizado qual-
quer dia e horário, inclusive aos domingos. 4 A
c) A autópsia será realizada, em regra, 6 (seis) horas
5 A
após o óbito.
d) Nas perícias de laboratório, os peritos guardarão mate- 6 B
rial suficiente para a eventualidade de nova perícia.
7 B
9. (FUMARC — 2011) Sobre a prova no processo penal
brasileiro é INCORRETO afirmar: 8 A

9 C
a) A prova sobre o “estado das pessoas” deve observar
restrições estabelecidas na lei civil. 10 A
b) A confissão deve ser cotejada com outros elementos
de convicção.
c) A narcoanálise constitui método para obtenção de
informações úteis à moderna investigação policial.
d) O juiz pode determinar a realização de prova mesmo ANOTAÇÕES
antes de iniciada a ação penal.

10. (FUMARC — 2018) Compreendido o conceito de fla-


grante delito, pode-se definir a prisão em flagrante
como uma medida de autodefesa da sociedade, con-
substanciada na privação da liberdade de locomoção
daquele que é surpreendido em situação de flagrân-
cia, a ser executada independentemente de prévia
NOÇÕES DE DIREITO

autorização judicial (CF, art. 5°, LXI).


Face ao exposto, a afirmativa CORRETA afeta ao insti-
tuto do “flagrante” no âmbito do Processo Penal é:

a) No flagrante presumido, ficto ou assimilado, o agente


é preso logo depois de cometer a infração, com instru-
mentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir
ser ele o autor da infração (CPP, art. 302, IV). Nesse
caso, a lei não exige que haja perseguição, bastando
que a pessoa seja encontrada logo depois da prática
do ilícito com coisas que traduzam um veemente indí-
cio da autoria ou participação no crime. 361
ANOTAÇÕES

362
para a propagação do desconhecimento, pois, quando
se relativizam os direitos humanos, aqueles que deve-
riam lutar por seus direitos não sabem que os possui,
nem como se proteger.
Considerando que os direitos humanos contem-
DIREITOS HUMANOS plam diversos tratados internacionais e abrangem
uma grande quantidade de temas e matérias, o pre-
sente estudo terá como objeto o edital da Polícia Civil
do Estado de Minas Gerais.
Antes de iniciar o estudo, é preciso ter em mente
TEORIA GERAL DOS DIREITOS que, para melhor compreendê-lo, é primordial enten-
HUMANOS der sua estrutura e identificar as ideias mais impor-
tantes de cada um dos itens tratados.
Observa-se que, à medida que a sociedade se Feitas essas considerações iniciais, bons estudos!
desenvolve, são estabelecidos novos tipos de conflitos
de interesses, de tal forma que surge a necessidade de TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS
que o direito seja reordenado e capaz de criar meca-
nismos para a resolução dessas novas modalidades de As normas de direitos humanos, que são essen-
conflitos. ciais a uma vida digna, são fruto de um processo de
Atualmente, o direito não pode mais ser concebi- construção e reconstrução que variaram conforme as
do como restrito a uma determinada localidade, uma necessidades humanas e contexto de cada época da
vez que, diante do processo de interação entre os paí- história. Explicando melhor: suas regras foram desen-
ses aliado ao avanço das tecnologias e dos meios de volvidas a partir de uma ação ou luta social, sendo,
comunicação, é preciso estabelecer um sistema jurídi- portanto, uma construção social (consciente e voca-
co destinado a disciplinar a sociedade como um todo. cionada) que decorre dessas novas demandas com o
Destas regras aplicadas à sociedade internacional objetivo de assegurar a dignidade humana e evitar o
advém o Direito Internacional. sofrimento humano.
Didaticamente, o Direito Internacional é dividido Verifica-se, assim, que os direitos humanos não
em ramos, que variam conforme o objeto tutelado. surgiram de uma vez só, sendo fruto de um desenvol-
Um desses ramos é o Direito Internacional Direitos vimento histórico, conforme será explanado no item
Humanos ou, simplesmente, Direitos Humanos. “O processo histórico de construção e afirmação dos
A disciplina Direitos Humanos é o ramo do Direi- direitos Humanos”. Neste primeiro momento, atente-
to Internacional que cuida da proteção de todos os -se para o fato de que os direitos humanos foram sen-
seres humanos, independentemente de qualquer do reconhecidos aos poucos.
condição, tais como sexo, idade, nacionalidade, reli- Os primeiros direitos reconhecidos foram aqueles
gião, entre outros. Trata-se, pois, de um sistema de ligados ao próprio indivíduo, como, por exemplo, o
proteção indispensável à vida humana. direito de viver, de ter bens, de locomover-se. Trata-se
Cumpre consignar, por necessário, que os direitos de um primeiro olhar do Estado para o indivíduo. Um
humanos, por serem constantemente relativizados, olhar que reconhece que os seres humanos possuem
são interpretados equivocadamente ou de maneira direitos mínimos e que o poder do Estado não é ili-
reduzida, como, por exemplo, quando a disciplina é mitado. Assim, foram reconhecidas as liberdades dos
atrelada apenas à proteção de criminosos. No entanto, indivíduos, ou seja, seus direitos civis e individuais,
não é possível interpretá-los nem reduzi-los dessa for- que abrangem todas as pessoas sem qualquer distin-
ma, visto que sua proteção é muito maior. ção. Também foram reconhecidos os direitos de parti-
Entender que absolutamente todas as pessoas cipação popular na administração do Estado, isto é, os
possuem direitos é o primeiro passo para compreen- direitos políticos.
der o que são os direitos humanos. Todos os seres
humanos — ou seja, eu, você, seu vizinho, seu ami-
go, seu inimigo, aquele vendedor da esquina, aquela Importante!
senhora que frequenta a igreja, o pastor, a moça da Os primeiros direitos políticos eram bem limi-
lanchonete, o rapaz da academia e, até mesmo, os des- tados, pois estavam restritos a quem detinha
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

conhecidos — são titulares dos direitos humanos. a qualidade de cidadão e, por isso, atingiam
O segundo passo para entender os direitos huma- somente os eleitores. As mulheres, por exemplo,
nos é abandonar os preconceitos, isto é, os conceitos não eram consideradas cidadãs, assim como
preconcebidos, ou, melhor, os conceitos invisíveis que
os estrangeiros e, consequentemente, não pos-
carregamos sem perceber, assim como os esterióti-
suíam os direitos políticos, embora fossem titu-
pos, como, por exemplo, rotulações relativas ao sexo,
lares dos direitos civis mínimos garantidos pelo
envolvendo generalizações sobre as capacidades físi-
Estado.
cas, emocionais e intelectuais de mulheres e homens,
tais como “homens são naturalmente provedores”;
“feministas odeiam os homens”; “filhos de pais sepa- A esses direitos que buscavam a defesa do indi-
rados são desajustados”, entre outros. víduo em face do abuso de poder do Estado1 dá-se o
Assim sendo, os direitos humanos não estão ligados nome de direitos de primeira geração/dimensão, por
a nenhum grupo. Ainda, generalizar e estereotipar os serem os primeiros direitos tutelados pelo Estado.
direitos e as pessoas somente ajuda a perpetuar o des- Os segundos direitos reconhecidos foram aqueles
respeito e a impedir a igualdade, além de contribuir voltados a estabelecer a igualdade entre os indivíduos.
1 São chamados de liberdades públicas negativas ou direitos negativos. 363
Depois do olhar inicial para o indivíduo, reconhecendo Aos direitos coletivos dá-se o nome de direitos de ter-
suas liberdades, o Estado passou a visualizá-lo como ceira geração/dimensão.
membro de uma sociedade. Assim, foi possível reconhe-
cer as diferenças entre as pessoas. Como consequência, Atenção!
passou-se a exigir um papel mais ativo do Estado, para
garantir direitos de oportunidade iguais aos indivíduos Usa-se tanto a expressão “geração” como “dimensão”.
por meio de políticas públicas, como, por exemplo, aces- Atualmente, entende-se mais correto o uso da denomina-
so à educação e à saúde, voto feminino, regulamentação ção “dimensão”, devido a sua ideia de progressivida-
das regras trabalhistas e previdenciárias, entre outros. de, diferente de “geração”, que enseja interpretação de
Passou-se, então, a exigir uma ação e não mais uma substituição. Trata-se de uma classificação elaborada
omissão do Estado2. A esses direitos dá-se o nome de por Karel Vasak, para classificar os direitos em cate-
direitos de segunda geração/dimensão, estando ligados gorias conforme o contexto histórico que surgiram.
ao poder de exigir do Estado a consecução dos direitos Didaticamente, o jurista atrelou as três categorias dos
econômicos, sociais e culturais. direitos aos princípios da Revolução Francesa: liber-
Por fim, os terceiros direitos reconhecidos encon- dade, igualdade e fraternidade.
tram-se atrelados ao ideal de fraternidade, por dize-
rem respeito a toda coletividade. O olhar é mais Memorize:
amplo, visualizando direitos que transcendem os
indivíduos, ou seja, os direitos transindividuais. Tais
direitos decorrem das seguintes constatações:

z Existência de vínculo entre os seres humanos e o


planeta Terra; Direito de Direitos de
z Os recursos são finitos e não infinitos; Direitos de
primeira segunda
z Há divisão desigual de riquezas; terceira
dimensão: dimensão:
z Existem ameaças cada vez mais concretas à sobre- dimensão:
direitos de direitos de
vivência da espécie humana. fraternidade
liberdade igualdade
Esses direitos são denominados direitos coletivos
lato sensu e dividem-se em três categorias: direitos
difusos, direitos coletivos stricto sensu e direitos indi-
viduais homogêneos.
Em síntese, os direitos difusos são os direitos
constituídos por interesses indivisíveis, que podem Cumpre destacar que existem outras divisões,
abranger um número indeterminado de pessoas com como, por exemplo, a do jurista Paulo Bonavides, que
sujeitos indeterminados e indetermináveis. São exem- acrescenta a quarta (direitos de solidariedade) e a
plos: o direito ao meio ambiente ecologicamente equi- quinta (direito à paz) gerações. No entanto, parte da
librado, o direito à autodeterminação dos povos, o doutrina critica a criação de outras novas gerações,
direito à comunicação, a vedação à propaganda enga- visto que existem falhas nas diferenciações entre as
nosa, entre outros. novas gerações e as anteriores.
Em contrapartida, o direito coletivo (em sentido
estrito) consiste naqueles interesses indivisíveis que Características dos Direitos Humanos
abrangem um grupo ou categoria determinada de pes-
soas, unidas pelo mesmo interesse jurídico, como, por Os direitos humanos possuem as seguintes
exemplo, a proteção de determinados grupos sociais características:
tidos como vulneráveis, os direitos à prestação de ser-
viços públicos de qualidade, tais como o de energia z Universalidade: aplica-se a todos os seres humanos;
elétrica, água e saneamento básico. Do seu caráter universal decorre a garantia da dig-
Por fim, os direitos individuais homogêneos são os nidade da pessoa humana, uma vez que o direito de
interesses divisíveis e que tem como titulares pessoas possuir condições mínimas para ter uma vida plena
determinadas. Tratam-se dos direitos, que embora e digna é inerente a todos os indivíduos. Observa-se,
individuais, ou seja, a título pessoal, são conduzidos ainda, que o reconhecimento da dignidade traz con-
coletivamente perante a Justiça em função da sua ori- sigo o fundamento da igualdade, por não comportar
gem comum (proteção coletiva), como, por exemplo, distinções relacionadas à raça, sexo, língua, religião,
os reajustes dos contratos de adesão que vinculam origem social ou nacional, entre outros.
diversas pessoas.
z Inalienabilidade: por terem como fundamento a
Memorize: liberdade, justiça e paz no mundo, não podem ser
transferidos ou negociados;
Direitos Coletivos lato sensu z Imprescritibilidade: não se perdem pelo decurso
Características do tempo;.
z Indisponíveis: são conferidos a todos os seres
humanos, que deles não podem se desfazer, tendo
Direitos coletivos Direitos individuais em vista a proteção da pessoa humana;
Direitos difusos
stricto sensu homogêneos z Historicidade: frutos de um desenvolvimento
� Sujeitos
indetermináveis
� Sujeitos � Sujeitos histórico marcado por lutas, barbáries e desres-
� Objeto indivisível
determinados determinados peitos. Os direitos humanos nasceram aos poucos
� Objeto indivisível � Objeto divisível
� Vínculo fático e desenvolveram-se até, finalmente, serem firma-
� Vínculo jurídico � Vínculo fático
dos na ordem jurídica internacional. Entender o

364 2 São chamados de liberdades positiva ou prestacional.


contexto histórico é extremamente importante sobre pessoas determinadas, como, por exemplo, a
para entender o porquê da proteção dada pelos Convenção sobre a eliminação de todas as formas de
direitos humanos em cada momento da história discriminação contra a mulher, Convenção Interna-
mundial; cional sobre a eliminação de todas as formas de dis-
z Efetividade: os direitos humanos devem ser pro- criminação racial, Convenção Internacional sobre os
tegidos pelo “império da lei”, ou seja, por normas direitos da criança, Estatuto do Refugiado, que embo-
gerais e abstratas aplicáveis a todos; ra aplicados globalmente, são instrumentos de prote-
ção de alcance especial (abrangência global especial).
O Sistema Global de Proteção dos Direitos Huma-
Importante! nos, quer geral quer especial, é de responsabilidade da
De nada adianta a mera previsão abstrata do Organização das Nações Unidas (ONU). Sua prote-
direito, se o Estado não agir para a sua concre- ção é efetivada por meio de dois tipos de mecanismos:
tização, pois é seu dever agir de maneira eficaz, z Mecanismos convencionais de direitos huma-
de modo a permitir seu pleno desenvolvimento e nos: têm como base os tratados internacionais.
efetividade dos direitos. Por tratado entendem-se os acordos escritos
resultantes da convergência de vontades de dois
z Essencialidade: são essenciais e gozam de status dife- ou mais sujeitos de Direito Internacional (Esta-
renciado perante o ordenamento jurídico dos Estados; dos e Organizações Internacionais), que estipulam
z Inviolabilidade: é dever tanto dos Estados como direitos e obrigações;
dos indivíduos respeitar os direitos humanos;
z Indivisibilidade: não existe hierarquia entre os O § 3º, art. 5º, da CF, de 1988, estabelece as regras para
direitos humanos, pois todos possuem o mesmo a incorporação do tratado internacional que verse sobre
valor como direitos, à medida que a garantia dos direitos humanos. Via de regra, o tratado internacional,
direitos civis e políticos é condição para a obser- após a sua celebração e assinatura pelo Presidente da
vância dos direitos econômicos, sociais e culturais. República, passa por referendo parlamentar para sua
Portanto, quando um deles é violado, os outros incorporação. Assim, o Poder Legislativo o aprova por
também o são; meio de um Decreto Legislativo e o remete ao Presidente
z Vedação ao retrocesso: os direitos humanos da República para sua ratificação por meio de Decreto. O
jamais podem regredir, ou seja, ser diminuídos ou Decreto do Executivo é, por sua vez, promulgado e publi-
reduzidos no seu aspecto de proteção. Eles devem cado em Diário Oficial da União e passa a ter força de lei.
ser progressivos, o que significa dizer que os Esta-
No caso de tratado sobre direitos humanos, a CF, de
dos não podem proteger menos do que já protegem;
z Limitabilidade: os direitos não são absolu- 1988, disciplinou a possibilidade de sua incorporação,
tos, pois eles sofrem restrições tanto em alguns seguindo os mesmos procedimentos cabíveis para as
momentos, como, por exemplo, os momentos Emendas Constitucionais, ou seja, dois turnos em cada
constitucionais de crise (Estado de Sítio, Estado de Casa do Congresso Nacional e aprovação por 3/5 dos votos.
Defesa e Intervenção) como são confrontados por Deste modo, o tratado passa a ser incorporado no ordena-
outros direitos (Princípio da Ponderação). Exem- mento jurídico com força de norma constitucional.
plo: mesmo possuindo o direito de locomoção, não Atente-se para o fato de que esse parágrafo foi
é possível ingressar em uma propriedade alheia incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004.
fora das hipóteses previstas na CF, de 1988 (con- Portanto, a incorporação como norma constitucio-
vite, desastre, flagrante delito, prestar socorro ou nal é apenas para os tratados incorporados após essa
ordem judicial durante o dia), podendo, inclusive, Emenda e seguindo os parâmetros do dispositivo.
caracterizar o crime de invasão de domicílio;
Para os incorporados anteriormente, caso se tratem
z Complementaridade: devem ser observados de
de direitos humanos, são considerados supralegais.
forma conjunta e interativa e, não, isoladamente;
z Concorrência: podem ser exercidos de forma Para todos os demais tratados, força legal.
acumulada, ou seja, um direito pode concorrer
Memorize:
com outro, de tal modo que podem ser exercidos
cumulativamente. NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Sistemas de Proteção

A proteção dos direitos humanos pode ser efetua-


da de duas formas:

z Sistema Global de Proteção dos Direitos Humanos;


z Sistema Regional de Proteção dos Direitos Humanos.

O Sistema Global de Poteção dos Direitos Huma-


nos é aquele regido por normas internacionais que
Constituição Federal, Emendas Constitucionais e Trata-
foram elaboradas para serem aplicadas por todos os
dos de Direitos Humanos incorporados na forma do §
países. Cumpre esclarecer que esse Sistema Global
3º, art. 5º, da CF, de 1988
de Proteção pode atingir todas as pessoas, indepen-
dentemente de onde elas vivem (abrangência global
Normas supralegais: Tratados de Direitos Humanos in-
geral) como, por exemplo, a Declaração Universal
corporados sem os trâmites do § 3º, art. 5º, da CF, de
dos Direitos Humanos e o Pacto Internacional dos
1988
Direitos Civis e Políticos. Podem, também, incidir 365
Atos normativos primários: lei complementar, lei or- O Sistema Europeu de Direitos Humanos foi criado
dinária, lei delegada, medidas provisórias, decretos e por meio da Convenção Europeia de Direitos Huma-
resoluções legislativas, resoluções dos Tribunais, de- nos. Trata-se do sistema de proteção mais desenvolvi-
mais Tratados Internacionais, decretos autônomos, do e que também engloba o maior número de Estados
regimentos internos (47 países). O órgão jurídico é a Corte Europeia de
Direitos Humanos, criada em 1959 e com competên-
Atos normativos secundários: decretos regulamentares, cias tanto consultivas quanto contenciosas.
portarias, instruções normativas Por fim, o Sistema Africano de Direitos Humanos é
o mais recente e engloba todos os Estados da Organi-
z Mecanismos não convencionais de direitos huma- zação da Unidade Africana (OUA) (30 países). Sua base
nos (também denominados extraconvencionais): legal é a Carta Africana dos Direitos Humanos e dos
são os mecanismos não previstos originariamente Povos, também denominada Carta de Banjul, em vigor
em tratados internacionais, como, por exemplo, a desde 1986. Seu órgão jurídico é a Corte Africana dos
revisão periódica universal (sistema peer review), os Direitos Humanos e dos Povos, estabelecida pelo Pro-
relatórios-sombra (shadow report), as denúncias ao tocolo à Carta Africana de Direitos Humanos e dos
Conselho de Direitos Humanos da ONU, entre outros. Povos de 1998, que entrou em vigor no ano de 2004.
Há, ainda, a Comissão Africana dos Direitos Huma-
Complementando o Sistema Global, tem-se o Sis- nos e dos Povos, que é o órgão de monitoramento e
tema Regional de Proteção dos Direitos Humanos. proteção.
Trata-se do sistema que leva em consideração os valo- Memorize:
res regionais e suas peculiaridades, com o objetivo
de assegurar a maior efetividade possível na tutela e SISTEMA DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS
promoção dos direitos humanos. Quanto à abrangên-
cia, do mesmo modo que ocorre no Sistema Global, Global Regional
também existem instrumentos de proteção que atin- � ONU � Interamenricano — OEA
gem todas as pessoas, porém com o alcance determi- � Europeu
nado a uma região (abrangência regional geral), tal � Africano — OUA
como a Convenção Americana sobre Direitos Huma-
nos. Há, ainda, instrumentos de proteção aplicados Classificação dos Direitos Humanos
a pessoas específicas dentro de uma determinada
localidade (abrangência regional especial), como a Os direitos humanos podem ser classificados de
Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e duas formas:
Erradicar a Violência Contra a Mulher (Convenção de
Belém do Pará). z Pelas Funções: compreendendo os direitos de
Como é adotado o princípio da primazia da pes- defesa, direitos a prestações e direitos a procedi-
mento e instituições;
soa humana, esses dois sistemas (Global e Regional) se
complementam, interagindo, inclusive, com o sistema
Em síntese, os direitos de defesa são as prerroga-
nacional de proteção para uma maior proteção. Por-
tivas utilizadas pelos indivíduos para se defenderem
tanto, um sistema não exclui o outro.
contra a intervenção de particular ou do Poder Públi-
Existem três sistemas regionais: o Interameri-
co (ex.: direitos a não supressão de determinadas
cano, o Europeu e o Africano. Vale mencionar, neste situações jurídicas). Direito à prestação é o direito de
ponto, que os países árabes e os asiáticos possuem um exigir uma obrigação do Estado (prestações jurídicas
sistema de proteção em construção. ou prestações materiais), para assegurar a efetividade
O Sistema Interamericano engloba os Estados dos direitos humanos (ex.: elaboração de normas jurí-
(35 países) da Organização dos Estados Americanos dicas para disciplinar a proteção do direito à saúde).
(OEA). Sua base legal é a Carta da OEA, também cha- Direitos a procedimentos são os que têm por objetivo
mada de Carta de Bogotá ou Declaração Americana exigir do Estado que estruture órgãos e corpo insti-
dos Direitos e Deveres do Homem. Já no que se refere tucional aptos a oferecer bens ou serviços indispen-
à proteção aos direitos humanos, tem-se a Convenção sáveis à efetivação dos direitos humanos, como, por
Americana sobre Direitos Humanos, mais conheci- exemplo, o Conselho Nacional dos Direitos Humanos
da como Pacto de São José da Costa Rica. Os órgãos (CNDH).
competentes para conhecer as violações aos direitos
humanos são: a Comissão Interamericana de Direitos z Pelas Finalidades: compreendendo os direitos
Humanos (órgão de monitoramento) e a Corte Intera- propriamente ditos e as garantias.
mericana de Direitos Humanos (órgão judiciário).
Atenção!
Direitos e garantias não se confundem. Enquan-
Importante! to direitos são bens e vantagens prescritos na norma
constitucional, como, por exemplo, o direito de ir e vir
A proteção é coadjuvante ou complementar, ou
(liberdade de locomoção), as garantias são os instru-
seja, não substitui as jurisdições nacionais. Por- mentos através dos quais se assegura o exercício do
tanto, só irão analisar o caso após esgotados referido direito, tanto preventivamente, como, por
todos os recursos internos disponíveis, a menos exemplo, o habeas corpus, como repressivamente,
que as soluções locais sejam ineficientes ou quando, por exemplo, busca assegurar a sua repara-
366 excessivamente prolongadas. ção no caso de violação.
XX, todos os acordos estavam voltados para a Europa
O PROCESSO HISTÓRICO DE e seus interesses.
CONSTRUÇÃO E AFIRMAÇÃO DOS Com a Segunda Guerra Mundial, muita coisa
mudou. Primeiro, a participação importante de países
DIREITOS HUMANOS
de outros continentes fez com que o foco deixasse de
recair somente na Europa. Além disso, os atos cometi-
Embora os direitos humanos sejam inerentes à
dos durante a guerra deram ensejo a um movimento
própria humanidade, o Sistema de Proteção dos
de reconstrução dos direitos. Esse movimento nasceu
Direitos Humanos, que visa assegurar a tutela de
consubstanciado na concepção de que todos os Esta-
tais direitos, é um fenômeno recente na história.
dos têm a obrigação de respeitar os direitos humanos
Nos primórdios, os direitos estavam atrelados ao uso
e que compete à comunidade internacional a respon-
da força, de modo que, para saber se a pessoa estava
sabilidade de exigir o cumprimento dessa obrigação.
segura ou não, dependia do seu grupo estar na posi-
Surgiu, assim, o Sistema de Proteção dos Direitos
ção de vencedor ou vencido. Populações derrotadas
Humanos, que teve como marco a Declaração Uni-
eram escravizadas e perdiam seus direitos, tanto que
versal dos Direitos Humanos (DUDH), de 1948. A
o primeiro esboço de declaração de direitos huma- DUDH foi adotada e proclamada em 10 de dezembro
nos foi quando o rei persa Ciro II, após conquistar a de 1948 por meio da Resolução nº 217 A III, da Assem-
Babilônia, em 539 a.C., permitiu que os povos exilados bleia Geral da ONU. Ela não é, tecnicamente, um tra-
regressassem às suas terras de origem. tado internacional, sendo apenas uma declaração
É possível visualizar, também, alguns esboços de política e não jurídica, que apenas delineia os direitos
direitos humanos na Grécia e Roma antigas, onde se humanos.
consolidou a ideia de lei do mais forte, ou seja, lei Atenção! Por não ser um tratado, os Estados são
natural, com direitos pertencentes ao ser humano obrigados a seguir a DUDH? Sobre essa questão, têm-
por sua própria natureza. -se dois posicionamentos doutrinários diferentes.
Com o passar dos tempos, esse conceito de lei natu- Para parte da doutrina, por não ser a DUDH um tra-
ral foi adquirindo contornos de um direito universal, tado propriamente dito, ela não possui obrigatorie-
estabelecido pela própria natureza, ou seja, de um dade legal e, consequentemente funcionaria como
direito natural. Em princípio, já no Estado Moderno, uma espécie de recomendações aos Estados. É por
com a Magna Carta inglesa (conhecida como Carta de essa razão que quem defende esse caráter de soft law
João Sem Terra), de 1215, primeiro documento que (quase direito ou direito flexível) da DUDH afirma que
reconheceu que ninguém pode anular os direitos do os direitos humanos previstos na declaração somen-
povo, nem mesmo o rei, e, posteriormente, com a Peti- te se tornaram obrigatórios com a transformação da
ção de Direitos, de 1628, uma declaração de liberdades declaração em dois pactos, o Pacto Internacional dos
civis inglesas, que reafirmou alguns direitos mínimos Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional dos
e limitou também o poder dos soberanos. Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, ambos de
Aos poucos, esse direito natural e universal adqui- 1966, pois apenas quando os Estados firmam o tratado
riu contornos dentro do ordenamento jurídico de cada é que eles assumem os compromissos nele contidos.
Estado, passando a ser positivados, ou seja, virando Em contrapartida, para outra parte da doutrina, a
norma interna, elaborada segundo as peculiarida- DUDH é uma norma jus cogens3, ou seja, uma nor-
des e interesses de cada país. Foi assim na Revolução ma de direito internacional tida como aceita e reco-
Inglesa, com a Declaração Inglesa de Direitos, de 1689, nhecida por todos os Estados, independentemente de
que consagrou a supremacia do parlamento e o impé- estar positivada ou não em tratado, sendo, por essa
rio da lei; na Revolução Americana, com a indepen- razão, imperativa e vinculante. Deste modo, mesmo
dência das colônias britânicas na América do Norte e sendo uma declaração política e não ter sido firmada
a elaboração da Constituição estadunidense, de 1787; pelos Estados, os direitos contidos nela independem
por fim, na Revolução Francesa, com a Declaração da aquiescência dos Estados, por serem inderrogá-
Francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão, de veis. Por exemplo, atualmente, tanto a tortura como
1789, um marco para a proteção de direitos humanos a escravidão são tidas como condutas inaceitáveis, de
no plano nacional. forma que não haveria a necessidade de ser feito um
No entanto, para sua plena efetivação, fazia-se tratado pelos Estados, para transformar tais condutas NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
necessário um processo de internacionalização des- em proibidas.
ses direitos, o que significa dizer que era preciso que
esses direitos fossem normatizados pelos Estados de Memorize:
forma conjunta, de modo a formar um conjunto de
direitos positivos universais. Observa-se, entretan-
Natureza jurídica
to, que os países da Europa não estavam muito inte-
DUDH
ressados em garantir a todos, que não os europeus, a
consecução desses direitos. Se todos tivessem os mes-
mos direitos, como seriam justificados a violência e o
desrespeito no processo de colonização? Como se jus- Recomendação Norma imperativa
tificaria o processo de escravidão dos povos nativos? (não é um tratado) (norma jus cogens)
Consequentemente, até a primeira metade do século
3 A noção de jus cogens foi elaborada expressamente pela primeira vez no art. 53, da Convenção de Viena sobre direito dos tratados,
de 1969, que assim estabeleceu: “É nulo um tratado que, no momento de sua conclusão, conflite com uma norma imperativa de Direito
Internacional geral. Para os fins da presente Convenção, uma norma imperativa de Direito Internacional geral é uma norma aceita e
reconhecida pela comunidade internacional dos Estados como um todo, como norma da qual nenhuma derrogação é permitida e que só
pode ser modificada por norma ulterior de Direito Internacional geral da mesma natureza”. 367
É importante mencionar que a DUDH serviu de dos povos. O direito à liberdade refere-se à liberdade
inspiração para o legislador constituinte elaborar os individual e o direito à autodeterminação dos povos
direitos fundamentais estabelecidos na CF, de 1988. remete à liberdade coletiva de um povo, isto é, a pos-
Assim, mesmo para aqueles que pregam o cará- sibilidade desse povo se organizar livremente, para
ter meramente político da Declaração, por constar formar uma nação.
expressamente da CF, os direitos humanos possuem A segunda parte engloba os arts. 2º ao 5º e trata da
caráter vinculante e não apenas de recomendação. forma de aplicação do PIDCP pelos Estados, ou seja,
A DUDH é composta por um preâmbulo e trinta o modo pelo qual os países podem conferir efetivida-
artigos. O preâmbulo, que é a parte que precede o tex- de ao Pacto. Neste sentido, a regra é que os Estados-
to articulado da declaração, por sua vez, é composto -membros devem respeitar os direitos previstos sem
por sete Considerandos (considerações). Com relação qualquer discriminação e adotar medidas para tornar
efetivos tais direitos, além de criar mecanismos efeti-
aos seus artigos, podem ser divididos em dois grandes
vos contra as violações perpetradas. Ademais, tem-se
grupos:
a regra de que não será admitida restrição ou suspen-
são dos direitos assegurados no Pacto, bem como o
z Liberdades civis e direitos políticos: arts. 1º a 21; preceito de que, se existir, no ordenamento jurídico
z Direitos econômicos, sociais e culturais: arts. 22 interno de um Estado, uma norma menos favorável,
a 28. esta não será aplicada.
A terceira parte é composta pelos arts. 6º a 27 e
Os arts. 29 e 30 não se enquadram nesses grupos. traça os direitos civis e políticos.
Eles tratam de deveres e regras de interpretação,
fazendo o fechamento da declaração.
Deste modo, há uma combinação de discurso libe- Importante!
ral com o discurso social da cidadania, ou seja, o valor
São reconhecidos como direitos civis: o direito
da liberdade com o valor da igualdade. Explicando
melhor: a declaração combina os direitos ligados às
à vida; o direito de não ser submetido à tortu-
prerrogativas inerentes ao indivíduo, como a vida, a ra, penas ou tratamento cruéis, desumanos ou
liberdade, a propriedade, denominados de direitos degradantes; o direito de não ser submetido à
civis ou individuais, e os direitos de cidadania, que escravidão e ao tráfico de escravos; o direito à
envolvem o direito de votar e ser votado, de ocupar liberdade e segurança pessoal; o direito de ir e
cargos ou funções políticas e de permanecer nestes vir; o direito à igualdade perante Tribunais e Cor-
cargos, os denominados direitos políticos, com os tes de Justiça, além de garantias processuais; o
direitos ligados à concepção de que é dever do Estado direito à liberdade de pensamento, de consciên-
garantir igualdade de oportunidades a todos através cia, de religião e de expressão, entre outros.
de políticas públicas, sendo os denominados direitos São considerados direitos políticos: o direito de
econômicos, sociais e culturais. Assim sendo, a estru- participar dos assuntos políticos dos Estados,
tura bipartite da DUDH remete à ideia de progressivi- o direito de votar e ser votado e o direito de ter
dade dos direitos humanos. acesso a funções públicas.
Há de se mencionar, ainda, que a DUDH inovou na
concepção dos direitos humanos ao introduzir suas
características, como, por exemplo, a universalidade A quarta parte, que engloba os arts. 28 a 45, estabele-
e a indivisibilidade. Consequentemente, a declaração ce a criação do Comitê de Direitos Humanos.
inaugurou o que se denomina hoje de Sistema Glo- Já a quinta parte, na qual constam os arts. 46 e 47, traz
bal Geral de Proteção dos Direitos Humanos. a seguinte regra de interpretação: nenhuma disposição
Na sequência, a DUDH foi transformada em dois do PIDCP pode ser interpretada em detrimento das dispo-
outros tratados: o Pacto Internacional dos Direitos sições da Carta das Nações Unidas ou das Constituições
Civis e Políticos (PIDCP) e o Pacto Internacional dos das Agências Especializadas, assim como em detrimento
Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (PIDESC). do direito inerente a todos os povos de desfrutar e utilizar
Este processo de normatização da DUDH teve início plena e livremente suas riquezas e recursos naturais.
no ano de 1949 e foi concluído em 1966, com a ela- Por fim, a sexta parte, que é composta pelos arts.
48 a 53, disciplina os meios de assinatura, ratificação,
boração desses dois tratados internacionais, que, por
adesão, entrada em vigor, bem como algumas regras de
sua vez, entraram em vigor somente no ano de 1976.
aplicação das disposições e formas de proposição.
Enquanto o PIDCP tratou dos direitos liberais
Ressalta-se, ainda, a existência de dois Protocolos
contidos na Declaração, o PIDESC versou sobre os Facultativos. O primeiro refere-se aos mecanismos de
direitos sociais. Em termos simples, a fragmentação petições individuais para implementar os direitos
da DUDH, além de decorrer da ideia de progressivida- previstos no PIDCP, estabelecendo as diretrizes acerca
de dos direitos humanos, tem relação com o fato de das comunicações provenientes das vítimas de uma vio-
que os direitos civis e políticos não demandam cus- lação dos direitos civis e políticos. Já o segundo tem como
tos e, por essa razão, podem ser imediatamente pro- escopo abolir a pena de morte.
tegidos (aplicação imediata), ao passo que os direitos O Brasil incorporou o PIDCP por meio do Decreto nº
econômicos, sociais e culturais exigem gastos, de 592, de 1992 e, em 2009, os dois Protocolos Facultativos.
modo que sua aplicação depende das possibilidades No entanto, no que se refere ao segundo, foi formulada
de cada Estado. uma reserva, pois, no Brasil, é possível a aplicação da
O PIDCP, que tem como base a proteção dos direi- pena de morte em tempo de guerra.
tos civis e políticos decorrentes da condição humana, O PIDESC, que trata dos direitos sociais, encontra-se
encontra-se dividido em seis partes. dividido em cinco partes.
A primeira é composta de apenas um artigo e A primeira é composta somente do art. 1º e trata,
elenca os direitos considerados básicos, isto é, o assim como o PIDCP, do direito de autodetermina-
368 direito à liberdade e o direito à autodeterminação ção dos povos.
A segunda parte engloba os arts. 2º ao 5º e enun- de buscar a paz mundial e a tomada de medidas que evi-
cia os compromissos assumidos pelo Estado, com o tassem um novo conflito de grandes proporções e que
objetivo de dar efetividade aos direitos econômicos, trouxesse tamanhos danos e prejuízos para todos.
sociais e culturais, e assegurar, progressivamente, o Existem, porém, três situações que são consideradas
seu pleno exercício. precursoras da instituição da ONU: a primeira delas diz
A terceira parte é composta dos arts. 6º ao 15. respeito ao surgimento do direito humanitário. Trata-
Nela, são elencados os direitos sociais, além de cons- -se de um conjunto de regras estabelecidas com o obje-
tar as medidas adequadas para sua garantia e efe- tivo de oferecer tratamento digno aos prisioneiros de
tividade. São alguns dos direitos sociais elencados: o guerra, bem como à população civil dos países envolvi-
direito ao trabalho e seus desdobramentos, o direito dos em conflitos de âmbito internacional.
à previdência social, o direito sindical, a proteção à É importante observar que o objetivo maior do
família, a proteção à criança e ao adolescente, o direi- direito humanitário era a garantia de que os direitos
to à saúde, o direito à educação, entre outros. fundamentais das pessoas seriam respeitados, ainda
A quarta parte, que contêm os arts. 16 a 25, tra- que se tratassem de prisioneiros de guerra. É conheci-
ta da obrigatoriedade dos Estados signatários ao da também como Convenção de Genebra.
PIDESC de apresentarem relatórios ao Secretário- O segundo precursor da criação da ONU foi a Liga
-Geral da ONU sobre as medidas adotadas e sobre os das Nações. Trata-se de um organismo internacional
progressos realizados. criado pelo Tratado de Versalhes com o objetivo de
Por fim, a quinta parte é composta dos arts. 26 a garantir a preservação da paz mundial.
31 e estabelece as disposições gerais, tais como forma A Liga, criada em 1919 após a Primeira Guerra Mun-
de assinatura, ratificação, adesão e entrada em vigor. dial, tinha como objetivo primordial impedir que os
Existe um Protocolo Facultativo ao PIDESC apro- Estados resolvessem seus conflitos de forma conflituo-
vado pela Assembleia Geral da ONU, em 2008, e que sa. Porém, não obteve êxito, tendo em vista que alguns
entrou em vigor no ano de 2013. Tal protocolo trata do anos mais tarde ocorreria a Segunda Guerra Mundial.
sistema de petições, do procedimento de investigação O terceiro precursor foi a criação da OIT (Organi-
e das medidas provisionais (cautelares). zação Internacional do Trabalho) em 1919, como par-
Memorize: te do Tratado de Versalhes.
O objetivo da OIT era o alcance da justiça social,
SISTEMA GLOBAL GERAL DE PROTEÇÃO DOS DIREI- de forma que fossem respeitados os direitos da pessoa
TOS HUMANOS dentro do ambiente de trabalho, a fim de cessar qual-
PRINCIPAIS DOCUMENTOS quer forma de exploração laboral.
Estes três momentos tiveram grande impacto no
Declaração Pacto Internacional Pacto Inter- direito internacional, pois são tratados como marco
Universal dos Direitos Civis e nacional dos da construção de uma nova ordem em relação aos
dos Direitos Políticos (PIDCP) Direitos Econô-
direitos humanos em que os organismos internacio-
Humano micos, Sociais
nais deixaram de lado a passividade para tomarem
(DUDH) e Culturais
medidas efetivas que pudessem, de fato, vincular os
(PIDESC)
Estados e impedir a perpetuação de abusos e lesões
aos direitos das pessoas.
São objetivos da ONU: formular regras que sejam
cumpridas pelos Estados com o objetivo de impedir
que ocorram novas violações dos direitos das pessoas.
A ESTRUTURA NORMATIVA DO Em seu preâmbulo, a Carta diz o seguinte:
SISTEMA GLOBAL E DO SISTEMA
INTERAMERICANO DE PROTEÇÃO DOS NÓS, OS POVOS DAS NAÇÕES UNIDAS, RESOLVI-
DOS a preservar as gerações vindouras do flagelo da
DIREITOS HUMANOS guerra, que por duas vezes, no espaço da nossa vida,
trouxe sofrimentos indizíveis à humanidade, e a rea-
SISTEMA GLOBAL DE PROTEÇÃO AOS DIREITOS firmar a fé nos direitos fundamentais do homem, na
HUMANOS dignidade e no valor do ser humano, na igualdade de
direito dos homens e das mulheres, assim como das
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
O sistema global de proteção aos direitos humanos nações grandes e pequenas, e a estabelecer condi-
tem como marco inicial a criação da ONU em 24 de ções sob as quais a justiça e o respeito às obrigações
outubro de 1945. decorrentes de tratados e de outras fontes do direito
Trata-se de um momento que se tornou um divisor internacional possam ser mantidos, e a promover o
de águas na proteção dos direitos humanos em âmbi- progresso social e melhores condições de vida den-
to internacional. tro de uma liberdade ampla.
A ONU foi estabelecida por meio da Carta das E PARA TAIS FINS, praticar a tolerância e viver em
Nações Unidas assinada em 26 de junho de 1945 com paz, uns com os outros, como bons vizinhos, e unir as
o término da Conferência das Nações Unidas sobre as nossas forças para manter a paz e a segurança inter-
Organizações Internacionais e passou a ter vigência nacionais, e a garantir, pela aceitação de princípios
e a instituição dos métodos, que a força armada não
em 24 de outubro de 1945. Falaremos adiante de for-
será usada a não ser no interesse comum, a empregar
ma mais detalhada sobre a Carta.
um mecanismo internacional para 3 promover o pro-
Agora, será feita uma pequena digressão para que se
gresso econômico e social de todos os povos.
possa entender o contexto histórico em que foi assinado RESOLVEMOS CONJUGAR NOSSOS ESFORÇOS PARA
o referido documento. Com o final da Segunda Guerra A CONSECUÇÃO DESSES OBJETIVOS. Em vista dis-
Mundial e a devastação sofrida pelos povos, tornou-se so, nossos respectivos Governos, por intermédio de
necessária a união dos Estados (países) com o objetivo representantes reunidos na cidade de São Francisco, 369
depois de exibirem seus plenos poderes, que foram Recomenda-se a leitura dos arts. 61 a 72 da Carta
achados em boa e devida forma, concordaram com a para que sejam compreendidas de forma detalhada as
presente Carta das Nações Unidas e estabelecem, por características do Conselho.
meio dela, uma organização internacional que será
conhecida pelo nome de Nações Unidas. z Conselho de Tutela: este órgão, quando da institui-
ção da ONU, tinha como objetivo auxiliar os Estados
Ainda, no art. 1º a Carta das Nações Unidas afirma que
no processo de descolonização, de forma que con-
seus propósitos são:
quistassem sua autodeterminação. Ocorre, porém,
z Manutenção da paz e segurança internacionais; que atualmente não há mais países colonizados, de
z Desenvolvimento de relações amistosas entre as forma que o Conselho de Tutela perdeu função.
nações, respeitados os princípios de igualdade dos z Corte Internacional de Justiça: trata-se do órgão
judicial da ONU. Todos os Estados-membros estão
direitos e autodeterminação dos povos;
submetidos à Corte. Composto por 15 (quinze) juí-
z Obtenção de cooperação internacional para resolver
zes, sendo que cada um deve ser de um Estado-
os problemas internacionais de caráter econômico,
-membro diferente.
social, cultural ou humanitário, e para promover e
estimular o respeito aos direitos humanos e às liber-
Consta no art. 96 que tanto a Assembleia Geral da
dades fundamentais para todos, sem distinção de
ONU quanto o Conselho de Segurança podem solicitar
raça, sexo, língua ou religião;
parecer sobre qualquer assunto jurídico, o qual deve-
z Ser um centro destinado a harmonizar a ação das
rá ser emitido pela Corte.
nações para concretização dos objetivos comuns.
É necessário observar que a Corte desenvolve suas
Este assunto que será abordado a seguir é bastan- atribuições por meio de duas formas distintas: jurisdi-
te importante e tem grande incidência nas questões de cional, na resolução de controvérsias, e consultiva, na
direitos humanos, razão pela qual é de grande impor- emissão de pareceres sobre assuntos jurídicos.
tância ficar atento à estrutura da ONU.
z Secretariado: composto pelo secretário-geral e do
Estrutura da ONU pessoal exigido pela ONU, conforme determina o
art. 97 da Carta.
O art. 7º da Carta das Nações Unidas estabelece quais
são os órgãos que compõem a ONU. São os seguintes: A pessoa que ocupará este cargo é indicada pela
Assembleia Geral da ONU.
z Assembleia Geral: composta por todos os Estados- Ainda, o art. 98 define que o secretário deverá atuar
-membros da ONU. Caberá a este órgão a discussão de em todas as reuniões da Assembleia Geral, do Conse-
qualquer assunto daqueles que façam parte da Carta lho de Segurança, do Conselho Econômico e Social e do
ou mesmo que mantenham relação com a finalidade Conselho de Tutela, além de desempenhar outras fun-
da ONU. ções que lhe forem atribuídas por estes órgãos.
Caberá ao secretário-geral a elaboração de um
Ao todo a Assembleia é formada por quinze mem-
relatório anual à Assembleia Geral sobre os trabalhos
bros, sendo que são permanentes os seguintes: China,
da Organização. Percebe-se, assim, que suas funções
França, Reino Unido, Estados Unidos e Rússia. Por sua são administrativas.
vez, os membros não permanentes, outros dez, são eleitos Segundo consta no art. 99 caberá ao secretário cha-
e exercem mandato por dois anos. mar a atenção do Conselho de Segurança para quais-
A finalidade principal da Assembleia é a manutenção quer assuntos que possam afetar a paz mundial e a
da paz mundial e da segurança internacional. segurança internacional.
O art. 23 da Carta traz os elementos acima
mencionados. SISTEMA INTERNACIONAL DE PROTEÇÃO DOS
DIREITOS HUMANOS
z Conselho de Segurança: composto por 15 (quinze)
membros, sendo cinco permanentes e dez rotativos.
Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos
O objetivo do Conselho é a manutenção da paz e segu-
rança internacionais. O Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos
A concretização de suas atividades ocorrerá por foi adotado pela XXI Sessão da Assembleia Geral da
meio da elaboração de relatórios que serão submetidos à ONU em 16/12/1996.
Assembleia Geral da ONU. O Brasil apresentou ratificação ao Tratado, tendo
sido referido pacto aprovado pelo Congresso Nacional
z Conselho Econômico e Social: composto por 54 (cin- por meio do Decreto Legislativo nº 226 de 12/12/1991.
quenta e quatro) membros, eleitos pela Assembleia O Pacto tem por objetivo garantir a todos: os direi-
Geral. Sua competência abrange a resolução de ques- tos civis e políticos inerentes aos indivíduos em virtu-
tões que envolvam direitos econômicos, sociais e cul- de de sua condição de pessoa humana.
turais, incluindo claro, os direitos humanos. Ao todo, o documento apresenta cinquenta e três arti-
gos, dentre os quais estão presentes direitos e garantias
O trabalho do Conselho se concretiza com a formula- como: igualdade entre homens e mulheres no exercício
ção de relatórios e estudos sobre assuntos que envolvam de seus direitos civis e políticos (art. 3); direito à vida e de
sua área de atuação, podendo ainda, efetuar recomenda- não ser dela privado de forma arbitrária (art. 6).
ções para os Estados-membros, Assembleia Geral e outras Estabelece ainda que ninguém poderá ser subme-
entidades especializadas na proteção destes direitos. tido a qualquer forma de tortura ou escravidão (art.
Ademais, seu objetivo é o cumprimento dos direitos 8); direito à liberdade e garantia de que ninguém será
370 humanos e das liberdades fundamentais das pessoas. encarcerado arbitrariamente (art. 9).
Também está prevista no Pacto a garantia de qual- Ocorre, porém, que esta decisão não é vinculante,
quer indivíduo que se ache em um território de poder podendo apenas ser publicada no Relatório da Assem-
nele transitar livremente e escolher sua residência bleia da ONU apresentado anualmente.
(art. 12). Eventual descumprimento ou omissão constituiria
Garante ainda o Pacto que qualquer indivíduo terá uma espécie de vergonha ou conduta reprovável em
o direito ao reconhecimento de sua personalidade jurí- desfavor do Estado perante a comunidade internacional.
dica (art. 16) e direito à liberdade de pensamento, cons- Vale mencionar que anualmente o Brasil apresenta
ciência e religião (art. 18). relatórios sobre a adoção de medidas que tenham sido
Ademais, o Pacto prevê uma forma de monitorar os efetivadas pelo país e possam ser consideradas como
Estados-membros quanto à observância e cumprimen- um avanço perante os demais Estados-membros.
to dos direitos reconhecidos pelo tratado. Pacto Internacional Dos Direitos Econômicos, Sociais e
Este monitoramento ocorre por meio da análise de Culturais
relatórios pelo Comitê previsto no art. 28 do Pacto, que
será composto por dezoito membros. O Pacto Internacional dos Direitos Econômicos,
Caberá ao Comitê, sempre que entender neces- Sociais e Culturais (PIDESC) foi aprovado pela XXI Ses-
sário, solicitar que os Estados-membros apresentem são da Assembleia-Geral das Nações Unidas, em 19 de
relatórios sobre o cumprimento das disposições nele dezembro de 1966.
previstas. O Brasil apresentou ratificação ao Tratado, tendo
Ainda, é necessário dizer que existe no Pacto a pos- sido referido pacto aprovado pelo Congresso Nacional
sibilidade de que um Estado-membro comunique ao por meio do Decreto Legislativo nº 226 de 12 de dezem-
Comitê que outro Estado está deixando de cumprir os bro de 1991.
direitos e garantias previstos no tratado. Neste Tratado são previstos: direito ao trabalho
O art. 41 descreve o procedimento. Porém, é indis- (art. 6º); direito à remuneração justa e igualitária entre
homens e mulheres, direito ao descanso, férias remune-
pensável para o recebimento da denúncia, que o Estado
radas e duração razoável da jornada de trabalho (art.
contra quem se reclama também declare reconhecer a
7º); direito à previdência social (art. 9º); licença-mater-
competência do Comitê de Direitos Humanos.
nidade (art. 10); direito à saúde (art. 12); direito à edu-
Após a comunicação do descumprimento, os dois cação (art. 13); direito à participação na vida cultural do
Estados envolvidos terão prazo de seis meses para reso- Estado (art. 15).
lução do conflito de forma pacífica entre si. Se, trans- Denota-se, assim, que os direitos são bastante seme-
corrido este prazo, não se chegar a uma conclusão, lhantes aos previstos na Constituição Federal Brasileira.
qualquer um dos dois poderá submeter a controvérsia De forma semelhante à prevista no PIDCP, os Esta-
ao Comitê. dos que tenham ratificado o Tratado devem apresentar
relatórios que serão encaminhados ao Secretário-Geral
Protocolo Facultativo da ONU em que serão apresentadas as medidas tomadas
no cumprimento e respeito aos direitos mencionados
Em 16 de dezembro de 1966 foi editado o Proto- no documento. O Secretário enviará cópias destes rela-
colo Facultativo, que tem como objetivo estabelecer tórios para o Conselho Econômico e Social, que fará a
a possibilidade de que fossem apresentadas petições devida análise.
individuais por pessoas que alegassem ser vítimas de
violações de algum dos direitos ou garantias previstas Órgãos e Mecanismos de Monitoramento e Proteção
Internacional dos Direitos Humanos da ONU
no PIDCP.
Para que seja admissível referida petição, existem O Sistema global de proteção aos Direitos Humanos
dois requisitos que devem ser preenchidos: tem como mecanismos convencionais de proteção:

z Devem ser esgotados previamente todos os recur- z Relatórios periódicos: estes relatórios são apresen-
sos internos disponíveis: este requisito poderá ser tados pelos Estados-Partes de forma periódica aos
dispensado apenas na hipótese de ter transcorri- Comitês relacionados ao Tratado a que se tornaram
do excesso de prazo para julgamento interno pelo signatários. Por meio destes relatórios, devem infor-
Estado, de processo em que discuta uma violação mar quais as medidas de esfera legislativa, judicial E
de direito; administrativa que adotaram como forma de efeti-
var as disposições a que se comprometeram.
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
z A questão apenas poderá ser submetida a este órgão
internacional e não a outras instâncias internacio- z Comunicações, queixas ou petições individuais:
trata-se da possibilidade de uma pessoa ou um grupo
nais. Cabe ainda dizer que não podem ser apresen-
que tenha sido vítima de violação em direitos huma-
tadas denúncias anônimas.
nos, de apresentar uma manifestação com o objetivo
de conseguir a averiguação da conduta do Estado-
Atualmente, são admissíveis, além de petição pela -Parte pelo Comitê.
própria vítima, a apresentação por meio de um repre- z Comunicações, queixas ou petições interestatais:
sentante ou mesmo organizações ou entidades que trata-se da manifestação apresentada por um Estado
apoiem a causa. perante o outro para que seja analisada pelos Comi-
Após a apresentação da petição, o Estado denuncia- tês. É um mecanismo convencional facultativo, exce-
do é chamado para se manifestar por escrito, tendo um to na Convenção para Eliminação da Discriminação
prazo de seis meses para tanto. Racial, que é obrigatório.
Em seguida, o Comitê de Direitos Humanos analisará z Inquéritos: mecanismos pelos quais os comitês
a petição da denúncia e a defesa do Estado, proferindo podem agir independentemente de receberem qual-
uma decisão que poderá ser no sentido de reconheci- quer denúncia, a fim de apurarem se houve algu-
mento da violação ou mesmo na determinação que o ma violação de um dos direitos humanos pelo
denunciado tome medidas para reparar o dano. Estado-Parte. 371
Denota-se então que a Carta foi o documento que ins-
SISTEMA INTERAMERICANO DE tituiu o sistema regional de proteção dos direitos huma-
PROTEÇÃO AO DIREITOS HUMANOS nos que vigora nas Américas. Ademais, a Carta traz, no
art. 3, os princípios que vigoram na relação internacional
OS DIREITOS HUMANOS NA ORGANIZAÇÃO DOS entre os estados. Dentre esses, afirma-se que:
ESTADOS AMERICANOS
z A ordem internacional é constituída pelo respeito
O Sistema Interamericano foi instituído por meio à personalidade, soberania e independência dos
da Carta da Organização dos Estados Americanos Estados e que cabe a eles cumprirem as disposi-
(OEA), aprovada em Bogotá, Colômbia, em 1948. A ções dos tratados internacionais;
OEA foi fundada inicialmente por: Argentina, Bolívia, z A boa-fé deve vigorar na relação entre os estados e
Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Equador, deve vigorar a solidariedade entre todos;
El Salvador, Estados Unidos, Guatemala, Haiti, Hon- z A eliminação da pobreza crítica consta como prin-
duras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, cípio e seria um objetivo da democracia represen-
República Dominicana, Uruguai e Venezuela. tativa e responsabilidade comum compartilhada
Posteriormente, de forma gradual, os demais paí- entre os Estados americanos;
ses do continente também passaram a ser membros z A condenação à guerra de agressão, definindo que
da Organização. não há vencedores nesse evento. Define também
É necessário dizer que o Sistema Interamericano que uma agressão contra um estado americano
de Proteção aos Direitos Humanos conquistou seu constitui agressão contra todos os demais;
ápice com a entrada em vigor da Convenção America- z O respeito à diversidade cultural de cada estado é
na sobre Direitos Humanos ocorrida em 1978. Antes de extrema importância.
disso, houveram alguns episódios importantes para o
fortalecimento do sistema. Percebe-se assim que a Carta da OEA define de
Entre as décadas de 1930 e 50, foram instituídas forma bastante clara que o sistema interamericano
resoluções e convenções com o fito de proteger deter- é um órgão que busca a paz e proteção aos direitos
minados direitos. Posteriormente, em 1959, houve a humanos, sendo determinante na união dos estados
formação da Comissão Interamericana de Direitos americanos que o compõe na busca destes objetivos.
Humanos. Porém, embora tenha sido formada nessa Nos arts. 10 a 23, a Carta da OEA estabelece direitos
data, sua entrada em vigor e efetivo exercício ocorreu e deveres que devem ser observados pelos estados que
apenas em 1978, como mencionado acima. compõe o Sistema Interamericano, dentre estes: igual-
A OEA é formada pelos seguintes órgãos: dade; direito ao desenvolvimento da vida cultural,
política e econômica; inviolabilidade do território.
z Assembleia Geral: Composta por todos os mem-
bros, os quais detêm poder de deliberação das CONVENÇÃO AMERICANA DE DIREITOS HUMANOS
questões relativas à Organização; (PACTO DE SAN JOSÉ DA COSTA RICA)
z Reunião de Consulta dos Ministros das Relações
A Convenção Americana de Direitos Humanos,
Exteriores: Responsável pela análise de questões
conhecida também como Pacto de São José da Costa
emergenciais e de interesse dos Estados americanos.
Rica, é o tratado de maior relevância para o Sistema
Também apresenta pareceres quando consultada;
z Conselho Permanente da Organização e Conse- Interamericano de proteção aos direitos humanos.
lho Interamericano de Desenvolvimento: Subor- Foi assinado em 22 de novembro de 1969 na cidade
dinados à Assembleia Geral, exercem funções que de San José na Costa Rica, razão pela qual recebeu o
são determinadas pela própria Assembleia e pelo nome acima mencionado. Além disso, é importante
órgão de Reunião; lembrar que ela foi o marco inicial do Sistema Intera-
z Comissão Jurídica Interamericana: Corpo con- mericano de Proteção aos direitos Humanos.
sultivo que responde pelos assuntos jurídicos da O Brasil tornou-se signatário do Pacto, ou seja,
OEA. Busca a promoção de uma codificação de assinou o tratado, em 25 de setembro de 1992, e este
direito internacional; passou a vigorar em nosso ordenamento jurídico a
z Comissão Interamericana de Direitos Huma- partir do Decreto nº 678 de 06 de novembro de 1992.
nos: Sua função é a defesa dos direitos humanos, A Convenção é composta de 82 artigos. Dentre
além de atuar como órgão consultivo; esses, podemos destacar:
z Secretaria-Geral: Exerce funções administrativas.
z Direito à vida (art. 4), do qual decorre a proteção
A Carta da OEA, em seu art. 1, define qual sua natu- reconhecida desde o momento da concepção e a
reza e quais são seus propósitos: impossibilidade de reestabelecimento da pena de
morte nos países em que houver sido abolida;
Os Estados americanos consagram nesta Carta a
organização internacional que vêm desenvolvendo Art. 4 Direito à vida
para conseguir uma ordem de paz e de justiça, para 1. Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua
promover sua solidariedade, intensificar sua cola- vida. Esse direito deve ser protegido pela lei e, em
boração e defender sua soberania, sua integridade geral, desde o momento da concepção. Ninguém
territorial e sua independência. Dentro das Nações pode ser privado da vida arbitrariamente.
Unidas, a Organização dos Estados Americanos 2. Nos países que não houverem abolido a pena de
constitui um organismo regional. morte, esta só poderá ser imposta pelos delitos mais
A Organização dos Estados Americanos não tem graves, em cumprimento de sentença final de tribu-
mais faculdades que aquelas expressamente con- nal competente e em conformidade com lei que esta-
feridas por esta Carta, nenhuma de cujas disposi- beleça tal pena, promulgada antes de haver o delito
ções a autoriza a intervir em assuntos da jurisdição sido cometido. Tampouco se estenderá sua aplicação
372 interna dos Estados membros. a delitos aos quais não se aplique atualmente.
3. Não se pode restabelecer a pena de morte nos b) o serviço militar e, nos países onde se admite
Estados que a hajam abolido. a isenção por motivos de consciência, o serviço
4. Em nenhum caso pode a pena de morte ser apli- nacional que a lei estabelecer em lugar daquele;
cada por delitos políticos, nem por delitos comuns c) o serviço imposto em casos de perigo ou calamida-
conexos com delitos políticos. de que ameace a existência ou o bem-estar da comu-
5. Não se deve impor a pena de morte a pessoa que, nidade; e
no momento da perpetração do delito, for menor de d) o trabalho ou serviço que faça parte das obriga-
dezoito anos, ou maior de setenta, nem aplicá-la a ções cívicas normais.
mulher em estado de gravidez.
6. Toda pessoa condenada à morte tem direito a z Garantias judiciais (art. 8): Abrange o contraditó-
solicitar anistia, indulto ou comutação da pena, rio e a ampla defesa, a presunção de inocência do
os quais podem ser concedidos em todos os casos. indivíduo, dentre outras garantias. Vejamos:
Não se pode executar a pena de morte enquanto o
pedido estiver pendente de decisão ante a autorida- Art. 8 Garantias judiciais
de competente. 1. Toda pessoa tem direito a ser ouvida, com as
devidas garantias e dentro de um prazo razoável,
z Direito à integridade pessoal (art. 5), que abran- por um juiz ou tribunal competente, independente
ge o direito à integridade física, psíquica e moral, e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na
impossibilidade de prática de tortura, impossibili- apuração de qualquer acusação penal formulada
dade de aplicação de pena sem que se respeite à contra ela, ou para que se determinem seus direitos
dignidade da pessoa do condenado, impossibilida- ou obrigações de natureza civil, trabalhista, fiscal ou
de de a pena passar da pessoa do delinquente; de qualquer outra natureza.
2. Toda pessoa acusada de delito tem direito a que
Art. 5 Direito à integridade pessoal se presuma sua inocência enquanto não se compro-
1. Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua ve legalmente sua culpa. Durante o processo, toda
integridade física, psíquica e moral. pessoa tem direito, em plena igualdade, às seguintes
2. Ninguém deve ser submetido a torturas, nem a penas garantias mínimas:
ou tratos cruéis, desumanos ou degradantes. Toda a) direito do acusado de ser assistido gratuitamente
pessoa privada da liberdade deve ser tratada com o por tradutor ou intérprete, se não compreender ou
respeito devido à dignidade inerente ao ser humano. não falar o idioma do juízo ou tribunal;
3. A pena não pode passar da pessoa do delinqüente. b) comunicação prévia e pormenorizada ao acusado
4. Os processados devem ficar separados dos con- da acusação formulada;
denados, salvo em circunstâncias excepcionais, e c) concessão ao acusado do tempo e dos meios ade-
ser submetidos a tratamento adequado à sua con- quados para a preparação de sua defesa;
dição de pessoas não condenadas. d) direito do acusado de defender-se pessoalmente
5. Os menores, quando puderem ser processados, ou de ser assistido por um defensor de sua escolha
devem ser separados dos adultos e conduzidos a e de comunicar-se, livremente e em particular, com
tribunal especializado, com a maior rapidez possí- seu defensor;
vel, para seu tratamento. e) direito irrenunciável de ser assistido por um
6. As penas privativas da liberdade devem ter por defensor proporcionado pelo Estado, remunerado
finalidade essencial a reforma e a readaptação ou não, segundo a legislação interna, se o acusado
social dos condenados. não se defender ele próprio nem nomear defensor
dentro do prazo estabelecido pela lei;
z Proibição da escravidão e da servidão (art. 6):
f) direito da defesa de inquirir as testemunhas pre-
Neste artigo, é de grande relevância atentar-se às
sentes no tribunal e de obter o comparecimento,
hipóteses que não constituem trabalhos forçados
como testemunhas ou peritos, de outras pessoas que
ou obrigatórios, presentes no parágrafo 3º. Veja- possam lançar luz sobre os fatos;
mos a íntegra do artigo: g) direito de não ser obrigado a depor contra si mes-
ma, nem a declarar-se culpada; e
Art. 6 Proibição da escravidão e da servidão
h) direito de recorrer da sentença para juiz ou tribu-
1. Ninguém pode ser submetido a escravidão ou a
nal superior.
servidão, e tanto estas como o tráfico de escravos e
3. A confissão do acusado só é válida se feita sem
o tráfico de mulheres são proibidos em todas as suas
formas. coação de nenhuma natureza.
2. Ninguém deve ser constrangido a executar tra- 4. O acusado absolvido por sentença passada em
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

balho forçado ou obrigatório. Nos países em que julgado não poderá ser submetido a novo processo
se prescreve, para certos delitos, pena privativa da pelos mesmos fatos.
liberdade acompanhada de trabalhos forçados, esta 5. O processo penal deve ser público, salvo no que for
disposição não pode ser interpretada no sentido de necessário para preservar os interesses da justiça.
que proíbe o cumprimento da dita pena, imposta por
juiz ou tribunal competente. O trabalho forçado não z Direito à indenização (art. 10), garantido àquele
deve afetar a dignidade nem a capacidade física e que permanecer preso em virtude de sentença con-
intelectual do recluso. denatória transitada em julgado proferida com erro
3. Não constituem trabalhos forçados ou obri- judiciário, ou seja, quem foi privado de sua liberda-
gatórios para os efeitos deste artigo: de em virtude de um equívoco cometido pelo Esta-
a) os trabalhos ou serviços normalmente exigidos do durante seu julgamento terá direito a receber
de pessoa reclusa em cumprimento de sentença ou uma indenização em virtude dos danos decorrentes
resolução formal expedida pela autoridade judiciá- da situação vivenciada:
ria competente. Tais trabalhos ou serviços devem
ser executados sob a vigilância e controle das auto- Art. 10 Direito à indenização
ridades públicas, e os indivíduos que os executarem Toda pessoa tem direito de ser indenizada conforme
não devem ser postos à disposição de particulares, a lei, no caso de haver sido condenada em sentença
companhias ou pessoas jurídicas de caráter privado; passada em julgado, por erro judiciário. 373
z Proteção à família (art. 17): Nona Conferência Internacional Americana ocorrida
em Bogotá, na Colômbia.
Art. 17 Proteção da família No preâmbulo da Declaração, consta que a prote-
1. A família é o elemento natural e fundamental da ção integral dos direitos humanos deve ser observa-
sociedade e deve ser protegida pela sociedade e pelo da como ponto de partida para a evolução do direito
Estado. em âmbito americano. Em seu conteúdo, constam 27
2. É reconhecido o direito do homem e da mulher de direitos e 10 deveres, figurando, entre eles, o direito: à
contraírem casamento e de fundarem uma família, vida, à liberdade, à privacidade, à saúde, à educação,
se tiverem a idade e as condições para isso exigidas de ir e vir; ao devido processo legal, dentre outros.
pelas leis internas, na medida em que não afetem
Entretanto, trata-se de um documento que se mos-
estas o princípio da não-discriminação estabelecido
trou limitado com o passar do tempo em relação à
nesta Convenção.
efetiva proteção dos direitos humanos, tendo em vista
3. O casamento não pode ser celebrado sem o livre e
pleno consentimento dos contraentes. que não trouxe um mecanismo de proteção aos direi-
4. Os Estados Partes devem tomar medidas apropria- tos humanos. Assim, embora tenha trazido um impor-
das no sentido de assegurar a igualdade de direitos tante rol de direitos, não possibilitou meios para que
e a adequada equivalência de responsabilidades dos estes fossem garantidos.
cônjuges quanto ao casamento, durante o casamento Ademais, foi adotada como resolução, e não como
e em caso de dissolução do mesmo. Em caso de dis- tratado. Em razão disso, sua força jurídica foi enfra-
solução, serão adotadas disposições que assegurem a quecida, não tendo assumido um caráter obrigatório
proteção necessária aos filhos, com base unicamente perante os Estados membros da Organização dos Esta-
no interesse e conveniência dos mesmos. dos Americanos.
5. A lei deve reconhecer iguais direitos tanto aos filhos No entanto, é incontroversa sua importância como
nascidos fora do casamento como aos nascidos den- documento precursor no Sistema Interamericano
tro do casamento. para a proteção de Direitos Humanos que, mais tarde,
em 1969, fortaleceu-se por meio da Convenção Ameri-
z Direito ao nome (art. 18): cana dos Direitos Humanos.

Art. 18 Direito ao nome ESTATUTO E REGULAMENTO DA COMISSÃO


Toda pessoa tem direito a um prenome e aos nomes INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS
de seus pais ou ao de um destes. A lei deve regular a
forma de assegurar a todos esses direitos, mediante
O Estatuto da Comissão Interamericana de Direitos
nomes fictícios, se for necessário.
Humanos, aprovado em 1960, é o documento que esta-
beleceu a criação da referida comissão. Foi organiza-
z Direitos da criança (art. 19):
do pela Organização dos Estados Americanos (OEA). À
época, o Estatuto não previu que a CIDH poderia rece-
Art. 19 Direitos da criança
ber petições individuais relacionadas às violações de
Toda criança tem direito às medidas de proteção
Direitos Humanos, tampouco apreciá-las.
que a sua condição de menor requer por parte da
sua família, da sociedade e do Estado Posteriormente, em 1965, foi aprovada por meio
da Resolução XXII da 2ª Conferência Interamerica-
na Extraordinária uma emenda que permitiu o exa-
z Direito à igualdade perante a lei (art. 24):
me das comunicações individuais sobre violações de
Art. 24 Igualdade perante a lei
direitos humanos, o que se mostrou um importante
Todas as pessoas são iguais perante a lei. Por con- passo para o papel desenvolvido hoje pela CIDH na
seguinte, têm direito, sem discriminação, a igual proteção das pessoas.
proteção da lei. Em 1979, a Assembleia Geral da OEA aprovou um
novo estatuto da CIDH. A partir de então, a CIDH pas-
A Convenção também estabelece que a Comissão sou a ser um órgão representativo dos Estados mem-
Interamericana de Direitos Humanos e a Corte Intera- bros da OEA. Esse estatuto vigora até a presente data.
mericana de Direitos Humanos são órgãos competen- Faz-se necessário destacar que o Estatuto estabele-
tes para o reconhecimento das questões de que tratam ce como função precípua da CIDH a defesa dos direi-
o Pacto (art. 33). tos humanos, tratando-se de um órgão consultivo da
OEA. Lá estão previstas as regras para escolha dos
Art. 33 membros da Comissão e outras questões relacionadas
São competentes para conhecer dos assuntos rela- às atividades desenvolvidas pela CIDH.
cionados com o cumprimento dos compromissos Já sobre o Regulamento, é importante saber que
assumidos pelos Estados Partes nesta Convenção: a aprovação do primeiro ocorreu em 1966. Em 1980,
a) a Comissão Interamericana de Direitos Huma- foi aprovado um novo Regulamento com o objetivo de
nos, doravante denominada a Comissão; e estabelecer regras que seriam aplicáveis também aos
b) a Corte Interamericana de Direitos Humanos, Estados que não fizessem parte da CADH.
doravante denominada a Corte. Atualmente, o Regulamento em vigor data de 2013
e, em seu conteúdo, estão as regras referentes ao pro-
DECLARAÇÃO AMERICANA DOS DIREITOS E cesso de escolha dos membros da Comissão. O art. 2º,
DEVERES DO HOMEM por exemplo, determina que o mandato desses mem-
bros eleitos será de quatro anos e que poderão ser ree-
A Declaração Americana dos Direitos e Deveres do leitos apenas uma vez.
Homem (DADDH) é o documento tido como base para Determina ainda o art. 4º a regra de incompatibi-
a proteção dos direitos humanos pelo Sistema Inte- lidade em relação aos membros. Consta no referido
374 ramericano. Sua adoção ocorreu em 1948, durante a artigo do Regulamento que os membros da CIDH não
podem exercer atividades que afetam sua indepen- No art. 46, constam requisitos que devem ser cum-
dência e imparcialidade, bem como a dignidade e o pridos para o recebimento dessas petições pela Comis-
prestígio de seu cargo na Comissão. são. São os seguintes:
Ademais, os membros, a partir do momento em
que assumem suas funções, também não podem z O esgotamento dos recursos em âmbito interno, ou
representar as vítimas, seus familiares, nem os Esta- seja, para que a denúncia seja recebida pela Comis-
dos em quaisquer medidas a serem submetidas à são, devem restar esgotados quaisquer meios para
CIDH. Essa vedação persiste por dois anos a partir da buscar a reparação no Estado de origem da viola-
cessação do mandato como membro da Comissão. ção alegada;
O Regulamento também prevê a composição da z A denúncia deve ser apresentada em no prazo
CIDH, que conta com a Diretoria, da qual fazem parte: máximo de 6 meses após a pessoa prejudicada ter
um Presidente; um Primeiro e um Segundo Vice-Pre- tomado ciência da decisão definitiva que de algu-
sidentes, cujas funções estão estabelecidas também ma forma violou seus direitos;
no documento, e como ocorrerá o funcionamento da z A matéria discutida na denúncia não poderá estar
Comissão. sendo discutida perante nenhum outro órgão
O art. 14 menciona que a Comissão carecerá rea- internacional;
lizar pelo menos dois períodos ordinários de sessões z A denúncia deve ter elementos de identificação:
por ano, no lapso que tenha sido previamente deter- nome, nacionalidade, profissão, domicílio, assinatu-
minado, e deverá realizar as sessões extraordinárias ra da pessoa ou do representante legal da entidade.
que forem necessárias.

ATIVIDADES DA COMISSÃO INTERAMERICANA DE Importante!


DIREITOS HUMANOS
Os dois primeiros requisitos podem ser dispen-
Juízo de Admissibilidade sados se a pessoa vítima da violação não teve
acesso ao devido processo legal, ou seja, não
Preceitua o art. 34 que a Comissão Interamerica- obteve meios, no Estado em que houve a viola-
na de Direitos Humanos será composta de sete mem- ção, de apresentar sua denúncia para julgamen-
bros, que serão pessoas de alta autoridade e moral e to perante um órgão jurisdicional ou não teve
que tenham amplos conhecimentos em matéria de acesso a recursos da decisão que lhe prejudicou
direitos humanos. Os membros da Comissão perma- ou ainda se houve demora excessiva no julga-
necerão no exercício de suas funções por quatro anos, mento de recurso.
podendo ser reeleitos apenas uma vez.
O art. 41 estabelece que a função precípua da
Comissão é a observância e defesa dos direitos huma- Conforme preceitua o art. 48 da Convenção, o pro-
nos, sendo algumas de suas atribuições: cesso perante a Comissão terá a seguinte estrutura:

z Despertar a consciência dos direitos humanos nos z A Comissão analisa se estão preenchidos os requi-
povos das Américas; sitos de admissibilidade;
z Formular recomendações aos Estados-membros, z Presentes os requisitos, determina que o Estado
quando julgar conveniente, para que adotem medi- acusado apresente informações sobre a violação
das protetivas dos direitos humanos; de direitos humanos que foi denunciada. É fixado
z Solicitar informações dos Estados-membros sobre a um prazo para o cumprimento desta providência;
aplicação de medidas protetivas dos direitos humanos; z Transcorrido o prazo, tendo ou não o Estado apre-
z Apresentar relatório anual à Assembleia Geral da sentado as informações, a Comissão passará a
Organização dos Estados Americanos. fazer uma análise de tudo que consta na denúncia,
inclusive para verificar se constam, de fato, ele-
Percebe-se, portanto, que a Comissão tem atua-
mentos de violação dos direitos humanos. Ausen-
ção de total importância para a proteção e defesa dos
tes os elementos, determina-se o arquivamento da
direitos humanos nas Américas, podendo, inclusive,
denúncia;
fazer recomendações para que os Estados, em âmbito
z Presentes os elementos, procederá a Comissão a
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
de seu direito interno, adotem medidas que protejam
um exame minucioso dos fatos, podendo inclusive
as pessoas e observem sua condição humana. proceder a uma investigação e determinar a parti-
Esta Comissão é órgão componente do Sistema, cipação do Estado;
cuja maior atribuição é monitorar os Estados e acom- z Antes da tomada de uma decisão, a Comissão bus-
panhar para garantir que estejam agindo de forma cará que o Estado e o denunciante cheguem a uma
protetiva e respeitosa à dignidade das pessoas e pro- solução amistosa;
teção de seus direitos humanos. z Se não for alcançada uma solução amistosa, a
Ainda é necessário dizer que o art. 44 estabelece Comissão elaborará um relatório com a exposição
importante regra na proteção dos direitos humanos: a dos fatos e as conclusões a que chegou sobre o fato.
possibilidade de serem apresentadas perante à Comis- Posteriormente, encaminha o relatório ao Secretá-
são petições que contenham denúncias ou queixas rio-Geral das Nações Unidas, que será responsável
em relação ao descumprimento de direitos humanos pela publicação, conforme previsto no art. 49;
pelos Estados-membros do Sistema Interamericano. z Transcorridos três meses da data em que foi reme-
Podem apresentar referida denúncia as próprias tido o relatório aos Estados interessados, se o assun-
vítimas, qualquer pessoa ou grupo de pessoas e enti- to não houver sido solucionado e nem submetido à
dades não-governamentais que sejam reconhecidas julgamento pela Corte, a Comissão poderá proceder
legalmente no Estado de origem. a uma votação em que, havendo votos da maioria 375
absoluta de seus membros, poderá emitir sua opi- Um caso de grande relevância submetido à Comissão
nião e conclusão sobre a questão. Esse procedimen- foi uma denúncia ocorrida em 1998, apresentada pela
to está previsto no art. 51, da Convenção. senhora Maria da Penha Maia Fernandes. O conteú-
do da petição referia-se à postura omissa do Brasil na
CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS adoção de medidas condenatórias em face do ex-marido
da denunciante, que proferiu agressões físicas contra a
A Corte Interamericana de Direitos Humanos tra- vítima, dando-lhe um tiro enquanto dormia. Em decor-
ta-se do órgão jurisdicional que compõe o Sistema rência da violência, Maria da Penha adquiriu paraplegia
Interamericano de proteção aos direitos humanos. É e ficou com outras sequelas físicas e psicológicas.
composta de sete juízes, nacionais dos Estados-mem- Passados quinze anos, não haviam sido tomadas
bros, sendo que não poderão atuar ao mesmo tempo medidas efetivas condenando o agressor. Assim, a
dois juízes de mesma nacionalidade. O Brasil já teve petição relatava o descumprimento de preceitos fun-
um juiz como seu representante, Antonio A. Cançado damentais da Declaração Americana de Direitos e
Trindade, que atuou no órgão até o ano de 2006. Deveres do Homem, bem como da Convenção Ameri-
Para que um Estado seja julgado pela Corte, deverá cana de Direitos Humanos.
reconhecer sua competência, como determina o art. A Comissão determinou que o Estado adotasse as
62. O Brasil reconheceu a competência da Corte em 4 medidas procedendo à condenação do ato violento.
de dezembro de 1998, por meio do Decreto Legislativo Ademais, recomendou que o Brasil adotasse medidas
nº 89, de 1998. protetivas em combate à violência contra a mulher,
Faz-se necessário dizer que uma denúncia de o que culminou na promulgação da Lei nº 11.340, de
violação de direitos humanos poderá chegar à Corte 2006, conhecida como Lei Maria da Penha, que busca
apenas por meio dos Estados-partes ou da Comissão, evitar e criminalizar atos de violência proferidos con-
como bem define o art. 61.1. tra as mulheres no Brasil.
Por sua vez, a primeira condenação que o Bra-
Importante! sil sofreu perante a Corte Interamericana de Direitos
Humanos ocorreu no chamado Caso Gomes Lund x
A vítima de uma possível violação de direitos Guerrilha do Araguaia.
humanos poderá apresentar sua denúncia à O caso que chegou à Corte trata da detenção, tortu-
Comissão, mas não à Corte. ra e do desaparecimento de cerca de setenta pessoas
no período de governo militar, compreendido entre os
anos de 1972-75.
Em continuidade, assim que uma denúncia chega A Corte entendeu que a Lei nº 6683, de 1979, conhe-
à Corte, ela será analisada. Se for reconhecida a viola- cida como Lei da Anistia (que concedeu anistia ampla
ção, a Corte determinará que seja assegurado ao pre- a quem praticou crimes políticos no período de 2 de
judicado o gozo do referido direito ou liberdade, como setembro de 1961 e 15 de agosto de 1979) impede inves-
bem determinado no art. 63. Além disso, poderá haver tigações e aplicação de penas em relação às graves
a condenação ao Estado-parte do pagamento de uma
violações de direitos humanos. Essa conduta omissiva
indenização para reparação dos danos que tenham
seria incompatível também com as disposições da Con-
sido causados à vítima da violação.
venção de Direitos Humanos.
A Corte também tem o poder de cautela. Isso signi-
Diante disso, e em virtude de o Brasil não ter toma-
fica que poderá tomar medidas em casos de extrema
do medidas efetivas no caso, a Corte condenou o Estado
gravidade e urgência com o objetivo de evitar que ocor-
à responsabilidade pelos desaparecimentos, bem como
ram danos irreparáveis à pessoa (art. 63.2).
pelo descumprimento de obrigações de adequar seu
Além da função jurisdicional, a Corte tem uma
função consultiva prevista no art. 64. Assim, poderá direito interno à Convenção Americana sobre Direitos
o órgão ser consultado pelos Estados-partes para que Humanos.
obtenham interpretações sobre o Pacto (Convenção) ou Essa decisão é vinculante e deverá ser cumprida
de outros tratados concernentes à proteção dos direitos imediatamente pelo Estado-parte.
humanos pelos Estados americanos.
Poderão, inclusive, serem emitidos pareceres pela ESTATUTO E REGULAMENTO DA CORTE
Corte sobre a compatibilidade das leis nacionais dos INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS
Estados em relação aos tratados internacionais.
Conforme visto, quando a Corte exerce sua função A Corte Interamericana de Direitos Humanos,
jurisdicional, ela estará submetendo um Estado-parte assim como a Comissão, também possui seu Estatuto,
ao seu julgamento. Tal situação significa permitir que que foi aprovado pela Assembleia Geral da OEA em
um órgão jurisdicional exerça influência sobre seu ter- outubro de 1979. O Estatuto estabelece que:
ritório, o que poderia ser considerada uma forma de se
flexibilizar sua soberania. z A natureza e o regime jurídico da Corte, consti-
Contudo, o que se conclui é que a proteção aos tuindo que se trata de uma instituição judiciária
direitos humanos e a garantia da paz são de tamanha autônoma, cujo objetivo é a aplicação e a inter-
relevância que os Estados-membros reconhecem a pretação da Convenção Americana sobre Direitos
autoridade da Corte e obedecem aos seus julgamentos, Humanos. As funções exercidas pela Corte são de
ainda que isso signifique uma certa ingerência de um natureza jurisdicional e consultiva;
organismo exterior no ordenamento interno do Estado. z A Corte tem sua sede em San José, na Costa Rica.
Atente-se aos dois casos práticos que apresentare- Entretanto, poderá realizar reuniões em qualquer
mos a seguir. Eles são importantes para a sua aprova- Estado membro da Organização dos Estados Ame-
ção e demonstram a autoridade da Comissão e da Corte ricanos, desde que a maioria de seus membros
376 Interamericana de Direitos Humanos. assim entenda conveniente;
z A sede da Corte pode ser alterada apenas mediante 4. O regime disciplinar será regulamentado pela
o voto de dois terços dos Estados Partes da Conven- Corte, sem prejuízo das normas administrativas da
ção na Assembleia Geral da OEA; Secretaria-Geral da OEA, na medida em que forem
z A composição da Corte, consta no art. 4º, é de sete aplicáveis à Corte em conformidade com o artigo 59
juízes provenientes dos Estados membros da OEA: da Convenção.

„ Os juízes serão eleitos a título pessoal dentre Conforme se vê, o artigo estabelece que os juízes e o
os juristas de mais alta autoridade moral e de pessoal da Corte deverão manter, no exercício de suas
reconhecida competência em matéria de direi- funções e fora delas, conduta que esteja em consonância
tos humanos, exercerão seus mandatos por seis com o cargo que detêm, e que serão responsabilizados
anos e somente poderão ser reeleitos uma úni- por eventuais faltas de cumprimento, negligência ou
ca vez; omissão no exercício de suas funções.
„ A eleição para os juízes deverá ocorrer nos seis Outra regra que merece atenção é a prevista no art.
meses anteriores à realização do período ordi- 23, que determina que o quórum de deliberação da Cor-
nário de sessões da Assembleia Geral da OEA, te é constituído por cinco juízes e que as decisões devem
antes que expire o prazo do mandato dos juízes ser tomadas pelo voto da maioria dos juízes presentes,
eleitos; conforme a seguir transcrito:

z Deverá haver um Presidente e um Vice-Presidente 1. O quorum para as deliberações da Corte é constituí-


da Corte, que exercerão as funções por dois anos e do por cinco juízes.
que podem ser reeleitos; 2. As decisões da Corte serão tomadas pela maioria
z Os juízes da Corte gozam das mesmas imunidades dos juízes presentes.
reconhecidas aos agentes diplomáticos, enquanto 3. Em caso de empate, o Presidente terá o voto de
durarem seus mandatos. qualidade.

O art. 18 estabelece que o exercício do cargo de Já o Regulamento da Corte foi aprovado no XLIX
Juiz da Corte Interamericana de Direitos Humanos é período ordinário das sessões, ocorrido no período de
incompatível com o exercício dos seguintes cargos e 16 a 25 de novembro de 2000, tendo posteriormente sido
atividades: reformado no LXI período ordinário de sessões, celebra-
do no período de 20 de novembro a 4 de dezembro de
a) membros ou altos funcionários do Poder Execu- 2003. Seu objetivo é regular a organização e o procedi-
tivo, com exceção dos cargos que não impliquem mento da Corte Interamericana de Direitos Humanos.
subordinação hierárquica ordinária, bem como No Regulamento, constam as definições de termos
agentes diplomáticos que não sejam Chefes de Mis- utilizados na Corte, quais sejam:
são junto à OEA ou junto a qualquer dos seus Esta-
dos membros; 1. O termo “Agente” significa a pessoa designada por
b) funcionários de organismos internacionais; um Estado para representá-lo perante a Corte Intera-
c) quaisquer outros cargos ou atividades que impe- mericana de Direitos Humanos;
çam os juízes de cumprir suas obrigações ou que 2. O termo “Agente Assistente” significa a pessoa
afetem sua independência ou imparcialidade, ou a designada por um Estado para assistir o Agente
dignidade ou o prestígio do seu cargo. no exercício de suas funções e substituí-lo em suas
ausências temporárias;
É importante notar, portanto, que o Juiz da Corte 3. A expressão “Assembléia Geral” significa a Assem-
Interamericana não poderá ser membro ou funcioná- bléia Geral da Organização dos Estados Americanos;
rio do Poder Executivo. Há uma exceção: poderá ter 4. O termo “Comissão” significa a Comissão Intera-
cargo que não tenha subordinação hierárquica ordi- mericana de Direitos Humanos;
nária. Também não poderá ser agente diplomático 5. A expressão “Comissão Permanente” significa a
que não seja Chefe de Missão junto à OEA ou junto a Comissão Permanente da Corte Interamericana de
qualquer dos Estados membros. Direitos Humanos;
Da mesma forma, também não poderá o Juiz ser 6. A expressão “Conselho Permanente” significa o
funcionário de organismos internacionais ou ocupar Conselho Permanente da Organização dos Estados
cargos ou atividades que o impeçam de cumprir suas Americanos;
7. O termo “Convenção” significa a Convenção Ame-
obrigações junto à Corte, nem ter cargos que possam
ricana sobre Direitos Humanos (Pacto de San José da
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

afetar sua independência ou imparcialidade, a digni- Costa Rica);


dade e o prestígio de seu cargo. 8. O termo “Corte” significa a Corte Interamericana
O art. 20 determina o seguinte: de Direitos Humanos;
9. O termo “Delegados” significa as pessoas designa-
1. Os juízes e o pessoal da Corte deverão manter, no das pela Comissão para representá­la perante a Corte;
exercício de suas funções e fora delas, uma condu- 10. A expressão “denunciante original” significa a
ta acorde com a investidura dos que participam da pessoa, grupo de pessoas ou entidade não-gover-
função jurisdicional internacional da Corte. Res- namental que tenha apresentado a denúncia origi-
ponderão perante a Corte por essa conduta, bem nal perante a Comissão, nos termos do artigo 44 da
como por qualquer falta de cumprimento, negligên- Convenção;
cia ou omissão no exercício de suas funções. 11. O termo “dia” será entendido como dia corrido;
2. A competência disciplinar com respeito aos juí- 12. A expressão “Estados Partes” significa aqueles
zes caberá à Assembleia Geral da OEA, somente por Estados que tem ratificado ou aderido a Convenção;
solicitação justificada da Corte, constituída para 13. A expressão “Estados membros” significa aqueles
esse efeito pelos demais juízes. Estados que são membros da Organização dos Esta-
3. A competência disciplinar com respeito ao Secre- dos Americanos;
tário cabe à Corte, e com respeito ao resto do pes- 14. O termo “Estatuto” significa o Estatuto da Cor-
soal, ao Secretário, com a aprovação do Presidente. te, aprovado pela Assembléia Geral da Organização 377
dos Estados Americanos no dia 31 de outubro de 1979 necessária para o exercício de suas funções. Este exer-
[AG/RES 448 ( [IX-O/79] ), com suas emendas; cerá suas funções por um período de cinco anos, com
15. O termo “familiares” significa os familiares ime- possibilidade de reeleição. Poderá, contudo, ser remo-
diatos, ou seja, ascendentes e descendentes em linha vido a qualquer tempo mediante decisão da Corte.
direta, irmãos, cônjuges ou companheiros, ou aqueles São atribuições do Secretário:
determinados pela Corte em seu caso;
16. A expressão “Relatório da Comissão” significa o
relatório previsto no artigo 50 da Convenção; a) notificar as sentenças, opiniões consultivas,
17. O termo “Juiz” significa os juízes que integram a resoluções e demais decisões da Corte;
Corte em cada caso; b) lavrar as atas das sessões da Corte;
18. A expressão “Juiz Titular” significa qualquer juiz c) assistir às reuniões que a Corte realize dentro ou
eleito de acordo com os artigos 53 e 54 da Convenção; fora na sede;
19. A expressão “Juiz Interino” significa qualquer d) dar trâmite à correspondência da Corte;
juiz nomeado de acordo com os artigos 6.3 e 19.4 do e) dirigir a administração da Corte, de acordo com
Estatuto; as instruções do Presidente;
20. A expressão “Juiz ad hoc” significa qualquer juiz f) preparar os projetos de programas de trabalho,
nomeado de acordo com o artigo 55 da Convenção; regulamentos e orçamentos da Corte;
21. O termo “mês” se entenderá como mês calendário; g) planejar, dirigir e coordenar o trabalho do pes-
22. A abreviatura “OEA” significa a Organização dos soal da Corte;
Estados Americanos; h) executar as tarefas de que seja incumbido pela
23. A expressão “partes no caso” significa a vítima ou Corte ou pelo Presidente;
a suposta vítima, o Estado e, só para fins processuais, i) as demais estabelecidas no Estatuto ou neste
a Comissão; Regulamento.
24. O termo “Presidente” significa o Presidente da
Corte; É necessário ainda destacar o art. 23, do Regula-
25. O termo “Secretaria” significa a Secretaria da Corte; mento, que trata da participação das supostas vítimas
26. O termo “Secretário” significa o Secretário da Corte;
na Corte, estabelecendo que, após admitida a deman-
27. A expressão “Secretário Adjunto” significa o Secre-
da, estas, seus familiares ou seus representantes
tário Adjunto da Corte;
28. A expressão “Secretário - Geral” significa o Secretá- devidamente acreditados, poderão apresentar suas
rio- Geral da OEA; petições, seus argumentos e suas provas de forma
29. O termo “Vice-presidente” significa o Vice-Presiden- autônoma durante todo o processo.
te da Corte; O Regulamento determina ainda outras providên-
30. A expressão “suposta vítima” significa a pessoa da cias relacionadas à apresentação de petições e deci-
qual se alega terem sido violados os direitos protegidos sões nos procedimentos submetidos perante à Corte.
na Convenção; Assim, o que se vê é que o Regulamento estabelece
31. O termo “vítima” significa a pessoa cujos direitos as questões de ordem prática relacionadas aos traba-
foram violados de acordo com a sentença proferida lhos da Corte, bem como a forma dos atos realizados
pela Corte. nos procedimentos submetidos à sua jurisdição.
Em relação à organização e ao funcionamento da Dica
Corte, o Regulamento determina que o Presidente e o
Vice-Presidente serão eleitos pela Corte por um perío- Os juízes que compõe a Corte Interamericana de
do de dois anos para o exercício de suas funções e que Direitos Humanos exercerão seus mandatos por
podem ser reeleitos. 6 anos e podem ser reeleitos uma única vez.
O Regulamento determina que as atribuições do
Presidente da Corte são as seguintes: JURISPRUDÊNCIA DA CORTE INTERAMERICANA DE
DIREITOS HUMANOS
a) representar a Corte;
b) presidir as sessões da Corte e submeter à sua
Casos Contenciosos
consideração as matérias que constem na ordem
do dia;
c) dirigir e promover os trabalhos da Corte; Em relação aos casos contenciosos da Corte Intera-
d) decidir as questões de ordem que sejam suscita- mericana de Direitos Humanos, é necessário mencio-
das nas sessões da Corte. Se um dos juízes assim nar que o Brasil foi denunciado em algumas situações
o solicitar, a questão da ordem será submetida à perante a Corte Interamericana de Direitos Humanos,
decisão da maioria; tendo até o presente momento sido sentenciado dez
e) apresentar um relatório semestral à Corte sobre vezes, absolvido em uma situação e condenado em
as funções que cumpriu no exercício da presidência nove ocasiões, conforme a seguir demonstrado.
durante o período a que o mesmo se refere; Atente-se à próxima informação, porque há gran-
f) as demais que lhe competem de acordo com o de chance de ela ser cobrada em sua prova.
Estatuto ou com o presente Regulamento, assim A mais recente condenação do Brasil pela Corte
como as que for incumbidas pela Corte. ocorreu no mês de outubro de 2020. Trata-se do caso
Empregados da Fábrica de Fogos em Santo Antônio de
Em relação ao Vice-Presidente, o Regulamento Jesus e outros vs Brasil. Neste caso, o Brasil foi con-
determina que suas atribuições são suprir a ausência denado pela morte de sessenta pessoas e mais seis
temporária do Presidente e substituí-lo em caso de feridos na explosão de uma fábrica de fogos localiza-
ausência definitiva. da no município de Santo Antônio de Jesus, no Esta-
Consta também no Regulamento que a Corte ele- do da Bahia. A Corte entendeu que o Brasil se omitiu
gerá um Secretário que deverá possuir conhecimen- em relação à morte de sessenta pessoas e de outros
tos jurídicos necessários para o cargo e que deve seis feridos, tendo havido violação dos direitos à vida,
conhecer os idiomas de trabalho da Corte (espanhol, integridade pessoal e dos direitos econômicos, sociais
378 inglês, português e francês) e, ainda, ter experiência e culturais das vítimas e de seus familiares.
O segundo caso que precisa ser mencionado e que decisão proferida pela Corte em 1988. Este caso refe-
culminou na condenação do Brasil é o caso Xime- re-se à prisão sem ordem judicial de Ángel Manfredo
nes Lopes vs Brasil. Damião Ximenes Lopes faleceu Velásquez na cidade de Tegucigalpa por membros das
em virtude de maus-tratos sofridos em uma casa Forças Armadas de Honduras, tendo posteriormente
de repouso em que estava internado, localizada no sido vítima de atos de tortura por acusações envol-
município de Sobral, no Ceará. A Corte entendeu que vendo supostos crimes políticos. Em consequência,
o Brasil violou os direitos à vida e à integridade pes- Honduras também foi condenada ao pagamento de
soal de Ximenes Lopes, bem como de seus familiares, indenização aos familiares da vítima.
ao negar a proteção judicial para fosse reconhecida O segundo caso estrangeiro bastante conhecido é o
a responsabilidade do Estado do Ceará pela morte do chamado Campo Algodoeiro (Caso González e outras
paciente, ocorrida em ambiente hospitalar do Sistema vs. México). Neste caso, houve denúncia do México
Único de Saúde. em virtude do desaparecimento e posterior morte de
O terceiro caso que mencionaremos no qual houve Claudia Ivette González, Esmeralda Herrera Monreal
sentença proferida pela Corte em desfavor do Brasil e Laura Berenice Ramos Monárrez. Os corpos das três
foi Escher e outros vs Brasil. Neste caso, ocorrido em mulheres foram encontrados em uma plantação de
1999, o Poder Judiciário do Estado do Paraná deter- algodão em Ciudad Juárez, no dia 06 de novembro de
minou a interceptação e o monitoramento de linhas 2001. A Corte entendeu a responsabilização do México
telefônicas de Ariel José Escher e outros, que eram pela violação de diversos dispositivos da CADH, deter-
membros de organizações comunitárias que estavam minando que tomasse providências em âmbito inter-
relacionadas ao Movimento dos Sem Terra (MST). A no, como condução eficaz de processo penal destinado
Corte entendeu que houve ingerência indevida do a investigar e sancionar os responsáveis pelos fatos
Estado na vida privada, honra e reputação das vítimas denunciados; realização de um ato público de reco-
ao permitir que fossem interceptadas suas comunica- nhecimento de responsabilidade internacional pelos
ções. Entendeu ainda que teria havido violação do fatos; pagamento de indenização por danos materiais
direito constitucional de liberdade de associação. e morais, entre outros.
O Brasil também foi condenado pela Corte no caso
Trabalhadores da Fazenda Brasil Verde vs Brasil. Nes-
te caso, a sentença foi proferida em 2016. A situação
ocorreu entre o final de 1988 e início de 1989, quando
a Polícia Federal recebeu denúncias de trabalho escra-
A CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA
vo em fazendas que se localizavam no município de FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988 E
Sapucaia, no Estado do Pará. Constatou-se que, de fato, OS TRATADOS INTERNACIONAIS DE
praticava-se trabalho escravo no local, bem como eram
cometidas irregularidades em relação aos direitos tra-
PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS
balhistas dos empregados. A Corte condenou o Brasil
Com a promulgação da Constituição Federal de
pela violação ao direito de não ser submetido à escra-
1988, o Brasil foi definido como um Estado Democrá-
vidão que consta na Convenção Americana de Direitos
tico de Direito. Em razão disso, é certo que a Constitui-
Humanos em seu art. 6.1. Em consequência, determi-
ção trouxe importantes direitos e garantias. No art. 5º,
nou que deveriam ser pagas indenizações às vítimas.
os direitos fundamentais; nos arts. 6º ao 11, os direitos
O quinto caso selecionado aqui em que houve a
sociais e, nos arts. 14 e 15, os direitos políticos.
condenação do Brasil foi o Favela Nova Brasília vs.
A inserção desses direitos em nosso ordenamento
Brasil, que envolveu a execução de vinte e seis pes-
jurídico decorre de o Brasil ter aderido a tratados e
soas no âmbito de incursões policiais ocorridas nos
convenções internacionais, como a Declaração Uni-
anos de 1994 e 1995. O Brasil foi considerado respon-
versal dos Direitos Humanos, o Pacto de Direitos Civil
sável por violar os direitos às garantias judiciais de
e Políticos da ONU e o Pacto dos Direitos Econômicos,
independência e imparcialidade nas investigações
Sociais e Culturais.
dentro de um prazo razoável, bem como em razão de
O direito à vida e a preservação à integridade
não dar proteção judicial e não proteger a integridade
física e moral, bem como à liberdade e à igualdade,
pessoal das vítimas.
à propriedade e à segurança constituem os direitos e
Finalmente, em relação aos casos em que houve
garantias fundamentais que estão previstos no artigo
condenação do Brasil, em 2009, foi proferida sentença
5º, caput da Constituição Federal.
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
no Caso Gomes Lund e outros vs. Brasil. Esse caso, que
Esses direitos e garantias constitucionais corres-
ficou conhecido como Guerrilha do Araguaia, ocorreu
pondem aos direitos humanos previstos em pactos
em razão da detenção, tortura e do desaparecimento
dos quais o Brasil tornou-se signatário. Diante disso,
forçado de setenta pessoas, dentre elas integrantes do
tornou-se necessária a inclusão desses direitos em
Partido Comunista Brasileiro e camponeses da região
nosso ordenamento jurídico, o que ocorreu pela Cons-
do Araguaia, no Estado do Tocantins, nos anos de 1972
tituição Federal de 1988.
a 1975. Assim, a Corte condenou o Brasil pelo desa-
É importante dizer que, assim como os direitos
parecimento forçado e pela violação dos direitos ao
humanos, os direitos fundamentais mencionados pos-
reconhecimento da personalidade jurídica, à vida, à
suem algumas características:
integridade pessoal e à liberdade das vítimas. Tam-
bém considerou o país responsável por não ter ade-
São direitos garantidos
quado seu ordenamento jurídico interno à Convenção
a todos que estejam sob
Americana de Direitos Humanos como consequência
a égide, ou seja, vivendo
da interpretação e aplicação da Lei da Anistia. UNIVERSALIDADE
no território brasileiro e,
Já em relação aos demais países, há que serem
portanto, sob a vigência da
ressaltados outros casos da jurisprudência da corte,
Constituição Federal
como o Velásquez Rodriguez vs. Honduras, que teve 379
POSIÇÕES DOUTRINÁRIAS
O titular dos direitos e ga-
rantias fundamentais não
A posição do Supremo Tribunal Federal
pode deles renunciar. Po-
IRRENUNCIÁVEL
derá, contudo, não exercer
Até então, o que vigorava em relação aos trata-
o direito, mas jamais dele
dos era o § 2º, do art. 5º, da Constituição Federal, que
abrir mão
determina o seguinte:
Ainda como consequência
da característica acima, o Art. 5º [...]
titular de um direito fun- § 2º Os direitos e garantias expressos nesta Cons-
damental também não po- tituição não excluem outros decorrentes do regime
INALIENABILIDADE derá aliená-lo, ou seja, não e dos princípios por ele adotados, ou dos tratados
pode realizar qualquer tipo internacionais em que a República Federativa do
Brasil seja parte.
de transação abrindo mão
de seu direito, pois não há
conteúdo econômico Não restam dúvidas de que a partir desse disposi-
tivo já estava expresso na Constituição que os trata-
Esses direitos são impres- dos vigoram sem qualquer problema no ordenamento
critíveis. Diante disso, a jurídico. Mas havia certa discussão se teriam ou não
qualquer tempo, aquele status de uma norma constitucional ou infraconstitu-
que sofrer lesão a um de cional, ou seja, que não está prevista no texto constitu-
seus direitos ou garan- cional. Entretanto, após a emenda acima mencionada,
tias fundamentais, poderá a questão está pacificada.
IMPRESCRITIBILIDADE buscar a reparação diante Os tratados que tratem de matérias relacionadas
do Poder Judiciário. As- aos Direitos Humanos, quando aprovados nos mes-
sim, o lapso temporal não mos trâmites das emendas constitucionais, gozam
terá o condão de impedir desse status.
que a pessoa lesada bus- Nesse sentido, é importante mencionar a conclu-
que exigir a proteção de são de Ricardo Castilho:
seu direito
Em síntese, os tratados internacionais de direitos
humanos, por força do art. 5º, § 2º, possuirão sem-
A NATUREZA JURÍDICA DA INCORPORAÇÃO DE pre status jurídico de norma constitucional. São
NORMAS INTERNACIONAIS SOBRE DIREITOS materialmente constitucionais, não importando
HUMANOS AO DIREITO INTERNO BRASILEIRO se foram ratificados antes ou depois da Emenda
Constitucional n. 45. A inovação trazida pelo § 3º
Diante da grandiosidade e importância dos trata- do dispositivo mencionado diz respeito apenas
dos que versam sobre direitos humanos, uma impor- à possibilidade de atribuição de um status for-
tante inovação foi trazida em 2004, com a Emenda malmente constitucional aos tratados, visto que
Constitucional 45 inserida na Constituição Federal equiparados em sua formação às emendas consti-
Brasileira. Este é um assunto muito importante, por tucionais. (Direitos Humanos. Sinopses Jurídicas
isso, atente-se à informação a seguir: – 5 ed. São Paulo: Saraiva, 2015).
Foi acrescentado ao art. 5º da Constituição Federal o
§ 3º, que passou a prever que os tratados e convenções Há ainda que se mencionar que o Supremo Tribu-
internacionais que versem sobre direitos humanos e nal Federal firmou jurisprudência no sentido de que os
fossem votados pelo Congresso Nacional — em cada tratados que versem sobre direitos humanos que foram
uma das Casas, em dois turnos e que obtivessem três incorporados ao ordenamento jurídico brasileiro antes
quintos dos votos dos seus membros — serão aprova- da Emenda Constitucional nº 45, de 2004 (ou seja, sem
dos e terão equivalência a uma emenda constitucional. observar o disposto no § 3º, do art. 5º, da Constituição
Lembre-se: 2; 2; 3/5: ou seja, duas casas, sendo Federal) terão status supralegal ou infraconstitucional.
necessária a votação em dois turnos com a necessida- Importa dizer que a doutrina divergiu sobre o
de de três quintos de votos (3/5) para sua aprovação. assunto. Uma primeira corrente defendeu o que foi
Daí, vê-se a importância que se atribuiu aos direi- mencionado acima, ou seja, que embora esses tratados
tos humanos, pois, tendo havido a adesão pelo Brasil tenham sido ratificados antes da Emenda Constitucio-
a qualquer convenção ou tratado que trate de uma nal nº 45, de 2004, deveriam ser recepcionados como
matéria relativa aos direitos humanos, essa regra pas- normas equivalentes às emendas constitucionais.
sa a valer com força de emenda constitucional. Por sua vez, uma segunda corrente doutrinária ado-
Está claro que, com isso, os tratados e convenções tou posicionamento pelo qual não poderia um tratado
de direitos humanos, quando ratificados pelo Brasil, de direitos humanos aprovado por quórum de lei ordi-
ganham a mesma relevância das normas previstas na nária, ser incorporado como emenda constitucional.
Constituição Federal, razão pela qual devem ser cum- Finalmente, uma última corrente entendeu que
pridos e observados por todos. seria possível a transformação dessa lei ordinária em
norma de status constitucional, podendo ser reapre-
ciado em consonância com o parágrafo 3º, do art. 5º.
Dica Atualmente, no Brasil, os tratados de direitos humanos
Tratados de direitos humanos ratificados pelo que forem aprovados em cada Casa do Congresso Nacio-
Brasil terão valor de norma constitucional, quan- nal, em dois turnos, por três quintos dos votos de seus
do obedecido o critério previsto no § 3º, do art. membros, terão equivalência a emenda constitucional
380 5º, da Constituição Federal.
CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA DE 1988: DOS Caso ocorra qualquer violação, a pessoa ofendida
DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS terá garantido seu direito a ingressar em juízo e obter
indenização pelos prejuízos materiais (econômicos)
Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos
que tenham decorrido dessa ofensa, bem como morais.
Como já vimos anteriormente, os direitos e garan- Por dano moral, entende-se qualquer violação que
tias fundamentais estão previstos no art. 5º, da Consti- uma pessoa sofra que lhe cause mágoa, tristeza, inten-
tuição Federal, que traz a seguinte redação: so sofrimento, desgosto, vergonha, enfim, que seja
capaz de gerar sentimentos extremamente negativos.
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção Portanto, ninguém poderá expor o nome, a honra, a
de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros imagem, a intimidade e a vida privada do outro, sem
e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilida- que haja a devida autorização da pessoa envolvida.
de do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segu- Essa situação pode ser exemplificada quando lembra-
rança e à propriedade, nos seguintes termos. mos de certos quadros veiculados em programas televisi-
vos conhecidos popularmente como “pegadinhas”.
É necessário verificar as particularidades e des-
A pessoa exposta àquela situação autorizou a veicula-
dobramentos de alguns destes direitos e garantias
ção daquelas imagens. Se não o tivesse feito, certamente
fundamentais.
poderia buscar, diante de um juiz, indenização por danos
z Direito à vida: É possível dizer que o direito à vida materiais e morais que teriam surgido daquela situação.
garante à pessoa o direito de preservação de sua Nos tempos atuais, as redes sociais também se tor-
vida, bem como o de poder viver de forma digna. nam um importante meio de possíveis violações. Diaria-
Como desdobramento desse direito, é possível mente, internautas se envolvem em situações que podem
mencionar a vedação à pena de morte, exceto em constituir possíveis danos aos direitos fundamentais da
situação de guerra declarada. pessoa. É o caso dos chamados haters, pessoas que aces-
sam a rede com o exclusivo intuito de ofender o outro,
Inclusive, importa frisar que, por se tratar de uma expondo seu nome, imagem e intimidade.
decorrência do direito à vida, referida proibição cons- Essas situações certamente constituem violações que
titui cláusula pétrea, ou seja, assim como os demais serão levadas ao Poder Judiciário para a responsabiliza-
direitos e garantias fundamentais, não poderá ser ção dos ofensores e reparação de danos (indenização
objeto de alteração ou supressão. por dano material e moral). Lembre-se sempre que isso
Além disso, em razão desse direito, é garantido a decorre da garantia constitucional de preservação da
todos viver de forma digna, ou seja, ter acesso a ser- integridade física e moral a que todos fazem jus.
viços de saúde, saneamento básico, medicamentos
e também, a garantia de um valor mínimo para sua z Direito à igualdade: O direito à igualdade está
sobrevivência (como o benefício decorrente da Lei previsto também no caput do art. 5º, da Constitui-
Orgânica da Assistência Social, conhecido popular- ção Federal. Assim, é definido:
mente como LOAS).
Também se relaciona ao direito à vida a previsão Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção
do aborto como um crime. Assim, é certo que, com de qualquer natureza [...]
exceção dos casos previstos no Código Penal, a inter-
rupção de uma gestação é considerada um crime. Há Trata-se da igualdade formal, ou seja, a garantia,
grande controvérsia em torno do assunto atualmente. prevista na Lei (Constituição Federal) de que todas as
Porém, a previsão do aborto como uma conduta cri- pessoas, independentemente de raça, gênero ou qual-
minosa decorre do direito ora estudado. quer outra característica física ou comportamental,
são iguais, tendo os mesmos direitos e garantias asse-
z Preservação da integridade física e moral (hon- gurados pela Constituição Federal.
ra, imagem, nome, intimidade e vida privada): Porém, a igualdade também é analisada sobre outro
o inciso X, do art. 5º, da Constituição Federal, pre- aspecto: o material. Por igualdade material, temos que
ceitua o seguinte: a lei deve tratar os iguais de forma igual e os desiguais,
de forma desigual, na medida de sua desigualdade.
Art. 5º [...]
X- são invioláveis a intimidade, a vida privada, a Em um primeiro momento, isso parece bastante
honra, a imagem das pessoas, assegurado o direito confuso. Mas, vamos entender como todos são iguais,
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

a indenização pelo dano material ou moral decor- mas podem ser tratados de forma desigual quando
rente de sua violação. houver uma desigualdade que isso justifique.
A Constituição Federal traz alguns exemplos de situa-
Em razão disso, todos terão a garantia de que sua ções que são tratadas de forma desigual, pois há uma
integridade física e moral será respeitada. Porém, caso o desigualdade que justifique: por exemplo, a licença-ma-
indivíduo sofra qualquer forma de violação, poderá bus- ternidade e licença-paternidade, previstas, respectiva-
car reparação, tendo garantido o direito a ser indenizado mente, nos incisos XVIII e XIX, do art. 7º, da Constituição
pelo dano material ou moral decorrente de sua violação. Federal, ou ainda, o serviço militar obrigatório, que isenta
Assim, aquele que tenha sua honra, imagem, nome, as mulheres e os eclesiásticos (§ 2º, art. 143).
intimidade e vida privada expostos de qualquer for- Percebe-se assim que, embora esses sejam exemplos
ma, sem que tenha havido sua autorização para tanto, de possíveis direitos desiguais, eles se justificam em razão
terá direito a buscar, junto ao Poder Judiciário, inde- da desigualdade que envolve os detentores dos direitos.
nização pelos danos sofridos. Isso porque tal proteção Também podemos falar sobre o direito à igualdade
decorre da garantia fundamental de que todos gozam no tocante às cotas previstas para ingresso nas univer-
de ter preservada sua integridade, física ou moral. sidades. Atualmente, os vestibulares para ingresso nas
universidades estabelecem cotas específicas para pessoas
egressas do ensino público. Justifica-se porque, ao longo 381
dos tempos, verificou-se que os alunos que frequentaram Art. 5º [...]
escolas de ensino público apresentaram maiores dificul- VIII- ninguém será privado de direitos por motivo
dades para ingresso em universidades públicas do que de crença religiosa ou convicção filosófica ou políti-
aqueles que frequentaram o ensino privado. ca, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação
Além disso, hoje também é comum que existam legal a todos imposta e recusar-se a cumprir pres-
cotas nos editais de concursos públicos para negros. tação alternativa, fixada em lei.
Isso se justifica porque os negros, em virtude do pre-
Assim, é certo que cabe a cada indivíduo fazer
conceito perpetrado na sociedade, encontram, ainda
suas escolhas de vida e manter seus pensamentos, não
hoje, diversas barreiras que impedem o acesso aos
podendo o Estado criar qualquer óbice ou punir aque-
estudos e, posteriormente, ao mercado de trabalho
les que pensem de forma diversa.
em igualdade de condições com pessoas brancas.
Também merece ser mencionado o inciso IV do
Trata-se das chamadas ações afirmativas, que são
mesmo artigo:
medidas pontuais e que serão adotadas por certo perío-
do de tempo com o objetivo de amenizar ou mesmo IV- é livre a manifestação do pensamento, sendo
cessar as diferenças históricas havidas entre os indiví- vedado o anonimato.
duos. Vale dizer que as ações afirmativas estão previs-
tas no Estatuto da Igualdade Racial (Lei nº 12.288, de 20 E, ainda, o inciso IX:
de julho de 2010), em seu inciso VI, do art. 1º:
IX- é livre a expressão da atividade intelectual,
artística, científica e de comunicação, independen-
Art. 1º Esta Lei institui o Estatuto da Igualdade
temente de censura ou licença;
Racial, destinado a garantir à população negra a
efetivação da igualdade de oportunidades, a defesa
Assim, também decorrem da liberdade o direito de
dos direitos étnicos individuais, coletivos e difusos
manifestação do pensamento e de qualquer atividade
e o combate à discriminação e às demais formas de
intelectual, artística, científica e de comunicação. Por-
intolerância étnica.
tanto, não pode ser estabelecida qualquer forma de
censura pelo Poder Público. Ademais, todos os indiví-
Também são previstos nos editais de concursos públi-
duos podem expor sua atividade intelectual ou artísti-
cos vagas destinadas exclusivamente para pessoas que
ca de forma livre, sem necessitar de eventual aval dos
tenham alguma deficiência. Ou seja, em razão de uma
governantes. Destaca-se que é em razão disso que são
desigualdade em relação aos demais ocasionada pela
livres quaisquer manifestações.
deficiência, aquele que pleitear uma vaga em concurso
Ainda sobre o direito à liberdade, cabe mencionar,
público, deverá concorrer conforme suas condições.
ainda que brevemente, um fato notório ocorrido a
Diante disso, verifica-se que a igualdade está pre-
pouco tempo atrás. Atente-se, pois há grande chance
sente ainda que em situações que aparentam uma
deste assunto ser cobrado em sua prova:
possível desigualdade, pois, em verdade, deve ser
Uma associação de artistas ingressou com uma ação
observado todo o contexto ao redor desses direitos, de
no Supremo Tribunal Federal (STF) com o objetivo de
forma a garantir efetivamente que todos sejam trata-
impedir que fossem publicadas biografias não auto-
dos da mesma forma perante a lei, consoante prevê o
rizadas. A alegação deles era de que essas biografias
artigo 5º da Constituição Federal.
ofendiam a integridade moral dos biografados, visto
que expunham fatos desconhecidos pelas pessoas ou
z Direito à liberdade: A liberdade também é uma
mesmo situações que poderiam causar-lhes constran-
decorrência do direito à vida.
gimentos se viessem ao conhecimento público.
Contudo, a Corte entendeu que eles não tinham
O direito à liberdade, previsto no artigo 5º, se mani-
razão pois, ao necessitar de autorização para a publi-
festa em diversos pontos da Constituição Federal, e
cação das biografias, os escritores teriam violado seu
em muitos aspectos: liberdade de locomoção (inciso
direito à liberdade de manifestação e à liberdade inte-
XV); liberdade de pensamento (inciso IV); liberdade
lectual e artística.
de expressão (inciso IX); liberdade de associação (inci-
Finalmente, é necessário dizer que, diante da
so XVII); liberdade religiosa (inciso VI), liberdade de
garantia de liberdade, o indivíduo apenas poderá ser
exercício de trabalho (inciso XIII).
preso em situação de flagrante delito ou por meio de
Alguns aspectos devem ser destacados em relação
ordem escrita e fundamentada da autoridade compe-
à liberdade:
tente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime
Pela liberdade de locomoção:
propriamente militar, conforme estabelece o inciso
LXI, do art. 5º:
Art. 5º [...]
XV- é livre a locomoção no território nacional em LXI- ninguém será preso senão em flagrante delito
tempos de paz, podendo qualquer pessoa, nos ter- ou por ordem escrita e fundamentada de autorida-
mos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair de judiciária competente, salvo nos casos de trans-
com seus bens. gressão militar ou crime propriamente militar,
definidos em lei.
Assim, em decorrência da liberdade, também é
garantido pela Constituição Federal que todos vivam z Direito à propriedade: O direito à propriedade,
conforme suas convicções, seguindo a crença religiosa embora previsto na Constituição Federal, não é
que melhor lhe convier, bem como tendo respeitado absoluto, em primeiro lugar, porque o direito está
seu pensamento em relação à política ou convicções condicionado ao atendimento da função social.
filosóficas. Isso está previsto no inciso VIII, do art. 5º:
382
A Constituição Federal, em dois dispositivos, § 2º, indenização em dinheiro, ressalvados os casos pre-
art. 182, e art. 186, fala sobre o tema: vistos nesta Constituição.

Art. 182 A política de desenvolvimento urbano, Dos Direitos Sociais


executada pelo Poder Público municipal, confor-
me diretrizes gerais fixadas em lei, tem por obje- O art. 6º, da Constituição Federal, preceitua os
tivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções direitos sociais.
sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus
Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a
habitantes.
alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte,
[...]
o lazer, a segurança, a previdência social, a prote-
§ 2º A propriedade urbana cumpre sua função
ção à maternidade e à infância, a assistência aos
social quando atende às exigências fundamentais
desamparados, na forma desta Constituição.
da ordenação da cidade expressas no plano diretor.
Art. 186 A função social é cumprida quando a pro-
Conforme verifica-se, tratam-se dos direitos míni-
priedade rural atende, simultaneamente, segundo
mos necessários para que a pessoa viva com dignida-
critérios e graus de exigência estabelecidos em lei,
aos seguintes requisitos:
de em um Estado de Direito. Esses direitos constituem
I- aproveitamento racional e adequado; prestações positivas que o Estado deve garantir a
II- utilização adequada dos recursos naturais dis- todos os cidadãos. Terão eficácia imediata, à medida
poníveis e preservação do meio ambiente; que não podem depender de outra norma para sua
III- observância das disposições que regulam as implementação pelo Poder Público.
relações de trabalho; Destaca-se o direito à saúde, por meio do qual o
IV- exploração que favoreça o bem-estar dos pro- Poder Público deverá promover ações de promoção,
prietários e dos trabalhadores. proteção e recuperação da saúde:

Segundo previsto nesses dois dispositivos, em rela- Art. 196 Constituição Federal. A saúde é direito de
ção à propriedade urbana, a função social é cumprida todos e dever do Estado, garantido mediante polí-
quando as exigências de ordenação da cidade cons- ticas sociais e econômicas que visem à redução do
risco de doença e de outros agravos e ao acesso
tante no plano diretor estiverem sendo observadas.
universal e igualitário às ações e serviços para sua
Quanto à propriedade rural, a função social será
promoção, proteção e recuperação.
preenchida quando os seguintes requisitos estiverem
sendo cumpridos: aproveitamento racional e adequa- Ou seja, a obrigação do Estado com a população,
do da área; utilização adequada dos recursos naturais em princípio, é de manter políticas públicas que
disponíveis e preservação do meio ambiente; obser- previnam e protejam de doenças. Em um segundo
vância das disposições que regulam as relações de momento, se a pessoa já apresenta uma doença, cabe
trabalho, ou seja, daqueles que estiverem prestando ao Estado prestar-lhe atendimento médico e fornecer
serviços na propriedade; exploração que favoreça o medicamentos para a recuperação de sua saúde.
bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores. É necessário dizer que todos os direitos sociais são
Assim, embora o direito de propriedade seja universais. Portanto, caberá ao Poder Público imple-
garantido na Constituição Federal, ele não é absoluto. mentá-los sem qualquer distinção. Assim, mesmo que
Como visto, a função social deve ser atendida. Enten- a pessoa não apresente uma situação de vulnerabili-
de-se por função social, como visto acima, no caso da dade econômica, poderá buscar atendimento hospi-
propriedade urbana, que sejam atendidas e respeita- talar público ou mesmo matricular-se em uma escola
das as determinações do plano diretor. Em síntese, o estadual ou municipal.
plano diretor é um documento que deve ser elaborado
por cada município para o ordenamento das cidades. Dica
No caso da propriedade rural, para que seja efe-
tivamente aproveitada, é necessário que sejam uti- Direitos sociais são universais.
lizados os recursos naturais de forma consciente e
adequada, sem desperdício e depredação ambiental. Direitos Políticos
Ademais, a função social também inclui um impor-
tante elemento subjetivo daqueles que estão relacio- Os direitos políticos estão previstos nos arts. 14
a 16, da Constituição Federal, em seu Capítulo IV, no
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
nados à propriedade, qual seja: devem ser respeitadas
as relações trabalhistas daqueles que trabalham na Título II. São os meios efetivos pelos quais a pessoa
propriedade, bem como seu bem-estar, além do bem- exerce sua cidadania, pois é por meio desses direitos
-estar do proprietário. que a pessoa vota e também pode ser votada.
Finalmente, o direito de propriedade pode ser rela- O art. 14 preceitua o seguinte:
tivizado pela desapropriação. Prevista no inciso XXIV,
do art. 5º, a desapropriação poderá ser ordenada pelo Art. 14 A soberania popular será exercida pelo
sufrágio universal e pelo voto direto e secreto,
Poder Público em razão de necessidade, utilidade
com valor igual para todos, e, nos termos da lei,
pública e interesse social. Nesses casos, será determi-
mediante:
nada a perda da propriedade da pessoa em favor do
I - plebiscito;
Poder Público mediante o pagamento de uma indeni- II - referendo;
zação justa e prévia, que deverá ser paga em dinheiro. III - iniciativa popular.

Art. 5º [...]
Assim, dentre os direitos políticos, o mais conheci-
XXIV- a lei estabelecerá o procedimento para desa-
do deles é o sufrágio universal que nada mais é do que
propriação por necessidade ou utilidade pública,
o voto, estabelecido como direto e secreto e também o
ou por interesse social, mediante justa e prévia
direito de ser votado. 383
Percebe-se o que o voto de todos tem o mesmo z Incapacidade civil absoluta, ou seja, aquele que
valor, superada a questão que já permeou em consti- tenha sua incapacidade reconhecida terá seus
tuições anteriores em que o voto tinha valor diverso direitos suspensos (inciso II);
dependendo da posição social de seu titular. z Condenação criminal transitada em julgado
Por sua vez, plebiscito e referendo referem-se a enquanto durarem seus efeitos (inciso III);
formas por meio das quais o cidadão é instado a se z Recusa de cumprimento de obrigação a todos
manifestar sobre algum assunto de grande relevância imposta ou prestação alternativa, nos termos do
para o país. Assim, por meio de decretos legislativos, artigo 5º, VIII (vide também inciso IV);
as pessoas são convocadas para expressar sua opinião z Improbidade administrativa, nos termos do inciso
sobre determinado tema colocado em pauta. Diver- V, § 4º, do art. 37.
gem no seguinte: enquanto o plebiscito é estabelecido
de forma prévia e a população se manifesta a favor ou Dica
contrária a um tema que lhe é apresentado, o referen-
do é convocado posteriormente sobre um assunto que Não podem ser cassados os direitos políticos de
já faz parte do dia a dia dos cidadãos, cabendo a eles uma pessoa; porém, poderão ser suspensos em
ratificá-lo ou rejeitá-lo. situações previstas na lei.
Na história recente brasileira, houve um plebisci-
to em 21 de abril de 1993 em que os cidadãos foram Nacionalidade
chamados a manifestarem-se sobre a forma e sistema
de governo. Foram colocadas as opções de forma de Nacionalidade, conforme bem nos define o juris-
governo: monarquia ou república, e sistema de gover- ta Pedro Lenza “[...] pode ser definida como o vínculo
no: presidencialismo ou parlamentarismo. Prevale- jurídico-político que liga um indivíduo a determinado
ceu que a forma deveria ser mantida como república Estado, fazendo com que esse indivíduo passe a inte-
e o sistema, presidencialista. grar o povo daquele Estado e, por consequência, des-
Já, como exemplo de referendo, temos o ocorrido em frute de direitos e submeta-se a obrigações”.
23 de outubro de 2005, quando a população foi instada Diante disso, temos que um sujeito pode ser bra-
a posicionar-se sobre a seguinte questão: “O comércio sileiro nato ou naturalizado. O brasileiro nato, con-
de armas de fogo e munição deve ser proibido no Bra- forme preceitua a letra “a” do inciso I, do art. 12, da
sil?”. Importa destacar que estava vigente desde 2003 o Constituição Federal, é qualquer pessoa cujo nasci-
Estatuto do Desarmamento, no qual já havia sido proi- mento ocorreu em território brasileiro. Assim, perce-
bido o comércio de armas de fogo e munições. Contudo, be-se que a regra adotada no país é do jus solis.
havia previsão legal de que, para entrar em vigor, seria É necessário ressalvar, porém, o caso da pessoa
necessária a ratificação da população por meio de um que nasceu no Brasil, mas é filho de pais estrangei-
referendo, podendo, é claro, também rejeitar o disposi- ros e que estejam à serviço de seu país. Esse sujeito
tivo que, então, não vigoraria. não será brasileiro. Isso porque a Constituição Fede-
A maioria dos cidadãos votou pela ratificação do dis- ral, ainda na letra “a”, do inciso I, do art. 12, é clara
positivo, respondendo “não” à questão formulada men- ao dizer que também será brasileiro aquele que tiver
cionada acima o que fez com que vigorasse o artigo que nascido aqui, mesmo filho de estrangeiros, desde que
proibia o comércio de armas de fogo e munições no Brasil. os pais não estejam a serviço do seu país. Também
Outro direito político que deve ser mencionado é a será considerado brasileiro aquele que tem pai ou
iniciativa popular. Trata-se da iniciativa que garante a mãe brasileiros, mas nasceu no estrangeiro quando
todo cidadão o direito de apresentar um projeto de lei. um deles estava no exterior a serviço do Brasil.
Esse direito está regulamentado pelo § 2º do artigo 61 É necessário que apenas um dos genitores seja bra-
da Constituição Federal, cabendo, para tanto, serem sileiro, situação definida na letra “b”, inciso I, art. 12.
preenchidos os requisitos ali previstos. Finalmente, a letra “c” também desse dispositi-
vo define que será brasileiro nato aquele nascido no
Art. 61 [...] estrangeiro, filho de pai ou mãe brasileiros quando:
§ 2º A iniciativa popular pode ser exercida pela
apresentação à Câmara dos Deputados de projeto z For registrado em repartição brasileira competente,
de lei subscrito por, no mínimo, um por cento do ou seja, quando do nascimento, seus pais o registra-
eleitorado nacional, distribuído pelo menos por ram perante consulado brasileiro no exterior;
cinco Estados, com não menos de três décimos por z Venha a residir no Brasil e, após atingida a maiori-
cento dos eleitores de cada um deles. dade, opte pela nacionalidade brasileira.

Importa dizer que os direitos políticos são dividi- Nessa última hipótese, mesmo que a pessoa tenha
dos entre capacidade eleitoral ativa e capacidade elei- nascido no exterior e lá tenha sido registrada, se seu
toral passiva. A capacidade eleitoral ativa se refere ao pai ou sua mãe forem brasileiros e o sujeito tenha
direito de votar. Já a capacidade eleitoral passiva se vindo morar no Brasil, poderá, após completar dezoi-
refere ao direito de ser votado. Assim, em regra, todos to anos, optar pela nacionalidade. Vale ressaltar que
os brasileiros podem votar e ser votados. deve-se atingir a maioridade para fazer essa escolha,
O artigo 15 da Constituição Federal estabelece que tendo em vista ser esse o momento em que se alcança
é vedada a cassação de direitos políticos. Porém, é pos- a capacidade jurídica plena.
sível que uma pessoa sofra a perda ou suspensão de Ademais, o sujeito poderá ser brasileiro naturali-
seus direitos políticos. Isso pode ocorrer nas seguintes zado. Será naturalizado, conforme determina o inciso
situações previstas no artigo 15: II, do art. 12:

z Por meio do cancelamento da naturalização por z A pessoa nascida em país cujo idioma seja a língua por-
384 sentença transitada em julgado (inciso I); tuguesa, tendo, para tanto, que comprovar a residência
em solo brasileiro por um ano ininterrupto e idoneida- uma nação, detentor de direitos e deveres para a vida
de moral (letra “a”, do inciso II, do art. 12); em sociedade. É aquele que goza de direitos políticos.
z A pessoa nascida em qualquer país, desde que resi- O exercício da cidadania, portanto, é a vivência
dente no Brasil há mais de quinze anos ininterrup- experimentada por todos nós, cumprindo deveres de
tos e sem condenação penal (letra “b”, do inciso III, respeito às leis e ao próximo, bem como a exigência
do art. 12). de ver nossos direitos efetivados e de participar dos
rumos do país por meio de seus direitos políticos.
Assim, a pessoa poderá requerer a naturalização No Brasil, a cidadania apareceu de forma muito
brasileira, desde que se enquadre em alguma das tímida ao prever o direito de voto universal na Cons-
situações acima e preencha os requisitos determina- tituição de 1891 — embora com exceções àqueles que
dos pela Constituição Federal. de fato podiam votar — e na de 1934, que trouxe o
Ademais, existe uma situação peculiar em relação direito de voto à mulher.
ao cidadão português: Porém, é de fato pela Constituição Federal (CF) de
Conforme preceitua o § 1º, do art. 12, da Consti- 1988 que a cidadania passou a ser efetivamente um
tuição Federal, o português terá os mesmos direitos valor prezado pelo ordenamento jurídico. Ela defi-
do brasileiro, desde que tenha residência permanente ne que o Brasil constitui um Estado Democrático de
no Brasil e se houver reciprocidade de Portugal em Direito. Em razão disso, o parágrafo único, do art. 1º,
relação aos brasileiros, ou seja, se no país europeu o da CF, define o seguinte:
brasileiro gozar do mesmo privilégio.
O § 4º, do art. 12, define que o brasileiro perderá a Art. 1º [...]
nacionalidade nas seguintes situações: Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que
exerce por meio de representantes eleitos ou direta-
z O inciso I traz a situação daquele que tiver cance- mente, nos termos desta Constituição.
lada sua naturalização por sentença judicial moti-
vada por atividade nociva ao interesse nacional; Portanto, se o poder emana do povo, resta claro
z O inciso II define que deixará de ser brasileiro o que, por ser detentor desse poder, cabe a cada um dos
sujeito que adquirir outra nacionalidade, exceto se brasileiros o exercício da cidadania. Ou seja, deverá
houver o reconhecimento de nacionalidade origi- fazer valer seus direitos, bem como deve agir diaria-
nária (brasileira) pela lei estrangeira ou, ainda, se a mente de forma comprometida com sua nação.
pessoa tiver que se naturalizar, em virtude de nor- É possível dizer, então, que a relação entre direitos
ma estrangeira, como condição para permanência humanos e cidadania ocorre quando a pessoa age em
em seu território ou exercício de direitos civis. observância às leis do país em que vive e também bus-
ca que seus direitos sejam cumpridos.
Finalmente, é necessário dizer que a lei, não pode- O cidadão é assim definido como aquele que pro-
rá fazer qualquer distinção entre o brasileiro nato e o tege o meio ambiente em que vive e também exige de
naturalizado. A Constituição Federal, no § 2º, do art. seus governantes a efetivação de políticas públicas
12, porém, determina que alguns cargos são privativos por meio de medidas práticas que protejam reservas
de brasileiros natos, quais sejam: Presidente e Vice- ambientais, promovam a limpeza de rios, proteção da
-presidente da República; Presidente da Câmara dos fauna e da flora, por exemplo.
Deputados; Presidente do Senado Federal; Ministro do A cidadania também é exercida quando a popula-
Supremo Tribunal Federal; carreira diplomática; oficial ção exerce seu direito ao voto para a escolha dos seus
das Forças Armadas e Ministro do Estado de Defesa. governantes, e também quando sai às ruas em mani-
festações pacíficas contra corrupção.
Percebe-se, portanto, que o exercício da cidada-
nia está intimamente ligado aos direitos humanos. É
o meio pelo qual a pessoa dispõe para fazer com que
DEMOCRACIA, CIDADANIA E DIREITOS
seus direitos fundamentais sejam observados. O cida-
HUMANOS dão, portanto, é o sujeito que goza de direitos políticos
no Estado em que vive.
Mostra-se necessário verificar a relação entre os Como visto, a cidadania é um dos fundamentos da
direitos humanos e a cidadania, sendo que ambos República. Dessa forma, todo aquele que vive em territó-
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
devem caminhar de forma harmônica e conjunta. A rio brasileiro tem assegurada sua cidadania. Já vimos a
cidadania é um dos fundamentos da República Fede- origem dela e também como pode ser, de fato, exercida.
rativa do Brasil, assim como a dignidade da pessoa Quando falamos em direitos da cidadania, podemos
humana. Está assim prevista no inciso II, do art. 1º, da falar nos direitos fundamentais previstos na Constitui-
Constituição Federal. ção Federal e já mencionados, como o direito à igual-
Mas, afinal, o que é cidadania? Sua origem históri- dade, à manifestação do pensamento, à liberdade de
ca remonta à Grécia Antiga. Tratava-se do reconheci- consciência e de crença e à inviolabilidade do domicí-
mento atribuído àqueles detentores de direitos e que lio. Lembre-se que o rol de direitos é muito mais exten-
participavam das decisões políticas da polis (palavra so e está previsto no art. 5º, da Constituição Federal.
de origem grega que se refere a um modelo de cida- Também de grande importância para a cidada-
de antiga) em que habitavam. Porém, tratava-se de um nia são os direitos políticos. É por meio deles que o
atributo apenas daqueles que possuíam propriedades cidadão tem em suas mãos o poder para a escolha de
e, portanto, detinham poder para participação política. seus governantes, bem como o de se manifestar sobre
O conceito de cidadania e sua concretização tam- questões relevantes para a nação.
bém é atribuído à Revoluções Inglesas, no século XVII, e Quanto aos deveres do cidadão, incluem-se aí o
à Revolução Francesa, no ano de 1789. Trata-se do reco- respeito às leis e também ao próximo. Isso porque,
nhecimento do indivíduo como membro integrante de para que uma pessoa faça parte de uma nação como 385
um cidadão, deverá também respeitar os demais, não isso, ela passou a ser considerada apenas um meio,
agindo de forma que sua liberdade possa tolher a dos ou seja, a mulher só pode gerar os filhos, porque é
outros. A cidadania é um fundamento da República fecundada pelo homem, surgindo, assim, a noção de
Federativa do Brasil. família patriarcal. Como consequência, a sociedade
passou a apresentar a mulher como hierarquica-
mente inferior ao homem, visto que sua posição é de
reprodutora ou cuidadora, enquanto os homens são
DIREITOS HUMANOS, MINORIAS E tidos como ativos e provedores.
Por essa razão, até o século XIX, os acontecimen-
GRUPOS VULNERÁVEIS tos históricos e o discurso jurídico foram centrados
na figura do homem, por ser este o foco dos acon-
Embora os direitos humanos sejam universais,
tecimentos públicos dos quais as mulheres pouco
houve a necessidade de criação de um Sistema Espe-
participavam. Então, a estrutura jurídica dos Esta-
cial de Proteção dos Direitos Humanos que realças-
dos, basicamente, reproduzia o Código Civil Francês,
se o processo da especificação do sujeito de direito,
de 1804, enquadrando a mulher como relativamente
com o objetivo de visualizá-lo em sua especificidade e
incapaz e igualando-a aos menores e aos loucos, com
concreticidade. Deste modo, ao lado do Sistema de Pro-
teção aplicado a todos indistintamente (geral), foram destaque para o fato de que ela era propriedade do
criados mecanismos de proteção de alcance especial, pai ou do marido, tendo como função primordial
levando em conta as peculiaridades de determinados gerar filhos.
grupos, como no caso das mulheres, das crianças, das Somente no século XX que o Sistema Especial de
pessoas com deficiência, dos refugiados, dos grupos Proteção dos Direitos das Mulheres começou a ser
étnicos minoritários, como os indígenas, ou em razão reconhecido e protegido. A começar pela Carta da
da raça, cor, descendência ou origem nacional ou étni- ONU, que, em 1945, estabeleceu, em seu preâmbulo, a
ca, entre outros. igualdade de direitos entre homens e mulheres, assim
Cumpre esclarecer, no entanto, que o objetivo como no art. 1º, que, ao prever o respeito aos direitos
do Sistema Especial de Proteção não é relativizar as humanos, acrescentou a expressão “sem distinção de
peculiaridades sociais e culturais e, sim, aumentar raça, sexo, língua ou religião”.
o alcance de proteção dos direitos humanos, em Na sequência, em 1948, a DUDH, ao trazer a ideia
razão dessas mesmas peculiaridades. Consequente- de universalidade dos direitos humanos, deixou cla-
mente, os aparatos de proteção dos direitos humanos ro que eles são inerentes a todas as pessoas, sejam
gerais e especiais devem interagir em benefício dos homens ou mulheres.
próprios indivíduos. Vejamos alguns desses Sistemas As três primeiras décadas que se seguiram à cria-
Especiais de Proteção: ção da ONU foram focadas para a codificação dos
direitos legais e civis das mulheres, assim como para a
MULHERES coleta de dados sobre a situação delas em todo o mun-
do. Dentro deste contexto, foi estabelecida a Comis-
Da classificação dos indivíduos com base em suas são sobre o Status das Mulheres (CSW4), por meio da
características anatômicas, advém o conceito de Resolução 11(2) do Conselho Econômico e Social (ECO-
sexo, de tal modo que, após o nascimento, cada pes- SOC), que é o órgão da ONU responsável, entre outras
soa é identificada como sendo homem ou mulher, incumbências, pelos direitos das mulheres.
em conformidade com os seus atributos biológicos, Em 1967, com o empenho da CSW, foi publicada
como cromossomos, órgãos sexuais, hormônios, entre a Declaração sobre a Eliminação da Discriminação
outros. Há, ainda, os intersexos, ou seja, aqueles contra a Mulher. No entanto, como essa Declara-
que apresentam características de ambos os sexos. ção não se efetivou em um tratado internacional, de
Antigamente, tais pessoas eram denominadas de modo a não estabelecer obrigações para os Estados, a
hermafroditas. Comissão passou a se organizar para a normatização
da Declaração. Assim, em 1979, foi elaborada a Con-
venção sobre a Eliminação de Todas as Formas de
Importante! Discriminação contra as Mulheres (CEDAW5).
A CEDAW entrou em vigor em 1981 e é conside-
O termo gênero não é sinônimo de sexo. Do mes- rada o primeiro tratado internacional que dispõe
mo modo que gênero também não se confunde amplamente sobre os direitos humanos da mulher.
com sexualidade. Esses termos serão tratados Seus objetivos são: promover os direitos das mulheres
mais a frente. na busca da igualdade e reprimir quaisquer discrimi-
nações contra a mulher nos Estados-parte.
Essa Convenção possui dupla função: a primeira
Da separação entre homem e mulher, em con- é eliminar a discriminação e a segunda, garantir a
formidade com o sexo, decorre uma série de cons- igualdade. Para tanto, ela trata do princípio da igual-
truções históricas e culturais. Historicamente, a dade, quer como obrigação vinculante quer como um
sociedade desenvolveu-se em torno da mulher, de objetivo. Além disso, a CEDAW possui trinta artigos
modo a existir uma noção de sociedade matriarcal, dividos em seis partes.
por ser ela aquela que detinha o poder de conceber a A primeira parte é composta dos arts. 1º ao 6º,
vida. Todavia, à medida em que a sociedade começou estabelecendo o conceito da expressão “discrimina-
a associar a gestação com a relação sexual, a mulher ção contra a mulher”, as medidas políticas, as garan-
deixou de ser vista como a detentora do poder. Com tias dos direitos humanos e liberdades fundamentais
4 Sigla em inglês.
386 5 Sigla em inglês.
e medidas apropriadas, a fim de efetivar os avanços ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher,
das mulheres. tanto na esfera pública, como na privada.
Já a segunda parte, que vai dos arts. 7º ao 9º, tra- Como consequência, a violência contra a mulher
ta dos compromissos dos Estados-partes em eliminar apresenta-se como um padrão de violência específico,
as discriminações contra a mulher na vida política posto que, baseado no gênero, cause morte, dano ou
e pública, bem como com relação à representação e sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher.
nacionalidade. Com a Convenção de Belém do Pará, surgem
Os arts. 10 ao 14 compõem a terceira parte da outras estratégias para a proteção internacional dos
CEDAW e estabelecem que os Estados-partes elimi- direitos das mulheres, com destaque para o mecanis-
nem a discriminação na educação, no trabalho, na mo das petições à Comissão Interamericana de Direi-
saúde, na vida cultural, social e econômica das mulhe- tos Humanos. Como consequência desse mecanismo,
res, além de tratar da mulher rural. o caso Maria da Penha Maia Fernandes vs. Brasil cul-
A quarta parte é composta pelos artigos 15 e 16, minou na adoção da Lei nº 11.340, de 2006, conhecida
que trata da concordância dos Estados em buscar como Lei Maria da Penha, que criou os meios dentro
a igualdade de homens e mulheres perante a lei no do ordenamento jurídico brasileiro de coibir a violên-
exercício de seus direitos legais e nas leis que regem o
cia doméstica e familiar contra a mulher.
casamento e a família.
A Lei Maria da Penha, que foi publicada em 7
Por sua vez, a quinta parte, que vai dos arts. 17 ao
de agosto de 2006, é a primeira legislação nacional
22, dispõe sobre o Comitê para a Eliminação da Des-
específica, abordando o tema e reconhecendo ser a
criminação contra a Mulher, sua responsabilidade,
regramento e papel. violência contra a mulher uma forma de violação
Por fim, a sexta parte, da qual fazem parte os arts. de direitos humanos. Como consequência, o Estado
25 ao 30, dispõe sobre o efeito sobre outros tratados, brasileiro torna-se responsável por seu enfrentamento.
os compromissos dos Estados-partes e a administra- Em síntese, existem diferentes tipos de violência.
ção da Convenção. Constituem como tipos de violência:
Como a CEDAW não fazia referência à violência
z Violência psicológica, ou seja, as ações voltadas a
contra as mulheres, O CSW adotou a Recomendação
causar dano emocional e diminuição da autoesti-
Geral nº 19. De acordo com o documento, a violência
contra as mulheres pode ser entendida como uma for- ma da pessoa, tais como a desqualificação pessoal,
ma de discriminação que impede o gozo de seus direi- a ridicularização, a perseguição, o isolamento, o
tos de forma igualitária. Como consequência, a noção controle ou a vigilância do comportamento, o ciú-
de violência contra as mulheres foi incluída pelo me exagerado, a chantagem, as ações possessivas
Comitê como derivada do conceito de discriminação. de manipulação, entre outros;
z Violência física, ou seja, as ações voltadas à agres-
são corporal, como, por exemplo, tapas, tortura,
queimaduras, estrangulamento e, até mesmo, o
Importante! homicídio;
A Recomendação Geral define a violência contra z Violência sexual, isto é, a relação sexual sem con-
a mulher tendo como base as distinções, exclu- sentimento, quer por intimidação, força ou coer-
sões ou restrições baseadas no sexo. Assim ção, tais como o beijo forçado ou estupro, quer
decorrente da ingestão de álcool e drogas, quer
sendo, trata-se de qualquer “violência dirigida
pela pressão moral, como, por, exemplo, o aborto
contra a mulher porque mulher ou que a afeta de
ou a gravidez forçada;
forma desproporcional”. z Violência moral, refere-se ao ataque à imagem e
ao bem-estar social por meio de xingamentos, des-
Esses três instrumentos de proteção fazem parte qualificações, participação forçada em determina-
do Sistema Global Especial de Proteção. Já em âmbito das atividades degradantes, tais como desfiles e
regional, o Sistema Interamericano de Proteção dos leilões;
Direitos Humanos estabeleceu, em 1994, a Conven- z Violência patrimonial, que envolve ações volta-
das à danificação dos pertences e objetos pessoais
ção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradi-
ou de trabalho ou a apropriação destes, tais como
car a Violência contra a Mulher, também conhecida
dinheiro, roupas, celular, entre outros;
como Convenção Belém do Pará. A Convenção, que foi
z Violência virtual, que se refere a qualquer tipo
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
ratificada pelo Brasil em 1995, destaca-se por tratar a
de violência por meio da utilização dos recursos
violência contra as mulheres como violação de direitos
tecnológicos e virtuais, como, por exemplo, a expo-
humanos e manifestação das relações de poder histori-
sição de conteúdo íntimo sem autorização e des-
camente desiguais entre mulheres e homens.
qualificação nas redes sociais. Esta modalidade
Trata-se do primeiro tratado internacional de pro-
não está disciplinada na lei.
teção dos Direitos Humanos a reconhecer a violência
contra a mulher como um fenômeno generalizado, A Lei Maria da Penha é uma norma de natureza
que atinge um grande número de mulheres, sem processual e não material. Explicando melhor: a Lei nº
distinção de raça, classe, religião, idade ou qualquer 11.340, de 2006, não regula as relações jurídicas entre
outra condição. as pessoas, ou seja, ela não cria tipos penais (crimes).
De acordo com a Convenção, a violência contra a Os crimes estão definidos no Código Penal (CP) e nas
mulher é manifestação de relações de poder histori- legislações extravagantes. Na realidade, a lei estabele-
camente desiguais entre mulheres e homens e cons- ce normas processuais para regulamentar o exercício
tituiu grave violação aos direitos humanos, além de jurisdicional, isto é, define o rito processual cabível.
ofensa à dignidade humana. Nos termos do seu art. 1º, Portanto, não há a prática de crime da Lei Maria da
considera-se violência contra a mulher qualquer ação Penha e, sim, a prática, por exemplo, de lesão corporal
ou conduta, baseada no gênero, que cause morte, dano (art. 129, do CP) sob o rito da Lei Maria da Penha. 387
Por fim, cumpre mencionar a criação da ONU Essa Declaração deu origem, em 1989, à Convenção
Mulheres, em 2010, com o objetivo de unir, fortalecer sobre os Direitos da Criança, vigente desde 1990. De
e ampliar os esforços mundiais em defesa dos direitos acordo com tal Convenção, são consideradas crianças
humanos das mulheres. todo ser humano com menos de dezoito anos de idade,
salvo nos casos em que a legislação interna aplicável à
IDOSOS criança considere a maioridade alcançada antes.
Atenção! o Estatuto da Criança e do Adolescente
Inicialmente, há de se esclarecer que não existe (ECA) traz outra definição. Ele define como criança o indi-
um Sistema Global Especial de Proteção aos direi- víduo até a idade de doze anos e, entre doze e dezoito,
tos dos idosos. O que existe é um Plano de Ação Inter- como adolescente.
nacional sobre os Idosos, adotado pela Assembleia Ao acolher a concepção do desenvolvimento integral
Mundial sobre os Idosos e endossado pela Assem-
da criança, a Convenção reconhece nesses seres em for-
bleia Geral da ONU, tendo como base os seguintes
mação a necessidade de proteção especial e prioritária.
princípios:
Trata-se, portanto, de uma norma extraordinariamente
z Independência; abrangente, abarcando todas as áreas tradicionalmen-
z Participação; te definidas como direitos humanos, ou seja, os direitos
z Assistência; civis, políticos, econômicos, sociais e culturais. Nela, estão
z Realização pessoal; previstos os seguintes direitos: direito à vida e à proteção
z Dignidade. contra a pena capital; direito de ter uma nacionalidade;
proteção em face da separação dos pais; direito de deixar
Já no âmbito regional, no Sistema Interamericano qualquer país e de entrar no próprio país, bem como o
de Direitos Humanos, existe a Convenção Interame- direito de entrar e sair de qualquer Estado-parte para fins
ricana sobre a Proteção dos Direitos Humanos dos de reunificação familiar; proteção para não ser levada
Idosos, aprovada em 15 de junho de 2015. Trata-se da ilicitamente ao exterior; proteção de seus interesses no
primeira convenção internacional no mundo a prote- caso de adoção, liberdade de pensamento, consciência e
ger, de forma específica, os direitos humanos das pes- religião; direito à saúde; prevenção à mortalidade infan-
soas idosas. til; o direito a um nível adequado de vida e segurança
O objetivo da Convenção é exigir que os Esta- social; direito à educação; proteção contra a exploração
dos americanos promovam e protejam os direitos econômica com fixação de idade mínima para admissão
humanos das pessoas idosas, as quais devem ter em emprego; a proteção contra o envolvimento na pro-
assegurados idênticos direitos das demais pessoas, dução, tráfico e uso de drogas e substâncias psicotrópi-
inclusive o de não ser submetido à discriminação cas; proteção contra a exploração e o abuso sexual.
baseada na idade nem a qualquer tipo de violên- A Convenção possui, ainda, três Protocolos Faculta-
cia, bem como que sejam consagrados meios especí- tivos: Protocolo Facultativo sobre a Venda de Crianças,
ficos de proteção decorrentes da condição própria de Prostituição e Pornografia Infantis, Protocolo Faculta-
idoso, a fim de contribuir para sua plena inclusão, tivo sobre o Envolvimento de Crianças em Conflitos
integração e participação na sociedade. Armados e Protocolo Facultativo relativos aos proce-
No que se refere à proteção nacional, a Constitui- dimentos de comunicação. O objetivo do primeiro é
ção Federal, de 1988, estabelece a proteção aos direi- impor aos Estados-partes a obrigação de proibirem a
tos do idoso no art. 230, que assim dispõe: venda de crianças, a prostituição e a pornografia infan-
Art. 230 A família, a sociedade e o Estado têm o tis, além de exigir a criminalização de tais condutas. Já
dever de amparar as pessoas idosas, assegurando o segundo Protocolo tem o escopo de assegurar que os
sua participação na comunidade, defendendo sua membros das Forças Armadas dos Estados signatários à
dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito Convenção, que não tenham atingido a idade de 18 anos,
à vida. não participem diretamente em disputas ou de qual-
§ 1º Os programas de amparo aos idosos serão exe- quer grupo armado. Por fim, o terceiro Protocolo tem
cutados preferencialmente em seus lares. por objetivo possibilitar que as crianças de apresentem
§ 2º Aos maiores de sessenta e cinco anos é garanti- denúncias de violações a seus direitos. Este último pro-
da a gratuidade dos transportes coletivos urbanos. tocolo ainda não foi incorporado ao direito brasileiro.
A legislação brasileira permite que um menor de
Além disso, há a Lei nº 10.741, de 2003, denomina- dezoito anos se torne militar das Forças Armadas. Neste
da de Estatuto do Idoso. caso, há, inclusive, disposição legal, disciplinando a sua
emancipação civil. No entanto, desde o ano de 2006, as
Forças Armadas adotaram o procedimento de somen-
Importante! te submetê-los ao treinamento armado após os dezoito
De acordo com o Estatuto, idoso é a pessoa com anos, cientes de que a eles é aplicado o Estatuto da Crian-
idade igual ou superior a 60 anos. ça e do Adolescente e, não, o Código Penal Militar.
Como mecanismo de controle e fiscalização dos
direitos das crianças, a Convenção criou o Comitê sobre
CRIANÇAS E ADOLESCENTES os Direitos da Criança. Sua função é monitorar a imple-
mentação da Convenção nos Estados-partes, por meio do
O Sistema Global de Proteção aos direitos das crianças exame de relatórios periódicos encaminhados por estes.
e dos adolescentes teve início no ano de 1959 com a apro- Ainda com relação ao Sistema Global Especial de
vação, na Assembleia Geral da ONU, da Declaração dos Proteção, é importante mencionar a criação, no ano de
Direitos da Criança. Seu objetivo era integrar as crianças 1946, do programa denominado Fundo Internacional
na sociedade, zelar pelo seu convívio e interação social, de Emergência das Nações Unidas. Este programa foi
cultural e financeiro e dar-lhes condições de sobrevivên- elaborado com o escopo de ajudar as crianças da Euro-
388 cia até a sua adolescência. pa despois da Segunda Guerra Mundial. Em 1953, ele foi
convertido em um organismo permanente dentro do A importância da Convenção decorreu do fato de
sistema das Nações Unidas, agora denominado Fundo estimular programas coordenados e sistemáticos para
das Nações Unidas para a Infância (UNICEF6). O UNI- a proteção e a integração da população indígena, como,
CEF, que trabalha em cento e noventa países, tem como por exemplo, influenciar na atuação de diversos orga-
objetivo melhorar as políticas e serviços voltados à pro- nismos internacionais, como o Banco Mundial, para
teção de todas as crianças. Suas temáticas são desenvol- uma política de fornecimento de projetos de desen-
vidas por meio de eventos e campanhas (UNICEF, 2018). volvimento progressivo para a aculturação gradual da
Já no âmbito de proteção nacional, tem-se a Lei nº população indígena.
8.069, de 1990, também denominada de Estatuto da Com o decorrer dos anos, indígenas e tribais passa-
Criança e do Adolescente. ram a reivindicar sua identidade étnica, cultural, eco-
nômica e social, rejeitando, inclusive, o fato de serem
POVOS INDÍGENAS E COMUNIDADES chamados de “população indígena”, até porque o Pacto
TRADICIONAIS Internacional sobre Direitos Civis, de 1966, estabelecia
como direito a autodeterminação dos povos, de modo
A princípio, faz-se necessário consignar que a cons- que a expressão “população” deixou de ser adequada.
tituição de grupos étnicos resulta de eventos históricos Além disso, “população” denota transitoriedade e con-
consubstanciados em contrastes culturais preestabele- tingencialidade, ao passo que o termo “povo” caracteri-
cidos. Destes contrastes advêm fronteiras étnicas com za-se pela identidade e organização própria.
traços culturais determinados. Como consequência, a Convenção nº 107 foi substi-
Assim, ao se identificar grupos pelos próprios auto- tuída pela Convenção nº 169, da OIT, de 1989, e repre-
res em decorrência do processo de sua geração e manu- sentou o avanço mais significativo para a consciência
tenção, é possível estabelecer as categorias étnicas. da identidade indígena e tribal, sendo critério funda-
Neste sentido, consideram grupo étnico a população mental para determinar os grupos. Tal Convenção foi
que se perpetua biologicamente, compartilhando os o primeiro instrumento internacional vinculante que
mesmos valores culturais patentes como unidade na cuidava especificamente dos direitos dos povos indí-
forma de cultura e constituindo um campo de combi- genas e tribais, por ter como fundamento o critério
nação e de interação, além de poderem se identificar uns subjetivo da autoidentidade indígena ou tribal como
aos outros como uma categoria do mesmo tipo. decorrente do fato de que são considerados indígenas
Observa-se, portanto, que o primeiro problema os habitantes descendentes de povos da mesma região
enfrentado no desenvolvimento de um Sistema Espe- geográfica que viviam no local na época da conquista
cial de Proteção aos direitos dos povos indígenas e das ou colonização e que conservam as próprias institui-
comunidades tradicionais é estabelecer um critério ções sociais, econômicas, culturais e políticas.
para enquadrar os sujeitos de direito. Na realidade, os É importante saber que a Convenção declara a obri-
conceitos de índio e povos indígenas são generalizados, gação estatal de reconhecer a autonomia dos povos e
fundamentando-se mais na sua etmologia do que na de garantir-lhes a propriedade e a posse das terras.
antropologia. Por conseguinte, surge uma visão arqueoti- Embora a Convenção nº 169 seja extremamente
pada de índio como habitante da mata, um ser selvagem importante no reconhecimento dos direitos dos povos
que vive isolado do mundo, sem roupas ou qualquer con- indígenas, o ápice dessa tendência de reconhecimen-
tato com a civilização. to foi a aprovação da Declaração das Nações Unidas
No plano internacional, o reconhecimento dos direitos dos Direitos dos Povos Indígenas, em 2007. A Decla-
dos povos indígenas tem relação direta com o desenvolvi- ração reconheceu os direitos dos povos indígenas
mento sustentável do meio ambiente e a conservação de como um dos direitos coletivos no âmbito internacio-
biodiversidade. Conforme já mencionado, a DUDH trou- nal, trazendo a percepção do princípio da dignidade
xe a ideia de universalidade e de proteção aos direitos da pessoa humana a indivíduos isolados e pressupõe
humanos dentro de um contexto gobal e geral. sua inserção em uma coletividade. Assim, a dignida-
Para a formação de um sistema mais eficiente, houve de passa a ser reconhecida pela identidade de todos
a necessidade de considerar as peculiaridades de cada em uma só matriz: a humana. Isso significa dizer que,
grupo e de cada região. Neste sentido, o primeiro docu- dentro de uma mesma substância, devem-se reconhe-
mento de cunho internacional que visualizou o indíge- cer as diferenças.
na como sujeito específico de direitos foi a Convenção No Brasil, essa proteção é efetivada por meio da
nº 107, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Lei nº 6.001, de 1973, também denominada de Esta-
de 1957. A Convenção tinha como objetivo a proteção e
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
tuto do Índio, além de constar expressamente na CF,
a integração das populações indígenas, bem como outras de 1988 (arts. 231 e 232).
populações tribais ou semitribais nos países independen-
tes, estabelecendo, sobretudo, os direitos à terra e às con- PESSOA COM DEFICIÊNCIA
dições de trabalho, saúde e educação.
O Sistema Especial de Proteção aos direitos das
Dica pessoas com deficiência é recente. Na realidade, o
A Convenção define o termo “semitribal”, em seu modo de se visualizar tais pessoas pode ser resumi-
art. 2º, como grupos e as pessoas que, embora do em quatro fases distintas. A primeira fase foi a de
intolerância em relação às pessoas com deficiência.
prestes a perderem suas características tribais,
Neste período, a deficiência simbolizava a impureza,
não se achem ainda integrados na comunidade
o pecado, ou, até mesmo, o castigo divino. A segun-
nacional.
da fase foi marcada pela invisibilidade das pessoas
com deficiência. Dela decorreu a terceira fase, mar-
cada pelo assistencialismo e pautada na perspectiva

6 Sigla em inglês. 389


médica e biológica de que a deficiência era uma pato- Em 2006, as Nações Unidas adotaram a Conven-
logia e, como tal, deveria ser curada. Por fim, a quarta ção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência
fase voltou-se para os direitos humanos, despontando e inovaram, ao conceituar pessoas com deficiência
os direitos à inclusão social, com ênfase na relação da como sendo:
pessoa com deficiência e do meio em que ela está inse-
rida. Além disso, emerge a necessidade de eliminar Art. 1 [...] aquelas que têm impedimentos de lon-
obstáculos e barreiras que impeçam o pleno exercício go prazo de natureza física, mental, intelectual ou
de direitos humanos, quer sejam eles culturais, físicos sensorial, os quais, em interação com diversas bar-
ou sociais. reiras, podem obstruir sua participação plena e efe-
tiva na sociedade em igualdades de condições com
as demais pessoas.
Importante!
A novidade trazida encontra-se no reconhecimento
A própria forma de se referir a essas pessoas é fru- explícito de que o meio ambiente, econômico e social
to de uma construção histórica. Até o século XIX, pode ser causa ou fator de agravamento de deficiência.
as pessoas com deficiência eram chamadas de A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com
inválidos. No século XX, até a década de 60, eram Deficiência funda-se em oito princípios: respeito
denominados incapazes ou incapacitados. Entre à dignidade, autonomia individual para fazer suas
as décadas de 60 e 80, os termos utilizados eram próprias escolhas e independência pessoal; não dis-
deficientes, defeituosos ou excepcionais. De 1981 criminação; plena e efetiva participação e inclusão
a 1987, passaram a ser chamados de pessoas social; respeito às diferenças e aceitação das pessoas
deficientes. Entre 1988 a 1993, eram denomina- com deficiência como parte da diversidade humana;
das pessoas portadoras de deficiência. A partir de igualdade de oportunidades; acessibilidade; igualda-
1993, a nomenclatura mudou para portadores de de entre homens e mulheres; respeito ao desenvolvi-
mento das capacidades das crianças com deficiência e
necessidades especiais, pessoas com necessida-
respeito aos direitos destas crianças de preservar sua
des especiais, pessoas especiais, portadores de
identidade.
direitos especiais ou pessoas com deficiência.
A Convenção traz, ainda, um Protocolo Facultativo,
no qual os Estados-parte reconhecem a competência do
Comitê sobre os Direitos das Pessoas com Deficiên-
Com a mudança de paradigma, surgiu o dever cia para receber e considerar comunicações submetidas
dos Estados de remover e eliminar os obstáculos que por pessoas ou grupos de pessoas, ou em nome deles, no
impediam o pleno exercício dos direitos das pessoas caso de violação das disposições da Convenção.
com deficiência, viabilizando o desenvolvimento de No âmbito nacional, a lei brasileira de inclusão
suas potencialidades com autonomia e participação. da pessoa com deficiência é a Lei nº 13.146, de 2015,
Assim, o Sistema de Proteção Internacional dos Direi- também denominada de Estatuto da Pessoa com
tos Humanos passou a exigir dos Estados um trata- Deficiência.
mento especializado para salvaguardar os direitos
das pessoas com deficiência. Deste modo, em 1971, foi LGBTQIA+
aprovada a Declaração dos Direitos do Deficiente
Mental, ou seja, o primeiro instrumento específico de Conforme mencionado anteriormente, os termos
proteção, sendo que sua função foi definir um parâ- gênero e sexo não são sinônimos. O conceito de sexo
metro mínimo protetivo com os princípios gerais a está atrelado à classificação dos indivíduos com base
serem observados. em suas características anatômicas, enquanto o termo
Na sequência, no ano de 1975, foi aprovada a gênero representa o comportamento e a identidade
Declaração dos Direitos das Pessoas Deficientes. que distingue os homens das mulheres. Esse último
Nela, “pessoa deficiente” é definida como qualquer pes- se refere, portanto, a um entendimento mais amplo,
soa incapaz de assegurar por si mesma, total ou parcial- de forma a abranger tanto as expectativas compor-
mente, as necessidades de uma vida individual ou social tamentais socialmente constituídas, como os estereó-
normal, em decorrência de uma deficiência, congênita tipos e as regras que constroem a masculinidade e a
ou não, em suas capacidades físicas ou mentais. feminilidade.
Já em 1983, a OIT adotou a Convenção nº 159, dis- É importante esclarecer que gênero também não
pondo sobre a reabilitação profissional e emprego de se confunde com sexualidade. Embora seja uma con-
pessoas deficientes. De acordo com a Convenção, os fusão bastante comum, não é possível atrelar o termo
Estados-parte tem o dever de formular e aplicar uma gênero com a maneira com que a pessoa expressa
política nacional sobre reabilitação profissional e seus afetos ou mantém suas relações afetivas, uma
emprego de pessoas deficientes. Baseada no princípio vez que, as dimensões do amor e prazer tem relação
da igualdade, a reabilitação tem a função de permitir com a sexualidade e, não, com gênero.
que uma pessoa com deficiência obtenha e conserve o O termo gênero, portanto, encontra-se ligado às
emprego, além de progredir nele e conseguir se inte- questões simbólicas que evolvem a construção cultu-
grar na vida social. ral e social entre os sexos. Tais diferenças não envol-
Cumpre mencionar, ainda, que a Convenção vem as questões biológicas ou físicas propriamente
sobre os Direitos da Criança tratou especificamente ditas.
da criança com deficiência, estipulando como dever Deste modo, gênero não é uma categoria biológi-
dos Estados-parte proporcionar condições que favore- ca, nem tem relação com interesses sexuais. Em sín-
çam sua autonomia e facilitem sua plena integração tese, sexo não determina o gênero e nem a orientação
390 na comunidade. sexual. Trata-se, portanto, de uma construção social,
que considera o que é cultural, social e histórico, cir- razão, quando a CF, de 1988, foi promulgada, houve
cunscritos no homem e na mulher. um grande avanço nos direitos das pessoas LGBTQIA+,
uma vez que a dignidade da pessoa humana passou a
ser considerada como um dos fundamentos da Repú-
Importante! blica Federativa do Brasil no inciso III, art. 1º, da CF,
de 1988. Por conseguinte, todas as demais normas
Identidade de gênero envolve a percepção íntima passaram a ser orientadas pelo princípio, de modo a
que a pessoa tem de si própria como sendo do limitar e afastar determinadas condutas, tais como a
gênero masculino, feminino ou da combinação homofobia, a lesbofobia, a bifobia, entre outros, visto
dos dois, independente do sexo biológico. Para que, além de não ser possível negar direitos às pes-
ter noção da amplitude do termo, a Comissão soas com base na orientação sexual ou gênero.
de Direitos Humanos de Nova York reconheceu A dignidade é condição inerente à pessoa e não
trinta e um tipos diferentes de gênero, resultan- comporta gradações, uma vez que é pressuposta da
tes das mais diversas combinações possíveis, ideia de igualdade e justiça social. Portanto, todos os
tais como agênero, andrógino, butch, bigênero, indivíduos possui igual dignidade. Além disso, a dig-
gender-queer, gênero de fronteira, gênero em nidade é o mínimo invulnerável que todos os orde-
dúvida, gênero fluido, gênero neutro, gênero não namentos jurídicos devem assegurar para o exercício
conformista, gênero variante, hijra, não binário, dos demais direitos.
male to female (MTF), female to male (FTM), ter- A dignidade da pessoa humana demanda respeito
ceiro sexo, nenhum, entre outros. ao direito alheio de se autodeterminar e de gerir a vida
da maneira que entender. Com isso, o direito estabele-
ce o dever de abstenção de condutas que possam ferir
Para garantir os direitos e a inclusão das pes- a dignidade. Deste modo, viola a dignidade da pes-
soas de diversas orientações sexuais e identida- soa humana a manutenção da visão homofóbica, por
des de gênero, surgiu o movimento LGBTQIA+. Tal exemplo, por entender a homossexualidade como algo
movimento nasceu como uma forma de conscientizar fora dos padrões de normalidade, de modo a negar a
a população para as formas de discriminação no que uma parcela da população o direito à igualdade, tendo
se refere à orientação sexual que resultavam, por como base argumentos morais ou religiosos.
exemplo, no abandono da escola por estudantes que Além disso, a sexualidade decorre da própria con-
sofriam preconceito. No início, a sigla era GLS (gays, dição humana, de modo que a orientação sexual não
lésbicas e simpatizantes), porém, ao longo dos tempos, pode ser fator condicionador do direito à igualdade.
passou a incluir os indivíduois não heterossexuais e Desde o final da década de 90 até os dias de hoje,
não cisgênero7, sendo denominado de LGBTQIA+A em diversos direitos foram reconhecidos, tais como a
razão de sua diversidade. sociedade de fato constituída por pessoas do mesmo
A sigla L significa lésbicas, ou seja, mulheres que sexo biológico como forma de garantir a igualdade.
sentem atração afetiva ou sexual pelo mesmo gênero Também foi reconhecido o direito à partilha de bens,
(mulheres). relação de dependência e, por fim, a união homoafeti-
A sigla G significa gays, isto é, homens que sentem va, em que pese o fato de não existir previsão expres-
atração afetiva ou sexual pelo mesmo gênero (homens). sa na CF, de 1988, nem na legislação cível.
A sigla B significa bissexuais, ou seja, pessoas que Há de se mencionar, ainda, que todas as pessoas
sentem atração afetiva ou sexual pelos gêneros mas- possuem direitos à intimidade e à vida privada (inciso
culino e feminino. X, art. 5º, da CF, de 1988), além do direito à busca pela
A sigla T significa transexuais, isto é, pessoas que felicidade. Acresce também a proibição do preconcei-
não se identificam com o gênero atribuído em seu to para a proclamação do direito à liberdade sexual.
nascimento. Portanto, refere-se à identidade de gêne- No início, a união homoafetiva era considerada
ro e, não, à orientação sexual. uma sociedade. Depois, adquiriu status de entida-
A sigla Q significa queer, ou seja, aquelas que tran- de familiar, desde que preenchesse os requisitos da
sitam entre as noções de gênero, como ocorre com as união estável, para, finalmente, se enquadrar no con-
drag queens, tendo como base a ideia de que a orien- ceito de família, com a possibilidade, inclusive, do
tação sexual e identidade de gênero são frutos de uma casamento civil.
construção social e, não, resultado da biologia.
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
A sigla I significa intersexo, ou seja, aqueles em REFUGIADOS
que as combinações biológicas e de desenvolvimen-
to corporal, como, por exemplo, genitálias, cromos- A palavra refúgio, assim como a palavra asilo,
somos, hormônios, entre outros, não se enquadram significa proteção. Por essa razão, os termos asilo e
como masculino ou feminino. refúgio, por vezes, chegaram a se confundir, seja por
A sigla A significa assexual, isto é, aquele que não seu sentido etimológico seja por seu sentido jurídico e
sente atração sexual por outra pessoa, independente- político. No entanto, trata-se de institutos diferentes.
mente do gênero. O asilo é o instituto de proteção relacionado a
A sigla + é acrescentada ao fim para incluir outros atos políticos. Nele o sujeito (estrangeiro) persegui-
grupos e variações de sexualidade e gênero, tais como do é individualizado pelo Estado (seu país ou qual-
os pansexuais, que sentem atração por outras pessoas, quer outro), que o acolhe. Esta proteção é baseada
independente do gênero. em dissidência política, delitos de opinião ou crimes
Historicamente, observa-se que tais segmentos da relacionados com a segurança do Estado e que não se
população têm constantemente seus direitos violados encontram previstos na legislação penal comum.
em face do preconceito e da discriminação. Por essa

7 Cisgênero é a pessoa que se identifica com o gênero atribuído no nascimento, sendo o oposto do transgênero. 391
Em contrapartida, o refúgio é um instituto mais acontecimentos, não pode ou, devido ao referido
amplo, sendo aplicado a casos de perseguição de temor, não quer voltar a ele.
aspectos mais generalizados, de modo a proteger No caso de uma pessoa que tem mais de uma nacio-
um número elevado de pessoas. nalidade, a expressão “do país de sua nacionalida-
O asilo pode ser solicitado no próprio país de ori- de” se refere a cada um dos países dos quais ela é
nacional. Uma pessoa que, sem razão válida funda-
gem do indivíduo que está sendo perseguido, já o
da sobre um temor justificado, não se houver vali-
refúgio é admitido somente quando o indivíduo está
do da proteção de um dos países de que é nacional,
fora de seu país. Ademais, a concessão de asilo possui não será considerada privada da proteção do país
caráter constitutivo, enquanto o refúgio caracteriza de sua nacionalidade.
um ato declaratório. B. 1) Para os fins da presente Convenção, as pala-
A primeira tentativa de disciplinar o instituto do vras “acontecimentos ocorridos antes de 1º de
refúgio deu-se em 1919 com o Pacto da Sociedade janeiro de 1951”, do art. 1º, seção A, poderão ser
das Nações, também denominado de Liga das Nações, compreendidas no sentido de ou
porém sem conceituar quem seriam os refugiados e a) “acontecimentos ocorridos antes de 1º de janeiro
quais seus direitos e deveres. de 1951 na Europa”; ou
Entre os anos de 1922 a 1928, como resposta aos b) “acontecimentos ocorridos antes de 1º de janeiro
problemas causados em decorrência da Primeira de 1951 na Europa ou alhures”;
Guerra Mundial e dos vários conflitos que surgiram
na sequência, a Liga das Nações adotou quatro acor- Observa-se que a Convenção peca por definir
dos multilaterais para proteção aos refugiados. refugiado de forma limitada, tanto temporal como
Estes documentos deram origem à Convenção sobre geograficamente. Como consequência das limitações
o Estatuto Internacional dos Refugiados de 1933, temporais e geográficas, foi estabelecido o Protoco-
considerada um dos primeiros instrumentos jurídicos lo sobre o Estatuto dos Refugiados, em 1967, com
internacionais relativos a refugiados. A Convenção, o objetivo de ampliar o alcance da definição de
no entato, aplicava-se apenas aos refugiados armê- refugiado.
nios e russos. Portanto, o Sistema Global Específico de Prote-
Com a substituição da Liga das Nações pela ONU, ção aos direitos dos refugiados tem como finalidade
foi criado, em 1949, o Alto Comissariado das Nações restabelecer os direitos humanos mínimos das pes-
soas que saíram de seu meio social. Salienta-se, por
Unidas para os Refugiados (ACNUR), para a prote-
necessário, que a relação entre os direitos humanos
ção de refugiados e das populações deslocadas por
e os dos refugiados apresenta-se em três momentos
guerras, conflitos e perseguições.
fundamentais:
Na sequência, foi realizada a Conferência das
Nações Unidas de Plenipotenciários sobre o Estatuto
dos Refugiados e Apátridas. Como consequência, foi z Anterior ao refúgio;
aprovada, em 1951, a Convenção Relativa ao Esta- z No momento da solicitação de efúgio;
tuto dos Refugiados, e passou a vigorar em 1954. A z Na solução do problema.
Convenção é considerada a base legal de todo o Sis-
tema Global de Proteção ao refugiado, dispondo Como soluções que permitam aos refugiados viver
acerca do conceito de refugiado, meios de proteção, suas vidas com dignidade e paz, o ACNUR apresenta
seus direitos e deveres. como exemplos a repatriação voluntária, o reassen-
O conceito de refugiado está disposto no art. 1º, da tamento e a integração local. A repatriação voluntá-
Convenção, que assim estabelece: ria ocorre quando o refugiado decide retornar ao seu
Estado. Para aqueles que não podem retornar ao seu
Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugia- local de origem, seja por causa dos conflitos persis-
dos (1951) tentes, das guerras ou das perseguições, existem duas
Art. 1º Definição do termo “refugiado” opções: o reassentamento em outro Estado e a inte-
A. Para os fins da presente Convenção, o termo gração na comunidade de acolhimento.
“refugiado” se aplicará a qualquer pessoa: Complementando o Sistema Global de Proteção,
1) Que foi considerada refugiada nos termos dos têm-se os seguintes tratados de proteção: Declaração
Ajustes de 12 de maio de 1926 e de 30 de junho de de Cartagena sobre os Refugiados, de 1984; Declara-
1928, ou das Convenções de 28 de outubro de 1933 ção de São José sobre Refugiados e Pessoas Desloca-
e de 10 de fevereiro de 1938 e do Protocolo de 14 das, de 1994; Declaração e Plano de Ação do México
de setembro de 1939, ou ainda da Constituição da para Fortalecer a Proteção Internacional dos Refu-
Organização Internacional dos Refugiados; giados na América Latina, de 2004; Plano de Ação do
As decisões de inabilitação tomadas pela Organiza- México “para fortalecer a Proteção Internacional dos
ção Internacional dos Refugiados durante o perío- Refugiados na América Latina”, de 2004; Declaração
do do seu mandato, não constituem obstáculo a de Brasília sobre a Proteção de Refugiados e Apátri-
que a qualidade de refugiados seja reconhecida a das no Continente Americano, de 2010, Declaração de
pessoas que preencham as condições previstas no
Princípios do Mercosul sobre Proteção Internacional
parágrafo 2 da presente seção;
dos Refugiados, de 2012, e Mercosul/RMI/FEM/CONA-
2) Que, em conseqüência dos acontecimentos ocor-
RE/Ata nº 01/2012 (Ata do I Encontro dos CONARES ou
ridos antes de 1º de janeiro de 1951 e temendo ser
Equivalentes dos Estados parte e Associados do Mer-
perseguida por motivos de raça, religião, naciona-
lidade, grupo social ou opiniões políticas, se encon- cosul), de 2012.
tra fora do país de sua nacionalidade e que não
pode ou, em virtude desse temor, não quer valer-se
da proteção desse país, ou que, se não tem nacio-
nalidade e se encontra fora do país no qual tinha
392 sua residência habitual em conseqüência de tais
O Decreto nº 7.037, de 2009, aprovou o Programa
POLÍTICA NACIONAL DE DIREITOS Nacional de Direitos Humanos — PNDH-3 e dá outras
HUMANOS providências.
Constou no referido decreto seu art. 2º que o
Trata-se de uma Política implementada pelo Gover- PNDH-3 será implementado de acordo com os seguin-
no Federal com o objetivo de implementar os direitos tes eixos orientadores e suas respectivas diretrizes:
humanos no Brasil.
A Política Nacional fora efetivada por meio dos
Interação democrática en-
Programas Nacionais de Direitos Humanos. Ao todo EIXO ORIENTADOR I
tre Estado e sociedade civil;
foram três programas nos seguintes anos:
Desenvolvimento e Direitos
EIXO ORIENTADOR II
z PNDH 1 — 1996; Humanos;
z PNDH 2 — 2002;
z PNDH 3 — 2009. Universalizar direi-
EIXO ORIENTADOR III tos em um contexto de
Esses programas foram editados pela Presidência desigualdades;
da República por meio de Decretos. Segurança Pública,
É necessário esclarecer que eles não têm efeito EIXO ORIENTADOR IV Acesso à Justiça e Comba-
vinculante. Seu objetivo é buscar identificar os pro- te à Violência;
blemas e possíveis violações de Direitos Humanos e
propor medidas concretas de enfrentamento. Decor- Educação e cultura em
EIXO ORIENTADOR V
rem de um diálogo entre o governo federal e a socie- Direitos Humanos;
dade civil.
Sobre o último deles, o PNDH III implementado Direito à Memória e
EIXO ORIENTADOR VI
pelo Decreto nº 7.037, de 2009, alterado pelo Decreto à Verdade.
7.177/2010), temos o seguinte:
Sobre as metas, prazos e recursos necessários para
z Ano de implementação: 2009; a implementação do PNDH-3: serão definidos e apro-
z Seis eixos orientadores, 25 diretrizes transversais vados em Planos de Ação de Direitos Humanos bia-
e 81 objetivos estratégicos; nuais, conforme determinou o art. 3º.
z 519 ações programáticas; Por sua vez, o art. 4º determina a instituição do
Comitê de Acompanhamento e Monitoramento do
z Incorpora resoluções da 11ª Conferência Nacional PNDH-3, cujas finalidades são as seguintes:
de Direitos Humanos e propostas aprovadas nas
mais de 50 conferências nacionais temáticas pro- I  -  promover a articulação entre os órgãos e enti-
movidas desde 2003; dades envolvidos na implementação das suas ações
z Proposto por 31 Ministérios. programáticas;
II  -  elaborar os Planos de Ação dos Direitos
O PNDH III conta com um Comitê de Acompanha- Humanos;
mento e Monitoramento de sua implementação. III  -  estabelecer indicadores para o acompanha-
Seus objetivos são: identificar as barreiras para pro- mento, monitoramento e avaliação dos Planos de
moção e proteção dos direitos humanos no Brasil, esta- Ação dos Direitos Humanos;
belecer prioridades e apresentar propostas concretas IV  -  acompanhar a implementação das ações e
recomendações; e
de caráter administrativo, legislativo e político-cultural
V - elaborar e aprovar seu regimento interno.
que busquem equacionar os mais graves problemas
que hoje impossibilitam ou dificultam a sua plena rea-
O parágrafo 1º trata da composição do Comitê de
lização. Foi elaborado pelo Ministério da Justiça em
Acompanhamento e Monitoramento do PNDH-3, esta-
conjunto com diversas organizações da sociedade civil.
belecendo que será de um representante e respectivo
O PNDH III teve como mérito ter estabelecido uma
suplente de cada órgão a seguir descrito, indicados
interação entre a ordem internacional e constitucio-
pelos respectivos titulares:
nal, o que foi importante para a afirmação dos direi-
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
tos humanos. Há que se considerar que durante os
I  -  Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
regimes ditatoriais, o objetivo primordial dos direitos
Presidência da República, que o coordenará;
humanos era a proteção da pessoa em face do Estado.
II - Secretaria Especial de Políticas para as Mulhe-
Com a democratização, os direitos humanos passam res da Presidência da República;
a ser também um objetivo dos Estados, de forma que III  -  Secretaria Especial de Políticas de Promoção
estes podem ao mesmo tempo, promoverem os direi- da Igualdade Racial da Presidência da República;
tos humanos e serem seus violadores.8 IV - Secretaria-Geral da Presidência da República;
V - Ministério da Cultura;
VI - Ministério da Educação;
Importante! VII - Ministério da Justiça;
O PNDH resulta de um processo de democratiza- VIII - Ministério da Pesca e Aquicultura;
IX - Ministério da Previdência Social;
ção da sociedade e do Estado brasileiro.
X - Ministério da Saúde;
XI - Ministério das Cidades;
XII - Ministério das Comunicações;

8 Flávia Piovesan (Tema de Direitos Humanos, 2018, p. 608). 393


XIII - Ministério das Relações Exteriores; O PNDH ressalta que o crescimento do o PIB não é
XIV - Ministério do Desenvolvimento Agrário; indicador suficiente para demonstrar a melhoria nas
XV - Ministério do Desenvolvimento Social e Com- condições de vida (bem-estar) de todas camadas sociais.
bate à Fome; É importante saber que no PNDH consta a assimi-
XVI - Ministério do Esporte; lação de ideias do autor Amartya Sen: desenvolvimen-
XVII - Ministério do Meio Ambiente; to como liberdade; resultado centrado nos direitos do
XVIII - Ministério do Trabalho e Emprego; ser humano.
XIX - Ministério do Turismo;
XX - Ministério da Ciência e Tecnologia; e z Sobre o Eixo Orientador III: Universalizar direi-
XXI - Ministério de Minas e Energia. tos em um contexto de desigualdades

O Secretário Especial dos Direitos Humanos da Seu objetivo é a concretização do princípio à igual-
Presidência da República: designará os representan- dade previsto nos tratados de direitos humanos a que
tes do Comitê de Acompanhamento e Monitoramento o Brasil aderiu, bem como na Constituição Federal.
do PNDH-3 (§ 2º). Consta como objetivo estratégico deste Eixo: a
promoção da cidadania plena (em consonância com
a universalidade; indivisibilidade e interdependência
Importante! dos Direitos Humanos);
O Comitê de Acompanhamento e Monitoramen- O desafio está justamente no enfrentamento por
to do PNDH-3 poderá constituir subcomitês meio de ações programáticas das desigualdades, com
temáticos para a execução de suas atividades, o objetivo de eliminá-las.
que poderão contar com a participação de repre-
z Sobre o Eixo Orientador IV: Segurança pública
sentantes de outros órgãos do Governo Federal.
O Eixo Orientador IV trata da Segurança Pública,
Ainda, o Comitê convidará representantes dos Acesso à Justiça e Combate à Violência, tendo como
demais Poderes, da sociedade civil e dos entes federa- uma de suas diretrizes, a Democratização e moderni-
dos para participarem de suas reuniões e atividades. zação do sistema de segurança pública
(§ 4º). O Objetivo estratégico I: Modernização do marco
Os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e os normativo do sistema de segurança pública, com a
órgãos do Poder Legislativo, do Poder Judiciário e adoção da seguinte ação programática:
do Ministério Público: serão convidados a aderir ao Propor alteração do texto constitucional, de modo
PNDH-3. (art. 5º). a considerar as polícias militares não mais como for-
ças auxiliares do Exército, mantendo-as apenas como
z Eixo Orientador I: Interação democrática entre força reserva.
Estado e sociedade civil
z Sobre o Eixo Orientador V: Educação e Cultura
„ Contexto histórico: rearticulação dos movi- em Direitos Humanos
mentos sociais (década de 70)  luta pela demo-
cracia em um momento de repressão política; O objetivo é de formação de uma nova mentalida-
„ Formação de movimentos sociais locais: bus- de coletiva para o exercício da solidariedade, do res-
cando direitos básicos — moradia, transporte, peito às diversidades e da tolerância.
saúde. Há que se ressaltar aqui a importância da educa-
ção em direitos humanos, de forma que se estabeleça
Dica um canal estratégico para produzir uma sociedade
igualitária, o que vai além do direito à educação per-
Esses movimentos tiveram atuação importan- manente e de qualidade.
te durante a Assembleia Constituinte (antes da São definidas cinco grandes áreas do PNDH-3:
Constituição de 1988).
„ Na educação básica: possibilitar, desde a infân-
Nos anos 90, os movimentos sociais organizados
cia, a formação de sujeitos de direito. Prioridade:
tiveram importante papel na defesa do Estado; na
populações historicamente vulnerabilizadas;
busca pela manutenção dos direitos sociais perante o
„ No ensino superior: como meta, a inclusão dos
neoliberalismo e privatizações, etc.
Direitos Humanos como disciplinas diversas,
O foco era estabelecer diálogo entre o Estado e a
linhas de pesquisa, áreas de concentração.
sociedade civil que permitissem: o exercício da cida-
„ Na educação não formal: inclusão dos Direi-
dania e a obtenção de resultados práticos obtidos
tos Humanos nos programas de capacitação
desta interação, tais como políticas públicas e avan-
de lideranças comunitárias e nos programas
ços no tocante à diversidade social, cultural, étnica e
de qualificação profissional; alfabetização de
regional.
jovens e adultos, dentre outros;
z Sobre o Eixo Orientador II: Desenvolvimento e „ Formação e educação continuada em Direi-
Direitos Humanos tos Humanos: com recortes de gênero, rela-
ções étnico-raciais e de orientação sexual em
Em relação ao desenvolvimento, seu objetivo é todo o serviço público;
garantir a livre determinação dos povos; reconheci- „ Papel estratégico dos meios de comunicação
mento de soberania sobre os recursos e riquezas natu- de massa: para construir ou desconstruir o
rais; respeito pleno à identidade cultural e busca de ambiente nacional e cultural social de respeito
394 equidade na distribuição de riquezas. e proteção dos Direitos Humanos.
2. Os Estados Partes do presente Pacto comprome-
EDUCAÇÃO E CULTURA EM DIREITOS tem-se a garantir que os direitos nele enuncia-
HUMANOS dos e exercerão sem discriminação alguma por
motivo de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião
Estabelecido pela Assembleia Geral da ONU em 16 política ou de outra natureza, origem nacional ou
social, situação econômica, nascimento ou qual-
de dezembro de 1966, o PIDESC entrou em vigor para
quer outra situação.
o Brasil em 1992, por meio do Decreto nº 591. Esse
3. Os países em desenvolvimento, levando devi-
documento foi construído com o objetivo de tornar
damente em consideração os direitos humanos e a
juridicamente vinculantes os dispositivos da Decla-
situação econômica nacional, poderão determi-
ração Universal dos Direitos Humanos, buscando,
nar em que garantirão os direitos econômicos
assim, a responsabilização internacional dos estados reconhecidos no presente Pacto àqueles que não
partes por eventual violação dos direitos estipulados. sejam seus nacionais.
O foco desse Pacto são os direitos humanos de
segunda dimensão ou geração, explicitados pela
Os Estados membros do Pacto precisam imple-
tríade: direitos sociais, econômicos e culturais.
mentar políticas públicas direcionadas aos direitos
Ademais, o PIESC compreende que a pessoa
previstos no Pacto para se efetivar igualdades, pro-
humana, por ter deveres para com seus semelhan-
gressivamente, na medida dos recursos disponíveis
tes e para com a coletividade a que pertence, tem a
e do nascimento das necessidades sociais.
obrigação de lutar pela promoção e observância dos
direitos presentes no Pacto. Analisando esse dispositivo, a doutrina aponta que
O presente Pacto também tem status de norma a progressividade dos direitos econômicos, sociais e
supralegal, com base no entendimento do STF no RE culturais proíbe o retrocesso ou a redução de políti-
466.343, ou seja, tem hierarquia superior às normas cas públicas direcionadas à consecução de tais direi-
infraconstitucionais, mas é inferior à nossa Constitui- tos. Assim, uma vez efetivados esses direitos para a
ção Federal. população, ou até mesmo para estrangeiros, o Esta-
A seguir, comentaremos os principais artigos do do não poderá posteriormente suprimir, diminuir o
PIDCP explorados nas provas de concurso. espectro de proteção.
Esse dispositivo revela, assim, o Princípio da veda-
PARTE I, ARTIGO 1º – DIREITO À ção do retrocesso, também chamado de efeito cliquet.
AUTODETERMINAÇÃO O efeito cliquet dos direitos humanos significa que os
direitos não podem retroagir, só podendo avançar nas
1. Todos os povos têm direito a autodeterminação. proteções dos indivíduos. Esse princípio, de acordo
Em virtude desse direito, determinam livremente com Canotilho, significa que é inconstitucional qual-
seu estatuto político e asseguram livremente seu quer medida tendente a revogar os direitos sociais
desenvolvimento econômico, social e cultural. já regulamentados, sem a criação de outros meios
2. Para a consecução de seus objetivos, todos os alternativos capazes de compensar a anulação desses
povos podem dispor livremente de suas riquezas benefícios.
e de seus recursos naturais, sem prejuízo das
obrigações decorrentes da cooperação econômica
ARTIGO 3º – IGUALDADE ENTRE HOMENS E
internacional, baseada no princípio do proveito
mútuo, e do Direito Internacional. Em caso algum,
MULHERES
poderá um povo ser privado de seus próprios
meios de subsistência. Os Estados Partes do presente Pacto comprome-
3. Os Estados Partes do Presente Pacto, inclusive tem-se a assegurar a homens e mulheres igual-
aqueles que tenham a responsabilidade de adminis- dade no gozo de todos os direitos econômicos,
trar territórios não-autônomos e territórios sob tutela, sociais e culturais enumerados no presente Pacto.
deverão promover o exercício do direito à autode-
terminação e respeitar esse direito, em conformi- ARTIGO 4º – SUBMISSÃO DOS DIREITOS
dade com as disposições da Carta das Nações Unidas. UNICAMENTE ÀS LIMITAÇÕES ESTABELECIDAS EM
LEI
A emancipação política dos povos é expressamen-
te assegurada nesse dispositivo. A autodeterminação Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
dos povos garante aos povos o direito de autogover- que, no exercício dos direitos assegurados em con-
no e de decidir livremente o seu status político, assim formidade com presente Pacto pelo Estado, este
como aos Estados o direito de defender sua existência poderá submeter tais direitos unicamente às limi-
e condição de independente. tações estabelecidas em lei, somente na medida
compatível com a natureza desses direitos e exclu-
PARTE II, ARTIGO 2º – PROGRESSIVIDADE E sivamente com o objetivo de favorecer o bem-estar
APLICAÇÃO DE RECURSOS NA MEDIDA DO geral em uma sociedade democrática.
POSSÍVEL
ARTIGO 5º – REGRAS INTERPRETATIVAS
1. Cada Estado Parte do presente Pacto comprome-
te-se a adotar medidas, tanto por esforço próprio 1. Nenhuma das disposições do presente Pac-
como pela assistência e cooperação internacionais, to poderá ser interpretada no sentido de reco-
principalmente nos planos econômico e técnico, nhecer a um Estado, grupo ou indivíduo qualquer
até o máximo de seus recursos disponíveis, que direito de dedicar-se a quaisquer atividades ou de
visem a assegurar, progressivamente, por todos praticar quaisquer atos que tenham por objetivo
os meios apropriados, o pleno exercício dos direi- destruir os direitos ou liberdades reconheci-
tos reconhecidos no presente Pacto, incluindo, em dos no presente Pacto ou impor-lhe limitações
particular, a adoção de medidas legislativas. mais amplas do que aquelas nele previstas. 395
2. Não se admitirá qualquer restrição ou sus- ARTIGO 8º – LIBERDADE SINDICAL
pensão dos direitos humanos fundamentais reco-
nhecidos ou vigentes em qualquer país em virtude 1. Os Estados Partes do presente Pacto comprome-
de leis, convenções, regulamentos ou costumes, sob tem-se a garantir:
pretexto de que o presente Pacto não os reconheça a) O direito de toda pessoa de fundar com outras,
ou os reconheça em menor grau. sindicatos e de filiar-se ao sindicato de escolha,
sujeitando-se unicamente aos estatutos da organi-
PARTE III, ARTIGO 6º – DIREITO AO TRABALHO DIGNO zação interessada, com o objetivo de promover e
de proteger seus interesses econômicos e sociais. O
1. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem exercício desse direito só poderá ser objeto das
o direito ao trabalho, que compreende o direito restrições previstas em lei e que sejam necessá-
de toda pessoa de ter a possibilidade de ganhar rias, em uma sociedade democrática, no interesse
a vida mediante um trabalho livremente esco- da segurança nacional ou da ordem pública, ou
lhido ou aceito, e tomarão medidas apropriadas para proteger os direitos e as liberdades alheias;
para salvaguardar esse direito. b) O direito dos sindicatos de formar federações
2. As medidas que cada Estado Parte do presente ou confederações nacionais e o direito destas de
Pacto tomará a fim de assegurar o pleno exercício formar organizações sindicais internacionais
desse direito deverão incluir a orientação e a for- ou de filiar-se às mesmas.
mação técnica e profissional, a elaboração de c) O direito dos sindicatos de exercer livremente
programas, normas e técnicas apropriadas para suas atividades, sem quaisquer limitações além
assegurar um desenvolvimento econômico, social e daquelas previstas em lei e que sejam necessárias,
cultural constante e o pleno emprego produtivo em em uma sociedade democrática, no interesse da
condições que salvaguardem aos indivíduos o gozo segurança nacional ou da ordem pública, ou para
das liberdades políticas e econômicas fundamentais. proteger os direitos e as liberdades das demais
pessoas:
ARTIGO 7º – CONDIÇÕES DE TRABALHO JUSTAS E d) O direito de greve, exercido de conformidade
com as leis de cada país.
FAVORÁVEIS
2. O presente artigo não impedirá que se subme-
ta a restrições legais o exercício desses direitos
Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem o direi- pelos membros das forças armadas, da política
to de toda pessoa de gozar de condições de trabalho
ou da administração pública.
justas e favoráveis, que assegurem especialmente:
3. Nenhuma das disposições do presente artigo
a) Uma remuneração que proporcione, no míni-
permitirá que os Estados Partes da Convenção de
mo, a todos os trabalhadores:
1948 da Organização Internacional do Trabalho,
I) Um salário equitativo e uma remuneração
relativa à liberdade sindical e à proteção do direito
igual por um trabalho de igual valor, sem qualquer
sindical, venham a adotar medidas legislativas que
distinção; em particular, as mulheres deverão ter
restrinjam - ou a aplicar a lei de maneira a restrin-
a garantia de condições de trabalho não inferio-
gir as garantias previstas na referida Convenção.
res às dos homens e perceber a mesma remunera-
ção que eles por trabalho igual;
II) Uma existência decente para eles e suas famílias, O artigo traz basicamente a liberdade de constituição
em conformidade com as disposições do presente Pacto; dos sindicatos e filiação a eles. Além disso, o Pacto traz:
b) À segurança e a higiene no trabalho;
c) Igual oportunidade para todos de serem pro- z Possibilidade de organização em federações e
movidos, em seu trabalho, à categoria superior que confederações;
lhes corresponda, sem outras considerações que as z Exercício do direito de greve segundo a legislação
de tempo de trabalho e capacidade; interna de cada país;
d) O descanso, o lazer, a limitação razoável das z Possibilidade de a lei restringir que órgãos milita-
horas de trabalho e férias periódicas remune- res, políticos e da administração pública organi-
radas, assim como a remuneração dos feridos.
zem-se em sindicatos para a defesa da categoria.
Vamos sistematizar quais são os direitos trabalhis-
ARTIGO 9º – DIREITO À SEGURIDADE SOCIAL
tas previstos nesse artigo do Pacto:
Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem o
Remuneração mínima direito de toda pessoa à previdência social, inclu-
sive ao seguro social.
Salário justo e
remuneração igual ARTIGO 10 – DIREITOS DE FAMÍLIA
Saúde e higiene no
trabalho Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem
que:
Igualdade de 1. Deve-se conceder à família, que é o elemento
CONDIÇÕES
oportunidade natural e fundamental da sociedade, as mais
DE TRABALHO amplas proteção e assistência possíveis, especial-
Descanso e lazer mente para a sua constituição e enquanto ele for
responsável pela criação e educação dos filhos. O
Limitação de horas matrimônio deve ser contraído com o livre con-
trabalhadas sentimento dos futuros cônjuges.
Férias periódicas e
2. Deve-se conceder proteção especial às mães
remuneradas por um período de tempo razoável antes e depois
do parto. Durante esse período, deve-se conceder
Feriados remunerados às mães que trabalham licença remunerada ou
licença acompanhada de benefícios previden-
396 ciários adequados.
3. Devem-se adotar medidas especiais de proteção b) Assegurar uma repartição equitativa dos recur-
e de assistência em prol de todas as crianças e sos alimentícios mundiais em relação às necessida-
adolescentes, sem distinção alguma por motivo des, levando-se em conta os problemas tanto dos
de filiação ou qualquer outra condição. Devem-se países importadores quanto dos exportadores de
proteger as crianças e adolescentes contra a gêneros alimentícios.
exploração econômica e social. O emprego de
crianças e adolescentes em trabalhos que lhes ARTIGO 12 – DIREITO À SAÚDE
sejam nocivos à moral e à saúde ou que lhes
façam correr perigo de vida, ou ainda que lhes 1. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem
venham a prejudicar o desenvolvimento norma, o direito de toda pessoa de desfrutar o mais elevado
será punido por lei. nível possível de saúde física e mental.
Os Estados devem também estabelecer limites de 2. As medidas que os Estados Partes do presente
idade sob os quais fique proibido e punido por Pacto deverão adotar com o fim de assegurar o ple-
lei o emprego assalariado da mão-de-obra infantil. no exercício desse direito incluirão as medidas que
se façam necessárias para assegurar:
a) A diminuição da mortinatalidade e da mor-
A doutrina aponta duas espécies de casamento forçado: talidade infantil, bem como o desenvolvimento é
das crianças;
z O imposto a uma pessoa imatura, jovem, que não b) A melhoria de todos os aspectos de higiene do
consegue compreender o significado da aliança trabalho e do meio ambiente;
conjugal; c) A prevenção e o tratamento das doenças epi-
z O extorquido por coação, temor reverencial ou dêmicas, endêmicas, profissionais e outras,
bem como a luta contra essas doenças;
violência do cônjuge ou da família. d) A criação de condições que assegurem a todos
assistência médica e serviços médicos em caso
Esse disposto do PIDESC, juntamente ao art. 23, do de enfermidade.
Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, tra-
zem à tona o princípio da liberdade do casamento. ARTIGO 13 – DIREITO À EDUCAÇÃO
Nesse sentido, há outros tratados internacionais que
reconhecem o direito ao livre e pleno consentimen- 1. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem o
to para o casamento. Podemos destacar a Convenção direito de toda pessoa à educação. Concordam em que
sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discrimi- a educação deverá visar ao pleno desenvolvimento
nação contra as Mulheres, que afirma que o casamen- da personalidade humana e do sentido de sua digni-
dade e fortalecer o respeito pelos direitos humanos
to de uma criança não terá efeito legal, enquanto a
e liberdades fundamentais. Concordam ainda em
Convenção sobre os Direitos da Criança requer que os que a educação deverá capacitar todas as pessoas a
Estados tomem todas as medidas eficazes e adequadas participar efetivamente de uma sociedade livre, favore-
para abolir práticas que são prejudiciais às crianças. cer a compreensão, a tolerância e a amizade entre
Ademais, sobre a proibição ao trabalho infantil, todas as nações e entre todos os grupos raciais, étnicos
nossa Constituição Federal e o ECA proíbem qual- ou religiosos e promover as atividades das Nações Uni-
quer tipo de trabalho para o menor de 14 anos, via- das em prol da manutenção da paz.
bilizando o trabalho na condição de aprendiz a partir 2. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem
que, com o objetivo de assegurar o pleno exercício
dos 14 anos e do trabalho com carteira assinada a par-
desse direito:
tir dos 16 anos. Nosso ordenamento jurídico veda o a) A educação primária deverá ser obrigatória e
trabalho noturno, insalubre e perigoso aos menores acessível gratuitamente a todos;
de 18 anos. b) A educação secundária em suas diferentes
formas, inclusive a educação secundária técnica e
ARTIGO 11 – DIREITO AO NÍVEL DE VIDA profissional, deverá ser generalizada e torna-se
ADEQUADO acessível a todos, por todos os meios apropriados
e, principalmente, pela implementação progres-
siva do ensino gratuito;
1. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem
c) A educação de nível superior deverá igualmente
o direito de toda pessoa a um nível de vida ade- tornar-se acessível a todos, com base na capaci-
quado para si próprio e sua família, inclusive dade de cada um, por todos os meios apropriados
à alimentação, vestimenta e moradia adequa- e, principalmente, pela implementação progres-
das, assim como a uma melhoria contínua de siva do ensino gratuito;
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
suas condições de vida. Os Estados Partes toma- d) Dever-se-á fomentar e intensificar, na medida do
rão medidas apropriadas para assegurar a conse- possível, a educação de base para aquelas pessoas
cução desse direito, reconhecendo, nesse sentido, a que não receberam educação primária ou não
importância essencial da cooperação internacional concluíram o ciclo completo de educação primária;
fundada no livre consentimento. e) Será preciso prosseguir ativamente o desenvol-
2. Os Estados Partes do presente Pacto, reconhecen- vimento de uma rede escolar em todos os níveis
do o direito fundamental de toda pessoa de estar de ensino, implementar-se um sistema adequado
protegida contra a fome, adotarão, individual- de bolsas de estudo e melhorar continuamente
mente e mediante cooperação internacional, as as condições materiais do corpo docente.
1. Os Estados Partes do presente Pacto comprome-
medidas, inclusive programas concretos, que se
tem-se a respeitar a liberdade dos pais e, quan-
façam necessárias para:
do for o caso, dos tutores legais de escolher para
a) Melhorar os métodos de produção, conservação seus filhos escolas distintas daquelas criadas
e distribuição de gêneros alimentícios pela plena pelas autoridades públicas, sempre que atendam aos
utilização dos conhecimentos técnicos e científicos, padrões mínimos de ensino prescritos ou aprovados
pela difusão de princípios de educação nutricional e pelo Estado, e de fazer com que seus filhos venham
pelo aperfeiçoamento ou reforma dos regimes agrá- a receber educação religiosa ou moral que esteja
rios, de maneira que se assegurem a exploração e a de acordo com suas próprias convicções.
utilização mais eficazes dos recursos naturais; 397
2. Nenhuma das disposições do presente artigo à saúde, à moradia, ao meio ambiente, à cultura, ao
poderá ser interpretada no sentido de restringir a lazer, entre outros.
liberdade de indivíduos e de entidades de criar e É fato que a Declaração Universal dos Direitos
dirigir instituições de ensino, desde que respeitados Humanos (DUDH) foi o ponto de partida do processo
os princípios enunciados no parágrafo 1 do pre- gradual de formação, consolidação, expansão e aper-
sente artigo e que essas instituições observem os feiçoamento da proteção internacional dos direitos
padrões mínimos prescritos pelo Estado. humanos e, em face das necessidades de proteção,
os tratados de direitos humanos foram aumentando
Observe que o Pacto trouxe como sendo obrigação conforme se revelavam as necessidades inerentes aos
dos Estados de implementar o ensino gratuito somen- seres humanos.
te na educação primária. Sobre a educação secundá- Entre essas necessidades, encontra-se a prote-
ria e de nível superior, coloca-se que é importante ser ção do meio ambiente, desenvolvimento sustentá-
acessível a todos, mas que os Estados devem atuar vel e proteção aos bens culturais, temáticas cada vez
para implementar, de forma progressiva, a gratui- mais entrelaçadas. Há de se consignar que, para o
dade. Desse modo, com base na disponibilidade orça- pleno gozo dos direitos e garantias inerentes ao ser
mentária de cada país, deve-se desenvolver uma rede humano, é necessário um contexto ambiental sadio.
escolar que alcance todos os níveis de ensino. Consequentemente, existe uma clara inter-relação
e interdependência entre os direitos humanos e o
ARTIGO 14 – DIREITO À EDUCAÇÃO direito ambiental.
Cumpre mencionar que a preocupação com o meio
Todo Estado Parte do presente pacto que, no ambiente é tema recente, uma vez que, até o final do
momento em que se tornar Parte, ainda não tenha século XIX, não havia consciência desta necessidade
garantido em seu próprio território ou territórios de preservação da natureza e dos seus recursos natu-
sob sua jurisdição a obrigatoriedade e a gratui- rais. Inicialmente, esse Sistema de Proteção começou
dade da educação primária, se compromete a a ser desenhado, com a finalidade estritamente eco-
elaborar e a adotar, dentro de um prazo de dois
nômica, desconsiderando as relações ecológicas sis-
anos, um plano de ação detalhado destinado
têmicas e a conservação ambiental. Por essa razão,
à implementação progressiva, dentro de um
número razoável de anos estabelecidos no próprio
as primeiras regulamentações tinham por objetivo
plano, do princípio da educação primária obri- a proteção dos estoques de recursos naturais, não
gatória e gratuita para todos. com vistas à proteção do meio ambiente, mas a sua
utilização econômica e comercial.
O presente artigo estabelece que, se a educação pri-
mária não for obrigatória dentro do Estado parte, ele
deverá instituído no prazo de 2 anos e que o Estado deve Importante!
construir um plano de ação detalhado para demonstrar
como implementará na prática o princípio da educa- Essa despreocupação com a questão ambiental
ção primária obrigatória e gratuita para todos. é fruto de fatores de diversas matrizes, como
as científica, política, econômica e sociológi-
ARTIGO 15 – DIREITOS CULTURAIS ca. Além disso, até o início do século XX, exis-
tia o entendimento generalizado de que o meio
1. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem ambiente seria capaz de absorver todos os resí-
a cada indivíduo o direito de: duos industriais sem que a natureza sofresse
a) Participar da vida cultural; qualquer consequência.
b) Desfrutar o processo cientifico e suas
aplicações;
c) Beneficiar-se da proteção dos interesses Com o surgimento dos primeiros casos concretos
morais e materiais decorrentes de toda a produ- de degradação ambiental, já nas primeiras décadas
ção cientifica, literária ou artística de que seja autor. do século XX, foi necessário implementar medidas de
2. As Medidas que os Estados Partes do Presente forma conjunta com outros Estados. Surgem, então,
Pacto deverão adotar com a finalidade de assegu- as primeiras tentativas de consolidar um sistema jurí-
rar o pleno exercício desse direito incluirão aquelas
dico internacional de proteção do meio ambiente. No
necessárias à convenção, ao desenvolvimento e à
entanto, até o final da Segunda Guerra Mundial, fal-
difusão da ciência e da cultura.
tava um conjunto coerente e sólido de regras sobre o
3. Os Estados Partes do presente Pacto comprome-
tem-se a respeitar a liberdade indispensável à pes- meio ambiente no âmbito internacional.
quisa cientifica e à atividade criadora. Com a ameaça nuclear no período pós-Segun-
4. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem da Guerra Mundial, fez surgir alguns tratados neste
os benefícios que derivam do fomento e do desen- sentido: o Tratado de Moscou (1963), a Convenção do
volvimento da cooperação e das relações interna- Espaço Cósmico (1967), o Tratado sobre a Não-Prolife-
cionais no domínio da ciência e da cultura. ração de Armas Nucleares (1968), o Tratado de Proibi-
ção de Colocação de Armas Nucleares e outras Armas
de Destruição Maciça no Leito do Mar e do Oceano e
nos Respectivos Subsolos (1971).
AGENDA 2030 E OS OBJETIVOS DE Entretanto, o marco para o movimento em busca
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL de um desenvolvimento sustentável foi a Conferência
de Estocolmo, também denominada Conferência das
O Sistema de Proteção Internacional dos Direitos Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, realizada no
Humanos foi, aos poucos, incorporando ações especí- ano de 1972. O Programa das Nações Unidas para o
398 ficas em diversos campos, como o direito à educação,
Meio Ambiente (PNUMA) teve início com a Conferên- atividades que se levem a cabo, dentro de sua juris-
cia de Estocolmo, além de ter sido criada a Comissão dição, ou sob seu controle, não prejudiquem o meio
Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento ambiente de outros Estados ou de zonas situadas
Humano (WCED). fora de toda jurisdição nacional.
Como o pensamento havia mudado e o meio Princípio 22
ambiente não era mais visto como fonte inesgotável Os Estados devem cooperar para continuar desen-
de recursos, a Conferência teve como objetivo discutir volvendo o direito internacional no que se refere
à responsabilidade e à indenização às vítimas da
as consequências da degradação ambiental. Entraram
poluição e de outros danos ambientais que as ativi-
em discussão os seguintes temas: mudanças climáti-
dades realizadas dentro da jurisdição ou sob o con-
cas, qualidade da água, uso de pesticidas na agricul- trole de tais Estados causem à zonas fora de sua
tura, quantidade de metais pesados na natureza, além jurisdição.
das possibilidades de se reduzir os desastres naturais
e a modificação da paisagem, com o escopo de traçar Outra Conferência que se destacou por trazer de
as bases para o desenvolvimento sustentável. volta o tema do meio ambiente com a mesma preo-
O resultado da Convenção de Estocolmo foi a ela- cupação da necessidade de ação global foi a Confe-
boração da Declaração de Estocolmo sobre o Ambien- rência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente
te Humano, representando um manifesto com as e Desenvolvimento (CNUMAD), realizada na cidade
bases para a nova agenda ambiental do Sistema ONU do Rio de Janeiro no ano de 1992. A Conferência ficou
de proteção. conhecida pelos seguintes nomes: Cúpula da Terra,
Os vinte e seis princípios contidos na Declaração ECO 92 ou Rio 92 e teve como objetivo reconciliar o
tratam dos direitos e obrigações dos Estados e dos impacto das atividades socioeconômicas humanas no
indivíduos no que se refere à preservação do meio meio ambiente.
ambiente. Destacam-se: o art. 1º, que traz expresso o Com foco para o desenvolvimento sustentável, os
direito ao meio ambiente de qualidade que permita Estados envolvidos detalharam o programa denomi-
aos seres humanos uma vida digna com liberdade, nado Agenda 21 para direcionar suas atividades de
igualdade e condições adequadas de vida; os arts. 2º modo a protegerem e renovarem os recursos ambien-
e 5º, que tratam das responsabilidades em relação às tais. Eram ações voltadas à proteção da atmosfera, o
gerações, o art. 21 que diz respeito ao direito de um combate ao desmatamento, a perda de solo e a deser-
Estado de explorar seus recursos de acordo com suas tificação, além da prevenção da poluição da água e ar
políticas ambientais e obrigação de não provocar pre- e promoção da gestão segura dos resíduos tóxicos.
juízos transfronteiriços; e o art. 22, que traz a obri- Para revisar a Agenda 21, foi realizada uma sessão
gação dos Estados de cooperarem para desenvolver especial na Assembleia Geral da ONU em 1997. Essa
uma legislação internacional que trate de responsa- sessão foi chamada de Cúpula da Terra +5, cujo docu-
bilidade e indenização por prejuízos extraterritoriais. mento final recomentou a adoção de algumas metas
Vejamos: juridicamente vinculativas, com o objetivo de
reduzir as emissões de gases de efeito estufa, bem
Declaração de Estocolmo sobre o ambiente como para implementar uma maior movimenta-
humano (1972) ção dos padrões sustentáveis de distribuição de
Princípio 1 energia, produção e uso. Teve também como foco a
O homem tem o direito fundamental à liberdade, à erradicação da pobreza como pré-requisito para o
igualdade e ao desfrute de condições de vida ade- desenvolvimento sustentável.
quadas em um meio ambiente de qualidade tal que Na sequência, no ano de 2000, teve destaque a Cúpu-
lhe permita levar uma vida digna e gozar de bem-es- la do Milênio realizada na cidade de Nova York com o
tar, tendo a solene obrigação de proteger e melho- objetivo de garantir a sustentabilidade ambiental.
rar o meio ambiente para as gerações presentes e Com o escopo de transformar as metas, promes-
futuras. A este respeito, as políticas que promovem sas e compromissos assumidos pela Agenda 21 em
ou perpetuam o apartheid, a segregação racial, a ações concretas, foi realizada, em 2002, em Johanes-
discriminação, a opressão colonial e outras formas burgo, a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento
de opressão e de dominação estrangeira são conde- Sustentável, também conhecida como Rio+10, Rio
nadas e devem ser eliminadas.
Mais 10, por ter ocorrido após dez anos da CNUMAD,
Princípio 2
ou, ainda, Cúpula Mundial sobre o Desenvolvimento
Os recursos naturais da terra incluídos o ar, a água,
Sustentável. Como resultado, foram elaborados dois
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
a terra, a flora e a fauna e especialmente amostras
representativas dos ecossistemas naturais devem documentos: a Declaração de Johanesburgo sobre
ser preservados em benefício das gerações presen- Desenvolvimento Sustentável e o Plano de Implemen-
tes e futuras, mediante uma cuidadosa planificação tação, detalhando as prioridades para as ações.
ou ordenamento. Após dez anos da Cúpula Mundial sobre Desenvol-
[...] vimento Sustentável (Rio +10) e vinte da Conferência
Princípio 5 das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desen-
Os recursos não renováveis da terra devem empre- volvimento (Rio 92), o Rio de Janeiro voltou a ser sede
gar-se de forma que se evite o perigo de seu futuro de uma Conferência para definir uma agenda para o
esgotamento e se assegure que toda a humanidade desenvolvimento Sustentável para as próximas déca-
compartilhe dos benefícios de sua utilização. das: a Conferência das Nações Unidas sobre Desen-
[...] volvimento Sustentável (CNUDS), de 2012, também
Princípio 21 conhecida como Rio +20, com o objetivo de renovar
Em conformidade com a Carta das Nações Unidas e os compromissos com o desenvolvimento sustentável,
com os princípios de direito internacional, os Esta- tratar da economia verde no contexto do desenvolvi-
dos têm o direito soberano de explorar seus pró- mento sustentável e da erradicação da pobreza.
prios recursos em aplicação de sua própria política
ambiental e a obrigação de assegurar-se de que as 399
No ano de 2015, os cento e noventa e três Estados-membros da ONU reuniram-se para reconhecer que o maior
desafio global para o desenvolvimento sustentável é a pobreza, em todas as suas formas e dimensões. Neste
contexto, adotaram o documento Transformando o Nosso Mundo: A Agenda 2030 para o Desenvolvimento
Sustentável (A/70/L.1). Assim sendo, a Agenda 2030 é um plano de ação para promover o desenvolvimento sus-
tentável nos próximos 15 anos, ou seja, dos anos de 2016 a 2030.
A Agenda 2030 combinar os processos dos objetivos do milênio e os resultantes da Rio+20, de modo a inaugu-
rar uma nova fase para o desenvolvimento por integrar todos os componentes do desenvolvimento sustentável e
o engajamento de todos os países.
Como plano de ação, a Agenda 2030 indica dezessete Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e
cento e sessenta e nove metas para erradicar a pobreza e promover vida digna para todos.
É importante memorizar os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Vejamos:
1. Erradicação da pobreza - Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares.
2. Fome zero e agricultura sustentável - Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição
e promover a agricultura sustentável.
3. Saúde e bem-estar - Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades.
4. Educação de qualidade - Assegurar a educação inclusiva, e equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de
aprendizagem ao longo da vida para todos.
5. Igualdade de gênero - Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas.
6. Água limpa e saneamento - Garantir disponibilidade e manejo sustentável da água e saneamento para todos.
7. Energia limpa e acessível - Garantir acesso à energia barata, confiável, sustentável e renovável para todos.
8. Trabalho de decente e crescimento econômico - Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável,
emprego pleno e produtivo, e trabalho decente para todos.
9. Inovação infraestrutura - Construir infraestrutura resiliente, promover a industrialização inclusiva e sustentável, e
fomentar a inovação.
10. Redução das desigualdades - Reduzir as desigualdades dentro dos países e entre eles.
11. Cidades e comunidades sustentáveis - Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes
e sustentáveis.
12. Consumo e produção responsáveis - Assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis.
13. Ação contra a mudança global do clima - Tomar medidas urgentes para combater a mudança climática e seus impactos.
14. Vida na água - Conservação e uso sustentável dos oceanos, dos mares, e dos recursos marinhos para o desenvolvi-
mento sustentável.
15. Vida terrestre - Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma susten-
tável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da Terra e deter a perda da biodiversidade.
16. Paz, justiça e instituições eficazes - Promover sociedades pacíficas e inclusivas par ao desenvolvimento sustentável,
proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis.
17. Parcerias e meios de implementação - Fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria global para o
desenvolvimento sustentável.9

Esses 17 objetivos são integrados e indivisíveis, além de abrangerem as três dimensões do desenvolvimento
sustentável, ou seja, social, ambiental e econômico, podendo ser implementado pelos governos, pela sociedade
civil, pelo setor privado e por todos os seres humanos comprometidos com as presentes e futuras gerações.

Memorize:

Fonte: ONU

9 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável: 17 objetivos para transformar o nosso mundo. Pisco De Luz. Disponível em:https://www.
piscodeluz.org/desenvolvimento-sustentavel?gclid=CjwKCAjw_L6LBhBbEiwA4c46uov6zr-qOsWrBO8-84N7HhxV0PJAz0HahNHr0Qnti-
400 g5ppCBhWmBoJhoCrZgQAvD_BwE
Também deverá a pessoa investigada ser tratada
SEGURANÇA PÚBLICA E DIREITOS como inocente, sem qualquer presunção de que tenha
HUMANOS cometido o crime, ainda que as evidências sejam cla-
ras, tendo em vista o preceito trazido no inciso LVII do
O presente tópico vai abordar a relação entre a mesmo art. 5º: ninguém será considerado culpado até
Polícia Civil e os direitos humanos. A Polícia Civil está o trânsito em julgado da sentença penal condenatória.
prevista como um dos órgãos cujo dever é a efetivação Ademais, o sujeito não poderá ser preso sem que
da segurança pública. o policial esteja amparado por ordem escrita e funda-
Preceitua o art. 144, da Constituição Federal, que mentada da autoridade judiciária ou, em situação de
a segurança pública é dever do Estado, direito e res- flagrante delito (inciso LXI, art. 5º).
ponsabilidade de todos, é exercida para a preservação Além disso, caberá ao policial civil, no exercício
da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do de suas funções, a observância dos demais direitos
patrimônio, através dos seguintes órgãos: fundamentais:

Art. 144 [...] LXII- a prisão de qualquer pessoa e o local onde se


IV - polícias civis. encontre serão comunicados imediatamente ao juiz
competente e à família do preso ou à pessoa por ele
Ademais, o § 4º do mesmo art. 144, da Constitui- indicada;
ção, preceitua as funções da Polícia Civil, trazendo o LXIII- o preso será informado de seus direitos, entre
seguinte: os quais de permanecer calado, sendo-lhes assegu-
rada a assistência da família e de advogado;
§ 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de LXIV- o preso tem direito à identificação dos res-
polícia de carreira, incumbem, ressalvada a compe- ponsáveis por sua prisão ou seu interrogatório
tência da União, as funções de polícia judiciária e a policial;
apuração de infrações, exceto as militares. LXV- a prisão ilegal será imediatamente relaxada
pela autoridade judiciária;
Diante disso, é expressa pela Constituição Federal LXVI- ninguém será levado à prisão ou nela man-
quais as funções são da competência da polícia civil, tido, quando a lei admitir a liberdade provisória,
estando entre elas: polícia judiciária e a apuração das com ou sem fiança;
infrações, desde que não sejam estas de natureza militar.
Isso porque, em se tratando de crime militar, a apu- Diante disso, o que se verifica é que, caberá ao
ração ocorrerá por meio de inquérito policial militar policial civil, no exercício das funções que lhe cabem,
(IPM), cuja competência para apuração será da própria observar os direitos da pessoa, de forma que não
polícia militar fazendo as vezes de polícia judiciária. ocorra qualquer tipo de ofensa à dignidade e aos seus
A polícia civil, como visto, tem o dever de agir na direitos fundamentais.
função de polícia judiciária, sendo sua função precípua Os direitos acima transcritos da Constituição
a apuração das infrações. No entanto, há certo distan- Federal mostram exatamente a forma como deve ser
ciamento quando se fala em polícia e direitos humanos. pautado o trabalho policial: comunicação da prisão;
Em muitos momentos da história, seja nacional ou informação ao preso sobre seus direitos; identificação
internacional, a polícia foi vista pela população como dos responsáveis pela prisão; soltura da pessoa quan-
órgão de repressão, afastada dos cidadãos. do se tratar de prisão ilegal; arbitramento de fiança
Especialmente no Brasil, isto se mostrou nos perío- quando a lei penal assim admitir.
dos de ditadura militar em que a polícia era instada, Verifica-se, assim, que é necessária a conciliação
pelo governo, a reprimir manifestações do povo. entre o trabalho do policial civil e o respeito aos direi-
Ocorre que, hoje, a atuação do policial, inclusive tos fundamentais da pessoa.
civil, deve se pautar no respeito aos direitos humanos.
Assim, o desafio está justamente em conciliar dois PRÁTICAS JUDICIÁRIAS E POLICIAIS NO ESPAÇO
interesses aparentemente distintos: a apuração das PÚBLICO: ADMINISTRAÇÃO DE CONFLITOS NO
infrações, de forma que os responsáveis pelo delito ESPAÇO PÚBLICO
possam ser punidos pelo Poder Judiciário e o respei-
to aos direitos daquela pessoa, que, embora possa ter A polícia, no exercício de suas funções, deve-
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
cometido um crime, deve ter sua dignidade preserva- rá observar os direitos humanos, o que, em âmbito
da durante todo este processo. nacional, significa dizer que sua atuação deve sempre
Conforme abordado no tópico anterior, a concilia- respeitar os direitos fundamentais da pessoa.
ção entre os deveres da polícia e o respeito aos direi- Isto porque durante um conflito, caberá à autorida-
tos humanos, em um primeiro momento, parecem de policial, o controle da situação, contenção de possível
muito distantes, mas não devem ser. violência e retomada da ordem de forma que os direi-
Isso porque o policial civil, como já visto, por força tos sejam respeitados e que seja protegida a integridade
da Constituição Federal, em seu § 4º, art. 144, exerce física de todos. Quando o conflito ocorre no âmbito do
as funções da polícia judiciária, apurando as infrações espaço público, isto se torna ainda mais essencial.
e levando suas conclusões ao Poder Judiciário para Diante disso, foram estabelecidas regras para deter-
que aplique a punição cabível, se restar demonstrada minar a forma como o trabalho da autoridade policial
a autoria e a ocorrência do crime. deve ocorrer.
No decorrer do processo investigativo, também Dentre elas, há o Código de Conduta para os funcio-
deverá o policial observar a promoção dos direitos nários responsáveis pela aplicação da lei. Trata-se de
fundamentais. Isto deve ocorrer de forma que não um diploma aprovado pela Organização das Nações
haja qualquer violação indevida à casa da pessoa Unidas (ONU) em 17 de dezembro de 1979, por meio
investigada em respeito ao inciso XI, art. 5º. da Resolução nº 34, de 169. 401
Exatamente como o nome diz, trata-se de um diplo- Sobre a tortura, é importante trazer à baila a Lei nº
ma que estabelece diretrizes que devem ser observadas 9.455, de 1997. Trata-se da lei que define as condutas
e cumpridas por todos aqueles que são responsáveis que são consideradas crimes de tortura.
pela aplicação da lei, dentre eles, a força policial. Segundo o art. 1º da lei mencionada, constituem
O art. 1º determina que: tortura quaisquer das duas condutas abaixo descritas:

Art. 1º Os funcionários responsáveis pela aplica- z constranger alguém com emprego de violência ou gra-
ção da lei devem sempre cumprir o dever que a lei ve ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental:
lhes impõe, servindo a comunidade e protegendo
todas as pessoas contra atos ilegais, em conformi- „ com o fim de obter informação, declaração ou
dade com o elevado grau de responsabilidade que a confissão da vítima ou de terceira pessoa;
sua profissão requer. „ para provocar ação ou omissão de natureza
criminosa;
Aqui, verifica-se que a atuação de todos aqueles „ em razão de discriminação racial ou religiosa;
responsáveis pelo cumprimento das leis, dentre eles
os policiais, é no sentido de que devem se ater ao cum- z submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autori-
primento da lei. Ou seja, devem combater atos ilegais, dade, com emprego de violência ou grave ameaça,
proteger à população, mas sua atuação também está a intenso sofrimento físico ou mental, como forma
estritamente vinculada ao cumprimento da lei. de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter
preventivo.
Art. 2º No cumprimento do dever, os funcionários
responsáveis pela aplicação da lei devem respeitar
O que se verifica é que ambas as condutas, podem
e proteger a dignidade humana, manter e apoiar os
direitos humanos de todas as pessoas.
estar relacionadas à atuação do policial e constituem
crime apenado com reclusão de dois a oito anos.
Assim, é importante observar, mais uma vez, que
Como já dito, caberá ao policial, a proteção e res-
a atuação do profissional responsável pelo cumpri-
peito à dignidade da pessoa, inclusive dos possíveis
mento da lei deverá ser ética e comprometida com a
suspeitos de estarem infringindo a lei.
ordem pública e cessação de violência, não podendo,
Assim, deverão ser observadas todas as regras, de
para tanto, utilizar-se de qualquer emprego de cons-
forma que se combata a ocorrência de possível crime,
trangimento ou violência e grave ameaça.
sem que haja violação de outros direitos dos envolvi-
Vale destacar que o policial civil, ainda que res-
dos ou de terceiros que por ventura estejam no espaço
ponsável pela apuração de infrações, também deve-
público no momento.
rá pautar sua conduta profissional nestas normas de
Por sua vez, o art. 3º preceitua que:
conduta e não poderá praticar qualquer ato de cons-
trangimento, de violência ou grave ameaça sob pena
Art. 3º Os funcionários responsáveis pela apli-
cação da lei só podem empregar a força quando de incorrer no crime de tortura.
estritamente necessária e na medida exigida para Em continuidade, art. 6º preceitua o seguinte:
o cumprimento do seu dever.
Art. 6º Os funcionários responsáveis pela aplica-
Esta regra de conduta é de extrema importância ção da lei devem garantir a proteção da saúde de
todas as pessoas sob sua guarda e, em especial,
na administração de conflitos no espaço público. Isto
devem adotar medidas imediatas para assegurar-
porque aqueles a quem couber a aplicação da lei, no
-lhes cuidados médicos, sempre que necessário.
caso, policiais, devem utilizar-se da força apenas e tão
somente quando for necessário. Ademais, somente
Mais uma vez, o que se verifica é a preocupação
deverão fazê-lo naquilo que for necessário ao cumpri-
que a atuação dos responsáveis pelo cumprimento da
mento do dever, o que deve levar em conta a necessi-
lei ocorra de forma protetiva, inclusive garantindo
dade, proporcionalidade e motivação, princípios que
que serão prestados os cuidados médicos para aqueles
devem trilhar a atuação do profissional.
que estejam sob sua guarda, como os condenados em
cumprimento de pena, por exemplo.
Art. 5º Nenhum funcionário responsável pela
Outra das regras de conduta preceitua que:
aplicação da lei pode infligir, instigar ou tolerar
qualquer ato de tortura ou qualquer outro trata-
mento ou pena cruel, desumano ou degradante, Art. 7º Os funcionários responsáveis pela aplica-
nem nenhum destes funcionários pode invocar ção da lei não devem cometer quaisquer atos de
ordens superiores ou circunstâncias excepcionais, corrupção. Também devem opor-se vigorosamente
tais como o estado de guerra ou uma ameaça de e combater todos estes atos.
guerra, ameaça à segurança nacional, instabili-
dade política interna ou qualquer outra emergên- Assim, o art. 7º determina que os responsáveis pela
cia pública, como justificativa para torturas ou aplicação da lei não devem cometer atos de corrupção
outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou e não só: devem também se opor, caso tenham conhe-
degradantes. cimento de qualquer ato desta natureza, combatendo-
-o. Ou seja, não poderá o policial se omitir caso tenha
O art. 5º aborda expressamente a questão da tor- conhecimento que outrem possa estar de qualquer for-
tura e afirma que nenhum dos responsáveis pela ma praticando ato corruptivo.
aplicação da lei poderá tolerar, instigar ou infringir Ainda sobre a atuação do policial no âmbito do
qualquer ato de tortura ou tratamento ou pena cruel, espaço público, é necessário mencionar a Porta-
desumano e degradante. ria Interministerial nº 4.226, de 31 de dezembro de
2010, do Governo Federal, estabelecida em conjunto
402
pelo Ministério de Justiça e Ministério das Relações Ainda, a diretriz acima mencionada considera ile-
Internacionais. gítimo o uso de armas de fogo quando em face de pes-
O referido documento busca estabelecer as polí- soa desarmada ou que não represente qualquer risco
ticas públicas de segurança em consonância com os de morte ou lesão grave, ainda que esteja na posse de
direitos humanos. arma.
Estas normas devem ser observadas pelos policiais Certamente trata-se de outra regra de essencial
federais, rodoviários federais, civis e militares, bem importância na administração de conflitos pela auto-
como guardas municipais e demais autoridades que, ridade policial.
por força de lei, fazem uso de arma de fogo em seu
trabalho. „ Não é legítimo o uso de armas de fogo contra
A primeira das diretrizes trazida pelo diploma veículo que desrespeite bloqueio policial em
legal e que deve trilhar o trabalho dos agentes no uso via pública, a não ser que o ato represente um
da força define quais são os princípios que devem ser risco imediato de morte ou lesão grave aos
obedecidos em sua atuação: agentes de segurança pública ou terceiros.

z Legalidade: caberá ao agente agir em estrita Outra das regras em relação às armas de fogo
observância da lei; determina que não é legítimo o uso de armas de fogo
z Necessidade: a atuação do agente, bem como o contra veículo que ultrapasse bloqueio policial em via
uso de armas de fogo deverá ocorrer tão somen- pública. Mais uma vez, a exceção se refere apenas ao
te quando houver efetiva necessidade, em caso de caso em que o agente infrator, de fato, ofereça risco
conflito que justifique o uso da força; de morte ou lesão grave ao agente de segurança ou
terceiro.
z Proporcionalidade: o uso da força deverá ser
sempre proporcional à situação que tenha se con-
„ Os chamados “disparos de advertência” não são
figurado, de forma que não haja excessos e não
considerados prática aceitável, por não atende-
ocorram lesões aos envolvidos;
rem aos princípios elencados na Diretriz nº 2 e
z Moderação: da mesma força que a proporcionali- em razão da imprevisibilidade de seus efeitos.
dade, a moderação se justifica de forma que a atua-
ção policial se concentre em estancar a situação Outra regra de grande relevância na administra-
vivenciada, protegendo os envolvidos, especial- ção de conflitos no espaço público diz respeito aos dis-
mente terceiros de possíveis lesões decorrentes do paros de advertência. Conforme a diretriz acima, não
uso da força; se trata de uma prática aceitável, pois em decorrência
z Conveniência: a atuação policial com o uso de deles, as consequências não são previsíveis.
armas deve ocorrer apenas quando se mostrar
necessária e, portanto, é conveniente que se utili- „ O ato de apontar arma de fogo contra pes-
ze de forma tão gravosa apenas para contenção da soas durante os procedimentos de aborda-
situação. gem não deverá ser uma prática rotineira e
indiscriminada.
Ademais, ainda constam como diretrizes constan-
tes na Portaria: Ainda, outra das diretrizes diz respeito à conduta
de apontar armas de fogo contra pessoas nos proce-
„ Os agentes de segurança pública não deverão dimentos de abordagem. Trata-se de uma prática que
disparar armas de fogo contra pessoas, exceto não deve ser considerada rotineira e não deve ser uti-
em casos de legítima defesa própria ou de ter- lizada de forma indiscriminada.
ceiro contra perigo iminente de morte ou lesão Assim, é certo que todas as normas de conduta
grave. e diretrizes sobre armas de fogo tem um ponto em
comum: a preocupação com o respeito dos direitos das
Esta regra de grande importância é em relação ao pessoas envolvidas, inclusive de possíveis suspeitos.
uso de armas contra pessoas. Para administrar um Denota-se, portanto, que, em ocorrendo um con-
conflito em espaço público, muitas vezes, o policial flito no espaço público, caberá ao policial, em sua
fará uso de armas de fogo, pensando estar agindo em atuação, observar tais diretrizes, de forma que sejam
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
cumprimento do seu dever legal. sempre respeitados os direitos humanos e preservada
Ocorre que a diretriz acima define que os agentes a integridade física das pessoas presentes na situação.
não devem utilizar-se de armas de fogo, fazendo dis-
paros contra a pessoa. Apenas poderão fazê-lo em caso
de legítima defesa própria ou de terceiros ou ainda
em caso de perigo iminente de morte ou lesão grave. HORA DE PRATICAR!
Resta claro, portanto, que a utilização de arma de
fogo deverá ser realizada em situações estritamente 1. (FUMARC — 2014) Considerando a distinção entre
necessárias e sempre com contenção, de forma que Direitos Humanos e Direitos Fundamentais, assinale
não ocorra qualquer forma de excesso. o documento que representa a inauguração dos Direi-
tos Humanos no cenário mundial:
„ Não é legítimo o uso de armas de fogo contra
pessoa em fuga que esteja desarmada ou que, a) Declaração Universal dos Direitos do Homem e do
mesmo na posse de algum tipo de arma, não Cidadão de 1789.
represente risco imediato de morte ou de lesão b) Declaração Universal dos Direitos do Homem de
grave aos agentes de segurança pública ou 1948.
terceiros; 403
c) Convenção Americana de Direitos Humanos de 1969. c) Introduz a indivisibilidade dos direitos humanos, ao
d) Constituição de Weimar de 1919. conjugar o catálogo dos direitos civis e políticos, com
o dos direitos econômicos, sociais e culturais.
2. (FUMARC — 2013) A Declaração Universal dos Direi- d) Teve imediatamente, após a sua adoção, grande
tos Humanos de 1948 foi de extrema importância repercussão moral ao despertar nos povos a cons-
para a afirmação e o reconhecimento dos Direitos ciência de que o conjunto da comunidade humana se
Humanos. Sobre esse documento, é incorreto afirmar interessava pelo seu destino.
que
5. (FUMARC — 2018) Sobre a Corte Interamericana de
a) foi aprovado pela Assembleia Geral da ONU e preten- Direitos Humanos, é correto afirmar:
deu ser um documento verdadeiramente universal.
b) estabeleceu que todos os homens nascem livres e a) A Comissão Interamericana e os Estados Partes
iguais em dignidade e direitos, sendo dotados de podem submeter um caso à Corte Interamericana,
razão e consciência e devendo agir em relação uns admitida a legitimação do indivíduo, nos termos da
aos outros com espírito de fraternidade. Convenção Americana.
c) apesar de estabelecer que a vontade do povo será a b) A Corte Interamericana não apresenta competência
base da autoridade do governo e de afirmar que esta consultiva.
vontade será expressa em eleições periódicas e legí- c) É órgão jurisdicional do sistema regional, compos-
timas, por sufrágio universal, por voto secreto ou pro- to por 15 juízes nacionais de Estados Membros da
cesso equivalente que assegure a liberdade de voto, OEA, eleitos a título pessoal pelos Estados Partes da
não reconheceu às mulheres o direito de participação Convenção.
na vida política dos Estados- Membros. d) O Estado brasileiro reconheceu a competência juris-
d) proibiu a tortura, o tratamento ou o castigo cruel, dicional da Corte Interamericana em dezembro de
desumano ou degradante. 1998.

3. (FUMARC — 2011) A Declaração Universal dos Direi- 6. (FUMARC — 2014) Sobre o sistema internacional de
tos Humanos, adotada em 10 de dezembro de 1948, proteção dos direitos humanos, é correto afirmar:
objetiva delinear uma ordem pública mundial funda-
da no respeito à dignidade da pessoa humana. Leia e a) A Corte Interamericana de Direitos Humanos já deci-
analise as assertivas abaixo: diu que a lei da anistia de 1979, editada pelo Brasil,
I A Declaração compreende um conjunto de direi- é manifestamente incompatível com a Convenção
tos e faculdades sem as quais um ser humano não Americana de Direitos Humanos.
pode desenvolver sua personalidade física, moral e b) O Brasil não ratificou a Convenção sobre os Direi-
intelectual. tos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo
II Sendo universal, é aplicável a todas as pessoas de Facultativo.
todos os países, raças, religiões e sexos, condiciona- c) O Brasil não se submete à jurisdição da Corte Intera-
da à aplicação ao regime político dos territórios nos mericana de Direitos Humanos.
quais incide. d) O Tribunal Penal Internacional é um órgão jurisdicio-
III Consolida a afirmação de uma ética universal, ao con- nal criado no âmbito do sistema interamericano de
sagrar um consenso sobre valores de cunho universal proteção dos direitos humanos, cuja atuação depen-
a serem seguidos pelos Estados. de de provocação da Comissão Interamericana de
Direitos Humanos.
Marque a opção correta
7. (FUMARC — 2014) Ao lado do sistema global de prote-
a) Somente as assertivas I e II estão corretas. ção dos direitos humanos, existem os sistemas regio-
b) Somente as assertivas II e III estão corretas. nais. Os principais sistemas regionais de proteção dos
c) Somente as assertivas I e III estão corretas. direitos humanos, não incipientes, são, exceto o
d) Somente a assertiva I está correta.
a) africano.
4. (FUMARC — 2011) A Declaração Universal dos Direi- b) asiático.
tos Humanos pode ser caracterizada, primeiramente c) europeu.
por sua amplitude, compreendendo um conjunto de d) interamericano.
direitos e faculdades, sem as quais um ser humano
não pode desenvolver sua personalidade física, moral 8. (FUMARC — 2014) Sobre a Corte Interamericana de
e intelectual. Em segundo lugar, pela universalida- Direitos Humanos, não é correto o que se afirma em:
de, aplicável a todas as pessoas de todos os países,
raças, religiões e sexos, seja qual for o regime políti- a) A Corte Interamericana, até março de 2010, no exer-
co dos territórios nos quais incide. Assinale abaixo a cício de sua jurisdição contenciosa, havia proferido
assertiva que é contrária ao enunciado acima: 211 sentenças. O Brasil, em 2006, foi condenado, pela
primeira vez, pela referida Corte no caso Damião Xime-
a) Como uma plataforma comum de ação, a Declaração nes Lopes.
foi adotada em 10 de dezembro de 1948, pela aprova- b) Até maio de 2011, dos nove casos relacionados ao
ção de 48 Estados, com 8 abstenções. Brasil encaminhados à Corte Interamericana, nenhum
a) Objetiva delinear uma ordem pública mundial funda- teve decisão final.
da no respeito à dignidade da pessoa humana, para c) Foi a delegação do Brasil que propôs a criação de uma
orientar o desenvolvimento de uma raça humana Corte Interamericana de Direitos Humanos, por oca-
superior. sião da IX Conferência Internacional Americana, reali-
404 zada em Bogotá, em 1948.
d) O Brasil reconheceu em dezembro de 1998 a compe- 11. (FUMARC — 2013) Considerando a proteção do “direi-
tência jurisdicional da Corte Interamericana de Direi- to à vida” na Convenção Americana de Direitos Huma-
tos Humanos. nos de 1969 (Pacto São José da Costa Rica), leia as
seguintes afirmativas:
9. (FUMARC — 2018) A Constituição Federal de 1988
elencou vários princípios processuais penais, porém, I Os países que aboliram a pena de morte poderão res-
no contexto de funcionamento integrado e complemen- tabelecê-la em casos excepcionais e mediante a cria-
tar das garantias processuais penais, não se pode per- ção de lei anterior que defina a conduta e estabeleça a
der de vista que os Tratados Internacionais de Direitos pena, proibindo-se a sua imposição ou decretação por
Humanos firmados pelo Brasil também incluíram diver- juízo ou tribunal de exceção.
sas garantias ao modelo processual penal brasileiro. II A pena de morte, nos países que a admitem, poderá
Nessa ordem, a Convenção Americana sobre Direitos ser aplicada a delitos comuns conexos com delitos
Humanos (CADH - Pacto de São José da Costa Rica) políticos.
prevê diversos direitos relacionados à tutela da liberda- III Não se deve impor a pena de morte a pessoa que,
de pessoal (Decreto 678/92, art. 7°), além de inúmeras no momento da perpetração do delito, for menor de
garantias judiciais (Decreto 678/92, art. 8°). dezoito anos, ou maior de setenta, nem aplicá-la a
Diante do enunciado, é correto afirmar: mulher em estado de gravidez.
IV Toda pessoa condenada à morte tem direito a soli-
a) Pelo Princípio da Ampla Defesa, temos a abrangência citar anistia, indulto ou comutação da pena, os quais
do direito à defesa técnica (processual ou específica) podem ser concedidos em todos os casos. Não se
e à autodefesa (material ou genérica), havendo entre
pode executar a pena de morte enquanto o pedi-
elas uma relação de complementaridade.
do estiver pendente de decisão ante a autoridade
b) Pelo Princípio da Publicidade, temos a preocupação
competente.
do legislador em garantir o acesso irrestrito a todos
São verdadeiras apenas as afirmativas
os atos processuais, sem qualquer tipo de ressalva.
c) Pelo Princípio do Contraditório, temos que o brocardo in
a) I e III.
dubio pro reo só incide até o trânsito em julgado de sen-
b) I e IV.
tença penal condenatória. Portanto, na revisão criminal,
que pressupõe o trânsito em julgado de sentença penal c) II e IV.
condenatória ou absolutória imprópria, não há que falar d) III e IV.
em in dubio pro reo, mas sim em in dubio contra reum.
d) Pelo Princípio do Estado de Inocência, temos que, “aos 12. (FUMARC — 2013) De acordo com a Convenção Ame-
litigantes, em processo judicial ou administrativo, e ricana de Direitos Humanos de 1969, para que uma
aos acusados em geral, são assegurados o contradi- petição ou comunicação seja admitida pela Comis-
tório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela são, será necessário que, exceto:
inerentes”.
a) a matéria da petição não esteja pendente de outro pro-
10. (FUMARC — 2014) O Brasil tem revelado, nos últimos cesso de solução internacional.
anos, crescente alinhamento à arquitetura de prote- b) seja apresentada dentro do prazo de seis meses,
ção internacional dos direitos humanos. Diante desse a partir da data em que o presumido prejudicado
posicionamento que anuncia uma esperança eman- em seus direitos tenha sido notificado da decisão
cipatória do sujeito de direitos, sob o prisma jurídico- definitiva.
-político, em face da proteção dos direitos humanos, c) o país violador haja ratificado ou aderido à Conven-
é correto afirmar que ção, mesmo que ainda não tenha se manifestado
expressamente sobre a competência da Comissão,
a) o Brasil, mesmo depois de condenado pela Corte Inte- tendo em vista que o modelo previsto garante a “pre-
ramericana de Direitos Humanos no Caso Escher e valência dos direitos humanos”.
outros versus Brasil, que envolveu a interceptação e o d) a petição seja apresentada por pessoa ou grupo de
monitoramento ilegal de linhas telefônicas, não auto- pessoas, ou entidade não governamental legalmen-
rizou o cumprimento da sentença por entender que te reconhecida em um ou mais Estados-Membros da
essa medida depende de decisão do Supremo Tribu- Organização, devendo conter o nome, a nacionalida-
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
nal Federal. de, a profissão, o domicílio e a assinatura da pessoa
b) o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, edi- ou das pessoas, ou do representante legal da entida-
tado no âmbito do sistema global de proteção dos direi- de que submeter a petição ou comunicação.
tos humanos, tem a ele o Segundo Protocolo ao Pacto
Internacional de Direitos Civis e Políticos, adotado em 13. (FUMARC — 2011) Para a proteção dos direitos huma-
15 de dezembro de 1989, que estabelece que cada nos, o instrumento de maior importância no sistema
Estado-parte deverá adotar todas as medidas necessá- interamericano é a Convenção Americana de Direitos
rias para abolir a pena de morte em sua jurisdição. O Humanos, também denominada Pacto de San José
citado Protocolo ainda não foi ratificado pelo Brasil.
da Costa Rica.
c) o Protocolo à Convenção Americana referente aos
Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (Protocolo de
San Salvador) foi ratificado pelo Brasil. Leia as assertivas abaixo:
d) o Protocolo Facultativo ao Pacto dos Direitos Civis e
Políticos, no âmbito do sistema global de proteção I Foi esse Pacto assinado em San José, na Cos-
aos direitos humanos, que trata do mecanismo das ta Rica, em 1969, mas somente entrou em vigor
petições individuais, está pendente de apreciação no somente em 1988, com a promulgação da chama-
Congresso Nacional. da Constituição Cidadã no Brasil. 405
II Apenas Estados-membros da Organização dos d) contempla o serviço de identificação e localização de
Estados Americanos têm o direito de aderir à Con- parentes ou responsáveis por idosos abandonados
venção Americana, que até março de 2010 contava em hospitais e instituições de longa permanência.
com 25 Estados-partes.
III Os Estados-partes da Convenção têm deveres 17. (FUMARC — 2018) A respeito da Convenção Intera-
negativos que consistem em não violar os direitos, mericana sobre a Proteção dos Direitos Humanos
as medidas necessárias para assegurar o pleno dos Idosos (2015), não é correto afirmar:
exercício dos direitos humanos internacionais são
da competência da ONU. a) A Convenção Interamericana sobre a Proteção dos
Marque a opção correta : Direitos Humanos dos Idosos é a primeira con-
venção internacional no mundo a proteger, de for-
a) Somente a assertiva I é incorreta.
ma específica, os direitos humanos das pessoas
b) As assertivas I, II e III estão corretas.
idosas.
c) As assertivas I, II e III estão incorretas.
b) A Convenção Interamericana sobre a Proteção dos
d) Somente a assertiva II está correta.
Direitos Humanos dos Idosos foi aprovada no dia
14. (FUMARC — 2011) O sistema internacional de pro- 15 de junho, que é o Dia Mundial de Conscientiza-
teção dos direitos humanos pode apresentar dife- ção da Violência contra a Pessoa Idosa.
rentes âmbitos de aplicação, daí poder se falar de c) O Brasil foi o primeiro país a assinar a Conven-
sistemas global e regional. O instrumento de maior ção Interamericana sobre a Proteção dos Direitos
importância no sistema interamericano é a Con- Humanos dos Idosos, juntamente com a Argenti-
venção Americana de Direitos Humanos, também na, o Chile, a Costa Rica e o Uruguai; o instrumento
denominada Pacto de San José da Costa Rica que entrou em vigor internacional em 13/12/2016.
d) Brasil não subscreveu a Convenção Interameri-
a) foi assinada em San José, Costa Rica, em 1969, cana sobre a Proteção dos Direitos Humanos dos
tendo como Estados-membros todos os países Idosos.
das Américas do Norte, Central e do Sul, que quei-
ram participar. 18.(FUMARC — 2014) Sobre o acesso das pessoas
b) substancialmente reconhece e assegura um catá- cegas ou com deficiência visual (Tratado de Mar-
logo de direitos civis, políticos, econômicos, sociais raquexe) à leitura, pode-se afirmar, exceto:
e culturais, garantindo-lhes a plena realização.
c) exige dos governantes dos Estados signatários a) No Brasil, o Congresso Nacional aprovou o Trata-
estritamente obrigações de natureza negativas, do por três quintos dos votos dos membros de cada
como por exemplo o dever de não torturar um Casa, em dois turnos, isto é, pelo procedimento pre-
indivíduo. visto no art. 5º, § 3º, da Constituição.
d) em face dos direitos constantes no texto, cada b) O Tratado do Livro Acessível define as expressões
Estado- parte deve respeitar e assegurar o livre e “obras”, “exemplar em formato acessível” e “entidade
pleno exercício desses direitos e liberdades, sem autorizada”.
qualquer discriminação. c) O Tratado do Livro Acessível não limita os direitos de
propriedade intelectual de autores e editores.
15. (FUMARC — 2018) Sobre a Política Nacional de d) O tratado tem por destinatários todas as pessoas: a)
Direitos Humanos do Brasil, é correto afirmar: cegas; b) que tenham uma deficiência visual ou outra
incapacidade de percepção ou de leitura que não pos-
a) A elaboração dos Programas Nacionais de Direi- sa ser corrigida para se obter uma acuidade visual
tos Humanos decorreu de recomendação feita na substancialmente equivalente à de uma pessoa que
Conferência Mundial de Direitos Humanos de Vie- não tenha esse tipo de deficiência ou dificuldade, e
na (1993). para quem é impossível ler material impresso de uma
b) As diretrizes contidas no PNDH-2 e no PNDH-3 forma substancialmente equivalente à de uma pes-
têm força normativa. soa sem essa deficiência ou dificuldade;
c) No Brasil, já foram aprovados três Programas e) que estejam impossibilitadas, de qualquer outra maneira,
Nacionais de Direitos Humanos, sendo: PNDH-1, devido a uma incapacidade física, de sustentar ou mani-
no governo Fernando Henrique Cardoso; PNDH-2, pular um livro ou focar ou mover os olhos da forma que
no governo Luiz Inácio Lula da Silva; PNDH-3, no normalmente seria apropriado para a leitura.
governo Dilma Rousseff.
d) O PNDH-3 carece de diretriz a respeito da profis- 19. (FUMARC — 2018) A Declaração Universal dos Direitos
sionalização da investigação de atos criminosos. Humanos, retomando os ideais da Revolução Francesa,
representou a manifestação histórica de que se forma-
16. (FUMARC — 2013) Quanto à política de atendimen- ra, enfim, em âmbito universal, o reconhecimento dos
to ao idoso prevista na Lei 10.741/2003 – Estatuto valores supremos da igualdade, da liberdade e da frater-
do Idoso, é incorreto afirmar que nidade. Em decorrência disso, os direitos fundamentais
expressos na Constituição Federal de 1988:
a) prioriza o abrigo em entidade pública ou privada.
b) prevê proteção jurídico- social por entidades de a) como na Declaração Universal dos Direitos Humanos,
defesa dos direitos dos idosos. esses direitos fundamentais são considerados uma
c) estabelece políticas e programas de assistên- recomendação sem força vinculante, uma etapa preli-
cia social, em caráter supletivo, para aqueles que minar para ulterior implementação na medida em que
406 necessitarem. a sociedade se desenvolver.
b) não consideram as diferenças humanas como fonte
de valores positivos a serem protegidos e estimula-
ANOTAÇÕES
dos, pois, ao criar dispositivos afirmativos legais, as
diferenças passam a ser tratadas como deficiências.
c) obrigam que o princípio da solidariedade seja interpre-
tado com a base dos direitos econômicos e sociais, que
são exigências elementares de proteção às classes ou
aos grupos sociais mais fracos ou necessitados.
d) tratam a liberdade como um princípio político e não
individual, pois o reconhecimento de liberdades indi-
viduais em sociedades complexas esconde a domina-
ção oligárquica dos mais ricos.

20. (FUMARC — 2018) A Constituição da República de


1988 cuidou expressamente dos direitos humanos,
enumerando-os no Título que trata dos direitos e
garantias fundamentais. Existem, entretanto, outros
direitos humanos não enumerados no texto, mas cuja
proteção a própria Constituição assegura, porque:

a) decorrem do regime e dos princípios adotados pela


própria Constituição.
b) o Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal
Internacional.
c) são criados pelo Poder Judiciário, após o trânsito em
julgado das decisões.
d) surgem de necessidades que não foram previstas pelo
legislador constituinte.

9 GABARITO

1 B

2 C

3 C

4 B

5 D

6 A

7 B

8 B

9 A

10 C

11 D

12 C
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

13 D

14 D

15 A

16 A

17 D

18 C

19 C

20 A

407
ANOTAÇÕES

408
z Visão de Tarefas: permite alternar entre os pro-
gramas em execução e abre novas áreas de traba-
lho. Seu atalho de teclado é: Windows+TAB.
z Microsoft Edge: navegador de Internet padrão do
Windows 10. Ele está configurado com o buscador
NOÇÕES DE padrão Microsoft Bing, mas pode ser alterado.
z Microsoft Loja: loja de app’s para o usuário baixar
INFORMÁTICA novos aplicativos para Windows.
z Windows Mail: aplicativo para correio eletrôni-
co, que carrega as mensagens da conta Microsoft
e pode se tornar um hub de e-mails com adição de
outras contas.
SISTEMA OPERACIONAL WINDOWS 10 z Barra de Acesso Rápido: ícones fixados de pro-
gramas para acessar rapidamente.
NOÇÕES DE SISTEMA OPERACIONAL WINDOWS: z Fixar itens: em cada ícone, ao clicar com o botão
WINDOWS 10 direito (secundário) do mouse, será mostrado o
menu rápido, que permite fixar arquivos abertos
O sistema operacional Windows foi desenvolvido recentemente e fixar o ícone do programa na bar-
pela Microsoft para computadores pessoais (PC) em ra de acesso rápido.
meados dos anos 80, oferecendo uma interface gráfi- z Central de Ações: centraliza as mensagens de
ca baseada em janelas, com suporte para apontadores segurança e manutenção do Windows, como as
como mouses, touch pad (área de toque nos portáteis), atualizações do sistema operacional. Atalho de
canetas e mesas digitalizadoras. teclado: Windows+A (Action). A Central de Ações
Atualmente, o Windows é oferecido na versão 10, não precisa ser carregada pelo usuário, ela é car-
que possui suporte para os dispositivos apontadores regada automaticamente quando o Windows é
tradicionais, além de tela touch screen e câmera (para inicializado.
acompanhar o movimento do usuário, como no siste- z Mostrar área de trabalho: visualizar rapidamen-
ma Kinect do videogame Xbox). te a área de trabalho, ocultando as janelas que
Em concursos públicos, as novas tecnologias e estejam em primeiro plano. Atalho de teclado:
suportes avançados são raramente questionados. As Windows+D (Desktop).
z Bloquear o computador: com o atalho de tecla-
questões aplicadas nas provas envolvem os concei-
do Windows+L (Lock), o usuário pode bloquear o
tos básicos e o modo de operação do sistema opera-
computador. Poderá bloquear pelo menu de con-
cional em um dispositivo computacional padrão (ou
trole de sessão, acionado pelo atalho de teclado
tradicional).
Ctrl+Alt+Del.
O sistema operacional Windows é um software
z Gerenciador de Tarefas: para controlar os aplica-
proprietário, ou seja, não tem o núcleo (kernel) dispo-
tivos, processos e serviços em execução. Atalho de
nível e o usuário precisa adquirir uma licença de uso
teclado: Ctrl+Shift+Esc.
da Microsoft.
z Minimizar todas as janelas: com o atalho de
O Windows 10 apresenta algumas novidades em teclado Windows+M (Minimize), o usuário pode
relação às versões anteriores, como assistente virtual, minimizar todas as janelas abertas, visualizando
navegador de Internet, locais que centralizam infor- a área de trabalho.
mações etc. z Criptografia com BitLocker: o Windows oferece o
sistema de proteção BitLocker, que criptografa os
z Botão Iniciar: permite acesso aos aplicativos ins- dados de uma unidade de disco, protegendo contra
talados no computador, com os itens recentes no acessos indevidos. Para uso no computador, uma
início da lista e os demais itens classificados em chave será gravada em um pendrive, e para aces-
ordem alfabética. Combina os blocos dinâmicos e sar o Windows, ele deverá estar conectado.
estáticos do Windows 8 com a lista de programas z Windows Hello: sistema de reconhecimento facial
do Windows 7. ou biometria, para acesso ao computador sem a
z Pesquisar: com novo atalho de teclado, a opção necessidade de uso de senha.
pesquisar permite localizar, a partir da digitação z Windows Defender: aplicação que integra recur-
de termos, itens no dispositivo, na rede local e na sos de segurança digital, como o firewall, antivírus
Internet. Para facilitar a ação, tem-se o seguinte e antispyware.
atalho de teclado: Windows+S (Search).
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

z Cortana: assistente virtual. Auxilia em pesquisas O botão direito do mouse aciona o menu de con-
de informações no dispositivo, na rede local e na texto, sempre.
Internet.
CONCEITO DE PASTAS, DIRETÓRIOS, ARQUIVOS E
ATALHOS
Importante!
No Windows 10, os diretórios são chamados de
A assistente virtual Cortana é uma novidade do
pastas e algumas pastas são especiais, contendo cole-
Windows 10 que está aparecendo em provas ções de arquivos que são chamadas de Bibliotecas. Ao
de concursos com regularidade. Semelhante todo são quatro Bibliotecas: Documentos, Imagens,
ao Google Assistente (Android), Siri (Apple) e Músicas e Vídeos. O usuário poderá criar Bibliotecas
Alexa (Amazon), essa integra recursos de aces- para sua organização pessoal, uma vez que elas oti-
sibilidade por voz para os usuários do sistema mizam a organização dos arquivos e pastas, inserindo
operacional. apenas ligações para os itens em seus locais originais. 409
Pasta com Pasta sem Pasta vazia
subpasta subpasta

O sistema de arquivos NTFS (New Technology File System) armazena os dados dos arquivos em localizações
dos discos de armazenamento. Por sua vez, os arquivos possuem nome e podem ter extensões.
O sistema de arquivos NFTS suporta unidades de armazenamento de até 256 TB (terabytes, trilhões de bytes)
O FAT32 suporta unidades de até 2 TB.
Antes de prosseguir, vamos conhecer estes conceitos.

TERMO SIGNIFICADO OU APLICAÇÃO

Unidade de disco de armazenamento permanente, que possui um sistema de arquivos e


Disco de armazenamento
mantém os dados gravados

Estruturas lógicas que endereçam as partes físicas do disco de armazenamento. NTFS,


Sistema de Arquivos
FAT32, FAT são alguns exemplos de sistemas de arquivos do Windows.

Trilhas Circunferência do disco físico (como um hard disk HD ou unidades removíveis ópticas)

Setores São “fatias” do disco, que dividem as trilhas

Clusters Unidades de armazenamento no disco, identificado pela trilha e setor onde se encontra

Pastas ou diretórios Estrutura lógica do sistema de arquivos para organização dos dados na unidade de disco

Arquivos Dados. Podem ter extensões

Pode identificar o tipo de arquivo, associando com um software que permita visualização
Extensão
e/ou edição. As pastas podem ter extensões como parte do nome

Arquivos especiais, que apontam para outros itens computacionais, como unidades, pas-
Atalhos tas, arquivos, dispositivos, sites na Internet, locais na rede etc. Os ícones possuem uma
seta, para diferenciar dos itens originais

O disco de armazenamento de dados tem o seu tamanho identificado em Bytes. São milhões, bilhões e até tri-
lhões de bytes de capacidade. Os nomes usados são do Sistema Internacional de Medidas (SI) e estão listados na
escala a seguir.

Exabyte
(EB)
Petabyte
(PB)
Terabyte
(TB)
Gigabyte trilhão
Megabyte (GB)
(MB) bilhão
Kilobyte
milhão
(KB) mil
Byte
(B)

Ainda não temos discos com capacidade na ordem de Petabytes (PB — quatrilhão de bytes) vendidos comer-
cialmente, mas quem sabe um dia... Hoje, essas medidas muito altas são usadas para identificar grandes volumes
de dados na nuvem, em servidores de redes, em empresas de dados etc.
Vamos falar um pouco sobre Bytes: 1 Byte representa uma letra, ou número, ou símbolo. Ele é formado por
8 bits, que são sinais elétricos (que vale zero ou um). Os dispositivos eletrônicos utilizam o sistema binário para
representação de informações.
A palavra “Nova”, quando armazenada no dispositivo, ocupará 4 bytes. São 32 bits de informação gravada na
memória.
A palavra “Concursos” ocupará 9 bytes, que são 72 bits de informação.
Os bits e bytes estão presentes em diversos momentos do cotidiano. Um plano de dados de celular oferece um
410 pacote de 5 GB, ou seja, poderá transferir até 5 bilhões de bytes no período contratado.
A conexão Wi-Fi de sua residência está operando z Atalhos
em 150 Mbps, ou 150 megabits por segundo, que são
18,75 MB por segundo, e um arquivo com 75 MB de „ Arquivos que indicam outro local: Extensão
tamanho levará 4 segundos para ser transferido do LNK, podem ser criados arrastando o item com
seu dispositivo para o roteador wireless. ALT ou CTRL+SHIFT pressionado.

z Drivers
Importante!
„ Arquivos de configuração: Extensão DLL e
O tamanho dos arquivos no Windows 10 é exi- outras, usadas para comunicação do software
bido em modo de visualização de Detalhes, nas com o hardware
Propriedades (botão direito do mouse, menu de
contexto) e na barra de status do Explorador de O Windows 10 usa o Explorador de Arquivos (que
antes era Windows Explorer) para o gerenciamento
Arquivos. Poderão ter as unidades KB, MB, GB,
de pastas e arquivos. Ele é usado para as operações
TB, indicando quanto espaço ocupam no disco de manipulação de informações no computador,
de armazenamento. desde o básico (formatar discos de armazenamento)
até o avançado (organizar coleções de arquivos em
Bibliotecas).
Quando os computadores pessoais foram apresen- O atalho de teclado Windows+E pode ser acionado
tados para o público, a árvore foi usada como analo- para executar o Explorador de Arquivos.
gia para explicar o armazenamento de dados, criando Como o Windows 10 está associado a uma con-
o termo “árvore de diretórios”. ta Microsoft (e-mail Live, ou Hotmail, ou MSN, ou
Outlook), o usuário tem disponível um espaço de
armazenamento de dados na nuvem Microsoft One-
Documentos
Drive. No Explorador de Arquivos, no painel do lado
Imagens Folhas
direito, o ícone OneDrive sincroniza os itens com a
Músicas Flores
nuvem. Ao inserir arquivos ou pastas no OneDrive,
Vídeos Frutos
eles serão enviados para a nuvem e sincronizados
com outros dispositivos que estejam conectados na
mesma conta de usuário.
Pastas e subpastas Tronco e galhos Os atalhos são representados por ícones com uma
seta no canto inferior esquerdo, e podem apontar para
um arquivo, pasta ou unidade de disco. Os atalhos são
independentes dos objetos que os referenciam, por-
tanto, se forem excluídos, não afetam o arquivo, pasta
Diretório raiz Raiz ou unidade de disco que estão apontando.
Podemos criar um atalho de várias formas
diferentes:
Árvore de diretórios
z Arrastar um item segurando a tecla Alt no teclado,
No Windows 10, a organização segue a seguinte e ao soltar, o atalho é criado;
definição: z No menu de contexto (botão direito) escolha
“Enviar para... Área de Trabalho (criar atalho);
z Um atalho para uma pasta cujo conteúdo está sen-
z Pastas
do exibido no Explorador de Arquivos pode ser
criado na área de trabalho arrastando o ícone da
„ Estruturas do sistema operacional: Arquivos pasta, mostrado na barra de endereços e soltando-
de Programas (Program Files), Usuários (Users), -o na área de trabalho.
Windows. A primeira pasta da undiade é cha-
mada raiz (da árvore de diretórios), represen- Arquivos ocultos, arquivos de sistema, arquivos
tada pela barra invertida: Documentos (Meus somente leitura... os atributos dos itens podem ser
Documentos), Imagens (Minhas Imagens), definidos pelo item Propriedades no menu de con-
Vídeos (Meus Vídeos), Músicas (Minhas Músi- texto. O Explorador de Arquivos pode exibir itens que
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

cas) — bibliotecas. tenham o atributo oculto, desde que ajuste a configu-


„ Estruturas do Usuário: Documentos (Meus ração correspondente.
Documentos), Imagens (Minhas Imagens),
Vídeos (Meus Vídeos), Músicas (Minhas Músi- ÁREA DE TRABALHO
cas) — bibliotecas.
A interface gráfica do Windows é caracterizada
„ Área de Trabalho: Desktop, que permite aces-
pela Área de Trabalho, ou Desktop. A tela inicial do
so à Lixeira, Barra de Tarefas, pastas, arquivos,
Windows exibe ícones de pastas, arquivos, programas,
programas e atalhos. atalhos, barra de tarefas (com programas que podem
„ Lixeira do Windows: Armazena os arquivos de ser executados e programas que estão sendo executa-
discos rígidos que foram excluídos, permitindo dos) e outros componentes do Windows.
a recuperação dos dados. A área de trabalho do Windows 10, também conhe-
cida como Desktop, é reconhecida pela presença do
papel de parede ilustrando o fundo da tela. É uma 411
imagem, que pode ser um bitmap (extensão BMP), uma foto (extensão JPG), além de outros formatos gráficos. Ao
ver o papel de parede em exibição, sabemos que o computador está pronto para executar tarefas.

Lixeira Microsoft Google Mozilla Kaspersky Firefox


Edge Chrome Thunderbird Secure Co..

Provas Downloads caragua.docx Lista de Extra - dicas


Anteriores e-mails par.. Ebook-Curs. concursos.txt

Imagem da área de trabalho do Windows 10.

Na área de trabalho podemos encontrar Ícones e estes podem ser ocultados se o usuário escolher “Ocultar
ícones da área de trabalho” no menu de contexto (botão direito do mouse, Exibir). Os ícones representam atalhos,
arquivos, pastas, unidades de discos e componentes do Windows (como Lixeira e Computador).
No canto inferior esquerdo encontraremos o botão Iniciar, que pode ser acionado pela tecla Windows ou pela
combinação de teclas Ctrl+Esc. Ao ser acionado, o menu Iniciar será apresentado na interface de blocos que sur-
giu com o Windows 8, interface Metro.
A ideia do menu Iniciar é organizar todas as opções instaladas no Windows 10, como acessar Configurações
(antigo Painel de Controle), programas instalados no computador, apps instalados no computador a partir da
Windows Store (loja de aplicativos da Microsoft) etc.
Ao lado do botão Iniciar encontramos a caixa de pesquisas (Cortana). Com ela, poderemos digitar ou ditar o
nome do recurso que estamos querendo executar e o Windows 10 apresentará a lista de opções semelhantes na
área de trabalho e a possibilidade de buscar na Internet. Além da digitação, podemos falar o que estamos queren-
do procurar, clicando no microfone no canto direito da caixa de pesquisa.
A seguir, temos o item Visão de Tarefas sendo uma novidade do Windows 10, que permite visualizar os dife-
rentes aplicativos abertos (como o atalho de teclado Alt+Tab clássico) e alternar para outra Área de Trabalho. O
atalho de teclado para Visão de Tarefas é Windows+Tab.
Enquanto no Windows 7 só temos uma Área de Trabalho, o Windows 10 permite trabalhar com várias áreas de
trabalho independentes, onde os programas abertos em uma não interfere com os programas abertos em outra.
A seguir, a tradicional Barra de Acesso Rápido, que organiza os aplicativos mais utilizados pelo usuário, per-
mitindo o acesso rápido, tanto por clique no mouse, como por atalhos (Windows+1 para o primeiro, Windows+2
para o segundo programa etc.) e também pelas funcionalidades do Aero (como o Aero Peek, que mostrará minia-
turas do que está em execução, e consequente transparência das janelas).
A Área de Notificação mostrará a data, hora, mensagens da Central de Ações (de segurança e manutenção),
processos em execução (aplicativos de segundo plano) etc. Atalho de teclado: Windows+B.
Por sua vez, em “Mostrar Área de Trabalho”, o atalho de teclado Windows+D mostrará a área de trabalho ao
primeiro clique e mostrará o programa que estava em execução ao segundo clique. Se a opção “Usar Espiar para
visualizar a área de trabalho ao posicionar o ponteiro do mouse no botão Mostrar Área de Trabalho na extremida-
de da barra de tarefas” estiver ativado nas Configurações da Barra de Tarefas, não será necessário clicar. Bastará
apontar para visualizar a Área de Trabalho.
Uma novidade do Windows 10 foi a incorporação dos Blocos Dinâmicos (que antes estavam na interface Metro
do Windows 8 e 8.1) no menu Iniciar. Os blocos são os aplicativos fixados no menu Iniciar. Se quiser ativar ou
desativar, pressione e segure o aplicativo (ou clique com o botão direito do mouse) que mostra o bloco dinâmico
e selecione Ativar bloco dinâmico ou Desativar bloco dinâmico.

412
Navegador padrão
do Windows 10 Atalhos

Itens Excluídos

Lixeira Microsoft Google Mozilla Kaspersky


Pastas de Firefox Arquivos
Edge Chrome Thunderbird Secure Co..
Arquivos

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Central de
Botão Iniciar Barra de Área de
Visão de Tarefas Ações
Cortana Acesso rápido Notificação

Barra de Tarefas

Elementos da área de trabalho do Windows 10.

Mostrar área de trabalho agora está no canto inferior direito, ao lado do relógio, na área de notificação da
Barra de Tarefas. O atalho continua o mesmo: Win+D (Desktop)

Aplicativos fixados na Barra de Tarefas são ícones que permanecem em exibição todo o tempo.

Aplicativo que está em execução 1 vez apresentará no computador um pequeno traço azul abaixo do ícone.

Aplicativo que está em execução mais de 1 vez apresentará no computador um pequeno traço segmentado
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

azul no ícone.

1 +1 não está em
execução execução execução

413
ÁREA DE TRANSFERÊNCIA

Um dos itens mais importantes do Windows não é visível como um ícone ou programa. A Área de Transfe-
rência é um espaço da memória RAM, que armazena uma informação de cada vez. A informação armazenada
poderá ser inserida em outro local, e ela acaba trabalhando em praticamente todas as operações de manipulação
de pastas e arquivos.
No Windows 10, se quiser visualizar o conteúdo da Área de Transferência, acione o atalho de teclado Windo-
ws+V (View).
Ao acionar o atalho de teclado Ctrl+C (Copiar), estamos copiando o item para a memória RAM, para ser inse-
rido em outro local, mantendo o original e criando uma cópia.
Ao acionar o atalho de teclado PrintScreen, estamos copiando uma “foto da tela inteira” para a Área de Trans-
ferência, para ser inserida em outro local, como em um documento do Microsoft Word ou edição pelo acessório
Microsoft Paint.
Ao acionar o atalho de teclado Alt+PrintScreen, estamos copiando uma “foto da janela atual” para a Área de
Transferência, desconsiderando outros elementos da tela do Windows.
Ao acionar o atalho de teclado Ctrl+V (Colar), o conteúdo que está armazenado na Área de Transferência será
inserido no local atual.

Dica
As três teclas de atalhos mais questionadas em questões do Windows são Ctrl+X, Ctrl+C e Ctrl+V, que acio-
nam os recursos da Área de Transferência.

As ações realizadas no Windows, em sua quase totalidade, podem ser desfeitas ao acionar o atalho de teclado
Ctrl+Z imediatamente após a sua realização. Por exemplo, ao excluir um item por engano, e pressionar Del ou
Delete, o usuário pode acionar Ctrl+Z (Desfazer) para restaurar ele novamente, sem necessidade de acessar a
Lixeira do Windows.
E outras ações podem ser repetidas, acionando o atalho de teclado Ctrl+Y (Refazer), quando possível.
Para obter uma imagem de alguma janela em exibição, além dos atalhos de teclado PrintScreen e Alt+PrintS-
creen, o usuário pode usar o recurso Instantâneo, disponível nos aplicativos do Microsoft Office.
Outra forma de realizar esta atividade é usar a Ferramenta de Captura (Captura e Esboço), disponível no
Windows.
Mas se o usuário quer apenas gravar a imagem capturada, poderá fazer com o atalho de teclado Windo-
ws+PrintScreen, que salva a imagem em um arquivo na pasta “Capturas de Tela”, na Biblioteca de Imagens.
A área de transferência é um dos principais recursos do Windows, que permite o uso de comandos, realização
de ações e controle das ações que serão desfeitas.

MANIPULAÇÃO DE ARQUIVOS E PASTAS

Ao nomear arquivos e pastas, algumas regras precisam ser conhecidas para que a operação seja realizada com
sucesso.

z O Windows não é case sensitive. Ele não faz distinção entre letras minúsculas ou letras maiúsculas. Um arquivo
chamado documento.docx será considerado igual ao nome Documento.DOCX.
z O Windows não permite que dois itens tenham o mesmo nome e a mesma extensão quando estiverem arma-
zenados no mesmo local.
z O Windows não aceita determinados caracteres nos nomes e extensões. São caracteres reservados para outras
operações, que são proibidos na hora de nomear arquivos e pastas. Os nomes de arquivos e pastas podem ser
compostos por qualquer caractere disponível no teclado, exceto os caracteres * (asterisco, usado em buscas),
? (interrogação, usado em buscas), / (barra normal, significa opção), | (barra vertical, significa concatenador
de comandos), \ (barra invertida, indica um caminho), “ (aspas, abrange textos literais), : (dois pontos, significa
unidade de disco), < (sinal de menor, significa direcionador de entrada) e > (sinal de maior, significa direcio-
nador de saída).
z Existem termos que não podem ser usados, como CON (console, significa teclado), PRN (printer, significa
impressora) e AUX (indica um auxiliar), por referenciar itens de hardware nos comandos digitados no Prompt
de Comandos (por exemplo, para enviar para a impressora um texto através da linha de comandos, usamos
TYPE TEXTO.TXT > PRN).

Entre os caracteres proibidos, o asterisco é o mais conhecido. Ele pode ser usado para substituir de zero à N
caracteres em uma pesquisa, tanto no Windows como nos sites de busca na Internet.
As ações realizadas pelos usuários em relação à manipulação de arquivos e pastas pode estar condicionada ao
local onde ela é efetuada, ou ao local de origem e destino da ação. Portanto, é importante verificar no enunciado
da questão, geralmente no texto associado, esses detalhes que determinarão o resultado da operação.
As operações podem ser realizadas com atalhos de teclado, com o mouse, ou com a combinação de ambos. As
bancas organizadoras costumam questionar ações práticas nas provas e, na maioria das vezes utilizam imagens
414 nas questões.
OPERAÇÕES COM TECLADO
Atalhos de teclado Resultado da operação
Ctrl+X e Ctrl+V
Não é possível recortar e colar na mesma pasta. Será exibida uma mensagem de erro
na mesma pasta
Ctrl+X e Ctrl+V
Recortar (da origem) e colar (no destino). O item será movido
em locais diferentes
Ctrl+C e Ctrl+V Copiar e colar. O item será duplicado. A cópia receberá um sufixo (Copia) para diferen-
na mesma pasta ciar do original
Ctrl+C e Ctrl+V Copiar (da origem) e colar (no destino). O item será duplicado, mantendo o nome e
em locais diferentes extensão
Tecla Delete em um item do Deletar, apagar, enviar para a Lixeira do Windows, podendo recuperar depois, se o item
disco rígido estiver em um disco rígido local interno ou externo conectado na CPU
Tecla Delete em um item do Será excluído definitivamente. A Lixeira do Windows não armazena itens de unidades
disco removível removíveis (pendrive), ópticas ou unidades remotas
Shift+Delete Independentemente do local onde estiver o item, ele será excluído definitivamente
Renomear. Trocar o nome e a extensão do item. Se houver outro item com o mesmo
F2 nome no mesmo local, um sufixo numérico será adicionado para diferenciar os itens.
Não é permitido renomear um item que esteja aberto na memória do computador

Lixeira

Um dos itens mais questionados em concursos públicos é a Lixeira do Windows. Ela armazena os itens que
foram excluídos de discos rígidos locais, internos ou externos conectados na CPU.
Ao pressionar o atalho de teclado Ctrl+D, ou a tecla Delete (DEL), o item é removido do local original e arma-
zenado na Lixeira.
Quando o item está na Lixeira, o usuário pode escolher a opção Restaurar, para retornar ele para o local
original. Se o local original não existe mais, pois suas pastas e subpastas foram removidas, a Lixeira recupera o
caminho e restaura o item.
Os itens armazenados na Lixeira poderão ser excluídos definitivamente, escolhendo a opção “Esvaziar Lixei-
ra” no menu de contexto ou faixa de opções da Lixeira.
Quando acionamos o atalho de teclado Shift+Delete, o item será excluído definitivamente. Pelo Windows, itens
excluídos definitivamente ou apagados após esvaziar a Lixeira não poderão ser recuperados. É possível recuperar
com programas de terceiros, mas isso não é considerado no concurso, que segue a configuração padrão.
Os itens que estão na Lixeira podem ser arrastados com o mouse para fora dela, restaurando o item para o
local onde o usuário liberar o botão do mouse.
A Lixeira do Windows tem o seu tamanho definido em 10% do disco rígido ou 50 GB. O usuário poderá alterar
o tamanho máximo reservado para a Lixeira, poderá desativar ela excluindo os itens diretamente e configurar
Lixeiras individuais para cada disco conectado.

OPERAÇÕES COM MOUSE


AÇÃO DO USUÁRIO RESULTADO DA OPERAÇÃO
Clique simples no botão principal Selecionar o item
Clique simples no botão secundário Exibir o menu de contexto do item
Executar o item, se for executável. Abrir o item, se for editável,
com o programa padrão que está associado. Nos progra-
Duplo clique
mas do computador, poderá abrir um item através da opção
correspondente
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Renomear o item. Se o nome já existe em outro item, será suge-


Duplo clique pausado
rido numerar o item renomeado com um sufixo
Arrastar com botão principal pressionado e soltar na
O item será movido
mesma unidade de disco
Arrastar com botão principal pressionado e soltar
O item será copiado
em outra unidade de disco
Arrastar com botão secundário do mouse pressio- Exibe o menu de contexto, podendo “Copiar aqui” (no local onde
nado e soltar na mesma unidade soltar)
Arrastar com botão secundário do mouse pressio- Exibe o menu de contexto, podendo “Copiar aqui” (no local onde
nado e soltar em outra unidade de disco soltar) ou “Mover aqui”

415
OPERAÇÕES COM TECLADO E MOUSE

AÇÃO DO USUÁRIO RESULTADO DA OPERAÇÃO

Arrastar com o botão principal pressionado um item com O item será copiado, quando a tecla CTRL for liberada, in-
a tecla CTRL pressionada dependente da origem ou do destino da ação

Arrastar com o botão principal pressionado um item com O item será movido, quando a tecla SHIFT for liberada, in-
a tecla SHIFT pressionada dependente da origem ou do destino da ação

Arrastar com o botão principal pressionado um item com Será criado um atalho para o item, independente da ori-
a tecla ALT pressionada (ou CTRL+SHIFT) gem ou do destino da ação

Clique em itens com o botão principal, enquanto mantém


Seleção individual de itens
a tecla CTRL pressionada

Seleção de vários itens. O primeiro item clicado será o iní-


Clique em itens com o botão principal, enquanto mantém
cio, e o último item será o final, de uma região contínua de
a tecla SHIFT pressionada
seleção

Extensões de Arquivos

O Windows 10 apresenta ícones que representam arquivos, de acordo com a sua extensão. A extensão carac-
teriza o tipo de informação que o arquivo armazena. Quando um arquivo é salvo, uma extensão é atribuída para
ele, de acordo com o programa que o criou. É possível alterar essa extensão, porém, corremos o risco de perder
o acesso ao arquivo, que não será mais reconhecido diretamente pelas configurações definidas em Programas
Padrão do Windows.

Importante!
Existem arquivos sem extensão, como itens do sistema operacional. Ela é opcional e procura associar o
arquivo com um programa para visualização ou edição. Se o arquivo não possui extensão, o usuário não
conseguirá executá-lo, por se tratar de conteúdo de uso interno do sistema operacional (que não deve ser
manipulado).

Confira na tabela a seguir algumas das extensões e ícones mais comuns em provas de concursos.

EXTENSÃO ÍCONE FORMATO

Adobe Acrobat. Pode ser criado e editado pelos aplicativos Office. Formato de documento
PDF
portável (Portable Document Format) que poderá ser visualizado em várias plataformas

Documento de textos do Microsoft Word. Textos com formatação que podem ser editados
DOCX
pelo LibreOffice Writer

Pasta de trabalho do Microsoft Excel. Planilhas de cálculos que podem ser editadas pelo
XLSX
LibreOffice Calc

Apresentação de slides do Microsoft PowerPoint, que poderá ser editada pelo LibreOffice
PPTX
Impress

Texto sem formatação. Formato padrão do acessório Bloco de Notas. Poderá ser aberto por
TXT
vários programas do computador

Rich Text Format (formato de texto rico). Padrão do acessório WordPad, este documento de
RTF
texto possui alguma formatação, como estilos de fontes

MP4, AVI, Formato de vídeo. Quando o Windows efetua a leitura do conteúdo, exibe no ícone a miniatura
MPG do primeiro quadro. No Windows 10, Filmes e TV reproduzem os arquivos de vídeo
416
EXTENSÃO ÍCONE FORMATO

Formato de áudio. O Gravador de Som pode gravar o áudio. O Windows Media Player e o
MP3
Groove Music podem reproduzir o som

BMP, GIF,
Formato de imagem. Quando o Windows efetua a leitura do conteúdo, exibe no ícone a miniatura
JPG, PCX,
da imagem. No Windows 10, o acessório Paint visualiza e edita os arquivos de imagens
PNG, TIF

Formato ZIP, padrão do Windows para arquivos compactados. Não necessita de programas
ZIP
adicionais, como o formato RAR que exige o WinRAR

Biblioteca de ligação dinâmica do Windows. Arquivo que contém informações que podem ser
DLL
usadas por vários programas, como uma caixa de diálogo

EXE, COM,
Arquivos executáveis, que não necessitam de outros programas para serem executados
BAT

Uma das extensões menos conhecidas e mais questionadas das bancas é a extensão RTF. Rich Text Format, uma
tentativa da Microsoft em criar um padrão de documento de texto com alguma formatação para múltiplas plata-
formas. A extensão RTF pode ser aberta pelos programas editores de textos, como o Microsoft Word e LibreOffice
Writer, e é padrão do acessório do Windows WordPad.
Se o usuário quiser, pode acessar Configurações (atalho de teclado Windows+I) e modificar o programa padrão.
Alterando essa configuração, o arquivo será visualizado e editado por outro programa de escolha do usuário.
As Configurações do Windows e dos programas instalados estão armazenadas no Registro do Windows. O
arquivo do registro do Windows pode ser editado pelo comando regedit.exe, acionado na caixa de diálogo “Exe-
cutar”. Entretanto, não devemos alterar suas hives (chaves de registro) sem o devido conhecimento, pois poderá
inutilizar o sistema operacional.
No Windows 10, Configurações é o Painel de Controle. A troca do nome alterou a organização dos itens de ajus-
tes do Windows, tornando-se mais simples e intuitivo.
Através deste item o usuário poderá instalar e desinstalar programas e dispositivos, configurar o Windows,
além de outros recursos administrativos.
Por meio do ícone Rede e Internet do Windows 10, acessado pela opção Configurações, localizada na lista exibi-
da a partir do botão Iniciar, é possível configurar VPN, Wi‐Fi, modo avião, entre outros. VPN/ Wi-Fi/ Modo avião/
Status da rede/ Ethernet/ Conexão discada/ Hotspot móvel/ Uso de dados/ Proxy.
Modo Avião é uma configuração comum em smartphones e tablets que permite desativar, de maneira rápida,
a comunicação sem fio do aparelho — que inclui Wi‑Fi, Bluetooth, banda larga móvel, GPS, GNSS, NFC e todos os
demais tipos de uso da rede sem fio.
No Explorador de Arquivos do Windows 10, ao exibir os detalhes dos arquivos, é possível visualizar informa-
ções, como, por exemplo, a data de modificação e o tamanho de cada arquivo.

Modos de Exibição do Windows 10

NOÇÕES DE INFORMÁTICA

z Ícones extras grandes: ícones extra grandes com nome (e extensão);


z Ícones grandes: ícones grandes com nome (e extensão);
z Ícones médios: ícones médios com nome (e extensão) organizados da esquerda para a direita;
z Ícones pequenos: ícones pequenos com nome (e extensão) organizados da esq. para a direita; 417
z Listas: ícones pequenos com nome (e extensão) organizados de cima para baixo;
z Detalhes: ícones pequenos com nome, data de modificação, tipo e tamanho;
z Blocos: ícones médios com nome, tipo e tamanho, organizados da esquerda para a direita;
z Conteúdo: ícones médios com nome, autores, data de modificação, marcas e tamanho.

Um dos temas mais questionado em provas anteriores são os modos de exibição do Windows. Se tem um
computador com Windows 10, procure visualizar os modos de exibição no seu Explorador de Arquivos. Praticar
a disciplina no computador ajuda na memorização dos recursos.

2. Barra ou linha de título


3. Minimizar 4. Maximizar 5.Fechar

1. Barra de menus

Área de trabalho do aplicativo

6. Barra de Rolagem

Elementos de uma janela do Windows 10.

1. Barra de menus: são apresentados os menus com os respectivos serviços que podem ser executados no
aplicativo.
2. Barra ou linha de título: mostra o nome do arquivo e o nome do aplicativo que está sendo executado na jane-
la. Através dessa barra, conseguimos mover a janela quando a mesma não está maximizada. Para isso, clique
na barra de título, mantenha o clique e arraste e solte o mouse. Assim, você estará movendo a janela para a
posição desejada. Depois é só soltar o clique.
3. Botão minimizar: reduz uma janela de documento ou aplicativo para um ícone. Para restaurar a janela para
seu tamanho e posição anteriores, clique neste botão ou clique duas vezes na barra de títulos.
4. Botão maximizar: aumenta uma janela de documento ou aplicativo para preencher a tela. Para restaurar a
janela para seu tamanho e posição anteriores, clique neste botão ou clique duas vezes na barra de títulos.
5. Botão fechar: fecha o aplicativo ou o documento. Solicita que você salve quaisquer alterações não salvas antes
de fechar. Alguns aplicativos, como os navegadores de Internet, trabalham com guias ou abas, que possui o seu
próprio controle para fechar a guia ou aba. Atalho de teclado Alt+F4.
6. Barras de rolagem: as barras sombreadas ao longo do lado direito (e inferior de uma janela de documento).
Para deslocar-se para outra parte do documento, arraste a caixa ou clique nas setas da barra de rolagem.

USO DOS MENUS

No Windows 10, tanto pelo Explorador de Arquivos como pelo menu Iniciar, encontramos as opções para
gerenciamento de arquivos, pastas e configurações.
O Windows 10 disponibiliza listas de atalho como recurso que permite o acesso direto a sítios, músicas, docu-
mentos ou fotos. O conteúdo dessas listas está diretamente relacionado com o programa ao qual elas estão asso-
ciadas. O recurso de Lista de Atalhos, novidade do Windows 7 que foi mantida nas versões seguintes, possibilita
organizar os arquivos abertos por um aplicativo ao ícone do aplicativo, com a possibilidade ainda de fixar o item
na lista.
No Explorador de Arquivos do Windows 10, os menus foram trocados por guias, semelhante ao Microsoft Offi-
ce. Ao pressionar ALT, nenhum menu escondido será mostrado (como no Windows 7), mas os atalhos de teclado
para as guias Arquivo, Início, Compartilhar e Exibir.

O botão direito do mouse exibe a janela pop-up chamada “Menu de Contexto”. Em cada local que for clicado,
uma janela diferente será mostrada.
418 As opções exibidas no menu de contexto contêm as ações permitidas para o item clicado naquele local.
Através do menu de contexto da área de trabalho, podemos criar nova pasta (Ctrl+Shift+N), novo Atalho, ou
novos arquivos (Imagem de bitmap [BMP Paint], Documento do Microsoft Word [DOCX Microsoft Word], Formato
Rich Text [RTF WordPad], Documento de Texto [TXT Bloco de Notas], Planilha do Microsoft Excel [XLSX Microsoft
Excel], Pasta Compactada [extensão ZIP], entre outros).

Dica
Arquivos de imagens são editados pelo acessório do Windows Microsoft Paint, que no Windows 10 oferece
a versão Paint 3D.

Cada item (pasta ou arquivo) armazena uma série de informações relacionadas a si próprio. Estas informa-
ções podem ser consultadas em Propriedades, acessado no menu de contexto, exibido quando clicar com o botão
direito do mouse sobre o item.
Ao clicar com o botão direito sobre o ícone da Lixeira, será mostrado o menu de contexto, e escolhendo “Esva-
ziar Lixeira”, os itens serão removidos definitivamente; utilizando o Windows, não haverá meio de recuperá-los.

PROGRAMAS E APLICATIVOS

Os programas associados ao Windows 10 podem ser classificados em:

z Componentes do sistema operacional;


z Aplicativos e Acessórios;
z Ferramentas de Manutenção e Segurança.
z App’s — aplicativos disponíveis na Loja (Windows Store) para instalação no computador do usuário.

Dica
Os acessórios do Windows são aplicativos nativos do sistema operacional, que estão disponíveis para utiliza-
ção mesmo que não existam outros programas instalados no computador. Os acessórios oferecem recursos
básicos para anotações, edição de imagens e edição de textos.

Na primeira categoria encontramos o Configurações (antigo Painel de Controle). Usado para realizar as confi-
gurações de software (programas) e hardware (dispositivos), permite alterar o comportamento do sistema opera-
cional, personalizando a experiência no Windows 7. No Windows 10 o Painel de Controle chama-se Configurações,
e pode ser acessado pelo atalho de teclado Windows+X no menu de contexto, ou diretamente pelo atalho de tecla-
do Windows+I.
Na segunda categoria, temos programas que realizam atividades e outros que produzem mais arquivos. Por
exemplo, a calculadora. É um acessório do Windows 10 que inclui novas funcionalidades em relação às versões
anteriores, como o cálculo de datas e conversão de medidas. Temos também as Notas Autoadesivas (como peque-
nos post-its na tela do computador).
Outros acessórios são o WordPad (para edição de documentos com alguma formatação), Bloco de Notas (para
edição de arquivos de textos), MSPaint (para edição de imagens) e Visualizador de Imagens (que permite ver uma
imagem e chamar o editor correspondente).
E, finalmente, as ferramentas do sistema. Desfragmentar e Otimizar Unidades1 (antigo Desfragmentador de
Discos, para organizar clusters2), Verificação de Erros (para procurar por erros de alocação), Backup do Windows
(para cópia de segurança dos dados do usuário) e Limpeza de Disco (para liberar espaço livre no disco).

Desfragmentar e Otimizar Unidades


Aplicativo da área de trabalho

Otimizar e desfragmentar unidade


NOÇÕES DE INFORMÁTICA

A otimização das unidades do computador pode


ajudá-lo a funcionar com mais eficiência.

Otimizar

No menu Iniciar, em Ferramentas Administrativas do Windows, encontraremos os outros programas, como


por exemplo: Agendador de Tarefas, Gerenciamento do Computador, Limpeza de Disco etc. Na parte de segurança
encontramos o Firewall do Windows, um filtro das portas TCP do computador, que autoriza ou bloqueia o acesso
para a rede de computadores, e de acesso externo ao computador.
1  Em cada local do Windows, o item poderá ter um nome diferente. “Desfragmentar e Otimizar Unidades” é o nome do recurso. “Otimizar e
desfragmentar unidade” é o nome da opção.
2  Unidades de alocação. Quando uma informação é gravada no disco, ela é armazenada em um espaço chamado cluster. 419
Firewall do Windows
Painel de controle

A tabela a seguir procura resumir os recursos e novidades do Windows 10. Confira:

WINDOWS 10 O QUE
Explorador de Arquivos Gerenciamento de arquivos e pastas do computador

Referência ao local no gerenciador de arquivos e pastas para unidades de discos


Este Computador
e pastas Favoritas

Ferramenta de sistema para organizar os arquivos e pastas do computador, me-


Desfragmentar e Otimizar Unidades
lhorando o tempo de leitura dos dados

Win+S Pesquisar

Envia imediatamente Pressionar DEL em um item selecionado

Configurações Permite configurar software e hardware do computador

Home, Pro, Enterprise, Education Edições do Windows

xBox (Games, músicas = Groove) Integração com xBox, modo multiplayer gratuito, streaming de jogos do xBox One

Com blocos dinâmicos (live tiles) Menu Iniciar

Hyperboot & InstantGo Inicialização rápida

Menu Iniciar, Barra de Tarefas e Blo-


Fixar aplicativos
cos Dinâmicos

Windows Hello Autenticação biométrica permite logar no sistema sem precisar de senhas

Acessar os documentos do OneDrive diretamente do Windows Explorer e Explo-


OneDrive integrado
rador de Arquivos

Permite alternar de maneira fácil entre os modos de desktop e tablet, sendo ideal
Continuum
para dispositivos conversíveis

Microsoft Edge O novo navegador da Microsoft está disponível somente no Windows 10

Com funcionamento análogo à Google Play Store e à Apple Store, o ambiente per-
Windows Store
mite comprar jogos, apps, filmes, músicas e programas de TV

Desktops virtuais O recurso permite visualizar dados de vários computadores em uma única tela

Windows Update, Windows Update


Fornecimento do Windows como um serviço, para manter o Windows atualizado
for Business, Current Branch for Busi-
Windows as a Service — WaaS
ness e Long Term Servicing Branch

Intregração com Windows Phone Aplicativos Fotos aprimorado

O modo tablet deixa o Windows mais fácil e intuitivo de usar com touch em dispo-
Modo tablet
sitivos tipo conversíveis

Email, Calendário, Notícias, entre


Executar aplicativos Metro (Windows 8 e 8.1) em janelas
outros, também foram melhorados

Compartilhar Wi-Fi Compartilhar sua rede Wi-Fi com os amigos sem revelar a senha

Complemento para Telefone Sincronizar dados entre seu PC e smartphone ou tablete, seja iOs ou Android

Configurações > Sistema >


Analisar o espaço de armazenamento em seu PC
Armazenamento

Prompt de Comandos Usar o comando Ctrl + V no prompt de comando

Cortana Assistente pessoal semelhante à Siri da Apple, que já está disponível em português

Na área de notificações do Windows 10, a Central de Notificações reúne as mensa-


Central de Notificações
gens do e-mail, do computador, de segurança e manutenção, entre outras

Quando você clica duas vezes em um arquivo, como, por exemplo, uma imagem ou documento, o arquivo
420 é aberto no programa que está definido como o “programa padrão” para esse tipo de arquivo no Windows 10.
Porém, se você gosta de usar outro programa para abrir o arquivo, você pode defini-lo como padrão. Disponível
em Configurações, Sistema, Aplicativos Padrão.

O Bloco de Notas (notepad.exe) é um acessório do Windows para edição de arquivos de texto sem formatação,
com extensão TXT.

O WordPad (wordpad.exe) é um acessório do Windows para edição de arquivos de texto com alguma formata-
ção, com extensão RTF e DOCX.
O WordPad se assemelha ao Microsoft Word, com recursos simplificados.

NOÇÕES DE INFORMÁTICA

O Paint (mspaint.exe) é o acessório do Windows para edição de imagens BMP, GIF, JPG, PNG e TIF.

421
A Ferramenta de Captura é um aplicativo da área de trabalho do Windows 10 que permite copiar parte de
alguma tela em exibição.

Notas Autoadesivas (que agora se chama Stick Notes) é um aplicativo do Windows 10, que permite a inserção
de pequenas notas de texto na área de trabalho do Windows, como recados do tipo Post-It.
As Anotações podem ser vinculadas ao Microsoft Bing e assistente virtual Cortana. Assim, ao anotar um ende-
reço, o mapa é exibido. Ao anotar um número de voo, as informações serão mostradas sobre a partida.
O aplicativo “Filmes e TV” pode ser usado para visualização de vídeos, assim como o “Windows Media Player”.
O Prompt de Comandos (cmd.exe) é usado para digitar comandos em um terminal de comandos.
O Microsoft Edge é o navegador de Internet padrão do Windows 10. Podemos usar outros navegadores, como o
Internet Explorer 11, Mozilla Firefox, Google Chrome, Apple Safari, Opera Browser etc.
O Windows Update (verificar se há atualizações) é o recurso do Windows para manter ele sempre atualizado.
Está em Configurações (atalho de teclado Windows+I), Atualização e segurança.

INTERAÇÃO COM O CONJUNTO DE APLICATIVOS MS-OFFICE 2010

z Os documentos de texto produzidos pelo Microsoft Word 2010 possuem a extensão DOCX.
z Os documentos de texto habilitados para macros3 possuem a extensão DOCM.
z Um modelo4 de documento é um arquivo que pode ser usado para criar novos arquivos a partir de uma for-
matação pré-estabelecida. A extensão é DOTX.
z Um modelo de documento habilitado para macros contém, além da formatação básica para criação de outros
documentos, comandos programados para automatização de tarefas. A extensão é DOTM.
z As pastas de trabalho produzidas pelo Microsoft Excel 2010 possuem a extensão XLSX.
z As pastas de trabalho habilitadas para macros possuem a extensão XLSM.
z As pastas de trabalho do tipo modelo possuem a extensão XLTX.
z As pastas de trabalho do tipo modelo habilitadas para macros possuem a extensão XLTM.
z O arquivo do Excel que contém os dados de uma planilha que não foi salva, que pode ser recuperada pelo
usuário, possui a extensão XLSB. (binário).
z O arquivo com extensão CSV (Comma Separated Values) contém textos separados por vírgula, que podem ser
importados pelo Excel, podem ser usados em mala direta do Word, incorporados a um banco de dados etc.
z Um arquivo com a extensão. contact é um contato, que pode ser usado no Outlook 2016.
z Arquivos compactados com extensão ZIP podem armazenar outros arquivos e pastas.
z Os arquivos compactados podem ser criados pelo menu de contexto, opção Enviar para, Pasta Compactada.
z Os arquivos de Internet, como páginas salvas, recebem a extensão HTML e uma pasta será criada para os
arquivos auxiliares (imagens, vídeos etc.).
z O conteúdo de arquivos do Office pode ser transferido para outros arquivos do próprio Office através da Área
de Transferência do Windows.
z O conteúdo formatado do Office poderá ser transferido para outros arquivos do Windows, mas a formatação
poderá ser perdida.

Atalhos de Teclado — Windows 10

Dica
Os atalhos de teclado do Windows são de termos originais em inglês. Por serem atalhos de teclado do siste-
ma operacional, são válidos para os programas que estiverem sendo executados no Windows.
3  Macros são pequenos programas desenvolvidos dentro de arquivos do Office, para automatização de tarefas. Os códigos dos programas são
escritos em linguagem VBA (Visual Basic for Applications). Arquivos com macros podem conter vírus, e no momento da abertura, o programa
perguntará se o usuário deseja ativar ou não as macros.
422 4  Template = modelo de documento, planilha ou apresentação, com a formatação básica a ser usada no novo arquivo.
ATALHO AÇÃO
Alt+Esc Alterna para o próximo aplicativo em execução
Alt+Tab Exibe a lista dos aplicativos em execução
Backspace Volta para a pasta anterior, que estava sendo exibida no Explorador de Arquivos
Ctrl+A Selecionar tudo
Ctrl+C Copia o item (os itens) para a Área de Transferência
Ctrl+Esc Botão Início
Ctrl+E / Ctrl+F Pesquisar
Ctrl+Shift+Esc Gerenciador de Tarefas
Ctrl+V Cola o item (os itens) da Área de Transferência no local do cursor
Ctrl+X Move o item (os itens) para a Área de Transferência
Ctrl+Y Refazer
Desfaz a última ação. Se acabou de renomear um arquivo, ele volta ao nome original. Se acabou
Ctrl+Z
de apagar um arquivo, ele restaura para o local onde estava antes de ser deletado
Del Move o item para a Lixeira do Windows
F1 Exibe a ajuda
F11 Tela Inteira
Renomear, trocar o nome: dois arquivos com mesmo nome e mesma extensão não podem estar
F2 na mesma pasta, se já existir outro arquivo com o mesmo nome, o Windows espera confirmação,
símbolos especiais não podem ser usados, como / | \ ? * “ < > :
F3 Pesquisar, quando acionado no Explorador de Arquivos. Win+S fora dele
F5 Atualizar
Shift+Del Exclui definitivamente, sem armazenar na Lixeira
Win Abre o menu Início
Win+1 Acessa o primeiro programa da barra de tarefas
Win+2 Acessa o segundo programa da barra de tarefas
Win+B Acessa a Área de Notificação
Win+D Mostra o desktop (área de trabalho)
Win+E Abre o Explorador de Arquivos
Win+F Feedback – hub para comentários sobre o Windows
Win+I Configurações (Painel de Controle)
Win+L Bloquear o Windows (Lock, bloquear)
Win+M Minimiza todas as janelas e mostra a área de trabalho, retornando como estavam antes.
Selecionar o monitor/projetor que será usado para exibir a imagem, podendo repetir, estender ou
Win+P
escolher
Win+S Search, para pesquisas (substitui o Win+F)
Win+Tab Exibe a lista dos aplicativos em execução em 3D (Visão de Tarefas)
Win+X Menu de acesso rápido, exibido ao lado do botão Iniciar NOÇÕES DE INFORMÁTICA

MICROSOFT WORD 2016: EDIÇÃO E FORMATAÇÃO DE TEXTOS


Estrutura Básica dos Documentos

Os documentos produzidos com o editor de textos Microsoft Word possuem a seguinte estrutura básica:

z Documentos: arquivos DOCX criados pelo Microsoft Word 2007 e superiores. Os documentos são arquivos
editáveis pelo usuário, que podem ser compartilhados com outros usuários para edição colaborativa;
z Modelos (Template), com extensão DOTX, contêm formatações que serão aplicadas aos novos documentos
criados a partir dele. O modelo é usado para a padronização de documentos;
z O modelo padrão do Word é NORMAL.DOTM (Document Template Macros — modelo de documento com
macros). Os macros são códigos desenvolvidos em Visual Basic for Applications (VBA) para a automatização
de tarefas;
423
z Páginas: unidades de organização do texto, segundo a orientação, o tamanho do papel e margens. As princi-
pais definições estão na guia Layout, mas é possível encontrar algumas definições na guia Design.
z Seção: divisão de formatação do documento, onde cada parte tem a sua configuração. Sempre que forem usa-
das configurações diferentes, como margens, colunas, tamanho da página, orientação, cabeçalhos, numeração
de páginas, entre outras, as seções serão usadas.
z Parágrafos: formado por palavras e marcas de formatação. Finalizado com a tecla Enter, contem formatação
independente do parágrafo anterior e do parágrafo seguinte;
z Linhas: sequência de palavras que pode ser um parágrafo, ocupando uma linha de texto. Se for finalizado com
quebra de linha, a configuração atual permanece na próxima linha.
z Palavras: formado por letras, números, símbolos, caracteres de formatação etc.

Os arquivos produzidos nas versões anteriores do Word são abertos e editados nas versões atuais. Arquivos de
formato DOC são abertos em Modo de Compatibilidade, todavia, alguns recursos são suspensos. Para usar todos
os recursos da versão atual, é necessário “Salvar como” (tecla de atalho F12) no formato DOCX.
Os arquivos produzidos no formato DOCX poderão ser editados pelas versões antigas do Office, desde que ins-
tale um pacote de compatibilidade, disponível para download no site da Microsoft.
Os arquivos produzidos pelo Microsoft Office podem ser gravados no formato PDF. O Microsoft Word, desde a
versão 2013, possui um recurso que permite editar um arquivo PDF como se fosse um documento do Word.
Durante a edição de um documento, o Microsoft Word:

z Faz a gravação automática dos dados editados enquanto o arquivo não tem um nome ou local de armazena-
mento definidos. Depois, se necessário, o usuário poderá “Recuperar documentos não salvos”;
z Faz a gravação automática de auto recuperação dos arquivos em edição que tenham nome e local definidos,
permitindo recuperar as alterações que não tenham sido salvas;
z As versões do Office 365 oferecem o recurso de “Salvamento automático”, associado à conta Microsoft, para
armazenamento na nuvem Microsoft OneDrive. Como na versão on-line, a cada alteração, o salvamento será
realizado.
z O formato de documento RTF (Rich Text Format) é padrão do acessório do Windows chamado WordPad, e por
ser portável, também poderá ser editado pelo Microsoft Word.

Dica
Em questões de informática, as extensões dos arquivos produzidos pelo usuário costumam ser questionadas
com regularidade.

z Ao iniciar a edição de um documento, o modo de exibição selecionado na guia Exibir é “Layout de Impressão”.
O documento será mostrado na tela da mesma forma que será impresso no papel;
z O Modo de Leitura permite visualizar o documento sem outras distrações, como, por exemplo, a Faixa de
Opções com os ícones. Neste modo, parecido com Tela Inteira, a barra de título continua sendo exibida;
z O modo de exibição “Layout da Web” é usado para visualizar o documento como ele seria exibido se estivesse
publicado na Internet como página web;
z Em “Estrutura de Tópicos” apenas os estilos de Títulos serão mostrados, auxiliando na organização dos blocos
de conteúdo;
z O modo “Rascunho”, que antes era modo “Normal”, exibe o conteúdo de texto do documento sem os elementos
gráficos (imagens, cabeçalho, rodapé) existentes nele;
z Os modos de exibição estão na guia “Exibir”, que faz parte da Faixa de Opções. Ela é o principal elemento da
interface do Microsoft Office;

Guia atual
Acesso rápido
Item com listagem

Guias ou abas

Caixa de diálogo do grupo Grupo Ícone com opções

z Para mostrar ou ocultar a Faixa de Opções, o atalho de teclado Ctrl+F1 poderá ser acionado;
424 z A Faixa de Opções contém guias, que organizam os ícones em grupos, como será mostrado na tabela a seguir:
GUIA GRUPO ITEM ÍCONE

Recortar

Copiar
Área de Transferência
Colar

Pincel de Formatação
Página Inicial

Nome da fonte

Tamanho da fonte
Fonte
Aumentar fonte

Diminuir fonte

Folha de Rosto

Páginas Página em Branco

Quebra de Página

Inserir Tabelas Tabela

Imagem

Ilustrações Imagens Online

Formas

As bancas priorizam o conhecimento do candidato acerca do uso dos recursos para a produção de arquivos
(parte prática dos programas). Nas questões de editores de textos, a produção de documentos formatados com
imagens ilustrativas no formato antes/depois são os assuntos mais abordados.

z As guias possuem uma organização lógica sequencial das tarefas que serão realizadas no documento, desde o
início até a visualização do resultado final, como veremos na tabela a seguir:

BOTÃO/GUIA DICA
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Arquivo Comandos para o documento atual: Salvar, salvar como, imprimir, salvar e enviar

Tarefas iniciais: O início do documento, acesso à área de transferência, formatação de fontes,


Página Inicial
parágrafos e formatação do conteúdo da página

Tarefas secundárias: Adicionar um objeto que ainda não existe no documento, tabela, ilustrações
Inserir
e instantâneos

Layout da Página Configuração da página: Formatação global do documento e formatação da página

Design Reúne formatação da página e plano de fundo

Referências Índices e acessórios: Notas de rodapé, notas de fim, índices, sumários etc.

425
BOTÃO/GUIA DICA
Correspondên-
Mala direta: Cartas, envelopes, etiquetas, e-mails e diretório de contatos
cias

Correção do documento: Ele está ficando pronto... Ortografia e gramática, idioma, controle de
Revisão
alterações, comentários, comparar, proteger etc.

Exibir Visualização: Podemos ver o resultado de nosso trabalho

EDIÇÃO E FORMATAÇÃO DE TEXTOS

A edição e formatação de textos consiste em aplicar estilos, efeitos e temas, tanto nas fontes, como nos pará-
grafos e nas páginas.
Os estilos fornecem configurações padronizadas para serem aplicadas aos parágrafos. Essas formatações
envolvem as definições de fontes e parágrafos, sendo úteis para a criação dos índices ao final da edição do docu-
mento. Os índices são gerenciados por meio das opções da guia referências, que estão disponíveis, na Microsoft
Word, na guia Página Inicial.
Com a ferramenta Pincel de Formatação, o usuário poderá copiar a formatação de um local e aplicar em outro
local no mesmo documento, ou em outro arquivo aberto. Para usar a ferramenta, selecione o “modelo de formata-
ção no texto”, clique no ícone da guia Página Inicial e clique no local onde deseja aplicar a formatação. O conteúdo
não será copiado, somente a formatação. Se efetuar duplo clique no ícone, poderá aplicar a formatação em vários
locais até pressionar a tecla Esc ou iniciar uma digitação.

Seleção

Utilizando-se do teclado e do mouse, como no sistema operacional, podemos selecionar palavras, linhas, pará-
grafos e até o documento inteiro.
Assim como no Windows, as operações com mouse e teclado também são questionadas nos programas do
Microsoft Office. Entretanto, por terem conteúdos distintos (textos, planilhas e apresentações de slides), a seleção
poderá ser diferente para algumas ações.

MOUSE TECLADO AÇÃO SELEÇÃO

- Ctrl+T Selecionar tudo Seleciona o documento

Botão principal - 1 clique na palavra Posiciona o cursor

Botão principal - 2 cliques na palavra Seleciona a palavra

Botão principal - 3 cliques na palavra Seleciona o parágrafo

Botão principal - 1 clique na margem Selecionar a linha

Botão principal - 2 cliques na margem Seleciona o parágrafo

Botão principal - 3 cliques na margem Seleciona o documento

- Shift+Home Selecionar até o início Seleciona até o início da linha

- Shift+End Selecionar até o final Seleciona até o final da linha

- Ctrl+Shift+Home Selecionar até o início Seleciona até o início do documento

- Ctrl+Shift+End Selecionar até o final Seleciona até o final do documento

Botão principal Ctrl Seleção individual Palavra por palavra

Botão principal Shift Seleção bloco Seleção de um ponto até outro local

Botão principal
Ctrl+Alt Seleção bloco Seleção vertical
pressionado

Botão principal Seleção vertical, iniciando no local do


Alt Seleção bloco
pressionado cursor

Dica
Teclas de atalhos e seleção com mouse são importantes, tanto nos concursos como no dia a dia. Experimen-
te praticar no computador. No Microsoft Word, se você digitar =rand(10,30) no início de um documento em
branco e apertar Enter, ele criará um texto “aleatório” com 10 parágrafos de 30 frases em cada um. Nele, você
426 poderá praticar à vontade.
CABEÇALHOS

Localizado na margem superior da página, poderá ser configurado em Inserir, grupo Cabeçalho e Rodapé5.
Poderá ser igual em toda a extensão do documento, diferente nas páginas pares e ímpares (para frente e verso),
mesmo que a seção anterior, diferente para cada seção do documento, não aparecer na primeira página, entre
várias opções de personalização.
Os cabeçalhos aceitam elementos gráficos, como tabelas e ilustrações.
A formatação de cabeçalho e rodapé, é diferente entre os programas do Microsoft Office. No Microsoft Word o
cabeçalho tem 1 coluna. No Excel, são 3 colunas. No Microsoft PowerPoint... depende, podendo ter 2 ou 3 colunas.
A numeração de páginas poderá ser inserida no cabeçalho e/ou rodapé.

(Digite aqui)

(Digite aqui) (Digite aqui) (Digite aqui)

PARÁGRAFOS

Edição e Formatação de Parágrafos

Os parágrafos são estruturas do texto que são finalizadas com Enter. Um parágrafo poderá ter diferentes for-
matações. Confira:

z Marcadores: símbolos no início dos parágrafos;


z Numeração: números ou algarismos romanos ou letras, no início dos parágrafos;
z Aumentar recuo: aumentar a distância do texto em relação à margem;
z Diminuir recuo: diminuir a distância do texto em relação à margem;
z Alinhamento: posicionamento em relação às margens esquerda e direita. São 4 alinhamentos disponíveis:
Esquerda, Centralizado, Direita e Justificado;
z Espaçamento entre linhas: distância entre as linhas dentro do parágrafo;
z Espaçamento antes: distância do parágrafo em relação ao anterior;
z Espaçamento depois: distância do parágrafo em relação ao seguinte;
z Sombreamento: preenchimento atrás do parágrafo;
z Bordas: linhas ao redor do parágrafo.

Recuo especial de primeira linha:


apenas a primeira linha será deslocada
em relação à margem
Margem esquerda Margem direita
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Recuo deslocamento: as linhas serão


Recuo esquerdo: todas as linhas deslocadas em relação à margem
serão deslocadas em relação esquerda, exceto a primeira linha Recuo direito: todas as linhas
à margem esquerda serão deslocadas em relação
à margem direita

Os editores de textos, recursos que conhecemos no dia a dia, possuem nomes específicos. Confira alguns
exemplos:

z Recuo: distância do texto em relação à margem;


5  O grupo Cabeçalho e Rodapé permite a inserção de um Cabeçalho (na margem superior), Rodapé (na margem inferior) e Número de Página
(no local do cursor, na margem superior, na margem inferior, na margem direita/esquerda) 427
z Realce: marca-texto, preenchimento do fundo das palavras;
z Sombreamento: preenchimento do fundo dos parágrafos;
z Folha de Rosto: primeira página do documento, capa;
z SmartArt: diagramas, representação visual de dados textuais;
z Orientação: posição da página, que poderá ser Retrato ou Paisagem;
z Quebras: são divisões, de linha, parágrafo, colunas ou páginas;
z Sumário: índice principal do documento.

Muitos recursos de formatação não são impressos no papel, mas estão no documento. Para visualizar os carac-
teres não imprimíveis e controlar melhor o documento, você pode acionar o atalho de teclado Ctrl+* (Mostrar tudo).

CARACTERES NÃO IMPRIMÍVEIS NO EDITOR MICROSOFT WORD

Tecla(s) Ícone Ação Visualização

Quebra de Parágrafo: muda de parágrafo e pode mudar


Enter -
a formatação

Quebra de Linha: muda de linha e mantém a formatação


Shift+Enter -
atual

Quebra de página: muda de página, no local atual do


Ctrl+Enter ou cursor. Disponível na guia Inserir, grupo Páginas, ícone
Ctrl+Return Quebra de Página, e na guia Layout, grupo Configurar
Página, ícone Quebras

Quebra de coluna: indica que o texto continua na próxi-


Ctrl+Shift+Enter ma coluna. Disponível na guia Layout, grupo Configurar
Página, ícone Quebras

Separador de Estilo: usado para modificar o estilo no


Ctrl+Alt+ Enter -
documento

Insere uma marca de tabulação (1,25cm). Se estiver no


TAB
início de um texto, aumenta o recuo

- - Fim de célula, linha ou tabela

Espaço Espaço em branco

Ctrl+Shift+
Espaço em branco não separável
Espaço

- - Texto oculto (definido na caixa Fonte, Ctrl+D)

- - Hifens opcionais

- - Âncoras de objetos

- - Selecionar toda a tabela

- - Campos atualizáveis pelo Word

FONTES

Edição e Formatação de Fontes

As fontes são arquivos True Type Font (.TTF) gravadas na pasta Fontes do Windows, e aparecem para todos os
programas do computador.
428
As formatações de fontes estão disponíveis no grupo Fonte, da guia Página Inicial.

Nomes de fontes como Calibri (fonte padrão do Word), Arial, Times New Roman, Courier New, Verdana, são os
mais comuns. Para facilitar o acesso a essas fontes, o atalho de teclado é: Ctrl+Shift+F.
A caixa de diálogo Formatar Fonte poderá ser acionada com o atalho Ctrl+D.
Ao lado, um número indica o tamanho da fonte: 8, 9, 10, 11, 12, 14 e assim sucessivamente. Se quiser, digite o
valor específico para o tamanho da letra.
Vejamos, agora, alguns atalhos de teclado:

z Pressione Ctrl+Shift+P para mudar o tamanho da fonte pelo atalho. E diretamente pelo teclado com Ctrl+Shift+<
para diminuir fonte e Ctrl+Shift+> para aumentar o tamanho da fonte;
z Estilos são formatos que modificam a aparência do texto, como negrito (atalho Ctrl+N), itálico (atalho Ctrl+I) e
sublinhado (atalho Ctrl+S). Já os efeitos modificam a fonte em si, como texto tachado (riscado simples sobre as
palavras), subscrito (como na fórmula H2O — atalho Ctrl + igual), e sobrescrito (como em km2 — atalho Ctrl+Shift+mais).

A diferença entre estilos e efeitos é que, os estilos podem ser combinados, como negrito-itálico, itálico-subli-
nhado, negrito-sublinhado, negrito-itálico-sublinhado, enquanto os efeitos são concorrentes entre si.
Concorrentes entre si, significa que você escolhe o efeito tachado ou tachado duplo, nunca os dois simultanea-
mente. O mesmo para o efeito TODAS MAIÚSCULAS e Versalete. Sobrescrito e subscrito.
Por sua vez, Sombra é um efeito independente, que pode ser combinado com outros. Já as opções de efeitos
Contorno, Relevo e Baixo Relevo não, devendo ser individuais.
Para finalizar esse assunto, temos o sublinhado. Ele é um estilo simples, mas comporta-se como efeito dentro
de si mesmo. Temos, então, Sublinhado simples, Sublinhado duplo, Tracejado, Pontilhado, Somente palavras (sem
considerar os espaços entre as palavras) etc. São os estilos de sublinhados, que se comportam como efeitos.

Dica
As questões sobre Fontes são práticas. Portanto, se puder praticar no seu computador, será melhor para a
memorização do tema. As questões são independentes da versão, portanto, você poderá usar o Word 2007
ou Word 365 para praticar as questões de Word 2016.

COLUNAS

O documento inicia com uma única coluna. Em Layout da Página, podemos escolher outra configuração, além
de definir opções de personalização.
As colunas poderão ser definidas para a seção atual (divisão de formatação dentro do documento) ou para o
documento inteiro. Assim como os cadernos de provas de concursos, que possuem duas colunas, é possível inserir
uma “Linha entre colunas”, separando-as ao longo da página.

NOÇÕES DE INFORMÁTICA

429
MARCADORES SIMBÓLICOS E NUMÉRICOS

• Usados por parágrafos, apresentam símbolos no início de cada, do lado esquerdo;


o Podem ser círculos preenchidos (linha acima), ou círculos vazios, como esta
 Outra forma de apresentação são os quadrados, ou então:
O desenho do Office;
 Um símbolo neutro;
 Setas;
 Check ou qualquer símbolo que o usuário deseje personalizar.

Biblioteca de Marcadores

Nenhum

Marcadores de Documento

Alterar Nível de Lista

Definir Novo Marcador...

Ao pressionar duas vezes “Enter”, sairá da formatação dos marcadores simbólicos, retornando ao Normal.
Os marcadores numéricos são semelhantes aos marcadores simbólicos, mas com números, letras ou algaris-
mos romanos. Podem ser combinados com os Recuos de parágrafos, surgindo o formato Múltiplos Níveis.

NÚMEROS LETRAS ROMANOS MÚLTIPLOS NÍVEIS


1. Exemplo a. Exemplo i. Exemplo 1) Exemplo
2. Exemplo b. Exemplo ii. Exemplo a) Exemplo
3. Exemplo c. Exemplo iii. Exemplo 2) Exemplo
4. Exemplo d. Exemplo iv. Exemplo a) Exemplo

Para trabalhar com a formatação de marcadores Múltiplos níveis, o digitador poderá usar a tecla “TAB” para
aumentar o recuo, passando os itens do primeiro nível para o segundo nível. E também pelo ícone “Aumentar
recuo”, presente na guia Página Inicial, grupo Parágrafo. Usando a régua, pode-se aumentar o recuo também.

Dica
Ao teclar “Enter” em uma linha com marcador ou numeração, mas sem conteúdo, você sai do recurso, voltan-
do à configuração normal do parágrafo. Se forem listas numeradas, itens excluídos dela provocam a renume-
ração dos demais itens.

TABELAS

As tabelas são estruturas de organização muito utilizadas para um layout adequado do texto, semelhante a
colunas, com a vantagem que estas não criam seções exclusivas de formatação.
As tabelas seguem as mesmas definições de uma planilha de Excel, ou seja, tem linhas, colunas, é formada por
células, podendo conter, também, fórmulas simples.
Ao inserir uma tabela, seja ela vazia, a partir de um desenho livre, ou convertendo a partir de um texto, uma
planilha de Excel, ou um dos modelos disponíveis, será apresentada a barra de ferramentas adicional na Faixa de
Opções.
Um texto poderá ser convertido em Tabela, e voltar a ser um texto, se possuir os seguintes marcadores de for-
430 matação: ponto e vírgula, tabulação, enter (parágrafo) ou outro específico.
Algumas operações são exclusivas das Tabelas, como Mesclar Células (para unir células adjacentes em uma
única), Dividir células (para dividir uma ou mais células em várias outras), alinhamento do texto combinando
elementos horizontais tradicionais (esquerda, centro e direita) com verticais (topo, meio e base).
O editor de textos Microsoft Word oferece ferramentas para manipulação dos textos organizados em tabelas.
O usuário poderá organizar as células nas linhas e colunas da tabela, mesclar (juntar), dividir (separar), visua-
lizar as linhas de grade, ocultar as linhas de grade, entre outras opções.
E caso a tabela avance em várias páginas, temos a opção Repetir Linhas de Cabeçalho, atribuindo no início da
tabela da próxima página, a mesma linha de cabeçalho que foi usada na tabela da página anterior.
As tabelas do Word possuem algumas características que são diferentes das tabelas do Excel. Geralmente esses
itens são aqueles questionados em provas de concursos.
Por exemplo, no Word, quando o usuário está digitando em uma célula, ocorrerá mudança automática de
linha, posicionando o cursor embaixo. No Excel, o conteúdo “extrapola” os limites da célula, e será necessário
alterar as configurações na planilha ou a largura da coluna manualmente.

Confira, na tabela a seguir, algumas das diferenças do Word para o Excel.

WORD EXCEL
Tabela, Mesclar Todos os conteúdos são mantidos Somente o conteúdo da primeira célula será mantido
Em inglês, com referências direcionais Em português, com referências posicionais
Tabela, Fórmulas
=SUM(ABOVE) =SOMA(A1:A5)
Tabelas, Fórmulas Não recalcula automaticamente Recalcula automaticamente e manualmente (F9)
Tachado Texto Não tem atalho de teclado Atalho: Ctrl+5
Quebra de linha
Shift+Enter Alt+Enter
manual
Pincel de Copia apenas a primeira formatação da
Copia várias formatações diferentes
Formatação origem
Ctrl+D Caixa de diálogo Fonte Duplica a informação da célula acima
Ctrl+E Centralizar Preenchimento Relâmpago
Ctrl+G Alinhar à Direita (parágrafo) Ir para...
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Ctrl+R Repetir o último comando Duplica a informação da célula à esquerda


Atualizar os campos de uma mala
F9 Atualizar o resultado das fórmulas
direta
F11 - Inserir gráfico
Finaliza a entrada na célula e mantém o cursor na célula
Ctrl+Enter Quebra de página manual
atual
Alt+Enter Repetir digitação Quebra de linha manual
Finaliza a entrada na célula e posiciona o cursor na célu-
Shift+Enter Quebra de linha manual
la acima da atual, se houver
Shift+F3 Alternar entre maiúsculas e minúsculas Inserir função

IMPRESSÃO 431
Disponível no menu Arquivo e pelo atalho Ctrl+P (e também pelo Ctrl+Alt+I, Visualizar Impressão), a impres-
são permite o envio do arquivo em edição para a impressora. A impressora listada vem do Windows, do Painel
de Controle.
Podemos escolher a impressora, definir como será a impressão (Imprimir Todas as Páginas, ou Imprimir Sele-
ção, Imprimir Página Atual, imprimir as Propriedades), quais serão as páginas (números separados com ponto e
vírgula/vírgula indicam páginas individuais, separadas por traço uma sequência de páginas, com a letra s uma
seção específica, e com a letra p uma página específica).
Havendo a possibilidade, serão impressas de um lado da página, ou frente e verso automático, ou manual.
O agrupamento das páginas permite que várias cópias sejam impressas uma a uma, enquanto Desagrupado, as
páginas são impressas em blocos.
As configurações de Orientação (Retrato ou Paisagem), Tamanho do Papel e Margens, podem ser escolhidas no
momento da impressão, ou antes, na guia Layout da Página. A última opção em Imprimir possibilita a impressão
de miniaturas de páginas (várias páginas por folha) em uma única folha de papel.

CONTROLE DE QUEBRAS E NUMERAÇÃO DE PÁGINAS

As quebras são divisões e podem ser do tipo Página ou de Seção.


Além disso, elas podem ser automáticas, como quando formatamos um texto em colunas; todavia, elas tam-
bém podem ser manuais, como Ctrl+Enter para quebra de página, Shift+Enter para quebra de linha, Ctrl+Shift+En-
ter para quebra de coluna, e outras.

432
Dica
Se envolve configurações diferentes, temos Quebras.
Cabeçalhos diferentes = quebras inseridas. Colunas diferentes = quebras inseridas. Tamanho de página dife-
rente = quebra inserida.

Numeração de Páginas

Disponível na guia Inserir, permite que um número seja apresentado na página, informando a sua numeração
em relação ao documento.
Combinado com o uso das seções, a numeração de página pode ser diferente em formatação a cada seção do
documento, como no caso de um TCC (Trabalho de Conclusão de Curso).
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

433
Conforme observado na imagem, o número de página poderá ser inserido no Início da Página (cabeçalho), ou
no Fim da página (rodapé), ou nas margens da página, e na posição atual do cursor.

LEGENDAS

Uma legenda é uma linha de texto exibida abaixo de um objeto para descrevê-lo. Podem ser usadas em Figuras
(que inclui Ilustrações) ou Tabelas.
Disponível na guia Referências (índices), as legendas podem ser inseridas na configuração padrão ou persona-
lizadas. Depois, podemos criar um índice específico para elas, que será o Índice de Ilustrações.
No final do grupo Legendas, da guia Referências, no Word, encontramos o ícone “Referência Cruzada”. Em
alguns textos, é preciso citar o conteúdo de outro local do documento. Assim, ao criar uma referência cruzada, o
usuário poderá ir para o local desejado pelo autor e a seguir retornar ao ponto em que estava antes.

ÍNDICES

Basicamente, é todo o conjunto disponível na guia Referências.


Os índices podem ser construídos a partir dos Estilos usados na formatação do texto, ou posteriormente por
meio da adição de itens manualmente.

z Sumário: principal índice do documento;


z Notas de Rodapé: inseridas no final de cada página, não formam um índice, mas ajudam na identificação de
citações e expressões;
z Notas de Fim: inseridas no final do documento, semelhante a Notas de Rodapé;
z Citações e Bibliografia: permite a criação de índices com as citações encontradas no texto, além das Referên-
cias Bibliográficas segundo os estilos padronizados;
z Legendas: inseridas após os objetos gráficos (ilustrações e tabelas), podem ser usadas para criação de um
Índice de Ilustrações;
z Índice: para marcação manual das entradas do índice;
z Índice de Autoridades: formato próprio de citação, disponível na guia Referências.

Os índices serão criados a partir dos Estilos utilizados durante o texto, como Título 1, Título 2, e assim por
diante. Se não forem usados, posteriormente o usuário poderá “Adicionar Texto” no índice principal (Sumário),
Marcar Entrada (para inserir um índice) e até remover depois de inserido.
Os índices suportam Referências Cruzadas, que permitem o usuário navegar entre os links do documento de
forma semelhante ao documento na web. Ao clicar em um link, o usuário vai para o local escolhido. Ao clicar no
local, retorna para o local de origem.

Dica
A guia Referências é uma das opções mais questionadas em concursos públicos por dois motivos: envolvem
conceitos de formatação do documento exclusivos do Microsoft Word e é utilizado pelos estudantes na for-
matação de um TCC.

INSERÇÃO DE OBJETOS

Disponíveis na guia Inserir, os objetos que poderiam ser inseridos no documento estão organizados em
categorias:

z Páginas: objetos em forma de página, como a capa (Folha de Rosto), uma Página em Branco ou uma Quebra de
Página (divisão forçada, quebra de página manual, atalho Ctrl+Enter);
z Tabela: conforme comentado anteriormente, organizam os textos em células, linhas e colunas;
z Ilustrações: Imagem (arquivos do computador), ClipArt (imagens simples do Office), Formas (geométricas),
434 SmartArt (diagramas), Gráfico e Instantâneo (cópia de tela ou parte da janela).
Na sequência dos objetos para serem inseridos em um documento, encontramos:

z Links: indicado para acessar a Internet via navegador ou acionar o programa de e-mail ou criação de referên-
cia cruzada;
z Cabeçalho e Rodapé;
z Texto: elementos gráficos como Caixa de Texto, Partes Rápidas (com organizador de elementos do documen-
to), WordArt (que são palavras com efeitos), Letra Capitular (a primeira letra de um parágrafo com destaque),
Linha de Assinatura (que não é uma assinatura digital válida, dependendo de compra via Office Marketplace),
Data e Hora, ou qualquer outro Objeto, desde que instalado no computador;
z Símbolos: inserção de Equações ou Símbolos especiais.

CAMPOS PREDEFINIDOS

Esses campos são objetos disponíveis na guia Inserir que são predefinidos. Após a configuração inicial, são
inseridos no documento.
Além da configuração da Linha de Assinatura, existem outras opções, como Data e Hora, Objeto e dentro do
item Partes Rápidas, no grupo Texto, da guia Inserir, a opção Campo.
Entre as categorias disponíveis, encontramos campos para automação de documento, data e hora, equações e
fórmulas, índices, informação sobre o documento, informações sobre o usuário, mala direta, numeração, vínculos
e referências.

NOÇÕES DE INFORMÁTICA

CAIXAS DE TEXTO

Possibilita a inserção de caixas de textos pré-formatadas, ou desenhar no documento, aceitando configurações


de direção de texto (semelhante a uma tabela) e também configurações de bordas e sombreamento, semelhante-
mente a uma Forma.
435
Qualquer forma geométrica composta poderá ser caixa de texto.
Uma nova guia de opções será apresentada após a última, denominada Ferramentas de Caixa de Texto, permi-
tindo Formatar os elementos de Texto e do conteúdo da Caixa de Texto.
Nas opções disponibilizadas, será possível controlar o texto (direção do texto), definir estilos de caixa de texto
(preenchimento da forma, contorno da forma, alterar forma, estilos pré-definidos), efeitos de sombra e efeitos 3D.

Nova Concursos

Atalhos de Teclado – Word 2016 ou Superior

ATALHO AÇÃO
Ctrl+A Abrir: carrega um arquivo da memória permanente para a memória RAM

Salvar: grava o documento com o nome atual, substituindo o anterior. Caso não tenha nome,
Ctrl+B
será mostrado “Salvar como”

Ctrl+C Copiar: o texto selecionado será copiado para a Área de Transferência

Ctrl+D Formatar Fonte

Ctrl+E Centralizar: alinhamento de texto entre as margens

Ctrl+F Limpar formatação do parágrafo

Ctrl+G Alinhar à direita: alinhamento de texto na margem direita

Ctrl+I Estilo Itálico

Ctrl+J Justificar: alinhamento do texto distribuído uniformemente entre as margens esquerda e direita

Ctrl+L Localizar: procurar uma ocorrência no documento

Ctrl+M Aumentar recuo

Ctrl+N Estilo Negrito

Ctrl+O Novo documento

Ctrl+P Impressão rápida (imprimir na impressora padrão)

Ctrl+Q Alinhar à esquerda: alinhamento de texto na margem esquerda

Ctrl+R Refazer

Ctrl+S Estilo Sublinhado simples

Ctrl+Shift+ > Aumentar o tamanho da fonte

Ctrl+Shift+ < Reduzir o tamanho da fonte

Pincel de Formatação: para copiar a formatação de um local e aplicá-la a outro, seja no mesmo
Ctrl+Shift+C
documento ou outro aberto. Para colar a formatação copiada, use Ctrl+Shift+V

Ctrl e = Formatação de Fonte = Subscrito

Ctrl e Shift e + Formatação de Fonte = Sobrescrito

Ctrl+T Selecionar tudo: seleciona todos os itens

Ctrl+U Substituir: procurar uma ocorrência e trocar por outra

Ctrl+V Colar: o conteúdo da Área de Transferência é inserido no local do cursor

Ctrl+X Recortar: o selecionado será movido para a Área de Transferência

Ctrl+Z Desfazer
436
ATALHO AÇÃO
F1 Ajuda

F5 Ir para (navegador de páginas, seção etc.)

F7 Verificar ortografia e gramática: procurar por erros ou excesso de digitação no texto

Shift+F1 Revelar formatação

Shift+F3 Alternar entre maiúsculas e minúsculas

LIBREOFFICE WRITER 7.1.6: EDIÇÃO E FORMATAÇÃO DE TEXTOS


A interface da versão 6 é mais “leve” que a interface da versão 5. O fundo cinza escuro deu lugar a um fundo
cinza claro, com redesenho dos ícones, ficando mais parecido com o Word 2016.
A versão 7 adaptou alguns ícones para o padrão Português Brasil (antes o negrito era B, agora é N).
O LibreOffice Writer é integrado com os demais programas do pacote, permitindo a inserção de fórmulas avan-
çadas de cálculos do LibreOffice Calc em uma tabela do documento de textos, por exemplo.
O LibreOffice Writer grava documentos com a extensão ODT, mas também poderá gravar em outros formatos
como DOCX, RTF, TXT e PDF. Os formatos que são gravados pelo programa, também poderão ser abertos por ele.

Importante!
O que você faz no Word, você faz no Writer. Quase tudo tem correspondência entre os aplicativos. Alguns
atalhos de teclado são diferentes, alguns nomes de comandos são diferentes, mas a maioria dos itens são
iguais.

O botão
abc é usado para fazer a verificação ortográfica (atalho F7). Para realizar a autoverificação ortográfi-
ca, o atalho é Shift+F7. A autoverificação ortográfica é para correção automática de todos os erros do documento
segundo as configurações predeterminadas pelo editor de textos Writer.
O recurso de Ortografia e Gramática, acionado pela tecla F7, permite identificar erros de ortografia (uma pala-
vra de cada vez, sublinhado ondulado vermelho) ou gramática (várias palavras, sublinhado ondulado verde). Já
a autocorreção é um recurso diferente, que permite substituir erros comuns, como a ausência de maiúscula no
início de uma frase, corrigir o uso acidental da tecla CapsLock (invertendo a digitação entre maiúscula e minúscu-
la), acentuação na palavra não (quando digitamos naõ), e principalmente a substituição de símbolos por palavras,
definidos pelo usuário, no menu Ferramentas, Opções de Autocorreção.

ESTRUTURA BÁSICA DOS DOCUMENTOS

Os documentos do LibreOffice Writer possuem a seguinte estrutura básica, semelhante aos conceitos do Micro-
soft Word:

z Documentos: arquivos ODT (Open Document Text). Os documentos são arquivos editáveis pelo usuário. Os
Modelos, com extensão OTT (Open Template Text), contém formatações que serão aplicadas aos novos docu-
mentos criados a partir dele.
z Páginas: unidades de organização do texto, segundo o tamanho do papel e margens. Definições estão no menu
Formatar, item Estilo da Página..., guia Página.
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

A4

z Seção: divisão de formatação do documento, onde cada parte tem a sua configuração. Sempre que forem
usadas configurações diferentes, como margens, colunas, tamanho etc., as seções serão usadas. Disponível no
menu Inserir, item Seção. 437
z Parágrafos: formado por palavras e marcas de formatação. Finalizado com Enter, contém formatação inde-
pendente do parágrafo anterior, e do parágrafo seguinte.
z Linhas: sequência de palavras que pode ser um parágrafo, ocupando uma linha de texto. Se for finalizado com
Quebra de Linha, a configuração de formatação atual permanece na próxima linha.
z Palavras: formado por letras, números, símbolos, caracteres de formatação etc. Podemos definir a formatação
do texto no menu Formatar, item Texto (nas versões anteriores era Caractere). E podemos escolher em Texto.
A novidade na versão 5 é que o menu Texto já exibe na lista todos os estilos e efeitos disponíveis no editor.

EDIÇÃO E FORMATAÇÃO DE TEXTOS

A edição e formatação de textos consiste em aplicar estilos, efeitos e temas, tanto nas fontes, como nos parágra-
fos e nas páginas. O LibreOffice Writer tem todos esses recursos, como o Microsoft Word.
A seguir, conheça alguns exemplos. Cada texto contém a explicação sobre o efeito, ou estilo, ou configuração
aplicada.

Edição e Formatação de Fontes

As fontes são arquivos True Type Font (.TTF) gravadas na pasta Fontes do Windows e aparecem para todos os
programas do computador.
Nomes de fontes como Liberation Serif (fonte padrão do Writer 7), Arial, Times New Roman, Courier New,
Verdana, são os mais comuns.
Ao lado do nome da fonte, um número indica o tamanho da fonte: 8, 9, 10, 11, 12, 14 e assim sucessivamente.
Se quiser, digite o valor específico que deseja.
Maiúsculas e Minúsculas, é chamado de “Circular Caixa”.
Shift+F3 para alternar pelo teclado.
As formatações de fontes e parágrafos podem ser removidas pelo ícone “Limpar Formatação Direta (Ctrl+M),
disponível na barra de formatação de Caracteres.
E na sequência temos os estilos e efeitos de textos.
Assim como no Microsoft Word, os estilos podem ser combinados e os efeitos são concorrentes entre si. Dife-
rem nos atalhos de teclado (em inglês) e o nome de alguns recursos.
Estilos são formatos que modificam a aparência do texto, como negrito (atalho de teclado Ctrl+B - Bold), itálico
(atalho de teclado Ctrl+I), sublinhado (atalho de teclado Ctrl+U - Underline) e sublinhado duplo (atalho de teclado
Ctrl+D – Double, que não possui correspondente no Microsoft Word). Já os efeitos modificam a fonte em si, como
texto tachado (riscado simples sobre as palavras), subscrito (como na fórmula H2O — atalho de teclado Ctrl+Shift+B),
e sobrescrito (como em km2 — atalho de teclado Ctrl+Shift+P)
O LibreOffice Writer faz o mesmo que o Microsoft Word, mas com comandos diferentes e atalhos de teclado de
palavras em inglês.
O LibreOffice Writer tem algumas opções diferenciadas em relação ao Word. No Writer, acesse o menu Forma-
tar, Texto. Confira na tabela a seguir alguns exemplos comparativos entre o Writer e o Word.

ATALHO WORD ATALHO WRITER RESULTADO

Negrito Ctrl+N Ctrl+B (Bold) Exemplo de Texto

Itálico Ctrl+I Ctrl+I (Italic) Exemplo de Texto

Sublinhado (simples) Ctrl+S Ctrl+U (Underline) Exemplo de Texto

Sublinhado duplo - - Ctrl+D (Double) Exemplo de Texto

Tachado (simples) - - Exemplo de Texto

Tachado duplo Fonte (Ctrl+D) Formatar, Texto Exemplo de Texto

Sobrelinha - - - Exemplo de Texto

Sobrescrito Ctrl+Shift+mais Ctrl+Shift+P XExemplo de Texto

Subscrito Ctrl+ igual Ctrl+Shift+B XExemplo de Texto

Sombra - - Exemplo de Texto


438
ATALHO WORD ATALHO WRITER RESULTADO

Contorno - - Exemplo de Texto

Aumentar tamanho Ctrl+Shift+ponto Ctrl + ] Exemplo de Texto

Diminuir tamanho Ctrl+Shift+vírgula Ctrl + [ Exemplo de Texto

Maiúsculas EXEMPLO DE TEXTO

Minúsculas exemplo de texto

Alternar (Circular caixa) Shift+F3 Shift+F3 Exemplo de Texto

Versalete - Ctrl+Shift+K - Exemplo de Texto

Limpar formatação - Ctrl+M Exemplo de Texto

Cor da Fonte - - Exemplo de Texto

Realce de Texto - - Exemplo de Texto

Os atalhos de teclado usados no LibreOffice Writer para alinhamentos de parágrafos são: Ctrl+L (Left = Esquer-
da), Ctrl+E (Centralizado), Ctrl+R (Right = Direita) e Ctrl+J (Justificado).

Atalhos de teclado dos editores de textos

Uma dúvida muito comum entre os candidatos que prestam provas de concursos públicos, está relacionada
com os atalhos de teclado. Afinal, qual é a lógica que existe por trás destas combinações de teclas?
Os atalhos de teclado do Microsoft Office são próprios e em português. No LibreOffice, como em aplicações na
Internet (coloquei a opção do Google Documentos), os atalhos são em inglês.
Alguns atalhos não possuem exatamente a mesma inicial do comando, por estar sendo usado em outra situa-
ção. Centralizado, por exemplo, do inglês Center. A letra C já está sendo usada em Ctrl+C (Copiar), e a próxima
letra está disponível. Assim, o atalho de teclado para centralizar um texto é Ctrl+E, tanto no Word como no Writer.

ATALHO MICROSOFT WORD LIBREOFFICE WRITER GOOGLE DOCUMENTOS

Ctrl+A Abrir Selecionar tudo (All) Selecionar tudo (All)

Ctrl+B Salvar Negrito (Bold) Negrito (Bold)

Ctrl+D6 Formatar Fonte Sublinhado Duplo (Double) -

Ctrl+E Centralizar Centralizar Ctrl+Shift+E

Ctrl+F - Localizar (Find) Localizar na página

Ctrl+G7 Alinhar texto à direita Ir para (Go To) Ctrl+Shift+R


NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Ctrl+H Localizar e Substituir

Ctrl+I Itálico Itálico Itálico

Ctrl+J8 Justificado Justificado Ctrl+Shift+J

Barra de endereços do
Ctrl+K Inserir hiperlink Inserir hiperlink
navegador

6 O atalho de teclado Ctrl+D, quando acionado no navegador de Internet, permite adicionar a página atual em Favoritos, que são os sites
preferidos do usuário.
7 O atalho de teclado Ctrl+G, quando acionado no navegador de Internet, permite localizar uma informação na página atual.
8 O atalho de teclado Ctrl+J, quando acionado no navegador de Internet, permite visualizar as transferências de arquivos em andamento e
consultar os arquivos que foram baixados (Downloads). 439
ATALHO MICROSOFT WORD LIBREOFFICE WRITER GOOGLE DOCUMENTOS

Ctrl+L9 Localizar Alinhar texto à esquerda (Left) Ctrl+Shift+L

Ctrl+M Aumentar recu Limpar formatação direta Ctrl+\

Ctrl+N10 Negrito Novo documento (New) -

Ctrl+O Novo documento Abrir documento (Open) Abrir documento (Open)

Ctrl+Q Alinhar texto à esquerda Sair do LibreOffice (Quit) -

Ctrl+R Repetir último comando Alinhar texto à direita (Right) Recarregar a página (Reload)

Ctrl+S Sublinhado Salvar documento (Save) Salvar página web

Ctrl+U Localizar e Substituir Sublinhado (Underline) Sublinhado (Underline)

Ctrl+Y Ir para Repetir último comando Repetir último comando

Ctrl+igual11 Subscrito Ctrl+Shift+B Ctrl+vírgula

Ctrl+Shift+mais Sobrescrito Ctrl+Shift+P Ctrl+ponto final

Ctrl+Shift+V Colar Especial Colar Especial Colar sem formatação

Ctrl+Alt+Shift+V Colar sem formatação

Shift+F312 Maiúsculas e Minúsculas Maiúsculas e Minúsculas -

Importante!
Um dos comandos que mais confunde candidatos na prova é o Navegador, do LibreOffice. Não tem nenhuma
relação com o browser de Internet e é usado para navegar dentro do documento em edição.

No LibreOffice Writer, o atalho F5 aciona o Navegador, que permite a navegação para:

z Página;
z Títulos;
z Tabelas;
z Quadros;
z Objetos OLE;
z Marca-páginas;
z Seções;
z Hiperlinks;
z Referências;
z Índices;
z Anotações;
z Objetos de Desenho;
z Controle;
z Fórmula de tabela;
z Fórmula de tabela incorreta;

A seleção no LibreOffice Writer tem uma sutil diferença em relação ao Microsoft Word. É a possibilidade de uso
de 4 cliques na seleção. Confira:

MOUSE TECLADO AÇÃO SELEÇÃO

- Ctrl+A Selecionar tudo Seleciona o documento

Botão principal - 1 clique na palavra Posiciona o cursor

Botão principal - 2 cliques na palavra Seleciona a palavra

Botão principal - 3 cliques na palavra Selecionar a frase

Botão principal - 4 cliques na palavra Seleciona o parágrafo

9 O atalho de teclado Ctrl+L, quando acionado no navegador de Internet, permite localizar uma informação na página atual.
10 O atalho de teclado Ctrl+N, quando acionado no navegador de Internet, abre uma nova janela de navegação.
11  O atalho de teclado Ctrl+igual, quando acionado no navegador de Internet, aumenta o zoom de exibição da página.
440 12  O atalho F3 no navegador aciona a pesquisa, e Shift+F3 também.
Cabeçalhos

Localizado na margem superior da página, poderá ser configurado em Inserir, Cabeçalho e rodapé.
Assim como no Word, é possível trabalhar com configurações diferentes dentro do mesmo documento. Para
isto, use as seções para dividir a formatação do documento.
Esta região aceitará qualquer elemento que seria usado no documento, como textos, imagens, tabelas, campos,
formas geométricas, hiperlinks, entre outros.

Inserir

Cabeçalho e rodapé Cabeçalho

Diferentemente da interface do Microsoft Word, que é baseada na Faixa de Opções com guias, grupos e ícones,
o LibreOffice tem a interface baseada em menus. Na tabela a seguir, confira algumas dicas para compreender a
sequência de comandos e menus do Writer. As dicas são válidas para o LibreOffice Calc e LibreOffice Impress.

MENU SIGNIFICADO

Permitem acesso às configurações de arquivo sobre o documento atual (novo, abrir, fechar, salvar,
Arquivo
imprimir, propriedades)

Permite acesso à Área de Transferência, além das opções temporárias (localizar, substituir, selecionar)
Editar
e área de transferência do Windows/Linux

Permite a configuração dos objetos que serão exibidos na tela do aplicativo. Modos de visualização,
Exibir
interface do usuário, elementos da tela de edição, Marcas de Formatação, Barra Lateral e Zoom

Permite adicionar um item que não existe no documento atual. Adicionar qualquer objeto no arquivo
Inserir atualmente editado. Se este objeto é atualizável, será um campo. Elementos da página, elementos grá-
ficos, elementos visuais, referências e índices, elementos de mala direta e cabeçalho e rodapé

Formatar significa dar um formato a um objeto que já existe. Parágrafo, estilos, marcadores e numera-
Formatar
ção, tabulações, etc. Permite alterar elementos editáveis do documento

Os estilos são formatações pré-definidas para serem usadas no texto. Posteriormente poderão ser
Estilos
organizadas em um índice

Disponibilizam ferramentas para o trabalho com tabelas, segundo as convenções próprias do recurso.
Tabelas
Ao incluir uma tabela no documento, a barra de ícones Tabela será exibida

Permite a edição e programação de formulários diretamente no documento aberto, para entrada de


Formulários
dados padronizados

Oferece comandos para o gerenciamento do aplicativo, alterando as configurações em todos os próxi-


Ferramentas
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

mos arquivos editados pelo aplicativo

Janela Oferece opções para organizar as janelas dos documentos em edição

Impressão

Disponível no menu Arquivo, e também pelo atalho Ctrl+P (e também pelo Ctrl+Shift+O, Visualizar Impressão),
a impressão permite o envio do arquivo em edição para a impressora. A impressora listada vem do Windows, do
Painel de Controle (ou Configurações, no caso do Windows 10).
Podemos escolher a impressora, definir como será a impressão (Imprimir Todas as Páginas, ou Seleção, Pági-
nas específicas), quais serão as páginas (números separados com ponto e vírgula/vírgula indicam páginas indivi-
duais, separadas por traço uma sequência de páginas).

441
Havendo a possibilidade disponível na impressora, serão impressas de um lado da página, ou frente e verso
automático, ou manual. Ao contrário do Word, que exibe tudo em uma única tela do Backstage, o Writer divide
em guias as opções da impressão.

MICROSOFT EXCEL 2016: ELABORAÇÃO, CÁLCULOS E MANIPULAÇÃO DE TABELAS E


GRÁFICOS
As planilhas de cálculos são amplamente utilizadas nas empresas para as mais diferentes tarefas. Desde a cria-
ção de uma agenda de compromissos, passando pelo controle de ponto dos funcionários e folha de pagamento, ao
controle de estoque de produtos e base de clientes. Diversas funções internas oferecem os recursos necessários
para a operação.
O Microsoft Excel apresenta grande semelhança de ícones com o Microsoft Word. O Excel “antigo” usava os
formatos XLS e XLT em seus arquivos, atualizado para XLSX e XLTX, além do novo XLSM contendo macros. A
atualização das extensões dos arquivos ocorreu com o Office 2007, e permanece até hoje.
O Microsoft 365 é o pacote de aplicações para escritório que possui a versão online acessada pelo navegador de
Internet e a versão de instalação no dispositivo. O Microsoft 365, ou Office 365 como era nomeado até pouco tempo
atrás, é uma modalidade de aquisição da licença de uso mediante pagamentos recorrentes. O usuário assina o ser-
viço, disponibilizado na nuvem da Microsoft, e enquanto perdurarem os pagamentos, poderá utilizar o software.

Importante!
As planilhas de cálculos não são bancos de dados. Muitos usuários armazenam informações (dados) em
uma planilha de cálculos como se fosse um banco de dados, porém o Microsoft Access é o software do
pacote Microsoft Office desenvolvido para esta tarefa. Um banco de dados tem informações armazenadas
em registros, separados em tabelas, conectados por relacionamentos, para a realização de consultas.

Guias – Excel

BOTÃO/GUIA LEMBRETE
Arquivo Comandos para o documento atual: Salvar, salvar como, imprimir, Salvar e enviar
Página Inicial Tarefas iniciais: O início do trabalho, acesso à Área de Transferência (Colar Especial),
formatação de fontes, células, estilos etc
Inserir Tarefas secundárias: Adicionar um objeto que ainda não existe. Tabela, Ilustrações, Instan-
tâneos, Gráficos, Minigráficos, Símbolos etc
Layout da Página Configuração da página: Formatação global da planilha, formatação da página
Fórmulas Funções: Permite acesso a biblioteca de funções, gerenciamento de nomes, auditoria de
442 fórmulas e controle dos cálculos
BOTÃO/GUIA LEMBRETE
Dados Informações na planilha: Possibilitam obter dados externos, classificar e filtrar, além de ou-
tras ferramentas de dados
Revisão Correção do documento: Ele está ficando pronto... Ortografia e gramática, idioma, controle de
alterações, comentários, proteger etc
Exibição Visualização: Podemos ver o resultado de nosso trabalho. Será que ficou bom?

Atalhos de teclado – Excel

Os atalhos de formatação (Ctrl+N para negrito, Ctrl+I para itálico, entre outros) são os mesmos do Word.

ATALHO AÇÃO ÍCONE


Ctrl+1 Formatar células
CTRL+PgDn Alterna entre guias da planilha, da direita para a esquerda
CTRL+PgUp Alterna entre guias da planilha, da esquerda para a direita
Ctrl+R Repetir o conteúdo da célula que está à esquerda
Ctrl+G Ir Para (o mesmo que F5) tanto no Word como Excel

Ctrl+J Mostrar fórmulas (guia Fórmulas, grupo Auditoria)

F2 Edita o conteúdo da célula atual


F4 Refazer
F9 Calcular planilha manualmente

MS-EXCEL - ESTRUTURA BÁSICA DAS PLANILHAS

A planilha em Excel, ou folha de dados, poderá ser impressa em sua totalidade, ou apenas áreas definidas pela Área
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

de Impressão, ou a seleção de uma área de dados, ou uma seleção de planilhas do arquivo, ou toda a pasta de trabalho.
Ao contrário do Microsoft Word, o Excel trabalha com duas informações em cada célula: dados reais e dados
formatados.
Por exemplo, se uma célula mostra o valor 5, poderá ser o número 5 ou uma função/fórmula que calculou e
resultou em 5 (como =10/2).

CONCEITOS DE CÉLULAS, LINHAS, COLUNAS, PASTAS E GRÁFICOS

z Célula: unidade da planilha de cálculos, o encontro entre uma linha e uma coluna. A seleção individual é com
a tecla CTRL e a seleção de áreas é com a tecla SHIFT (assim como no sistema operacional);
z Coluna: células alinhadas verticalmente, nomeadas com uma letra;
z Linha: células alinhadas horizontalmente, numeradas com números;

443
Barra de Acesso Rápido Coluna
Barra de Fórmulas
Faixa de
Opções

Célula

Linha

z Planilha: o conjunto de células organizado em uma folha de dados. Na versão atual são 65546 colunas (nomea-
das de A até XFD) e 1048576 linhas (numeradas);
z Pasta de Trabalho: arquivo do Excel (extensão XLSX) contendo as planilhas, de 1 a N (de acordo com quanti-
dade de memória RAM disponível, nomeadas como Planilha1, Planilha2, Planilha3);
z Alça de preenchimento: no canto inferior direito da célula, permite que um valor seja copiado na direção
em que for arrastado. No Excel, se houver 1 número, ele é copiado. Se houver 2 números, uma sequência será
criada. Se for um texto, é copiado, mas texto com números é incrementado. Dias da semana, nome de mês e
datas são sempre criadas as continuações (sequências);
z Mesclar: significa simplesmente “Juntar”. Havendo diversos valores para serem mesclados, o Excel manterá
somente o primeiro destes valores, e centralizará horizontalmente na célula resultante;

E após a inserção dos dados, caso o usuário deseje, poderá juntar as informações das células.
Existem 4 opções no ícone Mesclar e Centralizar, disponível na guia Página Inicial:

z Mesclar e Centralizar: Une as células selecionadas a uma célula maior e centraliza o conteúdo da nova célula;
Este recurso é usado para criar rótulos (títulos) que ocupam várias colunas;
z Mesclar através: Mesclar cada linha das células selecionadas em uma célula maior;
z Mesclar células: Mesclar (unir) as células selecionadas em uma única célula, sem centralizar;
z Desfazer Mesclagem de Células: desfaz o procedimento realizado para a união de células.

ELABORAÇÃO DE TABELAS E GRÁFICO

A tabela de dados, ou folha de dados, ou planilha de dados, é o conjunto de valores armazenados nas células.
Estes dados poderão ser organizados (classificação), separados (filtro), manipulados (fórmulas e funções), além de
apresentar em forma de gráfico (uma imagem que representa os valores informados).
Para a elaboração, poderemos:

z Digitar o conteúdo diretamente na célula. Basta iniciar a digitação, e o que for digitado é inserido na célula;
z Digitar o conteúdo na barra de fórmulas. Disponível na área superior do aplicativo, a linha de fórmulas é o
conteúdo da célula. Se a célula possui um valor constante, além de mostrar na célula, este aparecerá na barra
de fórmulas. Se a célula possui um cálculo, seja fórmula ou função, esta será mostrada na barra de fórmulas;
z O preenchimento dos dados poderá ser agilizado através da Alça de Preenchimento ou pelas opções automá-
444 ticas do Excel;
z Os dados inseridos nas células poderão ser formatados, ou seja, continuam com o valor original (na linha de
fórmulas) mas são apresentados com uma formatação específica;
z Todas as formatações estão disponíveis no atalho de teclado Ctrl+1 (Formatar Células);
z Também na caixa de diálogo Formatar Células, encontraremos o item Personalizado, para criação de máscaras
de entrada de valores na célula.

Formatos de Números, Disponível na Guia Página Inicial

123 Geral: Sem formato específico


12 Número: Ex.: 4,00

Moeda: Ex.: R$4,00

Contábil: E.: R$4,00

Data Abreviada: Ex.: 04/01/1900

Data Completa: Ex.: Quarta-feira, 4 de janeiro de 1900

Hora: Ex.: 00:00:00

Porcentagem: Ex.: 400,00 %

1 Fração: Ex.: 4
2
102 Cientifico. Ex.: 4,00E + 00

ab Texto: Ex.: 4

Dica
As informações existentes nas células poderão ser exibidas com formatos diferentes. Uma data, por exem-
plo, na verdade é um número formatado como data. Por isto conseguimos calcular a diferença entre datas.

Os formatos Moeda e Contábil são parecidos entre si, mas possuem exibição diferenciada. No formato de Moe-
da, o alinhamento da célula é respeitado e o símbolo R$ acompanha o valor. No formato Contábil, o alinhamento
é ‘justificado’ e o símbolo de R$ fica posicionado na esquerda, alinhando os valores pela vírgula decimal.

Moeda Contábil
R$4,00 R$4,00

NOÇÕES DE INFORMÁTICA

O ícone é para mostrar um valor com o formato de porcentagem. Ou seja, o número é multiplicado por 100.
Exibe o valor da célula como percentual (Ctrl+Shift+%)

VALOR FORMATO PORCENTAGEM % ß,0


PORCENTAGEM E 2 CASAS % ,0 0
1 100% 100,00%
0,5 50% 50,00%
2 200% 200,00%
100 10000% 10000,00%
0,004 0% 0,40%
445
O ícone 000 é o Separador de Milhares. Exibir o valor da célula com um separador de milhar. Este comando
alterará o formato da célula para Contábil sem um símbolo de moeda.

VALOR FORMATO CONTÁBIL SEPARADOR DE MILHARES 000

1500 R$1.500,00 1.500,00

16777418 R$16.777.418,00 16.777.418,00

1 R$1,00 1,00

400 R$400,00 400,00

27568 R$27.568,00 27.568,00

,00
Os ícones ß,0
,00 à,0 são usados para Aumentar casas decimais (Mostrar valores mais precisos exibindo mais
casas decimais) ou Diminuir casas decimais (Mostrar valores menos precisos exibindo menos casas decimais).
Quando um número na casa decimal possui valor absoluto diferente de zero, ele é mostrado ao aumentar
casas decimais. Se não possuir, então será acrescentado zero.
Quando um número na casa decimal possui valor absoluto diferente de zero, ele poderá ser arredondado para
cima ou para baixo, de ao diminuir as casas decimais. É o mesmo que aconteceria com o uso da função ARRED,
para arredondar.

Simbologia Específica

Cada símbolo tem um significado, e nas tabelas a seguir, além de conhecer o símbolo, conheça o significado e
alguns exemplos de aplicação.

OPERADORES ARITMÉTICOS OU MATEMÁTICOS

Símbolo Significado Exemplo Comentários

+ (mais) Adição = 18 + 2 Faz a soma de 18 e 2

- (menos) Subtração = 20 – 5 Subtrai 5 do valor 20

* (asterisco) Multiplicação =5*4 Multiplica 5 (multiplicando) por 4 (multiplicador)

/ (barra) Divisão = 25 / 10 Divide 25 por 10, resultando em 2,5

% (percentual) Percentual = 20% Faz 20 por cento, ou seja, 20 dividido por 100

Exponenciação Cálculo Faz 3 elevado a 2, 3 ao quadrado = 9


^(circunflexo) =3^2=8^(1/3)
de raízes Faz 8 elevado a 1/3, ou seja, raiz cúbica de 8

Ordem das Operações Matemáticas

z ( ) – parênteses;
z ^ – exponenciação (potência, um número elevado a outro número);
z * ou / – multiplicação (função MULT) ou divisão;
z + ou - – adição (função SOMA) ou subtração.

Importante!
Como resolver as questões de planilhas de cálculos?
Leitura atenta do enunciado (português e interpretação de textos);
Identificar a simbologia básica do Excel (informática);
Respeitar as regras matemáticas básicas (matemática);
Realizar o teste, e fazer o verdadeiro ou falso (raciocínio lógico).

OPERADORES RELACIONAIS, USADOS EM TESTES

Símbolo Significado Exemplo Comentários

Se o valor de A1 for maior que 5, então mostre 15,


> (maior) Maior que = SE (A1 > 5 ; 15 ; 17 )
senão mostre 17
446
OPERADORES RELACIONAIS, USADOS EM TESTES

Se o valor de A1 for menor que 3, então mostre


< (menor) Menor que = SE (A1 < 3 ; 20 ; 40 )
20, senão mostre 40

Se o valor de A1 for maior ou igual a 7, então


Maior ou
>= (maior ou igual) = SE (A1 >= 7 ; 5 ; 1 ) mostre 5, senão
igual a
mostre 1

Se o valor de A1 for menor ou igual a 5, então


Menor ou
<= (menor ou igual) = SE (A1 <= 5 ; 11 ; 23 ) mostre 11, senão
igual a
mostre 23

Se o valor de A1 for diferente de 1, então mostre


<> (menor e maior) Diferente = SE (A1 <> 1 ; 100 ; 8 )
100, senão mostre 8

Se o valor de A1 for igual a 2, então mostre 10,


= (igual) Igual a = SE (A1 = 2 ; 10 ; 50 )
senão mostre 50

Princípios dos Operadores Relacionais

z Um valor jamais poderá ser menor e maior que outro valor ao mesmo tempo;
z Uma célula vazia é um conjunto vazio, ou seja, não é igual a zero, é vazio;
z O símbolo matemático ≠ não poderá ser escrito diretamente na fórmula, use <>
z O símbolo matemático ≥ não poderá ser escrito diretamente na fórmula, use >=
z O símbolo matemático ≤ não poderá ser escrito diretamente na fórmula, use <=

OPERADORES DE REFERÊNCIA

Símbolo Significado Exemplo Comentários

=$A1 Trava a célula na coluna A


$ (cifrão) Travar uma célula =A$1 Trava a célula na linha 1
=$A$1 Trava a célula A1, ela não mudará

Obtém o valor de A3 que está na planilha


! (exclamação) Planilha = Planilha2!A3
Planilha2

Informa o nome de outro arquivo do Excel,


[ ] (colchetes) Pasta de Trabalho =[Pasta2]Planilha1!$A$2
onde deverá buscar o valor

=’C:\FernandoNishimura\ Informa o caminho de outro arquivo do


‘ (apóstrofe) Caminho [pasta2.xlsx] Excel, onde deverá encontrar o arquivo para
Planilha1’!$A$2 buscar o valor

; (ponto e vírgula) Significa E = SOMA (15 ; 4 ; 6 ) Soma 15 e 4 e 6, resultando em 25

Soma de A1 até B4, ou seja, A1, A2, A3, A4,


: (dois pontos) Significa ATÉ = SOMA (A1:B4)
B1, B2, B3, B4

Executa uma operação sobre as células em


Espaço Intersecção ($) =SOMA(F4:H8 H6:K10)
comum nos intervalos

Princípios dos Operadores de Referência

z O símbolo de cifrão transforma uma referência relativa ( A1 ) em uma referência mista ( A$1 ou $A1 ) ou em
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

referência absoluta ( $A$1 );


z O símbolo de exclamação busca o valor em outra planilha, na mesma pasta de trabalho ou em outro arquivo.
Ex.: =[Pasta2]Planilha1!$A$2.

Importante!
O símbolo de cifrão é um dos mais importantes na manipulação de fórmulas de planilhas de cálculos. Todas
as bancas organizadoras questionam fórmulas com e sem eles nas referências das células.

447
SÍMBOLOS USADOS NAS FÓRMULAS E FUNÇÕES

Símbolo Significado Exemplo Comentários

Início de fórmu- = 15 + 3 Faz a soma de 15 e 3


= (igual) la, função ou = SOMA ( 15 ; 3 ) Compara o valor de A1 com 5, e caso seja verda-
comparação =SE ( A1 = 5 ; 10 ; 11 ) deiro, mostra 10, caso seja falso, mostra 11

Identifica uma
= HOJE ( ) Retorna a data atual do computador
função ou os va-
( ) parênteses = SOMA (A1;B1) Faz a soma de A1 e B1
lores de uma ope-
= (3+5) / 2 Faz a soma de 3 e 5 antes de dividir por 2
ração prioritária

; (ponto e Separador de A função SE tem 3 partes, e estas estão separa-


=SE ( A1 = 5 ; 10 ; 11 )
vírgula) argumentos das por ponto e vírgula

Executa uma operação sobre as células em co-


Espaço Intersecção =SOMA(F4:H8 H6:K10)
mum nos intervalos

As fórmulas e funções começam com o sinal de igual. Outros símbolos podem ser usados, mas o Excel substi-
tuirá pelo sinal de igual.

SÍMBOLOS PARA TEXTOS

Símbolo Significado Exemplo Comentários

Apresenta o texto Nova


“ (aspas duplas) Texto exato = “Nova”
Se usado em testes, é “igual a”

Exibe os zeros não significativos, 0001 como


‘ (apóstrofe) Número como texto ‘0001
texto (ex: placa de carro)

= “Nova”&” Exibe “Nova Concursos” (sem as aspas), o re-


& (“E” comercial) Concatenar
Concursos” sultado da junção dos textos individuais

O símbolo & é usado para concatenar dois conteúdos, como por exemplo: =”15”&”A45” resulta em 15A45. Pode-
remos usar a função CONCATENAR, ou a função CONCAT, para obter o mesmo resultado do símbolo &.

CORRESPONDÊNCIA DE SÍMBOLOS E FUNÇÕES NO EXCEL

Símbolo Função Operação Exemplos

+ (sinal de mais) SOMA Adição =15+7 é o mesmo que =SOMA(15;7)

* (asterisco) MULT Multiplicação =12*3 é o mesmo que =MULT(12;3)

^ (circunflexo) POTÊNCIA Exponenciação =2^3 é o mesmo que =POTÊNCIA(2;3)

RAIZ Raiz quadrada =4^(1/2) é o mesmo que =RAIZ(4)

& (E comercial) CONCATENAR Juntar textos =A1&A2&A3 é igual a


=CONCATENAR(A1;A2;A3)

“ (aspas) TEXTO Converte em texto =”150144” é o mesmo que =TEXTO(150144)

Erros

Quando trabalhamos com planilhas de cálculos, especialmente no início dos estudos, é comum aparecerem
mensagens de erros nas células, decorrente da falta de argumentos nas fórmulas, referências incorretas, erros de
digitação, entre outros. Vamos ver algumas das mensagens de erro mais comuns que ocorrem nas planilhas de
cálculos.
As planilhas de cálculos oferecem o recurso “Rastrear precedentes”, dentro do conceito de Auditoria de Fór-
mulas. Com este recurso, muito questionado em concursos, o usuário poderá ver setas na planilha indicando a
relação entre as células, e identificar a origem das mensagens de erros.
A seguir, os erros mais comuns que podem ocorrer em uma planilha de cálculos no Microsoft Excel:

z #DIV/0! indica que a fórmula está tentando dividir um valor por 0;


z #NOME? indica que a fórmula possui um texto que o Excel 2007 não reconhece;
z #NULO! a fórmula contém uma interseção de duas áreas que não se interceptam;
z #NUM! a fórmula apresenta um valor numérico inválido;
448 z #REF! indica que na fórmula existe a referência para uma célula que não existe;
z #VALOR! indica que a fórmula possui um tipo erra- z MÁXIMO(valores): exibe o maior valor das célu-
do de argumento; las selecionadas.
z ##### indica que o tamanho da coluna não é sufi-
ciente para exibir seu valor. =MAXIMO(A1:D6) Exibe qual é o maior valor na
área de A1 até D6. Se houver dois valores iguais, ape-
USO DE FÓRMULAS, FUNÇÕES E MACROS nas um será mostrado.

Funções Básicas z MAIOR(valores;posição): exibe o maior valor de


uma série, segundo o argumento apresentado.
z SOMA(valores): realiza a operação de soma nas
células selecionadas. Valores iguais ocupam posições diferentes.
=MAIOR(A1:D6;3) Exibe o 3º maior valor nas célu-
No Microsoft Excel, a função SOMA efetua a adição las A1 até D6.
dos valores numéricos informados em seus argumen-
tos. Se existirem células com textos, elas serão ignora-
z MÍNIMO(valores): exibe o menor valor das célu-
das. Células vazias não são somadas.
las selecionadas.
=SOMA(A1;A2;A3) Efetua a soma dos valores exis-
=MINIMO(A1:D6) Exibe qual é o menor valor na
tentes nas células A1, A2 e A3;
=SOMA(A1:A5) Efetua a soma dos 5 valores exis- área de A1 até D6.
tentes nas células A1 até A5;
=SOMA(A1;34;B3) Efetua a soma dos valores da z MENOR(valores;posição): exibe o menor valor de
célula A1, com 34 (valor literal) e B3; uma série, segundo o argumento apresentado.
=SOMA(A1:B4) Efetua a soma dos 8 valores exis-
tentes, de A1 até B4. O Excel não faz ‘triangulação’, Valores iguais ocupam posições diferentes.
operando apenas áreas quadrangulares; =MENOR(A1:D6;3) Exibe o 3º menor valor nas cé-
=SOMA(A1;B1;C1:C3) Efetua a soma dos valores A1 lulas A1 até D6.
com B1 e C1 até C3;
=SOMA(1;2;3;A1;A1) Efetua a soma de 1 com 2 com z SE(teste;verdadeiro;falso): avalia um teste e
3 e o valor A1 duas vezes. retorna um valor caso o teste seja verdadeiro ou
outro caso seja falso.
z SOMASE(valores;condição): realiza a operação
de soma nas células selecionadas, se uma condição Esta função é muito solicitada em todas as bancas.
for atendida. A sua estrutura não muda, sendo sempre o teste na
primeira parte, o que fazer caso seja verdadeiro na
A sintaxe é =SOMASE(onde;qual o critério para segunda parte, e o que fazer caso seja falso na última
que seja somado): parte. Verdadeiro ou falso. Uma ou outra. Jamais se-
=SOMASE(A1:A5;”>15”) Efetuará a soma dos valo- rão realizadas as duas operações, somente uma delas,
res de A1 até A5 que sejam maiores que 15;
segundo o resultado do teste.
=SOMASE(A1:A10;”10”) Efetuará a soma dos valo-
A função SE usa operadores relacionais (maior,
res de A1 até A10 que forem iguais a 10.
menor, maior ou igual, menor ou igual, igual, diferen-
te) para construção do teste. As aspas são usadas para
z MÉDIA(valores): realiza a operação de média
textos literais.
nas células selecionadas e exibe o valor médio
encontrado.
„ =SE(A1=10;”O valor da célula A1 é 10”;”O valor
=MEDIA(A1:A5) Efetua a média aritmética simples da célula A1 não é 10”)
dos valores existentes entre A1 e A5. Se forem 5 valo- „ =SE(A1<0;”O valor da célula A1 é negativo”;”O
res, serão somados e divididos por 5. Se existir uma valor não é negativo”)
célula vazia, serão somados e divididos por 4. Células „ =SE(A1>0;”O valor da célula A1 é positivo”;”O
vazias não entram no cálculo da média. valor não é positivo”)

z MED(valores): informa a mediana de uma série É possível encadear funções, ampliando as áreas
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

de valores. de atuação. Por exemplo, um número pode ser negati-


vo, positivo ou igual a zero. São 3 resultados possíveis.
Mediana é o ‘valor no meio’. Se temos uma sequên-
cia de valores com quantidade ímpar, eles serão orde- „ =SE(A1=0;”Valor é igual a zero”;SE(A1<0;”Valor
nados e o valor no meio é a sua mediana. Por exemplo, é negativo”;”Valor é positivo”))
para os valores (5,6,9,3,4), ordenados são (3,4,5,6,9) e
a mediana é 5. Neste exemplo, se for igual a zero (primeiro teste),
Se temos uma sequência de valores com quantida- exibe a mensagem e finaliza a função, mas se não for
de par, a mediana será a média dos valores que estão igual a zero, poderá ser menor do que zero (segundo
no meio. Por exemplo, para os valores (2,13,4,10,8,1), teste), e exibe a mensagem “Valor é negativo”, encer-
ordenados são (1,2,4,8,10,13), e no meio temos 4 e 8. A rando a função. Por fim, se não é igual a zero, e não é
média de 4 e 8 é 6 ((4+8)/2). menor que zero, só poderia ser maior do que zero, e a
mensagem final “Valor é positivo” será mostrada.
449
Obs.: o sinal de igual, para iniciar uma função, é Os intervalos de teste e de soma podem ser os
usado somente no início da digitação da célula. mesmos.
As funções CONT são usadas para informar a
quantidade de células, que atendem às condições =SOMASE(A1:A10;”>6”;A1:A10) somará os valores
especificadas. de A1 até A10 que sejam maiores que 6.
=SOMASE(A1:A10;”<3”;B1:B10) somará os valores
z CONT.NÚM: para contar quantas células possuem de B1 até B10 quando os valores de A1 até A10 forem
números; menores que 3.
z CONT.VALORES: quantidade de células que estão
preenchidas; „ SOMASES (células para somar; células1;
z CONTAR.VAZIO: quantidade de células que não teste1;células2;teste2)
estão preenchidas;
z CONT.SE: quantidade de células que atendem à Verifica as células que atendem aos testes e soma
as células correspondentes.
uma condição específica;
Os intervalos de teste e de soma podem ser os
z CONT.SES: quantidade de células que atendem a
mesmos.
várias condições simultaneamente.
„ MÉDIASE(células para testar; teste; células
„ CONT.VALORES(células): esta função conta para calcular a média)
todas as células em um intervalo, exceto as
células vazias. Efetua um teste nas células especificadas, e calcula
a média das células correspondentes.
=CONT.VALORES(A1:A10) Informa o resultado da Os intervalos de teste e de média podem ser os
contagem, informando quantas células estão preen- mesmos.
chidas com valores, quaisquer valores.
„ PROCV(valor_procurado; matriz_tabela;
„ CONT.NÚM (células): conta todas as células núm_índice_coluna; [intervalo_pesquisa])
em um intervalo, exceto células vazias e célu-
las com texto. A função PROCV é utilizada para localizar o va-
lor_procurado dentro da matriz_tabela, e quando
=CONT.NÚM(A1:A8) Informa quantas células no encontrar, retornar a enésima coluna informada em
intervalo A1 até A8 possuem valores numéricos. núm_índice_coluna. A última opção, que será VERDA-
DEIRO ou FALSO, é usada para identificar se precisa ser
„ CONT.SE(células;condição): Esta função conta o valor exato (F) ou pode ser valor aproximado (V).
quantas vezes aparece um determinado valor Por exemplo: =PROCV(105;A2:C7;2;VERDADEIRO)
(número ou texto) em um intervalo de células e =PROCV(“Monte”;B2:E7;2;FALSO)
A função PROCV é um membro das funções de pes-
(o usuário tem que indicar qual é o critério a
quisa e Referência, que incluem a função PROCH.
ser contado)
Use a função TIRAR ou a função ARRUMAR para
remover os espaços à esquerda nos valores da tabela.
=CONT.SE(A1:A10;”5”) Efetua a contagem de quan-
tas células existem no intervalo de A1 até A10 conten- „ ESQUERDA(texto;quantidade)
do o valor 5.
Extrai de uma sequência de texto, uma quantidade
„ CONT.SES(células1;condição1;células2;con- de caracteres especificados, a partir do início (esquerda).
dição2): Esta função conta quantas vezes apa-
rece um determinado valor (número ou texto) =ESQUERDA(“Nova Concursos”;8) exibe “Nova”
em um intervalo de células (o usuário tem que „ DIREITA(texto;quantidade)
indicar qual é o critério a ser contado), aten-
dendo a todas as condições especificadas. Extrai de uma sequência de texto, uma quantidade
de caracteres especificados, a partir do final.
=CONT.SES(A1:A10;”5”;B1:B10;”7”) Efetua a conta-
gem de quantas células existem no intervalo de A1 até =DIREITA(“Nova Concursos”;7) exibe “Concursos”.
A10 contendo o valor 5 e ao mesmo tempo, quantas
células existem no intervalo de B1 até B10 contendo „ CONCATENAR(texto1;texto2; ... )
o valor 7.
Junta os textos especificados em uma nova
„ CONTAR.VAZIO (células): conta as células sequência.
vazias de um intervalo. Esta função foi mantida por compatibilidade com
as versões anteriores. Ela concatena apenas células
=CONTAR.VAZIO(A1:A8) Informa quantas células individuais.
vazias existem no intervalo A1 até A8.
=CONCATENAR(“Apostila “;”Nova “;”Concursos”)
„ SOMASE(células para testar;teste;células exibe “Apostila Nova Concursos”.
para somar)
„ CONCAT(intervalo)
Efetua um teste nas células especificadas, e soma
as correspondentes nas células para somar. Junta os textos especificados em um intervalo de
450 células para uma nova sequência.
=CONCAT(A1:A5) junta o conteúdo das células A1 até A5 em uma nova célula. Esta função não funciona nas
versões antigas do Office.

„ NÚM.CARACT(célula)

Informa a quantidade de caracteres existentes em uma célula.


Datas contém 5 caracteres, pois o Microsoft Excel armazena datas como números.

=NÚM.CARACT(“Nova Concursos”) resultado 14


=NÚM.CARACT(HOJE()) resultado 5 (a função HOJE retorna a data de hoje registrada no computador)
=NÚM.CARACT(AGORA()) resultado 15 (a função AGORA retorna a data de hoje registrada no computador e a
hora atual, como 01/08/2021 09:51)

„ INT(valor)

Extrai a parte inteira de um número.

=INT(PI()) parte inteira do valor de PI – valor 3,14159 exibe 3.

„ TRUNCAR(valor;casas decimais)

Exibe um número com a quantidade de casas decimais, sem arredondar.

=TRUNCAR(PI();3) exibir o valor de PI com 3 casas decimais – valor 3,14159 exibe 3,141.

„ ARRED(valor;casas decimais)

Exibe um número com a quantidade de casas decimais, arredondando para cima ou para baixo.

=ARRED(PI();3) exibir o valor de PI com 3 casas decimais – valor 3,14159 exibe 3,142.

„ HOJE() Exibe a data atual do computador;


„ AGORA() Exibe a data e hora atuais do computador;
„ DIA(data)Extrai o número do dia de uma data;
„ MÊS(data) Extrai o número do mês de uma data;
„ ANO(data) Extrai o número do ano de uma data;
„ DIAS(data1;data2) Informa a diferença em dias entre duas datas;
„ DIAS360(data1;data2) Informa a diferença em dias entre duas datas (ano contábil, de 360 dias);
„ POTÊNCIA(base;expoente).

Eleva um número (base) ao expoente informado.

=POTÊNCIA(2;4) 2 elevado à 4, 24, 2x2x2x2 = 16

„ MULT(número;número;número; ... ) Multiplica os números informados nos argumentos.

FUNÇÕES LÓGICAS
E (Função E) Retorna VERDADEIRO se todos os seus argumentos forem VERDADEIROS
OU (Função OU) Retorna VERDADEIRO se um dos argumentos for VERDADEIRO
NÃO (Função NÃO) Inverte o valor lógico do argumento
FALSO (Função FALSO) Retorna o valor lógico FALSO
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

VERDADEIRO (Função VERDADEIRO) Retorna o valor lógico VERDADEIRO


Retornará um valor que você especifica se uma fórmula for avaliada para um erro;
SEERRO (Função SEERRO)
do contrário, retornará o resultado da fórmula

Importante!
Foram apresentadas muitas funções neste material, não é verdade? Existem milhares de funções no Micro-
soft Excel e LibreOffice Calc. Em concursos públicos, estas são as mais questionadas.

IMPRESSÃO

A impressão no Excel é semelhante ao Word. Difere ao oferecer o item Área de Impressão, que permite ao
usuário escolher uma área de uma planilha para ser impressa. 451
Outro item que o Excel oferece que é exclusiva, a possibilidade de imprimir os títulos das colunas e linhas,
fazendo com que a impressão seja muito parecida com a tela que está sendo visualizada.
Ambos estão na guia Layout da Página.
E na caixa de diálogo de impressão (Ctrl+P) temos o ajuste da impressão (zoom), permitindo ajustar para caber
em uma página, ajustar apenas as linhas, apenas as colunas, e mudar as quebras de páginas arrastando a divisão
na tela.

INSERÇÃO DE OBJETOS

A inserção de objetos contém os mesmos itens do Microsoft Word, mas o destaque são os Gráficos.

A tabela e o gráfico dinâmico possibilitam resumir os dados rapidamente, a partir de critérios padronizados
452 no Excel.
Os gráficos são representações visuais de dados da planilha. De acordo com a opção escolhida, teremos uma
forma de apresentação. Alguns gráficos são indicados para situações específicas. Outros gráficos são generalistas.

Gráficos

Além da produção de planilhas de cálculos, o Microsoft Excel (e o LibreOffice Calc) produz gráficos com os
dados existentes nas células.
Gráficos são a representação visual de dados numéricos, e poderão ser inseridos na planilha como gráficos
‘comuns’ ou gráficos dinâmicos.
Os gráficos dinâmicos, assim como as tabelas dinâmicas, são construídos com dados existentes em uma ou
várias pastas de trabalho, associando e agrupando informações para a produção de relatórios completos.

z Os gráficos de Colunas representam valores em colunas 2D ou 3D. São opções do gráfico de Colunas: Agrupada,
Empilhada, 100% Empilhada, 3D Agrupada, 3D Empilhada, 3D 100% Empilhada, e 3D.

z Os gráficos de Linhas representam valores com linhas, pontos ou ambos. São opções do gráfico de Linhas:
Linha, Linha Empilhada, 100% Empilhada, com Marcadores, Empilhada com Marcadores, 100% Empilhada
com Marcadores, e 3D.

z Os gráficos de Pizza representam valores proporcionalmente. São opções do gráfico de Pizza: Pizza, Pizza 3D,
Pizza de Pizza, Barra de Pizza, e Rosca.

z Os gráficos de Barras representam dados de forma semelhante ao gráfico de Colunas, mas na horizontal. São
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

opções dos gráficos de Barras: Agrupadas, Empilhadas, 100% Empilhadas, 3D Agrupadas, 3D Empilhadas, e 3D
100% Empilhadas.

z Os gráficos de Área representam dados de forma semelhante ao gráfico de Linhas, mas com preenchimento
até a base (eixo X). São opções dos gráficos de Área: Área, Área Empilhada, Área 100% Empilhada, Área 3D,
Área 3D Empilhada, e Área 3D 100% Empilhada.

453
z Os gráficos de Dispersão representam duas séries z O gráfico do tipo Mapa de Árvore é usado para mos-
de valores em seus eixos. São opções dos gráficos trar proporcionalmente a hierarquia dos valores.
de Dispersão: Dispersão, com Linhas Suaves e Mar-
cadores, com Linhas Suaves, com Linhas Retas e
Marcadores, com Linhas Retas, Bolhas e Bolhas 3D.

z O gráfico do tipo Explosão Solar se assemelha ao


gráfico de Rosca, mas o maior valor será o primei-
ro da série de dados.

z O gráfico do tipo Mapa, exibe a informação de


acordo com cada região. Sua única opção é o Mapa z Os gráficos do tipo Histograma são usados para
Coroplético. séries de valores com evolução, como idades da
população. São exemplos de gráficos do tipo Histo-
grama: Histograma e Pareto.

z Os gráficos de Ações necessitam que os dados este-


jam organizados em preço na alta, preço na baixa z O gráfico do tipo Caixa Estreita é usado para proje-
e preço no fechamento. Datas ou nomes das ações ção de valores.
serão usados como rótulos. São exemplos de gráficos
de Ações: Alta-Baixa-Fechamento, Abertura-Alta-
-Baixa-Fechamento, Volume-Alta-Baixa-Fechamen-
to, e Volume-Abertura-Alta-Baixa-Fechamento.

z O gráfico do tipo Cascata, exibe e destaca as varia-


ções dos valores ao longo do tempo.

z O gráfico do tipo Funil alinha os valores em ordem


decrescente.

z Os gráficos de Superfície parecem com os gráficos


de Linhas, e preenchem a superfície com cores.
São exemplos de gráficos de Superfície: 3D, 3D z Os gráficos do tipo Combinação permitem com-
Delineada, Contorno e Contorno Delineado. binar dois tipos de gráficos para a exibição de
séries de dados. São exemplos de gráficos do tipo
Combinação: Coluna Clusterizada-Linha, Colu-
na Clusterizada-Linha no Eixo Secundário, Área
Empilhada-Coluna Clusterizada, e a possibilidade
de criação de uma Combinação Personalizada.
z Os gráficos de Radar são usados para mostrar a
evolução de itens. São exemplos de gráficos de
Radar: Radar, Radar com Marcadores, e Radar
Preenchido.

454
CAMPOS PREDEFINIDOS

Semelhante ao Word, o Excel poderá operar com os mesmos campos. Campos são variáveis inseridas na plani-
lha de dados, que serão atualizadas segundo a necessidade.
Data e Hora, Linha de Assinatura, Cabeçalho e Rodapé, entre muitos.
Uma das principais diferenças entre o editor de textos e o editor de planilhas, é o Cabeçalho e Rodapé. Enquan-
to no editor de textos eles são únicos, no Excel estão dividido em 3 partes.

CONTROLE DE QUEBRAS E NUMERAÇÃO DE PÁGINAS

O Excel é mais simples em relação ao Word, quando o assunto são as Quebras.

E para habilitar esta visualização, basta ativar o item na guia Exibição.


NOÇÕES DE INFORMÁTICA

455
A numeração de páginas está associada ao Cabeçalho e Rodapé.

OBTENÇÃO DE DADOS EXTERNOS

O Excel poderá trabalhar com as informações inseridas pelo usuário na planilha, e com dados provenientes
de outros locais. Disponível na guia Dados, o grupo ‘Obter Dados Externos’, apesar de figurar no edital de alguns
concursos, nunca foi questionado em provas de Noções de Informática, tanto nível médio como nível superior.

De Arquivo

De banco de dados

456
Do Azure

De serviços online

De outras fontes

NOÇÕES DE INFORMÁTICA

CLASSIFICAÇÃO DE DADOS

A classificação de dados é uma parte importante da análise de dados.


Você pode classificar dados por texto (A a Z ou Z a A), números (dos menores para os maiores ou dos maiores
para os menores) e datas e horas (da mais antiga para a mais nova e da mais nova para a mais antiga) em uma ou
mais colunas. Você também poderá classificar por uma lista de clientes (como Grande, Médio e Pequeno) ou por 457
formato, incluindo a cor da célula, a cor da fonte ou o conjunto de ícones. A maioria das operações de classificação
é identificada por coluna, mas você também poderá identificar por linhas.
Disponível na guia Dados, e na guia Página Inicial, a classificação poderá ser de texto, números, datas ou horas,
por cor da célula, cor da fonte ou ícones, por uma lista personalizada, linhas, por mais de uma coluna ou linha, ou
por uma coluna sem afetar as demais.

CLASSIFICAÇÃO COMENTÁRIOS

A classificação de dados alfanuméricos poderá se ‘Classificar de A a Z’ em


Classificar texto ordem crescente, ou ‘Classificar de Z a A’ em ordem decrescente. É possível
diferenciar letras maiúsculas e minúsculas.

Quando a coluna possui números, podemos ‘Classificar do menor para o maior’


Classificar números
ou ‘Classificar do maior para o menor’

Se houver datas ou horas, podemos ‘Classificar da mais antiga para a mais nova’
Classificar datas ou horas
ou ‘Classificar da mais nova para a mais antiga’, resumindo, cronologicamente

Se você tiver formatado manual ou condicionalmente um intervalo de células


Classificar por cor de célula, cor ou uma coluna de tabela, por cor de célula ou cor de fonte, poderá classificar
de fonte ou ícones por essas cores. Também será possível classificar por um conjunto de ícones
criados ao aplicar uma formatação condicional

Você pode usar uma lista personalizada para classificar em uma ordem definida
Classificar por uma lista
pelo usuário. Por exemplo, uma coluna pode conter valores pelos quais você
personalizada
deseja classificar, como Alta, Média e Baixa

Na caixa de diálogo Opções de Classificação, em Orientação, clique em Classi-


Classificar linhas
ficar da esquerda para a direita e, em seguida, clique em OK

Classificar por mais de uma


Na caixa de diálogo Classificar, adicione mais de um critério para ordenação
coluna ou linha

Classificar uma coluna em um


Basta selecionar a coluna desejada, e na janela de diálogo, manter o item “Con-
intervalo de células sem afetar as
tinuar com a seleção atual”
demais

LIBREOFFICE CALC 7.1.6: ELABORAÇÃO, CÁLCULOS E MANIPULAÇÃO DE TABELAS E


GRÁFICOS
LIBREOFFICE CALC

O LibreOffice oferece o aplicativo Calc para criação de planilhas de cálculos. Opera de forma semelhante ao
458 Microsoft Excel, e possui apenas algumas diferenças (que já foram questionadas em concursos públicos).
Os arquivos de planilhas de cálculos podem ser
criados pelo Microsoft Excel, LibreOffice Calc e Goo-
gle Planilhas. O arquivo produzido em um aplicativo
poderá ser editado por outro programa, pois são com-
patíveis entre si.
Podemos gravar uma planilha do Microsoft Excel
em qualquer local, e pelo LibreOffice Calc abrir nor-
malmente. O LibreOffice Calc reconhece o formato
XLS/XLSX do Excel sem problemas, e o local de arma-
zenamento não influencia nos recursos disponíveis
no aplicativo. z Mesclar células: significa simplesmente juntar. O
O arquivo criado pelo LibreOffice Calc receberá a LibreOffice Calc permite que o usuário escolha a
extensão padrão ODS (Open Document Sheet), que é forma como as células serão mescladas. Ao clicar
um componente do ODF (Open Document Format). O no ícone na barra de ferramentas, a caixa de diálo-
arquivo gravado é conhecido como PASTA DE TRABA- go “Mesclar células” será exibida.
LHO, e poderá ser gravado no formato do Microsoft
Office, todas as versões. A célula pode receber diferentes formatações,
Em cada Pasta de Trabalho, o LibreOffice Calc ini- especialmente na exibição de valores numéricos. Para
cia com 1 planilha (folha de dados), identificada por a exibição retornar ao padrão, pressionar Ctrl+M. A
abas na parte inferior da tela de visualização. Cada formação de células, linhas e colunas possibilita defi-
planilha é independente das demais, e usamos o nir bordas, sombreamento, e padrões que serão apli-
sinal de ponto final para referenciar dados em outras cados a estas.
planilhas. Uma opção muito utilizada no Calc, e também no
As colunas são identificadas por letras, nomeadas Excel, é Intervalos de Impressão. A planilha é grande
de A até AMJ (tecla F5 para navegar na planilha, que (muitas células, nomeadas de A1 até AMJ1048764) e
possui 1024 colunas). As linhas são numeradas com podemos marcar o intervalo (Definir) que será consi-
números, de 1 até 1.048.576 (tecla F5 para navegar na derado na impressão.
planilha). A formatação Condicional permite exibir célu-
O encontro entre uma linha e uma coluna é célula. las de diferentes cores e padrões, segundo condições
O LibreOffice Calc tem menos colunas que o Micro- estipuladas. Por exemplo, quando desejamos que os
soft Excel. Mas, isso não significa que ele seja melhor números negativos sejam vermelhos e os positivos em
ou pior. Cuidado com as comparações. Quando a ban- azul, é um caso.
ca sugere uma comparação, menosprezando um dos
itens, geralmente está errado. Formatar

Conceitos básicos

z Célula: unidade da planilha de cálculos, o encon-


tro entre uma linha e uma coluna. A seleção indivi-
dual é com a tecla CTRL e a seleção de áreas é com
a tecla SHIFT (assim como no sistema operacional);
z Coluna: células alinhadas verticalmente, nomea-
das com uma letra;
z Linha: células alinhadas horizontalmente, nume-
radas com números;
z Planilha: o conjunto de células organizado em
Condiconal
uma folha de dados. Writer representa com (ponto
final).
z Pasta de Trabalho: arquivo do Calc contendo as
planilhas, de 1 a N (de acordo com quantidade de Geranciar...
memória RAM disponível, nomeadas como Plani-
lha 1, Planilha 2, Planilha3). No Calc é extensão
ODS;
z Alça de preenchimento: no canto inferior direito
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

da célula, permite que um valor seja copiado na


direção em que for arrastado. No Excel, se houver
1 número, ele é copiado. Se houver 2 números,
uma sequência será criada. No Calc, 1 número cria A formatação condicional pode apresentar visual-
uma sequência com incremento 1. Datas, dias da mente as diferenças existentes nos dados da planilha
semana, nome dos meses, estas opções criam listas de cálculos. É um recurso útil e muito questionado em
pré-definidas; provas.

Simbologia Específica

z Coluna+Linha formato de referência de cada célula


da planilha. Colunas com letras, linhas com números.
O formato de referência é idêntico no Excel e Calc.
Exemplo: A1 – coluna A, linha 1, célula A1.
459
z = (sinal de igual) inicia uma fórmula ou função, ou z >= (sinal de maior e sinal de igual, consecutivos,
faz uma comparação dentro de um teste. sem espaço) maior ou igual a. Usado em testes,
Exemplos: = A1+A2 - efetua a soma do valor em A1 para comparação.
com o valor em A2. Exemplo: =SE(A1>=A2;”A1 é maior ou igual a
=SE(A1=A2;”é igual”;”é diferente”) – efetua um tes- A2”;”A2 é maior que A1”) – teste e exibe uma
te e exibe uma mensagem. mensagem.

z <= (sinal de menor e sinal de igual, consecutivos,


z + (sinal de mais) Adição, ou início de fórmula/
sem espaço) menor ou igual a. Usado em testes,
função.
para comparação.
Exemplo: +A1+A2 – efetua a soma do valor em A1
Exemplo: =SE(A1<=A2;”A1 é menor ou igual a
com o valor em A2. A2”;”A2 é menor que A1”) – teste e exibe uma
mensagem.
z - (sinal de menos) Subtração, ou início de fórmula/
função com inversão de resultado. z <> (sinal de menor e sinal de maior, consecuti-
Exemplo: -A1+A2 – efetua a soma do valor em A1 vos, sem espaço) diferente. O Excel/Calc não usa o
com o valor em A2, invertendo o resultado. símbolo ≠ Usado em testes, para comparação.
Exemplo: =SE(A1<>A2;”Valores diferentes”;”São
z * (asterisco) multiplicação. iguais”) – teste e exibe uma mensagem.
Exemplo: =A1*A2 - efetua a multiplicação do valor
em A1 pelo valor em A2. z ( ) (parênteses) Organizam operadores, valores,
expressões, alterando a ordem de cálculo. O Excel
z / (barra ‘normal’) divisão. e Calc não utiliza chaves ou colchetes, como na
Exemplo: =A1/A2 - efetua a divisão do valor em A1 matemática, apenas parênteses.
pelo valor em A2.
z ; (ponto e vírgula) separador de argumentos de
uma função ou separador de células em uma refe-
z ^ (acento circunflexo) Exponenciação.
rência. Pode significar E em uma referência de
Exemplo: =A1^A2 - efetua a exponenciação do
valores.
valor em A1 pelo valor em A2, A1 elevado a A2. Exemplos: =SE(A1<>A2;”Valores diferentes”;”São
iguais”) – separando os três argumentos da função.
z % (símbolo de porcentagem) porcentagem. Exibe o =SOMA(A1;B2;C3;D4) – separando os quatro argu-
valor em formato de porcentagem. Não faz o cálcu- mentos que serão somados.
lo. Para fazer o cálculo, é preciso dividir por 100 o
resultado (por cento, por 100). z : (dois pontos) indica ATÉ em uma referência de
faixa de células.
z & (símbolo de E comercial) concatenação. Reúne Exemplo: = SOMA(A1:C3) – efetua a soma dos valo-
dois ou mais valores em uma única sequência. res na faixa A1 até C3, incluindo A2, A3, B1, B2, B3,
Exemplo: C1 e C2.
=”Fernando”&”Nishimura”
=15&30 z “ (aspas) indicam expressões de textos literais.
Fernando Nishimura Exemplo: =SE(A1<>A2;”Valores diferentes”;”-
1530 São iguais”) – as mensagens são exibidas como
digitadas.
z . (ponto final) Significa Planilha.
z $ (cifrão) Fixar uma posição na referência, trans-
Exemplo: =Planilha1.A1+Planilha2.A2 – efetua
formando a referência relativa em referência
a soma do valor A1 que está em Planilha1 com o mista ou absoluta. Muito utilizada em fórmulas e
valor de A2 que está em Planilha2. funções, quando ela mudar de célula, será alterada
ou não.
Exemplo: =A$1 (linha 1 está fixa), =$B5 (coluna B
Importante! está fixa), =$A$6 (célula A6 está fixa)
=$Planilha2.C17+10 – trava a referência para a
Uma das poucas diferenças existentes entre o
Planilha2.
Microsoft Excel e o LibreOffice Calc é a forma
como referenciam planilhas. No Excel é o ponto z # (sinal de sustenido – iniciando uma mensagem,
de exclamação, no Calc é o ponto final. apenas um) Erro.

Mensagens de Erros
z > (sinal de maior) maior que. Usado para testes,
para comparação.
Seguem abaixo os erros mais comuns que podem
Exemplo: =SE(A1>A2;”A1 é maior”;”A2 é maior”) – ocorrer em uma planilha do LibreOffice Calc:
efetua um teste e exibe uma mensagem.
z ##### A célula não é larga o suficiente para mos-
z < (sinal de menor) menor que. Usado em testes, trar o conteúdo;
para comparação. z NUM! ou Err:503! Operação de ponto flutuante
Exemplo: =SE(A1<A2;”A1 é menor”;”A2 é menor”) – inválida. Um cálculo resulta em overflow no inter-
460 efetua um teste e exibe uma mensagem. valo de valores definido;
z #VALOR ou Err:519! Sem resultado. A fórmula =MED(A2:C2) qual é o valor que está no meio, de 6,
resulta em um valor que não corresponde à sua 2 e 1? É o 2.
definição; ou a célula que é referenciada na fórmu- =MÉDIA(A2:C2) qual é a média dos valores de A2
la contém um texto em vez de um número; até C2? (6+2+1)/3 = 3.
z #REF ou Err:524! Referências inválidas. Em uma
fórmula, está faltando a coluna, a linha ou a plani- z MÁXIMO (valores) : exibe o maior valor das célu-
lha que contém uma célula referenciada; las selecionadas.
z #NOME? ou Err:525! Nomes inválidos. Não foi
possível avaliar um identificador, por exemplo, =MAXIMO(A1:D6) Exibe qual é o maior valor na
não foi possível encontrar uma referência válida, área de A1 até D6. Se houver dois valores iguais, ape-
um nome de domínio válido, uma etiqueta de colu- nas um será mostrado.
na/linha, uma macro, um separador decimal incor-
reto, suplemento não encontrado; z MAIOR (valores;posição) : exibe o maior valor de
z #DIV/0! ou Err:532! Divisão por zero. Operação uma série, segundo o argumento apresentado.
de divisão / quando o denominador é 0.
=MAIOR(A1:D6;3) Exibe o 3º maior valor nas célu-
Funções Básicas las A1 até D6.

z SOMA (valores) : realiza a operação de soma nas z MÍNIMO (valores) : exibe o menor valor das célu-
células selecionadas. las selecionadas.

=MINIMO(A1:D6) Exibe qual é o menor valor na


=SOMA(A1;A2;A3) Efetua a soma dos valores exis-
área de A1 até D6.
tentes nas células A1, A2 e A3.
=SOMA(A1:A5) Efetua a soma dos 5 valores exis-
z MENOR (valores;posição) : exibe o menor valor de
tentes nas células A1 até A5
=SOMA(A1;34;B3) Efetua a soma dos valores da uma série, segundo o argumento apresentado.
célula A1, com 34 (valor literal) e B3. =MENOR(A1:D6;3) Exibe o 3º menor valor nas célu-
=SOMA(A1:B4) Efetua a soma dos 8 valores exis-
las A1 até D6.
tentes, de A1 até B4. O Excel não faz ‘triangulação’,
operando apenas áreas quadrangulares.
z SE (teste;verdadeiro;falso) : avalia um teste e retor-
=SOMA(A1;B1;C1:C3) Efetua a soma dos valores
na um valor caso o teste seja verdadeiro ou outro
A1 com B1 e C1 até C3.
caso seja falso.
=SOMA(1;2;3;A1;A1) Efetua a soma de 1 com 2
com 3 e o valor A1 duas vezes.
z CONT.VALORES (células) : esta função conta todas
as células em um intervalo, exceto as células
z SOMASE (valores;condição) : realiza a operação
vazias.
de soma nas células selecionadas, se uma condição
=CONT.VALORES(A1:A10) Informa o resultado da
for atendida.
contagem, informando quantas células estão preen-
=SOMASE(A1:A5;”>15”) Efetuará a soma dos valo- chidas com valores, quaisquer valores.
res de A1 até A5 que sejam maiores que 15.
=SOMASE(A1:A10;”10”) Efetuará a soma dos valo- z CONT.NÚM (células) : conta todas as células em
res de A1 até A10 que forem iguais a 10. A sinta- um intervalo, exceto células vazias e células com
xe é =SOMASE(onde;qual o critério para que seja texto.
somado).
=CONT.NÚM(A1:A8) Informa quantas células no
z MEDIA (valores) : realiza a operação de média intervalo A1 até A8 possuem valores numéricos.
nas células selecionadas e exibe o valor médio
encontrado. z CONT.SE (células;condição) : Esta função con-
ta quantas vezes aparece um determinado valor
=MEDIA(A1:A5) Efetua a média aritmética simples (número ou texto) em um intervalo de células (o
dos valores existentes entre A1 e A5. Se forem 5 valo- usuário tem que indicar qual é o critério a ser
res, serão somados e divididos por 5. Se existir uma contado)
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

célula vazia, serão somados e divididos por 4. Células


=CONT.SE(A1:A10;”5”) Efetua a contagem de quan-
vazias não entram no cálculo da média.
tas células existem no intervalo de A1 até A10 conten-
do o valor 5.
z MED (valores): obtém o valor da mediana. A
mediana é o valor que está ‘no meio’ dos valores
z TEXTO (células;formato) : exibe um valor numéri-
ordenados informados
co no formato especificado por uma máscara.

=TEXTO(7;”000”) Exibirá o número 7 com 3 casas,


portanto, 007

z MUDAR (texto;início;caracteres;novo_texto) : per-


mite trocar no texto informado, iniciando na posi-
ção início, o novo_texto, até o limite de caracteres. 461
=MUDAR(“José Carlos”; 1; 4; “João”) Troca o
MENU SIGNIFICADO
“José” por “João”
Acesso aos controles sobre o que será
z PROCV (valor_procurado; matriz_tabela; núm_ Exibir mostrado na tela de edição, e como
índice_coluna; [intervalo_pesquisa]) será exibido
A função PROCV é utilizada para localizar o Adicionar qualquer objeto no arquivo
valor_procurado dentro da matriz_tabela, e quando Inserir atualmente editado. Se este objeto é
encontrar, retornar a enésima coluna informada em atualizável, será um campo
núm_índice_coluna. A última opção, que será VER-
DADEIRO ou FALSO, é usada para identificar se preci- Mudar a aparência, mudar a configu-
sa ser o valor exato (F) ou pode ser valor aproximado Formatar ração, dar uma forma, alterar o que
(V). está em edição
Por exemplo: Opções de controle da planilha de
Planilha
dados no Calc
=PROCV(105;A2:C7;2;VERDADEIRO) e
=PROCV(“Monte”;B2:E7;2;FALSO) Oferece comandos para o gerencia-
A função PROCV é um membro das funções de pes- mento do aplicativo, alterando as
Ferramentas
quisa e Referência, que incluem a função PROCH. configurações em todos os próximos
Se PROCV não localizar valor_procurado, e pro- arquivos editados pelo aplicativo
curar_intervalo for VERDADEIRO, ela usará o maior
valor que é menor do que o valor_procurado. Classificação, filtro, filtro avançado, e
Dados demais opções de organização dos
z PROCH (o que ; onde ; linha ; aproximadamente dados
) : procura um valor na horizontal. Caso encon- Oferece opções para organizar as
tre, retorna a linha correspondente ao argu- Janela
janelas dos documentos
mento informado. E a busca poderá ser exata ou
aproximada.

Precedência dos Operadores


MICROSOFT POWERPOINT
Tanto o LibreOffice Calc como o Microsoft Excel,
usam precedência de operadores matemáticos para a
2016: ESTRUTURA BÁSICA DE
resolução das fórmulas. APRESENTAÇÕES, EDIÇÃO E
A ordem de prioridade é parênteses, depois expo- FORMATAÇÃO
nenciação (ou potência), depois multiplicação e divi-
são, e por último, adição e subtração. As apresentações de slides criadas pelo Microsoft
^ Exponenciação A primeira operação que deve PowerPoint 2010/2013/2016/2019 são arquivos de
ser executada extensão .PPTX. Caso contenham macros (comandos
* Multiplicação A próxima operação a ser executa- para automatização de tarefas) será atribuída a exten-
da, assim como a Divisão. são .PPTM. E ainda podemos trabalhar com os mode-
/ Divisão los (extensão .POTX e POTM).
+ Adição Após realizar exponenciação, multiplica- Apesar de ser um aplicativo com finalidade dife-
ção e divisão, faça a adição/subtração. rente do editor de textos, ele possui muitas semelhan-
- Subtração. ças que acabam ajudando quem está iniciando nele.
- Inversão de sinal Depois que todo o cálculo for Da mesma forma que o editor de textos, é possível tra-
realizado, faça a inversão do sinal. balhar com seções (divisões), é possível inserir núme-
Obs.: o uso de parênteses altera a ordem dos opera- ros de slides, é possível comparar apresentações, etc.
dores matemáticos.
P.E.M.D.A.S. = parênteses, exponenciação, multipli- EXTENSÃO TIPO DE ARQUIVO CARACTERÍSTICAS
cação, divisão, adição e subtração.
Diferentemente da interface do Microsoft Excel, Apresentação Versão 2003 ou
PPT
editável. anterior.
que é baseada na Faixa de Opções com guias, grupos
e ícones, o LibreOffice tem a interface baseada em PPS
Apresentação Versão 2003 ou
menus. Na tabela a seguir, confira algumas dicas para executável. anterior.
compreender a sequência de comandos e menus do Modelo de Versão 2003 ou
POT
Calc. As dicas são válidas para o LibreOffice Writer e apresentação. anterior.
LibreOffice Impress. Apresentação Versão 2007 ou
PPTX
editável. superior.
MENU SIGNIFICADO Versão 2007 ou supe-
Oferece comandos para o gerencia- Apresentação rior, que não necessita
PPSX
executável. de programas para ser
Arquivo mento do arquivo atual, aquele que visualizada
está em primeiro plano
Recursos para pa-
Modelo de
Acesso a recursos temporários (loca- POTX
apresentação.
dronização de novas
Editar lizar, substituir, selecionar) e área de apresentações
transferência do Windows/Linux
462
EXTENSÃO TIPO DE ARQUIVO CARACTERÍSTICAS
Recursos para pa-
Modelo de apre- Slide de Título e Conteúdo Cabeçalho da Duas Partes de Comparação
dronização e auto- Título Seção Conteúdo
POTM sentação com
matização de novas
macros.
apresentações
Formato do LibreOffice Somente Em Conteúdo com Imagem com
Open Document Impress, que pode ser Título Branco Legenda Legenda
ODP
Presentation. editado e salvo pelo
Microsoft PowerPoint Figura 2. Layout de slide
Formato de docu-
mento portável, sem z SEÇÃO: divisão de formatação dentro da apresen-
Portable Docu-
PDF/XPS alguns recursos mul- tação (usadas para Apresentações Personalizadas).
ment Format.
timídia inseridos na Poderá ter ‘duas apresentações’ dentro de uma, e no
apresentação de slide início, escolher qual delas será exibida para o público;
z TRANSIÇÕES: animação entre os slides. Ao selecio-
nar algum efeito de animação entre os slides (guia
Importante! Transições, grupo Transição para este slide), será dis-
ponibilizada a opção para configuração do Intervalo;
Apresentações de slides é um tópico pouco z ANIMAÇÃO: animação dentro do slide, em um
questionado em provas de concursos. Conhe- objeto do slide. Um objeto poderá ter diversas ani-
cendo os conceitos do Microsoft PowerPoint, mações simultaneamente, enquanto a transição do
você poderá aproveitá-los quando estudar slide é única. Poderão ser de Entrada, Ênfase, Saí-
LibreOffice Impress. da ou Trajetórias de Animação;

CONCEITO DE SLIDES
As apresentações de slides podem ser gravadas em
formato de imagens (JPG, PNG), slide por slide, e até Conforme observado no item anterior, os slides são
transformadas em vídeo (extensão MP4). as unidades de trabalho do PowerPoint. Assim como
Os recursos do PowerPoint, como animações, tran- as páginas de um documento do Microsoft Word, os
sições, narração, serão inseridos no vídeo, que poderá slides possuem configurações como margens, orienta-
ser reproduzido em outros dispositivos, como Smart ção, números de páginas (slides, no caso), cabeçalhos
TV em totens de propagandas. e rodapés, etc.
O PowerPoint trabalha com 4 conceitos principais
de slides,

z Slide (modo de exibição Normal) : cada slide é


mostrado para edição de seu conteúdo;
z Slide Mestre: para alterar o design e o layout dos
slides mestres, alterando toda a apresentação de
uma vez;
z Folhetos Mestre: para alterar o design e layout
dos folhetos que serão impressos;
z Anotações Mestras: para alterar o design e layout
Figura 1. Para produzir um vídeo da apresentação, acessar o botão das folhas de anotações;
Arquivo, menu Exportar, item Criar Vídeo.

Vamos conhecer alguns termos usados no aplicati-


vo de edição de apresentações de slides.

z SLIDE: unidade de edição, como uma página da


apresentaçã;
z SLIDE MESTRE: slide com o modelo de formatação
que será usado pelos slides da apresentação atual;
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

z DESIGN: aparência do slide ou de toda a apresen-


tação. O design combina cores, estilos e padrões
para que a aparência tenha um visual harmoniza-
do. O PowerPoint oferece “Ideias de Design” a cada
objeto inserido no slide;
z LAYOUT: disposição dos elementos dentro do sli-
de. Quando a apresentação é iniciada, o slide de
slide de título é apresentado. O usuário poderá Figura 3. Modo de exibição Normal, para edição da apresentação de
alterar para outro layout. Cada slide da apresenta- slides
ção poderá ter um layout diferente.
Nos modos de exibição, na guia Exibição, ocorreu
uma pequena mudança em relação às versões ante-
riores, com a inclusão do item Modo de Exibição de
Estrutura de Tópicos:
463
z Normal: no modo de exibição Normal, miniaturas dos slides ou os tópicos aparecerão no lado esquerdo, o
slide atual aparecerá no centro (sendo possível sua edição) e na área inferior da tela aparecerá a área de ano-
tações. Ajustar à janela encaixa o slide na área;
z Modo de Exibição de Estrutura de Tópicos: para editar e alternar entre slides no painel de estrutura de
tópicos. Útil para a criação de uma apresentação a partir dos tópicos de um documento do Microsoft Word;
z Classificação dos Slides: no modo de exibição Classificação de Slides, apenas miniaturas dos slides serão
mostradas. Estas miniaturas poderão ser organizadas, arrastando-as. As operações de slides estão disponíveis,
como Excluir slide, Ocultar slide, etc. Mas não é possível editar o conteúdo. Somente após duplo clique será
possível a edição do conteúdo;
z Anotações: Exibir a página de anotações para editar as anotações do orador da forma como ficarão quando
forem impressas;
z Modo de Exibição de Leitura: Exibir a apresentação como uma apresentação de slides que cabe na janela. A
barra de título do PowerPoint continuará sendo exibida.

NOÇÕES DE EDIÇÃO E FORMATAÇÃO DE APRESENTAÇÕES

A preparação de uma apresentação de slides segue uma série de recomendações, quanto a quantidade de tex-
to, quantidade de slides, tempo da apresentação, etc.
Entretanto, para concursos públicos, o foco é outro. O questionamento é sobre como fazer, onde configurar,
como apresentar, etc.
Para entrar em modo de apresentação de slides do começo, devemos pressionar F5. Podemos escolher o ícone
‘Do Começo’ na guia Apresentações de Slides, grupo Iniciar Apresentação de Slides. E ainda clicar no ícone corres-
pondente na barra de status, ao lado do zoom.
A apresentação iniciará, e ao contrário do modo de exibição Leitura em Tela Inteira, a barra de títulos não será
mostrada. A outra forma de iniciar uma apresentação de slides é a partir do Slide Atual, pressionando Shift+F5 ou
clicando no ícone da guia Apresentação de Slides.
Durante a apresentação de slides, as setas de direção permitem mudar o slide em exibição. O Enter passa para
o próximo slide. O ESC sai da apresentação de slides.
Segurar a tecla CTRL e pressionar o botão principal (esquerdo) do mouse exibirá um ‘laser pointer’ na apre-
sentação. Pressionar a letra C ou vírgula deixará a tela em branco (clara). Pressionar E ou ponto final, deixa a tela
preta (escura).
A edição dos elementos textuais e parágrafos seguem os princípios do editor de textos Word. E os comandos
também são os mesmos. Por exemplo, o Salvar como PDF.
De acordo com o formato escolhido, alguns recursos poderão ser desabilitados.

FORMATO ANIMAÇÕES TRANSIÇÕES ÁUDIO VÍDEO HIPERLINKS


PPTX X X X X X
PPSX X X X X X
PDF - - - - X
MP4 X X X X X
JPG/PNG - - - - -

Tabela. Recursos disponíveis ( X ), recursos indisponíveis ( - )

O formato PDF é portável, e poderá ser usado em qualquer plataforma. Praticamente todos os programas dis-
poníveis no mercado reconhecem o formato PDF.
Confira a seguir os ícones do aplicativo, que costumam ser questionados em provas.

Para entrar em modo de apresentação de slides do começo, devemos pressionar F5.

A outra forma de iniciar uma apresentação de slides é a partir do Slide Atual, pressionando Shift+F5
ou clicando no ícone da guia Apresentação de Slides.

Apresentar on-line: Transmitir a apresentação de slides para visualizadores remotos que possam
assisti-la em um navegador da Web.

Apresentação de Slides Personalizada: Criar ou executar uma apresentação de slides personalizada.


Uma apresentação de slides personalizada exibirá somente os slides selecionados. Este recurso per-
mite que você tenha vários conjuntos de slides diferentes (por exemplo, uma sucessão de slides de 30
464 minutos e outra de 60 minutos) na mesma apresentação.
Configurar Apresentação de Slides: Configurar opções avançadas para a apresentação de slides, como
o modo de quiosque (em que a apresentação reinicia após o último slide, e continua em loop até pres-
sionar ESC), apresentação sem narração, vários monitores, avançar slides, etc.

Ocultar Slide: Ocultar o slide atual da apresentação. Ele não será mostrado durante a apresentação de
slides de tela inteira.

Testar Intervalos: Iniciar uma apresentação de slides em tela inteira na qual você possa testar sua
apresentação. A quantidade de tempo utilizada em cada slide é registrada e você pode salvar esses
intervalos para executar a apresentação automaticamente no futuro.

Gravar Apresentação de Slides: Gravar narrações de áudio, gestos do apontador laser ou intervalos de
slide e animação para reprodução durante a apresentação de slides.

Álbum de Fotografias: criar ou editar uma apresentação com base em uma série de imagens. Cada
imagem será colocada em um slide individual.

Ação: Adicionar uma ação ao objeto selecionado para especificar o que deve acontecer quando você
clicar nele ou passar o mouse sobre ele.

Inserir número do slide: o número do slide reflete sua posição na apresentação.

Inserir vídeo no slide: permite inserir um videoclipe no slide.

Inserir áudio no slide: permite inserir um clipe de áudio no slide.

Gravação de tela: gravar o que está sendo exibido na tela e inserir no slide.

Formas: linhas, retângulos, formas básicas, setas largas, formas de equação, fluxograma, estrelas e
faixas, textos explicativos e botões de ação.

LIBREOFFICE IMPRESS 7.1.6: ESTRUTURA BÁSICA DE APRESENTAÇÕES, EDIÇÃO E


FORMATAÇÃO
O aplicativo Microsoft PowerPoint se tornou, após anos, sinônimo de apresentações. É comum falarmos que
estamos apresentando um PowerPoint, mesmo que o arquivo tenha sido criado no LibreOffice Impress.
Os softwares de edição de slides (Microsoft PowerPoint, LibreOffice Impress, Google Apresentações) permitem
a criação de uma apresentação de slides para exibição para um público.
Ao iniciar o aplicativo, o usuário poderá escolher um modelo de apresentação para criação de um novo arqui-
vo. Ou poderá cancelar a caixa de diálogo, e escolher um arquivo que está gravado em um local de armazenamen-
to permanente, para ser aberto e editado naquela sessão de trabalho.

NOÇÕES DE INFORMÁTICA

465
Arquivos do PowerPoint são abertos pelo LibreOffice Impress (antigo OpenOffice, BrOffice).
Da mesma forma, arquivos do LibreOffice Impress (formato ODP – Open Document Presentation) podem ser
abertos pelo Microsoft PowerPoint.
Ambos são capazes de produzir arquivos PDFs.

O LibreOffice Impress permite exportar uma apresentação ou desenho para diferentes formatos, incluindo os
citados no enunciado da questão.

z BMP: Windowns Bitmap (*.bmp);


z EMF: Enhanced Metafile (*.emf);
z EPS: Encapsulated PostScript (*.eps);
z GIF: Graphics InterchangeFormat (*.gif);
z JPEG: Joint Photographic Experts Group (*.jpg;*.jpeg;*.jfif;*.jiif;*.jpe);
z PNG: Portable Network Graphic (*.png);
z SVG: Scalable Vector Graphics (*.svg; *.svgz);
z TIFF: Tagged Image File Format (*.tif; *.tiff);
z WMF: Windows Metafile (*.wmf).

Importante!
Extensões de arquivos são itens bastante questionados em provas de concursos.

Os modos de exibição permitem alternar entre a edição (Normal), exibição de títulos (Estrutura de Tópicos),
Notas (Anotações do apresentador) e Organizador de Slides (classificação de slides – miniaturas para organização).

Normal Estrutura de tópicos Notas Organizador de slides

z Leiaute: Permite a escolha do tipo de conteúdo que será inserido no slide. Para não esquecer: é o esqueleto de
cada slide da apresentação. O layout do slide (leiaute do eslaide) é a definição da posição dos objetos dentro de
cada slide da apresentação.
z Modelos: Permite a escolha do projeto visual que será utilizado no slide. Para não esquecer: é a aparência da
apresentação.
z Transição: Permite a escolha do efeito visual que será utilizado na passagem de um slide para outro slide. Para
não esquecer: é a animação entre os slides da apresentação.
z Mestre: Permite a escolha da posição de todos os elementos dentro de uma apresentação, assim como confi-
gurações específicas. Podemos configurar os slides, folhetos e anotações. Para não esquecer: é o esqueleto de
toda a apresentação.

Exibir

Slide mestre

466
Elementos do slide mestre...

Assim como nos demais aplicativos, o ícone permite transformar um objeto inserido em um hyperlink. O
ícone está disponível na Barra de Ferramentas Padrão. Atalho de teclado: Ctrl+K
No LibreOffice, o Hiperlink poderá ser para:

Internet: endereço URL ou endereço FTP.

Correio: abre o aplicativo de e-mail padrão para o envio de uma mensagem eletrônica.

Documento: para algum local do documento atual, como uma Tabela, Seção ou Quadro.

Novo Documento: para qualquer outro arquivo editável do pacote LibreOffice.

Diferentemente da interface do Microsoft PowerPoint, que é baseada na Faixa de Opções com guias, grupos e
ícones, o LibreOffice tem a interface baseada em menus. Na tabela a seguir, confira algumas dicas para compreen-
der a sequência de comandos e menus do Impress. As dicas são válidas para o LibreOffice Writer e LibreOffice Calc.

MENU SIGNIFICADO
Arquivo Oferece comandos para o gerenciamento do arquivo atual, aquele que está em primeiro plano.
Acesso a recursos temporários (localizar, substituir, selecionar) e área de transferência do
Editar
Windows/Linux
Acesso aos controles sobre o que será mostrado na tela de edição, e como será exibido.
Exibir
Cor, preto e branco, escala de cinza.
Adicionar qualquer objeto na apresentação atualmente editada. Se este objeto é atualizá-
Inserir
vel, será um campo.
Formatar Mudar a aparência, mudar a configuração, dar uma forma, alterar o que está em edição.
Oferece comandos para o gerenciamento do aplicativo, alterando as configurações em
Ferramentas
todos os próximos arquivos editados pelo aplicativo.
Iniciar a apresentação, configurar a apresentação, Cronometrar, Interação, Animação
Apresentação de slides personalizada, Transição de slides, Exibir e Ocultar slides, e criar uma apresentação
personalizada.
Janela Oferece opções para organizar as janelas dos documentos.

Menu Slide

Novidade do LibreOffice Impress 5 mantida na versão 6/7, que não existia nas versões anteriores. Possui opções
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

similares à guia Apresentação de Slides do Microsoft PowerPoint. Contém as opções para manipulação dos slides
da apresentação, incluindo o item Transição de Slides, para adicionar uma animação entre os slides.

Slide

467
Menu Apresentação de Slides

Outra novidade do LibreOffice Impress 5, com as


Usuário
opções e comandos para controle da apresentação. Foi
mantido nas versões seguintes.
Semelhante ao PowerPoint, F5 inicia a apresenta-
ção a partir do primeiro slide e Shift+F5 inicia a par- @

tir do slide atual. Esta é uma alteração importante, Para acessar as mensagens armazenadas em um servidor de
pois nas versões anteriores, F5 iniciava no slide atual, e-mails, o usuário pode usar um cliente de e-mail ou o navegador de
e agora é como no PowerPoint, com dois atalhos de Internet
teclado diferentes.
Formas de acesso ao correio eletrônico

Podemos usar um programa instalado em nosso


dispositivo (cliente de e-mail) ou qualquer navegador
de Internet para acessarmos as mensagens recebi-
das. A escolha por uma ou por outra opção vai além
da preferência do usuário. Cada forma de acesso tem
suas características e protocolos. Confira.

FORMA DE ACESSO CARACTERÍSTICAS


Protocolo SMTP para enviar mensagens
e POP3 para receber. As mensagens são
Cliente de E-mail
transferidas do servidor para o cliente e são
apagadas da caixa de mensagens remota.
MICROSOFT OUTLOOK 2016:
Protocolo IMAP4 para enviar e para re-
CORREIO ELETRÔNICO ceber mensagens. As mensagens são
Webmail copiadas do servidor para a janela do
A versão 2016 do Microsoft Outlook trouxe inte- navegador e são mantidas na caixa de
gração com o OneNote (anotações) e a troca do Lync mensagens remota.
2013 pelo Skype for Business (como comunicador
instantâneo).
Outra novidade foram os e-mails secundários. Com
os “clutters”, endereços de e-mail secundário, as men-
sagens começam a ser avaliadas de acordo com as nos-
Servidor de e-mails
sas reações. Se deixamos de lado uma mensagem ou Servidor de e-mails

ignoramos o seu remetente, as próximas mensagens


começaram a ser armazenadas na pasta de e-mails
secundários. O usuário poderá adicionar manual- Receber IMAP4
Receber – POP3
mente mensagens que deseja ignorar. Observe que
elas não serão apagadas ou bloqueadas, mas apenas
armazenadas fora da caixa de entrada principal.
Se, até o Outlook 2013, enviar anexos grandes era Usuário
Usuário
um problema por causa do limite de tamanho, no
Outlook 2016 o usuário tem a opção de armazenamen-
to de anexos na nuvem OneDrive. Ao invés de enviar
o anexo com a mensagem, os arquivos serão armaze- Cliente de e-mail Navegador de Internet
nados na nuvem e apenas um link será enviado para
o destinatário. Usando o protocolo POP3, a mensagem é transferida para o
Existe, ainda, a disponibilização de um app para programa de e-mail do usuário e removida do servidor. Usando
o protocolo IMAP4, a mensagem é copiada para o navegador de
smartphones, o que permite levar o Outlook em seu Internet e mantida no servidor de e-mails.
bolso, literalmente.
O Microsoft Outlook possui recursos que permitem Os protocolos de e-mails são usados para a troca
o acesso ao correio eletrônico (e-mail), organização de mensagens entre os envolvidos na comunicação.
das mensagens em pastas, sinalizadores, acompanha- O usuário pode personalizar a sua configuração, mas
mento e também recursos relacionados a reuniões e em concursos públicos o que vale é a configuração
compromissos. padrão, apresentada neste material.
Os eventos adicionados ao calendário podem ser SMTP (Simple Mail Transfer Protocol) é o Protoco-
enviados na forma de notificação por e-mail para os lo para Transferência Simples de E-mails. Usado pelo
participantes. cliente de e-mail para enviar para o servidor de men-
O Outlook possui o programa para instalação no sagens, e entre os servidores de mensagens do reme-
computador do usuário e a versão on-line. Essa ver- tente e do destinatário.
são pode ser gratuita (Outlook.com, antigo Hotmail) POP3 ou apenas POP (Post Office Protocol 3) é o
ou corporativa (Outlook Web Access – OWA, integran- Protocolo de Correio Eletrônico, usado pelo cliente de
te do Microsoft Office 365). e-mail para receber as mensagens do servidor remoto,
removendo-as da caixa de entrada remota.

468
IMAP4 ou IMAP (Internet Message Access Protocol) z Modo de Navegação Anônima: o navegador aces-
é o Protocolo de Acesso às Mensagens via Internet é sa a Internet e apaga os dados acessados quando a
usado pelo navegador de Internet (sobre os protoco- janela é fechada.
los HTTP e HTTPS) na modalidade de acesso webmail,
transferindo cópias das mensagens para a janela do O navegador Google Chrome, quando conectado
navegador e mantendo as originais na caixa de men- em uma conta Google, permite que a exclusão do his-
sagens do servidor remoto. tórico de navegação seja realizada em todos os dis-
positivos conectados. Essa funcionalidade não estará
disponível caso não esteja conectado na conta Google.
Um dos atalhos de teclado diferente no Google
Servidor Exchange Enviar e Receber
Chrome, em comparação aos demais navegadores,
Servidor Gmail
SMTP é F6. Para acessar a barra de endereços nos outros
Enviar – SMTP
navegadores, pressione F4. No Google Chrome, o ata-
lho de teclado é F6.
Enviar e Receber
Receber – POP3
IMAP4 Para verificar a versão atualmente instalada do
Chrome, acesse no menu a opção “Ajuda” e, depois,
“Sobre o Google Chrome”. Se houver atualizações pen-
Remetente Destinatário dentes, elas serão instaladas. Se as atualizações foram
Cliente
Webmail instaladas, o usuário poderá reiniciar o navegador.
Caso o navegador seja reiniciado, ele retornará nos
O remetente está usando o programa Microsoft Outlook (cliente) mesmos sites que estavam abertos antes do reinício,
para enviar um e-mail. Ele usa o seu e-mail corporativo (Exchange).
com as mesmas credenciais de login.
O e-mail do destinatário é hospedado no servidor Gmail, e ele utiliza
um navegador de Internet (webmail) para ler e responder os e-mails
O Google Chrome permite a personalização com
recebidos. temas, que são conjuntos de imagens e cores combina-
das para alterar a visualização da janela do aplicativo.

GOOGLE CHROME 93.X OU SUPERIOR:


SEGURANÇA: TIPOS DE VÍRUS,
NAVEGAÇÃO NA INTERNET
CAVALOS DE TRÓIA, MALWARES,
O navegador mais utilizado pelos usuários da WORMS, SPYWARE, PHISHING,
Internet é oferecido pela Google, que mantém servi- PHARMING, RANSOMWARES, SPAM
ços, como Buscas, E-mail (Gmail), vídeos (Youtube),
entre muitos outros. Uma das pequenas diferenças Sabe-se que ameaças e riscos de segurança estão
desse navegador em relação aos outros navegadores presentes no mundo virtual. Assim como existem pes-
é a tecla de atalho para acesso à Barra de Endereços, soas boas e más no mundo real, existem usuários com
que, nos demais, é F4 e, nele, é F6. Outra diferença é o boas ou más intenções no mundo virtual.
acesso ao site de pesquisas Google, que oferece a pes- Os criminosos virtuais são genericamente deno-
quisa por voz se você acessar pelo Google Chrome. minados como hackers, porém o termo mais adequa-
Outro recurso especialmente útil do Chrome é o do seria cracker. Um hacker é um usuário que possui
Gerenciador de Tarefas, acessado pelo atalho de tecla- muitos conhecimentos sobre tecnologia, podendo ser
do Shift+Esc. Quando guias ou processos do navegador nomeado como White Hat – hacker ético que usa suas
não estiverem respondendo, o gerenciador de tarefas habilidades com propósitos éticos e legais –, Gray Hat
poderá finalizar, sem finalizar todo o programa. – aquele que comete crimes, mas sem ganho pessoal
Alguns recursos do navegador são “emprestados” (geralmente, para exposição de falhas nos sistemas)
do site de buscas, como a tradução automática de – e Black Hat – aquele que viola a segurança dos siste-
páginas pelo Google Tradutor. mas para obtenção de ganhos pessoais.
É possível compartilhar o uso do navegador com Amadores ou inexperientes, profissionais ou expe-
outras pessoas no mesmo dispositivo, de modo que rientes, todo usuário está sujeito aos riscos inerentes
cada uma tenha as próprias configurações e arquivos. ao uso dos recursos computacionais. São riscos de
O navegador Google Chrome possui níveis diferentes segurança digital:
de acessos, que podem ser definidos quando o usuário
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

conecta ou não em sua conta Google. z Ameaças: vulnerabilidades que existem e podem
ser exploradas por usuários;
z Modo Normal: sem estar conectado na conta Goo- z Falhas: vulnerabilidades existentes nos sistemas,
gle, o navegador armazena localmente as informa- sejam elas propositais ou acidentais;
z Ataques: ação que procura denegrir ou suspender
ções da navegação para o perfil atual do sistema
a operação de sistemas.
operacional. Todos os usuários do perfil, poderão
consultar as informações armazenadas;
Devido à crescente integração entre as redes de
z Modo Normal conectado na conta Google: o nave- comunicação, conexão com novos e inusitados dis-
gador armazena localmente as informações da positivos (IoT – Internet das Coisas) e criminosos
navegação e sincroniza com outros dispositivos com acesso de qualquer lugar do mundo, as redes de
conectados na mesma conta Google; informações tornaram-se particularmente difíceis de
z Modo Visitante: o navegador acessa a Internet, se proteger. Profissionais altamente qualificados são
mas não acessa as informações da conta Google formados e contratados pelas empresas com a única
registrada; função de proteger os sistemas informatizados. 469
Em concursos públicos, as ameaças e os ataques são os itens mais questionados.

Dica
Você conhece a Cartilha de Segurança CERT? Disponível gratuitamente na Internet, ela é a fonte oficial de
informações sobre ameaças, ataques, defesas e segurança digital. Ela pode ser acessada pelo link: <https://
cartilha.cert.br/>. (Acesso em: 5 out. 2021).

Ameaças

As ameaças são identificadas como aquelas que possuem potencial para comprometer a oferta ou existência
dos ativos computacionais, tais como: informações, processos e sistemas. Um ransomware – software que seques-
tra dados, utilizando-se de criptografia e solicita o pagamento de resgate para a liberação das informações seques-
tradas – é um exemplo de ameaça.
É importante entender que, apesar de a ameaça existir, se não ocorrer uma ação deliberada para sua execução
ou se medidas de proteção forem implementadas, ela é eliminada e não se torna um ataque. As ameaças à segu-
rança da informação podem ser classificadas como:

� Tecnológicas: quando ocorre mudança no padrão ou tecnologia, sem a devida atualização ou upgrade;
z Humanas: intencionais ou acidentais, que exploram vulnerabilidades nos sistemas;
z Naturais: não intencionais, relacionadas ao ambiente, como as catástrofes naturais.

As empresas precisam fazer uma avaliação das ameaças que possam causar danos ao ambiente computacio-
nal dela mesma (Gerenciamento de Risco), implementar sistemas de autenticação (Controlar o Acesso), definir
os requisitos de senha forte (Política de Segurança), manter um inventário e realizar o rastreamento de todos os
ativos (Gerenciamento de Recursos), além de utilizar sistemas de backup e restauração de dados (Gerenciamento
de Continuidade de Negócios).

Falhas

As falhas de segurança nos sistemas de informação poderão ser propositais ou involuntárias. Se o programador
insere, no código do sistema, uma falha que produza danos ou permita o acesso sem autenticação, temos um exem-
plo de falha proposital. Já se uma falha for descoberta após a implantação do sistema, sem que tenha sido uma falha
proposital, e tenha sido explorada por invasores, temos um exemplo de falha involuntária, inerente ao sistema.
Quando identificadas, as falhas são corrigidas pelas empresas que desenvolveram o sistema por meio da dis-
tribuição de notificações e correções de segurança. O Windows Update, serviço da Microsoft para atualização do
Windows, distribui, mensalmente, os patches (pacotes) de correções de falhas de segurança.

Ataques

Sem dúvidas, o assunto de maior destaque, tanto em concursos como no mundo real, são os ataques. Coor-
denados ou isolados, os ataques procuram romper as barreiras de segurança definidas na Política de Segurança,
com o objetivo de anular o sistema ou capturar dados.
Os ataques podem ser classificados como:

z Baixa complexidade: exploram falhas de segurança de forma isolada e são facilmente identificados e
anulados;
z Média complexidade: combinam duas ou mais ferramentas e técnicas, para obter acesso aos dados, sendo de
média complexidade para a solução, gerando impactos na operação dos sistemas, como a indisponibilidade;
z Alta complexidade: refinados e avançados, os ataques combinam o acesso às falhas do sistema, novos códi-
gos maliciosos desconhecidos e a distribuição do ataque com redes zumbis, tornando difícil a resolução do
problema.

Dica
� Ameaças existem e podem afetar ou não os sistemas computacionais;
� Falhas existem e podem ser exploradas ou não pelos invasores;
� Ataques são realizados todo o tempo contra todos os tipos de sistemas.

Vírus de Computador

O vírus de computador é a ameaça digital mais popular. Tem esse nome por se assemelhar a um vírus orgâ-
nico ou biológico. O vírus biológico é um organismo que possui um código viral que infecta uma célula de outro
organismo. Quando a célula infectada é acionada, o código viral é duplicado e se propaga para outras células
saudáveis do corpo. Quanto mais vírus existirem no organismo, menor será o seu desempenho, fazendo com que
recursos vitais sejam consumidos, podendo levar o hospedeiro à morte.
O vírus de computador é um código malicioso que infecta arquivos em um dispositivo. Quando o arquivo é
executado, o código do vírus é duplicado, propagando-se para outros arquivos do computador. Quanto mais vírus
470
existirem no dispositivo, menor será o seu desempenho, fazendo com que recursos computacionais sejam consu-
midos, podendo levar o hospedeiro a uma falha catastrófica.

1. E-mail com vírus de computador é enviado para o usuário

E-mail com vírus Usuário Arquivo

2. E-mail é aberto e o arquivo anexo infectado é executado.

E-mail com vírus Usuário Arquivo

3. O código do vírus é copiado para arquivos do computador

E-mail com vírus Usuário Arquivo

4. Ao executar o arquivo infectado, novos arquivos serão infectados NOÇÕES DE INFORMÁTICA

E-mail com vírus Usuário Arquivo Arquivo

O vírus de computador poderá entrar no dispositivo do usuário por meio de um arquivo anexado em uma
mensagem de e-mail, ou por cópia de arquivos existentes em uma mídia removível, como o pen drive, recebidos
por alguma rede social, baixados de sites na Internet, entre outras formas de contaminação.

471
VÍRUS DE COMPUTADOR CARACTERÍSTICAS
� Infectam o setor de boot do disco de inicialização
Vírus de boot
� Cada vez que o sistema é iniciado, o vírus é executado
Armazenados em sites na Internet, são carregados e executados quando o usuário
Vírus de script
acessa a página, usando um navegador de Internet
� As macros são desenvolvidas em linguagem Visual Basic for Applications (VBA)
Vírus de macro nos arquivos do Office, para a automatização de tarefas
� Quando desenvolvido com propósitos maliciosos, é um vírus de macro
O vírus “mutante” ou “polimórfico”, a cada nova multiplicação, o novo vírus mantém
Vírus do tipo mutante
traços do original, mas é diferente dele
São programados para agir em uma determinada data, causando algum tipo de dano
Vírus time bomb
no dia previamente agendado
� Um vírus stealth é um código malicioso muito complexo, que se esconde depois de
infectar um computador
Vírus stealth � Ele mantém cópias dos arquivos que foram infectados para si e, quando um softwa-
re antivírus realiza a detecção, apresenta o arquivo original, enganando o mecanismo
de proteção
� O vírus Nimda explora as falhas de segurança do sistema operacional
Vírus Nimda � Ele se propaga pelo correio eletrônico e, também, pela web, em diretórios comparti-
lhados, pelas falhas de servidor Microsoft IIS e nas trocas de arquivos

Todos os sistemas operacionais são vulneráveis aos vírus de computador. Quando um vírus de computador
é desenvolvido por um hacker, este procura elaborá-lo para um software que tenha uma grande quantidade de
usuários iniciantes, o que aumenta as suas chances de sucesso.
O Windows, por exemplo, possui muitos usuários e a maioria deles não tem preocupações com segurança. Por
isso, grande parte dos vírus de computadores são desenvolvidos para atacarem sistemas Windows.
O Linux, por sua vez, tem poucos usuários, se comparado ao Windows, e a maioria deles possui muito conhe-
cimento sobre Informática, tornando a ação de vírus nesse sistema uma ocorrência rara.
Já o Android, software operacional dos smartphones populares, é uma variação do sistema Linux original.
Apesar de possuir essa origem nobre, é alvo de milhares de vírus, por causa dos seus usuários, que, na maioria
das vezes, não têm rotinas de proteção e segurança de seus aparelhos.
Um vírus de computador poderá ser recebido por e-mail, transferido de sites na Internet, compartilhado em
arquivos, através do uso de mídias removíveis infectadas, nas redes sociais e por mensagens instantâneas. Vale
lembrar, no entanto, que um vírus necessita ser executado para que entre em ação, pois ele tem um hospedeiro
definido e um alvo estabelecido. Ele se propaga, inserindo cópias de si em outros arquivos, alterando ou removen-
do arquivos do dispositivo para propagação e autoproteção, a fim de não ser detectado pelo antivírus.

Worms

O worm é um verme que explora de forma independente as vulnerabilidades nas redes de dispositivos. Geral-
mente, eles deixam a comunicação na rede lenta, por ocuparem a conexão de dados ao enviarem cópias de seu
código malicioso.
Um verme biológico parasita um organismo, consumindo seus recursos e deixando o corpo debilitado. Um
verme tecnológico parasita um dispositivo, consumindo seus recursos de memória e conexão de rede, deixando o
aparelho e a rede de dados lentos.
Os worms não precisam ser executados pelo usuário como os vírus de computador e a sua propagação será
rápida caso não existam barreiras de proteção que os impeçam.

1. Dispositivo infectado se conecta na rede do usuário

Smartphone com worm Roteador do Usuário Impressora

472
2. Roteador infectado envia o worm para a impressora

Smartphone com worm Roteador do Usuário Impressora

3. Impressora infectada demora muito para imprimir

Smartphone com worm Roteador do Usuário Impressora

4. Um novo dispositivo se conecta e é infectado

Roteador do Usuário Impressora


Smartphone com worm

NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Smartphone

Dica
Os worms infectam dispositivos e propagam-se para outros dispositivos de forma autônoma, sem interferên-
cia do usuário.

473
Os worms podem ser recebidos automaticamente pela rede, inseridos por um invasor ou por ação de outro
código malicioso. Assim como os vírus, ele poderá ser recebido por e-mail, transferido de sites na Internet, com-
partilhado em arquivos, por meio do uso de mídias removíveis infectadas, nas redes sociais e por mensagens
instantâneas.
Com o objetivo de explorar as vulnerabilidades dos dispositivos, os worms enviam cópias de si mesmos para
outros dispositivos e usuários conectados. Por serem autoexecutáveis, costumam consumir grande quantidade de
recursos computacionais, promovendo a instalação de outros códigos maliciosos e iniciando ataques na Internet
em busca de outras redes remotas.

Pragas Virtuais

As diversas pragas virtuais são, genericamente, chamadas de malwares (softwares maliciosos), por apresen-
tarem características semelhantes: oferecem alguma vantagem para o usuário, mas realizam ações danosas que
acabarão prejudicando-o.

� Cavalo de Troia ou Trojan

É um código malicioso que realiza operações mal-intencionadas enquanto realiza uma operação desejada pelo
usuário, como um jogo on-line ou reprodução de um vídeo. Ele é enviado com o conteúdo desejado e, ao ser exe-
cutado, desativa as proteções do dispositivo, para que o invasor tenha acesso aos arquivos e dados.
Esse nome está, justamente, relacionado com a história do presente dado pelos gregos aos troianos, consis-
tindo em um cavalo de madeira, com soldados em seu interior. Após entrar nas fortificações de Troia, os gregos
desativaram as defesas e permitiram o acesso do seu exército.

Importante!
O Trojan ou Cavalo de Troia é apresentado, no enunciado de algumas questões de concursos, como um tipo
de vírus de computador.

1. E-mail com Cavalo de Troia é enviado para o usuário

E-mail com vírus Usuário

2. E-mail é aberto e o link do jogo on-line é acessado

E-mail com vírus Usuário Jogo on-line

474
3. Enquanto o usuário joga, o trojan desativado as proteções

E-mail com vírus Usuário Jogo on-line

4. Enquanto o usuário joga, o invasor consegue acesso

Usuário Jogo on-line

z Spyware

É um programa malicioso que procura monitorar as atividades do sistema e enviar os dados capturados
durante a espionagem para terceiros. Existem softwares espiões considerados legítimos (instalados com o consen-
timento do usuário) e maliciosos (que executam ações prejudiciais à privacidade do usuário).
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Os softwares espiões podem ser especializados na captura de teclas digitadas (keylogger), nas telas e cliques efe-
tuados (screenlogger) ou para apresentação de propagandas alinhadas com os hábitos do usuário (adware). Eles,
geralmente, são instalados por outros programas maliciosos, para aumentar a quantidade de dados capturados.

z Bot

É um programa malicioso que mantém contato com o invasor, permitindo que comandos sejam executados
remotamente. O dispositivo controlado por um bot poderá integrar uma rede de dispositivos zumbis, a chamada
botnet.
Quando o invasor deseja atacar sites para provocar Negação de Serviço, ele aciona os bots que estão distri-
buídos nos dispositivos do usuário, para que façam a ação danosa. Além de esconder os rastros da identidade do
verdadeiro atacante, os bots poderão continuar sua propagação através do envio de cópias para outros contatos
do usuário afetado.
475
z Backdoor

É um código malicioso semelhante ao bot, mas que, além de executar comandos recebidos do invasor, realiza
ações para desativação de proteções e aberturas de portas de conexão. O invasor, ciente das portas TCP que estão
disponíveis, consegue acesso ao dispositivo para a instalação de outros códigos maliciosos e roubo de informações.
Assim como os spywares, existem backdoors legítimos (adicionados pelo desenvolvedor do software para fun-
cionalidades administrativas) e ilegítimos (para operarem independente do consentimento do usuário).

z Rootkit

É um código malicioso especializado em esconder e assegurar a presença de outros códigos maliciosos para o
invasor acessar o sistema. Essas pragas virtuais podem ser incorporadas em outras pragas, para que o código que
camufla a presença seja executado, escondendo os rastros do software malicioso.
Após a remoção de um rootkit, o sistema afetado não se recupera dos dados apagados, sendo necessária uma
cópia segura (backup) para restauração dos arquivos.

Dica
Cavalo de Troia, Spyware, Bot, Backdoor e Rootkit são as pragas digitais mais questionadas em concursos
públicos.

Confira, na tabela a seguir, outras pragas digitais que ameaçam a Segurança da Informação e a privacidade
dos usuários de sistemas computacionais.

CÓDIGO MALICIOSO CARACTERÍSTICAS


Gatilho para a execução de outros códigos maliciosos que permanece inativa até que um
Bomba lógica
evento acionador seja executado
Sequestrador de dados que criptografa pastas, arquivos e discos inteiros, solicitando o
Ransomware
pagamento de resgate para liberação
� Simulam janelas do sistema operacional, induzindo o usuário a acionar um comando,
Scareware fazendo a operação continuar normalmente
� O comando iniciará a instalação de códigos maliciosos
Fraude que engana o usuário, induzindo-o a informar seus dados pessoais em páginas de
Phishing
captura de dados falsas
Ataque aos servidores de DNS para alteração das tabelas de sites, direcionando a nave-
Pharming
gação para sites falsos
Ataques na rede que simulam tráfego acima do normal com pacotes de dados formatados
Negação de Serviço incorretamente, fazendo o servidor remoto ocupar-se com os pedidos e erros, negando
acesso para outros usuários
� Código que analisa ou modifica o tráfego de dados na rede, em busca de informações
Sniffing relevantes como login e senha
� Enquanto o spyware não modifica o conteúdo, o sniffing pode alterar
Falsifica dados de identificação, seja do remetente de um e-mail (e-mail Spoofing), do
Spoofing
endereço IP, dos serviços ARP e DNS, escondendo a real identidade do atacante
Man-In-The-Midle Intercepta as comunicações da rede para roubar os dados que trafegam na conexão.
Intercepta as comunicações do aparelho móvel, para roubar os dados que trafegam na
Man-In-The-Mobile
conexão do aparelho smartphone
Enquanto uma falha não é corrigida pelo desenvolvedor do software, invasores podem
Ataque de dia zero
explorar a vulnerabilidade identificada antes da implantação da proteção
Modificam páginas na Internet, alterando a sua apresentação (face) para os usuários
Defacement
visitantes
Sequestrador de navegador que pode desde alterar a página inicial do browser, até realizar
HiJacker
mudanças do mecanismo de pesquisas e direcionamento para servidores DNS falsos

Uma das ações mais comuns que procuram comprometer a segurança da informação é o ataque Phishing. O
usuário recebe uma mensagem (por e-mail, rede social ou SMS no telefone) e é induzido a clicar em um link mali-
cioso. O link acessa uma página que pode ser semelhante ao site original, induzindo o usuário a fornecer dados
pessoais, como login e senha. Em ataques mais elaborados, as páginas capturam dados bancários e de cartões de
crédito. O objetivo é simples: roubar dinheiro das contas do usuário.

476
1. O usuário recebe um e-mail do “banco”, mas é falso

Usuário

2. O link direciona o usuário para um site falso

Usuário

3. Ele informa os seus dados pessoais

Usuário

4. Seus dados são enviados para o invasor, que rouba $$$ das contas bancárias ou faz compras
no seu cartão de crédito

NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Usuário

Outra ação mais elaborada tecnicamente é o Pharming. O invasor ataca um servidor DNS, modificando as
tabelas que direcionam o tráfego de dados e o usuário acessa uma página falsa. Da mesma forma que o Phishing,
esse ataque procura capturar dados bancários do usuário e roubar o seu dinheiro.

477
1. O atacante modifica a tabela de um servidor DNS

Usuário

2. O link alterado direciona o usuário para um site falso

Usuário

3. Ele informa os seus dados pessoais

Usuário

4. Seus dados são enviados para o invasor, que rouba $$$ das contas bancárias ou faz compras
no seu cartão de crédito

Usuário

478
a) Ctrl+J.
HORA DE PRATICAR! b) Ctrl+N.
c) Ctrl+Shift+J.
1. (FUMARC — 2018) Ao acionar as “Configurações do d) Ctrl+Shift+N.
Windows” a partir do “Menu Iniciar” no Windows 10,
versão português, é possível gerenciar Vídeo, Notifica- 6. (FUMARC — 2018) O atalho de teclado que exibe a
ções e Energia, dentre outras configurações, a partir lista de downloads realizados no navegador Google
da opção: Chrome 69.x, versão português, é:

a) Aplicativos a) Ctrl+J
b) Ctrl+F
b) Dispositivos c) Ctrl+D
d) Ctrl+B
c) Personalização
7. (FUMARC — 2013) Sobre os mecanismos de busca na
d) Sistema Internet, analise as seguintes afirmativas:

I. SEO (Search Engine Optimization) é uma atividade que


2. (FUMARC — 2018) Em relação aos atalhos de teclado
realiza otimização de páginas Web e sites para serem
no Microsoft Windows 10, versão português, correla-
melhor ranqueadas pelas ferramentas de busca.
cione as colunas a seguir: Atalho
II. Softbots são robôs de software que podem ser utili-
zados pelos mecanismos de busca no processo de
I. Tecla do logotipo do Windows +L indexação de páginas Web.
II. Tecla do logotipo do Windows +R III. Google, Yahoo e Bing são exemplos de ferramentas de
III. Tecla do logotipo do Windows +E busca na Internet.
IV. Tecla do logotipo do Windows + D Ação
Estão CORRETAS as afirmativas:
( ) Abrir o Explorador de Arquivos
( ) Exibir e ocultar a área de trabalho a) I e II, apenas.
( ) Bloquear o computador ou mudar de conta b) I e III, apenas.
( ) Abrir a caixa de diálogo Executar c) II e III, apenas.
d) I, II e III.
Está CORRETA a seguinte sequência de respostas:
8. (FUMARC — 2018) O tipo de malware que modifica
a) I, IV, II, III. ou substitui um ou mais programas existentes para
b) III, II, I, IV. ocultar o fato de que um computador tenha sido com-
c) III, IV, I, II. prometido, ocultando vestígios de ataque, é:
d) IV, I, II, III.
a) Cavalos de Tróia.
3. (FUMARC — 2018) Recurso do navegador Google b) Rootkit.
Chrome 63.0, versão português, que permite abrir c) Spyware.
uma nova janela para navegar com privacidade sem d) Worm.
salvar seu histórico de navegação, cookies e dados de
sites: 9. (FUMARC — 2018) O tipo de ameaça à segurança de
um computador que consiste em um programa com-
a) Nova janela anônima. pleto que se replica de forma autônoma para se pro-
b) Nova janela privada. pagar para outros computadores é:
c) Nova janela secreta.
d) Nova janela segura. a) Worm.
b) Vírus.
4. (FUMARC — 2018) Opções de inicialização disponí- c) Spyware.
veis nas configurações do Google Chrome 63.0, ver- d) Spam.
são português, para definição da página ou páginas
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

que são exibidas ao iniciar o navegador, EXCETO: 10. (FUMARC — 2014) Analise as seguintes afirmativas
sobre ameaças à segurança na Internet:
a) Abrir a página Nova guia.
b) Abrir o mecanismo de pesquisa. I. Cavalos de Troia são programas que atraem a aten-
c) Abrir uma página específica ou um conjunto de ção do usuário e, além de executarem funções para
páginas. as quais foram aparentemente projetados, também
d) Continuar de onde você parou. executam operações maliciosas sem que o usuário
perceba.
5. (FUMARC — 2018) Uma janela anônima no navegador II. Spyware são programas que coletam informações
Google Chrome 69.x, versão português, é um modo sobre as atividades do usuário no computador e trans-
que abre uma nova janela onde é possível navegar na mitem essas informações pela Internet sem o consen-
Internet em modo privado, sem que o Chrome salve os timento do usuário.
sites que o usuário visita. O atalho de teclado que abre III. Pharming consiste na instalação de programas nas
uma nova janela anônima é: máquinas de usuários da internet para executar 479
tarefas automatizadas programadas por criminosos II. Vírus de boot: infectam a área de boot dos discos rígi-
cibernéticos. dos dos computadores.
III. Vírus de arquivo: infectam arquivos executáveis.
Estão CORRETAS as afirmativas:
Assinale a alternativa CORRETA:
a) I e II, apenas.
b) I e III, apenas. a) A afirmativa III está errada e as afirmativas I, II estão
c) II e III, apenas. corretas.
d) I, II e III. b) A afirmativa II está errada e as afirmativas I, III estão
corretas.
11. (FUMARC — 2013) Fragmento de programa que é uni- c) A afirmativa I está errada e as afirmativas II, III estão
do a um programa legítimo com a intenção de infectar corretas.
outros programas é denominado como d) As afirmativas I, II e III estão corretas.

a) Vírus 15. (FUMARC — 2011) É um tipo de aplicação que captura


b) Worms pacotes de rede e analisa suas características com
c) Spiders o objetivo de obter informações confidenciais, tais
d) Cookies como usuários e senhas:

12. (FUMARC — 2013) De acordo com a descrição das a) Firewall.


ameaças à segurança de um usuário de computa- b) Spoofing.
dor, correlacione as colunas a seguir, numerando os c) Cookie.
parênteses. d) Sniffer.

Ameaça 9 GABARITO
I. Cavalo de Troia
II. Worm 1 D
III. Spyware
2 C
IV. Phishing
3 A
Descrição
4 B
( ) Mensagem eletrônica que simula um remetente con-
5 D
fiável para obter informações confidenciais como
senhas ou números de cartões de crédito. 6 A
( ) Programas espiões que capturam padrões de com-
portamento de usuários na internet e enviam essa 7 D
informação a entidades externas.
8 B
( ) Programas completos que se propagam para infec-
tar o ambiente onde se encontram. 9 A
( ) Fragmentos de código, embutidos em um programa,
para atrair a atenção do usuário e roubar senhas ou 10 A
informações confidenciais.
11 A
A sequência CORRETA, de cima para baixo, é: 12 D

a) I, III, II, IV. 13 D


b) III, IV, II, I.
14 C
c) IV, III, I, II.
d) IV, III, II, I. 15 D

13. (FUMARC — 2013) Aplicações que capturam paco-


tes da rede e analisam suas características, também
conhecidas como “farejadores” de pacotes, são
ANOTAÇÕES
a) Banners.
b) Worms.
c) Spiders.
d) Sniffers.

14. (FUMARC — 2011) Analise as seguintes afirmativas


sobre os tipos conhecidos de vírus.

I. Vírus de script: infectam documentos com macros ins-


taladas. O pacote Office da Microsoft é uma das princi-
pais vítimas desse tipo de vírus.
480

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