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O Espiritismo no Brasil -

Suas Origens
Sérgio Biagi Gregório

SUMÁRIO: 1.Introdução. 2.Cenário Internacional: 2.1.O Fenômeno De


Hydesville; 2.2.Mesas Girantes; 2.3. Codificação do Espiritismo por Allan
Kardec. 3. Primeiros Passos do Espiritismo no Brasil: 3.1. Publicação na
Imprensa da Época; 3.2. 1.ª Sessão Espírita; 3.3. Grupo Confúcio; 3.4
Homeopatia e Passes Magnéticos. 4. Fundação da FEB: 4.1. A Missão de
Bezerra de Menezes; 4.2. Unificação do Espiritismo; 4.3. Fundação da FEB.
5. Movimento Espírita na Atualidade. 6. Conclusão. 7. Bibliografia
Consultada.

1. INTRODUÇÃO
O objetivo deste trabalho é buscar as origens do Espiritismo no Brasil e sua
trajetória através do tempo. O roteiro para este estudo é o seguinte:
cenário internacional, primeiros passos do Espiritismo no Brasil, a fundação
da FEB e alguns aspectos do movimento espírita na atualidade.

2. CENÁRIO INTERNACIONAL
2.1. O FENÔMENO DE HYDESVILLE

O livro de Arthur Conan Doyle, The History of Spiritualism, traduzido como A


História do Espiritismo, relata a seqüência dos fenômenos mediúnicos
ocorridos entre o Século XVIII e meados do Século XX.

Diz-nos que os espíritas tomaram oficialmente a data de 31 de março de


1848 — Fenômeno de Hydesville, em que duas crianças conversaram,
através de pancadas, com um Espírito já desencarnado — como começo das
coisas psíquicas, porque o movimento foi iniciado naquela data. Entretanto
não há época na história do mundo em que não se encontrem traços de
interferências preternaturais e o seu tardio reconhecimento pela
humanidade" (Doyle, s. d. p., p. 33).

Uma data deve ser fixada para início da narrativa e, talvez, nenhuma
melhor que a da história do grande vidente sueco Emmanuel Swedenborg
(1688-1772), uma grande autoridade em Física e em Astronomia, autor de
importantes trabalhos sobre marés e sobre a determinação das latitudes.
Era zoologista e anatomista. Financista e político, antecipou-se às
conclusões de Adam Smith. Finalmente, era um profundo estudioso da
Bíblia. Dizia que "todas as afirmações em matéria de teologia são, como
sempre foram, arraigadas no cérebro e dificilmente podem ser removidas; e
enquanto aí estiverem, a verdade genuína não encontrará lugar". (Doyle, s.
d. p., cap. I)

A história de Edward Irving (1792-1834), ministro presbiteriano, e sua


experiência entre 1830 e 1833, é de grande interesse para a construção do
pilar histórico do Espiritismo. Edward Irving, embora pertencesse àquela
mais pobre classe de trabalhadores braçais escoceses, pregou carismas e
dons miraculosos (curas e línguas estranhas) junto à Igreja à qual
pertencia. Fato este que o tornou famoso. (Doyle, s. d. p., cap. II)

Andrew Jacson Davis (1826-1910), profeta da nova revelação, com sua


clarividência acurada, antecipou o famoso episódio de Hydesville. (Doyle, s.
d. p., cap. III)

2.2. AS MESAS GIRANTES

O fato mediúnico marcante, após o episódio de Hydesville, é o fenômeno


das mesas girantes, que assolou os Estados Unidos e a Europa, servindo de
brincadeiras de salão, quando as mesas dançavam, escreviam batiam o pé e
até falavam. É dentro desse contexto que surge a Doutrina Espírita.

2.3. CODIFICAÇÃO DO ESPIRITISMO POR ALLAN KARDEC

Das brincadeiras de salão, surge Hypollyte Leon Denizard Rivail — Allan


Kardec—, um estudioso do magnetismo e do método teórico experimental
em ciência. O magnetismo já vinha sendo estudado há algum tempo.
Historicamente, Mesmer descobre, em 1779, o magnetismo animal,
Puysegur, em 1787, o sonambulismo e Braid, em 1841, o hipnotismo.

Havendo uma disseminação muito grande dos fenômenos das mesas


girantes, Kardec, ainda Hipollyte, foi convidado para assistir a uma dessas
sessões, pois o seu amigo Fortier, magnetizador, dissera que além da mesa
mover-se ela também falava. É aí que entra o gênio inquiridor do
pesquisador teórico experimental. Assim, retruca: só se ela tiver cérebro
para pensar e nervos para sentir e que possa tornar-se sonâmbula. A partir
daí, começa a freqüentar essas sessões, culminando, mais tarde, com a
publicação de O Livro dos Espíritos, em 18/04/1857

3. PRIMEIROS PASSOS DO ESPIRITISMO NO


BRASIL
3.1. PUBLICAÇÃO NA IMPRENSA DA ÉPOCA

Zêus Wantuil, em seu livro As Mesas Girantes e o Espiritismo, busca dados


na imprensa da época, ou seja, no Jornal do Comércio do Rio de Janeiro, no
Diário de Pernambuco e no Cearense relatos sobre os acontecimentos das
"mesas girantes" na Europa e no Brasil.

No dia 14/06/1853 é publicado, na seção exterior do Jornal do Comercio do


Rio de Janeiro, notícias sobre as "mesas girantes", fatos que estão
empolgando principalmente os Estados Unidos e Europa. (1957, p.125)

No dia 02/07/1853, o Diário de Pernambuco, em sua seção "Exterior", de


notícia procedente de Paris, e datada de 20 de maio , contava o
correspondente que "não se pode por o pé em um salão, sem ver toda a
sociedade em torno de uma mesa redonda, tendo cada um o dedo mínimo
apoiado no do vizinho, e esperando todos em silêncio que a tábula queira
voltear". (1957, p.127)

No dia 15/07/1853, o jornal O Cearense transcreve a primeira notícia sobre


as mesas girantes, nos seguintes termos: "Apareceu agora em França um
fato que despertou sumamente a curiosidade pública: quero falar-lhes das
tábulas volteantes (tables tornantes) que embora tenham sido inventadas
na América inglesa, os franceses deram carta de naturalização..." (1957, p.
134)

3.2. 1.ª SESSÃO ESPÍRITA

Em 17/09/1865 —Salvador, Bahia —, é instalado o "Grupo Familiar do


Espiritismo", o primeiro Centro Espírita do Brasil e, às 20h30min, Luís
Olímpio Teles de Menezes preside a uma sessão mediúnica, onde se recebe
a primeira página psicografada e assinada por "Anjo Brasil".

Em julho de 1869, para melhor defender e propagar o Espiritismo,


duramente atacado pelo clero e imprensa de Salvador, Luís Olímpio Teles de
Menezes publica "O Echo D’Além-Tumulo" — Monitor Do Espiritismo no
Brasil, o primeiro jornal espírita do Brasil. (Barbosa, 1987, p. 70 e 71)

3.3. GRUPO CONFÚCIO

Funda-se em 02/08/1873, por inspiração do Espírito Ismael, a "Sociedade


de Estudos Espíritas — Grupo Confúcio", que pelo seu regulamento deveria
seguir os princípios e as formalidades expostas em O Livro dos Espíritos e
em O Livro dos Médiuns. Sua divisa era: "Sem caridade não há salvação;
sem caridade não há verdadeiro espírita". Extingue-se em 1876.

Composto de neo-espiritualistas, este grupo tinha a incumbência de:

1. traduzir as obras de Allan Kardec;


2. divulgar a homeopatia;
3. escolher o protetor espiritual do Brasil.
Joaquim Carlos Travassos faz parte desse grupo. Traduz O Livro dos
Espíritos para o português e passa-o a Adolfo Bezerra de Menezes, que
lendo-o pela primeira vez, pareceu-lhe que já lhe era familiar o conteúdo
deste livro. (Barbosa, 1987, p.73 e 74)

3.4 HOMEOPATIA E PASSES MAGNÉTICOS

Por volta de 1840, ao influxo das falanges de Ismael, chegavam dois


médicos humanitários ao Brasil. Eram Bento Mure e Vicente Martins, que
fariam da medicina homeopática verdadeiro apostolado. Muito antes da
codificação kardeciana, conheciam ambos os transes mediúnicos e o elevado
alcance da aplicação do magnetismo espiritual. (Xavier, 1977)

Por que essa relação entre Homeopatia e Espiritismo?

A ligação entre a Homeopatia e o Espiritismo pode ser vista da seguinte


forma: na Homeopatia a ação dos medicamentos não é de natureza
material, química, mas sim de ordem dinâmica, fluídica; no Espiritismo
consideramos a trindade universal – Deus, Espírito e Matéria – e
acrescentamos o períspirito, transformação do fluido universal, a fim de se
poder unir o Espírito à matéria. Como o Perispírito está ligado átomo a
átomo, célula a célula ao corpo físico, tudo o que passa num, repercute
imediatamente no outro. Nesse sentido, o equilíbrio funcional do perispírito
pode ser perturbado por agentes fluídicos, da mesma natureza portanto que
ele, e essa perturbação, repercutindo no corpo físico, torna-o também
enfermo. Do mesmo modo, pela ação de elementos também fluídicos,
porém, salutares, pode normalizar-se o perispírito e, consequentemente, o
organismo material, intimamente ligado a ele, volve ao seu normal
funcionamento. (Thiago, 1983, p. 11 a 13)

4. FUNDAÇÃO DA FEB
4.1. A MISSÃO DE BEZERRA DE MENEZES

Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcanti (1831-1900) nasceu na Freguesia do


Riacho do Sangue – Ceará – com a missão precípua de unificar o Espiritismo
nas terras do Cruzeiro.

Para tanto, torna-se presidente da FEB por duas gestões: 1889 e 1895 a
1900.

A sua missão é relatada pelo Espírito Humberto de Campos em Brasil,


Coração do Mundo, Pátria do Evangelho nos seguintes termos: "Descerás às
lutas terrestres com o objetivo de concentrar as nossas energias no país do
Cruzeiro, dirigindo-as para o alvo sagrado dos nossos esforços.
Arregimentarás todos os elementos dispersos, com as dedicações do teu
espírito, a fim de que possamos criar o nosso núcleo de atividades
espirituais, dentro dos elevados propósitos de reforma e regeneração".
(Xavier, 1977, p.179)

4.2. UNIFICAÇÃO DO ESPIRITISMO

Depois que o Grupo Confúcio foi extinto, em 1876, o movimento espírita


entrou numa fase de muita dissidência, pois cada dirigente queria dar
ênfase a um único aspecto da Doutrina Espírita. Assim, uns defendiam
exclusivamente o estudo do Evangelho, outros diziam-se Roustanguistas;
uns arvoraram-se em científicos, outros diziam-se puros. Como
conseqüência, a separação, a desunião, a luta. Foi justamente nesse estado
de coisas que surgiu Bezerra de Menezes, a fim de equilibrar o movimento
espírita, tornando-o forte, coeso e seguro, no sentido de criar condições
para que o Brasil pudesse cumprir a sua missão de fornecedora do
Evangelho ao mundo.

4.3. FUNDAÇÃO DA FEB

Para congregar tantas forças dispersas, o Sr. Elias da Silva reuniu em sua
casa um grupo de dirigentes e fundou, no dia 1º de janeiro de 1884, a
Federação Espírita Brasileira, tendo como primeiro presidente o Sr. Ewerton
Quadros, e como órgão oficial a revista O Reformador ("órgão
evolucionista"), fundada também pelo Sr. Elias da Silva, no dia 21 de
janeiro de 1883. Mesmo assim não foi fácil o trabalho de unificação. Adolfo
Bezerra de Menezes, que começou a sua atuação nestes anos, teve muita
dificuldade para entender os espíritas. (Barbosa, 1987, p. 79 a 82)

5. MOVIMENTO ESPÍRITA NA ATUALIDADE


Cairbar Schutel (1868-1938), cognominado de bandeirante do Espiritismo,
sendo um homem de fibra e de coragem, é colocado como um dos baluartes
do Espiritismo. Dizia que sua tarefa estava limitada à divulgação da missão
kardecista. Assim, inspirado na figura de Paulo de Tarso, empreendeu uma
luta contra os dogmas da Igreja.

Eurípedes Barsanulfo (1880-1918), famoso pelos seus desdobramentos,


contribuiu eficazmente para a causa espírita. Não mediu esforços para a
divulgação do Espiritismo, inclusive com ameaça de morte por parte de seus
adversários.

Francisco Cândido Xavier é, talvez, o mais eminente divulgador da Doutrina


Espírita. Nasceu, no dia 02 de abril de 1910, na cidade de Pedro Leopoldo,
em Minas Gerais. Aos 5 anos de idade, já conversava com o Espírito de sua
mãe (desencarnada). Com mais de 400 livros psicografados (muitos dos
quais, hoje, traduzidos e editados em várias línguas), presume-se que o
autor tenha ficado mais de 11 anos em transe mediúnico. O Espírito
Emmanuel (que já reencarnou como Públio Lêntulus, senador romano da
antigüidade, e como Padre Manoel da Nóbrega), é o seu guia protetor.

Além desses nomes podemos citar J. H. Pires, Yvone A. Pereira, Divaldo


Pereira Franco e outros.

6. CONCLUSÃO
Estamos mundialmente entrelaçados: o que acontece num país, o outro fica
logo sabendo. Muitas vezes descobre-se algo num país, mas é em outro que
vemos o seu desenvolvimento. O Espiritismo é um exemplo prático. Nascido
em França, teve o seu florescimento em nossa pátria. Hoje, não são poucos
os adeptos brasileiros desta doutrina esclarecedora do mundo invisível.

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