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 Recente ganhadora do Urso de Prata de Berlim 2008, "Tropa de Elite",

do diretor brasileiro José Padilha, retrata com extrema crueza e


realismo a relação entre a população das favelas do Rio de Janeiro
e uma polícia militarizada encarregada da chamada "Guerra contra
as Drogas". O filme se situa em 1997, quando se anuncia a visita do
Papa João Paulo II à cidade, e as autoridades políticas exigem à polícia
o controle da situação e evitar qualquer onda de violência durante o
evento.

 Mas a missão encerra a mais alta dificuldade quando se trata de


ingressar em uma espécie de território urbano autônomo -os
morros do Rio-, onde o narcotráfico controla o lugar através de
quadrilhas fortemente armadas e protegidas por uma população que vive
ao ritmo do Ská.

 A polícia carrega com ele estigma da corrupção e da conivência


com a delinquência e os políticos locais. É aqui que aparece a figura
da BOPE, um corpo de polícia militar, autônomo e encarregado das
ações repressivas de força; supostamente incorruptível e com altos
níveis de "eficácia" em ações de força.

 Este é o quadro geral para um filme que conta com três


protagonistas, apesar de ser só um quem conta a história, o Capitão
Nascimento do BOPE, um homem cansado da violência e em busca de
equilíbrio familiar, mas sobrecarregado pelo dever de buscar um
substituto, capaz de suportar a pressão do seu trabalho e não ter
nenhuma categoria de condescendência com os narcotraficantes. Se o
perfil de um "duro" não se encontra facilmente entre os aspirantes a
polícia, então terá que modelá-lo custe o que custar.
 filme é de uma crueza inédita para contar a história de um mundo
onde não há inocentes, sobretudo aqueles jovens burgueses
"idealistas" que tentam fazer trabalho social nas favelas, pois aceitam a
lei do narcotraficante, e, finalmente, são também os principais
compradores de estupefacientes. A polícia que supostamente combate o
crime só evita os excessos e deixa os traficantes controlarem setores
inteiros da cidade em troca de dinheiro e drogas, buscan financiar a
acção policial através de subornos e controlo da famosa lotaria popular
clandestina "El Bicho".

 Mas a suposta polícia incorruptível, a BOPE, não é menos inocente


ao considerar as favelas como uma zona de guerra e buscar ganhá-
la através de ações militares de comando. O filme se constrói através
da vingança e da justificação do Capitão Nascimento pela violência e a
busca de um substituto que possa atuar com ferocidade e frieza neste
meio.

 Com esta obra, Padilha gerou uma importante polêmica no Brasil e


em outras partes do mundo. Foi acusado de fomentar a brutalidade
policial e de uma espécie de justificação fascista da segurança e de um
olhar puramente repressivo da questão da criminalidade. Discordo
completamente deste olhar.

 filme não justifica a violência, mas sim a nua ao tentar entender as


motivações que têm policiais e narcotraficantes para desencadear
uma guerra sem quartel, mas especialmente as explicações que se dá
a sociedade supostamente "bem-pensante" e moralista para justificar sua
guerra às drogas: fonte de proibições, máfias, corrupção, violência
criminal e estadual.

 A mensagem final do filme é clara: que sociedade se constrói


quando se tolera e justifica uma polícia comando que utiliza os
mesmos procedimentos criminosos que tenta combater? O ponto é
que Padilha não tem pêlos na língua para mostrar o mais sórdido desse
mundo policial, mas também dos políticos locais e de uma elite carioca
que joga à solidariedade desde seu mundo dourado, mas que encoraja a
guerra entre policiais e narcotraficantes enquanto consome aquilo que
despreza no discurso.

 A chamada guerra contra as drogas é algo que nunca vai acabar e


muito menos pela força, pois enquanto houver uma demanda que
provenha não só do mundo marginal, mas especialmente da "boa
sociedade", haverá sujeitos dispostos a fornecer o produto por todos os
meios possíveis, gerando um efeito corruptor e criminógeno em todos os
níveis.

 É refrescante ver um filme de policiais que não é preto e branco, ou


seja, onde ninguém é o bom ou o mau, porque na verdade é um banho
de realidade dos que acontece não só no brasil mas em muitos países
da América Latina, nos quais as autoridades dão lucros com grandes
quadrilhas criminosas e quando estas já têm muito poder é muito tarde
para controlá-las, o que gera esse círculo vicioso, chamado corrupção e
delito.

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