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1º Capítulo - Alessandra Rodrigues de Pontes
1º Capítulo - Alessandra Rodrigues de Pontes
SIMPLÍCIO MENDES PI
2021
ALESSANDRA RODRIGUES DE PONTES
SIMPLÍCIO MENDES-PI
2021
1- O CONHECIMENTO E A EXISTÊNCIA DE DEUS SEGUNDO SÃO TOMÁS DE
AQUINO.
Na filosofia tomista, assim como em muitos de seus estudiosos o lugar que Deus
ocupa também de ator principal, como faz parte da tradição ortodoxa do catolicismo,
ainda enquanto criança, somos direcionados aos pensamentos católicos, ora por tradição,
ora até mesmo por conveniência social em suas determinadas épocas. Nascimento
(1992) ressalta que a vida de São Tomás deu-se em torno de responder a questões
relacionadas a existência da divindade, em sua pergunta clássica: “Quem é Deus? ”. “Sua
vida foi dedicada, inteiramente, de ponta a ponta, a responder esta
pergunta”(NASCIMENTO, 1992, p. 60). Em diversas passagens de suas escrituras há
relatos de indagações a cerca dessas respostas.
É por volta desse mesmo período que ele produziu os Comentários às Sentenças
de Pedro Lombardo, também escreveu os opúsculos De ente et essentia e De principiis
naturae, onde São Tomás exibe os princípios metafísicos gerais dos quais o inspiraram
para futuras reflexões (REALE; ANTISERI, 2003). Por volta de 1256 a 1259 ele leciona
em Paris e desenvolve a obra Summa Contra Gentilis (TORREL 1999).
Essa obra em questão é de grande valia para a composição de nosso estudo, uma
vez que faz uma examinação, contextualização e ao mesmo tempo uma crítica a todo um
conjunto de “errantes” contra a fé cristã, sendo eles: pagãos, muçulmanos, judeus e
hereges (TORREL, 1999, p. 123).
As questões nas quais se inserem Deus como centro das discussões nas ciências
filosóficas figuram-se como um ponto delicado, pois entra em total confronto com os
conceitos de verdades na ciência citada, isso por si só já é uma dicotomia que exige um
debate amplo e cuidadoso, pois não é função do filósofo pesquisador apontar ou impor
sua verdade, mas sim levar à reflexão de sua fala para o que entendimento e
conhecimento sejam adquiridos.
Já no que se refere ao ponto de vista cristã , a filosofia não se apresenta mais como
a busca da verdade, porque consideram que esta já foi encontrada e trazida pela própria
palavra de Deus. Nascimento (1986), pontua que São Tomás julga que nos seus
pensamentos não há brusca ruptura entre razão e fé, pois muitas verdades na religião são
tendentes à demonstração racional, pois a fé não contradiz a razão. Todavia entende-se
que a própria consciência da razão sujeita-nos às autoridades dogmáticas e a buscar
entendimentos que muitas vezes perpassam nosso conhecimento.
Na filosofia tomista, para a verdade ser evidente, ela precisa necessariamente ser
inteligente, isso é um marco nos estudos que englobam seus ensinamentos. No que se
refere a existência de Deus, muitos defendem que essa é uma verdade evidente por si
mesma, a despeito disso, Gilson (1960) ressalta:
Nos ditos de Tomás, a proposição “Deus existe” está inserida na primeira das duas
formas, logo Ele é evidente em si mesmo, mas não necessariamente para todos nós. A
existência da divindade aqui é marcada pela concepção de sujeito e predicado, mas
enquanto seres humanos, não é possível que conheçamos a essência de Deus, tal como
ela seria.
Para São Tomás de Aquino, existiam duas verdades das quais se pode partir a
respeito da existência da divindade segundo os conhecimentos humanos, a primeira,
aquelas verdades sobre Deus que a nossa razão natural pode admitir e a segunda,
aquelas verdades que ultrapassam as capacidades naturais da nossa razão. (Suma
contra los gentiles. B.A.C., 1952, 2v). Em ambos os casos é perceptível o contato humano
no entendimento de Deus, para o Frade de Roccassecca, as os seres humanos são
considerados em si mesmos e, partindo deles, é que pode-se chegar a Deus.
“Por isso, conhecemos sua relação com as criaturas, a saber, que é causa
de todas elas, e a diferença das criaturas com relação a Deus, a saber,
que Ele não é nada do que são os seus efeitos” (TOMÁS DE AQUINO.
Suma Teológica I, 12, 12, C).
Em razão da própria existência humana ser imperfeita, tal conhecimento por muitas
vezes pode encontrar diversos empecilhos, e vale ressaltar que tal demonstração da
existência de Deus, no plano da demonstração não deve, por si só, ser encarada como a
única definição da essência de sua existência, é de importante valia pensar nessa
proposição sob o viés da ideologia tomista, pegando como base o ser humano diante de
suas imperfeições. Para Gilson (1995), a existência de Deus no Frade de Roccassecca
passa a ser totalmente natural na medida em que é de domínio da filosofia e assim
igualmente torna-se acessível à todos.
Outro fator importante a esse estudo, diz respeito aos atributos marcados como
sendo pertencentes à divindade na visão tomista com foco no conhecimento humano, no
que se foi dito e pensado a despeito dEle. E dessa maneira ela busca demonstrar o viés
por meio de duas proposições: a primeira parte do princípio de que já que não nos é
permitido o conhecimento de Deus em si mesmo, na sua principal essência, deve-se
considerar aos seus efeitos. Segundo ponto incide em considerar que a causa esta
presente no seu efeito, logo Deus nos deu a certeza de seu caráter infinito. (GILSON,
1995).
Cabe pontuar que devido nossa próxima essência enquanto seres humanos,
somente as coisas sensíveis nos são de forma imediata acessíveis, dessa maneira a
própria existência de Deus necessita ser demonstrada a posteriori, tão somente por meio
dos efeitos que se encontram disponíveis no mundo sensível. É o que postula o próprio
Tomás: “Portanto, deve-se afirmar absolutamente que Deus não é o que por primeiro
conhecemos, mas, antes, que chegamos a conhecê-lo mediante as criaturas”. (TOMÁS
DE AQUINO. Suma Teológica. I, 88, 3, C). Assim, é possível compreender que só se
forma conceitos das coisas cuja suas essências sejam apreensíveis.
São nossos sentidos que dão origem ao nosso conhecimento, “(...) porque todo o
nosso conhecimento se origina a partir dos sentidos” (TOMÁS DE AQUINO. Suma
Teológica I, 1, 9, C). Nesse quesito, entra em ação a concepção da proposição Deus
existe na visão tomista, tomando como base a ideia das coisas que são evidentes por si
mesmas, mas não para nós. “Digo, portanto, que a proposição Deus existe, enquanto tal,
é evidente por si, porque nela o predicado é idêntico ao sujeito” (Tomás de Aquino. Suma
Teológica. I, 2, 1, C).
ANTISERI, Dario; REALE, Giovanni. História da Filosofia (vol. III). 6. ed. São Paulo:
Paulus, 2003.
AQUINO, T. de. Suma contra os Gentios. Trad. D. Odilão Moura e D. Ludgero Jaspers;
revisão Luis Alberto De Boni. Porto Alegre: Escola superior de Teologia São Lourenço de
Brindes, 1990.
TORRELL, J-P. Iniciação a Santo Tomás de Aquino. Sua pessoa e obra. Trad. Luiz
Paulo Rouanet. Ed. Loyola, São Paulo, 1999.
GILSON, Étienne. A Filosofia Na Idade Média. Trad. Eduardo Brandão. São Paulo:
MARTINS FONTES, 1995