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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNINTER

SIDNEI AGUIAR

GERENCIAMENTO INTEGRADO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO LENÇÓIS:


FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA DA CRIAÇÃO E ATUAÇÃO DO COMITÊ
GESTOR DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO LENÇÓIS (CGBH-RL), NO
ÂMBITO DO DIREITO AMBIENTAL BRASILEIRO.

LENÇÓIS PAULISTA

2018
2

SIDNEI AGUIAR

GERENCIAMENTO INTEGRADO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO LENÇÓIS:


FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA DA CRIAÇÃO E ATUAÇÃO DO COMITÊ
GESTOR DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO LENÇÓIS (CGBH-RL), NO
ÂMBITO DO DIREITO AMBIENTAL BRASILEIRO.

Monografia apresentada ao Programa de Pós-


Graduação em Direito Ambiental do Centro
Universitário Uninter, tratando da
fundamentação jurídica da criação e atuação do
Comitê Gestor da Bacia Hidrográfica do rio
Lençóis (CGBH-RL), no âmbito do Direito
Ambiental Brasileiro como requisito parcial à
obtenção do título de especialista em Direito
Ambiental

Orientadora: Prof. Msc. Sonia de Oliveira .

LENÇÓIS PAULISTA

2018
3

SIDNEI AGUIAR

GERENCIAMENTO INTEGRADO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO LENÇÓIS:


FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA DA CRIAÇÃO E ATUAÇÃO DO COMITÊ
GESTOR DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO LENÇÓIS (CGBH-RL), NO
ÂMBITO DO DIREITO AMBIENTAL BRASILEIRO.

Monografia apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Direito Ambiental, do


Centro Universitário Uninter, como requisito parcial à obtenção do título de
especialista em Direito Ambiental.

COMISSÃO EXAMINADORA
4

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho ao Supremo Criador do Universo (YHWH), por me capacitar


para cumprir a missão. Ao grande amor da minha vida, Doutora Ligia Martins por me
incentivar buscar lugares altos e à minha mamãe, Maria Dora.
5

AGRADECIMENTOS

Ao Comitê Gestor da Bacia Hidrográfica do rio Lençóis (CGBH-RL).

Ao Ministério Público do Estado de São Paulo, Promotoria de Justiça do Meio


Ambiente da Comarca de Lençóis Paulista.
6

EPÍGRAFE

“Oh! rio dos Lençóis de águas caudalosas;


Pouso de boiada;
Recanto de tropeiro;
História de um povo;
Lembranças da minha infância;
Saudades de uma época que já se foi;
Monumento de desenvolvimento e riqueza.”
(AGUIAR, Sidney,2014, p. 125)
7

RESUMO

O presente trabalho aborda o gerenciamento integrado e compartilhado de recursos


hídricos envolvendo a interdisciplinaridade do Direito Ambiental Brasileiro com a
gestão dos recursos hídricos implantado entre os anos de 2016 e 2017, expondo sobre
a fundamentação jurídica de instrução, criação e atuação do Comitê Gestor da Bacia
Hidrográfica do rio Lençóis (CGBH-RL), no interior do Estado de São Paulo. Neste
trabalho são descritas as circunstâncias que desencadearam sua criação e atuação e
como estão sendo executadas as soluções com base na legislação ambiental
brasileira para não somente promover mecanismos de controle de sinistros climáticos
de inundações, mas também a recuperação ambiental da bacia hidrográfica do rio
Lençóis. Para tanto, são abordados aspectos empíricos, técnicos e culturais da bacia
hidrográfica do rio Lençóis para entender um pouco dessa dinâmica. A narrativa
apresentada neste trabalho levanta a condição da falta de gestão de recursos hídricos
como o principal agravante que contribuía para a ocorrência de sinistros climáticos de
inundações ao longo dos últimos tempos e como essa realidade está sendo
gerenciada a partir da constituição do Comitê Gestor da Bacia do rio Lençóis com
alguns resultados efetivos na gestão desses acontecimentos.

Palavras-chave: Rio Lençóis. Evento climático. Recursos Hídricos. Direito Ambiental.


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ABSTRACT

The present work deals with the integrated and shared management of water
resources involving the interdisciplinarity of Brazilian Environmental Law with the
management of water resources implemented between 2016 and 2017, exposing on
the legal basis of instruction, creation and performance of the Basin Management
Committee basin Lençóis river (CGBH-RL), in the interior of the State of São Paulo.
This work describes the circumstances that triggered its creation and performance and
how the solutions are being executed based on brazilian environmental legislation to
not only promote mechanisms to control climatic damages from floods but also the
environmental recovery of the Lençóis river basin. Therefore, empirical, technical and
cultural aspects of the Lençóis river basin are approached to understand some of this
dynamics. The narrative presented in this paper raises the condition of the lack of
management of water resources as the main aggravating factor that contributed to the
occurrence of climatic floods in recent times and how this reality has been managed
since the establishment of the Basin Management Committee of the Lençóis river with
some effective results in the management of these events.

Keywords: Lençóis River. Climatic event . Water Resources. Environmental Law.


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LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Imagem 1: Casa de Turbinas da PCH Lençóis...........................................................17

Imagem 2: Capa do Jornal Tribuna Lençoense sobre a inundação de 1975..............18

Imagem 3: Cheia do rio Lençóis no ano de 1975........................................................19

Imagem 4: Cheia do rio Lençóis a montante de Lençóis Paulista, no ano de 2011.….19

Imagem 5: Inundação histórica na cidade de Lençóis Paulista, no ano de 2016.......20


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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

CBH-TJ - Comitê da Bacia Hidrográfica Tietê - Jacaré

CEI - Comissão Especial de Inquérito

CGBH-RL - Comitê Gestor da Bacia Hidrográfica do rio Lençóis

IC - Inquérito Civil

MP - Ministério Público

Nº - Número

Km - Quilômetro

Km2 - Quilômetro quadrado

P. - Página

Pág. - Página

Págs. - Páginas

PCH - Pequena Central Hidrelétrica

PPMCA - Procedimento Padrão de Monitoramento Climático e Ambiental

SAAE - Serviço Autônomo de Água e Esgotos

UGRHI - Unidade de Gerenciamento de Recursos Hídricos


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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 12
1 ASPECTOS TÉCNICOS, HISTÓRICOS E CULTURAIS DA BACIA
HIDROGRÁFICA DO RIO LENÇÓIS ........................................................................ 15
1.1 AS CATÁSTROFES CLIMÁTICAS DE INUNDAÇÕES E SEUS PERÍODOS DE
RETORNOS .............................................................................................................. 18
2 FUNDAMENTOS DA GESTÃO COMPARTILHADA E INTEGRADA DA BACIA
HIDROGRÁFICA DO RIO LENÇÓIS ........................................................................ 24
2.1 FUNDAMENTAÇÕES JURÍDICAS E DOUTRINÁRIAS DA GESTÃO
COMPARTILHADA E INTEGRADA DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO LENÇÓIS
.................................................................................................................................. 24
3 PERÍODOS DE INSTRUÇÃO E CONSTITUIÇÃO DO CGBH-RL ......................... 30
CONCLUSÃO ........................................................................................................... 33
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 37
ANEXOS ................................................................................................................... 39
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INTRODUÇÃO

Considerando o Direito Ambiental como um conjunto de leis e princípios que


disciplinam o cumprimento das regras estabelecidas no âmbito das variantes
ambientais perante o sistema jurídico, o trabalho dos Comitês de bacias hidrográficas,
nada mais representa, que um órgão responsável por disciplinar as regras ambientais
dentro da jurisdição da bacia hidrográfica de abrangência. Analisando que uma bacia
hidrográfica é o conjunto completo do sistema de drenagem fluvial de determinada
localidade, parte de uma mesorregião ou microrregião geopolítica, responsável pela
drenagem de vários cursos d’águas, denominados de microbacias hidrográficas.

Ponderando que a gestão dos recursos hídricos é composta por aspectos


empíricos, técnicos e jurídicos, envolvendo conhecimentos materiais, científicos e
processuais que sempre nortearam o assunto, nesses termos serão explanados em
quais circunstâncias foram estabelecidas as diretrizes da formação do Comitê Gestor
da Bacia Hidrográfica do Rio Lençóis - CGBH-RL e, como está sendo trabalhado a
interdisciplinaridade entre os conceitos técnicos, empíricos e jurídicos no campo do
Direito Ambiental Brasileiro.

A bacia hidrográfica do rio Lençóis localizada no interior do Estado de São


Paulo, sempre apresentou desinteresse por parte das autoridades dos municípios que
a compõem. Pois os tratos de conservação e gestão, que deveriam ser empregados
são fatores que do ponto de vista eleitoral, não alcançam votos.

O abandono da bacia hidrográfica é registrado desde o início dos anos da


década de 1990, e os resultados vistos foram devastadores, elevando o nível de
saturação e comprometimento geral do sistema hidrográfico.

Para mudar essa situação caótica, foi necessário contemplar a gestão da bacia
hidrográfica do rio Lençóis de forma transdisciplinar e compartilhada, abordando não
somente os aspectos técnicos e empíricos, mas também abrangendo um trabalho
jurídico, envolvendo a legalidade do Direito Ambiental Brasileiro na formulação de
regras que fossem capazes de disciplinar assuntos que até então eram conduzidos
de forma não organizada.

Esses episódios se deram, principalmente, pela ineficiência da gestão dos


recursos hídricos e por ausência de dispositivos jurídicos capazes de disciplinar a
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gestão técnica e o uso das águas nessa bacia hidrográfica. Ao longo das décadas,
esses fenômenos climáticos começaram a ganhar grandes proporções devido às
mudanças climáticas ocorridas no âmbito dos macroclimas com reflexos nos
microclimas locais. Com isso, a falta de legislações locais capazes de segurar a
crescente e tendente urbanização do seu entorno, principalmente no município de
Lençóis Paulista contribuíram para as recorrências desses sinistros ambientais.

O município de Lençóis Paulista está localizado no meio da bacia hidrográfica,


tendo a montante os municípios de Agudos e Borebi, que não utilizam-se do rio
Lençóis para nenhum fim de abastecimento ou outra finalidade.

Nesses municípios a instabilidade de terreno é muito grande e, as maiores


influências climáticas de pluviometria ocorrem nesses municípios a montante. Com
isso, não havia nenhum sistema de gestão dos recursos hídricos capaz de trabalhar
de forma integrada e compartilhada todas essas variáveis que pudessem viabilizar um
sistema eficiente de gerenciamento. Quando as medidas de soluções aconteciam
para tentar conter esses eventos, eram adotadas de forma unilaterais e locais e sem
mensurar a totalidade da bacia hidrográfica. A maioria das medidas foram adotadas
apenas pelo município de Lençóis Paulista, enquanto os demais municípios a
montante apenas ignoravam a necessidade de atacar os problemas.

Para tanto, os objetivos fundamentados neste trabalho, será demonstrar que


através da experiência do gerenciamento da bacia hidrográfica de forma integrada e
compartilhada instruindo regras de uso e gestão dos recursos hídricos no âmbito do
Direito Ambiental Brasileiro e, como o gerenciamento coeso de bacias hidrográficas
podem trazer benefícios para a gestão da água e melhoria do meio ambiente.

As justificativas para escolha e abordagem do tema se deu por ser um assunto


de grande relevância contemporânea, uma vez que as ocorrências de sinistros
climáticos envolvendo variáveis ambientais estão cada vez mais frequentes e
violentas e, as consequências podem estar relacionadas em alguns casos às
deficiências de mecanismos técnicos-jurídicos capazes de promover ações
preventivas, preditivas e corretivas.

A questão levantada neste trabalho refere-se de como a ausência de gestão de


recursos hídricos na bacia hidrográfica do rio Lençóis pode ter influenciado nas
ocorrências de sinistros envolvendo inundações ao longo das décadas e, como a
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gestão integrada e compartilhada da bacia hidrográfica pode beneficiar de forma


positiva a interrupção desses ciclos recorrentes de alarmes climáticos.

O presente trabalho é um estudo de caso, que trata diretamente sobre as


formas e circunstâncias que levaram à instrução, composição jurídica e atuação do
Comitê Gestor da Bacia Hidrográfica do rio Lençóis, estabelecido no âmbito do Direito
Ambiental Brasileiro, narrando de maneira detalhada como foi implantado o
gerenciamento integrado e compartilhado da bacia hidrográfica do rio Lençóis,
localizada no interior do Estado de São Paulo.

Para documentar neste trabalho, como é possível instituir uma gestão de


recursos hídricos firme e eficiente, de forma integrada e compartilhada, foi realizado
um estudo de caso, com levantamentos de todos os procedimentos adotados e
documentados através de publicações em periódicos, obras literárias sobre a bacia
do rio Lençóis e pesquisas ainda não publicadas pelo autor, que pesquisa a bacia do
rio Lençóis por mais de quinze anos.

De mesmo modo, este estudo acadêmico pode servir como base de matéria
para promover outros trabalhos no gerenciamento de recursos hídricos, levando em
consideração suas propriedades jurídicas e técnicas amparando a promoção de uma
forma de gestão compartilhada e integrada de bacias hidrográficas, entre municípios,
organizações privadas e instituições do terceiro setor.
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1 ASPECTOS TÉCNICOS, HISTÓRICOS E CULTURAIS DA BACIA


HIDROGRÁFICA DO RIO LENÇÓIS

Para descrever o presente trabalho abordando a instrução, criação e atuação


do CGBH-RL na gestão integrada, compartilhada e local da tutela da bacia
hidrográfica do rio Lençóis, foi-se essencialmente necessário conhecer além dos
aspectos jurídicos, todas as caraterísticas técnicas, históricas e culturais das
localidades que compõem a bacia hidrográfica como fatores de base para o
desenvolvimento dos métodos de ação.

Conhecer os aspectos culturais, históricos e técnicos de determinados


assuntos, leva o pesquisador a conhecer com maior profundidade as causas das
problemáticas analisadas e delinear as soluções peculiares que podem ser propostas
para solucionar ou amenizar as situações hipotéticas. Muitas das situações de
distúrbios climáticos, estão relacionadas aos fatores socioculturais das localidades
que precisam ser investigadas.

A bacia hidrográfica do rio Lençóis está localizada em uma das regiões mais
industrializadas do Estado de São Paulo, conhecida como o eixo caipira do
agronegócio, composta por grandes empreendimentos industriais dos ramos:
sucroenergético, madeireiro, celulose, petroquímico, cervejeiro, alimentos e papel.

Segundo Sidney Aguiar, a bacia hidrográfica do rio Lençóis está localizada no


interior do Estado de São Paulo na circunscrição dos municípios de Agudos, Borebi,
Lençóis Paulista, Macatuba, Areiópolis, São Manuel e Igaraçu do Tietê. A bacia do
rio Lençóis faz parte da décima terceira Unidade de Gerenciamento de Recursos
Hídricos (UGRHI), do Estado de São Paulo (2014, p.1).

Conforme o SERVIÇO AUTONÔMO DE ÁGUA E ESGOTOS (SAAE), de


Lençóis Paulista (2012), a bacia hidrográfica do rio Lençóis está circunscrita em uma
área total de novecentos e quarenta e dois quilômetros quadrados.

De acordo com Sidney Aguiar, o rio Lençóis é uma unidade hídrica estadual,
tributário primário do rio Tietê pela margem esquerda, que percorre ou serve como
limite territorial para seis municípios da região centro-oeste paulista, a saber: Agudos,
Borebi, Lençóis Paulista, Macatuba e Areiópolis e Igaraçu do Tietê, tendo sua foz entre
os municípios de Macatuba e Igaraçu do Tietê, como oitenta quilômetros de extensão
16

(2014, p.3) Segundo informações do SERVIÇO AUTONÔMO DE ÁGUA E ESGOTOS


(SAAE), de Lençóis Paulista, ainda hoje, o manancial é a principal fonte de
abastecimento público de água potável representando cerca de 45% de todo volume
consumido pela cidade de Lençóis Paulista (2017).

As caraterísticas geológicas da bacia do rio Lençóis exercem grande


importância e merecem grande atenção na compreensão das manifestações de
sinistros envolvendo inundações ao longo das décadas.

Algumas peculiaridades chamam a atenção dessa importante bacia


hidrográfica do interior paulista, tanto nos aspectos geológicos, quanto nos aspectos
físico-químicos de suas águas, sendo o rio Lençóis um dos raros corpos d’águas que
possuem uma geologia fora dos padrões convencionais de configuração de bacias
hidrográficas. Enquanto a maioria dos rios intracontinentais tem seu trajeto do oriente
para o ocidente (do leste para o oeste), o rio Lençóis faz o caminho inverso entre suas
nascentes no município de Agudos e sua foz no rio Tietê entre os municípios de
Macatuba e Igaraçu do Tietê. Além disso, o rio Lençóis é dos dois rios brasileiros
conhecidos, que possui densidade diferente do seu receptor, no caso, o rio Tietê.
Durante cerca de quatro quilômetros, as águas dos rios Lençóis e Tietê não se
misturam, mesmo o rio Lençóis sendo muitas vezes menor em volume.

De acordo com Sidney Aguiar, a bacia hidrográfica guarda histórias de conflitos


políticos registrados ao longo de mais um século e meio. O nome do município de
Lençóis Paulista se originou em referência ao nome do rio chamado de água dos
Lençóes1, conhecido na metade do século XIX pela grande quantidade de espumas
brancas formadas pela concentração de minerais até hoje presentes nas águas.
Nessa época, era muito comum as terras serem demarcadas tendo os rios como
referências. Assim, o pequeno vilarejo localizado nas margens das “Águas dos
Lenções” ficou conhecido como “Villa dos Lenções2” Na final da linear do rio Lençóis,
no município de Macatuba, está instalada a segunda Usina Hidrelétrica mais antiga
do Brasil, operada desde 1917. A PCH Lençóis com carga elétrica de
aproximadamente dois megawatts, usa as águas do rio Lençóis para a geração
elétrica, que alimenta o sistema elétrico nacional (2014, p. 6 e 7).

1 Denominação antiga do rio Lençóis.


2 Antiga denominação do município paulista de Lençóis Paulista.
17

A usina hidrelétrica Lençóis é considerada moderna, com equipamentos de


última geração, operada via satélite através de uma central de operações na
cidade de Campinas-SP. Atualmente, mantém as duas turbinas, mas com
capacidade maior de geração podendo abastecer uma cidade de vinte mil
habitantes (Sidney Aguiar, p.90, 2014).

Imagem 1: Casa de Turbinas da PCH Lençóis


Fonte: Arquivo Pessoal
Além de estar em plena atividade de produção de energia elétrica, a PCH
Lençóis é um importante arquivo de estudo para entender as problemáticas de
inundações, uma vez que as cotas topográficas da linha do rio apresentam pouco
desnível. Não que barramentos de hidrelétricas sejam as causas de inundações, mas
em via de regra todo rio que apresenta barramento possui riscos de inundações, caso
não haja procedimentos de transposição de volumes da seguinte maneira:

Artigo 5º Inclui-se no procedimento de mitigação hídrica, descrito no Artigo


4º, o reservatório da Pequena Central Hidroelétrica Lençóis, localizada no
município de Macatuba com monitoramento da vazante do vertedouro
principal, com obrigação de comunicação frequente aos municípios
localizados a montante da referida PCH.
§ 1º Deverá o responsável da PCH Lençóis, disponibilizar meio de
comunicação durante 24 (vinte e quatro) horas por dia, com os Órgãos de
Defesa Civil dos municípios a montante da PCH e que integram este Comitê,
a fim de que seja comunicada a necessidade de intervenção operacional, em
situação de sinistro e/ou emergência.
§ 2º O rebaixamento do reservatório da PCH Lençóis somente deverá sofrer
redução de volume, em caso de comunicação de necessidade de abertura de
comportas para aliviar o volume a montante.
18

Dessa forma, é necessário que haja um sistema disciplinar que regulamente


eventuais transposições de volumes em situações críticas. E foi justamente isso, que
foi previsto nos itens acima da Resolução-CGBH-RL 01/2017.

1.1 AS CATÁSTROFES CLIMÁTICAS DE INUNDAÇÕES E SEUS PERÍODOS DE


RETORNOS

Segundo RIGHETO, “período de retorno (T) é o período de tempo médio que


um determinado evento hidrológico é igualado ou superado pelo menos uma vez. “É
um parâmetro fundamental para a avaliação e projeto de sistemas hídricos, como
reservatórios, canais, vertedores, bueiros, galerias de águas pluviais, etc” (1998).

De acordo com Sidney Aguiar, as inundações registradas na bacia do rio


Lençóis são consequências diretas de ações antrópicas e alterações climáticas ao
longo das décadas. O primeiro registro de uma grande inundação na bacia é datado
da década de 1940 (p. 65-84).

Imagem 2: Capa do Jornal Tribuna Lençoense sobre a inundação de 1975


Fonte: Acervo do Espaço Cultural “Cidade do Livro” de Lençóis Paulista
Em 1975, a bacia do rio Lençóis sofreu sua pior cheia até então e,
consequentemente, vários registros de inundações com danos severos na estrutura
dos municípios da bacia hidrográfica. Na década de 1990 foi registrado apenas uma
situação de inundação e nos anos 2000, o tempo de recorrência desses fenômenos
passaram a ter intermitência de cinco anos para sinistros de grandes proporções que
atingem toda a bacia hidrográfica e de dois anos para sinistros de proporções médias
que atingem apenas o município de Lençóis Paulista.
19

Imagem 3: Cheia do rio Lençóis no ano de 1975


Fonte: Acervo do Espaço Cultural “Cidade do Livro” de Lençóis Paulista
Segundo estudos do autor, realizados sobre os períodos de retornos, partir de
2006, com a diminuição do tempo de recorrência das inundações a cada ciclo de cinco
anos, a bacia hidrográfica do rio Lençóis, são resultados da falta de investimentos
capazes de suportar esses fenômenos climáticos violentos. O evento climático de
2011 foi o sinal que o sistema hidrográfico estava à beira da falência, sendo
confirmado com o evento devastador seguinte, do ano de 2016.

Imagem 4: Cheia do rio Lençóis a montante de Lençóis Paulista, no ano de 2011


Fonte: Acervo pessoal de Evandro Dalben e José Lenci Neto
20

As inundações históricas ocorridas em janeiro de 2016 ao longo da bacia


hidrográfica, que deixou a cidade de Lençóis Paulista parcialmente destruída, tiveram
suas origens nos municípios localizados a montante, em Borebi e Agudos. Nessa
época, muitas barragens de água estouraram e causaram um strike3 hídrico no rio
Lençóis, agravando as situações de calamidade.

Imagem 5: Inundação histórica na cidade de Lençóis Paulista, no ano de 2016


Fonte: Acervo pessoal de José Lenci Neto
A redução do tempo de recorrência de eventos climáticos de inundações estava
ligada à falta de planejamento e gerenciamento integrando todos os municípios da
bacia hidrográfica em diferentes representações da sociedade. Assim sendo, que foi
proposto e juntado aos autos do inquérito civil a proposta de estabelecer um
gerenciamento integrado da bacia do rio Lençóis, envolvendo todos os municípios da
bacia hidrográfica do rio Lençóis em um colegiado com representações dos poderes
públicos, empresas e organizações de classes.

Conforme citado anteriormente, além das influências climáticas e antrópicas,


essas ocorrências de sinistros de inundações eram resultados diretos da falta de
políticas públicas de gestão de recursos hídricos integradas e compartilhadas.

Os fatores partidários sempre prevaleceram sobre os fatores legais e técnicos


no gerenciamento da bacia do rio Lençóis, por isso as questões não eram atacadas
de forma firme e pontual. A partir das atuações do CGBH-RL na tutela legal da bacia
hidrográfica, as questões são geridas de forma jurídica e técnica sendo debatidas por

3 Palavra inglesa, que traduzido para o português, significa atacar algo a frente.
21

um Conselho Técnico. Mesmo o Comitê Gestor tendo representações partidárias e


sendo presidido por políticos, o CGBH-RL exerce um papel técnico e fundamentado
nas legislações ambientais brasileiras. É esse desempenho que será tratado neste
trabalho, descrevendo como foi fundamentado juridicamente suas composições até a
obtenção dos resultados práticos de gestão compartilhada da bacia hidrográfica do rio
Lençóis.

A diminuição do tempo de recorrência dos eventos climáticos de inundações


na bacia do rio Lençóis de dez para cinco e dois anos, indicava para uma nítida
deficiência de gestão dos recursos hídricos na área da bacia hidrográfica. Em 2006,
2011 e 2016 foram registrados sinistros de inundações de grandes proporções que
ultrapassaram recordes anteriores anotados da década de 1940 e 1970.

A falta de convergência entre os poderes públicos e os demais entes da


sociedade em um tratado legal que permitisse desenvolver métodos de colaboração
mútua foram os principais combustíveis para essa sequência de eventos de
calamidades ambientais registradas. As ações que deveriam ser apresentadas de
forma integrada, eram realizadas de formas individuais e não obstante, eram medidas
puramente superficiais. Veja-se a questão de rompimento de barragens de águas, que
deveriam ser ordenadas no âmbito da bacia hidrográfica de modo compartilhado, mas
apenas foram tomadas algumas providencias que não resolveram o problema, pois
foram tomadas de forma isoladas.

O que mais atrapalhava a gestão da bacia do rio Lençóis, era a falta de


iniciativas capazes de promover uma convergência multissetorial de todos os
municípios da bacia hidrográfica em um projeto que fosse capaz de dar agilidade,
identidade e resultados às demandas e necessidades regionais da bacia do rio
Lençóis.

Os comportamentos individualistas nas questões de interesse público,


envolvendo variáveis como a de gestão da água, eram terrivelmente maléficos a
qualquer expectativa de melhoramento das condições ambientais.

Em se tratando da bacia do rio Lençóis, onde já existe uma tendência cultural


e histórica, desde a metade do século XIX, com todas aquelas desavenças políticas e
culturais registradas, seria algo quase impossível reunir todos no compartilhamento
da tutela legal da bacia hidrográfica.
22

Os trabalhos de gestão até o evento climático de 2016 eram isolados e sem


abordagens precisas das questões relativas ao gerenciamento hídrico da bacia do rio
Lençóis. A falta de mobilidade gerencial integrada na gestão da bacia hidrográfica não
obedecia nenhum critério técnico ou jurídico e, ainda observava-se algumas
ingerências no trato do dever público com as questões dos recursos hídricos.

A falta de conhecimento preciso dos aspectos técnicos e jurídicos sobre as


questões dos recursos hídricos eram absolutamente nítidas e, expostas
explicitamente nas condições locais dos sistemas hidráulicos da bacia hidrográfica
como um todo.

Culturalmente, seguindo a tradição das superficialidades presentes nos


sistemas hídricos no âmbito do Brasil, a bacia do rio Lençóis apresentava nítidos sinais
de deterioração e muito próximo de seus limites hidrogeobiológicos, causando assim,
uma limitação nas condições de absorção de extremidades em eventos de cheias. Os
mananciais nunca foram tratados como parte de um sistema equilibrado, que
poderiam influenciar a economia, aos aspectos sociais e culturais dos municípios. Ao
contrário, eram sempre vistos como, um custo, uma ameaça e um empecilho
conflitante com os interesses do agronegócio intensivo.

Observando de forma lógica e posteriormente documentadas em uma curva de


permanência numérica, os períodos de retornos das grandes influências climáticas na
bacia hidrográfica, ocorrem de forma violenta a cada ciclo de cinco anos e de forma
média a cada ciclo de dois anos a partir do período maior. Nessas épocas acontecem
grandes índices pluviométricos incapazes de serem absorvidos naturalmente em curto
espaço de tempo pelo sistema hídrico da bacia do rio Lençóis.

Sabendo disso, sempre houve um completo desconhecimento das medidas


que deveriam ser tomadas e não foram tomadas, tanto pelo poder público e também
por algumas empresas que utilizam-se da agricultura intensiva na região.

Ao longo desses períodos, observou-se que dezenas de barragens de águas


construídas de modo não conforme aos conceitos técnicos e legais, agravavam ainda
mais essas situações críticas da bacia hidrográfica do rio Lençóis em períodos de alta
pluviosidade. Essa recorrente inércia dos poderes públicos ocultava ainda mais uma
situação que a qualquer momento viria ser revelada de forma grave. E foi exatamente
o que ocorreu em janeiro de 2016, a falta de planejamento, atitude e convergência
23

corroboraram para a pior catástrofe climática da história de Lençóis Paulista. Em uma


análise mais crítica sobre esses eventos de inundações, tem-se evidencias que, o
lado político-partidário de não tomar as devidas providencias ao menos na tentativa
de reduzir ou amenizar esses eventos prevaleceu sobre os conceitos técnicos e
legais.

A bacia hidrográfica do rio Lençóis sempre foi integrante do Comitê de Bacia


Hidrográfica Tietê-Jacaré (CBH-TJ), responsável pela gestão dos recursos hídricos de
trinta e quatro municípios, circunscritos em uma área de abrangência de 11.779km 2.

No entanto, com o evento da inundação histórica ocorrida em janeiro de 2016,


em todos os municípios da bacia do rio Lençóis, o CBH-TJ, não deu assistência ao
evento e tão pouco se preocupou com as condições devastadoras em que ficaram
toda a bacia do rio Lençóis. Com esse descaso do CBH-JT sobre a bacia do rio
Lençóis, a única alternativa para superar a pior tragédia ambiental de todos os tempos,
foi a organização de um sistema de gerenciamento de bacia hidrográfica capaz de
reunir todos ou a maior parte dos municípios da bacia do rio Lençóis para discutir suas
próprias demandas e necessidades, formando assim, o Comitê Gestor da Bacia
Hidrográfica do rio Lençóis - CGBH-RL.

A única forma de dar fim ou amenizar o cíclico fator de recorrências dessas


inundações na bacia do rio Lençóis estava na composição de um instrumento jurídico
capaz de gerir de forma integrada o passivo ambiental deixado pela inundação e
promover, de forma centrada um novo período de medidas capazes de instituir novos
métodos de gestão dos recursos hídricos, através de um gerenciamento não partidário
e coeso aos fundamentos técnicos e jurídicos. Dessa forma, começou-se a trabalhar
a construção de um órgão capaz de transferir a tutela da bacia hidrográfica para sua
responsabilidade.
24

2 FUNDAMENTOS DA GESTÃO COMPARTILHADA E INTEGRADA DA BACIA


HIDROGRÁFICA DO RIO LENÇÓIS

Neste capítulo será apresentado como foi instruído o processo de organização


jurídica e como é a atuação do mais novo Comitê de Bacias Hidrográficas do Estado
de São Paulo, constituído a partir de uma necessidade regional logo após a ocorrência
do mais devastador desastre natural ocorrido na região de Lençóis Paulista por
inundação, que deixou grandes prejuízos sociais, ambientais e econômicos para a
localidade.

2.1 FUNDAMENTAÇÕES JURÍDICAS E DOUTRINÁRIAS DA GESTÃO


COMPARTILHADA E INTEGRADA DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO LENÇÓIS

Os princípios jurídicos empregados na instrução, e formalização do


gerenciamento integrado e compartilhado da bacia hidrográfica do rio Lençóis são
pautados em legislações específicas, atos disciplinares fundamentados pela
Constituição Federal do Brasil de 1988, em seu artigo 225, Lei Federal nº 9.433 de 8
de janeiro de 1997, que Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, e o Sistema
Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, Lei Estadual do Estado de São
Paulo nº 7.663 de dezembro de 1991, que estabelece a Política Estadual de Recursos
Hídricos e o Sistema Integrado de Gerenciamento de Recursos Hídricos e no caso
específico do CGBH-RL, o Decreto Executivo do município paulista de Agudos nº
5.814 de 28 de abril de 2016 (anexo 2), de criação do Comitê Gestor da Bacia
Hidrográfica do Rio Lençóis (CGBH-RL).

Umas das fundamentações legais para garantir que a gestão dos recursos
hídricos seja democrática, descentralizada e participativa está no Artigo 1º, item VI da
Lei 9.433/97. Com efeito neste trabalho, será discutida a ocorrência de sinistros
climáticos envolvendo históricos de inundações, que desde a década de 1940 atingem
a bacia hidrográfica do rio Lençóis, localizada no interior do Estado de São Paulo e,
como esses eventos influenciaram o início da gestão compartilhada e integrada da
bacia do rio Lençóis através do CGBH-RL.

Conforme LEANDRO EUSTAQUIO (2006), o Direito Ambiental é uma ciência


holística que estabelece relações com outras ciências como: Engenharia, Biologia,
Geologia, Ciências Sociais e outras áreas das ciências da natureza. Assim, os fatores
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jurídicos relativos o Direito Ambiental, estão inseridos na contextualidade das


variáveis de gestão do meio ambiente.

Por se tratar de um assunto transdisciplinar, abordando as variáveis do Direito


Ambiental Brasileiro correlacionadas às variáveis de Gestão Ambiental, torna-se
necessário conhecer um pouco dos aspectos culturais, técnicos e históricos de uma
bacia hidrográfica considerada muito complexa e instável, como é o caso da bacia
hidrográfica do rio Lençóis.

Após a catástrofe climática de 2016, que destruiu parte da cidade de Lençóis


Paulista, deixando todo centro antigo debaixo d’água, o Ministério Público Estadual
entrou no caso abrindo dois inquéritos civis para apurar as eventuais
responsabilidades. Assim, a questão passou a ter caráter jurídico dentro do Direito
Ambiental Brasileiro.

Além do Inquérito Civil nº 14.0321.0000014-2016-1, instaurado para apurar as


possíveis responsabilidades sobre o ocorrido (anexo 1), foi instaurado outro Inquérito
Civil sob nº 14.0321.0000065/2016-1 para apurar eventuais práticas de crimes
ambientais, baseando-se na Lei 9.605/98, uma vez que o ocorrido havia acontecido
em período de defeso da ictiofauna (relativo à fauna de peixes), no período da noite e
apresentando indícios de danos ambientais na estrutura física do rio Lençóis, além de
ter havido rompimento de dezesseis reservatórios artificiais de água na circunscrição
da bacia.

Além dos inquéritos civis instaurados pelo Ministério Público Estadual, a


Câmara Municipal de Lençóis Paulista instaurou uma Comissão Especial de Inquérito
(CEI), para apurar eventuais responsabilidades na ocorrência do sinistro no âmbito da
atuação da Defesa Civil do município de Lençóis Paulista.

Nas audiências com os representantes do Ministério Público Estadual, chegou-


se à conclusão que havia somente uma alternativa para atacar essas problemáticas,
que estavam cada vez mais frequentes em seus períodos de retornos e disciplinar de
acordo com as legislações ambientais brasileiras o uso e conservação da bacia do rio
Lençóis.

Dessa forma, a solução encontrada foi a configuração de um sistema de


gerenciamento integrado e compartilhado, envolvendo os sete municípios da bacia
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hidrográfica, com diretrizes jurídicas capazes de promover uma gestão eficiente e


apropriada em promover o aumento do período de retorno dessas inundações ou até
a possibilidade de amenizar seus efeitos.

Assim, baseando-se ainda nos princípios jurídicos previstos em Leis Estaduais


e Federais, foi criado por meio de um Decreto do Município paulista de Agudos, o
Comitê Gestor da Bacia Hidrográfica do rio Lençóis (CGBH-RL), que ficaria sendo o
responsável legal pela tutela da bacia hidrográfica, como um órgão regional colegiado,
de caráter consultivo e deliberativo.

Para sustentar a concepção jurídica do gerenciamento integrado da bacia do


rio Lençóis, cita-se o Decreto de criação do CGBH-RL, nº 5.814 de 28 de abril de 2016
instituído pelo município paulista de Agudos, reconhecido e acolhido aos autos dos
inquéritos promovidos pelo Ministério Público do Estado de São Paulo, através da
Promotoria de Justiça do Meio Ambiente da Comarca de Lençóis Paulista.

Fundamentando-se juridicamente em preceitos do Direito Ambiental Brasileiro,


sob a ótica doutrinaria de Paulo L. A. Machado4 (2012, p. 509-512), os Comitês de
Bacias Hidrográficas possuem legitimidades de atuação como órgãos de gestão de
recursos hídricos no âmbito dos interesses locais e regionais abordando as devidas
variáveis técnicas.

Mesmo tendo uma contextualização legal prevista na Constituição Federal de


1988 e, repetidamente citadas em todas as legislações ambientais brasileiras, o
conceito de trabalho local (nos municípios), parece muito distante da realidade. Esse
conceito de trabalhos locais nos fazem refletir sobre a importância de que são através
dos conhecimentos pontuais sobre as questões dos recursos hídricos, que estão
intimamente ligados às nossas rotinas diárias, que nos fazem encontrar as soluções
específicas aos problemas regionais.

4Professor na Universidade Metodista de Piracicaba ( UNIMEP) – Piracicaba – SP; Professor


Convidado na Universidade do Quebec em Montreal, Canadá (1994); Professor Convidado na
Universidade da Córsega, França (2001); Professor Convidado na Faculdade de Direito e Ciências
Econômicas da Universidade de Limoges, França (1986-2003); Professor Convidado na Universidade
de Lyon III, França (2003); Professor Convidado na Universidade Internacional de Andalucia (Espanha),
2004; Professor na Universidade Estadual Paulista (UNESP) -IB- Rio Claro - SP 1980– 2004; 17.
Professor Convidado na Universidade Milano-Bicocca, Itália (2007). Autor dos livros Direito Ambiental
Brasileiro (14ª ed.); Recursos Hídricos – direito brasileiro e internacional; Direito à Informação e Meio
Ambiente. Prêmio Internacional de Direito Elizabeth Haub (1985).
27

Ainda nessa mesma linha de observação as citações legais do Direito


Ambiental Brasileiro sobre as responsabilidades individuais dos municípios na gestão
dos recursos hídricos, podemos incluir as parcerias multissetoriais da própria
localidade. Cabe estritamente aos municípios, a gestão prática dos recursos hídricos
de acordo com suas caraterísticas e conhecimentos, pois são nos municípios através
de suas peculiaridades que se obtêm em muitos casos os melhores resultados.

Na Constituição Federal de 1988, a imputação de conservação do meio


ambiente é estendida não só ao poder público, mas também aos demais entes da
sociedade (coletividade), como fundamento do equilíbrio sustentável.

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,


bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-
se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo
para as presentes e futuras gerações.
A legitimidade dos municípios da bacia do rio Lençóis se organizarem e, propor
dentre os membros soluções para a própria localidade está fundamentada no conceito
jurídico de que são nos municípios que as políticas acontecem.

A Lei Federal nº 9.433/97, que estabelece a Política Nacional de Recursos


Hídricos é bem incisiva quanto à essa necessidade de integração das políticas de
recursos hídricos no âmbito dos municípios:

Art. 31. Na implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos, os


Poderes Executivos do Distrito Federal e dos municípios promoverão a
integração das políticas locais de saneamento básico, de uso, ocupação e
conservação do solo e de meio ambiente com as políticas federal e estaduais
de recursos hídricos.
Art. 38. Compete aos Comitês de Bacia Hidrográfica, no âmbito de sua área
de atuação:
I - promover o debate das questões relacionadas a recursos hídricos e
articular a atuação das entidades intervenientes;
II - arbitrar, em primeira instância administrativa, os conflitos relacionados aos
recursos hídricos;
III - aprovar o Plano de Recursos Hídricos da bacia;
IV - acompanhar a execução do Plano de Recursos Hídricos da bacia e
sugerir as providências necessárias ao cumprimento de suas metas;

A fundamentação legal para criação do Comitê Gestor da Bacia Hidrográfica


do rio Lençóis (CGBH-RL), foi originada com base na Lei Estadual de Recursos
Hídricos do Estado de São Paulo, nº 7.663 de 30 de dezembro de 1991, que
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estabelece as normas de orientação à Política Estadual de Recursos Hídricos bem


como ao Sistema Integrado de Gerenciamento de Recursos Hídricos do Estado de
São Paulo. Através dessa Lei, foi possível zonear por regiões as principais
Unidades de Gerenciamento de Recursos Hídricos do Estado de São Paulo. No
entanto, essas unidades ficaram muito concentradas em muitos municípios, como
é o caso dos municípios da bacia do rio Lençóis estando inserida em um contexto
amplo e com pouco controle de gerenciamento. Como consequências dessa
superconcentração em macroescalas, algumas bacias hidrográficas ficam
desassistidas e vulneráveis em eventos climáticos de grandes proporções, como
ocorreu em 2016 na bacia do rio Lençóis.

É recomendado que os municípios pertencentes às determinadas bacias


hidrográficas críticas possam se reunir em subcomitês de gestão para trabalhar as
suas particularidades e demandas regionais.

A previsão legal desse pressuposto, encontramos no Artigo 4º e 26 da


referida Lei Estadual de Recursos Hídricos do Estado de São Paulo, nº 7.663/91:

Art. 4º § 3º - O Estado incentivará a formação de consórcios entre os


municípios tendo em vista a realização de programas de desenvolvimento e
de proteção ambiental, de âmbito regional.
Art. 26 - Aos Comitês de Bacias Hidrográficas, órgão consultivos e
deliberativos de nível regional, competem:
I - aprovar a proposta da bacia hidrográfica, para integrar o Plano Estadual
de Recursos Hídricos e suas atualizações;
II - aprovar a proposta de programas anuais e plurianuais de aplicação de
recursos financeiros em serviços e obras de interesse para o gerenciamento
dos recursos hídricos em particular os referidos no Artigo 4.º desta Lei,
quando relacionados com recursos hídricos;
III - aprovar a proposta do plano de utilização, conservação, proteção e
recuperação dos recursos hídricos da bacia hidrográfica, em especial o
enquadramento dos corpos d’água em classes de uso preponderantes, com
o apoio de audiências públicas.

Estando juridicamente fundamentado, os trâmites legais que colocariam o


CGBH-RL apto para exercer seu papel de gestão da tutela da bacia hidrográfica do
rio Lençóis, passariam para a fase final do processo de constituição, através da
Assembleia Geral que definiu seus representantes e aprovou das disposições
estatutárias. Observando os dispositivos legais do Direito Ambiental Brasileiro e
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aplicando-os nas normativas de trabalhos do CGBH-RL, podemos observar que a


condução da tutela da bacia hidrográfica do rio Lençóis obedece não somente critérios
técnicos, mas também critérios de valores jurídicos.

Na concepção doutrinária do Direito Ambiental Brasileiro de PAULO L. A.


MACHADO, em: “Os Comitês de Bacias Hidrográficas e Contrato de Gestão”, o
doutrinador atribui aos Comitês de Bacias Hidrográficas autoridade de disciplinar (por
resoluções), a gestão dos recursos hídricos sob sua jurisdição. Para FERNANDES,
N.Jeferson (2010), além do assunto ser pouco explorado pela doutrina jurídica
brasileira, há uma transdisciplinaridade dos Comitês de Bacias Hidrográficas com
base no Direito Ambiental Brasileiro além das variáveis de Gestão Ambiental:

“Com o advento da Lei 9.433/97, surgiu uma nova forma de gerenciamento


dos recursos hídricos, que são os Comitês de Bacia Hidrográfica, no qual se
efetivou um princípio basilar do direito ambiental, que é o da participação,
pois apesar dos recursos hídricos terem uma política própria, não quer dizer
que os princípios e normas ambientais não sejam aplicados, pois a água é
um elemento do ambiente.” (sic5)
Os apontamentos do doutrinador nos levam a uma reflexão profunda do estilo
de abordagem que deve ser tratado a gestão compartilhada dos recursos hídricos por
meio dos Comitês de bacias hidrográficas.

5COMITÊ DE BACIA HIDROGRÁFICA: UM ORGANISMO TRANSDISCIPLINAR NO


GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS. Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro
Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010.
30

3 PERÍODOS DE INSTRUÇÃO E CONSTITUIÇÃO DO CGBH-RL

Considerando o período de instrução como a fase preparatória e mais crítica


que antecedeu a constituição do CGBH-RL, através de ações coordenadas entre o
poder judiciário, executivo, comunitário e empresarial, sendo nessa fase que
começaram as negociações para que tornasse possível o início dos trabalhos de
compartilhamento das responsabilidades da tutela da bacia hidrográfica.

Após convencido ser a única alternativa não experimentada, o Ministério


Público Estadual, através da Promotoria de Justiça do meio ambiente da Comarca de
Lençóis Paulista apoiou e anexou nos autos dos inquéritos civis o projeto de instrução
e configuração do CGBH-RL, que juntamente com outras empresas da região, como,
Ambev, Grupo Lwart, Grupo Frigol, Lutepel e Duratex apoiaram a iniciativa. No dia 28
de abril de 2016, o então prefeito do município de Agudos, criou o Comitê Gestor da
Bacia Hidrográfica do rio Lençóis (CGBH-RL), por meio do Decreto Municipal nº
5.814/2016 (anexo2), conforme reportagem do Jornal da Cidade de Bauru:

Com objetivo de gerenciar o passivo ambiental deixado pela enchente de


janeiro e evitar que o problema volte a ocorrer, sete municípios se uniram
para formar o Comitê Gestor da Bacia Hidrográfica do Rio Lençóis, ficou
oficialmente criado por meio de decreto assinado pelo prefeito de Agudos . O
Comitê será órgão intermunicipal consultivo e representativo, que, entre
outras finalidades, deverá gerenciar o passivo ambiental deixado pelas
inundações que atingiram diversos municípios da bacia hidrográfica e,
principalmente, Lençóis Paulista, onde foi registrada enchente histórica. O
decreto e cópia do estatuto do Comitê serão enviados ao Ministério Público
(MP) e à Secretaria de Estado do Meio Ambiente para eventuais trabalhos
em conjunto no gerenciamento de interesses da bacia do Rio Lençóis e
possíveis financiamentos de projetos de conservação ambiental (Jornal da
Cidade de Bauru, edição de 5 de maio de 2016, p.14).

As chances de ocorrer uma aceitação do projeto por todos os municípios eram


muito baixas, a não ser, se houvesse uma imposição do Ministério Público em reunir
os municípios e passar a tutela de forma compulsória a todos.

Historicamente como narra Sidney Aguiar (2014, p. 6 e 7), sobre os antigos


conflitos políticos entre os municípios de Agudos e Lençóis Paulista, que culminaram
na separação do nome do rio Lençóis, o Decreto que criou o Comitê Gestor causou
certo embaraço com as autoridades municipais de Lençóis Paulista, na época.

Esse aspecto cultural de rivalidade ainda presente de forma oculta nas


relações dos dois municípios favoreceu certa restrição na configuração do modelo de
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gestão integrada e compartilhada da bacia hidrográfica. As manifestações contrárias


ao ato de criação não foram bem aceita pelas autoridades de Lençóis Paulista, não
dando importância, na época, ao grande intuito de gerenciar de forma integrada a
precária bacia do rio Lençóis.

Diante dessa eminente possibilidade de fracasso, começaram as negociações


para iniciar a tramitação da criação de um Comitê que teria a finalidade de gerenciar
e assumir a responsabilidade legal pelo gerenciamento integrado e compartilhado da
bacia hidrográfica do rio Lençóis.

O primeiro passo, foi reunir representantes de alguns setores de alguns


municípios da bacia hidrográfica para uma reunião com o então Prefeito do município
de Agudos, no ano de 2016 para tratar da criação do Comitê.

Nas primeiras reuniões com os representantes do Ministério Público Estadual


e os representantes dos municípios da bacia, o município de Agudos ficou
encarregado de decretar a criação do Comitê, por ser o primeiro município da linha de
sucessão da bacia hidrográfica, sendo o local das nascentes do rio Lençóis, conforme
reportagem do Jornal da Cidade de Bauru, edição de 7 de abril de 2016, p. 19:

(...) A proposta em discussão prevê criação do Comitê Gestor da Bacia do


Rio Lençóis. Por ser a primeira cidade da linha de sucessão da bacia e abrigar
as nascentes do Rio Lençóis, Agudos deverá instituir o órgão por Decreto. Na
sequência, será convocada Assembleia para definir o estatuto(...)

De forma convencional, qualquer município da bacia hidrográfica orientando-se


pela legislação Estadual de Recursos Hídricos poderia propor em forma de Decreto a
criação do Comitê Gestor. Assim, o município de Agudos por ser o primeiro município
na linha de sucessão e por estar dentro de sua jurisdição as nascentes que dão origem
ao rio Lençóis fez o Decreto.

As dificuldades de alcançar os objetivos do gerenciamento integrado da bacia


do rio Lençóis estavam só começando. Algumas empresas estavam receosas sobre
a criação do Comitê da Bacia do rio Lençóis. Algumas delas estavam imaginando que
seria um tribunal inquisitório, no entanto, outras se abriram e entenderam o propósito
fundamental do trabalho conjunto, ainda nos primeiros passos de instrução, como,
32

Ambev, Duratex, Grupo Lwart, Grupo Frigol e Lutepel, conforme reportagem publicada
na versão online do Jornal da Cidade de Bauru, edição de 17 de fevereiro de 2017:

(...) Já fazem parte deste Comitê Gestor representantes das empresas


AmBev, Duratex, Lwart, Lwarcel e Frigol, no entanto, o Ministério Público irá
convocar outras empresas e municípios para a composição colegiada que
ainda não aderiram ao Comitê(...)

A adesão de municípios não pertencentes ao eixo crítico da bacia, como, São


Manuel e Igaraçu do Tietê resistiu em não participar, mesmo São Manuel tendo uma
microbacias considerada crítica em situações de grande atividade pluviométrica.

Durante o período de instrução do CGBH-RL, percebeu-se algumas tentativas


não sucedidas de parar o processo de instrução, por algumas partes que
consideravam a criação do Comitê Gestor uma ameaça.

A instrução também foi muito atrasada pelo período eleitoral, as instruções de


preparação seguiram a passos lentos até a fase de transição dos novos governos
municipais.

Ao longo do período de preparação das instruções de constituição do Comitê


Gestor, os mediadores eram bem claros quanto aos escopos e objetivos da
configuração do gerenciamento integrado da bacia hidrográfica. Nas interlocuções
publicadas pela imprensa, haviam sempre a necessidade de relatar a importância
desse tipo de trabalho integrado, que iriam beneficiar não somente as questões
relativas à bacia hidrográfica, mas também impactar positivamente seus
representantes.

Após as mudanças de governos municipais ocorridas praticamente em todos


os municípios da bacia hidrográfica, as perspectivas de uma maior adesão
começaram a se apresentar como uma nova realidade.

Com a constituição do Comitê Gestor da Bacia Hidrográfica do rio Lençóis


(CGBH-RL), através da eleição dos membros, foi possível transferir a tutela do
gerenciamento de toda a bacia hidrográfica para o colegiado. Assim, as decisões que
antes eram tomadas de formas individuais por cada município e em alguns casos
equivocadas, passariam a ser tratada de forma técnica e jurídica e com uma amplitude
maior no âmbito de bacia de hidrográfica.
33

CONCLUSÃO

Já na parte introdutória é delineada a principal linha problemática do trabalho


ao se referir de como a ausência de gestão dos recursos hídricos pode ter influenciada
nas questões de sinistros climáticos ao longo das décadas na bacia hidrográfica.
Considerando que gerenciamento ou gestão como uma prática científica de cuidar
daquilo que se propõe, que no caso da bacia hidrográfica do rio Lençóis é cuidar das
questões pertinentes aos interesses peculiares.

Quando se propôs organizar e instituir o CGBH-RL, passando a tutela da bacia


do rio Lençóis para sua responsabilidade e gerenciando os interesses locais da bacia
hidrográfica entre os municípios, organizações empresariais e instituições do terceiro
setor, todos teriam participação igualitária nas decisões e nela (na bacia do rio
Lençóis), seriam impostas regras de uso e conservação que seria fator determinante
para amenizar ou colocar fim ao longínquo sistema de ausência de gestão dos
recursos hídricos, que sempre influenciaram nessas ocorrências climáticas.

No capítulo um (1), deste trabalho atribui-se à falta de investimentos na gestão


de recursos hídricos o agravamento das condições dos sistemas hidrográficos e em
consequência a classificação de agravante em sinistros climáticos de inundação.
Sendo o CGBH-RL o nível máximo da gestão da tutela da bacia hidrográfica do rio
Lençóis, está direcionando os municípios a adotarem políticas públicas de recursos
hídricos capazes de fomentar a conservação do sistema hidrográfico.

As fundamentações descritas anteriormente ao longo do capítulo dois (2), deste


trabalho foram de modo extremamente importantes para que houvessem um
convencimento dos setores envolvidos e principalmente por parte dos representantes
do Ministério Público Estadual, que um dos agravantes detectados nas recorrentes
catástrofes climáticas estavam relacionadas à ausência de gestão dos recursos
hídricos ao longo dos tempos.

Foi-se necessário descobrir através dos estudos dos aspectos técnicos,


históricos e culturais da bacia hidrográfica do rio Lençóis, que estava-se se tratando
um fenômeno oculto de quase falência do sistema hidrográfico, que jazia alimentando
a ocorrência dessas inundações ao longo das décadas e que só poderia ser revertido
ao longo prazo com a implementação de regras capazes de disciplinar com base nas
Leis Ambientais Brasileiras.
34

Decorrido esse tempo após a instrução e constituição do CGBH-RL descritos


no capítulo três (3), deste trabalho, a gestão da bacia hidrográfica do rio Lençóis está
produzindo os primeiros resultados de como deve ser gerenciado os recursos hídricos
de forma compartilhada e integrada.

Com a tutela da bacia hidrográfica estando sob responsabilidade do colegiado,


formado por representantes dos municípios que compõem a bacia do rio Lençóis, os
primeiros resultados estão sendo perceptíveis em ações concretas na tentativa de
amenizar ou quebrar esses ciclos de catástrofes ambientais envolvendo inundações.

Nenhuma decisão de intervenção que possa influenciar os sistemas


hidrogeobiológicos é tomada sem antes consultar o CGBH-RL e passar por uma
profunda análise técnico-jurídica sobre o assunto.

Logo após ao processo de instrução e constituição descritos no capítulo três


(3), supracitado, as medidas de ordenamento disciplinar as questões de uso e
conservação da bacia hidrográfica começaram ser debatidas e regulamentadas para
imediata execução.

O gerenciamento integrado e compartilhado da bacia hidrográfica do rio


Lençóis através do Comitê Gestor da Bacia Hidrográfica do rio Lençóis (CBGH-RL),
está trazendo uma nova filosofia de trabalho nas questões de uso e gestão das águas
com uma abordagem técnico-jurídica das variáveis de trabalho.

O CGBH-RL, está otimizando de forma técnica, jurídica e participativa de forma


ativa o gerenciamento da bacia hidrográfica do rio Lençóis, atuando pontualmente nas
questões que precisam ser intervencionadas para que as ações possam efetivamente
ser concretizadas.

É dessa forma, que acontece o gerenciamento integrado da bacia hidrográfica


do rio Lençóis, abordando as questões na esfera técnica e jurídica, que até
anteriormente eram tratadas com superficialidades e em muitos casos, sem
conhecimento técnico e jurídico do assunto.

Sustentados pelas legislações ambientais amplamente discutidas no âmbito


do Direito Ambiental Brasileiro, o Comitê aprovou através de seu Conselho Técnico,
formado por uma equipe transdisciplinar, a Resolução 01/2017, que designam as
regras de uso da bacia do rio Lençóis (anexo 3), amparadas legalmente através de
35

legislações ambientais, supracitadas. Assim, a atuação do CGBH-RL no


gerenciamento integrado e compartilhado da bacia hidrográfica do rio Lençóis, por
meio da disciplinação técnico-jurídica com base no ordenamento jurídico da legislação
ambiental tornou possível gerir de forma preventiva e preditiva algumas variáveis que
eram anteriormente ignoradas ou não observadas.

Com base no Resolução 01/2017 do CGBH-RL (anexo3), a Promotoria de


Justiça do Meio Ambiente da Comarca de Lençóis oficiou todos os órgãos ambientais,
para que sejam cumpridas as novas regras estabelecidas pelo CGBH-RL em outorgas
e licenciamentos de barragens de águas na bacia do rio Lençóis.

Também vinculados à Resolução 01/2017, foi constituído em comum acordo


com a Promotoria de Justiça do Meio Ambiente da Comarca de Lençóis Paulista um
Procedimento Padrão de Monitoramento e Controle Ambiental (PPMCA), para a bacia
hidrográfica do rio Lençóis, que deverá ser operacionalizado pelos órgãos de Defesa
Civil dos municípios para enfretamento de possíveis distúrbios climáticos.

A atuação do CGBH-RL não fica estritamente ligada às questões de catástrofes


climáticas, ela se estende até a conservação ambiental da bacia e atua em nível
superior a qualquer necessidade dos municípios que o compõem.

Os objetivos propostos incialmente neste trabalho descrito no capítulo


introdutório com base nos princípios do Direito Ambiental Brasileiro, no gerenciamento
da bacia hidrográfica do rio Lençóis por meio do CGBH-RL são claramente
alcançados, uma vez que as decisões do Comitê Gestor são analisadas e acatadas
pelo Ministério Público, através da Promotoria de Justiça do Meio Ambiente,
instituindo regras de gestão e uso racional da água.

Estando a tutela da bacia hidrográfica do rio Lençóis sob responsabilidade do


CGBH-RL por meio do trabalho colegiado, está sendo possível ordenar regras
baseando-se na legislação ambiental brasileira que possam introduzir métodos
seguros de gestão dos recursos hídricos dentro da bacia hidrográfica, como por
exemplo, que barramentos hídricos estejam de acordo com a Lei Federal nº
12.334/10.

Em 2011, após outro sinistro de inundação ocorrido na bacia hidrográfica do rio


Lençóis o Ministério Público, na época havia iniciado uma tentativa de agrupar os
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setores dos municípios em um grupo de gestão, mas algumas falhas de organização


impediram o êxito da proposta.

O grande segredo da gestão compartilhada e integrada dos recursos hídricos


está pautado na convergência multissetorial do colegiado, reunindo na mesa dos
debates todos os setores da sociedade para o debate técnico-jurídico.

Finalizando, por determinação do CGBH-RL, legitimado pelo Ministério Público


Estadual, todos os reservatórios artificiais considerados de alta e média capacidade e
que estiverem aptos a operar o sistema de contenção e transposições de volumes,
precisarão ser rebaixados entre dezembro e janeiro, períodos de grandes
pluviosidades nos municípios da bacia do rio Lençóis para servirem de “piscinões” de
contenção nas microbacias hidrográficas.

Tal procedimento é considerado inédito no interior do Estado de São Paulo e é


capaz de trabalhar uma carga de contenção em torno de um (1), bilhão de litros por
ciclo de chuva

Defendendo e evidenciando os pressupostos incialmente ilustrados que a


ausência de gestão de recursos hídricos é uma medida pouco atrativa no posto de
vista político-partidário, e que há reflexos estruturais na falência dos sistemas
hidrográficos por falta de investimentos e diretrizes legais gerando como
consequências, agravamentos na ocorrência de sinistros climáticos.

Nesse novo método de gestão dos recursos hídricos de forma integrada,


compartilhada e local, todos os seguimentos heterogêneos da sociedade podem
participar de forma ativa e decisiva para uma melhoria ambiental eficiente, diluindo as
margens de erros e concentrando as margens de acertos.

Durante o período crítico de 2018, temporada esta que a bacia hidrográfica do


rio Lençóis está mais susceptível às ocorrências de sinistros de inundações, o sistema
de contenção e transposição de volumes amplamente discutido e estabelecido como
regra de apoio por meio do PPMCA instituído pelo CGBH-RL para auxiliar os trabalhos
de prevenções, apresentou uma efetivação positiva 93% na prevenção de inundações
e resultou no controle de uma inundação referente ao período de retorno bianual
explicado no item 1.1, conforme anexo 4.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. AGUDOS (Município): Decreto Executivo nº 5.814 de 28 de abril de 2016.


Disponível em: http://www.agudos.sp.gov.br/legislacao/detalhe/2093/cria-o-
comite-gestor-da-bacia-hidrografica-do-rio-lencois-e-da-outras-providencias/.
Acessado em 30 de maio de 2017.

2. AGUIAR, Sidney: Rio Lençóis de Ponta a Ponta, da Serra dos Agudos ao Vale
do Tietê. São Paulo. Páginas e Letras, 2014.

3. BRASIL: Constituição da República Federativa do Brasil de 1988: Artigo 225.


Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm.
Acessado em: 29 de maio de 2017.

4. BRASIL: Legislação Federal sobre Recursos Hídricos: Lei nº 9.433 de 8 de


janeiro de 1997. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9433.htm. Acessado em 05 de junho de


2017.

5. BRASIL: Ministério Público Federal. Artigo. PAULO AFFONSO LEME


MACHADO: Disponível em:
http://midia.pgr.mpf.gov.br/4ccr/sitegtaguas/sitegtaguas_4/pdf/Artigo_Prof%20Pau
lo%20Affonso.pdf. Acessado em 28 de julho de 2017.

6. COMITÊ GESTOR DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO LENÇÓIS (CGBH-RL):


Disposições Estatutárias, Resolução Técnica 01/2017 e PPMCA.

7. EUSTÁQUIO, Leandro: Direito Ambiental, 2006. Disponível em:


http://www.leandroeustaquio.com.br/. Acessado em: 06 de agosto de 2017.

8. FERNANDES N. Jeferson: Comitê de Bacia Hidrográfica: Um Organismo


Transdisciplinar no Gerenciamento de Recursos Hídricos. Disponível em:
http://www.publicadireito.com.br/conpedi/manaus/arquivos/anais/fortaleza/3205.pd
f . Acessado em 28 de julho de 2017.

9. JORNAL DA CIDADE DE BAURU: Matérias Jornalísticas. Disponíveis em:


http://www.jcnet.com.br . Acessado em 27 de julho de 2017.
38

10. MACHADO, L. A. Paulo: Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo. Malheiros


Editores, 21ª Edição, 2013.

11. RIGHETTO, A.M: Hidrologia e recursos hídricos. São Carlos: EESC/USP,


1998. 840 p.

12. SÃO PAULO (Estado): Legislação Estadual de São Paulo sobre a Política
Estadual de Recursos Hídricos: Lei nº 7.663 de dezembro de 1991. Disponível
em:http://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/lei/1991/lei-7663-
30.12.1991.html. Acessado em: 05 de junho de 2017.

13. SÃO PAULO (Estado): Ministério Público do Estado de São Paulo, Promotoria
de Justiça do Meio Ambiente da Comarca de Lençóis Paulista: Arquivos
Documentais (2017).

14. SÃO PAULO (Estado): Sistema Integrado de Gerenciamento dos Recursos


Hídricos do Estado de São Paulo. Disponível em:

http://www.sigrh.sp.gov.br/cbhtj/apresentacao, acessado em 29 de maio de 2017.

15. SERVIÇO AUTONÔMO DE ÁGUA E ESGOTOS DE LENÇÓIS PAULISTA


(SAAE): Documentos Técnicos. Disponível em:

http://www.saaelp.sp.gov.br/documentos/SAAE-documento-
9eb01300f667a3fdd6fd86c43be7ded1.pdf. Acessado em 22 de dezembro de
2017.
39

ANEXOS

Anexo 1: Portaria /MP IC 14.0321.0000065-2016-1


Fonte: Promotoria de Justiça do Meio Ambiente de Lençóis Paulista
40

Anexo 1.a: Portaria /MP IC 14.0321.0000065-2016-1


Fonte: Promotoria de Justiça do Meio Ambiente de Lençóis Paulista
41

Anexo 2: Decreto do Município de Agudos, de criação do CGBH-RL


Fonte: Comitê Gestor da Bacia Hidrográfica do rio Lençóis.
42

Anexo 3: Resolução 01/2017


Fonte: Comitê Gestor da Bacia Hidrográfica do Rio Lençóis –CGBH-RL
43

Anexo 3.a: Resolução 01/2017


Fonte: Comitê Gestor da Bacia Hidrográfica do Rio Lençóis –CGBH-RL
44

Anexo 4: Ato de publicação dos resultados de operacionalização do PPMCA


Fonte: Jornal da Cidade de Bauru, edição de 24 de fevereiro de 2018.

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