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Revista Brasileira de Educação do Campo

ARTIGO
DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2017v2n1p294

Educação popular e educação do/no campo: perspectivas


para uma educação inclusiva – a Escola Família Agrícola
em Sidrolândia - MS
Adenilso dos Santos Assunção1, Mara Lúcia Falconi da Hora Bernardelli2
1
Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul - UEMS. Unidade Campo Grande. Curso de Licenciatura em
Geografia. Avenida Dom Antonio Barbosa (MS-080), 4.155, Conjunto José Abrão. Campo Grande - MS. Brasil.
adeassuncao@gmail.com. 2Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul - UEMS

RESUMO. Este artigo é resultado de pesquisa realizada no


Curso de Geografia da Universidade Estadual de Mato Grosso
do Sul – UEMS. Essa investigação está centrada na experiência
Pedagógica da Escola Família Agrícola do município de
Sidrolândia, Estado de Mato Grosso do Sul, representando a luta
da população campesina no Estado, particularmente os
assentados, atores que há décadas lutam por educação como
política pública com um fazer pedagógico que não trabalhe com
a negação da cultura entendida como rural, que respeite sua
forma e estilo de vida, tendo em vista que a educação oferecida
a eles quase sempre se apresenta de forma idêntica à oferecida
em áreas urbanas. No desenvolvimento, a pesquisa apresenta
enfoque qualitativo, tendo como principal aporte a dialogicidade
defendida pela prática pedagógica das escolas de alternância.
Como procedimento metodológico optou-se pelo levantamento
bibliográfico, análise documental, entrevistas e visita in loco.
Debateu-se pelas vias da Educação Popular quais possibilidades
os movimentos sociais poderiam desenvolver uma educação
diferenciada, a partir ou não do aparato do Estado, produzindo
conhecimento científico e importante intervenção efetiva na sua
realidade e na prática pedagógica que melhor responde aos seus
anseios, acontecendo uma educação no e para o campo.

Palavras-chave: Educação do Campo, Educação Popular,


Escola Família Agrícola, Alternância.

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Assunção, A. S., & Bernardelli, M. L. F. H. (2017). Educação popular e educação do/no campo: perspectivas para uma educação
inclusiva...

Popular education and rural education: perspectives for


inclusive education – the School Família Agrícola in
Sidrolândia - MS

ABSTRACT. This article is results of research carried out in the


Geography Course of the Universidade Estadual do Mato
Grosso do Sul - UEMS. This research is centered in the
Pedagogical experience of the Agricultural Family School of the
municipality of Sidrolândia, Mato Grosso do Sul State,
representing the class struggle of the peasant population in the
state, particularly the rural settlers, actors who for decades have
been fighting for an education as a public policy with
a pedagogical make that does not work with the denial of the
culture understood the rural, that respects its life style,
considering that the education offered to them almost always
presents itself in the same way as offered in urban areas. In the
development, the research presents a qualitative approach,
having as main contribution the dialogicity defended by the
pedagogic practice of the alternating schools. As a
methodological procedure, the bibliographical survey,
documentary analysis, interviews and an on-site visit were
chosen. It was discussed through the views of Popular Education
what possibilities social movements could develop a
differentiated education, whether or not the State apparatus,
producing scientific knowledge and important effective
intervention in their reality and pedagogical practice that best
respond to their desires, happening an education in and for the
countryside.

Keywords: Rural Education, Popular Education, School Família


Agrícola, Alternation.

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Educación popular y educación del/en el campo:


perspectiva para una educación inclusiva – la Escuela
Família Agrícola en Sidrolândia - MS

RESUMEN. Este artículo es resultado de la investigación


realizada en el Curso de Geografía de la Universidade Estadual
de Mato Grosso do Sul – UESM. Este estudio está centrado en
la experiencia pedagógica de la Escuela Familia Agrícola del
municipio e Sidrolândia, estado de Mato Grosso do Sul,
representando la lucha de la población campesina en el estado,
particularmente los asentados, actores que hace décadas luchan
por la educación como política pública y como una actividad
pedagógica que no trabaje con la negación de la cultura
entendidas como rural, que respeta su forma y estilo de vida,
llevando en consideración que la educación ofrecida a ellos, casi
siempre se presenta de forma idéntica a la ofrecida en las áreas
urbanas. En el desenvolvimiento, la investigación presenta un
enfoque cualitativo, y tiene como principal aporte la perspectiva
dialógica, defendida por la práctica pedagógica de las escuelas
de la alternancia. Como procedimiento metodológico se optó por
el levantamiento bibliográfico, análisis documental, entrevistas e
visita in loco. Se debate por las vías de la Educación Popular
que posibilidades los movimientos sociales podrían desarrollar
para una construir una educación diferenciada, a partir o no del
aparato del Estado, produciendo conocimiento científico que les
posibilite una intervención afectiva en su realidad, además de
elaborar una práctica pedagógica que mejor responde a sus
deseos, aconteciendo una educación él y no para el campo.

Palabras clave: Educación del Campo, Educación Popular,


Escuela Familia Agrícola, Alternancia.

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Introdução viés autoritário, como tem acontecido na


educação produzida pelo Estado, salvo
Nos processos sociais recentes que
raras exceções.
ocorrem no meio rural brasileiro, destaca-
Nesse sentido, a proposta defendida,
se, nas últimas décadas, a intensificação da
e em muitos locais colocada em prática
implantação de assentamentos voltados à
pelos movimentos sociais do campo,
reforma agrária no Brasil, decorrentes das
possibilita que aconteça uma educação
lutas travadas pelos movimentos sociais. É
junto à classe trabalhadora, a partir da
claro que não na proporção desejada por
prática da educação popular, vinculada aos
estes movimentos, nem se apresenta na
seus interesses e desvinculada
dimensão adequada para atender todo o
ideologicamente dos mecanismos
contingente de brasileiros que ainda se
utilizados pelas classes dominantes, como
encontra nessa luta e esperam há anos por
uma das formas de garantir sua hegemonia.
um pedaço de terra, na fila simbólica de
Para aprofundar essa discussão, o
beira de estradas, pelo seu tempo para
presente trabalho foi dividido em quatro
fazer parte da reforma agrária. Ainda
partes. Inicialmente, refletimos sobre o
assim, é inegável a existência de uma
processo de evolução da luta por uma
política.
educação do/no campo, as garantias legais
Ao mesmo tempo em que o processo
para sua existência, em que defendemos
que fizera “a fila andar” para os agora
uma educação autônoma organizada e
assentados produz outro movimento nos
profundamente vinculada aos movimentos
territórios da reforma agrária: o de luta por
sociais camponeses.
direitos até então deles suprimidos, ou seja,
Na segunda parte, discutimos a
luta por educação, pela saúde, pela
experiência das Escolas Família Agrícola,
moradia, pela segurança alimentar, direito
amparados na educação popular,
inclusive de serem cidadãos brasileiros
enfatizando sua origem, seu fazer
factíveis de direitos.
pedagógico e sua forma de fazer educação
Entre os debates mais profícuos que
a partir da alternância. Ainda que estejam
tem acontecido sobre a reforma agrária
apoiados no currículo de base comum da
brasileira, além da luta pela sua ampliação,
educação brasileira, incorporam atividades
está à discussão, organização e prática de
que incentivam a convivência dos
uma educação do e para o campo.
educandos, o desenvolvimento de tarefas, a
Educação essa que deve ser liberta das
reflexão e o desenvolvimento do meio em
amarras do capital, sem a imposição de um

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que se encontram, centrado na valorização sendo seus governos, em todos os âmbitos


do campo como instrumento capaz de (federal, estadual e municipal) dominados
reproduzir vida com qualidade e dignidade, pelas oligarquias rurais.
sempre com o intuito da emancipação Nesse contexto, podemos afirmar
política, social, cultural do homem e da que o campesinato brasileiro,
mulher campesina. historicamente, é refém do
No terceiro momento, enfatizamos a desenvolvimento do capitalismo no campo,
realidade do campo brasileiro, marcado desde o início da ocupação
pesquisamos o processo de formação dos colonial portuguesa pela concentração da
assentamentos em Sidrolândia, Estado de terra e capital em mãos de poucos e pela
Mato Grosso do Sul, com o objetivo de exploração do trabalhador no
compreendermos sua composição, a desenvolvimento da monocultura em
realidade vivida pelos assentados, sua vastas áreas de terra, que tinha e tem até
relação com o poder político local e as hoje, o objetivo de abastecer com produtos
condições em que acontece a educação, as primários principalmente o mercado
políticas públicas e os projetos, em um externo, mais especificamente, portanto,
município historicamente administrado por voltado à produção de commoditiesi
latifundiários. (Oliveira, 2007).
Concluímos nossa pesquisa Com o surgimento das indústrias,
apresentando como referência em ainda no século XIX, e o seu crescimento
Educação Popular a experiência da Escola exponencial, a partir da década de 1930,
Família Agrícola de Sidrolândia no Mato esse modelo econômico foi sendo
Grosso do Sul, onde, com a pedagogia da substituído gradativamente, do ponto de
alternância, é desenvolvido trabalho vista da ocupação da mão de obra
educativo exclusivamente aos filhos de trabalhadora, pois trabalhar no campo
assentados do município, apresentando significava a exploração do homem, viver
resultados satisfatórios, reconhecidos e em condições precárias e também não ter
premiados no âmbito do Brasil. os mesmos direitos dos trabalhadores
urbanos, implantados a partir do governo
Por uma Educação Popular no Brasil
de Getúlio Vargas.
Especialmente após a década de
Até os anos 30 do século passado, o
1960, com a criação do Estatuto do
Brasil era um país agrário com sua
Trabalhador Rural (Lei n. 4.214, março de
economia dependente da agro-exportação,

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1963) e do Estatuto da Terra (Lei 4.504, outras intenções, pois eram medidas
novembro de 1964), já no período da destinadas a propiciar um “novo modo de
Ditadura Militar e sob uma política de acumulação”, que Oliveira (2003) assim
modernização da agricultura, intensificou- entende:
se a migração campo-cidade e,
... O decisivo é que as leis
paulatinamente, o Brasil foi deixando de trabalhistas fazem parte de um
ser um país majoritariamente rural. conjunto de medidas destinadas a
instaurar um novo modo de
A substituição do modelo agrário acumulação. Para tanto, a população
em geral, e especificamente a
exportador pelo modelo urbano industrial população que afluía às cidades,
caracterizou-se por inúmeras contradições, necessitava ser transformada em
“exército de reserva”. Essa conversão
provocando o crescimento das cidades e, de enormes contingentes
populacionais em “exército de
como consequência da industrialização,
reserva”, adequado à reprodução do
possibilitou a organização e o capital, era pertinente e necessária do
ponto de vista do modo de
fortalecimento da classe trabalhadora, com acumulação que se iniciava ou que se
a conquista de alguns direitos como a buscava reforçar, por duas razões
principais: de um lado, propiciava o
carteira de trabalho, instituída pelo decreto horizonte médio para o cálculo
econômico empresarial, liberto do
nº 21.175, de 21 de março de 1932; a pesadelo de um mercado de
previdência social, criada com o Decreto concorrência perfeita, no qual ele
devesse competir pelo uso dos
n° 7.526, de 7 de maio de 1945, que dispôs fatores; de outro lado, a legislação
trabalhista igualava reduzindo – antes
sobre a criação do Instituto de Serviços que incrementando – o preço da força
Sociais do Brasil; o décimo terceiro salário de trabalho. (p. 38).

criado pela Lei n° 4.090, de 13 de julho de


O período entre 1930 a 1960 foi
1962; entre outros.
marcado por profundas transformações no
Os interesses antagônicos existentes
país, pois surgem os sindicatos e o Partido
no interior da própria classe dominante,
Comunista foi criado. Intensificaram-se as
entre a burguesia agrária e a industrial,
greves, surgiram as Ligas Camponesas,
possibilitou que a classe trabalhadora
disseminaram-se os debates culturais e
urbana fizesse alianças com a burguesia
políticos, o movimento por uma educação
industrial, tornando viáveis avanços nas
nova, o movimento pela alfabetização de
conquistas de direitos desses trabalhadores
adultos, campanhas pela democratização
urbanos.
da educação, a conquista pelo direito à
Esses novos direitos concedidos pela
educação a todas as reformas de base da
classe dominante encobriam, na verdade,
educação, o movimento de cultura popular,

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entre outras lutas pela mudança social, ... aquela educação que é produzida
pelas classes populares ou para ela em
cultural, política e estrutural da sociedade função de seus interesses de classe,
brasileira. vinculada aos movimentos populares
de forma direta, mas também a
Destacaram-se nesse período organiza pelo estado, incluindo a que
ocorre através do Sistema de
pensadores como Anízio Teixeira, pioneiro Educação Formal a adultos e a
na implantação das escolas públicas; Paulo população em idade escolar. (p. 36).

Freire, educador brasileiro reconhecido


Nessa perspectiva, a educação pode
internacionalmente pelo seu trabalho com a
ser um instrumento para as classes
alfabetização de adultos e pela forma como
trabalhadoras reelaborarem e executarem
defendia uma educação politizada; Darci
uma concepção de mundo vinculada aos
Ribeiro, pela defesa da escola pública e
seus interesses. Ou seja, uma educação
pela fundação da Universidade de Brasília.
desvinculada ideologicamente dos
Todos esses educadores, entre outros,
mecanismos utilizados pelas classes
apresentaram notáveis contribuições para o
dominantes como uma das formas de
pensamento de políticas públicas para a
garantir sua hegemonia. Nessa ótica,
educação brasileiraii.
reconhece-se a existência da Educação
Nesse contexto, surge um
Popular, em disputa com a classe
movimento bastante rico para a educação
dominante, ocorrendo, inclusive, dentro dos
brasileira: a Educação Popular,
espaços da educação formal estatal.
intimamente ligada à cultura popular, base
Brandão e Bezerra (1987) acreditam
do projeto de educação da década de 50,
que, se aproveitando das escolas públicas,
com ênfase na autonomia, na emancipação
é possível produzir uma Educação Popular
e na justiça social. Para Gadotti (2014), a
formal, oportunizando a transformação
Educação Popular era à base do novo
social. Ressaltam, inclusive, que os
projeto de nação.
recursos financeiros deste Estado
O principal aspecto da Educação
dominador também são garantidos por
Popular se manifesta no compromisso com
impostos recolhidos das classes
a população a quem se destina, ao lado das
trabalhadoras.
lutas e de ações que favoreçam o
Concordamos com as ideias desses
acontecimento de políticas que permitam a
autores, até porque concebemos que a
emancipação das camadas dominadas. Para
educação formal universal e gratuita é
Wanderley (1991) seria:
conquista das classes trabalhadoras e a
escola oferece aos alunos não somente a

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ideologia dominante, mas também, os aprender estariam, portanto, diretamente


instrumentos úteis à sua sobrevivência e vinculados aos movimentos populares, à sua
emancipação. Assim, o alcance de mais e cultura e identidade, criando-se, assim, um
melhor educação formal possibilitará à espaço de práticas políticas populares pela
classe trabalhadora a elevação do valor de educação. A educação, então, se
sua força de trabalho e melhores condições transformaria em mais um instrumento de
de vida. formação, informação e resistência contra a
Nessa concepção, a pressão popular é dominação do capital sobre o trabalho. A
imprescindível e decisiva na mudança do educação passaria a interagir, agir e formar
caráter e da ideologia dessa escola, atores dessas classes, capazes de interferir
fortalecendo a luta para a obtenção de no processo de dominação do capital.
recursos, entre os quais aqueles destinados a Freire (2011) em seu livro
projetos voltados às classes populares. “Pedagogia da Autonomia” pressupõe que
Outra forma de percepção da melhoria a educação não é – e tão pouco será –
do ensino seria por meio das lutas neutra; ela sempre trabalhará a serviço de
desenvolvidas pela classe, que estariam uma ideologia. Educação e a ideologia
vinculadas diretamente a possibilidades de caminham juntas na construção de crenças,
mudanças políticas e estruturais de suas valores e representações simbólicas no
vidas. Destaca-se aí a importância do interior dos processos educativos. Afirma
Estado na universalização do ensino público que “a qualidade de ser política é inerente
elementar, pela extensão que este alcança a sua natureza. É impossível a neutralidade
sobre a escolarização obrigatória e gratuita. na educação ... A educação não vira
Os movimentos populares, desse modo, são política por causa deste ou daquele
fundamentais no financiamento de educador. Ela é política”. (p. 43).
organizações populares, de atividades A questão do trabalho pedagógico se
educacionais autônomas, no controle da relaciona diretamente com o currículo e
forma e do conteúdo dessa educação, ambos estão presentes desde início do
pressionando o Estado. debate da Educação do Campo, pois
Sendo assim, torna-se fundamental quando os movimentos sociais lutam por
que as forças populares intervenham na uma educação diferenciada, eles percebem
conversão do trabalho pedagógico do que a educação oferecida a partir do
educador em favor do trabalho político das aparato do Estado está submetida às
classes oprimidas. O ato de ensinar e vontades e ao controle das elites.

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Outra questão importante que está dimensão ideológica e política. Silva (1996)
diretamente relacionada à Educação Popular defende que:
é o currículo e se fundamenta aí o início do
O currículo é um dos locais
debate da Educação do Campo pelos privilegiados onde se entrecruzam
movimentos sociais. saber e poder, representação e
domínio, discurso e regulação. É
O currículo tem um papel também no currículo que se
condensam relações de poder que são
fundamental na definição da escola que cruciais para o processo de formação
queremos para o atendimento às classes de subjetividades sociais. Em suma,
currículo, poder e identidades sociais
trabalhadoras. Moreira e Silva (2005) estão mutuamente implicados. O
currículo corporifica relações sociais.
afirmam que o currículo não se refere (p. 26).
somente à dimensão técnica, a partir dos
métodos empregados, mas que também é Portanto, o currículo não deve ser
guiado por questões sociológicas, políticas e analisado de forma neutra e inocente, já que
epistemológicas. Sendo assim, é seu papel constitutivo do conhecimento
considerado um artefato social e cultural, organizado na forma curricular não pode
levando em conta as determinações sociais estar preocupado apenas com a organização
da história e a contextualização para a do conhecimento escolar. O currículo deve
população a que se destina. ser sempre questionado por uma perspectiva
A disputa pelo controle do currículo, crítica, pois tem conteúdo político.
proposta pelo Movimento dos Nos dias atuais, a questão do currículo
Trabalhadores Sem Terra (MST), nas encontra-se sob um forte debate
escolas que atendem aos assentamentos, impulsionado pela denominada “Escola sem
acontece justamente por perceberem que a Partido”, forma dissimulada e tentativa das
classe dominante se utiliza do currículo nas elites de transformar professores e escolas
escolas para transmitir suas ideias e em ambiente sem pensamento crítico e sem
representações sobre o mundo, garantindo, a possibilidade de discutir uma educação
assim, a reprodução e perpetuação da libertadora, desvinculada das ideias e
estrutura social existente, como instrumento representações de mundo que interessam às
ideológico. classes dominantesiii.
A questão do poder que permeia o A luta contemporânea pela Educação
currículo não é só uma questão educacional, do Campo, desenvolvida pelos movimentos
visto que está intrinsecamente vinculado à populares desde a década de 1980, tem
início propriamente pelo debate da escola

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que temos e da escola que queremos. É ser libertadora, ou seja, possibilitar uma
ponto de partida da luta pelo direito à visão de mundo que permita a autonomia.
educação aos povos do campo, algumas Caldart (1997) defende que a própria
vezes situados em acampamentos e luta pela terra acaba gerando um nível de
assentamentos nos mais longínquos grotões, consciência das necessidades sociais, que
a exemplo dos povos ribeirinhos, dos rapidamente faz surgir novas demandas,
quilombolas e das áreas indígenas. entre elas, a necessidade de professores
identificados com a realidade e a luta do
Embora sejam os movimentos sociais
rurais que ergam a bandeira pela movimento.
educação do campo, a população Para Bezerra e Bezerra Neto (2007),
rural vai além dos assentados da
reforma agrária, ela é composta por o MST tem lutado por uma melhor
trabalhadores remanescentes de
quilombolas, pequenos proprietários
equalização na distribuição da renda
advindos do processo migratório ao brasileira por meio da reforma agrária,
longo dos séculos XIX e XX e outros
tantos agricultores que habitam como também tem visto a educação como
várias regiões brasileiras há décadas
condição essencial para o acesso à
e até centenas de anos e não têm
relação com os movimentos sociais igualdade política e o direito à cidadania,
(Bezerra Neto, 2010, p. 152).
considerando necessária uma profunda

Entretanto, a bandeira da Educação reforma, tanto no aparelho do Estado,

do Campo nasce com a retomada da luta quanto nos mecanismos de acesso à sua

pela terra no Brasil, no final do governo estrutura e bens ofertados. Dessa maneira,

militar, entre os anos de 1979 e 1984, com o MST não reivindica qualquer educação,

ocupações e acampamentos, além da luta mas uma educação inclinada para o

aprofundada com o nascimento homem do campo, que lhe permita

institucional do MST em 1984 (Fernandes, compreender as causas de suas

1998). Movimento esse que sempre se dificuldades e os mecanismos de

preocupou com a educação de seus filhos, dominação usados pelas classes

desde os acampamentos até os dominantes.

assentamentos. O fato de empunharem essa A Educação do Campo vem se


constituindo ao longo do tempo com conquistas
bandeira e lutarem por outra forma de
que se iniciaram com a Lei de Diretrizes e
educação advém de enxergarem a
Bases da Educação Nacional, aprovada em
necessidade das crianças serem
dezembro de 1996, Lei n° 9.394, a LDB ou Lei
escolarizadas e pela compreensão de que a
Darcy Ribeiro, que no Título V, Capítulo II, art.
educação é direito de todos, mas que deve

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28, permite adequações da escola à vida do como o Movimento dos Trabalhadores


campo: Rurais Sem Terra – MST, em conjunto com
outros organismos, inclusive internacionais,
Na oferta de educação básica para a
população rural, os sistemas de ensino como o Fundo das Nações Unidas para a
promoverão as adaptações necessárias à
sua adequação às peculiaridades da vida Infância – UNICEF, a Organização das
e de cada região, especialmente: Nações Unidas – UNESCO, além da
I – conteúdos curriculares e
metodologias apropriadas á reais Universidade de Brasília – UNB, a
necessidades e interesses dos alunos da
zona rural;
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
II – organização escolar própria, – CNBB, promoveram a 1ª Conferência
incluindo adequação do calendário
escolar às fases do ciclo agrícola e às Nacional – Por uma Educação Básica do
condições climáticas; Campo, que aconteceu no Centro de
III – adequação à natureza do trabalho
na zona rural. Treinamento Educacional – CIT, na cidade
de Luziânia - GO de 27 a 31 de julho de
Entretanto, essa flexibilização não se 1998, conforme Gonzales, Arroyo e
concretiza na realidade apenas em Fernandes (1999).
mudanças circunstanciais no ensino que Os debates ocorridos na primeira
acontece no campo, mantendo-se as escolas conferência produziram a aprovação, pelo
funcionando com as mesmas características Conselho Nacional de Educação em
das escolas urbanas, com conteúdos 04/12/2001, das Diretrizes Operacionais
voltados a temas urbanos e, principalmente, para a Educação Básica nas Escolas do
com os referenciais curriculares voltados Campo – Resolução nº 01, de 03 de abril de
aos interesses das classes sociais 2002/CNE/MEC, homologadas pelo
hegemônicas, ou seja, para a manutenção do Ministério da Educação em 12/12/2002.
status quo e em desfavor da cultura Constituiu-se, dessa forma, como
campesina. fundamento legal para a prática nas escolas
Foram essas características e a do campo de uma educação diferenciada
perspectiva de superação desse quadro nas áreas rurais brasileiras.
imposto aos estudantes do campo, A Resolução nº 01 do Conselho
considerando as condições adversas a que Nacional de Educação está envolta de
são submetidos os filhos de pequenos simbologia importante para os povos do
produtores rurais para terem acesso à campo, principalmente pelo seu papel legal,
educação, que levaram alguns movimentos que visa oportunizar a essa população
sociais a debaterem nacionalmente tal condições de fato e direito de lutarem para
questão. Dessa forma, diversas entidades

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que aconteça nas escolas do campo uma sem, no entanto, estipular prazo limite para
educação condizente com a sua realidade e, sua completa implementação.
o mais importante, define que a educação No entanto, pode-se afirmar que a
deve ser do e para o campo. Resolução nº 1 (2002) do Conselho
O artigo primeiro da Resolução Nacional de Educação, órgão deliberativo
institui as Diretrizes Operacionais para a das políticas públicas em educação no
Educação do Campo. No artigo segundo Brasil, é na atualidade, o principal
afirma que a Resolução é um conjunto de instrumento dos movimentos campesinos
princípios e de procedimentos para que para buscarem um currículo diferenciado
aconteça a adequação dos projetos das para o campo, como uma gestão
escolas do campo à realidade do campo. No democrática, a autonomia escolar e o
artigo quinto é definido que as propostas fortalecimento dos conselhos escolares, bem
pedagógicas das escolas do campo devem como os projetos institucionais que
respeitar as diversidades e diferenças abarquem as demandas dos movimentos
existentes, nos seus aspectos sociais, sociais do campo.
culturais, políticos, econômicos, de gênero,
A Construção das EFAS e sua
geração e etnia (CNE. Resolução CNE/CEB
Importância na Luta pela Educação no
1/2002). Campo
Constitui-se, ainda, como um avanço
Com o marco legal para Educação do
na Resolução a liberdade para que as
Campo deliberado, ficam evidentes as
propostas pedagógicas de cada escola se
diferenças entre a educação rural até então
organizem e se desenvolvam além dos
existente e a que se propõe. Para Camacho
ambientes escolares, orientando para que o
(2011) tratava-se de uma educação
calendário escolar aconteça respeitando as
domesticadora, neoliberal e urbanizada,
necessidades de cada comunidade e as
comprometida com a reprodução do
condições climáticas de cada região.
processo de manutenção da ordem
O principal entrave para que a
estabelecida, de desterritorialização do
Resolução não seja colocada em prática nas
campesinato e de subordinação ao capital.
escolas do campo está relacionado à forma
A realidade atual das escolas do
como ficou determinado no artigo sexto da
campo nos permite afirmar que a educação
deliberação, repassando ao poder público
ainda é vinculada aos interesses
municipal e estadual a responsabilidade em
hegemônicos, pois a cultura dominante é
executar a política de Educação do Campo,
disseminada no meio rural como forma de

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inclusiva...

estabelecer e exaltar a cultura urbana, com do território material, onde acontece a


o objetivo de superar a cultura camponesa, produção e reprodução da vida.
que é desvalorizada e colocada como Para Caldart (2002), a Educação do
sendo “atrasada”. Campo é:
Para Leite (2002), a educação rural ... a luta do povo do campo por
políticas públicas que garantam o seu
sempre procurou suprimir a cultura dessa direito à educação, e à uma educação
população, tanto que os jovens que que seja no e do campo. No: o povo
tem o direito a ser educado no lugar
conseguem frequentar a escola acabam onde vive; Do: o povo tem direito a
uma educação pensada desde o seu
saindo da área rural, com o agravante de lugar e com a sua participação,
que a maioria não tem o desejo de retornar. vinculada à sua cultura e às suas
necessidades humanas e sociais ...
É com essa percepção que os não pode ser tratada como serviço,
nem como política compensatória;
movimentos começam a pensar e executar muito menos como mercadoria. (p.
alternativas de organização e 8).

funcionamento de escolas no campo, com


O movimento por uma educação
o objetivo de fortalecer o movimento e a
diferenciada se acentua principalmente,
luta camponesa, propondo uma educação
porque os atores do campo percebem que –
humana e emancipatória, articulada com a
mesmo com a promulgação da LDB e as
vida, o trabalho, a cultura, os saberes e as
deliberações do CNE – o poder público
práticas sociais existentes de forma secular
não se empenhava em implantar as
no campo brasileiro. Uma educação
alterações que se adequavam à realidade e
preocupada com a formação integral do
às necessidades campesinas.
aluno, valorizando o campo, seus atores e
O surgimento das Escolas Famílias
considerando os saberes historicamente
Agrícolas – EFAS – iniciou-se no Brasil
construídos.
em 1968, sendo posteriormente apropriado
Fernandes (2002) defende que
pelos movimentos sociais do campo.
devemos pensar o mundo a partir do lugar
Segundo Almeida Pinto e Germani (2013),
em que vivemos, pois dessa forma,
é um modelo originário da França (1935),
construímos nossas identidades,
como proposta de pensar uma educação
fortalecemos e formamos nossa cultura.
significativa para os jovens do campo, em
Preservar a cultura estaria diretamente
que ocorre o revezamento entre os tempos
relacionado à defesa desse território
de aprendizagem escolar e de trabalho
imaterial, estabelecendo bandeiras dentro
produtivo, sendo denominada de
Pedagogia da Alternância.

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Segundo Queiroz (2004, p. 16-17), município de Anchieta. O objetivo


primordial era atuar sobre os
na década de 1930, os camponeses interesses do homem do campo,
franceses passavam pelos mesmos principalmente no que diz respeito à
elevação do seu nível cultural, social
problemas que os campesinos brasileiros e econômico.
em tempos atuais, viviam à margem de
O Website da Associação Mineira
políticas públicas, com destaque para a
das Escolas Família Agrícola de Minas
educação, cujo Estado Francês também
Gerais (AMEFA) iv conceitua como
apresentava aos camponeses um modelo
princípios da educação das escolas quatro
urbano de educação. Ainda que a realidade
elementos:
da época fora o estopim para que os
movimentos do campo criassem uma ... o desenvolvimento do meio; a
formação integral; a Pedagogia da
proposta “... que atendesse a realidade e Alternância; e o Associativismo
cultura idiossincráticas do grupo Local. Essa proposta é centrada no
associativismo local, em que
campesino, que valorizasse o meio rural, agricultores e agricultoras, pais e
mães de estudantes e outros membros
que diminuísse a taxa de evasão escolar e da comunidade se unem para formar
de migração para os centros urbanos e que uma associação que será a
responsável pela implementação e
promovesse o desenvolvimento da administração da EFA.
agricultura familiar e das comunidades”.
O diagnóstico torna-se um
A experiência francesa naquele
diferencial nessa forma de fazer escola no
período já era alicerçada na pedagogia da
campo, pois não só aproxima a
alternância, que Ribeiro (2010, p. 292)
comunidade da escola, como permite que o
explica: “pedagogia da alternância, em
material didático seja utilizado em favor
tese, articula prática e teoria em uma
dos interesses da comunidade em que a
práxis. Esse método, em que se alternam
escola existe e dentro da realidade do
situações de aprendizagem escolar com
aluno.
situações de trabalho produtivo”.
Sobre a alternância, significa que o
Para Pessotti (1978, p. 128), a
aluno, dentro da realidade levantada,
experiência das Escolas Família Agrícola
oportuniza uma escola em que existirá um
chega ao Brasil,
“tempo escola” e um “tempo comunidade”,
... por meio de ação do Movimento e dentro do diagnóstico levantado, os
de Educação Promocional do Espírito
Santo (MEPES), o qual fundou as alunos realizarão aprendizagens em
então Escolas Famílias Rural de saberes que enriqueçam o conhecimento
Alfredo Chaves, Escola Família
Rural de Olivânia, esta última no científico que interessa à sua comunidade,

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sendo posteriormente repassados para a defende a organização UNEFAB no seu


comunidade nas atividades programadas Website.
no tempo comunidade. A União Nacional das Escolas
O modelo de alternância das EFAs Família Agrícola do Brasil – UNEFAB foi
para Ribeiro (2010), criada em 1982, por meio de um processo
de discussão e estudo realizado pelas EFAs
... articulam o trabalho produtivo
com a educação escolar; avançam em – Escolas Famílias Agrícolas – como
relação aos estágios curriculares instituição de representação e assessoria
feitos em parceria entre escolas e
empresas; fortalecem a identidade pedagógica e administrativa, objetivando
pessoal e comunitária dos
agricultores e estimulam a promover o intercâmbio e divulgação dos
participação política dos jovens. trabalhos, acompanhando o processo de
Colocam a mudança social nas
relações pessoais, democracia na formação dos monitores (professores das
participação política e a cidadania na
EFAs) e de seus dirigentes, com o intuito
autonomia do agricultor que vive do
seu trabalho. O projeto pedagógico e de também estabelecer parcerias e outras
social das CFRs e das EFAs será
centrado na pessoa humana, em sua formas de cooperação técnico-financeira.
liberdade de escolha e de busca da
A UNEFAB explica que, a partir da
autonomia através do trabalho. (p.
381). década de 70, ocorreu rápida expansão
desse modelo para outros 22 estados
A aprendizagem nas EFAs apresenta,
brasileiros e que, atualmente, existem 145
como toda educação, finalidades. Dessas
EFAs em funcionamento e outras dezenas
finalidades destacamos a formação integral
em implantação, beneficiando cerca de
do aluno, que acontece com o
13.000 alunos e 70.000 agricultores, nas
acompanhamento do professor/tutor nas
quais trabalham diretamente 850
disciplinas comuns do currículo, com o
monitores. Essas escolas já formaram mais
aproveitamento de atividades que
de 50.000 jovens, dos quais mais de 65%
incentivam a convivência, o
permanecem no meio rural, desenvolvendo
desenvolvimento de tarefas, a reflexão e o
seu próprio empreendimento junto às suas
desenvolvimento do meio, centrado na
famílias ou exercendo vários tipos de
valorização do campo como instrumento
profissões e lideranças.
capaz de reproduzir vida com qualidade e
A experiência das EFAs demonstra
dignidade, sempre com o intuito da
que os movimentos sociais têm conseguido
emancipação política, social, cultural do
derrubar barreiras, mesmo quando os
homem e da mulher campesina. É o que
gestores nas esferas municipais e estaduais

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não contribuem com uma política de do território brasileiro, marcado pela


educação, pela forma de organização que concentração de terra em mãos de poucos,
empreendem. Batista (2012) explica: pela monocultura e bovinocultura,
destacando-se o fato de que desde o fim da
Assim, os movimentos sociais com a
resistência e persistência que lhes são Guerra do Paraguai (1864 – 1870), o
peculiares têm, a partir da governo brasileiro distribuiu terras para
mobilização popular, da articulação
dos setores populares organizados da fazendeiros da Região Sudeste e também a
sociedade reivindicar, afirmar,
sistematizar e exigir que o estado empresas estrangeiras, para promover a
programe projetos educacionais ocupação desse espaço geográfico, ainda
identificados com as ideias e
concepções por eles produzidas. Eles em disputa com o Paraguai.
estão derrubando as cercas das
Essa dominação da terra também
cidades universitárias, as cercas dos
conhecimentos, conquistando contou com a contribuição e o uso da força
cidadania e fazendo uma educação
identificada com os anseios das de grupos armados, para o qual os coronéis
classes populares, com o perfil por
possuíam bandos que garantiam o domínio
eles delineado. Uma educação
Popular com os pés fincados na terra, das terras e expropriação de outras, com a
com a cara dos sujeitos da terra. (p.
16). expulsão do campo, inclusive de pequenos
agricultores que viviam em parcelas que
O crescente número de eram anexadas às grandes fazendas. Esse
assentamentos implantados no Brasil nas período ficou caracterizado como aquele
últimas décadas demonstra a necessidade que imperava na região: a “Lei do 44”, em
dos movimentos populares se articularem e menção ao revólver 44, principal
se organizarem para produzir uma instrumento utilizado pelo banditismo que
educação que resignifique, sobretudo, o se alastrava por todas as regiões do antigo
ideal do campesinato, sua importância para sul do Mato Grosso, conforme afirmado por
o homem e mulher da cidade, que Corrêa (2009).
contribua com a permanência dos A presença de terras férteis, como na
campesinos em áreas rurais. região do Vale do Vacaria, formada da
decomposição de rochas basálticas ricas
Breve apanhado da formação dos
Assentamentos Rurais em Sidrolândia - em nutrientes como o ferro, incentivou a
MS chegada de uma categoria de colonos, nos
anos 30 do século XIX, composta de
Os contornos do agrário no
imigrantes paulistas e mineiros. Foi nesse
Município de Sidrolândia apresentam as
mesmas características da formação agrária

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período que chegou à região, Sidrônio Da ocupação inicial do território de


Antunes de Almeida. Sidrolândia aos dias atuais, ressalta-se
Sidrônio foi quem ofereceu partes de também a vinda de muitos colonos gaúchos
sua propriedade para formar uma vila no na década de 70 do século passado, também
entorno da estação ferroviária, onde com incentivos do Governo Federal, que
posteriormente se formou o núcleo urbano compraram grandes porções de terra e
da cidade de Sidrolândia, que levou passaram a desenvolver uma intensa
consequentemente esse nome como forma produção agrícola, baseada na soja e no
de homenagem àquele que é considerado milho, plantadas em grandes áreas de terras.
um dos fundadores do município. Os fazendeiros mais tradicionais
A ocupação das terras da região continuaram a desenvolver a pecuária de
também passou pela distribuição de corte no modelo tradicional, extensivo,
grandes áreas a empresas estrangeirais pelo utilizando-se, para tanto, também de
governo federal; por exemplo, o espaço grandes porções de terra, onde o gado é
onde hoje estão organizados os criado à solta, sem muita preocupação,
assentamentos Alambari, Eldorado, Capão utilizando-se de pouca mão de obra.
Bonito e Vacarias foi destinado à Há dez anos, aproximadamente,
companhia norte-americana Brazil Land tendo em vista a decadência da
Cattleand Packing Co., constituindo uma bovinocultura extensiva no município e,
área total de 158.873 hectares, sendo conjuntamente com incentivos
incorporada ao patrimônio da União no governamentais para interiorização da
ano de 1940, com o Decreto Lei n° 2.436, industrialização e desenvolvimento do
de julho de 1940, que desapropriou terras Mato Grosso do Sul, iniciou-se a plantação
sob o domínio de empresas estrangeiras. de cana-de-açúcar para produção de açúcar
Em 1950, essas terras foram e álcool.
repassadas para a Sociedade Anônima Esse novo modelo de produção
Cafeeira do Noroeste que aos poucos foi se (sucroalcooleira) não significou mudança
desfazendo da área ou arrendando, em relação à concentração fundiária, ao
inclusive, ao latifundiário Lúdio Coelho, monopólio das terras e do poder político na
restando uma área remanescente de 14.015 cidade, administrada até os dias de hoje
hectares que ficou em propriedade de por representantes vinculados às
Paulo Eduardo Souza Firmo, latifundiário oligarquias agrárias.
paulista.

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O processo de formação dos conseguiu a desapropriação do restante da


assentamentos rurais de Sidrolândia teve fazenda em 1997, formando o
início após a queda do regime militar – assentamento Capão Bonito II, onde foram
com a redemocratização do país, a beneficiadas outras 320 famílias, e do
reorganização dos movimentos sociais e Assentamento São Pedro, com outras 295
surgimento do Movimento Sem Terra famílias.
(1985) – e a criação do Instituto de A partir dessa e de outras lutas
Colonização e Reforma Agrária – INCRA empreendidas, envolvendo outras
(1984). entidades de organização de movimentos
A luta pela democratização das terras sociais, como a Central Única dos
em Sidrolândia iniciou-se em 1984, tendo Trabalhadores - CUT Rural, o latifúndio da
como um dos articuladores o Sindicato dos antiga fazenda Brazil Land Cattleand
Trabalhadores Rurais – STR, que lutava Packing Co., foi-se desfazendo, sendo
pela implementação de um assentamento constituídos outros assentamentos: Jibóia,
nas terras da companhia cafeeira, que Vacaria e, fora da área da fazenda
anteriormente pertenceu à Brazil Land americana, o Assentamento Santa
Cattleand Packing Co., consideradas Terezinha.
improdutivas. A companhia cafeeira, com Entre o período de 1999 e 2004
medo do processo de desapropriação para a houve a criação dos assentamentos Vista
reforma agrária, arrendou a área para um Alegre, Terra Solidária I e II com recursos
dos maiores latifundiários do Estado, do Banco da Terrav.
Lúdio Coelho. Depois de diversas De 2006 a 2010 foram implantados
ocupações pelos sem terra e ações policiais novos projetos nas terras remanescentes da
para retirar os trabalhadores, em 6 de abril fazenda Brazil Land Cattleand Packing
de 1989 houve a desapropriação de 2.705 Co, as quais naquela ocasião estavam sob a
hectares, onde foram assentadas 132 propriedade do latifundiário Paulo Eduardo
famílias, dando origem ao assentamento Souza Firmo, sendo constituídos os
Capão Bonito I. assentamentos Eldorado, Eldorado I Che
Tendo em vista essa primeira Guevara, Eldorado Parte, Alambari´s FAF
conquista (porteira do latifúndio aberta), o e CUT. Finalmente em 2010 foi assentado
STR, com o apoio da Federação dos o último grupo de famílias na região,
Trabalhadores na Agricultura (FETAGRI), formando o Assentamento Nazareth, na
do MST e de várias famílias acampadas,

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divisa com os municípios de Campo O quadro 1 apresenta uma síntese do


Grande e Nova Alvorada do Sulvi. processo de crescimento dos
assentamentos em Sidrolândia.

Quadro 1 – Sidrolândia – MS: Assentamentos de Reforma Agrária.


Ordem Assentamento Ano do Área em Número de lotes
assentamento hectares
01 Capão Bonito 20/10/1989 2.585,40 133
02 Capão Bonito II 14/10/1997 8.231,50 308
03 São Pedro 23/12/1998 8.592,23 296
04 Vista Alegre 10/11/1999 1.030,82 50
05 Vacaria 27/03/2000 1.049,15 48
06 Jibóia 11/07/2000 7.218,70 238
07 Capão Bonito III 27/12/2000 600 23
08 Geraldo Garcia 29/12/2000 5.775,21 182
09 Santa Terezinha 13/08/2001 1.537,91 64
10 Complexo Alambari: Alambari FAF; 27/12/2005 8.206,71 589
11 Alambari CUT; Alambari FETAGRIvii
12
13 Eldorado II 27/12/2005 9.619,89 777
14, Complexo Eldorado I: João Batista; 27/12/2005 9.972,12 640
15, 16 Che Guevara; APAGEviii

17 Eldorado Parte 07/12/2007 700 70


18 Terra Solidária 28/11/2003 360,0218 11
19 Terra Solidária II 19/10/2004 607,4458 20
20 Valinhos * * 75
21 Mutum * * 69
22 Barra Nova I e II 27/12/2005 3.940,42 268
23 Altemir Tortelli (Estrela) 27/12/2015 1.489,99 114
24 Santa Lúcia 09/3/2007 1.322,29 100
25 Nazareth 27/7/2014 2.298,24 171
Total de Assentamentos: 25 Total de Ha. 75.138,04 Total de Lotes 4.246
(*) Sem Informação.
Fonte: INCRA, Ouvidoria Agrária do Estado de Mato Grosso do Sul, 2016.
Org.: Adenilso Assunção.

A organização e luta dos Sidrolândia, pelos dados


movimentos sociais no Estado de Mato evolutivos/comparativos dos Censos
Grosso do Sul representou conquistas Demográficos do IBGE, apresenta um
importantes para a reforma agrária e crescimento demográfico expressivo desde
transformou o município, havendo a implantação dos assentamentos em sua
expressivo número de assentados e área rural, sendo que no Censo 2010
acampados, segundo o Instituto Nacional apresentava um total de 42.132 habitantes,
da Reforma Agrária – INCRA. dos quais 34% residentes no campo.
Percebe-se um crescimento demográfico

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significativo com relação ao final do assentamentos, ampliou-se também


século passado, quando a população total expressivamente a demanda por políticas
registrava 23.483 habitantes (Quadro 2). públicas no campo, entre as quais,
Com a nova realidade representada destacou-se a Educação.
pela política de implantação dos

Quadro 2 – Sidrolândia – MS: População 1991 – 2010.


Ano do Censo População Urbana População Rural População Total
1991 10.794 5.546 16.340
2000 15.862 7.621 23.483
2010 27.783 14.349 42.132
Fonte: IBGE – Censos Demográficos de 1991, 2000 e 2010.
Organização: Adenilso Assunção.

No Censo Agropecuário de 2006 latifundiários. O cenário apresenta hoje


Sidrolândia apresentou 2.205 novos atores e uma disputa por projetos
estabelecimentos agropecuários com até 10 políticos e políticas públicas diferenciadas,
ha. Após a implantação dos novos provocando a mobilização de parcela da
assentamentos nos anos de 2007 e 2008 no sociedade, no sentido de garantir maiores
município, todos os lotes com área de até avanços nos direitos e cidadania para uma
10 hectares, este número mais que dobrou, parcela à margem dos espaços de decisão
chegando a mais de quatro mil assentados do município.
com os projetos de assentamento Eldorado Nessa conjuntura política e social, os
II, Eldorado I, Alambari(s) FAF, CUT, movimentos sociais e assentados convivem
FETAGRI, Estrela, Santa Lúcia, Eldorado com uma realidade de grandes
Parte e Nazareth. dificuldades, imperando a falta de recursos
O Superintendente Regional do públicos, de políticas públicas e estrutura
Instituto de Colonização e Reforma social, além de enfrentar desafios, tais
Agrária – INCRA no Mato Grosso do Sul, como as diferenças internas entre os
estima que pequenos agricultores e assentamentos/assentados e no interior dos
assentados em Sidrolândia ultrapassem a próprios movimentos sociais, dada à
seis mil famílias em áreas individuais de existência de divisões em grupos de
até 10 hectares. assentados e organizações distintas, como
Essa realidade também tem levado a também a diversidade de origens dos
confrontos pela ocupação dos espaços de assentados (incluindo alguns de outras
poder local, tradicionalmente ocupados por nacionalidades).

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É com essa realidade e pluralidade cidade”. Tal prática ocorre também em


que se organiza a escola pública nas áreas outros tipos de serviços profissionais,
rurais de Sidrolândia, sendo que seu papel como os de médicos e enfermeiras, com
deveria ser o de também contribuir com a seus serviços adaptados, muitas vezes
formação deste território. Nesse contexto, a precarizados, oferecidos às populações do
criação da Escola Família Agrícola de campo.
Sidrolândia (EFASIDRO) representa e se Tal situação representou um
coloca como instrumento que se contrapõe, incentivo para as famílias campesinas a se
inclusive, à educação que acontece nas organizarem e trazer para Sidrolândia a
escolas públicas do campo, atendendo experiência da Escola Família Agrícola.
exclusivamente filhos de assentados da Localizada no Assentamento Capão
região, com uma proposta educacional Bonito II, próximo à Rodovia MS 455,
diferenciada. estrada da Gameleira, a Escola Família
Agrícola de Sidrolânda – EFASIDRO
Escola Família Agrícola de Sidrolândia e
recebeu sua autorização de funcionamento,
a sua importância na formação dos
camponeses em 2006, do Conselho Estadual de
Educação, para o 6º ao 9º ano do Ensino
São inúmeras as dificuldades
Fundamental, depois de mobilizações da
existentes no funcionamento das escolas
comunidade assentada. Essa autorização
em áreas de assentamentos rurais em
foi renovada no ano de 2012 por um
Sidrolândia, muitas estão instaladas em
período de cinco anos, que vencerá em
locais longínquos, demandando viagens
2017. Segundo a direção da EFASIDRO
longas (de até quatro horas no total) nos
existe um trabalho junto a Supervisão de
veículos escolares para crianças e
Ensino do Estado que atua em Sidrolândia
adolescentes, além de muitas das escolas
para sua renovação.
funcionarem em condições precárias,
No ano de 2016, a escola atendeu 67
espécie de “puxadinho” das escolas da
alunos com idades entre 10 e 17 anos, nos
cidade, com proposta educacional
anos autorizados pelo Conselho Estadual
inadequada aos filhos dos campesinos.
de Educação, sendo que os estudantes vêm
Sobre a prática de escolas no campo
de 24 dos assentamentos de Sidrolândia e
desenvolverem atividades análogas às
somente um aluno vem do Município de
oferecidas nas escolas da cidade, Arroyo
Terenos.
(2007) afirma que o campo é visto como
uma extensão, como um “quintal da

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Desde o início de seu funcionamento provenientes de áreas rurais,


a EFASIDRO já recebe como legado os assentamentos, propiciando que estes se
mais de quarenta anos de atividade da insiram no contexto social das
Pedagogia da Alternância no Brasil, em comunidades, o que facilita a interlocução
cuja experiência registra-se milhares de com as famílias para participarem do
jovens formados pelas EFAs e pelas Casas processo de ensino e aprendizagem. A
Familiares Rurais, em dezenas de estados maioria dos professores é oriunda de
do país. universidades públicas, os quais possuem
Sobre o projeto das Escolas Famílias cursos com formação específica em
Agrícolas, Foreste e Jesus (2011, p. 3) educação do campo, nas áreas de ciência
afirmam: “... constituiu um projeto de da natureza, ciências humanas e exatas.
educação que valoriza o campo, que A direção da EFASIDRO estimula e
empreende junto aos alunos projetos prefere o trabalho pedagógico
profissionais voltados para essa realidade e desenvolvido por professores recém-
que desenvolve suas ações na busca pela formados, pois os considera mais
dignidade da vida do homem do campo”. propensos a trabalharem uma educação
O elemento estruturante que faz com diferenciada.
que essa escola se diferencie na educação Pelas características que apresenta,
no meio rural encontra-se no fato de professores com formação,
articular a realidade vivida pelos prioritariamente, na área de educação do
educandos com a prática agrícola e a teoria campo e uma pedagogia voltada para essa
científica. Tal experiência rompe com uma realidade específica, a EFASIDRO torna-
concepção não construtiva, que tem a se imprescindível como alternativa ao
escola como a única ou maior responsável jovem do campo, bem como para suas
pela educação das pessoas, sem levar em famílias. É importante ressaltar que tais
conta a família, a comunidade e as relações condições contribuem para a diminuição da
socioculturais que as pessoas estabelecem migração rural que compromete a
com seu meio, educando tanto quanto a produção e a sucessão familiar, pois muitos
escola. jovens já saem do campo para estudar,
Outro fator diferenciador na muitos dos quais com idade entre 13 ou 14
experiência da EFASIDRO está em seus anos.
funcionários, pois os doze professores, dois A Escola Família Agrícola de
técnicos agrícolas e uma secretária são Sidrolândia trabalha respeitando os quatro

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pilares de organicidade da Pedagogia da e estabelece parcerias com os sitiantes da


Alternância, por meio dos seus região, que oportunizam aos alunos
instrumentos pedagógicos e seus receberem aulas práticas dos técnicos
pressupostos teóricos e metodológicos agrícolas, de piqueteamentoix,
formulados em mais de quatro décadas de agroindústria de polpa e frutas,
pesquisas científicas. desenvolvimento de hortas, adubos
Os estudantes são divididos em orgânicos, irrigação, viveiros de mudas do
grupos para o desenvolvimento de cerrado, entre outros. Para o ano de 2017
trabalhos diários, como organização e estão estabelecendo parceria com a
limpeza do espaço físico coletivo, cuidados Universidade Federal da Grande Dourados
diários com a horta orgânica, visitas aos – UFGD, para que possam contribuir com
sitiantes da região, entre outros. a formação de seu quadro de professores,
Individualmente, cada um é responsável em termos dos conhecimentos técnicos e
pela organização e limpeza de seu quarto, pesquisa.
ambiente de estudo, utensílios e A Universidade Federal da Grande
ferramentas disponibilizadas. Utilizam-se Dourados também está contribuindo na
de instrumentos pedagógicos diversos, construção de uma proposta para o Ensino
como caderno de alternância, plano de Médio para a escola, sendo que há mais de
estudos e projetos de pesquisa. dois anos a direção da EFASIDRO vem
O currículo é organizado de forma tentando, no Governo do Estado,
dinâmica e integral, havendo autorização para esta oferta, o que vem
interdisciplinaridade dos componentes sendo dificultado pela falta de
curriculares do eixo comum em conjunto infraestrutura física da escola, segundo o
com as aulas técnicas: agricultura, Supervisor do Estado. A parceria com a
zootecnia e práticas agrícolas. UFGD também disponibilizará à
A escola articula-se com a Empresa EFASIDRO a sede do Assentamento
Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Eldorado, onde hoje funciona um centro de
EMBRAPA, a Agência de pesquisa da universidade, que poderá
Desenvolvimento Agrário e Extensão utilizar o espaço para salas de aulas.
Rural - AGRAER, o Movimento Sem Aproximando a EFASIDRO das
Terra - MST, a Federação dos ideias já colocadas neste artigo, sobre
Trabalhadores em Agricultura - FETAGRI nossa defesa da educação popular,
e a Central Única dos Trabalhadores - CUT Begnami (2011) defende que:

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inclusiva...

de Pais da Escola Família Agrícola de


... as CEFFAs e a Educação do
Campo não se limitam à escola. Sidrolândia, sendo a gestão coletiva. A
Assumem uma dimensão de direção da escola é escolhida pelos pais,
educação popular, de educação
formal, /mas também informal ao professores e estudantes.
envolver a família e a comunidade
em contextos de participação e O não repasse pelo Município de
processos de formação formalizados Sidrolândia dos valores relativos ao
e fomentados pelo movimento.
Ambas nascem como uma crítica e, convênio no ano de 2015 e 2016 provocou
ao mesmo tempo, uma proposta
concreta de educação apropriada à
o atraso dos salários dos professores
realidade do campo. (p. 4). contratados pela EFASIDRO no
município. Segundo a direção da escola, a
A escola é uma demonstração de que
relação com o poder local é difícil,
é possível para os movimentos populares
havendo desrespeito com a educação do
do campo organizarem-se e tornarem-se
campo. Isso teve como consequência a
atores de suas próprias experiências,
organização de manifestações de pais,
sobretudo, para que a educação assuma
alunos e professores da EFASIDRO em
compromissos emancipatórios e de
frente à sede administrativa do município,
formação crítica de seus educandos,
conforme noticiado no jornal Região
conscientes de seu papel na sociedade.
Newsx.
Atualmente, o funcionamento da
A forma como o Estado (Governo
escola ocorre a partir de convênios
Federal, Estados e Municípios) vem
estabelecidos entre a EFASIDRO e a
tratando os movimentos, criminalizando-
Secretaria Municipal de Educação de
os, demonstra um novo momento a ser
Sidrolândia, cujo compromisso é repassar
enfrentado pelas organizações populares,
anualmente o valor de R$ 3.700,00 (três
pois, muito além do não repasse dos
mil e setecentos reais) por aluno.
valores estabelecidos nos convênios, há
Entretanto, segundo nos informou a
casos de perseguição e até prisões de
direção, o repasse encontra-se atrasado
muitas liderançasxi.
desde dezembro de 2015. Outro convênio
Na direção da Escola Família
foi feito com a Secretaria Estadual de
Agrícola de Sidrolândia, o professor César
Educação, envolvendo o pagamento de
Junior da Silva, formado em Letras,
uma das professoras efetivas que trabalha
classifica a relação entre a escola e a
em regime de 40 horas semanais.
Prefeitura do município como muito
O recebimento e gerenciamento dos
difícil. Atualmente, a gestão atual do
recursos acontecem a partir da Associação

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PSDB não estabelece condições de diálogo contribui com a articulação de uma


com a escola, tampouco com a comunidade Associação Estadual das EFAS do Centro-
rural, nem apoia as demandas dos Oeste, sendo que pela distância entre os
assentamentos, questionando, inclusive, a estados e as escolas, discute-se a
existência de uma escola de cunho popular. organização de uma associação que atue
Afirma o professor César que o prefeito nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso
tem dificuldade, sobretudo, em aceitar que do Sul.
os assentados estudem, pois considera que A EFASIDRO e outras 177
a enxada é a caneta que o assentado instituições educacionais brasileiras, entre
deveria adotar. organizações não governamentais, escolas
César Junior acredita na construção públicas e particulares, foram reconhecidas
de uma nova conjuntura para o município pelo Ministério da Educação como
em 2017, a partir da renovação no quadro exemplos de inovação e criatividade na
de vereadores com a posse, inclusive, de educação básica através do prêmio
um representante de assentamento e do Experiência Educacional Inovadora e
novo prefeito municipal. Criativa.
O professor afirmou que até julho de O prêmio, oferecido pelo MEC em
2016, possuía uma ótima articulação com o dezembro de 2015, identifica e reconhece
Governo Federal por meio do Ministério iniciativas que contribuem para a melhoria
da Educação – Secretaria de Educação da qualidade da educação brasileira,
Continuada, Alfabetização, Diversidade e reconhecendo a EFASIDRO como uma
Inclusão (SECADI); porém, com o escola comunitária que contribui nesse
afastamento da Presidenta Dilma e a quesito.
subida ao poder de Michel Temer, essa A EFASIDRO vem trilhando um
Secretaria teve desarticulada sua atuação caminho próprio, com contornos e
junto aos movimentos sociais, componentes que se aproximam de
desestabilizando as relações e findando as diversas tendências do pensamento
políticas com os diversos segmentos pedagógico moderno, baseado nos
minoritários da sociedade que ali se paradigmas emancipadores. Daí sua grande
sentiam representados. importância social e territorial.
Como mecanismo de fortalecimento
Considerações finais
da prática educacional, a escola possui
articulação nacional com a UNEFAB e

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É fato já reconhecido que o Estado uma experiência que deve ser reconhecida
oferece uma educação precária para a e disseminada.
população campesina ou Consideramos que a EFASIDRO se
descontextualizado da realidade por ela constitui numa alternativa promissora para
vivenciada e muito aquém daquela cobrada os jovens e famílias de agricultores e
pelos movimentos sociais do campo. moradores do campo de Sidrolândia e
Assim, nossa intenção ao final desta região, pois leva em conta o contexto
pesquisa foi evidenciar e defender a social, histórico e espacial em que estão
importância e a necessidade de uma inseridos os alunos, compreendendo que o
educação popular para a população desenvolvimento do campo passa também
brasileira, particularmente, para a pela construção e consolidação de um
camponesa. projeto de educação como instrumento de
Dessa forma, defendemos a conscientização crítica de seus educandos.
necessidade de avançarmos, a partir das Dessa forma, ainda que estejamos
iniciativas propostas pelos movimentos vivendo uma conjuntura política
sociais que reivindicam, sobretudo, uma fortemente conservadora e que sinaliza
educação com características libertárias, inúmeras perdas para as classes populares,
pois, caso contrário, dificilmente é preciso resistir e lutar pela propagação de
construiremos um modelo de educação experiências como a oferecida na
pública com as características necessárias EFASIDRO.
para a emancipação da classe trabalhadora. Portanto, enfatizamos a necessidade
Nessa perspectiva, a educação de construção e ampliação de escolas que
oferecida pelas EFAs, cunhada na mantêm nos seus preceitos e organização a
educação popular, ou seja, vinculada à experiência democrática, não somente
população a que se destina, observando e referente à eleição para diretores, mas no
valorizando as trocas de experiências, a seu processo de direção como um todo,
importância da família, os saberes envolvendo: a discussão de sua proposta
populares e, ao mesmo tempo, garantindo pedagógica; a relação estreita com a
uma educação científica pelos seus comunidade onde está inserida
professores e técnicos, promovendo a espacialmente e, fundamentalmente, que
geração de renda, o fortalecimento da contribua com a emancipação social e
agricultura camponesa e as relações política da classe trabalhadora,
comunitárias através da solidariedade, é

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promovendo, necessariamente, uma Brandão, C. R., & Bezerra, A. (1987). A


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Pessoti, A. L. (1978). A Escola Família Paulo em Perspectiva. São Paulo:
Agrícola: Uma alternativa para o ensino Fundação SEADE.
rural. (Dissertação de Mestrado).
Fundação Getúlio Vargas.

ii
Mais informações sobre a história da educação e a
importância desses educadores brasileiros no
processo de construção da educação que temos hoje
i
Mais sobre o assunto em Ariovaldo Umbelino de podem ser observadas em Saviani (2007).
Oliveira, O Modo de Produção Capitalista, iii
Agricultura e Reforma Agrária. Disponível em: O professor Fernando de Araújo Penna - UFF, em
<http://www.geografia.fflch.usp.br/graduacao/apoio entrevista ao portal da ANPED, afirma que esse
/Apoio/Apoio_Valeria /Pdf/Livro_ari.pdf > Acesso movimento existe desde 2004, mas que ganhou
em: 26 de agosto de 2016. força em 2016. Entre as propostas desse grupo,
existem, além da defesa de uma escola

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descontextualizada, outras pautas conservadoras.


Maiores informações sobre o tema em:
http://www.anped.org.br/news/entrevista-com-
fernando-de-araujo-penna-escola-sem-partido-serie- Recebido em: 05/02/2017
conquistas-em-risco. Aprovado em: 12/03/2017
iv Publicado em: 19/04/2017
Maiores informações disponível em:
https://amefa.wordpress.com.
v
O Banco da Terra foi uma política elaborada pelo Como citar este artigo / How to cite this article /
governo F. H. C., tendo como base a Lei Como citar este artículo:
Complementar nº 93 de 04/02/1998, regulamentada
pelo Decreto nº 3.027/99, posteriormente APA:
transformada em Programa Nacional de Crédito Assunção, A. S., & Bernardelli, M. L. F. H. (2017).
Fundiário no governo Lula, cuja criação era Educação popular e educação do/no campo:
destinada ao financiamento do acesso a terra, bem perspectivas para uma educação inclusiva – a Escola
como aos investimentos em infraestrutura básica a Família Agrícola em Sidrolândia - MS. Rev. Bras. Educ.
trabalhadores rurais sem-terra, jovens rurais, Camp., 2(1), 294-322. DOI:
minifundiários, arrendatários, meeiros e posseiros. http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-
Recebeu fortes críticas dos movimentos sociais 4863.2017v2n1p294
dada a lógica mercantil explicitada nessa política.
Ver, entre outros, Thomaz Junior (2010). ABNT:
ASSUNÇÃO, A. S.; BERNARDELLI, M. L. F. H.
vi
Ressaltamos que ainda existem muitos Educação popular e educação do/no campo:
acampamentos em luta pela terra no município e perspectivas para uma educação inclusiva – a Escola
nos municípios vizinhos. Família Agrícola em Sidrolândia - MS. Rev. Bras.
Educ. Camp., Tocantinópolis, v. 2, n. 1, p. 294-322,
vii
Esses assentamentos são nomeados pelo INCRA 2017. DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-
somente de Alambari. No entanto, considerada as 4863.2017v2n1p294
diferentes formas de organização dos assentados,
em que cada grupo articula-se por entidades e
associações distintas e apresentam origens
diferentes, optamos por dividi-los, conforme
melhor organização compreendida pelos grupos que
estão dispostos na terra.
viii
Este caso é idêntico ao referido anteriormente.
ix
Ato de dividir a parcela rural em várias pequenas
partes, como o objetivo de melhor trabalhar do
manejo do gado nesses pedaços.
x
Professor da EFASIDRO traz crianças para
pressionar prefeitura a reativar convênio.
Disponível em:
<http://www.regiaonews.com.br/noticias/207945/--
-professor-da-efasidro-traz-criancas-para-
pressionar-prefeitura-a-reativar-convenio----.html>.
Acesso em: 15 de outubro de 2016.
xi
Mais sobre a questão de prisões indiscriminadas
de lideranças sem terra disponível em
<www.brasil247.com/pt/247/.../MST-condena-
prisão-de-líder-sem-terra-no-RS.htm>. Acesso em:
26 de agosto de 2016.

Rev. Bras. Educ. Camp. Tocantinópolis v. 2 n. 1 p. 294-322 jan./jun. 2017 ISSN: 2525-4863
322

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