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A Importância da Alimentação Saudável na Infância e na Adolescência

AUTOR

Márcia Regina de Souza Amoroso Quedinho Paiva

Médica Assistente do Departamento de Pediatria e Puericultura da ISCMSP.

INTRODUÇÃO

Como é de conhecimento geral, a boa alimentação é essencial desde cedo, a fim de manter uma boa qualidade de
vida e prevenir infecções e patologias na vida adulta.

A avaliação rotineira e sequencial do crescimento e do desenvolvimento das crianças nos primeiros anos de vida
continua sendo uma forma indireta, porém extremamente importante, para monitorar as práticas alimentares de
crianças e, posteriormente, de adolescentes. A avaliação do crescimento ponderoestatural não só reflete as
condições de saúde naquele momento, como também exerce papel fundamental na prevenção de doenças futuras.

Alguns estudos referem que uma dieta inapropriada da mãe durante a gestação pode estar relacionada a futuras
patologias na criança. Outros trabalhos mostram também que, além do baixo peso ao nascer, o ganho ponderal
acentuado nos primeiros 6 meses de vida está relacionado com o desenvolvimento futuro de obesidade e
adiposidade central. Em estudo realizado por Stettler et al. em 2002, salientou-se a importância do rápido ganho de
peso durante os 4 primeiros meses de vida como determinante de sobrepeso e obesidade aos 7 anos de idade,
independentemente do peso de nascimento. Durante os 2 primeiros anos de vida, ocorre intenso e rápido
desenvolvimento físico, cognitivo, emocional e social. Portanto, práticas alimentares inadequadas nessa fase da vida
podem, no futuro, repercutir de forma negativa no desenvolvimento global das crianças e ocasionar sequelas.

Da mesma forma, a nutrição desempenha um papel fundamental durante a adolescência, período de crescimento
acelerado, de rápidas modificações e que requer um amplo fornecimento de energia e nutrientes. As doenças
crônicas degenerativas são responsáveis por elevados índices de mortalidade entre adultos. Essas doenças são uma
das causas para que o ser humano não consiga alcançar maior expectativa de vida. Para reverter o quadro, é
necessária, antes de tudo, uma alimentação adequada desde o desmame. A partir dessa fase, inicia-se a formação
dos hábitos alimentares. É mais fácil começar com uma alimentação adequada do que mudar quando adulto ou
quando o organismo dá sinais de doenças.

Pediatras e profissionais que lidam com crianças e adolescentes devem ter como meta a orientação de práticas
apropriadas de alimentação, além da superação de desafios frequentes da prática pediátrica, como a redução do
risco de carências nutricionais (p.ex., anemia ferropriva), orientações quanto ao acesso à água potável e cuidados
necessários com o saneamento básico, fornecimento adequado de nutrientes específicos para o pleno
funcionamento de órgãos, sistemas e aparelhos e, finalmente, reduzir o risco de desenvolvimento de doenças
crônicas não transmissíveis, como obesidade, hipertensão, diabetes, entre outras, as quais se encontram em
importante ascensão na faixa etária pediátrica. Sabe-se que cerca de 40% da população adulta brasileira acima de
20 anos de idade é portadora de excesso de peso e que cerca de 30% dos indivíduos são portadores de doenças
crônicas não transmissíveis.

O conceito de alimentação saudável pode influenciar de forma importante no binômio saúde-doença. Desta forma,
é necessário valorizar a importância do incentivo ao aleitamento materno exclusivo até os 6 meses e sua
manutenção até os 2 anos ou mais (desde que complementado por outros alimentos após os 6 primeiros meses) e a
introdução de alimentação complementar saudável e de forma adequada a partir do 2º semestre de vida desses
pacientes.

Frente a isso, torna-se emergencial o planejamento e a aplicação de estratégias, tanto no âmbito de políticas
públicas de saúde quanto no atendimento pediátrico individualizado de puericultura, para que ocorra educação
nutricional adequada e intervenção precoce visando à promoção de saúde e à prevenção de doenças atuais e
futuras.

HÁBITOS ALIMENTARES DURANTE A INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA


A prática de uma dieta balanceada e hábitos alimentares saudáveis desde a infância proporcionarão níveis ideais de
saúde e favorecerão o perfeito desenvolvimento físico e intelectual, reduzindo os transtornos causados pelas
deficiências nutricionais comuns a este estágio de desenvolvimento e evitando a manifestação da obesidade e
outros distúrbios alimentares.

A família, a escola e a sociedade têm a responsabilidade de favorecer a adoção de um comportamento saudável por
parte das crianças para que estas se tornem capazes de encontrar um equilíbrio alimentar e alcancem uma boa
qualidade de vida com repercussões positivas na adolescência e na vida adulta.

A responsabilidade da família é favorecer a adoção de um comportamento alimentar saudável por parte das
crianças. Os pais exercem importante papel de modelo para seus filhos auxiliando-os nas práticas alimentares e
estabelecendo os alimentos, o local e o momento adequado para seu consumo, mas permitindo que a criança
utilize os seus próprios recursos e respeitando sempre a sua saciedade. Para isso, é importante criar opções
atrativas e nutritivas para que as crianças componham adequada e equilibradamente sua dieta.

A escola desempenha papel fundamental na formação de hábitos de vida das crianças, sendo também responsável
pelo conteúdo educativo global, inclusive do ponto de vista nutricional. A alimentação escolar, tanto na rede
pública quanto na rede privada, tem como objetivos: suprir parcialmente as necessidades nutricionais dos alunos,
melhorar a capacidade no processo ensino-aprendizagem e formar bons hábitos alimentares.

Atualmente, os meios de comunicação vêm influenciando substancialmente o consumo de alimentos, pois as


crianças permanecem mais tempo em frente à televisão e os comerciais veiculados versam predominantemente
sobre alimentos que, em geral, contêm altos níveis de constituintes não saudáveis, podendo contribuir para a
obesidade, dislipidemias, hipertensão e outros distúrbios. Desse modo, além do sedentarismo e da ingestão
inadequada de alimentos, a criança pode adquirir concepções incorretas sobre a alimentação.

As tendências à urbanização aliadas ao desenvolvimento industrial e agropecuário ocasionaram mudanças de


padrão alimentar e de vida das sociedades ocidentais. O consumo de alimentos industrializados e ricos em gordura
aumentou, em detrimento da ingestão de alimentos não processados. Houve ainda redução da atividade física para
o desenvolvimento do trabalho e do lazer. Tais modificações determinaram o processo denominado transição
nutricional, caracterizado por queda das taxas de desnutrição, aumento da prevalência de obesidade e incremento
de casos de “fome oculta” – deficiências nutricionais específicas, pouco evidentes clinicamente, mas prejudiciais à
boa saúde.

O aleitamento materno exclusivo até o 6º mês e total até pelo menos 2 anos de idade é fundamental na prevenção
de doenças tanto a curto como a longo prazo. Nos primeiros meses de vida, associa-se, no futuro, com redução do
risco de obesidade, menores níveis pressóricos e queda dos níveis de colesterol.

A alimentação com leite humano diminui a incidência e/ou a severidade de uma ampla série de doenças infecciosas,
incluindo a meningite bacteriana, bacteriemia, diarreia, infecções do trato respiratório, alergias alimentares,
enterocolite necrotizante, otite média, infecção do trato urinário e sepse de início tardio em crianças pré-termo.

Alguns estudos sugerem taxas diminuídas de síndrome da morte súbita do lactente no 1º ano de vida e redução na
incidência de diabetes melito insulino-dependente (tipo 1) e não insulino-dependente (tipo 2), doença celíaca e de
Crohn, linfoma, leucemia e doença de Hodgkin, sobrepeso e obesidade, hipercolesterolemia e asma em crianças
mais velhas e adultos que foram amamentados, comparados com indivíduos que não foram amamentados.

Gdalevich et al., em 2001, realizaram estudos correlacionando o AM à incidência de asma e dermatite atópica e
concluíram que o AM exclusivo nos primeiros meses de vida está associado com redução de 30% no risco de
desenvolvimento de asma na infância e, quando exclusivo nos 3 primeiros meses de vida, associa-se com queda do
risco de desenvolvimento de dermatite atópica em crianças com maior risco de atopia. Em estudo realizado por
Martin et al., em 2004, observou-se discreta redução nos níveis pressóricos (tanto sistólicos quanto diastólicos) em
adultos que receberam aleitamento materno. Klement et al., em 2004, relataram que o AM está associado com
redução de 33% e 23% no risco de desenvolvimento de doença de Chron e retocolite ulcerativa, respectivamente.
Com relação à obesidade, estudo realizado por Harder et al., em 2005, mostra que para cada mês de aleitamento
materno, há redução de 4% no risco de desenvolvimento de obesidade na vida adulta. Owen et al., em 2006,
observaram que o AM na infância está associado à redução de 39% no risco de desenvolvimento de diabetes tipo 2
na vida adulta. Outro estudo realizado por Akobeng et al., em 2006, observaram que o AM durante a exposição ao
glúten e a maior duração do AM associaram-se com redução de 52% no risco de desenvolvimento de doença
celíaca.

O aleitamento materno proporciona também melhora do vínculo mãe-filho, ausência de sobrecarga renal de
solutos, melhor digestibilidade e biodisponibilidade de nutrientes, melhora da aceitação de novos alimentos no
desmame (pela exposição a odores e sabores diferentes) e custo menor quando comparado com alimentação
artificial.

Além disso, quanto ao desenvolvimento neurológico, a amamentação tem sido relacionada a desempenho
ligeiramente melhor em testes de desenvolvimento cognitivo.

A utilização de leite de vaca integral no 1º ano de vida oferece riscos à saúde, como aumento da carga renal de
soluto (pelos altos teores de proteína e sódio), risco do desenvolvimento de anemia carencial ferropriva (pela baixa
disponibilidade do ferro), baixo conteúdo de ácidos graxos essenciais, alterações hormonais secundárias (pela
elevada quantidade de proteína – cerca de 4 a 5 vezes maior do que no leite materno) e perfil de aminoácidos com
estímulo à produção excessiva de insulina e somatomedina C (o que pode favorecer o desenvolvimento de
obesidade futura e resistência insulínica), além da inadequação no fornecimento de vários micronutrientes.

A introdução precoce de alimentos habitualmente utilizados pela família está associada a maior consumo de
energia e redução na ingestão de um ou mais nutrientes essenciais, assim como no risco de consumo elevado de
sódio.

O consumo de sobremesas doces em crianças menores de 2 anos de idade foi associada com aumento na ingestão
de energia e redução no consumo de frutas. Com relação ao consumo de vegetais, houve um aumento expressivo
no consumo deste tipo de alimento em pacientes entre 19 e 24 meses.

Os pré-escolares em geral estão expostos a uma ampla variedade de alimentos que têm composição, sabor, textura
e cor das mais variadas. Nesta fase, geralmente sua dieta é semelhante à dos escolares. Os pré-escolares, todavia,
ingerem menos alimentos e tomam menos líquidos do que os escolares (exceto leite e produtos lácteos que são
consumidos em quantidades semelhantes pelos dois grupos). Depois do leite e dos produtos lácteos, os principais
componentes da dieta de pré-escolares são as frutas, os vegetais verdes, os tubérculos, os cereais, o açúcar, a carne
e seus derivados. A ingestão de micronutrientes está estreitamente relacionada com a ingestão de energia, de
modo que é possível que as crianças cujo consumo de energia é menor também sofram de deficiência de outros
micronutrientes, como o ferro e o zinco.

O número de refeições que uma criança recebe diariamente varia de acordo com a tradição, o nível socioeconômico
e educacional da família, a idade e o sexo da criança, além de outros fatores. Uma dieta é dita saudável quando
possibilita ótimo crescimento e desenvolvimento, o que pode ser alcançado mediante o consumo diário de uma
ampla variedade de alimentos com diferentes propriedades.

Durante a adolescência, podem aparecer novos hábitos de consumo explicáveis por motivos psicológicos, sociais e
socioeconômicos, inclusive influência de amigos, rebeldia contra os controles exercidos pela família, busca de
autonomia e identidade, aumento do poder de compra, hábito de preparar rotineiramente seu próprio alimento,
urbanização e o hábito de comer fora de casa. Esses novos padrões e hábitos alimentares podem repercutir, a longo
prazo, na saúde futura do indivíduo maduro e na escolha posterior dos alimentos.

Com relação aos hábitos e comportamentos alimentares de adolescentes, os achados mais frequentes são: não
realização de refeições, principalmente o desjejum; substituição do almoço e/ou jantar por fast foods de alta
densidade energética, ricos em gordura saturada, gordura trans, colesterol, sódio, açúcar; baixo consumo de frutas,
verduras, legumes e cereais integrais; ingestão insuficiente de alimentos fontes de cálcio (em especial o leite); alto
consumo de refrigerantes; refeições realizadas fora de casa e em companhia de amigos.

Os lanches mais populares são os produtos fritos ou com sabores intensos, doces e chocolates, biscoitos, produtos
lácteos, frutas e sucos de frutas, refrescos e pão. Quando os lanches substituem parcialmente as principais
refeições, é importante assegurar que sejam nutritivos, o que pode contribuir para uma dieta equilibrada, desde
que os demais alimentos escolhidos sejam adequados.
As consequências nutricionais do consumo de refrescos e fast food são principalmente as resultantes dos seus altos
teores de gordura e hidratos de carbono. São exemplos das principais consequências: obesidade, cáries dentárias,
hiperlipidemia e hipercolesterolemia, hiperatividade infantil, diarreia e sobrecarga de fósforo em razão das grandes
quantidades deste elemento existentes nas bebidas à base de cola.

Há evidências científicas comprovando que os hábitos e os comportamentos alimentares adquiridos na


adolescência tendem a persistir na vida adulta e, quando inadequados, contribuem para o aparecimento de
doenças crônicas não transmissíveis na maturidade (hipertensão arterial, dislipidemias, diabetes tipo 2, doenças
cardiovasculares, entre outros). A prevenção destas doenças pode ser feita pela adoção de estilo de vida e hábitos
alimentares mais saudáveis, com aumento do consumo de verduras, legumes, frutas, leguminosas, cereais integrais,
associado à redução da ingestão de alimentos ricos em gorduras saturadas e trans, colesterol, sal e açúcar. Os
adolescentes devem receber uma educação que os habilite a manter sua dieta equilibrada e que inclua uma
variedade adequada de alimentos, como as saladas, dentre a grande variedade disponível nos estabelecimentos de
refeições rápidas.

Entre a saúde, a informação nutricional e os hábitos alimentares existem obstáculos como a falta de tempo e de
disciplina, assim como a ausência de uma percepção adequada da urgência da aplicação de medidas preventivas
cujos benefícios só serão evidentes décadas mais tarde. Outros fatores como o amor-próprio, a relação com os
amigos e com a família, bem como a influência de companheiros, desempenham um importante papel na conduta
do adolescente, inclusive quanto aos hábitos alimentares. As políticas de prevenção devem ajudar os adolescentes a
entender como evitar doenças presentes e futuras relacionadas com a nutrição, por meio do desenvolvimento de
sua própria independência e de sua capacidade para tomar decisões acertadas e de fazer escolhas corretas.

RECOMENDAÇÕES NUTRICIONAIS: IMPORTÂNCIA DE UMA DIETA EQUILIBRADA E BALANCEADA EM MACRO E


MICRONUTRIENTES.

A manutenção do aleitamento materno (AM) exclusivo até o 6º mês e total até pelo menos 2 anos de idade é, sem
dúvida nenhuma, estratégia crucial na prevenção de doenças tanto a curto como a longo prazo, além de todos os
outros benefícios já citados anteriormente.

Com relação à alimentação complementar, a criança deve receber alimentos adequados: de qualidade, baixo custo,
fácil aquisição, maior disponibilidade local e já de uso habitual em suas regiões e cujo preparo seja livre de
contaminação. Os alimentos complementares devem ser ricos em energia e nutrientes (particularmente ferro,
cálcio, zinco, vitaminas A e C e ácido fólico). Devem ser apresentados em quantidade e consistência próprias para a
idade da criança e sem excessos de sal e condimentos.

Em relação aos carboidratos, é importante evitar o consumo exagerado de carboidratos simples, preferindo-se os
complexos, e garantir consumo adequado de fibras alimentares. O baixo índice glicêmico dos alimentos melhora a
secreção da insulina e o consumo excessivo de bebidas açucaradas e de frutose concentrada pode cursar com
aumento no risco de obesidade, resistência insulínica e diabetes tipo 2.

A quantidade e a qualidade da gordura ingerida também são extremamente importantes para a promoção da saúde
e a prevenção de doenças. Baseado em modelos de leite humano, a ingestão de lipídios nos primeiros 6 meses de
vida deve prover de 40 a 60% do total de energia e conter quantidade menor do que 1% de gordura trans e ser livre
de ácido erúcico. A maior ingestão de gordura trans ocorre a partir do consumo de produtos industrializados
contendo gordura vegetal hidrogenada. Os efeitos deletérios da gordura trans incluem: aumento de LDL-colesterol
e lipoproteína A, redução do HDL-colesterol e piora da resposta inflamatória. A partir de 2 anos de idade, a gordura
deve prover de 30 a 35% da ingestão energética total e conter menos de 10% de gordura saturada, colesterol
abaixo de 300 mg/dia e gordura trans inferior a 2%.

A proteína é um macronutriente importante para o adequado crescimento da criança, já que fornece aminoácidos
essenciais e nitrogênio para a síntese de enzimas, hormônios, neurotransmissores, proteínas corpóreas e também
para a manutenção de tecidos. Em idades precoces, o excesso no consumo de proteínas, além de elevar a carga
renal potencial de soluto, está também relacionado com o risco de desenvolvimento de obesidade futura. Estudos
mostraram que o consumo excessivo de proteínas na fase de alimentação complementar, e não de carboidratos e
lipídios, no início da vida relacionava-se com maior adiposidade aos 7 anos de idade.
Com relação ao fornecimento de micronutrientes (essenciais inorgânicos, os elementos-traço e orgânicos, as
vitaminas), embora necessários em pequenas quantidades pelo organismo, exercem função de vital importância,
sendo cofatores e coenzimas no metabolismo e como componentes estruturais e antioxidantes. A deficiência de
micronutrientes, chamada fome oculta, é extremamente frequente em nosso meio e altamente prejudicial,
sobretudo para lactentes jovens. As deficiências de zinco e vitamina A foram apontadas como responsáveis por
4,4% e 6,5%, respectivamente, das mortes entre menores de 5 anos no mundo.

O zinco atua em vários processos enzimáticos relacionados ao metabolismo proteico, lipídico, de carboidratos e de
ácidos nucleicos, sendo essencial para o crescimento e o desenvolvimento. Contribui também como parte estrutural
de proteínas e enzimas e está envolvido na expressão gênica. A fase de interrupção do aleitamento materno
exclusivo e a de introdução de alimentos complementares são consideradas pela OMS como períodos de grande
vulnerabilidade e risco de instalação da deficiência de zinco. As carnes e os frutos do mar são importantes fontes
deste elemento.

A vitamina A desempenha importante papel no metabolismo geral. É necessária para o crescimento, a reprodução,
a preservação da visão, a manutenção do epitélio diferenciado, entre outras ações. Pode ainda impedir os efeitos
de alguns agentes carcinogênicos e determinar redução da incidência de tumor após exposição a vírus específicos
ou compostos carcinogênicos. Pode ser encontrada em alimentos de origem animal (vísceras, gema de ovo, leite e
derivados) e em alimentos de origem vegetal (hortaliças de cor verde-escura, frutos com polpa amarelo-alaranjada
e óleos vegetais comestíveis).

O cobre atua como cofator em várias enzimas fisiologicamente importantes e representa o terceiro elemento-traço
mais abundante no organismo, atrás do ferro e do zinco. Auxilia enzimas envolvidas na síntese do colágeno,
enzimas que inativam a histamina liberada nas reações alérgicas, enzimas importantes na degradação da
serotonina, no metabolismo da epinefrina, norepinefrina e dpoamina e no metabolismo energético. Auxilia também
no metabolismo do ferro e é fundamental na defesa antioxidante. Os sinais de deficiência de cobre incluem:
neutropenia, anemia microcítica, anormalidades ósseas, lesões de pele, redução da fagocitose e piora na imunidade
celular.

A anemia carencial ferropriva afeta de 40 a 80% dos lactentes brasileiros e é a carência nutricional mais prevalente
em vários países do mundo. Em lactentes, os efeitos negativos da anemia e deficiência crônica de ferro não são
restritos ao período da carência, como também se prolongam ao longo da vida deixando sequelas, principalmente
no desenvolvimento cognitivo, mesmo quando a anemia não está mais vigente.

OUTROS NUTRIENTES E COMPONENTES DA ALIMENTAÇÃO COM PAPEL NA IMUNOMODULAÇÃO, NA PREVENÇÃO


DE DOENÇAS E NA DEFESA ANTIOXIDANTE

Os nucleosídios e os nucleotídios são essenciais para o metabolismo celular e têm papel fundamental na estrutura
do DNA e do RNA. São compostos de baixo peso molecular que representam uma pequena parte da porção de
nitrogênio não proteico da dieta humana. Os nucleotídios podem ser considerados condicionalmente essenciais em
fases da vida nas quais o crescimento é acentuado. O leite humano contém quantidade de nucleotídios
correspondente a cerca de 20% do nitrogênio não proteico. Estudos recentes demonstraram que a suplementação
de fórmulas infantis com nucleotídios aumentou a resposta humoral a vacinas contra hemófilos tipo B e difteria.
Outros estudos observaram que fórmulas suplementadas com ribonucleotídios foram associadas com melhor
resposta vacinal contra H. influenza, toxoide diftérico e pólio oral, além de estar relacionada à queda do número de
casos de diarreia. Isso supõe que haja uma interface com a microbiota intestinal. Embora os nucleotídios sejam
adicionados a alguns anos em fórmulas infantis (dose sugerida de 5 mg/100 kcal), ainda existem poucos estudos
disponíveis em humanos para avaliar os benefícios acarretados no sistema imune e na proteção contra infecções,
assim como avaliar eventuais eventos adversos relacionados à dose.

Os prebióticos são ingredientes alimentares não digeríveis, derivados de carboidratos complexos, que estimulam o
crescimento e/ou atividade de um grupo de bactérias no cólon e trazem benefícios à saúde. São resistentes a acidez
gástrica, hidrólise por enzimas intestinais e não são absorvidos pelo trato gastrintestinal. Um dos principais
representantes são os fruto-oligossacarídios (FOS), polissacarídio não passível de hidrólise pelo estômago e
intestino delgado e que, ao atingir o intestino grosso, é metabolizado seletivamente por um número limitado de
bactérias benéficas, gerando uma microflora bacteriana saudável, capaz de induzir a efeitos fisiológicos importantes
para a saúde. O leite humano contém cerca de 1 g/100 mL de oligossacarídios com propriedades prebióticas,
sintetizados a partir da lactose. A ação dos prebióticos tem sido descrita na prevenção e no tratamento de algumas
doenças. Os resultados da suplementação de prebióticos nas enfermidades alérgicas revelam-se promissores: a
utilização de mistura de prebióticos em fórmulas infantis para crianças com risco de alergia, nos primeiros 6 meses
de vida, reduziu a incidência de eczema atópico aos 2 anos de idade. Entretanto, ainda há poucos estudos que
avaliam a utilização de prebióticos em quadros alérgicos. Há também trabalhos que investigam a ação de
prebióticos nas doenças inflamatórias intestinais, na mineralização óssea e nas dislipidemias, entretanto os achados
ainda são bastante incipientes para a extrapolação para a prática clínica.

Os probióticos são micro-organismos vivos capazes de alcançar o trato gastrintestinal e alterar a composição da
microbiota, produzindo efeitos benéficos à saúde quando consumidos em quantidades adequadas. Esses efeitos
estão direta e exclusivamente relacionados ao tipo de cepa utilizada que deve resistir à acidez gástrica e à ação dos
sais biliares, possuir efeitos benéficos ao hospedeiro (in vitro e in vivo), ter capacidade de adesão ao muco ou
epitélio intestinal, apresentar segurança comprovada (baixo risco de infecção sistêmica e de produção de toxinas
deletérias, não oferecer estímulo excessivo à resposta imunológica e não possibilitar a transferência de genes entre
micro-organismos), além de garantir a manutenção da viabilidade até o momento do consumo. Os probióticos mais
comumente utilizados são o Lactobacillus, o Bifidobacterium e o Saccharomyces boulardii, micro-organismos que
promovem benefícios à saúde, especialmente a inibição das bactérias patogênicas Clostridium difficile e Salmonella
ssp, redução da incidência e da duração de quadros diarreicos, síntese de vitaminas do complexo B e ainda pode
ajudar a aliviar os sintomas de intolerância à lactose. Por tais propriedades, tem sido adicionado em derivados
lácteos (queijos e iogurtes) e fórmulas infantis. A melhora da barreira da mucosa intestinal, diminuindo a passagem
dos antígenos para a corrente sanguínea, a redução da proliferação de micro-organismos patogênicos e o aumento
da produção do fator de crescimento de transformação beta e prostaglandina E2 são mecanismos locais que levam
os probióticos a beneficiar a saúde do hospedeiro.

Há mais de 30 anos, existem relatos da presença de bactérias viáveis no leite materno e estudos recentes reforçam
tais achados. Os estudos publicados até o momento comprovam que a suplementação com probióticos diminui o
tempo de duração da diarreia aguda em crianças, sendo mais efetivos nas infecções virais, assim como a
suplementação de probióticos mostra efeitos benéficos na prevenção da diarreia associada a antibióticos. Recém-
nascidos pré-termo, em unidades de internação neonatais, desenvolvem flora intestinal muito diferente das
crianças nascidas a termo. No lugar de bifidobactérias e dos lactobacilos, a microflora dessas crianças é composta
predominantemente por estafilococos, enterobactérias e enterococos. Este seria um dos fatores de risco para o
desenvolvimento de enterocolite necrosante nesses pacientes. A suplementação de probióticos por via enteral
reduziu o risco de enterocolite necrosante e mortalidade nesses RN pré-termo. Os probióticos também têm
importante papel na prevenção de doenças alérgicas. Estudos mostram efeitos benéficos na prevenção de
dermatite atópica em lactentes de risco. Esses efeitos estão diretamente relacionados ao tipo da cepa utilizada e à
idade da suplementação.

O interesse sobre probióticos e prebióticos ressurgiu com estudos que demonstram que o equilíbrio ou
desequilíbrio do sistema ecológico interno (microbiota – flora intestinal) pode ter influência importante no
desempenho da imunidade, bloqueando ou desencadeando doenças. Doença de Crohn, diabetes tipo I (DM1) e
rinite são enfermidades sobre as quais há fortes suspeitas de que o desequilíbrio na microbiota intestinal possa ser
um dos fatores desencadeantes.

Os ácidos graxos esenciais linoleico (LA) e alfalinoleico (ALA), obtidos a partir da dieta, sofrem reações enzimáticas
originando os ácidos graxos poli-insaturados de cadeia muito longa (LC-PUFAS) dentre os quais se destacam o ácido
araquidônico (ARA), que, além de outras funções, participa da estrutura da membrana celular e produz potentes
mediadores que atuam na resposta inflamatória, como as prostaglandinas e os leucotrienos, e o ácido
docosaexaenoico (DHA), que tem importante papel na estrutura da membrana celular da retina e do sistema
nervoso central (SNC), além de participar do equilíbrio imunológico. O acúmulo de DHA no cérebro inicia-se
intraútero e continua após o nascimento, especialmente nos 2 primeiros anos de vida. A incorporação de ARA
também acontece no SNC antes e depois do nascimento, em menor proporção quando comparado ao DHA. A oferta
de DHA e ARA na gestação ocorre predominantemente por via placentária, havendo importante influência da dieta
materna na quantidade de ácidos graxos oferecidos ao feto. Um consenso europeu recente preconiza, para
mulheres em idade fértil, gestantes e lactentes, o consumode peixes marinhos ricos em DHA (p.ex., salmão e
sardinha), 2 vezes/semana, ou a suplementação de 200 mg desse ácido. Crianças nascidas a termo e pré-termo são
capazes de sintetizar ARA e DHA a partir do LA e ALA, entretanto estudos mostram que a capacidade de conversão é
baixa, especialmente naquelas nascidas prematuramente. O leite humano provê quantidades adequadas de LA,
ALA, DHA e ARA. Os níveis de DHA no leite humano correlacionam-se de forma positiva com o desenvolvimento
visual e neuropsicomotor nas crianças em aleitamento materno.

TÓPICOS IMPORTANTES

· Os profissionais de saúde, especialmente os pediatras, devem sensibilizar pais e cuidadores a refletir sobre os
riscos à saúde que uma alimentação inadequada oferecida a lactentes pode ocasionar, mesmo em situações nas
quais o crescimento ponderoestatural ocorre de maneira satisfatória. Assim, a investigação alimentar torna-se
obrigatória na anamnese da consulta pediátrica.

· Especial atenção deve ser dada a alimentos como salgadinhos, embutidos, doces, refrigerantes, macarrão
instantâneo etc. que, por pressão da mídia ou por hábito de consumo familiar, são introduzidos precocemente,
ainda no 1º ano de vida. É importante salientar que as preferências por determinados alimentos são estabelecidas
nos primeiros anos de vida e podem predizer futuros hábitos alimentares, adequados ou não.

· Da mesma forma, os adolescentes deveriam receber uma educação que os habilite a manter sua dieta
equilibrada e que inclua uma variedade adequada de alimentos, como as saladas, dentre a grande variedade
disponível nos estabelecimentos de refeições rápidas.

· Entre a saúde, a informação nutricional e os hábitos alimentares existem obstáculos como a falta de tempo e de
disciplina, e de uma percepção adequada da urgência em se aplicar medidas preventivas cujos benefícios só serão
evidentes décadas mais tarde. Outros fatores, como o amor-próprio, a relação com os amigos e com a família e a
influência de companheiros, desempenham um importante papel na conduta do adolescente, inclusive quanto aos
hábitos alimentares.

· As políticas de prevenção devem ajudar os adolescentes a entender como evitar doenças presentes e futuras
relacionadas com a nutrição. Podem chegar a isso por meio do desenvolvimento de sua própria independência, de
sua capacidade para tomar decisões acertadas e de fazer as escolhas corretas.

· Finalmente, é fundamental considerar que a prática do aleitamento materno exclusivo até os 6 meses, a
introdução da alimentação complementar de forma adequada e equilibrada e a adoção de hábito alimentar e estilo
de vida saudáveis são importantes não só para garantir um crescimento e desenvolvimento ideais na infância, mas
também para prevenir doenças crônico-degenerativas na vida adulta

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