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Não. Não temos só Maurício de Souza no mercado nacional da animação. Temos muito
mais que isso...
"Desista, desenho não dá futuro", foi a primeira coisa que o pai da Turma da
Mônica escutou quando foi mostrar o seu portfólio para a redação do jornal
Folha da Manhã, em São Paulo, com a esperança de conseguir um estágio no
departamento de arte. O interessante é que quem disse essa frase era um
ilustrador que trabalhou por muito tempo na revista mais importante da época: O
Cruzeiro. "Por que você não tenta outra coisa na vida? Você é jovem. Pode
escolher qualquer coisa melhor do que passar anos e anos riscando papel! Vá
fazer qualquer outra coisa que dê dinheiro!”
Apesar disso, Maurício não desistiu de seu sonho, ralou muito, e com o seu
sucesso, não precisou fazer "qualquer outra coisa que desse dinheiro". Porém
esta matéria não irá falar apenas da turma da Mônica, mas sim da animação
brasileira em geral. E se alguém te perguntasse se você assistiu algum
longa-metragem animado brasileiro sem ser da turma da Mônica? Certamente,
você responderia que nunca assistiu, não é verdade? Pois bem, agora você vai
ficar sabendo que a animação tupiniquim é muito mais do que apenas Maurício
de Souza e todo o seu grande legado. Afinal a Mônica tem pouco mais de
cinquenta anos, e o Brasil já faz parte desse ramo há mais de cem anos.
Tudo começa em 1917 com o cartunista brasileiro Álvaro Martins, que usava o
pseudônimo de Seth. Ele produziu na época o curta chamado "O Kaiser", que
estreou em 22 de janeiro no Rio de Janeiro. A história relatava o expansionismo
alemão na Grande Guerra, satirizando o imperador Guilherme II. Este, para
mostrar o seu grande poder, coloca o seu capacete militar sobre o globo
terrestre, e o globo acaba o engulindo. Infelizmente, todas as cópias originais do
curta foram perdidos, restando apenas uma memória oral daqueles que
assistiram e uma foto de uma cena publicada em um jornal. Foi por causa dessa
foto que sabemos que o curta realmente existiu, sendo considerado por
pesquisadores a primeira animação nacional e para comemorar cem anos dessa
história, o diretor convidou oito animadores para reanimarem coletivamente o
"Kaiser" da forma em que eles imaginavam que era o curta baseado na foto do
jornal e dos comentários de quem o assistiu na época.
Curta "Macaco feio, macaco bonito" de 1928, a animação brasileira mais antiga que
ainda continua preservada
Somente 25 anos depois, ainda em preto e branco, o primeiro longa animado
nacional foi lançado: “Sinfonia Amazônica“, de Anélio Latini Filho. O filme, com
cerca de 500 mil desenhos autorais, demorou 5 anos para ser feito. Contava
sete histórias folclóricas: a lenda da noite, a lenda da formação do Rio
Amazonas, a lenda do fogo, a lenda da Caapora, a lenda do Jabuti e da Onça,
a lenda da Iara e a lenda do arco-íris são interligadas pelo índio Curumi.
Apenas em 1972 o primeiro longa colorido foi lançado: "Piconzé", criado pelo
cartunista e animador Ypê Nakashima. Com a finalidade de conseguir mão de
obra para o projeto, Nakashima colocou um anúncio em um dos jornais onde
trabalhou, o São Paulo-Shimbun. Ayao Okamoto fez a arte-final durante 3 anos,
a animação é finalmente concluída em 1972 e lançada em 24 de janeiro de
1973. O filme conta a história de um garoto do nordeste brasileiro que tenta
salvar sua namorada de um bandido. Durante a fuga, o casal se depara com um
dragão, uma bruxa e um saci.
Nos anos 90, o mercado entrou em crise. Com o Plano Collor, os artistas
deixaram de receber incentivos e a própria economia brasileira em geral afetava
todos os mercados nacionais. Quase nada foi produzido nessa época sem ser a
turma da Mônica, o que pode ter contribuído para que muitas pessoas pensem
que animação nacional é só Maurício. Para não dizer que nada foi produzido
nessa época, podemos destacar "Cassiopéia", a primeira animação 3d nacional.
Existe a discussão de que Cassiopéia seria a primeira animação 3d do mundo, e
não Toy Story. Acontece que a produção de Cassiopéia começou antes da do
filme da Pixar ser produzido, porém Toy Story acabou sendo lançado antes nos
cinemas. No final dessa mesmíssima década e no início da década seguinte, a
internet ainda estava engatinhando e com ela surgiram vários sites
especializados em criar suas próprias animações em Flash. Podemos citar como
exemplo o "Humortadela", o "Charges.com.br" e o "MundoCanibal". Vale
ressaltar que o Youtube ainda não existia, portanto os criadores dessas
animações tinham que criar um site próprio para que elas fossem mostradas na
internet. Elas eram bastante compartilhadas por e-mail.
Imagem de cima: "Uma História de Amor e Fúria". De baixo: Até que a Sbórnia nos
separe.
Não podemos nos esquecer também que com a ascenção da internet várias
animações brasileiras foram criadas utilizando a plataforma do youtube, como os
canais "Gato Galáctico" e sua série de mairo sucesso: "Cueio", o "5 Alguma
Coisa", o "Carne Moída TV", o "Rebosteio", o "Alce Celestial", o "Boxxit", o
"NickNir", o "Animaverso", a "Deusa Doce", a "Sociedade da Virtude", além de
canais que não são de animação que tem a sua própria série animada, como o
"Animatoons" do canal "Nostalgia". Mas o canal do youtube que mais faz
sucesso sem dúvida nenhuma é o canal pré-escolar da "Galinha Pintadinha",
que é o segundo canal do mundo que tem mais vídeos com mais de 100 milhões
de visualizações, com mais de 7,5 bilhões no total.
"Sociedade da VIrtude"
Mas o que realmente deu um salto gigantesco para a animação nacional foi a
indicação de "O Menino e o Mundo" ao oscar. A evolução do cinema animado
tem sido cada vez mais associada ao desenvolvimento tecnológico, de modo
que assistir a "O Menino e o Mundo" provoca uma surpresa. Enquanto as
grandes produções, como os da Pixar e da Dreamworks, buscam traços cada
vez mais realistas, o filme de Alê Abreu faz o caminho inverso: o protagonista é
desenhado com um rabisco simples, em 2D, por exemplo. Até aqui já dá pra ver
que a animação brasileira é muito mais que Maurício de Souza. Imagina como
seria a reação do cara que falou pro criador da turma da Mônica que desenho no
Brasil não vinga ao ver a indicação de O Menino e o Mundo ao oscar. Imagina
como seria a cara de como quem diz "poxa vida, falei besteira" dele. Por isso
nunca devemos dar bola a quem nos diz para desistirmos de nossos sonhos,
pois provavelmente essas pessoas já fracassaram no sonho delas. Vale
ressaltar que o sujeito que falou pro Maurício desistir da carreira artística já foi
um ilustrador antes. Possivelmente ele se frustrou nessa profissão e achou que
ninguém mais faria sucesso nela. A história da animação brasileira é um ótimo
exemplo de persistência e perseverança. Ela nos conta que não podemos
desistir de alcançar o que tanto desejamos, pois nós podemos fracassar também
em conseguir o que não queremos.
Fontes:
http://www.animamundi.com.br/pt/blog/100-anos-da-animacao-brasileira/
https://cinetoscopio.com.br/2017/08/10/100-anos-de-animacao-no-brasil/
http://agemt.org/contraponto/2017/08/29/animacao-brasileira-completa-100-anos
-de-historia-em-2017/
http://www.hypeness.com.br/2017/06/animacao-brasileira-comemora-100-anos-c
onheca-os-animadores-do-pais-em-nossa-linha-do-tempo/
http://www.centrodeartes.uff.br/blogcinearteuff/2013/07/animacao-brasileira-long
as-metragens/