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1.

INTRODUÇÃO
2. O QUE É PROJETO TEXTUAL?
3. ANÁLISE DE PROJETOS TEXTUAIS
4. DESVIO DE PROJETO TEXTUAL
5. ARGUMENTO DESENVOLVIDO INSUFICIENTEMENTE
6. DISSERTAÇÃO ARGUMENTATIVA MODELO
7. NÍVEIS DE DESEMPENHO SEGUNDO A CARTILHA DO PARTICIPANTE ENEM
8. CONCLUSÃO

1. INTRODUÇÃO

Antes de empreendermos uma discussão, é preciso termos propriedade sobre o assunto. Como
sabemos, a dissertação argumentativa aborda um aspecto do assunto, ou seja, um tema e a
respectiva polarização em torno dele – por que motivo parte da sociedade o contesta, enquanto
outra parte o defende?; quais as consequências/os desdobramentos dessa questão?; quanto
custa aos cofres públicos o enfrentamento desse tema?; quais os caminhos para minimizar os
impactos dessa situação? etc., etc. (Para “puxar ideias”, o candidato pode “entrevistar” o tema.)

Entretanto, para que um ponto de vista seja aceito, com potencial de, inclusive, ser adotado pelo
leitor, precisamos, a partir do tema, organizar o raciocínio, selecionar, interpretar, levantar e
resolver questionamentos para defendermos nosso posicionamento crítico. Enfim, esse capítulo
focaliza, exatamente, a habilidade de o candidato planejar-se para o enfrentamento da situação-
problema proposta – a esse aspecto chamamos “projeto textual”.

Assim, a Competência 3 da Redação da Matriz de Referência para a Redação do Enem avalia a


capacidade de candidato

Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos,


opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista.

2. O QUE É PROJETO TEXTUAL?

Observação preliminar: a Competência 2 da Matriz de Referência avalia o atendimento ao tipo


e a adequação ao tema propostos. Sabemos que, pelas peculiaridades da redação do Enem, ela
já se tornou um gênero do tipo textual dissertativo. Entretanto, o que, à primeira vista parece
complexo, na verdade, é simples, graças ao projeto textual a que o candidato se obriga para
satisfazer a Competência 3. Tal projeto norteia a produção textual, vez que, logo no parágrafo
introdutório, delimita o tema, expõe a tese a ser defendida a partir da mobilização dos
argumentos que, ali mesmo, estão previstos.

Em outras palavras, o projeto textual é desenhado no parágrafo introdutório da dissertação


argumentativa do Enem. São elementos desse projeto:

 apresentação completa do tema


 antecipação (sintética) dos argumentos a serem desenvolvidos em defesa da tese
 tese a ser defendida

A primeira verificação que fazemos é a do atendimento satisfatório do projeto textual, ou seja:


o tema, os argumentos e a tese estão bem alinhavados?

É certo que esses elementos devem estar em harmonia – a harmonia é pressuposto daquilo que
é coerente. A organização e a concisão, ambas, também, têm de estar a serviço do projeto
textual, tornando-o claro/objetivo.

Quanto mais claro o projeto, mais bem delineada a estratégia para organizar, não só o raciocínio
do escritor, como também o do leitor, numa gradação por vezes hierárquica, por vezes
cronológica.

Se, num primeiro instante, conhecemos a arquitetura do texto, ao longo da leitura verificaremos
o cumprimento das etapas intermediária e final da obra/dissertação.

O contrário disso é um projeto e, consequentemente, uma dissertação argumentativa confusa,


contraditória, falha. Por exemplo: se houver a apresentação incompleta do tema, isso vai
impactar na delineação dos outros elementos; se tema e argumentos estiverem bem expostos,
e não houver a tese, idem etc. Percebamos, assim, que todas as partes da redação precisam
constar do projeto.

Conforme vimos nas explicações da Competência 2, é necessário que o candidato, ao longo do


texto, traga o repertório pessoal, que, uma vez pertinente ao tema, e autorizado por uma área
do conhecimento, deve ser produtivo, ou seja, deve vincular-se devidamente à argumentação,
sintática e semanticamente.

Muito comum o candidato apresentar o tema, conectando-o a um fato histórico (ou qualquer
outro repertório sociocultural).

Por exemplo:

Um ficcionista da literatura brasileira vem à tona quando se enfrentam os desafios para reduzir
o consumo de álcool entre adolescentes, qual seja, Lima Barreto, cuja biografia registra que, por
conta de ser negro e pobre, sofreu preconceito, o que o fez, ainda muito jovem, render-se à
bebida.
3. ANÁLISE DE PROJETOS TEXTUAIS

A seguir, analisaremos alguns projetos textuais (parágrafos introdutórios) a partir do tema:


“Desafios para reduzir o consumo de álcool entre adolescentes no Brasil do século 21.”.

Projeto A

Um ficcionista da literatura brasileira vem à tona quando se enfrentam os desafios para reduzir
o consumo de álcool entre adolescentes1, qual seja, Lima Barreto, cuja biografia registra que, por
conta de ser negro e pobre, sofreu preconceito, o que o fez, ainda muito jovem, render-se à
bebida2. Infelizmente, no Brasil do século 213, 55% dos jovens de 13 e 14 anos já experimentaram
bebidas alcoólicas, apesar da haver legislação específica sobre o tema4. E não é só: 40% desses
adolescentes alegam que as respectivas famílias também consomem álcool5. Assim, é tempo de
Poder Público e sociedade civil, sob o rigor da lei, envidarem esforços para resolver a questão,
sob pena de retrocessos irreparáveis6.

Análise do Projeto A
1
– Apresentação parcial do tema;
2
– Repertório próprio, reconhecido e pertinente ao tema;
3
– Complemento da apresentação do tema;
4
– Antecipação do 1º argumento;
5
– Antecipação do 2º argumento;
6
– Tese, que, intimamente ligada ao 1º argumento, acena à proposta
interventiva.

IMPORTANTE: Sabemos que o 1º argumento será expandido no 2º parágrafo, com explicações,


comentário, exemplificações, justificativas etc. O 2º argumento, no 3º parágrafo, com
explicações... As ações interventivas resolverão, exatamente, os problemas/argumentos
levantados.

Projeto B

A adolescência é a fase do desenvolvimento humano em que se organizam as reações físicas e


emocionais, as quais definem o perfil de um cidadão. Essa é a fase do autoconhecimento e das
experimentações – muitas vezes, ousadas1. Nesse sentido, seja pelo excesso da permissividade
ou do exemplo familiar2, seja pela ineficiência da legislação3, o álcool surge no caminho do
adolescente como um fator de risco para sua saúde física e mental, isto é, para sua formação
plena4. Outrossim, ao encontrarem-se em momentos conturbados, financeira ou
emocionalmente, muitos adolescentes optam pelo caminho da prostituição6.
Análise do Projeto B
1
– Conceituação da “adolescência”, o que tangencia o tema (isso será penalizado
na Competência 2);
2
– Antecipação do 1º argumento (embora o tema ainda não tenha sido
apresentado, o que não é o desejável – falta organização – isso será penalizado
na Competência 3);
3
– Antecipação do 2º argumento (o tema ainda não foi apresentado, idem);
4
– Não se identifica, ao certo, se isso é a antecipação do 3º argumento ou a
apresentação do tema, ainda que de modo incompleto, visto não se referir às
palavras-chave “reduzir”, e “Brasil do século 21” – isso será penalizado na
Competência 2 e 3);
5
– Antecipação do 4º argumento;

NÃO HÁ TESE CLARA!

4. DESVIO DO PROJETO TEXTUAL

Por vezes, verificamos que o candidato faz um projeto textual completo, organizado e claro, mas,
ao longo do texto, ele se desvia do que foi projetado ao: 1) lançar e desenvolver argumentos
novos; 2) propor ações interventivas que, de fato, não focalizam/não resolvem os problemas
levantados. Vamos analisar o desenvolvimento do projeto abaixo (completo, conforme análise
feita anteriormente.)

Projeto C

Parágrafo introdutório:

Um ficcionista da literatura brasileira vem à tona quando se enfrentam os desafios para reduzir
o consumo de álcool entre adolescentes1, qual seja, Lima Barreto, cuja biografia registra que, por
conta de ser negro e pobre, sofreu preconceito, o que o fez, ainda muito jovem, render-se à
bebida2. Infelizmente, no Brasil do século 213, conforme dados recentes do IBGE, 55% dos
adolescentes de 13 e 14 anos já experimentaram bebidas alcoólicas, apesar da haver legislação
específica sobre o tema4. E não é só: 40% desses adolescentes alegam que as respectivas famílias
também consomem álcool5. Assim, é tempo de Poder Público e sociedade civil, sob o rigor da lei,
envidarem esforços para resolver a questão, sob pena de retrocessos irreparáveis6.

Desenvolvimento do 1º argumento – 2º parágrafo4:

Com efeito, é significativo o número de jovens que, por consumirem drogas, abandonam os
estudos. Uma vez desocupados, as chances de também engajarem-se no mundo das drogas
ilícitas mais pesadas são grandes. (...).

Desenvolvimento do 2º argumento – 3º parágrafo5:


Ademais, O ECA prescreve que crianças e adolescentes têm direito à convivência familiar, o que
nem sempre acontece, haja vista a grande quantidade de pais que cumprem pena por delitos
cometidos em virtude do excesso de drogas. (...).

Proposta de ação interventiva6:

Portanto, é preciso que os hospitais reservem vagas às pessoas que consomem álcool, para que
reduza o número de mortes por acidentes automobilísticos provocados por motoristas
alcoolizados. (...).

Análise: Tanto o desenvolvimento (parágrafos intermediários) quanto a conclusão (proposta


de intervenção) não obedecem ao que foi projetado, o que configura, obviamente, o DESVIO
DO PROJETO TEXTUAL.

5. ARGUMENTOS DESENVOLVIDOS INSUFICIENTEMENTE

Não raras vezes, identificamos argumentos mal/insuficientemente desenvolvidos, o que denota


falta de habilidade para interpretar/explorar a informação-argumento. De certa forma, isso
quebra a expectativa do leitor, que, conhecendo antecipadamente o argumento, pretendia
encontrar os desdobramentos dele.

Por exemplo:

Argumento, conforme projeto textual: (...) 55% dos jovens de 13 e 14 anos já experimentaram
bebidas alcoólicas, apesar da haver legislação específica sobre o tema.

Desenvolvimento: É preciso, ainda, dizer que, muitos jovens, apesar de conhecerem os riscos a
que estão expostos, insistem em beber.

Percebemos que, no exemplo acima, o acréscimo àquilo que havia sido projetado foi irrisório –
faltou habilidade ao candidato para ampliar/desenvolver o argumento.

6. DISSERTAÇÃO ARGUMENTATIVA MODELO

Um ficcionista da literatura brasileira vem à tona quando se enfrentam os desafios para reduzir o
consumo de álcool entre adolescentes1, qual seja, Lima Barreto, cuja biografia registra que, por conta de ser
negro e pobre, sofreu preconceito, o que o fez, ainda muito jovem, render-se à bebida2. Infelizmente, no
Brasil do século 213, conforme dados recentes do IBGE, 55% dos adolescentes de 13 e 14 anos já
experimentaram bebidas alcoólicas, apesar da haver proibições legais sobre a questão às famílias e
prescrições ao próprio Estado4. E não é só: 40% desses adolescentes alegam que as respectivas famílias
também consomem álcool5. Assim, Poder Público e sociedade civil, sob o rigor da lei, devem resolver a
problemática, sob pena de retrocessos irreparáveis6.
Muito embora o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) proíba a venda de bebida alcoólica para
jovens, isso acontece com frequência, haja vista não haver nem fiscalização eficiente nem punição àqueles
que infringem a lei. Nesse sentido, o Estado é corresponsável pelo alto índice de adolescentes que, graças ao
vício, abandonam os estudos, o que implica, geralmente, o consumo de drogas mais pesadas. Além disso, a
mesma lei que determina que a guarda e o cuidado dos filhos compete aos pais, prescreve também que, em
havendo comportamentos desidiosos por parte da família, cabe ao Conselho Tutelar tomar medidas de
proteção ao adolescente. O Estado é, então, omisso não só no que seja pertinente à redução como também
aos recursos possíveis a evitar o consumo de álcool entre os adolescentes.
Além disso, por vezes, o uso do álcool é, de certa forma, incentivado pela própria família, ao consumir
a bebida. Sem dúvida, é na adolescência que se organizam e se equilibram (ou não) as reações físicas e
emocionais, as quais definem o perfil de um cidadão – o mau exemplo dos pais é determinante ao
comportamento do filho. Outrossim, a literatura médica aponta que são grandes as chances de um
adolescente que consome álcool tornar-se um adulto dependente químico.
Portanto, são imperativas e emergenciais as medidas para reduzir o consumo de álcool por
adolescentes. Aos municípios, segundo as prescrições dos dispositivos do ECA, cabem fiscalizar e a punir
exemplarmente estabelecimentos que forneçam bebidas alcoólicas a menores de idade. Isso deve ser feito
por meio da Guarda Municipal, em estreita parceria com a Delegacia de Polícia. Às Secretarias de Estado de
Educação, por sua vez, cabem determinar às instituições de ensino visitas regulares às casas de recuperação
de dependentes químicos, com a participação não apenas dos alunos, como também dos respectivos pais, a
fim de conscientizá-los a respeito dos riscos a que estão expostos, caso incidam no consumo de álcool. Isso
feito, o jovem de hoje terá uma biografia diferente da de Lima Barreto, que, apesar de tudo, foi e é notável.

Por Gislaine Buosi


Análise da estrutura dissertativa:
Apresentação do tema, com repertório sociocultural próprio, reconhecido, produtivo e pertinente ao tema
– Literatura;
Antecipação do 1º argumento, com leitura de gráfico de apoio;
Antecipação do 2º argumento;
Tese
Desenvolvimento do 1º argumento, com repertório sociocultural – legislação;
Desenvolvimento do 2º argumento;
Proposta de intervenção – agentes, ações (com detalhamento de uma delas), modo/meio, efeito;
Tom de fechamento, com recuperação de repertório sociocultural.

7. NÍVEIS DE DESEMPENHO
8. CONCLUSÃO
Ao final das explicações para a avaliação da Competência 3, temos por certo que o corretor reúne
condições para avaliar se o candidato, realmente, leu, entendeu e atendeu aos apelos da proposta,
segundo o projeto textual a ser desenvolvido, parte por parte, ao longo do texto.

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