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ARTIGO
Scientificprinciplesthatmanagethescience
and the technology of the digital information
Yves-François LE COADIC1
R E S U M O
1
Docente, Departamento Information et Communication Scientifiques et Techniques, Instituição Conservatoire National
des Arts et Métiers, Endereço 2 rue Conté - 75003 Paris, E-mail: <lecoadic@cnam.fr>. Article, ESQUISSE (ISSN
1291-228X) - Août 2003(33):24-29. 09 juillet 2004.
Tradução, adaptação e resumo: Prof. Dr. Raimundo Nonato Macedo dos SANTOS, Docente, Departamento de Pós-Graduação
em Ciência da Informação. Rua Marechal Deodoro, 1099, Centro, 13020-904, Campinas, SP, Brasil. E-mail:
<rnsantos@puc-campinas.edu.br>.
Profa. Dra. Nair Yumiko KOBASHI, Coordenadora, Departamento de Pós-Graduação em Ciência da Informação. Rua
Marechal Deodoro, 1099, Centro, 13020-904, Campinas, SP, Brasil. E-mail: <nykobash@puc-campinas.edu.br>.
Recebido para publicação em 10/12/2004.
ABSTRACT
-, passando pelos dispositivos de estocagem e um estudo crítico de seus métodos e por fim,
de tratamento - computadores -, todas as novi- um estudo crítico de suas conclusões.
dades técnicas da informação têm em comum o A história de uma ciência e de sua
fato de emitir, receber, veicular e memorizar, tratar tecnologia, portanto, de suas técnicas, é também
sinais eletrônicos, ou seja, ondas de elétrons
de grande interesse. Se é primeiramente
(ou de sinais ópticos - vagas de fótons). Daí o
memória, ela introduz de imediato uma dimensão
nome genérico de técnicas eletrônicas (e
crítica; ademais, ela tem valor heurístico e
fotônicas) que utilizamos no lugar de técnicas
metodológico.
de digitalização (bits).
Abordaremos somente o processo
Os sinais elétricos, que assumem
epistemológico e este, restrito aos estudos dos
apenas dois valores (sinais biná-
rios) - representados tradicionalmente princípios, ou seja, dos seus fundamentos. O
pelos números 0 e 1 (binary digit or conhecimento verdadeiro, segundo Descartes,
bit) são, convencionalmente, denomi- deve começar pela busca dos princípios - os
nados sinais digitais. Porém, existem conhecimentos primeiros - e, em seguida, deduzir
também sinais analógicos e técnicas as certezas. Ele criticava nas disciplinas que
analógicas. Assim, o eletrônico é uma lhe foram ensinadas o fato de elas não se
tecnologia analógica e, também, uma basearem em fundamentos sólidos e, além
tecnologia digital. Portanto, como se disso, de se limitarem ao verossímil. É o caso,
trata de técnicas que utilizam, essen- na atualidade, do conglomerado francófono das
cialmente, sinais digitais é sensato assim denominadas ciências da “Informação e
falar de técnicas eletrônicas digitais ou da Comunicação”.
eletrodigitais.
Nós nos limitaremos ao estudo crítico dos
Feitas as escolhas, somos forçados a cinco princípios científicos adotados, na atuali-
constatar que nos encontramos frente a uma dade, pela Ciência da Informação (CI). Trata-se,
ciência e a uma tecnologia dispersas e turbu- portanto, de estudo epistemológico parcial, uma
lentas. Assim, faz-se necessário lidar com um vez que ele deveria comportar também um estudo
conjunto ilimitado de conhecimentos científicos crítico dos métodos e das conclusões dessa
e técnicos que se singularizam: ciência.
pela ininterrupta aparição de conceitos,
l Sabemos do papel importante dos princí-
métodos, modelos, leis, etc. pios que orientam o pensamento científico. Ele
necessita, nos diferentes domínios em que é
l por um crescimento exponencial da
exercido, de princípios diretores que orientem
capacidade de transmissão de sinais elétricos,
as pesquisas e unifiquem as teorias, para o pior
de sua digitalização, dos fluxos de tratamentos
e para o melhor. Esses marcos gerais da lógica
de dados informatizados, etc.
científica constituem o fermento gerador de
Tal fato requer atenção crítica e um descobertas, podendo, no entanto, transformar-
trabalho de conceituação rigoroso. Para isso há se, ao longo do tempo, em obstáculo ao seu
somente um caminho a ser seguido: o processo desenvolvimento.
epistemológico (da filosofia das ciências e das Esses princípios são na maioria das vezes
técnicas), acompanhado por um processo históri- representações mais ou menos metafóricas de
co (da história das ciências e das técnicas). um conjunto de fenômenos. No entanto, se a
O estudo crítico de uma ciência que analogia é um conceito interdisciplinar fecundo
constitui sua epistemologia é, primeiro, um que facilita a passagem das idéias de um domínio
estudo crítico de seus princípios, em seguida, para outro, ela pode também bloquear por longo
tempo o progresso na compreensão de um revistas. Elas não têm periodicidade regular, são
fenômeno. Dessa forma, a analogia da irrigação, vendidas mais freqüentemente por fascículo e
na fisiologia, bloqueou por muito tempo o não por assinatura e podem ser reeditadas. São
desenvolvimento da compreensão da circulação também, revistas de tribos. Criadas por um
sanguínea. Assim, acreditamos que a utilização indivíduo, à imagem de um grupo restrito, de um
imprecisa da analogia da transmissão do sinal laboratório, elas se constroem permanecendo
elétrico, pelas Ciências Sociais e Humanas, fiéis à linha de pensamento do seu criador,
bloqueou o desenvolvimento da compreensão da deixando pouco espaço à polifonia enunciativa,
comunicação das informações, fenômeno social à expressão das controvérsias que, comumente,
e humano por excelência. animam as comunidades científicas. Isso se
manifesta pelo recurso tão freqüente aos
fascículo temáticos.
O P R I N C Í P I O P R O D U T IV I S T A Por exemplo: Chamada à contribuição
(E-C O N S T R U Ç Ã O)
para a revista... sobre a noção de....
Uma chamada é lançada para contri-
Definição buições de 10 a 15 páginas, vindas de
horizontes disciplinares variados. Os
A chegada da eletrônica que se traduziu melhores artigos serão selecionados
na mudança dos suportes tradicionais (papéis, para publicação na revista.
filmes, etc...) para os suportes eletromagnéticos Liderados por um membro do grupo, esses
e ópticos eletrônicos e o desenvolvimento da fascículos orientam a produção de ciência e,
informática e da transmissão a distância de sinais desse modo, impedem a expressão livre e natural
elétricos portadores de informações (telecomuni- da comunidade científica. Em decorrência desse
cações) reforçaram as tendências produtivistas
tribalismo, a comunidade intelectual francesa, a
em matéria de informação. O exemplo dos
SFSIC, não tem uma revista científica, enquanto
eletronic archives ou bancos de pré-publicações
a associação profissional e científica francesa,
lançadas pelos físicos é, nesse sentido,
a ADBS, tem uma revista que seleciona os
significativo. O banco francês, criado em abril
artigos por meio de um conselho de avaliadores
de 20022 , por pesquisadores da Ciência da
anônimos.
Informação e da Comunicação recolheu, em
menos de um ano, tanto ou mais artigos do que Por outro lado, a profissionalização gene-
o total de publicações francesas editadas ralizada da pesquisa conduziu, como bem o
nessas duas áreas. sabemos, os homens e as mulheres (elas ainda
Diferentemente das revistas francesas de são pouco numerosas) que se dedicam à
Ciência da Informação (como Documentaliste - pesquisa, a esperar da comunidade científica não
Sciences de L’information, Bulletin des somente um status mas também um benefício,
Bibliotheques de France ) e das revistas de maneira direta para os pesquisadores
científicas em geral, as revistas francesas de profissionais e de maneira indireta para os
ciência da comunicação (Reseaux, Quaderni, pesquisadores de universidades. Essa é uma
Cahiers de Mediologie, Communication & causa de desregulação aguda na medida que a
Organisation, Hermes) são em sua maioria publicação de um artigo deixou de ter como
revistas híbridas (revista-livro ou livro-revista) que objetivo a consagração, mas transformou-se em
se assemelham mais a livros coletivos do que a um imperativo fundamental para obter ou
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http://archiveSIC.ccsd.cnrs.fr/
conservar um emprego. Vem daí o famoso ditado dúvida, com as novas tecnologias da
anglo-saxão “Publique ou Pereça”. Deve-se a isso informação...
a explosão do número de publicações, portanto, Não está na hora de achar, graças à dinâ-
da quantidade de informações, explosão essa mica do suporte eletrônico, soluções para esse
que obedece a uma lei de crescimento famoso dilema? De reintroduzir aquilo que os
exponencial. procedimentos de controle, de codificação,
praticamente eliminaram, ou seja, as controvér-
sias científicas? O artigo, tornado público sob a
Crítica
única responsabilidade de seu autor(a) ou
autores(as) pode ser objeto de um debate que
Diante da quantidade, o que acontece
termina uma vez dirimida a controvérsia. O
com a qualidade? Para avaliá-la, apelamos às
autor(a) ou autores(as) decidirá sobre seu
citações. As citações, como bem o sabemos,
arquivamento ou não, ou seja, sobre sua
indicam a linha histórica do saber e refletem uma
publicação definitiva. A e-qualidade terá tudo a
dívida intelectual. Elas servem para descrever a
ganhar.
configuração das audiências que usam os textos
científicos em um domínio determinado. Mas
elas podem também ter utilizações desviantes
O PRINCÍPIO INTERACIONISTA
e obedecer a outras motivações: citações-
(e-comunicação)
-recompensa para agradecer ao seu superior,
citações-políticas para que o artigo seja aceito,
para valorizá-lo, citação-álibi destinada a dissipar Definição
o ceticismo, citação-persuasão, auto-citação. Se
consideramos o pequeno número de citações As comunidades científicas são, antes de
recebidas pelos artigos (mais de 60% não são tudo, redes de organizações e de relações
citadas nunca), pode-se pensar que há muitas sociais formais e informais, com várias funções.
publicações de pouca qualidade. Uma das funções predominantes é a função
Para lutar contra essa super produção comunicativa. O papel da comunicação é o de
de má qualidade, J.D. Bernal propôs, em 1948, assegurar a troca de informações sobre os
que as revistas científicas fossem abolidas e que trabalhos em andamento, em colocar os
fosse estabelecida uma distribuição centralizada pesquisadores em contato, em interação.
dos artigos (o ancestral de nossos bancos de Fenômeno social, a comunicação da
pré-prints). Essa proposta provocou reações informação realiza-se por meio de interações que
hostis por parte das sociedades científicas e dos ocorrem somente porque os indivíduos esperam
editores que não tiveram sua comunicação obter alguma vantagem. Portanto, a caracterís-
apresentada durante a conferência. Mas ele tica marcante da troca social é a reciprocidade,
também errou, no começo da guerra fria, ao ter que se traduz no conceito atual de interatividade.
ficado no campo socialista! Recentemente, J.C.
Gardin falou da super produção de publicações
em Ciências Humanas e escreveu: Crítica
...o volume e os ritmos de produção da
literatura em Ciências Sociais também Infelizmente, cometeu-se, na Ciência da
têm com o que se preocupar. (...), não Comunicação (e em Ciência da Informação), uma
seria mais razoável repensar as formas confusão conceitual que consiste em considerar
de publicações, em relação, sem como análogos o conceito de informação da
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assinatura gratuita: <mailto:sympa@sunserver?subject=subscribe%20agorasfsic>.
de análise das necessidades de informação da sociedade cheia de fatos e números, pode ser
comunidade carente, de gestão e avaliação e de empregada para fazer sensacionalismo, para
mensuração de performance, que permite à inflar resultados ou para simplificar ao extremo:
instituição dispor de uma bateria de indicadores. o primeiro rádio! a primeira televisão! o primeiro
Website! o primeiro livro! os 10 artigos científicos
No outro extremo, o processo mercantil
mais importantes! os 50 filmes mais importantes!
que invade particularmente a Internet e as mídias,
etc.
audiovisuais entre outros, promove a realização
de análises estatísticas elaboradas sobre a E a e-qualidade de tudo isso?
“relação com o cliente” (Customer Relationship
Management, ou CRM) e com as audiências:
O PRINCÍPIO ELETRODIGITAL
- estatística de acompanhamento das (e-digital)
atividades de sites: audiências por hora, data
(dia, semana, mês), número de sessões, de
máquinas, de páginas visitadas, de clics, etc.; Definição
- audiências das emissões de televisão;
Na tecnologia da informação, torna-se
- quantidade de entradas nos cinemas, cada vez mais importante o lugar do suporte
etc. eletrônico (o elétron), o que encoraja os
entusiastas da tecnologia a profetizarem o fim
do suporte papel. É necessário admitir que as
Crítica performances da tecnologia digital conjugada
com a optoeletrônica (fóton) são particularmente
Porém, por falta de unidades de medidas
impressionante. Elas promovem a neutralização
coerentes, de ferramentas confiáveis e de
vertiginosa do espaço e do tempo:
métodos comprovados, continua sendo difícil, por
l 500 livros de 300 páginas em um
exemplo conhecer:
disquete de 15 gramas;
- os números reais de consultas dos sites,
l 500 livros de 300 páginas transmitido
o acompanhamento das emissões de radio ou
em 1,25 segundos para o mundo inteiro.
de televisão, etc.
- os valores precisos das mudanças
sóciodemográficos e socioprofessionais do
Crítica:
núcleo da população não atendida pelo
Daí o slogan avançado: Tudo eletrônico;
organismo de informação, etc.
tudo digitalizado” e, o princípio diretor eletrodigita-
Em Ciência da Informação e em Ciência lização. Isso relembra um slogan do mesmo tipo
da Comunicação, hoje é possível enumerar, apresentado, há trinta ano pelos entusiastas da
classificar, distribuir e medir por meio de eletricidade nuclear: “tudo elétrico; tudo nuclear”.
ferramentas estatísticas e matemáticas; os O que queria dizer que todos os eletrodo-
primeiros dentre eles são os números. Mas, se mésticos funcionariam com eletricidade e que
os números permitem classificar, ordenar, medir, as fontes alternativas de energia (carvão, gás,
também permitem mentir. Suspeitemos do poder petróleo) seriam abandonadas. E que, em
de fascinação que têm os números e os algaris- seguida, a produção de eletricidade não poderia
mos simples nas organizações. A linguagem ser feita senão em centrais nucleares. Verifica-
secreta da estatística, tão atrativa numa -se que tais predições não se realizaram.
REFERÊNCIAS
LAFOUGE, TH.; LE COADIC Y.F. Un prêté pour un GARD I N , J.C. Modèles et récits in
vendu - Pénombre, n°25, avril 2001. Disponível em: “Épistémologie des sciences sociales” – sous
<http://www.unil.ch/penombre/25/16.htm>. la direction de J.M. BERTHELOT. Paris: PUF,
LATOUR, B. Science in action [s.l.] Open University 2001.
Press,1987.