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Roteiro Experimento 1 - Grandezas Físicas

1 Objetivos

Definir grandezas físicas, conhecer as unidades fundamentais ou padrões de medidas das


grandezas físicas e as respectivas incertezas inerentes aos processos científicos. Reconhecer os
algarismos significativos da medida de uma grandeza física, aprender a operacionalização de algarismos
significativos e os processos de arredondamento. Familiarizar-se com os aparelhos, ou instrumentos de
medidas, utilizados no Laboratório de Física do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas
Gerais (CEFET-MG), unidade Leopoldina, LabFis-Leo.

2 Introdução

A Física é uma ciência cujo objeto de estudo é a Natureza. Particularmente na Mecânica


estudamos o movimento e suas possíveis causas. De modo geral, o objetivo da disciplina Laboratório
de Física I é possibilitar ao estudante estabelecer uma visão crítica do mundo newtoniano. Ao estudar
um dado fenômeno físico, com base na experimentação, procuramos entender como certas propriedades
e grandezas físicas associadas aos corpos participam desse fenômeno.

Para melhor compreensão dos resultados experimentais é importante que o estudante saiba fazer
análises dos dados coletados no laboratório de Física. Com tal intento, deve estar familiarizado com os
conceitos fundamentais de medidas e erros, comumente utilizados na apresentação desses dados. Como
exemplos desses conceitos, podemos destacar: grandezas físicas, medidas das grandezas físicas, padrões
de medida, algarismos significativos, regras de arredondamento, erros, incertezas, precisão, exatidão,
amostra, população, valor médio, desvio médio, variância, desvio padrão e desvio padrão da média.

Nessa aula, dos conceitos mencionados, estudaremos as grandezas físicas (definição, medidas e
padrões de medidas) e como apresentá-las (algarismos significativos, potências de 10, ordem de
grandeza, regras de arredondamento, valor médio e incertezas). Além disso, conheceremos os
instrumentos necessários para a realização de medidas de algumas grandezas físicas, bem como o
método adequado para operá-los.

2.1 Grandezas físicas

O procedimento adotado em nossas aulas práticas é chamado de método científico, basicamente


composto de três etapas: experimentação, observação e raciocínio (abstração). Se os resultados das
experimentações confirmarem a hipótese feita, mostrando-se adequados para explicar um grande
número de fatos, ela pode constituir uma lei física. Como as leis físicas são quantitativas, elas devem
ser expressas por funções matemáticas. Então, para estabelecermos uma lei física, devemos avaliar
quantitativamente uma ou mais grandezas físicas e, portanto, realizar medidas. Tendo isso em mente,
consideramos como sendo uma grandeza física qualquer propriedade física à qual se pode associar um
número e uma unidade por meio de um processo bem definido. O processo pelo qual se associa um
número e uma unidade a uma grandeza física recebe o nome de medição. Para exemplificar grandezas
físicas podemos citar: comprimento, massa, tempo, corrente elétrica, quantidade de matéria, temperatura
e intensidade luminosa.

Como as grandezas físicas são medidas e expressadas em termos de unidades, a seguir são
apresentados os padrões comuns ou unidades fundamentais para apresentá-las.

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2.2 Padrões de medidas de grandezas físicas – as unidades

Como as grandezas físicas são expressas em termos de unidades, para facilitar o comércio
internacional, diversos países, através de um acordo internacional, criaram padrões comuns ou unidades
fundamentais para medir as grandezas físicas. Na 14ª Conferência Geral sobre Pesos e Medidas, ocorrida
em 1971, foram eleitas as sete grandezas físicas fundamentais, mostradas na Tabela 1, que constituem
a base do Sistema Internacional de Unidades (SI) [1].

Grandezas físicas Unidades Definição das unidades


Comprimento metro (m) É o comprimento do trajeto percorrido pela luz no vácuo durante um
intervalo de tempo de 1/299 792 458 de segundo.
Tempo segundo (s) É a duração de 9 192 631 770 períodos da radiação correspondente
à transição entre dois níveis hiperfinos do estado fundamental do
átomo de césio-133.
Massa quilograma (kg) Deriva da constante de Planck graças a uma balança de potência,
chamada balança de Watt, que calibra padrões do quilograma.
Corrente elétrica ampére (A) É a intensidade de uma corrente elétrica constante que, mantida em
dois condutores paralelos, retilíneos, de comprimento infinito, de
secção circular desprezível e situados à distância de um metro entre
si, no vácuo, produz entre esses dois condutores uma força igual a 2
x 10-7 newton por metro de comprimento.
Quantidade de matéria mol (mol) É a quantidade de matéria de um sistema que contém tantos
elementos quantos átomos existentes em 0,012 quilogramas de
cabono-12.
Temperatura kelvin (K) É a fração 1/273,16 da temperatura termodinâmica do ponto tríplice
da água.
Intensidade luminosa candela (cd) É a intensidade luminosa, numa dada direção, de uma fonte que
emite uma radiação monocromática de frequência 540 x 1012 hertz
(1 hertz = 1/segundo) e cuja intensidade energética nessa direção é
de 1/683 watts (i watt = 1 joule/segundo) por esferorradiano.

Tabela 1. Padrões de medida do Sistema Internacional de Medidas (SI) [1].

Em particular, para o estudo da mecânica, do SI tratamos apenas as grandezas físicas:


comprimento, massa e tempo. Então, considerando apenas estas três grandezas físicas, deriva do SI o
sistema MKS (M de metro, K de quilograma e S de segundo). As unidades de outras grandezas físicas,
por exemplo, velocidade, energia, força e torque, são derivadas destas três unidades. Na Tabela 2 estão
listadas algumas dessas grandezas com suas respectivas unidades. Na segunda coluna dessa tabela, M
indica a massa, L o comprimento e T o tempo.

Grandezas físicas Dimensões Unidades


Força 𝐿 𝑚
M 2 1 𝑘𝑔 2 = 𝑛𝑒𝑤𝑡𝑜𝑛 (𝑁)
𝑇
𝑠
Trabalho 𝐿2 1 𝑁 𝑚 = 𝑗𝑜𝑢𝑙𝑒 (𝐽)
𝑀
𝑇2
Potência 𝐿2 𝐽
𝑀 3 1 = 𝑤𝑎𝑡𝑡 (𝑊)
𝑇 𝑠
Velocidade 𝐿 𝑚
𝑇 𝑠
Aceleração 𝐿 𝑚
𝑇2 𝑠2
Densidade 𝑀 𝑘𝑔
volumétrica 𝐿3 𝑚3

Tabela 2. Grandezas físicas com suas respectivas unidades derivadas do sistema MKS.
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2.3 Medidas das grandezas físicas

A medida de uma grandeza física pode ser classificada em duas categorias: medida física direta
e medida física indireta. A medida direta x de uma grandeza física X é o resultado da leitura da sua
magnitude mediante o uso de um aparelho de medida. Exemplos de medidas físicas diretas: medida de
comprimento com uma régua graduada, medida da corrente elétrica com um amperímetro, medida da
massa com uma balança e medida do intervalo de tempo com um cronômetro. Já uma medida indireta é
aquela que resulta da aplicação de uma relação matemática que vincula a grandeza a ser medida com
outras diretamente mensuráveis. Exemplo de uma medida física indireta: medida da velocidade média
𝑣 de um carro pode ser obtida da medida direta da distância ∆𝑥 percorrida por ele e da medida direta do
intervalo de tempo ∆𝑡 gasto para percorrer este percurso. A relação matemática que vincula estas
∆𝑥
medidas diretas é 𝑣 = ∆𝑡
.

Um dos princípios fundamentais da Física afirma que “Não se pode medir uma grandeza
física com precisão absoluta”, isto é, qualquer medição, por mais bem feita e por mais preciso que seja
o aparelho, é sempre aproximada. Na linguagem estatística, o valor medido nunca representa o valor
verdadeiro da grandeza física. O valor verdadeiro seria o valor obtido por uma medição perfeita com
um aparelho perfeito – situação impossível. Na prática usamos o valor corrigido no lugar do valor
verdadeiro. O valor corrigido da medida de uma grandeza física é a melhor estimativa do valor
verdadeiro. A seguir abordaremos como estimar (aproximar) a medida de uma grandeza física de seu
valor verdadeiro, sem, por enquanto, dar o tratamento estatístico adequado.

Levando em consideração o tratamento estatístico parcial das medidas, obtidas


experimentalmente das grandezas físicas que serão propostas nessa aula, elas serão apresentadas apenas
aludindo o seu valor médio, os algarismos significativos que representam estas medidas e as
incertezas intrínsecas dos aparelhos (𝝈𝒂𝒑 ) utilizados nas medições.

2.3.1 Algarismos significativos

Já mencionamos que, por mais capaz que seja o operador e por mais preciso que seja o aparelho
utilizado, a medida de uma grandeza física é sempre aproximada. Esta limitação é refletida no número
de algarismos usados para representar as medidas que, em geral, admitimos somente os algarismos que
temos certeza de estarem corretos mais um algarismo duvidoso. Estes algarismos são denominados
algarismos significativos. Quanto mais precisa é a medida, maior é o número de algarismos
significativos que a representa.

Para exemplificar, vamos considerar a medida do comprimento de uma barra (Figura 1) usando
uma régua milimetrada. Ao tentarmos expressar o resultado desta medida, percebemos que ela está
compreendida entre 14,3 cm e 14,4 cm. A fração de milímetro que deverá ser acrescentada a 14,3 cm
terá que ser avaliada, pois a régua não apresenta divisões inferiores a 0,1 cm.

Para fazer esta avaliação, devemos imaginar o intervalo entre 14,3 cm e 14,4 cm subdividido
em 10 partes iguais e, com isso, a fração do milímetro, que deverá ser acrescentada a 14,3 cm, poderá
ser obtida com razoável aproximação. Podemos avaliar que a fração mencionada tenha 5 décimos de
milímetro e o resultado da medida poderá ser 14,35 cm. Nesta medida estamos seguros em relação aos
algarismos 1, 4 e 3, ou seja, são os algarismos corretos. Entretanto, o algarismo 5 foi avaliado, isto é,
não temos certeza sobre o seu valor e outra pessoa poderia avaliá-lo, por exemplo, como sendo 4 ou 6.
Por isso, um algarismo avaliado é denominado algarismo duvidoso ou algarismo incerto. Os algarismos
significativos de uma medida são os algarismos corretos e o primeiro algarismo duvidoso. Vemos
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também, na medição da barra, que o número de algarismos significativos dependerá do aparelho de
medida [2].

Figura 1. Comprimento de uma barra medido com uma régua milimetrada.

A convenção para a apresentação do resultado de uma medida contendo apenas algarismos


significativos é adotada de maneira geral, não só na medida de comprimentos, mas também na medida
de massas, temperaturas, forças, etc.

Os algarismos significativos de uma medida devem ser determinados de acordo com as


seguintes regras gerais [2]:

➢ Não é algarismo significativo o zero à esquerda do primeiro algarismo diferente de zero.


Exemplo: 32,5 cm e 0,325 m representam a mesma medida e com o mesmo número de
algarismos significativos, ou seja, três algarismos significativos.

➢ Os algarismos da potência de 10 não são contados como algarismos significativos. Exemplos:


5 cm = 0,5 x 10 cm = 0,05 x 102 cm = 0,005 x 103 cm possuem um algarismo significativo, 26
m = 2,6 x 10 m = 0,26 x 102 m = 0,026 x 103 m possuem dois algarismos significativos e
0,00034606 mm = 0,34606 x 10-3 mm = 3,4606 x 10-4 mm possuem cinco algarismos
significativos.

➢ Zero à direita de algarismo(s) significativo(s) também é algarismo significativo. Exemplo: 32,5


cm e 32,50 cm são medidas diferentes. A primeira medida tem três algarismos significativos,
enquanto que a segunda é mais precisa por ter quatro algarismos significativos.

➢ É significativo o zero situado entre algarismos significativos. Exemplo: 3,25 m tem três
algarismos significativos, enquanto que 3,025 m tem quatro algarismos significativos.

➢ Quando é preciso fazer uma mudança de unidades na medida de uma grandeza física, devemos
tomar cuidado para não escrever zeros que são significativos. Por exemplo: suponha que
queremos expressar, em gramas, uma medida de 7,3 kg. Observe que esta medida possui dois
algarismos significativos, sendo duvidoso o algarismo 3. Se expressarmos 7,3 kg em gramas,
isto é, 7 300 g, estamos dando a ideia errônea de que o 3, com a mudança de unidade, é agora o
algarismo correto e o último zero acrescentado passou a ser o algarismo duvidoso. Para evitar
este erro, lançamos mão da potência de 10 e podemos escrever 7,3 𝑘𝑔 = 7, 3 𝑥 103 𝑔. Dessa
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maneira, a mudança de unidade foi feita e continuamos a indicar que o 3 é o algarismo duvidoso,
ou seja, 7, 3 𝑥 103 𝑔.

Nota: quando uma dada situação é apenas matemática, podemos dizer, por exemplo, que 5 = 5,0 = 5,00
= 5,000. Entretanto, quando lidamos com resultados de medidas, devemos sempre lembrar que 5 cm 
5,0 cm  5,00 cm  5,000 cm, já que estas medidas têm um, dois, três e quatro algarismos significativos,
respectivamente. Em outras palavras, a precisão de cada uma delas é diferente.

2.3.2 Operações com algarismos significativos

O domínio das operações matemáticas que envolvem soma, subtração, multiplicação, divisão e
logaritmos, é essencial para a apresentação correta da medida de uma grandeza física.

Soma e subtração

Em uma soma ou subtração de medidas de grandezas físicas, levando em consideração os


algarismos significativos, o resultado deve manter a precisão do operando de menor precisão, ou
seja, devemos observar qual (ou quais) dos operandos possui o menor número de casas decimais.

Operando de menor precisão

Exemplo 1: 12,56 kg + 0,1234 kg = 12,6834 kg = 12,68 kg.

A medida 12,56 kg possui quatro algarismos significativos e o último algarismo (algarismo


duvidoso: 6) ocupa a casa dos centésimos. A medida 0,1234 kg também possui quatro algarismos
significativos, mas o último algarismo significativo (algarismo duvidoso: 4) ocupa a casa dos décimos
de milésimos. Então, o último algarismo significativo desta soma deve ocupar a mesma casa decimal do
operando de menor precisão, que neste exemplo é 12,56 kg. Por isso, o último algarismo significativo
do resultado da soma deve estar na casa dos centésimos.

Exemplo 2: 0,0648 g + 83,645 g + 525,35 g + 2 807,5 g = 3 416,5598 g = 3 416,6 g.

Operando de menor precisão

Multiplicação e divisão

Em uma multiplicação ou divisão de medidas de grandezas físicas, levando em consideração os


algarismos significativos, o resultado deve ter o mesmo número de algarismos significativos do
operando com a menor quantidade de algarismos significativos.

Exemplo 1: 380 𝑚𝑚 𝑥 3,1415 𝑚𝑚 = 1 193,77 𝑚𝑚² = 119 𝑥 10 𝑚𝑚².

A medida 380 mm apresenta três algarismos significativos, enquanto que a medida 3,1415 mm
apresenta cinco algarismos significativos. Então, o resultado deve ter apenas três algarismos
significativos.

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Exemplo 2: O volume de um cone é dado pela expressão

𝐴𝑥ℎ
𝑉= 3
,

em que A é a área de sua base e h sua altura. Para um dado cone, temos A = 0,302 m2 e h = 1,020 m.
Qual é o volume deste cone?

Resolução: a área A é medida com três algarismos significativos e a altura h com quatro algarismos
significativos. De acordo com o mencionado, o volume do cone, então, deverá ser expresso com três
algarismos significativos. O número 3 não foi obtido através de medida e, assim, não deverá ser levado
em consideração na contagem algarismos significativos do resultado.

0,302 𝑚2 𝑥 1,020 𝑚
𝑉=
3

𝑉 = 0,10268 𝑚3

𝑉 = 0,103 𝑚3.

Logaritmos

Em uma operação envolvendo o logaritmo de medidas de grandezas físicas e que leva em


consideração os algarismos significativos, o número de casas decimais do resultado é igual ao
número de algarismos significativos de seu logaritmando.

Exemplo 1: 𝑙𝑛(5,0 𝑥 103 ) = 8,517193191 = 8,52.

Existem dois algarismos significativos no logaritmando (5,0 𝑥 103) e, portanto, o resultado


da operação deve conter duas casas decimais.

Exemplo 2: 𝑙𝑛(45,0) = 3,80666249 = 3,807.

Existem três algarismos significativos no logaritmando (45,0) e, portanto, o resultado da


operação deve conter três casas decimais.

Nota: os resultados das operações feitas acima foram arredondados e as regras adotadas nestes
arredondamentos serão tratadas a seguir. É importante ressaltar que as operações devem ser feitas
usando todos os algarismos significativos e que o arredondamento seja feito somente no resultado final.

2.4 Regras de arredondamento

De acordo com as normas nacional ABNT NBR 5891:1977 [3] e a internacional ISO 31-0:1992
[4], as regras de arredondamento são:

➢ O algarismo em análise de um número deve sempre ser mantido caso o algarismo subsequente
a ele (o que será descartado) seja inferior a cinco. Exemplo: 423,0012 = 423,001. Neste

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exemplo o algarismo em análise é o 1 e o subsequente a ele que será descartado é o 2. Como o
2 é inferior a cinco, o 1 é mantido.

➢ O algarismo em análise de um número deve sempre ser acrescido de uma unidade caso o
algarismo subsequente a ele (o que será descartado) seja superior a cinco. Exemplo: 245,6 =
246. Aqui o algarismo em análise é o 5 e o subsequente a ele que será descartado é o 6. Como
o 6 é superior a cinco, o 5 é acrescido de uma unidade.

➢ No caso do algarismo descartado ser igual a cinco, se após este cinco existirem quaisquer
outros algarismos diferentes de zero, o último algarismo a ser mantido deverá ser acrescido
de uma unidade. Exemplo: 2,0502 = 2,1.

➢ No caso do algarismo descartado ser igual a cinco, se após este cinco só existirem zeros ou
não existir outro algarismo, o último algarismo a ser mantido deverá ser acrescido de uma
unidade somente se for ímpar. Exemplos: 4,3500 = 4,4; 1,25 = 1,2.

Nota: o arredondamento deve ser feito somente uma vez, isto é, não devemos fazer o arredondamento
do arredondamento. Nesse sentido, devemos evitar olhar o último algarismo para arredondar o
penúltimo, em seguida, olhar o penúltimo arredondado para arredondar o antepenúltimo e assim por
diante até chegar ao algarismo que queremos analisar e arredondar.

2.5 Potências de 10 – Ordem de grandeza

Abordaremos nesta seção o uso das potências de 10, números em notação de potências de 10,
operações com potências de 10 e ordem de grandeza.

2.5.1 O uso das potências de 10

A potência de 10 é um tipo de notação matemática que, além de compacta, nos permite uma
rápida comparação de números entre si e facilita a realização de operações matemáticas. É muito útil no
estudo da Física, onde encontramos frequentemente grandezas expressas por números muito pequenos
ou muito grandes. Podemos citar, como exemplos, o raio do átomo de hidrogênio (H) que é igual a
0,000000005 cm e que cada célula tem cerca de 2 000 000 000 000 de átomos. A representação escrita
ou oral desses números, tal como foram escritos, é bastante incômoda e trabalhosa. Para contornar este
problema, utilizamos as potências de 10.

2.5.2 Números em notação de potências de 10

Um número qualquer pode ser expresso como o produto de um número associado 𝑛,


compreendido entre 1 e 10 e considerando que 1 ≤ 𝑛 < 10, por uma potência de 10 adequada. Essa
forma de representação de números chama-se notação científica.

OBS: Vale lembrar que quando trabalhamos com medidas de grandezas físicas não devemos alterar o
número de algarismos significativos ao escrever o número em notação científica!

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Regras práticas para obter a potência de 10:

➢ Contamos o número de casas que a vírgula deve ser deslocada para a esquerda; este número nos
fornece o expoente de 10 positivo. Exemplo: 62 300 = 6,2300 x 104.

4 casas

➢ Contamos o número de casas que a vírgula deve ser deslocada para a direita; este número nos
fornece o expoente de 10 negativo. Exemplo: 0,00002 = 2 x 10-5.

5 casas

Assim procedendo, os números 0,000000005 cm e 2 000 000 000 000 átomos citados no início
dessa seção, poderão ser escritos compactamente, de maneira mais cômoda, do seguinte modo:

raio do átomo de hidrogênio = 5 x 10-9 cm; e

número aproximado de átomos de uma célula = 2,000000000000 x 1012.

2.5.3 Operações com potências de 10

Quando os números são reescritos, passando de sua forma comum para a notação de potência
de 10, as operações (adição, subtração, multiplicação, divisão, potenciação e radiciação) tornam-se mais
simples.

Multiplicação, divisão, potenciação e radiciação

Nas operações envolvendo multiplicação, divisão, potenciação e radiciação, devemos respeitar


algumas leis estabelecidas na Matemática. Os exemplos seguintes nos ajudarão a recordar estas leis.

Exemplos:

𝑎) 0,0021 𝑥 30 000 000 = (2,1 𝑥 10−3 ) 𝑥 (3,0000000 𝑥 107 ) =


(2,1 𝑥 3,0000000)𝑥 (10−3 𝑥 107 ) = 𝟔, 𝟑 𝒙 𝟏𝟎𝟒 .

728 000 7,28000 𝑥 105 7,28000 105


𝑏) = = 𝑥 = 𝟏, 𝟖𝟐𝟎𝟎𝟎 𝒙 𝟏𝟎−𝟑 .
400 000 000 4,00000000 𝑥 108 4,00000000 108

𝑐) (0,005)3 = (5 𝑥 10−3 )3 = 53 𝑥 (10−3 )3 = 𝟏𝟐𝟓 𝒙 𝟏𝟎−𝟗 .

Podemos reescrever o resultado 125 𝑥 10−9 como o produto de um número compreendido entre 1 e 10
por uma potência de 10 adequada. Assim fazendo,

125 𝑥 10−9 = (1,25 𝑥 102 ) 𝑥 10−9 = 1,25 𝑥 (102 𝑥 10−9 ) = 𝟏, 𝟐𝟓 𝒙 𝟏𝟎−𝟕 .

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Mas como só havia um algarismo significativo,
1,25 𝑥 10−7 = 𝟏 𝒙 𝟏𝟎−𝟕 .

𝑑) √250 000 = √25 𝑥 104 = √25 𝑥 √104 = 𝟓 𝒙 𝟏𝟎𝟐 .

Adição e subtração

Quando estamos adicionando ou subtraindo, devemos ter o cuidado de, antes de efetuar a
operação, expressar os números com os quais estamos trabalhando na mesma potência de 10.

Exemplo 1: 6 500 – 3 200 = 6,5 𝑥 103 − 3,2 𝑥 103 = ?

6,5 𝑥 103 − 3,2 𝑥 103 = (6,5 − 3,2) 𝑥 103 = 𝟑, 𝟑 𝒙 𝟏𝟎𝟑 .

Neste caso, como os números já estão expressos na mesma potência de 10, podemos efetuar a operação
diretamente.

Exemplo 2: 42 300 000 + 1 3000 000 = 4,23 𝑥 107 + 1,3 𝑥 106 = ?

Aludimos que, inicialmente, devemos expressar as parcelas em uma mesma potência de 10.
Escolhendo a primeira parcela e expressando-a como uma potência de 106 , da seguinte maneira:

4,23 𝑥 107 + 1,3 𝑥 106 = (42,3 𝑥 10−1 )𝑥 107 + 1,3 𝑥 106 = 42,3 𝑥 106 + 1,3 𝑥 106 =
(42,3 + 1,3)𝑥 106 = 𝟒𝟑, 𝟔 𝒙 𝟏𝟎𝟔 .

Ou, escolhendo a segunda parcela e expressando-a como uma potência de 107 , da seguinte maneira:

4,23 𝑥 107 + 1,3 𝑥 106 = 4,23 𝑥 107 + (0,13 𝑥 101 )𝑥 106 = 4,23 𝑥 107 + 0,13 𝑥 107
= (4,23 + 0,13)𝑥 107 = 𝟒, 𝟑𝟔 𝒙 𝟏𝟎𝟕 .

Evidentemente, procedendo de uma maneira ou de outra, obtemos o mesmo resultado


final: 43, 6 𝑥 106 = 4,36 𝑥 107 .

2.5.4 Ordem de grandeza

Muitas vezes, ao trabalharmos com grandezas físicas, não há necessidade ou interesse em


conhecer com precisão os números das medidas dessas grandezas (Lembrar que as medidas são
constituídas de números + unidades). Nesses casos, é suficiente conhecer a potência de 10 que mais se
aproxima de seus números. Essa potência é denominada ordem de grandeza do número que compõe o
valor da medida obtida para uma dada grandeza física. De forma sucinta, a ordem de grandeza de um
número é a potência de 10 mais próxima deste número.

Para determinarmos a ordem de grandeza de uma medida podemos adotar os passos:

Passo 1: Escrever o número 𝑁 na forma de notação científica ⇒ 𝑁 = (1 ≤ 𝑛 < 10) 𝑥 10𝑐 , onde c é um
número inteiro.

Passo 2: Apresentar a potência de 10 mais próxima do número 𝑛, tomando como referência o valor
√10 ≅ 3,16228 e fazendo as seguintes considerações:

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• Para 1 ≤ 𝑛 < 3,16228, a ordem de grandeza de 𝑛 é 100 .
• Para 3,16228 ≤ 𝑛 < 10, a ordem de grandeza de 𝑛 é 101 .

Passo 3: Fazer o produto da ordem de grandeza de 𝑛 e a potência 10𝑐 de N. Como resultado teremos
duas situações:

• Para 1 ≤ 𝑛 < 3,16228 ⇒ 100 𝑥 10𝑐 = 10𝑐 .


• Para 3,16228 ≤ 𝑛 < 10 ⇒ 101 𝑥 10𝑐 = 101+𝑐 .

Exemplo: Ordem de grandeza da massa da Terra dada por 5 980 000 000 000 000 000 000 000 kg:

Passo 1: 5 980 000 000 000 000 000 000 000 kg = 5,98 x 1024 kg, onde 𝑛 = 5,98.
Passo 2: 𝑛 ≥ 3,16 ⇒ ordem de grandeza de 𝑛 = 101 .
Passo 3: 10¹ 𝑥 1024 = 1025 .

Concluindo: 5,98 x 1024 kg  101 𝑥 1024 kg = 1025 kg. Portanto, a ordem de grandeza da massa da
Terra é de 1025 kg.

Outros exemplos:
𝑎) 92 = 9,2 𝑥 101 , 𝑐𝑜𝑚 𝑛 = 9,2 ⇒ 101 . 𝐿𝑜𝑔𝑜, 101 𝑥 101 = 𝟏𝟎𝟐 .

𝑏) 0,00022 = 2,2 𝑥 10−4 , 𝑐𝑜𝑚 𝑛 = 2,2 ⇒ 100 . 𝐿𝑜𝑔𝑜, 100 x 10−4 = 𝟏𝟎−𝟒 .

𝑐) 0,000007 = 7 𝑥 10−6 , 𝑐𝑜𝑚 𝑛 = 7 ⇒ 101 . 𝐿𝑜𝑔𝑜, 101 𝑥 10−6 = 𝟏𝟎−𝟓 .

Nota: alguns autores de livros afirmam que não devemos nos preocupar em estabelecer critérios
rigorosos para determinar a potência de 10 mais próxima do número, pois o conceito de ordem de
grandeza, por sua própria natureza, é uma avaliação aproximada, na qual não cabe nenhuma
preocupação com rigor matemático. Por essa mesma razão, quando um número estiver
aproximadamente no meio de duas potências de 10, será indiferente escolher uma ou outra para
representar a ordem de grandeza desse número [2]. Mas, como padronização, adotaremos o critério
discutido utilizando a √10.

2.6 Aparelhos de medida

Nessa seção iremos conhecer alguns aparelhos de medidas de grandezas físicas utilizados no
laboratório de Física I do CEFET-MG, unidade Leopoldina. Os procedimentos de manuseio dos
mesmos, para que as medidas de grandezas físicas sejam obtidas corretamente, também serão tratados
aqui. Os resultados dessas medidas são considerados pertinentes se forem apresentados adequadamente
levando em consideração, dentre outros cuidados, a incerteza intrínseca de cada um desses aparelhos
(𝝈𝒂𝒑 ).

A incerteza (𝛿) da medição direta não envolve apenas a incerteza intrínseca do aparelho (ou
incerteza da escala do aparelho). A norma ISO GUN (“Guide to the Expression of Uncertainty in
10
Measurement”) de 1993 [5] classifica a incerteza da medição em duas categorias: incertezas de Tipo
A e incertezas de Tipo B. As incertezas de Tipo A são aquelas estimadas por métodos estatísticos ou
aleatórios e serão tratadas em aulas posteriores. Veremos que uma forma apropriada de representar
incertezas que envolvem parâmetros estatísticos é através do conceito de desvio padrão da média (𝝈𝒎 ).
O cálculo da incerteza intrínseca do aparelho (𝝈𝒂𝒑 ), denominada de incerteza de Tipo B, depende
do aparelho utilizado e existem diversos critérios para determiná-la: medidas prévias, conhecimento do
comportamento geral das propriedades de materiais e aparelhos, especificações do fabricante, dados
fornecidos por certificados de calibração e flutuações de dados de referência extraídos de manuais. As
incertezas de Tipo B não são obtidas por parâmetros estatísticos. A experiência, a responsabilidade e a
habilidade do operador também são condições necessárias para o conjunto de informações que
comporão a avaliação da incerteza de Tipo B.

Um trecho importante do ISO GUN de 1993, válido como boa recomendação para o
experimentador, é: “Embora este Guia forneça um esquema de trabalho para obter incerteza, ele não
pode substituir pensamento crítico, honestidade intelectual e habilidade profissional. A avaliação de
incerteza não é uma tarefa de rotina, nem um trabalho puramente matemático. Ela depende do
conhecimento detalhado da natureza do mensurando e da medição. Assim, a qualidade e a utilidade da
incerteza apresentada para o resultado de uma medição dependem, em última instância, da compreensão,
análise crítica e integridade daqueles que contribuíram para atribuir o valor à mesma.”

O resultado final da incerteza da medição de uma grandeza física 𝑥 (𝛿𝑥) é apresentado de forma
adequada quando é contabilizada o valor médio ou média aritmética de várias medidas independentes
feitas da grandeza física 𝑥 (𝑥̅ ) 𝑒 𝑎 combinação de incertezas de Tipo A e de Tipo B, denominada
incerteza combinada.

Matematicamente,

𝑥 = 𝑥̅ ± 𝛿𝑥,

1 𝑛 2 + 𝜎2 .
𝑜𝑛𝑑𝑒 𝑥̅ = ∑ 𝑒 𝑥𝑖 e 𝛿𝑥 = √𝜎𝑎𝑝 𝑚
𝑛 𝑖=1

Nessa aula, como lembrança, desconsideraremos a incerteza de Tipo A, ou seja, 𝜎𝑚 . Desse


modo, o resultado final das grandezas físicas medidas nas atividades práticas, no LabFis-Leo, serão
somente assim apresentadas:
𝑥 = 𝑥̅ ± 𝛿𝑥

2 + 𝜎2
𝑥 = 𝑥̅ ± √𝜎𝑎𝑝 𝑚

𝑥 = 𝑥̅ ± 𝜎𝑎𝑝 .

Nota: vale salientar que a forma 𝑥 = 𝑥̅ ± 𝜎𝑎𝑝 , adotada para essa primeira aula prática, não está
totalmente correta. A justificativa para este procedimento encontra-se, mais adiante, nas orientações
para a realização das Atividades 1, 2, 3 e 4.

Para o cálculo da incerteza intrínseca do aparelho (𝜎𝑎𝑝 ) precisamos da precisão dele. Devemos
entender como precisão de um aparelho de medida a quantidade mínima da grandeza física que ele é
capaz de diferenciar (medir). A precisão, por exemplo, de uma régua milimetrada é de 1 mm.

11
É essencial classificar os aparelhos, de acordo com a sua escala graduada, em analógicos e não
analógicos, uma vez que a 𝜎𝑎𝑝 é obtida adotando procedimentos diferentes para a classificação feita. Se
um aparelho, utilizado para medir uma dada grandeza física 𝑦, possuir uma escala auxiliar graduada (por
exemplo, o paquímetro não digital), este aparelho é não analógico. No caso de outro paquímetro, para a
medição da mesma grandeza física y, não possuir escala auxiliar graduada, este paquímetro é digital.

A Tabela 3 mostra algumas grandezas físicas e os aparelhos utilizados para medi-las, com suas
respectivas precisões e incertezas intrínsecas.

Grandezas físicas Aparelhos (LabFis_CEFET-Leo) Precisões 𝝈𝒂𝒑


Comprimento Régua milimetrada 1 mm 0,5 mm
Paquímetro não digital 0,05 mm 0,05 mm
Massa Balança digital 0,1 g 0,1 g
Tempo Cronômetro digital 0,0001 s 0,0001 s

Tabela 3. Grandezas físicas e os aparelhos utilizados para medi-las com suas respectivas precisões e incertezas
intrínsecas.

2.6.1 Aparelhos analógicos

Os aparelhos analógicos são aqueles cujas escalas graduadas permitem que o algarismo
duvidoso da medida seja avaliado. Neste caso, é usual adotar a incerteza da escala σap como sendo a
metade de sua precisão, isto é,
1
σap = x (precisão do aparelho).
2

Podemos citar como exemplos de aparelhos analógicos a régua graduada, balança tri-escala e
termômetro não digital.

Uma explicação plausível para adotar a metade da precisão dos aparelhos analógicos, no cálculo
da σap, encontramos a seguir em Régua graduada.

Régua graduada

As réguas graduadas (Figura 2) são aparelhos capazes de medir comprimentos com a precisão
máxima de milímetros, centímetros, decímetro, etc.. A precisão de uma régua graduada é definida como
sendo a menor divisão da escala graduada. Logo, a incerteza de escala da régua milimetrada é

1
σap = x 1 mm = 0,5 mm.
2

12
Figura 2. Exemplo de medida usando uma régua milimetrada.

Obviamente, no caso das réguas centimétrica e decimétricas, as incertezas de escalas são 0,5 cm
e 0,5 dm, respectivamente. Para entender a origem deste critério, considere, por exemplo, a medida do
comprimento do lápis com a régua milimetrada mostrada na Figura 2. Com o olho bem treinado ou com
o auxílio de uma lupa, e se os traços de marcação dos milímetros inteiros da régua forem suficientemente
estreitos, podemos avaliar até décimos de milímetro. Contudo, este procedimento pode não ser válido.
O próprio processo de fabricação de uma régua graduada pode não ser seguro, dando variações
comparáveis com a menor divisão. Então, supor a régua exata e avaliar décimos de milímetros não é
garantia de uma boa medida. Por outro lado, arredondando até o milímetro inteiro mais próximo pode
implicar em perda de informação. Assim, avaliar a incerteza em metade da precisão é aceitável. É
importante observar que esta incerteza corresponde na verdade a incerteza máxima que pode ser obtida
com a régua milimetrada. O comprimento do lápis na Figura 2 é de 64,5 mm, sendo que os algarismos
6 e 4 são exatos e o 5 é o algarismo duvidoso, avaliado ou estimado. Portanto, o resultado final da
medida deve ser l = (64,5 ± 0,5) mm.

2.6.2 Aparelhos não analógicos

Em nosso laboratório utilizaremos o paquímetro não digital, que é um exemplo de aparelho não
analógico que possui escala auxiliar. Esta aí a justificativa para o paquímetro digital não ser o foco de
nosso estudo. A partir daqui, quando mencionarmos apenas paquímetro, estamos nos referindo ao
paquímetro comum e não o digital.

Paquímetro ou Paquímetro não digital

Para muitas medidas com escalas graduadas é desejável estimar uma fração da menor divisão
das mesmas. Para que esta estimativa seja possível, existe uma escala auxiliar móvel, denominada Nônio
ou Vernier, que determina a fração da menor divisão que queremos medir. Esta escala especial (escala
auxiliar) foi criada por Pierre Vernier (1580 - 1637) para obter medidas lineares e angulares.

Curiosidade: Nônio de Nonius, latinizada de Nunes, de João Pedro Nunes (1502 - 1578),
matemático português [6]. O Nônio é um instrumento inventado por Pedro Nunes em meio à
problemática do desenvolvimento das grandes navegações portuguesas do século XVI. Este instrumento
foi aperfeiçoado por Clavius e seu desenvolvimento por Vernier, conduzindo à criação do paquímetro.
Paquímetro é um instrumento de precisão para medição de espessuras, diâmetros e pequenas distâncias.
Do grego paqui significa espesso, grosso [6].

O Nônio é constituído de uma pequena escala com N divisões igualmente espaçadas, que se
move ao longo da escala principal. As divisões do Nônio possuem dimensões diferentes daquelas da
13
escala principal, porém relacionam-se entre si de uma maneira simples. Por exemplo, o paquímetro
mostrado na Figura 3, possui um Nônio com N = 20 divisões que correspondem a 39 divisões da escala
1
principal. Esse paquímetro possui uma precisão de 20 = 0,05 mm, isto é, cinco centésimos de milímetro.

Para exemplificar, vamos observar a Figura 4 que mostra a medida do diâmetro de uma moeda
de cinquenta centavos. Observamos que o "zero" do Nônio se deslocou 22 mm do "zero" da escala
principal (escala fixa). Os centésimos da medida são obtidos definindo qual a marca do Nônio que
melhor coincide com uma marca da escala principal. No caso da medida mostrada na Figura 4,
observamos que a melhor coincidência ocorre para 0,85 mm. Portanto, o valor correto da medida do
diâmetro da moeda é d = (22,85 ± 0,05) mm, onde a incerteza do aparelho corresponde à precisão do
mesmo, isto é,

σap = precisão do aparelho = 0,05 m.

Figura 3. Fotografia mostrando as partes de um paquímetro comum.

14
Figura 4. Medida do diâmetro de uma moeda de cinquenta centavos.

Para obter boas medidas das dimensões de um objeto com o paquímetro, devemos ficar atentos
às seguintes orientações:

➢ O paquímetro deve ser mantido junto ao objeto durante a execução da medida.

➢ O contato dos encostos com as superfícies do objeto deve ser suave. Exageros na pressão do
impulsor podem danificar o objeto e o aparelho, resultando em medidas falsas.

➢ Manter a posição correta do paquímetro em relação ao objeto a ser medido. Inclinações no


aparelho alteram as medições.

➢ Antes de efetuar as medições, limpar as superfícies dos encostos do paquímetro e as faces de


contato do objeto.

➢ Medir o objeto a temperatura ambiente. As possíveis dilatações térmicas acarretam erros


sistemáticos.

➢ Para evitar erros de paralaxe (diferença aparente na localização de um corpo quando observado
por diferentes ângulos), ao se fazer a leitura, orientar a visão na direção dos traços e
perpendicular à linha longitudinal do aparelho.

2.6. 3 Aparelhos digitais

15
Algumas características do cronômetro digital e da balança digital serão apresentadas a seguir.

Cronômetro digital

Cronômetros digitais são aparelhos que medem intervalos de tempo (t), cuja precisão depende
do fabricante. Nesses aparelhos, as medidas são apresentadas em um display digital. A Figura 5 mostra
um exemplo de cronômetro digital de mão comumente utilizado em laboratórios de Física e o que seu
display mostra.

Figura 5. Cronômetro digital de mão.

Para este cronômetro digital, o último dígito de precisão encontra-se na casa dos centésimos de
segundo. Assim, a incerteza intrínseca deste aparelho corresponde à menor medida que o mesmo pode
fazer, isto é, σap = 0,01 s. Então, como um minuto é igual a sessenta segundos, a leitura apresentada
pelo display na Figura 5 significa que o t = (66,18 ± 0,01) s.

Assim como no paquímetro, a incerteza intrínseca do aparelho σap do cronômetro digital


também é dada como sendo igual à precisão deste aparelho. Matematicamente:

σap = precisão do aparelho = 0,01 s.

Nota: em nosso laboratório utilizaremos, em todas as práticas com o trilho de ar, um cronômetro digital
cuja precisão é de 0,001 s. Nesse caso, a σap deste cronômetro é

σap = precisão do aparelho = 0,001 s.

Balança digital

Balanças são aparelhos que medem massas de corpos. Assim como os cronômetros digitais, a
precisão destas balanças depende do fabricante e as medidas são apresentadas em um display digital. A
Figura 5 mostra uma balança digital comumente utilizada em laboratórios.

16
Figura 5. Balança digital comumente utilizada em laboratórios.

Uma balança pode ser classificada como analítica ou semi-analítica. A diferença entre a balança
analítica e a balança semi-analítica é o grau de precisão dos resultados que cada uma apresenta.
A balança analítica tem seu uso mais restrito e usualmente apresenta o prato, para colocação de
amostras, protegido por portinholas de vidro corrediças. Isso porque leves ou imperceptíveis correntes
de ar podem acarretar instabilidade ao valor lido, ou até induzir a um grande erro de leitura. Devido a
necessidade de extrema precisão em determinadas medidas efetuadas, as balanças analíticas devem ter
salas específicas para sua manipulação com condições ambientais controladas (temperatura e umidade),
bem como uma rede elétrica capaz de fornecer voltagem dentro dos limites de tolerância especificados
no manual de cada modelo.

A balança utilizada no LabFis-Leo é semelhante a da Figura 5 com o último dígito de precisão


na casa dos décimos do grama. Assim, a incerteza intrínseca desta balança, em particular, corresponde
à menor medida que este dígito pode proporcionar, isto é, σap = 0,1 g. Para exemplificar: um objeto de
massa 49,4 g, medida nesta balança, deve ser apresentado como m = (49,4 ± 0,1) g.

Assim como no paquímetro e no cronômetro digital, a incerteza intrínseca da balança digital


(σap ) do LabFis-Leo também é dada como sendo igual à precisão deste aparelho. Matematicamente:

σap = precisão do aparelho = 0,1 g.

Referências bibliográficas:

[1] Análise de dados para Laboratório de Física – UFJF. Mar. 2014. Disponível em:
<http://www.ufjf.br/fisica/files/2010/03/analisedados_small2.pdf>. Acesso em: 26 fev. 2020.

[2] MÁXIMO, A.; ALVARENGA, B. Curso de Física. São Paulo: Scipione, 2005.

[3] Regras de arredondamento na numeração decimal, Associação Brasileira de Normas Técnicas


(ABNT/NB 87), 1977.

[4] Grandezas e unidades, Princípios gerais: “Guia de arredondamento de números”. 3ª ed. 1992; esta
norma está em revisão e será editada proximamente sob o novo número: ISO 80000.

17
[5] BIPM/IEC/IFCC/ISSO/IUPAC/OIML. “Guide to the expression of uncertainty in measurement”,
(corrected and reprinted, 1995). International Organization for Standardization (ISO), 1993, Geneva.

[6] FERREIRA, A. B. de H. Dicionário da língua portuguesa. 4 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
2001.

18
Prática 1 – Potências, Ordem de Grandeza e Algarismos Significativos

Nesta aula realizaremos três atividades práticas que envolverão medidas de grandezas físicas
utilizando régua milimetrada, paquímetro e cronômetro digital. Os resultados destas medidas serão
apresentados como valores aproximados, considerando apenas os seus valores médios (𝐱̅) e as
incertezas intrínsecas dos aparelhos (𝛔𝐚𝐩 ). Desconsideraremos as incertezas de Tipo A, que serão
tratadas nas próximas aulas. Nesse sentido, os resultados serão assim apresentados:

x = x̅ ± σap .

Nota: calcularemos o valor médio (x̅) das várias medidas obtidas nas práticas dessa aula e serão
apresentadas como mencionado, mas devemos nos lembrar que, quando fazemos a medida de uma
grandeza x mais de uma vez, não é comum ocorrer flutuações de medidas muito maiores do que a
precisão do aparelho utilizado para estas medidas. Nesse caso, σm ≫ σap e será suficiente apresentar a
incerteza δx somente em termos da incerteza aleatória, isto é, δx = σm ⇒ x = x̅ ± σm . Esta última
equação é a forma correta de se apresentar a medida direta de uma grandeza física. Mas a justificativa
para apresentar as medidas na forma x = x̅ ± σap deve-se ao fato de que todos os alunos farão medidas
de uma mesma grandeza física com o mesmo instrumento e, obviamente, as medidas apresentarão
variações. Como o objetivo principal desta aula é a familiarização dos alunos com os instrumentos de
medidas do LabFis-Leo, para resolvermos o impasse sobre qual aluno mediu corretamente e chegarmos
a um acordo, adotaremos o valor médio do conjunto de medidas feitos pelos integrantes da bancada.
Desse modo justificamos a apresentação da medida na forma x = x̅ ± σap . É interessante ressaltar
também que, quando fazemos a medida de uma grandeza X somente uma vez, não teremos a incerteza
aleatória no processo de medida. Nesse caso, a incerteza da medida δx deve ser apresentada somente
como a incerteza intrínseca do aparelho, isto é, δx = σap . A resposta tomará a forma X = x ± σap .
Esta última é a forma que deveríamos adotar.

Não devemos nos esquecer da operacionalização adequada dos algarismos significativos e das
potências de 10 que representam as medidas.

Práticas que serão realizadas nessa aula:

Atividade 1: Medida de dimensões com a régua milimetrada.


Atividade 2: Medida de dimensões com o paquímetro.
Atividade 3: Faça você mesmo.

Orientações gerais: Todas as contas e respostas solicitadas nos roteiros devem ser manuscritas (não
podem ser digitadas) com o seu nome assinado na parte superior e inferior de cada página. As únicas
exceções serão os gráficos, estes podem ser feitos em softwares de sua preferência, mas as análises sobre
eles também precisam ser manuscritas.

19
Atividade 1: Medida de dimensões com a régua milimetrada

Materiais: régua milimetrada e qualquer objeto (tarugo, caderno, folha A4, etc.).

Procedimento experimental:
1º Escolher um objeto no ambiente do labFis-Leo.
2º Combinar com os integrantes da “bancada” qual dimensão (comprimento, largura, altura e diâmetro)
do objeto escolhido será medida.
3º Utilizando a régua milimetrada, medir e anotar no caderno de laboratório a medida l da dimensão
combinada pelos integrantes da bancada.

Medidas (l)

𝑙̅ =

4º Apresentar a medida da grandeza física escolhida na forma 𝑙 = 𝑙 ̅ ± 𝜎𝑎𝑝 .

Atividade 2: Medida de dimensões com o paquímetro

Materiais: paquímetro (não digital) e objetos (moeda, tarugo, objetos com furos, objetos para medir
profundidade, etc.).

Procedimento experimental:
1º Escolher um objeto no ambiente do labFis-Leo.
2º Combinar com os integrantes da “bancada” qual dimensão (comprimento, largura, altura e diâmetro)
do objeto escolhido será medida.
3º Utilizando o paquímetro (não digital), medir e anotar no caderno de laboratório a medida l da
dimensão combinada pelos integrantes da bancada.

Medidas

𝑙̅ =

4º Apresentar a medida da grandeza física escolhida na forma 𝑙 = 𝑙 ̅ ± 𝜎𝑎𝑝 .

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Atividade 3: Faça você mesmo
Materiais: Material que o estudante estiver disponível em casa (cronômetro, régua, etc.).

Procedimento experimental:
1º Escolha um equipamento que você tenha ao dispor em sua residência que permita a medição de
alguma grandeza física e descreva abaixo, com detalhes, qual é este equipamento (o que ele mede, a
precisão da medida, etc...), inclusive pode colocar a foto do equipamento.

2º Escolha o que se quer medir (por exemplo a dimensão, intervalo de tempo, etc...) e descreva com
detalhes como será feita a medida.

3º Anote os valores medidos,

Medidas

𝑙̅ =

4º Apresentar a medida da grandeza física escolhida na forma 𝑙 = 𝑙 ̅ ± 𝜎𝑎𝑝 .

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