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676 ARTIGO ORIGINAL | ORIGINAL ARTICLE

Imigração haitiana em Cascavel, Paraná:


ponto de convergência entre história(s),
trabalho e saúde
Haitian immigration in Cascavel, Paraná: convergence point among
history(ies), work and health

Leonardo Dresch Eberhardt1, Gabriel Eduardo Schütz2, Renato José Bonfatti3, Ary Carvalho de
Miranda4

DOI: 10.1590/0103-1104201811811

RESUMO O objetivo do estudo é analisar a relação entre trabalho e saúde dos imigrantes hai-
1 Fundação
tianos em Cascavel (PR), com foco na indústria frigorífica avícola. Para tanto, foi realizada
Oswaldo Cruz
(Fiocruz), Escola Nacional pesquisa qualitativa, com três fontes de dados: entrevistas semiestruturadas (11), acordos co-
de Saúde Pública Sergio letivos de trabalho e notícias on-line. Os haitianos começaram a chegar a Cascavel em 2010 e
Arouca (Ensp) – Rio de
Janeiro (RJ), Brasil. se inseriram nas agroindústrias avícolas. Nas entrevistas, foram descritas diversas situações
Orcid: https://orcid. envolvidas na saúde do trabalhador, desde sintomas inespecíficos até acidentes de trabalho,
org/0000-0002-8284-
1668 além do racismo. Diante desse cenário, a comunidade haitiana tem procurado formas de re-
leonardodeberhardt@gmail. sistência, por meio da Associação Haitiana de Cascavel e da participação nas igrejas locais.
com

2 Universidade Federal PALAVRAS-CHAVE Trabalhadores. Saúde do trabalhador. Emigração e imigração. Saúde


do Rio de Janeiro (UFRJ),
Instituto de Estudos em pública.
Saúde Coletiva (Iesc) – Rio
de Janeiro (RJ), Brasil.
Orcid: https://orcid. ABSTRACT The objective of the study is to analyze the relationship between work and health
org/0000-0002-1980- of Haitian immigrants in Cascavel (PR), focusing on poultry slaughtering industry. For this
8558
gabriel@iesc.ufrj.br purpose, a qualitative research was carried out, with three data sources: semi-structured in-
3 Fundação
terviews (11), collective work agreements and online news. Haitians began arriving in Cascavel
Oswaldo Cruz
(Fiocruz), Escola Nacional in 2010 and were inserted in the poultry agro-industries. In the interviews, various situations
de Saúde Pública Sergio involved in the worker’s health were described, from nonspecific symptoms to work accidents,
Arouca (Ensp) – Rio de
Janeiro (RJ), Brasil. in addition to racism. Within this setting, Haitian community have been looking for forms of
Orcid: https://orcid. resistance, through the Haitian Association of Cascavel and participation in local churches.
org/0000-0002-4220-
1025
renato.bonfatti@gmail.com KEYWORDS Workers. Occupational health. Emigration and immigration. Public health.
4 Fundação Oswaldo Cruz
(Fiocruz), Escola Nacional
de Saúde Pública Sergio
Arouca (Ensp) – Rio de
Janeiro (RJ), Brasil.
Orcid: https://orcid.
org/0000-0002-0752-
7636
ary@fiocruz.br

Este é um artigo publicado em acesso aberto (Open Access) sob a licença Creative
Commons Attribution, que permite uso, distribuição e reprodução em qualquer
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Introdução imigrantes haitianos passou a ser notória


em finais de 2010, despertando o interesse
A migração é um fenômeno, ao mesmo de movimentos sociais e instituições aca-
tempo, velho e novo. Está presente em prati- dêmicas locais. Esse fenômeno está estrei-
camente toda a história da humanidade, mas tamente relacionado à indústria frigorífica:
se reveste de outros contornos e se renova grande parte dos imigrantes que vieram a
em cada modo de produção e em cada fase de se estabelecer na cidade foi empregada por
desenvolvimento no seu interior. A atual fase esse setor econômico5. Cabe ressaltar que o
do capitalismo, caracterizada pela chamada Oeste/Sudoeste do Paraná e o Oeste de Santa
‘reestruturação produtiva’, está relacionada Catarina são as maiores regiões produtoras/
à reconfiguração da migração internacio- processadoras de carne de frango do País. O
nal ou transnacional, com um incremento Brasil é, por sua vez, o maior exportador e o
substantivo dos fluxos migratórios1. O neo- segundo maior produtor de carne de frango,
liberalismo e a financeirização da economia em escala mundial6.
global vêm empurrando trabalhadores de- Diante desse cenário, o objetivo deste
sempregados, em especial, os mais jovens, estudo é analisar a relação entre trabalho e
para ocupações desprotegidas e precárias, saúde no caso dos imigrantes haitianos em
constituindo uma força de trabalho sub-re- Cascavel, com foco na indústria frigorífica
munerada e insegura em países periféricos2. de carne de frango. O município de Cascavel
A Organização das Nações Unidas (ONU) está localizado na região Oeste do estado do
afirma que havia 244 milhões de migrantes Paraná, conta com 316 mil habitantes e uma
internacionais no ano de 2015. No Brasil, a economia baseada na produção agropecu-
cifra chega a 713 mil, representando menos ária e agroindustrial, além da prestação de
de 1% da população do País3. O Brasil viveu serviços de saúde, educação e comércio.
um verdadeiro boom imigratório no início Como a determinação social da saúde
deste século, com quatro principais grupos exige a compreensão histórica de seus fenô-
de imigrantes, de acordo com os países de menos, sobretudo na relação entre produção
origem: (1) países centrais (Estados Unidos e saúde7, é preciso olhar brevemente para o
da América – EUA, Alemanha, Japão etc.), processo histórico do Haiti, desde antes de
com força de trabalho qualificada; (2) países sua independência (em 1803/04) até os fatos
centrais largamente afetados pelas recentes que marcaram a recente diáspora do povo
crises do capitalismo e com laços migra- haitiano pelo mundo.
tórios com o Brasil (Portugal, Espanha e
Itália); (3) países periféricos Sul-americanos
(Argentina, Chile, Colômbia, Bolívia etc.); Aspectos históricos do Haiti
e (4) o Haiti, cuja imigração para o Brasil e a imigração para o Brasil
aumentou significativamente desde 20104.
Poderíamos, ainda, falar de um grupo consi- “A história é um paradoxo andante. A contra-
derável de imigrantes provenientes de países dição move-lhe as pernas”8(12). Qual exemplo
da África, do Oriente Médio e do Sul da Ásia. melhor para os paradoxos e contradições in-
A população de imigrantes haitianos possui vocados por Galeano do que a própria história
a particularidade de ser constituída, predo- haitiana?
minantemente, por pessoas negras e pobres O Haiti localiza-se na Ilha de São Domin-
que disputam seu lugar no mundo do traba- gos (também conhecida como Hispaniola),
lho com singular desvantagem competitiva, território dividido com a República Domi-
em virtude do racismo. nicana, no coração do mar do Caribe.
Em Cascavel, Paraná (PR), a presença de Atualmente, possui, aproximadamente, 10

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milhões de habitantes. A Europa abriu seus estadunidense para a intervenção na ilha se


olhos para a ilha em 1492, quando ali chegou tornou claro: possuir uma base de operações
Cristóvão Colombo. Cedida para a França próxima a Cuba, que fez sua revolução socialis-
no final do Século XVII e batizada de ‘Saint ta em 1959, e impedir sua difusão pela América
Dominic’, permaneceu uma próspera colônia Central e Caribe9.
até a década de 1790, quando explodiram as Em 2004, a ONU instaura no País a Missão
revoltas de escravos. O sistema produtivo das Nações Unidas para Estabilização do Haiti
implantado na ilha disseminou-se e ficou (Minustah), liderada pelo Brasil, tornando o
conhecido como plantation, que combinava País o oásis da “indústria da ajuda internacio-
a monocultura latifundiária de produtos tro- nal”10(22). Em 2010, a capital do Haiti, Porto
picais para exportação e a utilização de força Príncipe, foi surpreendida por um violento
de trabalho escrava9,10. terremoto, que deixou mais de 200 mil mortos
As revoltas dos escravos atingiram tal grau e 1,5 milhões de desabrigados. A magnitude
de intensidade e organização que culmina- do desastre foi potencializada pelas precárias
ram com a independência do Haiti frente ao condições de vida no País, considerado um dos
governo francês, em 1804. Ganhava vida a pri- mais pobres das Américas. Paradoxalmente, as
meira nação livre do continente americano: péssimas condições sanitárias dos alojamentos
apesar de ser o segundo país a conquistar inde- da Minustah foram responsáveis pela introdu-
pendência, foi o primeiro a abolir a escravidão. ção do vibrião do cólera, com epidemias impor-
A revolução fora feita pelos negros outrora es- tantes desde 201010.
cravizados. Após a guerra pela independência, Essa sucessão de desastres socioambientais e
que dizimou mais de 160 mil pessoas, o Haiti crises político-econômicas ajuda a compreender
sofreu com um bloqueio econômico capitane- a diáspora haitiana. O Brasil passou a ser destino
ado pelos EUA, que durou mais de 60 anos, e a importante da imigração haitiana a partir de
recusa em reconhecer a independência do País, 2010. Em 2013, o Estado brasileiro começou a
fato que só se concretizou com o pagamento de conceder visto humanitário aos haitianos, elimi-
uma indenização à França, o que inviabilizou nando limites legais para a entrada no País.
seu desenvolvimento econômico e social10. A rota migratória inclui, comumente,
Em 1815, Simon Bolívar busca ajuda no Haiti viagem de avião para Equador, Peru ou Bolívia
para libertar os países da América continental. e entrada no Brasil via Brasiléia (Acre) e
O governo haitiano lhe entregou navios, arma- Tabatinga (Amazonas). Durante essas viagens,
mentos e soldados, sob uma única condição: muitas vezes intermediadas por ‘coiotes’, os
libertar os escravos. No entanto, após a obten- imigrantes, além de sofrerem muitas dificul-
ção das vitórias, em 1826, o libertador convoca dades, podem chegar a contrair dívidas de até
o Congresso do Panamá, buscando a integração U$ 4.000,00. Há relatos de roubo, estupro, ex-
da América Latina. Nem cogita a participação torsão, agressão e abandono durante o trajeto.
do Haiti. O espaço no Congresso fora reser- Mais recentemente, com a ampliação do acesso
vado para convidados ‘mais ilustres’: EUA e aos vistos concedidos pelo Estado brasileiro,
Inglaterra10. muitos têm desembarcado em São Paulo11.
No século XX, a história haitiana foi marcada Em cidades como Rio Branco, Porto Velho
por frequentes intervenções estrangeiras, além e Manaus, estabeleceu-se uma espécie de
de crises político-econômicas, revoltas sociais ‘mercado’ de força de trabalho haitiana, no qual
e desastres socioambientais. A marinha esta- empresários de todo o País ‘escolhiam’ seus
dunidense permaneceu no País entre 1915 e futuros empregados12. Entre esses empresários,
1934. O controle sobre a ilha permitia o acesso estavam alguns provenientes da região Oeste
a grande parte da rota marítima caribenha. Em do Paraná. É assim que a história haitiana e sua
finais da década de 1950, o pretexto do governo diáspora atingem Cascavel.

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Metodologia não possuíam informações sobre o período


inicial. O processo de análise das entrevistas
As relações entre a imigração de haitianos incorporou contribuições da ‘história oral’14.
em Cascavel e as condições de trabalho nos As notícias analisadas foram buscadas no
frigoríficos avícolas foram estudadas numa portal on-line da CGN com a palavra-chave
perspectiva qualitativa, sob o ângulo das ci- ‘haiti’, que recuperou 160 resultados, publica-
ências sociais e humanas em saúde. O campo dos entre 2014 e 2016. Após leitura integral das
da saúde do trabalhador e o conceito de de- notícias, foram incluídas 53 notícias que ver-
terminação social da saúde foram orientado- savam sobre fatos envolvendo a comunidade
res do percurso metodológico deste estudo7. haitiana de Cascavel. O material coletado foi
Foram utilizadas três fontes de dados: (1) tratado e analisado de forma crítica, levando
entrevistas semiabertas realizadas com nove em conta sua integração aos contextos social,
haitianos (oito homens e uma mulher, entre 20 cultural, político e ideológico15. Os ACT con-
e 43 anos de idade) e dois brasileiros (ambos sultados estão disponíveis publicamente no site
do sexo masculino, com idade entre 49 e 50 do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE
anos); (2) notícias veiculadas pelo jornal local – Sistema Mediador) e foram firmados pela
Central Gazeta de Notícias (CGN), entre 2014 empresa frigorífica analisada e pelo sindicato
e 2016; e (3) Acordos Coletivos de Trabalho correspondente entre 2008 e 2017.
(ACT) firmados entre sindicato e empresa A pesquisa foi apreciada e aprovada por
frigorífica. A coleta de dados ocorreu entre Comitê de Ética em pesquisa (Parecer nº
junho e outubro de 2016. 1.500.148, de 14 de abril de 2016) e respeitou
A identificação e a seleção dos indivíduos os preceitos éticos recomendados na pesquisa
a serem entrevistados foram pautadas com com seres humanos16. Perante o compromis-
representantes da Igreja Anglicana local e so de manter o anonimato dos entrevistados,
da Associação Haitiana de Cascavel (AHC). optamos pela utilização de pseudônimos. Os
O contato e a seleção dos sujeitos entrevista- dois brasileiros receberam nomes comuns:
dos foram inspirados no método da amostra- João e José. Os haitianos, por outro lado,
gem por bola-de-neve (snowball sampling)13. foram (re)nomeados a partir das personagens
As entrevistas foram realizadas em locais do romance ‘L’Étranger’ (‘O Estrangeiro’), do
escolhidos pelos entrevistados, consideran- escritor francês Albert Camus, publicado ini-
do a oportunidade para sua realização, por cialmente em 1942 e que aborda questões en-
exemplo: no domicílio, nas dependências volvendo as relações sociais estabelecidas por
da AHC, na igreja, em locais públicos, na um ‘estrangeiro’ (no sentido moral e ético) na
universidade etc. O roteiro das entrevistas comunidade argelina17.
incluiu quatro partes, cada uma com uma
série de perguntas: (1) a vida no Haiti e a
vinda para o Brasil; (2) o trabalho no frigo- Resultados e discussão
rífico de aves; (3) o processo saúde-doença
relacionado ao trabalho; e (4) movimentos
sociais e atuação da AHC. A execução de A imigração haitiana atinge Cascavel,
entrevistas com dois brasileiros se justifi- Paraná
ca pela natureza exploratória do estudo:
ambos acompanharam a inserção dos hai- ‘Cascavel, cidade hospitaleira. Tu és fonte
tianos em Cascavel desde o início e, por isso, rica de labor. [...] És a sombra que acolhe
detinham informações sobre esse período. o forasteiro’. Os versos do hino municipal
Enquanto os primeiros grupos de imigrantes de Cascavel revelam parte de sua história.
já não residiam na cidade, os novos grupos Emancipada de Foz do Iguaçu, em 1962, a

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cidade recebeu distintos fluxos migratórios não falavam o português com fluência, o que
no século XX: gaúchos, catarinenses, paulis- lhes causava muitas dificuldades. No período
tas, alemães, italianos etc. Acabou se tornan- de coleta de dados, alunos do curso de letras
do o centro político e econômico da região da Universidade Estadual do Oeste do Paraná
Oeste do Paraná. (Unioeste) se empenharam, voluntariamente,
Os haitianos começaram a chegar ali em em ensinar português para os haitianos. Não
2010, atraídos por empresários locais, com houve qualquer apoio do poder público. As
a promessa de empregos em abundância e dificuldades eram imensas, não apenas pelos
de qualidade – motivo apontado pelos en- desafios da comunicação: os haitianos traba-
trevistados para o deslocamento de mais de lham muito, não há tempo de sobra; mesmo os
4 mil quilômetros. que estão desempregados – e não são poucos –
Inicialmente, os haitianos foram inseridos passam o dia todo na árdua e incessante tarefa
na construção civil, em obras de ampliação da busca de emprego.
de hospital e universidade locais. Findadas É preciso ressaltar que, apesar de nos refe-
tais obras, permaneceram na região. A maior rirmos aos ‘haitianos’ de maneira geral, não se
parte deles se integrou no trabalho em super- trata de um grupo absolutamente homogêneo.
mercados e em frigoríficos avícolas e, quando Esse aspecto já havia sido apontado por pesqui-
possível, trouxeram família e amigos. A comu- sadores e missionários durante trabalho de ex-
nidade foi crescendo: em 2014, estimava-se a tensão com os haitianos em Brasiléia, no Acre19.
presença de mais de 4 mil haitianos no local, Assim, existem diferenças no interior da co-
com perspectiva de aumento nos próximos munidade, das quais apenas nos aproximamos
anos5. Dados da Polícia Federal apontam que de forma exploratória neste estudo. Algumas
Cascavel está entre os 10 municípios brasilei- delas se referem, por exemplo, à qualificação
ros com mais haitianos regularmente regis- profissional (alguns têm ensino superior com-
trados. O Paraná é o segundo estado brasileiro pleto, outros não concluíram o ensino básico) e
com maior população de haitianos (14,9%), à inserção laboral (alguns trabalham em linhas
atrás apenas de São Paulo11. de produção, outros em cargos de gerência e
Em Cascavel, como em várias outras cidades outros estão subempregados ou desemprega-
do Brasil, os haitianos não foram recepcio- dos). Essas diferenças nas condições de vida e
nados por organismos do Estado, mas por trabalho impactam o processo saúde-doença.
igrejas locais18. No caso em questão, foi a Igreja Mas, sobretudo, impactam a forma como esses
Anglicana que os recepcionou e concedeu indivíduos se percebem no interior da comu-
apoio nas questões de moradia, trabalho, ali- nidade haitiana e como percebem a própria
mentação, além das espirituais. Eles acabam se comunidade haitiana no interior da sociedade
concentrando em pequenas comunidades, em brasileira. Isso quer dizer que as entrevistas
condomínios de quitinete – muito comuns em podem apresentar conteúdos por vezes contra-
virtude da vida universitária da cidade – situ- ditórios e conflituosos entre si.
ados em bairros periféricos, suburbanos, divi-
dindo as despesas e o espaço residencial com Relações entre trabalho e saúde a
amigos ou familiares. Geralmente, estão longe partir da experiência em um frigorífi-
da empresa em que trabalham e, por isso, usam co de aves
com frequência o transporte público.
A questão da linguagem foi crucial. Muitos
deles falam mais de uma língua: além do Kreyòl [...] cada entrevista possui um enredo próprio,
(conhecido no Brasil como ‘crioulo’), língua tecido a partir de suas trajetórias no mundo
nativa, dominam o francês e, em alguns casos, do trabalho e da forma com que lidam com as
também o inglês e o espanhol. Muitos ainda experiências vividas20(314).

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Foi essa premissa metodológica que guiou a aluguel, comida, onde você vai dormir? [...] Eu
realização das entrevistas, isto é, atentar para não quero dormir na rua, então eu trabalho”.
as peculiaridades de cada relato e, ao mesmo Mersault, 29 anos e desde 2013 no
tempo, procurar compreender a experiência Brasil, trabalhou por cinco meses no fri-
da comunidade haitiana como um todo. gorífico de aves e optou por sair: “Foi meu
Optamos por estudar o trabalho dos hai- primeiro emprego aqui no Brasil, e eu não
tianos nos frigoríficos de aves por várias gostei. Não gostei de trabalhar no frigorí-
razões: (1) presença massiva de imigrantes fico”. Ele laborava na etapa final da linha
nas indústrias frigoríficas da cidade; (2) im- de produção, chamada de ‘embalagem
portância do setor de abate e processamento final’. As tarefas envolviam a pesagem das
de carnes para as economias local, regional e ‘peças’ (como são chamados os pedaços
nacional; (3) necessidade metodológica de se cortados), sua embalagem, etiquetagem e
debruçar sobre um setor específico da pro- armazenamento na câmara fria para con-
dução, em virtude do tempo curto disponível gelamento e posterior destinação.
e da profundidade almejada. As cargas de trabalho envolviam o peso
Pesquisas realizadas em frigoríficos de das caixas, a rapidez dos movimentos, o
aves descortinaram as várias etapas que o frio de temperaturas próximas a zero e a
frango percorre enquanto é ‘desmontado’. pressão da chefia:
Cada uma dessas etapas possui alguns pro-
cessos de trabalho específicos e, em decor- A rapidez com que você tinha que fazer o traba-
rência disso, ‘cargas de trabalho’ específicas. lho é que era ruim. Pra levantar uma caixa... Tudo
Desde a chegada dos frangos à indústria, bem, é legal, mas pra levantar com rapidez...
a linha principal de ‘desmontagem’ é a que Você tem que cuidar pra não cair. [...] o ‘encar-
segue: (1) descarregamento dos frangos dos regado’ é uma pessoa que é colocada ali pra fi-
caminhões e verificação do lote e das con- car cuidando. Não é um supervisor. É um líder do
dições dos animais; (2) repouso dos frangos grupo. É um trabalhador igual nós, mas fica como
por cerca de duas horas antes da entrada na um chefe e incomoda mais que um supervisor. Ele
linha de produção; (3) choque de insensibili- não é haitiano, é brasileiro; às vezes, dava uma
zação em água corrente; (4) pendura, abate advertência pra pessoa por nada. (Mersault).
e sangria; (5) escaldagem em água fervente
e depenagem com rolo giratório; (6) lavagem A rapidez exigida, a pressão da chefia e o
em chuveiros de aspersão; (7) evisceração; frio constante, de acordo com os relatos dos
(8) espostejamento (desmonte da ave em entrevistados, também estão presentes em
seus diversos cortes); desossa; (9) embala- outros postos de trabalho, como os setores de
gem, pesagem, etiquetagem, congelamento e espostejamento, de evisceração e de desossa.
armazenamento21-23. Tais cargas de trabalho produzem efeitos
A perspectiva de migrar para o Brasil desgastantes nos trabalhadores. Um desses
trazia a promessa de empregos imediatos efeitos são as Lesões por Esforço Repetitivo
e de qualidade. A necessidade de pagar as (LER), muito frequentes entre operários de
dívidas contraídas na viagem e de enviar di- frigoríficos de aves24.
nheiro para os familiares no Haiti, além da Casos de doença e acidentes de trabalho
ameaça do desemprego, fizeram muitos hai- foram lembrados por Mersault. Destaca-
tianos aceitarem o trabalho pesado, intenso se o caso de uma haitiana que teve o braço
e desgastante dos frigoríficos. Masson (31 amputado. Tentou-se contato com ela, sem
anos, desde 2013 no Brasil) explica por que sucesso. Além disso, acidentes de trabalho
se submete ao trabalho nesses locais: “Se envolvendo haitianos foram noticiados pela
você não trabalhar, como que você vai pagar CGN, todos ligados à construção civil.

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Doença foi bastante. As pessoas não estão acos- precisarem de auxílio médico na rede pública
tumadas com o frio. Quando havia muito frio, parecem similares aos da população geral26.
alguns ficavam resfriados. [...] De acidente, ti- Além das condições de trabalho, as jorna-
veram dois casos. Teve uma haitiana que perdeu das de trabalho extensas ajudam a entender
um braço. Teve outro que ‘entrou’ na máquina a ocorrência de acidentes, doenças e sinto-
que faz salsicha. A máquina pegou ele e ele fi- mas inespecíficos. Quase não há tempo para
cou pendurado. Sorte que teve outro cara que repouso; devido aos deslocamentos entre a
viu e desligou a máquina, outro haitiano. Que- residência e o trabalho e às horas extras, a
brou o braço e depois arrumou. Foi sorte dele. jornada de trabalho pode chegar a 12 horas.
(Mersault). Há, ainda, o tempo de deslocamento da
entrada da empresa até o posto de trabalho,
Pérez (43 anos, desde 2014 no Brasil) a troca de vestimentas e o preparo do ins-
relata a percepção que tem a respeito do trumental. Segundo os entrevistados, isso
serviço de medicina do trabalho da fábrica: poderia ocupar até 30 minutos. Entretanto,
empresa e sindicato acordaram que apenas
[...] um haitiano trabalhava numa máquina, a 10 minutos seriam computados como
máquina pegou ele, agarrou e levou ele. Foi no jornada de trabalho (cinco no início e cinco
médico e ele disse que era pra voltar trabalhar. ao final). Dessa forma, o tempo de ‘descanso’
[...] o monitor e o chefe não têm respeito pela pode não ser suficiente para a reposição das
saúde de ninguém. Se eu tô lá e me sinto mal, energias físicas e psíquicas, provocando um
ele me diz pra esperar voltar pra casa. Tem gen- desgaste permanente.
te que caiu na Coopavel ou ficou doente e não O salário, de cerca de R$ 1.200,00
conseguiu mais trabalhar. Eles nos forçam pra mensais (sem deduções) não respondia às
trabalhar. A gente cai no chão, e não levam pro necessidades de sobrevivência dos haitia-
hospital. (Pérez). nos. Tornava-se impossível enviar remessas
de dinheiro para os familiares que perma-
Em pesquisa realizada em frigoríficos da neceram no Haiti, o que gerava sofrimento,
região Oeste do Paraná, Bosi apontou que estresse e insatisfação.
os serviços de medicina do trabalho e saúde A pressão dos supervisores e encarrega-
ocupacional “tendem a compor um forte dos sobre os trabalhadores levam Pérez a
e articulado aparato político que auxilia afirmar que “a gente é tratado como escravo”.
a empresa a extrair todas as energias dos Masson, após algum tempo de entrevista,
trabalhadores”20(318). falou abertamente em racismo: “Tem muito
Os entrevistados relataram uma série de chefe racista”. Mais um paradoxo da histó-
‘queixas’, como dores nas mãos, braços e coluna; ria: a teoria pseudocientífica do eugenismo
perda de sensibilidade tátil; fadiga; estresse; res- (racismo ‘científico’) ganhou força nos EUA
friados etc. Tais sintomas ainda não configuram e na Europa do Século XIX, justamente para
doenças ocupacionais, mas já são indicativos da legitimar a colonização da África e o uso de
forma que assume a relação trabalho-saúde nos força de trabalho africana escravizada nas
frigoríficos. Trata-se de sintomas inespecíficos, plantations do Caribe. Um eco do passado
que poderiam ser enquadrados naquilo que que ressoa no presente: o racismo acaba por
Valla denominou “sofrimento difuso”25(41). Nas dividir os trabalhadores, quebrar sua solida-
situações em que precisaram utilizar o serviço riedade e dificultar sua ação coletiva27.
público de saúde de Cascavel, os haitianos Emmanuel (38 anos) chegou a Cascavel
disseram se sentir bem atendidos pelos profis- em janeiro de 2016 e, até a realização da
sionais de saúde. Com exceção da barreira lin- entrevista, ainda não tinha conseguido
guística, os problemas por eles enfrentados ao emprego. Procurava trabalho diariamente,

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sem sucesso. Pensava em voltar ao Haiti ou meio da espiritualidade. A comunidade hai-


migrar para outro país, mas não tinha dinhei- tiana de Cascavel tem grande apreço pelas
ro para tal. Muitos haitianos que viveram em igrejas locais, de diversas religiões. Entre
Cascavel foram para o Chile, outros conse- elas, tem destaque a Igreja Anglicana, que
guiram voltar para o país de origem. Durante auxiliou os imigrantes desde a chegada à
a entrevista de Masson, seu colega de quarto cidade. Mersault baliza a relevância desse
preparava as malas para o retorno. Também ponto: “as igrejas são as que mais ajudam”.
era trabalhador de frigorífico local. Ele em- Elas concedem o chamado apoio social, que
barcaria em Foz do Iguaçu naquela mesma consiste em ajuda material, lazer, confor-
noite para dar fim ao sonho brasileiro. to, cultura e esperança. Em muitos casos, a
Essa questão não é peculiar aos haitianos: igreja é um dos únicos locais onde grupos de
os trabalhadores da região Oeste do Paraná haitianos e de brasileiros estabelecem rela-
têm recusado o trabalho nos frigoríficos. ções de solidariedade e confiança25.
Essa recusa aparece Por fim, a AHC também pode ser enten-
dida no quadro conceitual do ‘apoio social’.
justificada pelos trabalhadores pelos baixos Fundada, inicialmente, em 2014 e retoma-
salários e [...] difíceis e intoleráveis condições da em 2016, a AHC pretende defender os
de trabalho, principalmente o ritmo das tare- interesses da comunidade haitiana frente
fas e as temperaturas frias em que os frangos à sociedade cascavelense e o poder público
são esquartejados20(315). municipal. Entre suas ações, destacam-se a
confecção de uma cartilha de orientações
A recusa dos trabalhadores diante dos em- para os haitianos recém-chegados (em con-
pregos na indústria frigorífica pode ajudar a junto com vereador local), um levantamen-
explicar a vinda de imigrantes haitianos para to sociodemográfico da população haitiana
o trabalho nesses locais. local (em conjunto com a igreja anglicana e
pesquisadores), a organização de eventos co-
Formas de resistência e apoio social memorativos em datas importantes no Haiti
e a criação de um programa de rádio trans-
Além da recusa ao trabalho nos frigoríficos, mitido via internet, que pode ser acessado do
os haitianos têm buscado outras formas país caribenho.
de resistência. Mesmo que sutis e difusas, A atuação da AHC em espaços políticos
essas resistências têm tido importância é ainda muito limitada. Isso não desmere-
fundamental. ce sua importância para a comunidade. É
Em primeiro lugar, a relação dos haitianos preciso lembrar, pois, que
que trabalham na empresa estudada com o sin-
dicato que os representa legalmente é frágil e [...] as formas difusas de ação constituem o
controversa. Masson afirmou que “O sindicato terreno onde se formam as referências ca-
não faz nada, nada, nada pra nós [haitianos]”. pazes de sustentar a agregação em torno de
E Celeste (20 anos, em Cascavel desde 2016): ideias e projetos coletivos. Nessa perspectiva,
“Até pago a taxa [mas] nunca fui ao sindicato”. a ação organizada, na sua forma mais institu-
Procurado durante o trabalho de campo, um cionalizada, é parte de um processo mais lon-
dirigente sindical afirmou não ter nenhum gevo de produção das experiências coletivas
cuidado especial com a comunidade haitiana que a antecedem, alimentam e atravessam,
sob sua representação. Para ele, trata-se de tra- fornecendo seus conteúdos, suas formas e
balhadores como quaisquer outros. suas motivações28(24).
Em segundo lugar, uma forma importante
de resistência desse grupo social se dá por Celeste, por exemplo, afirmou que seus

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únicos momentos de lazer e diversão são história(s), o trabalho e a saúde. Feitos de


oportunizados pela igreja que frequenta histórias, os haitianos são classe trabalhado-
e pela AHC. Ao destacarem as ‘festas’ e os ra. Mas também são feitos de átomos: a im-
‘amigos’ proporcionados por essas institui- plicação dessa condição histórica nos seus
ções, os entrevistados trazem à tona uma di- corpos se manifesta nos ‘sintomas difusos’
mensão importante da organização coletiva, que relatam, revelando um acúmulo de des-
isto é, a possibilidade de construir laços de gaste. O apoio social proporcionado pela
amizade e de solidariedade, de viver a vida, AHC e pelas igrejas locais é importante,
apesar das adversidades que enfrentam co- não apenas na medida em que alivia o
tidianamente. O apoio social, portanto, pode desgaste, mas, também, por proporcionar
servir, também, para o alívio do desgaste um espaço de solidariedade, ponto crucial
acumulado pelo trabalho. para a ação coletiva.
Existem outras experiências de organi- Entre os pontos levantados pelo estudo
zação coletiva de haitianos pelo Brasil. Uma que carecem de aprofundamento, destaca-se,
delas é da Kore Ayisyen (Ajudar Haitianos), por exemplo, a questão da mulher haitiana.
de Contagem, em Minas Gerais29. Além disso, Como apontam entidades sindicais, as mu-
os haitianos estão organizados em âmbito lheres negras trabalhadoras são triplamente
nacional pela Organização dos Haitianos que discriminadas – por etnia, gênero e classe
Vivem no Brasil (OHVB). social – e “ocupam a posição mais vulnerável
Um importante entrave para as associações no mercado de trabalho e na sociedade”32(12).
de haitianos é a legislação brasileira. O Estatuto Durante a coleta de dados, conseguimos ter
do Estrangeiro30, criado na época da ditadura acesso à entrevista com apenas uma mulher
militar, considera os imigrantes como cidadãos haitiana, Celeste, de modo que não foi pos-
de segunda classe, perigosos e vulneráveis, e sível adentrar as questões de gênero com
proíbe sua organização política29. maior profundidade. Essa questão pode ser
objeto de estudos futuros que pesquisem as
comunidades haitianas, não só em Cascavel,
Considerações finais mas em todo Brasil.
Por fim, a saúde do trabalhador e a saúde
“Os cientistas dizem que os humanos são pública precisam estar atentas à imigração
feitos de átomos. Mas a mim um passarinho para consolidá-la como um objeto de estudo
contou que somos feitos de histórias”31(1). no interior de seus campos de conhecimento
Durante a pesquisa, acompanhamos um e ação. Isso significa compreender o processo
pouco da história dos haitianos que vivem saúde-doença como situado historicamente.
em Cascavel (PR). Fazem parte dela a histó- Essa história, contudo, não acaba aqui.
ria do próprio Haiti, a história da imigração Ela continuará a se desenvolver, assim como
para o Brasil, a história de Cascavel e, por os paradoxos e contradições no seu interior.
fim, a história que a comunidade haitiana Não de forma autônoma ou automática, mas
vem construindo desde 2010. a partir das relações sociais estabelecidas
A imigração haitiana em Cascavel cons- pelos sujeitos, grupos e classes sociais. s
titui um ponto de convergência entre a(s)

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Imigração haitiana em Cascavel, Paraná: ponto de convergência entre história(s), trabalho e saúde 685

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são de profissionais e usuários de uma unida-

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