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46 Estudo-Vida de 1 Coríntios Vol. 2 - To
46 Estudo-Vida de 1 Coríntios Vol. 2 - To
ISBN 85-7304-159-5
Impresso no Brasil
I. O MAL JULGADO
Em 5:1, Paulo diz: “Geralmente se ouve que há
entre vós imoralidade, e imoralidade tal, como nem
mesmo entre os gentios, isto é, haver quem se atreva
a possuir a mulher de seu próprio pai”. O vocábulo
imoralidade, em grego, é o mesmo para prostituição,
fornicação, relação sexual ilícita. Aqui vemos que
um irmão cometeu incesto com a esposa do pai, com
a madrasta. Nenhum pecado é pior ou mais danoso à
humanidade que o incesto. Como veremos, embora
esse capítulo trate de tal pecado terrível, também fala
de guardar a festa.
Paulo era uma pessoa cheia de Cristo. Ele
conhecia Cristo pela experiência e não meramente de
forma doutrinária. Mesmo ao lidar com um pecado
grosseiro, ele ainda tinha o desfrute de Cristo nele.
No versículo 2, Paulo diz: “E, contudo, andais vós
ensoberbecidos e não chegastes a lamentar, para que
fosse tirado do vosso meio quem tamanho ultraje
praticou?” Em vez de lamentar que tal pecado
grosseiro fora encontrado entre eles, os coríntios
eram orgulhosos e ensoberbecidos. Sem dúvida, o
versículo 2 é uma palavra de repreensão. Nele, Paulo
também indica que o que cometeu esse ato
pecaminoso devia ser tirado do meio deles, isto é,
retirado da comunhão da igreja.
Expulsar alguém da comunhão da igreja pode ser
comparado a retirar um pedaço de madeira
apodrecida ou velha de um edifício. Suponha que
uma madeira numa casa fique podre. Essa parte deve
ser tirada. Do mesmo modo, o irmão maligno
mencionado no versículo 1 devia ser retirado da
comunhão da igreja. Os coríntios, porém, não
conseguiam perceber isso porque ainda eram
orgulhosos e cheios de soberba. Por esse motivo,
Paulo os faz saber que ele estava profundamente
preocupado com a situação ali.
Nesse capítulo, sobre lidar com um irmão
maligno, há duas questões muito positivas e
maravilhosas. A primeira diz respeito a Paulo
exercitar seu espírito humano, e a segunda diz
respeito à festa. Nos versículos 3 a 5, ele diz: “Eu, na
verdade, ainda que ausente em pessoa, mas presente
em espírito, já sentenciei, como se estivesse presente,
que o autor de tal infâmia seja, em nome do Senhor
Jesus, reunidos vós e o meu espírito, com o poder de
Jesus, nosso Senhor, entregue a Satanás para a
destruição da carne, a fim de que o espírito seja salvo
no Dia do Senhor [Jesus]”. No versículo 3, ele diz que
embora estivesse ausente no corpo, estava presente
no espírito. O apóstolo, como pessoa espiritual, agia
em seu espírito, contrastando com os coríntios que
agiam ou na alma ou na carne. Embora estivesse
ausente deles no corpo, ele ainda estava presente com
eles no espírito e exercitava seu espírito para julgar a
pessoa maligna entre eles. No versículo 4, ele até diz
que seu espírito estava reunido com eles. O espírito
do apóstolo era tão forte que estava presente na
reunião dos crentes coríntios. Seu espírito estava
reunido com eles para executar seu juízo sobre a
pessoa maligna.
Nos versículos 3 e 4, Paulo parece estar dizendo:
“Vocês não expulsaram a pessoa maligna do seu
meio, mas pelo exercício do meu espírito, já o julguei.
Embora esteja ausente de vocês fisicamente, estou
presente com vocês em meu espírito. Até estou
presente em suas reuniões em meu espírito. Assim,
pelo meu espírito, já o julguei”.
No versículo 4, Paulo diz claramente: “Reunidos
vós e o meu espírito”. Com isso, sabemos que o
espírito dele freqüentava as reuniões em Corinto. Isso
não quer dizer, entretanto, que seu espírito na
verdade viajasse até Corinto. Isso absolutamente
nada tem em comum com feitiçaria, que afirma que a
alma de uma pessoa pode deixar o corpo e visitar
outras pessoas. De acordo com esse versículo, o
espírito de Paulo era tão forte que ele podia de
alguma forma estar presente em Corinto. Quando
eles se reunissem, seu espírito estaria com eles para
entregar o maligno a Satanás. Isso é totalmente uma
questão espiritual, algo totalmente no espírito.
Nunca devemos pensar que o espírito de Paulo
na verdade foi a Corinto e esteve presente à reunião.
Entretanto, quando os crentes coríntios estavam
reunidos, Paulo exercitou seu espírito para estar com
eles e julgar o maligno e retirá-lo. Também podemos
aprender a visitar um irmão pelo nosso espírito.
Enquanto permanecemos em casa, é possível nosso
espírito visitar um irmão. Isso é o que o espírito de
Paulo fez na situação em Corinto.
No versículo 4, ele se refere ao nome do Senhor
Jesus e ao Seu poder. Tanto o nome como o poder de
nosso Senhor Jesus complementam a palavra
entregue no versículo 5; O apóstolo, em seu espírito,
aplicou o poderoso nome do Senhor e exercitou o Seu
poder para entregar a pessoa maligna a Satanás para
destruição da carne. Eu definitivamente creio que
isso na verdade se consumou e o maligno foi entregue
a Satanás.
Entregar uma pessoa pecaminosa a Satanás visa
à disciplina. A destruição mencionada no versículo 5
se refere principalmente à aflição com determinada
doença (2Co 12:7; Lc 13:11, 16). A carne se refere ao
corpo concupiscente, que deve ser destruído. Certas
doenças vêm de Satanás. Tal doença pode acarretar a
destruição da carne de modo que o espírito possa ser
salvo no dia do Senhor. Isso indica que o pecador
entre os crentes coríntios era um irmão que tinha sido
salvo uma vez por todas pela eternidade (Jo
10:28-29). Ele nunca poderia perecer por causa de
algum pecado. Entretanto, por causa de sua
pecaminosidade, ele precisava ser disciplinado com a
destruição da carne pecaminosa para ser mantido na
condição de ser salvo no dia do Senhor. Assim, a
destruição da carne é uma preparação necessária
para a salvação do espírito.
Ao considerar esses versículos, vemos que Paulo
lidava com a igreja não só por escrito e enviando
Timóteo até eles, mas também exercitando seu
espírito. Isso prova que ele era alguém que vivia no
espírito. Também revela quão forte era o seu espírito:
era tão forte que podia até estar presente na reunião
de uma igreja bem longe. Ele o exercitou para
condenar o maligno e entregá-lo a Satanás. Essa
entrega era removê-lo do templo santo de Deus.
Todos precisamos aprender com Paulo a fazer
tudo com nosso espírito. Muitas coisas que fazemos
não são feitas com o espírito. Paulo, entretanto, lidou
com a situação descrita no capítulo cinco totalmente
com seu espírito. Pelo espírito, ele condenou e pelo
espírito entregou o maligno a Satanás.
I. UM PRINCÍPIO BÁSICO
MEMBROS DE CRISTO
O versículo 15 diz: “Não sabeis que os vossos
corpos são membros de Cristo?” Visto que somos
organicamente unidos com Cristo (v. 17) e Cristo
habita em nosso espírito (2Tm 4:22) e em nosso
coração (Ef 3:17), todo o nosso ser, inclusive nosso
corpo purificado, toma-se membro Dele. Assim, para
praticar tal filiação, precisamos oferecer nosso corpo
a Ele (Rm 12:1, 4-5).
UM GRANDE MISTÉRIO
Nós, os crentes, somos unidos ao Senhor como
um espírito. Isso é um grande mistério, talvez. o
ponto mais misterioso revelado na Bíblia. Quem pode
explicá-lo? Você consegue explicar como nos é
possível ser um espírito com o Senhor? Embora não
possamos explicá-lo, com certeza podemos
experimentá-lo. Freqüentemente oro de manhã:
“Senhor, obrigado por outro dia no qual posso
praticar ser um espírito Contigo”. Que maravilha que
pecadores tais como nós possamos ser um espírito
com o Senhor! Quanto mais ponderamos sobre isso,
mais percebemos quão maravilhoso é.
Em 6:17, Paulo declara claramente o fato de
sermos um espírito com o Senhor, mas poucos
prestamos a devida atenção a isso. Precisamos de
muito tempo para estudar esse versículo e explorá-lo
de forma experimental. Precisamos experimentar e
aprender como ser um espírito com o Senhor em
nosso falar e em tudo que fazemos. Ao fazer diversas
coisas, precisamos ponderar se estamos ou não sendo
um espírito com o Senhor.
Como tivemos a visão de ser um espírito com o
Senhor, conforme 6:17, chegamos a perceber que o
que o irmão Lawrence praticava era totalmente algo
do Antigo Testamento. Ele exercitava estar na
presença de Deus, mas não praticava ser um espírito
com o Senhor. Há uma grande diferença entre estar
na presença de Deus e ser um espírito com o Senhor.
Vimos que no capítulo seis, Paulo aborda três
questões vitais. Elas são tão importantes que exigem
muito exercício do espírito para assimilá-las
adequadamente. Que maravilha que nosso corpo seja
membro de Cristo, que somos um espírito com o
Senhor e que nosso corpo é o santuário do Espírito
Santo! A visão a respeito disso está se tornando tão
clara que às vezes é difícil conter-me. O encargo dessa
visão é tão pesado que me é difícil suportá-lo. Não
consigo suportar a idéia de que algumas igrejas e
alguns santos possam continuar da antiga maneira,
executando uma obra cristã e negligenciando a visão
central do ministério completivo de Paulo. Nós
precisamos urgentemente ter a visão de que nosso
corpo é membro de Cristo, somos um espírito com o
Senhor e nosso corpo é o santuário do Espírito Santo.
GUARDAR A FESTA
Nos capítulos cinco e seis, Paulo lida com as
questões de pecado grosseiro, a reivindicação de
direitos e o abuso de liberdade humana. Quando,
porém, lida com essas coisas, ele usa algumas
expressões e declarações excelentes para apresentar
questões não abordadas em nenhuma outra parte no
Novo Testamento. Por exemplo, em 5:8, Paulo diz:
“Por isso, celebramos a festa”. Vimos que essa festa se
refere à festa dos pães asmos como continuação da
Páscoa (Êx 12:15-20). Isso durava sete dias, um
período de completação, representando o período
todo de nossa vida cristã, desde o dia da conversão
até o dia do arrebatamento. Isso indica que a vida
cristã inteira deve ser uma festa, um desfrute de
Cristo como nosso banquete.
Embora guardar a festa dos pães asmos seja de
grande importância, a maioria dos cristãos presta
pouca atenção à palavra de Paulo acerca disso. Em
vez disso, concentram-se no seu mandamento às
mulheres de se submeter ao marido, e aos maridos de
amar a mulher. Esses conceitos já são parte da
compreensão natural, tanto dos crentes como dos
incrédulos. Os chineses começaram a praticar essas
coisas milhares de anos atrás. Se pela Bíblia você
ensinar um chinês ético que a mulher deve
submeter-se ao marido e o marido deve amar a
mulher, ele vai dizer que já sabia dessas coisas e as
praticava.
Embora os cristãos prestem muita atenção nos
versículos sobre submissão e amor, quem presta
atenção adequada à palavra de Paulo sobre guardar a
festa? Será que os mestres nas escolas bíblicas e
seminários ensinam os alunos o que significa celebrar
a festa e como celebrá-la? Duvido que algum
professor instrua os alunos acerca dessas coisas.
Além disso, duvido que alguém jamais lhe tenha dito
o que significa o seu corpo ser membro de Cristo,
estar unido ao Senhor como um só espírito, ou que o
seu corpo seja o santuário do Espírito Santo. Como é
triste que os crentes de hoje tenham se desviado
dessas questões cruciais! Também temos sido
estorvados pela influência de nosso passado religioso.
Desse modo, há a necessidade de que nos
aprofundemos nos versículos 15, 17 e 19. Não nos
podemos permitir negligenciar tais versículos por
mais tempo; eles são alguns dos mais profundos na
Bíblia.
VIDA INFUNDIDA AO NOSSO CORPO
MORTAL
Em 6:13 e 14, Paulo diz: “Os alimentos são para o
estômago, e o estômago, para os alimentos; mas Deus
destruirá tanto estes como aquele. Porém o corpo não
é para a impureza, mas para o Senhor, e o Senhor,
para o corpo. Deus ressuscitou o Senhor e também
nos ressuscitará a nós pelo seu poder”. Nosso corpo
foi criado para o Senhor, e Ele é para o corpo. Deus
ressuscitou o Senhor corporalmente, e nosso corpo
vai participar do corpo glorioso do Senhor em
ressurreição (Fp 3:21) e ser ressuscitado
incorruptível. Essa vai ser a redenção de nosso corpo.
Falando do Cristo ressurreto, Atos 2:24 diz: “Ao
qual, porém, Deus ressuscitou, rompendo os grilhões
da morte; porquanto não era possível fosse ele retido
por 'ela”. De acordo com Romanos 6:9: “Sabedores
que havendo Cristo ressuscitado dentre os mortos, já
não morre: a morte já não tem domínio sobre Ele”.
Em 2 Coríntios 4:14, Paulo diz claramente que
“aquele que ressuscitou ao Senhor Jesus também nos
ressuscitará com Jesus e nos apresentará convosco”.
Além do mais, em João 6:39 e 40, o Senhor Jesus
promete que nos ressuscitará no último dia, mas
mesmo hoje o Espírito do Cristo ressuscitado dá vida
ao nosso corpo, desse modo fazendo dele um membro
de Cristo e santuário de Deus habitado pelo Espírito
Santo.
Se quisermos compreender como o Senhor hoje é
para o nosso corpo e como no futuro Deus o
ressuscitará, precisamos compreender Romanos 8:11.
Esse versículo diz: “Se habita em vós o Espírito
daquele que ressuscitou a Jesus dentre os mortos,
esse mesmo que ressuscitou a Cristo Jesus dentre os
mortos vivificará também o vosso corpo mortal, por
meio do seu Espírito, que em vós habita”. Nesse
versículo, um dos mais longos da Bíblia, vemos que
por intermédio do Espírito do próprio Deus, que
habita em nós, que ressuscitou a Jesus dentre os
mortos, a vida será transmitida ao nosso corpo
mortal. Essa pode ser a experiência atual de todos os
que buscam o Senhor. Se você de fato O buscar, algo
maravilhoso ocorrerá em você: o Espírito do Deus
ressurreto irá transmitir vida ao seu corpo.
Essa transmissão de vida pode ser ilustrada pela
transmissão de eletricidade. A corrente elétrica é, na
verdade, a eletricidade em movimento. Se olhar para
o medidor de energia elétrica no salão de reuniões,
perceberá que a 'eletricidade está sendo transmitida
ao prédio. Quando nos reunimos no salão para orar e
ter comunhão, a eletricidade flui para o prédio. No
mesmo princípio, a eletricidade celestial da vida de
ressurreição de Cristo flui para o nosso corpo mortal.
Quando buscamos o Senhor diariamente, podemos
ter plena certeza de que a corrente divina flui em nós.
É a vida de ressurreição transmitida a nós por
intermédio do Espírito que em nós habita.
Freqüentemente experimento essa transmissão
quando estou fisicamente cansado. Muitas vezes
preciso falar até mesmo quando meu corpo está
muito cansado. Mas enquanto estou falando, o
Espírito é infundido em mim e o Cristo ressurreto se
torna meu suprimento de vida. Como resultado, meu
espírito é fortalecido e meu corpo fraco e cansado é
vivificado.
I. PRINCÍPIOS BÁSICOS
A melhor forma de abordar o modo de Paulo
lidar com a vida conjugal nesse capítulo é considerar
os princípios básicos. Creio que essa é a melhor
maneira de compreender os muitos pontos abordados
no capítulo sete.
B. Dedicar-se à Oração
Falando aos casados, Paulo diz no versículo 5:
“Não vos priveis um ao outro, salvo talvez por mútuo
consentimento, por algum tempo, para vos
dedicardes à oração e, novamente, vos ajuntardes,
para que Satanás não vos tente por causa da
incontinência”. A palavra grega traduzida por
dedicar-se literalmente significa ter prazer, ser livre
para; portanto, entregar-se a. A oração exige que
estejamos livres de pessoas, questões e coisas.
Qualquer oração que exija que fiquemos longe do
cônjuge por algum tempo tem de ser especial e grave.
A vida conjugal freqüentemente nos distrai da
oração e interfere na vida de oração. Ela pode até nos
manter totalmente sem orar. Entretanto, há casos
incomuns onde marido e mulher se ajudam um ao
outro na vida de oração. Mas, na maior parte, o
casamento é uma distração da vida de oração.
K. Consagrar-se Desimpedidamente ao
Senhor
O versículo 35 diz: “Digo isto em favor dos vossos
próprios interesses; não que eu pretenda enredar-vos,
mas somente para o que é decoroso e vos facilite o
consagrar-vos, desimpedidamente, ao Senhor”. A
palavra grega traduzida por enredar-vos significa
enlaçar com engodo, constranger a obedecer a
palavra de alguém. Não era intenção de Paulo
enredar os santos, mas que se consagrassem ao
Senhor sem distrações. Há distrações na vida
conjugal. Uma pessoa casada sempre terá distrações.
A. No Princípio da Encarnação
O ensinamento do apóstolo Paulo é totalmente
diferente do ensinamento dos profetas no Antigo
Testamento. É-nos dito que quando os profetas
falavam por Deus no Antigo Testamento, a palavra do
Senhor vinha até eles e os capacitava a falar no lugar
de Deus. Freqüentemente os profetas diziam: “Assim
diz o Senhor”. Muitos que estão no pentecostalismo
seguem a prática do Antigo Testamento. O
catolicismo leva as pessoas de volta ao Antigo
Testamento nos rituais, mas o pentecostalismo os
leva de volta na forma de profetizar. Além disso, de
acordo com minha experiência, os crentes
pentecostais com mais freqüência cantam mais
trechos do Antigo Testamento do que do Novo.
Especificamente, cantam versículos de Salmos e
Isaías. Embora sejam crentes do Novo Testamento,
algumas de suas praticas estão de acordo com o
Antigo Testamento. Dizer: “Assim diz o Senhor”, na
forma do Antigo Testamento é muito superficial. A
maneira de falar do Novo Testamento é muito
diferente.
O Novo Testamento tem duas características
marcantes: é misterioso e profundo; é um livro de
mistérios e profundezas. É muito superficial
profetizar à maneira do Antigo Testamento, mas
profetizar na forma de edificar a igreja é profundo. De
modo semelhante, cantar trechos de Salmos ou Isaías
pode ser superficial, mas cantar o terceiro capítulo de
Efésios, principalmente os versículos sobre Cristo
fazer morada em nosso coração para que sejamos
tomados de toda a plenitude de Deus é cantar sobre
coisas que são profundas e misteriosas. Você conhece
algum cristão hoje que cante sobre ser um espírito
com o Senhor, ou sobre seu corpo ser membro de
Cristo? Como vimos, Paulo fala de tais questões em 1
Coríntios 6. Entretanto, para muitos crentes, as
palavras de Paulo são como língua estrangeira. Eles
vivem na superfície, nunca tocaram as profundezas
da revelação divina no Novo Testamento.
Primeira Coríntios 7 é misterioso e profundo.
Nesse capítulo, Paulo nunca profere as palavras:
“Assim diz o Senhor”. O motivo de não usar tal
expressão é que o ensinamento dos apóstolos no
Novo Testamento baseia-se totalmente no princípio
da encarnação, segundo o qual Deus fala no falar do
homem. Quando o Senhor Jesus falava, era difícil
discernir quem estava falando. Certamente, era um
homem que estava falando. Contudo, esse homem
não declarou: “Sou profeta de Nazaré. Ontem à noite,
veio a mim a palavra de Deus e agora quero falá-la a
vocês. Assim diz o Senhor”. Quando falava aos
fariseus, o Senhor Jesus parecia ser alguém comum
de Nazaré. Não havia qualquer indício de que Ele era
diferente, e os fariseus O consideravam como um
homem sem estudo. Ele, porém, é Deus encarnado.
Com Ele há a realidade da encarnação. Assim,
enquanto Ele falava, Deus também falava. Na
verdade, o Seu falar era o falar de Deus. Deus falava
com Ele. Isso quer dizer que Nele, Deus e o homem
falavam juntos como um só. Esse é o princípio da
encarnação.
No dia de Pentecostes, os apóstolos e os
discípulos também começaram a falar de acordo com
o princípio da encarnação. Esse é o motivo de os
escritos de Pedro, João e Paulo registrados na Bíblia
se tornarem as palavras de Deus. Além disso, essas
palavras são parte do teor do Novo Testamento.
Embora em 1 Coríntios 7 Paulo escreva que certas
coisas que ele diz não são palavra do Senhor ou
mandamento do Senhor, tudo que ele diz nesse
capítulo se tornou parte da revelação divina no Novo
Testamento. Isso é porque ele era totalmente um com
Deus. Mesmo quando diz não ter uma palavra do
Senhor, Ele fala no seu falar. Por ser um com o
Senhor, quando Paulo falava, o Senhor falava com
ele. Assim, em 1 Coríntios 7 temos um exemplo do
princípio da encarnação. É muito importante que
vejamos esse princípio e o compreendamos.
I. UM COMER DESACONSELHÁVEL
A. Suas Qualificações
O capítulo nove é uma inserção na seção de
comer coisas sacrificadas a ídolos. Nela o apóstolo
apresenta-se aos crentes coríntios como um padrão
para que não façam os outros tropeçar, mas os
edifiquem praticando o princípio de um amor
atencioso em 8:13.
O versículo 1 diz: “Não sou eu, porventura livre?
Não sou apóstolo? Não vi a Jesus, nosso Senhor?
Acaso não sois fruto do meu trabalho no Senhor?” O
apóstolo Paulo é livre de todos os homens, não está
escravizado a nenhum (9:19). Como todos os crentes
em Cristo devem ser, ele é também livre da
escravidão de qualquer maneira específica de comer,
embora pratique o princípio do amor atencioso.
Ao apresentar-se como padrão para os crentes,
Paulo passa a falar de seu aposto lado, que lhe dá
autoridade para lidar com todos os problemas
abordados nesse livro, problemas sérios acerca da
vida da igreja e sua comunhão. Sua maneira de lidar
com eles baseia-se não só em seu ensinamento mas
também na autoridade inerente ao seu aposto lado.
Para lidar com a situação, ele tinha de assumir essa
posição e tornar a questão clara aos crentes coríntios.
Eles tinham questionado seu apostolado e estavam
numa situação caótica, principalmente devido à
insensatez de sua sabedoria mundana, auto confiança
e orgulho.
Apóstolo é uma palavra grega aportuguesada que
quer dizer alguém que é enviado. Um apóstolo do
Senhor é um crente enviado por Ele com Sua
autoridade para pregar o evangelho de Deus, ensinar
a verdade divina e estabelecer igrejas. Pedro e João
foram tais apóstolos entre os judeus na primeira
seção do livro de Atos, e Paulo e Barnabé o foram
entre os gentios na segunda parte de Atos. Outros,
como Silas e Timóteo, também se tomaram apóstolos
(1Ts 1:1; 2:6). Uma vez que alguém tem o poder para
pregar o evangelho, o dom para ensinar a verdade
divina e a capacidade de estabelecer igrejas, está
qualificado e confirmado como apóstolo enviado pelo
Senhor com Sua comissão e autoridade.
No versículo 1, Paulo pergunta: “Não vi a Jesus,
nosso Senhor?” Isso se refere ao fato de ter visto o
Senhor em Seu corpo glorioso ressurreto (15:5-8).
Isso é um privilégio especial; confere alguma
dignidade e glória a quem viu, mas não é um requisito
ou qualificação para ser apóstolo do Senhor. Isso é
provado pelo caso de Barnabé, que era apóstolo (At
14:14), ainda que não houvesse visto o Senhor dessa
maneira. Entretanto, conhecer o Senhor no espírito
pela revelação espiritual é definitivamente necessário
para ser apóstolo.
No versículo 1, Paulo também pergunta: “Acaso,
não sois fruto do meu trabalho no Senhor?” O fruto
do seu trabalho no Senhor é prova do seu apostolado,
não qualificação para ele.
No versículo 2, Paulo prossegue: “Se não sou
apóstolo para outrem, certamente o sou para vós
outros; porque vós sois o selo do meu apostolado no
Senhor”. Por ter gerado os crentes coríntios no
Senhor por intermédio do evangelho (4:15), ele com
certeza era apóstolo para eles. O fruto do seu labor é
uma evidência do seu apostolado. O resultado
suficiente do trabalho eficiente do apóstolo é não só
uma evidência, ou prova, mas também um selo do seu
apostolado. Isso coloca um marco distintivo no seu
labor apostólico que autentica e certifica seu
apostolado.
No capítulo nove, Paulo fala sobre si mesmo de
forma direta. O fato de falar sobre seu apostolado
indica que os crentes coríntios também tinham um
problema acerca do apostolado de Paulo. Alguns
deles podem ter duvidado se Paulo era de fato um
apóstolo. Eles podem ter discutido essa questão e
questionado o seu apostolado. Ele deve ter ficado
sabendo de suas dúvidas. Agora, no capítulo nove, ele
fala sobre isso de forma categórica, direta e franca. As
quatro perguntas que ele faz no versículo 1 ilustram a
sua franqueza. O seu espírito aqui é muito
transparente. Ele não é nem um pouco político.
Bancar o político é ser impuro. Quando tentamos
falar de forma cortês, podemos na verdade ser
políticos. As perguntas que ele faz no versículo 1 com
certeza não são corteses. Você escreveria uma carta
com tais perguntas? Paulo aqui não foi cortês nem
político, mas foi puro, autêntico e honesto. Nós,
todavia, podemos ser corteses ou políticos porque
não somos puros em nossa intenção ou motivação.
Paulo também foi franco e direto no versículo 2.
Aqui ele diz aos santos que se não fosse apóstolo para
outros, com certeza o era para eles. Ele os tinha
gerado no Senhor e eles eram o selo do seu
apostolado no Senhor. Ele aqui parece estar dizendo:
“Para os outros, eu posso não ser um pai que gera,
mas certamente o sou para vocês. Eu os gerei por
meio do evangelho, e sua existência é um selo do meu
apostolado. Tenho o apostolado e vocês são o selo”.
B. Seus Direitos
No versículo 3, Paulo diz: “A minha defesa
perante os que me interpelam é esta”. Precisamos
prestar atenção às palavras interpelam e defesa. Os
coríntios, na verdade, o estavam interpelando,
examinando; estavam investigando-o para
determinar se ele era apóstolo ou não. Que vergonha
para eles! É exatamente como crianças examinando o
pai para ver se é autêntico.
Os dois tópicos no final do versículo 3 indicam
que o trecho seguinte pressupõe a defesa de Paulo.
Algumas pessoas ditas espirituais pensam que um
crente nunca deve defender-se. Afirmam que os
cristãos sempre devem sofrer, carregar a cruz e
eximir-se de se defender. Todavia, às vezes, o Senhor
Jesus Se defendia, e aqui Paulo expressou sua defesa
perante os coríntios.
No versículo 4, Paulo pergunta: “Não temos nós
o direito de comer e beber?” Literalmente, a palavra
grega traduzida por direito é autoridade. A mesma
palavra é usada em 8:9 e 9:18. O direito aqui é o de
comer e beber por causa do evangelho (v. 14) à custa
dos santos e das igrejas.
No versículo 5, Paulo continua: “E também o de
fazer-nos acompanhar de uma mulher irmã, como
fazem os demais apóstolos, e os irmãos do Senhor, e
Cefas?” Outra vez, as suas palavras são contundentes.
Os crentes filosóficos complicados em Corinto
obrigaram-no a falar de tal forma contundente e
direta.
O versículo 6 diz: “Ou somente eu e Barnabé não
temos direito de deixar de trabalhar?” Deixar de
trabalhar aqui significa não ter emprego. Alguns
apóstolos não tinham emprego, mas eram
sustentados pela igreja ou pelos crentes. Paulo e
Barnabé tinham o direito de não trabalhar, mas
trabalhavam com as próprias mãos a fim de suprir
suas necessidades.
No versículo 7, ele pergunta: “Quem jamais vai à
guerra à sua própria custa? Quem planta a vinha e
não come do seu fruto? Ou quem apascenta um
rebanho e não se alimenta do leite do rebanho?” A
referência a ir à guerra implica que anteriormente os
coríntios eram cativos e que ele havia lutado por eles
para que fossem libertados de Satanás e postos em
liberdade. Ele aqui parece dizer: “Lutamos uma
guerra para libertá-los do cativeiro. Deveríamos levar
a cabo tal guerra às nossas próprias expensas? É justo
fazer isso?” Além disso, o que ele fala sobre a vinha e
o rebanho indica que os crentes em Corinto eram
uma vinha para produzir fruto e também um rebanho
apascentado pelos apóstolos.
Os versículos 8 a 10 dizem: “Porventura, falo isto
como homem ou não o diz também a lei? Porque na
lei de Moisés está escrito: Não atarás a boca ao boi,
quando pisa o trigo. Acaso, é com bois que Deus se
preocupa? Ou é, seguramente, por nós que Ele o diz?
Certo que é por nós que está escrito; pois o que lavra
cumpre fazê-lo com esperança; o que pisa o trigo
faça-o na esperança de receber a parte que lhe é
devida”. Paulo aqui cita o Antigo Testamento de
forma maravilhosa e o aplica à situação atuaL Ele
também diz que o lavrador deve arar com esperança e
o que pisa o trigo, na esperança de ter parte. Aqui ele
novamente compara a igreja em Corinto a uma
lavoura. Em 3:9, ele lhes tinha dito que eram a
lavoura de Deus. Ele arava o campo e debulhava com
esperança de participar.
No versículo 11, ele diz: “Se nós vos semeamos as
coisas espirituais, será muito recolhermos de vós
bens materiais?” Novamente ele é bem contundente.
Os coríntios não tinham argumentos contra ele.
No versículo 12, Paulo continua: “Se outros
participam desse direito sobre vós, não o temos nós
em maior medida? Entretanto, não usamos desse
direito; antes suportamos tudo, para não criarmos
qualquer obstáculo ao evangelho de Cristo”. A palavra
grega traduzida por suportar, literalmente significa
conter como um vaso, encobrir; daí, cobrir como um
teto. Paulo era como um vaso contendo tudo que os
coríntios haviam feito para ele, e também um teto
cobrindo-os. Mas eles o forçaram a remover essa
cobertura e derramar o conteúdo do vaso. Em tudo
isso, a preocupação dele não era causar qualquer
obstáculo ao evangelho de Cristo.
No versículo 13, Paulo de novo se refere ao
Antigo Testamento quando pergunta: “Não sabeis vós
que os que prestam serviços sagrados do próprio
templo se alimentam? E quem serve ao altar do altar
tira o seu sustento?” No versículo 14, ele aplica esse
princípio aos que pregam o evangelho: “Assim
ordenou também o Senhor aos que pregam o
evangelho que vivam do evangelho”.
No versículo 15, ele declara: “Eu, porém, não me
tenho servido de nenhuma destas coisas e não
escrevo isto para que assim se faça comigo; porque
melhor me fora morrer, antes que alguém me anule
esta glória”. Aqui vemos que o apóstolo é
desesperadamente absoluto pelos interesses do
Senhor. Ele está disposto não só a sacrificar os seus
direitos (vs. 12, 15a, 18), mas também a pagar até
mesmo com a própria vida. Ele definitivamente não
escreveu essas coisas a fim de receber sustento ou
ofertas dos crentes em Corinto. Antes, estava disposto
até a morrer por Cristo e a igreja.
Se nos aprofundarmos em 1 Coríntios 9, veremos
que Paulo não era somente um com Deus, mas
também tinha coração e espírito puros. Nenhum
outro trecho da Bíblia apresenta tal quadro de alguém
puro e límpido. Se Paulo não fosse puro, não teria
sido capaz de escrever esses versículos.
Problemas entre os cristãos são causados não só
pelas suas complicações, mas muito mais pela sua
falta de pureza. Para a maioria, as complicações estão
na superfície. No fundo está a impureza. Os
presbíteros, os cooperadores e os santos podem não
ser puros nas motivações e intenções. Ser puro é ser
autêntico, singelo e totalmente destituído de política.
Nesse capítulo devemos ficar profundamente
impressionados pelo fato de Paulo ser puro e
autêntico. Os coríntios, pelo contrário, não eram
puros. Eles o examinavam e tinham dúvidas sobre o
seu apostolado. Em suas motivações, conceitos e
sentimentos, eles eram impuros. Alguns deles até
mesmo pensavam que Paulo os defraudava, que os
enganava com astúcia. Se fossem puros como Paulo,
não teriam tido dúvidas sobre ele ou seu apostolado.
O irmão Nee certa vez disse que quem é ladrão
sempre teme que os outros o roubem. Se alguém
suspeita que a pessoa ao lado pode roubá-lo, isso
pode indicar que ele mesmo é ladrão. Se não tivesse
roubado dos outros, não temeria que os outros
fizessem o mesmo. No mesmo princípio, como os
coríntios não eram puros, eles suspeitavam que Paulo
não era puro e tirava vantagem deles. O fato de terem
tais pensamentos sobre Paulo prova que eram
impuros. Esse mal da impureza está escondido em
todos nós. Por causa de nossa natureza caída, todos
somos impuros.
Suponha que um irmão venha até mim com um
presente e eu suspeite que esse presente está sendo
dado com a intenção de que eu lhe retribua. Esse
conceito não é pecaminoso, mas impuro. Sobre
receber presentes, tenho aprendido um princípio
importante da parte do Senhor. Esse princípio é
aceitar todo presente como autêntico, sem qualquer
pensamento de que possa estar sendo dado com
segundas intenções, e depois nada fazer por aquele
que o deu a mim. Fazer alguma coisa por uma pessoa
que nos dá um presente indica que fomos
subornados. Algumas vezes as pessoas me deram
coisas com motivação impura. Na época, não tive
idéia que essas pessoas eram impuras, somente mais
tarde vim a saber de sua verdadeira intenção.
Repetindo: pensar que um presente é dado com
intenção impura indica que nós mesmos somos
impuros. Se somos puros, não pensaremos dessa
forma.
Aprecio a palavra de Paulo no versículo 15: “Eu,
porém, não me tenho servido de nenhuma destas
coisas e não escrevo isto para que assim se faça
comigo”. Tal palavra expôs os coríntios que pensavam
que Paulo escrevia dessa forma para obter algum
sustento ou suprimento. Ele fechou a porta para tais
pensamentos impuros dizendo claramente que não
escrevera com a intenção de receber coisa alguma
deles. Novamente vemos que ele era um espírito com
o Senhor e era absolutamente puro. Por causa de sua
pureza, ele podia ser franco, direto e reto. Se o seu
propósito ao escrever o capítulo nove tivesse sido ser
suprido pelos coríntios, ele teria sido impuro.
Entretanto, ao escrever essa Epístola, Paulo foi puro.
Na vida da igreja hoje muitos problemas são
aparentemente devidos a complicações; na verdade,
os problemas são causados pela impureza. É impuro
dizer ou fazer algo com o objetivo de obter algo em
troca. Também é impuro pensar que os outros estão
tentando tirar vantagem de nós. Na vida da igreja,
precisamos fechar a porta ao pensamento impuro. Se
formos impuros, não seremos capazes de ser ousados,
francos ou diretos. Pelo contrário, seremos políticos,
corteses.
Em 1 Coríntios 9 vemos que a única motivação e
intenção de Paulo estava relacionada com Cristo e
Seu Corpo. Paulo era puro ao máximo. Se fôssemos
puros na vida da igreja em todos os aspectos, não
haveria quaisquer problemas. A causa por trás dos
problemas na vida da igreja é a impureza. Por um
lado, os coríntios fizeram perguntas a Paulo; por
outro, examinaram-no. Eles o acolhiam, mas tinham
dúvida a seu respeito. Isso expõe sua impureza, mas
embora eles não fossem puros, Paulo se comportou
de forma pura como um pai fecundo. Ao escrever aos
crentes em Corinto, ele revelou-se como alguém que
era um com Deus e totalmente puro. Na obra do
Senhor, ele não tinha outra motivação além de Cristo
e o Corpo.
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM QUARENTA E SEIS
LIDAR COM A QUESTÃO DE COMER COISAS
SACRIFICADAS A ÍDOLOS (3)
C. Sua Fidelidade
2. Responsabilidade de Despenseiro
No versículo 17, Paulo continua: “Se o faço de
livre vontade, tenho galardão; mas, se constrangido,
é, então, a responsabilidade de despenseiro que me
está confiada”. Esse versículo não é fácil de
compreender. As palavras se constrangido significam
não por minha própria disposição. Mesmo que Paulo
não estivesse disposto a pregar o evangelho, ele não
tinha como escapar ao encargo do Senhor porque
tinha responsabilidade de despenseiro. Isso indica
que, para ele, pregar o evangelho não era questão de
escolha. Ele tinha sido apanhado pelo Senhor,
recrutado por Ele e recebera em confiança um
mordomado. Se estava disposto ou não, tinha de
cumprir o encargo que lhe fora dado. Não tinha
escolha com relação a isso. Não podia escapar da
comissão de pregar o evangelho.
Nesse versículo, Paulo se refere tanto à comissão
de Deus como ao seu próprio encargo. Como Deus o
tinha comissionado, ele tinha um encargo. Ele não
tinha escolha exceto levar a cabo a obra do ministério.
Portanto, podia dizer aos coríntios: “Não me importo
como vocês me tratam, ou como duvidam de mim ou
me examinam. Eu lhes prego o evangelho por causa
de encargo, de necessidade. Não tenho escolha”.
3. Ter Escolha
No versículo 17, Paulo fala de galardão. O livro de
1 Coríntios não foi escrito para ajudar pecadores
perdidos a ser salvos, mas para ajudar crentes salvos
a crescer, (3:6-7), para edificar com materiais
preciosos (3:10, 12-14), para cuidar dos membros do
Senhor (8:9-13) e correr a corrida (9:24). Assim, o
galardão é mencionado repetidamente como
incentivo para o progresso dos crentes (3:14; 9:18,
24-25).
A palavra grega traduzida por responsabilidade
de despenseiro também significa administração
doméstica, dispensação doméstica ou mordomado.
O apóstolo não era somente um pregador mas
também um despenseiro na casa de Deus, um
administrador doméstico, dispensando a salvação, a
vida e as riquezas de Cristo aos Seus crentes. Tal
ministério é o mordomado a ele confiado e
comissionado (Ef 3:2; 2Co 4:1).
O versículo 18 diz: “Nesse caso, qual é o meu
galardão? É que, evangelizando, proponha de graça o
evangelho, para não me valer do direito que ele me
dá”. Aqui vemos que ele não usou seu direito para
com os coríntios. Isso lhe dava base para se gloriar,
como menciona o versículo 16. Embora não usasse
seu direito com os coríntios, ele o usou com outras
igrejas. Em 2 Coríntios 11:8, Paulo até diz que
despojou outras igrejas a fim de servir aos coríntios.
Outras igrejas o supriram, mas a igreja em Corinto
não. De acordo com 1 Coríntios 9:18, ele pregava o
evangelho aos coríntios de graça.
C. Fazer-se Idólatras
O versículo 7 diz: “Não vos façais, pois, idólatras,
como algum deles; porquanto está escrito: O povo
assentou-se para comer e beber, e levantou-se para
divertir-se”. O comer abusivo dos filhos de Israel
estava relacionado com sua idolatria na adoração ao
bezerro de ouro (Êx 32:1-6). A palavra do apóstolo
aqui implica que o fato de os coríntios comerem
sacrifícios a ídolos sem qualquer consideração era
também algo relacionado com idolatria.
No versículo 7, temos a interpretação bíblica de
idolatria. Idolatria é comer, beber e divertir-se.
Quando os filhos de Israel adoraram o bezerro de
ouro, eles se assentaram para comer e beber e se
levantaram para divertir-se. Aqui, divertir-se significa
ter recreação. Comer, beber e divertir-se equivale a
adorar ídolos. Hoje as pessoas em toda a parte estão
cometendo idolatria dessa forma. Sempre que há um
feriado ou fim de semana prolongado, eles se
entregam ao divertimento, para buscar diversos tipos
de entretenimento. Além disso, em muitos dos cultos
cristãos de hoje, há a prática de idolatria. Aos olhos
de Deus, a música e os dramas que há em
determinados cultos são idolatria. Em muitos lugares,
os cristãos na verdade não estão adorando a Deus,
mas praticando idolatria. Sua modalidade de culto é
idólatra aos olhos de Deus. Também precisamos ser
cautelosos na forma de usar instrumentos musicais
nas reuniões. Nosso cântico deve ser para adoração, e
não para diversão. Quando cantamos nas reuniões,
precisamos ter um autêntico espírito de adoração. Se
o nosso cântico se tomar mero entretenimento, isso
será idolatria. O cântico nas reuniões da igreja não
deve ser para diversão, deve ser a autêntica adoração
oferecida a Deus.
D. Praticar Fornicação
O versículo 8 continua: “E não pratiquemos
imoralidade, como alguns deles o fizeram, e caíram
num só dia vinte e três mil”. A imoralidade, ou
fornicação, acompanha a idolatria (Nm 25:1-2). Daí,
essas duas coisas são mencionadas juntas, como
também em Atos 15:20, 29. Sem dúvida, a implicação
aqui é que essas coisas malignas também existiam
entre os crentes coríntios. Desse modo, essas são as
coisas principais abordadas nos capítulos cinco a dez.
Nesse versículo, Paulo usa a palavra “caíram”.
Isso quer dizer ser prostrado, ser lançado ao chão por
intermédio da morte. Os que caíram dessa forma não
foram propriamente sepultados; pelo contrário,
foram espalhados no deserto.
OS HEBREUS E OS CORÍNTIOS
Paulo aplica a história dos filhos de Israel à vida
da igreja do Novo Testamento. Em Hebreus e 1
Coríntios ele enfatiza claramente que o que aconteceu
aos filhos de Israel é uma prefiguração para nós. A
história inteira de Israel é uma narrativa sobre a
igreja. Como vimos em 10:6 Paulo, referindo-se aos
filhos de Israel, diz: “Ora, estas coisas se tornaram
exemplos para nós”.
As situações dos crentes abordadas em Hebreus e
1 Coríntios eram diferentes. Os crentes hebreus eram
crianças quanto às doutrinas relativas a Cristo, e
tiveram muitos empecilhos para entrar no pleno
descanso da terra prometida por causa de sua
carência de fé (Hb 5:11-14; 3:6-19; 6:1) Assim eles
precisavam crescer na fé. Eles careciam de fé
adequada no conhecimento adequado da verdade.
Paulo se refere a essa verdade mais profunda como
palavra da justiça, como comida sólida (Hb 5:12-14).
Os crentes coríntios eram crianças na
experiência de Cristo e tiveram muitos empecilhos
para entrar no pleno desfrute de Cristo porque eram
anímicos e carnais. Assim, precisavam do
crescimento de vida (1Co 3:1-3, 6-7; 2:14). Os hebreus
tinham carência de fé, e os coríntios, carência de
crescimento de vida. Tanto em Hebreus como 1
Coríntios, Paulo encoraja os crentes a prosseguir,
progredir. O primeiro grupo, os crentes hebreus,
precisava progredir, desenvolver-se, na fé adequada
nas verdades mais profundas; o segundo grupo, os
crentes coríntios, precisavam progredir no
crescimento de vida.
Os crentes coríntios tinham Cristo como sua
porção (1:2) porque foram chamados à comunhão de
Cristo (1:9). Deus fizera de Cristo poder e sabedoria
para eles: justiça, santificação e redenção (1:30).
Além disso, os crentes coríntios experimentaram e
desfrutaram Cristo como sua Páscoa (5:7), santidade
para santificação (6:11), justiça para justificação
(6:11), os pães asmos para a vida cristã como festa
(5:8), comida espiritual (10:3), bebida espiritual
(10:4a) e pedra espiritual (10:4b). Suas experiências
de Cristo foram todas por meio de seu espírito
regenerado mesclado com o Espírito, que é o Cristo
ressurreto (2:14; 6:17; 15:45b). No futuro, eles
desfrutarão Cristo como glória para glorificação
(2:7-8). Essa será a redenção de seu corpo (1:30). Eles
participaram do sangue e do corpo de Cristo (10:16).
Não obstante, foram advertidos para não cair na
corrida cristã, como a maioria dos filhos de Israel caiu
no deserto, mas crescer até a plena posse e desfrute
do Cristo todo-inclusivo, a terra prometida de Deus.
A HISTÓRIA DE ISRAEL
A história de Israel pode ser dividida em três
seções. Podemos chamar a primeira de seção da
salvação. De acordo com o livro de Êxodo, os filhos de
Israel, embora fossem o povo de Deus, estavam numa
condição caída e sob a tirania dos egípcios, mas foram
salvos dessa situação e levados ao monte de Deus e à
Sua habitação. Eles também receberam as provisões
divinas para suprir-lhes as necessidades. Quando
precisavam de alimento, vinha o maná celestial.
Quando precisavam beber, a água viva fluía para eles
da rocha fendida. Todas as suas necessidades eram
satisfeitas por Deus. Assim, tiveram as provisões
divinas que os capacitaram a entrar na boa terra.
Depois de entrar na terra, desfrutaram as suas
riquezas. Em Deuteronômio 8:7-9 temos uma
excelente visão das riquezas da boa terra. Cada
aspecto delas tipifica um aspecto das riquezas de
Cristo.
Na mensagem anterior demos uma palavra de
advertência. Nela houve pouco encorajamento.
Agora, nesta mensagem, vamos considerar algo
muito encorajador. Na verdade, a história, ou
prefiguração, de Israel não é decepcionante. Sim, é
verdade. que somente dois que saíram do Egito
entraram na boa terra. De mais de dois milhões que
saíram do Egito, somente Josué e Calebe, junto com
os corpos de Jacó e José, entraram na boa terra.
Entretanto, junto com eles, toda a nova geração
também entrou. Do lado humano, vemos fracasso,
mas do lado de Deus, vemos vitória. Precisamos
atentar para o fato de que posteriormente, o povo
escolhido por Deus entrou na boa terra; venceu,
subjugou e expulsou os usurpadores; ganhou a terra e
desfrutou todas as suas riquezas. Eles estabeleceram
o reino e nele um santuário foi construído. Portanto,
no meio do Seu povo, na boa terra com o reino e o
santuário, Deus teve Sua expressão. Isso marca o fim
da seção de história de Israel, chamada de seção de
salvação.
Na Bíblia, a salvação plena e completa de Deus
inclui a Páscoa, o êxodo, o cruzamento do mar
Vermelho, a jornada no deserto, o suprimento das
provisões divinas, a comunhão com Deus no Seu
monte, o receber a revelação divina e a edificação da
habitação de Deus.
Ao considerar o objetivo dessa salvação plena e
completa, precisamos perceber que Deus nunca pode
ser derrotado. Podemos pensar que é impossível para
Deus ganhar cento e quarenta e quatro mil
vencedores (Ap 14:1). Para nós, isso pode parecer
impossível, mas o que é impossível para o homem, é
totalmente possível para Ele. Nosso Deus é vitorioso.
Ele não pode ser derrotado e Seu propósito, Seu
plano, tampouco pode ser frustrado. Deus é grande e
Sua visão é ampla. Ele teve uma maneira de tirar Seu
povo do Egito através do deserto até entrar na boa
terra.
Os filhos de Israel foram derrotados ou
ganharam a vitória? A resposta correta a essa
pergunta é que foram derrotados temporariamente,
mas por fim foram vitoriosos. Ganharam a boa terra e
receberam a salvação plena de Deus.
É comum para os cristãos, sob a influência da
teologia tradicional, perguntar aos outros se são
salvos. Para dar uma resposta apropriada a essa
pergunta, precisamos considerar o âmbito da
salvação completa de Deus e perceber que ela inclui
toda a experiência dos filhos de Israel, desde a Páscoa
até a edificação do santuário na boa terra. O desfrute
da Páscoa certamente era um aspecto da salvação de
Deus. Entretanto, era simplesmente o início da
salvação plena; não era a completação dessa salvação.
Somente depois que cruzaram o mar Vermelho,
peregrinaram pelo deserto, tomaram posse da boa
terra e edificaram o santuário, que ficou cheio da
glória de Deus, é que eles tiveram a completação da
plena salvação de Deus.
A próxima vez que alguém lhe perguntar se você
é salvo, deve responder de forma sábia. Precisa
indagar o que quer dizer com salvação de Deus e o
que ela inclui. Você pode replicar: “Você está me
perguntando se sou salvo. Antes de responder,
gostaria que você me dissesse qual é o âmbito, a
esfera, da salvação de Deus”. Sim, os filhos de Israel
experimentaram salvação na época da Páscoa. Um
membro da tribo de Benjamim, por exemplo, poderia
ter testificado com confiança que, já que desfrutara a
Páscoa, ele tinha sido salvo. A salvação de Deus,
todavia, inclui muito mais que a Páscoa. Como
indicamos, ela inclui a habitação de Deus. A salvação
não só é para habitação de Deus como até mesmo a
inclui. Se ainda não experimentamos a habitação de
Deus, nossa salvação não é completa. Ser salvo de
maneira plena e completa significa desfrutar a
Páscoa, experimentar o êxodo e cruzar o mar
Vermelho, ser suprido com as provisões divinas,
conseguir a posse da boa terra e ser edificado como
santuário de Deus, Sua habitação na terra. A glória de
Deus então encherá o santuário. Isso é a plena
salvação. Toda a história dos filhos de Israel, desde a
Páscoa até 1 Reis 8 é uma prefiguração da igreja.
Contudo, muitos mestres cristãos pegam apenas
alguns aspectos como prefigurações, e não a história
completa.
Nesta mensagem, não estamos preocupados com
a segunda e terceira seções da história de Israel.
Assim, é suficiente simplesmente dizer que a segunda
seção inclui toda a degradação que se segue depois da
edificação do santuário até a recuperação de
Jerusalém em 1967. A terceira seção, o milênio, só
começará depois da volta do Senhor. A primeira e a
segunda seção da história de Israel prefiguram a
igreja. Aos olhos de Deus, Israel e a igreja seguem
cursos paralelos.
DUAS GERAÇÕES
Com os filhos de Israel, desde a Páscoa até entrar
na boa terra, houve duas gerações. A primeira era
composta dos que saíram do Egito; a segunda, dos
que entraram na boa terra. Isso indica que nós,
crentes, temos duas gerações. Fomos salvos com a
primeira geração, mas entraremos na boa terra com a
segunda geração. A primeira geração é o nosso velho
homem e a segunda é nosso novo homem.
Com exceção de Josué e Calebe, que tiveram
outro espírito, a primeira geração se extinguiu. Josué
e Calebe pertenciam à nova geração, e não à antiga. É
por isso que experimentaram duplo batismo: o
primeiro ao passar pelo mar Vermelho e o segundo ao
atravessar o rio Jordão. A antiga geração passou pelo
mar Vermelho, mas foi a nova que cruzou o Jordão.
Quando os filhos de Israel passaram pelo mar
Vermelho, duvido que percebessem que estavam
experimentando um batismo. Mas embora fossem
faltos de entendimento, aos olhos de Deus eles foram
de fato batizados nessa época. Entretanto, depois de
seu batismo, eles ainda estavam numa situação muito
miserável. Em princípio, o mesmo pode ser verdade
com os crentes hoje. Depois de batizados, nossa vida
da igreja pode estar ainda numa confusão. Portanto,
precisamos passar pelo rio Jordão. O primeiro
batismo na verdade não aniquilou os filhos de Israel.
Antes, sepultou Faraó e o exército egípcio. Foi o
batismo no rio Jordão que sepultou as doze tribos dos
filhos de Israel, representadas pelas doze pedras
colocadas no fundo do rio (Js 4:9).
Entre o primeiro batismo no mar Vermelho e o
segundo no rio Jordão, os filhos de Israel estavam
experimentando transformação. Se você pudesse
tê-los visitado depois que passaram pelo mar
Vermelho, talvez imaginasse como poderiam ser o
povo de Deus. Talvez tivesse pensado que Moisés
estava errado em ajudá-los a desfrutar a Páscoa. Eles
brigavam, murmuravam e criticavam, mas nos
quarenta anos entre o mar Vermelho e o rio Jordão,
houve muitas experiências de transformação. Isso
quer dizer que, espiritualmente falando, nessa época,
os filhos de Israel foram transformados. Sim, a velha
geração ficou prostrada no deserto e isso é uma
advertência para nós. Porém, a nova geração surgiu.
Isso é transformação. Depois que cruzaram o Jordão,
eles se tomaram um exército poderoso.
O PROCESSO DE TRANSFORMAÇÃO
Se considerarmos a história dos filhos de Israel,
não ficaremos desapontados com nós mesmos. Em
vez disso, perceberemos que podemos ser
comparados a lagartas num casulo submetendo-nos a
um processo de transformação. Não fique
desapontado, mas adore o Senhor do interior do seu
“casulo”. Todos somos “lagartas” experimentando o
trabalho divino de transformação. Quanto mais esse
trabalho progride, mais emergimos do casulo. Alguns
jovens podem ter somente uma pequena parte livre
do casulo, ao passo que outros têm uma porcentagem
maior de seu ser fora dele. Louvado seja o Senhor
pois as lagartas estão sendo transformadas e os
casulos estão gradualmente desaparecendo! Essa é a
verdadeira situação na vida da igreja na restauração
do Senhor.
Como estamos parcialmente no casulo e
parcialmente fora dele, às vezes ficamos desanimados
e outras vezes encorajados. Quando pensamos no
casulo ou na lagarta no casulo, ficamos
decepcionados; mas quando vemos a borboleta
emergindo do casulo, ficamos encorajados e felizes.
Na restauração do Senhor, estamos gradualmente
saindo do casulo. Muitos de nós podem testemunhar
que, fazendo um contraste, quando estávamos na
religião organizada, nada sabíamos sobre
transformação, nem tínhamos qualquer conceito de
lagartas nos casulos sendo transformadas em
borboletas maravilhosas. A restauração do Senhor
certamente é necessária para introduzir os santos na
verdadeira experiência de transformação.
Se formos fiéis ao Senhor, a restauração se
tomará mais e mais predominante. Recentemente
liberei algumas mensagens sobre a situação do
mundo. Se tivermos a percepção adequada da
situação mundial, veremos que essa é a hora de a
restauração do Senhor se espalhar por toda a terra.
Mesmo os meios modernos de transporte e
comunicação podem ser usados pelo Senhor para Sua
restauração. Por isso, essa é a hora de espalhar a
restauração do Senhor, principalmente os mais
jovens. Onde os cristãos hoje podem ouvir tanto a
palavra de graça do Senhor como Sua palavra de
justiça? Em tantos lugares, as pessoas praticam
idolatria: comem, bebem e levantam-se para se
divertir, mas na restauração Deus fala. Creio que nos
próximos anos, a restauração, o mover final e
máximo do Senhor na terra, será muito prevalecente.
O Senhor deseja ajuntar os que O amam e O buscam,
e fazer deles Seu testemunho vivo.
FUGIR DA IDOLATRIA
No versículo 14, Paulo diz: “Portanto, meus
amados, fugi da idolatria”. A palavra “portanto” no
início desse versículo indica que a seção seguinte até
o versículo 30 é uma conclusão da seção anterior, a
partir de 8:1, que fala sobre comer coisas sacrificadas
a ídolos. Idolatria refere-se a comer coisas
sacrificadas a ídolos.
Em sua compreensão da Palavra sagrada, Paulo é
capaz de enxergar através de coisas físicas e das
palavras impressas, e então ver Cristo. Por exemplo,
em 10:4, ele fala que a rocha física era Cristo. Isso
indica que nessa rocha ele vê Cristo. No mesmo
princípio, pela palavra idolatria, ele não se refere
meramente a imagens esculpidas, mas a algo mais
amplo e inclusivo. Como veremos, idolatria aqui
implica muita coisa.
No versículo 15, Paulo continua: “Falo como a
criteriosos; julgai vós mesmos o que digo”. Ele
esperava que os leitores não parassem nas palavras
impressas, mas se aprofundassem no que ele diz e
depois investigassem, discernissem e julgassem. Ele
queria que eles examinassem cuidadosamente e
julgassem o que ele dizia.
O ALTAR E A MESA
No versículo 18, Paulo novamente se refere a
Israel: “Considerai o Israel segundo a carne; não é
certo que aqueles que se alimentam dos sacrifícios
são participantes do altar?” Vimos que em 10:1-13,
Paulo apresenta Israel como uma prefiguração dos
crentes hoje. Não devemos pensar que o restante do
capítulo dez nada tenha a ver com a prefiguração de
Israel nos versículos 1 a 13. Pelo contrário, o segundo
trecho desse capítulo é continuação do primeiro, não
é separado dele.
A palavra grega traduzida por participantes
também quer dizer co-participantes. Os que comem
os sacrifícios do altar não são apenas participantes
uns com os outros e com o altar, mas também
co-participantes do que comem. Sua participação no
que comem os toma um com os sacrifícios do altar. Já
que o altar é a base dos sacrifícios oferecidos a Deus,
comer dos sacrifícios do altar toma os que comem
seus participantes, seus co-participantes. Isso
também ilustra o fato de que comer toma aquele que
come um com aquilo que come. Comer coisas
sacrificadas a ídolos faz a mesma coisa: identifica o
que come com os demônios por trás dos sacrifícios.
No versículo 18, Paulo com certeza quer dizer
que a comunhão do altar é prefiguração da comunhão
do sangue e do corpo de Cristo. Falando de forma
muito simples, é prefiguração da comunhão da mesa
do Senhor. Assim os participantes do altar
prefiguram os participantes da mesa do Senhor.
Israel tinha um altar, mas nós temos uma mesa. No
altar, havia as ofertas; na mesa há o sangue e o corpo.
Um e a prefiguração, e o outro é o cumprimento.
Enquanto os filhos de Israel tinham comunhão ao
redor do altar, nós temos comunhão ao redor da
mesa.
ÍDOLOS E DEMÔNIOS
Nos versículos 19 e 20, Paulo diz: “Que digo,
pois? Que o sacrificado ao ídolo é alguma coisa? Ou
que o próprio ídolo tem algum valor? Antes, digo que
as coisas que eles sacrificam é a demônios que as
sacrificam e não a Deus; e eu não quero que vos
torneis associados aos demônios”. Aqui, a redação de
Paulo dá outro salto, aparentemente sem qualquer
transição.
Nos versículos 19 e 20, ele fala de ídolos,
sacrifícios a ídolos e demônios. Ídolo e sacrifício a
ídolo nada são (8:4), mas atrás deles estão os
demônios, que são abomináveis e detestáveis para
Deus. Os crentes que adoram a Deus devem abster-se
de se identificar com demônios e tomar-se
participantes de demônios ao comer coisas
sacrificadas a ídolos. Já que os demônios são a
realidade dos ídolos, então comer as coisas
sacrificadas a ídolos toma os que comem seus
participantes, seus co-participantes. Os que comem
coisas sacrificadas a ídolos tornam-se não só
participantes com os demônios mas também
co-participantes deles, tomando-se um com eles.
DUAS MESAS
No versículo 16, Paulo fala da comunhão do
sangue e do corpo de Cristo; no 18, de participantes
do altar, e no 20, de participantes de demônios.
Então, no versículo 21 ele prossegue: “Não podeis
beber o cálice do Senhor e o cálice dos demônios; não
podeis ser participantes da mesa do Senhor e da mesa
dos demônios”. Aqui vem. o~ que há duas mesas: a
mesa do Senhor e a mesa dos demônios. Participar da
mesa é comer dela. Beber do cálice do Senhor e
participar da Sua mesa é identificar-se com Ele.
Beber o cálice dos demônios e participar da mesa
deles é tomar-se um com eles.
No versículo 22, Paulo conclui esse trecho do
capítulo dez: “Ou provocaremos zelos no Senhor?
Somos, acaso, mais fortes do que Ele?” O Senhor é
Deus zeloso (Êx 20:5). A idolatria é totalmente
abominável a Ele e odiada por Ele. Se participarmos
da comunhão com demônios, tomando-nos um com
eles, provocaremos zelos no Senhor. Assim, devemos
fugir da idolatria.
O SIGNIFICADO DA IDOLATRIA
Você entende bem 10:14-22? Pode-se dizer que
aqui Paulo fala sobre a mesa do Senhor. Por que,
então, ele começa essa seção com uma exortação para
fugir da idolatria? No versículo 14, ele não diz:
“Portanto, meus amados, estejais presentes à mesa do
Senhor todo dia do Senhor”. Pelo contrário, ele diz:
“Portanto, meus amados, fugi da idolatria”. A
compreensão adequada dessa seção é que Paulo fala
sobre a mesa do Senhor usando a idolatria como pano
de fundo.
Já enfatizamos que em 10:15, Paulo encoraja os
santos, como criteriosos, a julgar o que ele diz. Ele
apela para eles como aqueles que podem discernir,
investigar, perceber e apreender. Se lermos a palavra
de Paulo de forma a discerni-la, vamos querer saber
por que ele nos diz que fujamos da idolatria. Também
vamos querer saber o que ele quer dizer com o termo
idolatria. Ele se limita à verdadeira adoração da
imagem esculpida? Por certo, ele não é tão restrito.
Em 10:7, ele diz: “Não vos façais, pois, idólatras,
como alguns deles; porquanto está escrito: o povo
assentou-se para comer e beber, e levantou-se para
divertir-se”. Essa é a definição de idolatria.
Há uma diferença entre adoração a ídolos e
idolatria. Adoração a ídolos envolve inclinar-se diante
de um ídolo e adorá-lo. Idolatria tem abrangência
mais ampla porque envolve comer, beber e
divertir-se. Neste país2, as pessoas podem não adorar
ídolos, mas podem praticar idolatria. Nos feriados ou
fins-de-semana, elas podem se entregar a diversos
tipos de recreação e divertimentos. Podem comer e
beber e levantar-se para se divertir. Isso é idolatria.
2
E.U.A. (N.T.)
Mesmo comer coisas sacrificadas a ídolos é uma
forma insultante de se envolver com idolatria. Não
devemos adorar ídolos nem nos envolver com
idolatria. Como vimos, o sentido de idolatria é muito
mais amplo que adoração a ídolos.
DESFRUTAR CRISTO
De acordo com a palavra de Paulo em 1 Coríntios,
esse Cristo maravilhoso é nosso. Em 1:2, é-nos dito
que Cristo é “deles e nosso”. Em 1:9, Paulo diz que
fornos chamados à comunhão de Cristo. Isso significa
que Ele é nossa porção para nosso desfrute.
Para nós, que fornos chamados à comunhão de
Cristo, não é suficiente somente crer Nele, confiar
Nele e apoiar-nos Nele, como os cristãos hoje são
freqüentemente ensinados a fazer. É claro,
precisamos confiar no Senhor e nos apoiar Nele, mas
podemos fazer isso e ainda perder o ponto central de
desfrutar Cristo e possuí-Lo como nossa porção. No
passado, muitos fornos ensinados a crer em Cristo,
confiar Nele, apoiar-nos Nele e orar a Ele. Urna
questão muito importante, porém, foi negligenciada:
o desfrute de Cristo. Antes de entrar na restauração
do Senhor, você alguma vez ouviu urna mensagem
sobre desfrutar Cristo? Onde há tal palavra entre o
povo de Deus hoje? Os cristãos não têm essa
terminologia porque não têm essa cultura espiritual.
Eles não falam de comer Cristo ou de bebê-Lo,
embora essas questões sejam mencionadas na Bíblia.
O propósito de Paulo ao escrever 1 Coríntios não
foi meramente ajudar-nos a confiar em Cristo ou
apoiar-nos Nele. Seu objetivo era encorajar-nos a
desfrutar Cristo. Aleluia, Cristo é nosso! A simples
frase “deles e nosso” em 1:2 implica desfrute. Cristo
ser nosso significa não só que confiamos Nele mas
também que O desfrutamos. Que maravilha que
Cristo seja nosso para desfrutarmos!
AS DUAS MESAS
Se tivermos essa percepção sobre a mesa do
Senhor, seremos capazes de compreender 1 Coríntios
10. O conceito de Paulo aqui é que sempre que uma
pessoa come de coisas sacrificadas a ídolos, ela
desfruta algo relacionado com ídolos. Além do mais, o
que ela desfruta entra nela e faz dela uma expressão
disso. Isso é baseado no princípio de que comer é
uma comunhão, uma participação. Paulo usa a
palavra comunhão com o sentido de participação.
Conforme essa maneira de ver, comer coisas
sacrificadas oferecidas a ídolos é ter comunhão com
eles. Além do mais, é envolver-se com eles e
posteriormente tornar-se um com eles. Isso está de
acordo com o fato de que somos o que comemos, que
o que comemos torna-se nós mesmos. Como os
demônios estão por trás dos ídolos, ser um com ídolos
é ser um com demônios que estão por detrás deles.
Isso é uma explicação do conceito de Paulo no
capítulo dez acerca de comer das coisas sacrificadas a
ídolos. O resultado de comê-las é que a pessoa se
torna uma com os demônios e até cheia e saturada
deles.
No mesmo princípio, comer o corpo de Cristo é
ter a comunhão de Cristo. É participar de Cristo e
tornar-se um com Ele. Isso não é simplesmente
doutrina ou princípio: é realidade.
Cristo hoje é o Espírito que dá vida. Os demônios
também são espíritos. O Espírito que dá vida é rico e
todo-inclusivo. Os espíritos demoníacos, pelo
contrário, são malignos e impuros. Alguém pode ser
saturado e ocupado, ou pelo demônio (um espírito
maligno) ou por Cristo, como o Espírito que dá vida.
Vivemos segundo o que nos ocupa e satura. Se
comermos Cristo e formos saturados Dele como o
Espírito que dá vida, nós O viveremos. Do mesmo
modo, se comermos coisas sacrificadas a demônios e
formos saturados deles, nós os viveremos. Por fim,
em todo o universo há somente duas mesas: a mesa
dos demônios, que faz com que as pessoas estejam
em unidade com demônios, e a mesa do Senhor, que
faz com que os crentes sejam um com o Senhor. Em
qualquer um dos casos, somos o que comemos.
O que hoje é chamado de comunhão no
cristianismo não é puro. Atrás disso, há algumas
coisas relacionadas com ídolos, e os demônios estão
por detrás dos ídolos. Os que participam da mesa dos
demônios entram em contato com demônios. Isso
quer dizer que na verdade tocam a realidade dos
demônios, que estão por detrás da mesa dos
demônios.
O princípio é o mesmo com os amados santos
que vêm à mesa do Senhor no espírito. Eles tocam a
realidade do Senhor ao participar de Sua mesa.
Freqüentemente, nas palavras desses crentes,
podemos ver algo do Senhor. Percebemos que nas
palavras de certo irmão ou irmã, podemos ouvir a
palavra do Senhor. Esses santos podem falar tal
palavra porque foram saturados do Senhor. Se houver
um problema entre os santos ao se chegarem à mesa
do Senhor, a vida da igreja será afetada. Não pode
haver edificação da igreja em tal situação. Mas se os
santos na igreja numa cidade não tiverem problemas
ao se achegar à mesa do Senhor e se todos tiverem
comunhão com o Senhor e com os outros em espírito,
isso é uma igreja, um santuário, que foi de fato
edificado. Além do mais, junto com o santuário de
Deus há o Seu reino. Os que se tornaram o santuário e
o reino mediante o seu desfrute de Cristo são
certamente os que vivem Cristo.
Se lermos 1 Coríntios 10 nessa luz, vamos ter
uma compreensão adequada desse capítulo. Vamos
perceber que a idolatria envolve o desfrute de algo
além do próprio Senhor. Hoje as pessoas em todo
lugar praticam idolatria porque desfrutam muitas
coisas que não são o próprio Senhor. O viver das
pessoas mundanas é em idolatria. Sentam-se para
comer e beber, e depois levantam-se para divertir-se.
Os que se envolvem em entretenimentos mundanos e
adquirem muitas das coisas mundanas vendidas nas
grandes lojas estão praticando idolatria.
Idolatria é o desfrute de alguma coisa no lugar do
Senhor. A mesa do Senhor, porém, é o verdadeiro
desfrute do próprio Senhor. A mesa do Senhor não é
somente questão de se reunir no dia do Senhor; ela
deve ser nosso desfrute todos os dias, até mesmo
continuamente. Dia após dia, o Senhor é nossa boa
terra, nossa festa, nossa mesa.
Se nos achegarmos à mesa dó Senhor com essa
compreensão, viremos com espírito e percepção
diferentes. O cálice da bênção que abençoamos é com
certeza a comunhão do sangue de Cristo, e o pão que
partimos é a comunhão do corpo de Cristo. Hoje
somos os que se reúnem ao redor do altar,
desfrutando tudo o que é oferecido nele para a
satisfação de Deus. Enquanto estamos festejando,
satisfazemos o Senhor a quem adoramos. Essa é a
maneira correta de lidar com a questão de comer.
A maneira correta de lidar com o comer é festejar
no Senhor. Não coma qualquer outra coisa além do
Senhor, e não desfrute nada além Dele. Não devemos
ter qualquer desfrute além de Cristo. Ele é nossa
mesa, nossa festa, nossa terra. Como a boa terra, Ele é
a rica festa para nosso desfrute. Quando festejamos
Nele, nós O vivemos. Então seremos capazes de
derrotar os inimigos, estabelecer o reino de Deus e
edificar o Seu santuário. Esse é o objetivo de Deus e o
cumprimento de Seu propósito eterno.
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM CINQÜENTAEUM
O COMER ADEQUADO
COMER E DESFRUTAR
Vimos que Paulo compara nosso desfrute da
mesa do Senhor ao desfrute dos israelitas que
comiam os sacrifícios e assim eram participantes do
altar (v. 18). Precisamos ficar impressionados com o
fato de que comer está relacionado com desfrute. Se
desfrutamos algo além de Cristo, então aos olhos de
Deus esse desfrute é idolatria. Precisamos simplificar
e purificar nosso desfrute para que desfrutemos
somente o próprio Senhor.
Cristo é o Senhor e é também a mesa. Ao dizer
que Jesus Cristo é o Senhor, queremos dizer que Ele é
tudo. Como nosso tudo, Ele é nossa mesa. A mesa é
tipificada pela boa terra, que era uma mesa para os
filhos de Israel, Quando eles habitaram na boa terra,
festejaram à mesa, desfrutando todo o rico produto
da terra. Os diversos aspectos do produto da terra são
prefigurações das riquezas de Cristo. Além disso, o
próprio Cristo é para nós a boa terra como a mesa. Se
virmos com clareza esse quadro, saberemos desfrutar
o Senhor como a boa terra com todas as suas
riquezas.
Já demos muitas mensagens sobre as riquezas de
Cristo, principalmente uma série impressa no livro O
Cristo Todo-Inclusivo. Também tivemos muito para
dizer sobre isso nos Estudos-Vida de Colossenses e
Filipenses. Encorajo-o a ler essas mensagens e a
lançar mão dos itens das riquezas de Cristo. Essas
riquezas então se tomarão os víveres para nosso
desfrute.
Em 10:23, Paulo diz: “Todas as coisas me são
lícitas, mas nem todas convêm; todas são lícitas, mas
nem todas edificam”. Os versículos 14 a 22 lidam com
comer coisas sacrificadas a ídolos no aspecto de não
se fazer um com os demônios. Do versículo 23 a 11:1,
essa questão é abordada do ponto de vista da
edificação de outros para glória de Deus (v. 31).
A primeira parte do versículo 23 é idêntica à
primeira parte de 6:12. A palavra grega traduzida por
lícita literalmente quer dizer sob o meu poder, ou
seja, permissível, permitido, legal. A palavra para
convêm significa proveitoso (não meramente
conveniente), vantajoso, bom ou que vale a pena. O
versículo paralelo, 6:12, termina com não ser
submetido ao poder de coisa alguma; esse versículo
termina com não edificar. O primeiro diz respeito a
nós mesmos; o último, aos outros. Em 6:12, a
preocupação de Paulo é pessoal, mas em 10:23 é
corporativa.
QUATRO PRINCÍPIOS
Se colocarmos juntos 6:12 e 10:23 e 31, temos
quatro princípios acerca do andar dos crentes.
Primeiro, todas as coisas são lícitas aos crentes, mas
tudo o que fizerem tem de convir. Isso significa que
tem de ser proveitoso, isto é, não causar perda.
Segundo, os crentes não podem ser submetidos ao
poder de coisa alguma. Terceiro, tudo o que os
crentes fazem precisa edificar os outros. Quarto, tudo
o que fazem deve ser para a glória de Deus (10:31).
Totalmente cônscio desses princípios, ele prossegue
em 10:24: “Ninguém busque o seu próprio interesse,
e sim o de outrem”.
MINISTROS DO ESPÍRITO
Por fim, bebendo do Espírito somos saturados
Dele. Então nos tomamos ministros de uma nova
aliança, “não da letra, mas do Espírito” (2Co 3:6). A
nova aliança não é da lei, mas de Cristo que se tomou
o Espírito que dá vida.
O fato de Cristo se tomar o Espírito que dá vida
implica em todos os passos do Seu processo:
encarnação, viver humano, crucificação e
ressurreição. Também inclui a redenção. O objetivo
desse processo não é encarnação, crucificação ou
mesmo ressurreição, mas é o Espírito que dá vida.
Essa é a nova aliança. Portanto, a nova aliança
implica em encarnação, isto é, implica em Deus se
tomando homem e vivendo como tal na terra. A nova
aliança também implica que esse que se encamou foi
à cruz e morreu pelos nossos pecados e até por nós
mesmos a fim de aniquilar a velha criação. Depois de
verter o sangue na cruz e morrer por nós, Ele foi
sepultado e entrou na ressurreição. Quando entrou
na ressurreição, Ele chegou ao destino: o Espírito que
dá vida.
Nesse Espírito maravilhoso todos fomos
batizados em um só Corpo. Agora, quando O
bebemos e somos saturados Dele, espontaneamente
nos tomamos ministros da nova aliança, uma aliança
do Espírito. Por isso, não devemos ministrar meras
doutrinas e letras; pelo contrário, devemos ministrar
o Espírito. Precisamos servir aos outros a bebida
celestial da qual fomos saturados. Que todos sejamos
ministros, não de doutrinas ou letras, mas de vida e
do Espírito.
PROBLEMAS NO ÂMBITO DA
ADMINISTRAÇÃO DE DEUS
Os problemas entre os coríntios, todavia, não se
relacionavam só com o viver humano, mas mais
ainda, com a administração de Deus. Entre eles, não
havia ordem nem autoridade. Por isso, não só
abusavam dos direitos de comer e casar-se como
também dos dons espirituais. Empregavam mal e em
excesso os dons dados por Deus a fim de alcançar sua
busca pessoal. Isso fez com que a administração de
Deus entre eles fosse estorvada e, até certo ponto,
prejudicada.
Alguns estavam tão errados com relação à
administração de Deus que até chegaram a dizer que
não havia ressurreição (15:12). Se não houvesse
ressurreição nesse universo, Deus se tornaria nada. O
próprio Deus é ressurreição. Quando Deus veio em
carne, disse: “Eu sou a ressurreição” (Jo 11:25). Daí,
se não houvesse ressurreição, não haveria Deus
porque não haveria Deus para ser a fonte da vida, o
poder de vida, a forma de vida e a função de vida. Sem
ressurreição, todo o universo seria vazio. Portanto, é
muito sério dizer que não há ressurreição. Isso é
negar Deus e anular o poder divino para Sua
administração no universo. Precisamos reconhecer
que há ressurreição e que Deus administra o universo
para cumprir Seu propósito eterno por meio da
ressurreição e em ressurreição.
Se de fato estivermos debaixo da administração
de Deus em ressurreição, venceremos o dinheiro e as
posses materiais. Eles não terão poder sobre nós e
não nos ocuparão ou possuirão. Pelo contrário,
vencê-los-emos e os governaremos.
No capítulo quinze, Paulo lida com a questão de
ressurreição.
Depois começa o capítulo dezesseis falando sobre
reunir ofertas materiais no primeiro dia da semana. O
primeiro dia da semana tipifica ressurreição porque é
o dia da ressurreição.
Fazer ofertas materiais no primeiro dia da
semana indica que elas devem ser apresentadas em
ressurreição, e não na vida natural. Certas pessoas
mundanas ricas são capazes de preencher cheques
com grandes somas de dinheiro, mas se fizerem
grande doação, normalmente procuram tornar
conhecidos o seu nome e divulgar o que fizeram. Isso
não é dar em ressurreição. Nossas ofertas de dinheiro
e coisas materiais têm de ser em ressurreição. Essa
maneira de dar é clara indicação de que estamos sob a
administração de Deus em ressurreição e vencemos
as posses materiais. Como conseqüência, a
administração de Deus terá maneira de ser levada a
cabo entre nós.
O primeiro dos cinco problemas relacionados
com a administração de Deus é o do encabeçamento.
Paulo aborda isso em 11:2-16 quando lida com o uso
do véu. O véu está relacionado com o encabeçamento
na administração universal, governamental de Deus.
O segundo problema nesse grupo é o da ceia do
Senhor. A ceia do Senhor não é algo em si', pois diz
respeito ao Corpo. Para Deus administrar o universo,
Ele precisa do Corpo. Ele precisa de um grupo de
pessoas formado organicamente como Corpo. Esse
Corpo é o meio pelo qual Deus executa Sua
administração.
O terceiro problema nessa categoria é o do mau
uso dos dons espirituais. No capítulo onze, Paulo fala
do encabeçamento e do Corpo, e nos capítulos doze a
catorze, dos dons. O Corpo funciona por meio dos
dons. Para o Corpo levar a cabo a administração de
Deus, cada membro tem de ter um dom para
funcionar segundo a operação de Deus. Deus
administra operando, e Sua operação pode ser levada
a cabo pela nossa função. Além do mais, nossa função
é possível somente pelo uso dos dons. Quando temos
dom, temos função. O serviço então advém dessa
função. Esse serviço visa ao operar de Deus, que
executa Sua administração. Portanto, primeiro temos
o encabeçamento, depois o Corpo e por fim os dons
para os serviços a fim de que a administração de Deus
seja executada.
Ressurreição é o quarto problema no âmbito da
administração de Deus. O encabeçamento, o Corpo e
o funcionar dos membros pelos dons devem estar
todos em ressurreição. Nunca devemos negá-la. Se
não houvesse ressurreição, não poderia haver dons e
poder para a administração divina.
Por fim, Paulo lida com posses materiais. Se
estivermos sob o encabeçamento, se estivermos no
Corpo e se tivermos os dons para funcionar em
ressurreição, com certeza venceremos a escravidão
das coisas materiais. Elas estarão sob nossos pés.
Dinheiro ou posses materiais não impedirão ou
estorvarão nosso funcionar no Corpo. Antes, o que
temos será usado para a administração de Deus por
intermédio das igrejas. Se for essa nossa situação, o
Senhor Deus terá como executar Sua administração.
Agora temos diante de nós uma visão global de
todo o livro de 1 Coríntios . Ter essa visão nos
capacita a lembrar sobre o que falam os dezesseis
capítulos dessa Epístola. Os capítulos um a quatro
lidam com divisões; o cinco, com incesto; o seis, com
a reivindicação dos direitos e abuso da liberdade de
comer e casar-se; o sete, com a vida conjugal; os
capítulos oito a dez, com comer coisas sacrificadas a
ídolos; o onze, com o encabeçamento e a ceia do
Senhor relacionados com o Corpo; os capítulos doze a
catorze, com os dons espirituais; o quinze, com
ressurreição; o dezesseis, com vencer coisas
materiais.
CRISTO E A IGREJA
Já enfatizamos que os 'Onze problemas
abordados em 1 Coríntios são de duas categorias, dois
grupos. Para resolver os seis problemas na primeira
categoria, precisamos de Cristo como o único fator.
Para resolver os cinco problemas na segunda
categoria, precisamos da igreja como o elemento para
solucionar as questões. Por isso, esse livro primeiro
enfatiza Cristo nos capítulos um a dez, e depois a
igreja como Corpo de Cristo nos capítulos onze a
dezesseis. Portanto, o que vemos em 1 Coríntios é
Cristo e a igreja. Cristo é o fator para resolver todos os
problemas no âmbito da vida humana, e a igreja é o
elemento para solucionar todos os problemas no
âmbito da administração divina. Todos precisamos
ver Cristo no âmbito da vida humana, e a igreja no
âmbito da administração divina.
Os santos em Corinto tinham problemas nos dois
âmbitos. ° mesmo ocorre com muitos cristãos hoje.
Eles têm problemas no âmbito da vida humana e no
âmbito da administração divina. Portanto, todos os
crentes, inclusive nós, precisamos de 1 Coríntios.
Todos precisamos estar debaixo do encabeçamento
na administração governamental de Deus.
Precisamos estar corretos para com o Corpo de Cristo
para que Deus tenha meios de exercer Sua
administração. Precisamos saber usar nossos dons
para funcionar adequadamente e servir o Senhor com
ministério para levar a cabo o operar de Deus a fim de
que a administração divina seja eficaz na terra.
Também precisamos conhecer a vida, o poder e os
princípios da ressurreição para funcionar sob o
encabeçamento e no Corpo correta, adequada e
apropriadamente. Então venceremos o dinheiro e as
coisas materiais. Isso quer dizer que venceremos
todos os laços terrenos. Então de fato viveremos
Cristo. Vivendo-O, teremos uma vida humana
adequada e levaremos a cabo a administração de
Deus. Isso é o que o Senhor deseja e espera hoje. Esse
era exatamente o encargo no espírito e no coração de
Paulo ao escrever esse livro. Primeira Coríntios não é
meramente um livro de ensinamentos. Essa Epístola
foi escrita de acordo com o encargo no espírito de
Paulo acerca de Cristo no âmbito da vida humana e a
igreja no âmbito da administração de Deus.
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM CINQÜENTA E TRÊS
LIDAR COM A QUESTÃO DO VÉU
I. O LOUVOR DO APÓSTOLO
Em 11:2, Paulo diz: “De fato, eu vos louvo porque,
em tudo, vos lembrais de mim e retendes as tradições
assim como vo-las entreguei”. Ele aqui louva os
coríntios porque se lembravam dele em todas as
coisas e retinham as tradições como ele lhas tinha
entregado. A palavra tradições nesse versículo denota
instruções transmitidas por palavra oral ou escrita
(2Ts 2:15).
II. O ENCABEÇAMENTO
No versículo 3, Paulo diz: “Quero, porém, que
saibais que Cristo é a cabeça de todo homem, o
homem a cabeça da mulher, e Deus a cabeça de
Cristo” (IBB-Rev.). Esse versículo, até o 16, lida com o
sétimo problema, o problema concernente ao véu. Os
primeiros seis problemas, abordados nos capítulos
um a dez, podem ser considerados um grupo. Dizem
respeito a questões no reino da vida humana. Os
últimos cinco problemas, abordados nos capítulos
onze a dezesseis, formam outro grupo. Dizem'
respeito a questões no âmbito da administração de
Deus. O primeiro relaciona-se com o encabeçamento
de Cristo e de Deus no governo divino. Em Efésios
1:22 e 23, o encabeçamento de Cristo sobre todas as
coisas é para o Seu Corpo, a igreja. Aqui, o
encabeçamento de Cristo sobre todo homem diz
respeito a indivíduos. Cristo é tanto a cabeça
coletivamente do Corpo, da igreja, como
individualmente dos crentes. Ele é diretamente a
cabeça de cada um de nós. Quando o apóstolo lidou
com os problemas dos coríntios acerca da
administração de Deus, o encabeçamento de Cristo e
de Deus foi sua primeira preocupação.
No versículo 3, Paulo indica que a cabeça da
mulher é o homem. Na ordenação governamental
divina, a mulher está sob o encabeçamento do
homem. Deus criou a mulher dessa forma (Gn
2:18-24; 1Tm 2:13). De acordo com a natureza (1Co
11:14) criada por Deus, a mulher é subordinada ao
homem.
Paulo também diz no versículo 3 que a cabeça de
Cristo é Deus. Cristo é o Ungido de Deus, designado
por Ele. Assim, Ele está debaixo de Deus e Deus como
originador é a Sua Cabeça. Isso se refere ao
relacionamento entre Cristo e Deus no governo
divino.
Ao lidar com o problema do véu, o apóstolo toma
o encabeçamento de Deus, o encabeçamento de
Cristo e o encabeçamento do homem como base
sólida para sua instrução. Sua instrução a respeito do
véu não se baseia em qualquer prática religiosa ou
costume humano, mas no encabeçamento da
administração governamental de Deus. Tal base
sólida não dá margem para discussão acerca do véu.
Logo depois de salvo, ouvi falar muito sobre o
véu. Alguns argumentam que Paulo falava a respeito
do véu porque em sua época havia tal costume entre
as pessoas. Mais tarde, um estudo mais aprofundado
deixou claro que não havia tal costume, nem entre os
gregos nem entre os judeus. Na verdade, segundo o
costume judaico, os sacerdotes é que tinham de cobrir
a cabeça. O ensinamento de Paulo em 1 Coríntios 11
não se baseia em qualquer costume encontrado na
área do Mediterrâneo. Pelo contrário, está de acordo
com a revelação divina.
O motivo de precisarmos do véu na igreja é que
ele está relacionado com o encabeçamento de Deus.
Esse é o motivo de Paulo falar da maneira que faz em
11:3, dizendo-nos que ele quer que saibamos que a
cabeça de todo homem é Cristo, que a cabeça da
mulher é o homem, e que a cabeça de Cristo é Deus.
Dessa forma, o véu está relacionado com o
encabeçamento do governo de Deus. No universo,
principalmente na administração governamental de
Deus, há ordem. Deus é a cabeça de Cristo, Cristo é a
cabeça de todo homem, e o homem é a cabeça da
mulher. Por isso, nas reuniões da igreja, as irmãs
devem usar véu para demonstrar que reconhecemos a
autoridade de Deus e o respeito ao Seu
encabeçamento, e não somos um povo rebelde contra
Deus. Em vez disso, somos totalmente submissos a
Ele e mostramos isso ao usar o véu. Todavia, embora
essa tenha sido nossa prática há mais de cinqüenta
anos, nunca forçamos ninguém a participar dela. Não
queremos fazer do véu mera formalidade exterior,
mas a Bíblia revela que a igreja deve ter tal sinal
declarando que somos um povo sob o encabeçamento
de Deus.
III. O VÉU
A. Todo Homem que Ora ou Profetiza com a
Cabeça Coberta Desonra a Própria Cabeça
No versículo 4, Paulo prossegue: 'Todo homem
que ora ou profetiza com a cabeça coberta desonra a
própria cabeça” (IBB-Rev.). Profetizar aqui significa
falar por Deus. Já que o homem é a cabeça da mulher
e é a imagem e glória de Deus (v. 7), deve manter a
cabeça manifestada, desvendada, descoberta quando
ora a Deus e fala por Ele ao tocar o trono da
administração de Deus. Senão, ele desonra ou
envergonha a cabeça.
Não devemos pensar que orar ou falar por Deus
profetizando sejam coisas insignificantes. É algo
muito importante falar por Deus. Tanto orar como
falar por Deus estão relacionados com a
administração divina. Estão relacionados com a
autoridade e o encabeçamento de Deus. Por isso,
como imagem e glória de Deus, os homens não devem
cobrir a cabeça ao orar ou profetizar. Cobrir a cabeça
dessa forma é envergonhá-la.
IV. OS MOTIVOS
A. O Homem É a Imagem e Glória de Deus, mas a
Mulher. É a Glória do Homem
Um motivo para o uso do véu é encontrado no
versículo 7: “Porque, na verdade, o homem não deve
cobrir a cabeça, por ser ele imagem e glória de Deus,
mas a mulher é glória do homem”. O homem foi feito
à imagem de Deus (Gn 1:26) para expressá-Lo e
glorificá-Lo. Já que tem a imagem e glória de Deus, e
O representa, o homem não deve ter a cabeça coberta.
Se fizer isso, a imagem e glória de Deus serão veladas.
Uma vez que a mulher é a glória do homem, ela não
deve ter a cabeça exposta, mas coberta. Ela não deve
expor a si mesma, mas ao homem sob o qual ela está.
Essa também é a base adotada pelo apóstolo para o
seu ensinamento sobre o véu.
Quando o homem ora ou profetiza, tocando o
trono da autoridade de Deus, ele não deve ter a
cabeça coberta, mas quando a mulher ora ou
profetiza, deve cobrir-se.
V. SEM CONTENDAS
No versículo 16, Paulo conclui o trecho sobre véu:
“Contudo, se alguém quer ser contencioso, saiba que
nós não temos tal costume, nem as igrejas de Deus”.
O costume aqui denota o costume de contender,
discutir e debater. Nem os apóstolos, nem as igrejas
toleravam qualquer discussão acerca do ensinamento
dos apóstolos. Além disso, a pluralidade das igrejas
nesse versículo indica que as igrejas em todas as
cidades são independentes umas das outras, ainda
que todas ajam da mesma forma segundo o
ensinamento dos apóstolos.
Ao falar sobre véu, não é nossa intenção que as
irmãs aceitem uma prática exterior meramente de
forma doutrinária. Desde que a restauração do
Senhor veio a este país (EUA), nunca dei mensagem
incentivando as irmãs a cobrir a cabeça. Se a tivesse
dado, apenas estaria encorajando uma formalidade.
Não queremos ver uma forma exterior. O uso do véu é
amplamente praticado no catolicismo. Entre os
árabes, as mulheres também são instruídas para usar
véu na cabeça. Entretanto, em tais casos, não creio
que haja qualquer compreensão do que significa o
véu. Quando urna irmã coloca um véu na cabeça, ela
precisa perceber o significado do véu.
O encabeçamento de Cristo diz respeito a todos
os santos, tanto irmãos como irmãs. Em 11:3, Paulo
diz: “Quero, porém, que saibais que Cristo é a cabeça
de todo homem, o homem a cabeça da mulher, e Deus
a cabeça de Cristo” (IBB-Rev.). Primeiro, é necessário
que os irmãos percebam que precisam estar debaixo
do encabeçamento de Cristo. Especificamente, se os
presbíteros da igreja numa cidade não estiverem
debaixo do encabeçamento de Cristo, não devem
esperar que as irmãs ou qualquer outro esteja sob seu
encabeçamento. No versículo 3 ele primeiro diz que a
cabeça de todo homem é Cristo, e depois que a cabeça
da mulher é o homem. Além disso, ele aplica o uso do
véu, remontando ao próprio Deus como cabeça de
Cristo.
Precisamos juntar a palavra de Paulo sobre o uso
do véu em 11:2-16 a todo o livro de Apocalipse. Em
Apocalipse, vemos que Cristo, o Cordeiro morto, está
totalmente debaixo do encabeçamento de Deus para
levar a cabo Sua administração. Os capítulos 4 e 5
mostram urna figura de que o Cordeiro morto,
ressurreto e ascendido está agora nos céus levando a
cabo a administração de Deus sob o Seu
encabeçamento.
Recentemente publicamos algumas mensagens
acerca do ministério celestial de Cristo. Esse
ministério está relacionado com a administração
celestial do governo divino. Cristo é o Administrador
que leva a cabo a administração divina mediante Sua
submissão ao encabeçamento de Deus.
Conforme Apocalipse 4 e 5, nos céus, perante o
trono de Deus, não há rebelião. Pelo contrário, como
já enfatizamos, o Cordeiro morto, ressurreto e
ascendido é o primeiro a submeter-Se ao
encabeçamento de Deus nos céus. Todavia, a terra
está cheia de rebelião. Satanás é o primeiro a
rebelar-se contra Deus, mas louvado seja o Senhor
porque no meio de toda essa rebelião, há um Corpo
composto dos que foram redimidos e batizados no
Deus Triúno! O batismo não é uma formalidade.
Fomos batizados no nome do Pai, do Filho e do
Espírito Santo (Mt 28:19). De acordo com Romanos
6:3 e Gálatas 3:27, fomos batizados em Cristo. Ser
batizado em Cristo como Espírito que dá vida nos
introduz no Corpo de forma orgânica. Assim, na terra
há um organismo, o Corpo, constituído dos que foram
redimidos e batizados no Deus Triúno. Esse é o Corpo
Daquele que está no céu que Se submete ao
encabeçamento de Deus. Agora, na terra, esse Corpo
tem de refletir a submissão de Cristo nos céus.
O Corpo de Cristo na terra deve refletir Cristo
como cabeça, submetendo-Se ao encabeçamento de
Deus. Precisamos ser uma televisão celestial a
expressar na terra o que se passa nos céus. Cristo é o
que se tomou um homem, foi morto pelos nossos
pecados e ressuscitou para se tomar o Espírito que dá
vida a fim de que tenhamos vida. Agora, Ele está nos
céus submetendo-Se ao encabeçamento de Deus para
levar a cabo a administração divina. Como membros
do Corpo, temos uma televisão celestial em nós pela
qual podemos ver o que acontece nos céus. Agora
precisamos ser a televisão para refletir o que ocorre
nos céus para que os outros possam assisti-lo em nós.
Isso quer dizer que a igreja em cada cidade tem de
refletir a visão celestial e expressar a submissão de
Cristo ao encabeçamento de Deus para levar a cabo
Sua administração.
Há uma televisão celestial na igreja em sua
cidade? A igreja em sua cidade reflete a submissão de
Cristo nos céus? Louvamos ao Senhor porque em
muitos lugares há um reflexo adequado da submissão
de Cristo ao encabeçamento de Deus. Embora a terra
esteja cheia de rebelião, nós precisamos ser um povo
sob o encabeçamento de Deus refletindo, por meio de
nossa submissão a Cristo, Sua própria submissão a
Deus.
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM CINQÜENTA E QUATRO
A CEIA DO SENHOR (1)
EXAMINAR E DISCERNIR
Com relação à ceia do Senhor, Paulo usa duas
palavras cruciais: examinar e discernir. O versículo
28 diz: “Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e,
assim, coma do pão, e beba do cálice”. Examinar-nos
é ver se estamos comendo do pão e bebendo do cálice
de forma digna ou indigna. Quando Paulo escreveu
essa Epístola, alguns dos crentes em Corinto comiam
a ceia do Senhor de forma indigna, não percebendo
que o cálice e o pão eram incomuns e diferentes da
comida normal. Temos de perceber que o cálice
representa o sangue do Senhor derramado na cruz
pelos nossos pecados. Assim, não devemos bebê-lo de
forma comum ordinária, mas bebê-lo de maneira que
mostre que percebemos que não é uma bebida
comum. Devemos considerar o pão do mesmo modo.
Todavia, rejeitamos o ensinamento católico
supersticioso da transubstanciação. De acordo com
esse ensinamento herético, o pão e o vinho no cálice
na verdade se tomam o corpo e o sangue de Cristo.
Embora rejeitemos a transubstanciação,
precisamos perceber, quando bebemos o cálice e
comemos o pão, que esses são sinais solenes, santos e
divinos. O cálice representa o sangue precioso de
nosso querido Senhor derramado na cruz pelos
nossos pecados, e o pão tipifica o corpo que Ele deu
por nós na cruz. Por isso, não devemos tratá-los de
forma descuidada. Comer e beber descuidadamente é
participar da ceia do Senhor de forma indigna.
Precisamos provar a nós mesmos para ter certeza que
não somos indignos de participar da ceia do Senhor.
Examinar a nós mesmos é para que sejamos dignos
de lembrar do Senhor.
A segunda palavra crucial usada por Paulo é
discernir. O versículo 29 diz: “Pois quem come e bebe
sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si”. Já
enfatizamos que isso é discernir tanto o corpo físico
como o Corpo místico do Senhor para levar a cabo a
administração de Deus. Examinar a nós mesmos é
para memória do Senhor; discernir o Corpo é
principalmente para levar a cabo a administração de
Deus. Sempre que nos achegamos à mesa do Senhor,
não devemos apenas desfrutar o Senhor, mas nos
lembrar Dele examinando a nós mesmos. Precisamos
perguntar se estamos vivendo de forma digna de
comer da ceia do Senhor. Nunca devemos tomar o
sangue e corpo do Senhor de forma descuidada. Pelo
contrário, devemos perceber que os sinais na mesa
representam o sangue precioso e o corpo do Senhor.
Então precisamos perguntar a nós mesmos se
vivemos e nos comportamos de forma digna de comer
essa ceia. Isso é lembrar do Senhor. Ao mesmo
tempo, precisamos discernir se o pão sobre a mesa
representa o Corpo místico de Cristo ou se tipifica
divisão. Se o pão representa certo grupo ou
denominação facciosos, não devemos tomá-lo porque
discernimos o Corpo. Discernir o Corpo dessa forma é
reconhecer que ele é totalmente diferente de qualquer
coisa facciosa. Discernimos o Corpo de tal forma para
levar a cabo a administração de Deus.
Embora ainda sejamos poucos em número, os
anjos e os demônios sabem que nossa posição é
diferente da do cristianismo faccioso. Além do mais,
bem no fundo, temos a certeza de que discernimos o
Corpo para levar a cabo a administração de Deus na
terra. Somos também a televisão celestial que reflete
na terra o que Cristo faz nos céus pela administração
divina. Outros podem opor-se a nós, argumentar
conosco e vindicar a si mesmos, mas no fundo, na
consciência, eles não têm a certeza de que discernem
o único Corpo místico. Louvado seja o Senhor, nós
temos essa certeza!
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM CINQÜENTA E CINCO
A CEIA DO SENHOR (2)
EM MEMÓRIA DO SENHOR
Primeira Coríntios 11:24 e 25 dizem: “E, tendo
dado graças, o partiu e disse: Isto é o meu corpo, que
é dado por vós; fazei isto em memória de mim. Por
semelhante modo, depois de haver ceado, tomou
também o cálice, dizendo: Este cálice é a nova aliança
no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que o
beberdes, em memória de mim”. Na frase “em
memória de mim”, a preposição em, que também se
pode traduzir por para, implica não apenas propósito
mas também resultado. A participação na ceia do
Senhor certamente produzirá um resultado: a
lembrança contínua do Senhor para a Sua satisfação.
Ter a ceia do Senhor em memória Dele significa
que a temos com o propósito de nos lembrar Dele.
Mas ter a ceia do Senhor para memória Dele significa
que a temos com o resultado de que nos lembramos
Dele. Podemos vir participar da ceia do Senhor com o
propósito de nos lembrar Dele e ainda assim, ao
comê-la, talvez o resultado não seja esse. Em vez de
ter a lembrança adequada do Senhor, o resultado
pode ser condenação para nós. Supõe-se que os
crentes em Corinto se reuniam para lembrar do
Senhor, mas o resultado era totalmente diferente.
Eles comiam e bebiam não para memória do Senhor,
mas para sua própria condenação.
No capítulo onze, Paulo admoestou os coríntios a
ter a ceia do Senhor de tal forma que resultasse não
em sua condenação, mas em memória do Senhor. É
possível que, quando comemos a ceia do Senhor, o
resultado seja condenação em vez de lembrar-nos
Dele.
A idéia corporificada na palavra “em” nesses
versículos é muito profunda. Certamente não é
incorreto traduzir a preposição grega por “em” 3 .
Entretanto, isso não expressa o sentido ou significado
aqui. Aqui a preposição é usada com significado de
resultado, e não de propósito. Qual será o resultado
quando comemos a ceia do Senhor? Resultará na
memória do Senhor ou em condenação por agirmos
mal? Essa foi a palavra sóbria de Paulo aos coríntios.
Comer da ceia do Senhor visa satisfazê-Lo. Mas
em vez de se reunir para satisfazer o Senhor, os
coríntios buscavam satisfazer a si mesmos. O fato de
alguns até mesmo ficarem bêbados prova que se
importavam somente com sua própria satisfação (v.
21). Vir à ceia do Senhor com a intenção de receber
satisfação para nós mesmos é contrário ao princípio
de Sua ceia. Não devemos vir à ceia do Senhor com tal
intenção. Antes, devemos vir com a intenção de
satisfazer o Senhor.
Lembrar-se do Senhor apenas superficialmente
não O satisfaz. Ele fica satisfeito quando temos a ceia
de tal forma que ela resulta na memória Dele.
Simplesmente lembrar-se do Senhor é superficial,
mas participar da ceia do Senhor com o resultado de
que nos lembramos Dele é profundo. Lembrar-se do
3
Nessa acepção, a preposição em, em português, tem o sentido de o destino ou fim de uma ação (cf.
Dic. Aurélio). (N.T.)
Senhor é algo temporário. Pode durar somente
enquanto comemos a ceia. Enquanto comemos dela,
lembramo-nos Dele. Porém comer da Sua ceia com o
resultado de que nos lembramos Dele implica que a
memória vem e também permanece depois que
acabamos de comer. Portanto, a memória é a
continuação do comer. Comer resulta em memória e
a memória é a continuação do comer.
EXAMINAR-SE E DISCERNIR
Porquanto a relação entre a ceia do Senhor e a
administração de Deus é muito séria, Paulo exorta os
coríntios a examinar a si mesmos e discernir o corpo
(vs. 28-29). Se não examinamos a nós mesmos nem
discernimos o corpo, podemos comer a ceia do
Senhor sem que isso resulte em memória Dele.
Precisamos examinar a nós mesmos e ver se nossa
posição é correta e precisamos também discernir o
corpo. Então o resultado de comer da ceia do Senhor
será satisfação plena para Ele e também a execução
da administração de Deus. Isso é comer a ceia do
Senhor adequadamente.
Talvez você esteja imaginando como o comer a
ceia do Senhor pode resultar em levar a cabo a
administração de Deus. Como cristãos, fomos salvos,
nascemos de Deus para ser Seus filhos e fomos
introduzidos no Seu reino. Conforme João 3:3 e 5, a
regeneração nos introduz no reino de Deus. Se não
tivéssemos nascido do Espírito, não poderíamos
entrar no reino de Deus, mas por meio da
regeneração fomos introduzidos no Seu reino e
também nos tomamos membros do Corpo de Cristo.
Precisamos perceber que fomos regenerados para nos
tomar os filhos de Deus, ser introduzidos no reino e
nos tomar membros do Corpo de Cristo. Uma vez que
tenhamos essa percepção, precisamos considerar o
propósito de tudo isso. Por que fomos regenerados
para ser introduzidos no reino e nos tomar membros
do Corpo? Para viver uma vida para o reino de Deus e
o Corpo de Cristo. O reino e o Corpo devem ser o
objetivo de nosso viver.
Como cristãos, não estamos aqui simplesmente
para ter uma vida boa. Muitos cristãos amam o
Senhor, mas não percebem que sua vida na terra é
para o reino de Deus e o Corpo de Cristo. Ser para o
reino de Deus e o Corpo de Cristo é ser pela
administração de Deus. Hoje, a administração de
Deus é levada a cabo pelo reino e o Corpo. Isso deve
ser nosso viver diário. Depois, no primeiro dia da
semana reunimo-nos com o propósito de comer a ceia
do Senhor com a esperança de que nossa vida seja
dedicada ao reino de Deus e ao Corpo de Cristo. Se
compreender isso, você saberá como comer a ceia do
Senhor pode resultar em tal satisfação para Ele.
Acerca da mesa e da ceia do Senhor, nossa
compreensão pode ainda estar debaixo da influência
do passado religioso. Talvez esteja tão saturada de
conceitos e idéias tradicionais que não temos
capacidade de aceitar nada novo. É como um copo
cheio até a borda: não comporta nada mais. Para usar
outra ilustração, nossa mente pode ser como um
prédio de apartamentos com a placa de “Não há
vagas” na frente. Inconscientemente, podemos ter
colocado uma placa, dizendo “Não há vagas; não sou
capaz de compreender nada mais acerca da ceia do
Senhor”. Preocupo-me que essa possa ser a situação
de quase todos os santos.
I. O PRINCÍPIO GOVERNANTE
Em 12:1-3, temos o princípio governante dos
dons espirituais. No versículo 1, Paulo diz: “A respeito
dos dons espirituais, não quero, irmãos, que sejais
ignorantes”. Nos capítulos doze a catorze, Paulo lida
com o nono problema entre os coríntios: o problema
dos dons espirituais com relação à administração e
operação de Deus.
Nos versículos 2 e 3, Paulo continua: “Sabeis que,
outrora, quando éreis gentios, deixáveis conduzir-vos
aos ídolos mudos, segundo éreis guiados. Por isso,
vos faço compreender que ninguém que fala pelo
Espírito de Deus afirma: Anátema, Jesus! Por outo
lado, ninguém pode dizer: Senhor Jesus!, senão pelo
Espírito Santo A idéia do apóstolo aqui é que os
ídolos mudos no versículo 2 tomam seus adoradores
mudos, mas o Deus vivo faz com que Seus adoradores
falem no Espírito Santo. Esse tipo de falar
relaciona-se com os dons espirituais. Ninguém que
fala no Espírito de Deus ~iria “Anátema, Jesus”; pelo
contrário, ele gostaria e seria capaz de dizer “Senhor
Jesus”. Nenhum adorador de Deus deve ser calado,
mas todos devem usar a voz para expressar o Senhor
Jesus no Espírito de Deus. Essa é a principal função
de todos os dons espirituais.
O princípio governante dos dons é falar pelo
nosso espírito com o Espírito, isto é, proferir algo com
o Espírito em nosso espírito. Esse tipo de falar está
centralizado no Senhor Jesus. Por isso, o que falamos
deve ser focalizado em Cristo. Cristo deve ser a
substância, o elemento, a essência, o centro e o
âmbito de nosso falar.
Quando Paulo escreve sobre os dons dos
membros do C01l? o, ele começa falando de “ídolos
mudos”. Os dons, é claro, nada tem a ver com ídolos,
mas o que ele diz acerca de dons espirituais tem como
pano de fundo a adoração a ídolos antes praticada
pelos coríntios. No versículo 2, ele lhes lembra que
quando eram das nações, dos gentios, deixavam
conduzir-se “aos ídolos mudos”. Ele aqui não diz que
se deixavam conduzir aos pecados, às
concupiscências ou ao mundo; diz que se deixavam
conduzir aos ídolos mudos, segundo eram guiados.
Não importa como eram guiados, eles eram guiados
aos ídolos mudos. O fato de Paulo usar o adjetivo
“mudo” implica que tanto os ídolos como os que os
adoravam eram mudos, incapazes de falar. Quando
eram incrédulos, os coríntios também eram mudos;
eram adoradores silenciosos de ídolos mudos. Isso
quer dizer que quando adoravam os ídolos, não
falavam; antes, visto que os ídolos eram mudos, eles
também eram mudos, silenciosos. Mas depois de vir a
crer em Cristo são agora adoradores do Deus vivo.
Falando é que provamos que somos vivos. Nosso
Deus é vivo. A Bíblia revela que nosso Deus vivo é o
Deus que fala. Através dos séculos, principalmente na
era do Novo Testamento, Ele tem falado. Para provar
que somos membros vivos de Cristo, também
precisamos falar. Não queremos dizer, é claro, que
devemos falar de forma artificial ou fofocar. Pelo
contrário, devemos falar algo pelo Senhor ou até
mesmo expressá-Lo. Precisamos falar coisas que são
centralizadas em Cristo. Além do mais, Cristo tem de
ser o nosso falar, nossa expressão. Ele tem de ser o
centro e o âmbito do nosso falar. Expressá-Lo dessa
forma é prova veemente de que estamos vivos.
Porquanto o Deus que adoramos é vivo e fala também
falamos e com isso provamos que somos os membros
vivos do Corpo de Cristo.
Posso testificar pela minha experiência que,
quanto mais falo, mais vivo fico. Falar é, na verdade,
respirar. Quando falo, exercitando meu espírito,
aspiro Cristo. Diariamente precisamos falar Cristo ao
marido ou à mulher, aos filhos e aos vizinhos.
Precisamos falar Cristo tomando-O como nosso
centro. Esse falar é o princípio governante dos dons
espirituais.
De acordo com o versículo 3, nosso falar tem de
ser governado pelo Senhor Jesus. Nesse versículo,
Paulo diz: “Por isso, vos faço compreender que
ninguém que fala pelo Espírito de Deus afirma:
Anátema, Jesus Em grego, “anátema” quer dizer
“amaldiçoado”. Anátema quer dizer que ou quem foi
amaldiçoado; isto é, apartado, devotado, para
desgraça. Dizer “Jesus é amaldiçoado” significa falar
negativamente acerca de Cristo. Toda vez que alguém
fala de forma negativa sobre Cristo, isso é uma
maldição.
No versículo 3, Paulo também diz: "Ninguém
pode dizer: Senhor Jesus!, senão pelo Espírito Santo".
Isso é uma tradução literal do grego. Esse versículo
indica que quando dizemos com um espírito
adequado: "Senhor Jesus", estamos no Espírito
Santo. Daí, invocar o Senhor Jesus é a maneira de
participar do Espírito Santo, desfrutá-Lo e
experimentá-Lo.
Acabamos de ressaltar que a tradução literal do
grego no versículo 3 é "Senhor Jesus" 4 . Quando
dizemos "Jesus é o Senhor", admitimos que o Senhor
Jesus é o Senhor, mas quando dizemos "Senhor
Jesus", não só admitimos isso como também O
invocamos. Dizer "Senhor Jesus" é mais doce do que
dizer "Jesus é o Senhor". Essa diferença pode ser
ilustrada na forma que falamos com nosso pai. Por
exemplo, dizer: "Esse é o meu pai" não é tão doce e
íntimo como dizer "Meu pai!" No seu viver diário,
você diz "Jesus é o Senhor" ou mais freqüentemente
invoca "Senhor Jesus"? A maioria de nós testificaria
que invocamos “Senhor Jesus” com muito mais
freqüência do que declaramos "Jesus é o Senhor".
Sem dúvida, a expressão "Senhor Jesus" no
versículo 3 indica invocar o nome do Senhor Jesus.
Hoje alguns se opõem à prática de invocar o nome do
Senhor, mas em 12:3 Paulo definitivamente se refere
a invocar o Senhor audivelmente. A tradução "Jesus é
o Senhor" não indica invocar, mas "Senhor Jesus"
indica não só admissão de um fato, isto é, que Jesus é
o Senhor, como também dirigir-se a alguém, isto é,
invocá-Lo.
Muitos de nós podem testificar que invocar o
nome do Senhor Jesus faz com que sejamos vivos. Ao
4
Outras versões traduzem essa expressão por “Jesus é o Senhor”. (N.T.)
nos sentir um pouco deprimidos, simplesmente
precisamos invocar “Ó Senhor Jesus” e ficamos
fortalecidos e animados. Chegaram-nos relatos que
certos santos em determinado lugar foram ajudados
pela prática de invocar o nome do Senhor e ler-orar.
Um irmão testificou que o Senhor nos deu Sua
Palavra, Seu Espírito e Seu nome. Podemos desfrutar
a Palavra lendo-orando; podemos desfrutar Seu
Espírito seguindo a unção; podemos desfrutar o Seu
nome invocando-o.
Como adoradores do Deus vivo, precisamos falar.
Entretanto, muitos cristãos são mudos. O movimento
pentecostal apareceu como uma reação a essa mudez.
Em épocas diferentes no passado, houve também
reações contra a mudez da religião formal. Por
exemplo, na época de John Wesley, a pregação da
Palavra se limitava aos templos. Não se podia pregar
num lugar secular. Mas John Wesley reagiu contra
essa restrição e pregou ao ar livre, nas ruas e até aos
mineiros quando saíam das minas de carvão depois
do trabalho. Inspirados pela pregação de Wesley,
alguns se arrependeram e choraram. Outros, fora de
si mesmos de alegria, clamaram ao Senhor.
Cristo é a Palavra de Deus, o falar de Deus.
Assim, quando O desfrutamos, também vamos falar.
Vamos expressá-Lo e, às vezes, até proclamá-Lo em
alta voz. A caminho de nossas reuniões da igreja, não
devemos ser mudos. Até mesmo enquanto estamos a
caminho, devemos falar Cristo e depois levá-Lo às
reuniões falando.
Dizer que Jesus é amaldiçoado é proferir coisas
negativas sobre Ele, mas dizer “Senhor Jesus”
significa falar Dele de forma positiva. Além disso, em
12:3, Paulo. nos fala que ninguém pode dizer “Senhor
Jesus” exceto no Espírito Santo. Que palavra
animadora! Enquanto falamos “Senhor Jesus” com
um espírito adequado, estamos no Espírito Santo.
Você sente que não está no espírito? Então invoque
nome do Senhor Jesus. Invocando-o, você vai inalar
o ar celestial,
Espírito Santo, e estará no Espírito. Entretanto,
se ficar em silêncio, não invocando o Senhor, você
não vai inspirar o ar espiritual. Isso o fará
espiritualmente infeliz e doentio, mas quanto mais
falar por Cristo e até falar Cristo, mais feliz ficará.
Nós, na restauração do Senhor, temos muitas coisas
positivas sobre o que falar. Temos Cristo, a vida da
igreja e o propósito eterno de Deus. Que todos
aprendamos a falar Cristo. Esse falar é o princípio
governante dos dons espirituais.
Quando estávamos em Elden Hall 5 em Los
Angeles em 1970, as reuniões sempre começavam
bem antes do horário estipulado. Os santos se
reuniam para falar, cantar, gritar e louvar bem antes
da hora estipulada, mas em determinados lugares há
a tendência de ficar em silêncio. Parece que muitos
perderam sua função e seu dom. Isso abre o caminho
para a volta da situação caída, em que há reuniões
com a forma e sistema de clérigos-leigos. Na igreja,
todos os membros devem ser vivos e falantes. Então o
tempo todo será preenchido com o falar de Cristo e
por Cristo.
5
Local de reuniões localizado na rua Elden, em Los Angeles, Califórnia, E.U.A. (N.T.)
A. Diversidade nos Dons, mas o Mesmo
Espírito
No versículo 4, Paulo prossegue: “Ora, os dons
são diversos, mas o Espírito é o mesmo”. “Ora” aqui
indica um contraste entre os versículos 3 e 4. O
versículo 3 diz que quando ministramos falando no
Espírito de Deus, todos dizemos “Senhor Jesus”
exaltando-O como o Senhor. “Ora” fala dos diversos
dons para manifestação do Espírito; esses dons são
diversos.
A palavra grega traduzida por diversos também
pode ser traduzida por diversidades, variedades,
distinções. A mesma palavra também é usada nos
versículos 5 e 6.
Os dons em 12:4 se referem aos dons exteriores,
as habilidades ou capacitações para o serviço. Alguns
deles são miraculosos e alguns desenvolvidos a partir
dos dons iniciais mencionados em 1:7. Todos são
diferentes dos dons iniciais.
A. A Constituição do Corpo
O versículo 12 diz: “Porque, assim como o corpo é
um e tem muitos membros, e todos os membros,
sendo muitos, constituem um só corpo, assim
também com respeito a Cristo”. “Porque” indica que o
versículo 12 é uma explicação do 11, que diz que o
Espírito realiza todos os diversos aspectos de Sua
manifestação, distribuindo-os aos muitos crentes
individualmente. Isso é como o corpo físico, que é um
só e tem muitos membros.
A tradução literal do final do versículo 12 é:
“Assim também é o Cristo” referindo-se ao Cristo
corporativo, composto do próprio Cristo como
Cabeça e da igreja como Seu Corpo, com todos os
crentes como seus membros. Todos os crentes de
Cristo estão organicamente unidos a Ele e
constituídos com Sua vida e Seu elemento para se
tomar Seu Corpo, um organismo, para expressá-Lo.
Daí, Ele não só é a Cabeça mas também o Corpo.
Como nosso corpo físico tem muitos membros,
porém é um só, assim também é Cristo.
No versículo 13, Paulo continua: “Pois, em um só
Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo,
quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E
a todos nós foi dado beber de um só Espírito”. Como o
Espírito é a esfera e substância de nosso batismo
espiritual, e em tal Espírito todos fomos batizados
numa entidade orgânica, o Corpo de Cristo, então
devemos todos ser esse único Corpo, a despeito de
raça, nacionalidade e posição social. Cristo é a vida e
o elemento constituinte desse Corpo, e o Espírito é a
realidade de Cristo. É nesse Espírito que fomos todos
batizados em um Corpo vivo para expressar Cristo.
Os crentes de Cristo são batizados por meio da
água e no Espírito e desse modo introduzidos 1) em
Cristo, 2) na morte de Cristo (Rm 6:3), 3) no nome,
isto é, na Pessoa, do Deus Triúno (Mt 28:19), e 4) no
Corpo de Cristo. O batismo conduz os crentes a uma
união orgânica com Cristo e o Deus Triúno,
tomando-os membros vivos do Corpo de Cristo.
Todos os dons, como manifestação do Espírito
distribuída aos crentes individuais pelo Espírito, são
para proveito, para edificação desse Corpo. O
apóstolo é muito consciente desse fato. Ele é muito
cônscio do Corpo, centrado no Corpo, diferente dos
coríntios e de tantos outros crentes através dos
séculos muito centrados em si mesmos quanto aos
dons espirituais. Daí, depois desse versículo, Paulo
nos faz um longo discurso acerca do Corpo. Sua
intenção é resgatar os crentes coríntios do
egocentrismo, de volta à preocupação com o Corpo de
modo que não mais busquem o proveito individual,
mas a edificação do Corpo.
No versículo 13, Paulo fala de judeus e gregos, e
de escravos e livres. Judeus e gregos se referem a
raças e nacionalidades, e escravos e livres se referem
a posições sociais.
Ser batizado no Espírito é entrar Nele e perder-se
Nele. Beber do Espírito é ingeri-Lo e ter nosso ser
saturado Dele. Por meio desses procedimentos,
somos mesclados com o Espírito. Ser batizado no
Espírito é o início do mesclar, e é uma vez por todas.
Beber o Espírito é a continuação e cumprimento do
mesclar, e é perpétuo, para sempre.
Os pentecostais hoje falam muito sobre o
batismo no Espírito, mas quase nada sobre ser
batizados no Corpo. O batismo do Espírito não é para
indivíduos, mas é para o Corpo. No versículo 13,
Paulo diz claramente: “Em um só Espírito, todos nós
fomos batizados em um corpo”. Esse Corpo é uma
entidade orgânica. Vemos em Mateus 28:19 e Gálatas
3:27 que fomos batizados no Deus Triúno e em Cristo.
O Deus Triúno e Cristo são orgânicos e vivos. Em
Romanos 6:3, vemos que fomos batizados não só em
Cristo mas também em Sua morte. Positivamente,
fomos batizados no Deus Triúno e em Cristo;
negativamente, fomos batizados na morte de Cristo.
Esse aspecto negativo do batismo limpa as coisas
negativas como o pecado, a carne, o ego e a velha
criação. O resultado final e máximo do batismo é que
somos introduzidos no Corpo. Aleluia, estamos no
Corpo!
Se quisermos fazer uma avaliação adequada dos
dons espirituais, precisamos ver as três questões
importantes do falar, do Espírito e do Corpo. Dons
espirituais relacionam-se a falar, pelo Espírito e para
o Corpo. Sempre que usar um dom espiritual para si
mesmo e não para o Corpo, você o anulará.
Repetindo, o dom não é para o membro em si, mas é
para o corpo. Se os pés usassem o dom de andar para
si mesmos e não para o corpo, anulariam o dom.
Muitos buscam os dons espirituais e alguns
aparentemente os receberam. Mas em muitos casos
eles os receberam em vão porque os usaram para si
mesmos e não para o Corpo. Muitos cristãos hoje não
cogitam do Corpo. Na verdade, não precisamos
buscar tanto os dons. Antes, devemos simplesmente
aprender a ser pelo Corpo. Se formos pelo Corpo,
teremos abundância de dons. Além disso, ser para o
Corpo vai enriquecer, elevar, fortalecer e até mesmo
multiplicar nossos dons.
Ao lidar com os dons, Paulo estava muito cônscio
do Corpo e da igreja. Sua preocupação era a
edificação da igreja. Os dons não são para a edificação
própria; são para a edificação do Corpo.
Desejo testificar pela misericórdia do Senhor que
através dos anos sempre me preocupei com o Corpo.
O motivo de eu ter um forte dom para falar é que
nunca tive idéia de usá-la para mim mesmo. Meu
encargo, preocupação e intenção têm sido as igrejas.
Não tenho desejo de ser um orador popular. Meu
encargo é para o Corpo e todas as igrejas. Quanto
mais falo pelas igrejas e para elas, mais tenho para
ministrar.
Aprecio a palavra de Paulo em 12:13: “Pois, em
um só Espírito, todos nós fomos batizados em um
corpo (...) E a todos nós foi dado beber de um só
Espírito”. Onde podemos beber um só Espírito?
Bebemos o Espírito no Corpo. Se não estivéssemos no
Corpo, não haveria fluir. Nada haveria para beber. O
fluir está no Corpo. De acordo com Apocalipse, na
eternidade o fluir será na Nova Jerusalém (Ap
22:1-3). Hoje, o fluir, o rio, está no Corpo. Em um
Espírito, todos fomos batizados em um Corpo para
beber de um Espírito.
Muitos de nós podem testificar que antes de
entrar na vida da igreja na restauração do Senhor,
estávamos ou numa terra seca, ressequida, ou numa
terra pantanosa. Pode ter havido alguma água nessa
terra pantanosa, mas não era boa para beber. Na vida
da igreja, porém, na restauração do Senhor, bebemos
o Espírito diariamente, até mesmo o tempo todo.
Estamos não só à fonte, mas no fluir da corrente.
Como valorizamos esse versículo que diz que fomos
batizados em um Corpo para beber! Em um Espírito
fomos batizados em um Corpo para beber o único
Espírito. Quando estamos cheios da água do Espírito,
não temos escolha senão deixar que ela jorre de nós.
Nos anos em que tenho ministrado nesse país, tenho
borbulhado com o Espírito. Borbulho com a palavra
de sabedoria, a palavra concernente a Cristo como as
profundezas de Deus. Também borbulho com a
palavra do conhecimento. Além disso, posso testificar
que não sou pelos meus próprios interesses. Minha
única preocupação é o Corpo de Cristo.
Todos precisamos esquecer-nos de nós mesmos,
de nossas cidades, do trabalho e da espiritualidade
pessoal e ter encargo pelo Senhor acerca do Seu
Corpo. Isso nos vai enriquecer, elevar e fortalecer nos
dons espirituais. Imagine o que aconteceria se todos
os que recebessem essa palavra fossem pelo Corpo e
estivessem dispostos a esquecer de si mesmos, da
espiritualidade individual e futuro espiritual. Que
situação maravilhosa seria! Nos próximos anos, o
Senhor quer realizar muito para levar a cabo a
administração de Deus na terra. As igrejas, por toda a
terra, de fato, serão televisores celestiais a expressar o
que Cristo está fazendo em Seu ministério celestial.
Para isso acontecer, precisamos ver o Corpo e ser por
Ele.
A. A Necessidade do Amor
Paulo ocupa um capítulo inteiro para enfatizar a
questão primordial do amor. Sua primeira ênfase (o
falar), ocupa somente três versículos; a segunda
ênfase (o Espírito), ocupa nove ou dez versículos; a
terceira ênfase (o Corpo) ocupa dezesseis versículos e
a quarta ênfase (a administração), ocupa três
versículos. Mas ao chegar ao ponto primordial do
amor, ele devota um capítulo inteiro a ele. Isso
mostra como o amor é importante.
Amor é questão de vida. Certos dons estão
também relacionados com vida porque são
desenvolvidos a partir dos dons iniciais, que são o
Espírito Santo e a vida divina. Todavia, outros dons,
principalmente os miraculosos, como falar em
línguas, interpretá-las, prodígios ou milagres, e cura,
não são desenvolvidos a partir da vida. Por esse
motivo, Paulo começa o capítulo treze dizendo:
“Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos,
se não tiver amor, serei como o bronze que soa, ou
como o címbalo que retine”. O bronze que soa e o
címbalo que retine produzem sons sem vida. Eis uma
ilustração autêntica do falar em línguas. Nos
capítulos doze e catorze, ele coloca línguas e
interpretação por último, mas aqui menciona o falar
em línguas primeiro, mas de forma negativa que
indica que isso não é questão de vida.
No mesmo princípio, a cura divina pode não ser
questão de vida. Há uma cura que advém do dom e
outra, da graça. Este último tipo é de vida, da vida de
ressurreição. Por toda minha vida cristã, tenho
experimentado o dom de cura, mas desejo testificar
que muitas vezes desfrutei cura pela graça. Por dois
anos e meio, de setembro de 1943 até a primavera de
1946, fiquei gravemente enfermo, com tuberculose.
Por muitos meses, fiquei confinado num leito. Todos
os dias orava ao Senhor e Ele lidava comigo. Não
orava pela igreja ou pela obra, mas pela minha
própria situação. Por fim, o que mais me importava
não era ser curado, mas ser totalmente purificado e
limpo. Posso testificar que nesse período o Senhor
lidou com meus motivos, intenções e cada parte do
meu ser interior. Então Ele curou-me, não com dom
de poder, mas pela graça em vida. Essa cura foi total e
absoluta. Recorro à minha experiência para enfatizar
que receber cura por meio de dom nada tem a ver
com vida. Todavia, há uma cura pela graça em vida.
Aprecio muito mais os dons em vida do que os
dons miraculosos. Tenho visto alguns crentes que
verdadeiramente receberam determinados dons
miraculosos somente para mais tarde abandonar o
Senhor, com descrença, incredulidade. O que
precisamos é vida e amor, o melhor dom, que
ministra vida aos outros.
Como pessoas que amam o Senhor, que são
absolutos por Ele e que buscam a edificação do Seu
Corpo para que Ele tenha um instrumento a fim de
levar a cabo a administração divina na terra para o
cumprimento do propósito eterno de Deus,
precisamos seguir o amor. Os presbíteros e
cooperadores precisam de amor. Os irmãos todos
precisam de amor. Somente o amor edifica o Corpo.
Além disso, de acordo com o capítulo treze, o dom do
amor é eterno, pois é constituído da vida divina e é a
expressão de Deus, a expressão da vida eterna. Por
isso, todos, devemos seguir o amor.
Em 13:2 e 3, Paulo diz: “Ainda que eu tenha o
dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda
a ciência; ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de
transportar montes, se não tiver amor, nada serei. E
ainda que eu distribua todos os meus bens entre os
pobres e ainda que entregue o meu próprio corpo
para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me
aproveitará”. Entregar o corpo no versículo 3 é
morrer como mártir. Em vez de “ser queimado”,
alguns manuscritos dizem “que eu me glorie”.
B. A Definição de Amor
Em 13:4-7, Paulo nos dá a definição de amor, que
inclui catorze virtudes: ele é paciente, benigno, não é
ciumento, não se ufana, não se ensoberbece, não se
conduz inconvenientemente, não procura seus
interesses, não se exaspera, não se ressente do mal,
não se alegra com a injustiça, regozija-se com a
verdade, tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo
suporta.
No versículo 4, Paulo diz: “O amor é paciente, é
benigno”. O amor é a expressão da vida que é o
elemento de Deus. Assim, Deus é amor (l 104:16).
Deus como vida é expresso no amor. Todas as quinze
virtudes do amor citadas nos versículos 4 a 7 são as
virtudes divinas da vida de Deus. Tal vida difere dos
dons exteriores citados no capítulo doze. Os coríntios
buscavam dons exteriores, mas negligenciavam o
amor, a expressão da vida. Desse modo, ainda eram
carnais ou anímicos (3:1, 3; 2:14). Precisavam
crescerem vida, expressada pelo amor, seguindo o
amor, e não dons exteriores para ser espirituais
(2:14).
No versículo 4, Paulo diz que o amor não se
ufana. Ufanar-se é um pouco diferente de gabar-se.
Ufanar-se é gabar-se de modo a prejudicar os outros.
É um tipo de gabar-se que deprecia os outros e os
rebaixa. O amor com certeza não se ufana.
No versículo 5, Paulo enfatiza que o amor “não se
ressente do mal”. A palavra grega aqui indica que o
amor não guarda um registro contábil. Isso quer dizer
que, se amar os outros, você não manterá um registro
dos erros deles.
O versículo 6 diz: “Não se alegra com a injustiça,
mas regozija-se com a verdade”. A soma total da
injustiça é Satanás, e a soma total da verdade é Deus.
O amor como a expressão da vida divina não se alegra
com a injustiça de Satanás, mas regozija-se com a
verdade de Deus. Ele não se regozija com a injustiça
de ninguém; antes, regozija-se com a verdade.
De acordo com o versículo 7, o amor tudo sofre.
O verbo sofrer, também usado em 9:12, pode ser
traduzido por cobrir. Literalmente, significa conter
(como vaso), esconder, ou seja, cobrir (como teto).
Esse verbo é usado nos Evangelhos acerca do
incidente em que alguns homens quebraram o teto a
fim de levar certo doente à presença do Senhor Jesus.
Eles fizeram um buraco no teto e então baixaram o
homem ao lugar onde o Senhor estava (Mc 2:4). Essa
palavra grega significa fazer um buraco no teto de
alguém. Podemos fazer isso fofocando sobre outros.
Ao falar deles, fazemos um buraco no teto sobre eles,
isto é, nós os descobrimos. Todavia, o amor cobre
tudo, não faz um buraco no teto de ninguém.
Se considerarmos as quinze virtudes do amor
citadas nesses versículos, vamos perceber que ele
nada é além do próprio Deus. Quem além de Deus
poderia ter essas virtudes todas? Não conseguimos
sofrer tudo ou crer tudo. Tampouco podemos de fato
ser longânimos. Somente Deus tem todas essas
virtudes. Assim, o amor descrito aqui é o próprio
Deus. Ademais, a Bíblia também diz claramente que
Deus é amor (1Jo 4:16). Deus é também vida. Vida é
Sua essência, e amor é Sua expressão. Em Si mesmo,
Deus é vida, mas Deus expresso é amor. O amor que é
o próprio Deus com Sua essência divina como vida
tem essas quinze virtudes. Esse é o motivo de em 1
Coríntios Paulo encarregar os crentes de crescer em
vida. Eles estavam carentes de vida, carentes de
amor. Em outras palavras, estavam carentes de Deus
e precisavam crescer em vida.
C. A Excelência do Amor
Em 13:8-13, Paulo fala sobre a excelência do
amor. No versículo 8, ele declara: “O amor jamais
acaba; mas, havendo profecias, desaparecerão;
havendo línguas, cessarão; havendo ciência, passará”.
O amor nunca acabar significa sobreviver a tudo,
manter-se perenemente no lugar. O amor nunca
falha, nunca se desvanece nem chega ao fim. É como
a vida eterna de Deus. Todos os dons, quer sejam
profecias, línguas ou ciência, são meios para Deus
operar. Não são vida para expressar Deus. Dessa
maneira, cessarão e acabarão. São todos
dispensacionais. Somente a vida, expressa pelo amor,
é eterna. De acordo com os versículos seguintes,
todos os dons são para a criança imatura nessa idade.
Todos acabarão na era vindoura. Somente o amor
provém de alguém maduro e durará pela eternidade.
Quando vivemos e agimos pelo amor, temos um ante
gozo da era vindoura e da eternidade.
Nada pode abalar o amor ou removê-lo. Os
outros dons, inclusive profecia, por fim acabarão, mas
o amor permanecerá. Ele nunca se desvanece. Na era
vindoura, haverá amor, mas não haverá línguas,
interpretação ou profecia. Tanto línguas, o mais
infantil dos dons, como profecia, um dom mais
maduro, acabarão.
Nos versículos 9 e 10, Paulo continua: “Porque,
em parte, conhecemos, e, em parte, profetizamos.
Quando, porém, vier o que é perfeito, então, o que é
em parte será aniquilado”. Nesta era, conhecemos e
profetizamos somente em parte; não em plenitude. A
palavra “quando” no versículo 10 se refere à era
vindoura, a era do reino. A palavra perfeito também
significa maduro, contrastando com menino no
versículo seguinte. Além disso, “o que é em parte” se
refere a coisas como profecias e conhecimento,
mencionados no versículo 8.
O versículo 11 diz: “Quando eu era menino, falava
como menino, sentia como menino, pensava como
menino; quando cheguei a ser homem, desisti das
coisas próprias de menino”. Nesta era, os crentes são
meninos, tendo dons infantis. A palavra “menino”
aqui significa alguém imaturo. Pensar como menino é
considerar as coisas como um menino considera. Na
próxima era, os crentes maduros se tomarão homens
e todos os dons infantis, principalmente os últimos:
falar em línguas e interpretá-las, acabarão. Podemos,
porém, ter um antegozo da era vindoura tendo um
viver de amor nesta era. O amor nos amadurece em
vida; os dons nos mantêm na infância.
No versículo 12, Paulo prossegue: “Porque,
agora, vemos como em espelho, obscuramente, então
veremos face a face. Agora conheço em parte; então,
conhecerei como também sou conhecido”. A palavra
“agora” se refere a esta era. Com respeito à expressão
“como em espelho, obscuramente”, J. N. Darby diz
em sua Nova Tradução: “Isto é, através de um meio
que, até certo ponto, impede a visão. A palavra
significa também 'espelho', mas refere-se a uma
janela, não de vidro transparente como se faz hoje em
dia, mas de material semi-transparente”.
A palavra “porque” no versículo 12 se refere à era
vindoura. No versículo 13, Paulo conclui: “Agora,
pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes
três; porém o maior destes é o amor”. A palavra
“porém” aqui indica um contraste entre o versículo 13
e os versículos precedentes.
A fé recebe as coisas divinas (Jo 1:12) e torna real
as coisas espirituais e invisíveis (Hb 11:1); a esperança
as colhe e delas participa (Rm 8:24-25); o amor as
desfruta a fim de nos nutrir, edificando os outros (1Co
8:1) e expressando Deus, cumprindo assim toda a lei
(Rm 13; 8-10). Tal amor faz-nos crescer em vida para
o desenvolvimento e uso dos dons espirituais, e é o
caminho excelente para ter os melhores dons. Assim,
é a maior das três virtudes permanentes. Portanto,
precisamos segui-lo (1Co 14:1).
O amor se importa com o Corpo e o edifica.
Primeiro, ele une o Corpo e depois o edifica. Por isso,
focalizamos nossa atenção no amor que edifica o
Corpo. Devemos seguir o amor e permanecer no
Corpo para desfrutar o Espírito.
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEMSFSSENTA E UM
OS DONS (5)
6
Marvin Richardson Vincent (1934-1922), professor e teólogo americano que publicou várias obras,
inclusive Word Studies of New Testament (Estudo de Vocábulos do Novo Testamento) em 1886. (N.T.)
divina, ele enfatiza a igreja como único objetivo de
Deus para nós. Os coríntios eram não só destituídos
de Cristo mas também ignoravam a igreja. O
ministério completivo do apóstolo (Cl I:25) é
composto de Cristo como mistério de Deus (Cl 2:2) e
a igreja como o mistério de Cristo (Ef 3:4). Contudo,
os coríntios tinham perdido ambos de vista, embora
estivessem sob o ministério do apóstolo. Eram
deploráveis em si mesmos, cegos e ignorantes.
Nos versículos 13 e 14, Paulo continua: “Pelo que,
o que fala em outra língua deve orar para que a possa
interpretar. Porque, se eu orar em outra língua, o meu
espírito ora de fato, mas a minha mente fica
infrutífera”. Usar e exercitar o espírito em oração
certamente é saudável para nossa vida espiritual, mas
ficar com a mente infrutífera e estática, é totalmente
não saudável. Precisamos exercitar o espírito
regenerado com a mente renovada ao orar ao Senhor.
A mente deve ser posta no espírito (Rm 8:6), nunca
desligada dele, mesmo no andar diário, desnecessário
dizer nas orações. A oração tem de provir de nosso
espírito que contata Deus e é contatado por Ele, e por
intermédio da mente sóbria e inteligível, com
palavras claras e compreensíveis, para que a oração
toque Deus, nutra e fortaleça a nós mesmos e edifique
os outros.
O versículo 15 diz: “Que farei, pois? Orarei com o
espírito, mas também orarei com a mente; cantarei
com o espírito, mas também cantarei com a mente”. A
palavra de Paulo acerca de oração “também (...) com
a mente” implica que ele encoraja os destinatários de
sua carta a orar não apenas em língua desconhecida,
mas também com palavras claras e inteligíveis.
A frase “com a mente” não quer dizer com a
mente apenas e sem o espírito. Em Efésios 6:18, o
apóstolo nos exorta a orar em todo o tempo no
espírito. Orar é adorar, que deve ser no espírito (Jo
4:24). Quando oramos com o espírito, não em língua
desconhecida, mas com palavras compreensíveis, a
mente é automaticamente usada para interpretar e
expressar a idéia do espírito. O que o apóstolo quer
dizer aqui é que, na reunião da igreja, para proveito
de todos os presentes, devemos orar com a mente
com palavras compreensíveis (1Co 14:19) para
expressar o encargo do espírito. Numa reunião da
igreja, a oração não só deve ser ouvida pelo Senhor
para Sua resposta, mas deve também ser inteligível a
todos os presentes, para o proveito deles. Para esse
propósito devemos também aprender a usar a mente
em orações públicas como fazemos com o espírito,
treinando-a para cooperar com o espírito, sendo um
com ele para que ele se torne o espírito de nossa
mente, ou entendimento (Ef 4:23).
O versículo 16 prossegue: “E, se tu bendisseres
apenas em espírito, como dirá o indouto o amém
depois da tua ação de graças? Visto que não entende o
que, dizes”. Isso revela que nas reuniões da igreja, na
época do apóstolo, quando alguém orava, os demais
diziam amém, até mesmo “o Amém”, à sua oração.
No versículo 17 Paulo novamente indica quanto
ele se preocupa com a edificação da igreja: “Porque
tu, de fato, dás bem as graças, mas o outro não é
edificado”. Isso indica que não só nosso profetizar e
ensinar nas reuniões da igreja devem edificar os
outros, mas também nossas orações e ações de graças
ao Senhor. Isso mostra o quanto o apóstolo se
preocupava com a edificação da igreja e com os
santos. Sua palavra nesse versículo não é somente
uma correção, mas uma exortação.
Os que advogam a prática de falar em línguas
gostam da palavra de Paulo no versículo 18: “Dou
graças a Deus, porque falo em outras línguas mais do
que todos vós”. Entretanto, freqüentemente parecem
esquecer-se de que a idéia de Paulo não é completada
no versículo 18, mas continua no 19, onde ele diz:
“Contudo, prefiro falar na igreja cinco palavras com o
meu entendimento, para instruir outros, a falar dez
mil palavras em outra língua”. Isso mostra como falar
palavras inteligíveis é necessário na reunião para a
edificação da igreja, e como falar em línguas de fato
não é necessário em absoluto. Por certo nesses
versículos Paulo não nos encoraja a falar em línguas.
O CORPO E A IGREJA
O Corpo e a igreja são sinônimos, ambos se
referem à mesma coisa. O Corpo é a igreja e a igreja é
o Corpo. Entretanto, no capítulo doze, Paulo enfatiza
o Corpo e no catorze, a igreja. Há uma distinção entre
os dois. O Corpo é um organismo para Cristo, como
vida dos crentes, crescer e expressar-Se. A igreja é
uma assembléia para Deus operar Sua administração.
Cristo, que é vida, é a essência do Corpo, que é uma
entidade orgânica. Esse organismo não visa a uma
organização; visa viver a fim de expressar Cristo.
Cristo é a essência do Seu Corpo e Seu Corpo é uma
entidade orgânica que vive, cresce e amadurece com
Ele até que, por fim, O expresse.
Em 12:12-27, a idéia principal não é atividade ou
empreendimento, mas é que o Corpo é um organismo
para viver, crescer, amadurecer e expressar Cristo
como essência interior. Por esse motivo, o versículo 3
nos diz que quando dizemos “Senhor Jesus”, estamos
no Espírito. É o Espírito que nos introduz no Corpo,
pois Ele é o Espírito que dá vida, o Espírito de vida, e
não apenas o Espírito de Deus encontrado em
Gênesis 1:3. Já recebemos o Espírito que nos introduz
no Corpo organicamente.
Em Romanos 10:13, Paulo diz: “Todo aquele que
invocar o nome do Senhor será salvo”. Precisamos
colocar esse versículo junto com Atos 2:21: “E
acontecerá que todo aquele que invocar o nome do
Senhor será salvo”. Em Atos 2, ser salvo é receber os
dons iniciais do Espírito. Receber o Espírito como
dom inicial equivale a ser salvo. Isso não ocorre
somente crendo, mas também invocando o Senhor.
Todos os que de fato crêem no Senhor Jesus também
a invocam e dizem: “Senhor Jesus”. Se dissermos
“Senhor Jesus”, o Espírito entrará em nós, e nós
estaremos Nele. a Espírito é o pneuma, o sopro, o ar
para respirarmos. É impossível respirar sem inalar o
ar. Quando respiramos, o ar está em nós e estamos no
ar. Igualmente, quando invocamos o Senhor Jesus,
estamos no Espírito que dá vida, e isso nos introduz
no Corpo.
De acordo com 12:13, no Espírito fomos
batizados no Corpo.
A água do batismo é um símbolo de ser batizado
no Deus Triúno (Mt 28:19) e batizado em Cristo (Gl
3:27; Rm 6:3). Quando fomos batizados em Cristo,
fomos batizados no Seu Corpo e nos tornamos parte
desse Corpo orgânico. Primeira Coríntios 12
claramente revela que nos tornamos membros do
Corpo orgânico de Cristo. Aleluia, estamos agora no
Corpo! Já invocamos “Senhor Jesus” e fomos
introduzidos no Espírito, este por sua vez nos
introduziu no Corpo e agora estamos organicamente
no Corpo.
Depois de falar tanto sobre o Corpo em 12:12-27,
Paulo começa a falar da igreja no versículo 28: “A uns
estabeleceu Deus na igreja, primeiramente,
apóstolos; em segundo lugar, profetas; em terceiro
lugar, mestres; depois, operadores de milagres;
depois dons de curar, socorros, governos, variedades
de línguas”. A igreja visa à administração de Deus.
Quando Paulo menciona a igreja, sua ênfase não está
numa entidade orgânica, mas na administração de
Deus. a Corpo visa à expressão de Cristo, a igreja visa
à administração de Deus. No capítulo catorze, o
conceito de Paulo não se relaciona principalmente
com o crescimento orgânico, mas com a
administração governamental. No capítulo doze, a
ênfase está na vida; no catorze, está no governo.
Portanto, podemos usar o termo “expressão orgânica”
para descrever o capítulo doze e o termo
“administração governamental” para descrever o
catorze. Além disso, a edificação da igreja visa à
administração, mas a edificação do Corpo visa à
expressão de Cristo organicamente. Para expressar
Cristo precisamos do Corpo; para levar a cabo a
administração divina, precisamos da igreja. Por esse
motivo, o capítulo doze ressalta o Corpo
organicamente para crescimento e expressão de
Cristo, mas o catorze salienta a igreja no aspecto
governamental para levar a cabo o propósito eterno
de Deus.
Neste ponto, gostaria de fazer uma pergunta
relacionada com o falar em línguas. Para o Corpo
crescer organicamente e expressar Cristo, o falar em
línguas pode ser útil? Precisamos responder essa
pergunta cuidadosamente. Seria errado dizer que
essa prática não é útil para o crescimento do Corpo.
Falar em línguas relaciona-se um pouco com o
Espírito e o Espírito é para o Corpo. Por esse motivo,
não devemos dizer que essa prática jamais poderia
ser útil ao Corpo. a fator crucial diz respeito à nossa
percepção acerca de falar em línguas e nossa
aplicação disso. Se aplicar o falar em línguas somente
à sua busca pessoal, isso vai prejudicar o Corpo. Mas
se buscar essa prática com vistas ao Corpo e
importar-se com ele, então seu falar em línguas será
útil ao Corpo. Alguns entre nós têm testificado que
falar em línguas os estimulou interiormente a buscar
Cristo. Isso é um fato que não pode ser negado.
Certamente buscar Cristo é pelo Espírito e para o
Corpo. Entretanto, os que são estimulados pelo
Espírito, mediante falar em línguas, a buscar Cristo
podem não perceber que sua busca deve ser para o
Corpo. Nesse caso, sua percepção acerca de falar em
línguas é um pouco limitada. Para que seja útil ao
Corpo, o falar em línguas depende da percepção e
aplicação corretas.
Agora deixe-me fazer outra pergunta: Falar em
línguas é útil à edificação da igreja para a
administração de Deus? A resposta a essa pergunta é
um não claro e definido. Principalmente nos moldes
de hoje, essa prática não é útil para a administração
de Deus. Pelo contrário, caso após caso, isso
prejudica a igreja, demole a administração de Deus e
destrói o governo divino.
A. Cada Um
No versículo 26, Paulo diz: “Que fazer, pois,
irmãos? Quando vos reunis, um tem salmo, outro,
doutrina, este traz revelação, aquele, outra língua, e
ainda outro, interpretação. Seja tudo feito para
edificação”. “Tem” é usado cinco vezes nesse
versículo, é a tradução do verbo grego écho,
amplamente usado, com muitos significados, três dos
quais são os principais: 1) manter, possuir, guardar
certa coisa; 2) ter determinada coisa para desfrute; 3)
ter os meios ou poder de fazer algo. Os dois primeiros
significados devem ser aplicados aos primeiros três
itens citados nesse versículo: salmo, ensinamento,
revelação, e o terceiro sentido, aos dois últimos:
língua e interpretação. Isso indica que, ao ir à reunião
da igreja, devemos ter algo do Senhor para
compartilhar com os demais, seja 1) salmo para
louvar o Senhor, 2) ensinamento (de mestre) para
ministrar as riquezas de Cristo a fim de aperfeiçoar e
nutrir os outros, 3) revelação (de profeta, v. 30) para
mostrar visões do propósito eterno acerca de Cristo
como o mistério de Deus e a igreja como o mistério de
Cristo, 4) línguas como sinal para os incrédulos (v.
22) para que conheçam e aceitem Cristo, ou 5)
interpretação para tornar compreensível a língua
acerca de Cristo e Seu Corpo. Antes de ir às reuniões,
devemos preparar-nos para ela com tais coisas do
Senhor e da parte Dele, quer mediante nossa
experiência Dele quer por intermédio do desfrute da
Palavra e comunhão com Ele em oração. Depois de
entrar na reunião, não devemos esperar por
inspiração; não há necessidade de esperar. Devemos
exercitar o espírito e usar a mente treinada para
funcionar, apresentando o que preparamos ao Senhor
para Sua glória e satisfação, e aos presentes para seu
benefício: iluminação, nutrição e edificação. É como a
festa dos tabernáculos nos tempos antigos: os filhos
de Israel levavam para a festa o produto da boa terra
colhido pelo seu labor na terra, e o ofereciam ao
Senhor para Seu desfrute e mútua participação em
comunhão com o Senhor e uns com os outros.
Precisamos laborar em Cristo, nossa boa terra, para
colher algum produto de Suas riquezas a fim de levar
à reunião da igreja como oferta. Assim, a reunião será
uma exibição de Cristo em Suas riquezas e desfrute
mútuo do Cristo partilhado por todos os presentes
uns com os outros perante Deus e com Ele, para a
edificação dos santos e da igreja.
De acordo com a ênfase e o realce dessa Epístola,
as cinco coisas citadas nesse versículo devem enfocar
Cristo como centro de Deus como nossa porção, e a
igreja como o objetivo de Deus como nosso alvo. O
salmo deve ser para louvor a Deus por ter dado Cristo
como sabedoria e poder para nossa vida diária e da
igreja. O ensinamento de um mestre e a revelação de
um profeta devem ensinar e ministrar Cristo, com a
igreja como Seu Corpo, aos outros. Língua e sua
interpretação devem também ter Cristo com a igreja
como centro e conteúdo. Qualquer ênfase em coisas
afora Cristo e a igreja irá confundir e desviar a igreja
do caminho central da economia de Deus do Novo
Testamento e tomá-la como a igreja de Corinto.
No versículo 26, Paulo nos diz que tudo deve ser
feito para edificação. Tudo o que fazemos na reunião
da igreja tem de ser para edificação dos santos e da
igreja. Exibir Cristo e desfrutá-Lo em nossas reuniões
para a edificação de Seu Corpo tem de ser nosso único
propósito e objetivo.
No versículo 26, a palavra “tem” é muito
importante. Segundo Paulo, toda vez que nos
reunimos, devemos ter algo. Paulo não diz “terá” ou
“teria”; ele fala no presente para denotar o fato e diz
que cada um de nós tem algo. Ademais, não diz que
somente alguns, ou muitos ou a maioria tem. Ele diz
que cada um “tem” algo. Ele, então, menciona cinco
coisas na seguinte seqüência: salmo, ensinamento,
revelação, língua e interpretação. Essa lista não é
todo-inclusiva, mas é ilustrativa. Ele menciona salmo
primeiro, e línguas e interpretação por último. Ele as
cita por último porque nesse capítulo ele está atento à
edificação da igreja para a administração de Deus.
O fato de Paulo mencionar salmo em primeiro
lugar indica que na reunião da igreja louvar ao
Senhor tem de ser primordial. Salmo equivale, em
certo sentido, a hino. No movimento pentecostal de
hoje cantam-se versículos bíblicos. Todavia, a maioria
desses versículos é do Antigo Testamento. Duvido
que haja algum cântico sobre Cristo como o mistério
de Deus ou a igreja como o mistério de Cristo. Você
alguma vez ouviu que na reunião pentecostal se canta
Efésios 1, 3 ou 4? Precisamos escrever músicas sobre
esses capítulos e outros trechos dos livros que
compõem o coração da revelação divina: Gálatas,
Efésios, Filipenses e Colossenses. Precisamos cantar
sobre como aprouve a Deus revelar Seu Filho em nós;
sobre Cristo viver em nós e com Ele termos sido
crucificados; sobre andar no Espírito e segundo o Seu
controle; sobre a necessidade de espírito de sabedoria
e de revelação para que conheçamos a esperança do
chamamento de Deus, a glória de Sua herança nos
santos e a grandeza do Seu poder exercido para
ressuscitar Cristo e pô-Lo nos céus; sobre a igreja
como a plenitude de Cristo, Aquele que a tudo enche
em todas as coisas; sobre a necessidade de ser
fortalecidos com poder no homem interior pelo
Espírito de Deus para que Cristo habite em nosso
coração e para que possamos compreender com todos
os santos as dimensões universais de Cristo até a
plenitude de Deus; sobre um só Corpo, um só
Espírito, um só Senhor, uma só fé, um só batismo e
um só Deus e Pai de todos; sobre andar na verdade de
Jesus para nos despir do velho homem, vestir-nos do
novo homem, e ser renovados no espírito da nossa
mente para ter a realidade do novo homem; sobre a
provisão abundante do Espírito de Jesus Cristo; sobre
engrandecer Cristo, vivê-Lo, ser achados Nele,
buscá-Lo e ter o conhecimento excelente Dele; sobre
Cristo, o Amado, como a imagem do Deus invisível, o
Primogênito da criação. Vamos aprender a cantar
versículos desses quatro livros bem como de
Romanos, 1 e 2 Coríntios e Hebreus. Ao cantar,
precisamos ser levados ao padrão da economia do
Novo Testamento.
Nosso hinário7 contém mais de mil e trezentos
hinos. Quando o compilamos, selecionamos hinos
que Deus deu ao Seu povo através dos séculos. Isso
prova que estamos longe de ser facciosos; pelo
contrário, somos todo-inclusivos. Mas agora
precisamos avançar, escrevendo mais hinos e
cânticos sobre o ministério completivo de Paulo e o
ministério reparador de João. Precisamos de muitos
cânticos sobre Romanos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas,
Efésios, Filipenses, Colossenses, 1 e 2 Timóteo, Tito,
Filemom e Hebreus. Também precisamos de cânticos
e hinos sobre o Evangelho de João, 1 João e
Apocalipse. Vamos cantar hinos escritos sobre João
7
Hymns, publicado pelo Living Stream Ministry. (N.T.)
15, sobre permanecer em Cristo e Cristo em nós.
Vamos também cantar sobre os sete candelabros, as
sete tochas de fogo e o rio que flui no livro de
Apocalipse.
Ao cantar e usar o hinário, não devemos ser
tradicionais. Nosso cantar e louvar não devem ser
principalmente sobre Deus como Criador ou Suas
dispensações ao lidar com a humanidade, mas
principalmente sobre a economia neotestamentária
de Deus. Por exemplo, precisamos cantar acerca do
Deus Triúno processado.
Espero que nos anos por vir, haja grande
mudança em nosso cantar, e em nosso hinário
também. Ao cantar e louvar, ainda estamos um pouco
sob a influência da tradição. Acerca disso, precisamos
deixar a maneira tradicional e voltar totalmente à
economia neotestamentária de Deus.
Os crentes na época de Paulo podem ter cantado
os Salmos do Antigo Testamento. Os escritores do
Antigo Testamento não tinham revelação clara acerca
da igreja como o mistério de Cristo. Uma vez que essa
questão não está mais oculta, precisamos escrever
hinos acerca disso com base na revelação do Novo
Testamento. Paulo escreveu catorze Epístolas e
precisamos cantá-las. Contudo, talvez fiquemos
retidos pela atmosfera e influência do cristianismo
tradicional. Novamente, encorajo todos a escrever
hinos sobre a economia do Novo Testamento. Vamos
cantar hinos sobre o ministério completivo de Paulo e
o ministério reparador de João.
Depois de dizer “um tem salmo”, Paulo também
menciona ensinamento, revelação, língua e
interpretação. Os ensinamentos têm de ser de acordo
com os ensinamentos dos apóstolos, e a revelação
tem de mostrar algumas coisas antes ocultas que
agora foram reveladas. Nas reuniões precisamos de
uma palavra de ensinamento e também de uma
palavra dê revelação. Já enfatizamos que o
ensinamento de um mestre e a revelação de um
profeta devem ensinar e ministrar Cristo com a igreja
como Seu Corpo. Em princípio, o mesmo deve
aplicar-se a línguas e sua interpretação: devem ter
Cristo com a igreja como o centro e conteúdo. Isso
quer dizer que devem ser centradas em Cristo como
mistério de Deus, e a igreja como mistério de Cristo, e
não em outras coisas. O falar em línguas adequado
deve ser pertinente a Cristo e a igreja. Isso se baseia
no contexto de todo o livro de 1 Coríntios, que fala de
Cristo como a sabedoria e poder de Deus e as
profundezas de Deus, e da Igreja como Corpo para
expressar Cristo e o meio de levar a cabo a
administração de Deus.
O cantar e falar entre os pentecostais hoje é
carente da visão da economia neotestamentária de
Deus. Eles carecem da revelação divina; por isso, o
seu cantar e falar estão no âmbito natural. Somos
gratos ao Senhor porque Sua restauração está em
outra esfera, uma esfera espiritual, celestial, a esfera
de Cristo e a igreja. Todavia, ainda precisamos que
nossa compreensão e entendimento sejam
aperfeiçoados. Precisamos orar para que o Senhor
nos faça voltar totalmente do âmbito natural para o
celestial, o âmbito espiritual, para que tudo o que
dissermos e fizermos nas reuniões vise levar a cabo a
economia neotestamentária de Deus. Espero que em
todas as reuniões de todas as igrejas essa seja a
situação, e as reuniões sejam cheias do falar acerca de
Cristo e a igreja.
B. Falar em' Línguas
Nos versículos 27 e 28, Paulo prossegue acerca
do falar em línguas: “No caso de alguém falar em
outra língua, que não sejam mais do que dois ou
quando muito três, e isso sucessivamente, e haja
quem interprete. Mas, não havendo intérprete, fique
calado na igreja, falando consigo mesmo e com
Deus”. O uso que Paulo faz da palavra igreja no
versículo 28 indica que a reunião da igreja é a igreja.
Nesses versículos, vemos que ele em absoluto não
negligenciou o falar em línguas, mas, em vez disso,
deu alguns regulamentos a esse respeito. Dois ou no
máximo três podem, um por vez, falar em línguas, e
alguém deve interpretá-las. Entretanto, em algumas
reuniões cristãs hoje, todos são encorajados a falar
em línguas. Os que assim praticam certamente
precisam prestar atenção a esses versículos e
aprender a falar um de cada vez. A espera que isso
exige vai regulá-los e testá-los. Mas, se não houver
intérprete presente, que fiquem em silêncio na
reunião e falem para si mesmos e para Deus. Ao
considerar esses versículos, vemos que, segundo os
regulamentos dados por Paulo, uma reunião cristã
não deve ser conduzida como algumas reuniões
pentecostais de hoje.
C. Profetizar
O versículo 29 diz: “Tratando-se de profetas,
falem apenas dois ou três, e os outros julguem”. De
acordo com esse versículo, numa reunião, dois ou três
profetas podem falar e os outros profetas devem
discernir, julgar. A palavra “outros” aqui se refere aos
outros profetas. Os versículos 29 a 32 falam somente
dos profetas, e não de todos os membros da igreja. Os
outros profetas devem discernir, julgar (lit.:
discriminar), o que é proferido pelos profetas. Isso é
julgar ou discernir se o que é profetizado vem de Deus
ou não, discriminar o verdadeiro do falso. Isso indica
que alguma profecia pode não ser de Deus.
No versículo 30, Paulo continua: “Se, porém, vier
revelação a outrem que esteja assentado, cale-se o
primeiro”. “Outrem” se refere a outro profeta e o
“primeiro” se refere ao primeiro profeta. Dessa
forma, o versículo 30 se refere aos profetas, e não a
todos os presentes na reunião da igreja.
O versículo 31 diz: “Porque todos podereis
profetizar, um após outro, para todos aprenderem e
serem consolados”. Segundo o contexto dos
versículos 29 a 32, “todos” (que aparece duas vezes)
se refere aos profetas, não a todos os membros da
igreja. A palavra grega traduzida por consolados aí
também quer dizer encorajados. Até os profetas
precisam aprender e ser encorajados.
No versículo 32, Paulo diz: “E os espíritos dos
profetas estão sujeitos aos profetas” (VRC). O “E”
prova que o que é mencionado no versículo anterior
diz respeito aos profetas, e não a todos os membros
da igreja. Dizer que os espíritos dos profetas estão
sujeitos aos profetas significa que eles não estão
debaixo do controle de seu espírito, mas seu espírito
está debaixo de seu controle. Assim, eles podem
determinar quando profetizar e quando parar para
manter boa ordem na reunião da igreja. O espírito
deles não é o amo deles, mas o meio de funcionar.
Eles devem aprender a exercitar e usar o espírito a
seu bel-prazer.
O versículo 32 indica claramente que nosso
espírito deve estar sujeito a nós, e não nós a ele.
Todavia, alguns no pentecostalismo de hoje se
desculpam dizendo que tudo o que fazem nas
reuniões está de acordo com o espírito. Dizem que
foram conduzidos pelo seu espírito. Por exemplo,
alguém pode gritar e não se importar com nada e
ninguém mais. Se alguém lhe perguntar por que grita
tão alto, ele pode replicar: “Isso não está em meu
poder; sou conduzido pelo espírito”. Isso é contrário à
palavra de Paulo. Ele diz categoricamente que não
devemos estar sujeitos ao espírito, e, sim, o espírito a
nós.
Por anos a fio, tenho enfatizado a necessidade de
exercitar o espírito. Isso implica que nosso espírito
está sujeito a nós. Exercitamos o espírito; não é o
espírito que nos exercita. Você exercita o espírito ou o
espírito exercita você? A expressão “exercitar o
espírito” diz respeito aos que têm mente sóbria,
principalmente aos que tendem a sentar-se quietos
nas reuniões. Todos eles precisam exercitar o espírito,
mas aos que são como os coríntios, conduzidos pelo
seu êxtase, Paulo diria: “Não vos sujeiteis ao espírito,
mas que o vosso espírito esteja sujeito a vós.
Voltai-vos do vosso êxtase e fazei com que vosso
espírito se sujeite avós”. Não se desculpe dizendo que
tudo o que faz é de acordo com o espírito. O exercício
dos dons tem de ser feito de forma regulada, e não
descontrolada. Nosso espírito tem de estar sujeito a
nós. Isso quer dizer que precisamos ter mente sóbria
para usar o espírito de forma apropriada.
O versículo 33 diz: “Porque Deus não é de
confusão, e sim de paz”. O princípio da incumbência
de Paulo aos coríntios nos versículos 26 a 32,
principalmente acerca do falar em línguas e
profetizar, é manter uma ordem tranqüila e
apropriada, segundo o que o próprio Deus é.
D. As Mulheres
A última parte do versículo 33, na verdade,
introduz o versículo 34 e diz: “Como em todas as
igrejas dos santos”. A palavra “como” indica que
todas as igrejas devem estar na mesma prática.
Primeira Coríntios 1:2 e 10:32 mencionam a igreja de
Deus. Mas aqui lemos sobre as igrejas dos santos. A
“igreja de Deus” denota o elemento constituinte da
igreja; a igreja é constituída do elemento divino. As
“igrejas dos santos” denota os componentes das
igrejas; as igrejas são compostas dos santos.
O versículo 34 diz: “Conservem-se as mulheres
caladas nas igrejas, porque não lhes é permitido falar;
mas estejam submissas como também a lei o
determina”. A expressão nas igrejas significa nas
reuniões da igreja. Conforme 11:5, as mulheres
podem profetizar (é claro, em público) com véu, e
Atos 2: l7 e 18, e 21:9 confirmam que havia mulheres
que profetizavam. Em 1 Timóteo 2:12 porém, às
mulheres não era permitido ensinar, isto é, ensinar
como autoridade (aí, ensinamento está relacionado
com exercício de autoridade) que define doutrinas.
Desse modo, de acordo com o princípio do Novo
Testamento, o fato de às mulheres não ser permitido
falar nas reuniões da igreja significa que não lhes é
permitido ensinar com autoridade acerca de definição
de doutrinas. Nesse sentido, elas devem também ficar
caladas nas reuniões da igreja. Não lhes é permitido
falar porque devem estar sujeitas aos homens. Isso
está relacionado com a questão de autoridade
ordenada por Deus em Seu governo. Na ordenação
governamental de Deus, não é permitido às mulheres
falar com autoridade sobre os homens. Elas podem
orar e profetizar, isto é, principalmente falar pelo
Senhor e expressá-Lo. Todavia, devem fazer isso sob
a cobertura dos irmãos porque aqui são exortadas a
estar sujeitas.
A “lei” no versículo 34 se refere aos livros escritos
por Moisés (Mt 5:17; 7:12; 11:13). Nos escritos de
Moisés, Gênesis 3:16 determina que a mulher esteja
sob o governo do homem. Essa é a ordenação de
Deus.
Primeira Coríntios 14:34 não deve ser
compreendido isoladamente do restante da Bíblia.
Pelo contrário, precisamos interpretar a Bíblia pela
própria Bíblia e com ela. Conforme o ensinamento de
todo o Novo Testamento, as irmãs podem profetizar,
mas não têm autoridade para definir doutrinas. Isso
tem de ser deixado para os irmãos. Além disso, é um
fato histórico que algumas das heresias mais graves
entraram por intermédio de mulheres.
Em 1933, depois de me demitir do emprego para
servir ao Senhor em tempo integral, visitei o irmão
Nee em Xangai. Enquanto eu estava lá, ele me disse
que, sob a influência da prática dos Irmãos, eles não
permitiam que as mulheres orassem nas reuniões,
muito menos falassem. Disse-me que seguira aquela
prática por onze anos. Contudo, percebera que se as
irmãs não orassem nas reuniões, metade da igreja
ficaria paralisada e sem função. Isso seria um
prejuízo e perda para as reuniões. Daí, ele estava
pensando como regularizar a situação. Então
mencionou esse ponto para mim e me perguntou o
que pensava a esse respeito. Disse que pensava que
precisávamos que as irmãs orassem nas reuniões.
Isso é um exemplo de tomar uma decisão relacionada
com doutrina. Tal decisão envolve autoridade.
Tal decisão com autoridade é 9 tipo de falar a que
Paulo se referiu no versículo 33. Ele não concorda que
as irmãs falem nas reuniões da igreja para exercer
autoridade sobre os irmãos. Sem entender o versículo
dessa forma, não temos como conciliá-lo com o
capítulo onze, em que ele fala das irmãs orando ou
profetizando com véu. Esse é um indício categórico
de que as irmãs podem falar nas reuniões, desde que
tenham véu sobre a cabeça.
No versículo 35, Paulo diz: “Se, porém, querem
aprender alguma coisa, interroguem, em casa, a seu
próprio marido; porque para a mulher é vergonhoso
falar na igreja”. Novamente “na igreja” significa nas
reuniões da igreja.
No versículo 36, Paulo pergunta: “Porventura, a
palavra de Deus se originou no meio de vós ou veio
ela exclusivamente para vós outros?” Essa palavra
categórica e franca indica que a igreja numa cidade
deve seguir as demais em sua prática. Todas as igrejas
locais devem submeter-se à ordem universal do
Espírito de acordo com a palavra dos apóstolos, dos
quais provém a palavra de Deus.
No versículo 37, Paulo prossegue: “Se alguém se
considera profeta ou espiritual, reconheça ser
mandamento do Senhor o que vos escrevo”. Ele aqui
falava com autoridade, proferindo mandamento do
Senhor.
A palavra de Paulo no versículo 37 indica que ser
profeta ou ser espiritual é altamente valorizado na
igreja por levar a cabo a economia neotestamentária
de Deus. Um profeta vem logo após o apóstolo na
administração de Deus na igreja (12:28), e fala por
Deus e O expressa, e recebeu revelação dos mistérios
de Deus acerca de Cristo e a igreja (Ef 3:5) como
fundamento para edificação da igreja (Ef 2:20). Uma
pessoa espiritual é alguém que vive de acordo com o
seu espírito, mesclado com o Espírito de Deus e é
capaz de discernir todas as coisas espirituais (1Co 3:1;
2:15). Tais pessoas espiritualmente instruídas devem
saber claramente que os ensinamentos do apóstolo
Paulo são o mandamento do Senhor, e seu falar deve
corresponder aos seus ensinamentos. a espírito de
Paulo é forte e sua palavra é franca ao lidar com os
coríntios desordenados. Ele os encarrega a conhecer
definitivamente que seus ensinamentos são um
mandamento do Senhor e são de fato endossados
pelo Senhor. Já que os ensinamentos do apóstolo
estão de acordo com a ordenação de Deus, eles são os
mandamentos do Senhor.
O versículo 38 diz: “E se alguém o ignorar, será
ignorado”. Às vezes Paulo é polido, mas aqui ele é
direto e franco.
O versículo 39 diz: “Portanto, meus irmãos,
procurai com zelo o dom de profetizar e não proibais
o falar em outras línguas”. Paulo aqui atenua um
pouco seu tom a fim de acalmar o tumulto entre os
coríntios desordenados. Na verdade, esse capítulo
inteiro lida com profetizar e falar em línguas. Já que
profetizar é o dom mais proveitoso na edificação
tanto dos santos como da igreja com o rico ministério
de Cristo, ele é muito valorizado e promovido pelo
apóstolo. Como o falar em línguas não proporciona
proveito para tal edificação, o apóstolo é fiel em expor
o seu valor menor. Tanto a avaliação como a
explanação do apóstolo estão de acordo com sua
preocupação em cumprir o propósito de Deus de
edificar a igreja com as riquezas de Cristo. Na
conclusão desse capítulo, ele ainda nos exorta a
desejar com zelo o profetizar para o edifício de Deus.
Entretanto, também nos exorta a não proibir o falar
em línguas a fim de manter a todo-inclusividade e a
unidade da igreja.
No versículo 40, Paulo conclui: “Tudo, porém,
seja feito com decência e ordem”. A preocupação do
apóstolo pela igreja é que Cristo como centro de Deus
e a igreja como objetivo de Deus sejam levados
adiante e a cabo com todas as coisas feitas com
decência e boa ordem perante os homens e anjos
(4:9; 11:10). Nossa vida natural é inútil para cumprir
tal elevado propósito. A experiência do Cristo
crucificado (1:23; 2:2) para o aniquilamento de nosso
ego e a experiência de Cristo em ressurreição como
nossa santificação e redenção diárias (1:30) são
necessárias para a vida adequada da igreja.
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM SESSENTA E QUATRO
UMA REUNIÃO CRISTÃ ADEQUADA
FALAR
Além de invocar o nome do Senhor, os irmãos da
igreja primitiva falavam muito sobre o Senhor Jesus.
Eles falavam sobre Ele uns aos outros e aos
incrédulos. Seu falar era uma maneira de profetizar, o
tipo de profetizar que o Novo Testamento enfatiza.
Diferente dos profetas no Antigo Testamento, os que
criam em Cristo não precisavam esperar o Espírito do
Senhor vir sobre eles a fim de profetizar. Desde a
primeira vez que invocamos o nome do Senhor, Cristo
como Espírito vivo está em nosso espírito. Por esse
motivo, Paulo podia dizer: “Aquele que se une ao
Senhor é um espírito com ele” (6:17). Que maravilha
que o Espírito esteja mesclado com nosso espírito!
Além disso, esse espírito está sujeito a nós (14:32).
Como nosso espírito está sujeito a nós, não há mais
necessidade de esperar que o Espírito venha sobre
nós. Pelo contrário, simplesmente precisamos
exercitar nosso espírito. Com certeza, os cristãos no
início da vida da igreja exercitavam o espírito para
falar uns aos outros e aos incrédulos pelo Senhor.
Quão simples eram os santos nos primeiros dias
da vida da igreja! Em suas reuniões, deve ter havido
muito invocar, falar, cantar e louvar. De acordo com
Efésios 5:19, eles falavam uns aos outros em salmos e
hinos e cânticos espirituais, cantando e salmodiando
de coração ao Senhor.
Sempre que vamos às reuniões da igreja,
devemos expor o que desfrutamos do Senhor
diariamente. Numa exposição, as pessoas manifestam
ou mostram algo que têm ou produziram. Só é
possível expor o que temos, e não o que não temos. A
reunião cristã adequada deve ser uma exposição de
nossa vida cristã. Deve ser uma demonstração das
riquezas de Cristo que experimentamos no andar
diário. Se exercitarmos o espírito para contatar o
Senhor diariamente, então nas reuniões da igreja
teremos algo de Cristo para partilhar com os santos.
DE VOLTA À SIMPLICIDADE
Meu encargo nesta mensagem é impressioná-lo
com a simplicidade dos primeiros cristãos. Que o
Senhor restaure tal simplicidade entre nós em Sua
restauração hoje! Se formos conduzidos de volta a
essa simplicidade nas reuniões, não usaremos o
hinário ou até mesmo a Bíblia para substituir o
Espírito todo-inclusivo. Às vezes podemos ter uma
reunião na qual não usamos nem o hinário nem a
Bíblia; pelo contrário, podemos simplesmente
expressar Cristo por meio do exercício do espírito.
Posso ser privado de meu hinário e Bíblia, mas não do
Cristo todo-inclusivo em meu espírito. Entretanto, se
não tiverem hinário ou Bíblia, alguns cristãos nada
têm. Sabem cantar pelo hinário e usar a Bíblia, mas
não sabem exercitar o espírito para experimentar
Cristo como Espírito que dá vida. Oh! que o Senhor
nos faça colocar nossa confiança no próprio Cristo
vivo e nada mais!
Temos visto que embora os cristãos na igreja
primitiva não tivessem Bíblia ou hinário, eles tinham
o Cristo vivo. Eles invocavam Seu nome e falavam
muito Dele e O tinham em alta consideração.
Também cantavam e O louvavam. Por isso, toda vez
que se reuniam, podiam mostrar o que haviam
experimentado e desfrutado de Cristo no viver diário.
Com isso vemos que uma reunião cristã adequada
deve ser uma expressão da vida cristã. Não devemos
tomar as reuniões algo diferente do nosso andar
diário ou separado dele. Se fizermos isso, elas se
tomarão um teatro, o salão de reuniões se tomará um
palco e os santos se tomarão atores. Nossas reuniões
não devem ser representações, devem ser exibições
da maneira que vivemos em casa, na escola e no
trabalho. Devem ser expressão do Cristo pelo qual e
no qual vivemos diariamente. Para ter reuniões
adequadas, precisamos primeiro ter uma vida diária
adequada.
I. A RESSURREIÇÃO DE CRISTO, A
VITALIDADE DO EVANGELHO
A ressurreição de Cristo constitui a vitalidade do
evangelho. Há muitas filosofias e religiões na terra,
mas nenhuma delas é viva. Pelo contrário, são todas
destituídas de vida. Numa filosofia ou religião, pode
haver muitos ensinamentos e doutrinas, mas não há
vida. Nenhuma delas tem vitalidade, mas o evangelho
do Senhor contém vida, até mesmo a vida de
ressurreição.
A vida de ressurreição é a vida que venceu a
morte, uma vida que entrou na morte, permaneceu
nela por algum tempo e depois saiu. Dessa forma, é
uma vida que vence e subjuga a morte. Por isso é
chamada de vida de ressurreição.
O evangelho de Cristo não só tem vida mas
também tem poder de vida para subjugar, vencer e
anular a morte. Essa vida, a vida que subjugou,
venceu e anulou a morte, é a ressurreição. Você sabe o
que é vida de ressurreição? Ressurreição é uma vida
que venceu a morte.
Já enfatizamos que o livro de 1 Coríntios pode ser
dividido em duas grandes seções: os capítulos um a
dez formam a primeira seção, e os capítulos onze a
dezesseis formam a segunda. Na primeira seção,
Paulo trata da vida diária de um cristão. Por isso,
Cristo é necessário. Cristo é o único fator para
resolver todos os problemas na vida cristã diária. Esse
Cristo, a solução para todos os problemas na vida
diária de um cristão, é a sabedoria e poder de Deus.
Ele é Aquele que se encarnou, viveu na terra como
homem, morreu na cruz e foi ressuscitado dentre os
mortos.
Algumas religiões têm ensinamentos sobre
Jesus, mas não estão de acordo com a Bíblia. A
religião muçulmana, por exemplo, proclama que
embora tenha sido colocado na cruz, Jesus não
morreu lá, mas foi levado embora pelos anjos.
Segundo os muçulmanos e o Corão, esse Jesus, o
maior dos profetas, está nos céus. Eles por certo não
crêem no Cristo crucificado e ressurreto. Mas
conforme a Bíblia cremos que Cristo foi crucificado,
sepultado e ressuscitado. Portanto, nosso Cristo é o
Cristo da ressurreição. Além do mais, Ele mesmo é a
ressurreição (Jo 11:25). Ele é a vida que vence a morte
e a subjuga. Aleluia, nosso Cristo é uma vida que
vence a morte! Ele é a ressurreição!
Para ser sabedoria e poder de Deus para nós a
fim de resolver nossos problemas na vida diária,
Cristo tem de ser o Cristo ressurreto. Hoje nós O
temos em ressurreição. O próprio Cristo que vive em
nós como nossa vida é o Cristo ressurreto.
Como já enfatizamos, na segunda seção desse
livro, os capítulos onze a dezesseis, Paulo lida com
cinco problemas no âmbito da administração de
Deus. Se quisermos conhecer a administração divina,
precisamos perceber que uma rebelião ocorreu no
universo. Sob a liderança de Satanás, o arcanjo,
muitos anjos se rebelaram contra Deus. Isso ocorreu
no âmbito da criação divina. Na criação original de
Deus, houve uma rebelião. Por isso, mais tarde Deus
teve uma segunda criação, que envolveu
principalmente a criação do homem. Em Gênesis 1, a
criação é primordialmente a criação do homem, e não
dos céus e da terra. Gênesis 1:1 diz: “No princípio
criou Deus os céus e a terra”. O restante desse
capítulo fala da restauração dos céus e da terra com a
criação da raça humana. Depois da criação do
homem, Satanás, o rebelde, seduziu-o a segui10.
Como resultado, o homem também se rebelou contra
Deus. Por isso, houve uma rebelião na raça angélica e
outra na raça humana. Na criação, Deus não foi capaz
de levar a cabo Sua administração devido às rebeliões
dos anjos e do homem.
Um dia, o próprio Deus veio no Filho como
homem. De acordo com Isaías 9:6, o Seu nome é
maravilhoso. Ele é tão maravilhoso que ninguém
pode entendê-Lo totalmente. Ele é Deus e homem ao
mesmo tempo. Isaías 9:6 também nos diz que,
embora fosse um menino, era chamado de Deus forte,
e, embora fosse Filho, Seu nome era Pai eterno. Esse
Homem-Deus maravilhoso viveu na terra por trinta e
três anos e meio. Ele passou a maior parte da vida no
lar de um carpinteiro na cidadezinha de Nazaré.
Imaginem, o próprio Deus chamado Deus forte e Pai
eterno viveu em tal condição por mais de trinta anos!
Posteriormente, Ele saiu a ministrar. Ele levou a cabo
Seu ministério por três anos e meio. No final desse
tempo, foi levado à cruz. Na verdade, não é
totalmente exato dizer que Cristo foi levado à cruz
porque, em João 10, Ele nos diz que estava disposto a
dar a vida. Isso quer dizer que Ele de livre vontade
caminhou até o Gólgota, o Calvário. Ele se dispôs a
ser crucificado.
O Senhor foi crucificado definitivamente na
carne. Com cravos nas mãos e nos pés, Ele ficou
pendurado no madeiro por provavelmente seis horas,
das nove da manhã às três da tarde. Nas primeiras
três horas, o homem fez todo o possível para zombar
Dele. Então, nas últimas três horas, Deus veio
julgá-Lo como nosso substituto. Enquanto Deus O
julgava, Cristo derramou Seu sangue para nos
redimir. De Seu lado saiu sangue e água: sangue para
redenção e água para liberação da vida. Portanto, pela
crucificação, Ele cumpriu a redenção e liberou a vida
divina.
Imediatamente após ter morrido, Cristo teve um
sepultamento adequado num túmulo de um homem
rico. Depois, ao terceiro dia, foi ressuscitado. A Bíblia
diz claramente que Ele foi ressuscitado. Por outro
lado, também diz que Ele ressurgiu, que não precisou
que ninguém O ressuscitasse. Como foi possível
Cristo ressuscitar dentre os mortos? Foi possível
porque Ele mesmo é a ressurreição.
Cristo se dispôs a ser sepultado, entrar na morte,
no túmulo e no Hades. Enquanto estava no Hades,
Ele provou a morte, envergonhou-a, e venceu-a, e
subjugou-a. Ele entrou no domínio da morte para
percorrer essa região e ver o que ela era capaz de
fazer. Por fim constatou que a morte nada podia fazer
contra Ele. Não tinha poder para retê-Lo ou
segurá-Lo (At 2:24). Quando chegou a hora de
ressuscitar, Ele disse adeus à morte e partiu. Cristo
assim a venceu, subjugou e saiu dela. Isso é
ressurreição.
Não somos capazes de entender plenamente a
Trindade, a encarnação, a crucificação ou a
ressurreição. De fato, não podemos nem mesmo
entender plenamente nossa própria vida física. Você
consegue explicar o que é sua vida? Além disso, você
entende totalmente o seu espírito e seu coração
psicológico? Que temos espírito e coração psicológico
é um fato, mas não conseguimos entendê-los
plenamente. Certamente seria tolice recusar-nos a
crer neles porque não conseguimos entendê-los
adequadamente. O mesmo ocorre com respeito à
Trindade, encarnação, crucificação e ressurreição.
A Palavra de Deus é confiável. Nela lemos que
Deus é triúno, é o Pai, o Filho e o Espírito. Um dia,
Deus se tornou homem. Isso foi a encarnação.
Depois, Deus encarnado, a corporificação do Deus
Triúno, viveu na terra e foi crucificado. Isso é um
mistério. Aquele que morreu na cruz não era só
homem, mas também Deus. Como, porém, poderia
Deus morrer? Isso é um mistério. Em um dos seus
hinos, Charles Wesley diz: “Que ocorreu?! / Por mim
morreste, ó meu Deus?” Outro verso desse hino (Hino
1578) diz: “Mistério: Morre o Imortal!” É de fato um
mistério e não conseguimos entender
completamente. Depois que morreu, Cristo foi
sepultado e ressuscitado. Podemos também dizer que
Ele ressurgiu. Não foi somente ressuscitado, mas
ressurgiu. Tudo isto: a encarnação, a crucificação, a
ressurreição, são fatos.
Meu encargo nesta mensagem, entretanto, não é
simplesmente falar desses fatos, é considerar o seu
significado e a realidade espiritual. Qual é o sentido
8
Hinos, publicado por esta editora. (N.T.)
da encarnação de Cristo? O sentido é que o próprio
Deus entrou na humanidade e uniu-se a ela. Mas, de
acordo com a compreensão superficial de muitos
cristãos hoje, o sentido da encarnação é
simplesmente a geração de um Salvador. É claro, o
Evangelho de Lucas diz que um Salvador nos nasceu
em Belém (2:11), mas, revelando algo mais profundo,
o Evangelho de João fala da encarnação dessa forma:
O Verbo, que estava com Deus e era Deus desde o
princípio, tornou-se carne (1:1, 14). Isso não é
meramente gerar o Salvador, mas introduzir Deus no
homem e unir Deus ao homem. É até mesmo unir
Deus à carne, porque João 1:14 declara: “O Verbo se
fez carne”. O Verbo aqui denota Deus, e a carne
denota o homem. Com o Verbo que se fez carne, havia
graça e verdade. Como João 1:17 diz: “A graça e a
realidade vieram por meio de Jesus Cristo”. Por isso,
a encarnação é introduzir Deus no homem e fazê-los
um. Que grande prodígio é esse! É um prodígio ainda
maior do que a criação do universo, do homem e de
milhões de itens. Quão maravilhoso, quão misterioso,
que por meio da encarnação Deus veio a ser um com o
homem!
Quando Cristo, o Homem-Deus, morreu na cruz,
Ele era o Cordeiro de Deus (Jo 1:29). Mediante Sua
morte na cruz, Ele cumpriu a redenção. O significado
da crucificação, entretanto, inclui mais que a
redenção. A redenção certamente é parte crucial da
crucificação. Cristo, porém, morreu não apenas para
cumprir a redenção por nós, mas para aniquilar toda
a velha criação. Você sabe qual é o sentido
todo-inclusivo da crucificação de Cristo? É que a Sua
cruz põe fim a toda a velha criação, incluindo a raça
angélica, a terra e o céu restaurados 'e caídos, e a raça
humana. Quando estava na cruz, Cristo não estava
pregado lá sozinho. A velha criação estava Nele e foi
crucificada com Ele. Na cruz, portanto, Ele aniquilou
a raça angélica, os céus e a terra, a raça humana e
cada item da velha criação. Embora isso seja revelado
na Bíblia, tal palavra de justiça nunca é pregada entre
os cristãos hoje. Entretanto, esse é o significado da
morte de Cristo. Esse é o motivo de nos referir à
morte de Cristo como morte todo-inclusiva.
Em Hebreus 10, o véu no templo prefigura a
morte todo-inclusiva de Cristo. Hebreus 10:19 e 20
dizem que o véu prefigura a carne de Cristo: “Tendo,
pois, irmãos, intrepidez para entrar no Santo dos
Santos, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo
caminho que ele nos consagrou pelo véu, isto é, pela
sua carne”. No véu do templo havia querubins
bordados. Esses querubins representam as criaturas
de Deus. Assim, quando o véu do templo foi rasgado,
as criaturas bordadas no véu também foram
rasgadas. Isso indica que quando Cristo foi
crucificado, nós, junto com toda a criação, fomos
crucificados também. Aleluia por essa morte
todo-inclusiva!
Repetindo, quando Cristo morreu, Ele levou todo
item da velha criação à cruz. Tudo foi crucificado!
Você crê nisso? Eu creio, pois a Bíblia assim me diz.
Além do mais, não só fomos crucificados, mas
também sepultados no túmulo de Jesus. Embora esse
túmulo fosse pequeno, todo o universo foi sepultado
ali.
A ressurreição significa que Cristo morreu, foi
sepultado e ressurgiu novamente. Ela é a vitalidade
do evangelho. Nessa ressurreição viva, é possível
Deus ter uma administração.
Agora podemos entender porque o capítulo
quinze aborda a questão da ressurreição. Nos
capítulos onze a catorze, temos a Cabeça, o Corpo e
todos os dons com as funções para operar a fim de
levar a cabo a administração de Deus. Tudo isso,
porém, tem de ser em ressurreição. Na criação, Deus
não tem maneira de levar a cabo Sua administração,
pois tanto os anjos como a humanidade se rebelaram
contra Ele. Em ressurreição, porém, Deus tem como
levar a cabo Sua administração. Como cristãos, temos
de ser pessoas ressuscitadas e a igreja tem de estar
em ressurreição. Somente em ressurreição podemos
perceber o encabeçamento de Deus, discernir o Corpo
e ser membros dele. Cristo não pode ter o Corpo
exceto em ressurreição. Sem ressurreição, não pode
haver igreja. A igreja está em ressurreição, e nós
também.
Nessa ressurreição, a administração de Deus é
levada a cabo. Primeira Coríntios 15:27 e 28 indicam
isso: “Porque todas as coisas sujeitou debaixo dos
seus pés. E quando diz que todas as coisas lhe estão
sujeitas, certamente exclui aquele que tudo lhe
subordinou. Quando, porém, todas as coisas lhe
estiverem sujeitas, então o próprio Filho também se
sujeitará àquele que todas as coisas lhe sujeitou, para
que Deus seja tudo em todos” (VRA). De acordo com
o versículo 27, Deus sujeitou todas as coisas sob os
pés de Cristo. Por fim, quando todas as coisas forem
sujeitas a Cristo, Deus será tudo em todos. Isso é levar
a cabo a administração de Deus. Precisamos ficar
impressionados, pois esses versículos são
encontrados num capítulo que fala da ressurreição.
Certamente é tolice dizer que não há ressurreição.
A. Pregado
9
Wllliam John Conybeare (1815-1857), professor e teólogo inglês que publicou várias obras, dentre elas
The Life and Epistles of St. Paul (A Vida e Epístolas de São Paulo), em 1857, juntamente com J. S.
Howson. (N.T.)
segundo as Escrituras”. A morte de Cristo pelo nosso
pecado, Seu sepultamento para nosso aniquilamento
e Sua ressurreição para nossa germinação em vida,
segundo as profecias do Antigo Testamento (Is
53:5-8, 10-12; Sl 22:14-18; Dn 9:26; Is 53:9; Sl
16:9-10; Os 6:2), são os itens básicos e primordiais do
evangelho. O último deles é o mais vital, pois nos
transmite vida para que vivamos Cristo. Outros itens
do evangelho pleno incluem Cristo como o mistério
de Deus, a igreja como o mistério de Cristo e a Nova
Jerusalém. Na verdade, o evangelho pleno inclui todo
o Novo Testamento.
B. Testemunhado
Nos versículos 5 a 11, Paulo fala acerca das
testemunhas da ressurreição de Cristo. O versículo 5
diz: “E apareceu a Cefas e, depois, aos doze”. A
palavra grega traduzida por apareceu também quer
dizer foi visto. Os primeiros apóstolos e discípulos
foram testemunhas oculares da ressurreição de Cristo
(At 1:22) e sua pregação enfatizava seu testemunho
disso (At 2:32; 4:33). Eles deram testemunho do
Cristo ressurreto não só pelo seu ensinamento mas
também pelo seu viver. Eles viviam com Ele pelo Seu
viver em ressurreição (Jo 14:19).
Nos versículos 8 e 9, Paulo refere-se a si mesmo:
“E, afinal, depois de todos, foi visto também por mim,
como por um nascido fora de tempo. Porque eu sou o
menor dos apóstolos, que mesmo não sou digno de
ser chamado apóstolo, pois persegui a igreja de
Deus”. Alguém que perseguiu Cristo e a igreja
tornou-se apóstolo.
No versículo 10, Paulo continua: “Mas, pela graça
de Deus, sou o que sou; e a sua graça, que me foi
concedida, não se tornou vã; antes, trabalhei muito
mais do que todos eles; todavia, não eu, mas a graça
de Deus comigo”. Graça, três vezes nesse versículo, é
o Cristo ressuscitado tornando-se o Espírito que dá
vida (v. 45) para introduzir em nós o Deus processado
em ressurreição para ser nossa vida e suprimento de
vida, para que vivamos em ressurreição. Assim, graça
é o Deus Triúno tornando-se vida e tudo para nós. É
por essa graça que Saulo de Tarso, o maior dos
pecadores (1Tm 1:15-16), tornou-se o maior dos
apóstolos, laborando muito mais do que todos os
outros. Seu ministério e viver pela graça são um
testemunho inegável da ressurreição de Cristo.
“Todavia, não eu, mas a graça de Deus” equivale
a “não eu, mas Cristo” em Gálatas 2:20. A graça que
motiva o apóstolo e nele opera não é uma questão ou
coisa, mas uma Pessoa viva, o Cristo ressurreto, a
corporificação de Deus Pai que se tornou o Espírito
que dá vida todo-inclusivo, que habita nele como seu
tudo.
No versículo 10, graça é o Cristo que está em
ressurreição e é ressurreição. Por essa graça, Paulo
podia ser o que era elaborar mais que todos os outros
apóstolos. Quando comparamos 1 Coríntios 15:10
com Gálatas 2:20, vemos que a graça não é algo, mas
alguém. Todos os discípulos e apóstolos que viram o
Cristo ressurreto, não só O viram objetivamente, mas
O experimentaram subjetivamente. Quando eles O
viram, Ele entrou neles e se tornou subjetivo neles.
No dia de Pentecostes, esse foi o motivo de estarem
vivos, vigorosos e diligentes. O Cristo ressurreto
estava neles. Não só o próprio Cristo ressuscitou
objetivamente, mas em ressurreição Ele viveu em
Pedro, João e nos demais apóstolos e discípulos.
Através dos séculos, todos os servos de Deus que
tiveram vitalidade tiveram esse Cristo ressurreto
vivendo neles. Também posso testificar que Ele vive
em mim, capacitando-me para fazer o que eu nunca
poderia em mim mesmo. Aleluia, o Senhor Jesus
vive! Como sabemos que Ele vive? Como diz um hino,
sabemos que Ele vive porque Ele vive em nós (Hino
24110). Podemos ser perseguidos e receber oposição, e
podemos sofrer muito, mas temos o Cristo ressurreto
em nós. Quanto mais recebemos oposição, mais vivos
e ativos nos tomamos. Entretanto, nosso testemunho
é este: Não nós, mas a graça de Deus conosco.
10
Hinos, publicado por esta editora. (N.T.)
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM SESSENTA E SEIS
A QUESTÃO DA RESSURREIÇÃO (2)
A. Se Não Há Ressurreição
No versículo 29, Paulo diz: “Doutra maneira, que
farão os que se batizam por causa dos mortos? Se,
absolutamente, os mortos não ressuscitam, por que
se batizam por causa deles?” A frase “batizar-se por
causa dos mortos” significa ser batizado por quem já
morreu. Essa não era uma regra oficial geralmente
praticada pelas primeiras igrejas, mas a atividade
pessoal de alguns crentes individuais em favor de
mortos, pelos quais se preocupavam porque creram
no Senhor, mas não foram batizados antes de morrer.
Eles faziam isso na esperança de que ressuscitassem
dentre os mortos na volta do Senhor (1Ts 4:16), já que
a ressurreição é claramente tipificada no batismo (Cl
2:12). O apóstolo usa o que eles faziam para fortalecer
a verdade da ressurreição. Isso não quer dizer,
todavia, que aprovasse que crentes fossem batizados
a favor dos mortos.
No versículo 29, as palavras “por causa” na
verdade significam a favor de. Alguns crentes tinham
parentes, vizinhos ou amigos que também haviam
crido no Senhor, mas haviam morrido sem ser
batizados. Por amor a eles, alguns crentes eram
batizados em favor deles. Isso não fora ensinado
pelos apóstolos, mas sabemos pela história da igreja
que era praticado pelos crentes, embora a prática não
fosse comum. O fato de um crente ser batizado a favor
de outro que havia morri do representa uma forte
crença na ressurreição. O batismo representa morte,
sepultamento e ressurreição. Mas, se não houvesse
ressurreição e se os cristãos simplesmente
morressem e fossem sepultados, por que alguém seria
batizado em favor deles? O fato de alguém ser
batizado pelos mortos indica uma crença, uma,
expectativa, de que os mortos seriam ressuscitados.
Paulo se refere a essa prática como parte de sua
contestação à heresia de que não havia ressurreição.
Ele aqui parece dizer: “Se os mortos não ressuscitam,
então por que outros são batizados em favor deles
para representar que serão ressuscitados?” Isso é o
que ele quer dizer aqui.
No versículo 30, Paulo prossegue: “E por que
também nós nos expomos a perigos a toda hora?” Se
não há ressurreição, então por que ele se exporia a
perigos a toda hora? Por que iria diariamente arriscar
a vida? Pelo contrário, se não houvesse ressurreição,
ele devia desfrutar a vida.
No versículo 31, ele continua: “Dia após dia,
morro! Eu o protesto, irmãos, pela glória que tenho
em vós outros, em Cristo Jesus, nosso Senhor”. Aqui
o verbo morrer significa arriscar a vida, estar em
perigo de morte, enfrentar a morte e morrer para si
mesmo (2Co 11:23; 4:11; 1:8-9; Rm 8:36).
Os crentes coríntios eram o fruto do labor do
apóstolo, um labor no qual ele arriscou a vida e esteve
em perigo de morte. Neles, o apóstolo pôde gabar-se
disso. Ao fazê-lo, ele protestou que morria cada dia. O
gabar-se do apóstolo nos coríntios como fruto do
risco de sua vida era em Cristo, e não em si mesmo,
porque seu labor não era por si mesmo, mas por
Cristo.
Paulo era como um soldado que arriscava a vida
no campo de batalha. Ele lutava pelo reino de Deus e
todos os dias morria pelo bem dos coríntios. Quando
foi pregar-lhes o evangelho, ele arriscou a vida.
Enquanto esteve em Corinto, morria todos os dias.
Não era fácil Paulo ir a Corinto, ao mundo gentio.
Esse mundo se opunha a tudo o que fosse judeu e
também cristão. Contudo, Paulo diariamente
arriscava a vida a fim de pregar-lhes o evangelho, mas
por causa de sua disposição de morrer todos os dias,
muitos coríntios foram salvos.
No versículo 32, Paulo usa uma figura de
linguagem: “Se, como homem, lutei em Éfeso com
feras, que me aproveita isso? Se os mortos não
ressuscitam, comamos e bebamos, que amanhã
morreremos”. A palavra “feras” usada aqui é uma
figura de linguagem que denota pessoas ou coisas
más. O costume dos homens, ao lutar com qualquer
pessoa ou coisa má, é receber recompensa temporal,
mas o apóstolo será recompensado pela sua luta com
pessoas e coisas más a favor do evangelho na
ressurreição no futuro (Lc 14:14; 2Tm 4:8).
Sabemos por Atos 19 que Paulo lutava com
“feras”. Tanto os judeus como os gentios em Éfeso se
opunham vigorosamente a ele. Assim, ele teve de
lutar com pessoas e coisas más. Mas, se não houvesse
ressurreição, que proveito teria por isso? Como ele
diz: “Se os mortos não ressuscitam, comamos e
bebamos, que amanhã morreremos”. Isso parece ser
citação de um provérbio da época, uma máxima dos
epicureus 11 . Se não houvesse ressurreição, nós,
crentes não teríamos esperança no futuro e desse
modo nos tomaríamos os mais miseráveis de todos os
homens (v. 19). Se é assim, devemos desfrutar a vida
hoje, esquecendo-nos do futuro como os epicureus.
11
Doutrina de Epicuro, filósofo materialista grego (341-270 a.C.), e de seus seguidores, (...)
caracterizada, (...) na moral, pela identificação do bem. soberano com o prazer, com o qual,
concretamente, há de ser encontrado na pratica da virtude e na cultura do espírito (Dic. Aurélio). (N.T.)
Isso parece ser citação de outro provérbio da época,
um fragmento de um poema grego. Com essa palavra,
o apóstolo adverte os crentes gregos a não ficar na
companhia dos heréticos que diziam que não há
ressurreição. Tais más companhias iriam corromper
sua fé e as virtudes cristãs.
No versículo 33, Paulo exorta os coríntios a não
prestar atenção à heresia enganosa e desconexa de
que não havia ressurreição. Os que dão ouvidos a essa
heresia serão enganados por ela. Além do mais se se
tornassem companheiros dos heréticos, tal amizade
corromperia os bons costumes. Esse princípio se
aplica a nós na vida da igreja hoje.
Alguns dos que deixaram a restauração do
Senhor e agora falam mal dela podem tentar
influenciar os que permaneceram na vida da igreja.
Se você absorver idéias negativas e se tornar
companheiro deles, essa amizade vai corromper sua
vida da Igreja. Os bons costumes mencionados no
versículo 33 incluem amar ao Senhor, viver para o
futuro, arriscar a vida pelo evangelho e praticar a
~ida adequada da igreja. Isso, na verdade, inclui
todas as boas coisas abordadas em todo o livro de 1
Coríntios.
No versículo 34, Paulo continua sua exortação:
“Tornai-vos à sobriedade, como é justo, e não
pequeis; porque alguns ainda não têm conhecimento
de Deus; isso digo para vergonha vossa”. Ser sóbrio,
como é justo, é despertar de um estupor alcoólico
para a sobriedade; é parar, como é justo, de ser
bêbado. A palavra “como é justo” aqui significa ser
direito para com Deus e os homens. Dizer que não há
ressurreição ofende a Deus e o homem, e é pecado.
Daí o apóstolo advertir os coríntios extraviados a
despertar do seu pecado para a sobriedade a fim de
ser retos para com Deus e o homem. Eles estavam
injustamente embriagados num estupor de heresia de
não-ressurreição. Precisavam sair desse estupor.
Literalmente, as palavras “não têm
conhecimento de Deus” significam “têm ignorância”.
Ser herético em dizer que não há ressurreição é não
ter conhecimento de Deus, não conhecer o poder de
Deus ou Sua economia (Mt 22:29-32). Isso é uma
vergonha para os crentes.
Como cristãos, precisamos ser despertados à
sobriedade. Não devemos ser como os epicureus, que
queriam somente desfrutar a vida sem se preocupar
com o amanhã. Precisamos parar, como é justo, de
ser drogados. Quem diz que não há ressurreição não é
justo para com Deus ou o homem. De modo
semelhante, os que se opõem à vida da igreja não
estão corretos para com Deus ou para com os
homens.
Certa vez recebi uma carta de um irmão que
reconhecia que eu o ajudara a conhecer e
experimentar Cristo. Ele era grato por essa ajuda e
também pela ajuda em conhecer a igreja, mas depois
disse que meu ensinamento acerca da vida da igreja,
principalmente a base da igreja, era carnal. É injusto
dizer que ensinar os crentes a praticar a vida da igreja
é carnal. Esse dito é injusto tanto para com Deus
como para com o homem. Alguém que faça essa
afirmação ou concorde com ela precisa despertar
como de um estupor alcoólico.
Há hoje muitos ensinamentos heréticos. Alguns
deles podem conter somente pequena porcentagem
de heresia, e outros, porcentagem bem maior. Você
sabe por que está disposto a aceitar certa heresia? É
porque você tem tendência, inclinação interior para
tal heresia. Ela se encaixa ao seu gosto. Então, por
assimilar um ensinamento herético que se encaixa ao
seu gosto, você se toma drogado ou embriagado.
Conhecendo a situação entre os coríntios, Paulo
os advertiu a não aceitar a heresia que nega a
ressurreição. Ele sabia que isso envolvia más
companhias que por fim corromperiam seus bons
costumes na vida da igreja. Com isso vemos que a
ressurreição com certeza tem influência positiva
sobre nossos costumes morais, mas negá-la vai
corrompê-los. Isso nos fará naufragar.
V. A DEFINIÇÃO DE RESSURREIÇÃO
No mundo natural temos muitas ilustrações de
ressurreição. Em 1936, fiz uma visita a uma das
melhores universidades da China. Um dos estudantes
falou-me sobre sua dificuldade em crer na
ressurreição. Ele me disse que, devido ao moderno
conhecimento científico, não conseguia crer. Para ele,
o conceito de ressurreição era contrário à verdade
científica. Fora da sala onde estávamos havia uma
seara de trigo. Chamando sua atenção para o trigo
crescendo na seara, mostrei que o trigo era produzido
por alguns grãos que foram sepultados na terra.
Disse-lhe que, em certo sentido, essas sementes
haviam morrido, mas agora brotaram em
ressurreição como trigo. Com essa ilustração de
morte e ressurreição, esse jovem foi salvo. Agora ele é
um dos principais cooperadores em Taiwan. Ao usar
o trigo como ilustração da ressurreição, eu não segui
minha própria sabedoria. Pelo contrário, segui o
exemplo estabelecido por Paulo em 1 Coríntios 15.
A. O Corpo de Ressurreição
Os versículos 35 e 36 dizem: “Mas alguém dirá:
Como ressuscitam os mortos? E em que corpo vêm?
Insensato! O que semeias não nasce, se primeiro não
morrer”. Os gregos filósofos pensavam que eram
espertos, mas Paulo os chamou de insensatos,
mostrando que as perguntas que faziam provavam
sua insensatez. Em sua resposta, ele se refere à vida
vegetal. A realidade da ressurreição está contida e
oculta na natureza, principalmente na vida vegetal.
Um grão plantado na terra morre e é vivificado. Isso é
ressurreição. Isso responde à primeira pergunta dos
coríntios insensatos: “Como ressuscitam os mortos?”
No versículo 37, Paulo continua: “E, quando
semeias, não semeias o corpo que há de ser, mas o
simples grão, como de trigo ou de qualquer outra
semente”. O que é semeado não é um molho de trigo,
mas uma semente, o grão sozinho. Então a semente
cresce e transforma-se no “corpo que há de ser”. Pode
ser difícil distingui10 entre sementes diversas, mas
uma vez semeadas e crescidas, as diferenças serão
manifestas. As plantas diferirão em forma e cor.
Continuando essa ilustração, no versículo 38,
Paulo diz: “Mas Deus lhe dá corpo como lhe aprouve
dar e a cada uma das sementes, o seu corpo
apropriado”. Ele aplica a palavra corpo aqui não ao
corpo semeado para morrer, como no versículo 37,
mas ao corpo ressuscitado dado por Deus, com forma
diferente e em nível mais elevado. Isso responde à
segunda pergunta insensata dos coríntios: “Em que
corpo vêm?”
O versículo 39 diz: “Nem toda carne é a mesma;
porém uma é a carne dos homens, outra, a dos
animais, outra, a das aves, e outra, a dos peixes”. Do
versículo 39 a 41, o apóstolo prova aos coríntios
insensatos que Deus é capaz de dar corpo a todas as
vidas ressuscitadas, assim como deu a todos os itens
criados: homens e animais na terra, pássaros no ar e
peixes na água, corpos terrenos com glórias
diferentes; e ao sol, lua e estrelas, corpos celestiais
com glória celestial em graus variados. No versículo
42, ele esboça a conclusão: “Pois assim também é a
ressurreição dos mortos”. Então ele enfatiza que o
corpo é semeado em corrupção, desonra e fraqueza,
mas ressuscita em incorrupção, glória e poder.
No versículo 44, Paulo declara: “Semeia-se corpo
natural, ressuscita corpo espiritual. Se há corpo
natural, há também corpo espiritual”. O termo
natural é literalmente anímico. Um corpo anímico é
um corpo natural animado pela alma e no qual a alma
predomina. Um corpo espiritual é um corpo
ressurreto saturado do espírito e no qual o espírito
predomina. Se morrermos, nosso corpo natural, antes
anímico, será semeado, sepultado em corrupção,
desonra e fraqueza. Quando for ressuscitado,
tomar-se-á espiritual em incorrupção, glória e poder.
Aleluia, um dia estaremos em ressurreição! Então
não haverá mais corrupção, desonra ou fraqueza;
pelo contrário, estaremos em incorrupção, glória e
poder.
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM SESSENTA E OITO
A QUESTÃO DA RESSURREIÇÃO (4)
B. A Disposição do Apóstolo
Em 16:4-9, vemos a disposição do apóstolo. O
versículo 4 diz: “Se convier que eu também vá, eles
irão comigo”. No versículo 6, ele prossegue: “E bem
pode ser que convosco me demore, ou mesmo passe o
inverno, para que me encaminheis nas viagens que eu
tenha de fazer”. No versículo 8, Paulo diz que queria
permanecer em Éfeso até o Pentecostes. Essa Epístola
foi escrita em Éfeso, onde o apóstolo permaneceu por
três anos na sua terceira viagem ministerial (At
19:21-22; 20:1, 31).
14
A palavra domingo vem do latim dies dominicu, que quer dizer dia do Senhor. (N.T.)
II. A CONCLUSÃO DA EPÍSTOLA
A. Exortações Particulares
O versículo 10 diz: “E, se Timóteo for, vede que
esteja sem receio entre vós, porque trabalha na obra
do Senhor, como também eu”. Para que Timóteo
estivesse com os coríntios sem receio, eles teriam de
ser obedientes e submissos à palavra de Paulo. Nesse
versículo, Paulo parece dizer: “Vocês têm de estar no
primeiro dia da semana, vivendo em ressurreição.
Precisam estar também sob o encabeçamento de
Cristo e de Deus, precisam discernir o Corpo, desejar
os melhores dons, praticar os dons em amor e estar
em ressurreição. Se for essa a sua situação, então meu
jovem cooperador não terá receio de estar com vocês.
Vejam que Timóteo fique com vocês sem receio
porque ele trabalha na obra do Senhor como eu”.
No versículo 11, Paulo continua: “Ninguém, pois,
o despreze. Mas encaminhai-o em paz, para que
venha ter comigo, visto que o espero com os irmãos”.
Paulo insta com os crentes gregos filosóficos que não
desprezem seu jovem cooperador. Como poderiam os
coríntios encaminhar Timóteo em paz se não
vivessem em ressurreição? Teria sido impossível.
Nesse versículo nós, de fato, temos um quadro muito
agradável. Paulo aguardava Timóteo com os irmãos,
esperando que os coríntios o enviassem em paz.
No versículo 12, ele prossegue: “Acerca do irmão
Apolo, muito lhe tenho recomendado que fosse ter
convosco em companhia dos irmãos, mas de modo
algum era a vontade dele ir agora; irá, porém, quando
se lhe deparar boa oportunidade”. Com isso, os
coríntios deviam perceber que a atitude de Paulo para
com Apolo e seu relacionamento com ele estava em
flagrante contraste com as preferências deles
(1:11-12). A atitude e relacionamento do apóstolo
mantinham a unidade; as preferências deles
causavam divisão.
Tanto Paulo como Apolo viviam no Espírito.
Contudo, Paulo instava com Apolo que visitasse a
igreja, mas este não tinha desejo de fazê-lo, Isso
mostra que ambos tinham liberdade no Espírito, e o
Espírito tinha liberdade neles. Também mostra que
nenhum deles exerceu controle sobre a obra para o
Senhor.
No versículo 10, Paulo simplesmente se refere a
Timóteo, mas quando fala de Apolo no versículo 12,
ele usa a expressão “o irmão”. Essa é uma expressão
querida, íntima. Sabemos pelos primeiros capítulos
dessa Epístola que alguns entre os coríntios
preferiam Apolo em detrimento de Paulo. Suas
preferências foram causa de divisão. Agora, o fato de
Paulo mencionar “o irmão Apolo” indica que nada
havia entre ambos. Parece que Paulo dizia: “Vocês,
coríntios, fazem diferença entre Apolo e mim, mas
gostaria que soubessem que nada há entre nós. Apolo
é meu irmão, é nosso irmão. Insto muito com ele que
vá até vocês”. Embora percebesse que alguns entre os
coríntios preferiam Apolo, Paulo ainda o encorajava a
ir a Corinto. Na verdade, ele instava muito com ele
que fosse. Todavia, é pouco provável que obreiros
cristãos hoje encorajem qualquer outro obreiro a ir a
certo lugar se percebem que ali há preferência por
esse outro obreiro.
Já enfatizamos que embora Paulo instasse com
Apolo que fosse a Corinto, não era desejo de Apolo ir
naquela oportunidade. Quem, então, vivia no
Espírito: Paulo ou Apolo? A resposta é: ambos. Mas,
embora vivessem no Espírito, eles tinham
sentimentos diferentes sobre a ida de Apolo a
Corinto.
Alguns me condenaram e acusaram de ser um
ditador; têm dito que tenho autoridade autônoma
para controlar todas as igrejas e os santos. O fato é
que não exerço controle sobre as igrejas ou os santos.
Como muitos podem testificar, quando os outros vêm
até mim em busca de conselho, encorajo-os a ir ao
Senhor e orar. Digo-lhes que não cabe a mim decidir
o que devem fazer. Paulo não exercia controle, e nós
também não.
No versículo 13, Paulo diz: “Sede vigilantes,
permanecei firmes na fé, portai-vos varonilmente,
fortalecei-vos”. Paulo aqui exorta os coríntios a não se
abalar por qualquer heresia, principalmente a que diz
que não há ressurreição. Fé nesse versículo é objetiva;
refere-se ao que cremos. Portar-se varonilmente é ser
totalmente amadurecido, forte na fé e firme em sua
posição, não como criança no entendimento (14:20),
ou criança agitada pelas ondas e levada por todo
vento de doutrina (Ef 4:14). O crescimento em vida é
necessário (1Co 3:1, 6).
O versículo 14 diz: “Todos os vossos atos sejam
feitos com amor”. Esse é o amor definido no capítulo
treze.
Nos versículos 17 e 18, Paulo diz que Estéfanas,
Fortunato e Acaico “trouxeram refrigério ao meu
espírito e ao vosso”. Isso deve ter sido pelas riquezas
de Cristo ministradas pelo espírito deles a fim de
tocar o espírito de outros. Isso indica que nosso
contato com os santos e relacionamento com eles tem
de ser em nosso espírito e por ele, e não pela emoção
anímica. Se esses irmãos tivessem vindo a Paulo com
mexericos, poderiam não ter trazido refrigério ao seu
espírito. O fato de trazerem refrigério ao espírito do
apóstolo e a todos os coríntios indica que viviam e
agiam no espírito.