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© 1984 Living Stream Ministry

Edição para a Língua Portuguesa


© 2003 Editora Árvore da Vida

Título do original em inglês:


Life-Study of First Corinthians

ISBN 85-7304-159-5

1ª Edição — Fevereiro/2003 — 5.000 exemplares

Traduzido e publicado com a devida autorização do Living Stream Ministry e todos os


direitos reservados para a língua portuguesa pela Editora Árvore da Vida.

Editora Árvore da Vida


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Impresso no Brasil

As citações bíblicas são da Versão Revista e Atualizada de João Ferreira de Almeida, 2ª


Edição, e Versão Restauração (Evangelhos), salvo quando indicado pelas abreviações:
BJ— Bíblia de Jerusalém
lit. — tradução literal do original grego ou hebraico
IBB-Rev. — Imprensa Bíblica Brasileira, versão Revisada
NVI — Nova Versão Internacional
TB — Tradução Brasileira
VRA — Versão Revista e Atualizada
VRC — Versão Revista e Corrigida de Almeida
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM TRINTA E SEIS
LIDAR COM UM IRMÃO MALIGNO

Leitura Bíblica: 1Co 5:1-13


Em 5:1-13, Paulo se volta para a questão de lidar
com um irmão maligno. O primeiro problema, com o
qual ele lidou nos capítulos um a quatro, é o da
divisão, que está principalmente relacionada com a
vida natural da alma. O segundo problema, no
capítulo cinco, a segunda seção do livro, é o pecado de
fornicação, relacionado com a concupiscência da
carne. Moralmente falando, o problema que envolve o
incesto entre um irmão e sua madrasta é mais
grosseiro do que o anterior. O primeiro diz respeito à
contenda que advém do orgulho. O último é um
pecado grosseiro que advém da concupiscência.
O capítulo cinco de 1 Coríntios tem certas
características especiais. Primeiro, ele mostra que até
um crente verdadeiro pode cometer pecados
grosseiros. Muitos que lêem o Novo Testamento
podem pensar que, por causa da graça de Deus, os
crentes não são capazes de fazer coisas malignas,
principalmente certas coisas malignas registradas no
Antigo Testamento. Mas nesse capítulo lemos sobre
um irmão na igreja em Corinto que cometeu o pecado
de incesto com a madrasta. A intenção de Paulo, é
claro, era ajudar a igreja a lidar com esse irmão
maligno. Lendo esse capítulo, vemos que é
definitivamente possível alguém realmente salvo, um
verdadeiro irmão no Senhor, cometer tal pecado. Se
não tivéssemos esse registro no Novo Testamento,
provavelmente seria muito difícil crer que um salvo
pudesse cometer esse pecado. Pelo contrário,
podemos pensar que depois de salva, uma pessoa
nunca poderia ser tão pecaminosa.
Esse capítulo também nos mostra que uma vez
que uma igreja se desvia da visão central da economia
de Deus e entra na alma, a porta estará aberta para a
concupiscência da carne entrar. Isso vai abrir o
caminho não só para ciúmes e contendas, mas até
para pecados grosseiros. Portanto, é extremamente
perigoso permanecer na alma. Nessa Epístola, Paulo
primeiro lida com a alma e depois com as
concupiscências da carne. Lidar com a alma é
primordialmente lidar com divisão. Os primeiros
quatro capítulos desse livro lidam com o problema de
divisão, que advém da alma. Divisão é uma questão
da alma, principalmente da mente. É a conseqüência
da opinião, e opinião resulta da mente. Isso está
claramente indicado nos primeiros quatro capítulos.
Lendo-os, vemos que havia divisões entre os
coríntios, porque eles estavam muito na mente
natural. Eles se voltaram do espírito para o exercício
da alma. Eles deixaram a visão central e isso abriu a
porta para a concupiscência da carne entrar.
Na vida da igreja, a alma não deve predominar.
Pelo contrário, todos precisamos aprender a negá-la e
renunciá-la, e viver no espírito. Devemos permanecer
em nosso espírito e exercitá-lo em toda situação. Isso
vai fechar a porta para a concupiscência da carne.

I. O MAL JULGADO
Em 5:1, Paulo diz: “Geralmente se ouve que há
entre vós imoralidade, e imoralidade tal, como nem
mesmo entre os gentios, isto é, haver quem se atreva
a possuir a mulher de seu próprio pai”. O vocábulo
imoralidade, em grego, é o mesmo para prostituição,
fornicação, relação sexual ilícita. Aqui vemos que
um irmão cometeu incesto com a esposa do pai, com
a madrasta. Nenhum pecado é pior ou mais danoso à
humanidade que o incesto. Como veremos, embora
esse capítulo trate de tal pecado terrível, também fala
de guardar a festa.
Paulo era uma pessoa cheia de Cristo. Ele
conhecia Cristo pela experiência e não meramente de
forma doutrinária. Mesmo ao lidar com um pecado
grosseiro, ele ainda tinha o desfrute de Cristo nele.
No versículo 2, Paulo diz: “E, contudo, andais vós
ensoberbecidos e não chegastes a lamentar, para que
fosse tirado do vosso meio quem tamanho ultraje
praticou?” Em vez de lamentar que tal pecado
grosseiro fora encontrado entre eles, os coríntios
eram orgulhosos e ensoberbecidos. Sem dúvida, o
versículo 2 é uma palavra de repreensão. Nele, Paulo
também indica que o que cometeu esse ato
pecaminoso devia ser tirado do meio deles, isto é,
retirado da comunhão da igreja.
Expulsar alguém da comunhão da igreja pode ser
comparado a retirar um pedaço de madeira
apodrecida ou velha de um edifício. Suponha que
uma madeira numa casa fique podre. Essa parte deve
ser tirada. Do mesmo modo, o irmão maligno
mencionado no versículo 1 devia ser retirado da
comunhão da igreja. Os coríntios, porém, não
conseguiam perceber isso porque ainda eram
orgulhosos e cheios de soberba. Por esse motivo,
Paulo os faz saber que ele estava profundamente
preocupado com a situação ali.
Nesse capítulo, sobre lidar com um irmão
maligno, há duas questões muito positivas e
maravilhosas. A primeira diz respeito a Paulo
exercitar seu espírito humano, e a segunda diz
respeito à festa. Nos versículos 3 a 5, ele diz: “Eu, na
verdade, ainda que ausente em pessoa, mas presente
em espírito, já sentenciei, como se estivesse presente,
que o autor de tal infâmia seja, em nome do Senhor
Jesus, reunidos vós e o meu espírito, com o poder de
Jesus, nosso Senhor, entregue a Satanás para a
destruição da carne, a fim de que o espírito seja salvo
no Dia do Senhor [Jesus]”. No versículo 3, ele diz que
embora estivesse ausente no corpo, estava presente
no espírito. O apóstolo, como pessoa espiritual, agia
em seu espírito, contrastando com os coríntios que
agiam ou na alma ou na carne. Embora estivesse
ausente deles no corpo, ele ainda estava presente com
eles no espírito e exercitava seu espírito para julgar a
pessoa maligna entre eles. No versículo 4, ele até diz
que seu espírito estava reunido com eles. O espírito
do apóstolo era tão forte que estava presente na
reunião dos crentes coríntios. Seu espírito estava
reunido com eles para executar seu juízo sobre a
pessoa maligna.
Nos versículos 3 e 4, Paulo parece estar dizendo:
“Vocês não expulsaram a pessoa maligna do seu
meio, mas pelo exercício do meu espírito, já o julguei.
Embora esteja ausente de vocês fisicamente, estou
presente com vocês em meu espírito. Até estou
presente em suas reuniões em meu espírito. Assim,
pelo meu espírito, já o julguei”.
No versículo 4, Paulo diz claramente: “Reunidos
vós e o meu espírito”. Com isso, sabemos que o
espírito dele freqüentava as reuniões em Corinto. Isso
não quer dizer, entretanto, que seu espírito na
verdade viajasse até Corinto. Isso absolutamente
nada tem em comum com feitiçaria, que afirma que a
alma de uma pessoa pode deixar o corpo e visitar
outras pessoas. De acordo com esse versículo, o
espírito de Paulo era tão forte que ele podia de
alguma forma estar presente em Corinto. Quando
eles se reunissem, seu espírito estaria com eles para
entregar o maligno a Satanás. Isso é totalmente uma
questão espiritual, algo totalmente no espírito.
Nunca devemos pensar que o espírito de Paulo
na verdade foi a Corinto e esteve presente à reunião.
Entretanto, quando os crentes coríntios estavam
reunidos, Paulo exercitou seu espírito para estar com
eles e julgar o maligno e retirá-lo. Também podemos
aprender a visitar um irmão pelo nosso espírito.
Enquanto permanecemos em casa, é possível nosso
espírito visitar um irmão. Isso é o que o espírito de
Paulo fez na situação em Corinto.
No versículo 4, ele se refere ao nome do Senhor
Jesus e ao Seu poder. Tanto o nome como o poder de
nosso Senhor Jesus complementam a palavra
entregue no versículo 5; O apóstolo, em seu espírito,
aplicou o poderoso nome do Senhor e exercitou o Seu
poder para entregar a pessoa maligna a Satanás para
destruição da carne. Eu definitivamente creio que
isso na verdade se consumou e o maligno foi entregue
a Satanás.
Entregar uma pessoa pecaminosa a Satanás visa
à disciplina. A destruição mencionada no versículo 5
se refere principalmente à aflição com determinada
doença (2Co 12:7; Lc 13:11, 16). A carne se refere ao
corpo concupiscente, que deve ser destruído. Certas
doenças vêm de Satanás. Tal doença pode acarretar a
destruição da carne de modo que o espírito possa ser
salvo no dia do Senhor. Isso indica que o pecador
entre os crentes coríntios era um irmão que tinha sido
salvo uma vez por todas pela eternidade (Jo
10:28-29). Ele nunca poderia perecer por causa de
algum pecado. Entretanto, por causa de sua
pecaminosidade, ele precisava ser disciplinado com a
destruição da carne pecaminosa para ser mantido na
condição de ser salvo no dia do Senhor. Assim, a
destruição da carne é uma preparação necessária
para a salvação do espírito.
Ao considerar esses versículos, vemos que Paulo
lidava com a igreja não só por escrito e enviando
Timóteo até eles, mas também exercitando seu
espírito. Isso prova que ele era alguém que vivia no
espírito. Também revela quão forte era o seu espírito:
era tão forte que podia até estar presente na reunião
de uma igreja bem longe. Ele o exercitou para
condenar o maligno e entregá-lo a Satanás. Essa
entrega era removê-lo do templo santo de Deus.
Todos precisamos aprender com Paulo a fazer
tudo com nosso espírito. Muitas coisas que fazemos
não são feitas com o espírito. Paulo, entretanto, lidou
com a situação descrita no capítulo cinco totalmente
com seu espírito. Pelo espírito, ele condenou e pelo
espírito entregou o maligno a Satanás.

II. GUARDAR A FESTA DOS PÃES ASMOS


No versículo 6, Paulo prossegue: “Não é boa a
vossa jactância. Não sabeis que um pouco de
fermento leveda a massa toda?” Os crentes coríntios,
a despeito das confusões e de tal pecado grosseiro
como incesto entre eles, gabavam-se e gloriavam-se.
A epístola do apóstolo devia humilhá-los ressaltando
as coisas pecaminosas entre eles, fazendo-os
perceber, assim, que sua jactância não era boa.
Ao falar de um pouco de fermento, a idéia de
Paulo talvez seja que não há necessidade de existir tal
pecado grosseiro como o que havia entre eles; basta
um pouco de fermento, um pequeno pecado, para
levedar e corromper toda a massa, toda a igreja.
No versículo 7, Paulo continua: “Lançai fora o
velho fermento, para que sejais nova massa, como
sois, de fato, sem fermento. Pois também Cristo,
nosso Cordeiro pascal1, foi imolado”. A palavra nova
nesse versículo literalmente quer dizer jovem, nova
no tempo. Uma nova massa se refere à igreja,
composta dos crentes em sua nova natureza.
Dizer que Cristo é nossa Páscoa indica que o
apóstolo considerava os crentes o povo escolhido de
Deus, que tinham tido sua Páscoa, tipificada pela
Páscoa, relatada em Êxodo 12. Nessa Páscoa, Cristo
não é somente o Cordeiro, mas também a Páscoa
toda. Para ser nossa Páscoa, Ele foi imolado na cruz
para nossa redenção e reconciliação com Deus.
Assim, podemos desfrutá-Lo como uma festa diante
de Deus. Nessa festa, não pode haver nenhum
fermento. O pecado e o Cristo remissor não podem
andar juntos.
No versículo 7, Paulo diz que os crentes em
Corinto são asmos. Não é difícil de acreditar? Como
podem os crentes coríntios ser asmos? Nos primeiros
quatro capítulos dessa Epístola, eles foram
repreendidos por Paulo por causa de suas divisões.
Sua característica facciosa não é fermento? Ciúmes,
contendas e orgulho não são coisas pecaminosas?
Como, então, poderia Paulo dizer que os crentes lá
1
Ou: “nossa Páscoa”, como na VRC. (N.T.)
eram asmos? Parece uma contradição. Na verdade,
não há contradição alguma. A Bíblia sempre nos dá
uma visão completa de uma questão, principalmente
de nossa história como crentes. Isso quer dizer que
ela revela os dois lados da questão. Por um lado,
temos o aspecto de Cristo; por outro, o aspecto do que
somos em nossa natureza caída. Segundo o primeiro
lado, o aspecto de Cristo, somos santos. Somos santos
em Cristo. Em 1:2, Paulo enfatizou que somos
“santificados em Cristo Jesus, chamados santos”
(lit.). Assim, em Cristo, somos asmos; mas, por outro
lado, o aspecto do ser natural, somos cheios de
fermento. A questão crucial é se comemos pão asmo
ou levedado. Em outras palavras, vivemos Cristo ou
vivemos nós mesmos? Se vivermos Cristo,
comeremos pão asmo: se vivermos nós mesmos,
comeremos pão levedado.
No versículo 7, Paulo nos incumbe de lançar fora
o velho fermento para ser nova massa, como asmos.
Precisamos ser uma nova massa segundo o aspecto de
Cristo. Em Cristo somos asmos e devemos viver de
acordo com Ele, e não conforme nós mesmos.
No versículo 8 Paulo diz: “Por isso, celebremos a
festa, não com o velho fermento, nem com o fermento
da maldade e da malícia; e sim com os asmos da
sinceridade e da verdade”. A festa a9ui se refere à festa
dos pães asmos, a continuação da Páscoa (Ex
12:15-20). Durava sete dias, um período de
completação, que representa toda a nossa vida cristã,
desde a conversão até o arrebatamento. É uma longa
festa, que precisamos guardar, não com o pecado de
nossa velha natureza, o velho fermento, mas com o
pão asmo, que é o Cristo de nossa nova natureza
como nossa nutrição e desfrute. Somente Ele é o
suprimento de vida da sinceridade e verdade,
absolutamente puro, sem mistura e cheio de
realidade. A festa é a época de desfrutar um banquete.
Toda a vida cristã deve ser tal festa, tal desfrute de
Cristo como nosso banquete, o rico suprimento de
vida.
Nos versículos 7 e 8 percebemos que temos duas
festas. Quando fomos salvos, desfrutamos a festa da
Páscoa, mas agora, por toda nossa vida cristã,
devemos desfrutar a festa dos pães asmos. Em figura,
os sete dias da festa dos pães asmos representam toda
nossa vida cristã. Sem 1 Coríntios 5, não pensaríamos
na vida cristã como tal festa, mas segundo o versículo
8, vemos que a vida cristã é uma festa de pães asmos,
uma festa do desfrute de Cristo, nosso suprimento de
vida sem fermento algum.
Em 1 Coríntios, Paulo compara os crentes em
Corinto, e também a si próprio, aos filhos de Israel.
Ele usa a história de Israel como pano de fundo para
essa Epístola. Isso nos dá base para dizer que a
história dos filhos de Israel é uma prefiguração
completa de nossa vida cristã na igreja. No versículo
7, ele fala de “Cristo, nosso Cordeiro pascal”. Se Cristo
era a Páscoa de Paulo, então tem de ser a Páscoa para
todo crente. Os filhos de Israel não viviam
individualmente; pelo contrário, juntos viviam,
acampavam, viajavam e lutavam as batalhas. Sua vida
corporativa representa nossa vida na igreja. Por isso,
quando lemos a história de Israel, devemos perceber
que estamos lendo nossa própria história. O que lhes
aconteceu prefigura nossa experiência hoje. Eles
comeram o maná no deserto; nós também. Eles
beberam da água viva: nós também. Eles tinham a
rocha que ia com eles; nós também. Eles
experimentaram a Páscoa; nós também temos uma
Páscoa, uma Páscoa que é o próprio Cristo. Além
disso, depois da Páscoa, eles guardaram a festa dos
pães asmos. Isso indica que também devemos
guardar essa festa. A vida da igreja é uma festa dos
pães asmos. Por esse motivo, qualquer fermento tem
de ser extirpado da igreja.
Pães asmos indicam um viver que é sem pecado,
sem fermento. Em nós mesmos, não conseguimos ter
um viver assim. Entretanto, em Cristo, é possível ter
uma vida sem pecado. Fomos colocados em Cristo e
agora precisamos aprender a viver em Cristo e por
Ele. Ele, então, se tomará nosso suprimento vital sem
fermento. Ele se tomará a origem, a fonte, de uma
vida e viver sem pecado. Tendo tal fonte e
suprimento, é possível para nós ter um viver sem
pecado.
Se quisermos ter uma vida sem pecado,
precisamos diariamente comer Cristo como o pão
asmo. Os nutricionistas nos dizem que somos o que
comemos. Se comermos pão asmo, por fim seremos
constituídos de pães. Então teremos uma vida sem
fermento. Embora em nós mesmos seja impossível
ser sem pecado, em Cristo nos tomamos sem pecado
comendo-O como a fonte e suprimento de uma vida
sem pecado. Já que Cristo, nossa fonte, é sem
fermento, se diariamente O comemos como nossa
festa, podemos ter uma vida da igreja sem fermento.
Ao escrever essa Epístola, Paulo se esforçava por
conduzir os coríntios desviados de volta à visão
central da economia de Deus. Ele sabia que uma vez
conduzidos de volta, eles estariam muito bem. Se,
porém, permanecessem longe dessa visão, eles ainda
seriam pecaminosos em seu viver. Esse princípio se
aplica tanto à igreja corporativamente, como aos
crentes individualmente.
Precisamos aprender a conduzir os outros de
volta à visão central, não só para lidar com suas falhas
e pecados. Nos primeiros dois capítulos desse livro,
Paulo lança um sólido fundamento para todas as
questões que mais tarde vai abordar. Com tudo o que
lida nessa Epístola, ele tem os primeiros dois
capítulos como base. Isso indica que todas as vezes
que lidamos com a igreja e os santos temos de nos
basear na necessidade de voltar a Cristo e à visão
central. Precisamos ajudar os outros a ver que o
motivo de se terem desviado é que se apartaram da
visão central e foram para algo mais. Se voltassem a
Cristo, voltariam à festa de pães asmos.

III. EXCOMUNGAR DA IGREJA O MALIGNO


Nos versículos 9 a 13, vemos que o maligno tem
de ser excomungado da igreja. No versículo 13, Paulo
diz: “Expulsai, pois, de entre vós o malfeitor”. Isso é
excomungá-lo da comunhão da igreja, como é
representado pela separação de um leproso do povo
de Deus (Lv 13:45-46). Isso é extremamente sério.
Paulo já tinha julgado esse maligno e esperava que os
crentes em Corinto fizessem o mesmo e expulsassem
tal pessoa do meio deles.
O versículo 11 diz: “Mas agora vos escrevo que
não vos associeis com alguém que, dizendo-se irmão,
for impuro, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente,
ou beberrão, ou roubador; com esse tal, nem ainda
comais”. Paulo aqui menciona não só uma
prefiguração de pessoa maligna, mas muitas. Além do
mais, ele não lida simplesmente com certo pecado,
mas com a pessoa que vive nesse pecado. Há uma
distinção importante aqui. Por exemplo, cometer
fornicação é diferente de ser fornicador, que é alguém
que vive e permanece nesse pecado. Um fornicador
não é meramente alguém que comete fornicação,
como Davi no Antigo Testamento, mas é uma pessoa
que vive nesse pecado. Esse pecado se toma seu viver.
Assim, tal pessoa se toma um fornicador. Nesse
capítulo, Paulo lida com a pessoa, e não apenas com o
pecado. Isso quer dizer que ele não só remove o
pecado da igreja, mas julga e expulsa uma pessoa
pecaminosa. Suponha que, devido à fraqueza, um
irmão cometa um pecado específico. Devemos
ajudá-lo a se arrepender, a abandonar tal pecado e
voltar-se ao Senhor. Se ele estiver disposto a fazer
isso e se gerar fruto de arrependimento, a igreja com
certeza o perdoará. Entretanto, se permanecer nesse
pecado e se tomar alguém que vive nele, tem de ser
expulso da comunhão da igreja. Senão, toda a igreja
será levedada, fermentada.
Nesse capítulo, temos muitos tópicos
importantes. Primeiro, a igreja tem de ser pura, sem
fermento e não pode tolerar uma pessoa pecaminosa.
Segundo, precisamos aprender a exercitar o espírito e
usá-lo em toda situação. Terceiro, precisamos ver
que, como aqueles que têm experimentado a Páscoa,
devemos agora desfrutar continuamente a festa dos
pães asmos. Por fim, se alguém de fato se toma
maligno e se recusa a se arrepender, tem de ser
expulso da vida da igreja. Contudo, se por fim se
arrepende e gera fruto de arrependimento, a igreja
deve perdoá10 e recebê-lo de volta à comunhão. Se
considerarmos todas essas questões, vamos ter uma
compreensão clara de como lidar com uma pessoa
maligna na vida da igreja.
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM TRINTA E SETE
LIDAR COM A QUESTÃO DE RECORRER À LEI
SECULAR

Leitura Bíblica: 1Co 6:1-11


Em 1 Coríntios 6:1-11, Paulo aborda a questão de
recorrer à lei secular. Quando lemos esse trecho,
precisamos penetrar nas profundezas desses
versículos e não simplesmente nos importar com o
que está escrito em preto e branco. Também devemos
tocar no encargo do espírito de Paulo enquanto
escrevia.
O terceiro problema que essa Epístola aborda é a
questão de um irmão recorrer à lei contra outro. Isso
não é um pecado como divisão, que começa na alma,
nem um pecado grosseiro como incesto, cometido
pelo corpo concupiscente. É um caso de reivindicação
de direitos legítimos, e de não estar disposto a sofrer
o dano, a aprender a lição da cruz.
Já enfatizamos que Paulo nesse livro aborda pelo
menos dez problemas diferentes. O primeiro é o
problema de divisão e o segundo é o pecado grosseiro
de incesto. O terceiro lida com o problema de um
irmão que levou outro a um tribunal secular. Por que
Paulo faz disso o terceiro caso de que ele trata e não o
segundo ou quarto? Se quisermos responder a essa
pergunta, precisamos penetrar nas profundezas desse
livro.
O encargo de Paulo ao escrever essa Epístola é
lidar com tudo o que substitui Cristo. Os crentes
coríntios estavam substituindo Cristo com a sua
cultura, filosofia e sabedoria gregas. Eram todas boas
coisas, os principais produtos da sociedade. Sem
cultura, somos sem freios. Sem filosofia e sabedoria,
somos tolos. Todo ser humano precisa de cultura,
sabedoria e filosofia. O problema entre os crentes em
Corinto era que essas coisas boas estavam
substituindo Cristo. Por isso, o encargo no espírito de
Paulo era conduzi-los de volta a Cristo, o centro único
de Deus.
A intenção de Deus é infundir Cristo no Seu povo
escolhido, para se tomar sua vida e tudo para eles, e
que eles O vivam e, desse modo, na experiência,
tomem-se os Seus membros. Dessa forma, Cristo terá
o Corpo, a igreja. Essa visão estava no espírito de
Paulo quando escrevia 1 Coríntios. Nessa Epístola, ele
primeiro lida com o problema de divisão. Divisão tem
origem na alma, especificamente, na mente. Por esse
motivo, ele lida com a mente filosófica dos crentes
coríntios. A seguir, lida com um pecado grosseiro.
Essa seqüência indica que se os cristãos vivem pela
alma e pela cultura em vez de Cristo, a porta fica
aberta para as concupiscências da carne.
É comum que os cristãos hoje adotem diversas
coisas da alma como substitutos de Cristo. Isso abre
caminho para as concupiscências da carne. Desse
modo, entre os redimidos de Deus, há os problemas
da alma e das concupiscências da carne.
As coisas da alma são mais refinadas que as
concupiscências da carne. A cultura capacita as
pessoas a se tomar refinadas. Ter cultura é
simplesmente ser refinado. As concupiscências da
carne, pelo contrário, são rudes e grosseiras. Todavia,
sempre que as pessoas vivem na alma, a porta está
bem aberta às concupiscências da carne. De fato,
muitas vezes as coisas mais pecaminosas e
concupiscentes são cometidas por gente da mais alta
cultura. Freqüentemente os que não têm tanta
cultura não são tão pecaminosos em seu vi ver. É fato
que, em muitos casos, os que são mais dados ao
exercício da alma são muito pecaminosos. Por um
lado, têm uma vida anímica; por outro, transigem nas
concupiscências da carne. Muitos cristãos de hoje
também seguem essa tendência.
Vimos que depois de lidar com a alma e a carne
concupiscente, Paulo se volta para a questão de
recorrer à lei secular. Trata-se de reivindicação de
direitos e de não estar disposto a sofrer perdas.
Quando somos anímicos e carnais, vamos reivindicar
nossos direitos sempre. Não estaremos dispostos a
ser passados para trás por ninguém. Por esse motivo,
Paulo faz desse o terceiro caso nessa Epístola: o de
reivindicar alguém seus direitos pessoais. Havia esse
problema entre os crentes em Corinto.
O problema de reivindicar os direitos é
encontrado não somente na sociedade e na igreja,
mas também na vida conjugal. Se um marido e esposa
vivem na alma e de acordo com suas concupiscências,
ambos vão reivindicar seus direitos. Nenhum estará
disposto a ceder ao outro. Somente quando vivemos
no espírito estamos dispostos a ceder e não insistir
em nossos direitos. Quando vivemos pelo espírito
mesclado, não vamos reivindicar quaisquer direitos
para nós mesmos. Pode parecer-nos que não temos
quaisquer direitos a reivindicar. O motivo de
reivindicar nossos direitos é que em vez de viver pelo
espírito mesclado, vivemos na alma e na carne. Visto
que a vida anímica prevalecia e a porta estava aberta
para as concupiscências da carne, havia processos
legais entre os crentes em Corinto. A seqüência é que
primeiro temos uma vida anímica, depois vêm as
concupiscências da carne e depois a reivindicação de
direitos.

I. CRENTES DEVEM SER JULGADOS PELA


IGREJA

A. Os Santos Julgarão o Mundo


Em 6:1, Paulo pergunta: “Aventura-se algum de
vós, tendo questão contra outro, a submetê-lo a juízo
perante os injustos e não perante os santos?” Os
injustos são os incrédulos, que são injustos perante
Deus.
No versículo 2, Paulo continua: “Ou não sabeis
que os santos hão de julgar o mundo? Ora, se o
mundo deverá ser julgado por vós, sois, acaso,
indignos de julgar as coisas mínimas?” No reino
vindouro, os santos vencedores governarão as nações
do mundo (Hb 2:5-6; Ap 2:26-27). Visto que reinarão
juntamente com Cristo, esses santos vencedores
julgarão o mundo na era vindoura. Já que o mundo
será julgado pelos santos, eles certamente são dignos
de julgar as coisas mínimas. Esses juízos são
executados por vários santos, que julgam os casos
entre eles mesmos, casos que são insignificantes
comparados com reger o mundo. Paulo aqui parece
estar dizendo: “Se vocês serão capazes de julgar
grandes coisas, não são, então, capazes de julgar
pequenas coisas hoje? por que não deixam os santos
julgar os seus casos? por que levam seu caso para que
os incrédulos julguem?”

B. Os Santos Julgarão Anjos


O versículo 3 diz: “Não sabeis que havemos de
julgar os próprios anjos? Quanto mais as coisas desta
vida!” “Coisas desta vida” indica que os santos irão
julgar os anjos no futuro, e não nesta era. Isso
provavelmente se refere ao julgamento dos anjos
revelado em 2 Pedro 2:4 e Judas 6. Os anjos
mencionados nesses versículos e em Efésios 2:2; 6:12
e Mateus 25:41 devem ser os anjos malignos. Assim,
nós, os crentes de Cristo, julgaremos não só o mundo
humano, mas também o mundo angélico no futuro.

C. Recorrer à Lei perante os Incrédulos É


Algo Condenado
No versículo 4, Paulo diz: “Entretanto, vós,
quando tendes a julgar negócios terrenos, constituís
um tribunal daqueles que não têm nenhuma
aceitação da igreja!” Isso se refere aos incrédulos, que
não têm nenhuma aceitação na igreja. Assim, recorrer
à lei perante incrédulos é condenado.

D. Um Caso entre Irmãos Deve Ser Julgado


pelos Santos
No versículo 5, Paulo prossegue: “Para vergonha
vo-lo digo. Não há, porventura, nem ao menos um
sábio entre vós, que possa julgar no meio da
irmandade?” No capítulo quatro, ele disse que não
envergonhava os santos, mas aqui ele diz que o que
escreve é para vergonha deles. Ele discorda
totalmente de os irmãos recorrerem à lei contra um
irmão, e isso perante incrédulos (v. 6).

E. É Derrota Haver Demandas entre Irmãos


Nos versículos 7 e 8, Paulo diz: “O só existir entre
vós demandas já é completa derrota para vós outros.
Por que não sofreis, antes, a injustiça? por que não
sofreis, antes, o dano? Mas vós mesmos fazeis a
injustiça e fazeis o dano, e isto aos próprios irmãos!”
Quando Paulo diz que já é derrota para os crentes ter
demandas uns contra outros, ele quer dizer que é um
fracasso, implicando deficiência, falha, perda e
carência (na herança do reino de Deus — v. 9).
Disposição para sofrer injustiça ou dano é disposição
para sofrer perda, aprender a lição da cruz, manter a
virtude de Cristo a qualquer custo. Desse modo, Paulo
pergunta por que os crentes não estavam dispostos a
sofrer injustiça, por que não estavam dispostos a
aprender a lição da cruz. Em vez de sofrer perda, eles,
na verdade, estavam fazendo injustiça para com os
outros e causando-lhes danos. Certamente, as
palavras de Paulo aqui são muito categóricas.
Novamente desejo enfatizar que a questão aqui
diz respeito a reivindicar direitos. A reivindicação de
direitos resulta da concupiscência da carne e a
concupiscência da carne resulta de viver na alma.
Dessa forma, quando vivemos na alma, as
concupiscências penetram, e quando elas penetram,
nós vamos insistir em nossos direitos e reivindicá-los.
Sem dúvida, Paulo lida deliberadamente com os três
primeiros problemas numa seqüência específica.
Primeiro, ele lida com divisão, que advém da vida
anímica. Segundo, com pecado grosseiro, advindo da
concupiscência da carne. Terceiro, com a
reivindicação de direitos.
Tanto na vida da igreja como na vida familiar
temos esse problema de reivindicar os direitos. Dois
irmãos podem ter um problema entre si, e cada um
reivindica seus direitos nessa questão. Em 6:1-11,
Paulo estava preocupado com a reivindicação de
nossos direitos pessoais. Isso está oculto em cada um
de nós. Todos temos a tendência de reivindicar os
direitos em determinadas questões. Alguns podem
argumentar que. nunca levaram ninguém a um
tribunal ou aos presbíteros da igreja. Embora possam
não ter feito tais coisas, no fundo, eles têm a intenção
de reivindicar seus direitos. Por exemplo, podem
dizer a si mesmos: “Por que esse irmão me trata
assim?” Dizer isso prova que estão reivindicando seus
direitos. Aos olhos de Deus, reivindicar nossos
direitos no coração é o mesmo que levar um irmão ao
tribunal. Essa reivindicação precisa ser desarraigada
e completamente tratada. Esse era o alvo de Paulo ao
escrever esses versículos.

II. CRENTES PECAMINOSOS NÃO ESTÃO


QUALIFICADOS A HERDAR O REINO DE
DEUS
No versículo 9, Paulo faz uma pergunta
relacionada com o reino de Deus: “Ou não sabeis que
os injustos não herdarão o reino de Deus?” Herdar o
reino na era vindoura é uma recompensa para os
santos que buscam justiça (Mt 5:10, 20; 6:33).
Quando Paulo fala dos injustos, a quem ele se
refere: ao que faz injustiça aos outros ou ao que é
injustiçado? Parece-me que ele está se referindo
àquele que faz injustiça aos outros. Se fizermos
injustiça a um irmão, somos injustos. Crentes que
não são justos, não herdarão o reino de Deus. De
acordo com a palavra do Senhor em Mateus,
precisamos ser absolutamente justos se quisermos
herdar o reino vindouro como recompensa. O Senhor
até diz que nossa justiça deve exceder a dos fariseus.
Visto que o reino de Deus é estabelecido sobre
ajustiça, precisamos ser justos a fim de herdá-la. Por
isso, não devemos fazer injustiça ou defraudar nosso
irmão. Fazer isso é ser injusto, e se formos injustos,
perderemos a herança do reino.
Nos versículos 9 e 10, Paulo diz: “Não vos
enganeis: nem impuros, nem idólatras, nem
adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas, nem
ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem
maldizentes, nem roubadores herdarão o reino de
Deus”. Nenhuma pessoa pecaminosa ou injusta pode
ter qualquer parte no reino vindouro de Deus.
É significativo que no versículo 9 Paulo fale de
herdar o reino. A palavra herdar implica desfrute.
Herdar certa coisa é desfrutá-la. Desse modo, herdar
o reino vindouro significa desfrutar o reino. O reino
vindouro será uma herança jubilosa para os
vencedores. De acordo com Mateus, a manifestação
do reino será uma recompensa para os santos
vencedores como seu desfrute com o Senhor. Herdar
o reino não é só entrar nele, mas é recebê-lo como
recompensa para desfrute. Isso deve ser um incentivo
para que tenhamos uma vida vencedora, uma vida
sem pecado e justa. Se quisermos ter tal vida,
precisamos ter a festa dos pães asmas. Então teremos
uma vida sem fermento, sem pecado. Tendo uma vida
justa, estaremos qualificados a herdar o reino
vindouro.
No versículo 11, Paulo continua: “Tais fostes
alguns de vós; mas vós vos lavastes, mas fostes
santificados, mas fostes justificados, em o nome do
Senhor Jesus Cristo e no Espírito de nosso Deus”.
Aqui lavar, santificar e justificar não são pelo sangue,
de forma objetiva, como em 1 João 1:7, Hebreus 10:29
e Romanos 3:24-25. São o lavar subjetivo da
regeneração como em Tito 3:5, a santificação
subjetiva pelo Espírito, como em 1 Pedra 1:2, e a
justificação subjetiva no Espírito, como nesse
versículo. Todos esses itens da salvação de Deus
foram cumpridos em nós no nome do Senhor Jesus
Cristo, isto é, na Pessoa do Senhor, numa união
orgânica com o Senhor mediante a fé, e no Espírito de
Deus, ou seja, no poder e substantificação do Espírito
Santo. Primeiro, somos lavados das coisas
pecaminosas; segundo, somos santificados,
separados para Deus; terceiro, somos justificados,
aceitos por Deus.
Não é fácil compreender como podemos ser
lavados no nome do Senhor. Se Paulo tivesse dito que
fomos lavados, santificados e justificados no sangue
precioso de Cristo, isso seria muito mais fácil de
compreender. Mas o que significa ser lavado no nome
do Senhor e também no Espírito? Além disso, ele usa
o tempo passado. Podemos achar difícil crer que
alguns dos coríntios tivessem de fato sido lavados,
santificados e justificados.
Quando uma pessoa crê no Senhor Jesus e O
recebe, ela é lavada no sangue e também santificada e
justificada pelo sangue. Todavia, esses três itens são
todos objetivos, e não subjetivos. Também
precisamos experimentá-los subjetivamente. Nós de
fato experimentamos essas coisas imediatamente
depois de salvos, mas somente por pouco tempo. Por
pelo menos alguns dias, tivemos uma vida limpa,
pura, santificada e justificada. O lavar, santificar e
justificar objetivos estão todos no sangue de Cristo,
mas quando vivemos uma vida que é limpa,
santificada e justificada, experimentamos algo
subjetivo acerca dessas coisas. Essa experiência
subjetiva não é no sangue; é no nome do Senhor
Jesus e no Espírito.
Tenho certeza de que todo crente genuinamente
salvo teve alguma experiência de ser lavado,
santificado e justificado. Depois de salvo, você não
teve um viver, pelo menos por algum tempo, limpo e
puro? Você não era santo, santificado, separado para
o Senhor? Você não viveu de maneira justificada e
que não podia ser tocada por qualquer coisa injusta?
Contudo, na maioria dos casos, os crentes não vivem
dessa maneira por muito tempo. Isso normalmente
dura somente alguns dias. Se relembrar sua
experiência depois de salvo, vai perceber que teve um
lavar, santificar e justificar subjetivos no nome do
Senhor e no Espírito.
No Novo Testamento, “no nome do Senhor” na
verdade significa no próprio Senhor, porque o nome
denota a Pessoa. Se uma pessoa com determinado
nome não existir, então o nome é vão. Mas quando
invocamos uma pessoa viva pelo nome, ela responde.
De modo semelhante, quando dizemos “Senhor
Jesus”, experimentamos a Pessoa do Senhor. O
Senhor é uma Pessoa viva, não meramente um nome.
Por isso, sempre que invocamos o nome do Senhor
Jesus, invocamos Sua Pessoa. Ele é real, vivo',
presente e disponível. Toda vez que O invocamos, Ele
responde. Podemos testificar que o Senhor Jesus é
real, vivo e presente. Sempre que O invocamos, Ele
vem a nós.
Quando fomos salvos, provavelmente invocamos
o nome do Senhor espontânea e inconscientemente,
sem que nos tivessem ensinado isso. Nesse nome, que
é a realidade da Pessoa viva de Cristo, somos lavados,
santificados e justificados. Entretanto, quando não
mais O invocamos, já não temos a experiência
subjetiva do lavar, santificar e justificar.
De acordo com o versículo 11, nós somos lavados,
santificados e justificados, não só no nome do Senhor
Jesus Cristo, mas também no Espírito de nosso Deus.
O nome é a Pessoa, e a Pessoa é o Espírito. Não
podemos separar o nome do Senhor do Seu Espírito,
porque o Espírito é Sua Pessoa. Segundo os capítulos
catorze, quinze e dezesseis do Evangelho de João, o
nome não pode ser separado do Espírito. O motivo
disso é que o nome é a Pessoa, e a Pessoa é o Espírito.
Quando invocamos: “Ó Senhor Jesus”, Ele vem. Mas
quando vem, Ele é o Espírito. Paulo com certeza
experimentava isso. Ele sabia que quando invocava o
nome do Senhor, Ele vinha até ele como o Espírito.
No nome e no Espírito ele experimentava o lavar, o
santificar e o justificar subjetivos. Essa também é
nossa experiência quando invocamos o nome do
Senhor e contatamos o Espírito, que é a Pessoa
denotada por esse nome.
Requer muita experiência compreender a palavra
de Paulo no versículo 11. Muitos anos atrás, eu não
sabia como aplicá-la porque não tinha luz acerca do
significado de invocar o nome do Senhor Jesus. Não
via a conexão entre o nome do Senhor, a Sua Pessoa e
o Espírito. Não percebia que quando invocamos o
nome do Senhor, a Pessoa vem, e essa Pessoa é o
Espírito. Porém, pela experiência, sabemos que
quando invocamos o nome do Senhor, obtemos a
Pessoa do Senhor e que Ele é o Espírito. Além disso,
se continuamos a invocar o nome do Senhor,
desfrutando Seu nome e Seu Espírito, diariamente
somos lavados, santificados e justificados. Então,
tomamo-nos qualificados e preparados para herdar o
reino vindouro.
Até aqui temos visto nesses capítulos que a alma,
as concupiscências da carne e a reivindicação dos
direitos são todos abordados. Agora devemos ser
santos subjetivamente lavados, santificados e
justificados, e preparados para herdar o reino
vindouro.
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM TRINTA E OITO
LIDAR COM O ABUSO DE LIBERDADE NOS
ALIMENTOS E NO CORPO (1)

Leitura Bíblica: 1Co 6:12-18


Em 1 Coríntios, Paulo lida com questões numa
sequencia específica. Primeiro, com os desejos e
aspirações da alma; segundo, com as concupiscências
carnais; terceiro, com a reivindicação de direitos.
Como já enfatizamos, essa seqüência é muito
significativa. Nesta mensagem, chegamos à quarta
questão abordada nessa Epístola: o abuso de
liberdade na alimentação e no corpo.
Alimento para existência humana e casamento
para proliferação são necessários e ordenados por
Deus. O homem tem o direito de usá-los, mas não
deve abusar deles, nem ficar sob o seu poder,
controlado e escravizado por eles. Alimentação
abusiva, como comer coisas sacrificadas a ídolos, faz
com que irmãos fracos tropecem (8:9-13; 10:28-30,
32), e alimentação excessiva prejudica nosso corpo.
Tanto os alimentos como o estômago desaparecerão;
Deus os reduzirá a nada (6:13). O abuso de sexo é
fornicação. É não só condenado por Deus, mas
também destrói nosso corpo (v. 18), que é para o
Senhor.
Tanto comer como casar-se foram ordenados por
Deus e são necessários para a existência da
humanidade. Para à humanidade continuar na terra
com vistas ao cumprimento do propósito de Deus, há
a necessidade de comer e casar-se. O alimento não só
foi criado por Deus, mas também ordenado por Ele
para nossa existência. O casamento é para a
proliferação da humanidade. Visto que comer e
casar-se são ordenados por Deus, ambos são
legítimos. Temos liberdade tanto para comer como
para nos casar. Entretanto, o homem caído tem
abusado de sua liberdade nessas questões. Por esse
motivo, depois de lidar com as aspirações da alma, as
concupiscências carnais e a reivindicação de direitos,
Paulo se volta para a questão do abuso de liberdade.
Alguns mestres da Bíblia não consideram 6:12-18
uma seção separada. Pelo contrário, colocam-na
junto com as duas seções seguintes: a seção sobre o
casamento e o problema de comer sacrifícios a ídolos.
Esse trecho é considerado uma introdução das suas
seções seguintes, já que lida com comer e casar-se.
Muitos anos atrás, eu não pensava que 6:12-18 fosse
uma seção individual, mas depois de ler esse livro
muitas e muitas vezes por muitos anos, agora creio
que esses versículos são uma seção separada que lida
com o abuso da liberdade humana.
Vimos que as pessoas anímicas abrem a porta
para as concupiscências da carne e as carnais
insistem em reivindicar seus direitos. Em seguida,
vem o abuso da liberdade. Na igreja, a alma tem de
ser negada. Essa é a base para a vida da igreja do lado
negativo. Do lado positivo, é a verdade acerca de
Cristo e Sua cruz. Na vida da igreja, todos precisamos
aprender a negar a alma, isto é, a não dar base,
ocasião ou abertura para a alma fazer o que quer. Tão
logo os crentes numa igreja se tomam anímicos, a
vida da igreja está terminada porque a porta será
aberta às concupiscências da carne, que suscitarão a
reivindicação de direitos. Haverá até a edificação de
uma base, tanto para a reivindicação de direitos como
para o abuso de liberdade humana. Ao considerar
essas questões, percebemos que a seqüência na qual
Paulo lida com os problemas em Coríntios é
maravilhosa.

I. UM PRINCÍPIO BÁSICO

A. Todas as Coisas São Lícitas, mas Nem


Todas Convêm
Paulo começa essa sessão com as palavras:
“Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas
convêm. Todas as coisas me são lícitas, mas eu não
me deixarei dominar por nenhuma delas”. A palavra
grega traduzida por lícito, literalmente quer dizer sob
meu poder de escolha para fazer; daí, permissível,
lícito. A palavra para convém significa proveitoso (e
não meramente conveniente), vantajoso, bom,
valioso. Essa palavra grega significa proveitoso,
econômico, conveniente, útil para atingir o alvo
rapidamente. Também se refere a coisas que são
boas. A idéia de Paulo aqui pode ser que todas as
coisas são lícitas, mas nem todas nos ajudam a
permanecer na linha central da economia de Deus.
Todas as coisas são lícitas, mas nem todas nos
ajudam a carregar a cruz ou são proveitosas para
experimentar Cristo.
Se quisermos compreender o uso da palavra
convém aqui, precisamos ter uma percepção
adequada sobre o livro de Coríntios como um todo.
Todas as coisas nos são lícitas, mas nem todas nos
ajudam a obter o proveito revelado nessa Epístola.
Nem todas nos ajudam a viver a vida do Corpo. Sim,
você pode ser livre para fazer certas coisas, mas elas
não o ajudarão na vida da igreja nem fortalecerão a
sua vida de oração. Se aplicarmos o que Paulo diz em
6:12 de acordo com o contexto de todo o livro de 1
Coríntios, vamos ver que a palavra aqui é
todo-inclusiva. Em 6:12, ele parece dizer: “Todas as
coisas me são lícitas, mas nem todas são boas,
proveitosas, convenientes ou econômicas para eu
viver a vida cristã, a vida da igreja e a vida do Corpo.
Nem todas me ajudam a desfrutar Cristo ou a guardar
a festa dos pães asmos”.

B. Não Se Deixar Dominar por Nenhuma


Delas
No versículo 12, Paulo por duas vezes diz: “Todas
as coisas me são lícitas”. O primeiro uso é um pouco
objetivo; o segundo é muito subjetivo. Ele diz: “Todas
as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei
dominar por nenhuma delas”. A palavra grega
traduzida por “não me deixarei dominar por
nenhuma delas”, literalmente quer dizer ser posto
sob a autoridade de. Todas as coisas estão debaixo do
meu poder, mas eu não serei posto sob o poder
(autoridade) de coisa alguma. Todas as coisas são
permissíveis, permitidas, lícitas para mim, mas não
serei controlado (escravizado) ou posto debaixo da
autoridade, o controle, de nenhuma delas. O versículo
12 pode ser considerado como um provérbio que
governa a forma de agir do apóstolo ao lidar com
alguns problemas na seção seguinte, de 6:13 a 11:1.
Ao ponderar se deve ou não fazer certa coisa,
você deve se perguntar se está sob o poder ou controle
dela. Se uma determinada coisa o controla ou tem
poder sobre você, você não deve praticá-la. Por
exemplo, você pode imaginar se deve comer certas
coisas. Pode não haver problema em comê-las, mas
elas não devem ter poder sobre você. Precisamos lidar
rigorosamente com qualquer coisa que tenha poder
sobre nós.

II. NOSSO CORPO É PARA O SENHOR

A. Os Alimentos São para o Estômago, e o


Estômago, para os Alimentos
No versículo 13, Paulo prossegue: “Os alimentos
são para o estômago, e o estômago, para os
alimentos; mas Deus destruirá tanto estes como
aquele”. Os alimentos e o estômago são para a
existência do corpo. Por si mesmos, eles nada querem
dizer; Deus destruirá a ambos.
A redação de Paulo aqui parece estranha. Ele diz:
“Deus destruirá tanto estes como aquele”. Se
fôssemos escrever esse versículo, talvez disséssemos:
“Deus destruirá a ambos”. Entretanto, se fosse escrito
dessa forma, o sentido e o significado se perderia.
Mencionando “tanto estes como aquele”, Paulo quer
dizer tanto o estômago como os alimentos. Ele se
refere ao estômago primeiro porque Deus o destruirá
antes de destruir os alimentos. O motivo disso é que o
abuso da liberdade na questão de comer não é
causado pelos alimentos, mas pelo estômago. O
problema advém não do alimento em si, mas do
estômago. Depois que o estômago de alguém for
destruído, os alimentos não mais serão um problema.
Os alimentos são para o estômago e o estômago são
para os alimentos. Deus usa essas coisas para que
possamos existir para o cumprimento do Seu
propósito, mas um dia Ele destruirá tanto o estômago
como os alimentos.
B. O Corpo Não É para Formicação, mas para
o Senhor, e o Senhor É para o Corpo
No versículo 13, Paulo também diz: “Porém o
corpo não é para a impureza, mas, para o Senhor, e o
Senhor, para o corpo”. Nosso corpo foi criado para o
Senhor, e o Senhor em nós é para nosso corpo. Ele o
alimenta com comida material (Sl 103:5) e lhe dá a
vida de ressurreição (Rm 8:11), que traga o elemento
de morte com suas fraquezas e doenças. Por fim, Ele
irá transfigurá-lo, conformando-o ao Seu corpo
glorioso. Não devemos abusar dele com a fornicação.
Por um lado, Paulo diz que o estômago é para os
alimentos; por outro, que o corpo não é para
fornicação. Somos livres para comer o que
escolhemos, mas não devemos cometer fornicação.
Todavia, se comermos em excesso, vamos prejudicar
o nosso corpo. Assim, embora sejamos livres para
comer, devemos ser cuidadosos para comer de
maneira saudável. Nosso apetite facilmente se
descontrola. Assim, ele precisa ser freado,
restringido.
Embora diga que o corpo é para o Senhor e o
Senhor é para o corpo, Paulo não diz que Deus é para
o estômago ou para os alimentos. Deus destruirá
tanto o estômago como os alimentos, mas não o nosso
corpo. O nosso corpo é para o Senhor e o Senhor é
para o nosso corpo.

C. O Nosso Corpo Será Ressuscitado por Deus


mediante o Seu Poder
No versículo 14, Paulo diz: “Deus ressuscitou ao
Senhor e também nos ressuscitará a nós pelo seu
poder”. Deus ressuscitou o Senhor corporalmente.
Nosso corpo está destinado a participar do corpo
glorioso do Senhor em ressurreição (Fp 3:21) e ser
ressuscitado incorruptível (1Co 15:52). Isso será a sua
redenção (Rm 8:23). Mesmo agora o Espírito do
Cristo ressurreto, que habita em nós, dá vida ao nosso
corpo mortal (Rm 8:11), tornando-o membro de
Cristo (1Co 6:15) e santuário de Deus habitado pelo
Seu Espírito Santo (v. 19).
Sou grato não só porque o Senhor é pelo nosso
corpo, mas também que Deus ressuscitará nosso
corpo, como ressuscitou o do Senhor Jesus. Todos
temos alguns defeitos físicos, e nenhum de nós é
totalmente saudável. Ficamos cansados e, às vezes,
enfermos. Essas fraquezas nos ajudam a apreciar as
promessas do Senhor acerca do nosso corpo.
Nos versículos 13 e 14, temos uma promessa
dupla. Primeiro, que o Senhor é para o corpo;
segundo, que Deus o ressuscitará. Sabemos por meio
de Romanos 8:11 que, mesmo hoje, nosso corpo
mortal pode receber o suprimento da vida de
ressurreição e ser sustentado por ela. Às vezes Ele nos
cura. O primeiro aspecto da promessa dupla acerca
do nosso corpo é que o Senhor é por ele e o sustenta.
Pela experiência, tenho aprendido que o Senhor é
para o nosso corpo. Em 1943, fiquei gravemente
enfermo, com tuberculose, e fui instado a fazer
repouso completo. Por muito tempo tive de ficar na
cama. Um dia, meu filho mais velho, que tinha treze
anos de idade, veio visitar-me. Quando olhei para ele,
quase cheguei a chorar. Orei: “Senhor, será que me
concederás mais quinze anos? Senhor, olha o meu
filho, meu primogênito, Em quinze anos, ele terá
vinte e oito anos. Se me deres mais quinze anos,
ficarei contente e disposto a morrer quando esses
anos se acabarem”. Louvo ao Senhor porque mais de
trinta e oito anos se passaram desde que orei ao
Senhor dessa forma. Meu corpo se recuperou
totalmente da doença e, em todos esses anos, tenho
sido capaz de trabalhar bastante. O Senhor de fato é
para o nosso corpo.
Embora o primeiro aspecto da promessa dupla
seja para o presente, o segundo aspecto é para o
futuro. O Senhor é para o nosso corpo hoje, mas Deus
ressuscitará o nosso corpo no futuro. Essa
ressurreição do corpo se refere à sua transfiguração.
Quando for ressuscitado, o nosso corpo será
transfigurado.
No versículo 15, Paulo prossegue: “Não sabeis
que os vossos corpos são membros de Cristo? E eu,
porventura, tomaria os membros de Cristo e os faria
membros de meretriz? Absolutamente, não”. Ele aqui
diz claramente que o nosso corpo é membro de
Cristo. Isso não é ilustração, metáfora ou parábola.
Pelo contrário, é a afirmação de um fato. Nosso corpo
é, na verdade, membro de Cristo. Que maravilhoso!
No versículo 15, Paulo diz que nossos corpos são
membros de Cristo, e no 17, que aquele que se une ao
Senhor é um espírito com Ele. Como podemos
conciliar essas duas questões? Somos um com o
Senhor física ou espiritualmente? Se dissermos que
não somos um com Ele fisicamente, então como pode
nosso corpo ser Seu membro? Mas se dissermos que
nossa unidade com o Senhor é física e não espiritual,
caímos em sério erro, até mesmo heresia. Nossa
unidade com o Senhor é tanto espiritual como física.
Embora possamos não perceber muito disso agora,
um dia será totalmente manifesto que somos de fato
um com o Senhor no corpo, alma e espírito. Então, de
acordo com 1 João 3:2, seremos totalmente como Ele,
não só em espírito mas também no corpo. Primeira
João 3:2 é um versículo que enfatiza nossa
semelhança com o Senhor no corpo. Filipenses 3:21
tem a mesma ênfase. Esse versículo diz que o corpo
de nossa humilhação se tornará o mesmo que o corpo
glorioso do Senhor. Esses versículos indicam que
somos um com o Senhor, tanto física como
espiritualmente. Nosso corpo um dia será totalmente
como o corpo glorioso do Senhor em ressurreição.
Nosso corpo físico pode ser comparado a uma
semente plantada na terra. Conforme 1 Coríntios 15, a
ressurreição é, na verdade, o crescimento de uma
semente plantada no solo. Quando é plantada, ela é
simplesmente uma semente, mas quando cresce e
floresce, assume uma aparência muito diferente.
Hoje, nosso corpo é uma semente plantada em Cristo.
Um dia, porém, ela crescerá pela ressurreição.
Quando crescer dessa forma, mudará de aparência,
embora ainda seja o nosso corpo. Quando um grão de
trigo é semeado no solo, ele é trigo. Quando cresce,
ainda é trigo, embora seja muito diferente na
aparência. Atualmente, nosso corpo físico não tem
boa aparência. Por esse motivo, não o apreciamos
muito. Contudo, como é um membro de Cristo, nosso
corpo é querido e precioso. Por fim, em ressurreição,
ele se tomará exatamente igual ao corpo glorioso
ressurreto de Cristo.
No versículo 18, Paulo diz: “Fugi da impureza!
Qualquer outro pecado que uma pessoa cometer, é
fora do corpo; mas aquele que pratica a imoralidade
peca contra o próprio corpo”. Impureza, ou
fornicação, é um pecado contra o nosso próprio
corpo, que é membro de Cristo. Isso é uma séria
advertência para não abusarmos do corpo.
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM TRINTA E NOVE
LIDAR COM O ABUSO DE LIBERDADE NOS
ALIMENTOS E NO CORPO (2)

Leitura Bíblica: 1Co 6:13-20


Em 6:15, 17 e 19, há três questões cruciais:
primeiro, que nosso corpo é membro de Cristo;
segundo, que somos um espírito com o Senhor;
terceiro, que nosso corpo é santuário do Espírito
Santo. No contexto de lidar com o abuso da liberdade
em alimentos e no corpo, Paulo começa essas
questões de forma maravilhosa.

MEMBROS DE CRISTO
O versículo 15 diz: “Não sabeis que os vossos
corpos são membros de Cristo?” Visto que somos
organicamente unidos com Cristo (v. 17) e Cristo
habita em nosso espírito (2Tm 4:22) e em nosso
coração (Ef 3:17), todo o nosso ser, inclusive nosso
corpo purificado, toma-se membro Dele. Assim, para
praticar tal filiação, precisamos oferecer nosso corpo
a Ele (Rm 12:1, 4-5).

UM ESPÍRITO COM O SENHOR


No versículo 17, Paulo diz: “Mas aquele que se
une ao Senhor é um espírito com ele”. O verbo unir-se
nesse versículo refere-se à união orgânica dos crentes
corri o Senhor ao crer Nele (10 3:15-16). Essa união é
ilustrada pelos ramos da videira (10 15:4-5). Não é só
uma questão de vida, mas também em vida, a vida
divina. Tal união com o Cristo ressurreto só pode ser
em nosso espírito.
A expressão “um espírito” indica a mescla do
Senhor, que é o Espírito, com nosso espírito. Nosso
espírito foi regenerado pelo Espírito de Deus (Jo 3:6),
que está agora em nós (1Co 6:19) e é um com nosso
espírito (Rm 8:16). Essa é a substantificação do
Senhor que se tornou o Espírito que dá vida mediante
a ressurreição (1Co 15:45; 2Co 3:17) e está agora com
nosso espírito (2Tm 4:22). Esse espírito mesclado é
freqüentemente mencionado nas Epístolas de Paulo,
como em Romanos 8:4-6.

SANTUÁRIO DO ESPÍRITO SANTO


No versículo 19, Paulo diz: “Acaso não sabeis que
o vosso corpo é santuário do Espírito Santo que está
em vós, o qual tendes da parte de Deus, e que não sois
de vós mesmos?” O Espírito Santo está em nosso
espírito (Rm 8:16), e nosso espírito está em nosso
corpo. Daí, o nosso corpo se torna um santuário, uma
habitação do Espírito Santo.
No versículo 20, Paulo conclui: “Porque fostes
comprados por preço. Agora, pois, glorificai a Deus
no vosso corpo”. O preço mencionado aqui é o sangue
precioso de Cristo (At 20:28; 1Pe 1:1819; Ap 5:9).
Glorificar a Deus em nosso corpo significa permitir
que Deus habite em nós (1Jo 4:13), que ocupe e sature
o nosso corpo e Se expresse por intermédio dele como
Seu santuário, principalmente quanto a comer e
casar-se, segundo o contexto da seção de 6:13 a 11:1.
Por isso, precisamos exercitar um controle severo e
estrito sobre o corpo, trazendo-o sob sujeição (1Co
9:27) e apresentando-o a Deus como sacrifício vivo
(Rm 12:1).
A NECESSIDADE DA CAPACIDADE
ADEQUADA
Esses versículos em 1 Coríntios 6 são os únicos
versículos no Novo Testamento que nos dizem que o
nosso corpo é membro de Cristo, que somos um
espírito com o Senhor e nosso corpo é santuário do
Espírito Santo. Quando os lemos, entretanto,
podemos considerá-los já conhecidos e não gastar
tempo adequado para estudá-los e as questões
importantes neles reveladas. Quanto tempo você
gastou no versículo 15, que diz que nosso corpo é
membro de Cristo? Poucos crentes têm prestado a
devida atenção a esse versículo. Sim, mensagens têm
sido dadas sobre o versículo 19, sobre o corpo dos
crentes como santuário do Espírito Santo. Mas antes
de entrar na restauração do Senhor, você alguma vez
ouviu uma mensagem sobre ser um espírito com o
Senhor? Você alguma vez ouviu uma mensagem
sobre unir-se ao Senhor como um só espírito? Essas
três questões merecem um estudo mais completo.
Não quero dizer meramente o estudo de letras
impressas da Palavra, mas o estudo à luz da
experiência.
Dificilmente os cristãos praticam ser um espírito
com o Senhor. Você conhece um livro, ou mesmo uma
mensagem, intitulada “Um Espírito com o Senhor”?
Por causa da influência da teologia e prática
tradicionais, a maioria dos cristãos não consegue
digerir um versículo como 6:17. Parece não haver
espaço neles para a questão vital de ser um espírito
com o Senhor. Entretanto, pode haver muito espaço
neles para questões como santidade, vitória, poder,
milagres e falar em línguas. Certos cristãos no
pentecostalismo dão grande ênfase ao falar em
línguas. Em alguns casos, eles não se preocupam nem
se o falar em línguas é ou não verdadeiro. Como
apreciam tanto o falar em línguas, eles não se
importam muito com orações adequadas, muito
menos com a visão central do ministério completivo
de Paulo. Se alguém falar em línguas, eles ficam
facilmente empolgados, mas se alguém orar: “Senhor,
obrigado pela Tua misericórdia e graça”, eles
facilmente ficam desinteressados. Não têm interesse
por esse tipo de oração. Além disso, se você falar-lhes
acerca da visão da economia de Deus, eles não serão
capazes de compreender o que você está dizendo.
Você acha possível que tais pessoas venham a
conhecer a Palavra de Deus? Não, elas não
conseguem conhecer a Palavra porque não há espaço
nelas para as questões cruciais da revelação de Deus.
A situação de muitos cristãos hoje é semelhante à
dos discípulos, que não tinham capacidade de aceitar
a palavra do Senhor sobre o pão da vida. Ele disse que
era o pão da vida, que descera do céu para dar vida,
que Sua carne era comestível e Seu sangue bebível, e
que todo o que Dele comesse, por Ele viveria (Jo 6:33,
35, 55, 57). Os que não conseguiram receber a Sua
palavra disseram: “Dura é essa palavra; quem a pode
ouvir?” (Jo 6:60).
Também podemos ser muito limitados em nossa
capacidade de receber a revelação de Deus. Devido à
influência entorpecente da religião e tradição,
podemos não ser capazes de tomar a palavra de Paulo
sobre ser um espírito com o Senhor, ou sobre nosso
corpo ser membro de Cristo. Podemos ser como uma
pessoa que come alho ou que fica numa sala cheia de
alho: ela se toma insensível ao gosto e odor de alho. O
olfato dela pode ficar tão habituado ao alho que
considera esse odor normal. No mesmo princípio,
nossos sentidos espirituais de odor e sabor, de fato,
todo o nosso ser interior, pode ser tão influenciado
pelo cristianismo tradicional que não temos a
capacidade de perceber certas questões cruciais da
economia de Deus. Se essa for nossa situação,
podemos ler 1 Coríntios 6 muitas vezes sem ficar
impressionados com os versículos 15 e 17.
Por muitos anos também li 1 Coríntios 6 sem ver
o significado crucial do versículo 17. Um dia, porém,
esse versículo começou a ser aberto para mim. Foi
como se eu nunca o tivesse lido antes. Perguntei a
mim mesmo se ele estava de fato na Bíblia. Nele,
Paulo diz claramente: “Mas aquele que se une ao
Senhor é um espírito com ele”. Dessa época em
diante, comecei a dar muita atenção a esse versículo e
a exercitar-me em experimentá-lo.
Em 1947 e 1948, o irmão Nee enfatizou a
necessidade de exercitar e liberar o espírito. Ele
freqüentemente dizia que em tudo o que fazemos:
pregar o evangelho, contatar os santos e ministrar a
Palavra, precisamos exercitar e liberar nosso espírito.
Ele também ressaltou que a parte de nosso ser que
usamos mais é a parte que mais enfatizamos. Por
exemplo, se uma pessoa vive na mente, sua mente
será predominante toda vez que ela falar. De modo
semelhante, uma pessoa que vive na emoção
expressará essa emoção. Fui grandemente ajudado
por essa comunhão e dessa época em diante,
esforcei-me por exercitar e liberar o espírito.
Contudo, ainda não tinha sido impressionado com 1
Coríntios 6:17.
Em 1958, o Senhor começou a abrir as questões
de comer, beber e desfrutar o Senhor. Nessa época,
comecei a ver João 6:57, onde o Senhor Jesus diz:
“Quem Me come, também viverá por causa de Mim”.
Também percebi que se quisermos comer, beber e
desfrutar o Senhor, precisamos conhecer nosso
espírito. Sem isso, não conseguimos contatar o
Senhor. Numa mensagem, ressaltei que somente
quando conhecemos a natureza de determinada
comida, sabemos como comê-la. Igualmente, se
quisermos comer o Senhor, precisamos conhecer a
Sua natureza. Hoje, Ele é o Espírito que dá vida. Isso
quer dizer que a natureza da comida espiritual é
espírito. Podemos contatar o Espírito somente por
meio do nosso espírito. João 4:24 diz: “Deus é
Espírito, e importa que os que O adoram O adorem
em espírito e veracidade”. Segundo esse versículo,
somente espírito pode tocar o Espírito, e somente
espírito pode adorar Espírito.
Em 1960, o encargo, a luz e a ênfase sobre o
espírito se intensificou. Como conseqüência, muitas
mensagens foram dadas sobre isso. Quando comecei
o ministério neste país, também enfatizei o espírito.
Se você ler as primeiras edições da revista The
Stream, verá que muitas das mensagens estão
centradas no espírito. Posso testificar que o fato de
ver 1 Coríntios 6:17 afetou muito o ministério dado a
mim pelo Senhor.

UM GRANDE MISTÉRIO
Nós, os crentes, somos unidos ao Senhor como
um espírito. Isso é um grande mistério, talvez. o
ponto mais misterioso revelado na Bíblia. Quem pode
explicá-lo? Você consegue explicar como nos é
possível ser um espírito com o Senhor? Embora não
possamos explicá-lo, com certeza podemos
experimentá-lo. Freqüentemente oro de manhã:
“Senhor, obrigado por outro dia no qual posso
praticar ser um espírito Contigo”. Que maravilha que
pecadores tais como nós possamos ser um espírito
com o Senhor! Quanto mais ponderamos sobre isso,
mais percebemos quão maravilhoso é.
Em 6:17, Paulo declara claramente o fato de
sermos um espírito com o Senhor, mas poucos
prestamos a devida atenção a isso. Precisamos de
muito tempo para estudar esse versículo e explorá-lo
de forma experimental. Precisamos experimentar e
aprender como ser um espírito com o Senhor em
nosso falar e em tudo que fazemos. Ao fazer diversas
coisas, precisamos ponderar se estamos ou não sendo
um espírito com o Senhor.
Como tivemos a visão de ser um espírito com o
Senhor, conforme 6:17, chegamos a perceber que o
que o irmão Lawrence praticava era totalmente algo
do Antigo Testamento. Ele exercitava estar na
presença de Deus, mas não praticava ser um espírito
com o Senhor. Há uma grande diferença entre estar
na presença de Deus e ser um espírito com o Senhor.
Vimos que no capítulo seis, Paulo aborda três
questões vitais. Elas são tão importantes que exigem
muito exercício do espírito para assimilá-las
adequadamente. Que maravilha que nosso corpo seja
membro de Cristo, que somos um espírito com o
Senhor e que nosso corpo é o santuário do Espírito
Santo! A visão a respeito disso está se tornando tão
clara que às vezes é difícil conter-me. O encargo dessa
visão é tão pesado que me é difícil suportá-lo. Não
consigo suportar a idéia de que algumas igrejas e
alguns santos possam continuar da antiga maneira,
executando uma obra cristã e negligenciando a visão
central do ministério completivo de Paulo. Nós
precisamos urgentemente ter a visão de que nosso
corpo é membro de Cristo, somos um espírito com o
Senhor e nosso corpo é o santuário do Espírito Santo.

TER A VISÃO CENTRAL


Fico incomodado com a situação entre os cristãos
hoje e também em nosso meio. Em toda a parte os
cristãos ouvem sermões “açucarados”, que distraem e
até mesmo os entorpecem. Até mesmo alguns entre
nós foram distraídos por mensagens bíblicas. Uns
irmãos podem usar trechos das mensagens de
Estudo-Vida como material para falar, mas ainda não
tiveram a visão central. Como conseqüência, tanto os
oradores como os ouvintes podem perder o alvo. As
reuniões podem parecer muito boas e até proveitosas,
mas será que os santos estão sendo ajudados pela
visão central do ministério completivo de Paulo, ou
pelo ministério restaurador de João? Em alguns
casos, isso é duvidoso. É possível que estejamos
perdendo o alvo em nosso ministério, obra e esforço
para ajudar as igrejas. Se prestarmos atenção a outras
coisas além da economia de Deus há, na verdade, o
perigo de ajudar os santos a se desviar. O que o
Senhor deseja hoje é um remanescente que tenha a
visão que Ele mostrou ao Seu fiel despenseiro, o
apóstolo Paulo, que levou a cabo o ministério
completivo acerca de Cristo como o mistério de Deus
e a igreja como o mistério de Cristo. Todavia, essas
questões não devem ser apresentadas aos santos
como meras doutrinas; têm de ser ministradas como
realidade. Se quisermos ministrar a realidade dessas
coisas aos outros, primeiro nós mesmos precisamos
tocar a realidade.
Por causa da visão e do encargo, não tenho
desejo de dar mensagens que só contenham
doutrinas. As três questões cruciais abordadas nesta
mensagem não devem permanecer como doutrinas
para nós. Estou profundamente preocupado pois
alguns entre nós ainda não tocaram a realidade
dessas coisas e assim não têm uma percepção
experimental sobre nosso corpo sendo membro de
Cristo e santuário do Espírito Santo, e de ser um
espírito com o Senhor. Se os irmãos que ministram
nas igrejas tiverem essa visão, o seu falar será
radicalmente mudado. Nunca mais falarão de novo
dando doutrinas aos outros. Espontaneamente
decidirão nada saber além de Cristo e Seu Corpo.
Não é meu encargo nestas mensagens ensinar
doutrinas. Quarenta anos atrás eu teria dado muitas
mensagens sobre temas tais como galardão, o
sofrimento da perda, ser salvo pelo fogo e as diversas
categorias de pessoas que devem ser excomungadas
da igreja, mas hoje não tenho esse encargo. Antes,
tenho encargo de que muitos santos desfrutem Cristo
como sua festa de pães asmos. Tenho especial
encargo pelos que estão há anos na restauração e
ainda não tiveram a visão central. Em vez de cereal,
eles têm somente cascas, e é isso que ministram aos
outros. Os que estão sob seu treinamento não
recebem nutrição e suprimento de vida, e em
conseqüência não crescem. Se todos tivermos a visão,
nossa situação será totalmente diferente. Vamos
testificar que somos um espírito com o Senhor e
membros de Cristo e santuário do Espírito Santo.
Entretanto, ainda carecemos de experiência, somos
ainda muito limitados em nossa capacidade de
receber essas coisas e compreendê-las. Assim, todos
precisamos humilhar-nos perante o Senhor e dizer:
“Senhor, não sei o que fazer. Não sei me arrepender,
não sei confessar e não sei orar. Senhor, estou
simplesmente aqui diante de Ti. Tem misericórdia de
mim. Preciso ter a visão clara de Tua economia. Tem
misericórdia de mim, Senhor, para que eu toque a
realidade dessa visão e ajude os outros a fazer o
mesmo”. V amos todos buscar o Senhor pela Sua
misericórdia para ter a visão mostrada a Paulo.
Somente quando a tivermos poderemos ser
guardados do abuso de liberdade nos alimentos e no
corpo.
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM QUARENTA
LIDAR COM O ABUSO DE LIBERDADE NOS
ALIMENTOS E NO CORPO (3)

Leitura Bíblica: 1Co 6:13-20

DOIS GRUPOS DE PROBLEMAS


Enquanto escrevia essa Epístola, Paulo deve
ter-se esforçado ponderando sobre qual seqüência
devia usar para lidar com os diferentes problemas
entre os crentes em Corinto. A ordem que ele usa não
é descuidada nem sem sentido. Pelo contrário, é cheia
de significado. Primeiro, ele lida com os desejos e
aspirações da alma; segundo, com as concupiscências
da carne; terceiro, com a reivindicação de direitos;
quarto, com o abuso da liberdade humana nas
questões ordenadas por Deus sobre alimentação e
casamento. Como veremos, ele prossegue no capítulo
sete lidando com a vida conjugal e nos capítulos oito,
nove e dez, com a questão de comer carne sacrificada
a ídolos. Essas seis questões formam um grupo. Toda
questão nesse grupo é um item de vida. A alma, a
carne, os direitos, a liberdade, o casamento e o comer
estão todos relacionados com o viver humano.
Nos capítulos onze a dezesseis, Paulo lida com
cinco outros problemas. No capítulo onze, com os
assuntos do véu e da mesa do Senhor. Véu está
relacionado com Cristo como a Cabeça, e a mesa do
Senhor está relacionada com a igreja como o Corpo
de Cristo. Nos capítulos doze, treze e catorze, Paulo
lida com dons espirituais; no capítulo quinze, ele
aborda a doutrina da ressurreição e no dezesseis, ele
chega à última questão: ofertar coisas materiais.
Esses cinco pontos formam um segundo grupo e
estão todos relacionados com as coisas espirituais
acerca da administração de Deus. Quanto mais
consideramos a seqüência na qual Paulo lida com
problemas nessa Epístola, mais percebemos o
significado dessa seqüência. Veremos que os
primeiros seis problemas formam um grupo
relacionado com a vida humana e os últimos cinco,
um grupo relacionado com as coisas espirituais,
especificamente com os interesses de Deus na terra.
Uma forma de estudar 1 Coríntios é seguir a
seqüência dos onze problemas que esse livro aborda.
Isso não é meramente estudar a Bíblia segundo as
letras impressas; é ver a luz que introduz vida.
Quando vemos luz na Palavra e recebemos vida,
crescemos.

GUARDAR A FESTA
Nos capítulos cinco e seis, Paulo lida com as
questões de pecado grosseiro, a reivindicação de
direitos e o abuso de liberdade humana. Quando,
porém, lida com essas coisas, ele usa algumas
expressões e declarações excelentes para apresentar
questões não abordadas em nenhuma outra parte no
Novo Testamento. Por exemplo, em 5:8, Paulo diz:
“Por isso, celebramos a festa”. Vimos que essa festa se
refere à festa dos pães asmos como continuação da
Páscoa (Êx 12:15-20). Isso durava sete dias, um
período de completação, representando o período
todo de nossa vida cristã, desde o dia da conversão
até o dia do arrebatamento. Isso indica que a vida
cristã inteira deve ser uma festa, um desfrute de
Cristo como nosso banquete.
Embora guardar a festa dos pães asmos seja de
grande importância, a maioria dos cristãos presta
pouca atenção à palavra de Paulo acerca disso. Em
vez disso, concentram-se no seu mandamento às
mulheres de se submeter ao marido, e aos maridos de
amar a mulher. Esses conceitos já são parte da
compreensão natural, tanto dos crentes como dos
incrédulos. Os chineses começaram a praticar essas
coisas milhares de anos atrás. Se pela Bíblia você
ensinar um chinês ético que a mulher deve
submeter-se ao marido e o marido deve amar a
mulher, ele vai dizer que já sabia dessas coisas e as
praticava.
Embora os cristãos prestem muita atenção nos
versículos sobre submissão e amor, quem presta
atenção adequada à palavra de Paulo sobre guardar a
festa? Será que os mestres nas escolas bíblicas e
seminários ensinam os alunos o que significa celebrar
a festa e como celebrá-la? Duvido que algum
professor instrua os alunos acerca dessas coisas.
Além disso, duvido que alguém jamais lhe tenha dito
o que significa o seu corpo ser membro de Cristo,
estar unido ao Senhor como um só espírito, ou que o
seu corpo seja o santuário do Espírito Santo. Como é
triste que os crentes de hoje tenham se desviado
dessas questões cruciais! Também temos sido
estorvados pela influência de nosso passado religioso.
Desse modo, há a necessidade de que nos
aprofundemos nos versículos 15, 17 e 19. Não nos
podemos permitir negligenciar tais versículos por
mais tempo; eles são alguns dos mais profundos na
Bíblia.
VIDA INFUNDIDA AO NOSSO CORPO
MORTAL
Em 6:13 e 14, Paulo diz: “Os alimentos são para o
estômago, e o estômago, para os alimentos; mas Deus
destruirá tanto estes como aquele. Porém o corpo não
é para a impureza, mas para o Senhor, e o Senhor,
para o corpo. Deus ressuscitou o Senhor e também
nos ressuscitará a nós pelo seu poder”. Nosso corpo
foi criado para o Senhor, e Ele é para o corpo. Deus
ressuscitou o Senhor corporalmente, e nosso corpo
vai participar do corpo glorioso do Senhor em
ressurreição (Fp 3:21) e ser ressuscitado
incorruptível. Essa vai ser a redenção de nosso corpo.
Falando do Cristo ressurreto, Atos 2:24 diz: “Ao
qual, porém, Deus ressuscitou, rompendo os grilhões
da morte; porquanto não era possível fosse ele retido
por 'ela”. De acordo com Romanos 6:9: “Sabedores
que havendo Cristo ressuscitado dentre os mortos, já
não morre: a morte já não tem domínio sobre Ele”.
Em 2 Coríntios 4:14, Paulo diz claramente que
“aquele que ressuscitou ao Senhor Jesus também nos
ressuscitará com Jesus e nos apresentará convosco”.
Além do mais, em João 6:39 e 40, o Senhor Jesus
promete que nos ressuscitará no último dia, mas
mesmo hoje o Espírito do Cristo ressuscitado dá vida
ao nosso corpo, desse modo fazendo dele um membro
de Cristo e santuário de Deus habitado pelo Espírito
Santo.
Se quisermos compreender como o Senhor hoje é
para o nosso corpo e como no futuro Deus o
ressuscitará, precisamos compreender Romanos 8:11.
Esse versículo diz: “Se habita em vós o Espírito
daquele que ressuscitou a Jesus dentre os mortos,
esse mesmo que ressuscitou a Cristo Jesus dentre os
mortos vivificará também o vosso corpo mortal, por
meio do seu Espírito, que em vós habita”. Nesse
versículo, um dos mais longos da Bíblia, vemos que
por intermédio do Espírito do próprio Deus, que
habita em nós, que ressuscitou a Jesus dentre os
mortos, a vida será transmitida ao nosso corpo
mortal. Essa pode ser a experiência atual de todos os
que buscam o Senhor. Se você de fato O buscar, algo
maravilhoso ocorrerá em você: o Espírito do Deus
ressurreto irá transmitir vida ao seu corpo.
Essa transmissão de vida pode ser ilustrada pela
transmissão de eletricidade. A corrente elétrica é, na
verdade, a eletricidade em movimento. Se olhar para
o medidor de energia elétrica no salão de reuniões,
perceberá que a 'eletricidade está sendo transmitida
ao prédio. Quando nos reunimos no salão para orar e
ter comunhão, a eletricidade flui para o prédio. No
mesmo princípio, a eletricidade celestial da vida de
ressurreição de Cristo flui para o nosso corpo mortal.
Quando buscamos o Senhor diariamente, podemos
ter plena certeza de que a corrente divina flui em nós.
É a vida de ressurreição transmitida a nós por
intermédio do Espírito que em nós habita.
Freqüentemente experimento essa transmissão
quando estou fisicamente cansado. Muitas vezes
preciso falar até mesmo quando meu corpo está
muito cansado. Mas enquanto estou falando, o
Espírito é infundido em mim e o Cristo ressurreto se
torna meu suprimento de vida. Como resultado, meu
espírito é fortalecido e meu corpo fraco e cansado é
vivificado.

ORGANICAMENTE UNIDOS COM CRISTO


No versículo 15, Paulo diz: “Não sabeis que os
vossos corpos são membros de Cristo?” Note que aqui
Paulo não diz meramente que somos membros de
Cristo: ele declara que nosso corpo é membro de
Cristo. O assunto desses versículos é o abuso de
liberdade nos alimentos e no corpo. Assim, a
preocupação de Paulo é com o corpo dos crentes.
Como estamos organicamente unidos com Cristo
e Ele habita em nosso espírito (2Tm 4:22) e faz
morada em nosso coração (Ef 3:17), todo o nosso ser,
inclusive nosso corpo purificado, se torna membro
Dele. O versículo 17 indica que estamos
organicamente unidos com Cristo. Ser um espírito
com o Senhor é entrar numa união orgânica com Ele,
ser unido organicamente a Ele. Essa união orgânica
faz que nosso corpo seja membro de Cristo. Cristo
habita em nosso espírito e daí Se espalha até alcançar
todo o nosso ser. Ademais, conforme Romanos 8:11,
do nosso ser interior Ele procura transmitir a Si
mesmo como vida para o nosso corpo físico. Por isso,
Cristo Se expande do espírito para a alma e da alma
para o corpo. Dessa forma, nosso corpo se torna Seu
membro.
Essa questão é profunda, misteriosa e abstrata,
mas louvado seja o Senhor pela palavra consistente
em 1 Coríntios 6 que revela tal questão misteriosa! É
crucial que nos aprofundemos nela.
Em 6:17, Paulo diz: “Mas aquele que se une ao
Senhor é um espírito com Ele”. Quero enfatizar
novamente que isso se refere à união orgânica dos
crentes com o Senhor, crendo Nele (10 3:15-16). Tal
união com o Cristo ressurreto só pode acontecer em
nosso espírito, porque Cristo hoje é o Espírito que dá
vida (1Co 15:45) e está agora com nosso espírito (2Tm
4:22).

TRÊS ASPECTOS DE UMA REALIDADE


Vimos que nos versículos 15, 17 e 19, Paulo
aborda três pontos cruciais: que nosso corpo é
membro de Cristo; que somos unidos ao Senhor como
um espírito; que nosso corpo é o santuário do
Espírito Santo. Na realidade e na prática, esses três
são um. A chave para todos eles está no versículo 17.
Somos unidos ao Senhor em nosso espírito, porém é
impossível para nosso corpo, que é pecaminoso e
concupiscente, tornar-se membro de Cristo. Outro
ponto crucial relacionado com isso é a palavra de
Paulo em 6:14, de que o Senhor “nos ressuscitará a
nós pelo seu poder”. Já enfatizamos que mesmo agora
o Espírito do Cristo ressuscitado, que habita em
nosso espírito, dá vida ao nosso corpo. Essa infusão
de vida o torna membro de Cristo e santuário do
Espírito Santo. Você alguma vez imaginou como
nosso corpo pode tornar-se membro de Cristo e
santuário do Espírito Santo? A chave é que o Espírito,
que habita em nós, do Cristo ressurreto, transmite
vida para nosso corpo mortal.
Uma vez que essa é a chave, precisamos exercitar
e praticar experimentar o Senhor como Espírito que
dá vida habitando em nosso espírito. Isso é praticar
ser um espírito com o Senhor. Se nos exercitarmos
para experimentar e desfrutar isso, abriremos a porta
para o Senhor transmitir vida ao nosso corpo físico.
Então nosso corpo será cheio da vida de ressurreição
de Cristo e se tornará membro de Cristo. Quando
nosso corpo se torna membro do Cristo que habita
em nós, ele automaticamente se torna o santuário, a
habitação do Espírito Santo: Por isso, em nossa
experiência, os três pontos: de nosso corpo ser
membro de Cristo, de ser um espírito com o Senhor e
de nosso corpo ser o santuário do Espírito Santo, são
três aspectos de uma única realidade.
A maneira de Paulo lidar com os problemas entre
os crentes coríntios não é superficial ou leviana; pelo
contrário, é profunda e integral. Ao lidar com os
diferentes problemas, ele nos conduz de volta à visão
central da economia de Deus: ao Deus Triúno como o
Espírito todo-inclusivo que dá vida habitando em
nosso espírito. O Espírito hoje é o Deus Triúno
processado habitando em todo o nosso ser. Todos os
problemas entre os crentes são causados pela
carência de experiência desse Espírito que habita em
nós. Repetindo: os cristãos têm problemas porque
lhes falta a experiência do Espírito que dá vida
todo-inclusivo que neles habita. Por esse motivo,
Paulo por fim nos leva de volta a esse Espírito em
nosso espírito.

GLORIFICAR A DEUS EM NOSSO CORPO


Em 6:20, Paulo diz: “Porque fostes comprados
por preço. Agora, pois, glorificai a Deus no vosso
corpo”. A maneira de glorificar a Deus em nosso
corpo é tê-lo ocupado por Deus e completamente
saturado Dele. Então nós O expressaremos em nosso
corpo. Quando o Senhor Se expande do espírito para
a alma e para o corpo, nós glorificamos a Deus no
corpo. Dessa forma, glorificar a Deus no corpo é que
ele é um com o Deus Triúno. Isso é compreender a
palavra de Paulo no versículo 20 de acordo com a
visão central da economia de Deus.
Não devemos pensar que 1 Coríntios é um livro
superficial, que lida com problemas na igreja. Sim,
nesse livro, Paulo lida com muitos problemas, mas ao
mesmo tempo ele nos introduz na visão central da
economia de Deus, porque nos conduz de volta ao
Espírito como a consumação final e máxima do Deus
Triúno processado.
Se você se aprofundar nesses versículos, sua vida,
ministério e serviço na igreja serão afetados de forma
revolucionária. Seu ser interior e toda sua vida da
igreja serão radicalmente mudados. Oremos todos
sobre esses versículos até que tal mudança ocorra em
nós.
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM QUARENTA E UM
LIDAR COM A VIDA CONJUGAL (1)

Leitura Bíblica: 1 Co7:1-40


Em 7:1-40, Paulo chega ao quinto problema
abordado nessa Epístola: a questão do casamento.
Isso é abordado segundo o princípio estabelecido na
seção anterior (6:12-20).
Muitas vezes, aqueles que têm mais instrução são
os que têm mais problemas na vida conjugal. Os que
são simples e têm menos instrução não têm tantos
problemas conjugais. Se estudar as estatísticas
relacionadas com divórcio nos EUA, descobrirá que
grande parte dos divórcios ocorre entre os que têm
alto grau de instrução e entre profissionais. Parece
que, quanto mais instruída é a pessoa, maior é a
possibilidade de divórcio. Visto que os coríntios eram
tão devotados à sua cultura e filosofia, tinham muitas
perguntas sobre casamento. Paulo as responde no
capítulo sete.
Primeira Coríntios 7:1 começa dessa forma:
“Quanto ao que me escrevestes”. Isso indica que os
coríntios tinham escrito a Paulo acerca de diversas
questões, inclusive casamento. Os crentes em Corinto
tinham muitas perguntas porque eram filosóficos.
Filosofavam sobre tudo. É perigoso, entretanto,
filosofar sobre a vida conjugal, porque isso pode levar
a separação ou divórcio. O irmão Nee uma vez nos
advertiu que, depois que nos casamos, devemos ser
cegos sobre nosso cônjuge. Se fizermos isso,
desfrutaremos a vida conjugal, mas se ficarmos
vigiando o marido ou a mulher de forma crítica,
filosófica, teremos sérios problemas. Analisar a vida
conjugal é filosofar sobre o matrimônio. Em vez
disso, devemos simplesmente desfrutá-la, louvando
ao Senhor e agradecendo-Lhe pelo cônjuge que Ele
nos deu. Quanto mais louvamos ao Senhor dessa
forma, mais vamos desfrutar a vida conjugal.
Provavelmente, todos os que são casados,
gastaram algum tempo analisando seu casamento:
“Será que foi do Senhor eu me casar com ele (ela)?
Talvez eu tenha sido muito influenciado pelos outros.
E se eu tivesse esperado um pouco mais?” Se formos
honestos, admitiremos que temos feito tais
perguntas. Essas indagações surgem porque, bem em
nosso interior, não estamos totalmente satisfeitos
com a vida conjugal. Assim como todo cristão já teve
dúvidas sobre sua salvação, também toda pessoa
casada já teve dúvidas sobre a vida matrimonial. É
claro, não estou incentivando vocês a questionar sua
vida conjugal; estou simplesmente ressaltando o fato
de que indagações parecem ser inevitáveis,
principalmente entre os que têm bastante instrução e
cultura.

I. PRINCÍPIOS BÁSICOS
A melhor forma de abordar o modo de Paulo
lidar com a vida conjugal nesse capítulo é considerar
os princípios básicos. Creio que essa é a melhor
maneira de compreender os muitos pontos abordados
no capítulo sete.

A. É Bom que o Homem Não Toque Mulher


O primeiro princípio básico é encontrado no
versículo 1. Nesse versículo, Paulo diz: “É bom que o
homem não toque em mulher”. Isso depende do dom
de Deus (v. 7).

B. Dedicar-se à Oração
Falando aos casados, Paulo diz no versículo 5:
“Não vos priveis um ao outro, salvo talvez por mútuo
consentimento, por algum tempo, para vos
dedicardes à oração e, novamente, vos ajuntardes,
para que Satanás não vos tente por causa da
incontinência”. A palavra grega traduzida por
dedicar-se literalmente significa ter prazer, ser livre
para; portanto, entregar-se a. A oração exige que
estejamos livres de pessoas, questões e coisas.
Qualquer oração que exija que fiquemos longe do
cônjuge por algum tempo tem de ser especial e grave.
A vida conjugal freqüentemente nos distrai da
oração e interfere na vida de oração. Ela pode até nos
manter totalmente sem orar. Entretanto, há casos
incomuns onde marido e mulher se ajudam um ao
outro na vida de oração. Mas, na maior parte, o
casamento é uma distração da vida de oração.

C. Não Dar Ocasião a Satanás


No versículo 5, Paulo adverte aos casados que
não sejam tentados por Satanás por causa da
incontinência, ou falta de autocontrole. O tentador,
Satanás, está “de tocaia” para apanhar os crentes. A
falta, de autocontrole pode dar-lhe a oportunidade de
fazer isso.

D. Depende do Dom que Recebemos de Deus


No versículo 7, Paulo diz: “Quero que todos os
homens sejam tais como também eu sou; no entanto
cada um tem de Deus o seu próprio dom; um, na
verdade, de um modo, outro de outro”. Uma vez que o
apóstolo Paulo é tão absoluto pelo Senhor e Sua
economia, ele deseja que todos os homens sejam
como ele (v. 8). Ele deseja que não se casem, mas
permaneçam como ele, para ser absolutos pelos
interesses do Senhor sem distrações (vs. 33, 35).
Nesse desejo, ele expressa a aspiração do Senhor com
relação aos Seus chamados.
Para um crente em Cristo, ser capaz de não se
casar é um dom de Deus (Mt 19:10-12). Para os que
não receberam tal dom, é melhor casar-se (1Co 7:9).
Tudo depende do dom que recebemos de Deus. Se
uma pessoa não tem o dom de não se casar e ainda
deliberadamente se furta ao casamento, ela vai
enfrentar dificuldades e pode prejudicar a si mesma.
A vida matrimonial é problemática, mas se alguém
não tem o dom, a capacidade, de não se casar, deve
casar-se e aceitar as dificuldades do casamento;
senão, ao escolher não se casar, ele pode ter até
dificuldades maiores.

E. É Bom Permanecer Solteiro


O versículo 8 diz: “E aos solteiros e viúvos digo
que lhes seria bom se permanecessem no estado em
que também eu vivo”. Esse era o desejo e opinião do
apóstolo no início de seu ministério (vs. 7, 25, 40).
Mais tarde, depois de testemunhar as conseqüências
reais, ele incentivou as jovens viúvas a se casar (1Tm
5:11-15).
De acordo com a palavra de Paulo nesse
versículo, é bom que um crente permaneça solteiro.
Entretanto, não somos capazes de cumprir essa
palavra sem receber o dom necessário do Senhor.
No versículo 26, Paulo diz: “Considero, por causa
da angustiosa situação presente, ser bom para o
homem permanecer assim como está”. Paulo aqui
indica que, por causa da presente situação, era bom
que as virgens não se casassem. A palavra grega para
presente pode também querer dizer que a presença
de certa coisa prenuncia e inicia algo por vir. A
presente situação ou tensão atual indica que mais
angústia virá, conforme o Senhor profetiza em
Mateus 24:8, 19 e 21. A palavra traduzida por
situação significa força, restrição, ou seja, tensão,
angústia. Refere-se às necessidades da vida na era
atual, a exigência que restringe e pressiona as pessoas
e se torna tensão e angústia para elas. Por isso, é bom
permanecer solteiro (vs. 27, 40a).

F. É Melhor Casar-se, Se Não Se Dominar


No versículo 9, Paulo diz: “Caso, porém, não se
dominem, que se casem; porque é melhor casar do
que viver abrasado”. De acordo com esse versículo, se
alguém não se domina, é melhor casar-se. A palavra
grega para dominar-se aqui também quer dizer
conter-se. A mesma palavra grega é usada em 9:25
para a abstenção do atleta de indulgências sexuais
durante a preparação para os jogos.

G. Permanecer no Casamento para que o


Cônjuge Incrédulo Possa Ser Salvo
Nos versículos 13 e 14, Paulo diz: “E a mulher que
tem marido incrédulo, e esse consente em viver com
ela, não deixe o marido. Porque o marido incrédulo é
santificado no convívio da esposa, e a esposa
incrédula é santificada no convívio do marido crente.
Doutra sorte, os vossos filhos seriam impuros; porém,
agora, são santos”. No versículo 16, Paulo se refere à
possibilidade de a mulher salvar o marido ou de o
marido salvar a mulher. Aqui temos o princípio de
permanecer no casamento para que o cônjuge
incrédulo seja salvo. Isso quer dizer que um crente
que é casado com um incrédulo não deve tomar a
iniciativa de romper o casamento. Em vez de mudar
seu estado conjugal, ele deve permanecer na vida
conjugal a fim de salvar o cônjuge incrédulo.
No versículo 14, Paulo fala de o marido incrédulo
ser santificado pela esposa e a esposa incrédula ser
santificada pelo marido. Ser santificado é ser feito
santo, separado para Deus com vistas ao Seu
propósito. Como a esposa crente é do Senhor e para o
Senhor, assim seu marido incrédulo é santificado,
separado para Deus, pois ele é para a sua esposa, que
é de Deus e para Deus. É semelhante ao templo e ao
altar que tornam as coisas comuns em santas ao
unir-se a elas (Mt 23:17, 19). O mesmo princípio se
aplica à esposa incrédula e aos filhos. Ser santificado
dessa forma não quer dizer que a pessoa é salva,
assim como a santificação da comida por meio da
oração dos santos nada tem a ver com a salvação
(1Tm 4:5).

H. O Cônjuge Descrente Pode Apartar-se para


que o Crente Viva em Paz
No versículo 15, Paulo prossegue: “Mas, se o
descrente quiser apartar-se, que se aparte; em tais
casos não fica sujeito à servidão, nem o irmão, nem a
irmã; Deus vos tem chamado à paz”. Não ficar sujeito
à servidão aqui significa não ficar sob cativeiro, mas
livre do casamento de crente com incrédulo, quando
o incrédulo abandona o crente.
De acordo com esse versículo, “Deus vos tem
chamado à paz”. Deus, em Sua salvação, nos chamou
para Si na esfera e elemento da paz. Assim, devemos
viver nessa paz. Se o cônjuge incrédulo deseja ir-se
embora, devemos permitir que vá. Mas, para que
vivamos na paz na qual Deus nos chamou, Ele não
quer que iniciemos qualquer separação se o outro
consente em permanecer (v. 13). Os versículos
seguintes (vs. 16-24) baseiam-se nisso, que Deus nos
chamou à paz. A palavra “pois” no início do versículo
16 indica que os versículos 16 até 24 são uma
explicação da afirmação que Deus nos chamou à paz.
Para permanecer nessa paz precisamos guardar a
palavra nos versículos 16 a 24.
No versículo 16, Paulo pergunta: “Pois, como
sabes, ó mulher, se salvarás a teu marido? Ou, como
sabes, ó marido, se salvarás a tua mulher?” Uma vez
que não sabemos se salvaremos o marido ou a mulher
incrédula, não devemos insistir em que permaneçam
conosco nem que saiam. Deus quer que
permaneçamos no estado em que Ele nos chamou (vs.
20, 24), e não iniciemos qualquer mudança. Portanto,
devemos deixar a decisão para o cônjuge incrédulo.

I. Permanecer no Estado de Nossa Vocação


No versículo 20, Paulo declara: “Cada um
permaneça na vocação em que foi chamado”. Aqui
vemos que devemos permanecer no estado de nosso
chamamento. Se estivermos casados ao ser
chamados, devemos permanecer no casamento. De
modo semelhante, se estivermos solteiros quando
fomos chamados, é melhor, se possível, permanecer
solteiros.
O versículo 24 diz: “Irmãos, cada um permaneça
diante de Deus naquilo em que foi chamado”. Depois
de chamados, os crentes não precisam mudar o status
externo, mas precisam ter uma mudança na condição
interior, isto é, a de estar sem Deus para estar com
Deus, a fim de ser um com Ele e tê-Lo com eles em
seu estado civil, seja ele qual for.

J. Procurar Cuidar das Coisas do Senhor sem


Outras Preocupações
Outro princípio aqui é cuidar das coisas do
Senhor e Seus interesses sem outra preocupação. O
versículo 32 diz: “O que realmente eu quero é que
estejais livres de preocupações. Quem não é casado
cuida das coisas do Senhor”. No versículo 33, Paulo
ressalta que aquele que é casado, cuida das coisas do
mundo e de como agradar a esposa. Como resultado,
ele é dividido. A palavra grega traduzida por dividido
também quer dizer distraído. Um homem que quer
agradar a esposa é distraído, dividido das coisas do
Senhor (v. 35).

K. Consagrar-se Desimpedidamente ao
Senhor
O versículo 35 diz: “Digo isto em favor dos vossos
próprios interesses; não que eu pretenda enredar-vos,
mas somente para o que é decoroso e vos facilite o
consagrar-vos, desimpedidamente, ao Senhor”. A
palavra grega traduzida por enredar-vos significa
enlaçar com engodo, constranger a obedecer a
palavra de alguém. Não era intenção de Paulo
enredar os santos, mas que se consagrassem ao
Senhor sem distrações. Há distrações na vida
conjugal. Uma pessoa casada sempre terá distrações.

L. Faz Bem quem Dá a Virgem em Casamento;


Faz Melhor quem Decide Manter a
Virgindade
Nos versículos 37 e 38, Paulo diz: “Todavia, o que
está firme em seu coração, não tendo necessidade,
mas domínio sobre seu próprio arbítrio, e isto bem
firmado no seu ânimo, para conservar virgem a sua
filha, bem fará. E assim quem casa a sua filha virgem
faz bem; quem não a casa faz melhor”. No original
não há o vocábulo virgem, assim, nos versículos 36 a
38, virgem se refere tanto a homem como a mulher,
como no versículo 25. De acordo com o versículo 36,
não há nada de errado, se a necessidade exigir, que
alguém dê sua virgindade em casamento.
Para os versículos 36 a 38 a maioria dos
tradutores prefere usar o vocábulo filha antes de
virgem, mas de acordo com as expressões nesses
versículos e o contexto do capítulo, principalmente os
versículos 25 a 28, a tradução na Versão Restauração
é mais lógica, isto é, não usar o vocábulo filha e
entender o vocábulo virgem como virgindade,
referindo-se a ambos os sexos. John Nelson Darby,
em sua Nova Tradução da Bíblia adota esse ponto de
vista.
Se a necessidade exigir, alguém virgem, homem
ou mulher, pode dar-se em casamento. Isso é fazer
bem. Todavia, manter a virgindade de alguém é
melhor. A palavra de Paulo indica que é melhor
permanecer solteiro. Contudo, precisamos
lembrar-nos de que isso depende do dom que cada
um recebeu do Senhor.
M. Depois da Morte do Marido, a Esposa É
Livre para Se Casar Somente com Alguém no
Senhor
Sobre casar-se novamente, Paulo diz no versículo
39: “A mulher está ligada enquanto vive o marido;
contudo, se falecer o marido, fica livre para casar com
quem quiser, mas somente no Senhor”. Depois que o
marido morre, a esposa está livre para se casar com
alguém, somente no Senhor. Esse é outro princípio
básico concernente à vida conjugal.
Estabelecendo esses princípios, Paulo respondeu
às perguntas relativas a casamento levantadas pelos
crentes filosóficos em Corinto. As respostas às
diversas perguntas são encontradas nos princípios.
Por esse motivo, é proveitoso estudá-los, Isso vai
responder a muitas de nossas perguntas sobre
casamento.
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM QUARENTA E DOIS
LIDAR COM A VIDA CONJUGAL (2)

Leitura Bíblica: 1Co 7:1-40


Na vida conjugal há muitas bênçãos. Entretanto,
em 1 Coríntios 7, não é intenção de Paulo enfatizar o
lado abençoado do casamento; antes, sua ênfase está
principalmente nos problemas e distrações
relacionados com a vida matrimonial. O motivo dessa
ênfase é que aqui ele responde a perguntas levantadas
pelos coríntios. Como já enfatizamos, pessoas
filosóficas, reflexivas, têm muitas perguntas sobre
casamento. Para responder às perguntas levantadas
pelos crentes coríntios, Paulo estabelece alguns
princípios básicos sobre vida conjugal. É útil
ponderar sobre eles porque ajudam a responder a
nossas perguntas e também a introduzir-nos no
desfrute da bênção na vida conjugal.
Na mensagem anterior ressaltamos que esses
princípios básicos incluem o seguinte: ser bom para
um homem não tocar em mulher (v. 1); devotar-nos à
oração (v. 5a); não dar ocasião a Satanás (v. 5b); o
dom que recebemos de Deus (v. 7); permanecer
solteiro (vs. 8, 26-27, 40); é melhor casar se não
tivermos domínio próprio (v. 9); permanecer no
casamento para que o cônjuge incrédulo seja salvo
(vs. 13-14, 16); permitir que o cônjuge incrédulo parta
para que o crente viva em paz (v. 15); permanecer no
estado da nossa vocação (vs. 20, 24); buscar cuidar
das coisas do Senhor, sem outras preocupações (vs.
32, 34); consagrar-nos ao Senhor sem impedimentos
(v. 35); quem dá sua virgindade em casamento faz
bem; quem decide mantê-la faz melhor (vs. 36-38); a
esposa fica livre depois da morte do marido para
casar-se com alguém no Senhor (v. 39).
Ao ler esse capítulo e prestar atenção a esses
princípios, também precisamos tocar o espírito do
escritor. O espírito de Paulo é expressado no que ele
escreve. Por esse motivo, não só devemos
familiarizar-nos com os princípios mas também tocar
no espírito do apóstolo. Não conhecer o espírito do
escritor nesse capítulo indica que não temos
considerado adequadamente todos os princípios.
Temos ressaltado que 1 Coríntios 7 é uma
resposta às perguntas feitas a Paulo pelos crentes
filosóficos em Corinto. Nesse capítulo, muitos itens
são abordados, cada um dos quais é uma resposta.
Assim, os muitos tópicos nesse capítulo indicam que
os coríntios com certeza tinham muitas perguntas
acerca da vida matrimonial.

ABSOLUTOS PELO SENHOR


Nada é mais representativo da vida humana do
que a vida conjugal. Em certo sentido, a vida humana
é simplesmente a vida matrimonial. As questões que
envolvem o nosso trabalho e viver diário estão
relacionadas com a vida conjugal. Por esse motivo,
podemos dizer que a vida matrimonial representa o
viver humano.
Ao responder às perguntas feitas pelo coríntios
sobre a vida matrimonial, Paulo foi simples, direto,
franco e autêntico. Ele não disse nada ambíguo ou
falou de forma política. Além disso, respondeu todas
as perguntas segundo sua experiência cristã. É por
isso que ele diz no versículo 7: “Quero que todos os
homens sejam tais como também eu sou”. No
versículo 8, ele declara: “Seria bom se
permanecessem no estado em que também eu vivo”.
Isso indica que ele responde às perguntas relativas ao
casamento conforme o que ele é e vive. Assim, se
quisermos ter uma compreensão completa desse
capítulo, precisamos perguntar para o que Paulo
vivia. Ele era uma pessoa absoluta. Seu espírito era
absoluto pelo Senhor e Sua economia. Quando lemos
esse capítulo, percebemos que a sua aspiração era que
todos os crentes o imitassem e o seguissem em ser
pelo Senhor. Ele aqui parece dizer: “Sou absoluto pelo
Senhor e espero que todos vocês o sejam também.
Nessa questão, quero que todos vocês me sigam”.

NÃO INICIAR COISA ALGUMA


Paulo não só era absoluto pelo Senhor, mas
também totalmente um com Deus. Como era um com
Deus, ele respondia às perguntas de tal forma que os
coríntios pudessem ser ajudados a também ser um
com Ele em todas as circunstâncias, condições e
situações. Sabemos disso pelo fato de que, ao
responder certas perguntas, ele seguiu o princípio de
não iniciar ou mudar coisa alguma. Ele deixou isso
muito claro aos coríntios, que não deviam iniciar
qualquer ação ou mudar sua situação de forma
alguma.
Mudar nossa situação ou iniciar qualquer ação
indica que não somos um com Deus e não queremos
sê-lo. Se gostamos de ser um com Deus e o somos de
fato, não iniciamos qualquer mudança,
principalmente as relacionadas com a vida conjugal.
Pelo contrário, nossa atitude será: “Se Deus quiser
que eu me case, que Ele dê início a isso e opere isso.
Se não quiser que eu me case, com certeza me
concederá o dom de que preciso para permanecer
sem casar”. Esse dom produzirá uma disposição, até
mesmo um desejo, de permanecer solteiro; também
fornecerá a capacidade de permanecer solteiro.
Entretanto, ninguém deve tomar essa decisão por
conta própria. Tem de ser Deus quem toma a
iniciativa e nos concede tanto o desejo como o dom
para permanecer sem casar. Paulo não era casado;
contudo, não tomou sozinho essa decisão, antes, ela
foi iniciada por Deus, que lhe deu o desejo e a
capacidade necessários. Esse foi o dom que ele
recebeu do Senhor. Repetindo: se devemos ou não
casar-nos, não cabe a nós iniciar qualquer ação;
devemos deixar essa questão para o Senhor.
Em 1 Coríntios 7, Paulo deixa muito claro aos
coríntios que eles não deviam mudar seu estado civil
ou iniciar qualquer coisa. No versículo 12, ele diz: “Se
algum irmão tem mulher incrédula, e esta consente
em morar com ele, não a abandone”. No versículo 13,
Paulo diz o mesmo da esposa crente: “E a mulher que
tem marido incrédulo, e este consente em viver com
ela, não deixe o marido”. Nos versículos 17 a 24,
vemos que devemos permanecer na condição de
nossa vocação. No versículo 17, ele nos exorta
categoricamente a permanecer no estado civil no qual
o Senhor nos chamou: “Ande cada um segundo o
Senhor lhe tem distribuído, cada um conforme Deus
o tem chamado”. No versículo 20, ele prossegue:
“Cada um permaneça na vocação em que foi
chamado”. Então, no versículo 24, ele conclui:
“Irmãos, cada um permaneça diante de Deus naquilo
em que foi chamado”. Isso indica que os crentes têm
de ser um com Deus e tê-Lo com eles em sua situação,
não importa qual seja. Esses exemplos indicam que
Paulo era totalmente um com Deus e queria que os
crentes coríntios também o fossem e não iniciassem
qualquer mudança ou ação.
Os crentes coríntios, todavia, eram bem
diferentes de Paulo. Em vez de ser absolutamente um
com o Senhor, eles exercitavam sua sabedoria e
filosofia. Filosofavam sobre tudo, inclusive
casamento. Alguns pensavam que era melhor não se
casar; já outros preferiam a vida conjugal. A sua
maneira de pensar e falar sobre casamento indica que
entre eles havia muita iniciativa humana. Por isso, ao
responder a suas perguntas, Paulo categoricamente
indica que nessa questão, não devemos iniciar coisa
alguma.
Nesse capítulo, vemos que o espírito de Paulo era
totalmente um com Deus. Ele não estava disposto a
mudar ou iniciar coisa alguma. Esse era o motivo de
dizer aos coríntios que não mudassem sua condição
no tocante ao casamento. Os que estavam casados ao
ser chamados pelo Senhor deviam permanecer
casados. Esse princípio se aplica até mesmo ao
casamento com um incrédulo. O crente casado não
deve iniciar qualquer mudança. Pelo contrário, a
questão toda deve ser deixada com Deus. Se o cônjuge
incrédulo permanece ou vai embora, o crente deve
deixar a situação com o Senhor. Tudo depende de
Deus e das situações, circunstâncias e condições
arranjadas por Ele.
Um crente que é absoluto da mesma forma que
Paulo, deve ser capaz de dizer: “Não tenho problema
algum com a situação ou circunstâncias relacionadas
com minha vida conjugal. Se meu cônjuge incrédulo
permanecer comigo, louvo ao Senhor. Se prefere ir
embora, também deixo isso com o Senhor. Seja como
for, não tenho problema algum e não luto ou combato
com o Senhor. Percebo que tudo depende de Deus.
Não quero iniciar nada”. Essa é a atitude de alguém
que é absoluto para com Deus e um com Ele. É
alguém que não inicia ou tenta mudar coisa alguma.
Paulo até aplica esse princípio aos que eram
escravos quando foram chamados pelo Senhor:
“Foste chamado sendo escravo? não te preocupes
com isso; mas, se ainda podes tomar-te livre,
aproveita a oportunidade” (v. 21). Essas palavras
indicam que um escravo não deve buscar mudar sua
condição; pelo contrário, deve usar sua condição de
escravo para glorificar a Deus, isto é, permanecer nela
com Deus para a Sua glória. Mesmo que seja possível
tomar-se livre, ele deve permanecer em sua
escravidão. Não deve tentar mudar nada. Entretanto,
se Deus arranjar circunstâncias que o tirem da
escravidão, ele não deve resistir e insistir em
permanecer escravo. Já que Deus preparou uma
mudança, ele deve aceitá-la. Em qualquer caso, sua
atitude deve ser a de alguém com Deus.
É importante ver esse princípio de ser totalmente
um com o Senhor em todas as circunstâncias,
situações e condições. Se estivermos cônscios desse
princípio ao ler 1 Coríntios 7, veremos que Paulo era
totalmente um com o Senhor e, em suas instruções e
respostas, ele espontânea e inconscientemente
expressa tal espírito absoluto. Por ter tal espírito, ele
pôde responder às perguntas dos coríntios de forma
clara e absoluta, de forma que os ajudaria também a
se tomar um com Deus em sua situação.
As respostas de Paulo são muito diferentes das
que são dadas por conselheiros matrimoniais'. O
conselho dado por conselheiros matrimoniais revela
que são independentes de Deus e até mesmo rebeldes
contra Ele. Em suas instruções, conselhos e respostas,
eles são totalmente fora de Deus. Paulo, pelo
contrário, estava absolutamente submisso a Deus, era
para Deus e um com Deus.

ACEITAR NOSSA SITUAÇÃO


Outro ponto muito importante revelado nesse
capítulo é que os que amam ao Senhor, que são por
Ele e são um com Ele, têm de estar dispostos a aceitar
todo tipo de circunstância ou situação. Por exemplo,
se a esposa incrédula de um irmão deseja permanecer
com ele, ele deve aceitar essa situação; mas se ela
decidir ir embora, ele também deve aceitar isso.
É muito importante ver que Deus está sempre
presente nas circunstâncias ao nosso redor. Podemos
dizer que elas são, na verdade, Deus vindo até nós
disfarçado. Aparentemente, estamos passando por
determinada circunstância; na verdade, ela é Deus
chegando até nós e Deus conosco. No versículo 24,
Paulo diz: “Irmãos, cada um permaneça diante de
Deus naquilo em que foi chamado”. Note as palavras
“diante de Deus”. Elas indicam que quando aceitamos
nossa situação, aceitamos Deus. Tanto nas
circunstâncias como por trás delas, Deus está
presente.
Novamente vemos que Paulo tinha um excelente
espírito, que era submisso, contente e satisfeito. Ele
não tinha quaisquer queixas. Em seu espírito, ele era
muito submisso e estava contente com sua situação.
Não importa como fosse tratado, ele não se queixava.
Para ele, toda situação era preparada pelo Senhor e
ele não iria iniciar coisa alguma para mudá-la. Ele
podia dizer: “Para mim, tudo opera para o bem. Esse
é o motivo de eu não querer mudar nada. Sei que
quando aceito minha situação, estou aceitando meu
Deus. Em todas as circunstâncias está o meu Deus, a
quem amo e ao qual pertenço inteiramente”. Que
espírito excelente é manifestado nessa atitude!
Em 1 Coríntios 7, o espírito de Paulo é expresso
na forma como ele lida com as perguntas feitas pelos
crentes coríntios. Quando lemos esse capítulo,
precisamos sentir o espírito de Paulo e até mesmo
tocá-lo.
A maneira de responder aos outros ou reagir à
situação sempre indica que tipo de espírito temos.
Suponha que um irmão esteja muito feliz de manhã.
Quando a esposa o chama para o café da manhã, ele
diz: “Louvado seja o Senhor!” Sua resposta revela seu
espírito. Mas suponha que seu espírito esteja pesado
quando a esposa o chama. Ele pode responder de
maneira muito diferente, que indica que não está
feliz. Sua reação pode indicar que está descontente
com a esposa e que tem um problema com o Senhor.
O princípio aqui é que nossas respostas e reações
sempre expressam nosso espírito.
Aprecio 1 Coríntios 7, não por todas as respostas
que dá, mas principalmente porque mostra o espírito
de alguém que ama o Senhor, que cuida dos
interesses do Senhor na terra, que é absoluto pelo
Senhor e um com Ele, e em todos os aspectos é
obediente, submisso e está satisfeito com Deus e com
as circunstâncias arranjadas por Ele.
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM QUARENTA E TRÊS
LIDAR COM A VIDA CONJUGAL (3)

Leitura Bíblica: 1Co 7:6, 10, 12, 29, 35, 25, 40


Na mensagem anterior abordamos os princípios
básicos no capítulo sete acerca da vida conjugal.
Nesta, vamos considerar a questão muito importante
do ensinamento do apóstolo.

II. O ENSINAMENTO DO APÓSTOLO

A. No Princípio da Encarnação
O ensinamento do apóstolo Paulo é totalmente
diferente do ensinamento dos profetas no Antigo
Testamento. É-nos dito que quando os profetas
falavam por Deus no Antigo Testamento, a palavra do
Senhor vinha até eles e os capacitava a falar no lugar
de Deus. Freqüentemente os profetas diziam: “Assim
diz o Senhor”. Muitos que estão no pentecostalismo
seguem a prática do Antigo Testamento. O
catolicismo leva as pessoas de volta ao Antigo
Testamento nos rituais, mas o pentecostalismo os
leva de volta na forma de profetizar. Além disso, de
acordo com minha experiência, os crentes
pentecostais com mais freqüência cantam mais
trechos do Antigo Testamento do que do Novo.
Especificamente, cantam versículos de Salmos e
Isaías. Embora sejam crentes do Novo Testamento,
algumas de suas praticas estão de acordo com o
Antigo Testamento. Dizer: “Assim diz o Senhor”, na
forma do Antigo Testamento é muito superficial. A
maneira de falar do Novo Testamento é muito
diferente.
O Novo Testamento tem duas características
marcantes: é misterioso e profundo; é um livro de
mistérios e profundezas. É muito superficial
profetizar à maneira do Antigo Testamento, mas
profetizar na forma de edificar a igreja é profundo. De
modo semelhante, cantar trechos de Salmos ou Isaías
pode ser superficial, mas cantar o terceiro capítulo de
Efésios, principalmente os versículos sobre Cristo
fazer morada em nosso coração para que sejamos
tomados de toda a plenitude de Deus é cantar sobre
coisas que são profundas e misteriosas. Você conhece
algum cristão hoje que cante sobre ser um espírito
com o Senhor, ou sobre seu corpo ser membro de
Cristo? Como vimos, Paulo fala de tais questões em 1
Coríntios 6. Entretanto, para muitos crentes, as
palavras de Paulo são como língua estrangeira. Eles
vivem na superfície, nunca tocaram as profundezas
da revelação divina no Novo Testamento.
Primeira Coríntios 7 é misterioso e profundo.
Nesse capítulo, Paulo nunca profere as palavras:
“Assim diz o Senhor”. O motivo de não usar tal
expressão é que o ensinamento dos apóstolos no
Novo Testamento baseia-se totalmente no princípio
da encarnação, segundo o qual Deus fala no falar do
homem. Quando o Senhor Jesus falava, era difícil
discernir quem estava falando. Certamente, era um
homem que estava falando. Contudo, esse homem
não declarou: “Sou profeta de Nazaré. Ontem à noite,
veio a mim a palavra de Deus e agora quero falá-la a
vocês. Assim diz o Senhor”. Quando falava aos
fariseus, o Senhor Jesus parecia ser alguém comum
de Nazaré. Não havia qualquer indício de que Ele era
diferente, e os fariseus O consideravam como um
homem sem estudo. Ele, porém, é Deus encarnado.
Com Ele há a realidade da encarnação. Assim,
enquanto Ele falava, Deus também falava. Na
verdade, o Seu falar era o falar de Deus. Deus falava
com Ele. Isso quer dizer que Nele, Deus e o homem
falavam juntos como um só. Esse é o princípio da
encarnação.
No dia de Pentecostes, os apóstolos e os
discípulos também começaram a falar de acordo com
o princípio da encarnação. Esse é o motivo de os
escritos de Pedro, João e Paulo registrados na Bíblia
se tornarem as palavras de Deus. Além disso, essas
palavras são parte do teor do Novo Testamento.
Embora em 1 Coríntios 7 Paulo escreva que certas
coisas que ele diz não são palavra do Senhor ou
mandamento do Senhor, tudo que ele diz nesse
capítulo se tornou parte da revelação divina no Novo
Testamento. Isso é porque ele era totalmente um com
Deus. Mesmo quando diz não ter uma palavra do
Senhor, Ele fala no seu falar. Por ser um com o
Senhor, quando Paulo falava, o Senhor falava com
ele. Assim, em 1 Coríntios 7 temos um exemplo do
princípio da encarnação. É muito importante que
vejamos esse princípio e o compreendamos.

B. Alguns Ensinamentos como Concessão,


Não por Mandamento
Em 7:6, Paulo diz: “E isto vos digo como
concessão e não por mandamento”. O termo
mandamento aqui implica que o apóstolo ao ensinar
tem autoridade para dar mandamentos aos crentes.
Entretanto, o que ele diz em 7:1-5 é na forma de
concessão, e não de mandamento.
C. Em Alguns Assuntos Paulo Ordena; Não
Ele, mas o Senhor
O versículo 10 diz: “Ora, aos casados, ordeno,
não eu, mas o Senhor, que a mulher não se separe do
marido”. Vimos que o princípio do Antigo
Testamento de falar por Deus, de profetizar, é:
“Assim diz o Senhor” (Is 10:24; 50:1; Jr 2:2; Ez 2:4).
Mas o princípio da encarnação do Novo Testamento é
“ordeno”, ou seja, o orador ordena. O orador e o
Senhor são um. Assim, ele também diz: “Não eu, mas
o Senhor”. A palavra grega para ordenar pode
também ser traduzida por prescrever ou impor.
As palavras “ordeno, não eu, mas o Senhor”
indicam duas coisas: primeiro que o apóstolo é um
com o Senhor; por isso, o que ele ordena, o Senhor
também ordena. Segundo, seus mandamentos são do
Senhor. O que Paulo ordena aqui, o Senhor já tinha
ordenado em Mateus 5:31-32 e 19:3-9. Divórcio é
totalmente proibido pelo Senhor.
O princípio em 7:10 é o mesmo que em Gálatas
2:20, em que Paulo diz: “Logo, já não sou eu quem
vive, mas Cristo vive em mim”. Nos dois versículos,
vemos o princípio da encarnação: duas pessoas
vivendo como uma só. Em 7:10, temos duas pessoas,
o Senhor e Paulo, falando como uma só. Esse é o
motivo de Paulo dizer: “Ordeno, não eu, mas o
Senhor”. Por que Paulo não diz nesse versículo: “Mas
aos casados ordena o Senhor”? Por que diz que ele
ordena, ainda que não ele, mas o Senhor? A resposta
é que Paulo percebia que era um com o Senhor e o
que falava era palavra do Senhor. Mesmo quando
dizia não ter palavra do Senhor, pelo fato de ser um
com o Senhor, tudo o que dizia era palavra do Senhor.
D. Em Algumas Questões Paulo Deixa Claro
que É Ele quem Diz, e Não o Senhor
Em algumas questões, Paulo deixa claro que ele é
quem diz, e não o Senhor. Por exemplo, no versículo
12, ele diz: “Aos mais digo eu, não o Senhor: Se algum
irmão tem mulher incrédula, e essa consente em
morar com ele, não a abandone”. Essa palavra
também é baseada no princípio da encarnação do
Novo Testamento. Embora seja cuidadoso em
acrescentar “não o Senhor”, tudo o que ele diz nos
versículos seguintes é parte da revelação divina no
Novo Testamento. É sua opinião no Senhor, e não o
mandamento do Senhor, e ainda assim expressa a
mente do Senhor.
Você consegue sentir o espírito de Paulo nesses
versículos? Ele aqui parece dizer: “Embora perceba
que essa palavra é minha e não do Senhor, ainda creio
que isso Lhe agrada. Ele Se compraz quando se
guarda a paz. Embora Ele não tivesse dito tal palavra,
tenho certeza que isso Lhe agrada. Por isso, digo que
o irmão não deve deixar a mulher incrédula se ela
consente em morar com ele. De modo semelhante, a
irmã não deve deixar o marido incrédulo se ele
consente em morar com ela. Entretanto, se o
incrédulo desejar deixar a irmã, ou se a mulher
incrédula quiser deixar o irmão, não se deve
contender. Antes, deve-se deixar o cônjuge ir porque
Deus nos chamou à paz. Sou eu quem está dizendo
isso, e não o Senhor. Ainda assim creio que tal falar
agrada ao Senhor”.
Aqui vemos uma pessoa que é uma com o
Senhor. Por isso, ela conhece o Seu coração, mente e
prazer. Por esse motivo, tem a ousadia de proferir
algo que o Senhor não falou.
Nos versículos 29 e 35, Paulo também deixa claro
que é ele que fala, e não o Senhor. No versículo 29, ele
diz: “Isto, porém, vos digo, irmãos: o tempo se
abrevia; o que resta é que não só os casados sejam
como se o não fossem”. No versículo 35, ele escreve:
“Digo isso em favor dos vossos próprios interesses;
não que eu pretenda enredar-vos, mas somente para
o que é decoroso e vos facilite o consagrar-vos,
desimpedidamente, ao Senhor”. Em ambos os
versículos, está claro que é ele que fala. Entretanto, o
Senhor fala no falar de Paulo.

E. Paulo Não Tem Mandamento do Senhor


sobre Certas Questões, mas Dá Sua Opinião
O versículo 25 diz: “Com respeito às virgens, não
tenho mandamento do Senhor; porém dou minha
opinião como tendo recebido do Senhor a
misericórdia de ser fiel”. A mulher não deve
separar-se do marido. Isso, diz o apóstolo, é
mandamento do Senhor (v. 10), mas sobre as virgens
não se casarem, ele diz que não tem mandamento do
Senhor, mas dá sua opinião nos versículos seguintes.
Ele ousa fazer isso porque recebeu misericórdia do
Senhor para ser fiel aos Seus interesses e é de fato um
com o Senhor. Sua opinião expressa o desejo do
Senhor. Isso novamente se baseia no princípio da
encarnação do Novo Testamento.
Alguns leitores de 1 Coríntios podem pensar que
Paulo era muito ousado ao dar sua opinião quando
não tinha mandamento do Senhor. Quem entre nós
ousaria dizer que não tem mandamento do Senhor
sobre certa questão, e ainda assim dar sua opinião?
Contudo, é exatamente isso que Paulo faz no
versículo 25. Aqui vemos a mais elevada
espiritualidade, de uma pessoa tão unida ao Senhor
que até mesmo sua opinião expressa a mente do
Senhor. Paulo era totalmente um com o Senhor e
plenamente saturado Dele. Como todo o seu ser era
permeado do Senhor, até mesmo sua opinião
expressava a mente do Senhor. Por esse motivo,
dizemos que o versículo 25 expressa a mais elevada
espiritualidade.
No versículo 26, Paulo dá sua opinião:
“Considero, por causa da angustiosa situação
presente, ser bom para o homem permanecer assim
como está”. Já enfatizamos que a palavra grega para
presente também pode significar que a presença de
determinada coisa prenuncia e inicia algo por vir. A
palavra grega para situação se refere às necessidades
da vida na era atual, a exigência do que restringe e
pressiona as pessoas e se toma tensão e angústia para
elas. Paulo percebia que a era atual era uma era de
pressão, e cheia de necessidades. Os que são casados
e têm filhos são mais pressionados pelas necessidades
que os solteiros. Certamente, há muitas bênçãos na
vida conjugal, mas se formos honestos vamos admitir
que nela somos sempre pressionados. Os que têm
filhos e netos podem testificar isso. Por um lado, os
filhos nos fazem felizes; por outro, fazem com que
soframos.
Por causa da situação atual, Paulo pensava que
era bom para os outros permanecer como ele estava.
Percebia que, se um irmão ou irmã permanecesse
solteiro, esse seria poupado da pressão causada pela
situação atual.

F. Pensava que Também Ele Tinha o Espírito


de Deus, mesmo ao Ensinar Algo de acordo
com Sua Opinião
No versículo 40, Paulo diz: “Todavia será mais
feliz se permanecer viúva, segundo a minha opinião; e
penso que também eu tenho o Espírito de Deus”. No
versículo 10, o apóstolo diz: “Ordeno, não eu, mas o
Senhor”. No versículo 12, diz: “Digo eu, não o
Senhor”. No versículo 25, diz: “Não tenho
mandamento do Senhor; porém dou minha opinião”.
Aqui ele diz: “Segundo a minha opinião; e penso que
também eu tenho o Espírito de Deus”. Todas essas
palavras indicam o princípio da encarnação do Novo
Testamento, isto é, Deus e o homem, o homem e
Deus, tornando-se um. Isso difere drasticamente do
princípio da profecia do Antigo Testamento: falar por
Deus. No Antigo Testamento, como já enfatizamos, a
palavra de Jeová vinha sobre um profeta (Jr 1:2; Ez
1:3), que era simplesmente o porta-voz de Deus. No
Novo Testamento, porém, o Senhor se toma um com
Seus apóstolos e eles se tomam um com Ele. Ambos
falam juntos. Sua palavra se torna palavra deles, e
tudo o que proferem é Sua palavra. Daí a exortação do
apóstolo ser a exortação do Senhor (v. 10). O que ele
diz, embora não seja pelo Senhor, ainda se toma parte
da revelação divina no Novo Testamento (v. 12). Ele é
tão um com o Senhor que até quando dá sua opinião,
e não o mandamento do Senhor (v. 25), ainda pensa
que também tem o Espírito de Deus. Ele não
proclama definitivamente ter o Espírito de Deus, mas
pensa que também ele tem o Espírito de Deus. Essa é
a mais alta espiritualidade, baseada no princípio da
encarnação.
Precisamos ver o princípio da encarnação
ilustrado aqui e receber misericórdia e graça do
Senhor para falar de forma autêntica e franca, sem
qualquer fingimento. A fim de falar assim,
precisamos ser saturados do Espírito. Então, o que
proferirmos e expressarmos será o nosso
pensamento, nossa opinião, mas será algo do Senhor
porque somos um com Ele.

G. O Ensinamento do Apóstolo Torna-se a


Palavra de Deus no Novo Testamento
Tudo O que o apóstolo ensina, não importa
como, toma-se a palavra de Deus no Novo
Testamento.
Novamente quero enfatizar a importância de
tocar o espírito de Paulo em 1 Coríntios 7. Em suas
respostas às perguntas levantadas pelos crentes
coríntios, Paulo expressa seu espírito. Isso nos torna
possível sentir seu espírito. Ele por certo era
absolutamente pelo Senhor e um com Ele. Mesmo
expressando sua opinião, ele tinha o sentimento de
que também tinha o Espírito de Deus. Esse é o
ensinamento do Novo Testamento e a maneira que
devemos seguir hoje. Não siga a maneira pentecostal
superficial de copiar o modo de profetizar do Antigo
Testamento. Pelo contrário, siga a maneira de Paulo
de tocar as profundezas do mistério do Novo
Testamento. Esse mistério é que o Senhor e nós, nós e
o Senhor, nos tornamos um espírito.
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM QUARENTA E QUATRO
LIDAR COM A QUESTÃO DE COMER COISAS
SACRIFICADAS A ÍDOLOS (1)

Leitura Bíblica: 1Co 8:1-13


Vimos que 6:12-20 podem ser considerados
como uma introdução de Paulo ao lidar com a vida
conjugal e ao lidar com comer coisas sacrificadas a
ídolos. Tanto o casamento como a questão de comer
foram ordenados por Deus. Portanto, para casar-nos
e comer temos liberdade. Entretanto, precisamos
usar essas coisas da maneira de Deus e para o Seu
propósito, e não para nossas concupiscências. Além
disso, a questão de casar-se e a questão de comer
estão relacionadas com o corpo físico. Paulo diz em
6:13 que o corpo é para o Senhor; em 6:15, que o
nosso corpo é membro de Cristo; e em 6:19, que o
nosso corpo é santuário do Espírito Santo.
Como seres humanos, somos uma entidade
completa composta de espírito, alma e corpo. Para
que nosso corpo seja o santuário do Espírito Santo,
todo o nosso ser (espírito, alma e corpo) tem de estar
envolvido. Uma vez que somos uma entidade
completa, nenhuma parte de nosso ser deve ser
separada das outras. Por um lado, nosso corpo é que é
membro de Cristo e o santuário do Espírito. Por
outro, nosso espírito também está envolvido. Por esse
motivo, na passagem em que enfatiza que o corpo é
membro de Cristo e santuário do Espírito Santo,
Paulo nos diz que somos um espírito com o Senhor
(6:17).
No capítulo sete, ele chega à questão do
casamento. A vida conjugal com certeza envolve todo
o nosso ser. De acordo com o que ele diz nesse
capítulo, precisamos ser para o Senhor, um com Ele,
submissos a Ele, comprometidos com Ele e contentes
Nele pelas circunstâncias ao nosso redor. Precisamos
considerar que a nossa situação provém do Senhor e
estar com Ele em todo tipo de circunstâncias. Isso
exige que exercitemos o espírito para praticar ser um
espírito com o Senhor. Isso também é ter uma vida
em que o nosso corpo é membro de Cristo e santuário
do Espírito Santo. Se tocarmos as profundezas do
capítulo sete, veremos que as respostas às questões
sobre casamento se consumam na descrição de
alguém que é um com o Senhor e que vive de tal
forma que todo o seu ser é a habitação do Senhor.
Porquanto seu corpo é membro de Cristo e santuário
do Espírito Santo, ele não vai usá-lo para nenhum
outro propósito além do que foi ordenado por Deus.
Além do mais, será submisso ao Senhor e à Sua
orientação, sempre permanecendo na situação por
Ele preparada sem iniciar qualquer mudança. Assim
ele é alguém que é um com o Senhor para Seu
propósito.
No capítulo oito, Paulo lida corri a questão de
comer, que é até mais prática que a da vida conjugal.
Podemos viver sem ser casados, mas não sem comer.
Comer é uma necessidade absoluta. Deus criou-nos
de tal maneira que precisamos comer a fim de viver.
Essa é a ordenação de Deus.
Ao prosseguir do capítulo um para o capítulo
oito, descobrimos que o modo de Paulo lidar com os
problemas toma-se mais e mais prático. A questão de
comer mencionada no capítulo oito é muito mais
prática que a filosofia mencionada no capítulo um.
Filosofia envolve conceitos abstratos, ao passo que
comer é extremamente concreto e prático.
Vimos que nos primeiros quatro capítulos de 1
Coríntios , muitas coisas espirituais são reveladas. O
princípio é o mesmo ao lidar com a questão de comer
coisas sacrificadas a ídolos. Três capítulos abordam
isso. Neles há muitos realces importantes.
No capítulo oito, Paulo fala de um comer que não
é aconselhável, enfatizando nos versículos 1 a 3 que
tal comer não está de acordo com o amor que edifica.
Os versículos 4 a 7 indicam que ídolos nada são, e o
versículo 8, que alimento não nos recomenda a Deus.
Por fim, nos versículos 9 a 13, Paulo fala sobre fazer
com que irmãos fracos tropecem.

I. UM COMER DESACONSELHÁVEL

A. Não de acordo com o Amor que Edifica


Em 8:1, Paulo diz: “No que se refere às coisas
sacrificadas a ídolos, reconhecemos que todos somos
senhores do saber. O saber ensoberbece, mas o amor
edifica”. Nesse capítulo, dois termos gregos são
usados para saber. Um é oida (vs. 1, 4), significando
consciência interior, subjetiva, conhecimento
intuitivo (usado em Jo 8:55, como conhecimento; 1Co
12:2; 2Tm 1:12; 3:14-15). É a raiz da qual se deriva a
palavra grega para consciência. O outro é ginósko (vs.
2-3), que se refere ao conhecimento exterior,
objetivo. A palavra saber, ou conhecimento, nos
versículos 1, 7 e 10 é o substantivo derivado de
ginósko, referindo-se ao conhecimento exterior e
objetivo, é comum e geral a todos.
O conhecimento exterior e objetivo que
ensoberbece advém da árvore do conhecimento do
bem e do mal, a fonte da morte. O amor espiritual,
não carnal, que é expressão de vida, descrito no
capítulo treze, edifica; advém da árvore da vida, da
origem da vida. Esse é o amor de Deus (1Jo 4:16)
infundido em nós pela fé que nos introduziu na união
orgânica com Deus. Por esse amor, amamos a Deus
(1Co 8:3) e os irmãos (1Jo 4:21), e de acordo com ele
devemos andar (Rm 14:15). Assim, nosso andar
edifica (1Co 10:23). O termo “edifica” nesse versículo
refere-se não só à edificação dos crentes individuais,
mas também do Corpo coletivo de Cristo (14:4-5, 12;
Ef 4:16). Esse livro enfatiza a questão de edificação
(3:9-10, 12; 10:23).
Já ressaltamos que o conhecimento que
ensoberbece e o amor que edifica estão relacionados
com as duas árvores no jardim do Éden. o
conhecimento refere-se à árvore do conhecimento, e
o amor refere-se à árvore da vida. Quando escreveu
essa Epístola, Paulo provavelmente tinha tal
compreensão dessas duas árvores. Além disso, nesse
livro, essas árvores são ilustradas, embora não haja
menção delas diretamente. Na verdade, 1 Coríntios
lida com a árvore da vida, que supre vida, e a árvore
do conhecimento, que mata. Assim, nesse livro há
duas linhas: a linha da vida e a linha do
conhecimento. O conhecimento ensoberbece e até
mata, mas o amor supre vida e edifica os outros com
vida. Vida é para a edificação, e a edificação é
realizada pela vida.
Os versículos 2 e 3 dizem: “Se alguém julga saber
alguma coisa, com efeito não aprendeu ainda como
convém saber. Mas se alguém ama a Deus esse é
conhecido por Ele”. Nesses versículos, a palavra grega
para saber, ou conhecer, é ginósko. O amor no
versículo 3 é o mais elevado e nobre. Tem de ser
espiritual, não carnal, embora envolva o exercitar de
todo o ser do homem (Mc 12:30).
No versículo 3, Paulo parece estar dizendo aos
coríntios que eles não precisam usar tanto
conhecimento; pelo contrário, precisam amar a Deus.
Amar a Deus é a base de nossa vida cristã. Se não
tivermos tal amor, não teremos o fundamento, a base,
para a vida cristã. No tocante à vida cristã, o
conhecimento é como vapor, que pode desaparecer
rapidamente. Amar a Deus, entretanto, é algo sólido e
substancial. Assim, ele é a base de nossa vida cristã.
No versículo 3, Paulo diz que se amarmos a Deus,
seremos conhecidos por Ele. É mais necessário ser
conhecido por Deus do que conhecê-Lo, A expressão
“conhecido por ele” é muito significativa. Ser
conhecido por Deus significa pertencer a Ele. Quem é
conhecido por Deus se toma Sua posse, gozo,
entretenimento e prazer. Nosso conhecimento não
agrada a Deus, mas, se O amarmos, nós O faremos
feliz. Ele nos conhecerá, nos alegrará e ficará feliz
conosco. Até mesmo vai encontrar em nós o Seu
prazer. Tudo isso está implícito nas palavras
“conhecido por ele”.
No versículo 3, Paulo parece estar dizendo aos
coríntios: “Vocês, crentes em Corinto, precisam
perceber que Deus não os conhece. Ele não se agrada
de vocês, Dizer que Deus não os conhece significa que
Ele não aprova a sua maneira de ser e agir”.
Conforme Mateus 7:22, muitos dirão ao Senhor Jesus
na hora de Sua volta: “Senhor! Senhor! porventura,
não temos nós profetizado em Teu nome, e em Teu
nome não expelimos demônios, e em Teu nome não
fizemos muitos milagres?” O Senhor responderá:
“Nunca vos conheci. Apartai-vos de Mim, os que
praticais a iniqüidade” (v. 23). Como pode o Senhor
onipotente e onipresente dizer que não conhece
alguém quando Ele sabe tudo sobre nós? O motivo de
Ele dizer tal coisa é que a afirmação: “Nunca vos
conheci” em Mateus 7:23 significa: “Nunca aprovei o
que fizestes. Nunca fiquei satisfeito convosco ou vos
tive como Minha alegria e tesouro”. Ser conhecido
por Deus implica que Ele nos aprova, desfruta e
possui como tesouro.

B. Ídolos Nada São


No versículo 4, Paulo prossegue: “No tocante à
comida sacrificada a ídolos, sabemos que o ídolo de si
mesmo nada é no mundo, e que não há senão um só
Deus”. A palavra grega para sabemos aqui é oida.
Perceber que um ídolo nada é e que não há outro
Deus senão um só, exige uma consciência interior e
subjetiva derivada do espírito mediante a mente. Isso
é muito mais profundo que o conhecimento exterior e
objetivo apenas na mente.
Nos versículos 5 e 6, Paulo continua: “Porque,
ainda que há também alguns que se chamem deuses,
quer no céu, ou sobre a terra, como há muitos deuses
e muitos senhores, todavia, para nós há um só Deus, o
Pai, de quem são todas as coisas e para quem
existimos”. No versículo 6, as palavras “para nós”
referem-se aos crentes em Cristo, os cristãos. O único
Deus no versículo 6 está em contraste com os muitos
deuses no versículo 5. Nosso Deus é unicamente um.
Nesse versículo, o Pai é uma designação para o nosso
Deus, que é a fonte de todas as coisas. Essa
designação O toma totalmente diferente dos muitos
deuses falsos. Aqui, “Pai” não se refere a Deus como
Pai dos regenerados, mas à fonte de todas as coisas.
Isso é provado pelas palavras “de quem são todas as
coisas”. Todas as coisas provêm de Deus como fonte.
Dessa forma, Ele é chamado de Pai. Não só Ele é
nosso Pai na regeneração, mas também o Pai de todas
as coisas criadas, porque todas as coisas advieram
Dele.
Não só todas as coisas são do Pai mas nós somos
“por Ele”. Entre toda a criação de Deus, somente nós,
os crentes, somos para Ele. Isso quer dizer que
embora todos sejamos de Deus, somente nós
voltaremos para Ele para estar com Ele. Estar com
Deus indica união com Ele. A preposição “de” indica a
fonte, mas a preposição “para” indica união. Como
cristãos, somos tanto de Deus como para Ele.
No versículo 6, Paulo também diz que para nós
há “um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as
coisas, e nós também por ele”. O único Senhor aqui
contrasta com os muitos senhores no versículo 5.
Nosso Senhor é unicamente um. Jesus Cristo é o
título divino e humano de nosso Senhor, que O
distingue dos muitos senhores. Nosso Deus, o Pai, é a
única fonte de todas as coisas, e nosso Senhor, Jesus
Cristo, é o único meio pelo qual todas as coisas
vieram a existir. Jesus Cristo não é a fonte; Ele é o
meio. Por esse motivo, Paulo usa a locução “pelo
qual” e diz “pelo qual são todas as coisas”. Conforme
João 1:3, todas as coisas passaram a existir por meio
Dele. Assim, o Senhor, na verdade, não é o Criador,
mas o meio por intermédio do qual todas as coisas
foram criadas.
É significativo que, acerca do Pai, Paulo use as
preposições “de” e “para”, mas, com respeito ao
Senhor, ele use “pelo” e “por”. O Pai é a fonte e nós
somos Dele e para Ele. Todas as coisas provêm da
fonte, o Pai, e por intermédio do meio, o Senhor.
Ademais, mediante a regeneração, nós voltamos para
o Pai e somos para Ele. Por um lado, todas as coisas
são do Pai e por meio do Senhor; por outro, nós, os
regenerados, voltaremos ao Pai por meio do Senhor.
Como o Senhor diz em João 14:6, Ele é o caminho, e
ninguém vai ao Pai senão por Ele. Com relação à
fonte há a necessidade das preposições “de” e “para”.
Assim, Paulo diz que somos Dele e para Ele, mas com
relação ao Senhor, todas as coisas são por meio Dele
na criação, e nós somos por meio Dele ao voltar ao
Pai. Por isso, todas as coisas são do Pai e pelo Senhor,
mas também somos para o Pai por meio do Senhor.
Viemos a existir por meio do Senhor e voltamos ao
Pai também por meio do Senhor. Esse é o motivo por
que, com relação ao Pai, Paulo diz que todas as coisas
são Dele e que somos para Ele, mas com relação ao
Senhor, ele diz que todas as coisas são por meio Dele
e que nós, no sentido de voltar ao Pai como a fonte,
somos por Ele.
No versículo 7, Paulo continua: “Entretanto, não
há esse conhecimento em todos; porque alguns, por
efeito da familiaridade até agora com o ídolo, ainda
comem dessas coisas como a ele sacrificadas; e a
consciência destes, por ser fraca, vem a
contaminar-se”. Uma consciência fraca resulta da
falta de conhecimento adequado e apropriado. Isso
indica que nosso conhecimento tem muito a ver com
nossa consciência. Os ex-adoradores de ídolos que
são agora crentes em Cristo, estando acostumados ao
ídolo até agora, carecem do conhecimento de que o
ídolo nada é (v. 4). Assim, sua consciência é fraca
quanto aos ídolos. A consciência fraca é contaminada
quando é tocada por qualquer coisa relacionada com
algo acerca do qual falta conhecimento adequado.

C. A Comida Não Nos Recomenda a Deus


O versículo 8 diz: “Não é a comida que nos
recomendará a Deus, pois nada perderemos, se não
comermos, e nada ganharemos, se comermos”. Os
que comem coisas sacrificadas a ídolos sem ter
conhecimento adequado, contaminarão sua
consciência. Depois de deixar essa questão bem clara,
Paulo ainda diz que a comida não nos recomenda a
Deus. Novamente, ele revela seu espírito. Bem no seu
espírito, ele percebe que as coisas que fazemos devem
recomendar-nos a Deus. Qualquer coisa que não nos
recomende a Deus não é necessária. Sim, podemos
ser livres para fazer determinadas coisas, mas elas
não nos recomendam a Deus. Aqui, o resultado não
diz respeito à questão de certo ou errado, mas se certa
coisa nos recomenda ou não a Deus. Por exemplo,
pode não ser errado um irmão usar cabelo comprido,
mas de acordo com o princípio no versículo 8, cabelo
comprido não o recomenda a Deus. Sobre estilos de
cabelo, não temos quaisquer regulamentos, mas
todos devemos usar o cabelo de forma que nos
recomende a Deus. O conceito de Paulo aqui é que
comer não nos recomenda a Deus. Podemos ter a
liberdade de comer coisas sacrificadas a ídolos,
sabendo que ídolos nada são. Esse comer, contudo,
não nos recomenda a Deus. Devemos aprender a
fazer o que nos recomenda a Deus. Conforme Paulo,
“nada perderemos, se não comermos, e nada
ganharemos, se comermos”. Já que é assim, que
necessidade há de comer coisas sacrificadas a ídolos?
D. Fazer que Irmãos Fracos Tropecem
Nos versículos 9 a 13, Paulo fala sobre fazer que
irmãos fracos tropecem. No versículo 9, ele diz:
“Vede, porém, que esta vossa liberdade não venha, de
algum modo, a ser tropeço para os fracos”. Os fracos
são aqueles cuja consciência é enfraquecida pela falta
de conhecimento. No versículo 10, Paulo continua:
“Porque, se alguém te vir a ti, que és dotado de saber,
à mesa, em templo de ídolo, não será a consciência do
que é fraco induzida a participar de comidas
sacrificadas a ídolos?” A palavra grega traduzida por
induzida, literalmente quer dizer edificada. A
consciência dos crentes fracos será edificada com a
ousadia para fazer o que anteriormente não ousavam
fazer. Isso é uma edificação súbita, sem fundamento
lógico e sólido. Assim, é uma edificação inadequada
que na verdade destrói. Embora a consciência fraca
dos crentes seja induzida a comer coisas sacrificadas
a ídolos, isso por fim os destruirá, pois não têm o
conhecimento adequado para apoiar sua consciência
induzida, e ainda assim fraca.
O versículo 11 diz: “E assim, por causa do teu
saber, perece o irmão fraco, pelo qual Cristo morreu”.
A palavra “perece” significa perecer não eternamente,
mas na vida cristã. O crente fraco pode perecer pelo
descuido do conhecimento de um crente forte. Um
irmão para o qual Cristo morreu pode perecer na vida
cristã pelo nosso comer inadequado.
No versículo 12, Paulo declara: “E, deste modo,
pecando contra os irmãos, golpeando-lhes a
consciência fraca, é contra Cristo que pecais”. A
palavra grega traduzida por golpeando, literalmente
significa ferir até machucar. Como Cristo morreu
pelos irmãos, nós pecamos contra Cristo se os
golpearmos e os fizermos tropeçar.
No versículo 13, Paulo conclui: “E, por isso, se a
comida serve de escândalo a meu irmão, nunca mais
comerei carne, para que não venha a escandalizá-lo”.
A palavra grega para escândalo é skandalizo, que
quer dizer enganar, engodar. Desse modo, fazer
tropeçar, escandalizar, o irmão é engodá-lo, colocar
uma armadilha no seu caminho. Para não fazer
tropeçar um irmão, Paulo diz: “Nunca mais comerei
carne”. A palavra carne se refere à carne animal,
denotando a carne sacrificada a ídolos. Já que carne é
mais tentadora que outros tipos de comida, o
apóstolo a menciona especificamente.
E importante tocar o espírito de Paulo revelado
nesse capítulo. Aqui, o encargo no espírito dele é
totalmente para Cristo e para Seu Corpo. Como ele
era para Cristo e todos os membros do Corpo, quando
deu instruções sobre comer coisas sacrificadas a
ídolos, ele não disse se essa prática é correta ou não,
boa ou ruim. Ele tinha uma visão completamente
diferente da situação, uma visão focalizada em Cristo
e o Corpo. Sobre a questão de comer coisas
sacrificadas a ídolos, Paulo ponderava como isso
poderia afetar os membros de Cristo, se os edificaria
ou faria tropeçar. Com isso vemos que o seu coração e
espírito estavam preocupados com Cristo e Seus
membros. Ele não se importava com ídolos ou coisas
sacrificadas a ídolos. Percebia plenamente que ídolos
nada são e que coisas sacrificadas a ídolos também
nada são. Entretanto, a maneira de ele lidar com a
questão de comer coisas sacrificadas a ídolos indica
que sua visão sobre isso está relacionada com Cristo e
o Corpo. Ele queria que os santos percebessem que
deviam considerar se os membros de Cristo seriam
levados a tropeçar ou a ser edificados pelo seu comer.
Ele queria que tivessem consideração por Cristo e
pelo Corpo. Por isso, respondeu às perguntas e deu
instruções do ponto de vista de Cristo e o Corpo.
Todos precisamos aprender com Paulo a ter em
vista Cristo e o Corpo ao considerar diversas
questões. Entretanto, freqüentemente falamos com
outros sobre algo sem levar em consideração essa
perspectiva; pelo contrário, focalizamos nosso
próprio interesse, proveito ou perda. Se for essa nossa
perspectiva, estamos bem longe da visão central da
economia de Deus. No capítulo oito, vemos
novamente que Paulo não se desviou da linha central
da economia de Deus. Mesmo ao dar instruções sobre
comer coisas sacrificadas a ídolos, ele se esforçou
para levar os crentes de volta à linha central, isto é, de
volta a Cristo e o Corpo.
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM QUARENTA E CINCO
LIDAR COM A QUESTÃO DE COMER COISAS
SACRIFICADAS A ÍDOLOS (2)

Leitura Bíblica: 1Co 9:1-15


Os crentes gregos filosóficos em Corinto
complicavam tudo. Ao responder a suas perguntas,
Paulo simplificava as coisas. Ele os encorajava a
escolher o Senhor, Sua ordenação e Seu arranjo
soberano. Ele também percebia que se vivermos
Cristo sendo um espírito com Ele e formos submissos
ao Senhor e comprometidos com Ele, muitas
situações complicadas serão simplificadas.
Complicações na vida humana advêm de uma mente
filosófica. Por exemplo, filosofar acerca do casamento
pode produzir complicações na vida conjugal. Na
sociedade hoje há muitas complicações acerca do
casamento. Na vida da igreja na restauração do
Senhor, precisamos seguir os princípios do Novo
Testamento para simplificar as situações e eliminar
complicações. Ao analisar a vida conjugal e familiar,
tomamo-nos complicados, mas quando nos voltamos
ao espírito, tudo é simplificado.
Aprecio 1 Coríntios 7 porque nos mostra uma
pessoa, Paulo, que era saturada de Deus, um com Ele
e totalmente submissa a Ele. Não havia discussão
entre Paulo e Deus, e nenhuma discrepância entre
ambos. Ele ficava contente com toda e qualquer
circunstância que Deus lhe preparasse. Sabemos
disso, não porque tenha dito isso explicitamente, mas
pelas instruções que dá aos coríntios sobre a vida
conjugal. Essas instruções revelam o tipo de pessoa
que ele era. O seu escrito nesse capítulo mostra que
ele era um autêntico homem-Deus.
No capítulo oito, Paulo trata do problema de
comer coisas sacrificadas a ídolos. Esse problema
parece ter sim ou não como resposta. Entretanto, no
capítulo oito, ele não responde sim ou não. A maneira
de lidar com essa questão mostra que ele não era
alguém que vivia segundo a árvore do conhecimento
do bem e do mal, mas de acordo com a árvore da vida.
Com a árvore da vida não há a questão de sim ou não,
mas tão-somente vida, a vida de Deus, a vida divina,
eterna, expressa pelo amor que edifica. Essa vida
sempre nos recomenda a Deus.
Em 8:8, Paulo introduz o conceito de ser
recomendado a Deus. Essa é uma excelente
expressão, é até mesmo extraordinária. Duvido que
tal expressão seja encontrada em outro lugar na
Bíblia. A resposta de Paulo no capítulo oito com
certeza não é uma questão de sim ou não. Pelo
contrário, está relacionada com fazer coisas que nos
recomendam a Deus. Segundo a percepção dele, se
determinada coisa não nos recomendar a Deus, não
precisamos envolver-nos com ela.
Paulo era tão um com Deus e saturado Dele que
todo o seu ser estava em Deus. Portanto, ele responde
às perguntas levantadas pelos coríntios não com sim
ou não, mas de acordo com o que ele é e com sua
prática. Sua prática era ter uma vida que estava
absolutamente em unidade com Deus. Todos
precisamos ter essa visão e praticá-la, como ele o fez.
No capítulo oito, Paulo fala de amar a Deus (v. 3),
de ser recomendado a Deus (v. 8), do “irmão fraco,
pelo qual Cristo morreu” (v. 11) e de pecar contra
Cristo (v. 12). Por fim, ele conclui: “E, por isso, se a
comida serve de escândalo a meu irmão, nunca mais
comerei carne, para que não venha a escandalizá-lo”
(v. l3). A expressão “meu irmão” indica que todo
irmão lhe era querido. Ele amava todos os irmãos.
Era um com Deus e um com o Corpo de Cristo. Por
esse motivo, não respondia perguntas na forma de
sim ou não, de acordo com a árvore do conhecimento.
Se todos na igreja numa cidade tiverem uma vida e
prática como a de Paulo, não haveria perguntas,
problemas ou complicações. Perguntas advêm de
mentes filosóficas, mas quando nos voltamos ao
Cristo que habita em nosso espírito, a situação se
torna simples.

II. A VINDICAÇÃO DO APÓSTOLO

A. Suas Qualificações
O capítulo nove é uma inserção na seção de
comer coisas sacrificadas a ídolos. Nela o apóstolo
apresenta-se aos crentes coríntios como um padrão
para que não façam os outros tropeçar, mas os
edifiquem praticando o princípio de um amor
atencioso em 8:13.
O versículo 1 diz: “Não sou eu, porventura livre?
Não sou apóstolo? Não vi a Jesus, nosso Senhor?
Acaso não sois fruto do meu trabalho no Senhor?” O
apóstolo Paulo é livre de todos os homens, não está
escravizado a nenhum (9:19). Como todos os crentes
em Cristo devem ser, ele é também livre da
escravidão de qualquer maneira específica de comer,
embora pratique o princípio do amor atencioso.
Ao apresentar-se como padrão para os crentes,
Paulo passa a falar de seu aposto lado, que lhe dá
autoridade para lidar com todos os problemas
abordados nesse livro, problemas sérios acerca da
vida da igreja e sua comunhão. Sua maneira de lidar
com eles baseia-se não só em seu ensinamento mas
também na autoridade inerente ao seu aposto lado.
Para lidar com a situação, ele tinha de assumir essa
posição e tornar a questão clara aos crentes coríntios.
Eles tinham questionado seu apostolado e estavam
numa situação caótica, principalmente devido à
insensatez de sua sabedoria mundana, auto confiança
e orgulho.
Apóstolo é uma palavra grega aportuguesada que
quer dizer alguém que é enviado. Um apóstolo do
Senhor é um crente enviado por Ele com Sua
autoridade para pregar o evangelho de Deus, ensinar
a verdade divina e estabelecer igrejas. Pedro e João
foram tais apóstolos entre os judeus na primeira
seção do livro de Atos, e Paulo e Barnabé o foram
entre os gentios na segunda parte de Atos. Outros,
como Silas e Timóteo, também se tomaram apóstolos
(1Ts 1:1; 2:6). Uma vez que alguém tem o poder para
pregar o evangelho, o dom para ensinar a verdade
divina e a capacidade de estabelecer igrejas, está
qualificado e confirmado como apóstolo enviado pelo
Senhor com Sua comissão e autoridade.
No versículo 1, Paulo pergunta: “Não vi a Jesus,
nosso Senhor?” Isso se refere ao fato de ter visto o
Senhor em Seu corpo glorioso ressurreto (15:5-8).
Isso é um privilégio especial; confere alguma
dignidade e glória a quem viu, mas não é um requisito
ou qualificação para ser apóstolo do Senhor. Isso é
provado pelo caso de Barnabé, que era apóstolo (At
14:14), ainda que não houvesse visto o Senhor dessa
maneira. Entretanto, conhecer o Senhor no espírito
pela revelação espiritual é definitivamente necessário
para ser apóstolo.
No versículo 1, Paulo também pergunta: “Acaso,
não sois fruto do meu trabalho no Senhor?” O fruto
do seu trabalho no Senhor é prova do seu apostolado,
não qualificação para ele.
No versículo 2, Paulo prossegue: “Se não sou
apóstolo para outrem, certamente o sou para vós
outros; porque vós sois o selo do meu apostolado no
Senhor”. Por ter gerado os crentes coríntios no
Senhor por intermédio do evangelho (4:15), ele com
certeza era apóstolo para eles. O fruto do seu labor é
uma evidência do seu apostolado. O resultado
suficiente do trabalho eficiente do apóstolo é não só
uma evidência, ou prova, mas também um selo do seu
apostolado. Isso coloca um marco distintivo no seu
labor apostólico que autentica e certifica seu
apostolado.
No capítulo nove, Paulo fala sobre si mesmo de
forma direta. O fato de falar sobre seu apostolado
indica que os crentes coríntios também tinham um
problema acerca do apostolado de Paulo. Alguns
deles podem ter duvidado se Paulo era de fato um
apóstolo. Eles podem ter discutido essa questão e
questionado o seu apostolado. Ele deve ter ficado
sabendo de suas dúvidas. Agora, no capítulo nove, ele
fala sobre isso de forma categórica, direta e franca. As
quatro perguntas que ele faz no versículo 1 ilustram a
sua franqueza. O seu espírito aqui é muito
transparente. Ele não é nem um pouco político.
Bancar o político é ser impuro. Quando tentamos
falar de forma cortês, podemos na verdade ser
políticos. As perguntas que ele faz no versículo 1 com
certeza não são corteses. Você escreveria uma carta
com tais perguntas? Paulo aqui não foi cortês nem
político, mas foi puro, autêntico e honesto. Nós,
todavia, podemos ser corteses ou políticos porque
não somos puros em nossa intenção ou motivação.
Paulo também foi franco e direto no versículo 2.
Aqui ele diz aos santos que se não fosse apóstolo para
outros, com certeza o era para eles. Ele os tinha
gerado no Senhor e eles eram o selo do seu
apostolado no Senhor. Ele aqui parece estar dizendo:
“Para os outros, eu posso não ser um pai que gera,
mas certamente o sou para vocês. Eu os gerei por
meio do evangelho, e sua existência é um selo do meu
apostolado. Tenho o apostolado e vocês são o selo”.

B. Seus Direitos
No versículo 3, Paulo diz: “A minha defesa
perante os que me interpelam é esta”. Precisamos
prestar atenção às palavras interpelam e defesa. Os
coríntios, na verdade, o estavam interpelando,
examinando; estavam investigando-o para
determinar se ele era apóstolo ou não. Que vergonha
para eles! É exatamente como crianças examinando o
pai para ver se é autêntico.
Os dois tópicos no final do versículo 3 indicam
que o trecho seguinte pressupõe a defesa de Paulo.
Algumas pessoas ditas espirituais pensam que um
crente nunca deve defender-se. Afirmam que os
cristãos sempre devem sofrer, carregar a cruz e
eximir-se de se defender. Todavia, às vezes, o Senhor
Jesus Se defendia, e aqui Paulo expressou sua defesa
perante os coríntios.
No versículo 4, Paulo pergunta: “Não temos nós
o direito de comer e beber?” Literalmente, a palavra
grega traduzida por direito é autoridade. A mesma
palavra é usada em 8:9 e 9:18. O direito aqui é o de
comer e beber por causa do evangelho (v. 14) à custa
dos santos e das igrejas.
No versículo 5, Paulo continua: “E também o de
fazer-nos acompanhar de uma mulher irmã, como
fazem os demais apóstolos, e os irmãos do Senhor, e
Cefas?” Outra vez, as suas palavras são contundentes.
Os crentes filosóficos complicados em Corinto
obrigaram-no a falar de tal forma contundente e
direta.
O versículo 6 diz: “Ou somente eu e Barnabé não
temos direito de deixar de trabalhar?” Deixar de
trabalhar aqui significa não ter emprego. Alguns
apóstolos não tinham emprego, mas eram
sustentados pela igreja ou pelos crentes. Paulo e
Barnabé tinham o direito de não trabalhar, mas
trabalhavam com as próprias mãos a fim de suprir
suas necessidades.
No versículo 7, ele pergunta: “Quem jamais vai à
guerra à sua própria custa? Quem planta a vinha e
não come do seu fruto? Ou quem apascenta um
rebanho e não se alimenta do leite do rebanho?” A
referência a ir à guerra implica que anteriormente os
coríntios eram cativos e que ele havia lutado por eles
para que fossem libertados de Satanás e postos em
liberdade. Ele aqui parece dizer: “Lutamos uma
guerra para libertá-los do cativeiro. Deveríamos levar
a cabo tal guerra às nossas próprias expensas? É justo
fazer isso?” Além disso, o que ele fala sobre a vinha e
o rebanho indica que os crentes em Corinto eram
uma vinha para produzir fruto e também um rebanho
apascentado pelos apóstolos.
Os versículos 8 a 10 dizem: “Porventura, falo isto
como homem ou não o diz também a lei? Porque na
lei de Moisés está escrito: Não atarás a boca ao boi,
quando pisa o trigo. Acaso, é com bois que Deus se
preocupa? Ou é, seguramente, por nós que Ele o diz?
Certo que é por nós que está escrito; pois o que lavra
cumpre fazê-lo com esperança; o que pisa o trigo
faça-o na esperança de receber a parte que lhe é
devida”. Paulo aqui cita o Antigo Testamento de
forma maravilhosa e o aplica à situação atuaL Ele
também diz que o lavrador deve arar com esperança e
o que pisa o trigo, na esperança de ter parte. Aqui ele
novamente compara a igreja em Corinto a uma
lavoura. Em 3:9, ele lhes tinha dito que eram a
lavoura de Deus. Ele arava o campo e debulhava com
esperança de participar.
No versículo 11, ele diz: “Se nós vos semeamos as
coisas espirituais, será muito recolhermos de vós
bens materiais?” Novamente ele é bem contundente.
Os coríntios não tinham argumentos contra ele.
No versículo 12, Paulo continua: “Se outros
participam desse direito sobre vós, não o temos nós
em maior medida? Entretanto, não usamos desse
direito; antes suportamos tudo, para não criarmos
qualquer obstáculo ao evangelho de Cristo”. A palavra
grega traduzida por suportar, literalmente significa
conter como um vaso, encobrir; daí, cobrir como um
teto. Paulo era como um vaso contendo tudo que os
coríntios haviam feito para ele, e também um teto
cobrindo-os. Mas eles o forçaram a remover essa
cobertura e derramar o conteúdo do vaso. Em tudo
isso, a preocupação dele não era causar qualquer
obstáculo ao evangelho de Cristo.
No versículo 13, Paulo de novo se refere ao
Antigo Testamento quando pergunta: “Não sabeis vós
que os que prestam serviços sagrados do próprio
templo se alimentam? E quem serve ao altar do altar
tira o seu sustento?” No versículo 14, ele aplica esse
princípio aos que pregam o evangelho: “Assim
ordenou também o Senhor aos que pregam o
evangelho que vivam do evangelho”.
No versículo 15, ele declara: “Eu, porém, não me
tenho servido de nenhuma destas coisas e não
escrevo isto para que assim se faça comigo; porque
melhor me fora morrer, antes que alguém me anule
esta glória”. Aqui vemos que o apóstolo é
desesperadamente absoluto pelos interesses do
Senhor. Ele está disposto não só a sacrificar os seus
direitos (vs. 12, 15a, 18), mas também a pagar até
mesmo com a própria vida. Ele definitivamente não
escreveu essas coisas a fim de receber sustento ou
ofertas dos crentes em Corinto. Antes, estava disposto
até a morrer por Cristo e a igreja.
Se nos aprofundarmos em 1 Coríntios 9, veremos
que Paulo não era somente um com Deus, mas
também tinha coração e espírito puros. Nenhum
outro trecho da Bíblia apresenta tal quadro de alguém
puro e límpido. Se Paulo não fosse puro, não teria
sido capaz de escrever esses versículos.
Problemas entre os cristãos são causados não só
pelas suas complicações, mas muito mais pela sua
falta de pureza. Para a maioria, as complicações estão
na superfície. No fundo está a impureza. Os
presbíteros, os cooperadores e os santos podem não
ser puros nas motivações e intenções. Ser puro é ser
autêntico, singelo e totalmente destituído de política.
Nesse capítulo devemos ficar profundamente
impressionados pelo fato de Paulo ser puro e
autêntico. Os coríntios, pelo contrário, não eram
puros. Eles o examinavam e tinham dúvidas sobre o
seu apostolado. Em suas motivações, conceitos e
sentimentos, eles eram impuros. Alguns deles até
mesmo pensavam que Paulo os defraudava, que os
enganava com astúcia. Se fossem puros como Paulo,
não teriam tido dúvidas sobre ele ou seu apostolado.
O irmão Nee certa vez disse que quem é ladrão
sempre teme que os outros o roubem. Se alguém
suspeita que a pessoa ao lado pode roubá-lo, isso
pode indicar que ele mesmo é ladrão. Se não tivesse
roubado dos outros, não temeria que os outros
fizessem o mesmo. No mesmo princípio, como os
coríntios não eram puros, eles suspeitavam que Paulo
não era puro e tirava vantagem deles. O fato de terem
tais pensamentos sobre Paulo prova que eram
impuros. Esse mal da impureza está escondido em
todos nós. Por causa de nossa natureza caída, todos
somos impuros.
Suponha que um irmão venha até mim com um
presente e eu suspeite que esse presente está sendo
dado com a intenção de que eu lhe retribua. Esse
conceito não é pecaminoso, mas impuro. Sobre
receber presentes, tenho aprendido um princípio
importante da parte do Senhor. Esse princípio é
aceitar todo presente como autêntico, sem qualquer
pensamento de que possa estar sendo dado com
segundas intenções, e depois nada fazer por aquele
que o deu a mim. Fazer alguma coisa por uma pessoa
que nos dá um presente indica que fomos
subornados. Algumas vezes as pessoas me deram
coisas com motivação impura. Na época, não tive
idéia que essas pessoas eram impuras, somente mais
tarde vim a saber de sua verdadeira intenção.
Repetindo: pensar que um presente é dado com
intenção impura indica que nós mesmos somos
impuros. Se somos puros, não pensaremos dessa
forma.
Aprecio a palavra de Paulo no versículo 15: “Eu,
porém, não me tenho servido de nenhuma destas
coisas e não escrevo isto para que assim se faça
comigo”. Tal palavra expôs os coríntios que pensavam
que Paulo escrevia dessa forma para obter algum
sustento ou suprimento. Ele fechou a porta para tais
pensamentos impuros dizendo claramente que não
escrevera com a intenção de receber coisa alguma
deles. Novamente vemos que ele era um espírito com
o Senhor e era absolutamente puro. Por causa de sua
pureza, ele podia ser franco, direto e reto. Se o seu
propósito ao escrever o capítulo nove tivesse sido ser
suprido pelos coríntios, ele teria sido impuro.
Entretanto, ao escrever essa Epístola, Paulo foi puro.
Na vida da igreja hoje muitos problemas são
aparentemente devidos a complicações; na verdade,
os problemas são causados pela impureza. É impuro
dizer ou fazer algo com o objetivo de obter algo em
troca. Também é impuro pensar que os outros estão
tentando tirar vantagem de nós. Na vida da igreja,
precisamos fechar a porta ao pensamento impuro. Se
formos impuros, não seremos capazes de ser ousados,
francos ou diretos. Pelo contrário, seremos políticos,
corteses.
Em 1 Coríntios 9 vemos que a única motivação e
intenção de Paulo estava relacionada com Cristo e
Seu Corpo. Paulo era puro ao máximo. Se fôssemos
puros na vida da igreja em todos os aspectos, não
haveria quaisquer problemas. A causa por trás dos
problemas na vida da igreja é a impureza. Por um
lado, os coríntios fizeram perguntas a Paulo; por
outro, examinaram-no. Eles o acolhiam, mas tinham
dúvida a seu respeito. Isso expõe sua impureza, mas
embora eles não fossem puros, Paulo se comportou
de forma pura como um pai fecundo. Ao escrever aos
crentes em Corinto, ele revelou-se como alguém que
era um com Deus e totalmente puro. Na obra do
Senhor, ele não tinha outra motivação além de Cristo
e o Corpo.
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM QUARENTA E SEIS
LIDAR COM A QUESTÃO DE COMER COISAS
SACRIFICADAS A ÍDOLOS (3)

Leitura Bíblica: 1 Co9:16-27


Já enfatizamos que 9:1-15 revela quão puro Paulo
era. Ao usar a palavra puro aqui, usamo-la no sentido
bíblico. Por exemplo, o Senhor Jesus disse:
“Bem-aventurados os puros de coração, porque verão
a Deus” (Mt 5:8). Nesse versículo, ser puro significa
ser singelo na motivação ao buscar o Senhor. Se a
motivação é singela, somos puros. Se não, somos
impuros. Ao dizer que Paulo era puro e os coríntios
impuros, queremos dizer que ele tinha motivação
singela ao buscar a Deus, mas os coríntios tinham
motivações impuras. Porquanto não eram puros, eles
até duvidavam do apostolado de Paulo e queriam
examiná-lo, interpelá-lo. Segunda Coríntios 12:16
indica que alguns dos crentes em Corinto pensavam
que Paulo estava obtendo algum lucro material deles
por meios maliciosos. Talvez pensassem assim de
Paulo porque suas motivações não eram puras.
Se somos ou não puros, depende da nossa
motivação. A motivação pode estar relacionada com o
proveito pessoal, com alguma coisa que poderia se
tomar lucro para nós. Os problemas nas igrejas
freqüentemente estão relacionados com buscar algum
ganho pessoal. Se um aspecto específico da vida da
igreja lhe for benéfico, você pode ficar feliz e ser
muito dedicado à igreja. Todavia, se não houver
ganho pessoal para você na igreja, você pode ficar
descontente e achar falhas nela. Quando não
recebemos o que queremos, podemos ficar
descontentes com a igreja, os presbíteros ou os
santos. Isso indica que não somos puros, que nossa
motivação visa ao nosso próprio benefício.
Todos amamos o Senhor e a restauração.
Podemos até nos levantar na reunião e declarar que
nos consagramos a Cristo e à igreja. Podemos dizer
que Cristo é maravilhoso e a igreja é maravilhosa,
mas se as motivações não forem puras, podemos
começar a ter problemas com a igreja depois de fazer
tal declaração e consagração. Quanto às motivações,
precisamos ser crucificados com Cristo. Precisamos
da cruz para tocar as motivações.
Paulo era puro porque sabia pela experiência o
que era ser crucificado com Cristo e ser um espírito
com o Senhor. Ele vivia uma vida crucificada, e
praticava ser um espírito com o Senhor. Por isso, não
tinha qualquer motivação relacionada com ganho
pessoal. Sua motivação estava totalmente posta em
Cristo e era para Cristo. Essa era a razão de ele ser tão
puro. Porquanto era tão puro, ele pôde falar em 9:1-15
de maneira ousada, franca, categórica e direta. Como
um cirurgião que removeu todas as bactérias, ele
pôde operar nos coríntios. Se não tivesse sido puro,
sua impureza teria sido transmitida a eles. Mas, por
ser puro, pôde realizar a cirurgia espiritual neles sem
contaminá-los.

C. Sua Fidelidade

1. Necessidade Posta sobre Ele


Tendo visto a pureza de Paulo em 9:1-15, vamos
agora prosseguir em 9:16-23 e ver sua fidelidade. No
versículo 16, ele diz: “Se anuncio o evangelho, não
tenho de que me gloriar, pois sobre mim pesa essa
obrigação; porque ai de mim se não pregar o
evangelho”! [A palavra obrigação também significa
necessidade.] Por necessidade, Paulo quer dizer um
encargo que se toma uma pressão. Tal necessidade,
tal encargo que o constrangia a pregar o evangelho
estava sobre ele. Assim, ele podia dizer: “Ai de mim se
não pregar o evangelho”. Paulo não se preocupava
como os coríntios o tratariam ou como reagiriam. Ele
tinha um encargo que o pressionava para levar a cabo
a obra do seu ministério. Seu ministério de pregar o
evangelho era uma necessidade. Ele sabia que se não
pregasse sofreria perda. Isso indica a sua fidelidade.
Assim como o amor, a fidelidade pode tomar-nos
cegos. Se formos perspicazes em conhecer a atitude e
reação dos outros para conosco, podemos não ser
fiéis. Não é ser fiel pregar o evangelho somente se os
outros nos mostrarem reação favorável. Se formos
fiéis em pregar o evangelho, não nos importaremos
com a maneira como os outros reagem ou nos tratam
porque temos um encargo, uma necessidade de
cumprir nosso ministério. Essa fidelidade nos deixa
cegos quanto à reação dos outros.

2. Responsabilidade de Despenseiro
No versículo 17, Paulo continua: “Se o faço de
livre vontade, tenho galardão; mas, se constrangido,
é, então, a responsabilidade de despenseiro que me
está confiada”. Esse versículo não é fácil de
compreender. As palavras se constrangido significam
não por minha própria disposição. Mesmo que Paulo
não estivesse disposto a pregar o evangelho, ele não
tinha como escapar ao encargo do Senhor porque
tinha responsabilidade de despenseiro. Isso indica
que, para ele, pregar o evangelho não era questão de
escolha. Ele tinha sido apanhado pelo Senhor,
recrutado por Ele e recebera em confiança um
mordomado. Se estava disposto ou não, tinha de
cumprir o encargo que lhe fora dado. Não tinha
escolha com relação a isso. Não podia escapar da
comissão de pregar o evangelho.
Nesse versículo, Paulo se refere tanto à comissão
de Deus como ao seu próprio encargo. Como Deus o
tinha comissionado, ele tinha um encargo. Ele não
tinha escolha exceto levar a cabo a obra do ministério.
Portanto, podia dizer aos coríntios: “Não me importo
como vocês me tratam, ou como duvidam de mim ou
me examinam. Eu lhes prego o evangelho por causa
de encargo, de necessidade. Não tenho escolha”.

3. Ter Escolha
No versículo 17, Paulo fala de galardão. O livro de
1 Coríntios não foi escrito para ajudar pecadores
perdidos a ser salvos, mas para ajudar crentes salvos
a crescer, (3:6-7), para edificar com materiais
preciosos (3:10, 12-14), para cuidar dos membros do
Senhor (8:9-13) e correr a corrida (9:24). Assim, o
galardão é mencionado repetidamente como
incentivo para o progresso dos crentes (3:14; 9:18,
24-25).
A palavra grega traduzida por responsabilidade
de despenseiro também significa administração
doméstica, dispensação doméstica ou mordomado.
O apóstolo não era somente um pregador mas
também um despenseiro na casa de Deus, um
administrador doméstico, dispensando a salvação, a
vida e as riquezas de Cristo aos Seus crentes. Tal
ministério é o mordomado a ele confiado e
comissionado (Ef 3:2; 2Co 4:1).
O versículo 18 diz: “Nesse caso, qual é o meu
galardão? É que, evangelizando, proponha de graça o
evangelho, para não me valer do direito que ele me
dá”. Aqui vemos que ele não usou seu direito para
com os coríntios. Isso lhe dava base para se gloriar,
como menciona o versículo 16. Embora não usasse
seu direito com os coríntios, ele o usou com outras
igrejas. Em 2 Coríntios 11:8, Paulo até diz que
despojou outras igrejas a fim de servir aos coríntios.
Outras igrejas o supriram, mas a igreja em Corinto
não. De acordo com 1 Coríntios 9:18, ele pregava o
evangelho aos coríntios de graça.

4. Fazer-se de Escravo de Todos


No versículo 19, Paulo continua: “Porque, sendo
livre de todos, fiz-me escravo de todos, a fim de
ganhar o maior número possível”. Com a palavra
todos aqui, Paulo quer dizer todos os homens. Ele era
livre de todos os homens no sentido de que não devia
nada a ninguém. Isso quer dizer que era livre dos
coríntios, nada devendo a eles. Entretanto, sendo
livre de todos, Paulo se fazia escravo de todos a fim de
ganhar o maior número possível de pessoas para o
Senhor.
Nos versículos 20 e 21, Paulo diz: “Procedi, para
com os judeus, como judeu, a fim de ganhar os
judeus; para os que vivem sob o regime da lei, como
se eu mesmo assim vivesse, para ganhar os que vivem
debaixo da lei, embora não esteja eu debaixo da lei.
Aos sem lei, como se eu mesmo o fosse, não estando
sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo,
para ganhar os que vivem fora do regime da lei”. Aqui
parece que Paulo não era judeu. Na verdade, ele era,
mas não mais vivia à moda judaica. Pelo contrário,
tinha um viver cristão. Mas ele se tornou como judeu
a fim de ganhar os judeus. De modo semelhante, aos
que viviam sob a lei, ele se tornou como alguém sob a
lei a fim de ganhá-los. No versículo 20, ele insere a
afirmação entre parênteses “embora não esteja eu
debaixo da lei” a fim de indicar que ele não estava sob
a lei. Ele não queria que os coríntios pensassem que
ele era pela lei. Embora não estivesse sob a lei, ele se
tornou alguém debaixo da lei para os que estavam sob
ela.
Conforme o versículo 21, para aqueles sem lei,
Paulo se tornou como alguém sem lei para ganhá-los.
Novamente ele enfatiza, entre parênteses, que não
estava sem lei para com Deus, mas estava na lei de
Cristo. Em grego, a expressão “na lei” é énnomos, ~a
lei, isto é, na esfera, no limite da lei; daí, sob a lei,
sujeito à lei. E o oposto de ánomos, sem lei, isto é,
fora da esfera, do limite da lei, ou seja, sem lei. Na lei
de Cristo significa sob o governo de Cristo, sujeito ao
regulamento de Cristo, isto é, legitimamente,
legalmente, juridicamente sujeito a Cristo, debaixo da
lei para Cristo, legal diante de Cristo. A lei de Cristo
denota a lei mais elevada e melhor de Cristo, que
opera por meio do amor (Rm 8:2; 10 13:34), que é o
próprio Cristo como nossa vida regulando-nos do
nosso interior. Paulo já não estava mais sob a lei de
Moisés, mas sob a lei de Cristo. Para os gentios, que
não tinham a lei mosaica, ele se tornou como alguém
sem lei, não fora da lei de Deus, mas na lei de Cristo.
No versículo 22, Paulo declara: “Fiz-me fraco
para com os fracos, com o fim de ganhar os fracos.
Fiz-me tudo para com todos, com o fim de, por todos
os modos, salvar alguns”. Fazer-se tudo para com
todos significa que ele se adapta a todas as coisas, isto
é, a diferentes maneiras de comer e diferentes
práticas (v. 23), por amor de todos os homens. Ele
estava disposto a viver da maneira seguida pelos
outros. Por exemplo, quando estava com
vegetarianos, não comia carne. Com judeus, não
comia carne de porco. Dessa forma, ele se fez tudo
para com todos a fim de salvar alguns.
O versículo 23 diz: “Tudo faço por causa do
evangelho, com o fim de me tomar cooperador com
ele”. A palavra grega traduzida por cooperado r é rica
em significado. Também quer dizer um
coparticipante, colaborador, parceiro. O apóstolo não
é somente coparticipante desfrutando o evangelho,
mas também cooperador, parceiro, trabalhando pelo
evangelho. Todavia, aqui ele se refere ao desfrute do
evangelho. Assim, na Versão Restauração usamos a
palavra co-participante.
Pregar o evangelho é labutar, mas quando
labutamos na pregação do evangelho, há uma
partilha, uma porção, para nosso desfrute. Paulo
estava alerta para que, na pregação do evangelho a
outros, ele participasse do desfrute do evangelho. Ele
era cuidadoso para não perder a participação desse
desfrute.

D. Seu Esforço 1. Correr a Corrida


No versículo 24, Paulo prossegue: “Não sabeis
vós que os que correm no estádio, todos, na verdade,
correm, mas um só leva o prêmio? Correi de tal
maneira que o alcanceis”. Isso revela que a vida cristã
é uma corrida que precisamos correr com sucesso. O
prêmio é um incentivo. Alcançar é conseguir o
prêmio.
Na verdade, o versículo 24 não deve ser separado
do 23, porque é a explanação do que significa ser
co-participante do evangelho, mencionado no
versículo 23. Correr numa corrida é labutar, mas
receber o prêmio é ter desfrute. Quando pregamos o
evangelho hoje, estamos correndo a corrida, mas
receber galardão, um prêmio, na vinda do Senhor é
ter desfrute especial.
Vimos que em 9:17, Paulo fala de um galardão.
Em Atos 20:24 ele se refere à corrida: “Porém em
nada considero a vida preciosa para mim mesmo,
contanto que complete a minha carreira e o
ministério que recebi do Senhor Jesus para
testemunhar o evangelho da graça de Deus”. Ele
considerava essa pregação do evangelho como correr
a corrida cristã. O versículo 24 indica que todos os
crentes estão correndo a corrida. Paulo aqui nos
exorta a correr para obter, alcançar o prêmio.
Vimos que a corrida cristã envolve a pregação do
evangelho. Pregar o evangelho é dispensar Cristo aos
escolhidos de Deus. Uma vez que os escolhidos de
Deus deviam achar-se entre os gentios, Paulo pregou
o evangelho aos gentios. Se alguém recebe nossa
pregação, isso prova que foi escolhido por Deus.
Devemos dispensar Cristo a tais pessoas receptivas.
Dessa forma, corremos a corrida cristã. Contudo,
como muitos crentes hoje não estão correndo a
corrida, precisamos da palavra de Paulo. “Correi de
tal maneira que o alcanceis”.

2. Exercer Domínio Próprio


No versículo 25, Paulo continua: “Todo atleta em
tudo se domina; aqueles, para alcançar uma coroa
corruptível; nós, porém, a incorruptível”. Todos os
que se esforçam nos jogos, Paulo diz, exercem rígido
domínio próprio. Por exemplo, eles observam
cautelosamente sua dieta. Se os atletas exercem
domínio próprio a fim de receber uma coroa
corruptível, ainda mais nós devemos exercitar
domínio próprio para obter uma coroa incorruptível.
Essa coroa incorruptível, que o Senhor dará aos
Seus santos vencedores que vencerem a corrida, é
uma recompensa além da salvação. Como crentes,
recebemos todos Sua salvação mediante a fé Nele.
Isso foi estabelecido uma vez por todas, mas se vamos
receber Dele um galardão, depende de como
corremos a corrida. Aqui nesse capítulo, o apóstolo
está correndo a corrida. Em Filipenses, uma de suas
últimas Epístolas, ele ainda corria (Fp 3:14).
Foi apenas no último momento de sua corrida,
em 2 Timóteo 4:6-8, que ele teve a certeza de que
receberia o galardão do Senhor em Sua aparição. Com
esse prêmio em vista, o apóstolo incentivou os crentes
coríntios a correr a corrida para obter o galardão.

3. Esmurrar o Corpo e Reduzi-lo à


Escravidão
Nos versículos 26 e 27, Paulo diz de si mesmo:
“Assim corro também eu, não sem meta; assim luto,
não como desferindo golpes no ar. Mas esmurro o
meu corpo, e o reduzo à escravidão, para que, tendo
pregado a outros, não venha eu mesmo a ser
desqualificado”. A palavra grega traduzida por
esmurrar literalmente quer dizer bater na face sob o
olho até deixá-lo roxo. Isso não é tratar mal o corpo
como no ascetismo, nem considerá-lo maligno como
no gnosticismo. É subjugar o corpo e fazê-lo um
cativo vencido para servir como escravo a fim de
cumprir nosso propósito santo. Isso equivale a levar à
morte nossos membros terrenos (Cl 3:5) e levar à
morte as práticas do corpo (Rm 8:13), não permitindo
que o corpo seja usado para satisfazer
concupiscências nem fazendo nada por nossa conta
exceto o que e santo para Deus. Os coríntios usavam
mal seu corpo satisfazendo o desejo de fornicar, não
se importando com o santuário de Deus (1Co 6:19), e
ao comer sem restrições as coisas sacrificadas a
ídolos, não se importando com os crentes fracos
(8:9-13).
Paulo também nos conta que ele controla seu
corpo como seu escravo. Isso é uma metáfora que
significa controlar o vencido como cativo e escravo,
introduzir o cativo na servidão e fazê-lo escravo para
servir aos propósitos do vencedor. Nosso corpo deve
ser tal cativo, algo conquistado para ser escravo
servindo o propósito do vencedor. Isso indica que
precisamos vencer nosso corpo e subjugá10. ~osso
corpo foi capturado pelas concupiscências. Agora
precisamos libertá-lo e introduzi-lo no cativeiro, num
tipo muito positivo de escravidão na qual ele se torna
o santuário do Espírito Santo e membro de Cristo.
Precisamos praticar esmurrar nosso corpo e
controlá-lo como escravo, assim como Paulo fazia.
Por exemplo, quando seus olhos não querem ler a
Bíblia, você precisa “esmurrá-los”, isto é, subjuga-los
para que sirvam o seu propósito de ler a Bíblia.
De acordo com o versículo 27, Paulo estava
preocupado com a possibilidade de que, se não
pregasse a outros, ele mesmo fosse desqualificado. O
contexto indica que pregar aqui se refere à pregação
do galardão como incentivo aos corredores cristãos.
Isso está relacionado com o reino, cuja manifestação
será uma recompensa para os santos vencedores, os
que vencem a corrida cristã.
A palavra grega traduzida por desqualificado
também significa desclassificado, rejeitado, ou seja,
indigno do prêmio. O apóstolo com certeza era salvo
pela graça mediante a fé em Cristo. Não só isso, mas
também fora chamado para ser apóstolo a fim de
levar a cabo a economia neotestamentária de Deus.
Não obstante, no versículo 27 ele está muito alerta
para correr a corrida (At 20:24) subjugando o corpo
para servir a seu propósito santo, para que não fosse
desqualificado e rejeitado no tribunal de Cristo (2Co
5:10) e achado indigno do galardão do reino
vindouro.
O juízo que ocorrerá no tribunal de Cristo
determinará se fomos qualificados ou desqualificados
pelo Senhor, se seremos conhecidos por Ele ou não.
Em Mateus 7:22, o Senhor Jesus diz que naquele dia
muitos Lhe dirão que em Seu nome profetizaram,
expulsaram demônios e fizeram muitos milagres.
Contudo, Ele lhes dirá que nunca os conheceu (v. 23).
Isso quer dizer que Ele não aprova o que eles fizeram.
Sua vida cristã não foi um prazer ou alegria para Ele.
Pelo contrário, sua obra foi feita presunçosamente,
segundo sua própria vontade e escolha. Por isso, em
vez de aprová-los, o Senhor os rejeita no tocante ao
galardão no reino vindouro. Paulo temia que, se não
pregasse o evangelho relativo ao galardão aos outros,
ele mesmo seria desqualificado pelo Senhor.
Primeira Coríntios 9 revela a fidelidade de Paulo.
Em seu espírito, ele era totalmente fiel à incumbência
e comissão do Senhor. O Senhor o tinha encarregado
de correr a corrida, e ele se esforçava por corrê-la.
Também precisamos correr a corrida cristã de tal
forma que não sejamos desqualificados, rejeitados,
desclassificados, quanto ao desfrute do reino
vindouro como galardão.
A verdade acerca do galardão tem sido
negligenciada pela maioria dos cristãos. Alguns nos
têm até acusado de ser heréticos por ensinar isso. O
irmão Nee e outros antes dele também falaram do
galardão dado aos crentes vencedores. No Novo
Testamento, é-nos dito definitivamente que Deus nos
preparou não só a salvação, mas também tem uma
recompensa para os fiéis. Em 3:14, Paulo diz: “Se
permanecer a obra de alguém que sobre o
fundamento edificou, esse receberá galardão”.
Galardão é diferente de salvação. No versículo
seguinte, ele explica: “Se a obra de alguém se
queimar, sofrerá ele dano; mas esse mesmo será
salvo, todavia, como que através do fogo”. Isso indica
claramente que receber galardão é diferente de ser
salvo. Podemos sofrer dano e não receber galardão,
mas nunca perderemos a salvação.
O fogo em 3:15 refere-se a algum tipo de
sofrimento ou punição. Todavia, certamente não é o
purgatório, hereticamente ensinado pelo catolicismo
em suas interpretações diabólicas desse versículo. O
princípio dos ensinamentos da Igreja Católica é
misturar verdade com erro ou heresia. Assim, as
doutrinas do catolicismo são freqüentemente uma
mistura de verdade e heresia. O Senhor profetizou
sobre isso em Mateus 13 ao falar da mulher
acrescentando fermento à farinha. Absolutamente
não ensinamos a doutrina católica do purgatório.
Simplesmente ensinamos o que é revelado na Bíblia.
Ela nos diz que se formos fiéis, receberemos galardão
além da salvação. Se não formos fiéis, perderemos o
galardão e sofreremos punição, mas não perderemos
a salvação, porque é eterna e foi determinada uma vez
por todas.
Em 1 Coríntios 9, Paulo estava alerta,
preocupado que, se não pregasse aos outros, ele
mesmo seria desqualificado. Ele certamente era fiel.
Nesses versículos, vemos um irmão totalmente fiel à
comissão do Senhor e fiel para correr a corrida cristã.
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM QUARENTA E SETE
A PREFIGURAÇÃO DE ISRAEL

Leitura Bíblica: 1Co 10:1-13


Primeira Coríntios 10:1-13 é uma seção especial
da Palavra, um trecho escrito tendo a história dos
filhos de Israel como pano de fundo. Paulo a escreveu
não só segundo a situação em Corinto, mas também
tendo a história dos filhos de Israel como pano de
fundo. Israel é uma prefiguração completa da história
da igreja. A Bíblia contém duas histórias: a de Israel e
a da igreja. A história dos filhos de Israel é uma
prefiguração, e a da igreja é o cumprimento. Assim, a
Bíblia inteira nos dá uma só revelação, a revelação da
economia de Deus. No Antigo Testamento, temos a
prefiguração, a figura da economia de Deus, ao passo
que no Novo Testamento, tal economia é cumprida.
Tanto em 1 Coríntios como em Hebreus, Paulo
apresenta uma visão clara da história de Israel como
prefiguração e retrato da história da igreja. Vimos que
em 5:7 e 8, ele refere-se à Páscoa e a guardar a festa.
Os filhos de Israel experimentaram a Páscoa e
guardaram a festa dos pães asmos. Como cristãos na
era do Novo Testamento, também temos nossa
Páscoa e nossa festa de pães asmos. Em 10:1-13, parte
da seção que trata da questão de comer coisas
sacrificadas a ídolos, ele novamente se refere à
história de Israel como prefiguração da igreja.

I. UMA ILUSTRAÇÃO DE CORRER A


CORRIDA
Se quisermos compreender por que em 10:1-13,
Paulo novamente se refere a Israel como
prefiguração, precisamos lembrar-nos que o capítulo
nove é uma inserção relacionada com a sua própria
pessoa. O fato de 10:1-13 ser uma continuação dessa
inserção é provado pela palavra “ora” em 10:1. Ela
indica que o que se segue é continuação e explicação
do que ocorreu antes. O capítulo dez não é somente
continuação do nove, mas também uma definição
adicional da corrida em 9:24-27, usando os filhos de
Israel no deserto como ilustração. No final do
capítulo nove, Paulo nos incentiva a correr a corrida
cristã, e no dez ele usa os filhos de Israel como
ilustração de correr essa corrida. A corrida cristã
ordenada por Deus é tipificada pela história dos filhos
de Israel. Os israelitas correram a corrida do Egito,
pelo deserto até a boa terra. Levaram quarenta anos
para completá-la.
Vimos que no capítulo nove, Paulo apresenta-se
como padrão de alguém que é puro e fiel. Se
tomarmos Cristo como nossa vida e praticarmos ser
um espírito com Ele, seremos puros e fiéis como
Paulo. No capítulo nove, ele parece dizer: “Irmãos,
vocês devem imitar-me e tomar-me como padrão.
Encorajo-os a tomar Cristo como vida e ser um
espírito com Ele. Isso os capacitará a ser puros e fiéis
e fará com que se importem com seu corpo, que são
membros de Cristo e santuário do Espírito Santo. Se
tiverem a devida consideração para com o corpo,
comerão da maneira apropriada e terão uma vida
conjugal adequada. Senão, prejudicarão o corpo, que
é santuário de Deus. Poderão também destruir outros
membros do Corpo de Cristo”.
A maneira de Paulo lidar com o problema prático
de comer é cheia de vida e compreensão espiritual.
Ele pôde lidar com o problema de tal forma porque
era pleno de Cristo, um com o Senhor e saturado do
Espírito que dá vida.
Depois de apresentar-se como padrão positivo,
Paulo usa os filhos de Israel como padrão negativo.
Ao fazer isso, ele faz soar uma palavra de advertência
aos coríntios e indica que eles deviam imitá10, o
padrão positivo, mas não os filhos de Israel, o padrão
negativo.

II. BA TIZADOS COM RESPEITO A MOISÉS —


CRISTO
Em 10:1 e 2, Paulo diz: “Ora, irmãos, não quero
que ignoreis que nossos pais estiveram todos sob a
nuvem, e todos passaram pelo mar, tendo sido todos
batizados, assim na nuvem, como no mar, com
respeito a Moisés”. A palavra ignoreis se refere à
pergunta “Não sabeis?” em 9:24. A palavra todos
indica que todos os filhos de Israel que se juntaram à
Páscoa entraram na corrida e começaram a corrê-la
desde a época que deixaram a terra de Ramessés (Êx
12:37).
Por que Paulo diz “nossos pais”, quando a
maioria dos crentes coríntios era de gregos e não
judeus? O motivo pode ser que ele considerava ser o
povo escolhido por Deus tanto judeus como gregos,
uma grande família. Assim, o povo de Deus no Antigo
Testamento são nossos pais.
O versículo 1 diz que os nossos pais “estiveram
todos sob a nuvem”. A nuvem que cobria os filhos de
Israel tipifica o Espírito de Deus que está com os
crentes do Novo Testamento. Imediatamente depois
que os crentes do Novo Testamento tomam Cristo
como sua Páscoa (5:7), o Espírito de Deus vem para
estar com eles e guiá-las a correr a corrida cristã,
assim como a coluna de nuvem veio para estar com os
filhos de Israel e guiá-las (Êx 13:21-22; 14:19-20).
No versículo 2, Paulo diz que “tendo sido todos
batizados, assim na nuvem, como no mar, com
respeito a Moisés”. A passagem dos filhos de Israel
pelo mar Vermelho (Êx 14:21-30) tipifica o batismo
dos crentes do Novo Testamento (Rm 6:4).
Os filhos de Israel foram batizados com respeito
a Moisés a fim de começar a corrida santa para o
cumprimento do propósito de Deus, ou seja, entrar
na boa terra e edificar o santuário para que Deus
tivesse um reino como expressão de Si mesmo na
terra. Isso tipifica os crentes do Novo Testamento
sendo batizados em Cristo (Gl 3:27) para que Deus
tenha Seu reino com a igreja como Sua expressão na
terra.
Na nuvem representa no Espírito, e no mar
simboliza na água. Os crentes do Novo Testamento
são batizados na água e no Espírito (Mt 3:11; At 1:5;
1Co 12:13).
De acordo com a alegoria que Paulo faz da Bíblia,
cruzar o mar Vermelho é ser batizado. Ele até diz que
os filhos de Israel foram batizados com respeito a
Moisés. Moisés, sem dúvida, devia ser considerado
como prefiguração de Cristo. Eles foram batizados
com respeito a Moisés na nuvem e no mar, e nós
fomos batizados com respeito a Cristo no Espírito e
na água. Quando fomos batizados, tanto o Espírito
como a água estavam ao nosso redor. A nuvem
simboliza o Espírito; isso está relacionado com a vida.
O mar representa a água da morte. Assim, o batismo é
questão tanto de vida como de morte. Isso envolve
fazer morrer a antiga criação para que sejamos
regenerados em vida.

III. COMER O MESMO MANJAR ESPIRITUAL


No versículo 3, Paulo prossegue: “Todos eles
comeram de um só manjar espiritual”. Isso se refere
ao maná (Êx 16:14-18), que tipifica Cristo como nosso
suprimento diário de vida (10 6:31-35) para a jornada
cristã. Nós, crentes, devemos todos comer o mesmo
manjar espiritual, não comendo nada além de Cristo.

IV. BEBER A MESMA BEBIDA ESPIRITUAL


No versículo 4, Paulo diz: “E beberam da mesma
fonte espiritual; porque bebiam de uma pedra
espiritual que os seguia. E a pedra era Cristo”. A
bebida espiritual aqui se refere à água viva que fluía
da rocha, da pedra fendida (Êx 17:6), que tipifica o
Espírito como nossa bebida todo-inclusiva (Jo
7:37-39; 1Co 12:13). Para nossa corrida, devemos
todos beber a mesma bebida espiritual, não bebendo
coisa alguma além do Espírito todo-inclusivo.
A pedra que foi ferida e partida para fazer fluir a
água viva para o povo escolhido de Deus (Êx 17:6) era
uma pedra física. Ainda assim, o apóstolo a chama de
pedra espiritual porque ela tipifica Cristo, ferido e
partido por Deus para fazer fluir a água da vida (10
19:34) a fim de satisfazer a sede de Seus crentes.
Desse modo, o apóstolo diz que a rocha era Cristo.
Por ser uma pedra espiritual, que representa Cristo,
ela era capaz de seguir os filhos de Israel. Isso indica
que Cristo, como a verdadeira rocha, segue Seus
crentes.
Paulo foi ousado em nos dizer que a pedra física
de Êxodo 17:6 era uma pedra espiritual e essa pedra
era Cristo. Os que estudam a Palavra de modo
primordialmente mental, nunca exporiam a Bíblia de
tal maneira. Nunca chamariam uma pedra física de
pedra espiritual. A rocha, ou pedra, em Êxodo 17 era
física ou espiritual? Na verdade, era física. Todavia,
precisamos ter uma visão espiritual dessa pedra física
e ver, através do físico, o espiritual. Sim, a rocha era
física, mas Paulo a viu segundo sua visão espiritual.
Assim, a seus olhos era uma rocha espiritual. Essa é a
maneira correta de ler a Bíblia. Não é mudá-la; é ir
além da palavra escrita e tocar o espírito. Já que ele
fez isso com relação à pedra física, para ele a rocha
era Cristo. Ele não foi cauteloso e não disse que a
pedra tipifica Cristo. Ele declarou com ousadia que a
rocha era Cristo, era uma pedra espiritual que seguia
o povo. O que temos aqui são as palavras de alguém
cheio do Espírito e com a visão do Espírito. Também
precisamos ter uma visão espiritual ao ler a Palavra.

V. A MAIORIA DELES FICOU PROSTRADA


NO DESERTO

A. Deus Não Se Agradou Deles


Os versículos 1 a 4 falam dos filhos de Israel de
forma positiva, mas os versículos 5 a 11 os retratam de
forma negativa. No versículo 5, que é uma
advertência categórica, Paulo diz: “Entretanto, Deus
não se agradou da maioria deles, razão por que
ficaram prostrados no deserto”. Literalmente, isso
significa que foram ficando prostrados ao chão, isto é,
caíam ao chão pela morte. Isso se refere a Números
14:16 e 29.
De todos os filhos de Israel que saíram do Egito,
somente dois, Josué e Calebe entraram na boa terra.
Isso indica que somente um pequeno número dos
cristãos vivos estará na boa terra quando o Senhor
Jesus voltar. Além disso, os corpos de José e Jacó
também foram introduzidos na terra de Canaã. Isso
indica que alguns cristãos falecidos ressurgirão e,
como vencedores, entrarão no reino vindouro.
No versículo 5, Paulo nos conta que, da maioria
dos filhos de Israel, Deus não se agradou. Visto que
não se agradou deles, eles ficaram prostrados no
deserto. Seus corpos mortos ficaram espalhados no
deserto sem sepultamento ou funeral apropriado.
Num dia só, mais de vinte mil foram mortos e ficaram
prostrados ao chão, seus corpos espalhados no
deserto. Isso deve advertir-nos a não dar ouvidos ao
ensinamento superficial e supersticioso de que uma
vez que uma pessoa crê no Senhor Jesus e é salva,
tudo está bem. Isso equivale a dizer que
simplesmente porque os filhos de Israel tinham
experimentado a Páscoa, tudo acerca deles estava
bem. Contudo, os mesmos que aplicaram o sangue do
cordeiro pascal, que realizaram seu êxodo do Egito,
cruzaram o mar Vermelho e até receberam a
revelação de Deus no monte Sinai e comeram o maná
e beberam da água viva, ficaram prostrados no
deserto. Não podemos negar que os filhos de Israel
foram redimidos e salvos. Todavia, a maioria deles
caiu no deserto.
Nem mesmo Moisés e Arão entraram na boa
terra. Arão morreu por causa do seu engano e Miriã,
por causa de sua rebelião. Até mesmo Moisés morreu,
não por causa de idade avançada, mas porque fez algo
grave contra o governo de Deus. A ele foi permitido
ver a terra, mas não entrar nela. Deuteronômio 34:4
diz: “Disse-lhe o SENHOR: Esta é a terra que, ' sob
juramento, prometi a Abraão, a Isaque e a Jacó,
dizendo: À tua descendência a darei; eu te faço vê-la
com os teus próprios olhos; porém não irás para lá”.
O Senhor amava a Moisés, reputando-o como amigo
íntimo, mas por causa do Seu governo Ele não podia
permitir que Moisés entrasse na terra. Moisés tinha
feito algo contra o governo de Deus e o Senhor tinha
de preservar Seu governo. Por esse motivo, Ele não
podia permitir a Moisés entrar na terra. Aqui vemos
que a Moisés, de fato um homem de Deus, não foi
permitido entrar na boa terra. Moisés, Arão e Miriã,
três líderes no meio do povo, morreram no deserto.
Com certeza não é bom morrer desse modo.

B. Cobiçosos de Coisas Más


No versículo 6, Paulo continua: “Ora, estas coisas
se tomaram exemplos para nós, a fim de que não
cobicemos as coisas más, como eles cobiçaram”. Ele
aqui diz que essas coisas aconteceram como
exemplos, ou prefigurações para nós. Assim, ele
inclui a si mesmo com todos os crentes na questão de
correr a corrida cristã. Essas prefigurações indicam
que não devemos ser cobiçosos de coisas más como os
filhos de Israel cobiçaram. No original grego há a
palavra também antes de cobiçaram. Isso indica que
os coríntios eram cobiçosos de coisas más. Portanto,
Paulo os adverte que não sejam cobiçosos.
O uso que Paulo faz da palavra exemplos é muito
significativo. A palavra grega também significa
prefigurações, figuras dos fatos de verdades
espirituais. Vimos que 1 Coríntios considera a história
dos filhos de Israel no Antigo Testamento como
prefiguração dos crentes do Novo Testamento. Nos
capítulos cinco, sete e oito eles tinham
experimentado Cristo como sua Páscoa e começado a
guardar a festa dos pães asmos. Aqui nesse capítulo,
eles tinham sido batizados com respeito a Moisés
(Cristo), passando pelo mar Vermelho (a morte de
Cristo). Agora estão comendo a comida espiritual e
bebendo a bebida espiritual para empreender a
jornada (a corrida cristã) para a boa terra (o Cristo
todo-inclusivo). Eles também são advertidos aqui (v.
11) a não repetir a história dos filhos de Israel em
praticar o mal contra Deus, como ilustram os
versículos 6 a 11.
O objetivo de Deus ter chamado os filhos de
Israel era entrar na terra prometida a fim de desfrutar
suas riquezas para estabelecer o reino de Deus e ser a
Sua expressão na terra. Todavia, embora tenham sido
redimidos por intermédio da Páscoa, livrados da
tirania egípcia e levados ao monte de Deus para
receber a revelação da habitação de Deus, o
tabernáculo, quase todos caíram e morreram no
deserto, falhando em alcançar seu objetivo (Hb
3:7-19) por causa de seus atos maus e incredulidade.
Somente Calebe e Josué entraram na boa terra (Nm
14:27-30). Isso significa que embora tenhamos sido
redimidos por meio de Cristo, livrados do cativeiro de
Satanás e introduzidos na revelação da economia de
Deus, podemos ainda falhar em atingir o objetivo do
chamamento de Deus, isto é, entrar na posse de nossa
boa terra, Cristo (Fp 3:12-14), e desfrutar Suas
riquezas com vistas ao reino de Deus para que
sejamos Sua expressão na era atual e participemos do
desfrute pleno de Cristo na era do reino (Mt 25:21,
23). Isso deve ser uma advertência solene a todos os
crentes do Novo Testamento, principalmente aos
coríntios, que estavam em perigo de repetir a falha
dos filhos de Israel no deserto.

C. Fazer-se Idólatras
O versículo 7 diz: “Não vos façais, pois, idólatras,
como algum deles; porquanto está escrito: O povo
assentou-se para comer e beber, e levantou-se para
divertir-se”. O comer abusivo dos filhos de Israel
estava relacionado com sua idolatria na adoração ao
bezerro de ouro (Êx 32:1-6). A palavra do apóstolo
aqui implica que o fato de os coríntios comerem
sacrifícios a ídolos sem qualquer consideração era
também algo relacionado com idolatria.
No versículo 7, temos a interpretação bíblica de
idolatria. Idolatria é comer, beber e divertir-se.
Quando os filhos de Israel adoraram o bezerro de
ouro, eles se assentaram para comer e beber e se
levantaram para divertir-se. Aqui, divertir-se significa
ter recreação. Comer, beber e divertir-se equivale a
adorar ídolos. Hoje as pessoas em toda a parte estão
cometendo idolatria dessa forma. Sempre que há um
feriado ou fim de semana prolongado, eles se
entregam ao divertimento, para buscar diversos tipos
de entretenimento. Além disso, em muitos dos cultos
cristãos de hoje, há a prática de idolatria. Aos olhos
de Deus, a música e os dramas que há em
determinados cultos são idolatria. Em muitos lugares,
os cristãos na verdade não estão adorando a Deus,
mas praticando idolatria. Sua modalidade de culto é
idólatra aos olhos de Deus. Também precisamos ser
cautelosos na forma de usar instrumentos musicais
nas reuniões. Nosso cântico deve ser para adoração, e
não para diversão. Quando cantamos nas reuniões,
precisamos ter um autêntico espírito de adoração. Se
o nosso cântico se tomar mero entretenimento, isso
será idolatria. O cântico nas reuniões da igreja não
deve ser para diversão, deve ser a autêntica adoração
oferecida a Deus.

D. Praticar Fornicação
O versículo 8 continua: “E não pratiquemos
imoralidade, como alguns deles o fizeram, e caíram
num só dia vinte e três mil”. A imoralidade, ou
fornicação, acompanha a idolatria (Nm 25:1-2). Daí,
essas duas coisas são mencionadas juntas, como
também em Atos 15:20, 29. Sem dúvida, a implicação
aqui é que essas coisas malignas também existiam
entre os crentes coríntios. Desse modo, essas são as
coisas principais abordadas nos capítulos cinco a dez.
Nesse versículo, Paulo usa a palavra “caíram”.
Isso quer dizer ser prostrado, ser lançado ao chão por
intermédio da morte. Os que caíram dessa forma não
foram propriamente sepultados; pelo contrário,
foram espalhados no deserto.

E. Pôr o Senhor à Prova


No versículo 9, Paulo prossegue: “Não ponhamos
o Senhor à prova, como alguns deles já fizeram, e
pereceram pelas mordeduras das serpentes”.
Literalmente, a palavra grega para pôr à prova
significa tentar ao máximo, “provocar”, tentar
totalmente. De acordo com Números 21:6, os que
puseram o Senhor à prova foram destruídos pelas
serpentes.

F. Murmurar contra o Senhor


O versículo-10 diz: “Nem murmureis como
alguns deles murmuraram, e foram destruídos pelo
exterminador”. A murmuração dos filhos de Israel
(Nm 16:41) prefigurava o falar negativo dos crentes
coríntios contra o apóstolo (1Co 4:3; 9:3). Os filhos de
Israel que murmuraram pereceram; foram destruídos
na morte, ficaram prostrados no chão. O
exterminador (v. 10) é o anjo destruidor de Deus (Êx
12:23; 2Sm 24:16-17). Sem dúvida, ao referir-se ao
murmurar dos filhos de Israel, Paulo deixa implícito
que os crentes coríntios deviam ser cuidadosos sobre
murmurar contra ele.

G. Prefigurações para Nossa Advertência,


sobre quem os Fins dos Séculos Têm Chegado
No versículo 11, Paulo explica: “Estas coisas lhes
sobrevieram como exemplos, e foram escritas para
advertência nossa, de nós outros sobre quem os fins
dos séculos têm chegado”. Ele novamente diz que as
coisas que aconteceram aos filhos de Israel no deserto
são prefigurações. Essas prefigurações foram escritas
para nossa advertência. Advertência aqui implica
admoestação.
No versículo 11, Paulo fala dos fins dos séculos. A
palavra grega traduzida por fins também significa
cumprimento ou consumação. “Os fins dos séculos”
aqui se refere à era do Novo Testamento, desde a
primeira vinda do Senhor até Sua segunda vinda (Hb
9:26). Isso implica que a era do Novo Testamento, na
qual estamos, é a era da graça, quando podemos ter a
advertência sobre a história dos filhos de Israel.
Depois dessa era vem a era do reino, quando esses
exemplos na era do Antigo Testamento não mais
servirão para nossa corrida cristã.
Nesse versículo Paulo parece dizer: “Esta era, a
era da graça, é o fim das eras. Irmãos, vocês estão
todos na era da graça. O que aconteceu aos filhos de
Israel é ainda uma prefiguração como advertência
para vocês. Se não atentarem para o aviso dessa
prefiguração e não andarem na luz desse aviso,
perderão a oportunidade. Quando esta era acabar,
essas prefigurações dos filhos de Israel não mais
servirão para vocês”.

H. Cuidado para Não Cair


No versículo 12, Paulo diz: “Aquele, pois, que
pensa estar em pé veja que não caia”. Com base na
advertência nos versículos 5 a 11, o apóstolo avisa os
coríntios para não pensar que estão firmes em pé,
sem perigo de cair mortos como os filhos de Israel. A
palavra “caia” aqui se refere aos filhos de Israel que
caíram, os que foram prostrados e morreram no
deserto. Alguns crentes coríntios caíram e morreram
porque ofenderam o Corpo do Senhor (11:27-30).
No versículo 12, Paulo diz aos coríntios
filosóficos que ficassem atentos para não cair. Eles
podem pensar que são fortes, firmes e estão rijos em
pé, mas ele os adverte para não cair, como os filhos de
Israel caíram. Como veremos, no capítulo onze ele
enfatiza que os que ofenderam o Senhor na questão
da Sua mesa se tomaram fracos, doentes e alguns até
morreram. Isso é cair. Qualquer crente do Novo
Testamento que morre sem vencer é alguém que caiu.
Paulo morreu, mas não morreu derrotado. Ele não
caiu no deserto. Pelo contrário, morreu vencedor. Foi
como Josué e Calebe, que não morreram no deserto.
Entretanto, a maioria dos cristãos morre como
derrotados. Para um cristão, morrer derrotado pelo
pecado, mundo, carne, concupiscências, Satanás ou
qualquer coisa maligna é cair no deserto. É, na
verdade, ser prostrado no deserto. Isso é muito sério.
A advertência de Paulo nesses versículos é urna
palavra de justiça (Hb 5:13). Hoje, onde você
consegue ouvir tal palavra de justiça proclamada
entre os cristãos? Em vez de palavra de justiça, há
sermões açucarados que freqüentemente encorajam
as pessoas a praticar idolatria. Isso é grave e exige
séria advertência.

I. Nenhuma Tentação que Não Seja Humana


No versículo 13, Paulo prossegue: “Não vos
sobreveio tentação que não fosse humana; mas Deus
é fiel e não permitirá que sejais tentados além das
vossas forças; pelo contrário, juntamente com a
tentação, vos proverá livramento, de sorte que a
possais suportar”. Esse versículo é continuação da
advertência dada no versículo 12, indicando que, por
um lado, devemos estar atentos para não ser tentados
a ponto-de cair e morrer. Por outro, Deus em Sua
fidelidade, não permitirá que caia sobre nós tentação
além da que somos capazes de suportar, mas sempre
prepara para nós um escape. Essa palavra de
encorajamento segue a vigorosa advertência nos
versículos anteriores.
Alguns leitores de 1 Coríntios pensam que a
palavra tentação no versículo 13 significa prova ou
problema. De acordo com sua compreensão, esse
versículo está dizendo que toda tentação que
sofremos é comum a todos os homens. Na verdade,
Paulo aqui não quer dizer problemas, mas tentação.
Em Mateus 6:13, o Senhor Jesus nos ensina a orar
tanto para ser libertados do mal como também para
não cair em tentação. O mal aqui inclui problemas
como acidentes. Tentações referem-se a coisas ao
nosso redor que nos tentam. Assim, precisamos orar
para que o Senhor diariamente nos livre de
problemas e não nos deixe cair em tentação.
Percebemos que somos fracos e não podemos
suportar tentações. Em 10:13, Paulo fala de tentação,
e não de problemas ou provas.
A palavra de Paulo no versículo 13 é tanto
consolo como correção aos coríntios. Eles podem ter
pensado que as tentações eram fortes demais para
resistir a elas. Ele, porém, ressalta que nenhuma
tentação lhes sobreviera, exceto as que são humanas.
Também diz que Deus é fiel e não permitirá que
sejam tentados além do que são capazes de suportar,
mas junto com a tentação Ele provê um escape de
modo que sejam capazes de resistir. Essa é uma
palavra de promessa e encorajamento. Todavia, deixa
a responsabilidade de ser tentados conosco, não com
Deus. Quando somos tentados, nunca devemos
culpar Deus pela tentação. Segundo esse versículo, a
responsabilidade por ser tentado repousa sobre
nossos ombros. Ao mesmo tempo, podemos ser
encorajados sabendo que o Deus fiel proverá uma
saída para nós.
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM QUARENTA E OITO
CRESCER ATÉ CHEGAR À PLENA POSSE E DESFRUTE
DE CRISTO

Leitura Bíblica: Hb 5:11-14; 3:6-19; 6:1; 1Co 3:1-3,


6-7; 2:14
Nesta mensagem vamos ver em Hebreus e 1
Coríntios que precisamos crescer até chegar à plena
posse e desfrute do Cristo todo-inclusivo.

OS HEBREUS E OS CORÍNTIOS
Paulo aplica a história dos filhos de Israel à vida
da igreja do Novo Testamento. Em Hebreus e 1
Coríntios ele enfatiza claramente que o que aconteceu
aos filhos de Israel é uma prefiguração para nós. A
história inteira de Israel é uma narrativa sobre a
igreja. Como vimos em 10:6 Paulo, referindo-se aos
filhos de Israel, diz: “Ora, estas coisas se tornaram
exemplos para nós”.
As situações dos crentes abordadas em Hebreus e
1 Coríntios eram diferentes. Os crentes hebreus eram
crianças quanto às doutrinas relativas a Cristo, e
tiveram muitos empecilhos para entrar no pleno
descanso da terra prometida por causa de sua
carência de fé (Hb 5:11-14; 3:6-19; 6:1) Assim eles
precisavam crescer na fé. Eles careciam de fé
adequada no conhecimento adequado da verdade.
Paulo se refere a essa verdade mais profunda como
palavra da justiça, como comida sólida (Hb 5:12-14).
Os crentes coríntios eram crianças na
experiência de Cristo e tiveram muitos empecilhos
para entrar no pleno desfrute de Cristo porque eram
anímicos e carnais. Assim, precisavam do
crescimento de vida (1Co 3:1-3, 6-7; 2:14). Os hebreus
tinham carência de fé, e os coríntios, carência de
crescimento de vida. Tanto em Hebreus como 1
Coríntios, Paulo encoraja os crentes a prosseguir,
progredir. O primeiro grupo, os crentes hebreus,
precisava progredir, desenvolver-se, na fé adequada
nas verdades mais profundas; o segundo grupo, os
crentes coríntios, precisavam progredir no
crescimento de vida.
Os crentes coríntios tinham Cristo como sua
porção (1:2) porque foram chamados à comunhão de
Cristo (1:9). Deus fizera de Cristo poder e sabedoria
para eles: justiça, santificação e redenção (1:30).
Além disso, os crentes coríntios experimentaram e
desfrutaram Cristo como sua Páscoa (5:7), santidade
para santificação (6:11), justiça para justificação
(6:11), os pães asmos para a vida cristã como festa
(5:8), comida espiritual (10:3), bebida espiritual
(10:4a) e pedra espiritual (10:4b). Suas experiências
de Cristo foram todas por meio de seu espírito
regenerado mesclado com o Espírito, que é o Cristo
ressurreto (2:14; 6:17; 15:45b). No futuro, eles
desfrutarão Cristo como glória para glorificação
(2:7-8). Essa será a redenção de seu corpo (1:30). Eles
participaram do sangue e do corpo de Cristo (10:16).
Não obstante, foram advertidos para não cair na
corrida cristã, como a maioria dos filhos de Israel caiu
no deserto, mas crescer até a plena posse e desfrute
do Cristo todo-inclusivo, a terra prometida de Deus.

A HISTÓRIA DE ISRAEL
A história de Israel pode ser dividida em três
seções. Podemos chamar a primeira de seção da
salvação. De acordo com o livro de Êxodo, os filhos de
Israel, embora fossem o povo de Deus, estavam numa
condição caída e sob a tirania dos egípcios, mas foram
salvos dessa situação e levados ao monte de Deus e à
Sua habitação. Eles também receberam as provisões
divinas para suprir-lhes as necessidades. Quando
precisavam de alimento, vinha o maná celestial.
Quando precisavam beber, a água viva fluía para eles
da rocha fendida. Todas as suas necessidades eram
satisfeitas por Deus. Assim, tiveram as provisões
divinas que os capacitaram a entrar na boa terra.
Depois de entrar na terra, desfrutaram as suas
riquezas. Em Deuteronômio 8:7-9 temos uma
excelente visão das riquezas da boa terra. Cada
aspecto delas tipifica um aspecto das riquezas de
Cristo.
Na mensagem anterior demos uma palavra de
advertência. Nela houve pouco encorajamento.
Agora, nesta mensagem, vamos considerar algo
muito encorajador. Na verdade, a história, ou
prefiguração, de Israel não é decepcionante. Sim, é
verdade. que somente dois que saíram do Egito
entraram na boa terra. De mais de dois milhões que
saíram do Egito, somente Josué e Calebe, junto com
os corpos de Jacó e José, entraram na boa terra.
Entretanto, junto com eles, toda a nova geração
também entrou. Do lado humano, vemos fracasso,
mas do lado de Deus, vemos vitória. Precisamos
atentar para o fato de que posteriormente, o povo
escolhido por Deus entrou na boa terra; venceu,
subjugou e expulsou os usurpadores; ganhou a terra e
desfrutou todas as suas riquezas. Eles estabeleceram
o reino e nele um santuário foi construído. Portanto,
no meio do Seu povo, na boa terra com o reino e o
santuário, Deus teve Sua expressão. Isso marca o fim
da seção de história de Israel, chamada de seção de
salvação.
Na Bíblia, a salvação plena e completa de Deus
inclui a Páscoa, o êxodo, o cruzamento do mar
Vermelho, a jornada no deserto, o suprimento das
provisões divinas, a comunhão com Deus no Seu
monte, o receber a revelação divina e a edificação da
habitação de Deus.
Ao considerar o objetivo dessa salvação plena e
completa, precisamos perceber que Deus nunca pode
ser derrotado. Podemos pensar que é impossível para
Deus ganhar cento e quarenta e quatro mil
vencedores (Ap 14:1). Para nós, isso pode parecer
impossível, mas o que é impossível para o homem, é
totalmente possível para Ele. Nosso Deus é vitorioso.
Ele não pode ser derrotado e Seu propósito, Seu
plano, tampouco pode ser frustrado. Deus é grande e
Sua visão é ampla. Ele teve uma maneira de tirar Seu
povo do Egito através do deserto até entrar na boa
terra.
Os filhos de Israel foram derrotados ou
ganharam a vitória? A resposta correta a essa
pergunta é que foram derrotados temporariamente,
mas por fim foram vitoriosos. Ganharam a boa terra e
receberam a salvação plena de Deus.
É comum para os cristãos, sob a influência da
teologia tradicional, perguntar aos outros se são
salvos. Para dar uma resposta apropriada a essa
pergunta, precisamos considerar o âmbito da
salvação completa de Deus e perceber que ela inclui
toda a experiência dos filhos de Israel, desde a Páscoa
até a edificação do santuário na boa terra. O desfrute
da Páscoa certamente era um aspecto da salvação de
Deus. Entretanto, era simplesmente o início da
salvação plena; não era a completação dessa salvação.
Somente depois que cruzaram o mar Vermelho,
peregrinaram pelo deserto, tomaram posse da boa
terra e edificaram o santuário, que ficou cheio da
glória de Deus, é que eles tiveram a completação da
plena salvação de Deus.
A próxima vez que alguém lhe perguntar se você
é salvo, deve responder de forma sábia. Precisa
indagar o que quer dizer com salvação de Deus e o
que ela inclui. Você pode replicar: “Você está me
perguntando se sou salvo. Antes de responder,
gostaria que você me dissesse qual é o âmbito, a
esfera, da salvação de Deus”. Sim, os filhos de Israel
experimentaram salvação na época da Páscoa. Um
membro da tribo de Benjamim, por exemplo, poderia
ter testificado com confiança que, já que desfrutara a
Páscoa, ele tinha sido salvo. A salvação de Deus,
todavia, inclui muito mais que a Páscoa. Como
indicamos, ela inclui a habitação de Deus. A salvação
não só é para habitação de Deus como até mesmo a
inclui. Se ainda não experimentamos a habitação de
Deus, nossa salvação não é completa. Ser salvo de
maneira plena e completa significa desfrutar a
Páscoa, experimentar o êxodo e cruzar o mar
Vermelho, ser suprido com as provisões divinas,
conseguir a posse da boa terra e ser edificado como
santuário de Deus, Sua habitação na terra. A glória de
Deus então encherá o santuário. Isso é a plena
salvação. Toda a história dos filhos de Israel, desde a
Páscoa até 1 Reis 8 é uma prefiguração da igreja.
Contudo, muitos mestres cristãos pegam apenas
alguns aspectos como prefigurações, e não a história
completa.
Nesta mensagem, não estamos preocupados com
a segunda e terceira seções da história de Israel.
Assim, é suficiente simplesmente dizer que a segunda
seção inclui toda a degradação que se segue depois da
edificação do santuário até a recuperação de
Jerusalém em 1967. A terceira seção, o milênio, só
começará depois da volta do Senhor. A primeira e a
segunda seção da história de Israel prefiguram a
igreja. Aos olhos de Deus, Israel e a igreja seguem
cursos paralelos.

A APLICAÇÃO DO PRIMEIRO TRECHO DA


HISTÓRIA DE ISRAEL
Desejo enfatizar que ao obter a boa terra, os
filhos de Israel não foram derrotados. Eles entraram
nela, conquistaram-na, tomaram plena posse dela e
tiveram o desfrute do rico produto dela. Meu encargo
nesta mensagem é aplicar essa seção da história de
Israel a nós. Por esse motivo, a mensagem é
intitulada: “Crescer até Chegar à Plena Posse e
Desfrute de Cristo”.
Na primeira seção da história de Israel, cada
ponto positivo é uma prefiguração de Cristo ou de
algo relacionado com Ele. A Páscoa com os pães
asmos e as ervas amargas representam Cristo. O mar
Vermelho prefigura a morte de Cristo, e a nuvem é
prefiguração do Espírito de Cristo. De modo
semelhante, o maná, a rocha fendida, a água viva e o
tabernáculo com seus utensílios e mobiliário, são
todos prefigurações. A prefiguração final e máxima de
Cristo, porém maior e todo-inclusiva, é a boa terra.
Os filhos de Israel entraram na boa terra,
possuíram-na e desfrutaram-na. Precisamos aplicar
essa parte de sua história à nossa experiência hoje.
Ao considerar esse trecho de sua história, vamos
ver que os filhos de Israel não foram derrotados. Pelo
contrário, foram vitoriosos: ganharam a terra,
entraram nela, possuíram-na e desfrutaram-na. Isso
deve encorajar-nos a não ficar desapontados com a
situação entre os cristãos hoje. Precisamos crer que o
nosso Deus ainda é o Deus de vitória e que Ele tem
como levar a cabo Seu propósito. Além disso, também
cremos que a restauração é necessária para Deus
cumprir o que é tipificado por esse trecho da história
de Israel concernente a entrar na terra, possuí-la e
desfrutá-la.

DUAS GERAÇÕES
Com os filhos de Israel, desde a Páscoa até entrar
na boa terra, houve duas gerações. A primeira era
composta dos que saíram do Egito; a segunda, dos
que entraram na boa terra. Isso indica que nós,
crentes, temos duas gerações. Fomos salvos com a
primeira geração, mas entraremos na boa terra com a
segunda geração. A primeira geração é o nosso velho
homem e a segunda é nosso novo homem.
Com exceção de Josué e Calebe, que tiveram
outro espírito, a primeira geração se extinguiu. Josué
e Calebe pertenciam à nova geração, e não à antiga. É
por isso que experimentaram duplo batismo: o
primeiro ao passar pelo mar Vermelho e o segundo ao
atravessar o rio Jordão. A antiga geração passou pelo
mar Vermelho, mas foi a nova que cruzou o Jordão.
Quando os filhos de Israel passaram pelo mar
Vermelho, duvido que percebessem que estavam
experimentando um batismo. Mas embora fossem
faltos de entendimento, aos olhos de Deus eles foram
de fato batizados nessa época. Entretanto, depois de
seu batismo, eles ainda estavam numa situação muito
miserável. Em princípio, o mesmo pode ser verdade
com os crentes hoje. Depois de batizados, nossa vida
da igreja pode estar ainda numa confusão. Portanto,
precisamos passar pelo rio Jordão. O primeiro
batismo na verdade não aniquilou os filhos de Israel.
Antes, sepultou Faraó e o exército egípcio. Foi o
batismo no rio Jordão que sepultou as doze tribos dos
filhos de Israel, representadas pelas doze pedras
colocadas no fundo do rio (Js 4:9).
Entre o primeiro batismo no mar Vermelho e o
segundo no rio Jordão, os filhos de Israel estavam
experimentando transformação. Se você pudesse
tê-los visitado depois que passaram pelo mar
Vermelho, talvez imaginasse como poderiam ser o
povo de Deus. Talvez tivesse pensado que Moisés
estava errado em ajudá-los a desfrutar a Páscoa. Eles
brigavam, murmuravam e criticavam, mas nos
quarenta anos entre o mar Vermelho e o rio Jordão,
houve muitas experiências de transformação. Isso
quer dizer que, espiritualmente falando, nessa época,
os filhos de Israel foram transformados. Sim, a velha
geração ficou prostrada no deserto e isso é uma
advertência para nós. Porém, a nova geração surgiu.
Isso é transformação. Depois que cruzaram o Jordão,
eles se tomaram um exército poderoso.

O PROCESSO DE TRANSFORMAÇÃO
Se considerarmos a história dos filhos de Israel,
não ficaremos desapontados com nós mesmos. Em
vez disso, perceberemos que podemos ser
comparados a lagartas num casulo submetendo-nos a
um processo de transformação. Não fique
desapontado, mas adore o Senhor do interior do seu
“casulo”. Todos somos “lagartas” experimentando o
trabalho divino de transformação. Quanto mais esse
trabalho progride, mais emergimos do casulo. Alguns
jovens podem ter somente uma pequena parte livre
do casulo, ao passo que outros têm uma porcentagem
maior de seu ser fora dele. Louvado seja o Senhor
pois as lagartas estão sendo transformadas e os
casulos estão gradualmente desaparecendo! Essa é a
verdadeira situação na vida da igreja na restauração
do Senhor.
Como estamos parcialmente no casulo e
parcialmente fora dele, às vezes ficamos desanimados
e outras vezes encorajados. Quando pensamos no
casulo ou na lagarta no casulo, ficamos
decepcionados; mas quando vemos a borboleta
emergindo do casulo, ficamos encorajados e felizes.
Na restauração do Senhor, estamos gradualmente
saindo do casulo. Muitos de nós podem testemunhar
que, fazendo um contraste, quando estávamos na
religião organizada, nada sabíamos sobre
transformação, nem tínhamos qualquer conceito de
lagartas nos casulos sendo transformadas em
borboletas maravilhosas. A restauração do Senhor
certamente é necessária para introduzir os santos na
verdadeira experiência de transformação.
Se formos fiéis ao Senhor, a restauração se
tomará mais e mais predominante. Recentemente
liberei algumas mensagens sobre a situação do
mundo. Se tivermos a percepção adequada da
situação mundial, veremos que essa é a hora de a
restauração do Senhor se espalhar por toda a terra.
Mesmo os meios modernos de transporte e
comunicação podem ser usados pelo Senhor para Sua
restauração. Por isso, essa é a hora de espalhar a
restauração do Senhor, principalmente os mais
jovens. Onde os cristãos hoje podem ouvir tanto a
palavra de graça do Senhor como Sua palavra de
justiça? Em tantos lugares, as pessoas praticam
idolatria: comem, bebem e levantam-se para se
divertir, mas na restauração Deus fala. Creio que nos
próximos anos, a restauração, o mover final e
máximo do Senhor na terra, será muito prevalecente.
O Senhor deseja ajuntar os que O amam e O buscam,
e fazer deles Seu testemunho vivo.

NOSSA NECESSIDADE DE CRESCIMENTO


EM VIDA
Nós na restauração do Senhor precisamos
crescer em vida. Crescer é sair do casulo. Crescer em
vida é também eliminar a velha geração e ser
renovado na mente, emoção e vontade. Isso envolve
transformação. Transformação é eliminar a velha
geração, o velho homem, e se revestir da nova
geração, o novo homem. Isso é sair totalmente do
casulo e ser liberado como borboleta.
Hoje, estamos desfrutando Cristo, mas ainda não
O possuímos como a terra todo-inclusiva. Se
quisermos possuí-Lo dessa forma, nosso velho
homem tem de morrer e o novo homem tem de
aparecer. Louvado seja o Senhor porque o velho
homem está morrendo dia após dia! Muitos de nós
podem testificar que, desde que entramos na
restauração do Senhor, uma mudança está ocorrendo
em nós. Essa mudança é o morrer do velho homem e
o crescimento do novo homem. Isso é a
transformação, o crescimento de vida.
A intenção de Paulo ao escrever essa Epístola aos
coríntios era ajudá-los a experimentar o morrer do
velho homem e o crescimento do novo homem. Ele
usa a palavra crescer no capítulo três, dizendo que ele
plantou, Apolo regou e Deus dá o crescimento.
Quando os santos ouvem sobre o crescimento de
vida, podem dizer: “Estou na restauração do Senhor
há muitos anos, mas não tenho notado qualquer
crescimento em mim”. Se for esse o seu sentimento,
encorajo-o a comparar como você é hoje com o que
era muitos anos atrás. Se fizer essa comparação, creio
que irá adorar o Senhor e agradecer-Lhe pelo que está
fazendo em você. Você O louvará pelo fato de que a
borboleta, seu novo ser, tem gradualmente emergido
do casulo. Louvado seja o Senhor por estarmos
crescendo! Pelo crescimento e transformação,
estamos despindo-nos do velho homem e
revestindo-nos do novo homem.
Precisamos ser cautelosos, porém, para não
tentar despir-nos do casulo nós mesmos. Fazer isso é
causar danos. O casulo nos protege durante o
crescimento de vida. Nunca tente tirar seu casulo sem
o adequado crescimento de vida. O princípio aqui é
ilustrado pela palavra em Êxodo 23:27-30 sobre
ocupar a boa terra e expulsar os cananeus. Deus disse
aos filhos de Israel que não expulsaria os cananeus de
uma vez para que feras selvagens não surgissem para
os destruir. Deus até usaria os cananeus como
proteção para os filhos de Israel. Isso indica que não
devemos tentar lidar com nosso velho homem sem o
crescimento de vida. Repito, não tente remover seu
casulo. Pelo contrário, simplesmente viva uma vida
normal da igreja na restauração do Senhor. Se fizer
isso, pode ter certeza que estará crescendo firme em
vida.
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM QUARENTA E NOVE
A MESA DO SENHOR (1)

Leitura Bíblica: 1Co 10:14-22


Em 10:14-22, Paulo fala sobre guardar a mesa do
Senhor da idolatria. Nos versículos 14 a 18, ele fala da
comunhão do sangue e corpo do Senhor, e nos
versículos 19 a 22, da separação da mesa do Senhor
da mesa dos demônios.

FUGIR DA IDOLATRIA
No versículo 14, Paulo diz: “Portanto, meus
amados, fugi da idolatria”. A palavra “portanto” no
início desse versículo indica que a seção seguinte até
o versículo 30 é uma conclusão da seção anterior, a
partir de 8:1, que fala sobre comer coisas sacrificadas
a ídolos. Idolatria refere-se a comer coisas
sacrificadas a ídolos.
Em sua compreensão da Palavra sagrada, Paulo é
capaz de enxergar através de coisas físicas e das
palavras impressas, e então ver Cristo. Por exemplo,
em 10:4, ele fala que a rocha física era Cristo. Isso
indica que nessa rocha ele vê Cristo. No mesmo
princípio, pela palavra idolatria, ele não se refere
meramente a imagens esculpidas, mas a algo mais
amplo e inclusivo. Como veremos, idolatria aqui
implica muita coisa.
No versículo 15, Paulo continua: “Falo como a
criteriosos; julgai vós mesmos o que digo”. Ele
esperava que os leitores não parassem nas palavras
impressas, mas se aprofundassem no que ele diz e
depois investigassem, discernissem e julgassem. Ele
queria que eles examinassem cuidadosamente e
julgassem o que ele dizia.

A COMUNHÃO DO SANGUE E DO CORPO


No versículo 16, Paulo de repente fala do cálice
da bênção: “Porventura, o cálice da bênção que
abençoamos não é a comunhão do sangue de Cristo?
O pão que partimos não é a comunhão do corpo de
Cristo?” Aparentemente, não há uma continuação
adequada entre os versículos 15 e 16. Sem qualquer
transição, Paulo começa a falar do cálice da bênção,
indicando que é a comunhão do sangue de Cristo. Ele
também fala acerca do pão, indicando que é a
comunhão do corpo de Cristo. Não devemos tomar
esse versículo como entendido, presumindo que o
compreendemos quando na verdade entendemos
muito pouco, se é que entendemos alguma coisa.
Precisamos investigar o sentido das expressões “a
comunhão do sangue de Cristo” e “a comunhão do
corpo de Cristo”.
A palavra grega traduzida por comunhão
também significa participação conjunta. Comunhão
aqui se refere à comunhão do crente na participação
conjunta do sangue e do corpo de Cristo. Isso faz de
nós, os participantes do sangue e do corpo do Senhor,
não só ter unidade uns com outros, mas também com
o Senhor. Nós, os participantes, identificamo-nos
com o Senhor na comunhão de Seu sangue e corpo. A
idéia do apóstolo aqui é ilustrar como comer e beber
toma os que comem e bebem um com a comida e a
bebida. Os coríntios deviam perceber que seu comer
abusivo de sacrifícios a ídolos na verdade os tomava
um com os demônios por trás dos sacrifícios.
UM SÓ PÃO, UM SÓ CORPO
No versículo 17, Paulo fala algo categórico acerca
de um só pão e um só Corpo: “Porque nós, embora
muitos, somos unicamente um pão, um só corpo;
porque todos participamos do único pão”. Somos
todos um pão, um Corpo, pois participamos de um
único pão. Nossa participação conjunta do único pão
toma todos nós um. Isso indica que nossa
participação de Cristo toma todos nós Seu único
Corpo. O próprio Cristo de quem todos participamos
nos constitui Seu único Corpo.
Participar do único pão, isto é, comer dele (vs.
28-30), nos identifica com ele. Isso quer dizer que
nossa participação de Cristo, nosso desfrute de Cristo,
nos identifica com Ele, tomando-nos um com Ele.

O ALTAR E A MESA
No versículo 18, Paulo novamente se refere a
Israel: “Considerai o Israel segundo a carne; não é
certo que aqueles que se alimentam dos sacrifícios
são participantes do altar?” Vimos que em 10:1-13,
Paulo apresenta Israel como uma prefiguração dos
crentes hoje. Não devemos pensar que o restante do
capítulo dez nada tenha a ver com a prefiguração de
Israel nos versículos 1 a 13. Pelo contrário, o segundo
trecho desse capítulo é continuação do primeiro, não
é separado dele.
A palavra grega traduzida por participantes
também quer dizer co-participantes. Os que comem
os sacrifícios do altar não são apenas participantes
uns com os outros e com o altar, mas também
co-participantes do que comem. Sua participação no
que comem os toma um com os sacrifícios do altar. Já
que o altar é a base dos sacrifícios oferecidos a Deus,
comer dos sacrifícios do altar toma os que comem
seus participantes, seus co-participantes. Isso
também ilustra o fato de que comer toma aquele que
come um com aquilo que come. Comer coisas
sacrificadas a ídolos faz a mesma coisa: identifica o
que come com os demônios por trás dos sacrifícios.
No versículo 18, Paulo com certeza quer dizer
que a comunhão do altar é prefiguração da comunhão
do sangue e do corpo de Cristo. Falando de forma
muito simples, é prefiguração da comunhão da mesa
do Senhor. Assim os participantes do altar
prefiguram os participantes da mesa do Senhor.
Israel tinha um altar, mas nós temos uma mesa. No
altar, havia as ofertas; na mesa há o sangue e o corpo.
Um e a prefiguração, e o outro é o cumprimento.
Enquanto os filhos de Israel tinham comunhão ao
redor do altar, nós temos comunhão ao redor da
mesa.

ÍDOLOS E DEMÔNIOS
Nos versículos 19 e 20, Paulo diz: “Que digo,
pois? Que o sacrificado ao ídolo é alguma coisa? Ou
que o próprio ídolo tem algum valor? Antes, digo que
as coisas que eles sacrificam é a demônios que as
sacrificam e não a Deus; e eu não quero que vos
torneis associados aos demônios”. Aqui, a redação de
Paulo dá outro salto, aparentemente sem qualquer
transição.
Nos versículos 19 e 20, ele fala de ídolos,
sacrifícios a ídolos e demônios. Ídolo e sacrifício a
ídolo nada são (8:4), mas atrás deles estão os
demônios, que são abomináveis e detestáveis para
Deus. Os crentes que adoram a Deus devem abster-se
de se identificar com demônios e tomar-se
participantes de demônios ao comer coisas
sacrificadas a ídolos. Já que os demônios são a
realidade dos ídolos, então comer as coisas
sacrificadas a ídolos toma os que comem seus
participantes, seus co-participantes. Os que comem
coisas sacrificadas a ídolos tornam-se não só
participantes com os demônios mas também
co-participantes deles, tomando-se um com eles.

DUAS MESAS
No versículo 16, Paulo fala da comunhão do
sangue e do corpo de Cristo; no 18, de participantes
do altar, e no 20, de participantes de demônios.
Então, no versículo 21 ele prossegue: “Não podeis
beber o cálice do Senhor e o cálice dos demônios; não
podeis ser participantes da mesa do Senhor e da mesa
dos demônios”. Aqui vem. o~ que há duas mesas: a
mesa do Senhor e a mesa dos demônios. Participar da
mesa é comer dela. Beber do cálice do Senhor e
participar da Sua mesa é identificar-se com Ele.
Beber o cálice dos demônios e participar da mesa
deles é tomar-se um com eles.
No versículo 22, Paulo conclui esse trecho do
capítulo dez: “Ou provocaremos zelos no Senhor?
Somos, acaso, mais fortes do que Ele?” O Senhor é
Deus zeloso (Êx 20:5). A idolatria é totalmente
abominável a Ele e odiada por Ele. Se participarmos
da comunhão com demônios, tomando-nos um com
eles, provocaremos zelos no Senhor. Assim, devemos
fugir da idolatria.

O SIGNIFICADO DA IDOLATRIA
Você entende bem 10:14-22? Pode-se dizer que
aqui Paulo fala sobre a mesa do Senhor. Por que,
então, ele começa essa seção com uma exortação para
fugir da idolatria? No versículo 14, ele não diz:
“Portanto, meus amados, estejais presentes à mesa do
Senhor todo dia do Senhor”. Pelo contrário, ele diz:
“Portanto, meus amados, fugi da idolatria”. A
compreensão adequada dessa seção é que Paulo fala
sobre a mesa do Senhor usando a idolatria como pano
de fundo.
Já enfatizamos que em 10:15, Paulo encoraja os
santos, como criteriosos, a julgar o que ele diz. Ele
apela para eles como aqueles que podem discernir,
investigar, perceber e apreender. Se lermos a palavra
de Paulo de forma a discerni-la, vamos querer saber
por que ele nos diz que fujamos da idolatria. Também
vamos querer saber o que ele quer dizer com o termo
idolatria. Ele se limita à verdadeira adoração da
imagem esculpida? Por certo, ele não é tão restrito.
Em 10:7, ele diz: “Não vos façais, pois, idólatras,
como alguns deles; porquanto está escrito: o povo
assentou-se para comer e beber, e levantou-se para
divertir-se”. Essa é a definição de idolatria.
Há uma diferença entre adoração a ídolos e
idolatria. Adoração a ídolos envolve inclinar-se diante
de um ídolo e adorá-lo. Idolatria tem abrangência
mais ampla porque envolve comer, beber e
divertir-se. Neste país2, as pessoas podem não adorar
ídolos, mas podem praticar idolatria. Nos feriados ou
fins-de-semana, elas podem se entregar a diversos
tipos de recreação e divertimentos. Podem comer e
beber e levantar-se para se divertir. Isso é idolatria.
2
E.U.A. (N.T.)
Mesmo comer coisas sacrificadas a ídolos é uma
forma insultante de se envolver com idolatria. Não
devemos adorar ídolos nem nos envolver com
idolatria. Como vimos, o sentido de idolatria é muito
mais amplo que adoração a ídolos.

O DESFRUTE DA BOA TERRA


Com essa compreensão de idolatria como pano
de fundo, precisamos perguntar o que Paulo quer
dizer com a expressão “a mesa do Senhor”. Nossa
compreensão disso pode ser muito limitada. Que é a
mesa do Senhor? A versão chinesa da Bíblia fala da
festa do Senhor. De acordo com essa tradução, a mesa
é uma festa. Entretanto, nem mesmo a palavra festa
transmite o pleno significado da mesa do Senhor. O
que está incluído no termo a mesa do Senhor é de
grande significado. Como veremos na mensagem
seguinte, a mesa do Senhor é na verdade a boa terra.
A primeira seção do capítulo dez é um registro
que mostra como a história de Israel é uma
prefiguração em seus diversos aspectos. Então, no
versículo 12, ele diz: “Aquele, pois, que pensa estar
em pé veja que não caia”. No versículo 13, ele
prossegue dando um encorajamento e consolo. Se
estudarmos esse capítulo cuidadosamente, vamos
perceber que há uma lacuna entre os versículos 13 e
14. No final do versículo 12, Paulo parece dar uma
parada repentina e depois dá um encorajamento. O
leitor cuidadoso, todavia, vai perceber que Paulo
ainda não terminou de descrever a história de Israel
como prefiguração da igreja. Assim, temos uma
impressão definida de que ele não terminou esse
assunto. Talvez não tivesse tido tempo para
prosseguir com mais detalhes. Não obstante, ele de
fato teve encargo para apresentar um conceito
consumado acerca de Israel como prefiguração. Esse
conceito consumado é a entrada dos filhos de Israel
no desfrute da boa terra.
O desfrute da boa terra é o objetivo da salvação
de Deus. Você ficaria feliz com um Deus que
simplesmente tira o povo do Egito, os conduz ao
deserto e depois lhes permite cair ali? Eu não ficaria
feliz com tal Deus porque esse não seria um Deus
salvador. Ele tinha prometido tirar o povo do Egito
para levá-lo à boa terra, uma terra que mana leite e
mel. Essa promessa fora feita a Abraão, Isaque e Jacó.
Se não tivesse introduzido o povo na boa terra, Ele
não poderia ter cumprido Sua promessa.
No tocante aos filhos de Israel, o desfrute da
terra que mana leite e mel era o objetivo final da
salvação de Deus. Mas, no tocante a Deus, o objetivo
final não foi atingido simplesmente pelo desfrute da
terra. Ainda havia a necessidade do reino e do
santuário. Os filhos de Israel precisavam do desfrute,
mas Deus precisava do reino e do santuário.
Visto que Paulo escreveu de forma muito
econômica, ele deu um salto em sua redação, do
fracasso no deserto para o desfrute da boa terra. Se
nos aprofundarmos nesse capítulo, vamos perceber
que esse é o conceito de Paulo. Tanto idolatria como a
mesa do Senhor são muito mais inclusivas em
significado que o indicado pelas palavras impressas.

TORNAMO-NOS O QUE COMEMOS


Primeira Coríntios 10:12-22, temos de lembrar, é
parte de uma longa seção que trata com a questão de
comer. Comer está relacionado com desfrute. Sempre
que come algo, você o desfruta. Além do mais,
tomamo-nos o que comemos. Por um lado, comer é
para nosso desfrute; por outro, tomamo-nos o que
comemos. Esses conceitos básicos devem ser
aplicados à compreensão desse trecho. Comer coisas
sacrificadas a ídolos na verdade significa desfrutar os
ídolos e posteriormente se tomar um com eles. No
mesmo princípio, participar da mesa do Senhor é
desfrutá-la e tomar-se um com ela, ou seja, desfrutar
o Senhor e tomar-se um com Ele. Nesses versículos,
Paulo primeiro fala de um tipo de mesa e depois,
aparentemente dando um salto, de outro. No capítulo
vinte e um ele diz claramente: “Não podeis ser
participantes da mesa do Senhor e da mesa dos
demônios”. Na verdade, nesse trecho, há três mesas:
o altar (v. 18), a mesa dos demônios e a mesa do
Senhor. Todos esses termos são inclusivos e não
devemos compreendê-los de forma restrita.

UMA RICA REVELAÇÃO DE CRISTO


Ao ler essa Epístola, percebemos que Paulo era
de fato um escritor maravilhoso. Seu alvo, seu
propósito, ao escrever 1 Coríntios era conduzir os
crentes coríntios distraídos de volta a Cristo e de volta
ao centro da economia de Deus. Como vimos, ao lidar
com divisões, ele revela muito sobre Cristo. Em
nenhum outro livro Cristo é revelado de maneira tão
rica como nos primeiros quatro capítulos de 1
Coríntios . Mesmo quando lida com um problema
envolvendo pecado grosseiro, a questão de incesto,
ele revela Cristo de forma maravilhosa. Ademais, já
indicamos que ao lidar com a vida conjugal, ele
também aborda questões importantes relacionadas
com ser um espírito com o Senhor. Todavia, nos
capítulos oito, nove e dez, uma seção relativa a comer
de coisas sacrificadas a ídolos, a revelação atinge o
clímax. Chega a um ponto definitivo. A maioria dos
leitores de 1 Coríntios, inclusive os mestres e teólogos
bíblicos, não tocaram o pleno significado do que
Paulo aborda nessa seção. Por isso, é crucial que não
passemos por cima desses capítulos, mas nos
aprofundemos neles de forma completa a fim de ver a
revelação maravilhosa apresentada ali.
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM CINQÜENTA
A MESA DO SENHOR (2)

Leitura Bíblica: 1Co 10:14-22


Quando lemos 1 Coríntios, é muito importante
compreender a idéia central de Paulo. Ele percebia
que os crentes gregos filosóficos se tinham desviado
de Cristo. Embora fossem cristãos autênticos,
estavam perdendo o alvo com relação a Cristo. Em
vez de ter uma vida cristã vivendo Cristo, eles viviam
sua cultura grega. Portanto, Paulo tinha encargo de
resgatá-los e conduzi-los de volta a Cristo.

UM CRISTO PROFUNDO E MISTERIOSO


Paulo não era superficial e em seu escrito ele não
realizou o resgate dos crentes em Corinto de forma
superficial. Pelo contrário, a maneira de resgatá-los
envolve questões que são muito profundas. Quando
escreveu aos coríntios com o objetivo de resgatá-los
do que os fazia desviar-se de Cristo, ele desvenda as
profundezas de Deus, coisas mais profundas acerca
de Cristo. Se não tivéssemos os três primeiros
capítulos de 1 Coríntios, não saberíamos que Cristo se
tornou sabedoria para nós da parte de Deus; nem
saberíamos que essa sabedoria inclui Cristo como
justiça, santificação e redenção. A idéia de Paulo aqui
é muito profunda. Os problemas com os quais ele lida
nessa Epístola podem parecer um tanto superficiais,
mas a maneira de ele lidar com essas coisas é
profunda. Especificamente, comer de coisas
sacrificadas a ídolos é urna questão superficial, mas a
maneira de Paulo lidar com esse problema está
relacionada com o Cristo profundo, misterioso e
todo-inclusivo.
As profundezas de Deus estão relacionadas com
o Cristo misterioso. O que estamos ensinando e
experimentando acerca de Cristo é misterioso, por
isso os incrédulos não conseguem compreender o que
estamos falando. Para eles Cristo é simplesmente
uma figura histórica. Para nós, porém, Ele é real,
vivo, presente e precioso; Ele é misterioso, profundo e
todo-inclusivo. Ele vai muito além de nossa
compreensão; é tão profundo que não conseguimos
sondá-Lo.
Em suas Epístolas, Paulo não tinha palavras
adequadas para descrever o Cristo todo-inclusivo. Em
Efésios 3:18, ele fala de compreender com todos os
santos “qual é a largura, e o comprimento, e a altura,
e a profundidade”. Ele ali se refere às dimensões de
Cristo. Que é a largura? que é o comprimento, altura e
profundidade? Essas são as dimensões
incomensuráveis de Cristo. O próprio Cristo é a
largura, comprimento, altura e profundidade. Suas
dimensões são mais vastas que as do universo. Tal
Cristo maravilhoso vai além de nossa compreensão.

DESFRUTAR CRISTO
De acordo com a palavra de Paulo em 1 Coríntios,
esse Cristo maravilhoso é nosso. Em 1:2, é-nos dito
que Cristo é “deles e nosso”. Em 1:9, Paulo diz que
fornos chamados à comunhão de Cristo. Isso significa
que Ele é nossa porção para nosso desfrute.
Para nós, que fornos chamados à comunhão de
Cristo, não é suficiente somente crer Nele, confiar
Nele e apoiar-nos Nele, como os cristãos hoje são
freqüentemente ensinados a fazer. É claro,
precisamos confiar no Senhor e nos apoiar Nele, mas
podemos fazer isso e ainda perder o ponto central de
desfrutar Cristo e possuí-Lo como nossa porção. No
passado, muitos fornos ensinados a crer em Cristo,
confiar Nele, apoiar-nos Nele e orar a Ele. Urna
questão muito importante, porém, foi negligenciada:
o desfrute de Cristo. Antes de entrar na restauração
do Senhor, você alguma vez ouviu urna mensagem
sobre desfrutar Cristo? Onde há tal palavra entre o
povo de Deus hoje? Os cristãos não têm essa
terminologia porque não têm essa cultura espiritual.
Eles não falam de comer Cristo ou de bebê-Lo,
embora essas questões sejam mencionadas na Bíblia.
O propósito de Paulo ao escrever 1 Coríntios não
foi meramente ajudar-nos a confiar em Cristo ou
apoiar-nos Nele. Seu objetivo era encorajar-nos a
desfrutar Cristo. Aleluia, Cristo é nosso! A simples
frase “deles e nosso” em 1:2 implica desfrute. Cristo
ser nosso significa não só que confiamos Nele mas
também que O desfrutamos. Que maravilha que
Cristo seja nosso para desfrutarmos!

A COMUNHÃO DO FILHO DE DEUS


Deus nos chamou à comunhão de Seu Filho
Jesus Cristo, nosso Senhor. Você tem a compreensão
adequada do Filho de Deus? Como já ressaltamos,
comunhão envolve participação. Agora desejo dizer
que comunhão inclui desfrute. É correto interpretar
1:9 dessa forma: “Pelo qual fornos chamados ao
desfrute de Seu Filho”. Entrar na comunhão do Filho
é entrar no Seu desfrute.
Em 1 O:16, Paulo novamente se refere à
comunhão: “Porventura, o cálice da bênção que
abençoamos não é a comunhão do sangue de Cristo?
O pão que partimos não é a comunhão do corpo de
Cristo?” Em 1:9, a comunhão é a comunhão de uma
Pessoa. Aqui em 10:16, a comunhão é do sangue e
corpo dessa Pessoa. Quando o Senhor Jesus comeu
com os discípulos e estabeleceu a mesa, Ele “tornou
um pão e, abençoando-o, o partiu e o deu aos
discípulos, dizendo: Tomai, comei; isto é o Meu
corpo” (Mt 26:26). Então, tornando o cálice e dando
graças “deu-lho, dizendo: Bebei dele todos” (v 27).
Hoje, o Senhor nos convida à Sua mesa e diz do pão e
do cálice: “Este é o Meu corpo, tomai, comei (...)
Bebei dele todos; porque isto é o Meu sangue”.
Contudo, podemos considerar essas questões como já
conhecidas, não percebendo que ao falar dessa
maneira sobre Seu corpo e sangue, o Senhor Se
apresenta a nós como nosso desfrute. Ele Se dá a nós
como nosso suprimento de comida para que O
desfrutemos. Oh! que o Senhor abra nossos olhos!
Ele, que é todo-inclusivo, deu Seu corpo para nosso
alimento e Seu sangue para nossa bebida. Ele nos deu
a Si mesmo para que possamos participar Dele e
desfrutá-Lo, comendo-O e bebendo-O.
Como o Cristo todo-inclusivo que apresenta a Si
mesmo para nosso desfrute, Ele é a corporificação do
Deus Triúno: o Pai, o Filho e o Espírito. Ele é o
próprio Deus encarnado, Aquele que viveu na terra
como homem por trinta e três anos e meio, que
morreu na cruz para aniquilar a velha criação, que
ressurgiu física e espiritualmente e, mediante a
ressurreição, tornou-se o Espírito que dá vida. Hoje,
Aquele que apresenta Seu corpo e sangue a nós é
Cristo como o Espírito que dá vida. Esse Cristo
maravilhoso é tudo para nós para nosso desfrute.
Tudo o que Ele é, é para nossa participação e
desfrute.

A MESA E A BOA TERRA


Sempre que chegamos à mesa do Senhor para
desfrutar o Cristo todo-inclusivo, em nossa
experiência estamos na boa terra desfrutando as suas
riquezas. Isso quer dizer que a boa terra se tornou
uma mesa, uma festa, para nosso desfrute. Nessa
mesa, nessa festa, ficamos satisfeitos e Deus também
fica satisfeito. Se virmos isso, vamos perceber que
entrar na boa terra é chegar-se à mesa do Senhor.
Essa é uma palavra por demais animadora: Louvado
seja o Senhor, porque quando nos achegamos à mesa,
entramos na boa terra!
Nossa compreensão da mesa do Senhor tem sido
limitada pela influência de nosso passado religioso e
também pelos conceitos naturais. Por causa dessa
influência, podemos pensar que chegar-se à mesa do
Senhor é meramente ir a uma reunião que tem por
centro uma mesa com um pão e um cálice. Podemos
não ter qualquer percepção em nosso espírito de que
ao chegar à mesa e desfrutá-la, estamos desfrutando
Cristo como a terra todo-inclusiva.
Você sabe como os filhos de Israel estabeleceram
o reino de Deus na terra e como edificaram o Seu
santuário? Eles fizeram isso por meio do desfrute das
riquezas da boa terra. Visto que desfrutaram essas
riquezas, eles puderam derrotar seus inimigos. As
riquezas da terra não só os capacitaram a viver mas
também os fortaleceram para lutar e introduzir o
reino de Deus. Além disso, as riquezas da terra os
supriram do que precisavam para edificar o santuário
de Deus. Portanto, tanto o reino de Deus como o
santuário vieram a existir por intermédio do desfrute
das riquezas da boa terra. Essas riquezas eram a fonte
do viver dos filhos de Israel. Elas também lhes foram
o suprimento para derrotar o inimigo, estabelecer o
reino de Deus e edificar o Seu santuário. Um dia, a
glória de Deus desceu e encheu esse santuário. Esse
foi o resultado consumado do desfrute das riquezas
da boa terra.
A experiência dos filhos de Israel na boa terra
tipifica nosso desfrute de Cristo hoje. Ele é nossa boa
terra e os diversos aspectos das riquezas de Cristo são
tipificados pelo produto dela. Se desfrutarmos o rico
suprimento de Cristo, seremos capazes de vive-Lo.
Também seremos fortalecidos para derrotar os
inimigos. Os inimigos são sempre derrotados quando
desfrutamos Cristo. Além do mais, por meio do
desfrute das riquezas de Cristo, o reino de Deus é
estabelecido na igreja, e o santuário é edificado como
habitação de Deus. Todas essas questões: viver a vida
cristã, derrotar o inimigo, estabelecer o reino de Deus
e edificar a casa de Deus, são conseqüência do
desfrute das riquezas de Cristo.
Agora precisamos ver que essas riquezas são
expostas na mesa do Senhor. Portanto, a mesa é uma
festa para nosso desfrute. Muitos de nós têm
participado da mesa do Senhor por anos a fio, mas
nunca tiveram essa compreensão da mesa. É
fundamental que compreendamos que chegar à mesa
significa desfrutar Cristo como a boa terra.

AS DUAS MESAS
Se tivermos essa percepção sobre a mesa do
Senhor, seremos capazes de compreender 1 Coríntios
10. O conceito de Paulo aqui é que sempre que uma
pessoa come de coisas sacrificadas a ídolos, ela
desfruta algo relacionado com ídolos. Além do mais, o
que ela desfruta entra nela e faz dela uma expressão
disso. Isso é baseado no princípio de que comer é
uma comunhão, uma participação. Paulo usa a
palavra comunhão com o sentido de participação.
Conforme essa maneira de ver, comer coisas
sacrificadas oferecidas a ídolos é ter comunhão com
eles. Além do mais, é envolver-se com eles e
posteriormente tornar-se um com eles. Isso está de
acordo com o fato de que somos o que comemos, que
o que comemos torna-se nós mesmos. Como os
demônios estão por trás dos ídolos, ser um com ídolos
é ser um com demônios que estão por detrás deles.
Isso é uma explicação do conceito de Paulo no
capítulo dez acerca de comer das coisas sacrificadas a
ídolos. O resultado de comê-las é que a pessoa se
torna uma com os demônios e até cheia e saturada
deles.
No mesmo princípio, comer o corpo de Cristo é
ter a comunhão de Cristo. É participar de Cristo e
tornar-se um com Ele. Isso não é simplesmente
doutrina ou princípio: é realidade.
Cristo hoje é o Espírito que dá vida. Os demônios
também são espíritos. O Espírito que dá vida é rico e
todo-inclusivo. Os espíritos demoníacos, pelo
contrário, são malignos e impuros. Alguém pode ser
saturado e ocupado, ou pelo demônio (um espírito
maligno) ou por Cristo, como o Espírito que dá vida.
Vivemos segundo o que nos ocupa e satura. Se
comermos Cristo e formos saturados Dele como o
Espírito que dá vida, nós O viveremos. Do mesmo
modo, se comermos coisas sacrificadas a demônios e
formos saturados deles, nós os viveremos. Por fim,
em todo o universo há somente duas mesas: a mesa
dos demônios, que faz com que as pessoas estejam
em unidade com demônios, e a mesa do Senhor, que
faz com que os crentes sejam um com o Senhor. Em
qualquer um dos casos, somos o que comemos.
O que hoje é chamado de comunhão no
cristianismo não é puro. Atrás disso, há algumas
coisas relacionadas com ídolos, e os demônios estão
por detrás dos ídolos. Os que participam da mesa dos
demônios entram em contato com demônios. Isso
quer dizer que na verdade tocam a realidade dos
demônios, que estão por detrás da mesa dos
demônios.
O princípio é o mesmo com os amados santos
que vêm à mesa do Senhor no espírito. Eles tocam a
realidade do Senhor ao participar de Sua mesa.
Freqüentemente, nas palavras desses crentes,
podemos ver algo do Senhor. Percebemos que nas
palavras de certo irmão ou irmã, podemos ouvir a
palavra do Senhor. Esses santos podem falar tal
palavra porque foram saturados do Senhor. Se houver
um problema entre os santos ao se chegarem à mesa
do Senhor, a vida da igreja será afetada. Não pode
haver edificação da igreja em tal situação. Mas se os
santos na igreja numa cidade não tiverem problemas
ao se achegar à mesa do Senhor e se todos tiverem
comunhão com o Senhor e com os outros em espírito,
isso é uma igreja, um santuário, que foi de fato
edificado. Além do mais, junto com o santuário de
Deus há o Seu reino. Os que se tornaram o santuário e
o reino mediante o seu desfrute de Cristo são
certamente os que vivem Cristo.
Se lermos 1 Coríntios 10 nessa luz, vamos ter
uma compreensão adequada desse capítulo. Vamos
perceber que a idolatria envolve o desfrute de algo
além do próprio Senhor. Hoje as pessoas em todo
lugar praticam idolatria porque desfrutam muitas
coisas que não são o próprio Senhor. O viver das
pessoas mundanas é em idolatria. Sentam-se para
comer e beber, e depois levantam-se para divertir-se.
Os que se envolvem em entretenimentos mundanos e
adquirem muitas das coisas mundanas vendidas nas
grandes lojas estão praticando idolatria.
Idolatria é o desfrute de alguma coisa no lugar do
Senhor. A mesa do Senhor, porém, é o verdadeiro
desfrute do próprio Senhor. A mesa do Senhor não é
somente questão de se reunir no dia do Senhor; ela
deve ser nosso desfrute todos os dias, até mesmo
continuamente. Dia após dia, o Senhor é nossa boa
terra, nossa festa, nossa mesa.
Se nos achegarmos à mesa dó Senhor com essa
compreensão, viremos com espírito e percepção
diferentes. O cálice da bênção que abençoamos é com
certeza a comunhão do sangue de Cristo, e o pão que
partimos é a comunhão do corpo de Cristo. Hoje
somos os que se reúnem ao redor do altar,
desfrutando tudo o que é oferecido nele para a
satisfação de Deus. Enquanto estamos festejando,
satisfazemos o Senhor a quem adoramos. Essa é a
maneira correta de lidar com a questão de comer.
A maneira correta de lidar com o comer é festejar
no Senhor. Não coma qualquer outra coisa além do
Senhor, e não desfrute nada além Dele. Não devemos
ter qualquer desfrute além de Cristo. Ele é nossa
mesa, nossa festa, nossa terra. Como a boa terra, Ele é
a rica festa para nosso desfrute. Quando festejamos
Nele, nós O vivemos. Então seremos capazes de
derrotar os inimigos, estabelecer o reino de Deus e
edificar o Seu santuário. Esse é o objetivo de Deus e o
cumprimento de Seu propósito eterno.
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM CINQÜENTAEUM
O COMER ADEQUADO

Leitura Bíblica: 1Co 10:23—11:1


Em 10:23—11:1, temos a conclusão da seção
sobre comer coisas sacrificadas a ídolos. Nesses
versículos, Paulo fala do comer adequado. Ao lidar
com essa questão, o conceito de Paulo é muito
profundo. Usando a história dos filhos de Israel como
pano de fundo, ele escreveu aos crentes coríntios de
forma abreviada. Sua redação indica um senso de
urgência e também que ele não tinha tempo para
abordar tudo em pormenores.

COMER E DESFRUTAR
Vimos que Paulo compara nosso desfrute da
mesa do Senhor ao desfrute dos israelitas que
comiam os sacrifícios e assim eram participantes do
altar (v. 18). Precisamos ficar impressionados com o
fato de que comer está relacionado com desfrute. Se
desfrutamos algo além de Cristo, então aos olhos de
Deus esse desfrute é idolatria. Precisamos simplificar
e purificar nosso desfrute para que desfrutemos
somente o próprio Senhor.
Cristo é o Senhor e é também a mesa. Ao dizer
que Jesus Cristo é o Senhor, queremos dizer que Ele é
tudo. Como nosso tudo, Ele é nossa mesa. A mesa é
tipificada pela boa terra, que era uma mesa para os
filhos de Israel, Quando eles habitaram na boa terra,
festejaram à mesa, desfrutando todo o rico produto
da terra. Os diversos aspectos do produto da terra são
prefigurações das riquezas de Cristo. Além disso, o
próprio Cristo é para nós a boa terra como a mesa. Se
virmos com clareza esse quadro, saberemos desfrutar
o Senhor como a boa terra com todas as suas
riquezas.
Já demos muitas mensagens sobre as riquezas de
Cristo, principalmente uma série impressa no livro O
Cristo Todo-Inclusivo. Também tivemos muito para
dizer sobre isso nos Estudos-Vida de Colossenses e
Filipenses. Encorajo-o a ler essas mensagens e a
lançar mão dos itens das riquezas de Cristo. Essas
riquezas então se tomarão os víveres para nosso
desfrute.
Em 10:23, Paulo diz: “Todas as coisas me são
lícitas, mas nem todas convêm; todas são lícitas, mas
nem todas edificam”. Os versículos 14 a 22 lidam com
comer coisas sacrificadas a ídolos no aspecto de não
se fazer um com os demônios. Do versículo 23 a 11:1,
essa questão é abordada do ponto de vista da
edificação de outros para glória de Deus (v. 31).
A primeira parte do versículo 23 é idêntica à
primeira parte de 6:12. A palavra grega traduzida por
lícita literalmente quer dizer sob o meu poder, ou
seja, permissível, permitido, legal. A palavra para
convêm significa proveitoso (não meramente
conveniente), vantajoso, bom ou que vale a pena. O
versículo paralelo, 6:12, termina com não ser
submetido ao poder de coisa alguma; esse versículo
termina com não edificar. O primeiro diz respeito a
nós mesmos; o último, aos outros. Em 6:12, a
preocupação de Paulo é pessoal, mas em 10:23 é
corporativa.

QUATRO PRINCÍPIOS
Se colocarmos juntos 6:12 e 10:23 e 31, temos
quatro princípios acerca do andar dos crentes.
Primeiro, todas as coisas são lícitas aos crentes, mas
tudo o que fizerem tem de convir. Isso significa que
tem de ser proveitoso, isto é, não causar perda.
Segundo, os crentes não podem ser submetidos ao
poder de coisa alguma. Terceiro, tudo o que os
crentes fazem precisa edificar os outros. Quarto, tudo
o que fazem deve ser para a glória de Deus (10:31).
Totalmente cônscio desses princípios, ele prossegue
em 10:24: “Ninguém busque o seu próprio interesse,
e sim o de outrem”.

SEM NADA PERGUNTAR POR MOTIVO DE


CONSCIÊNCIA
O versículo 25 diz: “Comei de tudo o que se
vende no mercado, sem nada perguntardes por
motivo de consciência”. Na época do apóstolo,
geralmente apenas parte dos sacrifícios a ídolos era
consumada como oferta. O restante era dado aos
sacerdotes ou aos pobres, ou vendido novamente no
mercado. Os compradores poderiam, sem saber,
comprar carne que fora oferecida a ídolos. Com
relação a isso, Paulo diz que os crentes não deviam
fazer perguntas por motivo de consciência. Isso quer
dizer que não deviam fazer perguntas sobre a carne,
mas simplesmente comprá-la e comê-la.
No versículo 26, ele continua: “Porque do Senhor
é a terra e a sua plenitude”. Plenitude aqui significa
riquezas e também expressão. Todas as riquezas da
terra são a sua plenitude, ou expressão.
No versículo 27, ele prossegue: “Se algum dentre
os incrédulos vos convidar, e quiserdes ir, comei de
tudo o que for posto diante de vós, sem nada
perguntardes por motivo de consciência”. Em tal
ocasião, os crentes não devem investigar a situação.
Não há necessidade de fazer perguntas. “Porém”, ele
continua “se alguém vos disser: Isto é coisa
sacrificada a ídolo, não comais, por causa daquele que
vos advertiu e por causa da consciência; consciência,
digo, não a tua propriamente, mas a do outro” (vs.
28-29a). Se alguém mencionasse que a carne fora
oferecida em sacrifício a ídolos, então os crentes
deveriam evitar comer por causa da consciência do
que mencionou o fato.
Na segunda parte do versículo 29 e no 30, Paulo
pergunta: “Pois por que há de ser julgada a minha
liberdade pela consciência alheia? Se eu participo
com ações de graça, por que hei de ser vituperado por
causa daquilo por que dou graças?” A palavra
participo no versículo 30 denota comer. Isso indica
claramente que o comer é participar (v. 17). Aqui,
vituperado significa criticado com propósito
maligno. Se um crente for criticado dessa maneira
por comer carne sacrificada a ídolos, deve se abster
de comê-la.
No versículo 31, ele conclui: “Portanto, quer
comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer,
fazei tudo para a glória de Deus”. A palavra portanto
nesse versículo indica que 10:31 a 11:1 é uma
conclusão dessa subseção, que começou com o
versículo 23.
Desejo dizer novamente que 6:12 e 10:23 e 31 nos
dão quatro princípios básicos para regulamentar a
conduta dos crentes do Novo Testamento. Todas as
coisas são lícitas, mas tudo o que fazemos tem de ser
proveitoso com relação à coisa em si; com relação a
nós mesmos, não devemos ser submetidos a nada;
com relação aos outros, devemos edificá-los; com
relação a Deus, devemos glorifica-Lo. Senão, nada é
permitido ou aceitável. Se determinada coisa não
passa no teste desses quatro princípios, não devemos
praticá-la.

NÃO SER CAUSA DE TROPEÇO


O versículo 32 diz: “Não vos tomeis causa de
tropeço nem para judeus, nem para gentios, nem
tampouco para a igreja de Deus”. As palavras gregas
traduzidas por “causa de tropeço” podem também ser
traduzidas por “pedra de tropeço”. A palavra grega
apróskopos é derivada da mesma raiz de próskomma
para “pedra de tropeço” em 8:9. É diferente de
skandaliro, o termo grego para “tropeço” em 8:13.
No versículo 32, Paulo fala de judeus, gregos e a
igreja de Deus.
Na época do Novo Testamento, as pessoas eram
de três classes: os judeus (o povo escolhido por Deus),
os gregos (os gentios incrédulos) e a igreja (um
conjunto dos crentes em Cristo). Não devemos ser
ofensa, pedra de tropeço, para nenhum desses três a
fim de que sejam salvos (v. 33).

EM TUDO SER AGRADÁVEL A TODOS


No versículo 33, Paulo declara: “Assim como
também eu procuro, em tudo, ser agradável a todos,
não buscando o meu próprio interesse, mas o de
muitos, para que sejam salvos”. Que exemplo
maravilhoso o apóstolo estabeleceu para nós!
É possível aplicar incorretamente a palavra de
Paulo sobre ser agradável a todos os homens em tudo
e sobre buscar o interesse de muitos para que sejam
salvos. Alguns dos que aplicam mal esse versículo
dizem que, a fim de conduzir as pessoas ao Senhor,
precisamos descer ao seu nível. Isso é dizer que
precisamos voltar ao mundo a fim de conduzir as
pessoas a Cristo. Entretanto, a história tem provado
que isso não funciona; antes, os que aplicam tais
palavras dessa forma são mais propensos a ir para o
mundo do que conduzir outros a Cristo. Ao pregar o
evangelho, não devemos baixar o padrão. Em vez de
descer da montanha, devemos permanecer no monte
e chamar os outros para subir aonde estamos.
Precisamos ser muito cuidadosos para não usar
erroneamente esse versículo e transformar isso num
princípio contrário ao que Paulo quis dizer.

IMITAR QUEM IMITA CRISTO


Em 11:1, um versículo que na verdade pertence à
conclusão do capítulo 10, Paulo diz: “Sede meus
imitadores, como também eu sou de Cristo”. Como
ele era um seguidor de Cristo, era certo que os crentes
coríntios e todos os demais, o seguissem. Se alguém é
imitador de Cristo, devemos ser imitadores dele. Isso
nos toma também imitadores de Cristo; senão, não
devemos ser imitadores de homem nenhum. Na
verdade, ao seguir alguém que é imitador de Cristo,
não devemos seguir essa pessoa, mas Cristo.

FOCALIZADOS NA VISÃO CENTRAL


Não tenho encargo de falar sobre os quatro
princípios básicos que regulam a conduta dos crentes
do Novo Testamento. Muitos anos atrás, dei
mensagens sobre cada um desses princípios. Hoje,
meu encargo é que o povo do Senhor seja conduzido
de volta à visão central de Cristo e a igreja. Assim,
precisamos aplicar esses versículos e princípios à
igreja. Eu ficaria triste se visse os santos aplicá-los
como provérbios à humanidade de forma geral. Ao
considerar esses princípios e essa seção de 1 Coríntios
, precisamos enfocar a visão central de Cristo e a
igreja. Todos precisamos prestar atenção a essa visão
e orar mais a respeito disso.
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM CINQÜENTA E DOIS
UMA VISÃO GERAL DE PRIMEIRA CORÍNTIOS

Leitura Bíblica: 1Co 15:45b; 12:13; 2Co 3:6, 17-18; 1Co


11:3, 20, 23-25; 12:1; 15:12; 16:1-2
Nesta mensagem vamos apresentar uma visão
geral de 1 Coríntios.
Antes de fazê-lo, entretanto, vamos primeiro
considerar quatro versículos, dois de 1 Coríntios e
dois de 2 Coríntios. Primeira Coríntios 15:45b diz: “O
último Adão, porém, é espírito vivificante”. Em 12:13,
Paulo declara: “Pois, em um só Espírito, todos nós
fomos batizados em um corpo, quer judeus, quer
gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi
dado beber de um só Espírito”. Em 2 Coríntios 3:6,
lemos que somos “ministros de uma nova aliança,
não da letra, mas do espírito”. Finalmente 3:18 diz: “E
todos nós com o rosto desvendado, contemplando,
como por espelho, a glória do Senhor, somos
transformados, de glória em glória, na sua própria
imagem, como pelo Senhor, o Espírito”. Alguma vez
passou pela sua cabeça que esses quatro versículos
estão ligados entre si? Dois representam 1 Coríntios, e
dois, 2 Coríntios. Na verdade, esses dois livros são
livros do Espírito. Cada um desses quatro versículos
fala do Espírito. Creio que muitos cristãos não foram
adequadamente impressionados com eles.

O ESPÍRITO QUE DÁ VIDA


De acordo com 15:45b, Cristo, o último Adão, é
Espírito vivificante, ou tomou-se Espírito que dá vida.
Antes de entrar na restauração do Senhor, você sabia
que havia um versículo no Novo Testamento
dizendo-nos que o último Adão, Cristo, tomou-se
Espírito que dá vida? Esse versículo não diz que o
último Adão tomou-se o Redentor, o Salvador, ou o
Senhor todo-poderoso, mas Espírito que dá vida.

BATIZADOS NO ESPÍRITO PARA BEBER O


ESPÍRITO
Até certo ponto, os crentes hoje estão
familiarizados com a palavra de Paulo em 12:13.
Alguns freqüentemente mencionam esse versículo.
Contudo, sua ênfase normalmente é na palavra
batizados: em um Espírito todos fomos batizados.
Você alguma vez ouviu uma mensagem que ressalte a
palavra beber, uma mensagem a lhe dizer que você foi
batizado no Espírito para beber do Espírito? Fomos
batizados para beber. Por isso, não devemos parar na
palavra batizar, mas prosseguir percebendo que
fomos batizados para beber. Ser batizado é uma vez
por todas, mas beber é contínuo. Mesmo na
eternidade ainda vamos beber de um Espírito.
O Senhor Jesus, como o último Adão, tomou-se
Espírito que dá vida para que sejamos batizados
nesse Espírito. Em qual Espírito fomos batizados?
Não fomos batizados meramente no Espírito de Deus;
antes, fomos batizados no Espírito de Jesus Cristo
(Fp 1:19). Esse Espírito de Jesus Cristo é o Espírito
que dá vida.
Se não tivéssemos sido batizados no Espírito que
dá vida, como poderíamos ter sido batizados em um
só Corpo? O Corpo não é uma questão de poder ou
organização; é um organismo de vida. Fomos
batizados organicamente em um só Corpo no Espírito
que dá vida, o Espírito de Jesus Cristo, e não
simplesmente no Espírito de Deus. Se não tivéssemos
vida e um elemento orgânico, como poderíamos ser
membros vivos do Corpo? Seria impossível. Batizar
um crente somente em água não envolve vida. Depois
de imersa em água, a pessoa ainda é um indivíduo
separado. Nós, porém, fomos batizados não só na
água mas também no Espírito que dá vida. A água é
um sinal do Espírito no qual fomos batizados. Depois
de batizada no Espírito que dá vida, a pessoa se toma
parte do Corpo de forma orgânica.
Uma vez batizados em um só Espírito, todos
somos organicamente um só Corpo. O motivo de
amarmos todos os santos, não importa qual seja sua
raça, cultura ou nacionalidade, é que somos
organicamente unidos em vida. Temos um elemento
orgânico em nós e somos um na vida do Espírito que
dá vida.
Depois de passar por um processo, o Deus Triúno
se tornou tal Espírito que dá vida. Em tal Espírito
fomos todos batizados em um só Corpo. Como é
possível que sejamos um só Corpo? Podemos ser um
só Corpo porque fomos batizados no maravilhoso
Espírito que dá vida, que é a consumação final do
Deus Triúno.
Fomos batizados nesse maravilhoso Espírito a
fim de beber do Deus Triúno. Isso quer dizer que o
batismo não é o fim; antes, é apenas o começo. Nós
que fomos batizados uma vez vamos beber do
Espírito que dá vida pela eternidade.
Há uma conexão maravilhosa entre 12:13 e
Apocalipse 22:1, onde nos é dito que o rio da água da
vida procede do trono de Deus e do Cordeiro. Esse rio
fluirá por toda a Nova Jerusalém para que todos
bebam da água da vida. Na eternidade, a água da vida
será nossa bebida. Fomos batizados para beber o
Espírito, a água da vida, pela eternidade.
O livro de 1 Coríntios ensina que o último Adão,
Deus encarnado, tornou-se Espírito que dá vida e que
nesse Espírito, fomos todos batizados em um só
Corpo. Agora, uma vez batizados no Espírito que dá
vida, precisamos beber o Espírito. Diariamente
devemos beber. Sempre que oramos, lemos-oramos,
ou invocamos “ó Senhor Jesus”, podemos beber.
Quando temos comunhão com os santos, devemos
também beber do Espírito. Às vezes, ao fazê-la, fico
fora de mim mesmo de alegria. Aleluia, fomos
batizados no único Corpo para beber do Espírito que
dá vida! Que maravilhosa revelação!

MINISTROS DO ESPÍRITO
Por fim, bebendo do Espírito somos saturados
Dele. Então nos tomamos ministros de uma nova
aliança, “não da letra, mas do Espírito” (2Co 3:6). A
nova aliança não é da lei, mas de Cristo que se tomou
o Espírito que dá vida.
O fato de Cristo se tomar o Espírito que dá vida
implica em todos os passos do Seu processo:
encarnação, viver humano, crucificação e
ressurreição. Também inclui a redenção. O objetivo
desse processo não é encarnação, crucificação ou
mesmo ressurreição, mas é o Espírito que dá vida.
Essa é a nova aliança. Portanto, a nova aliança
implica em encarnação, isto é, implica em Deus se
tomando homem e vivendo como tal na terra. A nova
aliança também implica que esse que se encamou foi
à cruz e morreu pelos nossos pecados e até por nós
mesmos a fim de aniquilar a velha criação. Depois de
verter o sangue na cruz e morrer por nós, Ele foi
sepultado e entrou na ressurreição. Quando entrou
na ressurreição, Ele chegou ao destino: o Espírito que
dá vida.
Nesse Espírito maravilhoso todos fomos
batizados em um só Corpo. Agora, quando O
bebemos e somos saturados Dele, espontaneamente
nos tomamos ministros da nova aliança, uma aliança
do Espírito. Por isso, não devemos ministrar meras
doutrinas e letras; pelo contrário, devemos ministrar
o Espírito. Precisamos servir aos outros a bebida
celestial da qual fomos saturados. Que todos sejamos
ministros, não de doutrinas ou letras, mas de vida e
do Espírito.

TRANSFORMAÇÃO DO SENHOR ESPÍRITO


Conforme 2 Coríntios 3, não só devemos ser
ministros do Espírito mas também ser
“transformados, de glória em glória, na Sua própria
imagem, como pelo Senhor, o Espírito” (v. 18). Em
tudo o que fazemos na vida da igreja, nas reuniões, na
comunhão, no serviço, em hospedar e ser
hospedados, devemos ser submetidos ao processo de
transformação. Todos estamos sendo transformados
à imagem do Senhor de glória em glória, de um grau
de glória para outro. Isso vem do Senhor Espírito.
Aprecio muitíssimo esses quatro versículos. O
último Adão tornou-se Espírito que dá vida. Fomos
batizados nesse Espírito e agora O estamos bebendo.
Além do mais, como somos saturados Dele,
tomamo-nos ministros do Espírito. Além disso,
estamos no processo de ser transformados de glória
em glória, como pelo Senhor, o Espírito. Primeira e
Segunda Coríntios com certeza são livros do Espírito.
PROBLEMAS NO ÂMBITO DA VIDA
HUMANA
Neste ponto, será proveitoso ver a Epístola de 1
Coríntios como um todo, ter uma visão geral de todo
o livro. Quando escreveu essa Epístola, Paulo tinha
um pesado encargo no espírito. Esse livro lida com os
problemas entre os santos numa igreja muito
conturbada e desordenada. Os santos ali se tinham
desviado e havia desordem entre eles. Assim, o
apóstolo, com encargo por essa igreja, escreveu tal
Epístola para esclarecer a situação lidando com os
problemas, um por um.
Depois de muita leitura e estudo, descobri que
em 1 Coríntios, o apóstolo lida com onze problemas.
(Alguns mestres somente reconhecem dez.) Esses
problemas estão classificados em duas categorias. O
primeiro grupo é composto de seis problemas
abordados nos capítulos um a dez. O primeiro deles é
divisão entre os coríntios porque eles eram naturais e
viviam de acordo com sua sabedoria filosófica.
Viviam uma vida anímica e, como resultado, estavam
divididos.
O segundo problema foi o pecado grosseiro de
incesto, abordado no capítulo cinco. Esse pecado
envolve ser condescendente na carne. Ser
condescendente na carne advém de viver na vida
anímica. Os que são anímicos, mais cedo ou mais
tarde serão condescendentes em sua carne.
O terceiro problema, abordado no capítulo seis, é
o dos litígios. Isso envolve a reivindicação de direitos
pessoais.
Quarto, também no capítulo seis, temos o
problema do abuso dos direitos humanos. Deus em
Sua criação ordenou que o homem devesse comer
para existir e também casar-se para procriar. Desse
modo, comer e casar-se foram ordenados por Deus,
são direitos humanos, mas os santos anímicos e até
carnais em Corinto abusaram deles. O abuso do
direito de comer é comer em excesso, e o abuso do
direito de se casar é fornicação.
Quinto, no capítulo sete, Paulo lida com o
problema de casamento. Esse problema está
relacionado tanto com a vida anímica como com a
carne. Quanto mais sábia e filosófica uma pessoa for,
mais problemas terá na vida conjugal. Pessoas com
menos instrução, pelo contrário, parecem ter menos
problemas na vida conjugal.
O sexto problema, abordado nos capítulos oito a
dez, é o de comer coisas sacrificadas a ídolos. Os que
se envolveram nessa prática entre os coríntios não
tinham limites. Não se importavam com os outros,
com o Corpo de Cristo ou o testemunho de Deus.
Importavam-se somente com o seu comer. Esse
problema de comer coisas sacrificadas a ídolos
também está relacionado com a mesa do Senhor.
Uma pessoa não pode ter esse comer irrestrito
relacionado com ídolos e, ao mesmo tempo,
achegar-se à mesa do Senhor. Esse é o motivo por
que, ao lidar com comer coisas sacrificadas a ídolos,
Paulo toca a questão da mesa do Senhor.
Esses seis problemas pertencem ao âmbito da
vida humana.
Qualquer crente que os resolva será de fato
santo, será certamente santificado. Não terá
problemas de divisão, de concupiscências da carne,
de reivindicar direitos pessoais, de abuso dos direitos
em comer e casar-se, e na vida conjugal em si. Além
disso, no seu viver diário, principalmente na questão
de comer, ele será restringido e se importará com os
outros, com a igreja e com o testemunho de Deus.

CRISTO — O FATOR PARA RESOLVER OS


PROBLEMAS EM NOSSA VIDA CRISTÃ
O fator necessário para resolver esses problemas
sobre a vida cristã diária adequada é Cristo. Ele é o
ponto central de Deus e foi dado a nós como nossa
única porção. Se O desfrutarmos do modo que Ele é
revelado nos primeiros dez capítulos desse livro,
teremos o fator necessário para resolver esses seis
problemas. Vamos resolver os problemas de divisão,
de condescender com a carne, de reivindicar os
direitos pessoais e do abuso de nossos direitos.
Também vamos ter a solução dos problemas em
nossa vida conjugal. Ter problemas na vida conjugal é
indicação de que você carece de Cristo, de que não
está adequadamente alimentado por Ele. Mas, se
desfrutá-Lo de maneira plena, você não terá
problemas na vida conjugal, ou nos outros cinco itens
abordados em 1 Coríntios 1 a 10. Como Cristo é o fator
para resolver esses problemas, esses dez capítulos
põem uma grande ênfase Nele. Cristo é
todo-inclusivo. Ele é o poder de Deus, Sua sabedoria e
até mesmo as Suas profundezas. Ele é o único fator
para resolver os problemas no âmbito da vida
humana.

PROBLEMAS NO ÂMBITO DA
ADMINISTRAÇÃO DE DEUS
Os problemas entre os coríntios, todavia, não se
relacionavam só com o viver humano, mas mais
ainda, com a administração de Deus. Entre eles, não
havia ordem nem autoridade. Por isso, não só
abusavam dos direitos de comer e casar-se como
também dos dons espirituais. Empregavam mal e em
excesso os dons dados por Deus a fim de alcançar sua
busca pessoal. Isso fez com que a administração de
Deus entre eles fosse estorvada e, até certo ponto,
prejudicada.
Alguns estavam tão errados com relação à
administração de Deus que até chegaram a dizer que
não havia ressurreição (15:12). Se não houvesse
ressurreição nesse universo, Deus se tornaria nada. O
próprio Deus é ressurreição. Quando Deus veio em
carne, disse: “Eu sou a ressurreição” (Jo 11:25). Daí,
se não houvesse ressurreição, não haveria Deus
porque não haveria Deus para ser a fonte da vida, o
poder de vida, a forma de vida e a função de vida. Sem
ressurreição, todo o universo seria vazio. Portanto, é
muito sério dizer que não há ressurreição. Isso é
negar Deus e anular o poder divino para Sua
administração no universo. Precisamos reconhecer
que há ressurreição e que Deus administra o universo
para cumprir Seu propósito eterno por meio da
ressurreição e em ressurreição.
Se de fato estivermos debaixo da administração
de Deus em ressurreição, venceremos o dinheiro e as
posses materiais. Eles não terão poder sobre nós e
não nos ocuparão ou possuirão. Pelo contrário,
vencê-los-emos e os governaremos.
No capítulo quinze, Paulo lida com a questão de
ressurreição.
Depois começa o capítulo dezesseis falando sobre
reunir ofertas materiais no primeiro dia da semana. O
primeiro dia da semana tipifica ressurreição porque é
o dia da ressurreição.
Fazer ofertas materiais no primeiro dia da
semana indica que elas devem ser apresentadas em
ressurreição, e não na vida natural. Certas pessoas
mundanas ricas são capazes de preencher cheques
com grandes somas de dinheiro, mas se fizerem
grande doação, normalmente procuram tornar
conhecidos o seu nome e divulgar o que fizeram. Isso
não é dar em ressurreição. Nossas ofertas de dinheiro
e coisas materiais têm de ser em ressurreição. Essa
maneira de dar é clara indicação de que estamos sob a
administração de Deus em ressurreição e vencemos
as posses materiais. Como conseqüência, a
administração de Deus terá maneira de ser levada a
cabo entre nós.
O primeiro dos cinco problemas relacionados
com a administração de Deus é o do encabeçamento.
Paulo aborda isso em 11:2-16 quando lida com o uso
do véu. O véu está relacionado com o encabeçamento
na administração universal, governamental de Deus.
O segundo problema nesse grupo é o da ceia do
Senhor. A ceia do Senhor não é algo em si', pois diz
respeito ao Corpo. Para Deus administrar o universo,
Ele precisa do Corpo. Ele precisa de um grupo de
pessoas formado organicamente como Corpo. Esse
Corpo é o meio pelo qual Deus executa Sua
administração.
O terceiro problema nessa categoria é o do mau
uso dos dons espirituais. No capítulo onze, Paulo fala
do encabeçamento e do Corpo, e nos capítulos doze a
catorze, dos dons. O Corpo funciona por meio dos
dons. Para o Corpo levar a cabo a administração de
Deus, cada membro tem de ter um dom para
funcionar segundo a operação de Deus. Deus
administra operando, e Sua operação pode ser levada
a cabo pela nossa função. Além do mais, nossa função
é possível somente pelo uso dos dons. Quando temos
dom, temos função. O serviço então advém dessa
função. Esse serviço visa ao operar de Deus, que
executa Sua administração. Portanto, primeiro temos
o encabeçamento, depois o Corpo e por fim os dons
para os serviços a fim de que a administração de Deus
seja executada.
Ressurreição é o quarto problema no âmbito da
administração de Deus. O encabeçamento, o Corpo e
o funcionar dos membros pelos dons devem estar
todos em ressurreição. Nunca devemos negá-la. Se
não houvesse ressurreição, não poderia haver dons e
poder para a administração divina.
Por fim, Paulo lida com posses materiais. Se
estivermos sob o encabeçamento, se estivermos no
Corpo e se tivermos os dons para funcionar em
ressurreição, com certeza venceremos a escravidão
das coisas materiais. Elas estarão sob nossos pés.
Dinheiro ou posses materiais não impedirão ou
estorvarão nosso funcionar no Corpo. Antes, o que
temos será usado para a administração de Deus por
intermédio das igrejas. Se for essa nossa situação, o
Senhor Deus terá como executar Sua administração.
Agora temos diante de nós uma visão global de
todo o livro de 1 Coríntios . Ter essa visão nos
capacita a lembrar sobre o que falam os dezesseis
capítulos dessa Epístola. Os capítulos um a quatro
lidam com divisões; o cinco, com incesto; o seis, com
a reivindicação dos direitos e abuso da liberdade de
comer e casar-se; o sete, com a vida conjugal; os
capítulos oito a dez, com comer coisas sacrificadas a
ídolos; o onze, com o encabeçamento e a ceia do
Senhor relacionados com o Corpo; os capítulos doze a
catorze, com os dons espirituais; o quinze, com
ressurreição; o dezesseis, com vencer coisas
materiais.

CRISTO E A IGREJA
Já enfatizamos que os 'Onze problemas
abordados em 1 Coríntios são de duas categorias, dois
grupos. Para resolver os seis problemas na primeira
categoria, precisamos de Cristo como o único fator.
Para resolver os cinco problemas na segunda
categoria, precisamos da igreja como o elemento para
solucionar as questões. Por isso, esse livro primeiro
enfatiza Cristo nos capítulos um a dez, e depois a
igreja como Corpo de Cristo nos capítulos onze a
dezesseis. Portanto, o que vemos em 1 Coríntios é
Cristo e a igreja. Cristo é o fator para resolver todos os
problemas no âmbito da vida humana, e a igreja é o
elemento para solucionar todos os problemas no
âmbito da administração divina. Todos precisamos
ver Cristo no âmbito da vida humana, e a igreja no
âmbito da administração divina.
Os santos em Corinto tinham problemas nos dois
âmbitos. ° mesmo ocorre com muitos cristãos hoje.
Eles têm problemas no âmbito da vida humana e no
âmbito da administração divina. Portanto, todos os
crentes, inclusive nós, precisamos de 1 Coríntios.
Todos precisamos estar debaixo do encabeçamento
na administração governamental de Deus.
Precisamos estar corretos para com o Corpo de Cristo
para que Deus tenha meios de exercer Sua
administração. Precisamos saber usar nossos dons
para funcionar adequadamente e servir o Senhor com
ministério para levar a cabo o operar de Deus a fim de
que a administração divina seja eficaz na terra.
Também precisamos conhecer a vida, o poder e os
princípios da ressurreição para funcionar sob o
encabeçamento e no Corpo correta, adequada e
apropriadamente. Então venceremos o dinheiro e as
coisas materiais. Isso quer dizer que venceremos
todos os laços terrenos. Então de fato viveremos
Cristo. Vivendo-O, teremos uma vida humana
adequada e levaremos a cabo a administração de
Deus. Isso é o que o Senhor deseja e espera hoje. Esse
era exatamente o encargo no espírito e no coração de
Paulo ao escrever esse livro. Primeira Coríntios não é
meramente um livro de ensinamentos. Essa Epístola
foi escrita de acordo com o encargo no espírito de
Paulo acerca de Cristo no âmbito da vida humana e a
igreja no âmbito da administração de Deus.
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM CINQÜENTA E TRÊS
LIDAR COM A QUESTÃO DO VÉU

Leitura Bíblica: 1Co 11:2-16


Nesta mensagem, vamos considerar 11:2-16,
onde Paulo lida com a questão do véu.

I. O LOUVOR DO APÓSTOLO
Em 11:2, Paulo diz: “De fato, eu vos louvo porque,
em tudo, vos lembrais de mim e retendes as tradições
assim como vo-las entreguei”. Ele aqui louva os
coríntios porque se lembravam dele em todas as
coisas e retinham as tradições como ele lhas tinha
entregado. A palavra tradições nesse versículo denota
instruções transmitidas por palavra oral ou escrita
(2Ts 2:15).

II. O ENCABEÇAMENTO
No versículo 3, Paulo diz: “Quero, porém, que
saibais que Cristo é a cabeça de todo homem, o
homem a cabeça da mulher, e Deus a cabeça de
Cristo” (IBB-Rev.). Esse versículo, até o 16, lida com o
sétimo problema, o problema concernente ao véu. Os
primeiros seis problemas, abordados nos capítulos
um a dez, podem ser considerados um grupo. Dizem
respeito a questões no reino da vida humana. Os
últimos cinco problemas, abordados nos capítulos
onze a dezesseis, formam outro grupo. Dizem'
respeito a questões no âmbito da administração de
Deus. O primeiro relaciona-se com o encabeçamento
de Cristo e de Deus no governo divino. Em Efésios
1:22 e 23, o encabeçamento de Cristo sobre todas as
coisas é para o Seu Corpo, a igreja. Aqui, o
encabeçamento de Cristo sobre todo homem diz
respeito a indivíduos. Cristo é tanto a cabeça
coletivamente do Corpo, da igreja, como
individualmente dos crentes. Ele é diretamente a
cabeça de cada um de nós. Quando o apóstolo lidou
com os problemas dos coríntios acerca da
administração de Deus, o encabeçamento de Cristo e
de Deus foi sua primeira preocupação.
No versículo 3, Paulo indica que a cabeça da
mulher é o homem. Na ordenação governamental
divina, a mulher está sob o encabeçamento do
homem. Deus criou a mulher dessa forma (Gn
2:18-24; 1Tm 2:13). De acordo com a natureza (1Co
11:14) criada por Deus, a mulher é subordinada ao
homem.
Paulo também diz no versículo 3 que a cabeça de
Cristo é Deus. Cristo é o Ungido de Deus, designado
por Ele. Assim, Ele está debaixo de Deus e Deus como
originador é a Sua Cabeça. Isso se refere ao
relacionamento entre Cristo e Deus no governo
divino.
Ao lidar com o problema do véu, o apóstolo toma
o encabeçamento de Deus, o encabeçamento de
Cristo e o encabeçamento do homem como base
sólida para sua instrução. Sua instrução a respeito do
véu não se baseia em qualquer prática religiosa ou
costume humano, mas no encabeçamento da
administração governamental de Deus. Tal base
sólida não dá margem para discussão acerca do véu.
Logo depois de salvo, ouvi falar muito sobre o
véu. Alguns argumentam que Paulo falava a respeito
do véu porque em sua época havia tal costume entre
as pessoas. Mais tarde, um estudo mais aprofundado
deixou claro que não havia tal costume, nem entre os
gregos nem entre os judeus. Na verdade, segundo o
costume judaico, os sacerdotes é que tinham de cobrir
a cabeça. O ensinamento de Paulo em 1 Coríntios 11
não se baseia em qualquer costume encontrado na
área do Mediterrâneo. Pelo contrário, está de acordo
com a revelação divina.
O motivo de precisarmos do véu na igreja é que
ele está relacionado com o encabeçamento de Deus.
Esse é o motivo de Paulo falar da maneira que faz em
11:3, dizendo-nos que ele quer que saibamos que a
cabeça de todo homem é Cristo, que a cabeça da
mulher é o homem, e que a cabeça de Cristo é Deus.
Dessa forma, o véu está relacionado com o
encabeçamento do governo de Deus. No universo,
principalmente na administração governamental de
Deus, há ordem. Deus é a cabeça de Cristo, Cristo é a
cabeça de todo homem, e o homem é a cabeça da
mulher. Por isso, nas reuniões da igreja, as irmãs
devem usar véu para demonstrar que reconhecemos a
autoridade de Deus e o respeito ao Seu
encabeçamento, e não somos um povo rebelde contra
Deus. Em vez disso, somos totalmente submissos a
Ele e mostramos isso ao usar o véu. Todavia, embora
essa tenha sido nossa prática há mais de cinqüenta
anos, nunca forçamos ninguém a participar dela. Não
queremos fazer do véu mera formalidade exterior,
mas a Bíblia revela que a igreja deve ter tal sinal
declarando que somos um povo sob o encabeçamento
de Deus.

III. O VÉU
A. Todo Homem que Ora ou Profetiza com a
Cabeça Coberta Desonra a Própria Cabeça
No versículo 4, Paulo prossegue: 'Todo homem
que ora ou profetiza com a cabeça coberta desonra a
própria cabeça” (IBB-Rev.). Profetizar aqui significa
falar por Deus. Já que o homem é a cabeça da mulher
e é a imagem e glória de Deus (v. 7), deve manter a
cabeça manifestada, desvendada, descoberta quando
ora a Deus e fala por Ele ao tocar o trono da
administração de Deus. Senão, ele desonra ou
envergonha a cabeça.
Não devemos pensar que orar ou falar por Deus
profetizando sejam coisas insignificantes. É algo
muito importante falar por Deus. Tanto orar como
falar por Deus estão relacionados com a
administração divina. Estão relacionados com a
autoridade e o encabeçamento de Deus. Por isso,
como imagem e glória de Deus, os homens não devem
cobrir a cabeça ao orar ou profetizar. Cobrir a cabeça
dessa forma é envergonhá-la.

B. Toda Mulher que Ora ou Profetiza com a


Cabeça Descoberta Desonra a Sua Cabeça
No versículo 5, Paulo continua: “Toda mulher
que ora ou profetiza com a cabeça descoberta desonra
a sua cabeça, porque é a mesma coisa como se
estivesse rapada”. Já que a mulher está debaixo do
encabeçamento do homem, deve manter a cabeça
coberta, não exposta, ao tocar a administração divina
orando a Deus e falando por Ele. Senão, ela desonra
ou envergonha a cabeça, como se a tivesse rapada,
porque nega a ordenação governamental divina
expondo a cabeça aos anjos observadores (v. 10) ao
tocar a autoridade de Deus.
Paulo nos diz que uma mulher que desonra a
cabeça é o mesmo que alguém que foi rapado. Essa é
uma indicação categórica de que, para a mulher, ter a
cabeça rapada ou o cabelo cortado é vergonhoso (v.
6).
O versículo 6 diz: “Portanto, se a mulher não usa
véu, nesse caso que rape o cabelo. Mas se lhe é
vergonhoso o tosquiar-se, ou rapar-se, cumpre-lhe
usar véu”. Isso indica que o véu é uma cobertura em
acréscimo ao cabelo comprido. A mulher ter cabelo
comprido, não tendo a cabeça rapada, significa que
ela não rejeita a ordenação governamental de Deus; e
usar véu além do cabelo longo é dizer amém à
ordenação divina.

IV. OS MOTIVOS
A. O Homem É a Imagem e Glória de Deus, mas a
Mulher. É a Glória do Homem
Um motivo para o uso do véu é encontrado no
versículo 7: “Porque, na verdade, o homem não deve
cobrir a cabeça, por ser ele imagem e glória de Deus,
mas a mulher é glória do homem”. O homem foi feito
à imagem de Deus (Gn 1:26) para expressá-Lo e
glorificá-Lo. Já que tem a imagem e glória de Deus, e
O representa, o homem não deve ter a cabeça coberta.
Se fizer isso, a imagem e glória de Deus serão veladas.
Uma vez que a mulher é a glória do homem, ela não
deve ter a cabeça exposta, mas coberta. Ela não deve
expor a si mesma, mas ao homem sob o qual ela está.
Essa também é a base adotada pelo apóstolo para o
seu ensinamento sobre o véu.
Quando o homem ora ou profetiza, tocando o
trono da autoridade de Deus, ele não deve ter a
cabeça coberta, mas quando a mulher ora ou
profetiza, deve cobrir-se.

B. O Homem Não Foi Feito da Mulher, mas a


Mulher do Homem
No versículo 8, Paulo dá um segundo motivo
para o véu: “Porque o homem não foi feito da mulher,
e sim a mulher, do homem”. Como costela tirada do
homem, a mulher foi feita dele (Gn 2:21-23). Deus
não criou a mulher. Ele formou o corpo masculino do
pó da terra e insuflou nesse corpo o fôlego da vida.
Como conseqüência, um homem, chamado Adão,
tomou-se alma vivente. Deus fez com que profundo
sono caísse sobre o homem e depois, abriu seu lado,
tirou uma costela e usou-a para edificar uma mulher.
Desse modo, a mulher não foi criada, mas proveio do
homem. Isso indica que o lugar da mulher é do lado
do homem.
Entretanto, o homem não deve ficar orgulhoso de
sua posição com relação à mulher. Note que Paulo diz
nos versículos 11 e 12: “No Senhor, todavia, nem a
mulher é independente do homem, nem o homem,
independente da mulher. Porque, como provém a
mulher do homem, assim também o homem é
nascido da mulher; e tudo vem de Deus”. No plano e
arranjo do Senhor, nem a mulher é independente do
homem, nem o homem é independente da mulher. O
homem é a origem da existência da mulher. Daí, a
mulher provém do homem, mas é o meio pelo qual o
homem nasce. Assim, o homem é dependente da
mulher.
A respeito da relação entre homem e mulher,
Paulo é equilibrado. Por um lado, ele diz que a
mulher provém do homem, porque foi feita de uma
costela de Adão. Por outro, diz que o homem é
dependente da mulher, porque vem à existência por
meio de sua mãe. Também devemos ser equilibrados,
percebendo que tanto a mulher provém do homem
como o homem provém da mulher.

C. O Homem Não Foi Criado por causa da


Mulher, mas a Mulher por causa do Homem
O versículo 9 diz: “Porque também o homem não
foi criado por causa da mulher, e sim a mulher, por
causa do homem”. O apóstolo aqui toma o propósito
de Deus na criação do homem e da mulher como
outra base sólida para seu ensinamento sobre o véu. É
com base não em qualquer costume feito pelo
homem, mas no propósito divino da criação. Na
criação, a mulher foi feita com o objetivo de
complementar o homem (Gn 2:18, 24).

D. A Mulher Tem Autoridade sobre Sua


Cabeça por causa dos Anjos
No versículo 10, Paulo continua: “Portanto, deve
a mulher, por causa dos anjos, trazer véu na cabeça,
como sinal de autoridade”. O véu representa a
autoridade do encabeçamento do homem sobre a
mulher.
Nesse versículo temos outra base para o
ensinamento do véu. O véu está intimamente
relacionado com o encabeçamento de Deus, Sua
autoridade. O arcanjo, com seus subordinados, se
rebelou contra o encabeçamento de Deus (Ez
28:13-18; Is 14:12-15; Mt 25:41), estabelecendo seu
reino das trevas (Mt 12:26; Cl 1:13) e tornou-se
Satanás, o adversário de Deus. Depois que Deus criou
o homem, Satanás seduziu o homem para segui-lo e
se rebelar contra Deus. Deus, então, enviou Seu Filho
para destruir Satanás e resgatar o homem da
autoridade satânica, de volta para o reino de Deus
(1Jo 3:8; Hb 2:14; Cl 1:13). Agora, quando os crentes
adoram a Deus orando a Ele e falando por Ele, devem
ter sinais de que estão debaixo do encabeçamento de
Deus, a autoridade divina, mostrando aos anjos
observadores (ver 1Co 4:9), que estão preocupados
com essa questão, para que eles (os crentes) guardem
a ordem estabelecida por Deus em Sua
administração. Por isso, as irmãs devem ter um sinal,
uma cobertura na cabeça.
É significativo que Paulo diga que a mulher deve
ter autoridade sobre a cabeça por causa dos anjos.
Satanás, o anjo chefe, fora comissionado com o
governo do universo para Deus. Mas ele se rebelou e
certos anjos o seguiram. É claro, muitos anjos
permaneceram fiéis a Deus. Deus criou o homem
para lidar com os anjos rebeldes, mas Satanás
seduziu-o e esse o seguiu. Então, na redenção, Deus
veio para conduzir o homem de volta a Si mesmo. O
povo redimido de Deus é agora a igreja. Como igreja,
devemos declarar aos anjos, tanto aos rebeldes como
aos submissos, que como povo redimido de Deus, não
somos rebeldes contra o Seu encabeçamento. Antes,
permanecemos sob o encabeçamento de Deus. Não só
na era do reino vindouro na eternidade estaremos sob
o encabeçamento de Deus, mas até mesmo nessa era
rebelde nós nos submetemos à Sua autoridade. O véu
na cabeça das irmãs é um sinal que declara isso aos
anjos.
No versículo 13, Paulo diz: “Julgai entre vós
mesmos: é próprio que a mulher ore a Deus sem
trazer o véu?” Ele aqui está indicando que, julgando
de acordo com os motivos que ele deu, não é próprio
para a mulher orar a Deus com a cabeça descoberta.

E. A Própria Natureza Nos Ensina que o


Cabelo Comprido É Desonra para o Homem e
Glória para a Mulher
Os versículos 14 e 15 dizem: “Ou não vos ensina a
própria natureza ser desonroso para o homem usar
cabelo comprido? E que, tratando-se da mulher, é
para ela uma glória? Pois o cabelo lhe foi dado em
lugar de mantilha”. Quando Paulo diz natureza aqui,
ele está se referindo à nossa constituição natural de
acordo com a criação de Deus. A natureza por si
mesma nos diz que o homem não deve ter cabelo
longo, mas a mulher deve. A mulher, pela sua
constituição feminina, percebe que ter cabelo
comprido para cobrir a cabeça é urna glória. Isso é
também base sólida para o ensinamento do apóstolo
acerca do véu.
Não importa quão ousada uma irmã possa ser,
ela não deve sentir paz se assumir autoridade sobre
seu marido. Não há necessidade de ninguém
ensiná-la a se sentir inquieta sobre isso. Pela sua
constituição natural criada por Deus, ela sabe que não
deve assumir autoridade sobre seu marido. Não pode
haver dúvida de que a constituição feminina é
diferente da masculina. Portanto, até mesmo o
sentimento que temos na nossa constituição natural
apoia o ensinamento de Paulo a respeito do véu.
No versículo 15 Paulo diz que o cabelo comprido
da mulher lhe foi dado como mantilha. Alguns que
discutem acerca do véu dizem que no capítulo onze, o
véu simplesmente se refere ao cabelo longo da
mulher. Segundo sua opinião, já que a mulher tem
cabelo comprido, ela tem um véu. Mas se lermos
esses versículos com cuidado, vamos ver que o véu é
algo acrescentado ao cabelo comprido da mulher. O
fato de a mulher ter cabelo comprido indica que ela
reconhece a autoridade de Deus sobre ela. Usar véu
indica que ela diz amém ao arranjo governamental de
Deus.

V. SEM CONTENDAS
No versículo 16, Paulo conclui o trecho sobre véu:
“Contudo, se alguém quer ser contencioso, saiba que
nós não temos tal costume, nem as igrejas de Deus”.
O costume aqui denota o costume de contender,
discutir e debater. Nem os apóstolos, nem as igrejas
toleravam qualquer discussão acerca do ensinamento
dos apóstolos. Além disso, a pluralidade das igrejas
nesse versículo indica que as igrejas em todas as
cidades são independentes umas das outras, ainda
que todas ajam da mesma forma segundo o
ensinamento dos apóstolos.
Ao falar sobre véu, não é nossa intenção que as
irmãs aceitem uma prática exterior meramente de
forma doutrinária. Desde que a restauração do
Senhor veio a este país (EUA), nunca dei mensagem
incentivando as irmãs a cobrir a cabeça. Se a tivesse
dado, apenas estaria encorajando uma formalidade.
Não queremos ver uma forma exterior. O uso do véu é
amplamente praticado no catolicismo. Entre os
árabes, as mulheres também são instruídas para usar
véu na cabeça. Entretanto, em tais casos, não creio
que haja qualquer compreensão do que significa o
véu. Quando urna irmã coloca um véu na cabeça, ela
precisa perceber o significado do véu.
O encabeçamento de Cristo diz respeito a todos
os santos, tanto irmãos como irmãs. Em 11:3, Paulo
diz: “Quero, porém, que saibais que Cristo é a cabeça
de todo homem, o homem a cabeça da mulher, e Deus
a cabeça de Cristo” (IBB-Rev.). Primeiro, é necessário
que os irmãos percebam que precisam estar debaixo
do encabeçamento de Cristo. Especificamente, se os
presbíteros da igreja numa cidade não estiverem
debaixo do encabeçamento de Cristo, não devem
esperar que as irmãs ou qualquer outro esteja sob seu
encabeçamento. No versículo 3 ele primeiro diz que a
cabeça de todo homem é Cristo, e depois que a cabeça
da mulher é o homem. Além disso, ele aplica o uso do
véu, remontando ao próprio Deus como cabeça de
Cristo.
Precisamos juntar a palavra de Paulo sobre o uso
do véu em 11:2-16 a todo o livro de Apocalipse. Em
Apocalipse, vemos que Cristo, o Cordeiro morto, está
totalmente debaixo do encabeçamento de Deus para
levar a cabo Sua administração. Os capítulos 4 e 5
mostram urna figura de que o Cordeiro morto,
ressurreto e ascendido está agora nos céus levando a
cabo a administração de Deus sob o Seu
encabeçamento.
Recentemente publicamos algumas mensagens
acerca do ministério celestial de Cristo. Esse
ministério está relacionado com a administração
celestial do governo divino. Cristo é o Administrador
que leva a cabo a administração divina mediante Sua
submissão ao encabeçamento de Deus.
Conforme Apocalipse 4 e 5, nos céus, perante o
trono de Deus, não há rebelião. Pelo contrário, como
já enfatizamos, o Cordeiro morto, ressurreto e
ascendido é o primeiro a submeter-Se ao
encabeçamento de Deus nos céus. Todavia, a terra
está cheia de rebelião. Satanás é o primeiro a
rebelar-se contra Deus, mas louvado seja o Senhor
porque no meio de toda essa rebelião, há um Corpo
composto dos que foram redimidos e batizados no
Deus Triúno! O batismo não é uma formalidade.
Fomos batizados no nome do Pai, do Filho e do
Espírito Santo (Mt 28:19). De acordo com Romanos
6:3 e Gálatas 3:27, fomos batizados em Cristo. Ser
batizado em Cristo como Espírito que dá vida nos
introduz no Corpo de forma orgânica. Assim, na terra
há um organismo, o Corpo, constituído dos que foram
redimidos e batizados no Deus Triúno. Esse é o Corpo
Daquele que está no céu que Se submete ao
encabeçamento de Deus. Agora, na terra, esse Corpo
tem de refletir a submissão de Cristo nos céus.
O Corpo de Cristo na terra deve refletir Cristo
como cabeça, submetendo-Se ao encabeçamento de
Deus. Precisamos ser uma televisão celestial a
expressar na terra o que se passa nos céus. Cristo é o
que se tomou um homem, foi morto pelos nossos
pecados e ressuscitou para se tomar o Espírito que dá
vida a fim de que tenhamos vida. Agora, Ele está nos
céus submetendo-Se ao encabeçamento de Deus para
levar a cabo a administração divina. Como membros
do Corpo, temos uma televisão celestial em nós pela
qual podemos ver o que acontece nos céus. Agora
precisamos ser a televisão para refletir o que ocorre
nos céus para que os outros possam assisti-lo em nós.
Isso quer dizer que a igreja em cada cidade tem de
refletir a visão celestial e expressar a submissão de
Cristo ao encabeçamento de Deus para levar a cabo
Sua administração.
Há uma televisão celestial na igreja em sua
cidade? A igreja em sua cidade reflete a submissão de
Cristo nos céus? Louvamos ao Senhor porque em
muitos lugares há um reflexo adequado da submissão
de Cristo ao encabeçamento de Deus. Embora a terra
esteja cheia de rebelião, nós precisamos ser um povo
sob o encabeçamento de Deus refletindo, por meio de
nossa submissão a Cristo, Sua própria submissão a
Deus.
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM CINQÜENTA E QUATRO
A CEIA DO SENHOR (1)

Leitura Bíblica: 1Co 11:17 — 34


No capítulo dez de 1 Coríntios, Paulo fala sobre a
mesa do Senhor. Em 10:16, ele pergunta: “Porventura
o cálice da bênção que abençoamos não é a comunhão
do sangue de Cristo? O pão que partimos não é a
comunhão do corpo de Cristo?” No versículo 21, ele
prossegue: “Não podeis beber o cálice do Senhor e o
cálice dos demônios; não podeis ser participantes da
mesa do Senhor e da mesa dos demônios”. Uma vez
que Paulo já havia começado a falar acerca da mesa
do Senhor, por que não continuou logo a seguir a
falar sobre a ceia do Senhor? Por que ele introduz a
questão do encabeçamento, ou véu, entre a mesa do
Senhor e a ceia do Senhor? Isso não parece ser lógico
nem razoável. Contudo, há um motivo para essa
interrupção.
Nos primeiros dez capítulos dessa Epístola,
Paulo lida com os problemas relacionados com a vida
cristã, e não com a administração de Deus. No
capítulo onze, porém, ele começa a lidar com
questões relacionadas com a administração de Deus.
Na administração divina, a primeira preocupação é
com o encabeçamento de Deus. Sempre que esse item
é honrado, então todas as coisas relacionadas com a
administração de Deus serão corretas, mas quando o
encabeçamento de Deus é desonrado, essas questões
serão inadequadas. Esse é o motivo de ele introduzir a
questão do encabeçamento antes de continuar a lidar
com a ceia do Senhor.

A MESA DO SENHOR E A CEIA DO SENHOR


Concernente à memória do Senhor, Paulo usa o
termo “a mesa do Senhor” em 10:21 e “a ceia do
Senhor” em 11:20. Há uma importante diferença
entre esses dois itens. Não devemos pensar que já
entendemos esses termos, mas devemos perguntar
por que ele fala de mesa do Senhor no capítulo dez e
ceia do Senhor no onze.
A mesa do Senhor se refere ao desfrute do
Senhor em comunhão. Assim, ela representa o
desfrute para participação, para comunhão. Ao dizer
que temos a mesa do Senhor, queremos dizer que
desfrutamos o Senhor na Sua comunhão. Isso visa ao
nosso desfrute e satisfação. Já a ceia do Senhor visa à
satisfação Dele; é em memória Dele. Com relação à
mesa e à ceia do Senhor, há mutualidade. A mesa do
Senhor é para o nosso desfrute, mas a ceia do Senhor
é para o desfrute Dele. Às vezes, podemos dizer:
“Senhor, chegamos à Tua mesa e dela participamos”.
Isso indica que desfrutamos o Senhor. Outras vezes,
podemos dizer: “Somos gratos a Ti porque podes ter
Tua ceia”. Isso indica que nos lembramos do Senhor
para Seu desfrute e satisfação.

O CORPO FÍSICO E O CORPO MÍSTICO


Em 11:29, Paulo usa a expressão “o corpo”. No
Novo Testamento, o Corpo denota o Corpo místico de
Cristo no Espírito. Entretanto, desde que Paulo nesse
trecho fala sobre a ceia do Senhor, o corpo aqui deve
também denotar o corpo de Jesus. No versículo 24,
ele cita a palavra do Senhor Jesus: “Isto é o meu
corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de
mim”. Isso se refere ao Seu corpo físico ou místico?
As palavras “por vós” indicam que aqui o corpo
denota o corpo físico do Senhor. Seu corpo físico é
para nós, ao passo que o Corpo de Cristo é para Ele. A
igreja hoje, como Corpo místico não é para nós, mas
para Cristo. O corpo físico de Jesus, porém, que foi
crucificado, é para nós. Portanto, em memória do
Senhor participamos do pão que tipifica Seu corpo
físico.
Primeira Coríntios 11:25 diz: “Por semelhante
modo, depois de haver ceado, tomou também o
cálice, dizendo: Este cálice é a nova aliança no meu
sangue; fazei isto, todas as vezes que o beberdes, em
memória de mim”. O sangue aqui por certo se refere
ao sangue físico, e não místico. Participamos do cálice
também em memória do Senhor.
Embora o corpo em 11:24 denote o corpo físico
de Jesus, Paulo usa a expressão “sem discernir o
corpo” no versículo 29 para denotar também o Corpo
místico. Alguns podem argumentar que discernir o
corpo nesse versículo significa somente discernir o
corpo físico de Jesus da comida comum. Nesse
versículo, Paulo menciona comer e beber. Comer está
relacionado com o corpo físico, e beber, com o sangue
físico. Todavia, no final do versículo 29, ele não fala
de não discernir o sangue e o corpo, nem de não
discernir o corpo e o sangue. Antes, fala somente de
não discernir o corpo. Por isso, esse discernimento
não se refere somente ao discernimento do corpo e
sangue físicos de Jesus da comida e bebida comuns. O
sentido de discernir o corpo aqui envolve algo mais.
O corpo físico de Jesus foi dado na cruz para
cumprir a redenção por nós, mas esse corpo nada
tinha a ver com a administração atual de Deus. O
Corpo místico de Cristo é que está completa e
totalmente relacionado com a administração de Deus
hoje. Sem o Corpo místico de Cristo, Deus não tem
meio de levar a cabo Sua administração. Isso quer
dizer que a administração divina é levada a cabo por
intermédio do Corpo místico de Cristo. Que fazemos
na terra como Corpo místico de Cristo? Certamente
não trabalhamos para o cumprimento da redenção
porque a redenção foi cumprida uma vez por todas
pelo Senhor Jesus. Ela foi plenamente cumprida pela
oferta do corpo físico de Jesus na cruz. Cristo porém
hoje tem um Corpo místico, que visa levar a cabo a
administração de Deus.
Ao nos achegar à mesa do Senhor, nossa
preocupação não é a redenção ou a administração
divina, mas o desfrute. Todos nos achegamos à mesa
do Senhor para desfrutá-Lo em comunhão.
Provavelmente não temos qualquer conceito sobre a
administração de Deus. A ceia do Senhor, entretanto,
está relacionada com o desfrute e satisfação do
Senhor. Não devemos somente nos importar com
nosso desfrute à mesa, mas também com o do Senhor
na ceia. Podemos anelar desfrutar a mesa, a festa,
mas não anelar a memória do Senhor. Podemos nos
importar com nossa satisfação, mas não com a do
Senhor. Portanto, precisamos de mais luz do Senhor
acerca da Sua ceia. Isso fará melhorar nossas
reuniões ao redor de Sua mesa. Quando entoarmos
louvor ao Senhor, isso será para que a ceia vise à Sua
memória, desfrute e satisfação. Vamos perceber que
não visamos só a nossa satisfação mas muito mais
que Deus seja satisfeito pelo Senhor.
Se quisermos que o Senhor Jesus fique satisfeito
na ceia do Senhor, devemos não só nos lembrar Dele,
mas também cuidar da administração de Deus
executada por Ele. Hoje, o que O satisfaz mais é a
administração divina. Se nos lembrarmos Dele sem
nos importar com a administração divina, Ele não
ficará contente. Se quisermos satisfazê-Lo e
alegrá-Lo, precisamos ser capazes de dizer: “Senhor,
enquanto nos lembramos de Ti, discernimos Teu
Corpo para a administração de Deus executada por
Ti. Quando nos lembramos de Ti, não nos
esquecemos do que fazes hoje nos céus. Estás
assentado nos céus para executar a administração de
Deus”.

ATÉ QUE ELE VENHA


No capítulo dez, Paulo nada diz sobre participar
da mesa do Senhor até que Ele venha, mas em 11:26,
diz: “Porque, todas as vezes que comerdes este pão e
beberdes o cálice, anunciais a morte do Senhor, até
que Ele venha”. A vinda do Senhor introduzirá o reino
de Deus para Sua administração. Sua primeira vinda
foi para nossa redenção, mas Sua segunda vinda será
para a administração de Deus. Quando temos a mesa
do Senhor, importamo-nos com nosso desfrute, mas
quando temos Sua ceia, importamo-nos com Sua
memória e a administração de Deus. A mesa do
Senhor é para nosso desfrute. Contudo, a ceia do
Senhor é para Seu desfrute e satisfação. Além disso,
Sua satisfação depende da administração divina por
Ele executada. Você tenciona dar ao Senhor a melhor
memória? Se sua resposta for positiva, então precisa
cuidar do Corpo místico, o meio de Ele executar a
administração de Deus na terra. Precisamos
lembrar-nos Dele dessa forma até que Ele venha.
Fazemos isso para executar Sua administração até
que Ele volte e traga à terra o Seu reino.

DISCERNIR O CORPO PARA A


ADMINISTRAÇÃO DE DEUS
Temos enfatizado que quando temos a mesa do
Senhor, nós O desfrutamos, e quando comemos a ceia
do Senhor, nós O satisfazemos lembrando-nos Dele e
cuidando da administração de Deus. Mas de que
forma cuidamos de Sua administração? É discernindo
o Corpo. Muitos cristãos não têm idéia do que
significa discernir o Corpo.
Discernir o Corpo é primeiro perceber que Cristo
tem um só Corpo místico. Olhe, porém, para a
situação entre os cristãos hoje. Quantas divisões há!
Cada denominação e grupo tem seu próprio pão.
Alguns até vão mais longe insistindo que se você não
for batizado por eles na água deles, não poderá
participar do pão deles. Quando nos achegamos à ceia
do Senhor, precisamos discernir o Corpo para
determinar se o pão sobre a mesa representa o único
Corpo místico de Cristo. Isso é de grande
importância.
O único Corpo místico de Cristo é o meio de Deus
executar Sua administração. O propósito eterno de
Deus é ter um grupo de pessoas salvas, redimidas e
regeneradas que se tornaram um, para ser um Corpo
orgânico a fim de executar Sua administração. O
estratagema sutil de Satanás porém é cortar o Corpo
em pedaços. Isso estorva a administração de Deus.
Enquanto estamos numa divisão, estamos acabados
no qu~ diz respeito à administração de Deus. Por esse
motivo, o cristianismo de hoje se tornou inútil no
tocante a executar a administração divina. Os cristãos
podem pregar o evangelho para salvar almas, ou
ensinar a Bíblia para ajudar os outros a conhecer a
Palavra, mas isso não é absolutamente adequado para
executar a administração de Deus. Para a execução da
administração divina é preciso o único Corpo, o
Corpo místico. Por perceber isso, odiamos divisões e
cabalmente nos opomos a elas.
As divisões danificam o Corpo místico de Cristo
com respeito a levar a cabo a administração de Deus.
Embora os cristãos preguem o evangelho e ensinem a
Bíblia, há poucos que se importassem com o Corpo
místico de Cristo para levar a cabo a administração de
Deus na terra. Suponha que todos os cristãos se
importassem com isso. Que maravilha seria! Que
administração Deus teria na terra! Porém as divisões
entre os cristãos não só paralisam o Corpo de Cristo
mas até fazem com que o Corpo seja cortado em
pedaços. Isso toma extremamente difícil para Deus
cumprir qualquer coisa na terra para levar a cabo a
Sua administração. Por séculos, Ele não tem podido
levar a cabo Sua administração porque o único meio
para isso, que é o Corpo místico de Cristo, foi cortado
em pedaços pela divisão.
Através dos anos, ficamos profundamente
impressionados com o significado da mesa do
Senhor. Sabemos que o corpo físico de Jesus foi dado
com vistas ao cumprimento de nossa redenção para
que O desfrutemos em comunhão. Portanto,
freqüentemente oramos: “Senhor, obrigado pelo Teu
sangue remissor. Obrigado por redimir-nos
derramando Teu sangue. Senhor, obrigado também
porque deste Teu corpo na cruz para levar nossos
pecados, morrer por nós e desse modo aniquilar a
velha criação. Senhor, agora desfrutamos Tua mesa
aqui. Deste a Ti mesmo por meio da morte e agora,
em ressurreição, estás na mesa para nosso desfrute”.
Agora também precisamos ficar impressionados com
o fato de que comer a ceia do Senhor visa
satisfazê-Lo. É com o fim de recordar-nos Dele. Isso
implica que estamos aqui para levar a cabo a
administração de Deus. Para que ela seja levada a
cabo, precisamos importar-nos com a unidade do
único Corpo místico de Cristo. Ter tal preocupação
nos preservará no Corpo e nos separará de toda e
qualquer divisão. Se tivermos essa compreensão da
ceia do Senhor, não ficaremos divididos por coisa
alguma. Antes, permaneceremos no único Corpo
místico, o meio de Cristo levar a cabo Seu ministério
celestial para o cumprimento da administração
divina.

EXAMINAR E DISCERNIR
Com relação à ceia do Senhor, Paulo usa duas
palavras cruciais: examinar e discernir. O versículo
28 diz: “Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e,
assim, coma do pão, e beba do cálice”. Examinar-nos
é ver se estamos comendo do pão e bebendo do cálice
de forma digna ou indigna. Quando Paulo escreveu
essa Epístola, alguns dos crentes em Corinto comiam
a ceia do Senhor de forma indigna, não percebendo
que o cálice e o pão eram incomuns e diferentes da
comida normal. Temos de perceber que o cálice
representa o sangue do Senhor derramado na cruz
pelos nossos pecados. Assim, não devemos bebê-lo de
forma comum ordinária, mas bebê-lo de maneira que
mostre que percebemos que não é uma bebida
comum. Devemos considerar o pão do mesmo modo.
Todavia, rejeitamos o ensinamento católico
supersticioso da transubstanciação. De acordo com
esse ensinamento herético, o pão e o vinho no cálice
na verdade se tomam o corpo e o sangue de Cristo.
Embora rejeitemos a transubstanciação,
precisamos perceber, quando bebemos o cálice e
comemos o pão, que esses são sinais solenes, santos e
divinos. O cálice representa o sangue precioso de
nosso querido Senhor derramado na cruz pelos
nossos pecados, e o pão tipifica o corpo que Ele deu
por nós na cruz. Por isso, não devemos tratá-los de
forma descuidada. Comer e beber descuidadamente é
participar da ceia do Senhor de forma indigna.
Precisamos provar a nós mesmos para ter certeza que
não somos indignos de participar da ceia do Senhor.
Examinar a nós mesmos é para que sejamos dignos
de lembrar do Senhor.
A segunda palavra crucial usada por Paulo é
discernir. O versículo 29 diz: “Pois quem come e bebe
sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si”. Já
enfatizamos que isso é discernir tanto o corpo físico
como o Corpo místico do Senhor para levar a cabo a
administração de Deus. Examinar a nós mesmos é
para memória do Senhor; discernir o Corpo é
principalmente para levar a cabo a administração de
Deus. Sempre que nos achegamos à mesa do Senhor,
não devemos apenas desfrutar o Senhor, mas nos
lembrar Dele examinando a nós mesmos. Precisamos
perguntar se estamos vivendo de forma digna de
comer da ceia do Senhor. Nunca devemos tomar o
sangue e corpo do Senhor de forma descuidada. Pelo
contrário, devemos perceber que os sinais na mesa
representam o sangue precioso e o corpo do Senhor.
Então precisamos perguntar a nós mesmos se
vivemos e nos comportamos de forma digna de comer
essa ceia. Isso é lembrar do Senhor. Ao mesmo
tempo, precisamos discernir se o pão sobre a mesa
representa o Corpo místico de Cristo ou se tipifica
divisão. Se o pão representa certo grupo ou
denominação facciosos, não devemos tomá-lo porque
discernimos o Corpo. Discernir o Corpo dessa forma é
reconhecer que ele é totalmente diferente de qualquer
coisa facciosa. Discernimos o Corpo de tal forma para
levar a cabo a administração de Deus.
Embora ainda sejamos poucos em número, os
anjos e os demônios sabem que nossa posição é
diferente da do cristianismo faccioso. Além do mais,
bem no fundo, temos a certeza de que discernimos o
Corpo para levar a cabo a administração de Deus na
terra. Somos também a televisão celestial que reflete
na terra o que Cristo faz nos céus pela administração
divina. Outros podem opor-se a nós, argumentar
conosco e vindicar a si mesmos, mas no fundo, na
consciência, eles não têm a certeza de que discernem
o único Corpo místico. Louvado seja o Senhor, nós
temos essa certeza!
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM CINQÜENTA E CINCO
A CEIA DO SENHOR (2)

Leitura Bíblica: 1Co 11:17-34


Em 11:17 — 34, Paulo lida com a questão da ceia
do Senhor. Vamos considerar os diferentes tópicos
que ele aborda nesses versículos.

I. REPREENSÃO POR CAUSA DA DESORDEM

A. No que Lhes Prescreve, Não Os Louva


Em 11:17-22, Paulo repreende os coríntios por
causa da desordem entre eles com respeito à ceia do
Senhor. No versículo 17, ele diz: “Nisto, porém, que
vos prescrevo, não vos louvo, porquanto vos ajuntais,
não para melhor, e sim para pior”. A palavra “porém”
aqui indica um contraste entre “não vos louvo” e “eu
vos louvo” no versículo 2. Desse versículo ao [mal do
capítulo, o apóstolo lida com o oitavo problema,
concernente à ceia do Senhor.
Paulo é honesto e franco. Quando os crentes
devem ser louvados, ele os louva, mas quando não
devem ser louvados, ele não os louva. Embora não
diga no versículo 17, “eu vos repreendo”, ele lhes fala
em tom de repreensão.

B. Os Crentes Coríntios Ajuntavam-se Não


para Melhor, e Sim para Pior
O motivo de Paulo não louvá-los é que eles não se
ajuntavam para melhor, mas para pior (v. 17). Isso
indica que a reunião dos crentes pode ser uma perda
ao invés de ganho. A expressão “não para melhor, e
sim para pior” significa que o resultado da reunião
dos coríntios não era ganho, mas perda, que o
resultado de se ajuntarem não era proveito, mas
desperdício. Alguns se tomaram fracos, outros
ficaram doentes e alguns até morreram. Isso prova
que perderam muito.

C. As Divisões Existentes entre Eles Quando


Se Reuniam na Igreja
No versículo 18, Paulo prossegue: “Porque, antes
de tudo, estou informado haver divisões entre vós
quando vos reunis na igreja; e eu, em parte, o creio”.
Paulo falou de maneira bem suave. Ele não diz que
cria integralmente em tudo o que ouvia; pelo
contrário, diz que cria em parte. Isso revela seu tom
suave ao repreender os coríntios. A expressão “na
igreja” significa na assembléia da igreja (14:34-35).
O versículo 19 continua: “Porque até mesmo
importa que haja partidos entre vós, para que
também os aprovados se tomem conhecidos em vosso
meio”. A palavra grega traduzida por partidos
significa facções, escolas de diferentes opiniões,
como em Gálatas 5:20. A palavra aprovado significa
provado para se verificar as especificações. Segundo
esse versículo, mesmo os partidos, as facções, são
úteis para manifestar os aprovados, os que não são
facciosos.

D. Reuniam-se no Mesmo Lugar Não para


Comer a Ceia do Senhor
No versículo 20, Paulo diz: “Quando, pois, vos
reunis no mesmo lugar, não é a ceia do Senhor que
comeis”. Em 10:21, Paulo fala da mesa do Senhor.
Como vimos, a ênfase da mesa do Senhor é a
comunhão do Seu sangue e corpo (10:16-17), é
participar do Senhor desfrutá-Lo em mutualidade,
em comunhão, ao passo que a ênfase da Sua ceia é a
Sua memória (11:24-25). À mesa do Senhor,
recebemos Seu corpo e sangue para nosso desfrute;
em Sua ceia lembramo-nos Dele para o Seu desfrute.
No versículo 21, Paulo declara: “Porque, ao
comerdes, cada um toma, antecipadamente, a sua
própria ceia; e há quem tenha fome, ao passo que há
também quem se embriague”. Na época do apóstolo,
os crentes tinham o costume de se ajuntar para a ceia,
a principal refeição do dia, com os ricos que traziam
alimento em maior quantidade e melhor para o
desfrute mútuo, e os pobres, que traziam menos
alimento. Isso era chamado de festa de amor (2Pe
2:13; Jd 12), e tinha origem na festa da Páscoa (Lc
22:13-20). No final da festa de amor, eles comiam a
ceia do Senhor com o pão e o cálice em memória do
Senhor (vs. 23-25). Os coríntios não o faziam
adequadamente. Eles não esperavam uns pelos
outros (cf. v. 33). Cada um comia a sua própria ceia
primeiro. Os ricos se embebedavam e os pobres
ficavam com fome (v. 21). Isso causou divisões e
partidos entre eles (v. 18). Assim eles danificavam a
ceia do Senhor. Assim, quando comiam, não comiam
a ceia do Senhor (v. 20). No versículo 22, Paulo lhes
disse: “Não tendes, porventura, casas onde comer e
beber? Ou menosprezais a igreja de Deus e
envergonhais os que nada têm? Que vos direi?
Louvar-vos-ei? Nisto, certamente, não vos louvo”.
II. A REVISÃO DA DEFINIÇÃO DE CEIA DO
SENHOR

A. O Apóstolo Recebeu do Senhor


Sobre a revisão da definição de ceia do Senhor,
Paulo diz no versículo 23: “Porque eu recebi do
Senhor”.

B. O que Também Entregou aos Crentes


Coríntios
O que recebeu do Senhor, ele entregou aos
crentes coríntios. No versículo 23, ele lhes diz: “Que o
Senhor Jesus, na noite em foi traído, tomou o pão”.
Então “tendo dado graças, o partiu e disse: Isto é o
meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória
de mim”. O partir do pão é para que O corríamos (Mt
26:26). Tomar a ceia do Senhor é em memória do
próprio Senhor.
O versículo 25 diz: “Por semelhante modo,
depois de haver ceado, tomou também o cálice,
dizendo: Este cálice é a nova aliança no meu sangue;
fazei isto, todas as vezes que o beberdes, em memória
de mim”. O pão é de vida (Jo 6:35), e o cálice é de
bênção (1Co 10:16). Esse cálice é a nova aliança,
composto de todas as ricas bênçãos do Novo
Testamento, inclusive o próprio Deus. Isso foi
promulgado pelo sangue do Senhor, que Ele
derramou na cruz para nossa redenção (Mt 26:28).
A verdadeira memória do Senhor é comer o pão e
beber o cálice (11:26), isto é, participar do Senhor,
desfrutar Aquele que Se deu por nós mediante a
morte redentora. Comer o pão e beber o cálice é
ingerir o Senhor redentor como nossa porção, vida e
bênção. Isso é lembrar-se Dele de forma autêntica.
O versículo 26 continua: “Porque, todas as vezes
que comerdes este pão e beberdes o cálice, anunciais
a morte do Senhor, até que ele venha”. A palavra
anunciais aqui significa proclamar, declarar ou
manifestar. Tomar a ceia do Senhor é declarar e
manifestar a morte do Senhor; não é exatamente
lembrar-se dela. Lembramo-nos do próprio Senhor
declarando e manifestando Sua morte. Por favor,
note que nos lembramos da Pessoa do Senhor, mas
declaramos, proclamamos Sua morte. Lembramo-nos
da Pessoa declarando Sua morte a todo o universo:
aos demônios, aos anjos e aos seres humanos.
Conforme o versículo 26, devemos declarar a
morte do Senhor até que Ele venha. Devemos tomar a
ceia do Senhor em memória Dele declarando Sua
morte redentora sem cessar até que Ele volte.

III. A NECESSIDADE DE EXAMINAR E


DISCERNIR

A. O que Comer o Pão ou Beber o Cálice do


Senhor Indignamente É Réu do Corpo e do
Sangue do Senhor
No versículo 27, Paulo diz: “Por isso, aquele que
comer o pão ou beber o cálice do Senhor,
indignamente, será réu do corpo e do sangue do
Senhor”. Comer ou beber indignamente é deixar de
avaliar o significado do pão e do cálice do Senhor, que
representam Seu corpo partido por nós e Seu sangue
vertido pelos nossos pecados mediante a morte para
nossa redenção. Ser réu do corpo e do sangue do
Senhor é trazer juízo para si mesmo (vs. 29-30).
B. Examinar a Si Mesmo
No versículo 28, Paulo continua: “Examine-se,
pois, o homem a si mesmo, e, assim, coma do pão, e
beba do cálice”. Examinar a si mesmo significa
examinar-se, pôr-se à prova, e aprovar a si mesmo,
satisfazer as especificações prescritas.

C. Sem Discernir o Corpo, Come e Bebe Juízo


para Si
O versículo 29 diz: “Pois quem come e bebe sem
discernir o corpo, come e bebe juízo para si”. Comer o
pão ou beber o cálice do Senhor indignamente traz
juízo para nós. Esse juízo não é a condenação, mas a
disciplina temporária do Senhor (v. 32).
Não discernir significa não distinguir, não
separar, não discriminar, não fazer distinção. Deixar
de discernir o corpo do Senhor é deixar de fazer
distinção entre o pão, que representa o corpo do
Senhor, e a comida comum. É deixar de avaliar o
sentido do pão que comemos na ceia do Senhor. Isso
traz juízo, a disciplina do Senhor, sobre nós.
A idéia do apóstolo ao usar a expressão “o corpo”,
não “o corpo do Senhor”, pode incluir também o
Corpo místico de Cristo (Ef 4:4) além do corpo físico
do Senhor (1Co 11:24). Por isso, quando participamos
da mesa do Senhor, precisamos discernir se o pão na
mesa representa o único Corpo de Cristo ou uma
divisão humana, uma denominação. Discernindo o
Corpo de Cristo, não devemos participar do pão numa
divisão ou com espírito faccioso. Nossa participação
na mesa do Senhor tem de ser a única comunhão do
Seu único Corpo sem divisão, na prática ou no
espírito.
O fato de o apóstolo lidar com o véu está
relacionado com a Cabeça (v. 3); o fato de lidar com a
ceia do Senhor (a mesa do Senhor) está relacionado
com o Corpo. Com relação ao encabeçamento de
Cristo, que representa Deus e é representado pelo
homem, precisamos guardar a ordem governamental
divina ordenada por Deus sem qualquer desordem.
Sobre o Corpo de Cristo, precisamos ser
adequadamente regulados pela instrução do apóstolo
sem qualquer confusão ou divisão. A Cabeça é Cristo,
e o Corpo é a igreja. Cristo e a igreja são os fatores
controladores e diretores quando o apóstolo lida com
a igreja confusa e desordenada. Ele lida com os
problemas da igreja primeiro ressaltando Cristo como
centro de Deus e nossa porção nos capítulos um a dez.
Depois disso, enfatiza a igreja como objetivo de Deus
e nossa preocupação nos capítulos onze a dezesseis.
Nos capítulos um a dez, ele começa com Cristo como
antibiótico para curar as doenças da igreja enferma.
Depois, do capítulo onze em diante, passa a falar da
igreja e usa a questão da igreja, o Corpo, como vacina
contra a desordem nela. Tanto Cristo como a igreja
são cruciais para levar a cabo a administração de
Deus em Sua economia neotestamentária.

IV. A DISCIPLINA DO SENHOR

A. O Resultado de Não Se Examinar e


Discernir
Nos versículos 30 e 31, Paulo diz: “Eis a razão por
que há entre vós muitos fracos e doentes, e não
poucos que dormem. Porque, se nos julgássemos a
nós mesmos, não seríamos julgados”. A razão que
Paulo aponta no versículo 30 é não discernir o corpo.
Ser fraco e enfermo nesse versículo é a disciplina, o
juízo temporário do Senhor, sobre os participantes
indignos do Seu corpo. Ele primeiro os disciplinou
para que ficassem fracos fisicamente. Depois, já que
não se arrependeram de suas ofensas, receberam
outra disciplina ficando enfermos. Porquanto ainda
não se arrependeram, o Senhor os julgou com morte.
Morrer dessa forma equivale a ser prostrado no
deserto em 10:5. A palavra dormir no versículo 30
significa morrer (1Ts 4:13-16).

B. Discernir a Nós Mesmos para Não Ser


Julgados
No versículo 31, Paulo diz que se discerníssemos
ou julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados.
Discernir a nós mesmos é distinguir questões que nos
dizem respeito, para formar uma avaliação precisa
sobre nós. O propósito de ser julgado é ser trazidos de
volta à administração de Deus. Os que se desviam
precisam do juízo de Deus para trazê-los de volta para
debaixo de Sua administração.

C. Disciplinados para Não Ser Condenados


com o Mundo
No versículo 32, Paulo diz: “Mas, quando
julgados, somos disciplinados pelo Senhor, para não
sermos condenados com o mundo”. Se nos
mantivermos debaixo da administração de Deus, não
seremos julgados, corrigidos, disciplinados, para ser
trazidos de volta à Sua administração. A disciplina no
versículo 32 também diz respeito à administração de
Deus. Essa disciplina é temporária para que não
sejamos condenados com o mundo, isto é,
condenados para sempre.

D. Reunir-se para Comer a Ceia do Senhor


Em 33-34a, Paulo diz: “Assim, pois, irmãos
meus, quando vos reunis para comer, esperai uns
pelos outros. Se alguém tem fome, coma em casa, a
fim de não vos reunirdes para juízo”. A exortação
para esperar uns pelos outros é devido à condição
descrita no versículo 21. Esperar requer paciência.
Esperar uns pelos outros indica que estamos de fato
sob a administração de Deus.

E. As Demais Coisas Seriam Postas em Ordem


Quando o Apóstolo Fosse
No versículo 34b, Paulo conclui: “Quanto às
demais coisas, eu as ordenarei quando for ter
convosco”. Isso indica que o apóstolo não dava
instruções para tudo acerca da prática da igreja. Para
as “demais coisas” precisamos buscar a orientação do
Senhor, baseados nos princípios estabelecidos no
Novo Testamento, e ser governados por eles.
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM CINQÜENTA E SEIS
A CEIA DO SENHOR (3)

Leitura Bíblica: 1Co 11:17-32

EM MEMÓRIA DO SENHOR
Primeira Coríntios 11:24 e 25 dizem: “E, tendo
dado graças, o partiu e disse: Isto é o meu corpo, que
é dado por vós; fazei isto em memória de mim. Por
semelhante modo, depois de haver ceado, tomou
também o cálice, dizendo: Este cálice é a nova aliança
no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que o
beberdes, em memória de mim”. Na frase “em
memória de mim”, a preposição em, que também se
pode traduzir por para, implica não apenas propósito
mas também resultado. A participação na ceia do
Senhor certamente produzirá um resultado: a
lembrança contínua do Senhor para a Sua satisfação.
Ter a ceia do Senhor em memória Dele significa
que a temos com o propósito de nos lembrar Dele.
Mas ter a ceia do Senhor para memória Dele significa
que a temos com o resultado de que nos lembramos
Dele. Podemos vir participar da ceia do Senhor com o
propósito de nos lembrar Dele e ainda assim, ao
comê-la, talvez o resultado não seja esse. Em vez de
ter a lembrança adequada do Senhor, o resultado
pode ser condenação para nós. Supõe-se que os
crentes em Corinto se reuniam para lembrar do
Senhor, mas o resultado era totalmente diferente.
Eles comiam e bebiam não para memória do Senhor,
mas para sua própria condenação.
No capítulo onze, Paulo admoestou os coríntios a
ter a ceia do Senhor de tal forma que resultasse não
em sua condenação, mas em memória do Senhor. É
possível que, quando comemos a ceia do Senhor, o
resultado seja condenação em vez de lembrar-nos
Dele.
A idéia corporificada na palavra “em” nesses
versículos é muito profunda. Certamente não é
incorreto traduzir a preposição grega por “em” 3 .
Entretanto, isso não expressa o sentido ou significado
aqui. Aqui a preposição é usada com significado de
resultado, e não de propósito. Qual será o resultado
quando comemos a ceia do Senhor? Resultará na
memória do Senhor ou em condenação por agirmos
mal? Essa foi a palavra sóbria de Paulo aos coríntios.
Comer da ceia do Senhor visa satisfazê-Lo. Mas
em vez de se reunir para satisfazer o Senhor, os
coríntios buscavam satisfazer a si mesmos. O fato de
alguns até mesmo ficarem bêbados prova que se
importavam somente com sua própria satisfação (v.
21). Vir à ceia do Senhor com a intenção de receber
satisfação para nós mesmos é contrário ao princípio
de Sua ceia. Não devemos vir à ceia do Senhor com tal
intenção. Antes, devemos vir com a intenção de
satisfazer o Senhor.
Lembrar-se do Senhor apenas superficialmente
não O satisfaz. Ele fica satisfeito quando temos a ceia
de tal forma que ela resulta na memória Dele.
Simplesmente lembrar-se do Senhor é superficial,
mas participar da ceia do Senhor com o resultado de
que nos lembramos Dele é profundo. Lembrar-se do

3
Nessa acepção, a preposição em, em português, tem o sentido de o destino ou fim de uma ação (cf.
Dic. Aurélio). (N.T.)
Senhor é algo temporário. Pode durar somente
enquanto comemos a ceia. Enquanto comemos dela,
lembramo-nos Dele. Porém comer da Sua ceia com o
resultado de que nos lembramos Dele implica que a
memória vem e também permanece depois que
acabamos de comer. Portanto, a memória é a
continuação do comer. Comer resulta em memória e
a memória é a continuação do comer.

UMA MEMÓRIA RELACIONADA COM A


ADMINISTRAÇÃO DE DEUS
A palavra de Paulo no capítulo onze está
relacionada com o que o Senhor disse em Mateus
26:29: “Mas digo-vos: De agora em diante, de
nenhum modo beberei deste fruto da videira, até
aquele dia em que o beba, novo, convosco no reino de
Meu Pai”. Isso se encontra em Mateus, o Evangelho
do reino. O reino é questão da administração de
Deus. Comer da ceia do Senhor tem de resultar em
memória que está intimamente relacionada com a
administração de Deus.
Quando você come da ceia do Senhor, isso
resulta na administração de Deus? Se não resultar, a
sua participação da ceia do Senhor é muito
superficial. Enquanto um crente está na ceia do
Senhor, ele pode dizer para si mesmo: “Oh, percebo
que o Senhor morreu por mim. Agora Seu amor me
constrange, na noite do domingo, a lembrar-me Dele
comendo Sua ceia. Enquanto participo dela,
lembro-me Dele. Lembro-me da Sua encarnação e
como ele nasceu de uma virgem em Belém.
Lembro-me como Ele cresceu na cidade de Nazaré,
como sofreu e foi perseguido, como foi traído,
julgado, condenado e sentenciado a morrer na cruz.
Eu me lembro especialmente de que na cruz Ele
morreu pelos meus pecados”. Lembrar-se do Senhor
dessa forma é bom, mas nada tem a ver com o reino,
com a administração de Deus. Depois da ceia do
Senhor, não há resultado duradouro com respeito à
lembrança do Senhor. Se comer da ceia do Senhor
limitar-se a esse tipo de lembrança, nossa
participação dessa ceia será muito superficial. O
comer autêntico da ceia do Senhor tem de resultar na
administração de Deus; tem de resultar no reino.
Comer da ceia do Senhor tem de estar
relacionado com o reino. Não deve deixar de haver
resultado contínuo depois de nossa participação em
cada ceia do Senhor. Pelo contrário, tem de resultar
no reino, na administração de Deus. Em outras
palavras, quando comemos da ceia do Senhor, o
resultado deve ser satisfação para Ele. Isso ocorre
quando o reino é introduzido, quando nós mesmos e
tudo o que se relaciona conosco somos introduzidos
numa relação adequada com a administração de
Deus. Isso não é algo que pode acontecer em uma
hora. Pode ser cumprido somente por um processo
ainda por vir. Esse processo vindouro é, na verdade, o
reino de Deus, Sua administração, realizado na terra.

EXAMINAR-SE E DISCERNIR
Porquanto a relação entre a ceia do Senhor e a
administração de Deus é muito séria, Paulo exorta os
coríntios a examinar a si mesmos e discernir o corpo
(vs. 28-29). Se não examinamos a nós mesmos nem
discernimos o corpo, podemos comer a ceia do
Senhor sem que isso resulte em memória Dele.
Precisamos examinar a nós mesmos e ver se nossa
posição é correta e precisamos também discernir o
corpo. Então o resultado de comer da ceia do Senhor
será satisfação plena para Ele e também a execução
da administração de Deus. Isso é comer a ceia do
Senhor adequadamente.
Talvez você esteja imaginando como o comer a
ceia do Senhor pode resultar em levar a cabo a
administração de Deus. Como cristãos, fomos salvos,
nascemos de Deus para ser Seus filhos e fomos
introduzidos no Seu reino. Conforme João 3:3 e 5, a
regeneração nos introduz no reino de Deus. Se não
tivéssemos nascido do Espírito, não poderíamos
entrar no reino de Deus, mas por meio da
regeneração fomos introduzidos no Seu reino e
também nos tomamos membros do Corpo de Cristo.
Precisamos perceber que fomos regenerados para nos
tomar os filhos de Deus, ser introduzidos no reino e
nos tomar membros do Corpo de Cristo. Uma vez que
tenhamos essa percepção, precisamos considerar o
propósito de tudo isso. Por que fomos regenerados
para ser introduzidos no reino e nos tomar membros
do Corpo? Para viver uma vida para o reino de Deus e
o Corpo de Cristo. O reino e o Corpo devem ser o
objetivo de nosso viver.
Como cristãos, não estamos aqui simplesmente
para ter uma vida boa. Muitos cristãos amam o
Senhor, mas não percebem que sua vida na terra é
para o reino de Deus e o Corpo de Cristo. Ser para o
reino de Deus e o Corpo de Cristo é ser pela
administração de Deus. Hoje, a administração de
Deus é levada a cabo pelo reino e o Corpo. Isso deve
ser nosso viver diário. Depois, no primeiro dia da
semana reunimo-nos com o propósito de comer a ceia
do Senhor com a esperança de que nossa vida seja
dedicada ao reino de Deus e ao Corpo de Cristo. Se
compreender isso, você saberá como comer a ceia do
Senhor pode resultar em tal satisfação para Ele.
Acerca da mesa e da ceia do Senhor, nossa
compreensão pode ainda estar debaixo da influência
do passado religioso. Talvez esteja tão saturada de
conceitos e idéias tradicionais que não temos
capacidade de aceitar nada novo. É como um copo
cheio até a borda: não comporta nada mais. Para usar
outra ilustração, nossa mente pode ser como um
prédio de apartamentos com a placa de “Não há
vagas” na frente. Inconscientemente, podemos ter
colocado uma placa, dizendo “Não há vagas; não sou
capaz de compreender nada mais acerca da ceia do
Senhor”. Preocupo-me que essa possa ser a situação
de quase todos os santos.

ANUNCIAR A MORTE DO SENHOR


Em 11:26, Paulo diz: “Porque, todas as vezes que
comerdes este pão e beberdes o cálice, anunciais a
morte do Senhor, até que Ele venha”. À mesa do
Senhor, enquanto comemos e bebemos, fazemos uma
declaração. Declaramos a morte do Senhor até que
Ele venha. Declarar significa proclamar, anunciar ou
manifestar. Na religião organizada, quer no
catolicismo ou protestantismo, duvido que alguém
perceba que o objetivo da assim chamada missa ou
santa ceia é declarar a morte de Cristo, manifestar
Sua morte para o universo. Os que vão à missa ou à
santa ceia, automaticamente têm a idéia de lembrar
da morte de Cristo. Isso é um conceito natural. Além
do mais, alguns pastores podem fortalecer esse
conceito com seu ensinamento. As pessoas
espontaneamente pensam que participar da santa
ceia é simplesmente lembrar-se da morte de Cristo.
Entretanto, não era idéia nem do apóstolo Paulo
nem do Senhor Jesus que nos lembrássemos da
morte de Cristo. O Senhor Jesus disse: “Fazei isso em
memória de Mim”. Devemos participar em memória
não de algo, mas de uma Pessoa viva. Devemos
participar tanto do pão como do cálice em memória
do Senhor. Como vimos, isso significa que nossa
participação deve resultar na memória Dele.
Lembrar-se do próprio Senhor é importante. Não
obstante a maioria dos cristãos não percebe que na
santa ceia deve lembrar-se do Senhor, e não só do que
Ele fez por nós. Nos versículos 24 e 25, há o artigo
definido antes do vocábulo “memória”. Isso
acrescenta ênfase e força a essa expressão. Não
devemos nos lembrar de nada mais; devemos
simplesmente ter a lembrança do próprio Cristo.
Embora devamos lembrar-nos do Senhor, não
nos é dito que nos lembremos de Sua morte; antes, no
versículo 26, vemos que devemos anunciar a morte
do Senhor. A morte de Cristo não é para ser
lembrada, mas declarada, anunciada, manifestada.
Precisamos manifestá-la a todos os anjos, demônios,
seres humanos e criaturas. Precisamos declarar,
anunciar a morte do Senhor até que Ele venha. Nesse
versículo, a palavra “até” é significativa, pois aponta
para o reino.

AS DUAS VINDAS DE CRISTO


No versículo 26, temos a morte e a vinda do
Senhor. Entre esses dois eventos, há um intervalo,
uma lacuna que é preenchida pela igreja. Podemos
dizer que a igreja é uma ponte que conecta a morte do
Senhor a Sua vinda. Assim, a igreja preenche uma
profunda lacuna. Isso quer dizer que a igreja continua
a morte do Senhor e introduz Sua volta. Sem a igreja,
essa lacuna não seria preenchida. Não haveria como
ligar a morte do Senhor com Sua vinda.
O objetivo da primeira vinda de Cristo foi Sua
morte, mas qual será o objetivo de Sua segunda
vinda? A resposta a essa pergunta está em Mateus
26:29. Aqui, ao estabelecer Sua ceia, o Senhor nos diz
que não beberia do fruto da videira até que o bebesse
conosco no reino de Seu Pai. Isso indica que Sua
segunda vinda tem um objetivo: o reino.
Cada vinda do Senhor tem um objetivo. O
objetivo da primeira vinda era morrer a fim de
cumprir a redenção todo-inclusiva. O objetivo da
segunda vinda é estabelecer o reino de Deus.
Não devemos dar pouca importância às palavras
de Paulo: “Anunciais a morte do Senhor, até que ele
venha”, e não devemos compreendê-las de maneira
superficial. É muito importante o que ele escreveu
nessas palavras. Ele não as redigiu segundo sua
opinião. No versículo 23, ele diz: “Porque eu recebi do
Senhor o que também vos entreguei”. O que ele disse
aos coríntios foi o que recebera do Senhor. Esse é o
motivo de eu mencionar para vocês Mateus 26. Ao
estabelecer Sua ceia, o Senhor de fato falou de Sua
volta com relação ao reino do Pai.
É crucial que vejamos que há duas vindas de
Cristo. Em Sua primeira vinda, algo grandioso foi
realizado: Sua morte para levar a cabo uma redenção
todo-inclusiva. Depois disso, Cristo foi receber o
reino. Isso é revelado no Novo Testamento e também
no livro de Daniel. Em Daniel 7:13 e 14, o profeta
contemplou “que vinha com as nuvens do céu um
como o Filho do Homem, e dirigiu-se ao Ancião de
Dias, e o fizeram chegar até ele. Foi-lhe dado
domínio, e glória, e o reino, para que os povos, nações
e homens de todas as línguas o servissem; o seu
domínio é domínio eterno, que não passará, e o seu
reino jamais será destruído”. Em Lucas 19:12, o
Senhor, numa parábola, refere-se a Si mesmo como
“certo homem de nobre origem” que “partiu para uma
terra distante, a fim de tomar posse de um reino e
voltar” (Lc 19:12). Ademais, de acordo com o livro de
Daniel e também os Evangelhos, o Senhor voltará
depois de receber o reino. Ele voltará com o reino e o
estabelecerá para a administração universal de Deus.

O PRODUTO ÚNICO DA MORTE DE CRISTO


Entre as duas vindas de Cristo com seus dois
objetivos, há um longo período. Esse lapso constitui a
era da igreja. A redenção todo-inclusiva do Senhor
produziu algo único: a igreja. Em João 12:24, o
Senhor Jesus diz: “Se o grão de trigo não cair na terra
e morrer, fica ele só; mas se morrer, produz muito
fruto”. Aqui, o Senhor Jesus parece dizer: “Eu sou o
único grão de trigo. Se não cair na terra e morrer,
ficarei só. Mas Minha intenção é ser semeado na terra
e morrer. Então, levantar-Me-ei em ressurreição a
fim de produzir muitos frutos”. Isso é exatamente o
que aconteceu por meio da Sua morte e ressurreição.
Ele produziu muitos frutos, que formaram um único
pão, que é a igreja. Por isso, a igreja é o único produto
da morte todo-inclusiva do Senhor. A morte de Cristo
produziu a igreja e a igreja introduzirá o reino.
No início de seu ministério, o irmão Nee
enfatizava que o Novo Testamento ensina três pontos
importantes: a cruz, a igreja e o reino. Ele nos disse
claramente que a cruz produz a igreja e a igreja
introduz o reino. Por intermédio da igreja, o reino,
como administração de Deus, será trazido à terra. A
cruz foi o resultado da primeira vinda do Senhor, e o
reino estará relacionado com Sua segunda vinda, mas
entre essas duas vindas há a igreja produzida pela Sua
primeira vinda. A igreja introduzirá o reino com a
segunda vinda de Cristo. Agora precisamos ver que
no versículo 26 anunciar a morte do Senhor até que
Ele venha equivale a declarar a existência da igreja
para introduzir o reino.
Em 11:29, Paulo passa a falar sobre discernir o
corpo. Os que não discernem o corpo comem e bebem
juízo para si. Deixar de discernir o corpo indica falha
em cuidar da questão da igreja. É totalmente errado
vir à ceia do Senhor sem tomar o devido cuidado com
a igreja. A igreja hoje é o Corpo místico de Cristo, e o
próprio Cristo é a Cabeça. Em Sua ascensão, Ele foi
feito Cabeça de todo o universo. A igreja, produzida
pela Sua morte, é agora o Corpo místico dessa
Cabeça.

A CABEÇA OPERA POR MEIO DO CORPO


Como seres humanos temos um corpo físico,
assim somos capazes de fazer muitas coisas. Sem um
corpo, não poderíamos executar certas atividades. No
mesmo princípio, o Corpo místico de Cristo, a igreja,
visa ao mover de Cristo na terra. Sim, a Cabeça se foi,
mas o Corpo permanece na terra. A Cabeça agora
opera a administração de Deus por meio do Corpo.
É um fato histórico que o Corpo tenha sido
dividido e paralisado. Mesmo na época em que Paulo
escreveu essa Epístola, a expressão do Corpo em
Corinto tinha sido dividida. Esse é o motivo de, no
capítulo onze, ele falar em divisões e partidos (vs.
18-19). Isso indica que o Corpo ficara enfermo.
Alguns entre os coríntios tinham ficado enfermos e
outros morrido, simplesmente porque o Corpo fora
dividido (v. 30). Eles tinham falhado em discernir o
Corpo. Não se importavam com o Corpo como
deviam. Com isso precisamos aprender a necessidade
de nos importar com o Corpo, a igreja. Além disso, a
igreja preenche a lacuna entre a primeira e a segunda
vinda do Senhor. Essa “ponte” é também uma rodovia
entre a morte de Cristo e o reino de Deus. Sem essa
ponte com a rodovia, não há como ir de um lado, a
morte de Cristo, para o outro, o reino de Deus. A
única ligação é a igreja. Portanto, precisamos
discernir o corpo. Isso quer dizer que nunca devemos
causar danos à ponte. Contudo, muitos dos cristãos
hoje negligenciam a ponte, e outros a têm danificado.

O MOTIVO DE COMER A CEIA DO SENHOR


Agora devemos ver por que precisamos comer a
ceia do Senhor. Nesta mensagem, enfatizamos que
devemos participar da ceia do Senhor em memória
Dele; isto é, resultando em lembrar-nos do Senhor.
Devemos chegar à ceia do Senhor com a expectativa
de que algo resultará disso. Comer da ceia do Senhor
tem de resultar na memória Dele em Suas duas
vindas. Devemos lembrar-nos Dele em Sua primeira
vinda para cumprir a redenção todo-inclusiva a fim
de produzir a igreja, e também em Sua segunda vinda
a fim de introduzir o reino para que Deus e nós
tenhamos como levar a cabo a restauração. Sem o
reino, não há como a restauração do Senhor ser
levada adiante. Por isso, comemos a ceia do Senhor
com vistas a nos lembrar Dele, tanto em Sua primeira
vinda como em Sua segunda vinda.
Lembrar-se do Senhor dessa forma na verdade é
satisfazê-Lo. Ele veio e morreu na cruz para produzir
a igreja. Ele está muito feliz com o que cumpriu e
produziu. Agora nos céus Ele leva a cabo Seu
ministério celestial para voltar à terra com o reino de
Seu Pai. Mas quem são as pessoas na terra que podem
cooperar com Ele? Quem pode reagir favoravelmente
ao operar de Cristo nos céus? Somente a igreja pode
cooperar com Ele e reagir a Ele. Sem a igreja, Ele
provavelmente ficaria pesaroso lá nos céus porque
não haveria ninguém na terra para cooperar com Ele
e executar o que Ele ministra.
De fato a igreja é a satisfação de Cristo. Sempre
que vimos comer a ceia do Senhor, declaramos Sua
morte. Anunciamos a todo o universo que o Senhor
Jesus veio, morreu na cruz para cumprir uma
redenção todo-inclusiva e Sua morte produziu a
igreja. Agora, na igreja, o Seu Corpo, reagimos ao Seu
ministério nos céus e cooperamos com Ele. Comer a
Sua ceia no primeiro dia de cada semana é fazer tal
declaração. Enquanto houver pessoas na terra
reagindo a Cristo em Seu ministério celestial, há
maneira de Ele trazer o reino de Deus à terra. Isso é o
que O satisfaz e alegra.
A ceia do Senhor deve servir como lembrete de
que vivemos na terra para Sua satisfação. Sim, a ceia
é para nós comermos, mas não para nossa satisfação.
Comemos a ceia não para nossa satisfação, mas para
a satisfação do Senhor. Comer a ceia nos lembra de
ter uma vida na igreja a fim de introduzir o reino para
a satisfação do Senhor Jesus. Portanto, essa ceia é
uma satisfação para o Senhor com relação ao reino, a
administração de Deus.
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM CINQÜENTA E SETE
OS DONS (1)

Leitura Bíblica: 1Co 12:1-11


Por que Paulo lida com os dons imediatamente
depois de falar sobre a ceia do Senhor?
Aparentemente, não há ligação entre os dois. Muitos
leitores da Bíblia têm encontrado dificuldades para
compreender por que Paulo fala primeiro da ceia do
Senhor e depois dos dons. Se quisermos compreender
a ligação entre esses dois pontos, precisamos ver que
eles estão relacionados com a administração de Deus.
A administração divina é o segredo dos cinco
problemas abordados nos últimos seis capítulos de 1
Coríntios. Portanto, se virmos que essa seção do livro
diz respeito a coisas no âmbito da administração
divina, teremos a chave para compreender esses
capítulos.
O primeiro ponto abordado nessa seção é o véu,
que está relacionado com o encabeçamento. O
encabeçamento é o primeiro item na administração
de Deus. Assim como o véu se relaciona com o
encabeçamento, a ceia do Senhor se relaciona com o
Corpo. O Corpo é o meio pelo qual Deus leva a cabo a
Sua administração. Sem o Corpo, a Cabeça não
consegue realizar nada na terra para levar a cabo a
administração de Deus.
Passemos agora a ver que, no Corpo, há a
necessidade de funções diferentes. Sem funções, meu
corpo não seria capaz de fazer nada. Contudo, cada
membro do meu corpo tem função. A função advém
do dom de cada membro. O dedo, a mão, o braço e o
ombro, todos têm seus dons. Cada membro do corpo,
não importa quão pequeno ou insignificante pareça,
tem um dom. Já que é um membro do corpo, ele tem
um dom, e com o dom há função. Por meio das
funções de todos os membros do corpo, ele é capaz de
operar. A totalidade das funções dos dons de todos os
membros no corpo constituem o operar do corpo.
Quando falo, cada membro de meu corpo está
envolvido; cada parte de meu corpo, cada músculo,
até mesmo o nariz e ouvidos, funcionam.
Deus está administrando todo o universo para o
cumprimento do Seu propósito eterno. Cristo, a
Cabeça, precisa do Corpo, da igreja. Esse é o motivo
de Satanás odiar a igreja. Recebemos oposição hoje
simplesmente porque nos posicionamos pela igreja.
Há livrarias cristãs que têm todos os livros do irmão
Nee, exceto seus livros sobre a igreja. Alguns
missionários em Taiwan admitem que nossa obra lá
era excelente, mas consideravam a questão da prática
da igreja como “uma mosca morta na sopa”.
Satanás odeia o Corpo e se opõe a ele. Se a igreja
fosse somente uma assembléia de crentes
reunindo-se para comunhão, Satanás não a odiaria
tanto. Todavia, para nós, a igreja não é meramente
uma assembléia, mas é o Corpo para levar a cabo a
administração de Deus. A fim de ser tal igreja, todos
precisamos funcionar. Suponha, entretanto, que
tenhamos uma igreja na qual somente alguns
membros funcionem e o restante se sente nas
reuniões sem funcionar. Uma igreja nessa situação
pode receber oposição do inimigo, mas não tanto
como os que se posicionam pelo Corpo, o
instrumento da Cabeça para levar a cabo a
administração divina.
O Corpo tem muitos membros e todo membro
tem um dom. Esse é o motivo por que depois do
encabeçamento e do Corpo, Paulo passa a falar dos
dons espirituais. Os dons espirituais são para o
funcionamento dos membros do Corpo. Assim, o
capítulo doze é a continuação direta do capítulo onze.
Depois de discernir o Corpo, precisamos ver a
importância de todos os dons dos membros do Corpo.
Em 12:4-11, Paulo menciona nove dons. Isso não
significa que há somente nove dons espirituais. Paulo
cita nove dons como ilustração.

I. O PRINCÍPIO GOVERNANTE
Em 12:1-3, temos o princípio governante dos
dons espirituais. No versículo 1, Paulo diz: “A respeito
dos dons espirituais, não quero, irmãos, que sejais
ignorantes”. Nos capítulos doze a catorze, Paulo lida
com o nono problema entre os coríntios: o problema
dos dons espirituais com relação à administração e
operação de Deus.
Nos versículos 2 e 3, Paulo continua: “Sabeis que,
outrora, quando éreis gentios, deixáveis conduzir-vos
aos ídolos mudos, segundo éreis guiados. Por isso,
vos faço compreender que ninguém que fala pelo
Espírito de Deus afirma: Anátema, Jesus! Por outo
lado, ninguém pode dizer: Senhor Jesus!, senão pelo
Espírito Santo A idéia do apóstolo aqui é que os
ídolos mudos no versículo 2 tomam seus adoradores
mudos, mas o Deus vivo faz com que Seus adoradores
falem no Espírito Santo. Esse tipo de falar
relaciona-se com os dons espirituais. Ninguém que
fala no Espírito de Deus ~iria “Anátema, Jesus”; pelo
contrário, ele gostaria e seria capaz de dizer “Senhor
Jesus”. Nenhum adorador de Deus deve ser calado,
mas todos devem usar a voz para expressar o Senhor
Jesus no Espírito de Deus. Essa é a principal função
de todos os dons espirituais.
O princípio governante dos dons é falar pelo
nosso espírito com o Espírito, isto é, proferir algo com
o Espírito em nosso espírito. Esse tipo de falar está
centralizado no Senhor Jesus. Por isso, o que falamos
deve ser focalizado em Cristo. Cristo deve ser a
substância, o elemento, a essência, o centro e o
âmbito de nosso falar.
Quando Paulo escreve sobre os dons dos
membros do C01l? o, ele começa falando de “ídolos
mudos”. Os dons, é claro, nada tem a ver com ídolos,
mas o que ele diz acerca de dons espirituais tem como
pano de fundo a adoração a ídolos antes praticada
pelos coríntios. No versículo 2, ele lhes lembra que
quando eram das nações, dos gentios, deixavam
conduzir-se “aos ídolos mudos”. Ele aqui não diz que
se deixavam conduzir aos pecados, às
concupiscências ou ao mundo; diz que se deixavam
conduzir aos ídolos mudos, segundo eram guiados.
Não importa como eram guiados, eles eram guiados
aos ídolos mudos. O fato de Paulo usar o adjetivo
“mudo” implica que tanto os ídolos como os que os
adoravam eram mudos, incapazes de falar. Quando
eram incrédulos, os coríntios também eram mudos;
eram adoradores silenciosos de ídolos mudos. Isso
quer dizer que quando adoravam os ídolos, não
falavam; antes, visto que os ídolos eram mudos, eles
também eram mudos, silenciosos. Mas depois de vir a
crer em Cristo são agora adoradores do Deus vivo.
Falando é que provamos que somos vivos. Nosso
Deus é vivo. A Bíblia revela que nosso Deus vivo é o
Deus que fala. Através dos séculos, principalmente na
era do Novo Testamento, Ele tem falado. Para provar
que somos membros vivos de Cristo, também
precisamos falar. Não queremos dizer, é claro, que
devemos falar de forma artificial ou fofocar. Pelo
contrário, devemos falar algo pelo Senhor ou até
mesmo expressá-Lo. Precisamos falar coisas que são
centralizadas em Cristo. Além do mais, Cristo tem de
ser o nosso falar, nossa expressão. Ele tem de ser o
centro e o âmbito do nosso falar. Expressá-Lo dessa
forma é prova veemente de que estamos vivos.
Porquanto o Deus que adoramos é vivo e fala também
falamos e com isso provamos que somos os membros
vivos do Corpo de Cristo.
Posso testificar pela minha experiência que,
quanto mais falo, mais vivo fico. Falar é, na verdade,
respirar. Quando falo, exercitando meu espírito,
aspiro Cristo. Diariamente precisamos falar Cristo ao
marido ou à mulher, aos filhos e aos vizinhos.
Precisamos falar Cristo tomando-O como nosso
centro. Esse falar é o princípio governante dos dons
espirituais.
De acordo com o versículo 3, nosso falar tem de
ser governado pelo Senhor Jesus. Nesse versículo,
Paulo diz: “Por isso, vos faço compreender que
ninguém que fala pelo Espírito de Deus afirma:
Anátema, Jesus Em grego, “anátema” quer dizer
“amaldiçoado”. Anátema quer dizer que ou quem foi
amaldiçoado; isto é, apartado, devotado, para
desgraça. Dizer “Jesus é amaldiçoado” significa falar
negativamente acerca de Cristo. Toda vez que alguém
fala de forma negativa sobre Cristo, isso é uma
maldição.
No versículo 3, Paulo também diz: "Ninguém
pode dizer: Senhor Jesus!, senão pelo Espírito Santo".
Isso é uma tradução literal do grego. Esse versículo
indica que quando dizemos com um espírito
adequado: "Senhor Jesus", estamos no Espírito
Santo. Daí, invocar o Senhor Jesus é a maneira de
participar do Espírito Santo, desfrutá-Lo e
experimentá-Lo.
Acabamos de ressaltar que a tradução literal do
grego no versículo 3 é "Senhor Jesus" 4 . Quando
dizemos "Jesus é o Senhor", admitimos que o Senhor
Jesus é o Senhor, mas quando dizemos "Senhor
Jesus", não só admitimos isso como também O
invocamos. Dizer "Senhor Jesus" é mais doce do que
dizer "Jesus é o Senhor". Essa diferença pode ser
ilustrada na forma que falamos com nosso pai. Por
exemplo, dizer: "Esse é o meu pai" não é tão doce e
íntimo como dizer "Meu pai!" No seu viver diário,
você diz "Jesus é o Senhor" ou mais freqüentemente
invoca "Senhor Jesus"? A maioria de nós testificaria
que invocamos “Senhor Jesus” com muito mais
freqüência do que declaramos "Jesus é o Senhor".
Sem dúvida, a expressão "Senhor Jesus" no
versículo 3 indica invocar o nome do Senhor Jesus.
Hoje alguns se opõem à prática de invocar o nome do
Senhor, mas em 12:3 Paulo definitivamente se refere
a invocar o Senhor audivelmente. A tradução "Jesus é
o Senhor" não indica invocar, mas "Senhor Jesus"
indica não só admissão de um fato, isto é, que Jesus é
o Senhor, como também dirigir-se a alguém, isto é,
invocá-Lo.
Muitos de nós podem testificar que invocar o
nome do Senhor Jesus faz com que sejamos vivos. Ao
4
Outras versões traduzem essa expressão por “Jesus é o Senhor”. (N.T.)
nos sentir um pouco deprimidos, simplesmente
precisamos invocar “Ó Senhor Jesus” e ficamos
fortalecidos e animados. Chegaram-nos relatos que
certos santos em determinado lugar foram ajudados
pela prática de invocar o nome do Senhor e ler-orar.
Um irmão testificou que o Senhor nos deu Sua
Palavra, Seu Espírito e Seu nome. Podemos desfrutar
a Palavra lendo-orando; podemos desfrutar Seu
Espírito seguindo a unção; podemos desfrutar o Seu
nome invocando-o.
Como adoradores do Deus vivo, precisamos falar.
Entretanto, muitos cristãos são mudos. O movimento
pentecostal apareceu como uma reação a essa mudez.
Em épocas diferentes no passado, houve também
reações contra a mudez da religião formal. Por
exemplo, na época de John Wesley, a pregação da
Palavra se limitava aos templos. Não se podia pregar
num lugar secular. Mas John Wesley reagiu contra
essa restrição e pregou ao ar livre, nas ruas e até aos
mineiros quando saíam das minas de carvão depois
do trabalho. Inspirados pela pregação de Wesley,
alguns se arrependeram e choraram. Outros, fora de
si mesmos de alegria, clamaram ao Senhor.
Cristo é a Palavra de Deus, o falar de Deus.
Assim, quando O desfrutamos, também vamos falar.
Vamos expressá-Lo e, às vezes, até proclamá-Lo em
alta voz. A caminho de nossas reuniões da igreja, não
devemos ser mudos. Até mesmo enquanto estamos a
caminho, devemos falar Cristo e depois levá-Lo às
reuniões falando.
Dizer que Jesus é amaldiçoado é proferir coisas
negativas sobre Ele, mas dizer “Senhor Jesus”
significa falar Dele de forma positiva. Além disso, em
12:3, Paulo. nos fala que ninguém pode dizer “Senhor
Jesus” exceto no Espírito Santo. Que palavra
animadora! Enquanto falamos “Senhor Jesus” com
um espírito adequado, estamos no Espírito Santo.
Você sente que não está no espírito? Então invoque
nome do Senhor Jesus. Invocando-o, você vai inalar
o ar celestial,
Espírito Santo, e estará no Espírito. Entretanto,
se ficar em silêncio, não invocando o Senhor, você
não vai inspirar o ar espiritual. Isso o fará
espiritualmente infeliz e doentio, mas quanto mais
falar por Cristo e até falar Cristo, mais feliz ficará.
Nós, na restauração do Senhor, temos muitas coisas
positivas sobre o que falar. Temos Cristo, a vida da
igreja e o propósito eterno de Deus. Que todos
aprendamos a falar Cristo. Esse falar é o princípio
governante dos dons espirituais.
Quando estávamos em Elden Hall 5 em Los
Angeles em 1970, as reuniões sempre começavam
bem antes do horário estipulado. Os santos se
reuniam para falar, cantar, gritar e louvar bem antes
da hora estipulada, mas em determinados lugares há
a tendência de ficar em silêncio. Parece que muitos
perderam sua função e seu dom. Isso abre o caminho
para a volta da situação caída, em que há reuniões
com a forma e sistema de clérigos-leigos. Na igreja,
todos os membros devem ser vivos e falantes. Então o
tempo todo será preenchido com o falar de Cristo e
por Cristo.

II. A MANIFESTAÇÃO DO ESPÍRITO POR


DIFERENTES DONS

5
Local de reuniões localizado na rua Elden, em Los Angeles, Califórnia, E.U.A. (N.T.)
A. Diversidade nos Dons, mas o Mesmo
Espírito
No versículo 4, Paulo prossegue: “Ora, os dons
são diversos, mas o Espírito é o mesmo”. “Ora” aqui
indica um contraste entre os versículos 3 e 4. O
versículo 3 diz que quando ministramos falando no
Espírito de Deus, todos dizemos “Senhor Jesus”
exaltando-O como o Senhor. “Ora” fala dos diversos
dons para manifestação do Espírito; esses dons são
diversos.
A palavra grega traduzida por diversos também
pode ser traduzida por diversidades, variedades,
distinções. A mesma palavra também é usada nos
versículos 5 e 6.
Os dons em 12:4 se referem aos dons exteriores,
as habilidades ou capacitações para o serviço. Alguns
deles são miraculosos e alguns desenvolvidos a partir
dos dons iniciais mencionados em 1:7. Todos são
diferentes dos dons iniciais.

B. Diversidade nos Serviços e o Mesmo


Senhor
No versículo 5, Paulo continua: “E também há
diversidade nos serviços, mas o Senhor é o mesmo”.
Os serviços aqui são ministérios. Os dons no versículo
4 são para esses serviços, que são para as realizações
no versículo 6.

C. Diversidade nas Realizações, mas o Mesmo


Deus Opera Tudo em Todos
O versículo 6 diz: “E há diversidade nas
realizações, mas o mesmo Deus é quem opera tudo
em todos”. As realizações aqui são as obras. Os
serviços ou ministérios no versículo 5 são para essas
obras.
Os dons são pelo Espírito; os ministérios, os
serviços são para o Senhor; as realizações são de
Deus. Aqui, o Deus Triúno está envolvido nestes três:
dons, serviços e realizações. Os dons pelo Espírito são
para executar os ministérios, ou serviços, para o
Senhor, e os ministérios, ou serviços, para o Senhor,
são para levar a cabo as realizações, as obras de Deus.
Esse é o Deus Triúno movendo-se nos crentes para o
cumprimento do Seu eterno propósito a fim de
edificar a igreja, o Corpo de Cristo, para a expressão
de Deus.
Nesses versículos, Paulo fala da Trindade. Ele
fala do Espírito no versículo 4, do Senhor no 5 e do
Pai no 6. Os dons são pelo Espírito, os serviços, para o
Senhor e as realizações, de Deus. Os dons são a
capacitação. Quando exercitamos os dons, os serviços
aparecem. Desse modo, os dons são para os serviços.
Em grego, a palavra traduzida por ministérios
simplesmente significa serviços. Ministérios tem a
mesma raiz da palavra que significa diáconos,
servidores. Os diáconos são os que servem, e
ministérios são seus serviços. Quando usamos os
dons para funcionar, espontaneamente essa função se
toma um serviço.
Os serviços são do Senhor, mas o Espírito
distribui os dons. Quando os dons funcionam, temos
os serviços, que são do Senhor e para Ele. Então, os
serviços levam a cabo certas realizações para Deus.
Portanto, os dons são para os serviços e os serviços
para as realizações.
Deus é o Administrador, o que administra por
meio de realizações. Essas realizações são as obras
para levar a cabo a administração divina. São
executadas pelos serviços, ou ministérios. Jesus
Cristo, o Senhor, o Ungido, cuida de todos esses
ministérios. Daí, eles pertencem a Ele e são Dele. Mas
como o Senhor os obtém? É pelos dons do Espírito.
Além disso, o uso desses dons depende da nossa
cooperação. Se não falamos, se não proferimos nada
do Senhor e para Ele, o Espírito não tem maneira de
agir. O exercício dos dons realiza os serviços e os
serviços executam as realizações. Essas realizações
visam levar a cabo a administração de Deus, que é
para o cumprimento do Seu propósito eterno.
No passado, enfatizamos que no Novo
Testamento, há somente um ministério, e agora
falamos de ministérios. Quando dizemos que há um
único ministério no Novo Testamento, queremos
dizer que todas as pessoas dotadas devem ministrar a
mesma coisa: Cristo e a igreja. Esse é o único
ministério. Entretanto, os ministérios em 12:5 se
referem aos serviços dos vários membros do Corpo.
Os diversos membros do Corpo têm ministérios, seus
serviços diferentes.

D. A Manifestação do Espírito Concedida a


Cada Um Visa a um Fim Proveitoso
No versículo 7, Paulo diz: “A manifestação do
Espírito é concedida a cada um visando a um fim
proveitoso”. Todos os dons diferentes são a
manifestação do Espírito, isto é, o Espírito é
manifestado nos crentes que receberam os dons. Tal
manifestação visa ao proveito da igreja, do Corpo de
Cristo. Proveito quer dizer o crescimento em vida dos
membros e a edificação do Corpo de Cristo.
No versículo 8, Paulo prossegue: “Porque a um é
dada, mediante o Espírito, a palavra de sabedoria; e a
outro, segundo o mesmo Espírito, a palavra do
conhecimento”. De acordo com o contexto desse livro,
a palavra de sabedoria é a palavra acerca de Cristo
como as profundezas de Deus, predestinadas por Ele
para nossa porção (1:24, 30; 2:6-10). A palavra de
conhecimento é a que transmite conhecimento geral
de coisas acerca de Deus e do Senhor (8:1-7). A
palavra de sabedoria é principalmente de nosso
espírito por intermédio de revelação; a palavra de
conhecimento é principalmente de nossa
compreensão por intermédio de ensinamento. A
primeira é mais profunda que a segunda. Contudo,
essas duas, e não o falar em línguas ou qualquer outro
dom miraculoso, é que são mencionadas como os
primeiros dons e a manifestação mais elevada do
Espírito. São elas os ministérios ou serviços mais
proveitosos para o aperfeiçoamento dos santos e a
edificação da igreja para levar a cabo o operar de
Deus.
Não é fácil diferenciar a palavra de sabedoria da
palavra de conhecimento. Conforme 1 Coríntios, a
palavra de sabedoria diz respeito a Cristo. Se
quisermos falar Cristo, precisamos da palavra de
sabedoria. Nos capítulos um e dois, a ênfase de Paulo
é que Cristo é a sabedoria de Deus e essa é a sabedoria
da qual falamos. Para essa palavra de sabedoria,
precisamos de revelação, e não só ensinamento. Isso
quer dizer que precisamos de algo mostrado a nós
pelo Espírito em nosso espírito, precisamos de uma
visão de Cristo como as profundezas de Deus. A
palavra acerca de Cristo como as coisas profundas de
Deus é a palavra de sabedoria. Primordialmente, é
dada pelos apóstolos e profetas. Eles tiveram a visão,
a revelação de Cristo e tudo o que falam sobre Ele é a
palavra de sabedoria.
A palavra de conhecimento diz respeito a coisas
espirituais, em particular acerca do que Deus é e faz.
Essa palavra é dada principalmente pelos mestres.
No versículo 9, Paulo diz: “A outro, no mesmo
Espírito, a fé; e a outro, no mesmo Espírito, dons de
curar”. A fé aqui é como a fé que pode remover
montanhas, mencionada em 13:2 e Marcos 11:22-24.
No versículo 9 Paulo fala de “no mesmo Espírito,
dons de curar”. Esses dons são o poder miraculoso
para curar diversas doenças.
No versículo 10, Paulo diz: “A outro, operações
de milagres”. Essas operações de milagres são
operações de poder, além do da cura, tal como Pedro
ao ressuscitar Dorcas dentre os mortos (At 9:36-42).
No versículo 10, Paulo também menciona
profecia. Isso é falar por Deus e expressá-Lo,
incluindo predizer, profetizar. Não devemos
compreender a palavra profecia aqui com o
significado primordial de predizer. Significa
principalmente falar pelo Senhor e expressá-Lo. É
claro, às vezes inclui um elemento de predição, de
falar para expressar e falar de antemão.
Paulo também nos diz no versículo 10 que a
outro é dado o discernimento de espíritos. Isso é
distinguir o Espírito que é de Deus dos que não são de
Deus (1Tm 4:1; 1Jo 4:1-3). Isso requer maturidade de
vida.
Paulo conclui o versículo 10 dizendo: “A um,
variedade de línguas; e a outro, capacidade para
interpretá-las”. O termo línguas aqui refere-se a
língua ou dialeto real (At 2:4, 6, 8, 11) de homens ou
anjos (13:1), e não a vozes ou sons sem sentido. O
falar em línguas autêntico e real está entre os muitos
dons do Espírito (v. 4), um dos muitos aspectos da
manifestação do Espírito (v. 7). Alguns dizem que
falar em línguas é primeiramente a evidência inicial
do batismo no Espírito, mas depois torna-se um dom
do Espírito: como evidência inicial, dizem eles, todo
crente tem de tê-lo, mas não necessariamente como
dom. Mas esse ensinamento não tem base no Novo
Testamento. O Novo Testamento deixa mais do que
claro que falar em línguas é somente um dos muitos
dons do Espírito, e nem todos os crentes o têm.
Interpretar uma língua é tornar inteligível a
língua desconhecida (14:13). Esse é o nono item da
manifestação do Espírito mencionada aqui. Todavia,
a manifestação do Espírito pelos crentes tem mais de
nove itens. O apostolado, socorros e operações pelo
Espírito mencionados no versículo 28, ter visões e
sonhos pelo Espírito, como menciona Atos 2:17, os
sinais e maravilhas mencionados em Hebreus 2:4 e
três dos cinco atos milagrosos profetizados em
Marcos 16:17-18 são todos omitidos aqui. O apóstolo
aqui mencionou somente nove itens da manifestação
do Espírito como ilustração. Desses nove itens, falar
em línguas e interpretá-las são mencionados por
último porque não são tão proveitosos para edificação
da' igreja como os outros (14:2-6, 1819). Desses nove
itens e dos mencionados nos versículos 28 a 30
, profecia como predição, fé, dons de curar,
operações de poder, falar em línguas e interpretá-las
são todos miraculosos. Os demais, palavra de
sabedoria (como a palavra dos apóstolos), palavra de
conhecimento (como a palavra dos mestres) e falar
por Deus e expressá-Lo em profecia pelos profetas,
discernimento de espíritos, socorros e operações são
dons desenvolvidos pelo crescimento de vida (3:6-7),
como os que são mencionados em Romanos 12:6-8, a
partir dos dons iniciais, interiores mencionados em 1
Coríntios 1:7. Os dons miraculosos, principalmente
falar em línguas e interpretá-las, não exigem
crescimento de vida. Os coríntios falavam bastante
em línguas, e ainda assim permaneciam na infância
(3:1-3). Todavia, os dons desenvolvidos na vida
requerem crescimento de vida, até mesmo
maturidade para a edificação da igreja. Foi para esse
propósito que essa Epístola lhes foi escrita.
Às vezes, os que estão no pentecostalismo
perguntam se temos os dons do Espírito em nossas
reuniões. Alguns santos, pensando que não os temos,
podem não saber como responder a essa pergunta.
Mas nós temos os melhores dons, os mais elevados,
os dons “superiores” em vez dos “inferiores”. Temos a
palavra de sabedoria e a palavra do conhecimento.
Esses são os dons “superiores”, ao passo que falar em
línguas e interpretá-las são os “inferiores”. Como
veremos, pelo menos três vezes Paulo cita esses dons
por último.
Já enfatizamos que nesses versículos, Paulo dá
nove ilustrações da manifestação do Espírito. Os dons
do Espírito são ilimitados. Quando temos os dons,
temos as manifestações; quando os exercitamos,
temos os ministérios do Senhor; esses ministérios
levarão a cabo a obra de Deus para cumprir Sua
administração.
ESTUDO-VIDA DE SEGUNDA CORÍNTIOS
MENSAGEM CINQÜENTA E OITO
OS DONS (2)

Leitura Bíblica: 1Co 12:12-22


Em 12:1-11, Paulo enfatiza duas questões: falar e
o Espírito. Um cristão tem de ser alguém que fala. Se
ficarmos silenciosos em nossa adoração, então nos
tornaremos adoradores mudos. Não adoramos um
Deus silencioso; adoramos um Deus vivo, que fala.
Assim, falar é um sinal de que somos adoradores
adequados de Deus. Além disso, sempre que falamos,
Cristo deve ser o centro. Devemos até mesmo
expressá-Lo falando. Segundo 12:3, quando dizemos
“Senhor Jesus”, estamos no Espírito. Por isso, falar é
a primeira ênfase de Paulo em 12:1-11, e o Espírito é a
segunda.
Como cristãos, devemos todos falar. Quando
expressamos o Senhor, estamos no Espírito. Por
exemplo, quando eu falo, inspiro o ar. Não só estou
rodeado pelo ar mas ele também está em mim.
Quanto mais abro a boca para falar, mais ar entra em
mim e me satura. Se eu não falasse nem respirasse,
não haveria como o ar entrar no meu ser. Então, o
meu ser interior não poderia receber o suprimento
necessário de oxigênio. Para que o oxigênio opere em
mim, é necessário que eu respire e fale. Falando,
desfruto o ar. No mesmo princípio, quando falamos
tendo Cristo como centro de nosso falar, estamos no
Espírito.

III. UM CORPO COM MUITOS MEMBROS


Ao lidar com os dons, a terceira ênfase de Paulo é
o Corpo. Em 12:12-22, ele fala do Corpo repetidas
vezes. Hoje em dia, há uma negligência acerca do
Corpo entre muitos pentecostais. Eles podem
procurar o Espírito e os dons espirituais sem perceber
que os dons são totalmente para o Corpo. Os dons são
dos membros, mas não são para eles; antes, são dos
membros e para o Corpo.
Podemos usar os membros físicos como
ilustração de como os dons são para o Corpo. A mão
tem um dom particular e é capaz de fazer certas
coisas, mas seus dons e funções não são para ela
mesma, mas para o corpo. De modo semelhante, os
pés têm a capacidade de andar. Podemos dizer que
têm o dom de andar, mas essa capacidade, ou dom, é
para o corpo, não é somente para os pés. No mesmo
princípio, a boca come para o corpo e os olhos vêem
para o corpo. Não seria terrível se a boca comesse
somente para si mesma e não para o corpo? Se fosse
assim, a comida permaneceria na boca e o corpo não
seria suprido. Também seria terrível se os olhos
funcionassem somente para si mesmos e não vissem
para o corpo. Os olhos têm uma função, a capacidade
de ver. O dom de ver, todavia, embora pertença aos
olhos, não é para eles mas para o corpo. O nariz
também funciona para o corpo. Se o nariz fosse
egoísta e retivesse todo o ar para si, o corpo não
receberia ar. O nariz respira ar para o corpo. Todas
essas ilustrações mostram que o dom que pertence a
cada membro é para o corpo todo.
Precisamos ficar impressionados com o fato de
que imediatamente depois de enfatizar o Espírito,
Paulo se volta para o Corpo e coloca grande ênfase
nisso. Em 12:1-3, ele salienta o falar, e nos versículos
4 a 11, sua ênfase está no Espírito. Nesses versículos,
a palavra Espírito é usada sete vezes, mas nos
versículos 12 a 22, a palavra fundamental é o Corpo.

A. A Constituição do Corpo
O versículo 12 diz: “Porque, assim como o corpo é
um e tem muitos membros, e todos os membros,
sendo muitos, constituem um só corpo, assim
também com respeito a Cristo”. “Porque” indica que o
versículo 12 é uma explicação do 11, que diz que o
Espírito realiza todos os diversos aspectos de Sua
manifestação, distribuindo-os aos muitos crentes
individualmente. Isso é como o corpo físico, que é um
só e tem muitos membros.
A tradução literal do final do versículo 12 é:
“Assim também é o Cristo” referindo-se ao Cristo
corporativo, composto do próprio Cristo como
Cabeça e da igreja como Seu Corpo, com todos os
crentes como seus membros. Todos os crentes de
Cristo estão organicamente unidos a Ele e
constituídos com Sua vida e Seu elemento para se
tomar Seu Corpo, um organismo, para expressá-Lo.
Daí, Ele não só é a Cabeça mas também o Corpo.
Como nosso corpo físico tem muitos membros,
porém é um só, assim também é Cristo.
No versículo 13, Paulo continua: “Pois, em um só
Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo,
quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E
a todos nós foi dado beber de um só Espírito”. Como o
Espírito é a esfera e substância de nosso batismo
espiritual, e em tal Espírito todos fomos batizados
numa entidade orgânica, o Corpo de Cristo, então
devemos todos ser esse único Corpo, a despeito de
raça, nacionalidade e posição social. Cristo é a vida e
o elemento constituinte desse Corpo, e o Espírito é a
realidade de Cristo. É nesse Espírito que fomos todos
batizados em um Corpo vivo para expressar Cristo.
Os crentes de Cristo são batizados por meio da
água e no Espírito e desse modo introduzidos 1) em
Cristo, 2) na morte de Cristo (Rm 6:3), 3) no nome,
isto é, na Pessoa, do Deus Triúno (Mt 28:19), e 4) no
Corpo de Cristo. O batismo conduz os crentes a uma
união orgânica com Cristo e o Deus Triúno,
tomando-os membros vivos do Corpo de Cristo.
Todos os dons, como manifestação do Espírito
distribuída aos crentes individuais pelo Espírito, são
para proveito, para edificação desse Corpo. O
apóstolo é muito consciente desse fato. Ele é muito
cônscio do Corpo, centrado no Corpo, diferente dos
coríntios e de tantos outros crentes através dos
séculos muito centrados em si mesmos quanto aos
dons espirituais. Daí, depois desse versículo, Paulo
nos faz um longo discurso acerca do Corpo. Sua
intenção é resgatar os crentes coríntios do
egocentrismo, de volta à preocupação com o Corpo de
modo que não mais busquem o proveito individual,
mas a edificação do Corpo.
No versículo 13, Paulo fala de judeus e gregos, e
de escravos e livres. Judeus e gregos se referem a
raças e nacionalidades, e escravos e livres se referem
a posições sociais.
Ser batizado no Espírito é entrar Nele e perder-se
Nele. Beber do Espírito é ingeri-Lo e ter nosso ser
saturado Dele. Por meio desses procedimentos,
somos mesclados com o Espírito. Ser batizado no
Espírito é o início do mesclar, e é uma vez por todas.
Beber o Espírito é a continuação e cumprimento do
mesclar, e é perpétuo, para sempre.
Os pentecostais hoje falam muito sobre o
batismo no Espírito, mas quase nada sobre ser
batizados no Corpo. O batismo do Espírito não é para
indivíduos, mas é para o Corpo. No versículo 13,
Paulo diz claramente: “Em um só Espírito, todos nós
fomos batizados em um corpo”. Esse Corpo é uma
entidade orgânica. Vemos em Mateus 28:19 e Gálatas
3:27 que fomos batizados no Deus Triúno e em Cristo.
O Deus Triúno e Cristo são orgânicos e vivos. Em
Romanos 6:3, vemos que fomos batizados não só em
Cristo mas também em Sua morte. Positivamente,
fomos batizados no Deus Triúno e em Cristo;
negativamente, fomos batizados na morte de Cristo.
Esse aspecto negativo do batismo limpa as coisas
negativas como o pecado, a carne, o ego e a velha
criação. O resultado final e máximo do batismo é que
somos introduzidos no Corpo. Aleluia, estamos no
Corpo!
Se quisermos fazer uma avaliação adequada dos
dons espirituais, precisamos ver as três questões
importantes do falar, do Espírito e do Corpo. Dons
espirituais relacionam-se a falar, pelo Espírito e para
o Corpo. Sempre que usar um dom espiritual para si
mesmo e não para o Corpo, você o anulará.
Repetindo, o dom não é para o membro em si, mas é
para o corpo. Se os pés usassem o dom de andar para
si mesmos e não para o corpo, anulariam o dom.
Muitos buscam os dons espirituais e alguns
aparentemente os receberam. Mas em muitos casos
eles os receberam em vão porque os usaram para si
mesmos e não para o Corpo. Muitos cristãos hoje não
cogitam do Corpo. Na verdade, não precisamos
buscar tanto os dons. Antes, devemos simplesmente
aprender a ser pelo Corpo. Se formos pelo Corpo,
teremos abundância de dons. Além disso, ser para o
Corpo vai enriquecer, elevar, fortalecer e até mesmo
multiplicar nossos dons.
Ao lidar com os dons, Paulo estava muito cônscio
do Corpo e da igreja. Sua preocupação era a
edificação da igreja. Os dons não são para a edificação
própria; são para a edificação do Corpo.
Desejo testificar pela misericórdia do Senhor que
através dos anos sempre me preocupei com o Corpo.
O motivo de eu ter um forte dom para falar é que
nunca tive idéia de usá-la para mim mesmo. Meu
encargo, preocupação e intenção têm sido as igrejas.
Não tenho desejo de ser um orador popular. Meu
encargo é para o Corpo e todas as igrejas. Quanto
mais falo pelas igrejas e para elas, mais tenho para
ministrar.
Aprecio a palavra de Paulo em 12:13: “Pois, em
um só Espírito, todos nós fomos batizados em um
corpo (...) E a todos nós foi dado beber de um só
Espírito”. Onde podemos beber um só Espírito?
Bebemos o Espírito no Corpo. Se não estivéssemos no
Corpo, não haveria fluir. Nada haveria para beber. O
fluir está no Corpo. De acordo com Apocalipse, na
eternidade o fluir será na Nova Jerusalém (Ap
22:1-3). Hoje, o fluir, o rio, está no Corpo. Em um
Espírito, todos fomos batizados em um Corpo para
beber de um Espírito.
Muitos de nós podem testificar que antes de
entrar na vida da igreja na restauração do Senhor,
estávamos ou numa terra seca, ressequida, ou numa
terra pantanosa. Pode ter havido alguma água nessa
terra pantanosa, mas não era boa para beber. Na vida
da igreja, porém, na restauração do Senhor, bebemos
o Espírito diariamente, até mesmo o tempo todo.
Estamos não só à fonte, mas no fluir da corrente.
Como valorizamos esse versículo que diz que fomos
batizados em um Corpo para beber! Em um Espírito
fomos batizados em um Corpo para beber o único
Espírito. Quando estamos cheios da água do Espírito,
não temos escolha senão deixar que ela jorre de nós.
Nos anos em que tenho ministrado nesse país, tenho
borbulhado com o Espírito. Borbulho com a palavra
de sabedoria, a palavra concernente a Cristo como as
profundezas de Deus. Também borbulho com a
palavra do conhecimento. Além disso, posso testificar
que não sou pelos meus próprios interesses. Minha
única preocupação é o Corpo de Cristo.
Todos precisamos esquecer-nos de nós mesmos,
de nossas cidades, do trabalho e da espiritualidade
pessoal e ter encargo pelo Senhor acerca do Seu
Corpo. Isso nos vai enriquecer, elevar e fortalecer nos
dons espirituais. Imagine o que aconteceria se todos
os que recebessem essa palavra fossem pelo Corpo e
estivessem dispostos a esquecer de si mesmos, da
espiritualidade individual e futuro espiritual. Que
situação maravilhosa seria! Nos próximos anos, o
Senhor quer realizar muito para levar a cabo a
administração de Deus na terra. As igrejas, por toda a
terra, de fato, serão televisores celestiais a expressar o
que Cristo está fazendo em Seu ministério celestial.
Para isso acontecer, precisamos ver o Corpo e ser por
Ele.

B. Cada Membro É Indispensável


Nos versículos 14 a 22, vemos que cada membro
é indispensável ao Corpo. O corpo não é um único
membro, mas vários. O pé não deve dizer: “Porque
não sou mão, não sou do corpo”. Se todo o corpo fosse
olho, onde estaria o ouvido? Se todo fosse ouvido,
onde estaria o olfato? Mas Deus colocou cada um dos
membros no corpo como quis. O olho não pode dizer
à mão: “Não preciso de você”; nem a cabeça aos pés:
“Não preciso de você”. Pelo contrário, os membros do
corpo que parecem ser mais fracos são necessários.
Em 12:14-22, Paulo menciona o Corpo dez vezes.
Entretanto, nesses versículos ele não menciona o
Espírito nem mesmo uma vez. Ele aqui enfatiza o
Corpo. Esse é o motivo de eu não concordar com o
pentecostalismo que fala sobre o Espírito e os dons do
Espírito em 1 Coríntios 12, mas não colocam ênfase
adequada no Corpo. Os que prestam atenção ao
Espírito e negligenciam o Corpo são facciosos.
Já enfatizamos muitas vezes que no capítulo
doze, Paulo primeiro enfatiza o falar, depois o
Espírito e então o Corpo. O falar apropriado introduz
o Espírito. Quando dizemos “Senhor Jesus”, estamos
no Espírito. Então, de acordo com o versículo l3, o
Espírito nos introduz no Corpo. Agora, precisamos
centrar-nos no Corpo e estar conscientes dele. Essa é
a ênfase de Paulo em 1 Coríntios 12.
Aleluia pelo falar, pelo Espírito e pelo Corpo!
Falando, estamos no Espírito. Importando-nos com o
Corpo, somos preservados no Espírito. Como
podemos entrar no Espírito? Falando “Senhor Jesus”.
Como podemos permanecer no Espírito e ser Nele
preservados? Estando no Corpo e nos importando
com ele. Precisamos fazer duas coisas: falar e ficar no
Corpo. Quando falamos, somos introduzidos no
Espírito e quando ficamos no Corpo, somos mantidos
no Espírito.
Posso testificar que diariamente desfruto muito o
Espírito. O motivo disso é que falo “Senhor Jesus” e
fico no Corpo. Não me é possível afastar-me do
Corpo. Onde quer que eu vá, o Corpo está lá. Louvado
seja o Senhor pelo Corpo que nos preserva no
Espírito!
Quando estamos no Espírito, temos os Seus
dons. Ele nunca opera em vão. Quando está conosco,
Ele nos distribui certos dons.
Se todos entrarmos no Espírito falando e
ficarmos no Espírito cuidando do Corpo, o Senhor
terá meio de levar a cabo a administração divina. Ele
terá o Corpo místico como instrumento para
expressar na terra o que Ele está fazendo nos céus.
Todos podemos ser os que estão no Espírito e no
Corpo.
Desde que deixei a China continental em 1949,
cerca de trezentas e oitenta igrejas foram levantadas
em cinco continentes por intermédio deste
ministério. Tudo isso foi realizado sem conselhos
missionários, levantamentos de fundos ou pessoas
treinadas em seminários. Pelo contrário, é nosso
reflexo do ministério celestial de Cristo para levar a
cabo a administração de Deus. O que o Senhor fez
desde 1949 é uma evidência marcante de que o que
Deus precisa na terra hoje é a expressão prática do
Corpo místico de Cristo. Por exemplo, porquanto o
Corpo é universal, há agora uma igreja em Pretória,
na África do Sul, embora nunca tenhamos enviado
alguém ali para a vida da igreja. Isso me faz ter
grandes expectativas para o futuro. O futuro da
restauração do Senhor é glorioso. Certamente creio
que tudo o que o Senhor falou no Novo Testamento
será cumprido. Não há dúvida que o Senhor está
operando para restaurar, ganhar o Seu Corpo místico.
Precisamos discernir Seu Corpo e permanecer no
Corpo para que desfrutemos o Espírito para a
administração de Deus.
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM CINQÜENTA E NOVE
OS DONS (3)

Leitura Bíblica: 1Co 12:23-31

C. A Coordenação dos Membros


Nos versículos 23 a 27, Paulo fala acerca da
coordenação dos membros. Os versículos 23 e 24
dizem: “E os que nos parecem menos dignos no
corpo, a estes damos muito maior honra; também os
que em nós não são decorosos, revestimos de especial
honra. Mas os nossos membros nobres não têm
necessidade disso. Contudo, Deus coordenou o corpo,
concedendo muito mais honra àquilo que menos
tinha”. A palavra grega traduzida por coordenou
literalmente significa misturou, entremesclou, ou
seja, mesclou, compôs, ajustou. Deus entremesclou
todos os diferentes membros de Cristo num só Corpo.
Para isso precisamos de muita transformação (Rm
12:2), da vida natural para a vida espiritual, pelo
mesmo Espírito, para a mesma vida prática do Corpo.
Não é fácil ser entremesclado no Corpo. É difícil
até para marido e mulher ser coordenados. Além
disso, o Corpo é tanto local como universal. Se você
pensa que está bem entremesclado com os santos em
sua cidade, o Senhor pode trazer alguém de outra
parte do mundo para testar o quanto você foi
coordenado. Essa é a situação da igreja em Anaheim.
Anaheim é um bom exemplo de igreja onde pessoas
de muitas raças e nacionalidades se reúnem e
experimentam a mistura, a mescla, a coordenação.
Ser coordenado é ser ajustado. Deus tem
entremesclado, coordenado todos os diferentes
membros de Cristo em um só Corpo. Tal coordenação
exige muita transformação. Para a vida prática do
Corpo, precisamos ser transformados pelo Espírito,
da vida natural para a vida espiritual.
Deus coordenou o Corpo, dando mais abundante
honra ao membro menos digno de modo que “não
haja divisão no corpo; pelo contrário, cooperam os
membros, com igual cuidado, em favor uns dos
outros” (v. 25). Na vida do Corpo, o mesmo cuidado
deve ser dado a todos os membros. A diferença em
cuidado causa divisões.
Deus não pode levar a cabo Sua administração se
o Corpo estiver dividido. Ele só tem um modo de levar
a cabo Sua administração no universo. De acordo
com Efésios 1:10, Ele vai encabeçar todas as coisas em
Cristo mediante o Seu Corpo. Primeiro, Cristo tem de
encabeçar a igreja. Depois, Deus vai usar o Corpo de
Cristo, por Ele e Nele encabeçado, para encabeçar
todas às coisas. Está chegando a hora quando todas as
coisas serão encabeçadas em Cristo. Essa será a
dispensação da plenitude dos tempos. Para que isso
aconteça, Deus precisa encabeçar-nos em Cristo. Esse
é o motivo de o Senhor definitivamente precisar de
Sua restauração.
No cristianismo de hoje, o Corpo tem sido
dividido. Alguns dizem que somos restritos e
exclusivistas. Na verdade, é o oposto. Não somos
exclusivistas nem restritos. Reconhecemos e
aceitamos todos os crentes autênticos, não importa
quais sejam seus antecedentes. Já que são crentes em
Cristo, lavados pelo sangue, regenerados pelo
Espírito, nós os recebemos. Não temos credo, crença
específica ou termos ou condições especiais.
Simplesmente cremos na Bíblia de forma geral. Isso
dá a Deus a oportunidade de reunir um remanescente
dos que O amam e O buscam, e usá-los para restaurar
a vida normal da igreja. Deus usa a vida da igreja na
restauração do Senhor como um testemunho da
unidade no meio das divisões.
Nós testificamos vigorosamente que rejeitamos
todos os fatores facciosos. Um exemplo desse fator é
insistir em determinada forma de batismo. Embora
pratiquemos ler-orar, não permitimos que se tome
um fator de divisão. Se os que freqüentam as reuniões
não quiserem ler-orar, não insistimos. A questão de
línguas não é um fator de divisão entre nós. Como
rejeitamos todos os fatores de divisão, o Senhor tem
como ganhar um remanescente para substituir as
divisões para Deus levar a cabo Sua administração.
Nos versículos 3 a 11, Paulo menciona o Espírito
muitas vezes. Nos versículos 12 a 27, ele não faz
menção do Espírito, mas usa a palavra corpo dezoito
vezes. No versículo 13, temos a transição do Espírito
para o Corpo: “Pois, em um só Espírito, todos nós
fomos batizados em um corpo, quer judeus, quer
gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi
dado beber de um só Espírito”. Em um Espírito, todos
fomos batizados em um Corpo. Muitos pentecostais,
entretanto, falam somente de ser batizados no
Espírito, mas o versículo 13 diz que em um Espírito,
fomos batizados em um Corpo para beber de um
Espírito. É decisivo que percebamos que fomos
batizados em um Corpo para beber. Não só fomos
batizados em um Espírito; também fomos batizados
em um Corpo e com um propósito específico: beber
de um Espírito. Na restauração, ressaltamos
enfaticamente a questão de estar no único Corpo,
bebendo de um Espírito. Você está agora no Corpo
bebendo? Posso declarar ousadamente que estou no
único Corpo, bebendo do único Espírito.
Ser batizado em um só Corpo é experimentar
algo uma vez por todas, mas beber de um só Espírito
é uma experiência contínua. Podemos comparar o
batismo à cerimônia de casamento, e o beber, à vida
conjugal. A verdadeira experiência da vida conjugal
não ocorre na cerimônia de casamento. É um
procedimento para reconhecer o fato chamado
casamento. Mas a experiência da vida conjugal
continua dia a dia. O mesmo ocorre quanto ao
batismo e ao beber. Muitos cristãos têm somente a
“cerimônia de casamento”, o batismo; não têm a “vida
conjugal”, o beber diário de um Espírito. Na
restauração do Senhor, temos tanto o batismo como o
beber, tanto a cerimônia de casamento como' a vida
conjugal diária. Temos o procedimento para receber e
aceitar o fato, e temos a experiência de momento a
momento. Agora estamos no Corpo para beber. Em
um Espírito, fomos todos batizados. Agora, estou feliz
por dizer que estamos no Corpo a beber. Que
maravilha beber o Espírito no Corpo! Às vezes,
desfruto tanto esse beber que fico entusiasmado e
fora de mim de alegria.
Depois de fazer a transferência do Espírito para o
Corpo no versículo 13, nos versículos 14 a 27 Paulo
fala sobre o corpo com os membros. Aqui vemos que
ele se concentra no Corpo e tem encargo acerca dele.
Os dons espirituais são algo não só do Espírito mas
também do Corpo. São do Espírito e pelo Espírito,
mas não são para nós como indivíduos. Os dons são
para o Corpo.
Em todos esses anos, tenho conhecido muitos
que, humanamente falando, parecem não ter nenhum
dom. Mas têm um espírito forte e são dedicados ao
Corpo. Como conseqüência, por fim foram muito
usados pelo Senhor. Conheço um casal que foi
visitado pela misericórdia do Senhor. Eles receberam
Sua graça e começaram a amá-Lo. Gradualmente,
com o passar dos anos, têm crescido no Corpo e
recebido o encargo pelo Corpo. O único dom que
parecem ter é o de amar o Corpo, amando os santos.
Agora, em sua cidade, há uma expressão maravilhosa
da vida da igreja.
Entretanto, os que têm talento inato, são dotados
pelo novo nascimento e têm elevada educação,
podem não ser absolutamente úteis em levantar a
vida adequada da igreja. Pelo contrário, podem não
usar seus dons para o Corpo, mas para si mesmos.
Porém o casal a que acabei de me referir está no
Corpo e cuida dele. Por esse motivo, o Senhor os tem
usado para levantar a igreja em sua cidade. Se
continuarem a receber graça e ser nela preservados,
sua função e dons serão enriquecidos, elevados e
multiplicados. Entretanto, os que são talentosos,
dotados, educados e eloqüentes, podem causar
problemas e, por fim, até divisões.
O movimento carismático de hoje parece ser bem
prevalecente. Contudo, também está bem dividido.
Ademais, não ajuda os crentes a crescer em vida. O
movimento carismático é de uma categoria
totalmente diferente da restauração do Senhor.
É importante ver que, acerca dos dons, Paulo
coloca grande ênfase no Corpo. Precisamos estar no
Corpo, ser pelo Corpo e estar totalmente conscientes
e centrados no Corpo. Se formos assim, seremos
usados pelo Senhor.
Se examinarmos a história da restauração do
Senhor, veremos que os que se importaram com o
Corpo foram usados pelo Senhor, mas os que o
negligenciaram experimentaram fracasso. Todo o que
depende do Corpo, está no Corpo e é por ele, não
colocando sua confiança nos dons, será útil. Essa é a
lei que opera no âmbito espiritual. O motivo de ela
funcionar é que Deus não se importa com nossos
dons, mas com o Corpo. O dom não é o meio para Ele
levar a cabo Sua administração. O meio é o Corpo
místico de Cristo. O Corpo é o instrumento que Deus
usa para levar a cabo Sua administração.
Alguns podem enfatizar que o Corpo foi dividido.
Sim, é verdade, mas na Bíblia há um princípio: o
princípio da restauração. Embora o Corpo tenha sido
dividido, Deus ainda tem o princípio da restauração,
segundo o qual Ele não precisa de grande número ou
de movimento em massa. É suficiente ter um
pequeno remanescente para tomar posição pela
intenção de Deus e ser um com Ele em Sua intenção.
Então, esse remanescente, esse pequeno grupo, será
usado por Deus para restaurar o que foi perdido.
Portanto, aos olhos de Deus, somos o Corpo. Não
somos o Corpo no sentido original, mas no sentido
restaurado, no sentido de restauração.
Sabemos pela experiência que freqüentemente o
que é restaurado é mais querido, excelente e precioso
que o que foi perdido. O Senhor perdeu Seu tesouro,
mas agora tem uma restauração, que Lhe é querida e
preciosa. Além disso, em todo o mundo, a restauração
tem sido muito abençoada por Ele. Por exemplo,
embora não tenhamos enviado missionários ao
Japão, muitas igrejas ali foram levantadas por
intermédio do trabalho do Administrador celestial
que opera mediante o Seu Corpo.
E vital ver a administração celestial e os
princípios celestiais. Certamente não desprezo os
cristãos de hoje, mas não concordo com seus erros e
cegueira. O que pensavam ser a melhor maneira de
trabalhar para Deus, na verdade, não era. Não há
necessidade de fazer tantas coisas e despender
dinheiro do modo como gastam. O que precisamos é
dar ao Senhor uma maneira de levar a cabo Sua
administração por meio de Seu Corpo. Se adotarmos
Sua maneira e Lhe permitirmos ser o Administrador,
Ele será capaz de ganhar a terra para Si mesmo. Pela
Sua misericórdia, isso é exatamente o que estamos
fazendo na vida da igreja hoje. Estamos
simplesmente permitindo que Ele seja o
Administrador, e seguimos o princípio de que os dons
têm de ser para o Corpo. Tudo o que for para o Corpo
é o dom mais útil. Assim, insto com você que se
esqueça do que pode fazer e quais são seus dons e,
pelo contrário, importe-se com o Corpo.

IV. OS DONS QUE DEUS COLOCOU NA


IGREJA
Em 12:28-31, Paulo fala sobre os dons que Deus
colocou na igreja. Os versículos 3 a 11 enfatizam o
Espírito, os versículos 12 a 27 enfatizam o Corpo e os
versículos 28 a 31, enfatizam a administração. O
versículo 28 diz: “A uns estabeleceu Deus na igreja,
primeiramente apóstolos; em segundo lugar,
profetas; em terceiro lugar, mestres; depois,
operadores de milagres; depois, dons de curar,
socorros, governos, variedades de línguas”. A igreja
aqui se refere tanto ao aspecto universal como local.
Do versículo 12 a 27, a igreja é considerada o Corpo
de Cristo. O Corpo é um organismo para Cristo, como
vida dos crentes, crescer e Se expressar. A igreja é
uma assembléia para Deus operar Sua administração.
Por isso, no capítulo doze, ao lidar com os dons,
quatro questões são enfatizadas: o falar, o Espírito, o
Corpo e a administração. O falar nos conduz ao
Espírito, o Espírito nos introduz no Corpo e o Corpo
nos mantém no Espírito. Assim, Efésios 4:4 fala de
um Corpo e um Espírito. Se estivermos no Corpo,
temos o Espírito, porque o Corpo preserva-nos no
Espírito. Se for assim, o Corpo não será dividido;
antes, permanecerá um no Espírito. Então, o Corpo é
qualificado para levar a cabo a administração de
Deus. O Corpo, como igreja, é o meio pelo qual Deus
administra na terra.
O Corpo, como igreja, é a assembléia de Deus. O
Corpo de Cristo é um organismo para cultivar Cristo e
expressá-Lo. A assembléia de Deus, a igreja, é o meio
pelo qual Deus leva a cabo a Sua administração.
Assim, vamos do falar para o Espírito, a seguir para o
Corpo e, por fim, para a administração de Deus. A
volta do Senhor será a consumação final e máxima, o
auge da Sua administração. O que fazemos na
restauração do Senhor é preparar o caminho para
trazê-Lo de volta. Aleluia pelo falar, o Espírito, o
Corpo e a administração! Tudo isso visa trazer o
Senhor Jesus de volta.
No versículo 28, Paulo menciona apóstolos,
profetas e mestres. Os apóstolos são os que são
chamados e enviados por Deus (1:1; Rm 1:1) para
pregar o evangelho, a fim de que pecadores sejam
salvos para ser o material para a edificação da igreja,
para estabelecer as igrejas (At 14:21-23) e ensinar a
verdade divina. Seu ministério é universal para todas
as igrejas. Os profetas são os que falam por Deus e O
expressam mediante a revelação divina, e que falam
às vezes com predição inspirada (At 11:27-28). Os
mestres são os que ensinam as verdades de acordo
com o ensinamento dos apóstolos (At 2:42) e a
revelação dos profetas. Tanto profetas como mestres
são universais e locais (Ef 4:11; At 13:1).
No versículo 28, Paulo também se refere a
socorros e governos. Os socorros ou auxílios, ajudas,
devem referir-se aos serviços dos diáconos e
diaconisas (1Tm 3:8-13). Os governos ou
administradores, supervisões, referem-se ao
presbiterato na igreja.
No versículo 28, Paulo por fim menciona
diversos tipos de línguas. Essa é a segunda vez que
falar em línguas é mencionado como o último dos
aspectos da operação de Deus na igreja.
Nos versículos 29 e 30, Paulo faz diversas
perguntas: “Porventura são todos apóstolos? Ou
todos profetas? São todos mestres? Ou operadores de
milagres? Têm todos dons de curar? Falam todos em
outras línguas? Interpretam-nas todos?” Claro, a
resposta a essas sete perguntas é não. Falar em
línguas e interpretação estão novamente, pela
terceira vez, mencionados por último porque
proporcionam o menor proveito à igreja (14:4-6, 19).
No versículo 31, Paulo diz: “Entretanto, procurai,
com zelo, os melhores dons. E eu passo a mostrar-vos
ainda um caminho sobremodo excelente”. Desejar
com zelo os melhores dons é ser zeloso por eles,
deliciar-se neles. A expressão melhores dons indica
que alguns deles, como falar em línguas e
interpretá-las, não são os melhores porque são menos
proveitosos para a igreja. Também indica que
devemos desejar com zelo os melhores dons, como
profetizar e ensinar, que são mais proveitosos para a
edificação da igreja (14:1-6). Para ter os melhores
dons, precisamos crescer em vida até a maturidade.
Eles são desenvolvidos, mediante o crescimento de
vida, a partir dos dons iniciais (1:7) que recebemos
quando fomos regenerados.
Paulo conclui o versículo 31 dizendo que
mostraria aos coríntios um caminho excelente. O
caminho para se obter os melhores dons é o amor.
Esse caminho é integralmente definido no capítulo
seguinte.
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM SESSENTA
OS DONS (4)

Leitura Bíblica: 1Co 13:1-13


Primeira Coríntios 13 é a continuação direta do
capítulo doze, que Paulo conclui dizendo:
“Entretanto, procurai, com zelo, os melhores dons. E
eu passo a mostrar-vos ainda um caminho
sobremodo excelente” (v. 31). O caminho sobremodo
excelente é o amor. Assim, o capítulo treze apresenta
esse caminho excelente.
No capítulo doze, Paulo enfatiza o falar, o
Espírito, o Corpo e a administração de Deus. Agora,
no capítulo treze, temos o amor como a quinta ênfase.
O falar nos conduz ao Espírito, este nos introduz no
Corpo e este último nos preserva no Espírito. Além
disso, o Corpo visa à administração de Deus. A quinta
ênfase de Paulo, a questão do amor, é a maneira de
usar os dons, a maneira de estar no Corpo e de ser
para o Corpo.
O capítulo treze não é uma seção isolada de 1
Coríntios. Antes, situa-se entre os capítulos doze e
catorze, e com eles forma um trecho que fala dos
dons. Por isso, nunca devemos considerar o capítulo
treze como se fosse isolado. Não, ele é continuação do
doze e nos conduz ao catorze. Em 14:1 temos um
indício disso: “Segui o amor e procurai, com zelo, os
dons espirituais, mas principalmente que
profetizeis”. O último versículo do capítulo doze nos
introduz no treze, e o primeiro versículo do catorze
conclui o treze e nos introduz no catorze. Em 12:31,
Paulo fala do caminho excelente para exercitar os
dons; no capítulo treze ele apresenta o amor como
esse caminho excelente, e no 14:1, ele nos aconselha a
seguir o amor e desejar com zelo os dons espirituais,
principalmente que profetizemos. Desse modo, esses
capítulos formam uma unidade, com o capítulo treze
continuando o doze e o catorze continuando o treze.
Será que o amor é somente um caminho ou é
também um dom?
De acordo com Romanos 12, há base para dizer
que amor é um dom. Em Romanos 12:6-8, Paulo diz
que temos dons que diferem conforme a graça dada a
nós e devemos exercitá-los assim. Segundo o
versículo 8, até mesmo mostrar misericórdia é um
dom. Então, nos versículos 9 e 10, Paulo prossegue:
“O amor seja sem hipocrisia (...) Amai-vos
cordialmente uns aos outros com amor fraternal
preferindo-vos em honra uns aos outros”. Então, nos
versículos 12 e 13 ele diz: “Regozijai-vos na esperança,
sede pacientes na tribulação, na oração,
perseverantes; compartilhai as necessidades dos
santos praticai a hospitalidade”. Tudo isso, junto com
o amor, é mencionado no capítulo relativo aos dons.
Portanto, podemos dizer que o amor está pelo menos
no limiar dos dons.
A palavra de Paulo em 1 Coríntios 13:8 pode
também indicar que o amor é um dom, e não apenas
um caminho: “O amor jamais acaba; mas, havendo
profecias, desaparecerão; havendo línguas, cessarão;
havendo ciência, passará”. Paulo aqui cita o amor
junto com os dons de profecia, línguas e ciência (ou
conhecimento). Não há dúvida de que estes três são
dons. Embora profecias desapareçam, línguas cessem
e ciência passe, o amor jamais acaba.
Já enfatizei que há certos irmãos que
aparentemente não têm dom algum, mas são
absolutos pelo Corpo. Ser pelo Corpo é questão de
amor, e cuidar dos membros do Corpo requer amor.
Sem amor, como cuidar dos outros? O amor é
necessário para cuidar dos membros para que o
Corpo seja edificado. Assim, o amor é o maior dom.
Nada edifica mais as pessoas que o amor. O amor é
um antibiótico espiritual. Se houver amor numa
igreja, não haverá necessidade de preocupação com
doenças espirituais. O amor é o melhor remédio para
curá-las. O amor é um dom, o maior deles.
Não é difícil ter o dom do amor. Não há
necessidade de jejuar para obtê-lo ou orar para
recebê-lo. Além do mais, não é preciso imitar, fingir
ou representar. O amor está em nós. Uma vez que
tem a vida divina mediante a regeneração, você
também tem amor, porque o amor é a expressão da
vida, outra forma da vida.

V. O CAMINHO EXCELENTE PARA


EXERCITAR OS DONS.

A. A Necessidade do Amor
Paulo ocupa um capítulo inteiro para enfatizar a
questão primordial do amor. Sua primeira ênfase (o
falar), ocupa somente três versículos; a segunda
ênfase (o Espírito), ocupa nove ou dez versículos; a
terceira ênfase (o Corpo) ocupa dezesseis versículos e
a quarta ênfase (a administração), ocupa três
versículos. Mas ao chegar ao ponto primordial do
amor, ele devota um capítulo inteiro a ele. Isso
mostra como o amor é importante.
Amor é questão de vida. Certos dons estão
também relacionados com vida porque são
desenvolvidos a partir dos dons iniciais, que são o
Espírito Santo e a vida divina. Todavia, outros dons,
principalmente os miraculosos, como falar em
línguas, interpretá-las, prodígios ou milagres, e cura,
não são desenvolvidos a partir da vida. Por esse
motivo, Paulo começa o capítulo treze dizendo:
“Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos,
se não tiver amor, serei como o bronze que soa, ou
como o címbalo que retine”. O bronze que soa e o
címbalo que retine produzem sons sem vida. Eis uma
ilustração autêntica do falar em línguas. Nos
capítulos doze e catorze, ele coloca línguas e
interpretação por último, mas aqui menciona o falar
em línguas primeiro, mas de forma negativa que
indica que isso não é questão de vida.
No mesmo princípio, a cura divina pode não ser
questão de vida. Há uma cura que advém do dom e
outra, da graça. Este último tipo é de vida, da vida de
ressurreição. Por toda minha vida cristã, tenho
experimentado o dom de cura, mas desejo testificar
que muitas vezes desfrutei cura pela graça. Por dois
anos e meio, de setembro de 1943 até a primavera de
1946, fiquei gravemente enfermo, com tuberculose.
Por muitos meses, fiquei confinado num leito. Todos
os dias orava ao Senhor e Ele lidava comigo. Não
orava pela igreja ou pela obra, mas pela minha
própria situação. Por fim, o que mais me importava
não era ser curado, mas ser totalmente purificado e
limpo. Posso testificar que nesse período o Senhor
lidou com meus motivos, intenções e cada parte do
meu ser interior. Então Ele curou-me, não com dom
de poder, mas pela graça em vida. Essa cura foi total e
absoluta. Recorro à minha experiência para enfatizar
que receber cura por meio de dom nada tem a ver
com vida. Todavia, há uma cura pela graça em vida.
Aprecio muito mais os dons em vida do que os
dons miraculosos. Tenho visto alguns crentes que
verdadeiramente receberam determinados dons
miraculosos somente para mais tarde abandonar o
Senhor, com descrença, incredulidade. O que
precisamos é vida e amor, o melhor dom, que
ministra vida aos outros.
Como pessoas que amam o Senhor, que são
absolutos por Ele e que buscam a edificação do Seu
Corpo para que Ele tenha um instrumento a fim de
levar a cabo a administração divina na terra para o
cumprimento do propósito eterno de Deus,
precisamos seguir o amor. Os presbíteros e
cooperadores precisam de amor. Os irmãos todos
precisam de amor. Somente o amor edifica o Corpo.
Além disso, de acordo com o capítulo treze, o dom do
amor é eterno, pois é constituído da vida divina e é a
expressão de Deus, a expressão da vida eterna. Por
isso, todos, devemos seguir o amor.
Em 13:2 e 3, Paulo diz: “Ainda que eu tenha o
dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda
a ciência; ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de
transportar montes, se não tiver amor, nada serei. E
ainda que eu distribua todos os meus bens entre os
pobres e ainda que entregue o meu próprio corpo
para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me
aproveitará”. Entregar o corpo no versículo 3 é
morrer como mártir. Em vez de “ser queimado”,
alguns manuscritos dizem “que eu me glorie”.

B. A Definição de Amor
Em 13:4-7, Paulo nos dá a definição de amor, que
inclui catorze virtudes: ele é paciente, benigno, não é
ciumento, não se ufana, não se ensoberbece, não se
conduz inconvenientemente, não procura seus
interesses, não se exaspera, não se ressente do mal,
não se alegra com a injustiça, regozija-se com a
verdade, tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo
suporta.
No versículo 4, Paulo diz: “O amor é paciente, é
benigno”. O amor é a expressão da vida que é o
elemento de Deus. Assim, Deus é amor (l 104:16).
Deus como vida é expresso no amor. Todas as quinze
virtudes do amor citadas nos versículos 4 a 7 são as
virtudes divinas da vida de Deus. Tal vida difere dos
dons exteriores citados no capítulo doze. Os coríntios
buscavam dons exteriores, mas negligenciavam o
amor, a expressão da vida. Desse modo, ainda eram
carnais ou anímicos (3:1, 3; 2:14). Precisavam
crescerem vida, expressada pelo amor, seguindo o
amor, e não dons exteriores para ser espirituais
(2:14).
No versículo 4, Paulo diz que o amor não se
ufana. Ufanar-se é um pouco diferente de gabar-se.
Ufanar-se é gabar-se de modo a prejudicar os outros.
É um tipo de gabar-se que deprecia os outros e os
rebaixa. O amor com certeza não se ufana.
No versículo 5, Paulo enfatiza que o amor “não se
ressente do mal”. A palavra grega aqui indica que o
amor não guarda um registro contábil. Isso quer dizer
que, se amar os outros, você não manterá um registro
dos erros deles.
O versículo 6 diz: “Não se alegra com a injustiça,
mas regozija-se com a verdade”. A soma total da
injustiça é Satanás, e a soma total da verdade é Deus.
O amor como a expressão da vida divina não se alegra
com a injustiça de Satanás, mas regozija-se com a
verdade de Deus. Ele não se regozija com a injustiça
de ninguém; antes, regozija-se com a verdade.
De acordo com o versículo 7, o amor tudo sofre.
O verbo sofrer, também usado em 9:12, pode ser
traduzido por cobrir. Literalmente, significa conter
(como vaso), esconder, ou seja, cobrir (como teto).
Esse verbo é usado nos Evangelhos acerca do
incidente em que alguns homens quebraram o teto a
fim de levar certo doente à presença do Senhor Jesus.
Eles fizeram um buraco no teto e então baixaram o
homem ao lugar onde o Senhor estava (Mc 2:4). Essa
palavra grega significa fazer um buraco no teto de
alguém. Podemos fazer isso fofocando sobre outros.
Ao falar deles, fazemos um buraco no teto sobre eles,
isto é, nós os descobrimos. Todavia, o amor cobre
tudo, não faz um buraco no teto de ninguém.
Se considerarmos as quinze virtudes do amor
citadas nesses versículos, vamos perceber que ele
nada é além do próprio Deus. Quem além de Deus
poderia ter essas virtudes todas? Não conseguimos
sofrer tudo ou crer tudo. Tampouco podemos de fato
ser longânimos. Somente Deus tem todas essas
virtudes. Assim, o amor descrito aqui é o próprio
Deus. Ademais, a Bíblia também diz claramente que
Deus é amor (1Jo 4:16). Deus é também vida. Vida é
Sua essência, e amor é Sua expressão. Em Si mesmo,
Deus é vida, mas Deus expresso é amor. O amor que é
o próprio Deus com Sua essência divina como vida
tem essas quinze virtudes. Esse é o motivo de em 1
Coríntios Paulo encarregar os crentes de crescer em
vida. Eles estavam carentes de vida, carentes de
amor. Em outras palavras, estavam carentes de Deus
e precisavam crescer em vida.
C. A Excelência do Amor
Em 13:8-13, Paulo fala sobre a excelência do
amor. No versículo 8, ele declara: “O amor jamais
acaba; mas, havendo profecias, desaparecerão;
havendo línguas, cessarão; havendo ciência, passará”.
O amor nunca acabar significa sobreviver a tudo,
manter-se perenemente no lugar. O amor nunca
falha, nunca se desvanece nem chega ao fim. É como
a vida eterna de Deus. Todos os dons, quer sejam
profecias, línguas ou ciência, são meios para Deus
operar. Não são vida para expressar Deus. Dessa
maneira, cessarão e acabarão. São todos
dispensacionais. Somente a vida, expressa pelo amor,
é eterna. De acordo com os versículos seguintes,
todos os dons são para a criança imatura nessa idade.
Todos acabarão na era vindoura. Somente o amor
provém de alguém maduro e durará pela eternidade.
Quando vivemos e agimos pelo amor, temos um ante
gozo da era vindoura e da eternidade.
Nada pode abalar o amor ou removê-lo. Os
outros dons, inclusive profecia, por fim acabarão, mas
o amor permanecerá. Ele nunca se desvanece. Na era
vindoura, haverá amor, mas não haverá línguas,
interpretação ou profecia. Tanto línguas, o mais
infantil dos dons, como profecia, um dom mais
maduro, acabarão.
Nos versículos 9 e 10, Paulo continua: “Porque,
em parte, conhecemos, e, em parte, profetizamos.
Quando, porém, vier o que é perfeito, então, o que é
em parte será aniquilado”. Nesta era, conhecemos e
profetizamos somente em parte; não em plenitude. A
palavra “quando” no versículo 10 se refere à era
vindoura, a era do reino. A palavra perfeito também
significa maduro, contrastando com menino no
versículo seguinte. Além disso, “o que é em parte” se
refere a coisas como profecias e conhecimento,
mencionados no versículo 8.
O versículo 11 diz: “Quando eu era menino, falava
como menino, sentia como menino, pensava como
menino; quando cheguei a ser homem, desisti das
coisas próprias de menino”. Nesta era, os crentes são
meninos, tendo dons infantis. A palavra “menino”
aqui significa alguém imaturo. Pensar como menino é
considerar as coisas como um menino considera. Na
próxima era, os crentes maduros se tomarão homens
e todos os dons infantis, principalmente os últimos:
falar em línguas e interpretá-las, acabarão. Podemos,
porém, ter um antegozo da era vindoura tendo um
viver de amor nesta era. O amor nos amadurece em
vida; os dons nos mantêm na infância.
No versículo 12, Paulo prossegue: “Porque,
agora, vemos como em espelho, obscuramente, então
veremos face a face. Agora conheço em parte; então,
conhecerei como também sou conhecido”. A palavra
“agora” se refere a esta era. Com respeito à expressão
“como em espelho, obscuramente”, J. N. Darby diz
em sua Nova Tradução: “Isto é, através de um meio
que, até certo ponto, impede a visão. A palavra
significa também 'espelho', mas refere-se a uma
janela, não de vidro transparente como se faz hoje em
dia, mas de material semi-transparente”.
A palavra “porque” no versículo 12 se refere à era
vindoura. No versículo 13, Paulo conclui: “Agora,
pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes
três; porém o maior destes é o amor”. A palavra
“porém” aqui indica um contraste entre o versículo 13
e os versículos precedentes.
A fé recebe as coisas divinas (Jo 1:12) e torna real
as coisas espirituais e invisíveis (Hb 11:1); a esperança
as colhe e delas participa (Rm 8:24-25); o amor as
desfruta a fim de nos nutrir, edificando os outros (1Co
8:1) e expressando Deus, cumprindo assim toda a lei
(Rm 13; 8-10). Tal amor faz-nos crescer em vida para
o desenvolvimento e uso dos dons espirituais, e é o
caminho excelente para ter os melhores dons. Assim,
é a maior das três virtudes permanentes. Portanto,
precisamos segui-lo (1Co 14:1).
O amor se importa com o Corpo e o edifica.
Primeiro, ele une o Corpo e depois o edifica. Por isso,
focalizamos nossa atenção no amor que edifica o
Corpo. Devemos seguir o amor e permanecer no
Corpo para desfrutar o Espírito.
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEMSFSSENTA E UM
OS DONS (5)

Leitura Bíblica: 1Co 14:1-25


Enquanto escrevia os capítulos doze, treze e
catorze de 1 Coríntios, Paulo tinha um encargo no
espírito e coração acerca de certos tópicos cruciais: o
falar, o Espírito, o Corpo, a administração de Deus e o
amor. Esses cinco pontos são enfatizados nos
capítulos doze e treze. No capítulo catorze, ele chega a
outro ponto principal: a superioridade de um dom
específico para a edificação da igreja. Entre os muitos
dons espirituais, um é superior, não para nossa obra,
maturidade ou interesse espiritual, mas para a
edificação da igreja. Como veremos, esse dom
superior é o de profetizar. Portanto, ao lidar com os
dons, Paulo enfatiza seis pontos: o falar, o Espírito, o
Corpo, a administração de Deus, o amor e o dom que
é superior para a edificação da igreja.
A preocupação máxima de Paulo não é o falar, o
Espírito, o Corpo, a administração de Deus ou o amor
como caminho excelente para exercitar os dons;
antes, é a edificação da igreja. Ele estava muito
consciente da igreja e era centrado nela. Sua
preocupação estava focalizada na igreja.
Em Colossenses 1:24, ele diz: “Agora, me regozijo
nos meus sofrimentos por vós; e preencho o que resta
das aflições de Cristo, na minha carne, a favor do 'seu
corpo, que é a igreja”. Cristo morreu não só para
realizar a redenção, mas também pela igreja.
Conforme Efésios 5:25, Ele Se deu pela igreja. Sim,
Ele morreu para cumprir a redenção. A redenção,
porém, é um procedimento, e não o objetivo, o alvo de
Deus. A redenção é um modo de atingir o objetivo,
mas o objetivo é a igreja.
Porquanto a igreja é o alvo de Deus, não
conseguimos concordar com os cristãos que a
negligenciam e têm apenas uma impressão superficial
da redenção de Cristo. Muitos nem mesmo gostam de
ouvir falar da igreja, mas o objetivo da morte de
Cristo definitiva e principalmente é a igreja.
Na eternidade, fomos escolhidos e predestinados
por Deus. Como caímos e nos afastamos Dele, houve
a necessidade de Cristo consumar a redenção a fim de
nos levar de volta para Deus. A redenção, porém, não
é o objetivo de Deus; não é Sua intenção final e
máxima, mas é ter Seus escolhidos organicamente
unidos para ser o Corpo, a igreja. Mesmo se não
tivéssemos caído, sem dúvida teria sido necessário
Deus executar certos procedimentos para obter a
igreja.
Quando era jovem, simplesmente me disseram
que Cristo viera porque tínhamos caído em pecado.
Fui ensinado que Deus nos amava e dera Seu Filho
unigênito para nos salvar. De acordo com esse
entendimento, se não tivéssemos caído, não seria
necessário Cristo vir. Mas é um erro pensar que a
intenção de Deus é meramente redimir-nos do
inferno para o céu. A Sua intenção é ter a igreja, e a
morte de Cristo nos redime para que nos tornemos
Seu Corpo. Esse foi o motivo de Paulo estar
consciente da igreja e centrado nela. Em sua
consciência, a igreja era um ponto extremamente
decisivo.
Ao considerar os dons espirituais, precisamos
perguntar para que servem. Muitos só se importam
com os dons, mas não com o propósito dos dons.
Alguns desejam ter o dom de pregar, e outros, os dons
miraculosos como falar em línguas ou curar, mas
podem não se importar absolutamente com o
propósito desses dons. Paulo era diferente. A
profunda preocupação no seu interior era a edificação
da igreja. Ele sabia quais dons eram úteis para isso.
Precisamos aprender com ele a nos importar com a
edificação da igreja. Se somos espirituais, maduros ou
dotados, isso é secundário. O primordial na economia
de Deus é a edificação da igreja. A ênfase de Paulo,
seu ponto principal no capítulo catorze, diz respeito a
qual dom é melhor, não para nós, mas para edificar a
igreja. Sim, Deus tem dado muitos dons, mas nem
todos são importantes com respeito à edificação da
igreja. Portanto, nesse capítulo, Paulo nos mostra
qual dom é superior para edificar a igreja.

VI. PROFETIZAR É SUPERIOR A FALAR EM


LÍNGUAS

A. Profetizar Edifica Mais a Igreja

1. Seguir o Amor e Desejar com Zelo os Dons


Espirituais, mas Principalmente o de
Profetizar
Em 14:1, Paulo diz: “Segui o amor e procurai,
com zelo, os dons espirituais, mas principalmente
que profetizeis”. Essa incumbência baseia-se na
revelação em 12:31 a 13:13. Seguir o amor é buscar
crescimento de vida para desenvolver os dons em
vida. Desse modo, isso tem de se ajustar a procurar
com zelo o dom mais proveitoso, o de profetizar.
Paulo foi muito sábio e redigiu o versículo 1 com
sabedoria. Nele, na verdade, ele não estava
encorajando os coríntios a buscar dons como curar,
fazer milagres e falar em línguas. Pelo contrário, sua
intenção era que buscassem o dom de profetizar.
Contudo, ele não lhes disse que se esquecessem de
todos os dons espirituais, exceto profecia. Ele lhes
disse que desejassem com zelo dons espirituais, mas
principalmente que profetizassem. Ele queria que
seguissem o que era melhor, o que era de maior valor.
Ele sabia que havia um alvoroço entre os coríntios e
eles precisavam ser acalmados. Por esse motivo, ele
usou de sabedoria, dizendo-lhes que o amor é a
melhor maneira de exercitar os dons, e depois os
exortou a seguir o amor e procurar com zelo os dons
espirituais, mas principalmente que profetizassem.
Já que profetizar é falar pelo Senhor e
expressá-Lo, isto é, ministrar Cristo aos outros, que é
o principal na reunião da igreja, isso exige a vida
divina como conteúdo. O amor é o caminho excelente
para experimentar a vida divina e tomá-la o conteúdo
do dom de profetizar para a edificação da igreja.
Assim, precisamos seguir o amor e procurar com zelo
os melhores dons.

2. A Comparação entre Falar em Línguas e


Profetizar
Nos versículos 2 e 3, Paulo diz: “Pois quem fala
em outra língua não fala a homens, senão a Deus,
visto que ninguém o entende, e em espírito fala
mistérios. Mas o que profetiza fala aos homens,
edificando, exortando e consolando”. A palavra do
apóstolo nos versículos 2 a 6 nos dá uma visão clara e
definida de que falar em línguas é muito menos
importante que profetizar. Ele categoricamente
menospreza o dom de línguas e exalta o dom de
profetizar porque sua principal preocupação é a
igreja, e não os crentes individualmente. Falar em
línguas, mesmo que seja autêntico e adequado,
somente edifica o que fala, mas profetizar edifica a
igreja. Profetizar com revelação ou ensinar com
conhecimento, com palavras claras e compreensíveis
é mais proveitoso para a igreja do que falar em
línguas com palavras desconhecidas; já a profecia,
isto é, expressar o Senhor, ministra Cristo aos outros,
ela os edifica e lhes dá encorajamento e consolação.
Gostaria de enfatizar que no Novo Testamento
profetizar não é principalmente predizer, mas falar
pelo Senhor e expressá-Lo. Mesmo em Isaías e
Jeremias, profetizar não é principalmente predição,
mas falar por Deus e expressá-Lo. É claro, o elemento
de predição está incluído. Por toda a Bíblia, profetizar
significa falar por Deus e expressá-Lo, e, em segundo
lugar, predizer. Profetizar é falar, expressar e também
predizer. Essa é a compreensão adequada de
profetizar na Bíblia.
Profetizar no sentido de falar ou expressar requer
muito crescimento de vida. Por isso, precisamos
conhecer Deus e experimentar Cristo. Sem o
conhecimento adequado de Deus e a experiência de
Cristo, não temos nada para dizer por Ele nem
conseguimos expressá-Lo. Profetizar no sentido de
predizer algo antes que aconteça é miraculoso e não
requer crescimento de vida.
Repetindo, em 1 Coríntios 12 e 14, o substantivo
profecia e o verbo profetizar não se referem
principalmente à predição, mas denotam
especialmente falar por Deus e expressá-Lo. Não
obstante, muitos que estão no pentecostalismo de
hoje ou no movimento carismático põem grande
ênfase no elemento de predição e negligenciam os
pontos mais importantes de falar por Deus e
expressá-Lo.
No versículo 4, Paulo continua: “O que fala em
outra língua a si mesmo se edifica, mas o que
profetiza edifica a igreja”. Profetizar, falar pelo
Senhor e expressá-Lo não só edificam os santos
individualmente, mas também a igreja. Falar em
línguas, pelo contrário, não edifica a igreja.
No versículo 5, Paulo prossegue: “Eu quisera que
vós todos falásseis em outras línguas; muito mais,
porém, que profetizásseis; pois quem profetiza é
superior ao que fala em outras línguas, salvo se as
interpretar para que a igreja receba edificação”. O que
estava no coração de Paulo não era que os coríntios
buscassem o dom de falar em línguas; era
encorajá-los a profetizar para que a igreja fosse
edificada. O seu encargo era a edificação da igreja.
Essa era a preocupação profunda em seu coração.
No versículo 6 Paulo pergunta: “Agora, porém,
irmãos, se eu for ter convosco falando em outras
línguas, em que vos aproveitarei, se vos não falar por
meio de revelação, ou de ciência, ou de profecia, ou de
doutrina?” Isso implica que falar em línguas não é
proveitoso para ninguém exceto para quem as fala.
Aqui novamente vemos a sabedoria de Paulo ao
escrever aos coríntios. Ele sabia que eles estavam
num tumulto e falou-lhes com certo cuidado a fim de
acalmá-los. Enfatizou-lhes que não lhes aproveitaria
a menos que lhes falasse em revelação, ciência,
profecia ou ensinamento.
No versículo 7, ele continua: “É assim que
instrumentos inanimados, como a flauta ou a cítara,
quando emitem sons, se não os derem bem distintos,
como se reconhecerá o que se toca na flauta ou
cítara?” A ilustração do apóstolo nos versículos 7 a 11,
indica que os crentes coríntios abusavam do falar em
línguas fazendo-o de forma desconexa, proferindo
“som incerto” (v. 8) “não (...) bem distintos” (v. 7),
“sem sentido” (v. 10). Eles também abusaram disso
praticando-o em qualquer lugar e situação. Dessa
forma, ele os corrige e restringe contra o seu abuso e
uso excessivo desse pequeno dom de proveito
mínimo, para que buscassem os maiores dons e
abundassem na edificação da igreja.
No versículo 7, Paulo definitivamente indica que
os coríntios deviam parar de emitir sons sem sentido.
Hoje, muitos praticam o falar em línguas de forma
sem sentido. Em muitos casos, os que falam não têm
idéia do que dizem.
No versículo 8, ele pergunta: “Pois também se a
trombeta der som incerto, quem se preparará para a
batalha?” Entre muitos pentecostais hoje em dia,
ninguém consegue se preparar para a batalha, porque
não há direção definida.
No versículo 9, ele diz: “Assim, vós, se, com a
língua, não disserdes palavra compreensível, como se
entenderá o que dizeis? Porque estareis como se
falásseis ao ar”. A língua aqui se refere à língua física,
e não a linguagem ou dialeto. Com certeza, nesse
versículo, Paulo não encoraja a prática de falar em
línguas.
O versículo 10 diz: “Há, sem dúvida, muitos tipos
de vozes no mundo; nenhum deles, contudo, sem
sentido”. A palavra grega traduzida por vozes é a
mesma que som nos versículo 7 e 8. Aqui denota
vozes, ou seja, linguagens.
O versículo 11 continua: “Se eu, pois, ignorar a
significação da voz, serei estrangeiro para aquele que
fala; e ele, estrangeiro para mim”. Literalmente, a
palavra grega traduzida por significação significa
poder, força. A palavra grega traduzida por
estrangeiro é bárbaros, e significa forasteiro, isto é,
não grego, alguém que não fala grego. “Supõe-se que
originalmente seja uma palavra descritiva dos que
tinham sotaques rudes, ásperos (...) Mais tarde, o
termo teve o sentido de estrangeiro ou rústico”
(Vincent)6.
No versículo 12, Paulo declara: “Assim também
vós, visto que desejais dons espirituais, procurai
progredir, para a edificação da igreja”. O verbo
desejar, literalmente é sois zelosos, ou zelotes. Por
esse versículo podemos ver que os crentes coríntios
eram zelosos, e até zelotes. Eles tinham se tornado
tais pessoas.
Nesse versículo, pelas palavras “progredir, para a
edificação da igreja”, vemos outra vez que o apóstolo
está totalmente impregnado com a preocupação pela
edificação da igreja. Ele é integralmente cônscio e
centrado na igreja, bem diferente dos coríntios
centrados em si mesmos. O problema deles com dons
espirituais era devido à sua busca em favor de si
mesmos, sem se importar com a edificação da igreja.
Ao lidar com os primeiros seis problemas, no âmbito
da vida humana, o apóstolo ressalta Cristo como a
única porção de Deus para nós. Ao lidar com os cinco
últimos problemas, no âmbito da administração

6
Marvin Richardson Vincent (1934-1922), professor e teólogo americano que publicou várias obras,
inclusive Word Studies of New Testament (Estudo de Vocábulos do Novo Testamento) em 1886. (N.T.)
divina, ele enfatiza a igreja como único objetivo de
Deus para nós. Os coríntios eram não só destituídos
de Cristo mas também ignoravam a igreja. O
ministério completivo do apóstolo (Cl I:25) é
composto de Cristo como mistério de Deus (Cl 2:2) e
a igreja como o mistério de Cristo (Ef 3:4). Contudo,
os coríntios tinham perdido ambos de vista, embora
estivessem sob o ministério do apóstolo. Eram
deploráveis em si mesmos, cegos e ignorantes.
Nos versículos 13 e 14, Paulo continua: “Pelo que,
o que fala em outra língua deve orar para que a possa
interpretar. Porque, se eu orar em outra língua, o meu
espírito ora de fato, mas a minha mente fica
infrutífera”. Usar e exercitar o espírito em oração
certamente é saudável para nossa vida espiritual, mas
ficar com a mente infrutífera e estática, é totalmente
não saudável. Precisamos exercitar o espírito
regenerado com a mente renovada ao orar ao Senhor.
A mente deve ser posta no espírito (Rm 8:6), nunca
desligada dele, mesmo no andar diário, desnecessário
dizer nas orações. A oração tem de provir de nosso
espírito que contata Deus e é contatado por Ele, e por
intermédio da mente sóbria e inteligível, com
palavras claras e compreensíveis, para que a oração
toque Deus, nutra e fortaleça a nós mesmos e edifique
os outros.
O versículo 15 diz: “Que farei, pois? Orarei com o
espírito, mas também orarei com a mente; cantarei
com o espírito, mas também cantarei com a mente”. A
palavra de Paulo acerca de oração “também (...) com
a mente” implica que ele encoraja os destinatários de
sua carta a orar não apenas em língua desconhecida,
mas também com palavras claras e inteligíveis.
A frase “com a mente” não quer dizer com a
mente apenas e sem o espírito. Em Efésios 6:18, o
apóstolo nos exorta a orar em todo o tempo no
espírito. Orar é adorar, que deve ser no espírito (Jo
4:24). Quando oramos com o espírito, não em língua
desconhecida, mas com palavras compreensíveis, a
mente é automaticamente usada para interpretar e
expressar a idéia do espírito. O que o apóstolo quer
dizer aqui é que, na reunião da igreja, para proveito
de todos os presentes, devemos orar com a mente
com palavras compreensíveis (1Co 14:19) para
expressar o encargo do espírito. Numa reunião da
igreja, a oração não só deve ser ouvida pelo Senhor
para Sua resposta, mas deve também ser inteligível a
todos os presentes, para o proveito deles. Para esse
propósito devemos também aprender a usar a mente
em orações públicas como fazemos com o espírito,
treinando-a para cooperar com o espírito, sendo um
com ele para que ele se torne o espírito de nossa
mente, ou entendimento (Ef 4:23).
O versículo 16 prossegue: “E, se tu bendisseres
apenas em espírito, como dirá o indouto o amém
depois da tua ação de graças? Visto que não entende o
que, dizes”. Isso revela que nas reuniões da igreja, na
época do apóstolo, quando alguém orava, os demais
diziam amém, até mesmo “o Amém”, à sua oração.
No versículo 17 Paulo novamente indica quanto
ele se preocupa com a edificação da igreja: “Porque
tu, de fato, dás bem as graças, mas o outro não é
edificado”. Isso indica que não só nosso profetizar e
ensinar nas reuniões da igreja devem edificar os
outros, mas também nossas orações e ações de graças
ao Senhor. Isso mostra o quanto o apóstolo se
preocupava com a edificação da igreja e com os
santos. Sua palavra nesse versículo não é somente
uma correção, mas uma exortação.
Os que advogam a prática de falar em línguas
gostam da palavra de Paulo no versículo 18: “Dou
graças a Deus, porque falo em outras línguas mais do
que todos vós”. Entretanto, freqüentemente parecem
esquecer-se de que a idéia de Paulo não é completada
no versículo 18, mas continua no 19, onde ele diz:
“Contudo, prefiro falar na igreja cinco palavras com o
meu entendimento, para instruir outros, a falar dez
mil palavras em outra língua”. Isso mostra como falar
palavras inteligíveis é necessário na reunião para a
edificação da igreja, e como falar em línguas de fato
não é necessário em absoluto. Por certo nesses
versículos Paulo não nos encoraja a falar em línguas.

B. Profetizar Convence Melhor as Pessoas


No versículo 20, Paulo prossegue: “Irmãos, não
sejais meninos no juízo; na malícia, sim, sede
crianças; quanto ao juízo, sede homens
amadurecidos”. Os crentes coríntios não eram
crianças somente em vida (3:1), mas também em
juízo, entendimento. Precisavam crescer, tanto em
vida como no entendimento. Ao lidar com todos os
problemas deles, o apóstolo tinha o propósito de que
amadurecessem em todos os aspectos.
A palavra grega traduzida por juízo também
significa pensamento, raciocínio, mente. Em grego, é
diferente da palavra mente nos versículos 15 e 19. Ela
“enfatiza a distinção de êxtase” (Vincent). Isso diz
respeito ao juízo, entendimento e pensamento dos
crentes coríntios acerca de falar em línguas. Eles
estavam extasiados com sua prática, sendo assim
infantis no entendimento acerca disso, não usando
adequadamente a mente como deve fazer um crente
amadurecido. O apóstolo os adverte a que cresçam e
se tornem amadurecidos no entendimento, isto é, no
uso adequado da mente, como ele usa a sua (v. 19), na
questão de falar em línguas. Os crentes coríntios
infantis precisavam amadurecer no entendimento
para saber as coisas mencionadas nos versículos 21 a
25.
O versículo 21 diz: “Na lei está escrito: Falarei a
este povo por homens de outras línguas e por lábios
de outros povos, e nem assim me ouvirão, diz o
Senhor”. A lei nesse versículo se refere ao Antigo
Testamento. Essa palavra em Isaías 28:9-13 indica
que o falar em línguas estranhas era um corretivo à
incredulidade dos filhos de Israel para com a palavra
inteligível de Deus. Assim, a citação do apóstolo dessa
palavra implica que os coríntios não tinham recebido
adequadamente a revelação inteligível de Deus
mediante os apóstolos.
O versículo 22 continua: “De sorte que as línguas
constituem um sinal não para os crentes, mas para os
incrédulos; mas a profecia não é para os incrédulos, e
sim para os que crêem”. “De sorte que” no início
desse versículo indica que de acordo com a palavra no
versículo 21, a qual é uma citação de Isaías 28, línguas
são um sinal negativo para os incrédulos,
representando sua condição miserável de
incredulidade. Isso implica que sempre que ou onde
quer que uma língua estranha seja falada, há
incredulidade nas pessoas. A intenção do apóstolo
aqui é restringir os coríntios quanto à prática
excessiva de falar em línguas. Profecia, porém, é para
sinal positivo aos que crêem, representando sua
condição adequada de credulidade. Isso é um
encorajamento para a prática de profetizar. O fato de
línguas ser um sinal aos incrédulos indica que os que
querem receber o dom de línguas talvez tenham um
coração maligno de incredulidade.
O versículo 23 diz: “Se, pois, toda a igreja se
reunir no mesmo lugar, e todos se puserem a falar em
outras línguas, no caso de entrarem indoutos ou
incrédulos, não dirão, porventura, que estais loucos?”
A palavra de Paulo sobre todos falarem em línguas se
refere a todos os que funcionam, não a todos os
presentes na reunião. Se numa reunião todos os que
funcionam falarem em línguas, outros podem
considerar que estão loucos. Daí, encorajar todos a
falar em língua na reunião da igreja não está certo; é
contrário à palavra de Paulo.
A palavra grega traduzida por louco significa
insano, doido. Esse vocábulo é um desencorajamento
enfático à prática excessiva de falar em línguas.
No versículo 24, Paulo diz: “Porém, se todos
profetizarem, e entrar algum incrédulo ou indouto, é
ele por todos convencido e por todos julgado”. A frase
“todos profetizarem” se refere a todos os que
funcionam, e não a todos os membros da igreja na
reunião. Se todos os que funcionam profetizarem na
reunião da igreja, isso vai convencer os demais. Esse
tipo de profecia não deve ser principalmente para
predizer, mas falar pelo Senhor e expressá-Lo.
A questão de ser convencido por todos, julgado
por todos, não deve ser uma profecia de predição,
mas de falar pelo Senhor e expressá-Lo. Essa palavra
é também um encorajamento à prática de profetizar.
No versículo 25, Paulo conclui: “Tornam-se-lhe
manifestos os segredos do coração, e, assim,
prostrando-se com a face em terra, adorará a Deus,
testemunhando que Deus está, de fato, no meio de
vós”. Isso implica que profetizar, falar por Deus e
expressá-Lo, tendo Deus como conteúdo, ministra
Deus aos ouvintes e os conduz a Ele. Também indica
que a reunião da igreja deve ser cheia de Deus e todas
as suas atividades devem conduzir e transmitir Deus
aos outros para que sejam saturados Dele.
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM SESSENTA E DOIS
OS DONS (6)
O PROBLEMA ACERCA DE FALAR EM LÍNGUAS HOJE
EM DIA

Leitura Bíblica: 1Co 12:4-31; 14:1-25


Ao lidar com os dons, Paulo enfatiza seis pontos:
o falar, o Espírito, o Corpo, a administração de Deus,
o amor e a superioridade da profecia para edificação
da igreja. No capítulo doze, ele fala do Corpo muitas
vezes, pelo menos dezoito vezes. No capítulo catorze,
porém, ele fala da edificação da igreja. Assim, no
capítulo doze, temos o Corpo e no catorze, a igreja.

O CORPO E A IGREJA
O Corpo e a igreja são sinônimos, ambos se
referem à mesma coisa. O Corpo é a igreja e a igreja é
o Corpo. Entretanto, no capítulo doze, Paulo enfatiza
o Corpo e no catorze, a igreja. Há uma distinção entre
os dois. O Corpo é um organismo para Cristo, como
vida dos crentes, crescer e expressar-Se. A igreja é
uma assembléia para Deus operar Sua administração.
Cristo, que é vida, é a essência do Corpo, que é uma
entidade orgânica. Esse organismo não visa a uma
organização; visa viver a fim de expressar Cristo.
Cristo é a essência do Seu Corpo e Seu Corpo é uma
entidade orgânica que vive, cresce e amadurece com
Ele até que, por fim, O expresse.
Em 12:12-27, a idéia principal não é atividade ou
empreendimento, mas é que o Corpo é um organismo
para viver, crescer, amadurecer e expressar Cristo
como essência interior. Por esse motivo, o versículo 3
nos diz que quando dizemos “Senhor Jesus”, estamos
no Espírito. É o Espírito que nos introduz no Corpo,
pois Ele é o Espírito que dá vida, o Espírito de vida, e
não apenas o Espírito de Deus encontrado em
Gênesis 1:3. Já recebemos o Espírito que nos introduz
no Corpo organicamente.
Em Romanos 10:13, Paulo diz: “Todo aquele que
invocar o nome do Senhor será salvo”. Precisamos
colocar esse versículo junto com Atos 2:21: “E
acontecerá que todo aquele que invocar o nome do
Senhor será salvo”. Em Atos 2, ser salvo é receber os
dons iniciais do Espírito. Receber o Espírito como
dom inicial equivale a ser salvo. Isso não ocorre
somente crendo, mas também invocando o Senhor.
Todos os que de fato crêem no Senhor Jesus também
a invocam e dizem: “Senhor Jesus”. Se dissermos
“Senhor Jesus”, o Espírito entrará em nós, e nós
estaremos Nele. a Espírito é o pneuma, o sopro, o ar
para respirarmos. É impossível respirar sem inalar o
ar. Quando respiramos, o ar está em nós e estamos no
ar. Igualmente, quando invocamos o Senhor Jesus,
estamos no Espírito que dá vida, e isso nos introduz
no Corpo.
De acordo com 12:13, no Espírito fomos
batizados no Corpo.
A água do batismo é um símbolo de ser batizado
no Deus Triúno (Mt 28:19) e batizado em Cristo (Gl
3:27; Rm 6:3). Quando fomos batizados em Cristo,
fomos batizados no Seu Corpo e nos tornamos parte
desse Corpo orgânico. Primeira Coríntios 12
claramente revela que nos tornamos membros do
Corpo orgânico de Cristo. Aleluia, estamos agora no
Corpo! Já invocamos “Senhor Jesus” e fomos
introduzidos no Espírito, este por sua vez nos
introduziu no Corpo e agora estamos organicamente
no Corpo.
Depois de falar tanto sobre o Corpo em 12:12-27,
Paulo começa a falar da igreja no versículo 28: “A uns
estabeleceu Deus na igreja, primeiramente,
apóstolos; em segundo lugar, profetas; em terceiro
lugar, mestres; depois, operadores de milagres;
depois dons de curar, socorros, governos, variedades
de línguas”. A igreja visa à administração de Deus.
Quando Paulo menciona a igreja, sua ênfase não está
numa entidade orgânica, mas na administração de
Deus. a Corpo visa à expressão de Cristo, a igreja visa
à administração de Deus. No capítulo catorze, o
conceito de Paulo não se relaciona principalmente
com o crescimento orgânico, mas com a
administração governamental. No capítulo doze, a
ênfase está na vida; no catorze, está no governo.
Portanto, podemos usar o termo “expressão orgânica”
para descrever o capítulo doze e o termo
“administração governamental” para descrever o
catorze. Além disso, a edificação da igreja visa à
administração, mas a edificação do Corpo visa à
expressão de Cristo organicamente. Para expressar
Cristo precisamos do Corpo; para levar a cabo a
administração divina, precisamos da igreja. Por esse
motivo, o capítulo doze ressalta o Corpo
organicamente para crescimento e expressão de
Cristo, mas o catorze salienta a igreja no aspecto
governamental para levar a cabo o propósito eterno
de Deus.
Neste ponto, gostaria de fazer uma pergunta
relacionada com o falar em línguas. Para o Corpo
crescer organicamente e expressar Cristo, o falar em
línguas pode ser útil? Precisamos responder essa
pergunta cuidadosamente. Seria errado dizer que
essa prática não é útil para o crescimento do Corpo.
Falar em línguas relaciona-se um pouco com o
Espírito e o Espírito é para o Corpo. Por esse motivo,
não devemos dizer que essa prática jamais poderia
ser útil ao Corpo. a fator crucial diz respeito à nossa
percepção acerca de falar em línguas e nossa
aplicação disso. Se aplicar o falar em línguas somente
à sua busca pessoal, isso vai prejudicar o Corpo. Mas
se buscar essa prática com vistas ao Corpo e
importar-se com ele, então seu falar em línguas será
útil ao Corpo. Alguns entre nós têm testificado que
falar em línguas os estimulou interiormente a buscar
Cristo. Isso é um fato que não pode ser negado.
Certamente buscar Cristo é pelo Espírito e para o
Corpo. Entretanto, os que são estimulados pelo
Espírito, mediante falar em línguas, a buscar Cristo
podem não perceber que sua busca deve ser para o
Corpo. Nesse caso, sua percepção acerca de falar em
línguas é um pouco limitada. Para que seja útil ao
Corpo, o falar em línguas depende da percepção e
aplicação corretas.
Agora deixe-me fazer outra pergunta: Falar em
línguas é útil à edificação da igreja para a
administração de Deus? A resposta a essa pergunta é
um não claro e definido. Principalmente nos moldes
de hoje, essa prática não é útil para a administração
de Deus. Pelo contrário, caso após caso, isso
prejudica a igreja, demole a administração de Deus e
destrói o governo divino.

OS ESCRITOS DE PAULO E JOÃO


Primeira Coríntios foi escrito em Éfeso. Ao
escrever essa Epístola, a intenção de Paulo era
corrigir e ajustar a igreja em Corinto. Essa igreja
estava em confusão, tanto na vida cristã como em
relação à administração de Deus. A intenção de Paulo
era equilibrar os coríntios, resgatá-los dos seus
desvios e conduzi-los de volta à linha central da
economia de Deus. Quando escreveu essa Epístola,
Paulo desfrutava a excelente vida da igreja em Éfeso.
O livro de Romanos foi escrito em Corinto.
Depois de escrever 1 Coríntios, Paulo deixou Éfeso e
visitou Corinto. Como diz em 2 Coríntios, ele
retardou sua ida até eles porque queria poupá-los e
não ir em tristeza. Mas, visto que eles se
arrependeram e foram corrigidos após receber sua
primeira Epístola, Paulo ficou contente e foi a Corinto
vê-los. Enquanto estava em Corinto, ele escreveu a
Epístola aos Romanos.
Romanos é um esboço básico, um esboço-guia da
vida cristã e da igreja. Nesse livro, Paulo não diz uma
palavra sequer sobre falar em línguas ou cura divina.
Ele sabia, pela sua experiência em Corinto, quanto a
igreja fora prejudicada pelo falar em línguas e pela
assim chamada cura milagrosa. Nessa época, Corinto
era um foco de tais coisas. Muitos eram
extremamente entusiastas do falar em línguas e
ficavam extasiados ao ver coisas miraculosas.
Entretanto, por essas mesmas coisas, a igreja foi
arruinada e destruída. Percebendo o dano que isso
causou à igreja em Corinto, Paulo foi muito sóbrio ao
escrever o livro de Romanos.
Em Romanos 12, Paulo fala da função dos dons
adequados no Corpo do Senhor. Repito: ele aí não diz
uma palavra sequer sobre falar em línguas ou cura
divina. Antes, enfatiza ter misericórdia, amar uns aos
outros e buscar a hospitalidade. Isso indica que ele
era o primeiro a menosprezar o falar em línguas. A
sua atitude em seu ministério completivo para com o
falar em línguas é menosprezá-lo.
Se é essa a atitude de Paulo em seu ministério
completivo, então qual é a de João em seu ministério
reparador? João diz algo sobre falar em línguas, cura
divina ou milagres em sua primeira Epístola? Não; o
que ele diz ali se baseia em seu Evangelho. Em João
7:37-39, ele ressalta que todos os que crêem em
Cristo recebem o Espírito e de seu ser fluem rios de
água viva. Isso se refere não ao Espírito quanto a falar
em línguas ou cura, mas ao Espírito da vida. Os
crentes em Cristo bebem o Espírito da vida. Então, do
seu interior, fluem rios de água viva. Isso é o que João
diz no Evangelho. Na primeira Epístola, ele ainda fala
da unção que temos em nós. Ele não fala do ungüento
sobre nós, mas da unção em nós. Em nós temos o
Espírito de vida e esse Espírito é o ungüento com que
somos ungidos. Esse ungüento é tipificado em Êxodo
30 pelo óleo composto com as especiarias. Essa unção
é experimentada não de maneira miraculosa, mas de
forma espontânea na vida diária. Portanto, com isso
vemos que João é um com Paulo ao não enfatizar o
falar em línguas, cura ou milagres.
O que João diz sobre o Espírito em Apocalipse?
Ele não diz nada sobre falar em línguas ou cura
divina, mas fala dos sete Espíritos. De acordo com
Apocalipse 4:5, esses sete Espíritos são sete lâmpadas
brilhando com algo nelas. Essas sete lâmpadas não
brilham de maneia miraculosa; pelo contrário,
brilham de maneira normal.
Em Apocalipse 4 temos os sete Espíritos de Deus
como as sete lâmpadas, mas no capítulo vinte e dois,
temos o Espírito tipificado pelo rio que flui do trono
de Deus e do Cordeiro para regar a Nova Jerusalém.
Novamente, nada é dito sobre falar em línguas. Se
falar em línguas fosse tão importante, tão crucial,
com certeza Paulo e João o teriam enfatizado.

RAZÕES PARA NÃO INCENTIVAR O FALAR


EM LÍNGUAS
Meu desejo é falar por Cristo e expressá-Lo.
Contudo, principalmente como ajuda aos jovens,
tenho encargo de deixar claro por que não encorajo o
falar em línguas. Embora não me oponha a essa
prática, não a encorajo. Meus motivos se baseiam em
experiência e observação.
Não incentivo o falar em línguas de hoje porque
isso pode ser comparado a ópio ou morfina. Os
médicos sabem que ópio e morfina podem ser úteis
para lidar com certas dores ou doenças, mas a
dosagem tem de ser limitada e o uso restrito. Usado
sob direção adequada e com limites adequados, o
ópio e a morfina podem ser úteis. O perigo é tomar-se
viciado nessas drogas. Uma vez que a pessoa fica
viciada ao ópio ou à morfina, o resultado é terrível.
Muitos podem praticar o falar em línguas por algum
tempo e depois desistir. Outros, todavia, tomam-se
viciados nisso. Podem tomar-se viciados a tal ponto
que, quando se reúnem, não se importam com nada
mais. São tão a favor de falar em línguas que não se
preocupam nem mesmo se a língua é autêntica ou
não.
Em segundo lugar, a longo prazo, o falar em
línguas não ajuda os crentes a crescer em vida. Pelo
contrário, o vício dessa prática pode levar a dar lugar
à concupiscência. Sim, alguns têm testificado que
falar em línguas estimula algo neles a buscar Cristo.
Esse é o resultado apropriado dessa prática, mas os
que se tomam viciados nisso só se importam com seu
êxtase; não se importam com a sobriedade. Como
conseqüência, há muitos casos de fornicação entre
eles.
Em terceiro lugar, os que se tomaram viciados
em falar em línguas não têm ouvidos para a palavra
da cruz e as coisas mais profundas acerca de Cristo.
Não se interessam em como a cruz de Cristo lida com
a carne e o ego. Não se importam com a palavra
sóbria de justiça. São como madeira estragada por
um mau carpinteiro e não pode ser usada para
mobília melhor. Não têm sentimento pelas coisas
profundas de Cristo ou a vida em ressurreição. Por
exemplo, podem não querer ouvir todas as
mensagens que demos sobre 1 Coríntios e sobre os
quatro livros que compõem o coração da revelação
divina: Gálatas, Efésios, Filipenses e Colossenses.
Pelo contrário, gostam de prestar atenção a Atos 2 e 1
Coríntios 12 e 14. Entretanto, usam mal esses trechos
da Palavra. Não têm desejo de ouvir algo sóbrio.
Devido ao encargo que recebi do Senhor e Sua
comissão, preocupo-me com a possibilidade de o
pentecostalismo se esgueirar na restauração do
Senhor. Se isso acontecer, a restauração será
prejudicada. Isso não quer dizer, todavia, que me
oponho ao falar em línguas autêntico. Uma vez
autêntica, essa prática vem de Deus e não me oponho
a ela. Entretanto, não incentivo o falar em línguas de
hoje em dia. Além disso, mesmo os líderes do
movimento pentecostal têm feito ajustes através dos
anos. Eles perceberam que sem certos ajustes, não
seriam capazes de levar a cabo sua obra. Soube que na
escola da Assembléia de Deus em Springfield,
Missouri, os alunos aprendem a enfatizar o
ensinamento, e não a falar em línguas nas reuniões da
congregação, e a encorajar as pessoas a falar em
línguas em particular. Contudo, a prática de falar em
línguas ainda tem estorvado muitos santos queridos
no crescimento de vida.
Em quarto lugar, nenhum cristão é tão
independente e faccioso como o que promove o falar
em línguas. Todo aquele que fala em línguas é
independente, individualista e faccioso. Ele se
importa apenas consigo mesmo. Com isso, vemos que
o inimigo penetra sorrateiramente usando algo que
pode ser de Deus a fim de prejudicar Sua
administração. No pentecostalismo e nos
movimentos carismáticos não há edificação, nem
Corpo, nem vida, nem preocupação pela unidade, e
nada da administração divina.
Agora podemos compreender o conceito de
Paulo em 1 Coríntios e conhecer o encargo em seu
espírito e coração quando escrevia esse livro. Ele
estava profundamente preocupado com o Corpo de
Cristo e a administração de Deus. Ele conhecia o
coração e o plano de Deus. Sabia que o propósito de
Deus é ter um Corpo para fazer Cristo crescer e
expressá-Lo e também ter a igreja para levar a cabo a
administração divina. O falar em línguas hoje tem
sido usado pelo inimigo para estorvar o crescimento
do Corpo e prejudicar a edificação da igreja para a
administração de Deus. Por isso, não posso incentivar
essa prática, mas quero dizer novamente que não me
oponho ao autêntico falar em línguas. Não endosso J.
N. Darby ao dizer que dispensacionalmente o falar
em línguas acabou. Não; ainda é possível haver o
verdadeiro falar em línguas, mas isso tem de ser
praticado de forma correta.
Falar em línguas causa muito mais perda do que
proveito. Em cada uma das três vezes que tentamos
adotar essa prática na vida da igreja, sofremos perda.
Nossa esperança é que a restauração do Senhor seja
preservada do dano causado pelo falar em línguas de
hoje em dia e prossiga na forma pura de vida, não
estragada por qualquer mistura.
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM SESSENTA E TRÊS
OS DONS (7)

Leitura Bíblica: 1Co 14:26-40


Por todos esses anos, muito tem sido falado e
escrito acerca de 1 Coríntios 14:26-40. O motivo disso
é que no Novo Testamento não há uma palavra clara
que nos diga como os cristãos devem reunir-se ou
funcionar nas reuniões da igreja. Esse trecho de 1
Coríntios é considerado por alguns como o único no
Novo Testamento que parece dizer-nos como
funcionar nas reuniões. Todavia, quanto mais
estudamos esses versículos, mais intrigados ficamos.
Mas, visto que Paulo incluiu essa seção em 1
Coríntios, precisamos estudá-la cuidadosamente.
Na Versão Restauração de 1 Coríntios, o subtítulo
de 14:26-40 é “Como Funcionar na Reunião da
Igreja”. Na verdade, não gosto do termo “como”. O
Novo Testamento é a palavra do Espírito, e não a
palavra de “como” fazer as coisas. A mente humana
sempre deseja saber como fazer determinada coisa.
Esse desejo é um pouco natural. Às vezes, porém, é
impossível evitar usar o termo “como”. Por isso, usei
esse termo como subtítulo para esse trecho de 1
Coríntios.

VII. COMO FUNCIONAR NA REUNIÃO DA


IGREJA

A. Cada Um
No versículo 26, Paulo diz: “Que fazer, pois,
irmãos? Quando vos reunis, um tem salmo, outro,
doutrina, este traz revelação, aquele, outra língua, e
ainda outro, interpretação. Seja tudo feito para
edificação”. “Tem” é usado cinco vezes nesse
versículo, é a tradução do verbo grego écho,
amplamente usado, com muitos significados, três dos
quais são os principais: 1) manter, possuir, guardar
certa coisa; 2) ter determinada coisa para desfrute; 3)
ter os meios ou poder de fazer algo. Os dois primeiros
significados devem ser aplicados aos primeiros três
itens citados nesse versículo: salmo, ensinamento,
revelação, e o terceiro sentido, aos dois últimos:
língua e interpretação. Isso indica que, ao ir à reunião
da igreja, devemos ter algo do Senhor para
compartilhar com os demais, seja 1) salmo para
louvar o Senhor, 2) ensinamento (de mestre) para
ministrar as riquezas de Cristo a fim de aperfeiçoar e
nutrir os outros, 3) revelação (de profeta, v. 30) para
mostrar visões do propósito eterno acerca de Cristo
como o mistério de Deus e a igreja como o mistério de
Cristo, 4) línguas como sinal para os incrédulos (v.
22) para que conheçam e aceitem Cristo, ou 5)
interpretação para tornar compreensível a língua
acerca de Cristo e Seu Corpo. Antes de ir às reuniões,
devemos preparar-nos para ela com tais coisas do
Senhor e da parte Dele, quer mediante nossa
experiência Dele quer por intermédio do desfrute da
Palavra e comunhão com Ele em oração. Depois de
entrar na reunião, não devemos esperar por
inspiração; não há necessidade de esperar. Devemos
exercitar o espírito e usar a mente treinada para
funcionar, apresentando o que preparamos ao Senhor
para Sua glória e satisfação, e aos presentes para seu
benefício: iluminação, nutrição e edificação. É como a
festa dos tabernáculos nos tempos antigos: os filhos
de Israel levavam para a festa o produto da boa terra
colhido pelo seu labor na terra, e o ofereciam ao
Senhor para Seu desfrute e mútua participação em
comunhão com o Senhor e uns com os outros.
Precisamos laborar em Cristo, nossa boa terra, para
colher algum produto de Suas riquezas a fim de levar
à reunião da igreja como oferta. Assim, a reunião será
uma exibição de Cristo em Suas riquezas e desfrute
mútuo do Cristo partilhado por todos os presentes
uns com os outros perante Deus e com Ele, para a
edificação dos santos e da igreja.
De acordo com a ênfase e o realce dessa Epístola,
as cinco coisas citadas nesse versículo devem enfocar
Cristo como centro de Deus como nossa porção, e a
igreja como o objetivo de Deus como nosso alvo. O
salmo deve ser para louvor a Deus por ter dado Cristo
como sabedoria e poder para nossa vida diária e da
igreja. O ensinamento de um mestre e a revelação de
um profeta devem ensinar e ministrar Cristo, com a
igreja como Seu Corpo, aos outros. Língua e sua
interpretação devem também ter Cristo com a igreja
como centro e conteúdo. Qualquer ênfase em coisas
afora Cristo e a igreja irá confundir e desviar a igreja
do caminho central da economia de Deus do Novo
Testamento e tomá-la como a igreja de Corinto.
No versículo 26, Paulo nos diz que tudo deve ser
feito para edificação. Tudo o que fazemos na reunião
da igreja tem de ser para edificação dos santos e da
igreja. Exibir Cristo e desfrutá-Lo em nossas reuniões
para a edificação de Seu Corpo tem de ser nosso único
propósito e objetivo.
No versículo 26, a palavra “tem” é muito
importante. Segundo Paulo, toda vez que nos
reunimos, devemos ter algo. Paulo não diz “terá” ou
“teria”; ele fala no presente para denotar o fato e diz
que cada um de nós tem algo. Ademais, não diz que
somente alguns, ou muitos ou a maioria tem. Ele diz
que cada um “tem” algo. Ele, então, menciona cinco
coisas na seguinte seqüência: salmo, ensinamento,
revelação, língua e interpretação. Essa lista não é
todo-inclusiva, mas é ilustrativa. Ele menciona salmo
primeiro, e línguas e interpretação por último. Ele as
cita por último porque nesse capítulo ele está atento à
edificação da igreja para a administração de Deus.
O fato de Paulo mencionar salmo em primeiro
lugar indica que na reunião da igreja louvar ao
Senhor tem de ser primordial. Salmo equivale, em
certo sentido, a hino. No movimento pentecostal de
hoje cantam-se versículos bíblicos. Todavia, a maioria
desses versículos é do Antigo Testamento. Duvido
que haja algum cântico sobre Cristo como o mistério
de Deus ou a igreja como o mistério de Cristo. Você
alguma vez ouviu que na reunião pentecostal se canta
Efésios 1, 3 ou 4? Precisamos escrever músicas sobre
esses capítulos e outros trechos dos livros que
compõem o coração da revelação divina: Gálatas,
Efésios, Filipenses e Colossenses. Precisamos cantar
sobre como aprouve a Deus revelar Seu Filho em nós;
sobre Cristo viver em nós e com Ele termos sido
crucificados; sobre andar no Espírito e segundo o Seu
controle; sobre a necessidade de espírito de sabedoria
e de revelação para que conheçamos a esperança do
chamamento de Deus, a glória de Sua herança nos
santos e a grandeza do Seu poder exercido para
ressuscitar Cristo e pô-Lo nos céus; sobre a igreja
como a plenitude de Cristo, Aquele que a tudo enche
em todas as coisas; sobre a necessidade de ser
fortalecidos com poder no homem interior pelo
Espírito de Deus para que Cristo habite em nosso
coração e para que possamos compreender com todos
os santos as dimensões universais de Cristo até a
plenitude de Deus; sobre um só Corpo, um só
Espírito, um só Senhor, uma só fé, um só batismo e
um só Deus e Pai de todos; sobre andar na verdade de
Jesus para nos despir do velho homem, vestir-nos do
novo homem, e ser renovados no espírito da nossa
mente para ter a realidade do novo homem; sobre a
provisão abundante do Espírito de Jesus Cristo; sobre
engrandecer Cristo, vivê-Lo, ser achados Nele,
buscá-Lo e ter o conhecimento excelente Dele; sobre
Cristo, o Amado, como a imagem do Deus invisível, o
Primogênito da criação. Vamos aprender a cantar
versículos desses quatro livros bem como de
Romanos, 1 e 2 Coríntios e Hebreus. Ao cantar,
precisamos ser levados ao padrão da economia do
Novo Testamento.
Nosso hinário7 contém mais de mil e trezentos
hinos. Quando o compilamos, selecionamos hinos
que Deus deu ao Seu povo através dos séculos. Isso
prova que estamos longe de ser facciosos; pelo
contrário, somos todo-inclusivos. Mas agora
precisamos avançar, escrevendo mais hinos e
cânticos sobre o ministério completivo de Paulo e o
ministério reparador de João. Precisamos de muitos
cânticos sobre Romanos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas,
Efésios, Filipenses, Colossenses, 1 e 2 Timóteo, Tito,
Filemom e Hebreus. Também precisamos de cânticos
e hinos sobre o Evangelho de João, 1 João e
Apocalipse. Vamos cantar hinos escritos sobre João
7
Hymns, publicado pelo Living Stream Ministry. (N.T.)
15, sobre permanecer em Cristo e Cristo em nós.
Vamos também cantar sobre os sete candelabros, as
sete tochas de fogo e o rio que flui no livro de
Apocalipse.
Ao cantar e usar o hinário, não devemos ser
tradicionais. Nosso cantar e louvar não devem ser
principalmente sobre Deus como Criador ou Suas
dispensações ao lidar com a humanidade, mas
principalmente sobre a economia neotestamentária
de Deus. Por exemplo, precisamos cantar acerca do
Deus Triúno processado.
Espero que nos anos por vir, haja grande
mudança em nosso cantar, e em nosso hinário
também. Ao cantar e louvar, ainda estamos um pouco
sob a influência da tradição. Acerca disso, precisamos
deixar a maneira tradicional e voltar totalmente à
economia neotestamentária de Deus.
Os crentes na época de Paulo podem ter cantado
os Salmos do Antigo Testamento. Os escritores do
Antigo Testamento não tinham revelação clara acerca
da igreja como o mistério de Cristo. Uma vez que essa
questão não está mais oculta, precisamos escrever
hinos acerca disso com base na revelação do Novo
Testamento. Paulo escreveu catorze Epístolas e
precisamos cantá-las. Contudo, talvez fiquemos
retidos pela atmosfera e influência do cristianismo
tradicional. Novamente, encorajo todos a escrever
hinos sobre a economia do Novo Testamento. Vamos
cantar hinos sobre o ministério completivo de Paulo e
o ministério reparador de João.
Depois de dizer “um tem salmo”, Paulo também
menciona ensinamento, revelação, língua e
interpretação. Os ensinamentos têm de ser de acordo
com os ensinamentos dos apóstolos, e a revelação
tem de mostrar algumas coisas antes ocultas que
agora foram reveladas. Nas reuniões precisamos de
uma palavra de ensinamento e também de uma
palavra dê revelação. Já enfatizamos que o
ensinamento de um mestre e a revelação de um
profeta devem ensinar e ministrar Cristo com a igreja
como Seu Corpo. Em princípio, o mesmo deve
aplicar-se a línguas e sua interpretação: devem ter
Cristo com a igreja como o centro e conteúdo. Isso
quer dizer que devem ser centradas em Cristo como
mistério de Deus, e a igreja como mistério de Cristo, e
não em outras coisas. O falar em línguas adequado
deve ser pertinente a Cristo e a igreja. Isso se baseia
no contexto de todo o livro de 1 Coríntios, que fala de
Cristo como a sabedoria e poder de Deus e as
profundezas de Deus, e da Igreja como Corpo para
expressar Cristo e o meio de levar a cabo a
administração de Deus.
O cantar e falar entre os pentecostais hoje é
carente da visão da economia neotestamentária de
Deus. Eles carecem da revelação divina; por isso, o
seu cantar e falar estão no âmbito natural. Somos
gratos ao Senhor porque Sua restauração está em
outra esfera, uma esfera espiritual, celestial, a esfera
de Cristo e a igreja. Todavia, ainda precisamos que
nossa compreensão e entendimento sejam
aperfeiçoados. Precisamos orar para que o Senhor
nos faça voltar totalmente do âmbito natural para o
celestial, o âmbito espiritual, para que tudo o que
dissermos e fizermos nas reuniões vise levar a cabo a
economia neotestamentária de Deus. Espero que em
todas as reuniões de todas as igrejas essa seja a
situação, e as reuniões sejam cheias do falar acerca de
Cristo e a igreja.
B. Falar em' Línguas
Nos versículos 27 e 28, Paulo prossegue acerca
do falar em línguas: “No caso de alguém falar em
outra língua, que não sejam mais do que dois ou
quando muito três, e isso sucessivamente, e haja
quem interprete. Mas, não havendo intérprete, fique
calado na igreja, falando consigo mesmo e com
Deus”. O uso que Paulo faz da palavra igreja no
versículo 28 indica que a reunião da igreja é a igreja.
Nesses versículos, vemos que ele em absoluto não
negligenciou o falar em línguas, mas, em vez disso,
deu alguns regulamentos a esse respeito. Dois ou no
máximo três podem, um por vez, falar em línguas, e
alguém deve interpretá-las. Entretanto, em algumas
reuniões cristãs hoje, todos são encorajados a falar
em línguas. Os que assim praticam certamente
precisam prestar atenção a esses versículos e
aprender a falar um de cada vez. A espera que isso
exige vai regulá-los e testá-los. Mas, se não houver
intérprete presente, que fiquem em silêncio na
reunião e falem para si mesmos e para Deus. Ao
considerar esses versículos, vemos que, segundo os
regulamentos dados por Paulo, uma reunião cristã
não deve ser conduzida como algumas reuniões
pentecostais de hoje.

C. Profetizar
O versículo 29 diz: “Tratando-se de profetas,
falem apenas dois ou três, e os outros julguem”. De
acordo com esse versículo, numa reunião, dois ou três
profetas podem falar e os outros profetas devem
discernir, julgar. A palavra “outros” aqui se refere aos
outros profetas. Os versículos 29 a 32 falam somente
dos profetas, e não de todos os membros da igreja. Os
outros profetas devem discernir, julgar (lit.:
discriminar), o que é proferido pelos profetas. Isso é
julgar ou discernir se o que é profetizado vem de Deus
ou não, discriminar o verdadeiro do falso. Isso indica
que alguma profecia pode não ser de Deus.
No versículo 30, Paulo continua: “Se, porém, vier
revelação a outrem que esteja assentado, cale-se o
primeiro”. “Outrem” se refere a outro profeta e o
“primeiro” se refere ao primeiro profeta. Dessa
forma, o versículo 30 se refere aos profetas, e não a
todos os presentes na reunião da igreja.
O versículo 31 diz: “Porque todos podereis
profetizar, um após outro, para todos aprenderem e
serem consolados”. Segundo o contexto dos
versículos 29 a 32, “todos” (que aparece duas vezes)
se refere aos profetas, não a todos os membros da
igreja. A palavra grega traduzida por consolados aí
também quer dizer encorajados. Até os profetas
precisam aprender e ser encorajados.
No versículo 32, Paulo diz: “E os espíritos dos
profetas estão sujeitos aos profetas” (VRC). O “E”
prova que o que é mencionado no versículo anterior
diz respeito aos profetas, e não a todos os membros
da igreja. Dizer que os espíritos dos profetas estão
sujeitos aos profetas significa que eles não estão
debaixo do controle de seu espírito, mas seu espírito
está debaixo de seu controle. Assim, eles podem
determinar quando profetizar e quando parar para
manter boa ordem na reunião da igreja. O espírito
deles não é o amo deles, mas o meio de funcionar.
Eles devem aprender a exercitar e usar o espírito a
seu bel-prazer.
O versículo 32 indica claramente que nosso
espírito deve estar sujeito a nós, e não nós a ele.
Todavia, alguns no pentecostalismo de hoje se
desculpam dizendo que tudo o que fazem nas
reuniões está de acordo com o espírito. Dizem que
foram conduzidos pelo seu espírito. Por exemplo,
alguém pode gritar e não se importar com nada e
ninguém mais. Se alguém lhe perguntar por que grita
tão alto, ele pode replicar: “Isso não está em meu
poder; sou conduzido pelo espírito”. Isso é contrário à
palavra de Paulo. Ele diz categoricamente que não
devemos estar sujeitos ao espírito, e, sim, o espírito a
nós.
Por anos a fio, tenho enfatizado a necessidade de
exercitar o espírito. Isso implica que nosso espírito
está sujeito a nós. Exercitamos o espírito; não é o
espírito que nos exercita. Você exercita o espírito ou o
espírito exercita você? A expressão “exercitar o
espírito” diz respeito aos que têm mente sóbria,
principalmente aos que tendem a sentar-se quietos
nas reuniões. Todos eles precisam exercitar o espírito,
mas aos que são como os coríntios, conduzidos pelo
seu êxtase, Paulo diria: “Não vos sujeiteis ao espírito,
mas que o vosso espírito esteja sujeito a vós.
Voltai-vos do vosso êxtase e fazei com que vosso
espírito se sujeite avós”. Não se desculpe dizendo que
tudo o que faz é de acordo com o espírito. O exercício
dos dons tem de ser feito de forma regulada, e não
descontrolada. Nosso espírito tem de estar sujeito a
nós. Isso quer dizer que precisamos ter mente sóbria
para usar o espírito de forma apropriada.
O versículo 33 diz: “Porque Deus não é de
confusão, e sim de paz”. O princípio da incumbência
de Paulo aos coríntios nos versículos 26 a 32,
principalmente acerca do falar em línguas e
profetizar, é manter uma ordem tranqüila e
apropriada, segundo o que o próprio Deus é.

D. As Mulheres
A última parte do versículo 33, na verdade,
introduz o versículo 34 e diz: “Como em todas as
igrejas dos santos”. A palavra “como” indica que
todas as igrejas devem estar na mesma prática.
Primeira Coríntios 1:2 e 10:32 mencionam a igreja de
Deus. Mas aqui lemos sobre as igrejas dos santos. A
“igreja de Deus” denota o elemento constituinte da
igreja; a igreja é constituída do elemento divino. As
“igrejas dos santos” denota os componentes das
igrejas; as igrejas são compostas dos santos.
O versículo 34 diz: “Conservem-se as mulheres
caladas nas igrejas, porque não lhes é permitido falar;
mas estejam submissas como também a lei o
determina”. A expressão nas igrejas significa nas
reuniões da igreja. Conforme 11:5, as mulheres
podem profetizar (é claro, em público) com véu, e
Atos 2: l7 e 18, e 21:9 confirmam que havia mulheres
que profetizavam. Em 1 Timóteo 2:12 porém, às
mulheres não era permitido ensinar, isto é, ensinar
como autoridade (aí, ensinamento está relacionado
com exercício de autoridade) que define doutrinas.
Desse modo, de acordo com o princípio do Novo
Testamento, o fato de às mulheres não ser permitido
falar nas reuniões da igreja significa que não lhes é
permitido ensinar com autoridade acerca de definição
de doutrinas. Nesse sentido, elas devem também ficar
caladas nas reuniões da igreja. Não lhes é permitido
falar porque devem estar sujeitas aos homens. Isso
está relacionado com a questão de autoridade
ordenada por Deus em Seu governo. Na ordenação
governamental de Deus, não é permitido às mulheres
falar com autoridade sobre os homens. Elas podem
orar e profetizar, isto é, principalmente falar pelo
Senhor e expressá-Lo. Todavia, devem fazer isso sob
a cobertura dos irmãos porque aqui são exortadas a
estar sujeitas.
A “lei” no versículo 34 se refere aos livros escritos
por Moisés (Mt 5:17; 7:12; 11:13). Nos escritos de
Moisés, Gênesis 3:16 determina que a mulher esteja
sob o governo do homem. Essa é a ordenação de
Deus.
Primeira Coríntios 14:34 não deve ser
compreendido isoladamente do restante da Bíblia.
Pelo contrário, precisamos interpretar a Bíblia pela
própria Bíblia e com ela. Conforme o ensinamento de
todo o Novo Testamento, as irmãs podem profetizar,
mas não têm autoridade para definir doutrinas. Isso
tem de ser deixado para os irmãos. Além disso, é um
fato histórico que algumas das heresias mais graves
entraram por intermédio de mulheres.
Em 1933, depois de me demitir do emprego para
servir ao Senhor em tempo integral, visitei o irmão
Nee em Xangai. Enquanto eu estava lá, ele me disse
que, sob a influência da prática dos Irmãos, eles não
permitiam que as mulheres orassem nas reuniões,
muito menos falassem. Disse-me que seguira aquela
prática por onze anos. Contudo, percebera que se as
irmãs não orassem nas reuniões, metade da igreja
ficaria paralisada e sem função. Isso seria um
prejuízo e perda para as reuniões. Daí, ele estava
pensando como regularizar a situação. Então
mencionou esse ponto para mim e me perguntou o
que pensava a esse respeito. Disse que pensava que
precisávamos que as irmãs orassem nas reuniões.
Isso é um exemplo de tomar uma decisão relacionada
com doutrina. Tal decisão envolve autoridade.
Tal decisão com autoridade é 9 tipo de falar a que
Paulo se referiu no versículo 33. Ele não concorda que
as irmãs falem nas reuniões da igreja para exercer
autoridade sobre os irmãos. Sem entender o versículo
dessa forma, não temos como conciliá-lo com o
capítulo onze, em que ele fala das irmãs orando ou
profetizando com véu. Esse é um indício categórico
de que as irmãs podem falar nas reuniões, desde que
tenham véu sobre a cabeça.
No versículo 35, Paulo diz: “Se, porém, querem
aprender alguma coisa, interroguem, em casa, a seu
próprio marido; porque para a mulher é vergonhoso
falar na igreja”. Novamente “na igreja” significa nas
reuniões da igreja.
No versículo 36, Paulo pergunta: “Porventura, a
palavra de Deus se originou no meio de vós ou veio
ela exclusivamente para vós outros?” Essa palavra
categórica e franca indica que a igreja numa cidade
deve seguir as demais em sua prática. Todas as igrejas
locais devem submeter-se à ordem universal do
Espírito de acordo com a palavra dos apóstolos, dos
quais provém a palavra de Deus.
No versículo 37, Paulo prossegue: “Se alguém se
considera profeta ou espiritual, reconheça ser
mandamento do Senhor o que vos escrevo”. Ele aqui
falava com autoridade, proferindo mandamento do
Senhor.
A palavra de Paulo no versículo 37 indica que ser
profeta ou ser espiritual é altamente valorizado na
igreja por levar a cabo a economia neotestamentária
de Deus. Um profeta vem logo após o apóstolo na
administração de Deus na igreja (12:28), e fala por
Deus e O expressa, e recebeu revelação dos mistérios
de Deus acerca de Cristo e a igreja (Ef 3:5) como
fundamento para edificação da igreja (Ef 2:20). Uma
pessoa espiritual é alguém que vive de acordo com o
seu espírito, mesclado com o Espírito de Deus e é
capaz de discernir todas as coisas espirituais (1Co 3:1;
2:15). Tais pessoas espiritualmente instruídas devem
saber claramente que os ensinamentos do apóstolo
Paulo são o mandamento do Senhor, e seu falar deve
corresponder aos seus ensinamentos. a espírito de
Paulo é forte e sua palavra é franca ao lidar com os
coríntios desordenados. Ele os encarrega a conhecer
definitivamente que seus ensinamentos são um
mandamento do Senhor e são de fato endossados
pelo Senhor. Já que os ensinamentos do apóstolo
estão de acordo com a ordenação de Deus, eles são os
mandamentos do Senhor.
O versículo 38 diz: “E se alguém o ignorar, será
ignorado”. Às vezes Paulo é polido, mas aqui ele é
direto e franco.
O versículo 39 diz: “Portanto, meus irmãos,
procurai com zelo o dom de profetizar e não proibais
o falar em outras línguas”. Paulo aqui atenua um
pouco seu tom a fim de acalmar o tumulto entre os
coríntios desordenados. Na verdade, esse capítulo
inteiro lida com profetizar e falar em línguas. Já que
profetizar é o dom mais proveitoso na edificação
tanto dos santos como da igreja com o rico ministério
de Cristo, ele é muito valorizado e promovido pelo
apóstolo. Como o falar em línguas não proporciona
proveito para tal edificação, o apóstolo é fiel em expor
o seu valor menor. Tanto a avaliação como a
explanação do apóstolo estão de acordo com sua
preocupação em cumprir o propósito de Deus de
edificar a igreja com as riquezas de Cristo. Na
conclusão desse capítulo, ele ainda nos exorta a
desejar com zelo o profetizar para o edifício de Deus.
Entretanto, também nos exorta a não proibir o falar
em línguas a fim de manter a todo-inclusividade e a
unidade da igreja.
No versículo 40, Paulo conclui: “Tudo, porém,
seja feito com decência e ordem”. A preocupação do
apóstolo pela igreja é que Cristo como centro de Deus
e a igreja como objetivo de Deus sejam levados
adiante e a cabo com todas as coisas feitas com
decência e boa ordem perante os homens e anjos
(4:9; 11:10). Nossa vida natural é inútil para cumprir
tal elevado propósito. A experiência do Cristo
crucificado (1:23; 2:2) para o aniquilamento de nosso
ego e a experiência de Cristo em ressurreição como
nossa santificação e redenção diárias (1:30) são
necessárias para a vida adequada da igreja.
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM SESSENTA E QUATRO
UMA REUNIÃO CRISTÃ ADEQUADA

Leitura Bíblica:1Co 1:2; 6:17; 14:32; Ef 5:18-19; 2Co


2:10; Gl 5:16, 25; Rm 8:4
No início da era da igreja, os santos eram muito
simples. Eles não tinham ainda o Novo Testamento e
tinham poucas cópias do Antigo. Além disso, não
tinham hinários; porém, uma coisa é certa: tinham o
Espírito todo-inclusivo que dá vida. Nos primeiros
dias da vida da igreja, não havia tantas doutrinas,
práticas ou modos de laborar para o Senhor. Em vez
disso, os santos simplesmente desfrutavam o Espírito
que vivia e habitava em seu espírito. Isso os tomava
pessoas diferentes. Antes de ser salvos, estavam na
condição descrita por Paulo em Efésios 2:1-3. Mas,
depois de salvos, convertidos e regenerados,
tomaram-se outro tipo de pessoa, em quem habitava
o Espírito todo-inclusivo.

INVOCAR O NOME DO SENHOR


Os irmãos da igreja primitiva eram conhecidos
pelo fato de invocar o nome do Senhor Jesus. Atos
9:14 diz que Saulo tinha autoridade dos principais
sacerdotes para prender todos os que invocavam o
nome do Senhor. A prática de invocar o nome do
Senhor Jesus era o sinal de um crente em Cristo. Os
incrédulos podiam facilmente reconhecer um cristão
pelo fato de ele invocar o nome do Senhor. Não tenho
dúvida de que os primeiros cristãos invocavam o
nome do Senhor diariamente.
Em 1:2, Paulo se refere a isso: “À igreja de Deus
que está em Corinto, aos santificados em Cristo
Jesus, chamados para ser santos, com todos os que
em todo lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus
Cristo, Senhor deles e nosso”. Esse versículo indica
que, por um lado, os crentes são pessoas chamadas
porque foram chamados por Deus. Por outro, são um
povo que chama porque invocam o nome do Senhor
Jesus Cristo. Fomos chamados por Deus para chamar
o nome do Senhor. De acordo com esse versículo, os
crentes invocavam o nome do Senhor “em todo
lugar”.

FALAR
Além de invocar o nome do Senhor, os irmãos da
igreja primitiva falavam muito sobre o Senhor Jesus.
Eles falavam sobre Ele uns aos outros e aos
incrédulos. Seu falar era uma maneira de profetizar, o
tipo de profetizar que o Novo Testamento enfatiza.
Diferente dos profetas no Antigo Testamento, os que
criam em Cristo não precisavam esperar o Espírito do
Senhor vir sobre eles a fim de profetizar. Desde a
primeira vez que invocamos o nome do Senhor, Cristo
como Espírito vivo está em nosso espírito. Por esse
motivo, Paulo podia dizer: “Aquele que se une ao
Senhor é um espírito com ele” (6:17). Que maravilha
que o Espírito esteja mesclado com nosso espírito!
Além disso, esse espírito está sujeito a nós (14:32).
Como nosso espírito está sujeito a nós, não há mais
necessidade de esperar que o Espírito venha sobre
nós. Pelo contrário, simplesmente precisamos
exercitar nosso espírito. Com certeza, os cristãos no
início da vida da igreja exercitavam o espírito para
falar uns aos outros e aos incrédulos pelo Senhor.
Quão simples eram os santos nos primeiros dias
da vida da igreja! Em suas reuniões, deve ter havido
muito invocar, falar, cantar e louvar. De acordo com
Efésios 5:19, eles falavam uns aos outros em salmos e
hinos e cânticos espirituais, cantando e salmodiando
de coração ao Senhor.
Sempre que vamos às reuniões da igreja,
devemos expor o que desfrutamos do Senhor
diariamente. Numa exposição, as pessoas manifestam
ou mostram algo que têm ou produziram. Só é
possível expor o que temos, e não o que não temos. A
reunião cristã adequada deve ser uma exposição de
nossa vida cristã. Deve ser uma demonstração das
riquezas de Cristo que experimentamos no andar
diário. Se exercitarmos o espírito para contatar o
Senhor diariamente, então nas reuniões da igreja
teremos algo de Cristo para partilhar com os santos.

VIVER NO ÍNDICE DOS OLHOS DE CRISTO


O Senhor Jesus não é uma religião ou conjunto
de formas, regulamentos ou ensinamentos. Ele é uma
Pessoa viva que podemos contatar dia após dia. Como
o Espírito todo-inclusivo que habita em nosso
espírito, Ele é real e acessível. Hora a hora e até
mesmo a todo instante devemos exercitar o espírito
para contatá-Lo de forma íntima. Precisamos
desenvolver o hábito de invocar o nome do Senhor o
tempo todo e em todo lugar. Se desenvolvermos essa
prática, seremos capazes de dizer: “Ó Senhor Jesus,
Teu nome é o mais doce da terra”.
À medida que contatamos o Senhor e invocamos
o Seu nome, precisamos andar com Ele, viver por Ele
e fazer tudo de acordo com o índice de Seus olhos. O
índice denota a área do rosto ao redor dos olhos, o
olhar, como semblante dos pensamentos e
sentimentos interiores, que representa a pessoa toda.
De acordo com 2 Coríntios 2:10, Paulo vivia na
presença, ou pessoa, no índice de Cristo. Ele fez tudo
segundo a expressão transmitida pelo índice dos
olhos do Senhor. Também devemos viver de acordo
com o índice de Cristo. Todavia, isso é possível
somente quando estamos em Sua presença. Se
estivermos longe Dele, ou se houver algo entre nós e
Ele, não conseguiremos viver conforme o índice de
Seus olhos. Por exemplo, uma boa mulher observa
cuidadosamente o índice dos olhos do marido e vive
de acordo com isso. Essa é a maneira que devemos
viver com relação ao Senhor. Tudo o que dissermos
ou fizermos deve ser segundo o índice dos olhos do
Senhor Jesus. Enquanto falo a um irmão, devo falar
de acordo com os sinais do índice do Senhor.
É possível experimentar isso. Podemos viver em
tal contato íntimo com o Senhor Jesus de modo que
em cada detalhe de nossa vida diária podemos
comportar-nos de acordo com o índice dos olhos do
Senhor. Quando estou prestes a pôr determinada
gravata, espontaneamente sei se o Senhor gosta ou
não dela. Se Ele a aprova, eu a ponho, mas se ela O
desagrada, de bom grado livro-me dela. Oh! quão
doce é viver no índice dos olhos de Cristo!
Temos enfatizado a necessidade de ter contato
íntimo com o Senhor, até mesmo viver de acordo com
o índice de Seus olhos. Quando vivemos dessa forma,
descobrimos quão real, vivo e presente Ele é. Todavia,
a tragédia é que nas reuniões proclamamos: “Não
mais eu, mas Cristo vive em mim”, mas no viver
diário podemos não permitir que Ele viva em nós. Por
exemplo, podemos insistir em ir a uma grande loja
embora sintamos interiormente que o Senhor não
aprove. Podemos negociar com o Senhor,
pedindo-Lhe que nos deixe ir só dessa vez e
prometer-Lhe que não iremos mais. Quando Lhe
falamos dessa maneira, não Lhe somos honestos ou
fiéis. Toda vez que dissermos: “Senhor, deixa-me
fazer isso só desta vez”, haverá sempre mais uma vez.
Se não contatarmos o Senhor diariamente e vivermos
por Ele, que teremos de Cristo para mostrar nas
reuniões da igreja? Por certo não podemos expressar
nossa desobediência ao Senhor, ou testificar sobre
como fomos fazer compras a despeito do protesto
interior do Senhor. Como nada têm de Cristo para
mostrar, muitos santos ficam em silêncio nas
reuniões, mas se desfrutamos o Senhor em nossa vida
diária e testificamos nas reuniões desse desfrute,
temos até mais gozo do Senhor. Quanto mais falamos
de Cristo, mais O desfrutamos e mais somos enchidos
de toda a plenitude de Deus.

DE VOLTA À SIMPLICIDADE
Meu encargo nesta mensagem é impressioná-lo
com a simplicidade dos primeiros cristãos. Que o
Senhor restaure tal simplicidade entre nós em Sua
restauração hoje! Se formos conduzidos de volta a
essa simplicidade nas reuniões, não usaremos o
hinário ou até mesmo a Bíblia para substituir o
Espírito todo-inclusivo. Às vezes podemos ter uma
reunião na qual não usamos nem o hinário nem a
Bíblia; pelo contrário, podemos simplesmente
expressar Cristo por meio do exercício do espírito.
Posso ser privado de meu hinário e Bíblia, mas não do
Cristo todo-inclusivo em meu espírito. Entretanto, se
não tiverem hinário ou Bíblia, alguns cristãos nada
têm. Sabem cantar pelo hinário e usar a Bíblia, mas
não sabem exercitar o espírito para experimentar
Cristo como Espírito que dá vida. Oh! que o Senhor
nos faça colocar nossa confiança no próprio Cristo
vivo e nada mais!
Temos visto que embora os cristãos na igreja
primitiva não tivessem Bíblia ou hinário, eles tinham
o Cristo vivo. Eles invocavam Seu nome e falavam
muito Dele e O tinham em alta consideração.
Também cantavam e O louvavam. Por isso, toda vez
que se reuniam, podiam mostrar o que haviam
experimentado e desfrutado de Cristo no viver diário.
Com isso vemos que uma reunião cristã adequada
deve ser uma expressão da vida cristã. Não devemos
tomar as reuniões algo diferente do nosso andar
diário ou separado dele. Se fizermos isso, elas se
tomarão um teatro, o salão de reuniões se tomará um
palco e os santos se tomarão atores. Nossas reuniões
não devem ser representações, devem ser exibições
da maneira que vivemos em casa, na escola e no
trabalho. Devem ser expressão do Cristo pelo qual e
no qual vivemos diariamente. Para ter reuniões
adequadas, precisamos primeiro ter uma vida diária
adequada.

ANDAR SEGUNDO O ESPÍRITO


Se quisermos ter uma vida cristã diária
adequada, precisamos andar de acordo com o
espírito. É significativo que o Novo Testamento não
nos incumba de andar de acordo com as Escrituras,
mas segundo o espírito (Rm 8:4). Em Gálatas 5:16,
Paulo diz: “Andai no Espírito”. No versículo 25, ele
prossegue: “Se vivemos no Espírito, andemos
também no Espírito”. Devemos proceder não
conforme ensinamentos ou doutrinas, mas de acordo
com o Espírito. Hoje o Espírito é o próprio Cristo que
entrou em nosso espírito. Nossa necessidade é viver
segundo esse espírito mesclado. Quanto mais
vivemos andando conforme o espírito mesclado, mais
somos enchidos no espírito até toda a plenitude de
Deus. Então saberemos invocar o nome do Senhor,
falar aos outros e cantar e testificar. Se
desenvolvermos esses hábitos, nossas reuniões serão
espontaneamente uma exibição do andar diário.
Quão diferentes são tais reuniões dos cultos religiosos
formais do cristianismo de hoje!

O PRODUTO DE NOSSO VIVER DIÁRIO


Precisamos admitir que ainda estamos sob a
influência do cristianismo tradicional. Nascemos
nesse ambiente e fomos criados sob essa influência,
mas na restauração do Senhor precisamos lançar fora
o cristianismo tradicional, principalmente as
tradições relacionadas com as reuniões formais.
Nossas reuniões não devem ter início formal. Em vez
disso, devem começar espontaneamente quando
exercitamos o espírito. Contudo, digo novamente que
esse tipo de reunião é o produto do exercício de nosso
espírito para experimentar Cristo na vida diária. Se
não exercitarmos nosso espírito em nosso viver
diário, tudo o que fizermos nas reuniões será um
teatro, e não a demonstração espontânea da vida
cristã diária. Se andarmos no espírito dia após dia,
ninguém será capaz de predizer como começarão as
reuniões. Simplesmente vamos reunir-nos para ter
uma demonstração espontânea das riquezas de Cristo
para a edificação da igreja. Por causa da influência da
tradição e do conceito natural, é muito fácil
reunir-nos de forma sistematizada. As reuniões
podem ser formais e totalmente destituídas da
espontaneidade do Espírito. Oh! precisamos de
libertação! Precisamos de liberação! Mas essa
libertação e liberação não podem começar com um
teatro nas reuniões; têm de começar com o exercício
do espírito no andar diário. No viver diário devemos
ser certo tipo de pessoa, que contata o Senhor, invoca
o Seu nome, fala sobre Ele aos outros e canta louvores
a Ele. Então, quando chegarmos às reuniões da igreja,
devemos continuar a ser esse tipo de pessoa. Dessa
forma, nossa atividade nas reuniões exibirá o
exercício do andar diário.
Não percebemos quanto ainda estamos debaixo
da influência mortificadora da tradição religiosa.
Estejam certos que ainda estamos muito sob a
tradição do cristianismo. Você pode perguntar o que
podemos fazer sobre isso. A única coisa a fazer é
exercitar o espírito para ter um contato íntimo com o
Senhor como Pessoa viva dia após dia. Não devemos
tentar ajustar-nos ou aperfeiçoar o comportamento.
Além disso, não devemos esforçar-nos por ser
espirituais ou santos. Esqueçam todas essas coisas e
simplesmente prestem atenção ao índice dos olhos do
Senhor. Em vez de tentar ser espirituais, devemos
simplesmente viver na presença do Senhor.
Precisamos fazer uma declaração a Satanás e a todo o
universo: “Não conheço o significado de santidade ou
espiritualidade. Só sei que Cristo é minha vida e
minha pessoa. Hoje Ele vive em mim e vivo segundo o
índice de Seus olhos. Meu único desejo é ser um com
Ele. Não me importo se amo ou odeio, se estou
zangado ou calmo. Importo-me somente em tomar
Cristo como minha pessoa e ser um com Ele em
tudo”.

EXIBIR CRISTO PARA QUE HAJA REUNIÕES


ELEVADAS
Em nosso dicionário cristão, deve haver somente
uma palavra: Cristo. Cristo é nossa humildade,
paciência, tudo. Que dulçor há na vida diária quando
tomamos Cristo como tudo! Que maravilha viver de
acordo com o índice de Seus olhos! Tal viver está
cheio de invocar, falar, cantar e louvar. Se for essa
nossa experiência diária, então nas reuniões não
haverá representação. Pelo contrário, liberaremos o
espírito espontaneamente para exibir Cristo. Se todos
os santos tiverem tal viver diário, as reuniões serão
autênticas, ricas e elevadas, totalmente diferentes de
tudo o que tenhamos experimentado antes.
Vamos pôr de lado o conceito natural de como
deve ser uma reunião. O Senhor nos tem mostrado
claramente que a reunião adequada é a exibição do
nosso viver diário como cristãos. Nas reuniões não
devemos focalizar a atenção em cantar, pregar ou
ensinar. Nosso centro têm de ser a exibição do andar
diário.
Se isso estiver claro para nós, vamos perceber
que ninguém pode ensinar-nos a fazer uma reunião.
Ensinamentos só conduzirão a uma representação,
nunca a uma exibição. Vamos todos buscar o Senhor
para obter misericórdia e dizer: “Senhor, fomos
vendados pela religião e desviados de Ti. Senhor,
conduze-nos de volta a Ti, de volta de tantas coisas
boas, espirituais e até mesmo bíblicas. Faze-nos
conhecer Cristo e tão-somente Cristo”.
Tenho plena certeza de que o Senhor tenciona
restaurar nosso contato íntimo com Ele e nosso viver
por Ele. Especificamente, espero que Ele ganhe os
jovens nesse ponto porque eles estão menos sob a
influência da tradição. Que todos nos levantemos
para repudiar o cristianismo tradicional. Se
repudiarmos as tradições religiosas e nos
importarmos somente em viver Cristo, teremos um
espírito adequado, um espírito de poder, amor e
moderação. Então, nas reuniões o Espírito
borbulhará de nós. Quanto mais falarmos do Senhor,
mais teremos para dizer.
Oh! que todos sejamos simples e nos voltemos ao
próprio Cristo! Esqueçamo-nos das tradições
religiosas e todas as práticas formais. O Senhor nos
chama de volta ao Espírito. Nossa necessidade
urgente é viver e andar no espírito, e depois exibir
corporativamente o viver diário em Cristo.
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM SESSENTA E CINCO
A QUESTÃO DA RESSURREIÇÃO (1)

Leitura Bíblica: 1Co 15:1-11


Em 15:1-58, Paulo trata da questão da
ressurreição. Nesta mensagem, vamos considerar
15:1-11.

I. A RESSURREIÇÃO DE CRISTO, A
VITALIDADE DO EVANGELHO
A ressurreição de Cristo constitui a vitalidade do
evangelho. Há muitas filosofias e religiões na terra,
mas nenhuma delas é viva. Pelo contrário, são todas
destituídas de vida. Numa filosofia ou religião, pode
haver muitos ensinamentos e doutrinas, mas não há
vida. Nenhuma delas tem vitalidade, mas o evangelho
do Senhor contém vida, até mesmo a vida de
ressurreição.
A vida de ressurreição é a vida que venceu a
morte, uma vida que entrou na morte, permaneceu
nela por algum tempo e depois saiu. Dessa forma, é
uma vida que vence e subjuga a morte. Por isso é
chamada de vida de ressurreição.
O evangelho de Cristo não só tem vida mas
também tem poder de vida para subjugar, vencer e
anular a morte. Essa vida, a vida que subjugou,
venceu e anulou a morte, é a ressurreição. Você sabe o
que é vida de ressurreição? Ressurreição é uma vida
que venceu a morte.
Já enfatizamos que o livro de 1 Coríntios pode ser
dividido em duas grandes seções: os capítulos um a
dez formam a primeira seção, e os capítulos onze a
dezesseis formam a segunda. Na primeira seção,
Paulo trata da vida diária de um cristão. Por isso,
Cristo é necessário. Cristo é o único fator para
resolver todos os problemas na vida cristã diária. Esse
Cristo, a solução para todos os problemas na vida
diária de um cristão, é a sabedoria e poder de Deus.
Ele é Aquele que se encarnou, viveu na terra como
homem, morreu na cruz e foi ressuscitado dentre os
mortos.
Algumas religiões têm ensinamentos sobre
Jesus, mas não estão de acordo com a Bíblia. A
religião muçulmana, por exemplo, proclama que
embora tenha sido colocado na cruz, Jesus não
morreu lá, mas foi levado embora pelos anjos.
Segundo os muçulmanos e o Corão, esse Jesus, o
maior dos profetas, está nos céus. Eles por certo não
crêem no Cristo crucificado e ressurreto. Mas
conforme a Bíblia cremos que Cristo foi crucificado,
sepultado e ressuscitado. Portanto, nosso Cristo é o
Cristo da ressurreição. Além do mais, Ele mesmo é a
ressurreição (Jo 11:25). Ele é a vida que vence a morte
e a subjuga. Aleluia, nosso Cristo é uma vida que
vence a morte! Ele é a ressurreição!
Para ser sabedoria e poder de Deus para nós a
fim de resolver nossos problemas na vida diária,
Cristo tem de ser o Cristo ressurreto. Hoje nós O
temos em ressurreição. O próprio Cristo que vive em
nós como nossa vida é o Cristo ressurreto.
Como já enfatizamos, na segunda seção desse
livro, os capítulos onze a dezesseis, Paulo lida com
cinco problemas no âmbito da administração de
Deus. Se quisermos conhecer a administração divina,
precisamos perceber que uma rebelião ocorreu no
universo. Sob a liderança de Satanás, o arcanjo,
muitos anjos se rebelaram contra Deus. Isso ocorreu
no âmbito da criação divina. Na criação original de
Deus, houve uma rebelião. Por isso, mais tarde Deus
teve uma segunda criação, que envolveu
principalmente a criação do homem. Em Gênesis 1, a
criação é primordialmente a criação do homem, e não
dos céus e da terra. Gênesis 1:1 diz: “No princípio
criou Deus os céus e a terra”. O restante desse
capítulo fala da restauração dos céus e da terra com a
criação da raça humana. Depois da criação do
homem, Satanás, o rebelde, seduziu-o a segui10.
Como resultado, o homem também se rebelou contra
Deus. Por isso, houve uma rebelião na raça angélica e
outra na raça humana. Na criação, Deus não foi capaz
de levar a cabo Sua administração devido às rebeliões
dos anjos e do homem.
Um dia, o próprio Deus veio no Filho como
homem. De acordo com Isaías 9:6, o Seu nome é
maravilhoso. Ele é tão maravilhoso que ninguém
pode entendê-Lo totalmente. Ele é Deus e homem ao
mesmo tempo. Isaías 9:6 também nos diz que,
embora fosse um menino, era chamado de Deus forte,
e, embora fosse Filho, Seu nome era Pai eterno. Esse
Homem-Deus maravilhoso viveu na terra por trinta e
três anos e meio. Ele passou a maior parte da vida no
lar de um carpinteiro na cidadezinha de Nazaré.
Imaginem, o próprio Deus chamado Deus forte e Pai
eterno viveu em tal condição por mais de trinta anos!
Posteriormente, Ele saiu a ministrar. Ele levou a cabo
Seu ministério por três anos e meio. No final desse
tempo, foi levado à cruz. Na verdade, não é
totalmente exato dizer que Cristo foi levado à cruz
porque, em João 10, Ele nos diz que estava disposto a
dar a vida. Isso quer dizer que Ele de livre vontade
caminhou até o Gólgota, o Calvário. Ele se dispôs a
ser crucificado.
O Senhor foi crucificado definitivamente na
carne. Com cravos nas mãos e nos pés, Ele ficou
pendurado no madeiro por provavelmente seis horas,
das nove da manhã às três da tarde. Nas primeiras
três horas, o homem fez todo o possível para zombar
Dele. Então, nas últimas três horas, Deus veio
julgá-Lo como nosso substituto. Enquanto Deus O
julgava, Cristo derramou Seu sangue para nos
redimir. De Seu lado saiu sangue e água: sangue para
redenção e água para liberação da vida. Portanto, pela
crucificação, Ele cumpriu a redenção e liberou a vida
divina.
Imediatamente após ter morrido, Cristo teve um
sepultamento adequado num túmulo de um homem
rico. Depois, ao terceiro dia, foi ressuscitado. A Bíblia
diz claramente que Ele foi ressuscitado. Por outro
lado, também diz que Ele ressurgiu, que não precisou
que ninguém O ressuscitasse. Como foi possível
Cristo ressuscitar dentre os mortos? Foi possível
porque Ele mesmo é a ressurreição.
Cristo se dispôs a ser sepultado, entrar na morte,
no túmulo e no Hades. Enquanto estava no Hades,
Ele provou a morte, envergonhou-a, e venceu-a, e
subjugou-a. Ele entrou no domínio da morte para
percorrer essa região e ver o que ela era capaz de
fazer. Por fim constatou que a morte nada podia fazer
contra Ele. Não tinha poder para retê-Lo ou
segurá-Lo (At 2:24). Quando chegou a hora de
ressuscitar, Ele disse adeus à morte e partiu. Cristo
assim a venceu, subjugou e saiu dela. Isso é
ressurreição.
Não somos capazes de entender plenamente a
Trindade, a encarnação, a crucificação ou a
ressurreição. De fato, não podemos nem mesmo
entender plenamente nossa própria vida física. Você
consegue explicar o que é sua vida? Além disso, você
entende totalmente o seu espírito e seu coração
psicológico? Que temos espírito e coração psicológico
é um fato, mas não conseguimos entendê-los
plenamente. Certamente seria tolice recusar-nos a
crer neles porque não conseguimos entendê-los
adequadamente. O mesmo ocorre com respeito à
Trindade, encarnação, crucificação e ressurreição.
A Palavra de Deus é confiável. Nela lemos que
Deus é triúno, é o Pai, o Filho e o Espírito. Um dia,
Deus se tornou homem. Isso foi a encarnação.
Depois, Deus encarnado, a corporificação do Deus
Triúno, viveu na terra e foi crucificado. Isso é um
mistério. Aquele que morreu na cruz não era só
homem, mas também Deus. Como, porém, poderia
Deus morrer? Isso é um mistério. Em um dos seus
hinos, Charles Wesley diz: “Que ocorreu?! / Por mim
morreste, ó meu Deus?” Outro verso desse hino (Hino
1578) diz: “Mistério: Morre o Imortal!” É de fato um
mistério e não conseguimos entender
completamente. Depois que morreu, Cristo foi
sepultado e ressuscitado. Podemos também dizer que
Ele ressurgiu. Não foi somente ressuscitado, mas
ressurgiu. Tudo isto: a encarnação, a crucificação, a
ressurreição, são fatos.
Meu encargo nesta mensagem, entretanto, não é
simplesmente falar desses fatos, é considerar o seu
significado e a realidade espiritual. Qual é o sentido
8
Hinos, publicado por esta editora. (N.T.)
da encarnação de Cristo? O sentido é que o próprio
Deus entrou na humanidade e uniu-se a ela. Mas, de
acordo com a compreensão superficial de muitos
cristãos hoje, o sentido da encarnação é
simplesmente a geração de um Salvador. É claro, o
Evangelho de Lucas diz que um Salvador nos nasceu
em Belém (2:11), mas, revelando algo mais profundo,
o Evangelho de João fala da encarnação dessa forma:
O Verbo, que estava com Deus e era Deus desde o
princípio, tornou-se carne (1:1, 14). Isso não é
meramente gerar o Salvador, mas introduzir Deus no
homem e unir Deus ao homem. É até mesmo unir
Deus à carne, porque João 1:14 declara: “O Verbo se
fez carne”. O Verbo aqui denota Deus, e a carne
denota o homem. Com o Verbo que se fez carne, havia
graça e verdade. Como João 1:17 diz: “A graça e a
realidade vieram por meio de Jesus Cristo”. Por isso,
a encarnação é introduzir Deus no homem e fazê-los
um. Que grande prodígio é esse! É um prodígio ainda
maior do que a criação do universo, do homem e de
milhões de itens. Quão maravilhoso, quão misterioso,
que por meio da encarnação Deus veio a ser um com o
homem!
Quando Cristo, o Homem-Deus, morreu na cruz,
Ele era o Cordeiro de Deus (Jo 1:29). Mediante Sua
morte na cruz, Ele cumpriu a redenção. O significado
da crucificação, entretanto, inclui mais que a
redenção. A redenção certamente é parte crucial da
crucificação. Cristo, porém, morreu não apenas para
cumprir a redenção por nós, mas para aniquilar toda
a velha criação. Você sabe qual é o sentido
todo-inclusivo da crucificação de Cristo? É que a Sua
cruz põe fim a toda a velha criação, incluindo a raça
angélica, a terra e o céu restaurados 'e caídos, e a raça
humana. Quando estava na cruz, Cristo não estava
pregado lá sozinho. A velha criação estava Nele e foi
crucificada com Ele. Na cruz, portanto, Ele aniquilou
a raça angélica, os céus e a terra, a raça humana e
cada item da velha criação. Embora isso seja revelado
na Bíblia, tal palavra de justiça nunca é pregada entre
os cristãos hoje. Entretanto, esse é o significado da
morte de Cristo. Esse é o motivo de nos referir à
morte de Cristo como morte todo-inclusiva.
Em Hebreus 10, o véu no templo prefigura a
morte todo-inclusiva de Cristo. Hebreus 10:19 e 20
dizem que o véu prefigura a carne de Cristo: “Tendo,
pois, irmãos, intrepidez para entrar no Santo dos
Santos, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo
caminho que ele nos consagrou pelo véu, isto é, pela
sua carne”. No véu do templo havia querubins
bordados. Esses querubins representam as criaturas
de Deus. Assim, quando o véu do templo foi rasgado,
as criaturas bordadas no véu também foram
rasgadas. Isso indica que quando Cristo foi
crucificado, nós, junto com toda a criação, fomos
crucificados também. Aleluia por essa morte
todo-inclusiva!
Repetindo, quando Cristo morreu, Ele levou todo
item da velha criação à cruz. Tudo foi crucificado!
Você crê nisso? Eu creio, pois a Bíblia assim me diz.
Além do mais, não só fomos crucificados, mas
também sepultados no túmulo de Jesus. Embora esse
túmulo fosse pequeno, todo o universo foi sepultado
ali.
A ressurreição significa que Cristo morreu, foi
sepultado e ressurgiu novamente. Ela é a vitalidade
do evangelho. Nessa ressurreição viva, é possível
Deus ter uma administração.
Agora podemos entender porque o capítulo
quinze aborda a questão da ressurreição. Nos
capítulos onze a catorze, temos a Cabeça, o Corpo e
todos os dons com as funções para operar a fim de
levar a cabo a administração de Deus. Tudo isso,
porém, tem de ser em ressurreição. Na criação, Deus
não tem maneira de levar a cabo Sua administração,
pois tanto os anjos como a humanidade se rebelaram
contra Ele. Em ressurreição, porém, Deus tem como
levar a cabo Sua administração. Como cristãos, temos
de ser pessoas ressuscitadas e a igreja tem de estar
em ressurreição. Somente em ressurreição podemos
perceber o encabeçamento de Deus, discernir o Corpo
e ser membros dele. Cristo não pode ter o Corpo
exceto em ressurreição. Sem ressurreição, não pode
haver igreja. A igreja está em ressurreição, e nós
também.
Nessa ressurreição, a administração de Deus é
levada a cabo. Primeira Coríntios 15:27 e 28 indicam
isso: “Porque todas as coisas sujeitou debaixo dos
seus pés. E quando diz que todas as coisas lhe estão
sujeitas, certamente exclui aquele que tudo lhe
subordinou. Quando, porém, todas as coisas lhe
estiverem sujeitas, então o próprio Filho também se
sujeitará àquele que todas as coisas lhe sujeitou, para
que Deus seja tudo em todos” (VRA). De acordo com
o versículo 27, Deus sujeitou todas as coisas sob os
pés de Cristo. Por fim, quando todas as coisas forem
sujeitas a Cristo, Deus será tudo em todos. Isso é levar
a cabo a administração de Deus. Precisamos ficar
impressionados, pois esses versículos são
encontrados num capítulo que fala da ressurreição.
Certamente é tolice dizer que não há ressurreição.
A. Pregado

1. O Apóstolo Anunciou o Evangelho aos


Crentes Coríntios
Em 15:1 e 2, Paulo diz: “Irmãos, venho
lembrar-vos o evangelho que vos anunciei, o qual
recebestes e no qual ainda perseverais; por ele
também sois salvos, se retiverdes a palavra tal como
vo-la preguei, a menos que tenhais crido em vão”. O
evangelho aqui é o evangelho pleno, que inclui os
ensinamentos acerca de Cristo e a igreja, plenamente
desvendado no livro de Romanos (1:1; 16:25).
Devemos apoiar-nos no evangelho pleno, isto é, em
todo o Novo Testamento, não só em certos
ensinamentos ou doutrinas.
No versículo 2, sais salvos literalmente significa
a caminho da salvação (Conybeare 9 ). Depois de
justificados em Cristo e regenerados pelo Espírito,
estamos no processo de ser salvos na vida de Cristo
(Rm 5:10) até que amadureçamos e nos conformemos
a Ele em plenitude (Rm 8:29). Por um lado, fomos
salvos (passado); por outro, somos salvos (presente).
Fomos salvos pela morte de Cristo, mas ainda
estamos sendo salvos em Sua ressurreição.

2. O Evangelho Entregue a Eles


Nos versículos 3 e 4, Paulo prossegue: “Antes de
tudo, vos entreguei o que também recebi: que Cristo
morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras,
e que foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia,

9
Wllliam John Conybeare (1815-1857), professor e teólogo inglês que publicou várias obras, dentre elas
The Life and Epistles of St. Paul (A Vida e Epístolas de São Paulo), em 1857, juntamente com J. S.
Howson. (N.T.)
segundo as Escrituras”. A morte de Cristo pelo nosso
pecado, Seu sepultamento para nosso aniquilamento
e Sua ressurreição para nossa germinação em vida,
segundo as profecias do Antigo Testamento (Is
53:5-8, 10-12; Sl 22:14-18; Dn 9:26; Is 53:9; Sl
16:9-10; Os 6:2), são os itens básicos e primordiais do
evangelho. O último deles é o mais vital, pois nos
transmite vida para que vivamos Cristo. Outros itens
do evangelho pleno incluem Cristo como o mistério
de Deus, a igreja como o mistério de Cristo e a Nova
Jerusalém. Na verdade, o evangelho pleno inclui todo
o Novo Testamento.

B. Testemunhado
Nos versículos 5 a 11, Paulo fala acerca das
testemunhas da ressurreição de Cristo. O versículo 5
diz: “E apareceu a Cefas e, depois, aos doze”. A
palavra grega traduzida por apareceu também quer
dizer foi visto. Os primeiros apóstolos e discípulos
foram testemunhas oculares da ressurreição de Cristo
(At 1:22) e sua pregação enfatizava seu testemunho
disso (At 2:32; 4:33). Eles deram testemunho do
Cristo ressurreto não só pelo seu ensinamento mas
também pelo seu viver. Eles viviam com Ele pelo Seu
viver em ressurreição (Jo 14:19).
Nos versículos 8 e 9, Paulo refere-se a si mesmo:
“E, afinal, depois de todos, foi visto também por mim,
como por um nascido fora de tempo. Porque eu sou o
menor dos apóstolos, que mesmo não sou digno de
ser chamado apóstolo, pois persegui a igreja de
Deus”. Alguém que perseguiu Cristo e a igreja
tornou-se apóstolo.
No versículo 10, Paulo continua: “Mas, pela graça
de Deus, sou o que sou; e a sua graça, que me foi
concedida, não se tornou vã; antes, trabalhei muito
mais do que todos eles; todavia, não eu, mas a graça
de Deus comigo”. Graça, três vezes nesse versículo, é
o Cristo ressuscitado tornando-se o Espírito que dá
vida (v. 45) para introduzir em nós o Deus processado
em ressurreição para ser nossa vida e suprimento de
vida, para que vivamos em ressurreição. Assim, graça
é o Deus Triúno tornando-se vida e tudo para nós. É
por essa graça que Saulo de Tarso, o maior dos
pecadores (1Tm 1:15-16), tornou-se o maior dos
apóstolos, laborando muito mais do que todos os
outros. Seu ministério e viver pela graça são um
testemunho inegável da ressurreição de Cristo.
“Todavia, não eu, mas a graça de Deus” equivale
a “não eu, mas Cristo” em Gálatas 2:20. A graça que
motiva o apóstolo e nele opera não é uma questão ou
coisa, mas uma Pessoa viva, o Cristo ressurreto, a
corporificação de Deus Pai que se tornou o Espírito
que dá vida todo-inclusivo, que habita nele como seu
tudo.
No versículo 10, graça é o Cristo que está em
ressurreição e é ressurreição. Por essa graça, Paulo
podia ser o que era elaborar mais que todos os outros
apóstolos. Quando comparamos 1 Coríntios 15:10
com Gálatas 2:20, vemos que a graça não é algo, mas
alguém. Todos os discípulos e apóstolos que viram o
Cristo ressurreto, não só O viram objetivamente, mas
O experimentaram subjetivamente. Quando eles O
viram, Ele entrou neles e se tornou subjetivo neles.
No dia de Pentecostes, esse foi o motivo de estarem
vivos, vigorosos e diligentes. O Cristo ressurreto
estava neles. Não só o próprio Cristo ressuscitou
objetivamente, mas em ressurreição Ele viveu em
Pedro, João e nos demais apóstolos e discípulos.
Através dos séculos, todos os servos de Deus que
tiveram vitalidade tiveram esse Cristo ressurreto
vivendo neles. Também posso testificar que Ele vive
em mim, capacitando-me para fazer o que eu nunca
poderia em mim mesmo. Aleluia, o Senhor Jesus
vive! Como sabemos que Ele vive? Como diz um hino,
sabemos que Ele vive porque Ele vive em nós (Hino
24110). Podemos ser perseguidos e receber oposição, e
podemos sofrer muito, mas temos o Cristo ressurreto
em nós. Quanto mais recebemos oposição, mais vivos
e ativos nos tomamos. Entretanto, nosso testemunho
é este: Não nós, mas a graça de Deus conosco.

10
Hinos, publicado por esta editora. (N.T.)
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM SESSENTA E SEIS
A QUESTÃO DA RESSURREIÇÃO (2)

Leitura Bíblica: 1Co 15:12-28


Nesta mensagem, vamos considerar duas
questões em 15:12-28: a contestação de Paulo aos que
diziam que não havia ressurreição, e a história da
ressurreição.

II. CONTESTAÇÃO A “NÃO HÁ


RESSURREIÇÃO”
O versículo 12 diz: “Ora, se é corrente pregar-se
que Cristo ressuscitou dentre os mortos, como, pois,
afirmam alguns dentre vós que não há ressurreição
de mortos?” Nesse capítulo, o apóstolo lida com a
afirmação herética dos coríntios de que não há
ressurreição de mortos. Eles eram como os saduceus
(Mt 22:23; At 23:8). Esse é o décimo problema entre
eles. É o mais prejudicial e destrutivo à economia de
Deus do Novo Testamento, pior que a heresia de
Himeneu e Fileto sobre a ressurreição em 2 Timóteo
2:17 e 18. A ressurreição é o pulsar de vida e a
vitalidade da economia divina. Se não houvesse
ressurreição, Deus seria Deus de mortos, e não de
vivos (Mt 22:32). Se não houvesse ressurreição,
Cristo não teria sido ressuscitado dentre os mortos.
Ele seria um Salvador morto, e não o que vive para
sempre (Ap 1:18) e é capaz de salvar ao máximo (Hb
7:25). Se não houvesse ressurreição, não haveria
prova viva da justificação por meio de Sua morte (Rm
4:25), não haveria transmissão de vida (10 12:24),
regeneração (10 3:5), renovação (Tt 3:5),
transformação (Rm 12:2; 2Co 3:18), ou conformidade
à imagem de Cristo (Rm 8:29). Se não houvesse
ressurreição, não haveria membros de Cristo (Rm
12:5), Corpo de Cristo como Sua plenitude (Ef
1:20-23), a igreja como noiva de Cristo (10 3:29) e o
novo homem (Ef 2:15; 4:24; Cl 3:10-11). Se não
houvesse ressurreição, a economia neotestamentária
de Deus ruiria totalmente e o propósito eterno de
Deus seria destruído.
No versículo 12, Paulo refere-se à pregação de
que Cristo foi ressuscitado dentre os mortos. Isso
indica claramente que os apóstolos pregavam a
ressurreição de Cristo. De acordo com o livro de Atos,
a pregação do evangelho foi principalmente a
pregação da ressurreição de Cristo. Embora os
apóstolos enfatizassem a ressurreição de Cristo, a
pregação cristã de hoje enfatiza a crucificação muito
mais do que a ressurreição. Nós, contudo, precisamos
seguir os apóstolos e ressaltar a ressurreição bem
como a crucificação.
O versículo 13 continua: “E, se não há
ressurreição de mortos, então Cristo não
ressuscitou”. Esse é o primeiro ponto da contestação
de Paulo. É um fato que Cristo tenha sido
ressuscitado dentre os mortos. Como, então,
poderiam alguns dizer que não há ressurreição? Se
não há ressurreição, então Cristo não poderia ter sido
ressuscitado dentre os mortos.
No versículo 14, Paulo diz: “E, se Cristo não
ressuscitou, é vã a nossa pregação e vã, a vossa fé”. A
palavra grega traduzida por vã significa vazia, erma.
Sem o Cristo vivo em ressurreição, tanto a pregação
do evangelho como a fé Nele seriam vazias e ocas,
sem realidade. Pregar a morte de Cristo sem pregar
Sua ressurreição seria vão. A ressurreição de Cristo é
o que faz a nossa pregação viva e prevalecente. Tal
pregação nunca é vã. Além disso, sem a ressurreição
de Cristo, a fé também seria vã. Sem a ressurreição de
Cristo, tanto a pregação como a fé seriam vãs. Isso é
muito sério.
No versículo 15, Paulo prossegue: “E somos tidos
por falsas testemunhas de Deus, porque temos
asseverado contra Deus que ele ressuscitou a Cristo,
ao qual ele não ressuscitou, se é certo que os mortos
não ressuscitam”. Esse é outro ponto veemente na
contestação de Paulo.
O versículo 16, diz: “Porque, se os mortos não
ressuscitam, também Cristo não ressuscitou”. Então,
o 17 diz: “E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé,
e ainda permaneceis nos vossos pecados”. A palavra
grega traduzida por vã aqui significa infrutífera, sem
valor. Sem o Cristo ressuscitado para viver em nós
como nossa vida e tudo para nós, nossa fé Nele seria
infrutífera, sem valor e nenhuma conseqüência como
transmissão de vida, libertação do pecado, vitória
sobre Satanás e crescimento de vida. A palavra vã
usada aqui tem sentido mais forte do que a do
versículo 14. Algo que é vão é vazio, mas pode
também indicar labor sem fruto, trabalho sem ganho.
Se não houvesse ressurreição, ainda poderíamos crer,
mas por fim nada resultaria disso. Assim, nossa fé se
toma vã.
Ademais, de acordo com o versículo 17, se Cristo
não tivesse ressuscitado, ainda estaríamos em nossos
pecados. A morte de Cristo nos salva da condenação
dos pecados, e não do poder do pecado. É Sua vida de
ressurreição que nos livra do poder do pecado (Rm
8:2). Se Cristo não tivesse ressuscitado, ainda
permaneceríamos nos pecados e sob o poder do
pecado.
Pecados são uma coisa, e o poder do pecado é
outra. Como os pecados introduzem condenação,
tomamo-nos pecadores cheios de pecados e há
condenação sobre nós. Mas pela morte de Cristo a
condenação foi removida. Desse modo, Sua morte nos
salvou da condenação de pecados, mas não pode
salvar-nos do poder do pecado. A condenação dos
pecados é objetiva, e o poder do pecado é subjetivo.
Ser salvo da condenação de pecados pode ser
cumprido uma vez por todas, mas ser salvo do poder
do pecado dura a vida inteira e é diário, até mesmo a
todo instante. O problema que todos temos com o
temperamento ilustra a necessidade de sermos salvos
do poder do pecado dia a dia. Você foi salvo da
condenação de pecados, mas ainda precisa ser salvo
do seu temperamento.
Quando alguém lhe pergunta se foi salvo, você
precisa responder de forma adequada. Pode
responder com uma pergunta: “Quer dizer salvo do
inferno e do juízo de Deus, ou do poder do pecado?”
Então prossiga: “Você me pergunta se fui salvo. Agora
quero perguntar se você foi salvo do seu
temperamento”. Quem pode dizer que foi
completamente salvo do seu temperamento?
Precisamos ajudar os outros a perceber que fomos
salvos dos pecados, mas ainda precisamos ser salvos
do poder do pecado. Para ser salvos dessa forma
precisamos do poder de ressurreição.
Conforme Romanos 8:2, a lei do Espírito nos
liberta da lei do pecado. A lei do pecado, na verdade,
denota o poder do pecado, assim como a lei da
gravidade, de fato, refere-se à força da gravidade.
Somente a vida de ressurreição pode livrar-nos do
poder e da lei do pecado. A vida de ressurreição
contém uma lei mais poderosa que a lei do pecado.
Um avião pode voar por causa da ação da força que
vence a gravidade. Igualmente, podemos vencer o
poder do pecado pela ação da poderosa vida de
ressurreição de Cristo.
No versículo 17, Paulo não escreve de forma
filosófica ou teórica. Ele apela para a experiência dos
que argumentam contra a ressurreição e então usa
sua experiência para derrotá-los. Em outras palavras,
a contestação de Paulo é muito prática. Se alguém
disser que não há ressurreição, então Cristo não foi
ressuscitado. Entretanto, que faremos acerca do
poder do pecado? Para isso, precisamos de
ressurreição.
No versículo 18, Paulo continua sua contestação:
“E ainda mais: os que dormiram em Cristo,
pereceram”. Os que dormiram estão mortos (1Ts
4:13-16). Aqui a palavra pereceram significa nunca
ser ressuscitado, mas permanecer para sempre na
morte. Se Cristo não foi ressuscitado dentre os
mortos, então, os crentes em Cristo que morreram,
pereceram. Eles creram em Cristo a fim de ser salvos,
mas se Cristo não foi ressuscitado, eles tampouco o
serão. Pelo contrário, permanecerão na morte e
perecerão. Esse é o argumento de Paulo. Com isso
vemos novamente que ele argumentava acerca da
ressurreição de maneira prática.
Tive a experiência de lidar com argumentos
doutrinários dessa maneira prática, mais de quarenta
e cinco anos atrás. Um dia, encontrei um querido
amigo cristão na rua. A princípio, ele me falou de
modo cortês, dizendo que louvava ao Senhor por me
usar. Depois disse que não podia concordar com o
ensinamento de que crentes autênticos pudessem ser
postos nas trevas quando o Senhor Jesus voltasse.
Em vez de discutir doutrinariamente com ele, fiz-lhe
uma pergunta prática: “Irmão, preocupemo-nos com
a era atual. Você não crê que há crentes autênticos em
Cristo que estão hoje em trevas?” Ele teve de admitir
que muitos crentes ainda vivem em trevas. Então
prossegui: “Irmão, e quanto a esses crentes quando o
Senhor Jesus voltar?” Isso é uma ilustração de
discussão com opositores de forma prática e não
teórica.
O versículo 19 diz: “Se a nossa esperança em
Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais
infelizes de todos os homens”. Se não houver
ressurreição, não teremos futuro nem esperança de
futuro, já que Cristo é nossa esperança da glória (Cl
1:27), da porção de nossa bênção eterna (Dn 12:13),
do reino de Cristo no milênio (Ap 20:4, 6), e do
galardão da ressurreição dos justos (Lc 14:14).
Novamente, o argumento de Paulo é muito prático.
Paulo então insere, com parênteses, algo acerca
da história da ressurreição nos versículos 20 a 28. Ele
novamente argumenta a respeito da ressurreição de
forma prática nos versículos 29 a 32. No versículo 32,
ele diz: “Se, como homem, lutei em Éfeso com feras,
que me aproveita isso? Se os mortos não ressuscitam,
comamos e bebamos, que amanhã morreremos”. Ele
estava disposto a sofrer por meio da vida de
ressurreição e pela ressurreição. Ele sabia que haverá
um dia de ressurreição e que na ressurreição haverá
galardão.
III. A HISTÓRIA DA RESSURREIÇÃO

A. Cristo, as Primícias Dos que Dormem


No versículo 20, Paulo declara: “Mas, de fato,
Cristo ressuscitou dentre os mortos, sendo ele as
primícias dos que dormem”. Esse versículo começa
uma seção entre parênteses, que vai até o versículo
28. Essa seção parentética verifica a verdade da
ressurreição, estabelecendo Cristo como suas
primícias. Cristo foi o primeiro a ressuscitar dentre os
mortos como primícias da ressurreição. Isso era
tipificado pelos primeiros frutos (um molho das
primícias, incluindo Cristo com alguns dos santos do
Antigo Testamento que tinham morrido, foi
ressuscitado na ressurreição do Senhor — Mt
27:52-53) em Levítico 23:10 e 11, oferecido a Deus no
dia imediatamente após o sábado, o dia da
ressurreição (Mt 28:1). Cristo como primícias da
ressurreição é o Primogênito dentre os mortos para
ser a Cabeça do Corpo (Cl 1:18; Ef 1:20-23). Já que
Ele, a Cabeça do Corpo, ressuscitou, nós, o Corpo,
também seremos ressuscitados.
O versículo 21 diz: “Visto que a morte veio por
um homem, também por um homem veio a
ressurreição dos mortos”, O homem por quem veio a
morte foi Adão, o primeiro homem (v. 45). O homem
por meio de quem a ressurreição veio é Cristo, o
segundo Homem (v. 47). Adão introduziu a morte
mediante o pecado (Rm 5:12); Cristo introduziu a
vida de ressurreição mediante a justiça (Rm 5:17-18).
A morte introduzida por Adão opera em nós desde
que nascemos de nossos pais até a morte física. A vida
de ressurreição introduzida por Cristo opera em nós,
representada pelo batismo (Rm 6:4), a partir de nossa
regeneração pelo Espírito de Deus (Jo 3:5) para
transfiguração de nosso corpo (Fp 3:21).
Deus criou o homem, mas este caiu e se tomou
sujeito à morte. Deus, contudo, não desistiria do
homem. Mas havia necessidade de um remédio. O
remédio inclui tanto redenção como ressurreição. A
redenção lida com o pecado, mas não com a morte.
Desse modo, há necessidade de outro passo para a
redenção, e este é a ressurreição. Isso dá a Deus um
modo de resolver o problema causado pela queda do
homem. Todavia, se não houvesse ressurreição, Deus
teria sido derrotado pela queda do homem, mas Deus
nunca pode ser derrotado. O homem caiu em pecado,
e este introduziu a morte. Deus, porém, veio cumprir
a redenção, resolvendo o problema do pecado. Além
disso, a ressurreição traga a morte. Portanto, em vez
de ser derrotado, Deus é vitorioso. Deus sobrepujou a
queda do homem. Derrotou o pecado pela redenção, e
a morte pela ressurreição.
O versículo 22 diz: “Porque, assim como, em
Adão, todos morrem, assim também todos serão
vivificados em Cristo”. Em Adão nascemos na morte e
para morrer; estamos mortos em Adão (Ef 2:1, 5).
Assim que nasce, uma pessoa começa a morrer. Você
percebe que por todo o curso da vida você na verdade
está morrendo? Cada ano que vive é um ano deduzido
da duração da sua vida. Não nascemos para crescer e
viver, mas para morrer, pois em Adão nascemos na
morte.
No versículo 22, Paulo não somente diz que em
Adão todos morrem, mas também declara que em
Cristo todos seremos vivificados. Em Cristo nascemos
de novo e fomos ressuscitados para viver; fomos
vivificados, avivados, Nele (Ef 2:5-6). Por um lado,
morremos; por outro, vivemos. Em Cristo todos
fomos vivificados, fomos ressuscitados para viver.

B. Cada Um por Sua Própria Ordem


No versículo 23, Paulo continua: “Cada um,
porém, por sua própria ordem: Cristo, as primícias;
depois os que são de Cristo, na sua vinda”. Paulo aqui
novamente se refere a Cristo como as primícias, o
primeiro ressuscitado entre os mortos como as
primícias da ressurreição. Os que são de Cristo são os
crentes em Cristo, os justos, que serão ressuscitados
para a vida na volta do Senhor antes do milênio (10
5:29; Lc 14:14; 1Ts 4:16; 1 Co15:52; Ap 20:4-6). Eles
serão o segundo grupo ressuscitado dentre os mortos.
No versículo 24, Paulo declara: “E, então, virá o
fim, quando ele entregar o reino ao Deus e Pai,
quando houver destruído todo principado, bem como
toda potestade e poder”. O fim denota o fim de todas
as eras e as dispensações da velha criação. Isso é
também o final do milênio antes do novo céu e nova
terra (Ap 21:1). Por todas as eras e dispensações,
Deus, por um lado, tem lidado com Seu inimigo,
Satanás, e todas as coisas negativas no universo; por
outro, tem feito tudo para cumprir o Seu eterno
propósito. O milênio será a última de todas as eras e
dispensações, a era do reino, depois do qual todas as
disciplinas e realizações de Deus terão sido
totalmente completadas. Esse será o fim, a conclusão
de toda a obra divina. Nesse [mal, todos os incrédulos
mortos, os injustos, serão ressuscitados para o juízo
da perdição eterna (Jo 5:29; Ap 20:5, 11-15). Eles
comporão o terceiro grupo a ser ressuscitado.
A ressurreição de Cristo marcou o início da era
da igreja. Os crentes em Cristo que morreram serão
ressuscitados na Sua vinda, no final da era da igreja.
Nisso vemos duas ressurreições: a primeira no início
da era da igreja, e a segunda na consumação. A
palavra grega traduzida por “fim” no versículo 24, na
verdade, significa completação. Como já enfatizamos,
o versículo 24 refere-se ao fim de todas as eras e
dispensações da velha criação. O fim não ocorrerá na
completação da era da igreja, mas do milênio. Então,
haverá a eternidade com o novo céu e nova terra. A
palavra de Paulo é muito sucinta, mas implica muito
pois inclui o milênio. Depois do milênio, virá o fim a
que ele se refere no versículo 24.
No versículo 24, a palavra “quando” é
significativa. Ela ressalta a época em que Cristo
destruirá a autoridade satânica, subjugará todos os
Seus inimigos (v. 25), abolirá a morte (v. 26) e
entregará o reino a Deus Pai, ou seja, quando todas as
coisas negativas forem extirpadas e cumprido todo o
propósito de Deus, a velha criação chegará ao fim.
Quando o Senhor Jesus entregará o reino a
Deus? Isso não será na Sua volta, porque então Ele
trará o reino de Deus à terra. Depois, por mil anos,
Ele exercerá o reino. Assim, a entrega do reino a Deus
tem de ser no [mal dos mil anos. Quando Cristo
anulará todo principado, potestade e poder? Isso só
pode ser no [mal do milênio. Sabemos por Apocalipse
20, que Satanás absolutamente não será anulado
antes do milênio. Em vez disso, ficará aprisionado.
Então, no fim dos mil anos será solto da prisão.
Somente então será lançado no lago de fogo (Ap
20:710). Portanto, será depois do milênio que Cristo
vai entregar o reino a Deus. Nessa época, Satanás já
terá sido destruído.
Depois de completar a redenção, Cristo foi
receber o reino do Pai (Lc 19:12-13, 15). Antes do
milênio, Ele, como o Filho do Homem, terá recebido o
reino de Deus, do Ancião de dias, para reger as nações
por mil anos (Dn 7:13-14; Ap 20:4, 6). No final do
milênio, depois de ter derrotado Satanás, o diabo, e
seus anjos malignos (assim como toda potestade,
principado e poder) e até mesmo a morte e o Hades,
colocando todos os inimigos sob Seus pés (1Co
15:25-26) e lançando todos eles, inclusive a morte e o
Hades, no lago de fogo (Ap 20:7-10, 14), Ele devolverá
o reino a Deus Pai.
No versículo 24, Paulo por duas vezes usa a
palavra “quando”. A maioria das traduções adotam
essa tradução. O vocábulo quando aí não indica
tempo determinado, mas que algo poderia acontecer
a qualquer hora. Cristo hoje poderia destruir todo
principado, potestade e poder se decidisse fazer isso.
Paulo não determinou o tempo porque ele não era o
Senhor. Uma vez que Cristo tiver destruído todo
principado, potestade e poder, será o fim.
No versículo 25, Paulo diz de Cristo: “Porque
convém que ele reine até que haja posto todos os
inimigos debaixo dos seus pés” (VRA). Para reinar,
Cristo precisa estar em ressurreição. Se não houvesse
ressurreição, Cristo ainda estaria no túmulo e não
Lhe seria possível reinar. Cristo começou a reinar
desde que ressuscitou. Em Mateus 28:18, o Senhor
Jesus disse aos discípulos: “Toda a autoridade Me foi
dada no céu e na terra”. Ele, então, os incumbiu de ir
e fazer discípulos de todas as nações. Ele tem
autoridade para reinar. Agora, sob Seu reino,
precisamos fazer discípulos das nações,
introduzindo-os em Seu reino e tomando-os Seu
povo. Hoje, o verdadeiro rei, o verdadeiro
governante, é o Senhor Jesus. Conforme Apocalipse 1,
Ele é o Soberano dos reis da terra. Todo rei, rainha,
presidente e chefe de estado está sob Seu governo. Na
verdade, essa afirmação também é parte veemente da
contestação de Paulo aos que diziam não haver
ressurreição.
No versículo 25, ele diz que Cristo tem de reinar
até que ponha todos os inimigos sob os pés. Quanto
mais tempo Cristo reinar, mais inimigos serão
colocados sob Seus pés. Por fim, no final do milênio, a
última era da velha criação, todo inimigo será
colocado sob os pés de Cristo. A palavra “até” indica
isso e assinala o [mal dos mil anos. Essa será a época
em que todo inimigo terá sido colocado sob os pés de
Cristo.
No versículo 26, Paulo diz: “O último inimigo a
ser destruído é a morte”. Imediatamente após a
queda do homem, Deus começou Sua obra para abolir
o pecado e a morte. Essa obra tem progredido por
todas as eras do Antigo e do Novo Testamento e ainda
está em processo hoje. Quando o pecado for extirpado
no final da velha criação e quando sua fonte, Satanás,
for lançada no lago de fogo (Ap 20:7-10), a morte será
abolida. Juntamente com o Hades será lançado no
lago de fogo o seu poder, depois do juízo último e
final no trono branco (Ap 20:11-15).
No versículo 27, Paulo explica: “Porque todas as
coisas sujeitou debaixo dos seus pés. E quando diz
que todas as coisas lhe estão sujeitas, certamente
exclui aquele que tudo lhe subordinou” (VRA). Quem
sujeitou todas as coisas sob os pés de Cristo é Deus.
Isso é uma citação do Salmo 8:6 acerca de Cristo
como o Homem que Deus fez para ter domínio sobre
todas as coisas. Isso terá sido cumprido quando todas
as coisas mencionadas nos versículos 24 a 26 tiverem
ocorrido. “Porque” no início do versículo indica isso.
No versículo 27, a expressão “seus pés” e o
pronome “lhe” se referem a Cristo como o Homem
profetizado no Salmo 8:4-8. A Ele (o Homem
ressuscitado, glorificado e exaltado) Deus sujeitou
todas as coisas (Hb 2:7-9; Ef 1:20-22). Ele as sujeitou
sob os pés de Cristo. Entretanto, é evidente que isso
não inclui o próprio Deus. Deus, que sujeitou todas as
coisas a Cristo, é a única exceção.
O versículo 28 diz: “Quando, porém, todas as
coisas lhe estiverem sujeitas, então, o próprio Filho
também se sujeitará àquele que todas as coisas lhe
sujeitou, para que Deus seja tudo em todos”. Essa é a
execução da administração de Deus mediante a
ressurreição.
O pronome lhe usado no versículo 28, refere-se a
Cristo a quem Deus sujeitou todas as coisas. O
pronome aquele refere-se a Deus, que sujeitou todas
as coisas a Cristo. De acordo com o versículo 28, por
fim o próprio Filho Se sujeitará Àquele que Lhe
sujeitou todas as coisas, para que Deus seja tudo em
todos. Cristo, como o Filho de Deus para ser cabeça
do homem em Sua humanidade, está sob o
encabeçamento de Deus Pai (11:3). Isso visa à
administração governamental de Deus. Deus Pai
sujeitará todas as coisas sob os pés de Cristo, como
homem ressurreto em glória (Ef 1:22; Hb 2:7-8), e
Cristo, como tal homem ressurreto, porá todos os
inimigos sob Seus pés para executar a obra de Deus
Pai de sujeitar todas as coisas a Ele, e entregará o
reino de volta a Deus Pai (v. 24). Depois disso, o
próprio Cristo na Sua divindade também Se sujeitará
a Deus, que sujeitou todas as coisas a Ele, ao Filho em
Sua humanidade. Isso indica a sujeição e
subordinação absolutas do Filho ao Pai, o que exalta o
Pai para que este seja tudo em todos.
Nesse ponto quero mencionar Efésios 1:10: “De
fazer convergir nele, na dispensação da plenitude dos
tempos, todas as coisas, tanto as do céu como as da
terra”. Como Deus irá sujeitar todas as coisas a
Cristo? Ele o fará, fazendo convergir, ou
encabeçando, todas as coisas em Cristo. Além disso, é
mediante a igreja que todas as coisas serão
encabeçadas em Cristo. Primeiro, Cristo tem de ter o
Corpo, a igreja. Em Seu Corpo, Ele tem primeiro de
nos encabeçar. Vimos que em 1 Coríntios 11:3, Paulo
diz que a cabeça de Cristo é Deus, a cabeça de todo
homem é Cristo e a cabeça da mulher é o homem. O
encabeçamento primeiro ocorre na igreja. A igreja é o
Corpo para Cristo, a Cabeça, encabeçar todas as
coisas. Uma vez encabeçada, a igreja será usada por
Cristo como Seu Corpo para encabeçar todas as
coisas. Isso vai acontecer em ressurreição.
Em 11:3, Paulo começa com o encabeçamento e
em 15:24-28, conclui com a ressurreição. Em
ressurreição, Cristo não só se tornou o Espírito que
dá vida para transmitir Sua vida ao Seu Corpo, mas
também o Rei soberano para realizar a administração
de Deus. Tudo isso é em ressurreição. Por um lado,
para nós como povo escolhido de Deus, Cristo em
ressurreição é o Espírito que dá vida
transmitindo-nos vida. Por outro, para as nações,
Cristo em Sua ressurreição se tornou o Rei soberano a
realizar a administração de Deus. Seu Corpo tem de
cooperar com Ele em Sua vida de ressurreição e
autoridade de ressurreição, para que a igreja seja
encabeçada. Então todas as nações serão
encabeçadas. Além disso, enquanto encabeça todas as
coisas, Ele subjuga e sujeita Seus inimigos sob os pés.
Por fim, no final do milênio, depois do fim de todas as
eras e dispensações, a administração de Deus será
plenamente cumprida, e Cristo entregará o reino de
volta a Deus, que Lhe sujeitou todas as coisas. Então
haverá o novo céu e nova terra, e estaremos na Nova
Jerusalém a desfrutar Cristo e reinar com Ele sobre as
nações. Essa é a administração de Deus levada a cabo
na ressurreição todo-inclusiva de Cristo.
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM SESSENTA E SETE
A QUESTÃO DA RESSURREIÇÃO (3)

Leitura Bíblica: 1Co 15:29-44


Ressurreição é um fato que tem muito a ver com
a vida diária dos cristãos. A vida diária do cristão, na
verdade, depende da ressurreição. Além disso, a
esperança cristã depende da ressurreição. Se não
houvesse ressurreição, não haveria esperança e
seríamos as pessoas mais miseráveis.
A ressurreição de Cristo também se relaciona
com a administração de Deus. A execução dessa
administração depende de nossa experiência da
ressurreição de Cristo. Se não tivermos Cristo como
vida de ressurreição em nós, não poderemos ser
membros vivos de Seu Corpo para levar a cabo a
administração divina para que Cristo reine até que
subjugue todos os inimigos. Nesta mensagem, vamos
considerar a influência moral da ressurreição (vs.
29-34) e sua definição (vs. 35-49).

IV. A INFLUÊNCIA MORAL DA


RESSURREIÇÃO
Vimos que os versículos 20 a 28 podem ser
considerados como um parêntese. Isso, então, ligaria
o versículo 29 ao 18, e os versículos 30 a 32 ao 19.

A. Se Não Há Ressurreição
No versículo 29, Paulo diz: “Doutra maneira, que
farão os que se batizam por causa dos mortos? Se,
absolutamente, os mortos não ressuscitam, por que
se batizam por causa deles?” A frase “batizar-se por
causa dos mortos” significa ser batizado por quem já
morreu. Essa não era uma regra oficial geralmente
praticada pelas primeiras igrejas, mas a atividade
pessoal de alguns crentes individuais em favor de
mortos, pelos quais se preocupavam porque creram
no Senhor, mas não foram batizados antes de morrer.
Eles faziam isso na esperança de que ressuscitassem
dentre os mortos na volta do Senhor (1Ts 4:16), já que
a ressurreição é claramente tipificada no batismo (Cl
2:12). O apóstolo usa o que eles faziam para fortalecer
a verdade da ressurreição. Isso não quer dizer,
todavia, que aprovasse que crentes fossem batizados
a favor dos mortos.
No versículo 29, as palavras “por causa” na
verdade significam a favor de. Alguns crentes tinham
parentes, vizinhos ou amigos que também haviam
crido no Senhor, mas haviam morrido sem ser
batizados. Por amor a eles, alguns crentes eram
batizados em favor deles. Isso não fora ensinado
pelos apóstolos, mas sabemos pela história da igreja
que era praticado pelos crentes, embora a prática não
fosse comum. O fato de um crente ser batizado a favor
de outro que havia morri do representa uma forte
crença na ressurreição. O batismo representa morte,
sepultamento e ressurreição. Mas, se não houvesse
ressurreição e se os cristãos simplesmente
morressem e fossem sepultados, por que alguém seria
batizado em favor deles? O fato de alguém ser
batizado pelos mortos indica uma crença, uma,
expectativa, de que os mortos seriam ressuscitados.
Paulo se refere a essa prática como parte de sua
contestação à heresia de que não havia ressurreição.
Ele aqui parece dizer: “Se os mortos não ressuscitam,
então por que outros são batizados em favor deles
para representar que serão ressuscitados?” Isso é o
que ele quer dizer aqui.
No versículo 30, Paulo prossegue: “E por que
também nós nos expomos a perigos a toda hora?” Se
não há ressurreição, então por que ele se exporia a
perigos a toda hora? Por que iria diariamente arriscar
a vida? Pelo contrário, se não houvesse ressurreição,
ele devia desfrutar a vida.
No versículo 31, ele continua: “Dia após dia,
morro! Eu o protesto, irmãos, pela glória que tenho
em vós outros, em Cristo Jesus, nosso Senhor”. Aqui
o verbo morrer significa arriscar a vida, estar em
perigo de morte, enfrentar a morte e morrer para si
mesmo (2Co 11:23; 4:11; 1:8-9; Rm 8:36).
Os crentes coríntios eram o fruto do labor do
apóstolo, um labor no qual ele arriscou a vida e esteve
em perigo de morte. Neles, o apóstolo pôde gabar-se
disso. Ao fazê-lo, ele protestou que morria cada dia. O
gabar-se do apóstolo nos coríntios como fruto do
risco de sua vida era em Cristo, e não em si mesmo,
porque seu labor não era por si mesmo, mas por
Cristo.
Paulo era como um soldado que arriscava a vida
no campo de batalha. Ele lutava pelo reino de Deus e
todos os dias morria pelo bem dos coríntios. Quando
foi pregar-lhes o evangelho, ele arriscou a vida.
Enquanto esteve em Corinto, morria todos os dias.
Não era fácil Paulo ir a Corinto, ao mundo gentio.
Esse mundo se opunha a tudo o que fosse judeu e
também cristão. Contudo, Paulo diariamente
arriscava a vida a fim de pregar-lhes o evangelho, mas
por causa de sua disposição de morrer todos os dias,
muitos coríntios foram salvos.
No versículo 32, Paulo usa uma figura de
linguagem: “Se, como homem, lutei em Éfeso com
feras, que me aproveita isso? Se os mortos não
ressuscitam, comamos e bebamos, que amanhã
morreremos”. A palavra “feras” usada aqui é uma
figura de linguagem que denota pessoas ou coisas
más. O costume dos homens, ao lutar com qualquer
pessoa ou coisa má, é receber recompensa temporal,
mas o apóstolo será recompensado pela sua luta com
pessoas e coisas más a favor do evangelho na
ressurreição no futuro (Lc 14:14; 2Tm 4:8).
Sabemos por Atos 19 que Paulo lutava com
“feras”. Tanto os judeus como os gentios em Éfeso se
opunham vigorosamente a ele. Assim, ele teve de
lutar com pessoas e coisas más. Mas, se não houvesse
ressurreição, que proveito teria por isso? Como ele
diz: “Se os mortos não ressuscitam, comamos e
bebamos, que amanhã morreremos”. Isso parece ser
citação de um provérbio da época, uma máxima dos
epicureus 11 . Se não houvesse ressurreição, nós,
crentes não teríamos esperança no futuro e desse
modo nos tomaríamos os mais miseráveis de todos os
homens (v. 19). Se é assim, devemos desfrutar a vida
hoje, esquecendo-nos do futuro como os epicureus.

B. Uma Advertência para Não Ser Enganado


O versículo 33 diz: “Não vos enganeis: as más
conversações corrompem os bons costumes” (o termo
conversações pode ser traduzido por companhias).

11
Doutrina de Epicuro, filósofo materialista grego (341-270 a.C.), e de seus seguidores, (...)
caracterizada, (...) na moral, pela identificação do bem. soberano com o prazer, com o qual,
concretamente, há de ser encontrado na pratica da virtude e na cultura do espírito (Dic. Aurélio). (N.T.)
Isso parece ser citação de outro provérbio da época,
um fragmento de um poema grego. Com essa palavra,
o apóstolo adverte os crentes gregos a não ficar na
companhia dos heréticos que diziam que não há
ressurreição. Tais más companhias iriam corromper
sua fé e as virtudes cristãs.
No versículo 33, Paulo exorta os coríntios a não
prestar atenção à heresia enganosa e desconexa de
que não havia ressurreição. Os que dão ouvidos a essa
heresia serão enganados por ela. Além do mais se se
tornassem companheiros dos heréticos, tal amizade
corromperia os bons costumes. Esse princípio se
aplica a nós na vida da igreja hoje.
Alguns dos que deixaram a restauração do
Senhor e agora falam mal dela podem tentar
influenciar os que permaneceram na vida da igreja.
Se você absorver idéias negativas e se tornar
companheiro deles, essa amizade vai corromper sua
vida da Igreja. Os bons costumes mencionados no
versículo 33 incluem amar ao Senhor, viver para o
futuro, arriscar a vida pelo evangelho e praticar a
~ida adequada da igreja. Isso, na verdade, inclui
todas as boas coisas abordadas em todo o livro de 1
Coríntios.
No versículo 34, Paulo continua sua exortação:
“Tornai-vos à sobriedade, como é justo, e não
pequeis; porque alguns ainda não têm conhecimento
de Deus; isso digo para vergonha vossa”. Ser sóbrio,
como é justo, é despertar de um estupor alcoólico
para a sobriedade; é parar, como é justo, de ser
bêbado. A palavra “como é justo” aqui significa ser
direito para com Deus e os homens. Dizer que não há
ressurreição ofende a Deus e o homem, e é pecado.
Daí o apóstolo advertir os coríntios extraviados a
despertar do seu pecado para a sobriedade a fim de
ser retos para com Deus e o homem. Eles estavam
injustamente embriagados num estupor de heresia de
não-ressurreição. Precisavam sair desse estupor.
Literalmente, as palavras “não têm
conhecimento de Deus” significam “têm ignorância”.
Ser herético em dizer que não há ressurreição é não
ter conhecimento de Deus, não conhecer o poder de
Deus ou Sua economia (Mt 22:29-32). Isso é uma
vergonha para os crentes.
Como cristãos, precisamos ser despertados à
sobriedade. Não devemos ser como os epicureus, que
queriam somente desfrutar a vida sem se preocupar
com o amanhã. Precisamos parar, como é justo, de
ser drogados. Quem diz que não há ressurreição não é
justo para com Deus ou o homem. De modo
semelhante, os que se opõem à vida da igreja não
estão corretos para com Deus ou para com os
homens.
Certa vez recebi uma carta de um irmão que
reconhecia que eu o ajudara a conhecer e
experimentar Cristo. Ele era grato por essa ajuda e
também pela ajuda em conhecer a igreja, mas depois
disse que meu ensinamento acerca da vida da igreja,
principalmente a base da igreja, era carnal. É injusto
dizer que ensinar os crentes a praticar a vida da igreja
é carnal. Esse dito é injusto tanto para com Deus
como para com o homem. Alguém que faça essa
afirmação ou concorde com ela precisa despertar
como de um estupor alcoólico.
Há hoje muitos ensinamentos heréticos. Alguns
deles podem conter somente pequena porcentagem
de heresia, e outros, porcentagem bem maior. Você
sabe por que está disposto a aceitar certa heresia? É
porque você tem tendência, inclinação interior para
tal heresia. Ela se encaixa ao seu gosto. Então, por
assimilar um ensinamento herético que se encaixa ao
seu gosto, você se toma drogado ou embriagado.
Conhecendo a situação entre os coríntios, Paulo
os advertiu a não aceitar a heresia que nega a
ressurreição. Ele sabia que isso envolvia más
companhias que por fim corromperiam seus bons
costumes na vida da igreja. Com isso vemos que a
ressurreição com certeza tem influência positiva
sobre nossos costumes morais, mas negá-la vai
corrompê-los. Isso nos fará naufragar.

V. A DEFINIÇÃO DE RESSURREIÇÃO
No mundo natural temos muitas ilustrações de
ressurreição. Em 1936, fiz uma visita a uma das
melhores universidades da China. Um dos estudantes
falou-me sobre sua dificuldade em crer na
ressurreição. Ele me disse que, devido ao moderno
conhecimento científico, não conseguia crer. Para ele,
o conceito de ressurreição era contrário à verdade
científica. Fora da sala onde estávamos havia uma
seara de trigo. Chamando sua atenção para o trigo
crescendo na seara, mostrei que o trigo era produzido
por alguns grãos que foram sepultados na terra.
Disse-lhe que, em certo sentido, essas sementes
haviam morrido, mas agora brotaram em
ressurreição como trigo. Com essa ilustração de
morte e ressurreição, esse jovem foi salvo. Agora ele é
um dos principais cooperadores em Taiwan. Ao usar
o trigo como ilustração da ressurreição, eu não segui
minha própria sabedoria. Pelo contrário, segui o
exemplo estabelecido por Paulo em 1 Coríntios 15.
A. O Corpo de Ressurreição
Os versículos 35 e 36 dizem: “Mas alguém dirá:
Como ressuscitam os mortos? E em que corpo vêm?
Insensato! O que semeias não nasce, se primeiro não
morrer”. Os gregos filósofos pensavam que eram
espertos, mas Paulo os chamou de insensatos,
mostrando que as perguntas que faziam provavam
sua insensatez. Em sua resposta, ele se refere à vida
vegetal. A realidade da ressurreição está contida e
oculta na natureza, principalmente na vida vegetal.
Um grão plantado na terra morre e é vivificado. Isso é
ressurreição. Isso responde à primeira pergunta dos
coríntios insensatos: “Como ressuscitam os mortos?”
No versículo 37, Paulo continua: “E, quando
semeias, não semeias o corpo que há de ser, mas o
simples grão, como de trigo ou de qualquer outra
semente”. O que é semeado não é um molho de trigo,
mas uma semente, o grão sozinho. Então a semente
cresce e transforma-se no “corpo que há de ser”. Pode
ser difícil distingui10 entre sementes diversas, mas
uma vez semeadas e crescidas, as diferenças serão
manifestas. As plantas diferirão em forma e cor.
Continuando essa ilustração, no versículo 38,
Paulo diz: “Mas Deus lhe dá corpo como lhe aprouve
dar e a cada uma das sementes, o seu corpo
apropriado”. Ele aplica a palavra corpo aqui não ao
corpo semeado para morrer, como no versículo 37,
mas ao corpo ressuscitado dado por Deus, com forma
diferente e em nível mais elevado. Isso responde à
segunda pergunta insensata dos coríntios: “Em que
corpo vêm?”
O versículo 39 diz: “Nem toda carne é a mesma;
porém uma é a carne dos homens, outra, a dos
animais, outra, a das aves, e outra, a dos peixes”. Do
versículo 39 a 41, o apóstolo prova aos coríntios
insensatos que Deus é capaz de dar corpo a todas as
vidas ressuscitadas, assim como deu a todos os itens
criados: homens e animais na terra, pássaros no ar e
peixes na água, corpos terrenos com glórias
diferentes; e ao sol, lua e estrelas, corpos celestiais
com glória celestial em graus variados. No versículo
42, ele esboça a conclusão: “Pois assim também é a
ressurreição dos mortos”. Então ele enfatiza que o
corpo é semeado em corrupção, desonra e fraqueza,
mas ressuscita em incorrupção, glória e poder.
No versículo 44, Paulo declara: “Semeia-se corpo
natural, ressuscita corpo espiritual. Se há corpo
natural, há também corpo espiritual”. O termo
natural é literalmente anímico. Um corpo anímico é
um corpo natural animado pela alma e no qual a alma
predomina. Um corpo espiritual é um corpo
ressurreto saturado do espírito e no qual o espírito
predomina. Se morrermos, nosso corpo natural, antes
anímico, será semeado, sepultado em corrupção,
desonra e fraqueza. Quando for ressuscitado,
tomar-se-á espiritual em incorrupção, glória e poder.
Aleluia, um dia estaremos em ressurreição! Então
não haverá mais corrupção, desonra ou fraqueza;
pelo contrário, estaremos em incorrupção, glória e
poder.
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM SESSENTA E OITO
A QUESTÃO DA RESSURREIÇÃO (4)

Leitura Bíblica: 1Co 15:45-58


Nesta mensagem vamos continuar a considerar a
definição de ressurreição e depois ver a vitória da
ressurreição.

B. Um Corpo Espiritual com a Imagem


Celestial de Cristo
O versículo 45 diz: “Pois assim está escrito: O
primeiro homem, Adão, foi feito alma vivente. O
último Adão, porém, é espírito vivificante”. Adão
tomou-se alma vivente mediante a criação com corpo
anímico. Cristo tomou-se Espírito vivificante, ou que
dá vida, mediante a ressurreição com corpo
espiritual. Adão, como alma vivente, é natural; Cristo,
como Espírito que dá vida, é ressurreto. Primeiro, na
encarnação, Ele se tomou carne para redenção (Jo
1:14, 29). Depois, em ressurreição, tomou-se Espírito
que dá vida para infundir vida (Jo 10:10). Ele teve um
corpo anímico como Adão mediante a encarnação, e
tem um corpo espiritual mediante a ressurreição. Seu
corpo anímico tomou-se espiritual mediante a
ressurreição. Ele agora é Espírito que dá vida em
ressurreição, com corpo espiritual, pronto para ser
recebido pelos crentes. Quando cremos Nele, Ele
entra em nosso espírito e somos unidos a Ele como
Espírito que dá vida. Desse modo, tomamo-nos um
espírito com Ele (1Co 6:17). Nosso espírito é
vivificado e ressuscitado com Ele. Por fim, nosso
atual corpo anímico também se tomará corpo
espiritual em ressurreição exatamente como o Dele
(vs. 52-54; Fp 3:21).
O versículo 45 implica tanto a criação como a
nova criação. Adão, o primeiro homem, era cabeça da
velha criação. Quando Deus o criou, ele se tomou
alma vivente. Isso quer dizer que se tomou uma
pessoa, um ser humano. Em hebraico, a palavra Adão
significa varão. Porquanto Deus o fez alma vivente,
sua parte principal era a alma, que visa à velha
criação. Hoje, em princípio, se vivermos na alma, por
ela ou para ela, estaremos na velha criação. A alma é o
centro e parte vital da velha criação. Uma pessoa
pode ser moral, mas se vive na alma, ainda pertence à
velha criação.
Cristo ser o último Adão implica num término e
conclusão da velha criação. A velha criação termina
com um homem, o último Adão. Esse Homem, que
pôs fim à velha criação, tomou-se em ressurreição o
Espírito que dá vida. Agora esse Espírito é o centro e a
parte vital da nova criação.
A velha criação foi criada por Deus. A nova
criação, entretanto, vem a existir não pela criação,
mas pela ressurreição. Por isso, o versículo 45 implica
duas criações: a velha criação com o homem que é
alma vivente como o centro e parte vital, e a nova
criação em ressurreição com o Espírito que dá vida
como centro e parte vital.
Muitos cristãos hoje são carentes de revelação,
de visão espiritual adequada, e se opõem a nós
quando dizemos que Cristo, como último Adão,
tornou-se Espírito que dá vida, mas negar que Cristo
é o Espírito que, dá vida equivale a negar a realidade
da ressurreição. O Espírito que dá vida é a energia
vital da ressurreição de Cristo. Se Cristo tivesse
meramente sido ressuscitado com corpo e não se
tivesse tornado Espírito que dá vida, Sua ressurreição
não teria grande significado para nós. Simplesmente
seria um fato objetivo não relacionado com vida.
Poderia, então, ser comparado com a ressurreição de
Lázaro. A ressurreição de Lázaro foi meramente um
ato de ressurreição; não produziu nem gerou nada
relacionado com vida. A ressurreição de Cristo,
porém, é totalmente relacionada com vida, porque
em ressurreição Ele se tornou Espírito que dá vida.
A maioria dos cristãos crêem na ressurreição
simplesmente de maneira objetiva. Para eles, a
ressurreição de Cristo nada mais é que um ato
objetivo, um ato não relacionado com os membros do
Corpo de Cristo. Os que entendem a ressurreição de
Cristo dessa forma também consideram Sua ascensão
estritamente de modo objetivo. Não percebem que a
ascensão tem algo a ver conosco subjetivamente. Do
ponto de vista de alguns cristãos, tanto a ressurreição
como a ascensão de Cristo nada têm a ver conosco no
tocante à vida. Pelo contrário, ambos são fatos
objetivos cumpridos por Cristo. Eles se apegam a
esses fatos como parte de suas crenças fundamentais.
A ressurreição não foi meramente um ato
objetivo realizado por Cristo. Está muito relacionada
conosco subjetivamente. Mediante a encarnação,
Cristo se tornou homem; tornou-se um de nós. Por
isso, a encarnação foi muito mais que um fato
objetivo. Foi um processo que introduziu Deus na
humanidade. O princípio é o mesmo com o processo
de ressurreição. Ela não foi meramente um ato em si,
mas um processo para gerar o Espírito que dá vida.
Pelo processo de ressurreição, o Homem que pôs fim
à velha criação tornou-se o Espírito que dá vida, o
elemento germinante da nova criação.
Poucos cristãos viram que Cristo em ressurreição
é o Espírito que dá vida. Andrew Murray, contudo,
compreendeu algo acerca disso. Ele escreveu sobre
isso em sua obra-prima O Espírito de Cristo, no
capítulo intitulado “O Espírito do Jesus Glorificado”.
O Espírito do Jesus glorificado é na verdade o próprio
Senhor Jesus em ressurreição e em glória. Quando
Ele entrou em ressurreição, tomou-se o Espírito que
dá vida. Esse Espírito que dá vida é a essência para
fazer germinar a nova criação. O elemento que faz
germinar a nova criação é o Cristo ressurreto como
Espírito que dá vida.
A teologia cristã tradicional se opõe à verdade
que Cristo tomou-se Espírito que dá vida. Na opinião
de muitos, isso é herético. De fato, é uma verdade
encontrada nas profundezas da Palavra de Deus. Por
fim, a verdade vai prevalecer.
Primeira Coríntios 15:45 é um grande versículo.
Repetindo: esse versículo implica a velha criação,
com a alma como centro, e a nova criação, com o
Espírito como centro. Esse Espírito é nada menos que
Cristo, o Deus Triúno. Na verdade, o Espírito que dá
vida é o Deus Triúno processado. Deus passou por um
processo de encarnação, crucificação e ressurreição.
Agora, em ressurreição, Ele é a essência vital para
fazer germinar a nova criação. Tomamo-nos a nova
criação que o Deus Triúno, como Espírito que dá vida,
fez germinar. Em A Economia de Deus12 enfatizamos
o espírito humano e Cristo tomando-se o Espírito que
dá vida. A mais elevada definição de ressurreição é
12
Livro publicado por esta Editora. (N.T.)
esta: um processo pelo qual Cristo, o último Adão,
tomou-se Espírito que dá vida.
Em 1964, quando estávamos trabalhando em
nosso hinário, um irmão advertiu-nos que não
publicássemos os hinos sobre Cristo como o Espírito.
Ele admitiu que a Bíblia revela que Cristo é o Espírito,
mas disse que, como a maioria dos cristãos não
aceitaria esse ensinamento, não deveríamos incluir
hinos sobre esse assunto em nosso hinário. Disse-lhe
que nunca forçaria alguém a seguir meu
ensinamento, mas de fato precisava de liberdade para
ensinar a verdade da Bíblia. Também ressaltei que
nosso objetivo é primeiro salvar pecadores pela
pregação do evangelho; segundo, aperfeiçoar os
santos e edificá-los mediante o ensinamento
adequado para que cresçam em vida; terceiro, tomar
a base única da igreja para estabelecer as igrejas
locais; quarto, ter a comunhão de todas as igrejas
como um só Corpo. Disse que já que nossa obra tem
quatro aspectos, temos o mesmo alvo e o mesmo
objetivo. Disse ainda que tenho um pesado encargo
acerca da questão de Cristo ser o Espírito, e não tenho
escolha exceto ministrar de acordo com esse encargo.
Disse-lhe que preciso declarar que Cristo hoje é o
Espírito que dá vida. Não depende de mim se os
outros vão aceitar esse ensinamento ou rejeitá-lo. Na
época de Martinho Lutero, nem todos aceitaram a
verdade da justificação pela fé. Se Lutero tivesse
hesitado nisso, como poderia ter havido a Reforma?
Disse-lhe categoricamente que não temo a oposição.
Não quero que ninguém me siga cegamente.
Paulo diz: “Sede meus imitadores, como também eu
sou de Cristo” (11:1). Se sigo Cristo, se sigo a Bíblia, se
sigo a verdade, então vocês devem seguir-me. De
modo semelhante, se você seguir Cristo, a Bíblia e a
verdade, eu devo seguir você. Dessa forma, devemos
seguir uns aos outros. Isso é o que nos esforçamos por
fazer na restauração do Senhor.
Alguns que se opõem à afirmação de que Cristo
hoje é o Espírito que dá vida tentam argumentar que
15:45 não usa o artigo definido, que esse versículo fala
de Espírito que dá vida e não de o Espírito que dá
vida. Todavia, o ponto crucial aqui não é se há o
artigo ou não, mas é a clara menção do Espírito que
dá vida. Será que os nossos opositores crêem que há
dois Espíritos que dão vida, o Espírito Santo e o
Espírito que dá vida? É herético ensinar que há dois
Espíritos que dá vida, dois Espíritos vivificantes.
Quanto mais falo sobre Cristo ter-se tomado o
Espírito que dá vida, mais ousado, certo e encorajado
fico. Realmente está de acordo com a revelação divina
que Cristo, o último Adão, tomou-se Espírito que dá
vida.
Dizer que o último Adão tomou-se o Espírito que
dá vida é o mesmo que dizer que, de acordo com João
1:14, o Verbo tomou-se carne. Note que não há artigo
antes da palavra carne. Faria alguma diferença se esse
versículo dissesse: “O Verbo tomou-se a carne”? Seja
como for, carne ou a carne, o sentido é o mesmo. No
mesmo princípio, a falta de artigo definido não é
decisiva em 15:45. Repito: o ponto crucial é o Espírito
que dá vida.
Os cristãos podem admitir que determinadas
questões encontram-se na Palavra, mas, temendo o
homem, não têm a ousadia de tomar posição pela
verdade. Por causa da influência da tradição, não
tomam posição firme pela verdade. Alguns que se
opõem a nós têm admitido que o Filho é chamado de
Pai em Isaías 9:6, mas não podem dizer isso por
causa da tradição. Outros podem seguir a tradição,
mas nós nos importamos somente com a Bíblia, a
pura Palavra de Deus.
No versículo 46, Paulo diz: “Mas não é primeiro o
espiritual, e sim o natural; depois, o espiritual”. O
espiritual aqui denota Cristo, o segundo Homem; o
anímico (natural) denota Adão, o primeiro homem (v.
47). Segundo a compreensão, tradição e prática
humanas, devemos seguir o primeiro, e não o
segundo. Esse foi o motivo de Paulo deliberadamente
dizer nesse versículo que o anímico é o primeiro, e
não o espiritual. O espiritual é o segundo. Se
considerarmos a maneira da Bíblia, devemos seguir o
segundo, e não o primeiro. Por exemplo, você deve
seguir Caim ou Abel? Com certeza não seguiremos
Caim, o primeiro; mas devemos seguir Abel, o
segundo. Além disso, na época da Páscoa, o
primogénito é que era morto. Isso indica que o juízo
de Deus é sobre o primogénito. O mesmo princípio se
aplica à primeira criação e à nova criação. Deus não
quer o que é primeiro, mas o segundo.
No versículo 47, Paulo continua: “O primeiro
homem, formado da terra, é terreno; o segundo
homem é do céu”. Da terra denota a origem do
primeiro homem, Adão, e terreno denota sua
natureza. Cristo é não só o último Adão, mas também
o segundo Homem. O primeiro Adão é o início da
humanidade; o último Adão é o fim. Como primeiro
homem, Adão é cabeça da velha criação,
representando-a na criação. Como o segundo
Homem, Cristo é Cabeça da nova criação,
representando-a em ressurreição. Em todo o universo
há esses dois homens: o primeiro homem Adão, que
inclui todos os seus descendentes, e o, segundo
Homem, Cristo, que compreende todos os crentes.
Nós, crentes, fornos incluídos no primeiro homem
por meio do nascimento e nos tomamos parte do
segundo Homem mediante a regeneração. Nossa fé
nos transferiu do primeiro homem para o segundo.
Como parte do primeiro homem, nossa origem é a
terra e nossa natureza é terrena. Como parte do
segundo Homem, nossa origem é Deus e nossa
natureza é celestial. Dos céus denota tanto a origem
divina de Cristo, o segundo Homem, como Sua
natureza celestial.
O versículo 48 diz: “Como foi o primeiro homem,
o terreno, tais são também os demais homens
terrenos; e, como é o homem celestial, tais também os
celestiais”. Terrenos refere-se ao primeiro homem,
Adão, que é terreno. “São também os demais homens
terrenos” denota todos os descendentes de Adão, que,
como ele, são terrenos. Celestial denota o segundo
Homem, Cristo, que é celestial. De modo semelhante,
“tais também os celestiais” denota todos os crentes
em Cristo, que, como Cristo, são também celestiais.
Antes éramos terrenos, agora somos celestiais.
No versículo 49, Paulo declara: “E, assim como
trouxemos a imagem do que é terreno, devemos
trazer também a imagem do celestial”. Como parte de
Adão, ternos a imagem terrena do homem mediante o
nascimento. Como parte de Cristo, teremos a imagem
do Homem celestial em ressurreição. Isso indica que
assim como nascemos em Adão como homem
terreno, também seremos ressuscitados em Cristo
como Homem celestial. Tal ressurreição é o nosso
destino. Isso é tão certo quanto o nosso nascimento, e
nunca deve ser questionado.
Hoje ternos duas imagens, a do terreno e a do
celestial. Urna lagarta no processo de tomar-se urna
maravilhosa borboleta ilustra a nossa situação. Às
vezes, a lagarta em nós pode ser vista, outras vezes a
borboleta é um pouco evidenciada. Por fim, pela
ressurreição, emergiremos totalmente do casulo
como borboletas. Já não seremos feias lagartas, mas
lindas borboletas tendo a imagem de Cristo. De
acordo com Filipenses 3:21, o corpo de nossa
humilhação será transfigurado num corpo de glória e
será como o corpo de Cristo. Isso ocorrerá pela
ressurreição e em ressurreição.

VI. A VITÓRIA DA RESSURREIÇÃO

A. A Vitória da Incorrupção sobre a


Corrupção
Na última seção do capítulo quinze, os versículos
50 a 58, ternos a vitória da ressurreição. No versículo
50, Paulo diz: “Isto afirmo, irmãos, que carne e
sangue não podem herdar o reino de Deus, nem a
corrupção herdar a incorrupção”. Carne e sangue são
os componentes do corpo anímico, que é corruptível e
não está qualificado para herdar o reino de Deus, que
é incorruptível. Corrupção não é capaz de herdar
incorrupção. Nosso corpo corruptível tem de ser
ressuscitado num corpo incorruptível para que
herdemos o reino incorruptível de Deus em
ressurreição. Mesmo hoje, se vivermos pela carne e
sangue, e não pelo espírito, não poderemos praticar a
vida da igreja que é hoje o reino de Deus. Então, no
milênio, não seremos capazes de herdar o reino de
Deus. Por causa disso, precisamos ser espirituais.
No versículo 50, Paulo diz que a corrupção não
herda incorrupção. A velha criação não é somente
corrupta, mas é corrupção. O reino de Deus,
entretanto, é incorrupção. Corrupção não pode
herdar incorrupção.
O versículo 51 diz: “Eis que vos digo um mistério:
nem todos dormiremos, mas transformados seremos
todos”. O mistério aqui se refere à transfiguração, que
inclui a ressurreição, de nosso corpo corruptível para
um incorruptível (Fp 3:21). Isso é misterioso e
ultrapassa o entendimento humano.
A palavra dormir no versículo 51 significa
morrer (1Co 11:30; Jo 11:11-13; 1Ts 4:13-16). A
palavra transformados significa transfigurados de
corrupção, desonra e fraqueza para incorrupção,
glória e poder (vs. 42-43); o corpo de nossa
humilhação conformado ao corpo da glória de Cristo.
O versículo 52 diz: “Num momento, num abrir e
fechar de olhos, ao ressoar da última trombeta. A
trombeta soará, os mortos ressuscitarão
incorruptíveis, e nós seremos transformados”. A
última trombeta é a sétima (Ap 11':15), a trombeta de
Deus (1Ts 4:16). Isso quer dizer que a última
trombeta aqui é a mesma que a sétima no livro de
Apocalipse. Certamente, depois das sete trombetas
em Apocalipse não haverá mais nenhuma. Por isso, é
correto dizer que a sétima trombeta em Apocalipse é
a última trombeta no versículo 52.
Ao som da última trombeta, os mortos em Cristo,
os crentes que tiverem morrido, serão ressuscitados
incorruptíveis (1Ts 4:16). Nós, crentes, que vivermos
na época da volta do Senhor, seremos transformados.
Os santos mortos serão ressuscitados primeiro;
depois os vivos serão transformados, transfigurados,
no arrebatamento (1Ts 4:15-17). No versículo 53,
Paulo continua: “Porque é necessário que esse corpo
corruptível se revista da incorruptibilidade, e que o
corpo mortal se revista da imortalidade”. A frase “este
corpo corruptível” refere-se ao nosso corpo
corruptível e mortal, que tem de se revestir de
incorruptibilidade e imortalidade, ou mediante
ressurreição, no caso dos santos que morreram, ou
mediante a transfiguração, no caso dos vivos. Então,
o corpo mortal se revestirá de imortalidade. Não
importa quão saudável e forte sejamos hoje, o corpo é
corruptível e mortal, mas em ressurreição, ele se
revestirá de algo que a Bíblia chama de
incorruptibilidade e imortalidade.

B. A Vitória da Vida sobre a Morte


No versículo 54, Paulo prossegue: “E, quando
esse corpo corruptível se revestir de
incorruptibilidade, e o que é mortal se revestir de
imortalidade, então, se cumprirá a palavra que está
escrita: Tragada foi a morte pela vitória”. A palavra
quando se refere à época em que nosso corpo mortal e
corrupto será ressuscitado ou transfigurado da
corrupção e morte para glória e vida. A morte, então,
será tragada pela vitória da vida de ressurreição. Essa
é a consumação da ressurreição que partilhamos na
economia de Deus mediante a redenção e salvação em
Cristo. Essa ressurreição começa com a vivificação de
nosso espírito morto e é completada com a
transfiguração de nosso corpo corruptível. No meio
há o processo de transformação metabólica de nossa
alma caída por meio do Espírito que dá vida (2Co
3:18), que é a realidade da ressurreição.
Literalmente, “pela vitória” é “na vitória”. Morte
significa derrota para o homem. Mediante a salvação
de Cristo na vida de ressurreição, a morte será
tragada na vitória para nós, os beneficiários da vida
de ressurreição de Cristo. Nesse versículo, vitória é
sinônimo de ressurreição. Ressurreição é a vitória da
vida sobre a morte.
No versículo 55, Paulo pergunta: “Onde está, ó
morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu
aguilhão?” Essa é a exclamação triunfante do
apóstolo com respeito à vitória da vida de
ressurreição sobre a morte.
O versículo 56 diz: “O aguilhão da morte é o
pecado, e a força do pecado é a lei”. A morte é do
diabo (Hb 2:14), e nos aferro a até a morte com o
pecado (Rm 5:12). Na redenção de Deus, Cristo foi
feito pecado por nós (2Co 5:21) a fim de condenar o
pecado por intermédio de Sua morte (Rm 8:3),
abolindo assim o aguilhão da morte. Então, por
intermédio de Sua ressurreição, a morte é tragada
pela vida de ressurreição.
O pecado nos traz maldição e condenação por
intermédio da lei, tanto em nossa consciência como
perante Deus (Rm 4:15; 5:13, 20; 7:7-8). Daí, a lei se
torna o poder do pecado para matar-nos (Rm
7:10-11). Desde que a morte de Cristo cumpriu as
exigências da lei sobre nós (1Pe 3:18; 2:24), o poder
do pecado é anulado. Dessa forma, a morte de Cristo
condenou o pecado e anulou a lei, e Sua ressurreição
tragou a morte. Por isso, precisamos dar graças a
Deus, que nos dá tal vitória sobre o pecado e morte
mediante a morte e ressurreição de nosso Senhor
Jesus Cristo (v. 57).
No versículo 57, Paulo exclama: “Graças a Deus,
que nos dá a vitória por intermédio de nosso Senhor
Jesus Cristo”. Essa vitória sobre o pecado e morte
pela morte e ressurreição de Cristo não deve ser
simplesmente um fato consumado para nossa
aceitação; tem de se tornar nossa experiência diária
em vida mediante o Cristo ressurreto como o Espírito
que dá vida, que é um com nosso espírito (6:17). Daí,
devemos viver e andar segundo esse espírito
mesclado. Desse modo, graças sejam continuamente
dadas a Deus, que nos dá a vitória por intermédio de
nosso Senhor Jesus Cristo. É o poder da ressurreição
que nos livra da lei do pecado, do poder do pecado. E
no futuro, será a ressurreição que tragará a morte.

C. Uma Motivação para a Obra do Senhor


No versículo 58, Paulo conclui: “Portanto, meus
amados irmãos, sede firmes, inabaláveis, e sempre
abundantes na obra do Senhor, sabendo que, no
Senhor, o vosso trabalho não é vão”. Questionar a
verdade da ressurreição é ser abalado. Ter certeza e
permanecer na realidade da ressurreição é
posicionar-se firme, ser inabalável.
Falta de fé na verdade da ressurreição nos
decepciona acerca do futuro, desencorajando-nos
assim na obra do Senhor. A fé nos dá forte aspiração a
que sejamos abundantes na obra do Senhor com a
expectativa de agradá-Lo em ressurreição na Sua
volta.
Paulo diz que, no Senhor, nosso trabalho não é
vão. Isso não é pela nossa vida e habilidade naturais,
mas pela vida e poder de ressurreição do Senhor.
Nosso trabalho para o Senhor em Sua vida de
ressurreição com Seu poder de ressurreição nunca
será vão, mas resultará no cumprimento do propósito
eterno de Deus pregando Cristo aos pecadores,
ministrando vida aos santos e edificando a igreja com
a experiência do Deus Triúno processado como ouro,
prata e pedras preciosas (3:12), e será recompensado
pelo Senhor vindouro no dia da ressurreição (3:14;
Mt 25:21, 23).
Logo depois de eu ter sido salvo, minha irmã, que
estudava num seminário, escreveu-me uma carta na
qual usou 1 Coríntios 15:58 para encorajar-me a
trabalhar pelo Senhor. Na época, eu não percebia que
esse versículo fala de ressurreição e está intimamente
relacionado com ressurreição. Se estivermos em
ressurreição, esse versículo se aplica a nós, mas se
não estivermos, poderemos ter uma idéia errônea de
que esse versículo nos encoraja a lutar e ser
vigorosos. Por anos e anos, os cristãos têm citado esse
versículo. Contudo, não creio que muitos tenham
percebido que ele se relaciona com a ressurreição.
Isso é indicado pela palavra “portanto” no início do
versículo, uma conjunção que se refere a tudo o que
Paulo disse nesse capítulo. Com base no que escreveu,
Paulo encoraja os amados irmãos a ser firmes,
inabaláveis e sempre abundantes na obra do Senhor.
Segundo a vida natural, eles poderiam ser abalados,
até mesmo por algo pequeno. Como, então, poderiam
ser firmes? Podemos ser firmes somente pela vida de
ressurreição em nós. A ressurreição nos faz firmes,
inabaláveis e sempre abundantes na obra do Senhor.
Além disso, ela nos faz saber que o nosso trabalho no
Senhor não é vão. Sem ressurreição, tudo o que
fizermos é vão, mas em ressurreição, nosso trabalho
não é vão. Por isso, a ressurreição não é somente um
encorajamento, mas também motivação para a obra
do Senhor.
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM SESSENTA E NOVE
A COLETA DE OFERTAS, E A CONCLUSÃO DA
ESPÍSTOLA

Leitura Bíblica: 1Co 16:1-24


Nesta mensagem, vamos considerar 16:1-24, o
último capítulo de 1 Coríntios. Nos versículos 1 a 9,
Paulo lida com a coleta de ofertas. Os versículos 10 a
24 são a conclusão dessa Epístola.

A COLETA DE OFERTAS A. A Ordem do


Apóstolo
No versículo 1, Paulo diz: “Quanto à coleta para
os santos, fazei vós também como ordenei às igrejas
da Galácia”. Essa é a décima primeira questão
abordada pelo apóstolo nessa Epístola, uma questão
concernente a dinheiro, Mamom 13 , e posses
materiais. Toda a humanidade caída está sob a
dominação de mamom e de posses materiais (Mt
6:19-21, 24-25, 30; 19:21-22; Lc 12:13-19). No dia de
Pentecostes, sob o poder do Espírito Santo, todos os
crentes destruíram essa dominação e passaram a ter
tudo em comum para distribuir aos necessitados (At
2:44-45; 4:32, 34-37). Essa prática, devido à fraqueza
da natureza caída dos crentes (ver Atos 5:1-11; 6:1),
não durou muito. Já tinha acabado na época do
apóstolo Paulo. Os crentes então precisavam de graça
para vencer o poder de mamom e as posses materiais
e livrá-las da dominação de Satanás como oferta ao
13
Mamom, palavra aramaica que quer dizer riquezas, usada em Mt 6:24; Lc 16:9, 11, 13. (N.T.)
Senhor a fim de cumprir Seu propósito. A vida de
ressurreição é o suprimento para os crentes viverem
tal vida, uma vida que confia em Deus, e não em
tesouros de posses materiais; uma vida não para o dia
de hoje, mas para o futuro; não para esta era, mas
para a vindoura (Lc 12:16-21; 1Tm 6:17-19), uma vida
que destrói a usurpação de riquezas temporais e
incertas. Esse pode ser o motivo de essa questão vir
após a questão acerca da realidade da vida de
ressurreição. Em qualquer caso, esse assunto está
relacionado com a administração de Deus entre as
igrejas.
É crucial que essa questão venha depois de um
capítulo acerca da realidade da vida de ressurreição.
Ressurreição não é só o poder sobre o pecado e a
morte, mas também sobre mamom e posses
materiais. Portanto, imediatamente depois do
capítulo sobre ressurreição, Paulo volta-se para a
questão de posses materiais.
Pelo versículo 1 vemos que Paulo deu à igreja em
Corinto a mesma ordem que dera às igrejas da
Galácia. Isso indica categoricamente que todas as
igrejas locais devem ser iguais na prática (7:17; 11:16;
14:33).
No versículo 2, Paulo continua: “No primeiro dia
da semana, cada um de vós ponha de parte, em casa,
conforme a sua prosperidade, e vá juntando, para que
se não façam coletas quando eu for”. O sétimo dia da
semana, o sábado, era um memorial da criação de
Deus (Gn 2:1-3; Êx 20:8, 11). O primeiro dia da
semana é um símbolo da ressurreição do Senhor; é o
dia em que o Senhor ressuscitou dentre os mortos (Jo
20:1). É chamado de Dia do Senhor (Ap 1:10). Os
santos do Novo Testamento se reúnem e oferecem
suas posses nesse dia (At 20:7), o dia da ressurreição
do Senhor, o que tipifica que eles foram ressuscitados
juntamente com o Senhor (Ef 2:6) mediante Sua
ressurreição (1Pe 1:3) e que se reúnem para
lembrar-se Dele e adorar a Deus com suas ofertas em
ressurreição pela vida de ressurreição, e não pela vida
natural.
Nossa oferta tem de ser na vida de ressurreição, e
não na vida natural. Todavia, muito do que os cristãos
ofertam hoje é de acordo com a vida natural.
Levanta-se oferta pela vida natural, totalmente na
velha criação. Além do mais, os que dão grandes
quantias são com freqüência reconhecidos
publicamente, ao passo que os que dão quantias
menores são ignorados. Nossa oferta tem de ser
totalmente diferente disso; tem de ser apresentada
em ressurreição e pela ressurreição.
No versículo 3, Paulo diz: “E, quando tiver
chegado, enviarei, com cartas, para levarem as vossas
dádivas a Jerusalém, aqueles que aprovardes”. A
palavra grega traduzida por dádivas também pode
ser traduzida por graça. Isso era um tipo de
comunhão, sob a orientação do apóstolo, das igrejas
no mundo gentílico com a igreja em Jerusalém (2Co
8:1-2; Rm 15:25-27).
Já ressaltamos muitas vezes que na segunda
seção de 1 Coríntios (caps. 11-16), Paulo trata de
questões no âmbito da administração divina. Essa
seção começa com o encabeçamento de Deus e se
consuma com uma questão aparentemente
insignificante: ofertas materiais para os santos. Quer
estejamos ou não de fato na administração de Deus
ou sejamos por ela, e levemos a cabo a Sua
administração, isso pode ser testado pela maneira
como nos ligamos a coisas materiais e como lidamos
com o dinheiro. Se usarmos o dinheiro de maneira
mundana, então não importa o que digamos sobre
ressurreição, não estaremos de fato na administração
de Deus. O quanto estamos na administração divina e
somos por ela é determinado por como cuidamos de
dinheiro e posses materiais.
Por todos esses anos, nós na restauração do
Senhor temos ouvido Sua Palavra e fomos edificados
nas riquezas de Cristo. Certamente fomos nutridos
pela Palavra divina. Agora, se todos formos fiéis no
cuidado com dinheiro e coisas materiais para viver
para a administração de Deus, não haverá
necessidades financeiras na restauração. Por
exemplo, com certeza podemos exercitar nosso
espírito e vontade para separar uma pequena quantia
de dinheiro toda semana, talvez somente uns poucos
reais e dá-lo ao Senhor pelo Seu mover na terra. Um
dia, em vez de gastar com almoço no restaurante,
podemos fazer uma refeição simples em casa. Então,
o dinheiro poupado pode ser dado ao Senhor.
Imagine que situação seria se todos fôssemos fiéis em
fazer algo assim toda semana!
Nesse livro espiritual, que lida com questões
espirituais e celestiais, Paulo por fim se volta para a
questão muito prática de finanças. É bem fácil falar
sobre encabeçamento e dizer: “Louvado seja o
Senhor. Estou sob o encabeçamento de Cristo! Cristo
é minha Cabeça. Sobre Seu encabeçamento, não
tenho problema algum”. Mas você consegue dizer que
não tem problema com a questão que Paulo levanta
no capítulo dezesseis? Podemos falar sobre a vitória
da ressurreição sobre o pecado e a morte, mas e
quanto à vitória em ressurreição sobre o uso do
dinheiro e posses materiais? É fácil a nossa conversa
ser abstrata e teórica acerca do encabeçamento, sobre
discernir o Corpo, dons e ressurreição. Por esse
motivo Paulo, pela sabedoria de Deus, trata da
questão de ofertar, imediatamente depois da questão
da ressurreição. Se, de fato, vivermos em
ressurreição, não teremos problemas com dinheiro
ou coisas materiais.
No versículo 2, Paulo menciona especificamente
“o primeiro dia da semana”. Vimos que esse dia, o
domingo14, é símbolo da ressurreição de Cristo. Não
vivemos nem agimos no sétimo dia da semana porque
esse dia é um memorial da velha criação. Devemos
viver em ressurreição no primeiro dia da semana.
Isso quer dizer que não devemos ser do sétimo dia,
mas do primeiro dia. Se vivermos em ressurreição, no
primeiro dia da semana, então na restauração do
Senhor não haverá problema acerca de necessidades
financeiras.

B. A Disposição do Apóstolo
Em 16:4-9, vemos a disposição do apóstolo. O
versículo 4 diz: “Se convier que eu também vá, eles
irão comigo”. No versículo 6, ele prossegue: “E bem
pode ser que convosco me demore, ou mesmo passe o
inverno, para que me encaminheis nas viagens que eu
tenha de fazer”. No versículo 8, Paulo diz que queria
permanecer em Éfeso até o Pentecostes. Essa Epístola
foi escrita em Éfeso, onde o apóstolo permaneceu por
três anos na sua terceira viagem ministerial (At
19:21-22; 20:1, 31).

14
A palavra domingo vem do latim dies dominicu, que quer dizer dia do Senhor. (N.T.)
II. A CONCLUSÃO DA EPÍSTOLA

A. Exortações Particulares
O versículo 10 diz: “E, se Timóteo for, vede que
esteja sem receio entre vós, porque trabalha na obra
do Senhor, como também eu”. Para que Timóteo
estivesse com os coríntios sem receio, eles teriam de
ser obedientes e submissos à palavra de Paulo. Nesse
versículo, Paulo parece dizer: “Vocês têm de estar no
primeiro dia da semana, vivendo em ressurreição.
Precisam estar também sob o encabeçamento de
Cristo e de Deus, precisam discernir o Corpo, desejar
os melhores dons, praticar os dons em amor e estar
em ressurreição. Se for essa a sua situação, então meu
jovem cooperador não terá receio de estar com vocês.
Vejam que Timóteo fique com vocês sem receio
porque ele trabalha na obra do Senhor como eu”.
No versículo 11, Paulo continua: “Ninguém, pois,
o despreze. Mas encaminhai-o em paz, para que
venha ter comigo, visto que o espero com os irmãos”.
Paulo insta com os crentes gregos filosóficos que não
desprezem seu jovem cooperador. Como poderiam os
coríntios encaminhar Timóteo em paz se não
vivessem em ressurreição? Teria sido impossível.
Nesse versículo nós, de fato, temos um quadro muito
agradável. Paulo aguardava Timóteo com os irmãos,
esperando que os coríntios o enviassem em paz.
No versículo 12, ele prossegue: “Acerca do irmão
Apolo, muito lhe tenho recomendado que fosse ter
convosco em companhia dos irmãos, mas de modo
algum era a vontade dele ir agora; irá, porém, quando
se lhe deparar boa oportunidade”. Com isso, os
coríntios deviam perceber que a atitude de Paulo para
com Apolo e seu relacionamento com ele estava em
flagrante contraste com as preferências deles
(1:11-12). A atitude e relacionamento do apóstolo
mantinham a unidade; as preferências deles
causavam divisão.
Tanto Paulo como Apolo viviam no Espírito.
Contudo, Paulo instava com Apolo que visitasse a
igreja, mas este não tinha desejo de fazê-lo, Isso
mostra que ambos tinham liberdade no Espírito, e o
Espírito tinha liberdade neles. Também mostra que
nenhum deles exerceu controle sobre a obra para o
Senhor.
No versículo 10, Paulo simplesmente se refere a
Timóteo, mas quando fala de Apolo no versículo 12,
ele usa a expressão “o irmão”. Essa é uma expressão
querida, íntima. Sabemos pelos primeiros capítulos
dessa Epístola que alguns entre os coríntios
preferiam Apolo em detrimento de Paulo. Suas
preferências foram causa de divisão. Agora, o fato de
Paulo mencionar “o irmão Apolo” indica que nada
havia entre ambos. Parece que Paulo dizia: “Vocês,
coríntios, fazem diferença entre Apolo e mim, mas
gostaria que soubessem que nada há entre nós. Apolo
é meu irmão, é nosso irmão. Insto muito com ele que
vá até vocês”. Embora percebesse que alguns entre os
coríntios preferiam Apolo, Paulo ainda o encorajava a
ir a Corinto. Na verdade, ele instava muito com ele
que fosse. Todavia, é pouco provável que obreiros
cristãos hoje encorajem qualquer outro obreiro a ir a
certo lugar se percebem que ali há preferência por
esse outro obreiro.
Já enfatizamos que embora Paulo instasse com
Apolo que fosse a Corinto, não era desejo de Apolo ir
naquela oportunidade. Quem, então, vivia no
Espírito: Paulo ou Apolo? A resposta é: ambos. Mas,
embora vivessem no Espírito, eles tinham
sentimentos diferentes sobre a ida de Apolo a
Corinto.
Alguns me condenaram e acusaram de ser um
ditador; têm dito que tenho autoridade autônoma
para controlar todas as igrejas e os santos. O fato é
que não exerço controle sobre as igrejas ou os santos.
Como muitos podem testificar, quando os outros vêm
até mim em busca de conselho, encorajo-os a ir ao
Senhor e orar. Digo-lhes que não cabe a mim decidir
o que devem fazer. Paulo não exercia controle, e nós
também não.
No versículo 13, Paulo diz: “Sede vigilantes,
permanecei firmes na fé, portai-vos varonilmente,
fortalecei-vos”. Paulo aqui exorta os coríntios a não se
abalar por qualquer heresia, principalmente a que diz
que não há ressurreição. Fé nesse versículo é objetiva;
refere-se ao que cremos. Portar-se varonilmente é ser
totalmente amadurecido, forte na fé e firme em sua
posição, não como criança no entendimento (14:20),
ou criança agitada pelas ondas e levada por todo
vento de doutrina (Ef 4:14). O crescimento em vida é
necessário (1Co 3:1, 6).
O versículo 14 diz: “Todos os vossos atos sejam
feitos com amor”. Esse é o amor definido no capítulo
treze.
Nos versículos 17 e 18, Paulo diz que Estéfanas,
Fortunato e Acaico “trouxeram refrigério ao meu
espírito e ao vosso”. Isso deve ter sido pelas riquezas
de Cristo ministradas pelo espírito deles a fim de
tocar o espírito de outros. Isso indica que nosso
contato com os santos e relacionamento com eles tem
de ser em nosso espírito e por ele, e não pela emoção
anímica. Se esses irmãos tivessem vindo a Paulo com
mexericos, poderiam não ter trazido refrigério ao seu
espírito. O fato de trazerem refrigério ao espírito do
apóstolo e a todos os coríntios indica que viviam e
agiam no espírito.

B. Saudações e Exortações em Amor


O versículo 19 diz: “As igrejas da Ásia vos
saúdam. No Senhor muito vos saúdam Áqüila e
Priscila e, bem assim, a igreja que está na casa deles”.
Isso indica que a igreja em Éfeso se reunia na casa de
Áqüila e Priscila enquanto lá viveram (At 18:18-19,
26). Quando viveram em Roma, a igreja em Roma se
reunia na casa deles (Rm 16:5; ver Cl 4:15-16; Fm 2).
Os versículos 10 a 21 apresentam um quadro da
prática real da vida do Corpo em harmonia
maravilhosa, não só entre o apóstolo e seus
cooperadores, mas também entre eles e as igrejas
para edificação do Corpo. Como vimos, essa
edificação é enfatizada vigorosamente nos capítulos
doze a catorze.
No versículo 22, Paulo declara: “Se alguém não
ama ao Senhor, seja anátema. Maranata!” A palavra
grega anáthema denota algo ou alguém amaldiçoado;
apartado, devotado, para desgraça. Amar a Deus nos
torna pessoas abençoadas por Ele para partilhar as
bênçãos divinas que Ele ordenou e preparou para nós
além de nossa capacidade de entender (2:9). Não
amar o Senhor faz de nós pessoas amaldiçoadas,
separadas para desgraça. É uma séria advertência.
O termo “Maranata!” vem do grego e quer dizer
“O Senhor vem”, uma frase tirada do aramaico.
Também pode ser traduzida por “nosso Senhor vem!”
É uma exclamação que nos lembra a segunda vinda
do Senhor com juízo.
O versículo 23 diz: “A graça do Senhor Jesus seja
convosco”. Como já ressaltamos na mensagem
anterior, essa graça é o Cristo ressurreto que se
tornou o Espírito que dá vida para introduzir em nós
o Deus processado em ressurreição, a fim de ser
nossa vida e suprimento de vida.
Como regra, Paulo conclui sua Epístola com uma
palavra acerca da graça, mas nessa Epístola ele
termina com uma palavra de amor: “O meu amor seja
com todos vós, em Cristo Jesus” (v. 24). Esse não é
um amor natural, mas em Cristo, em ressurreição
(4:21), o amor de Deus que se torna nosso mediante a
graça de Cristo e a comunhão do Espírito (2Co 13:13).
Das catorze Epístolas de Paulo, somente essa termina
com tal palavra que evidencia o amor. É por causa da
disciplina do apóstolo com repreensões fortes (1:13;
3:3; 4:7-8; 5:2, 5; 6:5-8; 11:17). Ele é fiel, honesto e
franco para com eles no amor de Deus em Cristo (2Co
2:4), sem usar qualquer política. Assim o Senhor
honrou a maneira como ele lidou com os coríntios, e
eles aceitaram sua repreensão e foram muito
beneficiados mediante o arrependimento (2Co
7:8-13).
Primeira Coríntios conclui num espírito
prazeroso com um quadro agradável de comunhão.
Embora seja um livro de disciplina e repreensões, ele
termina de forma prazerosa. Ele nos mostra que nos
tempos antigos havia doce comunhão entre os
cooperadores, entre os cooperadores e as igrejas e
entre todas as igrejas. Os cooperadores e as igrejas
estavam todos nessa comunhão agradável.
Vimos que a segunda seção dessa Epístola
aborda cinco questões relacionadas com a
administração de Deus: o encabeçamento, o Corpo,
os dons, a ressurreição e os bens materiais. A
administração de Deus exige o encabeçamento.
Então, para levar a cabo a administração divina sob o
encabeçamento de Deus, há necessidade do Corpo. Se
o Corpo for levar a cabo a administração de Deus,
todos os membros precisam de dons para funcionar.
Assim, temos o encabeçamento, o Corpo e os dons, as
habilidades. Ademais, há a necessidade de poder,
força. Isso é vida de ressurreição. A vida de
ressurreição capacita os membros a funcionar com
seus dons para que o Corpo opere a fim de levar a
cabo a administração de Deus sob Seu
encabeçamento. O último item abordado nessa seção,
dinheiro e bens materiais, é um teste para provar
quanto vivemos na vida de ressurreição.
O teste muito prático de bens materiais é uma
questão relacionada com o primeiro dia de cada
semana. Um dia refere-se ao nosso viver. O tipo de
viver que temos depende do tipo de dia que temos. Se
somos derrotados em nosso viver, isso quer dizer que
temos um dia de derrota. Além disso, se vivermos na
velha criação, viveremos no sétimo dia, mas se
vivermos na vida de ressurreição, viveremos no
primeiro dia da semana. Se não estivermos em
ressurreição, estaremos terminados quanto aos dons,
o Corpo e o encabeçamento de Deus. Entretanto, se
vivermos no primeiro dia da semana, isto é, na vida
de ressurreição, então com certeza estaremos sob o
encabeçamento de Deus, no Corpo e exercitaremos os
dons de forma proveitosa. Então teremos um viver
diário que declara ao universo que temos um viver
totalmente em ressurreição.
Para Cristo, o último inimigo é a morte; mas,
para nós, o último inimigo é mamom, os bens
materiais. A vida de ressurreição nos capacita a
vencer o poder do pecado. A ressurreição é também o
poder para Cristo governar os rebeldes e subjugar
todos os inimigos. O último inimigo a ser subjugado
por Ele é a morte. Como continuação do capítulo
quinze, o capítulo dezesseis indica que a vida de
ressurreição em nós vence nosso inimigo final: os
bens materiais.
Pela observação e experiência, posso testificar
que o último ponto que muitas pessoas espirituais
têm de vencer é o dinheiro. Alguns cristãos são
vitoriosos sobre o temperamento, fraquezas e
pecados, mas não o são na área dos bens materiais.
Desde que era um jovem cristão, o Senhor
começou a disciplinar-me na questão de dinheiro e
bens materiais. Ele me treinou a usar o dinheiro para
Ele. Mesmo jovem, eu usava todo o dinheiro que
tinha para imprimir folhetos de evangelização que eu
mesmo tinha escrito. Depois de alguma experiência,
posso realmente testificar que os bens materiais são o
último inimigo. Portanto, pela experiência percebo
que a questão de vencer coisas materiais, apresentada
no capítulo dezesseis, é tanto continuação como
conclusão da questão de ressurreição abordada no
capítulo quinze.
Louvado seja o Senhor porque temos o
encabeçamento, o Corpo, os dons, a ressurreição e a
vitória sobre bens materiais! A vitória prova que
vivemos no primeiro dia da semana. Não vivemos no
sábado, isto é, na velha criação. Somos do dia do
Senhor, vivemos em ressurreição. Pela vida de
ressurreição, vencemos tudo, e tudo está debaixo de
nossos pés.

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