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Deus é contra os homossexuais?

— a homossexualidade, a Bíblia e atração por pessoas do


mesmo sexo —

Sam Allberry
Não consigo imaginar como um livro como este não foi escrito antes, mas ele
é exatamente o que precisamos. Allberry escreveu o texto perfeito para
céticos e crentes vacilantes. O tom é irênico, o conteúdo é firme e o tamanho
razoável. Ele trata dos textos e das respostas necessários — de forma
inteligente, breve e graciosa — às perguntas e objeções mais comuns.
Recomendarei este livro com frequência nos próximos anos.
— Kevin DeYoung, pastor, autor e blogueiro da Gospel Coalition.

Empático e sábio, instrutivo e claro, esperançoso e gentil — o livro de Sam


Allberry lida com um tópico que pode ser muito desafiador. Será útil a
qualquer leitor.
— Mark Dever, pastor da Capitol Hill Baptist Church.

Excelente livro. Real e sensível, ousado e bíblico. Não evita a polêmica, mas
nunca é estridente ou duro. Sam claramente escreve com o coração, e um
coração devotado a Cristo, a seu povo e ao mundo.
— Steve Timmis, diretor-executivo de Atos 29

Este é um livro muito importante que contém muita sabedoria evangélica.


— Al Mohler, presidente do Southern Baptist Theological Seminary

O evangelho é a boa notícia também para os homossexuais. Ele não nos


define por nossas tentações, mas pela justiça de Cristo. Este livro apresenta o
argumento bíblico. O autor anuncia com perfeição o chamado do evangelho
ao arrependimento e à oferta de misericórdia. Leia-o e considere como Deus
o chama a amar, em palavras e ações, todas as pessoas à sua volta.
— Russell D. Moore, presidente da Comissão de Ética e Liberdade Religiosa
da Convenção Batista do Sul dos EUA

Sam escreve com genuíno entusiasmo pastoral a partir de sua experiência. Ele
argumenta de forma convincente que, longe de ser contra os homossexuais,
Deus ama quem sente atração por pessoas do mesmo sexo, e que o evangelho
consiste em uma boa notícia para eles também.
— Jonathan Berry, diretor de True Freedom Trust

O livro Deus é contra os homossexuais? é maravilhoso. A humanidade de


Sam brilha em todas as páginas; sua compreensão da fraqueza permeia o
livro todo; sua compaixão para com quem enfrenta o que ele mesmo enfrenta
todos os dias está sempre à mostra. Um excelente recurso para a atualização
de pastores e presbíteros, pois este é um problema que se tornará mais
significativo e controverso, não menos.
— Carl R. Trueman, professor de História da Igreja e Teologia no
Westminster Theological Seminary

EXCELENTE! Curto, claro, gentil, compreensivo… precisa ser amplamente


distribuído.
— Jonathan Leeman, diretor editorial do ministério 9 Marcas, blogueiro e
autor

Este breve livro é excelente. Sam Allberry trata as pessoas com cuidado, lida
com os textos com sabedoria e as questões com sensibilidade. O resultado é
um livro extremamente útil para talvez a questão mais desafiadora que os
cristãos ocidentais enfrentam hoje. Recomendo-o.
— Andrew Wilson, pastor e blogueiro do thinktheology.co.uk

Todo ministro do evangelho deve ler este livro e precisamos nos esforçar
para disponibilizá-lo para o maior número de congregações.
— Paul Levy, do blog Reformation 21
Copyright @ 2015, de Sam Allberry
Publicado originalmente em inglês sob o título
Is God anti-gay? (Revised and Expanded Edition)
pela The Good Book Company Limited,
Blenheim House, 1 Blenheim Road, Epsom, Surrey KT19 9AP, Reino Unido.

Todos os direitos em língua portuguesa reservados por


EDITORA MONERGISMO
www.editoramonergismo.com.br

1ª edição, 2018

Tradução: Caio Vidigal e Rogério Portella


Revisão: Felipe Sabino de Araújo Neto e Rogério Portella

PROIBIDA A REPRODUÇÃO POR QUAISQUER MEIOS, SALVO EM BREVES CITAÇÕES, COM INDICAÇÃO DA
FONTE.

Todas as citações bíblicas foram extraídas da versão Almeida Revista e Atualizada (ARA)
salvo indicação em contrário.
Sumário
Introdução
1. A homossexualidade e o plano de Deus
2. A homossexualidade e a Bíblia
3. A homossexualidade e o cristão
4. A homossexualidade e a igreja
5. A homossexualidade e o mundo
Conclusão
Introdução
Comecei a entender com propriedade algo sobre a minha sexualidade
mais ou menos na mesma época que conheci Jesus Cristo.
Eu estava nas últimas semanas de ensino médio. Os exames
chegavam ao fim e todos aguardávamos um verão longo e sem estudos.
Foram meses finais agitados. Algumas verdades desconfortáveis se tornavam
mais evidentes. A primeira: é bastante difícil se preparar para as provas
quando não se presta muita atenção à aula. Revisar a matéria é muito mais
difícil quando você não a “viu”.
A outra verdade era ainda mais desconfortável. Sempre fui alguém
que teve amigos muito próximos, mas agora eu estava começando a perceber
que havia algo mais acontecendo. Embora eu tivesse namorado antes, nunca
sentia com as garotas o mesmo tipo de vínculo que mantinha com um ou dois
dos meus amigos. Assim que o longo verão começou e havia menos coisas
para me distrair, a verdade começou a aparecer. Passaram a se formar as
palavras em minha mente: “Acho que sou homossexual”.
Não se tratava de uma conclusão agradável. Eu queria ser como todos
os outros, e estar onde todos estavam. Queria sentir algo pelas garotas, como
os meus amigos. No entanto, em vez de gostar de meninas, como meus
amigos, descobri-me gostando dos meus amigos.
Nesse mesmo período conheci alguns cristãos pela primeira vez. Eu
estava trabalhando nos sábados à tarde em uma cafeteria local cristã, e foi a
primeira vez que encontrei cristãos da minha idade. Ficamos amigos rápido e
depois do fim dos exames, quando eu não tinha mais nada para fazer, eles me
convidaram para frequentar o grupo de jovens da igreja. Decidi ir. Eu gostava
deles e estava interessado em saber mais sobre o que acreditavam. A
mensagem de Jesus, descobri, era bastante diferente do que eu imaginava…

A mensagem que ouvi


Quando Jesus começou seu ministério público, ele fez o seguinte
comentário, e isso nos leva ao cerne da sua mensagem:
Depois de João ter sido preso, Jesus foi para a Galileia, pregando o evangelho de
Deus. Ele dizia: — O tempo está cumprido, e o Reino de Deus está próximo;
arrependam-se e creiam no evangelho. (Marcos 1.14,15)
Jesus disse que o Reino de Deus se aproximava. O que quer que Deus
planejasse fazer para corrigir os erros do mundo, começaria ali mesmo. Tudo
estava pronto para começar.
A resposta que Jesus procura é arrependimento e fé.
Arrependimento significa dar a volta, mudar o percurso. A implicação
é bastante clara e um pouco desconfortável: não estamos seguindo na direção
certa. Somos como o homem idoso sobre quem eu li recentemente no jornal
local: em um momento de confusão no meio da noite, ele acabou dirigindo
por mais de um quilômetro e meio na mão errada da estrada. Felizmente,
naquela hora quase não havia ninguém no percurso; se houvesse, seria uma
história muito diferente.
Jesus diz que seguimos na direção errada, e que a hora de Deus se
acertar conosco se aproxima de nossa direção. Precisamos virar o volante e
nos alinharmos com o que Deus está fazendo. E isso significa crer no
evangelho — o anúncio de que podemos nos tornar santos diante de Deus
por meio da morte e ressurreição de Jesus; nele se oferece um novo começo
para que vivamos como Deus sempre quis. Esta é a mensagem.
Ela consiste na mensagem para todas as pessoas. Quando Jesus
apareceu em cena, ele não subdividiu a humanidade em categorias e deu a
cada uma mensagem separada. Uma para os introvertidos; outra para os
extrovertidos. Uma (com gráficos lógicos e barras) para quem pensa com o
lado esquerdo do cérebro e uma (com cores diferentes e música ambiente)
para quem pensa com o lado direito do cérebro.
A mensagem de Deus para os homossexuais é idêntica à mensagem
para todos. Arrependa-se e creia. É o mesmo convite para encontrar a
plenitude da vida em Deus, a mesma oferta de perdão e amor profundo,
maravilhoso, que transforma a vida.

Atração por pessoas do mesmo sexo versus homossexual


Foi essa a mensagem que ouvi pela primeira vez na igreja dos meus
amigos, a mensagem sob cuja luz tentei viver nos anos que se seguiram. Ao
longo de tudo isso, como alguém que vive com a homossexualidade,
encontrei no cristianismo bíblico uma maravilhosa fonte de conforto e
alegria. A palavra de Deus para mim sobre essa questão às vezes parece
desconcertante e difícil. No entanto, ela é extrema e profundamente boa. O
evangelho de Jesus é uma notícia maravilhosa para quem sente atração por
pessoas do mesmo sexo.
Usei o termo “atração por pessoas do mesmo sexo”, porque o desafio
imediato é a descrição de mim mesmo. Na cultura ocidental de hoje, o termo
óbvio para alguém com sentimentos homossexuais é “homossexual”.
Todavia, na minha experiência, ele muitas vezes se refere a muito mais que à
orientação sexual de alguém. O termo descreve uma identidade e um estilo de
vida.
Quando alguém afirma ser homossexual ou bissexual, isso
normalmente significa que, além de se sentir atraído por alguém do mesmo
gênero, sua preferência sexual é um dos pontos mais fundamentais de
identificação pessoal. Por essa razão tendo a evitar o termo. Parece estranho
descrever-me como “alguém que sente atração por pessoas do mesmo sexo”.
Essa descrição é uma forma de reconhecer que o tipo de atração sexual que
experimento não é fundamental para a minha identidade. É parte do que
sinto, mas não é quem sou, no nível mais básico. Eu sou muito mais que a
minha sexualidade.
Tomemos outro tipo de apetite. Eu amo carne. Considero que haja algo
errado quando vejo um prato sem o pedaço de um animal. Contudo, meu
amor à carne não significa que eu gostaria de ser definido por alguém pela
principal categoria de “carnívoro”. Ela é parte de mim, mas não consiste no
ponto central. Então, prefiro falar em termos de ser alguém que experimenta
sentimentos homossexuais, ou atração por pessoas do mesmo sexo.
E por ser alguém nessa condição, Jesus me chama para fazer
exatamente o que ele diz a qualquer outra pessoa. Veja outra palavra muito
conhecida de Jesus:
Então, convocando a multidão e juntamente os seus discípulos, Jesus lhes disse: — Se
alguém quer vir após mim, negue a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me.
(Marcos 8.34)
O mesmo vale para todos nós — “alguém”. Vou negar a mim mesmo,
tomar minha cruz e segui-lo. Todo cristão é chamado a realizar sacrifícios
dispendiosos. Negar-se não significa ajustar o comportamento aqui e ali.
Significa dizer não ao mais profundo senso de quem você é, por causa de
Cristo. Tomar a cruz é declarar o abandono da vida (como você a conhece).
Equivale a abrir mão da própria vida, pela simples razão de que não lhe
pertence. Ela pertence a Jesus. É dele. E por sua morte, ele a comprou.
Desde que me abri sobre minhas experiências com a
homossexualidade, vários cristãos disseram algo assim: “O evangelho deve
ser mais difícil para você que para mim”, como se eu tivesse mais coisas para
desistir que eles. Mas o fato é que o evangelho exige tudo de todos nós. Se
alguém pensa ter o evangelho se encaixado na sua vida com bastante
facilidade, sem ajustes importantes no seu estilo de vida ou nos seus desejos
mais profundos, é provável que essa pessoa não tenha realmente começado a
seguir Jesus.
Como o custo é idêntico para todos nós, também o são os benefícios.
Ao longo dos últimos anos lutando com essa questão, estas palavras de Jesus
se tornaram algumas das minhas favoritas:
— Venham a mim todos vocês que estão cansados e sobrecarregados, e eu os
aliviarei. (Mateus 11.28)
Eis uma promessa maravilhosa. Jesus afirma que, deixados por nossa
conta, tornamo-nos pesados. A vida fora de sincronia com Deus faz isso com
a gente. Mas quando chegamos a Jesus encontramos descanso. Não descanso
no sentido de uma tarde ociosa de fim de semana ou uma soneca mais
prolongada em um dia de folga. Jesus diz algo muito mais profundo:
descansar no sentido de as coisas com Deus serem como deveriam ser.
Descansar no sentido de viver como somos de fato e como Deus quer que
vivamos. Descansar no sentido de nos desenvolvermos de verdade como a
pessoa que Deus nos torna.
Deus é contra os homossexuais? Não.
Mas ele é contra quem todos nós somos, por natureza, como pessoas
que vivem à parte dele e por conta própria. Ele é contra essa pessoa — quem
quer ela seja para cada um de nós. Entretanto, por ser maior e melhor do que
nós, e capaz de fazer as coisas que lutamos para cumprir, Deus também ama
essa pessoa. Ama-a o suficiente para carregar seu fardo, tomar seu lugar,
limpá-la, torná-la inteira e uni-la para sempre a si mesmo.
Ser cristão e viver sentindo atração por pessoas do mesmo sexo
levanta todo tipo de perguntas — perguntas que espero abordar no livro.
Minhas experiências com a homossexualidade não significam que eu possa
falar por todas as pessoas para as quais ela é um problema. Ao longo dos
anos, conheci muitas pessoas para quem este não é um problema abstrato.
Homens e mulheres; jovens e idosos; algumas pessoas com fé, e outras muito
hostis ao cristianismo; pessoas que partilharam isso comigo na mais estrita
confiança, e indivíduos que se identificam pública e orgulhosamente como
homossexuais. Cada uma dessas conversas foi um privilégio. Algumas
pessoas relataram histórias de rejeição dolorosa (em um caso, de ser cuspido
pelos amigos); outras, de surpreendente aceitação. Em alguns casos, houve
fortes semelhanças com minhas experiências e sentimentos, e em outros
casos, tudo foi muito diferente. Assim, não presumo falar em nome de outras
pessoas. Meu objetivo é tentar pegar cada pergunta e verificar o que a Bíblia
tem a dizer.
A primeira pergunta é: “O que a Bíblia realmente diz sobre a
homossexualidade?” — e chegaremos a ela em breve. Quanto mais eu olho
para a Bíblia, mais estou convencido de que suas afirmações sobre a
sexualidade fazem mais sentido à luz do que ela diz sobre o sexo e o
casamento.
Portanto, vamos começar por aí.
1. A homossexualidade e o plano de
Deus
Muitas pessoas pensam que a Bíblia desaprova o sexo, como se fosse
algo que descobrimos à revelia de Deus e sem sua aprovação. Mas
Gênesis nos mostra algo muito diferente.
Deus criou o homem e a mulher — a humanidade —, e ele lhes
ordenou: “— Sejam fecundos, multipliquem-se” (Gênesis 1.28). O sexo é
ideia de Deus. Nós não o inventamos, apenas o recebemos como presente. E
não foi como se Deus tivesse dito: “Bem, continuem, já que precisam”. Não,
Deus nos concedeu um meio de reprodução não apenas funcional, mas
profundamente prazeroso. O sexo é um sinal de sua bondade.
Gênesis 1 e 2 nos mostram os dois propósitos do sexo. Esses capítulos
fornecem dois relatos complementares da criação. O primeiro (em Genêsis 1)
é como uma grande lente angular, e descreve a criação do mundo físico e de
toda a vida nele. O segundo (em Gênesis 2) se concentra na criação do
primeiro homem e da primeira mulher.
Em Gênesis 1, a humanidade é criada à imagem de Deus e
encarregada de governar a terra e suas criaturas. Nesse contexto, o ponto da
diferença sexual entre homem e mulher é a reprodução. “Crescer em
números” lhes permitirá preencher a terra e estar presente em todos os lugares
a fim de dominá-la.
Já em Gênesis 2, as diferenças entre os sexos são apresentadas sob uma
luz diferente. Adão foi criado primeiro, mas não era “bom” que ele estivesse
sozinho. Por si mesmo, ele é incapaz de cumprir os propósitos para os quais
Deus o criou. A solução para isso é a criação da mulher. Em contraste com os
vários animais que Adão acabara de nomear, a mulher é perfeita para lhe
corresponder:
E o homem disse: “Esta, afinal, é osso dos meus ossos e carne da minha carne; será
chamada varoa, porque do varão foi tirada”. (Gênesis 2.23)
Ela é igual a ele do jeito certo (feita da mesma matéria) e diferente dele
do jeito certo (mulher, em vez de homem). Ela é um exemplo diferente da
mesma espécie que ele, pois compartilha sua natureza, vocação e a própria
vida. Essa complementaridade leva à profunda união entre eles quando mais
tarde se juntam em sentido sexual:
Por isso, o homem deixa pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só
carne. (Gênesis 2.24)
O propósito do sexo aqui é expressar e aprofundar a unidade entre eles.
E o escritor deixa claro que não estava apenas falando sobre Adão e
Eva. Não somos informados apenas sobre o primeiro casal humano como
uma pequena curiosidade da antiga história familiar. Não, sua história é
verdade para toda a humanidade. Ela configura um padrão que vemos repetir-
se em todas as gerações. O escritor se afasta do cenário imediato para fazer a
observação geral: “Por isso, o homem deixa pai e mãe e se une à sua mulher”.
O que aconteceu com Adão e Eva explica o que acontece daí em diante.
O perfeito “ajuste” entre os dois é a base de todos os casamentos humanos. A
história não versa apenas sobre esta união; diz respeito a todas as uniões
matrimoniais.
O homem e a mulher se tornam “uma só carne”. Graças a várias
canções românticas, esse tipo de linguagem — “dois tornando-se um” —
pode nos soar um pouco como um clichê. Mas ela não descreve apenas a
sensação de união sentida pelo casal no auge da paixão. Trata-se de algo
objetivo e real. Jesus ensina que Deus une os casais pelo matrimônio e os
torna um (Mateus 19.6). O próprio Deus produz a união entre as duas
pessoas. Elas estão se interligando em sentido físico, psicológico, emocional
e espiritual. Deus criou o casamento para funcionar desse jeito.
E ele funciona muito bem. O efeito vinculador do sexo no
relacionamento é o que torna a ruptura da relação sexual tão dolorosamente
profunda. Nós não fomos feitos para isso. E quanto mais essa união for
trabalhada e depois se romper, mais diminui a capacidade de manter uma
união profunda e permanente.
A sexualidade se parece um pouco com as folhas de um bloco
autoadesivo. Quando a folha é usada pela primeira vez, ela adere bem. Mas
quando é colada muitas vezes, perde sua capacidade de se prender a qualquer
superfície. Nós não fomos projetados para relacionamentos sexuais
sucessivos. Como resultado, o sexo torna-se menos relacional, mais funcional
e menos satisfatório. Na maioria dos seriados de TV, os encontros sexuais
ocasionais recebem uma aparência inofensiva e divertida, mas as
consequências na vida real são muito graves: vazio, rompimento e destruição.
Não devíamos nos surpreender: o sexo foi projetado para unir duas pessoas
em caráter irreversível.
Assim, o texto de Gênesis 1 e 2 nos mostra que Deus é a favor do sexo.
Também nos mostra que o sexo serve para o casamento.
Como o casamento se encaixa nisso?
Em seu ensino, Jesus reforça a ética sexual de Gênesis 1 e 2. Ele
caracteriza toda a atividade sexual fora do casamento como má:
— O que sai da pessoa, isso é o que a contamina. Porque de dentro, do coração das
pessoas, é que procedem os maus pensamentos, as imoralidades sexuais, os furtos, os
homicídios, os adultérios, a avareza, as maldades, o engano, a libertinagem, a inveja,
a blasfêmia, o orgulho, a falta de juízo. Todos estes males vêm de dentro e
contaminam a pessoa. (Marcos 7.20-23)
O termo que traduzimos por “imoralidade” é a palavra grega porneia,
uma palavra de amplo significado que abrange todas as atividades sexuais
fora do casamento. Jesus descreve esse comportamento como maligno e
impuro.
Em outros lugares, ele reforça a estabilidade e a exclusividade do
casamento:
Alguns fariseus se aproximaram de Jesus e, testando-o, perguntaram: — É lícito ao
homem repudiar a sua mulher por qualquer motivo?
Jesus respondeu: — Vocês não leram que o Criador, desde o princípio, os fez homem
e mulher e que disse: “Por isso o homem deixará o seu pai e a sua mãe e se unirá à sua
mulher, tornando-se os dois uma só carne”? De modo que já não são mais dois, porém
uma só carne. Portanto, que ninguém separe o que Deus ajuntou.” (Mateus 19.3-6)
Jesus ressalta o que já vimos em Gênesis. Fomos criados homens e
mulheres. A humanidade recebeu gêneros. Nós não somos apenas seres
humanos, mas homens e mulheres. E é assim desde o “princípio”. Sim,
gênero é algo que nós humanos interpretamos e damos expressão cultural,
mas não é algo que inventamos ou definimos completamente. Trata-se de
como Deus nos criou.
Em seguida, Jesus nos mostra que essa diferença sexual é a razão do
casamento. Somos homens e mulheres: “Por isso, o homem deixa…”. O
fenômeno do casamento existe por sermos homens e mulheres. O casamento
se baseia no gênero. Ele não existiria sem as diferenças sexuais entre homens
e mulheres.
Essa diferença sexual explica a profundidade da união entre o homem e
a mulher. Eva foi criada a partir de Adão: feita a partir de seu corpo. A união
de uma só carne é, portanto, uma reunião: ela junta o que originariamente era
uma coisa só.
Essas verdades nos ajudam a entender alguns dos propósitos do
casamento na Bíblia:
1. O casamento humano destina-se a refletir algo da natureza de Deus
Lê-se no credo mais famoso do Antigo Testamento: “— Escute,
Israel, o SENHOR, nosso Deus, é o único SENHOR” (Deuteronômio 6.4). A
palavra hebraica para “único” (’ehad) não é em sentido primário uma
observação matemática: há um só dele, em oposição a dois ou cinco. Trata-se
de uma afirmação sobre a natureza de Deus. Ele é um. Há uma unidade nele.
Ele é uma peça única. Observa-se na Bíblia que esse Deus é uma Trindade:
Pai, Filho e Espírito Santo. Três pessoas diferentes. No entanto, tudo que o
Deus trino é, faz e diz está perfeitamente integrado. Um.
A mesma palavra é usada em Gênesis 2.24 para descrever a união
entre o homem e a mulher no casamento. Eles se tornaram uma só (’ehad)
carne. O casamento é uma forma maravilhosa de Deus para a humanidade
refletir a unidade e a diversidade que se vê na Trindade. A unidade de Deus
não é igualdade, como se as três pessoas da Trindade fossem idênticas entre
si. É a unidade na diferença, não na uniformidade. E o mesmo é verdade
sobre a união de um homem e uma mulher. Existe esse mesmo tipo de
unidade quando homens e mulheres estão unidos dessa maneira. Um.
Isso não é verdade a respeito da relação homossexual. Dois homens
ou duas mulheres não podem se tornar uma só carne. Eles não podem se
tornar um só (’ehad) da mesma forma que Deus é um e um homem e uma
mulher são um. Eles podem contar com uma espécie de união, mas não a do
tipo que só ocorre no casamento heterossexual.
Isso não quer dizer que o compromisso e a fidelidade não podem ser
experimentados em um relacionamento homossexual, ou que eles existam
automaticamente na relação heterossexual, apenas por conta da
heterossexualidade do casal. Conheço pares homossexuais que demonstram
fidelidade e compromisso impressionantes, como posso pensar em alguns
casamentos heterossexuais bastante falhos no mesmo ponto. A questão não é
o sentimento de compromisso que duas pessoas podem nutrir entre si, mas
sim o tipo de união concedida por Deus a um homem e a uma mulher quando
se tornam um em sentido físico. Essa é complementaridade fundamental do
casamento. Por mais que possamos diferir um do outro em temperamento,
personalidade, cultura e experiência, a união entre homens e mulheres, em
última instância, conduz à experiência de uma só carne.
2. A união em uma só carne foi concebida como a forma pela qual Adão
e Eva cumpririam o mandamento de Deus: “— Sejam fecundos,
multipliquem-se, encham a terra e sujeitem-na” (Gênesis 1.28)
Dessa união procede a possibilidade de uma nova vida: pois os filhos
resultam dela. Esse conceito é refletido no livro de Malaquias (do Antigo
Testamento): “Não fez o SENHOR somente um, mesmo que lhe sobrasse o
espírito? E por que somente um? Porque buscava uma descendência piedosa”
(Malaquias 2.15a). A procriação não é o único propósito do casamento (quem
não pode ter filhos não é menos casado por causa disso), mas sem dúvida a
ideia está enraizada no casamento.
3. O casamento humano não reflete apenas algo da natureza de Deus. Ele
também foi destinado a refletir a graça demonstrada por Deus a seu
povo em Cristo
Eis por que “o homem deixará o seu pai e a sua mãe e se unirá à sua mulher,
tornando-se os dois uma só carne”. Grande é este mistério, mas eu me refiro a Cristo e
à igreja. (Efésios 5.31,32)
Paulo diz que o casamento tem ligação com o relacionamento entre
Jesus e a igreja. Ele também é a união entre duas entidades diferentes e
complementares. A igreja não é o mesmo que Cristo, e Cristo não é o mesmo
que a igreja (uma verdade maravilhosa dada as imperfeições da igreja!).
Sendo Jesus diferente do seu povo, ele é capaz de atraí-lo para si,
comprometer-se com ele e uni-lo a si mesmo. O casamento humano é um
reflexo do casamento celestial supremo entre Jesus e seu povo. Esta é uma
das razões pelas quais os cristãos resistem a permitir que o casamento seja
definido de modo a incluir pares homossexuais. Um homem e um homem, ou
uma mulher e uma mulher, não podem refletir a união entre Jesus e a igreja;
em vez disso, estes apenas refletem Cristo e Cristo, ou igreja e igreja.
O ensino da Bíblia sobre o sexo e o casamento consiste no fundamento
de como os cristãos devem considerar toda a questão da sexualidade hoje. O
ensino de Gênesis, reforçado e expandido por Jesus em seu próprio
ministério, afirma que o sexo é um bom presente que Deus concedeu de
forma exclusiva ao casamento e que, para o matrimônio cumprir os
propósitos para os quais Deus o instituiu, ele deve ser celebrado entre um
homem e uma mulher.
Tudo isto suscita uma questão enorme e urgente: onde a
homossexualidade se encaixa nisso?
2. A homossexualidade e a Bíblia
Muitas pessoas ficam surpresas ao descobrir a existência de apenas
um punhado de passagens na Bíblia que mencionam diretamente a
homossexualidade. Ela não é um tema recorrente. Quando a Bíblia o faz, no
entanto, ela diz coisas importantes e claras a respeito da homossexualidade.
Portanto, não é certo dizer que esse ensino, pela infrequência relativa, não
tem importância. A Bíblia geralmente não faz referência direta a como
devemos cuidar da criação, mas isso não nos exime de seguir o que é dito
nessas passagens.
No mínimo, porém, isso nos mostra que a Bíblia não se concentra na
homossexualidade. A Bíblia não se fixa nesse tema. Portanto, nosso
entendimento do que a Bíblia diz sobre o assunto precisa ser lido à luz dos
temas mais importantes da Escritura. O que há na Bíblia sobre a
homossexualidade não é tudo o que Deus quer dizer aos homossexuais; não é
toda a mensagem do cristianismo. Assim, as passagens a seguir precisam ser
vistas como parte da mensagem mais ampla do evangelho: o anúncio do que
Deus fez por nós em Cristo e a necessidade do arrependimento e da fé.
Os cristãos desejosos de explicar a fé cristã aos amigos homossexuais
precisam saber que as afirmações da Bíblia sobre a homossexualidade não
são a única coisa que devem explicar, e provavelmente não é o primeiro
elemento, nem mesmo o principal, em que precisam se concentrar.
As duas primeiras passagens que mencionam diretamente a
homossexualidade vêm do Antigo Testamento.

1. Gênesis 19
A cidade de Sodoma, em Gênesis 19, tornou-se tão associada à
conduta homossexual que seu nome tem sido por muitas gerações um termo
pejorativo para designar a relação homossexual. No entanto, a sodomia é de
fato o tema principal da história de Sodoma?
O relato começa com a chegada de dois anjos ao portão da cidade,
incumbidos de verificar se o clamor que chegou a Deus a respeito da cidade
era justificado. Os anjos aparecem como homens, e são fortemente
desencorajados de passar a noite a céu aberto na cidade — uma sugestão do
que ocorre em Sodoma. Eles passam a noite na casa de Ló.
Quando o sol se põe, as coisas ficam desagradáveis:
Mas, antes que eles se deitassem, os homens daquela cidade cercaram a casa. Eram
os homens de Sodoma, tanto os moços como os velhos, sim, todo o povo de todos os
lados. E chamaram Ló e lhe disseram: — Onde estão os homens que, à noitinha,
entraram na sua casa? Traga-os aqui fora para que abusemos deles. (Gênesis 19.4,5)
Por si só, o texto pode parecer uma condenação. Todavia, outras
partes do Antigo Testamento acusam Sodoma de pecados bastante diferentes:
opressão, adultério, mentira, estímulo ao crime, arrogância, complacência e
indiferença para com os pobres. Nenhuma delas menciona a conduta
homossexual. Isso levou algumas pessoas a se perguntarem se nós inserimos
a homossexualidade na leitura da narrativa de Gênesis, quando, de fato, a
questão real era a opressão social e a injustiça. Contudo, um olhar atento
sobre a história esclarece o envolvimento da homossexualidade.
Em primeiro lugar, embora a palavra hebraica traduzida pela
expressão “abusemos” (yada‘) possa significar apenas “conhecer” alguém
(em vez de “conhecer em sentido sexual”), torna-se claro a partir da agressão
da multidão e da espantosa tentativa de Ló de entregar as filhas à turba como
alternativa, que esses homens procuravam muito mais que uma conversa
tranquila enquanto tomavam café.
Em segundo lugar, a multidão não é um grupo pequeno e sem
nenhuma representatividade. É evidente que ela consiste em toda a
comunidade masculina: “os homens de Sodoma, tanto os moços como os
velhos”. A cidade se comporta assim. Sodoma age dessa forma.
Isso explica o que acontece na sequência: os anjos alertam Ló sobre o
juízo iminente (v. 13). Eles descobriram tudo que precisavam saber. A
acusação contra Sodoma é justa.
No Novo Testamento, Judas acrescenta uma informação importante:
Igualmente Sodoma, Gomorra e as cidades vizinhas, que também se entregaram à
imoralidade e adotaram práticas contrárias à natureza, foram postas como exemplo
do castigo de um fogo eterno. (Judas 7)
O que ocorreu em Sodoma é sem dúvida um aviso. Essas pessoas
consistem em uma amostra do juízo divino. Pedro diz o mesmo: Sodoma e
Gomorra tornaram-se “exemplo do que viria a acontecer com os que
vivessem impiamente” (2 Pedro 2.6). Judas deixa claro que a impiedade deles
envolvia a imoralidade sexual. Eles foram punidos pelo pecado sexual, junto
com os outros pecados dos quais eram culpados. Sua destruição serve como
um aviso: Deus leva o pecado sexual muito a sério.
Judas também destaca a perversidade de seus desejos sexuais: eles
desejavam manter “práticas contrárias à natureza” (literalmente, carnes não
naturais). Alguns sugeriram que essa expressão decorra do fato de os
visitantes da cidade serem anjos. Judas e Pedro também se referem antes ao
pecado dos anjos em suas cartas. Todavia, esses anjos apareceram como
homens, e a multidão que rugia fora da casa de Ló não mostrava nenhuma
evidência de lhes conhecer a identidade. Seu desejo era fazer sexo com os
homens que estavam com Ló.
Portanto, a impiedade não se estendia apenas à maneira violenta pela
qual a multidão tentava satisfazer seus desejos sexuais, mas também à
natureza desses desejos. Um episódio paralelo em Juízes 19 indica que não só
a pagã Sodoma, mas também o povo de Deus cometeu esse tipo de pecado.
2. Levítico 18 e 20
O livro de Levítico contém duas proibições contra a prática
homossexual:
— Não se deite com outro homem para ter relações com ele como se fosse mulher; é
abominação. (Levítico 18.22).
Se também um homem tiver relações com outro homem, como se fosse mulher,
ambos praticaram coisa abominável; serão mortos; o seu sangue cairá sobre eles.
(Levítico 20.13).
A expressão abominação (ou ato repugnante) é usada com frequência
para descrever a idolatria, e alguns sugerem que esses versículos não proíbem
o comportamento homossexual em si, apenas a prostituição cultual associada
aos templos pagãos, pois a expressão utilizada não é tão específica — as
passagens referem-se de forma geral a um homem deitando-se com outro
homem “como se fosse mulher”, sem detalhar o contexto do ato; além disso,
os versículos circundantes dos capítulos 18 e 20 proíbem outras formas de
pecado sexual de natureza mais geral, como o incesto, o adultério e a
bestialidade.
Entretanto, as passagens não têm nenhuma conexão com templos
pagãos ou idolatria. Esses atos são moralmente errados, independentemente
de quem os cometa e de onde ocorram. Também é importante observar que o
segundo versículo (Levítico 20.13) proíbe igualmente os atos praticados em
potencial pelos dois homens. Não se pode desdenhar disso como se a
passagem proibisse apenas o estupro homossexual ou um relacionamento
sexual forçado. O texto de Levítico proíbe até a prática homossexual
consensual.
Também é importante verificar que o comportamento homossexual
não é o único pecado descrito como “abominação” na Bíblia. Levítico refere-
se a outros pecados sexuais exatamente da mesma maneira, e Provérbios
considera a mentira, o orgulho e o assassinato igualmente repugnantes a
Deus. O pecado homossexual não está sozinho nessa categoria.
3. Romanos 1.18-32
Romanos 1 tem muito a dizer sobre a natureza e o caráter do
comportamento homossexual. Vale a pena ler todo o capítulo antes de
continuar a ler este livro.
O objetivo de Paulo nos primeiros capítulos da carta é demonstrar a
injustiça do mundo todo aos olhos de Deus e, portanto, ele carece de
salvação. Em Romanos 1.18-32, o apóstolo se concentra no mundo pagão dos
gentios, descrevendo como este se afastou de Deus e abraçou a idolatria e a
perversidade. Os detalhes particulares da passagem indicam que Paulo usa a
cultura greco-romana dos leitores como exemplo.
A sociedade dos gentios enfrenta a ira de Deus, pois reprimiu a
verdade de que Deus revelou a si mesmo na criação (v. 18-20). Nos
versículos a seguir, Paulo ilustra como isso aconteceu, apresentando três
exemplos de como as informações verdadeiras a respeito de Deus foram
trocadas por outra coisa: os homens trocaram a glória de Deus por imagens
semelhantes ao ser humano (v. 23); a verdade de Deus pela mentira,
adorando e servindo a criatura em lugar do Criador (v. 25); e desprezaram o
conhecimento de Deus (v. 28), trocando as relações sexuais “naturais” pelas
“contrárias à natureza”:
Por causa disso, Deus os entregou a paixões vergonhosas. Porque até as mulheres
trocaram o modo natural das relações íntimas por outro, contrário à natureza. Da
mesma forma, também os homens, deixando o contato natural da mulher, se
inflamaram mutuamente em sua sensualidade, cometendo indecência, homens com
homens, e recebendo, em si mesmos, a merecida punição do seu erro.
(Romanos 1.26,27)
Duas verdades importantes e firmes são evidentes a partir desses
versículos:
a. A homossexualidade não é natural
Paulo descreve o comportamento homossexual masculino e feminino
como “contrário à natureza”. Esta é sem dúvida uma declaração pesada da
Bíblia e, portanto, algo muito difícil para muitas pessoas ouvirem. Alguns se
perguntaram se “contrário à natureza” poderia se referir ao que é natural para
as próprias pessoas. Nesse caso, Paulo estaria falando sobre pessoas
heterossexuais envolvidas em atividades homossexuais e, desse modo,
contrariando sua orientação “natural”. Paulo, portanto, não condenaria todos
os comportamentos homossexuais, apenas os que contradizem as próprias
inclinações sexuais da pessoa.
Por mais atraente que seja para alguns, esse ponto de vista não é
sustentado pelo próprio texto. As expressões “natural” e “contrário à
natureza” não descrevem a experiência subjetiva do que nos parece natural,
mas se referem ao modo fixo das coisas na criação. De acordo com Paulo, a
natureza contraditada pelo comportamento homossexual consiste no
propósito de Deus para nós, revelado na criação e reiterado em toda a
Escritura.
Isso nos mostra a inverdade da expressão utilizada por quem sente por
pessoas do mesmo sexo: “Mas Deus me fez assim”. O ponto de Paulo em
Romanos 1 é que nossa natureza (experiência) não é natural (planejada por
Deus). Todos nós temos desejos distorcidos, resultantes de nossa natureza
caída. O desejo das coisas proibidas por Deus reflete como o pecado me
distorceu, não como Deus me criou.
A referência de Paulo à homossexualidade feminina, bem como à
masculina, também confirma a ideia da condenação de todas as atividades
homossexuais, não só os relacionamentos entre homens e meninos que
ocorriam na cultura romana.
A força da linguagem de Paulo aqui não nos deve fazer pensar que a
conduta homossexual seja a pior forma, ou única, de comportamento
pecaminoso. O destaque dado por Paulo pode ser devido a um exemplo
particularmente vívido ou especialmente pertinente para os leitores de Roma,
dado seu contexto cultural. De qualquer forma, ilustra algo que ocorre com
todos nós: quando rejeitamos a Deus, achamo-nos desejando o que não fomos
concebidos por natureza para fazer. Isso é tão verdadeiro para os
heterossexuais quanto para os homossexuais.
b. A homossexualidade é um sinal do juízo divino
Paulo escreve: “A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade
e injustiça dos seres humanos” (Romanos 1.18a). Embora haja um dia futuro
da “ira e da revelação do justo juízo de Deus” (Romanos 2.5), existe uma
expressão atual da ira divina contra o pecado.
Quando tentamos visualizar a ira de Deus, muitos pensam em
imagens geradas por computador de um filme de catástrofe, ou em raios
caindo do céu. Mas Paulo nos dá uma imagem muito diferente. Vemos a ira
de Deus nisso: ele nos dá o que queremos.
Em resposta ao que Paulo descreveu, vemos três instâncias em que
Deus nos deixa viver o resultado de nossos desejos pecaminosos. Este é seu
juízo atual contra o pecado. Pedimos a realidade sem ele e ele nos dá uma
amostra disso.
Em cada caso em que Deus nos entrega, surge a intensificação do
pecado e a degradação do comportamento humano. Deus entrega a
humanidade à impureza, para desonrarem o seu corpo (v. 24) e às “paixões
vergonhosas” (v. 26). A mudança das relações naturais para as não naturais
acaba conduzindo a um “modo de pensar reprovável” e ao florescimento de
“todo tipo de injustiça”, apresentados por Paulo em uma longa lista de
comportamentos antissociais (v. 28-31). O pecado leva ao juízo, mas o juízo
também conduz a pecados adicionais.
A presença de todos esses atos pecaminosos é um lembrete de que
vivemos no mundo experimentando uma amostra da ira de Deus e
provocando a própria destruição do mundo no dia do juízo. O fato de a
prática homossexual estar listada entre esses atos testemunha, por si só, a
natureza distorcida da humanidade pecadora.
É importante reconhecer que Paulo fala em termos sociais e não
individuais. Ele descreve o que acontece com toda a cultura, e não com
pessoas específicas. A presença do desejo por pessoas do mesmo sexo em
alguns de nós não é indicação de que nos desviamos de Deus mais que
outros, ou que Deus nos entregou ao pecado mais que outras pessoas.
Existe um paralelo com o sofrimento. A presença de um sofrimento
específico na vida de alguém não significa que essa pessoa tenha pecado com
mais intensidade que quem sofre menos. Em vez disso, a presença do
sofrimento em qualquer lugar indica que, como povo, encontramo-nos sob o
juízo divino. Da mesma forma, a presença de sentimentos homossexuais em
mim me faz lembrar de que meus desejos não são sadios porque o mundo não
é sadio. Desviamo-nos juntos de Deus, e juntos fomos entregues ao pecado.
4. 1 Coríntios 6.9, 10
Ou vocês não sabem que os injustos não herdarão o Reino de Deus? Não se
enganem: nem imorais, nem idólatras, nem adúlteros, nem afeminados, nem
homossexuais, nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem maldizentes, nem
roubadores herdarão o Reino de Deus. (1 Coríntios 6.9,10)
Nestes versículos, Paulo descreve diferentes tipos de pessoas que
serão excluídas do Reino de Deus (a menos que se arrependam). Quatro tipos
referem-se a pecados sexuais, e dois deles especificamente ao comportamento
homossexual. As apostas são altas: precisamos ter certeza de que
compreendemos exatamente sobre o que ele está falando.
O primeiro dos dois termos relativos à homossexualidade é malakoi,
termo grego que literalmente significa os “macios”. Na literatura clássica, o
vocábulo era usado como termo pejorativo para descrever homens
efeminados, parceiros mais jovens e passivos de um relacionamento de
pederastia (homem-menino), ou para se referir a prostitutos cultuais. Em
1 Coríntios 6, o termo malakoi segue em uma lista contendo as formas gerais
de pecado sexual, e o contexto sugere a grande probabilidade de que Paulo o
use de maneira ampla para se referir aos parceiros passivos em relações
homossexuais.
Isso também se encaixa no emparelhamento de malakoi com o
segundo termo usado. Arsenokoitai é um termo composto por “masculino”
(arsen) e “relação sexual” (koites, literalmente “cama”). Essas duas palavras
foram usadas na tradução grega de Levítico 18.22 e 20.13, com a sugestão de
que Paulo se refere a essas duas passagens.
Assim, arsenokoitai é um termo geral para o ato sexual com alguém
do mesmo sexo, e sua junção a malakoi indica que Paulo se refere aos
parceiros ativos e passivos em uma relação homossexual.
Então, o que tudo isso significa para nossa compreensão da
homossexualidade?
O pecado homossexual é sério. Paulo diz que os homossexuais não
arrependidos (como todos os injustos) não entrarão no Reino de Deus. Esta é
uma verdade muito pesada.
Ele também lembra a seus leitores que não sejam enganados a esse
respeito. Paulo toma por certo o surgimento de quem nega esse ensinamento
e argumenta que algumas formas de conduta homossexual são aceitáveis a
Deus. Contudo, o apóstolo é claro: a conduta homossexual leva as pessoas à
destruição. Ensinar de outra forma (como o faz uma série de líderes
supostamente cristãos) equivale a enviar pessoas para o inferno. Este é uma
questão que envolve os cristãos (veja a seção mais abaixo).
O pecado homossexual não é único. A lista de Paulo inclui outras
formas de pecado sexual (imoralidade sexual e adultério), e inclui formas não
sexuais de pecado (embriaguez e roubo, por exemplo). O pecado
homossexual é muito sério, mas não está sozinho. É perverso, mas também o
é a ganância. Deus julgará as pessoas que se entregam a ele. Mas também
julgará os ladrões.
Portanto, jamais devemos afirmar que a homossexualidade consiste
no maior pecado da nossa era. Se formos fiéis às Escrituras, também
pregaremos contra o roubo, a ganância, a embriaguez, a injúria e a fraude —
muitos dos quais também são banalizados na sociedade ocidental e também
caracterizam os injustos. Todavia, também há uma promessa maravilhosa na
passagem:
O pecado homossexual não é inescapável
Paulo continua no versículo 11:
Alguns de vocês eram assim. Mas vocês foram lavados, foram santificados, foram
justificados no nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus. (1
Coríntios 6.11)
Essas formas de comportamento não são adequadas aos cristãos
coríntios porque eles não eram mais assim. Alguns deles sem dúvida haviam
sido homossexuais. Eles tinham vivido dessa forma no passado; agora não
mais. Eles foram lavados, santificados e justificados; perdoados, purificados
de seus pecados e separados para Deus. Eles receberam uma nova posição e
identidade diante dele.
Por mais arraigada que seja ao comportamento de alguém, a conduta
homossexual não é inescapável. É possível que quem vive o estilo de vida
homossexual seja renovado por Deus. Tentações e sentimentos podem
demorar a desaparecer. Quando Paulo alerta seus leitores para não voltarem
ao antigo modo de vida, sugere a existência ainda do desejo de fazê-lo. Mas
em Cristo já não somos quem éramos. Quem saiu do estilo de vida
homossexual precisa compreender como deve se enxergar agora. O que nos
definiu antes não nos define agora.
5. 1 Timóteo 1.9, 10
Tendo em vista que não se promulga lei para quem é justo, mas para os
transgressores e rebeldes, para os ímpios e pecadores, para os iníquos e profanos,
para os que matam o pai ou a mãe, para os homicidas, para os que praticam a
imoralidade, para os que se entregam a práticas homossexuais, para os
sequestradores, para os mentirosos, para os que fazem juramento falso e para tudo o
que se opõe à sã doutrina. (1 Timóteo 1.9,10)
Paulo usa mais uma vez o termo arsenokoitai como termo abrangente
para designar todas as formas de conduta homossexual. Além disso, em
comum acordo com 1 Coríntios, a relação sexual com alguém do mesmo sexo
é mencionada entre outros pecados mais amplos de caráter não sexual e
sexual.
Essas formas de comportamento caracterizam os não “justos”, para
quem a lei foi dada com o objetivo de trazer a convicção do pecado e a
necessidade de misericórdia. Todas essas práticas contradizem a “sã
doutrina” e o evangelho. Elas não se conformam com a vida que os cristãos
devem levar agora. Opõem-se à nova identidade que temos em Cristo.
Este será um capítulo de difícil leitura para muitos de nós. Não foi
fácil escrevê-lo! Em cada situação em que a Bíblia lida de forma direta com o
comportamento homossexual, o objetivo é condená-lo. O ensino coerente da
Bíblia é claro: Deus proíbe a prática homossexual. Por conta das declarações
bíblicas sobre o propósito de Deus para o sexo e o casamento, isso não
deveria nos surpreender.
Na verdade, a situação é pior do que muitas pessoas pensam. Deus se
opõe a toda a atividade sexual fora do casamento entre pessoas de sexo
diferente. Não é que a Bíblia se oponha a toda prática homossexual, mas
aprove qualquer ato sexual entre pessoas heterossexuais.
Entretanto, quem experimenta desejos homossexuais, ou está perto de
pessoas que passam por isso, os ensinos da Bíblia podem ser muito difíceis. E
pode ser mais difícil para nós cristãos que ainda nos encontramos sentindo
atração por pessoas do mesmo sexo. O que isso significa para nós? Esses
sentimentos nos impedem de sermos cristãos?
A maravilhosa resposta é “não”! Vamos descobrir o motivo no
próximo capítulo.

Será correta a parceria entre pessoas do mesmo sexo em que haja


comprometimento e fidelidade?
Um dos argumentos comumente levantados hoje a favor das parcerias
entre pessoas do mesmo sexo é que a fidelidade e o compromisso sem dúvida
devem ser considerados os aspectos mais importantes. A fidelidade dentro de
um relacionamento não deveria determinar sua bondade moral em lugar do
gênero dos envolvidos? O estilo de vida homossexual e promíscuo com
múltiplos parceiros e relações de uma noite só pode estar errado, mas duas
pessoas que se amam e são fiéis a qualquer promessa feita agem com
correção?
Pode parecer um argumento convincente, e é cada vez mais comum
encontrar cristãos permitindo esse tipo de expressão da prática homossexual.
No entanto, uma série de coisas importantes precisa ser dita em resposta.
Em 1 Coríntios 5, Paulo repreende a igreja de Corinto pela aceitação
de um relacionamento ilícito. Um homem se relacionava com a mulher de seu
pai, muito provavelmente sua madrasta — algo proibido de forma expressa
em Levítico 18. Paulo está consternado. Mesmo os pagãos dessa sociedade
não permitiriam tal coisa (1 Coríntios 5.1); todavia, isso ocorre aqui, à vista
do povo de Deus.
A resposta de Paulo a essa situação é instrutiva, tanto pelo que ele não
diz quanto pelo que diz. Não se questiona se esse casal em particular se ama.
Paulo não pergunta sobre seu nível de compromisso ou se estão sendo fiéis.
Essa não é a questão. O problema não é tratar-se ou não de um
relacionamento comprometido e duradouro; a situação está errada e não
deveria acontecer.
Paulo não distingue relacionamentos ilícitos e fiéis de relações ilícitas
e promíscuas, como se estas últimas estivessem fora de questão, mas as
primeiras poderiam ser admitidas por conta da fidelidade. A coerência e a
fidelidade ao pecado de modo algum o atenuam. Paulo ordena que o membro
da igreja em questão seja expulso da comunhão, e que toda a igreja expresse
tristeza pelo ocorrido (1 Coríntios 5.2). A demonstração de fidelidade a um
relacionamento proibido não o torna menos pecaminoso.
Em muitas áreas da vida, é possível demonstrar boas qualidades
enquanto se faz algo errado. O membro de uma gangue de ladrões pode
demonstrar lealdade impecável a seus companheiros durante um roubo: pode
cuidar deles, protegê-los do perigo e certificar-se de lhes dar uma parte
generosa do crime. Nada disso diminui de forma alguma a imoralidade do
ato; isso significa apenas que ele está sendo um “bom” ladrão em vez de um
ladrão “ruim”. Como vimos, a Escritura é clara na proibição de qualquer
prática homossexual. A atividade fiel e comprometida não é mais permissível
que a atividade promíscua e infiel.

Jesus nunca menciona a homossexualidade; assim, como ela pode ser


errada?
Afirma-se às vezes que pelo fato de Jesus nunca ter mencionado a
homossexualidade de forma direta, ele não poderia ter sido contrário a ela.
Ainda que Jesus não mencione a homossexualidade de forma direta, ele
ensina a respeito de pecados sexuais. Considere o seguinte:
E dizia: — O que sai da pessoa, isso é o que a contamina. Porque de dentro, do
coração das pessoas, é que procedem os maus pensamentos, as imoralidades sexuais,
os furtos, os homicídios, os adultérios, a avareza, as maldades, o engano, a
libertinagem, a inveja, a blasfêmia, o orgulho, a falta de juízo. Todos estes males
vêm de dentro e contaminam a pessoa. (Marcos 7.20-23)
Jesus diz que há coisas que tornam alguém espiritualmente impuro
diante de Deus. Na lista, Jesus inclui (entre outras coisas) exemplos de
pecados sexuais: adultério, libertinagem e imoralidades sexuais.
“Imoralidades sexuais” é a tradução da palavra grega porneia (da qual
procede a palavra “pornografia”), um termo abrangente que inclui toda e
qualquer atividade sexual fora do casamento. Isso vai além do sexo puro e
simples para incluir qualquer atividade de natureza sexual. Nenhum dos
ouvintes de Jesus duvidaria que sua referência à porneia incluísse o
comportamento homossexual.
Imagine que neste domingo, na minha igreja, eu decidisse, em um
momento de generosidade impetuosa e pouco característica, agradecer a
todos os presentes oferecendo-lhes um presente de 1.000 libras. O convite se
estenderia a todas as pessoas que se encontram no local; só era necessário vir
e me encontrar à porta. Ora, se você estivesse lá quando eu fizesse a
promessa, sem dúvida estaria incluído nela. Não mencionei seu nome; não
me dirigi diretamente a você, mas eu o incluí. Nas proibições contra as
“imoralidades sexuais”, Jesus não mencionou a homossexualidade, mas a
inclui.
Deve-se salientar outro ponto. Além de condenar o pecado sexual fora
do casamento, Jesus indicou que a única alternativa piedosa ao casamento
consistia no celibato. Em Mateus 19, quando Jesus esboçou o propósito
divino para o casamento humano, seus discípulos responderam com
exasperação: “— Se essa é a situação do homem em relação à sua mulher,
não convém casar” (Mateus 19.10). Eles consideraram o ensino de Jesus uma
pílula amarga para engolir. Se o casamento é algo tão sério assim, eles
pensaram, talvez seja melhor evitá-lo.
A resposta de Jesus a eles é significativa:
Jesus, porém, lhes respondeu: — Nem todos são aptos para aceitar este ensinamento,
mas apenas aqueles a quem isso é dado. Porque há eunucos de nascença; há outros a
quem os homens fizeram tais; e há outros que se fizeram eunucos, por causa do
Reino dos Céus. Quem é apto para aceitar isto, que aceite. (Mateus 19.11,12)
Os eunucos eram os solteiros daqueles dias, e Jesus indica que o
celibato pode resultar do nascimento, ou intervenção humana, ou uma
decisão voluntária de renunciar ao casamento. Seja qual for a causa, Jesus
aproveita a deixa, logo após os discípulos reclamarem do comprometimento e
da seriedade do casamento, para deixar claro que essa é a única alternativa.
Case-se ou fique solteiro.
Não existe outra opção: um relacionamento homossexual, uma
relação heterossexual fora do casamento. No que diz respeito a Jesus, as
opções piedosas diante de nós são o casamento (heterossexual) ou o celibato.
3. A homossexualidade e o cristão
Espera-se que um número de cristãos experimente formas de atração
por pessoas do mesmo sexo. Vivemos em um mundo caído. A criação foi
afetada pelo nosso pecado e foi submetida à vaidade (Romanos 8.20).
Existem doenças e desordem. Isso também nos afeta o corpo, o coração e a
mente. Os cristãos sucumbem às dificuldades da ordem caída como qualquer
outra pessoa. Ser cristão não nos torna menos propensos a adoecer, enfrentar
tragédias ou experimentar a insegurança. Todos nós experimentamos desejos
sexuais caídos — heterossexuais ou homossexuais. Não é impossível que o
cristão sinta atração por pessoas do mesmo sexo, como não é impossível que
o cristão fique doente. O que nos marca como cristãos não é que nunca
passemos por essas coisas, e sim como respondemos a elas. E se o cristão se
encontrar atraído por pessoas do mesmo sexo? Como ele deve agir? Várias
coisas precisam ser incentivadas…
1. Ore
Os cristãos que sentem atração por pessoas do mesmo sexo precisam
conversar com o Senhor sobre isso. É importante saber que se trata de um
problema sobre o qual se pode conversar com o Pai celestial. Os sentimentos
homossexuais não nos excluem de sua presença. O assunto não se encontra
fora dos limites. Ele não se torna menos nosso Pai, e nós não nos tornamos
menos seus filhos amados por sentirmos algo assim.
a. Podemos falar com Deus sobre qualquer confusão ou aflição sentida
Talvez não saibamos de onde esses sentimentos vieram ou o que seu
significado para o futuro. No entanto, Deus nos conhece de forma plena.
Podemos obter grande conforto pelo fato de ele estar no controle, e que em
todas as coisas (incluindo-se experiências indesejadas como esta) ele age
para o nosso bem. Ele prometeu nos dar sabedoria quando falharmos: “com
generosidade e sem reprovações” (Tiago 1.5). Ele é a melhor pessoa, e a
primeira, a quem recorrermos em qualquer confusão e angústia.
b. Podemos falar com Deus sobre nossas tentações
Jesus nos ensinou a orar ao Pai e pedir livramento da tentação
(Mateus 6.13). Pode ser útil articular e confessar na oração a natureza
específica das tentações. Deus nos dá forças para resistirmos a elas. Além
disso, o próprio Jesus pode “se compadecer das nossas fraquezas”, porque
“foi tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado”
(Hebreus 4.15). Ele sabe o que é lutar com a tentação, e se sensibiliza
conosco quando o fazemos. Isso faz dele um grande Salvador para quem orar.
Pode-se ir até ele com grande confiança. Ele não é distante ou
incompreensivo.
c. Também podemos falar com Deus sobre nossos pecados
Há um grande número de maneiras pelas quais se sucumbe à tentação
homossexual em pensamentos ou ações. Sem dúvida esses pecados pesam
muito no nosso coração; entretanto, devemos nos lembrar de que eles não são
imperdoáveis. Cristo morreu por pecados como estes também. O apóstolo
João nos lembra: “Se confessarmos os nossos pecados, ele [Deus] é fiel e
justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” (1
João 1.9). É uma bênção maravilhosa saber que podemos conversar com
Deus sobre as piores coisas que fizemos e pensamos.
2. Pense sobre isso do jeito certo
Os cristãos precisam pensar com clareza sobre o que esses
sentimentos significam ou não.
a. Eles não o desqualificam
Conheci vários cristãos que disseram que suas experiências de atração
por pessoas do mesmo sexo fizeram-nos sentir-se profunda e espiritualmente
impuros. Alguns mencionaram sentir-se como “produtos danificados”, como
se estivessem além do reparo e fossem desagradáveis a Deus para sempre.
É fácil fazer comparações com quem experimenta a tentação sob a
forma heterossexual; pelo menos, eles são tentados pela forma de expressão
sexual para a qual foram projetados. Isso pode fazer com que as pessoas
atraídas por indivíduos do mesmo sexo se sintam duplamente envergonhadas:
não apenas tentadas para realizar algo errado, mas um tipo mais errado da
coisa errada.
Ocorre o reconhecimento correto de que não que devíamos ser assim.
Esses sentimentos oferecem uma ótima oportunidade para que o evangelho
seja recordado. Jamais seríamos aceitáveis a Deus com base em nossos
méritos e ações. As boas-novas não versam nosso valor intrínseco ou nossa
pureza espiritual natural. Ao contrário: só “em Cristo” qualquer pessoa pode
se tornar justa aos olhos de Deus (2 Coríntios 5.21). E que maravilha:
nenhuma experiência com a tentação, por mais contínua que seja, consiste em
uma ameaça a essa verdade! Em Cristo somos apresentados santos,
inculpáveis e irrepreensíveis diante de Deus (Colossenses 1.22).
b. Eles não o definem
É fácil colocar esses sentimentos fora de proporção de outro modo:
considerá-los a soma total de nossa identidade. Vivemos em uma cultura em
que a sexualidade é quase equiparada à identidade: “Você é sua sexualidade”.
Somos estimulados a pensar que experimentar sentimentos homossexuais
equivale a ser, no nível íntimo, homossexual.
É muito fácil que os cristãos percam a perspectiva saudável sobre o
assunto. Pode-se pensar que a atração por pessoas do mesmo sexo represente
a principal questão da vida cristã, como se nenhum outro pecado ou luta
demandasse a mesma seriedade. Minha própria percepção é que eu luto
contra a ganância com muito mais intensidade que contra a tentação sexual.
Contudo, a atração por pessoas do mesmo sexo pode se tornar a lente através
da qual toda a vida cristã é analisada. Sim, esses sentimentos possuem um
efeito significativo em algumas áreas da vida, mas eles não a definem.
Como já vimos, Paulo disse a respeito de cristãos do sexo masculino e
feminino que em outro tempo praticaram a homossexualidade: “Alguns de
vocês eram assim” (1 Coríntios 6.11a). Algumas tentações podem
permanecer, mas nossa identidade foi alterada de maneira radical.
Também é importante entender que a sexualidade não é
necessariamente algo estático. Nossos desejos em uma fase do
desenvolvimento podem não ser os mesmos em outra. Talvez isso seja
especialmente verdadeiro na puberdade, quando as atrações sexuais mudam
de forma considerável. Conheci muitos homens e mulheres que passaram por
períodos de atração por pessoas do mesmo sexo na adolescência, e
perceberam mais tarde que seus desejos reverteram-se em atração pelo sexo
oposto. Ou seja: na sequência dos fatos da vida ter sentido atração por
pessoas do mesmo sexo não significa necessariamente ter de sempre sentir
esse tipo de atração; é muitíssimo importante que alguém que sinta essa
atração pela primeira vez não presuma que ela consista agora na “orientação”
com que viverá pelo resto de sua existência.
3. Procure o apoio de outras pessoas
Falar com outras pessoas pode ser muito difícil. Caso tenhamos
ouvido sobre a homossexualidade apenas em termos muito negativos na
igreja, então podemos nos sentir desconfortáveis em falar com outros crentes
sobre nossos próprios sentimentos homossexuais.
Às vezes, os cristãos que sentem atração por pessoas do mesmo sexo
têm a sensação de que desapontam os outros por causa desses sentimentos, ou
que seus amigos cristãos, e até mesmo pastores, ficariam decepcionados com
eles. No entanto, jamais desapontamos alguém quando compartilhamos uma
luta. Na verdade, é um enorme privilégio outro cristão partilhar conosco sua
luta. Todos nós somos fracos! Nenhum cristão deve lutar sozinho. Todos nós
precisamos do apoio uns dos outros. Somos chamados a “lev[ar] as cargas
uns dos outros e, assim, esta[mos] cumprindo a lei de Cristo” (Galátas 6.2).
Deus pode mudar nossos desejos sexuais?
Em certo sentido, a resposta para essa pergunta é um inequívoco
“sim!”. Sabemos que em Cristo temos a esperança futura da eternidade na
nova criação, quando não experimentaremos mais as tentações e as
consequências do pecado. Teremos corpos renovados. Não haverá mais
lágrimas. Toda a aflição terá acabado. Não haverá mais lutas contra a
sexualidade. Na eternidade, seremos mudados para sempre a fim de sermos
como Cristo. Essa é a esperança inabalável do cristão.
Mas e nesta vida? É possível que Deus mude nossos desejos sexuais
antes de alcançarmos a nova criação?
Acredito na possibilidade da mudança; no entanto, a Bíblia jamais
promete a mudança completa da orientação sexual.
Os cristãos creem que Deus é soberano e, portanto, na capacidade
dele de nos curar pela atuação do seu Espírito Santo, mesmo nesta vida, de
qualquer fragilidade e também de nos livrar de padrões negativos de
comportamento. Não há dúvida de que Deus pode mudar nossos desejos
sexuais, e há numerosos relatos de que ele o fez.
Lembro-me de um bom amigo meu que viu seus desejos sexuais
mudarem de forma rápida e impressionante. Era como se estivesse
começando a aceitar essa realidade, e começara a partilhar isso com a família
e os amigos, quando ele se viu passar por uma mudança muito rápida. Ele se
apaixonou por uma mulher que conheceu e há muitos anos está feliz no
casamento com ela. Sem nunca mais experimentar sentimentos
homossexuais. Esse amigo não estava procurando passar por uma mudança,
ela apenas ocorreu. Eu li e ouvi falar a respeito de outros cristãos que
passaram por um nível de mudança semelhante, embora não necessariamente
tão repentina.
Contudo, essa não é uma experiência universal. Há cristãos que
oraram com fervor pela mudança e a conseguiram; outros oraram com o
mesmo fervor, mas não a obtiveram.
Precisamos nos lembrar de que, como cristãos, vivemos entre duas
realidades:
1. Quando nos tornamos cristãos, somos feitos novas criaturas
Se alguém está em Cristo, é nova criatura. (2Coríntios 5.17a)
Recebemos uma nova identidade (Efésios 4.24). O evangelho não nos
trouxe só uma mudança, mas a alteração em nós. Fomos criados de novo ou,
usando a linguagem de Jesus, nascemos de novo (João 3.3).
2. Entretanto, ainda não recebemos a plenitude da nossa salvação como
povo de Deus
Ainda esperamos a “adoção de filhos” e a “redenção do nosso corpo”
(Romanos 8.23). Continuamos a lutar contra o pecado. A tentação não cessa.
A cura e libertação plenas que desejamos não são prometidas neste lado da
nova criação.
Por essa razão — pegos entre essas duas realidades — Paulo diz que
gememos (Romanos 8.23). Provamos a adoção de filhos e, portanto, a
desejamos em toda a sua plenitude. (Algo como receber uma colher para
experimentarmos a refeição deliciosa que está sendo preparada e, de
imediato, percebermos o tamanho da fome e quão maravilhoso será se sentar
à mesa e comer até não poder mais…)
Há momentos em que Deus verte, com graça, parte de nossa realidade
futura sobre a vida atual e proporciona cura e libertação radicais. Essas
ocasiões demonstram de modo impressionante o poder divino sobre nossa
vida. Damos graças a Deus quando isso acontece. Contudo, Deus também é
glorificado quando aprendemos a nos alegrar nele mesmo quando a aflição
permanece e a mudança parece ser muito lenta — ou quando parece que
retrocedemos alguns passos.
A mudança nesta vida é possível, mas não prometida. Portanto, não
devemos presumir sua ocorrência ou não. Aprendamos a confiar no Deus que
conhece o final desde o início, e que sempre faz exatamente o que é certo.
Pode-se esperar que cristãos não casados que sentem atração por pessoas
do mesmo sexo permaneçam solteiros?
Já vimos que a Bíblia proíbe qualquer atividade sexual fora do
casamento heterossexual. É possível que alguns cristãos que sentem atração
por pessoas do mesmo sexo se casem. Isso pode ocorrer por terem passado
por alguma mudança em seus desejos sexuais, ou então porque consideram
que, apesar da tentação homossexual vigente, são capazes de desfrutar de um
casamento feliz com alguém do sexo oposto.
Penso em uma série de mulheres e homens que conheço e para quem
esse foi o caso. O desejo deles permanece predominantemente homossexual,
mas eles ainda assim encontraram companheirismo profundo e suficiente
química sexual (se não “de cair o queixo”) no casamento heterossexual.
Mas e que dizer de irmãos e irmãs para quem o casamento não é algo
realista? O celibato é necessário? É realista?
A resposta da Bíblia a ambas as perguntas é “sim”.
Como já se discutiu, quando Jesus fala sobre a alternativa ao
casamento, ele não menciona a coabitação, a parceria sexual com alguém do
mesmo sexo, ou qualquer outro tipo de relação sexual. Ele menciona os
eunucos — o celibato (Mateus 19.10-12). Esta é a única alternativa piedosa
ao casamento heterossexual. Enquanto alguém permanecer solteiro, deve se
abster de atividades sexuais. “Celibato” e “castidade” são vocábulos que
caíram em desuso, mas encerram em si a essência do que queremos
comunicar: pessoas solteiras que se abstêm de atividades sexuais.
Celibato saudável
Mas é saudável? Em nossos dias as expressões sexuais gratuitas são
estimuladas; pode-se esperar que pessoas não casadas se abstenham de toda a
atividade sexual?
Em certo sentido, a questão é respondida de imediato, caso já
estejamos comprometidos com a autoridade da Bíblia. A Palavra de Deus é
clara. Caso sigamos a Bíblia, deve-se aderir a ela neste ponto. Não é correto
afirmar crer na Bíblia (a posição do cristianismo histórico ao longo dos
séculos), e rejeitar alguns ensinamentos dela quando quisermos. Isso
significaria que nós, e não Deus, decidimos o que é verdade.
A Bíblia nos informa sobre os aspectos positivos do celibato. Pode
haver diferentes razões pelas quais alguém permanece solteiro em longo
prazo (como o próprio Jesus reconhece ser o caso dos eunucos em
Mateus 19), mas em cada caso pode ser um meio de bênção para nós mesmos
e para os outros.
Paulo fala sobre o celibato como “dom” de Deus (1Coríntios 7.7),
para ser entendido ao lado do dom do casamento. O celibato não significa
apenas não se casar, trata-se de um estado bom e abençoado. Cada estado
(casado e solteiro) tem altos e baixos próprios, oportunidades e desafios,
tristezas e alegrias.
A Bíblia é muito positiva em relação ao celibato. O próprio Jesus
foi solteiro, e isso é muito significativo. Ele foi o ser humano mais pleno que
já viveu. O celibato não diminuiu de forma alguma sua humanidade. Ele não
era uma pessoa diferente por causa disso. Ninguém o é. O casamento, apesar
de todas as suas bênçãos, não é essencial para as pessoas serem completas e
plenamente realizadas.
O celibato tem certas vantagens. Paulo afirma o óbvio: a pessoa
solteira é poupada de certos tipos de “angústia na carne” (1Coríntios 7.28). A
vida conjugal e familiar pode ser difícil — às vezes, muito difícil. Há muitas
responsabilidades para o cristão casado e pai.
Por ser pastor, passo muito tempo com famílias diversas, da igreja e
de fora. Às vezes, isso me torna desejoso de também ter uma família:
participar de um jogo, ajudar as crianças com a lição de casa, ter um recém-
nascido adormecido no meu ombro. Posso me pegar desejando ter a minha
família.
Mas em outras ocasiões ocorre o oposto! Passo pela porta da frente
despreocupado e descubro que a Terceira Guerra Mundial teve início na casa.
Ouço gritos, vejo bagunça e lágrimas sendo derramadas. Fico tenso apenas
por estar lá. Tento calcular quanto tempo posso ficar antes que pareça rude
sair. (Normalmente, cerca de 12 minutos, em especial se puder lhes dizer que
preciso fazer outra visita pastoral.)
Nessas ocasiões, sou grato a Deus (com discrição) pelo dom do
celibato!
O celibato também oferece oportunidades únicas. A pessoa
solteira, diz Paulo, está menos dividida no chamado para servir a Deus (1
Coríntios 7.32-35). Não é sempre claro como a devoção ao Senhor se
apresentará com toda a complexidade da vida familiar: você é puxado em
várias direções diferentes ao mesmo tempo. Todavia, para o cristão solteiro,
isso pode ser muito mais evidente: o serviço e o ministério podem ser
conduzidos de todo o coração.
As pessoas solteiras muitas vezes são mais capazes de fazer amizades,
têm mais flexibilidade quanto ao estilo de vida e liberdade para servir em
uma variedade maior de ministérios que seus amigos casados. Sendo solteiro,
agradeço as oportunidades em que deixei tudo de lado para passar tempo com
amigos em grande necessidade. Poder fazer isso significou muito para mim, e
não teria sido tão fácil se eu estivesse casado. Também agradeço a variedade
de boas amizades que consegui cultivar.
É um privilégio estar envolvido na vida de muitas outras pessoas
dessa forma.
A bênção de ser solteiro
Aqueles de nós que são solteiros devem aproveitar ao máximo as
oportunidades que sua condição lhes oferece para aprofundar e expressar a
devoção a Deus. Longe de ser um grilhão, ser solteiro pode consistir em uma
bênção maravilhosa para nós e para outras pessoas. Para os solteiros há muito
tempo, os desafios e as oportunidades mudarão ao longo do tempo. Ser
solteiro quando se tem 20 anos é uma experiência muito diferente de quando
se está na casa dos 50. Algumas coisas ficarão mais difíceis; outras serão
mais fáceis. O tipo de apoio necessário dos outros, e o tipo de apoio que
podemos ser para outras pessoas pode mudar consideravelmente ao longo dos
anos.
A história da igreja está repleta de solteiros que foram uma enorme
bênção para o povo de Deus e para o mundo. Alguns atuaram na atividade
missionária, alguns no ministério da igreja e outros serviram aos demais com
sua amizade e apoio. Que honra ser usado dessa maneira!
Quais são as lutas principais do cristão homossexual?
Pessoas diferentes lutam de formas diversas. Nem todas as lutas do
cristão atraído por pessoas do mesmo sexo são exclusivas dele. Todavia, lutas
a seguir são mencionadas muitas vezes como dificuldades peculiares a quem
luta contra sentimentos homossexuais.
Solidão: Embora existam grupos e acontecimentos frequentes na
igreja que os solteiros possam desfrutar, a vida social da igreja pode parecer
estruturada em torno de casais e famílias. Os solteiros podem se sentir um
pouco como peças sobressalentes, em especial quando se encontram em um
estágio da vida em que a maioria das pessoas da sua idade já se casou.
Alguns acham difícil saber o que fazer nos feriados; as pessoas
tendem a sair com a própria família ou com outros casais e famílias. Lembro-
me de um irmão cristão que muitas vezes se vê exausto por causa do excesso
de trabalho, mas afirma trabalhar muito por ser doloroso demais ter de passar
tempo sozinho.
É mais fácil preencher o dia com trabalho e ministério. Ele afirma
temer que outros lhe perguntem sobre seus planos para o feriado. Para outras
pessoas, a dificuldade é ter de voltar para casa todo dia e encontrá-la vazia;
não ser a pessoa mais importante na vida de outra pessoa nem ter quem pense
nela de forma especial. Como ouvi uma irmã cristã dizer: “Eu só quero ser a
prioridade de alguém!”. Outros disseram temer seu aniversário pela falta de
quem os faça se sentirem especiais.
Isso geralmente está relacionado ao isolamento. Os cristãos solteiros
muitas vezes sentem falta de companheirismo: ter pessoas para “não fazer
nada” juntos. Um dos presentes mais gentis que recebi veio de uma família
que visitei muitas vezes. Eu estava prestes a me mudar e, como presente de
despedida, foi-me dada uma pequena caixa toda embrulhada. O que estava
havia no interior não era grande nem caro, e ainda assim significou muito
para mim: uma chave extra da casa deles. Foi uma declaração maravilhosa.
Tentação sexual: a tentação sexual, de uma forma ou outra, consiste
em uma luta para a maioria dos cristãos, e uma batalha particular para muitos.
Experimentar atração por pessoas do mesmo sexo não torna a tentação sexual
mais nem menos pronunciada que para qualquer outra pessoa. Mas pode ser
uma questão difícil, em especial se não há ninguém para conversar a respeito.
Toda batalha enfrentada isoladamente é mais difícil.
Experimentar atração por alguém do mesmo sexo não significa
necessariamente se sentir atraído por todas as pessoas do mesmo sexo que
você encontrar, não mais do que ocorre com os heterossexuais na rua.
Entretanto, podem ocorrer momentos de grande atração pelos amigos mais
próximos.
Para alguns, a atração é mais emocional que física. Conheço várias
pessoas que sentem atração por pessoas do mesmo sexo que lutam contra a
dependência emocional não saudável dos outros. É terrível quando uma
amizade excelente começa a se tornar o objeto de desejo intenso e
inesperado. Um amigo descreveu a experiência como tomar uma dose de
“heroína da amizade”: encontrar-se de repente “alto” ao ser elogiado por um
amigo específico e, em seguida, sentir-se esmagado por sua ausência. Não é
necessário dizer que, nessas ocasiões, é vital contar com outros amigos para
pedir ajuda, apoio e ter com quem conversar.
Como isso pode ser parte dos propósitos de Deus?
A Bíblia nos assegura que: “todas as coisas cooperam para o bem
daqueles que amam a Deus” (Romanos 8.28). “Todas as coisas” incluem as
tendências pecaminosas com as quais nos encontramos lutando, e mesmo os
erros que cometemos em relação a elas. “Todas as coisas” inclui o que não
estaria aqui se não fosse pela Queda, e o que não estará presente na nova
criação. Ainda que, neste momento, Deus possa usar todas essas coisas para
delas extrair o bem, Paulo não é vago sobre o conteúdo dessa bondade. Nosso
bem é a semelhança com Jesus:
Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus,
daqueles que são chamados segundo o seu propósito. Pois aqueles que Deus de
antemão conheceu ele também predestinou para serem conformes à imagem de seu
Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. (Romanos 8.28,29)
O bom plano de Deus é que exista uma grande multidão de pessoas
semelhantes a Cristo. Este é o bem para o qual ele direciona todas as coisas.
Traz grande conforto ao cristão que luta contra a indesejável atração por
pessoas do mesmo sexo saber que, nas mãos de Deus, as lutas podem se
tornar um meio de sua graça.
Paulo sabia algo disso por experiência própria. Em 2 Coríntios 12 ele
mencionou seu “espinho na carne”:
E, para que eu não ficasse orgulhoso com a grandeza das revelações, foi-me posto
um espinho na carne, mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de que eu
não me exalte. Três vezes pedi ao Senhor que o afastasse de mim. Então ele me
disse: “A minha graça é o que basta para você, porque o poder se aperfeiçoa na
fraqueza.” De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre
mim repouse o poder de Cristo. (2 Coríntios 12.7-9)
Paulo não nos diz exatamente o que era o “espinho”. Ele poderia ter
sido uma doença crônica, uma forma recorrente de tentação, ou talvez uma
pessoa difícil. Não sabemos ao certo. No entanto, ele afirmou que era
insuportável. E “pediu” sua remoção.
Ele também menciona sua procedência: de Deus. O espinho foi
“posto” para impedir Paulo de se tornar arrogante. Ele se voltou a Deus
pedindo a remoção. No entanto, Paulo também o descreve como um
“mensageiro de Satanás”, cujo propósito era “esbofeteá-lo”. Por si só, o
espinho não era nada bom. Entretanto, o propósito divino era sua
permanência na vida de Paulo e que algo bom proviesse da situação. A
vontade divina para ele era maior que o alívio desse tormento: o apreço da
graça de Deus toda-suficiente.
Essas passagens fornecem um grande encorajamento para quem luta
contra a atração por pessoas do mesmo sexo. Para algumas pessoas, a batalha
pode ser muito breve. Para outras, pode durar muitos anos. Mesmo assim, o
plano de Deus não é uma causa perdida. Por meio dele, podemos nos tornar
mais parecidos com Cristo, e mais capazes de compreender as vastas
dimensões de sua graça. Não há nada melhor para nós que isso. Assim, a
“vitória” para os cristãos que lutam contra a atração por pessoas do mesmo
sexo não consiste no desaparecimento das tentações, mas que, no seu ponto
de atuação mais forte, Jesus será mais e mais apreciado por eles.
Lutar contra sentimentos homossexuais é apenas uma luta. Muitos
cristãos que conheço podem testemunhar como Deus extraiu coisas boas de
suas experiências. Alguns disseram que o Senhor os tornou mais compassivos
e sensíveis do que seriam sem elas. Outros falaram sobre as oportunidades
ministeriais recebidas, e como conseguiram apoiar e encorajar outros irmãos
que conhecem e tentam lidar com esse tipo de atração. Alguns tiveram até
mesmo oportunidades de partilhar a fé com pessoas da comunidade
homossexual que não seriam alcançadas pelo testemunho convencional da
igreja. Talvez, acima de tudo, esses cristãos possam afirmar como essas lutas,
com toda a desordem e insegurança que podem advir delas, levaram-nos à
apreciação mais profunda de quão insondável e bom Deus é.

Não estamos selecionando e escolhendo quais leis do Antigo Testamento se


aplicam e quais não?
Também o porco, porque tem unhas fendidas e o casco dividido, mas não rumina;
este será impuro para vocês. (Levítico 11.7)
— Não vista roupa feita de pano de lã e linho misturados. (Deuteronômio 22.11)
— Não se deite com outro homem para ter relações com ele como se fosse mulher; é
abominação. (Levítico 18.22)
Parece inconsistente a oposição cristã à homossexualidade quando se
ignoram muitas outras regras bíblicas sobre assuntos relativos ao que se come
ou veste. Na superfície, o argumento parece muito forte. Acabei de comer
carne de porco no almoço e escrevo este texto enquanto uso uma camisa feita
de fibras misturadas; as duas coisas eram proibidas ao povo de Deus no
Antigo Testamento.
O problema dessa objeção consiste em presumir que os cristãos lidam
exatamente da mesma forma em relação a cada parte da lei do Antigo
Testamento. De fato, a visão cristã apropriada do Antigo Testamento é um
pouco mais elaborada que isso.
O Antigo Testamento não é um terreno plano. Nele não há apenas
uma lista de instruções e regulamentos, todos igualmente vinculadores. Seu
formato é particular, com contornos, ênfases e prioridades delineados e
preenchidos pelo próprio Jesus, que disse:
— Não pensem que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, mas
para cumprir. (Mateus 5.17)
Jesus não veio descartar a lei como o resquício de uma era passada,
ou reforçá-la por completo. Nem veio cumprir apenas uma parte dela, ao
peneirar tudo e escolher, com um par de pinças, um mandamento ocasional
que ainda é aplicável para nós. Jesus veio lidar com a lei inteira! Mas, à
medida que seguimos sua vida e ministério, torna-se evidente ter ele
cumprido diversos elementos da lei de maneiras variadas.
Jesus deu fim às leis sobre a pureza e alimentos ao declarar todas as
coisas puras (Marcos 7.19; reiterado em Atos 10.9-16). Ele tocou em leprosos
e cadáveres, e não se tornou impuro ao fazê-lo.
Ele mencionou seu corpo como o verdadeiro santuário e sua morte
como o sacrifício final pelo pecado (João 2.21; Lucas 22.19,20). Sua morte
abriu o caminho para nossa aproximação de Deus, tornando os regulamentos
do Antigo Testamento sobre o templo e o sistema sacrificial obsoletos.
Jesus refez o povo de Deus. No Antigo Testamento, ele consistia em
um Estado-nação. No Novo Testamento, a igreja universal é composta por
vários ajuntamentos locais de todo o mundo e ela está sujeita às leis dos
governos seculares. As leis do Antigo Testamento relacionadas à vida cívica
do povo de Deus (como a exigência da pena de morte para pecados graves),
portanto, não se aplicam mais aos crentes de hoje da mesma maneira.
Por ter vivido sem pecar, Jesus incorporou plenamente todos os
requisitos morais da lei. Por meio da união com ele, “a exigência da lei se
cumpriu em nós”, e vivemos pelo poder de seu Espírito (Romanos 8.4).
Assim é possível vivermos em amor, e as leis morais do Antigo Testamento
apontavam com precisão para isso (p. ex., Romanos 13.8). Para deixar claro o
que significa para nós “viver no amor”, muitos mandamentos morais do
Antigo Testamento são reafirmados no Novo Testamento, incluindo-se os
relacionados à ética sexual.
Timothy Keller resume bem: “Em suma, a vinda de Cristo mudou a
forma da adoração, mas não como vivemos. A lei moral aponta para o
próprio caráter de Deus — sua integridade, seu amor e fidelidade. Portanto,
tudo que o Antigo Testamento fala sobre o amor ao próximo, o cuidado com
os pobres, a generosidade com nossos bens, as relações sociais e o
compromisso com a família ainda vigora. O Novo Testamento continua a
proibir o assassinato e o adultério, e toda a ética sexual do Antigo Testamento
é reafirmada ao longo do Novo Testamento (Mateus 5.27-30; 1Coríntios 6.9-
20; 1Timóteo 1.8-11). Se o Novo Testamento reafirmou um mandamento,
então ele permanece em vigor para nós hoje”.[1]
Nós não honramos todos os textos do Antigo Testamento da mesma
maneira. Tomamos a indicação de Jesus. Por conta de suas afirmações acerca
do que sua morte conquistaria, não seguimos todas as leis do Antigo
Testamento. Fazer isso significaria minar sua obra na cruz. Assim, os
ensinamentos do Antigo Testamento sobre a ética sexual, por sua
confirmação no Novo Testamento, ainda são obrigatórios para os cristãos
hoje.

É pecado sentir atração por pessoas do mesmo sexo?


A atração por pessoas do mesmo sexo não é algo bom. Ela, com
muitas outras coisas, consiste em uma consequência da Queda. Isso significa
que ela não existia antes da Queda, em Gênesis 3, e não existirá na nova
criação. Esse tipo de atração não é algo criado para nós por Deus, e ela
contradiz de forma explícita sua vontade.
Sabe-se pelas Escrituras que a tentação procede do nosso coração
decaído. Tiago é muito claro em relação a isso:
Ninguém, ao ser tentado, diga: “Sou tentado por Deus.” Porque Deus não pode ser
tentado pelo mal e ele mesmo não tenta ninguém. Ao contrário, cada um é tentado
pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz. (Tiago 1.13,14)
Não podemos jogar a culpa da tentação em mais ninguém e, com
certeza, não em Deus. As tentações homossexuais são o reflexo de nossa
própria queda.
Mas isso não equivale a dizer que a existência da própria tentação seja
um pecado do qual precisamos nos arrepender. Os cristãos sempre fizeram a
distinção entre a tentação e o pecado. Afinal, o próprio Jesus ensinou seus
seguidores a orar:
e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós também perdoamos aos nossos
devedores; e não nos deixes cair em tentação; mas livra-nos do mal.
(Mateus 6.12,13a)
Em outras palavras, buscamos o perdão dos pecados cometidos e a
libertação das tentações. Não somos convidados a buscar o perdão por
sermos tentados, e sim pelos pecados cometidos quando sucumbimos a eles.
Em vez disso, somos chamados a resistir à tentação, a suportá-la com
fidelidade (1 Coríntios 10.13).
No momento em que experimentamos desejos inadequados em
relação a alguém do mesmo sexo, devemos resistir a quaisquer pensamentos
e emoções impuras que tivermos, reconhecer que queremos fugir delas e não
aceitá-las, e buscar a ajuda e a força divinas para fazê-lo. Lembramo-nos que
essas experiências não consistem na vontade de Deus para nós e, portanto,
não são boas para nós. Lutamos para honrar a Deus, confiando sempre em
sua fidelidade e no dato de ele não permitir que sejamos tentados além da
nossa capacidade de suportar.
Afirmar que a experiência da atração por pessoas do mesmo sexo é,
em si, pecaminosa, parece sugerir que a capacidade de ser tentado é por si
mesma um pecado. No entanto, isso contradiz a Escritura.
E, sem dúvida, declarar algo sem base bíblica pode causar danos
significativos. Muitos cristãos que vivenciam a atração por pessoas do
mesmo sexo sentem vergonha intensa. Eles sabem que esses sentimentos não
são parte do plano de Deus, não desejam tê-los, e se esforçam para ser
obedientes a Cristo. Na minha experiência, esses cristãos específicos
costumam sentir uma vergonha ainda mais profunda sobre suas tentações
sexuais que quem sente atração pelo sexo oposto. Ouvir que a existência
dessa tentação é um pecado em si mesmo (independentemente do quanto
tenham sofrido ao manter a fidelidade a Deus por conta dela) pode facilmente
esmagar um crente já muito ferido.
4. A homossexualidade e a igreja
Quando paramos para pensar, percebe-se que a igreja é algo incrível.
Claro, existem muitas imperfeições e limitações sobre as quais podemos
falar. Elas podem ser particularmente evidentes para alguns de nós que
pensamos na questão da homossexualidade. A igreja nem sempre foi uma voz
ou uma fonte de amor e graça.
É triste ouvir os casos de alguns amigos que lutam contra a atração
por pessoas do mesmo sexo que sentiram a rejeição profunda de outros
cristãos. Para muitas igrejas, não há dúvida da existência de lições a aprender
e comportamentos dos quais se arrepender.
Contudo, apesar de todas as suas falhas, a igreja é notável. Ouça o que
Paulo diz:
E isso para que agora, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus se torne
conhecida dos principados e das potestades nas regiões celestiais. (Efésios 3.10)
A igreja na terra é a representação visual de Deus de si mesmo para o
mundo espiritual. Deus pretende demonstrar aos poderes espirituais sua
sabedoria maior que a deles ao apontar para seu povo. Mas isso também
representa um grande encorajamento para nós. Nós não devemos subestimar
o impacto exercido por nossas comunidades cristãs nas pessoas que nos
rodeiam. Cada igreja tem a oportunidade maravilhosa de demonstrar a
sabedoria suprema de Deus ao mundo à sua volta. Isso não é menos verdade
quando se trata da área da homossexualidade.
O que se deve fazer se um par homossexual começa a frequentar nossa
igreja?
É uma grande bênção e oportunidade quando qualquer pessoa vem à
igreja pela primeira vez. A menos que já sejam cristãos que se mudaram de
outra região ou de uma igreja diferente, existe a oportunidade maravilhosa de
a igreja apresentar a essas pessoas recém-chegadas o evangelho de Jesus. Não
faz diferença se essas pessoas são um par homossexual, um casal
heterossexual ou qualquer outra pessoa. Todos são pecadores, e todos
carecem da graça divina.
Às vezes, existe o perigo de os cristãos considerarem que um par
homossexual precisa ser confrontado com sua sexualidade assim que
atravessam a porta e que isso precisa ser falado de imediato, pois o par
precisa ouvir o ensino da Bíblia sobre esse tema. Isso não deve ocorrer.
Uma comparação pode ajudar. Se um par heterossexual vier à igreja e,
ao recebê-los e conversar com eles, percebe-se que as duas pessoas
convivem, mas não são casadas, eu não sentiria a necessidade imediata de
iniciar o tópico sobre o que a Bíblia diz acerca os problemas de eles viverem
juntos sem ser casados. Eu faria uma nota mental de que este será um tema
para tratar com eles no devido tempo, mas não precisa ser apontado agora,
para que comecem a participar com regularidade da vida da igreja. Se
trouxerem o assunto, então, claro, responderei. No entanto, minha
preocupação inicial é saberem que são bem-vindos e que estamos felizes em
tê-los conosco e que ouçam o evangelho por meio da ministração regular da
igreja.
Outra forma de dizer isso é que eu prefiro começar pelo centro e
seguir em direção para fora, que começar por fora e ir trabalhando até o
centro.
O centro é a morte e ressurreição de Cristo. É onde Deus se apresenta
de modo mais pleno. É onde se vê sua glória com mais clareza (João 17.1). É
também onde Deus demonstra com mais nitidez seu amor, justiça, poder e
sabedoria (Romanos 5.8; 3.25,26; 1 Coríntios 1.18,24). Isto é o que eu mais
quero que as pessoas saibam — para que sejam conhecidas pelo Deus da cruz
e da ressurreição. E, uma vez que se comprometam com isso, ajudá-las a
refletir sobre o que a confiança nesse Deus envolverá, e o que precisará ser
entregue a ele — incluindo-se nossa sexualidade bagunçada.
Eu quero, porém, que essa conversa ocorra no contexto do evangelho,
em vez de iniciá-la pela sexualidade e tentar chegar até ele. As pessoas
precisam saber quem é Jesus antes de ouvirem o que ele deseja. Não adianta
descrever como se vive à luz da graça divina se a pessoa ainda não conhece
essa graça. Assim, quando um par homossexual se aproximar da igreja,
minha prioridade é idêntica para todas as outras pessoas: ouvir o evangelho e
ser acolhido por uma comunidade cristã.
O que a igreja pode fazer para apoiar os cristãos diante dessa questão?
Há várias coisas que as igrejas podem fazer para ajudar cristãos que
sentem atração por pessoas do mesmo sexo:
1. Facilitar a conversa sobre o assunto
Os pastores e os membros da igreja precisam saber que a
homossexualidade não é apenas uma questão política, mas pessoal, e que
provavelmente haverá alguém na sua própria igreja para quem esta é uma luta
dolorosa. Quando a questão surge na vida da igreja, é preciso reconhecer que
esse é um problema enfrentado pelos cristãos, e a igreja precisa estar pronta e
equipada para caminhar ao lado desses irmãos e irmãs.
Muitos cristãos ainda falam sobre a homossexualidade de maneira
ofensiva e pejorativa. Perdi a conta das vezes que ouvi cristãos (mesmos
alguns em cargos de liderança) usarem expressões como: “Isso é tão gay”
para descrever algo de que não gostam. Esses comentários só farão com os
irmãos e as irmãs cristãos que lutam contra a atração por pessoas do mesmo
sexo se sintam completamente incapazes de se abrir. Quando comecei a
partilhar as minhas experiências com amigos da igreja, fiquei impressionado
com a quantidade de cristãos maduros que sentiram a necessidade de se
desculpar por comentários sobre o homossexualismo feitos no passado, e que
agora percebiam prejudiciais.
A chave para ajudar as pessoas a se sentirem seguras sobre o
compartilhamento de questões sobre esse tipo de atração sexual é ter uma
cultura aberta sobre as lutas e fraquezas experimentadas de modo geral na
vida cristã. O pastor e escritor cristão Timothy Keller disse que as igrejas
devem ser mais como a sala de espera de um médico e menos como a de uma
entrevista de emprego. Na última, todos tentamos parecer tão competentes e
impressionantes quanto possível. As fraquezas são enterradas e escondidas.
Mas na sala de espera do médico presumimos que todos estejam doentes e
precisem de ajuda. E isso está muito mais próximo da realidade do que
acontece na igreja.
Por definição, os cristãos são fracos. Dependemos da graça e da
generosidade de Deus. Somos os “pobres em espírito” (Mateus 5.3). A
possibilidade de falarmos sobre essas coisas e, portanto, fazermos o possível
para encorajar a cultura de transparência sobre as coisas difíceis da vida cristã
é uma marca de uma igreja saudável.
Mas existe um cuidado: facilitar o diálogo com as pessoas sobre suas
lutas sexuais, não significa cometer o erro de sempre falar com elas sobre
isso. Talvez as pessoas precisem ser questionadas sobre como as coisas estão
de tempos em tempos, mas fazer disso o tema principal, ou único ponto de
sua conversa, pode ser problemático por reforçar a falsa ideia de que o tema
as define, ao ignorar outros problemas sobre os quais talvez precisem falar
mais. A sexualidade pode não ser a maior batalha.
2. Honrar o celibato
As pessoas para quem o casamento não é uma perspectiva realista
precisam ser afirmadas no chamado ao celibato. Os irmãos precisam defender
e honrar o celibato como um dom e tomarem cuidado para não falar mal dele
sem pensar. Não se deve pensar nos solteiros ou comentar a respeito deles
como se fossem pontas soltas que precisam ser amarradas. Nem se deve
pensar que todos os solteiros foram muito preguiçosos para procurar pelo
cônjuge.
Lembro-me de conhecer um pastor que, ao descobrir que eu era
solteiro, insistiu para que eu me casasse e passou a descrever os passos
imediatos a tomar para corrigir isso. Ele era muito direto e só parou quando
explodi em lágrimas e disse-lhe que estava lutando contra a
homossexualidade. Não era uma admissão que eu precisaria fazer. É preciso
respeitar que o celibato não é necessariamente sinal de quem adia o
crescimento.
3. Lembre-se que a igreja é família
Paulo repetidas vezes se refere à igreja local como “casa de Deus”
(por exemplo, 1 Timóteo 3.15). Ela é a família de Deus, e os cristãos devem
agir como familiares uns dos outros.
Assim, Paulo incentiva Timóteo a tratar os homens mais velhos como
pais: “Não repreenda um homem mais velho; pelo contrário, exorte-o como
você faria com o seu pai. Trate os mais jovens como irmãos, as mulheres
mais velhas, como mães, e as mais jovens, como irmãs, com toda a pureza”
(1 Timóteo 5.1,2). A igreja é instigada a pensar em si mesma como família.
As famílias nucleares na igreja precisam da participação e do envolvimento
de toda a família da igreja; elas não foram projetadas para serem autônomas.
Quem abre sua vida familiar a outros irmãos diz tratar-se de uma grande
bênção.
Os solteiros conseguem experimentar algumas das alegrias da vida
familiar; as crianças se beneficiam da influência de outros cristãos mais
velhos; os pais conseguem incentivar os outros a apoiá-los; e as famílias
como um todo aprendem o significado de servir a Cristo ao se assemelharem
a uma família.
4. Lidar com modelos bíblicos de masculinidade e feminilidade em lugar de
estereótipos culturais
As batalhas contra a atração por pessoas do mesmo sexo podem estar
relacionadas à sensação de não atender às normas esperadas sobre a
identidade de homens ou mulheres. Assim, quando a igreja reforça os
estereótipos culturais, o efeito pode piorar essa sensação de isolamento e de
não atendimento de forma completa ao que se espera.
Por exemplo, dar a entender que os homens deveriam praticar
esportes ou consertar o próprio carro, ou que as mulheres devam gostar de
artesanato ou sugerir que elas “falem sobre qualquer coisa”, significa reforçar
pontos culturais e não bíblicos de como Deus nos criou. Isso pode, de fato,
acabar numa desconsideração para com as muitas formas em que pessoas
refletem alguns dos aspectos bíblicos da masculinidade e da feminilidade
negligenciados pela cultura.
5. Fornecer bom apoio pastoral
O cuidado pastoral para com quem sente atração por pessoas do
mesmo sexo não precisa ser estruturado, mas precisa ser visível. Muitas
igrejas contam agora com grupos de apoio para irmãos nessa situação; outras
fornecem mentores ou esquemas de parceria de oração.
Os irmãos que sentem atração por pessoas do mesmo sexo precisam
saber que a igreja está pronta para apoiá-los e os ajudar; que há pessoas com
coração sensível e perspicácia para se envolver nesse ministério. Talvez
alguns problemas precisem ser trabalhados e passagens da Bíblia ser
estudadas e aplicadas com determinação cuidadosa e gentil. É possível que
boas amizades precisem ser cultivadas e implementada a prestação de contas;
haverá também a necessidade de comunhão em longo prazo. Tudo isto
consiste em aspectos que a igreja local é a mais indicada para fornecer.
Há alguns anos comecei a contar para amigos cristãos próximos que
luto com sentimentos homossexuais. Foi um longo processo e, de certa
forma, bastante exaustivo em sentido emocional. No entanto, foi uma das
melhores coisas que fiz. O próprio ato de partilhar algo tão pessoal com outra
pessoa representa uma grande confiança e, quase sempre, fortaleceu e
aprofundou a amizade. Os amigos tornaram-se mais próximos ainda.
Também notei que as pessoas se sentiam mais capazes de se abrir sobre lutas
pessoais, pelo fato de eu ser tão aberto com elas. Como resultado disso,
ocorreram momentos maravilhosos de companheirismo.
Falei publicamente sobre a questão da sexualidade com a minha igreja
tempos atrás. Mais uma vez, foi uma grande bênção ter feito isso. Recebi
muito apoio — com as pessoas perguntando como poderiam me ajudar e me
apoiar na questão, e muitos dizendo orar por mim todos os dias. Outros
disseram o quanto significou para eles eu compartilhar algo assim. Também
foi um grande estímulo para mim o fato de essa situação não definir como os
outros me veem. Além das expressões de amor e apoio, tudo voltou ao
normal bem rápido.
Alguns cristãos (como muitos na minha igreja) parecem saber
responder por instinto aos irmãos que lutam contra atração por pessoas do
mesmo sexo. No entanto, o mesmo não é necessariamente verdadeiro quando
se trata de responder aos de fora da igreja e nos dizem ser homossexuais.
Qual é a resposta certa então? Como os cristãos podem ser sal e luz
para a sociedade mais aberta em relação a esse tipo de assunto? Esse é o tema
do último capítulo.

Os cristãos não podem apenas concordar em discordar disso?


Hoje existem cristãos, e até mesmo líderes eclesiásticos, que
argumentam a favor da aceitabilidade divina de algumas formas de prática
homossexual, e muitos mais que afirmam o mesmo que eu: qualquer
atividade desse tipo é proibida por Deus. Em nossas igrejas e na comunidade
cristã mais ampla, pode-se diferir em certas questões, mantendo a comunhão
centrada no evangelho. Portanto, a homossexualidade não é uma questão
sobre a qual os cristãos podem discordar com legitimidade?
A Bíblia permite desentendimentos sobre certos temas. Em
Romanos 14, Paulo fala sobre “assuntos controversos” e convida seus leitores
a se convencerem em sua própria mente do que pensam (v. 5). Mas Paulo
também argumenta que existem outras questões inegociáveis: nelas, o próprio
evangelho está em jogo. Em 1 Coríntios 15, ele lembra aos leitores sobre os
assuntos de “primeira importância” que lhes ensinara e que se encontravam
no cerne da fé no evangelho (1 Coríntios 15.1-11). Em que categoria o
homossexualismo se encaixa? Isso afeta o evangelho? Duas passagens
indicam que a homossexualidade é uma questão central.
Como vimos antes, Paulo fala sobre práticas homossexuais no
contexto do alerta emitido a seus leitores de que os injustos não herdarão o
Reino de Deus (1 Coríntios 6.9). Ele inclui nessa categoria os praticantes da
homossexualidade. Com os demais injustos, essas pessoas caminham para a
destruição. Sua única esperança é o evangelho, cuja obra incluirá uma nova
identidade e o arrependimento de seu estilo de vida anterior. Negar essa
verdade acarreta enormes consequências. Se um líder eclesiástico ensina que
certos tipos de atividades homossexuais são permissíveis aos olhos de Deus,
ele na verdade está enviando pessoas para a destruição. Isso não equivale ao
desentendimento entre os cristãos, por exemplo, a respeito do batismo ou da
utilização de certos dons espirituais. No caso da prática homossexual, o
evangelho está em jogo.
Em Apocalipse 2.20-21, Jesus repreende a igreja em Tiatira por
tolerar alguém que ensinava mentiras: “Tenho, porém, contra você o fato de
você tolerar que essa mulher, Jezabel, que se declara profetisa, não somente
ensine, mas ainda seduza os meus servos a praticar a prostituição e a comer
coisas sacrificadas aos ídolos. Dei-lhe tempo para que se arrependesse, porém
ela não quer se arrepender da sua imoralidade”.
Eis uma pessoa cujos ensinamentos levam os outros ao pecado sexual.
Jesus promete a ela e qualquer um de seus seguidores um juízo severo se não
se arrependerem (cf. v. 22). Todavia, a responsabilidade reside não apenas
neles. A igreja — incluindo-se os muitos que não a seguiam — é repreendida
por tolerá-la. Portanto, não devemos tolerar em nossas igrejas líderes com
ensinos que levem as pessoas ao pecado sexual. Eles devem ser confrontados,
seu ministério proibido, e seu ensino refutado. Este é um assunto muito sério.
Se admitirmos a divergência nesse assunto, Jesus se oporá a nós. Algumas
formas de tolerância são pecaminosas.

A visão cristã da sexualidade não é perigosa e prejudicial?


Uma das acusações mais comuns e significativas contra a
compreensão cristã tradicional da sexualidade e do casamento é o prejuízo
que ele causa às pessoas.
Considera-se a negação da sexualidade das pessoas a rejeição de sua
verdadeira identidade. Isso equivale a lhes dizer para reter algo central de sua
identidade e, como consequência, de sua capacidade de evoluir. Isso é
prejudicial para qualquer um, mas em especial para os adolescentes que estão
se adaptando à sua sexualidade, enquanto ainda se encontram em uma fase de
formação de sua vida. Os cristãos, segundo essa acusação, são culpados pelo
fato de alguns adolescentes homossexuais crescerem reprimidos e culpados,
ou por cometerem suicídio.
Essa acusação talvez tenha sido apresentada com mais veemência por
Dan Savage:
O fanatismo desumanizante estabelecido por cristãos fiéis dá a seus filhos
heterossexuais a licença para abusar, humilhar e condenar as crianças homossexuais
encontradas na escola. Eles enchem seus filhos homossexuais com desespero suicida.
E vocês têm a coragem de me pedir para ser mais cuidadoso com minhas palavras?[2]
Esta é uma cobrança muito séria. Preocupa o fato de muitos cristãos
começarem a considerar errado o entendimento tradicional, como se ele
exercesse esse tipo de efeito sobre as pessoas. Sem dúvida, qualquer coisa
que resulte nesse tipo de autoaversão e desespero não pode proceder da
verdade divina.
A primeira coisa a dizer em resposta a isso é que com certeza
ocorreram casos de jovens que se sentiram levados ao desespero e até mesmo
ao suicídio nos últimos anos, e atribuíram sua angústia à pressão real ou
percebida da desaprovação cristã da homossexualidade. Essa é uma situação
real. Jovens de dentro e de fora da igreja sofrem profundamente em relação a
essa questão.
E quem pode negar quão trágico é que alguém sinta tal desespero em
relação à própria sexualidade? Dentre todas as pessoas, nós, cristãos,
devemos sentir mais tristeza por isso, sabendo do valor supremo que Deus
coloca sobre toda a vida humana. Nós devemos nos importar mais do que os
outros quando ouvimos sobre os jovens que passam por esse tormento — em
especial os que crescem em lares cristãos e fazem parte de uma igreja local.
Também devemos reconhecer que alguns crentes usaram de linguagem
e comportamento em relação aos homossexuais e pensaram que, ao agir
assim estavam, de alguma forma, promovendo a causa de Cristo. Mas
também se deve reconhecer que esse comportamento não é nem um pouco
cristão. Ele não adere à mensagem e ao exemplo de Jesus, na verdade, ele os
contradiz.
No entanto, também não é verdade afirmar que esse tormento pessoal
resulte de modo inevitável do ensino bíblico tradicional sobre a questão. É
verdade que a obra de convencimento do Espírito pode ser muito dolorosa.
Pode até mesmo ocorrer certa autoaversão quando Deus nos torna
conscientes da extensão do nosso próprio pecado (v. Ezequiel 36.31). Ainda
que a verdadeira obra de Deus possa nos conduzir a esse ponto, nunca nos
deixa ali. A condenação serve para nossa restauração. O Espírito nos faz em
pedaços apenas para nos remodelar como Deus intentou. Jesus promete que
encontraremos descanso e consolo nele e ele “não esmagará a cana quebrada,
nem apagará o pavio que fumega” (Mateus 12.20; v. tb. 11.28,29).
Não é o ensinamento de Jesus que lhe diz que a vida não vale a pena
ser vivida caso você não seja satisfeito em sentido sexual — que a vida sem
sexo não é vida. Não é o cristianismo bíblico que insiste que a disposição
sexual de alguém é tão fundamental que deixar de afirmar sua inclinação
particular significa atacar o cerne dessa pessoa. Tudo isso não procede do
cristianismo bíblico, e sim do ponto de vista muito distorcido do que significa
ser humano para a cultura ocidental. Quando um ídolo falha com você, o
verdadeiro culpado é a pessoa que o incentivou a adorá-lo — não a pessoa
que tentou removê-lo.
O ensino de Jesus faz duas coisas: restringe o sexo e relativiza sua
importância. Jesus nos mostra que, no contexto determinado por Deus, o
valor do sexo é muito maior do que se percebe — e, mesmo assim, não é o
absoluto. O sexo é um impulso poderoso, mas não é fundamental para a
sensação de completude e de florescimento humano. Jesus demonstrou as
duas coisas por meio de seu ensino e estilo de vida. Afinal, Jesus — o ser
humano mais pleno de todas as pessoas — permaneceu celibatário.
O evangelho nos mostra existir perdão para todos os que pecaram em
sentido sexual. E ele também nos liberta da mentalidade de que o sexo é
intrínseco à autorrealização humana. O fato de ninguém precisar lançar toda a
felicidade em aventuras sexuais não representa “más notícias”, mas constitui
de fato “boas notícias”. Não se trata do caminho do dano, mas da
completude.
5. A homossexualidade e o mundo
A mensagem cristã é a melhor notícia que alguém pode esperar ouvir.
Ela versa sobre o Deus mais indulgente e amoroso do que poderíamos
imaginar. São notícias que nós, cristãos, queremos que os outros ouçam. Mas
nem sempre é fácil compartilhar.
A mensagem do evangelho conta com uma série de arestas afiadas
que muitos acham difícil de ouvir. E, hoje em dia, uma dessas arestas mais
afiadas parece consistir no que a Bíblia ensina sobre a sexualidade. Isso levou
alguns cristãos a mudar de ideia sobre o que a Bíblia diz, para parecerem
mais complacentes e “relevantes” ao mundo exterior.
Embora possamos reconhecer que esta não é uma resposta piedosa ao
problema, muitos cristãos, no entanto, ainda se sentem inseguros sobre o que
devemos fazer e dizer em relação ao assunto. Ainda sentimos que o
evangelho é para todos, e que os caminhos de Deus são os melhores. Mas
como incentivar o pensamento cristão sobre a questão para o mundo que nos
rodeia?
Meu amigo não cristão acabou de me dizer que é homossexual. Como
devo responder?
Dizer a outra pessoa que se é homossexual normalmente representa
algo de grande importância. Se a pessoa a quem ele diz isso é cristã, talvez
seja mais sério ainda. Muitas pessoas presumem que os cristãos se opõem ao
homossexualismo, e não é um grande salto pensar que os cristãos sejam
opostos aos próprios homossexuais.
Então, a primeira coisa que você deve fazer é agradecer pela abertura
e confiança a respeito de algo tão pessoal. É um privilégio ser confidente de
um tema assim.
Também é importante assegurar-lhe de que o receio de que você o
rejeite é infundado. Saber que ele é homossexual não significará que você
deixará de gostar dele ou de ser seu amigo. Para deixar tudo em panos limpos
— e em especial se ele lhe perguntar o que você pensa sobre isso — sinalize
que os cristãos têm uma postura diferente sobre a sexualidade, diferente da
cultura em que vivem, e que você ficaria feliz em conversar sobre isso em
algum momento, mas não agora.
Escute-o. É bom perguntar às pessoas um pouco sobre suas
experiências com a homossexualidade. Como ele chegou a essa descoberta
sobre si mesmo? Que tipo de reações ele teve de outras pessoas — amigos e
familiares? Foi difícil para eles? Ele está bem? Precisamos descobrir sua
história e seus altos e baixos.
Compreender mais os antecedentes e experiência dessa pessoa nos
ajudará a saber como ser um bom amigo. Ela pode precisar de alguém para a
ouvir de vez em quando, ou de um ombro para chorar ou de alguém de
confiança para conversar. Não seria ótimo se, de todas as pessoas, o amigo
cristão fosse a mais próxima? Assim, contar sobre a sexualidade poderia ser
uma oportunidade para a amizade se aprofundar, em vez de acabar com ela. E
manter o interesse genuíno é a forma mais provável para gerar perguntas
sobre como pensamos nesses assuntos como cristãos.
Ouvir também nos ajudará a orar. Sejam quais forem seus altos e
baixos, acima de tudo — como qualquer um de nós — essa pessoa precisa de
Cristo. E enquanto orarmos, para pedir misericórdia, podemos orar também
por nós mesmos, para que nossa amizade seja uma expressão fiel desse bem.
Qual é a melhor maneira de partilhar Cristo com um amigo
homossexual?
Pela expectativa sobre como os amigos homossexuais reagirão à
resposta cristã, é preciso fazer um esforço para que essa pessoa saiba que
somos a favor dele, e não contra. Isso, pelo menos, dará tempo para conhecê-
lo bem e ouvir sua história com atenção. Precisamos amá-lo mais que os
amigos homossexuais dele, e precisamos amá-lo mais do que ele ama a
própria homossexualidade (como o líder cristão Al Mohler já disse). Só então
pode-se começar a apontar para o maior amor que Deus tem por ele.
Em algum momento, ele vai querer saber o que, como cristãos,
fazemos com a homossexualidade. Precisamos pensar com cuidado a respeito
da explicação de forma a ser compreendida, e não apenas como alguém que
se encontra na defensiva.
Tão importante quanto explicar as verdades particulares da Bíblia é
esclarecer os motivos de suas declarações. Assim, é preciso falar por que
Deus não pode abençoar — na verdade, ele proíbe — a prática homossexual,
mas também queremos demonstrar por que Deus tem o direito de dizer o que
devemos ou não fazer com o corpo e como passamos a perceber a bondade de
suas declarações.
Precisamos explicar como o arrependimento para o homossexual
envolverá o afastamento do estilo de vida sexual, mas também queremos
deixar claro como todos nós, quando nos aproximamos de Cristo, morremos
para nós mesmos para podermos viver uma nova vida nele.
Queremos explicar que o único estilo de vida adequado para quem o
casamento não é possível consiste na castidade, mas também precisamos
manter foco no fato de todos os filhos de Deus, casados e solteiros,
comprometerem-se a um só esposo, que é Cristo (2 Coríntios 11.2): “aquele
que se une ao Senhor é um só espírito com ele” (1 Coríntios 6.17), e esta é a
realidade fundamental para todos os cristãos. Os estados na terra do
casamento e celibato apontam para a união perene com Cristo. O propósito
do casamento na terra não é nos satisfazer por completo, mas apontar para o
relacionamento que pode fazê-lo. O propósito do celibato não é demonstrar
autossuficiência, mas nos apontar para o autossuficiente. Queremos que os
amigos homossexuais saibam que a fidelidade a Cristo para o homossexual é
tão onerosa e gloriosa como para qualquer outra pessoa.
Como podemos ser testemunhas efetivas dessa questão para o mundo?
À medida que a cultura ocidental continua a aprovar a
homossexualidade, ela afirmará de forma crescente que nós, cristãos,
falhamos na tentativa de fomentar a visão cristã da sexualidade. Todavia, não
podemos ficar desanimados.
A Bíblia nos assegura que Cristo edificará sua igreja, e que o seu
reinado crescerá para sempre: “Você é Pedro, e sobre esta pedra edificarei a
minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”
(Mateus 16.18; Isaías 9.7). Não é tempo de pessimismo, e à medida que a
sociedade se afasta dos marcos cristãos, a igreja recebe mais uma
oportunidade de representar uma alternativa contracultural.
A chave do nosso testemunho e credibilidade nessa questão (ou em
outra qualquer) é a qualidade da nossa vida conjunta com a clareza da
nossa mensagem. Precisamos ser claros em relação ao evangelho. Sem
dúvida ele é uma boa notícia para todos. Ninguém está longe demais para
apreciá-lo, ou é autossuficiente para não precisar dele. Precisamos ser claros:
não só somos todos pecadores, mas todos somos pecadores sexuais. Nenhum
de nós se encontra, nesse ponto, em posição de superioridade.
Dessa clareza no evangelho, precisa advir a credibilidade relacional.
O Novo Testamento frequentemente liga a eficácia do nosso conhecimento à
autenticidade do nosso amor uns pelos outros. Jesus disse uma vez:
Nisto todos conhecerão que vocês são meus discípulos: se tiverem amor uns aos
outros. (João 13.35)
Paulo descreveu a igreja da seguinte maneira:
… na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, coluna e fundamento da verdade.
(1 Timóteo 3.15)
A igreja é a “coluna […] da verdade” por falar a verdade de Deus para
o mundo. É o meio de Deus trazer a verdade a todas as pessoas. Mas ela
também é a família de Deus — sua “casa”. E para que a igreja seja um pilar
efetivo, faz-se necessário constituir uma família efetiva. O encontro local do
povo de Deus deve servir para encarnar o evangelho na vida dos membros. A
igreja, em toda a plenitude bíblica, apontará os caminhos de Deus para a
sociedade. A ordem de Jesus para que seus seguidores se “amem” não
representa apenas uma reflexão tardia. É parte fundamental da estratégia para
alcançar o mundo que a observa.
Jesus prometeu que quem deixasse algo para trás receberá cem vezes
mais em troca:
— Em verdade lhes digo que não há ninguém que tenha deixado casa, irmãos, irmãs,
mãe, pai, filhos ou campos por minha causa e por causa do evangelho, que não
receba, já no presente, cem vezes mais casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos,
com perseguições; e, no mundo por vir, receberá a vida eterna. (Marcos 10.29,30)
O evangelho pode ser caro em sentido relacional, mas também
generoso. O que deixamos para trás não se compara ao que se recebe de
Jesus. É difícil esquecer o fato de que Jesus fala sobre a família. Sim, as
pessoas mais próximas. Ele não afirma que primos distantes nos deixarão,
mas os irmãos e a mãe. Tudo que temos existe para ser compartilhado com
outras pessoas: tempo, recursos, carinho. Nós mesmos. Isso, afinal,
demonstrará nesta vida que Jesus sempre vale a pena. A qualidade de nossa
vida comunitária, como igreja, e nossa capacidade de falar com clareza em
público mostrarão ao mundo que o conceito cristão sobre a sexualidade é o
mais convincente.
As palavras de Jesus dão a todos nós algo a fazer. Podemos não
contar com celebridades, porta-vozes mais descolados, os recursos mais
impressionantes ou os pensadores mais aclamados; mesmo assim, nossos
relacionamentos devem ser mais maravilhosos e atrativos.
Os cristãos devem frequentar uniões homossexuais?
Quando mais e mais partes do mundo ocidental legalizam e
promovem a união civil entre pessoas do mesmo sexo, os cristãos poderão ser
convidados para uniões entre homossexuais. Deve-se ir ou não?
À semelhança de Cristo, devemos ser “amigo dos pecadores”; assim,
deveríamos tentar ser o tipo de amigo que alguém gostaria de convidar para
sua união. Descobrir o que fazer com esse convite é, portanto, um bom
problema!
Há dois aspectos muito importantes de nossa relação com esses
amigos que devemos fazer todo o possível para preservar: o testemunho e a
amizade.
Em primeiro lugar, deve-se cuidar para que os cristãos não pareçam
endossar algo que entendemos ser um pecado aos olhos de Deus. Participar
de uma união homossexual poderia facilmente dar a entender que o
aprovamos e celebramos. Como os crentes poderiam comparecer sem enviar
esse tipo de mensagem é algo muito difícil. Sei de alguns cristãos que
participaram apenas para serem a presença piedosa em um ambiente não
cristão, pois achavam que sua posição relativa à união homossexual já havia
sido suficientemente esclarecida para evitar o risco de sua participação ser
interpretada da forma errada. Todavia, para muitos outros cristãos, não será
possível participar de boa consciência.
Entretanto, nossa posição pública sobre a união homossexual não é o
único fator importante a considerar. Também queremos preservar e
aprofundar a amizade com os amigos homossexuais, de modo que tenhamos
a oportunidade contínua de partilhar o amor de Cristo com eles. Portanto,
devemos ter o cuidado de manter um bom testemunho sobre a questão, mas
ela também envolverá sermos igualmente cuidadosos ao garantir que eles
saibam o quanto sua amizade é valorizada.
Se a aceitação do convite implica a aprovação da união homossexual,
a declinação do convite implica a importância não tão grande da amizade.
Assim, se precisarmos recusar o convite de uma união, certifiquemo-nos de
que ao mesmo tempo investimos na amizade. Isso pode significar o envio de
outro convite: embora não participemos da união, devemos solicitar um
encontro assim que possível.
Conclusão
— Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim jamais terá fome, e quem crê em
mim jamais terá sede. (João 6.35)
O pão não é algo com que costumo me preocupar. A algumas centenas de
metros do meu escritório, existem três supermercados e mais de uma dúzia de
lanchonetes. O pão está por toda a parte e não consigo pensar em uma única
ocorrência em toda a minha vida em que precisei de alguns, mas não pude
comprá-los.
Hoje, em muitas partes do mundo não é esse o caso. Nem era assim no tempo
de Jesus. O pão era o alimento básico. Isso não significa que as pessoas não
tinham imaginação e decidiram comer pão todo dia. Significa que o pão era o
principal alimento. Sem pão, as pessoas morreriam. Não era algo para
ignorar. Ele era essencial à vida. Não ter pão significava não ter vida.
Quando vemos isso, podemos começar a entender o que Jesus afirma ao
dizer: “Eu sou o pão da vida”. Ele não é um opcional que vem com azeitonas,
óleo e vinagre, para mordiscar antes do “prato principal”. Não, Jesus afirma
ser o elemento básico da vida. Precisamos dele para viver. O pão mantém o
corpo funcionando, mas Jesus é o que a alma precisa para viver. Sem ele,
somos cadáveres espirituais.
Sendo o pão da vida, Jesus é um conceito que conheci como cristão durante
muitos anos. Não me lembro de quando me aproximei dele pela primeira vez
ou pensei a respeito. Por ser cristão, eu sempre soube disso.
Trata-se, contudo, de uma verdade que se tornou especialmente estimada para
mim quando comecei a pensar na questão da atração por pessoas do mesmo
sexo. Antes, eu sempre lia essa declaração como uma das características de:
ele é a luz; o bom pastor; o caminho para o Pai. E ele é o pão da vida. No
entanto, mais recentemente, comecei a pensar não tanto que Jesus é o pão da
vida, mas que Jesus é o pão da vida. Ele — e apenas ele — é quem satisfaz.
Uma das características da minha experiência é tender ao excesso de
dependência emocional de alguns amigos em particular. Isso aconteceu várias
vezes ao longo dos anos. As coisas com um bom amigo podem caminhar com
bastante normalidade e felicidade, e então — quase que do nada — passo a
sentir profunda atração por eles: a necessidade profunda de estar perto deles,
ter sua aprovação e carinho. Sem restrições, isso crescia com rapidez. E antes
que percebesse, essa pessoa chegava muito perto de tornar o centro da minha
vida. É o que a Bíblia chama de idolatria — algo intolerável. Ela cria anseios
profundos que não podem ser atendidos, e pode colocar uma carga terrível
sobre a amizade.
Por isso é um enorme conforto refletir sobre essas palavras de Jesus. Posso
dizer a ele, em sua autoridade, que ele — e nenhuma outra pessoa, nenhum
outro amigo — é o pão da vida. E ele é. Quanto mais vivo sobre essa base,
mais sei que se trata da verdade. Eu posso testá-lo e saber que ele sempre
passará na prova. A vida é muito, muito melhor quando ele está no centro, e
muito, muito pior quando alguém ou qualquer outra coisa se encontra onde
não deve.
Esta é, em última análise, a promessa do evangelho. O grande presente que
Jesus nos dá é ele mesmo. Ele não é o meio para outro fim. Não se trata de o
pão da vida ser algo além e Jesus ser quem o dispensa. Ele mesmo é esse pão.
Jesus satisfaz nossas necessidades emocionais e espirituais mais profundas.
Ele é o prêmio para todos nós, de forma independente de nossos problemas e
complexidades. Quem quer que se aproxime dele encontrará a plenitude da
vida.
O convite é estendido a todos. E este dom é tão precioso Deus que não pode
ser contra a pessoa a quem este maravilhoso presente é oferecido.

O que fazer se um cristão se revelar homossexual para mim?


Muitos cristãos acham difícil conversar abertamente com os irmãos sobre
suas lutas contra a atração por pessoas do mesmo sexo. Se eles ainda estão
com problemas a respeito, pode haver o receio de que falar sobre o assunto o
tornará mais real, como se o próprio ato de falar a respeito lhe conferisse
mais presença e significado.
Muitas vezes se teme a reação dos outros cristãos: os amigos se sentirão
desconfortáveis e podem se distanciar; os líderes da igreja podem pensar que
quem experimenta esses sentimentos e tentações deve ser uma grande
decepção; ou que admitir isso torna tudo mais negativo. A batalha pode ser
bastante solitária; a perspectiva de que outras pessoas podem rejeitá-lo, caso
saibam, talvez seja suficiente para manter muitos cristãos em silêncio sobre
suas lutas durante longos anos.
Talvez a primeira coisa a fazer quando um cristão revelar lutas pessoais com
a sexualidade seja lhe agradecer por ter falado a respeito. Ele podia estar se
preparando para isso durante vários meses, chegando a ponto de quase falar a
respeito e repentinamente deixá-lo de lado. Que ele chega tão longe e se abre
a respeito — e o faz com você — não é algo de pouca importância. Você
pode ser a primeira pessoa, ou mais uma de um punhado de pessoas, a quem
isso foi dito. Quando alguém partilha algo muito pessoal, isso sinaliza
enorme confiança. Reconheça isso. Agradeça.
Deixe a pessoa respirar profundamente algumas vezes e assegure-a de que o
mundo ainda gira, que você ainda está lá e que ele não está prestes a explodir
em chamas.
A próxima coisa a fazer é ouvir com cuidado. As experiências sobre a
atração por pessoas do mesmo sexo variam muito. Pontos sensíveis, gatilhos
da tentação ou do desespero, as questões que cercam e alimentam a causa da
atração podem diferir de uma pessoa para outra.
Se a pessoa estiver disposta a conversar, descubra como ela se sente.
Pergunte-lhe há quanto tempo sabe disso; como aconteceu; o que a motivou a
lhe dizer. Isso pode levar algum tempo. Mas isso o ajudará a ter uma ideia de
onde a pessoa se encontra em relação ao problema, como isso a afeta e como
ela está respondendo por ser cristã. Às vezes, essas experiências são apenas
sintomas de questões mais profundas, como idolatria ou insegurança. Em
outras ocasiões, existe um desentendimento familiar como pano de fundo.
Outras vezes, não há razão óbvia para os sentimentos.
A sondagem suave e ouvir com cuidado ajudarão a dar forma ao tipo de
conselhos que você pode precisar. O cristão que luta contra esses
sentimentos, esforçando-se para fugir da tentação, honrar a Cristo e caminhar
com fidelidade ao lado dele precisará de encorajamento, orações e pessoas
para conversar de tempos em tempos.
Outros podem não ter sido esclarecidos sobre o ensino bíblico a respeito do
sexo e da sexualidade, e precisarão ser instruídos com gentileza. Alguns
podem estar nas profundezas do desespero, imaginando que esses
sentimentos os coloquem longe de qualquer ajuda espiritual, ou talvez se
sintam sobrecarregados com a culpa de pecados passados nessa área. Pode
ser que precisem de orientação e ajuda de um cristão mais experiente ou de
um ministério especializado no assunto.
[1]
Timothy Keller, “Old Testament Law and The Charge of Inconsistency”, Redeemer
Report, junho de 2012, disponível em:
http://www.redeemer.com/news_and_events/newsletter/?aid=363. Accessado em:
12/dez/2012.
[2]
Citado em Justin Lee, Torn: Rescuing The Gospel From The Gays vs. Christians
Debate. Nashville: Jericho Books, 2013, p. 5.

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