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Caverna

Lugar de Refúgio
e Recomeço

Jorge Linhares

Primeira edição – 2015

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Os textos bíblicos citados neste livro são da Versão Revista e
Atualizada de Almeida, salvo quando indicada outra versão.

A todos aqueles que entraram, adentraram e


pararam,
mas deram meia-volta em direção à luz – a
saída –
e lutaram, e lutam, para a caverna ser um
passado,
não presente ou futuro.

Sumário
Introdução 7
1. De Herói Nacional a Fugitivo 10
2. Escondendo-se Numa Caverna 19
3. Família – Parceira no Sofrimento 25
4. Não Estamos Sós 30
5. Fazendo da Caverna um Lugar de
Refúgio e Recomeço 35
6. “Que Fazes Aqui?” Venha! 45
7. Saindo Para Vencer 61
Conclusão 64

Introdução
Davi retirou-se dali e se refugiou na caverna de
Adulão; quando ouviram isso seus irmãos e
toda a casa de seu pai, desceram ali para ter
com ele.
Ajuntaram-se a ele todos os homens que se
achavam em aperto, e todo homem endividado,
e todos os amargurados de espírito, e ele se fez
chefe deles; e eram com ele uns quatrocentos
homens.
Dali passou Davi a Mispa de Moabe e disse ao
seu rei: Deixa estar meu pai e minha mãe
convosco, até que eu saiba o que Deus há de
fazer de mim.
Trouxe-os perante o rei de Moabe, e com este
moraram por todo o tempo que Davi esteve
neste lugar seguro.
Porém o profeta Gade disse a Davi: Não fiques
neste lugar seguro; vai e entra na terra de
Judá. Então, Davi saiu e foi para o bosque de
Herete (1 Samuel 22.1-5).

O que aconteceu com Davi? Um dia, herói nacional,


admirado pelo exército do rei, temido pelos inimigos
de Israel; no outro, um foragido, jurado de morte
pelo rei, atribulado, de espírito angustiado,
escondido numa caverna, sentindo-se só e sem
esperanças de reverter a situação. E o pior é que não
fizera nada para merecer o que estava passando.
Fora sempre fiel ao rei, à nação de Israel e à sua
família.
Um dos salmos escritos por Davi mostra bem o que
ele estava sentindo, escondido naquela caverna:

Olha para a minha direita e vê; ninguém se


preocupa comigo. Não tenho abrigo seguro;
ninguém se importa com a minha vida (Salmos
142.4 – NVI).

E não é isso que pensamos quando passamos por


dificuldades, quando nos sentimos presos a uma
“caverna”, perseguidos por problemas?
Por natureza pensamos que somente nós passamos
por problemas, que ninguém enfrenta dificuldades
tão grandes quanto as nossas. Nas minhas
ministrações sobre depressão e cura da alma, muitas
pessoas têm sido curadas, ao verem que não
somente elas passam por dificuldades, e que outras
pessoas também enfrentam problemas até maiores
do que os delas.
Não estou querendo dizer que não podemos ficar
tristes quando enfrentamos dificuldades, afinal, não
somos avestruzes que colocam a cabeça no buraco
como se não existissem problemas. É normal ficar
triste por causa de uma enfermidade, de morte na
família, a perda do emprego, problemas com os
filhos, crise no casamento, dificuldades financeiras,
saudades de alguém que mudou para longe... É
compreensível ficar triste no Dia dos Pais, ao se
lembrar do pai que faleceu. Mas devemos ter
cuidado para não deixar a tristeza tornar-se
depressão. Não podemos alimentar a tristeza,
dando-lhe forças para que domine nosso coração e
se torne depressão, incapacitando-nos para a vida.
Podemos aprender com Davi como reagir a
problemas, como se comportar nas “cavernas” das
dificuldades, da incompreensão, da dor, da solidão.
E o mais importante: aprender a torná-las um
refúgio e um ponto de partida para uma caminhada
vitoriosa.
1

De herói nacional
a fugitivo
Sucedeu que, acabando Davi de falar com Saul,
a alma de Jônatas se ligou com a de Davi; e
Jônatas o amou como à sua própria alma.
Saul, naquele dia, o tomou e não lhe permitiu
que tornasse para casa de seu pai.
Jônatas e Davi fizeram aliança; porque Jônatas
o amava como à sua própria alma.
Despojou-se Jônatas da capa que vestia e a deu
a Davi, como também a armadura, inclusive a
espada, o arco e o cinto.
Saía Davi aonde quer que Saul o enviava e se
conduzia com prudência; de modo que Saul o
pôs sobre tropas do seu exército, e era ele
benquisto de todo o povo e até dos próprios
servos de Saul.
Sucedeu, porém, que, vindo Saul e seu exército,
e voltando também Davi de ferir os filisteus, as
mulheres de todas as cidades de Israel saíram
ao encontro do rei Saul, cantando e dançando,
com tambores, com júbilo e com instrumentos
de música.
As mulheres se alegravam e, cantando
alternadamente, diziam: Saul feriu os seus
milhares, porém Davi, os seus dez milhares (1
Samuel 18.1-7).

Aquele rapazinho, menosprezado pelos irmãos e


motivo de chacota para os soldados no campo de
batalha, venceu o gigante. Naquele momento, era
muito popular em Israel – só se falava nele. Tinha
aniquilado o temível gigante Golias com uma
simples pedrinha, e desde Dã até Berseba, isto é do
norte ao sul de Israel, as músicas do momento eram
as baladas que narravam seu feito. Aí se iniciou uma
jornada de prosperidade. Davi tornou-se um herói,
melhor amigo do filho do rei, casou-se com uma das
princesas (o que podia torná-lo rei mais tarde), era
amado pelo povo e respeitado pelos soldados.
Então...
Então, Saul se indignou muito, pois estas
palavras lhe desagradaram em extremo; e
disse: Dez milhares deram elas a Davi, e a mim
somente milhares; na verdade, que lhe falta,
senão o reino?
Daquele dia em diante, Saul não via a Davi
com bons olhos (1 Samuel 18.8,9).

As mulheres passaram a cantar uma canção, depois


que Davi voltou de uma batalha: “Saul matou
milhares, mas Davi matou dez milhares”. A música
logo se tornou um sucesso. As jovens a cantavam
pelas ruas. Os soldados a assoviavam nas manobras
militares. As mulheres a cantarolavam ao lavar as
roupas no rio e quando iam buscar água no poço. E
todas as vezes que Saul escutava essa canção era
como uma “pedra no sapato”. O rei ouviu aquilo e
se indignou. E, transtornado, dizia:
“Que falta para esse rapaz se não o reino? Já é meu
genro, é rico, e agora vai tomar meu reino. Como
não pode existir dois reis eu vou ter de matá-lo.”
E diz a Bíblia que, a partir desse dia, Saul intentou
no coração matar Davi e passou a persegui-lo.

Viu Saul e reconheceu que o SENHOR era com


Davi; e Mical, filha de Saul, o amava.
Então, Saul temeu ainda mais a Davi e
continuamente foi seu inimigo (1 Samuel
18.28,29).

O ódio e o sentimento de rivalidade foram se


avolumando no coração do rei despeitado. O ciúme
o cegava, tirando-lhe o sono. E sua cabeça começou
a trabalhar sem parar, tentando descobrir modos de
acabar com aquele jovem que estava crescendo
demais no conceito do povo.

Falou Saul a Jônatas, seu filho, e a todos os


servos sobre matar Davi... (1 Samuel 19.1).
E, finalmente, planejou matá-lo. Sua maligna
intenção se materializou e ele mandou pessoas para
matar Davi.

Porém Saul, naquela mesma noite, mandou


mensageiros à casa de Davi, que o vigiassem,
para ele o matar pela manhã; disto soube Davi
por Mical, sua mulher, que lhe disse: Se não
salvares a tua vida esta noite, amanhã serás
morto (1 Samuel 19.11).

Com a ajuda de sua esposa, a filha do rei, Davi


fugiu.

Então, Mical desceu Davi por uma janela; e ele


se foi, fugiu e escapou (1 Samuel 19.12).

FUGITIVO E ERRANTE

Da noite para o dia a sorte de Davi mudou. Ele


passou a ser errante e fugitivo. Teve de deixar tudo
para trás: a família, os amigos, a posição que
ocupava no palácio real; tudo.

Assim, Davi fugiu, e escapou, e veio a Samuel,


a Ramá, e lhe contou tudo quanto Saul lhe
fizera; e se retiraram, ele e Samuel, e ficaram
na casa dos profetas (1 Samuel 19.18).

Davi foi buscar refúgio junto ao profeta Samuel que


o levou à casa dos profetas. Davi pensava estar
seguro ao lado do profeta, respeitado por toda a
nação. Mas Saul foi informado da localização de
Davi e mandou capturá-lo.

Foi dito a Saul: Eis que Davi está na casa dos


profetas, em Ramá.
Então, enviou Saul mensageiros para trazerem
Davi... (1 Samuel 19.19,20).
Então, fugiu Davi da casa dos profetas, em
Ramá... (1 Samuel 20.1).

E mais uma vez, Davi teve de fugir. Buscou socorro


junto aos sacerdotes. Mas, temendo pela segurança
dos sacerdotes, Davi voltou a fugir, pois não queria
que Saul prejudicasse os sacerdotes.

Então, se levantou Davi e se foi...


Então, veio Davi a Nobe, ao sacerdote
Aimeleque; Aimeleque, tremendo, saiu ao
encontro de Davi e disse-lhe: Por que vens só, e
ninguém, contigo? (1 Samuel 20.42-21.1).

Aqui, abro um parêntese para contar um dos


acontecimentos mais tristes e deprimentes da Bíblia.
Davi não permaneceu com os sacerdotes, pois sabia
que qualquer um que o ajudasse, se tornaria inimigo
do rei. Por isso, fugiu para que Saul não maltratasse
os sacerdotes. Mas seu cuidado e preocupação com
os sacerdotes foram em vão. Saul, enlouquecido
pelo ódio contra Davi e crendo que os sacerdotes o
haviam ajudado, mandou matar a todos:

Então, o rei mandou chamar Aimeleque,


sacerdote, filho de Aitube, e toda a casa de seu
pai...
Então, lhe disse Saul: Por que conspirastes
contra mim, tu e o filho de Jessé?...
Respondeu Aimeleque ao rei e disse: E quem,
entre todos os teus servos, há tão fiel como
Davi, o genro do rei, chefe da tua guarda
pessoal e honrado na tua casa?...
Disse o rei aos da guarda, que estavam com
ele: Volvei e matai os sacerdotes do SENHOR...
Porém os servos do rei não quiseram estender
as mãos contra os sacerdotes do SENHOR...
Então, se virou Doegue, o edomita, e arremeteu
contra os sacerdotes, e matou, naquele dia,
oitenta e cinco homens que vestiam estola
sacerdotal de linho.
Também a Nobe, cidade destes sacerdotes,
passou a fio de espada: homens, e mulheres, e
meninos, e crianças de peito, e bois, e jumentos,
e ovelhas... (1 Samuel 22.11-19).

Que tristeza! Mais uma vez vemos a diferença do


coração de Davi em relação a Saul. Davi, de fato,
tinha o coração segundo o coração de Deus. Ele se
preocupava com as pessoas, e apesar de todo ódio e
perseguição de Saul, Davi era fiel ao rei.
Mas, agora, voltemos a Davi e à sua fuga:

Levantou-se Davi, naquele dia, e fugiu de


diante de Saul, e foi a Aquis, rei de Gate.
Porém os servos de Aquis lhe disseram: Este
não é Davi, o rei da sua terra? Não é a este que
se cantava nas danças, dizendo: Saul feriu os
seus milhares, porém Davi, os seus dez
milhares?
Davi guardou estas palavras, considerando-as
consigo mesmo, e teve muito medo de Aquis, rei
de Gate...
Davi retirou-se dali e se refugiou na caverna de
Adulão... (1 Samuel 21.10-12; 22.1).

Davi chegou a ir à terra dos inimigos, os filisteus.


Mas, também lá, não se sentiu seguro.
Então, continuou sua fuga e se refugiou na caverna
de Adulão...
Davi passou a ser perseguido; tornou-se um
foragido. Ele não podia ir para casa de amigos,
porque ninguém poderia ocultá-lo, pois estaria
traindo o rei, o que era passível de pena de morte. O
único lugar que Davi encontrou para se refugiar foi
uma caverna.
Também na nossa vida, problemas podem surgir.
Alguns demoram anos para acontecer; vêm aos
poucos, decisões erradas aqui, uma incompreensão
ali, etc. Outros podem acontecer de repente.
Jataí, uma cidade de Santa Catarina, repentinamente
foi atingida por uma enchente. A cidade ficou quase
toda debaixo d’água. Na ocasião, recebi um
telefonema de um pastor de Jataí pedindo socorro:
“Pr. Jorge, mande alguma ajuda para nós. A cidade
está debaixo d’água. Os empresários perderam tudo,
tudo, tudo. O nível do rio que passa no meio da
cidade está muitos metros acima do normal. A nossa
igreja desmoronou. Quase todos os empresários da
igreja estão passando por sérias dificuldades. Alguns
perderam tudo.”
Recentemente, em uma viagem ao Sul, passei pela
cidade, e vi que até hoje têm lugares com marcas de
água – 15m, 20m. Várias pessoas se mataram, e
muitas famílias foram destruídas; não acharam nem
os corpos porque foram levados para o mar.
Quantas pessoas tiveram a vida mudada de repente.
Algo que não esperavam veio para provocar uma
terrível mudança, que até hoje muitos ainda não
conseguiram superar.
Um câncer pode empobrecer toda a família, que
precisa vender tudo para salvar um filho. Da noite
para o dia. Um acidente de carro pode mudar a
minha história, porque mudou a história de vários.
Quantos saem de casa cheios de saúde, e voltam
mutilados por causa de um acidente de carro, de
moto. E a vida muda completamente. Tudo se torna
difícil; o desconhecido espreita a cada minuto, e o
medo toma conta do coração.
Não temas o pavor repentino, nem a arremetida
dos perversos, quando vier.
Porque o S E N H O R será a tua segurança e
guardará os teus pés de serem presos
(Provérbios 3.25,26).

Escondendo-se
numa caverna
Davi retirou-se dali e se refugiou na caverna de
Adulão... (1 Samuel 22.1).

Adulão significa justiça do povo, refúgio,


esconderijo. É um conjunto de cavernas que fica no
vale de Elá. Segundo os arqueólogos e exploradores,
existem partes desse complexo de cavernas que
ainda não foram exploradas, e certamente ali caberia
todo aquele exército que se ajuntou a Davi.
Davi chegara ao fim de suas forças: perdera o
emprego, a mulher, a casa, seus melhores amigos e,
finalmente, sua autoestima.
Davi, o autor de tantos salmos, guerreiro vencedor
de tantas batalhas, homem valente e temente a Deus,
sentiu-se vencido pela injustiça, a perseguição sem
causa. Ficou tão esgotado na alma, os problemas o
atingiram de tal forma, que tudo que queria era
sumir para um lugar de paz e segurança:

Dá ouvidos, ó Deus, à minha oração; não te


escondas da minha súplica.
Atende-me e responde-me; sinto-me perplexo
em minha queixa e ando perturbado,
por causa do clamor do inimigo e da opressão
do ímpio; pois sobre mim lançam calamidade e
furiosamente me hostilizam.
Estremece-me no peito o coração, terrores de
morte me salteiam;
temor e tremor me sobrevêm, e o horror se
apodera de mim.
Então, disse eu: quem me dera asas como de
pomba! Voaria e acharia pouso.
Eis que fugiria para longe e ficaria no deserto
(Salmos 55.1-7).

Esse foi um dos piores momentos da vida de Davi.


No Salmo 142, ele expõe o que sentia.

Ao S ENHOR ergo a minha voz e clamo, com a


minha voz suplico ao SENHOR.
Derramo perante ele a minha queixa, à sua
presença exponho a minha tribulação.
Quando dentro de mim me esmorece o espírito,
conheces a minha vereda. No caminho em que
ando, me ocultam armadilha.
Olha à minha direita e vê, pois não há quem me
reconheça, nenhum lugar de refúgio, ninguém
que por mim se interesse.
A ti clamo, SENHOR, e digo: tu és o meu refúgio,
o meu quinhão na terra dos viventes.
Atende o meu clamor, pois me vejo muito fraco.
Livra-me dos meus perseguidores, porque são
mais fortes do que eu.
Tira a minha alma do cárcere, para que eu dê
graças ao teu nome; os justos me rodearão,
quando me fizeres esse bem (Salmos 142.1-7).

Davi não tinha esperanças, alimento, alguém com


quem conversar, promessa à qual se apegar e nem
esperança de que as coisas viessem a modificar-se
um dia.
Estava sozinho numa caverna escura, longe de tudo
e de todos que amava. De todos, exceto de Deus.
Como Davi, muitos anseiam fugir na hora do medo
e da fadiga. Queremos nos esconder um lugar longe
de todos, dos problemas, das lutas – onde,
pensamos, haverá sossego e calma. E esse é um
momento perigoso, pois nos sentimos inclinados a
fugir, a nos sentir sozinhos, longe do cuidado de
Deus. Chegamos a pensar que o próprio Deus se
esqueceu de nós.
Infelizmente, muitos cristãos tomam decisões sem
consultar o Espírito Santo. Muitos crentes estão
agindo com medo e desespero, sem fé nas
promessas de Deus. Eles simplesmente decidem o
que fazer por conta própria, baseados no medo, no
desespero, na falta de fé. E fogem. Mas, muitas
vezes, essa é uma decisão perigosa:

No S ENHOR me refugio. Como dizeis, pois, à


minha alma: Foge, como pássaro, para o teu
monte?
Porque eis aí os ímpios, armam o arco,
dispõem a sua flecha na corda, para, às
ocultas, dispararem contra os retos de coração
(Salmos 11.1,2).

Não importa onde estejamos, o que estamos


passando; o Senhor tem de ser sempre o nosso guia,
o nosso refúgio, a nossa esperança. Mesmo
angustiados, perplexos, passando por terríveis
problemas, foragidos numa caverna, não podemos
nos esquecer de que o Senhor não está alheio ao
nosso problema. Que ele está movendo o universo
em nosso favor. E que breve, muito breve, o socorro
virá.
Você já pensou na solidão daquele lugar tão
desolado, na umidade daquela caverna, no
desespero de Davi? Não havia para onde fugir. Nada
restara. Nada. Somente a solidão, a perplexidade
pela injusta perseguição; chegara, literalmente, ao
fundo do poço.
Era assim que Davi se sentia como habitante das
cavernas:
“Não conheço ninguém na terra que se interesse por
mim. Sinto-me tremendamente humilhado. Livra-
me, Senhor”.
A visão humana diz: “Ah, você perdeu tudo. Você é
culpado por todos esses problemas. A sua falta de fé
e sabedoria destruiu isto e aquilo. Por que não acaba
com a sua vida?” Mas Deus afirma: “Não! Você está
na caverna, mas isso não quer dizer que chegou ao
fim de tudo. Significa tempo para redirecionar sua
vida. É hora de recomeço!”
E foi exatamente isso que Deus fez com Davi.
Sozinho na caverna, mas confiando no Senhor, Davi
consolou-se esperando o agir do Todo-Poderoso.

Salva-me, ó Deus, porque as águas me sobem


até à alma.
Estou atolado em profundo lamaçal, que não dá
pé; estou nas profundezas das águas, e a
corrente me submerge.
Estou cansado de clamar, secou-se-me a
garganta; os meus olhos desfalecem de tanto
esperar por meu Deus.
São mais que os cabelos de minha cabeça os
que, sem razão, me odeiam; são poderosos os
meus destruidores, os que com falsos motivos
são meus inimigos; por isso, tenho de restituir o
que não furtei.
Quanto a mim, porém, SENHOR, faço a ti, em
tempo favorável, a minha oração. Responde-
me, ó Deus, pela riqueza da tua graça; pela tua
fidelidade em socorrer (Salmos 69.1-4,13).
3

Família – Parceira
no sofrimento
... quando ouviram isso seus irmãos e toda a
casa de seu pai, desceram ali para ter com ele
(1 Samuel 22.1).

Quando Davi perdeu a posição, ele arrastou os


parentes com ele. É isto que temos de entender: os
nossos problemas podem influenciar toda a família.
Pouco depois que Davi chegou na caverna, a família
dele foi ter com ele. Tiveram de sair do palácio, da
noite para o dia. Deixaram o granito, o luxo e a
beleza do palácio e foram para um caverna.
Naquela época, quando um homem era considerado
culpado, toda sua família sofria a punição. Em casos
extremos, eram mortos juntamente com o parente
que era culpado ou perseguido pelo rei. Na Bíblia,
vemos alguns exemplos dessa situação.
Quando o povo entrou na terra prometida,
receberam a ordem de Deus de não ficar com nada
das cidades que eles conquistassem. Mas um dos
soldados desobedeceu à ordem de Deus e escondeu
alguns despojos da batalha.
Vejamos o que aconteceu:

Respondeu Acã a Josué e disse:


Verdadeiramente, pequei contra o SENHOR, Deus
de Israel, e fiz assim e assim...
Então, Josué e todo o Israel com ele tomaram
Acã, filho de Zera, e a prata, e a capa, e a
barra de ouro, e seus filhos, e suas filhas, e
seus bois, e seus jumentos, e suas ovelhas, e sua
tenda, e tudo quanto tinha e levaram-nos ao
vale de Acor.
Disse Josué: Por que nos conturbaste? O
SENHOR, hoje, te conturbará. E todo o Israel o
apedrejou; e, depois de apedrejá-los, queimou-
os (Josué 7.20-25 – grifo meu).
Toda a família de Acã foi morta. O chefe da família
arrastou consigo seus filhos e tudo quanto tinha para
a morte.
Em outra ocasião, o rei Acabe cobiçou a vinha de
Nabote. Como ele não aceitou, o rei, com a ajuda da
rainha Jezabel, usando de mentira, condenou
Nabote à morte, e com ele, toda a sua família:

Então, vieram dois homens malignos,


sentaram-se defronte dele e testemunharam
contra ele, contra Nabote, perante o povo,
dizendo: Nabote blasfemou contra Deus e
contra o rei. E o levaram para fora da cidade e
o apedrejaram, e morreu. (1 Reis 21.13).

Mas o Senhor, através do profeta Elias, ditou uma


terrível sentença contra Acabe e sua família:

Dispõe-te, desce para encontrar-te com Acabe,


rei de Israel, que habita em Samaria; eis que
está na vinha de Nabote, aonde desceu para
tomar posse dela.
Falar-lhe-ás, dizendo: Assim diz o SENHOR:
Mataste e, ainda por cima, tomaste a herança?
Dir-lhe-ás mais: Assim diz o SENHOR: No lugar
em que os cães lamberam o sangue de Nabote,
cães lamberão o teu sangue, o teu mesmo. (1
Reis 21.18,19).

De fato, Acabe e Jezabel foram mortos e tiveram o


sangue lambido pelos cães, assim como Nabote. E
anos mais tarde, o filho deles também foi morto:

Tão certo como vi ontem à tarde o sangue de


Nabote e o sangue de seus filhos, diz o SENHOR,
assim to retribuirei neste campo, diz o SENHOR.
Agora, pois, toma-o e lança-o neste campo,
segundo a palavra do SENHOR. (2 Reis 9.26).

Conheço famílias que empobreceram depois que o


homem perdeu um emprego, ou ficou endividado. A
desgraça de um homem pode atingir toda a família.
Hoje estou na direção da igreja; a minha família é
honrada. Se acontecer alguma coisa comigo – se eu
“entrar numa caverna”, ou adoecer, da noite para o
dia tudo pode mudar. Mesmo que o pastor que me
substituir decida continuar honrando minha família e
cuidando dela, nada será como antes.
Quantos homens levam a família para o buraco,
para o sofrimento por causa de uma decisão
impensada. Outros abandonam a família em busca
de aventuras, deixando para trás sofrimentos e uma
família destruída.
Nunca sofremos sozinhos. Não colhemos sozinhos
os frutos das nossas decisões. Por isso, precisamos
tomar cuidado com o que fazemos. Precisamos estar
em constante comunhão com o Senhor, confiando
nele. Assim, quando o dia mau chegar, estaremos
preparados para enfrentá-lo e proteger nossa família.

Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para


que possais resistir no dia mau e, depois de
terdes vencido tudo, permanecer inabaláveis
(Efésios 6.13).

Bem-aventurado aquele que teme ao S ENHOR e


anda nos seus caminhos!
Do trabalho de tuas mãos comerás, feliz serás,
e tudo te irá bem.
Tua esposa, no interior de tua casa, será como
a videira frutífera; teus filhos, como rebentos da
oliveira, à roda da tua mesa.
Eis como será abençoado o homem que teme ao
SENHOR! (Salmos 128.1-4).

Não estamos sós


Ajuntaram-se a ele todos os homens que se
achavam em aperto, e todo homem endividado,
e todos os amargurados de espírito, e ele se fez
chefe deles; e eram com ele uns quatrocentos
homens (1 Samuel 22.2).
Que grupo de elite, hein?!
A Bíblia não diz como esses homens souberam que
Davi estava na caverna. Mas acredito que, como
Davi era um homem conhecido, admirado, muitos
sabiam onde ele se encontrava. Muitos
acompanhavam o sofrimento e a fuga de Davi.
Quando souberam que ele se refugiou numa
caverna, lugar de difícil acesso, foram ao encontro
dele.
Sabemos que seus parentes já estavam lá – pessoas
que haviam fugido, que também tinham perdido
tudo, e foram em busca do parente, crendo que,
juntos, poderiam superar aquele momento tão
difícil.
Vejamos, agora, que tipo de pessoas vieram até
Davi.

1. “Todos os que se achavam em aperto”


vieram a Davi. O termo original aqui significa
“em aperto, dificuldades”, e também “sob
pressão, debaixo de estresse”.
2. “Todo homem endividado” se juntou a
Davi. O vocábulo hebraico empregado é
nashah, isto é, que “tomou dinheiro
emprestado a juros, tem vários credores”. Eram
pessoas que não tinham condições de pagar
suas dívidas.
3. Todos os “amargurados de espírito”. No
hebraico, maar nephesh significa “estar com a
alma atormentada, ser maltratado”.

Por que havia tanta gente atormentada, endividada,


amargurada? Naquela época, a terra sofria
terrivelmente sob o reinado de Saul. Ele cobrava
impostos excessivos do povo e o maltratava. O rei
era um homem doente, gravemente deprimido, e
todos sofriam as consequências do desequilíbrio de
Saul. Alguns não suportaram, e foram em busca de
refúgio. Quem melhor que Davi para ajudá-los?
Afinal, já mostrara seu valor e coragem. Davi,
então, se viu cercado de homens descontentes,
amargurados. Percebeu, também, que não era o
único que sofria nas mãos de Saul.
Certa vez, acompanhado de outros pastores, fui
visitar um jovem da igreja, que havia surtado e
estava internado em um hospital psiquiátrico.
Quando entramos no pátio, o porteiro disse:
“Pastor Jorge, o rapaz que o senhor veio visitar está
ali.”
Depois que entramos, eles trancaram o portão, e
ficamos no pátio com 100 “doidos”. Assim que
entrei, um homem veio até mim e perguntou:
– Quem é você?
– Eu sou Jorge Linhares, respondi.
Um pouco alterado, ele retrucou:
– Você não é Jorge Linhares; eu sou Jorge Linhares.
Em seguida, mostrou-me um livro meu e disse:
– Estou lendo o livro que eu escrevi.
Então, para acalmá-lo, eu disse:
– Muito prazer, Jorge Linhares.
Encontramos o rapaz da igreja, mas ele estava
“desatinado”, não tinha noção de tempo nem de
espaço. Tive oportunidade de conversar também
com outros internos, e senti doer meu coração por
causa da situação deles. Pessoas que pouco tempo
antes eram “normais”, produtivas, que trabalhavam,
tinham amigos, estudavam, mas, aí, sofreram
decepções, perdas, traumas e “surtaram”, ficaram
deprimidas a ponto de perder a razão.
Oramos e abençoamos todos eles. Saí dali,
pensando: “Meu Deus, como seria importante se as
pessoas fizessem uma visita a um lugar desses. Às
vezes, têm um probleminha e querem desistir de
tudo. O que precisam é ver que existem pessoas
presas a uma caverna escura, fria, aterrorizante”.
Quando entrou na caverna, Davi pensou que ficaria
sozinho. Mas, de repente, juntaram-se a ele os
parentes e pessoas que estavam em aperto,
endividadas, que não tinham mais crédito, sem
amigos, sem esperança, sem alegria, que perderam
empresas, que estavam doentes, com câncer,
amargurados de espírito. O único lugar em que
acharam refúgio foi numa caverna. Não pense que
só você tem tristeza, está amargurado de espírito,
perdeu o casamento, que está sendo perseguido no
seu trabalho ou que não foi promovido, que não tem
casa própria.
O primeiro passo para a restauração de Davi foi
perceber que não estava sozinho nos sofrimentos.
Ele viu que dificuldades, perseguições e temores não
eram privilégio dele.
Aqueles homens se colocaram sob a liderança de
Davi. “Havia com ele cerca de quatrocentos...” Eles
tinham dois caminhos a escolher: tornar-se um
bando de assaltantes, assassinos, estrupadores,
dominadores de cidade. Afinal, não tinham nada a
perder. Ou, então, poderiam buscar a vontade do
Senhor e fazer da caverna um lugar de recomeço.
O que Davi escolheu?

Fazendo da caverna
um lugar de
refúgio e recomeço
... até que eu saiba o que Deus há de fazer de
mim (1 Samuel 22.3).

Davi nunca deixou de apresentar a Deus todas as


situações de sua vida. Isso fazia parte do seu caráter,
de sua vida. Se fosse uma batalha, uma decisão em
família, um imenso temor, um terrível sofrimento ou
um sonho muito acalentado – fosse o que fosse, a
primeira coisa que sempre lhe ocorria era:
“Vou falar com Deus sobre isso e ver o que ele quer
de mim.”
A caverna foi um ponto crítico na vida de Davi, em
que ele tomou a decisão crucial de não voltar atrás.
Aceitaria a sua situação presente e faria o melhor
dela. Se tivesse de ser uma caverna, que fosse. Se
sua família precisava de seu amparo, ele cuidaria
deles. Se os que o rodeavam precisavam de
liderança, ele seria esse líder. A única coisa que lhe
importava era saber a vontade do Senhor naquela
situação.
Enquanto esperava o que o Senhor faria, Davi
tomou algumas atitudes.

CUIDOU DOS PAIS

Dali passou Davi a Mispa de Moabe e disse ao


seu rei: Deixa estar meu pai e minha mãe
convosco...
Trouxe-os perante o rei de Moabe, e com este
moraram por todo o tempo que Davi esteve
neste lugar seguro (1 Samuel 22.3,4)

Davi procurou alguém que cuidasse de seus pais,


pois eles estavam muito debilitados. Ele sabia que o
rei de Moabe cuidaria bem deles.
O salmista fez isso em obediência ao mandamento
do Senhor:

Honra teu pai e tua mãe, para que se


prolonguem os teus dias na terra que o SENHOR,
teu Deus, te dá (Êxodo 20.12).

Isso ele sabia que era a vontade de Deus, e Davi a


cumpriu.

TORNOU A CAVERNA UM
CAMPO DE TREINAMENTO
São estes os que vieram a Davi...
Tinham por arma o arco e usavam tanto da
mão direita como da esquerda em arremessar
pedras com fundas e em atirar flechas com o
arco...
homens valentes, homens de guerra para
pelejar, armados de escudo e lança; seu rosto
era como de leões, e eram eles ligeiros como
gazelas sobre os montes...
passaram o Jordão no primeiro mês, quando
ele transbordava por todas as suas ribanceiras,
e puseram em fuga a todos os que habitavam
nos vales, tanto no oriente como no ocidente
Então, entrou o Espírito em Amasai, cabeça de
trinta, e disse: Nós somos teus, ó Davi, e
contigo estamos, ó filho de Jessé! Paz, paz seja
contigo! E paz com os que te ajudam! Porque o
teu Deus te ajuda...
Estes ajudaram Davi contra aquela tropa,
porque todos eles eram homens valentes e
capitães no exército.
Porque, naquele tempo, dia após dia, vinham a
Davi para o ajudar, até que se fez um grande
exército, como exército de Deus (1 Crônicas
12.1-22 – grifo meu).

Espere aí! Será que estamos falando daqueles


“homens que se achavam em aperto, e todo homem
endividado, e todos os amargurados de espírito” que
foram a Davi na caverna? O que aconteceu?
Depois de garantir a segurança e o sustento dos pais,
Davi se volta para os homens que vieram até ele.
Davi resolve fazer deles um exército. Ele poderia ter
escolhido tornar-se chefe de uma quadrilha de
amargurados, endividados, mas decidiu tornar esses
homens vencedores, que pudessem voltar para suas
casas e defender suas famílias. 400 homens que se
tornariam pessoas especiais.
Se o lugar em que nos encontramos é uma caverna,
então, em vez de lutar contra a situação e nos
revoltar e desistir, vamos transformá-la em um
campo de treinamento!
Daquele ajuntamento tão desigual Davi formou o
seu exército. Aos olhos do mundo, eram um bando
de derrotados. Aos olhos de Deus, porém,
formavam um exército de vencedores. Observando a
tropa de Davi, não conseguiríamos enxergar, a
princípio, qualidades que nos permitissem prever
seus sucessos e vitórias.
A fé de Davi tornou aquela caverna malcheirosa e
escura num campo de treinamento para aqueles
homens que se tornariam o exército que, mais tarde,
foi chamado de Os Valentes de Davi.
O treinamento de Davi, sua liderança, sua fé em
Deus e sua firmeza fizeram daqueles homens um
grupo especial de soldados. Esses soldados de elite
se destacaram por duas coisas:

1. eram capazes de feitos heroicos, de


demonstrações extraordinárias de coragem,
ousadia e vigor;
2. eram extremamente leais a Davi e estavam
sempre dispostos a ficar junto ao seu líder e a
lutar por ele.

E esses valentes tiveram um papel muito importante


na história da monarquia israelita.
Aquele bando de foragidos se transformaria em
poderosos homens de guerra. Davi modificou
completamente a vida deles, ensinando-lhes ordem,
disciplina, caráter e dando-lhes uma direção. Além
disso, deu a eles um poderoso testemunho de amor a
Deus e confiança no Todo-Poderoso
Quem poderia imaginar que, naquela caverna
escura, o futuro rei de Israel estava treinando suas
tropas? Os caminhos de Deus são, de fato,
insondáveis!
Um herói nasce da presença de outro herói maior.
Todo vencedor precisa de um campeão que lhe sirva
de exemplo, que lhe desperte os sonhos, que lhe
revele o próprio potencial, que lhe aponte o caminho
da vitória. E Davi era isso tudo. Ensinou seus
homens a serem valentes pelo seu próprio exemplo.
Alguns eram parentes, outros, marginalizados pela
sociedade e muitos tinham problemas com a lei. Mas
todos tinham ao menos uma característica em
comum – uma total e completa devoção a Davi, seu
líder.
Davi atraía as pessoas, era fiel, carinhoso e fazia
amizades duradouras. Davi possuía o coração de
Deus, por isso era um amigo bondoso e leal. Essa
qualidade de calor e fidelidade a seus amigos ganhou
para Davi um grupo de homens que se
comprometeu a ficar com ele durante seus anos de
exílio.
Davi os inspirava a alcançar realizações superiores a
seus objetivos e a atingirem seu verdadeiro
potencial. A eficiência de Davi estava claramente
relacionada à consciência que tinha em relação à
liderança de Deus.

TRANSFORMOU A CAVERNA
NUM LUGAR DE REFÚGIO

Em ti, força minha, esperarei; pois Deus é meu


alto refúgio.
Meu Deus virá ao meu encontro com a sua
benignidade, Deus me fará ver o meu desejo
sobre os meus inimigos....
Eu, porém, cantarei a tua força; pela manhã
louvarei com alegria a tua misericórdia; pois tu
me tens sido alto refúgio e proteção no dia da
minha angústia (Salmos 59.9-16).

Já houve dias na minha vida que acordei chorando,


sem saber o que fazer, em que eu não sabia como
iria sobreviver, que eu me sentia só e abandonado.
Mas, aí, eu me lembrava das misericórdias do
Senhor. A sua promessa, de que não me deixaria
sozinho, que estaria sempre comigo, não importando
se fosse numa caverna ou num palácio, dava-me
ânimo e esperanças. Sabia que as misericórdias do
Senhor tinham se renovado sobre minha vida.

As misericórdias do SENHOR são a causa de não


sermos consumidos, porque as suas
misericórdias não têm fim;
renovam-se cada manhã. Grande é a tua
fidelidade.
A minha porção é o SENHOR, diz a minha alma;
portanto, esperarei nele.
Bom é o SENHOR para os que esperam por ele,
para a alma que o busca. (Lamentações 3.22-
25).

É essa certeza que nos faz continuar apesar da


escuridão, da tristeza, da desesperança. Foi isso que
fez com que Davi tornasse aquela caverna um lugar
de refúgio, de esperar confiantemente em Deus.
Davi sabia que a caverna seria apenas um tempo de
espera e de aprendizagem; um refúgio.

Somente em Deus, ó minha alma, espera


silenciosa; dele vem a minha salvação.
Só ele é a minha rocha, e a minha salvação, e o
meu alto refúgio; não serei muito abalado.
Até quando acometereis vós a um homem, todos
vós, para o derribardes, como se fosse uma
parede pendida ou um muro prestes a cair?
Só pensam em derribá-lo da sua dignidade; na
mentira se comprazem; de boca bendizem,
porém no interior maldizem.
Somente em Deus, ó minha alma, espera
silenciosa, porque dele vem a minha esperança.
Só ele é a minha rocha, e a minha salvação, e o
meu alto refúgio; não serei jamais abalado.
De Deus dependem a minha salvação e a minha
glória; estão em Deus a minha forte rocha e o
meu refúgio.
Confiai nele, ó povo, em todo tempo; derramai
perante ele o vosso coração; Deus é o nosso
refúgio (Salmos 62.1-8).

O poder e o amor de Deus não estão limitados por


uma caverna. O seu amor nos alcança em qualquer
lugar, por mais triste, escuro e difícil que seja. E não
importa o quanto estejamos aflitos e abatidos. O
Senhor vem a nós, com amor, consolo,
encorajamento e misericórdia:

Porque assim diz o Alto, o Sublime, que habita


a eternidade, o qual tem o nome de Santo:
Habito no alto e santo lugar, mas habito
também com o contrito e abatido de espírito,
para vivificar o espírito dos abatidos e vivificar
o coração dos contritos (Isaías 57.15).

Não importa em qual caverna estejamos – do


desespero, da depressão, do medo, da desesperança
total. O Senhor está conosco! O crente que nunca
experimentou a solidão, o medo, as tribulações de
uma “caverna” não faz ideia do quanto a presença
de Deus é maravilhosa!
O Senhor prometeu que daria ordens aos seus anjos
a nosso respeito para que nos guardassem:

Porque aos seus anjos dará ordens a teu


respeito, para que te guardem em todos os teus
caminhos (Salmos 91.11).

Deu-nos também a maravilhosa promessa de que


nunca nos abandonaria – não importa quão
profunda e escura seja a caverna em que nos
encontramos:
De maneira alguma te deixarei, nunca jamais te
abandonarei (Hebreus 13.5).

... na sua angústia eu estarei com ele, livrá-lo-


ei e o glorificarei (Salmos 91.15).
Quando sofremos, não estamos sós. O que temos de
fazer é esperar nele, sabendo que, não importa onde
estejamos, ele está ao nosso lado e sua poderosa
mão trabalha por nós.

Porque desde a antiguidade não se ouviu, nem


com ouvidos se percebeu, nem com os olhos se
viu Deus além de ti, que trabalha para aquele
que nele espera (Isaías 64.4).

“Que fazes aqui?”


Venha!

Não fiques neste lugar... vai... (1 Samuel 22.5).


A Bíblia nos mostra que, assim como Davi, muitos
homens e mulheres de Deus passaram pela
experiência de se encontrarem numa “caverna” –
medo, depressão, perseguição, sofrimento,
incertezas quanto ao amanhã, perigo de morte... O
Senhor fez questão de deixar registradas essas
experiências, pois

tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso


ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e
pela consolação das Escrituras, tenhamos
esperança (Romanos 15.4).
MOISÉS

Naqueles dias, sendo Moisés já homem, saiu a


seus irmãos e viu os seus labores penosos; e viu
que certo egípcio espancava um hebreu, um do
seu povo.
Olhou de um e de outro lado, e, vendo que não
havia ali ninguém, matou o egípcio, e o
escondeu na areia.
Saiu no dia seguinte, e eis que dois hebreus
estavam brigando; e disse ao culpado: Por que
espancas o teu próximo?
O qual respondeu: Quem te pôs por príncipe e
juiz sobre nós? Pensas matar-me, como mataste
o egípcio? Temeu, pois, Moisés e disse: Com
certeza o descobriram.
Informado desse caso, procurou Faraó matar a
Moisés; porém Moisés fugiu... e se deteve na
terra de Midiã... (Êxodo 2.11-21).

Moisés pensou que ninguém o vira matar o egípcio,


mas a notícia correu rapidamente entre os hebreus e,
finalmente, chegou aos ouvidos do Faraó. Então, só
restava a Moisés fugir para o deserto de Midiã, a fim
de salvar a vida.
Assim como Davi, Moisés deixou tudo para trás, a
fim de esconder-se e ficar a salvo da perseguição.
Moisés permaneceu no deserto por quarenta anos. O
Senhor, porém, estava preparando Moisés para algo
grandioso. Apesar de estar no deserto, Deus
providenciou para ele uma família – esposa e filhos.
E o seu sogro, Jetro, era um sacerdote midianita,
que adorava ao Senhor. Como pastor, o “príncipe do
Egito” passou a conhecer os perigos, as rotas de
viagens e as fontes de água existentes no deserto. E
no silêncio das vastidões do deserto, ele aprendeu a
confiar em Deus. Deixou para trás o poder do Egito.
A “caverna-deserto” o preparou para cumprir o que
Deus tinha para ele. E na hora certa, o Senhor veio
a ele:

Apascentava Moisés o rebanho de Jetro, seu


sogro, sacerdote de Midiã; e, levando o
rebanho para o lado ocidental do deserto,
chegou ao monte de Deus, a Horebe.
Apareceu-lhe o Anjo do SENHOR numa chama de
fogo, no meio de uma sarça; Moisés olhou, e
eis que a sarça ardia no fogo e a sarça não se
consumia...
Vendo o SENHOR que ele se voltava para ver,
Deus, do meio da sarça, o chamou e disse:
Moisés! Moisés! Ele respondeu: Eis-me aqui!...
Disse ainda o SENHOR: Certamente, vi a aflição
do meu povo, que está no Egito, e ouvi o seu
clamor por causa dos seus exatores...
Vem, agora, e eu te enviarei a Faraó, para que
tires o meu povo, os filhos de Israel, do Egito
(Êxodo 3.1-10 – grifo meu).

O que Moisés pensou ser o seu fim tornou-se o


começo de uma grande jornada.
Moisés voltou ao Egito, com uma missão. E ele a
cumpriu, e tornou-se o grande profeta e legislador
de Israel, e possui um lugar seleto na galeria dos
heróis da fé.

Nunca mais se levantou em Israel profeta


algum como Moisés, com quem o SENHOR
houvesse tratado face a face,
no tocante a todos os sinais e maravilhas que,
por mando do SENHOR, fez na terra do Egito, a
Faraó, a todos os seus oficiais e a toda a sua
terra;
e no tocante a todas as obras de sua poderosa
mão e aos grandes e terríveis feitos que operou
Moisés à vista de todo o Israel (Deuteronômio
34.10-12).

ELIAS

Então, Elias, o tesbita, dos moradores de


Gileade, disse a Acabe: Tão certo como vive o
SENHOR, Deus de Israel, perante cuja face estou,
nem orvalho nem chuva haverá nestes anos,
segundo a minha palavra (1 Reis 17.1).

Então, lhe veio a palavra do SENHOR, dizendo:


Dispõe-te, e vai a Sarepta, que pertence a
Sidom, e demora-te ali, onde ordenei a uma
mulher viúva que te dê comida.
Então, ele se levantou e se foi a Sarepta;
chegando à porta da cidade, estava ali uma
mulher viúva apanhando lenha...
Elias lhe disse: Não temas; vai e faze... para
mim um bolo pequeno...
Porque assim diz o SENHOR, Deus de Israel: A
farinha da tua panela não se acabará, e o
azeite da tua botija não faltará, até ao dia em
que o SENHOR fizer chover sobre a terra.
Foi ela e fez segundo a palavra de Elias; assim,
comeram ele, ela e a sua casa muitos dias.
Da panela a farinha não se acabou, e da botija
o azeite não faltou, segundo a palavra do
SENHOR, por intermédio de Elias.
Depois disto, adoeceu o filho da mulher, da
dona da casa, e a sua doença se agravou tanto,
que ele morreu...
O SENHOR atendeu à voz de Elias; e a alma do
menino tornou a entrar nele, e reviveu... (1 Reis
17.8-23).

Elias era poderosamente usado por Deus. Avisara ao


rei Acabe que não choveria. Fez com que uma
vasilha de farinha sustentasse a ele e à família da
viúva, e trouxe de volta à vida uma criança morta.
E Elias continuou firme nos propósitos do Senhor.
Nele não se via medo; o que Deus mandava, ele
fazia. Não calava aquilo que o Senhor mandara que
ele dissesse ao povo. Nem ao próprio rei Elias temia.
Ele era conhecido como o “perturbador” de Israel.
E mais uma vez, Elias vai cumprir uma ordem do
Senhor.

Muito tempo depois, veio a palavra do SENHOR a


Elias, no terceiro ano, dizendo: Vai, apresenta-
te a Acabe, porque darei chuva sobre a terra...
e foi Acabe ter com Elias.
Vendo-o, disse-lhe: És tu, ó perturbador de
Israel?
Respondeu Elias: Eu não tenho perturbado a
Israel, mas tu e a casa de teu pai, porque
deixastes os mandamentos do SENHOR e
seguistes os baalins.
Agora, pois, manda ajuntar a mim todo o Israel
no monte Carmelo, como também os
quatrocentos e cinquenta profetas de Baal e os
quatrocentos profetas do poste-ídolo que
comem da mesa de Jezabel...
Responde-me, SENHOR, responde-me, para que
este povo saiba que tu, SENHOR, és Deus e que a
ti fizeste retroceder o coração deles.
Então, caiu fogo do SENHOR, e consumiu o
holocausto, e a lenha, e as pedras, e a terra, e
ainda lambeu a água que estava no rego.
O que vendo todo o povo, caiu de rosto em
terra e disse: O SENHOR é Deus! O SENHOR é
Deus! Disselhes Elias: Lançai mão dos profetas
de Baal, que nem um deles escape. Lançaram
mão deles; e Elias os fez descer ao ribeiro de
Quisom e ali os matou...
Então, disse Elias a Acabe: Sobe, come e bebe,
porque já se ouve ruído de abundante chuva...
Dentro em pouco, os céus se enegreceram, com
nuvens e vento, e caiu grande chuva. Acabe
subiu ao carro e foi para Jezreel... (1 Reis 18)

Isto é poder! Elias despejou doze barris de água


sobre o altar, e fez cair fogo do céu para consumi-la.
Que visão impressionante deve ter sido! Depois, “em
nome de Jeová”, com uma espada na mão, matou
centenas de falsos profetas de Baal.
Além disso, Elias orou para que voltasse a chover. A
chuva que não caía havia três anos caiu sobre a
terra.
Mas Jezebel ameaçou matar Elias. De repente, este
homem antes destemido estava em fuga para salvar
a vida!

Então, Jezabel mandou um mensageiro a Elias


a dizer-lhe: Façam-me os deuses como lhes
aprouver se amanhã a estas horas não fizer eu
à tua vida como fizeste a cada um deles.
Temendo, pois, Elias, levantou-se, e, para
salvar sua vida, se foi...
Ali, entrou numa caverna, onde passou a noite;
e eis que lhe veio a palavra do SENHOR e lhe
disse: Que fazes aqui, Elias?
Ele respondeu: Tenho sido zeloso pelo SENHOR,
Deus dos Exércitos, porque os filhos de Israel
deixaram a tua aliança, derribaram os teus
altares e mataram os teus profetas à espada; e
eu fiquei só, e procuram tirar-me a vida...
Disse-lhe o SENHOR: Vai, volta ao teu caminho...
(1 Reis 19.2-15 – grifo meu).

Alguma vez você já se “enfiou” em uma caverna,


machucado, para baixo, com medo, decepcionado,
sem querer ver ou falar com alguém? Talvez sua
caverna seja de silêncio – fuga das pessoas e das
responsabilidades.
Elias fez de sua vida um rosário de lamentações e
queixas. Queixava-se de Jezabel, do povo, e até de
Deus. Querido leitor, quem sabe você também esteja
agindo como Elias, vivendo na caverna do desânimo
e da autocompaixão, querendo desistir do trabalho,
da família, da vida e até de si próprio. É preciso
reconhecer que a causa está em nós mesmos, na
nossa atitude para com as circunstâncias, e não
nelas. Ao reconhecer isso, começamos a mudar. E
estamos prontos para sair da “caverna”.
O Senhor escutou as queixas do profeta e depois
falou. Deus tinha uma palavra de cura para aquele
coração deprimido.
Deus conhece exatamente o tipo de palavra que
necessitamos quando estamos quebrados. E não é
uma dura palavra de condenação, mas de
encorajamento, chamando-nos para a vida.
Elias ouviu a palavra do Senhor, e saiu da caverna,
pronto a obedecer e a servir a Deus.
O Deus de Elias é também o nosso Deus. Na hora
certa, ele tirou o profeta da caverna, concedeu a
vitória a ele, e também a concederá a nós.

MARIA

No sexto mês, foi o anjo Gabriel enviado, da


parte de Deus, para uma cidade da Galileia,
chamada Nazaré,
a uma virgem desposada com certo homem da
casa de Davi, cujo nome era José; a virgem
chamava-se Maria.
E, entrando o anjo aonde ela estava, disse:
Alegra-te, muito favorecida! O Senhor é
contigo....
Maria, não temas; porque achaste graça diante
de Deus.
Eis que conceberás e darás à luz um filho, a
quem chamarás pelo nome de Jesus.
Este será grande e será chamado Filho do
Altíssimo... (Lucas 1.26-33.)

Maria, a jovem escolhida para ser a mãe do


Salvador, era judia, íntegra e fiel a Deus; uma jovem
cheia de sonhos, de propósitos, de ideais, e estava
noiva. O Senhor, porém, a chamou para uma missão
“espinhosa”. Mas, quando o anjo apareceu e lhe
disse que ela engravidaria, Maria não resmungou
contra Deus, não murmurou, não blasfemou. Disse
apenas:

Aqui está a serva do Senhor; que se cumpra em


mim conforme a tua palavra... (Lucas 1.38.)

Ao falar isso, Maria sabia que corria um grande


perigo:

1. Seria abandonada pelo noivo;


2. Os pais iriam expulsá-la de casa;
3. Ela poderia ser apedrejada em praça pública,
de acordo com a lei.

Essas seriam as consequências de sua obediência à


vontade de Deus. Mas, como ela estava no centro da
vontade de Deus, o Senhor fez com que tudo
contribuísse para o bem dela.

Naqueles dias, dispondo-se Maria, foi


apressadamente à região montanhosa, a uma
cidade de Judá,
entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel
(Lucas 1.39,40 – grifo meu).

Não sabemos o que Maria foi fazer na casa de


Isabel, esposa de Zacarias. Talvez buscasse uma
palavra que a ajudasse a passar por aquele momento
tão difícil: grávida, mas não do noivo.
Mas creio que ela recebeu encorajamento de Deus
ao ouvir as palavras de Isabel:

E exclamou em alta voz: Bendita és tu entre as


mulheres, e bendito o fruto do teu ventre!
E de onde me provém que me venha visitar a
mãe do meu Senhor?
Pois, logo que me chegou aos ouvidos a voz da
tua saudação, a criança estremeceu de alegria
dentro de mim.
Bem-aventurada a que creu, porque serão
cumpridas as palavras que lhe foram ditas da
parte do Senhor (Lucas 1.42-45).

Em resposta, Maria cita umas das passagens mais


lindas da Bíblia – o Magnificat:

A minha alma engrandece ao Senhor,


e o meu espírito se alegrou em Deus, meu
Salvador,
porque contemplou na humildade da sua serva.
Pois, desde agora, todas as gerações me
considerarão bem-aventurada,
porque o Poderoso me fez grandes coisas.
Santo é o seu nome.
A sua misericórdia vai de geração em geração
sobre os que o temem... (Lucas 1.46-55).
Maria permaneceu cerca de três meses com
Isabel e voltou para casa (Lucas 1.56 – grifo
meu).

O Senhor cuidou de Maria. Creio que enquanto


Maria estava com Isabel, Deus mandou um anjo
dizer a José o que realmente estava acontecendo.

Mas José, seu esposo, sendo justo e não a


querendo infamar, resolveu deixá-la
secretamente.
Enquanto ponderava nestas coisas, eis que lhe
apareceu, em sonho, um anjo do Senhor,
dizendo:
José, filho de Davi, não temas receber Maria,
tua mulher, porque o que nela foi gerado é do
Espírito Santo.
Ela dará à luz um filho e lhe porás o nome de
Jesus, porque ele salvará o seu povo dos
pecados deles...
Despertado José do sono, fez como lhe
ordenara o anjo do Senhor e recebeu sua
mulher. (Mateus 1.19-24.)

José se casou com Maria. Depois que Jesus nasceu,


eles tiveram mais filhos. Hoje, Maria é reverenciada,
honrada e amada. É um exemplo para todos nós e
um incentivo para sempre obedecer a Deus, a
despeito do que possa nos acontecer.

O APÓSTOLO PAULO

Ora, quando cheguei a Trôade para pregar o


evangelho de Cristo, e uma porta se me abriu
no Senhor,
não tive, contudo, tranquilidade no meu
espírito, porque não encontrei o meu irmão
Tito; por isso, despedindo-me deles, parti para
a Macedônia (2 Coríntios 2.12,13 – grifo meu).

Paulo fez algo que nunca havia feito na vida, algo


que era o contrário de tudo que pregara. Em vez de
ministrar quando as portas lhe foram abertas, Paulo
foi embora. Sim, inquieto, ele partiu para a
Macedônia. O grande apóstolo estava abatido,
fragilizado e impotente, desfalecendo diante de uma
crise da mente, do corpo e do espírito. Por quê? O
próprio Paulo explica: “Não tive paz de espírito, pois
não encontrei o meu irmão Tito”. Paulo se
encontrava só, e precisava desesperadamente do
conforto de alguém.
Mas, quando chegou a Macedônia, só encontrou
mais tristeza:

Porque, chegando nós à Macedônia, nenhum


alívio tivemos; pelo contrário, em tudo fomos
atribulados: lutas por fora, temores por dentro
(2 Coríntios 7.5).

Paulo se viu numa “caverna”. Partira de Trôade em


busca de consolo e conforto, mas lá, porém, só
encontrou tribulação. Apenas as trevas, o silêncio e
os temores de uma escura e úmida “caverna”.
Paulo enfrentava o momento mais negro de seu
ministério, sofrendo um profundo esgotamento.
O Senhor, porém, não o deixou só. Providenciou-
lhe o que precisava:

Porém Deus, que conforta os abatidos, nos


consolou com a chegada de Tito (2 Coríntios
7.6).

Tito chega à Macedônia trazendo a Pulo um espírito


de renovação, e o coração de Paulo se elevou. Com
a comunhão entre os dois, a alegria fortaleceu o
corpo, a mente e o espírito de Paulo. Ele declarou:
“Continuo enfrentando problemas, mas o Senhor
me deu o que preciso para a batalha. Ele me
renovou através de Tito”.
Tito chegou à Macedônia com notícias
encorajadoras:

E não somente com a sua chegada, mas


também pelo conforto que recebeu de vós,
referindo-nos a vossa saudade, o vosso pranto,
o vosso zelo por mim, aumentando, assim, meu
regozijo (2 Coríntios 7.7).

Essa palavra de refrigério, trazida por um querido


irmão em Cristo, imediatamente levantou Paulo
daquela caverna de abatimento.
Querido leitor, quem sabe, como Paulo, você esteja
sendo pressionado além do normal – sendo testado
além do que é possível suportar. A sua força quase
acabou, e você está prestes a desistir, ou já se
refugiou numa “caverna” de dores, medos e
sofrimentos. Você não vê nenhuma saída. Quer
fugir, mas não há aonde ir. Então, você diz como
Paulo:
“Está acima da minha força!”
Mas, assim como consolou Paulo, o Senhor virá até
você, com amor e libertação. E, então, você também
dirá:

É ele que nos conforta em toda a nossa


tribulação, para podermos consolar os que
estiverem em qualquer angústia, com a
consolação com que nós mesmos somos
contemplados por Deus (2 Coríntios 1.4).

Do primeiro ao último momento da vida de Paulo, a


mão de Deus esteve presente, tirando-o de todas as
situações complicadas. Deus usou Paulo
poderosamente. O apóstolo, pelo poder do Espírito,
curou enfermos, expulsou demônios, plantou
igrejas, escreveu cartas orientando, disciplinando e
encorajando os cristãos.
Por causa de seu ministério, Paulo vivia em perigo –
ameaçado de morte, preso... O Senhor, porém,
nunca o abandonou:

Tu, porém, tens seguido, de perto, o meu


ensino, procedimento, propósito, fé,
longanimidade, amor, perseverança,
as minhas perseguições e os meus
sofrimentos...
que variadas perseguições tenho suportado! De
todas, entretanto, me livrou o Senhor (2
Timóteo 3.10,11).

Saindo para vencer


Porém o profeta Gade disse a Davi: Não fiques
neste lugar seguro; vai e entra na terra de
Judá. Então, Davi saiu e foi para o bosque de
Herete (1 Samuel 22.5).

Davi, então, sob a direção de Deus, sai daquela


caverna, levando consigo seu “exército”.
Aqueles homens, encorajados pela liderança de
Davi, voltam para sua família. Muitos achavam que
eles haviam morrido, e agora os recebem soldados,
homens valentes, firmes para as batalhas.
Ler a história de Davi – vendo como de um fugitivo
tornou-se o maior rei que Israel já teve, o homem
com quem o Senhor fez uma aliança prometendo-
lhe que de sua família viria o Messias – é um
exercício que só aumentará nossa fé e nos fará
desejosos de agir como o salmista – fazer das nossas
cavernas lugares de refúgio, de treinamento e de
recomeço.
Davi tornou-se um grande líder porque conhecia a
Deus pessoalmente. A Bíblia o chama de “homem
segundo o coração de Deus”.

Achei Davi, filho de Jessé, homem segundo o


meu coração, que fará toda a minha vontade.
Da descendência deste, conforme a promessa,
trouxe Deus a Israel o Salvador, que é Jesus
(Atos 13.22, 23).

Ele superou grandes obstáculos para tornar-se o


maior rei de Israel. Mais tarde fugiu do rancor e da
inimizade ciumenta de Saul. Mas retornou para
assumir o trono, escrever os salmos e tornar-se o
líder do culto de Israel a Deus.
Ele se tornou o mais ilustre dos reis de Israel,
descrito como o homem que seguia ao Senhor e era
segundo o coração de Deus. Nunca buscou glória
para si mesmo, honrou a Deus durante todos os dias
da sua vida.
Davi nunca foi esquecido por Israel. Davi se tornou
a expressão de Israel, e os profetas, muito tempo
após a sua morte, esperavam o Messias que nasceria
da linhagem de Davi. E quando Jesus veio, na
plenitude dos tempos, muitos o chamaram de filho
de Davi.
Ainda hoje o rei-pastor é respeitado em sua terra.
Hoje, a “estrela de Davi” tremula majestosamente
no cimo do “Hotel Rei Davi”, em Jerusalém.
Imagine só! Passados trinta séculos, o nome de Davi
ainda é reverenciado em todo o mundo.

Conclusão
Esperei confiantemente pelo SENHOR; ele se
inclinou para mim e me ouviu quando clamei
por socorro.
Tirou-me de um poço de perdição, de um
tremedal de lama; colocou-me os pés sobre uma
rocha e me firmou os passos.
E me pôs nos lábios um novo cântico, um hino
de louvor ao nosso Deus; muitos verão essas
coisas, temerão e confiarão no SENHOR (Salmos
40.1-3).

Quando penso em pessoas que, da noite para o dia,


se viram sem nada, abandonadas, rejeitadas, lembro-
me de minha mãe.
Minha mãe foi uma pessoa que enfrentou a
experiência de viver em uma caverna. Depois que o
meu pai nos abandonou por causa de uma mulher, a
história da vida da minha mãe mudou. De uma
pessoa que tinha fartura, vida boa, empregadas, uma
boa casa, viu-se abandonada com os filhos, e
passando dificuldades.
Minha mãe podia escolher o caminho a trilhar:
acabar com a própria vida, agredir a mulher que
acabou se envolvendo com meu pai, poderia se
tornar uma prostituta, dar os filhos para os outros,
levar-nos para um orfanato, para que fôssemos
adotados. Éramos 10 filhos; os mais novos era “uma
escadinha” – eu, com 6 anos; meu irmão, com 4, e
minha irmã, recém-nascida.
Mas minha mãe se recusou a se deixar vencer pela
“tempestade” que se abateu sobre ela. Sabia que
teria de enfrentar dificuldades terríveis, mas decidiu
lutar pelos filhos e manter-nos juntos. Ela pediu às
primas que a contratassem para lavar roupa na casa
delas. Minha mãe se humilhou. É como se eu saísse
do púlpito e fosse lavar o banheiro e cuidar dos
carros. As pessoas ficariam surpresas ao me verem
varrendo, cuidando do estacionamento, ou num
sinal de trânsito vendendo limão, ou como
engraxate. Minha mãe se sujeitou a isso. Eu, meu
irmão e minha irmã íamos com ela para a casa das
primas, mas não podíamos entrar na casa em que ela
estivesse trabalhando, por isso ficávamos na
varanda. As primas diziam:
“Tatá, você pode trazer os meninos, mas se eles
fizeram bagunça, você vai embora.”
Eu era o mais velho e tinha de tomar conta dos dois
menores. Não podíamos brincar. Minha mãe pegava
seu prato de comida e dividia conosco. Às vezes, ela
jogava uma banana para nós. Minha mãe se
sujeitava a isso porque, no final do dia, as primas lhe
davam toda a sobra de comida, que levávamos para
casa. Minha mãe chegava com toda aquela comida
gostosa, e comíamos até “virar o olho”.
Apesar de todo cansaço, sofrimentos, dificuldades,
minha mãe não se abateu nem deixou de nos dar
disciplina e atenção.
Ela ficou muitos anos na “caverna”, mas saiu de lá
fortalecida, honrada pelos filhos – uma verdadeira
vencedora.

Querido leitor, se você estiver numa caverna, siga o


exemplo de Davi. Não se desespere, não desista.
Além disso, temos a maravilhosa promessa daquele
que enfrentou “cavernas” e “desertos” por amor a
nós:

E eis que estou convosco todos os dias até à


consumação do século (Mateus 28.20).

Jesus enfrentou as mais terríveis tribulações, chegou


a ponto de verter lágrimas de sangue, tamanho o
sofrimento. Ainda hoje, ecoam as suas palavras de
agonia:

Chegando ao lugar escolhido, Jesus lhes disse:


Orai, para que não entreis em tentação.
Ele, por sua vez, se afastou, cerca de um tiro de
pedra, e, de joelhos, orava, dizendo: Pai, se
queres, passa de mim este cálice; contudo, não
se faça a minha vontade, e sim a tua.
Então, lhe apareceu um anjo do céu que o
confortava.
E, estando em agonia, orava mais
intensamente. E aconteceu que o seu suor se
tornou como gotas de sangue caindo sobre a
terra (Lucas 22.40-44).
Já na cruz, em terrível agonia e sofrimento, o Cristo
grita:

Eloí, Eloí, lamá sabactâni? Que quer dizer:


Deus meu, Deus meu, por que me
desamparaste? (Marcos 15.34).

Nosso Senhor foi perseguido, condenado


injustamente, crucificado e morto. Mas saiu
vitorioso, para nos dar a salvação e se tornar nosso
Senhor e Salvador, o Filho de Deus.

Tendo, pois, a Jesus, o Filho de Deus, como


grande sumo sacerdote que penetrou os céus,
conservemos firmes a nossa confissão.
Porque não temos sumo sacerdote que não
possa compadecer-se das nossas fraquezas;
antes, foi ele tentado em todas as coisas, à
nossa semelhança, mas sem pecado.
Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao
trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e
acharmos graça para socorro em ocasião
oportuna (Hebreus 4.14-16).

Oração
Senhor, Davi fugiu para uma caverna, se escondeu,
pois o inimigo dele era o mais poderoso da terra.
Mas Davi preferiu confiar em Deus, aguardou a
voz de Deus, e fez daquela caverna um lugar de
refúgio e recomeço.
Ó Pai, quero sair desta caverna em que me
encontro. Deus, eu entrego o meu passado, o meu
presente e o meu futuro nas tuas mãos. Que eu
possa agir como o salmista. Ajuda-me, pois sei que
tu nunca me abandonas.
Em nome de Jesus, meu Senhor e Salvador.
Amém.
Sobre o Autor
Há anos, o Pr. Jorge Linhares abençoa milhares de
pessoas com ministrações da Palavra de Deus nas
áreas de liderança, motivação e família, tendo
publicado mais de 200 obras.
Presidente do Conselho de Pastores do Estado de
Minas Gerais (CPEMG).
Bacharel em Teologia. Formado em História, pela
PUC Minas, Bacharel em Psicanálise e Pós-
Graduado em Gestão de Empresas.
Conferencista internacional, tendo ministrado na
Europa, EUA, África e toda América do Sul. Pastor
da Igreja Batista Getsêmani, em Belo Horizonte
(MG).

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