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I.

5- Teoremas Jocaxianos

João Carlos Holland de Barcellos

Teorema Jocaxiano da Primeira Causa (TJPC)


O Teorema Jocaxiano da Primeira Causa estabelece que:
A primeira causa de todos os eventos que aconteceram num sistema fechado (que não
sofre influência de eventos externos ao sistema) é o aleatório.
Prova:
Vamos utilizar o conceito de tempo no qual tempo é definido como uma relação entre
eventos. E um evento é uma mudança de estado do sistema. O tempo, portanto, não é
algo independente do que acontece. Se, por exemplo, nenhum evento acontece, isto é, o
estado do sistema fica inalterado, então o tempo também deixa de existir. Para haver
tempo é, portanto, necessário mudança. Se não há mudança, não há tempo.
Aleatório é a palavra que se utiliza para dizer que há imprevisibilidade ou que não há
causas. Existem dois tipos de aleatoriedade: a aleatoriedade objetiva e a aleatoriedade
subjetiva. A aleatoriedade subjetiva é aquela em que as causas do fenômeno existem,
mas não são conhecidas ou não podemos determiná-las. A aleatoriedade objetiva, que é
utilizada aqui neste texto, é a aleatoriedade em que o fenômeno ocorre sem causas reais,
as causas não existem.
O aleatório objetivo existe na natureza, em nosso universo, e, como exemplo de
fenômeno aleatório objetivo, nós podemos citar o momento do decaimento de um
elétron num átomo: o elétron pode cair de uma órbita mais energética para uma de
menor energia liberando um fóton. Tal fenômeno não é regulado por nenhuma lei física,
é considerado pela mecânica quântica como um fenômeno objetivamente aleatório. Não
há nada, nem nenhuma regra, que possa determinar quando o elétron irá decair de sua
órbita. Outro exemplo seria a criação e a destruição das partículas virtuais no vácuo.
Mas, para demonstrar o teorema, primeiramente, vamos provar que não existe tempo
infinito no passado, isto é, não podemos levar as causas dos eventos para o infinito
passado e assim dizer que sempre houve uma causa que precedeu um dado efeito. Para
isso, vamos utilizar o Teorema de Kalam [1].
O Teorema de Kalam estabelece que não existe um tempo infinito no passado. Isso
acontece porque, se, por absurdo, houvesse algum evento que tivesse ocorrido num
tempo infinito no passado, então nosso presente atual demoraria um tempo infinito para
chegar partindo-se daquele passado. Mas o que significa um tempo infinito para
ocorrer? Um tempo infinito para algo acontecer significa que nunca acontecerá. Assim,
eventos que ocorreram a um tempo infinito no passado implicariam que não poderíamos
ter o nosso presente, mas isso é absurdo pois o presente existe, já que estamos nele!
Então podemos concluir que não existiu nenhum acontecimento em um tempo infinito
no passado, e isso significa que podemos deduzir mais um corolário importante: o
tempo teve, necessariamente, de ter um início.
Como não existe um tempo infinito no passado, e o tempo teve que ter um início, segue
que o primeiro evento que ocorreu foi um evento sem uma causa anterior, isto é, um
evento aleatório. E o teorema está demonstrado.

Teorema Jocaxiano do Vazamento do Tempo (TJVT)


O Teorema Jocaxiano do vazamento do Tempo estabelece que:
Se dois sistemas não estão isolados entre si, e se num deles existe tempo, então no outro
também haverá tempo.
Prova:
O Tempo é o relacionamento entre eventos. Se em um dos sistemas ocorre o tempo e
eles não estão isolados entre si, então estes eventos podem ser correlacionados também
a partir do outro sistema. Portanto, o primeiro sistema, em que há tempo, pode servir de
marcador temporal para o segundo sistema. Portanto, no segundo sistema haverá tempo
também.
Podemos utilizar estes dois teoremas para argumentar contra a existência de Deus:
Deus não pode ser atemporal, pois violaria o teorema jocaxiano do vazamento do
tempo: Se em nosso universo ocorre o tempo, e como o nosso universo não está isolado
de Deus, segue que o tempo também ocorre pra Deus. Além disso, pelo TJPC não há
necessidade de Deus para gerar o primeiro fenômeno, e isto refuta o argumento de
Santo Tomás de Aquino segundo o qual o movimento exige um primeiro motor que
seria Deus. Além disso, refuta também a idéia de um Deus eternamente existente, pois
isso entraria em contradição com o corolário do início do tempo.
O Teorema da Existência

Vamos provar que existe uma realidade última, realidade esta que não depende de
nenhuma interpretação, de algum ser, para a sua existência.
Neste texto, definiremos realidade –existência real- por eventos e/ou fatos que não
dependam de uma interpretação (= pensamento, ou imaginação, ou sonho, ou
processamento) de algum ser para que existam.
Demonstração
Iniciaremos nossa prova com “algo1”, que pode ser qualquer objeto sendo observado,
como, por exemplo, uma maçã, ou até mesmo o próprio pensamento: a consciência.
Eu observo algo1.

Se este algo1 observado é a realidade, a prova termina.


Se Não:
Este algo1 é apenas uma interpretação (ou imaginação) de um ser1, e na verdade, não
teria existência na realidade. Mas esta interpretação *em si mesma* do algo1, feito pelo
suposto ser1, também é algo2.
Se este algo2 é realidade, então nossa prova termina.
Se Não:
Algo2 é apenas a interpretação, de um ser2, cuja interpretação, em si mesma, é algo3.
Se algo3 existe como realidade, a prova termina.
Se Não:
Este algo3 é apenas uma interpretação, de um ser3, que chamaremos de algo4.
Assim, de forma genérica, teremos:
Se algo(i) existe como realidade, a prova termina.
Se não:
Algo(i) é apenas uma interpretação, (ou "imaginação"), de um ser (i), cuja interpretação,
em si mesma, nós chamaremos de algo(i+1).
Se algo(i+1) existe na realidade a prova termina.
E assim sucessivamente, de modo que SE nunca a interpretação corresponder a uma
existência real, teremos uma recursão infinita, o que seria ilógico. Seria algo como um
sonho de um sonho de um sonho de um sonho... Infinitamente. Então, para que não
tenhamos este ciclo infinito, teremos que ter, em algum ponto, um fim nesta recursão.
Isto significa que algum dos “algo (i)” tenha uma existência real, isto é, não seja ele
próprio uma interpretação. E provamos nosso teorema: “Penso, logo, algo existe!”

Exemplos:
Por exemplo: eu vejo um corvo vermelho, o "corvo vermelho" pode ser real, se não for,
a minha "interpretação do corvo vermelho" pode ser real. Se não for assim, um ser pode
estar imaginando, (ou sonhando), que “eu” estou imaginando que vejo um "corvo
vermelho" etc..
Outro exemplo seria um universo virtual: Existem seres que não existem de forma real,
estão sendo simulados em um computador. Estes seres observam algo. O que observam
também não existe: é virtual. Os próprios seres e seus sonhos também não existem: são
virtuais. E assim, suas interpretações também não existiriam.
Mas o computador que os interpreta, neste exemplo, seria real, e a sua "imaginação" (=
seu processamento) seria real, pois é o que gera o universo virtual, os seres virtuais e
suas imaginações. Ou seja:
O que o ser virtual observa não é real, é uma simulação do computador.
O ser virtual também não é real, é simulado, depende do processamento do computador.

A interpretação do ser virtual, também não é real, pois depende do processamento do


computador.
A interpretação do computador (=seu processamento) que produz o ser virtual e o que
ele imagina, neste exemplo, seria real.
Refutando Descartes
Isto quer dizer que o "Penso, logo existo" (“Cogito, ergo sum”), de Descartes, pode não
ser verdadeiro, pois, o ser que pensa, como mostramos no exemplo acima, pode não ser
real. Mas, como já provamos, deve haver algum nível de interpretação na qual, no
mínimo, a própria interpretação é real.
Pela “navalha de ocam”, enquanto não houver evidências em contrário, deveremos ficar
com o menor nível interpretativo como sendo a realidade: Se eu observo algo1, este
algo1 deve existir.
Corolário: Existe um ser real.
Como corolário do teorema, podemos também afirmar que, se observo algo, deve existir
algum “ser” que tenha existência real, isto é, que ele próprio não seja uma interpretação.
Prova:
Como provamos que existe uma interpretação que é real, isto é, uma interpretação que
não depende da interpretação de outro ser para existir, então este ser que faz esta
interpretação deve existir também, pois, se este “ser” que faz a interpretação real, não
existisse, isto é, fosse ele mesmo a interpretação de outro ser, então sua interpretação
também não seria real, pois ela dependeria deste outro ser. Portanto, é necessária a
existência de um ser real para haver uma interpretação real.

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