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Um show da destruição
Personagens:
Jorge
(Garoto de Programa)
helena
(Garota de Programa)
Prólogo
Garota: Nós nascemos em um pais hipócrita, onde as mesmas pessoas que me
chamam de puta...
Garoto: e me chamam de viado ou prostituto...
Garota: vão até nós e nos pedem um programa. Um pais que ama a vida, mas que
permite que se mate em nome da bandidagem...
Garoto: bandido bom é bandido morto !
Garota: Um pais que odeia a corrupção, mas que ainda continua votando nos
ladroes. Onde se salvam muitos bancos, que destroem milhares de famílias. Um
pais que se diz laico mas que põem medalhas as virgens. Que tratam os que
migram como heróis e os emigrantes como lixo.
Garoto: Um pais onde os que se acham guardiões da moral, talvez sejam os mais
perigosos. Onde a prostituição ainda não é legalizada, mas a cada ano aumenta a
clientela. Um pais que se considera tolerante, mas onde um arbitro recebe ameaças
por ser gay. Sim, vivemos em um pais asquerosamente hipócrita.
Os Dois: Não nos renderemos.
Garota: Senhoras e senhores, não voltaremos atrás de nenhuma viagem dada, de
nenhuma siririca tocada, de nenhum fingimento de orgasmo, de nenhuma cama
quebrada, de nenhuma conversa falada, de nenhuma camisinha estourada, de
nenhum cigarro apagado, de nenhum dinheiro “ganhado”, de nenhum dinheiro
“gastado”.
Garoto: Senhoras e senhores, não voltaremos atrás de nenhuma viadagem feita, de
nenhuma bebida desfeita, de nenhuma canção cantada, de nenhuma punheta
tocada, de nenhuma navalha tirada, de nenhum olhar dado, de nenhum empurrão
levado, de nenhum beijo mal dado, de nenhuma foda bem fudida, de nenhum
Martini bebido.
Os Dois: Senhoras e senhores, não voltaremos atrás de nenhum sentimento
guardado. O que passou... passou.
1º Ato
Primeira Cena
(Dois bancos de madeira aos estremos do palco: nestes bancos o ator
e a atriz sentados. garrafas de cerveja espalhadas no espaço, dois
microfones para os atores e uma TV que nela estará passando um
vídeo pornô)
Garota: O coração nos leva à perdição. Cremos ser donos de nossa bondade: nós
somos escravos de uma serena languidez. Mas é ainda de outra coisa que se trata,
não de inteligência. Seria de crueldade !
Garoto: O que foi dito fora desde lugar, está dito. Quanto a sorte ? está lançada...
Crueldade ou não crueldade ?
Garota: E os dados foram lançados...
Garoto: A cada lance a crueldade aumenta, e aumenta mais.
Garota: Sem limites...
Garoto: A perversidade está na relação do dia a dia, e não só nos grandes massacres.
Garota: A crueldade é apenas um feto e a perversidade é também um feto.
Garoto Crueldade ? Uma doença que afeta a alma em sua realidade mais profunda,
e que infecta as manifestações. O veneno de um ser. Como um veneno de um
escorpião. Uma verdadeira paralisia. Uma doença que tira a fala, a memória,
desenraiza pensamentos.
Garota: O veneno de um escorpião pode ser extremamente agressivo... Ao ser
picado, a dor pode se estender até a raiz do membro atingido. É uma dor como uma
queimação, uma ferroada, que costuma progredir de intensidade no decorrer do tempo"
Garoto: O efeito é praticamente imediato...
Garota: a sensação percorre seu corpo.
Garoto: o corpo vai ficando quente e vermelho.
Garota: A raiva começa a adentrar seus pensamentos.
Garoto: as mãos começam a tremer, e a única coisa que você pensa é em se
acalmar pois se não você acaba matando um.
Garota: Me segura pois eu vou matar um...
Garoto: E se ninguém te segurar ? você mataria mesmo? partiria pra cima e jogaria
tudo que esta sentindo pra fora até não sobrar mais nada ?
Garota: A sensação é de peso.
Garoto: Toneladas
Garota: podemos pensar que o peso é uma completa de uma desordem de
pensamentos esmagados por uma massa desumana... que é lançada.
Garoto: Lançada para fora, para algum outro ser que pega esse peso. E assim volta
esse siclo de peso.
Garota: Ciclo da raiva.
Os dois: O ciclo da perversa crueldade.
Garota: Mas essa crueldade não é só lançada com punhos
Garoto: Mas é lançada como uma faca de palavras
Garota: Essa faca pode ferir, principalmente...
Garoto: o mundo não é pacífico, no Jardim da infância já não era fácil, só que ali a
faca que cortava era a língua.
(pausa)
Garoto: Mas não estamos aqui pra falarmos disso, não é mesmo ? Boa noite, eu me
chamo Jorge, tenho 23 anos e sou um garoto de programa... não que vocês
precisem saber disso, mas é sempre bom você falar de primeira
( garota ri )
Jorge: Porque você esta rindo ?
Garota: por nada...
Jorge:Mas é verdade, um exemplo: seria a mesma coisa se eu tivesse um irmão
gêmeo... Eu iria me apresentar dessa forma, “ Boa noite, me chamo Jorge tenho 23
anos e tenho um irmão gêmeo...
Garota: Mas você tem um irmão gêmeo ?
Jorge: Não, é só um exemplo. Estas coisas tem de ser ditas de começo sabe? Pra
não nos pegar de surpresa lá na frente...
Garota: Muito prazer, sou helena, tenho 25 anos e sou uma garota de programa
também... dessas vocês não precisariam saber, mas a qualquer momento vocês
poderiam sair e me ver trabalhando... não que eu ligaria que vocês me vissem, mas
é meio sem graça você ver alguém conhecido no espaço de trabalho...
Jorge: Eu não acho...
Helena: Pois eu acho. Já aconteceu de eu encontrar uma pessoa conhecida e
acabar conversando com ela, papo vai, papo vem, e acabou que eu tive que
dispensar meu amigo porque apareceu um trabalho pra mim.
Jorge: Mais ai, o seu amigo é que tinha que ter um pouco de noção, e se despedir
mais cedo. Será que ele não viu que estava atrapalhando ?
Helena: O fato é, eu nunca contei para esse meu amigo que eu tinha esse certo tipo
de trabalho...
Jorge: Você nunca contou que era garota de programa ? mas ele também nunca
desconfiou ?
Helena: Nunca....
Jorge: Ele é sonso...
Helena: Ele não é sonso...
Jorge: Então é idiota...
Helena: Ele também não é idiota...
Jorge: Como que um amigo seu não vai descobrir que você é garota de programa ?
Helena: Eu não sei... talvez ele não cuide da vida dos outros.
Jorge: há... Bom... sei lá, pelo menos a sua família deve saber...
Helena: Também não sabem...
Jorge: Como assim ?
Helena: Eu não consigo contar... É difícil sabe...
Jorge: Mas faz um bom tempo que você trabalha com isso...
Helena: Nem faz tanto tempo assim.
Jorge: Há não? E quanto tempo faz então bebê ?
Helena: (balbucia uma fala que não é compreensível)
Jorge: Como ?
Helena: (novamente uma frase não compreensível)
Jorge: Que ?
Helena: (Novamente)
Jorge: Fala direito porra !
Helena: faz 10 anos !
Jorge: To falando, é muito tempo já. Como ninguém descobriu isso ainda ?
Helena: Eu escondo as coisas muito bem...
Jorge: É... Mas uma hora ou outra alguém vai descobrir.
Helena: É, eu sei.
Jorge: Como e porque voce não conseguiu contar isso pra sua família ?
Helena: E voce acha que eles vão aceitar de boa ? voce tem a plena certeza de que
eles vão olhar no fundo dos meus olhos e vão falar “filha, independente de qualquer
coisa nós amamos voce, e queremos o seu bem ?
Jorge: Sim...
Helena: Não... eles vão me xingar, vão começar a chorar e é bem capaz da minha
mãe ter um ataque cardíaco e meu pai me expulsar de casa. É esse o meu medo,
de falar com o que eu trabalho, e acabar sem família ou algo pior...
Jorge: Nossa...
Helena: Voce sabe o preconceito que existe ai fora. A marginalização...
Jorge: Sim, eu sei. Isso é praticamente um dos submundos
(Pausa, toca uma campainha para avisar os dois de que eles precisam se arrumar
para a apresentação dos três shows da noite.)
Helena: então vamos nos arrumar para esse primeiro show, porque pelos os meus
cálculos já estamos 30 min atrasados
(Tempo. Começam a se arrumar no palco.)
Jorge: Hello casa, sejam bem-vindos a boate Escorpião; a onde seu veneno da o
tesão. A casa mundial da ação. Eu sou Mstr jói, e hoje teremos 3 shows
maravilhosos, a meia noite, a uma e as duas da manha estrelados por mim e pela
maravilhosa empata foda, o Proximo show começa daqui a 20 minutinhos, deleitem-
se com as nossas bebidas e se divirtam essa noite. Ali esta ela, prontíssima pro
show (a parte) meia hora atrasados.(voltando) agora fiquem com o show dela,
empata foda.
Segunda Cena
A mulher
(Esta cena começa com o show da atriz que interpreta Helena, este show pode ser
feito como a atriz o criar.)
Helena: Passa a fumar dois maços de cigarro por dia. 3,6% a mais
do que fumava anteriormente.
(pausa)
(pausa)
Helena: O que é ?
(pausa)
Jorge: ela não esta sozinha, só esta com frio, não tem ninguém
aqui, ela só queria ser respeitada, ela só queria um pouco de amor.
Queria alguém do meu lado, para que pudesse chorar nas horas
que precisasse. Ela tem alguém, não esta sozinha, sendo levada
pela mais forte das correntezas... ela não aguenta mais essas
palavras. Nojentas, palavras nojentas. Ela diz “Não me da gosto de
se arrumar... se arrumar pra que, pra ser um objeto ?” Ela só quer
paz. Ela quer amor. Ela quer estar viva... viva... viva., de espirito e
alma.
Um dia descobrimos que beijar uma pessoa para esquecer outra, é bobagem.
Você não só não esquece a outra pessoa como pensa muito mais nela...
Um dia nós percebemos que as mulheres têm instinto "caçador" e fazem qualquer homem
sofrer ...
Um dia descobrimos que se apaixonar é inevitável...
Um dia percebemos que as melhores provas de amor são as mais simples...
Um dia percebemos que o comum não nos atrai...
Um dia saberemos que ser classificado como "bonzinho" não é bom...
Um dia perceberemos que a pessoa que nunca te liga é a que mais pensa em você...
Um dia percebemos que somos muito importante para alguém, mas não damos valor a isso...
Um dia percebemos como aquele amigo faz falta, mas ai já é tarde demais...
Enfim...
Um dia descobrimos que apesar de viver quase um século esse tempo todo não é suficiente para
realizarmos todos os nossos sonhos, para beijarmos todas as bocas que nos atraem, para dizer o
que tem de ser dito...
O jeito é: ou nos conformamos com a falta de algumas coisas na nossa vida ou lutamos para
realizar todas as nossas loucuras...
precisamos nos armar, o mundo não é pacífico, no Jardim da infância já não era
fácil, só que ali a faca que cortava era a língua.
Garoto
Amem
2DE1
Eu não sei se é coisa minha
Mas o mundo anda febril
Muita gente nas calçadas à temer o que há de vil
Vilania, intolerância
Bolso-merdas por aí
E a gente nas calçadas à temer o que há de vil
Inclusive eu convivi
Quando eu vim pra essa cidade, e os puteiros conheci
Pois é fato a identidade
Via não pode sair
Pra bicha não há cidade
Só parede à coagir