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Directora:

Setembro/Outubro 2021
ISSN: 1645-443X - Depósito Legal: 86929/95 Ano LI- nº 409
Praça D. Afonso V, nº 86, 4150-024 Porto - PORTUGAL
LAICADO DOMINICANO

EDITORIAL bebida, prolongando a experiência de se escuta-


rem uns aos outros». À mesa no sínodo pare-
UM SÍNODO DA IGREJA ce um bom lema.
Gabriel Silva, op
«A Igreja de Deus é convocada em Síno- . ________________________________
do». Para uma Igreja sinodal:
Comunhão, Participação e Missão
Com estas palavras se inicia o documento
preparatório do Sínodo que a Igreja inici- Do documento preparatório
ou por estes dias.
Este Sínodo coloca-nos a seguinte pergun- «O caminho da sinodalidade é precisa-
ta: Uma Igreja sinodal, ao anunciar o Evange- mente o caminho que Deus espera da
lho, “caminha em conjunto”. Como é que este Igreja do terceiro milénio». Este itinerá-
“caminho em conjunto” está a acontecer hoje rio, que se insere no sulco da “atualização”
na vossa Igreja local? Que passos é que o Espí- da Igreja, proposta pelo Concílio Vaticano
rito nos convida a dar para crescermos no nosso II, constitui um dom e uma tarefa: cami-
“caminhar juntos”? nhando lado a lado e refletindo em con-
Para que o Espirito Santo se possa mani- junto sobre o caminho percorrido, com o
festar é necessário que exista oportunida- que for experimentando, a Igreja poderá
de de cada um se expressar e escutar. E aprender quais são os processos que a po-
que o Espirito ilumine a nossa resposta. dem ajudar a viver a comunhão, a realizar
Algumas dioceses já têm apresentado guias a participação e a abrir-se à missão. Com
e material de apoio ao processo de escuta efeito, o nosso “caminhar juntos” é o que
que está disponível no site do sínodo em mais implementa e manifesta a natureza
synod.va. De entre as sugestões realço uma da Igreja como Povo de Deus peregrino e
que coincide com o tema do Jubileu domi- missionário.
nicano: que se «encontre um espaço adequa- (continua na pag.2)
do para os participantes partilharem comida e
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SÍNODO DA IGREJA
(continuação da página anterior) geridos, destacando e procurando converter precon-
2. Uma interrogação fundamental impele-nos e ori- ceitos e práticas distorcidas que não estão enraizadas
enta-nos: como se realiza hoje, a diferentes níveis no Evangelho;
(do local ao universal) aquele “caminhar juntos”
que permite à Igreja anunciar o Evangelho, em con- · credenciar a comunidade cristã como sujeito credí-
formidade com a missão que lhe foi confiada; e que vel e parceiro fiável em percursos de diálogo social,
passos o Espírito nos convida a dar para crescer co- cura, reconciliação, inclusão e participação, recons-
mo Igreja sinodal? trução da democracia, promoção da fraternidade e
da amizade social;
Enfrentar juntos esta interrogação exige que nos
coloquemos à escuta do Espírito Santo que, como o · regenerar as relações entre os membros das comuni-
vento, «sopra onde quer; ouves o seu ruído, mas não sabes dades cristãs, assim como entre as comunidades e os
de onde vem, nem para onde vai» (Jo 3, 8), permanecen- demais grupos sociais, por exemplo, comunidades de
do abertos às surpresas para as quais certamente nos crentes de outras confissões e religiões, organizações
predisporá ao longo do caminho. da sociedade civil, movimentos populares, etc;

Ativa-se deste modo um dinamismo que permite co- · favorecer a valorização e a apropriação dos frutos
meçar a colher alguns frutos de uma conversão sino- das recentes experiências sinodais nos planos univer-
dal, que amadurecerão progressivamente. Trata-se de sal, regional, nacional e local.
objetivos de grande relevância para a qualidade da (…)
vida eclesial e para o cumprimento da missão de A interrogação fundamental que orienta esta con-
evangelização, na qual todos nós participamos em sulta do Povo de Deus, é a seguinte:
virtude do Batismo e da Confirmação. Indicamos
aqui os principais, que enunciam a sinodalidade Anunciando o Evangelho, uma Igreja sinodal “caminha
como forma, como estilo e como estrutura da Igre- em conjunto”: como é que este “caminhar juntos” se realiza
ja: hoje na vossa Igreja particular? Que passos o Espírito nos
convida a dar para crescermos no nosso “caminhar juntos”?
· fazer memória do modo como o Espírito orientou o Para dar uma resposta, sois convidados a:
caminho da Igreja ao longo da história e como hoje
nos chama a ser, juntos, testemunhas do amor de 1. perguntar-vos que experiências da vossa Igreja
Deus; particular a interrogação fundamental vos traz à
mente?
· viver um processo eclesial participativo e inclusivo,
que ofereça a cada um – de maneira particular àque- 2. reler estas experiências mais profundamente:
les que, por vários motivos, se encontram à margem que alegrias proporcionaram? Que dificuldades e
– a oportunidade de se expressar e de ser ouvido, a obstáculos encontraram? Que feridas fizeram emer-
fim de contribuir para a construção do Povo de gir? Que intuições suscitaram?
Deus; 3. colher os frutos para compartilhar: onde, nestas
experiências, ressoa a voz do Espírito? O que ela
· reconhecer e apreciar a riqueza e a variedade dos nos pede? Quais são os pontos a confirmar, as pers-
dons e dos carismas que o Espírito concede em liber- petivas de mudança, os passos a dar? Onde alcança-
dade, para o bem da comunidade e em benefício de mos um consenso? Que caminhos se abrem para a
toda a família humana; nossa Igreja particular?

· experimentar formas participativas de exercer a res-


ponsabilidade no anúncio do Evangelho e no com-
promisso para construir um mundo mais belo e mais
habitável;

· examinar como são vividos na Igreja a responsabili-


dade e o poder, e as estruturas mediante as quais são
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NOTÍCIAS
ESTREMOZ /ELVAS do isto, agradeço a Deus e à sua Santa Mãe (Cecília).
“Um encontro com Deus e com os irmãos. Um momento de
Fraternidade de Estremoz partilha fraterna” (Ana).
visita Fraternidade de Elvas Que a celebração do Ano Jubilar possa derramar
abundantes graças sobre a Ordem dos pregadores e
toda a família dominicana. O Papa Francisco, na carta
de felicitações de bênção apostólica endereçada ao
Mestre Geral, convida a Família Dominicana a abra-
çar uma nova primavera do Evangelho e conta com os
dominicanos para se inserirem no desafio que a
«inalienável dignidade humana de filhos de Deus»
afirmada no Evangelho coloca à Igreja: «Fortalecer os
laços de amizade social, superar as estruturas económicas e
políticas injustas, e trabalhar pelo desenvolvimento integral»
de cada pessoa. Na nossa pequenez e fragilidade quere-
mos como fraternidade leiga dominicana na Cidade
de Estremoz acolher e viver estes apelos.

Neste ano Jubilar da comemoração dos 800 anos Cremilde Rodrigues, op.
(presidente da fraternidade)
da morte de São Domingos a Fraternidade de Estre-
moz decidiu terminar o ano de atividade 2020/2021
indo ao encontro dos irmãos e irmãs da Fraternidade
PORTO
de Elvas, no dia 7 de agosto, para juntas celebrarem a
Fraternidade de São Domingos no Porto
festa de São Domingos.
(Nª Srª do Rosário e Cristo-Rei)
Ao chegar à Igreja de São Domingos em Elvas, o
presidente da Fraternidade Tó Zé fez o acolhimento à
À mesa com frei João
Fraternidade de Estremoz, com carinho, simplicidade
e alegria e numa visita por ele conduzida foi fazendo
uma explicação da riqueza estética, religiosa e domini-
cana existente na Igreja do nosso Pai São Domingos e
da sua história. Seguidamente, deu-se início a um
tempo de oração, reflexão, evocação da santidade de
Domingos, preces e oração do Jubileu.
A celebração eucaristia da solenidade de São Do-
mingos foi muito sentida e participada por todos os
presentes. Enquanto presidente da fraternidade de
Estremoz, tenho muita alegria em partilhar testemu-
nhos de alguns dos membros que estiveram presentes:
“A certeza de que o Divino e o Humano se interligaram e
estiveram presentes naquela tarde” (Carla). “A peregrina-
ção à Igreja de São Domingos de Elvas foi para mim um Na sua reunião de Outubro, esta Fraternidade es-
momento de enriquecimento espiritual. Todo o clima envol- tudou parte do texto da conferência de Março deste
vente me ajudou a saborear e a viver a Palavra. Pude des- ano do Fr. Rui Carlos Lopes OP sobre o tema jubilar:
frutar da alegria, do acolhimento, da simplicidade que os »À mesa com Domingos». E vivendo essa mesma experi-
nossos irmãos de Elvas nos proporcionaram, o que me levou ência de estar à mesa em fraternidade, viveu igual-
a sentir como é bom viver em fraternidade. (Antónia). “É mente a celebração dos 90 anos de vida do seu assis-
difícil explicar a alegria interior que senti, o estado de Espí- tente religioso Fr. João Leite OP. GS
rito tão leve e tão lá em cima, distante das coisas terrenas
que me parecia estar de mão dada com São Domingos. Tu-
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NOTÍCIAS

MACEDO DE CAVALEIROS

8 de Agosto de 2021 data do Jubileu dos 800 anos


do falecimento de São Domingos de Gusmão. Esta
Fraternidade sempre mandou celebrar, nesta data,
missa em Honra e Louvor de São Domingos.
Este ano a exemplo do ano anterior, foi celebrado
o Tríduo.
Assim no dia 5 pelas 18h00, na Igreja de Santa
Maria Mãe da Igreja, deu-se início com a reza do terço
pelos Irmãos Leigos da Fraternidade. Terminada a
meditação do terço foram distribuídas, pela popula-
ção presente uma pagela, com a Imagem de São Do-
mingos e no verso a Oração, para assim poderem
acompanhar o Senhor Padre na meditação da mesma ASSEMBLEIA ELECTIVA
que antes da Bênção final ia ler em voz alta. Às
18h30, celebração da Eucaristia, as leituras foram a A Presidente Provincial Cristina Busto convocou a
cargo dos Irmãos Leigos. Em todas as Eucaristias os Assembleia Provincial Electiva, das Fraternidades Lei-
Sacerdotes fizeram referências elogiosas a São Domin- gas de São Domingos da Província de Portugal da Or-
gos de Gusmão, pelo Seu empenho em defesa do dem dos Pregadores, para os dias; 06 e 07 de Novem-
Cristianismo, como enfrentou os Albigenses, a humil- bro 2021, na Casa de Nossa Senhora do Carmo, em
dade e pobreza extrema que sempre usou ao longo da Fátima.
vida, empenho na propagação do Rosário etc. fizeram
referência á promessa do Cardeal Dom José Tolenti- Cada Fraternidade, deverá participar com dois re-
no de Mendonça, que passou a ser Membro da Or- presentantes sendo um a/o Presidente da Fraternida-
dem Dominicana. A seguir á homilia de cada eucaris- de e um Delegado/a eleito/a em Assembleia da Fra-
tia com o sacerdote ainda junto ao Ambão, o Presi- ternidade (Directório, Artº92)
dente da Fraternidade rezou a Ladainha de São Do-
mingos e no final antes da Bênção o Sacerdote rezou A Assembleia Provincial Electiva tem, de acordo
a Oração a São Domingos que o povo acompanhou. com o nosso Directório (Artº93) as seguintes compe-
Dias seis e sete repetiram-se as mesmas cerimónias. tências:
Dia oito as 11,h30 a Eucaristia em Honra de São Do-
mingos de Gusmão. A Igreja estava cheia. No final 1. Determinar o número de elementos do Conselho
junto da Imagem de São Domingos os Leigos presen- Provincial a eleger (entre 5 a 8).
tes cantaram o Hino de São Domingos muito aplau- 2. Eleger, por voto secreto o Presidente Provincial
didos pelo público. Esta Fraternidade está a progra- 3. Eleger, por voto secreto, os Conselheiros Provinci-
mar o início das reuniões mensais para o dia 19-09- ais, para um mandato de três anos.
2021, 3º domingo do mês, tendo em atenção as nor- 4. Fazer a apreciação da vida das Fraternidades.
mas de segurança da D.G.S. mantendo as distâncias e 5. Apresentar proposta para a melhoria da vida das
uso de máscaras. Fraternidades.
O Presidente da Fraternidade 6. Enviar proposta ao Capítulo Geral da Ordem e
Armindo Augusto Geraldes também ao Capítulo Provincial (dos frades).

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CARTA ENCÍCLICA FRATELLI TUTTI ”, PAPA FRANCISCO, 2020


Por Frei Gonçalo P. Diniz, op Na óptica do Papa Francisco, na raiz da má políti-
ca e dos problemas sociais consequentes está a fragili-
CAPÍTULO V – A POLÍTICA dade humana, e desde logo o egoísmo inato à nature-
MELHOR za humana, tendência que só pode combatida eficaz-
No nosso país, infelizmente, devi- mente através da graça de Deus. Mas a graça de Deus
do a uma crescente separação, nas só se alcança através dum coração humilhado e con-
últimas décadas, entre a população trito, como já cantava o salmista (Salmos 50 e 129), e
em geral e as instituições democrá- isso é trabalho de toda uma vida, na vigilância e na
ticas estabelecidas, onde se inclu- oração constantes, sem desfalecer.
em, à cabeça, os partidos políticos, e também à per- Outra bandeira do Papa Francisco, neste contex-
cepção de que os interesses da elite política estão
muitas vezes afastados dos interesses, preocupações e
expectativas do cidadão comum, a palavra "política"
invoca, não raro, um sentimento de desencanto e de
cinismo, senão mesmo de aberta hostilidade por par-
te de muitos dos nossos concidadãos.
Contudo, a actividade política é absolutamente
essencial e incontornável em qualquer comunidade
humana, além de transversal a todos os tempos. Efec-
tivamente, os assuntos da pólis (‘cidade’), origem da
to, é o de que a política não se deve submeter à eco-
palavra “política”, dizem respeito a todos. Boas deci-
nomia, sem prejuízo da natural importância desta
sões e boas práticas públicas, mas também más deci-
última. Só a política permite pensar com horizontes
sões e más práticas públicas, afectam toda a comuni-
alargados - que não se cingem ao lucro imediato e ao
dade e distinguem, em última análise, uma sociedade
paradigma moderno eficientista da tecnocracia -, tra-
harmoniosa e funcional, ordenada em função do
balhando com base em grandes princípios e valores,
bem comum, duma sociedade caótica ou fundada em
e pensando no bem comum a longo prazo.
sistemas opressivos e privilégios injustificados de
A caridade cristã, por sua vez, no seu sentido mais
poucos sobre muitos.
pleno e radical, deverá permear instituições, o direi-
Por isso, na sua concepção original - que nos che-
to, a técnica, as relações laborais, a ciência, a burocra-
gou a partir da filosofia grega -, a política, inspirada
cia do Estado, com todos os seus procedimentos ad-
no sentido de serviço público, era encarada como a
ministrativos, entre outros elementos estruturantes
mais nobre e virtuosa das actividades humanas. Há
de qualquer sociedade moderna (ver nº164ss F.T.).
que recuperá-la.
Esta é, inequivocamente, a chave para uma “política
O Papa Francisco está bem ciente da importância
melhor”, a nível nacional e internacional.
da qualidade da vida política para uma convivência
Efectivamente, todos os compromissos decorren-
humana mais justa e fraterna a nível internacional, e,
tes da doutrina social da Igreja derivam da virtude da
concretamente, do desígnio de uma vida política ins-
caridade, que é, conforme ensinou Jesus, a síntese de
pirada nos valores evangélicos de sempre. Não por
toda a Lei (ver Mt 22, 36-40). E a caridade, ou o
acaso, este capítulo, na edição que seguimos (Paulus,
amor, já se vê, não se esgota nas relações pessoais
Out. 2020), ocupa nada menos que 29 páginas.
imediatas e íntimas, mas expressa-se igualmente nas
Na sua exposição, o Santo Padre começa por des-
relações sociais, económicas e políticas
montar os ‘cantos de sereia’ do populismo e do libe-
(macrorrelações). A partir do amor social será possí-
ralismo, o primeiro pela manipulação demagógica
vel avançar para uma civilização do amor.
que faz do povo em função de problemas imediatos
Essa atitude de fundo, com vista a contrariar o
que surgem e as suas propostas simplistas para os
espírito egoísta prevalecente, poderia e deveria estar,
enfrentar; o segundo, pelo individualismo em que se
conforme proposta do Santo Padre, na origem de
consubstancia e a sua confiança cega nas leis do mer-
organizações mundiais mais eficazes, dotadas de
cado, levando ao abandono e “descarte” das franjas
mais frágeis da sociedade.
(Continua na pág.seguinte)

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Laicado Dominicano Setembro/Outubro 2021

(continuação da página anterior) lenes em 2018 no Convento de São Tomás de Aqui-


autoridade para assegurar o bem comum mundial, no, em Luanda, Angola. Posteriormente estudou teo-
a erradicação da fome e da miséria, assim como a de- logia no Grande Seminário da Diocese de Luanda e
fesa dos direitos humanos fundamentais. Sem embar- foi ordenado diácono em 2019. A 17 de Julho de
go, como reconhece, com regozijo, muitos grupos e 2020 Fr. Pedro Ouana foi ordenado presbítero em
organizações da sociedade civil ajudam a compensar celebração que teve lugar na Paróquia de Nossa se-
as debilidades da chamada Comunidade Internacio- nhora do Carmo em Luanda. Actualmente vive na
nal (ver nº172 e 175 F.T.). Comunidade de São Alberto Magno em Viana, Luan-
Para o Papa Francisco, da e é o síndico da comunidade e administrador fi-
ainda há muito por fazer nanceiro do Mosaiko.
para assegurar uma glo-
balização dos direitos FÁTIMA
humanos mais essenciais Duas casas que fazem falta
(como admitir, em pleno
século XXI, com os re-
cursos tecnológicos e
financeiros disponíveis,
o flagelo da fome?), mas
o caminho começa com
cada um de nós e todos
nós temos vida política,
por isso ninguém se po-
de colocar à margem. Há
que arregaçar as mangas
e inverter o statu quo. A Livraria Verdade e Vida, fundada e dirigida pe-
Quando cada um reflectir sobre o seu próprio passado los frades dominicanos, que foi durante muito tempo
neste mundo, deverá perguntar-se: “Quanto amor co- um «templo» do saber e do conhecimento e como lu-
loquei no meu trabalho? Em que fiz progredir o povo? gar de difusão teológica e espiritual, pioneiro no país,
Que marcas deixei na vida da sociedade? Que laços encerrou as suas portas definitivamente. As condições
reis construí? Que forças políticas desencadeei? Quan- do mercado livreiro e as novas formas de difusão im-
ta paz social semeei? Que produzi no lugar que me foi puseram dificuldades financeiras que levaram ao seu
confiado?” (cf. nº197 F.T.) encerramento.

( continua na próxima edição)

FAMÍLIA DOMINICANA

ÁFRICA
Primeiro frade moçambicano
Fr. Pedro Manuel Ouana OP é o primeiro frade
moçambicano da Ordem dos Pregadores. Assim nos Devido ás dificuldades financeiras provocadas pela
relata o Boletim Inter-Africano-OP crise pandémica do Covid 19, a Casa das Irmãs Domi-
de Agosto deste ano. nicanas encerrou as suas portas definitivamente.
Nascido em 1983 em Maputo, Mo- São inúmeros os eventos que tiveram lugar nesta
çambique, licenciou-se em filosofia casa ao longo das últimas décadas: assembleias do Lai-
na Universidade São Tomás de cado, jornadas da Família dominicana, dias de forma-
Aquino de Maputo na área dos ção, etc.
recursos humanos e ética. Foi ad- Ali a Família Dominicana estava em casa. Que fal-
mitido na Ordem dos Pregadores ta nos vai fazer!
em 2012 e realizou o noviciado no Cristina Busto,o.p.
Quénia. Proferiu os seus votos so-
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Laicado Dominicano Setembro/Outubro 2021

PAPA FRANCISCO
«E a todos quero pedir em nome de Deus….»
A 18 de Outubro, o Papa Francisco enviou uma ví- traficantes de armas que cessem totalmente as suas
deo-mensagem aos líderes dos Movimentos Popula- atividades, que fomentam a violência e a guerra, mui-
res e na qual, sob a forma de vários pedidos «em nome tas vezes como parte de jogos geopolíticos cujo custo
de Deus» segundo uma métrica poética muito bela, são milhões de vidas e deslocações.
resume, ou melhor, indica os principais pontos da
doutrina social da Igreja para os dias de hoje. Quero pedir, em nome de Deus, aos gigantes da tec-
nologia que deixem de explorar a fragilidade huma-
Selecionamos, para o espaço disponível, o que nos na, as vulnerabilidades das pessoas, para obterem
pareceu mais relevante. GS lucro, independentemente de como aumentam os
discursos de ódio, o grooming [aliciamento de meno-
——————————————————————————————————— res na internet], as fake news [notícias falsas], as teori-
as da conspiração, a manipulação política.
«Bem-aventurados os pacificadores, por-
que serão chamados filhos de Quero pedir, em nome de Deus, aos gigantes das
Deus» (Mt 5, 9). telecomunicações que liberalizem o acesso aos conte-
údos educativos e o intercâmbio com os professores
Queremos que esta bem-aventurança se estenda, pe- através da internet, para que as crianças pobres pos-
netre e unja cada canto e cada espaço onde a vida sam receber uma educação em contextos de quaren-
está ameaçada. (:::) E começo a pedir. A pedir a to- tena.
dos. E a todos quero pedir em nome de Deus.
Quero pedir, em nome de Deus, aos meios de comu-
Aos grandes laboratórios, que liberalizem as paten- nicação social que ponham fim à lógica da pós-
tes. Que realizem um gesto de humanidade e permi- verdade, da desinformação, da difamação, da calúnia
tam que cada país, cada povo, cada ser humano, te- e daquela atração doentia pelo escândalo e pelo duvi-
nha acesso à vacina. Há países onde apenas três, qua- doso; que procurem contribuir para a fraternidade
tro por cento dos habitantes foram vacinados. humana e a empatia com as pessoas mais feridas.

Quero pedir, em nome de Deus, aos grupos financei- Quero pedir, em nome de Deus, aos países podero-
ros e organismos internacionais de crédito que per- sos que cessem as agressões, bloqueios e sanções uni-
mitam que os países pobres garantam as necessidades laterais contra qualquer país em todas as partes do
básicas ao seu povo e perdoar as dívidas tão frequen- mundo. Não ao neocolonialismo. Os conflitos de-
temente contraídas contra os interesses desses mes- vem ser resolvidos em organismos multilaterais, tais
mos povos. como as Nações Unidas. Já vimos como acabam as
intervenções, invasões e ocupações unilaterais, mes-
Quero pedir, em nome de Deus, às grandes empresas mo que se realizem sob os mais nobres motivos ou
mineiras, petrolíferas, florestais, imobiliárias e agro- coberturas.
alimentares que deixem de destruir florestas, zonas Este sistema, com a sua lógica implacável de lucro,
húmidas e montanhas, que deixem de poluir rios e está a fugir de qualquer controlo humano. É tempo
mares, que deixem de intoxicar as pessoas e os ali- de pôr travões à locomotiva, uma locomotiva fora de
mentos. controlo que nos está a conduzir rumo ao abismo.
Ainda há tempo.
Quero pedir, em nome de Deus, às grandes empresas
alimentares que deixem de impor estruturas mono- Aos governos em geral, aos políticos de todos os par-
polistas de produção e distribuição que inflacionam tidos, quero pedir, juntamente com os pobres da ter-
os preços e acabam por ficar com o pão dos famin- ra, que representem os seus povos e que trabalhem
tos. para o bem comum. Quero pedir-lhes a coragem de
olhar para os próprios povos, de fitar as pessoas nos
Quero pedir, em nome de Deus, aos fabricantes e (continua na página seguinte)
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Laicado Dominicano Setembro/Outubro 2021

(Continuação da página anterior) Recordando o caminho de Jesus para Jerusalém, o


olhos, e a coragem de saber que o bem de um povo é autor convida-nos a refazê-lo no nosso quotidiano e a
muito mais do que um consenso entre as partes (cf. descobrir como essa «imaginação» age: pelo olhar dos
Exort. ap. Evangelii gaudium , 218). Que evitem ouvir discípulos, vemos primeiro como Jesus cura, oferecen-
apenas as elites económicas, tão frequentemente os do um perdão sem medida; como, diante da morte,
porta-vozes de ideologias superficiais que se esquivam ensina o que significa viver em Deus e, por fim, como
das verdadeiras questões da humanidade. Que estejam num sepulcro vazio nos deixou essa «vida em abundân-
ao serviço dos povos que pedem terra, habitação, tra- cia».
balho e uma vida boa. Aquele “bom viver” aborígene Radcliffe tanto convoca experiências pessoais como
que não é a “dolce vita” nem o “dolce far niente”, não. testemunhos de todos (crentes e não crentes) os que
Aquele bom viver humano que nos coloca em harmo- vislumbraram a beleza do apelo a essa plenitude – poe-
nia com toda a humanidade, com toda a criação. tas, pintores, romancistas – pois «nada do que é hu-
mano é alheio a Cristo». O grande obstáculo moderno
Gostaria também de pedir a todos nós, líderes religio- à «imaginação cristã» não é o ateísmo secular, mas a sua
sos, que nunca usemos o nome de Deus para fomen- pobreza e banalidade.
tar guerras nem golpes. Apoiemos os povos, os traba- Apenas uma vívida «imaginação cristã» conseguirá,
lhadores, os humildes, e lutemos juntamente com eles enfim, reabrir o mundo à transcendência e ao sentido
para que o desenvolvimento humano integral se torne último da aventura de ser filho de Deus. »
uma realidade. Construamos pontes de amor para In paulinas.pt
que a voz da periferia, com o seu pranto, mas também
com o seu canto e a sua alegria, não provoque temor,
mas empatia no resto da sociedade.(…)

Extrato de Mensagem aos Movimento Populares, 18/10/2021


Texto completo em tinyurl.com/73vnffxc

LEITURAS OPortunas
* Título: A Arte de Viver em Deus
* Autor: Fr. Timothy Radcliffe OP
* Ano: 2021
* Editora: Paulinas / paulinas.pt
* Preço: 20,99

«Conseguirá o Cristianismo, nesta época de descrença,


mover ainda o coração dos seus contemporâneos? Timothy
Radcliffe responde nesta obra que apenas uma
«imaginação cristã» é capaz de resgatar a vida real em
plenitude, e o Prefácio do padre José Frazão Correia
permite um aprofundamento, uma chave de leitura,
da visão de Radcliffe.

F I C H A T É C N I C A
Jornal bimensal Colaboram neste número: Fr. Gonçalo Diniz. Cremilde Rodrigues,
Publicação Periódica nº 119112 / ISSN: 1645-443X Armindo Geraldes
Propriedade: Fraternidades Leigas de São Domingos
Contribuinte: 502 294 833 Depósito legal: 86929/95 Administração: Maria do Céu Silva (919506161)
Endereço: Praça D. Afonso V, nº 86, 4150-024 PORTO Rua Comendador Oliveira e Carmo, 26 2º Dtº
E-mail: laicado@gmail.com 2800– 476 Cova da Piedade

Directora: Cristina Busto Redacção: José Alberto Oliveira/Gabriel Os artigos publicados expressam apenas a opinião dos seus autores.
Silva.
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