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Fonte: http://www.webartigos.com/articles/2521/1/Breve-Analise-Do-Livro-o-Caso-Dos-
Exploradores-De-Cavernas/pagina1.html#ixzz1J4PqDOeg
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Após um intensivo tratamento psicológico e nutricional foram os quatro sobreviventes
submetidos ao juri popular acusados pela prática de homicídio. Eximindo-se os jurados
de expedir o veredicto o caso foi resolvido pelo juiz de primeira instância, o qual
declarou culpados os réus e condenou-os à pena capital, em obediência aos ditames
da lei do país. Sensibilizados com o desfecho do caso os jurados enviaram uma
petição ao chefe do poder executivo para que comutasse a pena de morte em seis
meses de prisão. Semelhante documento foi elaborado pelo próprio juiz que proferiu a
sentença. O chefe do executivo resolveu esperar a decisão da Suprema Corte à qual
recorreram os condenados. Os cinco juízes desta Corte proferiram seus votos. Dois
juízes manifestaram-se pela absolvição, dois pela condenação e, devido a abstenção
de um dos juízes, ocorreu um empate. Face a esta circunstância foi confirmada a
sentença condenatória de primeira instância, mantendo-se a condenação dos
acusados.[2]
Como todos os Estados Democráticos de Direito, a República Federativa do Brasil,
fundamentada e orientada pelo princípio da dignidade da pessoa humana, proclama no
art. 5°, caput [3], da Carta Magna a vida como direito fundamental do indivíduo. Ao
declarar isso quer a Constituição dizer que o indivíduo tem direito a uma continuidade
na sua existência como pessoa humana, quer significar que, nas palavras de José
Afonso da Silva, tem "direito a não ter interrompido o processo vital senão pela morte
espontânea e inevitável".
É pelo reconhecimento deste direito de continuidade à vida que a legislação penal
tipifica e pune os atos atentatórios à existência e à integridade física e moral das
pessoas. Assim, eliminar a vida de um ser humano é conduta que se amolda à norma
penal incriminadora disposta no art. 121 do Código Penal (homicídio), que prevê pena
de reclusão de seis a vinte anos para o autor deste delito.
Numa primeira análise a solução do caso em tela parece simples: se a norma penal
prevê que quem mata pratica conduta típica do homicídio e, se os sobreviventes do
caso que se analisa mataram seu companheiro, então a conduta dos sobreviventes se
ajusta ao tipo previsto pela norma penal.
Entretanto, na linha da boa doutrina de Damásio E. de Jesus, a conduta típica não
basta para que exista crime pois para que este reste configurado faz-se necessário que
o ordenamento reprove o comportamento do sujeito, considerando o fato como ilícito,
antijurídico. Geralmente o fato típico também é antijurídico[4], salvante os casos em
que fica caracterizada uma das causas excludentes da ilicitude (causa de justificação)
que, nos termos do art. 23 do Código Penal são o estado de necessidade, a legítima
defesa, e o estrito cumprimento de dever legal ou exercício regular de direito. As
causas excludentes da ilicitude licitam uma conduta humana que se amoldou à figura
típica.
Dito isto acredita-se que os sobreviventes do Caso dos Exploradores de Cavernas
estariam amparados na legislação brasileira pela excludente de ilicitude prevista no
inciso I do artigo 23 e artigo 24, ambos do Código Penal: o estado de necessidade.
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juntos. Existe uma presunção de que o fato que se ajusta ao tipo é antijurídico,
presunção que só é afastada se a lei permitir expressamente o comportamento típico
do sujeito. É o que ocorre no art. 23 do Código Penal Brasileiro.
[5] O trágico naufrágio da fragata La Méduse foi imortalizado em famoso quadro de
Géricault, hoje no Museu do Louvre, em Paris.
[6] Segundo a Constituição Federal, art. 5°, XLI: "a lei punirá qualquer discriminação
atentatória dos direitos e liberdades fundamentais". A vida, independentemente das
qualidades particulares de cada ser humano, é direito fundamental proclamado tal pela
Constituição Federal. Assim, estando em conflito o direito de duas pessoas à vida não
há como exigir o sacrifício de uma - talvez por critérios de idade ou saúde - para
salvaguardar a vida de outra, pois os bens jurídicos em conflito são igualmente
protegidos pela lei maior do Estado brasileiro.
BIBLIOGRAFIA:
BRASIL. Decreto-lei n. 2.848 de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. 37. ed. São
Paulo: Saraiva, 1999.
_______. Constituição da República Federativa do Brasil de 05 de outubro de 1988. 21.
ed. São Paulo: Saraiva, 1999.
FRANCO, Alberto S.; STOCO, Rui; SILVA JR., José; NINNO, Wilson; FELTRIN,
Sebastião O.; BETANHO, Luiz C.; GUASTINI, Vicente C. R. Código Penal e sua
Interpretação Jurisprudencial. 2 vols. 6. ed., ver. e ampl. São Paulo: ed. Revista dos
Tribunais, 1997.
FULLER, Lon L. O Caso dos Exploradores de Cavernas. Tradução do original inglês e
introdução por Plauto Faraco de Azevedo. Porto Alegre: Sergio Antônio Fabris Editor,
1976. 10ª reimpressão:1999.
MIRABETE, Julio F.Código Penal Interpretado. 1. ed. São Paulo: Atlas, 1999.
NORONHA, E. Magalhães. Direito Penal. 31. ed. São Paulo: Saraiva, 1995.
PASSOS, Nicanor S. O Caso da Medusa. Consulex, Brasília, ano IV, v. I, p. 11, nov.
2000.
SILVA, José A.; Curso de Direito Constitucional Positivo. 19. ed., rev. e atual. São
Paulo: Malheiros Editores, 2001.
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1. INTRODUÇÃO
Como temas das argumentações dos juízes Truepenny, Foster, Tatting, Keen e
Handy, Fuller se utiliza das contraposições das correntes jusnaturalista e positivista, dos métodos
hermenêuticos e dogmáticos de interpretação, da legalidade e da legitimidade das normas, das
atribuições de cada um dos poderes do Estado e algumas outras questões que proporcionam
distintas abordagens ao caso.
não recebeu resposta de nenhuma dos presentes. Todos se recusaram a opinar e desde então os
exploradores não se comunicaram com a equipe de socorro.
Em sentido do direito natural, o juiz afirma que o direito positivo só pode incidir
sobre os indivíduos que se encontram em condição de coexistência social. Em casos contrários,
como aquele em que se achavam os acusados, onde a preservação de suas vidas só foi possível
em detrimento de outra, o direito positivado perde o seu significado, pois cessante ratione legis,
cessat et ipsa lex. Embora de forma obscura, Foster também procura preservar a lei em vista de
sua aquiescência para com os acusados invocando o princípio da limitação territorial. Assim
como não é possível se aplicar uma lei em casos exclusos dos limites geográficos do Estado, o
juiz sugere que a mesma lógica seja aplicada ao caso dos exploradores, que se encontravam tão
distantes da força coercitiva dos dispositivos legais quanto se estivessem milhas distantes do
território do Estado.
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Da segunda linha argumentativa defendida por Foster, pela qual se entendia que
nenhum dos acusados violou os dispositivos legais dado que uma lei deve ser aplicada segundo o
seu propósito, Tatting lembra que outros objetivos, alem da prevenção, também são imputados à
lei penal. Sobre a hipótese da legítima defesa, assevera que a doutrina sempre a interpretou como
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um ato involuntário. Da hipótese de exceção na lei em favor dos acusados, o juiz questiona qual
seria a sua abrangência, pois embora o critério para se escolher a vítima tenha sido a sorte
decidida nos dados, haveria outras possibilidades de estabelecê-lo, como a debilidade física e a
crença. Finalizando sua argumentação, Tatting reafirma a incoerência e a irracionalidade dos
argumentos de seu colega Foster, mas as dúvidas relacionadas ao caso o impede de se manifestar
favorável ou contrário à acusação dos réus.
5. DA ARGUMENTAÇÃO DO JUÍZ KEEN
Neste sentido, Keen observa que a pretensão de se encontrar um propósito para a lei
é ilusória. Primeiramente porque a tipificação do assassinato como crime é uma convicção
humana de que o assassinato é injusto e que algo deve ocorrer com o assassino. Também, dado
que os motivos que levaram os legisladores a promulgarem suas leis estão relacionados
intimamente no contexto no qual estão inseridos, o hipotético propósito das normas poderia se
perder com o tempo e suas conseqüentes mudanças políticas e culturais. Não sabendo, assim, o
propósito da lei, também não se poderia saber se há lacunas. Ainda versando sobre a questão
interpretativa, o juiz Keen afirma que a excludente da legítima defesa se aplica apenas aos casos
onde o indivíduo tem a sua vida ameaçada de forma agressiva, reagindo sem intenção.
Admite, entretanto, que assuntos referentes à forma do Estado, por exemplo, devem
permanecer como regras a serem seguidas, mas que em assuntos referentes a outros domínios as
formalidades e conceitos abstratos devem ser tratados como instrumentos, escolhendo o mais
adequado à obtenção do resultado pretendido. A não-conformidade das ações do governo para
com seus governantes é, para Handy, a maior causa do ocaso dos governos. Neste sentido,
aplicando a lógica de seu raciocínio ao caso, afirma que sua resolução não implicaria maiores
dificuldades, dado que a repercussão do caso se deu mundialmente e que, de acordo com a
opinião pública, sondada pela mídia, não se deve condenar os réus. Diz, ainda, que o próprio
senso comum e a opinião particular dos juízes do tribunal, manifestadamente contrários à
condenação, seriam suficientes para julgá-lo harmonicamente com o entendimento dos
governados. Também, procedendo desta forma, não estariam desvirtuando a lei mais do que seus
predecessores no caso da excludente de legítima defesa.
Das críticas sobre a relevância da opinião pública que propõe ao julgar o caso e dos
riscos, o juiz adverte que das quatro formas de se livrar um individuo culpado por um crime da
acusação, três são altamente suscetíveis a interferências emocionais e pessoais. Seja quando o
representante do ministério público não solicita a instauração do processo, seja a absolvição pelo
júri ou um indulto do executivo, não há garantias que tais decisões sejam revestidas apenas pelas
formalidades legais.
Como ponto decisivo na resolução do caso sub judice, Handy considera que algumas
questões sobre o chefe do executivo, como sua idade avançada e de princípios rígidos, poderiam
fazer com que sua decisão fosse contrária ao confiado pelo tribunal. Mesmo considerando que
informações não-oficiais não sejam adequadas, encerra sua argumentação relatando saber que a
secretária do chefe do executivo o ouviu se manifestar contrariamente à absolvição dos réus.