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PLURALITY
Editora Chefe
ANDREA TRIGUEIRO
Pesquisa e Stylist
Eduardo Nobre
@eduardohnobre
Arte e Design
Laura B. Viero
@apsviuarual
Pesquisa e Redação
Maria Paula Maciel
@mariapmaciel
Eduardo
Eduardo tem 22 anos e trabalha com
publicidade e moda. Ele acredita que
nunca é tarde para se vestir como você
quer, estar na moda é estar se sentindo
bem
Maria Paula
Pequena mente inquieta, Maria Paula tem
23 anos e vê a comunicação como começo,
meio e fim da sua vida. Escrever é seu
grande amor e o audiovisual seu amante.
Uma camaleoa ambulante, pernambucana
bairrista e mística nas horas vagas.
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Um
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06 THE CATEGORY IS... PLURALITY
Depois, passedelicadamente com ajuda de um pincel
A
preparação uma sombra de uma cor bem alegre, vai deixar seu olho
encantador.
da pele é um dos
momentos mais importantes de
uma boa maquiagem. Com a pele
limpa e hidratada faça o uso de um
O charme dessa
bom corretivo. Depois,
época psicodélica
delicadamente,
com ajuda de um era um olho bem
pincel, passe uma sombra chamativo. Use e
de uma cor bem alegre, abuse delineador,
vai deixar seu olho capriche nele, sem
encantador. medo de ousar nos
desenhos e marcar
o côncavo. Faça
também o uso de
ciílios postiços...
vai deixar o olhar
super dramático que
nem o da Barbara
Eden!
Delineador Mari
Maria(29,90), blush e
contorno paleta HER da
color pop (156,90) Modelo Luiza usa corretivo
Bruna Tavares (R$39,99)
Cílios Kiss New York
e sombra power da paleta
(R$ 27,93) e máscara Intrance da color pop
maybelline colossal (28,62) (R$160,00)
“Desculpa, só trabalhamos
com modelos p, m e g”
Juliana* entra numa loja no shopping da
sua cidade e começa a olhar umas rou-
pas, ao se virar para a moça da loja para
pedir seu número ela ouve a seguinte
abm,.
EM UMA ANÁLISE DE
pergunta: ‘é para presente, certo?”. Em
SITUAÇÕES VIVIDAS
algum lugar nessa mesma cidade, Nora,
entra em uma boutique com sua mãe, an- POR PESSOAS REAIS,
tes mesmo de abrir a boca para procurar A GEN TE EX P LORA
um vestido para as festas de final de ano, UM POUCO DA
uma vendedora lhe mediu dos pés a ca-
beça, afirmando “Desculpa, só trabalha- GORDOFOBIA
mos com P, M e G”, e virando de costas. NA MODA.
Poder se vestir é uma necessidade huma-
na. No momento em que a maioria das lo-
jas não faz produtos pensando nos corpos
maiores, elas estão negando a existência Já estamos na segunda década do mi-
dessas pessoas. Estão dizendo que no lênio, mas os preconceitos existentes
mundo não existe um espaço para eles. no mundo da moda continuam cons-
tantes dentro de um universo cheio de
diversidade. O preconceito enfrenta-
do nas ruas é movido pelo que é vis-
to nas grandes mídias de massa. Um
exemplo é na série “Eu nunca…” da
Netflix. Uma história sobre amor entre
os jovens cuja a personagem principal
é uma indiana, mostrando uma grande
diversidade de raças e credos, mas, fa-
Podcast
lha ao fazer do gordo o ridicularizado.
08 THE CATEGORY IS... PLURALITY
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profissional, tirando de tantas pessoas o
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direito de existência, de pertencimento.
Ilustração Eva Uviedo
Como começou sua relação com a moda O que você classifica como estilo vintage?
sustentável?
Eu acho que começou desde pequena, porque, Eu classificaria com tudo aquilo que a gente
assim, eu acho que veio muito do fato de que eu pega referência do passado para se vestir. Às
nunca tive muita roupa, e nunca fiz questão de ter vezes a gente fica preso a algo como os anos 40
muita roupa. Eu sempre gostei muito das roupas , 50, por estar bem longe. Você realmente está
que eu usava. Nunca achei que precisasse de trazendo uma bagagem de muito tempo. Você
vários modelos, de várias peças de roupas, partes imagina muito as pin ups, quando pensa em estilo
de baixo, partes de cima... Por um lado era pra vintage, volta muito pra essa década de 40 e 50.
economizar, mas também por gostar das peças Vintage é pegar referências de outras épocas,
que eu tenho, sempre levo em consideração cada não importa qual e colocar em com seu estilo de
uma. Você usar peças que você ama, não tem hoje em dia, porque tudo que a gente veste hoje
porque você ter peça no guarda-roupa que você é referência. Os anos 2020 é muito de trazer, de
não gosta, só por ter. Eu sempre valorizei muito celebrar a volta de vários estilos.
eu gostar das minhas peças, estar feliz com elas e
saber brincar com elas.
O seu brechó é todo online como é que vocês
Quando eu entrei na faculdade de design de fazem o atendimento?
moda no Recife, queria ter um dinheirinho extra
para ajudar meus pais com as despesas. Eu O atendimento é todo online, fazemos via
comecei a vender minhas roupas pelo Instagram Instagram e Whatsapp. Primeiramente fazemos
ou Olx, como um brechó e fui tomando gosto, o atendimento todo pelo Instagram e utilizamos
pesquisando cada vez mais sobre moda o Whatsapp caso cliente preferir, para combinar
sustentável, fast fashion, trabalho escravo, todas melhor informações sobre a entrega e pagamento.
essas questões problemáticas que a moda traz pro A pessoa sinaliza a peça que gostou, então a
mundo. gente faz a separação para entrega!
Nouve
uvelle
lle
NO ONTEM E NO HOJE
Vague
12 THE CATEGORY IS... PLURALITY
Q
uando Godard criou um dos maiores clássicos
da Nouvelle Vague, o filme Masculin Féminin
(1966), ele utilizou elementos que fizeram, deste,
um filme notável dentro do período cinematográfico que
passava o cineasta e é considerado pelos críticos como
representativo da França e Paris dos anos 60. Feito dois
anos antes dos movimentos de maio de 1968, o filme
explora a sexualidade na juventude e as transformações
pelas quais a França (e o mundo) estavam passando.
Se a vida inspira a arte… a arte inspira a vida. Se movimentos
artísticos não existissem, o mundo nunca conseguiria ir avante em
suas lutas. A influência da Nouvelle Vague está presente em tudo:
da moda, com a sensualidade das femme fatale até as lutas dos
estudantes, que exclamavam em seus protestos com pixações
nos muros, exclamando frases como “la poésie est dans la rue”
(a poesia está nas ruas), como uma forma de mostrar como
As duas faces da
felicidade (1965)
A
Agnes Varda
NOUVELLE VAGUE
DUROU MENOS
DE TRÊS DÉCADAS
MAS DEIXOU FRUTOS
INESQUECÍVEIS E É POR
ISSO QUE A PLURALITY
TRAZ UMA LISTA DE SEIS
FILMES PARA CONHECER
Uma mulher é uma
mulher (1961) A NOUVELLE VAGUE.
Jean Luc Godard
“Aquilo que não é belo, é amado. Aquilo que belo não é, não é amado”
Assim disse o poeta Teógnis.
A MODA COMO
RESISTÊNCIA DOS CORPOS
A revista The Category is… Plurality, é, an- O mundo é antigo e já existem décadas e
tes de mais nada, uma revista de moda. Isso décadas desde as primeiras revoluções e li-
porque enxergamos a moda como um vetor bertações tanto feministas quanto raciais. Mas,
de mudanças. É definhar por dentro o mito da a gente sabe que quanto menos privilegiado
beleza, é pegar os elementos que eles usam uma pessoa é, mais elas são obrigadas gastar
para definir os padrões altamente preconceitu- seus recursos numa tentativa de se encaixar no
osos e jogar na cara dos ditadores da beleza padrão e fazer parte da sociedade.
que não aceitamos mais.
O ESTILISTA
RONALDO FRAGA
correio*
LIZZO
Cantora, rapper, flautista e
maravilhosa. Acho que é assim
que deve-se começar a falar
sobre essa artista incrível que
não para de ter seus hits alegres
e contagiantes tocando pelas
rádios do mundo inteiro desde
2018. Ela carrega sua luta para
pertencer ao mundo em todas as
suas falas, sempre enaltecendo
o self love. Ela é um exemplo
maravilhoso de que quando
você não quer ouvir a sociedade
falar o quão não suficiente você
é e decide se amar, nada vai te
parar. Suas músicas mostram de
descontraída e brincalhona que
você é a sua própria alma gêmea
rollingstone (citando sua música Soulmate).
Stevie Nicks
Rainha do boho e bruxa nas
horas vagas, Stevie Nicks foi
uma das primeiras mulheres
a encabeçar uma banda de
rock, sempre exigindo o mesmo
pagamento e tratamento
igual ao de seus parceiros do
Fleetwood Mac. Conhecida
por seu estilo cigana, ela nunca
aceitou as normas da sociedade, se
recusando a ter filhos por saber que
nunca poderia se dedicar 100% pelo
seu amor pela música.
Donna
Summers
Rainha da disco music, Summer
é até os dias de hoje de extrema
importância para a música mundial.
Um dos momentos inesquecíveis de sua
carreira foi sua música Once Upon a
Time que tendo como tema o conto de
fadas Cinderella. Foi um início na longa
luta racial para que a mídia veja em
mulheres negras a princesa dos contos
de fada.
buzzfeed THE CATEGORY IS... PLURALITY 00
30 THE CATEGORY IS... PLURALITY
Bruno Lima/Banco de Imagens MTur Destinos
CRÔNICA
Algumas pessoas possuem o hábito de sonhar acordada, pegando histórias ouvidas e apli-
cando às suas próprias vidas. Eu sou assim. Tenho o hábito de fugir de mim com histórias dos
outros. Seja assistindo um filme ou lendo um bom livro. Logo na primeira semana de quaren-
tena eu já reclamava de uma coisa: “Já li todos os livros da minha biblioteca!”, meu pai pen-
sou rápido e disse “você já leu o livro de Renato?”. Resolvido! Tinha achado um livro novo.
Abrir essa leitura sabendo praticamente nada sobre Renato ou se eu iria gostar do seu
estilo de escrita, eu pensava: será que ainda vou enxergar o Recife que ele tanto fala?
Fui pega de surpresa! Em “Sempre aos Domingos” eu vi que o tempo, embora nos ofe-
reça prazeres efêmeros, não muda tanto. Eu reconheço as ruas do Recife, reconheço
os mesmos problemas sociais do Brasil, eu me reconheci no meio de tantas palavras.
Na crônica “Cai o pano”, onde Renato lamenta a morte do Teatro Popular do Nor-
deste, ele fala: “Algo me diz, porém, que tudo seria realizado de maneira muito mais
harmoniosa se os poderes competentes não deixassem morrer, por falta de ajuda, ins-
tituições de importância cultural”. O tempo passa, mas não mata o que foi dito nes-
sa passagem. Se hoje visse essa frase solta em qualquer rede social, acharia que é
mais uma crítica de algum corte do Bol- rar por Recife. Encontrei alguém que compar-
sonaro e seu governo da morte à cultura. tilhava do meu mesmo desespero. Quando
analisei, quarenta anos não fizeram muita
Encontrei nessa leitura um consolo: alguns tex-
diferença para analisar o sentimento que é
tos, escritos na época de um tempo tenebroso
existir na terra dos altos coqueiros, do povo
que se vivia o Brasil, encaixavam-se ao que
artista que tem música e cor a cada esquina.
hoje vivemos: a sensação de estarmos presos
e o medo, como brasileiro, do que o futuro vai Falar sobre os personagens do dia a dia:
anunciar. Um senhor na década de 1970 já “O novo rico”, “a grã-fina”, as “panelinhas”
entendia a mesma angústia que tantos que ele tinha tanto medo de fazer
jovens do ano de 2020 possuem. parte; todos personagens da
nossa vida foram citados
“Confesso: ando com medo
de uma das formas mais
de receber notícias[...] é
descontraídas que tive
muito raro receber no-
o prazer de ler. Rena-
tícias boas”. Essa frase
to Carneiro Campos
me fez rir. Porque eu
escrevia como se já
enxerguei o que pas-
tivesse destrinchado
sa na minha cabeça
todos os segredos da
todo dia ao acordar.
vida e agora se divertia
Agora acordo e per-
com eles. Falava sobre
gunto a minha mãe “al-
o seu presente sem saber
guma notícia boa?”. Se não
que 50 anos depois ainda
for boa, não me interessa.
poderia ser citado como novo.
Mas, saindo um pouco da cabeça
Eu acredito que quando lemos um
de alguém que vive em tempos pandêmicos,
bom livro, não o fechamos e continuamos os
eu preciso fazer um agradecimento a Renato.
mesmos. À medida que eu lia, eu lamentava
Como nunca o conheci, escrevo essa crônica.
nunca tê-lo o conhecido. Notei sua escrita
Ele me deu novos olhos para um Recife que
mudar com o passar do tempo, a partir do
amo, mesmo que às vezes as hastes da pon-
que acontecia na sua vida pessoal. Enquanto
te de ferro me façam pensar em uma prisão.
a doença o tomava, eu o via ser mais ale-
O amor pelo que é nosso. Crônicas sobre a gre mesmo sempre falando da morte, do
alegria passageira do Carnaval. Gostar do medo. Não tinha tempo para lamentos. Em
Recife no final de uma tarde, quando a cida- uma de suas últimas crônicas antes de virar
de ganha uma paleta de cor azul e dourada. pó de estrela, ele disse: “O homem precisa
Disso, eu entendo. Me emocionei várias vezes brincar de ser alegre”. Pareceu, para mim,
em que o via reclamar, mas sempre se decla- um bom recado para deixar ao se despedir.