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Relatório e comentários da observação realizada

Entrevista com “A”

“A” é operadora de máquina do ramo têxtil aposentada. Ela tem 78 anos, é viúva e

tem uma filha de 36 anos. Vive sozinha em sua casa, mas diz receber constantemente a visita

de sua filha e de seu genro. Ela vive no mesmo bairro desde o nascimento e se sente muito

feliz lá, pois possui muitos amigos e familiares na região. “A” afirmou ter se sentido muito

feliz por ter sido convidada para participar da entrevista. Ela se mostrou bastante à vontade,

embora reconhecesse certa inexperiência em lidar com a ferramenta de vídeo chamada do

WhatsApp. Depois de poucos minutos de explicação em como lidar com a ferramenta, a

entrevista transcorreu muito bem.

1. O que mais mudou na sua vida após os 60 anos?

Até 60 anos, era muito bom. A gente tinha mais força, era cheia de expediente, de

alegria, como sou até hoje, mas muda. As forças já não são as mesmas. Mas está mudando

pra melhor, cada dia que passa a gente tem mais oportunidade de ter as coisas.

2. O que você acha que a maturidade trouxe como aspectos positivos?

Me aposentei muito cedo, com trinta anos de serviço, foi uma coisa muito bela que

aconteceu, aos 60 já estava com meu salário. Me aposentei com 47 anos...

3. E quais os desafios (aspectos negativos)?

Depois dos 60, a dificuldade que na época a gente lida muito com os pais doentes, a

gente não ficava muito feliz, meu pai tinha muita saúde, mas minha mãe era muito debilitada,

depois meu marido...

Teve que cuidar muito do seu marido, né?

É. Não foi tarefa fácil, a gente não fazia por prazer, mas por amor...
4. O que você faz para se distrair?

Com a pandemia, eu não estava fazendo nem caminhada, tava respeitando o

confinamento. Eu sou uma pessoa de alto risco, então, atualmente não faço nada, leio de vez

enquanto, assisto novelas e vejo missa. Não gosto de notícias, gosto de minhas novelas e da

oração, da Rede Vida e do Pai Eterno.

5. Você faz atividade física? Quais?

Não.

E a caminhada?

Agora é só caminhada mesmo.

Já tem uma semana?

Agora já vai pra duas semanas, estou me sentindo muito bem com as caminhadas. De

30 a 40 minutos por dia

De segunda a sexta-feira?

Até nos domingos! Mas eu gosto de levar a semana toda, inclusive no domingo...

6. Quando era jovem, você imaginava a sua vida após os 60 anos?

Não! Não imaginava, esperava sempre que tivesse um futuro feliz. Como só tenho

coisas felizes, tinha um marido dedicado e uma filha maravilhosa...

7. Você acha que a sociedade, de maneira geral, está preparada para lidar com essa

faixa etária?

Não. Não está. É muita falta de carinho, humanidade, paciência e também, às vezes,

até de educação. Muitas crianças e jovens tiveram uma infância infeliz, assim tem muita

ignorância com idosos, inclusive adultos são ignorantes também. Os idosos são muito

discriminados.

8. Quais são os mitos sobre a velhice que você não concorda?


Já ouvi comentários que detonam. No ônibus, a gente teve essa oportunidade, o

motorista chama a gente de “jacaré” e isso é muito humilhante, é um direito que temos!

Quando o motorista tem que parar pra idoso, para com cara feia. Mas tem uns que param,

pensam na mãe, agem com carinho...

Já aconteceu com você?

Sempre tive sorte. Uma única vez que eu encontrei um “inconveniente” e ele era a

pessoa mais mal educada que podia existir naquele momento. Ele queria encher minha

paciência, e quando eu fiz um jeito que não gostou, ele pediu para eu descer do ônibus.

Como foi isso?

O ônibus estava cheio, eu estava no meio e ele ao lado. Ele falou que eu estava

atrapalhando o ônibus. Eu falei que o ônibus estava cheio. Eu desci antes do meu ponto

porque eu tive medo dele.

Ninguém te deu lugar?

Não tinha como, pois não tinha nem mexer. Mas eu não quero dizer nada sobre ele.

9. Como você descreveria sua jornada até o presente?

Eu só posso dizer que até hoje, tirando as perdas familiares, que a gente não está

preparado para passar por isso, só posso dizer que na minha vida é boa. Eu sinto falta, que na

casa estou sozinha, mas tenho minha filha e genro que amo muito. Sinto-me feliz. Sou

independente, tenho minha casa, meu salário, não me falta nada. O que passa pela minha vida

é saudade...

10. E atualmente, como você qualificaria sua vida em termos de satisfação, qualidade de

vida?

Sim. Tenho muita satisfação com minha vida. De ter chegado aonde cheguei,

agradeço a Deus, tenho muito a realizar. Sou feliz!


11. Que conselhos você daria para os jovens?

Que tenham paciência com os seus pais, amem e nunca joguem eles no abrigo, que

tenham paciência e amor para tê-los ao lado da família, que não sejam desprezados e nem

desqualificados pela sociedade.

12. Tem mais alguma coisa que você gostaria de falar? Algo que eu não tenha

perguntado?

Não. Igual eu digo. A vida está bem, tive muito, assim, a felicidade de ser uma família

de pessoas muito simples, mas que tenho privilégio de ter uma escola na minha rua que leva o

nome de minha vó. E meu pai, morador de muitos anos no bairro, quando veio tinha poucas

casas e quando ele morreu, tem uma rua que levou o seu nome. Minha avó e meu pai, que são

duas pessoas, que são minha vida, foram homenageados, isso é muito importante, eles não

eram pessoas de ter, mas foram simples e foram amados… todo dia saíam para trabalhar e

voltavam com o sustento, com o rosto suado e com o respeito!

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