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Dourados - MS
Março - 2018
UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS
FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ZOOTECNIA
Dourados - MS
Março - 2018
v
Ofereço e Dedico
vi
AGRADECIMENTOS
Meu amado e querido pai Abelino G. Silva e mãe Neide N. Silva que são meu
alicerce e estão sempre prontos a dar atenção, carinho, amor, opinião, conselho e ajuda
tanto nos momentos bons quanto nas dificuldades.
Ao meu coorientador Dr. Rusbel Raul Aspilcueta Borquis pela dedicação e apoio
ao aprendizado.
Ao professor Dr. André Gustavo Leão por participar dessa importante etapa da
minha vida.
MUITO OBRIGADO.
vii
SUMÁRIO
LISTA DE ABREVIATURAS
PC Peso corporal
LISTA DE TABELAS
Tabela 1.: Análise descritiva das variáveis avaliadas por ultrassom. ....................................... 27
Tabela 2.: Correlação entre medidas ultrassonográficas e cortes do dianteiro. ......................... 28
Tabela 3.: Correlação entre medidas ultrassonográficas e cortes da ponta de agulha. .............. 28
Tabela 4.: Correlação entre medidas ultrassonográficas e cortes do traseiro especial. .............. 29
Tabela 5.: Modelo completo de predição para o peso do dianteiro, ponta da agulha e traseiro
especial........................................................................................................................................ 30
Tabela 6.: Participação das variáveis obtidas in vivo para a predição do peso do dianteiro, ponta
da agulha e traseiro especial........................................................................................................ 30
Tabela 7.: Participação das variáveis obtidas in vivo para a predição do peso dos cortes do
dianteiro. ..................................................................................................................................... 32
Tabela 8.: Participação das variáveis obtidas in vivo para a predição do peso dos cortes da ponta
de agulha. .................................................................................................................................... 32
Tabela 9.: Participação das variáveis obtidas in vivo para a predição do peso dos cortes do traseiro
especial........................................................................................................................................ 33
x
LISTA DE FIGURAS
CAPÍTULO I
REVISÃO DE LITERARTURA
2
1- Introdução
O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil chegou a R$ 5,9 trilhões em 2015, sendo
que o PIB do agronegócio representou 21% do PIB total brasileiro. A pecuária compôs
30% do PIB do agronegócio (ABIEC, 2016).
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil possui
maior rebanho comercial do mundo com 209,13 milhões de cabeça. Em 2016 foram
abatidas 29,67 milhões de cabeças de bovinos sob algum tipo de serviço de inspeção
sanitária (Federal, Estadual ou Municipal).
O porcentual de fêmeas abatidas no rebanho brasileiro vem crescendo nas últimas
duas décadas, conforme análise do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada
(Cepea/Esalq-USP). Na média dos últimos 20 anos (de 1997 a 2016), as fêmeas
representaram 31,6% do abate total e, na dos últimos dez anos (de 2007 a 2016), 32,5%.
O abate de novilhas corresponde a 6,6% do abate total com o pico observado em 2014,
quando representou 9,3%. Aparentemente, a produção de fêmeas com finalidade de abate
é uma atividade de maior relevância para rebanhos de ciclo completo, ou seja, relacionada
ao setor de cria. Em fazendas de terminação, a produção de fêmeas para o abate
normalmente está relacionada ao valor de compra deste animal magro.
A maior oferta de fêmeas para o abate é observada no final da estação de monta:
no primeiro trimestre do ano, compreendendo animais que não emprenharam e as vacas
descarte do rebanho.
Existem diversos fatores a serem vencidos na cadeia produtiva da carne bovina no
Brasil, principalmente quanto a qualidade do produto. Segundo Suguisawa (2002), um
dos principais pontos de interesse da cadeia de produção de carne bovina é a produção de
carcaça de peso adequado e com quantidade de gordura mínima subcutânea,
principalmente para garantir a qualidade da carne durante o resfriamento.
A retalhabilidade é definida como a proporção de cortes cárneos aparados do
excesso de gordura que uma carcaça pode render (Luchiari, 2000).
Tarouco et al. (2007) relata que o criador estimando o peso e a porcentagem dos
cortes comerciais em fase pré-abate poderia obter vantagens na comercialização de seus
animais, pois estaria oferecendo um produto com maior rendimento nos cortes nobres;
poderia responder aos sinais de mercado, além de alterar suas práticas de manejo,
3
2- REVISÃO DE LITERATURA
As novilhas terminam mais leves que os novilhos e esses mais leves que os
animais inteiros, assim o peso ótimo de abate é menor para as novilhas do que para os
novilhos e maior para os inteiros. Os inteiros também engordam menos que os novilhos
ou as novilhas, assim os mesmos podem ser abatidos em faixas maiores de peso corporal.
5
Em igual nível de acabamento, animais inteiros serão superiores a novilhos, com relação
à proporção de músculos:ossos em virtude dos mesmos serem mais pesados. A maior
porcentagem de músculos nas carcaças de inteiros é parcialmente explicada pelo fato
desses animais possuírem menos gordura, uma vez que são terminados mais tardiamente
(Luchiari Filho, 2000).
Berg & Butterfield, (1979) mostraram que a influência do sexo sobre o
crescimento muscular também tem importante efeito sobre a composição de carcaça.
Carcaças de animais de diferentes sexos apresentam diferenças no desenvolvimento,
distribuição e peso dos músculos. Animais castrados e novilhas apresentam poucas
diferenças, mas animais inteiros aumentam mais proporcionalmente os músculos do
anterior, os quais apresentam usualmente valores menos econômicos que os músculos do
posterior.
O início prematuro da deposição de gordura varia entre as diferentes raças e ainda
no interior das mesmas. Geralmente, animais mais precoces possuem um menor tamanho
e iniciam a fase de deposição de gordura com pesos menores (Berg & Butterfield, 1976).
Estimar a composição corporal é muito importante para analisar as mudanças que
ocorrem nos tecidos durante os períodos experimentais sem haver a necessidade de abate
dos animais. As mais frequentes razões para se estimar a composição de tecidos corporais
consistem em permitir a seleção de animais para atender à demanda em cortes cárneos
com maior percentual de carne magra; atender a um sistema que remunere as carcaças
por qualidade e rendimento e verificar o ponto ideal de abate (Cardoso, 2013).
Leme et al. (2005) definiu o ponto ideal de abate quando a composição corporal
apresenta uma maior proporção de músculos, uma quantidade menor de ossos e a
quantidade mínima de gordura na carcaça exigida pelo mercado.
2.2 Uso da ultrassonografia para a predição da composição da carcaça
Como o peso por si só não determina adequadamente o valor de um animal
produtor de carne, há uma busca por tecnologias e mensurações que indiquem com maior
precisão a composição da carcaça. Os métodos que utilizam medidas realizadas
diretamente na carcaça apresentam boa correlação com a composição da mesma, porém
não existe um método simples para a predição da composição dos animais e de suas
carcaças que seja aplicável em todas as situações, pois neste caso em particular exige o
abate do animal, demandam muito tempo e são de alto custo (Hedrick, 1985). Por essas
6
AOL medida “in vivo” e na carcaça como Tarouco et al. (2007) e Silva et al (2012)
reportaram correlações de 0,96 e 0,90, respectivamente.
Tait et al. (2005) reportaram correlações de 0,62 entre AOL por ultrassom e o peso
dos cortes primários da carcaça. Tarouco et al. (2007) reportaram coeficiente de
correlação entre a AOL por ultrassom e o peso dos cortes do traseiro de 0,55 e Cardoso
et al., (2013) citam uma correlação da AOL com o peso dos cortes do traseiro de 0,61.
Do ponto de vista produtivo, pode afirmar que animais com valores de AOL
superiores a 75 cm2, ao abate, apresentam elevados rendimentos de cortes cárneos na
indústria frigorífica (Luchiari Filho, 2000). Esta condição é facilmente observada na
prática uma vez que linhagens e raças especializadas expressam altos valores de AOL,
algumas vezes próximos ou até superiores a 100 cm2, quando prontos para o abate
(Suguisawa, 2002).
Segundo Berg & Butterfield (1979), os músculos ao redor da coluna vertebral são
de ímpeto de crescimento médio em relação ao total dos outros músculos do corpo do
animal. Dessa forma, podem ser bons indicadores do crescimento da musculatura geral
da carcaça. Porém, os mesmos autores afirmam o estudo de correlações deve ser
considerado com restrições, pois o grau de correlação é mais influenciado pela amplitude
nos dados do que propriamente a característica que está sendo predita.
O uso desta característica fenotípica como indicativo do potencial genético do
animal para produção de carne é possível devido aos valores de herdabilidade
considerados de moderados a altos (BERTRAND et al., 2001).
entre a EGS obtida “in vivo” por ultrassom de 0,43 entre o peso dos cortes do traseiro
pistola. Cardoso et al. (2013) encontraram uma correlação de 0,19 com o peso dos cortes
do traseiro em uma pesquisa com novilhos da raça Hereford e Braford terminados em
pastagem com EGS de 3,43±1,26 mm.
Os cortes comercializados com gordura de cobertura como a picanha, alcatra,
maminha, contrafilé de costelas e o contrafilé de lombo são de alto valor comercial. Os
mercados que melhor remuneram estes cortes exigem uma cobertura de gordura
suficiente para encobrir a totalidade da peça (Cardoso et al. 2013).
Segundo Luchiari Filho (1986), correlações negativas obtidas têm sido reportadas
em trabalhos norte-americanos que utilizam animais com grande quantidade de gordura
subcutânea (mais de 12 mm), devido à necessidade de níveis elevados de marmorização.
Entretanto, em condições brasileiras, em que os animais não possuem acabamento
excessivo, as correlações não são tão elevadas porque parte dessa gordura é
comercializada juntamente com os cortes, que são componentes da porção comestível.
Tait et al. (2005) estudando a associação entre a EGP8 com o peso dos cortes do
traseiro, reportaram correlação de -0,20. Silva et al. (2012) encontraram o coeficiente de
correlação positivo de 0,48 entre a EGP8 e o peso dos cortes do traseiro pistola em
animais da raça Nelore. Cardoso et al. (2013) encontraram uma correlação não
significativa entre a EGP8 e o peso dos cortes do traseiro em novilhos da raça Hereford e
Braford terminados em pastagem.
A deposição de gordura na região das costelas (EGS) e na garupa (EGP8) é afetada
pela a raça (Hopkins et al., 1993; Walmsley et al., 2010). Para Walmsley et al. (2010) que
investigaram a deposição de gordura em bovinos Bos indicus e Bos taurus, observaram
maior acúmulo de gordura na região da garupa em B. indicus comparado ao gado B.
taurus.
Vale ressaltar ainda que EGS e EGP8 são características antagônicas a
musculosidade (AOL) e tamanho. A seleção exclusiva para precocidade de terminação
(EGS) implicará na produção de animais com alta deposição de gordura, mas com
menores proporções de cortes cárneos na carcaça e menores pesos ao abate e a idade
adulta. Estas respostas correlacionadas negativas não são interessantes principalmente
para o mercado interno que remunera por quantidade de carne produzida.
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CAPÍTULO II
RESUMO
ABSTRACT
The objectives of this work were to determine the correlations and to develop a prediction
equation between traditional in vivo ultrasound measurements (PC, AOL, EGS, PP8 and
EGP8) and their relation with the weights of the main commercial cuts. 81 Nellor heifers
were randomly selected from a commercial herd. The evaluated cuts were of the
forequarter, needle tip and the special hind. The correlation of body weight was high with
the weight of commercial cuts. AOL and EGP8 showed positive correlations with the
weight of the forequarter and special hind. The EGS presented a negative correlation with
the CTE and the PP8 correlation was not significant with the CD, PA and CTE. For
prediction, body weight was the first variable to enter the multiple linear regression
model. AOL participated in the prediction of the weights of the cuts of the forequarter
and of the special hind. The EGS and PP8 did not contribute to the predictions of the
weights of the commercial cuts. The EGP8 entered the model of prediction of the weight
of the cuts of the forequarter, tip of needle and the main cuts noble of the rear. Body
weight and EGP8 were the most important ultrasonographic measures.
Introdução
Material e Métodos
O trabalho foi realizado em frigorífico comercial, localizado no município de
Ivinhema, MS, no período de outubro de 2014 a maio de 2015. Foram utilizadas 81
novilhas da raça Nelore, escolhidas aleatoriamente em um rebanho comercial. Os animais
foram terminados em pastagem e receberam suplementação alimentar e mineral.
No dia anterior ao abate os animais foram pesados após jejum de 14 horas e, em
seguida, devidamente contidos em tronco individual para a realização das tomadas de
imagens ultrassonográficas. Para garantir a qualidade das imagens, primeiramente
realizou-se a tricotomia do local anatômico entre a 12a e 13a costelas e sobre a garupa do
animal. Para melhorar o acoplamento acústico entre o transdutor e a pele do animal foi
usado óleo de soja sobre o local determinado. As imagens foram obtidas com auxílio do
equipamento de ultrassom Aloka, modelo SSD500, equipado com transdutor "animal
science" com frequência de 3,5 MHz. As imagens geradas pelo ultrassom foram
armazenadas digitalmente.
Posteriormente, as imagens foram analisadas com auxílio do software ImageJ
(HTTP://rsb.info.nih.gov/nih-image/), conforme metodologia utilizada por Silva et al.
(2006). Para todas as imagens foi realizado ajuste de escala de 82 pixels/cm. A
profundidade foi determinada pela distância entre uma extremidade e a outra do contorno
da área de músculo Longissimus das imagens ultrassonográficas, a espessura de gordura
subcutânea (EGS, mm) foi obtida através da mensuração da camada de tecido adiposo
subcutâneo, entre o músculo Longissimus e a pele. A profundidade da garupa (PP8) foi
medida pela profundidade na porção inferior da intersecção entre os grupos musculares
da garupa (Biceps femoris e o Gluteus medius) até a base do osso pélvico e a espessura
de gordura subcutânea da garupa (EGP8, mm) foi obtida através da mensuração da
camada de tecido adiposo subcutâneo, entre os músculos da garupa e a pele.
Para a tomada de imagens da área de olho-de-lombo (AOL, cm2) e espessura de
gordura de subcutânea (EGS, mm), o transdutor foi posicionado de maneira perpendicular
ao comprimento do contrafilé (Longissimus), utilizando-se a guia acústica (stand-off). As
26
Resultado e Discussão
A análise descritiva das características obtidas nos animais vivos e após o abate
estão apresentadas na Tab. 1. A AOL obtida foi ligeiramente maior a encontrada por
Coutinho Filho et al. (2006) de 45,67 cm2 com PC de 384 kg para novilhas Santa
Gertrudis. O peso corporal está altamente correlacionado com a idade (r=0,91) sendo que
o efeito quadrático de idade e do peso corporal explicam 68 a 72% da variação na área do
músculo longissimus, indicando que, a variação na AOL é uma função da idade e do peso
corporal (Hamlin et al. 1995). Comparando novilhas e novilhos Hereford, JOHNSON
(1994) verificou maior musculosidade na carcaça dos machos, em detrimento aos teores
de gordura e ossos, que foram maiores nas fêmeas. Aplicando equações de regressão, o
autor observou o mesmo peso de ossos entre os sexos, mas verificou 3 kg a mais de
músculo e 3,5 kg a menos de gordura nos novilhos em relação às fêmeas. Suguisawa et
27
traseiro especial foi 0,77. Segundo Berg & Butterfield (1976), o corte serrote contém a
maioria dos músculos de alto a médio ímpeto de crescimento, localizados próximos à
coluna vertebral (Psoas major, Longissimus dorsi) e aos membros posteriores (Biceps
femoris, Gluteus medius, Semitendinosus, Semimenbranosus e Addutor femoris).
Tabela 4.: Correlação entre medidas ultrassonográficas e cortes do traseiro especial.
Variáveis AOL EGS PP8 EGP8 Peso corporal
Alcatra 0,24* -0,26* 0,15NS 0,27* 0,68***
Contrafilé 0,31** -0,13NS 0,08NS 0,38*** 0,57***
Cx.D/Lagarto 0,29* -0,23* 0,05NS 0,34** 0,72***
Coxão Mole 0,27* -0,23NS 0,11NS 0,23NS 0,72***
Filé mignon -0,03NS -0,16 NS 0,23NS 0,008 NS 0,40***
Maminha 0,38*** -0,11 NS 0,01 NS 0,34** 0,46***
Músculo Traseiro 0,24* -0,23NS -0,02 NS 0,04 NS 0,65***
Patinho 0,25* -0,19 NS 0,01 NS 0,15 NS 0,67***
Picanha 0,26* -0,19NS -0,10 NS 0,42*** 0,55***
CTE 0,32** -0,24* 0,08NS 0,32** 0,77***
Cx.D = corte do coxão duro; CTE = cortes do traseiro especial (***P < 0.001, **P< 0.01, *P< 0.05).
A AOL apresentou uma correlação moderada com os cortes do traseiro, sendo a
alcatra o menor valor de 0,24 (P<0,05) e o corte que apresentou maior valor foi a maminha
de 0,38 (P<0,001). A AOL não foi significativa para o filé mignon. Junqueira et al. (1998)
estudaram bovinos fêmeas e machos não-castrados meio-sangue Marchigiana x Nelore e
observaram maiores pesos e rendimentos de carcaça, área de olho-de-lombo nos machos
em comparação às fêmeas, que igualmente, apresentaram maior espessura de gordura
subcutânea.
A EGS apresentou uma correlação negativa com os cortes individuais do traseiro
(Tab. 4). O contrafilé, filé mignon, maminha e o patinho não apresentaram correlação
significativa com a EGS. Para os cortes do traseiro especial a correlação foi de -0,24
(P<0,05). Esses resultados são contrários ao encontrados por Cardoso et al. (2013) que
obteve valores fracos e positivos com os cortes individuais do traseiro e de 0,19 para os
cortes do traseiro. O presente trabalho foi desenvolvido com novilhas o que pode explicar
essa diferença de resultados.
A PP8 foi significativa apenas para o filé mignon 0,23 (P< 0,05), os demais cortes
do traseiro não apresentaram correlação significativa (Tab. 4). A PP8 não apresentou
correlação significativa com os cortes do traseiro especial. O presente resultado sugere
que, a profundidade da garupa, pouco auxilia na predição dos cortes comerciais de
animais semelhantes usados nesse trabalho.
30
A EGP8 apresentou uma correlação de 0,23 (P<0,1) com o coxão mole a 0,42 (P<
0,001) com a picanha (Tab. 4). O filé mignon e o patinho não apresentaram uma
correlação significativa com a EGP8. O contrafilé e a picanha apresentaram as maiores
correlações (0,38 e 0,42 P<0,001) respectivamente. Esses cortes são comercializados com
a espessura de gordura de no mínimo 3 mm. Os animais desse estudo apresentaram um
EGS de 6,20±1,29 e EGP8 de 7,38±1,95 (Tab. 1). A correlação da EGP8 com os cortes
do traseiro total foi de 0,32 (P<0,01).
Na Tab. 5 constam os modelos completos de predição para os cortes do dianteiro
(CD), ponta de agulha (PA) e cortes do traseiro especial (CTE) usando as medidas obtidas
por ultrassom. O PC foi a variável mais intensamente relacionada ao CD, PA e CTE,
portanto, a primeira variável a entrar em um procedimento de seleção de variáveis por
Stepwise.
Tabela 5.: Modelo completo de predição para o peso do dianteiro, ponta da agulha e
traseiro especial.
Variáveis independentes
Variáveis Intercepto AOL EGS PP8 EGP8 Peso R2 P-
1
dependentes corporal Value
CD 1,11 0,043 - - 2,20 0,064 0,71 <0,001
PA -0,61 - - - 0,068 0,009 0,43 <0,001
CTE 6,85 0,063 - - - 0,071 0,61 <0,001
1
CD = peso do dianteiro; PA = peso da ponta de agulha e CTE = peso do traseiro especial.
Tabela 7.: Participação das variáveis obtidas in vivo para a predição do peso dos cortes
do dianteiro.
Variáveis Variáveis Intercepto Coeficiente R2 P- Value
dependentes independentes de Regressão
Acém PC -0,15 0,02 0,5101 <0,001
AOL 0,01 0,5204 <0,001
PP8 -0,16 0,538 <0,001
Capa da paleta PC 0,16 0,001 0,04412 0,04
Costela PC -2,25 0,02 0,4083 <0,001
EGP8 0,21 0,5221 <0,001
EGS 0,18 0,5465 <0,001
AOL 0,02 0,5546 <0,001
M.P PC 0,55 0,01 0,4075 <0,001
M.D. PC 1,11 0,005 0,2699 <0,001
AOL 0,009 0,3001 <0,001
P.Px. PC 0,41 0,006 0,4256 <0,001
EGP8 0,37 0,4549 <0,001
P. Peito PC 0,25 0,01 0,32 <0,001
EGP8 0,06 0,34 <0,001
Pescoço PC 0,62 0,01 0,2493 <0,001
EGP8 0,78 0,2708 <0,001
PP8 0,17 0,2921 <0,001
M.P: miolo de paleta; M.D.: músculo dianteiro; P.Peito: ponta de peito.
Para a predição dos cortes individuais da ponta de agulha (Tab. 8) o peso corporal
compôs o modelo de predição com 38,56% para a fraldinha. A EGP8 foi a segunda
variável a entrar no modelo de predição participando com 4,77% para o peso do corte da
fraldinha. Para Berg & Butterfield (1979) as novilhas têm uma deposição de gordura mais
precoce na parede abdominal pois o organismo se prepara para uma possível prenhes.
Tabela 8.: Participação das variáveis obtidas in vivo para a predição do peso dos cortes
da ponta de agulha.
Variáveis Variáveis Intercepto Coeficiente R2 P- Value
dependentes independentes de
Regressão
Fraldinha PC -0,61 0,009 0,3856 <0,001
EGP8 0,68 0,4333 <0,001
Os modelos finais para a predição dos cortes individuais do traseiro especial são
apresentados na Tab. 9. O peso corporal participou dos modelos com 46,16%; 31,91%;
50,57%; 51,18%; 15,10%; 19,72%; 41,19%; 43,61% e 29,02% para os cortes alcatra;
contrafilé; coxão duro/lagarto; coxão mole; filé mignon; maminha; músculo traseiro;
patinho e picanha.
A AOL contribuiu com 0,7%; 7,55% e 0,27% na equação de predição dos cortes
coxão mole; maminha e músculo traseiro, respectivamente. Segundo Berg & Butterfield
(1979) os músculos crescem a taxas diferenciadas podendo ser a explicação para as
33
CONCLUSÃO
As medidas ultrassonográficas pouco contribuíram com o desenvolvimento dos
modelos de predição para as condições dos animais usados no presente trabalho. Esses
animais não foram previamente selecionados, mas coletados aleatoriamente em um lote
de novilhas que aguardavam o abate em um frigorífico comercial. O peso corporal é a
variável mais correlacionada com o peso dos cortes comerciais. A EGP8 foi a medida
ultrassonográfica mais importante para os animais do presente estudo. Contudo são
necessárias mais pesquisas com novilhas que são fontes significativas das carnes vendidas
em importantes mercados consumidores.
35
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