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VARFARINA: INTERAÇÕES COM


REMÉDIOS E ALIMENTOS
O que é a varfarina?

A varfarina é um anticoagulante, ou seja, é um fármaco que dificulta a


coagulação natural do sangue, ação que pode ser útil para os
pacientes com história de trombose venosa, fibrilação atrial ou que
tenham sido submetidos à cirurgia de troca de válvula cardíaca.

A varfarina tem sido um dos anticoagulantes mais utilizados na


prática médica nos últimos 60 anos, pois até pouco tempo atrás era a
única opção barata e disponível em comprimidos.

Apesar do sucesso comercial, a varfarina apresenta um grande


problema: sua ação anticoagulante só é eficaz quando o fármaco
encontra-se em concentrações adequadas no sangue. Se estiver em
excesso, o paciente corre risco de apresentar hemorragias; se estiver
insuficiente, o efeito anticoagulante não é eficaz.

O controle dessa curta margem terapêutica é feito através de um


exame de sangue chamado INR, que será explicado mais à frente.

O que é a coagulação sanguínea?

Coagulação é o processo no qual coágulos são formados em locais


de lesão dos vasos sanguíneos. Sem o sistema coagulação todos
nós morreríamos após um simples trauma, pois mesmo uma pequena
lesão seria capaz de causar um sangramento persistente e fatal, da
mesma forma que um pequeno furo em um pneu é capaz de
esvaziá-lo após algum tempo.
Os coágulos precisam se formar de forma rápida para estancar a
hemorragia, mas não podem crescer demais a ponto de formar um
trombo que obstrua o fluxo sanguíneo dentro do vaso acometido.
Para controlar a formação do coágulo, fatores de coagulação e de
anticoagulação precisam agir simultaneamente e de forma
sincronizada. Qualquer desequilíbrio para um dos dois lados pode
causar hemorragias ou tromboses.

Como age a varfarina

A coagulação envolve uma complexa cascata de eventos, com


ativações de diversas enzimas e proteínas pró e anticoagulantes.
Pelo menos 4 fatores coagulantes são formados a partir da vitamina
K: fatores II, VII, IX e X. A vitamina K também está envolvida na
formação de fatores anticoagulantes, como as proteínas C e S.

A varfarina inibe a formação desses fatores da coagulação


dependentes da vitamina K, diminuindo assim a capacidade do
sangue coagular. Dizemos que a varfarina “afina o sangue” porque
ela reduz a possibilidade de formação de coágulos e trombos dentro
da circulação sanguínea. Esse efeito anticoagulante é importante no
tratamento de doenças, como:

● Trombose venosa profunda.


● Embolia pulmonar.
● Fibrilação atrial.
● Pacientes com válvulas cardíacas artificiais.
● Síndrome do anticorpo antifosfolipídeo.

Nomes comerciais

A varfarina pode ser encontrada sob a forma genérica (varfarina


sódica) ou através dos seguintes nomes comerciais:
● Coumadin.
● Marevan.
● Marfarin.
● Varfine (comercializado apenas em Portugal).
● Warfarin.

A varfarina pode ser encontrado em comprimidos de 2,5 mg, 5,0 mg e


7,5 mg.

O que é o INR?

O controle da eficácia da varfarina é feito através de um exame


chamado INR (acrônimo em inglês para “razão normalizada
internacional”), que mostra o nível de anticoagulação do sangue. Os
laboratórios de análises clínicas medem o tempo que o sangue leva
para coagular. Quanto mais demorada for a coagulação, maior é o
valor do INR.

Pessoas saudáveis têm um INR de 1. Pacientes em uso da varfarina


habitualmente precisam manter o INR entre 2 e 3,5, dependendo da
doença em questão. Esse intervalo de INR deixa o paciente em um
estado em que o sangue não coagula com tanta facilidade, mas ainda
não há um grande risco de sangramentos espontâneos. Valores de
INR acima de 4 indicam anticoagulação excessiva e risco de
hemorragia. Valores de INR acima de 10 indicam intoxicação pela
varfarina e necessidade de tratamento urgente para reverter o estado
excessivo de anticoagulação.

Como a margem terapêutica é muito curta, o controle do INR deve


ser feito com grande rigor, e os pacientes que tomam varfarina devem
andar com alguma notificação para que, em caso de acidente ou
emergência, a equipe médica possa saber que se trata de um
paciente anticoagulado e sob maior risco de hemorragias.
Monitorização do INR

Cada serviço médico costuma ter um protocolo próprio de


monitorização do valor do INR. Em geral, os valores são medidos a
cada 3 dias quando o paciente inicia o tratamento, de forma a ajustar
a dose correta do medicamento. Depois que o INR encontra-se
estável por pelo menos 2 semanas seguidas, as dosagens de
monitorização podem ser espaçadas para cada 2 ou 4 semanas.

Não existe uma dose única que se adeque a todos os pacientes. A


maioria dos pacientes começa com a dose de 5 mg por dia, que
depois é modificada de forma a manter o INR alvo estável.

Interação com outros medicamentos e alimentos

Além de ter uma margem terapêutica muito curta, a varfarina ainda


sofre interação de vários medicamentos e alimentos, o que dificulta
ainda mais o seu controle.

Essas interações podem tanto inibir a ação da varfarina, favorecendo


o surgimento de trombos, quanto potencializar o seu efeito
anticoagulante, situação que eleva o risco de sangramentos.

Alimentos ricos em vitamina K são aqueles que mais interferem na


ação da varfarina.

Abaixo fornecemos as listas das principais interações da varfarina


com alimentos, fármacos e medicamentos naturais. É importante
ressaltar que o perigo não está necessariamente no uso
concomitante de qualquer uma das substâncias listadas.

O problema costuma ocorrer no momento em que alguma substância


nova é introduzida ou quando alguma substância habitualmente
consumida é suspensa. É nesse momento que um INR previamente
estável pode sofrer redução ou elevação.
Toda vez que o paciente mudar de dieta ou de prescrição médica, o
INR deve voltar a ser dosado com mais frequência para identificar
possíveis flutuações perigosas. Pode ser necessário reduzir o
aumentar a dose da varfarina para que o INR volte ao valor alvo.

Fármacos que podem potencializar o efeito da varfarina e


aumentar o INR

● Acarbose.
● Alopurinol.
● Aspirina.
● Amiodarona.
● Anti-inflamatórios.
● Antibióticos da classe Cefalosporinas.
● Antibióticos Macrolídios, como a azitromicina.
● Canela.
● Cimetidina.
● Ciprofloxacina.
● Clofibrato.
● Clopidogrel.
● Colchicina.
● Corticoides.
● Dissulfiram.
● Eritromicina.
● Estatinas (drogas que diminuem colesterol).
● Esteroides anabolizantes.
● Fenofibrato.
● Fluconazol.
● Fluorouracil (5-FU).
● Fluoxetina.
● Genfibrozila.
● Hormônios tireoidianos.
● Isoniazida.
● Metronidazol.
● Omeprazol.
● Paracetamol.
● Sulfametoxazol-trimetoprim (Bactrim).
● Sertralina.
● Tamoxifeno.
● Tetraciclina.
● Tramadol.
● Vacina para gripe.

Fármacos que podem inibir ao efeito da varfarina e


diminuir o INR

● Anticoncepcionais orais.
● Azatioprina.
● Carbamazepina.
● Drogas que bloqueiam a produção de hormônios
tireoidiano.
● Fenitoína.
● Fenobarbital.
● Griseofulvina.
● Haloperidol.
● Hidróxido de alumínio.
● Rifampicina.
● Sucralfato.
● Vitamina K.

Alimentos ricos em vitamina K que podem inibir a


varfarina e diminuir o INR

● Abacate.
● Acelga.
● Agrião.
● Aipo.
● Alface.
● Ameixa seca.
● Aspargos.
● Atum em lata.
● Azeite de oliva.
● Beterraba.
● Brócolis.
● Cebolinha.
● Chucrute.
● Coleslaw.
● Costeleta de porco.
● Couve.
● Couve-de-Bruxelas.
● Couve-flor.
● Couve-galega.
● Endívia.
● Ervilha.
● Espinafre.
● Feijão verde.
● Fígado.
● Folhas de amaranto.
● Grão-de-bico.
● Kiwi.
● Lentilha.
● Mamão.
● Mostarda-castanha.
● Nabo.
● Quiabo.
● Repolho.
● Salsa.
● Soja.

Substâncias naturais que podem aumentar o efeito da


varfarina

● Alho.
● Cranberry.
● Camomila.
● Castanha da Índia (aesculus hippocastanum).
● Boldo (Peumus boldus).
● Maconha (Cannabis sativa).
● Ervas chinesas (várias delas agem, na dúvida não use).
● Gengibre (Zingiber officinale).
● Ginkgo biloba.
● Lycium (Lycium barbarum).
● Óleo de peixe (ômega 3).
● Quitosana (Swertia chirayita).
● Saw palmetto (Serenoa repens).
● Toranja (grapefruit).
● Trevo-vermelho (Trifolium pretense).
● Unha do diabo (Harpagophytum procumbens).

Substâncias naturais que podem inibir o efeito da varfarina

● Chá-verde (camellia sinensis).


● Danshen (Salvia miltiorrhiza).
● Erva de São João (Hypericum perforatum).
● Flor-de-cone (Echinacea purpurea).
● Ginseng (panax ginseng).

Bebidas alcoólicas e varfarina

O consumo de bebidas alcoólicas interfere no efeito da varfarina,


tanto para mais como para menos. O consumo agudo de álcool em
pessoas que não bebem frequentemente pode causar elevação
aguda do INR. Por outro lado, pessoas com consumo moderado a
pesado de álcool podem criar resistência à varfarina, sendo
necessárias doses mais elevadas para atingir o INR terapêutico.

Alimentos com baixa concentração de vitamina K (não


interferem ou interferem pouco com a varfarina)
● Abacate.
● Amendoim.
● Arroz.
● Batatas.
● Cenoura.
● Cereal.
● Café.
● Carnes, peixes e aves.
● Ervilhas.
● Feijão.
● Frutas em geral.
● Lacticínios.
● Maçã vermelha.
● Massas.
● Milho.
● Ovos.
● Pão.
● Pepinos (sem a casca).
● Tomates.

Sinais de sangramento pela varfarina

A principal complicação do uso da varfarina são as hemorragias


devido a anticoagulação excessiva. As duas formas de hemorragia
mais graves são os sagramentos gastrointestinais ou intracerebrais.
Hemorragia excessiva pode ocorrer em qualquer área do corpo,
principalmente após traumas.

O aparecimento de qualquer um dos sinais abaixo deve ser


imediatamente avaliado por um médico, pois sugerem um estado de
excessiva anticoagulação:

● Sangramento espontâneo das gengivas.


● Sangue na urina.
● Fezes escuras ou sanguinolentas.
● Hemorragia nasal.
● Vômito sanguinolento.
● Tosse com expectoração sanguinolenta.
● Grandes manchas roxas na pele.
● Alterações súbitas da visão.
● Forte dor de cabeça ou uma dor de cabeça que é mais
grave do que o habitual (pode sinalizar sangramento
intracerebral).

Paciente em uso de varfarina que sofrem quedas ou acidentes com


traumas na cabeça também devem ser avaliados por um médico.

Contraindicações ao uso da varfarina

A varfarina não deve ser prescrita a nenhum paciente com risco


elevado de sangramento. Alguns exemplos:

● Pacientes com pressão arterial descontrolada.


● História de acidente vascular cerebral.
● Úlceras estomacais, gastrite ou doença péptica.
● Câncer.
● Alcoolismo.
● Doença hepática.
● Pacientes idosos com elevado risco de quedas.

A varfarina é contraindicada durante a gravidez.

Precauções

Como o paciente anticoagulado tem maior risco de sangramento,


qualquer procedimento médico invasivo deve ser realizado somente
após a redução do INR, incluindo biópsias de órgãos, punção lombar
e procedimentos cirúrgicos em geral.

Novos anticoagulantes orais

Recentemente surgiram no mercado novos anticoagulantes orais, que


paulatinamente têm vindo a substituir a varfarina na maioria dos
tratamentos. Entre os novos fármacos podemos destacar:

● Dabigatrana (nome comercial: Pradaxa).


● Rivaroxaban (nome comercial: Xarelto).
● Apixaban (nome comercial: Eliquis).

Esses novos anticoagulantes apresentam menor risco de hemorragia,


não precisam de monitorização pelo INR e não apresentam tantas
interferências de outros fármacos e alimentos.

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