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A avaliação psiquiátrica compreende duas partes. A primeira, uma A estrutura da história e da avaliação do estado mental apre-
abordagem da histórica (p. ex., psiquiátrica, médica, familiar), sentada nesta seção não pretende ser um plano rígido para entre-
envolve a descrição, pelo paciente, de como os sintomas do epi- vistar o paciente, mas um guia para organizar a história do pa-
sódio atual evoluíram, uma revisão de episódios e tratamentos ciente quando for escrito. Existem diversos formatos aceitos e
passados, a descrição das condições médicas atuais e passadas, padronizados, um deles é apresentado na Tabela 1-1.
um resumo dos problemas e tratamentos psiquiátricos dos fami-
liares e a história pessoal do paciente, que revela o funcionamen-
to interpessoal e adaptativo ao longo do tempo. As informações Dados de Identificação
partem do paciente, mas podem ser complementadas por infor-
mações de familiares, agências de assistência social, médicos que Os dados de identificação proporcionam uma referência demo-
já o trataram e registros hospitalares antigos. A segunda parte da gráfica sucinta do paciente, por nome, idade, estado civil, sexo,
avaliação psiquiátrica, a avaliação do estado mental, revisa o fun- ocupação, língua, origem étnica e religião, até o ponto em que
cionamento emocional e cognitivo do paciente de forma sistemá- são pertinentes, e das atuais circunstâncias de sua vida. As infor-
tica no momento em que a entrevista é conduzida. mações também podem incluir o lugar ou a situação em que a
entrevista aconteceu, a confiabilidade da(s) fonte(s), e se trata do
primeiro episódio do transtorno atual. O psiquiatra deve indicar
HISTÓRIA PSIQUIÁTRICA se o paciente veio sozinho, foi indicado ou trazido por outra pes-
soa. Os dados de identificação proporcionam um esboço das ca-
É o registro da vida do paciente. Permite que o psiquiatra enten- racterísticas potencialmente importantes do paciente, que podem
da quem é o paciente, de onde veio e para onde provavelmente afetar o diagnóstico, o prognóstico, o tratamento e a adesão.
vai no futuro. Trata-se da história de vida do paciente contada Um exemplo do relatório escrito contendo esses dados é apre-
para o psiquiatra nas suas próprias palavras e sob seu próprio sentado a seguir.
ponto de vista. Muitas vezes, também inclui informações obtidas
de outras fontes, como os pais ou o cônjuge. Para se estabelecer J. Jones é um homem branco, 25 anos, solteiro e católi-
um diagnóstico correto e formular um plano de tratamento efeti- co, atualmente desempregado e sem residência fixa, que vive
vo, é essencial que se obtenha uma história abrangente do pa- em albergues públicos e nas ruas. A entrevista foi conduzida
ciente e, se necessário, de outras fontes informadas. Conforme na sala de emergência, com o paciente imobilizado, diante
mencionado, a história psiquiátrica difere um pouco daqueles de dois membros da equipe clínica e de um policial. Esta foi
obtidos na medicina ou na cirurgia. Além de reunir os dados sua décima visita à sala de emergência no último ano. As
fatuais e concretos relacionados à cronologia da formação dos fontes de informações incluíam o próprio paciente e o poli-
sintomas e ao curso psiquiátrico e médico, o psiquiatra visa a cial que o trouxe à emergência, que o havia encontrado na
identificar as características da personalidade do paciente, incluin- rua e o conhecia de episódios anteriores.
do seus pontos fortes e fracos. Isso proporciona uma visão da natu-
reza dos relacionamentos entre o paciente e pessoas mais próximas,
incluindo todas aquelas que são importantes em sua vida. Pode-se Principal Queixa
produzir um quadro razoavelmente abrangente do desenvolvimento
do paciente, desde os primeiros anos formativos até o presente. A principal queixa, nas próprias palavras do paciente, declara por
A técnica mais importante nessa abordagem é permitir que os que veio ou foi trazido em busca de ajuda. Ela deve ser registrada,
pacientes contem suas histórias em suas próprias palavras, na or- mesmo que o paciente não consiga falar, e sua explicação, inde-
dem que considerarem mais importante. À medida que são rela- pendentemente do quão bizarra ou irrelevante, deve ser registra-
tadas, os entrevistadores habilidosos reconhecem os pontos nos da literalmente na seção específica. Os outros indivíduos presen-
quais podem introduzir questões relevantes sobre as áreas descri- tes como fontes de informações podem apresentar suas versões
tas no resumo da história e da avaliação do estado mental. acerca dos eventos na seção sobre a história da doença atual.
14 MANUAL CONCISO DE PSIQUIATRIA CLÍNICA
fazer parte da história familiar. Há casos na família de abuso de além da mãe cuidaram do paciente? Este apresentou problemas
álcool e de outras substâncias ou de comportamento anti-social? em algum período inicial, como ansiedade com estranhos ou an-
Além disso, deve ser fornecida uma descrição da personalidade e siedade de separação grave? Explore os irmãos do paciente e os
da inteligência das pessoas que viveram na casa do paciente, da detalhes de seu relacionamento com eles. A personalidade emer-
infância até o presente, bem como uma descrição dos diversos gente é um tópico de importância crucial. A criança era tímida,
lares em que o mesmo tenha eventualmente vivido. O psiquiatra agitada, hiperativa, retraída, atenta, extrovertida, introvertida,
também deve definir o papel que cada pessoa desempenhou na atlética, solidária? Procure dados sobre suas capacidades em rela-
sua criação e o atual relacionamento dessa pessoa com o paciente. ção a se concentrar, tolerar frustrações e postergar gratificações.
Quais eram, e são, as tradições étnicas, nacionais e religiosas da Verifique também a preferência por papéis ativos ou passivos em
família? Outros informantes além do paciente podem estar dis- brincadeiras físicas. Quais eram os jogos ou brinquedos favoritos
poníveis para contribuir para a história familiar, e a fonte deve ser da criança? Preferia brincar só, com outras crianças ou não brin-
citada no registro escrito. Diversos membros da família podem car? Qual a memória mais antiga do paciente? Havia sonhos ou
dar descrições diferentes da mesma pessoa ou evento. O psiquia- fantasias recorrentes durante esse período? A seguir, apresenta-
tra precisa determinar o conhecimento e a atitude da família para mos uma síntese das áreas importantes que devem ser atendidas.
com a doença do paciente. Percebe que os membros da família
são solidários, indiferentes ou destrutivos? Que papel a doença Hábitos Alimentares. Amamentação ou mamadeira, problemas ali-
exerce na família? mentares.
Outras questões que fornecem informações proveitosas nesta Desenvolvimento Inicial. Caminhar, falar, crescimento de dentes, de-
seção incluem as seguintes: Qual é a atitude do paciente para senvolvimento da linguagem, desenvolvimento motor, sinais de
com seus pais e irmãos? O psiquiatra deve pedir que o paciente necessidades frustradas, padrões de sono, constância de obje-
descreva cada membro da família. Quem foi mencionado pri- tos, ansiedade com estranhos, privação materna, ansiedade de
meiro? Quem foi esquecido? O que os irmãos fazem? Como as separação, outros cuidadores no lar.
ocupações dos irmãos se apresentam em comparação com o tra- Controle dos Esfincteres. Idade, atitude dos pais, sentimentos rela-
balho do paciente, e como este se sente a respeito disso? Com cionados.
quem o paciente se identifica mais na família, e por quê? Sintomas de Problemas Comportamentais. Chupar o dedo, acessos de
raiva, tiques, bater a cabeça, sacudir-se, terrores noturnos, me-
dos, urinação ou defecação na cama, roer as unhas, masturba-
História Pessoal (Anamnese) ção excessiva.
Personalidade Quando Criança. Introvertida, agitada, hiperativa, re-
Além de estudar a doença do paciente e sua situação atual de vida, o traída, persistente, extrovertida, tímida, atlética, solidária, pa-
psiquiatra precisa ter uma compreensão minuciosa do seu passado e drões de jogo.
da sua relação com o problema emocional atual. A anamnese, ou Sonhos ou Fantasias Precoces ou Recorrentes.
história pessoal, costuma ser dividida em primeira infância, infância
tardia e idade adulta. As emoções predominantes associadas aos dife- Infância Média (de 3 a 11 Anos). Nesta faixa etária, o psi-
rentes períodos da vida (p. ex., dor, estresse, conflito) devem ser ano- quiatra pode abordar temas importantes, como identificação de gê-
tadas. Dependendo do tempo e da situação, o psiquiatra pode entrar nero, punições usadas no lar e pessoas que proporcionaram a disci-
em detalhes com relação a cada uma daquelas áreas. plina e influenciaram a formação da consciência. O psiquiatra deve
investigar as primeiras experiências escolares, especialmente se o pa-
História Pré-natal e Perinatal. O psiquiatra considera a si- ciente tolerava se separar de sua mãe no início. Dados sobre as pri-
tuação doméstica na qual o paciente nasceu e se o mesmo foi plane- meiras amizades e relacionamentos pessoais são valiosos. O psiquia-
jado e desejado. Houve problemas com a gravidez e o parto? Qual tra deve determinar o número e a proximidade dos amigos, descre-
era o estado físico e emocional da mãe quando do nascimento? Ha- ver se o paciente assumia o papel de líder ou era um seguidor, bem
via problemas de saúde maternos durante a gravidez? A mãe consu- como sua popularidade social e participação em atividades de grupo
miu álcool ou outras substâncias durante esse período? ou turmas. A criança cooperava com seus amigos, era justa, entendia
e obedecia as regras, desenvolveu uma consciência inicial? Os pa-
Primeira Infância (do Nascimento aos 3 Anos). O drões de afirmação, impulsividade, agressividade, passividade, ansie-
período da primeira infância consiste dos três primeiros anos da dade ou comportamento anti-social emergem em princípio no con-
vida do paciente. A qualidade da interação entre a mãe e o bebê texto dos relacionamentos na escola. Uma história do desenvolvi-
durante a alimentação e o treinamento para o uso do toalete é mento da leitura e de outras habilidades intelectuais e motoras é
importante. Muitas vezes, pode-se descobrir se a criança apresen- importante, da mesma forma que de dificuldades de aprendizagem,
tou problemas nessas áreas. Distúrbios precoces em padrões de seu manejo e os efeitos sobre a criança. Pesadelos, fobias, urinação na
sono, incluindo episódios de bater a cabeça e sacudir o corpo, cama, incêndios, crueldade com animais e masturbação excessiva
fornecem pistas sobre possível privação materna ou deficiências também devem ser explorados.
evolutivas. Além disso, é importante inteirar-se da constância e
dos apegos humanos durante os primeiros três anos de vida. Ha- Infância Tardia (da Puberdade à Adolescência). Nesta
via alguma doença psiquiátrica ou médica presente nos pais que fase, as pessoas começam a desenvolver independência de seus
possa ter interferido nas interações com o filho? Outras pessoas pais, por meio de relacionamentos com amigos e de atividades
16 MANUAL CONCISO DE PSIQUIATRIA CLÍNICA
Humor e Afeto
Descrição Geral
Humor. O humor é definido como uma emoção ampla e pro-
Aparência. Nesta categoria, o psiquiatra descreve a aparên- longada que colore a percepção que se tem do mundo. O psi-
cia e a impressão física geral do paciente, refletida por sua postu- quiatra está interessado em saber se o paciente fala voluntaria-
ra, equilíbrio, roupas e maneira de se arrumar. Se o mesmo pare- mente sobre seus sentimentos ou se é necessário perguntar como
cer particularmente bizarro, o clínico pode perguntar: “Alguém se sente. Afirmações sobre o humor devem incluir profundidade,
já fez comentários sobre sua aparência?”, “Como você descreveria intensidade, duração e flutuações. Adjetivos comuns usados para
sua aparência?”, “Poderia me ajudar a entender as escolhas que descrever esse aspecto incluem depressivo, desesperado, irritado,
fez quanto à sua aparência?” ansioso, bravo, expansivo, eufórico, vazio, culpado, desesperan-
EXAME CLÍNICO DO PACIENTE PSIQUIÁTRICO 19
çado, fútil, autodestrutivo, assustado e perplexo. O humor pode cas (que ocorrem quando se adormece) e as hipnopômpicas (que
ser instável, flutuante ou alternar rapidamente entre extremos (p. ocorrem quando se desperta) têm muito menos relevância do que
ex., rir ruidosa e expansivamente em um momento e chorar de- outros tipos de alucinações. Também é possível que ocorram em
sesperadamente em seguida). momentos de particular estresse para pacientes individuais. Os
sentimentos de despersonalização e desrealização (sensações ex-
Afeto. Pode ser definido como a resposta emocional atual do tremas de desconexão com o self e com o ambiente) são ainda
paciente, inferida a partir de sua expressão facial, incluindo a quan- exemplos de transtornos da percepção. O formigamento, o senti-
tidade e variedade de comportamentos expressivos. O afeto pode mento de que insetos estão andando sobre ou sob a pele, é visto
ser ou não congruente com o humor, sendo descrito como estan- no cocainismo.
do dentro de um limite normal, constrito, embotado ou plano. Exemplos de questões usadas para evocar a experiência de
Em seu limite normal, há uma variação na expressão facial, no alucinações incluem as seguintes: Você já ouviu vozes ou ou-
tom de voz, no uso das mãos e nos movimentos corporais. Quan- tros sons que ninguém mais ouviu ou quando não havia mais
do é constrito, a variedade e a intensidade da expressão são redu- ninguém por perto? Já teve sensações estranhas, que ninguém
zidas. No afeto embotado, a expressão emocional é reduzida ain- mais parece ter?
da mais. Para diagnosticar o tipo plano, não pode haver pratica-
mente nenhum sinal de expressão afetiva. A voz do paciente deve Um aterrorizado homem de 37 anos com delirium tre-
ser monótona, e seu rosto estar imóvel. Embotado, plano e constri- mens agudo olhava de maneira agitada ao redor da sala. Apon-
to são termos usados em referência à aparente profundidade da tava para a janela e dizia: “Meu Deus, a armada espanhola
emoção; deprimido, orgulhoso, irritado, temeroso, ansioso, cul- está lá no jardim. Eles vão atacar”. A alucinação era experi-
pado, eufórico e expansivo são termos usados em referência a mentada como se fosse real, persistindo de forma intermi-
humores particulares. Observe a dificuldade do paciente para ini- tente por três dias, antes de desaparecer. Subseqüentemente,
ciar, manter ou terminar uma resposta emocional. o paciente não se lembrava da experiência.
duração, posteriormente. Se houver um problema, que esforços são Leitura e Escrita. O psiquiatra pode pedir que o paciente
feitos para enfrentá-lo ou escondê-lo? A negação, a confabulação ou leia uma sentença (p. ex., “Feche os olhos”) e faça o que ela diz.
a circunstancialidade são usadas para esconder um déficit? Reações à Ele também pode escrever uma sentença simples, mas completa.
perda da memória podem fornecer pistas importantes sobre trans-
tornos subjacentes e mecanismos de enfrentamento. Por exemplo, Capacidade Visual e Espacial. Solicita-se que o paciente
um paciente que parece ter problemas de memória, mas que, de fato, copie um desenho, como um relógio ou pentágonos interligados.
está deprimido, apresenta maior probabilidade de ter preocupações
em relação a essa condição do que alguém com perda de memória Pensamento Abstrato. Refere-se à capacidade de lidar com
secundária a uma demência. conceitos. Os pacientes podem ter déficits na maneira como con-
ceitualizam ou lidam com as idéias. O paciente consegue explicar
Um alcoólatra crônico de 40 anos de idade, cuja memó- semelhanças, como aquelas existentes entre uma maçã e uma pêra
ria no exame do estado mental estava afetada de forma bas- ou entre a verdade e a beleza? Os significados de provérbios sim-
tante evidente, exigiu freneticamente que fosse liberado do ples, como “Pedras rolantes não criam limo”, são compreendi-
hospital, dizendo que sua esposa havia sofrido um acidente dos? As respostas podem ser concretas (fornecendo exemplos es-
automobilístico e que ele precisava se dirigir até outro hospi- pecíficos para ilustrar o significado) ou claramente abstratas (for-
tal para visitá-la. Afirmou isso com convicção sincera, preo- necendo uma explicação abstrata demais). Sua adequação e a for-
cupação e medo apropriados. Para ele, pelo menos, a história ma como são apresentadas devem ser anotadas. Em uma reação
era real. De fato, sua esposa havia morrido fazia 15 anos. O catastrófica, os pacientes com lesões cerebrais se tornam extrema-
paciente contou a mesma história muitas vezes, sempre com mente emotivos e não conseguem pensar de forma abstrata.
uma convicção evidente, apesar do fato de os membros da
equipe o confrontarem com a realidade do falecimento. Ele Informações e Inteligência. Se houver suspeita de um pos-
nunca se sentiu influenciado por tais afirmações. Embora sível problema cognitivo, o paciente tem dificuldade com tarefas
sua memória passada fosse fragmentada, conseguia lembrar mentais, como contar o troco de US$10 após uma compra de
repetidamente da história da emergência com sua esposa. 6,37? Se essa tarefa for difícil demais, problemas mais fáceis po-
dem ser resolvidos (como quantas vezes há 5 centavos em
A confabulação (elaborar inconscientemente respostas falsas US$1,35). A inteligência está relacionada ao vocabulário e ao ca-
quando a memória está prejudicada) está mais intimamente asso- bedal de conhecimento (p. ex., a distância entre Nova York e
ciada a distúrbios cognitivos. Paris, os presidentes do país), levando-se em conta o nível edu-
cacional (formal e autodidata) e o status socioeconômico. A
Concentração e Atenção. A concentração pode ser afetada capacidade de lidar com conceitos difíceis e sofisticados pode
por muitas razões. Transtorno cognitivo, ansiedade, depressão e estí- refletir inteligência, mesmo na ausência de educação formal
mulos internos, como alucinações auditivas, podem contribuir para ou de uma base ampla de informações. Essencialmente, o psi-
problemas nessa área. A subtração de uma série de 7 a partir do quiatra estima que a capacidade intelectual do paciente funcione
número 100 é uma tarefa simples que exige concentração e capaci- em um nível básico.
dades cognitivas intactas. O paciente consegue subtrair 7 de 100 e
continuar subtraindo 7 do resultado? Se não for capaz, será que con-
segue fazê-lo com o número 3? As tarefas fáceis foram cumpridas – 4 Impulsividade
× 9, 5 × 4? O examinador sempre deve avaliar se ansiedade, algum
transtorno do humor ou da consciência ou algum déficit de aprendi- O paciente é capaz de controlar impulsos sexuais, agressivos ou
zagem (discalculia) é responsável pela dificuldade. outros? Uma avaliação do controle de impulsos é essencial para
A atenção é avaliada por cálculos ou solicitando-se que o pacien- verificar se o paciente tem consciência de comportamentos so-
te soletre algumas palavras invertidas. Também pode ser pedido que cialmente apropriados, representando uma medida do perigo
forneça o nome de cinco coisas que comecem com determinada letra. potencial do paciente para si mesmo e para terceiros. É possível
que impulsos secundários a transtornos cognitivos ou psicóticos
Durante seu episódio maníaco mais recente, um homem de ou decorrentes de defeitos caracterológicos crônicos, como os
48 anos com transtorno bipolar teve idéias intensas, grandiosas observados nos transtornos da personalidade, não consigam ser
e psicóticas. Ele estava convencido de que conseguiria controlar controlados. Esse domínio pode ser estimado a partir das infor-
o trânsito em Los Angeles, dirigindo em certas avenidas em ho- mações obtidas da história recente do paciente e do comporta-
rários específicos e desejando que os outros saíssem da estrada. mento observado durante a entrevista.
Após o episódio maníaco terminar e durante o episódio depres-
sivo que veio logo a seguir, não conseguia lembrar-se de ne-
nhum detalhe do conteúdo de seus pensamentos enquanto es- Discernimento e Insight
tava maníaco. Mais tarde, quando voltou a ficar eutímico, con-
seguiu rememorar algumas imagens nebulosas. Um ano depois, Discernimento. Ao obter a história, o psiquiatra deve ser
o começo de um novo período hipomaníaco foi anunciado pelo capaz de avaliar muitos aspectos da capacidade de discernimento
fato de o paciente lembrar e descrever espontaneamente, em social do paciente. Ele entende o resultado provável de seu com-
detalhes, os planos do episódio anterior. portamento, e é influenciado por esse entendimento? Consegue
22 MANUAL CONCISO DE PSIQUIATRIA CLÍNICA
prever o que faria em situações imaginárias (p. ex., ao sentir chei- Uma relação de seis níveis de insight é apresentada a seguir:
ro de fumaça em um cinema lotado)?
1. Negação completa da doença.
Insight. É o grau de consciência e entendimento em relação a 2. Leve consciência de estar doente e necessitar de ajuda, mas
estar doente. O paciente pode apresentar total negação de sua com negação.
doença ou demonstrar um certo nível de consciência acerca do 3. Consciência de estar doente, mas culpa outras pessoas, fato-
que está acontecendo, no entanto, culpar outras pessoas, fatores res externos ou orgânicos.
externos ou mesmo orgânicos. Pode reconhecer que tem uma 4. Consciência de que a doença se deve a algo desconhecido.
doença, mas atribuí-la a algo desconhecido ou misterioso. 5. Insight intelectual: reconhecimento de que está doente e de
que os sintomas ou a incapacidade de adaptação social se de-
Um jovem de 18 anos chegou à sala de emergência com a vem aos próprios sentimentos irracionais ou a perturbações,
crença de que estava sendo controlado por um computador mas sem aplicar esse conhecimento às experiências futuras.
em uma nave semelhante à Enterprise, da série de televisão 6. Insight emocional verdadeiro: consciência emocional dos pró-
Jornada nas estrelas. Estava convencido de que todos os seus prios motivos e sentimentos e das pessoas importantes em
pensamentos, atos e sentimentos eram programados na nave, sua vida, que pode levar a mudanças básicas no comporta-
a qual se situava a anos-luz de distância e, assim, não seria mento.
detectada por mais ninguém.