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Exame Clínico do Paciente Psiquiátrico

A avaliação psiquiátrica compreende duas partes. A primeira, uma A estrutura da história e da avaliação do estado mental apre-
abordagem da histórica (p. ex., psiquiátrica, médica, familiar), sentada nesta seção não pretende ser um plano rígido para entre-
envolve a descrição, pelo paciente, de como os sintomas do epi- vistar o paciente, mas um guia para organizar a história do pa-
sódio atual evoluíram, uma revisão de episódios e tratamentos ciente quando for escrito. Existem diversos formatos aceitos e
passados, a descrição das condições médicas atuais e passadas, padronizados, um deles é apresentado na Tabela 1-1.
um resumo dos problemas e tratamentos psiquiátricos dos fami-
liares e a história pessoal do paciente, que revela o funcionamen-
to interpessoal e adaptativo ao longo do tempo. As informações Dados de Identificação
partem do paciente, mas podem ser complementadas por infor-
mações de familiares, agências de assistência social, médicos que Os dados de identificação proporcionam uma referência demo-
já o trataram e registros hospitalares antigos. A segunda parte da gráfica sucinta do paciente, por nome, idade, estado civil, sexo,
avaliação psiquiátrica, a avaliação do estado mental, revisa o fun- ocupação, língua, origem étnica e religião, até o ponto em que
cionamento emocional e cognitivo do paciente de forma sistemá- são pertinentes, e das atuais circunstâncias de sua vida. As infor-
tica no momento em que a entrevista é conduzida. mações também podem incluir o lugar ou a situação em que a
entrevista aconteceu, a confiabilidade da(s) fonte(s), e se trata do
primeiro episódio do transtorno atual. O psiquiatra deve indicar
HISTÓRIA PSIQUIÁTRICA se o paciente veio sozinho, foi indicado ou trazido por outra pes-
soa. Os dados de identificação proporcionam um esboço das ca-
É o registro da vida do paciente. Permite que o psiquiatra enten- racterísticas potencialmente importantes do paciente, que podem
da quem é o paciente, de onde veio e para onde provavelmente afetar o diagnóstico, o prognóstico, o tratamento e a adesão.
vai no futuro. Trata-se da história de vida do paciente contada Um exemplo do relatório escrito contendo esses dados é apre-
para o psiquiatra nas suas próprias palavras e sob seu próprio sentado a seguir.
ponto de vista. Muitas vezes, também inclui informações obtidas
de outras fontes, como os pais ou o cônjuge. Para se estabelecer J. Jones é um homem branco, 25 anos, solteiro e católi-
um diagnóstico correto e formular um plano de tratamento efeti- co, atualmente desempregado e sem residência fixa, que vive
vo, é essencial que se obtenha uma história abrangente do pa- em albergues públicos e nas ruas. A entrevista foi conduzida
ciente e, se necessário, de outras fontes informadas. Conforme na sala de emergência, com o paciente imobilizado, diante
mencionado, a história psiquiátrica difere um pouco daqueles de dois membros da equipe clínica e de um policial. Esta foi
obtidos na medicina ou na cirurgia. Além de reunir os dados sua décima visita à sala de emergência no último ano. As
fatuais e concretos relacionados à cronologia da formação dos fontes de informações incluíam o próprio paciente e o poli-
sintomas e ao curso psiquiátrico e médico, o psiquiatra visa a cial que o trouxe à emergência, que o havia encontrado na
identificar as características da personalidade do paciente, incluin- rua e o conhecia de episódios anteriores.
do seus pontos fortes e fracos. Isso proporciona uma visão da natu-
reza dos relacionamentos entre o paciente e pessoas mais próximas,
incluindo todas aquelas que são importantes em sua vida. Pode-se Principal Queixa
produzir um quadro razoavelmente abrangente do desenvolvimento
do paciente, desde os primeiros anos formativos até o presente. A principal queixa, nas próprias palavras do paciente, declara por
A técnica mais importante nessa abordagem é permitir que os que veio ou foi trazido em busca de ajuda. Ela deve ser registrada,
pacientes contem suas histórias em suas próprias palavras, na or- mesmo que o paciente não consiga falar, e sua explicação, inde-
dem que considerarem mais importante. À medida que são rela- pendentemente do quão bizarra ou irrelevante, deve ser registra-
tadas, os entrevistadores habilidosos reconhecem os pontos nos da literalmente na seção específica. Os outros indivíduos presen-
quais podem introduzir questões relevantes sobre as áreas descri- tes como fontes de informações podem apresentar suas versões
tas no resumo da história e da avaliação do estado mental. acerca dos eventos na seção sobre a história da doença atual.
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mento adequado da história da doença atual. Um paciente orga-


TABELA 1-1 Resumo da história psiquiátrica nizado, em geral, consegue apresentar uma narrativa cronológi-
I. Dados de identificação ca; mas se for desorganizado, é mais difícil entrevistá-lo, pois a
II. Principal queixa seqüência dos eventos cronológicos é confusa. Nesse caso, con-
III. História da doença atual tactar outros informantes, como membros da família e amigos,
A. Início pode ser uma maneira valiosa de esclarecer a condição.
B. Fatores precipitantes
IV. Doenças passadas
A. Psiquiátricas
B. Médicas Doenças Passadas
C. História de uso de álcool e outras substâncias
V. História familiar A seção que trata de doenças passadas é uma transição entre a
VI. História pessoal (anamnese) história da doença atual e a história pessoal do paciente (também
A. Pré-natal e perinatal chamada anamnese). São descritos episódios pregressos de doen-
B. Primeira infância (até 3 anos de idade)
C. Infância média (de 3 a 11 anos de idade)
ças psiquiátricas e médicas. De maneira ideal, uma narrativa de-
D. Infância tardia (da puberdade à adolescência) talhada dos substratos psicológicos e biológicos preexistentes e
E. Vida adulta subjacentes é feita nesse ponto, juntamente com pistas impor-
1. História ocupacional tantes e evidências de áreas vulneráveis no funcionamento do
2. História de relacionamentos e conjugal
3. História militar paciente. Os sintomas, o nível de incapacidade, o tipo de trata-
4. História educacional mento recebido, nomes de hospitais, duração de cada doença,
5. Religião efeitos de tratamentos anteriores e grau de adesão devem ser ex-
6. Atividade social plorados e registrados de maneira cronológica. É indispensável
7. Atual situação de vida
8. História legal prestar particular atenção aos primeiros episódios que assinala-
F. História sexual ram o início da doença, pois muitas vezes podem proporcionar
G. Fantasias e sonhos dados cruciais sobre eventos precipitantes, possibilidades de diag-
H. Valores
nóstico e capacidades de enfrentamento.
Em relação à história médica, o psiquiatra deve obter uma revi-
são dos sintomas, observando qualquer doença médica ou cirúrgica
História da Doença Atual importante e grandes traumas, particularmente aqueles que exigem
hospitalização. Episódios de trauma craniocerebral, doenças neuro-
Proporciona um quadro abrangente e cronológico dos eventos que lógicas, tumores e transtornos convulsivos são especialmente rele-
levam ao momento atual na vida do paciente. Essa parte da história vantes, assim como a história de teste positivo para o vírus da imu-
psiquiátrica é provavelmente a mais útil para o diagnóstico: quando nodeficiência humana (HIV) ou de síndrome da imunodeficiência
o episódio atual começou e quais foram os eventos precipitantes adquirida (AIDS). Devem ser feitas perguntas específicas sobre a
imediatos? Um entendimento da história da doença atual ajuda a presença de algum transtorno convulsivo, episódios de perda da cons-
responder as questões, “Por que agora?”, “Por que o paciente veio ao ciência, mudanças nos padrões usuais de dor de cabeça, alterações na
médico neste momento?”, “Quais eram as circunstâncias em sua vida visão e episódios de confusão e desorientação. História de infecção
no início dos sintomas ou as mudanças comportamentais, e como com sífilis é crítica e relevante.
afetaram o paciente, fazendo o transtorno se manifestar?”. Conhecer Causas, complicações e o tratamento de qualquer doença, bem
sua personalidade sadia anterior também contribui para oferecer uma como os efeitos desta sobre o paciente devem ser anotados. É impor-
perspectiva ao paciente atualmente enfermo. tante fazer perguntas específicas sobre transtornos psicossomáticos,
A evolução dos sintomas deve ser determinada e registrada de anotando-se as respostas. Nessa categoria, incluem-se rinite, artrite
maneira organizada e sistemática. Aqueles que não estão presen- reumática, colite ulcerosa, asma, hipertireoidismo, problemas gas-
tes também devem ser delineados. Quanto mais detalhada a his- trintestinais, resfriados recorrentes e problemas de pele. Todos os
tória da doença atual, mais preciso será o diagnóstico. Que even- pacientes devem falar sobre uso de álcool e outras substâncias, in-
tos precipitantes no passado fizeram parte da cadeia que levou cluindo detalhes sobre quantidade e freqüência. Normalmente, é
aos eventos imediatos? De que maneira a doença afetou as ativi- aconselhável estruturar as perguntas na forma de uma suposição de
dades de sua vida (p. ex., trabalho, relacionamentos importan- uso, como “Quanto de álcool você diria que bebe por dia?” em vez
tes)? Qual é a natureza da disfunção (p. ex., detalhes sobre mu- de “Você bebe?”. Esta pergunta pode colocar o paciente na defensi-
danças em fatores como personalidade, memória, fala)? Existem va, preocupado com o que o médico pensaria se a resposta fosse
sintomas psicofisiológicos? Se houver, devem ser descritos em ter- afirmativa. Se este partir do pressuposto de que a bebida é um fato, é
mos de localização, intensidade e flutuação. Qualquer relação entre provável que o paciente se sinta confortável ao admitir o uso.
sintomas físicos e psicológicos deve ser observada. Uma descrição
das ansiedades atuais do paciente, sejam generalizadas e não-es-
pecíficas (flutuantes) ou especificamente relacionadas com deter- História Familiar
minadas situações, será proveitosa. Como o paciente lida com
essas ansiedades? Freqüentemente, uma questão relativamente Uma breve declaração sobre qualquer doença psiquiátrica, hospi-
aberta, como “Como tudo isso começou?”, leva a um desdobra- talização e tratamento de familiares imediatos do paciente deve
EXAME CLÍNICO DO PACIENTE PSIQUIÁTRICO 15

fazer parte da história familiar. Há casos na família de abuso de além da mãe cuidaram do paciente? Este apresentou problemas
álcool e de outras substâncias ou de comportamento anti-social? em algum período inicial, como ansiedade com estranhos ou an-
Além disso, deve ser fornecida uma descrição da personalidade e siedade de separação grave? Explore os irmãos do paciente e os
da inteligência das pessoas que viveram na casa do paciente, da detalhes de seu relacionamento com eles. A personalidade emer-
infância até o presente, bem como uma descrição dos diversos gente é um tópico de importância crucial. A criança era tímida,
lares em que o mesmo tenha eventualmente vivido. O psiquiatra agitada, hiperativa, retraída, atenta, extrovertida, introvertida,
também deve definir o papel que cada pessoa desempenhou na atlética, solidária? Procure dados sobre suas capacidades em rela-
sua criação e o atual relacionamento dessa pessoa com o paciente. ção a se concentrar, tolerar frustrações e postergar gratificações.
Quais eram, e são, as tradições étnicas, nacionais e religiosas da Verifique também a preferência por papéis ativos ou passivos em
família? Outros informantes além do paciente podem estar dis- brincadeiras físicas. Quais eram os jogos ou brinquedos favoritos
poníveis para contribuir para a história familiar, e a fonte deve ser da criança? Preferia brincar só, com outras crianças ou não brin-
citada no registro escrito. Diversos membros da família podem car? Qual a memória mais antiga do paciente? Havia sonhos ou
dar descrições diferentes da mesma pessoa ou evento. O psiquia- fantasias recorrentes durante esse período? A seguir, apresenta-
tra precisa determinar o conhecimento e a atitude da família para mos uma síntese das áreas importantes que devem ser atendidas.
com a doença do paciente. Percebe que os membros da família
são solidários, indiferentes ou destrutivos? Que papel a doença Hábitos Alimentares. Amamentação ou mamadeira, problemas ali-
exerce na família? mentares.
Outras questões que fornecem informações proveitosas nesta Desenvolvimento Inicial. Caminhar, falar, crescimento de dentes, de-
seção incluem as seguintes: Qual é a atitude do paciente para senvolvimento da linguagem, desenvolvimento motor, sinais de
com seus pais e irmãos? O psiquiatra deve pedir que o paciente necessidades frustradas, padrões de sono, constância de obje-
descreva cada membro da família. Quem foi mencionado pri- tos, ansiedade com estranhos, privação materna, ansiedade de
meiro? Quem foi esquecido? O que os irmãos fazem? Como as separação, outros cuidadores no lar.
ocupações dos irmãos se apresentam em comparação com o tra- Controle dos Esfincteres. Idade, atitude dos pais, sentimentos rela-
balho do paciente, e como este se sente a respeito disso? Com cionados.
quem o paciente se identifica mais na família, e por quê? Sintomas de Problemas Comportamentais. Chupar o dedo, acessos de
raiva, tiques, bater a cabeça, sacudir-se, terrores noturnos, me-
dos, urinação ou defecação na cama, roer as unhas, masturba-
História Pessoal (Anamnese) ção excessiva.
Personalidade Quando Criança. Introvertida, agitada, hiperativa, re-
Além de estudar a doença do paciente e sua situação atual de vida, o traída, persistente, extrovertida, tímida, atlética, solidária, pa-
psiquiatra precisa ter uma compreensão minuciosa do seu passado e drões de jogo.
da sua relação com o problema emocional atual. A anamnese, ou Sonhos ou Fantasias Precoces ou Recorrentes.
história pessoal, costuma ser dividida em primeira infância, infância
tardia e idade adulta. As emoções predominantes associadas aos dife- Infância Média (de 3 a 11 Anos). Nesta faixa etária, o psi-
rentes períodos da vida (p. ex., dor, estresse, conflito) devem ser ano- quiatra pode abordar temas importantes, como identificação de gê-
tadas. Dependendo do tempo e da situação, o psiquiatra pode entrar nero, punições usadas no lar e pessoas que proporcionaram a disci-
em detalhes com relação a cada uma daquelas áreas. plina e influenciaram a formação da consciência. O psiquiatra deve
investigar as primeiras experiências escolares, especialmente se o pa-
História Pré-natal e Perinatal. O psiquiatra considera a si- ciente tolerava se separar de sua mãe no início. Dados sobre as pri-
tuação doméstica na qual o paciente nasceu e se o mesmo foi plane- meiras amizades e relacionamentos pessoais são valiosos. O psiquia-
jado e desejado. Houve problemas com a gravidez e o parto? Qual tra deve determinar o número e a proximidade dos amigos, descre-
era o estado físico e emocional da mãe quando do nascimento? Ha- ver se o paciente assumia o papel de líder ou era um seguidor, bem
via problemas de saúde maternos durante a gravidez? A mãe consu- como sua popularidade social e participação em atividades de grupo
miu álcool ou outras substâncias durante esse período? ou turmas. A criança cooperava com seus amigos, era justa, entendia
e obedecia as regras, desenvolveu uma consciência inicial? Os pa-
Primeira Infância (do Nascimento aos 3 Anos). O drões de afirmação, impulsividade, agressividade, passividade, ansie-
período da primeira infância consiste dos três primeiros anos da dade ou comportamento anti-social emergem em princípio no con-
vida do paciente. A qualidade da interação entre a mãe e o bebê texto dos relacionamentos na escola. Uma história do desenvolvi-
durante a alimentação e o treinamento para o uso do toalete é mento da leitura e de outras habilidades intelectuais e motoras é
importante. Muitas vezes, pode-se descobrir se a criança apresen- importante, da mesma forma que de dificuldades de aprendizagem,
tou problemas nessas áreas. Distúrbios precoces em padrões de seu manejo e os efeitos sobre a criança. Pesadelos, fobias, urinação na
sono, incluindo episódios de bater a cabeça e sacudir o corpo, cama, incêndios, crueldade com animais e masturbação excessiva
fornecem pistas sobre possível privação materna ou deficiências também devem ser explorados.
evolutivas. Além disso, é importante inteirar-se da constância e
dos apegos humanos durante os primeiros três anos de vida. Ha- Infância Tardia (da Puberdade à Adolescência). Nesta
via alguma doença psiquiátrica ou médica presente nos pais que fase, as pessoas começam a desenvolver independência de seus
possa ter interferido nas interações com o filho? Outras pessoas pais, por meio de relacionamentos com amigos e de atividades
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em grupo. O psiquiatra deve tentar identificar os valores dos gru-


Um médico de 40 anos de idade, que tinha um consultó-
pos sociais e determinar quem eram as figuras que o paciente
rio bem-sucedido, também investia muito dinheiro em em-
idealizava. Essas informações proporcionam pistas úteis sobre sua
preendimentos imobiliários e em muitos outros negócios. Isso
auto-imagem emergente.
muitas vezes o colocava em disputas legais. Ele passava de 12
É importante explorar a história escolar do paciente, seus re-
a 14 horas por dia atendendo seus pacientes, fazia o trabalho
lacionamentos com professores e estudos e interesses favoritos,
burocrático nos fins de semana e usava momentos não-con-
tanto na escola quanto em atividades extracurriculares. Pergunte
vencionais para conduzir transações comerciais complicadas
sobre a participação em esportes e hobbies e questione sobre pro-
com seu advogado. Era agitado e irritado com sua família,
blemas emocionais ou físicos que possam ter surgido durante essa
esperando que atendessem ao seu menor sinal e que notas-
fase. Exemplos de questões comuns incluem os seguintes: Qual
sem os “sacrifícios pessoais” que fazia por ela. Reduzir o tra-
era o sentido de identidade pessoal do paciente? Como era o uso
balho no consultório, ter um sócio e limitar seus negócios
de álcool e outras substâncias? O paciente era sexualmente ativo?
eram idéias inaceitáveis para ele.
Como era a qualidade de seus relacionamentos sexuais? Interagia
e se mostrava envolvido com a escola e os amigos, ou era isolado,
retraído e percebido como esquisito pelas outras pessoas? Tinha
HISTÓRIA DE RELACIONAMENTOS E CONJUGAL. Nesta seção, o
uma auto-estima intacta, ou havia evidências de um complexo de
psiquiatra descreve a história de cada casamento ou união legal.
inferioridade? Qual era sua imagem corporal? Houve episódios sui-
Relacionamentos significativos com pessoas com quem o pacien-
cidas? Foram relatados problemas na escola, incluindo teimosia ex-
te viveu por um período prolongado também são incluídos. Aqui
cessiva? Como o paciente usava seu tempo livre? Como era o relacio-
deve ser descrita a evolução do relacionamento, incluindo a ida-
namento com os pais? Quais eram os sentimentos acerca do desen-
de do paciente no início. Devem ser investigadas áreas de harmo-
volvimento das características sexuais secundárias? Qual foi a respos-
nia ou desacordo – incluindo a forma de lidar com o dinheiro,
ta à menarca? Quais eram suas atitudes quanto a namoros, carícias,
dificuldades domésticas, papéis dos sogros e atitudes ao cuidar
paixões, festas e jogos sexuais? Uma forma de organizar a grande e
dos filhos. Outras questões compreendem: O paciente está atual-
diversa quantidade de informações é decompor a infância tardia em
mente em um relacionamento de longa duração? Qual foi o rela-
subconjuntos de comportamento (p. ex., relacionamentos sociais,
cionamento mais longo do paciente? Qual é a qualidade das suas
história escolar, desenvolvimento motor e cognitivo, problemas
relações sexuais (p. ex., se a vida sexual do paciente é experi-
emocionais e físicos e sexualidade), conforme descrito a seguir.
mentada como satisfatória ou inadequada)? O que o paciente
procura em um parceiro: consegue dar início a um relaciona-
Relacionamentos Sociais. Atitudes para com irmãos e colegas, núme-
mento ou abordar alguém por quem se sente atraído? Como
ro e proximidade de amigos, líder ou seguidor, popularidade
descreve o relacionamento atual em termos de suas qualidades
social, participação em atividades de grupo ou turmas, figuras
positivas e negativas? Como percebe fracassos em relaciona-
idealizadas, padrões de agressividade, passividade, ansiedade,
mentos passados, no sentido de compreender o que saiu erra-
comportamento anti-social.
do e quem é ou não culpado?
História Escolar. O quanto o paciente progrediu, sua adaptação à
escola, relacionamentos com professores – amigo do professor
Uma mulher de 32 anos teve uma série de relacionamen-
ou rebelde –, estudos e interesses favoritos, habilidades ou recursos
tos nos quais acabava sendo agredida, sempre emocionalmente
específicos, atividades extracurriculares, esportes, hobbies, relações
e, muitas vezes, física e sexualmente. Apesar de sua intenção
de problemas ou sintomas com algum período social.
consciente de encontrar um homem carinhoso, com quem
Desenvolvimento Cognitivo e Motor. Aprender a ler e outras habilidades
pudesse ter um relacionamento menos abusivo, o padrão se
intelectuais e motoras, disfunção cerebral mínima, dificuldades de
repetia. Sua mãe tinha sido agredida cronicamente por seu
aprendizagem – seu manejo e efeitos sobre a criança.
pai. Ela lembra da mãe advertindo-a: “O papel da mulher é
Problemas Emocionais e Físicos. Pesadelos, fobias, urinação na cama,
ceder ao marido e agüentar tudo o que houver de ruim”.
fugas, delinqüência, tabagismo, uso de álcool e outras substân-
cias, anorexia, bulimia, problemas com peso, sentimentos de
inferioridade, depressão, idéias e atos suicidas.
HISTÓRIA MILITAR. O psiquiatra deve investigar a respeito da adap-
tação geral do paciente ao serviço militar, se ele participou de algum
Idade Adulta
combate e teve alguma lesão prolongada, e a natureza de sua saída.
HISTÓRIA OCUPACIONAL. O psiquiatra deve descrever a escolha
Foi indicada alguma vez a consulta psiquiátrica, sofreu alguma ação
da ocupação do paciente, a formação e a preparação necessárias,
disciplinar durante o período de serviço militar?
quaisquer conflitos relacionados ao trabalho, bem como as ambi-
ções e os objetivos de longo prazo. Também é importante explo-
rar os sentimentos do paciente em relação ao seu emprego atual e Um soldado de 22 anos que retornava do Vietnã alegou
os relacionamentos no trabalho (com autoridades, colegas e, se não lembrar do último mês de combate. Ele fora indicado a
aplicável, subordinados) e descrever a história ocupacional (p. ex., uma patrulha difícil, da qual apenas três de oito soldados
número e duração de empregos razões para trocar de emprego e voltaram vivos. Após repetidas entrevistas sob efeito de amo-
mudanças no status). Que trabalho o paciente escolheria se pu- barbital em um ambiente seguro, gradualmente e com muita
desse optar livremente? emoção, lembrou que seu grupo sofrera uma emboscada e
EXAME CLÍNICO DO PACIENTE PSIQUIÁTRICO 17

com ênfase especial na nudez de pais e irmãos e no uso do ba-


que, no começo do fogo cruzado, matara dois ou três garotos
nheiro. Pergunte sobre fontes de renda e dificuldades financeiras
vietnamitas de 12 ou 13 anos que atacavam o grupo, e que
da família. Se aplicável, questione o uso de assistência pública e
em certo ponto fugiu, deixando seus amigos feridos para trás,
os sentimentos do paciente quanto a isso. Se hospitalizado, fo-
suplicando que ele os ajudasse.
ram tomadas atitudes para que ele não perdesse o emprego ou a
moradia? Pergunte sobre quem está cuidando dos filhos em casa,
HISTÓRIA EDUCACIONAL. O psiquiatra deve ter uma imagem quem o visita no hospital e com que freqüência.
clara da base educacional do paciente. Essa informação pode pro-
porcionar pistas sobre sua origem social e cultural, sua inteligên- HISTÓRIA LEGAL. O paciente já foi preso e, em caso positivo,
cia, motivação e quaisquer obstáculos a suas realizações. Por exem- por quê? Quantas vezes? Por quanto tempo? Está em liberdade
plo, um paciente de origem econômica desfavorável, que nunca condicional ou existem acusações pendentes? O paciente está em
teve oportunidade de freqüentar as melhores escolas e cujos pais tratamento por ordem judicial, como parte da condicional? Apre-
nunca concluíram o ensino médio, apresenta força de caráter, senta história de agressão ou violência? Contra quem? Foram usa-
inteligência e uma grande motivação após se formar na faculda- das armas? Qual sua atitude para com as prisões e as sentenças?
de. Um que abandonou o ensino médio por causa de violência e Uma história legal abrangente, bem como a atitude do paciente
do uso de substâncias demonstra ter criatividade e determinação, para com ela, pode indicar tendências anti-sociais ou uma perso-
freqüentando a escola à noite para obter o diploma, enquanto nalidade litigiosa. Ampla relação com a violência pode alertar o
trabalha durante o dia como orientador para drogas. Até onde o psiquiatra quanto ao potencial de que isso se repita no futuro.
paciente chegou na escola? Qual foi o nível mais alto que alcan-
çou? Ele gostava de estudar, qual foi seu nível de desempenho História Sexual. Grande parte da história sexual infantil não
acadêmico? Até que grau os outros membros de sua família chega- pode ser recuperada, embora muitos pacientes relembrem de cu-
ram na escola, e como isso se compara com o progresso do paciente? riosidades e jogos sexuais entre os 3 e os 6 anos de idade. O psi-
Qual a atitude deste para com o desempenho acadêmico? quiatra deve perguntar como o paciente aprendeu a respeito do
sexo e quais eram as atitudes dos seus pais quanto ao desenvolvi-
RELIGIÃO. É importante descrever a origem religiosa dos pais e mento sexual. Deve indagar também se o paciente sofreu algum
os detalhes da formação do paciente sob esse aspecto. A atitude abuso na infância. Parte do material discutido nesta seção tam-
da família para com a religião era permissiva ou rígida? Houve bém pode ser abordada naquela referente a sexualidade adoles-
algum conflito entre os pais em relação à educação religiosa da cente. Não é importante em que ponto o assunto é tratado, desde
criança? O psiquiatra deve identificar a evolução das práticas re- que seja incluído.
ligiosas adolescentes até as crenças e atividades atuais. O paciente O início da puberdade e os sentimentos do paciente quanto a
tem uma participação religiosa forte? Em caso positivo, como esse momento são importantes. A história de masturbação ado-
isso afeta sua vida? O que sua religião diz a respeito do tratamen- lescente, incluindo a natureza das fantasias e os sentimentos quanto
to de doenças psiquiátricas ou médicas? Qual a atitude religiosa a elas, é significativa. Atitudes para com o sexo precisam ser des-
para com o suicídio? critas em detalhes. O paciente era introvertido, tímido, agressi-
vo? Precisava impressionar outras pessoas e se vangloriar de con-
ATIVIDADE SOCIAL. O psiquiatra precisa ater-se à vida social do quistas sexuais? Experimentava ansiedade no cenário sexual? Ha-
paciente e à natureza de suas amizades, com ênfase na profundi- via promiscuidade? Qual sua orientação sexual?
dade, na duração e na qualidade dos relacionamentos humanos. A história sexual deve incluir qualquer sintoma relacionado,
Que interesses sociais, intelectuais e físicos compartilha com seus como anorgasmia, vaginismo, transtorno erétil (impotência), eja-
amigos? Que relacionamento tem com pessoas do mesmo sexo e culação precoce ou retardada, falta de desejo sexual e parafilias
do sexo oposto? O paciente é essencialmente isolado e anti-so- (p. ex., sadismo sexual, fetichismo, voyeurismo). Atitudes quan-
cial? Prefere o isolamento ou é isolado por causa de ansiedades e to a felação, cunilíngua e técnicas de coito podem ser discutidas.
temores em relação a outras pessoas? Quem o visita no hospital e O tema da adaptação sexual deve incluir uma descrição de como
com que freqüência? a atividade sexual costuma ser iniciada, a freqüência com que
ocorre e as preferências, variações e técnicas sexuais. Deve-se per-
Uma atraente e bem-sucedida mulher de 32 anos relatou guntar se o paciente já teve relacionamentos extraconjugais e, se
ter tido uma longa fila de admiradores e uma série de relacio- tiver tido, sob quais circunstâncias e se o cônjuge sabia do caso.
namentos sexuais desde os 17 anos. Embora diversos dos Se este ficou sabendo, o psiquiatra deve solicitar que o paciente
pretendentes por quem se sentia atraída tivessem proposto descreva o que aconteceu. As razões por trás de um caso fora do
casamento, não conseguiu assumir um compromisso. Ela casamento são tão importantes quanto entender seu efeito sobre
nunca estava suficientemente apaixonada por nenhum deles a relação. Atitudes para com a contracepção e o planejamento
e esperava um dia encontrar o “homem ideal”. familiar são relevantes. Que forma de contracepção o paciente
usa? Ainda assim, o psiquiatra não deve pressupor que seja usada
ATUAL SITUAÇÃO DE VIDA. Peça ao paciente que descreva onde alguma forma de controle de natalidade. Se o entrevistador pede
vive, seu bairro e sua residência, bem como o número de peças, que uma paciente lésbica descreva o tipo de controle que usa (su-
familiares que vivem na casa, e arranjos de quartos na hora de pondo que ela seja heterossexual), ela pode imaginar que sua orien-
dormir. Questione sobre como se dão as questões de privacidade, tação sexual não será entendida ou aceita. Uma questão mais pro-
18 MANUAL CONCISO DE PSIQUIATRIA CLÍNICA

veitosa é: “Você precisa usar controle de natalidade?” ou “A con-


tracepção faz parte da sua sexualidade?”. TABELA 1-2 Modelo de exame do estado mental
O psiquiatra deve perguntar se o paciente deseja mencionar 1. Aparência
outras áreas de funcionamento sexual e da sexualidade. Ele está 2. Fala
3. Humor
ciente das questões envolvidas no sexo seguro? Apresenta alguma a. Subjetivo
doença sexualmente transmissível, como herpes ou AIDS? Tem b. Objetivo
medo de ser HIV-positivo? 4. Pensamento
a. Forma
b. Conteúdo
Fantasias e Sonhos. Freud afirmou que os sonhos são o
5. Percepções
caminho real para o inconsciente. Se forem repetitivos têm parti-
6. Sensório
cular valor. Caso o paciente tenha pesadelos, quais os temas re- a. Atenção
correntes? Alguns dos temas mais comuns são alimentos, exames, b. Orientação (pessoa, lugar, tempo)
sexo, desesperança e sentimentos de impotência. O paciente con- c. Concentração
segue descrever um sonho recente e discutir seus significados pos- d. Memória (imediata, recente, longa duração)
e. Cálculos
síveis? Fantasias e devaneios são outra fonte valiosa de material f. Cabedal de conhecimento
inconsciente. Como nos sonhos, o psiquiatra pode explorar e regis- g. Raciocínio abstrato
trar os detalhes da fantasia e os sentimentos que a acompanham. 7. Insight
Quais suas fantasias a respeito do futuro? Se pudesse fazer 8. Discernimento
alguma mudança em sua vida, qual seria? Quais as fantasias mais
comuns e preferidas pelo paciente? O paciente tem muitos deva-
neios? Suas fantasias baseiam-se na realidade, ou ele não conse-
gue fazer essa diferenciação? Exemplos de itens na categoria aparência incluem o tipo de
corpo, a postura, o equilíbrio, as roupas, a arrumação, o cabelo e
Valores. O psiquiatra pode investigar a respeito do sistema as unhas. Termos comuns usados para descrever a aparência são:
de valores do paciente – sociais e morais – incluindo aqueles refe- saudável, doentia, mal-estar, equilibrada, jovial, desarrumada,
rentes a trabalho, dinheiro, diversão, filhos, pais, amigos, sexo, infantil e bizarra. Os sinais de ansiedade observados são: mãos
questões comunitárias e culturais. Por exemplo, os filhos são um úmidas, testa suada, postura tensa e olhos arregalados.
peso ou uma alegria? O trabalho é um mal necessário, um dever
inevitável ou uma oportunidade? Qual o conceito de certo e erra- Comportamento e Atividade Psicomotora. Esta cate-
do para o paciente? goria refere-se aos aspectos quantitativos e qualitativos do com-
portamento motor do paciente, incluindo maneirismos, tiques,
gestos, contrações musculares, comportamento estereotipado, eco-
EXAME DO ESTADO MENTAL praxia, hiperatividade, agitação, combatividade, flexibilidade, ri-
gidez, andar e agilidade. Descreve atitudes inquietas, como tor-
O exame do estado mental é a parte da avaliação clínica que des- cer as mãos, caminhar em círculo e outras manifestações físi-
creve a totalidade das observações e impressões do examinador cas. É importante observar retardos motores ou redução gene-
sobre o paciente no momento da entrevista. Enquanto a história ralizada nos movimentos corporais e relatar atividades sem
permanece constante, o estado mental pode mudar de um dia propósito ou objetivo.
para outro, e até de hora em hora. O exame do estado mental é a
descrição da aparência, do discurso, das ações e dos pensamentos Atitude Para Com o Examinador. Esta pode ser des-
do paciente durante a entrevista. Mesmo quando está mudo, é crita como cooperativa, amigável, atenta, interessada, franca,
incoerente ou se recusa a responder às questões, o clínico pode sedutora, defensiva, desdenhosa, perplexa, apática, hostil, lú-
obter uma variedade de informações por meio de uma observa- dica, insinuante, evasiva ou cautelosa, sendo ainda possível
ção cuidadosa. Embora os formatos organizacionais para fazê-lo usar quaisquer outros adjetivos necessários. Registre o nível
possam variar um pouco, o exame deve conter certas categorias de harmonia estabelecido.
de informações. Um exemplo é apresentado na Tabela 1-2.

Humor e Afeto
Descrição Geral
Humor. O humor é definido como uma emoção ampla e pro-
Aparência. Nesta categoria, o psiquiatra descreve a aparên- longada que colore a percepção que se tem do mundo. O psi-
cia e a impressão física geral do paciente, refletida por sua postu- quiatra está interessado em saber se o paciente fala voluntaria-
ra, equilíbrio, roupas e maneira de se arrumar. Se o mesmo pare- mente sobre seus sentimentos ou se é necessário perguntar como
cer particularmente bizarro, o clínico pode perguntar: “Alguém se sente. Afirmações sobre o humor devem incluir profundidade,
já fez comentários sobre sua aparência?”, “Como você descreveria intensidade, duração e flutuações. Adjetivos comuns usados para
sua aparência?”, “Poderia me ajudar a entender as escolhas que descrever esse aspecto incluem depressivo, desesperado, irritado,
fez quanto à sua aparência?” ansioso, bravo, expansivo, eufórico, vazio, culpado, desesperan-
EXAME CLÍNICO DO PACIENTE PSIQUIÁTRICO 19

çado, fútil, autodestrutivo, assustado e perplexo. O humor pode cas (que ocorrem quando se adormece) e as hipnopômpicas (que
ser instável, flutuante ou alternar rapidamente entre extremos (p. ocorrem quando se desperta) têm muito menos relevância do que
ex., rir ruidosa e expansivamente em um momento e chorar de- outros tipos de alucinações. Também é possível que ocorram em
sesperadamente em seguida). momentos de particular estresse para pacientes individuais. Os
sentimentos de despersonalização e desrealização (sensações ex-
Afeto. Pode ser definido como a resposta emocional atual do tremas de desconexão com o self e com o ambiente) são ainda
paciente, inferida a partir de sua expressão facial, incluindo a quan- exemplos de transtornos da percepção. O formigamento, o senti-
tidade e variedade de comportamentos expressivos. O afeto pode mento de que insetos estão andando sobre ou sob a pele, é visto
ser ou não congruente com o humor, sendo descrito como estan- no cocainismo.
do dentro de um limite normal, constrito, embotado ou plano. Exemplos de questões usadas para evocar a experiência de
Em seu limite normal, há uma variação na expressão facial, no alucinações incluem as seguintes: Você já ouviu vozes ou ou-
tom de voz, no uso das mãos e nos movimentos corporais. Quan- tros sons que ninguém mais ouviu ou quando não havia mais
do é constrito, a variedade e a intensidade da expressão são redu- ninguém por perto? Já teve sensações estranhas, que ninguém
zidas. No afeto embotado, a expressão emocional é reduzida ain- mais parece ter?
da mais. Para diagnosticar o tipo plano, não pode haver pratica-
mente nenhum sinal de expressão afetiva. A voz do paciente deve Um aterrorizado homem de 37 anos com delirium tre-
ser monótona, e seu rosto estar imóvel. Embotado, plano e constri- mens agudo olhava de maneira agitada ao redor da sala. Apon-
to são termos usados em referência à aparente profundidade da tava para a janela e dizia: “Meu Deus, a armada espanhola
emoção; deprimido, orgulhoso, irritado, temeroso, ansioso, cul- está lá no jardim. Eles vão atacar”. A alucinação era experi-
pado, eufórico e expansivo são termos usados em referência a mentada como se fosse real, persistindo de forma intermi-
humores particulares. Observe a dificuldade do paciente para ini- tente por três dias, antes de desaparecer. Subseqüentemente,
ciar, manter ou terminar uma resposta emocional. o paciente não se lembrava da experiência.

Adequação do Afeto. O psiquiatra pode considerar a ade-


quação das respostas emocionais do paciente no contexto do tema Conteúdo do Pensamento e Tendências Mentais.
que se está discutindo. Pacientes delirantes que estão descreven-
do um delírio de perseguição devem ficar com raiva ou apavora- O pensamento pode ser dividido em processo (ou forma) e con-
dos com a experiência que acreditam estar lhes acontecendo. Nesse teúdo. O processo se refere à maneira como o indivíduo reúne
contexto, a raiva e o medo são expressões adequadas. Os psiquia- idéias e associações à forma como pensa. O processo ou a forma
tras usam o termo afeto inadequado para uma qualidade de res- do pensamento podem ser lógicos e coerentes ou completamente
posta encontrada em alguns esquizofrênicos, na qual o afeto é ilógicos e até incompreensíveis. O conteúdo se refere àquilo que ele
incongruente com o que se está dizendo (p. ex., afeto plano quando realmente pensa sobre idéias, crenças, preocupações, obsessões.
fala de impulsos assassinos).
Processo de Pensamento (Forma do Pensamento). O
paciente pode apresentar superabundância ou pobreza de idéias. O
Características do Discurso pensamento pode ser rápido, o qual, em níveis extremos, é chamado
de fuga de idéias, mas também lento ou hesitante.
Esta parte do relatório descreve as características físicas do dis- O mesmo pode ter a característica de ser vago ou vazio. As
curso. O discurso pode ser referido em termos de sua quantida- respostas do paciente realmente dão conta das questões feitas, ele
de, taxa de produção e qualidade. O paciente pode ser descrito tem capacidade para pensar de forma orientada para os objetivos?
como falante, tagarela, fluente, taciturno, pouco espontâneo ou As respostas são relevantes ou irrelevantes? Existe uma relação de
que responde normalmente às pistas fornecidas pelo entrevista- causa e efeito clara nas suas explicações? O paciente tem associa-
dor. A fala pode ser lenta, apressada, hesitante, emocional, dra- ções frouxas (p. ex., as idéias expressadas parecem não ser relacio-
mática, monótona, ruidosa, sussurrada, confusa, em staccato ou nadas ou conectadas de forma idiossincrática)? Os transtornos da
murmurada. Limitações da fala, como gagueira, são incluídas nesta continuidade do pensamento incluem afirmações tangenciais,
seção. Qualquer ritmo inusitado (denominado disprosódia) ou sota- circunstanciais, divagantes, evasivas ou perseverantes.
que deve ser observado. Seu discurso também pode ser espontâneo. Um bloqueio é a interrupção do fluxo de pensamento antes de
uma idéia ser concluída. O paciente pode indicar uma incapaci-
dade de lembrar o que estava dizendo ou pretendia dizer. A cir-
Percepção cunstancialidade refere a perda da capacidade de pensar de forma
orientada para os próprios objetivos. No processo de explicar uma
Podem ser experimentadas alterações da percepção, como aluci- idéia, o paciente insere muitos detalhes irrelevantes e comentá-
nações e ilusões, em relação ao self ou ao ambiente. O sistema rios paralelos, mas, ao final, volta à questão original. A tangencia-
sensorial envolvido (p. ex., auditivo, visual, gustativo, olfativo ou lidade é um transtorno em que o indivíduo perde o fio da conver-
tátil) e o conteúdo da ilusão ou experiência alucinatória devem sa, persegue pensamentos divergentes em decorrência de diversos
ser descritos. As circunstâncias da ocorrência de qualquer expe- estímulos externos ou internos irrelevantes e nunca retorna à ques-
riência alucinatória são importantes. As alucinações hipnagógi- tão original. Problemas no processo de pensamento podem ser
20 MANUAL CONCISO DE PSIQUIATRIA CLÍNICA

refletidos em conexões incoerentes ou incompreensíveis de pen- Sensório e Cognição


samentos (salada de palavras), associações por assonância (associa-
ções por rima), trocadilhos (associação por sentidos duplos) e A porção do sensório e da cognição do exame do estado men-
neologismos (palavras novas criadas pela combinação ou conden- tal visa a avaliar o funcionamento cerebral, incluindo a inteli-
sação de outras). gência, a capacidade de pensamento abstrato e o nível de insi-
ght e discernimento.
Conteúdo do Pensamento. Os transtornos no conteúdo
do pensamento incluem delírios, preocupações (que podem en- Consciência. As alterações de consciência normalmente in-
volver a doença do paciente), obsessões (“Você tem idéias intrusi- dicam problemas cerebrais orgânicos. A turvação é uma redução
vas e repetitivas?”), compulsões (“Você faz a mesma coisa repeti- geral na percepção do ambiente. O paciente pode ser incapaz de
damente?”, “Existem coisas que precisa fazer de determinada ma- atentar para estímulos ambientais ou de manter um pensamento
neira ou em ordem?”, “Se você não as fizer dessa maneira, precisa ou comportamento voltado para seus objetivos. A turvação ou
repeti-las?”, “Você sabe por que faz as coisas assim?”), fobias, pla- embotamento da consciência muitas vezes não é um estado men-
nos, intenções, idéias recorrentes sobre suicídio ou homicídio, tal fixo. Muitas vezes, percebe-se flutuações no nível de consciên-
sintomas hipocondríacos e ânsias anti-sociais específicas. cia acerca do seu entorno. Um paciente que tenha um estado
alterado de consciência em geral apresenta também alguma limi-
Uma mulher de 32 anos com uma síndrome viral leve tação na orientação, embora o inverso não seja necessariamente
pegou um litro de leite no supermercado e o devolveu à pra- verdadeiro. Eis alguns termos usados para descrever o nível de
teleira após decidir que não o compraria. Nos dias seguintes, consciência do paciente: turvação, sonolência, estupor, coma, letar-
passou períodos crescentes de tempo pensando naquele ato. gia, alerta e estado de fuga.
Não conseguia parar de pensar que a mãe de uma criança pe-
quena poderia ter pego o leite, contraído seu vírus e dado o leite Orientação e Memória. Os transtornos da orientação cos-
para a criança, que poderia adoecer e morrer como resultado de tumam ser separados por tempo, lugar e pessoa. Qualquer limi-
uma infecção fulminante. Apesar de saber que essa seqüência de tação normalmente aparece nessa ordem (i. e., o sentido de tem-
eventos era extremamente improvável, a mulher não conseguia po é afetado antes do sentido de lugar). De maneira semelhante,
parar de repassar tal situação em sua mente. à medida que a melhora ocorre, a limitação desaparece na ordem
inversa. O psiquiatra deve determinar se o paciente consegue di-
O paciente tem pensamentos autodestrutivos? Existe algum zer a data e a hora aproximada. Além disso, se hospitalizado, sabe
plano? Uma categoria importante de alteração no conteúdo do há quanto tempo está nesta situação? Parece estar orientado no
pensamento envolve os delírios. Estes, que se tratam de crenças presente? Em questões sobre a orientação para lugar, os pacientes
fixas e falsas em desacordo com a base cultural do paciente, po- devem conseguir dizer o nome e a localização do hospital correta-
dem ser congruentes (de acordo com um humor depressivo ou mente e se comportar como se soubessem onde estão. Ao avaliar
exaltado) ou incongruentes com o humor. O psiquiatra deve des- a orientação para pessoas, o psiquiatra pergunta se ele sabe o nome
crever o conteúdo de qualquer sistema delirante e tentar avaliar das pessoas ao seu redor e se entende o papel de cada uma delas
sua organização e a convicção do paciente sobre a sua validade. A em relação a ele. Sabe quem é o examinador? Apenas nos casos
maneira como isso afeta a vida do paciente é descrita de forma mais graves, os pacientes não sabem quem eles mesmos são.
adequada na história da doença atual. Os delírios podem ser bi-
zarros e envolver crenças de controle externo, podendo apresen- Um homem alcoólatra de 42 anos de idade com deli-
tar temas de perseguição, ou ser paranóides, grandiosos, ciumen- rium tremens, examinado em um hospital da Califórnia,
tos, somáticos, culpados, niilistas ou eróticos. O clínico deve des- em 1995, foi questionado sobre a data e o local em que
crever idéias de referência e de influência. Exemplos de idéias de estava. Respondeu: “Estou sentado em uma esquina em
referência incluem a crença de que a televisão ou o rádio está fa- Kansas City, em 1966, cuidando da minha vida. Por que
lando com ela ou sobre ela. Exemplos de idéias de influência são você não cuida da sua?”.
crenças sobre outras pessoas ou forças que controlam algum as-
pecto do comportamento do indivíduo. As funções da memória são tradicionalmente divididas em qua-
tro áreas: memória remota, memória do passado recente, memória
Um jovem esquizofrênico abandonara a faculdade e tra- recente e retenção e recuperação imediatas. A memória recente pode
balhava somente em empregos informais de baixo nível. Vi- ser verificada perguntando-se ao paciente sobre seu apetite e sobre o
via com sua família abastada, acreditava que era o Messias. que comeu no café da manhã ou no jantar na noite anterior. Nesse
Estava completamente convencido de que suas disputas e sua ponto, pode-se indagar se ele lembra o nome do entrevistador. Um
falta de sucesso ocupacional eram simples testes de Deus, até teste da retenção imediata é pedir para que repita seis números em
que a sua verdadeira identidade fosse revelada. Ao melhorar, ordem direta e depois inversa. A memória remota pode ser testada
dizia, quando questionado, que tinha sido escolhido por solicitando informações sobre a infância do paciente que possam ser
Deus, mas, se pressionado um pouco mais, admitia uma pe- verificadas posteriormente. Pedir que lembre de eventos importantes
quena possibilidade de que pudesse estar errado. Quando do jornal dos últimos meses testa a memória do passado recente.
atingiu seu melhor estado clínico, refletia sobre a possibili- Muitas vezes, em transtornos cognitivos, a memória recente ou de
dade de que fosse o Messias, mas dizia não ter certeza. curta duração é afetada em primeiro lugar, e a remota ou de longa
EXAME CLÍNICO DO PACIENTE PSIQUIÁTRICO 21

duração, posteriormente. Se houver um problema, que esforços são Leitura e Escrita. O psiquiatra pode pedir que o paciente
feitos para enfrentá-lo ou escondê-lo? A negação, a confabulação ou leia uma sentença (p. ex., “Feche os olhos”) e faça o que ela diz.
a circunstancialidade são usadas para esconder um déficit? Reações à Ele também pode escrever uma sentença simples, mas completa.
perda da memória podem fornecer pistas importantes sobre trans-
tornos subjacentes e mecanismos de enfrentamento. Por exemplo, Capacidade Visual e Espacial. Solicita-se que o paciente
um paciente que parece ter problemas de memória, mas que, de fato, copie um desenho, como um relógio ou pentágonos interligados.
está deprimido, apresenta maior probabilidade de ter preocupações
em relação a essa condição do que alguém com perda de memória Pensamento Abstrato. Refere-se à capacidade de lidar com
secundária a uma demência. conceitos. Os pacientes podem ter déficits na maneira como con-
ceitualizam ou lidam com as idéias. O paciente consegue explicar
Um alcoólatra crônico de 40 anos de idade, cuja memó- semelhanças, como aquelas existentes entre uma maçã e uma pêra
ria no exame do estado mental estava afetada de forma bas- ou entre a verdade e a beleza? Os significados de provérbios sim-
tante evidente, exigiu freneticamente que fosse liberado do ples, como “Pedras rolantes não criam limo”, são compreendi-
hospital, dizendo que sua esposa havia sofrido um acidente dos? As respostas podem ser concretas (fornecendo exemplos es-
automobilístico e que ele precisava se dirigir até outro hospi- pecíficos para ilustrar o significado) ou claramente abstratas (for-
tal para visitá-la. Afirmou isso com convicção sincera, preo- necendo uma explicação abstrata demais). Sua adequação e a for-
cupação e medo apropriados. Para ele, pelo menos, a história ma como são apresentadas devem ser anotadas. Em uma reação
era real. De fato, sua esposa havia morrido fazia 15 anos. O catastrófica, os pacientes com lesões cerebrais se tornam extrema-
paciente contou a mesma história muitas vezes, sempre com mente emotivos e não conseguem pensar de forma abstrata.
uma convicção evidente, apesar do fato de os membros da
equipe o confrontarem com a realidade do falecimento. Ele Informações e Inteligência. Se houver suspeita de um pos-
nunca se sentiu influenciado por tais afirmações. Embora sível problema cognitivo, o paciente tem dificuldade com tarefas
sua memória passada fosse fragmentada, conseguia lembrar mentais, como contar o troco de US$10 após uma compra de
repetidamente da história da emergência com sua esposa. 6,37? Se essa tarefa for difícil demais, problemas mais fáceis po-
dem ser resolvidos (como quantas vezes há 5 centavos em
A confabulação (elaborar inconscientemente respostas falsas US$1,35). A inteligência está relacionada ao vocabulário e ao ca-
quando a memória está prejudicada) está mais intimamente asso- bedal de conhecimento (p. ex., a distância entre Nova York e
ciada a distúrbios cognitivos. Paris, os presidentes do país), levando-se em conta o nível edu-
cacional (formal e autodidata) e o status socioeconômico. A
Concentração e Atenção. A concentração pode ser afetada capacidade de lidar com conceitos difíceis e sofisticados pode
por muitas razões. Transtorno cognitivo, ansiedade, depressão e estí- refletir inteligência, mesmo na ausência de educação formal
mulos internos, como alucinações auditivas, podem contribuir para ou de uma base ampla de informações. Essencialmente, o psi-
problemas nessa área. A subtração de uma série de 7 a partir do quiatra estima que a capacidade intelectual do paciente funcione
número 100 é uma tarefa simples que exige concentração e capaci- em um nível básico.
dades cognitivas intactas. O paciente consegue subtrair 7 de 100 e
continuar subtraindo 7 do resultado? Se não for capaz, será que con-
segue fazê-lo com o número 3? As tarefas fáceis foram cumpridas – 4 Impulsividade
× 9, 5 × 4? O examinador sempre deve avaliar se ansiedade, algum
transtorno do humor ou da consciência ou algum déficit de aprendi- O paciente é capaz de controlar impulsos sexuais, agressivos ou
zagem (discalculia) é responsável pela dificuldade. outros? Uma avaliação do controle de impulsos é essencial para
A atenção é avaliada por cálculos ou solicitando-se que o pacien- verificar se o paciente tem consciência de comportamentos so-
te soletre algumas palavras invertidas. Também pode ser pedido que cialmente apropriados, representando uma medida do perigo
forneça o nome de cinco coisas que comecem com determinada letra. potencial do paciente para si mesmo e para terceiros. É possível
que impulsos secundários a transtornos cognitivos ou psicóticos
Durante seu episódio maníaco mais recente, um homem de ou decorrentes de defeitos caracterológicos crônicos, como os
48 anos com transtorno bipolar teve idéias intensas, grandiosas observados nos transtornos da personalidade, não consigam ser
e psicóticas. Ele estava convencido de que conseguiria controlar controlados. Esse domínio pode ser estimado a partir das infor-
o trânsito em Los Angeles, dirigindo em certas avenidas em ho- mações obtidas da história recente do paciente e do comporta-
rários específicos e desejando que os outros saíssem da estrada. mento observado durante a entrevista.
Após o episódio maníaco terminar e durante o episódio depres-
sivo que veio logo a seguir, não conseguia lembrar-se de ne-
nhum detalhe do conteúdo de seus pensamentos enquanto es- Discernimento e Insight
tava maníaco. Mais tarde, quando voltou a ficar eutímico, con-
seguiu rememorar algumas imagens nebulosas. Um ano depois, Discernimento. Ao obter a história, o psiquiatra deve ser
o começo de um novo período hipomaníaco foi anunciado pelo capaz de avaliar muitos aspectos da capacidade de discernimento
fato de o paciente lembrar e descrever espontaneamente, em social do paciente. Ele entende o resultado provável de seu com-
detalhes, os planos do episódio anterior. portamento, e é influenciado por esse entendimento? Consegue
22 MANUAL CONCISO DE PSIQUIATRIA CLÍNICA

prever o que faria em situações imaginárias (p. ex., ao sentir chei- Uma relação de seis níveis de insight é apresentada a seguir:
ro de fumaça em um cinema lotado)?
1. Negação completa da doença.
Insight. É o grau de consciência e entendimento em relação a 2. Leve consciência de estar doente e necessitar de ajuda, mas
estar doente. O paciente pode apresentar total negação de sua com negação.
doença ou demonstrar um certo nível de consciência acerca do 3. Consciência de estar doente, mas culpa outras pessoas, fato-
que está acontecendo, no entanto, culpar outras pessoas, fatores res externos ou orgânicos.
externos ou mesmo orgânicos. Pode reconhecer que tem uma 4. Consciência de que a doença se deve a algo desconhecido.
doença, mas atribuí-la a algo desconhecido ou misterioso. 5. Insight intelectual: reconhecimento de que está doente e de
que os sintomas ou a incapacidade de adaptação social se de-
Um jovem de 18 anos chegou à sala de emergência com a vem aos próprios sentimentos irracionais ou a perturbações,
crença de que estava sendo controlado por um computador mas sem aplicar esse conhecimento às experiências futuras.
em uma nave semelhante à Enterprise, da série de televisão 6. Insight emocional verdadeiro: consciência emocional dos pró-
Jornada nas estrelas. Estava convencido de que todos os seus prios motivos e sentimentos e das pessoas importantes em
pensamentos, atos e sentimentos eram programados na nave, sua vida, que pode levar a mudanças básicas no comporta-
a qual se situava a anos-luz de distância e, assim, não seria mento.
detectada por mais ninguém.

O insight intelectual está presente quando os pacientes conse- Confiabilidade


guem admitir que estão doentes e reconhecem que sua incapaci-
dade de se adaptar se deve, em parte, a seus próprios sentimentos A seção do relatório sobre o estado mental termina com as im-
irracionais. A impossibilidade de aplicarem seu conhecimento para pressões do psiquiatra acerca da confiabilidade do paciente e de
alterar experiências futuras, contudo, é a principal limitação des- sua capacidade de relatar a sua situação de forma precisa. Por
sa inferência. O verdadeiro insight emocional está presente quan- exemplo, se ele for capaz de revelar sua relação com abuso de
do a consciência que os pacientes têm de seus motivos e senti- substâncias ou circunstâncias que sabe que podem ter uma in-
mentos profundos leva a uma mudança em sua personalidade ou fluência negativa (p. ex., problemas com a lei), o psiquiatra pode
em padrões de comportamento. estimar que sua confiabilidade é boa.

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