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A pandemia da Covid-19 e as decorrências no

sistema de saúde brasileiro


Um olhar para a realidade vivida em anos anteriores em comparação
com o contexto atual.
Quando foi anunciada a pandemia da Covid-19, que chegou ao Brasil
em março de 2020, a comunidade médica ficou perplexa e em estado de
pânico.
Afinal, não sabiam exatamente qual o grau de contágio do vírus e suas
reais consequências. O certo é que contavam com um sistema de saúde frágil e
insuficiente em número de leitos e equipamentos para atender aos infectados.
Além de todos os agravantes da Covid com relação aos problemas
respiratórios, no Rio Grande do Sul, mais especificamente, a situação
complica-se nos meses de inverno, o que faz com que, todos os anos, o
número de pessoas com problemas respiratórios virais e bacterianos lotem os
leitos de hospitais para tratamentos de doenças decorrentes da forte exposição
ao frio e umidade intensas, às quais as crianças e os idosos são as principais
vítimas.
Nas décadas de 1970 e 80, houve, além destes problemas respiratórios,
surtos de sarampo, difteria e meningite meningocócica. Este período também
foi caracterizado pela poliomelite (paralisia infantil) que deixou graves
sequelas. Estas doenças, entretanto, foram, mais tarde, superadas graças à
disponibilidade de vacinas.
Após, nos anos de 1980 a 90, tivemos um surto pelo adenovírus
(bronquiolite) em crianças menores de um ano, o que causou mais de 70
mortes somente na UTI pediátrica do Grupo Hospitalar Conceição, em Porto
Alegre.
Nesta ocasião, vale lembrar que existiam menos de cinco respiradores
disponíveis na ala pediátrica do grupo hospitalar. A situação foi drástica, uma
vez que, muitas vezes, por falta de leitos, crianças ficavam hospitalizadas e
tinham de ser atendidas nos corredores do hospital.
Os meios de comunicação da época acompanhavam a situação e
clamavam pela alocação de investimentos que pudessem amenizar o
problema.
Apesar de todos os pedidos e relatos de profissionais da saúde, não
houve consenso quanto à necessidade de mais investimentos, principalmente
nos períodos de inverno, o que poderia ter contribuído para a criação de
hospitais de campanha ou modalidades alternativas de atendimento e
tratamento de pacientes. Em função destas carências e debilidades no sistema
de saúde, foram muitos os atestados de óbito que os profissionais médicos
tiveram de conceder dentro do referido hospital.
Passados quase 40 anos, muitas destas doenças não mais se manifestam
e não acarretam novos óbitos graças, principalmente, à existência de vacinas
antivirais. Pasmos estamos, agora, em plena pandemia da Covid 19,
vivenciando uma nova realidade, pois o mundo se sensibilizou, as autoridades
médicas e políticas também e, felizmente, estamos acompanhando a aplicação
de um montante nunca antes visto em investimentos para fazer frente ao
problema.
Na quase totalidade dos estados brasileiros, os leitos de UTI e os
respiradores ampliaram-se consideravelmente, o que não ocorreu somente nas
capitais, mas em um número bastante grande de cidades do interior. Com a
existência de uma grande quantia de capital para ser alocado em pouco tempo,
houve espaço para a ocorrência de fraudes que, por ora, parecem estar sendo
devidamente esclarecidas.
Às vezes, é preciso que o caos se estabeleça para que uma nova ordem
seja constituída. Foi preciso que se instaurasse a pandemia para que estes
investimentos fossem concretizados, o que será lembrado por muitos
profissionais da saúde nos anos decorrentes, enquanto estiverem utilizando os
mesmos para tratar seus pacientes.
Dentro desta nova realidade, espera-se que desapareça a necessidade de
ambulâncio-terapia, o pedido de leito por meios de comunicação, por políticos
ou por ordem judicial. Dos anos passados, ficou a dor e a lembrança das
perdas vivenciadas e dos momentos difíceis que foram vencidos, diante de
clamores por investimentos que não ocorreram ou que foram incipientes para
resolver os problemas.
O ano de 2020 nunca será esquecido, nem por nós, tampouco pelas
novas gerações. Foi, de fato, um ano muito difícil, cercado de dúvidas,
angústias e incertezas, mas coroado por melhorias incrementais nos recursos
hospitalares e clínicos para garantir melhores condições de tratamento à
população. Resta, agora, desejar que a vacina chegue em breve e que
consigamos vencer mais esta doença que colocou em risco tantas vidas e
provocou tanta tristeza, além das inúmeras outras que foram perdidas em
função do vírus. Existem várias empresas, universidades e laboratórios,
empenhados incansavelmente no desenvolvimento de pesquisas para
viabilizarem a vacina, o que cessará grande parte de nossas preocupações.
Considerando-se todos os tipos de doenças que já podem ser combatidas
graças às vacinas disponíveis, evitam-se, segundo dados da OMS, quatro
mortes por minuto e poupam-se cerca de R$ 250 milhões por dia.
De alento, fica a certeza de que, em 2020, todos os cidadãos que
procuraram recursos médico hospitalares tiveram acesso ao mesmo,
cumprindo o que dispõe o artigo 196 da Constituição Federal Brasileira.
Como sempre é válido refletir e extrair algo bom das diversas situações que
vivenciamos, por mais difíceis que elas sejam, talvez este caracterize, de fato,
o lado positivo da pandemia da Covid-19, a qual veio para modificar nossa
vida, nossos hábitos e também as condições do sistema de saúde brasileiro.

Texto publicado na edição de janeiro/fevereiro de 2021, da Revista Rainha


dos apóstolos
Os autores tem os seguintes
Telefones de contato
Dr. Pedro Roberto Menegazzo fone: 51 998947190
é médico pediatra em São Jerônimo (RS).
Dra. Fone 51 96650609
é professora universitária de Doutora em Economia.

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