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Espanha CAPITULO XI Revisitando o passado com vista ao presente: lutas sociais e Trabajo Social na Espanha nas décadas de 1960-1980* Rosana Matos-Silveira Miguel Angel Oliver Perellé Virginia Alves Carrara Jn Memorian de Marco Maxctt assistente social e investigador, que dedicou mais de 40 anos ao Trabajo Social na Espanha. i * Investigagiofinanciada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiico¢ Teeno- ogico (CNP), proceso 421744/2016-2, vineulada d PROPP/UFOP com subprojeto ID 5269, . 298 IAMAMOTO, MV. | SANTOS, C.M. (Orgs) Introdugao Em novembro de 2013, 0 Consejo General de Trabajo Social na Es~ panha denunciou 0 neoliberalismo imperante, apresentando a petigao Servicios Sociales Para Todos y Todas. Recortes Sociales! No Te Calles!, fruto das primeiras resolucdes aprovadas no XII Congreso Estatal de Trabajo Social, realizado em Marbella (Malaga), com o tema: La intervencién social en tiempos de malestares: Sabemos, Podemos, Quer FOESSA (2014) apresentava crescimento de 11% da desigualdade, no quadro de desmantelamento do Sistema o de Servicios Sociales (GPSS), sob a perspectiva equivocada de se dirigir somente para 10 & sua concep¢ao original: oferecer atengao integral e protegio social a todas as pessoas em distintas sttuagSes. O desmonte da protecao social vinha acompanhado de alteragdes nas condigdes de trabalho dos profissionais dos servigos sociais, e aqui nos interessa, especialmente, as trabajadoras sociales'. Relagao contra~ tual marcada pela precarizacdo, hierarquizagio, burocratizagao do cotidiano no atendimento & populacio, aplicagao informacional de apoio social, trabalho focado nas prestagdes sociais, sentimento de impoténcia e frustracao diante da auséncia de respostas e recursos & populacao sao algumas das situagGes identificadas como atual fonte de “malestar” pelas profissionais. Nao era a primeira vez que a profissao experimentava um “ma- lestar” interno e externo, levando as trabajadoras sociales a questio~ narem o papel que Ihes fora “atribuido”. No século XXI, em meio & crise social na Espanha, gerada pela crise econémica mundial — “la uja inmobiliaria” —, com as politicas de austeridade assumidas pelo governo, aprofundaram-se as desigualdades sociais e de classe, com repercussdes nos diferentes ambitos da vida social. Sem dtivida, 1, Designamos como tralwiadra social as profisionais de Trabyjo Social na Espanta, em reconhecimento is suas lta politco-profssionas entre 1940 e 1980, quand nologia asistente social (vinculada a beneficent eS ‘majoritariamente composta por mulheres na Espanha nos dines anos [AHISTORIA PELO AVESSO. 299 crise teve na 4rea habitacional sua feigéo mais perversa, levando centenas de milhares de cidadaos as ruas, no que ficou conhecido como Movimento 15 de Margo? (15M). Para Garcia e Llano (2017), no com as ages filantrépicas empresariais patrocinada comunicagao. A medida que as mobilizag6es sociais se intensificavam, inamizou-se a critica sobre a crise, politizando as medidas adotadas pelo governo e os conflitos relacionados com a desigualdade social. movimentos sociais de bairros em seus guias de Expresso da aproximagao da profissao as lutas e movimentos sociais das traba- sociales foi a Marea Naranja’, considerada inédita na categoria Itimas décadas, levando para o centro do debate profissional 0 /, ao mesmo tempo que se rr alternativas a las recetas profe- identificava a necessidade de sionales heredadas” Jaratz. (2011 ramilla, Muftoz Rodriguez, Séez Bayona (2017), Zamanillo e Estalayo (2011), destacam o malestar das trabajadoras, sociales frente a dinamica dos servigos sociais. Na contemporaneidade, parte delas se posiciona criticamente excessiva burocratizagio dos com repercussées em suas intervengdes profissionais izagao das condigées de trabalho, ao mesmo tempo (animadores socioculturais, integra- dores e educadores sociais) vao se incorporando, competindo pelas 2..0 15M fol um movimento popular na Espanha, com grandes repercussées nacionais & jonas, resultado da manifestagao de 15 de maio de 2011, no contexto de desconter clo Conse General de Tato Soil, » aos cartes fitos plas administragie nos servigos soci em 2012 300 |AMAMOTO, MV. | SANTOS, CM fung6es e pelos espagos sécio-ocupacionais antes assumidos trabajadoras sociales. Aatual hegemonia do enfoque individual-familiar presente respostas requeridas pelos espacos socioprofissionais e assumidas grande medida pelas trabajadoras sociales sao agravadas pela polit smo no trato do que lamamoto (1982) d las expressdes da questao social. De acordo com o Relat Foessa (2019), a exclusdo severa continuou afetando; na Espanha, 2018, mais de quatro milhées de pessoas, 0 que supde 8% do da populacdo — cifra similar 4 de 2013, no auge da crise de 2008 deixando claro que, além da desigualdade social, a recuperacéo da crise nao chegou aos lares mais necessitados. s Buscamos aqui o sentido do passado (HOBSBAWM, 2007) em sua relacio com © presente. Para tanto, recuperamos memérias hist6ria (fonte documental-bi liografica), confrontadas criticamente em operagies e procedimentos especificos de reconstrucao analitica do processo de crise e lutas socioprofissionais das trabajadoras sociales em busca de seu reconhecimento profissional. Nossa investigagio historica assume a perspectiva tedrico-metodoldgica que apreende 0 movimento interno da profissdo na dinamica da realidade da socie- dade espanhola nos anos 1960 a 1980, em face da qual a profissao se expressou como “resposta especifica e especializada as demandas”” (NETTO, 2016, p. 71) que nao foram definidas e postas pelo Servigo Social. Colocamos os fundamentos explicativos ah fissionais das trabajadoras soci espanhola, do periodo em tela. Na primeira seco, apresentamos a abertura comercial do franquismo ao mapa das relagdes econdmicas internacionais e, especialmente, aos demais paises europeus, como expresso da crise da ditadura e dos avancos do neoliberalismo em meio a efervescéncia dos movimentos contestatorios e das lutas em defesa da democracia, culminando com a tiltima etapa da ditadura franquista e a “transigao democratica”. Na segunda seco, apresenta~ mos as tendéncias profissionais em € dos movimentos contestatérios pela democratizagio da Espanha, 301 [ALISTORIA PELO AVESSO. expressando crise e desafios experimentados pelas trabajadoras sociales em busca de legitimidade e reconhecimento da profissao sob novas bases tedrica, metodolégica, técnica e politica. Crise da ditadura franquista, lutas sociais e “transiggo democrética” No final da década de 1950, a Espanha franquista saiu de seu isolamento: tornou-se membro da ONU, assinou protocolos com a Organizacao Europeia de Cooperacao Economica, com o Fundo Mo- netério Internacional e com 0 Banco Mundial, objetivando, segundo Muniesa (2005), ser um dique contra o comunismo na Guerra Fria. A ditadura passou da fase mais totaitéria a fase autoritaria-tecnocratica, com a Opus Dei exercenclo um papel importante. Com o fim da fase autérquicat na economia e com certa preocupagao com a questao promovida e -08, coexistindo com 0 modelo de ca- social, abre-se uma nova financiada com recursos p\ ; ridade (CERDEIRA, 1987), ligado ao movimento falangista’. Conco- mitantemente, os paises industrializados da Europa experimentaram com o Plano Marshall um crescimento econdmico que exigiu forca de trabalho estrangeira, produzindo-se na Espanha um importante éxodo migratério, no final dos anos de 1950. Um milhao de trabalhadores espanhéis emigraram para diferentes paises europeus entre 1960 1970. Esse processo foi visto favoravelmente pelas esferas oficiais: por uum lado, a emigracao implicava uma diminuigao das tenses sociais por outro, as remessas de dinheiro tinham grande importancia na ica econdmica da ditadura, vigente até 1955, baseada importaio. O solamento da Espana em relacio ao mercado ‘burocratizagho do suprimento e corrupsio. José Antonio Primo de Rivera em nica fora politica dla dtadua 302 IAMAMOTO, M.V.| SANTOS, C.M. (Orgs) balanga de pagamentos do pais. Simultaneamente & migracdo de es- Panhdis para 0 exterior, ocorreu a migracao interna com 0 éxodo do ‘campo para a cidade, consequéncia da transicao de uma economia agraria para a industrial, provocando deseq 5 significativos em nivel regional: 0 surgimento de bairros periféricos e favelas nas cidades com maior desenvolvimento econdmico e 0 despovoamento das dreas interiores, constituindo, como as designa Iamamoto (1982), expresses da questo soci O1 Plan de Estabitiza émica de 1959, marco da reforma do governo ditatorial (MARTIN, 2016), repercutiu no movimento obrei- 10, proibido depois da Guerra Civil. Esse se reorganizou no contexto de uma classe empresarial que se aproximava do mercado comum europeu, incrementando 0 crescimento econémico em detrimento do Progresso social (BANDA, 2017). Com a abertura comercial ocorreu um afrouxamento ideol6gico explicado pelas relagdes com o exterior e pel geiros, atraidos pela forca de trabalho barata, bem como pelo boom da inddistria turistica e pela incorporagao das mulheres no mercado do trabalho. Esse crescimento econdmico e a modernizagao do pais foi denominado estagio do desenvolvimentismo (NAVARRO, 1998). Nesses anos, importa destacar 0 trabalho junto aos moradores dos bairros das areas periféricas das cidades, com o fim de melhorar as condigGes de vida — trabalho esse realizado pelos “padres operdrios”, lerados pela ditadura “peligrosos, subversivos, 0 directamente, co- tas” (HERNANDEZ, 2019, p. 161). Com 0 processo desenvolvimentista, ocorreu uma série de ma- nifestagdes fazendo emergir criticas ao regime e descontentamento social. Trabalhadores iniciaram movimentos grevistas, os nacionalis- tas catalaes e bascos se rebelaram contra 0 centralismo castelhano, a Igteja de base se distanciou do regime (BANDA, 2017). De 50 mil estudantes em 1955, passou-se ao triplo em 1971, como aponta Ferrer (2017), gracas as mudangas sociais que ocorriam no pais, possi © acesso dos filhos de trabalhadores & universidade conciencia politica y de adquisicién de compromisos con el antifranguismo” [AHISTORIA PELO AVESSO 303 (p. 24). Estudantes, juntamente com os professores, exigiam refor- mas universitérias e sociais, pice do movimento estudantil, que, adotando caréter politico, enfrentou um regime politico repressivo (CASANOVA, 2015). Na década de 1970, com a lei de Peligrosidad Social’, como recorda Portal (2014), cresceu a mobilizacao social contra a falta de liberdades, da qual participaram muitos padres, alguns inclusive militando em partidos sgais, como o Partido Comunista de Espaita (PCE) uo Partido Socialista Obrero Espafiol (PSOE). Os partidos nacionalistas hist6ricos foram Basco, onde 0 franquismo exerceu dura repressio. £ 0 caso de Esquerra Republicana de Catalunya (ERC) e do Partido Nacionalista Vasco (PNV). Surgiu ainda a organizagio Euskadi Ta Askatasuna-Euskadi y Libertad (ETA), engajada na luta armada desde 1967 (BANDA, 2017, p. 141). O assassinato pelo ETA de Carrero Blanco, em 1973, intensificou os conflitos sociais e a violéncia, enquanto outros movimentos de esquerda ganhavam forga, como 0 Movimiento Ibérico de Liberacién (MIL), originario do sindicato Obreras (CCOO) e de ideologia marxista e anarquista, que ia para criar as condigdes para a revo- lugao proletaria. Nascida em Paris em 1971 e liderada principalmente por militantes da PCE, a organizagao Frente Revolucionario Antifascista italizados na Catalunha e no Pa Ressaltam-se, por fim, os Grupos de Re Octubre (GRAPO), de ideologia marxista-leninista, organizados desde © final da década de 1960, optando pela luta armada para combater a ditadura, Nesse contexto de mobilizagies e lutas, a pena de morte, abolida do Cédigo Penal em 1932 durante a Segunda Repti! restabelecida e entrou em vigor em julho de 1938. 6.A Lei n. 16/1970, de 4 de agosto, sobre Peligrsidad y Roabiltaion Socal (LPRS),subst- ‘atajardeterminadasconduclas que suponen wn riesgo para la comunidad” (p. 261), |AMAMOTO, MV. | SANTOS, C.M. (Orgs) Fruto da “transigao democrtica”, a nova Constituigao da Espanha instaurou o estado social e democratico de direito. O desenvolvimento socioeconémico da década de 1960, caracterizado pela modernizagao, gerou fortes contradigées entre o estado autoritério e 0 iberalismo econémico, sendo a democracia considerada um processo irreversivel (PRESTON, 1985). A fase inicial da transigao—junho de 1976 a julho de 1977 no governo de Adolfo Sudrez— caracterizou-se por forte influéncia, das elites reformistas, obrigadas a realizar concessées aos opositores democraticos, e, de forma cada vez mais acentuada, pelo crescente protagonismo politico da monarquia, da sociedade civil e dos partidos politicos (VARELA-GUINOT, 1990). Em 1977, os partidos politicos foram legalizados, incluindo o Partido Comunista de Espafta (PCE), luta € conquista representativas de um dos fatos historicos que marcaram a linha divis6ria entre a democracia e o fascismo. Segundo Carrillo (1983), a legalizacdo do PCE foi questao fundamental para a transicao € para sua credibilidade porque a mudanga democrtica na Espanha seria vista, em toda a Europa democratica, como uma mudanga real. A legalizagao do PCE foi um dos fatores principais para garantir a reconciliagdo nacional ¢ estabelecer a democracia legitimamente representativa. Deve-se ter em mente que, no final da década de 1960, atuando na clandestinidade, 0 PCE ampliou sua presenca ¢ influéncia entre 0 movimento trabalhista, estudantil, cultural, sobre Profissionais e moradores de bairros (MOLINERO; YSAS, 2008). Em 1977, a extrema direita assassinou advogados trabalhistas ligados a0 PCE, causando uma onda de apoio popular e solidariedade ao partido. No mesmo ano, o PCE 1 a0 Ministério do Interior sua inscri- <0 no registro de partidos politicos, apresentando os estatutos, sem mencionar, contudo, o marxismo como base ideolégica nem defender uma sociedade comunista. Um ano depois, os membros da Comissio de Assuntos Constitucionais e Liberdades Puiblicas determinaram no artigo 1° da Constituicao espanhola que o pats seria um estado social e democratico de direito. A convocagao de eleigdes para um parlamento constituinte ocorreu em junho de 1977, quando a luta armada do ETA e GRAPO se intensificou. HISTORIA PELO AVESSO 205 A “transigao democratica” (etapa 1975-1978) se desenvolveu na conjuntura marcada pela expanséo da hegemonia global do neolibe- ralismo (HARVEY, 2012), com dominio do mercado e com mudanea dos critérios que, até entao, sustentavam a relagao entre a sociedade eo estado. A recessao sofrida pela economia espanhola com a ise internacional do petroleo de 1973 impactou a classe trabalha- ,, provocando especialmente seu empobrecimento, resultado das fas taxas de desemprego, inflagdo e crescimento lento do produto interno. A economia ficou atras dos pafses europeus, e a indtistria nao competitiva foi marcada pela tradicao intervencionista protecionista, ‘a de convicciones firmes sobre las ventajas de la estabilidad mo- MARTIN-ACENA, 2010, p. 3). Por outro lado, as manifestagGes populares realizadas em Madri, no periodo 1976-1987, indicavam que as organizagées sindicais eram as protagonistas dos protestos, seguidas pelas associagées de bairro, por grupos alternativos e movimentos estudantis (SASTRE, 1997). Nos anos seguintes, acentuou-se um proceso de individualizagao e aumentou a desmobilizacio social (BARBERO, 2002). Ao longo das décadas de 1980 e 1990, os movimentos sociais e trabalhista, importantes eixos icos das mudancas democraticas, foram substituidos por um processo de modernizacio baseado em estratégias individuais e meri- tocraticas. A representaco institucional e os mecanismos corporativos regularizaram e administraram conflitos sociais, secundarizando a auto-organizagao popular e desencadeando um discurso modernizador com logica tutelar (RAYA, 2004). Esse discurso coincide com o processo de consolidagao da politica de conciliagao de classes — ou retirada da ddimensao do conflito de classes — no momento em que a Comunida- de Econémica Europeia e a Associacao Europeia de Comércio Livre (EFTA) iniciavam negociagoes oficiais para langar o Espago Economico Europeu (EEE), efetivar o neoliberalismo internacional na Europa e 0 discurso sociopolitico hegeménico sustentado na coesdo social. Nos anos 1990, a sociedade espanhola sofreu os efeitos do capi- talismo neoliberal com o processo de desmantelamento do estado de bem-estar social (iniciado na era ‘Thatcher-Reagan), encontrando na 306 IAMAMOTO, MLV. | SANTOS, C.M, (Org) gestdo social com organizagées sem fins lucrativos, no voluntariado de ‘gestién social’ como mera disculpa para los procesos de privatizacién” (ALBERICH, 2007, p. 85). © estado de bem-estar foi progressivamente privatizando suas fung6es, mini- mizando a protegao e os direitos sociais (RODRIGUEZ, 2004). Crise e lutas socioprofissionais no Trabajo Social: décadas de 1960 a 1980 Na Europa ocidental da década de 1950, periodo em que se forjava, © estado de bem-estar social, a Espanha mantinha-se social e econo- micamente atrasada, com uma prevaléncia do conceito de caridade do século XIX, a partir do qual a Igreja Catélica reivindicava poderes ¢ privilégios no exercicio da assisténcia social e da caridade (MARIN, 2016, p. 162). A Accién Social durante o franquismo caracterizou-se pelo paternalismo ligado a caridade. O Autxilio Social foi a entidade da ditadura, criada em 1937, para prestar atendimento social & populacao. Transformada, em 1968, no Instituto Nacional de Auxilio Social (INAS), passou em 1974 a ser denominada Instituto Nacional de Asistencia Social, considerada a etapa do triunfo da Asistencia Social sobre a Accién Social do regime franquista (BLANCO, 2008; CERDEIRA, 1987). Denominado originalmente Auxilio de Invierno no atendimento as urgéncias da Guerra Civil Espanhola, 0 Auxilio Social identificou os insuficientes recursos humanos diante das necessidades da épo- ca. Para tanto, aprovou-se o projeto Servicio Social Femenino, sendo todas as mulheres espanholas de 17 a 35 anos obrigadas a trabalhar gratuitamente, durante seis meses, nas instituigdes de Auxilio Social’, 7. Em 1940, contabilizavamese [AWISTORIA PELO AVESSO. 307 como condigéo para obter qualquer carreira ou profissio, trabalhar em fungdes administrativas ou assumir cargo ptiblico. A mulher es- panhola assumiu 0 papel de mae e esposa, de acordo com 0 padrao moral exigido pelo franquismo em consonancia com 0 idedrio da Igreja, determinante do status feminino da época (SANCHEZ, 2008; PRADA, 1996; MARIN, 2016). No Ambito da formagao e intervengao profissional, como afir- mam Estruch e Giiell (1976), “la profesién de Trabajo Social mo escaps pregnadas por un os dos autores), e, como sinalizam Moran e Flores (2018), no caso do Trabajo Social, tratou-se de fator determinante na tendéncia profissional. As escolas ‘ales — mais de trinta entre 1957 ¢ 1965 — estavam ligadas a Igreja, seguida da Secci a. Com a expansio de centros de formacao em 1959, criou-se a Federa Espariola de Escuelas de la Iglesia de Servicios Sociales (FEEISS), nismo coordenador com as fungdes de orientar a formagio docente ¢ organizar cursos e seminarios em nivel nacional e internacional (MORAN; FLORES, 2018). Em 1963, foi aprovado o decreto regulamentador das escolas para formacio de asistentes sociales (Decreto n. 1.403/1964) e 0 plano de estudo em 1964, estabelecendo o Estado como ordenador na formagao. Nesse reconhecimento oficial, a formagao considerada de grau médio foi exclufda dos estudos universitarios (NAVARRO, 1998), Os centros formativos sao caracterizados por Banda (2017) como instituigdes de baixa incidéncia profissional, que contam com uma base de recrut mento feminina e cujo caréter confessional, com acentuada tendéncia © 0 apostolado — dedicacao aos outros, espirito de servico, ajuda, vocagao etc. Quanto ao objetivo dos estudos, em diferentes escol: destacavam-se trechos, como “carrera femenina cuyas finalidades son ya ina preparacién de la mujer para un servicio de la sociedad, y a una amplia- cidn de su cultura con vistas a convert iana madre de fa (ESTRUCI UELL, 1976, p. 237), ou “proporcionar a las 308 |AMAMOTO, M.V. | SANTOS, CM. (Ong) alu eric epee prea postélico , 2019, p. 32). Nesse periodo, houve demanda por intervencdes mais técnicas € maior profission. o ao exercicio da profissao nas res postas aos “problemas sociais” presentes, especialmente, nas grandes cidades. Experiéncias de desenvolvimento comunitério com a parti= cipacao da populagao foram des idas nas periferias, a saber, a demanda por servicos puiblicos capazes de atender as necessidades de satide e educagao, com assessoria de especialistas como Marchioni, Kifoury, Cassidy, com uma visio critica do que o Trabajo Social tinha sido até entio (NAVARRO, 1998; BANDA, 2017), A década de 1970 foi marcada por um processo de autodefinigao busca de reconhecimento profissional, fazendo coexistir “malestar” e duas vertentes profissionais: uma conservadora, defensora de um trabalho margem da ideologia politica, com manutengao de praticas tradicionais de bem-estar e caridade e forte dose de paternalismo e€ religiosidade; outra progressista, formada por profissionais com orientagdes mais sociolégicas, dedicados a um trabalho politizado, comprometido com a defesa de direitos e liberdades, envolvido com 0s movimentos de bairro, influenciado pelos movimentos de reformae renovacao que vieram do exterior e dos setores progressistas da Igreja (DOMENECH etl, 1975; BANDA, 2017). Foi um periodo caracterizado pela fra; na profissio, pela necessidade de forma- sao, debate, definicao ideolégica e dos servigos sociais em processo de expansio (ZAMANILLO, 1987; FEU, 2007; MIRANDA, 2003), sendo a Reconceituagao tema obrigatério em todos os eventos do Trabajo Social (DOMENECH, 1991). Esse dinamismo da profissao reflete nos diversos seminarios realizados 4 época: seminério de Manresa, em 1971, que reconhece uma crise na profissio e promove a discussio da metodologia do Trabajo Social (COLOMER, 1973); semindrio Los ‘Negrales, em Madri em 1972, que faz referéncia & Reconcept del Trabajo Social, assumindo nas conclusdes a definigao de como agente de cambio” (FEU, 2007, p. 184); VI Conferencia de Leva [AHISTORIA PELO AVESSO. 209 (1975), ocorrida em Valéncia, com 0 tema El Trabajo Social dentro det proceso de cambio, em que se apresentam posig&es profission: ese resgata o pensamento social marxista, representando “el perfodo de mayor reconceptualizaci6n ¢ influencia radical en Espaiia en relacién a Jas propuestas de cambio (MORAN-CARRILLO; DIAZ-JIMENEZ,, 2016, p. 200). No III Congreso Nacional realizado em Sevilha, em 1976, decide-se passar da denominacao profissional de “ de “traba- ‘asistente social” jador social”. A formacao cientifica e a praxis sio assumidas como condigées para intervir na estrutura das desigualdades sociais, indo além do “assistencial” e se contrapondo a tradicional beneficéncia franquista. Segundo Las Heras e Cortajarena (1979), a primeira fase idagio teérica e profissional do Trabajo Social ocorreu nas II Jornadas de Trabajo Social, realizadas em 197, quando se defendeu a articulacéo entre profissdo, agdo social e as Ciéncias Sociais, e se definiram 0s critérios para o estabelecimento de uma estrutura ope- al de politicas de bem-estar para implementar servigos sociais municipais descentralizados. O estado social e democratico de direito (art. 1 da Constituigio) legitimou a criagao do Sistema Puiblico de Servicios Sociales. Os pactos de Moncloa, de 1978 —assinados durante a transigio espanhola entre © governo —, os partidos politicos com representacao no Congresso dos Deputados, associagdes empresariais e sindicatos objetivaram ar 0 processo de transicao em direcdo ao sistema democratico. Esses pactos, através do Real Decreto-lei n. 36/1978, estabeleceram novos sistemas de gestiio da Segu através da criagao do Instituto Nacional de la Seguridad So Instituto Nacional de Servicios Sociales, Instituto Social de la Marina e da ‘Tesoreria General de la Seguridad Social. Esse fato representou um salto qualitativo para a profissao de Trabajo Social em termos de sua inserca0 na divisao sociotécnica do trabalho. No IV Congreso Estatal de Asistentes Sociales, realizado em 1980 isso assume o compromisso de “sensibilizar a la opinion puiblica y extender los criterios que fundamentan la nueva politica 310 IAMAMOTO, M.V.| SANTOS, CM. (Orgs) social y el sistema ptiblico de Servicios Sociales” (DOMENECH, 1991, p. 15). Nos congressos de 1984, em Vit 1988, em Oviedo, o de~ bate se concentra no Sistema de Bienestar Social. Fernandez e Aleman (2003) apontam que, no congresso de Oviedo, a relacao da politica social com o Trabajo Social e os servigos sociais se assenta em uma base “indiscutivelmente psicossocial” (p. 141), ao mesmo tempo que se insiste na sistematizagao de sua propria producao teérica e pratica, Para a categoria profissional, a década de 1980 foi fundamental no ambito de sua legitimidade laboral, académica e organizativa. Em 1981, a incorporagao dos estudos de Trabajo Social & universidade foi conquistada, e a estrutura das novas Escolas Un Social foi regulamentada. O desafio era “garantizar u -y cientifica de calidad para las trabajadoras sociales siguiendo las directrices de la Ley de Reforma Universitaria que ofrecia un soporte para la docencia y la investigacién” (p. 140). Paralelamente, é consolidada a organizagao. colegiada, com a criagéo em 1983 do Consejo General de Trabajo Social. Uma década depois, a Comissao Académica do Conselho das Univer- sidades reconheceria o Trabajo Social y los Servicios Sociales como uma drea do conhecimento (Decreto Real n. 1.431), ratificando a duragio maxima do estudo em trés anos ¢ o direi O processo de lutas e conquistas no nivel profissional e académico relacionadas ao campo dos Servigos Sociais, no final dos anos 1980, sofre uma inflexao em torno da burocratizagao progressiva do siste- ma ptiblico e do proprio exercicio profissional, perdendo objetivos e ctitérios considerados caracteristicos da profisso (BARBERO, 2002). Surgem desafios “relacionados con la dimensién colectioa y comunitaria de los problemas que interviene” (DOMENECH, 1991, p. 15) e um “malestar” enraizado na identificagao do Trabajo Social y los Servicios Sociales (ITUARTE, 1990). Segundo Femédndez e Alemén (2003), a excessiva burocratizagao no exercicio profissional resulta em um “empobrecimiento de la inter- vencién y de la disciplina puesto que la reflexién se centraba cada vez mas xy de organizacién y la figura del trabajador social se necesidades [AWISTORIA PELO AVESSO an —de recursos” (p. 145). O desenvolvimento comunitario permaneceu secundarizado, considerado “una propuesta excesivamente asociada a posiciones re-conceptualizadoras, propias de una transicién de- mocritica ya cerrada” (JARAIZ, 2011, p. 116). Conclusées A segunda fase do franquismo (1960/1970), marcada pelo de- senvolvimentismo, experimentou mudangas econémicas e sociais: 0 desenvolvimento industrial impulsionador do fluxo migratério interno produziu notavel processo de crescimento urbano e o surgimento de bairros operdrios em areas periféricas, com evidentes desigualdades sociais. Numerosas manifestagdes sociais resultantes do descontentamen- to social e contrérias a falta de liberdades ocorreram com participacao de trabalhadores, estudantes, professores e setores da Igreja — com- aliada ao regime de Franco. Nesses anos de efervescéncia pol houve a participacao de movimentos de um espectro amplo, inclusi- ve dos que adotaram a estratégia da luta armada contra a ditadura. Ocatolicismo nacional, fiel ditadura de Franco, impregnou tanto a formagao quanto a pratica profissional do Trabajo Social, dotando-o de carter paternalista e caritativo, que, através do Auxilio Social ou impés o padrao moral do regime, determinando por décadas a trajetéria profissional frente ao que Iamamoto (1982) chama de miiltiplas express6es da questdo social. A formacio de ptofissionais e o reconhecimento dos estudos constituiram campo de disputa, sendo importante a contribuicao de profissionais da Amé- rica Latina e do Movimento de Reconceituagao no contexto de lutas € contestagdes sociais. Esses determinantes foram fundamentais na construgio de uma visio critica do exercicio profissional, pondo em an |AMAMOTO, MLV. | SANTOS, C.M, (Orgs) relevo 0 “malestar” existente na profisso, que naquele tempo buscava uma orientacao tedrica e metodolégica da qual careci Aresposta a esse “malestar” por parte das profissionais se processa no movimento interno da profissio de Trabajo Social, nomeadamente, em sua relagao com a dinamica econémica, social, cultural e politica da sociedade espanhola, especialmente durante a “transi¢ao democratica”, com 0 estabelecimento da Constituigao de 1978. A democratizagao se ‘om 40 anos de atraso em relacdo aos outros paises europeus izados, no contexto econdmico de crise capitalista mundial, Para Harvey (2012), em uma conjuntura europeia de transformagao no modo de acumulagao capi as acumulagées rigida e flexivel do capil O Trabajo Social contemporaneo na Espanha nao pode ser enten- dido a margem dos miltiplos determinantes histéricos, econdmicos, Politicos e religiosos que 0 condicionaram ao longo das décadas do século passado, e dos quais ainda nao se desvencilhou completa- mente. A ditadura impactou 0 desenvolvimento do Trabajo Social, impregnando-o com cariz paternalista, as no trabalho individual. Com a Constituigao de 1978 e a consequente assuncao dos Servicios Sociais pelas administracées puiblicas, em uma Europa que adotava o neoliberalismo, foi progressivamente sendo consolidada e priorizada a abordagem lual. A p neoliberal impregnou 0 exercicio profissional e o campo académico ‘com repercussées na formagao das trabajadoras sociales. © proceso de cons lacdo dos Servicios Sociales, desde a demo- cratizacao do pais, derivou da hegemonia de um sistema burocratico sob 0 idedrio das politicas neoliberais. Nele predominaram tarefas de gestio de recursos e beneficios sociais, bem como funges de contro~ le, em detrimento das tarefas focadas na viabilizagio do acesso aos direitos sociais e ao acompanhamento dos cidadaos, que geralmente assumem o papel de consumidores passivos dos servigos. Outra al- teragao 6 a do trabalho na calle’, realizado por parte das trabajadoras 8.0 trabatho na calle refere-se& intervengio das trabyjadoras sociales, majo desenvolvide por elas nos anos 1970 e 1980 nas dreas periféricas das grandes cd [AHISTORIA PELO AVESSO 313 sociales e centrado nos bairros, paulatinamente assumido por novas categorias profissionais a partir do final dos anos de 1980 e 1990, como a de educadores e integradores sociais. Ressalta-se que o Sistema de Servicios Sociales nao esta regula- mentado em nivel estatal e ndo possui a mesma categoria que os outros sistemas de protegio social: emprego, educagao e satide. Vi- rias comunidades auténomas na década de 1980, recorda-nos Pérez (2011), aprovaram leis de servigos sociais, mas sem regulamentagio que respondesse as demandas do antigo e renovado “problema” da pobreza na Espanha. Até hoje, as 17 regides auténomas contam com lei propria, permanecendo ausente uma legislacao estat Esse estudo partiu da perspectiva histérico-critica das lutas sociais, da formacao e do exercicio da profissdo nas décadas de 1960 a 1980, identificando o “malestar” e a crise do Trabajo Social; estabelecendo um fio comum com 0 atual “malestar”, expresso pelas profissionais em decorréncia do aumento da desigualdade e demanda de cobertura das necessidades bsicas geradas pela crise de 2008; acentuando respostas listas no marco de cortes de is que debilitaram tema de protecdo social. A crescente terceirizacao e privatizagao dos servigos acarretou precarizagdo na profissio, remetendo a necessidade de debate do Trabajo Social — académico e profissional — e tornando-o capaz de problematizar esse “malestar” diretrizes, os fundamentos da profissdo e das politicas sociais hege- ménicas? Em que se diferenciam as respostas profissionais da meta gerencial dos recursos e beneficios? Como enfrentar 0 imediatismo € a fungao de contengao social que se requerem das profissionais? O que a histéria e a meméria coletiva do Trabajo Social dos anos 1970, ages, contestagies e lutas travadas no interior Fssas fungGes foram assumidlas, progressivamente, por novas categorias profissionais, como a ed 314 IAMAMOTO, M.V.| SANTOS, CM. ( da categoria profissional, em sintonia com a luta pela democratiz. em defesa da liberdade e dos direitos sociais, legaram Para as at e futuras geragies de trabajadoras sociales? Para nés, a resposta est na heranga deixada pela geragao de 1970: a indissociabilidade da formagao e do trabalho profissional com as lutas societérias, ancorada na reflexo critica. E o trabalho da critica exige ir aos fundamentos da realidade social. Referéncias ALBERICH, N.. Asociaciones y movimientos sociales en Espaiia: cuatro décadas de cambios, Revista de estudios de juventud, n. 76, p. 71-89, 2007. BANDA, G. T. 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