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TEXTOS PARA

LEITURA
TATIANA RODRIGUES – TRD – TREINAMENTO REDAÇÃO DEFINITIVA

TEXTO 1

DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS

Preâmbulo

Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família


humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da
paz no mundo,

Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos humanos resultaram em atos


bárbaros que ultrajaram a consciência da humanidade e que o advento de um mundo em que
mulheres e homens gozem de liberdade de palavra, de crença e da liberdade de viverem a
salvo do temor e da necessidade foi proclamado como a mais alta aspiração do ser humano
comum,

Considerando ser essencial que os direitos humanos sejam protegidos pelo império da lei, para
que o ser humano não seja compelido, como último recurso, à rebelião contra a tirania e a
opressão,

Considerando ser essencial promover o desenvolvimento de relações amistosas entre as


nações,

Considerando que os povos das Nações Unidas reafirmaram, na Carta, sua fé nos direitos
fundamentais do ser humano, na dignidade e no valor da pessoa humana e na igualdade de
direitos do homem e da mulher e que decidiram promover o progresso social e melhores
condições de vida em uma liberdade mais ampla,

Considerando que os Países-Membros se comprometeram a promover, em cooperação com as


Nações Unidas, o respeito universal aos direitos e liberdades fundamentais do ser humano e a
observância desses direitos e liberdades,

Considerando que uma compreensão comum desses direitos e liberdades é da mais alta
importância para o pleno cumprimento desse compromisso,

Agora portanto a Assembleia Geral proclama a presente Declaração Universal dos Direitos
Humanos como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações, com o
objetivo de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade tendo sempre em mente esta
Declaração, esforce-se, por meio do ensino e da educação, por promover o respeito a esses
direitos e liberdades, e, pela adoção de medidas progressivas de caráter nacional e
internacional, por assegurar o seu reconhecimento e a sua observância universais e efetivos,
tanto entre os povos dos próprios Países-Membros quanto entre os povos dos territórios sob
sua jurisdição.

Artigo 1

Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e
consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade.

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Artigo 2

1. Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta
Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião
política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer
outra condição.

2. Não será também feita nenhuma distinção fundada na condição política, jurídica ou
internacional do país ou território a que pertença uma pessoa, quer se trate de um território
independente, sob tutela, sem governo próprio, quer sujeito a qualquer outra limitação de
soberania.

Artigo 3

Todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.

Artigo 4

Ninguém será mantido em escravidão ou servidão; a escravidão e o tráfico de escravos serão


proibidos em todas as suas formas.

Artigo 5

Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou


degradante.

Artigo 6

Todo ser humano tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecido como pessoa perante
a lei.

Artigo 7

Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei.
Todos têm direito a igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente
Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação.

Artigo 8

Todo ser humano tem direito a receber dos tribunais nacionais competentes remédio efetivo
para os atos que violem os direitos fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela constituição
ou pela lei.

Artigo 9

Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado.

Artigo 10

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Todo ser humano tem direito, em plena igualdade, a uma justa e pública audiência por parte
de um tribunal independente e imparcial, para decidir seus direitos e deveres ou fundamento
de qualquer acusação criminal contra ele.

Artigo 11

1.Todo ser humano acusado de um ato delituoso tem o direito de ser presumido inocente até
que a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento público no
qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa.

2. Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou omissão que, no momento, não
constituíam delito perante o direito nacional ou internacional. Também não será imposta pena
mais forte de que aquela que, no momento da prática, era aplicável ao ato delituoso.

Artigo 12

Ninguém será sujeito à interferência na sua vida privada, na sua família, no seu lar ou na sua
correspondência, nem a ataque à sua honra e reputação. Todo ser humano tem direito à
proteção da lei contra tais interferências ou ataques.

Artigo 13

1. Todo ser humano tem direito à liberdade de locomoção e residência dentro das fronteiras
de cada Estado.

2. Todo ser humano tem o direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio e a esse
regressar.

Artigo 14

1. Todo ser humano, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e de gozar asilo em
outros países.

2. Esse direito não pode ser invocado em caso de perseguição legitimamente motivada por
crimes de direito comum ou por atos contrários aos objetivos e princípios das Nações Unidas.

Artigo 15

1. Todo ser humano tem direito a uma nacionalidade.

2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem do direito de mudar de


nacionalidade.

Artigo 16

1. Os homens e mulheres de maior idade, sem qualquer restrição de raça, nacionalidade ou


religião, têm o direito de contrair matrimônio e fundar uma família. Gozam de iguais direitos
em relação ao casamento, sua duração e sua dissolução.

2. O casamento não será válido senão com o livre e pleno consentimento dos nubentes.

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3. A família é o núcleo natural e fundamental da sociedade e tem direito à proteção da


sociedade e do Estado.

Artigo 17

1. Todo ser humano tem direito à propriedade, só ou em sociedade com outros.

2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade.

Artigo 18

Todo ser humano tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; esse direito
inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou
crença pelo ensino, pela prática, pelo culto em público ou em particular.

Artigo 19

Todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão; esse direito inclui a liberdade
de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e idéias por
quaisquer meios e independentemente de fronteiras.

Artigo 20

1. Todo ser humano tem direito à liberdade de reunião e associação pacífica.

2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação.

Artigo 21

1. Todo ser humano tem o direito de tomar parte no governo de seu país diretamente ou por
intermédio de representantes livremente escolhidos.

2. Todo ser humano tem igual direito de acesso ao serviço público do seu país.

3. A vontade do povo será a base da autoridade do governo; essa vontade será expressa em
eleições periódicas e legítimas, por sufrágio universal, por voto secreto ou processo
equivalente que assegure a liberdade de voto.

Artigo 22

Todo ser humano, como membro da sociedade, tem direito à segurança social, à realização
pelo esforço nacional, pela cooperação internacional e de acordo com a organização e
recursos de cada Estado, dos direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis à sua
dignidade e ao livre desenvolvimento da sua personalidade.

Artigo 23

1. Todo ser humano tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e
favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego.

2. Todo ser humano, sem qualquer distinção, tem direito a igual remuneração por igual
trabalho.

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3. Todo ser humano que trabalha tem direito a uma remuneração justa e satisfatória que lhe
assegure, assim como à sua família, uma existência compatível com a dignidade humana e a
que se acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção social.

4. Todo ser humano tem direito a organizar sindicatos e a neles ingressar para proteção de
seus interesses.

Artigo 24

Todo ser humano tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitação razoável das horas de
trabalho e a férias remuneradas periódicas.

Artigo 25

1. Todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e à sua família
saúde, bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços
sociais indispensáveis e direito à segurança em caso de desemprego, doença invalidez, viuvez,
velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência em circunstâncias fora de seu
controle.

2. A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais. Todas as crianças,


nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozarão da mesma proteção social.

Artigo 26

1. Todo ser humano tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus
elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A instrução técnico-
profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior, esta baseada no mérito.

2. A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana


e do fortalecimento do respeito pelos direitos do ser humano e pelas liberdades fundamentais.
A instrução promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e
grupos raciais ou religiosos e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da
manutenção da paz.

3. Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução que será ministrada a
seus filhos.

Artigo 27

1. Todo ser humano tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de
fruir as artes e de participar do progresso científico e de seus benefícios.

2. Todo ser humano tem direito à proteção dos interesses morais e materiais decorrentes de
qualquer produção científica literária ou artística da qual seja autor.

Artigo 28

Todo ser humano tem direito a uma ordem social e internacional em que os direitos e
liberdades estabelecidos na presente Declaração possam ser plenamente realizados.

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Artigo 29

1. Todo ser humano tem deveres para com a comunidade, na qual o livre e pleno
desenvolvimento de sua personalidade é possível.

2. No exercício de seus direitos e liberdades, todo ser humano estará sujeito apenas às
limitações determinadas pela lei, exclusivamente com o fim de assegurar o devido
reconhecimento e respeito dos direitos e liberdades de outrem e de satisfazer as justas
exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar de uma sociedade democrática.

3. Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese alguma, ser exercidos contrariamente
aos objetivos e princípios das Nações Unidas.

Artigo 30

Nenhuma disposição da presente Declaração poder ser interpretada como o reconhecimento a


qualquer Estado, grupo ou pessoa, do direito de exercer qualquer atividade ou praticar
qualquer ato destinado à destruição de quaisquer dos direitos e liberdades aqui estabelecidos.

TEXTO 2
O QUE SÃO OS DIREITOS HUMANOS?

Primeiro, qual a definição de direitos humanos?

Os direitos humanos consistem em direitos naturais garantidos a todo e qualquer indivíduo, e


que devem ser universais, isto é, se estender a pessoas de todos os povos e nações,
independentemente de sua classe social, etnia, gênero, nacionalidade ou posicionamento
político.

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), os direitos humanos são “garantias jurídicas
universais que protegem indivíduos e grupos contra ações ou omissões dos governos que
atentem contra a dignidade humana”. São exemplos de direitos humanos o direito à vida,
direito à integridade física, direito à dignidade, entre outros.

Quando os direitos humanos são firmados em determinado ordenamento jurídico, como nas
Constituições, eles passam a ser chamados de direitos fundamentais.

Como surgiram os direitos humanos?

Os direitos humanos são garantias históricas, que mudam ao longo do tempo, adaptando-se às
necessidades específicas de cada momento. Por isso, ainda que a forma com que atualmente
conhecemos os direitos humanos tenha surgido com a Declaração Universal dos Direitos
Humanos, assinada em 1948, antes disso, princípios de garantia de proteção aos direitos
básicos do indivíduo já apareciam em algumas situações ao longo da história.

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A primeira forma de declaração dos direitos humanos na história é atribuída ao Cilindro de


Ciro, uma peça de argila contendo os princípios de Ciro, rei da antiga Pérsia. Ao conquistar a
cidade da Babilônia, em 539 a.C. Ciro libertou todos os escravos da cidade, declarou que as
pessoas teriam liberdade religiosa e estabeleceu a igualdade racial.

A ideia espalhou-se rapidamente para outros lugares. Com o tempo, surgiram outros
importantes documentos de afirmação dos direitos individuais, como a Petição de Direito, um
documento elaborado pelo Parlamento Inglês em 1628 e posteriormente enviada a Carlos I
como uma declaração de liberdades civis. A Petição baseou-se em cartas e estatutos anteriores
e tinha como principal objetivo limitar decisões do monarca sem autorização do Parlamento.

Já em 1776, foi deflagrado o processo de independência dos Estados Unidos, contexto em que
foi publicada uma declaração que acentuava os direitos individuais (direito à vida, à liberdade
e à busca pela felicidade) e o direito de revolução. Essas ideias não só foram amplamente
apoiadas pelos cidadãos estadunidenses, como influenciaram outros fenômenos similares no
mundo, em particular a Revolução Francesa, em 1789.

Os marcantes acontecimentos da Revolução Francesa resultaram na elaboração de um


histórico documento chamado Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Nele, foi
garantido sobretudo que todos os cidadãos franceses deveriam ter direito à liberdade,
propriedade, segurança e resistência à opressão.

Esses documentos são considerados importantes precursores escritos para muitos dos
documentos de direitos humanos atuais, entre eles a Declaração Universal de 1948.

A Declaração Universal fez 70 anos em 2018!

A Declaração Universal dos Direitos Humanos

A Segunda Guerra Mundial resultou na perda de um grande número de pessoas, sobretudo


com as muitas violações a direitos individuais cometidas por governos fascistas durante o
período. Logo após o fim do conflito, formou-se a Organização das Nações Unidas (ONU), cujo
objetivo declarado é trazer paz a todas as nações do mundo.

Além disso, foi criada uma comissão, liderada por Eleanor Roosevelt, com o propósito de criar
um documento onde seriam escritos os direitos que toda pessoa no mundo deveria ter. Esse
documento é a Declaração Universal, formada por 30 artigos que tratam dos direitos
inalienáveis que devem garantir a liberdade, a justiça e a paz mundial.

Entre os diversos direitos garantidos pela Declaração Universal, estão o direito a não ser
escravizado, de ser tratado com igualdade perante as leis, direito à livre expressão política e
religiosa, à liberdade de pensamento e de participação política. O lazer, a educação, a cultura e
o trabalho livre e remunerado também são garantidos como direitos fundamentais.

Hoje, a Declaração Universal é assinada pelos 192 países que compõem as Nações Unidas e,
ainda que não tenha força de lei, o documento serve como base para constituições e tratados
internacionais.

Como esses direitos são garantidos?

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As normas de direitos humanos são organizadas por cada país por meio de negociação com
organizações como a ONU e em encontros e conferências internacionais. Vários países ainda
firmam compromisso em garantir os direitos humanos em tratados das Nações Unidas, sobre
as mais diversas áreas, como direitos econômicos, discriminação racial, direitos da criança,
entre outros. Para cada um desses tratados, existe um comitê de peritos que avalia como as
nações participantes estão cumprindo as obrigações que assumiram ao se comprometer com o
tratado.

Além disso, outros órgãos da ONU, como a Assembleia Geral das Nações Unidas, o Conselho
de Direitos Humanos e o Alto Comissariado para os Direitos Humanos constantemente se
pronunciam sobre casos de violações desses direitos em todo o mundo.

Outro instrumento para garantia destes direitos são as operações de manutenção da paz,
realizadas pela ONU e que fiscalizam o cumprimento dos direitos humanos em diversas partes
do mundo. Além disso, já existem três tribunais de direitos humanos, um localizado na Europa,
um na África e um no continente americano.

A nível nacional, cada país é responsável por garantir os direitos humanos dentro de seu
território. Mas na fiscalização destes direitos atuam também instituições de direitos humanos,
organizações profissionais, instituições acadêmicas, grupos religiosos, organizações não
governamentais, entre outros.

Na prática, os direitos humanos ainda são um desafio

Embora existam diversos documentos e instrumentos para garantir os direitos humanos, na


prática ainda há uma grande dificuldade em tirar esses planos do papel. Segundo o doutor em
Filosofia do Direito Bernardo Guerra, o desafio para a eficácia dos direitos humanos está
relacionado principalmente à falta de vontade política, muitas vezes sob a justificativa dos
altos custos dos investimentos sociais.

Ainda hoje, os direitos humanos são desrespeitados em todas as regiões do mundo. Um caso
bastante notável é o da Síria, que, após anos em guerra civil, enfrenta uma grave crise de
refugiados, metade deles crianças sem acesso à educação, sem documentos e que muitas
vezes são os responsáveis pelo sustento da família.

https://www.politize.com.br/direitos-humanos-o-que-
sao/?https://www.politize.com.br/&gclid=EAIaIQobChMIj_TA2fuB6QIVhLLICh3IoAV7EAAYAyAAEgI9YvD_BwE

TEXTO 3
Sim! Precisamos falar sobre o drama da educação no Brasil

Por Timóteo Bezerra da Silva

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Nas palavras do economista e professor Eduardo Giannetti, o futuro do


Brasil não será definido nas reuniões do Conselho de Política Monetária
(COPOM), ou tão pouco nas profundezas do pré-sal, ou mesmo nos
pregões da bolsa de valores; o futuro do Brasil será decidido nas milhares
de salas de aulas espalhadas por esse país, afinal, sempre ouvimos os
dizeres que o futuro do país está na educação.

Entretanto o drama da educação brasileira remonta de tempos antigos, na


verdade, educação nunca foi uma prioridade desse país, não o foi nos
tempos do Brasil colônia em que a educação era destinada para a elite
local, os filhos dos senhores de escravos, e até mesmo a educação
oferecida pelos jesuítas ao povo, e povo entenda-se, escravos e índios, era
com objetivo de catequizá-los para melhor servir à igreja e à coroa
portuguesa, vide, por exemplo, que muitos jesuítas logo abandonaram as
atividades “educativas” para se dedicar exclusivamente ao tráfico
negreiro, pelos menos era mais honesto, do que travestidos de santos e
em nome de Deus, promoverem verdadeiras barbáries no tão jovem
Brasil.

A fratura da educação brasileira ainda não foi curada, ela perpassa a


história e se prolonga até os nossos dias. Enquanto que países como os
EUA que tiveram a criação de suas universidades praticamente paralela ao
nascimento da nação, pois sabiam os seus fundadores que sem ensino,
sem educação, essa nação não se sustentaria. O Brasil só foi ter sua
primeira universidade após 300 anos do seu nascimento oficial, pois
Portugal proibira que se criassem universidades no país. Apenas no século
XX, com mais de um século de atraso em relação aos EUA, o Brasil foi
universalizar a educação fundamental, e, diga-se de passagem, ainda de
modo bastante precário, rudimentar até.

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Algumas das maiores empresas hoje que dominam a economia global


nasceram dentro de universidades, crianças em alguns países recebem
educação financeira, aulas de programação, internet das coisas, a
revolução industrial 4.0 chegou às escolas, enquanto que nós temos
alunos que terminam o ensino fundamental sem saber sequer ler um
texto básico. Estima-se que somente 1% dos alunos de escolas públicas no
Brasil são capazes de resolver uma simples equação usando o Teorema de
Pitágoras, esse é o nosso drama, não conseguimos aprender o básico.

Alguns mais vividos atribuem o nosso problema educacional aos recentes


governos ditos de esquerda, os mais saudosos dos governos militares
dizem que naquele período a educação era melhor, porém, o que
acontecia era que durante os governos militares a educação era restrita à
elite, o pobre pouco ou quase nenhum acesso à educação tinha 1/3 da
população brasileira era analfabeta nesse período, a evasão escolar era
altíssima.

A nossa realidade educacional não avançou, e hoje, existem aquele que


apostam na militarização das escolas como santo graal para uma
revolução no ensino, a história mostra que não é esse o caminho, essa
aposta não será eficaz, mas os governos adoram acreditar em panaceias,
soluções que nunca antes ninguém pensou talvez governos e políticos
sofram da loucura quixotesca que ao se deparar com a realidade brutal,
passam a lidar com elas por óticas fantasiosas. Os burocratas e
tecnocratas com seus moralismos, quando não os fanáticos religiosos,
agravam esse cenário o transformando em guerra santa interferindo na
espera soberana da educação, e a consequência disso? O caos que
vivemos.

A grande verdade é que educação nunca foi encarada como política de


Estado, um projeto desenvolvimentista para um país, a verdadeira
independência de uma nação. Por aqui, nós preferimos apostar na

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especulação financeira, populismo barato, e autoritarismo para manter o


povo no seu lugar, perpetuando assim, miséria, desigualdade, injustiça,
como se vivêssemos em um eterno círculo vicioso. Aqui, em terra brasilis
somos eternamente o país do futuro, o país da esperança, vivendo o
sonho de um amanhã que nunca chega.
https://www.justificando.com/2020/02/17/sim-precisamos-falar-sobre-o-drama-da-educacao-no-brasil/

TEXTO 4

A Educação na Dinamarca: Um antídoto para a Saúde Mental dos Jovens

Enquanto instituição base da vida de uma pessoa, a escola surge como um


espaço de aprendizados diversos, onde se aprende de formas diferentes e
em contextos peculiares a este ambiente.

Mas para além do conhecimento tradicional que conhecemos, a escola


pode representar muito mais, ensinando a criança e o adolescente a
construírem sua autonomia como pessoa. A Dinamarca é um expoente
dessa lógica pedagógica.

A pesquisadora dinamarquesa , Iben Dissing Sandahl, ao escrever seu livro


“The danish way of parenting”, dá contornos mais bem definidos a essa
lógica e ao que seu país desenvolve nesse sentido, se diferindo de outros e
com grande apoio governamental, nas escolas, instituições de ensino e
dentro de casa.

A autora conta inicialmente sobre sua experiência enquanto pedagoga e


professora dentro de uma sala de aula e como isso teria mudado sua visão
em relação ao como cuidar e permitir o desenvolvimento das crianças.

Dialogando sobre a perspectiva dos pais e parentes, Sandahl aponta para


a necessidade de que se entenda melhor seus filhos, de que os deixem
mais livres para aprenderem, sem a utilização da ideia clássica de
autoridade, mas sim priorizando o diálogo e a construção mútua do
respeito entre ambos.

Sobre os professores e a escola, a autora fala a respeito do papel que


possuem. O professor enquanto guia, referência e uma pessoa a apoiar
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emocionalmente seus alunos, torna-se um alguém – e assim deve ser –


não mero reprodutor de conteúdos engessados.

E a escola, enquanto instituição, um espaço a servir de base/alicerce desse


relacionamento.

Conheça mais sobre o ensino fundamental e a educação infantil na


Dinamarca por meio da obra e do relato de Sandahl!

Mais do que apenas uma escola e uma forma de educação

As crianças frequentam a escola em preparação para o futuro que está


reservado para elas. Isso não apenas no sentido acadêmico, mas também
no sentido social, emocional e físico.

Elas aprendem a colaborar, socializar, concentrar-se, negociar, cumprir


regras, ouvir, falar e por em prática seus conhecimentos. Como você pode
ver, este é um conjunto completo de habilidades necessárias para
podermos funcionar produtivamente na vida cotidiana.

Por esta razão, é importante lembrar que a vida escolar é muito mais do
que receber notas altas em testes e tarefas. A escola é o ambiente em que
nossas crianças aprendem a conviver entre elas e começam a se preparar
para a vida adulta.

Os professores têm um trabalho tão importante e meu desejo é que


recebessem mais reconhecimento do que costumam receber. Eles não
apenas ensinam as crianças sobre matemática, ciência e religião, mas
também ensinam as crianças a se sentirem bem consigo mesmas.

A Iluminação Educacional como uma forma de educação essencial

Eu passei dez anos trabalhando com crianças em uma sala de aula. Foi na
sala de aula em que aprendi o que realmente importava a longo prazo.

Ter a oportunidade de me conectar com tantas pessoas incríveis foi uma


experiência que mudou minha vida, porque me mostrou em primeira mão
o quanto havia para entender sobre as diferenças humanas em todas as
suas nuances.

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Eu testemunhei crianças se esforçando para fazer o melhor possível,


observando como os relacionamentos eram construídos e dilacerados,
como as crianças aprendem de maneiras diferentes e a forte correlação
entre questões domésticas e a capacidade de aprender.

Vi crianças florescerem e também vi crianças a desvanecerem-se como


resultado de vidas domésticas pouco saudáveis.

Por tudo isso, eu estava lá com elas. Aprendi a manter a calma quando
necessário, e aprendi como é importante acreditar em uma criança com
todo o meu ser, mesmo quando elas mesmas estão questionando o seu
próprio valor.

Aprendi sobre a vida, como são em diferentes famílias e entreguei meu


coração a todas as crianças, porque compartilhamos nossas vidas uns com
os outros todos os dias.
https://blog.cenatcursos.com.br/a-educacao-na-dinamarca-um-antidoto-para-a-saude-mental-dos-
jovens/

TEXTO 5

Como ser antirracista, segundo quatro ativistas

A partir da frase de Angela Davis, ativistas refletem sobre como


alterar o quadro de exclusão da população negra para construir
uma sociedade mais justa e democrática
por Rafael Ciscati

No Brasil, o racismo é um fenômeno facilmente expresso em


números. Pretos e pardos representam 56% da população.
Mesmo assim, são minoria nos espaços de decisão: ocupam
pouco mais de 29% dos cargos de gerência nas empresas
brasileiras. Entre os mais pobres, os negros são muitos: dentre os
10% dos brasileiros com menor renda familiar mensal, 75% são
negros. Entre os que morrem, eles são maioria: uma pessoa

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negra tem 2,7 vezes mais chances de ser vítima de homicídio que
uma pessoa branca.

Os dados constam no estudo Desigualdades sociais por cor ou


raça no Brasil, divulgado neste mês pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE). Traçam um quadro desanimador:
mais de 100 anos passados desde o fim da escravidão, um
abismo parece separar negros e brancos no país. Quase metade
dos negros no Brasil vive em domicílios sem ao menos um
serviço de saneamento básico, como esgotamento doméstico ou
acesso a água potável. O problema afeta toda a população. Mas,
entre brancos, esse percentual é muito menor: menos de 28%.
Há mais negros desempregados que brancos. Negros são maioria
entre os analfabetos. E, apesar de ter aumentado o número de
estudantes pretos ou pardos no ensino superior (em 2018, eles
passaram a representar 50,3% dos alunos matriculados em
universidades públicas), as chances de um jovem negro cursar
uma faculdade ainda são bem menores que as de um jovem
branco: em 2018, 80% dos brancos entre 18 e 24 anos que
estudavam estavam na universidade. Entre os negros, esse
percentual caía para 56%.

“Há, no Brasil, uma exclusão estrutural, que atravessa sobretudo


pessoas negras, pessoas racializadas, moradores de territórios de
favela e de territórios periféricos” afirma Mariah Rafaela da Silva,
pesquisadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e
militante do Grupo Conexão G. O Brasil, esses dados mostram, é
um país racista: “Ainda que muita gente negue”, lembra a
socióloga Waneska Viana, pesquisadora do Gabinete de
Assessoria Jurídica às Organizações Populares, do Recife.

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No Dia da Consciência Negra, a Brasil de Direitos convidou


quatro ativistas para refletir sobre as relações raciais no país.
Cada qual apresenta suas conclusões acerca de uma questão
fundamental: se vivemos em uma sociedade estruturada pelo
racismo, como ser antirracistas? A questão parte de uma frase
da intelectual e ativista estadunidense Angela Davis. Em 1979,
enquanto discursava para uma plateia na cidade de Oakland, na
Califórnia, Davis disse: ““Numa sociedade racista, não adianta
não ser racista, nós devemos ser antirracistas”.

As quatro respostas a seguir sugerem que esse é um


compromisso diário, e que se expressa de diferentes formas: na
cobrança de políticas públicas que combatam a exclusão da
população negra; na valorização do conhecimento gerado por
intelectuais negros; na valorização da beleza da negritude. E na
compreensão urgente de que a luta antirracista não pode ser
exclusiva da população negra. Ela cabe a todos e todas, e é
essencial para a construção de sociedades justas e democráticas.

A prática antirracista é uma luta contra as desigualdades


estruturais
Mariah Rafaela da Silva Graduada em história da arte, é pesquisadora da
UFRJ e militante do Grupo Conexão G de Cidadania LGBT de favelas

“É preciso ser antirracista porque essa é uma questão ética,


fundamental e orgânica para a continuidade daquilo que a gente
chama de democracia. É preciso ser antirracista porque a gente
não pode tolerar práticas de discriminação ou de exclusão. Há,
no Brasil, uma exclusão estrutural, que atravessa sobretudo

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pessoas negras, pessoas racializadas, moradores de territórios de


favela e de territórios periféricos. Por isso, a prática antirracista
não é uma luta apenas contra o racismo. É uma luta contra as
desigualdades estruturais.

Como ser antirracista? Primeiramente, adotando para si uma


política de descolonização do inconsciente. Descolonizar
significa retirar forças e domínios de uma determinada região, de
um determinado território. Significa fraturar essas forças e
construir novos campos e novas perspectivas de existir. Uma
descolonização do território necessariamente envolve toda a
reestruturação política desse espaço. Quando a gente fala em
descolonizar o inconsciente, fala de reconfigurar ou recituar
todas as linhas de força que dominam nosso modo de pensar.
Nossa linguagem, as coisas que a gente lê, as coisas que a gente
quer assistir, as músicas que a gente quer ouvir. Para que a gente
efetive, de fato, uma lógica antirracista, a gente precisa se auto-
descolonizar. Isso é imprescindível.

Para combater o racismo no trabalho, é preciso distribuir de


maneira ética e mais capilarizada o poder. É preciso ter uma
política de distribuição do poder que perpasse elementos como a
distribuição de gênero, distribuição racial, distribuição territorial.
Isso, por si só, não garante avanços. Mas vai, de fato,
reconfigurando as estruturas de poder. É preciso, também, agir
e reagir toda vez que uma prática racista for evocada.
Precisamos ser intolerantes com aquilo que não é tolerável.
Precisamos ser intolerante com os racista, com os transfóbicos,
com os homofóbicos, com os classistas.

16
TATIANA RODRIGUES – TRD – TREINAMENTO REDAÇÃO DEFINITIVA

Na educação, é preciso estabelecer uma política de


citacionalidade. Incluir, nas bibliografias que consultamos, não
apenas autores negros. Mas trazer, também, outras
epistemologias que efetivem novas práticas educacionais. Novas
epistemologias, novos conteúdos didáticos. É preciso trazer
elementos da história dos povos negros, das políticas dos povos
negros, para a gente reconstruir todo um sistema de saber/
poder que está dado há muitos séculos.

Há movimentos na universidade para fazer isso. Eles se iniciam


com a política de cotas, com o acesso cada vez mais amplo das
pessoas negras ou racializadas ao sistema de educação. E vem
avançando, mas ainda de forma mais tímida do que o necessário.
A gente não vem só ressignificando os modos de citacionalidade,
mas também as próprias práticas metodológicas do ensino. É
preciso repensar o ensino a partir de outros pilares, que não
sejam exclusivamente eurocêntricos, mas que sejam permeados
e construídos a partir de outro lugar de conhecimento. Dos
conhecimentos cituados, dos conhecimentos mais tradicionais. E
isso implica necessariamente em falar de povos indígenas, povos
quilombolas, povos racializados.”

Para se desenvolver, o Brasil precisa reparar os danos históricos


causados à população negra

George Oliveira
Militante do Movimento Negro, Economista e Mestre em Desenvolvimento e Gestão
Social

17
TATIANA RODRIGUES – TRD – TREINAMENTO REDAÇÃO DEFINITIVA

“No Brasil, combater o racismo está longe de ser um dever


exclusivo da população negra. Trata-se de um problema
estrutural que está presente em nossa sociedade e devemos
(todos e todas), identificar e dirimir as bases que matêm as
desigualdades etnicorraciais. O Brasil não alcançará o seu "tão
sonhado" desenvolvimento, enquanto não reparar os danos
históricos, materiais, sociais, econômicos e psicológicos a sua
população majoritária - cerca de 56% dos brasileiros, segundo o
IBGE.

Há algumas ações que podemos empreender no combate ao


racismo: a (auto)desconstrução de estereótipos negativos; o
estímulo à diversidade étnico-racial no mercado de trabalho; e a
construção ações afirmativas/reparatórias na educação.

A importância da luta antirracista está em identificar,


reconhecer, denunciar e combater as bases racistas sobre as
quais está assentada a sociedade brasileira. Ser antirracista é
reconhecer e lutar pela sobrevivência física, pela memória
coletiva e pela elevação da autoestima da população negra”.

Sou antirracista quando assumo meu cabelo, quando uso


minhas roupas coloridas e fujo do padrão

Waneska Viana
Socióloga, é pesquisadora do Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações
Populares (Gajop)

18
TATIANA RODRIGUES – TRD – TREINAMENTO REDAÇÃO DEFINITIVA

“No mundo em que a gente vive, racismo e gênero são


elementos estruturantes. Se você tem uma dessas
características, se você é da cor negra, se você é mulher, você
tem uma posição previamente demarcada na sociedade. Ser
antirracista é, antes de tudo, entender que essa estrutura
machista e racista existe — porque, infelizmente, muita gente
não sabe ou não acredita que essa estrutura exista , e que
determina a vida de pessoas. A partir daí, ser antirracista
significa trabalhar diariamente para reverter esse quadro.

No caso da população negra, essa resistência está demarcada


nos nossos próprios corpos. Ela fica explícita quando a gente
aceita e referenda nossos cabelos e nossos corpos na sua
diversidade. Ser antirracista, para mim, é pautar toda a minha
vida nisso. Sou antirracista quando assumo meu cabelo, quando
uso minhas roupas coloridas e fujo do padrão — do bege, do
preto, do branco. Quando me aceito do jeito que eu sou na
minha construção de identidade. E remeto isso para as pessoas
que estão também no meu convívio. Acredito que a revolução se
faz no miudinho. Do pequeno para o grande.

Ser antirracista, para mim, no meu cotidiano, é entender o meu


valor. Ainda que a gente viva em uma sociedade que nos negue
esse valor porque somos negros. E, a partir daí, cobrar essa
valorização para mim e para os outros. É possível fazer isso nas
nossas relações pessoais e também nas nossas relações
profissionais. Aqueles que chegaram a lugares de poder devem
fazer isso: pautar a valorização da identidade negra, pautar o
negro como construção de conhecimento e de práticas

19
TATIANA RODRIGUES – TRD – TREINAMENTO REDAÇÃO DEFINITIVA

emancipatórias. Se você é professor e, na sua escola, você faz


isso, você está fazendo muito. Se você é profissional da saúde,
pode discutir como essa preocupação orienta as suas práticas.
Pode discutir o acesso da população negra aos serviços de saúde.
E isso é ser antirracista”

A luta antirracista não é exclusiva da população negra

Maria Teresa Ferreira


Militante do Movimento de Mulheres Negras de Sorocaba (Momunes)

"É preciso ser antirracista porque a gente nunca vai ter uma
sociedade livre e igualitária, em que as pessoas possam ter
liberdade de pensamento e expressão, enquanto a cor da pelo
for um impeditivo para que boa parte da população possa
caminhar tranquilamente e acessar direitos.

As pessoas devem combater o racismo intervindo. Quando


perceberem uma situação racista, devem interferir. E isso não
significa somente acolher quem sofreu a agressão. É colocar a
pessoa que causou a agressão no seu devido lugar. Se preciso
for, recorrendo à lei: fazendo um boletim de ocorrência, fazendo
uma chamada mais dura, ou mesmo sendo didático quando a
situação assim exigir. E então você me pergunta: 'e se isso
acontecer na mesa do almoço de família com a minha avó?'. Pois
seja didático e diga: 'Vó, assim não. Isso é feio'.

A gente passa a fazer parte da luta antirracista quando a gente


percebe que essa luta não é uma responsabilidade exclusiva da
população negra. E quando a gente se dispõe a intervir. Porque é

20
TATIANA RODRIGUES – TRD – TREINAMENTO REDAÇÃO DEFINITIVA

só através das nossas ações concretas que essa situação vai


mudar."
https://www.brasildedireitos.org.br/noticias/514-como-ser-antirracista-segundo-quatro-
ativistas?gclid=EAIaIQobChMIpZ6u8oyC6QIVARGRCh1NBgh1EAAYASAAEgLuzfD_BwE

TEXTO 6
"Crianças são desrespeitadas pelos adultos", diz Isa Minatel
Psicopedagoga defende o que chama de "educação sem limites", para não podar a
criatividade e a autonomia

Isa Minatel já tinha planejado toda sua vida após o nascimento


do filho, Petrus, em 2011. Tiraria a licença-maternidade de
quatro meses, emendaria com um mês de férias e depois voltaria
para sua rotina "louca" de trabalho na área de treinamento
comportamental da HP. Mas as coisas escaparam ao controle. O
bebê não parava de chorar. Disseram a ela que era uma fase, que
em três meses estaria tudo bem, mas se passaram três, quatro,
cinco, oito meses e Petrus continuou chorando.

— Pedi demissão por telefone. Eu, toda autoconfiante, a mulher


que resolvia os problemas, não estava sabendo lidar com o
negócio de ter um filho — Isa conta em um TED.

A partir daí, Isa mudou sua área de atuação. Passou a se dedicar


à difícil mas deliciosa tarefa da criação dos filhos – o dela e os
nossos. Psicopedagoga com mestrado em Programação
Neurolinguística e pós-graduação em Educação e Administração
pela Fundação Getulio Vargas (FGV), ela é diretora pedagógica da
MundoemCores.com, plataforma online de cursos para famílias e
educadores, e palestrante da Brain, empresa que fomenta o
empreendedorismo e a criatividade.
21
TATIANA RODRIGUES – TRD – TREINAMENTO REDAÇÃO DEFINITIVA

A "paranaxaba" (como ela se define por ter nascido no Paraná e


se criado no Espírito Santo) de 35 anos também tem um canal no
YouTube, onde posta vídeos sobre, por exemplo, a importância
de não confundir limite com limitação, como dar bronca em seu
filho – se for mesmo necessário –, como parar de gritar com as
crianças e como, às vezes, nossas atitudes, feitas com as
melhores das intenções, podem ensinar algo torto.

— Quando uma criança pega alguma coisa perigosa, arrancamos


da mão dela e falamos que "não pode". Como consequência, ela
aprende que, quando quiser uma coisa, tem de arrancar da mão
do outro — exemplifica.

Com esse olhar que vê o mundo sob a perspectiva das crianças,


Isa Minatel é a próxima convidada do ciclo Escola de Pais. Na
próxima terça-feira (2), no Instituto Ling, em Porto Alegre (Rua
João Caetano, 440), ela falará sobre Crianças sem Limites:
Educação Empreendedora na Primeira Infância. O bate-papo das
19h será mediado pelo casal de jornalistas Giane Guerra e
Jocimar Farina, de GaúchaZH, pais de Atena, seis anos, e Gael,
quatro. A procura foi tanta, que a Escola de Pais abriu uma nova
sessão, às 17h, sob condução da empresária Scheila Vontobel.
Os ingressos, a R$ 170, podem ser consultados neste link. Na
segunda-feira, Isa concedeu a seguinte entrevista:

Você diz que passou por uma reviravolta quando nasceu o


Petrus e ele não parava de chorar. Pais só sabem mesmo o que
é ter filhos depois de tê-los, né?

"Pais só sabem mesmo o que é ter filhos depois de tê-los." Esta é


uma afirmação interessante. Não sei se posso falar pela
experiência de todo mundo, não sei se dá para generalizar, mas
comigo foi. Até porque, no meu caso, eu não havia tido

22
TATIANA RODRIGUES – TRD – TREINAMENTO REDAÇÃO DEFINITIVA

experiência com crianças pequenas, com bebês. Meu filho foi


minha primeira experiência com bebês. Realmente, eu só soube
o que era ter filhos depois de tê-los (risos). Mas existem
profissionais que trabalham com pais e com crianças e que não
têm filhos. E acho que a gente não deve invalidar a ação dessas
pessoas.

Você também disse, em um TED, que tinha "tudo planejado"


quando engravidou: licença-maternidade, um mês de férias e
depois o retorno à rotina intensa de trabalho. Mas precisou
mudar os planos. É possível conciliar a dedicação ao trabalho
com a maternidade?

Acho que é super possível conciliar trabalho e maternidade.


Aliás, acho que é necessário. Tem uma frase que digo: "Eu sou
melhor mãe quando não sou 100% mãe". Porque trabalhar me
deixa feliz, me faz bem, me deixa produtiva, me deixa realizada.
O que hoje tenho de consciência sobre isso é que, se a gente
conseguir nos três primeiros anos diminuir o ritmo de trabalho, a
carga de trabalho, o período de trabalho, para se dedicar mais à
criança, é muito legal, muito importante, muito especial. Às
vezes, a gente acha que não tem essa possibilidade porque fica
pensando dentro de uma estrutura que já está posta. Mas se,
por exemplo, observarmos as possibilidades dos ganhos online,
encontramos esse lugar de mudar a rotina e o modo de trabalho.
Esses três primeiros anos são fundamentais para a formação do
caráter, dos princípios, dos valores da nossa criança. Depois
desse período, é bom já ter um planejamento para retomar de
maneira mais intensa a carreira. Porque, se a gente não faz esse
retorno, acaba se ocupando demais da criança e atrapalhando,
obstaculizando seu desenvolvimento. Nessa idade, ela já precisa
de mais autonomia, de mais espaço. E quando a gente mantém a

23
TATIANA RODRIGUES – TRD – TREINAMENTO REDAÇÃO DEFINITIVA

criança como único sentido da nossa vida, a gente acaba


tornando a criança um peso para a gente e a gente acaba
atrapalhando seu desenvolvimento, por ter muita
disponibilidade, muito tempo para ficar em cima dela também o
tempo todo.

Como pais e mães podem estudar para o "cargo"? E quando é


bom usar o instinto?

Tenho trabalhado arduamente para oferecer algumas opções,


nas minhas redes sociais, no meu canal no YouTube, que tem
vídeo todo dia, nos meus livros, Crianças Sem Limites e
Temperamento Sem Limites. Mas obviamente não tem só o meu
conteúdo, né? Acho que esse estudo para ser pai e mãe deveria
ser formal. Como a gente tem habilitação para guiar um carro, a
gente devia tirar habilitação para guiar vidas. Devia ser uma coisa
instituída na nossa sociedade. Mas já que não é, por enquanto, a
gente tem a nossa busca pessoal. Há muita coisa linda para
buscar, por exemplo, os ensinamentos de Maria Montessori
(médica e educadora italiana, 1870-1952), a começar pelo livro A
Criança. Acho que deveria ser leitura obrigatória pra todo mundo
que pensa em ter filhos. Sobre a segunda parte da sua pergunta,
buscar informações e estudar não invalida o instinto, pelo
contrário: aprimora o instinto. Às vezes, estou estudando
justamente para conseguir me conectar com meu instinto. Como
vivo em uma sociedade que, muitas vezes, faz com que eu não
esteja conectada comigo mesma, o estudo muitas vezes serve de
reconexão, de empatia cognitiva. Empatia é colocar-se no lugar
do outro: se estou conectada, talvez eu consiga me colocar no
lugar do meu bebê, da minha criança, pelo instinto. Se estou
desconectada, estudar sobre o desenvolvimento da criança pode
ajudar a me colocar no lugar da criança. A gente deve misturar

24
TATIANA RODRIGUES – TRD – TREINAMENTO REDAÇÃO DEFINITIVA

estudo e instinto, até porque aquilo que pensamos que é instinto


muitas vezes é a própria cultura que já está intrincada,
cristalizada dentro da gente.

Uma das coisas mais desconcertantes que você oferece aos pais
é sobre ver o mundo pela perspectiva da criança. Por exemplo,
nós levamos o filho para a casa de um amigo nosso e
esperamos que ele interaja com a criança que estiver lá.
Depois, quando enfim ele já está entrosado, cortamos seu
barato e dizemos que é hora de ir embora. Fazemos as crianças
de marionetes? Como cuidar para não desequilibrar a relação a
ponto de nós nos tornarmos, digamos, manipulados?

Se a gente seguir a cultura do jeitinho que ela está posta,


desejando obediência cega, "eu falo e você escuta", sim, há uma
intenção sem querer de fazer as crianças de marionetes. E a
gente consegue quando elas vêm com temperamento tranquilo.
Quando elas vêm com temperamento forte, não se submetem a
isso, e aí começam os grandes problemas. Na verdade, os
problemas que a gente vê. Porque, quando a gente consegue
fazer uma criança de marionete, a gente está criando outros
problemas que ainda não vê, que podem se manifestar mais
tarde, quando essa criança precisar ter atitude na vida e não ter,
porque se acostumou a ser marionete, ela fica esperando alguém
mandar o que ela deve fazer. Quanto à pergunta do
desequilíbrio, a ponto de os pais serem manipulados, é aquela
velha busca de deixar o autoritarismo de lado sem cair na
permissividade. Ou seja, mantendo a autoridade. Autoridade
humilde, autoridade saudável, que escuta também a criança. É
um cuidado que a gente deve ter, pois, nessa busca por uma
disciplina mais positiva, lamentavelmente existem pessoas
caindo só no positiva e deixando de fora a disciplina.

25
TATIANA RODRIGUES – TRD – TREINAMENTO REDAÇÃO DEFINITIVA

No mesmo TED, você conta a história do Igor, que jogou o prato


na professora porque era o seu jeito de reagir à atitude dela,
que não esperou ele colocar a toalha na mesinha, e disse que a
professora não teria feito a mesma coisa se estivesse diante de
um adulto. Para você, estamos constantemente desrespeitando
as crianças?

Não sou muito fã de generalizações, mas de uma maneira ampla,


se a gente olhar pra nossa sociedade, a gente se acostumou a
desrespeitar as crianças e não percebe, né? É comum as pessoas
não cumprimentarem as crianças, mesmo tendo cumprimentado
os adultos que estão com ela. Existe, sim, um desrespeito
constituído. A minha intenção é chamar a atenção: será que
estou de alguma maneira até sem querer fazendo isso? É um
convite à consciência: como é que eu estou me relacionando
com as crianças? Estou caindo no desrespeito inconsciente,
coletivo, sem perceber?

Outra coisa que deve causar rebuliço na mente dos pais é o que
você fala sobre não ter limites, o que não significa não ter
educação. Pode explicar melhor a diferença que você faz entre
limite e orientação?

É sempre bom poder conversar sobre essa questão do limite.


Quando se usou o termo "limite" pela primeira vez na educação,
tenho a impressão de que a pessoa estava falando da orientação.
"Olha: até aqui você pode ir, daqui para lá você incomoda outras
pessoas." Ou: "As regras deste ambiente são estas". E, nesse
aspecto, o limite é extremamente positivo, necessário e
importante. O que ocorre é que ele não tem só essa conotação,
só essa dimensão. Limite também remete a limitar, interromper,
podar. Impedir que se expanda, que cresça, que tome o espaço.

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TATIANA RODRIGUES – TRD – TREINAMENTO REDAÇÃO DEFINITIVA

Nesse sentido, ele é bem prejudicial e acaba gerando pessoas,


ora, limitadas. Quando você diz "até aqui você pode ir, dali pra cá
incomoda", você está orientando. Quando você diz "vamos fazer
combinados para que o convívio aqui funcione bem", você está
orientando. Digo que você tem de ficar com a parte boa do
limite, a orientação. Quero crianças sem limites, mas bem
orientadas, bem conduzidas, bem educadas… Com noção! (risos).
E, sim, isso causa rebuliço… Já levei bronca por ter levantado
essa bandeira. A gente está acostumada a dizer "não", então a
gente limita as experiências da criança porque suja, molha, faz
bagunça… Quando muitas coisas que sujam, molham e fazem
bagunça são as melhores para o desenvolvimento da criança.

Em um vídeo, você contou o episódio do bolo de seu


aniversário, que teve a cobertura destroçada pelo dedo do
Petrus. Aí, no seu entendimento, estava uma briga que valia a
pena ser comprada. Como saber quais brigas comprar e quais
não?

A resposta é a última frase dos meus posts (risos): é preciso


estudar para ser pai e mãe. Quando você estuda, você afina o
que é importante pra você, quais são os seus valores, e aí você
tem uma boa bússola pra saber quais brigas valem a pena ser
compradas. Aquilo que a criança está fazendo que fere os seus
valores e princípios é uma briga que merece ser comprada. É
preciso cuidar para não destruir a vontade, a curiosidade, o
interesse da criança. Por isso, também é importante saber como
fazer a intervenção. As crianças são sensíveis demais. Nossas
palavras chegam a elas com um tamanho aumentado. Os filhos
chegam a duvidar do nosso amor por eles, chegam a se
questionar se são pessoas boas ou más. Quando acharmos que é
realmente necessário dar uma bronca, porque, na verdade,

27
TATIANA RODRIGUES – TRD – TREINAMENTO REDAÇÃO DEFINITIVA

existem tantas outras formas de interagir com seu filho, em vez


de castigo, cantinho do arrependimento, palmada, precisamos
deixar claro que não é sobre o amor que sentimos por ele, que
ele é uma pessoa boa, apenas aconteceu uma situação que
requer orientação.

O que você acha do que chamam de "adultização" das crianças,


essas agendas lotadas de aulas e de temas que consomem
bastante tempo em casa?

É importante deixar na agenda da criança um tempo pra ela ser


criança, viu? Parece brincadeira, mas a gente não está deixando
as crianças serem crianças, e pular etapas pode fazer muita falta.
Achamos que estamos desenvolvendo habilidades, mas estamos
é impedindo que a criança faça as vivências de criança, as
atividades de criança. E ela pode precisar recuperar esse tempo
depois, ficando meio infantilizada na adolescência e até mesmo
na vida adulta. É muito importante deixar na vida da criança um
tempo para ser criança. Aliás, o ócio também é importante em
alguns momentos. Claro, não é um tempo para ser criança
fechada num apartamento na frente de uma tela, de TV ou de
celular, é um tempo para ser criança de verdade, subir em
árvore, escorregar num gramadão, correr atrás de bola,
eventualmente ralar um joelho. A gente está tentando garantir
um bom futuro e eliminar os riscos, mas corre-se um risco maior
ao tentar eliminá-los. O risco dessa criança retornar à infância
depois que a fase já passou. Ou então dela crescer, mas não ser
plenamente realizada, pois ficou tão focada no fazer as coisas
que estavam na sua rotina e na sua agenda que ela não se
tornou um ser humano e sim um "fazer" humano. Ou pior ainda:
a criança pode se tornar um "ter" humano, pois ela descobre que
só tem valor quando tem certas coisas.

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TATIANA RODRIGUES – TRD – TREINAMENTO REDAÇÃO DEFINITIVA

Como consultora de RH, você diz ter visto, no mercado de


trabalho, os efeitos dessa cultura a que estamos presos: jovens
sem criatividade, sem arrojo, sem persistência – que, na
infância, chamamos de teimosia. "A gente planta na infância e
colhe na vida adulta", você diz. De certa forma, é como se você
também estivesse dizendo que temos de preparar nossas
crianças para o mercado de trabalho, não?

Não para o mercado: a gente prepara para ela mesma, para ela
fazer um trabalho lindo, do qual ela se orgulhe, que ela contribua
com a sociedade, que ela seja feliz e faça quem estiver por perto
feliz também, com a entrega dela. A gente não prepara uma
criança para o mercado de trabalho, ou para ser mãe, ou para a
escola, ou para a faculdade. A gente prepara para a vida, que
envolve isso tudo. E o mais legal é que o mesmo preparo que vai
fazê-la feliz na vida é o que será preciso no mercado de trabalho.
Ou seja, se conhecer, saber das suas potencialidades, saber o
que quer, saber tomar decisões, ter iniciativa, ter arrojo, ser
persistente atrás de suas metas, daquilo que realmente acredita
que pode ser bom pra ela… Isso tudo é bom pra ela em todas as
áreas da vida. Na educação tradicional, muitas vezes se diz: a
criança não tem que querer nada, a criança não tem que ter
vontade, a criança tem que ser obediente. E depois, quando ela
vai para o mercado de trabalho, eu quero uma pessoa arrojada,
independente, que tome decisões. Minha ideia é fazer uma
educação que transforme a criança em uma empreendedora,
não necessariamente que vá abrir um negócio, mas que
empreenda em sua vida para ser o mais feliz que ela puder ser.

29
TATIANA RODRIGUES – TRD – TREINAMENTO REDAÇÃO DEFINITIVA

TEXTO 7

70% das vítimas são crianças e adolescentes: oito dados sobre


estupro no Brasil

Menores de idade são principais vítimas, a subnotificação é


grande e o perigo, muitas vezes, mora ao lado. A BBC Brasil
reúne abaixo dados estatísticos sobre estupro no Brasil.

Levantamento do Ipea, feito com base nos dados de 2011 do


Sistema de Informações de Agravo de Notificação do Ministério
da Saúde (Sinan), mostrou que 70% das vítimas de estupro no
Brasil são crianças e adolescentes. Em metade das ocorrências
envolvendo menores, há um histórico de estupros anteriores.
Além disso, a proporção de ocorrências com mais de um
agressor é maior quando a vítima é adolescente e menor quando
ela é criança. Cerca de 15% dos estupros registrados no sistema
do Ministério da Saúde envolveram dois ou mais agressores. "As
consequências, em termos psicológicos, para esses garotos e
garotas são devastadoras, uma vez que o processo de formação
da autoestima - que se dá exatamente nessa fase - estará
comprometido, ocasionando inúmeras vicissitudes nos
relacionamentos sociais desses indivíduos", aponta a pesquisa.

O crime, em geral, é subnotificado, mas, quando a vítima é do


sexo masculino, o silêncio tende a ser maior. Um estudo feito
nos Estados Unidos revelou recentemente que um em cada seis
homens sofreu algum tipo de abuso antes dos 16 anos no país.
No Brasil, há poucos dados sobre o assunto, mas o Disque
Denúncia (o Disque 100, serviço nacional de denúncia de abuso e
exploração sexual contra crianças e adolescentes) registrou em
2014 uma média diária de 13 denúncias de abusos de meninos.
O número ainda representa menos de 30% dos casos com

30
TATIANA RODRIGUES – TRD – TREINAMENTO REDAÇÃO DEFINITIVA

meninas, mas de acordo com especialistas, também é alarmante.


"O número de meninos abusados é bastante subnotificado, e
isso se deve à nossa cultura. O caso de meninos assediados não
vem à tona por conta do constrangimento em assumir que eles
passaram por isso", disse à BBC Irene Pires Antonio, psicóloga
judiciária da Coordenadoria da Infância e Juventude do Tribunal
de Justiça do Estado de São Paulo.

De acordo com os dados mais recentes, em 2014 o Brasil tinha


um caso de estupro notificado a cada 11 minutos. Os números
são do 9º Anuário Brasileiro da Segurança Pública, do Fórum
Brasileiro de Segurança Pública. Apesar da pequena queda ante
2013, 47,6 mil pessoas foram estupradas naquele ano. Como
apenas de 30% a 35% dos casos são registrados, é possível que a
relação seja de um estupro a cada minuto.

Pesquisa realizada no ano passado pelo Datafolha, a pedido do


Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em 84 municípios
brasileiros com mais de 100 mil pessoas, revelou que 67% da
população tem medo de ser vítima de agressão sexual. O
percentual sobe para 90% entre mulheres. Entre homens, 42%
temem ser estuprados.

26% dos entrevistados pelo Ipea em pesquisa feita em 2013 e


divulgada em 2014 concordam total ou parcialmente com a
afirmação de que "mulheres que usam roupas que mostram o
corpo merecem ser atacadas". No entanto, 58,5% concordam
total ou parcialmente com a afirmação que "Se as mulheres
soubessem como se comportar, haveria menos estupros".

A mesma pesquisa do Ipea, citada anteriormente e feita a partir


de dados de 2011 do Sinan, estima que no mínimo 527 mil
pessoas são estupradas por ano no Brasil e que, destes casos,

31
TATIANA RODRIGUES – TRD – TREINAMENTO REDAÇÃO DEFINITIVA

apenas 10% chegam ao conhecimento da polícia. Os registros do


Sinan demonstram que 89% das vítimas são do sexo feminino e
possuem, em geral, baixa escolaridade. Do total, 70% são
crianças e adolescentes.

Esses números mostram que 24,1% dos agressores das crianças


são os próprios pais ou padrastos, e 32,2% são amigos ou
conhecidos da vítima. O indivíduo desconhecido passa a
configurar paulatinamente como principal autor do estupro à
medida que a idade da vítima aumenta. Na fase adulta, este
responde por 60,5% dos casos.

Em geral, também segundo o Ipea, 70% dos estupros são


cometidos por parentes, namorados ou amigos/conhecidos da
vítima, o que indica que o principal inimigo está dentro de casa e
que a violência, muitas vezes, ocorre dentro dos lares.

TEXTO 8

10 maneiras de ensinar a criança a se defender de abusadores

Quem cresceu ouvindo a história de Chapeuzinho Vermelho,


compreendeu o recado: menina, vá pelas sombras; usa essa capa
pra esconder seu corpo e esse capote pra esconder seu rosto;
não fale com estranhos; ande de cabeça baixa; não deixe o lobo
mau perceber que você carrega um doce, porque se não, por
causa do doce, ele vai comer você. Uma dialética empírica social
de que a culpa é da vítima e não do abusador. Mas o grito que
ainda não saiu da garganta social é: não existe impulso sexual
incontrolável e a culpa nunca é da vítima.

O abuso sexual na infância é como atingir uma mosca com uma


bala canhão. Um infortúnio tão grande que pode desencadear
sérios quadros de transtornos mentais na adolescência, vários

32
TATIANA RODRIGUES – TRD – TREINAMENTO REDAÇÃO DEFINITIVA

distúrbios emocionais e de comportamentos e coloca a pessoa


em risco iminente de suicídio. Segundo a Organização Mundial
de Saúde o índice de suicídio entre crianças é dos 5 aos 12 anos.
Crianças fugindo de seus abusadores.

Este artigo foi produzido para ajudar os pais, mas ele não os
coloca numa posição de isentos. Muito pelo contrário, você que
está lendo este artigo, pode nos ajudar a responder a seguinte
questão: Podemos ajudar os pais a ensinarem os seus filhos a se
protegerem do abusador sexual quando este é um estranho ou
uma pessoa que não seja o pai e a mãe. Mas quem ensinará as
crianças se protegerem também de seus próprios pais?

Pai e mãe são presos por gravar estupro dos próprios filhos:
material era trocado na internet

A Polícia Federal prendeu na quinta-feira (19/09/2019), em


Iguape e Cajati, no Vale do Ribeira, em São Paulo, duas mulheres
acusadas de participarem de uma série de estupros e torturas
contra duas crianças, uma de 5 anos e uma de 12 anos. Os atos
eram filmados e distribuídos em fóruns da deep web, nome dado
para uma zona da internet que não pode ser detectada
facilmente pelas tradicionais ferramentas de busca.

As prisões fazem parte da segunda fase da Operação Pedomom,


que começou em maio deste ano e prendeu um homem em
Iguape. A investigação partiu de um comunicado da Interpol
sobre a detenção de um casal de ucranianos que produzia e
distribuía arquivos contendo imagens de abuso sexual infantil
naquele país.

Durante o cumprimento do mandado de busca e apreensão, o


brasileiro identificado tentou destruir seu laptop e celulares, sem
sucesso. Os dispositivos foram levados à análise do Setor
33
TATIANA RODRIGUES – TRD – TREINAMENTO REDAÇÃO DEFINITIVA

Técnico-Científico da PF, que identificou um grande volume de


arquivos contendo cenas de abuso sexual praticados por ele em
companhia das duas mulheres detidas nesta quinta. As duas
crianças que aparecem nas gravações são a filha do homem e o
filho de uma das mulheres.

“Há registro da ocorrência de mais de 30 estupros, além de


imagens de tortura praticada contra uma das crianças. No caso
de uma das agressoras, foi possível individualizar
aproximadamente 20 atos de abuso sexual praticados contra o
próprio filho. Os estupros eram filmados pelos agressores, que
posteriormente os trocavam em fóruns da Deepweb dedicados
especificamente a abusos sexuais praticados por pais e mães”,
informa a PF por meio de nota.

O crime de publicação de imagens de pornografia infantil prevê


pena de 3 a 6 anos de reclusão. Já o estupro de vulneráveis prevê
de 8 a 15 anos de prisão. A primeira fase da operação não foi
divulgada à imprensa para não prejudicar a identificação de
outros envolvidos.

Apenas 10% dos abusadores são desconhecidos da família

Pesquisas conduzidas pelo Centro de Controle de Doenças


(Centers for Disease Control/CDC) estimou que
aproximadamente 1 em cada 6 garotos e 1 em cada 4 garotas
são abusados sexualmente antes dos 18 anos. Quer ouvir algo
ainda mais assustador? De acordo com o Departamento de
Justiça dos Estados Unidos (US Department of Justice) apenas
10% dos abusadores eram desconhecidos da família. 23% eram
outras crianças maiores e, pasmem, os pais, os avós, os tios e os
padrastos estão no ranking das pesquisas.

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TATIANA RODRIGUES – TRD – TREINAMENTO REDAÇÃO DEFINITIVA

Essas estatísticas não surpreendem, já que na prática, sempre


encontramos crianças que foram vítimas de abuso sexual. Muitos
delas têm menos de 5 anos, quase todas conhecem o seu
agressor.

Educação sexual não ensina a criança a fazer sexo, lhe ensina a


se defender de quem quer fazer sexo com ela

Nós temos que encarar o fato de que não podemos proteger


nossos crianças de quebrarem ossos, de se machucarem ou
cometerem erros, nem podemos evitar que estejam sob risco de
sofrerem abusos. Assim como nós permitimos que eles subam na
bicicleta mesmo que eles possam cair e se machucar – temos
que permitir que eles saiam e interajam com as pessoas ao
redor. Mas assim como o capacete para andar de bicicleta, nós
podemos armar nossas crianças com conhecimentos que podem
mantê-las seguras do abuso sexual.

Converse com as crianças que você conhece sobre o que é abuso


sexual. Nunca é cedo demais. Não precisa ser uma conversa
assustadora. Você pode criar uma história, uma fábula, uma
canção… Algo com a linguagem adequada para cada idade.
https://www.portalraizes.com/10-maneiras-de-ensinar-a-crianca-a-se-defender-de-
abusadores/

TEXTO 9

Liberdade de expressão e Liberdade de imprensa: quais as


diferenças?
Algumas correntes filosóficas inspiradas em Hobbes consideram liberdade um valor
negativo, já que ela não é necessariamente a presença de algo, de um direito, de uma
verdade. A liberdade é a ausência de um valor: a impossibilidade de falar, de escrever,
de se manifestar, de agir, de pensar. O adjetivo “livre” seria, portanto, um estado do
ser humano e não uma condição permanente – as pessoas estão livres, e não são livres

35
TATIANA RODRIGUES – TRD – TREINAMENTO REDAÇÃO DEFINITIVA

Valores que são muito caros à sociedade moderna, como a


liberdade de expressão, surgiram apenas durante a Revolução
Francesa. Apesar das vivências terríveis de cerceamento desse
direito em ditaduras e momentos de autoritarismo, esses
dilemas continuam existindo, com questões muito
contemporâneas envolvidas.

Fora isso, de vez em quando os jornais brasileiros e


internacionais, fora os jornalistas, clamam ter censurada a sua
liberdade de imprensa. Corroborando, então, que a liberdade é
um estado – mesmo após anos de tradição e de luta pela
liberdade de imprensa, ela é interceptada por vezes e esse
direito, interrompido.

O que é liberdade de expressão?

A liberdade é um direito fundamental dos brasileiros, segundo a


Constituição de 1988. No artigo 5º, que dispões sobre as
garantias e deveres individuais e coletivos, são considerados
invioláveis os direitos: “à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade”.

Quanto à liberdade de expressão, a Constituição garante a livre


manifestação do pensamento e a livre expressão da atividade
intelectual, artística, científica e de comunicação,
independentemente de censura ou licença. É também um direito
assegurado na Declaração Universal dos Direitos Humanos, de
1948, promulgada pela Organização das Nações Unidas.

A quem é estendida a liberdade de expressão?

A todas as brasileiras, brasileiros e estrangeiros residentes no


país. Em resumo, a todas as pessoas que estiverem em território
nacional. Do banqueiro ao gari, do bancário ao professor, do

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TATIANA RODRIGUES – TRD – TREINAMENTO REDAÇÃO DEFINITIVA

ministro ao estudante. A liberdade de expressão é uma garantia


fundamental ao exercício da cidadania, à participação social em
ambientes como audiências públicas e conselhos municipais.
Também se aplica a quaisquer ambientes sociais em que uma
pessoa sinta vontade de se manifestar e ser respeitada
independentemente do que for dito.

Liberdade de expressão e democracia

É a partir da reivindicação desse direito que surgiram as


democracias modernas, em que não é permitida a censura a
qualquer pessoa por parte do governo ou de qualquer entidade.
Numa democracia, a ideia é que haja pluralidade de pensamento
e, consequentemente, a manifestação de ideias, ideais e valores,
levando a discussões e diálogos. Todas as vezes em que a
liberdade de expressão começa a ser restringida, a diversidade
de pensamento é afetada diretamente e, assim, começa a surgir
o autoritarismo.

Liberdade de expressão no Brasil

No Brasil, o direito à liberdade de expressão era garantido desde


a época do Império – apesar de, na prática, sua aplicação
depender do chefe de Estado – e assim continuou até a
Constituição de 1937, no governo de Getúlio Vargas. Mas, no
momento em que houve o golpe do Estado Novo, o direito foi
revogado. Só voltou a existir após a redemocratização, com a
Constituição de 1946.

Durante a ditadura militar, apesar de na Constituição de 1967


ainda constar o direito à liberdade de expressão, ela era
amplamente restringida. Nos anos mais duros da época, era
coibida qualquer forma de manifestação de pensamento, credo e

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TATIANA RODRIGUES – TRD – TREINAMENTO REDAÇÃO DEFINITIVA

ideologia política. Esse direito só veio a ser reestabelecido e


reintegrado com a Constituição Cidadã.

Declarações preconceituosas são uma maneira de se expressar?

Todos já devem ter ouvido aquele ditado que diz: “a sua


liberdade termina onde começa a do outro” e apesar de essa não
ser uma verdade universal, é ainda bastante coerente nas
discussões sobre liberdades interpostas. Nos últimos anos, vários
movimentos sociais de minorias – que na verdade são maiorias
em quantidade – reivindicam igualdade e rechaçam o
tratamento que recebem: racistas, machistas, misóginos,
LGBTfóbicos.

Por conta disso, casos de ofensas e discriminação têm tido


repercussão social, midiática e até na justiça. Seja por meio de
xingamentos em redes sociais, de ofensas e brigas, de assédios
morais. Aí dois direitos entram em conflito: o direito à liberdade
de expressão, de quem realizou essas falas, e o direito à vida – à
crença, à religião, a ir e vir –, de quem as sofreu.

O que poucos sabem é que, assim como qualquer outra, a


liberdade de expressão tem limites: é proibido o anonimato pela
Constituição, a fim de que ninguém deixe de lidar também com
as consequências do que fala, por exemplo. Assim como são
proibidas ofensas que firam a dignidade da pessoa, sua
integridade e imagem. Existe uma lei que tipifica racismo como
crime; logo, piadas, xingamentos ou quaisquer formas de
opressão a pessoas negras podem e devem ser punidas.

As leis e a justiça ainda estão aprendendo a lidar com crimes


dessa natureza, pois por muito tempo não foram denunciados; o
mesmo acontece quando esses crimes acontecem em esfera
online. Em muitos desses casos no Brasil, as pessoas não ganham
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TATIANA RODRIGUES – TRD – TREINAMENTO REDAÇÃO DEFINITIVA

seu processo na justiça contra os xingamentos e ofensas


discriminatórias que receberam, de forma anônima ou não –
como quando o ex-candidato à presidência, Levy Fidelix, foi
absolvido por ofender pessoas homossexuais. Por outro lado, a
Justiça ao redor do mundo tem agido de forma a proteger a
dignidade das pessoas ofendidas – como o Parlamento Europeu,
que impôs sanções ao parlamentar que fez falas misóginas em
sessão plenária.

Nenhuma forma de preconceito e discriminação é uma maneira


de expressão; além de crime, é uma violação ao direito alheio – à
vida, à liberdade, à segurança, que são direitos fundamentais.

O que é liberdade de imprensa?

A imprensa brasileira sofreu muito na mão do governo,


historicamente. Por conta disso, foram assegurados vários
direitos relativos à informação, à liberdade e ao jornalismo na
Constituição de 1988:

- Nenhuma lei ou dispositivo pode vetar de qualquer forma a


plena liberdade da informação jornalística;

- É vedada toda censura – seja de natureza política, ideológica,


artística.

- E é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo


que tenha sofrido. Estão sujeitos à indenização por dano
material, moral ou à imagem.

A liberdade de imprensa é para veículos de comunicação o


equivalente ao que a liberdade de expressão significa a uma
artista. Não há como exercer os fundamentos do jornalismo e da
comunicação em geral sem ampla e irrestrita liberdade em fazê-
lo. O jornalismo deve atender à sociedade civil ao noticiar,
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TATIANA RODRIGUES – TRD – TREINAMENTO REDAÇÃO DEFINITIVA

informar, denunciar, escrever, detalhar tudo aquilo que é ou


pode vir a ser de interesse público.

A liberdade de imprensa é importante para toda a sociedade,


porque veículos de comunicação devem ser capazes de
denunciar e dar informações sobre escândalos de empresas
estatais em seus jornais, sem que o governo os censure; da
mesma forma, falar sobre lobby e irregularidades promovidas
por empresas privadas. Assim como devem ter soberania
investigativa e trazer à tona questões invisíveis, outras
perspectivas e ser o mais honestos possível nas suas publicações.

Portanto, tem também o dever profissional de ouvir o máximo


de versões possíveis dos fatos, entrevistar o máximo de fontes
necessárias – não apenas as “oficiais”, como o governo – e
reportar seu lado com a honestidade inerente à atividade
jornalística. Porém, só consegue fazê-lo se for livre.

Liberdade de imprensa x Liberdade de expressão

Por isso, não se deve confundir liberdade de expressão com


liberdade de imprensa, pois ambas têm naturezas distintas.
Enquanto a liberdade de imprensa nasce da reivindicação de
profissionais do jornalismo, que têm pautas baseadas na sua
experiência na área, a liberdade de expressão é pautada na
possibilidade de qualquer cidadã e cidadão em se manifestar –
seja com uma ideia, ideal, história, arte, trabalho, protesto.

Por que a liberdade de imprensa é importante?


“Nenhuma democracia sobrevive sem uma imprensa livre e nenhuma
ditadura sobrevive com uma imprensa livre.” – Jorge Pedro Sousa

A principal função do jornalismo é agir em prol da sociedade,


tendo um compromisso único com o interesse público. Uma
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TATIANA RODRIGUES – TRD – TREINAMENTO REDAÇÃO DEFINITIVA

imprensa séria fornece as informações, os fatos, as verdades


necessárias para que o público tire suas próprias conclusões e se
“autogoverne” – expressão dos jornalistas e teóricos Bill Kovach
e Tom Rosenstiel. A ideia de liberdade de imprensa deriva dos
Estados Unidos da América, que valoriza muito a questão. Prova
disso é que a primeira emenda da Constituição estadunidense
proíbe qualquer censura e sanção tanto à liberdade de imprensa,
como à de expressão.

Cabe à imprensa, livre, ser a voz dos “sem voz”, de denunciar


irregularidades e injustiças. De buscar aquilo que nem sempre
está às claras e, para isso, precisará investigar. Sem liberdade em
contrariar interesses, seja de pessoas importantes, de empresas
poderosas ou de governantes, o jornalista não conseguirá
exercer essa parte da sua função profissional.

Brasil: um país perigoso para ser jornalista


“A imprensa é a vista da nação. Por ela é que a Nação acompanha o que
lhe passa ao perto e ao longe, enxerga o que lhe malfazem, devassa o que
lhe ocultam e tramam, colhe o que lhe sonegam, ou roubam, percebe
onde lhe alvejam, ou nodoam, mede o que lhe cerceiam, ou destroem,
vela pelo que lhe interessa, e se acautela do que a ameaça. (…) Um país de
imprensa degenerada ou degenerescente é, portanto, um país cego e um
país mais amado, um país de ideias falsas e sentimentos pervertidos, um
país que, explorado na sua consciência, não poderá lutar com os vícios,
que lhe exploram as instituições.” – Rui Barbosa

A liberdade de imprensa diz respeito, também, à segurança do


jornalista em exercer a sua profissão. O jornalista tem o direito
de sair às ruas sem medo de ameaças de sanções e até pior, de
morte. De acordo com o Comitê de Proteção aos Jornalistas
(CPJ), em 2014, o Brasil era o 11º país mais perigoso para se
exercer a profissão. A organização Repórteres sem Fronteiras

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TATIANA RODRIGUES – TRD – TREINAMENTO REDAÇÃO DEFINITIVA

coloca o Brasil como o 104º país na Classificação Mundial de


Liberdade de Imprensa (2016), de 180 países.

Em 2015, oito jornalistas foram mortos e outros 64 foram


agredidos enquanto exerciam a profissão. O levantamento feito
pelo CPJ — que chama 2015 de “um ano cruel” — revela um
total de 116 registros de violações à liberdade de expressão, o
que inclui também casos de ameaça e intimidação, entre outros.

Apesar de diferentes, a liberdade de expressão e de imprensa


têm em comum a vontade em exercer a cidadania e em
diversificar o discurso público. Ambas são igualmente poderosas
e importantes, mas como se viu, nenhuma liberdade é um ganho
permanente e sim, um estado. Devemos estar sempre atentos e
não deixar nossa liberdade ser cerceada por quem quer que seja!
https://www.politize.com.br/liberdade-de-expressao-liberdade-de-imprensa/

TEXTO 10
Imprensa responsável como artigo de luxo?
Muito nos impressiona lamentavelmente de forma
negativa, a quantidade de palpiteiros que desconhecem
sobre as temáticas que palpitam e que muitas vezes
contam com o poder de democratizar seus
desconhecimentos e causar danos. Opinião sem
conhecimento dada por quem quer que seja, do Zé Mané
ao Papa, não passa de mero palpite que pode receber a
adjetivação de irresponsável a partir da sua repercussão
social.

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TATIANA RODRIGUES – TRD – TREINAMENTO REDAÇÃO DEFINITIVA

Chamamos atenção para questão da responsabilidade.


Uma coisa é o Zé Mané do Facebook opinando para os
seus amigos que o reconhecem como um "boi", outra é
alguém da imprensa, que em tese possui toda uma
estrutura consultiva por detrás, opinando para milhares
de pessoas que o acompanham e outras milhares que
eventualmente tiveram acesso à sua opinião. A
credibilidade que em geral guarda os meios de
comunicação é costumeiramente maior, por óbvias
razões, que a do Zé, o que por conseguinte é capaz a
partir de uma informação passada sem os devidos
cuidados, a causar danos de maior dimensão e de difícil
mensuração e reparação.
Para temas genéricos que não requerem conhecimentos
especializados a imprensa tem autonomia para atuar de
forma mais ampla, capacitada, em tese apta estaria,
inclusive, para emitir opiniões independente de consultas
anteriores. Inobstante a imprensa tem a responsabilidade
de dar a notícia seca de caráter não opinativo, não lhe é
dada a autoridade de julgar, de proferir um "julgamento
midiático" quando tratar de temas que requerem
especialidades que desconhecem, salvo se de fato
consultar especialistas antes de se pronunciar, o que
lamentavelmente pelo anseio em se desferir notícias em
1ª mão é algo cada vez mais rarefeito. Tal conduta acaba
por induzir a opinião popular e, ainda, conferir a imprensa
ilegítimo poder de investigar, julgar e condenar um
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TATIANA RODRIGUES – TRD – TREINAMENTO REDAÇÃO DEFINITIVA

determinado cidadão por sua livre discricionariedade sem


qualquer amparo legal. Não há dúvidas de que foi ao
Poder Judiciário que o Estado conferiu o indelegável
direito de julgar e condenar. Assim, a imprensa deve
exercer amplamente da forma mais ampla possível o seu
dever de informar, sem exceder-se, sem o poder de
deturpar os fatos, sob pena de, indiretamente,
sentenciar, perante a opinião pública, um dado indivíduo
que sequer tenha sido condenado.
Como o Direito é substrato ínsito de boa parte dos
acontecimentos (fatos) e relações sociais, e de fato parte
desses acontecimentos e relações criadas é de interesse
da sociedade, a imprensa estaria legitimada pelo dever de
informar e se pronunciar, mas sempre com os devidos
cuidados de informar com correção, nos limites do que
faticamente conhece ou buscou conhecimento, sob pena
das repercussões que podem gerar prejuízos de ordem
moral e/ou pecuniária de monta, e que reclamarão
responsabilidades.
Na democracia a liberdade comporta diversas espécies de
fruições, entre elas a de maior substrato categórico que
talvez seja a de expressão. Importante porém, não se
descurar do fato de que não existe liberdade sem
responsabilidade, e que se até o Zé do Facebook pode ser
responsabilizado pelas suas palavras que causem dano a
outrem, imaginemos a imprensa capaz de causar macro-
danos. Uma democracia não pode dar azo a uma
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TATIANA RODRIGUES – TRD – TREINAMENTO REDAÇÃO DEFINITIVA

imprensa isenta de responsabilidade, quando falamos de


democracia e não anarquia, quando o respeito às regras
tem a sua razão maior nos direitos de outrem, no respeito
do espaço social que outrem faz jus.
Assim não podemos confundir liberdade de imprensa
com irresponsabilidade de imprensa. Não há que se falar
em censura quando a imprensa causa danos a terceiro e
por isso é responsabilizada a partir de uma informação
passada com irresponsabilidade, sem o devido dever de
cautela. Assim, que inúmeras vezes a imprensa se insere
nas temáticas de repercussão jurídica e sem o devido
cuidado democratizam algo inverídico justamente pela
má interpretação fruto do desconhecimento. Imprensa
responsável é aquela que muitas vezes abre mão de dar o
furo de reportagem, mas quando dá a notícia, informa
com correção, amparada em prévias consultas que
muitas vezes à depender da profundidade da consulta
pode dar azo, inclusive, a uma imprensa opinativa com
respaldo para dissertar sobre os temas jurídicos mais
complexos.
Não há porém que se tolerar o uso de mecanismos de
coação contra a imprensa com o fulcro de lhe imputar
temor de ao desferir uma notícia ou dar uma opinião de
forma responsável restar sancionada a arcar com o
prejuízos eventualmente causados. Se a notícia ou
opinião pauta-se na verdade dos fatos, dada com
correção, a imprensa está absolutamente coberta pela
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TATIANA RODRIGUES – TRD – TREINAMENTO REDAÇÃO DEFINITIVA

tutela da Constituição Federal de 1988 e não poderá ser


alcançada por nenhum meio que a iniba do seu dever de
informar.
Não existe democracia sem imprensa livre e responsável,
conforme expusemos e reafirmamos a ideia de liberdade
e responsabilidade formam um único substrato
indissociável em uma sadia democracia.
https://leonardosarmento.jusbrasil.com.br/artigos/534655374/imprensa-
responsavel-como-artigo-de-luxo

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