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DISCIPLINA: SOCIOLOGIA
Postagem 11
PROFESSOR FABIO BRAGA DO DESTERRO 29/04/2021
Extraído, com adaptações, do livro Sociologia Hoje. 2 ed. São Paulo: Ática, 2016, p.142-145;
154-155.
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dominante e o coletivo de trabalhadores, antigos servos e produtores rurais aumentou na forma
de proletariado industrial. Portanto, as classes sociais fundamentais da sociedade capitalista
seriam a burguesia (a classe capitalista) e o proletariado (a classe trabalhadora).
Mas por que a classe trabalhadora se deixa explorar? Por que não há igualdade
econômica entre os indivíduos? Segundo Marx, ao longo da História, a formação da classe
trabalhadora advém da expropriação de seus meios de produção, isto é, da apropriação, por
outros, de suas terras, de suas ferramentas, de suas casas e de seus locais de trabalho. A
burguesia utilizaria seu poder econômico, o controle político e do exército para se apropriar dos
meios de produção de produtores livres e forçá-los a vender seu trabalho em troca de um salário
para poder sobreviver, formando, assim, o proletariado urbano. Com isso, o trabalhador seria
obrigado a se submeter a determinações da classe dominante, incluindo o valor do salário, o
ritmo e condições de trabalho e, sobretudo, produtividade. A classe trabalhadora não teria
escolha. Para sobreviver, seria obrigada a vender seu trabalho a um capitalista, no comércio,
na indústria, em uma escola particular, cortando cana-de-açúcar para uma usina produtora de
álcool, etc.
Além disso, uma das teses que Marx desenvolveu no livro A ideologia alemã se refere às
formas de dominação ideológica. Longe de construir uma teoria pautada apenas por questões
econômicas, Marx se preocupou em identificar a constituição de um novo modo de vida. Esse
modo de vida, além de representar as formas de produção e reprodução das classes sociais,
também se expressaria por uma ideologia. Para Marx: “Os pensamentos da classe dominante
são também, em todas as épocas, os pensamentos dominantes; em outras palavras, a classe
que é o poder material dominante numa determinada sociedade é também o poder
espiritualmente dominante”. Nesse sentido, Marx compreende que a ideologia de uma época
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social é a expressão da maneira como a classe dominante pensa a sociedade. O modo de vida,
tanto do ponto de vista material como intelectual de um momento histórico, seria, portanto, à
imagem e semelhança do modo de vida da classe dominante. Se estamos nos referindo às
sociedades feudais, nas quais a classe dominante era a nobreza, o conjunto de ideias, a ideologia
predominante seria a da nobreza. Se estamos falando da sociedade capitalista, na qual a classe
dominante é a burguesia, a ideologia predominante seria a da classe burguesa ou capitalista.
Para Marx, o trabalho teria como objetivo gerar lucro ao capitalista. Toda a produção seria
organizada com base nesse objetivo. Apesar de a produção ser toda realizada pelos trabalhadores,
estes ficam apenas com uma pequena parte dessa produção. A maior parte seria exatamente o lucro.
Você já se perguntou o porquê desse tipo de produção? Por que é necessário organizar a produção
com base no lucro? Quais são as implicações dessa forma de organização? Você acha que os
mecanismos de organização do trabalho colaboram para a geração do lucro? Reflita sobre alguns
aspectos da organização do seu trabalho ou do trabalho de pessoas de sua família.
A classe capitalista teria como ponto central de sua dominação reproduzir a exploração
do trabalho. Para isso, a produção industrial seria cada vez mais incrementada, tanto nas
formas de gerência quanto em relação à introdução de novas tecnologias. Mas por que é sempre
necessário desenvolver mais e mais a produção de mercadorias? Marx entende que quanto mais
o trabalhador é controlado, maior será sua produtividade e menor será seu poder político.
Assim, a substituição do trabalhador por uma máquina é uma iniciativa do capitalista para
obter um número maior de mercadorias, aumentando a produtividade do trabalho. Com a
máquina a produção aumenta, e aumenta também o controle do capitalista, pois os
trabalhadores passam a responder ao ritmo e ao tempo da máquina. Ou seja, o capitalista usa
a máquina tanto produtivamente quanto politicamente. Ao submeter o trabalhador a um ritmo
que ele não comanda, o capitalista força o trabalhador a aumentar a produtividade do trabalho.
Podemos resumir essa questão com a seguinte frase: é preciso que tudo mude para que
nada se transforme. Ou seja, é preciso sempre desenvolver a produção com novas tecnologias e
formas de organização, para que: 1. a produção aumente e, com isso, aumentem os lucros dos
capitalistas; e 2. aumente o controle do capitalista sobre a classe trabalhadora. Portanto, para
Marx, o desenvolvimento do capitalismo se baseia na exploração e na dominação da classe
trabalhadora pela classe capitalista. Nesse sentido, as classes sociais se chocam e as
transformações históricas e sociais se desenrolam com base nesse choque, nessa luta entre
classes sociais antagônicas.
De um lado, os trabalhadores reivindicam, por meio dos sindicatos ou por outros tipos
de organização, melhores salários e condições de trabalho. De outro lado, os capitalistas querem
aumentar seu lucro. Existe, então, um embate entre forças sociais opostas. Toda a sociedade
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seria, portanto, baseada em relações contraditórias, que inspiram confrontos políticos
originários da divisão social em classes.
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Como vimos, o trabalhador vende sua força de trabalho, mas só recebe por uma parcela
do período em que a empregou. Segundo Marx, aí existe uma dupla dimensão. A primeira
dimensão é a alienação do trabalhador, que veremos em seguida. A segunda é a mais-valia,
termo cunhado por esse autor para explicar essa relação de apropriação do produto do trabalho
como um todo e o pagamento de apenas uma parte dele. Na economia marxista, mais-valia é a
diferença entre o valor que o trabalhador produz e o seu salário. O salário equivale a apenas
parte do valor produzido pelo trabalhador e o restante é a mais-valia, apropriada pelo capitalista.
Por exemplo, em um mês, uma montadora produz 100 automóveis, mas não paga o valor dos
100 carros para os trabalhadores. Paga apenas uma parte desse valor: a outra parte é o lucro
do capitalista.
O lucro é uma forma de rendimento que está relacionada ao trabalho. O lucro é maior à medida
que se paga menos pela força de trabalho. Se o capitalista corta o salário de seus empregados, seu
lucro é maior; se ele aumenta os salários, seu lucro é menor. Por isso, há um movimento constante
para reduzir o valor da força de trabalho, com o objetivo de aumentar os lucros. Reflita sobre essa
questão: existe a possibilidade de chegar a uma condição mais equilibrada entre trabalhadores e
capitalistas? Em que medida é possível criar regras e normas para a diminuição das desigualdades
sociais?