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Tectônica e relações estratigráficas na Sub-bacia de

Pernambuco, NE do Brasil: contribuição ao conhecimento


do Rifte Sul-Atlântico

Tectonics and stratigraphic relationships in the Pernambuco Sub-basin, NE Brazil: contribution to the knowledge
of the South Atlantic Rift

Camilla Bezerra de Almeida | Liliane Rabêlo Cruz | Emanuel Ferraz Jardim de Sá


Paulo Marcos de Paula Vasconcelos | Walter Eugênio de Medeiros

resumo Pelo menos três eventos deformacionais foram


reconhecidos na SBPE. O evento mais antigo, e que
A Bacia Pernambuco-Paraíba foi implantada ao final define o arcabouço da bacia, está relacionado ao es-
do processo de ruptura entre a América do Sul e a tágio rifte, controlado por distensão NW. Este evento
África, no Eocretáceo. O segmento sul desta bacia compreende falhas normais de alto e baixo ângulos
(Sub-bacia de Pernambuco, SBPE) estende-se do com direção NE, e falhas de transferência NW. Esse
Lineamento Pernambuco até o Alto de Maragogi, li- estilo é mapeado na porção offshore da bacia por
mite com a Bacia Sergipe-Alagoas. meio de dados gravimétricos e sísmicos, que permi-
A estratigrafia da SBPE é composta, na base, por tem delinear sistemas de meio-grábens separados por
uma seqüência rifte vulcanossedimentar (siliciclásticos um grande alto tectônico paralelo à costa. Além dos
da Formação Cabo intercalados ou intrudidos por cor- sistemas de leques aluviais da Formação Cabo, que
pos da Suíte Magmática Ipojuca), de idade mesoap- acompanham as falhas de borda, o alojamento dos
tiana-mesoalbiana, que repousa em contato por falha corpos ígneos da Suíte Ipojuca também foi contro-
ou não-conformidade sobre o embasamento pré-cam- lado por este evento, o que indica que a atividade
briano. Sobreposta a essas unidades, em discordância tectônica sin-rifte se estendeu até o Mesoalbiano.
angular, encontram-se os carbonatos e siliciclásticos da Os dois eventos mais recentes atingem as uni-
Formação Estiva, de idade cenomaniana-santoniana, dades do estágio drifte; o mais jovem afeta a Forma-
que definem o início do estágio drifte transgressivo. ção Barreiras.
Alternativamente, a seqüência rifte é capeada em dis-
(originais recebidos em 03.08.2005)
cordância pelas rochas siliciclásticas da Formação Al-
godoais (atribuída ao Paleógeno), parte de uma se-
qüência superior regressiva. No continente, o registro Palavras-chave: Bacia Pernambuco-Paraíba | Sub-bacia de
mais jovem da seqüência regressiva inclui a Formação Pernambuco | estratigrafia | estruturas sin-rifte |
Barreiras e coberturas quaternárias. Magmatismo Ipojuca | rifte

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 13, n. 2, p. 167-180, maio/nov. 2005 167


abstract
The Pernambuco-Paraíba Basin is related to the final
stages of the breakup between South America and
Africa during the early Cretaceous. The southern seg-
ment of this basin (the Pernambuco Sub-basin, SBPE)
extends from the Pernambuco Lineament to the introdução
Maragogi High, at the border with the Sergipe-
A Bacia Pernambuco-Paraíba ocupa, em sua
Alagoas Basin.
porção emersa, a faixa litorânea entre os estados
The stratigraphy of the SBPE comprises a basal
de Pernambuco e Rio Grande do Norte (Feijó,
volcanosedimentary rift sequence (siliciclastics of the
Cabo Formation interlayered and intruded by the 1994; Lima Filho, 1998). A bacia é dividida em
Ipojuca Magmatic Suite) of Mesoaptian-Mesoalbian dois compartimentos, a Sub-bacia da Paraíba
age, which overlies the precambrian basement (SBPB) a norte, e a Sub-bacia de Pernambuco
through non-conformity or fault contacts. The onset (SBPE) a sul, separados pelo Lineamento Pernam-
of the drift stage is marked by the carbonates and sili- buco. Esta última se delimita com a Bacia Sergi-
ciclastics of the Estiva Formation, which define a pe-Alagoas através do Alto de Maragogi. A ori-
transgressive sequence of Cenomanian-Santonian gem desta bacia, e suas congêneres da margem
age. In most cases, the rift sequence is directly over- leste, está relacionada à abertura do Atlântico Sul,
lain by the siliciclastics of the Algodoais Formation, a sendo considerada um dos últimos elos de liga-
regressive sequence which reworked sources internal ção continental entre a América do Sul e a África
to the basin. In the continent, the youngest units of
(Matos, 1999).
the regressive sequence correspond to the Barreiras
A SBPE apresenta, em terra, as exposições
Formation and quaternary covers.
mais setentrionais do rifte da margem leste. Em
At least three deformation events were recog-
nized in the SBPE. The oldest one defines the struc- offshore, o conhecimento atual é restrito, princi-
tural framework of the basin, being related to the rift palmente em face da ausência de poços explo-
stage, controled by a NW extension kinematics. This ratórios. Deste modo, enfoca-se aqui, prioritaria-
event comprises NE-trending, high or low-angle nor- mente, o arcabouço estrutural da sub-bacia no
mal faults connected through NW-trending transfer continente, através dos seus estilos estruturais e
faults. This style is also mapped in the offshore basin indicadores cinemáticos. Para tanto, foram de-
using gravity and seismic data, allowing to recognize senvolvidos mapeamentos de detalhe e regional,
half-graben systems separated by a major tectonic aos quais se adicionam os dados de dois poços
high trending paralell to the coast. Besides the Cabo perfurados na zona litorânea (Cupe e Piedade),
Formation alluvial fans that follow the border faults, além de poços rasos na região de Suape (para
the emplacement of the igneous bodies of the
estes últimos ver Amaral e Menor, 1979). Para o
Ipojuca Suite was also controled by this event, imply-
setor offshore, os dados do continente servem
ing that rift fault activity was still active during
como um modelo para a interpretação de dados
Mesoalbian times.
Two younger events overprint the drift sequences, de métodos potenciais e linhas sísmicas, que
generating new faults or reactivating the rift stage constituem a única fonte de informação para es-
structures; the Barreiras Formation is affected by the te segmento da bacia. Esses trabalhos incluíram
youngest one. os relatórios de graduação de duas autoras (Ra-
bêlo Cruz, 2002; Almeida, 2003), e foram desen-
(expanded abstract available at the end of the paper) volvidos no âmbito do Projeto de Revisão Geoló-
gica e Avaliação do Potencial Petrolífero da Bacia
Keywords: : Pernambuco-Paraíba Basin | Pernambuco Sub-basin |
stratigraphy | syn-rift structures | Ipojuca Magmatism | rift
Pernambuco-Paraíba, executado por uma equi-
pe do Programa de Pós-Graduação em Geodinâ-
mica e Geofísica da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte, para a Agência Nacional de
Petróleo - ANP (Jardim de Sá, 2003).

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cordância rifte-drifte, mapeada em seções sísmi-
estratigrafia da Sub-bacia cas – ver exemplo na fig. 12), pelos carbonatos e
siliciclásticos da Formação Estiva (de idade Ceno-
de Pernambuco maniana-Santoniana), que compõem a seqüência
A coluna estratigráfica desta sub-bacia foi transgressiva do estágio drifte.
abordada mais recentemente por Feijó (1994) e Também em contato discordante (correlacio-
Lima Filho (1998), tendo sido objeto de revisão nado ao limite K-T), muitas vezes capeando dire-
por parte do Projeto acima referido. Na figura 1, tamente a seqüência rifte (fig. 6), ocorrem as ro-
ilustra-se a coluna e a distribuição das unidades chas siliciclásticas da Formação Algodoais, afos-
na área mapeada. silífera, tentativamente atribuída ao Paleógeno
A porção inferior da coluna é composta pela com base em dados de traços de fissão em apa-
seqüência rifte, vulcanossedimentar (siliciclásticos tita (Jardim de Sá, 2003), representativa da se-
da Formação Cabo e Suíte Magmática Ipojuca; qüência drifte regressiva no continente. As ro-
não são conhecidas unidades pré-rifte), que re- chas que constituem esta formação compreen-
pousa em contato por falha ou não-conformida- dem conglomerados polimíticos (fragmentos de
de sobre o embasamento cristalino pré-cambria- quartzo, rochas do embasamento cristalino e,
no do Maciço Pernambuco-Alagoas (ver também mais caracteristicamente, vulcânicas) ou, mais res-
a figura 3). A Formação Cabo é caracterizada tritamente, mono a diamíticos (com seixos domi-
por sistemas de leques aluviais que acompanham nantemente de traquitos e quartzo), além de
as falhas de borda. Estes sistemas são compostos arenitos e argilitos intercalados, que constituem
por conglomerados polimíticos e polimodais, con- as fácies de canal fluvial e de planície de inun-
tendo seixos e matacões de rochas do embasa- dação de um sistema fluvial entrelaçado a mean-
mento cristalino (figs. 2 e 3) e, nas porções mais drante (Rabêlo Cruz et al. 2003). Em contraste à
distais, por arenitos médios a grossos (fig. 3) de- Formação Cabo, observa-se que este sistema
positados por fluxos de alta densidade, do tipo retrabalhou fontes internas à bacia, bem marca-
sheet sands (Rabêlo Cruz, 2002). Estes litotipos das pelas rochas da Suíte Magmática Ipojuca.
estão lateralmente relacionados a sistemas lacus- A Formação Algodoais é por sua vez capeada,
tres, que afloram de forma descontínua, incluin- em discordância erosional, pela Formação Barrei-
do folhelhos carbonosos com restos de vegetais ras (fig. 7); esta última é constituída de depósi-
intercalados com siltitos e arenitos médios a fi- tos de leques costeiros e sistemas fluviais predo-
nos, que normalmente apresentam as seqüências minantemente entrelaçados, provindos do conti-
c e d/e de Bouma (fig. 4). nente. A coluna se encerra com as coberturas
A Suíte Magmática Ipojuca - SMI é constituí- quaternárias.
da principalmente por rochas vulcânicas a hipa-
bissais, com posicionamento sincrônico à sedi-
mentação (derrames, caracterizados por seixos
nos níveis sobrepostos) e falhamentos, ou subse-
qüentes (fig. 5; essas feições foram abordadas
arcabouço tectônico e
por Jardim de Sá et al. 2005). Dados micropaleon-
tológicos da Formação Cabo (ocorrência das pali-
eventos deformacionais da
nozonas P-260 a P-280 no Poço do Cupe), e a
idade média de 102±2 Ma (datações 40Ar/39Ar,
Sub-bacia de Pernambuco
Nascimento et al. 2003) para a Suíte Ipojuca, Com base na idade dos marcadores (unidades
indicam que o estágio rifte na SBPE se estendeu estratigráficas) e dados cinemáticos, é possível re-
do Mesoaptiano ao Mesoalbiano (Jardim de Sá conhecer três eventos deformacionais ao longo da
2003, 2004). história evolutiva da SBPE (ver coluna na figura 1).
As unidades precedentes podem ser capea- O evento mais antigo e principal corresponde
das, em discordância angular (equivalente à dis- à tectônica de distensão associada ao rifteamen-

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Figura 1 – Mapa geológico de parte da Sub-bacia de Pernambuco, ilustrando Figure 1 – Geological map of a portion of the Pernambuco Sub-basin, illus-
a distribuição das unidades, coluna estratigráfica simplificada (em terra) e trating the distribution of units, a simplified (onshore) stratigraphic chart and
seções geológicas. geological cross sections.

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Figura 4
Seção colunar da fácies
distal da Formação Cabo
na Praia de Guadalupe, a
sul de Barra de Sirinhaém
(Pernambuco).

Figure 4
Columnar section of the
distal facies of the Cabo
Formation in the
Figura 2 – Conglomerado Figure 2 – Conglomerate Guadalupe Beach, south
da Formação Cabo em of Cabo Formation in a of Barra de Sirinhaém
corte na estrada de aces- road cut near Cabo City (Pernambuco).
so à cidade do Cabo (old BR-101 road).
(antiga BR-101).

Figura 3 – Seção colunar Figure 3 – Columnar sec-


da fácies mediana da tion of the median facies
Formação Cabo no Morro of the Cabo Formation in
do Cruzeiro, foz do Rio the Cruzeiro Hill, mouth Figura 5 – Dique de traquito da Suíte Figure 5 – Trachyte dyke of the Ipojuca
Formoso, a norte de of the Formoso River, Ipojuca, intrusivo em arenitos da Suite, intrusive in the sandstones of the
Tamandaré north of Tamandaré Formação Cabo. Corte próximo à fábrica Cabo Formation. Road cut near the
(Pernambuco). (Pernambuco). da Latasa, a sul da cidade do Cabo. Latasa factory, south of Cabo city.

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Figura 6
Conglomerado basal da
Formação Algodoais (com
seixos dominantemente
de rochas traquíticas)
capeando em discordân-
cia traquitos da Suíte
Ipojuca. Afloramento em
corte na estrada TDR
Norte (Porto de Suape),
próximo à empresa
Granex.

Figure 6
Basal conglomerate of
the Algodoais Formation
(with dominantly tra-
chyte pebbles), uncon- to iniciado no Mesoaptiano. Este evento corres- Um terceiro evento, que também afeta a For-
formably overlying tra- ponde às falhas normais de alto e baixo ângulos, mação Barreiras, reflete um sistema de tensões
chytes of the Ipojuca
com direção NE, e falhas de transferência com di- distinto em relação aos precedentes. O mesmo é
Suite. Road cut in the
TDR Norte road (Suape reção NW (fig. 8). Essas estruturas estão impres- marcado por falhas normais ou oblíquas com
Harbour), near the sas na Formação Cabo (inclusive delimitando-a distensão N a NE, que também reativam as fa-
Granex factory. do embasamento pré-cambriano) e na Suíte Mag- lhas de transferência do evento rifte.
mática Ipojuca, controlando a deposição e aloja-
mento desses litotipos, sendo também responsá-
vel pela estruturação geral da bacia (fig. 1).
O evento subseqüente envolve reativações
das falhas geradas no estágio rifte, com rejeitos
estilos da tectônica rifte na
por vezes expressivos, bem como a ativação de
novas estruturas que afetaram as unidades mais
Sub-bacia de Pernambuco
jovens (provavelmente até o Paleógeno; for- As falhas deste evento delimitam, em grande
mações Estiva e Algodoais), novamente com dis- parte, a seqüência rifte da bacia em relação ao
tensão ortogonal ao eixo da bacia (fig. 9). Este embasamento cristalino, a oeste, e definem um
evento é tentativamente associado ao colapso mosaico de blocos internos à bacia (Polônia,
da plataforma continental por subsidência ter- 1997; Lima Filho, 1998; Jardim de Sá, 2003; ver
mal e efeitos gravitacionais. figura 1).

Figura 7
Arenitos da Formação Algodoais (Alg - cor
esbranquiçada) capeados em discordância
erosional pela Formação Barreiras (Bar -
rochas de coloração avermelhada).
Afloramento na Vila de Gaibu,
Pernambuco.

Figure 7
Sandstones of the Algodoais Formation
(whitish color) overlain with erosional
unconformity by the Barreiras Formation
(redish rocks). Outcrop in the Gaibu vil-
lage, Pernambuco.

172 Tectônica e relações estratigráficas na Sub-bacia de Pernambuco - Almeida et al.


Figura 8
Estereogramas de
Schmidt (hemisfério infe-
rior) para estruturas sin-
rifte em diversas localida-
des da Sub-bacia de Per-
nambuco. Notar as falhas
normais ou oblíquas com
trend NE, falhas de rejei-
to direcional (transferên-
cia) com trend NW, e a
direção de distensão NW
que pode ser inferida a
partir desses dados.

Figure 8
Schmidt stereoplots
(lower hemisphere) for
syn-rift structures in
several localities of the
Pernambuco Sub-basin.
Note the NE-trending
normal and oblique
faults, the NW-trending
strike-slip (transfer) faults
and the NW extension
direction that may be
inferred from the data.

Figura 9
As falhas com trend NE apresentam rejeitos
normais, e aquelas de trend NW/NNW exibem Falha normal afetando a porção inferior da Formação Algodoais, com a Formação Cabo imediata-
mente sotoposta. A projeção estereográfica de Schmidt ilustra essas falhas na localidade.
rejeito direcional, compatível com estruturas de
Afloramento às margens da BR 101, próximo a Pontezinha, Pernambuco.
transferência. A direção de distensão NW, com
transporte tectônico predominante para SE, indi- Figure 9
ca que a abertura do rifte se deu obliquamente Normal fault affecting the Algodoais Formation, immediately overlain by the Cabo Formation.
ao seu eixo principal, inferido pela orientação The Schmidt stereoplot illustrates these faults in this locality. Outcrop near the BR-101 road close

N/NNE da linha de costa e da quebra da platafor- to Pontezinha, Pernambuco.

ma (comparar figuras 1 e 8). Também foram re-


conhecidos setores nos quais a Formação Cabo

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(ou rochas vulcânicas) capeia o cristalino em
não-conformidade, ou é delimitada do mesmo
por falhas distensionais de baixo ângulo (Jardim
de Sá, 2003), feições até então desconhecidas.
Os cortes na figura 1 ilustram esses diferentes
estilos da tectônica distensional.
As falhas normais de alto ângulo apresentam
traçado mais retilíneo na direção geral NE, e fo-
ram reconhecidas principalmente desde a cidade
do Cabo até a região de Ipojuca (Corte A-A’ na
figura 1). No continente, falhas escalonadas con-
dicionam semi-grábens com espessuras da ordem
de até 3 km, mapeadas por dados gravimétricos
e sísmicos, e confirmadas pelos poços de Cupe e
Piedade (Oliveira, 1994; Jardim de Sá, 2003; fig.
10). Estruturas de estilo similar ocorrem entre
Sirinhaém e Tamandaré, agora com menor rejei-
to, conforme inferido pela gravimetria. Nessa re- Figura 10 – Mapa de ano- Figure 10 – Bouguer
gião sul (e na periferia sul de Recife), a seqüên- malias Bouguer residual, residual anomalies map,
cia rifte pode capear o embasamento em conta- Projeto Bacia Pernambu- Pernambuco-Paraíba
co-Paraíba. LM3 e LM4 Basin project. LM3 and
tos por não-conformidade, associados a zonas
são opções do possível LM4 are possible north-
do tipo rampa de revezamento (Tamandaré e SE limite setentrional da Sub- ern limits of the
de Rio Formoso). Na porção offshore da bacia, a bacia de Pernambuco. P e Pernambuco Sub-basin.
estruturação em grábens e semi-grábens é evi- C identificam os grábens P and C identify the
de Piedade e Cupe, e A e Piedade and Cupe
denciada pelas linhas sísmicas (exemplo na figu-
AM identificam os altos grabens, while A and AM
ra 11; mapeamento de R. M. Darros de Matos, do Cabo de Santo Agosti- identify the Cabo Santo
in Jardim de Sá, 2003). nho e do Maracatu, Agostinho and Maracatu
respectivamente. highs, respectively.

Figura 11 – Linha sísmica dip (NW-SE) a sul de Recife, ilustrando o Alto do Figure 11 – Dip (NW-SE) seismic line south of Recife illustrating the Maracatu
Maracatu, controlado pelos sistemas de falhas normais sin-rifte. Mapeamento High, controlled by syn-rift normal faults. Mapping by Renato M. Darros de
de Renato M. Darros de Matos, Projeto Bacia Pernambuco-Paraíba Matos, Pernambuco-Paraíba Basin Project (ANP/UFRN).
(ANP/UFRN).

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Cunhas conglomeráticas da Formação Cabo As falhas distensionais de baixo ângulo foram
acompanham principalmente as falhas de borda; reconhecidas principalmente no setor da bacia
as camadas, delineadas por intercalações de clás- entre Ipojuca e Sirinhaém (Camela, Engenho Si-
ticos mais finos, estão freqüentemente espessa- biró), mas também a SE da cidade do Cabo (fig.
das e basculadas contra as falhas (principalmen- 12), em diferentes escalas. A leste de Camela
te para NW) e podem exibir dobras rollover, de- (corte B-B’ na fig. 1), a não-conformidade origi-
nunciando geometria lístrica e zonas de descola- nal na base da seqüência foi retrabalhada por
mento (exemplos mesoscópicos nas figuras 12 e 13), uma zona de descolamento na qual se enraizam
que afloram mais restritamente. Blocos variavel- falhas antitéticas e sintéticas e estruturas rollover
mente rotacionados (arranjos em dominó) são (fig. 13). Uma zona “milonítica” (de natureza hi-
também assinalados. Todavia, afastando-se da droplástica no pacote sedimentar, e com faixas
borda, as camadas da Formação Cabo geralmen- cataclásticas no cristalino subjacente) de espes-
te mergulham para o interior da bacia (SE; ver sura decimétrica marca a interface entre o emba-
cortes na figura 1), o que pode estar condiciona- samento e a Formação Cabo nessa localidade,
do por dois fatores: (i) falhas antitéticas em off- conferindo a esta última uma natureza parau-
shore, que definem a borda oeste de um impor- tóctone. Outras zonas “miloníticas”, controladas
tante alto estrutural reconhecido na sísmica (ma- por anomalias térmicas transitórias e/ou elevada
peamento sísmico de R. M. Darros de Matos in pressão de fluidos, foram reconhecidas no inte-
Jardim de Sá, 2003), designado como o Alto do rior da bacia, na borda de corpos subvulcânicos
Maracatu (fig. 11); (ii) basculamento regional as- (ver Jardim de Sá et al. 2005).
sociado à subsidência da margem continental, As falhas de transferência (exemplo no corte
também afetando as seqüências do estágio drifte. C-C’, fig. 1) ocorrem em diversos setores ao lon-
Figura 13
Falhas lístricas normais
(indicadas pelos traços
Figura 12 em vermelho), com
descolamento na base da
Falha lístrica normal afetando camadas da seção
Formação Cabo. Notar o
superior da Formação Cabo, que localmente
cavalo triangular no cen-
repousam sobre traquitos da Suíte Ipojuca.
tro da fotomontagem, a
Notar o espessamento das camadas da Formação
rotação de falhas
Cabo (bloco do teto) em direção à falha.
antitéticas e estruturas
Afloramento na TDR Sul (estrada interna do
rollover (o acamamento
Porto de Suape), a SSE da cidade do Cabo.
está indicado pelas linhas
tracejadas em preto).
Figure 12
Corte na estrada para a
High-angle normal fault cutting the Cabo Formation. Ponta de Serrambi,
Note thickening of the beds in the lower block. Pernambuco.

Figure 13
Listric normal faults
(shown by the red
traces), detaching at the
Cabo Formation base.
Note the triangular horse
in the center of the pic-
ture, the rotation of anti-
thetic faults and rollover
structures (bedding is
shown by black traced
lines). Road cut in the
way to Ponta de
Serrambi, Pernambuco.

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go da borda da bacia, interligando segmentos diques, plugs, além do plúton epizonal), indica
das falhas de alto ângulo ou das zonas de desco- que o magmatismo foi contemporâneo e suce-
lamento. Apresentam direção NW e rejeito oblí- deu, provavelmente por curto lapso de tempo, a
quo ou direcional, predominantemente dextral e deposição dos sedimentos da Formação Cabo.
subordinadamente sinistral, por vezes com fei- Várias amostras desses corpos foram datadas
ções transpressivas associadas (flor positiva a pelos métodos 40Ar/39Ar e Traços de Fissão em
norte de Barreiros). Algumas dessas falhas ocor- Zircão, resultando em um dos melhores conjun-
rem ou se prolongam no interior da bacia, a tos de idades disponíveis em bacias da margem
exemplo das falhas NW que seccionam o Grani- continental brasileira (Jardim de Sá, 2003, 2004;
to do Cabo, em Gaibu (fig. 14). Nascimento et al. 2003). A distribuição das data-
ções permite estimar que os diversos componen-
tes da SMI (basaltos, traquitos, riolitos e o Grani-
to do Cabo) foram formados no intervalo de

a Suíte Magmática Ipojuca tempo 102±2 Ma, correspondente ao Mesoal-


biano. Em decorrência, a mesma idade pode ser
Figura 14
(A) Fraturas subverticais
e dados geocronológicos inferida para a seção superior da Formação Cabo.
Por outro lado, os dados palinológicos dos poços
com trend NW, no A SMI engloba basaltos, traqui-andesitos e do Cupe e Piedade (Feijó, 1994; Jardim de Sá,
Granito do Cabo. traquitos, riolitos, piroclásticas e o Granito do 2003) indicam um intervalo Mesoaptiano à base
(B) Detalhe ilustrando Cabo de Santo Agostinho. Este conjunto de litoti- do Albiano (palinozonas P-260 a P-280) para os
slickenlines que configu-
ram rejeito oblíquo
pos ígneos está filiado a dois magmas parentais níveis mais inferiores desta formação.
(normal-dextral, com (básico e ácido), pelo menos em parte coexis- Na região de Suape, dados de poços rasos
base em ressaltos e juntas tentes, ambos de afinidade alcalina (Nascimento, (Projeto Suape, DNPM; Amaral e Menor, 1979)
de distensão escalonadas,
2003). A presença de derrames e camadas piro- permitem reconhecer uma discordância na base
não ilustradas) nos planos
de fraturas da foto prece-
clásticas, junto com corpos hipabissais (soleiras, da Formação Estiva, que localmente capeia o Gra-
dente. Essas estruturas
são compatíveis com a
falha de transferência
mapeada nessa área
(fig. 1). Afloramento
próximo à Vila de
Nazaré, a sul de Gaibu,
Pernambuco.

Figure 14
(A) NW-trending sub-ver-
tical fractures in the Cabo
Granite. (B) Detail illus-
trating slickenlines; which
constrain oblique slip
(normal-dextral according
to steps and en échelon
tension joints, not shown
in the picture) along the
fracture surfaces
displayed in (A). These
structures are compatible
with the interpretation
of a transfer fault at this
locality (fig. 1). Outcrop
near the Nazaré village,
south of Gaibu,
Pernambuco.

176 Tectônica e relações estratigráficas na Sub-bacia de Pernambuco - Almeida et al.


nito do Cabo. Esta discordância implica em sig- na literatura e outros até então não referidos, na
nificativa erosão e exumação (de até 2 km) região mapeada. O registro dos estilos tectono-es-
daquele corpo epizonal, e de suas encaixantes tratigráficos no continente serve de suporte para a
da Formação Cabo, antes da deposição da For- interpretação da geologia de subsuperfície a partir
mação Estiva. Esta relação materializa a melhor dos dados geofísicos, incluindo a porção offshore,
expressão, em terra, da discordância rifte-drifte, correspondente ao Platô de Pernambuco, considera-
que deve ter idade máxima de cerca de 102 Ma do como um expressivo segmento de crosta conti-
neste local (idade 40Ar/39Ar do Granito do Cabo), nental tectonicamente afinada (Jardim de Sá, 2003).
sendo improvável uma idade significativamente As feições aqui descritas ou referidas apontam
mais antiga. para a contemporaneidade da tectônica rifte, a
Na região de Suape, dados de poços rasos deposição da Formação Cabo e o alojamento dos
(Projeto Suape, DNPM; Amaral e Menor, 1979) corpos da SMI: cunhas conglomeráticas ao longo
permitem reconhecer uma discordância na base das falhas de borda (sismofácies equivalentes in-
da Formação Estiva, que localmente capeia o terpretadas no offshore); exemplos mesoscópicos
Granito do Cabo (vide trecho leste do corte A-A’ de falhas de crescimento; falhas distensionais de
na fig. 1), um plúton epizonal cuja profundidade alta temperatura em corpos da Suíte Ipojuca, im-
de alojamento pode ser estimada, com base em plicando em deformação penecontemporânea ao
critérios texturais, na ordem de 2 km (Nascimen- alojamento dos magmas (Jardim de Sá et al.
to, 2003). Deste modo, a citada discordância im- 2005), sendo que em todos esses casos as falhas
plica em significativa erosão e exumação (de até obedecem à cinemática de distensão NW que tipi-
2 km) daquele corpo granítico e de suas encai- fica o evento de rifteamento. Tais feições, no con-
xantes da Formação Cabo, antes da deposição texto das datações 40Ar/39Ar da Suíte Ipojuca
da Formação Estiva. Em adição, o mapeamento (102±2 Ma), que inclui derrames e camadas piro-
sísmico do Projeto Bacia Pernambuco-Paraíba clásticas intercaladas na Formação Cabo, também
demonstra claramente que as falhas sin-rifte es- indicam que a deformação distensional (sin-rifte)
tão truncadas pela sismoseqüência que equivale, na Sub-bacia de Pernambuco (e, provavelmente,
no offshore, à Formação Estiva (R. M. Darros de também no segmento norte da Paraíba) estava
Matos, in Jardim de Sá 2003). Deste modo, a dis- ativa no intervalo do Mesoaptiano (pelo menos) ao
cordância reconhecida nos poços de Suape cons- Mesoalbiano, nesta bacia. Esta assertiva tem impli-
titui o melhor candidato, em terra, a exemplificar cações para a idade do final da separação entre a
a discordância rifte-drifte. Tendo em vista a ida- América do Sul e a África (aparentemente mais
de 40Ar/39Ar do Granito do Cabo (resfriamento do jovem do que previamente suposto). Os dados
corpo quando do seu alojamento, há 102±0,2 aqui reportados são consistentes com a migração
Ma), esta seria a idade máxima para a referida para norte do eixo do rifteamento Sul-Atlântico e
discordância, bem como para o início da que o segmento Pernambuco-Paraíba foi o último
deposição da Formação Estiva, estágio drifte elo do continente a permanecer ligado à África,
neste setor da bacia. até próximo ao final do Cretáceo Inferior.

considerações finais agradecimentos


A revisão estratigráfica na SBPE confirmou e Ao apoio da Agência Nacional de Petróleo e à
aperfeiçou sugestões prévias (Lima Filho, 1998) e permissão para a publicação destes dados e resul-
aplicou critérios para relacionar as unidades aos tados ligados ao projeto de revisão geológica e
eventos deformacionais identificados. A caracteri- exploratória da Bacia Pernambuco-Paraíba; aos
zação da deformação distensional, sin-rifte, na demais colegas que participaram e interagiram
SBPE, inclui diferentes estilos, em parte já descritos durante o Projeto, em especial ao Dr. Renato M.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 13, n. 2, p. 167-180, maio/nov. 2005 177


Darros de Matos (então no PPGG/UFRN) e ao JARDIM DE SÁ, E. F.; VASCONCELOS, P. M. P.; KOHN,
Dr. Mário F. Lima Filho (UFPE); finalmente, aos mem- B.; MATOS, R. M. D.; NASCIMENTO, M. A. L.; SOUZA,
bros do Corpo Editorial do Boletim de Geociências Z. S. Datações Ar/Ar do Magmatismo Ipojuca e a ida-
da Petrobras (Gilmar V. Bueno e Edison J. Milani), de do rifteamento na Sub-bacia de Pernambuco, Nor-
pelo convite para submissão deste texto. deste do Brasil. In.: CONGRESSO BRASILERO DE GEO-
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178 Tectônica e relações estratigráficas na Sub-bacia de Pernambuco - Almeida et al.


expanded abstract sequence assumed to be of Paleogen age, derived
from sources internal to the basin. In the continent, the
The Pernambuco-Paraíba Basin is related to the youngest units of the regressive sequence correspond
final stages of the breakup between South America to the Barreiras Formation and quaternary covers.
and Africa during the Early Cretaceous. The southern At least three deformation events were recog-
segment of this basin (the Pernambuco Sub-basin, nized in the SBPE. The oldest one defines the struc-
SBPE) extends from the Pernambuco Lineament in the tural framework of the basin, being related to the rift
north to the Maragogi High in the south, at the bor- stage. Two younger events overprint the drift
der with the Sergipe-Alagoas Basin. This contribution sequences, generating new faults or reactivating the
emphasizes the continental segment of the basin, the rift stage structures; the Barreiras Formation is affect-
northernmost exposures of the rift sequences associ- ed just by the youngest one.
ated with the East Brazilian Margin. The work was The rift event was controled by a NW extension
conducted during a regional mapping and oil poten- kinematics, which started at Mesoaptian times, the
tial evaluation program undertaken by the National age of the oldest Cabo Formation sediments. It com-
Oil Agency (ANP) through the Geodynamics and prises NE-trending, high or low-angle (detachment)
Geophysics Postgraduate Program at the Federal normal faults connected through NW-trending trans-
University of Rio Grande do Norte. fer faults. Synthetic, ocean-dipping faults predomi-
The stratigraphy of the SBPE starts with a basal nate. The Cabo Formation alluvial fans (especially the
volcanosedimentary rift sequence. The rift sequence conglomerates) follow the border faults; at the meso-
overlies the precambrian basement through non-con- cale, these sediments (which may be interlayered
formity, fault or (in the case of the igneous rocks) with volcanic flows) thicken and/or tilt towards the
intrusive contacts. No pre-rift sediments are known in faults; all these features attest syntectonic deposition.
the region. The siliciclastics of the Cabo Formation SMI subvolcanic rocks also testify fault-controled
comprise alluvial fan (conglomerates and coarse emplacement and the continuation of rift fault activ-
sandstones derived from basement sources to the ity up to the Mesoalbian.
west) and lacustrine (fine grained sandstones and This structural style is also mapped along the basin
shales) deposits. Palynological data confirm a (including its offshore segment) using gravity and
Mesoaptian to Eo-Albian age span for this unit. These seismic sections. These data allow to recognize half-
siliciclastics are interlayered and intruded by the graben systems tilted to the west. The continental
Ipojuca Magmatic Suite (SMI), comprising basic to depocenters (Piedade, Cupe and Sirinhaém grabens
acid volcanic and subvolcanic rocks (including flows as the most important ones) are separated from the
and pyroclastics) besides an epizonal granite pluton, deeper basin at the Pernambuco Plateau by a major
all of them with alkaline affinities. Very precise tectonic high (named the Maracatu high) trending
40
Ar/39Ar dates average 102±2 Ma for the whole suite, paralell to the coast.
which thus represents penecontemporaneous mantle The tectonic and stratigraphic relationships above
and crustal derived magmas. These dates, associated described point to penecontemporaneous events of
field relationships and the palynological data imply a extensional deformation, deposition of the Cabo
mesoaptian to mesoalbian age for the rift sequence Formation and emplacement of the Ipojuca
of SBPE. Magmatic Suite, during the rift stage of the SBPE.
The onset of the drift stage is marked by the car- This stage lasted from the Mesoaptian to the
bonates and siliciclastics of the Estiva Formation, Mesoalbian, a younger time interval as regards to
which define a transgressive sequence of previous concepts about the age of the ocean open-
Cenomanian-Santonian age. These sediments are ing at the northern tip of the South Atlantic rift.
poorly exposed inland but thicken to the east, as Nevertheless, the data are in agreement with the
mapped by seismic lines along the offshore basin. At well-accepetd northward propagation of the rift,
least locally, in the continent, the rift-drift unconfor- with the Pernambuco-Paraíba Basin being the last
mity, placed at the base of the Estiva Formation, land connection between Africa and South America.
involved 1-2 km erosion cutting through the 102 Ma
old Cabo Granite. In most cases, the rift sequence is
directly overlain, in a structural unconformity, by the
siliciclastics of the Algodoais Formation, a regressive

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 13, n. 2, p. 167-180, maio/nov. 2005 179


autor author

Camilla Bezerra de Almeida


Programa de Pós-Graduação em Geodinâmica e Geofísica e
PRH 22/ANP, Universidade Federal do Rio Grande do Norte
e-mail: camilla@geologia.ufrn.br

Camilla Bezerra de Almeida nasceu em Fortaleza, Ceará, em 1979, e ter-


minou o curso técnico em Geologia pela Escola Técnica Federal do Rio
Grande do Norte em 1997. Graduou-se em Geologia pela Universi-
dade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) em 2003. Atualmente,
está cursando o doutorado no Programa de Pós-graduação em Geo-
dinâmica e Geofísica na UFRN. Como aluna de graduação e pós-gra-
duação, tem participado de projetos de pesquisa nas bacias Potiguar
(CTPetro/FINEP/PETROBRAS) e Pernambuco-Paraíba (ANP), envolvendo
mapeamento geológico e estrutural e, mais recentemente, está envol-
vida na interpretação sísmica do Projeto Bacia Sergipe-Alagoas (ANP).

180 Tectônica e relações estratigráficas na Sub-bacia de Pernambuco - Almeida et al.

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