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1. INTRODUÇÃO
Este artigo aborda o controle interno no ciclo de transações denominado vendas – contas a
receber – recebimento. Será apresentado o ciclo, detalhada as etapas de cada uma de suas fases,
analisada a relação da contabilidade com cada fase, destacando os pontos de controle interno em que o
relacionamento destas com a contabilidade ocorre, e os riscos de controle interno inerentes ao ciclo. A
análise realizada limita-se às contas a receber resultantes de operações de venda a clientes e seu
objetivo é permitir que o contabilista, empregado ou prestador de serviços possa, de forma prática e
ordenada, avaliar a eficácia do sistema de controle interno aplicável a este ciclo de transações e
desenvolver ações para sua melhoria.
• Contato inicial com o cliente – é o momento em que a empresa mantém o relacionamento inicial
com os possíveis compradores de seus produtos. Ocorre por iniciativa do cliente, quando este tem uma
necessidade específica a ser satisfeita, ou por iniciativa da empresa, através da divulgação e oferta de
seus produtos e serviços.
• Análise e concessão de crédito – nesta etapa a empresa verifica se o potencial cliente tem
condições de adquirir seus produtos. Sua realização envolve alguns passos: análise da situação
econômico-financeira do potencial cliente, executada com base em informações contábeis (índices de
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Artigo publicado no Boletim IOB – Caderno Temática Contábil e Balanços – 04/2003.
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balanço, análise de resultados); e análise da situação de crédito, através de pesquisa em cartórios de
protesto e empresas especializadas na obtenção, guarda e tratamento de informações econômico-
financeiras, com o objetivo de identificar a existência de protestos ou outros indicadores que demonstrem
dificuldades do potencial cliente em liquidar seus compromissos. Dependendo da transação a se realizar,
o vendedor e o comprador podem exigir a apresentação de garantias para a concretização do negócio.
• Expedição e entrega ao cliente – é o momento no qual o cliente recebe a mercadoria, que pode
ser retirada no estabelecimento do vendedor ou entregue no endereço determinado pelo adquirente. Nesta
etapa o cliente deve assinar o “canhoto” da nota fiscal, no rodapé desse documento, confirmando o
recebimento dos produtos adquiridos. Esse canhoto deve ser arquivado pela empresa vendedora.
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2.3. A fase de recebimento
Esta fase compõe-se das seguintes etapas:
• Pagamento pelo cliente – é o momento em que o cliente liquida sua obrigação com a empresa
vendedora. O pagamento é feito na instituição financeira para a qual o título foi enviado para cobrança.
(1)
Alguns grandes bancos oferecem aos seus clientes “pacotes” e “soluções”, baseados em tecnologia da informação, para agilizar
o processo de recebimento. Esta oferta é um diferencial de mercado adotado para manter e fidelizar clientes de determinado
porte e volume de operações.
Contabilidade Envio ao
banco para
cobrança
Contas a
Receber
Recebimento Venda
- baixa do - receita
título - contas a receber
- entrada do - baixa do estoque
Envio do
numerário - CPV / CMV
documento
- impostos
de cobrança
ao cliente
Comunicação do
recebimento
e baixa do
título Pagamento do título no vencimento
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empresariais e seus resultados. Para colaborar com a permanente adaptação das empresas ao
ambiente, não deve inibir a criatividade e a inovação.
De acordo com a definição apresentada, alguns pontos são essenciais à realização de boas
transações de venda. São pontos de ordem geral, de natureza intrínseca a estas transações e de
natureza contábil, a seguir apresentados.
3.2 Pontos de ordem geral
É preciso estabelecer funções eficazes que desempenhem de forma eficiente as atividades dentro
do ciclo. A empresa deve ter pessoas competentes para executá-las e adotar a segregação de funções,
evitando que uma única pessoa tenha acesso a todas as etapas do ciclo. Não sendo possível a plena
segregação de funções pelo porte da empresa, ou quando o uso da tecnologia da informação permitir
que poucas pessoas executem a maioria das etapas anteriormente mencionadas, é necessário
estabelecer o grau de risco ao qual a empresa está exposta e tomar as medidas necessárias para
minimizá-lo.
A empresa deve privilegiar o uso da tecnologia da informação para processar seus ciclos de
transações. Além de agilizar a execução das atividades, um sistema integrado de informações (2) ajuda a
garantir que as informações serão inseridas uma única vez, serão as mesmas durante todo o ciclo e
estarão protegidas contra perdas, alterações e mau uso. A implantação destas soluções requer trabalho
planejado e especializado, no qual os aspectos de controle interno devem estar contemplados.
(2)
Atualmente há no mercado especializado sistemas integrados ERP – Enterprise Resources Planning, para empresas de
pequeno, médio e grande porte. A quantidade de fornecedores, o atendimento a organizações de qualquer porte e as
experiências ocorridas em vários projetos de implantação tornam o uso destas soluções uma condição básica para muitas
empresas desenvolverem suas atividades de forma eficiente.
3.3 Transações de vendas
As transações de vendas devem estar suportadas por documentos próprios para este fim (pedido
de venda, nota fiscal, nota de crédito, duplicatas e outros), que contemplem os aspectos técnicos
(especificação de produto, cliente, quantidade), econômico-financeiros (valor unitário e total de venda,
condições e data de pagamento), tributários e legais (tributos incidentes, alíquotas aplicáveis, condições
tributárias especiais).
As informações relativas à emissão da nota fiscal para o cliente devem ser processadas de forma
adequada e integralmente, uma única vez. Esses documentos são corretamente preparados
observando-se a razão social do cliente, condições e prazo de pagamento, especificação e quantidade
do produto vendido, preços unitário e total, tributos incidentes, alíquotas aplicáveis e condições
tributárias especiais. Essas informações devem ser as mesmas que constam do pedido de venda, após
a confirmação da transação junto ao cliente.
As notas fiscais de venda devem ser emitidas por pessoas com adequada delegação de
autoridade.
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Devem ser emitidos resumos diários de faturamento, que permitam à empresa ter a visão
condensada das transações realizadas. De forma geral, esses resumos devem conter os montantes de
venda detalhados de acordo com as características do negócio e as necessidades informativas da
empresa (produtos, serviços, nacional, exportação, incentivada), as informações sobre o volume de
notas fiscais emitidas e canceladas, e os tributos totais incidentes sobre as vendas.
A expedição ou entrega das mercadorias vendidas aos clientes deve ser precedida de aprovação
por empregados com adequada delegação de autoridade. Além do canhoto da nota fiscal, deverão ser
preenchidos e conferidos outros documentos necessários à entrega ou expedição das mercado-rias. No
caso de documentos de expedição de mercadorias, devem ser assinados pelos transportadores,
indicando a aceitação das quantidades embarcadas. As mercadorias devem estar cobertas por seguro,
independentemente de serem transportadas por terceiros ou pela empresa vendedora.
As notas fiscais de venda e os documentos de expedição ou entrega das mercadorias devem ser
contabilizados no período contábil adequado. O registro sintético na contabilidade pode ser feito com
base nos resumos diários de faturamento, e o registro detalhado por cliente no sistema ou razão auxi-
liar, com base nas notas fiscais de venda. Aqui se aplicam os princípios contábeis do custo como base
de valor e da confrontação de receita, dentro do regime de competência dos exercícios.
Os recebimentos devem ser adequadamente identificados para que a baixa dos documentos de
cobrança seja feita considerando o cliente e valor, data de vencimento e numeração seqüencial do
documento.
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É recomendável circularizar os saldos dos valores a receber. Para tal, a empresa deve definir uma
escala para envio de correspondências aos clientes, permitindo a confirmação dos valores. Esse
procedimento pode ser realizado pela empresa, sem a necessidade de esperar pelos trabalhos da
auditoria externa. O objetivo da circularização é realizar o confronto e o batimento das posições da
empresa compradora e da empresa vendedora, analitica-mente.
Os registros existentes no sistema ou razão auxiliar devem ser conciliados com a contabilidade,
garantindo que ambos registrem os mesmos valores. Havendo diferenças, é necessário localizá-las,
identificar suas causas e tomar as providências necessárias para sua regularização. Ainda há empresas
que mantêm registros detalhados de seus recebimentos, e valores contabilizados sinteticamente com
diferenças entre ambos. Essa situação geralmente ocorre em empresas que usam sistemas de
informação “desintegrados”, e indica fraquezas no sistema de controle interno, quando não é possível
justificar tais diferenças ou encontrar sua causa.
A empresa deve, ao final de cada período contábil, obter relatórios que classifiquem as
informações de contas a receber e recebimentos, para a adequada gestão desses ativos. É
recomendável usar relatórios demonstrando os valores recebidos no período, valores a receber e títulos
não recebidos escalonados por períodos de recebimento futuro e por atraso (por exemplo, 30, 60, 90 e
mais de 90 dias), e relatórios que indiquem os clientes que concentram os maiores valores a receber,
dentro do conceito de curva ABC.
• Riscos de controles computadorizados – ter a tecnologia da informação não é sinônimo de que tudo vai
bem, pois soluções não planejadas ou mal implantadas podem multiplicar a velocidade de ocorrência de
problemas e trazer novos complicadores para a empresa. Pessoas não autorizadas podem ter acesso às
funções de processamento e às informações armazenadas nos sistemas de informação. As transações e
dados cadastrais inseridos nos sistemas para processamento podem estar incorretos ou serem digitados
mais de uma vez. Informações rejeitadas para processamento podem não estar sendo isoladas,
analisadas e corrigidas em tempo hábil. Transações legítimas processadas ou geradas pelos sistemas
podem ser perdidas, não processadas completamente, processadas incorretamente ou processadas e
impressas no período contábil errado. Para evitar tais situações, é fundamental que a escolha, aquisição,
implantação e operação (ou o mesmo o desenvolvimento interno) de sistemas informatizados seja feita
considerando o porte da empresa, a eficiência na realização das operações, a segurança e o controle
das transações a serem processadas.
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(3) .
Sobre os aspectos fiscais pertinentes aos créditos incobráveis, veja o texto publicado no Boletim nº 42/2001, pág. 1, Caderno
IR/LS.
• Aumento significativo do número de clientes – em princípio, todas as empresas querem aumentar sua
carteira de clientes. Entretanto, quando a organização não está estruturalmente preparada para essa
situação, poderão ocorrer transações de venda sem a devida análise de crédito, tendo como
consequências vendas de recebimento difícil ou duvidoso. Pode haver a deterioração no atendimento
aos clientes, comprometendo a imagem da empresa, com os clientes procurando os concorrentes.
• Introdução de novos produtos ou de similares por concorrentes, afetando as margens brutas de
venda e as participações de mercado – a competitividade é benéfica, pois permite ao consumidor
exercer seu direito de escolha, ao mesmo tempo em que estimula o aumento de eficiência entre os
concorrentes. Entretanto, se a empresa não se aperceber dessa situação e não se preparar para
enfrentá-la, pode ter sua imagem comprometida. Exemplo de adaptação a uma nova situação foi vivido
pelas empresas fabricantes de equipamentos de telecomunicações que, após a privatização do sistema
Telebrás e a entrada de novas operadoras e concorrentes no mercado, tiveram de se adaptar às novas
condições de concorrência, negociação de preços e fornecimento de produtos e serviços.
• A empresa vendedora depende de poucos clientes – aqui vale o dito popular de “não depositar
todos os ovos numa única cesta, pois se esta cair, todos se quebrarão”. É natural alguns clientes se
destacarem de outros, merecendo atenção especial. Entretanto, deve ser evitada a criação de vínculos
de dependência, pois um eventual atraso de pagamento pode comprometer a liquidez da empresa
vendedora. Essa situação pode ser evitada através da prospecção de novos clientes e da diversificação
de produtos ofertados pela empresa vendedora.
• A empresa vendedora recebe os valores de seus clientes diretamente em seu caixa – essa
situação pode fazer com que os montantes recebidos permaneçam sem depósito ou aplicação bancária,
e cria facilidades para que os empregados encarregados dessas atividades tenham a possibilidade de
manipular os valores, o registro das transações e praticar o lapping, que é o recebimento de um cliente e
utilização do dinheiro para encobrir o mau uso do dinheiro anteriormente recebido de outro cliente.
Quando o recebimento na “boca do caixa” for inevitável, é preciso promover o rodízio dos funcionários
encarregados dessas atividades, e reforçar a necessidade de efetuar conciliações entre os razões ou
sistemas auxiliares de contas a receber e a contabilidade, a elaboração de relatórios de valores a
receber, de valores recebidos, de clientes em atraso, e as conciliações bancárias. Para a empresa não
ser exposta a riscos desta natureza, deve privilegiar o recebimento através da rede bancária.
• Os limites de crédito são estabelecidos informalmente e não estão sujeitos à aprovação – mais
importante do que realizar grandes volumes de vendas de difícil recebimento é realizar boas vendas. A
seleção dos clientes deve ocorrer após cuidadosa análise de crédito e da capacidade do cliente em
honrar seus compromissos. Selecionado o cliente, este deve ser classificado em categorias ou faixas de
limites de crédito, que permitirão à empresa agilizar as decisões relativas a ele, gerando limites
adequados de vendas e recebimentos.
• Ocorre grande volume de operações de venda com preços abaixo dos custos – esta é uma
estratégia de conquista de mercado usada pelos profissionais de vendas. É recomendável para entrar
em mercados onde há pouca diferenciação entre a qualidade dos produtos concorrentes. Entretanto, se
o volume dessas transações apresenta crescimento significativo em relação às vendas totais da
empresa, compromete-se a lucratividade das operações. Tais estratégias de venda devem prever a
capacidade da empresa em assumir margens negativas em algumas operações.
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mercado. Tais situações geram aumento na emissão de notas de crédito, notas fiscais de devolução, e
são indícios de que os produtos e serviços ofertados não apresentam a qualidade necessária para
atender as necessidades dos clientes.
• As estimativas e previsões de vendas realizadas pela empresa são muito diferentes das
efetivamente ocorridas – para atingir seus objetivos, a empresa precisa planejar. A adequada previsão
dos volumes de venda pressupõe conhecer o mercado comprador e a situação econômica vigente.
Quando as operações efetivamente realizadas apresentam desvios significativos em relação ao
planejado, a lucratividade, a rentabilidade e o recebimento esperados ficam comprometidos.
• Não são preparadas análises confiáveis das contas vencidas – quando um cliente não paga
seus títulos na data de vencimento, pode estar fazendo-o por outros fatores que não a dificuldade
financeira. A empresa vendedora deve envidar esforços para identificar os valores a receber em atraso e
tomar as providências necessárias para resolver essa situação. Essa medida envolve ter as informações
necessárias para tal propósito, conhecer o mercado consumidor de seus produtos e serviços e
estabelecer uma estratégia para negociação com os clientes em atraso, na qual deve ser priorizado o
recebimento dos títulos de maior valor.
Finalizando, o controle interno não deve ser inibidor da criatividade e da inovação; entretanto, a
empresa deve se cercar dos cuidados necessários à garantia de seu sucesso, fator de sobrevivência em
um ambiente econômico competitivo.