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CONTROLADORIA E GESTÃO

O controle interno no ciclo vendas – contas a receber - recebimento1


Prof. Ivam Ricardo Peleias
SUMÁRIO
1. Introdução
2. O ciclo vendas – contas a receber – recebimento
3. O controle interno no ciclo vendas – contas a receber – recebimento
4. Riscos de controle interno no ciclo
5. Considerações finais

1. INTRODUÇÃO
Este artigo aborda o controle interno no ciclo de transações denominado vendas – contas a
receber – recebimento. Será apresentado o ciclo, detalhada as etapas de cada uma de suas fases,
analisada a relação da contabilidade com cada fase, destacando os pontos de controle interno em que o
relacionamento destas com a contabilidade ocorre, e os riscos de controle interno inerentes ao ciclo. A
análise realizada limita-se às contas a receber resultantes de operações de venda a clientes e seu
objetivo é permitir que o contabilista, empregado ou prestador de serviços possa, de forma prática e
ordenada, avaliar a eficácia do sistema de controle interno aplicável a este ciclo de transações e
desenvolver ações para sua melhoria.

2. O CICLO VENDAS – CONTAS A RECEBER – RECEBIMENTO


O objetivo primordial da atividade empresarial é obter lucro. Para tanto, é necessário vender os
produtos e serviços aos clientes. Vender envolve a realização de diversas atividades, desde o contato
inicial com o potencial comprador dos produtos e serviços da empresa, até o efetivo recebimento dos
valores. Essas atividades compõem um ciclo, dividido em fases e etapas.

Um ciclo é um conjunto ordenado de fases; as fases compreendem a consecução de várias


etapas logicamente encadeadas; as etapas são os passos percorridos dentro de cada fase para que o
ciclo se complete. O ciclo vendas – contas a receber – recebimento é composto de 3 fases: vendas,
contas a receber e recebimento.

2.1. A fase de vendas


Esta fase compõe-se das seguintes etapas:

• Contato inicial com o cliente – é o momento em que a empresa mantém o relacionamento inicial
com os possíveis compradores de seus produtos. Ocorre por iniciativa do cliente, quando este tem uma
necessidade específica a ser satisfeita, ou por iniciativa da empresa, através da divulgação e oferta de
seus produtos e serviços.

• Emissão do pedido de venda – feito o contato inicial, caracterizada a necessidade do cliente e a


capacidade da empresa em atender a demanda, a transação de venda é formalizada através da emissão
de um documento, seqüencialmente numerado, denominado pedido de venda. Neste constarão a razão
social do cliente (nome, CNPJ, endereço, telefone), a especificação do produto a ser vendido
(quantidade, código identificador, preços unitário e total), as condições de pagamento, as condições
fiscais inerentes à operação (tributos incidentes, alíquotas e outras condições, de acordo com a
legislação vigente) e o prazo de entrega acordado entre as partes.

• Análise e concessão de crédito – nesta etapa a empresa verifica se o potencial cliente tem
condições de adquirir seus produtos. Sua realização envolve alguns passos: análise da situação
econômico-financeira do potencial cliente, executada com base em informações contábeis (índices de

1
Artigo publicado no Boletim IOB – Caderno Temática Contábil e Balanços – 04/2003.

1
balanço, análise de resultados); e análise da situação de crédito, através de pesquisa em cartórios de
protesto e empresas especializadas na obtenção, guarda e tratamento de informações econômico-
financeiras, com o objetivo de identificar a existência de protestos ou outros indicadores que demonstrem
dificuldades do potencial cliente em liquidar seus compromissos. Dependendo da transação a se realizar,
o vendedor e o comprador podem exigir a apresentação de garantias para a concretização do negócio.

• Verificação do estoque ou programação do pedido – aprovado o crédito para o cliente, a


empresa vendedora deve reservar a quantidade do produto a ser fornecido. Essa reserva evita que, ao
atender outros clientes, a empresa venda duas vezes o mesmo item de estoque, situação que pode
comprometer suas operações e sua imagem. Se a empresa vendedora não mantém itens para pronta
entrega, deve efetuar a programação de produção, objetivando atender o pedido colocado. Nesta etapa
é importante a empresa confirmar com o cliente o atendimento das condições originalmente
estabelecidas na emissão do pedido de venda.

• Faturamento – é o momento no qual se emite a nota fiscal de venda do produto ou serviço ao


cliente. Esse documento, de uso obrigatório no Brasil, tem por finalidade servir de base para apuração
dos tributos incidentes sobre as vendas, acompanhar a mercadoria até sua chegada ao estabelecimento
do comprador e servir de base para o registro contábil e fiscal da transação. Nesse documento constarão
os dados do pedido de venda, que podem ser alterados em função de eventuais modificações ocorridas
na confirmação da transação. A nota fiscal pode ter séries específicas, relativas às transações
realizadas, numeração seqüencial, a razão social do fornecedor, endereços de entrega e de cobrança, a
quantidade vendida, valores unitário e total, tributos e alíquotas incidentes. Caso a transação de venda
tenha alguma condição tributária especial, esta deve estar especificada no documento. Este é o primeiro
do ciclo com a contabilidade, através da contabilização da venda, da baixa do estoque e saída do
produto e da escrituração dos livros fiscais de saída.

• Expedição e entrega ao cliente – é o momento no qual o cliente recebe a mercadoria, que pode
ser retirada no estabelecimento do vendedor ou entregue no endereço determinado pelo adquirente. Nesta
etapa o cliente deve assinar o “canhoto” da nota fiscal, no rodapé desse documento, confirmando o
recebimento dos produtos adquiridos. Esse canhoto deve ser arquivado pela empresa vendedora.

2.2. A fase de contas a receber


Esta fase compõe-se das seguintes etapas:

• Criação do direito a receber – simultaneamente ao faturamento, a empresa vendedora adquire o


direito de receber no futuro um valor do cliente, representativo da transação realizada. O registro desse
direito deve ser individualizado por cliente, possibilitando à empresa vendedora a qualquer momento
conhecer analiticamente os montantes que lhe são devidos. Esse direito normalmente é representado
por um documento denominado duplicata, que contém alguns dados originalmente inseridos na nota
fiscal: razão social do cliente, numeração seqüencial (algumas empresas adotam a mesma numeração
da nota fiscal), valor a receber e data de recebimento. Este registro analítico serve de sistema ou razão
auxiliar à contabilidade, desde que permita o registro cronológico por cliente dos títulos a receber e de
seu recebimento, pois o somatório dos documentos representativos destas transações deve ser o
mesmo registrado nas contas contábeis de valores a receber por vendas.

• Envio do borderô de cobrança ou arquivo de duplicatas ao banco – para proceder ao recebimento,


as empresas podem usar os serviços da rede bancária, que apresentam vantagens comparativamente ao
pagamento diretamente ao vendedor: propicia facilidades de pagamento(1) ao cliente, descentraliza e
agiliza o processo de recebimento, evita que a empresa mantenha dinheiro ou cheque em suas
dependências e, em caso de disponibilidade dos recursos recebidos, permite sua rápida aplicação.

• Envio do boleto ou aviso de cobrança ao cliente – este documento, normalmente enviado ao


cliente numa data intermediária entre a venda e o vencimento, permite informá-lo de que se aproxima o
vencimento do título, e também conferir os dados relativos à transação realizada.

2
2.3. A fase de recebimento
Esta fase compõe-se das seguintes etapas:

• Pagamento pelo cliente – é o momento em que o cliente liquida sua obrigação com a empresa
vendedora. O pagamento é feito na instituição financeira para a qual o título foi enviado para cobrança.

• Baixa de contas a receber e entrada no numerário – é o momento em que o banco avisa a


empresa que o título foi liquidado pelo cliente; o valor pago é transferido para a conta corrente e o direito
a receber é baixado das contas a receber.

• Contabilização do recebimento – é o registro contábil do pagamento efetuado pelo cliente. Admitindo


que o registro analítico anteriormente mencionado serve como razão ou sistema auxiliar à contabilidade,
esta transação estará refletida sinteticamente na contabilidade geral nas contas representativas de
valores a receber por vendas.

(1)
Alguns grandes bancos oferecem aos seus clientes “pacotes” e “soluções”, baseados em tecnologia da informação, para agilizar
o processo de recebimento. Esta oferta é um diferencial de mercado adotado para manter e fidelizar clientes de determinado
porte e volume de operações.

A figura a seguir apresenta o ciclo vendas – contas a receber – recebimento.

Contato Emissão Análise e Verificação Faturamento Entrega


cliente / do pedido concessão do estoque / ao
empresa de venda de crédito programação Cliente
do pedido

Contabilidade Envio ao
banco para
cobrança
Contas a
Receber
Recebimento Venda
- baixa do - receita
título - contas a receber
- entrada do - baixa do estoque
Envio do
numerário - CPV / CMV
documento
- impostos
de cobrança
ao cliente
Comunicação do
recebimento
e baixa do
título Pagamento do título no vencimento

Representação Gráfica do Ciclo Vendas - Contas a Receber - Recebimento

3. O CONTROLE INTERNO NO CICLO VENDAS – CONTAS A RECEBER – RECEBIMENTO

3.1 Definição de controle interno

O controle interno é um conjunto de normas, procedimentos, instrumentos e ações, adotados de


forma sistemática pelas empresas, que deve estar em constante evolução, assegurando o atingimento
de resultados conforme objetivos preestabelecidos, protegendo o patrimônio e garantindo transparência
às operações. Este conjunto deve garantir a eficiência operacional e permitir a melhoria dos processos

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empresariais e seus resultados. Para colaborar com a permanente adaptação das empresas ao
ambiente, não deve inibir a criatividade e a inovação.

De acordo com a definição apresentada, alguns pontos são essenciais à realização de boas
transações de venda. São pontos de ordem geral, de natureza intrínseca a estas transações e de
natureza contábil, a seguir apresentados.
3.2 Pontos de ordem geral
É preciso estabelecer funções eficazes que desempenhem de forma eficiente as atividades dentro
do ciclo. A empresa deve ter pessoas competentes para executá-las e adotar a segregação de funções,
evitando que uma única pessoa tenha acesso a todas as etapas do ciclo. Não sendo possível a plena
segregação de funções pelo porte da empresa, ou quando o uso da tecnologia da informação permitir
que poucas pessoas executem a maioria das etapas anteriormente mencionadas, é necessário
estabelecer o grau de risco ao qual a empresa está exposta e tomar as medidas necessárias para
minimizá-lo.
A empresa deve privilegiar o uso da tecnologia da informação para processar seus ciclos de
transações. Além de agilizar a execução das atividades, um sistema integrado de informações (2) ajuda a
garantir que as informações serão inseridas uma única vez, serão as mesmas durante todo o ciclo e
estarão protegidas contra perdas, alterações e mau uso. A implantação destas soluções requer trabalho
planejado e especializado, no qual os aspectos de controle interno devem estar contemplados.

(2)
Atualmente há no mercado especializado sistemas integrados ERP – Enterprise Resources Planning, para empresas de
pequeno, médio e grande porte. A quantidade de fornecedores, o atendimento a organizações de qualquer porte e as
experiências ocorridas em vários projetos de implantação tornam o uso destas soluções uma condição básica para muitas
empresas desenvolverem suas atividades de forma eficiente.
3.3 Transações de vendas
As transações de vendas devem estar suportadas por documentos próprios para este fim (pedido
de venda, nota fiscal, nota de crédito, duplicatas e outros), que contemplem os aspectos técnicos
(especificação de produto, cliente, quantidade), econômico-financeiros (valor unitário e total de venda,
condições e data de pagamento), tributários e legais (tributos incidentes, alíquotas aplicáveis, condições
tributárias especiais).

A aprovação do pedido de venda, considerando o preço praticado, prazo de entrega, descontos


por antecipação de pagamento e outras condições relativas à transação, deve ser feita por empregados
com adequada delegação de autoridade para tal decisão.

As informações constantes nos pedidos de venda devem ser processadas integralmente, de


forma adequada e uma única vez. Esta colocação vale para empresas onde o processamento é
automatizado ou manual. O controle numérico seqüencial dos documentos propicia esta condição de
controle. Sempre que as informações relativas ao pedido de venda forem rejeitadas ou estiverem fora do
padrão estabelecido, devem ser separadas, analisadas e corrigidas em tempo hábil.

As informações relativas à emissão da nota fiscal para o cliente devem ser processadas de forma
adequada e integralmente, uma única vez. Esses documentos são corretamente preparados
observando-se a razão social do cliente, condições e prazo de pagamento, especificação e quantidade
do produto vendido, preços unitário e total, tributos incidentes, alíquotas aplicáveis e condições
tributárias especiais. Essas informações devem ser as mesmas que constam do pedido de venda, após
a confirmação da transação junto ao cliente.

As notas fiscais de venda devem ser emitidas por pessoas com adequada delegação de
autoridade.

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Devem ser emitidos resumos diários de faturamento, que permitam à empresa ter a visão
condensada das transações realizadas. De forma geral, esses resumos devem conter os montantes de
venda detalhados de acordo com as características do negócio e as necessidades informativas da
empresa (produtos, serviços, nacional, exportação, incentivada), as informações sobre o volume de
notas fiscais emitidas e canceladas, e os tributos totais incidentes sobre as vendas.
A expedição ou entrega das mercadorias vendidas aos clientes deve ser precedida de aprovação
por empregados com adequada delegação de autoridade. Além do canhoto da nota fiscal, deverão ser
preenchidos e conferidos outros documentos necessários à entrega ou expedição das mercado-rias. No
caso de documentos de expedição de mercadorias, devem ser assinados pelos transportadores,
indicando a aceitação das quantidades embarcadas. As mercadorias devem estar cobertas por seguro,
independentemente de serem transportadas por terceiros ou pela empresa vendedora.

As notas fiscais de venda e os documentos de expedição ou entrega das mercadorias devem ser
contabilizados no período contábil adequado. O registro sintético na contabilidade pode ser feito com
base nos resumos diários de faturamento, e o registro detalhado por cliente no sistema ou razão auxi-
liar, com base nas notas fiscais de venda. Aqui se aplicam os princípios contábeis do custo como base
de valor e da confrontação de receita, dentro do regime de competência dos exercícios.

Ocorrendo o retorno, devolução ou extravio de mercadorias enviadas a clientes, essas situações


devem ser documentadas e adequadamente registradas, sendo necessário identificar a causa de tais
circunstâncias para evitar ou minimizar sua ocorrência no futuro.

3.4 Transações de contas a receber e recebimento


As transações de recebimento devem estar suportadas por documentos próprios para este fim
(notas de crédito, duplicatas e recibos), que contenham as informações representativas dos valores a
receber, descontos, abatimentos ou cancelamentos que venham a ser concedidos aos clientes da
empresa.

As atividades de processamento dos recebimentos e registro das informações devem ser


executadas por empregados com adequada delegação de autoridade para tal decisão.

Os recebimentos devem ser adequadamente identificados para que a baixa dos documentos de
cobrança seja feita considerando o cliente e valor, data de vencimento e numeração seqüencial do
documento.

As informações de recebimento devem ser processadas integralmente, de forma adequada e uma


única vez. Sempre que as informações forem rejeitadas ou estiverem fora do padrão estabelecido,
devem ser separadas, analisadas e corrigidas em tempo hábil.

Descontos, abatimentos, cancelamentos ou atualizações monetárias devem ser calculados com


exatidão, estar documental ou contratualmente suportados e ser adequadamente contabilizados.

São necessários procedimentos para identi-ficar valores a receber de realização duvidosa.


Quando um título apresentar probabilidade de recebimento duvidoso ou de não recebimento,
contabilmente, deverá ser provisionado como sendo de liquidação duvidosa, de acordo com a convenção
do conservadorismo ou da prudência, e mantido na contabilidade até se esgotarem todos os recursos
necessários ao seu recebimento. Os procedimentos para essas transações, também, devem estar de
acordo com as determinações tributárias que, uma vez constatada a condição de incobráveis, aceitam
tais valores como dedutíveis mediante certas condições definidas em lei(3). Sendo considerado
incobrável, o título deve ser baixado contabilmente, registro este autorizado por empregado com
adequada delegação de autoridade. Quanto mais rigorosa for a análise de crédito, menor será o volume
de devedores duvidosos.

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É recomendável circularizar os saldos dos valores a receber. Para tal, a empresa deve definir uma
escala para envio de correspondências aos clientes, permitindo a confirmação dos valores. Esse
procedimento pode ser realizado pela empresa, sem a necessidade de esperar pelos trabalhos da
auditoria externa. O objetivo da circularização é realizar o confronto e o batimento das posições da
empresa compradora e da empresa vendedora, analitica-mente.

Os registros existentes no sistema ou razão auxiliar devem ser conciliados com a contabilidade,
garantindo que ambos registrem os mesmos valores. Havendo diferenças, é necessário localizá-las,
identificar suas causas e tomar as providências necessárias para sua regularização. Ainda há empresas
que mantêm registros detalhados de seus recebimentos, e valores contabilizados sinteticamente com
diferenças entre ambos. Essa situação geralmente ocorre em empresas que usam sistemas de
informação “desintegrados”, e indica fraquezas no sistema de controle interno, quando não é possível
justificar tais diferenças ou encontrar sua causa.
A empresa deve, ao final de cada período contábil, obter relatórios que classifiquem as
informações de contas a receber e recebimentos, para a adequada gestão desses ativos. É
recomendável usar relatórios demonstrando os valores recebidos no período, valores a receber e títulos
não recebidos escalonados por períodos de recebimento futuro e por atraso (por exemplo, 30, 60, 90 e
mais de 90 dias), e relatórios que indiquem os clientes que concentram os maiores valores a receber,
dentro do conceito de curva ABC.

4. RISCOS DE CONTROLE INTERNO NO CICLO


Os riscos são condições e situações que podem comprometer a adequada ocorrência das etapas,
fases e do ciclo como um todo. Muitas vezes são situações previsíveis, que podem comprometer o
patrimônio e os resultados da empresa vendedora, sendo possível estabelecer mecanismos e
procedimentos para eliminá-los ou minimizá-los. Apresentam-se a seguir alguns riscos que podem afetar
o ciclo vendas – contas a receber – recebimento, e algumas ações a serem tomadas pela empresa, para
evitar sua ocorrência ou minimizar seus efeitos:

• Riscos de controles manuais – os relatórios produzidos manualmente são de fácil manipulação,


aliada à maior probabilidade de erros. As atividades tornam-se demoradas, burocráticas e criam-se
“especialistas” com os quais se estabelece uma relação de dependência, dificultando a apuração de
resultados e obtenção de informações. Muitas vezes os dados são incompletos, comprometendo a
confiabilidade de informações importantes. Esses fatores diminuem a eficiência do sistema de controle
interno. Nesta situação, é preciso pensar na possibilidade e a necessidade de implantar (de forma lógica,
integrada e racional) sistemas de informação para o processamento das transações.

• Riscos de controles computadorizados – ter a tecnologia da informação não é sinônimo de que tudo vai
bem, pois soluções não planejadas ou mal implantadas podem multiplicar a velocidade de ocorrência de
problemas e trazer novos complicadores para a empresa. Pessoas não autorizadas podem ter acesso às
funções de processamento e às informações armazenadas nos sistemas de informação. As transações e
dados cadastrais inseridos nos sistemas para processamento podem estar incorretos ou serem digitados
mais de uma vez. Informações rejeitadas para processamento podem não estar sendo isoladas,
analisadas e corrigidas em tempo hábil. Transações legítimas processadas ou geradas pelos sistemas
podem ser perdidas, não processadas completamente, processadas incorretamente ou processadas e
impressas no período contábil errado. Para evitar tais situações, é fundamental que a escolha, aquisição,
implantação e operação (ou o mesmo o desenvolvimento interno) de sistemas informatizados seja feita
considerando o porte da empresa, a eficiência na realização das operações, a segurança e o controle
das transações a serem processadas.

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(3) .
Sobre os aspectos fiscais pertinentes aos créditos incobráveis, veja o texto publicado no Boletim nº 42/2001, pág. 1, Caderno
IR/LS.

• Aumento significativo do número de clientes – em princípio, todas as empresas querem aumentar sua
carteira de clientes. Entretanto, quando a organização não está estruturalmente preparada para essa
situação, poderão ocorrer transações de venda sem a devida análise de crédito, tendo como
consequências vendas de recebimento difícil ou duvidoso. Pode haver a deterioração no atendimento
aos clientes, comprometendo a imagem da empresa, com os clientes procurando os concorrentes.
• Introdução de novos produtos ou de similares por concorrentes, afetando as margens brutas de
venda e as participações de mercado – a competitividade é benéfica, pois permite ao consumidor
exercer seu direito de escolha, ao mesmo tempo em que estimula o aumento de eficiência entre os
concorrentes. Entretanto, se a empresa não se aperceber dessa situação e não se preparar para
enfrentá-la, pode ter sua imagem comprometida. Exemplo de adaptação a uma nova situação foi vivido
pelas empresas fabricantes de equipamentos de telecomunicações que, após a privatização do sistema
Telebrás e a entrada de novas operadoras e concorrentes no mercado, tiveram de se adaptar às novas
condições de concorrência, negociação de preços e fornecimento de produtos e serviços.

• A empresa vendedora depende de poucos clientes – aqui vale o dito popular de “não depositar
todos os ovos numa única cesta, pois se esta cair, todos se quebrarão”. É natural alguns clientes se
destacarem de outros, merecendo atenção especial. Entretanto, deve ser evitada a criação de vínculos
de dependência, pois um eventual atraso de pagamento pode comprometer a liquidez da empresa
vendedora. Essa situação pode ser evitada através da prospecção de novos clientes e da diversificação
de produtos ofertados pela empresa vendedora.
• A empresa vendedora recebe os valores de seus clientes diretamente em seu caixa – essa
situação pode fazer com que os montantes recebidos permaneçam sem depósito ou aplicação bancária,
e cria facilidades para que os empregados encarregados dessas atividades tenham a possibilidade de
manipular os valores, o registro das transações e praticar o lapping, que é o recebimento de um cliente e
utilização do dinheiro para encobrir o mau uso do dinheiro anteriormente recebido de outro cliente.
Quando o recebimento na “boca do caixa” for inevitável, é preciso promover o rodízio dos funcionários
encarregados dessas atividades, e reforçar a necessidade de efetuar conciliações entre os razões ou
sistemas auxiliares de contas a receber e a contabilidade, a elaboração de relatórios de valores a
receber, de valores recebidos, de clientes em atraso, e as conciliações bancárias. Para a empresa não
ser exposta a riscos desta natureza, deve privilegiar o recebimento através da rede bancária.

• Os limites de crédito são estabelecidos informalmente e não estão sujeitos à aprovação – mais
importante do que realizar grandes volumes de vendas de difícil recebimento é realizar boas vendas. A
seleção dos clientes deve ocorrer após cuidadosa análise de crédito e da capacidade do cliente em
honrar seus compromissos. Selecionado o cliente, este deve ser classificado em categorias ou faixas de
limites de crédito, que permitirão à empresa agilizar as decisões relativas a ele, gerando limites
adequados de vendas e recebimentos.

• Ocorre grande volume de operações de venda com preços abaixo dos custos – esta é uma
estratégia de conquista de mercado usada pelos profissionais de vendas. É recomendável para entrar
em mercados onde há pouca diferenciação entre a qualidade dos produtos concorrentes. Entretanto, se
o volume dessas transações apresenta crescimento significativo em relação às vendas totais da
empresa, compromete-se a lucratividade das operações. Tais estratégias de venda devem prever a
capacidade da empresa em assumir margens negativas em algumas operações.

• Há um aumento significativo de devoluções, abatimentos de vendas e reclamações de clientes –


a devolução e o abatimento são situações que podem acontecer em qualquer transação comercial.
Entretanto, quando ocorrem em grande número, envolvendo operações de grande monta e clientes
importantes, comprometem a lucratividade das operações e a imagem da empresa perante seu

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mercado. Tais situações geram aumento na emissão de notas de crédito, notas fiscais de devolução, e
são indícios de que os produtos e serviços ofertados não apresentam a qualidade necessária para
atender as necessidades dos clientes.

• As estimativas e previsões de vendas realizadas pela empresa são muito diferentes das
efetivamente ocorridas – para atingir seus objetivos, a empresa precisa planejar. A adequada previsão
dos volumes de venda pressupõe conhecer o mercado comprador e a situação econômica vigente.
Quando as operações efetivamente realizadas apresentam desvios significativos em relação ao
planejado, a lucratividade, a rentabilidade e o recebimento esperados ficam comprometidos.

• Os clientes pertencem a setores de atividade econômica em situação empresarial desfavorável


– neste caso, podem ser geradas vendas de difícil realização ou de recebimento duvidoso, pois a
capacidade de pagamento dos clientes pode estar comprometida. Essa condição de risco tem como
efeito direto o aumento na idade das contas a receber.

• Não são preparadas análises confiáveis das contas vencidas – quando um cliente não paga
seus títulos na data de vencimento, pode estar fazendo-o por outros fatores que não a dificuldade
financeira. A empresa vendedora deve envidar esforços para identificar os valores a receber em atraso e
tomar as providências necessárias para resolver essa situação. Essa medida envolve ter as informações
necessárias para tal propósito, conhecer o mercado consumidor de seus produtos e serviços e
estabelecer uma estratégia para negociação com os clientes em atraso, na qual deve ser priorizado o
recebimento dos títulos de maior valor.

• Existem muitos itens de conciliação pendentes de resolução – a contabilidade feita de forma


correta e sem atrasos é um excelente instrumento de controle, pois identifica rapidamente algumas
situações dentro da empresa. A conciliação contábil é um procedimento saudável e necessário, na
medida em que é feita de forma sistemática, identificando problemas que requeiram pronta solução.
Quando somente as conciliações são feitas (em alguns casos é feita apenas uma composição de saldo
de contas contábeis), sem uma ação efetiva para eliminar as pendências, problemas similares podem
ocorrer de forma sistemática, novos problemas surgem e a situação pode se agravar a ponto de
comprometer a capacidade da empresa em resolvê-los.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As transações de vendas permitem remunerar a empresa por seus produtos e serviços, obtendo
assim os recursos necessários ao pagamento de seus custos e despesas e para a geração do lucro
necessário à remuneração dos detentores do capital e à continuidade dos negócios.

O material aqui apresentado permite que o contabilista, empregado ou prestador de serviços


auxilie a empresa na consecução de seus objetivos de lucro e continuidade, pois é um guia de ação não
exaustivo para avaliação do sistema de controle interno aplicável ao ciclo de transações vendas – contas
a receber – recebimento. Procurou destacar o relacionamento entre a contabilidade e as fases e etapas
componentes do ciclo, evidenciando os cuidados a tomar para que as transações executadas sejam
efetivamente realizadas.

Finalizando, o controle interno não deve ser inibidor da criatividade e da inovação; entretanto, a
empresa deve se cercar dos cuidados necessários à garantia de seu sucesso, fator de sobrevivência em
um ambiente econômico competitivo.

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