Você está na página 1de 2

Aluna: Danielle Regina Pimentel

Matrícula: 20101295

Pneumotórax - Manuel Bandeira

Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos.


A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.
Mandou chamar o médico:
— Diga trinta e três.
— Trinta e três… trinta e três… trinta e três…
— Respire.
……………………………………………………………………….

— O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.


— Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
— Não.
A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.

___________________________________________________________________________

O poema de Manuel Bandeira retrata uma consulta médica em que o paciente apresenta
alguns sintomas característicos de síndromes pulmonares, e o médico então segue com
exame físico e conversa sobre o segmento da vida do paciente em relação a seu problema
de saúde.

O poema inicia dizendo quais sintomas o paciente possui: febre, hemoptise, dispnéia e
suores noturnos; e logo segue com a frase “A vida inteira que podia ter sido e que não foi”.
Essa frase representa a reflexão do paciente quanto à iminência do fim da sua vida e do
arrependimento de não ter vivido mais até ali e de não ter aproveitado mais as
oportunidades.
Mas, logo essa reflexão é interrompida por uma crise de tosse, que o poema representa por
“tosse, tosse, tosse”.

Então o médico realiza um exame físico. Pede ao paciente que repita algumas palavras, que
respire. E assim fecha o diagnóstico: o paciente possui uma escavação à esquerda e
infiltração à direita.
O médico nesse momento apenas apresenta os achados semiológicos, mas não cita nome da
doença, nem suas causas, nem terapêutica, nem solução... Essa lacuna de informações pode
sugerir um caso clínico bastante grave, que, há época, não possuía tratamentos eficazes.
Corroborando com essa possibilidade, após o paciente perguntá-lo se seria possível operar
um pneumotórax (procedimento cirúrgico pneumológico) o médico nega de maneira seca e
direta, sem deixar espaço para outros questionamentos sobre a terapêutica do quadro. E,
em seguida, diz que a única opção é tocar um “tango argentino”.

Esse fim, que segue da esperança de um pneumotórax até a piada com o tango argentino,
representa um cenário curioso de uma relação médico-paciente, pois o médico trata com
humor, mas não deixando de ter empatia pela situação do paciente, e busca deixar a
situação mais leve e mais tranquila.
O paciente chega com uma esperança, que é a realização de um pneumotórax, e mesmo que
negando essa situação, frente a um caso clínico grave, o médico diz ao paciente, por
metáforas, que o que lhe resta é aproveitar a vida, o tempo que lhe resta. Para isso, utiliza
de eufemismo e metáforas, usando do tango argentino, um gênero musical dramático mas
alegre, e possível de dançar.
Esta relação apresentada pelo poeta caracteriza bem relações médico-pacientes que
acontecem quando o paciente encontra-se em estados terminais ou de muita difícil
recuperação, em que o médico nada pode fazer pelo paciente além de conhecê-lo apoio e
demonstrar empatia. E, da mesma forma que o médico do poema fez e obteve sucesso em
deixar o paciente mais tranquilo e relaxado, médicos devem seguir de modo parecido para
aliviar as angústias de seus pacientes.

Você também pode gostar