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Universidade Estadual Paulista

AS DIFERENÇAS EPISTEMOLÓGICAS FUNDAMENTAIS ENTRE AS


FILOSOFIAS DE KARL MARX E MAX WEBER

Victória Ferreira
1º Ano Ciências Sociais - Noturno

São Paulo
2021
INTRODUÇÃO

Mais se fala das semelhanças - no trato da sociedade capitalista - do que das


diferenças entre as filosofias de Karl Marx e Max Weber. Isso deve-se ao fato de
que os dois pensadores analisam a sociedade moderna enquanto um objeto de
estudo e apresentam diversas críticas e discordâncias quanto ao modo de produção
capitalista. No entanto, existem diferenças fundamentais no que diz respeito à forma
como esses dois teóricos compreendem a realidade social, e mais do que isso, a
relação entre o espírito subjetivo e a realidade concreta.

Aparentemente, parece muito comum o fato de teóricos discordarem em


alguns aspectos, de modo que, num primeiro momento este trabalho possa
aparentar certa insignificância. No entanto, o fato das diferenças entre Marx e
Weber serem tão profundas e dizerem respeito à forma como compreendem a
realidade empírica e concreta, faz com que este tratado acadêmico tome uma forma
um tanto quanto expressiva.

As diferenças que serão expostas confrontam-se com uma curiosidade. Dois


filósofos analisam, criticam e aparentemente combatem um mesmo objeto. Todavia,
se posicionam de maneira completamente oposta no que diz respeito à verdade, ao
espírito, à aplicação da ciência que desenvolvem, no que se refere à relação entre
ideia e realidade de modo geral. Exprimo que se posicionam de modo contrário e
irei provar isto ao longo do trabalho.

Portanto, este trabalho surge da necessidade de se compreender as


principais discordâncias quanto à natureza metodológica de Marx e Weber.
Naturalmente, para desenvolver tal análise será preciso apresentar de maneira
crítica as semelhanças e diferenças fundamentais entre o pensamento dos dois
teóricos, de maneira que fique claro as divergências epistemológicas. Para se
consolidar tal análise a autora deste trabalho irá apresentar dois tópicos nos quais
serão expostos os pontos mais controversos entre os pensamentos dos teóricos em
questão. Na primeira parte serão abordadas diferenças quanto a análise de Marx e
Weber no que refere-se à verdade. Já na segunda parte trataremos das
divergências no que diz respeito ao espírito e pensamento do indivíduo social.
DIFERENÇAS NO TRATO DA VERDADE

Marx ao longo de sua vida desenvolveu uma metodologia que possibilitasse a


compreensão da realidade. Ainda nas Teses sobre Feuerbach (1988) já expunha
alguns pensamentos no que refere-se ao conceito de verdade. Para ele, a verdade
que parte do ponto de vista do indivíduo, ainda que seja única e específica, dado o
fato de que o pensamento do sujeito é individual, se relaciona com uma verdade
concreta e material, e mais do que isso, é produto da interação com essa mesma
realidade. Desse modo, para Marx, é preciso compreender a existência de duas
naturezas da verdade que existem de maneira intrínseca e contraditória, uma diz
respeito à verdade empírica e a outra refere-se à verdade concreta.
O fato é que em nenhum momento Marx nega que o espírito do Homem é
algo único e intrínseco, no entanto, não o compreende como algo autodeterminado,
mas sim, um produto da interação com uma realidade estrutural e concreta, que
possui determinações sociais das mais diversas. Desse modo, a verdade que parte
do ponto de vista do sujeito é produto da relação entre o espírito e a verdade
material.
De acordo com Marx (1888)

“A questão de saber se ao pensamento humano pertence a verdade


objectiva não é uma questão da teoria, mas uma questão prática. É
na práxis que o ser humano tem de comprovar a verdade, isto é, a
realidade e o poder, o carácter terreno do seu pensamento. A
disputa sobre a realidade ou não realidade de um pensamento que
se isola da práxis é uma questão puramente escolástica.

Portanto, para Marx a verdade que parte do ponto de vista do sujeito, por ser
algo único e individual - porém produto de determinações sociais - não deve ser
compreendida partindo da análise do observador em direção ao objeto ( pois esse
mesmo observador possui uma realidade específica advinda de um pensamento
único, por isso, cheia de pressupostos), mas ao contrário, partir do ponto de vista do
próprio objeto, compreendendo o seu movimento real.
Tratemos agora de analisar os pontos principais do pensamento de Max
Weber no que relaciona-se ao conceito de verdade. Para o teórico a verdade existe
de maneira relativa ao indivíduo que a enxerga, de modo que, só é existente no
plano subjetivo.
Weber entendia a realidade como algo empírico ao ser-social, de modo que,
ao enxergar a verdade enquanto algo relativo para o indivíduo, portanto incapaz
algo incapaz de se compreender, nega-se o caráter determinando que possui o
sistema material e concreto sobre o subjetivo, como também a possibilidade de
compreensão do real, afinal, ao afirmar que a verdade é relativa e individual,
enxergando apenas a verdade empírica e negando a verdade concreta, afirma-se
também que a verdade é inexistente, pois só é possível na medida em que o
ser-social a pensa.
Portanto, as diferenças fundamentais entre Marx e Weber no que tem a ver
com o conceito de verdade, são extremamente importantes para a concepção da
metodologia desses dois pensadores. Enquanto Marx compreende a verdade
empírica enquanto algo único e individual, no entanto, fruto de uma verdade
concreta e específica, deixa claro a possibilidade não só de compreensão da
realidade, como também sua transformação. Ao contrário, Weber ao definir a
verdade enquanto algo relativo ao indivíduo, toma uma postura que apresenta a
realidade enquanto algo inexistente, pois está só existe no plano subjetivo do
ser-social.
DIFERENÇAS NO TRATO DO ESPÍRITO

Para Marx, o espírito do ser-social desenvolve-se enquanto um produto da


interação com a realidade concreta a qual está sujeito,de modo que, o pensamento
do indivíduo, ou seja, o seu espírito, não se autodetermina, mas sim é um produto
de determinações sociais e concretas, que definem de maneira estrutural o seu
desenvolvimento. Dessa forma, Marx irá apresentar diversos argumentos ao longo
de seu estudo, que possibilita afirmar que o pensamento empírico não se
autoconstrói, mas sim é determinado por forças histórico-concretas, que interferem
no seu desenvolvimento, de modo que a partir do momento em que o ser-humano
encontra-se em sociedade, estará sujeito a criações sociais e estruturais, ou seja,
interferências de ordem material.
De acordo com Marx e Engels (1932)

Somente agora, depois de já termos examinado quatro momentos,


quatro aspectos das relações históricas originárias, descobrimos que
o Homem tem também “consciencia”. Mas está também não é,
desde o ínicio, consciência “pura” o espírito sofre, desde o início, a
maldição de estar “contaminado” pela matéria, que, aqui se
manifesta sob a forma de camadas de ar em movimento, de sons,
em suma, sob a forma de linguagem. A linguagem é tão antiga
quanto a consciência - a linguagem é a consciência real, prática, que
existe para outros Homens e que portanto existe para mim mesmo; e
a linguagem nasce, tal como a consciência, do carecimento, da
necessidade de intercâmbio com outro Homens. Desde o início,
portanto, a consciência já é um produto social e continuará sendo
enquanto existirem Homens.

De maneira oposta, Weber ao definir a realidade enquanto relativa, pois parte


do ponto de vista do indivíduo - único e específico - em direção ao todo, afirma o
pensamento enquanto algo também único e individual, porém, autodeterminado. Ao
afirmar que o pensamento é auto constituído e não que é determinado pela relação
com uma realidade material, nega-se a existência da relação intrínseca entre o
espírito e o concreto.
CONCLUSÃO

Portanto, o que a autora apresentou ao longo deste trabalho é em síntese as


contradições fundamentais encontradas entre as filosofias de Karl Marx e Max
Weber, passando por aspectos que tratam tanto da natureza da verdade, quanto da
natureza do espírito do ser social.
As divergências encontradas ao longo deste texto devem sua importância ao
fato de serem teses fundamentais dos dois teóricos em questão, portanto, que
dizem respeito às contradições de ordem complexa. Em suma, Marx e Weber se
contradizem de maneira essencial, na qual Marx - como bom materialista e racional
que é - demonstra a maneira correta de se compreender a realidade social e o
desenvolvimento do subjetivo do ser individual, enquanto Weber falha quanto à
natureza tanto do real, como do espírito.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

MARX, Karl. 2007, São Paulo. A ideologia alemã [...]. [S. l.: s. n.], 2007.

MARX, Karl. 1847, Bruxelas. A miséria da filosofia [...]. [S. l.: s. n.], 1847.

MARX, Karl. 1841, Jena. Diferença entre a filosofia da natureza de Demócrito e a de


Epicuro [...]. [S. l.: s. n.], 1841.

MARX, Karl. 1848, Reino Unido. Manifesto comunista [...]. [S. l.: s. n.], 1848.

MARX, Karl. 2002, São Paulo. Teses sobre Feuerbach [...]. [S. l.: s. n.], 2002.

MARX, Karl. 1867, Reino Unido. O capital [...]. [S. l.: s. n.], 1867.

WEBER, Max. 1999, São Paulo. A ética protestante e o espírito do capitalismo [...].
[S. l.: s. n.], 1999.

WEBER, Max. 2001, São Paulo. Ciência e Política - Duas vocações [...]. [S. l.: s.
n.], 2001.

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