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As Formas do Saber
t r a b a l h o
NOMADS.USP
créditos estágio supervisionado
Fitas
SOLITRENIK Direção artística KIKO
2001
MARCO BOAVENTURA e CARL
Transcrição do texto Estagiária SABRINA ELLEN BROSSI DAHER
Cooperação VARLETE BENEVENTE
4
Texto transcrito na integra a partir das gravações feitas de uma entrevista com
o filósofo francês Pierre Levy ao jornalista Florestan Fernandes Jr. para a série
“As Formas do Saber” e que trás reflexões sobre:
Arte e pensamento
Educação
Tecnologia
Trabalho
T R A B A L H O
O que você acaba de dizer é mujto importante. Um número cada vez maior
de pessoas tende a reconhecer, isto é, temos que distinguir entre a noção de
emprego assalariado, por um lado, e a noção de atividade produtora de
riquezas, de outro. Não são unicamente as pessoas que têm um emprego
assalariado que produzem riquezas socialmente úteis. Além do mais, acredito
que, infelizmente muitas pessoas que produzem riquezas socialmente úteis não
recebem nenhuma remuneração em troca. Ora, nos dias de hoje isso cria
evidentemente muita injustiça e muitos problemas. Sobretudo numa situação
onde o aumento da produtividade do trabalho clássico, digamos, nas
empresas aumentou de forma extraordinária e no qual é cada vez mais difícil
encontrar o emprego clássico. Podemos observar uma tendência muito
interessante já vários anos: Trata-se do aumento do número de pessoas que
são autônomas, self-employed, que são empresários individuais. Adquiriram
competência estudando em uma ou outra empresa ou dando consultorias,
etc. finalmente, o que significa trabalhar hoje: trabalhar é prestar serviços aos
outros. Podemos dar esta definição muito simples. Por quê? Porque ninguém
mais vive nos tempos pré-históricos onde os seres humanos viviam em contato
direto com a natureza, com a caça, com a colheita, etc. estamos cada vez
mais distantes da época em que se cultivava a terra para comer o que se
plantou. Se cultivarmos, é para vender a produção agrícola aos outros.
Portanto, prestamo-lhes serviço. Além do crescimento do setor de serviços
onde isso é evidente, o que estamos fazendo? Prestamos serviços uns aos
outros, cada um à sua maneira. A partir do momento em que, em vez de dizer:
“Estou desempregado”, você diz “como poderia prestar serviços aos outros?”.
Veja a maneira de reverter essa tendência. Ou então, como poderíamos nos
associar para prestar serviços uns aos outros? Ou como nos associar para
oferecer aos outros um serviço que lhes interesse? É uma mentalidade de
empresário mas não de empresário capitalista com o intuito de ganhar
dinheiro, etc. Mas trata-se simplesmente de uma nova maneira de abordar a
questão do trabalho. Não mais a partir de uma identidade profissional. “Sou
isto, sou aquilo, defendo meus privilégios, defendo minhas aquisições”.
Deixamos de lado toda a minha identidade e o que adquirimos. temos uma
atitude aberta. Olhamos ao nosso redor e pensamos:”Como poderia prestar
serviços aos outros?” acredito que é neste sentido que o trabalho está
evoluindo.
Qual o novo perfil do trabalho gerado a partir da revolução da informática?
Como fica as relações trabalhistas no mundo da cibercultura?
BLOCO 2
A gestão por competência e aparentemente estaria em maior sintonia com as
mutações atuais é vista em geral por empresários com a própria ruína da
empresa e pelos funcionários como sinônimo de desemprego. Como as
empresas devem se preparar para uma nova concepção de organização de
trabalho?
A riqueza principal é a competência humana e a coordenação dessas
competências humanas. Por que é a riqueza principal? Porque é a riqueza
que produz todas as outras. Simplesmente. Portanto, se sufocarmos essas
competências, se não permitirmos que rendam o máximo que podem render,
a empresa, a organização, a região ou o país, será menos rico. Em outras
palavras, o problema número um é a maneira de fazer trabalhar juntos os seres
humanos. Será que os valorizamos da melhor maneira possível ou será que
estamos sufocando suas possibilidades? Quais são os sistemas que ajudam
essas possibilidades dos seres humanos? Quais são os sistemas que ajudam
essas possibilidades a crescer e a se desenvolver? Que sistemas que fazem
com que essas competências e capacidades se multipliquem entre si? Ou
ainda os sistemas que fazem com que tais capacidades se subtraiam ou se
dividem uma às outras? Isso é a questão número1 da organização social. Os
centros do poder no mundo só mostram a maneira com que as pessoas
responderam essa questão. As zonas que desmoronam do ponto de vista
econômico ou social, são as zonas onde houve uma tentativa de sufocar a
liberdade, o conhecimento e a competência humana. Portanto, a idéia que
tivemos foi de permitir que as pessoas se definam por si próprias, não permitir
mas ajudar as pessoas a definir tudo o que sabem, tudo o que sabem fazer,
tudo o que podem colocar à disposição dos outros. Sempre essa noção de
serviço. A partir daí, é preciso reunir numa grande base de dados a totalidade
das competências coletivas para permitir que as pessoas se situem dentro
dessa competência coletiva e permitir que outras sejam capazes de
reencontrar todas as competências existentes. E, eventualmente, graças a
essa sinalização de poder querer adquirir tais competências por meio de
trocas recíprocas de saber querer chamar tais competências para projetos.
Portanto, é uma idéia de mutualização da competência a serviço da
coletividade. Por que este projeto encontrou certa oposição? Encontrou
oposição assim como também foi acolhido com entusiasmo. Oposição porque
ele questionava novamente todas as decisões incontestáveis acerca do lugar
das pessoas nas empresas. As pessoas se viam obrigadas a definir de maneira
dinâmica em termos de percurso de aprendizagem algo que é sempre
necessariamente inacabado em vez de se definir através de uma posição
hierárquica. Isso não era mais uma identidade em termos de estatuto, mas sim
uma identidade em termos de percursos efetivos de aprendizagem. Isto é, de
fato como esses percursos estão sendo realizados isso cria uma organização
continuamente dinâmica. Tanto mais dinâmica quanto mais se conhece a si
própria. Quanto maior for a sua visibilidade sobre o que você pode aprender,
melhor você dirigirá seus próprios processos de aprendizagem o conjunto do
que todos sabem que vai se transformar. Isso dá medo porque tememos as
mudanças, tememos tudo que se move. Imaginamos que tendo em mãos
mapas estáticos vamos nos proteger das mudanças de ambiente. Mas, na
verdade, está é a melhor maneira de se perder. Enquanto nós dizíamos: “Já
que o ambiente é movediço temos que ter mapas que acompanhem o seu
dinamismo. Teremos assim, menos chances de se perder”. Eram mapas
informáticos que podem ser lidos em monitores. Isso são árvores do
conhecimento.
BLOCO 3
Na história da humanidade a escravidão teve um forte papel nos custos
financeiros da produção. Hoje em muitos países essa situação se repete sobre
a forma da pobreza ou do trabalho pessimamente remunerado. Quando
parece que muitas vezes ao comprarmos um produto globalizado por um
preço barato estamos pagando também um alto custo político e social, o
desemprego e a exclusão.
Hoje,é claro que uma utopia deve ser planetária ou não será utopia. As
verdadeiras utopias de nossa época são utopias planetárias, utopias do
gênero humano. Note que a utopia de Marx erra internacional, então não era
algo totalmente novo. E mesmo a anterior, de Comte que influenciou muito o
Brasil era uma utopia do tipo humano, algo então internacional. A filosofia a
verdadeira filosofia, não pode ser uma filosofia alemã, nem uma filosofia
brasileira ou ainda filosofia americana e ou então francesa. As filosofias se
dirigem aos seres humanos, visam o que tem de universal nos seres humanos.
As grandes religiões universais visam todos os seres humanos?. Não, visam
unicamente as pessoas de um outro país. Católico quer dizer universal, todos
os sabemos. Mas também o Budismo é algo universal, o Islã é universal. Na
arte, daria para imaginar uma arte nacional. Soa mesquinho, ou pensamos na
arte nacional socialista ou no realismo chinês. Isto não é arte. A arte é algo
que implica fundamentalmente todos seres humanos. Um artista é alguém que
vai tão longe na sua própria subjetividade, na sua própria singularidade que
atinge um fundo que é comum a todos. Em relação à ciência, você acredita
que exista ciência nacional?. Não. Quem inventou a ciência nacional ? Os
nazistas e os stalinistas. Vemos no que dá esta história de nacional! A ciência é
algo internacional, mundial, planetário por sua própria natureza, desde o
começo. A comunidade científica sempre foi internacional. A técnica
também. Será que há martelos que funcionam na Alemanha e que não
funcionam na França? Veja que a maioria das atividades humanas aquelas
que tocam o que há de profundo nos seres humanos, tanto no nível da
eficiência prática como da espiritualidade, da beleza, do conhecimento, são
planetárias por natureza.
O ESPAÇO.
Cada vez que uma figura se destaca ela nos faz pensar no fundo do qual se
destacou . quando temos um pensamento pensamos que poderíamos ter
prestado atenção a todos os pensamentos que não tivemos. Talvez este
pensamento não seja tão importante assim ele apenas se destacou neste
momento presente. Constantemente nossa consciência é focalizada em um
pequeno número de problemas num pequeno contexto como pequenas
regras do jogo no interior de pequenos conceitos . Talvez estas regras dos jogo
que jogamos façam parte de um jogo maior ainda e esse jogo maior ainda
faça parte de algo que nem mesmo é um jogo mas tudo isso nós nem
percebemos pois estamos fechados dentro do jogo que jogamos. Então, o
espaço seria, talvez num dado momento parar de jogar o mesmo jogo
habitual parar de fazer nossa mente dar sempre volta com os pensamentos e
escutar o silêncio.
Creio que esta distinção entre trabalho e lazer é algo que deve ser
questionado de modo bem profundo pois, se você realiza um trabalho em que
somente executa uma tarefa já determinada em que você não dá tudo o que
você pode dar á coletividade em que não é reconhecido como ser humano
com iniciativas se é um trabalho alienante geralmente você fica muito
contente por entrar em férias. Então, as férias serão um momento que você
não fará nada, e serão também momentos de alienação. Mas, na verdade, o
que é alienante é a separação entre o homem e seu trabalho, entre o homem
e o produto de seu trabalho entre a execução e a concepção, entre o
trabalho e o lazer. Tudo que é separação é alienação. Esta dicotomia
trabalho/lazer deve ser entendida com muita precaução. Em contra partida e
isso demanda luta e coragem no seu trabalho você luta para que ele não seja
alienante. Se você consegue se reconhecer no produto de seu trabalho, se
você participa, ainda que pouco, ainda que coletivamente na concepção
deste trabalho se existe um certo grau de reconhecimento do que você faz
pelo seu grupo de trabalho ou pelos clientes ou pelas pessoas para quem
você faz este trabalho, então, este não é um trabalho alienado. Portanto,
levar um pouco de trabalho para fazer nas férias, é de certa maneira
continuar a ser quem você é. Não há problema nisso. Por outro lado, se você é
o mesmo em seu trabalho, se você consegue desenvolver sua própria
personalidade em seu trabalho podemos dizer que existe lazer em seu
trabalho. Não são coisas que devemos separar com uma barreira. Creio que
simplesmente não podemos mais nos dia s de hoje medir um valor de um
trabalho pelo tempo que passamos trabalhando. Existem momentos em que
não fazemos nada de aparentemente útil em nosso trabalho. Entretanto,
graças aos encontros que tivemos, às informações que obtivemos, ou à
disponibilidade de espírito que manifestamos no período, nos tornaremos mais
criativos no trabalho, às vezes uma semana ou um mês mais tarde. A partir do
momento em que há implicação da subjetividade em relação ao fato de
prestar serviço aos outros você está o tempo todo dentro de um processo de
auto desenvolvimento, para melhor servir aos outros.
O que é trabalho?
Como dissemos a pouco. O trabalho não é somente o trabalho assalariado. É
a participação na vida social, em geral. Mesmo se você for bastante solitário,
mesmo se você for um monge, mesmo se você for um artista que procura
alguma coisa e passa meses ou anos sem se comunicar com os outros, você
participa da vida social. Você participa da edificação desta cidade simbólica
que é o espírito humano. Não há mais distinção entre lazer e trabalho. O lazer
que não é senão o consumo padronizado pode ser chamado de lazer? Não. É
a pior das alienações.